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1 CAPITULO 01 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA PARECER DE CONSELHEIRO CONSELHO ESTADUAL DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL– COEPA ESTADO DO CEARÁ PARECER DE TOMBAMENTO Bem imóvel de propriedade particular. Procedimento em conformidade com a legislação vigente. Decreto-Lei (FEDERAL) Nº 25/37. Lei Complementar (ESTADUAL) Nº 13.465/2004. CAPITULO 01 PREÂMBULO Análise da recomendação de tombamento estadual do Clube Náutico Atlético Cearense, constante do Processo de número 7255883/2005, feita pelo Ministério Público do Estado do Ceará, neste ato representado pelo procurador-geral de justiça, Alfredo Ricardo de Holanda Cavalcante Machado e o Centro de Apoio Operacional de Proteção a Ecologia, Meio Ambiente, Urbanismo, Paisagismo e defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural – CAOMACE, neste ato representado pela sua coordenadora, Maria do Socorro Costa Brilhante. Em, 18 de Novembro de 2015, por ocasião da 6 a reunião ordinária do– COEPA do ano de 2015; “A conselheira Socorro Brilhante fez a entrega, ao Presidente do conselho, da solicitação de Tombamento Estadual do Clube Náutico Atlético Cearense, material e imaterial, na sua integralidade, formalizando assim, a recomendação do Ministério Público. Atendendo a demanda do “Movimento Náutico Urgente”, e garantindo a preservação do Clube. A conselheira salientou que o Clube Náutico é um equipamento com tombamento municipal, porém, esse tombamento foi questionado na Justiça, dando condições para demolirem parte do Clube.” (trecho extraído da ata da 6 a reunião ordinária do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural – COEPA 2015) Por ocasião da 1 a reunião ordinária do– COEPA do ano de 2016; “Foi formada a Comissão do COEPA para estudo do processo de tombamento do Clube Náutico, pelos conselheiros Glauber (CREA), Márcia (IAB) e Lira(UVA).” (trecho extraído da ATA da 1 a reunião ordinária do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural – COEPA 2016) Ao longo do tempo, a Comissão sofreu alterações em sua composição e, por ocasião da 2ª Reunião Ordinária de 2017 (18/10/2017), passou a ser constituída pelos conselheiros representantes das seguintes instituições: Instituto dos Arquitetos do Brasil (Márcia Miranda Sampaio), Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Glauber Gomes de Oliveira) e Ministério Público do Estado do Ceará (Maria Jacqueline Faustino de S. A. do Nascimento).

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CAPITULO 01 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

PARECER DE CONSELHEIRO

CONSELHO ESTADUAL DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL– COEPA ESTADO DO CEARÁ PARECER DE TOMBAMENTO Bem imóvel de propriedade particular. Procedimento em conformidade com a legislação vigente. Decreto-Lei (FEDERAL) Nº 25/37. Lei Complementar (ESTADUAL) Nº 13.465/2004.

CAPITULO 01

PREÂMBULO

Análise da recomendação de tombamento estadual do Clube Náutico Atlético Cearense, constante do Processo de número 7255883/2005, feita pelo Ministério Público do Estado do Ceará, neste ato representado pelo procurador-geral de justiça, Alfredo Ricardo de Holanda Cavalcante Machado e o Centro de Apoio Operacional de Proteção a Ecologia, Meio Ambiente, Urbanismo, Paisagismo e defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural – CAOMACE, neste ato representado pela sua coordenadora, Maria do Socorro Costa Brilhante.

Em, 18 de Novembro de 2015, por ocasião da 6a reunião ordinária do– COEPA do ano de 2015;

“A conselheira Socorro Brilhante fez a entrega, ao Presidente do conselho, da solicitação de Tombamento Estadual do Clube Náutico Atlético Cearense, material e imaterial, na sua integralidade, formalizando assim, a recomendação do Ministério Público. Atendendo a demanda do “Movimento Náutico Urgente”, e garantindo a preservação do Clube. A conselheira salientou que o Clube Náutico é um equipamento com tombamento municipal, porém, esse tombamento foi questionado na Justiça, dando condições para demolirem parte do Clube.” (trecho extraído da ata da 6a reunião ordinária do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural – COEPA 2015)

Por ocasião da 1a reunião ordinária do– COEPA do ano de 2016;

“Foi formada a Comissão do COEPA para estudo do processo de tombamento do Clube Náutico, pelos conselheiros Glauber (CREA), Márcia (IAB) e Lira(UVA).” (trecho extraído da ATA da 1a reunião ordinária do Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural – COEPA 2016)

Ao longo do tempo, a Comissão sofreu alterações em sua composição e, por

ocasião da 2ª Reunião Ordinária de 2017 (18/10/2017), passou a ser constituída pelos conselheiros representantes das seguintes instituições: Instituto dos Arquitetos do Brasil (Márcia Miranda Sampaio), Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Glauber Gomes de Oliveira) e Ministério Público do Estado do Ceará (Maria Jacqueline Faustino de S. A. do Nascimento).

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CAPITULO 01 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

Durante a exposição de motivos para a solicitação de tombamento a então conselheira Socorro Brilhante trouxe ao conhecimento do COEPA que o imóvel, embora tombado pela Prefeitura municipal de Fortaleza, estava sob grave ameaça. Ao tempo em que relatou a existência de processo de contestação do tombamento municipal e a intensão da diretoria do Náutico em implantar um empreendimento de grande porte no terreno do clube. O citado empreendimento além do grande contraste de escala edilícia propunha a demolição de todo o parque aquático e da colunata, ambos projetados por Emílio Hinko, além do ginásio.

Com vistas à análise do tombamento de todo o conjunto arquitetônico do

Clube, e não somente da parte mais antiga da ala social, eis que foi instaurado o presente procedimento, em face do qual resultou a formação da presente comissão, e cujo parecer buscou pautar-se na avaliação dos documentos constantes no processo e por pesquisas em livros e outras fontes a destacar os valores culturais intrínsecos ao bem ora analisado. Findos os trabalhos, disto resultou a emissão do presente parecer, o qual ora é submetido para apreciação dos pares.

Por deliberação do COEPA o rito seguido buscou oportunizar amplo debate e

esclarecimentos dos conselheiros e demais interessados no tema. Neste sentido foram pautadas reuniões nas quais se deram as apresentações das partes em iguais condições de tempo.

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CAPITULO 02 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

CAPITULO 02 Ficha de Identificação Nome usual: Náutico Clube Nome oficial: Clube Náutico Atlético Cearense - NAC

A escolha do nome “Náutico Atlético Cearense” para designar a agremiação que se criava, provavelmente tenha-se inspirado no “Clube Náutico Capibaribe”, existente na cidade de Recife (...) PONTES (2005, p.187)

Marca: Fundação da agremiação NAC:

Segundo a arquiteta Mirtes Freitas em seu livro “A Cidade dos Clubes”, “A data de fundação do clube é julho de 1929. Por esse tempo emergia na sociedade, de forma geral a valorização do mar como elemento associado à manutenção da saúde do corpo e da mente(...)”.

Foto da Placa de inauguração existente na edificação Fonte:http://www.nauticoatleticocearense.com.br/clube/placa.png Ainda sobre esse período inicial Mirtes ressalta que: “A idéia inicial da fundação do clube teria partido de Raul Faria de Carvalho e Ademísio Barreto V. de Castro, banhistas costumeiros da referida praia... A esse grupo fundador, juntar-se-iam outros jovens, recrutados principalmente entre os que exerciam atividades comerciais e os alunos do Liceu (...)”1 PONTES (2005, p.185-186)

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CAPITULO 02 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

Foto da Primeira sede do Náutico na praia Formosa Fonte: PONTES, 2005, p.186 (Arquivo Náutico)

Sede atual: iniciada sob à presidência do médico Francisco Moreira de Sousa Localização: Avenida Abolição n° 2727, Bairro Meireles, Fortaleza CE Construção: 05 de dezembro de 1948 “Festa da Cumeeira”

“(...) A primeira fase a ser concluída foi o parque esportivo da agremiação, inaugurado em janeiro de 1950. Em 1952, foi a vez de várias dependências da Sede, inclusive o Restaurante. O „Salão Nobre‟ viria a ser concluído e entregue aos sócios em 24 de janeiro de 1954 e finalmente, o parque aquático em 1959.” 2 PONTES(2005, p.207)

Tipologia – Uso: Esporte e Lazer Projeto: Emílio Hinko (ver ANEXO 03 para mais informações sobre o arquiteto) Outras obras do Arquiteto: Sanatório de Messejana (1933), Palacete Iracema (1937), Sede do Clube Iracema no Centro, Palácio da Polícia Central (1942), Sede do Clube Náutico Atlético Cearense no Meireles (1950), reforma da Igreja do Coração de Jesus (1961), Base Aérea de Fortaleza, Capela das Missionárias, Casa do Estudante Pobre, Sede do Clube Iracema na Aldeota. PONTES(2005, p.199) Tipologia Arquitetônica: Eclético. A edificação apresenta vocabulário arquitetônico palaciano, os elementos nela distribuídos, em especial a extensa colunata e a torre circular, traduzem a imagem de suntuosidade e do luxo almejados pela sociedade que a construíra. Anexo: Construção encomendada ao Arquiteto Neudson Braga e 1986. Edificação que envolve a torrinha que se projeta lindeira à faixa de praia, foi conforme solicitação da diretoria do NAC, projetada pelo citado arquiteto como uma cópia fiel da porção original do clube.

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CAPITULO 02 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

Descrição Técnica:

“A edificação original organiza-se em um bloco horizontal com cobertura de telha de barro, com dois pavimentos assentados sobre um embasamento em cantaria, criando uma área de subsolo pela Av. Desembargador Moreira, em direção à praia. Essa declividade e a implantação do setor esportivo (quadras de tênis) favoreceu a visibilidade interna do edifício para o mar, conferindo-lhe uma boa adequação climática. A planta tem forma de “L”, disposta simetricamente segundo o eixo de acesso principal, conformando um pátio interno na parte posterior por ampla “stoa” com colunas inspiradas na ordem toscana. Vale destacar que esta variante da coluna dórica funciona apenas como envoltório das colunas estruturais de concreto. Na segunda fase foi implantada uma grande passarela com as mesmas colunas em um nível elevado e contornando as quadras de tênis, revelando a boa adequação ao clima local como também uma bela vista para o mar. O pavimento térreo, na ala esquerda do edifício, no nível da Avenida Desembargador Moreira abrigava anteriormente a infraestrutura de apoio aos usuários: lanchonete, banheiros e depósitos. O nível superior é ocupado pelo restaurante na ala esquerda, já na ala direita no sentido da Av. Abolição acolhe o salão nobre, ambientes que se voltam para o pátio central, circundado por varandas com colunatas que garantem a circulação da brisa do mar. É pelo edifício central por onde atualmente se dá o principal acesso do clube, feito pela av. Desembargador Moreira, já próximo à av. Abolição. O prédio está implantado no limite sul do lote, com amplos recuos laterais e recuo médio de cinco metros e meio da via principal (Avenida Abolição). Desenvolve-se em dois níveis: térreo e segundo pavimento. O térreo situa-se pouco acima do nível da rua, alcançado por uma escada central e uma rampa lateral, situada a oeste, a partir das quais se tem acesso a uma pequena varanda, ao hall de entrada e a uma antessala. Em seguida, encontra-se o salão nobre, com a escada helicoidal de acesso ao pavimento superior, e uma varanda voltada para o norte. Nas laterais do salão nobre, localizam-se os banheiros feminino e masculino, com entrada feita pela varanda. O segundo pavimento compõe-se de um mezanino, por onde se dá o acesso e que funciona como uma sala de estar. Acima dos banheiros laterais situam-se a sala de reuniões (a leste) e o memorial do clube (a oeste). Todos esses ambientes possuem piso em granito preto e mármore vermelho, à exceção do terraço, pavimentado com mosaico cerâmico. A última expansão realizada possui três pavimentos. No térreo estão localizadas instalações da administração do clube. No nível acima do térreo foi prevista uma expansão do restaurante e o segundo abriga uma academia de ginástica. Assim como na parte original, a circulação vertical é feita através pela torre circular, a qual se localiza próxima ao cruzamento das avenidas Desembargador Moreira e Beira-Mar. Atualmente, essa torre constitui a entrada principal do edifício.” (Todo o texto da descrição técnica e trecho extraído do Documento oficial da Instrução de tombamento da Prefeitura Municipal de Fortaleza)

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CAPITULO 02 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

Metragem:* (aproximada) Terreno – 20.500m2 Área construída- 2.000 m2 Colunata – 80 metros lineares Área envoltória:

Ao tempo em que foi implantado como um belvedere, as margens das areias brancas da orla de Fortaleza, o Náutico configurava-se com uma construção isolada. Nos idos de 1950 se dava o início da ocupação dessa região da cidade, e é possível afirmar a grande influência que o Clube representou para a atração da elite da capital cearense para o Meireles.

Atualmente o Clube está incrustado em meio a torres de edifícios residenciais e hoteleiras. Com exceção das áreas referentes à praça Matias Beck e às três edificações de esquina imediatamente frontais ao Náutico os demais lotes são ocupados por edificações de gabarito superior à 10 pavimentos.

Proprietário original: Clube Náutico Atlético Cearense - NAC Proprietário atual: Clube Náutico Atlético Cearense - NAC Uso original: Criada, a princípio, para a prática de esportes náuticos e encontros sociais.

O Náutico Atlético Cearense, após fazer uma assepsia social em seu antigo quadro, tornou-se uma espécie de microcosmo da cidade, o centro de sua social, cultural, desportiva e até política. {...} (CASTRO, 2003, p.20).

Uso atual: Abriga grandes shows, eventos e festas tradicionais. Suas quadras e todo o resto da parte esportiva atendem competições e servem para a prática rotineira de esportes e treinamento de atletas. Estrutura existente em funcionamento: Salões para eventos com capacidade para até 2000 pessoas Restaurante Academia Loja "sport náutico" de material esportivo - parque aquático Quadras poliesportivas abertas (03 unidades) Piscinas (social, infantil, escola de natação, caixa de salto e olímpica) Ginásio coberto Salas para a prática de jiu - jitsu, box e mma Saunas (à vapor e seca) Quadras de tênis (04 unidades) Lanchonete Estacionamento

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CAPITULO 02 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

A arquitetura moderna em Fortaleza e o parque aquático do Náutico Atlético Cearense:

Até meados do século XX, não se pode falar de uma arquitetura

cearense fruto da produção de arquitetos. Predominava a atuação de leigos, a maioria deles desenhistas que trabalhavam, na maioria das vezes, em parceria com engenheiros civis.

A partir da década de 1950, os arquitetos Roberto Villar Ribeiro, Enéas

Botelho, Luís Aragão, José Liberal de Castro, José Neudson Bandeira Braga, Ivan da Silva Brito e José Armando Farias iniciam suas contribuições arquitetônicas para o Ceará, em especial, para Fortaleza. Diplomados em outros estados do Brasil, esses jovens arquitetos trazem o debate sobre a Arquitetura e Urbanismo modernos instauram a prática modernista na ação projetual e aplicam os novos métodos de trabalho na capital cearense. Na condição de pioneiros da Arquitetura, numa terra ainda marcada pela falta de profissionais da área, enfrentaram as limitações materiais e dificuldades iniciais na afirmação da profissão (JUCÁ NETO, 2009).

O parque aquático:

Constitui uma expressão da vanguarda modernista na arquitetura fortalezense. Projeto do arquiteto Roberto Vilar Ribeiro foi inaugurado em 1959, em comemoração aos 30 anos de fundação do Clube.

O Parque Aquático é composto por um harmonioso conjunto de quatro

piscinas e trampolim escultórico de estilo moderno, bem como as arquibancadas com coberturas em estruturas de concreto armado em balanço. Essa área esportiva sempre representou um dos equipamentos mais relevantes do clube, devido à sua tradição nos esportes aquáticos.

Em 1958 a Federação Cearense de Natação - FCN - foi fundada nas

dependências do Náutico, como consta nos registros da primeira assembleia da entidade. Nos anos seguintes, a referida instituição permaneceu desfrutando de grande apoio do clube, seja através do envolvimento de membros da sua diretoria, seja através de patrocínios. Ainda hoje a sucessora desta, a Federação Cearense de Desportos Aquáticos - FCDA é sediada no Náutico.

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CAPITULO 02 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

Piscina do Náutico Atlético Cearense, após ser inaugurada. Ano 1958. Fonte: Chaves; Veloso; Capelo, 2013, p.129

“O Parque Aquático do NÁUTICO ATLÉTICO CEARENSE, que é composto de um harmonioso conjunto de quatro piscinas, será inaugurado pelo grande desportista JOÃO HAVELANGE, Presidente da C.B.D. e campeão de natação e polo aquático no passado, laureado em tantas competições regionais e internacionais(...) quando o Náutico Atlético Cearense estará comemorando, com grandioso programa, o seu 30º aniversário de fundação. (...) a monumental festa de aniversário do Náutico Atlético Cearense apresentará também espetáculos do Balé Aquático. Saltos ornamentais e exibições de Aqualoucos poderão abrilhantá-la. O presidente João Havelange, podendo comparecer, inaugurará o parque aquático, atravessando a nado a piscina olímpica”. (Jornal O Povo, Fortaleza, 26 de maio de 1959)

Ponto focal do Parque aquático e cartão postal do Estado do Ceará, o

Trampolim do Náutico se configura como uma escultura de traçado marcante. Considerado um ousado feito de engenharia, para os idos anos 1959, denota a influência da estética modernista na capital cearense.

Palco de muitas memórias atléticas, é nesse monumento que estão

afixadas as placas em homenagem aos atletas símbolos do clube, tais como:

• Cláudio Bastos, campeão a I Travessia da Baía de Guajará em 1966. • Hedla Lopes Primeira nadadora do norte e nordeste a integrar a seleção

brasileira. (Jogos Pan- Americanos, México 1975)

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CAPITULO 02 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

Tipologia construtiva:

“A estrutura constitui-se de colunas de concreto armado revestidas em pó de mármore branco. No salão principal, do topo dos pilares partem arcos em alvenaria que sustentam as paredes onde se apoiam as vigas, as quais formam uma malha quadrangular que sustenta a estrutura do telhado (salão principal, onde o pé direito é duplo e pórticos) e o segundo pavimento (área do bar e do restaurante). A coberta é composta por telhas de barro, porém existe uma grande variação no que se refere ao forro: gesso, madeira laje nervurada e laje lisa de concreto. Nos quadrados formados pelas vigas, no salão principal, o forro é trabalhado com detalhes em gesso formando desenhos geométricos. Do centro desses quadrados descem pendentes de iluminação.” (Texto extraído do Documento oficial da Instrução de tombamento da Prefeitura Municipal de Fortaleza)

Estado de conservação: No Geral o estado de Conservação de Todo o complexo é razoável. Em vários trechos é constatada a necessidade de reparos, o que é compreensível considerando a grande extensão das dependências do clube. Em especial destaca-se o dado causado por vários elementos espúrios como equipamentos de ar condicionados e outros maquinários dispostos na edificação sem um planejamento adequado. Histórico:

O Náutico Atlético Cearense está localizado na Avenida Abolição, nº2727, Bairro Meireles, Fortaleza-CE.

Fundado em julho de 1929, com instalações simples – duas guaritas de madeira - em terreno alugado na Praia Formosa (área correspondente a ENCETUR e a Estação Ferroviária, centro de Fortaleza) foi uma agremiação criada, a princípio, para a prática de esportes náuticos. Constituiu-se num dos mais conhecidos cartões postais do Ceará, nos anos 1960, após construção de sua sede no bairro Meireles [...]

Após alguns anos, os sócios transferem as guaritas para terreno próprio, no início da Rua Barão do Rio Branco, e nele constrói pequena sede em alvenaria, estrutura que permanecerá até 1944. Pouco antes dessa data a diretoria inicia intensa campanha de aquisição de novos associados para implantação da sua terceira sede, a atual, no bairro Meireles, local de casas de veraneio, choupanas de pescadores e cajueiros. Com a compra do terreno, em 29 de maio de 1944, Pio Rodrigues (na época dono da Casa Pio, em funcionamento até hoje) presidente do clube, de 1946-1947, oferece água doce para os banhistas, com a perfuração de um poço, campos de voleibol, basquetebol e guaritas para troca de roupas.

Rodrigues, ainda na sua gestão, encarrega o europeu Emílio Hinko (1901-2002) de fazer o projeto da nova sede, iniciado em 11 de janeiro de 1948, sendo inaugurada em 19 de julho de 1952, parte da sede social. [...]Daí em diante, as sucessivas diretorias, em consonância com o poder público municipal e capital privado empreenderam ampliações no Náutico, para deixar registrado seu trabalho e para atender reivindicações dos sócios, como a construção de uma piscina menor para banho, ao invés da única piscina de porte olímpico. [...]

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CAPITULO 02 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

Em 1986, o arquiteto Neudson Braga, freqüentador do Náutico, preparou plano significativo de aumento do referido clube, alterações que ainda podem ser vistas, apropriando-se dos traçados originais de Hinko. O Náutico Atlético Clube, marcou os anos 1950-1960, por ter fomentando diversos eventos lúdicos e sociais na cidade, instaurando calendário próprio, a partir do qual eram agendadas e realizadas competições esportivas, bailes de carnaval, concursos de Miss, festas patrióticas, exposições de arte, etc., sendo que alguns desses acontecimentos tiveram caráter filantrópico. Destaque para o Carnaval da Saudade, cuja 1º edição foi em 1968, e a feira das nações, 1969. Muitas dessas atividades passaram, a partir dos anos 1980, por uma necessária releitura, dadas as mudanças de diretrizes das administrações do clube, da escassez de público associado, da presença dos não-sócios e da concorrência com outros espaços, locais e formas de lazer.

(Texto extraído do Documento oficial da Instrução de tombamento da Prefeitura Municipal de Fortaleza) (grifo nosso)

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CAPITULO 03 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

CAPITULO 03 LEVANTAMENTO FOTOGRAFICO E PICTORICO DO HISTÓRICO E IMPLANTAÇÃO DO NÁUTICO ATLETICO CLUBE A cidade dos clubes: modernidade e “glamour” na Fortaleza de 1950-1970 Mirtes Freitas

figura 01 - Zona de concentração dos clubes sociais em Fortaleza – 1960.

Fonte: Freitas, 2005, p.88

figura 02 - Náutico Atlético Cearense, década de 1950 (vista Sudoeste-Noroeste).

Fonte: Freitas, 2005, p.95

figura 03 - Náutico Atlético Cearense, década de 1950 (vista Leste-Oeste).

Fonte: Freitas, 2005, p.95

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CAPITULO 03 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

figura 04 - Cartão Postal retratando o Náutico Atlético Cearense, da década de 1960.

Fonte: Freitas, 2005, p.184

figura 05- Estudo de outras propostas arquitetônicas para a nova sede do Náutico.

Fonte: Freitas, 2005, p.195

figura 06 - Emílio Hinko, autoridades e membros da diretoria do Náutico no canteiro de

obras do prédio do Meireles, foto de 1948.

Fonte: Freitas, 2005, p.200

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CAPITULO 03 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

figura 07 - Aspectos da construção da sede do Náutico

Atlético Cearense (1948). Fonte: Freitas, 2005, p.202

figura 08 - Aspectos da construção da sede do Náutico

Atlético Cearense (1948).

Fonte: Freitas, 2005, p.202

figura 09 - Aspectos da construção da sede do Náutico

Atlético Cearense. Foto de 1948.

Fonte: Freitas, 2005, p.202

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CAPITULO 03 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

figura 10 - Aspectos da construção da sede do Náutico Atlético

Cearense. Foto de 1948.

Fonte: Freitas, 2005, p.202

figura 11 - Perspectiva da proposta arquitetônica elaborada pelo arquiteto Neudson

Braga para ampliação da sede do Náutico.

Fonte: Freitas, 2005, p.207

figura 12 - Aspectos do interior da sede do Náutico.

Fonte: Freitas, 2005, p.208

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CAPITULO 03 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

figura 13 - Aspectos do interior da sede do Náutico.

Fonte: Freitas, 2005, p.208

figura 14 - Aspectos do interior da sede do Náutico.

Fonte: Freitas, 2005, p.208

figura 15 - Aspectos do interior da sede do Náutico.

Fonte: Freitas, 2005, p.208

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CAPITULO 03 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

figura 16 - Folhetos do Carnaval da Saudade contendo as músicas a

serem tocadas na festa.

Fonte: Freitas, 2005, p.225

figura 17 - Aspectos das quadras esportivas do náutico

na década de 1950.

Fonte: Freitas, 2005, p.229

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figura 18 - Aspectos das quadras esportivas do

náutico na década de 1950.

Fonte: Freitas, 2005, p.229

figura 19 - Náutico Atlético Cearense na década de 1950. Foto Sales.

Fonte: Freitas, 2005, p.232

figura 20 - Vista do Náutico Atlético Cearense, sentido

oeste-leste. Nota-se a profunda modificação da

paisagem urbana. As instalações do clube

permanecem como a única massa horizontal da área

(foto set. 2003).

Fonte: Freitas, 2005, p.244

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Cidade, saudade: Fortaleza anos 70 Fotografias: Nelson F. Bezerra Fortaleza: Terra da Luz Editorial, 2006.

figura 21 - Vista aérea da cidade a partir da Beira-Mar. Ao centro, a Avenida Estados

Unidos, hoje Senador Virgílio Távora, seguindo até a Avenida Santos Dumont. Década

de 1970.

Fonte: Bezerra, 2006, p.95

Ah, Fortaleza! Gylmar Chaves,Patricia Veloso, Peregrina Capelo. Fortaleza: Terra da Luz Editorial, 2013

figura 22 - Cartão-postal colorido da fachada do

náutico Atlético Cearense. Década de 1950

Fonte: Chaves; Veloso; Capelo, 2013, p.129

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OUTRAS FONTES

figura 23 - Selo Postal emitido pelos Correios por ocasião da comemoração do

décimo aniversário da inauguração do Parque Aquático em 1969.

figura 24 - Imagem de um cartão postal Retratando o dia da Inauguração do parque Aquático do Náutico Fonte: Blog Fortaleza Nobre Disponível em: < http://www.fortalezanobre.com.br/2009/12/nautico-atletico-cearense.html> Ultimo acesso em: 12 de março de 2017.

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figura 25 - Parque Aquático do Clube Náutico Atlético Cearense

Fonte : divulgação do Troféu Sérgio Silva – Torneio Nordeste de Natação Infantil, Juvenil e Júnior/Sênior. MAIO 2016

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CAPITULO 04

ANÁLISE

O cenário atual de implantação urbana do Clube, incrustado em área de grande valor imobiliário de Fortaleza, em meio a edifícios residenciais e hoteleiros de alto padrão, requer especial atenção do poder público para a salvaguarda deste bem. O terreno, de aproximadamente dois hectares, é um verdadeiro tesouro cultural, porém também financeiro o que o torna atrativo a vários investidores. É, portanto primordial que seja definido legalmente os valores e as normas gerais do que será delimitado como o “Bem tombado Náutico” e o que pode eventualmente ser objeto de novas intervenções, de modo a contribuir para a otimização dos processos de gestão e salvaguarda do mesmo.

Neste contexto, cumpre a esta comissão analisar se o conjunto arquitetônico do Clube Náutico, isto é, toda ala social e esportiva, atende aos requisitos legais que autorizam o seu respectivo tombamento. Acerca destes requisitos, importa destacar que a Lei Estadual 13.465/04 considera como passíveis de tombamento, dentre outros, os bens imóveis cujo histórico relacione-os a fatos históricos memoráveis do Ceará, de modo que a preservação do bem, ao transcender a esfera volitiva do titular do domínio, deixa de ser um interesse meramente privado e passa à condição de verdadeiro interesse público. Referida Lei Estadual, em linhas gerais, seguiu as diretrizes estipuladas pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, que instituiu os preceitos gerais e fundamentais para o tombamento de bens imóveis no âmbito federal, os quais, por terem sido recepcionados pela Constituição Federal de 1988, mantém-se atuais e, inclusive, servem como parâmetro para a legislação dos estados e municípios brasileiros.

Ao se manifestar sobre o Náutico Atlético Clube Cearense a Prefeitura de Fortaleza justificou o tombamento por considera-lo como um marco histórico, arquitetônico e urbanístico da ocupação urbana na paisagem da cidade de Fortaleza, esta comissão ratifica este entendimento e acrescenta alguns outros pontos relevantes.

A suntuosa edificação encomendada ao arquiteto Emílio Hinko à época para sediar o Náutico Atlético Clube Cearense materializa-se como a “Sala de Visitas do Ceará”. Os salões e o restaurante do Clube, desde a sua fundação, protagonizam frequentemente eventos de relevância estadual e nacional. Entre os quais: a eleição da Miss Ceará; a festas de lançamento do Primeiro Anuário do Ceará; a festa de colação de grau da primeira turma de medicina formada no Estado e depois desta, centenas de outras turmas das mais diversas profissões; bem como lançamento de Livros, festas de debutantes, posse de diretores de entidades como Rotary e Lions, Aniversários de empresas, eleições da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, e tantos outros que marcaram a história das famílias das organizações e das empresas do Ceará. Embora o clube fosse acessado apenas pela porção mais abastada da sociedade cearense é justo pontuar a influência dos eventos e da elegância das festas ocorridas no dia a dia do Náutico nas diversas camadas da sociedade fortalezense e das cidades de todo o Ceará. Comumente, as fotos feitas nos eventos do clube

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tornavam-se cartão postal do Estado. Outro destaque especial faz-se necessário à feijoada do Náutico e ao Carnaval da Saudade por representarem, cada um separadamente, um capítulo inteiro na história da elite cearense.

Pelo exposto indicamos a salvaguarda integral das características arquitetônicas, e não somente de parte da ala social, incluindo os acabamentos arquitetônicos e elementos decorativos dos salões e, inclusive, da colunata projetada por Emílio Hinko como forma de salvaguardar nesse patrimônio o seu “Valor de Sala de Visitas do Ceará”. Desta feita, aqui também se impõe a salvaguarda do prédio cujo projeto foi assinado pelo arquiteto Neudson Braga, vez que este buscou detalhar e traduzir, em uma linguagem de projeto arquitetônico, o "traçado original" esboçado inicialmente pelo próprio Emilio Hinko, conforme informação constante em placa comemorativa fixada na entrada do Clube.

Todavia, não obstante as atividades sociais tenham ganho projeção e assumido um protagonismo diante da história, os registros jornalísticos e literários nos revelam que foram as atividades esportivas as que preponderaram na determinação da destinação primeira do Clube. Assim, desde o tempo em que foi fundado, ainda na singela sede da praia Formosa, o clube destinava-se à prática de esportes náuticos.

As práticas desportivas são fenômenos culturais que influenciam diretamente o cotidiano dos praticantes e de todos os que acompanham determinado estilo de esporte. Prova incontestável disso é o grande alcance de eventos como as Olimpíadas e o volumoso montante financeiro que os patrocinadores investem nesses eventos. O binômio cultura e esporte transforma cidades, constrói monumentos e grandes equipamentos arquitetônicos, influencia linguagens e hábitos, impactando diretamente a produção de toda uma sociedade. Tomando novamente o exemplo olímpico, desde a Grécia antiga, o homem produz importantes referenciais de patrimônio cultural para dar suporte à suas práticas esportivas ou inspirado por elas. Desta forma verifica-se a impossibilidade de dissociar o conceito de esporte da dimensão de cultural.

Especificamente analisando o caso do Náutico Atlético Cearense quanto ao “Valor de Desporto” essa relação esporte/cultura se dá de tal maneira intricada que as dependências esportivas do clube iniciam seu funcionamento antes mesmo da construção da atual sede social. Prova de que isto é verdade nos é oferecida pela projeção das quadras de tênis e da rampa que liga o salão de festas à ala esportiva pelo próprio Emilio Hinko no mesmo período em que se deu a projeção da sede social cujo tombamento não há discenso, o que remonta à mesma época do nascedouro da atual sede do Clube. Desta feita, as quadras de tênis, juntamente com a colunata e o edifício cuja entrada se dá pela Avenida Abolição, ao terem sido projetados por Emilio Hinko e edificados por profissionais que ainda desfrutaram de sua orientação, constituem a parte mais antiga do Clube. Aliado a isto, o Parque Aquático, inaugurado alguns anos após a inauguração das quadras de tênis, veio se incorporar ao conjunto espacial esportivo do Clube e, ao longo dos anos constituiu-se em relevante cenário para a história desportiva do Estado do Ceará, conforme os diversos registros jornalísticos que instruem este procedimento.

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Ainda no conjunto do parque aquático temos um símbolo da prática desportiva do Clube, o Trampolim. Ponto focal do parque aquático o trampolim se configura como uma escultura de traçado marcante. Palco de muitas memórias atléticas registradas pela imprensa local e igualmente lembrado por diversas situações aventureiras vivenciadas pelos sócios nos momentos de lazer.

A prática esportiva será exatamente o que tornará o clube um polo referencial do estado como promotor e integrador de atletas em diversas modalidades. Seja para participar de competições, ou para treinos ou mesmo para integrar a equipe da casa, ao longo da história, o Náutico exerceu e ainda exerce forte influência na carreira de diversos atletas. Por diversas ocasiões, desde sua fundação, os atletas do Náutico representaram e continuam a representar o estado do Ceará em competições estaduais, nacionais e internacionais. Em muitas ocasiões é o clube o protagonista e fomentador da primeira vinda de muitos atletas à capital ou mesmo do envio desses atletas a viagens interestaduais e internacionais.

Outro importante valor a ser destacado é o “Valor de Paisagem”. Por valor de paisagem será tratada a relação do clube com a paisagem marítima à sua frente e com o lado externo. Mesmo que o clube estivesse posicionado de costas para o mar em toda a sua estrutura a vista para o lado externo é franqueada. Desde a arquitetura proposta por Hinko até o parque aquático as estruturas do Náutico são como belvederes, para ver e ser visto. Na arquitetura da porção mais antiga ou nas estruturas mais novas, ao percorrer o clube, seja através dos sucessivos arcos e sacadas ou da generosa colunata, o usuário é convidado a contemplar o mar ao mesmo tempo em que se dispões como em uma vitrine. A seleta parcela da sociedade que pode frequentar os salões e dependências do clube deseja participar a todos os seus privilégios. Destacamos essa característica, mesmo que um tanto pitoresca, por entendermos que Fortaleza por sua formação ligada às famílias das cidades interioranas e em especial o Náutico por se tratar de uma instituição fundada por pessoas ligadas ao comércio era eminentemente uma cidade com uma elite em formação. Nesse sentido havia uma carência por espaços que servissem ao propósito de exibição da capacidade econômica dessa classe endinheirada. Fato que Mirtes coloca em seu livro como segue:

“Ocupando um lugar de destaque no cenário desenhado pelas elites, o Náutico veio a suprir as demandas de uma sociedade que ansiava por um símbolo de arrojo e modernidade, no qual fossem exteriorizados os valores preponderantes na urbanidade fortalezense. Tão grande a importância que lhe foi atribuída, que a qualidade de ícone passou também a ele associar-se, uma vez que, durante certo tempo, constituiu um dos mais divulgados cartões-postais da cidade.” (PONTES, 2005:183)

Ao tratar neste parecer da dimensão de valor procuramos provocar que os futuros gestores deste bem tombado possam pensar cada ação ou eventual intervenção sob uma ótica transversal que integre as dimensões materiais e imateriais. Quando tratamos de Valor, falamos da dimensão humana intrínseca do patrimônio,

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vamos buscar aquilo que ele representa para a sociedade e portanto para nós mesmos.

Visando a melhor gestão do bem objeto deste parecer acrescentamos ao documento a seguinte lista de recomendações. As seguintes recomendações destinam-se a preservação dos três valores culturais destacados por esse parecer, a saber:

• Valor de Sala de Visitas do Ceará • Valor de Desporto • Valor de Paisagem

RECOMENDAÇÕES RELEVANTES INTEGRANTES DO VOTO

1 - Toda a área de entorno delimitado pela poligonal constante no Capítulo 5 deverá ter especial tratamento quanto à instalação de iluminação, elementos de comunicação visual e mobiliário urbano no sentido de valorizar o bem tombado. Devendo portanto as propostas de implantação de equipamento urbanos e/ou novas edificações nesse perímetro serem avaliadas pelo órgão de patrimônio no que tange à interferência na ambiência do monumento protegido. 2 – Atualizar e complementar o levantamento gráfico do bem tombado, especialmente os corte e as fachadas, destacando as etapas temporais de cada ampliação realizada. 3 – Ratificando a solicitação constante na Instrução de Tombamento municipal, indica-se a:

• recuperação e limpeza do piso de ladrilho hidráulico hexagonal dos pórticos; • revisão da pintura nos guarda-corpos, gradis e corrimãos em ferro; • reparo do revestimento das colunatas que se encontram com algumas

rachaduras, bem como a retirada de elementos espúrios à construção original; • reparo e limpeza de uma parte das telhas que se encontram escurecidas e em

estado inicial de degradação.

4 – Toda a área lindeira à Av. Desembargador Moreira deve passar a ser objeto de um projeto especializado para reordenamento dos equipamentos de ar-condicionado e maquinário em geral existente de forma a evitar o atual dano à fachada do Náutico. Deverão ser retirados todos os acréscimos construtivos colados à fachada do imóvel. Os mesmos, quando se fizerem necessários, deverão ser construídos de acordo com a linguagem arquitetônica de seu tempo presente e resguardando a integridade dos elementos arquitetônicos do Náutico. 5 – Quanto às proporções de gabarito para o perímetro do bem tombado e para as áreas de entorno recomenda-se o seguinte: (CAPÍTULO 05. Pag.27 a 32)

"A Conferência recomenda respeitar, na construção dos edifícios, o caráter e a fisionomia das cidades, sobretudo na vizinhança dos monumentos antigos, cuja proximidade deve ser objeto de cuidados especiais. Em certos conjuntos, algumas perspectivas particularmente pitorescas devem ser preservadas. Deve-se também estudar as plantações e

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ornamentações vegetais convenientes a determinados conjuntos de monumentos para lhes conservar o caráter antigo. Recomenda-se, sobretudo, a supressão de toda publicidade, de toda presença abusiva de postes ou fios telegráficos, de toda indústria ruidosa, mesmo de altas chaminés, na vizinhança ou na proximidade dos monumentos, de arte ou de história.” (Carta de Atenas, Escritório Internacional dos Museus/Sociedade das Nações, outubro de 1931)

6 – Sobre o edifício Anexo projetado pelo Arquiteto Neudson Braga: Recomenda-se a manutenção do mesmo quanto à volumetria e proposta arquitetônica de maneira geral (fachadas e coberta) embora seja desejável um tratamento diferenciado no mesmo quanto à cores de maneira a evitar o falso histórico.

"As contribuições válidas de todas as épocas para a edificação do monumento devem ser respeitadas, visto que a unidade de estilo não é a finalidade a alcançar no curso de uma restauração." (Carta de Veneza. Carta Internacional sobre Conservação e Restauração de Monumentos e Sítios, II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, Veneza, maio de 1964).

7 – A porção original do edifício, projetada pelo arquiteto Emílio Hinko deve ser mantida em sua integridade plástica e estética. Deverão ser mantidas todas as características de piso, forro, teto, adornos, placas de inauguração e materiais de acabamento. 8 – O Trampolim do parque Aquático deverá ser mantido como ícone da história dos esportes náutico do Estado do Ceará. A estrutura do mesmo poderá eventualmente receber equipamentos de modernização visando à usabilidade pelos atletas, porém deverá ser mantido o caráter escultórico e as linhas gerais do monumento. 9 - Sobre as áreas de práticas desportivas, em especial no tocante ao caráter de patrimônio imaterial recomenda-se: O uso do desenho do trampolim como símbolo das práticas esportivas do náutico, como forma de difundir a existência desse patrimônio nas dependências no Clube Que seja elaborado em conjunto com os órgãos de cultura e esportes do estado um plano de educação patrimonial junto aos atletas do clube. 10 – O Clube deverá juntamente com os órgãos públicos de cultura e de desporto elaborar um plano de salvaguarda do Clube Náutico Atlético Cearense. A construção de um memorial do Náutico e nas dependências do clube deverá fazer parte desse plano.

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11- Também deverá ser oportunizada à visitação dos cidadãos cearenses às dependências do clube como uma ação de educação patrimonial. 12- Avaliar a situação fundiária e cartorial do terreno referente à continuação da Rua Leonardo Mota e a possibilidade de reabertura do acesso à via, possibilitando o fluxo normal. Na possibilidade de efetivação dessa ação deverá ser feito estudo de abertura das visuais para o parque aquático. 13 – Jardins devem receber tratamento paisagístico e as fachadas tratamento luminotécnico a fim de valorizar a arquitetura do monumento no período noturno. 14 – Novos usos e demandas de atualização da edificação devem ser encorajados, porém estas devem ser compatíveis com o monumento tombado e devem ser projetadas e implantas de modo respeitoso. As novas intervenções devem privilegiar a preservação do bem e dos seus elementos originais motivadores de seu tombamento a exemplo de pisos e acabamentos originais em bom estado. 15 – Considerar a Instrução de Tombamento Municipal como um dos documentos a constituir o dossiê de Tombamentos do Náutico. 16 – Após levantamento arquitetônico preciso revisar as definições de poligonais definidas neste parecer dando às mesmas adequado rigor técnico

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FORTALEZA CEARÁ Janeiro 2018

CAPÍTULO 5PLANTAS CONSTANTES NA INSTRUÇÃO DE TOMBAMENTO MUNICIPAL

TÉRREO

PRIMEIRO PAV. SEGUNDO PAV.

VOLUMES DAS EDIFICAÇÕES EXISTENTES

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POLIGONAL DO ENTORNO DELIMITAÇÃO DO BEM

A poligonal do entorno do Clube Atlético Cearense se inicia no ponto A definido pelo cruzamento da Av. Desembargador Moreira com Av. Presidente Kennedy (Beira Mar). Segue por esta até o ponto B, definido pela Av. Presidente Kennedy e o extremo da propriedade, seguindo pela rua Leonardo Mota com Av. Antonio Justa até encontrar o ponto C. Segue pela av. Antonio Justa a oeste, até o cruzamento com a av. Desembargador Moreira, onde se situam, nas três esquinas, edifícios multifamiliares de até 3 pavimentos, os quais garantem as visuais para o clube. Daí, segue pela av. Des. Moreira a norte, até encontrar o ponto A.

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VISUAIS

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PRO

XIM

AD

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FORTALEZA CEARÁ Janeiro 2018

CAPÍTULO 5

02

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AV. BEIRA MARAV. ABOLIÇÃO

RUA LEONARDO MOTA

EDIFICAÇÕES COM GABARITO INFERIOR À 10 METROS

Trecho da via interrompido por particulares.

RUA BARBOSA DE FREITAS

Trecho da via cedido para o clubepor ocasião da necessidade de expansão. Acordo que resultou nacessão do terreno para a consturçãoda Praça Matias Beck

AVENIDA DES.MOREIRA

FORTALEZA CEARÁ Janeiro 2018

CAPÍTULO 5

AV. ANTÔNIO JUSTA

PRAÇA MATIAS BECK

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OCEANO

AV. BEIRA MARAV. ABOLIÇÃOAV. ANTÔNIO JUSTA

RUA LEONARDO MOTAPR.MATIAS BECK

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ELEMENTOS DO ENTORNO

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CAPÍTULO 5

As áreas e edificações constantes do terreno do estacionamento serão tratadas como área de entorno devendo manter relação de ambiência e proporcionalidade, porém, o gabarito e recuo seguirão conforme disposto no item 01 do presente.

04

A área constante do projeto do Arquiteto Neudson Braga deverá ser mantida em sua volumetria. Quais quer novo elemento a ser implantado nesse trechos não poderá ultrapassar o limite de altura da edificação existente bem como deverá ser objeto de projeto especializado de intervenção em patrimônio Tombado.

05

A área constante do projeto do Arquiteto Emílio Hinko deverá ser mantida em sua integridade plástica e estética. Quais quer novo elemento a ser implantado nesse trechos não poderá ultrapassar o limíte de altura da edificação existente bem como deverá ser objeto de projeto especializado de intervenção em patrimônio Tombado.

03

A área da Praça deverá ser ligada ao clube por meio de passagem de pedestre elevada no ponto de cruzamento da Av Abolição com a Desembargador Moreira.

02

As edifcações dos terrenos com frente para o Náutico, constantes da área de entorno, deverão manter um recuo frontal máximo previsto na LEI COMPLEMENTAR N° 236 DE 11 DE AGOSTO DE 2017-ANEXO 8 de 10 metros ficando o gabarito definido pelo que consta nas leis de ordenamento urbano de Fortaleza.

01

Recomendações de gabarito e recuos

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OCEANO

AV. BEIRA MARAV. ABOLIÇÃO

AV. ANTÔNIO JUSTA

RUA LEONARDO MOTA

PRAÇA MATIAS BECK

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ELEMENTOS DO ENTORNO

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CAPÍTULO 5

Por seu Valor de Desporto o parque aquático é incluído no tombamento. Por suas características arquitetônicas modernistas, as estruturas do trampolim e das arquibancadas devem ser mantidas intactas. Porém toda a área de piscinas e arquibancadas poderá passar por intervenções de atualizações para adequação de equipamentos desportivos definidas por normas técnicas, acessibilidade ou necessidade comprovada.

08

As edificações constantes do terreno do Ginásio serão tratadas como área de entorno devendo manter relação de ambiência e proporcionalidade, porém, o gabarito e recuo seguirão conforme disposto no item 01 do presente.

Recomendações de gabarito e recuos

07

Toda a área referente às quadras e piscinas novas (ampliação dos anos 80) poderá ser alterada observada a relação de harmonia e visibilidade com o bem tombado Náutico. Dessa forma não se admitirão a edificações com gabarito superior ao piso da colunata, mantendo todo o percurso da mesma com visibilidade do mar.

06

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OCEANO

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AV. ABOLIÇÃO

AV. ANTÔNIO JUSTA

RUA LEONARDO MOTA

PRAÇA MATIAS BECK

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ELEMENTOS DO ENTORNO

A Poligonal de delimitação do bem tombado coincide com os limites arquitetônicos das edificações projetadas pelos arquitetos Emílio Hinko e Neudson Braga e o pelo perímetro do parque aquático de 1959.

Poligonal de delimitação do bem tombado definita pela linha vermelha constante no desenho

A poligonal do entorno do Clube Atlético Cearense se inicia no ponto A definido pelo cruzamento da Av. Desembargador Moreira com Av. Presidente Kennedy (Beira Mar). cruza a faixa de calçadão até atingir a lâmina d´água no ponto B de onde segue lindeira à faixa de areia até o ponto C em frente ao início da rua Leonardo Mota segue até o ponto D, definido pela Av. Presidente Kennedy e o extremo da propriedade, seguindo pela rua Leonardo Mota com Av. Antonio Justa até encontrar o ponto E. Segue pela av. Antonio Justa a oeste, até o cruzamento com a av. Desembargador Moreira, ponto F onde se s i t u a m , n a s t r ê s e s q u i n a s , e d i f í c i o s m u l t i f a m i l i a r e s d e a t é 3 pavimentos, os quais garantem as visuais para o clube. Daí, segue paralelo à av. Des. Moreira a norte, até encontrar o ponto A.Em toda porção voltada para o mar da área definida como entorno do Náutico não serão permitidas construções acima do nível delimitado pelo piso da colunata do projeto original do Arq. Emílio Hinko. Dessa forma se intensiona manter a visibilidade do Mar.

B

A

CD

F

E

Poligonal de entorno do bem tombado definita pela linha amarela constante no desenho

porção voltada para o mar da área de entorno

09

09

FORTALEZA CEARÁ Janeiro 2018

CAPÍTULO 5

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CAPITULO 06 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

CAPITULO 06

CONCLUSÃO E VOTO

Pelo exposto somos pelo tombamento do imóvel e sua imediata inscrição no Livro de Tombo Histórico e Etnográfico, destinado ao registro das coisas de interesse da Historia e da etnografia. Constituem esse parecer os anexos seguintes: ANEXO 01 – O arquiteto ANEXO 02 – Proposta de empreendimento É o parecer, salvo juízo deste Conselho.

Fortaleza, 08 de Janeiro de 2018.

Glauber Gomes de Oliveira (Titular do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia - CREA) Márcia Miranda Sampaio (vice-presidente do COEPA e Titular do Instituto de Arquitetos do Brasil. CE - IAB) Maria Jacqueline Faustino de S. A. do Nascimento (Titular da Procuradoria Geral de Justiça – PGJ);

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ANEXO 01 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

ANEXO 01

O ARQUITETO

Fig 01- Arquiteto Emílio Hinko. Fonte: Arquivo pessoal do Edmundo Sousa.

Sobre Emílio Hinko

(Budapeste, 9 de abril de 1901 - Fortaleza, 4 de janeiro de 2002)

Nos primeiros anos do pós-primeira guerra a Europa mergulha em

grave crise econômica. A falta de emprego e os anseios do jovem arquiteto

húgaro, o conduzem a deixar seu país em buscar de oportunidade de trabalho

na Itália. Nesse período Hinko ingressa no escritório do então arquiteto Ulisse

Stacchinni e participa do projeto da estação ferroviária de Milão.

Segundo relato da família, em entrevista cedida no ano de 1999 à então

estudante de arquitetura Márcia Sampaio, Emílio Hinko veio para o Brasil, mais

especificamente para o Estado do Pará, a convite de um amigo comerciante.

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ANEXO 01 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

No Pará Emílio juntou-se aos negócios do amigo na exportação de produtos

típicos da região. A parceria não teve sucesso por muito tempo e Hinko, por

volta de 1930, decide vir para Fortaleza recomeçar a vida retocando quadros,

habilidades artísticas provenientes de sua formação como arquiteto na Escola

Politécnica de Budapeste.

Em Fortaleza Hinko foi acolhido na Igreja de São Bernardo onde fixou

sua primeira morada e posteriormente instalou um pequeno escritório. A família

de Hinko relata que foi instigado por um sonho que o arquiteto decidiu retomar

a arquitetura. Exímio desenhista aproxima-se do proprietário de uma das lojas

térreas do Excelsior Hotel e consegue autorização para expor seus desenhos

arquitetônicos em plena praça do Ferreira.

A estratégica vitrine rapidamente alavanca Emílio Hinko como arquiteto

e o aproxima de empresários e médicos. O arquiteto passa a protagonizar a

cena arquitetônica de Fortaleza assumindo a autoria de privilegiados

programas como em Sampaio Neto(2012, p.153-154)

“Assim, no transcurso dos anos 1930 e 1940, ganharão

destaque alguns nomes, como os dos arquitetos

licenciados José Barros Maia e do húngaro, naturalizado

brasileiro, Emílio Hinko, do engenheiro Alberto Sá e do

engenheiro arquiteto Sylvio Jaguaribe Ekman [...]”.

“Emílio Hinko, arquiteto licenciado com formação na

Escola Politécnica de Budapeste, será autor de variadas e

importantes obras na cidade. Destacado por Castro

(1998) como o grande cultor do Art Déco na Fortaleza da

década de 30, elaborará projetos dentro desta vertente,

como os do Hospital de Messejana (antigo Sanatório –

1930), do edifício da firma J. Lopes (1937), do Clube

Iracema (1937), da Secretaria de Polícia e Segurança

Pública (1942) e para o Palácio da Prefeitura Municipal de

Fortaleza (1934), atual Edifício Murilo Borges, este último,

apenas parcialmente construído. A sua obra mais

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ANEXO 01 PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

conhecida, entretanto, será a sede do clube Náutico

Atlético Cearense (1954)[...]”.

Os projetos do arquiteto Emílio atraem o interesse de vários

empresários e oportunizam o encontro desse profissional com o empresário

Plácido de Carvalho que à época empreendia várias obras em Fortaleza. Os

dois firmam amizade, porém pouco tempo depois, em 1935, o empresário

falece.

Pierina Giovanni Plácido, a viúva de Plácido de Carvalho, assume

administração do Hotel e dos empreendimentos do falecido marido. Em 1936

Pierina contrata Hinko para construir seis bangalôs, destinados ao mercado de

alugueis, nas vizinhanças do Castelo da Santos Dumont. A referida obra

aproxima Pierina e Emílio e os dois contraem matrimônio em 1938.

Hinko amplia sua atuação profissional fundando a Construtora Emílio

Hinko como lemos em (VERAS 2000):

“Emílio Hinko também atuou como construtor. São dele, como construtor, os primeiros galpões do porto do Mucuripe, assim como a ponta do Mucuripe (o quebra-mar). Sua construtora tinha sede no Rio de Janeiro, e trabalhava principalmente para o Ministério da Educação, em obras como as Escolas Técnicas de Salvador, Fortaleza e Teresina; e em reforma no Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro. Fez os armazéns do Porto de Cabedelo, e obras em Pernambuco e na Bahia. Foi reconhecido como cidadão de Fortaleza e do Ceará. Nos últimos anos de trabalho, Hinko desenvolveu projetos com premoldados. Ele tinha planos de criar uma escola de arquitetura para estudantes carentes em Messejana. Há alguns anos, teve um derrame que o deixou incapacitado de trabalhar. Hoje, Emílio Hinko vive no 4o. andar do Excelsior Hotel, no centro da cidade.”

Ainda durante o casamento Emilio Hinko constitui residência nas

dependências do Hotel Excelsior. Acometida de diabetes Pierina falece nos

anos de 1957. Viúvo, o arquiteto continua residindo no hotel até o seu

falecimento aos 101 anos em janeiro de 2002.

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FORTALEZA CEARÁ MARÇO 2017

ANEXO 02PROPOSTA DE EMPREENDIMENTOAMEAÇA OU FUTURO?

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FORTALEZA CEARÁ MARÇO 2017

ANEXO 02PROPOSTA DE EMPREENDIMENTOAMEAÇA OU FUTURO?

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PARECER DE TOMBAMENTO | Clube Náutico Atlético Cearense Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural | COEPA

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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