páris versus menelau entre a troia de homero e a de wolfgang petersen

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Prof.ª Mestranda Renata Cardoso de Sousa

Laboratório de História Antiga

Programa de Pós-Graduação em História

Comparada

Instituto de História

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Orientador: Prof. Dr. Fábio de Souza Lessa

Ilíada

• Poema composto supostamente por

Homero;

• Datado do século VIII a.C.

• Páris x Menelau: Canto III.

• Cuidados de análise:

1. É um poema construído a partir de um

mosaico dos períodos Palaciano e Arcaico;

Ilíada

2. Não devemos nos debruçar sobre ele procurando a

verdade dos fatos relativos ao período Arcaico, tampouco ao

Palaciano;

3. “o aproveitamento histórico da obra homérica será

seguro e maior sempre que apontar para o estudo de

aspectos como família, vida social e política, instituições e

normas, princípios éticos, comportamento religioso,

cultura material, ou fatores econômicos. Os símiles entre os

poemas são, em suma, particularmente reveladores”

(GABBA, 1986, p. 45).

Troia

• Filme escrito por David Bennioff e dirigido

por Wolfgang Petersen;

• Lançado em 2004;

• Páris x Menelau: 1:05:17-1:23:31.

• Cuidados de análise:

1. O filme histórico não é fonte para estudar a

época que lhe serve de pano de fundo;

Troia

2. O filme é sempre fonte de estudo da época em que

ele foi composto e da sociedade que o compôs;

3. Um filme adaptado de um livro não é uma

tradução literal: as concepções dos autores/diretores

vão se imiscuir e a dinâmica do livro é diferente da

do filme;

4. O passado filmográfico do diretor/escritor deve

ser levado em conta.

Troia

Contexto “real” do filme: Guerra do Iraque (2003-

2011)

• Troianos // Iraquianos

• Gregos // Norte-Americanos

• Agamêmnon // Bush

• Menelau // Tony Blair

Troia

• Embora haja análises que colocam Troia como um

filme pró-Bush (KITLINSKI; LOCKARD),

concordamos com aquelas que colocam o filme

como um apelo anti-guerra, justamente pelo

passado filmográfico de Wolfgang Petersen (Das

Boot, 1981, Alemanha Ocidental).

Pontos díspares

• A própria dinâmica da luta.

• Páris desafia somente Menelau no filme; no poema, ele desafia

mais guerreiros aqueus.

• Omissões:

1. Apresentação dos guerreiros a Príamo;

2. Afrodite (deuses).

• Menelau morre.

• Agamêmnon não vem por Helena, vem para dominar Troia.

• Páris não retorna para a batalha.

• Gregos e troianos são estrangeiros.

CorrespondênciasIlíada Troia

Heitor repreende Páris por fugir do embate

Menelau repreende Páris por fugir do embate

Os aqueus riem de Páris Agamêmnon, somente, ri de Páris

Pacto sacrificial Pacto verbal

Afrodite retira Páris do campo de batalha

Páris sai do campo de batalha

Afrodite coloca Páris no paláciotroiano

Páris retorna ao palácio, a mando de Heitor

Dinâmica narrativa poética (ex.: símiles, fórmulas)

Dinâmica narrativa cinematográfica (ex.: planos,

movimentos de câmera)

Pontos de toque

• Alguns dos valores heroicos homéricos são

mantidos durante essa cena:

1. Honra;

2. Coragem;

3. Bela morte/feia morte;

4. Papel do ancião na guerra.

Pontos de toque

• Os troianos possuem um número elevado de

arqueiros em relação aos aqueus.

• Ponto de toque “histórico”: a Guerra de

Troia “original”, se existiu, teria sido movida

para conquistar uma região que era área de

influência hitita.

Conclusão

• Uma análise que privilegia a “caça aos erros”

do filme em relação à obra é pobre e

improfícua.

• Não importa quantas obras se reapropriem

de Homero: todas terão uma visão diferente

do épico, pois são feitas em tempos

diferentes e por autores diferentes.

Conclusão

• O senso comum influencia na hora da composição

da obra (ex.: representação de Páris).

• Os poemas homéricos ainda trazem valores caros à

contemporaneidade.

• A forma influencia o conteúdo.

• Uma obra (seja qual for a natureza dela), não é

fonte para estudar seu pano de fundo, mas para

estudar a sociedade que a compôs.

Conclusão

“Somos conscientes agora mais do que nunca de viver um momento em que as

manifestações culturais não canônicas têm se convertido em fonte inesgotável de

referentes que podem ser considerados o transunto contemporâneo dos mitos

antigos. O cinema, a televisão, os HQs ou formatos mais recentes, como a animação

ou os videogames, têm-se conformado no caldo de cultivo para fabulações

modernas, efêmeras ou perduráveis, e com frequência devedoras de modelos

antigos. O digno de nota é que essas expressões culturais manejam esses

referentes de maneira atrevida [desacomplejada] e subordinada aos seus próprios

interesses, graças à porosidade da cultura de massas. Paralelamente, a presença do

patrimônio cultural da Antiguidade em esses formatos modernos, posteriores ao

cânon tradicional, constitui um aprova inegável da fortaleza e vitalidade da cultura

greco-latina” (GREGORIS; GÓMEZ, 2013, p. 201).