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LOPES, José Rogério & PEREIRA, Ângelo Moreira. Patrimônio cultural, turismo e desenvolvimento local: Estudo de caso da Cidade Velha, ilha de Santiago, Cabo Verde. Sociabilidades Urbanas Revista de Antropologia e Sociologia , v.1, n.2, p. 45-60, julho de 2017. ISSN 2526-4702. Artigo http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/ Patrimônio cultural, turismo e desenvolvimento local Estudo de caso da Cidade Velha, ilha de Santiago, Cabo Verde 1 Cultural heritage, tourism and local development Case study of the Cidade Velha, Santiago Island, Cape Verde José Rogério Lopes 2 Ângelo Moreira Pereira 3 Resumo: O artigo objetiva debater o impacto do turismo no desenvolvimento de Cabo Verde, África, centrando oestudo na valorização do patrimônio cultural da Cidade Velha, Patrimônio da Humanidade. O Governo do país tem investido na promoção do turismo com o propósito de atrair investimentos externos e para o desenvolvimento da sua população. Tal investimento segue as tendências do frame contemporâneo do turismo, organizado na singularidade e diferenciação dos lugares. Nessa perspectiva, se descreve e analisa os agenciamentos operadosno desenvolvimento das infraestruturas turísticas em Cidade Velha, buscando reconhecer os seus impactos na vida dosmoradores. A investigação envolveu análise documental e incursões etnográficas, nas quaisforam realizadas entrevistas semiestruturadascom atores da comunidade.As conclusões indicam um descompasso nos propósitos do projeto de desenvolvimento local, gerado pela tensão entre os agenciamentos turísticos e as condições precárias de vida da população. Palavras-chave: cidade velha, patrimônio cultural, turismo, desenvolvimento. Abstract: The article aims to discuss the impact of tourism on the development of Cape Verde, Africa, focusing the study on the enhancement of the cultural heritage of the Cidade Velha (Old City), a World Heritage Site. The government of the country has invested in promoting tourism in order to attract foreign investment and the development of its population. This investment follows the trends of contemporary tourism frame, organized the uniqueness and differentiation of places. In this perspective, it describes and analyzes the agencies operated in the development of tourism infrastructure in the Cidade Velha, seeking to recognize its impact on the lives of residents. The investigation involves document analysis and ethnographic raids, in which were carried out semi-structured interviews with community actors. The findings show a gap in local development project purposes, generated by the tension between the tourist assemblages and the precarious living conditions of the population. Keywords: Cidade Velha, cultural heritage, tourism, development Cabo Verde é uma República insular localizada na costa ocidental africana, cerca de 500 km do Senegal, formada por dez ilhas, sendo somente nove delas habitadas 4 . As ilhas encontram-se divididas em dois grupos: o de Barlavento (a Norte), 1 Os autores agradecem à CAPES o financiamento da bolsa de Mobilidade Internacional que possibilitou a pesquisa cujos dados parciais são aqui analisados. 2 Doutor em Ciências Sociais (PUC-SP), Prof. dos PPGs em Ciências Sociais Unisinos, RS, e em Desenvolvimento Regional da UFT, TO. Bolsista em Produtividade em Pesquisa CNPq. E-Mail: [email protected]. 3 Graduado em Ciências Sociais, UniCV - Universidade Pública de Cabo Verde. E-Mail: [email protected]. 4 “O arquipélago ocupa uma superfície de 4033 km², tendo sido encontrado no século XV” (PIRES, 200 7, p. 23). Das dez ilhas que compõem o arquipélago, somente as ilhas do Sal, da Boa Vista e de Maio são

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LOPES, José Rogério & PEREIRA, Ângelo Moreira. Patrimônio cultural, turismo e desenvolvimento local:

Estudo de caso da Cidade Velha, ilha de Santiago, Cabo Verde. Sociabilidades Urbanas – Revista de

Antropologia e Sociologia, v.1, n.2, p. 45-60, julho de 2017. ISSN 2526-4702.

Artigo

http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/

Patrimônio cultural, turismo e desenvolvimento local

Estudo de caso da Cidade Velha, ilha de Santiago, Cabo Verde1

Cultural heritage, tourism and local development

Case study of the Cidade Velha, Santiago Island, Cape Verde

José Rogério Lopes2

Ângelo Moreira Pereira3

Resumo: O artigo objetiva debater o impacto do turismo no desenvolvimento de Cabo

Verde, África, centrando oestudo na valorização do patrimônio cultural da Cidade Velha,

Patrimônio da Humanidade. O Governo do país tem investido na promoção do turismo com

o propósito de atrair investimentos externos e para o desenvolvimento da sua população.

Tal investimento segue as tendências do frame contemporâneo do turismo, organizado na

singularidade e diferenciação dos lugares. Nessa perspectiva, se descreve e analisa os

agenciamentos operadosno desenvolvimento das infraestruturas turísticas em Cidade Velha,

buscando reconhecer os seus impactos na vida dosmoradores. A investigação envolveu

análise documental e incursões etnográficas, nas quaisforam realizadas entrevistas

semiestruturadascom atores da comunidade.As conclusões indicam um descompasso nos

propósitos do projeto de desenvolvimento local, gerado pela tensão entre os agenciamentos

turísticos e as condições precárias de vida da população. Palavras-chave: cidade velha,

patrimônio cultural, turismo, desenvolvimento.

Abstract: The article aims to discuss the impact of tourism on the development of Cape

Verde, Africa, focusing the study on the enhancement of the cultural heritage of the Cidade

Velha (Old City), a World Heritage Site. The government of the country has invested in

promoting tourism in order to attract foreign investment and the development of its

population. This investment follows the trends of contemporary tourism frame, organized

the uniqueness and differentiation of places. In this perspective, it describes and analyzes

the agencies operated in the development of tourism infrastructure in the Cidade Velha,

seeking to recognize its impact on the lives of residents. The investigation involves

document analysis and ethnographic raids, in which were carried out semi-structured

interviews with community actors. The findings show a gap in local development project

purposes, generated by the tension between the tourist assemblages and the precarious

living conditions of the population. Keywords: Cidade Velha, cultural heritage, tourism,

development

Cabo Verde é uma República insular localizada na costa ocidental africana,

cerca de 500 km do Senegal, formada por dez ilhas, sendo somente nove delas

habitadas4. As ilhas encontram-se divididas em dois grupos: o de Barlavento (a Norte),

1Os autores agradecem à CAPES o financiamento da bolsa de Mobilidade Internacional que possibilitou a

pesquisa cujos dados parciais são aqui analisados. 2Doutor em Ciências Sociais (PUC-SP), Prof. dos PPGs em Ciências Sociais Unisinos, RS, e em

Desenvolvimento Regional da UFT, TO. Bolsista em Produtividade em Pesquisa CNPq. E-Mail:

[email protected]. 3Graduado em Ciências Sociais, UniCV - Universidade Pública de Cabo Verde. E-Mail:

[email protected]. 4 “O arquipélago ocupa uma superfície de 4033 km², tendo sido encontrado no século XV” (PIRES, 2007,

p. 23). Das dez ilhas que compõem o arquipélago, somente as ilhas do Sal, da Boa Vista e de Maio são

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composto pelas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, S. Nicolau, Boavista e

Sal; e as ilhas do Sotavento (a Sul), com Santiago, Fogo, Brava e Maio, além dos ilhéus

não habitados.

O desenvolvimento histórico do arquipélago inicia-se em 1460, com a chegada

de portugueses e a fundação da localidade denominada de Ribeira Grande (atual Cidade

Velha), na Ilha de Santiago, que se tornaria capital de Cabo Verde, no século XVI.

Trata-se da primeira cidade construída pelos portugues ao sul do Atlàntico. O

desenvolvimento posterior do país é marcado pelos ciclos das navegações

colonizadoras, sobretudo pelo tráfico de escravos e o comércio de carvão

(RODRIGUES, 2011; PIRES, 2007), implicando em constantes arranjos políticos e

mercantis, devido a sua distância de Portugal e da África (CORREIA E SILVA,

1996).Nesses arranjos, segundo Barros (2016), a sociedade cabo verdiana passou por

processos de decomposição e recomposição, entre os séculos XVII e XVIII, vindo a

configurar-se como uma colônia portuguesa periférica, de meados do século XIX a

meados do XX. O descaso de Portugal com o país gerou períodos de fome (a chamada

Fome dos 1940), desemprego e emigração em massa, e fomentou lutas pela sua

independência (CORREIA E SILVA, 2014).

Figura 1 - Localização do arquipélago de Cabo Verde ( Fonte:

http://www.africa-turismo.com/mapas/cabo-verde.htm.)

Após o processo de independência de Cabo Verde, ocorrido em 1975, o país

instituiu gradativamente os dispositivos de formação de Estado-Nação e passou a

elaborar e implementar seus planos de desenvolvimento, em consonância com sua

situação estratégica. Para além da estrutura portuária que se produziu no país,

atualmente, a República de Cabo Verde configura-se um país desprovido de recursos

naturais (minéricos) e o seu desenvolvimento é dependente de acordos internacionais

que subsidiam os investimentos para a produção de infra-estruturas locais, além das

remessas dos emigrantes5 e das divisas geradas pelo turismo.

planas. As demais têm uma topografia de montanhas acentuadas, com formações de escarpas rochosas ou

vulcânicas que podem chegar a 2800 m., como na ilha do Fogo, com vários vales entre elas. 5Em Cabo Verde, essa visão se reforça com a tradicional mobilidade da população. Cerca de metade da

população é de imigrantes residentes em outros países, que remetem divisas para as suas famílias. No dia

05/03/2015, a TCV (Televisão de Cabo Verde) exibiu um programa de entrevista com um demógrafo e

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Neste último caso, o arquipélago tem sido palco de elevado fluxo turístico, dado

ao seu potencial, constituindo um dos setores com maior dinâmica de crescimento

econômico, na medida em que contribui para a entrada de divisas, bem como para

dinamizar o mercado de trabalho e para promoção de intercâmbios culturais. O turismo

representa um dos principais eixos de desenvolvimento econômico sustentável e com

efeitos macroeconômicos importantes, sobretudo, na formação do Produto Interno Bruto

(PIB) do país. Segundo dados de um estudo promovido pela Curadoria da Cidade Velha

(2014, p. 15),

Com a abertura política, os sucessivos governos assumiram o turismo como

principal veículo de desenvolvimento traduzindo-se numa maior divulgação

do destino, na melhoria das infraestruturas de suporte, geração de emprego e

aumento da contribuição para o PIB, autalmente em cerca de 24%.

E aqui, defendendo a tese de que as populações locais constituem elementos

preponderantes para o desenvolvimento do turismo, e agentes inadiáveis na discussãode

estratégias para a definição do seu desenvolvimento e manutenção, o presente artigo

tem como objetivo debater a agência do turismo como fator do desenvolvimento de

Cabo Verde, centrando o objeto de estudo na valorização do patrimônio histórico e

cultural da Cidade Velha.

O governo da República de Cabo Verde tem investidona promoção do turismo,

desde a década de 1980, com o propósito de aproveitar as potencialidades desta cidade

como veículo para o desenvolvimento da sua população. Nesse contexto, pretende-se

analisar o modo como foram delineadas as etapas para o desenvolvimento das infra-

estruturas turísticas, tendo a preocupação de conhecer possíveis impactos na vida dos

seus moradores.

O turismo e seu frame contemporâneo: a produção das singularidades

O turismo dinâmico do mundo globalizado tem sido um dos principais

instigadores de desenvolvimento econômico e desenvolvimento local, em vários pontos

do globo. Na perspectiva de Irving et al (2005, p. 1), que analisam os significados da

sustentabilidade em planos turísticos,

o turismo apresenta a maior atividade global, com crescimento de 25% nos

últimos 10 anos. Cada vez mais pessoas têm o desejo de viajar e, as

estimativas apontam para 1500 milhões de chegadas internacionais até 2020,

mais do que o dobro dos níveis atuais, com tendência crescente em todas as

regiões do mundo, com as maiores taxas previstas no denominado “mundo

em desenvolvimento” […] que, em muitos países, o turismo doméstico

ultrapassa em importância o turismo internacional em volume e receita, o que

acentua ainda o impacto do turismo no cenário global que, atualmente gera

75 milhões de empregos diretos e 215 milhões de empregos indiretos, o que

se traduz em US$ 4.218 bilhões de produto global e 12% da exportação

internacional.

Este acentuado crescimento da atividade turística tem caracterizado o tempo

atual como aquele de maiores deslocamentos de pessoas pelo planeta, fato favorecido

pelas transformações aceleradas dos meios de transporte e comunicação,desde a

passagem do modo de regulamentação fordista para o de acumulação flexível. Segundo

Harvey (1992, p. 140),o modo de regulamentação vigente apoiou-se na “flexibilidade

dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de

pesquisador local, que expôs que o percentual dessas remessas na composição do PIB do país estava em

torno de 10%, mas já representou cerca de 20%. Esses dados foram constatados também pelo DECRP-

Documento de Estratégia de Crescimento e Redução da Pobreza III (2012-2016) (Apud ORTET, 2015, p.

32).

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consumo”, e se caracterizou por rápidas mudanças nos padrões do desenvolvimento

desigual entre regiões, criando e incrementando a terceirização e o desenvolvimento

industrial de regiões antes desprovidas destas atividades. Este novo modo de

regulamentação enfatiza a rapidez na solução de problemas e nas respostas

especializadas que atendem às mudanças rápidas no consumo (mudança de giro na

produção x giro no consumo), gerando uma “compressão do espaço-tempo” na vida

social.Assim, as maneiras predominantes e simultâneas pelas quais experimentamos o

tempo e o espaço vêm gerando mudanças profundas nas práticas culturais, políticas e

econômicas, sejam elas globais ou localizadas, com repercussões nas atividades

turísticas.

E apesar de a história revelar que sempre houveram diversas formas de

mobilidade humana, importa reconhecer que, em tempos e contextos distintos, essas

formas de mobilidade produziram “camadas de experiências e de práticas, acumuladas

na história das caminhadas dos seres humanos [gerando] uma multiplicidade de linhas

que se entrelaçan nesse evento, conferindo-lhe densidade e textura” (STEIL, TONIOL,

2016, p. 19).

Assim, a crescente e diversificada mobilidade contemporânea das pessoas em

busca de lugares aprazíveis para descanso e diversão, para conhecimento e auto-

conhecimento, e mesmo trabalho, está longe daqueles deslocamentos turísticos iniciais

em busca de idealizações idílicas ou utópicas, como descritos por Elias (2005).

A partir dessas referências, supomos aqui que se torna necessário, na análise das

formas sociais de mobilidade do turismo contemporâneo, apassagem de um frame

antropológico do movimento, centrado nos deslocamentos humanos aos lugares, para

um frame dos deslocamentos analíticossobre os movimentos humanos (como

experiência contemporânea) naspaisagenshabitadas pelos turistas.

Nascido do mundo moderno, o turismo originou-se na dinâmica da organização

do sistema laboral, onde as elevadas permanências em locais de trabalho traziam

desconfortos para os trabalhadores, que não encontravam momentos e tempos livres

para descansar e se divertir, algo que ganhou maior ênfase com a conquista dos direitos

trabalhistas e com o advento dos meios de transporte e comunicação, permitindo assim,

maior mobilidade e expansão da cultura de massa (MAGALHÃES, 2008). Desde então,

a mobilidade no turismo tem se expandido em todo o mundo, em busca de lugares e

situaçõesque satisfaçam o olhar dos turistas, cada vez mais exigentes (URRY, 1996).

Tendoo lazer e o consumo como mediações predominantes, esta agência do

turismo tem gerado grandes responsabilidades por parte dos países receptores na

garantia da sua sustentabilidade, na criação de condições hospitaleiras para os visitantes

e na participação das comunidades locais nesta dinâmica, constituindo sinergias entrea

comunidade local, por um lado, conhecedora da sua realidade e principal gerenciadora

da paisagem turística e, por outro, os gestores públicos, no desenho de políticas capazes

de refletir no melhoramento da qualidade de vida das populações e na garantia da

autenticidade dos lugares, principal marca do turismo cultural (GRABURN, 2008;

YÁZIGI, 2001).

Analisando o turismo e os turistas no mundo moderno, Fortuna e Ferreira (1996)

contribuem com essa compreensão, ao debaterem o lugar das imagens, do estético e do

visual na compreensão do turismo nos dias de hoje, trazendo desafios para a

salvaguarda da “autenticidade dos lugares”. Para os autores,

[...] o domínio da imagem e do visual no contexto da cultura moderna

corresponde a uma forma particular de representar o espaço e o tempo. Ao

reduzir o mundo à sua representação visual, a modernidade implica a

contínua espetacularização da sociedade, da cultura, da natureza e da própria

história (FORTUNA, FERREIRA, 1996, p.6).

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Seguindo essa elaboração, poderíamos afirmar que os diferentes destinos

turísticos não se distinguem somente pelos serviços e estruturas de lazer que

proporcionam, senão que o fazem pela diferenciação que projetam de uma paisagem

turística, como um lugar singular a ser habitado. E como as definições clássicas de lugar

sempre foram insuficientes para o entendimento e para o planejamento nas escalas do

cotidiano e do turismo, Yázigi (2001) elaborou uma revisão do conceito, em sua relação

com a concepção de identidade, de forma a firmar a produção da “singularidade dos

lugares”, como preservação, e partir da contribuição da fisionomia geográfica local para

a construção de uma personalidade:

Reconheço o lugar como uma arrumação que produz o singular, mas estimo

que de modo algum se poderá entendê-lo ou trabalhá-lo sem a consideração

da extensão de seus sistemas. Ele tem uma personalidade sim, mas não é

sujeito. [...]

a questão estaria em se buscar manter os traços ditos naturais, o mais

próximo possível de suas formas originais, numa perspectiva bastante

preservacionista, de forma que uma montanha sempre fosse percebida como

tal, assim como a forma de um rio, a fauna ou até o clima – mesmo sabendo

que suas configurações e significações mudam. Trata-se de resistir (YÁZIGI,

2001, p. 38 e 40).

Assim, para além de mero dispositivo a ser consumido pela indústria do turismo,

a singularização dos lugares se produz pelos agenciamentos6 dos atores envolvidos

nessa arrumação, incluindo os turistas. E essa arrumação também singulariza espaços

construídos das cidades turísticas, segundo Fortuna e Ferreira (1996, p. 7-8): “é na

minúcia do exemplar histórico e monumental da cidade, nas suas ruínas e edifícios

decadentes, na exemplaridade histórico-temporal da sua arquitectura, que se

vislumbram hoje os traços da sua singularidade”.

Com isso, os monumentos históricos e patrimoniais das cidades, sejam eles

expostos como sítios preservados de edicações, sejam expressos em ruínas e vestígios

deixados pelo passado, constituem importantes investimentos a serem feitos para atrair

grandes fluxos de turistas interessados nos produtos singulares dos lugares e, por sua

vez, estes lugares precisam de avultados investimentos em um espírito de sinergia entre

as comunidades locais, os governos e os mercados turísticos, com vista a garantir o seu

potencial e contribuir para a sua crescente procura turística, preservando as

potencialidades locais e agenciando o desenvolvimento das populações.

Nesse sentido, o planejamento turístico em Cabo Verde está atualizado com o

frame contemporâneo:

O diferencial de cada destino reside na sua capacidade de oferecer produtos

singulares capazes de satisfazer os diferentes segmentos da procura. Neste

particular, Cabo Verde não é exceção,posicionando-se com o seu clima, as

praias, a história, a cultura e a “morabeza” das suas gentes, como fatores

diferenciadores (CURADORIA DA CIDADE VELHA, 2014, p. 8).

Porém, a mobilidade turística que visa o aproveitamento das potencialidades

culturais tem sido também compreendida por diferentes pesquisadores como uma

instância marcada pelo jogo político e por um tipo de consumo pautado pelo espetáculo,

onde poucos ganham, tornando a cultura um recurso mercantilizado, com a finalidade

6A noção de agenciamento segue a concepção esboçada por Yúdice (2006): trata-se de identificar atores

que agenciamrecursos identitários recuperados de uma “reserva disponível” nas trajetórias comuns de

suas formações culturais, em diálogo com modelos culturais (estatais ou de mercado) predominantes na

sociedade globalizada.Esse predomínio se expressa na configuração de um campo de forças performativas

a condicionara ação dos atores que, por vezes, imprimem uma dinâmica de operar agenciamentos nos

intervalosdaqueles modelos.

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de satisfazer os fins econômicos do turismo e onde as populações locais não participam

dessa dinâmica, constituindo assim momentos privilegiados para a não garantia da sua

sustentabilidade e desenvolvimento. Segundo Figueiredo (2005, p. 46):

nas sociedades contemporâneas a atividade turística aparece como um novo

elemento que se insere na dinâmica cultural e por conseguinte vai influenciar

na produção discursiva e na utilização deste patrimônio. Tendo as

peculiaridades locais (a diferença) como atrativos turísticos, esta atividade

abre a possibilidade do desenvolvimento da alteridade e da sustentabilidade

da comunidade envolvida como também para a mercantilização do

patrimônio, de tal forma que este se torne basicamente um local para o

consumo turístico, desterritorializado, a ser explorado por poucos.

Ora, para que haja a sustentabilidade turística e um maior aproveitamento das

potencialidades culturais, considera-se de crucial relevância que se desenvolvam

políticas a longo prazo que venham envolver as populações na conservação das

potencialidades locais, fazendo com que essa participação sirva para o seu bem-estar e

afirmação. Isso significa para a população prevenir distorções nas representações sobre

os elementos patrimoniais e garantir que os benefícios provenientes da atividade sejam

experimentados por um maior número de pessoas (FIGUEIREDO, 2005). Neste caso,

convém analisar um pouco os impactos doturismo na Cidade Velha e na vida da

comunidade local.

As agências do turismo sobre o patrimônio da Cidade Velha

A Cidade Velha é uma localidade beira-mar que se situa no município Ribeira

Grande de Santiago, a 15km a oeste da cidade de Praia, atual capital de Cabo Verde.

Segundo o Censo cabo verdiano de 2010,possuía1.214 habitantes. Porém, quando

somados os habitantes das 19 localidades que integram o município, o número total de

habitantes chega a 8.315 (CURADORIA DA CIDADE VELHA, 2014, p. 21).

O sítio patrimonial da cidade (Zona Protegida) abriga edificações da primeira

capital da Ilha de Santiago e de Cabo Verde (Cidade de Ribeira Grande), datadas do

século XV ao XVIII, e está cercada por duas localidades que constituem a Zona

Tampão do seu processo de patrimonialização: Salineiro e Calabaceira.

A praça central ainda exibe o Pelourinho do período da escravidão e, pelas suas

ruas centrais (Rua de Banana e Rua Carrera) e secundárias, casas edificadas com pedras

centenárias permitem reconhecer o estilo arquitetônico original de sua fundação e outros

estilos edificados em sua história. Como descrito por Pires (2007), trata-se de uma

cidade que acumula cinco séculos de territórios sobrepostos, em um arranjo híbrido de

concepções urbanísticas7. A Fortaleza Real de São Felipe, no monte que costeia a

cidade, e as ruínas da Igreja da Sé e do Palácio Episcopal, em um monte lateral à baía da

Praça, são referências centrais, assim como a Igreja de N. Sra. do Rosário, algumas ruas

7Essa afirmação refere-se aos impactos das recentes expansões urbanas na paisagem da cidade, uma vez

que a Cidade Velha passou por planos de ordenamento urbano, em seu desenvolvimento, como mostrou

Pires (2007). Esses planos se estruturaram, desde a passagem do século XV para o XVI, no programa de

reordenamento e modernização da cidade de Lisboa, com o progressivo abandono do estilo manuelino e a

aplicação de princípios urbanísticos racionais que encontram suporte nos elementos espaciais e

tipológicos. Seguindo esses princípios racionais, segundo Pires (2007, p. 47): “Os efeitos de ordem, ritmo

e medida são alcançados através do alinhamento de fachadas, repetição de vãos contínuos e outros

elementos construtivos. Nota-se a passagem do tipo de pensamento bidimensional para o tridimensional

em que é acentuada a proporcionalidade entre a frente, a profundidade do lote e a altura do objeto”. Ainda

segundo o autor, esses princípios racionais produzirm normas e posturas urbanísticas que os portugueses

utilizaram nos “territórios do Atlântico ao Índico, onde, evidentemente, na prática, esses princípios serão

objeto de adaptações para cada caso gerando, assim, a originalidade e a flexibilidade, características do

modo português de fazer cidades” (Idem).

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adentro do sítio original, no bairro São Pedro, ou as ruínas da Casa de Misericórdia,

antigo hospital localizado na Rua Direita.

Figura 2: Rua de Banana, com edificações de sua fundação (Arquivo dos autores, 2015).

Figura 3: vista da praia de Cidade Velha, com ruínas ao fundo (Arquivo dos autores, 2015).

Figura 4: Fortaleza Real de São Felipe (Arquivo dos autores, 2015).

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Figura 5: Ruínas da Catedral da Sé (Arquivo dos autores, 2015).

Figura 6: Igreja de N. Sra. do Rosário (Arquivo dos autores, 2015).

O sítio patrimonial da Cidade Velha está passando por revisões e foi implantado,

em 14/03/2015, um projeto que visa garantir sustentabilidade econômica ao mesmo,

mas que acirrou um ambiente de debates entre a Câmara Municipal do Concelho de

Praia, o IPC-Instituo do Patrimônio Cultural, o Ministério da Cultura e a população

local.

A pequena localidade é extremamente acolhedora e contém registros de

personagens e atividades econômicas que marcaram os ciclos históricos do país e da

cidade, como os navegadores Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e Cristóvão

Colombo, o jesuíta Antônio Vieira, o cientista Charles Darwin, além de piratas famosos

que pilharam a cidade, entre os séculos XVI e XVII.Pelo seu porto passaram caravelas

transportando escravos da África para outras partes do mundo, designadamente Europa

e continente americano, transformando-se num importante palco de troca e

comercialização de escravos (CORREIA E SILVA, 2014; PIRES, 2007). Os escravos

passavam por Cabo Verde através de um processo de ladinização e, posteriormente,

eram transportados para os seus destinos. Essa transitoriedade, porém, foi suficiente

para promover relações inter-raciais que constituíram a primeira sociedade crioula. Daí

a Cidade Velha se revestir de grande importância histórica para a humanidade.

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O desenvolvimento singular da então Ribeira Grande de Santiago foi

caracterizado pela sua localização geoestratégica, dos séculos XV ao XVII, tornando-se

um importante entreposto no comércio internacional. Todavia, esse desenvolvimento

conhece uma franca decadência, no século XVIII, devido ao surgimento de outras

potências marítimas, como França, Inglaterra e Holanda, e aos sucessivos ataques de

piratas e corsários:

Os alvos visados pelos piratas, eram inicialmente os navios acostados nos

portos, para depois passarem a perpetrar ataques às vilas pilhando tudo e

criando terror entre os seus habitantes. Esses ataques eram praticados em

todas as ilhas habitadas do arquipélago, o que provocava uma sensação

generalizada de insegurança em toda a área (PIRES, 2007, p. 62).

A insegurança dos ataques, entre a população, era acrescida pela percepção de

que a Baía da Ribeira Grande não proporcionava condições satisfatórias para defesa da

cidade. Assim, buscando uma baía mais segura, em finais de 1769 “a sede do Bispado e

o governo é transferida para a Vila de Praia, que assume a categoria de cidade em 1858”

(CURADORIA DA CIDADE VELHA, 2014, p. 18). Essa mudança marca a derrocada

da Ribeira Grande, quese torna a Cidade Velha.

Durante o restante de seu período colonial, a cidade mantém-se no ostracismo.

Após a independência de Cabo Verde, os governos nacionais começam a elaborar seus

planos de desenvolvimento, incluindo o potencial turístico do arquipélago como opção

estratégica de atração de investimentos. Assim, em 1980, uma missão da UNESCO

visita o país para auxiliar a inventariar o patrimônio cultural local e inclui a Cidade

Velha como um referente central desse estudo.O processo de patrimonialização cultural

que envolveu esse sítio, assim como outros de Cabo Verde, iniciou com um

levantamento realizado por Lopes Filho (1981), visando otimizar esses patrimônios para

o desenvolvimento da indústria do turismo no país8.

O reconhecimento do potencial turístico da Cidade a reinscreve

progressivamente na agenda política do país. Após os primeiros estudos e investimentos

aplicados na restauração de seu sítio histórico, a localidade é classificada como

Patrimônio Nacional (Decreto nº 119/1990, de 08 de dezembro) e se torna objeto de

uma cooperação internacional entre Cabo Verde, Espanha e Portugal, para a

recuperação e o restauro de suas edificações históricas e a preservação de seu entorno

natural, como o Vale da Ribeira Grande de Santiago, propício para turismo de natureza.

Na sequência dessa reinserção, a cidade volta a integrar uma outorga municipal,

o Município da Ribeira Grande de Santiago (Decreto-Lei nº 63/VI/2005, de 09 de maio)

conjuntamente com a reconstituição do seu Concelho Municipal9 e, em 2006, através de

um contrato de concessão com o Estado de Cabo Verde, a empresa espanhola Proim-

Tur assume a administração do sítio patrimonial da Cidade, encarregada da manutenção

e do desenvolvimento do turismo cultural nesta localidade.

O conjunto dos agenciamentos que se inscrevem na trajetória posterior da

Cidade Velha culminam na elaboração de um dossiê de candidatura da mesma a

Patrimônio da Humanidade, reconhecimento que é atribuído pela UNESCO, em junho

de 2009. No mesmo ano do reconhecimento, o governo do país lança seu “Plano

estratégico do desenvolvimento turístico de Cabo Verde”, elaborado pelo Ministério do

8Desde o estudo de Lopes Filho, a Cidade Velha tornou-se um laboratório para implementação das

políticas de turismo cultural no país. Daí a correlação que se busca estabelecer entre o caso estudado e os

dados do turismo em Cabo Verde, em alguns momentos do artigo, sem a pretensão de generalizar a

análise. 9O Concelho Municipal é a instância geopolítica de governo local, em Cabo Verde, que pode incluir mais

de uma cidade. Já as cidades são administradas pelas Câmaras Municipais.

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Turismo, Indústria e Energia. Neste Plano, o governo do país elaborou um programa

que “pretende transformar a cultura num recurso estratégico dando especial atenção a

valorização do património cultural e de uma rede de lugares de memória, tendo como

centro a Cidade Velha” (CURADORIA DA CIDADE VELHA, 2014, p. 20). Assim, a

Cidade torna-se o núcleo de um conjunto de outros lugares atrativos do país, conectados

por ligações históricas e objetivando alavancar o turismo cultural.

Ocorre que, nesse processo para elevação da Cidade Velha à categoria de

patrimônio histórico da humanidade, segundo Santo (2008), vários foram os olhares e

políticas em torno da construção das infra-estruturas turísticas e a sua divulgação pelo

mundo, tornando-aum produto mercantilizado, onde os fins patrimoniais, turísticos e

identitários se tornaram alvos de sucessivas apropriações, consoante interesses

específicos que, ao fim e ao cabo, valorizam esse patrimônio espectacularizando-o, em

busca de resultados econômicos. Essa concepção é reproduzida, parcialmente, no estudo

que a Curadoria da Cidade Velha promoveu, sobre os impactos do turismo na cidade,

entre os anos de 2009 e 2013. O estudo promoveu uma ampla consulta entre moradores

do sítio histórico da cidade, moradores da Zona Tampão, operadores locais de turismo e

representantes institucionais, que avaliam positivamente o potencial da Cidade Velha

para a promoção do turismo, destacando “a valorrização e preservação do património

cultural”, “a melhoria da imagem do destino Cidade Velha”, “a melhoria das

infraestruturas de suporte turístico” e “a melhoria da acessibilidade” (CURADORIA

DA CIDADE VELHA, p. 60, 64, 67. 69). Por outro lado, o mesmo estudo destacou,

entre os consultados, que esse potencial “não aumentou as oportunidades de emprego

para os jovens”, “não tem atraído mais investimentos ao local”, “não melhorou a

qualidade de vida e a auto-estima da população”, “não aumentou a renda das famílias” e

“não incentivou o empreendedorismo cultural” (CURADORIA DA CIDADE VELHA,

p.60, 64, 67. 69).

O desnível dos resultados apresentados pelo estudo dos impactos do turismo na

cidade é interpretado, no documento, por um descompasso entre a realidade

socioeconômica dos moradores da cidade e o incremento dos investimentos nas

infraestruturas turísticas. Segundo o estudo,

30% do total dos residentes tem menos de 15 anos, contrariando a regra nos

centros e sítios históricos onde a população é majoritariamente idosa. [...] o

nível de escolaridade ainda é muito baixo [...] Os agregados familiares são

numerosos [...] O município da Ribeira Grande encontra-se ente os mais

pobres do país. Cidade Velha não foge a regra do município, embora próximo

da capital do país [...] Asatividades do sector primário como: pesca,

agricultura, silvicultura e pastorícia são o principal meio de subsistência das

famílias [...] o nível de rendimento é muito baixo (CURADORIA DA

CIDADE VELHA, 2014, p. 21-22).

Frente a esta realidade e considerando os investimentos nas infraestruturas

turísticas, o estudo conclui:

[...] o turismo não fomenta o desenvolvimento local, quando o destino

apresenta inúmeras debilidades socioeconómicas, como é o caso da Cidade

Velha. {...] esta enfrenta inúmeras fragilidades, nomeadamente a nível

urbanístico e saneamento, que condicionam o nível de vida dos residentes,

interferindo de certo modo, na apreciação que fazem do sector igualmente no

contributo deste no processo de desenvolvimento (CURADORIA DA

CIDADE VELHA, 2014, p. 71).

Assim, o documento sugere que as condições precárias da população local

inibem o desenvolvimento de capacidades e habilidades dos moradores para sua

inserção no novo modelo de desenvolvimento implantado pelo avanço dos

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investimentos turísticos. Ocorre que outros fatores descritos no estudo foram

desconsiderados nessa avaliação dos impactos do turismo na Cidade. Sobretudo,

queremos ressaltar aqui dois deles, que são interligados: os investimentos estrangeiros

nas infraestruturas turísticas locais e a baixa participação da comunidade local nos

processos de patrimonialização e de planejamento turístico.

O primeiro fator produz impactos diretos na administração das atividades

turísticas, uma vez que os investimentos são orientados por interesses mercantis. Assim,

o estudo promovido pela Curadoria da Cidade Velha relata que, depois que a empresa

espanhola passou a administrar as atividades patrimoniais e turísticas locais (2009), “as

estatísticas dos principais estabelecimentos de alojamentos demonstram que até 2011,

quase metade dos hóspedes foram nacionais. [...] A partir de 2012 regista-se uma

inversão desta tendência. Os portugueses passaram a representar a maior percentagem

de hóspedes” (CURADORIA DA CIDADE VELHA, p.34). Segundo o estudo, a

percentagem de nacionais que se hospedavam na Cidade caiu, em 2012 e 2013, para

27% e 13,6%, respectivamente, enquanto subiram os percentuais de estrangeiros

proporcionalmente10

.

Nesta busca dos turistas estrangeiros à Cidade Velha, verificamos que poucos

atores locais participam dessa dinâmica. Por um lado, os turistas nacionais reduziram

seu tempo de visita à Cidade e são poucos os agentes locais capacitados ou que recebem

incentivos para se inserirnas atividades turísticas. Segundo Cardoso (2012, p.17),

Os nacionais procuram a Cidade Velha durante o fim-de-semana e

aproveitam a visita para procurar serviços de restauração e para visitar os

monumentos. Por sua vez, os visitantes internacionais, na maioria, chegam

sem guias turísticos para visitar os monumentos e, poucas vezes, procuram os

serviços de restauração e de alojamento. Dada a falta de informação

compram “souvenirs” que nada tem que ver com Cabo Verde, aos

comerciantes dos países da costa ocidental africana.

Por outro lado, os investimentos estrangeiros acabam incorporando operadores e

agentes turísticos de fora da comunidade, e do país, com a justificativa da ausência de

capacidades entre os moradores locais. Esse fato é criticado pelos moradores, segundo

entrevistas que realizamos na Cidade, em abril de 201511

:

Aqui não temos nenhum guia turístico que é da comunidade, salvo um senhor

da comunidade que dá algumas informações aos turistas, mas ele agora

trabalha na Câmara. Eu acho que isso é mal porque deveríamos ter guias

turísticas da comunidade preparados para este efeito e, com tudo isso, o que

mais me atormenta é poder ver um guia turístico que não é daqui a dar

informações erradas da Cidade Velha aos turistas, e é lamentável quando

deparamos com turistas que vêm nos perguntar onde fica situado a Igreja São

Francisco e nós acompanhamos os guias para poder apresentar aos turistas

(Homem, 33 anos, comerciante, morador da Rua de Banana).

10

Quando comparados esses dados aos nacionais, vê-se que o fluxo turístico na Cidade Velha segue uma

tendência. Assim, utilizando dados de 2010 do Instituto Nacional de Estatística-INE de Cabo Verde,

sobre o fluxo de turistas no país,Cardoso (2012a, p. 15) afirma que “O principal mercado emissor

continua a ser o Reino Unidoresponsável por 26,1%dosturistas, seguido da Alemanha, Portugal e

Itáliacom 15,8%, 12,8% e 11,9% dasdormidas, respetivamente”. 11

Durante os meses de março e abril de 2015, os autores realizaram três incursões etnográficas na Cidade

Velha, para observar a dinâmica da vida cotidiana da população e suas interações com turistas, e 10

entrevistas com moradores das ruas centrais da Zona Protegida. As entrevistas foram realizadas em

Crioulo e traduzidas ao português. Esses dados compuseram um projeto de investigaçãoem parceria com

pesquisadores da UniCV - Universidade de Cabo Verde, no quadro do Edital CAPES/AULP de

Mobilidade Internacional-2013.

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Assim orientado, o desenvolvimento turístico da Cidade Velha cresce,

gradativamente, produzindo uma paisagem habitada de maneira precária pela população

local, mas atravessada por fluxos de investimentos internacionais orientados para

turistas estrangeiros. Esse descompasso dificulta a inserção dos moradores locais na

dinâmica do desenvolvimento, mas isso não se constitui o único fator da baixa

participação da comunidade nos processos implementados nesse contexto.

Segundo relatos de moradores locais, a devida participação das pessoas da

localidade na dinâmica turística fica muito comprometida na medida que os gestores

locais os veem apenas como cuidadores dos edifícios, e não, como principais geradores

de atividades que venham a melhorar a sua qualidade de vida.

Eu tive 8 anos a trabalhar com a cooperação espanhola na construção das

pousadas e quando o trabalho chegou ao fim eles juntaram com os sindicatos

e nos deram 20.000 escudos de indenização. Nós reclamamos mas não temos

aonde ir porque os mais poderosos “grandes” reuniram, como é que

conseguimos fazer alguma coisa?

Eu vejo o turismo como uma coisa boa mas nós não ganhamos nada com

isso. Aqui não há formação de pessoas que falam línguas estrangeiras. Nunca

deram alguma formação de línguas. Num lugar que se diz património e

centro do turismo mas não há formação de línguas e ficamos sem

compreender nada de que os turistas estão falando, daí tudo fica difícil

(Homem, agricultor, 38 anos, morador da Zona Protegida).

Eles não falam com as pessoas quando querem fazer alguma coisa. Eles

reúnem entre eles e fazem as reuniões. Há dias fizeram uma festa sobre a

questão do patrimônio e trouxeram alguma atividade com muitas coisas de

loucura sobre cultura e patrimônio. Muitas pessoas não aderem porque não é

a nossa atividade, a nossa atividade é outra e aquilo que fizeram é deles. Se

trata da cultura, mas não aceitamos que venhas nos mostrar uma coisa que

não vives.O IPC poderia nos dar uma formação em línguas estrangeira, por

exemplo, podes ir àIlha do Sal e muitas pessoas falam inglês, até mesmo

crianças. Eu não digo que não há, mas eu não conheço guias turísticos que

são daqui (Jovem, 25 anos,desempregado, morador da Rua Carrera).

Sobre o projecto que criaram na Cidade sobre a inclusão cultural eu ví na

televisão, mas não há nenhuma socialização com a comunidade e às vezes eu

vejo carros entrando por aqui e as pessoas dizem que se trata de reuniões no

convento, mas não sei do assunto que estão tratando e eles nunca nos

convidam porque são reuniões apenas para “gentes finas” (Jovem, 24 anos,

estudante desempregada, moradora da Rua Carrera).

Outra questão em debate, desde 2009, que restringe a particpação da

comunidade na Cidade Velha, diz respeito aos requisitos para salvaguardar suas

edificações e singularidadespatrimoniais, outorgadas pelo Regulamento Orgânico da

Câmara Municipal da Ribeira Grande. Segundo Cardoso (2012a, p. 7), o embate se

assenta na definição de dois procedimentos:

- Qualquer trabalho ou obra que tiver por objeto modificar o estado dos

imóveis está sujeito a autorização nas condições e formas previstas na

respetiva licença de construção. Essa autorização só pode ser concedida se os

trabalhos ou obras se conformarem e estiverem em consonância com o plano

de salvaguarda e de valorização de Cidade Velha.

- Os pedidos de autorização para a realização de trabalhos ou obras, tendo por

objeto a modificação do estado dos imóveis situados em zonas protegidas

abrangidas pelo plano de salvaguarda e valorização, são dirigidos aos órgãos

municipais competentes do local do imóvel, que os comunicará

obrigatoriamente aos serviços centrais do património cultural – o Instituto

Nacional do Património Cultural de Cabo Verde.

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Frente a tais normativas e procedimentos, as reações da comunidade local são

relacionadas

Há muitas pessoas que já abandonaram os seus terrenos e casas quase prontas

porque são constantemente bloqueados quando tentam fazer algum trabalho

(Jovem, 25 anos,desempregado, morador da Rua Carrera).

Desde que nasci, vivi na Cidade Velha, nesta casa na Rua da Banana. Eu não

tive problemas na construção da minha casa porque basta seguir os seus

parâmetros (da Câmara e do IPC), eles não têm nada de impedir. Como a

minha casa é de palha, eu recebi o apoio da Curadoria com a cobertura. Eles

apoiam, mas sem muitas condições, se querem que moramos em casa de

palha eles têm de nos dar condições a nível interno (Mulher, 45 anos,

reconstruiu casa que sofreu incêndio na Rua de Banana).

Agora nós somos obrigados a colocar telhas na nossa casa e às vezes não nos

dão condições para tal. Nós não estamos num mundo onde podemos construir

casas com essas exigências, porque as pessoas podem atirar pedras e quebrar

as telhas e se de facto estão exigindo isso eles precisam criar condições e

distribuírem telhas para que os jovens possam seguir essas exigências, as

ajudas neste sentido são mínimas (Homem, agricultor, 33 anos, morador da

Rua Carrera).

Assim, as dificuldades geradas pelas condições precárias da população têm

causado perenes inquietações e desconfortos. Fazendo uma análise dos confrontos entre

a população e os gestores locais na salvaguarda das suas autenticidades, Cardoso (2012,

p. 29) destaca que

Lamentavelmente é notável o abandono das casas na Rua Banana devido aos

requisitos aplicados aos residentes pelo IPC e pela CMRGS. Essas exigências

podem beneficiar os visitantes, uma vês que poderão visualizar as casas com

os traços tradicionais, contudo, quem lá vive sofre diariamente. Assim, é

urgente uma visão pragmática da realidade que se vive em Cidade Velha e

dar maior atenção ao que foi acordado com a UNESCO, nomeadamente

melhorar a qualidade de vida das populações, promover um desenvolvimento

económico sustentável, promover o património histórico e cultural, encorajar

a implicação dos habitantes e da democracia participativa, administração

local eficaz e transparente e finalmente, promover a rentabilidade e o

desenvolvimento sustentável do meio ambiente.

Dessa forma, os arranjos de singularidades e diferenciações que os

agenciamentos turísticos produzem na Cidade Velha fazem oscilar as representações de

autenticidade e identidade locais. As concepções locais de autenticidade, partilhadas

entre atores do poder público,da população, e turistas, assentam-se em registros

materiais e imateriais da antiguidade ou fundação da cidade (sua origem e preservação),

enquanto as concepções de identidade são amplamente reconhecidas pela população

como registros derivados de suas ações, tradicionais ou não, pela imersão na rede de

relações que se forma em torno do patrimônio, na experiência cotidiana com os

cuidados de sua sobrevivência (sua manutenção ou privação).

Considerações finais

O turismo, como se tem debatido atualmente, exige por um lado conjuntos de

condições em vários níveis para o bem-estar e acolhimento dos turistas, e por outro, tem

suscitado perenes inquietações e debates em torno da sua sustentabilidade e do

envolvimento das comunidades no seu desenvolvimento e na valorização das

potencialidades locais. Nesse sentido, considera-se que

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[...] a efetiva participação das comunidades locais no processo de

planejamento e gestão da atividade turística parece, portanto, essencial, pois a

população local é conhecedora e vivencia a sua realidade imediata, sendo

capaz de identificar problemas e necessidades, avaliar alternativas,

desenvolver estratégias para proteção e/ou valorização do patrimônio natural

e cultural e buscar soluções para os problemas identificados, sugerindo

caminhos que levem à melhoria da qualidade de vida, ao fortalecimento da

cultura local e ao bem-estar social (IRVING et al, 2005, p. 51).

No caso da Cidade Velha, buscamos evidenciar que a singularidade ali

construída é orientada para o turismo internacional e que essa orientação inclui a

comunidade local na paisagem, mas não nos processos que a singularizam.Os fatores

que consideramos aqui buscam evidenciar que a produção das singularidades e

diferenciações dos lugares, operada pelos agenciamentos turísticos, podem reificar as

autenticidades patrimoniais, descolando-as das identidades a que se referem, resultando

que a comunidade acaba se percebendo como um “nativo mudo” (MENDONÇA;

IRVING, 2004).

Nesse sentido, as questões expostas nasentrevistascom os moradores locais

podem ser consideradas como percepções ressentidas (HERZFELD, 2008)12

, ou como

“confirmação social dessa identidade colectiva, que exige não só o reconhecimento da

sua existência mas a demonstração real do respeito por ele” (APPIAH, 1998, p. 169).

Frente aos fluxos internacionais de turistas, as demandas dos moradores da

Cidade Velha acentuam a importância do diálogo intercultural:“Nós não ganhamos com

turismo e os turistas ficaram mais pataqueiros (isolados), eles ficaram com medo e não

querem ficar connosco” (Jovem, 25 anos, desempregado, morador da Zona Protegida).

Trata-se de compreender, então, que o crescimento do turismo deve assentar-se

em bases dialógicas com as comunidades locais, para que elas também cresçam, uma

vez que “o diálogo molda a identidade que eu desenvolvo enquanto cresço” (APPIAH,

1998, p. 170). Sem isso, as singularidades e diferenciações dos lugares produzidas pelos

agenciamentos turísticos tendem a reproduzir essencialismos que servem, cada vez

mais, à mercantilização da diversidade cultural.

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12

Percepções ressentidas, ou reconhecimento próprio magoado, é uma expressão que descreve a

representação da intimidade entre população e Estado, como simulacros de relações sociais. Segundo

Herzfeld (2008, p. 23), o distanciamento das relações cara a cara representa-se, no Estado, “como

relações sociais de catálogo”, como nostalgia da tradição, da comunidade, e como apartação das

“comunidades marginais”, com suas “linguagens locais de moralidade, costume e solidariedade de

parentesco”. A sociabilidade real é substituída pela imagem de sociabilidade, ampliada pela transmutação

de sentimentos privados em atos públicos.

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