passaros

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CALOPSITA: DÓCIL E VISTOSA Além de sua bela aparência, esta ave tem características que a tornam excelente para criar. Com sua beleza exótica destacada pela crista ereta, a Calopsita ornamenta o ambiente onde está. Torna-se ainda mais atraente por seu tamanho médio, de cerca de 30 cm, e grande variedade de cores. Permite compor viveiros com diversidade de espécies, uma característica restrita à minoria das aves, aceitando com o seu temperamento pacífico também o convívio com pássaros de menor porte. As qualidades vão além. Não incomoda a vizinhança por não ser barulhenta e pode nos trazer alegrias adicionais, aprendendo a falar e assobiar. É ainda fácil de criar, pois come pouco, reproduz-se com facilidade e não é destruidora, além de viver bastante, em média 20 anos. Originária da Austrália, é um psitacídeo da família das Cacatuas. Na natureza alimenta-se de sementes, além de frutos e insetos. Diferentemente dos outros psitacídeos que preferem o topo das árvores, costuma alimentar-se no chão. Na natureza reproduz-se nas épocas das chuvas, quando os alimentos são mais abundantes. Em cativeiro, a reprodução ocorre o ano todo. Faz seu ninho em buracos já existentes nas árvores, geralmente em eucaliptos próximos à água. As inúmeras cores existentes hoje são decorrentes da fixação de mutações feitas pelos criadores, diversas surgidas nos últimos 15 anos, algumas muito recentes e difíceis de encontrar nas lojas (veja ficha). A variedade original, encontrada na natureza, tem o corpo cinza com as bordas das asas brancas. A crista do macho é amarela sobre uma cabeça amarela e, na fêmea, cinza amarelado com a cabeça cinza. Ambos têm as "bochechas" formadas por uma mancha vermelha, circular, em cada lateral da cara, de tom mais suave na fêmea. A cauda é totalmente negra no macho e na fêmea intercala negro com amarelo na parte de baixo. Descrita cientificamente pela primeira vez em 1792, a Calopsita começou a fazer parte dos aviários europeus apenas em 1884 e teve maior expansão a partir de 1949 com o surgimento da primeira mutação, a arlequim, na Califórnia. FICHA Preço: a partir de R$ 40,00. Cores: As mais comuns são Arlequim - parte das penas em cinza e amarelo claro,

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CALOPSITA: DÓCIL E VISTOSAAlém de sua bela aparência, esta ave tem características que a tornam excelente para

criar.

Com sua beleza exótica destacada pela crista ereta, a Calopsita ornamenta o ambiente onde está. Torna-se ainda mais atraente por seu tamanho médio, de cerca de 30 cm, e grande variedade de cores. Permite compor viveiros com diversidade de espécies, uma característica restrita à minoria das aves, aceitando com o seu temperamento pacífico também o convívio com pássaros de menor porte. As qualidades vão além. Não incomoda a vizinhança por não ser barulhenta e pode nos trazer alegrias adicionais, aprendendo a falar e assobiar. É ainda fácil de criar, pois come pouco, reproduz-se com facilidade e não é destruidora, além de viver bastante, em média 20 anos.Originária da Austrália, é um psitacídeo da família das

Cacatuas. Na natureza alimenta-se de sementes, além de frutos e insetos. Diferentemente dos outros psitacídeos que preferem o topo das árvores, costuma alimentar-se no chão. Na natureza reproduz-se nas épocas das chuvas, quando os alimentos são mais abundantes. Em cativeiro, a reprodução ocorre o ano todo. Faz seu ninho em buracos já existentes nas árvores, geralmente em eucaliptos próximos à água.As inúmeras cores existentes hoje são decorrentes da fixação de mutações feitas pelos criadores, diversas surgidas nos últimos 15 anos, algumas muito recentes e difíceis de encontrar nas lojas (veja ficha). A variedade original, encontrada na natureza, tem o corpo cinza com as bordas das asas brancas. A crista do macho é amarela sobre uma cabeça amarela e, na fêmea, cinza amarelado com a cabeça cinza. Ambos têm as "bochechas" formadas por uma mancha vermelha, circular, em cada lateral da cara, de tom mais suave na fêmea. A cauda é totalmente negra no macho e na fêmea intercala negro com amarelo na parte de baixo.Descrita cientificamente pela primeira vez em 1792, a Calopsita começou a fazer parte dos aviários europeus apenas em 1884 e teve maior expansão a partir de 1949 com o surgimento da primeira mutação, a arlequim, na Califórnia.

FICHA

Preço: a partir de R$ 40,00.Cores: As mais comuns são Arlequim - parte das penas em cinza e amarelo claro, cabeça amarelo forte, bochechas vermelhas e crista amarela; Canela - cor cinza substituída pelo marrom; Pérola - faces amarelas salpicadas de cinza, crista amarela riscada de cinza, penas das costas do branco ao amarelo, cauda amarela e peito e barriga listrados de amarelo e cinza; Lutino - cor predominante branco com olhos e bochechas vermelhas e crista e cabeça amarelos; Cara Branca - macho com cabeça branca, crista cinza e bordas das asas brancas e fêmea com corpo cinza, bordas das asas brancas e face interior da cauda com estrias pretas e brancas; Fulvo - olhos vermelhos, corpo canela pálido com difusão de amarelo suave e face amarelo forte; e as mais raras Prata Recessivo - olhos vermelhos e corpo prateado e Prata Dominante - olhos pretos, face e crista amarelos forte e bochechas vermelhas.Alimentação: composto de 20% de alpiste, 50% de painço, 15% de arroz com casca, 10% de aveia e 5% de girassol (diariamente); ração para cães (2 a 3 vezes por semana); frutas e legumes em pedaços e verduras como espinafre, chicória, almeirão e couve, bem lavados (2 a 3 vezes por semana); milho verde (diariamente ou em dias alternados - obrigatoriamente todos os dias quando houver filhotes), grãos germinados de girassol, milho seco, painço, aveia com casca, trigo e arroz sem casca, pão duro,

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seco e em pedaços de preferência o integral. Areia grossa e lavada e farinha de ostras para ajudar na digestão e como fonte de cálcio (principalmente na reprodução): carvão vegetal em pedaços ou moído e adicionado à areia e à farinha de ostras; osso de siba.Instalações: gaiolões de 1x0,4x0,5m para 1 casal com ninho de madeira do lado de fora (caixa horizontal com 20x20 cm de frente com entrada redonda e 35 cm de comprimento) e 2 poleiros de diâmetros diferentes, variando de 1,5 a 2,5cm, instalado em quarto ou galpão ventilado, sem correntes de ar, recebendo o sol da manhã. Viveiros de 3x1x2m para 1 casal de 4x3x2 m para os filhotes, de alvenaria de tijolos de barro rebocados, blocos de cimento revestidos de argamassa ou placas de cimento, com cobertura de telhas de cerâmica em 1/3 do viveiro, protegendo os comedouros e ninho, tela galvanizada de cerca de 1/2polegada e fio 18 e piso de concreto com escoamento para água. Dois poleiros de madeira, vasilhas de barro ou louça e uma para tomar banho. Localização protegida de ventos frios (sul) por paredes, quebra-ventos, cercas vivas etc e de forma a receber o sol da manhã.Reprodução: a partir de 12 meses. Identificação por dimorfismo sexual. Postura de 4 a 7 ovos com incubação de 17 a 22 dias. Separar filhotes dos pais com 8 semanas. Reproduz o ano inteiro, mas aconselha-se tirar apenas 2 ou 3 ninhadas por ano (para findar a reprodução basta retirar o ninho).Ensinando a falar e assobiar: alimentar na mão desde filhote, criar sozinha, exercitar diariamente com muita paciência.Para ler: Criação de Calopsitas, de Carlos E. C. Torloni, Lis Gráfica Editora Ltda, São Paulo-SP

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CALAFATE: BELEZA E JEITO ROMÂNTICOO visual atraente e o cuidado com que o casal se dedica à reprodução, durante a

maior parte do ano, são alguns dos atrativos do Calafate.

A beleza delicada e exótica do Calafate ajudaram-no a tornar-se um dos pássaros mais criados no mundo. O avermelhado do bico, de peculiar formato cônico, aparece também nos anéis ao redor de cada olho. Na verdade, o seu bico é transparente e o colorido vermelho é proporcionado pelo sangue que nele circula. A cabeça preta com uma mancha branca destaca-se do corpo cinza, sua coloração original, que pode se apresentar em tons mais claros ou escuros. É encontrado também em mutações de

diversas cores (veja ficha). Originário de ilhas indonésias como Java, Sumatra e Bornéo, voa em bandos e torna-se uma praga nas plantações de arroz. Seu nome

científico Padda (Lonchura) oryzivora significa "comedor de arroz". É chamado também de Pardal de Java ou Pada. O nome popular Calafate vem dos calfat, como eram chamados os marinheiros encarregados de vedar as juntas das embarcações,

na função de calafetar o navio, normalmente com estopa para impedir a passagem de ar ou água. À sua semelhança, o Calafate constrói o ninho como se fosse uma bola

oca e o fecha bem, de forma que reste apenas uma pequena abertura de entrada para a luz não se infiltrar.

A Indonésia e suas ilhas pertenciam, desde o século 17, à Holanda, cujos marinheiros espalharam o Calafate pelo mundo. Na trilha de difusão da espécie começaram por Zanzibar, Ilhas Maurício, Santa Helena e continuaram pela Índia, Malásia e parte da

China. Chegaram então à Europa onde sua primeira criação amadora bem-sucedida é de 1890, na Suíça.

No Brasil, o Calafate está há mais de 40 anos. Vive e se desenvolve muito bem já que é uma ave de clima quente. Chegou aqui através de criadores brasileiros que foram

buscá-lo na Europa e de marinheiros orientais que aportavam trazendo exemplares na bagagem.

ROMANCE

Resistente, o Calafate é uma ave que se dá bem em viveiros externos, onde pode ser criado em colônias ou com outras espécies, como Periquitos Australianos e Diamantes

Mandarim. Os criadores preferem, entretanto, tê-lo em gaiolas formando apenas um casal, onde fica mais dócil, aceita bem a aproximação das pessoas e se reproduz

normalmente. "No viveiro, geralmente espanta-se com as pessoas a ponto de o bico ficar marcado com as batidas que dá nas grades", comenta Hermelino Bosso, do

criadouro São Vicente, de Mauá - SP. "Lá, ainda, desgasta-se nas disputas por ninhos com outros casais e com isso submete-se a situações adicionais de estresse."

O macho é um pai e tanto. Costuma colaborar com a companheira em todas as etapas possíveis da procriação. Em março, junto com a fêmea, trança o capim e confecciona o ninho cuidadosamente. Eles não deixam escapar nem mesmo eventuais folhinhas

que, por acaso, fiquem presas em algum lugar. A partir daí, acasalam-se. Assim que a fêmea termina de botar os ovos, revezam-se no choco e, em conjunto, passam a

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alimentar e cuidar dos filhotes. Todo este processo dura cerca de dois meses. Logo depois, o ciclo reinicia, e assim sucessivamente, até o fim de outubro. Começa, então,

uma nova fase, a da recuperação física do organismo desgastado pelo período reprodutivo. Vai até o mês de março e durante a mesma ocorre a muda, que dura no

máximo dois meses. Terminada esta fase, retornam à reprodução.

OLHOS FECHADOS

O Calafate se estressa facilmente em viagens e pode morrer, exigindo cuidados especiais no seu transporte. Hermelino, por exemplo, costuma levar os dele para competir nas exposições de pássaros. Para resguardá-los, os coloca em caixas de transporte (veja ficha). Mesmo assim, ficam com muito medo, tanto que mantêm os olhos fechados durante o percurso e não os abrem enquanto a viagem não terminar. Para tranqüilizá-los, Hermelino pára a cada duas horas, tira-os da caixa, coloca-os em suas respectivas gaiolas, para descanso de 30 minutos, e depois pinga duas gotas de água no bico, amenizando a sede causada pelo estresse.Os criadores recomendam nunca transportar o Calafate na época da muda. Neste período a resistência cai bastante e, por isso, aumenta muito a chance do estresse ser fatal.

MUTAÇÕES

O corpo cinza do Calafate original pode apresentar tonalidades mais ou menos intensas. A preferida pelos criadores é a cinza escura. Existem também as seguintes mutações:Branca - Tem os olhos pretos.Albina - Branca com os olhos vermelhos.Canela - Cabeça marrom escura e corpo marrom claro.Isabelina - Cor marrom mais clara que no Canela.Canela diluído - Corpo branco, cauda e cabeça bege e olhos vermelhos.Arlequim - Manchas brancas irregulares sobre o corpo cinza.

FICHA

Tamanho: porte pequeno, até 15 cm.Instalações: em local protegido de ventos e chuvas, com bastante claridade. Viveiro: até 5 casais - 1,5 m (comprimento) x 1 x 1 com tela só na frente, coberto totalmente

com telhas de barro. Gaiola: GR3 com 70cm x 40(largura) x 30 (altura).Caixa de transporte: de madeira, 40cm x 25 x 10, com só uma face em tela, para 10

aves.Alimentação: granívoro. Dar, diariamente, ração industrializada para granívoros à vontade, ou uma mistura de sementes não lavadas para maior durabilidade (para 5

casais, por um mês: 5kg de painço, 2kg de alpiste, 1 kg de aveia). Pode-se complementar 2 a 3 vezes por semana com maçã picada, couve, almeirão e escarola

e insetos. Farinhada (para o período da procriação, receita de Hermelino para 5 casais, por um mês): 2 kg de sêmola de milho, 1 kg de farinha torrada de pão, 500 g

de germe de trigo cru, 1 lata de Neston, 1 colher (de chá) de sal comum. Dar diariamente, por casal, 1 colher (de sopa) misturada com 1 ovo cozido por 5 minutos e amassado, numa vasilha de porcelana, por ser mais higiênica. Não guardar por mais de 1 mês, pois estraga. Pendurar 1/4de espiga de milho verde cru, 2 a 3 vezes por

semana, na gaiola. Água: não pode faltar.Identificação sexual: o macho adulto canta mais, seu bico ocupa uma área maior na

face e tem o anel em volta dos olhos mais vermelho.Ninho: caixa de madeira cúbica, 20cm x 20 x 20, com tampa, fora da gaiola com a

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abertura redonda voltada para a gaiola. Se menor pode prejudicar a postura da fêmea. Em viveiro, pôr um ninho a mais que a quantidade de casais. Na gaiola, colocar o

ninho junto com o casal, a partir dos 10 meses de idade.Reprodução: início de março. Durante 4 dias colocar um punhado de capim barba-de-bode para cada ninho. Enquanto o capim não acaba, o casal tece o ninho - uma bola

oca que ocupa todo o espaço do cubo. Depois de pronto, pode-se cortar a parte superior da bola com uma tesoura, para inspeções quando abrir a tampa. Nunca

limpar o ninho. A fêmea fica nervosa e prejudica a criação. Um mês e meio depois começa a postura. A fêmea põe de 4 a 6 ovos (demora 4 dias). Depois do último,

começa a chocar, revesando-se com o macho. Após 15 a 16 dias os ovos eclodem. Os filhotes são separados dos pais aos 35 dias. A nova postura começa 3 dias depois.

De março a outubro são 4 a 5 posturas. O casal tem por temporada cerca de 20 filhotes.

Higiene: adora banho. Na época de criação, em dias quentes, colocar diariamente uma vasilha com água para banho. Na muda (novembro a fevereiro), apenas uma vez

por semana.Saúde: não há doença específica. Boa higiene e alimentação bastam. Bico quase

branco é sinal de anemia.Muda: se durar mais de 2 meses significa algum problema.

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AS MARAVILHOSAS MUTAÇÕES DE KAWALL

O criador e ornitólogo autodidata Nelson Machado Kawall, proprietário há 55 anos do criadouro Arco-Íris, fala do hobby e mostra as novas variedades

de Periquitos Australianos que está desenvolvendo

Gosto de aves desde quando estava no colo da minha mãe, ainda bebê, e ouvi o fotógrafo dizer: “olha o passarinho”. É isso que faço até hoje.

Aos 12 anos, ganhei os primeiros Periquitos Australianos, de meus pais. Eram dois casais que reproduziam muito.

Ia de bonde vender os filhotes numa loja no centro da cidade. Cada um valia cinco mil réis, uma fortuna para mim, ainda tão menino.

Recebia em dinheiro ou trocava por outros animais, como ratos brancos e pombos. Foi assim que obtive o meu primeiro Papagaio Baiano.

Aos 28 anos, depois de ter me afastado da criação por uns dez anos, retomei a atividade.

Estava casado e vivia numa casa com quintal, onde construí três viveiros de madeira. Em cada um pus um casal de Periquitos Australianos, que comprei no Mercado

Municipal. Inaugurei assim o Criadouro Arco-Íris. Acredito que hoje o meu criadouro seja o mais antigo do país.

Para observar as aves e trocar experiências, comecei a freqüentar exposições promovidas pela Federação Ornitológica do Brasil

(N.R.: a FOB iniciou em 1952, com o nome Federação Brasileira de Canaricultura. Em 1965,

adotou o nome atual, diante do aumento da participação de Periquitos Australianos e de outros pássaros em suas exposições).

Nelas conheci criadores cariocas, mais experientes que os paulistas, e passei a visitá-los no Rio, assim como eles vinham me ver em São Paulo,

e trocávamos informações. Vi um livro alemão muito completo sobre a criação e a genética do Periquito Australiano,

comprei-o e mandei traduzi-lo, pois nada havia em português a respeito.

Em 1958, eu estava com 29 anos. A dificuldade para obter informações técnicas e o desejo de estimular a participação de

criadores em exposições me levaram a fundar, com companheiros, duas entidades ornitológicas. A primeira foi a Sociedade Ornitológica Bandeirante (SOB),

dedicada a criadores de quaisquer aves, exceto Canários e Periquitos Australianos.

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De Canários havia entidade especializada em São Paulo e em outros Estados. Mas dedicada somente a Periquitos Australianos não existia nenhuma no Brasil. Por

isso fundamos a Associação Paulista de Periquitos Australianos (APPA), que hoje se chama Associação Paulista de Criadores de Periquitos Australianos

(APCPA), tem 50 sócios, e é presidida por mim. A SOB agora está com 270 sócios, sou seu vice-

presidente e a presidi por oito anos.

Somente em 1959, aos 30 anos, vi ao vivo os famosos Periquitos Australianos aprimorados na Inglaterra.

Um dos meus amigos cariocas e mestre, Humberto Ferreira, havia trazido trinta casais. Eles tinham porte bem maior do que os nossos melhores exemplares, no

Brasil.

Dois anos depois, em 1961, ganhei dele dois filhotes descendentes daquelas aves. Era um casal “asinha”, ou seja, com defeito nas asas.

Mas cresceram e me deram filhotes maravilhosos. Entusiasmado, naquele mesmo ano, construí 20 viveiros na minha nova casa, no bairro dos Jardins, em São Paulo.

Acasalei aqueles filhotes com Periquitos Australianos comuns. Fui selecionando, privilegiando a genética do tipo inglês, atento ao tamanho, porte e cabeça dos

exemplares.Consegui assim formar o melhor plantel de tipo inglês de São Paulo.

Em 1968, resolvi conciliar a minha profissão de industrial com a criação e o comércio profissional de aves estrangeiras e nacionais, em conjunto com quatro sócios.

O empreendimento chamava-se Avex Aves Exóticas Ltda. Era o maior e mais bem construído aviário do Brasil, e procurávamos reproduzir

Cacatuas, Lóris, Roselas, Turacos e pássaros de menor porte, mas também de grande beleza, como Diamante

de Gould, Bavete e Sparrow. Tínhamos 40 viveiros de 3 m x 6 m, com 2 m de altura e 400 gaiolas para Manons,

amas de outras aves.

Naquele mesmo ano, aproveitei a mudança para a minha atual casa no Butantã e substituí a criação de Periquitos Australianos por uma de mutações de passeriformes

(nomenclatura que significa “passarinhos”, o que exclui os psitacídeos): Azulão, Coleirinha, Tiziu, Canário-da-Terra e outros. Foi também em 1968 que,

juntamente com os diretores da SOB e ornitófilos Johan Dalgas Frisch e Wilson Mendonça da Costa Florim, consegui oficializar o dia 5 de outubro como o Dia da Ave,

quando foi aprovado o Decreto 63.234 que regula o assunto.

Em 1978, tivemos de desfazer a Avex porque o proprietário pediu o terreno de volta. Eu já tinha tantos passarinhos mutantes em casa que estava com 40 viveiros.

Vendi todos e substituí os 40 viveiros por 60, apropriados para psitacídeos. Coloquei neles casais de psitacídeos nacionais Tuins,

Jandaias e Papagaios, trazidos da Avex, preferencialmente em mutações azul, lutino (amarelo), canela, etc.

Mesclando exemplares dessas cores, eu procurava sempre apresentar novas mutações.

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Todas essas atividades me levaram a ler, pesquisar muito e trocar muita informação com os melhores criadores do País.

Fiz também três viagens ao exterior, nas quais troquei conhecimento com grandes criadores, principalmente de psitacídeos,

criadores de zoológicos e estudiosos de aves. Aprendi muito também com eles.

Fui me tornando, assim, um mestre autodidata em ornitologia. Cheguei a dar palestras a biólogos e zoólogos de diversos níveis, abordando assuntos

ornitológicos como criação de psitacídeos, melhores dimensões de ninhos e viveiros, alimentação ideal e manejo adequado.

Nestes 50 anos, concorri em mais de 50 exposições no Brasil e cinco no exterior, principalmente de Periquitos Australianos, e ganhei mais de 100 prêmios. O último foi no ano passado: Melhor Periquito da exposição da APCPA.

Sou citado, em conjunto com outros quatro brasileiros, no livro de ornitologia inglesa Who's Who, de 2002, entre 1.400 pessoas do mundo ligadas à ornitologia.

Escrevi artigos para publicações nacionais e tornei-me consultor da Cães & Cia, desde quando surgiu, em 1979, e do programa televisivo Globo Rural, entre os anos 70 e 80.

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RECONHECIMENTO MUNDIAL: CLASSIFICAÇÃO DE DUAS NOVAS ESPÉCIES

 

Numa troca de aves feita em 1988 com o criador José Xavier de Mendonça (Vié), de Santarém, no Pará,

chegou às minhas mãos um papagaio classificado na época, pelos museus mais renomados do mundo, como Amazona farinosa .

Eu tinha um exemplar daquela espécie e observei que o recém-chegado tinha porte maior, asas maiores, cauda mais curta,

pele branca no bico e uma barra vermelha pouco visível na cauda. Dei ciência do fato ao Museu de Zoologia de São Paulo e a Rolf Grantsau - alemão

que vive no Brasil, maior classificador de aves do nosso país que ficou incumbido de estudar e aprimorar

a documentaçãoapresentada por mim sobre o assunto e escrever uma justificativa. Hoje a variedade é

internacionalmente denominada de Amazona kawalli em minha ho-menagem.

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Conheço outra espécie, um Forpus ( Tuim ), do norte do Brasil, com grandes chances de nova classificação.

Dei também o passo inicial para a descrição da Aratinga pintoi, que homenageia o ornitólogo Olivério Mário de Oliveira Pinto. Tudo começou em 1968,

quando eu tinha a Avex e fiquei intrigado com uma Aratinga de tamanho menor e cor mais pálida. Sempre que pude, acumulei informações sobre o assunto.

Em 1998, fiquei sabendo que o criador Pedro Nardelli, do Rio de Janeiro, possuía uma Aratinga semelhante à que eu vira.

Convidei o biólogo e ornitólogo Luís Fábio Silveira, na época estudante de pós-graduação da USP,

e fomos ver a ave no Rio. Silveira levou o assunto adiante e, em conjunto com dois companheiros, formalizou a descrição em janeiro deste ano.

 

MAIS CORES PARA O PERIQUITO AUSTRALIANO

 

 

 

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Há quatro anos, voltei a me dedicar exclusivamente ao Periquito Australiano de tipo inglês. Concluí que é a criação mais motivadora que existe.

Essa ave é a única da Ornitologia que procria e vocaliza o ano todo. Aprende a falar corretamente e é capaz de dizer mais palavras do que o Papagaio

Baiano ( Amazona aestiva )e também do que o Mainá – todos eles precisam ser criados sozinhos para falar.

O que mais gosto de fazer é sentar à frente dos meus viveiros e observar detalhes como o espírito brincalhão e irrequieto do Periquito Australiano.

Ele está sempre procurando o que fazer. São curiosas também a obsessão da espécie para formar casais e a sutileza do canto do macho para atrair a fêmea.

As cores dos Periquitos são 10. Cada qual tem três tons: claro, médio e escuro. Aproveitando as cores das asas e as demais particularidades das mutações

conseguimos aproximadamente duas mil possibilidades de tons.Nas fotos desta matéria, mostro algumas das mutações mais recentes que obtive,

principalmente a partir da mistura de arlequins dominantes australianos com cintilantes.

Estou também cruzando faces douradas com asas cinzas para obter, talvez, mutações inéditas.

 

“O importante não é enxergar, é saber olhar”, Nelson Kawall.

PARA SABER MAIS

Criador: Criadouro Arco-íris, de Nelson Kawall, tel: (11) 3031-5287

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O POPULAR DIAMANTE MANDARIM

Fácil de ser criado, o Diamante Mandarim é apreciado em todo o mundo. Um de seus atrativos é a imensa variedade de desenhos na plumagem.

Com seu bico curto e riqueza visual, este pássaro é um dos mais populares praticamente no mundo inteiro. Razões para isto há de sobra: ele procria facilmente e muitas vezes ao ano, o que faz com que até os mais belos exemplares alcancem preços em conta (30 dólares para um excelente e de 1 a 2 dólares os mais comuns); se adapta a qualquer meio, em climas frios ou quentes, em pequenos ou grandes espaços e além disso, não tem nenhuma exigência extraordinária. Enfim, trata-se de um pássaro fácil de se ter, indicado, portanto, também para principiantes na criação de aves.

Um dos prazeres de criá-lo é que através de acasalamentos programados você pode obter Mandarins de centenas de cores das mais diferentes, distribuídas em belos e harmônicos desenhos sobre a plumagem.Existem 8 cores básicas e mais 400 diferentes, chamadas de mutações, que foram obtidas dessas 8 (vide box). Para conseguir pássaros de cores diferentes, você deve sempre cruzar um de cor básica, por exemplo, como o Cinza, com um mutante como o Peito Negro. Na primeira ninhada vão nascer todos Cinzas, mas portadores do gene Peito Negro. Daí, você pega um desses filhotes portadores desse gene e cruza com outro Peito Negro. Nascerão Cinzas e também uma mescla dos dois, ou seja, Cinzas com Peitos Negros. Para perpetuar essa cor nova, você precisa cruzá-la com Peitos Negros ou portadores do gene Peito Negro e depois, com o tempo, com exemplares da mesma cor.

FICHA

Cores: o mais comum é o Cinza ou Zebra (corpo cinza-amarronzado com branco, listras negras na cauda e, só no macho, listras pretas e brancas na garganta,

marcações alaranjadas nos lados da face e pintinhas brancas nos flancos); o Canela, Prateado, Ágata (Canela com bordas das penas grandes em branco), Mascarado

(bege bem claro), Dorso Pálido (Cinza-claro), o Branco e o Albino (olhos vermelhos). Exemplos de mutações: com tapete e bico amarelo (o original é vermelho), Cinza de Bochechas Negras ( o mais raro); Peito Negro; Peito Laranja; Bochecha Castanha; Pheo (creme claro com ponta das penas em tom mais forte), Creme; Pingüim (capa

preta com o corpo branco ou prateada com branco etc) etc. Instalações: Sempre com malha fina. Gaiola de metal, ideal para até 1 casal e seus filhotes - 40cm de altura x 60 de comprimento x 30 de profundidade. Gaiola criadeira

de metal para até 30 filhotes com 12 dias até 18 meses, quando começam a acasalar - 35cm altura x 1,40 de comprimento x 60 de profundidade. Viveiro para até 40 casais com armação de ferro, os 4 lados fechados e teto todo coberto com telhas de barro e

algumas de vidro, com 2 m de largura x 2 de comprimento e com maior número de ninhos do que de casais para não haver disputa. Poleiros de várias espessuras para

exercitar os dedos. Higiene: o recomendado aos pássaros em geral. Semanalmente lavar gaiola,

comedouros e bebedouros com solução de 201 de água para 100 ml de cloro. Os comedouros e bebedouros devem ficar imersos no cloro durante cerca de 4 dias

(providencie substitutos). Depois lavá-los com água corrente e deixar secar ao natural. Mensalmente, raspar com uma faquinha os poleiros, lavá-los com sabão e escova e secá-los bem ao sol ou no forno para não ficarem úmidos , evitando o aparecimento

de fungos.

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Alimentação: diariamente, 3 partes de painço, 1 de alpiste, verduras (exceto alface), sendo as preferidas almeirão, couve, escarola e espinafre (colocar uma folha

entrelaçada na grade); farinhada - para até 12 pássaros, sendo 1 colher (café) de farinhada por pássaro e na época de procriação 1 colher (sobremesa) - 1 ovo cozido, 10 colheres (sopa) de farinha de rosca, 8 a 10 gotas de óleo de fígado de bacalhau. Suplementação: Manter sempre na gaiola para cada pássaro - 1 colher (sopa) de areia branca (em aviculturas), 1 colher (café) de sais minerais e 1 colher (café) de

farinha de ostra. Reprodução: começa aos 9 meses. Identifica-se facilmente o macho da fêmea no

Mandarim Cinza (videm item cores); nas outras variedades é melhor observar - só o macho canta e o vermelho do bico da fêmea é mais pálido. Põe de 4 a 6 ovos que

eclodem em cerca de 12 dias. Após cerca de 2 semanas já se alimentam sozinhos e aos 18 dias começam a voar. Os jovens são identificados pelo bico marrom-escuro

quase negro. Ninho externo de caixa de madeira ou cestinha de vime de cerca de 14 cm de altura e 12 de diâmetro (colocada inclinada a 50 graus, para não cair os ovos, e

amarrada nas grades da gaiola com arame). Material: capins em geral, sendo preferível o Barba de Bode e a Grama Japonesa. Colocar no fundo da gaiola para o

pássaro pegar. Saúde: ave rústica, não apresentado nenhuma doença em particular. Em situações adversas e de estresse, costuma arrancar penas do corpo com freqüência, o que faz

também na falta de material para fazer o ninho ou em gaiolas superpovoadas. Vida média: aproximadamente 8 anos.