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ISSN 1808-3757

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Partilhando experiências interdisciplinares em arte: uma proposta de

cartografia das palavras

Alexandra de Castilhos Moojen Pibid/Capes/UERGS

Diewerson do Nascimento Raymundo Pibid/Capes/UERGS

Lucas Pacheco Brum Pibid/Capes/UERGS

Patrícia de Sousa Borges Pibid/Capes/UERGS

Patrick da Costa Silva Pibid/Capes/UERGS

Ranielly Boff Scheffer Pibid/Capes/UERGS

Cristina Rolim Wolffenbüttel Pibid/Capes/UERGS

Resumo: o presente texto apresenta o relato de vivências e observações originadas de um trabalho interdisciplinar com as linguagens das artes. Foi desenvolvido por acadêmicos dos cursos de Graduação: Licenciatura em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul/Unidade de Montenegro, participantes do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid/Capes/Uergs). Os acadêmicos, ao desenvolverem um trabalho interdisciplinar entre as linguagens artísticas, procuraram enfocar a leitura como eixo gerador da proposta. Tal processo resultou na oficina A Arte de Ler, sendo desenvolvida por ocasião do 1º Encontro Interinstitucional, 2º Encontro Institucional do PIBID e 3º Encontro de Arte e Educação da UERGS, que ocorreu durante o mês de março de 2013, na cidade de Montenegro. Palavras-chave: interdisciplinaridade; cartografia; oficina; experiência.

Introdução

O presente texto constitui-se de um conjunto de relatos de experiência

interdisciplinares realizadas no 1º Encontro Interinstitucional do Programa

Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da Uergs, o 2º Encontro

Institucional do Programa (PIBID/UERGS) e o 3º Encontro de Arte e Educação na

Uergs, realizado nos dias 14 a 16 de março de 2013.

Essa atividade foi elaborada a partir das atividades realizadas no Grupo de

Pesquisa “Arte: criação, interdisciplinaridade e educação”, da Universidade Estadual

do Rio Grande do Sul (CNPq), contando com bolsa do Programa Institucional de

Bolsa de Iniciação à Docência, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (Pibid/Capes/Uergs).

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Neste programa, estudantes dos cursos de Graduação: Licenciatura em Artes

Visuais, Dança, Música e Teatro, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

(Uergs), Unidade de Montenegro, buscam aprofundar teorias e metodologias

relacionadas à epistemologia em suas áreas específicas, bem como conhecer e

construir metodologias apropriadas em seus respectivos cursos para melhor articular

o fazer artístico em sala de aula.

O evento

O evento, denominado 1º Encontro Interinstitucional do Programa Institucional

de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da Uergs, o 2º Encontro Institucional do

Programa (PIBID/UERGS) e o 3º Encontro de Arte e Educação na Uergs, realizado

nos dias 14 a 16 de março de 2013, teve como tema principal a “Iniciação à

Docência e Interdisciplinaridade”, sendo debatidos diversos aspectos relacionados à

temática. A programação do evento contou, também, com mostras de pôsteres e

comunicações orais, além de palestras, oficinas e apresentações artísticas.

Nas comunicações orais e mostra de pôsteres todos os bolsistas

apresentaram suas pesquisas, bem como relatos de experiências que veem

desenvolvendo a partir da inserção dos acadêmicos nas escolas. Esse encontro

oportunizou a todos os bolsistas do programa, debates e reflexões sobre o campo

da educação, além de partilhar seus conhecimentos e experiências que estão tendo

com à docência e com suas áreas específicas do conhecimento, como também os

benefícios do Pibid/Capes/Uergs.

É importante ressaltar que dentre tantas atividades desenvolvidas na

programação houve uma grande repercussão nas oficinas que o evento oportunizou

aos participantes. As oficinas foram administradas pelos bolsistas do

Pibid/Capes/Uergs, além de convidados.

Os bolsistas da Unidade de Montenegro da Uergs planejaram as oficinas com

um caráter interdisciplinar, envolvendo as diferentes artes: artes visuais, dança,

música e teatro. As oficinas interdisciplinares tinham como objetivo oportunizar uma

ação interdisciplinar entre os cursos das artes, aproximando as linguagens artísticas.

Nessa proximidade observou-se que, às vezes, é preciso ultrapassar barreiras

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epistemológicas, deixando a criação e a busca de novas possibilidades para planejar

e experimentar no fazer docente.

Essas vivências de partilhas entrem as diferentes artes tornaram-se muito

significativas, tanto para os bolsistas/oficineiros quanto para os participantes, pois

todos juntos tivemos a oportunidade de entender que é possível trabalhar

interdisciplinarmente, desde que os especialistas partem do princípio que o diálogo é

fundamental. Nesse sentido, Japiassu (1976) auxilia no entendimento de que a

“interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os

especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um mesmo

projeto de pesquisa” (p.74). Ao planejarmos a oficina “A Arte de Ler”, procuramos

unir as propostas de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro baseadas no

posicionamento de Japiassu acerca da interdisciplinaridade.

Oficina “A Arte de Ler: cartografia das palavras”

Oficina é oriunda do projeto de extensão “A Arte de Ler”, aprovado no Edital

Interno de Financiamento de Projetos de Extensão 03/2012/Uergs. Vincula-se,

também, às atividades desenvolvidas junto ao Programa Institucional de Bolsa de

Iniciação à Docência (Pibid/Capes/Uergs).

A oficina tinha como objetivo desenvolver atividades ou uma ação

interdisciplinar em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro relacionadas à leitura,

oportunizando momentos de leitura, a partir das interlocuções entre as subáreas das

artes. Um dos pressupostos teóricos da oficina pode ser traduzido nos dizeres de

Musacchio (2012), ao preconizar que a “interatividade é o instrumento mais

importante utilizado para permitir a interdisciplinaridade” (p.47). Procurou-se, ao

elaborar e realizar a oficina, interagir, permitindo que a interdisciplinaridade se

apresentasse nesse processo.

A interlocução interdisciplinar entre artes e leitura resultou várias práticas

significativas que podem ser exploradas na sala aula. Entre estas práticas

destacamos a Cartografia com palavras. Na definição proposta por Faria (2008)

cartografia:

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é a ciência que trata dos estudos e operações tanto científicas e técnicas, quanto artísticas, relacionadas à elaboração e utilização das cartas (ou mapas) de acordo com determinados sistemas de projeção e uma determinada escala. (FARIA, 2008).

Partindo do conceito de cartografia trabalhamos a elaboração de um mapa

cujos territórios seriam delimitados por trechos de textos de escritores brasileiros,

títulos de livros ou nomes de autores conhecidos pelos participantes. Em seguida,

trabalhamos a possibilidade da sonoridade (volume, intensidade, agudos, graves,

variações) e a movimentação corporal a partir dos picos e elevações resultantes da

escrita. Dando continuidade ao enfoque da palavra como constituinte, propusemo-

nos a pesquisar as possibilidades de cartografia corporal com vistas à criação de

cenas, imagens e expressões corporais, a partir da leitura e seleção de palavras do

poema Não Sei, de Cora Coralina.

Este engajamento de todos os oficineiros partiu de uma atitude, de um

compromisso e cooperação para resultar num trabalho interdisciplinar, baseado nas

possibilidades de integração das áreas, verificandoos respectivospontos de

convergência entre elas. Para tanto, foi imprescindível que juntos tomássemos uma

atitude interdisciplinar. Lück (2010) aponta que:

Emerge, nesse processo, o desenvolvimento de atitude e consciência de que trabalhando dentro de um sistema de interdisciplinaridade o professor produz conhecimento útil, portanto, interligando teoria e prática, estabelecendo relações entre conhecimento de ensino e a realidade social escolar. (LÜCK, 2010, p. 25).

Assim, o fazer interdisciplinar não resulta por acaso, mas da necessidade dos

olhares que do educador em conjunto; ele enxerga de diferentes ângulos que seus

discentes estão inseridos em um contexto frenético e hibrido e sua ciência não dá

mais conta em construir conhecimentos.

Seguindo nessa perspectiva originaram-se questionamentos, como: Quais

são os desafios deste fazer interdisciplinar? Como buscar alternativas para estes

desafios? Baseado nesses aspectos, para além da oficina, o conhecimento se

tornou o instrumento principal, pois todos aprenderam juntos, bolsistas, oficineiros e

participantes.

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Objetivamos a possibilidade de trabalhar interdisciplinarmente. Pensa-se que

para isto, basta que saiamos um pouco de nossos “redutos epistemológicos” e

apresentemo-nos com uma atitude de querer construir novos saberes

compartilhados. De acordo com Musacchio (2012), para que isso seja possível deve-

se entender que “essa atitude compreende de reciprocidade para potencializar as

trocas, o diálogo, atitude de humanidade em reconhecer que seu conhecimento é

limitado e que sua área de saber não responde todas as provocações” (p. 80).

Esta prática foi desafiadora e apontou perspectivas de um trabalho

interdisciplinar no campo da educação e das artes. Para tanto, pareceu-nos

pertinente pensar em perspectivas da interdisciplinaridade na educação, mais

especificamente nas áreas das artes. Nesse sentido, busquemos o entendimento

destes conceitos.

A interdisciplinaridade no campo da educação

No campo da educação compreender que a interdisciplinaridade corresponde

a uma necessidade de superar uma visão fragmentada da produção do

conhecimento. A humanidade por si só não constrói conhecimentos separadamente,

mas sim de diversas maneiras e diferentes pontos de vistas. Dessa forma pensa-se

que na educação existem barreiras epistemológicas entre os especialistas, as quais

podem dificultar uma associação de duas ou mais disciplinas discutindo e

construindo conhecimento em prol de um mesmo objeto. Assim, a

“interdisciplinaridade representa a possibilidade de promover a superação das

dissociações das experiências escolares entre si, também delas com a realidade

social”. (LÜCK, 2010, p.43-44).

Entende-se a relevância de a interdisciplinaridade alicerçar-se em processos

de envolvimento, comprometimento e engajamento dos educadores. Pensamos que

deveria partir de um diálogo, da reciprocidade e do compromisso com as demais

disciplinas, tendo respeito e humildade para escutar, aprender e saber contribuir

com seus saberes. Concordo com Fazenda (2003) que nos ensina que “hoje mais

do que nunca reafirmamos a importância do diálogo, única condição possível de

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eliminação das barreiras entre as disciplinas. Disciplinas dialogam quando as

pessoas se dispõem a isto” (p. 50). Assim, o processo educativo precisa se

fundamentar no diálogo, tanto entre pessoas, quanto entre as disciplinas

possibilitando uma cooperação entre todos porque, entre os interdisciplinares todas

são autores entre docentes e discentes.

Todos aprendem juntos, a interdisciplinaridade quebra com o paradigma da

disputa de saber. Todos engajados em um projeto interdisciplinar ou em uma ação,

todos estão no mesmo nível e um aprende com os outro. “O desenvolvimento básico

da interdisciplinaridade é a comunicação, e a comunicação envolve sobre tudo

participação” (FAZENDA, 2008, p. 94).

Fazenda (2008) explica-nos que:

Além do desenvolvimento de novos saberes, a interdisciplinaridade na educação favorece novas formas de aproximação da realidade da realidade social e novas leituras das dimensões sócio culturais das comunidades humanas. [...] O processo interdisciplinar desempenha papel decisivo para dar corpo ao sonho ao fundar uma obra de educação à luz as sabedoria, da coragem e da humanidade. [...] A lógica que a interdisciplinaridade imprime é a da invenção, da descoberta, da pesquisa, da produção cientifica, porém gestada num ato de vontade, num desejo planejado e construído em liberdade. (FAZENDA, 2008, p.166).

Como aponta Fazenda (2008) além de buscar saberes numa perspectiva

globalizada, o saber interdisciplinar possibilita um especialista aprender com os

outros de maneira integrada, tendo um envolvimento eu e do outro. Saindo da sua

zona de conforto fixa, realizando o desapego e a cooperação. Nesse movimento que

se reforça comprometimento e compromisso com outro especialista em busca de

educação que se espera. “A característica profissional que define o ser como

professor alicerça-se preponderantemente em sua competência,

interdisciplinarmente expressa na forma como exerce a profissão” (FAZENDA, 1998,

p. 14).

Assim a interdisciplinaridade é reconstruir todos os paradigmas existentes. É

procurar diluir as barreiras entre as disciplinas, é uma tentativa de romper com

ensino através da transmissão de conhecimentos. É, em síntese, deixar de lado o

discurso baseado no ensino com vistas aos resultados acadêmicos para assumir o

discurso do ensino para o desenvolvimento humano (ARMSTRONG, 2008). Ou,

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ainda, “promover a interdisciplinaridade é fazer a interdisciplinaridade e não discutir

a interdisciplinaridade”. (MUSACCHIO, 2012, p.43).

Nesse contexto Japiassu (1976) refere-se que:

Em suma o que importa não é mais o saber por saber, nem tampouco o conhecimento por si mesmo, desinteressado, desengajado. O que realmente conta é um saber para fazer. Trata-se de encontrar procedimentos e “receitas” tendo em vista a utilização prática do saber. Este pode, inclusive, tornar-se bastante simplificado. Procura-se, como fim agir num quadro determinado. (JAPIASSU, 1976, p.107).

Conclui-se, portanto, que a utilização da interdisciplinaridade no campo da

educação e também nas artes pode promover um trabalho de integração e

interatividade com as outras ciências, rompendo com perspectivas individualistas no

trabalho pedagógico. Segundo Lück (2010) a interdisciplinaridade no contexto da

educação:

é o processo que envolve a integração e o engajamento de educadores, num trabalho conjunto, de interação das disciplinas do currículo entre si e com a realidade, de modo a superar a fragmentação de ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que possam exercer criticamente a cidadania, mediante uma visão global de mundo, e serem capazes de enfrentar os problemas amplos e globais da realidade. (LÜCK, 2010.p.47).

Considerações finais

Ao apresentar este trabalho, através de um relato de experiência, acadêmicos

e orientadora puderam refletir sobre o trabalho realizado, observando as nuances

que os mesmos apresentaram.

A partir das considerações anteriores, pode-se concluir a grande importância

da realização deste evento do Pibid na Unidade de Montenegro/Uergs e,

principalmente, os resultados positivos auferidos a partir da inserção dos estudantes

bolsistas no mesmo. Houve inúmeros aprendizados. A convivência com as pessoas

fez com que estudantes pudessem conhecer novas propostas, identificar-se com

pessoas que comungam de mesmas concepções, bem como iniciar processos de

análise e construção de novas propostas.

Ao se envolverem em uma proposta interdisciplinar todos se sentiram

desafiados, necessitando deslocar-se de seus eixos disciplinares rumo à

concepções mais abrangentes e significativas de educação.

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Referências ARMSTRONG, Thomas. As melhores escolas: a prática educacional orientada pelo desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2008.

MUSACCHIO, Claudio. Ensaios: interdisciplinaridade e pesquisas científicas em sala de aula. Porto Alegre: Alcance, 2012.

FARIA, Caroline. O que é cartografia? Publicado: 04 fev. 2008. Disponível em:<http://www.infoescola.com/cartografia/o-que-e-cartografia>. Acesso em: 05 maio de 2013.

FAZENDA, Ivani Catarina Antares (ORG). O que é interdisciplinaridade? São Paulo: Cortez, 2008.

FAZENDA, Ivani C. (org). Didática e interdisciplinaridade. 17 ed. São Paulo: Papirus, 1998.

____. Interdisciplinaridade: qual o sentido? São Paulo: Paulus, 2003.

LÜCK, Heloísa. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teóricos metodológicos. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.

JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.