parte 2- desenvolvimento de concreto utilizando agregados ... · o concreto foi calculado para...
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DESENVOLVIMENTO DE CONCRETO UTILIZANDO AGREGADOS ALTERNATIVOS OBTIDOS NA INDÚSTRIA DE CERÂMICA VERMELHA
C. A. MARTINS (1); J. B. BALDO, (1); V. L. SORDI, (1); J. S. da COSTA, (2). (1) UFSCar-DEMa. End: Rod.Washington Luís, km 235
São Carlos –SP CEP – 13565-905. [email protected]
(2) Doutoranda: PPG-CEM-DEMa-UFSCar [email protected]
RESUMO Neste trabalho investigou-se os efeitos nas propriedades mecânicas, avaliadas
por normalização pertinente, decorrentes da substituição tanto do agregado graúdo
(brita) como do agregado miúdo (areia), por agregados de tamanho similar obtidos
da cominuição adequada de rejeitos da indústria de cerâmica vermelha (tijolos e
telhas), na composição de um concreto de cimento portland convencional (150 a 250
kg de cimento por metro cúbico). Foi encontrado que o concreto resultante é
apropriado para confecção de elementos não estruturais (calçadas, guias, postes
domésticos, muros, mourões etc) com as vantagens da não utilização de areia e
brita, e os conseqüentes benefícios ambientais.
Palavras-chave: concreto de cimento portland, agregados alternativos, reciclagem,
cerâmica vermelha
INTRODUÇÃO
A indústria de Cerâmica Vermelha movimenta cerca de 60 milhões de
toneladas de matéria prima por ano[1], o que representa 54 milhões de toneladas
transformadas em produtos (supondo que 10% desse material correspondam a
materiais que são decompostos, como matéria orgânica e carbonatos). A perda
média de 3 a 5% durante o ciclo de produção é aceitável pelas indústrias, podendo
gerar de 1,6 a 2,7 milhões de toneladas de resíduo por ano, constituido de produtos
que foram descartados por conter algum tipo de defeito, como trincas,
empenamento, baixa resistência, deformações, ou qualquer outro que impeça o uso
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dentro dos padrões exigidos pela normalização vigente.
A reciclagem de resíduos industriais na indústria da construção civil é uma
opção viável [2] pois esse segmento consome grandes volumes de matérias primas e
está distribuída em todas as regiões do país. Os benefícios gerais da reciclagem já
foram muito discutidos, como a preservação e o prolongamento da vida útil de
recursos naturais, e a lei 9605 de 12/02/98 referente à ISO 14000[3] contempla esses
aspectos, pois determina que as empresas geradoras de resíduos devem buscar
alternativas de controle da poluição ambiental.
A produção de Cerâmica Vermelha está concentrada em pólos cerâmicos, o
que significa que os resíduos gerados também estarão. Dados sobre os nove pólos
cerâmicos do Estado de São Paulo[4] relatam a produção mensal superior a 125
milhões de peças, o que pode representar cerca de 75 milhões de peças
descartadas por ano (na perda média de 5%). Isso significa que 150 mil toneladas
de resíduo industrial ao ano podem ser gerados só no estado, supondo peso médio
de dois quilos por peça, já que os dados incluem tijolos maciços, elementos
vazados, lajes, revestimentos, pisos e tubos cerâmicos.
2- MATERIAIS E MÉTODOS Nessa primeira etapa do trabalho foi utilizado um lote de elementos de
cerâmica vermelha (tijolos e telhas) proveniente do descarte de indústrias de
Cerâmica Vermelha da cidade de Barra Bonita-SP. Esse lote foi britado em britador
de mandíbulas e triturado em galga, sendo separado em frações granulométricas de
interesse através de peneiramento, denominadas de agregado graúdo (com várias
graduações) e agregado miúdo (granulometria similar à da areia média).
Para a utilização como areia média, foi caracterizado granulometricamente o
material passante na peneira com abertura de malha quadrada nominal de 2,4
milímetros. As análises das distribuições granulométricas foram realizadas utilizando
os métodos e classificação determinados nas normas da ABNT[5].
O concreto foi calculado para utilizar apenas os agregados alternativos e
cimento (CP II-F-32). As frações granulométricas foram calculadas utilizando o
modelo de máximo empacotamento de Andreassen[6].
2.1- Composição estudada A composição estudada, cujas porcentagens foram calculadas utilizando o
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modelo de empacotamento máximo [6] de Andreassem, está descrita na Tabela 1.
Um concreto assim planejado, se produzido com brita normal, de granito ou basalto,
poderia alcançar a resistência mecânica em compressão, aos 28 dias, de
aproximadamente 30 MPa.
Tabela 1 - Composição Estudada
Granulometria do Material Porcentagem em volume -9,5 + 4,8 mm 20 -4,8 + 2,4 mm 14
-2,4 mm (similar à areia média) 45 Cimento CP II-F-32 21
água 30 (sobre o volume total)
2.2- Preparação dos corpos de prova e ensaios mecânicos Os corpos de prova foram preparados utilizando betoneira, com a mesma
seqüência de adição dos materiais utilizada no concreto convencional, ou seja:
primeiramente, adicionamos os agregados graúdos, miúdos e metade da água, e em
seguida, o cimento e a água restante. No caso específico, os agregados tem alguma
porosidade, de maneira que ao adicionar a primeira parte da água, o tempo de
homogenização foi estendido em alguns minutos, para permitir a absorção pelo
agregado. Foram moldados 20 corpos de prova, na dimensão de 20 cm de altura e
10 cm de diâmetro, cujo acabamento das superfícies foi realizada no dia seguinte.
Após o endurecimento do acabamento, os corpos de prova foram imersos em água,
para cura. Os corpos de prova da composição preparada foram submetidos ao
ensaio para verificação da resistência à compressão, após a idades de 7, 14, 28, 63
e 91 dias, conforme a ABNT[7].
2.3- Resultados obtidos O fator água/cimento foi da ordem de 1,2. A densidade à verde, ou densidade
de massa, calculada para os corpos de prova logo após a moldagem, foi da ordem
de 2 g/cm3. A resistência mecânica foi avaliada através da determinação da
resistência à compressão, em várias idades. A Figura 1 mostra a variação dos
valores obtida.
Na Figura 2, observamos o modo de fratura característico dos corpos de
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prova, indicando o procedimento adequado no ensaio para determinação da
resistência à compressão (fratura do corpo de prova em 45 graus).
RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO X IDADE
10,513,3
19,517,1
25,6
0
5
10
15
20
25
30
7 14 28 63 91
IDADE (DIAS)
R.C.
(MPa
)
Figura 1- Resistência à compressão com a idade dos corpos de prova, cura por
imersão.
Figura 2- Esquerda: modo de ruptura do corpo de prova (45 graus); direita: visão da distribuição dos agregados no concreto, notando-se os pontos mais escuros, o agregado graúdo. Idade de ruptura 7 dias, cura por imersão.
3- DISCUSSÃO Quanto à preparação do concreto, não ocorreu dificuldade alguma. Apenas,
na seqüência de adição dos materiais, tomamos o cuidado para que a água fosse
inicialmente absorvida pelo agregado, pois este apresenta alguma porosidade,
quando na mistura em betoneira. Depois disso é que adicionamos o cimento e a
água restante. Convém notar também que, provavelmente devido a esta absorção, o
fator água cimento para esse concreto foi um pouco maior que o encontrado nos
concretos convencionais, cujos agregados não absorvem alguma água.
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Os resultados obtidos na determinação da resistência à compressão são
animadores. O valor encontrado aos 28 dias, de 17 MPa, sugere que um concreto
assim preparado pode ser utilizado para fins não estruturais, como por exemplo, na
edificação de muros simples, guias de calçadas, calçamentos simples e em outros
locais onde o esforço não seja estrutural. Aos 91 dias, o valor da resistência
mecânica em compressão, cerca de 25 MPa, sugere que o mesmo concreto pode
ser usado já com mais tranqüilidade para as aplicações mencionadas, se nos
basearmos apenas no quesito resistência mecânica. Seria fundamental expandirmos
o estudo para a verificação da durabilidade de concretos assim obtidos.
Nas fotos da Figura 2, notamos que ocorreu ruptura nos grãos do agregado
graúdo, representado pelas áreas mais escuras. Isso ocorre porque esse agregado
é de menor resistência mecânica que as britas usuais, granito e basalto. De certa
forma, é um fator negativo, pois não estamos aproveitando totalmente a resistência
mecânica que o cimento desenvolve no concreto, mas isso é um fator que pode ser
corrigido no futuro, se dosarmos adequadamente o cimento, e planejarmos
concretos com menores resistências que as obtidas nesse primeiro estudo.
O mecanismo de aumento da resistência mecânica com a idade está
associado ao desenvolvimento das fases na hidratação do cimento. Nesse caso
específico, como temos a possibilidade de ocorrência também de reação pozolânica
entre a cal liberada pelo cimento e os finos presentes no agregado obtido através da
cominuição de elementos de Cerâmica Vermelha, pode ser que esse mecanismo
tenha auxiliado na elevação do valor referido. Seria necessário estudos da
microestrutura do concreto com o tempo, entre outros, para verificarmos se esse
mecanismo está ocorrendo.
4- CONCLUSÕES Foi possível preparar agregados graúdos para serem utilizados na confecção
de concretos sem fins estruturais, a partir de elementos descartados da indústria de
Cerâmica Vermelha.
Foi possível confeccionar um concreto utilizando os agregados graúdos,
agregados miúdos, cimento e água, onde os agregados foram obtidos através da
cominuição adequada de elementos descartados da indústria de Cerâmica
Vermelha, e que atingiu resistência mecânica adequada para fins não estruturais, no
uso em construção civil, se considerarmos apenas o quesito resistência mecânica
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em compressão.
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] BUSTAMANTE, G. M. e BRESSIANI, J. C. A Indústria Cerâmica Brasileira, Ceramic News, v. 7, n. 1, p. 55-59, 2000. [2] JOHN, V. M. Pesquisa e desenvolvimento de mercado para resíduos. In: Reciclagem e Reutilização de resíduos como materiais de construção. São Paulo, 1996. São Paulo, ANTAC, PCC-USP, p. 21-30. [3] BRESSIANI, J. C. et al. Aproveitamento de resíduo do processo de fabricação de papel em massas de revestimento tipo semi grés. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CERÂMICA, 43., 1999, Florianópolis. Anais...Florianópolis: ABC, 1999. trab. 0201. [4] TANNO, L. C.; MOTTA, J. F. M. e CABRAL Jr., M. Pólos de Cerâmica Vermelha no Estado de São Paulo: Aspectos Geológicos e Econômicos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CERÂMICA, 38., 1994, Blumenau. Anais...Curitiba: ABC, 1994. p.378-383. [5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1987). NBR.7217 Agregados- Determinação da composição granulométrica - Rio de Janeiro- ABNT. [6] MYHRE, B. e HUNDERE, A. M. The use of particle size distribution in development of refractory castables. In Congresso da ALAFAR, XXV, 1996, San Carlos de Bariloche, Argentina. Elkem Refractories, 1996. [7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1980). NBR.5733 Ensaio de Compressão de Corpos de prova cilíndricos de concreto- Rio de Janeiro- ABNT
PORTLAND CEMENT CONCRETE CONTAINING AGGREFATES MADE FROM GLAZED SCRAP FROM RED BRICK AND CERAMIC ROOF TILE INDUSTRY
ABSTRACT
In this work it was investigated the use scrap from of red brick and ceramic roof tile industry, properly grinded, as alternative aggregates in substitution of sand and limestone in portland cement concrete typical compositions. The concrete compositions using the alternative aggregates used from 150 to 250 kg/m3 of cement. The results indicate that the concrete containing the recycled aggregates displayed comparable levels of strength indicating a great feasibility of such a substitution with undeniable environmental and mineral resources preservation benefits. Key words : Concrete, Brick and tile, Aggregates
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