parecer tÉcnico pericial ambiental - mpgo.mp.br · estudo florístico, fitossociológico e...

23
Coordenação de Apoio Técnico Pericial Unidade Técnica Pericial Ambiental Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexo Bairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100. 62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622 _____________________________________________________________________________________________________ PARECER TÉCNICO PERICIAL AMBIENTAL Nº 76 /2014 AUTOS: 201300420208 ORIGEM: Promotoria de Justiça da Comarca de Jataí Análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (Rima) do Complexo Hidrelétrico do Rio Claro composto pelos empreendimentos: - UHE Eng.º Érico Bitencourt de Freitas; - UHE Salto Duran; - PCH Ari Franco; - PCH Pontas. 1. INTRODUÇÃO Por determinação da Coordenação de Apoio Técnico Pericial, em atendimento ao 472/2013/5ªPJ do(a) Promotor(a) de Justiça Keila Martins Ferreira Garcia, os Técnicos Ambientais subscritos apresentam o parecer. 1

Upload: lyque

Post on 05-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

PARECER TÉCNICO PERICIAL AMBIENTAL

Nº 76 /2014

AUTOS: 201300420208

ORIGEM: Promotoria de Justiça da Comarca de Jataí

Análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório

de Impacto Ambiental (Rima) do Complexo Hidrelétrico do Rio

Claro composto pelos empreendimentos:

- UHE Eng.º Érico Bitencourt de Freitas;

- UHE Salto Duran;

- PCH Ari Franco;

- PCH Pontas.

1. INTRODUÇÃO

Por determinação da Coordenação de Apoio Técnico Pericial, em atendimento ao

472/2013/5ªPJ do(a) Promotor(a) de Justiça Keila Martins Ferreira Garcia, os Técnicos

Ambientais subscritos apresentam o parecer.

1

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

2. OBJETIVOS

Análise do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental

(Rima) do Complexo Hidrelétrico do Rio Claro composto pelos empreendimentos:

- UHE Eng.º Érico Bitencourt de Freitas;

- UHE Salto Duran;

- PCH Ari Franco;

- PCH Pontas.

Salienta-se que os empreendimentos localizados no município de Jataí são as PCHs

Ari Franco e Pontas.

3. ANÁLISES E DISCUSSÕES

O escopo deste parecer é a análise do Meio Biótico do Estudo de Impacto

Ambiental do Estudo de Impacto Ambiental do Complexo Hidrelétrico do Rio Claro.

Parecer complementar relativo a análise do Meio Físico será apresentado

posteriormente.

É de fundamental importância realizar reunião para a discussão das medidas a

serem tomadas com vistas a adequação do presente EIA entre as equipes técnicas da

Secretária Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMARH, do Ministério

Público do Estado de Goiás e do empreendedor.

3. Meio Biótico

Estudos de Impacto Ambiental (EIAs) têm como finalidade: i) identificar possíveis

impactos advindos da instalação e funcionamento de um empreendimento; ii) propor

medidas mitigatórias para os impactos diagnosticados; e iii) propor medidas compensatórias

aos impactos não mitigáveis.

Antes que se possa diagnosticar impactos e propor medidas

mitigatórias/compensatórias, é necessário conhecer qual é a situação da biota direta ou

indiretamente afetada pelo empreendimento:

- quantas e quais espécies ocorrem no local?

2

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

- se no local ocorrem espécies em algum grau de risco de extinção?

- ocorrem espécies endêmicas local ou regionalmente?

- ocorrem no local espécies protegidas especialmente por lei?

- tomando-se não apenas as espécies individualmente, mas o conjunto

representado pelo ecossistema local, a área afetada pelo empreendimento é de especial

interesse ecológico (e. g., formações vegetais únicas ou especialmente ameaçadas)?

- as formações naturais da área afetada pelo empreendimento têm especial

proteção legal?

As respostas a estas questões determinarão se o empreendimento pretendido é

ambientalmente viável e indicarão quais medidas mitigatórias e compensatórias deverão ser

propostas e realizadas. É, portanto, imprescindível que os estudos ambientais sejam

levados a cabo com o maior rigor científico possível e em número amostral suficiente para a

obtenção dos dados

Estudo Florístico, Fitossociológico e Inventário Florestal

Para o estudo em tela, foram demarcadas parcelas em 26 pontos ao longo das

margens do rio Claro.

Há uma incongruência em relação à localização dos pontos amostrados. O ponto

identificado como número “1” está a cerca de 100 km do ponto identificado como número

“2”, de acordo com as coordenadas apresentadas à Tabela 10.1 ( Página 10-7, Vol II – Tomo

II do estudo). No mapa (Anexo 03-217-13-EP-701-DE-027 do estudo), porém, os pontos em

questão estão bastante próximos. Entende-se que provavelmente as coordenadas

geográficas informadas não são as corretas.

As áreas amostradas têm como fitofisionomia mata ciliar (a maioria dos pontos) e

mata de galeria. Justificou-se a exclusividade destas duas formações vegetais por serem

elas, segundo os autores do estudo em tela, “as principais formações afetadas diretamente

pelos empreendimentos”.

A escolha se mostra tendenciosa e apresenta limitações importantes:

a) Todos os pontos escolhidos, exceto três, se encontram dentro das áreas a

serem alagadas. Há outras áreas de vegetação nativa na área apontada pelo mapa (Anexo

03-217-13-EP-701-DE-026 do estudo) como de influência direta dos empreendimentos;

3

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

b) Em boa parte dos pontos amostrados, a faixa de vegetação nativa é igual

ou menor a 50 metros. Estes pontos têm fatores estruturais que tornam a comunidade

vegetal (e também a de outros táxons) menos rica em espécies. Por exemplo, o efeito de

borda é acentuado, com maior incidência de sol, incidência de ventos e aumento da

presença de cipós e lianas. Reconhecem os autores que “... cipós (…) foram encontrados

em abundância...” e que “... cipós são mais frequentes em áreas que sofreram algum tipo de

distúrbio, seja natural (…) ou interferências antrópicas (…) corte seletivo para

aproveitamento madeireiro...”. Extensa literatura científica trata dos efeitos deletérios destes

fatores à comunidade vegetal original, do favorecimento à entrada de espécies invasoras à

perda de condições de germinação e extinção local de fauna necessária (polinizadores e

dispersores) ao ciclo de vida das espécies nativas;

c) Em áreas onde a vegetação nativa está confinada apenas às áreas de

preservação permanente – APPs (e. g., margens de cursos d'água), é comum haver ou ter

havido corte seletivo de espécies de especial interesse madeireiro, como por exemplo

aroeira (Myracrodruon urundeuva) e angico (Anadenanthera spp.). Ao buscar explicar a

abundância de cipós e lianas, os autores admitem como provável causa justamente o

desmate seletivo e outras ações antrópicas. O corte seletivo, portanto, é outro fator que

pode levar a amostragens subestimadas quanto a riqueza e diversidade florísticas;

d) Ainda que não houvesse influência de efeito de borda e desmate seletivo

citados anteriormente, as áreas próximas às margens de cursos d'água têm geralmente

características edáficas distintas, como por exemplo teor de areia e/ou matéria orgânica

(carreados pelo curso d'água e depositados nas margens), e alagamento sazonal na época

de chuvas. Das espécies de mata ciliar ou de galeria, são relativamente poucas as que

toleram estas condições. Isto é tacitamente admitido pelos autores na apresentação de

resultados, quando afirmam que as espécies mais comuns (22,7% do total de indivíduos)

“...habitam quase que exclusivamente as formações lindeiras aos cursos de água...”. A

amostragem em faixas estreitas e muito próximas às margens do rio Claro traz, portanto,

distorções quanto à real composição da biota florística da área sob influência dos

empreendimentos;

e) O bioma conhecido como “Cerrado” é na verdade um conjunto de

fitofisionomias distintas. É verdade que muitas espécies vegetais que ocorrem em uma

4

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

determinada fitofisionomia também ocorrem em outras do mesmo bioma ou mesmo de

biomas distintos, como Caatinga e Mata Atlântica. Os próprios autores do estudo

demonstram, nas tabelas 10.2 a 10.5 (Página 10-21 a 10-25, Vol II – Tomo II do estudo), que

as fitofisionomias de mata ciliar e de galeria ocupam entre 65,98% a 90,88% da área

coberta com vegetação nativa em cada área de influência de UHE/PCH, sendo que a média

geral é de 77,4%. Fica patente que se deixou de amostrar fitofisionomias que ocupam,

em média, um quarto de toda a área ainda com vegetação nativa. Como é amplamente

conhecido, e reconhecido no estudo em tela, as diferentes fitofisionomias que compõem o

bioma Cerrado possuem grandes variações estruturais e na composição de espécies;

Cada um dos fatores listados acima, isoladamente, faz com que as verdadeiras

riqueza e diversidade regionais sejam subestimadas. Agindo sinergicamente, o viés

apresentado se torna ainda maior.

Estudo Florístico

Os autores afirmam ter identificado “...um número significativo de espécies das

diversas fitofisionomias que compõem a cobertura vegetal natural...”. A quantidade de

espécies existentes in situ é certamente maior que a apresentada, considerando-se os

vários vieses metodológicos já discutidos no item anterior.

Não houve tombamento do material coletado, fazendo-se apenas a identificação a

campo. A falta de tombamento do material e a decisão de se fazer uma única campanha no

inverno, quando muitas espécies não estão em seu período de reprodução, ajudam a

explicar o alto índice de espécies não identificadas: 72 entre 338, ou 21,3% do total.

Campanhas feitas em mais de uma época do ano, ou ao menos em época em que haja

mais espécies se reproduzindo (estruturas reprodutivas são caracteres-chave para

identificação da maioria das espécies vegetais) certamente contribuiriam para a identificação

de um maior número de espécies.

Estudo da Fauna

Lista de provável ocorrência

A lista de espécies de anfíbios e répteis de possível ocorrência traz falhas e

5

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

incongruências:

a) Espécies com o nome grafado de forma errônea (e. g. “Leptodatylus” em

vez de “Leptodactylus”);

b) Espécies identificadas com nomes inválidos (e. g. “Leptodactylus ocellatus”

em vez de Leptodactylus latrans”);

c) Indicação de “possível ocorrência” para espécies cuja distribuição

geográfica conhecida está muito distante da área dos empreendimentos, sem qualquer

comentário ou ressalva (e. g. o anfíbio classificado como “criticamente ameaçado pela

IUCN, Proceratophrys aff. moratoi);

d) Espécies tidas como em perigo de extinção são citadas sem qualquer

destaque ou informação quanto a seu status conservacionista (e. g. a tartaruga Podocnemis

unifilis , segundo a IUCN “vulnerável” e o já citado anfíbio Proceratophrys aff. moratoi).

Documentos como o estudo em análise são importante fonte de dados para

pesquisas científicas. Por isso, as informações nele contidas, ainda que sejam de fontes

secundárias, merecem o devido tratamento e validação.

Coletas e Observações a Campo

Coletas Por Armadilhas

De acordo com o estudo em análise, as coletas de vertebrados terrestres foram

feitas em seis pontos. Estas coletas consistiram em armadilhas (live trap), armadilhas de

interceptação e queda (pit fall) e redes de neblina (mist nets).

Os resultados das coletas nas áreas de influência dos empreendimentos são

apresentados em conjunto. No entanto, esta maneira de se apresentar resultados não é

mais apropriada. Não se trata de uma única intervenção no rio Claro, mas de quatro. As

particularidades das áreas sob influência de cada empreendimento ficam assim mascaradas

pela amostra em conjunto.

O número de pontos de amostragem é insuficiente. Sendo seis pontos para

quatro empreendimentos, há empreendimentos com um único ponto amostral em área

sob sua influência direta. A título de comparação, a PCH Sertãozinho (localizada a

montante da área onde se pretende instalar tais empreendimentos e em processo de

licenciamento) para a elaboração de seu EIA, contou com 04 pontos de coleta para

6

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

mastofauna, 10 pontos de coleta para quiriptofauna, 05 pontos de coleta para

ornitofauna, 15 pontos de coleta para herpetofauna, 10 pontos de coleta para

atropofauna e 06 pontos de coleta para Ictiofauna.

Desta forma o Complexo Hidrelétrico do Rio Claro, composto por 4

empreendimentos hidrelétricos, abrangendo área geográfica muito maior, inclusive

com 2 UHE, deve possuir no mínimo 4 vezes o número de pontos amostrais da PCH

Sertãozinho.

Os pontos de amostragem apresentam também vícios em sua escolha, estando

invariavelmente bastante próximos a áreas fortemente antropizadas (cultivos) e/ou em áreas

com escassa cobertura vegetal (figura 1). Com isso, ocorrência e abundância de espécies

que preferem o interior de formações florestais foram subestimadas.

Outro problema quanto aos pontos de amostragem por captura, já apontado no item

sobre levantamento florístico, foi proceder-se a coleta única e exclusivamente em formações

florestais em locais relativamente úmidos, geralmente às margens do rio Claro. Embora

antropizada, a área sob influência dos empreendimentos possui outras fitofisionomias. É

comum que espécies animais não ocorram em todas as fitofisionomias de uma determinada

área, dado haver diferenças entre elas na oferta de recursos tais como alimento, abrigo e

sítios reprodutivos. Assim, restringir as coletas a apenas um dos tipos de vegetação

ocorrentes no local faz com que se subestime riqueza e diversidade de espécies, dois dos

mais importantes atributos de uma comunidade ecológica.

Observações e Busca Ativa

Foram escolhidos 76 pontos para amostragem por busca ativa (transectos). Esta

escolha se mostrou inadequada. De acordo com as coordenadas fornecidas, os pontos onde

os transectos foram feitos são basicamente áreas abertas, fortemente antropizadas, em

pequenas manchas de vegetação nativa, em alguns casos em área desmatada e ocupada

por exploração agropecuária, sempre nas proximidades do rio Claro (figuras 2 e 3).

Manchas importantes de vegetação nativa foram ignoradas.

Herpetofauna

Segundo os autores do estudo, foram encontradas 20 espécies de anfíbios e 14 de

“répteis”.

7

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

A apresentação dos resultados traz alguns equívocos. Afirma-se no texto que as

taxas de registro da herpetofauna por busca ativa foi de 1,16 espécimes/horas-observador

na primeira campanha, enquanto que na segunda esta taxa foi de 1,92 espécimes/hora-

observador (página 10-114 e 10-115, Volume II, Tomo II). No entanto, o mesmo parágrafo

que cita estes dados afirma que a taxa de registro da primeira campanha (1,16) foi maior

que a da segunda (1,92). Já a tabela que traz os dados parciais e o total de capturas (Tabela

10.19, página 10-115, Volume II, Tomo II) informa que a taxa de captura da primeira

campanha foi de 1,9 espécimes/horas-observador na primeira campanha e 0,2 na segunda.

Além da apresentação confusa de dados, há outras incorreções e inconsistências.

Há nomes científicos grafados de maneira errônea. Exemplo disto é a grafia Leptodactylus

labirinticus [sic, labyrinthicus]. Outro erro de apresentação foi o uso de nome inválido, como

por exemplo Amerotyphlops brongersmianus ser identificado com o nome inválido de

Typhlops (grafado erroneamente Thyphlops) brongersmianus (Tabela 10.18, páginas 10-

113/10-114, Volume II, Tomo II).

Erros como os descritos acima são o que se poderia chamar de vícios formais,

sanáveis com as devidas correções e que poderiam a princípio ser evitados com

providências simples. Mais graves, no entanto, foram omissões importantes como possíveis

novos registros de ocorrência (e. g. Dendropsophus minutus, que tem como distribuição

geográfica conhecida apenas uma estreita faixa que vai da porção sudoeste de Minas

Gerais ao centro-sul do Estado de São Paulo) ou espécies descritas recentemente, cuja

distribuição geográfica conhecida se restringe apenas à localidade-tipo e circunvizinhanças

(e. g. Scinax pusillus, descrita em 2011, registrada em apenas três localidades, todas

próximas aos empreendimentos) (Tabela 10.18, páginas 10-113/10-114, Volume II, Tomo II).

Ao contrário do que afirmam os autores no item “A5 - Considerações ecológicas,

taxonômicas, biogeográficas e conservacionistas”, não é possível afirmar que “não foram

constatadas a presença de microendemismos na área de influência do Complexo” (página

10-124, Volume II, Tomo II). Ressalte-se que S. pusillus foi descrita em 2011, ou seja,

posteriormente à divulgação da última lista de animais ameaçados de extinção (MMA, 2008)

disponível à época da elaboração do estudo em análise. Em outras palavras, esta espécie

não consta da lista de espécies em risco de extinção porque não era nem sequer conhecida

pela Ciência à época.

8

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

Quando se compara a riqueza (número de espécies) observada com as estimativas

de riqueza obtidas a partir de cálculo por diversos índices, fica patente a insuficiência de

amostragem. De acordo com os cálculos apresentados pelos autores, a riqueza observada

ficou entre 15,68% (Chao 1) e 41,25% (Jackniffe 2) abaixo da estimada para anfíbios. Para

os répteis, a variação ficou entre 31,91% (Chao 2) e 50% (Chao 1) abaixo da riqueza

estimada (Tabela 10.20, página 10-117, Volume II, Tomo II). Ainda mais importante do que

saber se há exatamente 20, 25 ou 34 espécies de anfíbios (ou qualquer outro recorte

taxonômico) numa área, a subasmotragem detectada é preocupante por razões qualitativas.

Espécies ameaçadas e/ou endêmicas muitas vezes são raras mesmo em ambientes

inalterados pelo homem, e portanto geralmente necessitam de um maior esforço amostral

para serem registradas. Portanto, o esforço amostral se mostrou insuficiente, havendo ainda

dúvidas quanto a possível presença de espécie(s) ameaçada(s) de extinção na área sob

influência dos empreendimentos.

Ornitofauna

O estudo de ornitofauna apresentou erros semelhantes aos descritos no item

“herpetofauna” do presente Parecer, como o uso de nomes inválidos (e. g., Heterospizias

[sic, Buteogallus] meridionalis) (página 10-193, Volume II, Tomo II). Faz-se novamente

necessário lembrar que o estudo em análise, longe de se constituir em mera formalidade

burocrática, tem caráter científico e serve potencialmente como fonte de dados secundários

para pesquisas científicas. Deve, portanto, prezar pela exatidão das informações nele

contidas.

As deficiências mais graves encontradas quanto ao estudo de ornitofauna são:

a) A riqueza de espécies novamente foi subestimada. De acordo com os próprios

autores, as 119 espécies registradas compreendem pouco entre 74,7% a 81,5% do total que

efetivamente ocorre na área estudada, segundo o único estimador de diversidade utilizado,

Jackknife 1 (página 10-127, Volume II, Tomo II). Em outras palavras, aproximadamente entre

um quinto e um quarto do total estimado de espécies de aves não foi observado.

Novamente, faz-se a ressalva: espécies endêmicas e/ou ameaçadas tendem a ser mais

raras e portanto sua ocorrência é mais facilmente subestimável;

b) Omitiu-se ou se minimizou a ocorrência de espécies com algum grau de ameaça

9

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

de extinção segundo a IUCN1 ou constante da lista da CITES2. Exemplo do primeiro caso é

a ema, Rhea americana, classificada como quase-ameaçada (near threatened) pela IUCN.

Já no segundo caso, omitiu-se que todos os psitaciformes brasileiros estão pelo menos no

anexo II da CITES. Ainda assim, os autores afirmam não haver nenhuma espécie ameaçada

de extinção;

c) Não houve informação quanto a espécies particularmente afetadas pelos

empreendimentos. É o caso do andorinhão ou taperuçu-velho, Cypseloides senex. Esta

espécie, embora não figure como ameaçada de extinção e tenha distribuição geográfica

relativamente ampla, tem requisitos especiais quanto à nidificação, pois faz seus ninhos em

quedas d'água, em cavidades rochosas atrás das cortinas d'água formadas por cachoeiras e

cascatas. As etapas de construção e operação dos empreendimentos causarão perturbação

nos sítios de nidificação desta espécie, podendo até mesmo impedi-la. Consequentemente,

a população da espécie no local será adversamente afetada, podendo mesmo haver

extinção local.

Mastofauna

A lista de espécies apresentada pelos autores, a exemplo dos grupos faunísticos

anteriores, apresenta incorreções que denotam falta de uma revisão mais acurada, como

por exemplo grafia incorreta de nomes científicos e omissão quanto ao fato de estarem

todos os primatas incluídos ao menos no Anexo II da CITES. Também é importante citar que

o queixada (Tayassu pecari) consta como “vulnerável” em vez de “quase ameaçado (near-

threatened) na lista da IUCN (Tabela 10.24, página10-136, Volume II, Tomo II). As categorias

utilizadas pela IUCN para classificar o grau de risco de extinção vão de LC (least concern),

ou pouco preocupante, até EX (extinta). Nesta escala, “vulnerável” (VU) significa um grau de

risco de extinção maior que “quase ameaçada” (NT).

Os autores fazem uma distinção arbitrária entre “mamíferos de pequeno porte”, com

massa corporal de até um quilograma, e “de médio e grande porte”, com massa corporal

superior a um quilograma (página 10-137, Volume II, Tomo II). Esta última categoria inclui

espécies com massa corporal até 300 vezes maior que o limite utilizado (a anta, Tapirus

1 International Union for Conservation of Nature, ou União Internacional para a Conservação da Natureza.2 Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora, ou Convenção sobre oComércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção.

10

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

terrestris, atinge até 300 kg). Obviamente, aspectos como distância percorrida real ou

potencialmente para obtenção de alimento variam grandemente dentro deste último grupo.

Segundo os próprios autores, a divisão proposta foi operacional, ou seja, os assim

denominados mamíferos de pequeno porte seriam os capturáveis em armadilhas, enquanto

que os de médio a grande porte seriam registrados por meios que excluem a captura de

espécimes. A lista de espécies apresentada (Tabela 10.24, páginas 10-135 a 10-137,

Volume II, Tomo II), porém, não traz informação sobre quais espécies foram capturadas em

armadilhas, nem tampouco com que frequência.

Foram registradas apenas quatro espécies de roedores. Destas, apenas uma

(Calomys expulsus) é de porte pequeno o bastante para ser engolido sem maiores

problemas por serpentes. No entanto, o estudo da herpetofauna aponta a presença de

serpentes (Crotalus durissus, Bothrops moojeni, Spilotes pullatus) e lagartos (Salvator

merianae) que têm roedores como itens importantes ou mesmo praticamente exclusivos em

suas dietas. Esta incongruência e o registro de espécies que requerem áreas extensas e

pouco perturbadas e são comumente caçadas pelo homem, como a anta (Tapirus terrestris)

ou o tatu-canastra (Priodontes maximus), indicam ter havido amostragem insuficiente e/ou

inadequada, ao menos para os mamíferos de pequeno porte.

Segundo os próprios autores, também a quiropterofauna pode ter sido

deficientemente amostrada. O número de espécies registradas, 11 (Tabela 10.29, páginas

10-158 e 10-159, Volume II, Tomo II), foi considerado baixo pelos autores. É importante

ressaltar que uma das espécies sequer foi capturada por redes. Ainda que os autores

tentem atribuir a baixa riqueza de espécies à antropização dos ambientes, a presença de

espécies terrestres de grande porte e com algum grau de ameça de extinção, como os já

citados anta e tatu-canastra, demonstra que as condições para sobrevivência da fauna não

são tão desfavoráveis quanto é afirmado pelo estudo.

Artrópodes Vetores

O estudo da fauna de invertebrados limitou-se aos Diptera (Insecta) de importância

médica (página 10-205, Volume II, Tomo II), ainda assim com limitações metodológicas.

Foram determinados apenas cinco pontos para coletas (Tabela 10.31, página 10-210,

Volume II, Tomo II), em uma área em que se pretende construir quatro barramentos

hidrelétricos. Entre os extremos (pontos 1 e 5), a distância em linha reta é de 65 km; os

11

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

pontos menos distantes (1 e 2) estão situados a quase quatro km um do outro, também em

linha reta. O esforço amostral, 12 dias de coleta distribuídos em duas estações (seca e

chuvosa) (página 10-209, Volume II, Tomo II) ao longo de cinco pontos, mal pode ser

considerado suficiente para análises meramente exploratórias, como por exemplo para

compor uma lista preliminar de espécies que ocorram na área.

Os pontos de amostragem, mesmo distribuídos em uma ampla área composta por

um mosaico de habitats, são muito semelhantes entre si: sempre próximos a rios

caudalosos e de águas turvas. Obviamente, a escolha de pontos de amostragem em

ambientes muito semelhantes entre si tem como resultado uma lista de espécies distorcida

em termos numéricos (i. e., com abundâncias relativas que não são as mesmas encontradas

na natureza) ou até mesmo incompletas, sem espécies importantes.

A apresentação dos resultados obtidos está confusa. No corpo do texto “10.1.1.3.2.2

Metodologia” (página 10-209, Volume II, Tomo II), na Tabela 10.31 (página 10-210, Volume

II, Tomo II) e na figura 10.107 (página 10-212, Volume II, Tomo II), afirma-se que as coletas

se deram em cinco pontos de amostragem. Por outro lado, as figuras 10.108 (página 10-

213, Volume II, Tomo II), 10.109 (página 20-215, Volume II, Tomo II) e as Tabelas 10.32

(página 10-215, Volume II, Tomo II) e 10.33 (página 10-216, Volume II, Tomo II) apontam

para seis sítios amostrais, uma contradição flagrante. As informações prestadas, portanto,

ficam com sua confiabilidade comprometida.

O estudo da fauna invertebrada traz ainda duas omissões indefensáveis. A primeira

diz respeito a espécies invasoras. Dentre elas, uma de especial importância é o mexilhão

dourado asiático, Limnoperna fortunei. Este molusco bivalve já foi registrado no rio

Paranaíba, caudatário do rio Claro, e sua infestação em sistemas de tomada de água para

geração de energia elétrica frequentemente causa interrupções na geração de energia, dada

a constante necessidade de paradas para limpeza das máquinas.

A outra importante omissão no presente é quanto aos invertebrados nativos

ameaçados de extinção. Segundo as bases de dados disponíveis, há espécies com

ocorrência potencial na região, pois suas prováveis distribuições geográficas e ambientes

ocupados abrangem a área dos empreendimentos. Como exemplo, podem ser citadas

Zonia zonia diabo (Lepidoptera: Hesperiidae) e Parides burchellanus (Lepidoptera:

Papilionidae).

12

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

Ictiofauna

A lista de espécies de possível ocorrência (Tabela 10.34, páginas 10-226 a 10-228,

Volume II, Tomo II) apresenta os mesmos vícios já apontados para outros grupos.

Novamente, nomes científicos foram erroneamente grafados (e. g., Apareidon em vez de

Apareiodon), usou-se nomes inválidos e identificou-se erroneamente a espécie que

possivelmente ocorre na área. O caso do jaú da bacia do Paraná, Zungaro jahu, combina os

dois últimos erros: usou-se o nome inválido Paulicea lutkeni, que hoje é identificada como o

jaú da bacia amazônica, Zungaro zungaro. Nunca é demais repetir: embora listas de

provável ocorrência sejam compilações de estudos já publicados, é fundamental realizar

uma revisão crítica dos dados compilados.

A compilação de dados para a confecção de lista de provável ocorrência limitou-se a

quatro EIAs feitos na região. Não é compreensível que se restrinja desta maneira as fontes

consultadas. Há várias bases de dados, mantidos por instituições confiáveis e que contam

com os melhores especialistas, disponíveis na internet. Também na internet é possível se

fazer pesquisas por artigos científicos que enfoquem a ictiofauna da área, e há bastante

estudos com este escopo. Por fim, as universidades possuem bibliotecas com coleção de

periódicos científicos e outras bases de dados não necessariamente disponíveis ao público

em geral, mas passíveis de serem consultadas via biblioteca universitária.

Foram escolhidos oito pontos para amostragem de ictiofauna. Em apenas três pontos

(Tabela 10.35, página 10-230, Volume II, Tomo II), identificados como P2, P4 e P7 houve

coletas em afluentes do rio Claro. Afluentes de pequeno caudal (córregos, riachos)

apresentam condições distintas de seus caudatários quanto a turbidez, velocidade de

correnteza, oxigenação da água, substrato e (eventualmente) temperatura da água. Muitas

vezes, servem também como locais de refúgio para espécies de porte menor. Portanto, para

se conhecer a ictiofauna de uma determinada bacia ou microbacia hidrográfica, é necessário

levar em conta essa heterogeneidade ambiental e assim definir os pontos de coleta.

Os pontos de coleta ao longo do rio Claro não foram representativos dos diferentes

ambientes nele existentes. Por exemplo, não houve amostragem em corredeiras ou junto a

cachoeiras. Os pontos identificados na Tabela 10.35 do estudo em análise citam haver

corredeiras, porém as coletas foram feitas em remanso.

Não há indicação, para as coletas feitas com peneiras, puçás e tarrafas, do número

de pontos amostrados e tampouco das coordenadas geográficas dos pontos amostrados.

13

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

Desta maneira, é impossível avaliar esta metodologia.

Por fim, o número de pontos amostrados, oito, é francamente insuficiente para a

extensão geográfica e para o número de empreendimentos propostos. Reforça-se a

comparação com o EIA da PCH Sertãozinho que apresentou 06 pontos de coleta para

Ictiofauna, ou seja, apenas dois a menos para um único empreendimento.

Os autores do estudo em análise afirmam que “...o valor da riqueza [número de

espécies] observada e da estimada que mais se aproximou [sic] (…) sendo a observada 17

[espécies] e a estimada 23,4...” (página 10-241, Volume II, Tomo II). Esta foi a única, e mais

favorável, informação quanto às riquezas observada e estimada. Neste caso, onde os

valores mais se aproximam, observou-se 27,35% espécies a menos do que as que

provavelmente ocorrem de fato. É recorrente, ao longo do estudo ora em análise, afirmar-se

que novas espécies hão de ser observadas em estudos posteriores. No entanto,

praticamente todo ecossistema é “aberto”, ou seja, passível de receber novas espécies e

“perder” outras para áreas vizinhas. Isto é bastante diferente de se fazer subamostragem,

em pontos pouco representativos e com esforço de coleta insuficiente. Deixar de observar,

na melhor das hipóteses, uma em cada quatro das espécies ocorrentes em uma

determinada área indica falha no planejamento, na execução e na gestão do estudo de

meio biótico.

Na apresentação de resultados, há inconsistências quanto às espécies coletadas.

Por exemplo, a Tabela 10.37 (páginas 10-237 a 10-238, Volume II, Tomo II) afirma ter sido

coletada a espécie identificada como Bryconamericus exodon; já na Tabela 10.44 (páginas

10-247 a 10-248, Volume II, Tomo II), a espécie aparece identificada como B. stramineus.

Trata-se de duas espécies distintas, restando a dúvida sobre qual das duas realmente foi

observada nas coletas.

Embora admita-se que os barramentos no rio Claro virão afetar adversamente as

populações de peixes do local, não se propôs medidas mitigadoras como por exemplo as

“escadas de peixe” nas barragens, nem tampouco construção de estações de piscicultura

com o propósito de repovoamento, com espécies de piracema, dos cursos d'água afetados

pelos empreendimentos propostos.

14

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

3.2 Medidas compensatórias: Unidade de Conservação

Em qualquer aproveitamento hidrelétrico, um impacto ambiental não-mitigável é o

alagamento de parte da área às margens de cursos hídricos para a formação do

reservatório. O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta

finalidade não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a

implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental

licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento,

consoante art. 36 da Lei 9.985/2000. É facultado ao empreendedor efetuar esta

compensação mediante depósito em fundo estadual de meio ambiente.

Os empreendimentos objeto do presente estudo se inserem na bacia hidrográfica do

rio Paranaíba. Nesta bacia, há poucas áreas com remanescentes naturais significativos e

escassas UCs. Das existentes, a mais importante é o Parque Nacional das Emas, no

município de Mineiros. No entanto, esta UC apresenta características diversas das

encontradas na área afetada pelos empreendimentos em tela.

No Estado de Goiás há uma tendência à criação de UCs em áreas inseridas em

outras bacias hidrográficas, principalmente a do Tocantins. Não se discute a importância da

criação de UCs nestas áreas, mas é urgente preservar os poucos remanescentes naturais

da bacia do Paranaíba.

Havia inicialmente a previsão de um quinto aproveitamento a montante do local

pretendido para a Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Pontas. Esta área, onde se pretendia

instalar o aproveitamento hidrelétrico denominado Casado, foi descartada nos estudos

preliminares por haver um significativo remanescente florestal. Em discussão com

pesquisadores da Universidade Federal de Goiás – campus Jataí, estes aventaram a

proposta de se criar uma UC no local, como compensação ambiental.

Considerando-se que toda a bacia do Paranaíba em território goiano se encontra

fortemente alterada pela ação humana, que nela há poucas UCs representativas de todas

as fitofisionomias originais, e que há uma área potencialmente adequada à criação de UC às

margens do rio no qual se pretende instalar os empreendimentos em tela, recomenda-se

fortemente que a compensação ambiental para criação de UC de Proteção Integral não seja

feita via ressarcimento pecuniário ao fundo ambiental, e sim feita mediante a aquisição de

área com remanescente natural significativo na bacia do rio Claro ou ao menos na bacia do

15

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

Paranaíba.

4. CONCLUSÕES

O estudo do meio biótico apresenta deficiências graves:

- Fez-se um único estudo para quatro empreendimentos, quando o aconselhável é tratar em

separado cada um deles;

- Grupos taxonômicos importantes não foram amostrados e nem mesmo receberam

considerações gerais (e. g., criptógamas, invertebrados terrestres);

- O esforço amostral é insuficiente para a área abrangida pelos empreendimentos;

- Os pontos amostrados não são representativos dos ambientes que existem na área de

abrangência dos empreendimentos;

- As estimativas de riqueza (quantidade de espécies) indicam dever haver um número de

espécies substancialmente maior do que o relatado nos estudos referentes a cada grupo

vegetal e animal.

No conjunto, os erros apontados tendem a subestimar o impacto ambiental causado

pelos empreendimentos pretendidos.

Visto que na região sudoeste do Estado de Goiás há poucas áreas com

remanescentes naturais significativos e escassas Unidades de Conservação, seria de

fundamental importância que a compensação pelos danos não mitigáveis fosse aplicada na

própria região para a criação de Unidade de Conservação de Proteção Integral, conforme

Lei 9.985/2000.

5. RECOMENDAÇÕES

As sugestões de recomendações listadas a seguir objetivam nortear a atuação da

Promotoria de Justiça de Jataí no caso em tela:

- A compensação ambiental para reparar os danos ambientais que vierem a ser causados e

que não poderão ser mitigados de modo aceitável passa pelo pagamento dos impactos

gerados pelo empreendimento ao órgão ambiental, sugere-se a compra, aquisição e

16

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

doação de área para a criação de Unidade de Conservação de Proteção Integral na

Bacia do Rio Claro para mitigar os impactos ecossistêmicos.

Apresentar novo Diagnóstico Meio Biótico.

• Realizar revisão bibliográfica abrangente e crítica, a fim de elaborar listas de

provável ocorrência mais consistentes;

• Realizar novas campanhas com 4 vezes o número de pontos amostrais da PCH

Sertãozinho, pois o número de pontos de amostragem foi insuficiente. Sendo

seis pontos para quatro empreendimentos. A título de comparação, a PCH

Sertãozinho (localizada a montante da área onde pretende-se instalar tais

empreendimentos e em processo de licenciamento) para a elaboração de seu

EIA, possuiu 04 pontos de coleta para mastofauna, 10 pontos de coleta para

quiriptofauna, 05 pontos de coleta para ornitofauna, 15 pontos de coleta para

herpetofauna, 10 pontos de coleta para atropofauna e 06 pontos de coleta para

Ictiofauna.

• Revisar a metodologia empregada, de maneira a evitar contagens em duplicata e

subamostragem;

• Revisar a metodologia empregada, de maneira a contemplar grupos taxonômicos ora

negligenciados, como por exemplo os invertebrados terrestres e aquáticos;

• Proceder revisão quanto ao interesse conservacionista das espécies encontradas,

não apenas segundo a lista da IUCN, mas também dos anexos CITES e da lista de

espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente (MMA);

• Realizar novas campanhas de inventário florístico, contemplando épocas do ano em

que haja o maior número de espécies se reproduzindo (e. g., ao menos uma

campanha no período chuvoso e uma no período de estiagem).

Este é o parecer, contendo 21 (vinte e uma) páginas, todas rubricadas, e assinado

pelos Técnicos Ambientais, com um apêndice com 3 (três) figuras enumeradas.

Unidade Técnica Pericial Ambiental, Coordenação de Apoio Técnico Pericial, do

17

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

Ministério Público do Estado de Goiás, aos 6 (seis) de novembro de 2014.

Juber Henrique Amaral

Téc. Ambiental – Eng. Ambiental

Flávio da Costa Santos

Téc. Ambiental – Biólogo

Mestre/Doutor em Geografia

José Carlos Brombal

Téc. Ambiental - Biólogo

Mestre em Ecologia

18

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

Figura 1: Pontos de captura de fauna vertebrada por armadilhas (pit-fall, mist-net, camera trap,gaiolas), identificados por balões vermelhos. Os pontos escolhidos localizaram-se invariavelmentebastante próximos ao rio Claro ou algum afluente próximo (a, b, f) e em borda de pequenosfragmentos junto a áreas antropizadas (a, b, c, d, e, f). Imagens de satélite obtidas a partir do softwareGoogle Earth, posteriormente editadas.

19

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

Figura 2: Parte dos pontos de observação direta e busca ativa de vertebrados (transectos),identificados em amarelo a partir de coordenadas fornecidas pelos autores. Os pontos amostradosestavam sempre muito próximos às margens do rio Claro (a, e) ou junto a áreas fortementeantropizadas (b, c, d, e, f), ignorando fragmentos mais bem conservados. Imagens de satélite obtidasa partir do software Google Earth, posteriormente editadas.

20

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

Figura 3: Parte dos pontos de observação direta e busca ativa por vertebrados, identificados (pontosamarelos) a partir das coordenadas fornecidas pelos autores. Nota-se que foram escolhidas áreaspróximas aos cursos d'água (rio Claro e tributários) (a, b, c, e), áreas fortemente antropizadas (a, b, c,d, e) ou mesmo desmatadas e ocupadas por atividades agropecuárias (c, d, e). Ignorou-sefragmentos mais bem conservados (a) e houve concentração de pontos amostrais (a área em “e” temcerca de um terço dos 76 pontos amostrados). Imagens de satélite obtidas a partir do softwareGoogle Earth, posteriormente editadas.

21

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

22

Coordenação de Apoio Técnico PericialUnidade Técnica Pericial Ambiental

Rua 23, esq. com a Rua 03, Qd. A-12, Lt. 11. salas T6, T7 e T8, prédio anexoBairro Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100.

62 3239-0621 / 0613 / 0616 / 0617 / 0618 / 0622

_____________________________________________________________________________________________________

Apêndice de Figuras

23