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juLho | 2013 | REVISTA LEITE INTEGRAL | 18
Planejamento da arborização de pastagens para
produção de leiteParte II
Na primeira parte desse artigo foram abordados aspectos relacionados à caracterização dos sistemas silvipastoris e escolha das espécies forrageiras na implantação dos mesmos. Nessa edição, o enfoque será a escolha dos animais e dos tipos de árvores mais adaptados a esses sistemas, bem como o manejo e cuidados com esse componente florestal.
Texto: Maurel Behling Bruno C. e Pedreira Roberta A. Carnevalli Luciano B. Lopes Helio Tonini
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Escolha do componente animal
Assim como na escolha do compo-
nente forrageiro, a escolha da raça ou
dos cruzamentos utilizados na produ-
ção de bovinos leiteiros em iPF deve
obedecer alguns critérios. Como em
qualquer outro sistema de criação, ra-
ças especializadas para produção de
leite são mais exigentes com relação ao
manejo reprodutivo, nutricional e sani-
tário. A escolha do componente animal
para produção de leite é definida em
função da realidade do produtor, além
dos seus objetivos e metas. Assim, reco-
menda-se:
• Em regiões de clima mais
quente, animais da Raça Girolando po-
dem ser uma boa opção devido às suas
características que lhe permitem maior
adaptação ao estresse pelo calor. É bom
lembrar que a estratégia de cruzamen-
tos a ser adotada depende das condi-
ções de manejo nas quais os animais
serão submetidos. A seleção para maior
produtividade demandará maior quali-
ficação da mão de obra além de, muitas
vezes, maior frequência e complexida-
denasoperações.
• Mesmo animaismais azebua-
dos apresentam redução de desempe-
nho quando são submetidos ao estres-
se pelo calor. Quanto mais europeu for
o grau de sangue do animal, menor sua
tolerância ao calor, ou seja, maior será
o benefício proporcionado pela arbo-
rização das pastagens. Vale ressaltar
que animais com maior grau de sangue
zebu são mais tolerantes ao estresse
pelo calor, entretanto maior tolerância
não significa que o animal submetido
ao estresse continue produtivo, ele ape-
nas não morre, mas a produtividade e
a reprodução deste animal ficam total-
mente comprometidas. Desta forma,
quando deseja-se usufruir dos benefí-
cios da arborização é necessário que os
animais tenham potencial de respostas
e, sendo assim, animais melhorados
para produção de leite (holandês, Jer-
sey, gir leiteiro, etc) são recomendados.
• SeaescolhadosistemadeiPF
não se basear no conforto térmico para
osanimais,devidoàscondiçõesencon-
tradas em clima temperado, a adoção
de raças mais especializadas pode ser
uma boa opção devido à sua maior
produtividade, maximizando, dessa
forma, o potencial produtivo que o sis-
tema pode oferecer. Entretanto, como
já citado anteriormente, vacas de alto
padrão genético são mais vulneráveis a
vários desafios, dentre eles, a dinâmica
parasitológica nas áreas de pastagem.
Assim como ocorre em confinamentos,
a maior carga animal em sistemas iPF
pode ser determinante para uma con-
taminação ambiental mais intensa com
ovos e larvas, e também para a ocorrên-
cia de maior diversidade de parasitas.
Raças européias são bastante sensíveis
aos muitos parasitas de interesse eco-
nômico, como o carrapato e as helmin-
toses.
• Alémdacomposiçãoracial,as
categorias de animais podem ser utili-
zadas como estratégia de manejo em
sistemas iPF. O conforto térmico e a
possibilidade de obtenção de forragem
de melhor qualidade nesses sistemas
pode ser uma opção muito interessan-
te para recria de novilhas e manejo das
matrizes no período seco. A composi-
ção desses fatores, associadas às boas
práticas, pode incrementar o ganho de
peso dessas novilhas, o que traz bene-
fícios como a antecipação da idade ao
primeiro parto. Com relação ao lote de
vacas secas, a saúde, mais uma vez, en-
tra em foco, já que a composição de an-
ticorpos no colostro depende significa-
tivamente do conforto térmico durante
o período final da gestação.
Escolha do componente florestal
Inicialmente, é importante definir
o uso que será dado ao componente
florestal, se destinado à produção de
carvão, celulose, postes,mourões,ma-
deira serrada ou produtos não madei-
reiros (borracha, resina, tanino, óleos
essenciais, sementes, frutos, etc). Assim,
a escolha deve levar em consideração
algumas características importantes:
• Boaadaptaçãodaespéciese-
lecionada à região de cultivo, principal-
mente no que diz respeito à tolerância
à seca, àgeada (RegiãoSul)ouaoen-
charcamento do solo. Na tabela 1, são
indicados alguns exemplos de espécies,
separadasemregiõesdeclimaquente
(sem ocorrência de geadas) e clima frio
(com ocorrência de geadas).
• A arquitetura da copa das
árvores deve ser favorável ao sistema
(fuste alto e copa pouco densa), permi-
tindo maior transmissão de luz ao sub-
-bosque.
• Facilidadedeestabelecimento
(produção de mudas, enraizamento de
estacas, etc.).
• Crescimento rápido, deste
modo reduzindo o tempo para o esta-
belecimento do sistema silvipastoril.
Nesse caso, quanto maior for a taxa de
crescimento, mais cedo os animais po-
derão ser introduzidos no sistema.
• Capacidadeparaenriquecero
ecossistema com nitrogênio (legumino-
sas arbóreas) e outros nutrientes.
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Planejamento da arborização de pastagens para produção de leite - Parte II
pastagens
• Ausência de efeitos tóxicos
para os animais e de efeitos alelopáticos
sobre as forrageiras.
• Ausênciaderaízessuperficiais
expostas, que prejudicam a acomoda-
ção do gado sob a copa da árvore.
• Ter silvicultura conhecida.
NoBrasil,oeucalipto temsidoocom-
ponente arbóreo mais utilizado para
a composição da iPF, em razão da di-
versidade de materiais genéticos, boa
adaptaçãoàsdiferentescondiçõesam-
bientais, elevada taxa de crescimento
e ciclo de curta duração (quando ade-
quadamente manejado), capacidade de
rebrotação e possibilidade de ser mane-
jado para multiprodutos.
• Serpreferencialmentepereni-
fólia (mantém as folhas durante todo o
ano) e que tenha a capacidade de pro-
duzir alimento que possa ser consumi-
do pelo gado (frutos, folhas forrageiras,
etc).
• Não produzir frutos grandes
(mais de 5 cm de diâmetro), que pode-
riam causar obstrução do esôfago dos
animais.
• Ausência de caráter invasor,
ou seja, de se tornar uma planta dani-
nha (e.g. goiabeira e leucena).
• Fornecer produtos de maior
valor agregado, para que o mercado os
absorva com facilidade (madeira para
serraria), preferencialmente espécies
que produzam multiprodutos (lenha,
carvão e/ou toras para serraria).
Cuidados na introdução e no
manejo das árvores
• Definir o número de linhas
de plantas dentro do renque de árvo-
res em função do produto final que se
deseja obter. As árvores que serão des-
tinadas à serraria devem ser cultivadas
com maior espaçamento entre plantas,
o qual deve ser associado à prática de
desrama. Já para a produção de lenha e/
ou carvão, as árvores podem ser planta-
das mais adensadas no renque. No caso
de multiprodutos, as árvores podem ser
plantadas de forma mais adensada, rea-
lizando as práticas de desbastes e des-
ramas, quando estas árvores atingem a
idade intermediária, com o objetivo de
obter madeira para serraria no final do
ciclo.
• Definiradistânciaentreasfai-
xas/renques de árvores em função das
máquinas e equipamentos agrícolas
disponíveis na propriedade.
• O controle de plantas inva-
soras deve ser efetuado em pré e pós
plantio, pois é possível realizar o contro-
le de gramíneas por meio de herbicidas
seletivos e registrados para as espécies
florestais.
• Cuidados redobrados devem
Tabela 1. Espécies arbóreas indicadas para regiões de clima quente (sem ocorrência de geadas) ou clima frio (com ocorrência de geadas) utilizadas em sistemas silvipastoris no Brasil.
Nome comum Nome científico Clima
Acácia Acacia mangium Quente
Acácia negra Acacia mearnsii Frio
Acácia preta Acacia mellanoxylon Frio
Albizia Albizzia sp Quente
Angico branco Anadenanthera macrocarpa Frio
Angico vermelho Anadenanthera peregrina Quente
Araucária Araucaria angustifolia Frio
Nim Azadirachta indica Quente
Sibipiruna Caesalpinea peltophorioides Quente
Casuarina Casuarina cunninghamiana Frio
Cratilia Cratylia argentea Quente
Baru Dipteryx alata Quente
Eucalipto Eucalyptus sp. Quente/Frio
Gliricidia Gliricidia sepium Quente
Grevílea Grevillea robusta Quente
Uva-do-japão Hovenia dulcis Frio
Ingá Inga sessilis Quente
Mognoafricano Khaya ivorensis Quente
Leucena Leucaena leucocephala Quente
Angico mirim Mimosa artemisiana Quente
Bracatinga Mimosa scabrella Frio
Amoreira Morus alba Quente
Pau de balsa Ochroma pyramidale Quente
Angico Parapiptadenia rigida Quente
Canafistula Peltophorum dubium Quente
Pinus Pinus sp. Quente/Frio
Paricá Schyzolobium amazonicum Quente
Teca Tectona grandis Quente
Cedro-australiano Toona ciliata Quente
ser tomados na aplicação dos herbici-
das para evitar problemas de fitotoxici-
dade às árvores.
• Ocontrolede formigascorta-
deiras deve ser preventivo e iniciado,
pelo menos, um mês antes do plantio
das mudas das árvores, necessitando
ser acompanhado constantemente, de-
vendo ser feito, preferencialmente, com
isca granulada. A aplicação precisa ser
sistematizada no local de plantio e na
vegetação próxima.
• Arealizaçãodedesramas(po-
das) e desbastes é fundamental para
facilitar a circulação dos animais e obter
madeira de boa qualidade para a serra-
ria.
• Na implantaçãodo sistema, a
primeira desrama, no caso do eucalipto,
deve ser realizada quando 60 % das ár-
vores tiverem atingido a grossura de 6
cm, na altura 1,3 metros do solo (o cha-
mado DAP – diâmetro à altura do peito).
Além disso, nesse momento os animais
podem entrar no sistema, priorizando-
-se a utilização de animais jovens, para
reduzir o potencial de danos/quebras
causados às árvores.
Arborização de pastagens da área experimental da Embrapa Agrossilvipastoril, Sinop-MT
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Planejamento da arborização de pastagens para produção de leite - Parte II
pastagens
Considerações finais
A integração dos sistemas de pe-
cuária e silvicultura constitui um novo
paradigma para a pecuária brasileira,
principalmente para os produtores de
leite.Essessistemastêmpotencialpara
aumentar a produção de carne e leite,
diversificando a produção com a inclu-
são do componente florestal e otimi-
zando o uso dos fatores de produção
(solo, água e luz).
NoBrasil,osresultadosobtidoscom
os sistemas de integração Pecuária-Flo-
resta são animadores e expressam me-
lhorias nas propriedades físicas, quími-
cas e biológicas do solo, sem contar os
ganhos ambientais e sociais. No entan-
to, a adoção deste conjunto de tecnolo-
gias ainda é pequena, o que se deve, em
parte, à maior complexidade do sistema
de iPF e à necessidade de maior investi-
mento para a implantação das árvores.
Entretanto,aamortizaçãodessesinves-
timentos é possível, pois há linhas de
créditos específicas para a iLPF, criadas
peloPlanoABC,commaioresperíodos
de carência, que possibilitam o rompi-
mento desta barreira.
A parceria entre pecuaristas e silvi-
cultores é umas das alternativas para
fomentar o sistemade iPF. Estaparce-
ria contribui para aumentar a área com
florestas plantadas e também para au-
mentar a produtividade animal, o que
pode ser feito por meio da melhoria do
potencial produtivo de algumas áreas
e/ou a recuperação de áreas degrada-
das ou em processo de degradação,
sem necessidade de desmatar novas
áreas de florestas nativas.
A coexistência de sistemas muito
bem estruturados de produção de leite
e produtos madeireiros e não madei-
reiros é um dos fatores que contribui,
de forma determinante, para que o
conjunto de tecnologias estratégicas
denominado integração Lavoura-Pe-
cuária-Floresta (iLPF), principalmente
a modalidade de integração Pecuária-
-Floresta (iPF), seja adotado para au-
mentar a produtividade e competiti-
vidade da pecuária brasileira. Dessa
forma, se visualiza que, em um futuro
próximo, a convivência sustentável da
atividade agrícola, pecuária e silvícola
seja a regra da agropecuária brasileira,
e não uma exceção.
Emumavisãofuturista,éimportan-
te ter consciência de que será necessá-
rio expandir a produção de alimentos,
fibras e biocombustíveis no mundo.
Porém, não basta apenas aumentar a
produção, a qual abrange dimensões
técnico-econômicas, sociais e ambien-
tais, pois essa expansão da oferta de
alimentos deverá ocorrer com respeito
aos critérios da sustentabilidade. Assim,
evitar o avanço da fronteira agrícola
sobre florestas nativas, por exemplo,
pela substituição das pastagens de bai-
xa produtividade (em degradação) por
outros sistemas agrícolas destinados à
produção de alimentos, fibras e ener-
gia, utilizando sistemas de iLPF, cons-
titui uma ação primordial para atingir
essa meta.
Por fim, deve-se considerar que o
sistema de iPF, juntamente com as ou-
tras modalidades de iLPF, embora seja
uma excelente tecnologia, não é uma
solução mágica. A viabilidade das tec-
nologias agropecuárias nos sistemas
de produção é fortemente influenciada,
em curto prazo, pelos termos de troca
da região, pois variações substanciais
nos preços relativos dos fatores (por
exemplo, insumos mais valorizados do
que os produtos) podem inviabilizar
a adoção das tecnologias intensivas
do capital. Ademais, a adoção de tec-
nologias mais intensas do capital em
larga escala, como os sistemas de iLPF,
depende de preços minimamente viá-
veis e, obviamente, de linhas de crédi-
to adequadas, em termos de volume
de recursos e prazos de pagamento. A
adequada capacitação dos assessores/
consultores técnicos, que elaboram e
acompanham a implantação e o de-
senvolvimento de projetos com iLPF
junto aos produtores rurais, e a maior
capacidade gerencial para a condução
eficiente dos sistemas de produção são
igualmente necessárias para o sucesso
da tecnologia. Falhas, em qualquer um
desses fatores, colocam em risco o su-
cesso da iLPF.
Maurel Behling1, Bruno Carneiro e Pedreira2, Roberta Aparecida Carnevalli3, Luciano Bastos Lopes4, Helio Tonini5
1 Pesquisador na área de Sistemas Integrados de Produção e membro do Grupo de Trabalho em iLPF da Embrapa Agrossilvipastoril; 2 Pesquisador na área de Forragicultura e Pastagens e membro do Grupo de Trabalho em iLPF da Embrapa Agrossilvipastoril; 3 Pesquisadora na área de Sistemas Integrados de Produção de Leite e membro do Grupo de Trabalho em iLPF da Embrapa Agrossilvipastoril; 4 Pesquisador na área de Epidemiologia e controle de doenças infecciosas da Embrapa Agrossilvipastoril; 5 Pesquisador na área de Manejo Florestal da Embrapa Agrossilvipastoril
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13º Simpósio Internacionalsobre Produção Competitiva de Leite
11 e 12 de setembro • Uberlândia - MG
A união da técnica com a gestão, em busca de resultados
11 de setembro • Manhã
Mudanças estruturais na produção de leite mundial e competitividade entre os países, Benoit Rouyer, CNIEL
Fatores que afetam a lucratividade do negócio de produção de leite no Brasil, Christiano Nascif, Educampo
Planilhas de apoio a tomada de decisão, Victor Cabrera, Universidade de Wisconsin
11 de setembro • Tarde
O colaborador comprometido – como aumentar a produtividade através de mudanças comportamentais, Marcelo Cabral, ReHAgro.
Como atrair os melhores funcionários e formar uma grande equipe em sua fazenda, Sandro Luiz Viechnieski, Fazenda Iguaçu.
Inovação em modelos de negócios envolvendo produção de leite, Hamish Gow, Massey University, Nova Zelândia.
Empreendedorismo no meio rural, Paulo Henrique de Souza Leite, Consultor do Sebrae/MG
12 de setembro • Manhã
Indices financeiros empresariais aplicados a fazendas de leite, Paulo do Carmo Martins, Embrapa Gado de Leite
Planejamento estratégico anual como ferramenta de gestão do negócio, Paulo Machado, ESALQ/USP
Considerações entre contratos de longo prazo entre produtores e laticínios, Gustavo M. de Sá, consultor
Gestão da qualidade do leite, Bernard Woodcock, QCONZ
12 de setembro • Tarde
Manejo hídrico para fazendas de leite, Julio Palhares, Embrapa Pecuária Sudeste
Dimensionamento de projetos de irrigação, Fernando Campos Mendonça, ESALQ/USP
Compost Barn como alternativa para instalações confinadas, Adriano Seddon, Alcance Rural
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