parque estadual da pedra branca (rj):...

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PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA (RJ): CARACTERIZAÇÃO, GESTÃO E CONFLITOS TERRITORIAIS Introdução Criado através da Lei Estadual nº 2.377 de 28/06/1974, o Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB) é um dos mais antigos do atual território fluminense. Em 1963, por meio do Decreto nº 1.634, suas terras já tinham sido declaradas como de utilidade pública para fins de desapropriação, cujos limites englobam as diversas Florestas Protetoras da União ali existentes. O parque está localizado no centro geográfico do município do Rio de Janeiro, compreendendo todas as encostas do Maciço da Pedra Branca localizadas acima da cota de 100 m. Estende-se por 12.500 ha (125 km²) fazendo limite com vários bairros da Baixada de Jacarepaguá (Vargem Grande, Vargem Pequena, Camorim e Taquara) e da Zona Oeste (Jardim Sulacap, Realengo, Bangu, Senador Câmara, Senador Vasconcelos, Campo Grande, Guaratiba, e Barra de Guaratiba). No Parque, está situado o ponto culminante do município do Rio de Janeiro, ou seja, o Pico da Pedra Branca, com 1.024 m (Figura 1). Em 2003, o governo estadual deu início ao projeto de revitalização do parque com investimentos oriundos de medidas compensatórias previstas pela Lei 9.985/2000 (SNUC). Os recursos financeiros vieram da Eletrobolt - Sociedade Fluminense de Energia, que colocou em funcionamento a primeira termelétrica focada no mercado atacadista de energia (Seropédica – RJ). Orçado em R$ 4 milhões, o projeto foi empreendido através do extinto Instituto Estadual de Florestas (IEF/RJ) 1 , com a contratação da WWF-Brasil e Fundação Roberto Marinho. A revitalização possibilitou a construção da sede administrativa, do centro de visitantes, dos núcleos de prevenção de incêndios florestais e de educação ambiental e de pesquisa, de um anfiteatro ao ar livre, áreas de lazer, sinalização direcional e uma trilha interpretada. Além do diversificado patrimônio natural, o parque dispõe, em seu entorno, de construções de valor cultural (antigo aqueduto, represas e ruínas de sedes de antigas fazendas). Próximo ao parque, encontra-se ainda o Museu Nise da Silveira, na Colônia Juliano Moreira, com obras do artista Artur do Bispo do Rosário, reconhecido nacional e internacionalmente 2 . O parque conta com 3 núcleos e 2 postos administrativos: Núcleo Pau-da-Fome (sede principal) - Estrada do Pau-da-Fome, nº 4003, Jacarepaguá Núcleo Camorim (sub-sede) - Estrada do Camorim nº 2118, Camorim Núcleo Piraquara (sub-sede) – Realengo Posto Rio da Prata – Campo Grande (ativo) Posto Vargem Grande – Vargem Grande (desativado) A área do parque é repleta de atrativos paisagísticos que contribuem para o desenvolvimento de atividades turísticas e educativas. Além disso, a rede hidrográfica existente é responsável pelo abastecimento de água das áreas circunvizinhas, destacando-se a presença das represas do Pau da Fome e do Camorim (século XIX), das Taxas e do Engenho Novo (fotos 1 e 2). Como se trata de um parque encravado na 1 Em janeiro de 2009, o IEF passou a integrar a estrutura do Instituto Estadual do Ambiente (INEA-RJ) 2 Fonte - http://www.parquepedrabranca.com/menu/02/01.htm

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PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA (RJ): CARACTERIZAÇÃO, GESTÃO E CONFLITOS TERRITORIAIS

Introdução

Criado através da Lei Estadual nº 2.377 de 28/06/1974, o Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB) é um dos mais antigos do atual território fluminense. Em 1963, por meio do Decreto nº 1.634, suas terras já tinham sido declaradas como de utilidade pública para fins de desapropriação, cujos limites englobam as diversas Florestas Protetoras da União ali existentes. O parque está localizado no centro geográfico do município do Rio de Janeiro, compreendendo todas as encostas do Maciço da Pedra Branca localizadas acima da cota de 100 m. Estende-se por 12.500 ha (125 km²) fazendo limite com vários bairros da Baixada de Jacarepaguá (Vargem Grande, Vargem Pequena, Camorim e Taquara) e da Zona Oeste (Jardim Sulacap, Realengo, Bangu, Senador Câmara, Senador Vasconcelos, Campo Grande, Guaratiba, e Barra de Guaratiba). No Parque, está situado o ponto culminante do município do Rio de Janeiro, ou seja, o Pico da Pedra Branca, com 1.024 m (Figura 1).

Em 2003, o governo estadual deu início ao projeto de revitalização do parque com investimentos oriundos de medidas compensatórias previstas pela Lei 9.985/2000 (SNUC). Os recursos financeiros vieram da Eletrobolt - Sociedade Fluminense de Energia, que colocou em funcionamento a primeira termelétrica focada no mercado atacadista de energia (Seropédica – RJ). Orçado em R$ 4 milhões, o projeto foi empreendido através do extinto Instituto Estadual de Florestas (IEF/RJ)1, com a contratação da WWF-Brasil e Fundação Roberto Marinho. A revitalização possibilitou a construção da sede administrativa, do centro de visitantes, dos núcleos de prevenção de incêndios florestais e de educação ambiental e de pesquisa, de um anfiteatro ao ar livre, áreas de lazer, sinalização direcional e uma trilha interpretada.

Além do diversificado patrimônio natural, o parque dispõe, em seu entorno, de construções de valor cultural (antigo aqueduto, represas e ruínas de sedes de antigas fazendas). Próximo ao parque, encontra-se ainda o Museu Nise da Silveira, na Colônia Juliano Moreira, com obras do artista Artur do Bispo do Rosário, reconhecido nacional e internacionalmente2.

O parque conta com 3 núcleos e 2 postos administrativos: Núcleo Pau-da-Fome (sede principal) - Estrada do Pau-da-Fome, nº 4003, Jacarepaguá Núcleo Camorim (sub-sede) - Estrada do Camorim nº 2118, Camorim Núcleo Piraquara (sub-sede) – Realengo Posto Rio da Prata – Campo Grande (ativo) Posto Vargem Grande – Vargem Grande (desativado)

A área do parque é repleta de atrativos paisagísticos que contribuem para o desenvolvimento de atividades turísticas e educativas. Além disso, a rede hidrográfica existente é responsável pelo abastecimento de água das áreas circunvizinhas, destacando-se a presença das represas do Pau da Fome e do Camorim (século XIX), das Taxas e do Engenho Novo (fotos 1 e 2). Como se trata de um parque encravado na 1 Em janeiro de 2009, o IEF passou a integrar a estrutura do Instituto Estadual do Ambiente (INEA-RJ) 2 Fonte - http://www.parquepedrabranca.com/menu/02/01.htm

malha urbana e numa das áreas de maior taxa de crescimento populacional do estado do Rio de Janeiro, existem inúmeros acessos por meio de estradas, ruas e trilhas, nem sempre monitorados por controle administrativo.

N

Figura 1 – Localização do PE da Pedra Branca (RJ).

Fotos 1 e 2 - Represas do Camorim e do Pau da Fome no PE da Pedra Branca Fonte - http://www.parquepedrabranca.com/menu/02/01.htm

Para o desenvolvimento do presente trabalho, foram definidos os seguintes objetivos: a) apresentar uma síntese das características ambientais do parque; b) descrever as condições e problemas de administração vividos pela atual diretoria do parque e c) apresentar os principais conflitos territoriais legais.

Os estudos ocorreram através de pesquisas bibliográficas, trabalhos de campo, análise de imagens de satélite (Ikonos), entrevistas com os técnicos envolvidos diretamente na direção do parque. Aspectos ambientais

No Maciço da Pedra Branca prevalecem os terrenos de origem pré-cambriana representados pelo complexo granítico-migmático e corpos graníticos subordinados. Existem alguns corpos de plutonitos alcalinos de idade Mesozóica e recobrimentos sedimentares, notadamente holocênicos. O Parque possui, em suas vertentes, inúmeras furnas e grotas de blocos graníticos, formando cachoeiras e paisagens emolduradas pela Mata Atlântica. O Maciço da Pedra Branca compreende o conjunto das seguintes serras: Valqueire, Viegas, Bangu, Barata, Lameirão, Engenho Velho, Rio Pequeno, Taquara, Pedra Branca, Quilombo, Santa Bárbara, Rio da Prata, Nogueira, Alto do Peri, Sacarrão, Geral de Guaratiba, Carapiá, Cabuçu e Grumari. Separa-se do Maciço de Gericinó pela Baixada Bangu - Realengo e do Maciço da Tijuca pela baixada de Jacarepaguá (Foto 3).

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Foto 3 – Visão geral do Maciço da Pedra Branca Fonte: http://www.parquepedrabranca.com/menu/03/01.htm

O maciço e a cobertura vegetal da Pedra Branca têm um importante papel na finição da rede hidrográfica. Na área situam-se os principais divisores das grandes cias do município do Rio de Janeiro, sendo 08 bacias principais e 53 microbacias. sta forma, são identificadas três grandes bacias que dividem o maciço em suas rtentes norte (Baía de Guanabara), leste (Lagoas Costeiras) e oeste (Baía de Sepetiba). divisões da rede hidrográfica estão associadas às diferentes serras que constituem o ciço. A Serra do Quilombo, por exemplo, separa a bacia do rio Camorim

(contribuinte da Lagoa de Jacarepaguá); dos rios Grande e Engenho Novo (bacias da baixada de Jacarepaguá); dos rios Paineiras, Morto e Taxas (bacias da baixada de Guaratiba). A Serra do Barata serve como divisor das bacias dos rios Piraquara e Pequeno. As vertentes meridionais ao longo do maciço apresentam solos do tipo latossolo. Nos níveis mais elevados e nas encostas dos vales estão os solos podzólicos vermelho. Os litossolos aparecem nas encostas mais íngremes das vertentes montanhosas. Existem também muitas extensões de paredões rochosos graníticos.

Os índices pluviométricos variam de 1500 a 2500 mm, com verões chuvosos e invernos mais secos. A variação microclimática é resultante da proximidade do mar, além da influência dos núcleos urbanos, que se estendem na direção das encostas, e do processo de desmatamento. As temperaturas médias anuais são altas, acima de 22º C. No verão varia de 30º C a 32º C, atingindo valores absolutos próximos dos 40º C. Em locais de mata fechada, a temperatura permanece na faixa de 25º C em dias quentes. O inverno é mais ameno com médias acima de 18º C, mas, nos pontos mais altos, a temperatura pode beirar os 10º C. A influência do relevo e da vegetação é decisiva nas variações microclimáticas.

Da área total de 12.500 ha, estima-se que 6.920 ha (55%) estão cobertos por florestas preservadas, ou seja, é a maior mancha remanescente de Mata Atlântica contínua situada no Município do Rio de Janeiro. Aproximadamente 2.156 ha (17 %) estão ocupados por florestas alteradas, incluindo a presença de antigos bananais e 3.216 ha (26 %) por vegetação sob forte influência antrópica (culturas, pastagens e capim colonião).

Apesar das fortes pressões decorrentes do processo de crescimento urbano no seu entorno, a flora do Maciço da Pedra Branca apresenta espécies raras e endêmicas, mas muitas estão ameaçadas de extinção. Levantamentos florísticos preliminares registraram 218 espécies vegetais na área do maciço. São encontradas muitas espécies introduzidas pelo homem, testemunhando o passado de ocupação e exploração da região, como os cafeeiros, jabuticabeiras, jaqueiras e mangueiras. Entre as espécies raras encontramos os jequitibás (Cariniana legalis e C. estrellensis), o tapinhoã, a noz-moscada-silvestre (Cryptocarya jacare-paguensis) – encontrada somente no Município do Rio de Janeiro, o vinhático, entre outras. Existem também diversas espécies de figueira (Ficus enormis, Ficus insipida, Ficus organensis e Ficus gomelleira), palmiteiro (Euterpe edulis), pau d’alho e anda-açu, localizadas nas proximidades da represa do Camorim, na Reserva do Pau da Fome e na localidade de Monte Alegre.

O parque abriga grande variedade de espécies de animais que encontram habitat propício ao seu desenvolvimento e reprodução na densa Floresta Atlântica. Um inventário da fauna indicou que existem pelo menos 220 espécies de aves, 38 de répteis, 12 de anfíbios e 79 de mamíferos, além de espécies de peixes e invertebrados 3. Abaixo temos uma breve listagem destas espécies. Mamíferos - macaco-prego, porco do mato (Tayassu tajacu), preguiça (Bradypus variegatus), furão, ouriço-cacheiro, cachorro do mato, mão-pelada, tamanduá de colete (Tamandua tetradactyla), paca, cutia, gato do mato e muitas espécies de morcegos (Artibeus spp., Desmodus sp. e Myotis sp).

3 http://www.inea.rj.gov.br/

Avifauna – já foram identificadas mais de 180 espécies, entre elas: tucano-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus), araçaris, gavião-pomba, gavião-pega-macaco, a jacupemba (Penelope superciliares) e o papagainho (Touit malanonota). Répteis - representados especialmente pelas serpentes, como a cobra-de-vidro (Ophiodes striatus), a jararaca (Bothrops jararaca), a cobra-verde e a jibóia (Boa constrictor); os lagartos teiú e verde. Invertebrados aquáticos - o pitu e o caranguejo de rio. Insetos – destacam-se as borboletas azuis, os serra-paus e as baratas-da-mata. O parque e sua infraestrutura administrativa

Desde a sua criação, em 1974, o parque não teve sua situação fundiária regularizada, sendo comuns os conflitos decorrentes dos múltiplos usos. Um Plano Diretor e de Manejo foi elaborado recentemente, porém não foi aprovado por questões de ordem técnica. O Conselho Consultivo está estruturado, sendo composto por 5 representantes das instituições de governo e de 17 organizações não governamentais.

Em 2001, foi assinado convênio entre o governo estadual e a Sociedade Fluminense de Energia (Eletrobolt) para o projeto de consolidação do parque, com recursos de medidas compensatórias da ordem de R$ 4,1 milhões. Estes recursos foram destinados às obras de revitalização, recuperação e conservação de áreas degradadas. Dos recursos repassados para a WWF-Brasil e a Fundação Roberto Marinho, apenas uma parte foi usada nas obras de implantação de infraestrutura administrativa. Na época, foram construídos o centro de visitantes, sede e sub-sedes administrativas, bromeliário, minhocário, entre outras melhorias (Fotos 4, 5 e 6).

Fotos 4, 5 e 6 – Centro de visitantes, sede admini Núcleo Pau da Fome (Fotos L.R. Vallejo

Entretanto, a administração convive com a esca

recursos para manutenção. Em meados de 2008, trabaladministrador, 1 engenheiro agrônomo, 2 biólogos, 1

strativa e bromeliário do , em 06/06/08)

ssez de pessoal, de veículos e de havam apenas 13 funcionários (1 secretário administrativo, 1 chefe

de patrulha, 4 guardas e 3 bombeiros). Somente 2 veículos estavam em operação, sendo uma Fiat UNO e uma pick up 4 x 4. Um quadriciclo adquirido com recursos da Eletrobold encontrava-se inoperante. Não existem recursos orçamentários específicos para atender as demandas do parque, situação comum a todos os parques estaduais no Rio de Janeiro. Eventualmente, ocorrem repasses oriundos de compensações ambientais e outras fontes, mas, a descontinuidade no processo só tem favorecido o sucateamento da infraestrutura implantada anteriormente. Isso está evidente na situação da sub-sede Piraquara (Realengo), abandonada e parcialmente destruída como mostram as Fotos 7 e 8.

O

pirdecaf

4

Fotos 7 e 8 - Situação de abandono da su

(Fotos: L.R.Vallej

s conflitos territoriais

A posição geográfica do parque, vizinrocesso de crescimento, tem nas pressõmportantes que conflitam com os propósegistradas inúmeras ocorrências no entornecorrentes do crescimento urbano em suas vxistência de conflitos antigos decorrentonflitantes com os objetivos de consedministrador do PEPB, Sr. Marcelo Soaresundiária e os problemas resultantes da ocupa

Em 40% das ocupações, tem-se propantigos, incluindo seus herdeiros e que est

Existem posseiros (cerca de 30%), que em busca de atividades econômicas antes

Os arrendatários (cerca de 20%) utmoradias em posses, ainda com algum tiarrendamento.

http://www.parquepedrabranca.com/menu/03/07.htm

b-sede do Núcleo Piraquara do PEPB

o, em 16/08/08)

ho de extensas áreas urbanas em acelerado es imobiliárias um dos aspectos mais

itos de preservação ambiental. Já foram o e interior do parque, além dos riscos izinhanças. Além disso, deve-se assinalar a es ocupações legais, invasões e usos rvação ambiental. Em 2002, o então , apresentou um resumo sobre a questão ção humana4:

rietários de terras e/ou lotes rurais mais ão lá há mais de 2 ou 3 gerações.

fixaram moradias de uso residencial-rural, de 1974.

ilizam propriedades e/ou estabeleceram po de atividade econômica em sistema de

Os invasores (cerca de 10%) estão distribuídos nas encostas e vieram depois da criação do Parque (1974) ocupando residências muito simples, mas também há casos de casas com alto padrão construtivo.

Os veranistas (segunda residência) vêm ocupando, cada vez mais, as regiões valorizadas do ponto de vista urbano.

Com o processo de valorização de terras em parte da baixada de Jacarepaguá, houve indução ao crescimento do mercado imobiliário nas encostas do maciço da Pedra Branca.

O processo de ocupação das encostas e áreas protegidas do maciço da Pedra Branca foi mais intenso na zona oeste do que nas demais localidades.

A concentração de moradias e o despejo de esgotos, a degradação do solo por culturas e a redução da cobertura vegetal ciliar ao longo das bacias hidrográficas no maciço da Pedra Branca, vem causando a contaminação das represas que abastecem diversos bairros do entorno.

Em muitos casos, os moradores têm o hábito de caçar animais silvestres, o extrativismo de produtos e subprodutos florestais. Em locais como o Pau da Fome, o Sacarrão, o Camorim e o Rio da Prata, já houve a constatação de um número significativo de animais silvestres sob a guarda doméstica.

As ocupações induzem o hábito familiar de manter animais domésticos e/ou de estimação, aumentando o risco de zoonoses associadas à criação de cachorros, suínos, patos, galinhas, cavalos, burros etc. Pesquisas realizadas com a avifauna silvestre da Pedra Branca apontaram o aparecimento de parasitas como carrapatos oriundos cavalos e gado, em quase todo o Maciço.

As ocupações, em geral, propiciam maior risco de queimadas decorrentes de práticas de renovação de pastagens, expansão de culturas, despejo de lixo urbano, práticas religiosas, entre outras.

O turismo desordenado é outro fator de preocupação em função dos impactos associados à falta de orientação e de conscientização do turista ao freqüentar uma área protegida.

Com o objetivo de quantificar as ocorrências registradas pelas administrações do

parque, foram consultadas 485 notificações realizadas entre 1993 e julho de 20085. Não foram consideradas aquelas emitidas com a finalidade de prevenir possíveis impactos à área de preservação, ou seja, com fins educativos.

O gráfico da figura 2, mostra a distribuição percentual das ocorrências segundo a sua natureza. Os dados indicam que, quantitativamente, o fogo (30%) e as construções irregulares (30%) sobressaíram em relação aos demais itens. Problemas associados ao despejo de esgotos e lixo domésticos (16%) e o corte de vegetação (9%), se destacam em segundo e terceiro lugares. A mineração e atividades correlatas (7%) também tiveram um papel de destaque. Entretanto, deve-se considerar que estas informações não nos permitem dimensionar a magnitude geográfica do problema. Por exemplo, a agricultura e pecuária aparecem com apenas 2% das notificações, mas podem estar associadas a grandes extensões do território do parque. Existem poucas notificações

5 Este material foi disponibilizado pelo ex-administrador do PEPB, Sr. Carlos Pontes, em 2008

relativas às torres de energia dentro do parque (outras) e, mesmo em pequeno número, representam um grande impacto territorial para a conservação florestal. A despeito do fato, confirma-se que os problemas notificados estão intimamente associados ao crescimento urbano e pressões imobiliárias do entorno.

A

do entorepreseninelegib

F

Agricultura e criações

2%

Esgotos e lixo16%

Cativeiro de animais silvestres

1%

Mineração, cortes, aterros,

represamentos7%

Outras 5% Corte da

vegetação9%

Construções irregulares

30%

Fogo30%

Figura 2 – Natureza e porcentagem das ocorrências no PEPB (1993-2008)

figura 3 mostra como as ocorrências se distribuíram nos bairros e sub-bairros rno do PEPB. Estes dados referem-se ao conjunto de 437 notificações, o que ta 90,1% do total disponibilizado para a pesquisa. A diferença é explicada pela ilidade e/ou impossibilidade de identificação da localidade.

Taquara54%

Curicica3%

Camorim6%

Vargem Pequena4%

Vargem Grande14%

Outros2%

Guaratiba1%

Realengo1%

Rio da Prata 10%

Senador Camará1%

Campo Grande3%

Jardim Sulacap1%

igura 3 – Distribuição das ocorrências por localidade do entorno do PEPB (1993-2008)

Conforme a figura 3, a grande maioria das notificações (54%) aconteceu na Taquara, seguido por Vargem Grande (14%), Rio da Prata (10%), Camorim (6%), Vargem Pequena (4%), Curicica (3%) e Campo Grande (3%). A maioria das notificações realizadas na Taquara se deu em função de problemas com construções irregulares dentro dos limites do parque, despejo de esgotos sem tratamento, uso do fogo, além de outros aspectos. A proximidade da sede do PEPB, também ajuda a explicar o grande número de notificações nesta localidade, já que a fiscalização tende a ser mais intensa nas imediações dos núcleos administrativos. A escassez de pessoal e de viaturas contribui para dificultar a verificação de ocorrências em localidades mais distantes da sede e sub-sedes do parque. As análises das imagens de satélite e os trabalhos de campo confirmaram que o crescimento urbano periférico representa o maior risco potencial para preservação dos atributos naturais do parque, destacando-se: agricultura, a pecuária, a favelização, a mineração, as torres de alta tensão, os condomínios de luxo, entre outros aspectos. Fo

tos 9 e 10 – Imagens Google Earth (2008) de setores d(foto 9); condomónios de luxo em Camorim (Foto

Fotos 11 e 12 – Linhas de transmissão e favelização nL.R.Vallejo em 1

o parque. Mineração e favelização em Realengo 10). As linhas em verde delimitam o PEPB

o interior do PEPB, bairro de Realengo (Fotos 6/08/08)

Conclusões A existência do PE da Pedra Branca, considerando sua posição geográfica e características ambientais, é uma situação estratégica para a conservação ambiental do Estado do Rio de Janeiro. Entretanto, assim como nos demais parques estaduais fluminenses, e também nos nacionais, os problemas administrativos se repetem. Os problemas observados resultam de um histórico de políticas públicas que nunca se preocuparam, efetivamente, em consolidar os territórios dos parques através de ações administrativas e operacionais no campo da regularização fundiária, fiscalização e ações educativas, entre outras. Mesmo com os investimentos de medidas compensatórias recentes, que no caso do PEPB deram visibilidade política às ações do governo anterior (2003–2007), não está sendo possível manter as condições mínimas necessárias de territorialidade desta unidade de conservação na atual conjuntura. Os escassos recursos orçamentários, o sucateamento material e a escassez de pessoal são os maiores responsáveis pelas grandes dificuldades de gestão territorial. Em 2008, o PEPB contava com apenas 13 funcionários em atividade para 125 km², ou seja, 1 funcionário para cada 9,6 km². As áreas do entorno do PEPB são as que mais crescem no município do RJ. Além dos problemas decorrentes das ocupações indevidas, antigas e atuais, as administrações têm convivido com os conflitos associados com o tráfico de drogas e ações de grupos de milicianos. De todos os parques pesquisados até a presente data, podemos considerar que o PEPB é que concentra os maiores e mais numerosos conflitos territoriais, requerendo ações emergenciais e de médio e longo prazo para sua adequada gestão e consolidação, enquanto unidade de conservação da natureza. Bibliografia consultada

Brasil (2002) - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 e Decreto 4.340 de 22 de agosto de 2002. Ministério do Meio Ambiente, 2ª ed. (aumentada). Brasília.

Brito, M. C. W. (2000) – Unidades de Conservação: intenções e resultados. São Paulo: Annablume: FAPESP, 229 p.

Fundação SOS Mata Atlântica (2001) - Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica: período 1995-2000. Relatório parcial Estado do Rio de Janeiro. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica/Instituto Nacional de pesquisas Espaciais.

Primo, P. B. S. & Pellens, R. (2000) -Situação Atual das Unidades de Conservação do Estado do Rio de Janeiro. In: Anais do II Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Campo Grande: Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, 2,:p. 628-637.

SEMADS (2001) - Atlas das Unidades de Conservação da Natureza do Estado do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro. Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Rio de Janeiro. São Paulo, Metalivros. 48 p.

Vallejo, L. R. (2005) - Políticas públicas e conservação ambiental: territorialidades em conflito nos parques estaduais da Ilha Grande, da Serra da Tiririca e do Desengano (RJ) – Niterói. 288 p. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal Fluminense.