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“A PORTA” A fotografia da porta estava guardada em minha gaveta há muitos anos. Foi tirada no início dos anos 1980 pelo meu pai, que havia se mudado para Curitiba alguns anos antes e aqui começou a estudar fotografia. À época da fotografia tirada por meu pai, a porta era a única que per- manecia fechada no prédio - localizado na Rua XV de Novembro, entre a Rua Riachuelo e Rua Monsenhor Celso - onde funcionava a sede da emblemática Livrarias Ghignone. Muito bem conservada, a porta ainda tinha os espelhos mencionados no poema, uma maçaneta de qualidade e, ao lado dela, murais expunham anúncios. Hoje, quando fui fotografá-la, encontrava-se inteira coberta por um cartaz mal feito que anunciava promoções da loja ao lado – hoje o prédio abriga várias lojas pequenas, e está coberto de pichações. Como se observa na foto, por mais que porta se encontre mal cuidada e suja, ainda assim é pos- sível ver a qualidade de sua madeira e do entalhamento, que ainda impressio- na. Apesar de não encontrar dados específicos em relação a idade ou auto- ria da porta, pode-se afirmar que a peça tem ao menos 90 anos, já que o prédio no qual se encontra inaugurou a antiga livraria em 1921 – e não há dados da sua ocupação anterior. De acordo com o madeireiro Sílvio Rosalin, a porta foi confeccionada em Cedro Rosa, e devido as características da madeira , pode-se afirmar que o corte realizado foi radial. Apesar de mais trabalhoso, o corte radial diminui a contração das tábuas durante o processo de secagem, além de proporcionar vantagens estéticas devido ao desenho da madeira na superfície das peças. A peça foi finalizada com verniz. Considero a peça escolhida extremamente marcante, pois mesmo em meio a tantas interferências nas fachadas da Rua XV- cobertas de poluição visual- e próxima a tantos outros excepcionais edifícios da mesma época, essa porta em específico ainda consegue se destacar pela beleza. É lamentável que o edifício onde a porta se encontra esteja ocupado por usuários que não lhe dão a importância merecida e lojas que não entendem o valor dessa fachada. A madeira utilizada na sua confecção se mostra extremamente durável e resistente a intempéries, conservando o entalhamento intacto, além de pre- servar as funções da porta como barreira e vedação. A escolha da porta para o trabalho de Ambiente Construído se deu antes mesmo de eu descobrir, ao visitar a Rua XV de Novembro para fotografá-la, que ela havia sido homenageada em 1993, no aniversário de 300 anos da cidade, com uma placa com o poema de Nireu Teixeira(1929-2008): A PORTA Esta porta Na Rua das Flores Em Curitiba Já viu e ouviu muitas coisas A alegria ingênua das crianças Brincando O enlevo de namorados Namorando O passo apressado dos homens Trabalhando O riso claro das moças Desfilando O murmúrio dos políticos tramando Se não é arco de triunfos Não é também arco de derrotas Pelo que sabe Poderia ser a própria Scherazade Com suas mil histórias a contar Reverenciá-la É o mesmo que pedir a benção À memória da cidade Ela nos faz mudo convite Procurar no outro lado Dos seus espelhos As alegrias dentro de nós escondidas Que como as melhores músicas Sempre merecem Ser novamente ouvidas “Puerta Abre-te”, 1982 ,de Paulo Y. Hassunuma PAULA HASSUNUMA TURMA B 2013 TA 515 - AMBIENTE CONSTRUÍDO II Prof. Aloísio Leoni Schmid UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO REFERÊNCIAS CARNIERI,H. Ghignone fecha hoje última loja em Curitiba. Gazeta do Povo. Curitiba, 13.ago.2011. Caderno G. 1/1 Imagens do dia 13.dez.2013

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Page 1: paula hassunuma ta515 - cau.ufpr.br · Livrarias Ghignone. Muito bem conservada, a porta ainda tinha os espelhos mencionados no poema, uma maçaneta de qualidade e, ao lado dela,

“A PORTA” A fotogra�a da porta estava guardada em minha gaveta há muitos anos. Foi tirada no início dos anos 1980 pelo meu pai, que havia se mudado para Curitiba alguns anos antes e aqui começou a estudar fotogra�a.

À época da fotogra�a tirada por meu pai, a porta era a única que per-manecia fechada no prédio - localizado na Rua XV de Novembro, entre a Rua Riachuelo e Rua Monsenhor Celso - onde funcionava a sede da emblemática Livrarias Ghignone. Muito bem conservada, a porta ainda tinha os espelhos mencionados no poema, uma maçaneta de qualidade e, ao lado dela, murais expunham anúncios. Hoje, quando fui fotografá-la, encontrava-se inteira coberta por um cartaz mal feito que anunciava promoções da loja ao lado – hoje o prédio abriga várias lojas pequenas, e está coberto de pichações. Como se observa na foto, por mais que porta se encontre mal cuidada e suja, ainda assim é pos-sível ver a qualidade de sua madeira e do entalhamento, que ainda impressio-na.

Apesar de não encontrar dados especí�cos em relação a idade ou auto-ria da porta, pode-se a�rmar que a peça tem ao menos 90 anos, já que o prédio no qual se encontra inaugurou a antiga livraria em 1921 – e não há dados da sua ocupação anterior. De acordo com o madeireiro Sílvio Rosalin, a porta foi confeccionada em Cedro Rosa, e devido as características da madeira , pode-se a�rmar que o corte realizado foi radial. Apesar de mais trabalhoso, o corte radial diminui a contração das tábuas durante o processo de secagem, além de proporcionar vantagens estéticas devido ao desenho da madeira na superfície das peças. A peça foi �nalizada com verniz.

Considero a peça escolhida extremamente marcante, pois mesmo em meio a tantas interferências nas fachadas da Rua XV- cobertas de poluição visual- e próxima a tantos outros excepcionais edifícios da mesma época, essa porta em especí�co ainda consegue se destacar pela beleza. É lamentável que o edifício onde a porta se encontra esteja ocupado por usuários que não lhe dão a importância merecida e lojas que não entendem o valor dessa fachada. A madeira utilizada na sua confecção se mostra extremamente durável e resistente a intempéries, conservando o entalhamento intacto, além de pre-servar as funções da porta como barreira e vedação.

A escolha da porta para o trabalho de Ambiente Construído se deu antes mesmo de eu descobrir, ao visitar a Rua XV de Novembro para fotografá-la, que ela havia sido homenageada em 1993, no aniversário de 300 anos da cidade, com uma placa com o poema de Nireu Teixeira(1929-2008):

A PORTA

Esta portaNa Rua das FloresEm CuritibaJá viu e ouviu muitas coisasA alegria ingênua das criançasBrincandoO enlevo de namoradosNamorandoO passo apressado dos homensTrabalhandoO riso claro das moçasDes�landoO murmúrio dos políticos tramandoSe não é arco de triunfosNão é também arco de derrotasPelo que sabePoderia ser a própria ScherazadeCom suas mil histórias a contarReverenciá-laÉ o mesmo que pedir a bençãoÀ memória da cidadeEla nos faz mudo conviteProcurar no outro ladoDos seus espelhosAs alegrias dentro de nós escondidasQue como as melhores músicasSempre merecemSer novamente ouvidas

“Puerta Abre-te”, 1982 ,de Paulo Y. Hassunuma

PAULA HASSUNUMATURMA B

2013TA 515 - AMBIENTE CONSTRUÍDO II Prof. Aloísio Leoni Schmid

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁDEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

REFERÊNCIASCARNIERI,H. Ghignone fecha hoje última loja em Curitiba. Gazeta do Povo. Curitiba, 13.ago.2011. Caderno G.

1/1Imagens do dia 13.dez.2013