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Paulo Sérgio de Vasconcellos MITOS GREGOS

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Paulo Sérgio de Vasconcellos

MITOS GREGOS

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São Paulo1998

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Faetonte e o carro do Sol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11Orfeu e Eurídice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14Narciso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17Prometeu, o primeiro benfeitor da humanidade . . . . . . . . . . . . .21Teseu e o Minotauro, Dédalo e Ícaro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24As aventuras de Hércules . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28

– O nascimento e a primeira façanha do herói . . . . . . . . . . . .28– Os doze trabalhos de Hércules – I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32– Os doze trabalhos de Hércules – II . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36

A guerra de Tróia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39– As origens da guerra de Tróia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39– A ira de Aquiles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46– A morte de Heitor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52– O calcanhar de Aquiles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .58– O cavalo de madeira e o fim de Tróia . . . . . . . . . . . . . . . . .61

O retorno de Odisseu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .68– Odisseu e o ciclope . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .68– Na ilha da feiticeira Circe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .74– Odisseu vai ao reino dos mortos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77– Os novos perigos da viagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .80– A chegada de Odisseu e o massacre dos pretendentes . . . . .83

Os deuses gregos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86– Genealogia divina – Os principais deuses . . . . . . . . . . . . . .87– A soberania de Zeus e sua esposa Hera . . . . . . . . . . . . . . . .88– Afrodite e Ártemis, a deusa do amor e a virgem caçadora .91– Ares e Dioniso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .97– Apolo e Palas Atena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .102– Hermes e Hefesto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .106– Deméter e Possêidon, divindades da terra e do mar . . . . . .109

Questionários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .113Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .128

Índice

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Os mitos gregos estão por toda parte ainda hoje.Estas narrativas, que um dia povoaram não só aimaginação como também a vida cotidiana de todoum povo, perduraram no tempo e ainda hojefascinam escritores, cineastas, escultores, psicólo-gos, antropólogos, etc. etc. Pode-se fazer delas o usomais variado, mas é curioso que guardam, em simesmas e por si mesmas, um interesse inabalávelpara os leitores comuns, pessoas que sempre sentirãoprazer em mergulhar na poesia de deuses nadaperfeitos, cheios de defeitos muito humanos, ninfasque definham de amor por mortais, heróis queredimem a humanidade, vozes encantadoras desereias, monstros brutos de um olho só, derrotadospela inteligência do homem. Os estudiosos podemtentar analisar os mitos como forma primitiva deexplicação racional do universo, como ciênciaingênua e rudimentar; outros podem vê-los comoprojeção de nossa vida inconsciente, etc. — o mitosobrevive a qualquer tentativa reducionista deenquadrá-lo em termos que não são os seus, reduzi-lo a alguma “chave” que supostamente o desvende— ele sobrevive inatingível, com o impacto de suaforça narrativa. “O mito é o nada que é tudo”, já disseFernando Pessoa, criador de mitos, como todo poeta.

Este livro reconta alguns mitos do vastorepertório de histórias da Grécia antiga, pensando noleitor leigo das nossas escolas de ensinofundamental, em especial os da quinta à oitava série.

Apresentação

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Tentamos auxiliá-lo a se iniciar nesse universo, àprimeira vista de difícil aproximação para os maisjovens, empregando linguagem mais simples, semsubestimar, porém, sua capacidade, acrescentandonotas explicativas e exercícios de fixação dosconteúdos lidos. Sempre que possível, entretanto,fomos a alguma fonte da Antiguidade, por vezesquase traduzindo esse original: Ovídio, na história deFaetonte, Virgílio, na narrativa da queda de Tróia,etc. Assim, o leitor conhecerá, aqui, algumas versõesque grandes poetas elegeram para contar mais umavez a mesma história (já que o mito é semprerecontado, modificado, nunca exatamente o mesmo,a cada narrativa filtrado pela visão especial de cadaartista). Como não pretendemos fazer obra dereferência, geralmente evitamos acumular váriasversões da mesma história ou aborrecer os jovenscom eruditismos desnecessários.

Se o leitor se sentir atraído por esse universo noque ele tem de mais fundamental, a beleza de cadaconto, seja qual for o uso que se faça dele, estaremossatisfeitos. E quem sabe o nosso leitor passe, então, aperceber como seu dia-a-dia moderno está repleto deevocações daquele mundo que subsiste vivíssimomesmo depois de sua civilização material seencontrar reduzida a pobres ruínas.

Por fim, agradeço ao professor Francisco Achcarpor muitas sugestões e correções; este livrinhocertamente se enriqueceu com suas observações ou,pelo menos, livrou-se, com elas, de não poucasimperfeições.

P. S. V.

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Vista das ruínas do centro histórico de Atenas,hoje capital da Grécia. A cidade enfrenta os

problemas da convivência entre os vestígios dopassado e as exigências da vida moderna.

Como expandir o metrô da cidade, por exemplo, sem danificar para

sempre as relíquias de uma das maiorescivilizações que o mundo conheceu? E comoimpedir que a poluição dos carros destrua os

monumentos?

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Ojovem Faetonte, criado pela mãe, desconheciaquem fosse seu pai. Um dia, ela lhe contouquem ele era: o Sol. Desejando comprovar se

a revelação era verdadeira, Faetonte foi até a moradadaquele astro, um palácio brilhante de ouro, prata emarfim. Depois de narrar o acontecido, disse-lhe:

— Ó luz do mundo imenso, se minha mãe nãoestá mentindo, dê-me uma prova de que sou mesmoseu filho! Acabe de uma vez com essa minha dúvida!

O Sol tirou da cabeça os raios que brilhavam parapoder abraçar o filho. Depois de tê-lo abraçado,disse:

— Para que não tenha dúvida de que sou seu pai,peça o que quiser, e eu lhe darei. Juro pelo rio dosInfernos, o Estige. Esse é o juramento que obriga osdeuses a cumprirem sua palavra.

Faetonte, então, pede ao pai que lhe deixe guiarseu carro, que era puxado por cavalos alados.1

O pai se arrependeu da promessa, mas não podiavoltar atrás. Tentou fazer o filho desistir da idéia:

— Você é um mortal e o que está pedindo não épara mortais. Só eu posso dirigir o carro que leva ofogo do céu. Nem Zeus2 poderia fazer isso. Queespera encontrar nos caminhos do céu? Você passarápor muitos perigos: os chifres da constelação deTouro, o arco de Sagitário, a boca do Leão. Além

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1 Alado: que tem asas.2 Zeus: pai e o rei dos deuses (veja geneologia na página 87)

Faetonte e o carro do Sol

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disso, há os cavalos, difíceis de domar, soltando fogopela boca e pelas ventas.3 Peça outra coisa, filho, ese mostre mais sensato nos seus desejos.

Mas Faetonte não queria ouvir os conselhos do pai,que foi obrigado a satisfazer àquele pedido. Levou orapaz ao carro. Era todo feito de ouro, prata e pedraspreciosas. Faetonte olhou-o cheio de admiração.

Eis que no Oriente a Aurora começou a tingir océu de rosa. O Sol ordena às Horas velozes queatrelem4 os cavalos ao carro. Depois, passa umapomada divina no rosto do filho, põe os raios aoredor da sua cabeça e profere estas recomendações:

— Não use o chicote e segure as rédeas comfirmeza. Os cavalos correm espontaneamente; o difícilé controlá-los. Cuidado para não se desviar da rota.Nem desça nem suba muito alto. Céu e terra devemsuportar o mesmo calor, por isso vá entre um e outra.

Faetonte se instalou no carro, ligeiro ao suportaro peso de um jovem. Os cavalos alados do Solpartiram, enchendo o ar com seus relinchos de fogo.Mas como praticamente não sentiam nenhum pesonem força nas rédeas, puseram-se a correr à vontade,para fora do caminho habitual. O carro ia para cimae para baixo, provocando grande confusão entre osastros.

Ao olhar do alto do céu para a terra, Faetonteempalideceu e seus joelhos tremeram de pavor. Já searrependia do que pedira ao pai. Que fazer? Tinhaum espaço infinito de céu às suas costas, outro tantodiante dos olhos. Não largava as rédeas, mas eraincapaz de segurá-las com firmeza.

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3 Ventas: nariz.4 Atrelar: prender.

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De repente, assustando-se à vista do Escorpião,Faetonte largou as rédeas. Os cavalos correram atoda velocidade por regiões onde jamais o carro doSol tinha estado. A Lua se espanta de ver os cavaloscorrendo abaixo dos seus. As montanhas mais altasda terra são as primeiras vítimas das chamas. Depois,o solo se fende, as águas secam, o verde se queima.Cidades inteiras, com sua gente, viram cinza. Foinaquela época, dizem, que os povos da Áfricapassaram a ter cor negra.

Faetonte vê o mundo se abrasar nas chamas docarro do Sol e não sabe o que fazer. Ele mesmo malpode suportar o calor. Foi então que a Terra, esgotadapela seca, ergueu sua voz sagrada:

— Se eu fiz por merecer isso, ó Zeus, maispoderoso dos deuses, por que não lanças teus raioscontra mim? Se devo morrer pelo fogo, que seja aomenos por meio do teu! Já o mundo todo parecepronto para voltar ao caos original. Livra das chamaso que ainda resta. Preocupa-te em salvar o universo!

O pai dos deuses, então, ouvindo aquela súplica,lança um raio contra Faetonte. O jovem, com oscabelos em chamas, tomba do céu, deixando no arum traço de fogo, como uma estrela cadente. Ninfas5

recolheram seu corpo e o sepultaram. Comoepitáfio6, escreveram estas palavras:

— Aqui jaz Faetonte, cocheiro do carro paterno.Não conseguiu dirigi-lo, mas morreu num ato degrande ousadia.

O pai de Faetonte ficou desolado. Dizem mesmoque durante um dia todo não houve sol sobre a terra.

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5 Ninfas: divindades dos bosques, das águas e dos montes.6 Epitáfio: inscrição posta em túmulo.

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Orfeu e EurídiceNinfa, em escultura emmármore do italiano,Antonio Canova (1757-1822).Canova foi muitoinfluenciado pela arteclássica da Grécia e deRoma e com freqüênciaretratou personagens dosmitos gregos.

Fugindo de um homem que a perseguia, a ninfaEurídice pisou numa serpente venenosa ocultana relva. O réptil a picou no calcanhar, e ela

desceu ao reino dos mortos, deixando inconsolávelseu marido. Orfeu, poeta, músico e cantor, sempreempunhando a lira ou a cítara, era um artistainsuperável. Com seu canto, os animais ferozes setornavam pacíficos e o seguiam, as rochas semoviam, as árvores inclinavam as copas1 em suadireção, os homens se acalmavam. Mas a dor pelaperda da esposa foi tal que ele, fugindo do convíviohumano, na solidão, só conseguia pensar emEurídice. Sua música, agora triste, só cantava o amorpor Eurídice. Por fim, resolveu descer ao sombrioHades2 para tentar trazê-la de volta.

Em meio às sombras e deuses das regiõessubterrâneas, Orfeu fez ecoar a música de sua lira.Nos Infernos, Sísifo tinha sido condenado a rolarmontanha acima uma pedra que, no alto, voltava acair, obrigando-o a recomeçar a tarefa eternamente.1 Copa: a folhagem da parte superior das árvores.2 Hades: o reino dos mortos; era também o nome do deus que reinava sobre essas regiões.

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Mas, com aquela música, como que por encanto apedra de repente ficou parada, sem ninguém asegurar. Tântalo, como punição dos deuses, sedentoe faminto, tinha sempre diante de si água e comida,que, porém, nunca conseguia alcançar. Mas, ao somda lira de Orfeu, esqueceu-se da fome e sede eterna.As Danaides tentavam encher de água um tonelfurado; a música encantadora as fez descuidar datarefa ingrata. Cantando o amor a Eurídice e a perdada esposa, comoveu a todos os habitantes do mundoinfernal. Até mesmo de Hades, que tinha um coraçãode ferro, arrancou lágrimas.

Hades e Perséfone, os deuses infernais,concederam, então, que Orfeu levasse Eurídice devolta à vida, com uma condição: na ida em direção àluz do dia, ele não deveria, de maneira nenhuma,olhar para trás antes de deixar o mundo das sombras.

Eis que Eurídice acompanha silenciosa Orfeu, rumoà superfície da terra. Vão regressando daquelas regiõesescuras, povoadas pelas sombras dos mortos. Percorremum caminho abrupto,3 em meio a trevas e uma névoaespessa. E a luz já se aproximava, quando, tomado deintenso amor e esquecido da condição que lheimpuseram, Orfeu resolveu olhar para a sua Eurídice...Ouve-se um estrondo espantoso, e Eurídice diz aoesposo:

— Que loucura foi essa que perdeu a mim e a ti,Orfeu? Já de novo os destinos cruéis me chamam e osono começa a cerrar meus olhos. É hora de dizer-te

3 Abrupto: íngrime, difícil.

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adeus. A noite imensa me circunda e ergo em vãopara ti as minhas mãos enfraquecidas.

Disse isso e desapareceu como fumaça nos ares.Orfeu ficou desesperado, pois sabia que sua músicanão poderia dobrar4 os deuses infernais: eles jamaisse abrandavam com as súplicas humanas. Eraimpossível lutar contra suas duras leis.

Por todo o resto de seus dias, sem descanso, semtrégua à dor, Orfeu cantou o amor por Eurídice, queperdera para sempre num descuido fatal.5

Orfeu se volta para ver Eurídice, quesucumbe para sempre. Trata- se deum quadro do pintor e escultor inglêsGeorg Frederic Watts (pronúnciauóts) (1817-1904).

4 Dobrar: fazer ceder, tornar transigente.5 O mito de Orfeu e Eurídice tem fascinado a imaginação dos artistas através dos tempos. Nocinema, dois famosos filmes o trataram. Um é o do francês Jean Cocteau (pronuncie jã coctô), de 1949, em que Orfeu é um poetada Paris contemporânea. O outro é Orfeu Negro, do também francês Marcel Camus (nãopronuncie o s final; quanto ao u, representa um som intermediário entre /u/ e /i/ ). Esteúltimo filme, uma produção de 1959, foi rodado no Rio de Janeiro e é baseado em texto deVinícius de Moraes, que também compôs, com Tom Jobim e Luís Bonfá, a trilha sonora.Aqui, Orfeu é um sambista carioca. O filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscarde melhor filme estrangeiro.

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Quando Narciso nasceu, sua mãe, uma ninfabelíssima, consultou o adivinho Tirésias para saberse aquele filho de extraordinária beleza viveria até ofim de uma longa velhice. Pareceram sem sentido assuas palavras:— Sim, se ele não chegar a se conhecer.

Narciso cresceu, sempre formoso. Jovem, muitasmoças e ninfas queriam o seu amor, mas o rapazdesprezava a todas.

Um dia, Narciso caçava na floresta quando aninfa Eco o viu. Eco, por causa de uma punição queHera1 lhe infligira, só era capaz de usar da voz pararepetir os sons das palavras dos outros. Ao se depararcom a beleza de Narciso, a ninfa se apaixonou porele e se pôs a segui-lo. Quando resolveu manifestar oseu amor, abraçando-o, Narciso a repeliu.Desprezada e envergonhada, Eco se escondeu nosbosques com o rosto coberto de folhagens. O amornão correspondido a foi consumindo pouco a pouco,até que, depois de reduzida a pele e osso, seu corpose dissipou nos ares. Restou-lhe, apenas, a voz e osossos, que, segundo dizem, tomaram a forma depedras.

Um dia, uma das muitas jovens desprezadas porNarciso, erguendo as mãos para o céu, disse:

— Que Narciso ame também com a mesma

Narciso

1 Hera: na mitologia latina, Juno, rainha dos deuses.

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intensidade sem poder possuir a pessoa amada! Nêmesis, a divindade punidora do crime e das

más ações, escutou esse pedido e o satisfez.Havia uma fonte límpida, de águas prateadas e

cristalinas, de que jamais homem, animal ou pássaroalgum se tinham aproximado. Narciso, cansado peloesforço da caça, foi descansar por ali. Ao se inclinarpara beber da água da fonte, viu, de repente, suaimagem refletida na água e encantou-se com a visão.Fascinado, quedou2 imóvel como uma estátua,contemplando seus próprios olhos, seus cabelosdignos de Dioniso3 ou Apolo, suas faces lisas, seupescoço de marfim, a beleza de seus lábios e o ruborque cobria de vermelho o rosto de neve. Apaixonou-se por si mesmo, sem saber que aquela imagem era asua, refletida no espelho das águas.

Nada conseguia arrancar Narciso dacontemplação, nem fome, nem sede, nem sono.Várias vezes lançou os braços dentro da água paratentar inutilmente reter com um abraço aquele serencantador. Chegou a derramar lágrimas, que iamturvar a imagem refletida. Desesperado e quase semforças, foram estas suas últimas palavras:

— Ah!, menino amado por mim inutilmente!Adeus!

O lugar em que estava fez ecoar o que dissera. Equando proferiu “Adeus!”, Eco também disse“Adeus!”.

2 Quedar (ou quedar-se): deter-se, ficar parado.3 Dioniso: na mitologia latina, Baco, deus do vinho.

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Em seguida, esgotado, Narciso se deitou sobre arelva, e a Noite veio fechar seus olhos. Diz-se que,nos Infernos, Narciso continua a contemplar suaimagem refletida nas águas do rio Estige.

As ninfas, juntamente com Eco, choraramtristemente pela morte de Narciso. Já preparavampara o seu corpo uma pira quando notaram quedesaparecera. No seu lugar, havia apenas uma floramarela, com pétalas brancas no centro.4

4 Narciso é outro mito que reaparece constantemente nas artes. Em Sampa, de CaetanoVeloso, há esta passagem, na qual o poeta descreve a primeira impressão negativa que teve aover a cidade de São Paulo:

“Quando eu te encarei frente a frente,Não vi o meu rosto,Chamei de mau gostoO que vi, de mau gosto, mau gosto.É que Narciso acha feioO que não é espelho...”

A poetisa Cecília Meireles (1901-1964) tem um poema interessante sobre Narciso. Aqui, aimagem que se tem do rapaz, a de um vaidoso apaixonado pelo próprio rosto, é apresentadacomo falsa. Na verdade, Narciso sorria, encantado, não para o seu reflexo, mas para a água,que imaginava ter gerado ela própria a imagem do belo e sorridente jovem. Não é um textofácil; mas vale a pena lê-lo. Atente para o ritmo dos versos e as imagens surpreendentes (o re-flexo do sorriso comparado a uma grinalda de flores que cai na água; a imagem de Narcisovista pela água como uma estátua de cristal):

EPIGRAMA

Narciso, foste caluniado pelos homens,por teres deixado cair, uma tarde, na água incolor, a desfeita grinalda vermelha do teu sorriso.

Narciso, eu sei que não sorrias para o teu vulto, dentro da onda:sorrias para a onda, apenas, que enlouquecera, e que sonhavagerar no ritmo do seu corpo, ermo e indeciso,

a estátua de cristal que, sobre a tarde, a contemplava,fixando-a sempre, com o seu efêmero sorriso...

(epigrama: poema que se caracteriza, sobretudo, por sua brevidade; ermo: solitário; efêmero:passageiro, fugidio).

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Narciso contemplando suaimagem na água. Pinturamural de Pompéia.

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Dizia-se que Prometeu criara os primeiroshomens a partir do barro. Desejando ajudar aessa humanidade primitiva, provocou por

duas vezes a cólera de Zeus.1 Um dia, durante umsacrifício de um boi aos deuses, Prometeu cobriucom o couro a carne e as vísceras2 do animal; quantoaos ossos, passou neles uma espessa camada degordura. Convidado a escolher a sua parte, Zeus, semsaber da trapaça, atraído pela gordura, acabouficando com os ossos. É por isso que nos sacrifíciosos gregos queimavam a gordura e os ossos para osdeuses, mas a carne e as vísceras eram comidas pelosparticipantes da cerimônia.

Ao descobrir que tinha sido enganado parafavorecer os homens, o pai dos deuses resolveuvingar-se privando a humanidade do fogo.Novamente, porém, Prometeu interveio em socorrodos mortais, desta vez roubando para eles umacentelha3 do fogo divino. A cólera terrível de Zeusmaquinou uma punição exemplar.

Zeus enviou aos homens a primeira mulher, queos deuses Hefesto4 e Palas Atena,5 ajudados pelos

Prometeu, o primeirobenfeitor da humanidade

1 Zeus: Júpiter na mitologia romana; é o rei supremo e pai dos deuses.2 Vísceras: órgãos do interior do corpo, como fígado, coração, pulmão.3 Centelha: fagulha.4 Hefesto: na mitologia latina, Vulcano, o deus do fogo.5 Palas Atena: na mitologia latina, Minerva.

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demais, criaram. Cada um dos deuses lhe concedeudeterminadas características: Afrodite6 lhe atribuiu abeleza e o encanto, Palas Atenas ensinou-lhe tarefasfemininas, Hermes7, astúcia, o fingimento e amentira, além do dom da palavra. Foi este últimoquem a chamou Pandora, que foi enviada à terracomo se fosse um presente para os homens. Essaprimeira mulher levava consigo uma jarra tampada,na qual os deuses haviam colocado todos os males edesgraças imagináveis.

Na terra, Pandora não conseguiu conter acuriosidade e destampou a jarra. Imediatamente,males e desgraças espalharam-se por todos os lados.Até então, os homens tinham vivido em paz, semdoenças, fome ou guerras. Pandora precipitadamentevoltou a tampar a jarra, mas já todos os males tinhamescapado, com exceção da esperança. Foi assim quea justiça de Zeus puniu os homens.

Quanto a Prometeu, foi acorrentado a umrochedo. Uma águia vinha de dia roer-lhe o fígado; ànoite, a parte que faltava renascia milagrosamente,tornando eterno o seu suplício.

Muito tempo depois, Hércules, um outrobenfeitor da humanidade, mataria a águia e libertariaPrometeu.

6 Afrodite: na mitologia latina, Vênus.7 Hermes: na mitologia latina, Mercúrio, o mensageiro dos deuses.

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Dédalo conversa com Pasífae. Pintura em parede de uma das casas suntuosas dePompéia. A cidade italiana foi sepultada por uma terrível erupção do Vesúvio em79 d. C.

O Minotauro deWatts. Note que com

a mão esquerda omonstro parece

esmagar umpassarinho.

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Teseu e o Minotauro,Dédalo e Ícaro

Na ilha de Creta reinava Minos. Um dia,Possêidon1 enviou-lhe, surgido do mar, umtouro, que o rei lhe deveria sacrificar. Minos,

porém, guardou para si o animal. A esposa de Minos,Pasífae, apaixonou-se pelo animal. Essa paixão deveter sido uma vingança de Possêidon, o rei do mar, oude Afrodite,2 a deusa do amor, de cujo culto a rainhatinha descuidado.

Vivia em Creta um célebre arquiteto, escultor einventor, Dédalo. Foi esse homem quem construiupara Pasífae uma novilha3 de bronze, oca, para que arainha, pondo-se em seu interior, pudesse atrair otouro. Assim Pasífae se uniu àquele animal. Da uniãonasceria um monstruoso homem com cabeça detouro — o Minotauro.

Quando nasceu o filho de Pasífae e do touro,Minos, envergonhado, fez com que Dédaloconstruísse um labirinto para aí deixar aquela criançamonstruosa. Com seus inúmeros corredores, salas egalerias, criados de maneira a fazer perder a direçãoe confundir até o mais astuto dos homens, o labirintosó era dominado pelo próprio Dédalo: quem alientrasse, não conseguiria mais sair.

1 Possêidon: Netuno, na mitologia latina.2 Afrodite: Vênus na mitologia latina.3 Novilha: bezerra.

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Com o passar dos anos, o Minotauro foicrescendo no labirinto, longe dos olhares daspessoas. Ora, Minos, tendo derrotado os ateniensesem batalha, exigiu deles um tributo sinistro: todos osanos, Atenas deveria enviar sete rapazes e sete moçaspara serem devorados pelo Minotauro. Pode-seimaginar o terror que deveria se apossar de quem,perdido na confusão dos caminhos tortuosos, sentiaaproximar-se de si aquela criatura grotesca quehabitava o labirinto... Disposto a pôr um fim a essasituação, o herói ateniense Teseu foi um dia a Creta,junto com os outros jovens destinados à morte certa.

Quando Teseu chegou à ilha, Ariadne, filha deMinos e Pasífae, apaixonou-se pelo jovem.Desejando salvá-lo da morte no labirinto, a moça lhedeu um novelo com um fio: Teseu deveria desenrolá-lo à medida que penetrasse naquele emaranhado.Quem tivera a idéia fora Dédalo. Foi assim que oherói, depois de matar o Minotauro, encontroufacilmente a saída, seguindo o caminho criado pelofio de Ariadne.

Ao saber do que ocorrera, Minos, enfurecido,aprisionou Dédalo e seu filho Ícaro no labirinto, poisjulgava que o arquiteto tinha sido cúmplice daquelatraição. Haveria de ser a morte para os dois, seDédalo, sempre astucioso e inventivo, não tivesseencontrado um meio de escapar. Fez, com penas deaves coladas com cera, um par de asas para si e outropara o filho.

Antes de saírem por uma das altas janelas dolabirinto, Dédalo fez uma recomendação a Ícaro.

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Que ele, sob hipótese alguma, se aproximasse do sol;deveria voar nem muito alto nem muito baixo, entreo céu e a terra. Partiram.

Mas Ícaro não obedeceu ao conselho paterno.Chegando demasiado perto do sol, a cera das asasderreteu, e as penas dispersaram-se nos ares. Derepente o moço se viu agitando braços nus.

Chamando em vão pelo pai, Ícaro caiu nas águasazuis do mar Egeu.

Labirinto em moeda do século III a. C. A imagem do labirinto tem sido retomada das maisvariadas formas, na literatura, nas artes em geral, nocinema etc. Sigmund Freud, o pai dapsicanálise, em uma de suas conferências,interpretou a imagem do labirinto comosímbolo dos intestinos, ao passo que ofio de Ariadne seria o cordãoumbilical! Um exemplo de como osmitos podem ser usados para váriosfins — e, neste caso, “abusados”...Você já deve ter ouvido falar no“Complexo de Édipo”, que tem seunome derivado de um mito grego: orei Édipo, sem saber, assassina seupróprio pai e se casa com sua mãe; aosaber a verdade, cega a si mesmo. Este mito(e a tragédia grega de Sófocles que dele trata) eramuito caro a Freud. Mas é com Jung que o recurso aos mitos se torna recorrente napsicologia.

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Minotauro pintado pelo espanhol Pablo Picasso (1881-1973) para servir de capa a uma revista com essenome.

Teseu mata o Minotauro.

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O nascimento e a primeirafaçanha do herói

Em Tebas, cidade grega, vivia uma mulher derara beleza, Alcmena, esposa do generalAnfitrião. Zeus decidiu pôr em prática um

plano astucioso para a ter em seus braços.Aproveitou-se da partida de Anfitrião para a guerra etomou-lhe a aparência; ao mesmo tempo, seu filhoHermes1 tomou a forma de Sósia, escravo dogeneral. E lá foram os dois deuses, meta-morfoseados2 em mortais, para a cidade de Tebas.

Zeus, então, ordenou que a Noite se prolongassecomo nunca antes e, fazendo-se passar por Anfitriãovoltando da guerra, foi ao encontro de Alcmena.Hermes ficou na porta da casa, para impedir que seupai fosse perturbado. A esposa de Anfitrião, que denada desconfiava, deitou-se com o pai dos deusesnaquela longuíssima noite.

Quando Anfitrião retornou da batalha, criou-segrande confusão, afinal sua esposa lhe falava dosmomentos que tinham passado juntos... E Alcmenajá sabia, em detalhes, de tudo o que tinha acontecidono campo de batalha antes de o general lhe contar.

As aventuras deHércules

1 Hermes: Mercúrio, na mitologia latina.2 Metamorfoseado: transformado.

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Foi preciso a intervenção de Zeus para esclarecertudo.

Meses depois, Alcmena deu à luz dois filhos: ummortal, Íficles, filho gerado com Anfitrião, e umsemideus, Hércules, cujo pai era Zeus. Hera, aciumenta mulher do pai dos deuses, haveria deperseguir aquele menino desde os seus primeirosdias.

No entanto, Hércules chegou um dia a mamar doseio de sua terrível inimiga. Foi Hermes quemcolocou a criança para mamar no seio de Heraquando a deusa dormia. Hércules sugou tão forte queela, despertando, afastou rudemente o menino. Gotasde leite escorreram pelo céu, formando o turbilhão deestrelas da Via Láctea, o “caminho de leite”.

Vingativa como de costume, Hera tramou a mortedaquela prova do adultério de seu marido Zeus. Umdia mandou ao berço dos filhos de Alcmena, queentão tinham só oito meses, duas serpentesgigantescas. Enquanto Íficles chorava e gritava,Hércules agarrou os répteis e os estrangulou semdificuldade. Provava que era, de fato, filho de umdeus.

À medida que o tempo passava, Hércules cresciaincrivelmente; com dezoito anos, sua altura chegou atrês metros. Em sua vida de herói, metade humano,metade divino, cumpriria as façanhas mais difíceis,impossíveis para um simples mortal.

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Um trecho de comédia

(A história dos amores de Zeus, ou Júpiter, seucorrespondente na mitologia romana, e Alcmena, aesposa de Anfitrião, foi narrada muitas vezes atravésdos tempos e nos mais diversos países, geralmentede forma cômica. O escritor português Luís deCamões, por exemplo, escreveu uma comédiachamada Anfitriães. Você lerá abaixo uma pequenaamostra de uma comédia muito divertida de Plauto,um escritor latino que viveu no século III antes deCristo! A peça chama-se Anfitrião e mostra asconfusões criadas com o aparecimento de doisAnfitriões e dois Sósias no mesmo espaço, a cidadede Tebas. No trecho que selecionamos e adaptamosligeiramente, Hermes, aqui com seu nome latino deMercúrio, com a aparência de Sósia, está à porta dacasa de Anfitrião e faz gestos ameaçadores para overdadeiro Sósia, que chegou há pouco da guerracom seu patrão. Note que Mercúrio finge não verSósia, e os dois falam à parte, sem se dirigirdiretamente um ao outro.)

MERCÚRIO (fazendo o gesto de dar socos no ar):Seja quem for o sujeito que vier aqui, comerá meuspunhos.

SÓSIA: Deixe disso! Não estou com vontade decomer a esta hora da noite: acabei de jantar. Entãoacho melhor você servir essa sua janta para quemestá com fome...MERCÚRIO (com uma das mãos, avaliando o peso

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de um dos punhos): Não é mau o peso deste meupunho...

SÓSIA: Estou frito! Ele está pesando os punhos.

MERCÚRIO (apontando para Sósia): E se eu desseum afago naquele ali para fazê-lo dormir?

SÓSIA: Você me salvaria: olha que faz três noitesque eu não durmo.

MERCÚRIO: Há cheiro de algum homem por aqui,para mal dos seus pecados.

SÓSIA: Ih! Será que eu soltei algum cheiro?

MERCÚRIO: E ele não deve estar longe, se bem quetenha vindo de longe.

SÓSIA: O homem é adivinho.

MERCÚRIO: Meus punhos estão doidos para entrarem ação.

SÓSIA: Se pretende exercitá-los em mim, por favor:veja se os amansa antes naquela parede...

MERCÚRIO: Uma voz voou até meus ouvidos.

SÓSIA: Não sou mesmo um infeliz? Não cortei asasas da minha voz! Ela voa!MERCÚRIO: É certeza: não sei quem está falandoaqui perto.

SÓSIA: Estou salvo! Ele não me vê. Disse que “nãosei quem está falando”, não eu, já que eu me chamoSósia, não “não sei quem”...

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Os doze trabalhos de Hércules – I

Hércules casou-se com Mégara e dessecasamento nasceram alguns filhos. Hera,ainda desejosa de vingar-se do adultério de

Zeus, fez com que o herói, num acesso de loucura,matasse-os todos, juntamente com sua própria mãe eos filhos de seu irmão Íficles. Contaminado por aquele morticínio e desejando sepurificar, Hércules se dirigiu ao oráculo de Delfos afim de consultar o deus Apolo através de suasacerdotisa, a Pítia. Para expiar1 seu crime, asacerdotisa lhe disse que ele deveria se colocar aserviço de seu primo Euristeu por doze anos; poroutro lado, com isso conseguiria a imortalidade. O

Hércules, totalmente bêbado, urinando...Como eram humanos esses heróis gregos!...

1 Expiar: pagar, purificar-se de.

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herói obedeceu às ordens de Apolo.Euristeu, que era rei de Micenas, temia que seu

primo Hércules quisesse tomar-lhe o poder eresolveu, então, dar-lhe doze tarefas que pareciamimpossíveis de realizar. Contava, assim, ver-se livredaquele homem que lhe causava tanto medo.

O primeiro trabalho de Hércules foi matar o leãode Neméia, um animal monstruoso, que devoravahomens e rebanhos. Esse animal, quando não estavaatacando, escondia-se numa caverna. Primeira-mente, o herói tentou feri-lo com flechas, mas a peledo leão era invulnerável e nada sofria com esseataque. Depois, deu-lhe, com sua clava,2 fortes gol-pes e sufocou-o entre seus braços. Morto o leão,Hércules tirou-lhe a pele e se cobriu com ela.Finalmente, Zeus transformou o animal em conste-lação.

Como segundo trabalho, Hércules teve de matar aHidra de Lerna, uma serpente com várias cabeças(humanas, segundo alguns!) que devastava as terraspor onde passava. Seu hálito era mortífero,3 e suascabeças renasciam em dobro quando cortadas. Alémdisso, a cabeça do centro era imortal. Mas, com aajuda de seu sobrinho Iolau, o herói venceu omonstro. De fato, enquanto ia cortando as cabeças daHidra, Iolau queimava as feridas, impedindo, assim,que da carne machucada nascessem novas. Por fim,Hércules cortou a cabeça do meio, enterrou-a e pôs-lhe por cima um enorme rochedo. Morto o monstro,

2 Clava: pedaço de pau mais grosso na parte de cima, usado como arma.3 Mortífero: mortal, que causa a morte.

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o herói embebeu suas flechas no seu sanguevenenoso, tornando-as também envenenadas.

A terceira tarefa de Hércules foi trazer vivo umenorme javali que vivia na montanha chamadaErimanto, na Arcádia, uma região da Grécia. O heróio fez com facilidade, atraindo o javali para fora desua toca e fazendo-o caminhar pela neve até secansar. Aí, capturou-o e levou-o nos ombros até acidade de seu primo, que lhe ordenara aqueletrabalho. Quando chegou com o animal, Euristeu,apavorado, saiu correndo e se escondeu dentro de umjarro de bronze...

Trazer viva a corça do monte Cerinia foi o quartodever imposto a Hércules. Era, também, um animalgigantesco, mais forte que um touro, e devastava ascolheitas. Tinha chifres dourados, pés de bronze e eravelocíssima. O herói não podia matá-la, pois era umanimal consagrado à deusa Ártemis.4 Hérculesperseguiu-a durante todo um ano, em vão. Um dia,porém, quando ela, já cansada, foi atravessar um rio,Hércules conseguiu feri-la com uma flecha ecapturá-la. E levou-a a Euristeu, cumprindo maisuma tarefa impossível a um mortal qualquer.

Matar as gigantescas aves do lago Estínfalo foi oquinto trabalho de Hércules. Eram em grandequantidade e devastavam colheitas e pomares.Diziam alguns que eram antropófagas, com penas deaço que feriam o inimigo como se fossem setas. Paraliquidá-las, Hércules tinha de as fazer sair da espessafloresta, perto do lago Estínfalo, em que se4 Ártemis: Diana, na mitologia latina, a deusa das florestas, dos animais e vegetais.

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ocultavam. Teve uma grande idéia: com castanholasde bronze, fez um barulho tal, que as aves saíramdaquele esconderijo. Então, usando as setasenvenenadas com o sangue da Hidra de Lerna,Hércules as matou uma por uma.

O sexto trabalho consistiu em limpar os estábulosdo rei Augias, que tinha um imenso rebanho, commilhares de cabeças. Esse homem não limpava asinstalações havia trinta anos. O estrume não eraaproveitado como fertilizante nas lavouras, e asterras iam ficando estéreis com o passar do tempo.Hércules fez uma aposta com Augias: receberia umaparte de seu rebanho se conseguisse limpar osestábulos em apenas um dia. Julgando que aquilo eraimpossível, o rei prontamente aceitou a aposta.Hércules, então, desviou a corrente de dois rios paraos estábulos e, com a maior rapidez, conseguiulimpar toda a sujeira acumulada ao longo dos anos.

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Os doze trabalhos de Hércules – II

Um touro enlouquecido, que soltava fogo pelasventas, devastava a ilha de Creta. O sétimotrabalho de Hércules consistiu em capturá-lo

e trazê-lo vivo a seu primo Euristeu. Esse, por suavez, quis consagrá-lo a Hera, mas a deusa, aindacolérica contra Hércules, recusou, e o animal foisolto.

A oitava proeza do herói consistiu em capturar aséguas de Diomedes, o rei da Trácia. Diomedesaprisionava os estrangeiros que vinham ter a seu paíse com sua carne alimentava os quatro animais.Hércules matou o rei e deu seu corpo às éguas paraser devorado por elas.

A filha de Eristeu, Admeta, desejava para si ocinto da rainha das amazonas, Hipólita; obtê-lo foi onono trabalho de Hércules. As amazonas erammulheres guerreiras, descendentes de Ares, o deus daguerra, e tinham uma comunidade formada apenas demulheres. Lutavam com grande bravura. Para seapoderar do cinto da rainha, Hércules teve de lutarcom aquelas mulheres e matar Hipólita.

Trazer os bois do imenso rebanho de Gerião, umgigante de três cabeças, foi a décima proeza do herói.Para isso, Hércules teve de ir até a ilha de Eritia,atravessando o Oceano. Como conseguiria isso? Foipreciso empregar a enorme taça do Sol; nela, todosos dias o Sol embarcava de volta para seu palácio noOriente depois de ter, ao cair da noite, chegado aoOceano. O Sol só lhe emprestou sua taça quandoHércules, irritado com o calor ao atravessar um

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deserto, ameaçou atingi-lo com suas flechas. NoOceano, tão agitadas estavam as ondas, que Hérculesteve de fazer também a mesma ameaça a ele para quese acalmasse. Em Eritia, nos confins do Ocidente,Hércules matou, com sua clava, o cão Ortro, umanimal monstruoso, e o pastor Eritíon, queguardavam o rebanho. Gerião tentou resistir, mas assetas de Hércules o venceram. Os animais que oherói conseguiu fazer chegar até Euristeu foramsacrificados a Hera.

O décimo primeiro trabalho parecia realmenteimpossível: descer ao reino dos mortos, ao sombrioHades, e capturar o cão Cérbero. Esse animalaterrorizante, com três cabeças e as costas e opescoço cobertos de serpentes, impedia a entrada devivos naquelas regiões bem como a saída dos mortos.O deus Hades consentiu que Hércules levasseCérbero com a condição de que não usasse armas.Hércules, então, atacou o cão, segurou-o pelopescoço e, com a cauda do animal, que tinha umferrão, deu-lhe várias picadas. E pôde sair dosInfernos e levar a Euristeu a estranha presa. O primo,à vista daquele ser monstruoso, saiu correndo,apavorado e foi se esconder em seu jarro de bronze...O herói devolveu Cérbero a Hades.

O último dos doze trabalhos foi trazer maçãs deouro do jardim das Hespérides. Essas maçãs tinhamsido o presente de casamento, oferecido pela Terra,nas bodas de Zeus e Hera. A deusa as plantara nojardim dos deuses e, para proteger a árvore e osfrutos, deixara-os sob a guarda de um dragão de cemcabeças e das três ninfas do Poente, as Hespérides.

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No caminho para o jardim, Hércules, dentre outrasfaçanhas, libertou Prometeu do rochedo a que estavaencadeado. Prometeu, em reconhecimento, advertiu-lhe que a única maneira de conseguir colher os frutosera através do gigante Atlas, que sustentava o céusobre os ombros. Ao encontrar Atlas, Hércules fez-lhe uma proposta: seguraria o céu em seu lugar poralgum tempo, enquanto o gigante iria colher trêsmaçãs do jardim das Hespérides, que ficava perto. Eassim aconteceu. Atlas, porém, queria levarpessoalmente as maçãs a Euristeu, enquanto o heróificaria suportando o peso do céu. Hércules fingiuconcordar, mas usou de esperteza para escapar a essasituação: pediu ao gigante que segurasse aquelefardo por alguns momentos para que ele pudessecolocar uma almofada sobre os ombros. Atlas voltou

a segurar o céu —para sempre..., en-quanto Hérculespartia, de volta àpátria de Euristeu.Levadas ao rei, asfrutas foram ofere-cidas a Hera, que aspôs de volta em seujardim. Assim se cumpri-ram os doze traba-lhos de Hércules,doze proezas impos-síveis para os mor-tais comuns.

Hércules luta com um centauro.

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A guerra de TróiaAs origens da guerra de Tróia

Um dia, Hécuba, a esposa do rei de Tróia, teveum sonho pavoroso; ela, que estava grávida eem breve daria à luz, acordou de repente no

meio da noite. Logo contou a seu marido Príamo opesadelo: sonhara que o filho esperado finalmenteparecia querer sair de seu ventre, mas, ao invés deuma criança, paria uma tocha. O mais inquietante eraque o fogo acabava por se espalhar pela cidadeinteira, consumindo tudo. O rei tentou em vãoacalmá-la e minimizar aqueles terríveis presságios;por fim, para não restar dúvidas, dirigiu-se a um deseus filhos, que sabia como ninguém a arte deinterpretar os sonhos. A resposta que os paisreceberam foi uma horrível notícia e um conselhotétrico1:

— Vai nascer uma criança que causará a ruína deTróia! Matem-na assim que nascer!

Pode-se imaginar como o prognóstico2 destruiu atranqüilidade de Príamo e de Hécuba. A criançafinalmente nasceu, Páris, um belo menino, robusto ede traços encantadores. Que cegueira a dos homens!:contando de acordo com as luas, segundo um velhocostume, levara dez meses o nascimento de Páris,assim como dez anos levaria o cerco de Tróia,

1 Tétrico: terrível, medonho.2 Prognóstico: previsão, profecia.

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terminando com o espantoso parto de guerreiros deum cavalo de madeira!

Mas Hécuba, mãe, não aceitava a idéia de vermorto aquele filho e conseguiu fazer com que omenino fosse abandonado no Ida, uma cadeia demontanhas e bosques onde certamente ele nãopoderia sobreviver. Assim, Páris certamentemorreria, para salvação de toda uma cidade, mas deuma maneira menos chocante para os pais.

De repente, porém, um acaso muda o curso dosacontecimentos. Naquele mundo em que os homenssentiam sempre os deuses se manifestando e

participando dos aconte-cimentos cotidianos, eradifícil não ver aí mãosdivinas, precipitando aação humana para cum-prir um plano arquite-tado nas alturas. Pasto-res encontraram acriança desprotegida edestinada à morte e arecolheram e criaramcomo se fosse o filho deum deles. Prodígio3 ina-creditável: fora salva dafome graças a uma ursa,que foi vista a seu ladoamamentando-o...Atlas.

3 Prodígio: acontecimento sobrenatural, milagre.

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Com o passar do tempo, aquele menino cresceurobusto e se tornou um jovem de valor, que defendiaos rebanhos dos pastores contra o ataque dos ladrõese das feras. Chamaram-no, então, Alexandre, isto é,em grego, “o protetor dos homens”. E um belo dia ojovem voltou para Tróia e revelou quem era, parasurpresa de todo mundo, já que os súditos de Príamoestavam acostumados a participar anualmente dosjogos que o pai celebrava em memória do filhosupostamente morto quando criança.

Príamo e sua esposa o receberam muito bem e,esquecidos daquela profecia sinistra, cumularam4

Páris de tudo a que tinha direito o filho de um rei.Não podiam imaginar o que o Destino já haviatramado durante a permanência de Páris-Alexandreentre os pastores do Ida!

Nas montanhas, um dia, Páris tivera de assumir opapel de juiz num dos julgamentos mais difíceis quese possa conceber. Tudo começou com Éris, a deusaDiscórdia. Era um monstro horrível de ver, comserpentes ao invés de cabelos, os olhos em brasa e aroupa ensangüentada. Estava sempre pronta a lançardeuses contra deuses, homens contra homens, deusescontra homens, em suma, a infelicitar a vida demortais e imortais com suas intrigas. Um dia, duranteas bodas de Peleu e da ninfa Tétis, os futuros pais dogrande Aquiles, a Discórdia, enraivecida por não tersido convidada para a festa, lançou entre as deusasHera, Palas Atena e Afrodite5, uma maçã de ouro, comuma inscrição: “À mais bela”.

4 Cumular: encher de, dar em grande quantidade.5 Hera, Palas Atena e Afrodite: na mitologia romana, Juno, Minerva e Vênus, respectivamente.

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Uma simples frase causou a maior confusão,especialmente entre as três belíssimas deusas, quedisputavam acirradamente6 o título de a maisformosa. Zeus, desejando pôr fim à discussão,decidiu organizar uma espécie de concurso de belezaentre as três rivais. Talvez para evitar ciumeiras eproteções entre os imortais, determinou que o juizseria um ser humano, ninguém menos do que otambém formoso pastor Alexandre-Páris! Mas, comum mortal falível7 e divindades dispostas a tudo parasatisfazer a vaidade e não macular a reputação,aquela disputa não seria das mais imparciais... Cadauma das deusas prometeu algo ao juiz:

— Você reinará sobre toda a rica Ásia, se meescolher, disse Hera, que era casada com o supremorei do Olimpo8, Zeus.

6 Acirradamente: apaixonadamente.7 Falível: que pode se enganar, que pode falhar.8 Olimpo: monte da Grécia considerado como morada dos deuses celestes. Veremos como

esse nome comparece num poema do português Fernando Pessoa, escrito com o heterônimode Ricardo Reis. Mas antes é preciso falar um pouco sobre o poeta. Fernando Pessoa, alémde escrever poemas e prosa em seu próprio nome, escrevia também adotando“heterônimos”, nomes como de Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. Não sãopropriamente pseudônimos (isto é , “nomes falsos”) porque por detrás deles não estásimplesmente a figura de Fernando Pessoa. Cada heterônimo tem sua biografia, inventadapelo poeta, sua maneira de escrever, seus temas prediletos, como se se tratassem de pessoasreais, diferentes de Fernando Pessoa. O poeta, em suas cartas, dizia que desde criança sededicava a criar seres imaginários com os quais como que convivia; ao crescer, julgou- sevítima de uma doença psicológica, uma espécie de neurose. Como escritor, é como sePessoa se desdobrasse em vários ou criasse, como um autor de teatro, personagens queassumissem a responsabilidade pelo que expressam; assim, essas várias “vozes” chegammesmo a comentar os poemas uns dos outros. Imagine esta situação: você pode inventar,digamos, dois personagens, que têm uma biografia diferente da sua, um rosto diferente doseu, uma maneira de falar que não é a sua etc.; mais: quando escreverem, cada um dos... trêsterá algo especial na sua maneira de expressar!Você vai ler, agora, um poema do heterônimo Ricardo Reis, cuja poesia fala do mundopagão (isto é, pré-cristão), com seus deuses, sua filosofia, idéias e preferências artísticas. Hápouco tempo, Maria Bethânia gravou, no seu disco Imitação da Vida, uma música de SueliCosta cuja letra é o poema de Ricardo Reis que vai abaixo. Grife os elementos do mundoantigo que você consegue identificar:

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— Dê-me seu voto e será o mais sábio doshomens e vencerá todas as batalhas de que participar,prometeu, majestosa, Palas Atena, a mais sábia e amais guerreira dentre as deusas.

Mas foi a dourada Afrodite, com seu sorriso cheiode encantos e seus olhos brilhantes, seu doceperfume e seus gestos delicados, que seduziu opastor, tanto mais que prometeu algo equiparável9 àmaravilha que ele tinha diante de seus olhos:

— A mais bela das mortais, a grega Helena,mulher de Menelau, compartilhará do seu leito, dissea deusa do desejo amoroso, sempre doce e amarga aomesmo tempo, como costuma ser o amor.

Terminou com a vitória de Afrodite aquelejulgamento, mas não a guerra das deusas nem as suasconseqüências — pelo contrário, ali Tróia começavaa caminhar para a ruína última e definitiva. O pomo10

dourado da Discórdia arruinaria a cidade de Príamoe levaria a gregos e troianos muitas desgraças,lágrimas e dores sem conta. As deusas perdedoras,Hera e Palas Atena, ajudariam, na medida de suas

Segue o teu destino,Rega as tuas plantas,Ama as tuas rosasO resto é a sombraDe árvores alheias.A realidadeSempre é mais ou menosDo que nós queremos.Só nós somos sempreIguais a nós próprios.Suave é viver só.Grande e nobre é sempreViver simplesmente.

Deixa a dor nas arasComo ex-voto aos deuses.Vê de longe a vida.Nunca a interrogues.Ela nada podeDizer-te. A respostaEstá além dos deuses.Mas serenamenteImita o OlimpoNo teu coração.Os deuses são deusesporque não se pensam.

(ara: altar, ex-voto: na Antigüi-dade, como hoje, as pessoaspediam curas aos deuses e fa-ziam promessas; quando aten-didas, cumpriam-nas e, muitasvezes, isso significava colocarno templo uma oferenda: nocaso do doente, poderia seruma imagem do órgão docorpo afetado. A essa imagemde agradecimento chamamos ex-voto).

9 Equiparável: comparável.10 Pomo: fruta com polpa carnosa e forma esférica, como a maçã, a pêra e a romã.

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forças, os inimigos dos troianos na longa guerra entreexércitos da Europa e da Ásia.

Um dia Páris, acompanhado de um de seusirmãos, viajou para a cidade de Esparta, pátria deMenelau, com o objetivo de raptar-lhe a esposa, quedeveria ser sua, segundo a promessa de Afrodite. Foirecebido com uma hospitalidade digna dos gregos,numa recepção que unia anfitrião e hóspede emfortes laços de direitos e deveres mútuos. O marido,que de nada desconfiava, teve, pouco depois, deviajar para a ilha de Creta e, acreditando no pacto dehospitalidade, deixou sua própria esposa encarregadade tratar bem os troianos.

Helena, diante daquele jovem ainda mais belo porobra de Afrodite, apaixonou-se e, sabendo dos planosde Páris, longe de precisar ser levada à força,11

resolveu com ele fugir levando seus tesouros. Foibem recebida pelo rei Príamo, que não podiaimaginar que desgraça acolhia em seus muros juntocom aquela mulher que a todos encantava. No futuro,também um cavalo de madeira seria recebido comalegria e dele nasceria um rastro de destruição emorte.

Ao saber do que ocorrera, Menelau reclama deTróia a esposa, em vão. Furioso e decidido a sevingar, conclama todos os seus aliados a marcharcontra a cidade, sob o comando de seu irmãoAgamêmnon.

Naquele exército, iam heróis que o mundo jamais

11 Segundo outra versão da mesma história, Helena teria sido, de fato, raptada.

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esqueceria: o jovem e impetuoso Aquiles, o arguto12

Odisseu, ou Ulisses, tão hábil na ação quanto naspalavras, e tantos outros. Tróia, também chamadaÍlion, assistiria a dez anos de batalhas em quecombateriam os mais notáveis dentre os gregos e ostroianos, em duelos que tinham muitas vezes algumaparticipação divina. Poetas e artistas praticamente domundo todo, e em quase todas as épocas,recordariam inúmeras vezes aquele conflito terrívelentre Europa e Ásia, que até hoje atiça a nossaimaginação.

12 Arguto: esperto, perspicaz, sutil.

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A ira de Aquiles

No décimo ano do cerco à cidade de Tróia, osgregos foram surpreendidos por uma terrívelpeste, enviada pelas setas do deus Apolo. Os

animais foram os primeiros a serem atingidos, maslogo a doença contaminava os homens, multiplican-do pelo acampamento as piras erguidas paraincinerar1 os mortos. Condoído2 pela sorte dos seus,Aquiles reuniu o exército. Conhecedor do presente,passado e futuro, o adivinho Calcas tomou a palavraperante a assembléia dos gregos:

— Apolo está irritado com a ação deAgamêmnon. Como todos sabem, o rei maltratou osacerdote do deus, quando este veio reclamar devolta a filha Criseida, aprisionada e escravizada porele na cidade de Tebas da Mísia. Agamêmnon nãoquis devolver a moça ao pai; enquanto isso nãoocorrer, Apolo nos infligirá dores sem conta.

Agamêmnon enfureceu-se com aquelas palavras,mas comprometeu-se a restituir a sua presa deguerra, desde que obtivesse uma compensação.Suspeitando que o rei desejava tirar-lhe sua escravaBriseida para substituir a filha do sacerdote, Aquilesferveu de indignação:

— Despudorado,3 cão, nós o seguimos até aquipara que seu irmão Menelau se vingasse da afrontados troianos, e você ameaça tirar-me Briseida? Eu

1 Incinerar: queimar.2 Condoído: com dó.3 Despudorado: sem pudor, sem-vergonha.

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lutei tanto para capturá-la! Vou retirar-me para aminha cidade natal. Não quero ficar aqui, humi-lhado, conquistando bens e riquezas só para você.

— Vá embora, então — replicou Agamêmnon.Você só aprecia disputas, guerras e batalhas. Já queme levam Criseida, tomarei para mim a sua Briseida,escrava de bela face, para que saiba como sou maispoderoso do que você.

O filho de Peleu, Aquiles, ardeu de tamanho ódioque chegou a pensar em matar o rei. Foi então que,enviada por Hera, que queria proteger um e outro,Palas Atena desceu à terra e puxou Aquiles peloscabelos loiros. Só o herói conseguia vê-la; pergun-tou-lhe o que ela fazia por ali.

— Vim para acalmar sua ira, disse Palas Atena, adeusa de olhos azuis. Não use a espada contra o rei,mas o maltrate apenas com as palavras. Um dia, porcausa da violência que estão fazendo a você, essesmesmos homens lhedarão o triplo debens. Por isso, conte-nha seu ódio e obe-deça!

Aquiles, então, obe-decendo, desistiu deusar a espada, mascobriu o rei com pesa-dos insultos; Agamêm-non replicou com amesma dureza. Per-maneceram os doiscada qual em sua Elmo Grego.

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posição, uma disputa que seria prejudicial aosgregos. Após a dissolução da assembléia, Aquilesretirou-se para sua tenda, acompanhado do fielamigo Pátroclo e de outros companheiros. Cruzavaos braços, deixando o exército grego entregue àprópria sorte. Pouco depois, vieram buscar a suaescrava Briseida, que o herói deixou partir.

Sozinho à beira-mar, Aquiles chorava e invocavaa mãe, a deusa Tétis, de pés argênteos.4 Queixava-sede não receber a honra que os deuses lhe prometeramem sua breve vida. Surgindo dos abismos do marcomo uma névoa, a deusa acariciou o filho e, aosaber o motivo daquele pranto, prometeu-lhequeixar-se pessoalmente a Zeus de uma tal afronta.Doze dias depois, quando o supremo rei e pai dosdeuses retornou de uma viagem à África, Tétis,abraçada a seus joelhos, como era costume quando sesuplicava a alguém, falou-lhe assim:

— Zeus pai, se eu, entre os imortais, alguma vezte ajudei, atende à minha súplica: concede honra ameu filho, destinado a uma morte precoce. Dá vitóriae glória aos troianos enquanto os gregos nãoatribuírem a ele as honras devidas.

Apesar de temer a ira da esposa Hera, que apoiavaos gregos, Zeus comprometeu-se a atender aopedido, franzindo as sobrancelhas num sinal deaprovação; seus cabelos de ambrosia5 se agitaram etodo o Olimpo tremeu.

Dias de derrotas se sucederam para os gregos, quesentiram na pele a falta que fazia Aquiles, o herói de

4 Argênteo: de prata.5 Ambrosia: (pronuncie ambrosía) substância divina que também servia de alimento para os

deuses.

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pés ligeiros. Sempre mais desconsolados a cada diaque passava, os gregos resolveram enviar umaembaixada de conciliação à tenda do herói. MasAquiles recusou os ricos presentes que lhe traziam e,dentre muitas outras palavras, proferiu estas:

— Minha mãe Tétis disse-me que o destino mereservava uma escolha: se eu permanecer em Tróia,combatendo, morrerei conquistando grande glória,mas se eu voltar para casa, terei uma vida longa,ainda que sem glória. Voltem, vocês todos, pois nãoverão jamais o fim da cidade de Príamo. Amanhãdecidirei se voltarei para casa ou permanecerei aqui.

Acumulavam-se os sofrimentos dos gregos.Pátroclo, então, o grande companheiro de Aquiles,pediu-lhe que, ao menos, permitisse que ele usassesua armadura e suas armas para ir em ajuda aoscompanheiros. Aquiles consentiu.

No campo de batalha, Pátroclo faz grandecarnificina entre os inimigos troianos, mas Apolointervém. Dissimulado em uma densa névoa, o deuschega perto de Pátroclo, golpeia-o na espinha e nosombros e derruba o elmo6 de sua cabeça. Heitor,então, o maior dentre os guerreiros troianos, passariaa usar aquele capacete que outrora protegia Aquiles ejamais tinha caído ao chão antes daquele momento.

Apolo continua a agir sobre Pátroclo; rompem-sea lança e o cinturão que o herói trazia consigo; caipor terra o seu escudo, e o deus ainda lhe tira acouraça7. O herói pára, completamente aturdido. Umtroiano de nome Euforbo o fere, enterrando uma

6 Elmo: capacete.7 Couraça: armadura que protege o peito e as costas do combatente.

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lança nos seus ombros. Heitor, percebendo quePátroclo está ferido e procura se salvar retirando-seda batalha, fere-o com uma lança no ventre. Otroiano parecia um leão vitorioso depois de disputarcom um javali indomável a posse de uma mina deágua. Diz Heitor:

— Pátroclo, você estava certo que iria tomar deassalto a nossa cidade e escravizar as mulherestroianas. Tolo! Os abutres o devorarão! Aquiles nãopoderá mais proteger você.

Mas Pátroclo ainda teve forças para responder:— Isso mesmo, Heitor, você se vangloria com

uma vitória que Apolo e Zeus lhe deram; mas foramos deuses que tiraram minhas armas. Mas ouça bemo que tenho a lhe dizer: Você não irá muito longe;logo virão ao seu encontro a morte e o destinoinvencível. Morrerá às mãos de Aquiles.

Depois de assim falar, a alma lhe voou dosmembros e desceu ao reino dos mortos, o sombrioHades, lamentando sua sorte,8 já que deixava umcorpo há pouco cheio de vigor e juventude. Heitordirigiu ao morto estas palavras:

— Pátroclo, por que me prediz terrível destino?Talvez Aquiles me preceda, ferido pela minha lança.

Então o troiano arrancou a sua arma do corpo do gregoe pisou-o.

Foram levar a notícia a Aquiles, que naquelemomento tinha o coração inquieto e a mente cheia de

8 Sorte: destino.

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receios. Já pressentia a morte do companheiro. Aoreceber a confirmação de suas suspeitas, o heróidemonstrou sua aflição: cobriu de cinzas o rosto e aveste e caiu por terra arrancando os cabelos. Choravae gritava desconsolado.

A ninfa Tétis ouviu os lamentos do filho e gemeu;todas as ninfas do mar acompanharam sua dor echoraram. A mãe foi consolar Aquiles, que se sentiaculpado pela morte do amigo e pretendia voltar aocombate para vingar a morte de Pátroclo.

Tétis prometeu ao filho novas armas, já que asdele haviam sido tiradas do corpo de Pátroclo e agorapertenciam a Heitor. A promessa logo se cumpriu. Apedido da ninfa, armas novas foram fabricadas pelodeus ferreiro, Hefesto.9 Chamava a atenção,sobretudo, um grande escudo em que o deusrepresentara a terra, o mar, o céu com seus astros,além de cidades e campos. Quando a Aurora do diaseguinte despontou,10 trazendo a luz aos mortais eimortais, Tétis levou ao filho as armas fabricadas porHefesto. Encontrou-o chorando, abraçado ao corpodo amigo.

Aquiles, então, dirigiu-se a Agamêmnon e disse-lhe que desistia de sua ira; pediu-lhe que esquecessea disputa que os tinha separado. O rei, por sua vez,devolveu-lhe Briseida e confirmou que lhe dariatodos os presentes prometidos quando da embaixadaà tenda do herói. Estava selada a reconciliação, paradesgraça dos troianos. A ira de Aquiles iria ter, agora,outro alvo.

9 Hefesto: na mitologia latina, Vulcano.10 Despontar: surgir.

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A morte de Heitor

Após fazer as pazes com Agamêmnon, Aquilesretornou ao campo de batalha, ondeguerreava com fúria. Rápido por causa de

seus pés ligeiros, parecia um corcel galopando a todavelocidade ou uma estrela brilhando através daplanície. Tomado por um mau pressentimento, o reiPríamo suplicou a seu filho Heitor que não oenfrentasse. Hécuba, sua mãe, em lágrimas, fez-lhe amesma súplica. O troiano, porém, estava decidido anão ceder ao apelo dos pais.

No entanto, quando Heitor avistou Aquiles, comsua armadura de bronze brilhando como um fogo ouo sol nascente, teve medo e fugiu. Aquiles voou atrásdele, perseguindo-o sem descanso. Estava em jogo,naquela corrida, a vida de Heitor. Assistiam a esseespetáculo não só gregos e troianos mas também osdeuses; Zeus sentiu piedade do filho de Príamo.

Os heróis corriam sem que um conseguissealcançar o outro. O pai e rei dos deuses, então, pesounuma balança de ouro os destinos dos dois: oresultado indicou claramente que a vida do troianoestava por um fio. Diante disso, Apolo, que até entãoo vinha protegendo, abandonou-o.

Para precipitar a morte de Heitor, Atena setransformou no mais querido dentre seus irmãos,Deífobo, e o estimulou a ir ao encontro de Aquiles.Heitor disse ao grego estas palavras:

— Não vou mais fugir. Dei três voltas ao redordos muros de Tróia sem ousar enfrentá-lo, mas agora

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basta. Se eu vencer, devolverei seu corpo aos seuscompanheiros e, se for você o vencedor, devolvameu corpo aos meus.

— Não diga isso, maldito!, respondeu Aquiles.Nunca poderemos ser amigos, assim como acontececom o homem e o leão, com o lobo e o cordeiro, quese odeiam. Você pagará pelos sofrimentos dos meuscompanheiros mortos pela sua lança.

Depois destas palavras, Aquiles atirou a lançacontra Heitor. Como este se desviou, a arma foi sefincar no chão. A própria Palas Atena a pegou devolta e, sem ser vista pelo troiano, entregou-a aAquiles. Heitor, porém, atirou a sua contra o herói,atingindo o centro de seu escudo. O troiano, irritado,de repente percebeu que o falso Deífobo não estavamais do seu lado; compreendendo que fora vítimados deuses, deu-se conta de que sua morte já estavapróxima. Resolveu morrer lutando: desembainhou aespada e se precipitou contra Aquiles.

No entanto, o grego fere o pescoço de Heitor,num ponto deixado descoberto pela armadura que otroiano portava, a mesma que tomara de Pátroclo. Aovê-lo tombar na poeira, Aquiles lhe diz palavrasduras; Heitor ainda lhe dirige um pedido:

— Suplico-lhe, por seus pais, não deixe meucorpo sem sepultura, não o entregue aos cães dosgregos. Aceite resgate em troca dele e o devolva aTróia.

— Ah!, cão, deixe de súplicas. Nem se Príamoquisesse comprar com ouro o seu corpo, eu oentregaria. Cães e aves o devorarão, replica o grego.

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Morto Heitor, Aquiles lhe furou os calcanhares,passou por eles correias de couro, amarrou, pelospés, o corpo a seu carro e partiu em direção aosnavios gregos. Ao assistir a essa cena, a mulher deHeitor, Andrômaca, depois de um desmaio,chorando, pôs-se a lamentar a sorte do marido, delamesma e do filho pequeno de ambos, Astíanax. Tróiatoda acompanhava seu pranto.

Enquanto isso, também Aquiles chorava,pensando em Pátroclo. E todos os dias, ao nascer dosol, tomado de fúria, voltava a ligar o corpo de Heitora seu carro e dava três voltas em torno do túmulo doamigo. Apolo, porém, encarregava-se de evitar que ocorpo do troiano se desfigurasse com o tratamentoque vinha recebendo. Até que, dez dias depois, odeus, indignado, assim falou aos outros habitantes doOlimpo:

— Cruéis! Por acaso Heitor não fazia sacrifíciosa todos vocês? E agora não querem salvar nemmesmo seu corpo para que seus familiares possamincinerá-lo, prestando-lhe todas as homena-gens? Vocês querem éajudar Aquiles, quetem no peito um cora-ção intratável, comoum leão feroz. O queele faz com o corpo deHeitor não é nem belonem justo.

Mas Zeus, lembra-Aquiles cuida do ferimento de seu amigoPátroclo.

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do dos sacrifícios que Heitor sempre lhe fazia, pôsem prática um plano para fazer Aquiles entregar ocorpo do inimigo a seu pai. Chamou Tétis ao Olimpoe encarregou-a de enviar a seu filho uma mensagem:os deuses estavam irritados com seu comportamento,por isso ele deveria devolver o corpo de Heitor aostroianos. Por outro lado, mandou Íris, a mensageiradivina, a Príamo, para estimular o velho rei a iroferecer presentes a Aquiles como resgate pelo corpodo filho.

Ao ouvir as palavras de Zeus pela boca da mãe,Aquiles se comprometeu a aceitar o resgate. Quantoa Príamo, após receber o recado de Íris, consultou aesposa, mas Hécuba lhe disse que não fosse aoencontro daquele homem cruel; finalmente, o reiresolveu ir mesmoassim ao encontro dogrego. Levava-lhe,entre outros presen-tes, belíssimos man-tos, túnicas e moedasde ouro. Zeus o viupartindo e enviou odeus Hermes paraprotegê-lo no cami-nho.

Chegando à tendade Aquiles, Príamo oencontrou ainda àmesa; tinha acabadode comer e beber. Em

Aquiles sonha com o amigo morto Pátroclo, emquadro do suíço Henry Fuselli (1741-1825). O pintor parecia ter certa predileção por temascomo espectros e aparições noturnas.

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atitude de quem suplica, segurou-lhe os joelhos ebeijou a mão que tinha matado tantos filhos seus.Disse-lhe:

— Lembre-se, Aquiles, de seu pai, que tem amesma idade que eu. Ele se alegra por saber quevocê está vivo e aguarda com ansiedade que seu filhovolte para casa. Mas a mim, não me restou nenhumdos filhos de valor que gerei. Você matou o último,Heitor, que protegia Tróia e seu povo. Venho resgatarseu corpo, trazendo muitos presentes. Respeite osdeuses, Aquiles, e, pensando em seu velho pai, tenhapiedade de mim. Eu sou o mais infeliz dos mortais,já que levo aos lábios a mão do homem que matoumeus filhos!

A essas palavras, Aquiles, pensando no pai e emPátroclo, chorou, acompanhando as lágrimas dePríamo por Heitor. Finalmente, tomou a palavra:

— Infeliz, você sofreu muito em seu coração!Deixemos ambos nossas dores encerradas no peito:não se ganha nada com o pranto. Zeus distribui aoshomens bens e males, misturados. Suporte!Chorando assim, não fará seu filho reviver masconseguirá apenas sofrer ainda mais.

Aquiles, então, mandou que as escravas lavassemo corpo de Heitor e o untassem com óleo. Concluídaessa tarefa, colocaram-lhe uma túnica. O próprioAquiles o levantou e depositou no carro. Depois dis-so, convidou Príamo a comer junto com ele. Príamoobservava, admirado, o grande e belo Aquiles, queparecia um deus; Aquiles, por sua vez, admirava orosto nobre de Príamo.

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Antes de irem dormir, o jovem prometeu ao velhorei que haveria uma trégua para que ele e os seuspudessem prestar as honras devidas ao corpo deHeitor. Temendo por Príamo, que estava em campode inimigos, o deus Hermes veio a ele, incitou-o apartir e guiou-o em direção a Tróia. Chegaramquando a Aurora estendia seu manto sobre toda aterra.

Dez dias depois, ardia na pira o corpo de Heitor.Quando, no dia seguinte, a Aurora de dedos cor derosa despontou1, a multidão se reuniu em torno delae prestou as últimas homenagens àquele homem quetinha conseguido conter o avanço do inimigo portantos anos.

Este foi o fim de Heitor, o herói domador decavalos.

1 Despontar: surgir.

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O calcanhar de Aquiles

O mais bravo dos guerreiros gregos era Aquiles,o herói de pés ligeiros. Sendo filho de um mortalcom uma ninfa, estava destinado à morte. Mas suamãe, Tétis, tentou desesperadamente torná-lo imor-tal. Segurando o filho pelo calcanhar, ela omergulhava nas águas do Estige, o rio dos Infernos,que tornava invulnerável o que nele mergulhasse. Aninfa, porém, não percebeu que o calcanhar, poronde segurava Aquiles, acabou não sendo tocado poraquela água miraculosa; assim, essa parte do corpodo herói seria a única que armas humanas ou divinaspoderiam atingir.

Na sua infância, Aquiles foi educado por um serde vastos conhecimentos e muita sabedoria: ocentauro Quirão. Esse mestre, que também educaraoutros heróis, ensinou ao menino a medicina, a arteda caça, a música e muito mais.

Quando os gregos preparavam a expedição para

O centauro Quirão ensina omenino Aquiles a tocar cítara.

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punir Tróia, Tétis, assustada, já que sabia que o filhoteria vida breve se participasse da guerra, tentouescondê-lo. Vestiu-o de mulher e o colocou entre asfilhas do rei de Ciros, uma ilha grega. Ali viveu cercade nove anos. Chegou a se casar, em segredo, comuma das filhas do rei.

No entanto, Calcas, o adivinho do exército grego,advertiu:

— Tróia não cairá se Aquiles não combater aonosso lado! Ele está escondido na ilha de Ciros.

Odisseu,1 então, sempre astuto, descobriu ummodo de fazer Aquiles revelar sua identidadeverdadeira e, assim, ser obrigado a partir para a guerra.Disfarçou-se de mercador e se dirigiu até Ciros. Aoexibir suas ricas mercadorias, percebeu que todas asmoças se interessavam pelas roupas, tecidos, jóias eperfumes que trazia, menos uma; uma delas, apenas,parecia indiferente a tudo aquilo. Mas ao descobrir, nofundo de um dos cestos do mercador, armas reluzentes,aquela moça, na verdade Aquiles, imediatamente aspegou e manuseou com interesse. Outra versão dahistória diz que Odisseu fez ressoar pelo palácio realuma trombeta de guerra, fazendo todas as moçasfugirem correndo, assustadas; Aquiles, porém,permaneceu onde estava e pediu armas para combater.Seja como for, traiu-se, e Odisseu o conduziu parajunto do exército grego. Levava consigo, além decompanheiros de armas, duas pessoas que lhe erammuito próximas: Fênix, um preceptor,2 homem jávelho, e Pátroclo, seu maior amigo.

1 Odisseu: Ulisses.2 Preceptor: mestre.

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Lutou bravamente ao lado dos outros gregos, semnunca ter visto a queda de Tróia. Quando morreuHeitor, às mãos de Aquiles, as amazonas vieram emsocorro da cidade. O herói lutou com elas e matou-lhes a rainha, Pentesiléia, que combatia com o rostocoberto. Ao receber o golpe mortal, o rosto daamazona se descobriu. Frente a frente com a belezaextraordinária das faces de Pentesiléia, quando ela jádesfalecia3, Aquiles sentiu um misto de amor ecompaixão.

Dizem alguns que um outro amor ajudaria aprovocar sua morte. Apaixonado por uma dascinqüenta filhas de Príamo, Políxena, marcou comela um encontro. Páris, irmão da moça, preparou-lheuma emboscada. Quando Aquiles chegou ao lugarcombinado, o troiano acertou-lhe o calcanhar comuma flecha. Mas há quem diga que Aquiles morreuno campo de batalha, ferido por uma flecha do deusApolo, que ordenara que ele se retirasse sem que ojovem obedecesse. Naquele momento, Aquilesconseguira chegar perto das muralhas troianas;Apolo, então, guiou a flecha disparada por Páris atéo ponto fraco do grego.

Depois de lhe queimarem o corpo, oscompanheiros puseram suas cinzas numa urna deouro, misturadas com a do amigo Pátroclo. Aopermanecer lutando em Tróia, fizera sua escolha:viver uma vida breve e gloriosa, ao invés deenvelhecer na terra natal, como um desconhecidoqualquer.

3 Desfalecer: perder as forças (aqui, ao morrer).

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O cavalo de madeira e o fim de Tróia

Após dez anos de luta, sem que Tróia parecesseceder, os gregos resolveram finalmente dar ogolpe decisivo contra a cidade. Empregaram

o que seria muitas vezes reconhecido como seumaior talento: a inteligência e a astúcia. Quem teve aidéia decisiva foi o preferido da deusa da sabedoria,Odisseu, ou Ulisses, um homenzinho atarracado,dotado de uma sagacidade1 que o tornavaindispensável ao exército. Seguindo instruções dessehomem astucioso, Epeu construiu um grande cavalode madeira e em seu enorme ventre entraram osmaiores guerreiros da Grécia.

Os gregos fingiram que tinham partido de Tróia eque finalmente retornavam para casa, cansados dalonga e inútil guerra. Na verdade, esconderam-se nailha de Tênedos, que ficava próxima. Antes dapartida, fizeram chegar aos troianos o rumor de queo enorme cavalo de madeira que haviam construídoera uma oferenda à deusa Palas Atena, para que elaassegurasse um bom retorno a todos. Aliviados, ostroianos saem dos muros que os protegiam e visitamo campo de tantas batalhas. Diante da alegriadespreocupada dos seus, o sacerdote de Netuno,Laocoonte, se revolta:

— Que loucura é essa, infelizes cidadãos? Achamque os inimigos foram mesmo embora, que os dons2

1 Sagacidade: astúcia.2 Dons: presente.

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dos dânaos3 não contêm nenhuma armadilha? Temoos gregos mesmo quando trazem presentes!

E assim dizendo atirou uma lança no cavalo, cujointerior ressoou e pareceu soltar um gemido.

De repente se ouviu um clamor de vozes; pastorestroianos traziam para junto do rei um jovem gregoque tinham encontrado amarrado não muito longedali. A notícia logo se espalhou e todo mundoacorreu para ver o rapaz e saber o que ia acontecercom ele. Admirados, ouviram suas primeiraspalavras:

— Ai!, que resta para este infeliz? Não há lugar paramim entre os gregos, ao passo que os troianos queremse vingar com meu sangue!

Eram palavras entrecortadas de gemidos elágrimas. Atiçaram a curiosidade de todo mundo, etalvez já começasse a nascer ali um pouco de piedadeno coração dos troianos. Todos o estimularam a dizerquem era e o que lhe acontecera. Disse ele:

— Não negarei que sou grego; posso ser umpobre infeliz, mas não um mentiroso. O odiosoOdisseu quis se vingar de mim, porque eu eracompanheiro de Palamedes. Odisseu odiava tantoesse homem que conseguiu fazer, através das maissórdidas intrigas, que os gregos o condenassem àmorte por traição. Eu fiquei indignado com o fimdaquele inocente, prometendo vingá-lo, e Odisseununca me perdoou isso; pelo contrário, começou afazer ameaças, a tecer acusações falsas. Não

3 Dânaos: gregos.

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descansou enquanto não conseguiu a ajuda doadivinho Calcas... Mas por que fico falando dessascoisas? Se vocês consideram todos os gregos damesma forma, vamos, matem-me! Odisseu ficariabem contente com isso, e Menelau e Agamêmnonlhes dariam uma boa recompensa...

Aquela era uma interrupção estratégica: ostroianos arderam de curiosidade para saber o queacontecera com Sinão e que estaria fazendo oadivinho naquela história intrigante. Assim, rogaramque o rapaz continuasse a narrar os crimes da raçaodiada. Fingindo como sempre, Sinão prosseguiu:

— Cansados dessa guerra, os gregos muitas vezespensaram em ir embora, mas o mau tempo sempre osimpedia. Um vento violento varria as ondas do mar,o céu se cobria de nuvens e trovejava espan-tosamente, sobretudo depois que o cavalo de madeiraconstruído para a deusa Palas ficou pronto. Consultadoo oráculo de Apolo,os deuses nos man-daram esta men-sagem horrível: “—Com sangue se de-ve buscar o retor-no, sacrificandouma alma grega!”Ficamos todos apa-vorados, pergun-tando-nos quem denós os destinos eApolo estavam re-

Aquiles, no momento em que vai matar Pentesiléia. Ojovem se apaixona, tragicamente, pela amazona.

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clamando.Odisseu, então, traz o adivinho Calcas e oobriga a dizer que os altares estavam destinando àmorte... Sinão, a mim, que aquele velhaco queria hátanto tempo pôr a perder! Todo mundo, aliviado deescapar à morte, aprova as palavras de Calcas. Chegao dia do sacrifício; amarram-me e colocam fitas emvolta da minha cabeça, polvilhada4 com cevada e sal,como é costume fazer com os animais oferecidos aosdeuses em sacrifício. Fugi, confesso a vocês, mas jánão tenho esperança de rever meus queridos filhos emeu saudoso pai. Pelos deuses do alto e pelosnumes5 da verdade, suplico-lhes, tenham compaixãode uma alma que suportou tamanhos sofrimentossem merecer!

Sinão terminou esse discurso em lágrimas,comovendo o coração dos troianos. Por fim, com amesma habilidade, contou como o cavalo foraconstruído para obter as boas graças de Palas Atena.Por recomendação de Calcas, tinham feito algoenorme, que fosse impossível de penetrar nos murosde Tróia, afinal a posse do cavalo significaria aproteção da deusa para seu povo. Se o recebessem nacidade, um dia Tróia haveria de fazer uma guerravitoriosa aos gregos; porém, se maltratassem o domde Palas, grande mal adviria para o Império dePríamo.

Mas eis que de repente um prodígio aterrador veioperturbar a mente e o coração dos troianos aindamais. Quando Laocoonte, que atingira com a lança o

4 Polvilhado: salpicado.5 Numes: divindades.

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cavalo deixado pe-los gregos, estavasacrificando umtouro na praia, dailha de Tênedos,através das águastranqüilas, duas ser-pentes gigantescascomeçaram a virem sua direção.Tinham enormesanéis e seus peitoserguidos e suascristas cor de sangue se sobressaíam sobre as ondas.Faz-se um estrondo no mar espumante. E eis que logochegam à praia e se dirigem ao sacerdote com osolhos ardentes injetados de sangue e fogo e vibrandoas línguas sibilantes.6

A esse espetáculo horrendo, os troianos fogemem disparada, brancos como cera. Os monstros domar buscam Laocoonte e envolvem em seus anéisgigantescos o sacerdote e seus dois filhos. O paiestava armado, mas as serpentes o prendem com nósapertados em volta do seu corpo, impedindoqualquer reação. Laocoonte tenta em vão afrouxar osnós, ainda segurando nas mãos as fitas do sacrifício,

Conjunto em mármore retratandoa morte de Laocoonte. Atualmente

se encontra no Museu doVaticano, em Roma.

6 Sibilantes: que sibilam, isto é, fazem ruído semelhante a um assobio, como acontece comas cobras.

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agora tingidas de sangue e do negro veneno dosmonstros. Ao mesmo tempo solta em direção aosastros horrendos berros. Pareciam os mugidos de umboi que foge do altar, depois que recebeu um golpede machadinha no pescoço não forte o bastante paraderrubá-lo em sacrifício aos deuses. Os dragõesentão se dirigem ao santuário da deusa Palas e seescondem sob o escudo aos pés da deusa.

Esse acontecimento pareceu aos troianos umasevera advertência da deusa, afinal Palas Atenapunira com as serpentes do mar o sacerdote que tinhaatirado uma lança contra o cavalo a ela dedicado.Mais que depressa, eles transportaram aquele objetogigantesco para dentro de suas muralhas. Ao som dehinos religiosos, com festas e alegres cânticos, ocavalo foi introduzido na cidade.

Nessa noite, enquanto os troianos dormiam, comoque sepultados no sono e no vinho, a esquadra gregadeixou Tênedos e se dirigiu a Tróia, encoberta pelastrevas que pareciam abraçar todo o mundo,cúmplices da estratégia de Odisseu. Sem ser visto,Sinão caminhou até o cavalo e chamou os guerreirospara fora. É sobre uma Tróia despreocupada e desar-mada que se precipitaria o inimigo, sedento devingança depois de tantos anos de luta inútil.

E aquela foi a última noite da outrora prósperacidade asiática, vítima dos deuses, da esperteza deum grego, de palavras e lágrimas mentirosas, mastambém da sua própria boa-fé e compaixão. Muitosdos guerreiros gregos que praticaram naquelaocasião toda espécie de crime seriam castigados

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depois, ao passo que os troianos que conseguiramescapar da cidade em chamas haveriam de lançar assementes de uma outra e muito mais poderosa Tróia,a futura Roma, como se os deuses se divertissem emerguer hoje às alturas da glória os que amanhãtombariam na mais dura ruína e vice-versa. Mas essajá é uma outra história.Em pouco tempo, uma cidade próspera e ricatombava em ruínas junto com seu velho rei, Príamo,logo reduzido a um mísero corpo decapitado, semninguém que lhe desse sepultura. Em pouco tempo,toda a cidade se enchia de lágrimas de mulheres ecrianças logo escravizadas para servir aos senhoresgregos. As trevas que haviam dissimulado airrupção7 do inimigo pela cidade iluminavam-se como fogo de um incêndio que parecia querer durar paratodo o sempre.

7 Irrupção: invasão súbita e impetuosa.

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O retorno de Odisseu

Odisseu e o ciclope

Dentre os heróis gregos que lutaram em Tróia,Odisseu se destacava por sua astúcia einteligência. Ninguém sabia como ele sair de

uma situação difícil empregando os recursos de umespírito sagaz.1

Terminada a guerra, Odisseu teve de se aventurar,com seus companheiros de armas, por uma longa earriscada jornada de volta à ilha de Ítaca, sua terranatal. Navegavam pelos mares, quando Zeus enviou sobretodos uma tempestade espantosa: ventos velocís-simos varriam terras e mares, e a mais profunda noite

1 Sagaz: astucioso.

O lago de Averno, no sul da Itália, hoje. Acreditava-se que ali pertohavia uma das entradas para os Infernos.

O lago fica na cratera de um vulcão e, segundo se contava, gasesque dele provinham matavam as aves que por ali passavam.

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desceu sobre o oceano. Depois de vários dias decansaços e sofrimentos, os gregos foram parar naterra dos Lotófagos, um povo que se alimentava daflor do lótus.2

Ao desembarcar, Odisseu mandou alguns homensem missão de reconhecimento, para descobrirem quetipo de pessoas viviam ali. Os Lotófagos osreceberam bem e lhes deram para comer a flor dolótus. Quem comia aquela flor, porém, não sentiamais vontade de voltar para casa e acabava ficando.Assim, aqueles companheiros de Odisseu nãoqueriam mais voltar aos navios. Foi preciso levá-losà força e partir correndo daquela terra, para queninguém mais, comendo a flor, se esquecesse dosonhado retorno para casa.

A próxima região visitada por Odisseu foi a ilhados ciclopes. Eram seres monstruosos, gigantescos ecom um só olho no meio da testa. Viviam sem leis eeram pastores. Nem aravam a terra nem tinhamcidades. Suas casas eram cavernas situadas no altodas montanhas.

Odisseu chegou de noite à terra dos ciclopes e, aosurgir a aurora do dia seguinte, pôs-se a explorar ailha. Ali havia muitas cabras selvagens e os homenscaçaram algumas para a refeição do dia. Voltarampara os navios. Na manhã seguinte, Odisseu resolveuir com seus homens ao encontro dos habitantesdaquela terra, que ainda não conhecia.

Ao penetrar na ilha, Odisseu avistou uma cavernaque ficava bem no alto de uma montanha; por perto

2 Lótus: nome de uma planta aquática.

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havia ovelhas e cabras e um ser enorme, que dormiae parecia viver apartado dos outros. Era o ciclopePolifemo. Odisseu, então, decidiu escolher dozecompanheiros, mandou os outros de volta para onavio, e se dirigiu à caverna. Trazia consigo comidae um ótimo vinho, doce, puro e perfumado, dignodos deuses.

Quando chegou à caverna, Odisseu notou que ociclope saíra para apascentar3 seu rebanho. Na gruta,os companheiros de Odisseu viram queijo e ovelhase cabras; desejaram, então, apoderar-se de tudo e irembora para o navio. O herói, porém, queria esperarpela volta do ciclope, para conhecê-lo de perto.

Os homens estavam comendo quando o ciclopeapareceu, trazendo lenha seca para preparar seujantar. Ao jogar o feixe de lenha no chão provocouum estrondo que fez os gregos fugirem correndo parao fundo da caverna. Estavam presos ali, pois ociclope fechou a entrada com uma enorme pedra queaqueles homens jamais poderiam remover. Depois deordenhar seus animais e alimentá-los, o monstroacabou percebendo aqueles intrusos, mortos de medonum canto de sua morada, e lhes perguntou com umavoz profunda e assustadora:

— Quem são vocês, estrangeiros? De ondevieram? São comerciantes ou piratas?

— Somos gregos, respondeu Odisseu.Retornamos para casa vindos de Tróia. Mastempestades e ventos nos desviaram de nossa rota,pois assim quis Zeus. Ó poderoso, trate-nos como

3 Apascentar: levar para pastar.

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hóspedes, abrigando-nos. Zeus protege os deveres dahospitalidade.

— Você é um tolo ou vem de muito longe, já quenão sabe que nós, os ciclopes, não nos preocupamoscom Zeus nem com os outros deuses. Mas me digaonde está o seu navio.

— Possêidon4 destruiu-o, mentiu astutamenteOdisseu. O vento o lançou contra as rochas desta ilha.

Então o ciclope, sem nada mais falar, estendeu amão sobre os companheiros de Odisseu, agarrou doise bateu-os contra o solo. Esquartejou-os membro pormembro e os devorou, entre goles de leite. Era o seujantar daquela noite. Em seguida, adormeceu.

Diante daquele espetáculo horrendo, a maisprofunda angústia tomou conta dos homens.Odisseu, então, pôs-se a pensar num meio de escapardali com vida; não podia matar o monstro, pois,nesse caso, quem removeria a pedra gigantesca quetapava a entrada da caverna?

No dia seguinte, o ciclope acordou e pegou maisdois homens para devorar na sua primeira refeição esaiu. Veio à mente de Odisseu, então, uma idéia parasalvar a si e aos seus: pegou um grande tronco que alise encontrava, fez uma estaca com uma ponta bemfina e escondeu-a. À noite, o ciclope voltou, recolheuna caverna seu rebanho e fechou a entrada com arocha. Depois, como jantar, agarrou mais dois doshomens de Odisseu e devorou-os. Odisseu se dirigiua ele:4 Possêidon: Netuno, na mitologia latina.

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— Ciclope, vamos, beba vinho. Trouxe-o para lheoferecer, na esperança de que você tivesse piedadede nós.

Polifemo tomou o vinho e achou-o delicioso; quismais. Perguntou, então, como Odisseu se chamava.

— Meu nome é “Ninguém”, disse espertamenteOdisseu. É assim que todos me chamam.

Depois daquele jantar e de muito vinho, o ciclopefoi vencido por um sono profundo. De quando emquando, saía de sua boca vinho e carne humana.Odisseu não perdeu tempo: com mais quatrocompanheiros, pegou a estaca e aqueceu sua pontano fogo. Depois, a um só tempo, furaram o únicoolho do ciclope. O monstro acordou gritandoespantosamente, fazendo toda a caverna ressoar comseus berros. Furioso, tirou a estaca do olho e saiupara chamar os outros ciclopes que moravam emcavernas vizinhas.

— Por que você grita desse jeito, Polifemo? Poracaso alguém está tentando matá-lo usando a astúciaou a força?, perguntaram os outros.

— “Ninguém” está tentando me matar, usando aastúcia e não a força!, respondeu Polifemo.

Os ciclopes, diante daquela resposta, acharam queninguém estava perturbando o companheiro, quedevia estar doente, e foram embora. Odisseu ria pordentro daquele plano astucioso que enganaraPolifemo... O ciclope, gemendo e agora cego,conseguiu tirar a pedra que tampava a caverna e, naentrada, ia apalpando as ovelhas e carneiros quesaíam, para não deixar escapar os homens.

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Odisseu teve, então, mais uma de suas idéiasbrilhantes: amarrou lado a lado, de três em três,alguns carneiros grandes e com a lã crescida. Nocarneiro do meio, colocava um dos seuscompanheiros, amarrado sob seu ventre; os outrosdois carneiros, cada um de um lado, serviam deproteção, disfarçando o homem que ia no centro.Odisseu pegou um carneiro maior e de pêlo maiscrescido e colocou-se embaixo do animal,agarrando-se fortemente à sua lã. Passaram todospelo ciclope, que de nada desconfiava. Ao sair,Odisseu largou o animal e desamarrou oscompanheiros.

Quando estava a salvo em seu navio, Odisseudirigiu-se ao ciclope. Criticou a violência que eleexercera contra os companheiros e disse seuverdadeiro nome, para que o monstro pudesse contara quem perguntasse que fora Odisseu quem o cegara. Polifemo, enfurecido de ódio, suplicou ao deusPossêidon, que era seu pai. Pediu-lhe que Odisseu ounão voltasse para casa, ou só conseguisse isso depoisde muito tempo e sofrimento, após perder todos oscompanheiros. E, se devia mesmo retornar, queencontrasse muitas dores em sua casa. Depois deorar, jogou contra o navio uma enorme pedra, quenão o acertou mas provocou uma grande onda.Odisseu e os seus partiram às pressas, com o coraçãoinquieto por causa das palavras do ciclope. De fato,aquele pedido a Possêidon seria atendido...

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Na ilha da feiticeira Circe

Depois de ter partido às pressas da terra dociclope e de ter vivido outras aventurasarriscadas por mar e terra, Odisseu chegou à

ilha de Eéia, onde vivia Circe, a filha do Sol. Apósalguns dias, desceu a terra e avistou a casa dafeiticeira. Decidiu, então, dividir seus homens emdois grupos e mandou um deles, comandados porEuríloco, para explorar o lugar.

Chegando à morada de Circe, os gregos viramalgo espantoso: enormes leões e lobos que, mansoscomo cães, ao invés de atacar, abanavam o rabo.Diante da porta da feiticeira, ouviram-na cantar:tinha uma bela voz, que ressoava por toda a casa.Chamaram-na, e Circe abriu a porta e os fez entrar;só Euríloco preferiu ficar fora, temendo que setratasse de alguma cilada.

Aos homens de Odisseu, a filha do Sol serviubebida e comida, colocando nesta poções mágicaspara levá-los a esquecer-se da pátria. Depois tocouneles com uma varinha, e todos se transformaram emporcos. De humano, só lhes restara a mente, e eleschoravam. Circe os trancou num pocilga1 comcomida para porcos.

Euríloco, que tudo vira, correu para os navios econtou a Odisseu o que acontecera. Tomando de umaespada, Odisseu partiu rumo à casa da feiticeira. Nocaminho, porém, o deus Hermes2 veio ao seu

1 Pocilga: curral de porcos.2 Hermes: Mercúrio, na mitologia romana.

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encontro e lhe disse:— Aonde vai, infeliz? Acha que pode libertar seus

companheiros? Você ficará lá, como eles,transformado em porco. Mas eu vou salvá-lo.

Depois de ensinar a Odisseu o modo de escapardos feitiços de Circe, o deus lhe deu uma planta, deraiz negra e flor branca, que arrancou da terra. Ela oprotegeria.

Odisseu se dirigiu para a casa onde estavampresos seus companheiros. Chamou por Circe, que ointroduziu em sua casa e lhe serviu uma bebida compoção mágica. A feiticeira, depois disso, tocou-ocom a varinha e disse:

— Vá para a pocilga junto de seus companheiros!Odisseu, porém, como lhe recomendara

Mercúrio, pegou a espada e com ela fingiu querermatar Circe. A filha do Sol, gritando e chorando,abraçou-se a seus joelhos, e disse:

— Quem é você, que, apesar de ter bebido minhapoção, não ficou enfeitiçado? Isso nunca aconteceuantes. Você deve ser Odisseu; Mercúrio me avisouque você viria de Tróia um dia. Mas embainhe denovo a espada e venha para o meu leito.

— Só aceitarei se você jurar que não tramará algocontra mim, respondeu Odisseu.

Assim se uniram Circe e Odisseu naquele dia.Mas quando os dois estavam à mesa para comer ebeber, Circe notou que o herói parecia inquieto e nãotocava em nada que lhe servira. Perguntou por queele estava assim, e Odisseu lhe disse que não poderiacomer e beber tranqüilamente enquanto seus

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companheiros estavam naquela situação. A feiticeira,então, retirou o encantamento, e os porcos setransformaram de novo em homens. Odisseu e osseus, chorando, e até mesmo a própria Circe, secomoveram com aquele reencontro.

Até o final do ano permaneceram todos ali, muitobem tratados. Até que um dia, Odisseu pediu a Circeque os deixassem partir e voltar para casa. Circerespondeu assim:

— Odisseu astucioso, não ficará contra a vontadeem minha casa. Mas uma outra viagem o aguarda.Você deverá ir ao reino dos mortos, ao Hades, parainterrogar o adivinho Tirésias, que se encontranaquelas regiões sombrias.

Odisseu sentiu apertar-lhe o coração ao ouviraquelas palavras. Não sabia como chegar ao reinodos mortos. Circe, porém, deu-lhe instruçõesdetalhadas para lá chegar.

Antes da partida, aconteceu um grave incidente.O jovem Elpenor, bêbado de vinho, estava dormindosobre o teto da casa de Circe; ao ouvir o clamor doscompanheiros que partiam, acordou de repente e,esquecido de onde estava, deu alguns passos para afrente e se precipitou no vazio. Quebrou o pescoço esua alma desceu ao Hades.

Ao saber que iam em direção ao reino dassombras, os companheiros de Odisseu se entregaramao pranto.

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Odisseu vai ao reino dos mortos

Seguindo instruções de Circe, Odisseu navegouaté os confins do Oceano, onde fica a cidadedos cimérios, entre névoa e nuvens, e sempre é

noite. Desembarcou ali com os companheiros e fezum sacrifício aos mortos; quando o sangue dosanimais escorreu na terra, as almas dos mortos seaproximaram. Eram mulheres, jovens, velhos,guerreiros mortos em batalha, que se agrupavam emtorno da fossa fazendo estranho rumor.

Eis que Odisseu viu se aproximar a alma deElpenor, que não tinha sido sepultado ainda. Ocompanheiro se dirigiu a ele e rogou que lhe desseuma sepultura. Depois apareceu Anticléia, a mãe deOdisseu, que não sabia ainda de sua morte, já que adeixara viva quando partira de Ítaca. O herói chorou,cheio de piedade em seu coração. Por fim, chegou oadivinho Tirésias, que disse:

— Odisseu astucioso, por que veio a este tristelugar? Quer voltar para casa? Mas, por causa da irade Possêidon isso não será fácil. Você poderáconseguir, desde que tome uma precaução: na Sicília,não coma dos rebanhos do deus Sol. Se regressar aÍtaca, encontrará ali muitos males: homensautoritários devoram os seus bens e querem tomarpara si sua esposa. Mas você os castigará. Não seesqueça, porém, de fazer sacrifícios a Possêidon.

Depois que o adivinho se afastou, a mãe deOdisseu se aproximou da fossa em que os animaistinham sido sacrificados e bebeu do sangue. Depoisdisso, reconheceu o filho e, chorando, disse:

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— Como você chegou até aqui? Além de rios eabismos, há o Oceano a atravessar. Vem de Tróia oude Ítaca?

— Vim ao Hades para consultar Tirésias, disseOdisseu. Mas como você morreu? E como estão meupai, meu filho e minha esposa?

Anticléia contou ao filho que sua esposa nãocedia aos pretendentes,1 seu filho administrava apropriedade e seu velho pai vivia isolado no campo,arrasado por tudo o que acontecera. Quanto a elamesma, morrera de tristeza e saudade do filho.Odisseu, comovido, três vezes tentou abraçar aquelasombra do que fora sua mãe, mas três vezes elaescapou de suas mãos, como se fosse vento ou umsonho.

Depois desse encontro, Odisseu viu mulheresfamosas, dentre elas Alcmena, a mãe de Hércules,Leda, a mãe de Helena de Tróia, e Ariadne. Quandose foram, apareceram os companheiros de luta;primeiro, Agamenão, que, ao ver Odisseu, gemeu echorou; queria abraçar o herói, mas faltavam-lhe asforças. Contou a Odisseu que não morrera no marmas assassinado em sua própria casa, numa ciladapreparada pela esposa e o amante desta.

Mas eis que de repente surge... Aquiles, chorandoe dizendo:

— Odisseu astucioso, você ousou vir ao reino dosmortos?

— Aquiles, não existe ninguém mais feliz quevocê; quando vivo, todos nós lhe conferíamos honras

1 Pretendentes: os homens que pretendiam ter a mulher de Odisseu por esposa.

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dignas de um deus; agora, é soberano entre osmortos, e não tem motivo para se queixar da morte,respondeu Odisseu.

— Pois eu preferiria servir como trabalhadorbraçal a um homem humilde a ser rei entre os mortos!

Quando Aquiles quis saber a respeito de seu filho,Odisseu deixou-o alegre e orgulhoso ao contar-lhe asações heróicas do jovem.

Calado e apartado das outras almas, Odisseuavistou Ájax. Estava irado ainda com Odisseu, poisdisputara com este as armas de Aquiles, depois damorte do herói — e os gregos tinham dado essahonra a Odisseu.

— Ájax, nem morto você esquece o ódio contramim? Venha até aqui! Dome seu furor e seu nobrecoração!, disse Odisseu.

Mas Ájax nem sequer respondeu. Caminhou e semisturou às outras almas do Hades.

Por fim, Odisseu viu Minos, o juiz dos mortos, ealguns dos condenados ao castigo eterno, comoTântalo e Sísifo.2 Finalmente, conversou com asombra de Hércules: era só uma sombra — o herói,na verdade, agora estava no Olimpo, entre os deusesimortais.

Odisseu ainda pensou em encontrar outrosconhecidos, mas ao avistar uma multidão de almas,gritando estranhamente, teve medo de que a rainhados mortos enviasse contra ele algum monstro comoa Medusa.3 Voltou correndo para o navio e zarpou.4

2 Se não se recorda dessas personagens, releia a história de Orfeu e Eurídice.3 Medusa: mulher monstruosa, com serpentes em vez de cabelos, seu olhar petrificava aspessoas.

4 Zarpar: partir sobretudo numa embarcação.

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Os novos perigos da viagem

De retorno do mundo dos mortos, Odisseuvoltou à casa de Circe com os seuscompanheiros; ali sepultou Elpenor e, após

ouvir as advertências da feiticeira, partiu.Aproximando-se das Sereias, Odisseu tapou com

cera os ouvidos dos companheiros para que eles nãoouvissem seu canto, que enfeitiçava os homensfazendo-os esquecer do retorno e ficar por ali até amorte. Quanto a ele, que queria escutar a cançãodaqueles seres sem ser arrastado pelo seuencantamento, ordenara aos homens que oamarrassem fortemente ao mastro e não o soltassem,mesmo que pedisse. Feito isso, pouco depois seouviram as vozes das Sereias:

— Venha aqui, famoso Odisseu, para escutarnosso canto suave como o mel.

Odisseu, enfeitiçado por aquelas vozesbelíssimas, implorou que os companheiros osoltassem, mas, obedecendo a suas ordens, eles nãoo fizeram. Passado o perigo, destaparam os ouvidose o soltaram.

Mas uma outra prova os aguardava: deveriampassar por um estreito perigoso, entre rochasameaçadoras de um lado e outro. De um lado, haviaCila, do outro Caríbdis, dois monstros que destruíamas embarcações que por ali passavam. Caríbdis sugavaa água do mar, com terrível estrondo, e depois avomitava. Quem conseguia escapar de uma, via seunavio destroçado pela outra. E eis que Cila arrebatou

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os seis melhores companheiros de Odisseu:precipitados ao mar, gritavam seu nome em vão.

Tendo conseguido escapar a mais esse perigomortal, Odisseu chegou à ilha onde estavam osrebanhos do Sol. Não queria permanecer naquelelugar, mas os companheiros estavam esgotados edesejavam descansar. Odisseu os advertiu para nãotocar nas vacas e ovelhas do Sol. Entretanto, com opassar dos dias, quando as provisões do navioacabaram, Euríloco e os outros companheiros deOdisseu decidiram matar as vacas mais gordas parasaciar a fome. Com receio da ira do deus,prometeram que, ao chegar a Ítaca, construiriam umtemplo para o Sol.

Odisseu estava em terra, dormindo. Quandovoltou para o navio e percebeu que tinham cometidoo sacrilégio, repreendeu-os. Estranhos prodígiosestavam mostrando a cólera divina: as carnes nosespetos mugiam como vacas.

Sete dias depois, estavam todos de novo no mar.De repente, o céu se escureceu e o mar se encrespou.Zeus enviava terrível tempestade contra o navio, que,atingido por um raio, se desfez. Os companheiros deOdisseu não retornariam mais... Odisseu conseguiuamarrar a quilha e o mastro e, nessa espécie dejangada improvisada, sentou-se, deixando-se levarpelos ventos furiosos. Vagou vários dias ao sabor dasondas até ir parar na ilha de Ogígia, onde morava aninfa Calipso, numa grande caverna.

Calipso apaixonou-se por Odisseu e não queriadeixá-lo mais ir embora. Sete anos passaram.

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Odisseu permanecia muito tempo olhando para omar e chorava sempre, desejando partir. Calipsoqueria que ele fosse seu esposo, e para sempre, poisela o faria imortal. Mas o grego só pensava emPenélope, a mulher que deixara em Ítaca. Zeus tevede mandar Hermes com uma mensagem para a ninfa:deveria deixar o herói partir, pois era seu destinoretornar. Às palavras divinas, Calipso respondeu:

— São cruéis os deuses. Vocês têm inveja dasdeusas que tomam um mortal por marido. Eu salveiOdisseu, acolhi-o e alimentei-o. Pretendia torná-loimortal e tê-lo sempre ao meu lado. Mas não possodesobedecer a uma ordem de Zeus.

Assim, Calipso não só permitiu que Odisseu adeixasse como também lhe deu comida, bebida,roupa e até mesmo um vento propício para a viagem.O herói partiu numa jangada.

Perto da terra dos feácios, Possêidon, sempreirritado contra Odisseu, que cegara o ciclope,provocou uma terrível tempestade. Com seu tridente,agitou violentamente as águas do mar. Todo tipo devento se precipitou, com horrendo uivo, sobre asondas. E a noite envolveu a tudo. Quando a morteparecia próxima, Atena veio ajudar Odisseu;acalmou os ventos, e o herói pôde nadar até a terrados feácios, onde estaria a salvo.

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A chegada de Odisseu e o massacre dospretendentes

Depois de uma estada na terra dos feácios, ondeo rei Alcínoo, sua esposa Arete e a filhaNausícaa o receberam muito bem, Odisseu

conseguiu retornar à ilha de Ítaca. Estivera longe daterra natal por muitos anos. Ao chegar, não areconheceu, pois Palas Atena a tinha envolvido emuma névoa, e ele tinha a impressão de estar em paísdesconhecido.

Quando Odisseu chorava pela pátria, a deusa lheapareceu na figura de um jovem pastor, que lhe disseestar ele em Ítaca. Astucioso, Odisseu contou aojovem uma história mentirosa sobre si mesmo e suasviagens. Palas, sorrindo, disse-lhe então:

— Quem poderia vencê-lo em astúcia? Comovocê gosta de histórias mentirosas! Eu tambémconheço astúcias. Pois saiba que eu conseguienganá-lo: sou Palas Atenas, a filha de Zeus.

E Palas Atena desfez a névoa e mostrou Ítaca aOdisseu, que de tão feliz, beijou a terra, buscada portanto tempo e tantos mares e perigos. A deusaconcebeu um plano para que ele pudesse se vingardos pretendentes que estavam como abutres em suacasa: transformou-o num mendigo maltrapilho1, depele enrugada, velho e calvo. E Odisseu, sempreaconselhado pela deusa, caminhou até a casa doporqueiro2 Eumeu, que se mantivera fiel ao patrãodurante toda a sua ausência.

Na casa desse criado leal, Odisseu, que inventou,a seu respeito, uma história em que mesclava

1 Maltrapilho: esfarrapado; vestido com trapos.2 Porqueiro: que cuida de porcos.

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habilmente mentira e verdade, foi muito bemrecebido; e pôde observar o grande cuidado com queo porqueiro cuidara de seus bens. Ali ocorreria umacontecimento notável: o reencontro entre Odisseu eseu filho Telêmaco, depois de tão longa separação.Eumeu tratava Telêmaco como a um filho querido.De início, pai e filho conversaram sem que osegundo soubesse a verdadeira identidade doprimeiro. Mas Palas Atena apareceu mais tarde aOdisseu e, tocando-o com uma varinha de ouro,devolveu-lhe o antigo aspecto. Telêmaco reconheceuo pai, e os dois se abraçaram chorando.

Depois de transformado novamente em mendigo,Odisseu foi para a sua antiga casa. Seu cão Argo, aover o dono, reconheceu-o, mesmo sob aqueleaspecto: abanou a cauda, erguendo as orelhas.Odisseu, que não podia se revelar, conteve suaemoção, mas uma lágrima lhe caiu às escondidas.Argo, revendo Odisseu após vinte anos de ausência,de repente caiu por terra, morto. Quando Odisseuentrou junto com Eumeu, um dos pretendentes, denome Antínoo, disse:

— Já não temos vagabundos suficientes em nossacidade?

Na ausência do dono da casa, os pretendentescomiam e bebiam às suas custas. Tinham tentadomatar Telêmaco numa emboscada que falhara.Desejavam a mão de Penélope, mas a astuciosamulher de Odisseu os enganava com umestratagema. Dizia que se casaria com um dospretendentes após acabar de tecer uma mortalha3

3 Mortalha: veste para envolver um morto que vai ser enterrado, aqui, para Laertes, o pai deOdisseu, que, entretanto, ainda estava vivo, morando no campo.

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para o sogro; porém, o que tecia de dia, desmanchavaà noite, secretamente. E assim ia adiando a decisão,pois a mortalha jamais ficava pronta.

Dos pretendentes, o falso mendigo Odisseu tevede escutar muitas insolências e suportar maltratos.Mas vingou-se terrivelmente, com a ajuda do filho,da esposa e dos criados que lhe tinham permanecidofiéis. A astuciosa Penélope propôs uma prova aospretendentes: casar-se-ia com quem conseguisse,usando o arco de Odisseu, fazer passar uma flechapor doze machados postos em fileira. A flechadeveria passar, de uma vez, pelos orifícios que osmachados tinham na parte superior. Era difícil atémesmo conseguir vergar o arco. Nenhum dospretendentes conseguiu. Mas eis que Odisseu entrouna competição e realizou a façanha que pareciaimpossível. Então pai e filho, ao lado dos servidoresfiéis, mataram os pretendentes um a um.

Cautelosa, Penélope quis uma prova a mais deque aquele homem em farrapos era o seu caroOdisseu: que ele descrevesse o leito conjugal, cujascaracterísticas só ela e o marido conheciam. Quandoteve certeza de que se tratava mesmo de Odisseu,sentiu o corpo se enfraquecer como se fossedesmaiar e, chorando, abraçou-o e beijou-o, dizendo:

— Os deuses deram muitos sofrimentos a nósdois, Odisseu; não pudemos gozar de nossajuventude um ao lado do outro.

Odisseu também chorou, abraçando-a. Após vinteanos de longas dores e perigos constantes, pareciaque finalmente o senhor de Ítaca e sua fiel Penélopereencontravam a paz para sempre.

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Os deuses gregosZeus (ou Júpiter) em pose majestosa: sentado notrono, empunhando o cetro. Note a águia na ponta: é aave preferida do pai dos deuses.

Napoleão, com a majestade e a pose de um Zeus(Júpiter), em quadro do francês Jean AugusteDominique Ingres (pronúncia éngrr) (1780-1867).

Cronos devorando um filho.Trata-se do quadro Saturno (nomeromano do deus), do pintor espanholGoya.

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(Céu) Ú

rano = Géia (Terra)

Héstia Plutão Possêidon Z

eus = Hera D

eméter

= Zeus

Atena Perséfone

Prometeu A

tlas Epimeteu

Ares H

ebe Hefesto

Extraído, com

ligeiras modificações, de H

AM

ILTO

N, E

dith - Mitologia

- São Paulo, Martins Fontes, 1997. p. 489.

(O sinal = indica “em

união com”.)

Zeus = M

aiaZ

eus = Dione

Apolo Á

rtemis

Afrodite

(em geral se

diz que nasceu daespum

a do m

ar)

(geralmente

consideradofilho apenasde H

era)

Oceano = T

étis

Leto = Z

eus Jápeto

Cronos = R

éia Ceos = Febe

Herm

es

Genealogia divina – O

s principais deuses

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A soberania de Zeus e sua esposa Hera

De Úrano e Géia1, nasceram vários filhos;dentre eles, Cronos, um dos Titãs,2 que umdia, tomando o poder sobre o céu, tornou-se o

deus supremo. Cronos se casou com Réia. Entretanto, haviampredito ao novo soberano que ele haveria de serdestronado como Úrano, e também pelo própriofilho. Tentando escapar a esse destino, Cronosdevorava os filhos assim que Réia os dava à luz. Umdia a mãe, não suportando mais essa situação, fugiu,grávida, para a ilha de Creta, e ali gerou Zeus.3 Paraenganar o marido, envolveu uma pedra num manto e,fingindo tratar-se de mais um filho de Cronos, deu-lhe para que devorasse. Mais tarde, Zeus, ao lado dosoutros deuses do Olimpo, guerreou contra Cronos eseus irmãos Titãs, numa disputa que durou dez anose terminou com a vitória do primeiro. A Terra,furiosa por Zeus ter precipitado os Titãs nos Infernos,mandou contra ele seus terríveis filhos, os Gigantes,mas a nova guerra também terminou com sua vitória.Foi assim que Zeus se tornou o supremo rei dosdeuses, reinando sobre o céu luminoso.

Com o raio em uma das mãos e o cetro de rei naoutra, Zeus velava pela ordem do universo, pelaconcórdia entre os deuses e o cumprimento daspromessas e juramentos. Era o soberano do céu,

1 Úrano e Géia: Céu e Terra, respectivamente. Úrano pode também ser pronunciado Urano.2 Titãs: eram seis dos filhos de Úrano e Géia, dentre eles o próprio Cronos.3 Zeus: Júpiter, na mitologia latina.

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como Possêidonera o deus do mare Hades o dasregiões infernais. Mas uma forçasuperava a deZeus: a do Desti-no. Havia trêsMoiras4 que te-ciam a sorte doshomens, e nemZeus poderia mu-dar o que elas es-

tabeleciam. Cloto esticava o fio dos destinos,Láquesis o colocava no fuso da roca5 e Átropos ocortava, determinando a duração de cada vidahumana de acordo com o tamanho do pedaço de fio.

A águia era a ave de Zeus, como o carvalho suaárvore preferida.

Hera6, irmã e esposa de Zeus, deusa docasamento, morria de ciúmes diante dasinfidelidades constantes do marido. De fato, ele nãohesitava em recorrer a todos os meios para obter oamor das mortais por cuja beleza se apaixonava. Nãopodendo enfrentar o supremo rei dos deuses, a cólerada deusa se voltava contra suas rivais ou os filhosque Zeus tinha com elas.

Foi por causa de Hera que o herói Hércules teve

Moeda com o deus romano Jano e seus dois rostos. É deJano que vem o nome do mês de janeiro.

4 Moiras: Parcas, para os romanos.5 Fuso da roca: a roca é um instrumento para fiar e tem uma peça, chamada fuso, onde se

enrola o fio.6 Hera: Juno, na mitologia latina.

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de passar por doze terríveis tarefas. Um dia, quandoele navegava de volta para casa, vindo de Tróia, Heraprovocou no mar uma tempestade espantosa. Zeus,porém, castigou-a por isso: prendeu-a com umacorrente de ouro, amarrada de cabeça para baixo doalto de uma nuvem, com uma bigorna7 em cada pé...Seu filho Hefesto,8 o deus ferreiro, libertou-a,provocando a cólera de Zeus, que o precipitou doalto do céu. Foi nessa ocasião, dizem, que Hefestoficou coxo para sempre.

Com o nome de Juno, em Roma a deusa era aprotetora das mulheres, que a invocavam durante oparto. Assim como todo homem tinha uma espécie deanjo da guarda chamado “gênio”, toda mulher tinhasua Juno para protegê-la. No dia de seu aniversário,os romanos celebravam essas criaturas divinas.

Você já parou para pensar nos nomes dos mesesdo ano? Junho vem de Juno, mês consagrado àdeusa; era este o mês preferido para o casamento naantiga Roma, mais ou menos como o mês de maio noBrasil. Em inglês, esse mês se chama June, nome quelembra mais de perto o da poderosa esposa do paidos deuses.

A Hera estavam consagrados o pavão e a vaca.

7 Bigorna: peça de ferro sobre a qual os ferreiros trabalham os metais.8 Hefesto: Vulcano, na mitologia latina.

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Afrodite e Ártemis1, a deusa do amor e a virgemcaçadora

Nascida da espuma do mar, Afrodite é a deusado desejo amoroso. Nas teias do amor enredahomens, animais e até mesmo os deuses. Ela

mesma sentiu na pele a que ponto a paixão poderiaincendiar alguém de amor.

Casada com Hesfesto, Afrodite mantinha umarelação com Ares, o deus da guerra.2 O Sol viu osamantes e denunciou o caso ao marido traído.Hefesto decidiu se vingar dos dois: com sua artehábil e divina, criou uma rede finíssima, de fiosinvisíveis a olho nu e a colocou ao redor do leito emque os dois amantes costumavam deitar. Fingiu partirem viagem.

Afrodite e Ares dormiram juntos mais uma vez.Mas de repente a rede os envolveu, e todos os seusesforços para escapar da armadilha foram inúteis.Então chegou Hefesto, furioso, e gritou para osoutros deuses do Olimpo:

— Ó Pai Zeus, e vós, deuses bem-aventurados!Vinde ver de que forma ridícula Afrodite, filha deZeus, tem me enganado. Troca a mim, que sou coxo,por Ares, que é belo, mas só pensa em guerrasterríveis.

Os deuses se divertiram com aquela cena...Afeição especial teve Afrodite por Adônis, uma

bela criança. Quando se tornou adolescente, a deusa

1 Na mitologia romana, Vênus e Diana, respectivamente.2 Hefesto e Ares: Vulcano e Marte, respectivamente, na mitologia romana.

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Ártemis fez com que umjavali furioso o matasse.Inconsolada, Afrodite pediuajuda ao pai Zeus, quetransformou o corpo dorapaz numa flor — aanêmona. Assim, durantequatro meses por ano, naprimavera, Adônis renascepara viver ao lado deAfrodite; passada a estação,a flor murcha e morre para

só reaparecer na primavera seguinte. Mas houvequem dissesse que de cada gota de sangue derramadapor Adônis nasceu uma anêmona; de cada lágrima deAfrodite, uma rosa...3

Eros, ou Cupido, era filho da deusa. De traçosdelicados e angelicais, sorriso encantador, naverdade Eros era uma criança travessa e muitasvezes terrível para com os seres humanos. De seuarco saíam setas que feriam de amor; e esse menino

Zeus retratado com pose e físico de atleta.

As rosas amo dos jardins de Adônis,Essas vólucres amo, Lídia, rosas,Que em o dia em que nascem,Em esse dia morrem.

A luz para elas é eterna, porqueNascem nascido já o sol, e acabamAntes que Apolo deixeO seu curso visível.

Assim façamos nossa vida um dia,Inscientes, Lídia, voluntariamente,Que há noite antes e apósO pouco que duramos.

(vólucre: passageiro, fugidio; em o dia em que nascem / Em esse dia morrem: “morrem nodia em que nascem”; Apolo: aqui, está por Sol, ao qual o deus é associado; insciente: semsaber).

3 Na Síria e em Atenas, havia festas que recordavam o mito de Adônis. Era costume plantarem vasos mudas de roseira que, regadas com água morna, cresciam rapidamente; as rosasque nasciam, porém, tinham vida mais breve do que o normal. Eram os Jardins de Adônis,uma celebração da vida curta do jovem. Você já conhece Ricardo Reis, o heterônimo deFernando Pessoa (se não lembrar, volte à página 37, nota 8). Eis como o poeta portuguêsmenciona esses famosos jardins quando trata da brevidade da vida:

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ainda lançava tochas que consumiam de paixão osatingidos. Com suas asas, estava sempre indo pra cáe pra lá, fazendo travessuras, distribuindo sem dóferidas de amor que ardiam no peito dos mortais.Mas até os deuses eram suas vítimas, e a própria mãemais de uma vez foi ferida. Diz-se que quandoAfrodite se apaixonou por Adônis, a ferida de amoraconteceu no momento em que Cupido lhe dava umbeijo: por descuido, a ponta de uma das setas que omenino sempre carregava atingiu o peito da mãe. E aferida era mais profunda do que pareceu à primeiravista.

Pardais e pombas eram aves consagradas a

Vênus e seu amado Adônis, numa pintura em parede de umacasa de Pompéia, cidade do sul da Itália destruída peloVesúvio.

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Afrodite; as rosas e o mirto, suas plantas prediletas.Ártemis era irmã de Apolo, e levava sempre um

arco, como o irmão. Permaneceu sempre virgem,recusando os dons de Afrodite. Deusa das florestas,gostava de caçar. Sua vingança era terrível. Um diaÁrtemis se banhava nua numa fonte quando foisurpreendida pelo jovem Actéon, que caçava por alicom uma matilha de cinqüenta cães. A deusa, furiosa,jogou água em seu rosto. Apavorado, o jovem saiucorrendo em fuga precipitada. Seu corpo parecialigeiro, suas pernas velozes como nunca. Espantadocom a rapidez de sua corrida, parou para mirar-se noespelho das águas de um lago... e qual não foi seuchoque ao perceber que a deusa o transformara numcervo! Quis falar, nenhuma voz saiu. Lágrimasescorreram por um rosto que já não era o seu. E eisque de repente seus cães, não reconhecendo o dono,precipitaram-se sobre Actéon, contentes com aquelapresa. Ele desejava gritar: “— Eu sou Actéon!Reconheçam seu dono!” , mas as palavras traíam aintenção.

A cólera de Ártemis só se satisfez quando o rapazmorreu devorado pelos cinqüenta cães que lhe eramtão afeiçoados.

A corça e o javali eram animais consagrados àdeusa.

Uma das sete maravilhas do mundo4 era o templode Ártemis na cidade de Éfeso.

4 Os jardins suspensos da Babilônia, a estátua de Júpiter esculpida pelo grego Fídias, aspirâmides do Egito, o túmulo do rei Mausolo (daí “mausoléu”, em português), o farol deAlexandria no Egito, o colosso de Rodes, juntamente com o templo de Ártemis em Éfeso,eram considerados pelos antigos as obras mais notáveis do mundo, as “sete maravilhas”.

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Cópia da famosaestátua de Afrodite deCnido, esculpida por

Praxíteles.

Nascimento de Afrodite (Vênus).

Estátua em mármore de Afrodite (Vênus).

Estátua do deus da guerra,Ares (ou Marte, para os romanos). Está

nas ruínas da Vila de Adriano.

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Estátua de bronze da loba que amamentouRômulo e Remo. Os bebês gêmeos, porém,não são obra da Antiguidade: foramacrescentados no Renascimento.

Ártemis (Diana)caçando.

Ártemis, representada no quadro Dianadepois da caçada, do pintor francês Boucher(pronuncia-se buxê), do século XVIII.

Ruínas da Roma antiga. As colunas brancas no centro

são do templo de Vesta, onde ofogo sagrado era cultuado.

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Ares e Dioniso1

Para os mortais eimortais Ares, deus daguerra, era um ser

odioso. Nas batalhas, suaocupação favorita, apareciasempre ao lado do Medo, doTerror e da Discórdia. Se oshomens pudessem vê-loquando o deus avançava,com seu corpo gigantescoenvolvido na armadura debronze, lançando gritosaterrorizantes!

Na antiga Roma, Ares eravenerado com o nome deMarte. Contava-se que na cidade de Alba Longaviviam os irmãos Amúlio e Numitor, cabendo aosegundo, legalmente, o governo sobre a cidade.Amúlio, porém, destronou o irmão e fez com que aúnica filha deste, Réia Sílvia, se tornasse umasacerdotisa do fogo sagrado da deusa Vesta. De fato,as vestais, como eram chamadas as que velavam pelofogo, tinham de se manter virgens por um período detrinta anos; se tivessem relações com algum homemdurante os anos de culto, eram enterradas vivas.Obrigando Réia Sílvia a ser uma vestal, Amúlioacreditava que estaria seguro: não nasceriamdescendentes masculinos do seu irmão para reclamar

Ares (Marte), deus da guerra.

1 Na mitologia latina, Marte e Baco, respectivamente.

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o trono de que ele se apoderarailegalmente.

Mas o deus Marte entrou notemplo de Vesta e engravidou RéiaSílvia. E assim vieram ao mundo osgêmeos Rômulo e Remo. Quandosoube do que acontecera, Amúliomandou que abandonassem ascrianças à margem do rio Tibre:assim, morreriam de fome e sede.Uma loba, porém, ouviu o choro dos

bebês, que estavam dentro de um cesto, e alimentou-os. Algum tempo depois, a mulher de um pastor osencontrou e levou-os para casa, cuidando dascrianças.

Quando cresceram, Rômulo e Remo tomaramconhecimento de tudo o que acontecera em AlbaLonga. Vingaram-sematando Amúlio erepondo Numitor, seuavô, no trono. Emrecompensa, o avôlhes deu terra. Osgêmeos resolveramfundar uma cidade.Para saber em quelocal preciso a cons-truiriam, decidiramconsultar a vontadedivina: Rômulo secolocou no monte

Hermes (Mercúrio) e Dioniso (Baco) menino.

Atores de teatro. Observe as máscaras usadas naGrécia e na Roma antiga. As tragédias teriam seoriginado do culto ao deus Dioniso (Baco).

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Palatino, seu irmão no monteAventino, e passaram aexaminar atentamente o céu.De repente, Rômulo avistoudoze aves, Remo seis: era umsinal dos deuses — a cidadedeveria se erguer no montePalatino.

Rômulo fez, então, ospreparativos para a constru-ção: com um arado traçou umlongo sulco determinando on-de se ergueriam os muros: eraum ritual sagrado. Remo,

porém, zombando, despeitado, transpôs o sulcocomo se ele nada significasse. Furioso com osacrilégio, Rômulo matou o próprio irmão dizendo:“Que assim morra todo aquele que atravessar asminhas muralhas!”

Desse modo, a história da futura Roma se iniciavacom um fratricídio entre os gêmosfilhos de Marte.

Dioniso era odeus do vinho, doteatro e das orgiassagradas. Sua mãe,Sêmele, foi amadapor Zeus, que lheprometera dar tudo oque ela quisesse.Um dia, Sêmele

Dioniso (Baco) representado comoum jovem. Note os cachos de uva,que o revelam deus do vinho.

Palas Atena (Minerva)em seu aspectoguerreiro: pronta paraatirar sua lança (que seperdeu com o tempo).

Estátua em mármore da deusa Palas Atena.

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pediu-lhe que o deus se manifestasse diante dela emtodo o seu poder e glória. Ao se deparar com aterrível visão de Zeus, com raios e relâmpagos, suaamante morreu fulminada.

Sêmele, porém, estava grávida de seis meses deum filho do pai dos deuses. Zeus retirou a criança doventre da mãe e costurou-a numa de suas coxas. Eassim, alguns meses depois, nasceu Dioniso dopróprio corpo de Zeus. Para evitar os riscos de expora criança aos ciúmes de Hera, Zeus, depois detransformá-la em bode, deixou-a em Nisa, onde seriaeducada pelas ninfas: é, assim, o deus de Nisa,Dioniso.

O deus se locomovia num carro puxado porpanteras. Acompanhava-o um estranho cortejo:Sátiros, meio homens meio bodes, com uma longacauda de cavalo; as Bacantes, mulheres com oscabelos desgrenhados, empunhando o tirso, uma varaenfeitada com hera e ramos de videira; o deus Priapo,com seus chifres de bode e orelhas de cabra,extremamente feio e sempre excitado sexualmente.

Na cidade grega de Tebas, Dioniso instituiu asBacanais; nessas festas, as pessoas, especialmente asmulheres, eram como que possuídas pelo espírito dodeus e, parecendo alucinadas, vagavam à noite peloscampos e montanhas. O rei de Tebas, Penteu,resolveu proibir esse culto e provocou a ira do deus,também duvidando de seus poderes e até mesmomandando prendê-lo como se ele fosse um meroimpostor. Dioniso, porém, escapou da prisão eincendiou o palácio.

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Mas a vingança mais cruel do deus não tardou.Fez com que Penteu fosse espionar as mulheres queestavam celebrando o culto numa montanha. Quandoelas, enfurecidas, o viram, agarraram-no e fizeramseu corpo em pedaços. Enlouquecidas por Dioniso,pensavam que se tratava de um animal. Agave, suaprópria mãe, não reconhecendo o filho, cortou-lhe acabeça e a pôs na ponta de seu tirso.

Sobre as origens de Dioniso, corria outra versão.Os Titãs, incitados por Hera, devoraram o deusquando ele era ainda uma criança. Zeus, então,fulminou com seu raio os Titãs. Das cinzas dessesseres nasceram os homens: com uma parte má,titânica, e uma parte boa, divina, vinda de Dioniso.Daí a natureza ambígua do ser humano, nemtotalmente bom nem totalmente mau. O coração deDioniso, porém, teria sido salvo por uma deusa edado a Sêmele, que o engoliu e, assim, engravidou.Dessa forma, o deus renasceria. Para sempre, afinal,sendo deus, como não seria imortal?

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Apolo e Palas Atena

Uma das incontáveis amantes de Zeus foiLatona. Como todas as outras, tornou-sevítima de Hera, que fez a Terra jurar jamais

permitir que Latona desse à luz em seu reino.Possêidon,1 porém, fez surgir do oceano uma ilhaque a acolheu. Era um pedaço de terra que vagava aosabor das ondas, sempre se movimentando. Ali, noinício da primavera, Latona gerou os irmãos Apolo eÁrtemis. Um dia, em sinal de gratidão, Apolo haveriade fixar com suas setas a ilha, que se tornariaconhecida como Delos.

Antes do nascimento, porém, Latona ainda sofreupor causa da cólera de Hera. A deusa reteve no céuIlítia, que ajudava as mulheres a dar à luz, e o partotardava. Hera só consentiu em enviar Ilítia quandorecebeu das outras deusas, que tinham pena deLatona, um belo colar.

Quando Apolo nasceu, era o sétimo dia do mês,e sete cisnes voaram sete vezes ao redor da ilha. Dopai, recebeu uma lira e um carro puxado por cisnes,que o conduziu a Delfos, depois de o levar paraoutras regiões do mundo. Em Delfos, Apolo matouum dragão chamado Píton, que devastava os campos,e instituiu os Jogos Píticos, que ali se celebrariam dequatro em quatro anos, com seus concursos demúsicos e poetas, além das competições de atletismoe corridas. O santuário ali existente, que eraprotegido pelo dragão, tornou-se um oráculo dodeus. Sentada sobre um banco de três pés, a trípode,

1 Possêidon: Netuno, na mitologia latina.

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Antro da Sibila, a profetisa de Apolo, escavadona rocha. Localiza-se no sul da Itália, nãolonge de Nápoles.Num poema chamado Eneida, de Virgílio,vemos um herói troiano, Enéias, consultar aprofetisa nesse santuário, antes de com eladescer ao reino dos mortos.

uma sacerdotisa de nome Pítia entrava em transe e,recebendo o espírito do deus, proferia, com vozalterada, palavras enigmáticas. Era a resposta aosque consultavam o oráculo antes de tomar umadecisão importante para saber o quer tinham de fazer.Delfos, para os gregos, era o centro do mundo, umlugar sagrado a ser visitado e cultuado.

Jovem e belo se apresentava sempre Apolo. Tinhalongos cabelos, de reflexos azulados. Sua cabeça eracoroada por raios, pois esse deus também era opróprio Sol, assim como sua irmã Ártemis era a Lua.Daí ser chamado também de Febo, “o brilhante”. Eratambém o deus da música e da poesia.

O loureiro lhe era consagrado por um motivoespecial. Apolo se encantara com a ninfa Dafne e aperseguia pelas montanhas e florestas. Dafne dirigiuuma súplica ao seu pai, o deus e rio Peneu, e foiouvida: para escapar à perseguição, foi transformadanum loureiro, que é o que significa “Dafne” em

grego. Apolo se enamorou tam-bém do jovem Jacinto.Deixando de lado a cítara eas setas, entregava-se àscaçadas ao lado do rapaz. Equando se divertiam lan-çando o disco, enciumado,

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o vento Zéfiro, que também amava Jacinto, acabouprovocando sua morte: o disco lançado pelo deus foiferir mortalmente o jovem. A palidez de Apolo, aover o que acontecera, igualava-se à do rosto deJacinto. Gemendo, tentou em vão reanimá-loestancando a ferida. Por fim, disse, entre lágrimas:

— Tenho diante de meus olhos tua ferida a meacusar. Tu és minha dor e meu crime. Mas qual foi aminha culpa? A não ser que se possa chamar de culpater amado alguém... Se ao menos pudesse perder avida ao teu lado! Mas sempre estarás comigo, nãosairás jamais dos meus lábios, que sempre selembrarão de ti. E, transformado numa nova espéciede flor, nas tuas pétalas virá gravado o meu lamento.

Eis que enquanto Apolo assim falava, do sangue deJacinto, que corria pela terra, viu-se formar aos poucosuma flor, parecida com o lírio, mas de cor púrpura. Opróprio deus gravou nas pétalas a expressão dos seusgemidos. É por isso que se pode perceber no jacinto asletras da interjeição de dor: “ai”.

Antes de se casar com Hera, Zeus teve por esposaMétis. Ora, quando ela estavagrávida, uma profecia inquie-tante para o pai dos deuses ofez tomar uma decisão drástica.Dizia-se que, se Métis desse àluz uma filha e, depois, tivessepor neto um menino, este aocrescer destronaria Zeus. O reidos deuses, então, engoliuMétis...

Cópia de célebre mármore grego. Retrata Apolo aponto de disparar uma seta de seu arco.

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Entretanto, com o passar dotempo, uma terrível dor decabeça veio tirar o sossego deZeus; intrigado chamou odeus ferreiro Hefesto2 e pediuque lhe abrisse a cabeça comum machado. Hefesto fez umcorte nela e eis que de dentrosaiu, armada e dançando umadança guerreira, a deusa PalasAtena. Carregava a égide, umescudo recoberto com pele decabra, e o grito de guerraassustador, que proferiu ao

surgir para a luz do dia, ecoou por terra e céu. Palas era a protetora maior da cidade grega de

Atenas, a quem ofertou a oliveira, árvore tãoimportante para os gregos. Não era, pois, uma deusasomente guerreira. Era a deusa da sabedoria, dainteligência, das artes e das letras. Também otrabalho com a lã, uma tarefa deixada às mulheres,era seu dom. Deusa que se mantinha sempre virgem,o nome do magnífico templo que se ergueu em suahomenagem em Atenas — o Partenón — fazreferência a isso.

A coruja, que consegue enxergar no escuro, era aave consagrada a essa deusa, cujo dom maior, ainteligência, também é capaz de ver através dastrevas e vencê-las.

Apolo retratado como um jovem decabelos compridos e ondulados.

2 Hefesto: Vulcano, na mitologia latina.

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Hermes e Hefesto1

Numa caverna do monte Cilene, numa regiãoda Grécia chamada Arcádia, nasceu Hermes,filho de Zeus e Maia. Haveria de se tornar um

dia o mensageiro de seu pai. Se Zeus queria levar aalgum mortal um recado importante, convocava ofilho, que imediatamente colocava seu chapéu deabas largas e calçava suas belas sandálias de ourocom asas que o elevavam nos ares e o mantinhamacima das águas dos mares. Obediente, o mensageirodivino partia cruzando os céus com a rapidez dosventos mais velozes.

Deus astuto e hábil, foi o inventor da primeiralira, que fabricou colocando tripas de bois num cascode tartaruga. Quando nasceu, já era tão excepcional-mente precoce que saiu de seu berço e roubou partede um rebanho que estava sob os cuidados de Apolo.Esse deus estava muito irritado com o menino, masao se deparar com aquele instrumento musical queele inventara, imediatamente aceitou trocar por eleseus animais.

Outra invenção sua foi a flauta, e por ela Apolodeu-lhe o bastão de ouro que lhe servia de cajado2, eera chamado caduceu. Com esse bastão, Hermesconduz as almas dos mortos para as regiões infernaise fecha os olhos dos que caem no sono assim comoos reabre quando despertam.

1 Mercúrio e Vulcano, respectivamente, na mitologia latina.2 Cajado: vara ou bastão usado pelos pastores em seu trabalho diário.

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Hermes, com sua esperteza, era o deus docomércio e dos ladrões. Protegia também osviajantes, que homenageavam sua imagem quandopor ela cruzavam.

Hefesto, o deus do fogo, era filho de Zeus e Hera.Conta-se que um dos dois precipitou o deus doOlimpo: Hera, envergonhada com o filho feio ecoxo, ou Zeus, que, irritado por Hefesto ter tomado opartido da mãe numa discussão entre o casal, derepente o teria pego por um pé e atirado para a terra,fazendo com que o deus mancasse para sempre.

Hera (Juno), com escudo elança, pronta para a batalha.

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Mas Hefesto acabou voltando ao Olimpo,morada dos deuses, graças a sua astúcia. Construiuum belo trono todo feito de ouro e mandou-o a Hera.Quando sua mãe se sentou nele, cadeias a prenderamfirmemente, e ela não conseguiu se libertar. NoOlimpo, os deuses caíram na gargalhada ao ver seusapuros. Ninguém sabia como soltá-la. Foi preciso,então, chamar Hefesto, que sabia o segredo paralibertar Hera. Ao se reconciliar com os pais, acabourecebendo como esposa a mais bela das deusas,Afrodite.

Muito habilidoso no uso dos metais, que sabiafundir3 muito bem, Hefesto era o deus ferreiro. Suasforjas estavam no vulcão Etna, na Sicília; aqui,trabalha com a ajuda dos Ciclopes. O trono e o cetrode Zeus, seus terríveis raios, o carro do Sol, ofantástico escudo de Aquiles, dentre outrasmaravilhas, foram obra desse deus habilidoso etrabalhador.

3 Fundir: derreter.

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Deméter e Possêidon1, divindades da terra e do mar

Deméter é a deusa da terra cultivada: foi aprimeira a usar o arado e fazer a terraproduzir o alimento dos homens. Tinha com

Zeus uma filha chamada Perséfone, que haveria de seunir ao soberano do rei dos mortos. Desejando que também o deus dos Infernos, Hades,se submetesse ao poder do amor, Afrodite pediu aofilho Cupido que o transpassasse com uma de suassetas, provocando nele o desejo. Cupido assim o fez.

Perséfone, em companhia de amigas, colhiavioletas e lírios brancos em meio a um bosque. Eisque Hades a viu, depois de ter sido ferido de amor, e,tomado de desejo por aquela moça, resolveu raptá-lae levá-la para seu reino sob a terra. Precipitou-sesobre a moça. Aterrorizada, Perséfone gritou em vãopela mãe e pelas companheiras. Mas o deus acolocou em seu carro puxado por cavalos e partiu emdisparada.

Quando soube do que acontecera com sua filha,Deméter sentiu terrível dor. Correu o mundo à suaprocura sem conseguir encontrá-la. Enquantoperegrinava, abandonando o cultivo da terra, o solofoi ficando estéril e seco, impossibilitando aoshomens tirar do chão o alimento. A queixa, atravésdo mundo, era geral. Mas, finalmente, com seu carro,Ceres partiu em direção às regiões celestiais. Foiqueixar-se a Zeus:1 Ceres e Netuno, respectivamente, na mitologia latina.

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— Venho pedir por uma filha que tem meusangue e o teu, ó Zeus. Ela não merece ter por maridoum bandido.

— Mas Hades, a quem coube o reinado sobre osmortos, é meu irmão. Contudo, concederei quePerséfone volte dos Infernos, desde que ela não tenhatocado em nenhum alimento lá embaixo, porque tallei estabeleceu o Destino.

Perséfone, porém, já havia provado de uma romã.Mas a justiça de Zeus decidiu contentar a mãe aflitana medida do possível. Assim, decidiu que Perséfonepassaria uma parte do ano com Deméter e outra partedo ano com Hades, nas profundezas do reinosubterrâneo. Quando tem a filha consigo, Deméter sealegra, é primavera, e a terra renasce exuberante, asárvores voltam a produzir folhas e frutos; quando amoça se retira para junto do marido, é inverno, e anatureza parece morrer, sem poder oferecer aos

homens os donsdo cultivo. Se Zeus reina so-bre o céu e aterra, Hades so-bre as profunde-zas da terra, Pos-sêidon é o senhordos mares e oce-anos. Com seutridente corta aságuas do mar emseu carro deCabeça de uma estátua de bronze do deus Possêidon

(Netuno).

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rodas ligeiras. Uma farta barba cobre-lhe o rosto, e aexpressão do deus é séria e calma; mas quando ele seirrita, tempestades terríveis tomam conta do mar, aterra treme, ventos furiosos se precipitam sobre aságuas e erguem aos céus altas ondas. Se, porém, umoutro deus, intrometendo-se em seu reino, provocauma tempestade sem a sua permissão, Possêidon seergue colérico das profundezas do mar e dá ordensseveras para que os ventos se retirem imediatamente.

Durante a guerra de Tróia, o soberano do marfavoreceu os gregos, pois tinha um bom motivo parater poucas simpatias para com os troianos. De fato,quando se construíram as muralhas da cidade, ostroianos contaram com a ajuda de Possêidon e Apolo,que o fizeram em troca de um pagamento combinadocom o rei Laomedonte. Terminados os trabalhos,porém, Laomedonte recusou-sea pagar o que devia, provocandoa ira do deus.

Palas Atena.

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Cabeça de jovem.

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FAETONTE E O CARRO DO SOL

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Faetonte(2) Sol(3) Terra(4) Zeus

( ) Queixou-se a Zeus dos estragoscausados pelas chamas do carro do Sol.

( ) Queria a confirmação de que era filhodo Sol.

( ) Era o condutor habitual do carro queFaetonte queria dirigir.

( ) Atingiu Faetonte com seu raio.

2. O pai de Faetonte fez-lhe algumasrecomendações. Quais?

3. O que aconteceu com os cavalos docarro do Sol, quando Faetonte largouas rédeas?

4. Por que a Terra se queixou a Zeus?5. Qual foi o fim de Faetonte?

II. Segunda parte: análise einterpretação

1. No mito grego, muitas vezes se mostrauma personagem punida pelos deusespor ter ultrapassado a medida justapara cada mortal, isto é, por ter feitoalgo que é proibido a um simples serhumano, apesar de permitido aosdeuses. Como a história de Faetontetambém nos mostra isso?

2. A palavra “Oriente” significa, naorigem, “a região onde nasce o sol”.Copie o trecho do texto que revela essesentido da palavra.

3. Na versão do mito que seguimos, afaçanha do jovem Faetonte tem pelomenos um ponto positivo. Copie otrecho do texto que mostra isso.

4. Faça um resumo da história deFaetonte no menor número de linhasque você conseguir. Tente cortar todosos detalhes desnecessários, mantendosomente o que é essencial para acompreensão da narrativa.

ORFEU E EURÍDICE

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Prosérpina(2) Eurídice(3) Orfeu(4) Sísifo(5) Tântalo(6) Danaides

( ) Tem de transportar eternamente,montanha acima, uma pedra.

( ) Foram condenadas a encher de águaum tonel furado.

( ) Os deuses o condenaram a fome esede eternas.

( ) Divindade do mundo dos mortos.( ) Célebre como músico e poeta.( ) Por uma imprudência do marido, não

conseguiu voltar à vida.

2. Por que Orfeu não conseguiu tirarEurídice dos Infernos?

II. Segunda parte: análise einterpretação

1. Temos, abaixo, algumas expressõesproverbiais que se originam dos nomesde personagens míticas. A partir dotexto que você leu, complete osespaços em branco com nomes decondenados aos castigos do Hades:

a) Chama-se “trabalho de ... ” a umatarefa penosa e completamente inútil.

b) Às vezes escapa das nossas mãos algoque desejamos muito e que já estávamosquase alcançando. Diz-se de umasituação assim que é um “suplício de ... ”.

QUESTIONÁRIOS

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c) Um trabalho perdido ou algo que nuncatem fim é um “tonel das ... ”.

2. Com sua música e seu canto, Orfeuparecia ter conseguido dos deusesinfernais algo impossível a um mortalcomum. Que exceção extraordináriaera essa, que Orfeu, porém,desperdiçou?

NARCISO

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Narciso(2) Tirésias(3) Eco(4) Hera(5) Nêmesis

( ) Nome de um adivinho.( ) Seu corpo foi transformado numa

flor.( ) Juno.( ) Deusa que pune as más ações.( ) Ninfa que se apaixonou por Narciso.

2. Como morreu Narciso?

3. Tente encontrar um narciso e fazer adescrição dessa flor. No mito, fala-sede um jovem belo e de traçosdelicados; que impressão lhe causa aflor?

II. Segunda parte: análise einterpretação

1. Chama-se “narcisismo” o amorexagerado de uma pessoa por siprópria; alguém que se revela assim é“narcisista”. De onde vêm essasexpressões?

2. No mundo dos mitos, tudo o que existetem uma origem fantástica,sobrenatural, que podemos conheceratravés de uma narrativa transmitidade geração a geração. Segundo o texto,como se explica miticamente ofenômeno do eco?

PROMETEU, O PRIMEIROBENFEITOR DAHUMANIDADE

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Prometeu(2) Pandora(3) Hermes(4) Hércules

( ) Libertou Prometeu do rochedo a queele estava acorrentado.

( ) Dotou a primeira mulher de astúcia efingimento.

( ) Roubou o fogo divino.( ) Destampou a jarra que continha todos

os males.

2. Segundo o mito, por que os gregosreservavam para os deuses somente agordura e os ossos dos animais sacri-ficados?

3. Como apareceu a primeira mulhersobre a face da terra?

4. Qual a origem da infelicidade humana,segundo o texto?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. No mito, temos uma visão negativa damulher. Explique por quê.

2. Pandora, em grego, significa “quepossui todos os dons” (compare comTeodoro ou Deodoro, “dom de Deus”).Por que a primeira mulher recebeuesse nome?

3. Pense em como o fogo, com todos osbenefícios que proporciona, deve tersido importante para o início dacivilização. Transcreva do texto otrecho que mostra, na visão do mito, oaspecto extraordinário, sobrenatural,desse elemento.

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TESEU E O MINOTAURO, DÉDALOE ÍCARO

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Teseu(2) Dédalo(3) Ariadne(4) Minos(5) Pasífae(6) Ícaro( ) Apaixonou-se por um touro.( ) Filho de Dédalo, precipitou-se nas

águas do mar.( ) Aprisionou Dédalo no labirinto.( ) Matou o Minotauro.( ) Ajudou Teseu a encontrar a saída do

labirinto.( ) Construiu o labirinto.

2. Que era o Minotauro e qual a suaorigem?

3. Que tributo os atenienses tinham depagar ao rei de Creta?

4. O que causou a morte de Ícaro?

II. Segunda parte: análise einterpretação

1. No mito grego, Dédalo é o homeminventivo e hábil por excelência. Quefatos mencionados no texto compro-vam isso?

2. Compare o fim de Faetonte com o deÍcaro: que semelhança você vê entre asduas personagens?

3. De acordo com o que você leu,complete a expressão abaixo desta-cada:Chama-se “fio de ... ” um fio condutor,isto é, algo de que nos servimos paranão nos perdermos.

4. Tanto “Dédalo” quanto “Ícaro”,substantivos próprios, podem serempregados como substantivoscomuns em português. Diz-se, a partir

do nome do construtor do labirinto deCreta, que um ... é um labirinto ou algoconfuso e difícil de entender; por outrolado, chama-se ... (ainda que não sejamuito usado) um homem que temambições demasiado altas para suasforças ou ambições que lhe sãofunestas.

O NASCIMENTO E A PRIMEIRAFAÇANHADO HERÓI

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Anfitrião(2) Alcmena(3) Zeus–Júpiter(4) Hermes–Mercúrio(5) Hera( ) General tebano, marido de Alcmena.( ) Tentou matar Hércules.( ) Colocou Hércules junto ao seio de

Hera.( ) Foi o verdadeiro pai de Hércules.( ) Apesar de mortal, deu à luz um filho

de Zeus.

2. Como surgiu a Via Láctea?

3. Por que Hera tinha tanto ódio aHércules?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. O escritor francês Molière retomou acomédia de Plauto e criou uma peçachamada Anfitrião. Graças, sobretudo,a essa comédia, os nomes Anfitrião eSósia tornaram-se populares. Essessubstantivos próprios passaram a sersubstantivos comuns, em português eem outras línguas. Veja abaixo adefinição de “anfitrião” e “sósia” eexplique por que esses nomes têm essesignificado.

a) anfitrião: pessoa que recebe convida-dos em sua casa (especialmente parajantar), pessoa que recebe bem os seushóspedes.

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b) sósia: pessoa muito parecida comoutra, por vezes a ponto de serconfundida com ela.

2. A comédia sempre explorou as confu-sões divertidas que podem surgir daexistência de pessoas muito parecidas:gêmeos, sósias. Você se lembra dealgum filme, história em quadrinho,peça de teatro ou série de televisão emque isso ocorre? Resuma em um pará-grafo uma situação cômica originadadessa semelhança.

OS DOZE TRABALHOS DEHÉRCULES – I

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Leão de Neméia (2) Hidra de Lerna(3) Javali de Erimanto(4) Corça de Cerinia (5) Aves do lago Estínfalo (6) Estábulos de Augias

( ) Aproveitando-se do cansaço doanimal, Hércules atingiu-o com umaseta.

( ) A tarefa foi cumprida com o desviode dois rios.

( ) Hércules esfolou-o e colocou sobre sia pele do animal.

( ) Com o sangue do monstro, o heróienvenenou suas flechas.

( ) Hércules capturou-o depois de o fazercansar-se.

( ) Saíram do esconderijo por causa dobarulho provocado por Hércules.

2. Por que Hércules fora consultar ooráculo de Apolo em Delfos?

3. Quem era Euristeu e qual seu papelnos doze trabalhos de Hércules?

4. Quem era Iolau e como ajudouHércules a vencer a Hidra de Lerna?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Por que os chamados “doze trabalhos”demonstram que Hércules era mais doque um simples mortal?

2. Hércules pode ser considerado, nomito, como uma espécie de benfeitorda humanidade. Por quê?

3. Você já deve ter observado que nosmitos aparecem, com freqüência, alémdos deuses, seres fantásticos, sobrena-turais (assim como homens que têmpoderes que a humanidade normal nãopossui). Use a sua imaginação e tentepensar na forma de cada um dos seresmonstruosos vencidos por Hérculesnestes seis primeiros trabalhos. Qualdeles lhe parece o mais impressionantee assustador? Por quê?

OS DOZE TRABALHOS DEHÉRCULES – II

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Touro de Creta(2) Éguas de Diomedes(3) Cinto de Hipólita(4) Bois de Gerião(5) Cérbero(6) Maçãs do jardim das Hespérides

( ) Devoravam os estrangeiros quechegavam à região.

( ) Tinha três cabeças e guardava aentrada e saída dos Infernos.

( ) Soltava fogo pelas ventas.( ) Foram colhidas com a ajuda do

gigante Atlas.( ) Sua captura só foi possível com a taça

do Sol.( ) Era usado pela rainha das amazonas.

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2. Que era a taça do Sol?

3. Quem era Atlas?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Com exceção dos bois de Gerião, quala característica comum aos animaisque Hércules teve de levar a seu primoEuristeu?

2. As Hespérides, ninfas do poente,tinham nomes gregos, que significa-vam: “brilhante”, “vermelha”, “ninfado Poente”: a que astro esses nomesfazem referência?

3. O nome Hércules (ou Héracles, emforma mais próxima do grego) signi-fica “glória de Hera”. Você conseguever algum sentido nesse nome a partirdos doze trabalhos que o herói teve derealizar?

4. Não é uma expressão muito usadahoje, em português, mas pode-sechamar um porteiro mal-educado ouinflexível de “Cérbero”. Explique deonde se origina esse emprego.

5. Aqui, em vez de pergunta, daremos avocê algumas informações curiosas.Primeiramente, sobre a origem dosubstantivo comum “atlas”, termo tãoutilizado em Geografia. Antigamente,um livro com um conjunto de mapastinha como capa a figura do gigantemitológico Atlas, que, como você viu,suportava a abóbada celeste sobre seusombros. Depois, o substantivo próprio(Atlas) passou a designar o livro quereúne mapas, tornando-se substantivocomum (atlas). Em inglês, pode-sedizer de alguém que carrega umgrande peso que é um “Atlas”. Últimacuriosidade: a vértebra do pescoço quesustenta a cabeça é chamada, emAnatomia, “atlas”, pois se comportasemelhantemente ao gigante, quesustentava o céu.

AS ORIGENS DA GUERRA DETRÓIA

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

( 1 ) Príamo( 2 ) Hécuba( 3 ) Páris( 4 ) Menelau( 5 ) Helena( 6 ) Agamêmnon( 7 ) Odisseu( 8 ) Afrodite( 9 ) Discórdia(10) Palas Atena

( ) Grego famoso pela astúcia, tambémchamado Ulisses.

( ) Marido de Helena, quis vingar seurapto.

( ) Divindade também chamada Éris.( ) Irmão de Menelau, comandaria os

exércitos da Grécia.( ) Sonhou que dava à luz uma tocha.( ) Deusa da sabedoria.( ) Fugiu para Tróia deixando seu esposo

na Grécia.( ) Rei de Tróia.( ) Foi considerada a mais bela das

deusas por Páris.( ) Jovem troiano, tirou Helena de

Menelau.

2. Diga brevemente qual foi aparticipação do troiano Páris nasorigens da guerra que destruiu Tróia.

3. Por que a Discórdia decidiu causarconfusão durante o casamento dePeleu e Tétis?

4. Por que Palas Atena e Hera combate-ram ao lado dos gregos na guerra?

5. Qual era o outro nome de Tróia?

6. De que cidade era Helena? Que deusaexerceu seu poder sobre ela?

7. Que significa “Alexandre” em grego?Por que Páris recebeu esse nome?

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II. Segunda parte: análise einterpretação

1. “Pomo da discórdia” é uma expressãoque designa o motivo central de umadisputa, de uma luta, de uma briga. Nomito, como você viu, a deusaDiscórdia lança, entre Palas, Afrodite eHera, um pomo com a inscrição “Àmais bela”, provocando a disputaacirrada entre as três deusas, quereivindicam o título, e a futura guerrade Tróia. A partir do que observamos,crie uma frase empregando aexpressão “pomo da discórdia”.

2. Como você pode ver pelo texto, nosmitos há sempre causas divinas ehumanas para os acontecimentos;aponte algumas das causas da guerrade Tróia, separando-as nos doisplanos, divino e humano.

3. Por que Afrodite é chamada no texto,numa imagem que aparece em mais deum poeta grego, uma deusa “doce eamarga ao mesmo tempo”?

A IRA DE AQUILES

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

( 1 ) Briseida( 2 ) Criseida( 3 ) Aquiles( 4 ) Heitor( 5 ) Pátroclo( 6 ) Euforbo( 7 ) Tétis( 8 ) Hefesto( 9 ) Agamêmnon(10) Apolo

( ) Deus ferreiro, fabricou as armas deAquiles a pedido de Tétis.

( ) Fiel companheiro de Aquiles, mortopor Heitor.

( ) Deus que interveio para levarPátroclo à desgraça.

( ) Escrava de Aquiles, reivindicada porAgamêmnon.

( ) Guerreiro troiano que feriu Pátrocloantes de Heitor.

( ) Escrava de Agamêmnon, era filha dosacerdote de Apolo.

( ) Conhecido como o herói de pésligeiros.

( ) Ninfa do mar e mãe de Aquiles.( ) Era o mais valoroso dos guerreiros

troianos.( ) Rei que comandava o exército grego.

2. Como surgiu a disputa entreAgamêmnon e Aquiles?

3. Que fez Palas Atena para impedir queAquiles matasse Agamêmnon?

4. Aquiles podia escolher entre doisdestinos diferentes. Quais eram eles?

5. Que profecia faz Pátroclo a Heitorantes de morrer?

6. Como Aquiles pôde voltar ao combate,se já não mais possuía as suas armas,que ele havia cedido a Pátroclo?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. A guerra de Tróia foi narrada numextenso poema, a Ilíada, escrito pelogrego Homero por volta do século VIIIa. C. Trata-se de uma “epopéia”, umanarrativa em versos de proezasgrandiosas, como Os Lusíadas, dopoeta português Luís de Camões. Noinício da Ilíada, de Homero, o poetainvoca a Musa para cantar “a irafunesta de Aquiles”. Por que a ira doherói é chamada de “funesta” (“quetraz desgraça”, “que traz males”)?

2. Na sua opinião, quem estava com arazão, na disputa que os separaram:Aquiles ou Agamêmnon? Justifiquesua resposta.

3. Explique a última frase do texto: “Aira de Aquiles iria ter, agora, outroalvo”.

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A MORTE DE HEITOR

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

( 1 ) Heitor( 2 ) Aquiles( 3 ) Príamo( 4 ) Deífobo( 5 ) Hermes( 6 ) Apolo( 7 ) Zeus( 8 ) Andrômaca( 9 ) Hécuba(10) Astíanax

( ) Deus que protegia Heitor.( ) Filho de Heitor e Andrômaca.( ) Combatia com as armas tomadas de

Pátroclo.( ) Mulher de Heitor.( ) Tomando sua forma, Palas Atena

convenceu Heitor a enfrentarAquiles.

( ) Arrastava o corpo de Heitor em voltado túmulo de Pátroclo.

( ) Protegeu Príamo quando o rei foi tercom Aquiles.

( ) Pesou, numa balança, os destinos deAquiles e Heitor.

( ) Tentou convencer o marido Príamo anão ir à tenda de Aquiles.

( ) Beijou a mão de quem lhe haviamatado vários filhos.

2. Qual foi a reação de Heitor quandoavistou Aquiles, depois de ter decididoenfrentá-lo?

3. Quando Apolo deixou de protegerHeitor?

4. Que fez Palas Atena para precipitar amorte de Heitor?

5. Que atitude teve Aquiles com ocadáver do inimigo?

6. Que foi fazer Príamo na tenda de seuinimigo Aquiles?

7. Por que Aquiles continuava tão furiosoa ponto de maltratar o corpo doinimigo morto?

8. Que fez Aquiles, final mente, diante doapelo de Zeus e das súplicas dePríamo?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Na sua opinião, Aquiles tinha motivopara tratar daquela maneira o corpo doinimigo?

2. Zeus se compadece de Heitor, mas éincapaz de evitar-lhe a morte. Por quê?

3. Observe neste (e nos relatosprecedentes) como os deuses secomportam. Você acha que eles sãoimparciais, isto é, não tomam partido,quando agem no mundo humano?Justifique sua resposta.

4. Por que, no texto, “aurora” vemgrafado com maiúscula?

5. Entre as personagens de Aquiles eHeitor há diferenças (por exemplo, oprimeiro é filho de uma ninfa; osegundo, não), mas há tambémsemelhanças. Aponte as que vocêconsegue identificar a partir do texto.

O CALCANHAR DE AQUILES

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Aquiles(2) Quirão(3) Tétis(4) Pátroclo(5) Apolo

( ) Guiou a seta de Páris para o calcanharde Aquiles.

( ) Previu o destino do filho Aquiles.( ) É o herói de “pés ligeiros”.( ) Educou o menino Aquiles.( ) Suas cinzas se uniram às de Aquiles.

2. Qual o único ponto vulnerável em todoo corpo de Aquiles?

3. Por que essa parte do corpo do heróinão era invulnerável?

4. Quem foi Pentesiléia?

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II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. A expressão “ ... ” é empregada parareferirmo-nos ao ponto fraco de algu-ma pessoa. Construa uma frase comessa expressão.

2. Aponte alguns elementos fantásticos,“sobrenaturais”, da história deAquiles.

3. Aquiles e Hércules são “heróis”;aponte características comuns aosdois.

O CAVALO DE MADEIRA E O FIMDE TRÓIA

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Sinão(2) Epeu(3) Odisseu(4) Laocoonte (5) Tênedos

( ) Ilha onde os gregos se esconderamdepois de simular a partida.

( ) Sacerdote morto pelas serpentes en-viadas por Palas Atena.

( ) Jovem grego que fingiu ter sido con-denado à morte pelos companheiros.

( ) Foi o construtor do cavalo de madeira.( ) Teve a idéia do cavalo de madeira.

2. Diga brevemente em que consistiu aparticipação do grego Sinão noestratagema do cavalo.

3. Quantos anos durou a guerra de Tróia?

4. Qual foi o fim de Príamo, o rei deTróia?

5. Que gesto de Laocoonte foi punido porPalas Atena?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. A partir do texto, explique a origemdas expressões entre aspas, cujaexplicação é fornecida:

a. “Agradar gregos e troianos”: agradar atodo mundo, agradar até mesmo a

lados completamente opostos einconciliáveis.

b. “Presente de grego”: presente quecontém algo nocivo a quem o recebe.

c. “Temo os gregos mesmo quandotrazem presentes”: devemos tomarcuidado com as pessoas cuja maldadeconhecemos bem.

2. Segundo o texto, qual seria a origemprimeira, lendária, mítica de Roma?

3. A astúcia, quer nas palavras que dize-mos, quer nas ações que praticamos,foi geralmente considerada pelos gre-gos uma das maiores qualidades queum homem pode ter, um verdadeiroideal para a sua cultura. De que modovemos isso na narrativa lida?

4. O episódio do cavalo, do ponto devista dos troianos, será considerado,em algumas obras literárias, umafraude indigna de guerreiros valorosos.Redija um parágrafo atacando essemeio de que se serviram os gregos,como se você fosse um troianoanalisando o que aconteceu; emseguida, escreva, em um parágrafo,uma possível resposta, do ponto devista dos gregos, a esse ataque.

5. Transcreva as partes do discurso deSinão que parecem ter por objetivoconquistar a simpatia dos troianos(criticando ele mesmo os gregos,traçando uma imagem simpática de simesmo, fazendo-se de vítima).

6. Observe a ilustração que acompanha otexto (pág. 54). A esculturareproduzida encontra-se no Museu doVaticano em Roma. Que episódio daguerra de Tróia retrata? Note aexpressão do rosto do pai; o “abraço”das serpentes envolvendo todas asfiguras; os gestos das crianças: queimpressão as pessoas esculpidascausam em você?

7. Em português, a palavra “ilíada” podesignificar uma série de atos de bravura;já nos referimos ao célebre poema dogrego Homero denominado,justamente, Ilíada — mas de onde vemesse nome?

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ODISSEU E O CICLOPE

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Lotófagos (2) Polifemo(3) Possêidon(4) Ciclopes(5) Ninguém(6) Odisseu

( ) Nome falso usado por Odisseu paraenganar Polifemo.

( ) Seres gigantescos, com um só olhono meio da testa.

( ) Ítaca era sua terra natal.( ) Pai de Polifemo.( ) Pediu a Possêidon que castigasse

Odisseu.( ) Seu alimento era uma flor.

2. Descreva os ciclopes.

3. Como Odisseu conseguiu escapar dacaverna de Polifemo?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Em português, o adjetivo “ciclópico”significa gigantesco, monumental. Ex-plique a origem desse significado.

2. Na palavra lotófago, o elemento“–fago” significa “comedor”, “quecome”. Explique, a partir disso, o quesignifica “antropófago” e “bacteriófa-go”, e cite uma outra palavra com for-mação semelhante.

3. Odisseu ficou conhecido como o heróique muito sofreu por terra e por maraté cumprir sua meta. Segundo o texto,por que Odisseu teve um retorno tãotumultuado e penoso?

NA ILHA DA FEITICEIRA CIRCE

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Odisseu(2) Circe

(3) Hermes(4 ) Euríloco(5) Elpenor

( ) Morreu ao cair do teto da casa deCirce.

( ) Deu a Odisseu uma planta para oproteger dos feitiços de Circe.

( ) Companheiro de Odisseu que não foienfeitiçado.

( ) O Sol era seu pai.( ) Antes de chegar a casa, deveria ir ao

reino dos mortos.

2. Que fez Circe aos companheiros deOdisseu?

3. Como Odisseu conseguiu escapar aosencantamentos de Circe?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Nos mitos gregos, por vezes háelementos que lembram os nossoscontos de fadas. Você é capaz deidentificar algum na narrativa que leu?

2. Escreva um parágrafo resumindo aomáximo a história de Circe, isto é,deixando de lado os detalhes econcentrando-se nos acontecimentosmais importantes da intriga.

ODISSEU VAI AO REINO DOSMORTOS

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Tirésias(2) Anticléia(3) Ájax(4) Agamenão(5) Elpenor(6) Minos

( ) Foi morto pela própria esposa e oamante desta.

( ) Parente que Odisseu encontrou noHades.

( ) Juiz entre os mortos.( ) Adivinho que Odisseu consultou no

Hades.( ) Perdeu para Odisseu a posse das

armas de Aquiles.

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( ) Pediu a Odisseu que desse sepultura aseu corpo.

2. Por que Odisseu foi ao reino dosmortos?

3. Que recomendação importante deuTirésias a Odisseu?

4. Que situação Odisseu haveria deencontrar em Ítaca, caso conseguisseregressar a casa?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Note que, na concepção do reino dosmortos vista aqui, as almas descemtodas ao Hades; não há “céu”; entre-tanto, pelo texto lido, pode-se ver quehá algo de semelhante à noção católicade “inferno”. De que se trata?

2. Releia a história de Aquiles (lembra-sedo que lhe disse sua mãe Tétis arespeito de seu destino?). No Hades, oherói disse que preferiria ser umtrabalhador humilde a ser rei entre osmortos; essas palavras contrastam coma imagem do guerreiro, tal comotraçada no mito. Explique por quê.

3. Na sua opinião, como é a vida após amorte descrita aqui? Compare com anoção de “céu” e “inferno” da religiãocatólica ou com a idéia de “além” deoutra religião ou crença.

OS NOVOS PERIGOS DA VIAGEM

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Sereias(2) Calipso(3) Feácios(4) Sol(5) Possêidon

( ) Os companheiros de Odisseu come-ram algumas de suas vacas.

( ) Estava furioso porque Odisseu lhecegara o filho.

( ) Seu canto enfeitiçava os navegantes.( ) Ninfa que pretendia ter Odisseu por

esposo.

( ) Em sua terra, Odisseu estaria a salvo.

2. Que fez Odisseu para não ser arrastadopara junto das Sereias?

3. Por que Calipso finalmente deixouOdisseu partir de sua ilha?

4. Que desejava Calipso de Odisseu?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Diz-se ... uma mulher muito atraenteou que canta muito bem.Por outro lado, “canto de ... ” é expres-são para denominar as palavras ou asações com que se tenta conquistar aamizade ou os favores de alguém.

2. ..., o nome da embarcação do famosoexplorador francês da vida marinha,Jacques-Cousteau, que morreu em1997, é, na mitologia grega, o nome daninfa que reteve Odisseu em sua ilhapor sete anos.

3. Estar entre ... e ... é estar entre doisperigos igualmente terríveis.

4. Aponte no texto um exemplo dasuperioridade de Zeus sobre os outrosseres divinos.

A CHEGADA DE ODISSEU E OMASSACRE DOS PRETENDENTES

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Telêmaco(2) Penélope(3) Eumeu(4) Antínoo(5) Argo(6) Palas Atena

( ) Cão de Odisseu; morreu aoreconhecê-lo depois de vinte anos.

( ) Porqueiro de Odisseu; permaneceufiel ao patrão.

( ) Os pretendentes tentaram matá-lo.( ) Fiel e dedicada esposa de Odisseu.

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( ) Transformou Odisseu em mendigo.( ) Um dos arrogantes pretendentes à

mão de Penélope.

2. Que eram os “pretendentes”?

3. Como Penélope tentava enganar ospretendentes?

4. A que prova Penélope submeteOdisseu para comprovar que se tratavamesmo do marido?

II. Segunda parte: análise einterpretação

1. Note que Penélope e Odisseu têmtraços em comum; aponte os que vocêconsegue identificar a partir danarrativa.

2. Na Antiguidade, Odisseu seria cultua-do por alguns como uma imagem dohomem que vence todas as situaçõesdifíceis da vida através de sua força devontade e de sua razão. Para uns, eleera a imagem mesma da inteligênciaastuciosa; para outros, a personi-ficação da esperteza negativa, quetriunfa pela fraude. O poeta latinoVirgílio (século I a. C.) escreveu umaepopéia, a Eneida, que conta como oherói troiano Enéias, incitado pelodestino, escapou da destruição dacidade pelos gregos e foi ter à Itália.Na Eneida, que traz a visão dostroianos, Odisseu é visto como um ho-mem criminoso em suas artimanhas.Na sua opinião, essa característica doherói — usar da manha e da astúciapara sobreviver — é positiva ounegativa? Justifique sua resposta.

3. Homero, autor da Ilíada, como jádissemos, deixou-nos também umaepopéia chamada Odisséia, que narraas aventuras do retorno de Odisseu aÍtaca. Em português, o substantivocomum “odisséia” designa a narrativade acontecimentos extraordinários, deaventuras e perigos, mas também seaplica a uma série de situaçõescomplicadas, difíceis de enfrentar (porexemplo: “Foi uma verdadeiraodisséia conseguir o passaporte a

tempo!”). Crie uma frase empregandoa palavra num ou noutro sentido.

A SOBERANIA DE ZEUS E SUAESPOSA HERA

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Cronos(2) Zeus(3) Hera(4) Titãs

( ) Zeus teve de enfrentá-los numa longaguerra.

( ) É o pai de Zeus e devorava os filhos.( ) Pune os que quebram promessas e

juramentos.( ) Seu ódio implacável se exerceu

contra Hércules.

2. Cronos devorava seus filhos, commedo de ser destronado por um deles.Como fez Réia, sua esposa, para salvaro futuro Zeus, impedindo-o de sertambém engolido pelo pai?

3. Qual a origem do nome do mês de“junho”?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Os deuses gregos parecem humanos noseu caráter. Não se pode dizer que seucomportamento sirva de exemplomoral para os homens... A partir danarrativa, cite duas amostras dasimperfeições divinas.

2. Em vez de questão, apresentaremosaqui algumas curiosidades sobre os no-mes dos meses em português, que vêmdos antigos romanos. Veja: Janeiro(em inglês, January): é o mês do deuslatino Jano, que presidia a tudo o que épassagem e transição. No que diz res-peito ao espaço, a porta (separandointerior e exterior) é consagrada a essedeus; no tempo, o primeiro mês do

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ano, que está entre o passado (o anoque se foi) e o futuro (o ano queinicia). Fevereiro: era originalmente um mêsem que se faziam purificações; o nomedo mês na língua dos antigos romanos,o latim, fazia referência a isso.

Março: era o mês de Marte (Ares, namitologia grega), o deus da guerra.

Abril: alguns explicavam esse nomedizendo que era o mês em que as floresse abrem, pois na Europa em abril setem a primavera.

Maio: o nome é uma referência aMaia, mãe de Hermes (Mercúrio, namitologia latina). “Maio”, portanto, éconsagrado ao filho de Maia.

Junho: homenagem a Juno, comovimos.

Julho: homenagem a Júlio César, umcélebre general e escritor romano.

Agosto: consagrado à memória doprimeiro imperador de Roma, Augusto(pense no inglês August).

Setembro, Outubro, Novembro,

Dezembro: na origem, o ano romanocomeçava em março, e só tinha dezmeses. “Sete” em latim é septem;“oito” é octo; “nove” é nouem; e “dez”é decem. Portanto, contando a partir demarço, vê-se que para os antigosromanos setembro era o sétimo mês(inglês September), outubro o oitavo(inglês October), novembro o nono(inglês November) e dezembro odécimo (inglês December).

3. A partir das informações acima, digapor que o mês de janeiro era consa-grado a Jano na antiga Roma.

4. Veja a ilustração da página 77, querepresenta Jano. Por que o deus éretratado assim?

AFRODITE E ÁRTEMIS, A DEUSADO AMOR E AVIRGEM CAÇADORA

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Afrodite(2) Hefesto(3) Adônis(4) Actéon(5) Ares(6) Ártemis

( ) Esposo da deusa do amor.( ) Deus da guerra, amante da deusa do

amor.( ) Amado por Afrodite, foi

transformado em flor após sua morte.( ) Nasceu da espuma do mar.( ) Deusa caçadora.( ) Foi devorado pelos próprios cães.

2. Quais eram as aves e plantasconsagradas a Afrodite?

3. Quais eram os animais consagrados aÁrtemis?

4. Por que Ártemis puniu Actéon tãoterrivelmente?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Adônis parece ser um mito sobre ociclo anual da vegetação, especial-mente sobre a primavera. Que há nahistória de Adônis que se poderelacionar a essa estação do ano?

2. No casamento romano da Antiguidade,as noivas usavam, além de um véu eum vestido especial, como as mulheresde hoje, uma coroa que, de início, nãoera de flor de laranjeira, mas de folhasde mirto. Qual a causa provável daescolha dessa planta para adornar anoiva?

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ARES E DIONISO

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

( 1 ) Ares( 2 ) Dioniso( 3 ) Rômulo( 4 ) Amúlio( 5 ) Réia Sílvia( 6 ) Numitor( 7 ) Sêmele( 8 ) Sátiros( 9 ) Penteu(10) Agave

( ) Teve de Marte dois filhos gêmeos:Rômulo e Remo.

( ) Mãe de Penteu, cortou a cabeça dopróprio filho.

( ) Na mitologia romana, é chamadoMarte.

( ) Mãe mortal do deus Dioniso.( ) Proibiu o culto a Dioniso e foi pelo

deus castigado.( ) Nasceu da coxa de Zeus.( ) Matou o próprio irmão quando da

fundação de Roma.( ) Seres monstruosos, metade homens,

metade bodes.( ) Apossou-se do trono de Alba Longa,

destronando o irmão.( ) Pai de Réia Sílvia.

2. Que eram as virgens vestais?

3. Por que Roma surgiu no montePalatino?

4. Uma versão da história de Dionisorelaciona o deus com o nascimento dosseres humanos. Conte-a com suaspalavras.

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Nos mitos de vários povos vemos umacivilização ou uma cidade, uma novaetapa da existência, enfim, começarcom um crime, o assassinato de um

irmão, como na lenda do nascimentode Roma. Na Bíblia, que narrativapoderíamos lembrar?

2. Que relação haveria entre a bebida deDioniso, o vinho, e o estado em queficavam as pessoas possuídas peloespírito do deus?

3. Aqui, em vez de questão,apresentaremos algumas informaçõesinteressantes:Dioniso era o deus do teatro,especialmente da tragédia; esta teriasurgido de certas procissões quecelebravam o deus. Em grego“tragédia” significa “o canto do bode”,quer porque os adoradores de Dionisosacrificavam um bode nas cerimôniasque o homenageavam, quer porque ovencedor nos concursos de tragédiasrecebia um bode. Assim, nosso teatro,que vem do grego, tem origensreligiosas. No Brasil, há até umconhecido diretor que diz procurar tra-zer de volta aos espetáculos teatrais oespírito dionisíaco que foi se perdendocom o tempo, fazendo das peças, maisque uma simples encenação de umahistória, uma espécie de ritual sagrado.De quando em quando, antigastragédias gregas são reencenadastambém em nosso país, como Medéia,por exemplo, a história de umafeiticeira que, abandonada pelo marido,mata os próprios filhos para se vingar.Chico Buarque de Holanda e PauloPontes, a partir da tragédia Medéia,criaram uma peça chamada Gotad’Água; você talvez conheça a músicade mesmo nome. Assim, podemosdizer que os mitos gregos estão semprevivos em nossa imaginação, através doteatro, da música, da literatura ou deoutras artes que recontam suas his-tórias, transformando-as mais oumenos intensamente.

APOLO E PALAS ATENA

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

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Page 126: Paulo Sergio de Vasconcellos - Mitos Gregos

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(1) Apolo(2) Palas(3) Pítia(4) Píton(5) Jacinto(6) Delos(7) Delfos(8) Pártenon

( ) Sacerdotisa do templo de Apolo emDelfos.

( ) Templo ateniense dedicado a PalasAtena.

( ) Era também chamado Febo econfundido com o Sol.

( ) Dragão morto por Apolo.( ) Nasceu da cabeça de Zeus.( ) Jovem amado por Apolo.( ) Ilha onde Apolo e Diana nasceram.( ) Centro do mundo para os gregos.

2. Como surgiu o jacinto, segundo omito?

3. Por que o loureiro era consagrado aApolo?

4. Que cidade tinha Palas como prote-tora?

5. Qual a árvore e a ave consagradas aPalas?

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. O número sete era consagrado aApolo. Transcreva do texto o trechoque justifica no mito a preferência dodeus por esse número.

2. Em português, o substantivo comum“apolo” designa um homem, especial-mente jovem, forte e belo. Explique, apartir do mito, por que esse subs-tantivo tem esse sentido.

3. Você já deve ter percebido que éfreqüente no mito grego a metamor-fose, isto é, a narrativa da transfor-mação de um ser em outro. Um poetalatino chamado Ovídio, que viveu noséculo I a. C., escreveu uma extensa

obra sobre os mitos chamadaMetamorfoses; nela, conta os mitos apartir desse tema. Ora, nos contos defadas e nas histórias do folclore emgeral esse é também um tema comum.Cite um exemplo a partir dasnarrativas que você conhece.

4. O herói Odisseu (ou Ulisses), ohomem astucioso por excelência, tempor protetora a deusa Palas Atena.Além de guerreira, que outra caracte-rística importante para Odisseu tinha adeusa?

5. Releia o trecho que trata da Pítia(também chamada Pitonisa). Vocêpoderia citar um fenômeno semelhanteque se pode ver ainda hoje?

HERMES E HEFESTO

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Hermes(2) Hefesto(3) Apolo(4) Zeus(5) Hera( ) Aceitou a lira em troca dos animais

que lhe roubaram.( ) Deus do fogo.( ) Mãe de Hefesto.( ) Era o mensageiro de Zeus.( ) Pai de Hefesto.

2. Como nasceu a primeira lira?

3. Que era o caduceu?

4. Cite três obras extraordinárias fabrica-das por Hefesto.

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. Hermes era o protetor dos viajantes.Que aspecto da história desse deuspode justificar essa relação com os que

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viajam?

2. Complete: “O bastão de Mercúrio, o..., por vezes é representado com duasserpentes nele enroladas e duas asas naparte superior. Tornou-se um símboloda medicina.”

3. O nome latino de Hefesto é Vulcano,que lembra “vulcão”: que relação podehaver entre esse deus e o fenômenodos vulcões?

DEMÉTER E POSSÊIDON, DIVIN-DADES DA TERRA E DO MAR

I. Primeira parte: compreensão do texto

1. Relacione as colunas de acordo com asinformações do texto:

(1) Deméter(2) Prosérpina(3) Possêidon(4) Tróia

( ) Passa parte do tempo com Hades,parte com sua mãe.

( ) Deuses ajudaram a construir seusmuros.

( ) Deusa da terra cultivada.

( ) Divide com Zeus e Hades a soberaniasobre o mundo.

2. Por que Hades finalmente se apaixo-nou por alguém?

3. Faça uma descrição de Possêidon.

II. Segunda parte: análise e interpre-tação

1. O nome latino de Deméter é Ceres,nome ao qual se liga “cereal”.Explique a ligação entre este subs-tantivo e o mito de Deméter.

2. Os mitos procuram explicar com umanarrativa tudo o que se observa nomundo. No mito de Deméter, conta-sea origem da divisão do ano em duasestações principais e opostas, prima-vera e inverno. Como ela aconteceu,segundo o texto?

3. Em português, “netuniano”, “netuni-no” ou “netúnio” são adjetivos quesignificam “o que é relativo ao ocea-no”. Qual a ligação entre esses adjeti-vos e o mito de Possêidon?

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FAETONTE E O CARRO DO SOL

I. compreensão do texto

1. 3 - 1 - 2 - 4.

2. Recomendou-lhe que não usasse ochicote, segurasse as rédeas comfirmeza e não se desviasse da rota,mantendo-se entre a terra e o céu.

3. Os cavalos correram a toda velocidadepor regiões onde o carro do Sol jamaistinha estado.

4. Porque todo o mundo, entregue àschamas, parecia estar próximo dadestruição.

5. Zeus o atingiu com um raio.

II. análise e interpretação

1. Faetonte desejou uma tarefa sópossível a um imortal: guiar o carro doSol, cujos cavalos eram difíceis decontrolar. Dessa forma, falhou, quaseprovocando um caos, e foi punido.

2. “Eis que no Oriente a Aurora começoua tingir o céu de rosa.”

3. Trata-se do epitáfio:“Aqui jaz Faetonte, cocheiro do carropaterno. Não conseguiu dirigi-lo, masmorreu num ato de grande ousadia.”

4. Resposta pessoal.

ORFEU E EURÍDICE

I. compreensão do texto

1. 4 - 6 - 5 -1 - 3 - 2.2. Porque, desobedecendo à ordem que

lhe fora dada, olhou para trás quandolevava Eurídice para fora dos Infernos.

II. análise e interpretação

1. a. Sísifo.b.Tântalo.c. Danaides.

2. Orfeu quase conseguiu fazer umamortal, sua esposa, reviver, escapandodo mundo dos mortos, o que éexcepcional.

NARCISO

I. compreensão do texto

1. 2 - 1 - 4 - 5 - 3.

2. Narciso, sem querer comer nem beber,morreu de inanição, contemplando atéo fim sua imagem refletida na água.

3. Resposta pessoal.

II. análise e interpretação

1. Essas expressões ligam-se ao mito deNarciso, que se apaixonou pela suaprópria imagem refletida na água deuma fonte.

2. Eco era uma ninfa que fora condenadapor Hera a repetir as palavras dasoutras pessoas. Apaixonada porNarciso e por ele rejeitada, Ecodefinhou até se reduzir a uma voz;seus ossos, por sua vez, transforma-ram-se em pedras. Quando ouvimos oeco de nossas palavras, trata-se,portanto, da voz da ninfa, que repete oque dizemos.

PROMETEU, O PRIMEIROBENFEITOR DA HUMANIDADE

I. compreensão do texto

1. 4 - 3 - 1 - 2.

2. Porque Prometeu, enganando Zeus,fez com que o pai dos deuses escolhes-se para si os ossos e a gordura de umboi sacrificado.

3. Foi criada pelos deuses a pedido deZeus, com o objetivo de punir oshomens.

4. Os males que afligem a humanidade

RESPOSTAS

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estavam contidos numa jarra quePandora, por curiosidade, abriu, dei-xando escapá-los.

II. análise e interpretação

1. Segundo o mito, as desgraças dahumanidade surgem com a primeiramulher.

2. Pandora recebeu tal nome porque osdeuses lhe tinham atribuído todos osseus dons.

3. “... roubando para eles uma centelhado fogo divino.” O fogo, aqui, éconsiderado de origem divina.

TESEU E O MINOTAURO, DÉDALOE ÍCARO

I. compreensão do texto

1. 5 - 6 - 4 - 1 -3 - 2.

2. O Minotauro era um monstro, metadehumano, metade touro. Nasceu darelação entre Pasífae e um touro.

3. Os atenienses tinham de enviar a Cretasete rapazes e sete moças, que seriamdevorados pelo Minotauro.

4. Por ter chegado muito próximo do sol,Ícaro perdeu as asas com que voava, jáque a cera que ligava as penasderreteu.

II. análise e interpretação

1. Foi Dédalo quem construiu a novilhade bronze na qual Pasífae se escondeu,bem como o labirinto; fez, também, asasas com que ele e seu filho consegui-ram voar.

2. Tanto Ícaro quanto Faetonte nãoseguem uma recomendação paterna eacabam morrendo por essa impru-dência.

3. Ariadne.4. “dédalo” e “ícaro”.

O NASCIMENTO E A PRIMEIRAFAÇANHADO HERÓI

I. compreensão do texto

1. 1 - 5 - 4 - 3 - 2.

2. A “Via Láctea”, que significa“caminho de leite”, surgiu das gotas doleite de Hera. Elas foram respingadaspelo céu quando a deusa afastourudemente o menino Hércules, quemamava em seu seio.

3. Hera detestava Hércules porque ele erafilho de Zeus, marido da deusa, comuma mortal, Alcmena.

II. análise e interpretação

1. Anfitrião: o general tebano Anfitriãoacolheu em sua casa Júpiter empessoa, que dormiu com sua esposa:foi, pois, um “anfitrião” para o deus.Sósia: Hermes–Mercúrio tomou aaparência do escravo Sósia, tornando-se idêntico a ele.

2. Resposta pessoal.

OS DOZE TRABALHOS DEHÉRCULES – I

I. compreensão do texto

1. 4 - 6 - 1 - 2 - 3 - 5.

2. Porque matara sua mulher, seus filhose os de seu irmão e desejava sabercomo expiar o crime.

3. Euristeu era rei de Micenas e primo deHércules. Cumprindo o que lhe orde-nara o oráculo de Apolo, Hércules pôs-se ao seu serviço por doze anos, e o rei,querendo livrar-se do primo, deu-lhedoze tarefas consideradas impossíveis.

4. Iolau era sobrinho de Hércules. Enquantoo herói cortava as cabeças da Hidra, Iolauqueimava a ferida para que não renasces-sem, em cada uma, duas cabeças.

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II. análise e interpretação

1. Porque todos os trabalhos eram consi-derados impossíveis de realizar, aomenos para um mortal comum.

2. Hércules era considerado uma espécie debenfeitor da humanidade por ter livrado omundo de vários seres monstruosos.

3. Resposta pessoal.

OS DOZE TRABALHOS DEHÉRCULES – II

I. compreensão do texto

1. 2 - 5 - 1 - 6 - 4 - 3.

2. Era a taça na qual o Sol atravessava oOceano, à noite, de volta para seupalácio no Oriente.

3. Atlas era o gigante que suportava o céusobre seus ombros.

II. análise e interpretação

1. São monstruosos: o touro de Creta sol-tava fogo pelas ventas, as éguas deDiomedes comiam carne humana eCérbero tinha três cabeças e o corpocheio de serpentes.

2. Os nomes das Hespérides fazem refe-rência ao sol.

3. Hércules teve de cumprir os doze tra-balhos dificílimos por causa de Hera,afinal era essa a forma de pagar pelocrime de ter matado esposa e filhos,num acesso de loucura provocado porela. Suas proezas, portanto, trazemglória ao nome da deusa, já queHércules tanto suportou por causadela.

4. Cérbero era como que o “porteiro” doHades; à porta do reino infernal,impedia os vivos de entrarem e osmortos de saírem. Era inflexível nessafunção.

AS ORIGENS DA GUERRA DETRÓIA

I. compreensão do texto

1. 7 - 4 - 9 - 6 - 2 - 10 - 5 - 1 - 8 - 3.

2. Páris raptou Helena, provocando a irado grego Menelau, seu esposo, queorganizou um exército para vingar aafronta recebida.

3. Porque não fora convidada para ocasamento de Peleu e Tétis.

4. Palas Atena e Hera jamais perdoaram aafronta feita a sua beleza e vingaram-seajudando os gregos na guerra contra Tróia.

5. Ílion.

6. Helena era da cidade grega de Esparta.Afrodite a fez fugir de sua cidade poramor, acompanhando Páris a Tróia.

7. Alexandre significa, em grego, “oprotetor dos homens”. Páris recebeu esse nome porque prote-gia os rebanhos dos pastores.

II. análise e interpretação

1. Resposta pessoal.

2. Plano divino: pomo da Discórdia(levando ao “rapto” de Helena e àhostilidade de Palas Atena e Heracontra os troianos). Plano humano:ação de Páris, recusa dos troianos emdevolver Helena.

3. Porque o amor, dom de Afrodite, éconsiderado fonte não só de prazer,mas também de sofrimento.

A IRA DE AQUILES

I. compreensão do texto

1. 8 - 5 - 10 - 1 - 6 - 2 - 3 - 7 - 4 - 9.

2. Agamêmnon teve de devolver suaescrava Criseida ao pai, que erasacerdote de Apolo; como compen-sação, tomou de Aquiles a escrava doherói, Briseida, provocando sua ira.

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3. Palas Atena veio pessoalmente aAquiles, puxou seus cabelos e incitou-o a só maltratar o rei com palavras;disse-lhe também que um dia o heróireceberia as recompensas devidas.

4. Aquiles poderia permanecer em Tróiae ali morreria jovem, mas com glória;ou poderia voltar a sua cidade natal,onde viveria por muito tempo, massem glória.

5. Pátroclo prevê que Heitor será mortopor Aquiles.

6. Sua mãe Tétis deu-lhe novas armas,fabricadas por Hefesto.

II. análise e interpretação

1. Porque, por causa dela, Aquiles seafastou dos combates e, sem ele, oexército grego sofreu muitas perdas;foi sobretudo funesta ao próprioAquiles, porque acabou precipitando amorte de Pátroclo.

2. Resposta pessoal.

3. A partir daquele momento, Aquilesdirigiria sua cólera não mais contraAgamêmnon mas contra os troianos(sobretudo, contra Heitor), que haviammatado seu companheiro Pátroclo.

A MORTE DE HEITOR

I. compreensão do texto

1. 6 - 10 - 1 - 8 - 4 - 2 - 5 - 7 - 9 - 3.

2. Heitor, com medo, fugiu.

3. Apolo abandona Heitor depois que abalança de Zeus indicou que sua morteestava próxima.

4. Palas tomou a forma de Deífobo, irmãode Heitor, e incitou-o a combater Aquiles.

5. Primeiramente, furou os calcanharesdele e, com correias, ligou-o a seu carroe se dirigiu aos navios gregos. Depois,todos os dias voltava a fazer a mes-macoisa com o corpo e dava três voltas emtorno da sepultura de Pátroclo.

6. Príamo foi, com presentes, tentarresgatar o corpo do filho.

7. Aquiles não podia esquecer comoPátroclo morrera, às mãos de Heitor.

8. Aquiles decidiu entregar o corpo deHeitor a Príamo.

II. análise e interpretação

1. Resposta pessoal.

2. Porque não pode mudar o destino dotroiano, que já estava decidido.

3. Não são imparciais, pois cada qualajuda um herói ou um povo, de acordocom suas simpatias. Assim, PalasAtena luta contra os troianos, poisjamais esquece o julgamento de Páris.

4. Porque, no mito, a aurora é uma deusa.

5. Ambos os heróis são jovens e têm paisjá velhos; os dois têm deuses que osprotegem (Palas a um, Apolo a outro);por outro lado, assim como o exércitogrego parece depender muito dabravura de Aquiles, Tróia está fadada adesaparecer sem o apoio de Heitor.

O CALCANHAR DE AQUILES

I. compreensão do texto

1. 5 - 3 - 1 - 2 - 4.

2. O ponto vulnerável de Aquiles era seucalcanhar.

3. Porque foi a única parte de seu corponão mergulhada nas águas do Estige,que conferiam a invulnerabilidade.

4. Pentesiléia era a rainha das amazonas,morta em combate por Aquiles.

II. análise e interpretação

1. “Calcanhar de Aquiles”.

2. Elementos fantásticos: Aquiles erafilho de uma ninfa; seu corpo fora mer-gulhado nas águas de um rio infernal,que conferiam invulnerabilidade; o he-

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rói foi educado por um centauro;Apolo guiou a seta de Páris a seucalcanhar.

3. Tanto Hércules quanto Aquiles têmalgo de divino em sua origem: oprimeiro é filho de Zeus, o segundo, daninfa Tétis. Ambos têm qualidades queos destacam do comum dos mortais: aforça de Hércules, a invulnerabilidadequase total e a bravura excepcional deAquiles.

O CAVALO DE MADEIRA E O FIMDE TRÓIA

I. compreensão do texto

1. 5 - 4 - 1 - 2 - 3.

2. Sinão acabou persuadindo os troianosde que o cavalo seria mesmo um domà deusa Palas, de que os gregos tinhampartido e de que seria bom para Tróiaintroduzir o cavalo na cidade.

3. A guerra de Tróia durou dez anos.

4. O rei de Tróia morreu decapitado.

5. Laocoonte atingira com uma lança ocavalo de madeira consagrado à deusa.

II. análise e interpretação

1. a. No mito, gregos e troianos eraminimigos mortais.

b. No mito, o cavalo de Tróia, um“dom”, um “presente” para a deusaHera, que supostamente traria aproteção divina a quem o possuísse,é na verdade a armadilha mortal quedestruirá a cidade.

c. Laocoonte desconfiava do cavalo demadeira, o “presente” dos gregos,pois sabia que eles deveriam estartramando alguma coisa contra seusinimigos troianos. E estava com arazão...

2. Roma teria origens troianas; ostroianos que conseguiram escapar dacidade em chamas foram para a Itália eali, de alguma forma, deram início aoque um dia haveria de ser Roma.

3. No texto, a idéia do cavalo e ahabilidade das palavras de Sinão, queiludem fatidicamente os troianos,demonstram essa característica dosgregos.

4. Resposta pessoal.

5. “O odioso Odisseu quis se vingar demim” (Sinão sabe que Odisseu só podeser detestado pelos troianos);“Ai! Que resta para este infeliz?”;“posso ser um pobre infeliz”; “Já nãotenho esperança de rever meus queri-dos filhos e meu saudoso pai”;“tenham compaixão de uma alma quesuportou tamanhos sofrimentos semmerecer” (Sinão se pinta como umdesafortunado, que sofreu na mão dosgregos e não tem esperança de voltarpara junto dos familiares amados);“Eu fiquei indignado com o fimdaquele inocente” (Sinão se revoltacom a patifaria de Odisseu, que terialevado à morte um homem inocente,Palamedes; Sinão, portanto, aparece,em suas próprias palavras, comoalguém justo e humano, ao contráriode Odisseu, injusto e cruel).

6. Resposta pessoal.

7. O nome “ilíada” provém de outronome com que Tróia era conhecida —Ílion, como se lê no texto.

ODISSEU E O CICLOPE

I. compreensão do texto

1. 5 - 4 - 6 - 3 - 2 - 1.

2. Os ciclopes eram gigantes monstruo-sos, com um só olho no meio da testa.

3. Odisseu agarrou-se ao ventre de umcarneiro peludo e passou assim,disfarçado, pela entrada da cavernasem que o ciclope o notasse.

II. análise e interpretação

1. Os ciclopes eram seres gigantescos,daí o adjetivo “ciclópico” ter essesentido.

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2. “Antropófago” é quem se alimenta decarne humana (“antropo-” significa,em grego, “homem”, isto é, “serhumano”); “bacteriófago” é o vírusque “devora” bactérias. Outra(s)palavra(s): “necrófago” (que se ali-menta de cadáveres) etc.

3. Porque Polifemo pediu a seu paiPossêidon que tornasse a volta deOdisseu penosa: se ele devesse retor-nar de qualquer forma, que o fizesseapós muito tempo e sofrimento, depoisde perder todos os companheiros.

NA ILHA DA FEITICEIRA CIRCE

I. compreensão do texto

1. 5 - 3 - 4 - 2 - 1.

2. Circe transformou alguns dos compa-nheiros de Odisseu em porcos e ostrancou numa pocilga.

3. Odisseu recebeu uma planta, de raiznegra e flores brancas, do deusHermes, que o protegeria contra osfeitiços de Circe.

II. análise e interpretação

1. Na narrativa lida, temos a personagemda feiticeira, a varinha e a poção mágicae a transformação de seres humanos emanimais — todos esses elementos sãocomuns nos contos de fadas.

2. Resposta pessoal.

ODISSEU VAI AO REINO DOSMORTOS

I. compreensão do texto

1. 4 - 2 - 6 - 1 - 3 - 5.2. Porque, seguindo sugestão de Circe,

deveria consultar o adivinho Tirésias,que ali estava.

3. Tirésias advertiu a Odisseu que nãocomesse dos rebanhos do Sol, na Sicília.

4. Em Ítaca, homens autoritários queriamtomar para si a esposa de Odisseu eestavam devorando seus bens.

II. análise e interpretação

1. No Hades, há castigos, mas é Minosquem os inflige.

2. Aquiles podia escolher entre viver emsua pátria uma vida longa, mas semglória, como um mortal comum, oumorrer jovem em Tróia, mas com famaeterna. Preferiu a segunda opção. NoHades, Aquiles lamenta estar morto,dando a impressão de que prefeririaestar vivo, sob qualquer condição,mesmo a de um trabalhador braçal aserviço de um outro homem.

3. Resposta pessoal.

OS NOVOS PERIGOS DA VIAGEM

I. compreensão do texto

1. 4 - 5 - 1 - 2 - 3.

2. Odisseu mandou que os companheiroso amarrassem fortemente ao mastro donavio e que não o soltassem mesmo seele pedisse.

3. Porque recebeu uma ordem de Zeuspara deixá-lo partir.

4. Calipso desejava fazer de Odisseu seuesposo para sempre.

II. análise e interpretação

1. “sereia”; “sereia”.

2. “Calipso”.

3. “Cila” e “Caríbdis”.4. Zeus manda que Calipso libere

Odisseu, e a ninfa é obrigada a fazê-lo.

A CHEGADA DE ODISSEU E OMASSACRE DOS PRETENDENTES

I. compreensão do texto

1. 5 - 3 - 1 - 2 - 6 - 4.

2. Os “pretendentes” eram homens quepretendiam a mão de Penélope, aesposa de Odisseu. Enquanto ela não

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se decidia, desfrutavam de seus bens,comendo e bebendo em sua casa.

3. Penélope declarou que se casaria comum dos pretendentes depois de termi-nar uma mortalha para o sogro; entre-tanto, desmanchava à noite o que fize-ra de dia, para que o trabalho não seconcluísse.

4. Penélope pede ao marido uma descri-ção do leito conjugal, com detalhes sópor eles conhecidos.

II. análise e interpretação

1. Ambos são astuciosos e tentam venceras adversidades com o uso da astúcia;além disso, permanecem fiéis à memó-ria do ser amado.

2. Resposta pessoal. (Seria interessantediscutir o tema a partir da leitura dealgumas respostas fornecidas pelosalunos.)

3. Resposta pessoal.

A SOBERANIA DE ZEUS E SUAESPOSA HERA

I. compreensão do texto

1. 4 - 1- 2 - 3.

2. Réia escondeu o filho e deu ao pai umapedra envolvida num manto, para queele a devorasse.

3. “Junho” vem de Juno, o nome latinoda deusa Hera.II. análise e interpretação

1. Os deuses têm ciúmes, por vezesdoentio, como Hera; na luta pelopoder, são cruéis, como Cronos, quedevorava os próprios filhos.

2. Médio.

3. Porque janeiro está entre o fim de umano e o começo de outro, entre passadoe futuro, e o deus Jano é o deus dapassagem e da transição.

4. A ilustração mostra Jano com doisrostos: um olhando para frente, outropara trás, porque Jano é deus que olhapara o passado e para o futuro, paratrás e para frente.

AFRODITE E ÁRTEMIS, A DEUSADO AMOR E A VIRGEM CAÇA-DORA

I. compreensão do texto

1. 2 - 5 - 3 - 1 - 6 - 4.

2. As aves consagradas a Afrodite eram apomba e o pardal; as plantas, as rosase o mirto.

3. Porque o rapaz a surpreenderaenquanto ela tomava banho, nua, numafonte.

II. análise e interpretação

1. Adônis, morto, renasce como florsomente por alguns meses durante oano; e assim ocorrerá para todo osempre, num ciclo como o da natureza.

2. O mirto era a planta consagrada aAfrodite, a deusa do amor.

ARES E DIONISO

I. compreensão do texto

1. 5 - 10 - 1 - 7 - 9 - 2 - 3 - 8 - 4 - 6.

2. Eram sacerdotisas do fogo sagrado deVesta.

3. Porque foi nesse monte que Rômuloavistou um número maior de aves queseu irmão, o que manifestava a escolhadivina.

4. Resposta pessoal.

II. análise e interpretação

1. Na Bíblia, há a história de Caim eAbel: este último foi morto por seuirmão.

2. As pessoas possuídas pelo espírito dodeus ficavam fora de si, comoalucinadas, assim como o vinho deixa

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alterada a mente das pessoas.

APOLO E PALAS ATENA

I. compreensão do texto

1. 3 - 8 - 1 - 4 - 2 - 5 - 6 - 7.

2. O jacinto surgiu do sangue de umjovem chamado Jacinto, que Apoloamava e acabou matando sem querer.

3. Porque o loureiro surgira como atransformação de uma ninfa amada porApolo em árvore.

4. A cidade de Atenas tinha Palas comoprotetora.

5. A oliveira e a coruja eram consagradasa Palas.

II. análise e interpretação

1. “Quando Apolo nasceu, era o sétimodia do mês, e sete cisnes voaram setevezes ao redor da ilha.”

2. No mito, Apolo é representado comoum jovem com tais características:forte e belo.

3. Resposta pessoal.

4. Palas era a deusa da sabedoria e dainteligência, características impor-tantes para Odisseu, que tinha essesdons em alto grau.

5. Resposta pessoal.

HERMES E HEFESTO

I. compreensão do texto

1. 3 - 2 - 5 - 1 - 4.

2. Hermes criou a primeira lira,colocando tripas de bois num casco detartaruga.

3. Era o bastão de Hermes, na origem ocajado de Apolo, feito de ouro. Com ocaduceu, Hermes conduzia as almasdos mortos para as regiões infernais,

fechava os olhos da pessoa que dormee os reabria quando de seu despertar.

4. O escudo de Aquiles, o trono de Zeuse o carro do Sol são obra de Hefesto.

II.análise e interpretação

1. Hermes, como mensageiro divino,tinha de viajar do Olimpo à terra,cruzando céus e mares.

2. Caduceu.

3. Hefesto é o deus do fogo e ao mesmotempo o ferreiro que funde metais. Daísua associação com vulcões, cujo fogofunde tudo o que encontra pela frente.

DEMÉTER E POSSÊIDON, DIVIN-DADES DA TERRA E DO MAR

I. compreensão do texto

1. 2 - 4 - 1 - 3.

2. Porque Cupido, a pedido de sua mãeAfrodite, feriu-o com uma de suassetas.

3. Possêidon, soberano dos mares eoceanos, vaga pelo mar com umtridente, num carro. Tem o rostocoberto por barba e aspecto sereno,embora sua cólera seja terrível.

II. análise e interpretação

1. Na mitologia latina, Deméter é Ceres— a deusa da agricultura, daí “cereal”,que é produzido pela terra cultivada.

2. A filha de Perséfone passa parte dotempo com a mãe, parte do tempo comseu marido Hades. Quando está comDeméter, a deusa da agricultura sealegra, é primavera, e a terra volta aproduzir folhas e frutas; quando estácom Hades, a mãe fica triste, éinverno, e o solo torna-se estéril.

3. Possêidon é Netuno na mitologialatina e é soberano do mar, daí“netuniano”, “netunino” e “netúnio”se relacionarem com mar.

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Capa: Aquiles e Ájax jogam dados.Pormenor de uma ânforaática do pintor Exéquias,do século VI a. C. (Museu do Vaticano).Projeto da capa: F. Achcar.

Os mitos gregos estão por toda parte aindahoje. Estas narrativas, que um dia povoaram não sóa imaginação como também a vida cotidiana de todoum povo, perduraram no tempo e ainda hoje fascinamescritores, cineastas, escultores, psicólogos,antropólogos, etc. etc. Pode-se fazer delas o uso maisvariado, mas é curioso que guardam, em si mesmas epor si mesmas, um interesse inabalável para osleitores comuns, pessoas que sempre sentirão prazerem mergulhar na poesia de deuses nada perfeitos,cheios de defeitos muito humanos, ninfas quedefinham de amor por mortais, heróis que redimem ahumanidade, vozes encantadoras de sereias,monstros brutos de um olho só, derrotados pelainteligência do homem.

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