parecer cisão processo conexão

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL MINISTÉRIO PÚBLICO PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SANTA MARIA 1ª VARA CRIMINAL DE SANTA MARIA/RS PROCESSO Nº 027/2.13.0000696-7 ______________________________________________________________________ PROMOÇÃO E PEDIDO DE ARQUIVAMENTO, PELO MINISTÉRIO PÚBLICO MM. Juiz Os autos do processo penal contra ELISSANDRO CALLEGARO SPOHR, LUCIANO AUGUSTO BONILHA LEÃO, MAURO LONDERO HOFFMANN, MARCELO DE JESUS DOS SANTOS, RENAN SEVERO BERLEZE, ELTON CRISTIANO URODA E VOLMIR ASTOR PANZER, por delitos de HOMICÍDIOS e TENTATIVAS DE HOMICÍDIOS DOLOSOS QUALIFICADOS, FRAUDE PROCESSUAL E FALSO TESTEMUNHO, ocorridos em 27/01/2013, vêm com vista de DEFESAS ESCRITAS dos oito acusados (MARCELO - fls. 7643 a 7969; LUCIANO fls. 8017 a 8042; ELISSANDRO fls. 8043 a 8064; ÉLTON e VOLMIR fls. 8065 a 8072; MAURO fls. 8079 a 8305; GÉRSON e RENAN entregues em cartório após carga ao Ministério Público). A par disso, observa-se que o ofício de fl. 7376, enviado pelo Comandante do 4º Comando Regional de Bombeiros, sede em Santa Maria, constitui resposta a solicitação judicial, acolhendo pedido de diligência contido na denúncia, quanto a ter ou não havido, pelos Bombeiros, após a expiração em 10/08/2012 do prazo do último Alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio expedido para a boate Kiss, envio de informação restritiva e/ou solicitação de suspensão de atividades a algum setor administrativo do Município de Santa Maria. É o sucinto relatório.

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  • ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

    MINISTRIO PBLICO PROMOTORIAS DE JUSTIA DE SANTA MARIA

    1 VARA CRIMINAL DE SANTA MARIA/RS

    PROCESSO N 027/2.13.0000696-7

    ______________________________________________________________________

    PROMOO E PEDIDO DE ARQUIVAMENTO, PELO MINISTRIO PBLICO

    MM. Juiz

    Os autos do processo penal contra ELISSANDRO

    CALLEGARO SPOHR, LUCIANO AUGUSTO BONILHA LEO, MAURO

    LONDERO HOFFMANN, MARCELO DE JESUS DOS SANTOS, RENAN

    SEVERO BERLEZE, ELTON CRISTIANO URODA E VOLMIR ASTOR

    PANZER, por delitos de HOMICDIOS e TENTATIVAS DE HOMICDIOS

    DOLOSOS QUALIFICADOS, FRAUDE PROCESSUAL E FALSO

    TESTEMUNHO, ocorridos em 27/01/2013, vm com vista de DEFESAS

    ESCRITAS dos oito acusados (MARCELO - fls. 7643 a 7969; LUCIANO

    fls. 8017 a 8042; ELISSANDRO fls. 8043 a 8064; LTON e VOLMIR

    fls. 8065 a 8072; MAURO fls. 8079 a 8305; GRSON e RENAN

    entregues em cartrio aps carga ao Ministrio Pblico).

    A par disso, observa-se que o ofcio de fl. 7376, enviado

    pelo Comandante do 4 Comando Regional de Bombeiros, sede em

    Santa Maria, constitui resposta a solicitao judicial, acolhendo

    pedido de diligncia contido na denncia, quanto a ter ou no havido,

    pelos Bombeiros, aps a expirao em 10/08/2012 do prazo do ltimo

    Alvar de Preveno e Proteo Contra Incndio expedido para a

    boate Kiss, envio de informao restritiva e/ou solicitao de

    suspenso de atividades a algum setor administrativo do Municpio de

    Santa Maria.

    o sucinto relatrio.

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    Verifica-se que, junto s defesas, os rus MARCELO,

    LUCIANO e MAURO postularam REVOGAO DAS PRISES

    PREVENTIVAS (ou concesso de liberdade provisria); quanto a

    MARCELO, j houve anlise judicial, de indeferimento (fls. 7990 e

    7991).

    Na mesma linha decisria a respeito de similar pedido

    de MARCELO, devem ser denegados os pleitos de LUCIANO e MAURO;

    a priso preventiva faz-se necessria, tendo a deciso que a decretou

    sido extensa e muito bem fundamentada, demonstrando a

    necessidade das segregaes frente s circunstncias fticas,

    agregando-se que o quadro que a ensejou segue o mesmo e a

    persecuo penal transcorre em ateno ao princpio constitucional

    da durao razovel do processo, consideradas as peculiaridades do

    caso concreto.

    No que atine diferena de grau de contribuio para o

    evento, suscitada por LUCIANO, no cabvel considerar-se,

    principalmente neste momento processual, tal alegao, pois est

    muito longe de constituir dado incontroverso; foi determinante do

    fogo e, por isso, imediata e inafastavelmente vinculada aos

    resultados. No socorre a MAURO tambm sua alegada condio de

    primrio e com famlia a sustentar, pois est sedimentado na

    jurisprudncia que tais aspectos no impedem segregao cautelar.

    Quanto s preliminares suscitadas nas defesas escritas,

    podem ser sintetizadas nas seguintes: inpcia da denncia no tocante

    aos homicdios, por no terem sido feitas descries claras das

    condutas de cada um, porque no ficou evidenciado o tipo de dolo na

    descrio e pela incompatibilidade do dolo eventual com a tentativa

    de crimes; erros na incoativa quanto a vtimas; intempestividade da

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    denncia gerando perda de oportunidade para rol de testemunhas;

    suspenso da tramitao processual at definio da situao da

    cpia do inqurito policial encaminhada ao Tribunal de Justia do Rio

    Grande do Sul; ausncia de conexo e ciso processual no que

    pertine aos crimes de falso testemunho; atipicidade objetiva e

    subjetiva das condutas tidas como fraude processual, j que a

    documentao no precisava, pela legislao, integrar o PPCI, e

    existia de fato arquivada na Prefeitura.

    As demais alegaes sobre os fatos adentram o mrito

    (inclusive vrias que so rotuladas como prefaciais, mas que em

    contedo vo alm disso), devendo ser esclarecidas durante a

    instruo do feito e, portanto, no autorizam a absolvio sumria

    dos rus; alm disso, o fato de ter o Ministrio Pblico oferecido

    denncia j revela a sua posio, nada havendo a modificar tal

    entendimento nessa fase processual, razo pela qual se abstm os

    signatrios de manifestao, pois retomar discusso do mrito da

    causa neste momento processual criaria indevido contraditrio.

    H, tambm, pedidos de diligncias:

    a) defesa de MARCELO: reconstituio dos fatos,

    expedio de ofcio ao Municpio e ao Corpo de Bombeiros, para

    informar sobre fiscalizao em casas noturnas e apresentaes

    musicais com uso de fogos de artifcio antes do evento;

    esclarecimentos junto loja Kaboom sobre a forma de

    comercializao de fogos e orientaes passadas a LUCIANO, bem

    como determinao de fornecimento de tales de notas fiscais de

    dezembro de 2012 e janeiro de 2013; a partir de impugnao do

    laudo pericial principal, por impreciso quanto origem do fogo, com

    solicitao de laudos complementares para comprovar altura do local

    onde o fogo foi posto e a possibilidade de queima da espuma

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    considerada a altura da mo de MARCELO em movimento, feito com

    fogo de artifcio fonte estrelada, venda em supermercados da

    cidade, e a posio desse ru no palco, e outro para testar se

    possvel acionamento remoto de fogo de artifcio;

    b) defesa de LUCIANO: reconstituio do fato;

    expedio de ofcio ao Municpio e ao Corpo de Bombeiros, para

    informarem sobre fiscalizaes realizadas na boate Kiss; ao Corpo de

    Bombeiros, tambm para informar sobre postulaes ao Governo do

    Estado quanto a equipamentos e melhoria do quadro de pessoal, se a

    corporao tem condies para atender eventos como o da boate

    Kiss, quem era o comandante de planto na noite do fato e onde se

    encontrava quando do chamado de socorro, como so planejados os

    plantes de final de semana; expedio de ofcio ao INMETRO para

    informar sobre o registro da patente da espuma queimada e se a

    espuma segue normas de fabricao da ABNT, e a ambas as

    entidades para informarem sobre restrio ou orientao existentes

    para comrcio da espuma e se esta indicada para proteo

    acstica; determinar loja Kaboom o fornecimento de tales de notas

    fiscais de novembro de 2012 a maro de 2013;

    c) defesa de ELISSANDRO: expedio de ofcio a

    laboratrio pericial de Buenos Aires, para onde teriam sido levadas

    amostras destinadas confeco de autos de necropsia;

    determinao ao IGP para preservar materiais periciados; solicitao

    ao IGP de remessa de manual de procedimento atinente a elaborao

    de autos de necropsia; expedio de ofcio a rgo pericial do Distrito

    Federal, para envio da maquete virtual solicitada pela Polcia Civil

    local; requisio polcia judiciria de remessa de documentos

    entregues pelo advogado, das apreenses feitas no caixa da boate e

    todos os demais documentos apreendidos; requisio Cmara de

    Vereadores para envio de cpia dos autos da CPI sobre a boate Kiss;

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    requisio Brigada Militar de envio de cpia do IPM; expedio de

    ofcio Secretaria de Mobilidade Urbana de Santa Maria para remeter

    rol de estabelecimentos autuados desde 01/01/2012 at maio de

    2013; expedio de ofcio ao Ministrio Pblico para informar os

    dados do Secretrio de Diligncias que efetuou levantamento

    fotogrfico na boate Kiss durante inqurito civil; anexao de mdias

    de interceptaes telefnicas realizadas na persecuo penal;

    d) defesa de MAURO: autorizao para acesso ao local

    do fato para percia particular; determinao ao IGP para

    disponibilizar elementos usados na confeco da percia oficial;

    quebra de sigilo de dados telemticos do grupo equipe Kiss no

    facebook.

    Foram formulados ainda, pleitos outros: expedio de

    ofcio 4 Cmara Criminal, para que seja informada da presente

    demanda, em razo de foro por prerrogativa de funo do Prefeito

    de Santa Maria, desaforamento, oitiva ex officio de todas as

    testemunhas inquiridas no inqurito policial, porque mal inquiridas

    (defesa de MARCELO); inquirio ex officio de todas as vtimas

    sobreviventes (defesas de LUCIANO e ELISSANDRO); acesso aos

    expedientes de quebras de sigilo determinadas; restituio de

    notebook e CPU apreendidos na cervejaria Floriano e pertencentes a

    MAURO; inexistncia de majorante nos delitos de falso testemunho,

    os quais, na modalidade fundamental, admitem suspenso

    condicional do processo, no proposta; relativamente proposta de

    tal benefcio para os crimes de fraude processual, supresso da

    condio de prestao pecuniria, por configurar antecipao de

    pena.

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    Para facilitar a compreenso e visualizao das

    consideraes ministeriais, estrutura-se o texto em tpicos, conforme

    segue.

    PRELIMINARES:

    No que diz com a alegada inpcia da denncia, por no

    terem sido feitas descries claras das condutas de cada um dos

    acusados por homicdios e porque no ficou evidenciado o tipo de

    dolo na descrio, basta uma superficial (nem precisa ser mais

    acurada!) leitura da exordial de acusao para perceber que esto

    cristalinamente individualizados os ncleos de conduta (de MARCELO

    e LUCIANO na implementao das situaes diretamente relacionadas

    aquisio e ao uso do fogo de artifcio, que ensejou o fogo em si, e

    de ELISSANDRO e MAURO na implementao do cenrio - em sentido

    amplo - existente na boate e que propiciou a ignio do fogo e

    dificuldade de sada dos frequentadores); a mesma superficial leitura

    faz saltar aos olhos que a modalidade de dolo imputada eventual

    (curioso que os mesmos advogados que suscitam a falta de clareza

    do tipo de dolo imputado questionam a compatibilidade do dolo

    eventual com a tentativa...). Frise-se que na incoativa h tpicos

    destacados, separadamente, para cada uma dessas questes, justo

    para facilitar a compreenso.

    Ainda, de assinalar que a defesa de ELISSANDRO

    interps habeas corpus contra a deciso de recebimento da denncia,

    alegando justamente a inpcia dela, e ento haver (re)exame do

    tema, em breve, em segunda instncia, o que at dispensaria

    pronunciamento, presentemente, pelo Juzo de primeiro grau.

    J a respeito de alegada incompatibilidade do dolo

    eventual com a modalidade tentada de crimes, preciso observar,

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    por primeiro, que inexiste qualquer impeditivo legal; ademais, sendo

    o dolo eventual compatvel com a consumao, suficiente e

    coaduna tambm para casos que ficam na seara da tentativa, pois

    no se pode condicionar o dolo ao resultado, pois este externo e

    posterior ao prprio dolo, consumando-se ou no o delito, o dolo o

    mesmo que presidiu a conduta no seu limiar psicolgico. Em sntese,

    a subjetividade condiciona o resultado e no o contrrio (David

    Medina da Silva, em seu livro O Crime Doloso, editora Livraria do

    Advogado, ed. 2005, pgina 126); por fim, a jurisprudncia respalda

    essa compatibilidade (Recurso em Sentido Estrito N 70045328309,

    Segunda Cmara Criminal, Tribunal de Justia do RS, Relator: Rosane

    Ramos de Oliveira Michels, Julgado em 16/02/2012; RHC 6.797/RJ, Rel.

    Ministro Edson Vidigal, Quinta Turma, julgado em 16/12/1997, DJ

    16/02/1998, p. 114; HC 103.555/SP, Rel. Ministra Maria Thereza de

    Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 22/06/2010, DJe 02/08/2010).

    O que se espera que os operadores do Direito

    pretendam o encaixe das previses normativas aos fatos da vida, e

    no que o neguem, afirmando deva acontecer o contrrio.

    Mais: o que mais se aplicaria ao caso em anlise, em

    que muitas vtimas morreram e centenas de outras sobreviveram?

    Homicdio com dolo eventual em concurso com leso corporal ou

    perigo para a vida ou sade de outrem? Que absurdo jurdico seria

    esse, gerado pela ciso do elemento subjetivo?

    Sobre erros na incoativa quanto a vtimas, efetivamente

    h uns poucos apontamentos pertinentes.

    Houve incluso indevida de BRUNA CAPONI no rol de

    vtimas fatais, quando esta vtima sobrevivente; tal equvoco adveio

    de incorreo no rol feito pela polcia judiciria, que olvidou a

    existncia de duas vtimas fatais com estreita similitude de grafia:

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    THAILAN REHBEIN DE OLIVEIRA, vtima fatal que consta no rol anexo

    denncia (n 178), auto de necropsia de fl. 4338 ao anexo XXI do

    inqurito policial (numerao mantida em Juzo), filho de Lus Cludio

    F. de Oliveira e Margareth Teresinha R. de Oliveira, e THAILAN DE

    OLIVEIRA, filho de Ana Paula Campos de Oliveira, este ltimo vtima

    fatal que no consta no rol anexo denncia, mas cujo auto de

    necropsia est na fl. 4946 do anexo XX do inqurito policial

    (numerao mantida em Juzo).

    No entanto, trata-se de mero erro material, que em

    nada prejudica a higidez da denncia. Efetivamente foram 241

    (duzentos e quarenta e um) mortos, devendo-se apenas ter por

    substitudo o nome de BRUNA CAPONI por THAILAN DE OLIVEIRA,

    pessoa cujo auto de necropsia consta na fl. 4946 do anexo XX do

    inqurito policial (numerao mantida em Juzo), no n 236 do rol de

    vtimas, devendo BRUNA CAPONI passar a constar como vtima

    sobrevivente.

    Quanto vtima RODRIGO TAUGEN SAIRA, foi dito no

    terem sido encontrados documentos respectivos; contudo, constam

    nos autos comunicao de ocorrncia da morte, no Hospital Cristo

    Redentor, em Porto alegre, e guia de encaminhamento do corpo ao

    IML da capital, com identificao, histrico do caso e assinatura de

    mdico, a fim de ser procedido exame necroscpico (fls. 2522 e 2523

    do anexo XI); somente pende, assim, o envio do auto de necropsia.

    Porm, as situaes com efetiva pendncia param por

    a, j que todos os demais apontamentos da defesa de MAURO (ainda

    que no como preliminar) de suposta inexistncia e/ou insuficincia

    de documentos que demonstrem bito de vtimas fatais (fls.

    8196/8199) so desprovidos de qualquer fundamento.

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    MINISTRIO PBLICO PROMOTORIAS DE JUSTIA DE SANTA MARIA

    Veja-se que, j no oferecimento da denncia, o

    Ministrio Pblico apontou a necessidade de diligncias justamente

    destinadas obteno de documentao relativamente a algumas

    mortes, principalmente das ocorridas nos hospitais; nessa situao se

    enquadram BRUNO PORTELLA FRICKS, DRIELE PEDROSO LUCAS, GENI

    LOURENO DA SILVA, GUSTAVO MARQUES GONALVES, MATHEUS

    RAFAEL RASCHEN e PEDRO FALCO PINHEIRO. E, quanto a tais

    vtimas fatais, o ofcio de fl. 7976, do Departamento Mdico-Legal do

    IGP em Porto Alegre, ao mesmo tempo em que envia os autos de

    necropsia de DRIELE, GUSTAVO e MATHEUS, esclarece que os laudos

    necroscpicos de BRUNO e PEDRO esto sendo confeccionados e

    sero remetidos posteriormente.

    J o auto de necropsia de GENI LOURENO DA SILVA,

    pela situao tambm explicada no pedido de diligncias na

    denncia1, foi requisitado ao Posto Mdico-Legal de Santa Maria (fl.

    7311) e j enviado a Juzo (fl. 7378).

    Quanto s demais vtimas relacionadas nas fls.

    8196/8199, tem-se j nos autos documentos que demonstram o bito:

    - ARIEL NUNES ANDREATTA, auto de necropsia da fl.

    4310 do anexo XVII;

    - BENHUR RETZLAFF RODRIGUES, auto de necropsia da

    fl. 4517 do anexo XVIII;

    - GUILHERME FONTES GONALVES, auto de necropsia

    da fl. 3227 do anexo XIV;

    1 Foi explicado que se constatou equvoco no auto de necropsia que consta na fl. 4692 do volume XXIII dos anexos do inqurito policial, pois ali est o de GREICY PAZINI BAIRRO, mas o acompanham duas fotografias de GENI; chegou-se a essa concluso porque, nas fls. 4713 a 4720, est o auto de necropsia de GREICY acompanhado de laudos acessrios a respeito dela e de fotografias, estas numeradas como F24 (ou seja, feminino n 24), e nas fotos das fls. 4693 e 4694 contm a numerao (F)26, a qual est no canto superior direito do auto de reconhecimento de pessoa de fl. 244 do volume XXIII dos anexos do inqurito policial, em que a reconhecida foi GENI.

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    MINISTRIO PBLICO PROMOTORIAS DE JUSTIA DE SANTA MARIA

    - JSSIA DE ALMEIDA KONZEN (e no Jssia Almeida

    Kogen, como constou na fl. 8197), auto de necropsia da fl. 3248 do

    anexo XIV;

    - JULIANO DE ALMEIDA FARIAS, auto de necropsia da fl.

    3266 do anexo XIV;

    - KELLEN PEREIRA DA ROSA, auto de necropsia da fl.

    3278 do anexo XIV;

    - LARISSA TERRES TEIXEIRA (e no apenas Larissa

    Terres, como constou na fl. 8198), auto de necropsia na fl. 3289 do

    anexo XIV;

    - MIRELLA ROSA DA CRUZ, auto de necropsia da fl. 3257

    do anexo XIV;

    - PEDRO ALMEIDA, auto de necropsia da fl. 3442 do

    anexo XIV;

    - RAFAEL DIAS FERREIRA, auto de necropsia da fl. 4495

    do anexo XVIII;

    - TAILAN REMBEM DE OLIVEIRA, auto de necropsia da fl.

    4330 do anexo XXI;

    - TAS DA SILVA SCAPLIN DE FREITAS, auto de necropsia

    da fl. 4507 do anexo XVIII.

    - ANA PAULA RODRIGUES, auto de necropsia de fl. 3239

    do anexo XIV (e no apenas certido de bito, como constou na fl.

    8199).

    Assinala-se, ainda, que no h qualquer empecilho legal

    a que, em persecuo penal com possivelmente mais de um milhar

    de pessoas no interior da boate Kiss, certides policiais (que possuem

    f pblica) refiram nomes de pessoas identificadas, embora no

    inquiridas, as quais confirmaram autoridade policial estarem no

    local do sinistro, e, mesmo, que sejam tomadas como vtimas efetivas

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    MINISTRIO PBLICO PROMOTORIAS DE JUSTIA DE SANTA MARIA

    pessoas referidas em depoimentos de outras que l estavam e foram

    formalmente ouvidas.

    De resto, eventuais outros erros no inqurito policial,

    notadamente em seu relatrio, no tm o condo de invalidar a

    investigao em si, muito menos contaminar a acusao, que no os

    reprisa, e menos ainda a instruo processual, que sequer comeou.

    Ao alegar que a intempestividade da denncia geraria

    perda de oportunidade para rol de testemunhas pelo Ministrio

    Pblico, o defensor de ELISSANDRO (no se sabe se desavisada ou

    deliberadamente) misturou situaes insuscetveis de amlgama.

    Uma coisa a denncia no ser apresentada no prazo

    legal; outra, bem diferente, ela no conter rol de testemunhas.

    A consequncia do no-oferecimento da denncia no

    prazo legal a abertura de faculdade ao ofendido para ajuizar queixa

    subsidiria (art. 29 do Cdigo de Processo Penal); mesmo assim, o

    Parquet poder aditar a queixa, repudi-la e oferecer denncia

    substitutiva e, embora no tomando qualquer dessas posturas,

    fornecer elementos de prova; ao facultar o repdio queixa e

    oferecimento de denncia substitutiva, evidente que a lei adjetiva

    est permitindo a apresentao de rol de testemunhas diverso do

    constante na queixa subsidiria.

    A par disso, ao contrrio da (incauta, se desavisada a

    mistura de situaes, ou, se deliberada essa mistura, maldosa)

    afirmao de que a jurisprudncia d razo ao que foi alegado,

    verifica-se as decises evocadas pelo causdico dizem respeito a rol

    de testemunhas apresentado fora da denncia (em aditamento para

    esse fim ou em solicitao ao Juzo aps a instruo e sem

    justificativa plausvel para arrolamento extemporneo); alis, ambas

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    MINISTRIO PBLICO PROMOTORIAS DE JUSTIA DE SANTA MARIA

    as decises colacionadas so expressas em afirmar que o momento

    oportuno o oferecimento da denncia.

    Uma interpretao sistmica do disposto no art. 798 do

    Cdigo de Processo Penal permite concluir que a peremptoriedade ali

    prevista tem consequncias diferentes, conforme sejam os prazos

    para faculdades ou para deveres processuais. Significa dizer que

    prazos, p. ex., para defesa escrita, manifestao sobre substituio

    de testemunhas no encontradas, interposio de recursos, os quais

    so de exerccio facultativo, uma vez decorridos ensejam precluso

    (ou perda de oportunidade para sua prtica); no a ensejam, contudo,

    eventuais excessos de prazos para exerccio de deveres processuais,

    como, p. ex., oferecimento de denncia (ou pedido de diligncias

    imprescindveis, ou promoo de arquivamento), atos cartorrios de

    impulso, sentena, os quais so de exerccio obrigatrio e, na maioria,

    indelegveis. No caso especfico do prazo para denncia, como

    assinalado, a extrapolao autoriza a ao penal privada subsidiria

    ou, no caso de investigados/indiciados presos provisoriamente,

    permite defesa cogitar de habeas corpus liberatrio.

    Registre-se que, no caso em questo, no obstante

    tenha sido necessrio analisar um inqurito policial em meio fsico

    com 52 (cinquenta e dois) volumes de documentos, alm de 08 (oito)

    caixas repletas de documentos contbeis entregues pelo prprio

    advogado ora autor do apontamento, e outros 05 (cinco) volumes de

    expediente que j tramitava em Juzo quando do aporte do inqurito

    policial, o Ministrio Pblico excedeu o prazo legal em apenas 01 (um)

    dia, ao oferecer a denncia.

    No demais registrar, tambm, que as defesas

    principalmente a de ELISSANDRO postularam e, com a concordncia

    do Ministrio Pblico, tiveram flexibilizado seu prazo para defesa

    escrita, a partir da aplicao no processo penal de uma interpretao

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    MINISTRIO PBLICO PROMOTORIAS DE JUSTIA DE SANTA MARIA

    originalmente aplicvel apenas ao processo cvel, e acessoriamente

    ainda tiveram disponibilizado pelo Juzo os autos em meio digital,

    facilitando o manuseio.

    Ou seja, ao menos por questo de lealdade processual

    seria de se absterem de questionamento sobre o nico dia de prazo

    acrescido ao Parquet, em comparao com o estritamente previsto na

    lei processual.

    Outra das preliminares, a suspenso da tramitao

    processual at definio da situao da cpia do inqurito policial

    encaminhada ao Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul, foi objeto

    de deliberao pela 1 Cmara Criminal do Tribunal de Justia do Rio

    Grande do Sul em 08/05/2013, ao decidir o Habeas Corpus n

    70054207881; a informao textual que consta em consulta ao site

    do Tribunal de Justia : DENEGARAM A ORDEM DE HABEAS CORPUS.

    UNANIME. PROFERIU SUSTENTACAO ORAL O(A) DR(A). JADER DA

    SILVEIRA MARQUES PELO(A) PACIENTE.

    Portanto, h que se manter o normal trmite processual

    em primeiro grau.

    A alegao de ausncia de conexo dos crimes de falso

    testemunho para com os demais fatos denunciados no pode ser

    acolhida.

    Isso porque, embora objetivamente os depoimentos dos

    acusados LTON e VOLMIR no inqurito policial no tenham servido,

    por si ss, para isentar Eliseo Jorge Spohr de responsabilidade

    criminal pelos homicdios consumados e tentados ocorridos no dia

    27/01/2013, o desiderato primeiro deles, naquele momento em que

    mentiram, era esse, pois estavam ainda sendo esclarecidas as

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    situaes dos vrios scios, formais ou fticos, no tocante gerncia

    e/ou administrao da boate, em termos de poder de mando e veto.

    Portanto, esto sim presentes situaes dentre as

    previstas no art. 76 do Cdigo de Processo Penal, que, a princpio,

    determinam a unidade de processo e julgamento, por conexo

    consequencial e probatria.

    Isso, contudo, no significa dizer que no possa ser

    aplicado, pelo Juzo, o disposto no art. 80 do Cdigo de Processo

    Penal, que faculta a separao dos processos quando as infraes

    tiverem sido praticadas em circunstncias de tempo ou de lugar

    diferentes, ou pelo nmero de acusados presos provisoriamente que

    no devam ter prolongada a segregao.

    Devido ao extenso rol de testemunhas apresentado por

    LTON e VOLMIR, bem como pelos endereos de algumas delas,

    possvel antever dispndio de tempo significativo para inquiries, o

    que pode ou prejudicar a celeridade quanto aos rus presos

    preventivamente, ou obrigar o Juzo a lanar mo do disposto no art.

    222, 2, do Cdigo de Processo Penal, se o feito nico j tiver

    chegado na fase do art. 413 e seguintes do mesmo diploma legal, o

    que poderia trazer certa dificuldade ampla defesa dos rus

    nominados.

    Alm disso, a possvel ciso do futuro julgamento em

    plenrio de jri, no caso de ser mantido processo nico neste

    momento, resultaria em julgamento separado desses rus.

    Em resumo, no por ausncia de conexo

    consequencial ou probatria, mas por facultatividade de separao de

    processos, baseada em convenincia para a instruo criminal, pode

    ser determinada a ciso.

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    E se, para os crimes de falso testemunho se decidir pela

    ciso, a mesma razo ftica e jurdica enseja idntica providncia

    para as infraes penais de fraude processual, at porque as defesas

    escritas expressamente afirmaram o interesse dos denunciados na

    suspenso condicional do processo proposta na denncia.

    OUTROS PLEITOS:

    A solicitao de expedio de ofcio 4 Cmara

    Criminal, para que seja informada da presente demanda, em razo

    de foro por prerrogativa de funo do Prefeito de Santa Maria,

    absolutamente desnecessria. E isso se afirma em razo no s de a

    autoridade policial ter consignado no relatrio que remeteria cpia do

    inqurito policial quele Colegiado, mas tambm porque a defesa de

    ELISSANDRO protocolou notcia-crime perante o mesmo rgo

    fracionrio, tendo at sido solicitadas informaes a esse Juzo sobre

    pontos de interesse para a deciso naquele mbito.

    Postulao de desaforamento inoportuna, frente

    redao clara dos arts. 427 e 428 do Cdigo de Processo Penal, que,

    alm de estarem topograficamente situados aps os dispositivos

    atinentes fase da pronncia, se baseiam no vocbulo julgamento;

    ou seja, a providncia pretendida no cabe para processo em fase de

    instruo, como o presente. Ademais, se do interesse da defesa,

    deve ser postulado junto segunda instncia, pois o art. 427 alude a

    Tribunal.

    A oitiva ex officio de todas as testemunhas inquiridas

    no inqurito policial, porque mal inquiridas (defesa de MARCELO),

    ou a inquirio ex officio de todas as vtimas sobreviventes (defesas

    de LUCIANO e ELISSANDRO), so pedidos nitidamente voltados ao

    interesse de que, se assim se proceder e a instruo por bvio se

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    eternizar, a libertao se torne medida imperiosa, por excesso de

    prazo em priso provisria. Ora, os testemunhos que se entende

    importantes devem ser postulados especificamente, como o foram na

    denncia e nas defesas escritas.

    O acesso aos expedientes de quebras de sigilo

    determinadas, tambm pleiteado, providncia que pode ser

    efetivada mediante simples comparecimento dos advogados em

    cartrio.

    A restituio de notebook e CPU apreendidos na

    cervejaria Floriano e pertencentes a MAURO pode ser autorizada, no

    estado em que se encontram, pois consta que, ao serem

    encaminhados para percia, houve retirada de hardwares que

    continham os arquivos que deveriam ser periciados; esses

    componentes s podero ser restitudos depois do aporte dos laudos

    periciais.

    J a afirmao da defesa de LTON e VOLMIR de no

    serem os delitos de falso testemunho majorados, mas sim na

    modalidade fundamental, permitindo suspenso condicional do

    processo, no pode ser acolhida.

    Com efeito, como j afirmado, a finalidade dos

    depoimentos falsos, prestados no inqurito policial, no momento em

    que aconteceram, era sim isentar Eliseo Jorge Spohr de

    responsabilidade criminal pelos homicdios consumados e tentados

    ocorridos no dia 27/01/2013, j que no estavam ainda esclarecidas,

    naquele momento, as situaes dos vrios scios, formais ou fticos,

    em termos de poder de mando e veto na administrao da boate

    (alm, claro, de isent-lo de outros crimes, como sonegao fiscal,

    lavagem de dinheiro etc, dos quais existem indicativos inclusive

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    fornecidos pela prpria defesa de ELISSANDRO, e que sero por certo

    objeto de investigaes prprias).

    Ademais, trata-se de matria de mrito, a ser objeto de

    convico aprofundada na instruo do processo.

    A pretenso de supresso da condio de reparao de

    dano social das condutas, atravs de prestao de servios

    comunidade ou prestao pecuniria, para os crimes de fraude

    processual por configurar antecipao de pena tambm descabida.

    No se discute a possibilidade de o Magistrado ingerir

    na proposta de suspenso condicional do processo formulada pelo

    Ministrio Pblico, podendo at mesmo alter-la, conforme previsto

    no art. 89, 2, da Lei 9.099/95.

    Todavia, esse poder dado ao Julgador para

    afastamento apenas de condies flagrantemente desproporcionais

    ou impertinentes, o que no ocorre com o item a da proposta de

    suspenso condicional do processo em questo.

    No tocante reparao do dano, na modalidade em

    que pretendida ou seja, considerado o aspecto social, e no apenas

    a esfera estritamente individual, pois o cometimento do crime atinge,

    de modo difuso, a coletividade , convm assinalar que o art. 89, 2,

    da Lei n 9099/1995 prev a especificao de outras condies alm

    daquelas referidas no 1. Ademais, a prpria lei citada, ao tratar da

    transao penal, prev expressamente a possibilidade de aplicao

    imediata de medida equivalente a pena restritiva de direitos ou

    multas, sem que ningum tenha, at a atualidade, alegado

    descabimento, p. ex., de prestao de servios comunidade ou

    prestao pecuniria, medidas que o Cdigo Penal elenca como

    penas (ainda que restritivas de direitos, e no privativas de

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    liberdade), por serem situaes guardadas pelo legislador s para a

    ocasio da sentena condenatria.

    Assim, inexiste antecipao de aplicao de pena tanto

    na transao penal como nas condies da suspenso condicional do

    processo, sendo plenamente admissvel a prestao de servios

    comunidade ou a prestao pecuniria em qualquer dos benefcios

    despenalizadores. As condies estabelecidas de modo explcito para

    a suspenso processual so exemplificativas, devendo-se examinar o

    caso concreto para definir quais as condies mais adequadas,

    aplicveis em face do princpio da proporcionalidade ou adequao.

    Em resumo, medidas com carter sancionador, de

    possvel e recomendvel aplicao como condies de suspenso

    condicional do processo, no equivalem a antecipao de juzo de

    mrito da causa, ou seja, condenao.

    Nesse sentido, exemplifica-se com decises que

    constituem entendimento dominante do Tribunal de Justia do Rio

    Grande do Sul (com referncia a admisso tambm pelo Superior

    Tribunal de Justia) acerca do assunto: Habeas Corpus n

    70052581063, Primeira Cmara Criminal, Tribunal de Justia do RS,

    Relator: Sylvio Baptista Neto, Julgado em 23/01/2013; Habeas Corpus

    n 70052581196, Segunda Cmara Criminal, Tribunal de Justia do

    RS, Relator: Lizete Andreis Sebben, Julgado em 31/01/2013; Recurso

    em Sentido Estrito n 70049583834, Oitava Cmara Criminal, Tribunal

    de Justia do RS, Relator: Dlvio Leite Dias Teixeira, Julgado em

    03/10/2012.

    Acolher o entendimento da Defensoria Pblica, para os

    rus RENAN e GRSON, redundaria em transformar a transao penal

    em benefcio mais gravoso que a suspenso condicional do processo.

    Isso porque, naquela, o autor do fato deve necessariamente

    submeter-se a prestao pecuniria ou prestao de servios

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    comunidade, ou mesmo multa; o ru, sabendo que na suspenso

    condicional do processo tal gravame ser extirpado, sentir-se-

    atrado pelo benefcio que deveria ser mais gravoso, pois, na prtica,

    estar em situao mais amena (comparecimentos a Juzo, os quais

    em geral so fixados, como no caso concreto, em perodos mais

    largos que a mensalidade estipulada em lei, e proibio de ausncia

    da Comarca de moradia sem comunicao prvia).

    Eis a a distoro: para crimes de menor potencial

    ofensivo, a medida despenalizadora mais atrativa seria aquela

    destinada aos de mdio potencial ofensivo, e no o benefcio

    especificamente idealizado e previsto para os ilcitos menos

    expressivos (transao penal).

    Assim, se pretender buscar o afastamento da condio,

    a Defensoria Pblica que o faa como outras vezes j agiu perante

    essa 1 Vara Criminal: os rus aceitando a proposta na ntegra e

    ficando a exigibilidade da condio de reparao de dano social (por

    prestao de servios comunidade ou prestao pecuniria)

    sobrestada at julgamento de habeas corpus que seja impetrado

    acerca do acolhimento judicial dessa condio na audincia em que

    concretizado o benefcio (at porque o perodo de prova mnimo de

    02 anos).

    RETORNO DE DILIGNCIA POSTULADA NA DENNCIA:

    No tocante informao do Comandante do 4 CRB

    (ofcio de fl. 7376), constitui o afastamento do ltimo aspecto do

    ltimo tpico dentre aqueles que justificaram o indiciamento de

    MIGUEL CAETANO PASSINI e BELOYANNES ORENGO DE PIETRO

    JNIOR; dois outros tpicos j foram analisados ao final da denncia e

    considerados inteiramente ausentes, luz da legislao municipal

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    que incumbia a tais servidores pblicos cumprirem; o terceiro tpico,

    sobre o qual ainda restava pendncia, esclarecida com a diligncia e

    resposta do Corpo de Bombeiros, repousava na assertiva de no

    haverem eles exercido a contento poderes-deveres previstos na

    normatizao municipal.

    Como j assinalado por ocasio da denncia, da anlise

    da legislao municipal conclui-se que, afora a fiscalizao ordinria,

    sobre a qual foram trazidos dados objetivos de ter sido exercida

    (boletim de vistoria de localizao de estabelecimento e atividades

    de fl. 506/IP, volume III, demonstrando atuao fiscal em 19/04/2012),

    a outra forma de atuao fiscalizatria cogitvel para as

    circunstncias do caso concreto seria solicitao de autoridade

    competente (Lei Complementar Municipal n 092/2012), frmula na

    qual se enquadraria eventual informao restritiva do Corpo de

    Bombeiros da Brigada Militar ao estabelecimento ou atividade

    licenciada pelo Poder Pblico Municipal e solicitao do referido rgo

    para que as atividades sejam suspensas (Decreto Executivo n

    032/2006, art. 17, inc. I), devido ao prazo de validade do Alvar de

    Preveno e Proteo Contra Incndios estar vencido a partir de

    agosto de 2012 (vigente quando da atuao ordinria municipal

    retrocitada).

    O atual Comandante do 4 CRB foi taxativo ao afirmar

    que no foi comunicado nenhum rgo administrativo municipal

    acerca de estar vencido o prazo do alvar que incumbia sua

    corporao, pois, em seu entendimento, Tal situao no restritiva

    ou suspensiva para o funcionamento do estabelecimento (fl. 7376);

    esta assertiva pode ser explicada pelo fato de as providncias para

    reapreciao do cabimento do alvar (e eventual renovao de seu

    prazo, em caso de pleno atendimento das exigncias normativas)

    estarem em curso, embora ainda no ultimadas quando do evento.

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    Assim, as consideraes tecidas pela polcia judiciria

    para indiciamento de MIGUEL CAETANO e BELOYANNES no se

    sustentam, frente normatizao municipal referente ao

    procedimento fiscalizatrio a cargo de ambos, em cotejo com os

    elementos de convico coletados.

    Diante do exposto, o Ministrio Pblico requer:

    a) o desacolhimento dos pedidos de revogao de

    prises preventivas formulados pelos defensores dos rus LUCIANO e

    MAURO;

    b) a rejeio das preliminares arguidas nas defesas

    escritas, abstendo-se os signatrios de manifestao no que atine ao

    mrito da causa para evitar indevido contraditrio;

    c) ocorrido e reconhecido erro material na denncia,

    seja tido por substitudo no n 236 do anexo I da denncia (rol de

    vtimas) o nome de BRUNA CAPONI por THAILAN DE OLIVEIRA (pessoa

    cujo auto de necropsia consta na fl. 4946 do anexo XX do inqurito

    policial), devendo BRUNA CAPONI passar a constar como vtima

    sobrevivente, dando-se cincia a respeito da retificao s defesas

    tcnicas dos rus acusados pelos homicdios;

    d) o indeferimento dos pedidos de diligncias (pelos

    motivos que so alinhados entre parnteses logo aps cada um)

    consistentes em:

    d.1 - formulados pela defesa de MARCELO: esclarecimentos junto

    loja Kaboom sobre a forma de comercializao de fogos e orientaes

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    passadas a LUCIANO (j que o proprietrio/gerente do

    estabelecimento, de nome Daniel Rodrigues, foi arrolado como

    testemunha na denncia, bem como na prpria defesa escrita fl.

    7696, item 14 e poder prestar esclarecimentos em audincia), e

    solicitao de laudo complementar para comprovar altura do local

    onde o fogo foi posto e a possibilidade de queima da espuma

    considerada a altura da mo de MARCELO em movimento, a posio

    desse ru no palco (porque isso j consta em laudos periciais

    existentes nos autos laudo pericial n 12268/2013, fls. 5757 a 5918

    do anexo XXVII do inqurito policial, e laudo pericial n 27404/2013,

    fls. 7613 a 7623 do processo);

    d.2 formulados defesa de ELISSANDRO: expedio de ofcio a

    laboratrio pericial de Buenos Aires, para onde teriam sido levadas

    amostras destinadas confeco de autos de necropsia (por ser

    postulao evidentemente protelatria, j que o IGP detm todas as

    informaes e at foi notificado e provavelmente ter

    determinao judicial para preservar materiais periciados); solicitao

    ao IGP de remessa de manual de procedimento atinente a elaborao

    de autos de necropsia (porque se trata de providncia no prevista

    em lei e desrespeitosa em se tratando de rgo oficial de percias,

    capacitado para toda e qualquer persecuo penal, e tambm porque

    h interesse defensivo expresso na oitiva dos peritos para

    esclarecimento de laudos elaborados); requisio polcia judiciria

    de remessa de documentos entregues pelo advogado, das

    apreenses feitas no caixa da boate e todos os demais documentos

    apreendidos (por estarem todos esses materiais entregues em Juzo;

    vide certido policial de fl. 3333 da numerao do inqurito policial);

    requisio Cmara de Vereadores para envio de cpia dos autos da

    CPI sobre a boate Kiss (por no se tratar de investigao de cunho e

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    com propsito penal e tambm por ser levado a efeito por pessoas

    sem qualquer vnculo com o sistema estatal de persecuo penal);

    expedio de ofcio ao Ministrio Pblico para informar os dados do

    Secretrio de Diligncias que efetuou levantamento fotogrfico na

    boate Kiss durante inqurito civil (por desnecessria, j que os nomes

    constam nos autos verso da fl. 693 da numerao do inqurito

    policial); anexao de mdias de interceptaes telefnicas realizadas

    na persecuo penal (porque no houve interceptao telefnica);

    d.3 - defesa de MAURO: autorizao para acesso ao local do fato para

    percia particular (porque a sistemtica do art. 159 do Cdigo de

    Processo Penal estabelece dinmica diferente para a atuao de

    assistentes tcnicos os quais sequer existem habilitados neste

    processo penal); quebra de sigilo de dados telemticos do grupo

    equipe Kiss no facebook (por absoluta ausncia de fundamentao

    a justificar o pedido, mesmo tendo a petio defensiva 131 cento e

    trinta e uma pginas, estendendo-se das fls. 8079 a 8209);

    e) expedio de ofcio ao Diretor do Departamento

    Mdico-Legal do IGP, em Porto Alegre (nome e endereo na fl. 7976),

    requisitando o envio dos autos de necropsia de RODRIGO TAUGEN

    SAIRA (que morreu no Hospital Cristo Redentor, em Porto alegre, e

    teve o cadver encaminhado ao IML da capital devendo cpia da

    guia de encaminhamento de fl. 2523 do anexo XI acompanhar o ofcio

    requisitrio) e de BRUNO PORTELA FRICKS e PEDRO FALCO

    PINHEIRO (que, segundo o Ofcio n 9842/2013 do prprio

    Departamento Mdico-Legal, estariam sendo confeccionados em

    12/04, j devendo estar prontos);

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    f) o desacolhimento da postulao de afastamento da

    condio de reparao do dano social da conduta, atravs de

    prestao de servios comunidade ou prestao pecuniria, includa

    na proposta de suspenso condicional do processo formulada aos

    rus RENAN e GRSON (podendo a defesa impetrar habeas corpus

    aps a aceitao integral e ento sobrestando-se a exigibilidade at o

    julgamento dessa ao autnoma de impugnao de ato judicial);

    g) seja determinada, com base no art. 80 do Cdigo de

    Processo Penal (e no por inexistncia de conexo consequencial e

    probatria), a ciso do processo penal no tocante aos rus LTON

    CRISTIANO URODA, VOLMIR ASTOR PANZER, RENAN SEVERO BERLEZE

    e GRSON DA ROSA PEREIRA (os dois primeiros acusados de falso

    testemunho majorado e os dois ltimos por fraude processual),

    formando-se autos prprios para esses processados, para que no

    haja, por causa da tramitao processual porvir relativa a eles,

    prolongamento da segregao dos demais rus, que esto presos

    provisoriamente;

    h) o arquivamento do inqurito policial quanto aos

    indiciados MIGUEL CAETANO PASSINI e BELOYANNES ORENGO DE

    PIETRO JNIOR, por inexistncia de prova de que tenham agido com

    culpa penalmente punvel, ordenando-se autoridade policial o

    cancelamento do registro desses indiciamentos em seus bancos de

    dados.

    No que pertine ao item desta manifestao designado

    outros pleitos, o Ministrio Pblico concorda unicamente com a

    restituio de notebook e CPU apreendidos em estabelecimento

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    comercial pertencente a MAURO, ainda assim com a ressalva feita na

    fundamentao.

    Santa Maria, 10 de maio de 2013.

    JOEL OLIVEIRA DUTRA, MAURCIO TREVISAN,

    Promotor de Justia Promotor de Justia