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UNIBAN UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO PAULO JORGE MAGALHÃES TEIXEIRA UM ESTUDO SOBRE OS CONHECIMENTOS NECESSÁRIOS AO PROFESSOR DE MATEMÁTICA PARA A EXPLORAÇÃO DE PROBLEMAS DE CONTAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL SÃO PAULO - SP 2012

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UNIBAN

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

PAULO JORGE MAGALHÃES TEIXEIRA

UM ESTUDO SOBRE OS CONHECIMENTOS NECESSÁRIOS AO

PROFESSOR DE MATEMÁTICA PARA A

EXPLORAÇÃO DE PROBLEMAS DE CONTAGEM NO ENSINO

FUNDAMENTAL

SÃO PAULO - SP

2012

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PAULO JORGE MAGALHÃES TEIXEIRA

UM ESTUDO SOBRE OS CONHECIMENTOS NECESSÁRIOS AO PROFESSOR DE MATEMÁTICA PARA A

EXPLORAÇÃO DE PROBLEMAS DE CONTAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL

Tese apresentada à Banca Examinadora do Curso de Doutorado em Educação Matemática, Linha de Pesquisa em Formação de Professores que ensinam Matemática, da Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN, como exigência parcial à obtenção do título de Doutor em Educação Matemática, sob a orientação do professor Dr. Ruy César Pietropaolo.

SÃO PAULO 2012

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P268e Teixeira, Paulo Jorge Magalhães

Um estudo sobre os conhecimentos necessários ao professor de matemática para a exploração de problemas de contagem no ensino fundamental. ./ Paulo Jorge Magalhães Teixeira. -- São Paulo: [s.n.], 2012. 458 f.: il.; 30 cm. Tese (Doutorado em Educação Matemática) – Universidade Bandeirante de São Paulo. Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática. “Orientação: Professor Dr. Ruy César Pietropaolo”

1.Educação matemática. 2. Problemas de contagem. 3. Formação de professores de matemática. 4. Conhecimento matemático para o ensino. 5. Currículo de matemática. I. Título.

CDD: 372.7

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Autor: Paulo Jorge Magalhães Teixeira

Título: Um estudo sobre os conhecimentos necessários ao pro fessor de

Matemática para a exploração de Problemas de Contag em no Ensino

Fundamental

Este trabalho foi julgado e aprovado para obtenção do título de Doutor em

Educação Matemática – UNIBAN – Universidade Bandeirante de São Paulo

São Paulo, 30/11/2012.

Banca Examinadora

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Ruy César Pietropaolo (Orientador)

Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN

_____________________________________________________________

Profª. Dra. Martha Salerno Monteiro

Universidade de São Paulo - USP

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Márcio Antonio da Silva

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS

_____________________________________________________________

Profª. Dra. Siobhan Victoria Healy (Lulu Healy)

Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN

_____________________________________________________________

Profª. Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva

Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN

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Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a

reprodução total ou parcial desta tese por processos de

fotocopiadoras ou eletrônicos.

Local e Data: ___________________________________

Assinatura: _____________________________________

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Dedicatória

Dedico este trabalho aos meus amados e

queridos pais FERNANDO TEIXEIRA MALTA

(in memoriam) e ANA MAGALHÃES MALTA,

de quem aprendi o caminho da retidão, da luta,

do esforço, da justiça, do amor e do trabalho,

razões de minha existência e aos meus

queridos irmãos HILDA, LUÍS ANTÔNIO e

ELISABETE, presentes nesta minha conquista

e em tantas outras realizações.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar e acima de tudo, a Deus, sem o qual nada é possível, seu

filho Jesus Cristo, Maria Nossa Senhora, Nossa Senhora da Conceição

Aparecida, Nossa Senhora da Consolação e Correia, Nossa Senhora da

Conceição, São Judas Tadeu, São Jorge e aos mensageiros da luz, pois

sempre me mantiveram na esperança de vida principalmente quando tudo

parecia estar escuro, quando bateu o desânimo, quando as palavras não foram

suficientes;

Ao meu querido e amado pai Fernando Teixeira Malta (in memoriam), pelo

exemplo de vida, amor, luta, coragem e determinação;

À minha querida e amada mãe Ana Magalhães Malta, pelo exemplo de vida,

amor, luta, coragem, determinação, estímulo e pelas palavras confortantes nos

momentos de maior preocupação, fraqueza, desânimo e em tantos outros não

menos difíceis;

Aos meus irmãos Hilda Magalhães Teixeira Lopes, Luís Antônio Magalhães

Teixeira e Elisabete Teixeira Sá Freire de Abreu, pela força, companheirismo e

disponibilidade para resolverem inúmeros problemas pessoais enquanto me

dispunha a estudar em São Paulo e em redigir esta tese;

Aos cunhados Hélcio e Manuel, à Márcia, Ana Carolina, Luiz Fernando,

Leonardo e Mateus pelas palavras de incentivo e força nos momentos difíceis

porque passamos;

Ao Professor Doutor Ruy César Pietropaolo, pela orientação, dedicação, apoio,

valiosas sugestões, ajuda, companheirismo, amizade e incentivo em vários

momentos, assim como em me ouvir, me corrigir e me orientar sobre o os

caminhos a trilhar e pela incondicional disponibilidade em avaliar o material

desta tese, acreditando em mim e no trabalho de pesquisa que desenvolvia;

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Aos Professores membros da Banca Examinadora: Ruy César Pietropaolo,

Siobhan Victoria Healy (Lulu Healy), Angélica da Fontoura Garcia Silva, Márcio

Antonio da Silva, Martha Salerno Monteiro, Lilian Nasser e Verônica Yumi

Kataoka pelas valiosas sugestões que contribuíram para o aprofundamento das

questões discutidas e as contribuições para tornar mais claro o texto, assim

como pela disponibilidade em avaliar o material desta tese;

À Professora Doutora Tânia Maria Mendonça Campos pelo apoio, pela ajuda,

pelo incentivo e pela dedicação e determinação com que desenvolve suas

tarefas à frente da Coordenação do Curso de Pós Graduação Strict Sensu em

Educação Matemática da UNIBAN – Universidade Bandeirante de São Paulo;

Ao Professor Doutor Ruben Klein, pela disponibilidade de material para

pesquisa e apoio;

Ao Professor Doutor João Rua, primo querido, pelo incentivo e apoio para a

concretização deste trabalho;

À UNIBAN, a bolsa de tutoria que custeou parte das mensalidades, que muito

contribuiu para que a realização deste trabalho fosse em parte suavizada;

Aos Professores colegas do Departamento de Análise do Instituto de

Matemática e Estatística da UFF – Universidade Federal Fluminense que

contribuíram com seu esforço de trabalho para que eu pudesse me afastar das

minhas atividades docentes por um pequeno período de tempo, para a

concretização deste trabalho;

A todos os amigos e parentes que torceram por esta realização e tanto apoio

me deram, bem como dos muitos momentos em que me recolhi aos meus

estudos e reflexões e não pude compartilhar com eles minhas angústias;

À amiga professora Martha Yvonne de Almeida pelas correções gramaticais,

sugestões e o incentivo para tornar este trabalho o mais claro possível;

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À amiga professora Ida Rabelo pela ajuda na tradução do resumo em francês;

Aos professores sujeitos de pesquisa, que com responsabilidade e

profissionalismo demonstraram interesse e motivação para compartilhar

concepções, crenças, reflexões e discussões durante as respostas aos

questionários e ao longo da sequência de ensino, os agradecimentos e

respeito;

Aos professores Rosana Jorge Monteiro Magni, Olga Corbo e Marcelo Villani

pela disponibilidade e ajuda que foram fundamentais para a aplicação da

sequência didática no Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES;

Ao Guilherme Menezes pela amizade e ajuda em vários momentos -

fundamentais para que muitas vezes pudesse voltar para o Rio de Janeiro,

bem como pela disponibilidade e consideração em resolver questões

administrativas no âmbito do Curso as quais não poderia fazer por estar

distante de São Paulo;

A todos os professores do Curso de Doutorado em Educação Matemática da

Universidade Bandeirante de São Paulo: Angélica, Janete, Luis Gonzaga, Lulu,

Maria Elisabette, Maria Helena, Marlene, Mônica, Nielce, Rosana, Ruy,

Solange, Tânia, Ubiratan, Vera, Verônica e Vincenzo, dos quais compartilho

conhecimentos, experiências, sabedoria, orientação, amizade e incentivo;

A todos os colegas das turmas 2009, 2010 e 2011 do Curso de Doutorado em

Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo, em especial

Raimundo Nonato Brandão, Anna Luisa de Castro, Wilson Barbosa da Silva e

Benedito, dos quais compartilho recordações, conhecimentos, experiências e

amizade.

A todos os que colaboraram com esse trabalho e que se reconhecerão nessas

linhas, o meu mais profundo agradecimento.

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"A questão primordial não é o que sabemos, mas como o sabemos".

ARISTÓTELES.

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".

EDUARDO GALENO.

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RESUMO Esta pesquisa teve o propósito de investigar os conhecimentos necessários ao professor de Matemática, para desenvolver em suas aulas noções relativas a Problemas de Contagem na Educação Básica. Trata-se de estudo que envolveu um grupo de 23 professores dos Ensinos Fundamental e Médio, da rede pública do Estado de São Paulo, em um curso de formação continuada desenvolvido no âmbito do Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES. A primeira fase da coleta de dados constituiu-se na aplicação de três instrumentos com o objetivo de conhecer o perfil dos professores e identificar suas concepções a respeito do processo de ensino e de aprendizagem dos Problemas de Contagem na Educação Básica. A segunda fase, denominada intervenção, foi realizada segundo princípios da metodologia Design Experiments e teve a finalidade de investigar se uma sequência de atividades que explore a resolução de Problemas de Contagem, sem a utilização de fórmulas, pode favorecer a ressignificação dos conhecimentos dos professores sob os pontos de vista do conteúdo, didático e curricular de noções concernentes a esse tema. Na terceira e última fase da coleta, foi aplicado instrumento com a finalidade de validar dados obtidos durante a intervenção e de identificar prováveis mudanças nas concepções dos professores. Cabe ressaltar que, além da análise de pesquisas existentes sobre esse tema desenvolvidas com alunos e professores, foram examinados também documentos recentes de referência curricular para a abordagem de conceitos relativos à Análise Combinatória. Sobre a fundamentação teórica, no que concerne à apreensão de um conteúdo, utilizou-se a noção de imagem conceitual, segundo Tall & Vinner (1981) e também as ideias defendidas por Fischbein (1994) sobre a importância de integrar na atividade matemática os componentes formais, intuitivos e algorítmicos. Relativamente aos conhecimentos que devem ser de domínio do professor, foram consideradas as categorias estabelecidas por Shulman (1986): conhecimento do conteúdo específico, do pedagógico e do curricular. Finalmente, no que se refere à formação de professores reflexivos, em um ambiente de estudo de inovações curriculares, foram utilizadas as ideias defendidas por Zeichner (1993). As respostas dos professores aos instrumentos diagnósticos revelaram concepções inconsistentes sobre os tipos de agrupamentos presentes nos problemas de contagem. Além disso, os professores mostraram ter forte convicção de que a resolução de um problema de combinatória não utilizando uma linguagem formal – algébrica, no caso – seria uma solução “arranjada” e, portanto, não muito correta do ponto de vista da Matemática. Essas respostas constituíram-se em ponto de partida para o processo de formação, ao longo da segunda fase. As discussões e reflexões realizadas durante a intervenção ampliaram a imagem conceitual dos professores, relativa aos problemas de contagem, bem como ao seu ensino, sobretudo no que concerne à importância da articulação dos três componentes de Fischbein (1994) no desenvolvimento de noções relativas a esse conteúdo. No entanto, no final desse processo percebeu-se certa tensão nas falas dos professores: aceitar as soluções “aritméticas”, envolvendo os princípios multiplicativo e aditivo ou as obtidas pela contagem direta da árvore de possibilidades, sem considerar como necessário o uso das fórmulas para a validação das respostas encontradas para problemas envolvendo os conceitos: permutação, combinação simples e arranjo. Palavras-chave: Educação Matemática; Problemas de Contagem; Formação de Professores de Matemática; Conhecimento Matemático para o Ensino; Currículos de Matemática.

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ABSTRACT This research aimed to investigate the knowledge necessary for Mathematics teacher’s to develop in the classes in notions related to Counting Problems in Basic Education with their classes. This is a study involving a group of 23 teachers of the public Elementary and High School network of the São Paulo State, in service education course developed within the Observatory of Education UNIBAN/CAPES. The first phase of data collection consisted in applying three instruments in order to know the profile of teachers and identify their conceptions about the teaching and learning of Problems Counting in Basic Education. The second phase, called the intervention, was conducted according to principles of the methodology Design Experiments and aimed to investigate whether a sequence of activities that explore the resolution of Counting Problems, without the use of formulas, may help the resignifying of teachers' knowledge on the point of view of content, instructional and curricular notions concerning this topic. The third and final phase of data collection, involved the application of an instrument in order to validate data obtained during the intervention and identify potential changes in teachers' conceptions. Note that, besides the analysis of existing research on this topic developed with students and teachers, were also examined recent curricular reference documents addressing concepts related to Combinatorial Analysis. On the theoretical basis, regarding the seizure of content, we used the notion of conceptual image, according Vinner & Tall (1981) and also the ideas defended by Fischbein (1994) on the importance of integrating formal, intuitive and algorithmic components in mathematical activity. In relation to knowledge that must be part of teacher’s responsibility, were considered the categories established by Shulman (1986): knowledge of specific content, pedagogy and curriculum. Finally, referring to the formation of reflective teachers in a study of curricular innovations environment, were used the ideas defended by Zeichner (1993). Teachers' responses to diagnostic instruments revealed inconsistent conceptions about the types of clusters present in the Counting Problems. Moreover, teachers showed a strong conviction that solving a combinatorial problem not using a formal language - algebraic in the case – could be an "arranged" solution and not quite correct therefore in the Mathematics point of view. These responses were set up as a starting point for the training process, during the second phase. Discussions and reflections took along the intervention process, increased the conceptual image of teachers concerning counting problems, as well as their teaching action, especially regarding the importance of coordination of the three components of Fischbein (1994) in the development of notions related to that content. However, at the end of the process was realized a kind of tension in the teacher´s speeches: accepting "arithmetic" solutions involving the multiplicative and additive principles or those obtained by direct counting in the tree possibilities, without regarding as necessary the use of formulas validating the already found solutions to problems involving the concepts: permutation, combination simple and arrangement. Keywords: Mathematics Education; Problems Counting; Mathematics Teachers Training, Mathematical Knowledge for Teaching, Mathematics Curriculum.

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RÉSUMÉ

Cette recherche visait à étudier les connaissances que doit avoir un professeur de mathématiques pour développer, lors de ses classes, des notions concernant les Problèmes de Comptage dans l'éducation de base. Il s'agit d'une étude portant sur un groupe de 23 enseignants de l’enseignement primaire et secondaire de l'Etat de São Paulo, pendant un cours de formation continue développé au sein de l’ « Observatório da Educação » de UNIBAN/CAPES. La première phase de la récolte des données consistait à appliquer trois outils afin de connaître le profil des enseignants et d'identifier leurs conceptions sur le processus d’enseignement-apprentissage des Problèmes de Comptage dans l'Éducation de Base. La seconde phase, dite d’intervention, a été menée selon les principes de la méthodologie Design Experiments et avait pour but déterminer si une séquence d'activités qui explore la résolution de Problèmes de Comtage, sans l'utilisation de formules, pouvait favoriser la redéfinition des connaissances des enseignants sous les points de vue du contenu, didactique et curriculaire des notions concernant ce sujet. Pendant la troisième et dernière phase de la récolte, nous avons utilisé un outil afin de valider les données obtenues lors de l'intervention et d’identifier des changements potentiels dans les conceptions des enseignants. Notez que, outre l'analyse des recherches existantes sur ce sujet, mises au point avec la participation d’élèves et d’enseignants, ont été examinés, également, des documents de référence curriculaire actualisés pour aborder les concepts liés à l'Analyse Combinatoire. Sur la base théorique, en ce qui concerne la saisie d'un contenu, nous avons utilisé la notion d'image conceptuelle, d’après Vinner & Tall (1981), ainsi que les idées défendues par Fischbein (1994) sur l'importance d'intégrer dans l'activité mathématique les composantes formelle, intuitive et algorithmique. Relativement au savoir-faire de l'enseignant, ont été considérés les catégories établies par Shulman (1986): la connaissance des contenus spécifiques, pédagogiques et curriculaires. Enfin, en ce qui concerne la formation d’enseignants réfléchis, dans un environnement d'étude des innovations curriculaires, nous avons utilisé les idées défendues par Zeichner (1993). Les réponses des enseignants aux outils de diagnostic ont révélé des conceptions contradictoires sur les types de groupements présents dans les Problèmes de Comtage. En plus, les enseignants étaient convaincus que la résolution d'un problème combinatoire qui n’utilise pas de langage formel – dans ce cas, algébrique – constituerait une solution ad hoc et, donc, pas tout à fait correcte du point de vue des mathématiques. Ces réponses sont devenues le point de départ du processus de formation, au cours de la deuxième phase. Les discussions et les réflexions ayant lieu au cours de l'intervention ont agrandi l'image conceptuelle des enseignants, relativement aux problèmes de comptage, ainsi qu’à leur enseignement, surtout en ce qui concerne l'importance de l’articulation des trois composantes de Fischbein (1994) dans le développement de notions comprises par ce contenu. Cependant, à la fin du processus une certaine appréhension était repérable dans les paroles des enseignants: acceptation des solutions "arithmétiques" que comprenaient les Principes Multiplicatif et Additif ou celles obtenues par comptage direct de l’arbre des possibilités, tout en considérant dispensable l'utilisation de formules pour la validation des solutions trouvées à des problèmes portant sur les notions: permutation, combinaison simple et agencement. Mots-clés: Education mathématique, problèmes de comptage; Formation de Professeurs de Mathématiques ; Connaissances mathématiques pour l'enseignement ; curriculum de mathématiques.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Idades dos professores integrantes do Observatório da UNIBAN em

2011................ ..................................................................................................... 203

Gráfico 2 - Séries do Ensino Fundamental em que os professores do

Observatório da UNIBAN trabalham ou não......................................................... 204

Gráfico 3 - Séries do Ensino Médio em que os professores do Observatório

Da UNIBAN trabalham, ou não ............................................................................ 204

Gráfico 4 - Tempo de magistério dos professores do Observatório da UNIBAN.. 206

Gráfico 5 - Quantidade de aulas semanais ministradas pelos professores do

Observatório da UNIBAN ..................................................................................... 206

Gráfico 6 - Grau máximo de formação dos professores do Observatório da

UNIBAN................................................................................................................ 207

Gráfico 7 - Participação em atividades de formação da SEE e o grau de

satisfação dos professores do Observatório da UNIBAN..................................... 207

Gráfico 8 - Posição dos professores do Observatório da UNIBAN em relação

ao novo currículo prescrito pela SEE .................................................................. 209

Gráfico 9 - Como os professores do Observatório da UNIBAN veem a

implementação do novo currículo prescrito pela SEE.......................................... 211

Gráfico 10 - Em relação às situações de aprendizagem contidas no Caderno do

Professor, você as utiliza como?.......................................................................... 212

Gráfico 11 - Em relação aos conteúdos de Matemática dos Cadernos do

Professor, para uso em suas aulas são: .............................................................. 213

Gráfico 12 - Em relação aos conteúdos de Matemática dos Cadernos do Aluno,

para melhorar a aprendizagem deles, elas são: .................................................. 213

Gráfico 13 - Em relação aos instrumentos avaliativos que o professor utiliza...... 215

Gráfico 14 - Em relação aos recursos pedagógicos que o professor utiliza ......... 216

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Datas dos encontros da sequência didática... .................................... 37

Quadro 2 - Atividades e objetivos desenvolvidos na sequência didática... .......... 280

Quadro 3 - Árvore de possibilidades e Tabela de dupla entrada. Fase de

intervenção .......................................................................................................... 288

Quadro 4 – O Princípio Multiplicativo. Fase de Intervenção................................. 296

Quadro 5 – Princípio Multiplicativo e Princípio Aditivo. Fase de Intervenção... .... 302

Quadro 6 – Conhecimentos do professor sobre arranjos simples. Fase de

intervenção........................................................................................................... 310

Quadro 7 - Conhecimentos do professor sobre permutação simples. Fase de

intervenção........................................................................................................... 322

Quadro 8 - Conhecimentos do professor sobre permutação simples.

Continuação. Fase de intervenção....................................................................... 325

Quadro 9 - Conhecimentos do professor sobre permutação simples.

Continuação. Fase de intervenção....................................................................... 328

Quadro 10 - Conhecimentos do professor sobre permutação em que nem todos

os objetos são distintos. Fase de intervenção. .................................................... 331

Quadro 11 - Conhecimentos do professor sobre permutação em que nem todos

os objetos são distintos. Anagramas. Fase de intervenção... .............................. 337

Quadro 12 - Conhecimentos do professor sobre combinação simples. Fase de

intervenção........................................................................................................... 344

Quadro 13 - Conhecimentos do professor sobre permutação circular. Fase de

intervenção.................... ....................................................................................... 352

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Indicação dos dados dos professores que permitiram a concepção inicial da sequência didática desenvolvida no Observatório Educação da CAPES/UNIBAN................................................................................................... 38

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema mostrando o avanço da imagem conceitual em relação aos aspectos formal, algorítmico e intuitivo ................................................................ 363 Figura 2 - Esquema mostrando estratégias para a obtenção de solução para problemas de contagem ...................................................................................... 368 Figura 3 - Relação entre os aspectos da matemática segundo Fischbein (1994), e a resolução de problemas de contagem na Educação Básica.......................... 370

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABE Associação Brasileira de Educação

ANPED Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Superior

CECIERJ Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro

CENP Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas

CNE Conselho Nacional de Educação

CNE/CES Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação

CNE/CP Conselho Pleno do Conselho Nacional de Educação

CNMT Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias

ENEM Encontro Nacional de Educação Matemática

GEEM Grupo de Estudos do Ensino da Matemática

GEPEM Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática do Rio

de Janeiro

GT7 Grupo de Trabalho 7 da SBEM sobre Formação de Professores

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

ICME International Congress of Mathematics Education

IME Instituto de Matemática e Estatística da USP

IMPA Instituto de Matemática Pura e Aplicada

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira

LCT Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação e Cultura

MEC Ministério da Educação

MMM Movimento da Matemática Moderna

OFA Ocupantes de Função Atividade

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

PA Princípio Aditivo ou da Adição

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

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PCN+ Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros

Curriculares Nacionais

PE Pesquisa Exploratória de Dados

PISA Programa Internacional de Avaliação Comparada

(PISA – Programme for International Student Assessment)

PM Princípio Multiplicativo ou da Multiplicação ou Fundamental da

Contagem

PME Psychology of Mathematics Education

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

SAEB Sistema Nacional de Avaliação Escolar da Educação Básica

SARESP Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São

Paulo

SBEM Sociedade Brasileira de Educação Matemática

SBM Sociedade Brasileira de Matemática

SEE-SP Secretaria de Estado da Educação de São Paulo

SIPEM Seminário Internacional de Pesquisas em Educação Matemática

TIC Tecnologias de Informação e Comunicação

UEL Universidade Estadual de Londrina

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFF Universidade Federal Fluminense

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação

(United Nations Educacional, Scientific and Cultural Organization)

UNESP Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

UNIBAN Universidade Bandeirante de São Paulo

UNICAMP Universidade de Campinas

USP Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................... 21 1 JUSTIFICATIVAS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................. 25 1.1 ANTECEDENTES E MOTIVAÇÕES DESSE ESTUDO......................................................... . 25 1.2 FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES E INOVAÇÕES CURRICULARES......... 30 1.3 METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................................................ 33 1.3.1 O problema central da pesquisa .................................................................................... 33 1.3.2 O Observatório da Educação da CAPES/UNIBAN ........................................................ 35 1.3.3 Sobre a metodologia: algumas considerações ................................................... 40 1.3.4 O papel do pesquisador na sequência didática ............................................................. 48 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................................. 53 2.1 ESTUDOS E PESQUISAS QUE FUNDAMENTAM ESTA PESQUISA ................................. . 53 2.2 CONHECIMENTOS NECESSÁRIOS AO PROFESSOR........................................................ 57 2.3 FORMAÇÃO DO PROFESSOR REFLEXIVO ........................................................................ 63 2.4 COMPONENTES BÁSICOS DA MATEMÁTICA COMO ATIVIDADE HUMANA.................... 68 2.5 ENCULTURAÇÃO MATEMÁTICA ......................................................................................... . 75 2.5.1 Dimensões Cultural e Social do Conhecimento Matemático ........................................ . 78 2.5.2 Práticas docentes e as mudanças culturais .................................................................. . 80 2.5.3 O Saber Matemático como componente cultural .......................................................... . 81 2.5.4 Os valores matemáticos estão sendo transmitidos de modo equilibrado? .................. . 83 2.5.5 Princípios para o reequilíbrio dos valores ligados ao Saber Matemático ..................... . 88 2.6 PESQUISAS SOBRE ENSINO E APRENDIZAGEM COM PROBLEMAS DE CONTAGEM.......................................................................................................................... ... 90 3 PROBLEMAS DE CONTAGEM EM CURRÍCULOS DA EDUCAÇÃ O BÁSICA ..................... 102 3.1 REFORMAS DO ENSINO SECUNDÁRIO ............................................................................. . 103 3.2 O QUE PRESCREVIAM OS CURRÍCULOS DO ESTADO DE SÃO PAULO... .................... . 114 3.2.1 A Proposta Curricular de Matemática do 1º Grau do Estado de São Paulo... ............... 114 3.2.2 A Proposta Curricular de Matemática para o 2º Grau em São Paulo... ......................... 123 3.2.3 Nova Proposta Curricular de Matemática para o 2º Grau do Estado de São Paulo... ... 137 3.3 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS..................................................................... 143 3.3.1 PCN e os Problemas de Contagem ............................................................................. . 146 3.4 CURRÍCULO ATUAL DE MATEMÁTICA DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO........................................................... .................................................................. 151 3.4.1 Projeto Político-Pedagógico do currículo de matemática ............................................. . 151 3.4.2 Um currículo enculturador ............................................................................................. . 155 3.4.3 Um currículo centrado em competências ...................................................................... . 164 3.4.4 Os problemas de contagem ................... ....................................................................... 176 4 UMA ANÁLISEDOS DADOS INICIAIS DA PESQUISA ......................................................... 187 4.1 EXPERIÊNCIA DOCENTE... .................................................................................................. . 190 4.2 CONHECIMENTOS SOBRE O CONTEÚDO.......................................................................... 207 4.2.1 Sobre o conhecimento dos professores a respeito da construção de uma

representação gráfica para resolver problemas de contagem .............................................. . 209 4.2.2 Sobre o conhecimento dos professores a respeito da resolução de problemas

que envolvem a aplicação dos princípios multiplicativo e aditivo........................................... . 216

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4.2.3 Sobre o conhecimento dos professores a respeito da resolução de problema de contagem que envolve conceito de arranjos com repetição ............................................. . 222

4.2.4 Sobre o conhecimento dos professores a respeito de permutações simples e de permutações com objetos nem todos distintos ................................................................. . 226

4.2.5 Sobre o conhecimento dos professores a respeito utilização do conceito de permutações circulares .......................................................................................................... . 232

4.2.6 Sobre o conhecimento dos professores a respeito utilização do conceito de combinações simples ........................................................................................................... . 237

4.3 CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS..................................................................................... 246 4.3.1 Sobre as estratégias que o professor se utiliza para auxílio do raciocínio

combinatório no ensino dos problemas de contagem............................................................ . 247 4.3.2 Sobre o conhecimento dos professores a respeito do ensino do Princípio

Multiplicativo . ......................................................................................................................... 249 4.3.3 Sobre o conhecimento dos professores a respeito do ensino do Princípio

Aditivo............. ......................................................................................................................... 252 4.3.4 Sobre o conhecimento dos professores a respeito do ensino de Arranjos

simples ou com repetição de objetos. ..................................................................................... 258 4.3.5 Sobre o conhecimento dos professores a respeito do ensino das Permutações

simples.......... .......................................................................................................................... 261 4.3.6 Sobre o conhecimento dos professores a respeito do ensino das Combinações

Simples.......... .......................................................................................................................... 264 4.3.7 Sobre o conhecimento pedagógico dos professores a respeito das dificuldades

que os alunos têm na resolução de problemas de contagem................................................. 266 4.3.8 Sobre a opinião do professor em relação aos esclarecimentos oferecidos pelos

livros didáticos de modo que ele possa ensinar os problemas de contagem na Educação Básica .................................................................................................................... . 267

4.3.9 Sobre o conhecimento pedagógico dos professores a respeito das dificuldades que ele tem para preparar aulas que envolvem o raciocínio combinatório na Educação Básica .................................................................................................................... . 269

4.3.10 Sobre a importância que os professores conferem à introdução de conceitos que envolvem o raciocínio combinatório no Ensino Fundamental ......................................... . 271

4.4 BREVE SÍNTESE DA ANÁLISE DAS RESPOSTAS AOS QUESTIONÁRIOS ..................... . 273

5 ANÁLISE DOS DADOS DA SEQUÊNCIA DE ENSINO ............................................................ 277

5.1 SOBRE OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A FASE DE INTERVENÇÃO ... 277 5.2 DESENVOLVIMENTO DA FASE DE INTERVENÇÃO............................................................. 282 5.3 ANÁLISE DOS DADOS DA FASE DE INTERVENÇÃO - SEQUÊNCIA DIDÁTICA - ............. . 288 5.3.1 Uso de representações como a árvore de possibilidades e tabelas de dupla entrada.. 289 5.3.2 Aplicações do princípio multiplicativo............................................................................. . 298 5.3.3 Aplicações do princípio multiplicativo e do princípio aditivo em conjunto ...................... 302 5.3.4 Fórmulas ........................................................................................................................ . 309 5.4 O QUESTIONÁRIO FINAL (Q4).............................................................................................. 373 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 383 REFERÊNCIAS............................................................................................................................... .....426 APÊNDICES....................................................................................... ............................................ 435

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APRESENTAÇÃO

Este trabalho, “Um estudo sobre os conhecimentos necessários ao

professor de matemática para a exploração de problemas de contagem no

Ensino Fundamental”, está vinculado à linha de pesquisa Formação de

Professores que Ensinam Matemática do Programa de Pós-Graduação em

Educação Matemática da UNIBAN - Universidade Bandeirante de São Paulo.

O propósito deste estudo foi o de investigar os conhecimentos de

professores de Matemática para explorar noções relativas aos problemas de

contagem ao longo do Ensino Fundamental.

Para tanto, identificaram-se as concepções de um grupo de professores

de matemática sobre esse tema e sobre seu ensino na Educação Básica e,

posteriormente, promoveu-se uma formação continuada com o intuito de

discutir inovações a respeito do processo de ensino e aprendizagem de noções

concernentes a esse tema.

Cabe ressaltar que essa pesquisa foi realizada no âmbito do

Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES, projeto financiado pela

CAPES, coordenado pelo Prof. Dr. Ruy César Pietropaolo. Tal projeto é

constituído por um grupo colaborativo de formação e pesquisas integrado por

professores pesquisadores, professores da rede estadual de ensino de São

Paulo, mestrandos e doutorandos da UNIBAN. Entre os objetivos de atuação

do Observatório da Educação está o de contribuir para o desenvolvimento

profissional de professores, promovendo reflexões a respeito das inovações

curriculares indicadas para as aulas de Matemática no Ensino Fundamental e

Médio. Analisa, além disso, as possibilidades de promover mudanças nos

conhecimentos pedagógicos e curriculares desses professores no tocante a

esse tema, mediante um processo de formação continuada, cuja ênfase é a

reflexão sobre suas práticas e sobre as inovações propostas nos recentes

currículos.

Assim, este estudo pode ser julgado como relevante, pois tem como

finalidade contribuir para a implementação efetiva desse tema ao longo do

Ensino Fundamental de modo a favorecer o desenvolvimento do pensamento

combinatório dos alunos, conforme indicam os Parâmetros Curriculares

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Nacionais – PCN (1997, 1998) e currículos posteriores que tomam esses

parâmetros como referência, como o do Estado de São Paulo (2010).

Para atingir os objetivos desta pesquisa começamos por perguntar a

seguinte questão principal, objeto desta investigação, qual seja:

Que experiências um professor de Matemática do Ensino Fundamental

deve vivenciar em sua formação continuada para selecionar e dirigir situações

de aprendizagem com vistas a desenvolver o raciocínio combinatório de seus

alunos por meio da proposição de problemas de contagem de modo a

compreender as dificuldades que os alunos enfrentam na resolução de

problemas de contagem e para ajudá-los a superar essas dificuldades e

atender às orientações do Currículo do Estado de São Paulo (2010)?

Prosseguindo nos objetivos desta pesquisa nos propomos a responder

às seguintes questões específicas:

� Quais são as inovações propostas pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais (1998) e pelo atual Currículo do Estado de São Paulo

(2010) para os processos de ensino e de aprendizagem de

conceitos relativos a Problemas de Contagem?

� Quais são os conhecimentos dos professores a respeito da

resolução de Problemas de Contagem e suas concepções sobre

o desenvolvimento desse tema no Ensino Fundamental?

� Uma sequência de atividades que explore a resolução de

Problemas de Contagem, sem a utilização de fórmulas, pode

favorecer a ressignificação dos conhecimentos dos professores

sob os pontos de vista do conteúdo, didático e curricular, de

noções relativas a esse tema?

Assim, analisaram-se as inovações propostas pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais (1997, 1998, 1999) e o Currículo do Estado de São

Paulo (2010) no tocante aos Problemas de Contagem, além das concepções

dos professores, sujeitos de nosso estudo, a respeito desse tema. Essa opção

pela análise desses documentos curriculares decorre do fato de que os

professores estavam, em 2011, incumbidos de implementar em suas aulas as

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recomendações do currículo de São Paulo, cuja proposta, por sua vez, está

fundamentada nos PCN.

As situações-problema propostas na sequência de ensino foram

concebidas com o propósito de explorar a aplicação de conceitos e

procedimentos relativos aos problemas de contagem à luz das inovações

propostas nos documentos analisados e em resultados de pesquisas com as

de Navarro-Pelayo, Batanero e Godino (1996) e Placha e Moro (2009).

A proposta para o grupo de professores foi o de discutir diferentes

estratégias de resolução de problemas de contagem, sobretudo as que utilizam

de representações gráficas, como um meio de promover o desenvolvimento do

raciocínio combinatório dos alunos desde o Ensino Fundamental.

No Capítulo 1 apresentam-se as circunstâncias que contribuíram para a

realização deste estudo, ou seja, buscaram-se no tempo fatos fundamentais

para compor uma argumentação que justifique o interesse e os esforços

empreendidos para concretizá-lo. Nesse capítulo, descreve-se o Observatório

da Educação da UNIBAN/CAPES (ambiente em que a pesquisa se

desenvolveu) e apresenta-se também a formulação e delimitação do problema

de pesquisa, além de se justificar a escolha dos procedimentos metodológicos

utilizados. Optou-se por princípios do Design Experiments de Cobb et al (2003)

para a concepção, elaboração e transformações da sequência didática.

Apresentam-se no Capítulo 2 reflexões sobre os teóricos que

fundamentaram a análise desta pesquisa. A respeito dos conhecimentos dos

professores foram utilizados trabalhos de Shulman (1986) que tratam dos

conhecimentos necessários para a docência: conteúdos específicos, didáticos

e curriculares. Em relação à formação de professores reflexivos e os

conhecimentos necessários à prática docente foram utilizados estudos de

Zeichner (1993, 2003). Para a análise de concepções dos professores,

utilizam-se as ideias propostas por Tall e Vinner (1981) e Fischbein (1994).

Além disso, são analisadas recentes pesquisas que abordam o tema análise

combinatória envolvendo alunos e professores.

O Capítulo 3 destina-se à discussão do Currículo da Secretaria de

Estado da Educação de São Paulo (2010) para o Ensino Fundamental (6º ao 9º

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ano) e Ensino Médio no tocante aos problemas de contagem, iniciando com

uma análise do projeto-político pedagógico desse currículo. Para identificar as

inovações desse currículo analisam-se propostas anteriores e as orientações

dos PCN para o ensino dos problemas de contagem.

O Capítulo 4 contém esclarecimentos a respeito da primeira fase da

coleta dos dados desta investigação. Apresentam-se as escolhas relativas ao

grupo de sujeitos e ao instrumento de coleta de dados – de caráter diagnóstico

– utilizado nesta fase. Em seguida, é exposta uma análise desses dados à luz

das ideias de Shulman, no que se refere aos conhecimentos necessários ao

professor para o ensino dos Problemas de Contagem, de Fischbein (1994)

quanto aos componentes básicos da atividade matemática e das ideias de Tall

e Vinner (1981) no que diz respeito à apropriação desse conteúdo, por uma

pessoa. Assim, apresentam-se nesse capítulo as concepções dos professores

sobre o processo de ensino e de aprendizagem de Problemas de Contagem na

Educação Básica, antes da aplicação da sequência de ensino.

O Capítulo 5 é destinado à exposição das ações que se fizeram

necessárias ao longo da intervenção, ou seja, da aplicação da sequência de

ensino. Explicitam-se, do mesmo modo, as razões que motivaram a escolha da

metodologia – princípios do Design Experiments – e as decisões tomadas ao

longo desta etapa. Finalmente, discutem-se os dados sob o olhar dos autores

referidos anteriormente.

No Capítulo 6, das considerações finais, apresenta-se uma síntese das

reflexões já expostas e analisadas nos capítulos anteriores e com as quais foi

possível fundamentar respostas às questões deste estudo. Assim, elas

expressam a interpretação do pesquisador a respeito dos dados e indicam

pontos que não foram discutidos aqui por não constituírem escopo deste

estudo e que, todavia, merecem serem objetos de futuras pesquisas.

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1. JUSTIFICATIVAS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Iniciamos este capítulo, apresentando antecedentes que

consubstanciaram a realização desta pesquisa, bem como as motivações para

empreendê-la por meio de nossa breve trajetória profissional.

Apresentamos também aspectos relacionados às inovações curriculares

no tocante ao processo de ensino e de aprendizagem de noções relativas aos

problemas de contagem indicadas por recentes currículos prescritos que

sugerem o desenvolvimento deste tema desde a 3ª Série/4º Ano do Ensino

Fundamental e não mais restrito ao Ensino Médio.

Em seguida, passamos a discorrer sobre o percurso da investigação

desta pesquisa e os pressupostos do projeto na qual ela está inserida:

Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES. Além disso, justificamos

nossas escolhas teóricas.

1.1. Antecedentes e motivações desse estudo

Quando ainda aluno do curso de Licenciatura em Matemática,1 no ano

de 1978, já exercia a atividade docente como professor de um “cursinho” e em

um Colégio de Ensino Supletivo2, além de estágio em Colégio de ensino

regular de 1º e 2º Graus. Dois meses depois de formado, em fevereiro de 1981,

já havia sido aprovado em Concurso Público Federal para o cargo de Professor

de Ensino de 1º e 2º Graus.

Esse foi um período em que experimentei os primeiros desafios da sala

de aula, os conflitos e/ou contradições entre aquilo que havia sido ensinado e

na Universidade associados às experiências de ser professor de Matemática

em turmas do Ensino Fundamental (antigo 1º Grau) e em turmas do Ensino

Médio (antigo 2º Grau).

O encantamento pelas temáticas de combinatória e probabilidade

iniciou-se, de fato, logo após fazer um curso de um semestre letivo na

1 Na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. 2 Ensino do 2º Grau (atual Ensino Médio), noturno, com duração de três semestres letivos,

destinado, preferencialmente, para trabalhadores com idades acima de 21 anos que estavam fora do ensino regular.

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Universidade e quando conheci o Professor Arago de Carvalho Bachx e

comecei a tomar contato com o livro de sua autoria3.

Eram grandes os desafios que eu deveria percorrer principalmente

aqueles relacionados ao domínio didático pedagógico necessário para permitir

empreender uma metodologia eficiente no sentido de favorecer a

aprendizagem dos alunos em relação às temáticas citadas.

Desde os primeiros contatos com os alunos, por mais que os motivasse

discutindo que para resolver os problemas de contagem utilizam-se apenas as

quatro operações aritméticas básicas com os números naturais e que, por essa

razão, não deveria haver grandes dificuldades na aprendizagem.

No entanto, meus alunos e colegas professores que frequentavam os

minicursos do Professor Arago consideravam a Combinatória como um tema

muito difícil. De modo geral, em problemas de combinatória eles tinham

dificuldades em identificar os tipos de agrupamento – Arranjo, Permutação,

Combinação. Diziam eles que, depois de verem o encaminhamento para a

solução a um problema proposto, compreendiam o que foi feito, mas que

muitas vezes não eram capazes de – após a leitura do enunciado – iniciar a

busca da solução e, quando o faziam, não tinham certeza de que o caminho

escolhido estava correto.

A partir das experiências e das motivações advindas da participação em

um grupo de pesquisas, desde 1982, passei a ministrar minicursos sobre

combinatória e probabilidade em encontros e jornadas que aconteciam no

Estado do Rio de Janeiro.

Cabe ressaltar que esse grupo de pesquisa, inicialmente denominado de

“Projeto de Formação Permanente para professores de 1º e 2º Graus” mais

tarde, em 1984, passou à denominação de “Projeto Fundão – Um desafio para

a Universidade” – (atuando até os dias de hoje) oferecia também oficinas e

minicursos para professores. Além disso, passei também a ministrar oficinas de

temas variados pelo Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro –

CECIERJ– com a participação do professor Arago e outros.

3 Bachx, A. de C. Poppe, L.M.B. Tavares, R.N.O. Prelúdio à análise combinatória. Companhia

Editora Nacional, São Paulo, 1975.

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Todavia, confesso, foi preciso caminhar por uma década mostrando a

professores como ensinar e aprender os conceitos da Análise Combinatória à

luz de alguns livros didáticos do 2º Grau à época e do livro do Professor Arago

para que eu pudesse apropriar-me com mais profundidade dos conceitos e

desenvolvesse concepções pedagógicas e metodológicas que julgava mais

adequadas e próprias para poder ensinar meus alunos a resolverem problemas

de contagem para aquele segmento, ampliando minhas concepções e crenças

a respeito desse conteúdo desde quando estudante do 2º Grau e da

Universidade, no curso de Licenciatura em Matemática.

Independente do nível em que estão sendo ensinados (na Educação

Básica ou Superior) e a clientela para a qual estão sendo dirigidos (aluno ou

professor da Educação Básica), os conteúdos de combinatória apresentam

características bastante peculiares como as que seguem:

• A apropriação de conceitos e de procedimentos subjacentes aos

conteúdos de combinatória (problemas de contagem) é realizada

por meio da busca das soluções de situações-problema bastante

diversificadas;

• A proposição de uma variedade de situações-problema permite

identificar o tipo agrupamento de objetos presentes nas restrições

impostas à cada uma particular situação de contagem proposta;

• A utilização de esquemas, árvores de possibilidades ou tabelas de

dupla entrada por contagem direta ou o uso de fórmulas que

permite a contagem de todas as possibilidades sem a

necessidade de enumerar todas elas, para resolver um problema

que envolva contagens.

Diferentemente de outros ramos da Matemática, a Análise Combinatória

não é derivada de uma particular axiomática e, por conta dessa peculiar

característica, seus conceitos e procedimentos emergem dos diferentes tipos

de problemas de contagem que devem ser propostos aos alunos. É uma

singular maneira de se desenvolver um conteúdo matemático, tanto na

Educação Básica quanto no Superior.

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Segundo Morgado et al (2004): “é verdade que a solução de um

problema combinatório exige quase sempre engenhosidade e a compreensão

plena da situação descrita pelo problema”. Ainda, segundo esses autores, “[...]

se a aprendizagem desses conceitos se faz de maneira mecânica, limitando-se

a empregá-los em situações padronizadas, sem procurar habituar o aluno com

a análise cuidadosa de cada problema, cria-se a impressão de que a Análise

Combinatória é somente um jogo de fórmulas complicadas” (MORGADO et al,

2004, p. 1-2).

Só no início de 1991, enquanto frequentava um curso para professores

de matemática promovidos pela Fundação Vitae4 e pelo Instituto de

Matemática Pura e Aplicada – IMPA5, ministrado pelo Professor Augusto César

de Oliveira Morgado, comecei a refletir sobre as minhas concepções e crenças

quanto à prática pedagógica em relação ao ensino de combinatória e

probabilidade ao nível da Educação Básica. A partir de então, iniciei mudanças

na minha postura em relação à forma de apresentação dos conteúdos e à

maneira de construção dos conceitos matemáticos associados aos aspectos

didático-pedagógicos do conteúdo e acerca de estratégias que favorecessem o

ensino e a aprendizagem por professores e pelos alunos.

Nascia ali, naquele curso, o embrião do hoje consagrado livro “Análise

Combinatória e Probabilidade”, de autoria dos professores Augusto César de

Oliveira Morgado, João Bosco Pitombeira de Carvalho, Paulo Cezar Carvalho e

Pedro Fernandez.

A partir do curso com o Professor Morgado passei a encarar o ensino de

combinatória sob o ponto de vista estritamente pautado nos Princípio Aditivo e

Multiplicativo para a resolução dos problemas e não pela classificação dos

problemas nas três categorias – Arranjo, Permutação e Combinação –

marcantes no livro do Professor Arago.

É importante ressaltar que a Análise Combinatória é um tema bastante

amplo que abarca não apenas problemas de contagem envolvendo esses três

4 Fundação de apoio à Cultura, Educação e Promoção Social. 5 Instituto de Matemática Pura e Aplicada, localizado na Cidade do Rio de Janeiro, órgão de

Ensino e Pesquisa ligado ao CNPq – Conselho Nacional de Pesquisas.

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tipos de agrupamento, mas de muitas outras situações também concernentes à

Matemática Discreta, como o universo da Teoria dos Grafos.

No entanto, muitos professores – como veremos posteriormente – e, por

conseguinte, os alunos, ainda têm a falsa impressão de que os problemas de

combinatória estão restritos unicamente a esses três tipos de agrupamentos.

A partir de então, meu fascínio pela matemática discreta só têm

aumentado, e como ampliação desse interesse por outros conhecimentos

passei a estudar problemas de otimização derivados das “árvores”, os quais

estão presentes na Teoria dos Grafos e em suas aplicações.

O professor Paulo Cézar Pinto de Carvalho, do IMPA, indagava junto

aos professores que assistiam a alguns de seus cursos do por que dos

problemas de combinatória ser considerados de difícil resolução se, para tanto,

basta utilizar as quatro operações elementares da aritmética com os números

naturais.

A partir de reflexões pessoais sobre essas questões, levantadas pelo

professor Paulo Cezar, comecei a empreender questionamentos mais

consistentes sobre a maneira como a combinatória era ensinada e, sobremodo,

elas serviram de mote para que – anos mais tarde – viesse a empreender a

pesquisa objeto deste trabalho.

Fato é que, desde então, passei a fazer leituras de artigos e livros a

respeito do ensino e da aprendizagem de combinatória na Educação Básica e

pude então constatar o grande interesse que a temática tem despertado dentre

os pesquisadores em razão das dificuldades que professores têm de ensinar e

aprender. Além disso, pude também verificar as inovações propostas pelos

currículos prescritos mais recentes no tocante à necessidade do

desenvolvimento do pensamento combinatório.

Esses currículos têm indicado a proposição dos Problemas de

Contagem desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, diferentemente do

que era feito antes, quando esses problemas eram desenvolvidos unicamente

em uma única série: em geral na 2ª série do Ensino Médio e em um único

bimestre.

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1.2 Formação continuada de professores e Inovações curriculares

O Ministério da Educação – MEC – tem se preocupado com a questão

da melhoria da qualidade da educação brasileira como pode ser constatado no

documento intitulado “Referenciais para Formação de Professores”, do qual se

extrai a afirmação de que essa melhoria “depende, em grande parte, da

melhoria da qualidade do trabalho do professor” (BRASIL, 2002, p. 6).

Somam-se a isso as questões de natureza estrutural, econômicas e

sociais da oferta de tais cursos em razão das diversidades regionais, das

condições sociais e econômicas da população e das dificuldades de

implantação de tais cursos em um país como o nosso, de modo a atender à

imensa massa de profissionais que estão no mercado de trabalho e de tantos

outros que, a cada dia, ingressam no magistério.

Em relação a essas questões, tem-se em Brasil (2002):

A realidade brasileira, complexa e heterogênea, não permite que a formação de professores seja compreendida como um processo linear, simples e único. Por um lado, dada a grande diversidade cultural característica de nosso país, as peculiaridades regionais e as especificidades das populações e grupos atendidos pela escola é necessário que se construam diferentes caminhos para elevar a qualidade da educação. Por outro lado, demandas de formação apresentam diferenças regionais substanciais: há lugares em que um número considerável de profissionais continua sendo habilitado sem que haja vagas correspondentes no mercado de trabalho; em outros lugares, ao contrário, pela ausência de profissionais habilitados, muitas pessoas precisam assumir a função sem ter formação específica (BRASIL, 2002, p. 16-17).

Como consequência da visão acerca da formação desejável para o

exercício profissional de professores da Educação Básica bem como da

insuficiente ou ausente formação continuada destes, há um enorme

contingente de docentes oriundos de cursos de licenciatura plena em

Matemática têm sua prática pedagógica destoantes das diretrizes ali

preconizadas e por vezes distantes de poderem realizar um trabalho

pedagógico consoante o que as pesquisas sugerem encaminhar.

Em relação a estas questões temos nos PCN:

Parte dos problemas referentes ao ensino de Matemática estão relacionadas ao processo de formação do magistério, tanto em relação à formação inicial como à formação continuada. Decorrente dos problemas da formação de professores, as práticas na sala de aula tomam por base os livros didáticos, que, infelizmente, são muitas vezes de qualidade insatisfatória (BRASIL, 1997, p.24).

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Por outro lado, segundo Pietropaolo (2002, p. 34), “Discutir a formação

de professores de Matemática pressupõe, certamente, discutir também os

currículos de Matemática prescritos para a escola básica”.

À luz das diretrizes preconizadas nos PCN faz-se necessária uma

análise das práticas pedagógicas relacionadas à Educação Matemática de

modo a favorecer o acesso dos professores a esses saberes.

Quanto a essa questão concordamos com Pietropaolo (2002) em:

A comunidade de educadores de matemática parece concordar sobre a necessidade da articulação nas discussões sobre a “formação de professores” e a “Matemática na estrutura curricular”. [...] pudemos verificar um consenso: os PCN traduziriam as aspirações de grande maioria de educadores matemáticos brasileiros, sobre as questões de ensino-aprendizagem de Matemática e, sobretudo, constituíram um importante referencial para a formação de docentes (PIETROPAOLO, 2002, p. 34).

Para tal, é necessário que o professor não só se aproprie de

conhecimentos que envolvam conteúdos matemáticos, mas que também passe

a refletir sobre sua prática pedagógica.

Segundo Rangel:

O professor é um mediador que coloca o aluno em contato com diferentes situações-problema frente às quais irá utilizar-se dos conhecimentos pré-adquiridos para tentar resolvê-las mediante o uso de habilidades que foram postas em prática e das competências desejadas de modo a fazer frente a novos desafios (RANGEL, 2009, p. 9).

Embora as diretrizes educacionais do MEC indiquem a necessidade de

ocorrer mudanças sobre o que e como ensinar, “o baixo desempenho escolar

em matemática” conforme indicado nos PCN em Brasil (1997, p.23-24),

configura-se como problemática pedagógica a ser minimizada e, aos poucos,

superada.

Discussões e reflexões sobre essas questões têm ocorrido com

frequência nos últimos anos, como podemos constatar em Brasil (2002):

Profissionais da educação e de muitos outros setores da sociedade vêm colocando em discussão a concepção de educação, a função da escola,a relação entre conhecimento escolar e a vida social e cultural – e, portanto, o trabalho profissional de professor. Ao mesmo tempo em que se propõe uma nova educação escolar, um novo papel de professor está sendo gestado a partir de novas práticas pedagógicas, da atuação da categoria e da demanda social (BRASIL, 2002, p. 16).

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Assim, a formação continuada de professores deve considerar a

necessidade de atuação na formação de capacidades intelectuais, na

estruturação e mobilização do pensamento e do raciocínio dedutivo do aluno,

na sua aplicação a problemas e situações da vida cotidiana e do mundo do

trabalho bem como no apoio à construção de novos conhecimentos em outras

áreas curriculares.

Quanto à formação continuada de professores assim se manifesta o

MEC através de documento oficial, em Brasil (2002):

Entretanto, apesar do empenho de muitos e do avanço das experiências já realizadas, há uma enorme distância – e não apenas no Brasil – entre o conhecimento e a atuação da maioria dos professores em exercício e as novas concepções de trabalho do professor que esses movimentos vêm produzindo. Trata-se, portanto, não apenas de realizar melhor a formação, mas de realizá-la de uma maneira diferente. Tais mudanças exigem, dentre outras questões, que os professores reconstruam suas práticas e, para isso, é preciso “construir pontes” entre a realidade de seu trabalho e o que se tem como meta (BRASIL, 2002, p. 16).

Corroborando com essas preocupações em relação aos rumos que

devem ser tomados para mudar esse quadro desfavorável, têm-se algumas

constatações apresentadas nos PCN (1997) como:

A implantação de propostas inovadoras, por sua vez, esbarra na falta de uma formação profissional qualificada, na existência de concepções pedagógicas inadequadas e, ainda, nas restrições ligadas às condições de trabalho. Tais problemas acabam sendo responsáveis por muitos equívocos e distorções em relação aos fundamentos norteadores e ideias básicas que aparecem em diferentes propostas (BRASIL, 1997, p.24).

Uma dessas inovações curriculares é, certamente, a proposta de incluir

desde os anos iniciais os problemas de contagem de modo a favorecer o

desenvolvimento do raciocínio combinatório das crianças. Essa proposta

consta, por exemplo, nas orientações dos PCN (1997 e 1998). As razões dessa

inclusão são justificadas assim nas orientações contidas nos PCN (1997):

Um olhar mais atento para nossa sociedade mostra a necessidade de acrescentar a esses conteúdos aqueles que permitam ao cidadão “tratar” as informações que recebe cotidianamente, aprendendo a lidar com dados estatísticos, tabelas e gráficos, a raciocinar utilizando ideias relativas à probabilidade e à combinatória (BRASIL, 1997, p.53).

No rastro dessas orientações curriculares também no Currículo da

Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (2010) em relação aos

processos de ensino e de aprendizagem dos conteúdos básicos relacionados

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aos problemas de contagem assim se referem os autores de São Paulo (2010)

quanto à abordagem sugerida para o Ensino Fundamental:

No Ensino Fundamental, o trabalho com o bloco de conteúdos denominado NÚMEROS tem por objetivo principal um enriquecimento do escopo da linguagem numérica, inicialmente restrita a situações e problemas envolvendo a contagem e a medida (SÃO PAULO, 2010, p. 40) (grifo dos autores).

Portanto, como forte justificativa para o desenvolvimento da pesquisa

deste trabalho tem-se o fato de que é preciso que os professores tenham

acesso a formação continuada apropriada. O sentido da palavra “apropriada”

dado á formação continuada é o mesmo adotado por diversos pesquisadores

como Pires (2002) e Pietropaolo (2005), ou seja, a promoção de encontros e

cursos que promovam reflexões sobre a prática pedagógica à luz de recentes

pesquisas e sobre as inovações curriculares propostas.

Assim, mediante a formação que propusemos para esta investigação,

levamos em conta pesquisas recentes e algumas orientações curriculares

prescritas, sobretudo as da Proposta Curricular do Estado de São Paulo

(2010), tendo em vista que os docentes, sujeitos de nossa pesquisa estavam

imbuídos de implementar esse currículo.

1.3 Metodologia de Pesquisa

1.3.1 O problema central da pesquisa

No item anterior apresentamos breves considerações sobre a questão

da formação continuada de professores e das inovações curriculares. Mas,

para fazermos opções – teóricas e metodológicas – e justificá-las, é necessário

que explicitemos as questões desta pesquisa. São elas:

� Quais são as inovações propostas pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais (1998) e pelo atual Currículo do Estado de São Paulo

(2010) para os processos de ensino e de aprendizagem de

conceitos relativos a Problemas de Contagem?

� Quais são os conhecimentos de um grupo de professores a

respeito da resolução de Problemas de Contagem e suas

concepções sobre o desenvolvimento desse tema no Ensino

Fundamental?

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� Uma sequência de atividades que explore a resolução de

Problemas de Contagem, sem a utilização de fórmulas, pode

favorecer a ressignificação dos conhecimentos dos professores

sob os pontos de vista do conteúdo, didático e curricular, de

noções relativas a esse tema?

� Que experiências um professor de Matemática do Ensino

Fundamental deve vivenciar em sua formação continuada para

selecionar e dirigir situações de aprendizagem com vistas a

desenvolver o raciocínio combinatório de seus alunos por meio da

proposição de problemas de contagem de modo a compreender

as dificuldades que os alunos enfrentam na resolução e para

ajudá-los a superar essas dificuldades e atender às orientações

do Currículo do Estado de São Paulo (2010)?

Cabe destacar que ao formular suas questões de pesquisa, o

pesquisador já sabe a priori alguma coisa em relação a elas. No entanto,

apesar de possuir um pré-conhecimento acumulado a respeito de suas

vivências, procura compreensões para sua investigação a partir das análises

realizadas e das perspectivas presentes nos sujeitos da investigação.

Por conta disso, o pesquisador se prepara para a investigação

procurando estabelecer estratégias e escolher procedimentos metodológicos,

passando a adotar referenciais teóricos que permitam a ele melhor

compreender o objeto da pesquisa e a estabelecer relações entre os seus

pressupostos e o que será revelado pelos sujeitos da pesquisa.

Sendo assim, por admitir que este estudo não esteja isento da nossa

maneira de ver e compreender o fenômeno educativo é que consideramos

necessário expor, no início deste capítulo, as motivações pessoais decorrentes

de fatos “históricos” vivenciados como participante, para justificar a

problemática do tema a ser pesquisado.

Este caminho remete à subjetividade de nosso estudo da qual não

pudemos e nem queremos escapar e, portanto, por admiti-la como parte

integrante e essencial dessa investigação consideramos essencial caminhar

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segundo critérios claros na busca do rigor científico de modo a alcançar, tanto

quanto possível, a objetividade necessária e indispensável.

Para que o leitor se situe em relação ao quantitativo dos sujeitos desta

pesquisa e algumas considerações que se relacionam com os encontros de

ensino havidos, apresentamos um breve relato na seção seguinte.

1.3.2 O Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES

Como nossa investigação desenvolve-se no âmbito do Observatório da

Educação, tendo em vista que os vinte e três sujeitos da pesquisa são

professores integrantes deste projeto, consideramos ser necessário descrevê-

lo sucintamente.

O Projeto Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES foi criado por

meio da constituição de um grupo colaborativo de formação e de pesquisa com

a finalidade de fomentar efetivas discussões sobre as práticas do professor em

seu contexto de trabalho bem como o de propiciar o compartilhamento entre os

pares (professores da Educação Básica) e os formadores da universidade, em

estrita articulação com as teorias e pesquisas estudadas.

A finalidade desse projeto é de promover e analisar o desenvolvimento

profissional docente de professores de matemática quando estes estão

inseridos em processos de implementação de inovações curriculares.

Assim, uma das preocupações do Observatório é a que os processos de

formação dos professores envolvidos (presencialmente e a distância (não

objeto desta pesquisa)) deverão incluir, evidentemente, situações em que as

práticas pedagógicas sejam refletidas e problematizadas pelos professores da

Universidade e professores da Educação Básica.

O pressuposto dos trabalhos desenvolvidos no seio do Observatório é

que os processos formativos de professores devem ser investigados em

relação estreita com os ambientes e contextos aos quais os professores

desenvolvem suas práticas, não deixando de considerar como referenciais as

tendências da formação de professores.

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Portanto, como principal objetivo do projeto Observatório da Educação

da UNIBAN/CAPES considera-se o de desenvolver uma metodologia efetiva

que envolve a Educação Continuada de Professores que lecionam Matemática

na Educação Básica por meio da criação e do envolvimento de redes

colaborativas de aprendizagem profissional.

A partir da compreensão da problemática que envolve a formação

continuada de professores que ensinam matemática e baseado nos princípios

teóricos que direcionaram o design e a metodologia do Projeto Observatório,

anteriormente indicados, é possível definir, em linhas gerais, os objetivos que

foram definidos para a atuação do Observatório, quais sejam:

• Identificar os aspectos em que a metodologia de formação

continuada do professor de Matemática – estabelecimento de

grupos de trabalho colaborativos, cuja estratégia é a articulação

entre a teoria, a prática docente e a pesquisa – pode favorecer o

desenvolvimento profissional dos envolvidos;

• Pesquisar o papel do ambiente tecnológico - no caso, um espaço

virtual criado para a aprendizagem contínua – das reflexões

compartilhadas e da integração do grupo;

• Contribuir com propostas para serem desenvolvidas nas aulas de

Matemática, visando à melhoria da qualidade dos processos de

ensino e de aprendizagem;

• Pesquisar o papel da história da matemática escolar no processo

de formação (porque ensinamos o que ensinamos;

transformações nos currículos prescritos; movimentos de

modernização; livros didáticos);

• Estudar formas de manutenção dos grupos de trabalho

colaborativo, de modo que tenham continuidade ao término dos

projetos de formação de professores.

Os propósitos da presente investigação estão em consonância com o 1º,

3º e 5º objetivos definidos como acima.

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Em 2011 o Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES encontrava-

se com a seguinte composição: 6 professores-pesquisadores doutores da

UNIBAN; 4 alunos de Doutorado e 1 aluno de Mestrado em Educação

Matemática da UNIBAN e 23 professores de Educação Básica da Secretaria de

Estado de Educação da Diretoria de Ensino da Região Norte de São Paulo.

As temáticas que foram objeto dos encontros no ano de 2011 foram:

Números Reais, Análise Combinatória (Problemas de Contagem) e

Probabilidade – temas sugeridos pelos professores.

O número de encontros para cada temática varia de acordo com os

objetivos a serem alcançados e as necessidades do grupo de professores

acertados no decorrer de cada uma das pesquisas associadas a cada temática

objeto da formação continuada integrante da respectiva pesquisa.

Para esta pesquisa os encontros de ensino no Observatório da

Educação da UNIBAN/CAPES ocorreram entre os meses de maio e setembro

de 2011, em intervalos quinzenais ou mais (as datas que os encontros

ocorreram estão junto aos respectivos textos e situações-problema,

apresentados nos Apêndices), sempre às quintas feiras, no horário das

13h30min às 17h30min, envolvendo até 23 professores que atuam em escolas

públicas estaduais de Ensino Fundamental II e Ensino Médio da Região Norte

da cidade de São Paulo, pertencentes da Secretaria de Estado da Educação

de São Paulo, divididos em grupos de até quatro professores em cada.

A seguir apresentamos um quadro onde listamos as datas em que os

oito encontros ocorreram (o 1º encontro na primeira fase – Fase de design e os

outros sete encontros na segunda fase – Fase de intervenção e na terceira

fase - Fase de experimentação):

Quadro 1: Datas dos encontros da sequência didática

Encontro Data

1º 12/5/2011

2º 26/5/2011

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3º 16/6/2011

4º 04/8/2011

5º 18/8/2011

6º 25/8/2011

7º 04/9/2011

8º 18/9/2011

O grupo de professores é constituído segundo as normas de

organização do Projeto Observatório. O grupo participou de 8 (oito) encontros

de ensino, cada um deles com duração média de 200 minutos cada, totalizando

26 horas de encontros de ensino por professor.

Além dos professores, todos os encontros de ensino tiveram a presença

do pesquisador; em alguns deles houve a presença de professor (es) do

Programa de Pós Graduação da UNIBAN e em alguns encontros o professor

Orientador da pesquisa esteve presente e até interagiu com os sujeitos da

pesquisa.

O desenrolar das atividades que foram desenvolvidas no seio do

Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES foi monitorada através da

captação de som e imagens (em alguns encontros em que foi possível

disponibilizar da câmara) feita por gravação em áudio e vídeo bem como pelas

anotações observadas e registradas pelo pesquisador através das reflexões,

discussões e observações feitas entre os participantes nos grupos menores e

em todo o grupo, com a mediação.

A Tabela a seguir mostra, então, a distribuição dos professores que

participaram com suas reflexões respostas da primeira fase desta pesquisa, no

primeiro dos encontros do Observatório ocorrido em 12 de maio de 2011.

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Tabela 1: Indicação dos dados dos professores que permitiram a concepção inicial da sequência didática desenvolvida no Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES

PROF. SENHA DED Q1 Q2P1 PP S S SP2 MEG S S SP3 ML54 S S SP4 1824 S S SP5 CMK S S SP6 S.5 S S SP7 MCH S S SP8 M.AIKO S S SP9 CIRLENE S S S

P10 SORO S S SP11 SRF-ROSA S S SP12 SAMURAI 256 S S SP13 BAPTISTA S S SP14 CP57 S S SP15 FV S S SP16 CLÁUDIA S S SP17 1811 S S SP18 CECÍLIA S S SP19 VANDA S S SP20 ELENA S S SP21 REGINA N N NP22 1084 N N NP23 ALB N N N

No primeiro dos encontros de ensino um total de 20 professores

forneceu respostas a três questionários: Dados da Experiência Docente (Q1)6,

Conhecimentos de Conteúdo (Q2)7 e Conhecimentos Pedagógicos (Q3)8,

sendo que o primeiro deles foi respondido após o intervalo, em um período de

até uma hora, e os dois últimos, entregues, nesta ordem, em até duas horas e

meio, antes do intervalo.

As respostas fornecidas pelos professores foram objeto de análise e

estão sintetizadas ao longo do Capítulo 4. Elas serviram de base para

estruturar, identificar e conceber as primeiras atividades que foram

desenvolvidas nos encontros de ensino subsequentes, seguindo orientações

dos dois primeiros momentos da metodologia Design Experiments, segundo

Cobb et al (2003), utilizada nesta investigação e considerada na seção a

seguir.

6 Ver Apêndice A. 7 Ver Apêndice B. 8 Ver Apêndice C.

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Além disso, os dados resultantes das atividades da sequência de

ensino9 – Fase de Intervenção e do questionário Q410 - Fase de

Experimentação têm suas análises apresentadas no Capítulo 5.

Nessas análises vamos considerar aspectos e concepções relacionadas

às reflexões e o produto destas reflexões feitas pelos professores integrantes

do Observatório da Educação da CAPES/UNIBAN com a mediação do

pesquisador, segundo uma amostra de 20 (vinte) professores, os sujeitos de

nossa pesquisa (professores identificados de P1 a P20), considerando variável

a presença dos professores aos encontros de ensino, razão porque os

professores P21, P22 e P23 figuram na tabela, mas estiveram presentes em

alguns encontros da sequência de ensino.

1.3.3 Sobre a metodologia: algumas considerações

A metodologia Design Experiments foi escolhida para nortear a segunda

fase de nossa pesquisa e os motivos para tal escolha são explicados e

compreendidos à medida que a descrevemos, em seguida.

Ressaltamos, desde já, não ter encontrado uma tradução para o

português do termo design que atendesse aos propósitos conforme foi escrito

no texto original. Segundo Drisostes (2005), “o termo design envolve atividades

como planejar, delinear, desenhar, esboçar, projetar, esquematizar, criar,

inventar e executar” (DRISOSTES, 2005, p.38).

Considerando que os professores de Matemática - sujeitos desta

pesquisa - estavam imbuídos da ideia de implementar em sua prática

pedagógica as orientações contidas no Currículo de Matemática do Estado de

São Paulo (2010) e o fato de ter sido esse Currículo elaborado com base nos

Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), a metodologia adotada para a

busca de respostas às quatro questões de nossa investigação incluiu

inicialmente uma pesquisa documental a respeito da análise das orientações

curriculares contidas nesses documentos.

9 Ver Apêndices de E até M. 10 Ver Apêndice D.

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A utilização da metodologia Design Experiments segundo Cobb et al

(2003) para atender aos propósitos desta pesquisa se consubstanciaram nas

características presentes nos dois primeiros momentos explicitados pelos

autores e que, nesta investigação, se desdobraram em três momentos, a

saber: Primeiro momento: definição dos documentos diagnósticos acerca da

Experiência docente, dos conhecimentos de conteúdo e dos conhecimentos

pedagógicos conteúdos e a elaboração das respectivas questões para compor

as atividades desses três documentos introdutórios, o segundo momento:

elaboração e aplicação de proposta de sequência didática de ensino que foi

apresentada aos professores sujeitos da pesquisa durante os encontros de

ensino no seio do Projeto Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES,

ambiente em que a pesquisa se desenvolveu e o terceiro momento, no qual

elaboramos um questionário para identificar concepções e crenças dos

professores em relação à ressignificação de conhecimentos de conteúdo,

pedagógicos de conteúdo e curriculares, após a sequência didática..

A metodologia Design Experiments, por Cobb et al (2003), ainda

considera os seguintes momentos: Elaboração de sequência didática pelos

professores e Interpretação, análise e discussão sobre as produções dos

alunos.

A pesquisa de campo objeto desta pesquisa foi desenvolvida, no

primeiro momento, como a seguir:

Inicialmente, neste momento, consistiu na aplicação de três

questionários ao grupo de professores, sujeitos desta pesquisa, visando

conhecer o perfil dos professores e identificar seus conhecimentos,

concepções e crenças a respeito do processo de ensino e de aprendizagem

dos Problemas de Contagem na Educação Básica. Esses questionários foram

respondidos individualmente por todos os professores e tinham a seguinte

finalidade: analisar a experiência docente dos professores; analisar os

conhecimentos de noções concernentes à Análise Combinatória na Educação

Básica, como conceitos, procedimentos e representações gráficas, ale de

analisar os conhecimentos pedagógicos do professor em relação a esse

conteúdo, ou seja: o que e como ensinar.

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O segundo momento – fase de intervenção - consistiu na concepção e

na realização de uma abordagem de noções concernentes à Análise

Combinatória com a finalidade de investigar se uma sequência de atividades

que explore atividades sobre a resolução de Problemas de Contagem, sem a

utilização de fórmulas, pode favorecer a ressignificação dos conhecimentos dos

professores sob os pontos de vista do conteúdo, didático e curricular de noções

concernentes a esse tema para o ensino e a aprendizagem no Ensino

Fundamental, preferencialmente. Os dados obtidos por meio dos questionários

respondidos no primeiro momento se constituíram em ponto de partida para a

elaboração e aplicação dessa sequência de atividades. Além disso, levamos

em conta os resultados de pesquisas sobre os processos de ensino e de

aprendizagem desse tema, como as pesquisas de Navarro-Pelayo, Batanero &

Godino (1996), Fischbein e Gazit (1988) e Placha e Moro (2009), além das

orientações pedagógicas do Currículo de São Paulo (2010). Quanto ao

método utilizado para a análise dos dados coletados baseamo-nos na noção de

imagem conceitual conforme Tall e Vinner (1981), e de Fischbein et al (1994)

sobre os elementos característicos dos aspectos intuitivo, algorítmico ou formal

da atividade matemática, os quais serão apresentados no Capítulo 2. Esse

momento ocorreu em sete encontros de aproximadamente quatro horas cada.

Essas atividades foram desenvolvidas em pequenos grupos, formados por três

ou quatro professores. Maiores detalhamentos sobre esse momento e os

instrumentos de coleta de dados serão apresentados posteriormente.

O terceiro momento- fase de sistematização - foi realizado entre os dois

últimos encontros da sequência de ensino, pois consideramos oportuno

apresentar mais um questionário final aos professores (questionário (Q4)11)

para que os professores apresentassem suas concepções e crenças acerca

dos aspectos pedagógicos e de conteúdo após a sequência didática, tendo

como objetivos os de identificar se os professores mudaram algumas de suas

concepções a respeito do processo de ensino e de aprendizagem de noções

concernentes aos problemas de contagem na Educação Básica com a

ressignificação dos conhecimentos de conteúdo, curriculares e pedagógicos de

conteúdo e conhecer aqueles que os professores considerariam como de novo

11 Ver Apêndice D.

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e que favoreça a prática de ensino que poderiam oferecer a seus alunos, desde

então.

Além do mais, as respostas dariam oportunidade para que os

professores fizessem uma avaliação acerca da formação continuada que

acabavam de experenciar e também como eles poderiam sistematizar os

conhecimentos os quais eles se apropriaram durante a fase de intervenção

com vistas à organização dos conceitos matemáticos e das orientações

refletidas da sequência didática para a melhoria da prática.

Espera-se que a análise desses dados contribua para encaminhar e

fundamentar as respostas que daremos às questões de pesquisa postas.

A escolha dessa metodologia decorreu de nosso interesse por uma

investigação cuja realização ocorresse no próprio contexto da formação

continuada dos professores no tocante aos conhecimentos sobre Análise

Combinatória. Assim, considerando o duplo propósito do Design Experiments –

metodologia de ensino e de pesquisa – podemos dizer que fomos favorecidos

por essa escolha.

Segundo Cobb et al (2003), o Design Experiments é uma metodologia

de pesquisa formativa tendo em vista o refinamento progressivo do projeto

elaborado inicialmente. Ou seja, a análise contínua dos resultados que se vem

obtendo ao longo do processo, pode favorecer a identificação das

reformulações necessárias até que sejam trabalhados todos os pontos que,

eventualmente, se constituam em dificuldades ou em concepções equivocadas

do conteúdo que está sendo explorado. Assim, em nossa pesquisa foi

delineada uma primeira versão do projeto, que não foi definida completamente.

Depois, ela foi revista e aprimorada ao longo do experimento em função dos

resultados que foram analisados encontro a encontro da sequência didática.

Acreditamos que esse processo contínuo de concepção, análise, revisão

e reinvenção de nossa sequência, ao longo do experimento pôde produzir a

compreensão de ideias fundamentais relativas ao ensino dos conteúdos

relativos aos problemas de contagem, sendo passível de nova aplicação a

outros sujeitos.

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Cabe destacar que a nossa fundamentação teórica sobre a formação de

professores – Shulman (1986) – também nos levou a optar por etapas do

Design para desenvolver essa parte empírica da pesquisa. As categorias de

conhecimentos necessários ao ensino, propostas por Shulman (1986) foram

muito produtivas, como ponto de partida para a concepção do projeto inicial,

para as modificações que se mostraram necessárias no decorrer da pesquisa e

para a análise dos dados.

As ações que envolveram o grupo de professores durante nosso

experimento tiveram os seguintes propósitos:

• Refletir sobre noções básicas de Análise Combinatória que

consideramos fundamentais para a compreensão de conceitos,

representações e procedimentos para resolver problemas de

contagem e a maneira de ensiná-los.

• Discutir sobre possíveis estratégias que um professor poderia

mobilizar para auxiliar seus alunos a superar dificuldades relativas à

resolução de problemas de contagem.

Participaram de cada um desses encontros o grupo de professores

sujeitos de nosso estudo e, pelo menos, dois pesquisadores da UNIBAN, tendo

estes últimos o papel de acompanhar os trabalhos realizados em cada

encontro, por meio da observação do grupo e/ou do registro de dados

considerados relevantes.

Assim, nossos dados incluíram as produções dos professores

participantes, as filmagens dos encontros e os apontamentos realizados a partir

da observação feita por nós e pelos pesquisadores que estiveram presentes

durante os encontros.

No tocante à organização do grupo de professores para o

desenvolvimento das atividades na fase de intervenção, optamos por deixá-los

à vontade para que se separassem em grupos menores de 3 ou 4 docentes.

No entanto, é fundamental observar que esses professores não permaneciam

durante todo o tempo em seus grupos. Desse modo, as discussões entre os

participantes de cada grupo permitiram, igualmente, a identificação de

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dificuldades experimentadas pelos próprios professores e a oportunidade de

buscar, com os colegas dos outros grupos, soluções para essas dificuldades.

O estreitamento dos laços de cooperação entre o pesquisador e os

sujeitos da pesquisa ao longo dos encontros de ensino favoreceu o

entrosamento de todo o grupo em relação às resoluções das situações-

problema, facilitando a identificação por parte do pesquisador das dificuldades

que eles tinham com a temática e do que eles precisavam aprender.

Esclarecemos, todavia, que os grupos menores não eram fixos. Esse

fator contribuiu ainda mais para fortalecer a unidade de todo o grupo e vencer

as inibições. Todos se sentiram muito à vontade em expor suas ideias, suas

resoluções às situações-problema, suas dúvidas, suas concepções.

As pesquisas desenvolvidas segundo a metodologia Design

Experiments, segundo Collins et al (2004), devem ocorrer em ambientes reais

de aprendizagem, como salas de aula ou grupos de professores, com a

finalidade de melhorar as práticas educacionais. Sob essa questão, o grupo de

professores do Observatório participou das atividades em um ambiente

propício à melhoria de suas práticas.

Cabe destacar que cada professor sujeito da pesquisa, pôde recorrer às

anotações de suas aulas e de livros didáticos. A troca de ideias e concepções

entre os professores ocorreu de forma muito natural, tendo em vista que muitos

deles já vinham participando do Observatório desde 2009.

Também é importante ressaltar que resistimos à tentação de reduzir

nossos dados a números. Esta opção decorre do fato de que a natureza dos

nossos dados deveria ser outra. Os dados coletados deveriam dar elementos

para a compreensão das posições dos sujeitos da pesquisa e respectivas

transformações. Isso demandou que assistíssemos aos vídeos por mais de

uma vez, além de reiteradas leituras dos textos transcritos uma vez que estes

sujeitos quase sempre colocavam condicionantes ao responder

afirmativamente, ou negativamente, às nossas indagações, afirmações e/ou

questionamentos.

Além disso, ao longo dos encontros de ensino constatou-se que quando

algum dos sujeitos desta pesquisa respondia a determinada questão colocada

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pelo pesquisador ou por algum colega – no grupo menor ou no grupo como um

todo – geralmente o fazia destacando aspectos outros, questionamentos,

observações e sugestões de encaminhamento que se mostravam.

Esses fatos nos mostram que uma abordagem de pesquisa qualitativa

deve, de fato, partir do princípio de que nada é simples quanto possa parecer e

de que todos os dados e aspectos identificados podem dar pistas a respeito do

problema estudado e de como os resultados podem ser agrupados e

abordados.

Para a elaboração da sequência didática partimos da ideia que as

situações-problema que devessem ser propostas deveriam contemplar

conteúdos próprios do Ensino Fundamental (situações-problema com

quantitativo de objetos não muito grande que possam viabilizar a construção de

árvores de possibilidades ou outras representações e alguns problemas

apropriados à motivação e à introdução de outros conceitos próprios da

Matemática no Ensino Fundamental como, por exemplo, potências com

números naturais), em particular aquelas que poderiam efetivamente ser

desenvolvidos para o entendimento e a aprendizagem de alunos do Ensino

Fundamental.

Consideramos oportuno, então, apresentar aos professores algumas

resoluções de situações-problema supostamente resolvidas por alunos,

utilizando tabelas de dupla entrada e árvore de possibilidades como

procedimentos para contabilizar a totalidade de soluções para que os

professores refletissem sobre elas. Eles deveriam discutir a respeito da

pertinência da resolução apresentada e como eles encaminhariam com seus

alunos a resolução desses problemas.

Quanto aos conteúdos que foram abordados nos problemas de

contagem, restringimo-nos aos relacionados à utilização direta dos princípios

multiplicativo e aditivo, arranjos simples, permutações simples, permutações

com objetos nem todos distintos, combinações simples e permutações

circulares (embora este conteúdo não seja usual ser apresentado na Educação

Básica).

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Os enunciados das situações-problema presentes neste documento

introdutório foram refinados pelo pesquisador em conjunto com o orientador e

passaram por algumas alterações de redação, de modo a se tornarem mais

claros. Durante a aplicação – no primeiro encontro da sequência de ensino –

não foram registradas dúvidas quando à redação dos enunciados que

exigissem alterações ou modificações.

As questões referentes aos Conhecimentos Pedagógicos12 tinham como

finalidade identificar experiências, formação, inquietudes e dados da prática

docente, bem como o que esses professores pensam e como agem em relação

às suas práticas relacionadas ao ensino das noções concernentes a esse

conteúdo, considerando a experiência - quando for o caso - que adquiriram

quando trabalharam com essa temática em conjunto com seus alunos ou

aquelas oriundas de sua formação inicial, acrescentando experiências,

sugestões e visões que se complementam quando todo o grupo pode se

manifestar durante os encontros.

Fazemos, a seguir, considerações sobre os vários elementos que

interagiram ao longo desta etapa de nosso estudo. Segundo Cobb et al (2003)

esses elementos passam a constituir o que eles chamam de “ecologia da

aprendizagem”. Portanto, a “ecologia da aprendizagem” segundo Cobb et al

(2003) é constituída - relativamente ao trabalho que foi desenvolvido no

Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES – dos seguintes elementos:

� Diferentes situações-problema propostas para serem resolvidas;

� Distintas representações utilizadas por nós e pelos sujeitos da pesquisa;

� Registros que permitiram a interpretação e análise dos resultados

� As argumentações elaboradas pelo proponente;

� Os materiais (concretos ou não) que foram objeto das atividades:

� As formas de mediação que buscamos promover entre os sujeitos e o

nosso objeto de estudo;

� As regras de organização do grupo para o desenvolvimento das tarefas

propostas.

12 Ver Apêndice B.

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Em relação ao último elemento indicado acima, as considerações

seguintes são pertinentes para caracterizar como foi o desenrolar dos

encontros de ensino havidos no Observatório da Educação da UNIBAN/

CAPES, em atendimento aos propósitos deste estudo.

Assim, para cada uma ou mais situações-problema propostas em fichas

de atividades e após um tempo razoável para reflexões e o desenvolvimento

das soluções, os professores discutem entre si nos grupos menores e, uma vez

que tenham chegado a soluções próximas uma das outras, ou não, as soluções

são apresentadas - caso seja do interesse de algum dos membros desses

grupos menores - no quadro branco, de modo a poderem ser discutidas com

todo o grupo.

O pesquisador, inicialmente agrupava as soluções pela proximidade das

estratégias e dos procedimentos utilizados e convocava os professores a

refletirem e discutirem sobre o que foi apresentado, exercendo o papel de

mediador e, por vezes o papel de professor/pesquisador/formador.

Essa prática tem o objetivo de identificar o maior número possível de

soluções que foram construídas de maneiras diferentes, considerando que a

exposição/explanação dessas diferentes soluções contribui para o

enriquecimento/crescimento de todos os professores, quando então se

considera e discute as implicações que estejam relacionadas à variedade de

estratégias e procedimentos utilizados nas resoluções e, portanto, as diferentes

possibilidades de solução para uma mesma situação-problema.

1.3.4 O papel do pesquisador na sequência de ensino

Uma das características marcantes e presentes na metodologia Design

Experiments é que ela apresenta um forte componente iterativo no sentido de

que uma determinada atividade constante de uma sequência didática deve ser

desenvolvida e novamente desenvolvida pelos sujeitos da pesquisa tantas

vezes quanto necessária, depois de incorporadas às reflexões obtidas, durante

e após a sua aplicação, de modo a permitir um domínio total das questões

postas nas diferentes etapas, configurando o comprometimento do pesquisador

e dos sujeitos da pesquisa com a proposta em seu todo.

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Essa característica esteve presente ao longo de toda a sequência

didática objeto desta pesquisa, mormente após as análises críticas que foram

efetuadas ao final de cada um dos encontros de ensino, com o propósito de

preparar o encontro seguinte considerando o ocorrido no encontro anterior e

nas perspectivas para o estudo.

Isso requereu atitudes constantes de observação, análise,

argumentação e síntese, tanto do pesquisador quanto dos sujeitos da

pesquisa, exigindo do pesquisador que mantivesse uma postura de atenção

constante, atenta, observadora e disponível em todas as etapas do

desenvolvimento das tarefas.

Era preciso saber ouvir, observar e atuar de modo sistemático em todas

as etapas da pesquisa estando o pesquisador pronto para mediar conflitos e

modificar, quando necessário, os rumos de qualquer que fosse a atividade

anteriormente programada, quantas vezes necessárias fosse, de modo a

atender às situações emergenciais que precisam ser consideradas para aquele

encontro.

No início de cada encontro de ensino, cabia-nos distribuir as fichas de

atividades, explicar a atividade proposta e observar atentamente as interações

de cada grupo menor (seus diálogos, gestos, registros, dúvidas) captadas por

gravação em vídeo e pelas observações e justificativas verbais e registros

feitos no quadro branco, encaminhamento questões para análises e

discussões.

Em todas os momentos do processo desencadeado nesta investigação -

relativamente às duas primeiras partes que compõem a Metodologia Design

Experiments - o alvo de interesse e de observação que permeou o

desenvolvimento das atividades ao longo dos encontros, foram os professores,

sujeitos da pesquisa.

A pesquisa se encaminhou com o propósito de conhecer e compreender

as ações pedagógicas - no tocante às concepções que os sujeitos da pesquisa

têm relativamente à compreensão, conhecimentos, domínio de estratégias e

procedimentos, utilização de alguma representação, ação pedagógica,

habilidades e competências no trato com os problemas de contagem - bem

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como nas análises, seleção de atividades e no desenvolvimento delas quando

se revestem no propósito de vir a atender alunos do Ensino Fundamental, bem

como no que se referem às interpretações, análises e discussões ocorridas ao

longo dos encontros.

Na investigação objeto deste trabalho, em cada um dos encontros e

após serem eles realizados, pudemos refletir sobre nossas intervenções – a

sós ou com a ajuda do orientador - e também em relação às atitudes, dúvidas e

questionamentos dos professores utilizando-se para tal de instrumentos de

captação (sistemas de áudio e vídeo (em alguns encontros), registros

colocados no quadro branco e registros feitos em papel e lápis - algumas vezes

- pelos professores) que registraram os momentos vivenciados nos encontros

de ensino.

Com base nessas reflexões e em nossas concepções foram feitas

modificações em algumas práticas de modo que atendessem aos anseios dos

professores e favorecessem o entendimento de questões que não ficaram

totalmente esclarecidas para os professores durante as discussões havidas,

considerando as atitudes e concepções que foram observadas pelo

pesquisador bem como em relação ao encaminhamento que a sequência

didática estava tomando.

De modo a situar o papel do autor deste trabalho – como pesquisador

nesta fase de intervenção durante o desenvolvimento da sequência de ensino -

salientamos os seguintes aspectos que ocorreram enquanto a proposta de

trabalho foi desenvolvida: em todos os encontros de ensino havia a presença

do pesquisador, do orientador (em alguns encontros) e de, pelo menos, dois

pesquisadores da UNIBAN com o propósito de acompanhar o desenvolvimento

dos trabalhos realizados em cada encontro por meio da observação das ações

do grupo de professores, do pesquisador e/ou do registro de dados

considerados relevantes, inclusive participando das discussões e

encaminhando reflexões, bem como a presença de colegas dos cursos de Pós

Graduação em Educação Matemática da UNIBAN.

Nossa intenção, como pesquisador, foi a de permitir que os professores

fossem responsáveis por suas colocações, pelo levantamento de hipóteses,

discussões, refutações e conclusões, cabendo ao pesquisador mediar os

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conflitos enquanto desempenhava duplamente os papéis de formador e

pesquisador os quais, por vezes, se completavam.

Em alguns momentos o pesquisador ia até o quadro branco e colocava

as questões que o grupo abordava com o intuito de sistematizar as ideias e

questões e permitir organizar o desenrolar das discussões. Em outros, a

intervenção do pesquisador fazia-se necessária para responder alguma dúvida

mais técnica, instigar outra perspectiva de observação, propor a apresentação

de uma solução diferente, pedir esclarecimentos sobre a solução apresentada

ou incentivar as interações.

Em complemento, destacamos que o pesquisador teve que organizar a

apresentação das soluções, no quadro branco ou oralmente, agiu como

mediador e como sistematizador dos resultados obtidos das discussões entre

os professores além de, a cada semana, refletir sobre seu papel na formulação

das situações-problema que deveriam objetivar os propósitos a que se

destinavam, em idas e vindas acerca da apropriação de conceitos, estratégias

e procedimentos.

O pesquisador também tem de estar atento em relação aos seus

conhecimentos e às suas concepções uma vez que nem sempre eles são os

mesmos dos professores sujeitos da pesquisa, pois a matemática referida ao

conhecimento matemático particular individual dos professores, com suas

experiências e seus saberes, é independente da matemática do pesquisador.

A Matemática de cada um deles sofre influência do meio físico e

sociocultural, da formação inicial de cada um, das práticas pedagógicas que

vivenciou, da sua experiência enquanto professor acerca do conteúdo em

questão, além do conhecimento puro da matemática oriundo da experiência

acumulada na academia e fora dela.

É o conhecimento do conteúdo matemático associado à experiência

pedagógica desse conteúdo ao longo da trajetória docente, das experiências

de vida e da docência, dos conhecimentos oriundos de questões curriculares e

do aprofundamento das questões profundas que perpassam a história das

questões conceituais que diferenciam os conhecimentos de um e do outro.

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Fato concreto é que a formação continuada objeto do presente estudo

foi de tal modo realizada que permitiu aos professores que questões

relacionadas com os conhecimentos de conteúdo, pedagógicos de conteúdo e

curriculares de conteúdo, segundo Shulman (1986), fossem por eles

ressignificadas, e novos conhecimentos fossem também apropriados, em

estreita relação com a resolução dos problemas de contagem no nível do

Ensino Fundamental.

Finalizamos o capítulo sintetizando para o leitor o que foi apresentado:

caracterizamos os caminhos percorridos pela pesquisa, o ambiente em que ela

se desenvolveu, a metodologia escolhida e as razões para esta escolha, bem

como os instrumentos de onde os dados foram coletados para as análises nos

Capítulos 4 e 5.

O capítulo seguinte será destinado a conhecer as fundamentações

teóricas utilizadas para empreender a análise dos dados e para a

categorização dos conhecimentos necessários ao ensino.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Estudos e pesquisas que fundamentam esta pesqui sa

Entre educadores matemáticos parece haver consenso no que diz

respeito à importância e à necessidade de realizar, continuamente, pesquisas

em relação à formação continuada de professores.

Tais pesquisas têm como propósitos os de conhecer como se realizam

as mediações - durante a fase de ensino de conceitos matemáticos - que

estariam mais apropriadas à melhoria dos processos de ensino e de

aprendizagem.

Também as pesquisas tem se preocupado em conhecer como são feitas

as escolhas e como utilizar a metodologia mais adequada à apropriação de

conceitos e à exploração de procedimentos de matemática que contribuam

para a melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem na Educação

Básica, dentre outros.

Corroborando com essa tese temos confirmado um crescimento na

quantidade de pesquisas relacionadas com essa área, relatadas por meio de

resultados apresentados em Revistas temáticas (muitas delas especializadas

em formação de professores) e em trabalhos e discussões em Congressos e

Seminários nacionais e internacionais, tais como: ENEM, SIPEM, ANPED,

PME E ICME.

Como temas que têm sido frequentemente tratados nessas publicações,

e são de interesse para pesquisas de pesquisadores da comunidade de

educadores matemáticos nacionais e internacionais, destacamos aqueles que

se referem à posição que tem a matemática no conhecimento profissional do

professor e as características dos programas de educação continuada

destinada a professores que estão na prática docente da sala de aula.

No que se refere à educação continuada de professores na prática

docente, segundo nossas concepções, destacamos dois tipos de pesquisas -

diferentes em seus objetivos precípuos – mas que objetivam a melhoria da

formação de professores, como a seguir:

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- com professores que estão nos anos iniciais do magistério - pesquisas

que têm como objetivos os de compreender como se dão os processos iniciais

de formação na docência e de como ocorrem mudanças durante a preparação

desses docentes ao longo do tempo - e

- pesquisas que dizem respeito à preparação dos docentes relacionadas

à aprendizagem do professor na prática da sala de aula e para a prática –

pesquisas que têm a preocupação de analisar o papel da experiência docente

como determinante nos processos de aprender a ensinar.

Sobre o segundo tipo, pesquisas acerca dos conhecimentos que o

docente se apropria em relação aos saberes da Matemática e os derivados da

sua prática docente relativos à Matemática escolar - as relações existentes e o

desenvolvimento da Matemática - na Educação Básica, no qual esse estudo se

insere.

Portanto, a partir do conhecimento e da incorporação de resultados de

pesquisas seria oportuno investigar quais as maneiras que deveriam ser

seguidas de modo que os professores aprendam mais Matemática. E ainda,

investigar as maneiras pelas quais os professores aprendam mais de como

ensinar de modo mais eficaz a seus alunos e também estudar em profundidade

as maneiras como o aluno aprende Matemática.

Ressalta-se a importância de que, quando é ofertada ao professor a

oportunidade de conhecimento sobre trabalhos pedagógicos diferenciados

baseados em pesquisas realizadas e/ou em andamento, é preciso identificar o

que de fato é aprendido por ele.

Ou seja, é preciso identificar aquilo o que ele próprio aprendeu por si só;

o que foi que aprendeu junto de seus pares; o que aprendeu da leitura de

artigos que referem resultados de pesquisas e o que aprendeu com outros

educadores.

Em função da importância do papel do professor não somente desde

tempos atrás, mas principalmente agora, a temática formação de professores

que ensinam Matemática - linha de pesquisa à qual este trabalho de pesquisa

está vinculado - tem importância vital para o fortalecimento do papel da escola

na formação de crianças e jovens, considerando as diversas solicitações que

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nossa sociedade contemporânea faz ao trabalho docente e a necessidade de

constante atualização quanto às práticas e conhecimentos.

As informações são veiculadas em tempo real e, na escola, um dos

papéis do professor e de seu trabalho docente é o de transformar algumas

dessas informações, muitas das vezes, em conhecimentos e em outras, de

modo a marcar a posição do professor a respeito do que considera adequado

fazê-lo.

Portanto, cabem ações concretas e rápidas de maneira a não deixar

passar as oportunidades de a escola se posicionar a esse respeito e, para tal, é

imperioso que o professor esteja preparado para lidar com essas situações.

Trazem, também, reflexos imediatos das necessidades que a sociedade

tem de ver discutidas e encaminhadas essas diferentes questões que cabem à

escola fazê-las desde as primeiras discussões, posicionando-se a respeito.

Assim, é preciso que o professor esteja preparado para dar conta de um

conjunto de atividades inerentes à sua competência profissional e não

unicamente àquelas relacionadas aos conhecimentos de conteúdos. Esses,

evidentemente, merecem destaque para que o professor possa dar conta de

preparar adequadamente seus alunos.

Segundo Sztajn (2002, p. 17): “Um professor precisa ter conhecimentos

que se estendam para além do domínio do conteúdo a ser ensinado (embora

não possa dele prescindir)”.

Por conta dessas considerações, elegemos como foco principal dessa

pesquisa a formação continuada de professores que ensinam matemática e

particularmente a formação associada a dar conta de trabalhar com o raciocínio

combinatório em problemas de contagem no Ensino Fundamental.

Propomo-nos a efetuar análises acerca das percepções que um grupo

de professores que atuam no âmbito da Secretaria Estadual de Educação de

São Paulo têm em relação aos processos de ensino e de aprendizagem dos

problemas de contagem em função da recente reforma curricular implementada

a partir de 2008.

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De maneira a fundamentar as análises que faremos nos Capítulos 4 e 5,

vamos procurar explorar as discussões que têm ocorrido em relação à

formação e ao desenvolvimento profissional dos docentes por meio das

aproximações que possamos efetuar em relação aos conceitos presentes em

pesquisas realizadas e relacionadas à temática.

Como dissemos antes, a formação continuada docente é tema para ser

discutido e pesquisado com frequência uma vez que a educação está no foco

das mudanças estruturais de nossa sociedade e a escola reflete em parte os

anseios de mudanças pelas quais a sociedade conclama, tendo o professor

como elemento catalisador dessas mudanças.

Desde a década de 80 as formulações de propostas relacionadas às

formação inicial e continuada de professores que ensinam Matemática têm-se

pautado em relação aos saberes que os professores precisam desenvolver

para desempenhar de maneira satisfatória sua função docente.

Tais saberes estão relacionados aos conhecimentos de conteúdos, aos

conhecimentos pedagógicos de conteúdos e aos conhecimentos curriculares,

segundo Shulman13 (1986).

Assim, em função das mudanças curriculares e as consequentes

mudanças nos processos de ensino e de aprendizagem que a escola precisa

fazer para atender a esses anseios, e como o foco do nosso estudo é o

Conhecimento Profissional Docente, vamos centralizar nossa fundamentação

teórica nos estudos de Shulman (1986) enquanto promovemos uma formação

continuada com professores de Matemática – sujeitos desta pesquisa - da rede

estadual de Ensino de São Paulo e em estudos de Zeichner (1993, 2003, 2008)

acerca do papel reflexivo do professor na sua práxis docente.

Relativamente às análises que serão encaminhadas acerca dos dados

colhidos nos questionários e na sequência de ensino, utilizamos as

caracterizações propostas por Tall & Vinner (1981) e Fischbein (1994).

13 Lee L. Shulman, Professor de Educação da Universidade de Stanford, pesquisa sobre questões relacionadas à formação de professores.

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Em prosseguimento, apresentam-se os Princípios de Enculturação

Matemática de Bishop (1997) dos quais vamos nos valer para analisar a sua

presença no Currículo de São Paulo (2010).

Finalizando este capítulo, apresentamos resultados de pesquisas

relacionadas com o ensino e a aprendizagem de Problemas de Contagem na

Educação Básica considerando desejáveis os aspectos e resultados

diretamente relacionados com esta investigação.

Além do mais, selecionamos pesquisas no âmbito do raciocínio

combinatório não somente com o intuito de colaborarem para responder à

questão desta pesquisa mas por elas se constituem de interesse para

identificar outras pesquisas que estão relacionadas com o tema na Educação

Básica.

É o que faremos nas seções seguintes deste capítulo.

2.2 Conhecimentos necessários ao professor

Pesquisas de Shulman (1986, 1987) buscam identificar os saberes aos

quais os professores devem se apropriar quando de sua formação inicial e

quando da atuação docente em formação continuada.

Segundo Shulman (1986) apud (Mizukami, 2004, p. 2), “boa parte da

pesquisa sobre os professores e sua formação tem-se desenvolvido, nas

últimas décadas, a partir das pesquisas sobre o ensino e o currículo”.

Shulman (1986) destaca o programa “processo-produto” como sendo um

dos mais destacados programas de investigação sobre o ensino durante a

década de 70, cuja pergunta central de pesquisa consistia: “como os

comportamentos dos professores se relacionavam com as variações nos

desempenhos dos alunos?”.

O programa foi capaz de enfatizar o estabelecimento de relações entre

variáveis dos alunos, dos professores, dos contextos e dos resultados da ação

educativa (MIZUKAMI, 2004, p. 2).

A pesquisa “processo-produto” fundamentou-se na suposição de que o

ensino pode ser dividido em pequenas ações onde os comportamentos do

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professor eram observados, contados, analisados e combinados sem

referência às suas intenções ou ações cognitivas e, portanto, eram omitidas

análises relativas ao contexto em que tal se realizava, os conteúdos do ensino

que estavam sendo trabalhados e as limitações de todo tipo.

Segundo Shulman (1986), de todas as omissões que suas pesquisas

identificavam à época, a que mais preocupava a ele e aos seus colaboradores

como sendo a mais complexa foi a questão relativa a não consideração do

pensamento do professor como elemento central ao ensino uma vez que a

pesquisa evidenciou que o comportamento do professor poderia ser

relacionado ao desempenho do aluno.

Além do mais, a pesquisa evidenciou que também a escola poderia

fazer diferença na aprendizagem dos alunos em contrariedade às pesquisas

que até então creditavam à classe social do aluno e as suas relações familiares

como sendo determinantes ao seu desempenho.

A partir dos resultados dessas pesquisas Shulman passa a adotar outro

paradigma de investigação: o interpretativo, que considera desde micro-

análises de interações verbais até a macro-análise de escolas ou comunidades

inteiras, diferentemente do que o era o programa processo-produto - que

centrava suas pesquisas em relação ao desempenho do aluno.

Assim, o paradigma de pesquisa “pensamento do professor” tornou-se

referência dos trabalhos que passaram a ser realizados como uma clara reação

ao paradigma processo-produto (MIZUKAMI, 2004, p.2-3).

Após mudar-se para a Stanford University em 1983, Shulman (1992)

observou que nas pesquisas à época o ensino ainda era considerado como

uma atividade genérica distante daquela relacionada ao que estava sendo

ensinado, por quem, para quem e para qual nível de escolarização.

Além do mais, Shulman (1986) observou que ainda permanecia um

paradigma perdido no estudo do ensino: o conteúdo, o que era ensinado nos

diferentes componentes curriculares, os conteúdos escolares relacionados a

grandes áreas do conhecimento humano.

Shulman (1986) e seus colaboradores alertavam que enquanto a partir

de pesquisas e estudos se podia inferir que os professores têm conhecimento

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de seus alunos, do currículo e do processo de aprendizagem usado para tomar

decisões - com base no pensamento do professor -, ainda “permanece obscuro

o que os professores sabem sobre os conhecimentos de suas áreas

específicas e como eles escolheram representar a matéria durante o ensino”

(Wilson; Shulman; Richert, 1987, p. 108).

Por conta disso, Shulman (1986) já indicava que naquela época - numa

tentativa de simplificar a complexidade do ensino em sala de aula - as

pesquisas sobre ensino ignoraram a existência do conteúdo específico da

disciplina que os professores ensinavam como um relevante aspecto a ser

considerado no dia a dia da sala de aula.

Assim, segundo o autor, as pesquisas não se preocupavam em

investigar:

(...) como o conteúdo específico de uma área de conhecimento era transformado a partir do conhecimento que o professor tinha em conhecimento de ensino. Tampouco perguntaram como formulações particulares do conteúdo se relacionavam com o que os estudantes passaram a conhecer ou a aprender de forma equivocada (SHULMAN, 1986, p. 6).

Portanto, uma vez tendo constatado que se tratava de um componente

de pesquisa até então não explorado no estudo do ensino, Shulman (1992) deu

início a um novo programa de pesquisa: o Projeto “Knowledge Growth in a

Profession”, com o objetivo de recuperar o que denominou de “paradigma

perdido” – o conhecimento do conteúdo –, salientando que o domínio deste é

imprescindível para o ensino de toda e qualquer disciplina.

Segundo Mizukami (2004), “Para o autor, com a definição do “paradigma

perdido” e o desenvolvimento de pesquisas sobre o ‘conhecimento do

professor’ pensou-se chegar a uma visão mais compreensiva do ensino”

(MIZUKAMI, 2004, p. 3).

Segundo Shulman (1986), para ensinar de acordo com os padrões

desejáveis para encaminhar satisfatoriamente os processos de ensino e de

aprendizagem os professores precisam compreender os assuntos

profundamente de forma flexível para que possam ajudar os alunos a criar

mapas cognitivos úteis que referem uma ideia à outra e os equívocos de

ligações entre assuntos.

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Os professores precisam conhecer como as ideias se ligam através de

campos conceituais e à vida cotidiana. Este tipo de entendimento fornece uma

base para o que Shulman (1986) introduziu como o conceito de conhecimento

pedagógico do conteúdo, o qual permite aos professores que construam ideias

acessíveis aos outros campos do conhecimento (Shulman, 1987).

Shulman (1986) introduziu o conceito de conhecimento pedagógico de

conteúdo e provocou uma nova onda de artigos acadêmicos sobre os

conhecimentos dos professores no assunto, e da importância desse

conhecimento para o que ele chama de ensino bem sucedido.

Segundo o quadro teórico de Shulman (1986) os professores, além do

conhecimento pedagógico do conteúdo, precisam dominar mais dois tipos de

conhecimentos, a saber:

(a) Conhecimentos da docência (de conteúdos), também conhecido

como "ainda" conhecimento profundo do próprio sujeito, e

(b) Conhecimento do desenvolvimento curricular: processo pelo qual tais

conhecimentos são aprendidos ao longo de processos formativos e do

exercício profissional (a base de conhecimento para o ensino e o processo de

raciocínio pedagógico).

Segundo Shulman (1987), quando se considera o conhecimento do

conteúdo específico é preciso que os professores tenham conhecimento acerca

de dois tipos de conhecimentos: o das estruturas substantivas e o das

estruturas sintáticas.

O conhecimento das estruturas substantivas é o conhecimento das

formas pelas quais os princípios fundamentais da disciplina estão estruturados,

o que implica saber identificar as noções mais profundas do conteúdo a serem

ensinados (aquelas que estão localizados no seu núcleo).

E ainda, os conceitos fundamentais da disciplina e a importância que

esses conceitos têm para a formação dos alunos, bem como a relação destes

com as demais disciplinas.

Segundo Shulman (1987), “incluem paradigmas explicativos utilizados

pela área”.

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Quanto ao conhecimento das estruturas sintáticas, segundo Shulman

(1987) é preciso que os professores tenham conhecimento da estrutura

sintática da disciplina, ou seja, é preciso que tenham visão da maneira como

ela se situa junto à ciência a qual pertence.

Além do mais é preciso que os professores compreendam e entendam

como as pesquisas se orientam e se realizam – padrões estabelecidos por uma

comunidade disciplinar de modo a aceitar novos conhecimentos introduzidos -

e quais são as tendências atuais nessa área do conhecimento.

Assim a estrutura sintática abrange os conhecimentos a respeito de

maneiras com as quais a disciplina constrói e avalia um novo conhecimento, o

conhecimento acadêmico. Ao professor cabe aprender e compreender esses

conceitos tomando por base os métodos de investigação e os princípios que

regem a área de conhecimento da disciplina.

Shulman (1986) busca em suas pesquisas discutir os conhecimentos

que servem de base para formação e atuação docente e como tal propôs um

domínio especial de conhecimento do professor que chamou de “conhecimento

pedagógico do conteúdo” e que faria uma “ponte” entre o conhecimento do

conteúdo e a prática do ensino.

Segundo ele, "o conhecimento pedagógico do conteúdo” é a categoria

mais provável de distinguir o entendimento do especialista no conteúdo do

pedagogo.

Ele sugeriu que existe um conhecimento de conteúdo exclusivo para o

ensino – o conhecimento específico do profissional.

Shulman (1986) argumentou que “o mero conhecimento do conteúdo é

provável de ser tão inútil pedagogicamente quanto à experiência sem

conteúdo” e prossegue afirmando que “saber um assunto para ensiná-lo requer

mais do que saber os seus fatos e conceitos”.

Desse modo, os professores devem também entender os princípios

organizadores, as estruturas e as regras para estabelecer o que é legítimo a

fazer e dizer em um campo (área) de ensino.

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Segundo Shulman (1986), “o professor não deve entender que alguma

coisa é assim, o professor deve entender mais profundamente porque uma

coisa é assim, em que bases a sua garantia pode ser afirmada, e sob quais

circunstâncias a nossa crença na sua justificativa pode ser enfraquecida ou

negada”. Essa afirmativa, segundo nossa compreensão, difere do fato de o

professor simplesmente conhecer fatos e conceitos e reproduzi-los para seus

alunos. É preciso conhecê-los em profundidade de modo a fazer conexões com

outros.

Os princípios teóricos de Shulman (1986) explicitados acima são

determinantes, segundo nosso entendimento, para o desenvolvimento de

atividades relacionadas ao desenvolvimento profissional de professores. Para

tanto, é preciso que os professores conheçam e se apropriem desses

princípios e os apliquem no dia a dia de suas aulas.

Particularmente, a formação continuada objeto desta pesquisa se

fundamentou nesses princípios, quais sejam: entender cada um dos conceitos

e aplicá-los corretamente, refletir sobre a mobilização de estratégias e

procedimentos, relacionar cada conceito com outros conceitos e indicações

curriculares, etc para conceber, reflexionar e desenvolver as atividades

propostas, com o fim de proporcionar condições para que os professores

desenvolvam sua práxis docente da maneira mais consistente e de qualidade

possível.

Segundo Shulman (1987), para o desenvolvimento da prática docente o

professor precisa reunir conhecimentos que tomam por base a reunião de

conhecimentos: de conteúdo, curriculares e pedagógicos de conteúdo, de

entendimentos que deve ter a respeito deles e das habilidades que ele pode e

deve mobilizar na sua prática, como se pode constatar a partir da citação a

seguir:

Em ensino, a base de conhecimento é o corpo de entendimentos, conhecimentos, habilidades e disposições que um professor precisa para atuar efetivamente numa dada situação de ensino (SHULMAN, 1987, p. 106).

Além do mais, é recomendável à prática docente que o professor realize

reflexões constantes sobre o trabalho que está desenvolvendo à luz de

estudos, leituras e conhecimentos acerca de resultados de pesquisas.

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Nesse sentido o papel reflexivo do professor deve estar presente em

formações continuadas de professores, como se pode identificar nas

considerações de Zeichner (1993, 2003), presentes na seção seguinte.

2.3 Formação do professor reflexivo

Pesquisas recentes tem identificado o trabalho colaborativo existente

entre professores da Educação Básica e de Universidades; professores da

Educação Básica entre si e também entre professores e alunos, como uma

possibilidade atraente para a busca da formação e o desenvolvimento

profissional dos professores.

Entre essas pesquisas nos valemos das Indicações do Relatório do GT7

(Grupo de trabalho sobre Formação de Professores) do III SIPEM (Simpósio

Internacional de Pesquisa em Educação Matemática) que salientam para a

importância de encaminhar pesquisas relativamente aos processos de

Educação Continuada de Professores de Matemática.

Para o encaminhamento dessas pesquisas, a metodologia de

constituição de grupos de trabalho colaborativo tem sido foco de diversas

pesquisas no cenário nacional, tais como as de Lopes (2002), Ferreira (2003) e

Lobo da Costa (2004).

No seio desses grupos colaborativos, inserem-se as reflexões dos

professores em relação à suas práticas docentes e aos conhecimentos

matemáticos para o desenvolvimento destas.

Essas pesquisas encontram em Schön (1983) uma referência a respeito

da importância do trabalho reflexivo durante as formações inicial e continuada

de professores, como as ocorridas nos Estados Unidos na década de 80, como

se pode constatar em:

Quando Donald Schön publicou o livro O profissional reflexivo, em 1983 (Schön, 1983), isso marcou a re-emergência da prática reflexiva como um tema importante da formação docente norte-americana. A ideia da prática reflexiva já existia há muito tempo, tanto na filosofia ocidental como na não-ocidental, incluindo a grande influência que o livro de John Dewey “Como pensamos” (Dewey, 1933), exerceu na educação nos EUA, no início dos anos de 1900 (ZEICHNER, 2008, p. 538).

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Segundo Zeichner (2008), a partir de então várias obras influenciaram as

pesquisas relacionadas com o trabalho reflexivo dos professores, como se

pode verificar em:

Após a publicação do livro do Schön e da grande quantidade de literatura sobre o tema que ele estimulou a produzir no planeta inteiro, e do trabalho de outros educadores no mundo, incluindo o de Paulo Freire, no Brasil (Freire, 1973), e o de Jurgen Habermas, na Europa (Habermas, 1971), formadores de educadores de diferentes países começaram a discutir como eles preparavam seus estudantes para serem professores reflexivos. O ensino reflexivo tornou-se rapidamente um slogan adotado por formadores de educadores das mais diferentes perspectivas políticas e ideológicas para justificar o que faziam em seus programas e, depois de certo tempo, ele começou a perder qualquer significado específico (ZEICHNER, 2008, p. 538).

Assim, a partir dos anos 80 a denominação de “professor reflexivo”

propagou-se na esfera educacional sob a influência da teoria de Donald Schön

(1983) e os trabalhos de Zeichner (1993, 2003, 2008).

Segundo Rodrigues (2010):

[...] se baseou na valorização da prática profissional como momento de construção de conhecimento (DEWEY, 1952) e no reconhecimento do conhecimento tácito14 (LURIA, 1988, e POLANYI, 1966), presente na solução que os profissionais encontram na ação. Schön propõe uma formação profissional diferente, que possibilite uma prática reflexiva, mediante a qual esses profissionais poderão extrapolar os conhecimentos elaborados pela ciência – por sua complexidade – e fornecer respostas às situações de incerteza e indefinição, que emergem no dia a dia, em que as respostas técnicas podem não ser suficientes (RODRIGUES, 2010, p. 121).

Conforme Schön (1983), a prática profissional reflexiva de um professor

é constituída de momentos durante os quais ele constrói seus conhecimentos,

ou seja, ela pressupõe a necessidade de se reconhecer, do conhecimento na

ação e do conhecimento na experiência como componentes dessa prática

reflexiva que considera, por sua vez, três dimensões ao longo das reflexões:

reflexão na ação, reflexão sobre a ação e reflexão sobre a reflexão na ação.

Segundo Zeichner (2008):

O movimento da prática reflexiva envolve, à primeira vista, o reconhecimento de que os professores devem exercer, juntamente com outras pessoas, um papel ativo na formulação dos propósitos e

14 “Conhecimento tácito é aquele que o indivíduo adquiriu ao longo da vida, que está na

cabeça das pessoas. É difícil de ser formalizado ou explicitado a outra pessoa pois é subjetivo e inerente às habilidades de uma pessoa, como ‘know-how’. A palavra tácito vem do latim tacitus, que significa ‘não expresso por palavras’. É o conhecimento na ação” (apontamentos de aula).

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finalidades de seu trabalho e de que devem assumir funções de liderança nas reformas escolares (ZEICHNER, 2008, p.539).

Assim, em relação a Schön (1983), com respeito à prática reflexiva dos

professores, Zeichner (1993) distingue o papel do professor refletivo como

aquele que se posiciona segundo uma perspectiva crítica, aquele que assume

um papel mais “emancipatório” frente às questões, em relação àquele

professor reflexivo defendido por Schön (1983).

Por conta disso, assim se manifesta Zeichner (2008) a esse respeito:

A “reflexão” também significa que a produção de conhecimentos novos sobre ensino não é papel exclusivo das universidades e o reconhecimento de que os professores também têm teorias que podem contribuir para o desenvolvimento para um conhecimento de base comum sobre boas práticas de ensino (Cochran-Smith & Lytle, 1993). O conceito do professor como um profissional reflexivo parece reconhecer a expertise que existe nas práticas de bons professores, o que Schön denominou de “conhecimento-na-ação”. Da perspectiva do professor, isso significa que o processo de compreensão e de melhoria de seu próprio ensino deve começar da reflexão sobre sua própria experiência e que o tipo de saber advindo unicamente da experiência de outras pessoas é insuficiente (ZEICHNER, 2008, p.539).

Por conta do papel reflexivo que o professor têm permanentemente tido

a oportunidade de experenciar ao longo de sua prática profissional, seja em

relação às ações pedagógicas ou as de conteúdo ou ainda aquelas

referenciadas às questões curriculares (estas na maioria das vezes junto de

seus pares), sua participação na comunidade escolar, à luz do projeto político-

pedagógico, é decisiva.

Assim, o professor reflexivo poderá ser um agente ativo nos processos

de mudanças e, como tal, a escola e seus membros poderão estar em

consonância direta no sentido de valorizar a prática profissional do professor

resgatando valores imprescindíveis para a motivação pessoal dele.

Segundo nosso entendimento, a participação dos professores nas

discussões e análises de reformas curriculares durante a fase de concepção

das propostas e também depois do currículo proposto, é de suma importância

para que esse novo currículo venha de fato a ser considerado como um

currículo em ação sobre o qual as análises e reflexões que o professor venha

se debruçar em fazê-las serão significativas para torná-lo efetivo. Parece-nos

que o caminhar do novo Currículo de São Paulo (2010) deu-se segundo essa

ótica.

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Em relação à formação de professores, Zeichner (2008), amparado nas

ideias de Feiman-Nemser (2001), também se refere à importância do papel de

professor reflexivo que deve iniciar-se nos cursos de formação inicial ou

continuada, como identificado em:

A “reflexão” como um slogan de reforma educacional também significa que, independentemente do que fazemos em nossos programas de formação de professores, e do quão bem o fazemos, nós podemos apenas, e quando muito, preparar professores para se iniciarem na profissão. Quando adotamos o conceito de ensino reflexivo, existe em geral um compromisso dos formadores de educadores em ajudar futuros professores a internalizarem, durante sua preparação inicial, as disposições e as habilidades para aprender a partir de suas experiências e tornarem-se melhores naquilo que fazem ao longo de suas carreiras docentes (Feiman-Nemser, 2001) (ZEICHNER, 2008, p. 539).

Não se pode deixar de considerar que, de um modo geral, existem

enormes discrepâncias e incoerências entre a “retórica da educação

democrática e centrada no aluno”, a qual norteia os sistemas educacionais

contemporâneos e a maneira pela qual a formação de professores é

conduzida, desarticuladas que estão na maioria das vezes (ZEICHNER, 2003,

p. 40).

Segundo nosso entendimento, os currículos dos cursos de formação de

professores estão distantes do que os currículos da Educação Básica nos

estados preconizam e, poucas são as vezes em que pesquisadores das

Universidades têm oportunidade de participar da elaboração destes, papel que

cabe às formações continuadas com esta indicarem aos professores o que e

como os legisladores dos currículos indicam deva ser feito para a prática

docente.

Assim, muito embora tenhamos conhecimento de outras pesquisas que

defendem ideias semelhantes às de Schön (1983, 1987), nos propusemos

neste trabalho a alinharmos nossas concepções às de Zeichner (1993, 2003),

que defende uma prática docente crítico-reflexiva e amplia - por vezes também

critica - as ideias de Schön (1983, 1987).

Ou seja, a prática que considera que o professor não pode ser

considerado somente um “técnico eficiente” que implementará ou obedecerá

orientações concebidas por outros, mas que defenderá o que for preciso

defender segundo seus conceitos reflexivos, suas crenças e convicções, e não

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se furtará a analisar criticamente aquilo que não considera coerente com o que

a sua prática profissional recomenda.

Para esse autor, o papel do professor deve ser ampliado e não reduzir-

se à sua participação no processo educacional enquanto um docente que se

limita àquelas práticas ditas como “estando centralizado no aluno” unicamente,

mas em relação à abrangência do saber sob diferentes olhares.

Segundo Zeichner (1993, 2003) isso causa enorme resistência às

mudanças pelo pouco e não significativo papel destinado ao professor,

provocando assim possíveis insubordinações por parte daqueles que, de fato e

de direito, dão sentido à existência de um currículo proposto, transformando-o

em um currículo em ação.

Assim, enfatizamos aqui a necessidade de valorizar e tornar conhecidas

pesquisas que dizem respeito à valorização da prática docente e as

contribuições que estas práticas representam quando se estiver desenvolvendo

projetos para a formação de professores, seja inicial e/ou continuada.

O conhecimento de pesquisas que assegurem o conhecimento desses

professores acerca dos currículos propostos, suas análises, críticas e

documentos que se sucedem à sua implementação, no sentido de que esses

conhecimentos possam contribuir com análises mais enriquecedoras e

significativas que contribuam para o sucesso das mudanças propostas no

âmbito do currículo se elas de fato o forem.

Baseando-nos nas concepções de Shulman (1986), podemos intuir que

para ser um bom professor é preciso vibrar com a sua matéria, conhecer muito

bem o que vai ensinar e ter um bom relacionamento com os alunos para

entender seus problemas, dúvidas, deficiências, ansiedades e dar a esses

alunos a oportunidade de serem protagonistas na construção de seus próprios

conhecimentos. Mas, tal qual Zeichner (1993) sugere, reflexões pessoais e

coletivas são sementes para que essas questões brotem e se tornem

realidade.

É preciso propiciar condições para que os alunos descubram e se

apropriem dos conhecimentos que o professor ensina em sala de aula e, dessa

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forma, tornar possível que os alunos se tornem partícipes de sua própria

formação, com a mediação do professor à luz de suas reflexões pessoais.

Portanto, conjecturamos que para sensibilizar e dar condições ao

professor a fim de que ele cumpra com desenvoltura sua missão docente, o

melhor a fazer é praticar com ele a arte de resolver problemas - de raciocínio

combinatório ou não -, um dos propósitos deste estudo.

Por conta dessas considerações neste trabalho realçamos o importante

papel do professor como elemento imprescindível no processo que pode

desencadear mudanças necessárias à melhoria nos processos de ensino e de

aprendizagem dos problemas de contagem, pricipalmente no Ensino

Fundamental.

Entendemos que ao professor cabe o papel de propor, mediar, controlar

e incentivar a aprendizagem de seus alunos através da resolução de

problemas.

O sucesso da aprendizagem dos alunos depende fortemente das

atitudes que o professor toma pois ele é o responsável pela escolha dos

problemas em relação ao nível de dificuldades que eles apresentam e pelas

adaptações de enunciados que julgar conveniente fazer.

O mesmo pode-se dizer que ocorre em relação à escolha ou à

elaboração de atividades selecionadas e colocadas à disposição dos alunos.

Esses foram alguns dos pressupostos que o professor autor deste

trabalho - agora na postura de pesquisador e de mediador em um processo de

formação continuada de professores que ensinam Matemática - partilhou com o

grupo de professores ao longo dos encontros havidos no Observatório da

Educação da UNIBAN/CAPES.

2.4 Componentes básicos da Matemática como atividad e humana

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Para a elaboração e a análise das questões que compõem dois15 dos

três questionários propostos na primeira fase deste estudo apoiamo-nos em

Tall & Vinner (1981).

Esses autores definem imagem conceitual como estrutura cognitiva total

que é construída na mente de uma pessoa a respeito de determinado conceito

matemático abrangendo todas as ideias, imagens mentais, impressões,

representações visuais e descrições verbais relativas a propriedades e

processos que envolvem aquele determinado conceito.

Segundo Tall e Vinner (1981), como resultado e por meio de experiência

de todos os tipos que uma pessoa se vê envolvida ao longo do tempo a

imagem de um conceito vai se constituindo e se transformando continuamente

quando ela passa pelo enfrentamento de novos estímulos (TALL e VINNER,

1981, p.2).

Para a particular experiência formativa objeto deste estudo acerca dos

problemas de contagem no Ensino Fundamental, de início e por meio dos

questionários iniciais, será possível conhecer o que os professores do grupo

sabem a respeito dos conceitos básicos de combinatória e as estratégias e

procedimentos que utilizam para resolver problemas de contagem propostos

em um desses questionários.

Em prosseguimento, na fase de intervenção, faremos um

acompanhamento mais amiúde para a consolidação e a apropriação dos

conceitos e procedimentos que ampliem a imagem conceitual do grupo de

professores, um dos propósitos desta formação, no sentido de que o grupo

reflita sobre a importância de conhecê-los e aplicá-los, de maneira a consolidar

os conhecimentos de conteúdo e pedagógicos de conteúdo para a melhoria

dos processos de ensino e de aprendizagem de seus alunos.

Nesse sentido, a imagem conceitual - segundo os propósitos de Tall e

Vinner (1981) - estará presente em nossa análise a respeito dos dados obtidos

principalmente na fase de intervenção.

15 Conhecimentos de Conteúdo (Q2) e Conhecimentos Pedagógicos (Q3). Ver Apêndices B e

C.

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No particular caso dos conceitos básicos de combinatória que estão

presentes quando da resolução de problemas de contagem, objeto deste

estudo, a imagem conceitual relativa aos conceitos aí presentes - a qual o

grupo de professores poderia vir a explicitar quando das respostas fornecidas

aos questionários - nos auxiliará para compreender os conhecimentos dos

professores no que diz respeito aos conhecimentos de conteúdo, segundo as

perspectivas de Shulman (1986).

Ou seja, a imagem conceitual, relativamente aos conceitos básicos de

combinatória para a Educação Básica do grupo de professores - à época do

primeiro dos encontros de ensino quando responderam aos questionários

diagnósticos - favoreceu a definição do marco inicial deste estudo, embora Tall

e Vinner (1981) não se referissem particularmente em relação a professores,

mas com respeito a uma pessoa, de modo geral.

Vamos nos apoiar também na perspectiva de Fischbein (1994) -

aspectos intuitivo, algorítmico e formal da atividade matemática - para

identificar a presença desses aspectos quando os professores buscaram

estratégias para resolver situações-problema de contagem que foram

propostas durante a sequência de ensino deste estudo.

Para que esses aspectos possam ficar mais bem compreendidos pelo

leitor, em seguida vamos caracterizá-los, um a um.

O componente intuitivo está associado a uma compreensão que uma

pessoa considera como autoevidente, que intuitivamente ela seja capaz de

compreender e quer que os outros também a aceitem, sem que disponha de

argumentos convincentes para provar a sua validade.

Segundo Fischbein (1994), o componente intuitivo, ou simplesmente

compreensão intuitiva, cognição intuitiva ou solução intuitiva, diz respeito a

uma compreensão que uma pessoa considera autoevidente.

Essa compreensão é de tal maneira aceita pela pessoa que ela é capaz

de aceitar uma ideia ou um conhecimento sem sequer questionar de que é

preciso que haja necessidade de encontrar um tipo de justificativa qualquer que

venha a legitimar essa ideia ou conhecimento.

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Assim, intuímos que, uma vez que uma pessoa passe a aceitar um

conceito baseando-se unicamente em sua intuição, tal concepção pode vir a

acarretar entraves a ela relativamente aos processos de aprendizagem de

outros conceitos, considerando não haver justificativa que o legitime e outros

que podem se originar dele.

Por conta disso, e ainda segundo nosso entendimento, imagine se tal

prática vier a constituir-se, por exemplo, como uma constante em algumas

situações de aprendizagem e, em particular, quando se tratar de um conceito

matemático que este passe a ser considerado adequado e aceitável por

alguém sem que ele seja aceito matematicamente, ou seja, não tenha sido

provado como verdadeiro? Tal circunstância pode vir, talvez, a gerar

dificuldades momentâneas ou futuras para a correta percepção, caracterização

e entendimento de outros conceitos.

Identificar elementos característicos do processo intuitivo ao longo do

desenvolvimento de processos de ensino e de aprendizagem não é tarefa

simples. E, uma vez que eles tenham sido identificados, é preciso utilizar

argumentos matemáticos para validá-los - se for o caso - ou então refutá-los no

todo ou satisfeitos em parte, desde que atendam certas condições.

Importante e necessário se faz considerar aqui que o componente

intuitivo é bastante pertinente para o ensino, não é parte integrante dos

processos cognitivos de uma pessoa, mas tem de ser visto como fundamental

para a compreensão que cada pessoa tem a respeito de algo que lhe parece

tão autoevidente.

Quanto ao componente formal, este diz respeito aos conhecimentos que

estão relacionados com as definições, axiomas, teoremas e provas de

resultados que devem ser aprendidos, organizados e aplicados pelos alunos.

Segundo Fischbein (1994) é indispensável que se ofereça aos alunos

um processo educativo que valorize a apropriação desse componente formal

considerando que compreender o que seja rigor e coerência em Matemática

não é uma tarefa que o aluno adquira de maneira espontânea sem prescindir

do professor (FISCHBEIN, 1994, p. 232).

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Quanto a essa questão entendemos que por vezes o professor deve se

portar de tal maneira a ser o espelho para as ações que o aluno empreenda, no

sentido das considerações, justificativas e verdades que apresentar a ele.

A sequência de ensino objeto deste estudo - no Capítulo 5 - apresentou

alguns exemplos nos quais o componente formal esteve presente,

principalmente quando após a leitura do enunciado de uma situação-problema

de contagem é preciso identificar o tipo (ou tipos) de agrupamentos de objetos

envolvidos.

Essa identificação está associada à definição, formal ou não, dos tipos

de agrupamentos que permeiam os problemas de contagem na Educação

Básica: permutações simples, permutações com objetos nem todos distintos,

combinações simples ou permutações circulares e, em seguida, o

estabelecimento de uma ou mais estratégias para encaminhar a busca da

solução ao problema proposto.

Em relação ao componente algorítmico, ele está associado às

habilidades relacionadas com a aplicação de técnicas e procedimentos

padronizados de resolução. Mas, nem por isso, a apropriação dessas

habilidades dispensa uma formação meticulosa requerida para o seu

desenvolvimento.

O grupo de professores fez uso, em diversas ocasiões, de uma ou mais

fórmulas para dar conta da contagem das possibilidades em resposta a uma

dada situação-problema.

Tomando por base os dados apresentados pelos professores na fase de

intervenção, consideramos que o uso de uma fórmula sem o adequado cuidado

quanto à utilização dos dados, presentes ou não no enunciado do problema, é

inócua, de nada vale, até mesmo quando a sua aplicação produz o resultado

correto.

Por outro lado, conhecer a fórmula mais não saber deduzi-la - não

conhecer as razões de ela ter sido assim deduzida - também nada representa

para o ensino da Matemática. É o que chamamos do uso da fórmula pela

fórmula, sem a compreensão de seu uso.

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A compreensão das etapas que levam à dedução de uma fórmula

configura-se em uso do componente formal com respeito às definições e

resultados que validam os passos que são dados para a sua dedução.

Por conta dessas razões, a exemplo do que recomenda Fischbein

(1994), no Capítulo 5 deste trabalho e durante a análise da sequência didática

deduzimos as fórmulas para a contagem dos agrupamentos das permutações

simples, das permutações com objetos nem todos distintos, das combinações

simples e das permutações circulares e mediamos discussões a respeito do

uso delas em situações-problema que foram propostas ao grupo de

professores.

Fischbein (1994), quando se refere aos dois últimos componentes

pontua que conhecer e explorar a íntima relação que há entre o aspecto formal

(o qual tem por propósitos justificar e provar que essas técnicas funcionam) e o

aspecto algorítmico (no que se refere ao funcionamento das técnicas)

constituem-se de condições básicas para o desenvolvimento de um raciocínio

matemático eficiente, não prescindindo do aspecto intuitivo.

No particular caso dos problemas de contagem, conhecer os conceitos

que identificam o tipo de agrupamento de objetos para, em seguida, vir a contar

seus elementos constituintes por meio do uso de uma fórmula ou do raciocínio

combinatório em conjunto com os princípios multiplicativo e aditivo referenda o

desenvolvimento matemático eficiente segundo o qual é possível o

enfrentamento de situações-problema de contagem.

Mais ainda, Fischbein (1994) argumenta que o conhecimento de

componentes formais não garante o necessário para o enfrentamento de

quaisquer problemas.

Por outro lado, continuam os autores, o domínio de técnicas e

procedimentos, isento do conhecimento de argumentos que justificam a

utilização dessas técnicas, pode não ser suficiente para a resolução de

problemas que fogem ao padrão (FISCHBEIN, 1994, p. 232).

No particular caso dos problemas de contagem, saber que a ordem entre

os objetos de uma situação-problema é relevante ou não ou ainda, que a

ordem entre os objetos está presente nos agrupamentos que constituem a

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solução ou então que a ordem entre objetos não deve ser considerada

importante para a situação posta, não garante ao aluno obter a solução correta

à situação.

Nem tampouco qual a fórmula adequada para esse tipo de agrupamento

de objetos garante que, ao utilizá-la, o aluno vai dar conta corretamente da

contagem.

Em sua obra, Fischbein (1994) chama a atenção para a importância da

interação que deve existir entre os componentes intuitivo, formal e algorítmico

como aspectos que se complementam quando da realização de alguma

atividade matemática.

Por outro lado, cabe aqui esclarecer que as situações-problema que

foram objeto dos questionários e da sequência de ensino e as considerações

que serão objeto de nossa análise ao longo de todo o texto são tomadas como

exemplos nas quais se pode destacar a presença dos componentes intuitivo,

algorítmico e formal.

Mas, tal fato não significa que estejamos considerando que esses três

aspectos devam necessariamente ser explorados num mesmo momento

durante os processos de ensino e de aprendizagem dos conteúdos de

Combinatória (problemas de contagem) ou que um deles é mais ou menos

contemplado aqui ou acolá.

Em cada momento e para cada situação, cada professor saberá adequar

os três componentes à situação que está sendo trabalhada em suas aulas e

em relação a seus alunos.

Isso está intimamente relacionado com a maturidade de conhecimentos

que os alunos já têm no momento do ensino desses conteúdos e de acordo

com a fase escolar em que se encontram.

No caso particular do estudo dos problemas de contagem o

conhecimento desses componentes favorece a distribuição dos conteúdos e

dos componentes pedagógicos que as diretrizes curriculares preconizam como

poderá ser observado no Capítulo 5, durante a análise que foi encaminhada

para a sequência didática.

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Em se tratando do Currículo de São Paulo (2010), a sugestão é de

distribuição ao longo dos quatro últimos anos do Ensino Fundamental,

estendendo-se até o Ensino Médio.

2.5 Enculturação Matemática

Nesta seção vamos apresentar fundamentações teóricas relacionadas a

pressupostos presentes na “Enculturação Matemática” que podem vir a ser

considerados quando da concepção e da elaboração de currículos da

Educação Básica.

Segundo Bishop (1997), nos currículos é possível compreender

questões neles consideradas bem como na elaboração de atividades para o

ensino e a aprendizagem.

Esses pressupostos revestem-se de importância para esta pesquisa na

verificação da presença ou não deles em partes do Currículo de São Paulo

(2010) - o qual serve para apoiar práticas docentes dos professores de

matemática sujeitos desta pesquisa – que favoreçam a transmissão de valores

matemáticos, independente da cultura em que estejam inseridos.

Bishop (1997) defende uma abordagem educativa mais ampla que

aquela de apenas ensinar a Matemática levando em conta que o conhecimento

matemático não está isolado do meio cultural nem dos interesses dos

indivíduos, como se pode constatar em:

[...] educar pessoas matematicamente é mais do que apenas ensinar matemática. É mais difícil e com problemas mais desafiadores do que o simples ensino da matemática. Requer um conhecimento fundamental dos valores subjacentes à matemática, bem como o reconhecimento sobre a dificuldade de se educar crianças sobre estes valores. Não é suficiente simplesmente ensinar a matemática, mas é preciso também educar os alunos sobre a matemática, através da matemática e com a matemática (BISHOP, 1997, p. 3 – tradução nossa16) (grifo nosso).

16 Texto original: “Educating people mathematically consists of much more than Just teaching them some mathematics. It is much more difficult to do, and the problems and issues are much more challenging. It requires a fundamental awareness on the values witch underlie mathematics and a recognition of the complexity of educating children about those values. It is not enough merely to teach them mathematics, we need also to educate them about mathematics, to educate them trough mathematics, and to educate them with mathematics”.

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Nota-se que, segundo nosso entendimento, o último parágrafo da

citação de Bishop, acima, guarda estreita relação com os conhecimentos dos

professores, segundo Shulman (1986).

Para este processo da Educação Matemática que leva em conta o

enfoque cultural, Bishop (1997) define a expressão “enculturação matemática”.

Ou seja, ela é mais que o ensino conteudista da Matemática que

considera a Matemática formal em si com suas definições, teoremas,

definições, etc. - a Matemática clássica – para, além disso.

Segundo ele, a Matemática deve vir a promover o pensar, o agir e o

sentir, próprio das atividades matemáticas desenvolvidas pelas diferentes

culturas existentes na humanidade ao longo de séculos de história que devem

ser promovidas com um imprescindível ferramental dessa sociedade pós-

moderna.

Assim, segundo Bishop (1997), quando é permissível que haja a

incorporação de valores e de atitudes associadas ao aprofundamento do saber

matemático que se dá entre professores e alunos e entre alunos entre si, todo

o processo assim ocorrido pode ser entendido como “enculturação”.

Segundo Bishop (1997), no processo da “enculturação” não há um

ambiente culturalmente formado, mas o desejo de que ambas as partes

possam ter liberdade de apresentar-se como são com seus valores, com sua

cultura e assim um ambiente cultural venha a ser formado. Sendo assim não se

trata de modificar uma cultura por meio do contato com a outra, de uma cultura

sobrepor-se à outra, dominando-a.

A esse processo, Bishop (2002) conceitua como “aculturação” tendo em

conta o ponto de vista antropológico desse processo defendido por R. Wolcott

Sperry (1974). Portanto, na “aculturação” já existe um ambiente cultural que irá

se sobrepuser mediante a imposição da cultura e dos valores.

Como tal, alguns autores defendem que isso já ocorre nos dias atuais

quando referidos às recomendações prescritas em orientações curriculares

centralizadoras limitando, por vezes, a possibilidade de o professor exercer um

papel mais crítico e mais emancipatório em relação à essas prescrições,

conforme defendido por Zeichner (1993).

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Por conta disso, constata-se - essa é uma posição pessoal do autor

deste trabalho - o quão é difícil, e sempre o foi, de libertar-nos da “aculturação”,

ou seja, do “etnocentrismo”, em diferentes e diversos aspectos, mesmo

considerando que nossa sociedade contemporânea tem obtido muitos avanços

em diversas questões.

Apesar de a escola ser um dos primeiros ambientes para os primeiros

contatos com a cultura, não há nela unanimidade cultural e, por conta disso,

conflitos culturais são comuns de ocorrerem promovendo assim processos de

“aculturação” (Bishop, 2002).

A escola é o ambiente dos “conflitos culturais” e longe de isto ser

negativo permite desenvolver conceitos tais como o respeito à diversidade sob

vários aspectos.

Por conta disso, Bishop (2002) sugere que ações de “enculturação” –

aqueles nos quais não se impõe valores - e de “aculturação” – aqueles em que

há a possibilidade de conflitos culturais - estejam presentes na Educação

Matemática e que no caso da aculturação há, a priori, o pressuposto da

existência de conflito cultural presente durante os processos de ensino e de

aprendizagem uma vez que, por exemplo, a experiência docente do professor

reflete na sua prática em sala de aula.

Podemos sintetizar essas concepções salientando que por vezes

durante processos de “enculturação” estão contemplados processos de

“aculturação”, onde os “conflitos” precisam e devem ser debatidos e resolvidos

de maneira a contribuírem para a conciliação de aspectos e pontos de vista

culturalmente divergentes.

2.5.1 Dimensões Cultural e Social do Conhecimento Matemático

Na abordagem do conhecimento matemático, necessário se faz na

sociedade pós-moderna delinear uma perspectiva cultural sobre o modo como

o professor aborda os saberes matemáticos no momento em que os

desenvolve com seus alunos em sala de aula e como eles estão presentes nas

propostas curriculares.

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Segundo Geertz (2008), conceitos, ideias e ações sob as quais uma

sociedade caminha e onde seus membros interagem e evoluem são

apresentados sob a forma de significados e representações, reflexo da cultura.

Considerando o saber matemático como uma expressão cultural, ele

também traz consigo significados (não somente aqueles que são derivados de

suas teorias, de suas linguagens, de seus conceitos) e representações próprias

(simbologias, tabelas).

Segundo Bishop (1997), em relação ao saber matemático trata-se de

uma entidade “pancultural” (seus significados e valores estão presentes em

diferentes culturas).

Levando em conta as considerações apresentadas por Bishop (1997),

podemos pressupor que todos os grupos sociais acabam por desenvolver

“atividades de saber matemático” atribuindo-lhes tanto significado quanto

incorporando maneiras próprias de desenvolvê-las levando em conta o

reconhecimento dos valores associados a como se dá isso.

Portanto, ainda com base em Bishop (1997), a dimensão cultural do

saber matemático está associada à contribuição de atividades características

deste saber e aos valores característicos associados a este saber.

Pensando assim, a dimensão cultural do saber matemático contribui

para o desenvolvimento da sociedade na medida em que as ações, decisões e

padrões de conduta de determinado grupo - característicos da dimensão social

bem como os modos de pensar e de agir - são por ela suportadas e aprovadas

segundo valores que caracterizam a dimensão cultural.

Tomando por base a dimensão cultural associada ao saber matemático,

às “atividades do saber matemático”, como dito antes, e segundo as

concepções de Bishop (1997) atribuem-se significados e valores ligados a esse

saber que podem ser percebidos por meio dessas atividades segundo as quais

os processos, projetos e currículos concernentes à Educação Matemática

poderiam deles se constituir.

Salientamos, desde já, que essas atividades são consideradas na

sociedade contemporânea - como dito antes - e as consideramos importante

para aqueles que nela habitam, embora saibamos que não o são para todos os

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habitantes da terra. Portanto, não é o caso de estarmos considerando os

saberes matemáticos enquanto saberes que são universais.

Em algumas civilizações, por exemplo, como em algumas tribos, contar

1, 2 e “muitos” atende às necessidades desses indivíduos, enquanto em nossa

sociedade contemporânea lidar com números grandes é algo bastante natural

de ocorrer e, por essa razão será preciso saber lidar com essas necessidades.

Segundo Caraça (1984):

A ideia de número natural não é um produto puro do pensamento, independentemente da experiência; os homens não adquiriram primeiro os números naturais para depois contarem; pelo contrário, os números naturais foram-se formando lentamente pela prática diária de contagens. A imagem do homem, criando duma maneira completa a ideia de número, para depois aplicar à prática da contagem, é cômoda mais falsa. Esta afirmação é comprovada pelo que se passa ainda hoje em alguns povos. Há tribos da África Central que não conhecem os números além de 5 ou 6 (17); há outras que vão até 10.000. Ora, facto essencial – o maior ou menor conhecimento dos números está ligado com as condições da vida econômica desses povos; quanto mais intensa é a vida de relação, quanto mais frequentes e activas são as trocas comerciais dentro e fora da tribo, maior é o conhecimento dos números (CARAÇA, 1984, p. 4-5).

Segundo Bishop (1997), as atividades são:

Atividades de contagem (os sistemas de contagem variam de cultura

para cultura, aparecem em grande diversidade e remontam a civilizações

antigas, embora ainda presentes em poucas delas com as características que

citamos acima); Atividades da medição (também estão associadas à ideia de

número para a determinação das quantidades a serem medidas, mas em

conjunto com as unidades de medida); Atividades de localização (essas

atividades levam em conta a utilização de símbolos e de sistemas de

representações permitindo leituras em sistemas de coordenadas associadas às

necessidades relacionadas ao deslocamento e à localização através de mapas

cartográficos e da topografia, precisando, assim, dos números, contagem e

medição. Como exemplo atual, o uso de “GPS”); Atividades de desenho

(estas atividades estão relacionadas à estrutura ou forma do desenho e às

propriedades neles presentes); Atividades de jogos e brincadeiras (estão

fortemente relacionadas com a apropriação e respeito a regras e

procedimentos que podem ou não serem seguidas as quais estimulam o 17 Estão, assim, próximas das crianças nos primeiros anos de vida; para elas tudo quanto

passe além de 3 é – muitos.

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pensamento hipotético e distante da realidade, permitindo que ações de

abstração, reflexão, levantamento de hipóteses e tomadas de decisões estejam

presentes. Segundo o texto original de Bishop (1997) as atividades referem-se

ao termo “playing” o que pressupõe também atividades como: passatempos,

danças e outros de entretenimento); Atividades de explicação (associadas a

atividades que começam por pensamentos abstratos e pela cognição, que

desencadeiam em ações de argumentação, demonstração e prova de

resultados baseados em conceitos apropriados e a serem conceituados para o

uso da matemática de maneira correta e presentes nos livros didáticos).

Nestas atividades a linguagem ocupa papel de destaque de modo a

conectar ideias e a associar argumentos, sobre diferentes formas e enfoques,

além de permitir a apresentação de maneira lógica e com argumentos

consistentes que possam ter sido utilizados nas atividades anteriores.

Ela tem apoio na lógica clássica e no uso da argumentação como

ferramenta poderosa para apresentar ideias podendo ser utilizada em todas as

atividades anteriores, o que vem a revelar a conexão existente entre todas

elas.

Todas as seis atividades acima acabam por ser identificadas tendo suas

concepções presentes em diversas culturas. Elas acabam por contribuir para

que se tenham definidos padrões de conduta que, por sua vez, vêm refletir os

valores associados ao saber matemático dentro de sua dimensão cultural.

Assim é que, entendemos, os projetos educacionais relacionados com a

Educação Matemática - no tocante à formação de indivíduos para qualquer

nível e clientela - possam vir a se consubstanciar sobre as seis atividades

anteriores, considerando-se que a dimensão social sob a qual estes projetos

tenham sido orientados está apoiada em valores culturais e portanto têm em si

valores básicos de “enculturação”.

2.5.2 Práticas docentes e as mudanças culturais

Tanto Hargreaves (1994) quanto Imbernón (2006) abordam a

necessidade de haver mudanças culturais nas práticas docentes e não em

relação à cultura matemática como área do conhecimento. Hargreaves (1994)

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discute questões relacionadas à colaboração e a processos de colaboração

que devem ser incorporados às escolas.

Também estes autores discutem aspectos culturais relacionados à

cultura profissional do professor nos processo de formação de professores

relacionados aos valores e crenças nas quais se baseiam os professores

segundo a atividade docente que desempenham, independente da disciplina

que lecionam.

2.5.3 O Saber Matemático como componente cultural

Segundo Bishop (1997), o saber matemático faz parte da cultura e,

portanto ele deve ser transmitido em toda a sua totalidade para ser perpetuado

pelas novas gerações trazendo consigo valores específicos inerentes à cultura

matemática.

Segundo o autor esses valores são: racionalismo (está associado ao

uso da lógica clássica segundo a qual as verdades são confirmadas através do

método dedutivo e de argumentações consistentes); objetivismo (está ligado

à ausência da subjetividade no que se refere à definição e propriedades

relacionadas a um dado objeto real ou empírico e, portanto, encontra no saber

matemático uma das maneiras de se expressar como, por exemplo, através da

formalização de conceitos, demonstração de resultados, descrição de um

conjunto suficiente de axiomas ou de um algoritmo); controle (enquanto se

busca o conhecimento matemático surgem as ideias – via objetivismo – e por

meio delas buscam-se explicações e preveem-se comportamentos e para tal é

preciso monitorar e supervisionar); progresso (este valor é caracterizado,

segundo Bishop (1997) pelo sentimento de que é possível progredir, ir além do

que já é conhecido considerando os valores de controle e de segurança como

já obtidos. Por essa razão, Bishop chama o par de valores controle e progresso

de componente sentimental dos valores do saber matemático); transparência

(considerando que os saberes da matemática se utilizam de propriedades e

regras que são oriundas de explicações e argumentos que não são impostos. E

também que a partir de definições, teoremas e demonstrações qualquer um

pode examinar e validar seus resultados considerando que suas verdades

estão acima de quaisquer pressupostos bem como que a matemática também

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está acessível a todos que queiram dela apropriar-se, o valor “transparência”

está perfeitamente associado à Matemática) e mistério (o valor “mistério” está

relacionado com a maneira com a qual grande parte das pessoas percebe a

matemática comparando-a a um computador (uma caixa-preta) segundo o qual

muito embora as pessoas interajam com ele através de suas interfaces seu

funcionamento tem algo de misterioso e, portanto, acessível a poucos. Desse

modo, o valor mistério é antagônico ao valor transparência, visto anteriormente

que se revela acessível a todos), sobre os quais este conhecimento construiu-

se e sobre os quais faremos breves considerações a seguir.

Conforme as concepções de Bishop (1997), na medida em que se façam

reflexões a respeito da importância dos conhecimentos matemáticos que

estejam sendo desenvolvidos em sala de aula, como eles foram construídos ao

longo dos séculos e para o que eles servem àquela criança ou jovem, naquele

momento de sua vida e futuramente quando exercer sua atividade profissional,

independente de utilizar-se ou não deles de maneira direta e objetiva é que os

valores do saber matemático são então percebidos aí.

Segundo o autor, através destas reflexões ganham importância os

conhecimentos gerados sobre o conhecimento matemático

(metaconhecimento) e não os conhecimentos em si.

Bishop (1997) considera que a partir das reflexões desenvolvem-se os

valores que - de modo implícito ou explícito - a cultura matemática acredita e se

sustenta e sobre os quais essa cultura de algum modo dá significado à

terminologia matemática.

Durante o desenvolvimento de atividades em que o saber matemático se

faz presente e nos processos que desencadeiam conceber, conhecer,

estruturar e desenvolver os saberes matemáticos é possível a percepção e

distinção de padrões sistemáticos, de pressupostos e de construção de

conceitos e de diretrizes (metaconhecimento) segundo os quais são gerados

valores.

Segundo Bishop (1997), os valores gerados a partir do saber

matemático são construídos (ou apropriados) de maneira implícita,

inconsciente e não críticos, muito embora as reflexões sobre os processos de

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construção do conhecimento (metaconhecimento) possa ser um processo

consciente.

2.5.4 Os valores matemáticos estão sendo transmitidos de modo equilibrado?

Como visto anteriormente, Bishop (1997) assume que todas as culturas

desenvolvem atividades matemáticas (fenômeno pancultural) e que o saber

matemático é resultante do desenvolvimento intracultural e do relacionamento

intercultural.

Assim, consoante as proposições de Bishop (1997) não nos parece

haver outra maneira para transmitir valores matemáticos de dimensão cultural e

de dimensão social que não seja aquela associada às atividades matemáticas

propostas aos alunos considerando que tais valores requerem modelos,

segundo os quais as atividades matemáticas podem proporcionar condições

para essa veiculação.

Há aqui que se chamar a atenção para o fato de que ao afirmar ser a

única maneira de transmitir os valores matemáticos de dimensões cultural e

social via escola-professor, não se está colocando em um patamar de destaque

o saber escolar em detrimento aos saberes da família, da vida em sociedade,

etc.

O que se deseja enfatizar é que os valores matemáticos têm de ser

destacados em relação àqueles do senso comum, ao menos que nos parece e

a escola é o espaço para tal.

Segundo Bishop (1997), nos dias de hoje parece haver um desequilíbrio

entre a apresentação desses valores e a vivência destes, principalmente em

razão das tendências propostas - neste último século - nos currículos e no

modo pelo qual os professores encaminham suas aulas de Matemática

(deixando de lado alguns desses valores).

Segundo o autor isso acarreta descaracterizar a cultura do saber

matemático e o distanciamento deste das ideias e princípios que nortearam a

sua construção.

Considerando como fato a necessidade de erradicação do analfabetismo

no mundo ou a de preparar minimamente pessoas para o mercado de trabalho

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em razão das demandas sociais de nossa sociedade, Bishop (1997) considera

que o ensino de Matemática tornou-se orientado tecnicamente e, como tal, os

professores passam a encaminhá-lo através de procedimentos, determinação

de regras e métodos, uso de algoritmos e no desenvolvimento de habilidades.

Segundo o autor estes comportamentos são frutos de premissas

herdadas da era industrial segundo as quais o ensino de Matemática precisa e

pode ser sistematizado, focado na eficiência – educar seria análogo ao

processo de produção da era industrial.

Naturalmente que essa abordagem da Matemática deixa de lado a

exploração de significados dos conceitos e não estimula o entendimento e a

argumentação por exemplo.

Essa orientação técnica ressalta o valor do objetivismo deixando de lado

a exploração do racionalismo e, em sala de aula, se apresentam quando

deixam de ser feitas justificativas e explicações ao longo do desenvolvimento

de atividades com a intenção de promover debates e discussões à luz de

argumentações consistentes que validem resultados, mas, e somente, com o

intuito de verificar o uso correto de regras e procedimentos para certas classes

de problemas propostos.

Desse modo, segundo Bishop (1997), configura-se um desequilíbrio

entre os valores de racionalismo e objetivismo, com detrimento do primeiro em

relação ao segundo.

Quanto a essa questão, tem-se em Villani (2009):

Burton (1989, apud RICO, 1997) também critica a forma objetiva e rigorosa como a Matemática ocidental se apresenta. Observa que nos livros ela se apresenta de forma axiomatizada, como um modelo de objetividade, rigor e convergência. Assinala que, se mudarmos o enfoque pedagógico e abordamos a Matemática na sala de aula como uma área de estudo, de investigação, de dúvidas, de intuição, e aberta à interpretação e a novos desafios, então, proporcionaremos uma maior identificação dos alunos com o estilo e a ideologia da área do saber conhecida por Matemática. A mudança de postura pedagógica também implica a instauração de um clima que estimule o trabalho em grupo, o “escutar” e o aprendizado de uns com os outros, e que explore e respeite outras perspectivas. Esta visão reforça a necessidade de maior ênfase no valor do “racionalismo” e da “transparência” (VILLANI, 2009, p. 55).

Podemos aqui levantar uma questão relacionada ao que foi colocado

acima: Se considerarmos que o valor do racionalismo esteja sendo deixada de

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lado subtraindo assim um dos valores da cultura matemática, a prática dos

professores não tem levado os alunos a trabalhar em situações reais com o

uso ostensivo de símbolos da Matemática reduzindo as atividades

matemáticas à manipulação destes como se essa fosse uma das finalidades da

Matemática?

Em relação a esse desequilíbrio – contra a orientação técnica - Bishop

(1997) defende que deva haver uma maior ênfase em relação à abordagem

que se deva dar aos conceitos e significados provenientes do saber

matemático.

Não devem se resumir, enfatiza o autor, ao enunciado de uma listagem

de assuntos que apresenta os conteúdos segundo uma ordenação que

contemple definição, aplicações (caso sejam viáveis) e exercícios.

Quanto a essa ênfase nos conceitos e significados, tem-se em Villani

(2009):

Uma abordagem com ênfase nos conceitos reforça a ideia da Matemática como uma “forma de conhecer” e não apenas como “forma de fazer”, e pressupõe a construção de conceitos antes mesmo da apresentação de “definições formais” (VILLANI, 2009, p. 56).

Nas palavras de Bishop (1997) toma força a direção que se deva

empreender em relação às atividades que dizem respeito à ênfase nos

conceitos e não na orientação técnica.

Segundo Villani (2009):

Para Bishop (1997), os conceitos devem antes ser desenvolvidos mediante atividades apropriadas, lançadas no nível cognitivo dos alunos e situadas num contexto acessível e interessante. O entendimento completo de um conceito tem mais valor do que avançar em especificidade em vários tópicos matemáticos. O desenvolvimento de conceitos por meio destas atividades sugere o uso de várias situações e materiais, porém o foco das atividades não está nos recursos adotados, e sim nos conceitos utilizados para explicar o resultado destas atividades, na forma como esta explicação se dá e no modo pelo qual estes resultados são formalizados. Por meio destas atividades, as conexões entre os conceitos serão inevitáveis e naturais permitindo a visualização da Matemática como um corpo amplo de conceitos que se relacionam e significados que se complementam. (VILLANI, 2009, p. 56).

Portanto, baseado nas citações anteriores, os valores de racionalismo e

de objetivismo serão mais bem desenvolvidos pelos alunos na medida em que

o foco principal das atividades matemáticas recaia na exploração dos conceitos

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e com os quais possa se enfatizar os significados, explicações e

argumentações, próprios da Matemática diminuindo assim o uso intensivo de

habilidades com manipulações e de técnicas.

Uma Educação Matemática que contemple mais tempo ao uso

equilibrado desses dois valores enfatizando o desenvolvimento dos conceitos,

o múltiplo uso de significados e as relações entre diferentes tipos de

apresentação, representação e discussões matemáticas é o que se propõe

para o trabalho em sala de aula retomando o mesmo conceito em formas

diferentes de apresentar e dele se apropriar em níveis de profundidade

diferentes através de uma diversidade de atividades matemáticas e em

diferentes estágios cognitivos.

Outro aspecto que Bishop (1997) levanta e que está relacionado ao

desequilíbrio que se tem entre os valores associados ao saber matemático na

Educação Matemática de nossos dias é o que diz respeito ao ensino impessoal

- pressupõe que o significado atribuído ao saber matemático e suas verdades é

o mesmo, independentemente das pessoas e das diferentes sociedades - e

descontextualizado, em que a Matemática tem sido apresentada.

Entretanto, conforme salienta Bishop (1997), essa verdade universal não

deve levar em conta que uma vez sendo vista desse modo a Educação

Matemática deva ser desenvolvida em todos os lugares de modo parecido e

para todas as pessoas.

Ou seja, o autor enfatiza que essa impessoalidade confere pouco

espaço para discussões diferentes em relação a seus pressupostos

minimizando espaço para interações de caráter pessoais, desconsiderando

aspectos relacionados a percepções pessoais em relação aos significados

sociais relacionados aos conceitos por ela apresentados.

Por essas razões a Matemática tem por característica distanciar seus

conceitos dos sentimentos das pessoas desconectando-os dos contextos

sociais em que eles foram produzidos e relacionados aos significados e

impactos em que se valeram.

Ainda segundo Bishop (1997), a impessoalidade do ensino reforça o

valor de controle que é próprio da Matemática e que este não explora o saber

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matemático sob o aspecto da relação entre o desenvolvimento e o valor

progresso.

Segundo o autor fica caracterizando, assim, mais um desequilíbrio entre

valores, ou seja, entre o valor progresso e o valor controle, com detrimento do

primeiro em relação ao segundo.

Prosseguindo em relação a mais um desequilíbrio que se tem entre os

valores associados ao saber matemático na Educação Matemática de nossos

dias, tem-se o que diz respeito ao que Bishop (1997) chamou de componente

sociológico relacionado aos saberes transparência e mistério com detrimento

do primeiro em relação ao segundo.

Segundo o autor quando o ensino está pautado em orientações técnicas

e no aprendizado impessoal, ele gera distanciamento entre a apresentação dos

tópicos do seu processo epistemológico no qual foram produzidos

descaracterizando-os do foco de objetos de produção intelectual humana e

dissociados das pessoas e questões ligadas ao desenvolvimento.

Sendo assim, teríamos uma Educação Matemática distante de

abordagens e da exploração de fatos que a caracterizariam como tendo sido

“inventada” (e não somente descoberta).

A Educação Matemática carrearia, assim, o valor da transparência –

exploração da história da Matemática em que foram “inventados” os conceitos,

a abordagem da intuição, a criatividade, o relato de experiências com tentativas

e erros, o exercício da argumentação, o uso da linguagem e da lógica para

apresentar os resultados - e dessa forma combate os pressupostos de que ela

traria consigo aspectos relacionados ao valor de mistério.

Esta maneira de abordar a Matemática mostra a importância do valor

transparência para que pessoas possam-se sentir em condições de fazer

julgamentos críticos acerca dos caminhos percorridos para se chegar aos

resultados.

As observações anteriores mostram como Bishop (1997) percebeu os

diferentes desequilíbrios entre os três pares de valores associados ao saber

matemático e estas constatações podem ser sintetizadas como:

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O fato de que a prova está em perigo de desaparecer de muitos currículos de Matemática indica a falta de atenção com o “racionalismo”. A escassez geral de criatividade, inovação e de possibilidades inventivas nos currículos de Matemática nos mostra que o “progresso” é relativamente desvalorizado, e a falta de significado e a não compreensão experenciada por alunos em todos os lugares demonstra que a “transparência” não é um valor significativo (BISHOP, 1997, p. 95 – tradução nossa18).

Observa-se claramente a preocupação de Bishop (1997) em relação aos

caminhos por onde os saberes matemáticos têm sido utilizados ou não e a

maneira como isso se dá em relação a uma Educação Matemática que venha a

reequilibrar os valores dos saberes matemáticos nos currículos, levando-os a

tornarem-se partícipes de um processo de “enculturação”.

Além de relatar as preocupações com os desequilíbrios entre os valores

associados ao saber matemático, Bishop (1997) discute maneiras sobre os

quais os currículos deveriam ser concebidos e também maneiras como os

professores possam vir a conceber e a ensinar a Matemática.

Assim, o ensino é influenciado pelos conhecimentos de conteúdo que o

professor tenha a respeito da Matemática de modo que reequilibre esses

valores, apresentando princípios para a “enculturação”.

Portanto, esses princípios de reequilíbrio dos valores ligados ao saber

matemático são recomendados para fazer parte da base de conhecimentos do

professor - que Shulman (1986) define como conhecimentos de conteúdo,

conhecimentos pedagógicos de conteúdo e conhecimentos curriculares - de

modo que os princípios de “enculturação” possam ser considerados.

2.5.5 Princípios para o reequilíbrio dos valores ligados ao Saber Matemático

São os seguintes os Princípios que Bishop (1997) considera:

Princípio da representatividade (esse princípio ocorre quando os valores

associados ao saber matemático ficam em evidência durante o processo que

ocorre quando se ensina Matemática);

18 Texto original: “The fact that the proof is in danger of disappearing from many Mathematics curricula indicates the lack of attention to “racionalism”. The general shortage of creative, innovative and inventive possibilities in the Mathematics curriculum tell us that “progress” is relatively undervalued, and the meaningless and lack of comprehension experienced by learners everywhere demonstrate that “openness” is not a significant value”.

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Princípio da acessibilidade (respeitando o nível cognitivo dos alunos, a

abordagem e os conteúdos do saber matemático, estes devem ser acessíveis a

todos – considerando a necessidade de se mudar o foco que antes era

centrado de ensino de conteúdos para o foco da aprendizagem dos alunos -

constituindo-se do pressuposto de que tal abordagem deve fazer parte do

processo de “enculturação”. Dessa forma, segundo Bishop (1997), o ensino

impessoal ganha força e o ensino orientado tecnicamente, que suprime a

exploração do racionalismo, perde o sentido);

Quando da aplicação do princípio da acessibilidade tem-se em conta o

reequilíbrio entre os valores da transparência e do mistério.

Princípio do poder de explicação ((quando da exploração de resolução de

problemas - metodologia de ensino e de aprendizagem sugerida pelos PCN –

deve-se levar em conta situações-problema do conhecimento dos alunos ou

que façam parte da realidade em que vivem, de modo que por eles possam

fazer reflexões sobre elas, ser explicadas, ser compreendidas e fazerem parte

do conjunto de valores que a escola incorpora às suas vidas);

Princípio da visão elementar e ampla (este princípio defende que deva ser

oferecida ao aluno a oportunidade de poder se apropriar de conhecimentos

amplos de grande variedade de contextos e de conteúdos - próprios das

necessidades da sociedade pós-moderna que vivemos - em detrimento do

conhecimento de poucos conteúdos que são explicados em profundidade

demasiada);

Princípio do formalismo (é um princípio em que a Educação Matemática deve

trabalhar no nível formal do saber matemático, dominando-o, e é tal que os

conceitos e resultados matemáticos venham a justificar ou não aqueles

conceitos emitidos ao nível informal);

Ressalte-se que o rigor utilizado no princípio do formalismo não exige,

necessariamente, operar com princípios da lógica formal, no rigoroso uso de

seus princípios e na linguagem matemática precisa (a linguagem formal) de

suas ideias, mas com procedimentos suficientes que deem conta de validar os

resultados em questão.

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Assim, segundo o princípio do formalismo, por meio de atividades que

exijam dar um ressignificado concreto aos objetos matemáticos envolvidos

através de aplicações em problemas amplos e nos quais os conceitos

envolvidos venham a ser apreendidos, as propriedades e os resultados podem

ser aí identificados através de um trabalho em nível formal.

Observa-se, portanto, que o trabalho pedagógico de ensino e de

aprendizagem na escola deva ser tal que o objetivo seja o de preparar o aluno

para que ele venha a compreender os fatos postos em questão e que seja

preparado para construir justificativas coerentes que lhe permitam - na escola

ou fora dela - utilizar-se deles de maneira correta e conveniente.

Ou seja, que o aluno valide os conceitos envolvidos, não deixando de

lado a aprendizagem para a validação e a prova dos resultados matemáticos,

não necessariamente todos é claro, já que eles foram creditados pelos

matemáticos.

Considerando essas pertinentes preocupações conforme foram

apresentados por Bishop (1997), observa-se a necessidade de verificar se o

Currículo de Matemática da rede estadual de Educação do Estado de São

Paulo (2010) apresenta indicações relacionadas a essas concepções em

relação aos valores associados ao saber matemático e suas finalidades, o que

será brevemente feito no Capítulo 3, seção 3.3.2: Um currículo enculturador.

2.6 Pesquisas sobre Ensino e Aprendizagem com Probl emas de Contagem

Nesta seção faremos reflexões críticas acerca de resultados de

pesquisas que relatam experiências e estudos relacionados com o raciocínio

combinatório nos anos iniciais acerca do tema problemas de contagem desde a

3ª Série/4º Ano - como prescrito nos PCN - e no Currículo do Estado de São

Paulo (2010) – desde a 5ª Série/4º Ano como a pesquisa de Fischbein e Gazit

(1988) apud Navarro-Pelayo, Batanero e Godino (1996), indicada a seguir, por

exemplo.

A pesquisa de Fischbein e Gazit (1988) identificou que crianças de 10

anos puderam aprender ideias combinatórias explorando situações-problema

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em que a árvore de possibilidades se constituiu em uma representação

adequada para introduzir ideias relativas ao raciocínio combinatório.

Assim, em seguida, faremos considerações no sentido de fundamentar a

importância que este trabalho de pesquisa deu para o desenvolvimento de

atividades que consideram relevantes a utilização da árvore de possibilidades e

de outras representações como referencial pedagógico para que os conceitos

possam emergir a partir da utilização delas.

Portanto, vamos considerar as pesquisas que tratam dos problemas de

contagem no Ensino Fundamental e no Ensino Médio uma vez que este seja o

objeto do tema central do nosso problema de pesquisa.

Quanto a essa questão apresentamos resultados de pesquisas que dão

conta da possibilidade de que essas atividades já possam ser trabalhadas com

crianças desde os 10 anos, como se pode constatar no trabalho de Fischbein e

Gazit (1988) indicada no trabalho de Navarro-Pelayo, Batanero e Godino

(1996):

Fischbein e Gazit (1988) estudaram o efeito da instrução sobre a capacidade de trabalhar com problemas de combinatória, descobrindo que, inclusive crianças de 10 anos, podem aprender algumas ideias combinatórias com a ajuda do diagrama de árvore (NAVARRO-PELAYO, BATANERO e GODINO, 1996, p.3).

Por outro lado, segundo Inheler e Piaget (1955) apud Navarro-Pelayo,

Batanero e Godino (1996) será preciso percorrer alguns anos de ensino até

que o adolescente se aproprie de conceitos como o de permutações,

diferentemente daqueles procedimentos de operações combinatórias mais

simples que se apropriou quando mais novo, conforme se constata em:

De acordo com Inhelder e Piaget (1955), o raciocínio hipotético-dedutivo opera com as possibilidades que o sujeito descobre e avalia, por meio de operações combinatórias. Esta capacidade pode relacionar-se com os estágios descritos na teoria de Piaget: depois do período das operações formais, o adolescente descobre procedimentos sistemáticos de construção combinatória, ainda que para as permutações seja necessário esperar a idade de 15 anos (NAVARRO-PELAYO, BATANERO e GODINO 1996, p. 2).

Todavia, os resultados de Fischbein (1975) apud Navarro-Pelayo,

Batanero e Godino (1996) mostram que a “capacidade de resolver situações-

problemas que envolvam o raciocínio combinatório (problemas combinatórios)”

nem sempre se alcança no nível das operações formais, se um ensino

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específico do assunto não for oferecido (NAVARRO-PELAYO, BATANERO e

GODINO, 1996, p. 2).

Um dos artigos iniciais que estudamos para iniciar essa pesquisa foi o

de Navarro-Pelayo, Batanero e Godino (1996) no qual os autores indicam aos

leitores que a pesquisa que haviam feito com 720 alunos da escola secundária

em nove institutos localizados nas cidades de Córdoba e Granada, na

Espanha, poderia ser útil a professores e pesquisadores de Educação

Matemática interessados em Análise Combinatória, conforme se pode

constatar pela seguinte citação:

Se apresenta, assim mesmo, um questionário para avaliar o raciocínio combinatório e os resultados obtidos ao aplicá-lo a uma amostra de 720 alunos de 14 e 15 anos. Esta informação pode ser útil a professores e pesquisadores em educação Matemática interessados por análise combinatória (NAVARRO-PELAYO, BATANERO e GODINO, 1996, p. 1).

Nesse trabalho os autores apresentam algumas respostas a perguntas

que também permearam nossas dúvidas e reflexões quando pensamos iniciar

esta pesquisa. Eis as questões sugeridas por esses autores:

Neste trabalho se trata de proporcionar algumas respostas às seguintes perguntas: Que papel joga a Combinatória na Probabilidade e na Matemática Discreta? A aptidão combinatória é somente um instrumento matemático ou é um componente fundamental do raciocínio lógico? Quais variáveis de tarefa afetam os procedimentos e erros dos alunos ao resolver os problemas combinatórios? Como deveríamos considerar estas variáveis no ensino e avaliação? (NAVARRO-PELAYO, BATANERO e GODINO, 1996, p. 1).

Segundo as conclusões obtidas pelos autores observa-se que quando

alunos e professores se deparam em resolver uma dada situação-problema de

contagem em que é preciso que utilizem mais do que uma operação

combinatória eles lançam mão, de imediato, de procedimentos que não foram

por eles facilmente compreendidos e de maneira inadequada, na busca de

obter a solução à situação proposta.

Por outro lado, pesquisas têm apontado para as dificuldades presentes

no trabalho que o professor desenvolve em sala de aula de maneira que seus

alunos venham a se apropriar dos conceitos e procedimentos de matemática,

desde as séries iniciais, conforme relatam Placha e Moro (2009):

Outro ponto a destacar nessas pesquisas refere-se ao que Piaget (1973) já assinalava como o principal problema do ensino da

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Matemática: o ajuste entre as estruturas inteligentes da criança e o método utilizado pelo professor para o ensino dos conceitos. Conforme essa posição, é indispensável a intervenção do professor para, em sala de aula, levar os alunos à reflexão e à descoberta de noções, relações e propriedades matemáticas, fazendo-os, assim, evoluir sua compreensão dos conceitos trabalhados (PLACHA e MORO, 2009, p.7).

Concordamos com as autoras da citação acima em relação à

importância que o professor deva dar a seus alunos quanto à compreensão dos

conceitos e acrescentamos que esta compreensão deva ser apropriada pelo

próprio aluno com a mediação do professor, se necessária.

Quanto a essa questão, Placha e Moro (2009) assim se manifestam:

Um dos pontos que merece destaque neste quadro é a preocupação dos pesquisadores em conhecer, compreender e explicar o caráter ativo da aprendizagem de conteúdos matemáticos escolares, indicando a necessidade de uma aprendizagem matemática com compreensão dos conceitos (PLACHA e MORO, 2009, p.7).

Consideramos que as concepções que pesquisadores experientes de

Educação Matemática têm em pesquisar todas as etapas de ensino, dentre as

quais é possível que possam compreender aquelas que se encaminham para

uma “efetiva aprendizagem”19 independente do conteúdo que está sendo

desenvolvido, constituem-se de valioso material de pesquisa.

Também estão associadas às questões de pesquisa aquelas que levam

em conta identificar em quais situações de ensino houve, como se dá e de que

modo é possível considerar que houve, de fato, uma “aprendizagem

significativa20”.

Também questões de pesquisa em que possam ser identificadas e

confirmadas a aprendizagem quando são oferecidas condições ao aluno para

que ele mostre, seja por meio da resolução de situações-problema de

aprendizagem seja pelo conhecimento e análise de suas narrativas, sobre fatos

19 Pressupomos como “efetiva aprendizagem” àquela em que haja compreensão de significados que se relacionam a experiências anteriores e vivências pessoais dos alunos, as quais permitem o estabelecimento de diferentes relações entre fatos, acontecimentos, noções e conceitos, acarretando mudanças comportamentais que venham a contribuir para que utilize o que aprendeu em novas situações e problemas desafiadores. 20 Por “aprendizagem significativa” pressupomos aquela em que o aluno esteja sendo encaminhado para que possa ser capaz de tornar-se agente efetivo (partícipe) de sua aprendizagem, reunindo condições que permitam ao aluno poder apreender conhecimentos, habilidades, valores, formas de pensar e atuar e atitudes em nossa sociedade.

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descritos ou ocorridos, seus conhecimentos, visão e compreensão do que lhe é

pedido opinar.

Nessas circunstâncias, e para isso, o aluno poderá vir a utilizar-se da

possibilidade de fazê-la na forma escrita, verbal ou gestual segundo a qual

permite ao pesquisador (ou professor) ser capaz de reconhecer ou não,

quando e como há apreensão de conceitos e quando estes têm significado

para o objeto da consulta a que o aluno esteja sendo submetido.

Corroborando com essas nossas concepções, Placha e Moro (2009)

assim se manifestam:

Pesquisas têm descrito uma real construção de conceitos em sala de aula quando o professor permite e incentiva as crianças a elaborar e utilizar estratégias próprias de cálculo na solução de problemas (Brito, 2001; Franchi, 1999; Kamii, 2005; Nunes & Bryant, 1997; Sinclair, 1990). Conforme Sinclair (1990), estratégias próprias de cálculo são os procedimentos originais, não canônicos, de cálculo mental, oral e escrito, elaborados pelas crianças na solução de problemas, perspectiva adotada neste estudo (PLACHA e MORO, 2009, p.7).

Mas, para a efetiva compreensão que permita identificar que a

aprendizagem tornou-se de fato efetiva segundo nossos pressupostos, a

postura do professor é imprescindível na condução dos dois processos: ensino

e aprendizagem, percorrendo longos caminhos por meio dos quais se passa da

concepção e da aplicação até a avaliação, em diferentes atividades propostas

para a sala de aula.

Sobre essas questões, assim se manifestam Placha e Moro (2009):

Nessa mesma linha, o papel do professor não mais se restringe evidentemente a transmitir conhecimentos prontos, mas, sobretudo, é o de provocar ou instigar as crianças a elaborar estratégias próprias de cálculo, para que façam sua construção conceitual. Piaget (1973b) já recomendava a necessidade de uma intervenção instigante do adulto para a elaboração espontânea da criança, em vez de lhe impor uma elaboração formalizada e pronta (PLACHA e MORO, 2009, p.7-8).

Não menos importante que as anteriores destacamos também que o

professor considere os conhecimentos e as experiências pessoais trazidas pelo

aluno à sala de aula e que a partir desses pressupostos ele possa colaborar -

enquanto mediador da aprendizagem - de modo a que o aluno possa se tornar

partícipe de sua própria aprendizagem.

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Em relação a essa questão, tomemos as considerações de Starepravo

(1997) apud Placha e Moro (2009) a esse respeito, como a seguir:

Starepravo (1997) pontua que a ação mental é empobrecida quando as crianças recebem informações prontas e, em seguida, aplicam essas informações em exercícios escolares; a ação mental só ocorre quando a criança coloca o novo em relação com aquilo que já conhece e vivenciou (PLACHA e MORO, 2009, p.8).

De maneira a considerar aprendizagem significativa nos valemos das

considerações de Papert (1994) apud Placha e Moro (2009), a esse respeito:

Papert (1994) sublinha que a aprendizagem significativa ocorre a partir da solução de problemas e do estabelecimento de relações com as experiências vividas. O autor ressalta que os conhecimentos que as crianças têm devem conectar-se aos problemas propostos em sala de aula; caso contrário, a aprendizagem não será significativa (PLACHA e MORO, 2009, p.8).

Assim, em relação aos problemas de contagem a tônica no

desenvolvimento das atividades ao longo da sequência didática proposta foi o

lançamento de situações-problema para que os professores apresentassem a

solução (ou soluções).

Os professores também foram motivados a fazerem narrativas verbais e

por escrito nas quais pudera esclarecer os caminhos percorridos até a

obtenção destas soluções, sem que o pesquisador, anteriormente, tenha

resolvido quaisquer situações similares com as quais eles pudessem se

espelhar como exemplo, o que caracterizaria ações de mera repetição de

procedimentos as quais, naturalmente, não contribuem para uma

aprendizagem significativa.

Entendemos que procedimentos análogos a estes podem/devem ser

ofertados aos alunos em sala de aula em conjunto com a sugestão de que os

alunos lancem mão de alguma representação apropriada à situação proposta e

que dê conta da solução obtida.

Por conta disso nos valemos mais uma vez da citação de Starepravo

(1997), apresentada acima, independente de os exercícios a que se refere a

autora sejam, ou não, problemas de contagem para concordar com ela.

Consideramos uma posição que define visão avançada em relação aos

processos de ensino e de aprendizagem, caracterizada por resultados de

pesquisa e com a qual também fizemos uso no desenrolar das atividades

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propostas aos professores na sequência didática desta investigação. Também

a sugerimos ao grupo de professores de maneira que também fizessem uso

dela junto a seus alunos, quando considerassem oportuno.

Entendemos que o “novo” a ser colocado - segundo Starepravo (1997) –

em se tratando de problemas de contagem seria uma nova situação-problema

que desafie o aluno a avançar nos seus conhecimentos na descoberta de

novos agrupamentos de objetos a partir daqueles que já conhece, a partir de

situações que enfrentou antes.

Com o propósito de conhecer como as crianças dos anos iniciais do

Ensino Fundamental apresentam as soluções de problemas de contagem por

meio do Produto Cartesiano, analisamos os resultados de uma pesquisa, como

a seguir.

Quanto ao trabalho intitulado “Problemas de Produto Cartesiano,

raciocínio Combinatório e Intervenção do Professor”, Placha e Moro (2009), o

objetivo foi o de “descrever a natureza das soluções de crianças a problemas

de produto cartesiano conforme níveis de raciocínio combinatório ali implicado,

para identificar a aprendizagem ocorrente e a natureza das intervenções de

ensino”.

Participaram da pesquisa cinco crianças de nove anos, alunas da 3ª

série de uma escola municipal.

As autoras “identificaram os seguintes níveis de solução: resposta

contextualizada sem indício de combinação, primeiras aproximações à solução

combinatória, obtenção de algumas combinações e presença de solução

combinatória”.

As mesmas autoras fizeram as seguintes indicações para professores e

pesquisadores da área de Educação Matemática:

[...] a relevância das estratégias de solução próprias das crianças, em particular suas interpretações a respeito de quando aprendem matemática na escola. [...] dá força à ideia de que, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, deve-se trabalhar com problemas de produto cartesiano para ativar o raciocínio combinatório e sempre com base no patamar de compreensão em que as crianças se encontram. [...] sublinha a provável importância e a necessidade de os professores conhecerem o conceito matemático com o qual trabalham, e os patamares de sua construção, para que possam auxiliar seus alunos

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nessa construção em situações de aprendizagem (PLACHA e MORO, 2009, p.15).

No trabalho intitulado “Psicogênese do raciocínio combinatório e

problemas de produto cartesiano na Escola Fundamental”, Soares e Moro

(2006), com o objetivo de verificar a possibilidade de descrição psicogenética

do raciocínio combinatório, descreveram níveis e sub-níveis da construção

inicial do raciocínio combinatório de alunos de 5ª e de 6ª série do Ensino

Fundamental.

O trabalho contou com a participação de sessenta alunos pertencentes a

uma escola pública localizada na periferia de uma grande cidade, sendo trinta e

um deles da 5ª série e vinte e nove da 6ª série, com idades entre 10 anos e 7

meses e 11 anos e 11 meses, na resolução de quatro problemas.

Esses problemas envolvem ideias de produto cartesiano com duas e

com três variáveis; dados com valores numéricos pequenos e grandes e

contendo ou não valores distratores (valores que não fazem parte dos dados

utilizados para resolver a questão), distribuídos entre eles.

Para a análise dos resultados obtidos pelos alunos, as autoras

categorizaram quatro níveis de construção de raciocínio combinatório, a saber:

ausência de solução combinatória; primeiros indícios de soluções

combinatórias; alguma aproximação de soluções combinatórias e presença de

soluções combinatórias.

Desse modo, as autoras puderam quantificar as frequências e os

percentuais das soluções apresentadas pelos participantes em cada um dos

níveis de raciocínio combinatório que haviam categorizado e os resultados

revelaram indícios de relação negativa entre o avanço na escolaridade

(soluções de nível mais adiantado obtidos na 5ª série e não na 6ª série).

Mas, segundo as autoras, esses “indícios são muito perturbados pela

alta incidência de soluções de nível 1, ou seja, de ausência de solução

combinatória em ambas as séries, independentemente do problema, com

percentuais que variaram de 60,0% a 82,8%” (SOARES e MORO, 2006).

Por outro lado, ressaltam as autoras: “não são claros os indícios de

relação entre níveis de solução e tipo de problema trabalhado, pois, para

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qualquer um deles há percentuais relativamente altos de soluções

correspondentes ao nível 1”.

Por fim, as autoras destacam os limites do estudo relatado e de seus

resultados, tais como “a amostra restrita, de grupos pequenos de alunos de 5ª

e 6ª série, escolhidos por conveniência”.

As autoras concluem “ser necessário um trabalho escolar com

problemas de produto cartesiano desde as séries iniciais, devendo ocorrer em

um crescendo entre séries em atenção ao seu significado matemático

específico, como circunstância de construção do raciocínio combinatório, entre

outras relações significativas ao desenvolvimento cognitivo do aluno, com

prováveis reflexos em outras áreas de sua aprendizagem escolar”.

No trabalho intitulado “O que dizem estudos recentes sobre o raciocínio

combinatório”, Borba et al (2009), apontam que, segundo os estudos revisados,

há:

[...] a necessidade de maior investimento na formação de professores quanto ao ensino e a aprendizagem de conceitos combinatórios, de modo a possibilitar que conhecimentos intuitivos de alunos sejam identificados e explorados no ensino formal da Análise Combinatória e não apenas a exploração de fórmulas. Livros didáticos e outros recursos precisam ampliar os tipos de problemas abordados – em situações significativas aos alunos – e mais orientações se tornam necessárias para que professores saibam como melhor explorar as situações propostas em manuais e em recursos tecnológicos, como softwares educativos. Sendo relativamente baixo o número de estudos sobre raciocínio combinatório, realizados em eventos recentes da área de Educação Matemática, torna-se necessário que mais estudos sejam realizados, dada a importância deste raciocínio no desenvolvimento lógico-matemático dos alunos (BORBA et al, 2009, p.11-12).

No trabalho intitulado “A Compreensão do Raciocínio Combinatório por

alunos do 2º Ano do Ensino Fundamental ao 3º Ano do Ensino Médio”, Pessoa

e Borba (2009), o objetivo foi o de analisar a compreensão dos alunos do 2º ao

12º ano de escolarização sobre problemas que envolvem o raciocínio

combinatório.

O estudo contou com a participação de 412 alunos de quatro escolas,

sendo duas delas públicas e duas delas particulares, de três níveis distintos de

escolarização, a saber: 2º ao 5º Ano do Ensino Fundamental, 6º ao 9º Ano do

Ensino Fundamental e 1º ao 3º ano do Ensino Médio, que resolveram,

individualmente, uma ficha contendo oito problemas, envolvendo o raciocínio

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combinatório (dois de cada tipo: produto cartesiano, combinação, arranjo e

permutação).

Segundo as autoras:

[...] os quatro primeiros problemas envolviam números que levavam a maior número de possibilidades na solução e os quatro últimos envolviam menos possibilidades, de modo que em cada tipo de problema o aluno entrava em contato com problemas de maiores e de menores possibilidades envolvidas (PESSOA e BORBA, 2009, p.6).

Os resultados do estudo de Pessoa e Borba (2009) apontam que:

A análise aqui efetuada evidencia que alunos dos anos iniciais aos dos anos finais do Ensino Básico são capazes de compreender problemas de raciocínio combinatório e que seus desempenhos são influenciados pelo tipo de escola que frequentam, pelo período de escolarização, pelo tipo de problema combinatório que estão resolvendo (e implicitamente pelas propriedades e relações envolvidas em cada tipo de problema), pela forma de representação simbólica utilizada para a resolução das situações, bem como pela ordem de grandeza dos números envolvidos. Diante do que foi observado, pode-se concluir que antes da introdução formal ao raciocínio combinatório, alunos desenvolvem compreensões sobre problemas dessa natureza, ora influenciados pela escola (principalmente no caso dos problemas de produto cartesiano – trabalhados explicitamente nas séries iniciais), ora como resultado de experiências escolares implícitas e/ou extra-escolares (como no caso de alguns problemas de combinações, arranjos e permutações – não trabalhados explicitamente nas séries iniciais) (PESSOA e BORBA, 2009, p.11).

As autoras prosseguem, ainda, em suas conclusões:

As diferentes formas de representação simbólica apresentadas pelos alunos refletem as diferentes maneiras de pensar sobre um mesmo problema. É importante que a escola esteja atenta a estas representações e as levem em consideração no trabalho com estes e outros tipos de problemas. Ou seja, eles desenvolvem interessantes estratégias que devem ser aproveitadas pela escola para ajudá-los a avançar na compreensão dos diversos tipos de problemas e no seu desenvolvimento conceitual. Torna-se, assim, necessário que a escola atente que, se nos currículos e livros-texto estes outros tipos de problemas já foram introduzidos nas séries iniciais, é preciso na formação inicial e continuada dos professores destacar estes outros problemas de Análise Combinatória, refletindo sobre suas características e particularidades. A maior parte dos alunos começa tentando buscar uma compreensão do problema, sendo a maior dificuldade a de esgotar todas as possibilidades que o problema solicita. Nesse sentido, a escola deve discutir o esgotamento de possibilidades em seu trabalho de raciocínio combinatório, possibilitando um maior desenvolvimento dos alunos na compreensão destas situações (PESSOA e BORBA, 2009, p.11-12).

No trabalho intitulado “O ensino de análise combinatória: a prática

pedagógica predominante segundo os docentes”, Pinheiro e Sá (2007) relatam

os resultados obtidos em uma investigação realizada com 20 professores de

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Ensino Médio de Belém do Pará a qual utilizou como instrumento de coleta de

dados um questionário fechado contendo informações sobre dados pessoais,

formação acadêmica e os procedimentos metodológicos desenvolvidos pelos

sujeitos da pesquisa durante as aulas que ministram.

A questão considerada base para a pesquisa foi: Qual é a prática

pedagógica predominante no ensino de análise combinatória no Ensino Médio?

Como resultados obtidos, os autores relatam que: “a maior parte deles

indicou que a sua prática predominante era partir de definições e, em seguida,

apresentam exemplos, propriedades e exercícios”.

Segundo os autores, “mesmo tendo participado de cursos de formação

continuada, utilizam-se de métodos formais nas aulas de análise combinatória”.

Concluindo, os autores advertem que “mesmo alguns professores tendo

apontado a resolução de problemas ou a modelagem no desenvolvimento da

aula de análise combinatória, ainda é muito forte a tendência de apresentar

fórmulas e, a seguir, aplicações das mesmas”.

No trabalho intitulado “Investigando a aprendizagem de análise

combinatória simples em uma turma de licenciandos em Matemática submetida

a uma prática de ensino tradicional”, Rocha (2007) relata os resultados obtidos

durante investigação que foi realizada com o objetivo de identificar a

compreensão que os alunos de um curso de Licenciatura em Matemática têm

em relação aos conceitos de análise combinatória.

Segundo a autora, os conceitos são “considerados simples” por ela,

quais sejam: o princípio multiplicativo, o princípio aditivo, arranjos,

combinações e permutações, “por se acreditar serem noções exploradas em

qualquer curso de combinatória simples, acompanhando esse avanço ao longo

de uma prática tradicional de ensino”.

O estudo contou com a participação de 17 alunos do sexo masculino

com idades entre 18 e 27 anos, mas apenas 10 deles participaram de todos os

processos da intervenção. Foi elaborado um pré-teste contendo cinco questões

de combinatória para tornar possível a comparação com os resultados finais.

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Segundo a autora, “os resultados do pré-teste indicam que apesar de

haver uma quantidade significativa de tentativas para resolver os problemas

propostos, os participantes obtiveram um resultado bem inferior ao esperado

para uma turma de futuros professores (dois sujeitos acertaram uma questão

enquanto outro aluno apenas duas)”.

Estes tinham dificuldades em definir ou exemplificar noções básicas da

combinatória (apenas 20% conseguiram enunciar corretamente o Princípio

Multiplicativo ou as noções de Arranjo ou Combinação).

Os estudos, analisados quanto ao viés da formação e prática docente de

professores, evidenciam, segundo a autora, “a necessidade de uma formação

mais aprofundada em análise combinatória para que, ao invés de uma prática

baseada exclusivamente em aplicação de fórmulas – muitas vezes não

compreendidas – haja um ensino amparado em princípios da combinatória que

auxiliem os alunos na resolução de problemas desta natureza”.

Finalizamos o capítulo sintetizando para o leitor o que foi apresentado:

inicialmente um recorte das pesquisas de Shulman (1986, 1987) acerca dos

conhecimentos necessários ao professor para o desempenho de sua prática,

acerca da importância da postura do professor reflexivo segundo pressupostos

de Zeichner (1993, 2003, 2008), sobre os componentes básicos da Matemática

como atividade humana segundo Tall e Vinner (1981) relativamente à imagem

conceitual e de Fischbein (1994) acerca dos aspectos intuitivo, formal e

algorítmico da atividade matemática, bem como acerca de aspectos

associados à Enculturação Matemática, segundo Bishop (1997) e, por fim, um

resumo acerca das pesquisas sobre ensino e aprendizagem com problemas de

contagem que utilizamos como referenciais para esta pesquisa.

O capítulo seguinte será destinado a apresentar um histórico acerca do

aparecimento dos problemas de contagem em currículos da Educação Básica

e em orientações curriculares nacionais, de maneira a situar quando e como

esse conteúdo deverá ser desenvolvido no Ensino Fundamental e no Ensino

Médio.

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3. PROBLEMAS DE CONTAGEM EM CURRÍCULOS DA EDUCAÇÃO

BÁSICA

Neste capítulo apresentamos uma análise a respeito da presença dos

Problemas de Contagem ou Análise Combinatória desde o início do século XX

até o atual Currículo da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

(2010).

Mostramos, assim, como esse conteúdo esteve presente em currículos

prescritos de São Paulo para a Educação Básica nas últimas sete décadas.

Observamos que esse tema foi indicado para ser desenvolvido inicialmente

somente no Ensino Médio e, após os meados da década de 1980, foi indicado

também no Ensino Fundamental.

Essa análise tem como propósito identificar concepções reinantes em

relação ao ensino e à aprendizagem destes conteúdos nos currículos de

matemática do Estado de São Paulo, em cada época. É importante assinalar

que esse estudo dos currículos nos trouxe elementos para a elaboração da

sequência de ensino.

O estudo das propostas curriculares do Estado de São Paulo pode ser

justificado pelo fato de que os nossos sujeitos pesquisas são professores da

rede pública estadual paulista e estão incumbidos de implementar o Currículo

de Matemática, divulgado a partir das orientações curriculares apresentadas

desde 2008 e vigente desde 2010. Pudemos constatar que princípios desse

novo Currículo foram influenciados por currículos anteriores da mesma rede

estadual de ensino.

A primeira das seções deste capítulo inicia-se por breve apresentação

das reformas educacionais ocorridas no Brasil desde o início do século XX até

a presente Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN de 1996.

Em prosseguimento, fazemos considerações acerca do trabalho de com

a Análise Combinatória – particularmente os problemas de contagem –

prescrito pelos PCN para ser desenvolvido na Educação Básica desde a 3ª

Série/4º Ano do Ensino Fundamental (BRASIL, 1997), ao longo da 5ª Série até

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a 8ª Série do Ensino Fundamental (BRASIL, 1998), até o Ensino Médio (Brasil,

1999).

Finalmente, analisamos as sugestões do Currículo de São Paulo (2010)

para o desenvolvimento de atividades e a apreensão dos conceitos

relacionados aos problemas de contagem.

3.1 Reformas do ensino secundário

Iniciamos essa sessão pela identificação de aspectos gerais

relacionados às Reformas Educacionais ocorridas no Brasil após 1930 de tal

modo, indicando desde quando e como, a análise combinatória (problemas de

contagem) foi proposta para a Educação Básica.

Na Reforma de ensino de 1919, no 3º ano, tem-se a reintrodução da

Álgebra Superior com os seguintes tópicos: Equações exponenciais; Análise

combinatória: arranjos, combinações, permutações; Binômio de Newton.

Triângulos de Tartáglia ou de Pascal. Aplicações do 1º grau, homogêneos;

Séries Convergência das séries. Desenvolvimento em séries. Estudo sumário

das séries ax. e x.lg (1+ x). Nos programas de ensino de 1920, 1921,

1922,1923, 1924 e 1925, Análise combinatória permanece. Em 13 de janeiro

de 1925 houve uma reforma no ensino e seu programa só foi adotado no

Colégio Pedro II em 1926.

No programa de ensino de 1927, análise combinatória permanece e, em

1928, foram acrescentadas: Noções sobre análise combinatória. Binômio de

Newton. Houve mais uma reforma no programa de ensino do Colégio Pedro II em

1929, defendida por Euclides Roxo desde 1928 junto à Congregação do Colégio

Pedro II, mantendo o conteúdo de combinatória.

Nos últimos anos da década de 1920 acentuava-se uma crise de

desenvolvimento político, econômico e social. Um dos aspectos que deu rumo

a essa crise foi o movimento iniciado no Sul do país em outubro de 1930 e que

acabou por derrubar o governo do Presidente Washington Luiz.

Segundo Romanelli (2001):

Na verdade, o que se convencionou chamar Revolução de 1930 foi o ponto alto de uma série de revoluções e movimentos armados em

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que, durante o período compreendido entre 1920 e 1964, se empenharam em promover vários rompimentos políticos e econômicos com a velha ordem social oligárquica. Foram esses movimentos que, em seu conjunto e pelos objetivos afins que possuíam, iriam caracterizar a Revolução Brasileira, cuja meta maior tem sido a implantação definitiva do capitalismo no Brasil. Por meio desses movimentos e sobretudo por meio da Revolução de 30, o que se procurou foi um reajustamento Constant dos setores novos da sociedade com o setor tradicional, do ponto de vista interno, e destes dois com o setor internacional, do ponto de vista externo (ROMANELLI, 2001, p. 47).

A Revolução de 1930 pôs fim à Primeira República e caracterizou-se por

dar por acabada a hegemonia da burguesia produtora de café. Essa burguesia

volta-se a partir de então para participar intensamente da vida política do país e

acabam por promover intensa revolução na cultura e na educação,

influenciando decisivamente para a implantação da Reforma Francisco

Campos.

Getúlio Vargas ao tentar construir uma democracia de bases populares

faz concessões tanto à classe média como ao proletariado. Assim, há uma

adequação de sua administração às exigências de modernização e autonomia

do campo educacional manifestadas pelos intelectuais da ABE. Desse modo,

em 1930 é criado o Ministério da Educação e Saúde, cujo primeiro ministro foi

Francisco Campos.

Em fins de 1930, já com Getúlio Vagas como Presidente da República,

na tentativa de estabelecer condições administrativas que pudessem

representar apoio ao novo regime, em 14/11/1930, através do Decreto nº

19.402, foi criado o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública.

Por volta de 1931, e desde então, foram instituídos diversos Decretos

com o intuito de organizar o sistema de educação vigente e estabeleceu-se

nova reforma de ensino que acabou por culminar com a chamada Reforma

Francisco Campos – Decreto nº 19.890 de 18/4/1931.

Conforme Romanelli (2001) foram estes os seguintes Decretos que

substanciaram a referida Reforma:

1. Decreto nº19.850, de 11 de abril de 1931: Cria o Conselho Nacional de Educação. 2. Decreto nº19.851, de 11 de abril de 1931: Dispõe sobre a organização do ensino no Brasil e adota o regime universitário. 3. Decreto nº 19.852, de 11 de abril de 1931: Dispõe sobre a organização da Universidade do Rio de Janeiro. 4. Decreto nº19.890, de 11 de abril de 1931: Dispõe sobre a organização do ensino secundário. 5. Decreto nº 20.158, de 30 de junho de 1931:

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Organiza o ensino comercial, regulamenta a profissão de contador e dá outras providências. 6. Decreto nº 21.241, de 04 de abril de 1932: Consolida as disposições sobre a organização do Ensino Secundário. (ROMANELLI, 2001, p. 131).

A Reforma Francisco Campos definiu o ensino secundário em dois

ciclos: curso fundamental (cinco anos de duração, com o objetivo de

proporcionar formação básica geral) e cursos complementares (cursos

propedêuticos, dois anos de duração, com o objetivo de permitir que os alunos

reunissem condições de poderem fazer suas escolhas aos cursos superiores e

suas especificidades profissionais, após obterem diploma relativo a todo o

ensino secundário) (PAVANELLO, 1989).

Com a Reforma Francisco Campos e a Portaria Ministerial que

regulamentou a referida reforma no tocante à Matemática apareceu a disciplina

Matemática para unificar as disciplinas – então separadas – Aritmética, Álgebra

e Geometria, sendo obrigatória em todas as séries do Ensino Fundamental e

facultativa em uma das duas séries dos cursos complementares.

Na reforma de Francisco Campos os currículos e programas são

rigidamente prescritos, especialmente no ensino secundário. É criado,

inclusive, um sistema centralizado e rígido de fiscalização. Inspetores federais,

por exemplo, foram encarregados de visitar escolas para inspecionar alunos,

professores e diretores (Moreira, 1995).

A portaria de 30/06/31 que regulamenta o decreto 19.980 de 18 de abril

de 1931 estabelece os programas relativos às diferentes disciplinas e as

respectivas “Instruções Pedagógicas”. Quanto à matemática determina que

esta:

[...] será sempre considerada como um conjunto harmônico cujas partes estão em viva e íntima correlação. A acentuação clara dos três pontos de vista - aritmético, algébrico e geométrico - não deve, por isso estabelecer barreiras intransponíveis que impeçam o estudante de perceber as conexões entre aquelas disciplinas (BICUDO, 1942).

É justamente na tentativa de estabelecer a unidade entre os vários

ramos da Matemática que o ensino dessa disciplina passa a ser entregue a um

só professor, que deve se encarregar, em cada série, de desenvolver o ensino

dos vários assuntos, sempre que possível integradamente (Pavanello, 1989).

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Em relação às orientações pedagógicas, a reforma Francisco Campos

considera que:

A exposição da matéria e a orientação metodológica, entretanto, devem subordinar-se, sobretudo nas séries inferiores, às exigências da pedagogia, de preferência aos princípios puramente lógicos. Ter-se-á sempre em vista, em cada fase do ensino o grau de desenvolvimento mental do aluno e os interesses para os quais tem-se maior inclinação. O ensino se fará, assim, pela solicitação constante da atividade do aluno (método heurístico), de quem se procurará fazer um descobridor e não um receptor passivo de conhecimentos. Daí a necessidade de se renunciar completamente à prática de memorização sem raciocínio, ao enunciado abusivo de definições e regras e ao estudo sistemático das demonstrações já feitas (PIETROPAOLO, 1999).

Apenas o programa de ensino de Matemática sofreu alterações na

Reforma Francisco Campos, em relação ao programa utilizado no Colégio

Pedro II, em 1930.

Pelo Decreto de 1932 (consolidava as disposições sobre a organização

do ensino secundário proposto no Decreto de 1931) o programa de Matemática

e suas respectivas instruções pedagógicas permaneciam os mesmos daqueles

instituídos na Portaria Ministerial nº 19.890 de 30 de junho de 1931.

O programa de ensino, em relação ao Decreto de 1931, foi expedito em

junho daquele ano e só passou a vigorar no Colégio Pedro II no ano de 1932.

O Decreto nº 21.241 de 1932 fez pequenas alterações em relação à

Portaria de 1931 quanto à elaboração dos programas. Foi mantido o mesmo

programa de ensino, a saber:

Art. 10 – os programas do ensino secundário, bem como as instruções sobre os métodos de ensino, expedidos pelo Ministério da Educação e Saúde Pública, serão revistos, de três em três anos, por uma comissão designada pelo Ministro.

§ 1. À comissão de que trata este artigo serão remetidas as propostas elaboradas pela Congregação do Colégio Pedro II, bem como os resultados de inquéritos realizados pelo Departamento Nacional do Ensino entre os professores dos estabelecimentos equiparados e sob o regime de inspeção (BRASIL, 1942).

Segundo o Decreto os colégios equiparados ao Colégio Pedro II e sob o

regime de inspeção participariam da elaboração dos programas de ensino.

Pelo Decreto de 1931, tal privilégio era somente do Colégio Pedro II.

Quando se compara o programa de matemática estabelecido na

Reforma Francisco Campos com o programa de ensino de 1930 - elaborado

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pela Congregação do Colégio Pedro II -, afirmamos que este programa adotou

todas as ideias modernizadoras da proposta do Colégio Pedro II em relação à

Matemática.

Em 9 de abril de 1942 a Lei Orgânica do Ensino Secundário – decreto-lei

n° 4.244 – que pretendia “o prosseguimento do trabalho de renovação e

elevação do ensino secundário no país” modificou a estrutura deste curso:

continuava a ter dois ciclos, porém o primeiro – denominado de curso ginasial –

passou a ter quatro anos enquanto que o segundo – subdividido em científico

ou clássico – três anos.

O Ministro da Educação Gustavo Capanema, em 1943 também

empreendeu diversas reformas em relação aos programas de diversos custos.

Os programas de Matemática apresentavam algumas diferenças em relação

aos de 1931. Não foram publicadas, por exemplo, as “Instruções Pedagógicas”.

As preocupações metodológicas podem ser reveladas, na exposição de

motivos que precede a lei Orgânica do Ensino Secundário. Quanto ao ensino

de Matemática e Ciências, nesse documento, pode-se destacar:

A reforma coloca o problema do estudo das ciências em termos convenientes. No curso ginasial, a Matemática e as Ciências Naturais serão estudadas de modo elementar.

Seria antipedagógico sobrecarregar os alunos dessa primeira fase de estudos secundários, com estudos científicos aprofundados (BRASIL, 1943).

Os estudos seriam aprofundados no 2° ciclo, como:

Posteriormente, no curso clássico e no curso científico, far-se-á das ciências estudo mais acurado. Terá o estudo da Matemática, da Física, da Química, da Biologia no curso científico maior desenvolvimento e profundidade do que no curso clássico. Não deverá, porém, esse estudo ser tão abundante e minucioso no curso científico que possa tornar-se inconveniente demasia, nem de tal modo reduzido no curso clássico, que não baste à formação de uma cultura científica adequada aos fins do ensino secundário (BRASIL, 1943).

Ainda quanto ao ensino de Matemática e Ciências nos cursos clássico e

científico, fazia-se a seguinte advertência na exposição dos motivos que

precediam a Lei Orgânica:

Ao estudo das ciências num e noutro caso, orientará, sempre o princípio de que não é papel do ensino secundário formar extensos conhecimentos, encher os espíritos adolescentes de problemas e demonstrações, de leis e hipóteses, de nomenclatura e classificações, ou ficar na superficialidade, na

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memorização de regras, teorias e denominações, mas cumpre-lhe essencialmente formar o espírito científico, isto é a curiosidade e o desejo da verdade, a compreensão da utilidade dos conhecimentos científicos e a utilidade desses conhecimentos. Está claro que será mais difícil ensinar, desse modo, as Ciências (BRASIL, 1943).

Contraditoriamente a estas advertências, as listas de conteúdos são

muito mais extensas e detalhadas que as da reforma anterior, tornando os

programas inexequíveis. Percebe-se também, pela análise dos desses a

prevalência de uma característica marcante em todos os currículos oficiais de

Matemática incluindo os mais recentes: a organização linear dos conteúdos.

Na reforma Francisco Campos havia, pelo menos, uma preocupação

bastante explícita de se trabalhar os grandes temas da Matemática - aritmética

álgebra e geometria - em todas as séries, enquanto que na reforma Capanema

não tínhamos sequer isso.

Relativamente aos programas de Matemática, a Reforma Capanema

(1942) eliminou o ensino de conceitos da aritmética, álgebra e geometria por

meio da noção de função, o que representou um retrocesso de ideias de

Euclides Roxo, implementadas na Reforma Francisco Campos de 1931.

Segundo Pietropaolo (1999), as críticas à reforma Capanema em

relação ao ensino secundário eram de que ela não só não conseguia atenuar a

seletividade que permeava esse ramo do ensino como a acentuava, uma vez

que reforçava, e muito, o caráter acadêmico e propedêutico, principalmente do

ensino de Matemática. Essas críticas se intensificaram muito no fim dos anos

40 e início dos 50. O Padre Arlindo Vieira, em 1949 (apud Pietropaolo (1999)),

registrava:

[...] que o vício radical do nosso ensino, que o torna de todo ineficiente, está principalmente na multiplicidade de disciplinas em cada série e na desmedida extensão dos programas de Matemática e Ciências (VIEIRA, 1949).

Nesse clima de descontentamento, Simões Filho, Ministro da Educação

em 1951, atribuiu ao Colégio Pedro II a tarefa de elaborar novos programas

que priorizassem o “descongestionamento dos programas oficiais do ensino

secundário” e que tivessem uma “certa plasticidade a ajustar-se às

diferenciações regionais” (Nóbrega, 1952).

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Como subsídios para a tarefa foram encaminhados, à congregação os

trabalhos de uma Comissão instituída pela portaria n 456, de 27 de fevereiro de

1951 de modo que os novos programas fossem elaborados de acordo com as

finalidades do ensino secundário.

Um dos objetivos apregoados pela Portaria de 1951 para o ensino da

matemática é que esse ensino deve

[...] desempenhar um papel preponderante como objeto de cultura, instrumento de trabalho e fator de aperfeiçoamento mental.

[...]desenvolver paulatinamente no aluno a capacidade de julgamento, o hábito de concisão e rigor na expressão, a intuição, agilidade de ação e de raciocínio e, também a atenção e a presteza para compreender, reter e elaborar (BRASIL, 1951).

A Portaria Ministerial nº 966 de 2/10/1951 estabeleceu o termo

“Programa Mínimo” para determinar que cada estado da federação elaborasse

seu próprio plano de ensino adequando-os às suas particularidades e

especificidades tomando por base a simplificação dos programas vigentes até

aquela ocasião através de programas mínimos estabelecidos para cada

disciplina.

Os conteúdos mínimos a serem desenvolvidos na escola secundária

divulgados pela Portaria 1.405 de 14 de dezembro de 1951 não diferiam

substancialmente dos do programa anterior e menos ainda a ordem dos itens.

A distribuição dos temas fundamentais da Matemática pelas diversas séries –

aritmética, álgebra e geometria – é que se modificou um pouco.

Ao contrário da Lei Orgânica do Ensino Secundário que não possuía

Indicações Pedagógicas em seus programas, a Portaria de 1951 trouxe

algumas recomendações metodológicas consideradas - mesmo hoje - como

adequadas e interessantes embora não constituíssem novidade, uma vez que

a maioria delas constava dos currículos da Reforma de Francisco Campos.

O texto referente às Instruções Pedagógicas indica, por exemplo, que o

ensino, principalmente nos primeiros anos do curso ginasial, deveria ter um

caráter essencialmente prático e intuitivo - o que é resgatado nas atuais

propostas. O método dedutivo deveria ser introduzido apenas ao final do

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ginásio “com o cuidado que exige” e, na medida em que “o aluno for

percebendo a necessidade da justificativa, da prova e da demonstração”.

Sugere-se, também, ter “sempre presente que o ensino não depende da

disciplina em si, mas principalmente, do aluno ao qual se ensina” e que “o que

importa não é ensinar muito, mas ensinar bem”. Pela primeira vez em

documentos oficiais declara-se que as ações em sala de aula deveriam levar

em conta que a “Matemática não é lógica pura”.

Essas recomendações de ordem metodológica da Portaria de 1951 são

muito interessantes principalmente se levarmos em conta o crescimento da

escola secundária, na época.

Em relação à Matemática, o programa mínimo de matemática para o

Curso Colegial proposto por essa Portaria já indicava os conteúdos de “Noções

sobre análise combinatória” para serem trabalhados na 2ª série – álgebra, tanto

para o programa de matemática do curso clássico quanto para o curso

científico, com o uso do livro didático de matemática 2.

Quanto aos programas de matemática dos cursos complementares,

indicavam para o pré-médico “complementos de análise combinatória” e pré-

politécnico “Análise Combinatória.Teoria e Aplicações”.

Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

– LDBEN, Lei nº 4.024 de 20/12/1961, foi definido que haveria a

descentralização do sistema educacional com a criação dos Sistemas

Estaduais de Ensino mantendo-se a estruturação tradicional do ensino e as

organizações curriculares conforme a legislação anterior. Segundo o Art. 35, os

currículos e programas para o Ensino Médio não mais seriam fixados por

organismos componentes da esfera federal (exceto no estabelecimento de um

Núcleo Comum de matérias).

Especificamente em São Paulo, em consonância com a Lei de Diretrizes

e Bases, a Secretaria da Educação de São Paulo divulgou em 1965 as

“sugestões para um roteiro de programas para a cadeira de Matemática” que

pouco alterava os programas da Portaria de 1951, embora as escolas paulistas

estivessem implementando a Matemática Moderna.

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Nos países desenvolvidos a discussão sobre a necessidade de uma

reforma radical do ensino de Matemática começou bem antes: início dos anos

50. Em 1952, matemáticos conceituados franceses como Dieudoné,

Lichenerowicz e Choquet reuniram-se com filósofos suíços para discutir o

ensino de Matemática nas escolas elementares. Na mesma época, os belgas

também colocaram em ação algumas de suas ideias.

A reconstrução pós-guerra trouxe a modernização industrial para a

ordem do dia. A Matemática Moderna inscreveu-se, desse modo, muito

claramente, numa política de formação a serviço da modernização econômica.

Por outro lado, esse Movimento foi também impulsionado pelas elites

ocidentais que estavam preocupadas com seu suposto atraso científico e

tecnológico, após o lançamento, em outubro de 1957, do Sputnik pelos russos.

Assim, os anos 60 foram marcados por influências advindas do

Movimento da Matemática Moderna – MMM – no cenário nacional e estavam

relacionadas com a elaboração de novas referências acerca do ensino da

matemática em todos os níveis de ensino, apoiando-se nos conceitos

relacionados com a Teoria dos Conjuntos, Estruturas Matemáticas e a Lógica

Matemática.

O objetivo claro de tais influências era o de que a Matemática devesse

ser apresentada segundo uma forma axiomatizada que unificasse todos os

seus ramos através do uso de uma linguagem precisa e que tomasse por base

axiomas e resultados obtidos por meio dos procedimentos advindos da lógica

clássica segundo rigorosas justificativas matemáticas.

Foi neste contexto que as mudanças para o ensino da Matemática

ocorreram no Brasil nos 60 até meados de 70. A inserção dos matemáticos

brasileiros e professores no Movimento da Matemática Moderna é facilmente

verificável: praticamente todos os livros publicados no período sobre

Matemática - didáticos ou não - estavam totalmente imbuídos no espírito dessa

reforma.

A partir das discussões relacionadas com o MMM foi fundado o Grupo

de Estudos do Ensino de Matemática – GEEM em São Paulo, integrado

majoritariamente por matemáticos e professores de matemática.

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Entre as preocupações dominantes nas discussões neste grupo estavam

as que se referiam a discutir aspectos relacionados tanto à formação de

professores quanto à presença de conteúdos de Matemática nas estruturas

curriculares, bem como a ampla divulgação de pressupostos e questões

conceituais relacionados ao MMM.

Ressalte-se que em relação ao “Programa Moderno de Matemática para

o Colegial” – ainda na 2ª Série – o primeiro dos tópicos diz respeito a “Análise

Combinatória e o Binômio de Newton e continha os seguintes tópicos: Análise

Combinatória Simples; Noção de Probabilidades; Binômio de Newton”.

Ou seja, em relação à proposta curricular de 1951 o GEEM acrescenta a

partir de 1965 (2ª edição do livro) a sugestão de trabalhar com “Noção de

Probabilidades” mantendo o conteúdo de Análise Combinatória Simples.

Ao longo do regime político caracterizado pela ditadura militar –

instaurado após o golpe militar de agosto de 1964 – duas reformas foram

implantadas: uma Reforma Educacional – a Lei de nº 5.540 de 1968 - que

reformulou e reestruturou a gestão das Universidades Federais e outra

relacionada com o Ensino Básico – a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional – LDBEN – a Lei de nº 5.692 de 11/8/1971.

A LDBEN estruturou o sistema nacional de ensino básico fixando

diretrizes e bases para o recém-criado ensino de 1º Grau (correspondente à

junção dos cursos primário e ginasial, num total de oito anos de escolaridade,

obrigatório a todos com idades de 7 a 14 anos, extinguindo-se o exame de

admissão até então obrigatório) e para o 2º Grau (correspondente ao ensino

médio, com duração de três ou quatro anos).

Essas reformas estabeleceram um paradigma da política educacional

em relação ao estabelecimento ideológico de adequação desta política com o

objetivo de atender às transformações que ocorriam na estrutura econômica do

país de modo que o sistema educacional se adequasse às necessidades da

expansão do capitalismo.

A partir de então - em relação ao Ensino Médio – foi “mantida uma visão

utilitarista”, pois este segmento de ensino passou “a ter a função principal de

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habilitar ou qualificar para o mercado de trabalho” (NASCIMENTO, 2007, p.

83).

A profissionalização do ensino médio, muito discutida no Estado Novo,

voltava muito mais intensamente em plena industrialização do país. Entretanto,

a forma com que os militares tratavam a questão da qualificação para o

trabalho – imediatista, desarticulada e restrita – estava muito distante da

escola-trabalho, bandeira dos marxistas desde o século passado.

A lei indicava que:

O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto realização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania (art 1º) (BRASIL, 1971).

Por outro lado, a Lei 5692/71 instituiu uma escola de oito anos para

eliminar, pelo menos legalmente, a barreira entre a primária e a ginasial.

Os Guias Curriculares elaborados para orientar o ensino-aprendizagem

nessa escola de oito anos, tem a presença muito marcante do Movimento

Matemática Moderna uma vez que sua identidade com a Lei 5692/71 é patente,

pois considera a Matemática como a base de uma sociedade que pretende se

organizar pela tecnologia.

O Guia Curricular de Matemática da Secretaria da Educação do Estado

de São Paulo apresenta um programa muito mais detalhado que os das

reformas anteriores: além das listas de conteúdos e sugestões de caráter

metodológico apresenta objetivos muito bem detalhados - por níveis e por

séries.

O Guia procurava deixar explícita sua filosofia:

Estes guias não apenas traduzem os conteúdos dos instrumentos legais definidores da reforma como refletem a filosofia que os informa... fundamentam-se nas generalizações das ciências pedagógicas e na filosofia, envolvendo questões relativas a valores, a natureza do conhecimento, ao desenvolvimento da criança e a aprendizagem (SÃO PAULO, 1971).

As listas de conteúdos não apresentaram significativas mudanças,

apesar de estarem organizados de uma forma diferente:

Para a apresentação do programa foi adotado um agrupamento dos assuntos que, por ser um programa de transição, não atinge a unidade completa que consideramos ideal, mas que pode ser sentida

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principalmente no primeiro tema, que indiscutivelmente é o fator unificador da Matemática. A divisão foi feita em quatro temas, enumerados a seguir:

I. Relações e funções;

II. Campos Numéricos;

III. Equações e Inequações;

IV. Geometria (SÃO PAULO, 1971).

Entretanto, fazia a seguinte advertência:

Os conteúdos programáticos devem ser entendidos como instrumentos para consecução dos objetivos propostos; devem ser caracterizados como indicações endereçadas aos professores e não como um rol de assuntos a serem oferecidos aos alunos. Não se confundem, pois, com os antigos “programas” (SÃO PAULO, 1971).

Cabe ressaltar que os Guias Curriculares foram elaborados apenas para

nortear o processo de ensino e aprendizagem para a escola de oito anos e que

não houve um documento curricular para o 2º grau. Nesses Guias não consta a

indicação de noções relativas à Análise Combinatória para o Ensino de 1º

Grau.

3.2. O que prescreviam os currículos do Estado de S ão Paulo

3.2.1 A Proposta Curricular de Matemática do 1º Grau do Estado de São Paulo

Por volta dos anos 1970 iniciam-se as primeiras críticas em relação ao

MMM no Brasil no tocante ao excessivo uso da Teoria dos Conjuntos e das

Estruturas Algébricas e suas propriedades na Educação Básica, em detrimento

a outras áreas da Matemática como, por exemplo, a geometria.

No rastro das orientações advindas da LDBEN e antecipando-se às

críticas ao MMM, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo – a partir

de reflexões sobre o papel da Matemática no currículo do 1º Grau e sobre os

problemas detectados pelos professores no ensino dessa disciplina bem como

à luz de uma rigorosa análise crítica em relação aos Guias Curriculares

anteriores – inicia estudos no início dos anos de 1980 para a elaboração da

Proposta Curricular de Matemática do 1º Grau por uma equipe técnica formada

por professores integrantes da Coordenadoria de Estudos e Normas

Pedagógicas – CENP.

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Dentre as preocupações iniciais dessa equipe destacam-se aquelas

relacionadas à memorização e à formalização precoce de conceitos, como

visto em São Paulo (1997):

A preocupação excessiva com o treino de habilidades com a mecanização de algoritmos, com a memorização de regras e esquemas de resolução de problemas, com a repetição e a imitação e não com uma aprendizagem que se dê, inicialmente, pela compreensão de conceitos e de propriedades, pela exploração de situações-problema nas quais o aluno é levado a exercitar sua criatividade, sua intuição; e, tentativa de se exigir do aluno uma formalização precoce e um nível de abstração em desacordo com seu amadurecimento (SÃO PAULO, 1997, p. 7).

Além do que, prosseguem os autores da referida proposta: “Esses

professores, insatisfeitos com tal situação e questionando cada vez mais o

conteúdo dos livros didáticos, vinham se reunindo para discutir novas

propostas para o ensino de Matemática” (SÃO PAULO, 1997, p. 7).

Com o encaminhamento desses estudos e discussões essa equipe do

CENP – envolveu professores da Rede Estadual de Ensino, monitores de

Matemática e professores da USP, UNICAMP, UNESP E PUC-SP – considerou

as análises e as reflexões sobre o trabalho “Subsídios para a implementação

do Guia Curricular de Matemática”.

Além desse trabalho também estavam presentes nas reflexões do grupo

o acompanhamento do Projeto “Geometria Experimental” (desde 1979) e a

elaboração, testagem e implementação do trabalho “Atividades Matemáticas”,

desde 1981, como referenciais básicos para estruturar e desenvolver as

primeiras ideias relacionadas com a preparação da proposta em questão (SÃO

PAULO, 1997, p. 7).

As primeiras ideias que nortearam o trabalho foram sintetizadas em

quatro programas televisivos (Projeto IPÊ) e em fascículos compostos por

dezenove programas do Projeto 1º Grau.

A partir delas surgiu a primeira versão da proposta, que foi

primeiramente discutida por monitores de Matemática com o objetivo de

sistematizar sugestões indicadas no processo de discussão em cada uma das

Delegacias de Ensino (hoje chamadas de Diretoria de Ensino) componentes da

estrutura da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.

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Por conta das sugestões e análises feitas pela equipe baseadas nas

sugestões advindas das Delegacias de Ensino, uma segunda versão da

Proposta foi discutida, em Julho de 1987 pelos professores de matemática da

Rede Estadual de Ensino de São Paulo (SÃO PAULO, 1997, p. 7-8).

Após essas sugestões, bem como as considerações e análises críticas

advindas de especialistas em Educação Matemática das Universidades

mencionadas anteriormente, foi elaborada outra versão da Proposta contendo

as seguintes orientações preliminares:

Nesta versão, os conteúdos são apresentados seriadamente [...] Entretanto, há certas metas que devem ser alcançadas não rigidamente numa série, mas ao longo de certo período, que englobe duas ou mais séries. A flexibilidade para o desenvolvimento dos programas dentro de uma série ou de um conjunto delas proporciona ao professor a possibilidade de tratar os temas de Matemática com mais autonomia, respeitando ritmos individuais e processos de maturação. Daí ter-se optado por apresentar o conteúdo em DIFERENTES NÍVEIS DE ABORDAGEM, em que se procura respeitar a integração dos temas a serem trabalhados, bem como seu desenvolvimento “em espiral”, conforme preconiza Jerome Bruner: “... dominar as ideias básicas, usá-las eficientemente, exige constante aprofundamento da compreensão que delas se tem, o que se pode conseguir aprendendo-se a utilizá-las em formas progressivamente mais complexas” (SÃO PAULO, 1997, p. 8) (grifo dos autores).

Cabe destacar que essa versão – final – dessa proposta foi apresentada

aos professores ainda em 1988. As edições seguintes – como a de 1997, que

usamos nesta pesquisa – tratam apenas de reimpressões com mudanças

pouco significativas, como a mudança do nome 1º grau para Ensino

Fundamental ou um quadro comparativo entre os “Guias Curriculares” e a

“Nova Proposta Curricular”.

Fato importante que estava presente nesta Proposta e, portanto merece

ser destacado aqui, mostra o avanço nas concepções que nortearam os

trabalhos no desenvolvimento desta proposta acerca da apropriação de

diferentes significados para um dado conceito o qual é apresentado na

transcrição seguinte:

Desse modo, uma mesma noção deverá ser retomada em diferentes ocasiões, que sejam convenientes, de modo a permitir sua elaboração e reelaboração por parte do estudante, desde um primeiro contato, onde ele capta intuitivamente as ideias básicas e as aplica em situações-problema, até a fase em que é utilizado o pensamento lógico-dedutivo, permitindo uma progressiva formalização e sistematização do conceito enfocado (SÃO PAULO, 1997, p. 8).

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Em relação às justificativas para a inclusão da Matemática na proposta

curricular em questão merece destaque o desenvolvimento do raciocínio desde

o Ensino Fundamental, presente em:

Existem duas vertentes básicas, amplamente difundidas, a partir das quais se justifica a inclusão da MATEMÁTICA nos currículos escolares: Ela é necessária e atividades práticas que envolvem aspectos quantitativos da realidade, como são as que lidam com grandezas, contagens, medidas, técnicas de cálculo etc.; ela desenvolve o raciocínio lógico, a capacidade de abstrair, generalizar, projetar, transcender o que é imediatamente sensível. Não é difícil entrar em acordo quanto a esta dupla função da MATEMÁTICA: as aplicações práticas e o desenvolvimento do raciocínio. (SÃO PAULO, 1997, p. 8) (grifo dos autores).

Em relação à organização da estrutura curricular – de modo que sejam

atingidos os objetivos segundo os quais são justificadas as razões da inclusão

da matemática – não parece ser tarefa simples o estabelecimento de metas

conforme se constata na citação presente em São Paulo (1997) apresentada a

seguir:

Já não é tão simples, no entanto, um acordo sobre o modo como um currículo deve ser organizado para que tais metas sejam atingidas. Assim, algumas vezes, uma ênfase exagerada em aspectos prático-utilitários, apesar da aparência de adequação, da perspectiva de continuidade na relação escola-vida, tolhe a capacidade de ultrapassar o senso comum, contribuindo até para a manutenção do “status quo”. Outras vezes, pretende-se o desenvolvimento das estruturas lógicas do pensamento através de caminhos tão genéricos, tão formais e, consequentemente, tão distanciados de qualquer significado imediato que o ensino de MATEMÁTICA passa a parecer apenas um efetivo exercício para o desenvolvimento do raciocínio ... em MATEMÁTICA (SÃO PAULO, 1997, p. 8) (grifo dos autores).

A citação acima vem ao encontro de nossas convicções, pois

consideramos que uma das tarefas de grande relevância na missão docente de

um professor que ensina matemática deve ser a de perseguir situações de

equilíbrio na tensão que existe entre a necessidade de apresentar situações

práticas e a postura de não exagero em relação às experiências com situações

concretas.

Um fato que merece destaque em relação às orientações relacionadas

aos conteúdos dessa proposta, objeto desta análise, é aquele que se relaciona

à listagem dos conteúdos prescritos – não os rótulos dos conteúdos em si –

uma vez que, em se tratando do particular caso do conteúdo de Análise

Combinatória, este rótulo tem se repetido ao longo das reformas ocorridas após

1930 – como assim temos identificado desde então aqui.

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Este destaque é relevante em relação às diferentes maneiras como o

conteúdo Análise Combinatória pode ser abordado – considerando-se não

somente as diversas propostas existentes em todos os Estados da Federação

– mas principalmente a abordagem que é conferida em cada uma delas para o

desenvolvimento das questões e atividades relacionadas à esses conteúdos.

Com relação a este contexto assim se referem os autores da Proposta

Curricular em questão:

Uma lista de conteúdos não é suficiente para caracterizar uma proposta curricular. No caso da MATEMÁTICA, ao longo de diversas reformas, tal lista tem variado relativamente pouco. [...] Tais assuntos, no entanto, podem ser desenvolvidos de modos significativamente diferentes em diferentes propostas e é através dessas abordagens que se pode caracterizá-las. [...] De modo geral, em MATEMÁTICA, o conteúdo a ser ensinado é um veículo para o desenvolvimento de uma série de ideias fundamentais, convenientemente articuladas, tendo em vista as grandes metas que são a instrumentação para a vida e o desenvolvimento do raciocínio. Tais ideias ... é que são fundamentais e não os assuntos em si. Essa distinção é essencial, sendo um fato patente a possibilidade de constituição de propostas significativamente distintas a partir da mesma lista de conteúdos (SÃO PAULO, 1997, p. 11-12) (grifo dos autores).

Outro fato que se destaca nesta Proposta Curricular faz referência à

extensão dos programas e a inviabilidade de concretizá-los segundo uma visão

errônea de que “a não conclusão do percurso compromete todo o trabalho,

uma vez que não tendo visto o todo fica uma impressão forte de nada ter visto”

(SÃO PAULO, 1997, p. 15).

Sobre essa questão assim se referem os autores da presente Proposta:

Uma das dificuldades mais frequentes apontadas pelos professores para a viabilização das propostas curriculares é a extensão dos programas [...] Tal diagnóstico, no entanto, mesmo referindo-se a situações concretas onde ele parece incontestável, esconde, muitas vezes, a questão central no planejamento das atividades docentes, que é a distinção clara entre os aspectos centrais essenciais, em cada assunto, e aqueles que são periféricos ou menos relevantes. Quando as metas para o ensino da MATEMÁTICA são fixadas com suficiente clareza, as ideias e as técnicas significativas a serem desenvolvidas não se mostram tão numerosas, tão extensas que inviabilizam sistematicamente o cumprimento dos programas. O que ocorre com muita frequência é que uma fragmentação excessiva na apresentação dos diversos conteúdos dificulta a apreensão do real significado e o reconhecimento do que é verdadeiramente relevante (SÃO PAULO, 1997, p. 15) (grifo dos autores).

Assim, tomando por base o que foi exposto acima consideramos que tal

Proposta Curricular apresentou um avanço significativo em relação às

orientações enviadas aos professores nas escolas e àquelas que efetivamente

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o professor lê, entende e coloca em prática quando se depara com a dicotomia

entre o que é prescrito em um “Currículo proposto” e um “Currículo em Ação”,

do qual ele é partícipe.

Um “Currículo em Ação” é aquele que efetivamente será conduzido em

sala de aula à luz das interpretações e concepções havidas entre o professor e

seus pares, aquelas de cunho pessoal e intrínsecas ao professor e as que

dizem respeito à sua formação profissional, suas convicções, suas crenças e

às suas experiências pessoais.

A Proposta Curricular em questão sugere então que o professor trate

todos os temas de maneira adequada e “com a profundidade possível, em vez

de optar por uma sequência linear de assuntos em que, começando por um

deles, trate-o exaustivamente em detrimento dos demais”, considerando que

“essa alternativa, indesejável, tem sido muito frequente, historicamente” (SÃO

PAULO, 1997, p. 19).

E esta proposta finaliza as orientações afirmando que “Nas séries finais

do 1º grau, são aprofundadas certas propriedades fundamentais dos números,

das formas e das medidas. [...] Não há, ainda, uma preocupação sistemática

com a formalização”, o que vem a se tornar uma recomendação presente nas

Reformas Curriculares que se seguiram, e também corroboradas nas

orientações prescritas nos PCN (1997, 1998, 1999) (SÃO PAULO, 1997, p. 20).

Em relação às sugestões de temas relacionados com os conteúdos de

Combinatória na 3ª série/4º ano do Ensino Fundamental os autores da

Proposta sugerem que desde então a abordagem dos problemas de contagem

seja feita considerando a seguinte sugestão para uma das atividades:

A abordagem desse tema poderá ser feita a partir de classificações de elementos de uma coleção segundo “diagramas de árvores”. Com uma coleção de blocos lógicos (ou outro material substitutivo), os alunos serão incentivados a separá-los, segundo esquemas do tipo: (apresenta uma árvore com dois ramos: grandes e pequenos e outra árvore com três ramos: azuis, vermelhas e amarelas, e desenha algumas peças) ou etiquetar ramos de árvores variadas, indicando o tipo de elementos que irão colocar nesses galhos, como por exemplo: (apresenta uma árvore com dois ramos, um deles identificado como “grossas” e o outro em vazio e, para o primeiro dos ramos apresenta três sub-ramos, sendo um deles indicado por azul e os outros dois vazios e para o segundo dos ramos apresenta três sub-ramos sem indicações, nomeando os ramos terminais de (a) até (f)) (SÃO PAULO, 1997, p. 45).

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Prossegue o texto, no qual os autores indicam outras sugestões para a

abordagem dos problemas de contagem:

Seria interessante que os próprios alunos confeccionassem algum material, a partir de uma escrita multiplicativa do total de peças que se deseja na coleção, como por exemplo: um material com estrutura semelhante à dos blocos lógicos porém com 12 peças, poderia ser constituído por 12 cartelas, apresentando figuras, com três atributos que variam 2, 3 e 2 vezes respectivamente, como: (apresenta um desenho tipo “foguete”): quantidade de janelas (uma ou duas) - 2 variações; cor (azul, amarelo, branco) – 3 variações; tamanho (grande, pequeno) – 2 variações; 2 x 3 x 2 = 12 cartelas (com esse mesmo número de cartelas, também podemos considerar dois atributos, sendo o 1º com 2 variações e o 2º com 6 variações) (SÃO PAULO, 1997, p. 45).

Com essas orientações os autores sugerem que o professor possa

desenvolver situações alternativas de multiplicação com dois ou três fatores

relacionados aos atributos que os alunos poderiam identificar em relação às

peças dos “Blocos Lógicos”.

Consideram os “Blocos Lógicos” como úteis para o desenvolvimento de

ideias relacionadas com o significado de cada um dos fatores da multiplicação

e os “ramos constitutivos da respectiva árvore de possibilidades”, e vice-versa.

Com essas sugestões os autores trazem – já para as séries iniciais – o

reconhecimento e utilização de uma das representações mais significativas

para a compreensão do raciocínio combinatório e o Princípio Multiplicativo qual

seja: a árvore de possibilidades.

A árvore de possibilidades auxilia na fundamentação das primeiras

ideias que estão relacionadas ao raciocínio combinatório em relação a um dos

significados presentes na multiplicação.

Salientamos o avanço dos pressupostos desta Proposta Curricular no

sentido da percepção que os autores tiveram à época de sugerir aos

professores desenvolver atividades básicas já desde a 3ª Série do Ensino

Fundamental associadas com o ensino e a aprendizagem de problemas de

contagem.

Essas atividades têm na árvore de possibilidades uma das

representações mais significativas e apropriadas para a determinação e

apresentação de soluções a um dado problema de contagem com número

reduzido de objetos e no início do estudo deste conteúdo.

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A árvore de possibilidades constitui-se de importante procedimento

associado à multiplicação de números naturais com a ideia combinatória, como

também passou a ser prescrito nos PCN (1997, 1998) do Ensino Fundamental.

Surpreendeu-nos a indicação de tal proposta de atividades em uma

proposta curricular, a esta altura, antecipando-se ao que os PCN do Ensino

Fundamental viriam a prescrever a partir de 1997, e ver apresentada tal

sugestão em um documento oficial – relevante que ela é – de desenvolvimento

de atividades com o uso de árvores de possibilidades desde a 3ª Série (4º ano)

do Ensino Fundamental, em consonância com os resultados das pesquisas de

Fischbein e Gazit (1988).

E que tal sugestão venha acompanhada de uma representação bastante

pertinente como é o caso da árvore de possibilidades, quando se iniciam

estudos relacionados com os problemas de contagem na Educação Básica.

Ressalte-se que foi neste documento que encontramos, pela primeira

vez, tanto em currículos prescritos quanto em outros documentos oficiais, a

referência ao uso de árvores de possibilidades nesse segmento de ensino.

Porém, cabe aqui um recorte temporal significativo quando enfatizamos

que a partir da Constituição Federativa do Brasil de 1988 grupos constituídos

de Educadores Matemáticos e Matemáticos de diversos estados da Federação

– como será citado em seguida, ainda neste capítulo – já se debruçavam desde

então em apresentar sugestões para modificações dos Currículos da Educação

Básica.

Essas sugestões de modificações influenciaram as publicações dos PCN

do Ensino Fundamental e do Ensino Médio por conta das decisões colocadas

nos artigos da referida Constituição Brasileira que fazem referência à educação

para todos em ambos os níveis.

Como consequência de tais ações levadas a termo em paralelo a tais

iniciativas de modificações grupos de profissionais ligados à educação do

Estado de São Paulo também faziam o mesmo, como é do conhecimento de

todos pela lista de autores de ambos os documentos (PCN e Proposta

Curricular de São Paulo) uma vez que havia autores com contribuições em

ambos os documentos.

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De certa forma tal particularidade legitima ainda mais a sugestão

inovadora da Proposta Curricular de São Paulo, considerando que as reflexões

feitas pelos seus autores, também puderam ser contempladas pelos

educadores de todo o país, quando da elaboração dos PCN.

Queremos ressaltar a importância dessas reflexões a respeito da

representação da árvore de possibilidades presente na Proposta Curricular

chegou às escolas do Estado de São Paulo, dez anos antes dos PCN do

Ensino Fundamental.

Tal deferência se refere particularmente em relação aos problemas de

contagem para as séries iniciais do Ensino Fundamental desde então.

Prosseguindo nas considerações acerca da Proposta Curricular, os

autores assim se referem às atividades que podem ser desenvolvidas ainda na

3ª Série do 1º Grau reforçando a importância do uso da árvore de

possibilidades:

Após a criança ter se familiarizado com a relação existente entre as classificações e a “árvore”, pode-se propor atividades sobre problemas de contagem que envolvam multiplicações, cujos resultados finais dependem de duas ou mais etapas de escolha e cuja resolução possa ser visualizada através da representação num diagrama de árvore. Por exemplo, dispondo de 20 fichas amarelas e 20 fichas azuis, cada aluno será convidado a formar trenzinhos com 3 fichas, combinando suas cores, como quiser, de modo a obter trenzinhos diferentes. Discutir com a classe qual a maior quantidade de trenzinhos que conseguiram formar. Sugerir aos alunos que, para descobrir esse total de trenzinhos diferentes (8), eles podem fazer uma representação dessas 8 possibilidades de uma árvore do tipo: (apresenta a árvore e após cada um dos ramos finais a indicação do trenzinho pronto, tipo AM AZ AM). O mesmo jogo em que os alunos deverão formar trenzinhos com 4 fichas poderá ser sugerido à classe e, a seguir, pedir que façam a árvore de possibilidades para ver se não se esqueceram de formar nenhum trenzinho. Finalmente, solicitar às crianças qual a operação que elas podem fazer para descobrir o total de trenzinhos no 1º e, depois, no 2º jogo. No caso do trenzinho de três fichas, para a escolha da 1ª ficha, temos 2 possibilidades (Am ou Az) e o mesmo vai acontecer na escolha da 3ª ficha. Assim, o total de trenzinhos possíveis de serem formados é calculado por 2 x 2 x 2 = 8 (SÃO PAULO, 1997, p. 45-46).

Considerando o nível cognitivo das crianças que estão na 3ª Série do 1º

Grau, e em idades por volta dos 10 anos, as questões colocadas pelos autores

são bastante significativas por apresentarem intuitivamente fundamentações

relacionadas com a utilização do Princípio Multiplicativo e a construção de

árvores de possibilidades, tal qual se referem Fischbein e Gazit (1988).

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Podemos aqui sugerir que essas situações-problema propostas para

essa série, ou similares, acrescidas de outras relacionadas a problemas de

contagem, sem o uso do material “Blocos Lógicos”, possam ser também

apresentadas para crianças de 5ª ou 6ª Série.

Prosseguindo no texto da proposta em relação às sugestões para a 5ª

série, é indicado o uso de árvore de possibilidades para a compreensão de

conceitos relativos à potenciação de números naturais. A esse respeito, os

autores consideram que:

Apresentar situações-problema que envolva multiplicações sucessivas de fatores iguais (problemas de contagem), enfatizando a grandeza do resultado (potência). Por exemplo: “Paulo tem 2 calças (uma branca e outra preta) que usa para ir à escola. Dispõe também de 2 blusões (um com mangas curtas e outro com mangas longas). Para combinar com essas roupas, Paulo usa ou tênis de amarrar ou um outro de botão. De quantas maneiras diferentes ele poderá vestir-se para ir à escola?”. Inicialmente é desejável que o estudante descreva cada maneira possível de que Paulo dispõe para vestir-se (possuindo 2 calças, 2 blusões, 2 pares de tênis), após o que, ele fará uma contagem direta de todos os casos possíveis. Para a sistematização dessa contagem, retomar a representação por meio de árvore de possibilidades: (apresenta a árvore). Discutir com os alunos o significado dessa representação: - para cada uma das duas possibilidades, na escolha da calça (branca ou preta), Paulo tem duas possibilidades de escolha do blusão (manga curta ou manga comprida), totalizando 2 x 2 possibilidades de escolha de calça e blusão; - para cada uma dessas 2 x 2 possibilidades de escolha de calça e blusão ele tem 2 possibilidades de escolher o tênis (de amarrar ou de abotoar), totalizando 2 x 2 x 2 possibilidades de escolha de calça e blusão e tênis. Assim, Paulo poderá vestir-se de 2 x 2 x 2 = 8 maneiras diferentes (desde que ele calce um par de tênis do mesmo tipo!). Outras situações, com estruturas semelhante à anterior, poderão ser propostas, levando o aluno a obter produtos de fatores iguais: 3 x 3, 4 x 4 x 4 x 4 x4, etc. A seguir, introduzir a escrita abreviada, para cada caso: 23, 32, 45 etc., explicitando o papel do expoente, da base e do resultado (SÃO PAULO, 1997, p. 76-77).

Nas três séries finais do 1º Grau não há referência alguma à utilização

de atividades de combinatória em particular, referências aos Problemas de

contagem.

Porém, na 8ª Série, os autores destacam a sugestão para o professor

apresentar noções de Estatística tais como a construção e a interpretação de

gráficos dos tipos: histograma, gráficos de barras, de setores, de linhas

poligonais e de curvas.

3.2.2 A Proposta Curricular de Matemática para o 2º Grau em São Paulo

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Em 1978 a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo divulga um

documento denominado de “Diretrizes Curriculares de Matemática para o 2º

Grau”, uma vez que os guias Curriculares de 1976 se constituía em uma

proposta apenas para o 1º grau.

No entanto, a implementação dessas diretrizes demandou a elaboração

de outros documentos de modo a orientar os professores quanto ao seu uso

em relação aos aspectos pedagógicos e metodológicos e que viessem a

detalhá-las melhor para que pudessem ser utilizadas.

Segundo os autores, “[...] era necessário complementá-la com materiais

instrucionais que pudessem esclarecer certos pontos, de modo a tornar mais

eficaz a ação do professor na sala de aula” (SÃO PAULO, 1980, p. 9).

Ainda em São Paulo - desde 1975, prosseguindo após a implantação da

referida Proposta em 1978 - iniciam-se estudos acerca da elaboração de

subsídios para a implementação da Proposta Curricular de Matemática para o

2º Grau vigente.

Como resultado dessas inquietações, em 1980 a Secretaria Estadual de

Educação de São Paulo lançou o documento intitulado “Subsídios para a

implementação da Proposta Curricular de Matemática para o 2º Grau – Volume

1”.

Considerando que uma parte do material apresentado no trata de

problemas relacionados com o ensino e a aprendizagem de Combinatória no 2º

Grau, e naturalmente se tem interesse em comentá-lo aqui neste trabalho..

O detalhamento minucioso que faremos a seguir em relação ao tópico

de Combinatória está relacionado ao fato de se tratar do conteúdo matemático,

objeto desta pesquisa, mas também, porque uma das professoras integrantes

do Observatório da UNIBAN trouxe o referido material para um dos encontros

de ensino na versão impressa, para que o pesquisador o conhecesse.

Os autores dos subsídios se manifestam da seguinte maneira a respeito

desses livros:

[...] emergiu certo consenso de que os subsídios não deveriam constituir-se em um livro didático e muito menos em um guia do professor, pois estes já existem em número significativo à disposição do docente. [...] chegou-se a conclusão de que estes subsídios

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deveriam apresentar alguns dos tópicos mais significativos da 1ª e 2ª séries do segundo grau, relacionados na citada proposta curricular, de modo que o professor pudesse, fundamentalmente:

a) determinar o conteúdo essencial a ser desenvolvido;

b) escolher o que, além do essencial, poderá ser trabalhado em certas classes;

c) optar por um dos diversos enfoques didáticos apresentados no documento.

Paralelamente, o material contribui para dar ao professor: uma ideia geral do aparecimento e do aperfeiçoamento de certos conceitos matemáticos, no decorrer da História; a convicção de que é a intuição e o espírito criativo dos alunos que devem ser estimulados e não a memorização ou a repetição mecânica de exercícios clássicos (SÃO PAULO, 1980, p. 9).

Em razão disso, relatam os autores, o documento foi concebido após

cada um dos autores - em número de sete, mais o organizador - apresentarem

uma primeira redação para cada um dos sete tópicos considerados por eles

como sendo mais significativos, e socializá-la com os demais componentes.

Em seguida, através de “aproximações sucessivas” a partir de reflexões

e discussões de todo o grupo eles decidiram aperfeiçoá-la gradativamente até

o consenso de todos.

Parece-nos, porém, que os autores sentiam-se preocupados em relação

à reação que tais “Subsídios” poderiam suscitar entre os seus pares, razão

porque consideraram necessário colocar por escrito tal possibilidade conforme

se pode constatar na citação a seguir:

Mais do que em relação ao primeiro grau, é bastante difícil obter-se um consenso sobre “o que dever ser ensinado” e sobre “como se deve ensinar”. São vários os caminhos que podem levar o professor à consecução dos objetivos gerais do ensino da Matemática no 2º grau, apresentados na referida proposta curricular. Por esse motivo, espera-se que este documento seja, realmente, um elemento a mais para enriquecer e dinamizar esta permanente polêmica. Finalmente, cabe repetir, aqui, o que já foi dito em relação aos subsídios à proposta curricular do primeiro grau: são meras sugestões, visando a subsidiar a tarefa do professor. A este cabe, em última instância, diante das condições de trabalho e dos recursos existentes, decidir sobre a conveniência de aceitar essas sugestões, ampliá-las ou modificá-las, de modo a melhorar seu planejamento no sentido de atingir os objetivos propostos (SÃO PAULO, 1980, p. 9) (grifo dos autores).

Os tópicos mais significativos que foram tratados nos “Subsídios” são:

Função; Das Porcentagens aos Logaritmos; Geometria no 2º grau;

Trigonometria; Análise combinatória; Números Complexos; Matrizes, Sistemas

Lineares e Determinantes, elaborados por diferentes autores.

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Além dos tópicos de conteúdos de matemática o documento traz ao final

um tópico intitulado “Reflexões” cuja autora propõe reflexões acerca da

avaliação e de técnicas que o professor poderia utilizar para desenvolver os

conteúdos apresentados anteriormente. Em relação à avaliação, a autora

assim se manifesta:

Este é um ponto sensível e, com razão, bastante questionado, na Educação. [...] se a sua avaliação não for cuidadosa, ele terá esquecido que nada dentro da Educação tem sentido se não for abordado em função do crescimento do aluno. O aluno é o ponto central, de onde devemos partir para qualquer tipo de trabalho que envolva Ensino, Escola. [...] Se em algum momento do nosso trabalho escolar, optarmos por alguma técnica de grupo, não nos enganemos imaginando que deixá-los trabalhar agrupados, sem regras e condições, seria um bom trabalho (SÃO PAULO, 1980, p. 151-152).

Diferentemente dos outros seis tópicos componentes dos “Subsídios”,

nos quais cada autor apresentou mais de uma sugestão acerca do enfoque

didático que os professores poderiam escolher para encaminhar o trabalho com

o conteúdo em sala de aula, no tópico de Análise Combinatória só houve um

enfoque como sugestão.

Em relação à análise combinatória, que é o que nos cabe aqui comentar,

são ressaltadas as considerações feitas pelo autor, como as que se seguem:

Apesar de a Análise Combinatória ser uma excelente ferramenta para o desenvolvimento do raciocínio combinatório, a maioria dos cursos gera somente um amontoado de fórmulas, com as quais os alunos não conseguem sequer solucionar problemas simples de contagem. Geralmente, isto decorre do fato de que as fórmulas são apresentadas antes mesmo dos alunos dominarem os conceitos combinatórios. A utilização das mesmas é feita a partir de um trabalho puramente mecânico, que exclui, muitas vezes, a compreensão daquilo que estão estudando (SÃO PAULO, 1980, p. 81).

Nesse documento destacamos a posição do autor do tópico

combinatória quando se refere à necessidade do aluno entender o

aparecimento das fórmulas para chegar a “soluções rápidas e eficientes” e

quando recomenda ser viável que a sistematização e o uso de fórmulas sejam

apresentados em conjunto, como pode ser visto a seguir:

Assim, um estudo minucioso concorrerá bastante para que o aluno passe a dominar suficientemente um conceito combinatório, a ponto de entender o aparecimento da fórmula, ou seja, a síntese dos resultados. Isto lhe fornecerá ferramentas que, adequadamente aplicadas, permitem chegar a soluções rápidas e eficientes (SÃO PAULO, 1980, p. 81).

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Queremos crer que quando o autor se refere a “um estudo minucioso”,

que ele esteja se referindo à exploração de todas as possibilidades e à

enumeração das soluções segundo a qual, sob nosso ponto de vista, permitirá

que o aluno se aproprie de conceitos relacionados à Análise Combinatória com

compreensão.

Assim, segundo o entendimento que tivemos, o aluno deve refletir – a

exemplo de quando constrói uma árvore de possibilidades – de que todas as

soluções foram computadas através das diferentes ações (ou tomadas de

decisões) pertinentes à utilização do Princípio Multiplicativo.

Destacamos que o autor considera importante que o aluno apresente a

solução para problemas de combinatória através de soluções “enxutas”,

“sintéticas”, conforme sugere quando destaca que “o hábito de adivinhar a

fórmula [...] deve ser, portanto, substituído por um trabalho de análise e

síntese” (SÃO PAULO, 1980, p. 81). No entanto, consideramos que isso

somente seria possível se o aluno tivesse refletido sobre situações envolvendo

diferentes tipos de agrupamentos e compreendesse representações diversas

como diagrama de árvore ou tabelas.

Em relação às considerações iniciais dos Subsídios (1980) da Proposta

Curricular (1978) consoante à Combinatória, o autor assim se refere:

De início, às vezes, esta análise implica na descrição de todos os casos possíveis, para, em seguida, contá-los. Sugerimos, então, que os problemas iniciais sejam compostos de poucos elementos. A solução desses problemas deve ser intuitiva e a contagem feita diretamente ou usando simplesmente as quatro operações fundamentais. Nestas primeiras aulas, deverá ser mantida uma atmosfera bastante livre, sem a apresentação das fórmulas. Nesta etapa, a melhor solução é aquela apresentada pelo aluno. Respostas diferentes, fornecidas por alunos diferentes, serão úteis para que o professor dirija a aula sob um clima de argumentação entre os alunos. Provavelmente os alunos sentirão a necessidade de descrever todos os casos possíveis, para posteriormente contá-los. Isto servirá para que os alunos tomem os primeiros contatos, mesmo que intuitivos, com raciocínios combinatórios e para tornar claro que a contagem direta é impraticável na maioria dos casos. É preciso, então, desenvolver técnicas de contagem e trabalhar com conceitos combinatórios que racionalizem, de modo sintético, as soluções (SÃO PAULO, 1980, p. 81).

Neste trabalho dos “Subsídios” o autor propõe 70 problemas com

respostas e exemplos introdutórios para cada uma das seções acompanhados

de comentários relacionados à resolução destes problemas. Destacamos a

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grande semelhança dessa Proposta com a obra “Prelúdio à Análise

Combinatória” (Bachx, A. de C., Poppe, L.M.B. & Tavares, R.N.O., 1975) se

levarmos em conta os tipos de problemas propostos, bem como a maneira com

que os problemas são analisados, identificando os “acontecimentos”, a

“descrição das possibilidades (em alguns casos)” e o “número de

possibilidades”.

Ressaltamos que esta obra foi determinante na nossa formação inicial

conforme visto no Capítulo 1, razão porque não foi difícil fazer tal identificação.

Na primeira seção: Contagem, o autor propõe 20 problemas após os

quais faz a seguinte observação:

Após a discussão livre sobre as soluções destes problemas, onde não se aplicaram as fórmulas tradicionais de Análise Combinatória, estarão os alunos, provavelmente, motivados a desenvolverem técnicas sistematizadas para criação e descrição dos casos possíveis, bem como, para contá-los. Sugerimos que, a seguir, se introduzam sistemáticas para a formação de agrupamentos, bem como, sistemáticas para contá-los, sem ter que descrevê-los um a um. A descrição dos agrupamentos responde à pergunta “quais” e a fórmula, à pergunta “quantos”. Nos casos práticos, estes dois aspectos técnicos se reencontram e se completam mas, de início, o problema de construção dos agrupamentos deve preceder o problema de contagem, já que não se deve racionalmente quantificar uma variedade de situações, sem o domínio claro de seu processo de criação. Defeitos frequentes entre iniciantes surgem com a tendência de adivinhar a resposta ou o processo de contagem, sem uma análise adequada do processo de formação dos agrupamentos. Estes defeitos serão evitados pela utilização dos seguintes procedimentos: Leitura atenta do enunciado que, na maioria das vezes sugere várias interpretações; Registro das características essenciais dos agrupamentos; Dinamização dos raciocínios combinatórios, a partir da diversificação de representações (gráficos e tabelas favorecem a elaboração de um plano de construção dos agrupamentos); Crítica ao plano quanto à sua eventual deficiência ou redundância. O plano não deve gerar um agrupamento mais de uma vez e nem deve deixar de gerar todos; Contagem das alternativas ou possibilidades em cada etapa do plano, usando fórmulas, princípio multiplicativo, princípio aditivo, etc. Estas lições serão úteis no sentido de habituar nossos alunos ao raciocínio combinatório. Além disso, o aluno deve ter a oportunidade de enfrentar uma proposta ativa e diversificada (SÃO PAULO, 1980, p. 84-85).

Por esse relato, percebe-se a clara tendência ao uso da fórmula para

determinar o quantitativo de soluções e “sistemáticas para formação de

agrupamentos” para definir quais os agrupamentos serão formados e a atenção

que o leitor deve ter em relação aos enunciados que, segundo o autor, são

ambíguos na maioria das vezes. O autor sugere ao professor a diversificação

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de representações, como uma forma crítica de evitar “eventual deficiência ou

redundância”.

Ressalte-se a ênfase que o autor dá ao uso da fórmula para a

“contagem das alternativas ou possibilidades” e finaliza afirmando que as lições

irão “habituar nossos alunos ao raciocínio combinatório”.

O autor prossegue, sugerindo uma “Sistematização de contagem”, como

em:

[...] não é a única que proporciona os resultados desejados. A critério do professor poderá ser modificada na sua ordem, abrangência e extensão. Esta proposta consta de critérios que sistematizam adequadamente o processo de formação dos agrupamentos, bem como o processo de contagem dos mesmos. Basicamente, o aluno deve vivenciar as seguintes etapas: descrição das possibilidades; denominação; contagem (SÃO PAULO, 1980, p. 85).

Para a descrição das possibilidades o autor detalha cada uma das

etapas, como:

[..] descrição das possibilidades pode-se originar a partir de uma árvore de possibilidades, produto cartesiano, recorrência, etc; a denominação surge da natureza do problema, isto é, do tipo de agrupamento considerado: arranjo, combinação, permutação, etc. Para cada tipo de agrupamento é conveniente deixar bem claro, para os alunos, a diferença entre o agrupamento, o conjunto de todos os agrupamentos desse tipo e o número total dos mesmos (SÃO PAULO, 1980, p. 85) (grifo do autor).

Em relação à etapa da contagem, assim se manifesta o autor:

A contagem deverá, nesta altura, ser feita com alguma sistematização, mesmo que simples. Os agrupamentos desejados devem ser classificados em pacotes, por semelhanças em alguns aspectos e/ou contrastes em alguns aspectos. Em seguida, a contagem poderá ser feita, usando as quatro operações fundamentais, através de uma sistemática cujas características devem nascer no processo orgânico de formação dos agrupamentos desejados, no qual a participação ativa e consciente do aluno é de suma importância. Seguindo esta sistemática de trabalho, será alcançado no final do curso, o domínio dos conceitos e das fórmulas que resolvem mais rapidamente os problemas de contagem. Mas devemos ter o cuidado de não impor os conceitos combinatórios ou de fornecer resultados gratuitamente. Cada conceito deve ser entendido pelo aluno intuitivamente e não memorizado ou imposto. [...] Um jovem tem 4 camisas, 3 calças e 2 pares de sapatos e não quer usar à noite a mesma calça e a mesma camisa que usou durante o dia. Quantas possibilidades de se vestir existem? Solução: Apesar de ser um problema de contagem, devemos discutir com os alunos a descrição das possibilidades. [..] A descrição das 24 possibilidades de se vestir durante o dia será feita em 4 blocos com 6 possibilidades cada um, ou seja: ... Vamos supor, agora, que o jovem usou durante o dia o conjunto {m1, c1, s1}. Ele não poderá usar à noite os conjuntos {m1, c1, s1} ou {m1, c1, s2}, pois estes contêm a mesma calça e a mesma camisa que usou durante o dia. Restam-lhe,

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portanto, 22 possibilidades de se vestir à noite. O exemplo acima nos sugere uma primeira abordagem do Princípio Multiplicativo que deverá ser entendido pelos alunos intuitivamente e não memorizado. Para isso sugerimos alguns problemas (do problema 21 ao problema 50) (SÃO PAULO, 1980, p. 85-86) (grifos do autor).

Quando se refere à ”participação ativa e consciente do aluno” como de

suma importância o autor ressalta que tal participação deva estar referida à

precisa concepção sobre que “pacote” o problema deverá ser colocado através

da “formação dos agrupamentos desejados”.

No exemplo discutido, o autor apresentou a descrição de todas as

possibilidades, justificando tal feito devido ao fato de que “apesar de ser um

problema de contagem, devemos discutir com os alunos”, ou seja, que apesar

de ser preciso determinar o quantitativo da contagem de elementos a

apresentação de todas as possibilidades aos alunos é pertinente. E prossegue

afirmando tratar-se de um exemplo que sugere uma primeira abordagem do

Princípio Multiplicativo para determinar a quantidade de possibilidades de o

jovem vestir-se durante o dia e não àquelas em que poderia vestir-se à noite.

Assim, segundo o autor, para a solução deste problema não haveria a

necessidade de se descreverem todas as possibilidades de se vestir durante o

dia para determinar o total de possibilidades de se vestir à noite, atendendo à

restrição solicitada.

O autor prossegue com mais alguns exemplos utilizando-se do

expediente de “acontecimentos e número de possibilidades” descrevendo as

possibilidades através da árvore de possibilidades e da tabela de dupla

entrada, apenas fazendo uso delas, mas não as rotulando como tal.

Em relação a esses procedimentos, assim se refere o autor:

O professor deve ser bastante paciente na discussão da solução dos problemas de nº 21 a nº 30. As representações das possibilidades devem ser as mais variadas. As argumentações verbalizadas pelos alunos devem ser incentivadas e corrigidas; as denominações, as mais exatas e adequadas possíveis; a contagem, uma consequência natural e intuitiva do processo de formação e representação das possibilidades. Desta forma, acreditamos que o aluno já domina intuitivamente o princípio multiplicativo e um enunciado mesmo que ingênuo poderia ser apresentado: Primeiro, um enunciado que fornece a contagem de pares ordenados obtidos com os elementos escolhidos em dois conjuntos: “Se um acontecimento A pode ocorrer de m maneiras diferentes e um acontecimento B pode ocorrer de n maneiras diferentes, então a sucessão A e B, nesta ordem, pode ocorrer de m x n maneiras diferentes”. [...] Em seguida podemos

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estender o Princípio Multiplicativo para n-uplas ordenadas. Se os alunos ainda não dominarem a formação de sequências, outros problemas poderiam ser propostos, por exemplo: (SÃO PAULO, 1980, p. 89) (grifos do autor).

Percebe-se que o autor sugere o incentivo às discussões acerca das

soluções que venham a ser apresentadas pelos alunos e em orientar para que

o processo de contagem seja formalizado e, em seguida, generalizado.

Na sequência de ensino deste estudo tomamos a primeira parte da

citação acima como uma proposta de trabalho e que lá foi utilizada, permitindo

que com ela fossem encaminhadas as reflexões e questionamentos dos

sujeitos de pesquisa acerca dos encaminhamentos das soluções para as

situações-problema propostas.

Dando prosseguimento ao texto, o autor enuncia o Princípio

Multiplicativo generalizado e afirma que a sua demonstração é feita por indução

sem sugerir como poderia ser feito e sem fazer considerações a respeito de

seu enunciado.

Levando em consideração a abordagem que estamos fazendo para analisar os conceitos combinatórios, o Princípio Multiplicativo ocupa uma posição de suma importância. É preciso que o aluno o domine muito bem. Mais tarde, será necessário que o aluno perceba como o Princípio Multiplicativo funciona como base para qualquer técnica de contagem sintética. É fato que adolescentes nesta faixa etária têm o conceito de multiplicação como soma de parcelas iguais. O Princípio Multiplicativo, entretanto, está, quase sempre associado a situações do tipo: “cada elemento de um conjunto A, pode ser combinado com todos os elementos de um conjunto B”. Para isto, é necessário utilizar diversos tipos de representação, principalmente a árvore de possibilidades que dinamiza a conscientização e aplicabilidade generalizada do Princípio Multiplicativo. Os problemas do nº 21 ao nº 37, em geral, poderiam ser resolvidos com as fórmulas que fornecem o número de arranjos e permutações simples ou com repetição. Retomando o problema nº 15, problemas mais alguns problemas de aplicação do Princípio Multiplicativo, que, em essência, envolvem o conceito de combinação simples. No final deste trabalho, estes conceitos combinatórios serão tratados mais sistematicamente (SÃO PAULO, 1980, p. 91-92) (grifos do autor).

Neste momento o autor atribui à árvore de possibilidades um papel de

destaque em relação a outras possíveis representações ao afirmar que

“principalmente a árvore de possibilidades que dinamiza a conscientização e

aplicabilidade generalizada do Princípio Multiplicativo”.

Isto se deve, segundo nossa concepção, ao fato de que na construção

da árvore os passos constitutivos de aplicação do princípio multiplicativo se

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tornam visíveis através da construção dos “galhos da árvore” a partir de cada

“nó” até a obtenção dos “galhos terminais”.

Entendemos que as ações que permitem a construção de uma árvore de

possibilidades são exatamente aquelas mesmas ações que permitem a tomada

de decisões, em cada passo, de uma análise de “combinação dos objetos

envolvidos” - quando se utiliza o raciocínio combinatório num dado “nó da

árvore”.

O número de modos de se tomar cada decisão é a correspondente

quantidade de “galhos da árvore que se está construindo” razão porque quando

essa quantidade de “galhos” se mostrarem em quantidade excessiva possa-se

optar por não construir toda a árvore de possibilidades.

A partir de então se pode tomar o número de “galhos da árvore” pelos

correspondentes fatores que identificam a operação de multiplicação com o uso

do princípio multiplicativo e com a correspondente “operação combinatória”

realizada. Ou seja, a de “combinar objetos ou elementos” entre os elementos

constituintes da situação em questão.

O texto prossegue e em seu item 3 – Arranjos com repetição – inicia

informando que passará à sistematização do conceito e, depois de

apresentado um exemplo, inicia a definição formal do referido conceito. Finaliza

este item indicando o modo de obter o número de arranjos com repetição com

o uso do Princípio Multiplicativo.

Em seu item 4: Arranjos simples, retoma à mesma ordenação que

utilizou no item anterior e finaliza, sintetizando: “Seja E um conjunto com n

elementos. Arranjos dos n elementos de E, tomados k a k, é toda sequência de

k elementos de E. Diz-se arranjos simples se todos os termos da sequência

forem distintos e k ≤ n. Caso contrário, diz-se arranjo com repetição” (SÃO

PAULO, 1980, p. 99).

Em seu item 5: Fatorial, inicia chamando a atenção de que ele “simplifica

bastante esses cálculos” e, em seguida, apresenta “uma primeira definição”

tomando n! = 1, se n = 0 e n! = n.(n-1).(n-2)....3.2.1, se n > 0.

Afirma que: “De imediato, para n > 0, vale a seguinte propriedade: n! =

(n-1)!.n”. E, em seguida, afirma: “A convenção 0! = 1, da definição, deve-se ao

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interesse de que a propriedade anterior seja válida também para n = 1”, sem

comentar as razões desse interesse e também não apresenta outra definição

para fatorial de n.

Finaliza o item propondo problemas que dizem respeito a cálculos de

fatoriais, desprovidos de situações combinatórias (SÃO PAULO, 1980, p. 99-

100).

Para os itens anteriores julgamos que a ênfase dada aos arranjos e

fatorial não caracterizou a razão porque o autor os considera necessários

serem apresentados, além de que “simplifica bastante esses cálculos”.

O item seguinte, Permutações, é iniciado pela interpretação de que cada

permutação de n elementos como um arranjo simples de n elementos tomados

n a n, ou seja, k = n.

A seguir, pela informação de que: “uma permutação de n objetos é

qualquer agrupamento ordenado desses n objetos”.

Em seguida, apresenta a definição e a fórmula para a contagem do

número de permutações, propondo três problemas para o leitor resolver.

O item 7 é dedicado às Combinações simples, apresentando

inicialmente a definição e a fórmula para a contagem do número de

combinações simples a partir dos arranjos simples e as permutações dos

elementos do conjunto, e propõe alguns problemas para o professor de

maneira que venha a aplicar a fórmula.

No próximo item é estudado o Triângulo Aritmético de Pascal (Tartaglia),

enfatizando o fato de que “o encanto e o mistério das relações entre os

números combinatórios motivam bastante os alunos” e mostra uma “forma

interessante” de construir esse triângulo como se estivesse jogando o “Jogo de

Damas”. Em seguida apresenta algumas propriedades presentes no “triângulo”.

O item 9 é dedicado a “Curiosidades” e, no item 9.1 apresenta o

Princípio aditivo e faz a seguinte observação: “Na maioria dos problemas de

Combinatória, a solução pode ser obtida através do Princípio Multiplicativo e do

Princípio Aditivo”.

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Naturalmente que o uso do “e” não nos parece adequado uma vez que

entendemos que muitos problemas de contagem são resolvidos apenas com o

uso do Princípio Multiplicativo.

Nas situações em que somente o uso desse Princípio não for possível

de ser aplicado o problema precisa ser repartido em partes tais que, para cada

uma delas, aplica-se o Princípio Multiplicativo e daí, como as partes

constituintes representam subconjuntos formados por soluções disjuntas entre

si, deve-se então aplicar o Princípio Aditivo para obter a totalidade das

soluções à situação-problema proposta.

Assim, o Princípio Aditivo é aplicado quando se apresenta combinado

com o Princípio Multiplicativo nas parcelas constituintes da operação de adição.

Em seguida apresenta um problema de cardinalidade da união de três

conjuntos através de um diagrama e não apresenta a solução, classificando

esses problemas como “de tipos interessantes e úteis”.

No item 9.2, “Permutação circular” são apresentadas todas as

disposições possíveis de quatro alunos sentarem ao redor de uma mesa

circular e, em seguida, generaliza o resultado para n pessoas indicando a

fórmula que dá conta de determinar o quantitativo de modos de se fazer isso

sem, entretanto, propor problemas para o professor.

No item seguinte, “Os anagramas”, o autor discute uma situação de

transmissão de uma informação codificada através de um diagrama em que se

deve decifrar uma mensagem contendo 62 caracteres, onde vários desses

caracteres se repetem por até noves vezes, o que inviabiliza portanto as

tentativas de violação desta na tentativa de decifrá-la, em função da enorme

quantidade de anagramas possíveis de serem investigados.

Em seu item 9.4: Jogos de azar, o autor apresenta um exemplo com o

número de modos de escolher duas peças de um jogo de dominó de modo a

realçar o seu uso para a “sistematização e formalização dos conceitos

combinatórios e da teoria da probabilidade”.

Mais uma vez o autor enfatiza que “É muito comum enunciados de

problemas combinatórios gerarem várias interpretações. Temos que ser

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precisos nos enunciados e, sempre que necessário, argumentar com a classe

sobre as possíveis interpretações” (SÃO PAULO, 1980, p. 108).

Em seu item 9.5: Árvore de possibilidades, o autor faz uma afirmação: “A

árvore de possibilidades se aplica também a problemas de contagem nos quais

não é aplicável o Princípio Multiplicativo” e faz menção ao fato de “como os

princípios multiplicativo e aditivo se articulam para efetuar uma contagem”. Esta

afirmação vem corroborar com nossas expectativas em relação à abrangência

que o autor quer dar ao conteúdo de combinatória considerando árvores de

possibilidades não totalmente simétricas (geralmente nos casos de

combinações simples) e, portanto, não representativas da aplicação do

princípio multiplicativo de modo direto.

Em seguida, ao apresentar o exemplo: “Marcos e Paulo disputam entre

si um torneio de tênis. O primeiro a ganhar 2 partidas seguidas ou 3 alternadas

vence o torneio. O diagrama seguinte nos fornece os resultados possíveis do

torneio” o autor apresenta uma árvore de possibilidades.

O autor afirma em seguida: “Na árvore, cada letra indica o vencedor da

partida. Examinando cada ramo, podemos perceber qual foi o vencedor do

torneio. Notemos ainda, que os ramos da árvore iniciados por M e P são

simétricos”.

Parece-nos que o autor esqueceu-se de citar a resposta, ou seja, o que

de fato foi pedido no problema: se são todas as possibilidades de se obter um

vencedor nesse torneio elas são em número de dez e, assim, cada competidor

tem cinco possibilidades de vir a sagrar-se um vencedor.

Além do mais, a afirmação do autor segundo a qual: “Examinando cada

ramo, podemos perceber qual foi o vencedor do torneio”, ficaria melhor se

assim o fosse escrito: examinando cada ramo teríamos a ordem em que os

resultados das partidas se sucederam de modo a determinar o vencedor do

torneio como aquele que consta no último “galho” da árvore, para cada ramo

analisado.

O autor finaliza o seu texto apresentando mais duas situações para

análise do leitor: um problema proposto similar ao exemplo anterior em que,

agora, é suficientemente claro ao perguntar de quantas maneiras o torneio

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pode se desenrolar quando duas equipes disputam um torneio de basquete e

sai vencedora aquela que vencer dois jogos seguidos ou quatro jogos

alternados.

E, no exemplo seguinte: “Um homem tem oportunidade de jogar na

roleta, no máximo 5 vezes. Em cada jogada ela ganha ou perde um cruzeiro.

Ela começa com um cruzeiro e é obrigado a encerrar a série de jogadas se

ocorrer uma destas hipóteses: ele perde todo o seu dinheiro; ele ganha 3

cruzeiros”. A solução apresentada contém erro ao afirmar que o jogo pode

ocorrer de 11 maneiras diferentes, quando o certo seriam 1º maneiras, e que o

jogo para antes da 5ª rodada apenas em 3 desses casos, quando o certo

seriam em dois desses casos. Prossegue, erradamente, afirmando que “o

jogador pode ganhar em 7 desses casos e perder em 4”. O autor finaliza,

afirmando: “No estudo da probabilidade podemos mostrar que a chance de

ganhar é menor que a de perder, o que sempre favorece o proprietário do

cassino”.

Este exemplo parece-nos bastante oportuno de ser considerado, uma

vez que ele permite mostrar a forte relação existente entre os conceitos da

Combinatória e da Probabilidade muito embora se possam desenvolver noções

básicas de probabilidade sem a necessidade de terem sido ensinados

problemas de contagem.

Finalizando a apresentação e a análise deste documento em relação ao

conteúdo de análise combinatória, convém ressaltar que as orientações

presentes neste documento, para os professores de Matemática vinculados à

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo estiveram oficialmente

vigentes por quase uma década no sentido de nortear o trabalho dos

professores.

Após a publicação dos “Subsídios”, os quais complementam a Proposta

Curricular - em particular do Volume 1, Matemática, em 1982 –, foi publicado

pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo o trabalho intitulado

“Subsídios para a Implementação da Proposta Curricular de Matemática para

o 2º Grau – Volume 2” com sugestões de materiais instrucionais sobre os

conteúdos de Probabilidade, Estatística e Matemática Financeira. Segundo os

autores da publicação esses três conteúdos “não têm tradição no currículo de

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Matemática do 2º Grau” e afirmam: “optamos, portanto, por apresentar os

assuntos de forma operacionalizada, orientando e facilitando o trabalho

docente [...] este trabalho contém meras sugestões cujo objetivo é subsidiar a

ação docente” (SÃO PAULO, 1982, p. 7).

Em 1987, ainda referindo-nos ao Estado de São Paulo, e por conta das

inquietações advindas das críticas ao MMM concepções curriculares passaram

a enfocar aspectos pedagógicos relativos à corrente construtivista para a

apreensão dos conceitos de matemática.

Finalizando a apresentação e a análise desta Proposta Curricular do

Estado de São Paulo, consideramos que as análises feitas no documento - no

que se refere à combinatória - foram importantes para o encaminhamento de

reflexões feitas com os professores sujeitos dessa pesquisa no seio dos

encontros de ensino no sentido de que eles puderam identificar como o ensino

de combinatória era feito à época, com tratamento diferenciado para a

aplicação do Princípio Multiplicativo, mas fortemente calcado no uso de

fórmulas.

Em prosseguimento às considerações deste capítulo, na seção seguinte

dá-se sequência aos aspectos relacionados às Reformas Educacionais no

Brasil iniciadas antes da análise da Proposta Curricular de Matemática para o

2º Grau, anteriormente vista.

3.2.3 Nova Proposta Curricular de Matemática para o 2º Grau do Estado de São Paulo

Em 18/4/1982 foi aprovada a Lei Federal nº 7.044 que alterou os

dispositivos da LDBEN nº 5.692/71 referentes à profissionalização do ensino do

2º Grau e, em função dessas alterações, foi autorizado que as escolas

tivessem a oportunidade de construir seus modelos curriculares, que

estabelecessem sua própria proposta educacional e que reorganizassem as

grades curriculares.

De modo a dar conta das alterações que se faziam necessárias

implementar desde então a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

promoveu discussões com professores vinculados à referida Secretaria em

conjunto com professores de algumas Universidades do Estado de São Paulo

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Em abril de 1985 uma proposta preliminar contendo novas diretrizes foi

divulgada para que grupos de professores pudessem discutir e refletir sobre os

pontos ali propostos.

Como consequência dessas discussões um novo documento intitulado

“Questões para orientar a reflexão sobre o planejamento de ensino de

matemática para o 2º Grau” foi elaborado em 1986 e serviu de base para que

novas discussões que foram encaminhadas por professores integrantes da

Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP pudessem dar

forma à referida proposta.

Após reflexões dos professores da rede estadual e da apreciação por

parte de especialistas de algumas universidades de São Paulo que

participaram da fase inicial da Proposta, alguns tópicos de matemática como os

de Matemática Financeira, Potências e Expoentes foram incorporados à

proposta preliminar além da incorporação de sugestões de caráter

metodológico.

Assim, concluídas as discussões acerca de uma nova “Proposta

Curricular para o Ensino: 2º Grau”, a proposta enfim foi aprovada em 1992 e se

tornou conhecida como “Nova Proposta do 2º Grau”.

As orientações contidas nessa proposta objetivavam reorientar o

conceito de “preparação para o trabalho” em substituição ao conceito de

“qualificação profissional compulsória”, com as alterações referentes às

disciplinas que compunham o então 2º Grau (atingidas pela Lei 7.044).

Em relação aos conteúdos e propostas relativas à matemática,

doravante vamos nos referir à Proposta Curricular para o Ensino de

Matemática no 2º Grau, conforme seja a “Proposta” (SÃO PAULO, 1992a, p.

16).

Segundo a “Proposta”, considerando a necessidade de diversificar o

número de aulas disponíveis para Matemática e de modo a proceder à escolha

dos conteúdos significativos que deveriam fazer parte do programa foi preciso

levar em conta que “Estamos considerando como conteúdos significativos ao

aluno, também aqueles que realimentam a própria Matemática e os que

favorecem a interdisciplinaridade” (SÃO PAULO, 1992a, p. 14).

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Foram sugeridos dois modelos de distribuição das aulas semanais, quais

sejam: para escolas com 2 ou 3 aulas semanais ou para um segundo grupo de

escolas com 4 ou 5 aulas semanais.

Em ambas, as recomendações de distribuição dos conteúdos, Análise

Combinatória e Probabilidade constaram como conteúdos a serem ministrados

na 2ª Série do 2º Grau.

Em relação à combinatória reproduzimos a seguir as recomendações

constantes da “Proposta” sobre os conteúdos, objetivos e comentários de

maneira que, segundo os autores, ela iria “subsidiar o professor, que ainda terá

o trabalho de complementá-la, preenchendo as lacunas, a partir de sua própria

experiência didático-pedagógica” (SÃO PAULO, 1992a, p. 17).

Além do mais segundo os autores, destaca-se que ela não seria “uma

lista de conteúdos que garante que tais dimensões por esta formação, mas

sim, a forma como esses conteúdos, ou outros, serão trabalhados [referindo-se

à critica, participação, criatividade e iniciativa]” (SÃO PAULO, 1992a, p. 16).

Quanto ao objetivo geral em relação ao ensino e à aprendizagem de

combinatória – conteúdo sugerido para ser desenvolvido na 2ª Série do 2º Grau

– as seguintes orientações constam na referida “Proposta”:

Desenvolver o raciocínio combinatório, tendo em vista: a familiarização do aluno com problemas que envolvem contagem; a sistematização da contagem; a sistematização dos conceitos de Arranjo, Permutação e Combinações Simples (SÃO PAULO, 1992a, p.16).

Os autores sugeriam que cada um dos tópicos devesse ser

sistematizado pelo professor.

Em seguida reproduzimos o objetivo e os comentários constantes da

referida “Proposta” para cada um dos tópicos

Para o Conteúdo 1 - Problemas variados de contagem - tem-se:

Objetivo : Descrever os casos possíveis envolvidos nos problemas e contá-los posteriormente. Comentários : Os primeiros contatos com o raciocínio combinatório deverão ser intuitivos, com discussões livres, proporcionando ao aluno oportunidade de apontar caminhos para solucionar os problemas, que o motive a desenvolver técnicas sistematizadas para a descrição dos casos possíveis, bem como para sua contagem. (SÃO PAULO, 1992a, p.17) (grifos nossos).

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Consideramos que são apropriados os comentários dos autores quanto

a ênfase que atribuem ao desenvolvimento do raciocínio combinatório desde os

problemas iniciais e a exploração intuitiva pelos alunos, corroborando com o

componente intuitivo descrito por Fischbein et al (1994).

Para o Conteúdo 2 – Problemas variados; instrumentos úteis para a

sistematização da contagem (árvore de possibilidades, tabelas) – tem-se:

Objetivo: Perceber que a contagem direta é impraticável na maioria dos casos. Analisar os processos de formação dos agrupamentos. Desenvolver técnicas de contagem. Comentários: A Proposta sugere que sejam introduzidas sistemáticas para a formação de agrupamentos, bem como para sua contagem, sem necessidade da descrição de cada caso. Para tanto, a árvore de possibilidades ou tabelas de dupla entrada são instrumentos, cujo apelo visual favorece a compreensão do processo da construção dos argumentos; esse processo deve preceder o problema da contagem, uma vez que não se recomenda quantificar uma variedade de situações sem o domínio claro de seu processo de criação. Decorrente desse processo, o aluno terá indicações para o desenvolvimento de técnicas como o Princípio Multiplicativo (P.M.), que no início deverá ser apreendido intuitivamente e não de forma memorizada. (SÃO PAULO, 1992a, p.18) (grifos nossos).

Também consideramos oportuna a sugestão dos autores quanto à

utilização de diferentes representações, como é o caso da árvore de

possibilidades e da tabela de dupla entrada, bem como o uso de

procedimentos que podem ser explorados para a determinação da solução (ou

soluções) para os problemas de contagem, a exemplo do que os PCN (1997,

1998) viriam a prescrever mais tarde.

Para o Conteúdo 3 - Princípio Multiplicativo - tem-se:

Objetivo: Compreender, aplicar e generalizar o princípio Multiplicativo. Comentários: O P.M. ocupa posição de extrema importância em qualquer técnica de contagem sintética, estando quase sempre associado a situações do tipo “cada elemento de um conjunto A pode ser combinado com todos elementos de um conjunto B”. Esta questão, ao ser trabalhada com o aluno, favorece a ampliação do conceito de multiplicação. Nesta fase, os alunos se apropriam das ideias que compõem os conceitos de Arranjos, Permutações e Combinações Simples, sem formalizar qualquer um deles. (SÃO PAULO, 1992a, p.19) (grifos nossos).

Da mesma maneira que os PCN (1997) prescrevem, a citação acima

também faz referência à ampliação do conceito de multiplicação quanto à ideia

combinatória e conforme a relação “um para muitos”, segundo Nunes e Bryant

(1997), bem como se refere à não formalização precoce dos conceitos.

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Para o Conteúdo 4 - Arranjos, Permutações e Combinatórias Simples –

têm-se:

Objetivo: Sistematizar os conceitos de Arranjos com Repetição, Arranjos Simples, Permutações e Combinações Simples. Comentários: A sistematização desses conceitos tem como base as ideias de sequência e subconjunto, subjacentes aos conceitos de Arranjos e Combinações, respectivamente. Os problemas resolvidos nas fases anteriores devem garantir paulatinamente esta visão no aluno. (SÃO PAULO, 1992a, p.20) (grifos nossos).

Em relação aos comentários citados acima, apenas no que diz respeito à

sistematização de Arranjos com Repetição, Arranjos Simples e Permutações

nos permitimos discordar dos autores por considerarmos que se trata de

conceitos já contemplados nos pressupostos do Princípio Multiplicativo, não

necessitando, portanto, de particulares sistematizações, ainda que

concordemos de que tais práticas estão presentes em grande maioria dos

livros didáticos.

Fazemos tal ressalva, embora saibamos que tal postura possa ser

justificada, em parte, pelo fato de que por vezes à época e ainda nos dias de

hoje ela também esteja presente na grande maioria dos livros didáticos.

Segundo a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, quanto à

Proposta:

No trabalho de consolidação da divulgação da Proposta Curricular de Matemática para o 2º Grau, na rede pública, em 1991, ficou clara a necessidade de a Secretaria da Educação estar produzindo material pedagógico de apoio à ação docente que pudesse auxiliar o professor no seu dia-a-dia em sala de aula (SÃO PAULO, 1992a, p. 5).

Por conta disso foi confeccionado o material didático intitulado

“Matemática – 2º Grau” publicado em 1992 – componente da série “A Prática

Pedagógica” – que é um material pedagógico de apoio à prática pedagógica

constituído de sugestões para “subsidiar o trabalho do professor em sala de

aula, abordando temas do cotidiano e apresentando sugestões sobre possíveis

formas de desenvolvimento dos conteúdos”.

Segundo a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo esse

material:

[...] pretende, assim, estar contribuindo para a reflexão do professor sobre sua prática, permitindo o aprofundamento de alguns aspectos teóricos que a fundamentam e a ampliação das possibilidades de escolhas metodológicas mais adequadas para realizar com sucesso seu trabalho (SÃO PAULO, 1992a, p. 5).

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Segundo os autores do referido material, dentre os temas apontados

pelos professores como de difícil desenvolvimento “a Análise Combinatória

constituiu uma das unidades temáticas de maior dificuldade de

operacionalização em sala de aula” (SÃO PAULO, 1992a, p. 5).

De modo a atender essa demanda o material que foi preparado

apresenta:

[...] algumas sugestões para compreensão dos conceitos de Arranjos, de Permutação e Combinação a partir de problemas do cotidiano do aluno. São abordadas somente as ideias fundamentais envolvidas nesses conceitos, como a do Princípio Multiplicativo, da contagem sistematizada de sequências que se pode formar com um dado número de elementos e da contagem de subconjuntos de um dado conjunto (SÃO PAULO, 1992b, p. 6).

Ainda, segundo os autores, “Por isso tudo, o artigo chama-se

precisamente Problemas de contagem” (SÃO PAULO, 1992b, p. 6).

Nas sugestões de situações-problema em relação às propostas

presentes neste material os autores sugerem ações pedagógicas que o

professor poderia utilizar quando da prática docente.

Dentre as sugestões, destacamos:

Ao combinar objetos, em diferentes quantidades, agrupando-os, caracterizando os agrupamentos feitos – trabalhando a operação de classificação – e aperfeiçoando a maneira de contar tais agrupamentos, estaremos desenvolvendo o raciocínio combinatório e, consequentemente, dando condição para que nosso aluno enfrente com mais segurança e criatividade problemas de caráter aleatório, que dependem de uma contagem sistematizada, bem como, disponha de uma ferramenta útil e motivadora para deflagrar o aprendizado de outros conteúdos, percebendo e interiorizando o fato de que o conhecimento matemático não pode ser tratado de forma fechada em si mesmo (SÃO PAULO, 1992b, p. 7).

Dando prosseguimento à análise do material, os autores apresentam

quatro situações-problema sugerindo aos professores que explorem o tipo de

agrupamento que interessa ser formado. Além disso, fazem comentários

acerca da exploração de diferentes representações com o uso de árvores de

possibilidades e tabelas de dupla entrada e sistematizam os conceitos de

permutações simples, combinações simples e arranjos simples.

De modo indireto levam o leitor a perceber a diferenciação entre

sequências de letras (“palavras distintas” ou “palavras diferentes”) estão

diretamente associadas à aplicação do princípio multiplicativo e nos casos de

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subconjuntos formados por letras nos casos de combinações simples, através

de um exemplo.

A Proposta finaliza mostrando uma árvore de possibilidades que

apresenta “assimetria” e contém todas as soluções a uma dada situação-

problema apontando como uma das razões para o seu não uso o “pequeno

auxílio que a árvore presta à resolução do problema” quando envolve um

elevado número de objetos, pois se trata de um problema de combinações

simples de objetos. Por conta disso é indicada a sistematização do conceito de

combinações simples como o caminho para a obtenção de soluções de

problemas do tipo.

Em prosseguimento, a Proposta concretiza a resolução da situação-

problema sistematizando o número de combinações simples como sendo

resultante da divisão entre o número de arranjos simples e o número de

permutações simples sugerindo que o professor generaliza os procedimentos

utilizados neste problema.

Convém ressaltar, que, embora esta Proposta possa se apresentar

como apoio à prática pedagógica do professor, pois contêm sugestões de

problemas, sua leitura e reflexões resultantes não são suficientes o bastante

para atender às necessidades de todos os professores – nem é de sua alçada.

Como muitos professores têm pouco domínio desse tema, consideramos que

os exemplos não apresentam variedade de abordagem que permitam a esses

docentes aprofundar os conceitos envolvidos.

3.3 Parâmetros Curriculares Nacionais

Ainda em 1987 iniciaram-se discussões a respeito da elaboração de um

projeto para servir de base a uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional que revelavam grandes preocupações com os rumos em relação à

qualidade da Educação que era oferecida e a atenção que deveria ser dada às

crianças.

Em 1988, com a promulgação da nova Constituição Brasileira,

importantes passos foram dados em relação aos direitos que deveriam ser

respeitados e assegurados à criança pelos pais, pela sociedade e pelo poder

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público bem como o desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício

da cidadania e sua qualificação para o trabalho (CONSTITUIÇÃO FEDERAL,

1988, art. 205).

Após mais de quatro anos tramitando em negociações na Câmara dos

Deputados - sem que houvesse um parecer conclusivo sobre o teor da matéria

- o projeto que deveria servir de base à nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional sofreu grande impacto quando o então Senador Darcy

Ribeiro, através de texto próprio apresentou-o à Mesa Diretora do Senado

Federal.

Tal decisão causou um atropelo nas negociações que até então estavam

sendo encaminhadas na Câmara dos Deputados e por conta disso a Câmara

apressou suas negociações e em 1993 encaminhou ao Senado Federal seu

Projeto de Lei para apreciação.

Com a eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, seu Ministro

da Educação Paulo Renato de Souza tomou frente nas negociações e em 1995

- após acordo do Ministro com Senadores da base governista - o Senador

Darcy Ribeiro apresentou um substitutivo à Mesa Diretora do Senado sendo o

projeto aprovado e em seguida sancionado pelo Presidente da República.

Dando fim a essa longa trajetória, a atual Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional - Lei nº 9.394 finalmente foi promulgada em 20/12/1996.

Destaca-se no texto da Lei nº 9.394/96 a presença de aspectos

pedagógicos relativos à corrente construtivista para a apreensão dos conceitos

matemáticos - salientados pela Secretaria de Educação do Estado de São

Paulo desde 1978 e presentes na Proposta Curricular de São Paulo de 1980 –,

e agora presentes no texto da Lei nº 9.394/96.

Além dessas questões, a Lei nº 9.394/96 define que a Educação Básica

será composta pela Educação Infantil, pelo Ensino Fundamental e pelo Ensino

Médio.

Com as promulgações da Constituição de 1988 e da Lei nº 9.394/96 e

em consequência da forte influência que os princípios democráticos - de

acesso e de direitos relativos à educação passaram a representar, era preciso

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desde então traçar novos rumos para toda a Educação Básica o que, de fato,

começou a ser feito.

Em relação às recomendações colocadas na Lei 9394/96 relativas aos

objetivos da educação destacam-se: “A educação escolar deverá vincular-se

ao mundo do trabalho e à prática social” (Art. 1.º, § 2.º) e a alteração do caráter

propedêutico ou profissionalizante do Ensino Médio - presente na lei anterior -

pelo de terminalidade e continuidade, presente nesta.

Em seu artigo 26 a presente Lei 9394/96 determina que os “currículos do

ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser

complementada [...] por uma parte diversificada” e que, para a construção do

novo Currículo para o Ensino Médio, que deverão ser obedecidas algumas

diretrizes, como as constantes do Art. 36.º, § 1.º: “Os conteúdos, as

metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao

final do ensino médio o educando demonstre: I – domínio dos princípios

científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna;..” (BRASIL, 1996,

p.15).

Por conta da presente Lei foi necessário que o Ministério da Educação

envidasse esforços no sentido de normatizar parâmetros que prescrevessem

mecanismos - para toda a comunidade escolar - que dessem conta de orientar

práticas pedagógicas e metodológicas do professor e ações coletivas dos

gestores para todos os segmentos de ensino abrangidos pela presente Lei.

Ressalte-se que estudos nesse sentido - ao menos aqueles que se

relacionam à Matemática - iniciaram-se logo após a promulgação da

Constituição de 1988 para dar conta de sistematizar recomendações para

todos os segmentos da Educação Básica.

Para o segmento Educação Infantil; 1º Ciclo (1ª e 2ª séries) e 2º Ciclo (3ª

e 4ª séries) do Ensino Fundamental foram elaborados os PCN para o Ensino

Fundamental em 1997; 3º Ciclo (5ª e 6ª séries) e 4º Ciclo (7ª e 8ª séries) do

Ensino Fundamental foram elaborados os PCN para o Ensino Fundamental em

1998; Ensino Médio, foram elaborados os PCN para o Ensino Médio – PCNEM

- em 1999; e também foram elaboradas orientações educacionais

complementares aos PCNEM, conhecidos como PCN+, em 2002.

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Assim, grupos de educadores matemáticos e alguns matemáticos

debruçaram-se em reuniões e discussões para elaborarem os parâmetros

norteadores para o ensino e a aprendizagem de Matemática bem como outros

educadores para as demais disciplinas constantes da Educação Básica.

Dando prosseguimento às questões deste capítulo a seção seguinte

apresenta uma síntese dos aspectos relacionados com o ensino e a

aprendizagem de combinatória (problemas de contagem) na Educação Básica -

particularmente aqueles prescritos pelos PCN para o Ensino Fundamental –

uma vez que os PCN também serviram de referência para a elaboração no

novo Currículo da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo (2010).

3.3.1 - PCN e os Problemas de Contagem

Os alunos da Educação Básica – desde as séries iniciais – precisam

adquirir conhecimentos relacionados com o levantamento de possibilidades e a

medida da chance de cada uma delas, inicialmente com o uso de ideias

intuitivas que se complementam com a apropriação do raciocínio combinatório.

A seguir, com o conhecimento e o uso de procedimentos que dão conta

de resolver situações-problema associadas a esses conteúdos.

É neste arcabouço de ideias que o raciocínio combinatório pode ser

explorado ao longo da Educação Básica como sugerem os PCN (1997):

A aprendizagem em Matemática está ligada à compreensão, isto é, à apreensão do significado; aprender o significado de um objeto ou acontecimento pressupõe vê-lo em suas relações com outros objetos e acontecimentos (BRASIL, 1997, p.19).

Quanto ao papel que a matemática desempenha no Ensino

Fundamental encontramos nos PCN (1997):

A Matemática comporta um amplo campo de relações, regularidades e coerências que despertam a curiosidade e instigam a capacidade de generalizar, projetar, prever e abstrair, favorecendo a estruturação do pensamento e o desenvolvimento do raciocínio lógico. Faz parte da vida de todas as pessoas nas experiências mais simples como contar, comparar e operar sobre quantidades. [...] a Matemática se apresenta como um conhecimento de muita aplicabilidade. [...] Essa potencialidade do conhecimento matemático deve ser explorada, da forma mais ampla possível, no ensino fundamental. Para tanto, é importante que a Matemática desempenhe, equilibrada e indissociavelmente, seu papel na formação de capacidades intelectuais, na estruturação do pensamento, na agilização do raciocínio dedutivo do aluno, na sua aplicação a problemas, situações

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da vida cotidiana e atividades do mundo do trabalho e no apoio à construção de conhecimentos em outras áreas curriculares (BRASIL, 1997, p. 29).

Em relação a este trabalho de pesquisa realçamos a exploração do

raciocínio combinatório desde os anos iniciais do Ensino Fundamental como

um tema a ser explorado pelos professores de matemática e que esteve no

centro das reflexões e discussões do grupo de professores durante o

desenvolvimento da sequência de ensino objeto deste estudo.

Nos PCN (1997) para o ensino dos problemas de contagem

encontramos a seguinte citação acerca da importância do desenvolvimento do

raciocínio combinatório:

A contagem, ao mesmo tempo em que possibilita uma abordagem mais completa da probabilidade por si só, permite o desenvolvimento de uma nova forma de pensar em Matemática, denominada raciocínio combinatório. Ou seja, decidir sobre a forma mais adequada de organizar números ou informações para poder contar os casos possíveis não deve ser aprendido como uma lista de fórmulas , mas como um processo que exige a construção de um modelo simplificado e explicativo da situação (BRASIL, 1997, p. 54) (grifo nosso).

Chamamos a atenção do leitor para o fato de que a citação acima, em

grifo, contempla um dos objetivos mais precípuos do trabalho que foi

desenvolvido junto com o grupo de professores da formação continuada objeto

desta investigação, qual seja: contar todos os casos possíveis de uma situação

sem o uso de fórmulas, ao menos no Ensino Fundamental.

Tomando essa sugestão como referência, utilizamo-la nas discussões e

reflexões encaminhadas com os sujeitos da pesquisa bem como também

serviram de referência quando da concepção das atividades que foram

desenvolvidas nos encontros de ensino.

Esse propósito esteve sempre presente nas reflexões com os sujeitos da

pesquisa durante a resolução das situações-problema propostas sugerindo que

o professor possa sistematizar os conceitos abordados por meio de fórmulas

somente no Ensino Médio.

Entre os objetivos gerais do ensino da Matemática no Ensino

Fundamental prescritos pelos PCN destacamos duas das finalidades mais

próximas a este trabalho de pesquisa envolvendo o raciocínio combinatório

desde os anos iniciais, conforme se constata nos PCN (1997):

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[...] Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos do ponto de vista do conhecimento e estabelecer o maior número possível de relações entre eles, utilizando para isso o conhecimento matemático (aritmético, geométrico, métrico, algébrico, estatístico, combinatório, probabilístico); selecionar, organizar e produzir informações relevantes, para interpretá-las e avaliá-las criticamente; resolver situações-problema, sabendo validar estratégias e resultados, desenvolvendo formas de raciocínio e processos, como dedução, indução, intuição, analogia, estimativa, e utilizando conceitos e procedimentos matemáticos, bem como instrumentos tecnológicos disponíveis (BRASIL, 1997, p. 51).

Nos PCN (1997, 1998, 1999) foi criado um novo Bloco de Conteúdos

denominado Tratamento da Informação contemplando combinatória,

probabilidade e estatística com ênfase nos Problemas de contagem -

envolvendo o Princípio Aditivo e o Princípio Multiplicativo - e onde são

prescritas claras recomendações ao desenvolvimento de atividades que

contemplem tais conteúdos, como se pode constatar nos PCN (1997) em:

Um olhar mais atento para nossa sociedade mostra a necessidade de acrescentar a esses conteúdos aqueles que permitam ao cidadão "tratar" as informações que recebe cotidianamente, aprendendo a lidar com dados estatísticos, tabelas e gráficos, a raciocinar utilizando ideias relativas à probabilidade e à combinatória (BRASIL, 1997, p.53).

Entre os objetivos de Matemática para o segundo ciclo (4ª e 5ª Séries),

destaca-se nos PCN (1997):

[...] Utilizar diferentes registros gráficos – desenhos, esquemas, escritas numéricas – como recurso para expressar ideias, ajudar a descobrir formas de resolução e comunicar estratégias e resultados. Identificar características de acontecimentos previsíveis ou aleatórios a partir de situações-problema, utilizando recursos estatísticos e probabilísticos. [...] Demonstrar interesse para investigar, explorar e interpretar, em diferentes contextos do cotidiano e de outras áreas do conhecimento, os conceitos e procedimentos matemáticos abordados neste ciclo. Vivenciar processos de resolução de problemas, percebendo que para resolvê-los é preciso compreender, propor e executar um plano de solução, verificar e comunicar a resposta (BRASIL, 1997, p. 81-82).

Segundo os PCN (1997), para a compreensão efetiva da multiplicação é

preciso explorar quatro diferentes grupos de atividades, dentre as quais às

associadas à Combinatória, o que vem a favorecer a aprendizagem desse

conceito através de diferentes abordagens.

O primeiro deles diz respeito à multiplicação comparativa, desenvolvida

nos dois primeiros ciclos do Ensino Fundamental, a saber:

Dentre as situações relacionadas à multiplicação e à divisão, a serem exploradas nestes dois ciclos, podem-se destacar, para efeito de análise e sem qualquer hierarquização, quatro grupos: Num primeiro

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grupo, estão as situações associadas ao que se poderia denominar multiplicação comparativa. Exemplos: - Pedro tem R$ 5,00 e Lia tem o dobro dessa quantia. Quanto tem Lia? – Marta tem 4 selos e João tem 5 vezes mais selos que ela. Quantos selos tem João? A partir dessas situações de multiplicação comparativa é possível formular situações que envolvem a divisão. Exemplo: - Lia tem R$ 10,00. Sabendo que ela tem o dobro da quantia de Pedro, quanto tem Pedro? (BRASIL, 1997, p.109) (grifo dos autores).

O segundo deles diz respeito à ideia de proporcionalidade:

Num segundo grupo, estão as situações associadas à comparação entre razões, que, portanto, envolvem a ideia de proporcionalidade. Os problemas que envolvem essa ideia são muito frequentes nas situações cotidianas e, por isso, são mais bem compreendidos pelos alunos. Exemplos: - Marta vai comprar três pacotes de chocolate. Cada pacote custa R$ 8,00. Quanto ela vai pagar pelos três pacotes? (A ideia de proporcionalidade está presente: 1 está para 8, assim como 3 está para 24.) – Dois abacaxis custam R$ 2,50. Quanto pagarei por 4 desses abacaxis? (Situação em que o aluno deve perceber que comprará o dobro de abacaxis e deverá pagar – se não houver desconto – o dobro, R$ 5,00, não sendo necessário achar o preço de um abacaxi para depois calcular o de 4.) A partir dessas situações de proporcionalidade, é possível formular outras que vão conferir significados à divisão, associadas às ações “repartir (igualmente)” e “determinar quanto cabe”. Exemplos associados ao primeiro problema: - Marta pagou R$ 24,00 por 3 pacotes de chocolate. Quanto custou cada pacote: (A quantia em dinheiro Serpa repartida igualmente em 3 partes e o que se procura é o valor de uma parte.) – Marta gastou R$ 24,00 na compra de pacotes de chocolate que custavam R$ 3,00 cada um. Quantos pacotes de chocolate ela comprou? (Procura-se verificar quantas vezes 3 cabe em 24, ou seja, identifica-se a quantidade de partes.) (BRASIL, 1997, p.110) (grifo dos autores).

O terceiro deles diz respeito à configuração retangular:

Num terceiro grupo, estão as situações associadas à configuração retangular. Exemplos: - Num pequeno auditório, as cadeiras estão dispostas em 7 fileiras e 8 colunas. Quantas cadeiras há no auditório? – Qual é a área de um retângulo cujos lados medem 6 cm por 9 cm? Nesse caso, a associação entre a multiplicação e a divisão é estabelecida por meio de situações tais como: - As 56 cadeiras de um auditório estão dispostas em fileiras e colunas. Se são 7 as fileiras, quantas são as colunas? – A área de uma figura retangular é de 54 cm2. Se um dos lados mede 6 cm, quanto mede o outro lado? (BRASIL, 1997, p.110-111) (grifo dos autores).

E, finalmente o quarto grupo - que é aquele mais diretamente associado

aos objetivos deste trabalho de pesquisa – em que estão presentes situações-

problema associadas à ideia de combinatória. Os PCN apresentam sugestões

de atividades que poderão ser exploradas com essa abordagem, como a

seguir:

Num quarto grupo, estão as situações associadas à ideia de combinatória. Exemplo: - Tendo duas saias – uma preta (P) e uma branca (B) – e três blusas – uma rosa (R), uma azul (A) e uma cinza (C) -, de quantas maneiras diferentes posso me vestir? Analisando

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esse problema, vê-se que a resposta à questão formulada depende das combinações possíveis; no segundo, por exemplo, os alunos podem obter a resposta, num primeiro momento, fazendo desenhos, diagramas de árvore, até esgotar as possibilidades: (P,R), (P,A),

(P,C), (B,R), (B,A), (B,C):

S S S

B B B

S S S . Esse resultado, que se traduz pelo número de combinações possíveis entre os termos iniciais evidencia um conceito matemático importante, que é o de produto cartesiano. Note-se que por essa interpretação não se diferenciam os termos iniciais, sendo compatível a interpretação da operação com sua representação escrita. Combinar saias com blusas é o mesmo que combinar blusas com saias e isso pode ser expresso por 2 x 3 = 3 x 2. (BRASIL, 1997, p.111-112) (grifo dos autores).

Ainda como prescrito nos PCN (1997), tem-se:

A ideia de combinação também está presente em situações relacionadas com a divisão: - Numa festa, foi possível formar 12 casais diferentes para dançar. Se havia três moças e todos os presentes dançaram, quantos eram os rapazes? Os alunos costumam selecionar esse tipo de problema por meio de tentativas apoiadas em procedimentos multiplicativos, muitas vezes representando graficamente o seguinte raciocínio: - Um rapaz e 3 moças formam 3 pares. – Dois rapazes e 3 moças formam 6 pares. – Três rapazes e 3 moças formam 9 pares. – Quatro rapazes e 3 moças formam 12 pares. (BRASIL, 1997, p.112).

Problemas de multiplicação e de divisão devem ser propostos em

conjunto como os apresentados acima e sugerido o uso de uma árvore de

possibilidades para mostrar todas as possíveis soluções até o momento que o

aluno considera não ser mais preciso o seu uso, utilizando-se do princípio

multiplicativo e do princípio aditivo, quando for o caso.

Os autores dos PCN (1997) chamam a atenção para o importante papel

que os problemas cumprem em relação à apreensão dos conceitos

relacionados à multiplicação, como em:

Levando-se em conta tais considerações, pode-se concluir que os problemas cumprem um importante papel no sentido de propiciar as oportunidades para as crianças, do primeiro e segundo ciclos, interagirem com os diferentes significados das operações, levando-as a reconhecer que um mesmo problema pode ser resolvido por diferentes operações, assim como uma mesma operação pode estar associada a diferentes problemas (BRASIL, 1997, p.112).

As primeiras noções relacionadas aos problemas de contagem são

sugeridas serem apresentadas já nos anos iniciais do Ensino Fundamental,

como prescrito nos PCN (1997):

Estar alfabetizado, neste final de século, supõe saber ler e interpretar dados apresentados de maneira organizada e construir representações, para formular e resolver problemas que impliquem o

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recolhimento de dados e a análise de informações. Essa característica da vida contemporânea traz ao currículo de Matemática uma demanda em abordar elementos da estatística, da combinatória e da probabilidade, desde os ciclos iniciais. [...] Pela observação da frequência de ocorrência de um dado acontecimento, e um número razoável de experiências, podem-se desenvolver algumas noções de probabilidade (BRASIL, 1997, p.132-133).

Segundo as orientações da Secretaria de Educação Básica do MEC:

O estudo da combinatória e da probabilidade é essencial neste bloco de conteúdo, pois os alunos precisam adquirir conhecimentos sobre o levantamento de possibilidades e a medida da chance de cada uma delas. A combinatória não tem apenas a função de auxiliar o cálculo das probabilidades, mas tem inter-relação estreita entre as ideias de experimento composto a partir de um espaço amostral discreto e as operações combinatórias. Por exemplo, ao extrair aleatoriamente três bolas de uma urna com quatro possibilidades, este experimento aleatório tem três fases, que podem ser interpretadas significativamente no espaço amostral das variações. A utilização do diagrama de árvores é importante para clarear a conexão entre os experimentos compostos e a combinatória, pois permite que visualizemos a estrutura dos múltiplos passos do experimento (BRASIL, 2008, p. 79).

Também em estatística, ainda na Educação Básica, o uso do raciocínio

combinatório se fará presente quando for preciso coletar dados, organizá-los e

fizer a representação deles por meio de tabelas e gráficos.

Segundo orientações da Secretaria de Educação Básica do MEC:

Durante o ensino médio, os alunos precisam adquirir entendimento sobre o propósito e a lógica das investigações estatísticas, bem como sobre o processo de investigação. Deve-se possibilitar aos estudantes o entendimento intuitivo e formal das principais ideias matemáticas implícitas em representações estatísticas, procedimentos ou conceitos. Isso inclui entender a relação entre síntese estatística, representação gráfica e dados primitivos (BRASIL, 2008, p. 79).

As sugestões de desenvolvimento de atividades apresentadas acima

estão presentes no Currículo de São Paulo (2010) como poderá ser visto ao

longo da seção 3.4, a seguir.

3.4 Currículo atual de Matemática da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

3.4.1 Projeto Político-Pedagógico do currículo de matemática

De acordo com as peculiaridades da região em que está localizada uma

determinada escola - dentro das características regionais presentes em todo o

Estado de São Paulo - com as especificidades próprias de seus moradores e,

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por conseguinte, de seus alunos, a escola organiza ou (re) organiza o seu

projeto político-pedagógico (SÃO PAULO, 2010).

Esse projeto político-pedagógico - explícito ou implícito - é resultante de

reflexões, discussões e debates de todos os componentes relacionados com a

instituição escola: alunos, professores, gestores, pais ou responsáveis,

comunidade civil organizada ou não, a respeito dos problemas e das intenções

que se queira propor para buscar soluções que devem ser empreendidas

através de ações colaborativas entre todos os envolvidos, levando em conta as

diretrizes curriculares do Município, do Estado e as do Governo Federal (SÃO

PAULO, 2010).

Contudo, cabe ressaltar a organização e a orientação dessas reflexões e

discussões passam necessariamente pelo professor estando ele na função

docente ou na função de gestor.

A partir da motivação de cada professor, seu engajamento e seu

comprometimento com as questões relacionadas às ações educativas é que

um projeto político-pedagógico sai da esfera “do que se espera” para “o que

pode e se deseja fazer”.

Ou seja, passa a ser significativo no sentido de ser transparente, ser

viável, fruto das aspirações do cotidiano escolar e principalmente ao alcance de

todos os envolvidos, atendendo assim ao que foi proposto.

A consecução das propostas que venham a ser sugeridas nesses fóruns

de discussão passará - obrigatória e inexoravelmente - pelas mãos do

professor.

É ele o propulsor dessas ideias e uma vez que venha a abraçá-las e se

considere como responsável ou corresponsável por elas, passa a assumir o

comando desse trabalho colaborativo com vistas à consecução dos objetivos

que todo o grupo espera vir a alcançar uma vez que as ideias tenham o

respaldo de todos os envolvidos.

Os resultados bem sucedidos desses projetos - antes de terem

resultados de caráter quantitativo - formam alicerces para a formação de

crianças e jovens que estão sendo preparados para o pleno exercício da

cidadania com a observância de seus direitos e de seus deveres.

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Um projeto político-pedagógico vai desde a concepção de projetos

multidisciplinares de alcance entre membros da comunidade - em conjunto com

a comunidade escolar - até questões de caráter metodológico e pedagógico

que ocorrem no dia a dia da sala de aula afetando diretamente a prática

docente do professor e o ensino e a aprendizagem dos alunos.

Um bom exemplo para isso se refere às sugestões que podem ser

encaminhadas pelos professores no sentido de introduzir os conceitos e

procedimentos relacionados com os problemas de contagem nos momentos

em que todo o grupo julgue conveniente fazê-las, conforme comentamos na

seção anterior.

É claro que esses projetos político-pedagógicos devem levar em conta

aspectos que dizem respeito tanto ao contexto social que envolve a escola e

seu entorno quanto à visão da totalidade, da inserção dos alunos e da

comunidade na sociedade.

Nas situações em que ocorrem essas reflexões e discussões acerca das

concepções e encaminhamentos dos projetos político-pedagógicos os

currículos ou orientações curriculares advindas das Secretarias de Educação e

das Orientações Curriculares do Ministério da Educação representam

significativos instrumentos de orientação para a definição dos propósitos

desses projetos.

Essas questões se refletem quando - e principalmente - passam a

incorporar em suas diretrizes o processo social em que se baseia a produção

do conhecimento.

Há que se considerarem os conhecimentos que foram historicamente

produzidos - uma vez que assim também o fazem as orientações dessas

esferas educativas - e as maneiras viáveis com que esses conhecimentos

também possam vir a ser produzidos pelos alunos, respeitadas as condições,

especificidades e limitações em que se darão essas produções.

Quanto a essa questão nos valemos de considerações pertinentes feitas

por Silva (2009) a esse respeito, como se constata a seguir:

Portanto, achamos que um currículo de Matemática deve atender, concomitantemente, a duas dimensões distintas que justificam sua importância por diferentes aspectos: uma dimensão crítica, em que a

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escolha do conteúdo fica submetida à utilização ou não em projetos que visam à transformação da sociedade; uma dimensão puramente matemática, voltada muito mais a questões organizacionais, em que a importância dos conteúdos se justifica pela variedade de conexões imagináveis entre os variados temas possíveis de serem abordados.

De qualquer modo, o respeito às propostas, crenças e problemas locais acarreta um exercício necessário de ouvir a comunidade e compreendê-la como uma cultura singular que não pode preconceituosamente julgada por ser apenas diferente (SILVA, 2009, p. 97).

O Currículo da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (2010) -

pioneiro na proposição de muitas propostas inovadoras - têm incorporado a si,

entre as diversas sugestões e orientações que prescreve aquelas que dizem

respeito à sugestão quanto à possibilidade de mudança do foco do trabalho

docente centralizado no ensino para o foco na aprendizagem, recomendação

feita desde a LDBEN nº 9394, de 1996, embora os autores do currículo

considerarem ser uma tarefa difícil se feita em função de diferentes aspectos

que a envolvem.

Sob este foco a principal bandeira de sua proposta diz respeito à

contribuição que possa dar para a ”melhoria da qualidade das aprendizagens

dos alunos” e o trabalho docente calcado em desenvolver competências e

habilidades desse (SÃO PAULO, 2010, p. 7).

Quanto a essa questão têm-se no Currículo de São Paulo (2010) os

seguintes princípios:

Este documento apresenta os princípios orientadores do currículo para uma escola capaz de promover as competências indispensáveis ao enfrentamento dos desafios sociais, culturais e profissionais do mundo contemporâneo. Contempla algumas das principais características da sociedade do conhecimento e das pressões que a contemporaneidade exerce sobre os jovens cidadãos, propondo princípios orientadores para a prática educativa, a fim de que as escolas possam preparar seus alunos para esse novo tempo. Ao priorizar a competência de leitura e escrita, o Currículo define a escola como espaço de cultura e de articulação de competências e de conteúdos disciplinares (SÃO PAULO, 2010, p. 7).

Considerando as orientações presentes no projeto-político do Currículo

de São Paulo (2010) na seção seguinte vamos analisar sob que aspectos este

currículo tem aderência aos princípios de enculturação propostos por Bishop

(1997) - conforme apresentados no Capítulo 2 – e os concebe em suas

orientações curriculares.

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3.4.2 Um currículo enculturador

Muitos dos autores do atual Currículo do Estado de São Paulo –

Matemática e suas Tecnologias – Ensino Fundamental – Ciclo II e Ensino

Médio (SÃO PAULO, 2010), em ação desde 2008 através da Proposta

Curricular que o antecedeu também participaram da elaboração das

orientações prescritas nos PCN (1997, 1998, 1999).

Por conta disso o atual Currículo do Estado de São Paulo se apresenta

com a colaboração desses educadores matemáticos através de pressupostos e

concepções à luz dos parâmetros quando das reflexões, elaboração e análises

muito antes de serem apresentadas à comunidade escolar nas versões

anteriores à elaboração, na forma de proposta curricular.

A Proposta Curricular enfim teve sua versão definitiva lançada na forma

do Currículo do Estado de São Paulo em 2010 após ser utilizada pelos

professores por dois anos letivos - 2008 e 2009 - como referencial para as

atividades escolares após a incorporação de sugestões dos diversos

segmentos envolvidos em sua elaboração.

Definitiva não seria a mais adequada palavra para um Currículo que está

em permanente construção, aberto que está a sugestões, reflexões e

propostas de inserção e/ou subtração para torná-lo em permanente

complementação.

Sobre essa questão assim se refere o texto durante sua apresentação:

Como anunciado em 2008, o Currículo continuará a ser permanentemente complementado com um conjunto de ações, de projetos e de documentos com orientações pedagógicas e de gestão para apoiar as equipes gestoras e os professores no que se refere à qualidade do ensino em nossas escolas. A participação de todos no trabalho de análise da Proposta Curricular do Estado de São Paulo, para os ajustes necessários, reafirmou nossa crença de que a maneira mais saudável de fazer oposição às ideias é conhecê-las, aplicando-as e discutindo-as após sugerir as mudanças necessárias (SÃO PAULO, 2010, p. 4).

Tal Currículo é resultante da incorporação de experiências anteriores

bem sucedidas da própria Secretaria de Educação, o apoio às iniciativas bem

sucedidas em algumas escolas da rede de ensino e avançou no sentido de

procurar cada vez mais a melhoria da qualidade da aprendizagem dos alunos.

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Em relação ao processo que desencadeou a elaboração do atual

Currículo nele têm-se explicitamente apontado:

Este processo partiu dos conhecimentos e das experiências práticas já acumulados, ou seja, partiu da recuperação, da revisão e da sistematização de documentos, publicações e diagnósticos já existentes e do levantamento e análise dos resultados de projetos ou iniciativas realizados. No intuito de fomentar o desenvolvimento curricular, a secretaria de Educação tomou assim duas iniciativas complementares. A primeira delas foi realizar amplo levantamento do acervo documental e técnico pedagógico existente. A segunda deu início a um processo de consulta a escolas e professores para identificar, sistematizar e divulgar boas práticas existentes nas escolas de São Paulo (SÃO PAULO, 2010, p. 7).

Em relação aos princípios norteadores do Currículo, ainda em sua

apresentação, tem-se a seguinte citação:

Este documento apresenta os princípios orientadores do currículo para uma escola capaz de promover as competências indispensáveis ao enfrentamento dos desafios sociais, culturais e profissionais do mundo contemporâneo. Contempla algumas das principais características da sociedade do conhecimento e das pressões que a contemporaneidade exerce sobre os jovens cidadãos, propondo princípios orientadores para a prática educativa, a fim de que as escolas possam preparar seus alunos para esse novo tempo. Ao priorizar a competência de leitura e escrita, o Currículo define a escola como espaço de cultura e de articulação de competências e de conteúdos disciplinares (SÃO PAULO, 2010, p. 7).

O atual Currículo tomou por base experiências bem sucedidas em

escolas da Rede Estadual de Ensino e pretende “apoiar o trabalho realizado

nas escolas estaduais e contribuir para a melhoria da qualidade das

aprendizagens dos alunos” (SÃO PAULO, 2010, p. 7).

Segundo os autores do Currículo de São Paulo (2010):

Esse processo partiu dos conhecimentos e das experiências práticas já acumulados, ou seja, partiu da recuperação, da revisão e da sistematização de documentos, publicações e diagnósticos já existentes e do levantamento e análise dos resultados de projetos ou iniciativas realizados (SÃO PAULO, 2010, p. 7).

Para dar prosseguimento a essa iniciativa e de modo mais abrangente, a

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo implementou duas

complementares iniciativas, conforme os autores de São Paulo (2010):

A primeira delas foi realizar amplo levantamento do acervo documental e técnico pedagógico existente. A segunda deu início a um processo de consulta a escolas e professores para identificar, sistematizar e divulgar boas práticas existentes nas escolas de São Paulo (SÃO PAULO, 2010, p. 7).

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Em relação à primeira das iniciativas é importante considerar que

“Pensar o currículo hoje é viver uma transição na qual, como em toda

transição, traços do velho e do novo se mesclam nas práticas cotidianas” (SÃO

PAULO, 2010, p. 13) e, como tal, a segunda iniciativa mostrou-se bastante

oportuna e pertinente ao considerar que a experiência dos professores foi - e

não poderia deixar de ser - contemplada em um novo currículo.

Por conta disso e de outras considerações que faremos em seguida

podemos afirmar - à luz do que interpretamos no Currículo da Secretaria de

Educação do Estado de São Paulo de 2010 - que não se trata apenas de mais

um Currículo que atende aos anseios da Sociedade do Século XXI com

diretrizes curriculares sugeridas para serem colocadas em prática, mas o

resultado da participação de toda uma coletividade inserida em torna da escola

pública estadual de São Paulo.

A proposta é muito mais que somente àquela que se possa ter tido a

oportunidade de conhecer e de vivenciar em propostas curriculares anteriores

da própria Secretaria de Estado de Educação de São Paulo.

Ela é decorrente de inovações em relação à base de sustentação

teórica, aos objetivos a serem alcançados, ao encaminhamento de atividades e

ao desenvolvimento dos conteúdos pelo professor, por exemplo.

Ela é abrangente e propõe orientações em dois documentos básicos: o

primeiro deles, o currículo em si e o segundo deles composto de um “conjunto

de documentos, com orientações para a gestão do Currículo na escola” (SÃO

PAULO, 2010, p. 7).

Na primeira das orientações, tem-se o Currículo em si, destinado a todos

que trabalham articulados com a Educação nas diferentes esferas da

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

Na segunda das orientações, têm-se documentos para gestores

escolares denominado de “Caderno do Gestor” no sentido de definir atribuições

e orientações para esses profissionais que atuam nas unidades escolares com

relação às maneiras pelas quais esse Currículo prescrito pode se tornar um

Currículo em ação, em prática, em execução.

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O “Caderno do Gestor” é dirigido para três diferentes grupos de

personagens que devem trabalhar de forma articulada para atingirem a

consecução dos objetivos planejados: gestores, professores e alunos, tendo o

professor como elemento central, articulador, que coordena as ações e que é

capaz de traduzir as orientações e levá-las aos alunos num trabalho

coordenado para atingir a melhoria da aprendizagem destes.

Esse documento “não trata da gestão curricular em geral, mas tem a

finalidade específica de apoiar o gestor para que ele seja um líder capaz de

estimular e orientar a implementação do Currículo nas escolas públicas

estaduais de São Paulo” (SÃO PAULO, 2010, p. 7-8).

Para tal, consideram os autores, devem ser respeitadas as diversidades

de opiniões, as características peculiares da região e da escola nas quais

estará sendo concebido e do projeto político-pedagógico de cada unidade

escolar mesmo que por vezes ele venha a não existir explicitamente, mas que,

mesmo implicitamente, contenha sugestões de todos que dele se preocupam

em concebê-lo e colocá-lo a serviço da comunidade escolar.

Segundo o Currículo da Secretaria de Educação do Estado de São

Paulo (2010) esses documentos se fazem necessários - e são importantes - no

sentido de garantir a efetividade das sugestões prescritas no Currículo de

modo a garantir que ele chegue à comunidade escolar de maneira clara e

efetiva a todos que dele devem se apropriar com suas concepções e

sugestões.

As considerações que serão feitas a seguir têm o propósito de verificar

se há aderência entre os princípios de Enculturação Matemática enunciados

por Bishop (1997) - e aqui considerados anteriormente - e as proposições

contidas no Currículo da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

(2010) além de realizar considerações em relação às competências - foco

sobre o qual se fundamentam as orientações deste currículo.

Iniciamos brevemente com considerações em relação aos aspectos de

Enculturação Matemática que estão presentes no Currículo do Estado de São

Paulo (2010).

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Em linhas gerais, com o Currículo atual as orientações ali presentes

constituem-se em um veículo para a disseminação dos valores presentes em

atividades de Matemática para as gerações de alunos da Educação Básica o

que perpetua os valores da matemática a gerações futuras.

É importante esclarecer que ao considerarmos a possibilidade de

realizarmos essas análises não estamos a priori considerando que os autores

do Currículo do Estado de São Paulo devam ter-se utilizado das principais

ideias descritas no trabalho de Bishop (1997), como foi feito neste trabalho, por

exemplo.

Ou que tenham se valido de princípios semelhantes oriundos de outro

(s) teórico (s) para a sua elaboração ou até mesmo que a elaboração de um

Currículo deva levar em conta como fundamentação teórica a concepção de

princípios enunciados segundo ideias advindas de um particular teórico.

Pelo contrário, consideramos válida a contribuição de diferentes fontes

de pesquisa que venham a contribuir para a aproximação do Currículo às

necessidades e peculiaridades da coletividade a que se destina não perdendo

a visão de mundo presente em nossa sociedade contemporânea.

A proposta dessas análises, inserida neste item, visa identificar se na

base de proposições e prescrições presentes no Currículo em relação a uma

base de conhecimentos matemáticos há a aderência do todo ou parte dos

princípios propostos por Bishop (1997) considerando serem estes

conhecimentos importantes para a atuação do professor em sala de aula.

Consideramos que, independente dos conhecimentos que o professor

deva ter e relacionado aos conteúdos, aos conhecimentos pedagógicos e aos

conhecimentos metodológicos, os conhecimentos curriculares devem ocupar

um lugar de destaque para a atuação do professor em sala de aula.

Assim, não está em questão aqui nesta análise se o Currículo deveria ou

não ter se apropriado dos princípios propostos por Bishop (1997) ou por esse

ou aquele teórico ou se, e até mesmo, esses princípios deveriam estar

presentes implícita ou explicitamente identificados.

Trata-se de um exercício de identificação que objetiva verificar a

presença ou não desses princípios e reafirmar, se for o caso, sua apreciação.

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O Currículo ressalta a importância de ser desenvolvido pelos alunos na

Educação Básica um elenco de competências básicas que incluem três pares

complementares de competências.

Essas, por sua vez, constituem três eixos norteadores da ação

educacional que foram identificadas a partir das ideias gerais apresentadas na

formulação do ENEM (muito embora essas relações existentes não tenham

sido explicitamente colocadas no Currículo), a saber:

expressão/compreensão: ... a capacidade de compreensão do outro, do não eu, do que me complementa, o que inclui desde a leitura de um texto, de uma tabela, de um gráfico, até a a compreensão de fenômenos históricos, sociais, econômicos, naturais, etc;

argumentação/decisão: a capacidade de argumentação, de análise e de articulação das informações e relações disponíveis, tendo em vista a viabilização da comunicação, da ação comum, a construção de consensos e a capacidade de elaboração de sínteses de leituras e de argumentações, tendo em vista a tomada de decisões, a proposição e a realização de ações efetivas e

contextualização/abstração: a capacidade de contextualização dos conteúdos estudados na escola, de enraizamento na realidade imediata, nos universos de significações – sobretudo no mundo do trabalho -, e a capacidade de abstração, de imaginação, de consideração de novas perspectivas, de virtualidades, de potencialidades para se conceber o que ainda não existe (São Paulo, 2010, p. 31-32) (grifo dos autores).

Fazendo um paralelo com os princípios para o reequilíbrio dos valores

ligados ao saber matemático, conforme Bishop (1997), o Currículo de São

Paulo (2010) faz algumas considerações que se aproximam deles conforme se

pode constatar em relação ao Princípio da formalização com significado,

explicitamente na afirmação seguinte:

No eixo argumentação/decisão, o papel da Matemática como instrumento para o desenvolvimento do raciocínio lógico da análise racional – tendo em vista a obtenção de conclusões necessárias – é bastante evidente (SÃO PAULO, 2010, P. 32-33).

Ressalte-se também, que neste eixo, têm-se aspectos próximos ao valor

transparência da cultura matemática, segundo Bishop (1997).

Segundo os autores do Currículo de São Paulo (2010), e relativamente a

esse eixo, destacam-se dois pontos cruciais:

[...] na construção do pensamento lógico, seja ele indutivo ou dedutivo, a Matemática e a língua materna partilham fraternalmente a função de desenvolvimento do raciocínio e no tocante à capacidade de sintetizar, de tomar decisões a partir dos elementos disponíveis, a Matemática assume um papel preponderante. Suas situações-problema são mais nítidas do que as outras matérias, favorecendo o

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exercício do movimento argumentar/decidir ou diagnosticar/propor. Em outras palavras, aprende-se a resolver problemas primariamente na Matemática e secundariamente nas outras disciplinas (SÃO PAULO, 2010, p. 32).

Na citação acima, constata-se elementos associados ao Princípio do

formalismo bem como que nos Cadernos do Professor e do Aluno, material

pedagógico da Secretaria de Estado de Educação de São Paulo, é possível

que professores e alunos tomem contato com situações-problema próximas à

realidade dos alunos, segundo características do Princípio da explicação.

Em relação aos Princípios da visão ampla e elementar e da

acessibilidade eles estão representados no Currículo de São Paulo (2010) em

diversas citações, das quais destacamos:

[..] a estratégia básica para mobilizar os conteúdos, tendo em vista o desenvolvimento das competências, será a identificação e a exploração das ideias fundamentais de cada tema. É possível abordar muitos assuntos sem a devida atenção às ideias fundamentais, assim como o é escolher alguns assuntos como pretexto para a apresentação da riqueza e da fecundidade de tais ideias. De modo geral, essa foi a estratégia utilizada na construção dos Cadernos do Professor (SÃO PAULO, 2010, p. 35).

Em relação ao Princípio da formalização com significado, ele está

representado segundo os autores do Currículo de São Paulo (2010) em:

Compreender o significado é reconhecer, apreender e partilhar a cultura que envolve as áreas de conhecimento, um conjunto de conceitos, posturas, condutas, valores, enfoques, estilos de trabalho e modos de fazer que caracterizam as várias ciências – naturais, exatas, sociais e humanas -, as artes – visuais, musicais, do movimento e outras -, a matemática, as línguas e outras áreas de expressão não verbal (SÃO PAULO, 2010, p. 20) (grifo dos autores).

Na citação acima também podemos identificar que ficam em evidência

valores associados ao saber matemático por meio do Princípio da

representatividade, e também em relação à acessibilidade de todos ao saber,

segundo o Princípio da acessibilidade.

Ainda, segundo os autores do Currículo de São Paulo (2010), tem-se:

Ao dispor sobre esse objetivo de compreensão do sentido, a LDBEN está indicando que não se trata de formar especialistas nem profissionais. Especialistas e profissionais devem, além de compreender o sentido, dominar a estrutura conceitual e o estatuto epistemológico de suas especialidades – não é esse o caso dos alunos da educação básica. Como estão na escola, preparando-se para assumir plenamente sua cidadania, todos devem passar pela alfabetização científica, humanista, linguística, artística e técnica para que sua cidadania, além de ser um direito, tenha qualidade (SÃO PAULO, 2010, p. 20).

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Ressalte-se (como já prescrito desde a promulgação da LDBEN nº

9.393/96 e em vigência até os dias de hoje, nas Diretrizes Curriculares

Nacionais que se seguiram e também fortemente presentes nos PCN) o

deslocamento do foco do ensino para o de aprendizagem, embora o Currículo

de São Paulo não estabeleça claramente essa opção.

Essa quebra do paradigma do foco de ensino para o de aprendizagem,

quebrando um conceito reinante em períodos anteriores não muito distantes

que associava as preocupações dos educadores à melhoria da qualidade do

ensino e aquelas que se fazem necessárias em função dos avanços sociais,

econômicos e culturais de nossa sociedade, representaria uma visão

inovadora, mas de difícil implementação.

Ressalte-se que, nesse sentido, educadores matemáticos de São Paulo

já haviam emprestado diferentes contribuições em relação a uma preocupação

maior quanto à aprendizagem, quando da elaboração dos PCN de 1997, 1998

e 1999.

Entretanto, como o próprio Currículo de São Paulo (2010) enfatiza, não é

tarefa fácil realizar a mudança de foco do ensino para o da aprendizagem uma

vez que o professor está acostumado com suas práticas e por vezes é reticente

em relação às mudanças e novas concepções relacionadas com seu trabalho

docente. Para tal, os autores do currículo de São Paulo sugerem que a escola

deve fazer essa mudança com a ajuda dos gestores junto aos professores.

Essa constatação, observada pelos autores de São Paulo (2010), pode

ser identificada na citação a seguir:

É comum que o professor, ao formular seu plano de trabalho, indique o que vai ensinar, e não o que o aluno vai aprender. E é compreensível, segundo essa lógica, que, no fim do ano letivo, cumprido seu plano, ele afirme, diante do fracasso do aluno, que fez sua parte, ensinando, e que foi o aluno que não aprendeu (SÃO PAULO, 2010, p. 13-14).

Dando prosseguimento ao que anteriores propostas do Estado de São

Paulo também o fizeram, o presente Currículo de São Paulo (2010) apresenta

um conjunto de documentos inovadores que complementam o Currículo e

favorecem o trabalho de professores e gestores escolares, reforçando a

participação de todos os membros da comunidade escolar, conforme se

constata em:

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Além desse documento básico curricular, há um segundo conjunto de documentos, com orientações para a gestão do Currículo na escola. Intitulado Caderno do Gestor ... [...] O ponto mais importante ... é garantir que a Proposta Pedagógica, que organiza o trabalho nas condições singulares de cada escola, seja um recurso efetivo e dinâmico para assegurar aos alunos a aprendizagem dos conteúdos e a constituição das competências previstas no Currículo. Espera-se também que a aprendizagem resulte da coordenação de ações entre as disciplinas, do estímulo à vida cultural da escola e do fortalecimento de suas relações com a comunidade. Para isso, os documentos reforçam e sugerem orientações e estratégias para a formação continuada de professores. [...] os Cadernos do Professor e do Aluno, organizados por disciplina/série(ano)/bimestre. Neles são apresentadas Situações de Aprendizagem para orientar o trabalho do professor no ensino dos conteúdos disciplinares específicos e a aprendizagem dos alunos. Esses conteúdos, habilidades e competências são organizados por série/ano e acompanhados de orientações para a gestão da aprendizagem em sala de aula e para a avaliação e a recuperação. Oferecem também sugestões de métodos e estratégias de trabalho para as aulas, experimentações, projetos coletivos, atividades extraclasse e estudos interdisciplinares (SÃO PAULO, 2010, p. 7-8).

Nesta seção foi possível identificar que o Currículo de São Paulo (2010)

contempla parte dos valores matemáticos salientados por Bishop (1997) tanto

no que diz respeito às orientações prescritas no texto do próprio currículo

quanto nos textos dos Cadernos.

Dentre os valores que identificamos no Currículo de São Paulo (2010)

citamos o valor racionalismo, por meio da necessidade que ele confere à

argumentação acerca de resultados e conceitos, o valor objetivismo, no que

concerne às definições e propriedades acerca dos conceitos matemáticos, bem

como ao valor progresso, segundo o qual a partir de resultados particulares é

possível arguir acerca da generalização dos conhecimentos e resultados

obtidos indo além do que é conhecido até então.

Os Cadernos foram preparados com a finalidade de melhorar o ensino e

a aprendizagem dos alunos pertencentes à rede estadual de ensino e dessa

forma oferece aos professores e gestores condições para que o currículo

venha a ser implementado enquanto um “currículo em ação”.

Um dos pontos chaves do Currículo de São Paulo (2010) e que merece

destaque para análises nesta pesquisa refere-se à concepção de uma

educação centrada em competências para dar conta do ensino e da

aprendizagem.

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Como tal, daremos destaque, em breves considerações, em relação a

reflexões que precisam ser feitas levando em conta de que não há consenso

entre pesquisadores da área de Educação de que a opção por competências

seja a melhor a ser adotada para a Educação Básica.

Para tal, abriremos uma seção para essas considerações, que serão

apresentadas em seguida.

3.4.3 Um currículo centrado em competências

O Currículo de São Paulo (2010) prescreve a utilização das

competências como fundamental para orientar o ensino e a aprendizagem dos

conteúdos escolares, razão porque consideramos importante fazer

considerações a esse respeito aqui neste trabalho.

Considerando os objetivos que norteiam esta pesquisa, apresentamos

nesta seção breves considerações das concepções norteadoras da noção de

competência na visão de alguns autores que fazem considerações, favoráveis

e contra seu uso na Educação Básica.

Como a questão das competências nos currículos é bastante ampla e

polêmica e sua discussão, em profundidade, fugiriam aos objetivos deste

trabalho - uma vez que é preciso discutir diversos aspectos e concepções que

a envolvem, acompanhadas das respectivas análises – faremos aqui apenas

breves considerações acerca da presença em currículos.

Segundo Macedo (2002), a noção de competência no discurso oficial

reúne diferentes tendências e orientações teórico-metodológicas.

Além do mais, a autora enfatiza que as atuais diretrizes mesclam pelo

menos duas das tradições pedagógicas modernas sobre competências: uma,

que é originária da obra de Piaget e da concepção hegemônica na reforma

curricular francesa divulgada no Brasil através dos trabalhos de Perrenoud21; e

21 Segundo Macedo (2002), a teoria de eficiência social tem seu desenvolvimento inicial associado aos trabalhos de Franlin Bobbitt e Werret Charters, e seu ápice associado ao trabalho de Ralph Tyler. Quando Ralph Tyler publicou seu Princípios Básicos de Currículo e Ensino, em 1949 (TYLER, Ralph. Princípios básicos de currículo e ensino. Porto Alegre: Globo, 1974), buscou associar princípios dos eficientistas sociais, tais como a centralidade nos objetivos, nos métodos e nos modelos de planejamento de currículos, com princípios do pensamento de Dewey, tais como a centralidade nos alunos e a defesa do ensino por

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outra, oriunda da tradição americana da eficiência social e de cunho

comportamental22, de forma não muito clara, mas predominante, sobretudo

com relação às finalidades sociais da escolarização articulando conhecimento

e mercado.

Segundo Lopes (2002) para caracterizar o conceito de competências, ao

final do século passado, competências estão associadas a objetivos

comportamentais, substituindo-os e, portanto, podem ser mensuráveis segundo

metas estabelecidas, como se pode constatar na citação a seguir:

Nos anos 70, [...] uma das vertentes de influência dessas teorias curriculares ficou conhecida como ensino para a competência. Inicialmente, o ensino para competência foi associado de forma mais estreita com os programas de formação de professores, mas se estendeu às diferentes áreas do ensino23. Nessa linha, o conceito de objetivos comportamentais foi substituído pela ideia de competência. Tal quais os objetivos comportamentais, as competências foram entendidas como comportamentos mensuráveis e, portanto, cientificamente controláveis. O objetivo foi associar o comportamentalismo a dimensões humanistas mais amplas, visando formar comportamentos (as competências) que representassem metas sociais impostas aos jovens pela sua sociedade e cultura. Nessa perspectiva, como discutem Jones e Moore24, as competências continuam assumindo, sobretudo, o enfoque comportamentalista (LOPES, 2002, p.60-61).

Ainda segundo Lopes (2002), as competências se dividem em

habilidades de maneira que para estas sejam estabelecidos indicadores que

devem ser atingidos, como a seguir:

As atividades de ensino são decompostas em supostos elementos

componentes (as habilidades) que permitem a elaboração de indicadores de

desempenho para avaliação. As atuais propostas curriculares para o ensino

médio, ainda que não apresentem em suas referências bibliográficas autores

situados nessa tradição, efetivamente mantêm um discurso vinculado aos

atividades. Assim Tyler definia como fontes para os objetivos os estudos sobre os alunos, sobre a vida contemporânea e sobre os conteúdos específicos. Essas fontes deveriam ser analisadas sob a ótica da filosofia e da psicologia. 22 Segundo Macedo (2002), no dizer de Bernstein, o conceito de competências pode ser identificado em diferentes perspectivas nas ciências sociais, seja na competência lingüística em Chomsky, na competência cognitiva, em Piaget ou na competência cultural, em Lévi-Strauss. Nessas perspectivas, bastante distintas entre si, esse conceito assume um enfoque nitidamente democrático, na medida em que pressupõe que todos os sujeitos sociais são intrinsecamente competentes, criativos e ativos na construção do mundo e são capazes de se auto-regular. 23 JONES, Lynn; MOORE, Rob. Education competence and the controlo f expertise. British Journal of the Sociology of Education, n. 14, p. 385-397, 1993. 24 JONES, Lynn; MOORE, Rob. Education competence and the controlo f expertise. British Journal of the Sociology of Education, n. 14, p. 385-397, 1993.

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eficientistas sociais. Esse discurso se apresenta recontextualizado pela

associação a perspectivas cognitivo-construtivistas ... (LOPES, 2002, p.61).

Segundo Berger (1999), que à época era Secretário de Ensino Médio do

MEC, competências podiam ser entendidas como sendo:

(...) os esquemas mentais, ou seja, as ações e operações mentais de caráter cognitivo, sócio-afetivo ou psicomotor, que mobilizadas e associadas a saberes teóricos ou experienciais geram habilidades, ou seja, um saber fazer. As competências são "modalidades estruturais da inteligência, ou melhor, ações e operações que utilizamos para estabelecer relações com e entre objetos, situações, fenômenos e pessoas que desejamos conhecer", operações mentais estruturadas em rede que mobilizadas permitem a incorporação de novos conhecimentos e sua integração significada a essa rede, possibilitando a reativação de esquemas mentais e saberes em novas situações, de forma sempre diferenciada. As habilidades decorrem das competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do saber fazer. Através das ações e operações, as habilidades aperfeiçoam-se e articulam-se, possibilitando nova reorganização das competências (BERGER FILHO, 1999, p.3).

Lopes (2002) chama a atenção para o fato de que as competências

fazem parte de diferentes currículos - em diferentes países – e de que não há

um discurso homogêneo em relação ao seu uso devido às recontextualizações

que existem em cada um desses países, e também nos Estados (caso do

Brasil).

No momento atual, em diferentes países no mundo ocidental, o conceito

de competências tem configurado as reformas curriculares. Não que exista um

discurso homogêneo em todas essas reformas. Há sempre recontextualizações

locais nos diferentes países, produzidas pelas interseções entre diretrizes de

órgãos de fomento internacionais, dos órgãos de governo locais e de países

com os quais estabelecem relações de intercâmbio, em busca de legitimação e

de acordos, bem como por interseções com os campos de controle simbólico e

de produção25. Porém, há certo direcionamento comum devido à confluência de

interesses políticos e econômicos expressos pelas políticas de quase

mercados, no dizer de Whitty et al26, estabelecidas em diferentes países. Tal

25 Para maiores desenvolvimentos sobre a tensão global/local nas políticas curriculares de recontextualização da atualidade, com especial foco no ensino médio, ver: Lopes, Alice Casimiro. Identidades pedagógicas projetadas pela reforma do ensino médio no Brasil. In: MOREIRA, Antonio Flávio; MACEDO, Elizabeth Fernandes de. Currículo, práticas pedagógicas e identidades. Porto: Porto, 2002. No prelo. 26 Whitty, Power; e Halpin denominam as atuais políticas educacionais de "políticas de quase-mercados", em uma distinção com a idealização de um mercado livre (cada vez menos existente na realidade). Nessas políticas há uma tendência em separar o prestador do serviço

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direcionamento está expresso, por exemplo, no Relatório para a UNESCO da

Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI27. que defende as

competências como conceito pedagógico central da prática educativa nas

escolas de ensino médio e profissionalizantes, propondo sua ampliação a todas

as crianças (LOPES, 2002, p.56 ).

A autora chama a atenção para o fato de haver diferentes currículos no

Brasil, mas que, apesar disso, todos eles têm em comum as competências.

Elas estão presentes em diversos documentos oficiais do MEC e, em função

disso, é natural que os currículos também as utilizem.

Lopes (2002) ressalta que são no Ensino Médio que mais claramente

estão colocados as competências como princípios organizadores do currículo,

a saber:

Arrisco afirmar, contudo, ser no nível médio de ensino que as

competências são definidas mais claramente como princípios organizadores do

currículo. Também é nesse nível de ensino que a tensão entre o currículo por

competências e a forma de organização curricular hegemônica – a disciplinar –

apresenta-se mais patente. Tanto que a recente publicação das diretrizes

curriculares da educação básica28, buscando unificar orientações conferidas à

educação infantil, ao ensino fundamental, ao ensino médio e à educação

profissional, tem um formato próximo àquele conferido aos documentos para o

ensino médio, nível terminal da educação básica, prevalecendo inclusive as

listagens de competências separadas por áreas (LOPES, 2002, p.58) (grifo

nosso).

O conceito de competências também é concebido sob outro olhar por

autores como José Gimeno Sacristán em seu artigo “Dez teses sobre a

educacional e o financiador desse mesmo serviço, de maneira tal que alunos e suas famílias são tratados como clientes que podem escolher entre diferentes prestadores. Tais prestadores competem entre si pela possibilidade de prestar o serviço, ao mesmo tempo em que o governo regula fortemente o processo educacional. Ver: WHITTY, Geoff; POWER, Sally; HALPIN, David. La escuela, el estado y el mercado: delegación de poderes y elección en educación. Madrid: Morata, 1999. 27 DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir – relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez, 2001. 28 Id. Diretrizes curriculares nacionais da educação básica e da educação profissional de nível técnico (documento síntese). Brasília: MEC/CNE, 2001b. Acessível via internet no endereço: http://www.mec.gov.br/cne/ftp/ PNCP/CNCP009.doc.

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aparente utilidade das competências em educação” presente no recente livro

“Educar por Competências – O que há de novo?” (2011).

Segundo Sacristán (2011), é preciso que os elaboradores dos currículos

tomem cuidados para que as prescrições contidas neles - relativamente à

utilização das competências - não se tornem instrumentos normativos que

visem estruturar os conteúdos segundo um currículo globalizado que tenha

como foco as avaliações em larga escala. Mais ainda, que tomem o cuidado de

virem a deixar de lado as especificidades e características da comunidade a

que se destina.

Sacristán (2011) chama a atenção para o perigo do uso indiscriminado

das competências em currículos, como se constata em:

[...] estamos diante de uma proposta que tem a pretensão de tornar as competências básicas norma universal a ser seguida, em todos os países e idades (life, long learning). Essa extrapolação transforma as competências em instrumentos normativos, a partir dos quais se busca a convergência dos sistemas escolares, tornando as competências referência para a estruturação dos conteúdos de um currículo globalizado. Assim, as competências serão fins, conteúdos, guias para escolher procedimentos e proposta para a avaliação (SACRISTÁN, 2011, p. 23-24).

Segundo Sacristán (2011), não é de hoje que o conceito de

competências está presente em propostas curriculares:

Há uma grande tradição de planejamentos, práticas e realização de

experiências educacionais que utiliza o conceito de competência para

denominar os objetivos dos programas educacionais, entender e desenvolver o

currículo, dirigir o ensino, organizar a aprendizagem das atividades dos alunos

e enfocar a avaliação dos mesmos. Representa uma forma de identificar

aprendizagens substantivas funcionais, úteis e eficazes (SACRISTÁN, 2011,

p.13).

Prosseguindo na caracterização de competências, Sacristán (2011)

afirma que um currículo baseado em competências pressupõe estabelecer as

condições de maneira a obter êxito na educação, considerando o currículo

proposto, como a seguir:

[...] ensino por competências é representado pelos planejamentos para os quais a funcionalidade é a meta de toda a educação, de modo que o aprendido possa ser usado como recurso ou capacitação adquirida no desempenho de qualquer ação humana, nas apenas nas de caráter manual, mas também nas de conduta (exercer

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determinados comportamentos), intelectuais (utilizar uma teoria para interpretar um acontecimento ou fenômeno), expressivas ou de comunicação (emitir mensagens), de relação com os outros (dialogar) [...] Pedir competência nesses casos é, simplesmente, cobrar efetividade do que se pretende na educação. Acomodar o discurso e criar e desenvolver o currículo com referência às competências, a partir desse ponto de vista, é enfatizar o êxito do que se diz querer conseguir (SACRISTÁN, 2011, p. 14).

Segundo Sacristán (2011), as competências se incorporam ao discurso

e à prática com outros fins, como se constata na citação a seguir:

[...] São formulações que pretendem ser uma espécie de narrativa de emergência para salvar a insuficiente e inadequada resposta dos sistemas escolares às necessidades do desenvolvimento econômico, para controlar a eficiência dos cada vez mais custosos sistemas, objetos de um fracasso escolar persistente. Seu propósito é maior, pois pretende que as competências atuem como guias para a elaboração e desenvolvimento dos currículos e das políticas educacionais; que sirvam de instrumento para a comparação dos sistemas educacionais, se constituindo em uma visão geral da educação (SACRISTÁN, 2011, p. 14-15).

Convém destacar que o Currículo de São Paulo (2010) foi elaborado e

organizado segundo a concepção de competência advinda de Sacristán (2011).

Tal constatação ganha respaldo conforme prescrito pelos autores de São Paulo

(2010):

Por isso, o Currículo da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

tem como princípios centrais: a escola que aprende; o currículo como espaço

de cultura; as competências como eixo de aprendizagem; a prioridade da

competência de leitura e de escrita; a articulação das competências para

aprender; e a contextualização no mundo do trabalho (SÃO PAULO, 2010, p.

10).

Tais competências e habilidades podem ser consideradas em uma

perspectiva geral, isto é, no que têm em comum com as disciplinas e tarefas

escolares ou no que têm de específico. Competências, nesse sentido,

caracterizam modos de ser, de raciocinar e de interagir, que podem ser

depreendidos das ações e das tomadas de decisões em contextos de

problemas, de tarefas ou de atividades. Graças a elas, podemos inferir, hoje,

se a escola como instituição está cumprindo devidamente o papel que se

espera dela (SÃO PAULO, 2010, p. 12).

Mesmo que em momentos históricos passados - como as citações acima

datadas de 1999 e 2002 - a palavra “competência” tenha também sido utilizada

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para delinear orientações curriculares, é preciso verificar - uma vez que tal

referência foi identificada no Currículo de São Paulo (2010) – se neste currículo

os mesmos sentidos e significados se reproduzam igualmente, bem como se

as finalidades a que se propõem sejam ou não as mesmas.

Ou seja, é preciso interpretar os discursos presentes no atual Currículo

de São Paulo (2010) considerando a especificidade de suas propostas e os

contextos político, econômico, social e cultural segundo o qual se encontra a

escola, seus gestores, seus professores, a comunidade escolar e

principalmente seus alunos.

O Currículo de São Paulo (2010) apresenta a forte presença da ideia do

desenvolvimento e promoção às competências ressaltando que os conteúdos e

a metodologia são meios segundo os quais as competências devem ser

desenvolvidas através de ações, reflexões e tomadas de decisões.

Estas, por sua vez, são realizadas no contexto em que sejam

promovidas atividades, tarefas ou situações-problema as quais permitem que o

aluno possa vir a raciocinar, refletir, interagir, socializar-se e a expor suas

ideias e conclusões.

Assim, em linhas gerais, os autores do Currículo de São Paulo (2010)

prescrevem que, uma vez que as recomendações à exploração das

competências estão presentes no presente Currículo, é preciso que seja

assegurado ao aluno o direito de aprender.

Ao enfatizar as competências como uma referência para o trabalho

docente os autores do Currículo de São Paulo (2010) iniciam com uma

exposição de motivos para justificar a opção feita e fazem um pedido à

comunidade escolar - principalmente os professores - para que todos abracem

a concepção de um currículo por competências.

Assim, afirmam os autores de São Paulo (2010): “Um Currículo que

promove competências tem o compromisso de articular as disciplinas e as

atividades escolares com aquilo que se espera que os alunos aprendam ao

longo dos anos” (SÃO PAULO, 2010, p. 12).

As orientações sugerem que os professores participem de atividades -

conforme prescritas no currículo - de modo que eles se apercebam de que “[...]

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um currículo referenciado em competências supõe que se aceite o desafio de

promover os conhecimentos próprios de cada disciplina articuladamente às

competências e habilidades do aluno” (SÃO PAULO, 2010, p. 12).

Segundo os autores do Currículo de São Paulo (2010), é preciso

considerar as competências em uma perspectiva geral como:

Tais competências e habilidades podem ser consideradas em uma

perspectiva geral, isto é, no que têm de comum com as disciplinas e tarefas

escolares ou no que têm de específico. Competências, nesse sentido,

caracterizam modos de ser, de raciocinar e de interagir, que podem ser

depreendidos das ações e das tomadas de decisão em contextos de

problemas, de tarefas ou de atividades. Graças a elas, podemos inferir, hoje,

se a escola como instituição está cumprindo devidamente o papel que se

espera dela (SÃO PAULO, 2010, p. 12).

Considerando que o universo de alunos da Rede Escolar de São Paulo

se situa na faixa etária de 11 a 18 anos, os autores consideram que

“competências e habilidades podem ser consideradas em uma perspectiva

geral”.

Por conta disso, os autores do Currículo de São Paulo (2010)

prescrevem que o uso de competências está diretamente relacionado com as

atribuições docentes no sentido de promover o desenvolvimento destas,

conforme se constata a seguir:

Valorizar o desenvolvimento de competências nesta fase da vida implica

ponderar, além de aspectos curriculares e docentes, os recursos cognitivos,

afetivos e sociais dos alunos. Implica, pois, analisar como o professor mobiliza

conteúdos, metodologias e saberes próprios de sua disciplina ou área de

conhecimento, visando a desenvolver competências em adolescentes, bem

como a instigar desdobramentos para a vida adulta (SÃO PAULO, 2010, p. 12).

Segundo os autores do Currículo de São Paulo (2010) em relação às

competências deve-se observar as indicações do que o aluno deve aprender,

conforme:

O currículo referenciado em competências é uma concepção que requer

que a escola e o plano do professor indiquem o que o aluno vai aprender. Uma

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das razões para se optar por uma educação centrada em competências diz

respeito à democratização da escola. Com a universalização do Ensino

Fundamental, a educação incorpora toda a heterogeneidade que caracteriza o

povo brasileiro; nesse contexto, para ser democrática, a escola tem que ser

igualmente acessível a todos, diversa no tratamento a cada um e unitária nos

resultados (SÃO PAULO, 2010, p. 13).

Tomando por base a citação acima, em sua primeira parte, identifica-se

na posição dos autores do Currículo de São Paulo (2010) tendências para o

deslocamento do foco de ensino para o de aprendizagem, caracterizando um

currículo não mais como um rol de conteúdos disciplinares. A exemplo da

LDBEN nº 9394/96, o Currículo de São Paulo (2010) “deslocou o foco do

ensino para a aprendizagem, e não é por acaso que sua filosofia não é mais a

da liberdade de ensino, mas a do direito de aprender” (SÃO PAULO, 2010, p.

13).

Segundo os autores do Currículo de São Paulo (2010), o currículo

prescreve identificar o que eles consideram ser indispensável que todos

tenham aprendido quando do término do processo. Com o propósito de definir

o escopo de atuação das competências no âmbito do Currículo de São Paulo

(2010) os autores chamam a atenção para as razões que os levaram a fazerem

esta opção, como se pode constatar:

Optou-se por construir a unidade com ênfase no que é indispensável

que todos tenham aprendido ao final do processo, considerando-se a

diversidade. Todos têm direito de construir, ao longo de sua escolaridade, um

conjunto básico de competências, definido pela lei. Esse é o direito básico, mas

a escola deverá ser tão diversa quantos são os pontos de partida das crianças

que recebe. Assim, será possível garantir igualdade de oportunidade,

diversidade de tratamento e unidade de resultados. Quando os pontos de

partida são diferentes, é preciso tratar diferentemente os desiguais para

garantir a todos uma base comum (SÃO PAULO, 2010, p. 13).

Os autores do Currículo de São Paulo (2010) ressaltam, porém, que tais

objetivos de transição da cultura do ensino para a da aprendizagem devem ser

alcançados com os esforços de toda a coletividade escolar, como se constata a

seguir:

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Pensar o currículo hoje é viver uma transição na qual, como em toda

transição, traços do velho e do novo se mesclam nas práticas cotidianas. É

comum que o professor, ao formular seu plano de trabalho, indique o que vai

ensinar, e não o que o aluno vai aprender. E é compreensível, segundo essa

lógica, que, no fim do ano letivo, cumprido seu plano, ele afirme, diante do

fracasso do aluno, que fez sua parte, ensinando, e que foi o aluno que não

aprendeu. No entanto, a transição da cultura do ensino para a da

aprendizagem não é um processo individual. A escola deve fazê-lo

coletivamente, tendo à frente seus gestores, que devem capacitar os

professores em seu dia a dia, a fim de que todos se apropriem dessa mudança

de foco [...] que as escolas, em sua Proposta Pedagógica, estabeleçam os

planos de trabalho que, por sua vez, farão, das propostas, currículos em ação

... (SÃO PAULO, 2010, p. 13).

Ressalte-se, porém, que a escolha pelos autores de São Paulo (2010)

do foco nas competências com as justificativas que foram apresentadas acima

pode esconder o discurso sobre os reais objetivos a que se propõem, quando

elas são incorporadas ao currículo.

Relativamente às competências, os autores do Currículo de São Paulo

(2010) chamam a atenção para a prioridade que deva ser dada para as

competências da leitura e da escrita, considerando a importância destas para o

desenvolvimento cognitivo dos alunos, conforme a seguir:

Em uma cultura letrada como a nossa, a competência de ler e de

escrever é parte integrante da vida das pessoas e está intimamente associada

ao exercício da cidadania. As práticas de leitura e escrita, segundo as

pesquisas que vêm sendo realizadas na área, têm impacto sobre o

desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Essas práticas possibilitam o

desenvolvimento da consciência do mundo vivido (ler é registrar o mundo pela

palavra, afirma Paulo Freire), propiciando aos sujeitos sociais a autonomia na

aprendizagem e a contínua transformação, inclusive das relações pessoais e

sociais (SÃO PAULO, 2010, p. 15).

Segundo os autores do Currículo de São Paulo (2010), “para sermos

cidadãos plenos, devemos adquirir discernimento e conhecimentos pertinentes

para tomar decisões em diversos momentos” (SÃO PAULO, 2010, p. 21). A

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defesa dos autores do Currículo de São Paulo (2010) em relação às

competências prossegue, conforme se constata a seguir:

[...] Portanto, mais que os conteúdos isolados, as competências são guias eficazes para educar para a vida. As competências são mais gerais e constantes; os conteúdos, mais específicos e variáveis. É exatamente a possibilidade de variar os conteúdos no tempo e no espaço que legitima a iniciativa dos diferentes sistemas públicos de ensino de selecionar, organizar e ordenar os saberes disciplinares que servirão como base para a constituição de competências, cuja referência são as diretrizes e orientações nacionais, de um lado, e as demandas do mundo contemporâneo, de outro (SÃO PAULO, 2010, p. 18).

Cabe aqui uma constatação que fizemos ao longo das atividades que

desenvolvemos para esta pesquisa: a força que os conteúdos têm em relação

às competências é, por vezes, tão mais forte que nos encontros da sequência

didática objeto desse estudo foi prevalente abordar aspectos de conteúdo e

pedagógicos de conteúdo às considerações que poderiam ter sido feitas em

relação às perspectivas relacionadas com as competências, considerando as

diretrizes e orientações nacionais, como a citação acima confere.

Os autores do Currículo de São Paulo (2010) chamam a atenção para a

proliferação das novas tecnologias da informação no mundo contemporâneo

para a qual se faz necessárias mudanças em vários setores da sociedade. E a

Escola, também por conta disso, não pode ficar alheia a essas questões.

Portanto, também ela, e o melhor, principalmente ela, a Escola, deve se

preocupar em preparar seus professores, gestores e alunos para tal.

Em razão disso, os autores de São Paulo (2010) assim se manifestam:

As novas tecnologias da informação promoveram uma mudança na produção, na organização, no acesso e na disseminação do conhecimento. A escola, sobretudo hoje, já não é a única detentora de informação e conhecimento, mas cabe a ela preparar seu aluno para viver em uma sociedade em que a informação é disseminada em grande velocidade (SÃO PAULO, 2010, p. 18).

Os autores do Currículo de São Paulo (2010) fazem um alerta aos

professores em relação à preparação que eles devem ter para dar conta

dessas novas tarefas, como pode ser constatado em:

Vale insistir que essa preparação não exige maior quantidade de ensino (ou de conteúdos), mas sim melhor qualidade de aprendizagem. É preciso deixar claro que isso não significa que os conteúdos do ensino não sejam importantes; ao contrário, são tão importantes que a eles está dedicado este trabalho de elaboração do Currículo do ensino oficial do Estado de São Paulo. São tão decisivos que é indispensável aprender a continuar aprendendo os conteúdos

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escolares, mesmo fora da escola ou depois dela. Continuar aprendendo é a mais vital das competências que a educação deste século precisa desenvolver. Não só os conhecimentos com os quais a escola trabalha podem mudar, como a vida de cada um apresentará novas ênfases e necessidades, que precisarão ser continuamente supridas. Preparar-se para acompanhar esse movimento torna-se o grande desafio das novas gerações (SÃO PAULO, 2010, p. 18) (grifo dos autores).

Consideramos que é preciso que as orientações prescritas nos PCN, as

Orientações Curriculares do MEC e, em particular as preconizadas no Currículo

de São Paulo (2010) não se constituam – relativamente às competências -

como uma listagem de atribuições às quais os professores devam se orientar

para prepararem seus alunos para enfrentarem avaliações em larga escala,

tanto nacionais (ENEM, Prova Brasil, etc) quanto internacionais (PISA), sob o

risco de ficarem reféns dessas avaliações.

A questão de maior impacto é que os resultados dessas avaliações

geram uma enorme apreensão em vários segmentos da sociedade,

principalmente quando estes não são favoráveis à escola. Como consequência,

esses resultados – geralmente negativos – provocam desânimo entre os

gestores e pais de alunos e, sobretudo, no trabalho dos professores.

Por outro lado, esses mesmos indicadores não são capazes de

indicarem caminhos para que a escola procure melhorias em seus

planejamentos político-pedagógicos.

Muito embora tenhamos feito análises, considerações e apresentado

diferentes conceitos associados às competências nesta seção, consideramos

que elas ainda não são suficientes para esgotar todas as discussões que

precisam ser feitas a respeito dos conceitos e da pertinência ou não de seu uso

em currículos educacionais na Educação Básica.

Particularmente, no que diz respeito ao Currículo de São Paulo (2010),

entendemos que algumas considerações a respeito do uso de competências na

Educação Básica conforme foram sugeridos precisam ser mais bem avaliados

e serem feitas reflexões próprias e pertinentes, caso a caso.

Na seção seguinte vamos analisar como os conteúdos relacionados com

os problemas de contagem são sugeridos serem apresentados aos alunos

segundo o prescrito no atual Currículo de São Paulo (2010).

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3.4.4. Os problemas de contagem

Neste trabalho, estamos preocupados em retratar com maior ênfase as

relações existentes entre a prática docente de professores que ensinam

matemática na rede estadual de São Paulo e aquelas propostas à luz da

implementação curricular desencadeada a partir do ano de 2008 pela

Secretaria Estadual de Educação de São Paulo através das orientações

prescritas no Currículo do Estado de São Paulo – Matemática e suas

Tecnologias – Ensino Fundamental – Ciclo II e Ensino Médio (2010), no que

concerne aos problemas de contagem.

Um exemplo significativo para orientar e permitir reflexões por parte dos

professores está presente na citação a seguir, extraída do currículo de São

Paulo (2010), a qual conclama os professores para uma ressignificação em

relação às práticas docentes por eles encaminhadas até então, como a seguir:

Houve um tempo em que a educação escolar era referenciada no ensino – o pano de trabalho da escola indicava o que seria ensinado ao aluno. Essa foi uma das razões pelas quais o currículo escolar foi confundido com um rol de conteúdos disciplinares. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9394/96 deslocou o foco do ensino para a aprendizagem , e não é por acaso que sua filosofia não é mais a da liberdade de ensino, mas a do direito de aprender . É comum que o professor, ao formular seu plano de trabalho, indique o que vai ensinar, e não o que o aluno vai aprender. E é compreensível, segundo essa lógica, que, no fim do ano letivo, cumprindo seu plano, ele afirme, diante do fracasso do aluno, que fez sua parte, ensinando, e que foi o aluno que não aprendeu (SÃO PAULO, 2010, p. 13-14) (grifo nosso).

O novo Currículo de São Paulo (2010) retoma as orientações

preconizadas na LDBEN nº 9394/96 em relação à mudança de foco de ensino

para o de aprendizagem, assim como as que também estão preconizadas nas

orientações constantes dos PCN e em outras orientações curriculares que se

seguiram, como se constata a seguir:

No entanto, a transição da cultura do ensino para a da aprendizagem não é um processo individual. A escola deve fazê-lo coletivamente, tendo a frente seus gestores, que devem capacitar os professores em seu dia a dia, a fim de que todos se apropriem dessa mudança de foco. Cabe às instâncias responsáveis pela política educacional nos Estados e nos municípios elaborar, a partir das DCN e dos PCN, propostas curriculares próprias e específicas, para que as escolas, em sua Proposta Pedagógica, estabeleçam os planos de trabalho que, por sua vez, farão, das propostas, currículos em ação – como no presente esforço desta Secretaria (SÃO PAULO, 2010, p. 14).

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É claro que essas orientações devem ser discutidas pelos professores

entre si e os gestores escolares e, no que se refere aos problemas de

contagem não haveria de ser deferente o tratamento a ser dado.

O Currículo de São Paulo (2010) assim prescreve as recomendações de

trabalho para os professores para cada uma das séries/anos do Ensino

Fundamental em relação aos conteúdos e habilidades de matemática

relacionadas ao Bloco Tratamento da Informação, em particular aqueles

relacionados aos problemas de contagem:

[...] 5ª série/6º ano do Ensino Fundamental – Conteúdos: Problemas de contagem; Habilidades: Saber utilizar diagramas de árvore para resolver problemas simples de contagem; Compreender a ideia do princípio multiplicativo da contagem.

6ª série/7º ano do Ensino Fundamental – Conteúdos: Problemas envolvendo probabilidade; Habilidades: Saber resolver problemas simples envolvendo a ideia de probabilidade (porcentagem que representa possibilidades de ocorrência).

7ª série/8º ano do Ensino Fundamental – Conteúdos: Problemas de contagem; Habilidades: Conhecer as propriedades das potências e saber realizar de modo significativo as operações com potências (expoentes inteiros).

8ª série/9º ano do Ensino Fundamental – Conteúdos: Problemas de contagem e introdução à probabilidade; Habilidades: Saber resolver problemas envolvendo processos de contagem – princípio multiplicativo; Saber resolver problemas que envolvam ideias simples sobre probabilidade (SÃO PAULO, 2010, p.57-64).

Essa distribuição dos conteúdos de contagem em três das quatro séries

do Ensino Fundamental sugerido pelo Currículo de São Paulo (2010) faz com

que os professores que atuam com turmas deste segmento de ensino estejam

preparados para desenvolver atividades relacionadas com o tema, não

obstante as recomendações presentes nos “Cadernos do Professor” e

“Cadernos do Aluno”, através de exemplos e de proposições de situações-

problema.

Além do mais é bastante oportuna a introdução destes conteúdos no

Ensino Fundamental em um Currículo pertencente a uma Secretaria de

Educação de tamanha abrangência como o Estado de São Paulo,

caracterizando a importância de tratar deste tema segundo especificidades

próprias deste segmento, conforme os PCN já prescrevem desde 1997.

Segundo o Currículo da Secretaria de Educação do Estado de São

Paulo (2010) o “Caderno do Gestor” se faz necessário - e é importante - no

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sentido de garantir a efetividade das sugestões prescritas no Currículo de

modo a garantir que ele chegue à comunidade escolar de maneira clara e

efetiva a todos que dele devem se apropriar com suas concepções e

sugestões.

Quanto a essa questão, os autores de São Paulo (2010) assim

prescrevem:

O ponto mais importante desse segundo conjunto de documentos é garantir que a Proposta Pedagógica, que organiza os trabalhos nas condições singulares de cada escola, seja um recurso efetivo e dinâmico para assegurar aos alunos a aprendizagem dos conteúdos e a constituição das competências previstas no Currículo. Espera-se também que a aprendizagem resulte da coordenação de ações entre as disciplinas, do estímulo à vida cultural da escola e do fortalecimento de suas relações com a comunidade. Para isso, os documentos reforçam e sugerem orientações e estratégias para a formação continuada dos professores (SÃO PAULO, 2010, p. 8) (grifo dos autores e grifo nosso).

A citação acima contém elementos significativos em relação ao

problema objeto desta pesquisa quais sejam aqueles relacionados à mudança

de foco de ensino para o de aprendizagem presente neste Currículo e também

no anterior (desde a LDBEN).

Ela está em consonância com as orientações prescritas nos PCN do

Ensino Fundamental e do Ensino Médio, bem como em relação à importância

da formação continuada dos professores no sentido de que os professores

devam estar preparados para novos desafios relacionados à carreira docente

no Século XXI.

Essas duas razões são de significativa importância para o trabalho que o

Observatório da Educação da CAPES/UNIBAN vem desenvolvendo junto aos

professores da Rede Estadual de Ensino de São Paulo em relação a diferentes

conteúdos e, em particular, os problemas de contagem neste estudo.

Os autores de São Paulo (2010) enfatizam a importância de o professor

considerar a aprendizagem como elemento central do ensino bem como a

responsabilidade em relação à quantidade e à qualidade do conhecimento,

conforme a citação seguinte:

A aprendizagem é o centro da atividade escolar. Por extensão, o professor caracteriza-se como um profissional da aprendizagem. O professor apresenta e explica conteúdos, organiza situações para a aprendizagem de conceitos, de métodos, de formas de agir e pensar,

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em suma, promove conhecimentos que possam ser mobilizados em competências e habilidades que, por sua vez, instrumentalizam os alunos para enfrentar os problemas do mundo. Dessa forma, a expressão “educar para a vida” pode ganhar seu sentido mais nobre e verdadeiro na prática do ensino. Se a educação básica é para a vida, a quantidade e a qualidade do conhecimento têm de ser determinadas por sua relevância para a vida de hoje e do futuro, para além dos limites da escola (SÃO PAULO, 2010, p. 18).

Na terceira das orientações curriculares presentes no Currículo de São

Paulo (2010) têm-se um conjunto de documentos direcionados diretamente aos

professores e aos alunos denominados respectivamente de “Cadernos do

Professor” e “Cadernos do Aluno”, organizados por disciplina/série

(ano)/bimestre os quais contém algumas sugestões de “Situações de

Aprendizagem” para orientarem o trabalho do professor em relação aos

conteúdos específicos de cada disciplina com vistas à melhoria da

aprendizagem dos alunos.

Uma contribuição que o Currículo de São Paulo (2010) apresenta para o

professor é o de oferecer “Situações de Aprendizagem” que permitem ao

professor desenvolver com os alunos o que os autores chamam de “centros de

interesse” que têm o objetivo de viabilizar a introdução de alguns dos

conteúdos de maneira diferente do que a literatura dos livros didáticos

apresenta.

Assim se referem os autores de São Paulo (2010) a esse respeito:

No Caderno do Professor, em cada bimestre, o tema principal foi dividido em oito unidades [...] Para a exploração das oito unidades, foram escolhidas, em cada bimestre, quatro Situações de Aprendizagem, que constituem quatro centros de interesse a serem desenvolvidos com os alunos [...] Algumas das Situações de Aprendizagem constituem formas não usuais de tratamento de temas usuais, em sintonia com a intenção já registrada neste Currículo de manter no programa os conteúdos mais conhecidos, mas apostar em formas de abordagem que propiciem visões inovadoras, que busquem uma ultrapassagem das realidades existentes (SÃO PAULO, 2010, p. 53) (grifo dos autores).

Segundo os autores de São Paulo (2010) as relações entre a lista de

conteúdos e as ideias fundamentais de cada um destes conteúdos devem ser

exploradas pelo professor no sentido de que os alunos devam ser capazes de

se apropriarem das habilidades próprias a cada um dos conteúdos.

Estas, por sua vez, são apresentadas junto dos conteúdos em cada um

dos bimestres como se constata:

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Para viabilizar uma explicitação um pouco maior das relações existentes entre a lista de conteúdos apresentados para cada bimestre e as ideias fundamentais presentes neles, são apresentadas, a seguir, as habilidades a serem demonstradas pelos alunos em cada tema. Tais habilidades traduzem, de modo operacional, as ações que os alunos devem ser capazes de realizar, ao final de cada bimestre, após serem apresentados aos conteúdos curriculares listados (SÃO PAULO, 2010, p. 55).

Os autores de São Paulo (2010) chamam a atenção dos professores

para a busca da efetiva aprendizagem dos alunos e o que seria a expectativa

desejável do ensino, como em:

Ao fixar os conteúdos, mas do que nunca é preciso ter em mente que a expectativa de todo ensino é que a aprendizagem e fetivamente ocorra . Uma vez que as disciplinas não são um fim em si mesmo, o que se espera dos conteúdos disciplinares é que eles realmente possam ser mobilizados tendo em vista o desenvolvimento de competências pessoais, tais como a capacidade de expressão, de compreensão, de argumentação etc (SÃO PAULO, 2010, p. 55) (grifo nosso).

Segundo as orientações constantes do Currículo de São Paulo (2010):

“Um currículo que promove competências tem o compromisso de articular as

disciplinas e as atividades escolares com aquilo que se espera que os alunos

aprendam ao longo dos anos” (SÃO PAULO, 2010, p. 12).

Portanto, a aprendizagem baseada em competências pode ser

desenvolvida em sala de aula e em casa pelos alunos e como tal os

professores têm a responsabilidade de prepará-los para enfrentar situações

não só nos dias de hoje, mas para quando eles saírem da Educação Básica.

Por conta disso o professor deve estar imbuído de propósitos que

promovam uma aprendizagem efetiva e com os quais ele deva preparar seu

aluno de modo que este venha a se apropriar de competências e habilidades

para compreender os conhecimentos acerca dos conteúdos escolares que está

vivenciando na escola.

O professor também deve preparar seus alunos para continuar

estudando na vida adulta.

Também os “Cadernos” têm a oferecer ao professor sugestões de como

ele poderá vir a encaminhar procedimentos relacionados à avaliação de seus

alunos e de como o professor poderá gerir a sua sala de aula - relativamente à

sequência didática que poderá encaminhar - para que seus alunos se

apropriem de determinado conceito com diferentes significados.

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Também os “Cadernos” orientam o professor de como ele poderá

encaminhar para proceder à recuperação - paralela ou não - daqueles alunos

que ainda não conseguiram se apropriar das habilidades e das competências

requeridas para aqueles conteúdos programados para um dado bimestre

escolar.

Além do mais, os “Cadernos do Professor” também permitem que o

professor possa consultá-los para conhecer um pouco da história da

matemática - uma das ações sugeridas pelos PCN para serem trabalhadas na

Educação Básica – e encaminhar discussões e considerações pertinentes com

seus alunos.

Os “Cadernos do professor” também contêm sugestões para trabalhos

colaborativos que poderão vir a ser desenvolvidos com os alunos no seio de

determinada disciplina bem como para desenvolver projetos escolares que

visem à contextualização de temas entre si por exemplo.

Esta recomendação pode ser confirmada na citação a seguir, extraída

de São Paulo (2010):

[...] a atuação do professor, os conteúdos, as metodologias disciplinares e a aprendizagem requerida dos alunos são aspectos indissociáveis, que compõem um sistema ou rede cujas partes têm características e funções específicas que se complementam para formar um todo, sempre maior que elas. Maior porque o currículo se compromete em formar crianças e jovens para que se tornem adultos preparados para exercer suas responsabilidades (trabalho, família, autonomia, etc) e para atuar em uma sociedade que depende deles (SÃO PAULO, 2010, p. 12).

Em seguida detalhamos as atividades que estão relacionadas direta ou

indiretamente com os problemas de contagem que estão presentes no

Currículo de Matemática da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo

(2010):

O Currículo de Matemática indica para 5ª série/6º ano do Ensino Fundamental os conteúdos de Problemas de contagem recomendando as seguintes habilidades para os alunos se apropriarem: Saber utilizar diagramas de árvore para resolver problemas simples de contagem; Compreender a ideia do princípio multiplicativo da contagem (SÃO PAULO, 2010, p.57).

Já no 1º Bimestre o “Caderno do Professor” sugere apresentar o

conceito de potência (representação de um produto de fatores iguais) de

maneira análoga à utilizada no conceito de multiplicação.

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Segundo os autores, uma estratégia para se construir com significado

esse conceito é por meio de problemas de contagem que envolvam processos

multiplicativos de fatores iguais perguntando, por exemplo, sobre o quantitativo

de antecedentes que eles possuem (pais, avós, bisavós, etc), como por

exemplo: quantos trisavôs cada um de vocês tem?

Para responder a tal questão sugerem a construção de uma árvore de

possibilidades e, a partir dela, vir a concluir que a resposta corresponde ao

produto 2 x 2 x 2 x 2 = 24 = 16.

Os autores sugerem a generalização desse resultado para n gerações e

outras situações do mesmo tipo como o número de resultados possíveis no

lançamento de três dados (63) ou o número de senhas que podem ser criadas

com 5 algarismos (105).

Já o “Caderno do Aluno” sugere atividades com outras gerações bem

como a da determinação do número de resultados possíveis no lançamento de

dois e de três dados

O “Caderno do Professor” - no 4º Bimestre, edição de 2008 - apresenta

como Temas e conteúdos: Leitura e construção de tabelas; leitura e

interpretação de gráficos; construção de gráficos; medidas de centralidade:

moda, média e mediana e no “Caderno do Aluno” são apresentadas situações

de aprendizagem sobre esses mesmos Temas e conteúdos.

Analisando estes dois materiais didáticos para a 5ª série/6º ano,

consideramos que foram pertinentes as escolhas das atividades propostas para

explorar potências de números naturais.

Por outro lado, o material deixou de explorar atividades com o uso de

árvores de possibilidades e de outras atividades de contagem.

O Currículo de Matemática do Currículo de São Paulo (2010) indica para

6ª série/7º ano do Ensino Fundamental os conteúdos de Problemas envolvendo

probabilidade, com as seguintes habilidades: Saber resolver problemas simples

envolvendo a ideia de probabilidade (porcentagem que representa

possibilidades de ocorrência) (SÃO PAULO, 2010, p.58).

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No 3º Bimestre o “Caderno do Professor” sugere o estudo dos gráficos

de setores relacionado com Proporcionalidade, porcentagem, razão e noções

de probabilidade.

No “Caderno do Aluno” os autores sugerem atividades similares às

apresentadas no “Caderno do Professor”.

O Currículo de Matemática indica para 7ª série/8º ano do Ensino

Fundamental os conteúdos de problemas de contagem com a habilidade de

conhecer as propriedades das potências e saber realizar, de modo significativo,

operações com potências (expoentes inteiros) (SÃO PAULO, 2010, p.59).

Já no 1º Bimestre o “Caderno do Professor” sugere determinar o número

de informações que podem ser armazenadas com 3, 4 5 ou n bits, num total de

2n informações sugerindo que o mesmo problema possa ser analisado com o

auxílio de um diagrama de árvore e apresenta uma tabela com os resultados

obtidos nos galhos terminais da árvore para o caso de quatro bits.

Em seguida os autores constroem uma tabela com as potências de 2 e o

número de algarismos necessários para escrever os resultados da potência

escrita por extenso, bem como apresentam a construção de um gráfico

relacionando o expoente das potências de 2 com o número de algarismos da

escrita por extenso.

Finalizando, perguntam ao leitor qual a quantidade de algarismos para

2100.

No “Caderno do Aluno”, os autores sugerem atividades similares às

contidas no “Caderno do Professor”. Elas são bastante pertinentes para o

propósito a que se destinam.

Tal qual foi apresentado anteriormente em relação à 5ª Série, os autores

explorem somente estes tipos de situações-problema como exemplos para a

introdução de potências e deixam de explorar outros problemas de contagem

bem como as diferentes representações, por exemplo.

O Currículo de Matemática indica os conteúdos de problemas de

contagem e introdução à probabilidade para 8ª série/9º ano do Ensino

Fundamental com as seguintes habilidades: Saber resolver problemas

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envolvendo processos de contagem – princípio multiplicativo; Saber resolver

problemas que envolvam ideias simples sobre probabilidade (SÃO PAULO,

2010, p.62-64).

No 4º Bimestre o “Caderno do Professor” sugere que o professor

apresente o problema da “Agulha de Buffon” para introduzir o conceito de

probabilidade geométrica e que também faça o mesmo através da razão entre

áreas de setores em uma dada circunferência.

No “Caderno do Aluno”, os autores sugerem atividades similares às

contidas no “Caderno do Professor”.

Por outro lado, segundo os autores de São Paulo (2010) a lista de

conteúdos que o Currículo de São Paulo (2010) apresenta não difere do que

vem sendo apresentado em outras propostas curriculares e nos livros didáticos,

como se constata em São Paulo (2010):

Reiteramos que a lista dos conteúdos curriculares de Matemática apresentada não se distancia substancialmente dos programas usualmente oferecidos em outros currículos, nos livros didáticos ou nos diversos sistemas de ensino (SÃO PAULO, 2010, p. 55).

Portanto, muito embora seja de significativa importância a inovação do

Currículo de São Paulo (2010) em relação ao desenvolvimento de atividades

de Problemas de contagem no Ensino Fundamental consideramos foram

poucas as sugestões e os exemplos motivacionais para os professores em

relação às oportunidades que podem ser desenvolvidas para este segmento de

ensino.

Sendo assim, os problemas de contagem conforme sugeridos no

Currículo de São Paulo (2010) podem ser apresentados ao longo do Ensino

Fundamental e se estenderem até o Ensino Médio conforme a sugestão

prescrita a seguir (o grifo foi colocado por para realçar a indicação):

[...] os conteúdos disciplinares são meios para a formação dos alunos como cidadãos e como pessoas, o desenvolvimento de competências relacionadas ao eixo argumentação/decisão é o espaço privilegiado para o tratamento da informação, em busca de uma visão crítica do tema. Numa perspectiva curricular que se estenda até o En sino Médio , podem compor esse bloco de conteúdos [...] o estudo de estratégias de contagem e do cálculo de probabilidades etc (SÃO PAULO, 2010, p. 44) (grifo nosso).

Portanto, levando em conta a citação acima cabe ao professor

encaminhar os problemas de contagem com seus alunos nos momentos

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adequados para a motivação ou introdução de outros conteúdos no Ensino

Fundamental incluindo aqueles que foram sugeridos e apresentados nas

“Situações de Aprendizagem” presentes nos “Cadernos do Professor” e nos

“Cadernos do Aluno”.

A citação a seguir, extraída de São Paulo (2010), confirma o que

dissemos antes.

Por outro lado o grifo aqui feito destaca a importância de o professor

encaminhar reflexões para a tomada de decisões para a inclusão - quando e

como isso poderá vir a ser feito junto a seus alunos - de modo a favorecer a

introdução de novos conceitos e o desenvolvimento do raciocínio combinatório.

A escolha de diferentes escalas de aprofundamento para vários assuntos é natural e esperada, constituindo a competência máxima do professor, do ponto de vista da didática. Um bom professor não se excede em pormenores que não podem ser compreendidos pelos alunos, nem subestima a sua capacidade de compreensão. [...] Reiteramos que, na presente proposta, cabe exclusiv amente ao professor pensar o planejamento sobre “o quê”, “com o” e “com que grau de profundidade” abordará os conteúdos sug eridos na grade curricular bimestral , destacando que a ideia de escala, anteriormente referida, é absolutamente decisiva para a compreensão do que se propõe no presente documento (SÃO PAULO, 2010, p. 50) (grifo nosso).

Finalizamos o capítulo sintetizando para o leitor o que foi apresentado:

inicialmente um recorte sobre as reformas do ensino secundário nas quais a

análise combinatória esteve presente desde 1919 no Colégio Pedro II, uma

referência para as demais escolas, à época até a criação do Ministério dos

Negócios da Educação e Saúde Publica por Getúlio Vargas em 1930; também

fizemos análises a respeito das propostas curriculares do estado de São Paulo

desde 1970, em relação à presença de análise combinatória nestes, até o atual

Currículo de São Paulo (2010); também avaliamos a presença de problemas de

contagem e noções de análise combinatória nos PCN (1997, 1998, 1999);

analisamos o projeto político-pedagógico do Currículo de São Paulo (2010);

analisamos características acerca do currículo, centrado em competências e,

por fim, finalizamos com análises a respeito do ensino e aprendizagem acerca

dos problemas de contagem.

O capítulo seguinte destina-se ao início da análise dos dados colhidos

nos três primeiros questionários, propostos no primeiro dos encontros de

ensino – fase de design - de maneira a conhecer a experiência dos sujeitos

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desta pesquisa em relação aos conhecimentos curriculares, de conteúdo e

pedagógicos de conteúdo. Essa análise permitirá responder a uma das

questões propostas para esta pesquisa.

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4 UMA ANÁLISE DOS DADOS INICIAIS DA PESQUISA

Este capítulo é dedicado à exposição da análise dos dados colhidos no

primeiro momento da metodologia deste estudo, a fase de design – a que

antecede à fase de intervenção, ou seja, do desenvolvimento da sequência

didática - de maneira a conhecer as concepções, crenças e conhecimentos do

grupo de professores já caracterizado no Capítulo 1.

Agora, neste capítulo, vamos apresentar as questões que compuseram

os três instrumentos de coleta de dados utilizados nesta primeira fase

acrescidas dos propósitos pelos quais decidimos sobre sua pertinência em

relação à nossa pesquisa e acompanhadas da respectiva análise dos

resultados.

Essa análise se faz necessária à continuidade desta investigação no

sentido de permitir fundamentar os propósitos com os quais uma das questões

de pesquisa propostas será respondida.

Do grupo de professores da rede estadual de ensino de São Paulo que

integra o Observatório da Educação da UNIBAN/CAPES desde o seu início,

muitos deles escolheram o conteúdo combinatória (problemas de contagem)

como um dos temas que eles gostariam fossem aprofundados de modo a

promover reflexões e discussões, bem como a apropriação de novos

conhecimentos, por meio de um levantamento feito no início das atividades do

Observatório, em Março de 2009, na qual a escolha desse conteúdo ficou em

4º lugar nas escolhas, com 65% de preferência.

As justificativas desses professores para essa escolha foram pela

grande dificuldade que o tema apresenta tanto para ensinar quanto para

aprender.

Não obstante essa constatação, os professores justificaram ainda que

não se consideravam preparados para tratar do tema conforme ele fora

prescrito no novo Currículo de São Paulo (2010), em especial ao longo do

Ensino Fundamental, em razão de não dominarem esses conhecimentos e não

compreenderem os objetivos precípuos para atender ao que está prescrito.

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Em razão dessas constatações, o grupo de professores entendeu que a

implementação do currículo no tocante aos aspectos pedagógicos e de

conteúdo relativamente aos problemas de contagem estaria comprometida.

Passado pouco tempo da solicitação feita pelos professores

submetemos nosso Projeto de Pesquisa para o curso de Doutorado à avaliação

da equipe de professores coordenadores do grupo de pesquisa “Formação de

Professores que ensinam Matemática”, integrante dos Cursos de Pós-

Graduação em Educação Matemática da UNIBAN.

A avaliação dos professores, em concordância com o Orientador desta

pesquisa, recomendou que a fase de coleta de dados fosse feita com o grupo

de professores do Observatório da UNIBAN.

Por conta disso, foi preciso conhecer mais amiúde os anseios,

dificuldades e necessidades dos professores em relação ao tema. Depois disso

e com base na análise sobre os dados dos questionários pudemos elaborar

uma primeira versão da sequência de ensino que viria a atender aos objetivos

já definidos.

Esta análise, por sua vez, não tem o caráter estático de uma elaboração

prévia, mas se fortalece e se complementa a cada um dos encontros de ensino

com base nas observações e nas reflexões encaminhadas pelo pesquisador

em conjunto com o Orientador.

Ressalte-se que os professores integrantes do Observatório da

CAPES/UNIBAN têm a missão de implementar o que o currículo de São Paulo

(2010) prescreve e para tal têm que se apropriar dos conhecimentos de

conteúdo, curriculares e pedagógicos de conteúdo presentes, tanto nas

orientações presentes no currículo quanto nos “Cadernos do Professor” e nos

“Cadernos do Aluno”.

Inicialmente e de modo a conhecer a experiência docente do grupo de

professores, o perfil profissional, o posicionamento deles em relação ao novo

currículo prescrito pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (2010)

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e outras questões consideradas pertinentes, foi preparado o questionário Q1

intitulado “Dados relacionados à experiência docente – DED29”.

Apesar dos dados constantes deste questionário não serem, de início,

dados de pesquisa, queremos situar o leitor sobre as experiências pessoais e

docentes do grupo de professores que participou da sequência de ensino

objeto desta pesquisa e cujo objetivo foi o de, possivelmente, vir a contribuir

para responder às questões da pesquisa.

Se os dados coletados acerca da experiência do grupo de professores

não se prestarem a essa principal razão pela qual foram concebidos, ao menos

conterão informações gerais sobre os sujeitos desta pesquisa situando-os

cronologicamente em relação às experiências com as propostas curriculares

pelas quais passaram durante a docência na Rede Estadual de Ensino.

Com o objetivo de fazer análise relacionada à experiência docente que

os professores, sujeitos desta investigação, tinham antes do início das

atividades no Observatório da UNIBAN, bem como relativamente àquelas

relacionadas aos conhecimentos de conteúdo, conhecimentos pedagógicos de

conteúdo e conhecimentos curriculares, foram preparados e aplicados dois

questionários: Conhecimentos de Conteúdo (Q2)30 e Conhecimentos

Pedagógicos (Q3)31.

Iniciamos a análise dos dados colhidos desses três questionários

conhecendo a Experiência Docente dos sujeitos da pesquisa através da coleta

feita segundo o questionário Q1 “Dados relacionados à experiência docente -

DED” e, em seguida, continuamos com a análise dos questionários Q2 e Q3,

aplicados a 20 professores, cuja análise dos dados será apresentada em

seguida.

Reiteramos que há 3 (três) professores: P21, P22 e P23 que não

participaram das atividades do primeiro encontro de ensino e, portanto, não

responderam aos três questionários, embora tenham participado de alguns dos

encontros.

29 Ver Apêndice A. 30 Ver Apêndice B. 31 Ver Apêndice C.

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4.1 Experiência Docente

Iniciamos esta seção identificando aspectos pessoais e profissionais dos

sujeitos da pesquisa decorrentes das análises dos dados relacionados à

experiência docente, finalidade do questionário Q132. Assim, as questões

tiveram como objetivos os de identificar, analisar e estabelecer possíveis

relações entre as concepções dos professores em relação a aspectos de

ensino, de aprendizagem, de conhecimentos curriculares, de conhecimentos

pedagógicos e de formação docente.

Para fins de estruturação do questionário sobre a experiência docente

dividimos as questões segundo quatro diferentes abordagens, com a finalidade

de - simultaneamente à análise quantitativa dos dados obtidos - efetuar

associações pertinentes entre as variáveis que categorizam essas abordagens.

Assim, de modo a caracterizar o perfil pessoal e o dia-a-dia dos

professores elegemos as perguntas de 1 a 7. Em relação à formação máxima

obtida e as formações continuadas promovidas pela Secretaria Estadual de

Educação de São Paulo elegemos as perguntas de 8 a 10. Em relação às

opiniões relacionadas com o novo currículo prescrito pela Secretaria Estadual

de Educação de São Paulo elegemos as perguntas de 11 a 15. Quanto aos

instrumentos avaliativos e aos recursos pedagógicos disponíveis e utilizados na

prática docente, relacionados diretamente com o ensino e a aprendizagem

ofertados aos seus alunos, bem como as sugestões de possíveis mudanças no

que se refere ao oferecimento de aulas de matemática mais interessantes

elegemos as perguntas de 16 a 18.

Considerando que esta investigação caracteriza-se pela abordagem

qualitativa dos dados - como descrito no Capítulo 1 - faremos a análise de

acordo com as quatro abordagens supracitadas.

Sendo assim, os dados quantitativos dos gráficos serviram de

parâmetros para que se pudesse fazer associações das variáveis e as

consequentes interpretações dos resultados pelo pesquisador.

32 Ver Apêndice A

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O gráfico 1, a seguir, apresenta o quantitativo de professores

distribuídos por faixa etária, de um total de 20 professores que estavam

presentes no terceiro encontro.

Gráfico 1: Idades dos professores integrantes do Observatório da UNIBAN em 2011.

São 14 os professores com idades superiores a 40 anos, o que

evidencia um grupo com bastante experiência docente considerando também

que não há nenhum professor com idade inferior a 24 anos.

Em relação ao vínculo empregatício dos professores junto à Secretaria

de Educação do Estado de São Paulo eles estão distribuídos em professores

efetivos (12) e professores OFA (8)33.

Em relação às séries nas quais o professor estava lecionando no

primeiro semestre do ano letivo de 2011, os gráficos a seguir mostram a

quantidade de professores que lecionam em pelo menos uma turma, para cada

série, no ano letivo de 2011.

Eles são resultantes da classificação dos dados à pergunta feita no que

diz respeito à série ou séries em que o professor estava trabalhando naquele

período do questionário, ou seja, no 1º semestre de 2011.

Considerando que um mesmo professor pode estar atuando com turmas

de séries diferentes, o somatório das respostas não coincide com o total de

docentes.

33 Professores OFA (Ocupantes de Função Atividade) são professores que não pertencem diretamente ao quadro do magistério da Rede Estadual de São Paulo e, por esta razão, esses professores não têm locação escolar fixa. Suas atividades docentes realizam-se em função das necessidades de determinada unidade escolar (em razão de aposentadoria de efetivo, licença médica ou de caráter pessoal, aumento do quantitativo de alunos, etc) para suprir o déficit de aulas previstas na grade curricular, variando de ano para ano letivo.

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0

2

4

6

8

10

12

14

5ª Série EF 6ª Série EF 7ª Série EF 8ª Série EF Nenhuma série

do EF

Gráfico 2: Séries do Ensino Fundamental em que os professores do Observatório da UNIBAN trabalham, ou não.

Ressalte-se a quantidade de professores que não leciona no Ensino

Fundamental (indicado por “nenhuma série do EF” no gráfico 2, acima): 12, que

atuam unicamente no Ensino Médio e o número pequeno de docentes: 2, que

atuam unicamente com o Ensino Fundamental (representado no gráfico 3, a

seguir).

0

2

4

6

8

10

12

14

16

1ª Série EM 2ª Série EM 3ª Série EM Nenhuma série do

EM

Gráfico 3: Séries do Ensino Médio em que os professores do Observatório da UNIBAN trabalham, ou não.

Essas informações foram decisivas para a concepção da sequência de

ensino considerando que foi preciso um olhar diferenciado para o grupo de

professores uma vez que seis desses professores estavam atuando em ambos

os segmentos (5 deles em turmas de 1ª Série, 4 em turmas de 2ª Série e 2 em

turmas de 3º Série) e 2 professores somente atuavam no Ensino Fundamental.

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Assim, dos 11 professores que lecionavam em turmas da 2ª Série do

Ensino Médio - onde os conteúdos de Combinatória (problemas de contagem)

e Probabilidade são habitualmente desenvolvidos – sete deles atuavam

somente no Ensino Médio e 4 deles em ambos os segmentos.

Entre os dois professores que atuam unicamente no Ensino

Fundamental, um deles lecionava somente em turmas de 5º Série e o outro

somente em turmas de 8ª Série.

Já entre os seis professores que atuam nos dois níveis de ensino, um

deles só tem turmas de 7º Série, outro só tem turmas de 8ª Série e nenhum

deles têm turmas de 5ª Série.

Assim, em princípio, oito dentre os vinte professores estavam distantes

do trabalho docente com os conteúdos de combinatória em nível de Ensino

Médio e entre os professores que atuavam somente no Ensino Médio, de um

total de doze professores, 8 deles lecionavam em turmas de 2ª Série.

Restava então conhecer o que este grupo de professores havia

experimentado em termos de desenvolver situações-problema de contagem em

turmas do Ensino Fundamental, com os conteúdos que seriam trabalhados

neste segmento e também permitir a possibilidade de poder identificar e

conhecer as experiências de todo o grupo durante os encontros de ensino que

iriam ocorrer.

Em relação ao tempo de magistério dos professores tem-se a

distribuição conforme o gráfico 4, a seguir, configurando-se em um grupo de

professores com uma grande experiência docente uma vez que 15 deles têm 5

ou mais anos de trabalho.

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0

1

2

3

4

5

6

Até 1 ano 1 a 5 anos 5 a 10 anos 10 a 15 anos 15 a 20 anos mais de 20

anos

Gráfico 4: Tempo de magistério dos professores do Observatório da UNIBAN.

Em relação à distribuição da força de trabalho semanal consumida com

o efetivo compromisso de trabalho despendido em sala de aula tem-se um

expressivo percentual de 18 professores que lecionam mais do que 21 aulas

semanais, conforme indica o gráfico 5 a seguir.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

até 10 10 a 15

aulas

16 a 20

aulas

21 a 25

aulas

26 a 30

aulas

mais de 30

aulas

Gráfico 5: Quantidade de aulas semanais ministradas pelos professores do Observatório da UNIBAN.

Considerando 4 (quatro) aulas diárias pela manhã, por exemplo, durante

todos os dias da semana, esses professores teriam somente o período da tarde

para preparar suas aulas, estudar e selecionar atividades para seus alunos.

Além do mais, os únicos dois docentes que ministram de 10 a 15 aulas

semanais certamente devem ocupar-se de outra função durante o dia que não

a função docente ou então a docência é complementada em outro

estabelecimento fora da Rede Estadual de ensino.

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Em relação ao grau máximo referente à formação dos sujeitos da

pesquisa, todos têm o curso superior completo e oito deles têm curso de

Especialização conforme mostra o gráfico 6 a seguir:

0

2

4

6

8

10

12

14

Gráfico 6: Grau máximo de formação dos professores do Observatório da UNIBAN.

Em relação às perguntas se teriam ou não participado de atividades de

formação continuada promovidas pela Secretaria Estadual de Educação de

São Paulo nos anos de 2009 e 2010 e o que teriam representado para a

melhoria da prática pedagógica, um percentual expressivo de 13 professores

considerou-as úteis para a melhoria do seu trabalho em sala de aula conforme

mostra o gráfico 7 a seguir:

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Sim Não Foram muito

úteis

Foram úteis Foram pouco

úteis

Não foram

úteis

Gráfico 7: Participação em atividades de formação da SEE e o grau de satisfação dos professores do Observatório da UNIBAN.

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Os dois professores que têm especialização de até 200 horas têm idade

entre 40 e 49 anos, trabalham somente no Ensino Médio e têm larga

experiência docente, sendo que um deles tem entre 10 a 15 anos de

experiência docente, ministra aulas à noite, 10 a 15 aulas semanais e não

participou de atividades de formação continuada da SEE.

O outro professor tem mais de 20 anos de experiência docente, ministra

aulas manhã, tarde e noite, mais de 30 aulas semanais e participou de

atividades de formação continuada da SEE em 2009 ou 2010, a qual

considerou como tendo sido úteis.

Os seis professores que têm especialização de no mínimo 360 horas

têm idades variando de 25 a 29 anos (1 deles), 30 a 39 anos (1 deles), 40 a 49

anos (3 deles) e 55 anos ou mais (1 deles).

Quatro desses professores trabalham somente no Ensino Médio: (dois

deles com mais de 30 e os outros dois de 26 a 30 aulas semanais, e todos eles

participaram de atividades de formação continuada da SEE em 2009 ou 2010 -

dois deles consideram que as atividades foram úteis e dois deles que as

atividades foram pouco úteis).

Os outros dois trabalham somente no Ensino Fundamental (um deles

com aulas pela manhã e à tarde, 10 a 15 aulas semanais, e não participou de

atividades de formação continuada da SEE e o outro professor com aulas pela

manhã, de 21 a 25 aulas semanais, participante de atividades as quais

considerou que foram úteis).

Os doze professores têm o curso superior completo, todos têm uma

carga horária semanal superior a 21 aulas semanais e somente um deles não

frequentou atividades de formação enquanto que os demais consideraram que

elas foram muito úteis (um total de 2 professores) e consideraram que foram

úteis (9 professores).

Analisando os dados dos professores de modo a caracterizar o perfil

pessoal e o dia-a-dia desses profissionais, consideramos um corpo docente

com idade avançada, com experiência de mais de 15 anos de docência e que

têm uma carga horária média semanal bastante alta.

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Quanto à formação máxima obtida através de cursos (s) de

especialização e as formações continuadas promovidas pela Secretaria

Estadual de Educação de São Paulo, percebe-se um grupo bastante

preocupado em se aprimorar através da procura por uma dessas modalidades

de formação.

Em relação à posição dos professores com respeito ao novo currículo

prescrito pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (2010) os

professores se manifestaram conforme os dados constantes no gráfico 8, a

seguir.

Gráfico 8: Posição dos professores do Observatório da UNIBAN em relação ao novo currículo prescrito pela SEE.

O quantitativo de 5 (cinco) professores que indicaram comprometimento

e de 12 (doze) professores que indicaram aceitação em relação ao currículo é

considerado excelente para se supor que os professores veem com bons olhos

o novo currículo e, portanto, para este grupo de professores, sua

implementação não deve sofrer percalços.

Por outro lado, os professores P1(leciona somente no Ensino Médio, 40

a 49 anos de idade, 5 a 10 anos de magistério, 26 a 30 aulas semanais,

participante de formação continuada em 2009 ou 2010) e P8 (leciona somente

no Ensino Médio, 30 a 39 anos de idade, 10 a 15 anos de magistério, 26 a 30

aulas semanais, participante de formação continuada em 2009 ou 2010)

indicaram contrariedade e o professor P3 (leciona somente na 5ª série do

Ensino Fundamental, 55 ou mais anos de idade, até um ano de magistério, 10

a 15 aulas semanais), que indicou indiferença.

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Considerando que o referido questionário foi composto de perguntas

fechadas, não foi possível identificar as razões que levaram essas professores

terem se manifestado dessa maneira.

Porém, a julgar pelos resultados da pergunta seguinte em que metade

dos professores consideraram que o currículo foi imposto (cujos resultados se

encontram no gráfico 9), sugere ser possível esperar ações com as quais ecos

de resistência se apresentem, as quais não favorecem a incorporação e a

aceitação das sugestões ali preconizadas.

Tais considerações têm por base - ao menos no que se refere às

primeiras constatações – àquelas relacionadas ao conhecimento do teor do

que está prescrito no currículo para ser realizado pelos professores, após a

leitura da totalidade dos documentos e a sua utilização mais amiúde.

Avaliando a grande totalidade de respostas que reúnem os tipos

aceitação, indiferença e contrariedade (15 professores) e aqueles que

indicaram sugestão e imposição (14 deles) (conforme o gráfico 9, a seguir) em

relação ao novo currículo de São Paulo, esses resultados indicam como pouco

provável que os professores do grupo do Observatório promovam ações de

mudanças em suas práticas docentes, ao menos em relação ao momento em

que se encontravam quando responderam o questionário, em Maio de 2011.

Assim, percebe-se que os materiais pedagógicos “Currículo”, “Cadernos

do Professor”, “Cadernos do Aluno” e as recomendações em outros

documentos internos da Secretaria de Educação não foram suficientes para

que fossem garantidas as mudanças propostas no currículo, em parte,.

Arriscamos supor que essas opiniões estão relacionadas diretamente à

forma como os currículos de maneira geral são elaborados, discutidos,

refletidos, divulgados e implementados, embora esse currículo a que referimo-

nos tenha percorrido um caminho bem democrático até a sua divulgação, como

pode ser visto no Capítulo 2.

Fato é que a exemplo de outras situações ocorridas anteriormente em

relação à implementação de outros currículos - tanto em São Paulo quanto em

outros estados da federação - tem-se a repetição de atitudes e opiniões de

resistência, rejeição e ceticismo dos professores frente ao que eles consideram

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ser “mais uma mudança curricular em relação às anteriormente ocorridas”,

segundo PIETROPAOLO (1999).

Talvez essas reações e posições estejam relacionadas ao fato desses

professores se sentirem excluídos dos processos de discussão, reflexão,

sugestões e elaboração de mudanças, em grupos ou não, uma vez que eles se

consideram protagonistas das mudanças, fruto, talvez do resultado da

formação inicial e de formações continuadas que receberam, culminando com

as experiências adquiridas (PIETROPAOLO, 1999).

De modo geral os professores resistem a mudanças, pois as suas

concepções e crenças, resultantes das experiências que acumularam ao longo

de toda a trajetória docente, funcionam como obstáculos que não permitem a

eles poder refletir sobre novas ideias e novas sugestões que advém dos novos

currículos (PIETROPAOLO, 1999).

Esta posição não foi confirmada pelo grupo de professores uma vez que

17 dentre os 20 professores assinalaram comprometimento e aceitação quanto

ao novo currículo.

Essa posição se confirma com os dados obtidos do questionário,

constantes do gráfico 9, a seguir: dentre os 14 professores que responderam

aos tipos sugestão e imposição, um deles tem até um ano de magistério, três

têm de 5 a 10 anos, dois têm de 10 a 15 anos, três têm de 15 a 20 anos e cinco

têm mais de 20 anos, ou seja, 50% (10 deles) têm mais de 10 anos de

magistério.

0

2

4

6

8

10

12

Consenso Adesão Sugestão Imposição

Gráfico 9: Como os professores do Observatório da UNIBAN veem a implementação do novo currículo prescrito pela SEE.

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Em relação ao material de apoio distribuído aos professores e aos

alunos, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo desenvolveu os

materiais pedagógicos intitulados de “Cadernos do Professor” (no ano de 2008)

e “Cadernos do Aluno” (no ano de 2009) como uma das contribuições ao

trabalho docente logo em seguida à implementação do novo Currículo para

subsidiar a implementação do currículo.

Eles foram concebidos para serem utilizados como material

complementar à utilização do livro didático e nosso objetivo é o de conhecer o

grau de satisfação em relação à disponibilidade desse material e como o

professor os via como material pedagógico de auxílio para o ensino e a

aprendizagem.

As perguntas feitas na pesquisa exploratória sobre essa questão tinham

como objetivos, em linhas gerais, o de conhecer a opinião desses docentes

sobre a sua aceitação e o seu uso.

Assim, considerando as respostas e se fosse o caso, poder-se-ia vir a

discutir parte das ideias ali prescritas e resolver situações-problema propostas

durante os encontros de ensino notadamente no que se refere às orientações

pedagógicas lá prescritas, ao menos em parte ou não.

Em relação à pergunta “como o professor vinha utilizando as situações

de aprendizagem sugeridas nos Cadernos do Professor” têm-se como

resultados que a grande maioria dos professores utiliza os Cadernos na

tentativa de compreender as situações de aprendizagem ali presentes levando

em consideração tanto a questão da contextualização contida nos enunciados

dessas situações e nas situações propostas quanto no ineditismo de algumas

delas.

Considerando que elas se apresentam em uma linguagem adequada à

Educação Básica, os professores as selecionam segundo esses critérios como

mostra o gráfico 10.

Porém, considerando o elevado número de respostas “algumas

parcialmente” e “todas parcialmente” conjecturamos que o professor se

preocupa em resolver (ou tenta resolver) ou propõe a resolução de parte das

situações de aprendizagem, mesmo que algumas delas parcialmente, por

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considerar - como mostram os resultados do gráfico 11 - que os conteúdos de

matemática que dariam conta de compreender e solucionar as situações de

aprendizagem presentes no Caderno do Professor se apresenta “insuficientes”

e “inadequados” para mais que a metade do quantitativo de professores.

Gráfico 10: Em relação às situações de aprendizagem contidas no Caderno do Professor, você as utiliza como?

Em relação à pergunta: “como o professor se sentia em relação ao

desenvolvimento dos conteúdos apresentados como sugestão nos Cadernos

do Professor” tem-se que 11 professores os consideram inadequados ou

insuficientes para serem trabalhados em sala de aula, como mostra o gráfico

11.

Gráfico 11: Em relação aos conteúdos de Matemática dos Cadernos do Professor, para uso em suas aulas são:

Em relação à pergunta: “como o professor se sentia em relação ao

desenvolvimento dos conteúdos apresentados como sugestão nos Cadernos

do Aluno”, tem-se que 11 professores os consideram inadequados ou

insuficientes para que os alunos possam compreendê-los em sala de aula e/ou

em casa como pode ser visto no gráfico 12 a seguir.

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Gráfico 12: Em relação aos conteúdos de Matemática dos Cadernos do Aluno, para melhorar a aprendizagem deles, elas são:

Analisando as respostas às três últimas perguntas desse bloco e

relacionadas às questões curriculares parece-nos que o professor seleciona as

situações de aprendizagem (parte delas ou algumas em parte) que lhe parece

mais adequada para serem apresentadas em sala de aula (ou sugeridas para

que os alunos as façam em casa) seguindo o critério do entendimento que ele

próprio teve da situação.

O professor leva em conta, ainda, o nível de dificuldade que a situação

de aprendizagem apresentou para ele em comparação com aquelas as quais

ele se sente em condições de compreender e poder explicar a seus alunos com

base na sua experiência docente.

Consideramos positivas as ações dos professores em relação ao

conhecimento e à utilização, mesmo que parcial, das atividades de

aprendizagem disponíveis nos Cadernos do Professor e do Aluno.

Ao tomar conhecimento quando lê, interpreta, faz reflexões e se apropria

dos conhecimentos ali presentes o professor está aprimorando seus

conhecimentos didáticos, pedagógicos e de conteúdos e por conseguinte se

aprimorando profissionalmente.

Em relação aos instrumentos avaliativos que o professor utiliza, dentre

os descritos na pesquisa exploratória, o gráfico 13 apresenta resultados de

utilização desses instrumentos.

A utilização desses instrumentos pelos professores é feita de maneira

bastante diversificada caracterizando-se, deste modo, como um grupo de

professores preocupado com o novo papel dos professores em relação aos

processos de avaliação - principalmente em relação à metodologia de trabalho

participativo presente na sugestão de trabalho em grupos.

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Por outro lado, percebe-se pequena inovação em relação aos

instrumentos avaliativos utilizados pelo grupo de professores e segundo os

quais eles poderiam conhecer mais amiúde a percepção por parte do aluno em

relação aos conceitos por ele apreendidos de modo a permitir ao professor

conhecer como se dá a internalização destes.

Poder-se-ia sentir tal manifestação se o professor oferecesse mais

oportunidades de atividades através de seminários e produção dos alunos, por

meio de relatórios e pesquisas, individuais ou em grupos, por exemplo.

Ademais, e por outro lado, ainda permanece entre a maioria dos

professores a prática da prova escrita e do trabalho individual, dentre outros

formas de avaliação.

Em relação aos instrumentos complementares à essas práticas a auto-

avaliação e os seminários foram indicados por seis professores que têm o

seguinte perfil: indicaram somente auto-avaliação dois professores: um de 1 a

5 anos e o outro de 5 a 10 anos de magistério, que lecionam somente no

Ensino Médio;

Indicaram somente seminários: dois professores, um com mais de 20

anos de magistério (leciona somente no Ensino Médio) e o outro de 1 a 5 anos

(leciona em ambos);

Indicaram auto-avaliação e seminários: dois professores, um de 5 a 10

anos e o outro de 10 a 15 anos de magistério (ambos lecionam somente no

Ensino Médio).

0 5 10 15 20

Prova escrita

Avaliação contínua

Trabalho individual

Trabalhos em grupos

Diário de classe

Registro de atividades

Produção dos alunos

Seminários

Auto-avaliação

Gráfico 13: Em relação aos instrumentos avaliativos que o professor utiliza.

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Em relação aos recursos pedagógicos que o professor utiliza dentre os

descritos no questionário DED, o gráfico 14 apresenta resultados de utilização

de recursos bastante diversificados empregados pelos professores sendo que

os mais comuns o giz e lousa, os cadernos do aluno e o livro didático.

0 5 10 15 20 25

Giz e lousa

Cadernos do Aluno

Livros didáticos

Calculadora

Jornais e Revistas

Jogos

Vídeos

Softwares

Data show/Retroprojetor

Livros paradidáticos

Material concreto

Instrumentos de medição

Gráfico 14: Em relação aos recursos pedagógicos que o professor utiliza.

Como esses três recursos são utilizados pela quase totalidade dos

professores não cabe identificar nichos de professores que têm utilizado com

mais frequência esses recursos.

Conjectura-se, com base nesses dados colhidos para este pequeno

grupo de professores o predomínio de aulas expositivas em giz e lousa (todos

os professores) e a utilização maciça do livro didático - conforme os indicativos

apresentados no gráfico acima - utilizado seguidamente pelo professor para

apresentar o conteúdo, aula a aula, seguido da proposição de resolução de

exercícios pelos alunos, individualmente ou em grupos menores, também

formulados nos livros didáticos que se caracteriza como ensino tradicional da

matemática.

Em relação a estas questões valemo-nos de considerações

apresentadas pelo MEC no documento intitulado “Referenciais para formação

de professores”, em Brasil (2002):

É possível afirmar ainda – a partir da observação, de depoimentos pessoais e de estudos que começam a surgir – que, frequentemente, o professor está desatualizado em relação à discussão sobre educação, à profissão e seu papel social, escreve e lê pouco, tem uma enorme dependência do livro didático – quando l eciona no

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ensino fundamental – e uma visão bastante utilitária do aperfeiçoamento profissional. E que desenvolve seu trabalho solitariamente e sem ajuda dos que teriam a função de apoiá-lo profissionalmente (BRASIL, 2002, p. 31) (grifo nosso).

Ressalta-se que o referido documento afirma que não se pode

generalizar essas opiniões para todos os professores como também o fizemos

acima considerando tratar-se desse pequeno grupo de professores, como se

constata na citação a seguir:

Evidentemente, quando se delineia o perfil de um profissional, o que se leva em conta é o conjunto de característica s comuns à maioria, e não a todos . Existem professores leitores e pesquisadores, que investem pessoalmente em seu desenvolvimento profissional, que exigem oportunidades de formação de seus empregadores, que trabalham em equipe, que participam do projeto educativo de suas escolas, que estudam sobre a aprendizagem dos alunos para poder ensiná-los mais e melhor...Mas não é assim com a maioria, e essa realidade precisa ser encarada de frente (BRASIL, 2002, p. 31) (grifo nosso).

Para este grupo de professores junta-se a oportunidade de sugerir a

resolução de situações-problema e de atividades de aprendizagem presentes

nos Cadernos do Aluno como mais um recurso disponível e complementar para

auxiliar na aprendizagem os quais têm como objetivo o de favorecer a

aplicação e a consolidação dos conceitos que foram apropriados em sala de

aula.

De modo a conhecer o que pensam os professores do Observatório em

relação à propostas de melhoria das aulas de matemática foi proposta a

seguinte pergunta aberta:

Somente sete dentre os vinte professores respondeu esta pergunta.

A seguir apresentamos as opiniões dos professores e as analisamos em

seguida:

Jogos (P2)

DVD´s, jogos, software´s (P7, P15)

Aulas mais dinâmicas (P5)

Usar jogos, brincadeiras, resolução de problemas envolvendo situações do cotidiano dos alunos (P11)

Indique sugestões que você considera relevantes de modo que as aulas de

matemática se tornem mais interessantes aos alunos

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Jogos, trabalhos em grupos, software´s educacional, como por exemplo: micromundus (P19) Creio que a apresentação de histórias e envolvimento dos alunos em seu cotidiano, assimilando o conteúdo é interessante. Se apropriar do que o aluno gosta e já sabe, também (P20)

Interessante observar que todas as sugestões apresentadas pelos

professores dependem, única e exclusivamente, deles próprios, de suas ações,

de suas vontades e necessidades, uma vez que mesmo que não disponha de

algum software ele pode baixá-lo de maneira gratuita e utilizá-lo. O mesmo

ocorre em relação a jogos.

Em outros casos certamente a escola ou algum colega de trabalho

dispõe e poderá vir a emprestá-lo.

Talvez devido ao enunciado como a pergunta foi feita: indicativo de

sugestões (em aberto), não se constatou quaisquer ações indicativas, como

consequência das respostas dadas a ela e que dependam dos alunos.

Como, por exemplo, ações para melhorar o interesse em participar e

aprender com as atividades propostas, o que coloca os alunos em posição

passiva e também não há ações que dependam da participação dos pais e

responsáveis.

Talvez elas dependam da direção da escola em relação à estrutura

organizacional do espaço e das instalações, a adequação de espaços para

jogos, filmes, DVD e salas de informática.

As sugestões apresentadas pelo professor P20 sugerem mudanças de

atitudes e das práticas docentes dos professores sem necessidade de recursos

pedagógicos outros que não o interesse e a motivação do professor.

Podemos constatar que a implementação do novo currículo prescrito

favorece mudanças considerando o desafio constante que todos deverão

emprestar para a reflexão das orientações ali presentes e da importância dos

professores estudarem e aprenderem junto com seus alunos.

Quanto a essas questões, Zeichner (2003) defende a necessidade de

haver uma prática docente crítico-reflexiva segundo a qual o professor não

pode ser visto, unicamente, como um “técnico eficiente” que tem a incumbência

de colocar em prática as orientações curriculares e didático-pedagógicas que

foram concebidas por outras pessoas, muitas vezes sem levar em conta as

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experiências e demandas do professor, ou seja, o professor não tem

participação ativa nesse processo.

Segundo Zeichner (2003), uma das principais causas da resistência e

subversão às mudanças por parte dos professores reside exatamente nessas

questões.

O êxito ou não de implementação de inovações curriculares, como as do

atual currículo para o Estado de São Paulo (2010), depende muito do

envolvimento dos professores, como assegura Zeichner (2003):

[...] Anunciar ou mesmo exigir mudanças na educação não alterará o que se passa nas salas de aula e nas escolas enquanto os educadores oferecerem resistência e subverterem essas mudanças (ZEICHNER, 2003, p. 38).

Essa análise realizada com os dados obtidos do questionário a respeito

da Experiência Docente34 (com perguntas fechadas em sua maioria) e com os

dados obtidos do questionário Q4 (somente perguntas abertas) permitirá

responder no capítulo seis uma das questões específicas de nossa pesquisa,

qual seja: “Quais são os conhecimentos dos professores a respeito da

resolução de problemas de contagem e suas concepções sobre o

desenvolvimento desse tema no Ensino Fundamental?”.

Dando prosseguimento às análises dos dados constantes do

questionário inicial – experiência docente – faremos, em seguida, a análise dos

resultados obtidos pelas respostas ao questionário Q2 que tratou dos

conhecimentos de conteúdos sobre análise combinatória que os professores

tinham, anteriormente ao início desta formação continuada.

4.2 Conhecimentos sobre o Conteúdo

Visando identificar o perfil dos professores participantes de nossa

pesquisa quanto aos seus conhecimentos sobre os conteúdos, esta parte da

coleta dos dados compôs-se da aplicação de um questionário35 contendo nove

situações-problema que, a nosso ver, permitiram a identificação das

34 Os enunciados das questões se encontram no Apêndice A. 35 Ver Apêndice B.

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concepções desses professores sobre os conceitos e procedimentos

relacionados aos problemas de contagem. Esse questionário favoreceu

também a identificação das concepções do grupo de professores acerca do

ensino de noções concernentes a esses conteúdos para alunos da Educação

Básica, sobretudo os do Ensino Fundamental.

A análise das respostas dos professores foi determinante para a

elaboração da sequência de ensino na fase da intervenção (atividades

envolvendo situações-problema e análise de erros de alunos) com a finalidade

de nortear as reflexões que seriam oportunamente realizadas pelo grupo no

decorrer do experimento.

Para essa análise nos apoiamos em Tall & Vinner (1981), que definem

imagem conceitual como estrutura cognitiva, construída pela pessoa, que

abrange ideias, imagens mentais, impressões, representações visuais e

descrições verbais, relativas a propriedades e processos concernentes a

determinado conceito. Assim, as concepções dos professores, que serão

objeto desta e da próxima seção, nos forneceram indicativos para analisar a

imagem conceitual desses docentes sobre os conceitos e procedimentos

acerca dos conteúdos.

O questionário Q2 foi composto por 9 questões abertas que versam

sobre o conhecimento específico dos conteúdos associados aos problemas de

contagem incluindo definições, representações, significados e estabelecimento

de relações entre os agrupamentos de objetos. Além disso, essas questões

tinham como finalidade analisar conhecimentos pedagógicos, tendo em vista

que os professores foram solicitados a analisar erros de alunos sobre esse

assunto.

Além disso, ao elaborar esse questionário levamos em conta a

possibilidade de analisar os conhecimentos curriculares do grupo de

professores no que diz respeito aos problemas de contagem uma vez que

estes estão prescritos para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio no

novo Currículo de São Paulo (2010) e com diferentes abordagens.

Assim, considerando que o caráter desta etapa de nossa investigação

era diagnóstico, achamos oportuno que a proposição do referido instrumento

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aos professores fosse feita como uma tarefa individual. Sua realização teve a

duração de aproximadamente 150 minutos.

Esclarecemos o leitor que quando se tratar de uma citação de um

professor que foi transcrita para o texto, a indicação será feita ao final, entre

parênteses e em negrito, respeitando a indicação de todos os professores

conforme o quadro constante do capítulo 1.

Portanto, as reflexões sobre os resultados do questionário Q1 e que

serão apresentadas a seguir justificam a elaboração da sequência de ensino e

as ações que compuseram a segunda fase - fase de intervenção.

4.2.1 Sobre o conhecimento dos professores a respeito da construção de uma representação gráfica para resolver problemas de contagem

A fim de identificar concepções dos sujeitos de nossa pesquisa sobre o

conhecimento e uso do princípio multiplicativo e sobre a utilização de

representações para dar conta da resposta a um problema de contagem, bem

como sobre as ideias relacionadas à multiplicação de números naturais, foi

proposta a seguinte questão:

Situação-problema 1: Dispondo de três saias, três blusas e dois pares de

sapatos, de quantos modos diferentes uma senhora pode se vestir?

Um aluno do 6º ano do Ensino Fundamental resolveu assim:

Primeiramente faço todas as combinações possíveis com saias e sapatos.

Depois, com cada um desses conjuntos formados, faço as combinações com

as blusas, num total de 18 conjuntos diferentes de saia, blusa e sapatos. A

solução é apresentada nas duas tabelas de dupla entrada, a seguir:

SaiaSapato SAIA 1 SAIA 2 SAIA 3

SAPATO 1 (SAP1, SA1) (SAP1, SA2) (SAP1, SA3)

SAPATO 2 (SAP2, SA1) (SAP2, SA2) (SAP2, SA3)

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210

a) Analise criticamente a solução apresentada pelo aluno.

b) Apresente sua solução, fazendo uso da árvore de possibilidades.

As respostas ao item (a) indicaram que os professores do grupo não têm

o hábito de explorar diferentes representações, como as duas tabelas de dupla

entrada que foram usadas para dar conta da resposta à situação-problema de

contagem proposta. As respostas de alguns dos professores podem atestar

esse fato considerando as críticas recorrentes, como as que se seguem:

A solução está correta, a estratégia utilizada é trabalhosa, poderia ser feita de uma maneira simples (P5)

É uma solução um tanto trabalhosa, poderia utilizar o princípio multiplicativo (P9)

Eu acho a solução do aluno correta, porém para um número maior de elementos a arranjar este modo não é produtivo. Por isto, a fórmula matemática dinamiza a solução mais rapidamente. Ou, usar o princípio multiplicativo (P11)

Ele vai perder muito tempo para resolver (P13)

A solução está correta, mas a perda de tempo foi muito grande poderiam ser usadas outras possibilidades mais simples (P17)

O aluno apresentou de forma clara as possibilidades de combinações, porém de forma trabalhosa essas possibilidades. Certifica-se que o aluno não possui um raciocínio combinatório de forma mais objetiva, pois também existem formas de entendimento mais claras e os conceitos aplicáveis (P22)

Gostei da resposta dada pelo aluno (meio trabalhosa) (P10)

Por outro lado, constatamos, com base nas respostas ao item (b), que

alguns professores não têm clara compreensão sobre os momentos que são

necessários à construção de uma árvore de possibilidades referente à

situação-problema em questão, conforme se percebe nas respostas fornecidas

pelos professores P1 e P6, a seguir:

BlusaSaia+Sapato BLUSA 1 BLUSA 2 BLUSA 3

(SAP1, SA1) (SAP1, SA1, BLU1) (SAP1, SA1, BLU2) (SAP1, SA1, BLU3)(SAP1, SA2) (SAP1, SA2, BLU1) (SAP1, SA2, BLU2) (SAP1, SA2, BLU3)(SAP1, SA3) (SAP1, SA3, BLU1) (SAP1, SA3, BLU2) (SAP1, SA3, BLU3)

(SAP2, SA1) (SAP2, SA1, BLU1) (SAP2, SA1, BLU2) (SAP2, SA1, BLU3)(SAP2, SA2) (SAP2, SA2, BLU1) (SAP2, SA2, BLU2) (SAP2, SA2, BLU3)(SAP2, SA3) (SAP2, SA3, BLU1) (SAP2, SA3, BLU2) (SAP2, SA3, BLU3)

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211

É uma solução inteligente e pode perfeitamente bem substituir a árvore de possibilidades (P1)

Situação-problema 1 (b). Protocolo P6.

Por meio das respostas foi possível perceber que os professores

preferem a multiplicação às tabelas de dupla entrada para apresentar a

totalidade das soluções, possivelmente por conta do pouco tempo que se gasta

para calcular a resposta ou por pensarem estar lidando com uma situação-

problema que foi proposta a alunos do Ensino Médio.

Com o fim de identificar concepções dos professores sobre a utilização

de pelo menos duas representações para resolver um problema de contagem

e, a partir de pelo menos uma delas, responder os demais itens ou a utilização

do princípio multiplicativo foi proposta a questão 2 do questionário Q1,

apresentada a seguir:

a) Em um ginásio há 6 portas, numeradas de 1 a 6. De quantos modos uma

pessoa pode entrar e sair deste ginásio?

Faça, pelo menos, duas diferentes representações que mostram a solução.

b) De quantos modos uma pessoa pode entrar no ginásio, e sair por uma

porta numerada com um número par?

Faça, pelo menos, duas diferentes representações que mostram a solução. c) A segurança das portas do ginásio é feita por homens onde a numeração é

par e é feita por mulheres onde a numeração é ímpar. Sendo assim, de

quantos modos podemos distribuir 3 homens e 3 mulheres para fazer a

segurança deste ginásio?

d) Considerando a segurança do ginásio feita unicamente por homens, de

quantos modos podemos distribuir 6 deles para a segurança das portas?

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212

O objetivo para os dois primeiros itens era o de utilizar diferentes

representações como alternativas ao princípio multiplicativo - na forma de uma

operação multiplicativa - para totalizar as soluções, principalmente ao se

considerar o pequeno número de objetos envolvidos nos dois itens.

E também para que os professores percebessem que ao utilizarem

essas representações elas poderiam servir aos propósitos para a obtenção das

soluções nos dois itens seguintes.

As respostas ao item (a) indicaram que dois dos professores não

utilizam diferentes representações, como a árvore de possibilidades, para

resolver um problema de contagem e não têm suficientes conhecimentos sobre

a aplicação do princípio multiplicativo, conforme se percebe nas seguintes

respostas:

Situação-problema 2 (a). Protocolo (P16)

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Situação-problema 2 (a). Protocolo (P21)

Considerando que na apresentação do enunciado da situação-problema

1 foram utilizadas duas tabelas de dupla entrada e o item (b) desta mesma

situação-problema pedia a construção de uma árvore de possibilidades, era de

se esperar que pelo menos essas duas representações fossem utilizadas na

solução do item (a) da situação-problema 2.

Ou seja, queríamos verificar se o professor tinha autonomia para a

construção de uma representação para dar a solução a um problema de

contagem como o da situação-problema 2.

O protocolo do professor P16 indica duas respostas diferentes para a

mesma situação-problema: na primeira delas identifica a aplicação do PFC com

duas possibilidades para cada porta (pressupõe-se as ações de entrar e de sair

de cada uma das seis portas), totalizando 64 possibilidades e, a seguir, na

segunda resposta apresenta seis árvores de possibilidades, cada uma delas

com seis “galhos terminais”, indicando o total de 36 possibilidades.

Já o protocolo do professor P21 também indica duas respostas

diferentes para a mesma situação-problema: na primeira delas identifica que

pode entrar de seis maneiras distintas e pode sair também de seis maneiras e,

então, aplicando o Princípio Multiplicativo, que há 36 possibilidades e, a seguir,

na segunda resposta apresenta uma desorganização tal qual fazem os alunos

(muitas vezes rabiscam o que escrevem), indicando 6 portas x 36

entrada/saída, totalizando 216 possibilidades, sem sentido para a operação

multiplicativa apresentada.

Somente dois dos professores: P17 e P23 construíram duas

representações como havia sido pedido no item (a), conforme se constata no

pelo protocolo do professor P23, conforme a seguir:

Situação-problema 2 (a). Protocolo (P23)

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214

O produto cartesiano (relação de um objeto para todos) que também

poderia ter sido utilizado para resolver o problema não foi utilizado por nenhum

dos professores.

As respostas ao item (b) indicaram que alguns dos professores não têm

domínio do princípio multiplicativo e não exploram diferentes representações,

como a árvore de possibilidades, para obter a resposta a um problema de

contagem. Seguem exemplos de respostas de professores que mostram essa

falta de domínio.

Situação-problema 2 (b). Protocolo (P3)

Situação-problema 2 (b). Protocolo (P16)

Um total de sete professores fez uso apenas de uma única

representação para a resposta ao item (b): a árvore de possibilidades. Para a

apresentação de uma segunda representação, conforme solicitado, os

professores preferiram usar o Princípio Multiplicativo por meio da operação

multiplicativa 6 x 6 = 36, para os itens (a) e (b), para encontrar a resposta

correta, e não uma outra diferente daquela representação gráfica.

Analisando sob o olhar de Tall e Vinner (1981), podemos identificar uma

imagem conceitual “empobrecida” de um número considerável de professores

do grupo no que diz respeito à quase nenhuma mobilidade de diferentes

estratégias para a resolução de um problema de contagem que, em princípio,

não apresentaria dificuldades para resolução.

As respostas ao item (c) indicaram que sete dos professores podem não

ter compreendido o enunciado da situação ou até mesmo que ainda não têm

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215

uma compreensão mais aprofundada do princípio multiplicativo, conforme se

percebe nas seguintes respostas:

P3 = 3.2.1 = 6 homens. (P17 e P21) Mulheres: 3.2.1 = 6; Homens: 3.2.1 = 6 (P23) 9 + 9 = 18. (P5) 3 x 3 = 9 (P8, P13)

Situação-problema 2 (c). Protocolo (P22)

O objetivo do item (c) foi o de verificar se os professores compreendiam

a maneira como deveria ser feita a combinação de cada trio de homens

dispostos nas portas de numeração par (para as portas com numeração par, há

um total de 3.2.1 = 6 trios ordenados de homens) com cada trio distinto de

mulheres dispostas nas portas com numeração ímpar (tem-se 3.2.1 = 6

maneiras distintas de escolher um trio ordenado de mulheres colocadas nas

portas com numeração ímpar), totalizando assim 6 x 6 = 36 modos distintos de

arrumar os homens e as mulheres sob estas condições.

Sete professores acertaram o item, embora tenham se utilizado de

rótulos como arranjos simples para calcular o total de possibilidades para cada

uma das situações: portas numeradas com algarismos pares e portas

numeradas com algarismos ímpares, conforme se percebe nas seguintes

respostas:

3.2.1.3.2.1 = 36 (P1) A3,3 = 3!/0! = 6, A3,3 = 3!/0! = 6; 6 x 6 = 36 (P2, P6, P7)

3 x 3 x 2 x 2 x 1 x 1 = 36 (P9, P11)

A solução apresentada pelos professores pelos professores P2, P6 e P7

ao item (c) como acima, configura a presença desnecessária do aspecto

algorítmico da atividade matemática no uso da fórmula de arranjos simples

para calcular, igualmente, e por duas vezes, o mesmo.

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216

O objetivo do item (d) foi o de verificar se os professores compreendiam

que há seis portas e seis homens disponíveis para ocupar, cada um, uma

posição em quaisquer uma das portas, caracterizando a situação como sendo

o caso de uma permutação simples de 6 objetos distintos totalizando

6.5.4.3.2.1 = 720 possibilidades.

Merece reflexão a enorme quantidade de 15 (quinze) respostas corretas:

P6 = 720 ou 6! = 720 para este item se comparado ao item anterior.

As respostas ao item (d) indicaram que apenas o professor P3 pode não

ter compreendido o enunciado da situação ou até mesmo que ainda não têm

domínio sobre o princípio multiplicativo para responder a um problema de

contagem como o que foi proposto (houve duas respostas em branco),

conforme se percebe nas seguintes respostas:

Situação-problema 2 (d). Protocolo (P5)

A questão que se coloca para reflexão é a seguinte: Porque agora, neste

item, a maioria dos professores teve um entendimento correto sobre o que é

pedido fazer, diferentemente daquele que tiveram em relação ao item anterior?

Arriscamos afirmar que em razão desse tipo de situação-problema ser

bastante comum nos livros didáticos: número de objetos (todos de igual

característica) igual ao número de posições em que estes poderão ser

alocados, sem quaisquer restrições sobre a arrumação destes.

4.2.2 Sobre o conhecimento dos professores a respeito da resolução de problemas que envolvem a aplicação dos princípios multiplicativo e aditivo

A fim de identificar concepções do grupo de professores sobre a

aplicação do princípio multiplicativo e do princípio aditivo, foi proposta a

seguinte questão 3 do questionário Q2:

Quantos são os números de três algarismos distintos no sistema decimal?

Um aluno do Ensino Fundamental resolveu esta situação assim:

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217

Há dez opções para ocupar a posição das unidades simples, nove opções

para ocupar a posição das dezenas simples (não se pode repetir o algarismo

já utilizado nas unidades simples) e oito opções para ocupar a posição das

centenas simples (não podem ser repetidos os algarismos já utilizados

anteriormente). Assim, pelo Princípio Multiplicativo, há 10x9x8 = 720 números

com três algarismos distintos.

a) Comente, criticamente, o modo com que o aluno apresentou essa solução.

b) Como você faria para resolver essa questão com seus alunos?

Três dos professores não responderam ao item (a) da situação-problema

3 e seis dos professores, ao formularem suas respostas, preferiram responder

como entendem deveria ser dada a resposta a fazer comentários críticos sobre

o que leram no enunciado acerca da solução que foi apresentada.

Ou seja, diante de uma solução dada por um aluno - correta ou não –

eles não analisaram a solução em si, e que foi apresentada, e, portanto não

identificaram o erro cometido pelo “aluno”. Além disso, não indicaram

alternativas para a resolução do problema aproveitando a ideia inicial que foi

apresentada pelo “aluno”.

Assim, parece-nos que os professores do grupo já têm em mente aquela

solução tipo padrão para a situação-problema proposta e que também é

apresentada pela maioria dos livros didáticos, considerando que este problema

é escolhido como exemplo de modo rotineiro nos livro didáticos, e é nela que

os professores se sentem seguros para apresentar a resposta e,

possivelmente, apresentam esta mesma solução quando resolvem este

problema com seus alunos, como podemos constatar pelas respostas dos

professores ao item (b), apresentadas em seguida, quando um total de 12

professores a apresentaram de maneira igual.

Essas constatações podem ser conferidas mediante análises que

fizemos e com as quais identificamos em algumas das respostas, como

aquelas a seguir:

O aluno utilizou o raciocínio lógico e conseguiu expressar-se com muita clareza em sua resposta, mas esqueceu-se que não pode usar o zero na primeira casa (P1)

O aluno errou ao colocar o 10 (P2)

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Errado (P7)

O aluno tem um raciocínio multiplicativo correto, porém ao realizar a contagem começou pela posição das unidades, o que tornou o resultado errado, pois descarta um número na posição das dezenas (P23)

Situação-problema 3 (a). Protocolo (P17)

O professor P1 refere-se ao uso do zero na primeira “casa” como não

possível, mas a solução do “aluno” não informa quem é a primeira “casa”. Se

esta “casa” for a primeira que o aluno considerou para a sua solução, a das

unidades simples, o professor P1 está errado em suas considerações. Se esta

“casa” for a “casa” das centenas simples, sua solução não garante que o zero

foi utilizado aí nesta posição.

Quanto à resposta do professor P2, ele comete erro quando afirma não

ser possível ao “aluno” indicar o 10 e sua resposta pois, de fato, na posição das

unidades simples quaisquer dos dez algarismos poderá ser utilizado e, assim,

há, sim, dez possibilidades para ocupá-la.

O mesmo se aplica às respostas dos professores P23 e P17 quanto ao

conhecimento de soluções do tipo apresentado nos livros didáticos, indicanque

que desconhecem a possibilidade de resolver a situação-problema iniciando

pela posição das unidades simples.

Ainda em relação às respostas ao item (a), o professor P6 não aplicou

corretamente o Princípio Multiplicativo por não definir corretamente as ações

que devem ser feitas para a obtenção da totalidade de números com

algarismos distintos no sistema decimal uma vez que para a situação proposta

há necessidade de que a resolução leve em conta duas situações distintas, a

saber: a presença ou não do algarismo zero na posição das centenas simples.

Nas respostas apresentadas a seguir identificamos que os professores

não se deram conta dessa necessidade.

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8 9 10 0,1,2,3,4,5,6,7,8,9

C D U

8.9.10 (P6)

De forma simples e clara, o conceito de não utilizar o mesmo número de casas. O aluno visualizou e aplicou de forma certa (P22)

9 x 9 x 8 = 729

1 a 9 0 a 9 não utilizar

os nªs das casas

anteriores. (P1)

Parece-nos que o professor P6 usou do mesmo expediente que o

“aluno” em questão, mas apenas indicou sua solução multiplicativa de modo

contrário.

O professor P22 refere-se ao fato de “não utilizar o mesmo número de

“casas”” o que, segundo nosso entendimento, não está claro a que conceito o

professor quer se referir.

O professor P1 confunde algarismos com números, indicou como

possibilidades para a posição das dezenas simples de 0 a 9, num total de 9

possibilidades, que de fato são, mas não consideradas dessa maneira e se

engana na resposta da multiplicação.

Assim, os sete professores indicados acima, precisam ampliar e

aprofundar seus conhecimentos de conteúdo em relação ao entendimento

acerca da aplicação do Princípio Multiplicativo e dos Princípios Aditivo e

Multiplicativo, em conjunto, quando da resolução de problemas de contagem.

Complementando, em relação às respostas ao item (b), houve um total

cinco respostas em branco e doze respostas corretas, indicada por todos esses

professores como 9 x 9 x 8 = 648, e que são apresentadas a seguir:

9.9.8 = 648 (P2, P6, P8, P9, P10, P11, P13, P14, P16, P21)

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2 2 2

3 3 3

4 4 4

5 5 5

6 6 6

7 7 7

8 8 8

9 9 9

9 x 9 x 8 = 648

01 0

8.9.9 = 648, 0 (zero) na 1ª posição não forma um nº de 3 algarismos) Situação-problema 3 (b). Protocolo (P17)

Situação-problema 3 (b). Protocolo (P7)

Centena – 9 algarismos; dezena – eliminando um nº (9 algarismos); unidade – eliminando 2 nº (8 algarismos) (P13)

Na 1ª casa ele não pode usar o zero, pois senão não formaria nº de 3 algarismos; na 2ª casa, usaria outros 9 algarismos; na 3ª casa, tiraria os dois algarismos já usados.multiplicaria. (P14)

9 9 8

C D U

Acontecimento Ocorrência

centena 9

dezena 9

unidade 8

648 (P2)

Corroborando com o que dissemos anteriormente, embora as respostas

apresentadas estejam corretas, a análise crítica solicitada no item (a) não foi

feita por esses professores. Parece-nos que os professores não se sentiram

confortáveis para fazer uma análise crítica da solução que foi apresentada

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221

preferindo apresentar aquela solução que se sentiam seguros quanto à

resposta correta.

Foi pedido no item (b) que o professor mostrasse a solução a esta

situação-problema que ele apresentaria e discutiria com seus alunos caso

algum deles lhe propusesse resolver em sala de aula.

Os professores P8 e P16 indicaram a resposta conforme a seguir, o que,

segundo nosso entendimento, caracteriza que eles não sabem como resolver

esta situação e tampouco sabem avaliar a resposta apresentada, configurando

lacunas nos conhecimentos acerca desses conteúdos.

Princípio Fundamental da Contagem (P8, P16)

Um total de dez professores resolveu o item (b) de igual maneira, como

pode ser visto acima, indicando que esses professores ainda estão “muito

presos” a soluções que se “iniciam pelas centenas simples” sem se darem

conta de que, em algumas situações, como a do problema, as soluções

precisam ser repartidas quando o zero está presente ou não, quando essa

solução se inicie pela análise das possibilidades em relação às unidades

simples: o zero comparece ou não?

A resposta do professor P23, a seguir, mostra que ele encaminha a

solução a partir da posição das centenas simples, mas não finaliza sua

resposta com aquela que julga ser a correta, uma vez que no item (a) ele

indicou que a solução que foi apresentada estava errada.

Primeiro faço o aluno perceber que “zero” na primeira posição não forma um número de três algarismos, depois peço que recortem 10 quadradinhos numerados de zero a 10. Pergunto: Quantas possibilidades de algarismos para a centena, depois p/ dezena e p/ unidade (P23)

Os “passos” que o professor P23 utiliza para desenvolver a solução para

este problema com seus alunos estão adequados, mas seguem a ótica que

comentamos acima. Ressalte-se que o professor P23 não apresentou a

resposta quantitativa de todas as possibilidades.

De maneira similar ao que foi apresentado pelo professor P23, o

professor P22 não indicou a sua resposta, uma vez que no item (a) considerou

que o “aluno” estava certo segundo a solução apresentada, e se referiu

conforme indicado no protocolo a seguir:

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222

O conceito de ser os números distintos e visualizar os diferentes algarismos nas 3 casas e aplicaria o princípio multiplicativo (P22)

Os professores do grupo acabaram por não justificar o erro que o “aluno”

cometeu a partir da segunda ação realizada (nove possibilidades para a

posição das dezenas simples) e que se seguiu, quando a primeira das ações

(dez possibilidades para a posição das unidades simples) foi feita.

É claro que é correto iniciar a solução pela posição das unidades

simples, embora esse encaminhamento seja mais complexo que aquele que se

inicia pela posição das centenas simples.

Portanto, em relação às estratégias e aos procedimentos para a

obtenção das respostas aos itens (a) e (b) desta situação-problema, constatou-

se que grande parte dos professores não utilizou os Princípios Multiplicativo e

Aditivo (nenhum deles utilizou este princípio) e, tampouco fizeram menção a

eles quando da análise critica à solução apresentada como pedido no

enunciado da situação-problema proposta, no item (a).

Considerando a análise de todas as respostas apresentadas, levanta-se

a possibilidade de que o procedimento para obter a solução da situação-

problema, tal qual o fizeram os professores que a indicaram corretamente, seja

familiar a uma grande parcela dos professores por ser um problema rotineiro

cuja solução é apresentada em livros didáticos da mesma maneira mas, a

exemplo dos livros, os professores não mobilizaram outras estratégias para a

resolução deste problema que não esta.

Esta situação-problema mostrou limitações quanto aos conhecimentos

de conteúdo e pedagógicos de conteúdo (ausência de estratégias

diferenciadas e da possibilidade de identificar o erro cometido e o

encaminhamento que poderia ser dado para corrigi-lo) de grande parte do

grupo de professores, segundo as perspectivas de Shulman (1986), em relação

à formação desejável para a prática docente.

4.2.3 Sobre o conhecimento dos professores a respeito da resolução de problema de contagem que envolve conceito de arranjos com repetição

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A fim de identificar as estratégias que os professores utilizam para

resolver problemas cujo conceito de arranjos com repetição de objetos está

presente, foi proposta a seguinte questão no questionário Q2:

O aluno justificou sua solução afirmando que cada uma das listras

poderia ser pintada por qualquer uma das cores disponíveis, fazendo então as

combinações acima. Assim, a totalidade de bandeiras diferentes que podem

ser pintadas é 27.

a) Comente, criticamente, o modo com que o aluno apresentou essa solução.

b) Como você faria para resolver essa situação-problema com seus

alunos?

Para resolver este problema o professor poderia utilizar o Princípio

Multiplicativo ou aplicar uma fórmula de arranjos com repetição, bem como

avaliar se a árvore de possibilidades que foi apresentada permite contabilizar a

1ª FAIXA 2ª FAIXA 3ª FAIXA

VDVD AZ

AM

VDVD AZ AZ

AM

VDAM AZ

AM

VDVD AZ

AM

VDAZ AZ AZ

AM

VDAM AZ

AM

VDVD AZ

AM

VDAM AZ AZ

AM

VDAM AZ

AM

Uma bandeira com o formato como abaixo deve ser

pintada, dispondo-se das cores verde (VD), azul (AZ) e

amarelo (AM). De quantos modos diferentes é possível

pintá-la?

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224

totalidade de possibilidades de pintura e, assim, concluir se a solução

apresentada está correta ou não. Um dos professores não respondeu ao item.

Algumas das respostas ao item (a) indicaram que os professores ainda

não se sentem a vontade para fazer análises críticas em relação às respostas

que os alunos possam vir a apresentar, como é o caso da solução que foi

apresentada no enunciado e responderam com a solução que eles

consideravam adequadas, como mostram as respostas apresentadas a seguir:

Utilizou a árvore de possibilidades, mas é muito trabalhoso, prefiro o princípio multiplicativo: 3 x 3 x 3 = 27 (P9, P10, P11) A resposta está correta (P2, P5, P8, P13) A maneira dele responder está certo, por não ter restrições em relação a cores (P6) Ele está correto e usou a árvore de possibilidades (P7, P23) Foi correta a solução dele e permita que se consiga vê-la com clareza (P1) Como no enunciado o pensamento do aluno foi correto e as combinações dele está perfeita (P17) Apresentou as combinações dispostas 3 em 3 de forma clara e objetiva, tendo as possibilidades das combinações exatas (P22)

Situação-problema 4 (a). Protocolo (P14)

Chamamos a atenção para a última parte da resposta do professor P14

presente no protocolo acima: o professor considera que, uma vez escolhida a

mesma cor para pintar as três listras da bandeira, ela deixa de ser uma

bandeira listrada.

Assim, fica a dúvida: bandeira listrada está associada ao fato da

bandeira conter listras, e não em relação à cor usada para pintura cada uma

das listras ou ao fato de ser pintada com cores diferentes em pelo menos duas

de suas listras?

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225

Ainda em relação ao item (a), a resposta professor (P3) deixou dúvida

uma vez que ela não é conclusiva e as respostas dos professores (P16) e

(P21) estão erradas, como se constata a seguir:

Acredito que esteja certa (P3) Azul

Verde

Amarelo

Verde

Azul

Amarelo

Azul

Amarelo

Verde

distintos. (P16) As cores não podem ser repetidas (P21)

Ao propor o item (b), pretendíamos verificar se o professor utilizaria a

mesma estratégia apresentada pelo aluno, qual seja a de construção de uma

árvore de possibilidades proposta no item (a) ou se aplicaria o Princípio

Multiplicativo ou, ainda, se faria uso de uma fórmula de arranjos com repetição.

Foi pedido, no item (b), que o professor mostrasse a solução que ele

apresentaria e discutiria com seus alunos a esta situação-problema, caso

algum deles lhe propusesse resolver em sala de aula.

Oito dos professores indicaram como resposta: “também pela árvore de

possibilidades” (mostrando o não interesse em procurar estratégias diferentes

de respostas) e dez dos professores a deixaram em branco. Houve apenas

cinco respostas para este item conforme foi solicitado:

3x3x3 = 27 (P1)

Princípio Fundamental da Contagem (P8)

Faria para os alunos 3 x 3 x 3 = 27 (P10)

Pediria para eles representarem em uma tabela ou igual (P17)

Também pela árvore de possibilidades (P23)

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226

Constata-se que alguns dos professores são reticentes quanto ao uso de

uma árvore de possibilidades para a obtenção da resposta do problema e essa

rejeição apresenta-se pela maneira como se referem à construção dela como

sendo trabalhosa.

Pela análise das respostas fornecidas pelos professores e pelo grande

número de respostas em branco ao item (b), podemos afirmar que grande parte

dos professores do grupo não identificou o problema como uma aplicação do

conceito de arranjos com repetição.

Nesta situação, foi possível identificar que o grupo de professores têm

poucas estratégias diferenciadas para oferecer a seus alunos o que caracteriza

um conhecimento pedagógico de conteúdo limitado e não desejável para um

professor do Ensino Fundamental, na perspectiva de Shulman (1986), uma vez

que para esse segmento de ensino é recomendado que diversificadas

representações devam ser construídas e exploradas com e pelos alunos.

4.2.4 Sobre o conhecimento dos professores a respeito de permutações simples e de permutações com objetos nem todos distintos

A fim de identificar concepções dos sujeitos de nossa pesquisa sobre a

aplicação do conceito de permutações de objetos (simples e com objetos nem

todos distintos) nas situações que decorrem do quantitativo de diferentes

anagramas36 sem repetição de letras e no caso de haver uma ou mais letras

repetidas, foi proposta a situação-problema 5.

Cabe destacar que também pretendíamos verificar se o professor

associa o cálculo do número de anagramas à aplicação do princípio

36 “Anagrama” é qualquer concatenação que pode ser feita a partir de um conjunto de letras (repetidas ou não) de modo que possam ser obtidas palavras que tenham significado ou então palavras que contenham uma simples ordenação de todas essas letras.

Quantos são os anagramas de cada uma das palavras a seguir, justificando:

a) ROMA?

b) PAPA?

c) ATACA?

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227

multiplicativo, bem como ao conceito de permutação (simples ou com

elementos nem todos distintos).

As respostas ao item (a) indicaram que os professores estão bastante

familiarizados com situações deste tipo uma vez que treze deles responderam

da forma a seguir: 4! = 4 x 3 x 2 x 1 = 24. Três outros professores não usaram a

notação fatorial.

Apenas o professor P6 associou o conceito de permutação simples aos

anagramas, como a seguir:

Situação-problema 5 (a). Protocolo (P6)

Uma possível hipótese para o grande número de acertos a este item é o

fato de que tais problemas são bastante rotineiros e por essa razão os

professores não dispensaram o uso da fórmula e da notação fatorial, mesmo

considerando o diminuto número de quatro distintas letras.

O item (b) pedia o total de anagramas da palavra PAPA. Ela difere do

item (a) por apresentar duas letras A e duas letras P na palavra, ao passo que

no item (a) as quatro letras eram diferentes.

Nem todos os professores do grupo têm conhecimentos corretos acerca

dos conceitos sobre permutações com elementos repetidos muito embora um

número considerável de professores (11 deles) tenha acertado este item,

conforme se percebe nos registros a seguir:

Registros utilizados por professores que encontraram a resposta correta:

P42,2 = 6 (P1, P9, P10, P11)

= 6 (P17, P22)

Pela árvore de possibilidades: 6 (P23)

= = 6 (P21, P7)

24 ÷ 4 = 6 anagramas (P6)

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Situação-problema 5 (b). Protocolo (P2)

Registros utilizados por professores que encontraram a resposta errada:

= 12 (P2, P3, P8, P13, P16)

Situação-problema 5 (b). Protocolo (P14)

Parece-nos que para casos como estes os professores do grupo têm a

concepção de que se deve usar sempre a notação fatorial do quantitativo de

letras e que a solução é obtida com este cálculo, somente.

Para os itens (a) e (b) constatou-se a prevalência de respostas sob a

exploração do aspecto algorítmico do uso intensivo de fórmulas, mesmo

considerando o pequeno número de possibilidades, como é o caso de

anagramas da palavra PAPA.

Segundo a perspectiva de Fischbein (1994), o aspecto formal de

identificação e construção dos agrupamentos por meio do uso de uma árvore

de possibilidades ou da aplicação do Princípio Multiplicativo dá lugar ao

aspecto algorítmico, representado predominantemente pelo uso de uma

fórmula.

O item (c) pedia o total de anagramas da palavra ATACA. Ela difere do

item (b) por apresentar três letras A na palavra.

Muito embora um número muito grande de professores (13 deles) tenha

acertado este item nem todos têm conhecimentos corretos acerca dos

conceitos sobre permutações com elementos repetidos, conforme se percebe

nas seguintes respostas:

Registros utilizados por professores que encontraram a resposta correta:

= 20 (P2, P3, P7, P8, P13, P16, P17, P21, P22)

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P5,3 = = 20 (P9, P10, P11)

Situação-problema 5 (c). Protocolo (P6) Registros utilizados por professores que encontraram a resposta errada:

= 10 (P14)

Situação-problema 5 (c). Protocolo (P1)

As respostas dadas pelos professores na resolução desta situação-

problema permitiu conhecer como os professores deste grupo encaminham em

suas salas de aula seus alunos na resolução desse tipo de problemas de

contagem, qual seja,: o numerador deve indicar a permutação de todos os

objetos envolvidos (repetidos ou não) e o denominador deve constar a

indicação do fatorial dos quantitativos daqueles que se repetem.

Conjecturamos que talvez o professor não tenha se apropriado dos

conhecimentos suficientes e necessários acerca de conceitos relacionados ao

porque a maneira como a que foi citada acima esteja correta.

Por conta disso, continuamos conjecturando que parte dos professores

deste grupo não compreende - o que nos parece que acontece - do porque

dessa divisão e dos valores atribuídos em cada caso uma vez que nunca tenha

se confrontado com uma consistente demonstração da validade desses

argumentos.

Assim, continuamos conjecturando que parte dos professores deste

grupo se utiliza em sala de aula, salvo variações, mais ou menos do seguinte

expediente: nos casos de repetições de letras faça assim como estou

exemplificando (com divisão) e nos casos de não repetição de letras não utilize

a divisão.

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Parece-nos que o professor apresenta somente o procedimento que

deva ser seguido pelos alunos em situações similares às que foram

apresentadas razão bastante forte do porque consideramos imprescindível que

este conceito deva ser discutido e refletido pelos professores na sequência de

ensino mesmo que os professores não se manifestem a esse respeito.

A fim de identificar concepções dos sujeitos de nossa pesquisa, sobre a

utilização do conceito de permutações em que há elementos repetidos e de

modo a identificar se o professor associa tal conceito à situação de anagramas,

presente na situação-problema anterior, foi proposta a seguinte situação-

problema 6:

A situação-problema não deixava pistas de que o tratamento poderia ser

análogo ao apresentado na situação de anagramas com letras iguais.

Assim, ela difere da situação-problema 5 por apresentar indícios de

arrumação de objetos em sequência e que entre os objetos disponíveis há

alguns deles “iguais” quanto à forma, cor e registros.

Muito embora um número razoável desses professores (oito) tenha

acertado este item, nem todos têm conhecimentos de conteúdo corretos acerca

dos conceitos sobre permutações com elementos repetidos, uma vez que

quatro deles erraram e houve cinco respostas em branco, conforme se percebe

nas seguintes respostas:

Registros utilizados por professores que encontraram a resposta correta:

= = 10 (P6) Enumeração das 10 possibilidades (P11, P10, P9)

= = 10 (P1, P7)

= 10 (P14)

Quantas são as arrumações possíveis quando se lança uma moeda

“honesta” 5 vezes, em sequência, e se obtém 2 caras e 3 coroas?

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Situação-problema 6. Protocolo (P2)

Registros utilizados por professores que encontraram a resposta errada: 10 possibilidades//caras, 15 possibilidades//coroas (P17) Fez a árvore de possibilidades e apresentou em “ordem“ (Ca, Ca, Co, Co, Co) indicando (P8, P13)

Situação-problema 6. Protocolo (P21)

O objetivo desta situação-problema foi o de verificar se o professor

perceberia a similaridade desta situação com os casos (b) e (c) da situação

anterior, com o total de anagramas em que há repetição de letras.

Neste caso, obter duas caras e três coroas é similar ao número de

anagramas com cinco letras tendo duas letras C (cara) e três letras K (coroa).

Seria o mesmo que determinar o número de anagramas da “palavra” CCKKK.

Entretanto o enunciado não dá pistas de se tratar de um caso similar ao

de anagramas e, talvez pelo fato de fazer menção à moeda “honesta”, esta

informação possa ter contribuído para que o professor não atine sobre qual

deva ser o rumo a ser tomado para buscar a solução.

Ou seja, talvez o enunciado não seja familiar em relação a exemplos e

exercícios que estivessem/estejam presentes nos livros didáticos.

Por essa razão, o professor deveria ter mobilizado novas estratégias e

procedimentos e realizado reflexões para dar conta de encaminhar a busca da

solução não tendo referência alguma sobre quais exemplos poderia se

espelhar para tal.

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Constatou-se que ainda há respostas erradas e outras que se valem do

uso de fórmulas para a obtenção da solução, reforçando a necessidade de

ofertar um trabalho direcionado para o entendimento e uso do raciocínio

combinatório em todas as etapas que envolvem os problemas de contagem

como mais uma alternativa para a obtenção da solução

A utilização da fórmula própria de permutações com alguns elementos

repetidos (anagramas com letras repetidas) mostra que alguns dos professores

associaram a resolução da situação à similaridade correta em relação à

situação anterior.

Porém, a julgar pelo quantitativo de respostas erradas e em branco,

mais uma vez identifica-se a necessidade de intensificar reflexões para

preparar uma sequência didática que dê conta de aprofundar os

conhecimentos de conteúdo e pedagógicos de conteúdo de modo que ao final

deste estudo tenhamos professores melhor preparados para o desempenho de

suas práticas docentes, conforme Shulman (1986).

Por conta disso, consideramos que os resultados obtidos foram

satisfatórios e mostram maturidade de alguns dos professores, muito embora

alguns deles ainda precisem se apropriar desses conhecimentos.

Quanto ao uso intenso do aspecto algorítmico para resolver problemas

de contagem como este, por meio de uma fórmula, mais uma vez é possível

constatar que o fato de dispor de alguma fórmula por vezes ela não é suficiente

para dar conta da solução do problema se os aspectos intuitivo (possibilidade

de construção de uma árvore de possibilidades) ou formal (compreensão do

tipo de agrupamentos de objetos que precisariam ser construídos) não foram

mobilizados, em conjunto ou não, segundo as ideias de Fischbein (1994), de

modo a contribuir para a compreensão do tipo de agrupamento de objetos.

Essas considerações estão associadas à ampliação da imagem

conceitual relacionada com as permutações entre objetos nem todos distintos,

necessária que se faz ser retomada na fase de intervenção, segundo os

pressupostos de Tall e Vinner (1981).

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233

4.2.5 Sobre o conhecimento dos professores a respeito utilização do conceito de permutações circulares

A fim de identificar concepções dos sujeitos de nossa pesquisa sobre a

diferenciação que estes possam fazer entre as permutações simples e as

permutações circulares foi proposta esta situação-problema.

Ela foi apresentada na forma de uma solução feita por um “aluno fictício”

com o objetivo de facilitar o professor em relação à diferenciação dos conceitos

que ele poderia comentar embora a solução apresentada estivesse errada.

Mais uma vez o comentário crítico que o professor emprestar à análise

das respostas a essa questão servirá para indicar se esta diferenciação é

percebida por ele.

O objetivo desta situação-problema é o de verificar se o professor tem

algum conhecimento de conteúdo relacionado com as permutações circulares e

se conhece a diferenciação de procedimentos relacionados com a

determinação da totalidade destas permutações em relação à totalidade de

soluções nas situações afetas às permutações simples, quando o mesmo

quantitativo de objetos está em jogo.

Foi apresentada a questão 7 do questionário Q2, como a seguir :

As respostas indicaram lacunas nos conhecimentos relativos às

permutações circulares, conforme se percebe nas seguintes respostas:

Em um círculo não tem outro sentido (P8, P13)

O aluno errou, pois multiplicou por 2, ele deveria ter parado em 720 maneiras (P2) Foi muito bem resolvida, o aluno foi prático em responder a questão, bem taxativo (P17)

720 – não multiplicaria por 2, pois tanto faz o sentido (P16)

6 x 5 x 4 x 3 x 2 x 1 = 6! (P9)

De quantos modos 6 pessoas podem sentar-se em uma mesa no formato

circular? Um aluno resolveu assim: As pessoas podem arrumar-se de

6.5.4.3.2.1 = 720 maneiras, olhando a arrumação da mesa em um sentido.

Se olharmos a arrumação da mesa em outro sentido, teremos mais 720

maneiras. Assim, o total de modos de arrumar as seis pessoas ao redor da

mesa é: 2 x 720 = 1440.

a) Comente, criticamente, a questão apresentada pelo aluno.

b) Resolva a situação-problema da maneira como resolveria com seus

alunos em sala de aula.

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Creio que 720 maneiras, pois por ser um círculo, tanto faz o sentido (P14)

A resposta do aluno está errada (P10)

6! = 6 x 5 x 4 x 3 x 2 x 1 – não é a solução correta (P11)

A questão está errada, pois no sentido circular há somente um lugar para cada pessoa (P1)

Errado, pois a permutação já contempla todas as possibilidades (P7)

Situação-problema 7 (a). Protocolo (P6)

Houve seis respostas em branco e apenas o professor P22 acertou a

situação-problema, conforme se percebe na seguinte resposta:

Situação-problema 7 (a). Protocolo (P22)

As diferentes respostas erradas, uma vez que só a resposta dada pelo

professor P22, dentre todos os questionários entregues, estava correta

evidencia o total desconhecimento a respeito do conceito acerca de

permutação circular pela ampla maioria dos professores do grupo.

Estranhamos a posição do professor P22 em relação à resposta do item

(b): “Creio que não entendi:” que, supostamente, mostra que ele não soubera

como poderia mobilizar uma ação diferente do uso da fórmula para dar conta

da solução, já conhecida por ele no item (a). Ou seja, seus conhecimentos para

esta situação-problema não vão além da aplicação da fórmula.

Ou, então, o referido professor P22 queira se referir ao fato de que ao

resolver a situação-problema no item (a) esta já seja a maneira como ele a

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resolveria com seus alunos: aplicação direta da fórmula de permutações

circulares, não cabendo outra maneira de fazer.

A posição do professor P22 nos parece que está associada ao seguinte:

ele sabe resolver a situação-problema proposta e, para ele, isso parece

suficiente para o que foi pedido na situação-problema.

Nesse caso o professor P22 se utilizou dos conhecimentos de conteúdo

que tem sem preocupar-se com os conhecimentos pedagógicos de conteúdo

associados a ele, ou seja, sem preocupar-se em como, possivelmente, poderia

vir a ensinar esse conteúdo a seus alunos.

O conceito de permutações circulares não é um conceito sugerido para

ser desenvolvido na Educação Básica pelo Currículo de São Paulo (2010), de

maneira que não é de se estranhar que se tenha obtido uma única resposta

correta para esta situação-problema, mesmo considerando que professores

formados em cursos de Licenciatura em Matemática fazem parte do grupo.

Na sequência didática – fase de intervenção -, quando esta situação-

problema foi novamente proposta, o conceito foi então retrabalhado no sentido

de que os professores devessem ler o enunciado atentamente para perceber o

tipo de agrupamento de objetos que deveriam ser construídos, as

possibilidades de resolver o problema por meio de uma representação, por

meio da aplicação do Princípio Multiplicativo e, depois, então, a fórmula foi

deduzida em conjunto com considerações pertinentes que foram mediadas

pelo pesquisador, além de também serem propostas outras situações

relacionadas com esse conceito.

As respostas erradas que foram apresentadas ao item (b) são

consequência direta dos erros cometidos no item (a), e indicaram lacunas nos

conhecimentos relativos às permutações circulares, conforme se percebe a

seguir:

P6 = 6! = 720 (P1)

6.5.4.3.2.1=720 (P2, P6)

Da mesma maneira que o aluno respondeu (P8, P13)

Apenas com a P6 = 720 (P7)

Poderia simular a situação (P9)

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6.5.4.3.2.1 = 720 (P10)

Explicaria da maneira que o aluno respondeu: a 1ª posição a 1ª pessoa poderá escolher entre as 6 possibilidades. O 2º retiraria o lugar do 1º ficando 5 possibilidades e assim por diante (P14) Do mesmo modo como que foi apresentada pelo aluno: 6! = 6.5.4.3.2.1 = 720 (P17)

Situação-problema 7 (b). Protocolo (P11)

Mais uma vez apresentamos a solução como tendo sido apresentada

por um “aluno fictício” que “iniciou a busca da totalidade de soluções” tendo se

utilizado dos conceitos associados às permutações simples.

Após ter feito isso, e uma vez que o enunciado descreve que a

disposição das pessoas deva ser feita segundo uma mesa circular, esse “aluno

fictício” passa a considerar de que seria preciso multiplicar o resultado por 2

uma vez que se apercebe da necessidade de considerar a existência de “dois

sentidos para a arrumação das pessoas na mesa”.

Essa maneira de conduzir a busca da solução para essa situação-

problema tem como objetivo o de verificar se o professor compreende ser

possível fazer a caracterização das permutações circulares a partir das

permutações simples.

Também tem como objetivo verificar se o professor é capaz de identificar

aspectos que diferenciam uma caracterização da outra.

Essa maneira de proposição da situação também objetiva que o

professor possa se manifestar a respeito da condução do “aluno fictício” na

resolução da situação-problema permitindo que se possa conhecer a

concepção de cada professor em relação à maneira como a resolução é feita e

como ele proporia situação similar com seus alunos em sala de aula.

Para conta deste segundo objetivo foi pedido então no item (b) que o

professor apresentasse a solução que ele possivelmente apresentaria e

discutiria com seus alunos caso esta situação tivesse sido proposta em um livro

didático, por exemplo.

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Assim, ao propor essa situação-problema tem-se como objetivo

conhecer, mais uma vez, como o professor encaminha em sua sala de aula a

mediação na resolução de problemas de contagem e se ele oferece

oportunidades a seus alunos de conhecerem e experimentarem situações com

outro tipo de permutações que não somente a simples.

Ou ainda se o professor se refere aos casos com objetos repetidos, se

não cabe ao menos esclarecer aos alunos que o rótulo de permutações

simples tem razão de ser pela existência de outros tipos de permutações: as

permutações circulares, por exemplo, ou apenas restringe sua atuação docente

ao que o livro didático apresenta.

Neste caso, como nenhum livro didático – dentre os que tivemos acesso

para consulta - o faz, o professor possivelmente não se sinta seguro de fazê-lo

em suas aulas.

Fato é que a ampliação da imagem conceitual relativa às permutações

circulares precisa ser oferecida aos professores do grupo no sentido de que,

igualmente, eles possam oferecer a seus alunos. Sobre essa questão, e em

consonância com os pressupostos de Tall e Vinner (1981), o tema será

retomado para reflexões durante a sequência didática.

4.2.6 Sobre o conhecimento dos professores a respeito utilização do conceito de combinações simples

A fim de identificar concepções e conhecimentos dos sujeitos de nossa

pesquisa sobre o conceito acerca das combinações simples foi proposta esta

situação-problema.

Ela foi apresentada na forma de uma solução apresentada por um “aluno

fictício” com o objetivo de facilitar o professor em relação à análise crítica que

ele poderia emprestar quanto à solução que foi apresentada e como ele

resolveria com seus alunos em sala de aula.

Assim, foi apresentada a seguinte questão 8 no questionário Q2:

Quantos grupos diferentes de 3 pessoas podem ser formados entre os

amigos Ana, Bia, Carla, Davi e Eva?

Um aluno apresentou o diagrama abaixo para justificar que sua resposta é

10 grupos: Ana pode ficar junto com seus três colegas num grupo, um de

cada vez, e depois trocando entre os três colegas que não tinham sido

escolhidos, totalizando 6 grupos. Agora, formo grupos que não tenham

mais a Ana: são os grupos que têm os outros quatro amigos, quando são

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CARLAANA BIA DAVI

EVA

DAVIANA CARLA

EVA

ANA DAVI EVA

CARLA DAVIBIA CARLA EVA

DAVI EVA

CARLA DAVI EVA

Os resultados apresentados para o item (a) desta situação-problema

deixam dúvidas quanto aos conhecimentos relativos às combinações simples.

O elevado número de respostas em branco (um total de 10) corrobora

com essa dúvida, considerando não terem sido apresentadas respostas

erradas para os restantes dez professores conforme se constata nas seguintes

respostas:

A solução está correta e bem explícita (P1, P2, P7)

A tabela está correta, mas a explicação está um pouco confusa (P9, P10, P11)

Situação-problema 8 (a). Protocolo (P13)

As análises feitas pelos professores estão adequadas à solução que foi

apresentada.

a) Comente, criticamente, a questão apresentada pelo aluno.

b) Resolva esta situação-problema, sem o uso da árvore de possibilidades como foi feito acima na solução do aluno, da maneira como resolveria com seus alunos em sala de aula.

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Os resultados apresentados para o item (b) desta situação-problema

deixam dúvidas quanto aos conhecimentos relativos às combinações simples.

O elevado número de respostas em branco (um total de 10) corrobora

com essa dúvida, considerando não terem sido apresentadas respostas

erradas pelos restantes dez professores, conforme se identifica nas seguintes

respostas:

C5,3 = = 10

(P8, P14, P6, P1, P2, P7, P9, P10, P11)

Situação-problema 8 (b). Protocolo (P13)

O objetivo desta situação-problema é o de verificar se o professor faz

uso da árvore de possibilidades em situações que envolvem combinações

simples uma vez que grande parte das situações em que a escolha de objetos

não seja de todos eles ou de apenas um deles, a árvore de possibilidades não

será do tipo “simétrico”, apresentando regularidades de acordo com o tipo de

agrupamentos de objetos desejados.

A exploração desses “tipos de árvores” amplia a imagem conceitual a

respeito da construção de árvores de possibilidades relacionadas com os tipos

de agrupamentos de objetos envolvidos.

Também a estratégia de computar uma totalidade de possibilidades a

maior por meio da aplicação do Princípio Multiplicativo e, a seguir, deduzir

dessa contagem aquelas feitas em duplicidade, também é recomendável que

seja explorada pelo professor, de modo que os alunos conheçam outro

procedimento de contagem.

Ou então se, no estágio em que as combinações simples são

apresentadas as representações ficam dispensadas e o uso da fórmula

prevalece.

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Mais uma vez apresentamos a solução como sendo apresentada por um

“aluno” que “iniciou a busca da totalidade de soluções” utilizando-se de uma

árvore de possibilidades.

Como um dos propósitos para esta situação-problema, no item (b), está

o de verificar como o professor resolveria esta situação em sala de aula com

seus alunos.

Portanto, situações-problema que envolvem combinações simples

permitem a ampliação da imagem conceitual na perspectiva de Tall e Vinner

(1981) acerca dos conhecimentos de conteúdo e pedagógicos de conteúdo,

segundo Shulman (1986), por meio da exploração dos aspectos formal e

intuitivo em oposição ao uso de fórmulas - aspecto algorítmico - segundo

Fischbein (1994) e na mobilização de diferentes estratégias de abordagens

para a solução de situações-problema que envolvem esse conceito.

A maneira de conduzir a busca da solução para essa situação-problema,

como a que foi utilizada, teve como objetivo o de marcar posição mais uma vez

em relação à utilização de uma representação que favorece o desenvolvimento

do raciocínio combinatório e que seja capaz de dar conta da totalidade de

soluções com o uso de uma árvore de possibilidades como a que foi

apresentada.

A apresentação de uma árvore de possibilidades não “simétrica” foi

oportuna uma vez que o seu uso permite constatar as reações dos professores

frente à resposta obtida com o seu uso, e também ser possível verificar como o

professor encara a possibilidade de resolução de um problema de contagem,

não tão simples, sem o uso de uma fórmula.

Tomando por base as respostas anteriores dos professores e as

respectivas análises que serão feitas em relação ao conceito de combinações

simples, no questionário Q3, parece-nos corriqueiro que o professor associe a

ideia de formação de grupos de pessoas às combinações simples e, a partir

dessa associação, ao fato de não haver necessidade de ordenar os objetos

envolvidos.

Nesta situação-problema trata-se dos grupos com três amigos que

podem ser formados, dentre os cinco amigos.

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Pedimos, então, no item (b), que o professor apresentasse a solução

sem fazer uso de uma árvore de possibilidades de maneira que fosse possível

verificar a maneira como o professor encontraria a solução sob outra

perspectiva ou representação que não através da representação que foi

utilizada.

Portanto, o objetivo da proposição da situação-problema era a de que o

professor mobilizasse outra ação para a resolução, incluindo aí a verificação do

tipo de agrupamento de como poderia ser construído cada um dos grupos de

amigos.

Por outro lado, a proposta da situação teve como outro objetivo o de

também verificar a maneira como o professor compreendeu a situação, suas

concepções a respeito desse conceito e como ele encaminha a busca da

solução.

O grande quantitativo de respostas em branco (dez) evidencia que o

significado de uma combinação simples relacionada à escolha de três dentre

os cinco amigos não parece estar claramente apropriado para uma parcela

considerável de professores do grupo.

Consideramos importante que esse conceito seja corretamente

apropriado pelo professor e, portanto, a proposição de situações-problema

relacionadas com esse conceito será objeto de atividades na sequência de

ensino.

Para esta situação-problema esse contingente de dez professores

sequer arriscou apresentar a solução com o uso de fórmula. Quanto ao

entendimento do enunciado e a solução que foi apresentada parece-nos que

ambos estavam bastante claros.

No item (b), com a possibilidade de utilização de uma fórmula, o uso de

dela favoreceu a “confirmação” da resposta que foi apresentada para aqueles

que fizeram as análises no item (a).

O objetivo desta situação-problema foi o de conhecer o entendimento

que o professor tem a respeito de situações relacionadas às diferentes

maneiras em que é possível formar grupos dos quais participem três dentre

seis disponíveis pessoas e de quantos são os diferentes grupos formados por

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três pessoas dentre as seis pessoas disponíveis para a constituição desses

grupos.

Assim, foi proposta a seguinte questão 9 do questionário Q2:

Os resultados apresentados para esta situação-problema deixam

dúvidas quanto aos conhecimentos relativos às combinações simples.

O grande número de respostas em branco (um total de nove) associado

ao de uma resposta errada corrobora com essa dúvida, conforme se percebe

nas seguintes respostas:

Registros utilizados por professores que encontraram a resposta correta: C6,3 = 20 (P22, P7, P2, P1, P6, P11, P9, P8, P13)

Situação-problema 9. Protocolo (P1)

Situação-problema 9. Protocolo (P10) Registro utilizado pelo professor P17, que encontrou a resposta errada:

6!/3! = 6.5.4 = 120 (P17)

Dispomos de 6 pessoas para formar grupos de trabalho. Pergunta-se: De

quantas maneiras diferentes o grupo poderá ser formado se dele

participarem três das seis pessoas?

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O quantitativo de respostas em branco e a resposta errada fornecida

pelo professor P17 são motivos de preocupação e possivelmente estão

relacionados ao fato de que possa ter havido um entendimento não correto

acerca do enunciado da situação-problema ou que, então, haja um total

desconhecimento em relação ao que deveria ter sido feito para encaminhar a

busca da solução.

De qualquer modo, tal preocupação também será objeto de reflexões

para a proposição das atividades da sequência didática.

Por considerarmos importante conhecer o que o professor pensava a

respeito do significado das representações para o ensino e a aprendizagem

dos problemas de contagem, neste questionário propomos situações-problema

que contém “possíveis soluções”, com ou sem o uso de alguma representação.

Esta opção teve como propósito o de oportunizar ao professor se

manifestar acerca da viabilidade e da adequação do uso de uma

representação, bem como o de identificar os conhecimentos que ele tinha a

respeito da utilização e da construção de alguma dessas representações.

Assim, apresentamos soluções de situações-problema “feitas por

alunos” em algumas situações-problema presentes neste questionário de modo

que, em algumas delas, eles pudessem identificar que o “aluno” fez uso de

uma representação e que ela foi suficiente para determinar a solução (e

também para descrever os agrupamentos de objetos que compõem a solução)

para um problema de contagem.

Em outras, embora não apresentassem uma representação, estava em

jogo a aplicação dos Princípios Multiplicativo e Aditivo para obter a solução

como uma alternativa para o não uso de uma fórmula.

As soluções que foram apresentadas utilizaram uma árvore de

possibilidades ou tabelas de dupla entrada para dar conta de responder à

totalidade de soluções e também para descrever quem eram elas, permitindo

que o professor pudesse comparar com outras maneiras de obtê-las como, por

exemplo, por meio do uso de uma fórmula.

Portanto, ao sugerir a utilização de alguma representação queríamos

possibilitar ao professor identificar a correspondência que há entre as ações

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que o levam a estabelecer a totalidade de possibilidades para cada etapa (cada

fator) do uso do princípio multiplicativo na notação multiplicativa com todas

aquelas similares ações que ele utiliza quando constrói uma árvore de

possibilidades após cada decisão tomada.

Essa correspondência se mostra também visível mediante as

associações presentes no produto cartesiano ou aquelas combinações entre os

elementos de entrada e saída (associação destes) durante a construção de

uma tabela de dupla entrada.

Por conta disso, apresentamos a solução de uma situação-problema por

meio da contagem direta a partir de duas tabelas de dupla entrada e em outra

situação-problema a partir de uma árvore de possibilidades.

Nessas ocasiões pedíamos que o professor se manifestasse em relação

ao quantitativo que foi obtido com essa contagem direta efetuada, sobre as

soluções apresentadas e aquele quantitativo quando o Princípio Multiplicativo

fosse aplicado diretamente para dar conta da totalidade das soluções.

Para identificar a compreensão dos professores a esse respeito

inserimos as seguintes perguntas:

- Analise criticamente a solução apresentada pelo aluno;

- Apresente sua solução, fazendo uso da árvore de possibilidades;

- Comente, criticamente, o modo com que o aluno apresentou essa

solução;

- Como você faria para resolver essa situação-problema com seus

alunos?

E, para tais questionamentos, obtivemos algumas respostas, tais como

as apresentadas a seguir:

É uma solução um tanto trabalhosa, poderia utilizar o princípio multiplicativo.

A perda de tempo foi grande, poderiam ser usadas outras possibilidades mais simples.

O modo de apresentar não é produtivo. A fórmula matemática dinamiza a solução mais rapidamente ou então usar o princípio multiplicativo.

O aluno apresentou de forma clara as possibilidades de combinações, porém de forma trabalhosa. Certifica-se que o aluno

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não possui raciocínio combinatório de forma mais objetiva, pois também existem formas de entendimento mais claras e os conceitos aplicados.

A partir da análise feita em relação às respostas que os professores

apresentaram para essas diferentes indagações, identificamos necessidade de

investir em sugestões na fase de intervenção para que o professor possa

utilizar, com mais frequência, representações gráficas para a obtenção das

soluções às situações-problema de contagem.

Identificamos que os conhecimentos e conceitos dos professores acerca

do conteúdo problemas de contagem estão, em sua maioria, mais voltados à

aplicação de fórmulas do que na construção de uma representação gráfica e

contabilizar os casos possíveis, ou seja, o aspecto algorítmico é prevalente em

relação aos aspectos intuitivo e formal, na perspectiva de Fischbein (1994).

Identificamos que os professores consideram que a resolução de um

problema de contagem está apresentada corretamente, apenas quando fazem

uso de fórmulas para obter a resposta, e que o uso de uma representação não

seria um procedimento elegante e aceitável do ponto de vista matemático para

resolver um problema de contagem.

Essas concepções, que estão associadas às práticas e aos

conhecimentos de conteúdo dos professores, nos mostram que a imagem

conceitual, Tall & Vinner (1981), desses docentes em relação à resolução de

problemas de contagem precisa ser ampliada em relação à utilização de

diferentes estratégias e procedimentos.

Quanto ao Princípio Multiplicativo, em geral os professores não

apresentaram dificuldades para sua aplicação em situações-problema

rotineiras. Identificamos que os professores o utilizam adequadamente para

resolver problemas que não exigem a separação da resolução do problema em

partes, ou seja, em problemas que não exigem a aplicação do princípio aditivo

para ser resolvido.

Assim, os professores apresentam dificuldades para identificar, em um

problema de contagem, quando há necessidade do uso - em conjunto - dos

dois Princípios; Multiplicativo e Aditivo, e para encaminhar a resolução do

problema de modo correto.

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Além disso, identificamos que grande parte dos professores tem domínio

maior em permutação com repetição de objetos.

Desse modo, consideramos que a imagem conceitual, na perspectiva de

Tall e Vinner (1981), relativamente aos conceitos, estratégias e procedimentos

próprios para a resolução de problemas de contagem ainda não é suficiente

para alguns dos professores do grupo desenvolver problemas de contagem na

Educação Básica tendo em vista que nas orientações do Currículo de São

Paulo (2010) consta o estudo de situações que envolvem os Princípios

Multiplicativo e Aditivo e a aplicação do raciocínio combinatório para a

construção e a exploração de representações.

Assim, conhecimentos de conteúdo e pedagógicos de conteúdo segundo

a perspectiva de Shulman (1986) precisam ser desenvolvidos com o grupo de

professores no sentido de que é preciso incorporar ao portfólio desses

professores experiências relacionadas com a apropriação de conceitos,

estratégias e procedimentos concernentes com os problemas de contagem

para serem ensinados por eles a seus alunos do Ensino Fundamental e do

Ensino Médio.

Dando prosseguimento à apresentação e à análise dos instrumentos

diagnósticos que antecedem à fase de intervenção, na seção seguinte faremos

considerações a respeito das respostas dadas ao questionário Q2.

4.3 Conhecimentos pedagógicos

Explicitamos a seguir nossa análise dos dados obtidos com as respostas

ao terceiro questionário sobre conhecimentos pedagógicos do conteúdo. Essas

reflexões foram também fundamentais para a elaboração da sequência de

ensino e o desenvolvimento da intervenção.

O questionário sobre conhecimentos pedagógicos (Q3)37 tinha como

objetivo principal colher dados a respeito das experiências pedagógicas dos

37 Ver o conteúdo das questões no Apêndice C.

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professores sujeitos desta pesquisa em relação ao ensino e à aprendizagem

dos problemas de contagem.

As questões deste questionário estão relacionadas com o

desenvolvimento do raciocínio combinatório e com o ensino dos conteúdos:

Princípio Multiplicativo, Princípio Aditivo, Arranjos, Permutações simples e

Combinações simples. Além disso, há uma questão cujo objetivo é identificar a

posição do professor em relação ao ensino dos problemas de contagem no

Ensino Fundamental.

4.3.1 Sobre as estratégias que o professor se utiliza para auxílio do raciocínio combinatório no ensino dos problemas de contagem

Com o objetivo de identificar e analisar as estratégias que o professor

utiliza para o desenvolvimento do raciocínio combinatório de seus alunos, foi

proposta a seguinte pergunta:

Que estratégias um professor poderia utilizar para auxiliar os alunos na

compreensão dos fundamentos que norteiam o raciocínio combinatório?

A totalidade dos professores não apresentou estratégias que tenham

sido por eles utilizadas para o desenvolvimento do raciocínio combinatório. A

opção dos professores foi a de apresentar considerações gerais para o

desenvolvimento do tema em suas aulas.

Apesar disso, e pelas respostas apresentadas, pudemos inferir algumas

possíveis estratégias que alguns deles utilizam como as dos professores P16 e

P17, a seguir:

Diagramas (P16)

Moedas. Só moedas (P17)

Na resposta do professor P7, a seguir, verifica-se a necessidade que ele

tem de marcar posição entre a ordem dos elementos para a construção de

agrupamentos de objetos, talvez por considerar que esta estratégia seja a mais

importante durante a resolução de problemas de contagem, como se constata

a seguir:

Identificar o número de termos (grupo maior). Identificar o número de componentes (subgrupos). Importância da ordem (Arranjos ou Combinação) (P7)

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Chamaram à nossa atenção as respostas dos professores P9 e P6, a

seguir:

Exemplos que possam mostrar o dia-a-dia dos educandos. Exemplos onde os alunos possam aplicar as fórmulas que aprendem na escola (P9)

Situações-problemas do dia a dia; pois facilitariam a compreensão destes fundamentos combinatórios (P6)

Parece-nos que esses dois professores estão à procura de situações de

aprendizagem “facilitadoras e com exemplos do cotidiano” que os permitam

apresentá-las para seus alunos e com as quais eles possam mobilizar

estratégias e procedimentos necessários para resolvê-los.

Cabe aqui destacar o interesse dos professores em propor situações do

cotidiano para a aplicação dos conceitos aprendidos. Entretanto, não foi

possível identificar se o professor considera importante a utilização de

problemas do cotidiano como um meio para que os alunos aprendam os

conceitos básicos de combinatória e se eles apenas serviriam para que faça a

aplicação de uma fórmula que tenha sido apresentada.

Os problemas, segundo os atuais currículos, deveriam ser o ponto de

partida e de chegada da atividade matemática e, como tal, a preocupação

desses professores faz todo sentido.

Cabe destacar que há poucos professores (identificamos dois

professores do grupo) que defendem o ensino pela repetição sistemática de

problemas similares, ou seja, de exercícios, como é o caso do professor P21

que se manifestou a esse respeito conforme consta do protocolo a seguir:

Inicialmente, muita leitura com “entonação”. A prática na leitura leva a rápida interpretação”, principalmente a segunda delas onde, nos parece, a aprendizagem deverá ser feita através da repetitiva apresentação de exercícios similares, o que nos preocupa muito em relação a essa prática nos dias de hoje. Mas, é claro, sabe-se que essa é uma questão pontual (P21)

No entanto, percebe-se no discurso desse professor uma preocupação

com a prática da leitura dos problemas, o que é fortemente recomendado pelos

recentes currículos de Matemática da Educação Básica, a exemplo do

Currículo de São Paulo (2010).

Cabe destacar, porém, que a palavra “entonação” utilizada no protocolo

acima pode ter o significado de chamar a atenção para as palavras- chave que

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facilitariam a resolução do problema de contagem. Essa prática de fornecer

palavras-chave - não recomendada pelos atuais currículos - foi, e talvez ainda

seja bastante utilizada por alguns poucos professores, causando estranheza,

desconforto e preocupação.

A julgar pelas poucas respostas objetivos dos professores do grupo

quanto às possíveis estratégias que eles utilizam para o desenvolvimento do

raciocínio combinatório - imprescindível que o é para a construção e a

compreensão das representações e a aplicação dos Princípios Multiplicativo e

Aditivo - julgamos insatisfatórios os conhecimentos de grande parte dos

professores quanto a aplicação desses princípios e desses conceitos, bem

como em relação às ações mobilizantes que se fazem necessárias para o

desenvolvimento destes conteúdos em sala de aula de maneira a não

comprometerem os aspectos relacionados com a formação docente, segundo

os pressupostos de Shulman (1986).

As possíveis estratégias utilizadas pelos professores do grupo para

ensinar os demais conteúdos de combinatória relacionados com os problemas

de contagem para a Educação Básica também serão desveladas nas

perguntas que se seguem.

4.3.2 Sobre o conhecimento dos professores a respeito do ensino do Princípio Multiplicativo Com o propósito de identificar as concepções dos professores sobre o

ensino do princípio multiplicativo, propusemos as seguintes perguntas:

a) No Ensino Fundamental:

Você propõe situações envolvendo o Princípio Multiplicativo na Educação

Básica no Ensino Fundamental? ( ) Sim ( ) Não. Quando? Como?

Se você ainda não teve essa experiência explique: Como você

procederia? Quando? Como?

b) No Ensino Médio:

Você propõe situações envolvendo o Princípio Multiplicativo na Educação

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Básica no Ensino Médio? ( ) Sim ( ) Não. Quando? Como?

Se você ainda não teve essa experiência explique: Como você

procederia? Quando? Como?

Os propósitos com essas perguntas foi o de avaliar a importância que os

professores dão a respeito do ensino do Princípio Multiplicativo na formação do

estudante em relação aos conceitos básicos de combinatória. Além disso,

procurou-se identificar as concepções dos professores a respeito do ensino

desses conteúdos, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio.

Destacamos que, embora muitos dos professores do grupo tenham

conhecimentos sobre os conceitos associados à aplicação do Princípio

Multiplicativo, e aonde ele se aplica na resolução dos problemas de contagem,

ainda há alguns deles que precisam aprofundar-se quanto à mobilização de

estratégias e procedimentos para a sua aplicação, e de como ele pode ser

utilizado pelos alunos com vistas ao seu ensino e à sua aprendizagem por

estes.

Nas respostas ao item (a), identificamos que grande parte dos

professores tem uma percepção, a nosso ver adequada, para o ensino do

Princípio Multiplicativo no Ensino Fundamental e à ampliação de seu uso no

Ensino Médio, como se pode constatar nas seguintes respostas:

Nas séries iniciais – 4ª série em diante, como: com aqueles exercícios básicos de combinações, por exemplo: Maria tem 4 saias e 6 camisas de cores diferentes e 3 sapatos, de quantas maneiras ela pode combinar? (P16)

Praticamente em todos os anos, pois já temos livros didáticos do nível 1 que já apresenta este princípio, como: “Pode ser com combinação de calça, camisas e calçados (P14)

Em relação às respostas dos professores P16 e P14, identificamos que

eles têm conhecimento de que o conteúdo já é apresentado nas séries iniciais,

mas deixam dúvidas quanto ao que estes professores pensam em relação à

ampliação de seu uso em outros problemas de contagem que poderiam ser

propostos aos anos dos anos subsequentes do Ensino Fundamental, a partir

das “séries iniciais”, considerando que temos dúvidas quando efetivamente os

professores começam a lidar com os problemas de contagem, não obstante as

recomendações curriculares.

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Os demais professores se manifestaram, nas suas respostas, de

maneira satisfatória e correta em relação ao que foi perguntado.

Por outro lado, ainda há professores que não têm esse entendimento de

maneira clara, como é o caso do professor P15 que ainda não está

familiarizado com o ensino deste conteúdo e, com toda a certeza, desconhece

o que trata o Princípio Multiplicativo a julgar pela resposta que forneceu a esta

pergunta, como se constata a seguir:

No ensino de equação do 1º grau – (equilíbrio das balanças), como: “Equilíbrio das balanças” (P15)

As respostas para o item (b) indicaram lacunas nos conhecimentos de

conteúdo e pedagógicos de conteúdo de alguns professores, relativos ao

ensino do referido Princípio para o Ensino Médio conforme se constata nas

respostas dadas pelos professores P12 e P21, a seguir:

No segundo ano do ensino, após o estudo de fatorial de n, n ϵ N (conjunto dos números naturais). No estudo de métodos de enumeração e árvore de possibilidades, como: Através de uma situação-problema pertinente (P12)

Também nas aulas regulares de PD e até mesmo recuperação e CJA, como: “Através de exercícios de Raciocínio Lógico, quadrado mágico, sequência lógica como por exemplo: - complete – D,S,T, ---, ---, ---, ---,; - complete – 2, 10, 12, 16, 17, 18, 19, ----; - Divida um bolo em 8 pedaços com apenas 3 cortes retos. (P21)

O professor P12 sugere o ensino do Princípio Multiplicativo após o

estudo de fatorial que é, por sua vez, uma forma concisa de apresentar uma

particular multiplicação e, como tal, derivada da resolução de algum problema

de contagem com a aplicação desse Princípio, e não após esse estudo.

Por outro lado, há professores, como o professor P22, - o único que

acertou a questão 7 do questionário Q2 e que mereceu análise detalhada

acerca da sua resposta - que conhece maneiras de como o Princípio

Multiplicativo pode ser ensinado, conforme se constata pela sua resposta, a

seguir:

Faria um levantamento diagnóstico da experiência e conteúdo dos alunos para iniciar a atividade, os conceitos e desenvolvimento de uma Situação problema, como: Com exemplos do cotidiano. Uma pessoa foi ao teatro, este teatro possui cinco portas, de quantas maneiras esta pessoa poderá entrar e sair do teatro? (P22)

Consideramos importante aprofundar pesquisas com outros professores

com o mesmo perfil do professor P22 de maneira a conhecer outras estratégias

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para ensinar problemas de contagem no Ensino Fundamental, tal como foi

sugerido por esse professor, que se destacou pelas respostas que apresentou

aos dois questionários.

Mas, se este for o caso, considerando que o Princípio Multiplicativo

possa ser a primeira noção básica utilizada para a resolução de um problema

de contagem, ela não deveria vir após o estudo do fatorial, o que nos permite

concluir que esse professor possa estar confundindo a utilização deste

Princípio até mesmo quando se refere aos métodos de enumeração uma vez

que, se ele enumera os agrupamentos de objetos, então deve objetivar a

contagem direta deles, o que não é o caso.

Já o professor P21 mostra desconhecimento a respeito do ensino deste

conteúdo ao sugerir que questões que envolvem o raciocínio lógico são

questões onde se aplica o Princípio Multiplicativo, ou seja, parece-nos que ele

relaciona este Princípio a situações de adivinhação lógica.

O professor P22 introduz o Princípio Multiplicativo por meio de um

exemplo pertinente. O elevado número de respostas em branco para o item (b)

talvez decorra do fato de que um total de 10 professores respondeu “nunca

terem proposto situações no Ensino Fundamental”, já no item (a).

Considerando a relevância da apropriação dos conceitos relacionados

ao Princípio Multiplicativo, e sua aplicação para a solução de problemas de

contagem, além do que permite a construção de representações, é vital que

esses conceitos sejam aprofundados pelo grupo de professores na sequência

didática objeto deste estudo, sob pena de não se ter professores em condições

de implementar as orientações do Currículo de São Paulo (2010) quanto à

desejável preparação destes professores de maneira a desenvolver as

diferentes abordagens para o ensino destes conteúdos no Ensino Fundamental

e para o Ensino Médio.

4.3.3 Sobre o conhecimento dos professores a respeito do ensino do Princípio Aditivo

A fim de identificar concepções dos professores sobre o Princípio

Aditivo, propusemos as seguintes perguntas:

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a) No Ensino Fundamental

Você propõe situações envolvendo o Princípio Aditivo na Educação

Básica no Ensino Fundamental? ( ) Sim ( ) Não. Quando? Como?

Se você ainda não teve essa experiência explique: Como você

procederia? Quando? Como?

b) No Ensino Médio

Você propõe situações envolvendo o Princípio Aditivo na Educação

Básica no Ensino Médio? ( ) Sim ( ) Não. Quando? Como?

Se você ainda não teve essa experiência explique: Como você

procederia? Quando? Como?

Objetivou-se identificar aquilo que os professores conheciam sobre

ideias relacionadas quanto ao uso do Princípio Aditivo e à ampliação deste; do

entendimento e da importância que fazem a respeito de sua aplicação quando

identificam a necessidade de usá-lo para a resolução de alguns tipos de

contagem, bem como acerca dos seus fundamentos teóricos que o permitem

ser aplicado, por exemplo, para também sistematizar outros conceitos básicos

de combinatória que são obtidos por meio da aplicação deste Princípio e do

Princípio Multiplicativo.

O item (a) apresentou lacunas nos conhecimentos de alguns professores

relativos ao conhecimento de que trata o referido Princípio para o Ensino

Fundamental e à ampliação de seu uso desde os primeiros problemas de

contagem de maneira que eles possam ser aplicados a alunos dos primeiros

anos deste segmento.

Essas lacunas puderam ser identificadas quando da análise das

respostas, com as seguintes:

Acredito que sim, mas não sei o que você quer dizer com princípio aditivo (P3)

Sinceramente não sei dizer qual é exatamente a definição do princípio aditivo, mas sendo princípio de adição imagino que seja ensinar a somar e a subtrair. Que a multiplicação pode ser ensinada como uma soma de parcelas Ex: 4 x 3 = 12 ou 4 + 4 + 4 = 12. Pode-se ensinar desde os primeiros anos (P9)

Resolução das equações (P15)

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Os três professores indicados acima mostraram desconhecimento sobre

o princípio aditivo e, a julgar pelo expressivo número de professores que não

respondeu à pergunta (em número de dez), o mesmo pode ocorrer com esses

outros professores.

Queremos crer que essa constatação esteja associada mais ao rótulo

em si do que à dificuldade que ele possa apresentar para os professores,

embora a identificação da necessidade de seu uso requeira conhecimentos

mais aprofundados que aqueles que se possa identificar quando é feita a

contagem direta do total de possibilidades presentes nos agrupamentos

apresentados nos “galhos terminais” de uma árvore de possibilidades, por

exemplo.

Destacamos, contudo, a importância que deva ser dada para o

entendimento de sua aplicação de modo que o professor não venha a se

deparar, por exemplo, quando da resolução de problemas de contagem com

perguntas feitas por alunos tal como essa: professor, eu tenho que somar ou

multiplicar, nessa situação?

Nestes casos, embora o professor tenha se referido de alguma maneira

ao Princípio Aditivo, mesmo que de maneira não explícita, a aplicação deste

não foi compreendida pelo aluno.

Tal fato evidencia que o Princípio Aditivo, embora talvez comentado e

exemplificado pelo professor, não tenha sido apropriado pelo aluno em relação

ao seu pertinente uso, bem como em relação ao Princípio Multiplicativo.

Também quando o professor, por exemplo, após a construção de uma

árvore de possibilidades não tenha salientado que a contagem direta dos

agrupamentos constituintes é uma aplicação desse Princípio e, portanto, ele

deve ser explorado mais amiúde.

Nestas situações o aluno precisa compreender que os agrupamentos de

objetos listados nos “galhos terminais” da árvore são todos distintos entre si e,

portanto, cabe a aplicação do Princípio Aditivo por meio da contagem direta

desses agrupamentos.

Neste momento será preciso que o professor chame a atenção de seus

alunos para que eles observem que cada um dos “galhos terminais” da árvore

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apresenta uma solução diferente das demais que estão em todos os outros

“galhos terminais” da mesma árvore. É importante que eles façam a

conferência, uma a uma, entre essas soluções obtidas.

E, então, que o aluno compreenda que o quantitativo de possibilidades

que atende à solução do problema é aquela que corresponde à totalidade do

somatório das soluções que estão presentes em todos os “galhos terminais” da

árvore de possibilidades.

Trata-se de um componente do conteúdo de problemas de contagem

que merece um cuidadoso tratamento e aprofundamento por parte dos

professores e que tem implicações, por exemplo, quando se tratar do estudo de

probabilidades, após a construção de uma “árvore de probabilidades”, similar a

uma árvore de possibilidades.

Os dois itens dessa pergunta foram aqueles em que se percebeu o

maior desconhecimento dos professores do grupo em relação ao que trata o

Princípio Aditivo e sua aplicação a problemas de contagem.

O rótulo “Princípio Aditivo ou Princípio da Adição” pareceu incomodar os

professores do grupo e não nos pareceu que o mesmo fosse familiar a algum

deles, até a aplicação do presente questionário.

Parece-nos que esses professores nunca haviam passado pela

experiência de utilizá-lo e, se o fizeram, pois acreditamos que sim

(particularmente quando se deparam com a questão de efetuar a contagem de

números pares com dois algarismos distintos ou outro problema) não percebem

que estão utilizando aí o Princípio Aditivo.

Mesmo quando efetuam a contagem direta de todas as possibilidades

para a solução de um problema de contagem, seja por meio de uma tabela de

dupla entrada, de uma árvore de possibilidades, de um esquema ou de um

produto cartesiano, não associam essa ação como sendo a da aplicação do

Princípio Aditivo.

Ou, então, não utilizam o Princípio Aditivo nestes casos, preferindo a

solução que determina a diferença entre a totalidade de números com dois

algarismos distintos e a totalidade de números ímpares com dois algarismos

também distintos.

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Este item mostra que para alguns professores há uma ligeira confusão a

respeito do Princípio Aditivo - mesmo para os professores que lecionam há

algum tempo no Ensino Médio - tal qual o seja a respeito de um possível

desconhecimento acerca dos propósitos, no uso do Princípio, como dito antes.

Como resultado da análise deste item, verifica-se a necessidade de na

sequência didática propor diversas situações-problema nas quais o problema

necessite ser repartido de maneira a ser possível obter a contagem total das

soluções e, portanto, identificar a importância e necessidade de aplicar o

Princípio Aditivo, uma vez que só a aplicação do Princípio Multiplicativo não

seria suficiente para tal.

Portanto, de modo que a contagem das possibilidades de soluções para

um problema de contagem não venha a ser feita em excesso ou a menor,

decorrente da errônea aplicação única do Princípio Multiplicativo nestas

situações, é preciso que o professor compreenda quando e como deve aplicar

o Princípio Aditivo para obter a solução de um problema de contagem.

O Princípio Aditivo é componente essencial para a ampliação dos

conhecimentos do professor em relação a outros conceitos presentes na

resolução dos problemas de contagem e, como tal, faz-se necessária a sua

apropriação e entendimento em profundidade, por parte dos professores e dos

alunos.

Aquele professor do grupo que imaginava ainda não ter utilizado o

Princípio Aditivo na verdade é porque não o conhecia conceitualmente em

profundidade uma vez que ele está presente quando da contagem direta que

habitualmente se faz após a construção de uma árvore de possibilidades e,

nestes casos, podemos garantir que todos os professores de matemática já

passaram por estas situações. Bastava, então, conhecer o Princípio Aditivo e

que este está sendo aplicado aí, em particular.

Em situações mais complexas, o Princípio Aditivo mostra uma maior

abrangência quanto à necessidade de ele ser utilizado durante a resolução de

alguns problemas de contagem.

Assim, o professor que ainda não percebeu como deve utilizar-se do

Princípio Aditivo é porque ainda não esteve diante da necessidade de resolver

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um problema de contagem em que esse Princípio torna-se indispensável para

contabilizar a totalidade das soluções possíveis na medida em que o raciocínio

combinatório é utilizado para encaminhar a resolução.

Em muitos casos a escolha de outra estratégia de resolução para o

problema esconde essa necessidade de aplicação do Princípio Aditivo, mas,

para tal, é preciso que o professor aprofunde seus conhecimentos de conteúdo

a esse respeito, ampliando a imagem conceitual que tem a respeito das noções

básicas de combinatória, conforme sugerem Tall e Vinner (1981).

Situações que requeiram o uso do Princípio Aditivo sem o que a solução

ao problema de contagem não é obtida foram propostas na sequência didática,

de maneira que o professor aprofundasse seus conhecimentos de conteúdo.

As respostas para o item (b) - Princípio Aditivo no Ensino Médio -

também indicaram lacunas nos conhecimentos de alguns professores relativos

ao conhecimento de que trata o referido princípio para o Ensino Médio e à

ampliação de seu uso, conforme se identificou pelas seguintes respostas:

Já saberiam e os professores não teriam grandes dificuldades (P13)

Em diversas situações de multiplicação com parcelas iguais, como: Situações cotidianas de repetição (P23)

Não lembro dos conceitos (P5)

Em todas as séries do Ensino Médio, como: Praticamente em todos os exercícios pode ser utilizado (P9)

As constatações de dúvidas em relação ao uso do Princípio Aditivo em

relação à resolução de problema de contagem que podem ser propostos no

Ensino Fundamental se repetem também em relação ao Ensino Médio uma vez

que muitos problemas podem ser aplicados em ambos os níveis, mormente

aqueles que dizem respeito à totalidade de números com dois, três ou mais

algarismos, respeitando restrições, que existem no sistema decimal.

Em relação aos conhecimentos desses conteúdos pelos professores, tal

fato é preocupante uma vez que há um grande quantitativo que já havia

lecionado combinatória naquele ano letivo de 2011, no primeiro semestre, no

Ensino Médio.

Tomando por base as respostas que os professores emprestarem aos

três questionários e durante o desenvolvimento das atividades que se deram

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258

na sequência didática, se terá conhecimento de como a combinatória estava

sendo ensinada, até então, por alguns dos professores do grupo, e como ela

está sendo aprendida pelos alunos desses professores.

4.3.4 Sobre o conhecimento dos professores a respeito do ensino de Arranjos simples ou com repetição de objetos

Com o propósito de identificar concepções e conhecimentos dos sujeitos

de nossa pesquisa sobre o ensino dos arranjos simples ou com repetição de

objetos na Educação Básica propusemos a seguinte pergunta:

Você propõe situações envolvendo a noção de arranjo simples com seus

alunos na Educação Básica? ( ) Sim ( ) Não.

Como você definiria e explicaria esse conceito para seus alunos?

Para essa definição você pode utilizar suas próprias palavras. Não é

necessário que escreva uma definição formal. Em que momento? Quando?

Para essa questão objetivamos identificar como os professores ensinam

arranjos simples. Entretanto, esses professores não responderam à pergunta

no que se refere aos aspectos de ensino deste conceito provavelmente pelo

fato de haver lacunas a respeito de conhecimentos acerca desse conteúdo.

Por essa razão, a análise deste item terá como foco os conhecimentos

dos professores em relação ao conteúdo.

No entanto, há professores que compreendem bem o conceito de

arranjos simples, conforme se constata pelas seguintes respostas:

Arranjo – Possuo um grupo e quero determinar subgrupos onde a ordem é importante. Exemplos – concursos, cargos, placas de carro, etc (P7)

Dado o conjunto A= {2,5,7}, escreva todos os números de dois algarismos distintos com os elementos de A: 2, 5 – 25; 2, 7 - 27; 5, 2 - 52; 5, 7 - 57; 7, 2 – 72; 7, 5 – 75, depois dou a definição (P19)

Eu defino “informalmente” com exemplos. Digo que vou premiar os cinco melhores alunos com prêmios diferentes para cada ocupação para que percebam que o posicionamento modifica o grupo (P23)

As respostas dos professores em relação ao ensino do conceito de

arranjos simples indicam uma característica de ensino muito próxima daquela

que, de início, identifica as características do agrupamento e em seguida parte

diretamente para a definição do conceito e apresenta um exemplo em que tal

conceito se aplica.

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Essa opção metodológica que alguns dos professores do grupo utilizam

não permite que os alunos investiguem as características presentes nas

soluções que eles encontram - que podem ser obtidas por meio de uma árvore

de possibilidades, por exemplo – e as diferencie entre si.

Além disso, essa opção não favorece a identificação de aplicação do

Princípio Multiplicativo e a descrição de todos os agrupamentos possíveis,

como se pode constatar na resposta dada pelo professor P6, no protocolo a

seguir:

No Ensino Médio defino arranjos simples como agrupamentos de n elementos escolhidos “p a p” de um conjunto, isto é num conjunto de “n” elementos seriam agrupados alguns elementos deste conjunto de várias maneiras diferentes, sempre obtendo um novo resultado (ordem). Este conteúdo é sempre dado na 2ª série do Ensino Médio (P6)

Assim, em relação ao protocolo do professor P6, embora o conceito de

arranjos simples esteja definido corretamente do ponto de vista matemático,

sua apresentação não favorece o desenvolvimento do raciocínio combinatório.

Por outro lado, algumas respostas de professores indicaram lacunas nos

conhecimentos destes e relativos às características dos objetos presentes

nestes tipos de agrupamentos, principalmente quando deixam dúvidas sobre a

composição dos agrupamentos com essas características, como se pode

constatar, por exemplo, nas respostas dos seguintes professores:

Arranjo simples é uma maneira de escolher coisas, objetos ou até mesmo pessoas em posições distintas pré-determinadas. Exemplo: 5 pessoas em um sofá de 3 lugares. De quantas maneiras distintas podem se sentar? (P12)

Agrupamento de elementos de várias formas, colocando problemas básicos. Exemplo: corrida de carros (P2)

Normalmente utilizo exemplos de jogos e ensino a fórmula. No 2º ano do Ensino Médio (P9)

Nas respostas acima se identifica que há conceituação não precisa

sobre esse conceito, a saber: “maneira de escolher coisas”, “agrupamentos de

várias formas”, “exemplo de jogos”.

Identificamos ainda, no protocolo do professor P22, que tal conceituação

não está adequada para caracterizar o conceito de arranjos simples, o que

pode causar sérios transtornos na compreensão do conceito para seus alunos,

como se constata a seguir:

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O conceito de arranjo simples leva em conta os tipos de agrupamentos de elementos repetitivos e que leva em conta a ordem. Pode-se aplicar de forma mais simples, para calcular o número de anagramas possíveis de uma palavra como: AMIGO (P22)

O professor P22 associa o conceito de arranjos simples a anagramas o

que é correto, sob o ponto de vista matemático, quando se tratarem de

anagramas com letras diferentes tomados como casos particulares de arranjos

simples n a n.

Mas, não nos pareceu clara a afirmação feita pelo professor P22, não

obstante ter sugerido um exemplo que se aplica para a aplicação deste

conceito de arranjos simples, também.

Ademais, quando o professor P22 se refere ao fato de que o conceito de

arranjos simples leva em conta os tipos de agrupamentos de elementos

repetitivos ele comete um erro conceitual, uma vez que anagramas em que

nem todas as letras são distintas estão associados às permutações com

elementos repetidos e a denominação “elementos repetitivos” não cabe na

definição de arranjos, de modo geral.

Os professores P3, P5 e P15 mostraram pouca familiaridade com ensino

deste conceito, inclusive com a resposta evasiva do professor P15, como se

constata nos protocolos a seguir:

Como não trabalho no momento com estes conceitos, eu não me lembro deles. Quando propomos para a classe se reunir em grupos (P3)

Não lembro. Já vi o conteúdo, mas não lembro dos conceitos (P5)

Através dos problemas de contagem. Poderia iniciar na 5ª série (P15)

Constata-se pelas respostas de parte dos professores que o conceito de

arranjos simples está muito presente na prática deles, mas em nenhum

momento foi possível identificar que os professores têm em mente a relação

entre arranjos simples e a aplicação direta do Princípio Multiplicativo.

Identificou-se também, entre os professores, forte tendência de marcar a

conceituação ou o procedimento de seu uso em torno da importância quanto à

ordem entre os elementos e, em seguida, apresentar a definição de arranjos

simples, deduzirem a fórmula de contagem de todas as possibilidades e o uso

da respectiva fórmula, nesta ordem.

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Há ligeira confusão em algumas definições, bem como a associação

direta do conceito de arranjos com exemplos de anagramas, não definindo,

entretanto, como se caracterizam os anagramas.

Pelas considerações feitas anteriormente consideramos que será

preciso um tratamento diferenciado com os professores durante a sequência

didática com respeito à ideia de que arranjos simples ou com repetição de

objetos são casos particulares da aplicação do Princípio Multiplicativo e sobre a

possibilidade de ensinar esses conceitos segundo essa opção metodológica,

ou seja, sem a necessidade de caracterizar os arranjos como “agrupamentos

particulares de objetos” e sim como aplicação do Princípio Multiplicativo..

A partir daí, será preciso mostrar a importância do raciocínio

combinatório para a identificação e a caracterização dos agrupamentos de

objetos durante a resolução de um problema de contagem e focar naqueles

agrupamentos em que a ordem entre os objetos é irrelevante e, portanto,

precisa ser “desconstruída” desde que tenham sido computados agrupamentos

sob a égide da ordem deles entre si como distintos.

4.3.5 Sobre o conhecimento dos professores a respeito do ensino das Permutações Simples

A fim de identificar concepções e conhecimentos dos sujeitos de nossa

pesquisa sobre o ensino das permutações simples na Educação Básica,

propusemos a seguinte pergunta:

Você propõe situações envolvendo a noção de permutações simples com seus

alunos na Educação Básica? ( ) Sim ( ) Não.

Como você definiria e explicaria esse conceito para seus alunos?

(Para essa definição você pode utilizar suas próprias palavras).

Não é necessário que escreva uma definição formal. Em que momento?

Quando?

Algumas das respostas indicaram lacunas nos conhecimentos de alguns

professores relativos às características dos objetos presentes neste tipo de

agrupamentos, principalmente quando deixam dúvidas sobre a composição e

os tipos desses agrupamentos com essas características, como se pode

identificar pelas respostas a seguir:

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Permutação é de quantas formas podemos dispor os elementos de um determinado conjunto. Em que momento? Nas primeiras séries do ciclo II com exemplos práticos (P1)

Permutação simples é uma maneira de ordenar coisas, objetos ou até mesmo pessoas em posições distintas pré-determinadas. Exemplo: anagramas da palavra ROMA (P12)

Permutação nada mais é do que “troca”; trocamos as ordens dos objetos; suas posições e dependendo da quantidade, teremos o nº de vezes que fizemos esta “troca” (P6)

Explico fazendo anagramas (P9)

Algumas respostas evidenciam conceituações imprecisas, tais como:

“quantas formas podemos dispor os elementos”, “maneira de ordenar coisas...

em posições distintas”, “trocamos as ordens dos objetos ... suas posições ”?

Quanto à resposta do professor P12, pode-se afirmar que ele não

apresenta uma correta caracterização do conceito de permutação simples por

não ficar claro o significado de “posições distintas pré-determinadas” e deixar

dúvidas quanto, por exemplo, à possibilidade de haver um quantitativo de

“posições distintas pré-determinadas” menor ou maior que o quantitativo de

objetos, embora o exemplo citado possa ser tomado como a totalidade de

permutações simples das letras R, O, M e A.

Por outro lado, há alguns professores que, embora conheçam o conceito

de permutação simples, não fazem menção ao fato de que todos os objetos

envolvidos no problema devem fazer parte de cada uma das permutações

simples consideradas.

Mas há professores que destacaram a importância de ressaltar esse

aspecto no ensino desse conceito, como é o caso do professor P19, segundo

sua resposta a seguir:

Explicaria uma vez que em cada grupo participam todos os elementos. Então esses grupos chamam-se Permutação simples

(P19)

Embora em nenhuma das respostas anteriores tenhamos identificado

uma caracterização completa do que seja uma permutação simples, no sentido

matemático, e como se determina o total de permutações simples de n objetos

(havendo ou não repetição de alguns deles), algumas das respostas estão

adequadas para o entendimento dos alunos, em uma primeira aproximação

para a correta caracterização do conceito.

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Por outro lado, há alguns professores do grupo que ainda não conhecem

o conceito relativo a uma permutação simples ou que não caracterizam

adequadamente esse tipo de agrupamento de objetos.

As citações a seguir foram consideradas por nós como não apropriadas

para conceituar esses agrupamentos de objetos, conforme se pode constatar a

seguir:

Permutação – também usado o termo anagrama que como o nome já determina são trocas entre todos os componentes, salvo se existir alguma restrição no enunciado do problema (P7)

A permutação é feita de combinações com elementos distintos e o número de modos de ordenar estes elementos Em que momento? “Com exemplos do cotidiano, para um só dia transmitir 5 músicas sem ser na mesma ordem, todos os dias, quais são as possíveis sequências? (P22)

Eu digo aos alunos que permutação é sinônimo de “troca”, que normalmente são palavras com significado ou não, mas que trocamos todas as letras de lugar. Em que momento? Durante o ensino de análise combinatória e probabilidade. Peço aos alunos que formem todas as combinações possíveis com o próprio nome (em momentos considerando letras repetidas, em outros não). Dependendo do “tamanho” do nome percebem que é uma tarefa árdua, neste momento entro com a definição de fatorial e mostro a necessidade das fórmulas (P23)

Permutar-trocar-árvore das possibilidades (P15)

A definição/caracterização apresentada pelo professor P7, acima, está

incompleta, pois deixa dúvidas quanto ao fato de “existir alguma restrição” e

porque associa as permutações simples unicamente aos anagramas, sem

caracterizar o que seja um anagrama.

O professor P22 afirma que uma permutação é feita de combinações.

Parece-nos que ele queria afirmar que uma permutação seria feita de

ordenações entre os objetos, ou seja, uma permutação simples é qualquer

ordenação que contenha todos os objetos distintos considerações e o mesmo

se aplica no caso de permutações em que nem todos os objetos sejam

distintos: ela deve conter todos os objetos. Assim, o exemplo sugerido é

apropriado.

A maneira como o professor P23 se refere às permutações simples

remete à concepções relacionadas com anagramas e o uso de fórmulas com

fatorial. O professor P15 não caracteriza o conceito.

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Os professores P3 e P5 desconhecem o conteúdo permutações simples,

como se constata pelas respostas por eles fornecidas:

Como não trabalho no momento com estes conceitos, eu não me lembro deles, Em que momento? Quando selecionamos ou escolhemos os alunos para responder algum exercício ou fazemos uma competição entre as fileiras da classe (P3)

Já vi o conteúdo, mas não lembro dos conceitos (P5)

A julgar pelas respostas que foram apresentadas com respeito ao ensino

de permutações simples, será preciso que na sequência didática sejam

retomadas considerações a respeito da correta caracterização desse conceito

e feitas reflexões acerca do conhecimento pedagógico de conteúdo, segundo

Shulman (1986), de maneira a ampliar a imagem desse conceito que os

professores do grupo têm a respeito dele e de seu ensino, bem como definir

anagramas e relacioná-los com as permutações simples e com permutações

em que nem todos os objetos são distintos, segundo Tall e Vinner (1981).

4.3.6 Sobre o conhecimento dos professores a respeito do ensino das Combinações Simples

A fim de identificar concepções dos professores sobre o ensino de

combinação simples na Educação Básica, propusemos a seguinte questão:

Você propõe situações envolvendo a noção de combinações simples com

seus alunos na Educação Básica? ( ) Sim ( ) Não.

Como você definiria e explicaria esse conceito para seus alunos?

Para essa definição você pode utilizar suas próprias palavras.

Não é necessário que escreva uma definição formal. Em que momento?

Quando?

Com essa questão objetivamos identificar como os professores ensinam

combinações simples. No entanto, esses professores não responderam à

pergunta no que se refere aos aspectos de ensino deste conceito,

provavelmente pelo fato de haver lacunas a respeito de conhecimentos desse

conteúdo. Por essa razão, a análise deste item terá como foco os

conhecimentos dos professores em relação ao conteúdo.

A maioria dos professores caracteriza adequadamente o conceito de

combinação simples e poucos são os que cometem pequenos enganos (que

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não comprometem o entendimento que eles têm a respeito do conceito),

conforme se pode identificar nas seguintes respostas:

Combinação – basicamente a mesma regra do arranjo, mas não importa a ordem (P7)

Combinação simples é uma forma de escolher coisas, objetos ou até mesmo pessoas para formar grupos com menos elementos do que o número total de elementos, ou seja, em um grupo com n elementos escolher grupos de p elementos onde p é menor que n com n, p ϵ N” Em que momento? Na 7ª Série (8º Ano) (P12)

A explicação seria comparando com Arranjo. Se formar os grupos e mudar os seus elementos vai dar diferença? Se sim é arranjo se não é combinação (P19)

Faço como na explicação de arranjo, peço que formem grupos de trabalho, sorteio alguns e peço que vejam se o grupo é modificado quando inverto os nomes, percebem que não (P23)

Depois de ter explicado arranjos simples; nas combinações simples também escolhemos elementos e agrupamos de diversas maneiras sem levarmos em consideração a ordem; pois a ordem não muda a resposta (P6)

Com as apostilas tem bastante exemplos, eu os utilizo e os ensino a aplicar a fórmula (P9)

Identificamos que a caracterização de uma combinação simples, feita

por grande parte dos professores, está associada diretamente à necessidade

de diferenciar esse conceito do de arranjos simples uma vez que eles procuram

destacar os diferentes tipos de agrupamentos em função da ordem entre

objetos pertencentes a uma combinação simples.

Igualmente, há alguns professores do grupo que não fizeram a

caracterização do conceito de combinações simples de maneira adequada, não

permitindo ao pesquisador identificar o nível de compreensão que eles têm a

respeito do conceito. Esse fato pode ser observado nas seguintes respostas:

São as possíveis combinações dos elementos sem que a ordem interfira. Em que momento? Um exemplo real como uma competição de 10 participantes determinar as possibilidades que podem ser formadas entre os 4 primeiros colocados (P22)

Como eu não trabalho com estes conceitos no momento, eu não me lembro deles (P3)

Árvore das possibilidades, Em que momento? A partir da 5ª série – problemas de contagem (P15)

O professor P22 apresenta um exemplo que não se aplica às

combinações simples, mas de arranjos simples, embora destaque que a ordem

entre os elementos não seja considerada.

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Identificou-se entre as respostas uma tendência em definir combinações

simples como uma situação que não considera a ordem dos elementos, em

oposição àquela de um arranjo simples, não sendo esta definição suficiente

para que seja possível identificar os objetos que atendem ao enunciado de um

problema de contagem, ou seja, ela não explicita de que maneira os objetos

serão escolhidos para constituírem os agrupamentos que deverão ser

considerados.

Mais uma vez, é imperioso considerar que devam ser desenvolvidas

atividades que mobilizem diferentes estratégias pelo grupo de professores no

sentido de haver ampliação da imagem conceitual desse conceito (Tall e

Vinner, 1981) requerida de um professor da Educação Básica e, também, em

relação aos conhecimentos pedagógicos de conteúdo (Shulman, 1986) de

maneira que todo o grupo de professores esteja preparado para ensinar esses

conteúdos para seus alunos.

No que se segue vamos analisar respostas às perguntas que estão

relacionadas com as dificuldades que os alunos têm em resolver problemas de

contagem e às dificuldades que os professores têm com o ensino desses

problemas. Além disso, analisamos as opiniões dos professores sobre o

desenvolvimento deste tema nos livros didáticos que eles adotam.

4.3.7 Sobre o conhecimento pedagógico dos professores a respeito das dificuldades que os alunos têm na resolução de problemas de contagem

A fim de identificar concepções dos professores sobre a maneira como

eles identificam as dificuldades de seus alunos quando se deparam com a

resolução de problemas de contagem, tomando por referência as experiências

que cada professor tem quando ensina tal conteúdo, propusemos a seguinte

pergunta:

Que dificuldades os alunos têm para lidar com situações-problema que envolvem o raciocínio combinatório na Educação Básica?

Dentre as dificuldades relatadas, apresentamos algumas, como a seguir:

O maior problema é a interpretação dos problemas, os cálculos são mais fáceis, mas isso no Ensino Médio (P18, P21)

Se o professor envolve situações com relação a realidade do aluno ou algo que ele se interesse, o raciocínio ocorre de forma simples e a assimilação com o conteúdo e atividade também se desenvolve. Agora, quando se passa conceito e fora do que ele sabe e se interessa a compreensão fica difícil (P22)

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Quando as situações são contextualizadas e significativas não há dificuldades, porém quando generalizamos não há “relação” com o contexto (P23)

A dificuldade é de diferenciar, quando o agrupamento é uma combinação ou um arranjo simples (P6)

Confundem o Arranjo com a Combinação (P9)

Falta raciocínio lógico (P15)

Visualizar; temos que mostrar vários exemplos (P16)

Eles têm muita dificuldade de entender (compreender) os problemas (P3)

Os professores indicaram que, de modo geral, seus alunos têm

dificuldades em diferenciar situações de arranjos simples de situações de

combinações simples.

Dentre as respostas selecionadas acima se pode verificar que nenhuma

delas se referiu às dificuldades relacionadas com o desenvolvimento do

raciocínio combinatório.

Confrontando essas respostas com aquelas que dizem respeito às

caracterizações dos arranjos simples e das combinações simples feitas

anteriormente pelo grupo de professores, era esperado que eles fizessem tais

referências como acima uma vez que também eles têm dificuldades para

caracterizar esses dois conceitos e, possivelmente, passam essas

inseguranças para seus alunos.

Por essa razão consideramos, mais uma vez, a necessidade de uma

adequada preparação do grupo de professores na sequência didática de

maneira a promover a ampliação conceitual desses dois conteúdos em

conjunto e em relação às práticas pedagógicas, considerando Tall e Vinner

(1981) e Shulman (1986).

4.3.8 Sobre a opinião do professor em relação aos esclarecimentos oferecidos pelos livros didáticos de modo que ele possa ensinar os problemas de contagem na Educação Básica

A fim de conhecer e identificar as concepções dos professores sobre o

papel que desempenha o livro didático nos processos de ensino e

aprendizagem dos problemas de contagem na Educação Básica propomos a

seguinte pergunta:

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Os livros didáticos são esclarecedores em relação ao ensino e à

aprendizagem de conceitos envolvendo o raciocínio combinatório para

professores e alunos? ( ) Sim ( ) Não. Por quê?

Chamou nossa atenção o fato de que seis professores responderam

igualmente “não”, sem esclarecerem o porquê dessa negativa, bem como o

total de quatro respostas deixadas em branco. Ressalte-se que, por essa

razão, a análise que se segue só conta com as respostas de metade dos

professores do grupo.

De modo geral identificou-se pelas respostas dos professores que os

livros didáticos atendem, em parte, aos anseios dos professores.

Eu gosto muito dos livros de Ensino Fundamental principalmente dos autores: Luis Márcio Imenes e Luis Roberto Dante, em todos os volumes há situações de Raciocínio combinatório, inclusive nos de 1ª a 4ª séries (P23)

Os exercícios (a maioria) estão relacionados com o cotidiano, isso ajuda muito (P16)

Quando faço a leitura, eu acabo entendendo, mas como não uso constantemente acabo esquecendo (P3)

Alguns professores têm críticas ao livro didático, como se consta nas

respostas a seguir:

Nem sempre os livros didáticos são esclarecedores em relação ao ensino aprendizagem de conceitos envolvendo o raciocínio combinatório para professores e alunos porque não temos orientação técnica sobre o conteúdo, só a leitura do livro é pouco para compreender (P5)

São introduzidos os temas, mas sem dar uma continuidade (P18)

Depende, cada livro possui conceitos e definições diferenciados, assim as aplicações ocorrem de formas e alternativas diferentes para a aplicabilidade do conteúdo em sala de aula. Acho que os livros tem que ter mais exemplos da realidade dos alunos, assim facilita na compreensão (P22)

Falta situações de aprendizagem (cotidiano) (P15)

Além disso, dois professores fizeram comparações dos livros com os

cadernos, como se constata a seguir:

Os alunos recebem os livros didáticos, mas não os carregam para a Escola. As apostilas não são esclarecedoras o suficiente. Servem como uma diversificação do trabalho (P7)

Muitos livros têm exemplos fora da realidade. Já as apostilas têm exemplos melhores (P9)

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As considerações que os professores apresentaram nas respostas

acima remetem à necessidade de os professores estarem constantemente

fazendo análises e reflexões (não somente em formações continuadas como

esta em atendimento à solicitação feita pelo proponente) acerca das escolhas

dos livros didáticos e suas orientações bem como às sugestões de atividades

presentes nos Cadernos do Professor e do Aluno - materiais de apoio

distribuído pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo em

complementação ao Currículo de São Paulo (2010) -, como uma maneira de

consolidar os conhecimentos curriculares dos professores da rede de ensino,

um dos conhecimentos ao qual se refere Shulman (1986) como indispensáveis

à prática docente.

4.3.9 Sobre o conhecimento pedagógico dos professores a respeito das dificuldades que ele tem para preparar aulas que envolvem o raciocínio combinatório na Educação Básica

Com o propósito de identificar concepções e conhecimentos dos

professores acerca das dificuldades que eles têm quando da preparação de

suas aulas relativamente ao conteúdo de problemas de contagem tomando por

referência as experiências que eles acumularam na prática, propusemos a

seguinte pergunta:

Que dificuldades você tem para preparar aulas que envolvam o raciocínio

combinatório na Educação Básica?

Dentre as dificuldades relatadas pelos professores, apresentamos as

respostas a seguir:

Criação de exemplos que possam ser assimilados pelos estudantes (P7)

Eu tenho dificuldades para diferenciar o que é um arranjo ou uma combinação (P11)

Para preparar as aulas não encontro dificuldades, procuro selecionar os exercícios e passo muitos para eles fazerem até assimilar bem. Sempre aparece exercícios muito difícil de resolver aí eu encontro dificuldade, primeiro eu tento resolver, depois eu passo em sala de aula (P19)

Normalmente eu não tenho dificuldade (mas esqueço os conceitos quando fico algum tempo sem praticá-los) (P21)

Das situações problemas para o abstrato (uso de fórmulas) (P23)

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Minha dificuldade é mostrar a diferença entre uma situação e outra. Exemplo: uma situação de permutação ou de arranjo ou de princípio multiplicativo, ou de combinação (P9)

Normalmente eu não tenho dificuldade (mas esqueço dos conceitos quando fico algum tempo sem praticá-los) (P3)

As respostas evidenciam que parte dos professores do grupo ainda não

está preparada para desenvolver atividades com problemas de contagem na

Educação Básica, uma vez que eles relatam dificuldades conceituais

associadas com as noções básicas de combinatória e àquelas associadas com

os conhecimentos pedagógicos desses conteúdos, segundo pressupostos de

Shulman (1986).

Chamou nossa atenção as respostas fornecidas pelos professores P11 e

P21 uma vez que, embora o objetivo do tópico com essa pergunta - e de todo o

questionário - fosse o de identificar as dificuldades acerca dos conhecimentos

pedagógicos de conteúdo, as respostas que esses professores apresentaram

evidenciaram que, antes de tudo, eles têm dificuldades em relação aos

conceitos, ou a falta deles, ou seja, os professores têm dificuldades acerca do

conteúdo problemas de contagem e, desse modo, como esperado, se refletem

quando da preparação de suas aulas a respeito do tema. É claro que esses

conhecimentos estão articulados e, como tal, não se esperaria algo diferente.

Constatou-se que a maioria dos professores do grupo se utiliza para o

preparo de suas aulas, basicamente, de conteúdos e exercícios presentes nos

livros didáticos. Esses, por sua vez, e em sua maioria, privilegiam o ensino a

partir das definições e de problemas tipo como exemplos.

Talvez essa possa ser uma das razões do porque que o repertório de

estratégias e procedimentos de parte dos professores do grupo, para o ensino

dos problemas de contagem, seja tão fragilizado e limitado e faça com que

grande parte deles não se sinta seguro em ensinar problemas de contagem.

Também deve ser considerado que, por ora, o universo de professores

que atuam no Ensino Médio ensinando os conteúdos das noções básicas de

combinatória é o que comporia o grupo conforme as características citadas

acima, e não todos os professores do gruoo que atuam na Educação Básica.

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Dando prosseguimento à análise das questões propostas no

questionário Q3, em seguida tratamos da pergunta relacionada com os

conhecimentos curriculares .

4.3.10 Sobre a importância que os professores conferem à introdução de conceitos que envolvem o raciocínio combinatório no Ensino Fundamental

A fim de identificar as concepções dos professores em relação ao ensino

das noções básicas relacionadas com o uso do raciocínio combinatório para

alunos do Ensino Fundamental, considerando os aspectos curricular,

pedagógico e de conteúdo como componente da experiência profissional

docente, segundo Shulman (1986), foi proposta a seguinte pergunta:

Você considera importante e indispensável introduzir conceitos básicos

envolvendo o raciocínio combinatório no Ensino Fundamental? Por quê?

Nosso propósito com esta pergunta foi o de conhecer a opinião,

concepções e crenças de cada professor em relação à implementação das

diretrizes que dão conta de ensino e da aprendizagem de conteúdos

relacionadas com as noções básicas de combinatória - problemas de contagem

- no Ensino Fundamental, conforme recomendações dos PCN (1997, 1998) e

do Currículo de São Paulo (2010), por exemplo.

Alguns dos professores defendem a introdução de problemas de

contagem no Ensino Fundamental para facilitar o trabalho do professor do

Ensino Médio, como se pode constatar pelas respostas dos professores P8 e

P13, a seguir:

Sim, porque quando o aluno entrar no Ensino Médio, já vai ter a noção de raciocínio combinatório (P8)

Sim, tudo ajuda o professor no Ensino Médio (P13)

Apesar da justificativa apresentada por esses dois professores ser

plausível eles não indicaram outras razões mais apropriadas para a introdução

deste tema no Ensino Fundamental. Convém ressaltar, porém, que essa

introdução não tem apenas um caráter propedêutico.

O estudo de noções básicas de combinatória no Ensino Fundamental

decorre da ampliação do conceito de multiplicação de números naturais

segundo diferentes abordagens: situações de multiplicação comparativa, ideia

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de proporcionalidade, configuração retangular e ideia de combinatória (PCN,

1997, p. 109-111). No caso da importância da exploração dessas quatro

diferentes abordagens, assim se manifestam os autores dos PCN (1997):

Uma abordagem frequente no trabalho com a multiplicação é o estabelecimento de uma relação entre ela e a adição. [...] No entanto, essa abordagem não é suficiente para que os alunos compreeendam e resolvam outras situações relacionadas à multiplicação, mas apenas aquelas que são essencialmente situações aditivas. [..] Assim, como no caso da adição e da subtração, destaca-se a importância de um trabalho conjunto de problemas que explorem a multiplicação e a divisão, uma vez que há estreitas conexões entre as situações que os envolvem e a necessidade de trabalhar essas operações com base em um campo mais amplo de significados do que tem sido usualmente realizado (PCN, 1997, p. 108-109).

Também identificamos que alguns poucos professores ainda não

reúnem conhecimentos necessários para fundamentar a posição que eles têm

acerca do ensino dos problemas de contagem desde as séries/anos iniciais do

Ensino Fundamental, estendo-se até o Ensino Médio, como se pode identificar

pela resposta do professor P11, a seguir:

Sim, eu acho indispensável ensinar os conceitos básicos para aprender o raciocínio combinatório; porém não sei explicar como e o que explicar com o conceito básico (P11)

Assim, julgamos imprescindível fomentar reflexões e discussões com

esse grupo de professores quando do desenvolvimento da sequência didática

acerca da importância que os resultados de pesquisas, as orientações

prescritas nos PCN (1997, 1998, 1999), e os currículos apresentam de maneira

que o raciocínio combinatório possa ser desenvolvido pelos professores com

os alunos, desde as séries iniciais, no sentido de permitir a construção de

representações e a aplicação do Princípio Multiplicativo na resolução de

problemas de contagem, ampliando os conhecimentos curriculares segundo a

perspectiva de Shulman (1986).

Por outro lado, há professores que afirmam não considerar importante

ou não sabem como pode ser feito a introdução do raciocínio combinatório no

Ensino Fundamental, conforme as respostas apresentadas a seguir:

Creio que não é necessário introduzir o raciocínio combinatório no Ensino Fundamental (P9)

Acho bem difícil para o Ensino Fundamental (P10)

Não, necessariamente (P12)

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Não, eles ainda não estão preparados, ainda tem muita dificuldade na interpretação de problemas (P18)

Sim, eu acho indispensável ensinar os conceitos básicos para aprender o raciocínio combinatório; porém não sei explicar como e o que explicar com o conceito básico (P11)

As respostas que se contrapõem à introdução dos problemas de

contagem no Ensino Fundamental indicam como motivo o fato de que muitos

professores não teriam conhecimentos suficientes para desenvolver essa

temática em suas aulas. Essas respostas, em número de três, também

destacam a falta de preparo dos alunos.

Considerando as justificativas que foram apresentadas pelo grupo de

professores à questão da importância da introdução de noções básicos de

resolução de problemas de contagem no Ensino Fundamental, feitas por cada

professor após reflexões individuais, estamos fortemente convencidos da

necessidade de promover atividades com o grupo de professores no sentido de

permitir que eles venham a refletir, discutir e se apropriar de conhecimentos de

conteúdo, pedagógicos de conteúdo e curriculares, na perspectiva de Shulman

(1986) e na necessidade de ampliação da imagem conceitual que eles têm

acerca das noções básicas de combinatória, na perspectiva de Tall e Vinner

(1981).

4.4 Breve síntese da análise das respostas aos ques tionários

Em relação aos conhecimentos de conteúdo do grupo de professores,

identificamos que os professores possuem lacunas em relação aos

conhecimentos acerca da existência de estratégias diversificadas para a

resolução de problemas de contagem e da mobilização destas.

Por conta disso, esses professores valorizam apenas o ensino e a

resolução de problemas de contagem realizados por meio do uso de alguma

fórmula, e consideram o uso de uma representação para obter a solução de um

problema de contagem como algo que para eles não tem muita credibilidade,

ou seja, como “algo menor”, frente à resolução de um problema via plicação de

fórmulas.

Portanto, na maioria das vezes, talvez alguns desses professores não

indiquem as representações como uma possibilidade para ensinar o conteúdo

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problemas de contagem com seus alunos devido à essas lacunas que

pudemos identificar.

Por outro lado, consideramos que ensinar problemas de contagem na

Educação Básica iniciando pela resolução de problemas como o uso

prevalente na utilização de alguma fórmula não contribui para o

desenvolvimento do raciocínio combinatório pelos alunos e, por conta disso, faz

com que eles se afastem cada vez mais da possibilidade de virem a construir

alguma representação como uma alternativa viável para determinar a solução

de problemas de contagem que não seja, necessariamente, por meio do uso de

uma ou mais fórmulas.

Os PCN (1997, 1998, 1999) e o Currículo de São Paulo (2010) fazem

recomendações quanto ao desenvolvimento do raciocínio combinatório desde

as séries/anos iniciais do Ensino Fundamental de modo a favorecer a

construção de representações e aplicação dos Princípios Multiplicativo e

Aditivo.

Em relação aos conhecimentos pedagógicos de conteúdo relacionados

ao ensino dos problemas de contagem na Educação Básica, identificamos nas

respostas dos professores do grupo de que eles acreditam que para ensinar

esses conteúdos é preciso mobilizar, em sequência, as seguintes ações:

apresentar as definições dos conceitos (mesmo que não formalmente, ainda);

identificar os tipos de agrupamentos de objetos presentes no enunciado dos

problemas e, por fim, aplicar uma fórmula que dá conta de computar o total de

possibilidades, a qual vem a ser a solução do problema.

Consideramos, tomando por base os dados obtidos das respostas aos

questionários pelo grupo de sujeitos desta investigação que essa opção

metodológica sofre influência direta da maneira como o professor entende

devam ser desenvolvidos os processos de ensino e de aprendizagem, em

consequência das concepções que alguns deles têm quanto à valorização e à

influência que os aspectos de conteúdo representam para a consecução

desses processos, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

Tomando, por exemplo, conteúdos de álgebra ou de geometria que

valorizam o uso de uma fórmula em alguns livros didáticos da Educação

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Básica, o entendimento que esses professores têm quanto ao ensino e à

aprendizagem dos problemas de contagem não seria diferente daquele que

essas áreas da Matemática se utilizam.

Portanto, consideramos que a prática dos professores do grupo - após

análise dos dados constantes dos três questionários iniciais, e antes de iniciar-

se a fase de intervenção - fica comprometida no que diz respeito ao

oferecimento de diferentes estratégias que possibilitem ao aluno a

compreensão e a apropriação dos conceitos subjacentes à resolução dos

problemas de contagem, corroborando com uma imagem conceitual (Tall &

Vinner, 1981) distante daquela requerida para um professor que deve promover

o ensino e a aprendizagem de problemas de contagem a seus alunos da

Educação Básica.

Particularmente, este comprometimento refere-se ao fato de que esses

professores não se sentem preparados para oferecer oportunidades a seus

alunos de maneira a favorecer a construção de uma estrutura cognitiva

abrangente que englobe as representações gráficas e as descrições acerca de

propriedades, estratégias e procedimentos relacionados com a apropriação

desses conceitos que, por sua vez, favoreceriam a compreensão das noções

concernentes aos conceitos básicos de combinatória necessários à resolução

dos problemas de contagem propostos aos alunos da Educação Básica.

A análise dos dados empreendida até aqui teve como objetivo conhecer

e avaliar os conhecimentos de conteúdo e pedagógicos de conteúdo que cada

professor reunia antes do início da sequência didática, no que se refere ao

ensino e à aprendizagem dos problemas de contagem, na perspectiva de

Shulman (1986).

Foi preciso identificar as concepções dos professores do grupo acerca

dos conhecimentos que eles conheciam para a introdução de noções de

combinatória no Ensino Fundamental - prescrito nos PCN (1997, 1998) e no

Currículo de São Paulo (2010) - bem como identificar, quantificar e conhecer o

domínio que eles tinham acerca desse conteúdo à época, inclusive no que se

refere à identificar as concepções e crenças quanto ao uso de fórmulas para a

resolução dos problemas de contagem, de maneira a corroborar com os

objetivos da sequência didática que deveria ser preparada consoante também

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com as orientações curriculares e os resultados de pesquisas dos teóricos que

escolhemos para tal.

Concluímos, com base nos dados analisados até aqui, que grande parte

dos professores tinha conhecimentos de conteúdo e pedagógicos do conteúdo

de noções de combinatória distante daquilo que seria uma prática profissional

docente transformadora, de tal modo que esta possa promover o

desenvolvimento de diferentes aspectos relacionados à implementação de um

currículo.

A análise desses dados foi determinante para empreender reflexões que

culminaram com a concepção, seleção e elaboração das situações-problema

de contagem constantes da sequência didática desenvolvida na fase de

intervenção.

Neste Capítulo 4 fizemos a análise das respostas que os professores

apresentaram às questões propostas nos três primeiros questionários desta

investigação, componentes da fase de design.

O Capítulo 5, a seguir, apresenta a análise dos dados acerca do

desenvolvimento da fase de intervenção desta investigação e dos dados

colhidos com as respostas ao questionário Q4.

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5. ANÁLISES DOS DADOS DA SEQUÊNCIA DE ENSINO

Neste capítulo vamos apresentar uma análise de nossa intervenção

junto ao grupo de professores. Para tanto, selecionamos as atividades

desenvolvidas que provocaram um nível maior de reflexões.

Inicialmente explicitamos como foi o processo de intervenção e

justificamos nossas escolhas, como a metodologia Design Experiments,

segundo a perspectiva de Cobb et al (2003), e a seleção e organização das

situações-problema.

Ao longo do texto fazemos referência à fundamentação teórica que

sustenta a análise dos dados dessa fase. Reiteramos que para essa análise

utilizamos a noção de imagem conceitual estabelecida por Tall e Vinner (1981)

e discutimos os aspectos intuitivo, algorítmico e formal do conhecimento

segundo Fischbein (1994). Além disso, nos baseamos na categorização dos

conhecimentos necessários ao ensino, defendida por Shulman (1986).

Em relação à formação de professores nos valemos das ideias que

Zeichner (1993, 2003) acerca da importância de uma formação que favoreça o

cultivo da atitude reflexiva individual e coletiva em relação à prática de ensino.

Ao final deste capítulo é apresentada uma análises sobre a terceira fase

da coleta de dados que foi dedicada à avaliação e às reflexões dos professores

sobre os conhecimentos pedagógicos e de conteúdos tratados na fase de

intervenção. Além disso, discutimos as reflexões dos professores sobre as

orientações curriculares a respeito do ensino dos problemas de contagem no

Ensino Fundamental.

5.1 Sobre os procedimentos metodológicos para a fase de intervenção

Os encontros de ensino, componentes da sequência didática na fase de

intervenção foram em número de sete, com duração aproximada de 4 horas

cada, e se estenderam de 12 de maio de 2011 a 18 de setembro de 2011, em

encontros quinzenais, ou mais espaçados conforme a disponibilidade dos

sujeitos da pesquisa.

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Essa fase de intervenção consistiu na aplicação de uma sequência

didática aos professores, abordando o processo de ensino e de aprendizagem

de noções relativas aos problemas de contagem. Nesta fase foram adotados

princípios da metodologia Design Experiments, segundo a perspectiva de Cobb

et al (2003).

O propósito desta fase de intervenção foi o de investigar se um trabalho

que explore a utilização de representações e o desenvolvimento do raciocínio

combinatório por meio do princípio multiplicativo e do princípio aditivo, sem o

uso de fórmulas, pode favorecer a ressignificação dos conhecimentos dos

professores sobre os conteúdos relacionados aos problemas de contagem bem

como a respeito do seu ensino, sobretudo no Ensino Fundamental, objeto que

é da questão principal desta pesquisa.

Assim, fazemos considerações sobre os vários elementos que

interagiram ao longo desta etapa, quais sejam: as distintas representações

utilizadas pelos professores; os registros que permitiram a interpretação e as

análises dos dados; os argumentos formulados pelos professores; as regras de

organização do grupo para o desenvolvimento das tarefas; os materiais

utilizados; as formas de mediação que promovemos – componentes da

ecologia da aprendizagem, segundo Cobb et al (2003).

A escolha dessa metodologia deriva do nosso interesse em desenvolver

uma investigação que fosse realizada em um ambiente similar àquele da sala

de aula (com a presença de professores da Educação Básica) - próprio para a

construção e desenvolvimento de conhecimentos de conteúdo e pedagógicos.

Segundo Cobb et al (2003), a metodologia de pesquisa de que trata o

Design Experiments é tal que atende à proposição de uma formação

continuada de professores, uma vez que é formativa e se caracteriza por um

progressivo refinamento da sequência didática elaborada inicialmente para a

fase da intervenção.

A sequência didática inicialmente elaborada foi sendo modificada

levando em conta as reflexões dos professores em cada encontro sobre as

estratégias apresentadas e discutidas para a resolução de problemas de

contagem. Seguimos, assim, orientações da metodologia Design Experiments.

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Os dados dessa fase foram coletados por meio da gravação dos

encontros de ensino e por meio dos protocolos dos professores, bem como as

anotações do pesquisador.

Procuramos identificar e registrar as diferentes estratégias utilizadas

pelos professores para resolver problemas de contagem ao longo dos

encontros de ensino, sobretudo em relação:

� Às representações;

� À identificação das características de diferentes agrupamentos de

objetos e a maneira de proceder a contagem;

� À utilização de fórmulas;

� À identificação de diferenças e semelhanças entre diferentes

soluções para um mesmo problema;

Em linhas gerais, nosso propósito foi o de identificar e conhecer - à luz

dos registros verbais e por escrito dos professores - individual ou em grupo - os

conhecimentos e concepções de maneira a ser possível relacionar todos os

aspectos observados ao longo dos encontros de ensino e com os quais será

possível construir um conjunto de dados que reúnem as experiências

vivenciadas por esse particular grupo de professores e, com ele, realizar

análises acerca dos aspectos já destacados.

A avaliação feita encontro a encontro, com resultados parciais obtidos ao

término de cada um deles define - em conjunto com as pertinentes reflexões -

as reformulações que se fazem necessárias ao desenvolvimento do projeto -

no decorrer do experimento - até que sejam transpostos todos os obstáculos

encontrados pelos professores.

Além disso, também foram considerados os obstáculos que o

pesquisador considerou ainda não totalmente esclarecidos, bem como a

necessidade de que fossem trabalhados todos os pontos que se constituam em

entraves ou em concepções equivocadas dos professores em relação aos

conhecimentos do conteúdo explorado e os conhecimentos pedagógicos

necessários para ensiná-lo.

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Finalmente, outra razão que julgamos oportuno ressaltar para explicar

nossa opção por essa metodologia diz respeito à fundamentação teórica que

amparou a realização desta investigação no que se refere à formação de

professores.

As seguintes ideias foram consideradas relevantes para a elaboração e

o desenvolvimento da sequência didática:

• A proposição de situações-problema de contagem variadas,

dentre elas as que mostrem que nem sempre o conhecimento da

(s) fórmula (s) é capaz de dar conta da solução, para o confronto

com algumas situações-problema propostas no questionário Q2

(que serão reaplicadas) em que tal situação ocorreu com alguns

dos professores.

• As definições, representações e significados de agrupamentos de

objetos que devem ser considerados segundo características

próprias desses objetos conforme a proposição de situações-

problema de contagem.

• O conhecimento e a aplicação dos Princípios Multiplicativo e

Aditivo em conjunto, explorando o raciocínio combinatório, para

ampliar a imagem conceitual a respeito da temática, segundo

pressupostos de Tall e Vinner (1981).

• A construção de soluções para problemas de contagem com a

utilização de uma ou mais representações de maneira que os

professores possam conhecer e poder mobilizar diferentes

estratégias úteis à resolução de problemas de contagem.

• A utilização frequente do raciocínio combinatório para encaminhar

a solução de um problema de contagem, em detrimento ao uso

sistemático de alguma fórmula, ao menos quando o conteúdo

estiver sendo desenvolvido para alunos do Ensino Fundamental,

de modo à atender o que é prescrito nos PCN (1997, 1998) e no

Currículo de São Paulo (2010).

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• A aplicação do Princípio Multiplicativo em conjunto com as

características dos elementos presentes nos agrupamentos

caracterizados como Arranjos, Permutações e Combinações para

dar conta de deduzir a fórmula que permite determinar a

totalidade de possibilidades que satisfaz cada um desses

agrupamentos de maneira que possam ser desenvolvidos com os

alunos do Ensino Médio, conforme prescrito nos PCN (1999) e no

Currículo de São Paulo (2010).

• A mediação do pesquisador para o encaminhamento das

reflexões e discussões de todo o grupo frente à apresentação de

soluções às situações-problema propostas e também quanto à

motivação dos professores para dar início à apresentação de

encaminhamentos de soluções nos casos em que houve

impasses para a compreensão dos objetivos da proposição,

segundo pressupostos de Zeichner (1993, 2003, 2008).

Duas questões principais permearam nossas reflexões e as discussões

que foram encaminhadas junto ao grupo de professores: A primeira delas

refere-se aos conhecimentos de conteúdo que um aluno do Ensino

Fundamental precisa de fato conhecer e se apropriar relativamente às noções

básicas de combinatória (problemas de contagem) para estar preparado para

compreender e se apropriar de novas e também quando vir a sistematizar

esses e outros conhecimentos de conteúdo concernentes a essas noções

quando estas voltarem a ser desenvolvidas no Ensino Médio. Nesse segmento

esse conteúdo será desenvolvido de maneira a atender a objetivos diferentes

daqueles que são próprios do Ensino Fundamental, quais sejam: os relativos

aos conceitos de combinatória que precisam ser sistematizados; as fórmulas

que deverão ser deduzidas; a proposição de problemas de contagem que

servem de motivação e base aos conteúdos de probabilidade e estatística e a

proposição de problemas cuja resolução permite aprofundar sobre novos

conhecimentos que servem como exemplos de modelos para outros conteúdos

correlatos. Quanto à segunda questão, ela diz respeito aos conhecimentos

necessários a um professor para auxiliar seus alunos da Educação Básica a

compreender os conceitos concernentes aos problemas de contagem, tanto os

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de conteúdo quanto os pedagógicos de conteúdo e os curriculares (Shulman,

1986) à luz do que é preconizado nas orientações constantes do Currículo de

São Paulo (2010) e nos PCN (1997, 1998, 1999).

5.2 Desenvolvimento da fase de intervenção

A fase de intervenção ocorreu ao longo de sete encontros (o primeiro

encontro foi destinado à aplicação dos questionários da primeira fase – fase de

design).

As reflexões, concepções e análises dos professores acerca da

formação (terceira fase) foram realizadas individualmente por cada professor

do grupo no período compreendido entre o penúltimo e o último dos encontros.

O tempo de duração de cada encontro foi de aproximadamente quatro

horas (das 13h30min horas às 17h30min horas, com intervalo para lanche).

No quadro a seguir apresentamos um resumo de como se

desenvolveram os encontros:

Quadro 2. Atividades e Objetivos desenvolvidos na sequência didática

Encontro Data

Atividades desenvolvidas

Objetivos

12/5/11

Apresentação do pesquisador; Uma breve explanação sobre o andamento da pesquisa e sobre as etapas que acontecerão no Observatório; Aplicação dos três primeiros questionários.

Socialização e conhecimento dos sujeitos de pesquisa.

26/5/11

Resolução de situações-problema de contagem utilizando-se da contagem direta dos elementos através do uso de uma representação, em especial a árvore de possibilidades; Apresentação e uso do Princípio Multiplicativo.

Mostrar como o uso de representações, tais como: árvore de possibilidades e tabela de dupla entrada são suficientes para a obtenção da solução à problemas de contagem via contagem direta das possibilidades, mormente nos casos em que o quantitativo de objetos presentes na situação não é tão grande pois, caso contrário, pode vir a inviabilizar a construção de uma dessas representações num intervalo

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de tempo e trabalho reduzidos.

16/6/11

Resolução de situações-problema de contagem utilizando-se da árvore de possibilidades, do raciocínio combinatório e do Princípio Multiplicativo.

Mostrar que problemas de contagem podem ser resolvidos com a ajuda da árvore de possibilidades e do Princípio Multiplicativo sem a necessidade do uso de alguma fórmula.

04/8/11

Resolução de situações-problema de contagem em que o Princípio Aditivo está presente e se mostra necessário.

Identificar a necessidade do uso do Princípio Aditivo em conjunto com o Princípio Multiplicativo em situações-problema de contagem.

18/8/11

Resolução de situações-problema que recorrem à ordenação de parte ou de todos os objetos em uma situação-problema de contagem (Arranjos simples) e de Arranjos com repetição.

Retomada dos objetivos do encontro anterior através de outras situações-problema cuja resolução envolve o raciocínio combinatório, o Princípio Aditivo, o Princípio Multiplicativo e o trabalho com diferentes representações, de modo a permitir a institucionalização dos Princípios.

25/8/11

Resolução de situações-problema para retomar o conceito de permutações simples; Resolução de situações-problema para retomar o conceito de permutações com objetos repetidos

Caracterizar (sistematizar) os conceitos relativos a uma permutação simples e aqueles em relação com uma permutação em que nem todos os objetos são distintos, bem como encontrar a maneira de efetuar a contagem de todos os agrupamentos envolvidos em uma situação-problema relacionada.

04/9/11

Resolução de situações-problema para retomar o conceito de combinações simples;

Caracterizar (sistematizar) os conceitos relativos a uma combinação simples, bem como encontrar a maneira de efetuar a contagem de todos os agrupamentos envolvidos em uma situação-problema relacionada.

Resolução de duas situações-problema que foram objeto de provas de Concursos para a Prefeitura da Cidade de São Paulo; Resolução de duas

Caracterizar (sistematizar) as permutações circulares e resolver situações pendentes de encontros anteriores.

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18/9/11 situações-problema com o objetivo de sistematizar (caracterizar) as permutações circulares; Resolução de outras situações-problema de contagem.

Participou da fase de intervenção um total de 23 professores (houve

presença variável); pelo menos dois professores/pesquisadores do

Observatório da Educação da CAPES/UNIBAN (dispostos na sala em carteira

individual ou em grupos próprios formados somente por estes), tendo estes

últimos o papel de acompanhar os trabalhos realizados em cada encontro, por

meio da observação do grupo e/ou do registro de dados considerados

relevantes; o Orientador desta pesquisa (presente em alguns encontros) e

colegas do Curso de Pós Graduação em Educação Matemática da UNIBAN

(presentes em alguns encontros).

O material utilizado para o desenvolvimento das atividades e resolução

das situações-problema de contagem, em cada encontro de ensino, foram

fichas de atividades com espaço para anotações e, em alguns encontros, o uso

de material concreto.

Todos os textos do material impresso entregue aos professores,

encontro a encontro, encontram-se nos Apêndices deste trabalho, bem como a

reprodução, na íntegra, de algumas das soluções de problemas e das reflexões

e discussões encaminhadas pelo grupo, quando foram possíveis de serem

capturadas em vídeo e/ou som e reproduzidas.

O conjunto de dados em que nos apoiamos para a análise dos dados da

fase de intervenção inclui as produções dos professores participantes, as

filmagens dos encontros (alguns) e os apontamentos que fizemos a partir das

observações in loco durante os encontros.

Considerando a organização dos professores nos grupos menores, as

discussões entre os participantes em cada grupo permitiram, igualmente,

identificar as dificuldades experimentadas pelos professores e a liberdade que

eles tiveram de discutir com professores de outros grupos na busca de

soluções para essas dificuldades.

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Cabe destacar que, embora as discussões tenham sido realizadas no

interior de cada grupo na maioria dos encontros, - variando conforme a

situação-problema que estava sendo discutida - foi solicitada a cada professor

que elaborasse seu relatório (mas nem todos o fizeram e entregaram e, por

conta disso, não pudemos contar com esses dados para ajudar na análise e

nas reflexões que era feitas encontro a encontro).

Essa estratégia - no caso em que a maioria dos professores tivesse

entregado o relatório individual (em apenas dois encontros, houve o caso em

que um ou outro professor entregou o seu relatório) - possibilitaria que, mesmo

após o debate de ideias entre os elementos dos grupos, cada professor teria a

liberdade de refletir e expressar suas impressões e desse modo o pesquisador

reuniria um número maior de dados pessoais e coletivos.

Com certeza esses dados enriqueceriam a análise em relação a algum

detalhe individual que poderia vir a passar despercebido caso os relatos

tivessem sido elaborados em grupos ou somente com anotações que o

pesquisador pode fazer.

Além do mais, esses registros amiúde favoreceriam a percepção de

pontos que precisariam ser colocados em pauta para a reflexão do grupo

inteiro. Foi uma pena que não tivéssemos tido a oportunidade de obtê-los.

Dessa forma a análise dos dados, que será apresentada em seguida,

decorre essencialmente de observações qualitativas que levaram em conta a

forma como interagiram ou funcionaram os elementos presentes na sequência

didática, pertinentes à ecologia de aprendizagem de nosso estudo, bem como

à luz dos aportes teóricos que fundamentaram esta pesquisa.

Por conta disso, as ações que envolveram o grupo de professores

durante o desenvolvimento da sequência didática contaram com os seguintes

objetivos:

• Refletir sobre noções consideradas fundamentais para a

compreensão dos conceitos de combinatória que são necessários

para a obtenção da solução de um problema de contagem.

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• Refletir sobre o ensino dos caminhos para a busca da solução (ou

soluções), preferencialmente sem o uso de fórmulas, utilizando do

raciocínio combinatório.

• Refletir sobre as maneiras para instrumentalizar ações com vistas à

percepção e ao entendimento sobre qual (quais) conceito (s) está

(ão) envolvido (s) em cada problema de contagem.

• Refletir sobre a importância da utilização de diferentes

representações que possam dar conta da obtenção da solução (ou

soluções) de um problema de contagem e sugerir seu uso para os

alunos.

• Refletir sobre os conhecimentos de conteúdo e pedagógicos bem

como o domínio de procedimentos associados ao ensino e à

resolução de problemas de contagem.

• Procurar identificar e compreender as dificuldades que um aluno do

Ensino Fundamental enfrenta ao iniciar o estudo desse conteúdo,

mormente em relação à compreensão do que lê no enunciado de

uma situação-problema de contagem.

• Procurar identificar e compreender os encaminhamentos que um

aluno da Educação Básica toma quando está diante dos mesmos

desafios (inicialmente tomando alunos do Ensino Fundamental como

possíveis alunos que enfrentariam aquela situação).

• Discutir sobre possíveis estratégias que um professor poderia utilizar

para auxiliar os alunos a superar essas dificuldades, utilizando o

raciocínio combinatório e as representações, como fundamentos

básicos necessários.

Foram oferecidas diferentes oportunidades para que os professores

pudessem construir os conhecimentos acima indicados durante o

desenvolvimento da proposta da sequência didática, considerando a variedade

e o número de situações-problema que foram propostas serem resolvidas e

discutidas e apresentadas nos Apêndices.

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O conjunto das situações-problema que foi objeto deste estudo,

considerando as apropriadas e devidas alterações relacionadas com os

objetivos a que se propõe, bem como o ordenamento na proposição e na

apresentação, o grau de dificuldade de cada uma em relação à profundidade e

a adequação requerida, poderá vir a ser utilizado com os alunos nas

séries/anos correspondentes ao desenvolvimento dos conteúdos do Ensino

Fundamental.

Desde o início deste estudo tínhamos a preocupação de identificar e

conhecer como o professor reflete, apresenta, desenvolve e se utiliza de

abordagens e estratégias quando se debruça para o enfrentamento da

resolução, a maneira como encaminha a busca da solução e também sobre o

ensino de problemas de contagem na Educação Básica.

Para tal, apoiamo-nos em Fischbein (1994) de maneira a procurar

identificar elementos característicos dos aspectos: intuitivo, algoritmo e formal,

presentes nas resoluções de problemas de contagem de tal sorte que

possamos compreender como as abordagens e estratégias ocorrem.

Os aspectos algoritmo e formal são identificados de maneira mais direta

durante a resolução de problemas de contagem: no caso algoritmo quanto ao

uso de uma fórmula, de uma representação, de esquemas e o formal (não

exatamente como o termo está diretamente associado com os conceitos

matemáticos, como os conhecimentos relativos às definições, axiomas,

teoremas e provas de resultados), mas de maneira informal à identificação do

tipo de agrupamento de objetos presente no problema a ser resolvido.

Quanto ao aspecto intuitivo, cabem aqui algumas considerações.

Segundo Fischbein (1994), o componente intuitivo está referido à compreensão

que uma pessoa faz a respeito de algum conhecimento ou ideia que ela

considera autoevidente.

Em relação a este componente, parece-nos não ser uma tarefa simples

identificar quando este componente intuitivo está presente na resolução de um

problema de contagem, a menos que o professor - durante a fase que

antecede a resolução - esclareça as razões de tomar esta e não outra direção

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no encaminhamento e desenvolvimento e o que está por detrás da decisão

tomada a respeito.

Consideramos importante explicitar que a opção por apresentar parte

dos relatos na forma de quadros decorre do fato de que estamos supondo que

essa opção de apresentação permita ao leitor compreender como se deram as

reflexões e discussões encaminhadas durante o desenvolvimento da sequência

didática e, com isso, que torne possíveis percepções mais objetivas e

transparentes acerca das ações que se encadearam durante a fase de

intervenção da sequência didática.

Ou seja, procuramos explicitar, nesses quadros, como o pesquisador se

houve na mediação das reflexões e discussões com os professores na busca

das soluções aos problemas de contagem propostos, bem como a maneira

como foram levantadas as questões e dúvidas; como foram conduzidos os

questionamentos, bem como sobre a participação de parte do grupo nas

discussões sobre alguns pontos que o pesquisador considerava oportuno

serem aprofundados, alguns decorrentes de questionamentos que algum

professor tenha apresentado para reflexões.

5.3 Análise dos dados da sequência didática - fase de intervenção

A apresentação dos resultados da fase de intervenção será feita

segundo as quatro categorias especificadas a seguir. Entretanto, cabe aqui

destacar que elas se intersectam, seja pela estreita relação entre os temas seja

porque nela está contido um viés de nossa particular interpretação (como não

poderia deixar de ser) que estabelece a passagem entre uma categoria e outra.

Trata-se da organização que escolhemos e achamos por bem utilizá-la

para dar conhecimento ao leitor acerca das conclusões a que chegamos dessa

investigação.

O que será exposto a seguir deve ser interpretado como resultado de

constantes retomadas de ideias por parte dos professores, resultantes da

reorganização de concepções ao longo do experimento.

As categorias que elegemos para a análise dos dados são as que

seguem. Cabem reiterar que a expressão “conhecimento do professor” utilizada

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nessas categorias significa conhecimentos do conteúdo, conhecimentos

pedagógicos do conteúdo e conhecimentos curriculares do conteúdo, na

perspectiva de Shulman (1986).

� Representações: conhecimento do professor sobre o uso de

representações como a árvore de possibilidades e tabelas de dupla

entrada para resolver problemas de contagem de modo a efetuar a

contagem direta e, depois, com o uso do princípio multiplicativo para

sistematizar as soluções obtidas.

� Princípio Multiplicativo: conhecimento do professor sobre aplicações do

princípio multiplicativo para obter soluções de problemas de contagem.

� Princípio Multiplicativo e Princípio Aditivo: conhecimento do professor a

respeito do uso em conjunto dos princípios multiplicativo e aditivo para

obter soluções de problemas de contagem;

� Fórmulas: conhecimento do professor sobre Arranjos, Permutações e

Combinações, discutindo a necessidade de uso ou não de fórmulas.

Convém ressaltar que são examinados aspectos referentes aos

conhecimentos específicos e pedagógicos relacionados aos conteúdos de cada

uma dessas categorias, nas considerações que se seguem.

5.3.1 Uso de representações como a árvore de possibilidades e tabelas de dupla entrada

A fim de discutir questões relativas ao uso de representações, como a

árvore de possibilidades e tabelas de dupla entrada, para obter a solução para

problemas de contagem a partir da contagem direta dos agrupamentos de

objetos que são construídos foi inicialmente proposta a situação-problema

constante do quadro seguinte.

Esclarecemos o leitor que a indicação P1, no interior dos quadros refere-

se ao professor indicado por P1 conforme o quadro constante do capítulo 1.

Quando se tratar de uma citação de um professor que foi transcrita para o

texto, a indicação será feita ao final, entre parênteses e em itálico.

Com a finalidade de discutir outras questões relativas à construção de

árvores de possibilidades, tabelas de dupla entrada e complementar com

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outras considerações pertinentes presentes em outros tipos de situações-

problema de contagem propusemos diversos problemas de contagem, os quais

se encontram no Apêndice E.

Dentre as diversas situações-problema que foram propostas aos

professores para resolução e reflexões, destacamos a situação a seguir pelo

fato de que seu enunciado é de fácil entendimento, tem um pequeno número

de objetos envolvidos e permite fazer considerações sobre a pertinência para

obter a solução de problemas de contagem.

Situação-problema 1: João possui três camisas nas cores: azul, verde e branco e duas calças, nas cores cinza e preto. De quantos modos diferentes João poderá se vestir?

O quadro a seguir apresenta o modo como foram feitas as reflexões e as

discussões pelos professores e a mediação encaminhada pelo pesquisador de

maneira que os professores compreendessem a construção de uma árvore de

possibilidades e de uma tabela de dupla entrada e como cada uma dessas

representações poderá determinar a solução para o problema de contagem.

Quadro 3. Árvore de possibilidades e Tabela de dupla entrada. Fase de intervenção

Ações do

pesquisador Falas/registros/ações dos professores

participantes de nossa pesquisa

Observações do

pesquisador

“Alguém poderia vir à lousa apresentar a sua solução?”.

P1: “Eu fiz assim”:

João tem 3 camisas

branca

verde

azul

e

2 calças

preta

cinza

.

Logo, pelo Princípio Multiplicativo, há 3x2 = 6 formas.

Também poderia ter feito assim:

CmACc CmVCc CmBCc

CmACp CmVCp CmBCp.

P2: Inicialmente “falou que iria utilizar o Princípio Multiplicativo e que grande parte dos problemas de combinatória ela resolve do seguinte modo (aprendido

Consideração:

Iniciamos pela proposição de uma situação-problema bastante familiar aos professores (e às pessoas, de modo geral), que é suficiente para levantar a possibilidade de uso de diferentes estratégias de resolução por meio do uso

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“Professor P4, que símbolo é esse (apontando) e o que ele representa?”.

“Professor P4, porque calcular A3,1 e A2,1 para confirmar o que já era sabido: que há 3 camisas e 2 calças?”

“Professor P4, os arranjos aí serviram para quê?”.

com um Professor da USP)”:

Acontecimento Ocorrência

Escolha da calça 2

Escolha da camisa 3

PM: 2 x 3 = 6.

P3: “Eu fiz utilizando a Árvore de possibilidades a seguir”:

cinza (Ca,C)C Azul

preta (Ca,P)cinza .

C verde .preta .cinza .

C branca .preta .

3x2=6 P1: “Eu vou complementar a minha solução escrevendo a árvore de possibilidades em seguida”:

Camisa azulCalça Camisa verdecinza Camisa branca

Camisa azulCalça Camisa verdepreta Camisa branca2x3=6

P4: “Eu fiz assim”:

João

3

1

camisas;

Camisas: A3,1= = e

calças A2,1= = Logo, 3x2=6.

P4: “É o símbolo de arranjos de 3 um a um e o de arranjos de 2 um a um”.

P4: “Foi para indicar que tenho 3 camisas e vou escolher uma”.

P4: ”Multiplicar o número de camisas

de um esquema, de uma árvore de possibilidades, de uma tabela de dupla entrada, do produto cartesiano, da enumeração das possibilidades (agrupamentos de objetos) ou pela aplicação do princípio multiplicativo. Também tínhamos como objetivo identificar se os professores constatavam a relação “um para muitos”, presente nas combinações “camisa-calça”.

Os professores apresentaram diferentes estratégias para determinar a solução, começando pela solução apresentada pelo professor P1 por meio da contagem direta das soluções oriundas de uma árvore de possibilidades. Se essa mesma situação fosse

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“Vou multiplicar”, é isso mesmo que você disse professor P4?”

“Pergunto para você, professor P4: o aluno sabe quando é necessário multiplicar ou não?”.

“Professor P4, pergunte se mais alguém tem uma diferente representação para a situação-problema posta”.

“Alguém tem alguma dúvida ou deseja falar mais alguma coisa a respeito das soluções que foram apresentadas?”

“Nenhum de vocês fez uso de uma tabela de dupla entrada, por quê?”

“Esse tipo de situação se presta bem ao uso de uma tabela de dupla entrada, pois nesse caso temos dois tipos de objetos: camisas e calças os quais devemos fazer uma “combinação” entre essas peças: camisas com calças ou calças com camisas, formando o conjunto calça camisa, como o professor P3 indicou aqui (apontando)”.

“Agora, se me permite sugerir, professor P3, não é conveniente escrever

pelo número de calças”.

P4: ”Sim”. P4: “Pressupõe-se que ele já saiba o Princípio Multiplicativo”.

proposta a crianças, desde os primeiros anos do Ensino Fundamental algumas delas poderiam, talvez, se utilizar, de modo intuitivo, da construção de um esquema na forma de desenhos ou de uma árvore de possibilidades, combinando os pares de peças. Segundo Fischbein (1994), a apresentação de uma solução, de início (antes que conceitos sejam sistematizados), se configura como uma solução intuitiva, ou seja, ela diz respeito a uma compreensão que o aluno considera autoevidente.

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na forma de parênteses, pois isso pode confundir o aluno, associando a ideia de que se trata de um par ordenado e isso pode gerar confusões uma vez que o uso de um par ordenado implica na ordenação de objetos. No caso de pares ordenados, escrever (Ca, C) é diferente de (C, Ca). O melhor seria escrever na forma de conjuntos. Como falei antes, conjunto camisa-calça, assim: {Ca, C}”.

Cabe salientar que os dados colhidos durante a resolução da situação-

problema acima estão presentes no quadro acima, mas as análises

encaminhadas a seguir dizem respeito também às aos diversos problemas de

contagem que foram propostos aos professores com os mesmos objetivos

deste problema.

Na solução apresentada pelo professor P1, com a contagem direta das

possibilidades a partir da árvore de possibilidades o pesquisador identificou

nessa solução que o professor resolveu o problema de maneira intuitiva e,

após, certificou-se com o referido professor a respeito.

Segundo o relato de alguns professores tal fato é comum de ocorrer em

salas de aula com alunos desde os anos iniciais do Ensino Fundamental,

quando situações similares esta são propostas.

Portanto, ela serve muito bem aos nossos propósitos de análise nesta

sequência, tanto quanto o seria para o caso de uma sala de aula na Educação

Básica.

Interpretando essa solução sob o olhar de Fischbein (1994), no que

dizem respeito ao aspecto intuitivo da atividade matemática, situações como a

mencionada acima favorecem a apropriação de habilidades que permitem ao

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professor o enfrentamento dos problemas de contagem e o encaminhamento

de estratégias que eles devem mobilizar para encaminhar a busca da solução

para problemas de contagem.

O uso de esquemas, árvore de possibilidades, tabela de dupla entrada,

produto cartesiano, enumeração de possibilidades (ditas representações

gráficas) para a contagem direta de todas as possibilidades que atendem á

solução de um problema de contagem deve prevalecer no Ensino

Fundamental, mormente quando forem disponibilizados pequenos quantitativos

de objetos.

Compartilhamos como legítima a presença da ideia intuitiva durante a

resolução de problemas de contagem, convicção essa que compartilhamos

com os autores dos PCN (1999), quando assim se manifestam a respeito:

É importante que o aluno perceba que as definições, demonstrações e encadeamentos conceituais e lógicos têm a função de construir novos conceitos e estruturas a partir de outros e que servem para validar intuições e dar sentido às técnicas aplicadas (PCN, 1999, p. 82).

Entendemos que no Ensino Fundamental o ensino deve começar pela

exaustiva exploração do uso de uma árvore de possibilidades e das demais

representações para a resolução de problemas de contagem ao menos nos

primeiros problemas propostos. Essa concepção é compartilhada com as dos

autores do Currículo de São Paulo (2010), como a seguir:

Habilidades ao final da 5ª série/6º ano do Ensino Fundamental: saber utilizar diagramas de árvore para resolver problemas simples de contagem (SÃO PAULO, 2010, p. 58).

Essa prática deve ser a tônica do ensino e a aprendizagem dos

problemas de contagem no Ensino Fundamental - conforme prescrevem os

PCN (1997, 1998) e o Currículo de São Paulo (2010) - em detrimento à

formalização precoce dos conceitos e o uso de fórmulas, por entendermos que

esta opção metodológica deve ser feita no Ensino Médio.

A exploração de diferentes representações e o encaminhamento de

soluções para um mesmo problema de contagem por meio de diferentes

estratégias tem o propósito de identificar diferenças e semelhanças quanto ao

uso de procedimentos ou de ferramentas combinatórias desde os primeiros

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problemas de contagem, favorecendo a ampliação da imagem conceitual dos

professores, segundo pressupostos de Tall e Vinner (1981).

Explorando as representações para resolver problemas de contagem o

professor visa preparar o aluno para que ele se aproprie dos conceitos

relacionados com o princípio multiplicativo em uma etapa a seguir.

Além do mais, favorece a compreensão e a aplicação deste princípio a

exemplo de quando o aluno está construindo uma árvore de possibilidades, por

exemplo, e associa as ações da fase de construção aos fatores presentes na

operação multiplicativa correspondente.

Alguns dos professores também apresentaram suas soluções como

resultantes da aplicação do princípio multiplicativo. Com a mediação do

pesquisador, todos os professores compararam os valores dos fatores

presentes na notação multiplicativa originada da aplicação do princípio

multiplicativo com os totais parciais das ações segundo as tomadas de decisão

para cada ramificação da árvore (ou nas combinações de elementos nas

tabelas de dupla entrada).

Ao final das comparações parciais, identificaram, assim, que a totalidade

das possibilidades presentes na notação multiplicativa equivale à contagem

direta do somatório das possibilidades dos agrupamentos que foram formados

nos “galhos terminais” da árvore de possibilidades (ou na tabela de dupla

entrada final), sistematizando, portanto, a totalidade das soluções obtidas em

comparação com as estratégias que foram utilizadas.

Assim, considerando que os professores confrontaram diversos

procedimentos utilizados nas diferentes soluções por meio de diferentes

estratégias a partir daí, no momento que julgasse conveniente, eles poderiam

utilizar a estratégia que julgassem mais conveniente para obter a solução de

um problema de contagem levando em conta a apropriação dos conhecimentos

associados à aplicação do princípio multiplicativo e aqueles usados para a

construção de uma representação.

Essa opção metodológica para o ensino dos problemas de contagem,

tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio, permite ao aluno decidir

quando ele irá considerar oportuno deixar de lado o uso de uma representação

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e passar a utilizar a operação aritmética multiplicativa, em decorrência da

aplicação do Princípio Multiplicativo.

Durante a construção da árvore de possibilidades o professor deve

mostrar ao aluno que os diferentes agrupamentos de objetos que estão sendo

obtidos nos “galhos terminais da árvore” representam as diferentes soluções

para o problema de contagem.

Assim, durante a contagem direta dessas possibilidades, presentes nos

galhos terminais da árvore, o professor compreenderá que está aplicando os

conceitos relacionados ao Princípio Aditivo uma vez que os agrupamentos

listados são distintos entre si, uma vez que essa é uma característica

determinante para a aplicação deste princípio.

Assim, a construção da árvore de possibilidades, além de apresentar

uma conveniente alternativa para obter a solução para um problema de

contagem, também dá oportunidade ao professor para que identifique a

aplicação do princípio aditivo e se certifique da importância de sua aplicação

nessas situações.

Apesar de considerarmos que o aluno deva construir e reconstruir

árvores de possibilidades quantas vezes julgar necessário fazer, pois desse

modo estará exercitando o raciocínio combinatório, ele precisa da ajuda e

mediação do professor para identificar que os passos dados na construção da

árvore estão relacionados com os fatores presentes na notação multiplicativa

quando faz uso do Princípio Multiplicativo.

Por conta disso, entendemos que o caminho que deve ser oferecido ao

aluno do ensino fundamental deva ser diferente daquele aluno do ensino

médio, uma vez que ele não tem enraizado em seu cotidiano escolar o uso de

uma fórmula, uma vez que os livros didáticos ou os cadernos do aluno do

Ensino Fundamental não apresentam fórmulas para a resolução dos problemas

de contagem.

Por outro lado, esses alunos do Ensino Fundamental também não

devem precisar de fórmulas para resolver os problemas de contagem que

forem propostos nessa fase inicial de ensino e de aprendizagem das noções

básicas de combinatória.

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Ao final do Ensino Fundamental, se o entendimento e a aplicação do

princípio multiplicativo e do princípio aditivo fizerem parte dos conhecimentos

de conteúdo do aluno quanto à resolução de problemas de contagem, estar-se-

á dando um passo muito importante para o ensino e a aprendizagem da

combinatória no Ensino Médio.

O professor, quando for o caso, se considerar que deva fazer uso de

fórmulas para a resolução de problemas de contagem deve compreender que o

momento adequado para a dedução delas é quando estiver lecionando no

Ensino Médio.

Compartilhamos com as ideias dos autores dos PCN (1999) de que:

As finalidades do ensino de Matemática no nível médio indicam como objetivos levar o aluno a: compreender os conceitos, procedimentos e estratégias matemáticas que permitam a ele desenvolver estudos posteriores e adquirir uma formação científica geral; (PCN, 1999, p. 84).

Portanto, encaminhamos com os professores sugestões de

procedimentos para a exploração de algumas representações e, também, foi

solicitado a eles que apresentassem a solução a um mesmo problema de

contagem de maneiras diferentes, permitindo que eles compreendessem que é

conveniente explorar ao máximo as diversas estratégias para o ensino e a

aprendizagem das noções básicas de combinatória.

Com esses propósitos, oferecemos aos professores a oportunidade de

que eles possam aumentar o campo conceitual com a oferta de um

diversificado leque de situações-problema e a da utilização de diferentes

representações para a solução dos problemas, as quais permitirão que eles

façam reflexões a respeito das possibilidades que as representações oferecem

para obter a solução a um problema de contagem.

Os PCN consideram que isso seja possível de ser feito e, portanto,

compartilhamos dessa ideia como presente no trecho a seguir:

As finalidades do ensino de Matemática indicam como objetivos levar o aluno a: reconhecer representações equivalentes de um mesmo conceito, relacionando procedimentos associados às diferentes representações (PCN, 1999, p. 85).

Consideramos que os professores precisam se apropriar dos

conhecimentos pedagógicos para o ensino dos problemas de contagem em

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relação ao Ensino Fundamental - conforme prescrevem os PCN (1997, 1998) e

o Currículo de São Paulo (2010) - uma vez que a abordagem e os

procedimentos utilizados para ensinar esses conteúdos nesse segmento

devem se diferenciar em relação àqueles utilizados no ensino de combinatória

(problemas de contagem) no Ensino Médio. Neste segmento, os conceitos

serão retomados e formalizados ao explorar estratégias e procedimentos em

estreita relação com os rótulos dos agrupamentos dos objetos e a dedução de

fórmulas.

Sobre essas questões, compartilhamos com as ideias dos autores dos

PCN (1999), segundo os quais:

A essas concepções da Matemática no Ensino Médio se junta a ideia de que, no Ensino Fundamental, os alunos devem ter se aproximado de vários campos do conhecimento matemático e agora estão em condições de utilizá-los e ampliá-los e desenvolver de modo mais amplo capacidades tão importantes quanto as de abstração, raciocínio em todas as suas vertentes, resolução de problemas de qualquer tipo, investigação, análise e compreensão de fatos matemáticos e de interpretação da própria realidade (PCN, 1999, p. 83).

5.3.2 Aplicações do Princípio Multiplicativo

O propósito foi o de discutir questões relativas à aplicação do princípio

multiplicativo favorecendo os professores quanto à apropriação desses

conhecimentos, procedimentos e estratégias em estreita relação com a

construção de alguma representação.

Além disso, tínhamos também como objetivo o de ampliar a imagem

conceitual dos professores quanto à utilização do princípio multiplicativo tal

qual quando ele constrói uma árvore de possibilidades ou de uma tabela de

dupla entrada e, mais ainda, de permitir que o professor identificasse a

importância da busca da solução a um problema de contagem exercitando o

raciocínio combinatório para encaminhar a resolução do problema.

Dentre diversas situações-problema que foram propostas para resolução

e reflexões, destacamos a situação a seguir:

Situação-problema 1: Situação-problema 1: Para pintar a bandeira abaixo, há 4 cores disponíveis: preto, azul, verde e vermelho.

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a) De quantos modos ela pode ser pintada de modo que faixas adjacentes

tenham cores distintas e todas as faixas devem ser pintadas?

b) Faça uma representação mostrando todas as possibilidades de pintura

desta bandeira atendendo às condições impostas.

c) Como você faria para desenvolver a resolução dessa situação com seus

alunos?

d) Em qual (ou quais) anos do Ensino Fundamental você considera adequado

trabalhar propor essa questão aos alunos? Por quê?

O quadro a seguir apresenta o modo como foram feitas encaminhadas

as reflexões e as discussões pelos professores sobre a aplicação do princípio

multiplicativo em conjunto com alguma representação quando da resolução e

das análises que se seguiram em relação às soluções que foram apresentadas

no quadro branco, bem como sobre como o pesquisador mediou reflexões e

discussões junto com os professores.

Quadro 4. O princípio multiplicativo. Fase de intervenção

Ações do

Pesquisador

Falas/registros/ações dos professores participantes de nossa

pesquisa

Observações do pesquisador

“Alguém pode ir à lousa

apresentar uma

solução?”

“Pessoal do grupo do

professor P1: vocês

perceberam que não

consideraram a

possibilidade de que a

terceira faixa pudesse

P11: “Nós fizemos assim:

P.M. = 4.3.3 = 12.3 = 36 modos

diferentes”.

P11:

Finalidade:

Mostrar que a

árvore de

possibilidades é

uma forte aliada

na resolução de

problemas de

contagem onde

o quantitativo de

objetos é

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ter a mesma cor da

faixa 1?”

“Vocês estão vendo

esta árvore de

possibilidades que foi

apresentada pelos

colegas do grupo do

professor P11

(apontando)?”

“Os nove agrupamentos

que têm a primeira faixa

na cor preta, diferem

dos outros nove que

têm a primeira faixa na

cor azul, que diferem

dos outros nove que

têm a primeira faixa na

cor verde que, por sua

vez, diferem dos outros

nove que têm a

primeira faixa na cor

amarela. Portanto, são

quatro conjuntos

disjuntos (não têm

elementos comuns) e,

assim, o princípio

aditivo foi aplicado da

forma 9+9+9+9 = 36

possibilidades”.

“Muitas vezes vocês

aplicam o Princípio

Aditivo e nem se dão

VD

AZ PR PR - PRETO

AZ - AZUL

VM VD - VERDE

VM - VERMELHO

AZ

VD

PR 9 modos

PR

VM

9+9+9+9 = 36 modos diferentes.

AZ princípio aditivo

VM PR

VD

AZ 9 modos

idem

VD 9 modos

idem

VM 9 modos

idem

P9: “Com cada cor é possível fazer 9

combinações. Sendo 4 cores, dá um

total de 36 modos diferentes”.

P1: O nosso grupo fez assim:

1ª FAIXA 2ª FAIXA 3ª FAIXA

4 3 2

4x3x2=24 possibilidades.

PRETO (P) VERDE (K)

AZUL (A) VERMELHO (V)

pequeno.

Também teve o

objetivo de

desenvolver o

raciocínio

combinatório e

a aplicação dos

princípios

multiplicativo e

aditivo.

Observação:

O erro que o

grupo do

professor P1

cometeu serviu

para alertar a

todos os

professores que

as ações,

oriundas da

aplicação do

princípio

multiplicativo

devem ser feitas

levando em

conta que, a

cada ação, as

ações seguintes

devem

considerar cada

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301

conta de que o estão

utilizando”.

“Essa solução

apresentado pelo grupo

do professor P11

mostrou que eles

dividiram o problema

em 4 partes, conforme

a cor escolhida para

pintar a primeira faixa e,

a partir da decisão de

pintura dessa faixa

encontraram as

possibilidades de pintar

as demais obedecendo

às restrições impostas

pelo enunciado.

Perceberam?”.

c) Como você faria para

desenvolver a

resolução dessa

situação com seus

alunos?

Os cinco que acertaram

responderam que

usariam a árvore de

possibilidades, como foi

feito na lousa; o

princípio aditivo, e o

princípio multiplicativo.

“O professor P13, que

havia errado o item (a)

K (P,A,K)

A V (P,A,V)

A (P,K,A) 6

P K V (P,K,V)

A (P,V,A)

V K (P,V,K)

K (A,P,K)

P V (A,P,V)

P (A,K,P) 6

A K V (A,K,V)

P (A,V,P)

V K (A,V,K)

A (K,P,A)

P V (K,P,V)

P (K,A,P) 6

K A V (K,A,V)

P (K,V,P)

V A (K,V,A)

A (V,P,A)

P K (V,P,K)

P (V,A,P) 6

V A K (V,A,K)

P (V,K,P)

K A (V,K,A)

Todos do grupo: “ok”.

P4: “Através da árvore é a melhor

forma de desenvolver a resolução

com os alunos”.

P13: “Mostrando primeiramente pela

árvore de possibilidades 8ª série (9º

ano), para que eles já comecem a se

uma das

possibilidades

presentes na

ação anterior.

Uma situação-

problema até

certo ponto

simples, mas

que serviu para

alertar os

professores

sobre os

cuidados a

tomar quando

aplicam o

princípio

multiplicativo

sem terem

refletido sobre

todas as

possibilidades

que se

apresentam

como possíveis.

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respondeu este item

como ao lado”.

d) Em qual (ou quais)

anos do Ensino

Fundamental você

considera adequado

trabalhar propor essa

questão aos alunos?

Por quê?

familiarizar com o princípio da

multiplicação”.

Sete professores indicaram o 8º ano,

quatro professores indicaram o 7º

ano e um professor o 5º ano.

P11: “8º ano em diante, porque os

alunos antes desta fase não têm

maturidade na resolução de

problemas deste tipo. Porém, se o

professor tiver tempo e paciência

pode trabalhar através da pintura das

bandeiras, desde que se tenha

número de bandeiras suficiente para

serem pintadas; o professor poderá

trabalhar nas séries anteriores este

problema, mas sem entrar nos

conceitos”.

P14: “8ª série ou 9º ano, devido o exercício ser um pouco mais avançado”.

O enunciado do problema pedia a construção de uma representação

onde a árvore de possibilidades se prestava muito bem a esses propósitos,

diferentemente da opção de tabelas de dupla entrada que requereriam a

construção de duas delas e a opção de aplicar o princípio multiplicativo.

Essa maneira de conduzir a resolução teve como objetivo o de fortalecer

o estabelecimento da relação entre as tomadas de decisão presentes na

construção da árvore e os fatores presentes na notação multiplicativa da

aplicação do princípio multiplicativo, bem como identificar a aplicação do

princípio aditivo na contagem direta das soluções apresentadas nos galhos

terminais da árvore.

Não obstante o fato de o enunciado haver enfatizado de que faixas

adjacentes deveriam ter cores diferentes, um dos grupos não percebeu que as

faixas 1 e 3 poderiam ter a mesma cor, levando ao erro.

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303

Esse fato talvez decorra da interpretação dada ao enunciado

desconsiderando tais possibilidades o que configura uma contagem feita a

menor, não pelo fato da árvore ter sido construída erradamente, mas porque

essas possibilidades não foram consideradas de início.

Compartilhamos com as recomendações dos autores dos PCN quando

se pronunciam a esse respeito, como indicado no trecho a seguir:

As finalidades do ensino de Matemática indicam como objetivo levar o aluno a: desenvolver as capacidades de raciocínio e resolução de problemas [...]; (PCN, 1999, p. 85).

Entendemos que no Ensino Fundamental o ensino de problemas de

contagem deve iniciar pela estreita relação entre o uso de uma ou mais

representações, a compreensão do princípio multiplicativo e a aplicação dele

quando da resolução de problemas de contagem, junto com o exercício

constante do raciocínio combinatório. Essa concepção é compartilhada com as

dos autores do Currículo de São Paulo (2010), como a seguir:

Habilidades ao final da 5ª série/6º ano do Ensino Fundamental: compreender a ideia do princípio multiplicativo de Contagem; Habilidades ao final da 8ª série/9º ano do Ensino Fundamental: saber resolver problemas envolvendo processos de contagem - princípio multiplicativo (SÃO PAULO, 2010, p. 58).

Encontram- se no Apêndice F quadros completos explicitando como foi o

desenvolvimento da resolução de soluções para outras situações-problema,

Algumas delas servem de opção ao professor para introduzir conceitos tratados

no Ensino Fundamental, tais como: divisores de um número natural e potências

de números naturais, nas respectivas séries que o currículo prescreve.

5.3.3 Aplicações do Princípio Multiplicativo e do Princípio Aditivo em conjunto

O propósito foi o de discutir questões relativas à aplicação dos Princípios

Multiplicativo e Aditivo, em conjunto, favorecendo os professores quanto à

apropriação desses conhecimentos, procedimentos e estratégias em estreita

relação com a construção de alguma representação, preferencialmente de uma

árvore de possibilidades que se diferencia das anteriores em virtude de não

haver uma relação do tipo um para muitos, ou seja, para cada objeto há tantas

possibilidades de combinação entre os objetos.

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304

Dentre diversas situações-problema que foram propostas para resolução

e reflexões, destacamos a situação a seguir:

Situação-problema 4: Foi apresentado um retângulo, como o da figura abaixo,

a alunos de uma classe e dito que ele representava a vista de cima do prédio

de aulas de uma escola e a parte externa. Ao redor do prédio há um corredor

que o circunda em toda a sua extensão e, na área entre o corredor e os muros

que limitam a escola da rua, há gramado em toda a extensão.

“O que se pretende é colocar 2 (dois) vasos de plantas (um pintado de preto e

outro pintado de azul) junto às paredes externas do prédio, nos corredores,

podendo os dois vasos estarem juntos ou não”.

“No corredor onde há a porta de entrada do prédio escolar um dos vasos - ou

os dois juntos - só podem estar colocados à direita da porta, pois do outro lado

dessa porta há um banco de madeira que ocupa toda a extensão da parede”.

“Foi pedido que os alunos pensassem em todas as diferentes colocações

possíveis dos dois vasos de plantas junto aos corredores”.

“Agora pedimos o mesmo para vocês, professores”.

Pergunta-se:

a) Quantas são as possibilidades de arrumação dos dois vasos?

b) Como você faria para desenvolver a resolução dessa situação com seus

alunos?

c) Em qual (ou quais) anos do Ensino Fundamental você considera adequado

trabalhar essa questão com os alunos? Por quê?

d) Faça uma representação mostrando todas as possibilidades de arrumação

dos vasos junto aos corredores.

e) Mostre outro procedimento que leve à obtenção da solução desta situação-

problema.

Portão GramadoCorredor Porta

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305

O quadro a seguir apresenta o modo como foram feitas as reflexões e as

discussões pelos professores e a mediação encaminhada pelo pesquisador de

maneira que os professores compreendessem a necessidade da aplicação do

princípio multiplicativo em conjunto com o princípio aditivo, para resolver o

problema de contagem proposto.

Quadro 5. Princípio Multiplicativo e Princípio Aditivo. Fase de intervenção

Ações do

Pesquisador

Falas/registros/ações dos professores participantes de

nossa pesquisa

Observações do pesquisador

“Professor P12, porque você acha que a sua solução está correta e a do grupo da direita está errado?”

“Quais as considerações que você fez para obter essa solução?”

“Quando você escreve 24 é o mesmo que escrever 2 x 2 x 2 x 2 = 16. Ou seja, considerando a aplicação do princípio multiplicativo, quando você escreve na forma de um produto com quatro fatores essa maneira sugere que foram encaminhadas quatro ações, seguidamente, e em cada uma delas, há duas possibilidades de se tomar as decisões. Como seria isso?”.

“Então, para cada parede há duas possibilidades de arrumações, o que é verdade, se pensado de forma isolada. Mas a continuação do produto com esses fatores iguais a 2 indica que, uma vez tomada a primeira decisão, que poderia ser feita de duas maneiras, uma segunda decisão deverá ser tomada e também há duas possibilidades, e assim por diante ... o que não é

P12: “Eu fiz assim: 24 = 16”.

P18 e P19: “20 possibilidades”,

P3, P16, P4, P13: “Nós fizemos desse jeito:

A B C D

0 0 1 1

0 1 0 1

1 0 0 1 6x2 = 12

1 1 0 0

1 0 1 0

0 1 1 0 12+4=16

0 0 0 2

0 0 2 0 4

0 2 0 0

2 0 0 0

P9: “Eu fiz assim, na forma de um esquema das possibilidades”: Paredes 1 2 3 4

AB

AB 4

AB

AB

A B

A B

A B 6

A B

A B

A B

BA

BA 0 4

BA

BA

B A

B A

B A 6

B A

B A

B A TOTAL: 20

Finalidade:

Para esta situação-problema, lúdica e de fácil compreensão, o objetivo foi o de uso de uma árvore de possibilidades (de construção diferente daquela da situação anterior pelo fato de não haver a relação “um para muitos”), de modo a favorecer a aplicação do princípio aditivo em conjunto com o princípio multiplicativo.

Observação 1:

Percebeu-se que alguns dos professores não compreenderam o enunciado do problema e não perceberam que, uma vez que os vasos eram diferentes, há duas distintas maneiras para posicionar esses vasos em uma mesma parede.

Observação 2:

Quando elaboramos a questão e pensamos tratar-se de uma situação-problema simples que permitisse ao professor apropriar-

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verdade. Na primeira decisão a ser tomada: arrumação dos dois vasos em uma parede, uma dessas decisões vai ser tomada: ou vaso preto - vaso azul ou vaso azul - vaso preto e, portanto, não há mais decisões a serem tomadas adiante, uma vez que os dois vasos já foram posicionados”. Entendido?”.

“Professor P1, poderia nos explicar como fez para obter a sua solução?”.

“Complementando a explicação do professor P1: Ao escolher, por exemplo, a parede A e colocar o vaso azul e a parede C e colocar o vaso preto, essa possibilidade é diferente de escolher a parede C e colocar o vaso azul e escolher a parede A e colocar o vaso preto”

“Professores, porque nenhum de vocês sugeriu que pudesse fazer uma árvore de possibilidades com todas as maneiras de arrumação dos vasos?”

“Será porque são 20 possibilidades e a árvore poderia ficar grande?“

“Pensem a respeito dessa possibilidade, ok?”

Vamos agora conhecer as respostas para os demais itens da situação-problema.

P12: “Faz uma reflexão, compara sua solução à outra colocada no quadro branco e conclui que deixou de considerar as posições dos dois vasos quando eles estão colocados junto da mesma parede e, portanto, a contagem feita por ele foi a menor”.

P12: “pela árvore de possibilidades, considerando as paredes A, B, C e D”.

P1: “4x2 + 4x3 = 8 + 12 = 20”.

P1: “Aqui temos 4 paredes e para cada vez que se escolhe uma delas, há duas maneiras diferentes de arrumar os vasos: azul e preto ou preto e azul; aqui eu escrevi quatro para indicar que tenho 4 possibilidades de escolher uma parede e colocar um vaso junto dela. Para cada escolha feita, eu tenho 3 paredes disponíveis para colocar o outro vaso. E como a ordem de escolha das paredes é diferente, temos o produto 4 x 3. Daí, a soma dá 20”.

P9 e P11: “proporia uma situação real com material pedagógico (sucata)”.

“Professor P11, você usaria o material de sucata para substituir os dois vasos?” P11: “Sim, os alunos fariam todas as posições possíveis com o material em mãos”.

O professor P11 escreveu assim no seu protocolo: “no momento não me ocorre outra

se dos procedimentos que levam à necessidade da aplicação do princípio aditivo em conjunto com o princípio multiplicativo e, em seguida, sistematizar esses conceitos, estávamos enganados, uma vez que algumas das soluções apresentadas mostraram que alguns professores não identificaram essa necessidade.

Esta situação mostrou algumas concepções errôneas dos professores a respeito do uso do princípio multiplicativo.

O Princípio aditivo, embora usado por alguns professores, não foi por eles salientado talvez devido ao fato de não se aperceberem de que o estavam utilizando, acostumados a somar as possibilidades que obtém a cada novo passo dado para a consolidação de todas as possibilidades que atendem à solução do problema.

Observação 1:

Estávamos atentos para a possibilidade de algum professor apresentar a solução como 2 x + 2 x = 12 + 8 = 20 possibilidades, mas tal não ocorreu. Não achamos conveniente comentar tal possibilidade àquela ocasião para não mudar o foco de

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307

saída, se não usar a fórmula (não me lembro da fórmula)”.

P1: “Para o 6º Ano (“por se tratar de uma atividade de fácil visualização ”.

P11: “O professor, através do problema numa situação real com o material de sucata, pode aplicar esta atividade desde o 6º ano”.

Duas indicações para cada: 9º Ano e Ensino Médio.

Duas indicações cada: para o 7º e 8º Ano.

Item (d): Todos se referiram à solução apresentada no item (a).

Item (e): Todos se referiram à solução apresentada no item (a).

aplicação dos princípios, em conjunto.

Observação 2:

Percebemos que alguns professores já se sentiam bastante a vontade para apresentar soluções criativas e com bastante naturalidade o fizeram, utilizando assim o princípio aditivo sem mencioná-lo, além de serem econômicos na apresentação de estratégias de resolução diferentes, preferindo referir-se à única que apresentaram antes, na primeira parte, a qual não faz correspondência com alguma outra situação-problema apresentada anteriormente.

Isso mostra-nos que há uma ligeira demonstração de amadurecimento e apropriação dos conceitos, decorrência da ampliação da imagem conceitual que alguns professores experimentaram embora ainda se identificasse haver professores que precisam apropriar-se de conhecimentos, procedimentos e estratégias para resolver problemas de contagem.

Na situação-problema dos vasos nenhum professor se sentiu a vontade para apresentar uma árvore de possibilidades que pudesse dar conta da

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contagem. Talvez devido ao fato de que o total de 20 possibilidades demandaria um trabalho maior para construí-la.

Na resolução da situação-problema foi possível identificar lacunas de

conteúdo e da ausência de estratégias variadas de alguns professores quando

da necessidade de mobilizá-las adequadamente para a resolução de um

problema que, em princípio, parecia-nos simples o bastante para a

identificação dos dois princípios: multiplicativo e aditivo, em conjunto.

Também dificuldades em relação ao enfrentamento do novo, uma vez

que, em princípio, a proposta da situação poderia desestabilizar o grupo no

sentido de não haver uma maneira de encontrar a solução somente com a

aplicação do princípio multiplicativo, obrigando os professores a recorrer à

necessidade de repartir o problema em duas etapas: com os dois vasos juntos

em uma mesma parede e com os dois vasos em separado.

Ressalte-se o fato de que ao tomar os dois vasos com cores diferentes

tinha-se o propósito de reforçar a aplicação dos dois Princípios, em conjunto,

diferentemente do que seria se os dois vasos fossem exatamente iguais.

Compartilhamos com as ideias dos autores do Currículo de São Paulo

(2010) no sentido de dar destaque à recorrente necessidade de exercitar o

raciocínio combinatório durante a resolução de problemas de contagem, seja

no Ensino Fundamental seja no Ensino Médio. Quanto a essa questão, assim

se referem os autores do referido currículo:

Habilidades requeridas aos alunos: Compreender os raciocínios combinatórios aditivo e multiplicativo na resolução de situações-problema de contagem indireta do número de possibilidades de ocorrência de um evento; Saber calcular probabilidades de eventos em diferentes situações-problema, recorrendo a raciocínios combinatórios gerais, sem a necessidade de aplicação de fórmulas específicas (SÃO PAULO, 2010, p. 68).

Considerando a análise dos dados fornecidos pelos professores à

situação-problema 3 apresentada no questionário Q2, qual seja: determinar a

totalidade de números pares com três algarismos distintos, e as dificuldades

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309

que eles tiveram de resolver o problema, retomamos com a proposição desta

situação-problema aqui na sequência didática de maneira a discutir questões

relativas à aplicação do princípio aditivo em uma situação um pouco mais

complexa em relação à da situação acima, bem como à análise crítica que os

professores emprestam quando identificam erros cometidos pelos alunos. Um

quadro completo explicitando como foi o desenrolar desta situação encontra-se

no Apêndice F.

Dando continuidade aos propósitos descritos anteriormente, de continuar

explorando a aplicação dos princípios multiplicativo e aditivo, foi proposta a

situação-problema a seguir.

Essa situação-problema apresentou muitas dificuldades de solução para

os professores. Eles não exploraram o uso de uma árvore de possibilidades

para dar conta de obter a solução dando preferência ao uso de fórmulas, as

quais se mostraram inadequadas para a obtenção da solução.

Depois que o pesquisador sugeriu o uso da árvore de possibilidades, a

solução foi apresentada por um dos professores e, então, com os

agrupamentos de objetos listados foi possível aos professores fazerem

relações entre eles de modo que, a partir daí, puderam estabelecer o uso de

uma adequada fórmula que dá conta da contagem obtida, utilizando-se do

conceito de permutações com repetições de objetos.

Por conta das dificuldades que os professores apresentaram em resolver

problemas de contagem em que é necessário identificar que os dois princípios

de contagem precisam ser aplicados de maneira articulada, sentimos a

necessidade de propor mais problemas com esse objetivo.

Constatamos que o impacto de mostrar aos professores que o princípio

aditivo estava sendo aplicado sobre os agrupamentos de objetos construídos

Situação-problema 5: Dois amigos, Carlos e Ivo disputam a final de um

Torneio de Tênis. A regra estipula que a disputa termina, proclamando-se um

vencedor, sempre que um deles vencer duas partidas seguidas ou então que

vença três partidas alternadas. Determine todas as sequências de resultados

possíveis de ocorrerem. Quantas são?

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310

sobre os galhos terminais de uma árvore de possibilidades não foi suficiente

para que eles compreendessem como os dois princípios são aplicados de

forma articulada.

A simples contagem direta sobre o quantitativo de agrupamentos na

árvore representou para os professores nada mais que o somatório de

parcelas, uma a uma.

Os professores não se aperceberam de que tal somatório é sempre

possível quando se tem agrupamentos de objetos em que todos eles são

disjuntos entre si.

Assim, julgamos necessário investir com mais exemplos a respeito do

uso conjunto dos dois princípios em problemas de contagem em que essa

necessidade seja identificada pelos professores.

Portanto, defendemos as ideias que os autores dos PCN fazem segundo

as quais:

As finalidades do ensino de Matemática indicam como objetivo levar o aluno a: utilizar com confiança procedimentos de resolução de problemas para desenvolver a compreensão dos conceitos matemáticos; expressar-se oral, escrita e graficamente em situações matemáticas [....]; (PCN, 1999, p. 85).

A categoria seguinte diz respeito ao uso de fórmulas quando da

resolução de situações-problema de contagem com relação aos conceitos de

arranjos simples, permutações e combinações simples.

5.3.4 Fórmulas

Conforme já dito anteriormente, os professores do grupo nos solicitaram

que as fórmulas que eles usavam com frequência na resolução de algumas

situações-problema pudessem vir a ser demonstradas durante a formação.

De modo a atender à essa solicitação, prosseguimos com a exploração

dos conceitos básicos de contagem durante a resolução, reflexão e discussão

de situações-problema e, ao longo dessas discussões incluíamos a dedução

das referidas fórmulas de contagem.

Nesta categoria, intitulada de fórmulas, os conceitos e algumas fórmulas

associadas à contagem de agrupamentos serão discutidos quando das

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311

discussões acerca dos conhecimentos de conteúdo e pedagógicos dos

professores.

Conhecimento do professor sobre arranjos simples

O propósito foi o de discutir questões relativas ao conhecimento do

professor quanto à caracterização dos arranjos simples e sua estreita relação

com a aplicação do princípio multiplicativo, ainda associadas à construção de

uma árvore de possibilidades, favorecendo os professores quanto à

apropriação desses conhecimentos, procedimentos e estratégias.

Dentre diversas situações-problema que foram propostas para resolução

e reflexões, destacamos a situação a seguir:

Situação-problema 5: Uma bandeira com o formato abaixo vai ser pintada

utilizando-se duas das cores dadas ao lado.

Liste todas as possíveis bandeiras diferentes. Quantas são elas?

O quadro a seguir apresenta o modo como foram feitas as reflexões e as

discussões pelos professores e a mediação encaminhada pelo pesquisador.

Quadro 6. Conhecimentos do professor sobre arranjos simples. Fase de intervenção

Ações do

pesquisador

Falas/registros/ações dos professores participantes de nossa pesquisa

Observações do pesquisador

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312

Professor P9, que símbolo é esse que você usou em sua resposta?”

“Então você quer dizer que tem três modos de escolher as duas cores, não é?”.

“Professor P1, que símbolo é esse que você usou em sua resposta?”

“Professor P1, explique melhor para todos nós o que quer dizer isso”.

“Quer dizer que quando a ordem for importante se trata de arranjos?”.

“Mas você escreveu A3,2 = 3 x 2 = 6 (apontando). Isso não é o mesmo que aplicar o princípio multiplicativo: a primeira decisão é escolher uma cor dentre as três opções de cores e, uma vez escolhida a primeira cor, em seguida escolher uma segunda cor dentre as duas cores disponíveis?”

“Então, arranjo é o mesmo que usar o princípio multiplicativo?”

“Arranjo simples é um conceito que os livros adotam com o intuito de firmar posição quanto à importância da ordem que deve ser considerada entre os objetos. Mas, isso, o princípio multiplicativo também faz em

P9: “Nosso grupo fez

assim: = = 3 bandeiras diferentes”.

P9: “É o de combinações. De três cores, escolher as duas cores”.

P9: “É sim. Mas acabo de perceber que errei, pois eu escolhi as duas cores mas, para cada escolha se tem duas maneiras de pintar diferentes: uma cor no círculo e a outra do lado de fora e depois trocando a ordem. Esse resultado tem que multiplicar por 2”.

P1: “Fiz desse jeito: A3,2 = 3 x 2 = 6 possibilidades”.

P1: “É o símbolo de arranjos de três dois a dois”.

P1: “Se a cor do círculo for preta e a de fora for branca é diferente de quando a cor do círculo for branca e a de fora for preta. Então, é preciso uma ordem. A ordem é importante e isso é o caso de arranjos”.

P1: “É isso mesmo”.

P1: “Nesse caso é a mesma coisa”.

P4: “Nós fizemos através de uma árvore de possibilidades, assim:”

Finalidade:

Explorar a árvore de possibilidades com o uso de procedimentos para a sua construção e da aplicação do Princípio Multiplicativo com o propósito de permitir que o professor identifique que o conceito de arranjos simples é um caso particular da aplicação desse princípio e que, nessas situações, a árvore de possibilidades se apresenta como uma estratégia para a obtenção da solução a um problema de contagem cujas possibilidades são agrupamentos de objetos que guardam essas características de formação.

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relação às tomadas de decisão, ou seja, essa é a característica (caracterização) para a aplicação do princípio multiplicativo, de tomar decisões e computar as possibilidades de se fazê-las considerando a decisão tomada anteriormente”.

branco

preto

cinza

preto

branco

cinza

branco

cinza

preto

Após as reflexões e discussões encaminhadas durante a resolução do

problema anterior, os professores compreenderam que o uso de arranjos

simples com a característica de firmar posição quanto à ordem dos objetos

envolvidos na resolução do problema identifica a aplicação do princípio

multiplicativo e, portanto, não haveria necessidade de indicar com o símbolo

An,p para indicar a ordenação de p objetos dentre n objetos distintos.

Mais ainda, o pesquisador salientou que a fórmula usual An,p = n.(n-

1).(n-2).....(n-(p-1)) é a notação da aplicação do princípio multiplicativo após p

tomadas de decisão, uma a seguir da outra, atendendo às condições do

problema, em que a primeira delas pode ser feita de n maneiras distintas.

Em prosseguimento, foi apresentada a situação-problema 6, a seguir:

Situação-problema 6: Um menino tem 4 carrinhos de cores diferentes (azul,

branco, verde e roxo) e decide presenteá-los a seus irmãos Fred, Luiz e Téo.

De quantas formas diferentes pode presentear os carrinhos a seus irmãos nas

seguintes condições:

a) Cada um dos irmãos receberá pelo menos um carrinho.

b) Pode ocorrer de haver um irmão ou dois irmãos, sem ganhar carrinho.

O propósito da proposição desta situação-problema foi o de verificar se

os professores reconheciam que se tratava de um problema em que seria

preciso tomar três distintas decisões conforme sejam as possibilidades de cada

um dos três irmãos não receber carrinho algum até a condição de receber os

quatro carrinhos, ou seja, trata-se do que usualmente conhece-se pelos livros

didáticos como arranjos com repetição. Aqui, tomando por base as

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considerações anteriores, é mais uma aplicação do princípio multiplicativo.

Além disso, a situação-problema também oferece a possibilidade de ser

resolvida com o uso de combinações simples em conjunto com permutações

simples, embora essa resolução não seja tão direta quanto à outra.

Foram apresentadas diferentes soluções no quadro branco, como a

seguir:

Fred Luiz Téo

4 0 0

0 4 0

0 0 4

3 1 0

3 0 1

2 2 0

0 2 2

2 0 2

0 1 3

0 3 1

1 3 0

1 0 3 (P13)

3 pessoas.24 = 72 formas (P6)

4 cores. 24 = 96 formas (P7)

P4 = 4! = 24 formas (P12)

A4,3 + A4,2 + A4,1 + A4,0

=24

A4,1 = 4

(24+12+4). 3 = 40.3 = 120.

Multipliquei por 3 para mudar a ordem entre as pessoas (P9)

34 = 81 (3 pessoas, com 4 opções) (P12)

AR3,4 = 3.3.3.3 = (P14)

Fred Luiz Téo

A B V

A V B

B R

R B

V R

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R V

Azul 6

Branco 6

Verde 6

Roxo 6

Total: 24 formas diferentes (P1)

Irmãos

F L T

4 0 0

0 4 0

0 0 4

3 1 0 C4,3+C1,1

3 0 1

0 3 1

0 1 3

1 0 3

2 2 0

2 0 2

0 2 2

2 1 1 C4,2+C2,2+C2,1

1 2 1

1 1 2

1 3 0

C3,1

C4,1

(P11)

Esta situação-problema apresentou muitas dificuldades para os

professores. Como de costume, o pesquisador mediou reflexões e discussões

no sentido de que os professores identificassem erros em todas as soluções

que foram apresentadas, como acima. Após essas discussões, novo tempo foi

oferecido de modo que os professores propusessem novas soluções para

reflexão de todos.

Após esse novo tempo para resolução, e, em nova rodada para

apresentação das respostas, todas as respostas apresentadas continham

algum erro. Desestimulados por não encontrarem a resposta correta, os

professores passaram então a discutir sobre questões relacionadas com o não

entendimento do enunciado e, assim, recaiam sobre a não clareza do

enunciado principalmente no que diz respeito ao entendimento que faziam em

relação à palavra “presenteá-los”.

O pesquisador esclareceu para os professores que o fato de o menino

querer presentear seus irmãos com os carrinhos disponíveis não significava

que os irmãos devessem receber ao menos um carrinho cada uma vez que

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316

seria prerrogativa do menino doar todos os carrinhos para um só irmão. Porém,

os professores não concordavam com esta possibilidade.

Os professores retomavam suas críticas com os seguintes argumentos:

“não faz sentido dizer que vai presentear os irmãos e deixar algum ou alguns,

sem receber ao menos um presente”; “o enunciado está errado”; “o enunciado

deve ser mais claro quanto a isso”, etc.

Foram muitas as discussões que se sucederam quanto à possível não

clareza do enunciado, pois os professores continuavam a justificar sua

contrariedade uma vez que, segundo eles, a palavra “presenteá-los” impunha a

condição de que todos os irmãos devessem receber ao menos um dos

presentes.

De modo a dirimir as dúvidas, o pesquisador pediu que os professores

considerassem então as duas condições: que as soluções que fossem

apresentadas a partir daquele instante devessem indicar o eu estava sendo

considerado, se poderia ou não haver irmãos sem receber ao menos um

carrinho.

Uma vez que o tempo do encontro havia se esgotado o pesquisador

informou que a situação-problema seria retomada no início do encontro

seguinte.

Feita a habitual análise sobre os fatos ocorridos no encontro pelo

pesquisador em conjunto com orientador, ficou combinado que a situação-

problema seria retomada no encontro seguinte com nova redação e, para evitar

dúvidas, a situação-problema seria repartida em duas novas situações-

problema que deveriam contemplar as duas possibilidades.

As novas situações-problema estão apresentadas a seguir:

Situação-problema 7: Um menino tem 3 carrinhos de cores diferentes (azul,

verde e roxo) e decide presenteá-los a seus irmãos Fred e Téo. Considerando

que nenhum dos irmãos pode ficar sem receber presente, de quantas formas

diferentes pode presentear os carrinhos a seus irmãos?

a) Faça uma tabela indicando as possibilidades de distribuição dos carrinhos

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317

entre os irmãos;

b) Desenhe uma árvore de possibilidades mostrando a distribuição dos

carrinhos entre os irmãos;

c) Faça uma representação notacional para indicar o total de possibilidades

em que é possível fazer as diferentes distribuições dos carrinhos entre os três

irmãos.

Situação-problema 8: Um menino tem 3 carrinhos de cores diferentes (azul,

verde e roxo) e decide presenteá-los a seus irmãos Fred e Téo. Considerando

ser possível que o menino presenteie um irmão com todos os 3 carrinhos, se

assim desejar, de quantas formas diferentes pode presentear os carrinhos a

seus irmãos?

a) Faça uma tabela indicando as possibilidades de distribuição dos carrinhos

entre os irmãos;

b) Desenhe uma árvore de possibilidades mostrando a distribuição dos

carrinhos entre os irmãos;

c) Faça uma representação notacional para indicar o total de possibilidades

em que é possível fazer as diferentes distribuições dos carrinhos entre os três

irmãos.

Situação-problema 9: Um menino tem 4 carrinhos de cores diferentes (azul,

branco, verde e roxo) e decide presenteá-los a seus irmãos Fred, Bia e Téo.

Considerando que nenhum dos irmãos pode ficar sem receber presente, de

quantas formas diferentes o menino pode presentear os carrinhos a seus

irmãos?

a) Faça uma tabela indicando as possibilidades de distribuição dos carrinhos

entre os irmãos;

b) Desenhe uma árvore de possibilidades mostrando a distribuição dos

carrinhos entre os irmãos somente quando Fred ganha dois dos carrinhos;

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c) Faça uma representação notacional para indicar o total de possibilidades

em que é possível fazer as diferentes distribuições dos carrinhos entre os três

irmãos;

d) Considerando ser possível que o menino presenteie um irmão com todos os

3 carrinhos, se assim desejar, de quantas formas diferentes pode presentear

os carrinhos a seus irmãos?

Dado um tempo para as reflexões e discussões, as dificuldades para

encontrar as soluções permaneciam. Como eram muitas as críticas em relação

às três situações propostas e o grande desânimo que se constatava entre os

professores para continuar na busca das soluções consideramos oportuno que

as discussões sobre os problemas terminassem por ali, naquele momento,

prometendo retomá-las no último dos encontros e, então, seguimos adiante

com a proposição de outras situações-problema.

Chamamos a atenção do leitor para um fato importante desse estudo e

que cabe aqui, neste instante, ser considerado: até o final do 5º encontro da

sequência didática foram propostas diversificadas situações-problema de

contagem cujas soluções poderiam ser obtidas através do uso de uma

representação e dos princípios multiplicativo e aditivo (em conjunto ou não),

após a identificação do tipo de agrupamentos de objetos.

Durante a resolução dos problemas alguns professores se utilizaram de

alguma fórmula, própria da combinatória, de tal maneira que durante o

encaminhamento das discussões e reflexões acerca das soluções

apresentadas no quadro branco o pesquisador procurou discutir com o grupo

sobre alternativas para a solução dos problemas com outras estratégias, bem

como sobre a necessidade de uso daquela fórmula.

Desde o início da sequência didática foram propostas situações-

problema sem que estivéssemos selecionando-as segundo uma sistemática

em que primeiro viessem aquelas cujos agrupamentos atendem ao tipo A,

depois situações de agrupamentos do tipo B e assim sucessivamente como

habitualmente o fazem os livros didáticos.

Considerando nossas concepções, contrárias ao desdobramento do

conteúdo problemas de contagem segundo divisões por tipos de agrupamentos

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de objetos e, mais ainda, pelo fato de que a proposta desse estudo é o de

identificar e conhecer estratégias para se desenvolver esse conteúdo no

Ensino Fundamental não poderíamos incorrer nesse caminho de segmentar os

tipos de agrupamentos de objetos, uma vez que os princípios multiplicativo e

aditivo ou alguma representação dariam conta de resolvê-los.

Alguns professores apresentaram suas soluções utilizando-se de

representações ou de fórmulas para arranjos ou para permutações simples ou

para permutações com alguns dos objetos não distintos ou para combinações

simples, dependendo da identificação que faziam em relação ao tipo de

agrupamentos de objetos envolvidos, com prevalência para o uso de fórmulas.

Segundo Fischbein (1994), o componente algorítmico concerne nas

habilidades relativas à aplicação de técnicas e procedimentos padronizados de

resolução cujo desenvolvimento também requer uma formação meticulosa.

Assim, neste estudo, a apresentação das soluções para os problemas

de contagem deixou visível a prevalência do caráter algorítmico sobre o caráter

formal e o caráter intuitivo no conhecimento dos conteúdos acerca da

resolução dos problemas de contagem.

Esse é um fato que foi constatado pela análise dos dados que colhemos dos

questionários iniciais e durante os primeiros encontros da sequência didática e

que não podemos deixar de considerar, principalmente se levarmos em conta

que alguns professores têm sua prática docente desenvolvida há muitos anos

em turmas do Ensino Médio e esta tem sido a maneira como eles têm ensinado

combinatória a seus alunos, como foi possível identificarmos.

Por outro lado, apesar das sugestões apresentadas pelo pesquisador

desde os primeiros encontros de ensino desta sequência didática para que os

professores fizessem uso, preferencialmente, de representações, dos

princípios multiplicativo e aditivo e do raciocínio combinatório na busca das

soluções às situações propostas, o uso de fórmulas prevaleceu.

O componente formal, aqui identificado pela caracterização dos

agrupamentos dos objetos envolvidos na situação e o componente intuitivo,

presente nas soluções via esquemas e árvores de possibilidades e na

contagem direta dos agrupamentos na maioria das vezes dispensaria o uso do

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componente algorítmico, mas essas estratégias não prevaleceram durante a

resolução dos problemas de contagem.

Há um dado a se destacar no encaminhamento da sequência didática

com os professores: o fato de não compartimentar o estudo em agrupamentos

tipo A ou B ou C, em sequência, fez com que todos os professores tivessem de

mobilizar diferentes estratégias para identificar o tipo de agrupamento de

objetos que fazia parte da solução a ser obtida e em seguida efetuarem a

contagem das possibilidades de solução de maneira direta ou com o uso de

uma ferramenta combinatória ou, até diretamente, a fórmula.

Se durante a sua prática o professor irá se utilizar de uma

representação, do princípio multiplicativo, do princípio aditivo, do raciocínio

combinatório ou usar uma fórmula, é uma questão sobre a qual essa formação

não foi suficiente para torná-lo convencido para a não escolha do uso de uma

fórmula de maneira intensa. Identificamos resistência a esse respeito e

entendemos as razões delas.

Assim, todo o repertório de fórmulas que alguns professores conheciam

passou a ser utilizado em algumas das respostas que eles ofereceram para as

reflexões e as discussões de todo o grupo, contribuindo para que

sugeríssemos, sempre, uma alternativa ao seu não uso. Nas vezes em que as

soluções foram apresentadas somente com o uso de uma fórmula, o

pesquisador, depois da análise das respostas, promovia reflexões e discussões

no sentido de que os professores buscassem alternativas à solução

apresentada com o uso de uma representação e a aplicação dos princípios,

favorecendo a apropriação de novas estratégias de resolução e, assim,

contribuindo para aumentar a imagem conceitual.

Os dados de pesquisa que foram observados, identificados e registrados

nesses primeiros encontros nos levaram a concluir de que era preciso admitir o

uso da fórmula como de uso recorrente e, por essa razão, que era imperioso

partir para a sistematização dos conteúdos e a dedução dessas fórmulas de

maneira a oferecer todas as possibilidades para o ensino e a aprendizagem

dos problemas de contagem, para toda a Educação Básica.

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Ademais, os professores solicitaram ao pesquisador que apresentasse a

dedução das fórmulas para os agrupamentos de objetos que eles utilizavam

com frequência em suas aulas. De maneira a atender à essa demanda dos

professores é que nos propusemos a apresentar a dedução das fórmulas, em

reflexões e discussões conjuntas, que serão apresentadas em seguida

Assim, a partir desse momento, sentimos necessidade de sistematizar e

explorar as características desses agrupamentos e de deduzir as fórmulas que

os professores usam de maneira habitual para cada um dos tipos de

agrupamentos de objetos presentes em situações-problema de contagem

próprias do ensino na Educação Básica, por duas razões:

� A primeira pelo fato de considerar que é preciso que os

professores saibam identificar as características presentes nos

tipos de agrupamentos de objetos envolvidos em uma situação de

contagem uma vez que os resultados dos instrumentos

diagnósticos preliminares mostraram o desconhecimento destas

características por grande parte do grupo;

� A segunda pelo fato de não ser possível negar que a

apresentação do conteúdo de combinatória (problemas de

contagem) nos livros didáticos do Ensino Médio e também nos

Cadernos do Professor e do Aluno da Secretaria de Estado de

Educação de São Paulo é feita de maneira compartimentada

segundo quatro seções: Princípio Fundamental da Contagem,

Arranjos, Permutações e Combinações.

Constatou-se a prevalência do aspecto algorítmico pelos professores no

uso de fórmulas para cada um destes tipos de agrupamentos de modo que

essas fórmulas pudessem dar conta da contagem total das possibilidades que

atendem às situações-problema de contagem.

Assim, considerando que os professores e os alunos se utilizam deste

material pedagógico (livro didático, Cadernos do Professor e Cadernos do

Aluno) faz-se necessário que os professores compreendam e saibam deduzir

essas fórmulas de maneira que tenham condições de fazer o mesmo com seus

alunos.

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Portanto, o encaminhamento que fizemos até o último dos encontros foi

o seguinte: caracterizar os agrupamentos e deduzir as fórmulas para a

contagem das soluções a situações-problema de permutações simples,

permutações em que nem todos os objetos são distintos, combinações simples

e permutações circulares.

Conhecimento do professor sobre permutações simples Os propósitos foram o de caracterizar uma permutação simples e a

obtenção de uma fórmula que permitisse calcular a totalidade de permutações

simples que satisfazem às condições impostos pelo problema, enquanto os

professores refletiam e discutiam sobre a solução de uma situação-problema

de contagem.

Dentre diversas situações-problema que foram propostas para resolução

e reflexões, destacamos a situação a seguir:

Situação-problema 1: De quantos modos diferentes Ana, Beto e Clara podem

sentar-se em um banco que possui três lugares, lado a lado?

O quadro a seguir apresenta o modo como foram feitas as reflexões e as

discussões pelos professores e a mediação encaminhada pelo pesquisador de

maneira que os professores definissem (caracterizassem) uma permutação

simples contendo n objetos, distintos entre si.

Quadro 7. Conhecimentos do professor sobre permutações simples. Fase de intervenção.

Ações do Pesquisador

Falas/registros/ações dos professores participantes de

nossa pesquisa

Observações do pesquisador

“Alguém tem uma solução diferente daquela que o colega apresentou?”.

“Alguma outra solução?”.

“Antes de analisarmos as soluções, peço que reflitam um pouco sobre o enunciado da situação”. “O que é pedido na situação?”. “Que tipo de agrupamento deve ser considerado?”.

“Sim, professor P14. Mas que tipo de agrupamento?”. “Que características esses agrupamentos devem ter?”. “Alguém acrescenta algo mais a essas duas características que os colegas

P7: “Vou escrever aqui na lousa a minha solução: P3 = 3.2.1 = 6”.

Silêncio.

P1: “Eu escrevi assim: 3! = 3 x 2 x 1 = 6 que é o mesmo resultado que está ali, apontando. Há 6 modos distintos de se posicionar as três pessoas nos três lugares disponíveis no banco”.

P14: “Agrupamento de

Finalidade: “Caracterizar” permutações simples com o grupo de professores, ou seja, agrupamentos em que é preciso ordenar/arrumar todos os objetos, distintos entre si, em exatamente o mesmo quantitativo de posições.

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323

mencionaram?”.

“De fato, essas duas características são importantes para determinar o quantitativo de possibilidades: agrupamentos nos quais a ordem entre os objetos diferencia agrupamentos e o fato de que a quantidade de pessoas é igual à quantidade de lugares disponíveis”.

“Assim, o resultado apresentado pelos dois colegas está correto. Vamos agora fazer uma análise a respeito dessas soluções”.

“Professor P7: o que significa a indicação P3 e porque você a utilizou?”

“Como você sabe que se trata de uma situação-problema que envolve o conteúdo de permutações simples, se nada foi dito no enunciado?”.

“Professor P7: Você pode apresentar essas seis possibilidades através de uma árvore de possibilidades?”.

“Apontando para a árvore que o professor P7 escreveu na lousa: Essa árvore que o professor P7 nos apresentou mostra todas as seis possibilidades, que estão aqui nos “galhos terminais”.

“Professor P7: permita-me complementar a sua solução, escrevendo os respectivos agrupamentos (as arrumações das três pessoas nos três bancos):”.

1º lugar 2º lugar 3º lugar Agrupamento

Beto Clara (Ana, Beto, Clara)

Ana

Clara Beto (Ana, Clara,Beto)

Ana Clara (Beto, Ana, Clara

Beto

Clara Ana (Beto,Clara, Ana)

Beto Ana (Clara, Beto, Ana)

Clara

Ana Beto (Clara, Ana, Beto

“Eu complementei a árvore feita pelo professor P7 para mostrar que cada um desses agrupamentos é uma possibilidade diferente de se ter as três pessoas sentadas no banco e

pessoas”.

P7: “A ordem das pessoas é importante”.

P7: “Que temos três pessoas e três lugares no banco”.

P7: “Esse é o símbolo de permutações simples e, como são três pessoas escreve-se assim, apontando para a solução”.

P7: “Em tenho três possibilidades para o primeiro lugar, duas possibilidades para o segundo lugar e uma possibilidade para o terceiro lugar. Aí, dá como resultado a quantidade de seis modos diferentes de as três pessoas se sentarem”.

P7: “Mas é claro que sim. Está aqui”.

1º lugar 2º lugar 3º lugar

Beto Clara

Ana

Clara Beto

Ana Clara

Beto

Clara Ana

Beto Ana

Clara

Ana Beto

Finalidade: Encaminhar para a caracterização das permutações simples de n objetos distintos a partir da resolução da situação-problema proposta.

Interpretação:

Pareceu-nos que alguns professores associam o fato de arrumar/embaralhar objetos ou pessoas às permutações simples sem saberem as razões do porque fazem isso. Por vezes associam o cálculo para determinar as possibilidades de ordenações ao uso de fatorial e de permutação simples, não considerando particularidades dos agrupamentos, quando for o caso. Esses símbolos/nomenclaturas: n! e Pn, estão bastante arraigados no prática desses

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Dando procedimento às reflexões e discussões para a caracterização

das permutações simples, e em continuidade às questões colocadas no quadro

acima, propusemos a seguinte situação-problema:

De modo a avançar em nossas discussões sobre permutações, pergunto a

vocês: “De quantos modos diferentes Ana, Beto e Clara podem sentar-se em

um banco que possui dois lugares, lado a lado?”. “Nesta situação têm-se o

conceito de permutações simples?“.

“E se agora tivéssemos quatro lugares disponíveis e as mesmas três pessoas

da situação que foi proposta antes?” “O que vocês acham disso?”.

O quadro a seguir, que é continuação do quadro acima, apresenta o

modo como prosseguiram as reflexões e as discussões pelos professores, de

mostrar como se apresentam essas diferentes maneiras de ordenar as três pessoas ou, então, como as pessoas estariam sentadas”.

“Professor P1, o que significa 3!?” “Porque essa notação foi usada, esse símbolo?”

“Então, quer dizer que toda vez que se está diante de uma permutação simples temos que usar fatorial? O que é fatorial?”.

“Professor P1: Então, o que interessa é a quantidade de pessoas? E a quantidade de lugares que estão disponíveis não interessa saber?”.

“Porque não se pode escrever como fez o professor P7?”

“Mas vocês ainda não explicaram porque a solução à situação tem que usar permutação simples”.

“Ainda não sabemos o que é uma permutação simples”.

“O professor P12 está certo?”

“Não é bem assim. Permutação simples não pode ser uma maneira de ordenar, como escreveu o professor P12, mas, sim, uma ordenação dos objetos considerados”.

“Porque não se pode falar assim: permutação simples de n objetos é cada ordenação, arrumação, colocação, etc”.

P1: “Toda vez que se tem permutações simples se usa fatorial, apontando para a sua solução”.

P1: “Poder, pode. É só outra maneira de se escrever a mesma coisa que o colega apresentou na solução aqui, apontando”.

P1: “É uma maneira mais direta de mostrar a solução, pois 3! Indica que tem três pessoas”.

Silêncio.

Silêncio.

P12 escreve na lousa: “Permutação simples é uma maneira de ordenar coisas, objetos ou até mesmo pessoas em posições distintas pré-determinadas. Exemplo: anagramas da palavra ROMA”.

Alguns dos professores:

A resposta do professor P12 está certa, sim!

professores e lhes parece natural fazer isso sem uma análise mais aprofundada sobre o enunciado e os tipos de agrupamentos envolvidos.

Assim, alguns professores ficaram confusos quando indagamos o fato de que eles utilizam a mesma ideia para o que é uma permutação simples e o cálculo do número de possibilidades de arrumar ou embaralhar os distintos objetos, ou seja, o número de permutações simples (número de possibilidades de ordenar todos os objetos).

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maneira a permitir que os professores definam (caracterizem) uma permutação

simples contendo n objetos, distintos entre si.

Quadro 8. Conhecimentos do professor sobre permutações simples. Continuação. Fase de

intervenção.

Ações do

Pesquisador

Falas/registros/ ações dos

professores participantes de nossa pesquisa

Observações do

pesquisador

“Então, o que é preciso para se ter permutações simples?”

“A definição que o professor P12 escreveu está correta? Falta complementar alguma coisa?”

“E nos dois casos que me referi antes?” “O que se tem a fazer?”

“No primeiro caso, como há 3 pessoas e dois lugares, não é preciso escolher, mas ordenar duas dessas pessoas nos dois lugares disponíveis. Isso pode ser feito de 3.2 = 6 modos diferentes, pela aplicação do Princípio Multiplicativo”;

“No segundo caso, como há 3 pessoas e 4 lugares, deve-se, primeiramente, escolher os três lugares em que essas pessoas irão sentar-se (que é um procedimentos que veremos adiante) e, depois, contabilizar o número de possibilidades das três pessoas se sentarem nos três lugares escolhidos, considerando cada umas das situações de lugares que foram escolhidos para elas se sentarem, o que recai numa situação análoga a que estamos procurando resolver. Mas esse é um assunto para ser tratado mais tarde.

“Essa maneira de falar sobre permutação simples ainda não está clara, não é mesmo? Parece que está meio confusa a caracterização acerca do que é uma permutação simples e como calcular a totalidade de permutações simples”.

“Ajudem-me a encontrar uma adequada caracterização para permutação simples e analisar as soluções que foram apresentadas pelos dois colegas.”

O pesquisador toma a caneta e escreve na lousa:

P12: “Permutação simples é uma maneira de ordenar coisas, objetos ou até mesmo pessoas em posições distintas pré-determinadas. Exemplo: anagramas da palavra ROMA”.

P4: “Não!”

P4: “Não pode ser uma permutação simples porque só tem dois lugares e três pessoas”.

P11: “Os objetos ou pessoas tem que ser diferentes e a quantidade de lugares deve ser igual à quantidade de objetos ou pessoas”.

P9: “Deve-se escolher as pessoas para depois ordená-las nos lugares”.

Finalidade: Encaminhar para a caracterização das permutações simples de n objetos distintos, a partir da obtenção das seis soluções para a situação-problema que foi proposta.

Interpretação:

Pareceu-nos que alguns professores associam o fato de arrumar/embaralhar objetos ou pessoas às permutações simples, sem terem certeza do porque fazem isso”.

Finalidade: Mostrar que uma permutação simples é uma maneira de ordenar/embaralhar uma quantidade de k objetos distintos em exatamente k posições, cada posição contendo um só objeto.

Mostrar que, diferentemente do caso de arranjos de n objetos, tomados k a k, onde k é menor do que n, ou seja, o quantitativo de objetos escolhidos para a ordenar é menor do que a quantidade de objetos disponíveis, nas permutações simples tem-se como característica marcante o fato de é preciso ordenar todos os distintos objetos em exatamente a mesma quantidade de lugares/posições disponíveis para tal.

No caso particular em que

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1º lugar 2º lugar 3º lugar

“Os agrupamentos são formados pela ordenação das três pessoas nos três lugares disponíveis, não é mesmo?”.

“Para a 1ª posição há quantas possibilidades?”

“Essas três possibilidades seriam as de escolher uma das três pessoas Ana, Beto ou Clara para se sentar aqui, apontando”; Assim, uma das pessoas é escolhida e ela se senta em um dos três lugares, não é mesmo?.

Quantas possibilidades tem a segunda pessoa para se sentar?

Para a 2ª posição há duas possibilidades uma vez que uma das três pessoas já se sentou na primeira posição.

Quantas possibilidades tem a terceira pessoa para sentar-se? Como o professor P1 disse, finalmente para a 3ª posição resta somente uma possibilidade: a última das pessoas se sentar aqui, apontando.

Assim, pelo Princípio Multiplicativo, há 3x2x1 = 6 possibilidades diferentes para posicionar essas três pessoas nos três lugares.

Neste caso, cada uma dessas seis possibilidades é uma permutação simples das pessoas Ana, Beto e Clara se sentarem no banco que tem três lugares, apontando para a lousa. O que se fez foi aplicar o Princípio Multiplicativo à situação que foi posta. Como o quantitativo de pessoas é três, e também três é o número de lugares disponíveis para elas se sentarem, uma em cada lugar, diz-se que cada um dos agrupamentos que estão aqui na árvore de possibilidades (aponta) é uma permutação simples de três distintos objetos (neste caso, três pessoas). Assim, indicam-se por P3 , quando se tratar de ordenar/posicionar/embaralhar três distintos objetos em, exatamente, três lugares/posições. O cálculo de P3

está referido à aplicação do Princípio Multiplicativo e, como tal, será sempre um produto em que o primeiro dos fatores é o número dos distintos objetos e o último fator é sempre o 1 (considerando a ordem decrescente de se escrever os

P1: “É isso mesmo”.

P1: “três”.

P1: “duas”.

P1: ”uma”.

k = n, para os k objetos “escolhidos”, na verdade não se tem essa liberdade de escolha, pois todos os objetos serão utilizados para serem ordenados/embaralhados e aí, então, trata-se do caso de permutações simples. Assim, os arranjos simples se confundem com as permutações simples quando todos os objetos envolvidos são utilizados.

É essa a característica que se quer que fique clara para todos os professores.

Finalidade: Mostrar que é possível utilizar a notação Pn ou n! para determinar todas as diferentes possibilidades de ordenações com n objetos distintos. O mesmo se aplica para determinar a quantidade de anagramas de uma concatenação de n distintas letras.

O total de possibilidades de ordenar n distintos objetos é, então:

Pn = n! = n.(n-1).(n-2).....1

Observações: Constatou-se uma compreensão e uma superação das dificuldades reveladas no diagnóstico quanto à caracterização das permutações simples e a maneira de como proceder para se determinar todas as possibilidades. Os professores perceberam a importância de que todos os objetos/pessoas/letras devam ser distintos e que a quantidade de ordenações, espaços, lugares, anagramas é calculada como acima.

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Finalizando as discussões, propusemos a seguinte situação-problema:

Situação-problema 3: Quantos anagramas tem a palavra AMOR?

O quadro a seguir, continuação do quadro acima, apresenta o modo

como prosseguiram as reflexões e as discussões pelos professores, de

maneira que os professores definissem (caracterizassem) uma permutação

simples contendo n objetos, distintos entre si.

fatores do produto). Por causa disso é que se escreve P3 = 3 x 2 x 1 = 6. A notação fatorial também se refere a uma maneira de escrever um produto em que todos os fatores são números naturais, e que se inicia por um deles e termina sempre pelo número 1 e representa uma notação simplificada do produto, podendo, assim, ser usada nestes casos. Mas não quer dizer que temos, necessariamente, que usar fatorial nos casos de permutações! É uma notação para se escrever o produto. Na verdade, se pensarmos em relação ao que já vimos nos encontros anteriores, o cálculo da totalidade de permutações simples nada mais é do que um caso particular do uso de arranjos simples e, em último caso, como se pode ver aqui, da aplicação do Princípio Multiplicativo, mais uma vez. Tudo é derivado desse Princípio, razão porque fizemos questão de trabalhar com ele, exaustivamente, nos quatro primeiros encontros. Finalizando: diz-se que a situação se refere ao caso de permutações simples quando se quer ordenar/embaralhar todos os objetos, distintos, (colocá-los segundo uma ordem) para a mesma quantidade de posições.

Mas, há os casos em que é preciso ordenar/arrumar objetos em que nem todos eles são distintos entre si, ou seja, em que há elementos repetidos, que é o caso das permutações com objetos repetidos e também outras situações em que os objetos devem estar ordenados/dispostos segundo uma “arrumação/disposição” de maneira próxima à forma de um círculo, que é conhecida poro caso das permutações circulares.

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Quadro 9. Conhecimentos do professor sobre permutações simples. Continuação. Fase de intervenção.

Durante a resolução das situações-problema constantes do quadro

acima foi proposto que os professores explorassem o Princípio Multiplicativo, o

Princípio Aditivo, o uso recorrente uso raciocínio combinatório e a construção

de árvores de possibilidades (adequada pelo pequeno número de objetos

envolvidos) ou outra representação, para obter a solução.

Entendemos que a proposição de uma situação-problema de contagem,

pelo fato de se revestir de um desafio no sentido de mobilizar estratégias para

dar conta da solução, também permite que essa busca da solução faça emergir

a apropriação de conteúdos - a determinação do tipo de agrupamento objetos

que está presente - e os procedimentos utilizados.

Assim, a proposição das duas situações-problema de contagem teve

como objetivo o de permitir que os professores disparassem as estratégias e os

procedimentos necessários para a construção de um novo conceito

combinatório. Essa é uma alternativa, um ponto de partida, que utilizamos para

caracterizar os agrupamentos de objetos, considerando a necessidade do

pensar combinatório (raciocínio combinatório) e com ela encaminhar a

Ações do Pesquisador

Falas/registros/ ações dos

professores participantes de nossa pesquisa

Observações do pesquisador

Quase todos os professores responderam de modo uníssono:

4! = 24 possibilidades.

Finalidade: Mostrar que é possível utilizar a notação Pn ou n! para determinar todas as diferentes possibilidades de ordenações com n objetos distintos. O mesmo se aplica para determinar a quantidade de anagramas de uma concatenação de n distintas letras.

O total de possibilidades de ordenar n distintos objetos é, então:

Pn = n! = n.(n-1).(n-2).....1

Observações: Constatou-se uma compreensão e uma superação das dificuldades reveladas no diagnóstico quanto à caracterização das permutações simples e a maneira de como proceder para se determinar todas as possibilidades. Os professores perceberam a importância de que todos os objetos/pessoas/letras devam ser distintos e que a quantidade de ordenações, espaços, lugares, anagramas é calculada como acima.

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obtenção da fórmula para a contagem das possibilidades de solucionar cada

um dos problemas.

Assim, uma permutação simples de n objetos distintos foi caracterizada

pelo grupo como sendo um agrupamento que contém todos os n objetos que

satisfazem às condições impostas por um problema de contagem, no sentido

de obter uma ordenação da totalidade desses objetos, ou seja: uma

permutação simples ocorre quando todos os objetos são ordenados/arrumados

em exatamente o mesmo número de posições/lugares que a quantidade de

objetos.

No quadro acima mostramos como o grupo explicitou uma maneira

(fórmula) que determina a contagem de todas as possibilidades possíveis de

ordenar os n objetos (total de permutações simples de n objetos distintos).

Essa maneira de explicitar foi decorrente das reflexões e discussões do

grupo a partir das soluções apresentadas no quadro branco para um particular

problema de contagem proposto aos professores e o refinamento das

definições adotadas por alguns professores quando das respostas à pergunta

do questionário Q3 e derivada da prática de alguns deles, contando com a

mediação do pesquisador para encontrar a melhor maneira com que o grupo

compreendesse e se apropriasse do conceito e a maneira adequada de fazer

isso.

Entendemos que quando estamos diante de um problema de contagem

com a necessidade de identificar o tipo de agrupamento de objetos envolvido e

a maneira de proceder à contagem desses agrupamentos, mais que uma

definição formal que acrescentaria pouco para a compreensão do conceito é

fundamental que o grupo caracterize o agrupamento de objetos e se aproprie

de um modo para quantificar todas as possibilidades de se construírem esses

agrupamentos.

Conhecimento do professor sobre permutações em que nem todos os objetos são distintos

Os propósitos foram o de caracterizar uma permutação em que nem

todos os objetos são distintos e a obtenção de uma fórmula que permitisse

calcular a totalidade de permutações com essas características e satisfazem às

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condições impostos pelo problema enquanto os professores refletiam e

discutiam sobre a solução de uma situação-problema de contagem.

Dentre diversas situações-problema que foram propostas para resolução

e reflexões, destacamos a situação a seguir:

Situação-problema 1: Em um jogo de futebol o placar final apontou 4 x 3 para

o time visitante.

a) Quantas são as possibilidades em que os gols dessa partida possam ter

ocorrido?

b) Faça uma representação mostrando todas as possibilidades em que os gols

poderiam ter saído durante a partida de futebol atendendo à condição da

totalidade dos gols.

c) Como você faria para desenvolver a resolução dessa situação com seus

alunos?

d) Em qual (ou quais) anos do Ensino Fundamental você considera adequado

trabalhar propor essa questão aos alunos? Por quê?

O quadro a seguir apresenta o modo como foram feitas as reflexões e as

discussões pelos professores e a mediação encaminhada pelo pesquisador de

maneira que os professores definissem (caracterizassem) uma permutação em

que nem todos os n objetos são distintos.

Quadro 10. Conhecimentos do professor sobre permutações em que nem todos os objetos são distintos. Fase de intervenção

Ações do

Pesquisador

Falas/registros/ações dos professores

participantes de nossa pesquisa

Observações do

pesquisador

“A totalidade dos professores presentes respondeu o item (a) em conjunto com o item (b) apresentando a representação como ao lado e respondendo que o total era de 19 possibilidades,”.

“Indicaram V como “visitante” e C como “casa” e interpretaram a situação-problema como os possíveis placares da partida até 4 x 3 para o visitante”.

“A totalidade dos treze professores fez a representação como ao lado ou através de uma tabela de dupla entrada com os

P12: “Sem considerar que todo jogo inicia-se por 0 x 0, temos em uma tabela de dupla entrada, e portanto 19 possibilidades”

P1: “Nós fizemos a mesma coisa que o professor P12, mas em uma árvore de

Finalidade:

Através de uma situação-problema cujo enunciado é familiar a todos: gols feitos em uma partida de futebol, explorar a obtenção de todas as soluções através de uma árvore de possibilidades e caminhar no sentido de conceitualizar anagramas com repetição de letras e a maneira de obter o total de

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possíveis placares do confronto”.

“Essa situação-problema fez com que todos os professores se movimentassem entre os grupos de modo a encontrarem uma solução que fosse do entendimento de todos, pois o enunciado da situação não lhes era familiar”.

Foi dado um tempo para que todos os professores completassem a árvore em seus apontamentos e o resultado fosse apresentado. Vários resultados foram apresentados, mas estavam errados.

Os professores foram se inquietando e consideraram a situação-problema bastante trabalhosa e cansativa.

O pesquisador sugeriu que, a guisa de um exemplo com o mesmo propósito, eles construíssem a árvore de um possível placar de V 2 x C 2 e, então respondessem: qual é o resultado?

Para essa sugestão, todos acertaram a resposta, que é seis. Depois, o pesquisador sugeriu o placar: Visitante 3 x 2 Casa.

Os professores responderam corretamente, após terem construído a respectiva árvore de possibilidades.

O pesquisador perguntou se teriam como resolver a situação através de uma operação aritmética e, para tal, que observassem a sequência dos gols constantes nos “galhos” terminais da árvore de possibilidades.

Dado um tempo, nenhuma das respostas que foram apresentadas estava correta.

O pesquisador começou por analisar o placar 2 x 2 e perguntou aos professores o que eles viam de comum nas indicações constantes nos “galhos” terminais através das “quádruplas de possibilidades de ordenação dos gols na partida”.

Eles então perceberam que por duas vezes aparecia a letra V e por duas vezes a letra C. Para o placar 3 x 2, perceberam então que por 3 vezes aparecia o V e por 2 vezes aparecia o C.

Mais uma vez, estipulado um tempo para que refletissem a respeito, os professores não encontraram uma expressão aritmética que desse conta da solução.

O pesquisador chamou a atenção de que, se o time visitante havia feito 3 gols, e esses três gols foram indicados por V,

possibilidades”.

V C

1

0 2

3

0

1

1 2

3

0

1

2 2

3

0

1

3 2

3

0 19

1 possibilidades

4 2 diferentes

3

“As respostas foram desde a árvore de possibilidades até a tabela de dupla entrada”.

“Um professor indicou o 6º ano; três professores indicaram o 7º ano, três professores indicaram o 8º ano, um professor o 9º ano, dois professores o Ensino Médio: “pelo grau de dificuldade” e três professores não responderam”.

possibilidades desses anagramas.

Observação:

O grande número de gols na partida: sete, o que não é comum, trouxe como resultado o desgastante trabalho de construir uma árvore de possibilidades que desse conta da solução à situação proposta e o cansaço para a procura da solução correta fez com que os professores desanimassem e o objetivo a que se propunha a sua exploração não foi totalmente obtido.

Melhor seria se tivéssemos começado por um placar 2x1 e, talvez, em uma segunda opção com o placar 3x2 fosse a estratégia mais adequada a sugerir. Fica o aprendizado.

Consideração:

Quando os professores apresentaram a solução no quadro branco, o pesquisador pediu que eles relessem o enunciado da situação-problema e se certificassem de que o que fizeram era o que o enunciado pedia.

Após relerem o enunciado perceberam, com a mediação do pesquisador, que tinham considerado os placares possíveis de uma partida, mas não todos. Porque não haviam considerado V 0 x 2 C, por exemplo?, e daí ficou esclarecido que o que foi pedido são todas as possibilidades de ocorrência dos sete gols na partida.

Considerando o grande número de possibilidades, a árvore de possibilidades foi sendo construída, mas não foi completada no quadro branco.

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eles estariam representados em três das cinco posições da “quíntupla” de possibilidades e os outros dois gols do time da casa, indicados por C, estariam em duas das cinco posições.

Assim, a totalidade de possibilidades é o resultado da permutação com repetição de 5 objetos, sendo 3 iguais a V e dois iguais a C, totalizando 5! ÷ (3!.2!) = 10 possibilidades.

Desse modo, o total de possibilidades da situação-problema proposta é de 7! ÷ (3!.4!) = 35 possibilidades.

Muito embora os professores, a esta altura, já tenham se apropriado de procedimentos e reunido experiências para enfrentar este tipo de situação-problema, consideramos que, talvez devido ao fato de não terem compreendido o enunciado da questão, de início, eles tenham se desgastado como a demora na obtenção da solução à situação e as reflexões já não eram boas o suficiente para motivá-los a prosseguir.

Mesmo tendo sido feito a releitura e o posterior entendimento do enunciado, a situação ainda apresentava dificuldades para que pudessem chegar a obter a solução até o fechamento da “quíntupla de ordem dos gols da partida”, no exemplo do placar V 3 x 2 C.

Por conta disso consideramos que a situação-problema não foi adequada para este encontro.

O objetivo inicial de poder identificar - através da árvore de possibilidades - situações de permutações com repetição de objetos não foi boa, em virtude de que, talvez por haver um enorme número de possibilidades: um total de 35, isso causou um enorme cansaço aos professores e inviabilizou o objetivo planejado.

Observação:

Ficou para o próximo encontro a exploração do conceito de permutações com repetição de objetos.

A proposição da situação-problema acima teve como objetivo inicial o de

verificar como os professores reagiriam diante da busca da solução para uma

situação-problema na qual, em princípio, eles não iriam mobilizar

procedimentos anteriormente trabalhados (mesmo considerando que a árvore

de possibilidades se presta a esse contexto) e cuja resolução permitiria

identificar o tipo de agrupamento de objetos envolvidos na resolução da

situação proposta, caminhando para uma caracterização deles.

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Essa situação-problema permitiu ao grupo discussões e reflexões

proveitosas pelo fato de se tratar de uma situação que habitualmente não está

presente nos livros didáticos.

O enunciado, em princípio facilmente compreensível para os professores

(ao menos era essa, a concepção do pesquisador), não se confirmou quando

eles se debruçaram nas reflexões para obter a solução e as discussões que se

seguiram.

Então, considerando que o professor viria a se deparar com um

problema contextualizado e de enunciado fácil, esperava-se que ele

mobilizasse novas estratégias para resolvê-lo em função de não haver

resolvido nenhum problema similar.

Em princípio o uso de uma fórmula não daria conta da resolução (muito

embora ela possa ser utilizada) considerando que ela não é usual para essa

classe de problemas e também porque seu uso demandaria mobilizar

conhecimentos mais específicos.

Por essa razão, quando propomos essa situação-problema

consideramos que seria pouco provável que a resolvessem através da

aplicação de uma fórmula, pois era nosso propósito que os professores

identificassem que os agrupamentos construídos levariam à determinação da

fórmula e, então, restaria aos professores mobilizar novas estratégias de

resolução via representações.

Ao sugerir o uso da árvore de possibilidades para obter as soluções e a

possibilidade de efetuar a contagem direta dos agrupamentos envolvidos nosso

objetivo foi o de, mais uma vez, mostrar a potencialidade dessa representação

como uma alternativa viável para obter a solução.

Quando a árvore estivesse completa ela serviria para auxiliar o professor

na busca de uma maneira diferente para obter a solução com o uso de

operações aritméticas e também permitir que o professor refletisse sobre os

procedimentos que levaram à construção da árvore e às similaridades que

existem entre os agrupamentos de objetos obtidos favorecendo a obtenção da

fórmula, um dos propósitos quando da proposição do problema.

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De início, a apresentação das soluções e as discussões que se

seguiram levaram ao entendimento equivocado dos professores de que as

reflexões deveriam ser feitas em função dos possíveis resultados (placares).

Esta possibilidade, evidentemente, não estava presente no enunciado uma vez

que ele se referia aos gols que foram convertidos durante a partida.

Feitas as devidas explicações, reflexões e discussões a respeito do

entendimento que deveria ser emprestado ao enunciado, um novo tempo foi

disponibilizado para que os professores apresentassem a solução à situação

proposta.

Após a apresentação de nova rodada de possíveis soluções, embora os

professores tenham mobilizado diferentes modos de encaminhar resoluções

para obter a solução, até com o uso de fórmulas, elas não estavam corretas. O

pesquisador aproveitou o encaminhamento dado por uma delas para, junto

com os professores, encaminhar a construção da árvore de possibilidades

(considerada cansativa por alguns professores) e proceder à caracterização da

aplicação da fórmula que dá conta desta solução. Por conta disso, creditamos

como bastante proveitosas as reflexões e as discussões que o grupo de

professores promoveu.

As discussões mostraram-nos pistas de como os professores estavam

“presos” à resolução de situações-problema com as quais seja possível que

façam analogias com o que conhecem e dominam, mas têm dificuldades

quando um novo problema é proposto para que eles o resolvam e, de início,

não tenham lembrança de terem resolvido algum problema similar àquele.

Ou seja, os professores não se dão conta de lembrar de algum problema

análogo no qual possam se apoiar para fazer relações e, por essa razão,

passam então a utilizar-se do repertório de estratégias, procedimentos e

fórmulas que conhecem na ânsia de obter, de imediato, a solução do problema

com quase nenhuma reflexão a respeito do quantitativo que obtiveram e as

operações que utilizaram e, muitas vezes deixam de lado a oportunidade de

desenvolver o raciocínio combinatório junto a novas estratégias, as quais

poderiam vir a mobilizar novas ideias na busca da solução.

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É o fazer pensar, o agir, o tomar decisões, que eles ainda não estão

habituados a fazer com frequência.

Por outro lado, mesmo quando fazem relações com outras situações

com as quais julgam haver correlação, eles também necessitam realizar novas

mobilizações, mesmo que simples e também aí encontram dificuldades para

encaminhá-las, uma vez que após a leitura do enunciado do problema de

imediato já querem “enquadrar” o novo problema tal qual a algum daqueles que

eles tomam como referência.

Assim, essa situação-problema mostrou que nem com a disponibilidade

de algumas fórmulas que eles conheciam para serem usadas e estratégias que

eles dominavam, até então, foram suficientes para que a solução fosse obtida.

Tal fato desestabilizou parte do grupo que ainda insistia em se valer do

uso intensivo de fórmulas na ânsia de obter a solução ao problema, o que não

ocorria e os deixava desanimados frente aos sucessivos insucessos de

resolução.

Embora o pesquisador tenha pedido que eles poupassem o tempo com

o uso das fórmulas para obter a solução àquele particular problema e se

debruçassem em compreender o conceito que estava por detrás da busca da

solução fazendo uso da construção de uma árvore de possibilidades de

maneira a que pudessem identificar as características dos objetos envolvidos,

mesmo que não construíssem completamente a árvore, não foi atendido pela

maioria dos que ainda tentavam obter a solução.

Portanto, em princípio não haveria uma fórmula cuja aplicação imediata

pudesse dar conta da solução e por isso os professores deveriam mobilizar

outros procedimentos para obter a solução.

As reflexões, discussões e preocupações presentes durante o

encaminhamento para a obtenção da solução para esta situação-problema

também estão presentes nas orientações dos autores do “Caderno do

Professor” em São Paulo (2009), com as quais partilhamos de suas ideias:

[...] consideramos fundamental que os alunos encarem cada situação-problema desse conteúdo com se a estivessem fazendo pela primeira vez, de maneira que explicitem o raciocínio que adotam por intermédio de desenhos, diagramas etc. Nesse contexto, a representação das árvores de possibilidades é prioridade, se não em

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100% dos problemas, mas sempre que sentirem uma nova dificuldade (SÃO PAULO, 2009, p. 24).

Em concordância com as ideias dos autores da citação acima e

conforme o nosso entendimento acrescentamos à essa citação - a partir da sua

finalização - o seguinte: “ou então quando julgarem mais adequadas à

resolução da situação-problema”, principalmente quando se está

desenvolvendo o conteúdo de Problemas de Contagem no Ensino

Fundamental.

Segundo a avaliação que fizemos com os professores e considerando

que a resolução da situação-problema acima não foi suficiente para a

apropriação dos conceitos referentes às permutações em que nem todos os

objetos são distintos e também ao fato de que uma fórmula para calcular a

totalidade das possibilidades não foi estabelecida, uma nova situação-problema

foi proposta de modo a alcançar esses propósitos.

Assim, para complementar a discussão sobre as questões relacionadas

com esse tipo de permutações foi retomada uma questão presente no

questionário Q2 que tinha como objetivo o de tratar das permutações que têm

alguns objetos repetidos - objetos iguais - diferentemente do que foi o

tratamento que se emprestou para o caso das permutações simples - caso em

que todos os objetos são distintos entre si.

Dentre diversas situações-problema que foram propostas para resolução

e reflexões, destacamos a situação a seguir:

Situação-problema 2: Quantos anagramas tem a palavra OVO?

O quadro a seguir apresenta o modo como foram feitas as reflexões e as

discussões pelos professores e a mediação encaminhada pelo pesquisador de

modo que os professores ampliassem seus conhecimentos sobre os casos

particulares de anagramas (permutações) em que nem todos os n objetos são

distintos.

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Quadro 11. Conhecimentos do professor sobre permutações com objetos nem todos distintos. Anagramas. Fase de intervenção

Ações do Pesquisador

Falas/registros/ações dos professores participantes de Nossa pesquisa

Observações do pesquisador

“Por favor, quem já tem uma solução para a situação-problema apresente-a no quadro branco”.

“Alguém tem uma solução diferente daquela que o professor P1 apresentou?”.

“E agora, mas algum colega teria outra solução para nos apresentar?”.

“Antes de analisarmos as soluções apresentadas e discutir sobre o encaminhamento dado a delas, vou pedir a vocês que reflitam um pouco sobre o enunciado da situação”.

“O que é pedido na situação?”. “Que tipo de agrupamento deve ser considerado?”.

“Sim, professor P13. Mas, que tipos de agrupamentos ou anagramas são esses? Explique mais”. “Que características esse agrupamentos devem ter e que os diferem dos agrupamentos em que todas as letras são diferentes?”.

“Alguém pode acrescentar algo mais a essas duas características?”.

“De fato, essas duas características são importantes: agrupamentos em que a ordem em que as letras são apresentadas é importante e todas as letras devem ser utilizadas, inclusive aquelas repetidas”.

“Assim, o resultado apresentado pelos dois colegas está correto, não é mesmo?”. “Portanto, há 3 distintos anagramas para a palavra OVO”.

”Vamos agora fazer uma análise a respeito dessas soluções”.

“Dirigindo-se ao professor P1: o que significa a indicação e porque você a utilizou?”

“Mas como você sabe que se trata de uma situação-problema que envolve o

P1: “Vou escrever aqui na lousa a minha

solução: = = 3”.

P11: “Eu escrevo diferente do professor P1, mas o resultado é o mesmo: P3,2 = 3”.

Silêncio.

P13: “Anagramas é quando se tem letras, repetidas ou não”.

P1: “Temos que dividir para retirar a repetição das letras no anagrama”.

P1: “Que temos três letras sendo que duas delas são iguais e que todas as letras devem aparecer nos anagramas que queremos mostrar”.

P1: “Esse é o símbolo de permutações que tem letras repetidas. O 3 indica o total de letras e o 2 é o total de letras repetidas, e, por conta disso escreve-se assim, apontando para a solução”.

P1: “Eu sei que 3! é o total de permutações das 3 letras e o 2! são as permutações das

Finalidade: “Caracterizar” com o grupo de professores as permutações com objetos nem todos distintos, identificando componentes na caracterização das permutações com objetos nem todos distintos relativos à contagem que é feita em excesso quando objetos “iguais” são considerados como se fossem diferentes entre si e cuja não identificação pode gerar concepções incorretas desses agrupamentos de objetos em outras situações em que é preciso ordenar ou arrumar todos os objetos, alguns deles iguais, em exatamente o mesmo quantitativo de posições ou lugares.

Finalidade: Encaminhar para a caracterização das permutações em que pelo menos um dos objetos aparece repetido mais que vez dentre todos os objetos, de um total de n objetos, tomando como referência o encaminhamento que será feito para justificar a obtenção das três soluções para os anagramas da palavra OVO, através de uma fórmula, apresentado pelos professores.

Interpretação: Pareceu-nos que alguns professores associam o fato de arrumar/embaralhar objetos ou pessoas em que algum ou alguns deles estão

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conteúdo de permutações, se nada foi dito no enunciado?”.

“Falando na direção do professor P1: Você pode apresentar essas três possibilidades através de uma árvore de possibilidades?”.

“Apontando para árvore que o professor P1 escreveu na lousa: Essa é a árvore que o professor P1 nos apresentou e a quantidade de possibilidades está aqui nos “galhos terminais” e é a mesma como já foi feito nas soluções anteriores, não é mesmo?”

“A árvore de possibilidades confirma que, de fato, há três anagramas para a palavra OVO”.

“O professor P11 escreve de outra maneira para indicar que tem 2 letras iguais. Quando tem mais que um letra repetida, como você faz?” “Porque essa notação foi usada, esse símbolo?”

“Então, quer dizer que toda vez que se está diante de uma permutação com letras repetidas temos que usar uma divisão e colocar a totalidade das letras com fatorial no numerador e a totalidade das letras que se repetem com fatorial no denominador e calcular o resultado da divisão?”

“Qual a explicação para se fazer assim?”.

“Quando vocês responderam ao questionário que foi proposto no 1º encontro vocês não se referiram a essa situação, pois lá só pedíamos para caracterizar permutações simples. Só pedimos para calcular o total de anagramas em uma situação-problema do primeiro questionário, lembram? E lá havia três itens, com letras repetidas e sem repetição: ROMA, PAPA e ATACA, vocês lembram disso?”. “Nós iremos retornar a essas questões, em seguida”

“Professor P11: Então o que interessa é a quantidade total de letras e o total das repetições? E porque tem que dividir?”.

“Mas vocês ainda não explicaram porque a solução à situação tem que usar permutações se essa questão, agora, é diferente daquelas em que todas as letras são diferentes. Quer dizer: falou em anagramas tem fatorial

duas repetidas que eu tenho que dividir, pois elas são iguais. Aí, dá como resultado da divisão o três”.

P1: “Mas é claro que sim. Está aqui”.

O V (O,O,V)

0

V O (O,V,O)

V O O (V, O, O)

P11: “Vou colocando um número seguido do outro, pois sei que o primeiro número é o total de letras do anagrama e o que vem depois são as quantidades de letras repetidas”

Silêncio.

P11: “Toda vez que se tem permutações se usa fatorial, apontando para a sua solução”.

Silêncio.

Silêncio.

repetidos ao procedimento de uma divisão sem se aperceberem e terem conhecimento justificável do porque fazem isso. Se a operação da contagem de todos os anagramas foi feito através de um produto (a partir do símbolo do fatorial de n), “abater” o quantitativo de anagramas considerados diferentes, mas que na verdade representam o mesmo anagrama, indica considerar conceitos relacionados com proporcionalidade/comparação, ou seja: Se cada 2 anagramas de OVO considerados diferentes pelos diferenciados índices 1 e 2 na letra O (como se fossem distintas letras O) (consideradas duas diferentes permutações simples) representam o mesmo anagrama (a mesma permutação simples), quando se tem o total de 3! (seis) distintos anagramas, o que se tem, na verdade, são três anagramas distintos.

O que se tem é a seguinte proporcionalidade: Considerando 3! = 6 distintos anagramas, para cada 2! = 2 anagramas (permutações simples) corresponde a 1 anagrama com 2 letras O repetidas.

Para cada 3! = 6 (permutações simples)

correspondem a = 3 anagramas com 2 letras O repetidas.

Para o caso dos anagramas de ATACA, tem-se a seguinte proporcionalidade a considerar: se cada 3! = 6 anagramas de ATACA considerados distintos (permutações simples) (pela colocação de índices 1, 2 e 3 nas letras A) representam o mesmo

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e, se há letras repetidas, tem que dividir, não é mesmo? Acontece, porém, que esse procedimento tem que ter uma explicação do porque se faz isso, não é mesmo? Lembrem-se do Joãozinho que está em todas as classes, atormentando o professor com perguntas interessantes e que por vezes deixa o professor em situações embaraçosas. Só não vale responder a ele que ainda não é capaz de entender o porquê se faz isso assim. Que mais tarde ele vai descobrir. Mas quando será isso? Ou nunca será?”

“Eu ainda não sei o que é um anagrama com letras repetidas ou permutação com objetos repetidos”. Vamos lá pessoal! Temos de encontrar explicações convincentes de que essa maneira de obter o total de anagramas sempre dá certo, para todos os casos, não é mesmo?”.

“O professor P7 vai à lousa e escreve uma “definição”. O professor P7 está certo?”.

“Vamos então sistematizar: porque não se pode escrever assim: permutação com repetição de coisas, objetos, letras é cada ordenação, arrumação, colocação, encadeamento de letras considerando que o que está repetido será apresentado na ordenação, e que uma permutação é distinta da outra quando ao menos em uma das posições haja objetos ou letras diferentes entre si”. “Ficou melhor, não?”

“Falta agora justificar o procedimento que os colegas utilizaram para determinar o quantitativo dos anagramas, no particular caso da palavra OVO e depois generalizar para outras situações”

“De modo que possamos avançar nas nossas discussões, queria que vocês prestassem atenção sobre o encaminhamento que sugiro possamos dar para essa questão e de modo a justificar o que os colegas fizeram e que todos vocês também devem ter feito”.

Vamos considerar, por hipótese, que a palavra OVO não tenha duas letras “O” iguais. “De modo a diferenciá-las, vamos colocar índices nas letras iguais, assim ficamos: O1VO2”.

P7 escreve na lousa: “Permutação com repetição é uma ordenação de coisas, objetos ou até mesmo pessoas em posições distintas pré-determinadas, quando se tem alguma letra repetida”.

Alguns dos professores: a resposta do professor P7 está certa, sim!

Outros professores: ainda não está claro.

anagrama, tem-se a proporcionalidade 6 para 1.

Por outro lado, quando se tem o total de 5! = 120 anagramas considerados distintos (permutações simples), quando na verdade não o são, considerar-se-á que na

realidade se tem = 120 6 = 20 anagramas

distintos.

Esta compreensão é fundamental para o entendimento de situações em que objetos ou letras iguais são considerados como sendo distintas e se consideram as ordenações de todos os objetos e depois se faz a proporcionalidade descontando as ordenações em que os objetos ou letras são iguais.

Importante:

A compreensão e a importância que os professores emprestarem a essa questão, importante e decisiva que é, é um passo decisivo para o entendimento de situações em que a operação inversa da multiplicação é requerida - desde os primeiros significados que se deva dar à multiplicação e à divisão de números naturais – em que ambas devam ser trabalhadas em conjunto, como prescrito nos PCN (1997, 1998), por exemplo, desde os primeiros anos do Ensino Fundamental.

Finalidade:

Tal qual a caracterização das permutações simples, precisa ficar claro que todos os objetos ou letras considerados como distintos de início, razão porque se toma o fatorial de todos eles (eles são,

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“Agora, vamos construir uma árvore de possibilidades contendo todos os anagramas de O1VO2”.

O1 O2 (+)

V

O2 O1 (*)

V O2 (+)

O1

O2 V (+)

V O1 (*)

O2

O1 V (*)

“ Observe que os agrupamentos que estão indicados por (*) e os indicados por (+) são iguais. Na verdade sabemos que não há as letras O1 e O2, bem como que sejam diferentes entre si, como consideramos quando fizemos a árvore”. “A igualdade entre esses “agrupamentos” é decorrente do fato de que consideramos de início, que O1 e O2 fossem letras distintas. Como as letras O1 e O2 são a mesma letra O, contamos cada anagrama em duplicidade, ou seja, 2! = 2 vezes mais”. “Mas, porque houve a duplicidade? A cada vez que consideramos O1 e O2 como letras diferentes, os anagramas O1VO2 e O2VO1 são considerados como diferentes, mas isso não é verdade. Assim, as permutações das letras O1 e O2, quando consideradas como letras distintas, num total de P2 = 2! = 2, fazem-nos considerar que as P2 = 2 permutações das “letras” O1 e O2 representam uma só permutação”.

“Por exemplo, no caso dos anagramas da palavra ATACA, que foi objeto do questionário 1, cada vez que considerarmos as letras A como distintas, ou seja, A1, A2, A3, cada um dos anagramas será contado 3! = 6 vezes, correspondente às permutações entre as “letras” “A1”, “A2” e “A3”, como distintas letras. Assim, se as letras fossem diferentes, obteríamos P5 = 5! anagramas.

Portanto, tem-se a seguinte proporcionalidade a considerar:

3! = 6 anagramas “iguais” correspondem a 1 mesmo anagrama.

Logo, 5! = 120 anagramas

correspondem a distintos anagramas. Por conta disso é que se tem:

Quase todos responderam de modo

uníssono: = 6 anagramas para o primeiro caso e

.= 20

inicialmente, considerados como distintos. E esta é uma característica marcante).

Por outro lado, o fato de que é preciso ordenar todos os distintos objetos em exatamente a mesma quantidade de lugares ou posições ou encadeamento de letras, disponíveis para tal e, em seguida, abater dessa contagem total as situações em que um dado agrupamento foi considerado como diferente, embora não o seja, é outro importante passo a ser dado.

Finalidade: Mostrar que é possível utilizar a notação Pn ou n! para determinar todas as diferentes possibilidades de ordenações com n objetos distintos, bem como que o mesmo se aplica para determinar a quantidade de anagramas de uma concatenação de n distintas letras e, em seguida, desconsiderar as repetições consideradas..

Observação: Constatou-se uma compreensão e uma superação das dificuldades reveladas no diagnóstico quanto à obtenção de todas as possibilidades de anagramas no caso de haver pelo menos alguma letra repetida muito embora tenhamos constatado que a maioria dos professores sabia utilizar essa técnica, embora não conhecessem a justificativa para aquilo que faziam. Os professores perceberam a importância de que todos os objetos ou letras devam ser considerados distintos, de início, para a contagem das possibilidades considerando todos os objetos ou letras como distintos e, em seguida, “abater”, ou “desconsiderar” aqueles

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O tratamento que foi dado às permutações em que nem todos os objetos

são distintos guarda semelhança com aquele que foi feito com as permutações

simples, pois também nesses casos todos os objetos devem ser

considerados/utilizados e, inicialmente, considerados como sendo todos

distintos entre si de modo a considerar uma permutação simples, ordenando-os

de maneira a obter uma permutação simples e, em seguida, proceder de

maneira a desfazer a referida ordenação uma vez que os objetos não são

todos distintos.

Além da caracterização desse tipo de agrupamentos, foi discutida com

os professores uma maneira de efetuar a contagem de todas as possibilidades

para se construir todos esses agrupamentos e enfatizar a importância de

justificar regras e procedimentos que muitas vezes são apenas memorizadas e

usadas de maneira mecânica, desprovidas de reflexões a respeito daquilo que

está por detrás das operações matemáticas e dos elementos constituintes.

O tratamento inicial que foi emprestado às permutações em que nem

todos os objetos são distintos teve como um dos propósitos o de justificar o

procedimento para o cálculo do número de possibilidades diferentes de ordenar

esses objetos, ou letras, mediante a obtenção de uma fórmula para tal.

Considerando que seria preciso aprofundar um pouco mais em outros

conceitos que estão por detrás da solução a problemas que guardam uma

relação próxima a estas, bem como em relação à necessidade de se fazer

= = 20”.

Poderíamos também escrever assim:

= = 20”.

“No caso geral, para a1 + a2 + ..... + an

= n, tem-se: =

”.

Questões:

“Quantos anagramas tem a palavra PAPA?”.

“De quantas diferentes se pode ordenar três bolas exatamente iguais, e dois carrinhos diferentes, em fila?”.

possibilidades no segundo caso.

que foram considerados diferentes e que, na verdade, são possibilidades iguais e o modo de se fazer isso.

Alguns dos professores afirmaram não terem tido a oportunidade de conhecer a justificativa para o procedimento que faziam pois os livros didáticos não o fazem, embora se utilizem dele como bastante naturalidade.

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considerações relacionadas a esses conhecimentos, foram propostas outras

situações-problema, as quais se encontram no Apêndice I.

Na perspectiva de Shulman (1986), esses conhecimentos são do

conteúdo especializado – envolvem um tipo de raciocínio matemático além

daquele exigido, por exemplo, para a execução de exercícios ou tarefas

cotidianas presentes na maioria dos livros didáticos.

Ou seja, são conhecimentos necessários ao ensino de Combinatória

(problemas de contagem) com respeito à identificação da adequada estratégia

que deve ser usada para a busca da solução à situação proposta, da

necessidade de se fazer comparações com outras situações já resolvidas, bem

como em relação à tomada de decisão do particular caminho que deverá ser

seguido envolvendo a decisão de aplicar um novo procedimento para

desenvolver as soluções para estes tipos de problemas de contagem.

Destaca-se que os conhecimentos relacionados com a

proporcionalidade estabelecida entre uma permutação simples e às

permutações em que nem todos os objetos são distintos caracteriza-se como

elemento decisivo para a compreensão dos encaminhamentos havidos para a

dedução da fórmula estabelecida, com o propósito de afastar convicções

associadas a procedimentos repetitivos que não guardam a apropriação dos

conceitos envolvidos para a perfeita compreensão dos procedimentos

utilizados.

Conhecimento do professor sobre combinações simples

O bote inicial para a caracterização e sistematização do conceito de

combinações simples foi a proposição de um problema de contagem no qual

deveriam ser escolhidos dois amigos, de um grupo de cinco amigos, para

ambos participarem de plantões de trabalho aos domingos, em que deveriam

ser mobilizados procedimentos para identificar todas as possibilidades de

obtenção dessas duplas de amigos e, em seguida, encaminhar para a definição

(caracterização) de uma combinação simples.

O propósito também foi o de estabelecer uma fórmula que pudesse

computar o total de combinações simples que obedecem à condição de

escolha de conjuntos com p dentre n objetos distintos disponíveis,

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considerando as concepções dos professores do grupo e a mediação do

pesquisador.

Dentre diversas situações-problema que foram propostas para resolução

e reflexões, destacamos a situação a seguir:

Situação-problema 1: Um grupo de 5 amigos mora perto uns dos outros e

todos trabalham no mesmo restaurante. Para o plantão aos domingos, o

gerente sempre escolhe dois deles para trabalhar e precisa fazer uma escala

para certo período com os nomes dos componentes das duplas para afixar no

quadro de avisos. Qual a quantidade de diferentes duplas que ele poderá

formar sem que haja repetição dos dois amigos a cada domingo?

O quadro a seguir apresenta o modo como foram encaminhadas as

reflexões e discussões pelos professores e a mediação promovida pelo

pesquisador de modo que os sujeitos de pesquisa reunissem possibilidades de

ampliar seus conhecimentos, tendo como finalidade caracterizar (sistematizar)

agrupamentos de objetos que pelas características de seus elementos

identificariam uma combinação simples de p objetos distintos escolhidos dentre

n objetos distintos dados (“uma combinação de n p a p”).

Ou seja, uma combinação simples é um conjunto formado por p

elementos dentre n objetos disponíveis. Por meio da resolução de uma

situação-problema é possível identificar as características dos objetos que

deverão participar dos agrupamentos que atendem à solução, ou seja,

particularidades próprias dos objetos que deverão compor os conjuntos, isto é,

todas as combinações simples de objetos.

Relembrando, foi proposta a seguinte situação-problema:

Situação-problema 1: Um grupo de 5 amigos mora perto uns dos outros e

todos trabalham no mesmo restaurante. Para o plantão aos domingos, o

gerente sempre escolhe dois deles para trabalhar e precisa fazer uma escala

para certo período com os nomes dos componentes das duplas para afixar no

quadro de avisos. Qual a quantidade de diferentes duplas que ele poderá

formar sem que haja repetição dos dois amigos a cada domingo?

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O quadro a seguir mostra o resultado das reflexões e discussões quando

do encaminhamento da solução à situação-problema acima e para a

caracterização das combinações simples, bem como para determinar a

totalidade de combinações simples.

Quadro 12. Conhecimentos do professor sobre Combinação simples. Fase de intervenção.

Ações do Pesquisador Falas/registros/ações dos professores participantes de nossa pesquisa

Observações do pesquisador

“Após um tempo, o pesquisador aos professores que tenham soluções, as apresentem no quadro branco”.

“Alguém tem uma solução diferente daquelas que os colegas apresentaram?”.

“Antes de analisarmos as soluções apresentadas e discutir sobre o encaminhamento delas, vou pedir a vocês que reflitam um pouco sobre o enunciado da situação”. “O que é pedido na situação?”.

“Que tipo de agrupamento deve ser considerado?”. “O professor P13 é o primeiro a responder”.

“Sim, professor P13. Mas, que tipo de agrupamentos, que características têm esses agrupamentos? Explique mais”. “Os agrupamentos (duplas de amigos) são do mesmo tipo de algum outro que já tenhamos visto antes?”.

“Que características esses agrupamentos devem ter e que os diferem dos outros tipos de agrupamentos que vimos antes?”.

“Professor P13, o que você quer dizer com não importar a ordem. Explique melhor. Ou outro colega pode ajudar o professor P13 nessa explicação?”. “Alguém tem a acrescentar algo mais?”.

“Professor P7: o que é combinação? Porque você sabe que é combinação? Comece desde o início e me diga como devo calcular esse total de duplas de amigos”.

“De fato, essa característica que o professor P13 se referiu é importante: são agrupamentos em que não cabe estabelecer uma ordem entre os amigos. A ordem

P14: “Nós fizemos assim: 5x4 = 20”.

P12: “Vou escrever aqui na lousa a nossa

solução: = . = 10”.

P7: “O meu grupo fez

assim: ”.

Silêncio.

Silêncio.

P1: “Nós fizemos igual à solução do professor P12”.

P13: “O total das duplas de amigos”.

P13: “Nessas duplas não importa a ordem entre os amigos”.

P7: “Aqui, neste caso, o que interessa é formar as duplas e não colocar uma ordem entre as pessoas. Por isso é uma combinação”.

Silêncio.

Finalidade: “Caracterizar” com o grupo de professores as combinações simples de n distintos objetos escolhidos em grupos de p objetos, dentre os n objetos disponíveis, identificando as características desses agrupamentos de objetos. Também objetiva determinar uma maneira de encontrar todos os possíveis distintos conjuntos contendo p objetos.

Observações:

Alguns autores costumam se referir aos grupos com p objetos como agrupamentos de taxa p, ou ainda por subconjuntos com p elementos distintos do conjunto {a1, a2, ......, an}.

Assim, cada um desses subconjuntos com p elementos é dito ser uma combinação simples de classe p dos n objetos a1, a2, ......, an ou ainda como sendo uma combinação simples de n objetos tomados (escolhidos) p a p.

A referência às combinações simples diz respeito ao fato de que os n objetos disponíveis são todos distintos entre si e, portanto, a escolha de p elementos recai sobre esses n distintos disponíveis.

Assim, trata-se apenas de quantificar as diferentes maneiras de se escolher esses p objetos.

Como cada combinação

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entre os amigos não importa, não se faz necessária, pois o que se quer saber são quantas duplas diferentes de dois amigos, dentre os cinco amigos, estará de plantão em determinado domingo. Não se exige ordem entre eles, mas listar os nomes dos dois amigos que formarão a dupla de plantão. Assim, toda vez que estejamos diante da formação de agrupamentos em que a ordem entre os elementos não se faz necessária, trata-se do caso de se considerar uma combinação simples. Trata-se apenas de executar a ação de, simplesmente, escolher dois dentre os cinco amigos. Neste caso, escolher dois amigos entre os cinco que estão disponíveis para estarem de plantão no domingo. Não há a obrigatoriedade de se impor uma ordem para os nomes dos dois escolhidos, pois os dois amigos não ocuparão, por exemplo, lugares disponíveis. É o fato de escolher uma dupla de funcionários e pronto!”.

“Vamos agora refletir sobre as respostas que foram dadas pelos colegas”. “O professor P14 escreveu 5 x 4 = 20. O que vocês acham dessa solução?”.

“Porque você acha isso, professor P13?”.

“De fato, o professor P13 está com toda a razão. Não estamos interessados em distinguir as ordens de AB e de BA, por exemplo, como duas duplas diferentes. O que importa é que foi escolhida a dupla de amigos formada pelos amigos A e B e, assim, podemos escrever os nomes deles como elementos de um conjunto, ou seja: {A,B} em que interessa apenas o nome dos dois amigos escolhidos. Cada conjunto formado e que tem entre seus elementos os nomes de dois amigos é dita, então, ser uma combinação simples de dois amigos escolhidos entre os cinco amigos”.

“E, mais ainda: os cinco amigos que estão disponíveis para escolha são “objetos” distintos e a escolha recai sobre dois destes “objetos””.

“Portanto, vamos caracterizar o que vem a ser uma combinação simples

Silêncio.

P14: “5 x 4 = 20”.

P13: “Esse cálculo é como se fosse um arranjo dois a dois”.

P13: “Nesse cálculo ele colocou uma ordem entre os amigos. Como se eles estivessem colocados em um fila, um atrás do outro. Ele disse que tem 5 possibilidades de arrumar o primeiro e, depois, que tem 4 possibilidades de arrumar o segundo deles. A mesma coisa da ordem de chegada dos pilotos em uma corrida de carros da Fórmula 1”.

P13: “É um conjunto formado por k elementos distintos escolhidos dentre os n objetos distintos disponíveis, sendo que 0≤k≤n”.

simples de classe p dos n objetos distintos a1, a2, ......, an é um subconjunto com p elementos, obtê-la implica no ato de proceder à escolha desses p elementos, sem se impor ordenação a esses elementos, característica das combinações simples”.

Observações:

Quando se tratar de escolha de p elementos dentre n elementos distintos de modo a poder escolher o mesmo objeto mais de uma vez, diz-se que se trata de uma combinação completa. Neste caso, o que é desejado é encontrar o número de modos de escolher p objetos, distintos ou não, entre os n objetos distintos dados.

Finalidade: Encaminhar para a caracterização das combinações simples, tomando como referência o encaminhamento que será feito para justificar a obtenção das dez soluções para o total de subconjuntos formados por dois dos cinco amigos que ficarão de plantão aos domingos.

Interpretação:

Pareceu-nos que os professores têm clara a concepção de que as escolhas de objetos sem impor ordenação de objetos está associado a uma combinação simples e também de que a maneira de determinar todas as combinações simples (possibilidades) é feita pelo uso da fórmula que foi apresentada pelo professor P12, sem maiores questionamentos sobre a sua validade, ou ainda, como essa fórmula foi obtida, deduzida.

Parece-nos que eles se acostumaram ao fato de que devem colocar o fatorial de todos os objetos no numerador e, no

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de k objetos dentre n disponíveis”.

“Assim, apontando para o quadro branco: a contagem do professor P14 está em excesso. A contagem do número de combinações simples é sempre menor do que ou igual à quantidade de arranjos. Por essa razão podemos aproveitar a resposta do professor P14 para encontrar a solução correta”.

“Se o que está errado é o fato dele ter considerado que é um arranjo, tomado dois a dois, ele impôs uma ordem aos dois nomes que escolhe, a cada vez. E nós não queremos que tenha ordem, não é mesmo? O que fazer para consertar isso?”.

“Professor P7, porque dividir por 2? Explique melhor!”.

“O que vocês acham da explicação do professor P7?”.

“O símbolo de combinações simples usado pelo professor P12 também costuma ser escrito assim: C5,2”. “De fato, o resultado apresentado pelos dois colegas está correto”.

“Vamos agora entender o cálculo que o professor P12 fez. Por favor, professor P12, explique para todos como indicou aquela divisão, fez aquela conta e achou o resultado 10”.

“Todos entenderam o que o professor P12 explicou?”

P7: “Fazer o que eu fiz, dividir por 2”.

P7: “Cada vez que você tem dois arranjos do tipo AB e BA, por exemplo, eles representam a mesma combinação simples. Por isso, é preciso dividir por 2 para obter as combinações simples. Nesse caso, a cada dois arranjos simples corresponde a uma combinação simples. A contagem feita pelo professor P14 está em duplicidade, está duplicada. É preciso dividir ao meio. A minha solução e a do professor P12 estão certas”.

Quase todos: “ele está certo. É isso mesmo.”

P12: “Como são cinco amigos, indicamos no numerador 5!. No denominador vem a quantidade de pessoas que vão estar no agrupamento, no conjunto, que são duas pessoas, com fatorial, e depois multiplicamos pela diferença entre 5 e 2 que é 3, com fatorial. É isso aí. Esse é o símbolo de

denominador o fatorial do total de objetos a serem escolhidos, multiplicado pelo fatorial do número que representa a diferença entre o total de objetos e do número de quantos objetos foram os escolhidos, sem se aperceberem e terem conhecimento justificável do porque fazem isso.

Neste caso, das combinações simples, não se têm a mesma iniciativa que caracteriza as permutações como objetos repetidos, ou seja, ordenar todos os objetos n!, pois tal não ocorre no caso das combinações simples. O que se tem é uma ordenação de p objetos, caracterizado pelos arranjos simples An,p e para desfazer essa ordenação, não desejável no caso das combinações simples, a divisão pelo total de ordenações dos p objetos, que é dado por p!. è essa a ideia que se sugere deva prevalecer na obtenção da totalidade das combinações simples.

Observação: Constatou-se uma compreensão e uma superação das dificuldades reveladas no diagnóstico quanto à caracterização das combinações simples de taxa p entre n elementos distintos e como se obtém a totalidade das combinações simples, muito embora tenhamos constatado também no questionário que a maioria dos professores sabia utilizar essa técnica, embora não conhecessem a justificativa para aquilo que faziam, ou seja, o porquê da fórmula que usavam ser daquela maneira, com aqueles números em fatorial. Os professores perceberam a importância de que todos os objetos devam ser considerados distintos para a contagem das possibilidades de escolha dos p objetos.

Alguns dos professores

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“Como assim? Está nos livros didáticos como o professor P12 explicou? Ela é desenvolvida e escrita assim, como fez o professor P12 ao explicar para todos nós? E porque é dessa forma? Quais as razões para tal? E porque não poderia ser de outra maneira? Tem que ter uma explicação para que se faça isso, não acham? A questão não é como os livros didáticos fazem e que talvez vocês também o façam, mas encontrar explicações do porque se faz assim e não de outro jeito, entenderam? Queremos encontrar justificativas que convençam os alunos do porque desse procedimento, de que ao se fazer assim está certo e as razões que permitam que se faça assim, entendido? Os alunos têm que compreender do porque de ser assim e não aceitar de que é assim que é feito”.

“Vou ajudar vocês. Observem bem as soluções que os professores P12 e P7 apresentaram. Comparem as duas e tentem encontrar uma razão do porque se pode fazer como o professor P12 sugeriu. Do porque a fórmula dá conta desse resultado”.

“Vejam o que falta à maneira como o professor P7 escreveu em relação à fórmula que o professor P12 utilizou”.

“A partir da divisão: 5 x 4 dividido por 2 (apontando), apresentada pelo professor P7, o que falta completar para chegar à fórmula do professor P12?”. “Vejam só: no numerador está escrito 5 x 4 e se quer chegar a 5!. O que é preciso acrescentar?”.

“Foi isso que você quis dizer

professor P7: ?”

“Mas aí o resultado não é mais 10. Para que o resultado da divisão seja o mesmo, é preciso também acrescentar no denominador esse mesmo produto colocado no numerador, pois se quiséssemos

combinações em que se escolhe duas pessoas dentre as cinco pessoas disponíveis. Por conta disso escreve-se assim, apontando para a solução”.

P12: “É assim que esse assunto está nos livros didáticos”.

Quase todos: “sim”.

P7: “Essa fórmula, de combinação simples, todo mundo conhece, está nos livros didáticos. É só aplicar e pronto”.

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

P7: “Como 5! = 5.4.3.2.1, o numerador do meu resultado, em relação à fórmula que o professor P12 usou, falta multiplicar por 3, por 2 e por 1”.

P7: “Foi isso mesmo”.

P7: “Então, para compensar essa multiplicação no numerador, no denominador deveria

afirmaram não terem tido a oportunidade de conhecer a justificativa para o procedimento que faziam no uso da fórmula, pois os livros didáticos não o fazem, embora se utilizem dela como bastante propriedade.

Observação:

Considerando que

representa o número de modos de se escolher n objetos distintos entre n objetos distintos e isso, naturalmente é igual a um, ou seja, só há uma maneira de tomar (“escolher”) todos os objetos que é tomar a todos, tem-se a partir da dedução da fórmula, ao lado que:

= 1 (*)

(**)

De modo que a igualdade entre (*) e (**) seja verdadeiro, é necessário que 0! = 1.

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agora retirá-lo, bastaria simplificar esses fatores, no numerador e no denominador, não é mesmo? (aponta para a divisão que foi feita pelo professor P7, e acrescenta),

ficando assim: ”.

“Agora nós já temos 5! no numerador e o 3! no denominador (apontando). E o 2 no denominador, como se explica?”. “Mas, porque o 2 aparece no denominador, é isso que queremos entender, entendeu professor P7 e todos?”.

“Então, vocês acabam de constatar que podemos dispensar o uso da fórmula, tomando 5x4 no numerador, que é, na verdade, A5,2 (arranjos simples). Isso impõe uma ordenação dos dois objetos, como já sabemos. De modo a desfazer a ordenação, que aqui não cabe, uma vez que foi imposta erradamente, dividimos pelo total de ordenações dos 2 objetos que são 2!, e que representam apenas um único subconjunto com os dois objetos, como nós já sabemos, não é mesmo”.

“Agora eu queria que vocês fizessem a árvore de possibilidades mostrando esses dez conjuntos de duplas de amigos”.

“Depois de um pequeno intervalo de tempo a árvore foi apresentada no quadro branco pelo professor P12”.

“Observem que cada subconjunto tem dois elementos e, portanto, cada subconjunto é construído a partir da “desconstrução” de dois arranjos simples”.

Pergunto: “No caso em que tivéssemos subconjuntos com três elementos, cada um desses subconjuntos é construído a partir da “desconstrução” de quantos arranjos simples?”. “Alguém tem alguma questão a colocar?”.

“Bem, agora vamos escrever essa fórmula para o caso geral de haver n objetos distintos e a escolha de p

ter o mesmo produto 3.2.1. Posso escrever

assim: ”.

P7: “Mas esse produto está lá na fórmula do professor P12, indicado por 3! = 3.2.1. Isso mesmo”.

P7: “O 2 é o mesmo que 2!. Você pode escrever desse modo”.

P7: “Como eu havia dito antes, ao escrever 5 x 4 eu estou fazendo como se fosse um arranjo simples, mas esse não é o caso. A questão é que a cada duas ordenações: AB e BA, isso corresponde a uma dupla de amigos A e B. Por conta disso é preciso dividir por dois pois a contagem está em duplicidade”.

P12: “A árvore é assim”.

B {A,B}

C {A,C}

A D {A,D}

E {A,E}

C {B,C}

D {B,D}

B E {B,E}

D {C,D}

C E {C,E}

D E {DE}

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objetos, sem ordenação”.

“No caso geral, para a1 , a2 ,..... , an

como sendo n objetos distintos e se quer escolher um conjunto com p dentre esses objetos, cada conjunto desses é uma combinação simples formada por p desses objetos. O total de combinações simples é calculada como:

= Cn,p = (n.(n-1).(n-2)........(n-(p-1) ÷ p.(p-1).(p-2)....3.2.1 =

=(n.(n-1).(n-2)........(n-(p-1).(n-p).(n-(p+1)...3.2.1) ÷

(p.(p-1).(p-2)....3.2.1).).(n-p).(n-(p+1)...3.2.1) =

= , ”

Em prosseguimento, foi proposto um problema que constava do

questionário Q2, que se encontra no Apêndice J, e reproduzido a seguir:

Sobre a resolução do problema anterior e a resolução deste problema

apresentamos a seguir as reflexões e discussões que se seguiram no grupo.

O professor P12, ao elaborar suas respostas contidas no protocolo a

seguir, por exemplo, embora tenha se apoiado na caracterização de

combinações simples como agrupamentos em que a ordem entre os elementos

não se aplica de modo a justificar a razão porque se utilizou da fórmula para a

contagem das combinações e, também, para justificar essa caracterização

parece ter buscado uma garantia na aplicação direta da fórmula, como se

constatam nas respostas apresentadas a seguir:

Situação-problema 8: (P12)

Situação-problema 9:

= 20 (P12)

Situação-problema 9: Dispomos de 6 pessoas para formar grupos de

trabalho. Pergunta-se: De quantas maneiras diferentes o grupo poderá ser

formado se dele participarem três das seis pessoas?

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Analisando sob o olhar de Fischbein (1994) essa forma de justificar a

utilização da fórmula do cálculo do total de combinações simples - a qual se

apoia na caracterização da não ordenação entre os elementos do agrupamento

de objetos (neste caso, nomes de pessoas) - deixa visível a prevalência do

caráter algorítmico sobre o caráter formal acerca do conhecimento dos

agrupamentos relacionados com as combinações simples.

O conhecimento formal, aqui caracterizado pela “definição de uma

combinação simples”, dispensaria o uso da fórmula uma vez que a construção

de uma árvore de possibilidades, por exemplo, para cada caso, seria suficiente

para dar conta da contagem total dos conjuntos que contém os nomes de três

pessoas.

Os dados observados nos levam a concluir que, embora a

caracterização dos tipos de agrupamentos de objetos prevaleça nas duas

situações - de início para identificar que se trata de um problema que envolve a

totalidade de combinações simples - o professor só se sentiu seguro de suas

respostas quando fez uso de uma fórmula para determinar a contagem desses

agrupamentos.

O desafio de mostrar aos professores que de início, ao se tomar por

base para a resolução a caracterização dos agrupamentos em que a

ordenação entre os seus objetos não deva ser considerada, por meio da

sugestão para que construíssem uma árvore de possibilidades que obedeça a

esta condição e também para refletirem que esses procedimentos seriam

suficientes para a obtenção da contagem de todos os agrupamentos (conjuntos

de nomes) parece-nos ser um passo importante para a ressignificação da

prática dos professores, mostrando-lhes que não precisam estar reféns do uso

de fórmulas para resolver problemas de contagem no Ensino Fundamental.

Nesta sequência didática não se logrou pleno êxito para que esta

questão - em relação à totalidade dos professores - fosse perfeitamente

compreendida e incorporada na prática desses professores. Identificamos que

apenas parte deles interessou-se por essas estratégias e, mesmo assim, em

casos isolados referidos a algumas das situações-problema que foram

propostas.

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A decisão de considerar, para o caso de agrupamentos de objetos em

que a ordem de seus elementos não se faz necessária, de início por meio da

ordenação de objetos (arranjos simples) e em seguida de abandonar tal

ordenação por meio da desconstrução desses agrupamentos e a formação

dos conjuntos com idênticas ordenações de objetos não foi uma estratégia a

qual os professores abraçaram com significativa relevância para o

desenvolvimento do conceito de combinações simples à sua prática.

Cabe aqui ressaltar, também, que o professor P12 atua no Ensino Médio

há muitos anos, é professor de 2ª e 3ª séries e, portanto, sua prática docente é

caracterizada por algumas das concepções que identificamos quando das

reflexões durante a resolução das situações-problema, e que foram

apresentadas e discutidas pelo grupo.

Não obstante, o professor P12 se mostrou bastante interessado em

conhecer outras estratégias para a resolução de problemas de contagem,

como a que sugerimos por meio da construção de uma árvore de

possibilidades e da exploração dos arranjos simples para determinar a

totalidade de combinações simples.

Por essas razões não consideramos ser tarefa simples, em tão curto

espaço de tempo, apresentar estratégias e mediar discussões com o propósito

de ressignificar, mesmo que em parte e sem a prática docente imediata, essas

e outras concepções dos professores.

Ou seja, que se queira obter mudanças significativas em uma formação

continuada de apenas sete encontros de ensino e com a qual as práticas

docentes possam ser modificadas tão rapidamente. É claro que estamos

convencidos de que é preciso um tempo de maturação após esta semente ter

sido plantada e que os frutos possivelmente virão, cedo ou tarde.

Em síntese, no que se refere à caracterização e identificação de uma

combinação simples e a dedução de uma fórmula para determinar o total de

combinações simples - possibilidades (conjuntos de objetos) - identificamos

nos argumentos utilizados por parte dos professores que há uma prevalência

quanto à ênfase que eles atribuem em relação ao aspecto algorítmico e ao

formal (não ordenação de objetos) que não são conectados de maneira

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suficientemente segura para assegurar que a solução de situações-problema

com esses tipos de agrupamentos esteja encaminhada corretamente.

Por outro lado, e de modo satisfatório registramos que foi possível

identificar que parte dos professores avançou no que se refere à escolha de

estratégias diversificadas na abordagem da busca da solução para as

situações-problema que foram propostas e também no esforço deles pela

busca de justificativas para os procedimentos que utilizavam, não somente

quando eram arguidos pelo pesquisador, mas, e também, como uma

justificativa pertinente que cada um deles passava a se cobrar.

Conhecimento do professor sobre permutações circulares Os propósitos nesta categoria foram os de discutir questões relativas à

caracterização, sistematização e contagem das permutações circulares de n

objetos distintos.

Tomando por base a análise feita nos dados constantes das respostas à

última das perguntas ao questionário Q2 que versava sobre um problema de

permutações circulares (apenas um dos professores acertou o problema

proposto), identificamos que essa categoria de problemas não era familiar à

grande maioria dos professores.

A partir do encaminhamento de reflexões e discussões com os

professores para a resolução de um problema proposto, os encaminhamentos

se seguiram no sentido de caracterizar esses tipos de agrupamentos de

objetos de modo a identificar as relações de ordenação entre os objetos

dispostos segundo um “formato circular”.

Na disposição de objetos segundo o formato circular, as posições

relativas entre os objetos é que caracteriza distintos agrupamentos. Em

prosseguimento, procedeu-se às reflexões e discussões para a obtenção de

uma fórmula que permitisse a contagem de todas as permutações circulares.

Assim, como referência para o encaminhamento das discussões foi

proposto o problema a seguir, constante também do questionário Q2:

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Questão proposta (retomada da situação-problema 7 do questionário Q2 ):

“De quantos modos seis pessoas podem sentar-se em uma mesa com o

formato circular?”

Um aluno resolveu assim:

As pessoas podem arrumar-se de 6.5.4.3.2.1 = 720 maneiras olhando a

arrumação da mesa em um sentido. Se olharmos a arrumação da mesa em

outro sentido, teremos mais 720 maneiras. Assim, o total de modos de arrumar

as seis pessoas ao redor da mesa é: 2 x 720 = 1440.

a) Comente, criticamente, a questão apresentada pelo aluno.

b) Resolva a situação-problema da maneira como resolveria com seus

alunos em sala de aula.

O quadro a seguir apresenta o encaminhamento acerca das reflexões e

discussões para a obtenção da solução do problema proposto acima.

Quadro 13. Conhecimentos do professor sobre permutação circular. Fase de intervenção

Ações do Pesquisador

Falas/registros/

ações dos

professores

participantes de

nossa pesquisa

Observações do

pesquisador

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“Alguém tem uma solução para

apresentar no quadro branco?”.

“Pessoal, vamos com calma!.

Primeiramente vamos analisar a

resposta que o aluno apresentou à

questão e verificar se conseguimos

extrair algum indício para entender o

que foi feito por ele”.

“Na solução apresentada pelo aluno ele

ordenou as seis pessoas em seis

lugares, considerando o caso de uma

permutação simples, pois calculou um

total de 6! = 720 possibilidades. Tudo

bem?”.

Mas a situação-problema menciona que

as pessoas vão sentar-se segundo um

formato circular. Será que a disposição

das pessoas segundo essa maneira é a

mesma que aquela que se obtém

segundo uma permutação simples?

“Ao se considerar uma permutação

simples levamos em conta a existência

de distintos seis posições (lugares) e

exatamente seis objetos (ou pessoas)

que deverão ocupar essas posições.

Portanto, a priori, os lugares ou

posições estão definidos”.

“Vamos colocar aqui no quadro branco

todas as permutações simples dos

objetos A, B e C: ABC, ACB, BCA, BAC,

CAB, CBA”.

“Observem que a arrumação circular

indicada por ABC é a mesma que a

arrumação indicada por BCA, e a

mesma indicada por CAB. Ou seja, as

arrumações indicadas por ABC, BCA e

CAB representam a mesma permutação

circular, pois, estabelecida uma

Alguns deles: “eu não

sei o que é uma

permutação circular”.

P1: “Então, a diferença

entre uma permutação

simples e uma circular

é a maneira como os

objetos vão ser

arrumados?”.

P7: “Não deve ser,

porque ele mencionou

formato circular”.

Finalidade:

“Caracterizar uma

permutação circular de

n distintos objetos e

obter uma maneira de

determinar a totalidade

de distintas

permutações circulares

que contenham n

distintos objetos”.

Nas permutações

simples o quantitativo

de objetos é igual ao

quantitativo de lugares

em que objetos ou

pessoas serão

posicionados. Assim,

uma permutação

simples é uma

ordenação desses

objetos nesses lugares,

ou seja: fica

caracterizada uma

ordenação entre todos

os objetos em igual

número de posições,

lugares.

Nas permutações

circulares o que está em

jogo não é a ordenação

“linear” dos objetos nos

respectivos lugares,

mas a ordenação no

formato de um círculo e,

nesse caso, o que conta

é a posição relativa,

entre si, dos objetos.

Objetos ou pessoas são

dispostos segundo “o

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355

orientação, por exemplo, no sentido

horário, o objeto A sempre precede o

objeto B, o objeto B sempre precede o

objeto C e o objeto C sempre precede o

objeto A”. “Claramente, então, o número

de permutações circulares de n objetos

distintos, n ≥ 2, é menor que o

quantitativo de permutações simples

dos mesmos n objetos”.

“Vejam, o professor P12 foi à lousa e

colocou sua resposta”.

“Professor P12, você pode explicar para

o grupo como achou essa resposta?”.

“Você sabe dizer como essa fórmula

surgiu? O porquê dela?”.

“Atenção a todos: se o professor P12

estiver certo, ele encontrou 120

permutações circulares e as

permutações simples de 6 objetos dá

um total de 720 possibilidades. Pode ser

que haja uma relação entre as

permutações simples e as circulares,

pois 720 é múltiplo de 120, não

acham?”. Ou seja, parece haver uma

relação entre uma e outra, não

acham?”.

“A resposta do professor P12 é seis

vezes menor que 720 e 12 vezes menor

que a resposta que o aluno encontrou”.

“A resposta dada pelo aluno parece

não ter sentido, pois ele se refere a

duas maneiras diferentes de olhar para

a arrumação”. Vamos pensar em duas

pessoas sentadas no formato de um

círculo. Vocês acham que há duas

maneiras distintas de olhar para a

arrumação? O que é preciso

considerar?

P12: “Em resolvi

assim: Esse caso é de

permutação circular.

Então, se usa a

fórmula (n – 1)!.

E a resposta é: (6 – 1)!

= 5! = 120”.

P12: “Essa é a formula

de permutações

circulares e como são

seis pessoas, é assim

que se faz”.

P12: “Não sei não. Só

sei que quando é o

caso de permutação

circular eu uso ela e

sempre dá certo”.

formato de um círculo” –

daí vem o nome de

permutações circulares.

O que diferencia uma

permutação circular de

outra permutação

circular com os mesmos

objetos é a diferença

entre a “posição relativa

de pelo menos dois

quaisquer dentre os

objetos ou pessoas

envolvidas”.

Para tal, estabelece-se

uma orientação a ser

seguida - por exemplo,

o sentido horário - para

o cumprimento dessa

condição em relação às

posições relativas dos

objetos.

Assim, em uma

permutação circular,

uma vez estabelecida

uma orientação, se uma

pessoa A está

posicionada antes da

pessoa B e em outra

permutação circular a

pessoa B está

posicionada antes da

pessoa A, estão

caracterizadas duas

distintas permutações

circulares que contém

os mesmos elementos.

Assim, o que está em

jogo são as posições

das pessoas entre si e

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356

“O que acham sobre o que o professor

P7 falou?”

De fato, é claro que se a arrumação não

foi desfeita - olhando de um modo ou de

outro - as mesmas pessoas estão

sentadas segundo as mesmas

condições ou, se existirem apenas dois

lugares elas estarão colocadas nas

mesmas posições, independente da

orientação, e se existirem mais do que

dois lugares, que elas estejam sentadas

em lugares diferentes, elas estão

dispostas segundo as mesmas

posições. Então, a resposta que o aluno

forneceu está errada. Não tem sentido

multiplicar por 2 em razão de dois

sentidos. O que é preciso é estabelecer

um sentido e tudo se passar em função

dessa escolha. Tudo bem? ”.

“De maneira que todos vocês

compreendam o que são permutações

circulares, e depois que compreendam

o que está por detrás da fórmula que o

professor P12 escreveu na lousa vamos

juntos pensar sobre uma situação mais

simples: queremos conhecer todas as

diferentes maneiras de 3 pessoas

estarem juntas no formato de um

círculo, ou então, sentadas em uma

mesa no formato circular. Vejam os

desenhos que vou fazer aqui na lousa

(ao lado). “Vamos adotar o sentido

horário para nossas observações”.

Observem que, em todos os casos, a

pessoa C está entre as pessoas B e A,

concordam? Além disso, em todas as

situações a pessoa B está à esquerda

da pessoa A e a pessoa C está à direita

da pessoa A. Portanto, as “três

P7: “É preciso

considerar um sentido

para o olhar sobre a

arrumação”.

Quase todos: “O

professor P7 tem

razão”.

B C

A

não os lugares em que

as pessoas estão

sentadas (mesmo

porque elas podem

estar de pé), segundo o

formato de um círculo.

O mesmo vale para

permutações circulares

de objetos distintos, ao

invés de se

considerarem pessoas.

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arrumações” acima representam uma

mesma permutação circular das

pessoas A, B e C.

Outra maneira que vocês têm de

identificar que essas arrumações são

iguais é a seguinte: considere a primeira

arrumação. Se a pessoa A for para a

cadeira onde está B, se a pessoa B for

para a cadeira onde está C e se a

pessoa C for para a cadeira onde está

A, teremos a “terceira arrumação”, ou

seja, é a mesma arrumação que

iniciamos pois as posições entre as

pessoas não mudou. Se, agora, a

pessoa A for para a cadeira onde está

C, se C for para a cadeira onde está B e

se B for para a cadeira onde está A,

teremos a “segunda arrumação”, que é

mesma que a primeira arrumação, pois

as posições relativas entre as pessoas

não mudou.

Então, o que vocês têm que observar é

a posição relativa entre as pessoas ou

objetos e não os lugares em que essas

pessoas ou objetos serão colocados. O

que importa e caracteriza as

permutações circulares é a posição

relativa entre as pessoas ou objetos, ou

seja, de que maneira uma pessoa está

posicionada em relação à outra e não

os lugares em que as duas estão

sentadas. Esqueçam os lugares e se

concentrem nas diferentes posições das

pessoas entre si. É isso o que está em

questão, o que se leva em conta nos

casos de permutações circulares.

Bem, uma vez que vocês

compreenderam essa etapa, vamos

agora refletir sobre o seguinte: se fosse

C A

B

A B

C

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358

o caso de considerarmos permutações

simples e ordenar as três pessoas, de

quantos modos elas poderiam ser

ordenadas? Vamos escrever aqui ao

lado essas seis maneiras.

Agora vocês vão escrever essas seis

maneiras dispondo as letras no formato

de um círculo, como eu fiz com aquelas

ali ao lado e pedir que um professor

escreva para todos nós aqui na lousa.

Vou aguardar vocês escreverem.

Agora, vamos observar atentamente

essas arrumações feitas pelo professor

P7 adotando, antes de tudo, a

orientação horária (é claro que

poderíamos adotar a orientação anti-

horária. O importante é estabelecer uma

orientação).

Vamos verificar se entre elas existem

algumas “permutações iguais”.

Lembrem-se de que o que interessa é a

“posição relativa entre as pessoas”. É

essa a característica das permutações

circulares. Assim, a exemplo das

permutações com repetições de objetos,

temos a seguinte situação de

proporcionalidade e que deve ser

considerada: cada três arrumações

(distintas) consideradas como

permutações simples, elas representam

uma só arrumação (a mesma

arrumação) quando consideradas como

permutações circulares.

Logo, para 3! = 6 arrumações

consideradas distintas, se têm

(duas) distintas permutações circulares

para as três pessoas que são estas

(circulando na lousa, em vermelho):

Todos: “3! = 6

maneiras diferentes”.

Pesquisador: “Elas

estão aqui escritas:”

ABC

ACB

BCA

BAC

CAB

CBA

P7: “Aqui estão as

minhas seis

arrumações”:

A B

C

C B

A

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A B

C

C B

A

Na primeira delas, à esquerda da

pessoa B está a pessoa C e à direita a

pessoa A; na segunda delas, à

esquerda da pessoa B está a pessoa A

e à direita a pessoa C. Pensem que

essas arrumações podem representar

duas diferentes maneiras de três

pessoas estarem “bailando” em uma

roda de ciranda. Vocês sabem o que é

uma roda de ciranda, não? É uma

brincadeira de crianças em que todas as

crianças se dão as mãos: à esquerda e

à direita de duas outras e “bailam” em

círculos como acontece em festas

juninas e na escola entre crianças

pequenas. Eu também gosto de explicar

como se acha a totalidade de

permutações circulares de n pessoas ou

de n objetos distintos dessa maneira. Eu

vou precisar da colaboração de alguns

de vocês para virem aqui à frente e

simularem rodas de ciranda de maneira

que fique mais lúdica a compreensão de

todos sobre este conteúdo de

permutações circulares. Acompanhem

comigo como se pode chegar a essa

contagem (toma a caneta para escrever

na lousa): De quantas maneiras

diferentes uma pessoa pode bailar?

De fato uma pessoa só pode bailar de

uma maneira, ou seja, ela dança

A C

B

B C

A

B A

C

C A

B

P12: “As 1ª, 4ª e 6ª

arrumações são

iguais. Também as

arrumações 2ª, 3ª e 5ª

arrumações são

iguais. Portanto, na

verdade, só há duas

diferentes arrumações

quando se tem três

pessoas em círculo”.

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sozinho, não é mesmo? Venha aqui

para a parte da frente da sala professor

P1, e participe do “baile”. Assim, para

uma pessoa, tem-se uma permutação

circular. Vou pedir a vocês que

construam e completem uma tabela

como esta que estou desenhando aqui

(ao lado), com o total de permutações

circulares cada vez que se tenha um

quantitativo de pessoas.

Vou pedir ao professor P6 que venha

aqui para bailar com o professor P1.

Deem-se as mãos e começam a bailar.

De quantos modos diferentes eles

podem bailar?

Assim, para cada nova pessoa que se

junta a primeira pessoa, se tem agora

também uma única maneira de bailar.

Ou seja, com duas pessoas há uma

única permutação circular.

Venha para cá professor P13. De

quantas maneiras diferentes o professor

P13 pode entrar nessa roda de ciranda

e bailar com seus colegas?

Muito bem, professor P7. Todos

compreenderam que há duas

possibilidades do professor P13 entrar

na roda? Assim, para três pessoas, pelo

Princípio Multiplicativo, temos 1.1.2 = 2

possibilidades diferentes, ou seja, duas

distintas permutações circulares.

Agora, lembrem-se de que há duas

possibilidades desses três colegas

bailarem. Para cada uma dessas duas

possibilidades vamos chamar o

professor P7 para vir participar da roda

de ciranda. Vamos escolher uma

arrumação. Agora, pergunto ao

Todos: “De uma

maneira”.

Pesquisador:

Quantidade Quantidade de

de pessoas permutações

circulares

1 1

2 1

3 2

Todos: “De uma

maneira”.

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361

professor P7 e também a todos vocês:

de quantas maneiras diferentes você

pode entrar na roda e dançar com esses

três colegas?

Muito bem. Entenderam? Vou escrever

aqui na lousa: para quatro professores

se tem 1.1.2.3 = 6 maneiras diferentes

de bailar. Os quatro professores se dão

as mãos e começam a bailar. Agora, por

último, de modo a não cansar muito

vocês, eu chamo o professor P12 e

pergunto: Professor P12, de quantas

maneiras diferentes você pode entrar

nessa roda de ciranda e bailar com seus

colegas? Peço aos colegas da roda que

pare um pouco de bailar por um instante

enquanto o professor P12 nos mostra

como poderia entrar na roda. Muito bem

professor P12. Todos entenderam?

Assim, para cada nova pessoa que se

junta à roda, que já tem quatro pessoas

bailando, formando uma nova roda com

cinco pessoas, se tem, agora, quatro

maneiras diferentes de as pessoas se

posicionarem na roda, correspondente a

cinco diferentes rodas de ciranda. Vou

escrever isso na lousa: com cinco

pessoas se tem 1.1.2.3.4 permutações

circulares. Prosseguindo dessa

maneira, se tivermos n pessoas

diferentes, quantas são as permutações

circulares? “Escrevendo na lousa:

1.1.2.3.4......(n-1)”.

“Olhando para esse produto de trás

para frente, assim: (n-1).......4.3.2.1.1, o

que ele representa?”. “Nós escrevemos

assim: (PC)n = (n-1)! Que são a

quantidade de permutações circulares

entre n objetos distintos”. Observem que

P7: “De duas

maneiras. Ou ele entra

na roda por aqui

(apontando a posição

a entrar na roda) ou

entra por ali, indicando

a outra possível

posição”.

P7: “Eu posso entrar

na roda de três modos

diferentes: dando as

mãos aos professores

P1 e P6, ou dando as

mãos aos professores

P1 e P13, ou ainda,

dando as mãos aos

professores P6 e P13”.

P12: “Eu posso entrar

na roda de quatro

modos diferentes:

Observação:

Constatou-se que os

professores

compreenderam e se

apropriaram da

caracterização

(sistematização) acerca

das permutações

circulares arrumações

(ordenações) tais que o

que importa considerar

é a “posição relativa

entre os objetos

distintos”.

As duas maneiras que

se utilizou para

encontrar as

justificativas à fórmula

do cálculo do número de

permutações circulares

entre n distintos objetos

foram decisivas para

que os professores

compreendessem os

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essa foi a maneira que o professor P12

escreveu, lá no início quando

apresentou a sua solução à situação-

problema proposta. Portanto, o

professor P12 está certo. A resposta à

situação-problema é mesmo 5! = 120

possibilidades.

Outra maneira, talvez um pouco mais

complexa de vocês compreenderem o

porquê dessa fórmula é a seguinte:

inicialmente vocês consideram que há

n! maneiras diferentes de arrumar os n

objetos distintos (como se fossem as

permutações simples). Para cada uma

dessas n! maneiras, como a que está

desenhada aqui (aponta para a lousa):

Para cada uma dessas n! maneiras,

como a que está desenhada aqui

(aponta para a lousa):

n n-1

n-2

1 n-3

.......... n-4

Se n for ocupar a posição (n-1), (n-1) for

ocupar a posição (n-2) e assim

sucessivamente. Depois, se n for

ocupar a posição (n-2), (n-1) for ocupar

a posição (n-3) e assim

sucessivamente. Depois, se n for

ocupar a posição (n-3), (n-1) for ocupar

a posição (n-4) e assim

sucessivamente. E, prosseguindo assim

para todos os n objetos, teremos n

“diferentes arrumações” que

representam a mesma permutação

circular. Assim, a contagem de n!

possibilidades está em excesso, e então

ela precisa ser corrigida. Voltamos,

dando as mãos aos

professores P1 e P6

ou dando as mãos aos

professores P1 e P13

ou ainda dando as

mãos aos professores

P6 e P7 ou dando as

mãos aos professores

P7 e P13”.

Todos: “(n-1)!”.

passos que foram sendo

dados até a

configuração idêntica

àquela que o professor

P12 se utilizou quando

apresentou a sua

solução à situação-

problema, posta de

início.

A compreensão dos

professores acerca

deste conteúdo revelou-

se como uma superação

das dificuldades

reveladas no

diagnóstico quanto à

caracterização das

permutações circulares

onde somente o

professor P12 havia

acertado.

Para o professor P12

foi, sobremodo, uma

satisfação pessoal pelo

fato de que ele conhecia

a fórmula mais não tinha

ideia de como ele

surgiu. Ele aproveitou

bastante todos os

passos para a dedução

da fórmula uma vez que

estava convicto de que

a sua solução estava

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portanto, à ideia da proporcionalidade:

Cada n arrumações diferentes

corresponde a 1 permutação circular.

Logo, para n! arrumações diferentes,

correspondem = (n-1)!

permutações circulares, que é o mesmo

resultado que foi obtido antes.

Questão retirada do livro “Análise

Combinatória e Probabilidade”,

MORGADO et al (2004):

“De quantos modos 5 meninos e 5

meninas podem formar uma roda de

ciranda de modo que pessoas do

mesmo sexo não fiquem juntas?”.

“Dado um pequeno tempo, vários

professores apresentaram a solução

correta à situação-problema na lousa”.

correta, mas o

pesquisador deixou no

ar essa dúvida, até o

final.

Ao final o professor P12

afirmou estar contente

por ter tido a

oportunidade de

conhecer a justificativa

para o procedimento

que fazia no uso da

fórmula, pois os livros

didáticos que conhecia

não apresentavam a

dedução.

Em prosseguimento foram discutidas as soluções de questões de

concursos trazidas pelos professores e outras selecionadas pelo pesquisador,

as quais fizeram parte de avaliações externas, servindo também aos propósitos

de se refletirem e discutirem acerca de problemas de permutações circulares e

de probabilidades simples.

Foram propostas as seguintes as situações-problema para reflexões,

discussões e solução:

Situação-problema 1 (Prefeitura São Paulo 2011): Suponha que você tenha

um dado sobre uma mesa, colocado de modo eu você veja apenas duas faces

distintas: a face superior e a face exatamente a sua frente. Movendo o dado

(sempre de modo a respeitar essa condição), quantas “vistas” diferentes você

pode ter desse dado?

(A) 12 (B) 16 (C) 18 (D) 24 (E) 36

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Situação-problema 2 (Prefeitura São Paulo 2011): No lançamento de dois

dados comuns, considere o produto dos pontos obtidos em cada um. A

probabilidade de esse produto ser uma potência de 2 é:

(A) 1/2 (B) 1/4 (C) 5/16 (D) 1/5 (E) 1/12

Foram identificadas nas reflexões, argumentações e registros dos

professores novas concepções sobre a resolução de problemas de contagem

se comparadas àquelas que haviam sido reveladas na fase dos questionários e

em encontros anteriores.

Essas constatações são reforçadas pelo fato de que as duas primeiras

situações tiveram suas soluções encaminhadas por dois distintos professores

utilizando-se da construção de árvores de possibilidades e, depois, mais dois

professores utilizaram-se do princípio multiplicativo para apresentar as

soluções a elas.

Em decorrência das reflexões havidas durante as resoluções das

primeiras situações, o pesquisador lançou o desafio de resolverem a situação-

problema 3, apresentada a seguir, o que demandou, primeiramente, muitas

discussões acerca do entendimento do enunciado.

Ressalte-se o empenho bastante grande do grupo de professores em

resolver a situação-problema 3.

Situação-problema 3 (MO): Quantos dados diferentes existem se a soma das

faces opostas deve ser 7?

Em seguida houve muitas discussões sobre a solução apresentada no

quadro branco pelo professor P12, causando enorme estranheza entre os

professores após terem sido apresentadas inúmeras soluções incorretas.

Ressalte-se a firme determinação do pesquisador em mediar discussões

até que os professores compreendessem como deveriam mobilizar estratégias

de modo a encontrar a solução.

Também notamos um misto de admiração com o resultado de 2

possibilidades, bem como a maneira com que o professor P12 muito bem

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explanou para todos a maneira como encaminhou o raciocínio combinatório

para encontrá-la. Todos a compreenderam e ficaram bastante contentes.

Prosseguiu-se com mais dois problemas de contagem de modo a

conhecer como se deu a apropriação dos conceitos desenvolvidos na primeira

etapa do encontro.

Situação-problema 4: De quantas maneiras diferentes pode ser formada uma

fila com 10 pessoas de modo que duas determinadas dessas pessoas, A e B,

fiquem sempre juntas?

Situação-problema 5: De quantas maneiras diferentes 10 pessoas podem se

sentar ao redor de uma mesa de modo que duas determinadas dessas

pessoas, A e B, fiquem sempre juntas?

O propósito destas atividades foi o de ampliar o campo conceitual dos

professores a partir das discussões havidas nos últimos encontros.

As situações-problema 4 e 5 foram bem discutidas e compreendidas

pelos professores e com as quais eles puderam aplicar os conhecimentos que

foram desenvolvidos no encontro anterior e na primeira parte deste encontro.

Eles souberam muito bem diferenciar os objetivos presentes nas duas

situações, sem apresentarem problemas na compreensão das resoluções

apresentadas e nas discussões que se seguiram.

Talvez devido à clareza dos enunciados, os professores não tiveram

dúvidas para identificar que na primeira situação tratava-se de permutações

simples com um bloco fixo de duas pessoas juntas, totalizando 2! = 2 maneiras

distintas de se posicionarem. Agora, cada um desses blocos é ordenado com

as outras oito pessoas, totalizando 2! x 9! maneiras diferentes de ordenação,

em fila.

Para a segunda situação igual bloco de duas pessoas deveria se juntar

às outras oito pessoas para arrumações em formato circular totalizando todas

as permutações circulares de 9 objetos distintos, totalizando 8! maneiras para

se fazer isso. A resposta final é, então, 2! x 8! possibilidades.

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O tratamento que se emprestou para a sistematização das combinações

simples e das permutações circulares mexeu com o ânimo de todo o grupo que

passou a estar mais determinado e participativo, tentando encontrar as

soluções para as novas situações-problema como sendo um grande desafio a

ser vencido.

Assim, entendemos que a ampliação do campo conceitual permitiu que

os professores do grupo avançassem em relação à caracterização,

conceituação, busca de estratégias e o uso de procedimentos para dar conta

de resolver problemas de contagem na Educação Básica.

Resumimos essa constatação com o esquema constante da figura 1, a

seguir, que mostra como o avanço em relação à imagem conceitual dos

conceitos envolvidos favoreceu a apropriação dos aspectos formal

(entendimento da definição dos conceitos), algorítmico (entendimento sobre

como deve ser a utilização da fórmula) e intuitivo (se torna mais bem

apropriado quando compreende os passos para a sistematização dos conceitos

envolvidos).

Aspecto

Formal

Imagem Aspecto

Conceitual Algorítmico

Aspecto

Intuitivo

Figura 1: Esquema mostrando o avanço da imagem conceitual em relação aos aspectos formal, algorítmico e intuitivo.

Não obstante a constatação de que houve ampliação do campo

conceitual dos conhecimentos de conteúdo dos professores ao longo da

sequência didática, percebeu-se uma forte tensão entre duas posições

presentes nas falas dos professores e no desenrolar das resoluções dos

problemas de contagem, observada mais amiúde nos quatro últimos encontros

de ensino: a necessidade do uso de uma fórmula para a garantia da solução

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para um problema de contagem em contraste com soluções obtidas pelo uso

de alguma representação.

Até certo ponto, a experiência que o grupo de professores vivenciou na

sequência didática sobre a possibilidade de obter a contagem direta das

possibilidades a uma situação problema de contagem através de uma árvore

de possibilidades ou da aplicação do princípio multiplicativo, não foi suficiente

para quebrar com um tabu presente em muitos dos professores do grupo de

que o uso da fórmula é necessário para garantir a confiabilidade da resposta.

Constatou-se que entre alguns dos professores permanece a concepção

segundo a qual somente com o uso de uma ou mais fórmulas o resultado da

contagem como solução de um problema estaria garantido como correto.

Essa constatação vem ao encontro da crença que alguns professores

têm de que “a matemática precisa de uma fórmula” para que o resultado não

venha a ser contestado por alguém, de que o uso de uma representação deixa

“lacunas” para a apresentação da solução, sendo passível de dúvidas.

Assim, o componente algorítmico prevaleceu, e ainda prevalece no

grupo de professores com uma estratégia fortemente aceita por eles, não

obstante terem eles se certificado de que outras possibilidades via uso de

alguma representação existem para dar conta da solução para problemas de

contagem na Educação Básica.

Consideremos relevante o fato de que a sequência didática pode

propiciar aos professores o enfrentamento de diferentes situações-problema de

contagem, e com as quais eles puderam mobilizar diferentes estratégias de

raciocínio contando com as representações para a obtenção das soluções.

Assim, quando da resolução de problemas de contagem, o professor

conta com diferentes estratégias de enfrentamento para esse grupo de

problemas e, quando julgar conveniente, escolha aquela (s) que ele considere

adequada (s) e eficiente (s) para cada novo problema a resolver.

A sequência didática mostrou que é possível o desenvolvimento do

conteúdo problemas de contagem na Educação Básica priorizando o raciocínio

combinatório, o uso de representações, e a exploração dos Princípios

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Multiplicativo e Aditivo, em detrimento à formalização precoce dos conceitos e

uso de fórmulas.

Portanto, com base nas observações e constatações que o pesquisador

pode experimentar com esse grupo de professores, há uma forte tensão entre

aquilo que o grupo aprendeu e vivenciou durante a sequência didática (que é

uma possível proposta de encaminhamento desse conteúdo no Ensino

Fundamental) e a concepção que ainda prevalece entre grande parte do grupo

de que para se ensinar matemática (em particular os problemas de contagem)

é preciso usar uma fórmula ou um algoritmo para dar conta da contagem das

possibilidades.

Essa dubiedade, presente nas concepções dos professores, e a

polarização em torno da importância que o grupo empresta para o recorrente e

necessário uso de uma fórmula foi um dos conflitos que esse estudo não foi

capaz de dissipar, de modo a oferecer um novo olhar para a prática do ensino

e da aprendizagem para esse grupo de professores. Por essa razão merece

aqui esse registro.

Entretanto, cabe esclarecer que com essa constatação não estamos

fazendo críticas ao uso de uma fórmula para dar conta da contagem a um

problema combinatório uma vez que não é isso que está em questão, por conta

da constatação que fizemos, mas sim porque não nos foi possível extinguir

essa dubiedade.

Fato é que, se o professor já compreende perfeitamente a

caracterização de cada um dos agrupamentos de objetos presentes na

proposição de algum problema de contagem, ou seja, se ele já passou pelas

fases intuitiva e formal dos conceitos e se utiliza de um procedimento para

obter a contagem das possibilidades, a apropriação desses conhecimentos

identifica um passo muito importante na sua formação.

Portanto, a compreensão de todas as etapas desta primeira fase de

apropriação dos conhecimentos segundo a qual o professor identifica o tipo de

agrupamento envolvido e tem garantias de que obterá êxito no

encaminhamento que faz na busca da solução para um problema de contagem

é bastante significativa para a compreensão das etapas de resolução que se

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369

seguirão, de modo a proceder à contagem com a aplicação de uma fórmula, ou

não.

Apenas consideramos que, quando essa compreensão pelo aluno não é

acompanhada mais amiúde pelo professor, o simples uso de uma fórmula pode

acarretar transtornos irreparáveis no prosseguimento de seu entendimento

sobre as estratégias de resolução de problemas de contagem que se seguirão.

Por exemplo, tal fato ocorre quando um aluno indica que o resultado é 5

x 4 = 20 e um outro colega indica que é = 10 e nenhum deles tem a

compreensão se a ordem entre os objetos envolvidos deva ou não ser

considerada no problema que está sendo proposto resolver.

Entendemos que estas ações não podem se reduzidas apenas ao

procedimento da aplicação da fórmula em si, considerando que o professor

possa lembrar-se de tê-las utilizado em situações similares. Portanto, essa

estratégia não se configura como uma prática a ser seguida.

Assim, o grande problema reside no fato de o professor, de posse da

fórmula ou do algoritmo, utilizar-se dela ou dele de maneira indiscriminada,

sem critério sobre como utilizá-la, apenas pela mera substituição de valores

fornecidos pelo enunciado ou baseado em exemplos parecidos já vistos.

Portanto, entendemos que cabe ao professor mostrar para o aluno que

tal fórmula ou algoritmo não pode ter seu uso generalizado para resolver

quaisquer situações de contagem, sem os cuidados que deva ter para avaliar

os dados apresentados nos enunciados, e as restrições impostas pelo

problema, quando for o caso.

O componente formal está presente quando o professor identifica e sabe

sistematizar os diferentes tipos de agrupamentos e não somente para aquela

particular situação-problema em que está debruçado a resolver, naquele

instante.

O componente formal está presente quando o professor já tem

organizado seu raciocínio combinatório e quando identifica com propriedade o

tipo de agrupamento de objetos envolvido, não necessariamente através do

uso de uma ferramenta matemática devido ao conhecimento de similar

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problema, mas compreende como deve mobilizar as estratégias que darão

conta de proceder a essa identificação e posterior contagem.

Por exemplo, quando nos referimos à proporcionalidade presente nos

agrupamentos, ou seja: nas situações em que o professor compreende que

deve dividir por 3! = 6 quando há 3 objetos envolvidos nas permutações (por se

tratarem de objetos repetidos) e assim, para cada seis permutações

consideradas distintas pela distinção entre os objetos, corresponde a uma só

permutação pelo fato de os objetos tomados serem iguais.

Mais ainda, quando nas combinações simples (ao considerar que a

ordem entre os objetos envolvidos, de início, distingue os agrupamentos), ou

seja: para cada conjunto de três objetos distintos, correspondentes a 3! = 6

distintas ordenações, correspondem ao mesmo conjunto dos três objetos.

A compreensão disso exige que o professor já tenha organizado seu

raciocínio e conheça a maneira de encaminhar o que precisa ser feito.

O professor pode usar o componente algorítmico na resolução de um

problema de contagem através do uso de uma fórmula, mas, se ele não

consegue explicar para o aluno o porquê de estar fazendo aquilo e se não

apresenta justificativas convincentes para o que faz, ele não está promovendo

a aprendizagem com seus alunos e apenas fazendo-os reproduzir mecanismos

repetitivos.

Consideramos que o aspecto formal está presente nos problemas de

contagem quando o professor encontra as justificativas corretas para aquilo

que está fazendo e quando se utiliza de uma representação para identificar

todos os agrupamentos envolvidos na situação. Uma fórmula para dar conta de

todas as possibilidades que atendem à situação proposta não caracteriza os

agrupamentos que foram contados.

A simples apresentação da resposta através de uma ferramenta

matemática ou do uso de uma fórmula não identifica o aspecto formal presente

nela.

O aspecto intuitivo, sim, está sempre presente com o individuo, mesmo

que ele não faça uso dele para determinado solução de um problema de

contagem.

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Para o domínio do aspecto formal o professor já deve conhecer e

dominar o conteúdo que ele está ensinando - no caso do aluno, acerca do

conteúdo que ele está aprendendo – e já deve ter sistematizado o tipo de

agrupamento de objetos que deve identificar, quando compreende o enunciado

do problema de contagem e o que precisa ser feito.

Assim, quando o professor recorre, quase sempre, ao aspecto intuitivo

para dar conta de apresentar e desenvolver a problemática acerca do conteúdo

e em seguida utiliza-se da estratégia e da ferramenta que considera adequada

para dar conta da contagem, diz-se que o professor já está no final do processo

de apropriação dos conteúdos de problemas de contagem.

Portanto, não será a proposição de um novo problema de contagem, que

até poderá apresentar dificuldades de entendimento, de início, que fará com

que essa hierarquização de conhecimentos caia por terra se os aspectos

intuitivo, formal e algorítmico estiveram muito bem fundamentados de modo

que o professor dê conta da solução à situação.

Por outro lado, pelo fato do professor já ter se apropriado de todos os

conhecimentos que dizem respeito ao conteúdo dos problemas de contagem e

dessa maneira dominar bem o aspecto formal, não significa que ele não possa

vir a recorrer, em uma situação particular, do aspecto algorítmico - que ele

também já vivenciou - para dar conta da contagem, abandonando o aspecto

formal.

Resumimos o resultado dos encaminhamentos havidos ao longo dos

oito encontros da sequência didática, mostrando a interligação que existiu

quando do enfrentamento de problemas de contagem, segundo o esquema

apresentado na figura a seguir:

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372

Busca da solução

para os

PROBLEMAS

DE CONTAGEM

Uso de Uso de

uma uma ou mais

representação fórmulas

Princípio Princípio

Multiplicativo Multiplicativo

e

Princípio

Aditivo

Caracterização

dos

agrupamentos

Figura 2: Esquema mostrando estratégias para a obtenção de solução para problemas

de contagem

Nesse esquema, pode-se observar que a busca da solução a problemas

de contagem poder ser encaminhada através de duas maneiras diferentes:

� Diretamente com o uso de uma representação (quando o

quantitativo de elementos não for grande);

� Ou então, de início, caracterizando o tipo de agrupamento dos

objetos envolvidos na situação e, em seguida utilizar ferramentas

matemáticas como o princípio multiplicativo ou o princípio

multiplicativo e o princípio aditivo (em conjunto) ou ainda através

de uma fórmula, as quais dão conta da contagem dos

agrupamentos que contém todas as possibilidades que atendem à

situação proposta.

Em relação às possíveis abordagens e estratégias de enfrentamento de

problemas de contagem, procuramos identificar elementos característicos dos

aspectos intuitivo, algorítmico ou formal da atividade matemática durante a

resolução dessas situações, apoiando-nos nos princípios de Fischbein et al

(1994) para que fosse possível fazer isso.

O esquema apresentado a seguir, na Figura 3, mostra as relações entre

os elementos presentes nos aspectos intuitivo, algorítmico ou formal e os

conceitos de combinatória que podem ser utilizados para resolver problemas

de contagem na Educação Básica.

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Busca da solução Aspecto

para os Intuitivo

PROBLEMAS

DE CONTAGEM Aspecto

Algorítmico

Uso de Uso de

uma uma ou mais

representação fórmulas

Princípio Princípio

Multiplicativo Multiplicativo

e Permutações

Combinações Princípio simples

simples Aditivo ou com repetição

de objetos

Caracterização

dos Permutações

agrupamentos Circulares

Aspecto

Formal

Figura 3: Relação entre os aspectos da matemática segundo Fischbein (1994), e a resolução de problemas de contagem na Educação Básica.

No esquema acima se identifica a interligação entre o aspecto intuitivo e

a busca da solução para problemas de contagem, bem como que a busca da

solução a um problema de contagem pode ser obtida considerando o aspecto

intuitivo para encaminhar estratégias para a obtenção da solução.

A análise dos dados coletados ao longo da sequência didática permitiu

identificar em que medida os professores tiveram a oportunidade de discutir e

refletir sobre a formação em relação aos aspectos de conteúdo, pedagógicos e

curriculares, Shulman (1986).

Também foi possível identificar concepções dos professores em relação

às possibilidades de eles desenvolverem o conteúdo problemas de contagem

desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, indo ao encontro do que

prescreve o currículo da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (2010)

e com o qual esses professores estão comprometidos com a sua

implementação.

Foram oferecidas diversas oportunidades para que os professores

refletissem e se posicionassem em questões relacionadas a aspectos

pedagógicos - se a proposta de solução para um problema de contagem estava

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adequado ao nível de ensino e em qual ano poderia ser proposto - permitindo

reflexões e comparações com as posições defendidas por pesquisadores de

Educação Matemática.

Assim, no lugar de um professor que aplica resultados de pesquisas

científicas, concebemos nesta formação continuada a visão de professores

como pesquisadores de sua própria prática docente através de reflexões

individuais e em grupos, a exemplo das proposições defendidas por Schön

(1987).

As premissas segundo as quais o professor deve exercitar ações

reflexivas sobre o ensino dão conta de que sua atuação em sala de aula é

derivada de crenças e valores que ele tem em relação ao ensino, à

aprendizagem, aos conteúdos que ele conhece e domina, aos conhecimentos

curriculares e aos que estão relacionados com seus alunos.

Por conta disso, as reflexões que um professor possa fazer dar-lhe-ão a

oportunidade de poder expor suas crenças e concepções sobre os

conhecimentos de conteúdo, pedagógicos e curriculares que estão subjacentes

às suas práticas docentes e, como tal, uma vez que considere alguma

premissa a respeito é possível que venha a confirmar ou não a sua validade.

Também, ressalte-se, houve reflexões acerca das possíveis dificuldades

que os alunos deste segmento poderiam ter em relação à proposição de

determinado problema de contagem e os processos de ensino e de

aprendizagem que dão conta do encaminhamento para a resolução dele em

determinada série do Ensino Fundamental.

Em prosseguimento às análises contempladas neste capítulo, vamos dar

continuidade às análises referidas aos dados constantes das respostas ao

questionário final Q4 quanto às concepções e crenças dos professores sobre o

desenrolar da sequência didática que acabavam de experenciar e à

ressignificação dos conhecimentos desses professores.

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5.3 O QUESTIONÁRIO FINAL (Q4)

As reflexões e decisões tomadas na fase que antecedeu a aplicação da

sequência de ensino já consideravam a necessidade de preparar questões de

maneira que fosse possível conhecerem-se as concepções dos professores

sobre o desenrolar das atividades desenvolvidas na sequência didática.

Durante o desenrolar da sequência didática previu-se a necessidade de

encaminhar questões que poderiam ser colocadas na forma de perguntas

abertas, em um questionário, de modo que o professor pudesse se manifestar

de modo individual sobre considerações acerca de seu engajamento com ela.

A decisão sobre o tipo de diagnóstico que deveria ser encaminhado

seria tomada após alguns encontros de ensino mas, desde então, estava claro

que era preciso estabelecer a maneira apropriada segundo a qual os dados a

recolher deveriam ser obtidos de uma maneira o mais abrangente possível.

Portanto, a análise encaminhada com os dados colhidos nesse

questionário deveria retratar as concepções pessoais que ficaram para cada

professor e com ela fundamentar a resposta que seria dada às questões de

pesquisa.

O questionário Q4 foi aplicado no sétimo encontro de ensino e devolvido

no oitavo encontro e se encontra no Apêndice D. Seguem as análises das

respostas ao questionário Q4.

I. Sobre o que de novo o professor aprendeu em relação aos conhecimentos pedagógicos do conteúdo problemas de contagem

A fim de identificar as concepções do professor em relação aos conhecimentos pedagógicos do conteúdo problemas de contagem após a experiência desenvolvida na sequência didática, foi proposta a seguinte questão:

Pergunta 1: Escreva sobre o que de novo aprendeu nesta formação quanto

aos conhecimentos pedagógicos do conteúdo problemas de contagem

Foi gratificante identificar que alguns professores tiveram a oportunidade

de ressignificar conteúdos, estratégias e procedimentos para desenvolver os

problemas de contagem para o Ensino Fundamental, a exemplo do relato do

professor P1, a seguir:

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Eu não fazia este tipo de abordagem (Princípio Aditivo e Multiplicativo), mas depois das aulas de Combinatória (UNIBAN), vejo que estes princípios são mais básicos, simples e essenciais para resolver os problemas de contagem, do que simplesmente apresentar as equações, no modo mais formal dos conceitos de fatorial, arranjos, permutações, combinações até casos particulares, porém o aluno pode cair na dificuldade que equação eu uso neste problema, se ele não tem os conceitos principais da Combinatória bem formulados na sua cabeça (P11)

O professor P7 foi bastante esclarecedor em sua resposta, inclusive

ressaltando que o pesquisador não houvera se utilizado de alguma fórmula

para dar conta da solução de todos os problemas de contagem embora ele

próprio tenha feito isso em algumas situações, como se constata a seguir:

De novo o lado facilitador, de trabalhar de forma mais simples, sem a utilização de fórmulas, pois até o dia de hoje, ainda não foram utilizadas fórmulas; quer dizer: você não as utilizou, embora em muitas situações eu mesma as tenha utilizado (P7)

Assim, parece-nos que este professor aproveitou bem os fundamentos

que norteiam a metodologia que foi utilizada na sequência didática a qual se

pautou por explorar diferentes representações, o raciocínio combinatório e a

aplicação do princípio multiplicativo e do princípio aditivo quando da resolução

de problemas de contagem.

II. Sobre os aspectos que o professor considera que poderá utilizar em sala de aula Com o propósito de identificar aspectos que o professor considera que

virá a utilizar na sua prática, ressignificados ou não durante o desenvolvimento

da sequência didática, sejam eles relativos aos conhecimentos curriculares,

pedagógicos ou de conteúdo, foi proposta a seguinte questão:

Pergunta 2: Que aspectos foram apresentados nesta formação que você

poderá utilizar em sua prática de sala de aula?

Parece-nos que os professores aproveitaram bem a formação que

acabavam de concluir de maneira que muitos dos aspectos que foram

apresentados e discutidos por todo o grupo e as reflexões que cada um fizera

foram fundamentais para a ressignificação de seus conhecimentos e de suas

práticas, conforme se constata pela resposta fornecida pelo professor P7, a

saber:

O formato mais simples de resolver os problemas, um trabalho mais intensificado na resolução das questões sem o uso de fórmulas,

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possibilitando uma melhoria do raciocínio lógico antes de implementar o uso de fórmulas. A utilização mais massificada da árvore de possibilidades (P7)

Além disso, a ressignificação de estratégias e procedimentos por

professores, como a do professor P11, permite que possamos reafirmar o

avanço em relação ao campo conceitual de parte do grupo, como se verifica no

depoimento a seguir:

Com certeza poderei valorizar o aprendizado do aluno usando os métodos do Princípios Aditivo e Multiplicativo, a árvore de possibilidades e a tabela de dupla entrada, e conceituar muito bem a Combinatória e mostrar que existem vários caminhos para se chegar a solução correta de um problema, e que as vezes podemos optar por resolver problemas de Combinatória sem utilizar equações ou fórmulas prontas, e que podemos somente usar o raciocínio lógico e méis mais básicos e simples e chegar a resposta correta (P11)

Além disso, a ressignificação de estratégias e procedimentos por

professores como o professor P11 e a motivação de alguns deles quanto às

possibilidades em relação a novas práticas a partir da formação continuada que

acabavam de participar pode ser identificada, por exemplo, na posição do

professor P11 conforme a seguir:

Vou praticamente utilizar tudo o que aprendi, pois eu obtive mais experiências especialmente em situação-problema (P13)

Ressaltamos os aspectos que os professores P14 e P15 apresentaram

em suas respostas, a seguir, quanto à aceitação da proposta de metodologia

do trabalho realizado ao longo da sequência didática em relação à sugestão de

mobilizar diferentes estratégias para a resolução de problemas de contagem, e

como ela foi positiva para a prática de alguns desses professores, conforme se

pode observar nas respostas dos professores P14 e P15, a seguir:

Muitos aspectos, principalmente, fazer com que os alunos não se satisfaçam, só com “aquele” jeito de resolução, mas que busquem alternativas (P14)

Ainda, levo em conta a forma mais clara e simples de esclarecimento ao aluno com uma abordagem mais simples (P15)

Analisando as respostas dos professores, acrescentamos que

consideramos importante que o professor se aperceba da importância das

formações continuadas ao longo de sua trajetória profissional uma vez que sua

base de conhecimentos deve estar permanentemente em constante ampliação

em relação ao aumento da imagem conceitual referenciados aos

conhecimentos de conteúdo e pedagógicos, à medida que se apropria de

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novas concepções oriundas dessas formações e enquanto desenvolve sua

prática.

Acrescente-se que o fortalecimento dessa base de conhecimentos é

obtido à medida que o professor contemple o máximo possível uma variedade

de saberes, pessoais e profissionais que permitam que ele possa compreender

e atuar com desenvoltura no seio da realidade de sua comunidade escolar,

aliado à formação que deve possuir em relação aos conhecimentos específicos

de matemática.

Também em relação à necessidade de promover aprendizagem a seus

alunos, valendo-se do importante e indispensável papel que os conhecimentos

pedagógicos de conteúdo e os conhecimentos curriculares desempenham para

a consecução desses propósitos.

III. Sobre se o professor considera importante e indispensável introduzir situações-problema de contagem no Ensino Fundamental

Com o propósito de identificar concepções do professor a respeito da

importância que ele empresta para o trabalho com problema de contagem no

Ensino Fundamental, a exemplo do que é prescrito no Currículo de São Paulo

(2010), foi proposta a seguinte pergunta:

Pergunta 3: Você considera importante e indispensável introduzir Problemas

de Contagem no Ensino Fundamental? Por quê?

Parece-nos, pela análise às respostas apresentadas que parte do grupo

de professores considera importante o trabalho com problemas de contagem

desde os primeiros anos do ensino fundamental.

Embora o depoimento do professor P6, que se encontra a seguir, não

esteja em coerência, sua posição quanto ao desenvolvimento de combinatória

desde as séries iniciais do Ensino Fundamental acrescenta a importância que o

professor empresta para esses conteúdos.

Bem, quanto à introdução “Combinatória” no E.F, é importante que os alunos da 6ª série Vejam algumas situações-problemas de combinatória básicas, facilitando à aprendizagem “porcentagem”, utilizada no estudo da “Probabilidade” de ocorrência de eventos (P6)

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O professor P7 considera importante o desenvolvimento dos problemas

de contagem no Ensino Fundamental no sentido de facilitar o aprendizado do

aluno quando este estiver no Ensino Médio, como a seguir:

Qualquer abordagem anterior pode ser significativa no estudo de combinatória. Sabemos que as repetições de alguns conteúdos nos auxiliam na fixação e aprendizado, ou seja: repetir conteúdos como ocorre com a geometria, em séries iniciais e posteriormente no ensino médio, facilita o aprendizado (P7)

Já o professor P9 justifica o ensino de problemas de contagem no

Ensino Fundamental como facilitador para a utilização das fórmulas no Ensino

Médio, como se constata a seguir:

É importante, pois o aluno já vai adquirindo a idéia de escolha, alternativa, ordem e com isso no ensino médio fica mais fácil o aprendizado quando é introduzido as fórmulas (P9)

Já o professor P11 ressalta que as estratégias, procedimentos e o uso

de diferentes representações são fundamentais para a resolução de problemas

de contagem, como se constata no depoimento a seguir:

Sim, eu considero importante introduzir “Combinatória” nas séries iniciais do E.F., por que podemos apresentar aos alunos que os problemas que envolvem contagem podem ser usadas técnicas para a descrição e a contagem de todos os casos possíveis de um acontecimento, por uma árvore de possibilidades ou pela tabela de dupla entrada, e pelos Princípios Aditivo e Multiplicativo (P11)

Já em relação ao depoimento do professor P16 não nos parece que o

referido professor reconheça as razões do porque se desenvolve os problemas

de contagem no Ensino Fundamental, não obstante terem sido apresentadas

diversas razões ao longo da sequência didática, como apresentado no

depoimento a seguir:

Considero muito importante/indispensável a introdução da Combinatória no Ensino Fundamental, pois em qualquer ramo de atuação, a contagem faz parte do cotidiano das pessoas. Contar não é sempre um processo tão simples, como pode parecer a primeira vista. Contar unidades uma a uma, que é o processo elementar, não é viável em muitas situações. Por isso, é necessário estabelecer métodos de contagem que atinjam resultados mais rapidamente, esse é o objetivo principal da Análise Combinatória (P16)

Já em relação ao depoimento do professor P17 nos parece que o

referido professor reconhece que a sequência didática foi fundamental para a

ressignificação de sua prática, como apresentado no depoimento a seguir:

Hoje eu tenho outra visão a respeito de combinatória e vejo que é de suma importância e indispensável; Por que da Base e margem para

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Estatística e trabalha todos os elementos ou as 4 operações matemática (P17)

Identificou-se que para alguns professores a importância de introduzir

problemas de contagem no Ensino Fundamental está relacionada com a

“facilidade” que a introdução desses conteúdos neste segmento poderia

emprestar para o estudo no Ensino Médio, e não a outros aspectos que já

foram identificados e descritos em situações anteriores deste trabalho.

Para Shulman (1987), entre o significado do conteúdo curricular e os

conhecimentos apreendidos e compreendidos pelos alunos nos processos de

ensino e de aprendizagem, o professor precisa “construir pontes” entre o aluno

e ele.

Segundo Mizukami (2004):

Professores explicam ideias complexas a crianças oferecendo-lhes exemplos, analogias ou metáforas, contando-lhes histórias ou oferecendo demonstrações, construindo pontes entre a mente da criança e a compreensão mais desenvolvida na mente do professor. Essas pontes envolvem tráfego de mão dupla, na medida em que as crianças oferecem suas próprias representações ao professor, assim como para outras crianças. (SHULMAN, 2004a, p. 379 apud MIZUKAMI, 2004, p. 4)

Para tal é preciso que os professores se apropriem de conhecimentos

que os façam:

� Compreender profundamente os conteúdos que ensinam;

� Que conheçam e estejam atentos às prováveis dificuldades que

os alunos têm quando se deparam com estes conteúdos;

� Que dominem os diferentes métodos de ensino e suas variações

que dão conta de ajudar os alunos na construção desses

conhecimentos e, mais ainda,

� Que possam, constantemente, rever os objetivos, planejamento,

encaminhamentos de atividades e procedimentos de ensino que

são propostos por eles em conjunto com seus pares à medida

que conhecem melhor seus alunos ao longo do ano letivo.

Estudos e pesquisas referentes ao pensamento do professor, do papel

reflexivo que ele desenvolve em relação ao ensino e sobre a base de

conhecimentos para o ensino, decorrente de sua experiência docente, têm

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apontado para a construção do conhecimento profissional e para a construção

pessoal desse tipo de conhecimento, muito embora sejam produtos de diversos

referenciais teóricos e metodológicos (MIZUKAMI, 2002, p. 48).

IV. Sobre como o professor se sente em relação ao trabalho que foi desenvolvido com situações-problema de contagem na Educação Básica Com o propósito de identificar as concepções do professor sobre o

trabalho que foi desenvolvido com problemas de contagem no Ensino

Fundamental, durante a sequência de ensino objeto deste estudo, foi proposta

a seguinte pergunta:

Pergunta 4: Escreva como se sente, após esta formação, em relação ao

trabalho desenvolvido com situações-problema que envolve problemas de

contagem no Ensino Fundamental

Analisando a resposta do professor P7, a seguir, fica claro que ele

aproveitou bem a formação objeto deste estudo e que as discussões e

reflexões feitas por ele, e coletivamente, serviram para uma ressignificação de

sua prática pedagógica e de conhecimentos de conteúdo, como se pode

constatar na sua resposta a seguir:

Todo aprendizado é importante para um professor. Conteúdos, metodologias, novas situações, etc. Sou suspeita para falar, pois sempre gostei muito de combinatória, probabilidades e estatística. Apesar do meu gosto pelo conteúdo, muitas situações de aprendizagem tiveram um grau de dificuldade inesperado, fazendo com que eu pensasse mais no assunto e tivesse um envolvimento com o conteúdo de forma a conseguir resolver o problema. Outro ponto interessante revela-se em relação ao meu aprendizado prévio. Aprendi a teoria e o uso de fórmulas, então, tento resolver praticamente todas as situações com o uso de fórmulas. Apesar de em muitas vezes eu ter acertado o resultado, durante a sua resolução, me deparo com um formato muito mais simples e acessível aos alunos. Estou tentando-me disciplinar de forma a incorporar esse novo formato nas minhas aulas. Posso dizer que é difícil, pois mesmo durante suas questões, muitas vezes eu não consigo pensar da forma mais simples. Estou travada, e acredito que precisarei de muito mais prática para me elevar a outro nível, onde eu possa resolver os exercícios de variados modos (P7)

O professor P9 mostra a importância que ele credita aos conhecimentos

e reflexões que encaminhou com o grupo na sequência didática os quais

poderão ser explorados em sala de aula, como se constata em sua resposta a

seguir:

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Quanto ensinar em ensino fundamental a parte de combinatória creio que é possível, basta abordar de uma maneira mais simples, com exercícios mais tranquilos para responder, e com o passar do tempo e de séries pode ir aumentando o nível de dificuldade. Para mim essa formação foi muito importante, teve muitas novidades neste curso, é uma maneira completamente diferente de ver a análise combinatória, aprendi a analisar um mesmo exercício por diversos ângulos até encontrar a forma mais correta para resolvê-lo. Alguns exercícios eu já os havia visto, pois estão nos cadernos dos alunos, mas estão de maneiras diferentes, e a resolução é uma abordagem muito diferente. Muitos dos exercícios que foram passados neste curso são perfeitamente possíveis de ser inserido em sala de aula, mas alguns eu não arriscaria, pois se entre nós professores já causou muitas discussões, imagine em sala de aula. (uma só resposta para as questões de 1 a 7) (P9)

As respostas dos professores P11, P13, P14 e P6 mostram satisfação

em relação aos resultados obtidos com a formação que acabavam de

participar, como se constatam em suas respostas a seguir:

Eu me sinto mais preparada para lecionar o assunto Combinatória na Educação Básica (Ciclo II e Ensino Médio) (P1). Eu achei ótimo, pois aprendi mais coisas para aprimorar mais meus conhecimentos. A respeito de usar situação-problema na Educação Básica, seria uma ótima, pois eles iriam se aprimorar mais quando chegar nos anos posteriores (P13) O professor Paulo Jorge mostrou-nos que é preciso explorar todas as possibilidades de combinação, porque podemos deixar vago o assunto e ficar faltando meios para que se desenvolva em todas as competências e habilidades propostas (P14)

Em relação ao trabalho desenvolvido com situações-problemas envolvendo análise combinatória neste curso, me sinto mais atualizada para transmitir este assunto para meus alunos (P6)

O professor P15 salienta em sua resposta as dificuldades que teve para

acompanhar a formação objeto desta pesquisa.

Cabe aqui ressaltar que, quando o professor P15 se refere ao “e se e

se.....”, é porque o pesquisador chamava sempre a atenção dos professores de

que eles deveriam sempre se perguntar: se tal fato puder ocorrer dessa

maneira (a tomada de decisão a ser feita), então isso acarreta em ... Mas, se

tal fato ocorrer assim, então há tantas possibilidades dele ocorrer e, assim, ...

Ou seja, que eles deveriam sempre estar se perguntando em relação às

consequências que poderiam encadear-se pelo fato de terem tomado essa e

não aquela ação, e assim por diante.

Assim, o professor P15 se refere a essa dificuldade pelo fato de que

talvez antes dessa formação ele tomasse a decisão sobre o quantitativo de

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possibilidades para uma determinada ação sem medir as consequências de

que tal decisão pudesse ou não ser feita segundo aquelas condições.

E, por conseguinte, uma vez que não tenha contemplado todas as

possibilidades desta intempestiva ação, a contagem final conterá erros para

mais ou para menos.

Eis a resposta apresentada pelo professor P15:

Creio que as minhas dificuldades foram em relação à interpretação e de onde partir, pois, não me adaptei aos e se e se..... (P15)

As concepções dos professores quanto à formação que acabavam de

concluir e sobre a possibilidade de utilização do material desenvolvido na

sequência didática em suas aulas (embora fossem poucos os professores que

se manifestaram diretamente a respeito) deixa-nos bastante animados quanto

aos propósitos da implementação das orientações prescritas no Currículo do

Estado de São Paulo (2010), mormente quando se tratar do desenvolvimento

dos problemas de contagem no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

Foram oportunas e consistentes as reflexões feitas pelos professores e

mostram maturidade do grupo em relação à prática docente que

desempenham. Assim, vislumbra-se um engajamento mais fortalecido em

relação às preocupações quanto à qualidade de ensino e da aprendizagem que

proporcionam a seus alunos.

Por conta dessas constatações, em relação a esse grupo de

professores, vislumbramos o anúncio de melhores dias em relação ao ensino e

à aprendizagem dos problemas de contagem na Educação Básica.

Essas constatações só vêm contribuir significativamente para a melhoria

do aprendizado da matemática de maneira geral, a julgar pelas reflexões

encaminhadas por todo o grupo durante os encontros de ensino.

As ações realizadas pela Secretaria de Estado da Educação de São

Paulo, após a implementação do novo Currículo - principalmente no que diz

respeito ao oferecimento dos “Cadernos do Professor” e dos “Cadernos do

Aluno” – fazem-nos acreditar que o caminho a ser seguido para a consecução

dos objetivos planejados pela equipe de professores que se debruçou para a

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elaboração do presente Currículo, foi bem escolhido e são do agrado do grupo

dos professores.

É claro que a apresentação do texto de um novo Currículo não garante

melhoria nos processos de ensino e de aprendizagem se não houver um

engajamento do professor com os propósitos a que ele se destina, e que os

professores estejam convencidos de que este é o melhor caminho a ser

seguido bem como de que é preciso que haja a necessária participação de

toda a comunidade escolar.

A julgar pelas considerações, reflexões, discussões e o

comprometimento presentes no grupo de professores, estamos convencidos de

que a implementação do Currículo de São Paulo (2010), no que se refere à

proposta de desenvolvimento dos problemas de contagem, tanto no Ensino

Fundamental quanto no Ensino Médio, será realizada com êxito.

Neste capítulo realizamos análise acerca dos dados obtidos na fase de

intervenção desta pesquisa, na sequência didática, durante sete encontros.

No próximo capítulo - o das conclusões desta pesquisa - faremos uma

síntese das análises que foram feitas tomando os dados colhidos nos quatro

questionários aplicados nesta pesquisa e na análise resultante dos dados

colhidos na sequência didática, de modo que essas sínteses sirvam para

fundamentar o texto que servirá para responder às questões desta pesquisa.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O texto que segue sintetiza a trajetória que este estudo trilhou e que se

fez necessária à consecução dos propósitos estabelecidos para a realização de

nosso estudo.

Também sumariza nossas reflexões a respeito das questões de

pesquisa que nos propusemos a responder, tomando por base os resultados

obtidos com o nosso experimento.

Além disso, também destacamos aspectos que, em nosso ponto de

vista, precisam ser aprofundados em estudos posteriores e indicamos questões

que, conquanto não tenham sido abordadas nas discussões expostas neste

texto merecem, por sua relevância, ser tomadas como objetos de novas

investigações.

Consideramos que o desenvolvimento deste estudo se justifica pela

relevância da construção e da compreensão dos conceitos básicos de

combinatória para o ensino e a aprendizagem destes no Ensino Fundamental.

Também, e igualmente, se justifica para a ampliação da ideia de

construção de representações, tais como: esquemas, árvore de possibilidades,

tabela de dupla entrada, produto cartesiano ou enumeração de agrupamentos

de objetos visto que favorece e, em alguns casos, impõe a reconstrução e a

reelaboração de conceitos como etapa necessária à apropriação e do

estabelecimento de estratégias e procedimentos para a resolução de

problemas de contagem, sem o necessário uso de fórmulas.

Propicia, igualmente, uma interpretação da Matemática, não apenas

como ferramenta útil e necessária para a resolução de problemas práticos, mas

também como ciência organizada, coerente e harmoniosa, que se constrói pelo

esforço do homem e para servir às diferentes necessidades que a sociedade

pós-moderna exige de cada um.

• O papel do pesquisador frente ao grupo de professores

Desempenhamos um duplo papel ao longo deste experimento:

apresentando – como pesquisador – uma proposta de trabalho a ser

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experimentada e discutida com os professores e, ao mesmo tempo, colocando-

nos diante do grupo, explicitamente como um de seus participantes, uma vez

que, assim como eles, também exercemos a profissão docente trabalhando

com alunos da Educação Básica.

Em nossa avaliação, esta característica do grupo se constituiu como

ponto fundamental para a realização de nosso estudo porque, entendemos,

que todos aprendemos uns com os outros.

Despimo-nos, por assim dizer, das cerimônias e expusemos nossas

concepções, nossas dúvidas e nossas inseguranças em relação à experiência

difícil de ensinar especificamente o conteúdo objeto de nossas discussões, que

são as noções básicas de análise combinatória, para professores e alunos na

Educação Básica.

Constituindo-nos como um grupo de estudos: pesquisador e professores

– iguais –, avançamos juntos, cada qual com suas especificidades.

De certa forma, o que se principiou entre os professores - sujeitos desta

pesquisa - foi o cultivo da reflexão pessoal e coletiva como uma prática social

por meio da qual e segundo Zeichner (1993), em grupos de estudo como este

os professores podem apoiar o crescimento uns dos outros.

A esse respeito, o mesmo autor argumenta que o crescimento do

professor fica limitado quando se considera o seu desempenho como atividade

que se realiza isoladamente em consequência do que os professores passam a

enxergar os seus problemas como apenas seus, sem relação com os

problemas dos outros professores e o relato de suas experiências.

Essa observação, feita por Zeichner (1993), nos ajudou a interpretar as

questões e os argumentos postos pelos professores como manifestações de

seu crescimento como grupo.

Sem que houvesse perda de individualidade (pois, entre si, os

professores reconheciam e respeitavam diferenças de concepções, crenças e

conhecimentos), a apresentação de opiniões por um participante passou ao

longo do experimento a ser aceita (após a discussão) como representação das

ideias do grupo inteiro, eliminando assim qualquer sentimento de exposição

diante do grupo ou de julgamento, por parte do mesmo.

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Analisando sob essa perspectiva, acreditamos que este estudo

promoveu e acentuou, neste grupo de professores, a prática reflexiva individual

e coletiva concernente aos conhecimentos do conteúdo específico, pedagógico

e curricular relativos às noções básicas de análise combinatória para a

resolução de problemas de contagem no Ensino Fundamental e no Ensino

Médio, sem a prevalência do uso de fórmulas.

• Uma síntese da trajetória deste estudo

Quanto aos procedimentos metodológicos empregados nesta

investigação, utilizamos a pesquisa documental e orientamo-nos por princípios

do Design Experiments (Cobb et al, 2003), que favoreceram o desenvolvimento

simultâneo da investigação e da formação continuada de um grupo de 20

professores de Matemática da rede pública estadual de São Paulo constituído

no âmbito do Observatório da Educação da UNIBAN, em projeto financiado

pela CAPES, com o propósito de promover reflexões a respeito da

implementação de inovações curriculares em suas práticas pedagógicas.

Com a pesquisa documental, tivemos o objetivo de averiguar a

importância conferida aos problemas de contagem (noções básicas de

combinatória) nos currículos de Matemática dos Ensinos Fundamental e Médio,

assim como as recomendações pedagógicas e as expectativas de

aprendizagem que se estabelecem para o desenvolvimento desse conteúdo

em orientações contidas em documentos oficiais de referências curriculares

vigentes no Brasil.

A investigação desses documentos amparou-nos no que se refere à

elaboração dos instrumentos de coleta de dados e ao exame dos dados

obtidos segundo os instrumentos utilizados em nosso experimento, em

conjunto com os referenciais teóricos.

Como resultado dessa análise, destacamos que as orientações

constantes do Currículo do Estado de São Paulo (2010) para a abordagem dos

problemas de contagem no Ensino Fundamental incorporam as sugestões

apresentadas nos PCN (1997, 1998) no que se refere à importância de:

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� Explorar diferentes significados para a multiplicação de números naturais

com ênfase nas situações associadas à ideia combinatória, levando os

alunos a reconhecer que um mesmo problema pode ser resolvido por

diferentes estratégias e/ou operações;

� Explorar a construção de árvores de possibilidades e outras

representações para obter a solução de problemas combinatórios por

contagem direta, nos casos em que o número de objetos envolvidos não

seja grande;

� Explorar a compreensão do raciocínio combinatório e a aplicação dos

Princípios Multiplicativo e Aditivo na resolução de problemas de

contagem, de maneira direta e indireta, sem a necessidade de aplicação

de fórmulas específicas para os agrupamentos de objetos que têm

características semelhantes.

O novo Currículo do Estado de São Paulo (2010) acrescenta, além dos

conteúdos indicados nos PCN (1997,1998) para o Ensino Fundamental, um

aprofundamento que inclui, por exemplo, a sugestão de resolução de alguns

problemas motivadores pertinentes para a introdução de outros conteúdos no

Ensino Fundamental tais como, por exemplo, o de potências com números

naturais (com situações-problema que determinam o número de ascendentes

de determinada geração de uma família) e outras situações de aprendizagem

que ofereçam instrumentos para a atuação do professor em sala de aula com a

proposição de problemas de contagem como instrumento de motivação para

introduzir e contextualizar o conteúdo que será abordado.

Quanto ao Ensino Médio, observamos que embora o Currículo de São

Paulo (2010) contenha recomendações sobre a retomada e o aprofundamento

de noções relativas à Combinatória (problemas de contagem), a atenção

dedicada a esses conteúdos visa levar o aluno a compreender o raciocínio

combinatório aditivo e o raciocínio combinatório multiplicativo na resolução de

situações-problema de contagem indireta do número de possibilidades de

ocorrência de um evento, salientando a não necessidade de aplicação de

fórmulas.

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Consideramos que futuras investigações que avaliassem os resultados

da implementação dessas orientações, em sala de aula, tanto para o Ensino

Fundamental quanto para o Ensino Médio, poderiam contribuir para um estudo

das possibilidades de seu desenvolvimento.

De maneira a atingir os objetivos para esta pesquisa - presentes na

elaboração das questões de pesquisa - construímos o seguinte design para

esta investigação:

� Elaboramos questionários para conhecer os conhecimentos de

conteúdo, pedagógicos de conteúdo e curriculares dos

professores, segundo Shulman (1986);

� Construímos uma sequência didática baseada em situações-

problema apropriadas para os Ensinos Fundamental e Médio,

investigativas e exploratórias, acerca dos conhecimentos dos

professores sobre o conteúdo problemas de contagem (noções

básicas de Combinatória);

� Desenvolvemos essa sequência didática com os professores do

grupo – sujeitos da pesquisa;

� Fizemos análises sobre as problematizações, reflexões e

discussões - individuais e coletivas - de todo o grupo, ao longo

dos encontros de ensino, durante o processo formativo desses

professores em consonância com o conteúdo problemas de

contagem.

Essa experiência formativa da sequência didática, durante a fase de

intervenção, foi constituída de sete encontros, com duração aproximada de 4

horas cada. A fase de design, que antecedeu à fase de intervenção de

aplicação da sequência didática, foi constituída de um encontro onde foram

aplicados três questionários introdutórios.

A coleta de dados foi feita por gravação em áudio e vídeo em alguns dos

encontros, pelos protocolos escritos produzidos pelos sujeitos de pesquisa e

entregues ao pesquisador e pelas observações e registros diretos feitos pelo

pesquisador e professores do Observatório da UNIBAN/CAPES, durante os

encontros e fora deles.

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As ideias de Shulman (1986) foram objeto de nossas reflexões

preliminares à elaboração das atividades da sequência didática e também no

que se refere à procura de estratégias para sugerir e apresentar soluções

alternativas às situações-problema de contagem que foram propostas aos

sujeitos de pesquisa.

Na fase de intervenção desta pesquisa procuramos identificar

comportamentos e procedimentos - de conteúdo e pedagógicos - que se

caracterizam como raízes da ação docente de um professor que ensina

Matemática na Educação Básica e relatar como os professores buscam, por

meio dos seus conhecimentos anteriores e em suas experiências docentes,

sentido para compreender comportamentos e fenômenos matemáticos.

Estes comportamentos, por sua vez, foram observados enquanto os

professores resolviam situações-problema de contagem propostas. Por meio

dessa experiência foi possível constatar como ela foi decisiva para a

apropriação de conceitos, estratégias e procedimentos de conteúdo pelo grupo

de professores, e como contribuiu para ressignificar tanto os conhecimentos

desses conteúdos quanto em relação à prática dessa temática para a

Educação Básica, com os conhecimentos pedagógicos de conteúdo.

Tendo em conta a complexidade que envolve o tema “noções básicas de

combinatória”, entendemos que, necessariamente, seu estudo deveria figurar

entre aqueles propostos para serem desenvolvidos ao longo de todos os anos

do Ensino Fundamental e para todas as séries do Ensino Médio – o que

favoreceria a continuidade, a consolidação e o aprofundamento de habilidades

e conhecimentos construídos, conforme prescrito em lei (LDBEN 9.394/96,

artigo 35).

Dentre as pesquisas que nos motivaram para o desenvolvimento desta

investigação, foram particularmente relevantes a análise e os resultados

apresentados por Fischbein e Gazit (1988) (construção de árvore de

possibilidades por crianças desde os 10 anos de idade), Navarro-Pelayo,

Batanero e Godino (1996) (abrangência dos conteúdos pesquisados com

jovens de 15 a 17 anos) e Placha e Moro (2009) (situações-problema que

foram aplicadas para os alunos em suas pesquisas foram utilizadas (com

modificações de dados) na sequência didática desta investigação),

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constituindo-se em parte do material submetido à apreciação dos professores

participantes de nosso estudo, para reflexões e discussões.

Da mesma forma, as investigações concernentes à formação de

professores no que diz respeito à ampliação da imagem conceitual (TALL e

VINNER, 1981), a identificar elementos característicos dos aspectos intuitivo,

algorítmico e formal presentes na resolução de problemas de contagem

(FISCHBEIN, 1984), à importância da atitude reflexiva em relação à prática

pedagógica (ZEICHNER, 1993, 2003) e aos conhecimentos necessários ao

professor (SHULMAN, 1986) são a base em que nos apoiamos para planejar e

replanejar o nosso experimento e, igualmente, para analisar os resultados.

Entendemos que, para que ocorra aprendizagem e/ou ressignificação de

práticas docentes a respeito do conteúdo problemas de contagem um dos

fatores que consideramos determinante nessa empreitada são as aquisições e

conhecimentos anteriores dos professores.

A estas se somam as potencialidades e os desejos dos professores,

uma vez que se constituem em referenciais sobre os quais se apoiam os

saberes de modo que novos conhecimentos, estratégias, procedimentos,

abordagens e representações possam ser articulados e apropriados.

Estas considerações se apoiam nas formulações de Shulman (1986) a

respeito do conhecimento pedagógico do conteúdo, uma vez que este

conhecimento contribui para que seja possível identificar e estabelecer esses

referenciais e com ele encaminhar a articulação de diferentes abordagens.

As considerações também levam em conta as representações e saberes

dos professores em relação à atuação docente e aqueles professores que

precisam se apropriar desses conhecimentos para ensinar e promover

aprendizagem significativa para seus alunos.

O conhecimento pedagógico do conteúdo também considera o contexto

e as experiências que o professor tem e as que ele deve vivenciar ao longo de

sua prática docente, bem como àquelas relacionadas às dificuldades de

aprendizagem em relação à temática, e como superá-las.

Desta forma, foi possível construir um repertório de informações

relacionadas com a base do conhecimento docente formada pelos

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conhecimentos de conteúdo e curriculares articulados ao conhecimento

pedagógico de conteúdo, com as quais estão sendo apresentadas as

considerações do pesquisador, tomando como referência a análise dos dados.

Por sua vez, e segundo Shulman (1986), é a articulação entre esses três

conhecimentos que faz a diferença entre aqueles que sabem um determinado

conteúdo e aqueles que estão preparados para ensiná-lo a seus alunos.

• Uma interpretação dos resultados de nosso experimento

O diagnóstico realizado na primeira fase da coleta de dados revelou que

a imagem conceitual referente aos problemas de contagem (noções de análise

combinatória) elaborada até então pela maioria dos participantes era

predominantemente constituída por noções formais relativas a dois aspectos

presentes nos agrupamentos de objetos: diferenciação entre arranjos e

combinações e no aspecto algorítmico quanto ao uso de fórmulas,

apresentando inconsistências, por exemplo, as relativas às definições, às

representações e às estratégias para a resolução de problemas de contagem.

Os dois aspectos presentes nas concepções e crenças dos professores

relativamente à resolução de problemas de contagem, no que se refere à

identificação de agrupamentos, diferenciavam os conceitos de arranjos simples

e de combinações simples quanto à obrigatoriedade ou não de considerar a

ordenação dos objetos, ou seja, quanto à identificação ou não de

agrupamentos distintos quanto à ordem entre seus elementos constitutivos.

No que concerne às definições de classes de problemas tipo arranjos,

permutações e combinações, com ênfase nas características dos

agrupamentos de objetos envolvidos, os conhecimentos acumulados pela

maioria dos professores eram os mesmos indicados por livros didáticos para o

Ensino Médio, havendo uma prevalência do componente algorítmico sobre os

componentes intuitivo e formal que transparece, por exemplo, em protocolos

dos professores.

Em alguns dos protocolos, por exemplo, embora o professor tenha

enunciado formalmente a definição de uma permutação simples como uma

ordenação que contém todos os objetos que estão envolvidos e identificado

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que a totalidade das permutações simples é obtida pela aplicação do Princípio

Multiplicativo, ele efetuou, em seguida, a aplicação de uma fórmula sob a forma

de fatorial possivelmente para confirmar a existência de uma fórmula que

determina a contagem de todas as permutações simples, a exemplo do que

alguns livros didáticos também fazem.

Em nossa opinião, esses resultados indicam que alguns dos

professores do grupo estão muito dependentes do livro didático em relação à

apresentação e ao desenvolvimento dos conteúdos relacionados com as

noções básicas de combinatória que estes apresentam para a Educação

Básica, conforme a análise das respostas que esses professores apresentaram

nos questionários iniciais, confirmando esses encaminhamentos.

A maioria dos livros didáticos segue uma distribuição de apresentação

dos conteúdos para a resolução dos problemas de contagem que contempla

três “compartimentos estanques”, a saber: problemas de arranjos, de

permutações simples e de combinações simples.

Essa distribuição contribui para as dificuldades que os alunos têm para

compreender cada um dos conceitos, considerando que as situações-problema

propostas para serem resolvidas estão em cada um desses “compartimentos

estanques”.

Por conta disso, a menos de mudanças nos quantitativos de objetos,

todos eles são resolvidos pela aplicação da fórmula que foi apresentada no

início de cada seção, não exigindo do aluno a necessidade de compreender e

identificar o tipo de agrupamento que está envolvido na situação e de mobilizar

estratégias distintas de resolução que não àquela relativa à simples aplicação

da fórmula, desprovida da compreensão acerca dos agrupamentos de objetos

que foram formados.

Esses equívocos ficam transparentes, também, quando do cálculo de

probabilidades relacionadas com subconjuntos de objetos derivados de

agrupamentos constituídos a partir da resolução de problemas de contagem.

Ademais, são raros os livros didáticos que sinalizam para a motivação

quanto à mobilização de diferentes estratégias para a resolução de um mesmo

problema de contagem uma vez que, grande parte deles apresenta a resolução

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de situações-problema exemplos por meio da aplicação direta de uma fórmula

que, em geral, foi somente apresentada de início.

Além disso, também não identificamos nos livros didáticos a

preocupação de orientar o aluno de que não há necessidade do uso de uma

fórmula para determinar a solução para um problema de contagem por meio da

apresentação de soluções para problemas de contagem que explorem o uso do

Princípio Multiplicativo, do Princípio Aditivo e por meio de uma representação,

como a árvore de possibilidades, sem o uso de uma fórmula em

prosseguimento.

Também a exploração de representações, como a árvore de

possibilidades, do raciocínio combinatório, do Princípio Multiplicativo e do

Princípio Aditivo (este de maneira acentuada) se revelaram ausentes no

repertório do grupo de professores, durante a resolução dos problemas de

contagem presentes no diagnóstico dos questionários introdutórios.

A análise desses dados corrobora os resultados discutidos em outros

estudos como os que foram desenvolvidos por Navarro-Pelayo, Batanero e

Godino (1996), que também investigaram questões relativas ao ensino e à

aprendizagem dos problemas de contagem na Educação Básica e constataram

o pouco uso que os alunos fazem da árvore de possibilidades e, quando o

fazem, não têm êxito.

A fase de intervenção realizada em nossa pesquisa teve a finalidade de

propor ao grupo de professores reflexões a respeito das possibilidades de

ensino dos problemas de contagem no Ensino Fundamental - estendendo-se

até o Ensino Médio - tendo como objeto de discussão a abordagem desses

problemas por meio da exploração de situações-problema que favorecem a

percepção dos conceitos, a mobilização de diferentes estratégias para a

resolução destes e a constatação da não necessidade de uma fórmula para

obter a solução de um problema de contagem, explorando o raciocínio

combinatório na aplicação dos Princípios Multiplicativo e Aditivo.

Esta pesquisa identificou que os professores do grupo ainda não haviam

vivenciado situações nas quais - dependendo do modo como a solução da

situação é encaminhada - será preciso repartir o problema em várias etapas –

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quando e em quantas partes seja necessário - para efetuar a contagem total de

possibilidades, utilizando os Princípios Multiplicativo e Aditivo, em conjunto.

Os resultados observados ao longo dessa fase, a partir das reflexões e

discussões nos grupos de professores, não só indicaram avanços no que diz

respeito às definições, representações e estratégias de resolução, mas

também ampliaram a compreensão da aplicação do Princípio Multiplicativo e do

Princípio Aditivo e a percepção da possibilidade de resolver problemas de

contagem via uso de alguma representação e sem o uso de uma fórmula, como

estratégia que pode favorecer a caracterização dos agrupamentos de objetos

que atendem à solução do problema, permitindo a contagem total destes

agrupamentos de modo direto ou indireto.

Dentre os avanços registrados é importante mencionar também aqueles

relacionados à argumentação. Teria ficado vazia a discussão sobre a resolução

dos problemas de contagem na Educação Básica se a atenção do grupo não

fosse despertada para a importância dos aspectos intuitivo e formal, na

abordagem desse conteúdo.

O esforço e o interesse do grupo a esse respeito resultaram em avanço

na leitura atenta aos enunciados dos problemas, na compreensão acerca das

estratégias adequadas para obter a solução e, posteriormente, na elaboração

de justificativas sobre as tomadas de decisão em cada uma das fases

componentes da aplicação do Princípio Multiplicativo ou da construção da

árvore de possibilidades, certificando-se da consecução de todas as etapas

que são necessárias para a obtenção da solução de cada problema.

Nesse sentido, seria importante considerar a possibilidade de outras

pesquisas que investigassem o desenvolvimento de habilidades relativas à

argumentação e às narrativas presentes ao longo da resolução de problemas

de contagem, envolvendo professores da Educação Básica.

Quanto à utilização de uma representação, em particular de uma árvore

de possibilidades, embora tenhamos percebido que houve compreensão por

alguns participantes acerca da viabilidade e das vantagens para o seu uso,

mormente em se tratando de problemas em que o número de objetos não seja

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enorme, grande parte do grupo demonstrou, em suas discussões e registros,

que ainda restaram dúvidas.

As dúvidas concentraram-se especialmente no que se refere à aceitação

de que os procedimentos utilizados na construção de uma árvore e a posterior

contagem direta dos agrupamentos de objetos são legítimos, tal qual também o

é quando da aplicação de uma fórmula e que, também nesses casos, os

princípios matemáticos que estão sendo utilizados legitimam os resultados

obtidos.

Ainda são bastante fortes, determinantes e arraigadas as concepções e

crenças dos professores de que a solução de um problema de contagem

passa, necessariamente, pela aplicação de uma fórmula para legitimar o

resultado obtido, mesmo quando do uso de uma representação.

Esse quadro só se modificará, ou talvez não, quando mais professores

da Educação Básica tiverem acesso a formações continuadas como a que foi

objeto desta investigação e se convencerem, à luz dos resultados de pesquisas

e de experiências in loco, de que os argumentos utilizados para a resolução de

um problema de contagem são legítimos e aceitos pela comunidade científica

bastando, para tal, certificar-se, conhecer e apropriar-se de resultados de

pesquisas acerca do ensino e da aprendizagem dessa temática na Educação

Básica e não se sujeitarem, unicamente, às concepções e crenças dos autores

de livros didáticos.

Cabe salientar que embora nesta nossa investigação não tenha sido

possível convencer a totalidade dos professores do grupo de que é possível

promover a resolução de problemas de contagem na Educação Básica sem o

uso de fórmulas, grande número de professores do grupo sentiu-se em

condições de experimentar essa proposta pedagógica com seus alunos. Seria,

a nosso ver, um tema que precisaria ser retomado e aprofundado em outras

pesquisas.

Após a intervenção, grande parte do grupo indicou como conhecimentos

necessários ao professor para ensinar problemas de contagem aqueles

relativos aos conteúdos e estratégias que não estavam presentes nas

respostas aos instrumentos diagnósticos.

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Dentre esses conhecimentos o grupo citou, por exemplo, o uso de uma

árvore de possibilidades para a resolução de problemas de contagem, o

desenvolvimento das fórmulas presentes nos arranjos simples, permutações,

combinações simples e permutações circulares e a exploração do Princípio

Aditivo em conjunto com o Princípio Multiplicativo na resolução de alguns tipos

de problemas de contagem, bem como a prevalência para a resolução de um

problema de contagem sem utilizar-se, necessariamente, de uma fórmula.

Esses resultados foram avaliados por nós como um avanço entre os

conhecimentos que os professores se apropriaram, que foi reconhecido

também pelo grupo.

No que diz respeito aos conhecimentos necessários ao professor para

ensinar problemas de contagem, também é importante registrar a análise

realizada pelos professores do grupo no que diz respeito às Orientações

Curriculares para a abordagem desse conteúdo, presentes no Currículo de São

Paulo (2010), nos Cadernos do Professor e nos Cadernos do Aluno, que

revelam conhecimentos curriculares de conteúdo e os relacionados ao ensino e

à aprendizagem do aluno.

Por exemplo, quando os professores do grupo identificam nesse material

- nos Cadernos da 2ª série do Ensino Médio - abordagens que seriam, na

opinião do grupo, desenvolvidas fora da ordem em relação ao que os livros

didáticos apresentam – como é o caso do estudo das probabilidades em

situações que não exigem raciocínio combinatório (reunião e interseção de

eventos; probabilidade condicional) que é sugerido ser apresentado antes dos

conteúdos básicos de Combinatória.

De maneira similar, têm-se os argumentos apresentados pelos

professores quando criticam, por exemplo, que somente nos Cadernos do

Professor - 5ª série - a abordagem é feita por meio da resolução de um

problema de contagem com a construção de uma árvore de possibilidades para

a determinação dos ascendentes da quarta geração de uma família de maneira

a favorecer a introdução das potências de números naturais, diferentemente do

que é feito nas outras séries do Ensino Fundamental em que outras situações

de contagem poderiam ser exploradas e não o são - apresentadas somente

para a 2ª série do Ensino Médio (como historicamente vem sendo feito) -,

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demonstram conhecimentos do grupo referentes à organização curricular

proposta no Currículo de São Paulo (2010).

Ademais, acrescentamos que as reflexões que todo o grupo vivenciou

com as análises das Orientações Curriculares e dos “Cadernos”, ao longo da

formação continuada, provocaram uma reelaboração de algumas concepções e

crenças que eles tinham relativas à resolução de problemas de contagem e os

conteúdos relacionados com as noções básicas de combinatória, bem como o

reconhecimento da necessidade de incorporá-los ao repertório construído pelo

grupo.

Por outro lado, ao mesmo tempo em que se percebe uma valorização da

importância do desenvolvimento do conteúdo problemas de contagem dentre

os conteúdos que deveriam compor o repertório do professor, constata-se certa

cautela do grupo de professores na indicação de conteúdos que seriam

esperados de um aluno concluinte do Ensino Fundamental.

Para a maior parte dos professores se mantém a ideia de que somente

seria suficiente uma abordagem introdutória dos problemas de contagem que

envolvesse a construção de árvores de possibilidades para a solução de

problemas que tratam das “combinações de roupas e peças de vestuário” por

meio de cálculos derivados da aplicação do Princípio Multiplicativo, para o

desenvolvimento deste tópico no Ensino Fundamental.

É importante ressaltar que nas respostas e argumentações explicitadas

pelos professores há uma dualidade: de um lado caracterizada pela percepção

e compreensão que alguns professores têm das dificuldades enfrentadas pelo

aluno no estudo dos problemas de contagem (enfrentadas também por eles, ao

longo da intervenção, quando se referiam, por exemplo, à diferenciação entre

os agrupamentos do tipo arranjos e aqueles do tipo combinações simples, por

exemplo) e, de outro lado, pela responsabilidade de implementar as inovações

propostas pelo novo Currículo de Matemática de São Paulo (2010) quanto à

resolução de problemas de contagem em suas aulas no Ensino Fundamental –

como tarefa que deve ser cumprida por todos.

• O ensino e a aprendizagem dos problemas de contagem

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Desde a proposição dos primeiros problemas de contagem

recomendamos aos professores que fizessem uso da construção de uma

representação gráfica: esquema, árvore de possibilidades, tabela de dupla

entrada, produto cartesiano ou enumeração dos agrupamentos de objetos para

obter a solução para a situação-problema proposta a qual, por sua vez,

também tem como objetivo favorecer o desenvolvimento do raciocínio

combinatório e explicitar a aplicação do Princípio Multiplicativo e do Princípio

Aditivo quando da construção de alguma dessas representações gráficas.

Mesmo que a árvore de possibilidades não seja usada de início pelos

alunos, a sugestão para fazê-la parece-nos que não causaria estranheza a

eles, tal qual, por exemplo, seria o uso de um esquema, mesmo para os alunos

das séries iniciais do Ensino Fundamental.

O uso de uma representação gráfica - a princípio de modo intuitivo – é

bastante oportuno na fase inicial de exploração de problemas de contagem no

Ensino Fundamental.

A partir do modo como o aluno constrói uma árvore de possibilidades e a

maneira como descreve cada um dos agrupamentos de objetos, de início

intuitivamente, o aluno explora todas as possibilidades de soluções ao

problema de modo que, quando considerar que chegou ao final da construção

da árvore de possibilidades, proceda à contagem direta dos agrupamentos

listados, aplicando aí o Princípio Aditivo.

Segundo Fischbein (1994), o componente intuitivo (compreensão

intuitiva, cognição intuitiva, solução intuitiva) diz respeito a uma compreensão

que o indivíduo considera autoevidente.

Por conta disso, consideramos que a ideia intuitiva inicial para a

construção de uma árvore de possibilidades ou de um esquema, em si, é muito

boa. Ela é recomendável ser sugerida para crianças desde os 10 anos de

idade, segundo identificaram Fischbein e Gazit (1988) em sua pesquisa.

Mas, como um professor ensina o seu aluno a certificar-se de que

procedeu à contagem correta de todas as possibilidades presentes na

construção de uma árvore de possibilidades, para uma particular situação-

problema?

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Tomando por base as reflexões e discussões havidas na fase de

intervenção deste estudo, podemos sugerir algumas tarefas que se

recomendam ao professor nesta importante fase do ensino de noções básicas

de combinatória, que é a construção de árvores de possibilidades, para a

resolução de problemas de contagem. São elas:

� Acompanhar, passo a passo, a construção das primeiras árvores

de possibilidades pelo aluno;

� Verificar se o aluno percorre todas as possibilidades, para cada

objeto em análise, de maneira que faça a “combinação com um

ou mais objetos” disponíveis, quando for o caso;

� Deve certificar-se de que o aluno compreende quando chegou ao

fim na construção da árvore ou se ele simplesmente finaliza a

construção da árvore sem compreender a razão de estar fazendo

aquilo;

� Acompanhar a decisão do aluno sobre quando ele sente-se

seguro de que a contagem de todas as possibilidades de

“combinação entre objetos” que fez, está correta. Ou seja, que a

contagem não foi feita nem a maior nem a menor, contemplando

todas as possibilidades.

Assim fazendo, o professor contribui para que o aluno se sinta seguro de

que finalizou a contento a construção da árvore de possibilidades ou de

qualquer uma das representações que utilizou, compreendendo a importância

do raciocínio combinatório para essa construção e de outras representações

gráficas.

A partir da solução a um problema de contagem obtida de maneira

intuitiva pelo aluno, e após ele haver escrito os agrupamentos de objetos (é

claro que podendo esquecer-se de algum ou se excedido na contagem) e

quando, mais uma vez, o professor identifica tal solução escrita sob a forma

dos agrupamentos listados nos “galhos terminais” da árvore de possibilidades,

ele deve propor questionamentos, reflexões e discussões aos alunos a respeito

das etapas percorridas para a construção da referida árvore que foi

apresentada.

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O objetivo, com essas reflexões, é o de propor ao aluno que ele escreva

os agrupamentos de objetos segundo uma forma organizada, que ele passe a

estabelecer um método sistemático pessoal ou que inicie um procedimento

sistematizado, de maneira que ao apresentar os agrupamentos seguindo essa

sistemática organizada ele reúna condições para garantir que está computando

todas as possibilidades, justificando-as, passo a passo, caso considere

necessário fazer isso.

Entendemos que o professor não deva “queimar momentos” importantes

na aprendizagem inicial com seus alunos na fase de construção de árvores de

possibilidades.

O professor deve incentivar o aluno para que escolha a representação

gráfica que considere mais adequada à solução do problema e que desenvolva

seu raciocínio de maneira livre enquanto efetua as “combinações entre

objetos”, mesmo porque não há uma ordem pré-determinada para a tomada

dessas decisões, mormente quando se tratar da “combinação entre objetos do

tipo saias, blusas ou sapatos” que são habitualmente apresentados como

“objetos a serem combinados” quando da proposição dos problemas iniciais de

contagem uma vez que eles representam situações muito próximas do

cotidiano das crianças.

Para estas situações-problema o professor deve incentivar os alunos a

explicarem as “combinações que fizeram entre os objetos” e, a partir daí,

enfatizar, quando for o caso, a relação “um para todos”: cada saia “combina”

com qualquer uma das blusas disponíveis; cada blusa “combina” com qualquer

par de sapatos, cada conjunto saia-blusa “combina” com qualquer par de

sapatos, etc. por meio do uso de um ou mais “Produtos Cartesianos”, de modo

a ilustrar as combinações e determinar a totalidade de “combinações” que

foram feitas.

Nesta investigação, foram marcantes esses momentos, quando para

uma mesma situação-problema foram apresentadas diferentes soluções no

quadro branco. Permitimos e incentivamos que todos os sujeitos de pesquisa

apresentassem diferentes soluções para um mesmo problema de contagem,

que se manifestassem quanto a elas e que tivessem a oportunidade de expor a

maneira como as encaminharam.

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Nos grupos menores também foi possível registrar esses momentos,

desde as reflexões pessoais até a concepção das soluções pelo grupo.

Nessas situações, o professor começa por orientar o aluno para o

desenvolvimento do raciocínio combinatório e para a identificação e

caracterização quanto à aplicação do Princípio Multiplicativo, mostrando a

relação que existem entre as possíveis ações feitas durante a construção da

árvore de possibilidades e os quantitativos de cada uma dessas ações, uma

vez que eles estão presentes nos fatores que estabelecem a operação

multiplicativa e são decorrentes da aplicação do Princípio Multiplicativo.

Assim, a cada “nó” da árvore de possibilidades, o aluno realiza a tomada

de decisão de combinar “um objeto para muitos, ou um para um”, certificando-

se de qual (quais) é (são) esse (s) objeto (“muitos objetos”) que estará (ão)

sendo combinado (s) com aquele (s) outro (s), para esse particular “nó” ou para

qualquer outro nó da árvore.

Essa é a fase que consideramos crucial e muito importante para ensinar

os alunos a construir uma árvore de possibilidades, uma vez que ela é

imprescindível para o ensino dos problemas de contagem e, como tal, merece

cuidadosa atenção por parte do professor no acompanhamento, passo a

passo, das ações feitas pelos alunos.

Recomendamos, com base na experiência que vivenciamos com esta

formação continuada, enquanto no papel de mediador, que o professor também

faça reflexões e questionamentos pessoais e coletivos – com seus pares – no

sentido de compreender como o aluno está encaminhando o raciocínio para a

obtenção da solução a um problema de contagem, pedindo ao aluno que

apresente, por meio de narrativas ou por escrito, que descreva os

procedimentos que utilizou e os momentos que percorreu para obter a solução,

explicando-os em detalhes, e à sua maneira.

Quando da construção das primeiras árvores de possibilidades pelos

alunos a mediação do professor se faz necessária para que o aluno explique as

ações que vai realizar durante essa fase, e vá adquirindo confiança em relação

ao passo seguinte que vai tomar para que, em seguida, compreenda o

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momento em que deve parar a construção da árvore após contemplar todas as

possibilidades possíveis.

Essas ações foram realizadas pelo pesquisador em alguns grupos

menores e mostraram-se relevantes para alguns professores que tinham

dificuldades nos encaminhamentos para a construção de uma árvore de

possibilidades.

Recomendamos, portanto, que o professor indague o aluno acerca das

etapas que ele percorre quando da busca da solução a um problema de

contagem e que, com base nessa experiência, ele reúna condições que

permitam a ele compreender como o aluno raciocina, passo a passo.

Cada vez que o aluno se depara em um “nó” da árvore, durante a fase

de construção, e precisa decidir se deve ou não seguir em frente. Nesse

momento o professor deve perguntar ao aluno sobre o porquê de cada decisão

que pode ser tomada, e sugerir que o aluno quantifique, se for o caso, todas as

possibilidades de tomar essa decisão ou deixe essa tarefa para o final da

construção da árvore de possibilidades.

Enquanto os alunos fazem a construção da árvore de possibilidades, nó

a nó, o papel do professor é muito importante no sentido de acompanhar e

compreender as reflexões que o aluno faz, antes de tomar qualquer decisão,

assim como durante a fase da contagem direta das possibilidades

estabelecidas nos agrupamentos de objetos que atendem às possibilidades

para a solução do problema de contagem e que estão presentes nos “galhos

terminais da árvore”.

Depois da construção de diferentes representações para obter as

soluções para alguns problemas de contagem o professor deve propor aos

alunos que, à luz da obtenção das possibilidades que atendem à solução,

determinem a solução por meio de uma notação multiplicativa ou aditiva que

estabeleça a contagem total ou das parcelas. Também, propor que eles

justifiquem os valores que estão presentes nos fatores ou nas parcelas, para o

cômputo total de todas as possibilidades.

Essa maneira de proceder favorece o aluno no sentido dele se apropriar

do raciocínio combinatório multiplicativo, compreendendo que sua aplicação

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está diretamente associada à relação de “um para muitos” e às possibilidades

das ações que são tomadas “nó” a “nó” na fase de construção de uma árvore

de possibilidades.

Quanto ao raciocínio combinatório aditivo, o professor deve mostrar aos

alunos que sua aplicação está associada à contagem dos diferentes

agrupamentos de objetos (subconjuntos disjuntos) que foram formados, e que

estes estão presentes nos “galhos terminais” da árvore de possibilidades.

Assim, esses agrupamentos de objetos presentes nos “galhos terminais

da árvore”, uma vez que tenham sido computados fornecem todas as

possibilidades que satisfazem à situação-problema e o quantitativo destes

agrupamentos determina a solução para o problema de contagem.

Entendemos que o professor também deva explorar com seus alunos a

construção de diferentes tipos de árvores de possibilidades e não somente

aquelas ditas “simétricas” (em que a distribuição dos “galhos terminais” é

“uniforme”), sendo também, importante, a construção de árvores não simétricas

(derivadas de agrupamentos associados às combinações simples, por

exemplo).

Igualmente, o professor deve propor reflexões a seus alunos quando da

exploração “nó” a “nó” durante a construção da árvore e sobre as decisões que

podem ser tomadas e que abrem, em seguida, “novos galhos da árvore” a

partir desse “nó”.

As diferentes formas de desenvolver a resolução de um problema de

contagem estão associadas às diferentes representações que podem ser

utilizadas, gráficas ou simbólicas, e ao desenvolvimento do raciocínio

combinatório em conjunto com os Princípios Multiplicativo e Aditivo. Elas

refletem o resultado das diversas maneiras de raciocinar combinatorialmente

em conjunto com a mobilização de diferentes estratégias, com o propósito de

resolver um mesmo problema de contagem.

Recomendamos fortemente que os professores se utilizem de diferentes

representações gráficas e que incentivem seus alunos ao uso delas,

considerando-as relevantes quando estas forem apresentadas por eles para a

resolução de problemas de contagem.

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Igualmente, recomendamos que os professores estejam atentos aos

aspectos intuitivos e formais, importantes no desenvolvimento do raciocínio

combinatório dos alunos, bem como às estratégias de resolução que eles

apresentem, incentivando-as no sentido de que venham a avançar na

compreensão dos conceitos (ampliação da imagem conceitual) e na

mobilização de estratégias e procedimentos que permitam a resolução dos

problemas deixando de lado, sempre, no Ensino Fundamental, o uso de uma

fórmula e, no Ensino Médio sempre que for possível resolver por meio de outra

estratégia.

Também recomendamos aos professores - não obstante alguns livros

didáticos se valerem de alguma fórmula para resolver exemplos sugestivos, ou

pela maneira como apresentam as respostas para os problemas propostos,

resultantes da aplicação de uma fórmula - que incentivem seus alunos a

resolver esses mesmos problemas por meio de alguma representação gráfica,

como a árvore de possibilidades, por exemplo, quando a quantidade de objetos

não for muito grande ou, até mesmo, também se utilizando do Princípio

Multiplicativo e do Princípio Aditivo (se for o caso), junto da mobilização de

estratégias diferenciadas que se utilizam do raciocínio combinatório,

comparando-as ao final.

Também incentivamos os professores para que, no início de um trabalho

com problemas de contagem, explorem ao máximo a árvore de possibilidades

até que se convençam de que seus alunos identificam claramente quando

devem parar a construção da árvore, uma vez que uma das grandes

dificuldades que eles têm é de esgotar todas as possibilidades e também em

relação às contagens duplicadas, em excesso. Desse modo, estarão

contribuindo, mais uma vez, para o desenvolvimento do raciocínio combinatório

e favorecendo a aplicação e a compreensão do Princípio Multiplicativo.

A diversidade de estratégias quando da resolução dos problemas de

contagem (inclusive com a utilização de alguma representação gráfica), o

desenvolvimento dos raciocínios combinatório e dedutivo, a não memorização

e a não utilização de uma fórmula para determinar a solução de um problema

de contagem fazem das noções básicas de combinatória um conteúdo que

encanta a alguns e afugenta outros, justamente porque sempre é preciso

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mobilizar estratégias próprias para a solução de cada particular problema de

contagem, diferentemente de quaisquer outros tópicos de matemática que são

desenvolvidos na Educação Básica.

É recomendável que o aluno encare cada problema de contagem como

um novo problema, sem recorrer a similaridades com problemas já vistos

anteriormente, recorrendo a novas ou antigas estratégias e mobilizando o seu

particular raciocínio combinatório para obter a solução.

Portanto, essa maneira de encaminhar as discussões para o

desenvolvimento do conteúdo problemas de contagem, como explicitado

anteriormente, sugere que se possa, e talvez deva também utilizá-la no dia-a-

dia da sala de aula com alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, em

diferentes abordagens.

Consideramos importante que o professor destaque em suas aulas os

valores matemáticos em relação àqueles do senso comum que por vezes são

veiculados pelos meios de comunicação ou trazidos pelo aluno da sua

realidade, caracterizando-se adequadamente sob o ponto de vista dos valores

matemáticos.

A abordagem em Matemática deve considerar a exploração dos

significados dos conceitos, estimular o entendimento e a argumentação e

promover reflexões e discussões, com ênfase nos valores racionalismo e

transparência, segundo os pressupostos de Bishop (1997).

Ademais, e segundo Bishop (1997), é preciso um reequilíbrio dos

valores matemáticos ligados ao saber Matemático contemplando os seguintes

Princípios: Representatividade, Acessibilidade, Poder de explicação, Visão

elementar e ampla e, por fim, o de Formalismo.

• Respostas às questões de pesquisa

Nossas reflexões sobre os resultados das análises apresentadas nos

Capítulos 4 e 5 e as considerações que foram expostas nos parágrafos

anteriores constituíram a base para elaborar respostas às nossas questões

específicas de pesquisa.

Iniciamos pela primeira delas, formulada como:

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Quais são as inovações propostas pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais (1998) e pelo atual Currículo do

Estado de São Paulo (2010) para os processos de ensino

e de aprendizagem de conceitos relativos a problemas de

contagem?

No Ensino Fundamental, a proposta é que o raciocínio combinatório

multiplicativo e o raciocínio combinatório aditivo devem ser apropriados e

desenvolvidos pelo aluno de modo que ele possa ir construindo representações

gráficas e, também, compreendendo como aplicar esses raciocínios para obter

a solução de problemas de contagem de uma maneira ou de outra, mas sem o

uso de uma fórmula.

E, conforme estão prescritos nos PCN (1997, 1998) e no Currículo de

São Paulo (2010), estes são os propósitos que devem orientar o trabalho dos

professores e não com o intuito de preparar o aluno do Ensino Fundamental

para o estudo de noções de combinatória no Ensino Médio, inclusive com o

desenvolvimento de algumas fórmulas que podem ser feitas neste segmento

de ensino.

Referimo-nos que nos referenciais curriculares acima, há indicações da

importância do trabalho com conceitos relacionados à resolução de problemas

de contagem - com pequenas quantidades de objetos desde as séries iniciais -

para a construção de uma representação gráfica, como por exemplo, a árvore

de possibilidades, enfatizando a aplicação do Princípio Multiplicativo.

Assim, sugerimos aos professores que proponham a seus alunos

atividades cujos propósitos sejam o desenvolvimento do raciocínio

combinatório e a exploração do Princípio Multiplicativo em conjunto com a

construção de representações como, por exemplo, a árvore de possibilidades,

e que não façam uso de fórmulas ao longo dos anos do Ensino Fundamental.

Essa abordagem diferencia-se em relação àquela feita no Ensino Médio

ao explorar ideias relacionadas com a ampliação da imagem conceitual

relacionada ao campo multiplicativo, seguindo uma tendência mundial, tal como

é feito nas orientações curriculares nacionais e em grande parte dos currículos

estaduais e municipais.

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A segunda questão específica de pesquisa foi assim formulada:

Quais são os conhecimentos dos professores a respeito

da resolução de problemas de contagem e suas

concepções sobre o desenvolvimento desse tema no

Ensino Fundamental?

Esta pesquisa identificou que os professores têm lacunas de

conhecimentos de conteúdo e pedagógicos de conteúdo, tais como:

� Não recorrem às representações para resolver problemas de

contagem;

� Não sabem identificar quando um problema de contagem

necessita da aplicação do Princípio Aditivo e têm dificuldades

para a utilização deste princípio em conjunto com o Princípio

Multiplicativo;

� Têm dificuldades, após a leitura dos enunciados, em identificar os

tipos de agrupamentos de objetos que participam da solução do

problema, e, por conta disso, veem-se paralisados em relação

aos passos que devem tomar, querendo, de imediato, lançar mão

de alguma fórmula, na ânsia de resolver o problema;

� Não mobilizam estratégias diferenciadas para o enfrentamento de

situações-problema, mormente quanto àquelas situações que não

guardam conexões com outras similares que já tiveram a

oportunidade de ver resolvidas ou que resolveram ou, por vezes,

quando não estabelecem possíveis relações entre os conceitos

que conhecem;

E, por fim,

� Identificam os problemas de contagem diante da necessidade de

aplicar uma das três fórmulas, respectivamente em relação a

problemas de arranjos, de permutações ou de combinações

simples, tal qual a maioria dos livros didáticos também o fazem.

Entendemos que uma formação continuada como a que foi objeto desta

investigação precisava ser oferecida ao grupo de professores do Observatório

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da Educação da UNIBAN/CAPES uma vez que identificamos dentre os

professores que muitos deles precisavam ampliar a imagem conceitual que

tinham acerca do desenvolvimento dos problemas de contagem para os alunos

que estão no Ensino Fundamental, não obstante alguns desses professores

terem experiência com o ensino das noções básicas de combinatória no Ensino

Médio.

Como resultados dessa formação, esperamos que os professores se

responsabilizem em oferecer a seus alunos oportunidades para que eles se

apropriem de habilidades e competências relacionadas ao raciocínio

combinatório em conjunto com a construção de diferentes representações para

resolver situações-problema de contagem com um pequeno quantitativo de

objetos, os quais podem ser “combinados” entre si por meio de relações

próprias que atendam à situação-problema proposta.

Além disso, constatamos que durante a fase de intervenção deste

estudo os professores apresentaram pouca variedade de estratégias para a

resolução dos problemas de contagem, mesmo considerando que uma grande

parcela dos problemas que foram propostos está presente em livros didáticos

do Ensino Médio e que eles versam, quase sempre, sobre um pequeno

universo de problemas, diferenciando-se entre si quase sempre pelas

restrições impostas aos objetos e que são apresentadas nos enunciados, ou

pela quantidade de objetos envolvidos e não em relação à natureza de seus

agrupamentos.

A terceira questão específica de pesquisa foi formulada como:

Uma sequência de atividades que explore a resolução de

problemas de contagem, sem a utilização de fórmulas,

pode favorecer a ressignificação dos conhecimentos dos

professores nos pontos de vista do conteúdo, didático e

curricular de noções relativas a esse tema?

Os resultados desta pesquisa mostraram a necessidade de investir na

importância da construção de representações e da aplicação do Princípio

Multiplicativo e do Princípio Aditivo para obter a solução para problemas de

contagem e da necessidade de convencimento dos professores quanto aos

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propósitos do ensino de problemas de contagem já no Ensino Fundamental por

meio de atividades que se diferenciem na abordagem em relação àquelas que

eles experimentaram quando foram alunos do Ensino Médio, onde a

prevalência recaiu no uso intensivo de fórmulas.

Esta pesquisa também mostrou que os professores precisam certificar-

se de que o fato de disporem de fórmulas, definições e procedimentos já

exaustivamente utilizados por eles em outros problemas de contagem, não é

suficiente para, por vezes, garantir sucesso na empreitada de solução para

alguns problemas de contagem nos quais a mobilização de novas estratégias e

procedimentos se fazem necessárias, em conjunto com o uso do raciocínio

combinatório e do Princípio Multiplicativo e do Princípio Aditivo (em conjunto,

quando for o caso).

Os professores do grupo tiveram a oportunidade de vivenciar situações

as quais puderam certificar-se de que têm maiores chances de sucesso

quando lançam mão de procedimentos intuitivos em conjunto com uma árvore

de possibilidades, por exemplo, para a mobilização de estratégias para o

enfrentamento de uma nova situação-problema proposta.

O design baseado nessas questões revelou-se como boa estratégia

possibilitando que os professores fizessem reflexões a respeito de vários

conceitos que não conheciam – não apenas para a construção de noções

básicas relativas à combinatória, cuja ausência no repertório dos professores

foi observada inicialmente, mas, sobretudo para a reorganização, consolidação

e reelaboração de conhecimentos sobre a resolução de problemas de

contagem no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, segundo as duas

diferentes abordagens que foram explicitadas.

Esta investigação também propiciou ao grupo de professores a

percepção da importância de integrar aos componentes formal e algorítmico

(prevalecentes nas respostas e reflexões iniciais dos professores) o

componente intuitivo, como estratégia indispensável de convencimento, por

exemplo, sobre a possibilidade que uma árvore de possibilidades tem de

permitir a contagem direta de todas as possibilidades que atendem à solução

de um problema de contagem ou de, indiretamente, indicar os caminhos que

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deverão ser percorridos para a obtenção da contagem total (construção de

partes de uma árvore de possibilidades).

Assim, em caso de dúvidas quanto à solução que algum professor

apresentou no quadro branco, lá estava a árvore de possibilidades (ou parte

dela) para convencer os demais acerca da acuracidade do resultado obtido por

meio da nomeação dos agrupamentos de objetos e a contagem direta das

possibilidades.

Além disso, esta pesquisa favoreceu um princípio de reflexão, uma

atitude crítica a respeito de orientações pedagógicas – não apenas a atitude

que examina o material disponível para compreender os conteúdos que são

indicados ou as estratégias sugeridas, mas a que toma posse da liberdade de

tornar possível poder esquadrinhar, avaliar, concordar, discordar, sugerir,

aceitar, recusar, modificar ou decidir acerca de todo e qualquer material para o

ensino e a aprendizagem da temática, em livros didáticos ou não.

Contudo, é necessário acrescentar que outros aspectos precisariam ser

abordados em nosso estudo ou poderiam ser enfatizados em outros processos

de formação, com este grupo, no Observatório da Educação da

UNIBAN/CAPES.

Nossa pesquisa não incluiu, por exemplo, a observação dos resultados

na prática do professor em sala de aula, com seus alunos. Não acompanhamos

um processo de aplicação de atividades em sala de aula com o propósito de

observar até que ponto as ideias que foram refletidas e discutidas em nosso

experimento, quando postas em prática, seriam também refletidas, discutidas e

analisadas pelo próprio professor, num processo de reflexão interior e pessoal,

e também analisadas e discutidas com outros professores que participaram ou

não desta formação.

Também não avaliamos a reflexão que estes professores fariam sobre

sua prática, conforme era antes da experiência com o nosso experimento e

como passou a ser, depois disso.

Assim, um aprofundamento desta pesquisa poderia envolver a aplicação

de parte desta sequência didática a classes dos anos finais do Ensino

Fundamental a fim de verificar se as discussões realizadas durante nosso

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estudo também ocorrem com alunos do Ensino Fundamental, e, também, em

classes da 2ª série do Ensino Médio, nas quais habitualmente esses conteúdos

são ensinados.

Em nosso caso, optamos por oferecer ao grupo de professores uma

formação direcionada para a resolução de problemas de contagem constantes

do conteúdo “noções básicas de combinatória”, em virtude dos resultados

apresentados na fase diagnóstica.

É certo também que, durante a discussão e a reflexão sobre as

orientações curriculares para a abordagem dos problemas de contagem ao

longo do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, alguns conceitos foram

retomados e clarificados.

Todavia, dado que se trata de um processo de formação continuada de

professores que ensinam Matemática na Educação Básica os aspectos

relacionados com o conteúdo específico e os conhecimentos didáticos

deveriam, necessariamente, ser discutido concomitantemente tal qual o modo

como fizemos, e não separadamente.

Outro ponto a ser considerado diz respeito ao tempo de duração de uma

formação que pretenda propor reflexões e discussões sobre esse tema. Nossa

experiência com este grupo mostrou que, em virtude da diversidade de noções

relacionadas a esse conteúdo, dos conhecimentos que devem ser mobilizados

para a sua compreensão, dos diversos aspectos que precisam ser destacados,

tais como: a construção de diferentes representações, formas de abordagem,

diversidade de estratégias, mobilização de procedimentos, articulação entre

diferentes componentes da atividade matemática (algorítmico, formal, intuitivo),

esse assunto não poderia ser trabalhado todo de uma vez, em um único

módulo.

Ou seja, este trabalho precisaria ter uma continuidade para que alguns

aspectos fossem retomados, como a apropriação dos conceitos, a

caracterização dos agrupamentos de objetos envolvidos em um problema de

contagem, a construção de material concreto que favoreça a construção de

agrupamentos de objetos, a resolução de qualquer problema de contagem

usando uma representação ou aplicando o Princípio Multiplicativo e o Princípio

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Aditivo (quando for o caso), para professores que atuam em turmas do Ensino

Fundamental.

Quanto ao ensino e à aprendizagem desse conteúdo no Ensino Médio,

seria preciso a retomada da exploração dos Princípios Multiplicativo e Aditivo,

bem como a dedução das fórmulas para a contagem das possibilidades que

atendem à solução de um problema em que a quantidade de objetos for grande

uma vez que a construção de uma representação gráfica, como a árvore de

possibilidades, por exemplo, por meio da contagem direta dos agrupamentos

seria inviabilizada no sentido de não servir aos propósitos para obter a resposta

do problema por meio da contagem direta.

Cabe salientar que a dedução de fórmulas, neste segmento de ensino,

deve ser apresentada em prosseguimento a cada um dos exemplos para cada

um dos tipos de agrupamentos de objetos que caracterizam os arranjos

simples, arranjos com repetição de objetos, permutação simples, permutação

com objetos nem todos distintos, combinação simples e combinação circular,

os quais devem ser resolvidos por meio de alguma representação e pela

aplicação do Princípio Multiplicativo e/ou Princípio Aditivo, logo no início do

desenvolvimento dos conteúdos relativos às noções básicas de combinatória,

em similaridade com o modo como foi feito com o experimento desta formação.

Consideramos secundária a rotulação desses diferentes agrupamentos

de objetos logo de início por considerarmos que a caracterização deles seja

mais importante por meio dos aspectos formais que os diferenciam entre si

permitindo que após a leitura do enunciado do problema possa de imediato ser

feita a caracterização dos objetos envolvidos e aqueles que atendem à

solução.

Ressalte-se que, para o Ensino Médio, ao sugerirmos que os

professores deduzam essas fórmulas logo de início temos como propósito

sugerir uma alternativa para a obtenção da solução a um problema de

contagem, não se esquecendo de explorar o raciocínio combinatório e os

Princípios, propondo que os alunos não resolvam os problemas com a

aplicação da fórmula.

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Destacamos, porém, a sugestão para que as situações-problema sejam

propostas sem uma pré-ordenação em “compartimentos segundo os tipos de

agrupamentos de objetos que o professor já conhece, e presentes nos livros

didáticos”, favorecendo, deste modo, que os alunos busquem diferentes

estratégias para a resolução de um mesmo problema de contagem,

comprando-as entre si.

Essa retomada do ensino de combinatória no Ensino Médio pode - e

deve - favorecer a ampliação da imagem conceitual (Tall e Vinner, 1981)

acerca dos conteúdos abordados de maneira a favorecer a conexão e a

compreensão com outros ramos da Matemática, como a Probabilidade e a

Estatística.

Os resultados desta investigação mostram, além disso, que os conceitos

concernentes aos problemas de contagem, em toda a sua complexidade e

abrangência, precisariam ser tratados ao longo das diferentes etapas da

escolaridade pelos alunos e não em um único módulo de formação continuada

para os professores.

Consideramos importante ressaltar, também, que os dados obtidos da

aplicação do questionário Q4 foram importantes no sentido de que a análise

destes permitiu que se pudesse computar o grau de avanço de cada professor

no que se refere ao conteúdo específico e aos conhecimentos pedagógicos do

conteúdo, mostrando que alguns professores avançaram em relação à imagem

conceitual que tinham à época da aplicação dos primeiros questionários.

Não obstante, ressalte-se, essa investigação não foi capaz de provocar

significativas alterações no que diz respeito às concepções individuais de

alguns professores relativamente aos aspectos pedagógicos e curriculares

desse conteúdo como, por exemplo, em relação à prevalência do aspecto

algorítmico presente no uso de uma fórmula, em relação aos aspectos intuitivo

e formal.

E, também, pelo fato de alguns professores não considerarem que o uso

de uma representação gráfica para obter a solução de um problema de

contagem representasse uma alternativa viável e oportuna, pois suas

concepções e crenças, neste caso, consideram que a Matemática aí utilizada é

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menor. Esses professores creem que uma solução matematicamente correta

deve vir acompanhada da aplicação de uma fórmula que legitime o resultado

obtido.

Portanto, tomando com referência os dados obtidos nesta investigação

consideramos que, tendo sido respeitados o ritmo e o potencial de cada um, o

grupo avançou – como grupo.

Alguns professores ainda precisam refletir e conhecer mais sobre

noções básicas de combinatória de maneira que venham a aprofundar seus

conhecimentos e convencerem-se de que o fato de não estarem se utilizando

de uma fórmula para proceder à contagem total das possibilidades para a

solução a um problema de contagem, não significa que não estejam se

utilizando de princípios próprios da matemática, no que diz respeito ao rigor

matemático.

Mais uma vez, quanto aos professores referidos acima, eles não devem

achar que por utilizarem de uma representação gráfica e efetuar a contagem

direta das possibilidades não estejam ensinando Matemática. De que, dessa

maneira, isso não seja Matemática ou, então, que a Matemática que utilizam

quando estão ensinando dessa maneira “seja mais enfraquecida” que aquela

de quando fazem uso de uma fórmula para apresentar a solução para um

problema de contagem.

É importante que o professor convença-se de que a construção de uma

representação gráfica para obter a solução para diversos problemas de

contagem tem papel fundamental e significativo para compreender de que

maneira os tipos de agrupamentos de objetos envolvidos na solução vão sendo

formados e como a totalidade deles poderá ser obtida possibilitando a

contagem direta ou indireta de todas as possibilidades que atendem ao

problema, mesmo que uma árvore de possibilidades, por exemplo, não precise

ser construída por completo para em seguida determinar-se a totalidade de

possibilidades que atendem ao problema proposto.

O professor precisa, também, estar convencido de que o elo que liga a

representação gráfica à fórmula não é necessário e suficiente, ou seja, que

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ambos podem ser utilizados de maneira isolada sem prejuízo de um ou do

outro para a obtenção da solução para um problema de contagem.

Consideramos que a utilização da fórmula é legítima e aceitável e não

condenamos seu uso, tomando como propósito o aspecto algorítmico tal qual

Fischbein (1994) se refere, mormente quando se trata de uma situação-

problema em que o quantitativo de objetos é grande.

Em relação à questão principal desta pesquisa, formulada a seguir,

nossas reflexões sobre os resultados expostos nos parágrafos anteriores e as

que serão colocadas em seguida constituíram a base para elaborar sua

resposta.

Que experiências um professor de Matemática do Ensino

Fundamental deve vivenciar em sua formação continuada

para selecionar e dirigir situações de aprendizagem com

vistas a desenvolver o raciocínio combinatório de seus

alunos por meio da proposição de problemas de

contagem de modo a compreender as dificuldades que os

alunos enfrentam na resolução de problemas de

contagem e para ajudá-los a superar essas dificuldades e

atender às orientações do Currículo do Estado de São

Paulo (2010)?

Uma característica presente na sequência didática proposta neste

trabalho de pesquisa é a opção por apresentar diversas situações-problema de

diferentes complexidades - com idas e vindas em relação a um mesmo

conceito trabalhado e retrabalhado - envolvendo problemas de contagem de

vários tipos de agrupamentos de objetos.

Essa maneira de apresentação e desenvolvimento dos conceitos acerca

de noções básicas de combinatória foi feita sem que os professores

soubessem, em princípio, de que tipo de agrupamento de objetos a situação se

“encaixava”, quais e quantas situações-problema devessem ser resolvidas

utilizando este ou aquele procedimento, esta ou aquela estratégia, e quando

uma representação gráfica seria adequada e suficiente, ou não, para dar conta

de responder uma dada situação-problema que estava sendo proposta a eles.

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Essa opção pedagógica de exploração de resolução de problemas de

contagem fez com que os professores se envolvessem na busca por descobrir

padrões comuns de comportamento de agrupamentos de objetos, diferenças e

semelhanças entre as representações gráficas e detalhes acerca de

procedimentos observáveis quando faziam a leitura atenta dos enunciados, os

quais fizeram (e fazem) toda a diferença no encaminhamento a ser dado para a

obtenção da solução de cada situação-problema de contagem.

A cada novo padrão de procedimento utilizado e identificado para obter o

quantitativo de soluções (ou a descrição delas) a uma dada situação-problema

de contagem os professores puderam dispor de novo e diferenciado olhar

acerca dos problemas de contagem: o não uso de uma fórmula, a exploração

do raciocínio combinatório e a construção de alguma representação gráfica,

como base para encaminhar a procura da solução ou soluções a um problema

de contagem.

Por conta de tudo que o grupo de professores pode vivenciar nesta

formação continuada, acreditamos que esse conjunto de ações, procedimentos

e conceitos que eles puderam conhecer, compreender e se apropriar ao longo

da sequência didática enquanto refletiam, discutiam e encaminhavam as

soluções para os problemas de contagem serviu de parâmetro para que eles

reúnam instrumentos para selecionar, organizar, preparar, encaminhar e

mediar reflexões e discussões junto com seus alunos com o propósito de

também resolver situações-problema de contagem ao longo dos anos do

Ensino Fundamental enquanto ensinam os conceitos básicos de combinatória.

Para cada situação-problema que foi resolvida por todo o grupo foram

oferecidas oportunidades para reflexões e discussões sobre quando e como os

problemas de contagem podem ser úteis para introduzir algum novo conceito

de matemática no Ensino Fundamental - quando oportuno seja – considerando

que foram exemplificadas sugestões para introduzir alguns conceitos em cada

um dos os anos deste segmento.

Ademais, também serviram de reflexões e discussões, para cada

situação-problema, os objetivos e a abrangência que estes conteúdos de

contagem contemplam em conjunto com outros conteúdos de matemática – no

Ensino Fundamental e no Ensino Médio - e as possíveis dificuldades que os

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alunos poderão apresentar quando se defrontarem frente à resolução de

alguns dos problemas de contagem que forem propostos aos professores do

grupo.

Também serviram de reflexões e discussões em relação às situações-

problema propostas na sequência didática no que refere à pertinência das

sugestões quanto aos objetivos e à sua aplicação em relação às orientações

prescritas - em cada ano do Ensino Fundamental - tanto as que estão

presentes nos PCN (1997, 1998) quanto aquelas prescritas no novo Currículo

da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (2010).

Consideramos oportuno marcar posição quanto às características da

metodologia que foi utilizada nesta formação quando do desenvolvimento e

discussões acerca de problemas de contagem no Ensino Fundamental: sem o

uso de fórmulas e o uso intensivo do raciocínio combinatório a cada ação

(durante várias vezes em uma mesma busca da solução à situação) pela

identificação de uma nova sistemática utilizada na resolução dos problemas de

contagem, como modo de comparação com as resoluções que os professores

do grupo apresentavam no quadro branco, com aplicação do Princípio

Multiplicativo na construção de uma representação gráfica ou na maneira de

representar a expressão multiplicativa e/ou aditiva para o cálculo das

possibilidades.

Ou, então, por meio da apresentação e discussão acerca de alguma

outra solução resultante de discussões mediadas pelo pesquisador as quais os

professores puderam identificar e se apropriar e que, de pronto, não tenham os

professores percebido que ela fosse viável e que atende também à solução

para a referida situação-problema.

As experiências conceituais e pedagógicas vivenciadas pelos

professores ao longo da sequência didática serviram de base para que eles

refletissem e reunissem condições de se aperceber dos objetivos que estavam

presentes na proposta que foi encaminhada.

Os objetivos foram percebidos por alguns dos professores, como foi

possível constatar por meio das análises dos depoimentos que eles ofereceram

quando das respostas fornecidas às perguntas do questionário final Q4.

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Ademais, o grupo de professores (que desde então pode, e deve se

apropriar dos conhecimentos oriundos desta experiência) reúne

conhecimentos, informações e condições que permite que cada um deles

possa envidar reflexões pessoais e coletivas acerca da proposta que foi

desenvolvida durante a sequência didática e a maneira como essas e outras

situações-problema podem vir a ser selecionadas, propostas, discutidas e

solucionadas por seus alunos, tanto no Ensino Fundamental qunato no Ensino

Médio.

É certo que o grupo de professores dispõe de um razoável conjunto de

situações-problema de contagem, os mais variados possíveis quanto aos

objetivos e à complexidade de modo que, quando necessário, cada professor

pode lançar mão de alguns deles e propor a seus alunos em sala de aula ou

propostos para resolução fora dela.

Por conta disso, cada professor pode extrair dessa experiência

concepções pessoais (alinhadas aos conhecimentos de conteúdo, pedagógicos

de conteúdo e curriculares) a respeito dos tipos de situações-problema de

contagem que pode, e talvez deva ser considerada para ser proposta em cada

particular momento do ensino de determinado conteúdo de matemática

(quando for o caso), no Ensino Fundamental.

Acreditamos que, por conta de todas as razões acima expostas, os

professores envolveram-se de tal modo com o desenrolar da sequência

didática que tal engajamento pode ser percebido no grande interesse com que

eles participaram e o modo como se apropriaram dos novos conhecimentos de

conteúdo, curriculares e pedagógicos de conteúdo acerca dos problemas de

contagem.

No que se refere à questão central de pesquisa, acrescentaríamos a

todas as considerações feitas anteriormente que, em nosso ponto de vista, os

cursos de formação deveriam, necessária e obrigatoriamente, oferecer aos

professores que irão ensinar problemas de contagem no Ensino Fundamental

oportunidades que garantissem um domínio de noções concernentes às

estratégias e procedimentos de combinatória que explorem o uso de

representações gráficas, a aplicação do Princípio Multiplicativo e do Princípio

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Aditivo e a construção dos agrupamentos de objetos sob os pontos de vista

intuitivo e formal, segundo Fischbein (1994), e sem o uso de fórmulas.

Assim o fazendo, esses cursos de formação estarão contribuindo para

que esses professores possam justificar para os seus alunos não apenas a

validade de ideias que são postas, mas também o porquê da presença dos

problemas de contagem no currículo de Matemática neste segmento de ensino.

A abordagem de noções básicas de combinatória (problemas de

contagem) exposta nas análises presentes nos Capítulo 4 e 5 permite a

compreensão das razões pelas quais as questões que alimentaram as

discussões do grupo foram elaboradas e organizadas dessa maneira, podendo

constituir material de reflexão em processos de formação inicial e/ou

continuada de professores destacando as diferenças que deve haver entre as

abordagens a serem feitas em relação ao ensino e à aprendizagem dos

conceitos, estratégias e procedimentos para cada um dos segmentos de

ensino: Fundamental e Médio.

Conforme foi dito, o encadeamento dessas ideias foi projetado ao longo

de todo o experimento tendo em conta os resultados parciais observados, os

resultados de pesquisas anteriores e as orientações curriculares relativas às

noções básicas de combinatória (problemas de contagem) na Educação

Básica, sob a expectativa de que o grupo avançasse em relação às

dificuldades observadas na fase diagnóstica, ou seja, que houvesse ampliação

da imagem conceitual pelo grupo.

Por sua vez, as experiências vivenciadas pelo grupo, as reflexões

resultantes da proposição das situações-problema e a elaboração das

argumentações e dos questionamentos pelos professores serviram-nos como

norte para a sistematização e para a formulação das orientações constantes

desta investigação.

Assim, a proposta de análise desse material no interior de grupos de

formação de professores poderia favorecer a percepção de outras

possibilidades de organizar a abordagem dos problemas de contagem na

Educação Básica, a depender do interesse e do nível de compreensão dos

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alunos e também poderia promover reflexões sobre a importância de integrar

os aspectos intuitivo, algorítmico e formal no estudo desse conteúdo.

Além disso, os impasses e os obstáculos que permeiam o processo de

aprendizagem dos conceitos básicos de combinatória na Educação Básica

também deveriam ser objetos de discussão nos cursos de formação.

As pesquisas desenvolvidas acerca do ensino e da aprendizagem sobre

análise combinatória consistiriam em fontes ricas de dados para essa

discussão e também poderiam auxiliar na investigação das causas dos erros,

dos equívocos e das pré-concepções trazidas pelos alunos, em decorrência de

estudos anteriores. Dentre essas pré-concepções salientamos a necessidade

de fazer uso de uma fórmula que valide o resultado obtido.

Da mesma forma, o futuro professor também precisaria vivenciar

situações que permitissem a experiência das dificuldades vividas pelos alunos

quando estes começam o estudo de combinatória. Isso permitiria ao futuro

professor a percepção e a compreensão dessas dificuldades e a reflexão sobre

a mobilização de estratégias, aqui incluídas a construção de uma

representação gráfica, que poderiam auxiliar um aluno a enfrentá-las e a

superá-las.

Ademais, consideramos oportuno salientar que os cursos de formação

deveriam oferecer oportunidades de avaliação de indicações curriculares a

respeito da abordagem da combinatória (problemas de contagem), com a

finalidade de discutir sobre a distribuição desse conteúdo no Currículo de

Matemática, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio e também

de iniciar nos futuros professores a prática da reflexão e da análise crítica de

recomendações pedagógicas relativas a esse conteúdo.

Finalmente, em virtude de todo o exposto, entendemos que, dada a

importância dos problemas de contagem (noções básicas de combinatória)

como parte integrante da Matemática Discreta, no sentido de contribuir para a

compreensão da ampliação dos problemas de contagem para outros tipos de

agrupamentos de objetos e na resolução de Problemas de Otimização, seu

estudo não pode receber atenção apenas superficial em nenhuma das etapas

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da escolaridade a partir de sua introdução, ainda que se considere toda a

complexidade inerente à construção desses conhecimentos.

Mais ainda: como conceber um estudo de Matemática na Educação

Básica que não contemple os problemas de contagem?

Ainda a esse respeito, consideramos necessário reiterar o que foi dito

anteriormente sobre a importância de distribuir o estudo dos problemas de

contagem (combinatória) não apenas na 2ª série do Ensino Médio como a

muito tempo tem sido feito, mas também ao longo de todos os anos do Ensino

Fundamental e nos cursos de Licenciatura em Matemática, para que se deem a

consolidação e a ampliação desse conhecimento em etapas escolares

subsequentes nas quais os estudantes certamente já desenvolveram outras

habilidades (como a construção de representações gráficas e o

desenvolvimento do raciocínio combinatório multiplicativo e do raciocínio

combinatório aditivo) necessárias à compreensão e ao aprofundamento desse

assunto.

À formação do professor, junto com os saberes de conteúdo,

pedagógicos, metodológicos e curriculares associados à Matemática somam-

se o seu preparo para lidar com situações de formação da identidade da

criança e do jovem, das aptidões para o trabalho, das relações familiares e de

conhecimentos em lidar com situações outras de caráter familiar que a escola

passou a lidar.

O professor precisa oferecer condições para que seus alunos se

apropriem de habilidades e competências com as quais possam se tornar

cidadãos participantes da sociedade, conhecendo e exercendo a democracia

com seus deveres e direitos, entre os quais uma educação de qualidade.

Nossa sociedade está, a cada dia, mais competitiva. Portanto, para

seguir em frente e vencer é fundamental que cada aluno receba um estudo de

qualidade e cabe ao professor contribuir com sua parcela para que a escola

oferte tal ensino.

Cabe aqui, neste momento em que concluímos as respostas às

questões de pesquisa, destacar o que consideramos como a principal tese que

este estudo defende à luz das análises dos dados obtidos.

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Destacamos que neste estudo foi possível identificar – a julgar pelo que

o grupo formado por vinte professores da rede estadual de ensino de São

Paulo, sujeitos da pesquisa, apresentou ao longo das etapas constituintes

dessa investigação - que os professores, em geral, têm dificuldades para

desenvolver o conteúdo de noções básicas de combinatória (problemas de

contagem) no Ensino Fundamental.

Falta-lhes não apenas aprofundar os conhecimentos acerca desses

conteúdos – raciocínio combinatório, Princípios Multiplicativo e Aditivo –

mas, sobretudo, desenvolver estratégias de ensino mais eficientes para a

aprendizagem dos alunos. Ou seja, os professores precisam mobilizar

diferentes estratégias e procedimentos que permitam ensinar o aluno a resolver

um problema de contagem de diferentes maneiras, favorecendo a

compreensão e a apropriação dos conceitos, sem necessariamente lançar mão

de usar fórmulas.

Em nossa pesquisa, os professores atestaram que a exploração da

árvore de possibilidades no Ensino Fundamental é uma excelente estratégia

para a contagem direta dos agrupamentos de objetos que permitam obter a

solução de problemas de contagem por meio da exploração do raciocínio

combinatório quando da aplicação do Princípio Multiplicativo e do Princípio

Aditivo. Essa estratégia provavelmente favorecerá a compreensão e

formalização desses conceitos e outros relativos à combinatória, no Ensino

Médio.

Cabe também destacar que em nossa concepção a dedução e a

utilização de fórmulas para a resolução de problemas de contagem deveriam

ser trabalhadas apenas quando os conteúdos de combinatória forem

retomados no Ensino Médio. No entanto, nossa pesquisa mostrou que, mesmo

depois de nossa intervenção, alguns professores ainda permaneciam muito

presos ao uso de fórmulas no Ensino Fundamental e que a diferença entre os

problemas propostos nos dois segmentos deveriam ser apenas quanto à

complexidade.

É importante destacar que houve mudanças de concepção de alguns

professores: consideram que no Ensino Fundamental o aluno deverá mobilizar

diferentes estratégias e representações gráficas para resolver um problema de

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contagem. Esses professores consideram também que, no Ensino Médio, os

alunos devem lançar mão dessas estratégias e, caso necessário, utilizem

fórmulas.

Assim, é fundamental que nos cursos de formação inicial e/ou

continuada haja um espaço para essas discussões sobre o processo de ensino

e de aprendizagem de noções relativas aos problemas de contagem. Nesses

cursos deveria haver a apresentação de estratégias para a resolução desses

problemas, sem o uso de fórmulas.

Sugestões para futuros trabalhos

Um trabalho de pesquisa não termina com a apresentação de

determinados resultados como é o caso daqueles que estão presentes neste

estudo, a menos que se considera que não haja mais nada a ser investigado

em relação à questão ou questões de pesquisa postas e outras que poderão

ser sugeridas como consequência destas, ou até mesmo para complementá-

las.

Novas possibilidades surgem à medida que reflexões pessoais e

coletivas são feitas em relação aos acertos, erros, novas ferramentas, a criação

de materiais instrucionais, nova metodologia e novas abordagens.

De modo a atender aos dois primeiros momentos sugeridos pela

metodologia Design Experiments, segundo Cobb et al (2003), consideramos

que os sete encontros didáticos segundo os quais foi desenvolvida a sequência

didática objeto desta pesquisa foram suficientes, e atenderam às expectativas

iniciais.

Mas, com a finalidade de que as discussões e reflexões compartilhadas

entre os integrantes do grupo possam ser mais bem exploradas e investigadas

por outro grupo de professores para atender também à terceira e quarta etapas

da metodologia Design Experiments, segundo Cobb et al (2003), (não

contempladas por esta pesquisa) recomenda-se que novas pesquisas possam

ser feitas com o propósito de que os professores envolvidos elaborem uma

sequência de ensino para desenvolver com seus alunos em sala de aula e,

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depois, com os dados das produções dos alunos, que seja feita a interpretação,

análise e discussão deles.

Essas experiências, que envolvem a prática dos professores - em suas

salas de aula, com seus alunos - tomando as discussões e reflexões que eles

vivenciaram durante os encontros de ensino da referida pesquisa trariam mais

subsídios para a análise das problematizações que levaram a ressignificações

na prática desses professores no que se refere ao ensino e à aprendizagem

dos problemas de contagem no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

Por outro lado, também sugerimos que nova pesquisa pode investir em

identificar as razões das concepções dos professores (as quais nesta pesquisa

não fomos capazes de fazer) segundo as quais muito embora o professor

tenha ampliado a imagem conceitual em relação aos conteúdos de problemas

de contagem e se apropriado de uma metodologia que atenda aos propósitos

do ensino e da aprendizagem dos problemas de contagem no Ensino

Fundamental, há uma concepção de que sem se fazer uso de uma fórmula

para dar conta da contagem das possibilidades que atendem à solução de um

problema de contagem não se está ensinando a matemática adequada para os

alunos.

Acreditamos que é viável sugerir a proposta de um futuro estudo como

acima explicitado de maneira a problematizar essas e outras pertinentes

questões envolvendo uma experiência formativa com professores.

As reflexões que fizemos ao longo desta pesquisa nos levaram a

concluir que o estudo dos Problemas de Contagem (noções básicas de

Combinatória) deveria ganhar especial atenção também na formação inicial,

nos cursos de Licenciatura em Matemática, visto que têm a finalidade de

preparar futuros professores para ensinar esse conteúdo aos alunos.

Ademais, ainda que esteja prescrita nos documentos curriculares uma

abordagem apenas introdutória das noções básicas de Análise Combinatória –

como “ponte” que se faz necessária à transição dos Problemas de Contagem

para o Cálculo de Probabilidades de eventos e a Estatística –, as próprias

Diretrizes Curriculares para os cursos de formação de professores determinam

que a seleção de conteúdos para esses cursos deve ir além daqueles que os

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professores irão ensinar em suas aulas na Educação Básica, nas diferentes

etapas da escolaridade.

A esse respeito, as mesmas Diretrizes Curriculares para os Cursos de

Licenciatura em Matemática estabelecem que a seleção dos conteúdos (tanto

das áreas de ensino, quanto pedagógicos) é de competência de cada

Instituição de Ensino Superior.

Assim sendo, a oferta de um estudo que poderia favorecer aos futuros

professores o aprimoramento e a ampliação conceitual e pedagógica dos

conhecimentos de conteúdo sobre Análise Combinatória, e sobre o seu ensino,

dependeria de cada uma dessas Instituições de Ensino Superior formadoras de

professores que irão ensinar Matemática nas escolas de Educação Básica.

Outras pesquisas poderiam investigar se um estudo dos problemas de

contagem, em toda a sua complexidade e abrangência, – que leve em conta,

por exemplo, a exploração do raciocínio combinatório, do Princípio

Multiplicativo e do Princípio Aditivo, a construção de árvores de possibilidades

e outras representações gráficas, a exploração e mobilização de diferentes

estratégias e procedimentos para a resolução de um mesmo problema de

contagem, a importância do tratamento formal na identificação dos

agrupamentos de objetos que atendem todas as possibilidades da solução de

um problema de contagem e a necessidade de articular as interpretações

numéricas oriundas da exploração do raciocínio combinatório, via uso dos

Princípios Multiplicativo e Aditivo (tomadas de decisão) e por meio da aplicação

direta de uma fórmula para a contagem das possibilidades – faz parte dos

currículos dos cursos de Licenciatura em Matemática, visto que, concluindo

esses cursos, os estudantes que se graduarem possivelmente irão para a sala

de aula na Educação Básica e deverão estar preparados para ensinar esse

conteúdo a seus alunos da Educação Básica, conforme está prescrito nos PCN

(1997, 1998, 1999).

Por último, consideramos ser possível desenvolver sequências didáticas

de conteúdos específicos na Educação Básica como a que foi apresentada

neste estudo que permitem a construção e reconstrução de conhecimentos de

conteúdo, pedagógicos de conteúdo e curriculares a partir de reflexões

pessoais do professor e coletivas - em cursos de formação continuada,

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permanentemente - por meio de reflexões e análises relacionadas a situações

reais de ensino e de aprendizagem para este segmento de ensino.

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APÊNDICES APÊNDICE A – Questionário sobre Conhecimentos Docentes (Q1) DADOS RELACIONADOS À EXPERIÊNCIA DOCENTE DE PROFESSORES DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE SÃO PAULO NO OBSERVATÓRIO DA UNIBAN/CAPES

Unidade(s) Escolar (es) de atuação em 2011: _______________________________ Senha:_____________________________ Contato: _________________ (telefone ou e-mail). 1) Idade (anos): a até 24 b 25 a 29 c 30 a 39 d 40 a 49 e 50 a 54 f 55 ou mais 2) Cargo: a Efetivo b OFA c Outro 3) Séries em que leciona no Ensino Fundamental II: a 5ª b 6ª c 7ª d 8ª e nenhuma 4) Séries em que leciona no Ensino Médio: a 1ª b 2ª c 3ª d nenhuma 5) Tempo de magistério: a 1 ano b 1 a 5 anos c 5 a 10 anos d 10 a 15 anos e 15 a 20 anos f mais de 20 anos 6) Período de trabalho: a manhã b tarde c noite d manhã e tarde e tarde e noite f manhã e noite 7) Quantidade atual de aulas semanais: a até 10 b 10 a 15 c 16 a 20: d 21 a 25 e 26 a 30 f > 30 8) Assinale o grau máximo referente à sua formação: a superior incompleto b superior completo c especialização(até 200h) d especialização (mín. 360h) e mestrado 9) Você participou de atividades de formação continuada (atualização, capacitação etc.) promovidas pela SEE, nos anos de 2009 ou 2010? a sim b não 10) Se sim, elas foram efetivamente úteis para a melhoria de sua prática pedagógica em sala de aula? a foram muito úteis b foram úteis c foram pouco úteis d não foram úteis 11) Sua posição em relação ao novo Currículo da Secretaria Estadual de Educação (SEE-SP) é de: a comprometimento b aceitação c indiferença d contrariedade 12) Para você, esse novo Currículo (SEE-SP) foi instituído aos professores como: a consenso b adesão c sugestão d imposição 13) Em relação às situações de aprendizagem contidas no Caderno do Professor, você as utiliza:

Prezado colega: Agradeço sua colaboração em responder a este questionário. Sua participação contribuirá para a pesquisa acadêmica que desenvolvo no curso de doutorado. Asseguramos total sigilo em relação à sua identidade e esclarecemos que essas informações servirão, exclusivamente, para fins de pesquisa científica.

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a todas na íntegra b todas parcialmente c algumas na íntegra d algumas parcialmente e nenhuma 14) Os conteúdos de matemática dos Cadernos do Professor, para uso em suas aulas são: a totalmente adequados b suficientes c insuficientes d inadequados 15) Os conteúdos de matemática dos Cadernos do Aluno, para melhorar a aprendizagem deles são: a totalmente adequados b suficientes c insuficientes d inadequados 16) De quais instrumentos avaliativos você se utiliza bimestralmente, dentre os descritos abaixo, para acompanhar o desempenho de seus alunos: a prova escrita b prova oral c trabalho individual d trabalhos em grupos e atividades em classe f seminários g avaliação contínua h registro de atividades i ficha de mapeamento j diário de classe k produções dos alunos l auto-avaliação 17) Em suas aulas, quais dos seguintes recursos pedagógicos descritos abaixo, você utiliza ? a giz e lousa b livros didáticos c livros paradidáticos d Caderno do Aluno e material concreto f softwares g data show/retroprojetor h calculadora i jornais e revistas j jogos k instrumentos de medição l vídeos 18) Indique sugestões que você considera relevantes de modo que as aulas de matemática se tornem mais interessantes aos alunos (use o verso desta folha): _____________________________________________________________________(adaptado de parte de questionário utilizado por Wanderlei Aparecida Grenchi em sua Dissertação: Percepções de professores da rede pública do Estado de São Paulo acerca do Ensino de Matemática no contexto de mudança curricular (Mestrado em Educação Matemática) – UNIBAN – SP. Universidade Bandeirante de São Paulo. São Paulo.SP. 2011). APÊNDICE B – Situações-problema para o 1º Encontro do Observatório da Educação

CONHECIMENTOS DE CONTEÚDO – QUESTIONÁRIO Q2 SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO CONCEITOS COM O USO DO

RACIOCÍNIO COMBINATÓRIO

Situação-problema 1: Dispondo de três saias, três blusas e dois pares de sapatos, de quantos modos diferentes uma senhora pode se vestir? Um aluno resolveu assim: Primeiramente faço todas as combinações possíveis com saias e sapatos. Depois, com cada um desses conjuntos formados, faço as combinações com as blusas, num total de 18 conjuntos diferentes de saia, blusa e sapatos. A solução é apresentada nas duas tabelas de dupla entrada, a seguir:

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a) Analise criticamente a solução apresentada pelo aluno. b) Apresente sua solução, fazendo uso da árvore de possibilidades. Situação-problema 2: Em um ginásio há 6 portas, numeradas de 1 a 6. a) De quantos modos uma pessoa pode entrar e sair deste ginásio? Faça, pelo menos, duas diferentes representações que mostram a solução; b) De quantos modos uma pessoa pode entrar no ginásio, e sair por uma porta numerada com um número par? Faça, pelo menos, duas diferentes representações que mostram a solução; c) A segurança das portas do ginásio é feita por homens onde a numeração é par e é feita por mulheres onde a numeração é ímpar. Sendo assim, de quantos modos podemos distribuir 3 homens e 3 mulheres para fazer a segurança deste ginásio?; d) Considerando a segurança do ginásio feita unicamente por homens, de quantos modos podemos distribuir 6 deles para a segurança das portas ? Situação-problema 3: Quantos são os números de três algarismos distintos no sistema decimal? Um aluno resolveu esta situação assim: Há dez opções para ocupar a posição das unidades simples, nove opções para ocupar a posição das dezenas simples (não se pode repetir o algarismo já utilizado nas unidades simples) e oito opções para ocupar a posição das centenas simples (não podem ser repetidos os algarismos já utilizados anteriormente). Assim, pelo Princípio Multiplicativo, há 10x9x8 = 720 números com três algarismos distintos. a) Comente, criticamente, o modo com que o aluno apresentou essa solução. b) Como você faria para resolver essa questão com seus alunos? Situação-problema 4: Uma bandeira com o formato como abaixo deve ser pintada, dispondo-se das cores verde (VD), azul (AZ) e amarelo (AM) . De quantos modos diferentes é possível pintá-la?

Um aluno apresentou a seguinte solução:

SaiaSapato SAIA 1 SAIA 2 SAIA 3

SAPATO 1 (SAP1, SA1) (SAP1, SA2) (SAP1, SA3)

SAPATO 2 (SAP2, SA1) (SAP2, SA2) (SAP2, SA3)

BlusaSaia+Sapato BLUSA 1 BLUSA 2 BLUSA 3

(SAP1, SA1) (SAP1, SA1, BLU1) (SAP1, SA1, BLU2) (SAP1, SA1, BLU3)(SAP1, SA2) (SAP1, SA2, BLU1) (SAP1, SA2, BLU2) (SAP1, SA2, BLU3)(SAP1, SA3) (SAP1, SA3, BLU1) (SAP1, SA3, BLU2) (SAP1, SA3, BLU3)

(SAP2, SA1) (SAP2, SA1, BLU1) (SAP2, SA1, BLU2) (SAP2, SA1, BLU3)(SAP2, SA2) (SAP2, SA2, BLU1) (SAP2, SA2, BLU2) (SAP2, SA2, BLU3)(SAP2, SA3) (SAP2, SA3, BLU1) (SAP2, SA3, BLU2) (SAP2, SA3, BLU3)

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Justificou sua solução, afirmando que cada uma das listras poderia ser pintada por qualquer uma das cores disponíveis, fazendo então as combinações acima. Assim, a totalidade de bandeiras diferentes que podem ser pintadas é 27. a) Comente, criticamente, o modo com que o aluno apresentou essa solução. b) Como você faria para resolver essa situação-problema com seus alunos?

Situação-problema 5: Quantos são os anagramas de cada uma das palavras a seguir, justificando:

a) ROMA? b) PAPA? c) ATACA?

Situação-problema 6: Quantas são as arrumações possíveis quando se lança uma moeda “honesta” 5 vezes, em sequência, e se obtém 2 caras e 3 coroas?. Situação-problema 7: De quantos modos 6 pessoas podem sentar-se em uma mesa no formato circular? Um aluno resolveu assim: As pessoas podem arrumar-se de 6.5.4.3.2.1 = 720 maneiras olhando a arrumação da mesa em um sentido. Se olharmos a arrumação da mesa em outro sentido, teremos mais 720 maneiras. Assim, o total de modos de arrumar as seis pessoas ao redor da mesa é: 2 x 720 = 1440. c) Comente, criticamente, a questão apresentada pelo aluno.

1ª FAIXA 2ª FAIXA 3ª FAIXA

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VDAZ AZ AZ

AM

VDAM AZ

AM

VDVD AZ

AM

VDAM AZ AZ

AM

VDAM AZ

AM

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d) Resolva a situação-problema da maneira como resolveria com seus alunos em sala de aula. Situação-problema 8: Quantos grupos diferentes de 3 pessoas podem ser formados entre os amigos Ana, Bia, Carla, Davi e Eva? Um aluno apresentou o diagrama abaixo para justificar que sua resposta é 10 grupos: Ana pode ficar junto com os três colegas num grupo, uma de cada vez, e depois trocando entre os três colegas que não tinham sido escolhidos, totalizando 6 grupos. Agora, formo grupos que não tenham mais a Ana: são os grupos que têm os outros quatro amigos, quando são escolhidos de três em três.

CARLAANA BIA DAVI

EVA

DAVIANA CARLA

EVA

ANA DAVI EVA

CARLA DAVIBIA CARLA EVA

DAVI EVA

CARLA DAVI EVA a) Comente criticamente a solução do aluno. b) Resolva esta situação-problema sem o uso da árvore de possibilidades, como foi feito acima na solução do aluno. Situação-problema 9: Dispomos de 6 pessoas para formar grupos de trabalho. Pergunta-se: De quantas maneiras diferentes o grupo poderá ser formado se dele participarem três das seis pessoas?

APÊNDICE C – Questionário inicial do Observatório da Educação

QUESTIONÁRIO Q3 – CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS OBSERVATÓRIO DA CAPES/UNIBAN - 19/Maio/2011

1) Você propõe situações envolvendo o Princípio Multiplicativo na Educação Básica? * No Ensino Fundamental? ( ) Sim ( ) Não. Se você ainda não teve essa experiência explique como você procederia? Quando?

Como?

* No Ensino Médio? ( ) Sim ( ) Não.

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Se você ainda não teve essa experiência, explique: como você procederia? Quando ?

Como?

2) Você propõe situações envolvendo o Princípio Aditivo na Educação Básica? * No Ensino Fundamental? ( ) Sim ( ) Não. Se você ainda não teve essa experiência, explique: como você procederia? Quando?

Como?

* No Ensino Médio? ( ) Sim ( ) Não. Se você ainda não teve essa experiência, explique: como você procederia? Quando?

Como?

3 - Você propõe situações envolvendo a noção de arranjo simples com seus alunos na Educação Básica? ( ) Sim ( ) Não. Como você definiria e explicaria esse conceito para seus alunos? (Para essa definição você pode utilizar suas próprias palavras. Não é necessário que escreva uma definição formal).

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Em que momento? Quando?

4) Você propõe situações envolvendo a noção de permutação simples com seus alunos na Educação Básica? ( ) Sim ( ) Não. Como você definiria e explicaria esse conceito para seus alunos? (Para essa definição você pode utilizar suas próprias palavras. Não é necessário que escreva uma definição formal).

Em que momento? Quando?

5) Você propõe situações envolvendo a noção de combinação simples com seus alunos na Educação Básica ? ( ) Sim ( ) Não. Como você definiria e explicaria esse conceito para seus alunos? (Para essa definição você pode utilizar suas próprias palavras. Não é necessário que escreva uma definição formal).

Em que momento? Quando?

6 - Que dificuldades os alunos têm para lidar com situações-problema que envolvam o raciocínio combinatório na Educação Básica?

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7) Que dificuldades você tem para preparar aulas que envolvam o raciocínio combinatório na Educação Básica?

8) Os livros didáticos são esclarecedores em relação ao ensino e à aprendizagem de conceitos envolvendo o raciocínio combinatório para professores e alunos, na Educação Básica? ( ) Sim ( ) Não. Por quê? 9) Você considera importante/indispensável introduzir conceitos básicos envolvendo o raciocínio combinatório no Ensino Fundamental? Por quê? 10) Que estratégias um professor poderia utilizar para auxiliar os alunos na compreensão dos fundamentos que norteiam o raciocínio combinatório?

APÊNDICE D – Questionário relacionado com conhecimentos pedagógicos do conteúdo de problemas de contagem. Entregue ao final do 7º Encontro e que foi devolvido no 8º Encontro (o último dos encontros)

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QUESTIONÁRIO SOBRE CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS E DE

CONTEÚDO PROBLEMAS DE CONTAGEM (Q4) Perguntas adicionais para serem respondidas em casa . Peço que entreguem as respostas deste questionário no início do 7º Encontro do Observatório Prezado colega Professor: Gostaria que respondesse às questões colocadas a seguir como uma avaliação pessoal sobre os aspectos da Formação que acaba de ser realizada no Observatório da UNIBAN, relativamente à aspectos pedagógicos e de conteúdo envolvendo a temática Problemas de Contagem. Por favor, não se identifique. Nem tampouco utilize a senha a que estava acostumado a utilizar em outras situações. Esteja a vontade para escrever tudo que quiser. O mais importante é que escreva o máximo de informações possíveis e aquelas que julguem importantes serem relatadas. É muito importante para nós saber o que você acha e tudo o que representou esta etapa de formação para você. Muito obrigado pela colaboração. 1. Escreva sobre o que de novo aprendeu nesta formação quanto aos conhecimentos pedagógicos do conteúdo problemas de contagem 2. Que aspectos foram apresentados nesta formação que você poderá utilizar em sua prática de sala de aula? 3. Você considera importante/indispensável introduzir Problemas de Contagem no Ensino Fundamental? Por quê? 4. Escreva como se sente, após esta formação, em relação ao trabalho desenvolvido com situações-problema que envolve problemas de contagem no Ensino Fundamental.

APÊNDICE E – Situações-problema para o 2º Encontro do Observatório da Educação Finalidade: Explorar o uso da árvore de possibilidades e da tabela de dupla entrada para dar conta da contagem de possibilidades como a solução a uma situação-problema simples. Situação-problema 1: João possui três camisas nas cores: azul, verde e branco e duas calças, nas cores cinza e preto. De quantos modos diferentes João poderá se vestir? PROVÃO – extraído do Exame Nacional de Avaliação ao final dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Matemática. Situação-problema 2 (PROVÃO 2005-12): Um restaurante do tipo “self-service” oferece 3 opções de entrada, 5 de prato principal e 4 de sobremesa. Um cliente desse restaurante deseja compor sua refeição com exatamente 1 entrada, 2 pratos principais diferentes e 2 sobremesas diferentes. a) De quantas maneiras diferentes esse cliente poderá compor a sua refeição? b) Mostre outro procedimento que leve à obtenção da solução desta situação-problema. c) Em qual (ou quais) anos do Ensino Fundamental você considera adequado trabalhar propor essa questão aos alunos? Por quê?

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d) Faça uma representação mostrando todas as possibilidades em que o cliente pode compor sua refeição. Situação-problema 3: Considere um tabuleiro tipo o tabuleiro de xadrez contendo 16 “casas”, no formato 4 x 4, conforme o desenho abaixo.

a) De quantos modos é possível colocar um “rei” na cor preta e um “rei” na cor branca em casas não adjacentes desse tabuleiro (se um rei ficar ao lado de qualquer outra peça no jogo de xadrez ele “come” essa outra peça)? b) Em qual (ou quais) anos do Ensino Fundamental você considera adequado trabalhar propor essa questão aos alunos? Por quê? Situação-problema 4: Foi apresentado um retângulo, como o da figura abaixo, a alunos de uma classe e dito que ele representava a vista de cima do prédio de aulas de uma escola e a parte externa. Ao redor do prédio há um corredor que o circunda em toda a sua extensão e, na área entre o corredor e os muros que limitam a escola da rua, há gramado em toda a extensão. Foi pedido que os alunos pensassem em todas as diferentes colocações possíveis dos dois vasos de plantas junto aos corredores. Agora pedimos o mesmo para vocês, professores. Pergunta-se: a) Quantas são as possibilidades de arrumação dos dois vasos? b) Como você faria para desenvolver a resolução dessa situação com seus alunos? c) Em qual (ou quais) anos do Ensino Fundamental você considera adequado trabalhar essa questão com os alunos? Por quê? d) Faça uma representação mostrando todas as possibilidades de arrumação dos vasos junto aos corredores. Todos se referiram à solução apresentada no item (a). e) Mostre outro procedimento que leve à obtenção da solução desta situação-problema. Situação-problema 5: Uma bandeira com o formato abaixo vai ser pintada utilizando-se duas das cores dadas ao lado.

Portão GramadoCorredor Porta

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Liste todas as possíveis bandeiras diferentes. Quantas são elas? Situação-problema 6: Dispondo de três saias, três blusas e dois pares de sapatos, de quantos modos diferentes uma senhora pode se vestir? Um aluno resolveu assim: Primeiramente faço todas as combinações possíveis com saias e sapatos. Depois, com cada um desses conjuntos formados, faço as combinações com as blusas, num total de 18 conjuntos diferentes de saia, blusa e sapatos. A solução é apresentada nas duas tabelas de dupla entrada, a seguir:

SaiaSapato SAIA 1 SAIA 2 SAIA 3

SAPATO 1 (SAP1, SA1) (SAP1, SA2) (SAP1, SA3)

SAPATO 2 (SAP2, SA1) (SAP2, SA2) (SAP2, SA3)

BlusaSaia+Sapato BLUSA 1 BLUSA 2 BLUSA 3

(SAP1, SA1) (SAP1, SA1, BLU1) (SAP1, SA1, BLU2) (SAP1, SA1, BLU3)(SAP1, SA2) (SAP1, SA2, BLU1) (SAP1, SA2, BLU2) (SAP1, SA2, BLU3)(SAP1, SA3) (SAP1, SA3, BLU1) (SAP1, SA3, BLU2) (SAP1, SA3, BLU3)

(SAP2, SA1) (SAP2, SA1, BLU1) (SAP2, SA1, BLU2) (SAP2, SA1, BLU3)(SAP2, SA2) (SAP2, SA2, BLU1) (SAP2, SA2, BLU2) (SAP2, SA2, BLU3)(SAP2, SA3) (SAP2, SA3, BLU1) (SAP2, SA3, BLU2) (SAP2, SA3, BLU3)

a) Analise criticamente a solução apresentada pelo aluno. b) Apresente sua solução, fazendo uso da árvore de possibilidades.

Situação-problema 7: Uma bandeira com quatros faixas verticais vai ser pintada. Dispomos das cores azul, amarela, verde e vermelha. a) De quantas maneiras diferentes podemos pintar essa bandeira tendo todas as listras pintadas com cores diferentes? b) De quantas maneiras diferentes podemos pintar essa bandeira se a cor verde acabou e as outras três estão disponíveis? c) De quantas maneiras diferentes podemos pintar essa bandeira de modo que listras adjacentes não possam ter cores iguais e, para este caso, compramos latas de tinta nas cores cinza, preto e roxo, totalizando seis cores disponíveis? d) De quantas maneiras diferentes podemos pintar essa bandeira de modo que todas as listras tenham cores diferentes e, para este caso, dispomos das mesmas cores do item (c): azul, amarela, vermelha, cinza, preto e roxo, totalizando seis cores disponíveis?

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Situação-problema 8 (MO): De quantos modos diferentes podem ser escolhidos um presidente e um secretário de um conselho que tem 12? Situação-problema 9 (MO): De quantos modos 3 pessoas podem sentar-se em 5 cadeiras em fila? Situação-problema 10: a) Quantos números naturais de três algarismos existem no sistema decimal? b) Quantos números naturais pares de três algarismos existem no sistema decimal? c) Quantos números naturais ímpares de três algarismos existem no sistema decimal? d) Quantos números naturais de três algarismos distintos existem no sistema decimal? e) Quantos números naturais pares de três algarismos distintos existem no sistema decimal? f) Quantos números naturais ímpares de três algarismos distintos existem no sistema decimal? Situação-problema 11 (MO): Quantos números naturais de 4 algarismos (na base 10), que sejam menores que 5000 e divisíveis por 5, podem ser formados usando-se apenas os algarismos 2, 3, 4 e 5? Situação-problema 12 (MO): Quantos inteiros há 1000 e 9999 cujos algarismos são distintos? Situação-problema 13: Em um ginásio há 6 portas, numeradas de 1 a 6. a) De quantos modos uma pessoa pode entrar e sair deste ginásio? Faça, pelo menos, duas diferentes representações que mostram a solução. b) De quantos modos uma pessoa pode entrar no ginásio, e sair por uma porta numerada com um número par? Faça, pelo menos, duas diferentes representações que mostram a solução. c) A segurança das portas do ginásio é feita por homens onde a numeração é par e é feita por mulheres onde a numeração é ímpar. Sendo assim, de quantos modos podemos distribuir 3 homens e 3 mulheres para fazer a segurança deste ginásio? d) Considerando a segurança do ginásio feita unicamente por homens, de quantos modos podemos distribuir 6 deles para a segurança das portas ? CA – extraídos do Caderno do Aluno – Matemática – 2ª série – Volume 3, Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, 2009. Situação-problema 14 (CA): Os números 342, 335, 872, 900 são, entre tantos outros, números de três algarismos. Entre esses exemplos, os números 342 e 872 não repetem algarismos, contrariamente ao que ocorre, por exemplo, com os números 335 ou 900. Quantos números com 3 algarismos podemos escrever se: a) Todos começarem por 1 e os algarismos puderem ser repetidos ? b) Todos começarem por 1 e os algarismos não puderem ser repetidos ? c) Não houver qualquer restrição, isto é, desde 100 a 999 ? d) Os números não contiverem algarismos repetidos ? Situação-problema 15 (CA): Existem 9000 números de 4 algarismos, e 1000 é o menor deles, e 9999 o maior. Entre esses 9000 números há muitos que não repetem algarismos, como 1023, 2549, 4571 ou 9760. Quantos são esses números de 4 algarismos distintos ? Situação-problema 16 Anos atrás as placas de carros foram mudadas (não só em relação a cor: de laranja para cinza, mas também em relação à quantidade de letras: de duas para três). a) Com essa alteração qual o número de carros a mais que podem ser emplacados em relação à sistemática anterior, considerando que em ambos os casos são utilizados quatro algarismos ? b) Quando houver necessidade de alterar novamente o formato das placas, qual a opção que atenderia a um maior número de placas novas ? ( ) aumentar a quantidade de letras, de três para quatro letras ou então ( ) aumentar a quantidade de algarismos, de quatro para cinco. c) Se as placas com três letras e quatro algarismos não permitem a repetição de letras e de

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algarismos, quantas placas há ? APÊNDICE F – Situações-problema para o 3º Encontro do Observatório da Educação Finalidade: O objetivo desta situação-problema foi o de apresentar uma situação em que as diferentes maneiras de apresentar a solução disparariam a oportunidade de os professores se manifestarem em relação às suas concepções em uma situação cujo enunciado é bastante claro e que permite discussões aprofundadas acerca dos conceitos envolvidos. Situação-problema 1: Considere uma sala que possui 4 lâmpadas incandescentes, nomeadas por L1, L2, L3 e L4. Pergunta-se: De quantos modos essa sala pode ficar iluminada? Apresente o máximo de representações que considera possível para apresentar a solução desta situação-problema. Situação-problema 2: E se a sala possui k lâmpadas, de quantos modos é possível iluminá-la? Situação-problema 3: Considerando que uma dada situação-problema pode inspirar o professor a propor novas situações-problema, dentro de um mesmo leque de raciocínio; Considerando que esse desenvolvimento cognitivo que levou seus alunos a resolverem situações anteriores o motiva a tentar novos desafios, o que torna o conteúdo bastante enriquecedor; Considerando que tais procedimentos levam os alunos a interessar-se pela temática e a mobilizar toda a classe, além do próprio professor, que se sente desafiado para tal, proponho: Enuncie uma ou mais Situações-problema cuja concepção de solução e o resultado sejam os mesmos utilizados na solução-problema 1. (Use o verso da folha para responder). Situação-problema 4 (MO): De quantos modos diferentes podem ser escolhidos um presidente e um secretário de um conselho que tem 12? Situação-problema 5 (MO): De quantos modos 3 pessoas podem sentar-se em 5 cadeiras em fila?

Situação-problema 6: a) Quantos números naturais de três algarismos existem no sistema decimal? b) Quantos números naturais pares de três algarismos existem no sistema decimal? c) Quantos números naturais ímpares de três algarismos existem no sistema decimal? d) Quantos números naturais de três algarismos distintos existem no sistema decimal? e) Quantos números naturais pares de três algarismos distintos existem no sistema decimal? f) Quantos números naturais ímpares de três algarismos distintos existem no sistema decimal? Situação-problema 7 (MO): Quantos números de quatro dígitos são maiores que 2400 e: a) têm todos os dígitos diferentes. b) não têm dígitos iguais a 3, 5 ou 6. c) têm as propriedades a) e b) simultaneamente.

APÊNDICE G – Situações-problema para o 4º Encontro do Observatório da Educação

UNIBAN – OBSERVATÓRIO – 4º ENCONTRO – 26/5/2011

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SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO CONCEITOS COM O USO DO RACIOCÍNIO COMBINATÓRIO

(Princípios: Aditivo e Multiplicativo) Atividades desenvolvidas no 4º Encontro Finalidade: Mostrar que a árvore de possibilidades é uma forte aliada na resolução de problemas de contagem onde o quantitativo de objetos é pequeno. Também teve o objetivo de desenvolver o raciocínio combinatório e a aplicação dos princípios multiplicativo e aditivo. Situação-problema 1: Para pintar a bandeira abaixo, há 4 cores disponíveis: preto, azul, verde e vermelho.

a) De quantos modos ela pode ser pintada de modo que faixas adjacentes tenham cores distintas e todas as faixas devem ser pintadas?

b) Faça uma representação mostrando todas as possibilidades de pintura desta bandeira atendendo às condições impostas.

c) Como você faria para desenvolver a resolução dessa situação com seus alunos? d) Em qual (ou quais) anos do Ensino Fundamental você considera adequado trabalhar propor essa questão aos alunos? Por quê? Situação-problema 2: Quantos são os números de três algarismos distintos no sistema decimal? Um aluno resolveu esta situação assim: Há dez opções para ocupar a posição das unidades simples, nove opções para ocupar a posição das dezenas simples (não se pode repetir o algarismo já utilizado nas unidades simples) e oito opções para ocupar a posição das centenas simples (não podem ser repetidos os algarismos já utilizados anteriormente). Assim, pelo Princípio Multiplicativo, há 10x9x8 = 720 números com três algarismos distintos. a) Comente, criticamente, o modo com que o aluno apresentou essa solução. b) Como você faria para resolver essa questão com seus alunos?”. Situação-problema 3: Qual o total de divisores de 360? Situação-problema 4: Determine o total de ascendentes da 4ª geração de sua família, identificando-os. Situação-problema 5: Dois amigos, Carlos e Ivo disputam a final de um Torneio de Tênis. A regra estipula que a disputa termina, proclamando-se um vencedor, sempre que um deles vencer duas partidas seguidas ou então que vença três partidas alternadas. Determine todas as sequências de resultados possíveis de ocorrerem.

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Situação-problema 6: Um menino tem 4 carrinhos de cores diferentes (azul, branco, verde e roxo) e decide presenteá-los a seus irmãos Fred, Luiz e Téo. De quantas formas diferentes pode presentear os carrinhos a seus irmãos nas seguintes condições: a) Cada um dos irmãos receberá pelo menos um carrinho? b) Pode ocorrer de haver um irmão ou dois irmãos, sem ganhar carrinho? Situação-problema 7: Um menino tem 3 carrinhos de cores diferentes (azul, verde e roxo) e decide presenteá-los a seus irmãos Fred e Téo. Considerando que nenhum dos irmãos pode ficar sem receber presente, de irmãos? a) Faça uma tabela indicando as possibilidades de distribuição dos carrinhos entre os irmãos; b) Desenhe uma árvore de possibilidades mostrando a distribuição dos carrinhos entre os irmãos; c) Faça uma representação notacional para indicar o total de possibilidades em que é possível fazer as diferentes distribuições dos carrinhos entre os três irmãos. Situação-problema 8: Um menino tem 3 carrinhos de cores diferentes (azul, verde e roxo) e decide presenteá-los a seus irmãos Fred e Téo. Considerando ser possível que o menino presenteie um irmão com todos os 3 carrinhos, se assim desejar, de quantas formas diferentes pode presentear os carrinhos a seus irmãos? a) Faça uma tabela indicando as possibilidades de distribuição dos carrinhos entre os irmãos; b) Desenhe uma árvore de possibilidades mostrando a distribuição dos carrinhos entre os irmãos; c) Faça uma representação notacional para indicar o total de possibilidades em que é possível fazer as diferentes distribuições dos carrinhos entre os três irmãos. Situação-problema 9: Um menino tem 4 carrinhos de cores diferentes (azul, branco, verde e roxo) e decide presenteá-los a seus irmãos Fred, Bia e Téo. Considerando que nenhum dos irmãos pode ficar sem receber presente, de quantas formas diferentes o menino pode presentear os carrinhos a seus irmãos? a) Faça uma tabela indicando as possibilidades de distribuição dos carrinhos entre os irmãos; b) Desenhe uma árvore de possibilidades mostrando a distribuição dos carrinhos entre os irmãos somente quando Fred ganha dois dos carrinhos; c) Faça uma representação notacional para indicar o total de possibilidades em que é possível fazer as diferentes distribuições dos carrinhos entre os três irmãos; d) Considerando ser possível que o menino presenteie um irmão com todos os 3 carrinhos, se assim desejar, de quantas formas diferentes pode presentear os carrinhos a seus irmãos? APÊNDICE H – Situações-problema para o 5º Encontro do Observatório da Educação

UNIBAN – OBSERVATÓRIO – 5º ENCONTRO SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO CONCEITOS COM O USO DO

RACIOCÍNIO COMBINATÓRIO (Princípios: Aditivo e Multiplicativo)

Atividades desenvolvidas no 5º Encontro

Objetivos da primeira parte : Resolução das situações-problema com discussões das soluções obtidas e discussão sobre diferentes modos de tratar temas relacionados à problemas de contagem e suas aplicações em outros ramos da matemática.

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Mo – extraídos do livro Análise Combinatórios e Probabilidade de Augusto César de Oliveira Morgado (Mo), João Bosco Pitombeira de Carvalho, Paulo Cezar Pinto Carvalho e Pedro Fernandez, IMPA-Fundação VITAE, 1991. Situação-problema 1 (MO): Quantos são os números de 3 algarismos, na base 10: a) nos quais o algarismo 2 figura? b) nos quais o algarismo 2 não figura? Situação-problema 2 (MO): Quantos são os números naturais de 4 dígitos que possuem pelo menos dois dígitos iguais? Situação-problema 3 (MO): Quantos números inteiros entre 100 e 999 são ímpares e possuem três dígitos distintos? Situação-problema 4 (MO): Um vagão de metrô tem 10 bancos individuais, sendo 5 de frente e 5 de costas. De 10 passageiros, 4 preferem sentar de frente, 3 preferem sentar de costas e os demais não têm preferência. De quantos modos os passageiros podem se sentar, respeitando-se as preferências? Situação-problema 5 (MO): Em uma banca há 5 exemplares iguais da revista A, 6 exemplares iguais da revista B e 10 exemplares iguais da revista C. Quantas coleções não vazias, de revistas dessa banca, são possíveis formar ? Situação-problema 6 (MO): Quantos são os números de 5 algarismos, na base 10: a) nos quais o algarismo 2 figura? b) nos quais o algarismo 2 não figura? CA – extraídos do Caderno do Aluno – Matemática – 2ª série – Volume 3, Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, 2009. Situação-problema 7 (CA-modificado): Um roteiro turístico prevê a visita a duas cidades do conjunto conhecido por “Cidades Históricas de Minas Gerais”, formado pelas cidades de Ouro Preto, Mariana, Tiradentes e São João Del Rey. Quantos roteiros (escolha de duas cidades sem impor ordem de primeira e segunda cidade) diferentes poderão ser traçados se:

a) Ouro Preto sempre fizer parte do roteiro ? b) Não houver restrição à escolha das duas cidades ?

Situação-problema 8 (CA): Os números 342, 335, 872, 900 são, entre tantos outros, números de três algarismos. Entre esses exemplos, os números 342 e 872 não repetem algarismos, contrariamente ao que ocorre, por exemplo, com os números 335 ou 900. Quantos números com 3 algarismos podemos escrever se: a) Todos começarem por 1 e os algarismos puderem ser repetidos ? b) Todos começarem por 1 e os algarismos não puderem ser repetidos ? c) Não houver qualquer restrição, isto é, desde 100 a 999 ? d) Os números não contiverem algarismos repetidos ? Situação-problema 9 (CA): Existem 9000 números de 4 algarismos, e 1000 é o menor deles, e 9999 o maior. Entre esses 9000 números há muitos que não repetem algarismos, como 1023, 2549, 4571 ou 9760. Quantos são esses números de 4 algarismos distintos ? Situação-problema 10 (CA-modificado): Considere os numerais 1, 2, 3 e 4, e também todos os números de 4 algarismos distintos que podemos formar com eles. Imagine que todos esses números serão ordenados, do menor para o maior. Isso feito, o primeiro da fila será o 1234, o segundo será o 1243, o terceiro, 1324, e assim por diante, até último, que será 0 4321.

a) Qual é a posição do número 4321 nessa fila ?

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b) Qual é a posição do número 3241 nessa fila ? c) Considerando a arrumação do menor para o maior número (ordem crescente), que

número ocupa a 17ª posição ? d) Quando arrumamos todos os 24 números e os colocamos em uma fileira vertical, para

obter a soma total, quantas vezes: d.1) o algarismo 1 aparece na posição das unidades simples ? d.2) o algarismo 2 aparece na posição das unidades simples ? d.3) o algarismo 2 aparece na posição das dezenas simples ?

e) Qual o valor da soma dos algarismos que ocupam a posição das unidades simples de todos os 24 números ?

f) Qual o valor da soma dos algarismos que ocupam a posição das dezenas simples de todos os 24 números ?

g) Qual o valor da soma de todos os 24 números formados ? h) Acrescentando o numeral 5 aos numerais 1, 2, 3 e 4 e ordenando todos os números de

5 algarismos distintos que podem ser formados, qual é o número que ocupa a 72ª posição ?

h.1) Quantos desses números são múltiplos de 3 ? h.2) Quantos desses números são múltiplos de 5 ? Situação-problema 11: Em um jogo de futebol o placar final apontou 4 x 3 para o time visitante. a) Quantas são as possibilidades em que os gols dessa partida possam ter ocorrido? b) Faça uma representação mostrando todas as possibilidades em que os gols poderiam ter saído durante a partida de futebol atendendo à condição da totalidade dos gols. c) Como você faria para desenvolver a resolução dessa situação com seus alunos? As respostas foram desde a árvore de possibilidades até a tabela de dupla entrada. d) Em qual (ou quais) anos do Ensino Fundamental você considera adequado trabalhar propor essa questão aos alunos? Por quê? APÊNDICE I - Situações-problema para o 6º Encontro do Observatório da Educação

UNIBAN – OBSERVATÓRIO – 6º ENCONTRO SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO CONCEITOS COM O USO DO

RACIOCÍNIO COMBINATÓRIO (Princípios: Aditivo e Multiplicativo)

Atividades desenvolvidas no 6º Encontro

Finalidade: “Caracterizar” com o grupo de professores as permutações simples em que é preciso ordenar/arrumar todos os objetos, distintos entre si, em exatamente o mesmo quantitativo de posições. Situação-problema 1: De quantos modos diferentes Ana, Beto e Clara podem sentar-se em um banco que possui três lugares, lado a lado? Situação-problema 2: De quantos modos diferentes Ana, Beto e Clara podem sentar-se em um banco que possui dois lugares, lado a lado? Nesta situação têm-se permutações simples? E se tivéssemos quatro lugares e as mesmas três pessoas da situação que foi proposta? Situação-problema 3: Quantos anagramas tem a palavra AMOR? Situação-problema 4: Quantos anagramas tem a palavra OVO?“. Situação-problema 5: Quantos anagramas tem a palavra PAPA? Situação-problema 6: De quantas diferentes se pode ordenar 3 bolas exatamente iguais e dois carrinhos diferentes em fila?

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Situação-problema 7(retomada da situação-problema 6 do questionário Q1): Quantas são as arrumações possíveis quando se lança uma moeda “honesta” 5 vezes, em sequência, e se obtém 2 caras e 3 coroas? Situação-problema 8: Quantos são os anagramas da palavra ESCOLA em que as vogais e as consoantes aparecem alternadamente? Situação-problema 9: Quantos são os anagramas da palavra ARARAS nos quais não há duas letras A consecutivas? Situação-problema 10: A garagem do prédio em que Ana mora tem 6 vagas alinhadas, lado a lado. Como o prédio é novo, até o momento só há 3 carros: os de Ana, Bia e Carlos, que podem, a cada dia, colocar o carro no lugar que preferirem, se não estiver ocupado. De quantas formas possíveis podem Ana, Bia e Carlos estacionar seus carros na garagem? Situação-problema 11: No cardápio de uma Pizzaria conhecida em São Paulo são oferecidos 38 sabores diferentes de pizzas e podem ser servidas em quatro diferentes tamanhos. A pizza pequena pode ser cortada em 4 fatias; a pizza média pode ser cotada em 6 fatias; a pizza grande pode ser cortada em 8 fatias e a pizza super grande pode ser cortada em 12 fatias. Todas elas podem vir acompanhadas de mostarda, cat-chup ou ambos. De quantas maneiras diferentes os sabores, tamanhos e acompanhamentos podem ser combinados em diferentes pedidos dos clientes? Situação-problema 12: Cinco meninas: Ana, Bia, Carla, Dani e Elen vão passar a noite na casa de sua avó. Esta casa tem duas habitações diferentes (salão e quarto) onde a avó pode colocar as meninas para dormir. Inclusive elas podem ficar todas juntas em qualquer das duas habitações, se quiserem. De quantas formas diferentes a avó pode distribuir as cinco meninas entre as duas habitações? Situação-problema 13: Em uma caixa há 7 bolas numeradas com os dígitos 2, 3, 4, 5, 7, 8 e 9. Escolhemos uma bola da caixa e anotamos seu dígito. A bola extraída é devolvida à caixa. Escolhe-se uma segunda bola e se anota seu dígito retornando com a bola à caixa. Finalmente escolhe-se uma terceira bola e se anota o seu dígito. Quantos números de três algarismos se podem obter após as três extrações? Situação-problema 14: Se quer eleger um comitê formado por 3 membros; Presidente, Tesoureiro e Secretário. Para selecioná-lo dispomos de 5 candidatos: A, B, C, D e E. Quantos comitês diferentes se podem eleger entre os 5 candidatos? APÊNDICE J- Situações-problema para o 7º Encontro do Observatório da Educação

UNIBAN – OBSERVATÓRIO – 7º ENCONTRO SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO CONCEITOS COM O USO DO

RACIOCÍNIO COMBINATÓRIO (Princípios: Aditivo e Multiplicativo)

Atividades desenvolvidas no 7º Encontro

Finalidade: Caracterizar com o grupo de professores as combinações simples de n distintos objetos escolhidos em grupos de p objetos, dentre os n objetos disponíveis, identificando as características desses agrupamentos de objetos.

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Também objetiva determinar uma maneira de encontrar todos os possíveis distintos conjuntos contendo p objetos. Situação-problema1: Um grupo de 5 amigos mora perto uns dos outros e todos trabalham no mesmo restaurante. Para o plantão aos domingos, o gerente sempre escolhe dois deles para trabalhar e precisa fazer uma escala para um certo período com os nomes dos componentes das duplas para afixar no quadro de avisos. Qual a quantidade de diferentes duplas que ele poderá formar sem que haja repetição dos dois amigos a cada domingo? Situação-problema2: Quantos grupos diferentes de 3 pessoas podem ser formados entre os amigos Ana, Bia, Carla, Davi e Eva? Um aluno apresentou o diagrama abaixo para justificar que sua resposta são 10 grupos, e justificou assim: Ana pode ficar junto com três colegas, num grupo, um de cada vez. Depois vai trocando entre os três colegas que não tinham sido escolhidos, totalizando 6 grupos. Agora, formo grupos que não tenham mais a Ana: são os grupos que têm os outros quatro amigos, quando são escolhidos de três em três.

CARLAANA BIA DAVI

EVA

DAVIANA CARLA

EVA

ANA DAVI EVA

CARLA DAVIBIA CARLA EVA

DAVI EVA

CARLA DAVI EVA a) Comente criticamente a solução do aluno. b) Resolva esta situação-problema sem o uso da árvore de possibilidades, como foi feito acima na solução do aluno. Situação-problema3: Dispomos de 6 pessoas para formar grupos de trabalho. Pergunta-se: De quantas maneiras diferentes o grupo poderá ser formado se dele participarem três das seis pessoas? CA – extraídos do Caderno do Aluno – Matemática – 2ª série – Volume 3, Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, 2009. Situação-problema 4 (CA-modificado): Um roteiro turístico prevê a visita a duas cidades do conjunto conhecido por “Cidades Históricas de Minas Gerais”, formado pelas cidades de Ouro Preto, Mariana, Tiradentes e São João Del Rey. Quantos roteiros (escolha de duas cidades sem indicar as ordens em que as cidades serão visitadas) diferentes poderão ser traçados se: a) Ouro Preto sempre fizer parte do roteiro? b) Não houver restrição à escolha das duas cidades? Situação-problema 5: Determine o total de ascendentes da 4ª geração de sua família, identificando-os. Situação-problema 6 (MO): Quantos divisores inteiros e positivos possui o número 360? Situação-problema 7: Dois amigos, Carlos e Ivo disputam a final de um Torneio de Tênis. A regra estipula que a disputa termina, proclamando-se um vencedor, sempre que um deles vencer duas partidas seguidas ou então que vença três partidas alternadas. Determine todas as sequencias de resultados possíveis de ocorrerem.

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PROVÃO – extraído do Exame Nacional de Avaliação ao final dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Matemática. Situação-problema 8 (PROVÃO 1999-14): A unidade de informação nos computadores digitais é o bit (abreviatura de binary digit, ou seja, dígito binário), que pode estar em dois estados, identificados com os dígitos 0 e 1. Usando uma sequência de bits, podem ser criados códigos capazes de representar números, caracteres, figuras, etc. O chamado código ASCII, por exemplo, utiliza uma sequência de 7 bits para armazenar símbolos usados na escrita (letras, sinais de pontuação, algarismos, etc). Com estes 7 bits, quantos símbolos diferentes o código ASCII pode representar? (A) 7! (B) 7 (C) 14 (D) 49 (E) 128 Situação-problema 9 (PROVÃO 1998-20): Os clientes de um banco devem escolher uma senha, formada por 4 algarismos de 0 a 9, de tal forma que não haja algarismos repetidos em posições consecutivas (assim, a senha “0120” é válida, mas “2114” não é). O número de senhas válidas é: (A) 10.000 (B) 9.000 (C) 7.361 (D) 7.290 (E) 8.100 CA – extraídos do Caderno do Aluno – Matemática – 2ª série – Volume 3, Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, 2009. Situação-problema 10 (CA-modificado): Quantas filas diferentes poderão ser formadas com 2 pessoas, apenas alternando suas posições na fila ? a) Quantas filas diferentes poderão ser formadas com 3 pessoas, apenas alternando suas posições na fila ? b) Quantas filas diferentes poderão ser formadas com 4 pessoas, apenas alternando suas posições na fila ? c) Quantas filas diferentes poderão ser formadas com 5 pessoas, apenas alternando suas posições na fila ? d) Quantas filas diferentes poderão ser formadas com 5 pessoas, apenas alternando suas posições na fila, sabendo que duas delas querem sempre estar juntas ? Situação-problema 11: a) De quantos modos os amigos Ana, Beto, Carla, Davi e Elisa podem posar para uma foto? b) Ana e Beto são namorados e querem ficar, juntos, nas extremidades da foto. De quantas maneiras a foto pode ser tirada? c) Carla e Davi também são namorados. De quantos modos os dois casais podem posar juntos, na foto, com cada casal em uma das extremidades? d) De quantos modos os amigos podem posar juntos, na foto, de modo que os casais fiquem juntos? e) Em quantas fotos Elisa aparece na posição central da foto? f) Em quantas fotos um dos dois casais ou os dois casais não estão juntos na foto? Situação-problema 12: Quantas são as arrumações possíveis quando se lança uma moeda “honesta” 5 vezes, em sequência, e se obtém 2 caras e 3 coroas? Situação-problema 13: De quantos modos 3 pessoas podem sentar-se em um banco que dispõe de 6 lugares? APÊNDICE K- Situações-problema para o 8º Encontro do Observatório da Educação

UNIBAN – OBSERVATÓRIO – 8º ENCONTRO

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SITUAÇÕES-PROBLEMA ENVOLVENDO CONCEITOS COM O USO DO RACIOCÍNIO COMBINATÓRIO (Princípios: Aditivo e Multiplicativo)

Atividades desenvolvidas no 8º Encontro

Finalidade: Caracterizar, com o grupo de professores, as permutações circulares de n distintos objetos. Situação-problema1: De quantos modos 6 pessoas podem sentar-se em uma mesa no formato circular? Um aluno resolveu assim: As pessoas podem arrumar-se de 6.5.4.3.2.1 = 720 maneiras olhando a arrumação da mesa em um sentido. Se olharmos a arrumação da mesa em outro sentido, teremos mais 720 maneiras. Assim, o total de modos de arrumar as seis pessoas ao redor da mesa é: 2 x 720 = 1440. a) Comente, criticamente, a questão apresentada pelo aluno. b) Resolva a situação-problema da maneira como resolveria com seus alunos em sala de aula. Situação-problema 2 (MO): De quantos modos 5 meninos e 5 meninas podem formar uma roda de ciranda de modo que pessoas do mesmo sexo não fiquem juntas? Situação-problema3 (Prefeitura São Paulo 2011): Suponha que você tenha um dado sobre uma mesa, colocado de modo eu você veja apenas duas faces distintas: a face superior e a face exatamente a sua frente. Movendo o dado, sempre de modo a respeitar essa condição, quantas vistas diferentes você pode ter desse dado? (A) 12 (B) 16 (C) 18 (D) 24 (E) 36 Situação-problema 4 (Prefeitura São Paulo 2011): No lançamento de dois dados comuns, considere o produto dos pontos obtidos em cada um. A probabilidade de esse produto ser uma potência de 2 é: (A) 1/2 (B) 1/4 (C) 5/16 (D) 1/5 (E) 1/12 Em decorrência das reflexões acerca das resoluções das primeiras situações, o pesquisador lançou o desafio de resolverem a situação-problema 3, a seguir, o que demandou, primeiramente,muitas reflexões e discussões acerca do entendimento do enunciado e em seguida sobre a solução correta, que causou enorme estranheza entre os professores após inúmeros possibilidades incorretas e a firme determinação do professor-pesquisador em mediar discussões até que compreendessem como encontrá-la, o que foi feito por um dos professores e, em seguida, discutida por todos. Situação-problema 5 (MO): Quantos dados diferentes existem se a soma das faces opostas deve ser 7? PROVÃO – extraído do Exame Nacional de Avaliação ao final dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Matemática. Situação-problema 6 (PROVÃO 1998-20): Os clientes de um banco devem escolher uma senha, formada por 4 algarismos de 0 a 9, de tal forma que não haja algarismos repetidos em posições consecutivas (assim, a senha “0120” é válida, mas “2114” não é). O número de senhas válidas é: (A) 10.000 (B) 9.000 (C) 7.361 (D) 7.290 (E) 8.100 Situação-problema 7 (PROVÃO 1999-14): A unidade de informação nos computadores digitais é o bit (abreviatura de binary digit, ou seja, dígito binário), que pode estar em dois estados, identificados com os dígitos 0 e 1. Usando uma sequência de bits, podem ser criados códigos capazes de representar números, caracteres, figuras, etc. O chamado código ASCII, por exemplo, utiliza uma sequência de 7 bits para armazenar símbolos usados na escrita (letras, sinais de pontuação, algarismos, etc). Com estes 7 bits, quantos símbolos diferentes o código

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ASCII pode representar? (A) 7! (B) 7 (C) 14 (D) 49 (E) 128 Situação-problema 8 (PROVÃO 2005-12): Um restaurante do tipo self-service oferece 3 opções de entrada, 5 de prato principal e 4 de sobremesa. Um cliente desse restaurante deseja compor sua refeição com exatamente 1 entrada, 2 pratos principais e 2 sobremesas. De quantas maneiras diferentes esse cliente poderá compor a sua refeição? A) 4. B) 5. C) 12. D) 60. E) 180. PSS – Processo Seletivo Simplificado 2009 - GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO - Secretaria de Estado da Educação Situação-problema 9 (PSS-45): O professor de matemática decidiu ajudar o de educação física a fazer os times de vôlei para um torneio. Sua incumbência era a de formar times com um grupo de 12 estudantes. Sabendo-se que cada time de vôlei é formado por 6 jogadores, o professor de matemática propôs aos seus alunos que calculassem o total de times diferentes que poderiam ser formados com os estudantes do grupo. A resposta correta ao problema proposto pelo professor é (A) 132. (B) 144. (C) 256. (D) 462. (E) 924. Situação-problema 10 (PSS-80): Para encerrar um jogo, a professora Clara sugeriu que cada um dos participantes desse um único abraço em cada um dos outros participantes do jogo. Sabendo-se que foram dados 153 abraços, no total, é correto dizer que o número de participantes do jogo era igual a: (A) 23. (B) 21. (C) 19. (D) 18. (E) 15. PC - PROVA CONCURSO 1998 - SÃO PAULO Situação-problema 11 (PC-28): De um grupo de 6 homens e 4 mulheres, deseja-se escolher 5 pessoas, incluindo, pelo menos, 2 mulheres. O número de escolhas distintas que se pode fazer é: (A) 210. (B) 186. (C) 168. (D) 120. (E) 36.

PEB - PROFESSOR EDUCAÇÃO BÁSICA II - Situação-problema 12 (PEB-25): No jogo da Mega-Sena, cada jogador faz sua aposta em um cartão contendo todos os números inteiros de 1 até 60, escolhendo de 6 a 15 números entre os 60 disponíveis. São sorteados seis números e serão premiados os apostadores que tiverem acertado, em um mesmo cartão, 4, 5 ou 6 dos números sorteados. A aposta mínima, na qual o jogador escolhe 6 números no cartão, custa R$2,00 e é chamada de jogo simples. Se um jogador escolher 13 números em um mesmo cartão, ele aumentará consideravelmente a probabilidade de ser premiado, uma vez que tal aposta será equivalente a uma grande quantidade de jogos simples. Por conta de tal equivalência, o custo da aposta com 13 números deve ser igual a (A) R$4,33 (B) R$26,00 (C) R$1.848,00 (D) R$3.432,00 (E) R$10.010,00 Situação-problema 13 (PEB-45): O Diretório Acadêmico de uma escola do interior paulista organizou uma festa para comemorar o sucesso dos seus estudantes na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Serão convidadas para a festa 512 pessoas, dentre alunos, pais, professores e funcionários. Na festa serão sorteados diversos prêmios para os convidados que estiverem presentes, mas o Diretório Acadêmico ainda não resolveu a forma por meio da qual realizará o sorteio. Para realizar o sorteio, Mário, um dos alunos premiados na OBMEP, sugeriu que fossem

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distribuídos para os convidados, aleatoriamente e juntamente com os convites, uma senha-matricial individual, única e intransferível, definida por uma matriz 3x3 cujos termos fossem iguais a 0 ou 1. A ideia de Mário era premiar, no dia da festa, aqueles convidados que apresentassem uma senha cuja matriz fosse simétrica. Uma matriz quadrada A3x3 é dita simétrica toda vez que a mesma for igual à sua transposta, ou ainda, quando seus termos aij , i, j = 1,2,3 , satisfizerem à condição a ij = a ji , i, j =1,2,3. Uma matriz simétrica possui uma estética peculiar, a saber, a sua diagonal principal funciona como um espelho, em torno do qual suas partes triangulares superior e inferior se igualam, uma como reflexo da outra. Tal característica pode ser verificada, por exemplo, na matriz simétrica

A3x3 = De acordo com a ideia de Mário, um convidado que fosse à festa e apresentasse em sua senha uma matriz como esta, seria um dos premiados. Se a ideia de Mário for aceita pelo Diretório Acadêmico, qual será o número máximo de convidados premiados na festa? (A) 4 (B) 8 (C) 16 (D) 64 (E) 128. Situação-problema 14 Um estudante quer criar senhas para uma rede de relacionamentos pessoais na Internet. Para isso poderá utilizar-se de até 26 letras e algarismos de 0 a 9. a) Onde há mais senhas: com 4 algarismos distintos ou com 4 algarismos quaisquer ? b) Onde há mais senhas: com 2 letras e 2 algarismos, nessa ordem; com 1 letra e 3 algarismos, nessa ordem ou com 3 letras e 1 algarismo, nessa ordem ? c) Onde há mais senhas: com 4 letras ou com 4 letras distintas ? Com quatro letras quaisquer há um total de 26 x 26 x 26 x 26 = 456.976 possibilidades e com quatro letras distintas, um total de 26 x 25 x 24 x 23 = 358.800 possibilidades. d) Onde há mais senhas: com 6 letras distintas ou com 6 algarismos ? e) Onde há mais senhas: com 4 letras distintas e 2 algarismos ou com 4 algarismos distintos e 2 letras distintas ?