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Cuiabá, fevereiro de 2003 PARQUE CRISTALINO ALTA FLORESTA, AMAZÔNIA MATOGROSSENSE. HISTÓRICO, SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS

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Cuiabá, fevereiro de 2003

PARQUE CRISTALINO

ALTA FLORESTA, AMAZÔNIA MATOGROSSENSE.

HISTÓRICO, SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS

Cuiabá-MT – (65) 627-1128 ; Alta Floresta-MT – (66) 521-8555 mailto:[email protected] – http://www.icv.org.br/ 2

Sumário executivo

O Parque Cristalino, criado em 2000 e ampliado em 2001, com extensão total de 185 mil hectares no extremo norte do Estado de Mato Grosso, é uma unidade de conservação de grande importância no cenário amazônico e nacional.

Localizado numa área de “extrema importância para a conservação da biodiversidade”1, representa o portão de entrada de um “corredor de conservação” que totaliza mais de 10 milhões de hectares, e possui uma biodiversidade

excepcional – tendo por exemplo mais de 500 espécies de aves catalogadas – reconhecida e admirada por cientistas e turistas brasileiros e estrangeiros. Além disso, constitui a pedra angular do PROECOTUR2 em Mato Grosso, atualmente a maior alternativa de desenvolvimento sustentável na região.

Apesar dessa relevância, o Parque está sofrendo de invasões, retiradas ilegais de madeira, desmatamentos e queimadas em grande escala. Somente em 2002, 3.050 hectares (correspondentes a 1,6% da área total do Parque) foram desmatados, em 3 derrubadas distintas, sendo que a maior corresponde a 2.400 hectares – totalizando hoje 18.900 hectares (10,2%) a área antropizada dentro da unidade. No entorno imediato, foram implementados em 2002 pelo Governo do Estado novos assentamentos da reforma agrária, que tem provocado um acelerado processo de degradação ambiental.

O Estado de Mato Grosso, que criou o Parque no bojo de compromissos com o PROECOTUR e PRODEAGRO, teoricamente responsável por sua conservação, em 2002 incentivou o saque dos recursos naturais tentando repetidamente reduzir a área do Parque (em até 46%) e distribuir extensas áreas de terra pública a grandes latifúndios, através de processos flagrantemente ilegais. A Assembléia Legislativa em sua grande maioria representa os interesses dos “proprietários” da região interessados em invadir a área do parque e da Gleba Divisa; no final do ano passado aprovou uma lei a “toque de caixa”, que devido à mobilização da sociedade não foi sancionada pelo então governador.

A sociedade civil reagiu, tanto a comunidade local – organizando um abaixo-assinado, entre outras ações –, quanto diversas ONG’s brasileiras e estrangeiras, especialmente através da “Campanha S.O.S. Parque Cristalino”; essas ações tiveram um peso significativo na manutenção dos limites do Parque.

Diante dessa situação, a Justiça Federal interveio no final de 2002 e determinou o seqüestro da área chamada Gleba Divisa, onde o Parque está inserido, indicando o Incra como fiel

1 Projeto Biodiversidade Amazônia – Seminário de Macapá/99 2 Projeto de desenvolvimento do ecoturismo na Amazônia Legal – MMA

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depositário da área e o Ibama como órgão responsável pela proteção e implementação da unidade de conservação.

Mas as ameaças ao Parque continuam muito concretas no local, com indícios de que estão ocorrendo ou irão ocorrer muito brevemente novos desmatamentos. Nesse contexto, algumas medidas têm de ser tomadas com urgência: • uma clara manifestação da presença do IBAMA (de Brasília) no local, através de uma reunião

de esclarecimento junto à comunidade e/ou de intervenções diretas de fiscalização; • a implantação de um sistema de monitoramento e vigilância envolvendo, além do órgão

fiscalizador e ONG’s, a participação efetiva da comunidade local; • a federalização do Parque, amplamente justificada pela sua relevância, e como única medida

podendo assegurar a sua integridade no longo prazo.

Também é de fundamental importância continuar a desenvolver ações no entorno do Parque, especialmente: • a continuidade do Programa de Educação Ambiental, como forma de conscientizar a

população do entorno a respeito da importância do Parque, reduzir a pressão antrópica, e com a perspectiva de poder se tornar uma referência em situações semelhantes;

• a elaboração e implantação de um Plano de Sustentabilidade para os assentamentos, visando identificar e impulsionar alternativas econômicas sustentáveis.

Além disso, entendemos que é necessário adotar uma estratégia de mais longo prazo, não somente para o Parque, mas para a região como um todo, contemplando:

• a consolidação do corredor de conservação da biodiversidade, incluindo o seu reconhecimento oficial, a implantação de um sistema de monitoramento e base de dados ambientais, a criação de novas unidades de conservação (Parque das Nascentes e do Juruena) e o fortalecimento e/ou ampliação das unidades existentes (Cristalino, Igarapés do Juruena) – de forma que esse corredor possa se constituir numa “barreira” ao avanço do desmatamento indiscriminado na região;

• o apoio e incentivo a alternativas econômicas sustentáveis (prioritariamente: ecoturismo, manejo florestal, produtos florestais não-madeireiros e sistemas agro-florestais, assim como as práticas de “pastagem ecológica”), especialmente através de projetos-piloto, propondo-se para tanto a criação do Centro de Desenvolvimento Sustentável em Alta Floresta.

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1. Marcos ”legais”, da criação do Parque à intervenção da Justiça Federal

Entre a criação do Parque pelo Estado de Mato Grosso e o recente seqüestro da área por decisão da Justiça Federal, sucederam-se diversos fatos cuja compreensão é fundamental para direcionar as ações relativas a essa Unidade de Conservação e à região.

Criação do Parque

A área do Parque Cristalino foi primeiramente declarada “de utilidade pública para fins de estudos, visando a implantação de Unidades de Conservação” em setembro/19983. O Parque foi efetivamente criado em junho/2000 por decreto estadual4, inicialmente com 66.900 hectares, e foi posteriormente ampliado em 118.000 hectares, em maio/20015, totalizando uma área de 184.900 hectares.

A criação do Parque, na área chamada Gleba Divisa que vinha sendo alvo de conflitos fundiários, respondeu a um conjunto de elementos favoráveis, especialmente: • o reconhecimento da importância ecológica da região, que já vinha sendo visita por cientistas

e amantes da natureza desde os meados dos anos 90, em decorrência da implantação de um empreendimento de ecoturismo (o “Cristalino Jungle Lodge”, na RPPN Cristalino, criada em 1997), o mesmo mantendo contatos freqüentes com a FEMA-MT e o PROECOTUR;

• o surgimento do PROECOTUR – Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal, e a sua implantação no pólo de Alta Floresta, tendo como uma de suas exigências a existência de uma Unidade de Conservação de Proteção Integral;

• o compromisso do Governo de Mato Grosso, no âmbito do PRODEAGRO, de instituir um conjunto de unidades de conservação representativas de todos os biomas do estado;

• a necessidade de proteger a área de invasões e desmatamentos, sendo que as margens sul, leste e oeste da Gleba Divisa, estavam sendo rapidamente e ilegalmente ocupadas, num processo desordenado e muitas vezes violento.

Assentamentos e “regularização fundiária”

Em paralelo à criação do Parque, o Governo de Estado foi desenvolvendo um projeto de assentamento da reforma agrária, acoplado com um projeto de regularização fundiária para os latifúndios instalados no local, dividindo assim a Gleba Divisa em duas partes: ao norte, o Parque Cristalino, e ao sul, os assentamentos e fazendas. O Governo negociou com os ocupantes da parte sul da Gleba Divisa (não inclusa no Parque), a viabilização da criação dos assentamentos, em troca da titulação das terras ocupadas.

Entidades ambientalistas, alguns parlamentares e setores da sociedade local alertaram repetidamente da incompatibilidade dessa política com a necessidade e os objetivos de conservação, especialmente a proteção do Parque, e encaminharam, junto com segmentos do empresariado local, uma proposta de criação de uma Floresta Estadual no entorno do Parque,

3 (Decreto 2538/98 – Declaração de Utilidade Pública) 4 (Decreto 1471/00 – Criação do Parque Estadual Cristalino, confirmado pela Lei Estadual 7518/01) 5 (Decreto 2628/01 – Criação do Parque Estadual Cristalino II)

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como alternativa ao projeto de reforma agrária; mas essa proposta não foi acatada e o Governo anunciou no início de 2002 a criação dos assentamentos, com o reconhecimento do Incra, e a “regularização” fundiária.

Ao longo do primeiro semestre de 2002, foram assentadas pelo Intermat cerca de 500 famílias em 11 novos assentamentos, que se somaram às 100 famílias presentes desde 1999 no assentamento “Gleba 5000”. Os lotes variam de 10 a 60 hectares, com média de aproximadamente 35 hectares. Concomitantemente, foram instalados processos de regularização fundiária visando titular extensas áreas para pecuaristas da região e de fora da região.

Tentativas de redução do Parque

Em seguida, foi crescendo a pressão vinda do próprio Governo de Estado visando a diminuição da área do Parque e a ampliação dos assentamentos e das titulações. Para acomodar os interesses das regularizações fundiárias, o Governador Dante de Oliveira encaminhou em abril/2002 duas mensagens6 à Assembléia Legislativa de Mato Grosso, propondo uma diminuição drástica da área do Parque – porém sem citar esse fato explicitamente – e um modelo de ocupação da parte sul da Gleba. Devido às reações, e à proximidades das eleições, o projeto não foi votado.

Em junho/2002, a Assembléia Legislativa adotou uma série de 163 resoluções7 autorizando a regularização de ocupação fundiária na Gleba Divisa – grande parte delas em áreas no interior do Parque Cristalino. Aquelas resoluções foram sendo publicadas aos poucos no Diário Oficial, ao longo dos meses seguintes. Nesse processo todo, um único fazendeiro recebeu, através de familiares e “laranjas”, uma área totalizando mais de 100 mil hectares. Passada a eleição, esses “títulos” foram anulados.

Em setembro/2002, um projeto de lei de autoria do Deputado Estadual Nico Baracat8, “dispondo sobre a criação do Parque Estadual da Gleba Divisa” – na verdade, reduzindo a área do Parque Cristalino em 46%, foi votado pela Assembléia em tempo recorde. Porém, em função da pressão do então Dep. Gilney Viana e dos ambientalistas, que obtiveram duas audiências públicas na Assembléia, essa lei não chegou a ser sancionada pelo Governador. Invés disso foi criada uma comissão incluindo os órgãos públicos e organizações não governamentais relevantes, visando alcançar um acordo em relação aos limites do Parque. Foi considerada a possibilidade de retirar do Parque algumas áreas já desmatadas antes da sua criação, incluindo uma área de mais de 10 mil hectares na sua margem sul e leste9. Mas a pretensão dos latifundiários, abertamente representados pelos parlamentares da Comissão de Terras e Meio Ambiente, era muito maior e a negociação não obteve sucesso, fazendo com que o Parque conserva até hoje os limites que lhe foram dados pelos dois decretos iniciais.

Intervenção da Justiça Federal

6 (Mensagem 20 e Mensagem 21 de 02/04/2002) 7 (Resoluções de regularização fundiária na Gleba Divisa – 28/06/2002) 8 (Projeto de Lei 260/02 – 11/09/2002) 9 (mapa da proposta de modificação dos limites do Parque)

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Diante da ilegalidade das ações tomadas pelo Governo de Estado e a Assembléia Legislativa em relação ao Parque e à Gleba Divisa como um todo, e com base numa antiga ação discriminatória do Incra, a Justiça Federal, movida por um pedido do Procurador da República José Pedro Taques, teve uma intervenção decisiva: em 02/dezembro/200210, o Juiz Julier determinou o seqüestro da área “como forma de suspender a “grilagem” patrocinada pelo ente federativo [o Estado de Mato Grosso]”. Além disso, a sentença do Juiz: • nomeia o Incra como fiel depositário da área; • determina que o Ibama “desenvolva ações tendentes a combater a degradação ambiental na

área, (...) bem como para que assuma a responsabilidade pela preservação e implementação da unidade de conservação ambiental criada (...)”;

• determina que a Assembléia Legislativa “reveja todos os processos de regularização fundiária incidentes sobre a área em litígio, tendo em vista a nulidade da matrícula, bem como se abstenha de praticar qualquer ato envolvendo o referido bem”, e que o Intermat “suspenda a promoção de assentamento de trabalhadores rurais na Gleba Divisa”.

A ação inicial proposta pelo Incra visando o reconhecimento do domínio público sobre a área da Gleba Divisa, continua em andamento, e aguarda-se nova decisão do Juiz nesse processo. De qualquer forma, a preocupação da Justiça Federal ao encaminhar essa decisão consiste em impedir a distribuição ilegal de terras e garantir a integridade da área, especialmente sua integridade ambiental.

10 ( Processo n 00.0004321-4 – Decisão 02/09/2002); (Diário de Cuiabá – 04/12/2002)

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2. A importância do Parque Cristalino – localização estratégica, biodiversidade excepcional e potencial para ecoturismo

O Parque Cristalino, apesar de seu tamanho relativamente pequeno em termos Amazônicos, possui uma grande importância, pela sua localização estratégica, sua biodiversidade excepcional e o alto potencial que representa para o desenvolvimento do ecoturismo.

Localização estratégica

O Parque Cristalino está localizado no extremo Norte de Mato Grosso, na fronteira do Arco de Desmatamento da Amazônia. A região está classificada como “de extrema importância para a conservação da biodiversidade” pelo projeto Biodiversidade Amazônia – Seminário de Macapá/1999.

Os principais municípios vizinhos (ao sul, Alta Floresta e Carlinda, ao leste Guarantã do Norte) apresentam uma fisionomia de muito desmatamento. Já ao norte, o Parque faz divisa com o Campo de Provas Brigadeiro Velloso (Serra do Cachimbo), uma área de 2,2 milhões de hectares da Força Aérea Brasileira que se encontra em excelente estado de conservação, assim como as áreas indígenas vizinhas (Kayabi/Munduruku do lado oeste e Baú/Menkragnoti do lado leste e nordeste), compondo um corredor de conservação que constitui uma imensa barreira ao avanço do desmatamento.

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Este corredor precisa ser fortalecido e consolidado, com o que o Parque Cristalino contribui diretamente pois está localizado na sua fronteira sul, em um dos locais de maior pressão antrópica, e pode se tornar também uma base para estudos e ações visando a conservação da região. Por outro lado, a existência dessa imensa área protegida na divisa do Parque, junto com a conservação do mesmo, contribui para manutenção da excepcional biodiversidade existente no local.

Biodiversidade excepcional

A área vem sendo alvo de diversas pesquisas desde meados da década de 90, pesquisas essas que identificaram uma grande diversidade de fauna e flora, com ênfase especial em espécies de aves. A avaliação ecológica rápida11 realizada em 2001/2002, como base do Plano de Manejo do Parque promovido pelo PROECOTUR, confirmou a riqueza da região:

“A região do Rio Cristalino já goza de certa fama no meio científico e entre observadores de aves, pela riqueza e abundância de sua avifauna. A existencia de uma pousada ecoturística, o Cristalino Jungle Lodge, no rio Cristalino perto de sua foz, propiciou o acesso às matas de terra firme do baixo Cristalino a um grande número de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, levando à divulgação de sua biodiversidade excepcional. Nesse sentido, o Parque Estadual do Cristalino (...) [conta] com uma variedade de espécies considerada excepcional mesmo pelos padrões amazônicos. Por exemplo, mais de 500 espécies de aves já foram catalogadas para a região (...). A rica avifauna da região já havia sido bastante pesquisada por cientistas renomeados; no entanto, nossa pesquisa registrou 43 novas ocorrências no Parque, incluindo diversos registros novos para o Estado de Mato Grosso. Diversas possíveis espécies novas de aves, de répteis e de anfíbios foram detectadas (...). Os resultados são prova de que o Cristalino é uma das mais importantes áreas protegidas da Amazônia, cuja proteção deve ser prioridade nacional, tendo em vista a grande proporção do patrimônio genético de nosso país que nele está representado.”

Ainda segundo a pesquisa, a diversidade de habitat é uma característica importante do Parque, que conta com 6 comunidades naturais distintas: o Rio Cristalino, a floresta de igapó, a floresta de terra firme, a floresta estacional semidecidual, os afloramentos rochosos e campos rupestres, e os campos inundáveis (varjões e buritizais).

Potencial para o desenvolvimento do ecoturismo

A presença do PROECOTUR na região de Alta Floresta representa uma chance efetiva de mudança no padrão de desenvolvimento da região, por trazer investimentos muito significativos em estudos, capacitação, infra-estrutura e marketing. Além disso, entre os diferentes pólos do PROECOTUR, Alta Floresta apresenta um potencial particularmente alto, tendo em vista especialmente: • a pré-existência de empreendimentos ecoturísticos bem sucedidos, como é o caso do

Cristalino Jungle Lodge, e também da Pousada Thaymaçu, especializada em pesca esportiva; • a excelente infra-estrutura existente na cidade de Alta Floresta, incluindo um aeroporto

recentemente ampliado comportando aviões de grande porte, uma malha viária e um sistema de comunicação bem desenvolvidos em termos amazônicos, vários hotéis de padrão

11 Plano de Manejo do Parque Estadual Cristalino – Diagnóstico, MMA (realizado pela Tangará Consultoria)

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diferenciado, duas universidades e uma rede escolar de qualidade, diversos hospitais, entre outros;

• a riqueza dos atrativos, que além do Parque, incluem sítios arqueológicos, corredeiras (como a Sete Quedas), rios de excepcional potencial para pesca esportiva e outras áreas de natureza bem preservada.

O Parque representa a pedra angular do PROECOTUR e, portanto, do potencial de desenvolvimento do ecoturismo na região, isso porque: • a existência e conservação do Parque é uma exigência dos órgãos financiadores e

implementadores do Programa; • os principais roteiros do turísticos a serem desenvolvidos na região, conforme consta no

Planejamento do Pólo12, têm o Parque como ponto central e principal atrativo; • o Parque sempre é o principal chamativo para um destino turístico.

O que está em jogo na conservação do Parque Cristalino, não é só a proteção de uma riqueza biológica ímpar, mas também a principal alternativa de desenvolvimento sustentável para toda uma região.

12 Plano de Desenvolvimento do Pólo de Alta Floresta – MMA (realizado pela MRS/Turis)

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3. Ameaças e pressão antrópica

As principais ameaças ao Parque, além dos tramites legais que tentaram reduzir a sua área, incluem, conforme consta em diagnóstico sócio-ambiental da área13: • a presença de posseiros latifundiários (criadores de gado) no interior do Parque, alguns deles

continuando a praticar o desmatamento e/ou queimada de extensas áreas, parecendo estar até então pouco preocupados com a ilegalidade de suas ações;

• as retiradas ilegais de madeira que continuam num ritmo desenfreado; • o rápido processo de degradação ambiental no entorno imediato do Parque, na região dos

assentamentos e nas fazendas vizinhas.

Ocupação fundiária

Segundo levantamento fundiário baseado em dados do Intermat – Instituto de Terras de Mato Grosso e complementado com informações de campo, existem “22 posseiros no interior do Parque, sendo que os 2 maiores representam 71% do total de área aberta dentro da unidade. No entorno imediato (faixa de 10km), com a exceção de duas áreas dedicadas à conservação (RPPN e Fazenda do Cristalino), existe uma combinação de grandes propriedades expandindo suas atividades (45 propriedades, com uma média de 3.800 ha cada), e de assentamentos da reforma agrária, com acelerado processo de desmatamento e degradação ambiental.”

Desmatamento

A análise das imagens de satélite mostra que “do total do Parque, 15.850 hectares (8,6%) já tinham sido desmatados até meados de 2001, e outros 3.050 hectares (1,6%) foram desmatados em 2002, em 3 derrubadas distintas, sendo que a maior corresponde a 2.400 hectares – totalizando hoje 18.900 hectares (10,2%) a área antropizada dentro do Parque.”

“Como entorno, foi analisada uma faixa de 10km em volta do Parque, que na parte correspondente ao Estado de Mato Grosso representa uma área total de 195.100 ha. Dessa área, 40.950 ha (21%) já tinham sido desmatados até 2001, e outros 8.200 ha (4,2%) foram desmatados em 2002, sendo 1.550 ha em uma única derrubada, e outros 800 ha no interior do assentamento Rochedo (correspondendo a 9% da área total do assentamento).”

Esses números, especialmente a rapidez com que foram destruídas grandes áreas no interior e no entorno imediato do Parque no último ano, apontam para a necessidade de medidas imediatas e efetivas de fiscalização.

13 Diagnóstico Sócio-Ambiental – Programa de Educação e Difusão Ambiental no entorno do Parque Estadual Cristalino, FEMA/PRODEAGRO (realizado pelo ICV).

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4. A comunidade defendendo a conservação e propondo soluções

A sociedade civil local e regional tem mostrado um grande entusiasmo e ao mesmo tempo uma séria preocupação com o Parque Cristalino. Tanto a comunidade local como diversas ONG’s brasileiras ou internacionais se manifestaram e têm atuado a favor da conservação do Parque, e propõem a adoção de medidas e o desenvolvimento de projetos nesse sentido.

Receptividade e pró-atividade da comunidade local

Na região de Alta Floresta, já existem diversas iniciativas ligadas à conservação, sendo particularmente marcante a presença do Programa “Fogo: Emergência Crônica”, assim como, mais recentemente, o desenvolvimento de projetos pelo Consórcio ICV CRISTALINO, formado entre o ICV e a Fundação Ecológica Cristalino. Essas iniciativas vem contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência ambiental na região, onde predominava até recentemente uma cultura valorizando exclusivamente a ocupação e abertura da mata.

A realização da “Ia Expo’Ambiente Amazônia – Feira de Iniciativas Sustentáveis” em Alta Floresta14, em agosto/2002, foi um passo importante no sentido da temática ambiental e da sustentabilidade alcançarem um público mais amplo, e envolvendo também os setores produtivos.

Também na execução do “Programa de Educação Ambiental no Entorno do Parque Estadual Cristalino” pelo ICV, ao longo do ano 2002, foram constatados posicionamentos muito favoráveis à existência e conservação do Parque pela grande maioria dos representantes da comunidade local. A resposta do setor da educação às ações de educação ambiental tem sido particularmente animadora; o Parque se tornou o principal tema de trabalho na maioria das escolas no final do ano de 2002, com um forte envolvimento – dos professores e alunos – nas atividades e a realização de emocionantes produções (poemas, etc.).

Outro marco importante no ano de 2002 foi um abaixo-assinado a favor da conservação do Parque, que reuniu aproximadamente 1000 assinaturas em 2 dias, somente em Alta Floresta.

De fato hoje, as pessoas-chave da comunidade local estão cientes do que é o Parque Cristalino, já possuem uma noção do seu potencial, e na maioria dos casos estão favoráveis à sua proteção.

Envolvimento da sociedade civil de fora da região

A região do Cristalino já é conhecida por representantes brasileiros e estrangeiros de diversas instituições não-governamentais importantes no cenário amazônico, como o Instituto Sócio Ambiental, Conservation International, Imazon, a Rede Pró-UC, Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, The Nature Conservancy, entre outros. Em resposta às tentativas de redução do Parque por parte das autoridades estaduais, as ONG’s, lideradas pelo ICV e pela Fundação Ecológica Cristalino, desenvolveram a “Campanha SOS Parque Cristalino”. Esta campanha de

14 Promovida pelo Programa Fogo: Emergência Crônica, em estreita parceria com setores da sociedade local, foi também realizada em Guarantã do Norte e Juína, MT.

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internet obteve amplo apoio, viabilizou o envio de milhares de emails às autoridades relevantes, e contribuiu para evitar a diminuição do Parque.

Também foi relevante a moção votada no III Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, solicitando “que o Governo de Mato Grosso suspenda imediatamente todos os processos de regularização fundiária na área do Parque Estadual Cristalino”.

Propostas para o Parque Cristalino e a região

As estratégias propostas para assegurar a consolidação e conservação do Parque, bem como fortalecer a sustentabilidade da região incluem ações emergenciais de fiscalização e monitoramento, ações de educação ambiental, a federalização do Parque, assim como um programa mais amplo para o corredor, combinando a conservação com a promoção de atividades sustentáveis, de forma a buscar um novo perfil de desenvolvimento para a região.

Fiscalização imediata e monitoramento contínuo • É necessária e urgente uma clara manifestação da presença física do IBAMA de Brasília no

local, através de uma reunião de esclarecimento junto à comunidade e/ou de intervenções diretas de fiscalização, a fim de evitar que a aparente indefinição e ausência de órgão fiscalizador incentive novas invasões e novos desmatamentos.

• Paralelamente, deve ser implementado um sistema de monitoramento e vigilância envolvendo, além do órgão fiscalizador e ONG’s, a participação efetiva da comunidade local (universitários, membros de associações, moradores do entorno, mídia local, etc.), em atividades que podem ser aproveitadas para enriquecer o conhecimento do Parque e do seu entorno, e divulgadas na região e fora da região.

Programa de Educação Ambiental • O Parque é um tema riquíssimo para a educação. Deve-se aproveitar a excelente parceria

estabelecida com os setores da Educação e a presença de profissionais bem sensibilizados e capacitados, para elaborar conjuntamente e implementar um programa mais amplo de Educação Ambiental, com o objetivo de ampliar a consciência da população do entorno a respeito da importância do Parque, reduzir a pressão antrópica e com a perspectiva de poder se tornar uma referência em situações semelhantes.

Federalização do Parque Cristalino • O Estado de Mato Grosso tem mostrado incapacidade em assegurar a integridade dessa

relevante área, altamente prioritária para conservação. Por outro lado, a área possui todas as condições para se tornar um Parque Nacional. Portanto, considerando os diversos fatores que podem garantir a conservação e também o fato o seu domínio da área é da União Federal, entende-se que a melhor solução alternativa para a conservação é a federalização do Parque.

Sustentabilidade para os assentamentos • Os assentamentos da reforma agrária do entorno imediato do Parque estão num processo

acelerado de degradação ambiental. É fundamental elaborar e implementar de um Plano de Sustentabilidade para esses assentamentos, visando identificar e impulsionar alternativas econômicas sustentáveis que permitam aos agricultores familiares conciliar um melhor nível de renda com a conservação do meio ambiente.

• Paralelamente, vale ressaltar a necessidade de implantar efetivamente a interdição de implantação de novos assentamentos em áreas de floresta.

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Consolidação do Corredor

• Deve ser reconhecido oficialmente o corredor de Norte de Mato Grosso/ Sul do Pará, e implementadas ações visando a sua conservação e consolidação, incluindo a implantação de um sistema de monitoramento e base de dados ambientais, a criação de novas unidades de conservação e o fortalecimento e/ou ampliação das unidades existentes.

• Uma área prioritária para a criação de uma nova unidade de conservação, é a área das nascentes, na extremidade sudeste da Serra do Cachimbo (sul do Pará), região das cabeceiras dos rios Cristalino, Ipiranga, São Benedito, Braço Sul, Braço Norte, Flexas, Curuá, Curuaé, Iriri e Nhanhdu.

• Outra área de altíssima importância é a região onde foi proposta a criação do Parque Nacional Juruena (com 3 milhões de ha), que deve ser incentivada, e onde incide também o recém-criado Parque Estadual dos Igarapés do Juruena (com 228 mil ha), também ameaçado de ter revogado seu ato de criação – mas que deve ser efetivamente implementado.

Promoção de Alternativas Sustentáveis • Em paralelo às ações de conservação, é fundamental apoiar, desenvolver e incentivar

alternativas econômicas sustentáveis, inicialmente através de projetos-piloto, mas também através da implantação de políticas públicas que garantam a sustentabilidade e busquem mudar o perfil econômico da região; hoje as atividades mais promissoras são o ecoturismo, o manejo florestal, os sistemas agro-florestais e os produtos florestais não-madeireiros. Também devem incentivadas as práticas sustentáveis nas atividades tradicionalmente predadoras, como a pecuária, que pode adotar com muito proveito os princípios da “pastagem ecológica”.

• Para tanto, a proposta é a criação do Centro de Desenvolvimento Sustentável em Alta Floresta, que tem como finalidade implantar esses programas, assim como conduzir, em parceria com os órgãos governamentais, a consolidação do corredor.