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Paróquia São João Maria Vianney Formação CEFAS Católicos Evangelizadores Formados para o Apostolado e Serviço 1º Semestre

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Paróquia São João Maria Vianney

Formação CEFASCatólicos Evangelizadores Formados para o

Apostolado e Serviço1º Semestre

Índice1 Crescimento Espiritual........................................................................................................1

1.1 Planejamento espiritual...............................................................................................11.2 Decisão - “QUERO”.....................................................................................................21.3 Inimigos da oração......................................................................................................41.4 Fascínio pelo Eterno....................................................................................................61.5 Conhecimento..............................................................................................................71.6 Exercício da Oração....................................................................................................71.7 Exame de Consciência................................................................................................81.8 Direção espiritual e sua importância no plano de vida em busca da santidade.......101.9 Escuta.......................................................................................................................12

2 A Missa parte por parte.....................................................................................................13

2.1 Posições usadas na Missa........................................................................................142.2 Divisões da Santa Missa...........................................................................................14

3 A Bíblia – A Sagrada Escritura..........................................................................................25

3.1 Introdução - A biblioteca de Deus para nós...............................................................254 Sagrada Escritura – História da Salvação........................................................................29

4.1 Deus se revelou ao povo de Israel............................................................................294.2 Pentateuco.................................................................................................................304.3 Livros Históricos........................................................................................................334.4 Livros Proféticos........................................................................................................344.5 Livros Sapienciais......................................................................................................354.6 Evangelhos................................................................................................................394.7 Atos dos Apóstolos....................................................................................................514.8 Cartas Paulinas.........................................................................................................534.9 Carta aos Hebreus.....................................................................................................554.10 Cartas Católicas......................................................................................................574.11 Apocalipse................................................................................................................58

5 Catecismo da Igreja Católica............................................................................................60

5.1 Creio – A fé professada.............................................................................................63

Paróquia São João Maria VianneyFormação Cefas – 1º Semestre

1 Crescimento Espiritual

Quando falamos de crescimento espiritual, uma primeira verdade a ser lembrada é a nossa vocação à Santidade. A Palavra nos diz: “Deus nos escolheu [...] para sermos santos [...], no amor” (Ef 1,4). E ainda: “esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1Ts 4,3); Opróprio Deus nos ordenou: “Sede santos, por que eu sou santo” (Lv11,44; Cf. tb. 1Pd 1,16). E Jesus determinou: “Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). “

A santificação é obra de uma vida” São Josemaria Escrivá, Caminho 285

Para termos um verdadeiro e eficaz crescimento espiritual nos é necessário entender primeiro que nós, como cristãos, temos 4 dimensões que são diretamente afetadas por esse crescimento: a dimensão física, psicológica, social, espiritual.

Podemos então colocar o crescimento espiritual em 4 pontos:

- Oração – nossa conversa , nossa intimidade com Deus. Que pode acontecer de várias maneiras... Através de orações prontas, da prática do terço, da oração espontânea e de tantas outras que a Igreja nos ensina.

- Ser discípulo – Tornar-se um estudante de Sua Palavra e de seus ensinamentos. Dar testemunho das graças e bençãos recebidas e no que ela te transformou.

- Ser evangelizador – Levar a todos o conhecimento deste Deus que é amor.

- Ser adorador – Dar louvor e glória a Deus através da missa, da adoração, e de tantas ações litúrgicas que conhecemos.

Com a prática de todos esses pontos é difícil não se transformar . Deus vai nos modelando segundo permitimos que ele nos modele. Com isso, ter um crescimento espiritualnos modifica em todas as nossas dimensões.

Para colocar esses 4 pontos em prática e para conseguir alcançar um crescimento espiritual é preciso planejamento, ou melhor um “plano de vida espiritual.”

1.1 Planejamento espiritual

Semana passada começamos colocando pra vocês aquilo que Cristo nos pede: “santidade”. Dissemos que para alcançar a santidade pedida por Ele, é preciso crescer espiritualmente.

Pois bem , continuemos em frente. Falar de crescer espiritualmente é algo delicado, um grande desafio, pois não há uma fórmula exata para se passar. Mas apoiados no Cristianismo desde o começo dos tempos, vamos apresentar aqui algumas pistas eficazes para vos ajudar neste crescimento.

Chamamos de Planejamento Espiritual ou Plano de vida espiritual.

Vejamos então a importância de se planejar.

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Segundo o dicionário, “planejar” é :

Estudar, organizar, coordenar ações a serem tomadas para realização de uma atividade, visando solucionar um problema ou alcançar um objetivo.

Assim como planejamos tantas coisas em nossa vida , na vida espiritual também temosque planejar. Se quisermos cumprir o que Jesus nos pediu na última ceia (“permanecei no meu amor”) teremos que ser ousados, disciplinados, esforçados, assim como foram os santos.

Olha, antes de mais nada, é importante vocês saberem que essas práticas não serão iguais para todos: para uns, o plano consistirá em rezar algumas orações breves ao acordar e ao deitar e em ler diariamente o Evangelho durante cinco ou dez minutos; para outros, além disso, o plano incluirá a Comunhão frequente e, diariamente, a meditação, o Terço, uma leitura formativa, o exame de consciência, etc. Dependerá das circunstâncias espirituaisde cada pessoa.

E como você vai saber o que é suficiente para que você cresça? Basta olhar o resultado de suas orações, o quanto ela tem modificado a você e a sua vida.

Ihh, agora vocês podem pensar... “minha vida já é tão cheia de coisas para cumprir e eu aqui querendo apresentar mais uma”, “nossa, vir aqui e escutar que eu preciso parar pra rezar todos os dias e ter disciplina nisso, aí é muito chato, me parece muito monótono”.

A “monotonia”! Fazer todos os dias as mesmas coisas é tão monótono – podemos pensar -, acaba tornando-se rotina, prática mecânica. Não seria melhor rezar, ler, comungar, etc. só de vez em quando, nos momentos em que nos sentirmos mais dispostos, com mais condições de aproveitar esses meios, ou mais necessitados de Deus?

Sujeitar-se a um plano de vida, a um horário, é tão monótono!, disseste-me. – E eu te respondi: há monotonia porque falta Amor.

O problema então não é a monotonia nem a repetição , é sim a falta de amor.

QUANDO COMEÇAMOS A PENSAR EM UM PLANEJAMENTO ESPIRITUAL, COMECEMOS PEDINDO A DEUS AMOR.

Bom, a partir da semana que vem começaremos a ver 15 passos que deveremos considerar para se ter um plano espiritual eficiente.

1.2 Decisão - “QUERO”

Amar é “querer”

Santa Teresa diz que para chegar a um lugar é preciso caminhar e este caminho só se faz caminhando. Na vida de oração, para ter intimidade com Deus acontece o mesmo.

O 1ª passo é a decisão: “QUERO”

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Decidir-se por querer algo requer de nós grande empenho e muito sacrifício, se na vidaé assim na vida espiritual mais ainda, pois o cristão verdadeiro tem que estar disposto a sacrificar seu próprio coração, seu próprio querer, para alcançar o querer de Deus. Grande parte de nossas frustrações está em seguir nosso coração e não a vontade do Senhor. Por isso é preciso tomar a firme decisão de ir adiante independente do que aconteça.

E isto é o que o senhor nos pede: A vontade de querer amá-lo, com obras, nas pequenas coisas de cada dia. Se vencestes no pequeno, vencerás no grande. Assim como Cristo nos salvou na cruz por amor e para fazer a vontade do pai, assim também nós devemos fazer. Sofrer até as últimas consequências para ser fiel.

Viver , sentir e obedecer a esse Amor a Deus é na maioria das vezes não fazer nossa vontade, pois AMAR a Deus não é dizer “cada um faz o que quiser”. É muitas vezes aguentar uma correção, que normalmente ninguém gosta. Porém o amor do Pai, daquele que nos quer bem também passa pela correção e é preciso acatarmos para poder prosseguir na caminhada.

Existe uma frase que até virou titulo de um livro” O querer é meu , mas o poder é de Deus”. Isto quer dizer que a partir do meu querer damos a liberdade para o grandioso e ilimitado poder de Deus agir em nossas vidas.

Quem ama verdadeiramente o Senhor sofre até as últimas consequências para ser fiel.Para manter o olhar fixo em Deus é preciso estar decidido a ser crucificado com Jesus se preciso for.

Para perseverar no seguimento dos passos de Jesus, é preciso uma liberdade contínua, um querer contínuo, um exercício contínuo da própria liberdade. (Forja, 819)

Diz o profeta “Seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir” (Jr 1,7)

Se você quer ter alma de oração, deixe-se seduzir pelo Senhor. O Homem diz sim a Deus e Santa Teresa completa “ Importa muito ter uma grande e determinada determinação de não parar, até chegar lá. Venha o que vier, aconteça o que acontecer , murmure quem murmurar, mesmo que morra no caminho, não importa; a determinada determinação de ir em frente é o que deve ser importante. Quero ver a Deus” (Caminho de perfeição) Só assim a oração tem efeito.

A oração suscita dentro de nós entusiasmo, ela desperta o fervor, mas é importante saber que não vivemos só de fervor, mas também de sacrifícios.

“A caminhada naturalmente assusta os fracos, os indecisos, os covardes, e convida os decididos, os disciplinados, os unificados, os conscientes a não parar e nem desanimar, porque muitos começam e são poucos os que chegam.” Irmã Maria José , CMES

Para essa semana gostaria que rezassem e meditassem todos os dias este trecho do livro Forja 391.

Faz-me santo, meu Deus, ainda que seja à força. Não quero ser obstáculo à tua

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Vontade. Quero corresponder, quero ser generoso... Mas que querer é o meu?

1.3 Inimigos da oração

A partir do momento que nos convencemos da importância da oração no caminho de santidade, que nos decidimos por querer trilhar este caminho, o caminho vai se tornando desafiador.

De um lado porque é mais exigente, vamos vendo que é necessário abandonar velhos costumes, e por outro lado vai ficando mais fácil, pois se percebe a grande alegria de ser amado por Deus. A oração se faz familiar, necessária, é respiro para alma.

Porém nem tudo são flores. No começo sentimos aquele entusiasmo, aquela vontade de estar em oração, de sentir a presença de Deus.

Mas...Será que amar a Deus é somente sentir?

Comecemos vendo se o amar entre os seres humanos é só sentir...Quando uma mãe, fatigada e morta de sono, levanta três, quatro, cinco vezes à noite para amamentar ou acalmar o seu bebê, duvido que, naquele momento, sinta grande emoção ou alegria. Mas ela ama seu filho, e esse seu amor, – quer sinta, quer não sinta faz com que ela faça o necessário e justifica todos os seus sacrifícios.

Se podemos dar esse amor a uma pessoa querida , quanto mais deveríamos dar a Deus, mesmo que nem sempre sintamos prazer. Pois no momento de oração pensamos queestamos dando Amor a Deus , mas na realidade apenas nos abrimos para receber Dele o amor.

Se compreendermos a importância desse amor que Deus derrama em nós através dos momentos de oração ficaremos precavidos contra os “grandes inimigos” que aparecem para atrapalhar nosso plano de vida espiritual:

Aqui vou apresentar esses inimigos em 3 partes:

1 – O tempo

O tempo tem sido apontado por muitos como o grande culpado pelo fracasso em suas vidas de oração. “Falta-me tempo” é uma frase muito repetida por aqueles que não conseguem ter uma vida de oração satisfatória. Sabemos que um dos maiores trunfos do inimigo é nos manter bem ocupados para que o tempo para Deus nos falte. E é justamente isso que tem acontecido com muitas pessoas. Não conseguem separar um tempo para dedicar ao Senhor, à vida de oração, pois estão com seu tempo totalmente preso em outras prioridades de suas vidas.

Qual a solução para isso?

A solução não passa por um caminho fácil. É preciso rever prioridades na agenda. O tempo é matemática pura. Assim, não há outra forma, senão fazer ajustes e cortes, trazendoa vida de oração como uma prioridade de vida. Talvez precise dormir menos, ou trabalhar

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menos, fazer menos horas extras, ou quem sabe diminuir o tempo dos passeios, da TV e da Internet. A análise é pessoal. Um alerta: Você só conseguirá ter tempo para orar se realmente a vida de oração for importante para você; se não for, você fracassará.

2 – O lugar

Espaço é o seu lugar de oração. Vencida a fase de conseguir tempo para orar, costumaaparecer o problema do espaço. Isso acontece porque em nossa sociedade viramos escravos da falta de espaço para o silêncio e a meditação, a falta de espaço para Deus. É difícil achar um momento e um lugar de silêncio, de paz para orar. Em todos os lugares existe barulho e certo tipo de incômodo. Existem casas que têm TVs, computadores e sons ligados em quase todos os cômodos! Parece que as casas modernas foram projetadas para não comportar os momentos de comunhão com Deus.

Qual a solução para isso?

A solução passa pela criatividade. É preciso criar esse lugar de oração. Não é algo fácil, principalmente para quem tem família grande. Mas é preciso! Estude o melhor horário para usar algum lugar que você tenha à disposição. Avise sua família, peça colaboração, exponha o seu desejo de ter um momento a sós com Deus. Às vezes não temos escolha, precisaremos apelar para a paz das madrugadas. Você precisará achar esse lugar, pois ele é necessário para sua vida de oração! Use a criatividade como você a usa para tantas outras coisas que acha importante.

3 – O eu

Vencidos os dois primeiros inimigos, costumamos nos deparar com o nosso próprio “eu”. Isso porque não estamos muito acostumados a acalmar o nosso coração e vivermos um tempo de oração de qualidade.

Vejamos alguns inimigos destes momentos:

- Indisposição, falta de vontade, preguiça – Tg 4,2

- Dúvida , falta de fé – Tg 1,8

- Pecados Is 59,1-2

- Falta de perseverança, Inconstância Tg 1,8

- Distração, Agitação, preocupações Mt 6,34

O que fazer : Ler em alta voz, rezar por escrito, procurar meditações, textos mais concretos que te ajude a fixar-se no que está lendo.

- Momentos de grande sofrimento (doenças / morte/ grandes decepções) Leia a vida deJó e veja a transformação que ele teve em sua vida através do sofrimento.

- Sono

Qual a solução para isso?

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Hábito e comunhão! Enquanto Deus permanece como um desconhecido pelo fato de termos pouco contato com Ele, esse incômodo será muito evidente. Aos poucos Deus vira um dos nossos melhores amigos. E o encontro de oração com Ele se torna um dos momentos mais esperados. Lute contra si mesmo. Tudo que se levanta contra uma vida de oração e comunhão com Deus não vem de Deus, vem dos nossos inimigos! Por isso, fique atento e peça força a Deus para lidar consigo mesmo.

“Cruz, trabalhos, tribulações: tê-los-ás enquanto viveres. Por esse caminho foi Cristo, e não é o discípulo mais que o mestre” (Caminho 699)

1.4 Fascínio pelo Eterno

Um privilégio de Deus é ser eterno, isto é, não ter começo e nem fim. Desde pequena ,Santa Teresa revela o fascínio pelo eterno, o “para sempre”, como ela mesma dizia. “QUERO VER A DEUS”.

Devemos caminhar neste mundo entre as coisas que passam e abraçando as que não passam.

Ela nos ensina que o melhor presente que podemos dar a à alguém é o nosso tempo. Ele é o tesouro mais precioso que temos! Nós podemos produzir mais dinheiro, mas não mais tempo! Por isso, dedique mais do seu tempo para Deus e para a família.

História :

Perto de morrer um homem sábio fez três pedidos:

1) Que seu caixão fosse carregado pelos melhores médicos da época.

2) Que os tesouros que tinha, fossem espalhados pelo caminho até seu tumulo.

3) Que suas mãos ficassem no ar, fora do tumulo e a vista de todos.

Alguém surpreso perguntou: Quais são os motivos?

Ele respondeu:

1) Eu quero que os melhores médicos carreguem meu caixão, para mostrar que eles não têm o poder de curar diante da morte.

2) Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros, para que todos possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui ficam.

3) Eu quero que minhas mãos fiquem para fora do caixão, de modo que as pessoas possam ver que viemos com as mãos vazias, e saímos de mãos vazias.

Ao morrer você não leva nada material …

Deus não condena os bens materiais, o que ele condena é a escravidão que se cria de querer sempre mais, se tornando escravo.

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O mundo hoje insiste que precisamos viver o presente, curtir a vida com intensidade pois ela é curta, nos fazendo muitas vezes esquecer que é como vivemos aqui que pode ou não nos salvar. O mundo quer calar Deus.

Tudo neste mundo é passageiro, por isso nossos olhares devem estar voltados para o bem eterno, aqueles que durarão para sempre. Os bens materiais devem estar a nosso serviço e nunca o contrário. Deus é tudo!

Administre com sabedoria os bens que Deus lhe deu e conserve seu coração nos bens que as “traças não roem” e que o acompanharão por toda a eternidade.

Primeiramente, Deus quer para nós e nos faz desejar a vida eterna. E esse desejo de vida eterna, entre os santos, é tão forte que os faz aspirar à morte, se bem que, em si mesma, ela seja objeto de aversão. Nós preferimos deixar este corpo e estar presentes no Senhor (2 CoR5,8).

1.5 Conhecimento

Aprofundar no conhecimento da pessoa amada. Que os que se amam se conheçam cada vez mais e melhor.

Não existe amor sem que os que se querem bem tenham, um para com o outro, muitosdetalhes delicados, como palavras afetuosas, pequenos presentes e atenções.

É claro que este é o objetivo principal do nosso Plano de crescimento espiritual, termosintimidade mais profunda com Deus.

O amor exige dialogar, conversar com o coração aberto e sincero, ouvir com carinho e falar com carinho, oferecer e pedir com confiança.

E como fazemos isso com Deus? Através da:

A meditação da Palavra

A oração mental

A visita ao Santíssimo Sacramento

O Santo Rosário

O oferecimento do dia a Deus

O Ângelus ao meio-dia

As jaculatórias e orações breves espalhadas ao longo do dia

As pequenas mortificações de aperfeiçoamento

1.6 Exercício da Oração

Vigiai e orai para não cairdes em tentação (Mt 26,40-41)

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Hoje em dia, neste mundo demasiadamente corrido, onde não há tempo nenhum para reflexão e silencio, as pessoas vão ficando cada vez mais autômatas(ou seja, fazem tudo deforma mecânica e automática, sem nem prestar atenção no que faz e assim se tornam vazias por dentro.

Aqui está um ponto bem interessante, crescer espiritualmente está muito ligado ao silencio. Por isso é muito importante o ensinamento que Jesus nos deixou na passagem acima. É preciso estar vigilante e em oração, no silencio da oração.

Santa Teresa de Jesus dizia que, quem faz 15 minutos de oração por dia se salva. Quem não faz, nem necessita de demônio para ser tentado.

Rezar é estar unido a Deus, é dialogar com Deus, é saber enxergar Deus falando conosco todos dias ao longo de nossos dias.

E o que Deus nos diz? Quando somos batizados e passamos a fazer parte do Corpo de Cristo, cada um de nós tem uma missão pensada por Deus para ajudar na nossa santificação. Vocês já sabem qual é a missão dada por Deus a vocês?

Quando nos colocamos em oração, entramos na intimidade de Deus e aí que Deus vai revelando aquilo que espera de nós. Muitas vezes, o que Deus espera de nós não é algo fácil, é através da oração que conseguimos a força diária para cumprir aquilo que Deus nos pede (lembrando aqui que a maior oração que podemos fazer é a participação na Santa Missa).

O ato de Orar é algo muito mais profundo do que uma simples palavra, vejamos:

O : Olhar para dentro

R : Retirar-se

A : Agradecer

R : Renovar

1.7 Exame de Consciência

Vigiai

Para amar, é preciso ganhar sensibilidade a fim de ir evitando tudo o que possa magoar ou ofender a pessoa querida, no nosso caso Deus. Aí está a razão dos exames de consciência, da confissão frequente, das mortificações que fazemos para vencer – com a ajuda da graça – defeitos e indelicadezas que ofendem a Deus.

Papa Francisco em uma de suas homilias na Casa Santa Marta disse: “Tenhamos o hábito de nos perguntar, antes que acabe o dia: “O que fez hoje o Espírito Santo em mim? Que testemunho me deu? Como me falou? O que me sugeriu”

Você se lembra que no Horto da Oliveiras, quando Jesus fez um intervalo na sua oração e foi ver se os Apóstolos o acompanhavam na prece, achou-os dormindo. Com pena,

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disse a Pedro: Não pudeste vigiar uma hora comigo? E a todos: Vigiai e orai, para não entrardes em tentação. (Mt 26,40-41)

Uma das melhores maneiras de “vigiar”, como Jesus nos pede, é fazer todos os dias o exame de consciência: um balanço do nosso dia diante de Deus, cheio de sinceridade, que se pode resumir nas três perguntas que São Josemaria às vezes aconselhava: O que fiz bem? O que fiz mal? O que poderia fazer melhor amanhã?

Talvez você me diga: «Eu já tentei fazer esse exame, mas é complicado. Não sei por onde começar e, além disso, à noite estou cansado e não consigo pensar».

Tem razão. Não é fácil. Por isso, talvez possam ajudá-lo algumas sugestões práticas. Vamos ver.

1) Para começar, três ideias claras. Primeira: o exame deve ser simples e breve (podem bastar três minutos), nunca complicado. Segunda: o exame será bom se nos ajudar a enxergar algumas falhas daquele dia e a pedir perdão a Deus por elas. Terceira: o exame será completo se terminar com alguma resolução, muito concreta, de melhorarmos em algum ponto no dia seguinte (por ex., ser pontual no trabalho, ser amável ao cumprimentar tal ou qual pessoa).

2) É importante ter em conta que não é “obrigatório” fazer o exame à noite, na última hora, quando já estamos caindo de sono e nos preparamos para dormir. Convém fazê-lo num momento em que a cabeça esteja ainda lúcida: por exemplo, antes do jantar em lugar isolado (e antes de mergulhar na tv!); ou no local de trabalho, concentrando-nos um momento antes de encerrar o expediente; ou até mesmo no início do dia seguinte, fazendo –junto com as orações da manhã -, um breve balanço do dia anterior. Cada qual tem que achar seu “bom horário”. O que se deve evitar é fazer o exame na cama, já deitado. Quem tiver suficiente autocontrole da sonolência ou falta de sono, pode arriscar-se a ler, a orar mentalmente, a rezar o terço, a fazer o exame na cama. Mas não se engane. Você já se conhece. Se tiver o cochilo fácil…, sabe muito bem o que acontecerá: vai adormecer sem fazer nada.

3) Ainda uma sugestão dirigida às pessoas sinceras que quiserem fazer o exame com o máximo proveito: não faça o exame sem ter à mão uma agenda (ou um caderninho) e a caneta. Daqui a pouco veremos o que é bom anotar.

Com a prática de um exame diário, mesmo rápido, fica cada vez mais fácil ver onde estamos caindo, quando já é hora de buscar a confissão.

Algumas sugestões práticas:

Tem que ser simples no máximo 3 minutos

tem que nos ajudar a ver nossas próprias faltas

tem que gerar compromisso de mudança

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a questão do horários

anotar os 3 pontos todos os dias

1.8 Direção espiritual e sua importância no plano de vida em busca da santidade.

“Se não te lembrarias de construir sem arquiteto uma boa casa para viveres na terra, como queres levantar sem Diretor Espiritual o edifício da tua santificação, para viveres eternamente no céu?” (Caminho 60)

1º- Direção Espiritual o que é? Porque ela é necessária? Como ela pode nos conduzir a liberdade?

Direção espiritual é aquele aconselhamento, orientação que buscamos quando nos colocamos no caminho em busca da santidade pedida por Deus. Ela é necessária porque este caminho é longo cheio de dificuldades e lutas. Recebe este nome porque está totalmente ligada ao caminho espiritual que vamos fazendo ao longo da vida.

Ela pode nos conduzir a liberdade pois somente aquele que Ama e acolhe Deus em sua vida é capaz de O colocar acima de tudo. É o amor de Deus que nos molda nos liberta de vícios, ma inclinações e paixões enganadoras. Assim com a Direção espiritual somos capazes de nos livrar destas coisas que muitas vezes sozinhos não seríamos capazes de fazer, nem mesmo de enxergar que fazemos.

São João da Cruz nos ajuda colocando alguns passos para que esta liberdade aconteça:

- purificação

- entrega total a Deus

- busca da vontade de Deus

- abrir-se a graça

- superar os próprios defeitos

- lutar e despojar-se para ser completamente de Deus

2º O diretor espiritual é o único formador no caminho da pessoa para Deus?

Não, o primeiro é o Espirito Santo . Ele é o grande formador e precisamos estar com o coração atento aos estímulos da graça pois é ai que ele vai manifestando o que Deus quer de nós.

O Segundo formador somos nós mesmos, nós é que tomamos a decisão de ir por este caminho e procuramos os meios de o trilhar. Nos e que somos os grandes responsáveis pelanossa vida espiritual.

E o terceiro e não menos importante, sim é o diretor. Ele será em nossa vida um bom jardineiro...aquele que vê como as plantas crescem, vê as ervas daninhas que crescem,

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como anda a rega, enfim é ele quem ajuda a você neste caminho.

3º Quem pode ser diretor espiritual e com que frequência devemos fazê-la?

Aqui cabe uma colocação: O diretor tem que ser um padre ou não?

Não necessariamente, aqui podemos dizer que há uma grande confusão entre a maioria das pessoas. Confissão é aquela que fazemos somente com o sacerdote, que deve ser clara e objetiva. Já a direção pode acontecer depois ou antes da confissão caso seu diretor seja um padre. Caso o diretor não seja, ele poderá lhe orientar e quando necessário você pode procurar um sacerdote apenas para a confessar-se.

Se seu orientador não for um sacerdote é preciso que esta pessoa seja uma pessoa madura na fé, que já tenha uma boa caminhada e bastante experiencia de vida espiritual.

A quantidade de vezes é algo muito individual, no começo talvez uma vez por semana depois vai se espaçando conforme a necessidade do acompanhado.

4º Como deve ser a personalidade, a formação e a vida de fé do diretor espiritual ?

Sua personalidade deve refletir que a Graça de Deus trabalhou e ainda trabalha muito nele. Não é necessário que seja Santo, porém que já esteja bem adiantado neste caminho em busca da santidade. Não pode ser uma pessoa que quer acompanhar a outra para fazer dela seu reflexo, que quer acompanhá-la para saber sua intimidade. Tem que ser uma pessoa de virtude, que saiba guardar segredos e que seja muito sincera naquilo que diz. É preciso que ele nos mostre sempre Jesus.

Sua formação deve ser aquela conseguida ao longo da caminhada. É necessário que seja uma pessoa que viva querendo saber mais, aprender mais das coisas de Deus, Pessoade grande intimidade com Deus, não necessariamente um teólogo. Santa Teresa dizia que se fosse pra escolher entre um diretor Santo ou um Sábio ela escolheria o sábio, mas que a maior graça seria encontrar um que fosse conhecedor profundo das coisas de Deus e as soubesse colocar em prática.

A fé desta pessoa deve ser acima de tudo uma fé praticada, com responsabilidade. Vida com coerência evangélica. É uma pessoa com pecados, com dificuldades, mas que procura viver a coerência daquilo que anuncia em sua vida.

5º Como deve ser feito este projeto de vida espiritual junto ao diretor espiritual?

Deve ser feito pela própria pessoa e acompanhado pelo diretor. Ninguém melhor do que a própria pessoa para saber onde é precisa crescer e onde precisa melhorar. Por isso este projeto não pode ser fixo ele vai se modificando conforme vamos crescendo na fé.

Encerrando...São Josemaria nos diz que não podemos ter receio de nos abrirmos e mostrar nossas fraquezas ao nosso diretor espiritual, pois só assim venceremos a batalha do medo de assumir nossas fraquezas.

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1.9 Escuta

Há pessoas que, ao orar, fazem o sinal da cruz como se estivessem digitando o número telefônico do céu; depois, começam a pedir tudo aquilo de que precisam, ou a ler metodicamente orações impressas em santinhos, cadernos, folhetos; e quando terminam, fazem o sinal da cruz novamente como se estivessem guardando o fone de ouvido e vão embora, satisfeitas porque já "cumpriram" sua oração. Mas não vão deixar Deus dizer nada?

Estamos muito acostumados a falar, falar e falar na oração. É preciso equilibrar a balança. Não só falar, mas também escutar; não só pedir, mas também agradecer, louvar, adorar. E sobretudo deixar Deus falar.

Alguém poderia dizer: "Mas Deus não fala! Nunca me disse nada!". E a isso podemos responder: sim, Ele fala, mas você não ouve porque está ocupado demais falando de você mesmo.

Somos templos do Espírito Santo, assim Deus habita em nós, mas será que paramos para sentir esta presença de Deus em nós. É o Espírito Santo que nos ajuda a ouvir Deus, é ele que unge nossos sentidos, nossas capacidades.

Mas Deus se usa de vários meios para se comunicar. Deus fala, em primeiro lugar, por meio da sua Palavra. Mas não somente. Fala também através de outros meios, alguns tão evidentes como as palavras do Papa Francisco, sempre certeiras, que nos comovem e fazem refletir. E pode falar através do comentário de uma pessoa, de algo que vivenciamos, ouvimos ou lemos aparentemente "por acaso".

Você conhece a lenda do monge e do templo na ilha? Disseram ao monge que os sinosmais belos eram ouvidos nessa ilha, mas que, com o passar dos séculos, a ilha havia afundado no mar e, com ela, o templo e seus sinos. Uma antiga tradição afirmava que os sinos continuavam tocando sem cessar e que qualquer um que prestasse muita atenção poderia ouvi-los.

O único desejo do monge era ouvir esses sinos. E ele ficou sentado durante dias na beira do mar, diante do lugar em que o templo havia existido, e tentava ouvir com toda a atenção. Mas só escutava o barulho das ondas ao bater nas pedras. Ele fez todo o esforço possível para afastar de si o barulho das ondas, com o fim de ouvir os sinos. Mas foi em vão:o mar parecia inundar o universo.

Um dia, desanimado, desistiu da sua ideia, acreditando não ser um dos seres afortunados a quem era dado o dom de ouvir os sinos. Em seu último dia no local, ele apenas deitou na areia, contemplando o céu e ouvindo o som do mar. Naquele dia, ele não opôs resistência ao som do mar, apenas se entregou, e descobriu que o som das ondas era realmente doce e agradável. E foi ficando absorto naquele som, até seu coração ficar em silêncio profundo. E, em meio àquele silêncio, ele ouviu! Primeiro um sino, depois outro, outro e outro. E todos e cada um dos mil sinos do templo, que formavam uma gloriosa harmonia. Seu coração transbordou de assombro e alegria.

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Nossa Caminhada de oração é marcada por etapas crescentes de intimidade com o Senhor.

a) 1a etapa, seduz, conforta,consola, com Seu amor.

b) 2a etapa, corrige,revela o que somos, nossas faltas e limitações.

c) 3a etapa ,partilha de Seu coração e nos envia em missão.

É necessário sempre pedir ao Espírito Santo a ajuda para saber e para cumprir a missão que Deus nos confia. Também é importante nos acostumar a silenciar nossa própria voz para poder captar a de Deus. Abrir o ouvido e o coração, e preparar-nos para acolher o que o Senhor quiser nos comunicar. Calar-nos um pouquinho, aprender a ouvir a voz de Deus.

Na oração o Espírito de Deus nos revela o que somos e o que temos de mudar. Vamosver se através destas perguntas você consegue ver se está ou não escutando a Deus:

- Você é capaz de olhar pra dentro de seu coração e admitir falhas, limitações, pecados?

- Como está sua capacidade de perdoar?

- Já é capaz de abençoar quem o magoou?

2 A Missa parte por parte

“IMBUÍDOS DO AMOR DIVINO, TRANSBORDAMOS O AMOR HUMANO QUETAMBÉM É DIVINO”. (Autor Desconhecido)

A missa é uma celebração. E celebrar, “é tornar presente uma realidade através de um rito”. Na celebração, temos sempre presentes o passado, o presente e o futuro, que em breves momentos unem-se num tempo só, a eternidade.

Deus é um instante que não passa – Karl Rahner

E o valor da missa é tornarmos presente a Paixão-Morte-Ressurreição de Cristo através da celebração, e assim participarmos mais ainda do mistério de salvação da humanidade.

É como se em cada missa, você estivesse aos pés da cruz contemplando o mistério daredenção da humanidade. E é o que acontece em cada missa, em cada eucaristia celebrada. E aí está o amor de Cristo ao dar-se na Eucaristia, em forma de alimento.

Para realizarmos uma missa necessitamos de alguns “instrumentos”, sem os quais nãoé possível celebrar o “Santo Sacrifício”. São eles:

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a) A palavra de Deus

b) Altar (a missa é uma ceia, precisamos de uma mesa)

c) Assembleia (no mínimo uma pessoa)

d) Intenção do que se faz, tanto da parte da assembleia quanto do ministro

e) Ministro ordenado (padre ou bispo)

f) Pão, água e vinho.

Estes são os “ingredientes indispensáveis” a qualquer celebração eucarística. Sobre cada um deles, explicaremos no decorrer de cada parte da missa.

Instrução Geral ao Missal Romano, n.º 24:

“Os ritos iniciais ou as partes que precedem a liturgia da palavra, isto é, cântico de entrada, saudação, ato penitencial, Senhor, Glória e oração da coleta, têm o caráter de exórdio, introdução e preparação. Estes ritos têm por finalidade fazer com que os fiéis, reunindo-se em assembleia, constituam uma comunhão e se disponham para ouvir atentamente a Palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia”.

2.1 Posições usadas na Missa

“A posição comum do corpo, que todos os participantes devem observar é sinal da unidade dos membros da comunidade cristã, reunidos para a Sagrada Liturgia, pois exprime e estimula os pensamentos e os sentimentos dos participantes.” (IGMR 42)

SENTADO: É uma posição cômoda que favorece a catequese, boa para a gente ouvir as Leituras, a homilia e meditar. É a atitude de quem fica à vontade e ouve com satisfação, sem pressa de sair.

DE PÉ: É uma posição de quem ouve com atenção e respeito, tendo muita consideração pela pessoa que fala. Indica prontidão e disposição do “orante”.

DE JOELHOS: Posição comum diante do Santíssimo Sacramento e durante a consagração do pão e do vinho. Significa adoração a Deus.

2.2 Divisões da Santa Missa

A missa é dividida em duas grandes partes que são: LITURGIA DA PALAVRA E LITURGIA EUCARÍSTICA, porém temos os complementos RITOS INICIAIS E FINAIS. Para visualizarmos melhor:

Ritos Iniciais

Liturgia da Palavra

Liturgia Eucarística

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Ritos Finais

Vejamos agora cada uma destas partes.

2.2.1 Ritos iniciais

a. Comentário Inicial

Este tem, por fim, introduzir os fiéis ao mistério celebrado. Sua posição correta seria após a saudação do Padre, pois ao nos encontrarmos com uma pessoa primeiro a saudamos para depois iniciarmos qualquer atividade com ela.

b. Canto de Entrada

“Reunido o povo, enquanto o sacerdote entra com os ministros, começa o canto de entrada. A finalidade desse canto é abrir a celebração, promover a união da assembleia, introduzir no mistério do tempo litúrgico ou da festa, e acompanhar a procissão do sacerdotee dos ministros” (IGMR n.25).

Vejamos o que acontece e enxergamos com os nossos olhos e o que acontece de maneira invisível.

c. O canto

Durante a missa, todas as músicas fazem parte de cada momento. Através da música participamos da missa cantando.

d. A procissão

Visível: O povo de Deus é um povo peregrino, que caminha rumo ao coração do Pai. Todas as procissões têm esse sentido: caminho a se percorrer e objetivo a que se quer chegar.

Invisível: Jesus dirige-se ao Cenáculo: acompanhado dos seus discípulos, chega ao Cenáculo, onde estava preparada a mesa do sacrifício e da comunhão

e. O beijo no altar

Visível: Durante a missa, o pão e o vinho são consagrados no altar, ou seja, é no altar que ocorre o mistério eucarístico. O presidente da celebração ao chegar beija o altar em sinal de carinho e reverência por tão sublime lugar.

Invisível: o símbolo do gesto do beijo no altar, lembra o momento em que Jesus ao receber a Sua Cruz para a subida do Calvário, a beijou com profundo ardor

f. Sinal da Cruz

O presidente da celebração e a assembleia recordam-se por que estão celebrando a missa. É, sobretudo pela graça de Deus, em resposta ao seu amor.

g. Saudação

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Retirada na sua maioria dos cumprimentos de Paulo, o presidente da celebração e a assembleia se saúdam. O encontro eucarístico é movido unicamente pelo amor de Deus, mas também é encontro com os irmãos.

h. Ato Penitencial

Visível: Após saudar a assembleia presente, o sacerdote convida toda assembleia a, em um momento de silêncio, reconhecer-se pecadora e necessitada da misericórdia de Deus. Após o reconhecimento da necessidade da misericórdia divina, o povo a pede em forma de ato de contrição: Confesso a Deus todo-poderoso…

Invisível: Reconhecimento que somos pecadores e necessitados da misericórdia de Deus

i. Hino de Louvor

Espécie de salmo composto pela Igreja, o Glória é uma mistura de louvor e súplica, em que a assembleia congregada no Espírito Santo, dirige-se ao Pai e ao Cordeiro. É proclamado nos domingos – exceto os do tempo da quaresma e do advento – e em celebrações especiais, de caráter mais solene. Não pode ser substituído por outro que não siga a letra do original (IGMR 53). Foi entoado pelos anjos para anunciar o nascimento do Salvador: “Gloria in excelsis Deo”.

j. Oração da Coleta

Encerra os ritos iniciais e introduz a assembleia na celebração do dia.

“Após o convite do celebrante, todos se conservam em silêncio por alguns instantes, tomando consciência de que estão na presença de Deus e formulando interiormente seus pedidos. Depois o sacerdote diz a oração que se costuma chamar de ‘coleta’, a qual a assembleia dá o seu assentimento com o ‘Amém’ final”.

Visível: Composta de 3 partes:

Invocação, em geral dirigida ao Pai evocando diversos atributos de Deus.

Pedido, em geral pelos méritos de Jesus, a um Deus que deseja a salvação de todos

os filhos.

Finalidade; a Igreja pede que a exemplo dos santos possamos realizar nossa

vocação.

De costume dirigida a Deus Pai, conforme a antiga tradição da Igreja

Invisível:

Apresentação das nossas necessidades, anseios e súplicas

O Espírito Santo. Ele próprio, recolhe (coleta) estes pedidos e leva-os ao Céu

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2.2.2 Liturgia da Palavra

Deus nos fala por Jesus Cristo

Não existe celebração na liturgia cristã em que não se proclame a Palavra de Deus. Isto porque a Igreja antes de tornar presente os mistérios de Cristo ela os contempla. Pela palavra, Deus convoca e recria o seu povo, através de uma resposta de conversão da parte de quem a ouve.

“A parte principal da Palavra de Deus é constituída pelas leituras da Sagrada Escritura e pelos Cânticos que ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e concluída pela homilia, a profissão de fé e a oração universal ou dos fiéis. Pois nas leituras explanadas pela homilia Deus fala ao seu povo, revela o mistério da redenção e da salvação, e oferece alimento espiritual.” (IGMR 55)

a. 1ª, 2ª Leituras e Salmo

Para compreendermos melhor a liturgia da Palavra é necessário distinguir entre a liturgia dominical e a liturgia dos dias da semana.

Aos domingos é dividida em três anos, nos quais a Igreja procura ler toda a Bíblia. Nos dias de domingo e festas o esquema das leituras é o seguinte: Primeira leitura, salmo, segunda leitura, aclamação ao Evangelho e Evangelho.

Nos dias de semana, a liturgia é diferenciada em ano ímpar e ano par, e o esquema das leituras é dividido em primeira leitura, salmo, aclamação ao Evangelho e Evangelho.

b. Evangelho

É o ponto alto da liturgia da Palavra. Cristo torna-se presente através de sua Palavra e da pessoa do sacerdote. Tal momento é revestido de cerimônia, devido sua importância. Todos ficam de pé e aclamam o Cristo que fala. O diácono ou o padre dirige-se à mesa da palavra para proclamá-la.

c. Homilia

A homilia faz a transição entre a palavra de Deus e sua resposta. É feita exclusivamente por um ministro ordenado, pois este recebeu, através da imposição das mãos o dom especial para pregar o Evangelho. A função da homilia é confrontar o mistério celebrado com a vida da comunidade. Na homilia, o sacerdote anima o povo, exorta-o e se for preciso denuncia, mostrando a distância entre o ideal proposto e a vida concreta do povo.

d. Profissão de fé

“O símbolo ou profissão de fé, na celebração da missa, tem por objetivo levar o povo a dar seu assentimento e resposta à palavra de Deus ouvida nas leituras e homilia, bem como lhe recordar a regra da fé antes de iniciar a celebração da eucaristia” (IGMR 43).

e. Preces da comunidade

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“Na oração dos fiéis ou oração universal, a assembleia dos fiéis, iluminada pela graça de Deus, à qual de certo modo responde, pede normalmente pelas necessidades da Igreja universal e da comunidade local, pela salvação do mundo, pelos que se encontram em qualquer necessidade e por grupos determinados de pessoas” (IGMR 30).

Em resumo:

A Liturgia da Palavra é um diálogo entre Deus e seu povo.

Deus nos fala pelo Antigo Testamento (1ª Leitura)

O povo responde com o Salmo

Deus nos fala pelo Novo Testamento= Cartas, Atos (2ª Leitura)

O povo aclama o Evangelho.

Jesus nos fala no Evangelho e na Homilia.

O povo se compromete com a Profissão de Fé e reza a Oração Universal, pela

salvação do mundo.

2.2.3 Liturgia Eucarística

Deus nos santifica

Deus se oferece a nós por Jesus Cristo

Na liturgia eucarística atingimos o ponto alto da celebração. Durante ela a Igreja tornará presente o sacrifício que Cristo fez para nossa salvação. Não se trata de outro sacrifício, mas sim de trazer à nossa realidade a salvação que Deus nos deu. Durante esta parte a Igreja eleva ao Pai, por Cristo, sua oferta e Cristo dá-se como oferta por nós ao Pai, trazendo-nos graças e bênçãos para nossas vidas.

“Cristo na verdade, tomou o pão e o cálice em suas mãos, deu graças, partiu o pão e deu-os aos seus discípulos dizendo: ‘Tomai, comei, isto é o meu Corpo, este é o cálice do meu Sangue. Fazei isto em memória de mim’. Por isso, a Igreja dispôs toda a celebração da liturgia eucarística em partes que correspondam às palavras e gestos de Cristo.

A liturgia eucarística divide-se em:

Apresentação das oferendas;

Oração eucarística e

Rito da comunhão.

a. Apresentação das Oferendas

Apesar de conhecida como ofertório, esta parte da Missa é apenas uma apresentação dos dons que serão ofertados junto com o Cristo durante a consagração.

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Devido ao fato de na maioria das Missas essa parte ser cantada, acabamos não prestando atenção em tudo o que acontece durante esse momento.

Se conhecermos tudo o que aqui acontece podemos viver com um sentido maior a celebração.

Em primeiro lugar, aqui temos os elementos utilizados por Cristo na última ceia, que possuem todo um significado especial:

Nós nos oferecemos a Deus por Jesus Cristo

O pão e o vinho representam a vida do homem, o que ele é, uma vez que ninguém vivesem comer nem beber;

Representam também o que o homem faz, pois ninguém vai na roça colher pão nem nafonte buscar vinho;

Em Cristo o pão e o vinho adquirem um novo significado, tornando-se o Corpo e o Sangue de Cristo.

Como podemos ver, o que o homem é, e o que o homem faz adquirem um novo sentido em Jesus Cristo.

b. Preparação do altar

“Em primeiro lugar prepara-se o altar ou a mesa do Senhor, que é o centro de toda liturgia eucarística, colocando-se nele o corporal, o purificatório, o cálice e o missal, a não ser que se prepare na credência” (IGMR 49).

c. Procissão das oferendas

Visível: Neste momento, trazem-se os dons em forma de procissão. Lembrando que o pão e o vinho representam o que é o homem e o que ele faz, esta procissão deve revestir-sedo sentimento de doação, ao invés de ser apenas uma entrega da água e do vinho ao sacerdote.

Invisível: Procissão Anjos da Guarda

d. Apresentação das oferendas a Deus

i) Apresentação do pão

O sacerdote apresenta a Deus as oferendas através da fórmula:

“Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de vossa bondade,fruto da terra e do trabalho humano, que agora vos apresentamos, e para nós se vai tornar pão da vida.” e o povo aclama: Bendito seja Deus para sempre!

ii) Vinho e água misturados.

Antes de se apresentar o vinho, se mistura uma gota de água que simboliza a união da natureza humana com a divina. Jesus quando assumiu a natureza humana reuniu em si

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Deus e o homem, assim nós também na missa nos unimos a Cristo para formar um só corpocom Ele.

“Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade.”

iii) Apresentação do vinho

“Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo vinho que recebemos de vossa bondade, fruto da videira e do trabalho humano, que agora vos apresentamos e que para nós se vai tornar vinho da salvação.”

“De coração contrito e humilde, sejamos, Senhor, acolhidos por vós; e seja o nosso sacrifício de tal modo oferecido que vos agrade, Senhor, nosso Deus.”

iv) O lavar as mãos

Após o sacerdote apresentar as oferendas ele lava suas mãos. Antigamente, quando as pessoas traziam os elementos da celebração de suas casas, este gesto tinha caráter utilitário, pois após pegar os produtos do campo era necessário que lavasse as mãos. É neste momento também que o celebrante lava as mãos pedindo ao Pai que o purifique de seus pecados e de suas faltas.

“Lavai-me, Senhor, de minhas faltas e purificai-me de meus pecados.”

v) A coleta do ofertório

Já nas sinagogas hebraicas, após a celebração da Palavra de Deus, as pessoas costumavam deixar alguma oferta para auxiliar as pessoas pobres.

e. O Orai Irmãos…

Agora o sacerdote convida toda assembleia a unir suas orações à ação de graças do sacerdote. E nós respondemos:

“Receba O Senhor por tuas mãos este sacrifício, para glória do Seu nome, para o nosso bem e de toda a Santa Igreja.”

f. Oração sobre as Oferendas

Esta oração coleta os motivos da ação de graças e nos lança no que segue, ou seja, a oração eucarística. Sempre muito rica, deve ser acompanhada com muita atenção e confirmada com o nosso amém!

g. A Oração Eucarística

É na oração eucarística em que atingimos o ponto alto da celebração. Nela, através de Cristo que se dá por nós, mergulhamos no mistério da Santíssima Trindade, mistério da nossa salvação:

“A oração eucarística é o centro e ápice de toda celebração, é prece de ação de graças

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e santificação. O sacerdote convida o povo a elevar os corações ao Senhor na oração e na ação de graças e o associa à prece que dirige a Deus Pai por Jesus Cristo em nome de todacomunidade”.

A missa é ação de graças

Como já foi referida anteriormente, a missa também pode ser chamada de eucaristia, ou seja, ação de graças.

A missa é sacrifício

Sacrifício é uma palavra que possui a mesma raiz grega da palavra sacerdócio, que do latim temos sacer-dos, o dom sagrado. O dom sagrado do homem é a vida, pois esta vem de Deus. Por natureza o homem é um sacerdote.

A Missa também é Páscoa

A Páscoa foi a passagem da escravidão do Egito para a liberdade, bem como a aliançaselada no monte Sinai entre Deus e o povo hebreu. E diante desses fatos o povo hebreu sempre celebrou essa passagem, através da Páscoa anual, das celebrações da Palavra aossábados, na sinagoga e diariamente, antes de levantar-se e deitar-se, reconhecendo a experiência de Deus em suas vidas e louvando a Deus pelas experiências pascais vividas ao longo do dia. O povo judeu vivia em atitude de ação de graças, vivendo a todo instante a Páscoa em suas vidas.

h. Fazei isto em memória de mim

Cristo ao instituir esta “nova” Páscoa, deixa uma ordem ao final dela: “Fazei isto em memória de mim”. Mas o que pode significar esta ordem? Pode significar o fato de que, todas as vezes que quisermos celebrar a Páscoa devemos dar graças, consagrar o pão e reparti-lo com os irmãos.

Em resumo, temos o seguinte no esquema da oração eucarística:

1) O fato maravilhoso – Expresso no prefácio, relembra os benefícios, as bênçãos de Deus em nossas vidas.

2) Admiração – Sentimento que atravessa toda oração.

3) Exclamações e aclamações da assembleia ao longo da oração eucarística.

4) Proclamação ou a memória dos benefícios através da consagração das espécies.

5) Pedidos e intercessões

6) Louvor final – Por Cristo, com Cristo, em Cristo…

“Trata-se de uma ação de graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. A Igreja rende graças a Deus Pai pelas maravilhas operadas por Cristo, no Espírito Santo. Ela louva,

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bendiz e agradece ao Pai. Comemora o Filho. Invoca o Espírito Santo”.

a) Prefácio

Visível: Após o diálogo introdutório, o prefácio possui a função de introduzir a assembleia na grande ação de graças que se dá a partir deste ponto. Enumera os motivos do agradecimento.

Invisível: Mostra a união da Assembleia com a Igreja Celeste

b) O Santo

Visível: É a primeira grande aclamação da assembleia a Deus Pai em Jesus Cristo. Foi retirado de duas passagens bíblicas. Is 6, 1-3: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos…” e Mt 21, 10: “Bendito o que vem em nome do Senhor, Hosana nas alturas.”

Invisível: Nos remete ao Céu, nos une aos Anjos e Santos

c) Epiclese – A invocação do Espírito Santo

Através dele Cristo realizou sua ação quando presente na história e a realiza nos tempos atuais. A Igreja nasce do Espírito Santo, que transforma o pão e o vinho. A Igreja temsua força na Eucaristia.

Invisível: A Igreja implora por meio de invocações especiais a força do Espírito Santo para que os dons oferecidos pelo ser humano sejam consagrados, isto é, se tornem o Corpoe Sangue de Cristo.

d) A consagração – Narrativa da Instituição e consagração

É o ponto alto da celebração, quem preside repete as palavras e gestos do Senhor na última ceia. O pão e o vinho se tornam (são transubstanciados) Corpo e Sangue do Senhor. O sacerdote mostra ao povo e em silêncio adoramos. Nunca compreenderemos totalmente por isso dizemos “EIS O MISTÉRIO DE NOSSA FÉ” (aqui nós se levantamos).

Deve ser toda acompanhada por nós. É reprovável o hábito de permanecer-se de cabeça baixa durante esse momento. É também desnecessário qualquer tipo de manifestação quando o sacerdote ergue a hóstia, pois este é um momento sublime e de profunda adoração. Nesse momento o mistério do amor do Pai é renovado em nós.

Invisível: A Consagração nos dá o Corpo entregue agora, o Sangue derramado agora…- É a crucifixão do Senhor. A Elevação: Jesus é suspenso na Cruz, entre o Céu e a Terra.

No momento das palavras da consagração, na patena e no cálice, também estão os nossos pecados e os de toda a humanidade, de todos os tempos, passados, presentes e futuros.

Jesus está pregado na Cruz e sofre, misticamente, a Sua Paixão Dolorosa.

e) Anamnese (ou seja memorial)

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O próprio Senhor ordenou “FAZEI ISSO EM MEMÓRIA DE MIM” e também dizemos aqui “Todas as vezes.....” sempre fazendo memória a morte do Senhor até que ele venha.

Celebrando, pois, a memória e ressurreição do vosso Filho…

Aqui se relembra toda a dolorosa Paixão, mas ao mesmo tempo se comemora a sua vitória sobre a morte na Ressurreição, sua ascensão gloriosa ao Céu.

f) Oblação

Este é o verdadeiro ofertório da missa, quando Jesus se oferece ao Pai em comunhão com o Espírito Santo por nós.

Somos entregues a Cristo, para que ele nos faça uma perfeita oferenda, agradável a Deus.

Eis porque devemos estar em estado de graça. Como poderemos ser oferecidos, dignamente, se estamos em estado de falta?

g) Preces e intercessões

Reconhecendo a ação de Cristo pelo Espírito Santo em nós, a Igreja pede a graça de abrir-se a ela, tornando-se uma só unidade. Pede para que o Papa e seus auxiliares sejam capazes de levar o Espírito Santo a todos. Pede pelos fiéis que já se foram e pede a graça de, a exemplo de Nossa Senhora e dos Santos, os fiéis possam chegar ao Reino para todos preparados pelo Pai.

h) Doxologia Final

Doxologia quer dizer louvor.

É uma espécie de resumo de toda a oração eucarística, em que o sacerdote tendo o Corpo e Sangue de Cristo em suas mãos louva ao Pai e toda assembleia responde com um grande “amém”, que confirma tudo aquilo que ela viveu.

O sacerdote diz SOZINHO: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo.”

É a glorificação de Deus.

Invisível: É o grito de Jesus no Calvário: “Pai, nas Tuas mãos eu entrego o meu Espírito… Tudo está consumado.”

2.2.4 Rito da Comunhão

A oração eucarística representa a dimensão vertical da Missa, em que nos unimos plenamente a Deus em Cristo. Após alcançarmos a comunhão com Deus Pai, o desencadeamento natural dos fatos é o encontro com os irmãos, uma vez que Cristo é únicoe é tudo em todos. Este é o momento horizontal da Missa.

a) O Pai-Nosso

É o desfecho natural da oração eucarística. Uma vez que unidos a Cristo e por ele

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reconciliados com Deus, nada mais oportuno do que dizer: Pai nosso… O Pai Nosso é uma oração de relacionamento e entrega, onde o próprio Jesus nos ensinou a chamar Deus de Pai. O Pai Nosso foi plenamente vivido por Jesus antes que Ele nos ensinasse, portanto também devemos vivê-lo. Esta oração nos leva a entrar em comunhão com o Pai, o Filho e oEspírito Santo e com nossos irmãos que são o Corpo místico de Cristo.

Quando recitamos esta oração na missa ela não termina com Amém pois continua coma oração seguinte, o embolismo (“Livrai-nos de todos os males…”) e a Oração pela Paz (“Senhor Jesus Cristo, dissestes aos vossos apóstolos…”), só assim dizemos o Amém. Deveser recitado de pé, com as mãos erguidas, na posição de orante.

b) Oração pela paz

Uma vez reconciliados em Cristo, pedimos que a paz se estenda a todas as pessoas, presentes ou não, para que possam viver em plenitude o mistério de Cristo.

c) O cumprimento da Paz

É um gesto simbólico, representando nosso bem-querer ao próximo. Por ser um gesto simbólico não há a necessidade em sair do local para cumprimentar a todos na Igreja. Se todos tivessem em mente o simbolismo expresso nesse momento não seria necessária a dispersão que o caracteriza na maioria dos casos. A Instrução Geral do Missal Romano diz: “Convém que cada qual expresse a paz de maneira sóbria apenas aos que lhe estão mais próximos”. (IGMR 82)

d) O Cordeiro de Deus

O sacerdote e a assembleia se preparam em silêncio para a comunhão.

O sacerdote parte a Hóstia Sagrada. É a morte de Jesus (corpo e sangue são separados, significa a morte)

O Cordeiro de Deus nos recorda que a morte de Jesus acontece pelos nossos pecados. Um pequeno pedaço da Hóstia é colocado no cálice, unindo o Corpo e o Sangue –(Ressurreição de Cristo)

Jesus então é apresentado (Eis o Cordeiro de Deus): E nós assumimos a nossa falta de dignidade de participar de tão grande momento.

e) A comunhão

Durante esse momento a assembleia dirige-se à mesa eucarística. O canto deve procurar ser um canto de louvor moderado, salientando a doação de Cristo por nós. A comunhão pode ser recebida nas mãos ou na boca, tendo o cuidado de, no primeiro caso, a mão que recebe a hóstia não ser a mesma que a leva a boca. Aqueles que por um motivo ououtro não comungam é importante que façam desse momento também um momento de encontro com o Cristo.

f) Oração após a comunhão

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É a terceira oração que o celebrante faz em nome do povo, normalmente pedindo que sejamos coerentes com o que acabamos de celebrar.

2.2.5 Ritos Finais

Deus nos envia

“O rito de encerramento da Missa consta fundamentalmente de três elementos: a saudação do sacerdote, a bênção, que em certos dias e ocasiões é enriquecida e expressa pela oração sobre o povo, ou por outra forma mais solene, e a própria despedida, em que sedespede a assembleia, a fim de que todos voltem às suas atividades louvando e bendizendoo Senhor com suas boas obras” (IGMR 57).

a) Avisos

Devem ser breves, mas é o momento onde as atividades pastorais são transmitidas para todo o povo.

b) Benção Final

Visível: É quando nos marcamos novamente com o sinal da Trindade para que ela nos acompanhe pela vida e nos ajude a cumprir a Missão a que fomos chamados.

Invisível: Jesus sobe aos Céus, abençoando a sua Igreja.

c) Despedida e Canto Final

É quando o celebrante se despede da assembleia em paz. Tem-se normalmente um canto e as pessoas só devem se retirar depois da saída do celebrante.

O intuito maior é mostrar e, claro, entendermos que a Missa é algo dinâmico, que não se reduz a apenas uma série de ritos realizados no interior da nossa Igreja; pelo contrário, através da Missa, Cristo está presente em nós, e por nós, tornamos Cristo presente no mundo. Daí ser a Eucaristia fonte da Igreja.

3 A Bíblia – A Sagrada Escritura

3.1 Introdução - A biblioteca de Deus para nós

a) O significado da palavra Bíblia

A palavra bíblia vem do termo grego bíblos, que significa “o livro”. Embora seja um volume apenas, a Bíblia, na verdade, contém muitos livros; é uma verdadeira biblioteca. A tradução da Bíblia que é usada na Igreja católica contém 73 livros, escritos por muitos autores inspirados por Deus.

b) A divisão dos textos

A Bíblia é formada por dois grandes blocos de livros chamados Testamentos: o Antigo, se refere à história do povo de Israel, atualmente também chamado de Primeiro Testamento,

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e o Novo, que conta a vida de Jesus e das primeiras comunidades cristãs, hoje também chamado Segundo Testamento. A maioria dos livros do Primeiro Testamento é aceita por judeus e cristãos, enquanto o Novo Testamento é aceito somente pelos cristão.

O Antigo Testamento constitui a maior parte da Bíblia. É formado por 46 livros, que foram escritos, aproximadamente, entre os anos 980 a.C. e 50 a.C.

c) Quando a Bíblia começou a ser escrita

Antes de a Bíblia ter sido escrita, ela foi narrada. A isso, damos o nome de tradição oralda Bíblia.

Durante séculos, a fé de Israel foi comunicada de pais para filhos, contada e recontada de geração em geração (cf. Sl 78).

No reinado de Salomão, os escribas da corte começaram a reunir os relatos que até então haviam sido comunicados oralmente. Atribuíram-se a Salomão a preocupação e a iniciativa de registrar em livros a tradição religiosa de Israel.

A ordem em que os livros se encontram dispostos na Bíblia nem sempre segue a cronologia histórica. O primeiro livro a ser escrito não foi o Gênesis, e, sim, alguns textos do Êxodo. Isto porque o episódio do êxodo foi fundamental para a história de Israel. A experiência de Deus, feita pelo povo, chegou a seu ponto culminante no processo de libertação da escravidão do Egito e de caminhada para a liberdade, rumo à Terra Prometida, “uma terra onde corre leite e mel”. Nesse processo, o povo descobriu e acolheu a revelação do mistério de Javé, o Deus que vê a situação do povo, escuta o clamor e vem ao seu encontro para libertá-lo da opressão egípcia e conduzi-lo a uma nova realidade de vida e libertação. O Êxodo é a experiência do Deus libertador. Este é o momento que pode ser chamado de fundação do povo de Israel. O último livro escrito foi o da Sabedoria.

O Novo Testamento é formado por 27 livros, todos escritos depois do nascimento de Jesus Cristo.

Eles falam de Jesus e das primeiras comunidades cristãs. Inicialmente foram escritas as cartas de Paulo, aproximadamente vinte anos após a morte e ressurreição de Jesus, e o último livro, o Apocalipse, foi concluído talvez cerca de 115 d.C.

d) As línguas da Bíblia

A Bíblia foi escrita em três línguas diferentes: hebraico, aramaico e grego. O Antigo Testamento, na sua maior parte, em hebraico e aramaico, que eram as línguas da região onde o povo habitava.

Quando a Palestina foi invadida pelos gregos, pelo ano 333 a.C., difundiu-se no país a língua grega.

Todo o Novo Testamento foi escrito em grego, pois a maioria dos livros se dirigia a pessoas que não conheciam o aramaico nem o hebraico.

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e) As traduções

Com o passar do tempo foi preciso traduzir a Bíblia do hebraico para o grego, pois o hebraico já não era mais a língua falada pelo povo. A mais famosa tradução grega é a Bíblia Septuaginta, ou Bíblia dos Setenta, escrita por setenta sábios, em Alexandria, no Egito, por volta do ano 250 a.C. A essa versão foram acrescentados sete livros que não constavam da Bíblia hebraica: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria e 1 e 2 Macabeus, além de trechos dos livros de Daniel e de Ester. Esses livros foram escritos em grego (ou talvez os originais hebraicos tenham se perdido) por judeus que moravam fora de Israel, os chamadosjudeus da diáspora - palavra grega que significa “dispersão”.

Porém, nunca foram aceitos pelo povo hebreu como autênticos, ou seja, verdadeiramente inspirados por Deus.

f) Bíblia “católica” e Bíblia “protestante”

A diferença que existe entre a Bíblia “católica” e a Bíblia “protestante” está o Antigo Testamento, pois os protestantes adotam a tradução da Bíblia hebraica, que só contém os livros escritos em hebraico. A Bíblia “católica” segue a versão grega, portanto, possui os setelivros citados no item anterior.

g) Os livros apócrifos

Muitos escritos contemporâneos aos livros bíblicos não foram inseridos na Bíblia e são considerados apócrifos - palavra grega que significa “escondido” ou “secreto”, mas neste caso adquiriu o sentido de “falso”, indicando, portanto, os livros de origem incerta, não inspirados por Deus nem dignos de inclusão no conjunto dos livros autênticos da Bíblia. Existem livros apócrifos do Antigo e do Novo Testamento; os mais conhecidos são o Protoevangelho de Tiago e o Evangelho secreto da Virgem Maria.

h) O simbolismo bíblico

A Sagrada Escritura possui uma linguagem oriental, repleta de simbologia. Não se tratade um livro científico ou que tenha pretensão de narrar acontecimentos com precisão rigorosa. Pelo contrário: com os relatos de fatos históricos, encontram-se poesias, parábolas, números e expressões totalmente simbólicas. O número sete, por exemplo, significa a perfeição, a totalidade e a plenitude; o número quarenta significa o tempo necessário para a purificação do passado e a geração de vida nova. A citação de elementos da natureza, como nuvens, fogo, ventos, trovões, brisa, entre outros, significa a presença de Deus em determinado momento e local.

3.1.1 As citações Bíblicas

Modo de citar as passagens

Livro

Capítulos

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Versículos

Pontuações utilizadas

Vírgula (,) : separa o capítulo do versículo(s) citado

Hífen (-) : englobar vários versículos

Traço ( – ) : abrange vários capítulos

Ponto (.) : versículos avulsos dentro do mesmo capítulo

Ponto-e-vírgula (;) : Citar várias referências

Exemplos:

Jo 1, 1

Mt 5, 3-12

Lc 3,1.7

Lc 9,51.53-54

Mc 1,16 – 8,26

Mt 1,1.25 – 2,4

Mt 4,16;14,12 – 18,22

3.1.2 Como não ler a Bíblia?

De forma: Apologética, Utilitarista, Oportunista, Fundamentalista, Intimista, Intelectualista, Desencarnada, como horóscopo.

3.1.3 Como ler a Bíblia

Exegese: É uma palavra que vem do grego e significa “explicação ou explanação”. É

a arte de expor, de trazer para fora o sentido de um determinado texto. É um conjuntode técnicas e ferramentas utilizadas para entender e descobrir o significado de um texto.

Hermenêutica: Diz respeito à interpretação do que está escrito. É a apropriação que

se faz do entendimento do texto para aplicá-lo no dia a dia.

Exemplo de um método para a Leitura Bíblica:

Leitura Orante

Lectio – Ler: O que o texto nos diz?

Meditatio – Meditar: O que o Senhor nos diz na Palavra?

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Oratio – Rezar: O que falamos ao Senhor motivados pela Palavra?

Contemplatio – Contemplar: Que conversão provoca em nós a Palavra? Que ações

nos convida o Senhor inspirados pela Palavra?

“A LEITURA DA BÍBLIA NÃO É MERA QUESTÃO DE TÉCNICA. É UMA OPÇÃO DE VIDA, FRUTO DO DOM DO ESPÍRITO”.

“A leitura Bíblica deve nos tornar pessoas humanas, fraternas e capazes de construir um mundo melhor. Deve tornar o leitor capaz de confiar na Palavra como força para transformar vidas, animar esperanças, alimentar a fé e como caminho de realização do Plano de Deus.” (Ir. Maria Aparecida Barboza - Teóloga e doutoranda em Sagradas Escrituras pela PUC-RIO)

3.1.4 A divisão dos Livros

Antigo Testamento Novo TestamentoPentateuco (a Lei) EvangelhosLivros Históricos Atos dos Apóstolos

Livros Sapienciais Cartas PaulinasLivros Proféticos Cartas Católicas

Apocalipse de São João46 Livros 27 Livros

73 Livros

4 Sagrada Escritura – História da Salvação

4.1 Deus se revelou ao povo de Israel

Israel é o nome de um dos povos que habitou a região onde a história da Bíblia foi intensamente vivida e escrita. Nessa terra ocorreu a maioria dos fatos narrados no Antigo e também no Novo Testamento.

Israel fica situada no hemisfério Norte, no Oriente Médio (ver no mapa-múndi), e ocupa um território muito pequeno. Para se ter uma ideia de quanto é pequena sua extensão, bastalembrar que o território caberia quatrocentas vezes dentro do Brasil.

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No decorrer de sua longa história, a terra de Israel recebeu muitos nomes, os quais sãoreferidos na Bíblia, cada um indicando um período histórico: Canaã (cf. Ex 15,15); Palestina, Reino de Israel e Reino de Judá;Terra Prometida, Terra Santa. A partir de 1947, Israel passou a ser oficialmente reconhecido pelas Nações Unidas como Estado de Israel.

O nome Israel compõe-se de duas palavras da língua hebraica: sara, que significa “lutar”, e el, que quer dizer “deus” ou “divindade”. Deus mudou o nome de Jacó para Israel, que é traduzido por “Deus lutará” ou, ainda, “que Deus se mostre forte”.

4.2 Pentateuco

Penta (Cinco), teuco (rolos, livros).

São os primeiros livros da Bíblia. Na Bíblia hebraica (judaica) o Pentateuco é chamado de “a Lei Torá”, porque é o fundamento da religião judaica. É o livro canônico (a Lei) dos judeus.

Na história do Pentateuco encontramos as grandes linhas da fundação do reino de Deus na terra. A formação do mundo, da humanidade e do povo escolhido por Deus. As leis contidas foram sendo escritas durante cinco séculos, reformulando, adaptando e atualizandotradições mais antigas, que vieram desde os tempos de Moisés.

Mostra a Revelação gradativa de Deus aos homens. Deus se revelando aos

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patriarcas, libertando seu povo da escravidão, alimentando seu povo, conduzindo-o e criando leis.

Os livros que compõem o Pentateuco são: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Vejamos então qual a mensagem central de cada um destes livros:

a) Gênesis

Como a Providência Divina preparou desde o princípio dos tempos, um povo especial para ser o primeiro núcleo de Seu Reino.

Gênesis = Começo, nascimento. Fala do surgimento do mundo, da história e do povo de Deus.

Gn 1-11 – A criação do mundo e do homem por Deus : A história dos homens e do processo humano dominado pelo pecado.

Gn 12-36 – História dos Patriarcas

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Gn 37-50 – História de José

b) Êxodo

Como de fato o Reino foi fundado. Conta como Deus libertou e formar seu povo.

Êxodo = Saída. Começa narrando a saída dos hebreus da terra do Egito, onde eram escravos.

A mensagem do Êxodo é uma prefiguração da mensagem do Novo Testamento.

Mensagem central: Páscoa dos hebreus, simbolismo do batismo, passagem da escravidão do Egito para a terra Prometida (O Reino de Deus estabelecido na terra); Deus liberta seu povo. (Novo Testamento: Páscoa de Jesus, Deus na Pessoa de Jesus, liberta o homem da escravidão do pecado para uma vida nova. Estabelece uma nova e plena Aliança.)

c) Levítico

Formação de um povo santo. O povo toma conhecimento de sua natureza “santa”.

Levítico = provém do nome Levi, a tribo de Israel que foi escolhida por Deus para exercer a função sacerdotal no meio do seu povo.

Mensagem central: “Sede santos como vosso Deus é Santo” (Lv 19, 2).

d) Números

O povo a caminho das Terra Prometida, toma conhecimento de sua organização.

Números = Chama-se assim porque começa com um grande recenseamento do povo hebreu no deserto. Fala sobre a divisão das 12 tribos de Israel; o tabernáculo, onde ficava guardada a arca da aliança; as funções de cada um; a escolha dos levitas e sua missão de cuidar do tabernáculo; Aarão como sacerdote.

Mensagem Central: A caminhada do povo até a terra prometida: nos fala que todo o povo de Deus é peregrino e caminha para a terra prometida por Deus (a glória). A organização: mostra que, dentro do povo de Deus, as funções devem ser repartidas, mas com um único objetivo: realizar o projeto de Deus. A arca da aliança no centro: indica que, nessa caminhada, Deus está sempre presente no meio de seu povo.

e) Deuteronômio

O povo tomou conhecimento de seu espírito baseado no amor e na obediência. A palavra grega deuteronômio significa: segunda lei. Lei de Moisés, segundo às necessidades do povo de Israel.

Israel viverá feliz na terra se forem fiel à aliança com Deus; se for infiel, terá a desgraçae acabará perdendo a vida.

Mensagem central: Mostra que o comportamento fundamental do homem para com

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Deus é o amor com todo o ser (Deut. 6, 4-9).

“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a alma e de todas as tuas forças”.

4.3 Livros Históricos

Nos livros históricos encontramos a história do povo de Deus, desde a entrada na terra prometida até próximo a época de Jesus. Mostra-nos as relações entre Deus e os homens, através dos acontecimentos.

Podemos dividir em três grupos:a. História deuteronomista: Josué, Juízes, Samuel, Reis.b. História do cronista: Crônicas 1 e 2, Esdras e Neemias.c. História de Pessoas como modelos de fé: Macabeus, Rute, Tobias, Judite, Ester.

a) História do Deuteronomista:

Josué, Juízes, Samuel, Reis – Mostraram que a história de Israel depende da atitude que o povo toma na aliança com Deus: “Se o povo é fiel à aliança, Deus lhe concede a bênção (saúde, felicidade). Se o povo é infiel, atrai para si a maldição (fracasso, doença, miséria). Esta ideia faz parte faz parte da história deuteronomista.

Josué – Deus libertou o povo do Egito para ser livre na Terra prometida. Mas o povo teria que conquistar a Terra que Deus lhe dera. Deus concede o dom, mas não viola a liberdade e nem dispensa o esforço do homem para assumí-la em seu viver. Deus exige queo homem busque e conquiste o dom que Ele concede. Deus quer a colaboração do homem.

Juízes – Depois das morte de Josué, as tribos se dispersaram, o povo começa a adorar deuses, consequentemente perde a liberdade e se torna escravo dos ídolos. No sofrimento toma consciência, se arrepende e suplica para que Deus lhe liberte. Deus faz surgir um juiz que reúne o povo e o conduz à liberdade.

Samuel – O último juiz. Este sagrou o primeiro rei – Saul. Estabelecimento da monarquia sob Saul e Davi.

Afirma que qualquer autoridade que não obedece a Deus e não serve o povo é ilegítima e má, pois ocupa o lugar de Deus para explorar e oprimir o povo. Toda autoridade vem de Deus.

Reis – Mensagem Central: “O rei deve ser fiel a Deus e governar com sabedoria e justiça, servindo o povo que pertence a Deus”. Mas os reis são sempre infiéis e fazem o maldiante do Senhor (praticam idolatria, oprimem o povo, perseguem os profetas). Por isso o Reino do Norte (Israel) e o Reino do Sul (Judá) são levados à ruína.

O templo e os profetas tem um papel importante nessa época. O templo – lugar da reunião do povo com Deus. Os Profetas – guardiões da consciência do povo, e os críticos daação política dos reis.

b) História do Cronista:

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Esdras e Neemias – Procuram dar as normas básicas para a sobrevivência e a organização do povo de Deus depois do exílio.

Esdras – sacerdote conhecedor da Lei de MoisésNeemias – Leigo corajoso.

As bases da reforma de Esdras e Neemias são os alicerces do judaísmo.

Crônicas 1 e 2 – Para fundamentar essas normas, eles repensam a própria história dopovo, desde o início. Com o objetivo de dirigir a atenção do povo para a esperança de Israel que se reúne: no templo e no Messias.

Templo: onde Deus estabeleceu sua morada.

Messias: que há de vir e cumprir as promessas feitas aos patriarcas e profetas.

c) História de Pessoas como modelos de Fé:

Macabeus 1 e 2, Rute, Tobias, Judite, Ester - Se apresentaram como modelos de vivência da fé diante de situações difíceis, seja de vida pessoal (Rute, Tobias), como nacional (Judite, Ester, Macabeus).

Macabeus – Mostraram a resistência heróica de um grupo diante da dominação grega, que impõe a sua culta e religião ao povo de Israel.

Rute – Uma história emocionante do amor de Deus, que quer gente de todas as nações formando a sua família, o seu povo. O amor de Deus é para todos.

Tobias – A finalidade do livro é estimular e fortalecer a fidelidade e a confiança do povo nas mãos de Deus, nos valores de Israel e no seu Deus.

Judite – É um convite à coragem. Leva o povo a louvar o verdadeiro Deus que vence os ídolos opressores.

Ester – Deus dá força e coragem e derrota o orgulho humano, fazendo vencer os oprimidos.

4.4 Livros Proféticos

Em hebraico – profeta = nabî = o que é chamado

Em grego – pro = em nome de; Phemi = falar – falar em nome de Deus.

O profeta recebe um chamado de Deus para ser mensageiro e intérprete da Palavra Divina; teve um encontro pessoal e extraordinário com Deus e esta experiência o convocou a se tornar este mensageiro.

Tipos de pregação profética:

1. Exortações – é um apelo da coração do homem para que este evite a desventura.

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Geralmente começa: “escutai”.

2. Oráculos – tinham geralmente um tom ameaçador. Tem motivação moral e anuncia ventura ou desventura futura.

Temas das mensagens proféticas:

Os profetas falavam principalmente aos próprios contemporâneos, mas sua visão acerca do mundo engloba o passado, o presente e o futuro. O profeta vê num só relance as verdades eternas e os fatos em que elas se mostram. A mensagem de cada profeta varia de acordo com o momento histórico em que viveram e com os ouvintes de sua pregação. Temas principais: a salvação realizada em Cristo, o anúncio do Messias, a glória de Deus.

Profetas antes do exílio: Sofonias, Naum, Habacuc, Miquéias, Isaías, Jeremias, Oséias e Amós.

Mostravam ao povo e reis as suas faltas.

Deus os entregaria aos estrangeiros pelas suas faltas.

Exigiam a conversão do povo, para que não caísse sobre o país o julgamento de

Deus.

Profetas durante o exílio: Ezequiel, Isaías (40-55)

Viveram na Babilônia

Chamados profetas da consolação

Procuram erguer o ânimo do povo, para que retornem a caminhada e recuperem a fé

em Deus.

Profetas depois do exílio: Abdias, Ageu, Zacarias, Malaquias, Joel, Isaías, Jonas

Incentivaram o povo a reconstruir o templo, os muros e a cidade de Jerusalém.

Empreender a reforma religiosa, moral e social da comunidade judaica, predizendo a

glória do futuro Messias.

4.5 Livros Sapienciais

A literatura sapiencial de Israel fundamenta seu ensinamento sobre a experiência do seu povo, na fé em Iahweh. Os sábios de Israel orientam seu pensamento para a sabedoria em Deus.

Os livros sapienciais são: Provérbios, Jó, Eclesiástico, Eclesiastes e Sabedoria. Acrescenta-se a eles mais dois livros poéticos: Salmos e Cântico dos Cânticos.

4.5.1 Livro de Jó

Se preocupa com o problema do sofrimento do homem reto. A intervenção de Deus que

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se revela, ajudando na persistência da fé mesmo no sofrimento.

Preparação do futuro conhecimento do valor do sofrimento humano unido ao sofrimento de Cristo.

Revelações escatológicas:

Provação do justo – se transformará em beatitude eterna.

Prosperidade do ímpio – leva ao afastamento de Deus.

a) Tese antiga – tese da retribuição do bem e do mal nesta vida; sofrimento como castigo de pecados pessoais; vida longa, saúde, dinheiro – prêmio de Deus aos fiéis (Dt 8, 6-18).

Os judeus antigos não tinham conhecimento da existência da vida consciente após a morte. Julgavam que depois da morte, tudo acabava. Só no séc. II a.C. tomaram consciência. Jó foi escrito no século V a.C.

b) Contexto que o livro de Jó foi escrito – os bons são recompensados nesta vida por Deus enquanto que os maus são punidos com doença e miséria.

c) O livro de Jó mostra que:

O sofrimento não alcança somente aos maus

Deus não confirma a tese antiga

Deus instrui o homem também pelos sofrimentos

O sofrimento é instrumento de salvação

Deus salva os penitentes arrependidos

No sofrimento o homem confia que além do sofrimento, Deus é o seu único libertador

e pacificador.

Deus ultrapassa a inteligência do homem

Ninguém pode sondar os desígnios de Deus

Ninguém pode pedir contas a Deus dos seus planos.

4.5.2 Livro de Eclesiastes

Se preocupa com a felicidade do homem. Escrito (tese da retribuição do bem e do

mal nesta vida)

O autor é um judeu da Palestina (séc II aC.). Levanta críticas ao rei, ao reino e à

corrupção. Fala do que ele observa e experimenta.

Quando o autor fala do gozo dos prazeres materiais não é no sentido materialista

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(ateu), mas como ele não tinha conhecimento da vida póstuma consciente, ele convida seus discípulos a gozar dos bens que Deus lhe dá nesta vida.

Expressões de amargura e pessimismo significam a insatisfação do homem que

espera uma resposta para seus anseios naturais.

Rehma – todo homem foi feito para a vida, a justiça, a verdade, o amor, quando não

os encontra sente amargura.

Não consegue ver a felicidade garantida neste mundo, Inconsciente expressa o

anseio do coração do homem pelo céu. Prefiguração de Mt 16, 26.

Escrito depois do exílio (300 aC.)

4.5.3 Provérbios

Os Provérbios foram escritos de Salomão (950 aC.) até depois do exílio (400aC.)

São ensinamentos adquiridos por meio da experiência do povo, a fim de instruir e

orientar o homem para a vida eterna.

4.5.4 Eclesiástico

Escrito em 190-180 aC. por Jesus ben Sirac, em Jerusalém , em hebraico e traduzido

para o grego (132aC.) por seu neto. Ben Sirac era escriba e conhecedor das Torá. Queria ajudar o povo a viver segundo a Lei.

Título primitivo: sabedoria de Ben Sirac ou Siracida (hebraico). Os cristãos – o livro da

Eclesia (Igreja).

Apresentado aos catecúmenos como manual dos bons costumes e a história do

Antigo Testamento.

Tema: produto de toda a vida do homem, com sua meditação na Torá.

◦ Sabedoria = Torá.

◦ Objetivo – ensinar a piedade e a moralidade.

Doutrina: exortar a humanidade sobre a bondade, dar esmolas, denuncia o orgulho, o

pecado da língua, o adultério, a inveja e a preguiça.

4.5.5 Sabedoria

Autor: um judeu de Alexandria (Egito), escreveu em 50 aC. Atribuiu a Salomão. O

título “Sabedoria de Salomão” é fictício. é o último escrito do Antigo Testamento.

Contexto histórico: escrito em Alexandria, onde havia uma colônia de judeus, os quais

para não serem marginalizados, deixavam seus costumes e sua fé, perdendo sua própria identidade para se conformar com uma cultura pagã, idólatra e injusta.

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O autor alimentado pelas Escrituras, escreve o livro procurando reforçar a fé e ativar a esperança. Ensina a verdadeira sabedoria que vem de Deus e conduz a uma vida de felicidade.

Doutrina: serve de prelúdio ao ensinamento sobre a graça que viria no Novo

Testamento. É expressada como portadora da salvação para os homens (Sb 9-18).

4.5.6 Cântico dos Cânticos

Título Hebraico: o mais belo dos cânticos ou canto por excelência

Autor – atribui-se a um autor depois do exílio, que escreveu em Israel no período das

reformas de Esdras – Neemias.

Tema: amor de Salomão (rei) por uma pastora.

Doutrina: mistério da aliança de Deus com os homens.

A tradição vê a relação:

Deus com seu povo: (esposo) (esposa)

Cristo com a Igreja: (esposo) (esposa)

4.5.7 Salmos

São os resultado do trabalho de muitos hagiógrafos desde o tempo de Moisés (séc XIII aC.) até o séc III aC. Eles foram se entranhando na tradição do povo judeu , muitos deles compostos pelo Rei Davi, e foram fazendo parte das festas e cultos do Povo.

Salmo = Psalmoi (grego) = melodias

Saltério = psalterion (grego) = instrumentos de cordas, de onde se extrai melodias (coleção de 150 salmos)

Os salmos nasceram em lábios humanos sob a moção do Espírito Santo

O livro dos Salmos – 150 unidades em 5 partes:

◦ Livro 1 – Salmo 1 a 41

◦ Livro 2 – Salmo 42 a 72

◦ Livro 3 – Salmo 73 a 89

◦ Livro 4 – Salmo 90 a 106

◦ Livro 5 – Salmo 107 a 150

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4.6 Evangelhos

4.6.1 Introdução

"A Palavra de Deus, que é poder de Deus para a salvação de todos os crentes, apresenta-se e manifesta a sua virtude de um modo eminente nos escritos do Novo Testamento. Pois, quando chegou a plenitude dos tempos, Cristo estabeleceu o Reino de Deus na terra, manifestou o seu Pai e a sua própria Pessoa com obras e palavras e completou a sua obra mediante a sua morte, ressurreição e gloriosa ascensão e com a missão do Espírito Santo (...). De todas estas coisas são testemunho perene e divino os escritos do Novo Testamento." (DV, 17)

Escritos entre os séc. I-II d.C., em plena civilização greco-romana, os livros do Novo Testamento aparecem-nos na língua "comum" dessa civilização (o grego da koiné) e giram em torno da mensagem de Jesus. Por isso, os Evangelhos são a base de todos os outros livros do Novo Testamento, que, por sua vez, os explicitam e aplicam à vida prática. Mas nãopodemos compreender suficientemente a mensagem de Jesus nem os escritos que a explicitam, sem conhecermos as circunstâncias históricas em que nasceram.

Jesus anunciou a Boa Notícia da salvação apenas oralmente, em aramaico, a língua falada então na Palestina. Os seus discípulos também não escreveram. Preocupava-os maiso anúncio oral – porque era urgente - do Evangelho. A atitude de Jesus e dos seus discípulos faz do Cristianismo, não uma "Religião do Livro", mas a religião que se centra numa Pessoa - Jesus Cristo. Depois de terem ouvido a mensagem oral, durante a "primeira geração" cristã, é que os discípulos da "segunda geração" registraram por escrito as palavras e os fatos da vida de Jesus para incutir nos cristãos maior fidelidade à mensagem eos conduzir à fé e à salvação em Cristo (Lc 1,1-4; Jo 20,30-31). Os Evangelhos não são unicamente a "História de Jesus"; são sobretudo a narração escrita das palavras e dos fatos de Jesus de Nazaré, mas já iluminados pelo Cristo ressuscitado, presente na sua Igreja ao longo de muitos anos.

A Constituição Dei Verbum (n.° 19) diz que os Evangelhos não são História escrita à maneira do nosso tempo. Os evangelistas fazem uma História em função da fé, da teologia: resumem, interpretam, explicam e redigem fatos da vida de Jesus para apresentar uma determinada ideia teológica a uma determinada classe de ouvintes.

Para começarmos a falar dos Evangelhos propriamente ditos, é interessantes que conheçamos alguns “personagens” que por várias vezes são mencionados nos mesmos:

Os Fariseus. Pessoas da classe média e baixa, eram especialmente devotos e cumpridores de todas as normas da Lei de Moisés. Opunham-se ao poder político instalado: os Romanos e a dinastia de Herodes. Dominavam na Sinagoga.

Os Doutores da Lei ou Escribas. Eram o grupo mais ligado ao dos Fariseus. Intérpretes da Lei. "Teólogos" do farisaísmo.

Os Saduceus (nome que deriva do Sumo Sacerdote Sadoc) existiam, como partido

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político, desde o séc. II a.C.. Eram a classe mais ligada ao Templo, por constituírem a classesacerdotal. Além do sacerdócio, detinham ainda grande parte do poder político, pois, ao contrário dos fariseus, presidiam ao Sinédrio, mediante o Sumo Sacerdote. Politicamente abertos à autoridade romana, eram conservadores em religião, pois, ao contrário dos fariseus, admitiam como canónicos apenas os cinco primeiros livros da Bíblia (Pentateuco) enegavam a existência dos anjos e a ressurreição. Esta classe sacerdotal, no exercício das suas funções, era assistida pelos Levitas, que tinham especial missão no canto litúrgico e nos sacrifícios.

Os Samaritanos. Como o nome indica, eram os habitantes da Samaria, descendentes da população mista - israelita e pagã - que ocupou aquele território depois do exílio dos Samaritanos para Nínive (711 a.C.). Como livros canônicos, só admitiam o Pentateuco (tal como os Saduceus) e tinham um templo no monte Garizim (2 Rs 17,24-28; Esd 4,1-4). Por este motivo, os Judeus (habitantes da Judeia, ao sul) rejeitavam-nos, como se fossem pagãos (Lc 10,25-37; Jo 4,19-22).

Os Zelotas. Como o próprio nome indica, zelavam pela independência nacional de Israel contra o poder político estrangeiro. Mas a sua luta era violenta, provocando sucessivos confrontos e atentados contra o exército ocupante.

4.6.2 Os Evangelhos

Os discípulos de Jesus só bastante tarde resolveram escrever a sua mensagem. Primeiro, porque o Mestre não lhes apareceu como um escritor, mas como um mensageiro de Deus (Mt 28,16-20). Além disso, a primeira geração cristã vivia num ambiente escatológico, pensando que Jesus estava para vir, glorioso, "sobre as nuvens do céu", conforme a profecia de Daniel (Dn 7,13; Mt 26,64; Mc 14,62; 1 Cor 16,22; 1 Ts 4,17; Ap 22,20). Não admira, pois, que os primeiros escritos do Cristianismo sejam Cartas, destinadas a resolver problemas concretos de um determinado momento histórico das comunidades (1 Ts 4,13-18).

A necessidade de escrever a mensagem de Jesus veio do afastamento cada vez maior da sua fonte - o próprio Jesus de Nazaré (Lc 1,1-4; Jo 20,30-31). A meados da década de 70, já não viveria a quase totalidade das "testemunhas oculares" que tinham visto o Senhor ressuscitado (Lc 1,2; 1 Cor 15,3-8). Esse distanciamento cronológico entre Jesus e as comunidades só poderia ser vencido pela palavra escrita. E assim se formaram as duas grandes coleções ou "corpus" das Cartas de São Paulo e dos Evangelhos.

Para a escrita da mensagem de Jesus e para a formação destas coleções muito contribuiu a autoridade dos Apóstolos, em nome dos quais esses textos foram escritos. Grande parte dos livros da Bíblia são pseudônimos, isto é, atribuídos a um personagem importante, para terem melhor aceitação perante o público. Nesse tempo não existia o direitode autor.

Chamamos "Evangelho" a um gênero literário de escritos do Novo Testamento que tem

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apenas quatro exemplares na literatura universal: os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João. Este gênero de escritos apareceu depois das Cartas autênticas de Paulo e propôs-se transmitir fatos e palavras da vida de Jesus de Nazaré, que as Cartas não tinham ainda referido. Os Evangelhos transmitem-nos fatos históricos (DV 19), mas não de maneira "fria" e "isenta", à maneira da historiografia moderna; os fatos e as palavras de Jesus são coloridos pela experiência das comunidades da primeira geração cristã, que vai dos anos 30 a 70.

4.6.2.1 Os Evangelistas

Os quatros evangelistas são Mateus, Marcos, Lucas e João. Marcos e Lucas não fazem parte dos Doze Apóstolos. A tradição cristã dos séculos II/IV representa os evangelistas por símbolos ou figuras de animais, da seguinte maneira:

Mateus – representado pela figura de um homem, porque começou a escrever seu Evangelho dando a genealogia de Jesus (dimensão da obra prima de Deus; a imagem e semelhança de Deus);

Marcos – representado pela figura de um leão, porque começou a narração de seu Evangelho no deserto, onde mora a fera (dimensão de força, realeza, poder, autoridade);

Lucas – representado pelo Touro, porque começou a narração pelo templo, onde eram imolados os bois (dimensão de oferta);

João – representado pela Águia, por causa do elevado estilo de seu Evangelho, que fala da Divindade e do Mistério altíssimo do Filho de Deus.

3.4.2.2 A composição dos Evangelhos

Atualmente a teoria das fontes é uma teoria defendida pela maioria dos exegetas, para explicar a formação dos Evangelhos sinóticos. Esta teoria afirma o seguinte: Marcos é o mais antigo dos nosso Evangelhos, seguido por Mateus e Lucas, independentemente um do outro, acredita-se que existiu um outro documento especial onde havia Palavras e discursos de Jesus. Esse documento hipotético, que deve ter sido escrito em grego, é chamada “Q”, do alemão Quelle (fonte), que teria sido uma fonte usada para compor, juntamente com o Evangelho de Marcos, os Evangelhos de Mateus e Lucas. Quanto ao Evangelho de São João, este foi escrito, em grego, por volta do ano 100.

4.6.3 Evangelho segundo Mateus

Este Evangelho, transmitido em grego pela Igreja, deve ter sido escrito originariamente em aramaico, a língua falada por Jesus. O texto atual reflete tradições hebraicas, mas ao mesmo tempo testemunha uma redação grega. O vocabulário e as tradições fazem pensar em crentes ligados ao ambiente judaico; apesar disso, não se pode afirmar, sem mais, a suaorigem palestinense. Geralmente pensa-se que foi escrito na Síria, talvez em Antioquia ou na Fenícia, onde viviam muitos judeus, por deixar entrever uma polêmica declarada contra o judaísmo farisaico. Atendendo a elementos internos e externos ao livro, o atual texto pode

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datar-se dos anos 80-90, ou seja, algum tempo após a destruição de Jerusalém.

Do seu autor, este livro nada diz; mas a mais antiga tradição eclesiástica o atribui ao apóstolo Mateus, um dos Doze, identificado com Levi, cobrador de impostos (9,9-13; 10,3). Pelo conhecimento que mostra das Escrituras e das tradições judaicas, pela força interpelativa da mensagem sobre os chefes religiosos do seu povo, pelo perfil de Jesus apresentado como Mestre, o autor deste Evangelho era, com certeza, um letrado judeu tornado cristão, um mestre na arte de ensinar e de fazer compreender o mistério do Reino do Céu, o tesouro da Boa-Nova anunciada por Jesus, o Messias, Filho de Deus.

Mateus recorre a fontes comuns a Mc e Lc, mas apresenta uma narração muito diferente, quer pela amplitude dos elementos próprios, quer pela liberdade com que trata materiais comuns. O conhecimento dos processos e os modos próprios de escrever de Mateus são de grande importância para a compreensão do livro atual: compilação de palavras e de fatos, de "discursos" e de milagres; recurso a certos números (7, 3, 2); estilo catequético; citações da Escritura, etc..

Apesar dos característicos agrupamentos de narrações, não é fácil determinar o plano ou estabelecer as grandes divisões do livro.

Aqui, limitamo-nos a destacar:

I. Evangelho da Infância de Jesus (1,1-2,23);

II. Anúncio do Reino do Céu (3,1-25,46);

III. Paixão e Ressurreição de Jesus (26,1-28,20).

Escrevendo entre judeus e para judeus, Mateus procura mostrar como na pessoa e na obra de Jesus se cumpriram as Escrituras, que falavam profeticamente da vinda do Messias.

Desde o séc. II, o Evangelho de Mateus foi considerado como o "Evangelho da Igreja", em virtude das tradições que lhe dizem respeito e da riqueza e ordenação do seu conteúdo, que o tornavam privilegiado na catequese e na liturgia.

Como os outros Evangelhos, o de Mateus refere a vida e os ensinamentos de Jesus, mas de um modo próprio, explicitando a cristologia primitiva: em Jesus de Nazaré cumprem-se as profecias; Ele é o Salvador esperado, o Emanuel, o "Deus conosco" (1,23) até à consumação da História (28,20); é o Mestre por excelência que ensina com autoridade e interpreta o que a Lei e os Profetas afirmam acerca do Reino do Céu (= Reino de Deus); é o Messias, no qual converge o passado, o presente e o futuro e que, inaugurando o Reino de Deus, investe a comunidade dos discípulos - a Igreja - do seu poder salvífico.

Assim, no coração deste Evangelho o discípulo descobre Cristo ressuscitado, identificado com Jesus de Nazaré, o Filho de David e o Messias esperado, vivo e presente na comunidade eclesial.

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4.6.4 Evangelho segundo Marcos

A tradição antiga, que remonta ao séc. II, atribui o texto deste Evangelho a Marcos, identificado com João Marcos, filho de Maria, em cuja casa os cristãos se reuniam para orar (At 12,12). Com Barnabé, seu primo, Marcos acompanha Paulo durante algum tempo na primeira viagem missionária (At 13,5.13; 15,37.39) e depois aparece com ele, prisioneiro em Roma (Cl 4,10). Mas liga-se mais a Pedro, que o trata por "meu filho" na saudação final da sua Primeira Carta (1 Pd 5,13). Marcos terá escrito o Evangelho pouco antes da destruição de Jerusalém, que aconteceu no ano 70.

O Evangelho de Marcos reflete a catequese que Pedro, testemunha presencial dos acontecimentos, espontâneo e atento, ministrava à sua comunidade de Roma. É o mais breve dos quatro e situa-se no Cânon entre os dois mais extensos - Mateus e Lucas - e a seguir a Mateus, o de maior uso na Igreja. Até ao séc. XIX, Marcos foi pouco estudado e comentado, para não dizer praticamente esquecido. Santo Agostinho considerava-o como um resumo de Mateus.

A investigação mais aprofundada desde o século passado, à volta da origem dos Evangelhos, trouxe Marcos à luz da ribalta; hoje, é geralmente considerado o mais antigo dos quatro. Na verdade, supõe uma fase mais primitiva da reflexão da Igreja acerca do Acontecimento Cristo, que lhe deu origem; e só ele conserva o esquema da mais antiga pregação apostólica, sintetizada em Atos 1,22: começa com o batismo de João (1,4) e termina com a Ascensão do Senhor (16,19).

É comum afirmar-se que todos os outros Evangelhos, sobretudo os Sinóticos, supõem e utilizaram mais ou menos o texto de Marcos, assim como o seu esquema histórico-geográfico da vida pública de Jesus: Galileia, Viagem para Jerusalém, Jerusalém.

Apresenta dois discursos: o capítulo das parábolas (cap. 4) e o discurso escatológico (cap. 13). Mas tem muitas narrações. É exímio na arte de contar: faz com realismo e sentido do concreto, enriquece os relatos de pormenores e dá-lhes vida e cor. A este propósito são típicos os casos do possesso de Gerasa, da mulher com fluxo de sangue e da filha de Jairo, no cap. 5. Presta uma atenção especial às palavras textuais de Jesus em aramaico, por ex. "Talitha qûm" (5,42) e "Eloí, Eloí, lemá sabachtáni" (15,34). É de referir também o dia-tipo da atividade de Jesus, descrito na assim chamada "jornada de Cafarnaúm" (1,21-34).

Marcos é o único onde Jesus aparece como "o Filho de Maria" (6,3), ao contrário dos outros que falam de Maria, mãe de Jesus.

Pode dizer-se, porventura de uma forma demasiado simples, que Marcos se faz espectador com os seus leitores. Como eles, acompanha e vive o drama de Jesus de Nazaré, desenrolado em dois atos, coincidentes com as duas partes deste Evangelho. Ao longo do primeiro, vai-se perguntando: Quem é Ele? Pedro responderá por si e pelos outros,de forma direta e categórica: "Tu és o Messias!" (8,29). O segundo ato pode esquematizar-se com pergunta-resposta: - De que maneira se realiza Ele, como Messias? - Morrendo e ressuscitando (8,31; 9,31; 10,33-34).

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Apresenta-nos, assim, uma Cristologia simples e acessível: Jesus de Nazaré é verdadeiramente o Messias que, com a sua Morte e Ressurreição, demonstrou ser verdadeiramente o Filho de Deus (15,39) que a todos possibilita a salvação. "Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos" (10,45).

Este plano é desenvolvido ao longo das 5 seções:

I. Preparação do ministério de Jesus: (1,1-13);

II. Ministério na Galileia: (1,14-7,23);

III. Viagens por Tiro, Sidonia e a Decápole: (7,24-10,52);

IV. Ministério em Jerusalém: (11,1-13,37);

V. Paixão e Ressurreição de Jesus: (14,1-16,20).

Tal como os outros evangelistas, Marcos apresenta-nos a pessoa de Jesus e o grupo dos discípulos como primeiro modelo da Igreja.

Mais do que em qualquer outro Evangelho, Jesus, "Filho de Deus" (1,1.11; 9,7; 15,39), revela-se profundamente humano, de contrastes por vezes desconcertantes: é acessível (8,1-3) e distante (4,38-39); acarinha (10,16) e repele (8,12-13); impõe "segredo" acerca da sua pessoa e do bem que faz (1,44 nota) e manda apregoar o benefício recebido (5,19 nota); manifesta limitações e até aparenta ignorância (13,22). É verdadeiramente o "Filho do Homem", título da sua preferência (ver 2,10 nota). Deste modo, a pessoa de Jesus torna-se misteriosa: porque encerra em si, conjuntamente, um homem verdadeiro e um Deus verdadeiro. Vai residir aqui a dificuldade da sua aceitação por parte das multidões que o seguem e mesmo por parte dos discípulos.

Na primeira parte deste Evangelho (1,14-8,30), Jesus mostra-se mais preocupado com o acolhimento do povo, atende às suas necessidades e ensina; na segunda parte (8,31-13,36) volta-se especialmente para os Apóstolos que escolheu (3,13-19): com sábia pedagogia os vai formando, revelando-lhes progressivamente o plano da salvação (10,29-30.42-45) e introduzindo-os na intimidade do Pai (11,22-26).

Este Jesus, tão simples e humano, é também muito exigente para com os seus discípulos. Desde o início da sua pregação (1,14), arrasta as multidões atrás de si e alguns discípulos seguem-no (1,16-22). Após a escolha dos Doze (3,13-19), começa a haver uma certa separação entre este grupo mais íntimo e as multidões. Todos seguem Jesus, mas de modos diferentes. Este seguimento exige esforço e capacidade de abertura ao divino, que se manifesta em Jesus de forma velada e indireta através dos milagres que Ele realiza. É por meio dos milagres que o discípulo descobre no Filho do Homem a presença de Deus, vendo em Jesus de Nazaré o Filho de Deus.

Porque a pessoa de Jesus é essencialmente misteriosa, para o seguir, o discípulo precisa de uma fé a toda a prova: sente-se tentado a abandoná-lo, vendo nele apenas o

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carpinteiro de Nazaré. Por isso, Jesus é também um incompreendido: os seus familiares pensam que Ele os trocou por uma outra família (3,20-21.31-35); os doutores da Lei e os fariseus não aceitam a sua interpretação da Lei (2,23-28; 3,22-30); os chefes do povo e dos sacerdotes veem-no como um revolucionário perigoso para o seu "status quo" (11,27-33). Daí que, desde o início deste Evangelho, se desenhe o destino de Jesus: a morte (3,1-6; 14,1-2).

Mas, os discípulos "de dentro" não são muito melhores do que "os que estão de fora" (4,11). Também eles sentem dificuldade em compreender o mistério da pessoa de Jesus: parecem-se com os cegos (8,22-26; 10,46-53).

A incompreensão é uma das mais negativas características no discípulo segundo Marcos. É essa a razão pela qual, ao confessar o messianismo de Jesus (8,29), Pedro pensava num messias (termo hebraico que significa "Cristo") mais político que religioso e que libertasse o povo dos romanos dominadores. Isso aparece claro quando Jesus desvia o assunto e anuncia pela primeira vez a sua Paixão dolorosa (8,31); Pedro, não gostando de tal messianismo, começa a repreender o Mestre (8,31-33). O que ele queria era - como todos os discípulos de todos os tempos - um cristianismo sem esforço e sem grandes compromissos.

Apesar da incompreensão manifestada pelos discípulos em relação aos seus ensinamentos, Jesus não desanima e continua a ensiná-los (8,31-38; 9,30-37; 10,32-45). O efeito não foi muito positivo: no fim da caminhada para Jerusalém e após Ele lhes ter recordado as dificuldades por que iria passar a sua fé (14,26-31), ao verem-no atraiçoado por um dos Doze e preso (14,42-45), "deixando-o, fugiram todos" (14,50). Este é, certamente, o Evangelho onde qualquer cristão se sentirá melhor retratado.

4.6.5 Evangelho segundo Lucas

O terceiro Evangelho é atribuído a Lucas, que também é o autor dos Atos dos Apóstolos. Segue os usos dos historiógrafos do seu tempo, mas a história que ele deseja apresentar é uma história iluminada pela fé no mistério da Paixão e Ressurreição do Senhor Jesus. O seu livro é um Evangelho, uma história santa, uma obra que apresenta a Boa-Novada salvação centrada na pessoa de Jesus Cristo.

O esquema geral do livro é o mesmo que se encontra em Mateus e em Marcos: uma introdução, a pregação de Jesus na Galileia, a sua viagem para Jerusalém, a Paixão e Ressurreição como cumprimento final da sua missão. A construção literária é elaborada comcuidado e reflete grande sensibilidade, procurando salientar os tempos e lugares da História da Salvação e pondo em evidência a projeção existencial do projeto evangélico.

Prólogo (1,1-4) em que anuncia o tema, o método e o fim da sua obra. Lucas expõe porordem o que se refere à vida e à mensagem de Jesus de Nazaré, filho de Maria, Filho de Deus.

I. Evangelho da infância (1,5-2,52) de João Batista e de Jesus.

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II. Prelúdio da missão messiânica de Jesus (3,1-4,13).

III. Ministério de Jesus na Galileia (4,14-9,50).

IV. Subida de Jesus a Jerusalém (9,51-19,28).

V. Ministério de Jesus em Jerusalém (19,29-21,38).

VI. Paixão, morte e ressurreição de Jesus (22,1-24,53).

Uma das ideias-chave de Lucas é distinguir o tempo de Jesus e o tempo da Igreja. Sem esquecer a singularidade única do acontecimento salvífico de Jesus Cristo, põe em relevo as etapas da obra de Deus na História. Mais do que Mateus e Marcos, ao falar de Jesus e dos discípulos, Lucas pensa já na Igreja, cujos membros se sentem interpelados a acolher a mensagem salvífica na alegria e na conversão do coração. É isso que faz deste livro o Evangelho da misericórdia, da alegria, da solidariedade e da oração. No respeito pelo ser humano, a salvação evangélica transforma a vida das pessoas, com reflexos no seu interior, nos seus comportamentos sociais e no uso que fazem dos bens terrenos.

Jesus anuncia a sua vinda no fim dos tempos, o qual, segundo Lucas, coincidirá com o termo do tempo da Igreja. Mas a insistência deste evangelista na salvação presente, na realeza pascal do Senhor Jesus, na ação do Espírito Santo na Igreja, contribuem para atenuar a tensão relativa à iminente Parusia. A própria destruição de Jerusalém, vista como um acontecimento histórico, despojando-o da sua projeção escatológica, presente em Mateus e Marcos, é sinal de uma consciência viva do dom da salvação presente no tempo da Igreja.

Na composição do seu Evangelho, Lucas utilizou grande parte de materiais comuns a Marcos e Mateus, além dos que lhe são próprios e dos contatos com o Evangelho de João. Todos os materiais da tradição estão marcados pelo trabalho do autor, que se reflete quer nasua ordenação, quer no vocabulário, quer no estilo. A arte e a sensibilidade de Lucas manifestam-se na sobriedade das suas observações, na delicadeza de atitudes, no dramatismo de certas narrações, na atmosfera de misericórdia das cenas com pecadores, mulheres e estrangeiros.

A composição deste Evangelho é situada por volta dos anos 80-90, porque Lucas deve ter conhecido o cerco e a destruição da cidade de Jerusalém por Tito, no ano 70.

O livro é dedicado a Teófilo, mas destina-se a leitores cristãos de cultura grega, como se vê pela língua, pelo cuidado em explicar a geografia e usos da Palestina, pela omissão dediscussões judaicas, pela consideração que tem pelos gentios.

Segundo uma tradição antiga (Santo Ireneu), o autor é Lucas, médico, discípulo de Paulo. Pelas suas características, este Evangelho encontra-se mais próximo da mentalidadedo homem moderno: pela sua clareza, pelo cuidado nas explicações, pela sensibilidade e pela arte do seu autor. Lucas mostra o Filho de Deus como Salvador de todos os homens, com particular atenção aos pequeninos, pobres, pecadores e pagãos. Para ele, o Senhor é

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Mestre de vida, com todas as suas exigências e com o dom da graça, que o discípulo só pode acolher de coração aberto.

Por isso, Lucas é o Evangelho da Salvação universal, anunciada pelo Profeta dos últimos tempos que convida discípulos profetas, aos quais envia o Espírito Santo, para que, por sua vez, sejam os profetas de todos os tempos e lugares (Lc 24,45-49; At 1,8).

4.6.6 Evangelho segundo João

Este Evangelho tem características muito próprias, que o distinguem dos Sinóticos. Mesmo quando refere idênticos acontecimentos, João apresenta perspectivas e pormenoresdiferentes dos Sinóticos. Não obstante, enquadra-se, como estes, no mesmo gênero literáriode Evangelho e conserva a mesma estrutura fundamental e o mesmo caráter de proclamação da mensagem de Jesus.

Alguns temas importantes dos Sinóticos não aparecem aqui: a infância de Jesus e as tentações, o sermão da montanha, o ensino em parábolas, as expulsões de demônios, a transfiguração, a instituição da Eucaristia… Por outro lado, só João apresenta as alegorias do bom pastor, da porta, do grão de trigo e da videira, o discurso do pão da vida, o da ceia e a oração sacerdotal, os episódios das bodas de Caná, da ressurreição de Lázaro e do lava-pés, os diálogos com Nicodemos e com a samaritana…

Ao contrário dos Sinóticos, em que toda a vida pública de Jesus se enquadra fundamentalmente na Galileia, numa única viagem a Jerusalém e na breve presença nesta cidade pela Páscoa da Paixão e Morte, no IV Evangelho Jesus acua sobretudo na Judeia e em Jerusalém, onde se encontra pelo menos em três Páscoas diferentes (2,13; 6,4; 11,55; ver 5,1).

O vocabulário é reduzido, mas muito expressivo, de forte poder evocativo e profundo simbolismo, com muitas palavras-chave: verdade, luz, vida, amor, glória, mundo, julgamento,hora, testemunho, água, espírito, amar, conhecer, ver, ouvir, testemunhar, manifestar, dar, fazer, julgar...

Mas a grande originalidade de João são os discursos. Nos Sinóticos, estes são pequenas unidades literárias sistematizadas; aqui, longas unidades com um único tema (3,14-16; 4,26; 10,30; 14,6).

O estilo é muito característico, desenvolvendo as mesmas ideias de forma concêntrica e crescente. Assim, os temas da "Luz": 1,4.5.9; 3,19-21; 8,12; 9; 11,9-10; 12,35-36.46; da "Vida": 1,4; 3,15-16; 5,1-6,71 (desenvolvimento); 10,10.17-18.28; 11,25-26; 12,25.50; da "Hora": 2,4; 5,25.28; 7,30; 8,20; 12,23.

Tem um caráter dramático. Depois de tantos anos, Jesus continua a ser rejeitado pelo seu próprio povo (1,11) e os judeus cristãos a serem hostilizados pelos judeus incrédulos (9,22.34; 12,42; 16,2). O homem aceita a oferta divina e tem a vida eterna, ou a rejeita e sofre a condenação definitiva (3,36).

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Apesar disso, todo o Evangelho respira serenidade e vai ao ponto de transformar as dúvidas em confissões de fé (4,19.25; 6,68-69), os escárnios em aclamações (19,3.14) e a infâmia da cruz num trono de glória (3,14; 8,28; 12,32). Para isso, o evangelista serve-se dosrecursos literários da ironia (3,10; 4,12; 18,28), do mal-entendido (2,19.22; 3,3; 4,10.31-34; 6,41-42.51; 7,33-36; 8,21-22.31-33.51-53.56-58), das antíteses (luz-trevas, verdade-mentira,vida-morte, salvação-condenação, celeste-terreno) e das expressões com dois sentidos: do alto ou de novo (3,3), pneuma (3,8), no sentido de vento e espírito, erguer para significar crucificar e exaltar, ver no sentido físico e espiritual, água viva, etc..

Outra característica é o simbolismo, que pertence à própria estrutura deste Evangelho, organizado para revelar tudo o que nele se relata: milagres, diálogos e discursos. Assim, os milagres são chamados "sinais", porque revelam a identidade de Jesus, a sua glória, o seu ser divino e o seu poder salvador, como pão (6), luz (9), vida e ressurreição (11), em ordem acrer nele; outras vezes são "obras do Pai", mas que o Filho também faz (5,19-20.36).

Embora seja evidente a unidade da obra e o seu fio condutor, notam-se algumas pequenas irregularidades. A mais surpreendente é uma dupla conclusão (20,30-31; 21,24-25); o capítulo 16 parece uma repetição do 14; em 14,31 Jesus manda sair do lugar da ceia e só em 18,1 é que de fato saem... Isto leva a pensar que a obra não foi redigida de uma só vez.

Este Evangelho tem na base uma testemunha ocular "que dá testemunho destas coisas e que as escreveu" (21,24; ver 19,35). O autor esconde-se atrás de um singular apelido: "O discípulo que Jesus amava" (13,23; 19,26; 20,2; 21,24; ver 1,35-39; 18,15). A tradição, a partir de Santo Irineu, é unânime em atribuir o IV Evangelho a João, irmão de Tiago e filho de Zebedeu, um dos Doze Apóstolos.

A análise interna deixa ver que o autor era judeu e tinha convivido com Jesus. Não constitui problema para a autoria joanina o fato de João ser um pescador, iletrado; então, eracorrente não ser o próprio autor a escrever a sua obra. Também é provável que um grupo dediscípulos interviesse na redação, sob a sua orientação e autoridade; daí a primeira pessoa do plural "nós", que por vezes aparece (3,11; 21,24).

Foi este o último Evangelho a ser publicado, entre o ano 90 e 100. Não pode ser uma obra tardia do século II, como pretendeu a crítica liberal do século passado; a sua utilização por Santo Inácio de Antioquia, martirizado em 107, e a publicação em 1935 do papiro de Rylands, datado de cerca do ano 120, desautorizou tal pretensão.

Chamar "sinais" aos milagres é indicar que se trata de fatos significativos e não de meros símbolos. Com efeito, o próprio Jesus se proclama testemunha da verdade (18,37) e o texto apoia-se numa testemunha ocular. É um testemunho que não se confina a meros acontecimentos históricos, pois tem como objeto a fé na pessoa e na obra salvadora de Jesus; mas brota de acontecimentos vistos por essa testemunha (19,35; 20,8; 21,24).

Ao incluir alguns termos aramaicos e uma sintaxe semita, mostra que é um escrito ligado à primitiva tradição oral palestinense. Por outro lado, os muitos pormenores relativos

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às instituições judaicas, à cronologia e geografia, provam o rigor da informação, às vezes confirmada por descobertas arqueológicas. Sem as informações de João, não se poderiam entender corretamente os dados dos Sinópticos.

Se fosse apenas uma obra teológica, o autor não teria o cuidado constante de ligar o relato às condições reais da vida de Jesus. Uma contraprova do seu valor histórico: quando não possui dados certos, não inventa. Assim, no período anterior à Encarnação, fala da preexistência do Verbo, mas nada diz da sua vida no seio do Pai, como seria de esperar.

A concepção desta obra obedece a uma linha de pensamento teológico coerente e unificadora. Face aos vários esquemas propostos, limitamo-nos a assinalar as unidades do conjunto para deixar ver um pouco da sua riqueza e profundidade:

PRÓLOGO (1,1-18): uma solene abertura, que anuncia as ideias mestras.

I. MANIFESTAÇÃO DE JESUS AO MUNDO (1,19-12,50), como Messias, Filho de Deus, através de sinais, discursos e encontros. Distinguem-se aqui cinco grandes secções:

1. Primeiro ciclo da manifestação de Jesus: 1,19-4,54. Semana inaugural.

2. Jesus revela a sua divindade: Ele é "o Filho", igual ao Pai: 5,1-47.

3. Jesus é "o Pão da Vida": 6,1-71.

4. Jesus é "a luz do mundo": grandes declarações messiânicas por ocasião das festas das Tendas e da Dedicação: 7,1-10,42.

5. Jesus é "a vida" do mundo: 11,1-12,50.

II. REVELAÇÃO DE JESUS AOS SEUS (13,1-21,25): manifestação a todos como Messias e Filho de Deus através do "Grande Sinal", por ocasião da sua Páscoa definitiva.

6. A Última Ceia: 13,1-17,26.

7. Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus: 18,1-20,29.

EPÍLOGO (20,30-21,25): dupla conclusão. Aparição na Galileia.

Este Evangelho propõe-se confirmar na fé em Jesus, como Messias e Filho de Deus (20,30-31). Destina-se aos cristãos, na sua maioria vindos do paganismo (pois explica as palavras e costumes hebraicos), mas também em parte vindos do judaísmo, com dificuldades acerca da condição divina de Jesus e com apego exagerado às instituições religiosas judaicas que se apresentam como superadas (1,26-27; 2,19-22; 7,37-39; 19,36). Sem polemizar contra alguns que negavam ter Jesus vindo em carne mortal (1 Jo 4,2-3; 5,6-7), João não deixa de sublinhar o realismo da humanidade de Jesus (1,14; 6,53-54; 19,34). Por outro lado, é um premente apelo à unidade (10,16; 11,52; 17, 21-24; 19,23) e ao amor fraterno entre todos os fiéis (13,13.15.31-35; 15,12-13).

João pretende dar-nos a chave da compreensão do mistério da pessoa e da obra salvadora de Jesus, sobretudo através do recurso constante às Escrituras: "Investigai as

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Escrituras (...): são elas que dão testemunho a meu favor" (5,39). Embora seja o Evangelho com menos citações explícitas do Antigo Testamento, é aquele que o tem mais presente, procurando, das mais diversas maneiras, extrair-lhe toda a riqueza e profundidade de sentido em favor de Jesus como Messias e Filho de Deus, que cumpre tudo o que acerca dele estava anunciado por palavras e figuras (19,28.30).

Além destes temas fundamentais da fé e do amor, João contém a revelação mais completa dos mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação do Verbo, o Filho no seio do Pai, o Filho Unigênito, que nos torna filhos (adotivos) de Deus; a doutrina sobre a Igreja (10,1-18; 15,1-17; 21,15-17) e os Sacramentos (3,1-8; 6,51-59; 20,22-23) e sobre o papel deMaria, a "mulher", nova Eva, Mãe da nova humanidade resgatada (2,1-5; 19,25-27).

4.6.7 Fragmentos importantes

O nascimento de Jesus (Lc 2, 1-20)

A apresentação no Templo (Lc 2, 22-38)

O Batismo (Mt 3, 13-17, Mc 1, 9-11, Lc 3, 21-22)

As bodas de Caná (Jo 2, 1-12)

As bem-aventuranças (Mt 5, 1-11, Lc 6, 20-23)

As parábolas

◦ Semeador (Mt 13, 1-9, Mc 4, 1-9, Lc 8, 4-8)

◦ Joio (Mt 13, 24-30)

◦ Grão de mostarda (Mt 13, 31-32, Mc 4, 30-32, Lc 13, 18-19)

◦ Fermento (Mt 13, 33, Lc 13, 20-21)

◦ Tesouro e da Pérola (Mt 13, 44-46)

◦ Rede (Mt 13, 47-50)

◦ Talentos (Mt 25, 14-30, Mc 13,34, Lc 19, 12-27)

◦ Bom samaritano (Lc 10, 29-37)

◦ Da misericórdia : A ovelha perdida, A dracma perdida, O filho pródigo (Lc 15, 1-32)

A Instituição da Eucaristia (Mt 26, 26-29, Mc 14, 22-25, Lc 22, 19-20)

O Lava-pés (Jo 13, 1-20)

A Paixão e Morte (Mt 26-27, Mc 14-15, Lc 22-23, Jo 18-19)

A Ressurreição (Mt 28, Mc 16, Lc 24, Jo 20-21)

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4.7 Atos dos Apóstolos

Constituem a segunda parte da obra de Lucas (1,1-2). Desde muito cedo, foram considerados Escritura sagrada, sendo lidos na liturgia da Igreja como memória e norma de fé. Esta obra "apostólica", relata a sorte do Evangelho confiado aos Apóstolos e expõe os primeiros passos da comunidade cristã; por isso a Igreja viu nela um guia precioso e um estímulo exemplar para a vida dos cristãos: da escuta da Palavra à fé, do Batismo à solidariedade, da perseguição ao martírio.

Pensa-se que o seu autor é o mesmo do Terceiro Evangelho, que a tradição, durante séculos, tem identificado com Lucas. Apesar de alguns problemas levantados pelos peritos, o estudo da língua e do pensamento dos dois livros, assim como da figura de Paulo nos Atose da concordância com o pensamento das suas Cartas, levam a concluir a favor daquele a quem o Apóstolo trata por "Lucas, o caríssimo médico" (Cl 4,14).

Tendo em conta o estado da crítica atual, o livro terá sido escrito por volta do ano 80, ou seja, depois do Terceiro Evangelho, que muitos estudiosos colocam depois do ano 70. Um dos elementos a favor dessa datação é a abertura e indeterminação do epílogo, cujo resumo da estadia de Paulo em Roma mostra como o anúncio do Evangelho já chegava de Jerusalém às extremidades da terra (1,8; 28,30).

O livro divide-se em duas grandes partes: 1-12 ("Atos de Pedro") e 13-28 ("Atos de Paulo"), com as seguintes seções:

Introdução: 1,1-11;

I. A Igreja de Jerusalém: 1,12-6,7;

II. Expansão da Igreja fora de Jerusalém: 6,8-12,25;

III. Missões de Paulo fora de Jerusalém: 13,1-21,26: 1.ª Viagem (13,1-14,28); 2.ª Viagem (15,35-18,22); 3.ª Viagem (18,23-21,26).

IV. Paulo, prisioneiro de Cristo: Condenação e Viagem do Cativeiro (21,27-28,31).

Distinguem-se facilmente diversas unidades literárias, cuja extensão e repetição conferem ao livro atual a sua própria fisionomia "eclesial":

Narrações de missão: 2,1-41; 8,4-40; 9,32-11,18; 13,1-21,26.

Narrações de processos: 3,1-4,31; 5,17-42; 6,8-8,12; 12,1-7; 21,27-26,32.

Narrações de viagens: 13,1-21,26; 27,1-28,16.

Discursos de diversos tipos: 2,14-39; 3,12-26; 4,8-12; 5,29-32.35-39; 7,2-53; 10,34-43; 13,16-41; 14,15-17; 17,22-31; 20,18-35; 22,1-21; 24,10-21; 26,2-23; 28,25-28.

Orações: 1,24-25; 2,42.46; 4,24-30; 12,11...

Cartas: 15,23-29; 23,25-30.

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Sumários: 2,42-47; 4,32-35; 5,12-15...

Além da coordenação de todos estes materiais, o autor pôde dispor de fontes orais e escritas, muitas vezes ligadas à fundação e vida das igrejas referidas ao longo do livro. Ressaltam de um modo particular as passagens descritas com o sujeito "nós", em que o autor se sente testemunha ocular, deixando-nos uma espécie de "diário de viagem" ou um "itinerário" dos acontecimentos ligados a Paulo (16,10-17; 20,5-15; 21,1-18; 27,1-28,16).

As narrações e os discursos dos Atos são confirmados pelos dados da História e da Arqueologia, por um lado, e, por outro, concordam com o quadro dos Evangelhos e com as Cartas de Paulo, que ajudam a compreender. Os resultados do exame histórico são favoráveis à veracidade do livro e permitem estabelecer os elementos de uma cronologia bastante segura das origens cristãs, assim como das Cartas de Paulo.

A visão histórica do livro aparece integrada numa visão teológica. Assim, Deus é ator e autor do crescimento da Igreja (2,47; 11,21.23). De um modo particular, o autor insiste no Dom do Espírito, atuando sem cessar na expansão da Igreja.

Para o autor dos Atos, a História do mundo é uma História de Salvação que tem Deus como autor principal e se divide em duas etapas principais: a primeira é o tempo da Promessa, da prefiguração, da preparação, da Profecia - o Antigo Testamento; a segunda é o tempo do cumprimento, da realização, da salvação já presente - o Novo Testamento. Esse cumprimento do desígnio salvífico de Deus em Cristo Senhor abre um tempo em que a História da Salvação continua até à plenitude final. Daí a importância decisiva que Lucas atribui ao "hoje", como memória e imperativo da fé em Cristo ressuscitado.

Deste "hoje" faz parte, em primeiro lugar, o anúncio da Boa-Nova e o testemunho de Jesus, Senhor e Messias, que encontra nos Doze, nos diáconos e, sobretudo, em Pedro e Paulo, os arautos mais credenciados.

Os Atos descrevem o espaço geográfico e humano da expansão dessa Boa-Nova de Jesus. Enquanto no Evangelho de Lucas a manifestação de Jesus começa em Nazaré e termina em Jerusalém, nos Atos, o anúncio da Boa-Nova parte de Jerusalém (2-5), passando depois à Samaria e Judeia (8,1), à Fenícia, Chipre e Síria (11,19-21), para, através da Ásia Menor e da Grécia (13-18), chegar a Roma (28,30).

O Evangelho destina-se a todos (17,31); mas a passagem da salvação do Evangelho, do povo de Israel para os pagãos (13,46), faz parte do plano de Deus (2,39; 15,7-11.14) e constitui o tema principal deste livro.

Encontramos as características fundamentais da Igreja: escuta assídua do ensinamento dos Apóstolos, comunhão fraterna e solidariedade, participação na fração do pão e nas orações (2,42-47; 4,32-35; 5,12-15).

Nos é apresentada a primeira estruturação da Igreja, depois dos Doze Apóstolos (um lugar privilegiado para Paulo), os Sete Diáconos (6, 1-6), os Anciãos (14,23; 20,17.28) e os Profetas (11,27).

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Um dos pontos fundamentais dos Atos é a passagem do judaísmo para o cristianismo. Os primeiros cristãos, que eram judeus, deviam dar "um salto" da convicção da salvação pela Lei (15,1.5) para a salvação pela fé em Cristo (15,9.11). Daí as tensões que surgem na abertura a circuncisos e incircuncisos, e na passagem do Evangelho para os pagãos. Sem rejeitar os judeus, e sem se deixar "judaizar", a Boa-Nova de Cristo tem como fronteira a universalidade.

Ao compor a sua obra, Lucas pensava, sobretudo, num público cristão, constituído por judeus e não-judeus. Homem da unidade e da comunhão, ele apela a que os cristãos espalhados pelo mundo se conduzam pela exemplaridade da comunidade de Jerusalém. Insistindo sobre a fé, ele opõe-se a eventuais tendências judaizantes; respeitando a fidelidade dos judeus-cristãos à Lei, ele desarma as críticas dos irmãos vindos da gentilidade.

4.8 Cartas Paulinas

O nome de Paulo aparece como autor de 13 Cartas do Novo Testamento, escritas a diferentes comunidades, ao longo de uns cinquenta anos. Não sabemos ao certo quem e como se fez a coleção do chamado "Corpus Paulino". Esta coleção contém as Cartas "proto paulinas" - ou seja, as autênticas, as que ele próprio escreveu - e as dêutero paulinas, escritas talvez pelos seus discípulos. São proto paulinas: Romanos, Gálatas, 1 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios, Filipenses e Filemon; as dêutero paulinas - escritas entre 70 e 100 - são as "Cartas Pastorais" - 1 e 2 Timóteo, Tito - e as restantes: Efésios, Colossenses, 2 Tessalonicenses. Ao todo, treze Cartas. No fim do séc. II, a coleção das treze "Cartas de Paulo" (lista que incluía frequentemente Hebreus) estava feita e era aceite em toda a Igreja como Palavra de Deus (ver 2 Pd 3,15-16).

Paulo não foi primariamente um escritor, mas um rabino convertido na célebre "Visão de Damasco" (At 9,1-19; 22,4-21; 26,9-18) que percorreu muitos milhares de quilômetros, anunciando de cidade em cidade o "Evangelho" da morte e ressurreição de Jesus. Não lhe interessou narrar a vida de Jesus nem sequer os seus milagres. As Cartas eram o único meio ao seu alcance para comunicar com as comunidades recentemente formadas. Entre asCartas autênticas de Paulo estão, assim, os primeiros escritos cristãos que chegaram até nós.

Há, pois, uma íntima relação entre as Cartas e a geografia das primeiras comunidades cristãs dos anos 50-60. Os Doze, que viviam em Jerusalém e viajaram muito pouco, na sua maioria não sentiram a necessidade de escrever Cartas. Podiam responder oralmente às pessoas e à comunidade. Daí o caráter geralmente circunstancial destes escritos, que não tinham propósitos propriamente teológicos. Paulo era, antes de mais, um missionário: "Ai de mim, se eu não evangelizar!" (1 Cor 9,16). A Carta aos Romanos é a exceção mais evidente a este respeito; e Colossenses e Efésios preocupam-se mais com a teologia da Igreja do que com os problemas das igrejas.

Tudo isto nos manifesta quais eram os problemas e as necessidades das primeiras

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comunidades cristãs, tanto judaicas como helenistas, às quais Paulo respondeu a partir do Evangelho. Um exemplo de tudo isto é o fato de Paulo falar apenas uma vez da Eucaristia (1Cor 11,17-34), para responder aos abusos que havia na comunidade de Corinto.

Por tudo o que acabamos de referir, as Cartas de Paulo encerram gêneros literários bem diferentes: desde o tratado teológico sobre a fé, da Carta aos Romanos, até ao simples bilhete a Filemon, passando pela multiplicidade temática de 1 e 2 Coríntios.

Estes gêneros literários devem-se não só às circunstâncias em que foram escritas as suas Cartas, mas também ao temperamento de Paulo, unido à sua espiritualidade de convertido. Não podemos ainda esquecer os métodos da exegese rabínica em que Paulo era mestre, por ter frequentado a escola de Gamaliel, assim como a linguagem própria de um semita (Gl 3,19; 1 Cor 2,2).

As Cartas de Paulo têm uma estrutura própria:

Saudação. Paulo dirige-se a determinada comunidade cristã e saúda-a, por vezes longamente, desejando-lhe os bens cristãos em que aparece, com frequência, a fórmula trinitária. Nesta saudação encontra-se já um resumo da fé cristã.

Corpo da Carta. Aqui desenvolve a doutrina, faz as suas exortações e responde aos problemas e questões da comunidade. Esta parte constitui a quase totalidade da Carta e mostra-nos qual o seu objetivo.

Conclusão. Por vezes, é bastante extensa e contém várias saudações e ações de graças de origem litúrgica (Fl 4,2-23).

Uma estruturação - ainda tímida - da Igreja, mediante os bispos, presbíteros e diáconos, presente sobretudo nas Cartas Pastorais, mostra a necessidade que a Igreja tinhade sobreviver às tempestades, de ultrapassar a idade da infância, em que se sentia a proteção e o acompanhamento dos "pais" fundadores das comunidades.

Esta estruturação das igrejas cresce na medida em que diminui a tensão à volta do tema da Vinda do Senhor, nos tempos escatológicos, e na medida em que é ultrapassada a época do Querigma e chega ao seu fim o tempo do carisma dos primeiros evangelizadores. Por isso, 2 Tessalonicenses recrimina os que propagam uma vinda imediata do Senhor (2 Ts 2,1-12).

O conteúdo teológico das Cartas de Paulo é variado: escatológico, ou seja, a doutrina que se refere aos últimos acontecimentos da História da Salvação; soteriológico, sobre o papel de Deus e do crente na salvação, por meio de Cristo; cristológico, o lugar central de Cristo na realização do plano salvador de Deus; eclesiológico, o papel que Deus confiou à Igreja, por meio de Cristo, para a realização do seu plano de salvação integral da humanidade.

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4.9 Carta aos Hebreus

Apesar de ser habitualmente conhecido como "Carta", este escrito do Novo Testamentonão apresenta um início de caráter de carta, mais parecendo a um sermão (1,1-4). Tem um tom oratório, e o autor nunca aparece dizendo que escreve, mas sempre dizendo que fala (2,5; 5,11; 6,9; 8,1; 9,5; 11,32). Só nos últimos versículos (13,22-25) é que temos um final de Carta precedido por uma frase solene (13,20-21). Considera-se, por isso, que estamos diante de um sermão pronunciado oralmente (1,1-13,21) e de um pequeno bilhete (13,22-25), que lhe foi acrescentado. Trata-se, então, mais de um discurso do que de uma Carta emsentido próprio.

Não encontramos no texto nenhuma referência aos Hebreus como destinatários, e nada indica que o grego em que está escrito seja uma tradução do hebraico. É, portanto, difícil dizer quais os seus destinatários, embora o título "aos Hebreus" seja muito antigo (séc.II).

Pode facilmente admitir-se que fosse dirigida a judeus-cristãos, saudosos do culto judaico que antes praticavam. O título parece justificar-se ainda mais, se tivermos em conta o conteúdo da Carta, pois ela pressupõe leitores bem conhecedores do culto e da liturgia judaica.

São igualmente imprecisos o autor, o local e a data da sua composição. As Igrejas do Oriente consideraram-na sempre como uma Carta paulina, apesar de muitos reconhecerem as suas diferenças em relação às outras Cartas de Paulo, sobretudo no que se refere à forma literária, à linguagem e estilo, à maneira de citar o AT e mesmo quanto à doutrina. A Igreja do Ocidente negou-lhe a autoria paulina até ao séc. IV e pôs, por vezes, em questão asua condição de escrito inspirado e canônico.

A questão continuou controversa ao longo da história da exegese católica e protestante, mas atualmente é quase unânime a negação da autenticidade paulina. No entanto, admite-se que a Carta aos Hebreus tenha tido origem num companheiro ou discípulo de Paulo, pois há vários pontos de convergência entre ela e a doutrina do Apóstolo:a paixão de Cristo como obediência voluntária, a ineficácia da Lei antiga, a dimensão sacrificial e sacerdotal da redenção e alguns aspectos da cristologia. Trata-se, sem dúvida, de um sermão cristão, cuja origem remonta à Igreja Apostólica, e constitui, por isso, parte integrante da Palavra de Deus.

Há apenas um dado que pode apontar-nos para o lugar de composição. Trata-se de 13,24: "Os da Itália saúdam-vos." Mas trata-se de uma expressão que nada ajuda, por ser muito vaga e se prestar a várias localizações.

Quanto à data de composição, não pode aceitar-se uma época muito tardia, pois Clemente de Roma cita-a por volta do ano 95. Por outro lado, a relativa afinidade entre a suateologia e a das Cartas do cativeiro (Ef, Cl, Fm), aponta para uma data próxima do martírio de Paulo, situado pelo ano 67. Uma vez que o autor se refere à liturgia do templo de Jerusalém como uma realidade ainda atual, tudo parece convergir para que os últimos anos

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antes da destruição de Jerusalém e do Templo, ocorrida no ano 70, sejam a data mais provável da sua composição.

Não é fácil encontrar uma única estrutura para este livro. No entanto, é proposta a seguinte:

Prólogo (1,1-4).

I. O Filho de Deus é superior aos anjos (1,5-2,18): prova escriturística (1,5-14);

exortação (2,1-4); Cristo, irmão dos homens (2,5-18).

II. Jesus, Sumo Sacerdote fiel e misericordioso (3,1-5,10): fidelidade de Moisés e

fidelidade de Jesus (3,1-6); entrada no repouso de Deus, pela fé (3,7-4,13); Jesus, Sumo Sacerdote misericordioso (4,14-5,10).

III. Sacerdócio de Jesus Cristo (5,11-10,18): normas de vida cristã (5,11-6,12);

promessa e juramento de Deus (6,13-20).

◦ 1. Cristo é superior aos sacerdotes levitas (7,1-28): Melquisedec (7,1-10);

sacerdote segundo a ordem de Melquisedec (7,11-28).

◦ 2. Sumo Sacerdote de uma nova aliança (8,1-9,28): o novo santuário e a nova

aliança (8,1-13); insuficiência do culto antigo (9,1-10); o sacrifício de Cristo é definitivo (9,11-14); Cristo, o mediador da nova aliança pelo seu sangue (9,15-22); o perdão dos pecados pelo sacrifício de Cristo (9,23-28).

◦ 3. Recapitulação: sacrifício de Cristo superior ao de Moisés (10,1-18): ineficácia

dos sacrifícios antigos (10,1-10); eficácia do sacrifício de Cristo (10,11-18).

IV. A fé perseverante (10,19-12,29): apelo a evitar a apostasia (10,19-39); a fé

exemplar dos antepassados (11,1-40); o exemplo de Jesus (12,1-13); fidelidade à vocação cristã (12,14-29).

Apêndice (13,1-25): últimas recomendações (13,1-19); bênção e saudação final

(13,20-25).

Este escrito estabelece uma relação entre o Antigo e o Novo Testamento numa perspectiva cristológica. O tema central é o sacerdócio de Cristo e o culto cristão. A novidadeé grande: uma pessoa, Jesus Cristo, Filho de Deus e irmão dos homens, é o Sumo Sacerdote superior a Moisés e comparável à figura misteriosa de Melquisedec. Pela sua morte e glorificação, Ele é o mediador entre Deus e os homens; o seu sacrifício substitui todos os sacrifícios antigos, que já não têm capacidade para elevar o homem até Deus. Pelasua morte, Cristo realiza o perdão dos pecados uma vez por todas, estabelece uma aliança nova e eterna com a humanidade e inaugura um novo culto, imagem do culto celeste.

A Carta apresenta várias vezes a Igreja como povo de Deus a caminho, e os cristãos, como alguém que partilha o destino de Cristo e é convidado a entrar no seu repouso. Há um itinerário cristão a percorrer, que passa pela conversão, pela fé perseverante, pela

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aprendizagem da Palavra de Deus e por uma vivência da caridade fraterna.

O cristão é aquele que se une a Cristo através da sua própria existência e não deve separar o culto da vida. Através de Cristo, o cristão oferece continuamente a Deus um sacrifício de louvor, no qual inclui toda a sua vida e particularmente o seu serviço aos outros e a sua caridade. Precisa de manter-se integrado na comunidade cristã, de escutar a Palavra e de se manter em comunhão com os responsáveis, pois não pode chegar a Deus sem estar unido a Cristo e aos irmãos.

A oferta de Cristo ao Pai "uma vez para sempre" (10,10.14; ver 9,26.28) constitui o grande acontecimento escatológico. Por meio deste gesto histórico cumpriu-se o plano salvífico de Deus, embora continue a caminhada histórica da humanidade até à sua entrada na glória. Quando todos os inimigos forem submetidos a Cristo e for vencida a morte e todasas forças históricas, teremos então a realização do último ato da História salvífica.

4.10 Cartas Católicas

Há um grupo de sete escritos do Novo Testamento que tem este título muito antigo: Cartas Católicas. A partir do séc. IV, esta designação genérica foi reservada para as sete Cartas canônicas: Tiago, 1.ª e 2.ª de Pedro, 1.ª, 2.ª e 3.ª de João e Judas.

"Católico" significa universal, e tal deve ser a origem do nome destas Cartas: eram dirigidas a toda a Igreja, e não a comunidades ou pessoas concretas (exceto 2 e 3 Jo, anexas a 1 Jo). Mas nem todas estas Cartas foram, desde os primeiros tempos, universalmente reconhecidas como escritos inspirados; por isso, o historiador Eusébio colocou as Cartas de Tiago, 2.ª de Pedro, 2.ª e 3.ª de João e Judas (assim como o Apocalipse) entre os "livros discutidos, embora admitidos pela maioria", aos quais chamamos Deuterocanônicos.

O acordo universal só se deu no Ocidente pelos fins do séc. IV e no Oriente nos séc. VI-VII.

Nem os autores, nem os destinatários, nem os temas tratados ou a sua forma literária justificam que estas Cartas formem um conjunto. Agruparam-se pelo simples fato de não serem escritos paulinos. Mas não têm um destinatário concreto, como acontece com as Cartas de Paulo.

Nos manuscritos antigos do Oriente apareciam depois de Atos e antes das Cartas de Paulo, pela ordem em que hoje as temos, o que deixa ver o grande valor em que já eram tidas; nos códices, liam-se no lugar que agora ocupam no conjunto dos livros do Novo Testamento, depois da Carta aos Hebreus e antes do Apocalipse de João.

O que estas Cartas têm de comum é a temática:

1. Cuidados a ter com os falsos mestres: 2 Pe 2,1-3.10-22; 3,3-4.16-17; 1 Jo 2,18-23.26; 4,1-6; 2 Jo 7-11; Jd 4-19.

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2. Necessidade de guardar a integridade da fé: Tg 2,14-26; 3,13; 4,3-12; 5,7-11; 1 Pe 2,11-12.13-17; 4,1-4; 2 Pe 3,1-7.14-18; 1 Jo 2,18-29; 4,1-6; 2 Jo 7-11.

3. Exortação à fidelidade na perseguição: Tg 1,2-4.12; 4,7; 1 Pe 1,6-7; 2,11-17; 3,13-17; 4,12-19; 5,6-10; 1 Jo 2,24-28.

4. Proximidade do fim dos tempos: Tg 5,3.7-9; 1 Pe 1,5; 4,7; 2 Pe 3,3-4.8-10; 1 Jo 2,18-19; Jd 18.

Tal temática denuncia uma época relativamente tardia, em que esses problemas eram os mais prementes, devido ao aparecimento das primeiras heresias cristológicas e a algumas perseguições. Mas estas podem ter vindo do poder político exterior ou do interior da própria comunidade - ou seja, dos falsos mestres.

4.11 Apocalipse

Apocalipse é um termo grego que significa "revelação". "Revelação" é, na verdade, o título com que o último livro da Bíblia aparece em algumas edições. O estilo deste livro é estranho para a cultura ocidental, mas enquadra-se perfeitamente na mentalidade semita.

As raízes desta literatura encontram-se no Antigo Testamento (Isaías, Zacarias, Ezequiel e sobretudo Daniel), mas também em vários livros judeus que não entraram na Bíblia: Henoc, 2 Esdras e 2 Baruc. Estes últimos já foram escritos depois da destruição do Templo. Foi principalmente nestes livros que se inspirou o autor do Apocalipse de João.

É uma literatura própria das épocas de crise e de perseguição, em que se procura "revelar" os caminhos de Deus sobre o futuro, para consolar e encorajar os justos perseguidos, dando-lhes a certeza da vitória final. Era muito comum no fim do AT e mesmo no tempo em que foi escrito o NT, pois vivia-se um ambiente apocalíptico.

Estava-se no "fim dos tempos", isto é, adivinhava-se uma revolução global, com uma radical mudança no modo de ser e de viver. Para isso, muito contribuiu a decadência do Império Romano e as guerras da Palestina, que levaram à destruição do Templo e de Jerusalém, no ano 70. Daí os três textos apocalípticos dos Evangelhos Sinópticos, direta ou indiretamente ligados à destruição de Jerusalém: Mt 24-25; Mc 13; Lc 21.

Caracteriza-se por imagens grandiosas e simbólicas, constituídas por elementos da natureza, apresentadas em forma de visões e "explicadas" ao vidente por um anjo. Tais imagens são tiradas do AT, dos apocalipses judaicos, dos mitos e lendas antigas. Assim, o papel dos anjos (7,1-3); o livro selado (5,1); o livro para comer (10,1-11); as trombetas (8,2); as taças (15,7); os relâmpagos e trovões (4,5; 10,3).

Estas imagens sugerem mais do que descrevem, e grande parte delas nada tem a ver com a realidade. Trata-se de puros símbolos (1,16; 5,6; 21,16), que podem referir-se a pessoas, animais, números e cores, deixando ao leitor um espaço para alguma criatividade e "inteligência" (13,18; 17,9).

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As visões simbólicas são projetadas no Céu, para dizer que pertencem ao mundo espiritual, da fé e o que nelas se revela acontece também na terra. Duas forças antagônicas estão em luta permanente: o Dragão - a possível personificação do império romano, no tempo de Domiciano (81-96 d.C.) - e o Cordeiro: Cristo, Cordeiro pascal, é o vencedor de todas as forças do Mal.

A perseguição a que se refere o Apocalipse poderia ser a que açoitou as igrejas da Ásia no tempo do imperador Domiciano, por volta do ano 95. Também havia as perseguiçõesinternas, isto é, as heresias, sobretudo os nicolaítas (2,6.15), os marcionitas e os que prestavam culto ao imperador.

O livro pretende responder à questão: "Quem manda no mundo? Os tiranos, os senhores da Terra, ou o Senhor do Céu?" Este paralelismo entre o Céu e a Terra assegura aos crentes que Deus os acompanha a partir do Céu, e a História segue o seu curso na Terra sob o controle de Deus e não sob o controle dos poderes maus. O "vidente" vive na terra mas vê o que se passa no Céu e transmite aos seus irmãos sofredores a certeza de que Jesus está com eles e a sua vitória é breve.

O simbolismo, por vezes irracional, de que o autor se serve para transmitir esta esperança aos perseguidos, assegura aos cristãos que o Reino de Deus ultrapassa a História que eles estão a viver, e ao mesmo tempo é uma linguagem secreta para os perseguidores.

O autor apresenta-se a si mesmo como João e escreve em Patmos - pequena ilha do Mar Egeu - onde se encontra desterrado por causa da fé (1,9). A tradição identificou este João com o Apóstolo João, mas não existem argumentos suficientes para o comprovar (Mt 4,21; Jo 21,1-14).

Proposta de divisão:

Introdução (1,1-20):

◦ Introdução e saudação: 1,1-8;

◦ Visão do Ressuscitado: 1,9-20.

I. Cartas às Sete Igrejas (2,1-3,22):

◦ Sete cartas às igrejas: Éfeso, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia.

II. Revelação do sentido da História (4,1-22,5):

◦ O trono de Deus: 4,1-11;

◦ Sete selos: 5,1-8,5;

◦ Sete trombetas: 8,6-11,19;

◦ Sete sinais: 12,1-15,4;

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◦ Sete taças: 15,5-16,21;

◦ Queda da Babilônia: 17,1-19,4;

◦ Triunfo de Cristo. Nova Jerusalém: 19,5-22,5.

Epílogo (22,6-21).

O Apocalipse exprime a fé da Igreja da "segunda geração cristã", isto é, do tempo dos discípulos dos Apóstolos. A doutrina do Corpo Místico (Jo 15,1-8; 1 Cor 12,12-27) recebe aqui nova dimensão: Cristo está no meio dos sete candelabros (1,13) e tem na mão direita as sete estrelas (1,16), símbolos das sete igrejas, que personificam a Igreja universal; Ele é apresentado no mesmo plano que Deus e com os mesmos atributos: é "o Senhor dos senhores e Rei dos reis" (17,14; 19,16), aquele que tem um "nome que ninguém conhece" (2,17; ver 1,8.18; 2,27; 3,12; 14,1; 15,4; 19,16).

Deus é o único Senhor da História, apesar das forças conjugadas de todos os senhoresdeste mundo; por isso, acontecimentos do AT, como o Êxodo, as pragas do Egito, teofanias, destruições... servem de pano de fundo das novas intervenções de Deus na História do presente.

No meio desta História, a Igreja aparece como espaço litúrgico onde o Cordeiro tem presença permanente, fazendo da comunidade "o céu" na terra. Isso não impede que as forças do Mal estejam em luta constante com ela (e com o Cordeiro: 2,3.9.10.13; 3,10; 6,9-11; 7,14).

Por isso, o Apocalipse não pretende predizer nem "revelar" pormenores sobre o futuro da Igreja e da Humanidade, mas conferir a certeza absoluta na bondade de Deus, que se manifestou em Cristo. Também não "fecha" a Bíblia; mas abre diante do leitor crente um caminho de esperança sem fim: "Eu renovo todas as coisas." (21,5) "Eu venho em breve (...). Vem, Senhor Jesus!" (22,7.20).

5 Catecismo da Igreja Católica

O primeiro catecismo cristão que temos conhecimento é a chamada “Didaquê” ou Doutrina dos Doze Apóstolos, é um documento do primeiro século, um catecismo simples davida cristã e um ritual, que trata do Batismo, da Eucaristia, da celebração do domingo, e do jejum.

O primeiro Catecismo oficial da Igreja foi aprovado pelo Papa São Pio V, após o Concílio de Trento, o Concílio importantíssimo da Igreja, realizado de 1545 a 1563, isto é, com uma duração total de 12 anos. Foi o início da grande Reforma na Igreja, após a calamitosa Reforma protestante.

Podemos dizer que este primeiro Catecismo Romano, guiou a catequese da Igreja durante cerca de 429 anos.

Em 1985 o Papa João Paulo II convocou um Sínodo (reunião de um grupo de Bispos

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do mundo todo) especial, para avaliar os 20 anos do Concílio Vaticano II (1963-1965).

Sabemos que este Concílio foi uma grande bênção para a Igreja, como gosta de dizer o nosso Papa João Paulo II, “uma primavera para a Igreja.” Mas, infelizmente, como sempre acontece, houve muitos abusos por parte daqueles que aplicaram mal as mudanças que o Concílio aprovou. Tanto no campo da doutrina da fé e da moral, como também na Liturgia, houve excessos que a Santa Sé precisou coibir. Por exemplo, surgiu o tal Catecismo Holandes, onde nem tudo estava de acordo com os ensinamentos do Magistério; surgiu a tal“teologia da libertação”, muito perigosa, como mostrou o Cardeal Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação da Fé, no seu artigo Eu Vos Explico a Teololgia da Libertação.

Por causa, sem dúvida, de todas essas contestações, abusos e erros, o Papa convocou o Sínodo para analisar os 20 anos do Concílio. É bom dizer que o Papa participou ativamente do Concílio.

No término do Sínodo os Bispos pediram, no documento final, que o Papa providenciasse um novo Catecismo para a Igreja. Sem dúvida o Espírito Santo, mais uma vez, socorria a Igreja de ser naufragada nos erros de doutrina. O próprio Papa relata isso:

“Nessa ocasião os Padres sinodais afirmaram: “Muitíssimos expressaram o desejo de que seja composto um novo Catecismo ou compêndio de toda a doutrina, tanto em matéria de fé como de moral, para que ele seja um ponto de referência para os catecismos ou compêndios que venham a ser preparados nas diversas regiões”.” (Fidei Depositum)

E o Papa também sentiu essa necessidade urgente para a Igreja:

“Depois do encerramento do Sínodo, fiz meu este desejo, considerando que ele corresponde à verdadeira necessidade da Igreja universal e das Igrejas particulares” (Discurso de encerramento do Sínodo, 7/12/1985).

E ele se alegra com o Catecismo:

“Como não havemos de agradecer de todo o coração ao Senhor, neste dia em que podemos oferecer a toda a Igreja, com o título de “Catecismo da Igreja Católica”, este “texto de referência” para uma catequese renovada nas fontes vivas da fé!” (Fidei Depositum).

Em 1986 o Papa constituiu uma Comissão de doze Cardeais e Bispos presidida pelo Cardeal Joseph Ratzinger para preparar o projeto do Catecismo, como pediu o Sínodo. Umacomissão de redação, composta por sete Bispos especialistas em catequese auxiliou a Comissão principal. Foram recebidas sugestões de teólogos, exegetas e catequistas, bem como de todos os Bispos da Igreja, das Conferências episcopais, dos Institutos de teologia ede catequética.

O Papa assim expressou este trabalho:

“O Catecismo da Igreja Católica é fruto de uma vastíssima colaboração: foi elaborado em seis anos de intenso trabalho, conduzido num espírito de atenta abertura e com apaixonado ardor” (Fidei Depositum).

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“É justo afirmar que este Catecismo é fruto de uma colaboração de todo o Episcopado da Igreja Católica, o qual acolheu com generosidade o meu convite… “(Fidei Depositum).

Ninguém pode ensinar nada que não esteja em consonância com ele. É a norma da Catequese.

Qual é o conteúdo básico do Catecismo?

O próprio Papa nos responde:

“Um Catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgânico, o ensinamento daSagrada Escritura, da Tradição viva na Igreja e do Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos Padres, dos Santos e das Santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistério cristão e reavivar a fé do povo de Deus. Dever ter em conta as explicaçõesque, no decurso dos tempos, o Espírito Santo sugeriu à Igreja.

É também necessário que ajude a iluminar, com a luz da fé, as novas situações e os problemas que ainda não tinham surgido no passado” (Fidei Depositum).

Tradicionalmente o Catecismo é dividido em quatro partes:

1. O Credo, que são os dogmas básicos da nossa fé (lex credendi);

2. A Sagrada Liturgia e os Sacramentos (lex celebrandi);

3. O agir cristão (moral católica) e os Dez Mandamentos (lex vivendi);

4. A oração cristã, centrada no Pai-nosso (lex orandi).

Em suma, o Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos apresenta uma síntese sobre comodevemos viver a nossa fé, não com o objetivo de proibições, mas sim com um espírito de temor a Deus, respeitando tudo aquilo que Ele nos ensina e quer de nós para que alcancemos a santidade, como São Paulo nos comunica: “A mim tudo é permitido, mas nem tudo me convém.” (1Cor 6,12)

Como manusear o CIC?

Primeiramente são as 4 grandes divisões que foram mencionadas anteriormente, mas também, com o objetivo de nos auxiliar a encontrar os temas relativos a fé, o CIC possui:

• Um índice geral

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Um índice analítico ou temático

E divisões em parágrafos e notas de rodapé

5.1 Creio – A fé professada

O Catecismo inicia explicando a Fé que professamos e sobre a nossa adesão a ela.

Na primeira seção, fala sobre o nosso ato de crer (Eu creio – Nós cremos), a capacidade natural que o Homem tem em relação a Deus, sobre o Deus que vem ao encontro do Homem, a resposta pela fé que o Homem faz a Deus.

Em seguida, inicia-se a segunda seção, onde através da profissão de Fé, o CIC nos explica parte a parte tudo aquilo que professamos e cremos, ou seja, pela oração do Creio, a

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nossa fé é explicada em todo o seu conteúdo.

O Creio é composto por 12 artigos nos quais encontramos as verdades principais da fé cristã.

5.1.1 “Eu creio em Deus Pai”

Artigo 1: “Creio em Deus Pai, todo Poderoso, Criador do céu e da Terra”

Parágrafo 1: “Creio em Deus” (199-231)

Creio em só Deus (200-202): Deus é único, só existe um Deus

Deus revela seu nome (203-213): IAHWEH, “eu sou Aquele que é” ou “Eu sou aquele

que Sou” (206)

Deus, “Aquele que é”, é a Verdade e Amor (214-221): Deus revelou-se a Israel como

Aquele que é “rico em amor e em fidelidade” (Ex 34,6) (214)

O alcance da fé no Deus Único (222-227): A fé em Deus leva a nos voltar só para Ele

como nossa primeira origem e nosso fim último, e nada preferir a Ele nem substituí-lo por nada (229)

Parágrafo 2: “O Pai” (232-266)

O Mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé cristã (234)

O dogma da Santíssima Trindade, suas obras e missões (253)

É pela graça do Batismo que somos chamados a compartilhar da vida da Santíssima

Trindade (265)

Parágrafo 3: “O todo-poderoso” (268-278)

Pois Deus que criou tudo, governa tudo e pode tudo (268)

Nem sempre compreendemos o poder de Deus (272)

Parágrafo 4: “O criador” (279-324)

Tudo sobre a criação

Parágrafo 5: “O céu e a terra” (325-354)

Criador do universo visível e invisível (325)

Fundamentação para falar de Anjos

Parágrafo 6: “O homem” (355-384)

Deus criou o homem a sua imagem, a imagem de Deus o criou, homem e mulher os

criou (Gn 1,27) (355)

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A unidade do corpo e da alma (Uno de corpo e alma) (362-368)

O homem no Paraíso (374-378)

Parágrafo 7: “A queda” (385-421)

O pecado original (388-389)

A queda dos anjos (Satanás) (391)

As consequências do pecado de Adão e Eva para a humanidade

5.1.2 Creio em Jesus Cristo, Filho Único de Deus

A Boa-Nova: Deus enviou Seu Filho (422-424)

“Quando chegou a plenitude do tempo, enviou Deus seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial.” (Gl 4, 4-5)

Anunciar... A insondável riqueza de Cristo (425)

A transmissão da fé cristã é primeiramente o anúncio de Jesus Cristo, para levar a fé nele.

Cristo é o centro da catequese (426-429)

No centro da catequese, encontramos essencialmente uma Pessoa, a de Jesus de Nazaré, Filho único do Pai. A finalidade definitiva da catequese é “levar à comunhão com Jesus Cristo”. (CT 5)

Artigo 2 : “E em Jesus Cristo, Seu Filho único, Nosso Senhor”

Jesus (430-435)

Deus Salva, pois “salvará seu povo dos pecados” (Mt 1,21).

O nome de Jesus significa o próprio nome de Deus, feito homem para a redenção universal e definitiva dos pecados. (432).

O nome de Jesus está no centro da oração cristã e todas as orações litúrgicas são finalizadas pela fórmula “Por Nosso Senhor Jesus Cristo...”

Cristo (436-440)

O nome Cristo significa “Messias”, “Ungido”. Jesus é o Cristo pois “Deus o ungiu com oEspírito Santo e com poder” (At 10,38).

“Hoje, na cidade de Davi, nasceu-vos um Salvador que é o Cristo Senhor.” (Lc 2,11)

Jesus é ungido pelo Espírito Santo para a tríplice função de sacerdote, rei e profeta.

Filho único de Deus (441-445)

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O nome Filho de Deus mostra a relação única e eterna de Jesus com Deus, seu Pai.

Para ser cristão é necessário crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus.

Senhor (446-451)

Significa soberania divina. O nome com que Deus se revelou a Moisés (IAHWEH) é traduzido por “Kyrios” (Senhor).

Confessar que Jesus é o Senhor é crer em sua divindade.

Artigo 3 : “Jesus Cristo foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria”

Parágrafo 1: O Filho de Deus se fez Homem (456-478)

Se fez Homem para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus, para que conhecêssemoso amor de Deus, para ser nosso modelo de santidade, para tornar-nos participantes da natureza divina.

A fé na Encarnação é o sinal da fé cristã.

Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, gerado não criado, da mesma substância do Pai.

As primeiras heresias negavam a humanidade verdadeira de Jesus:

Docetismo gnóstico : negar a humanidade verdadeira

Arianismo : o Filho de Deus veio do nada de uma substância diferente da do Pai

Nestorianismo : uma pessoa humana unida à pessoa divina do Filho de Deus

Monofisistas: a natureza humana cessou de existir quando foi assumida a pessoa

divina

Assim, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, Cristo tem uma inteligência e umavontade humanas, perfeitamente em acordo e submetidas a sua inteligência e vontade divinas, em comum com o Pai e o Espírito Santo.

Parágrafo 2: “... concebido pelo poder do Espírito Santo, nascido da Virgem Maria” (484– 507)

Ao ser concebido como homem no seio da Virgem Maria, o Filho Único do Pai é “Cristo”, isto é, ungido pelo Espírito Santo desde o início de sua existência humana, ainda que sua manifestação só se realize progressivamente: aos pastores, aos magos, a João Batista, aos discípulos...” (486)

Maria é verdadeiramente “Mãe de Deus” (Theotókos), preservada da mancha do pecado original (Imaculada Conceição) e permaneceu pura de todo o pecado pessoal ao longo de toda a sua vida, “permaneceu Virgem concebendo seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz,

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Virgem ao carregá-lo, Virgem ao alimentá-lo de seu seio, Virgem sempre.(Sto Agostinho) ” (510)

Parágrafo 3: “Os mistérios da vida de Cristo” (512-560)

Toda a vida de Cristo é mistério, mistério de Redenção.

Os mistérios da infância e da vida oculta de Jesus

◦ A preparação

◦ O mistério do Natal

◦ Os mistérios da infância

▪ A circuncisão

▪ A epifania

▪ A apresentação de Jesus no Templo

▪ A fuga para o Egito

◦ Os mistérios da vida oculta de Jesus

◦ Os mistérios da vida pública de Jesus

▪ O Batismo de Jesus

▪ A tentação de Jesus

▪ O anúncio do Reino de Deus

▪ Os sinais do Reino de Deus

▪ A transfiguração

▪ A subida para Jerusalém

▪ A entrada messiânica de Jesus em Jerusalém

Artigo 4 : “Jesus Cristo padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado” (571 – 628)

Parágrafo 1 : Jesus e Israel

Jesus não aboliu a Lei do Sinai, mas a cumpriu com toda a perfeição. Ele venera o Templo, sobe a ele para as festas judaicas.

Parágrafo 2 : Jesus morreu crucificado

Cristo morre por nossos pecados, oferecendo-se livremente por nossa salvação.

Parágrafo 3 : Jesus Cristo foi sepultado

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Em benefício de todo homem, Jesus experimentou a morte. Foi verdadeiramente o Filho de Deus feito homem que morreu e que foi sepultado.

Artigo 5 : “Jesus Cristo desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos no terceiro dia”

Parágrafo 1: Cristo desceu aos infernos (632-635)

Jesus conheceu a morte como todos os seres humanos e com sua alma esteve com eles na Morada dos Mortos (Infernos, Sheol ou Hades), foi para lá como Salvador para libertar os justos que o haviam precedido, abrindo a eles as portas do Céu.

É o cumprimento, na plenitude, do anúncio evangélico da salvação.

Ao descer aos Infernos, vence a morte e o Diabo (dominador da morte).

Parágrafo 2: No terceiro dia ressuscitou dos mortos (638-655)

A fé na Ressurreição é um evento atestado historicamente pelos discípulos, o sepulcro vazio e os panos de linho no chão significam que o corpo de Cristo escapou às correntes da morte e da corrupção pelo poder de Deus. Ele é o princípio de nossa própria ressurreição.

Artigo 6 : “Jesus subiu aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso” (659 – 664)

A ascensão de Cristo mostra a entrada definitiva da humanidade de Jesus no domínio celeste, de onde voltará. Ele nos precede no Reino para que nós vivamos na esperança de estarmos um dia eternamente como Ele. E assim, no Céu, intercede sem cessar por nós como único mediador, nos garantindo permanentemente a efusão do Espírito Santo.

Artigo 7 : “Donde virá julgar os vivos e os mortos” (668 – 679)

Jesus já reina pela Igreja, mas nem tudo neste mundo está submetido a ele. Por ocasião do fim do mundo (o dia do juízo), Cristo virá na sua glória (parusia) para realizar o triunfo final do bem sobre o mal, para separar definitivamente o joio do trigo.

Ao vir no fim dos tempos, ele virá como juiz, julgando vivos e mortos, revelando a disposição secreta dos corações e retribuir a cada um segundo suas obras e segundo tiver acolhido ou rejeitado a sua graça.

5.1.3 Creio no Espírito Santo

Ninguém pode dizer “Jesus é o Senhor” a não ser no Espírito Santo (1Cor 12,3).

Crer no Espírito Santo é professar que o Espírito Santo é uma das Pessoas da Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai e ao Filho, “e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado.”

Artigo 8 : “Creio no Espírito Santo” (687 - 741)

A Igreja é o lugar de nosso conhecimento do Espírito Santo: nas Escrituras, na

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Tradição, no Magistério da Igreja, na Liturgia sacramental, na oração, nos carismas e ministérios, nos sinais da vida apostólica e missionária, no testemunho dos santos.

Espírito Santo é o nome próprio daquele que é adorado e glorificado com o Pai e o Filho.

Denominado também como Paráclito, Defensor, Advogado, Consolador, Espírito da Promessa, Espírito de Adoção, Espírito de Cristo, Espírito do Senhor, Espírito de Deus, Espírito de Glória.

Simbolizado muitas vezes como a água, a unção, o fogo, a nuvem e a luz, o selo, a mão, o dedo e a pomba.

Age desde o começo até a plenitude do tempo de forma conjunta com o Verbo, na criação, nas promessas, nas teofanias e na lei, em João Batista (repleto do Espírito Santo – Lc 1,15), em Pentecostes e na Igreja.

É Ele que anima e santifica a Igreja, sacramento da Comunhão da Santíssima Trindadee dos homens.

Artigo 9 : “Creio na Santa Igreja Católica” (748 – 972)

Igreja, “ekklésia, do grego “ekkaléin”, que significa “chamar fora”, convocação, assembleias do povo reunidas em caráter religioso. Significa a pertença ao Senhor.

Na Sagrada Escritura é simbolizada pelo redil, pela lavoura, pela construção, esposa, Jerusalém Celeste e barca.

É um projeto nascido do coração do Pai, prefigurada desde a origem do mundo, preparada na Antiga Aliança, instituída por Cristo Jesus, manifestada pelo Espírito Santo, consumada na Glória.

É ao mesmo tempo visível e espiritual, mistério da união dos Homens com Deus, sacramento universal de Salvação.

Povo de Deus e Corpo de Cristo, templo do Espírito Santo.

A Igreja é una, santa, católica e apostólica.

A Igreja é hierárquica: clero, leigos e vida consagrada.

Ela é militante (aqui na Terra), padecente (no Purgatório) e triunfante (no Céu).

Artigo 10 : “Creio no perdão dos pecados” (976 – 983)

Cristo ressuscitado confiou aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados quando lhes confiou o Espírito Santo.

O Batismo é o primeiro e principal sacramento para o perdão dos pecados.

Pela vontade de Cristo, a Igreja possui o poder de perdoar os pecados dos batizados e o exerce por meio dos Bispos e dos presbíteros pelo sacramento da Penitência.

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Artigo 11 : “Creio na Ressurreição da carne” (988 – 1014)

Carne designa o homem em sua condição de fraqueza e de mortalidade. Ressurreição da carne significa que após a morte não haverá somente a vida da alma imortal, mas que mesmo os nossos corpos mortais readquirirão vida.

A confiança dos cristãos é a ressurreição dos mortos; crendo nela, somos cristãos (Tertuliano).

Ser testemunha de Cristo é ser “testemunha de sua ressurreição”.

O que é a morte? A morte é a separação da alma e do corpo, o corpo cai na corrupção e alma vai ao encontro de Deus, ficando à espera de ser novamente unida a seu corpo glorificado. É o término da vida terrestre, consequência do pecado.

O que é ressuscitar? A restituição definitiva da vida incorruptível a nossos corpos, unindo-os às nossas almas, pela virtude da Ressurreição de Jesus.

Quem ressuscitará? Todos os homens que morreram, os que tiverem praticado o bempara uma ressurreição de vida, os que tiverem praticado o mal para uma ressurreição de julgamento.

De que maneira? Cristo ressuscitou com seu próprio corpo, mas não voltou a uma vida terrestre. Nele, todos ressuscitarão com seu próprio corpo que têm agora (IV Conc. Lateranense).

Quando? Definitivamente “no último dia”, “no fim do mundo”.

Artigo 12 : “Creio na Vida Eterna” (1020 - 1050)

O cristão que une sua própria morte à de Jesus, vê a morte como um caminhar ao seu encontro e uma entrada na Vida Eterna. (1020)

O Juízo Particular: Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do momento da morte, num Juízo Particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja por meio de uma purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do céu, seja para condenar-se de imediato para sempre. (1022)

O Céu: Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo. São semelhantes a Deus, porque o veem “tal como ele é”, face a face.

A vida perfeita com a Santíssima Trindade, essa comunhão de vida e de amor com ela, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados, é denominada “o Céu”. O Céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva.

Viver no Céu é “viver com Cristo”.

O Purgatório: Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão

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completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. A doutrina da fé relativa ao Purgatório foi formulada no Concílio de Florença (1438-1445) e de Trento (1545-1563).

O Inferno: Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nosso própria opção livre. Este estado de autoexclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra “inferno”.

A Igreja ensina e afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofremas penas do Inferno, ou seja, a separação eterna de Deus.

Deus não predestina ninguém para o Inferno, para isso é necessária uma aversão voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim.

O Juízo Final: Acontecerá por ocasião da volta gloriosa de Cristo. Só o Pai conhece a hora e o dia desse Juízo, só Ele decide de seu advento. A mensagem do Juízo Final é apeloà conversão enquanto Deus ainda dá aos homens “o tempo favorável, o tempo da salvação” (2Cor 6,2).

A Vida Eterna: No fim dos tempos, o Reino de Deus chegará à sua plenitude. Então os justos reinarão com Cristo para sempre, glorificados em corpo e alma, e o próprio universo material será transformado. Então Deus será “tudo em todos” (1Cor 15,28), na Vida Eterna.

“Amém”

O amém final do Credo retoma e confirma suas duas primeiras palavras: “eu creio”. Crer é dizer “amém” às palavras, às promessas, aos mandamentos de Deus.

“O teu Símbolo seja para ti como um espelho. Olha-te nele para veres se crês tudo o que declaras crer e alegra-te cada dia por tua fé.” (Santo Agostinho)

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