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PARECER-AVALIAÇÃODOSIMPACTOSQUANTITATIVOSE
QUALITATIVOSDECORRENTESDAREPUBLICAÇÃODOS
PREÇOSDELIQUIDAÇÃODASDIFERENÇASNA
COMERCIALIZAÇÃODEENERGIA
Preparado para:
Julho de 2017
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TÍTULOAVALIAÇÃO DOS IMPACTOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOSDECORRENTES DA REPUBLICAÇÃO DOS PREÇOS DE LIQUIDAÇÃO DASDIFERENÇASNACOMERCIALIZAÇÃODEENERGIA
CLIENTE: ABRACEEL–Sr.ReginaldoMedeiros
RESUMO:
Oobjetivodestetrabalhoéaelaboraçãodeparecerindependente,contemplandoa avaliação dos impactos quantitativos na comercialização de energia e daampliaçãodos riscosdecorrentesdohistóricode republicaçãodoPLDapartirde2013, quando da publicação da Resolução Normativa ANEEL nº 568/2013 pelaThymosEnergia,bemcomoaelaboraçãodeumaanálisequalitativaabordandodeformaconceitualosimpactoseconômicosefinanceirosderepublicaçõesdepreçosdeumbememqualquermercadopelaTendênciasConsultoriaIntegrada.
Este parecer tem como objetivo subsidiar as discussões para aprimoramento danorma para republicação do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) que seencontra atualmente em processo de Audiência Pública (AP nº 25/2017) naAgênciaNacionaldeEnergiaElétrica(ANEEL).
DATA SãoPaulo,3dejulhode2017.
RESPONSÁVEIS
ParteI–AvaliaçãodosImpactosQuantitativosdaRepublicaçãodoPLD
JoãoCarlosMello,RicardoSavoia,EvelinaNeves,DiegoAspéeeAlanHenn
ParteII–AvaliaçãodosImpactosQualitativosdaRepublicaçãodoPLD
MailsondaNóbrega,ErnestoMoreiraGuedesFilho,MirelaVirgíniaPerrellaScarabeleLeonardoSilvérioPalhuca.
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ResponsávelpeloRelatório–PARTEI
_______________________________
JoãoCarlosMello
ResponsávelpeloRelatório–PARTEII
_______________________________
MailsondaNóbrega
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OBJETIVO
EsteparecerindependentetemcomoobjetivoavaliarosimpactosdarepublicaçãodoPreçodoMercadode
Curto Prazo na comercialização de energia e subsidiar as discussões para aprimoramento da norma para
republicação do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) que se encontra atualmente em processo de
AudiênciaPública(APnº25/2017)naAgênciaNacionaldeEnergiaElétrica(ANEEL).
Estetrabalhoestáestruturadoemduaspartesindependentes:
Parte I - Avaliação pela Thymos Energia dos impactos quantitativos na comercialização de energia e da
ampliação dos riscos decorrentes do histórico de republicação do PLD a partir de 2013, quando da
publicaçãodaResoluçãoNormativaANEELnº568/2013.
Parte II - Análise qualitativa abordando de forma conceitual os impactos econômicos e financeiros de
republicaçõesdepreçosdeumbememqualquermercadopelaTendênciasConsultoriaIntegrada.
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Índice
1. PARTEI–AVALIAÇÃODOSIMPACTOSQUANTITATIVOSDAREPUBLICAÇÃODOPLD........................9
1.1. OMercadodeCurtoPrazo..............................................................................................................9
1.2. OPapeldoPreçodoMercadodeCurtoPrazo..............................................................................10
1.3. GovernançadosModelosComputacionais...................................................................................13
1.4. RepublicaçãodoPreçodeLiquidaçãodasDiferenças..................................................................14
1.4.1. AsRepublicaçõeseoPosicionamentodoMercado...................................................................14
1.4.2. HistóricodasRepublicações......................................................................................................18
1.4.3. Impactoaosagentes:ProblemadaRepublicação.....................................................................21
1.5. AvaliaçãodosImpactosFinanceirosDecorrentesdaRepublicaçãodoPLD..................................22
1.6. PrecificaçãodoRiscodeRepublicação..........................................................................................24
1.7. ImpactonaInflaçãoeaoConsumidorFinaldeEnergia................................................................32
1.8. Conclusãoerecomendações.........................................................................................................33
1.9. REFERÊNCIAS.................................................................................................................................33
1.10. ExperiênciaProfissional................................................................................................................34
2. PARTEII–AVALIAÇÃOQUALITATIVADOSIMPACTOSDAREPUBLICAÇÃODOPLD..........................37
2.1 Introdução.....................................................................................................................................38
2.2 ConceitodePLD............................................................................................................................40
2.3 Consequênciaseconômicasdaincerteza:panoramageral...........................................................41
2.4 Consequênciaseconômicasdeincertezasnopreço.....................................................................42
Oladodaoferta..................................................................................................................................42
Oladodademanda.............................................................................................................................43
Noequilíbrio.......................................................................................................................................44
2.5 Aimportânciadoscontratosedosmecanismosinstitucionaisnaeconomia...............................45
Arelevânciadoscontratos.................................................................................................................45
TeoremadeCoase..............................................................................................................................46
2.6 Preçodereferêncianomercadodeenergiaemdiversospaíses..................................................47
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Alemanha...............................................................................................................................................47
Descriçãodomercadolivredeenergia..............................................................................................47
Preçosdereferênciadomercadospot...............................................................................................47
Cálculodospreçosdereferência........................................................................................................48
Reajustesdospreçosdereferência....................................................................................................48
NovaZelândia........................................................................................................................................49
Descriçãodomercadolivredeenergia..............................................................................................49
Preçosdereferênciadomercadospot...............................................................................................49
Cálculodospreçosdereferência........................................................................................................50
Reajustesdospreçosdereferência....................................................................................................50
EUA-Califórnia.......................................................................................................................................51
Descriçãodomercadolivredeenergia..............................................................................................51
Preçosdereferênciadomercadospot...............................................................................................51
Cálculodospreçosdereferência........................................................................................................51
Reajustesdospreçosdereferência....................................................................................................51
Comparaçãoentreocasobrasileiroedospaísescitadosanteriormente...........................................52
2.7 PreçodereferênciadecommoditiesnoBrasil..............................................................................53
Mercadofuturodecommodities........................................................................................................53
Preçosdeajustedomercadofuturo..................................................................................................54
Cálculodospreçosdeajuste..............................................................................................................54
BoiGordo...........................................................................................................................................54
Soja.....................................................................................................................................................54
Correçãodospreçosdeajuste............................................................................................................55
2.8 Quesitos........................................................................................................................................55
RepublicaçõesdoPLDimpactamosagenteseconômicos?................................................................55
OcasodaCalifórniaésemelhanteaocasobrasileiro?.......................................................................55
2.9 Conclusões....................................................................................................................................56
2.10 EQUIPERESPONSÁVEL..................................................................................................................58
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LISTA DE TABELAS
Tabela1-CálculodoimpactomensalnoMCPresultantedarepublicaçãodoPLD...................................23
Tabela2-CálculodoimpactoresultantedarepublicaçãodoPLDconsolidadoporano...........................23
Tabela3–DesviosRecálculoPLD–MelhoresDistribuiçõesdeProbabilidadeEncontrada.......................28
Tabela4–ImpactodaProteçãocontraRepublicaçãonaInflação.............................................................32
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LISTA DE FIGURAS
Figura1-ApuraçãodoMercadodeCurtoPrazo-Energiacontratadaxenergiamedida...........................9
Figura2–ExemplodeAbrangênciadautilizaçãodoPreçodeCurtoPrazonoModeloSetorial...............12
Figura3-RepublicaçõesdoPLDanteseapósaRENANEELnº568/13–(2008-2017)..............................19
Figura4–VariaçãodarepublicaçãodoPLDnosubmercadoSudeste/Centro-OesteemR$/MWh..........19
Figura5–VariaçãodarepublicaçãodoPLDnosubmercadoSulemR$/MWh..........................................20
Figura6–VariaçãodarepublicaçãodoPLDnosubmercadoNordesteemR$/MWh...............................20
Figura7–VariaçãodarepublicaçãodoPLDnosubmercadoNorteemR$/MWh.....................................21
Figura8–CrescimentodasTransaçõesnoACL–2016..............................................................................24
Figura9–DiagramadePareto:consideraasrepublicaçõessemanaisentrejan/2013atédez/2016.......25
Figura10–DiagramadePareto:consideraasrepublicaçõessemanaisentreNov/16atédez/2016........26
Figura11-Distribuiçãocomdesviosconsiderandoasrepublicaçõesentre2013e09/2016....................28
Figura12–ProbabilidadeAcumulado:DesvioMáximodasOcorrências:01/2013a09/2016..................29
Figura13-Distribuiçãocomdesviosconsiderandotodasasrepublicaçõesentre2013e2016................29
Figura14–ProbabilidadeAcumulado:DesvioMáximodasOcorrências:01/2013até12/2016..............30
Figura15–DistribuiçãodeProbabilidade:janeirode2013adezembrode2016.....................................31
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PARTEI–IMPACTOSQUANTITATIVOSPELATHYMOSENERGIA
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1. PARTEI–AVALIAÇÃODOSIMPACTOSQUANTITATIVOSDAREPUBLICAÇÃODOPLD
1.1. OMercadodeCurtoPrazo
ACâmaradeComercializaçãodeEnergiaElétrica (CCEE) tempor finalidadeviabilizaracomercializaçãode
energiaelétricanoSistemaInterligadoNacional(SIN),tendodentreoutras,asseguintesatribuições:
• Manter o registro da medição e de todos os contratos de comercialização de energia nos
AmbientesRegulado(ACR)eLivre(ACL).
• ApuraroPreçodeLiquidaçãodeDiferenças(PLD)doMercadodeCurtoPrazo(MCP)expresso
emR$/MWh,calculadocombasenacadeiademodeloscomputacionaisNEWAVEeDECOMP,
tambémutilizadapeloOperadorNacionaldoSistemaElétrico(ONS)naoperaçãodoSINepela
EmpresadePesquisaEnergética(EPE)noplanejamentodaexpansãodosistema.
• Efetuaracontabilizaçãoeliquidaçãofinanceiradasoperaçõesdecompraevendadeenergia
elétrica realizadas noMCP, com base nas diferenças apuradas entre a energiamedida e a
energia contratada para cada agente de mercado, valoradas ao Preço de Liquidação das
Diferenças(PLD),conformeFigura1.
Figura1-ApuraçãodoMercadodeCurtoPrazo-Energiacontratadaxenergiamedida
Desde a concepção do mercado atacadista de energia elétrica, estava prevista a utilização dos mesmos
modelos de otimização para o planejamento da operação centralizada pelo ONS como para valorar a
formaçãodepreçodoMCP.
Combasenascondiçõeshidrológicas,naprevisãodedemanda,noscustosdoscombustíveis,naentradade
novosprojetos,nadisponibilidadedosequipamentosdegeraçãoetransmissão,novalordocustodedéficit
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edeparâmetrodeaversãoarisco,osmodelosdeoperaçãoeprecificaçãoobtêmodespachoótimoparao
período em estudo, definindo a geração hidráulica e a geração térmica para cada submercado e, como
resultadodesseprocesso,sãoobtidososCustosMarginaisdeOperação(CMOs)associados.
Opreçodomercadode curtoprazoouPreçode LiquidaçãodasDiferenças (PLD)baseia-seno cálculodo
CMOeédeterminadosemanalmenteparacadasubmercado(Norte,Nordeste,Sudeste/Centro-OesteeSul)
eparacadapatamardecarga(pesada,médiaeleve),semconsiderarasusinasemtesteeasrestriçõesde
transmissão internas a cada submercado, incorporadas peloONS no planejamento da operação.O PLD é
limitadoaindaporumpreçomáximoeummínimo,estabelecidosanualmentepelaANEEL.
1.2. OPapeldoPreçodoMercadodeCurtoPrazo
O preço de curto prazo é um sinal econômico para os agentes de mercado e sua correta formação é
indispensávelparaoadequadofuncionamentodomercadodeenergiaelétrica.
Emqualqueratividadeeconômica,oprincipalpreçodemercadoéopreçoàvistaparaentregaimediatado
produto. Omercado no qual são estabelecidas estas compras e vendas à vista com entrega imediata, o
chamadomercadospotouMCP,devesua relevânciaao fatodeserocompradoreovendedordeúltima
instâncianacadeiadecomercialização,influenciandoaformaçãodetodososdemaispreçosnomercado.
O principal objetivo de um sistema de preços eficiente é sinalizar adequadamente o uso de recursos
escassos.Emoutraspalavras,quandoumsistemadepreçoséeficiente,osrecursosescassospossuemvalor
elevadoesósãoutilizadosparapropósitosdealtovaloragregado.Ocontráriotambéméverdadeiro,istoé,
osrecursosabundantestêmbaixovalorparasinalizarseuusoextensivo.
O Preço do Mercado de Curto prazo é também um sinalizador da eficiência econômica, sendo que a
eficiênciadecurtoprazoestáassociadaaodespachodemenorcustoquegarantaaqualidadeeasegurança
no atendimento à demanda, enquanto que a eficiência de longo prazo está associada ao nível de
investimento a custos adequados e sustentáveis para a expansão do setor, dentro de critérios pré-
estabelecidosdeconfiabilidade.
A experiência internacional tem mostrado que um mercado spot eficiente é condição chave para o
desenvolvimento da indústria de eletricidade. É com base em ummercado spot eficiente que é possível
introduzir outrosmecanismos demercado nesta indústria, tais como reação da demanda, e a criação de
referênciasdepreçosparamercadosfuturosedeopções,dentreoutros.
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Nocontextodomercadobrasileiro,opreçodomercadodecurtoprazoéutilizadoemdiversosparâmetros
estabelecidos para o planejamento da expansão, operação, e comercialização no âmbito do MCP e dos
ambientesdecontrataçãolivreeregulado,sendofundamentaispara:
• DeterminaçãodasprevisõesdedespachoporordemdeméritopeloONS.Estasprevisõesservirão
como referências de geração hidráulicas e térmicas a serem utilizadas na programação diária da
operaçãoenaoperaçãoemtemporeal;
• ValoraçãoecontabilizaçãodaenergiatransacionadanoMercadodeCurtoPrazo(MCP)edoscustos
decorrentes da manutenção da confiabilidade e da estabilidade do sistema no atendimento à
demandaporenergianoSistemaInterligadoNacional(SIN)recuperadosviaEncargosdeServiçosdo
Sistema(ESS);
• ReferênciadepreçoparaacomercializaçãonoAmbientedeContrataçãoLivre–ACL,normalmente
estabelecidocombasenopreçodomercadodecurtoprazomaisumamargem(spread);
• Valoração das penalidades por falta de cobertura contratual (consumidores/distribuidores) e de
insuficiênciadelastroparacontratação(geradoresecomercializadores);
• ReferênciadepreçoparaasofertasdosleilõesdeEnergiadeReserva;
• ReferênciadepreçoparaasofertasdosleilõesedoAmbientedeContrataçãoRegulado(ACR)com
basenocálculodoÍndicedeCustoeBenefício(ICB)quemensuraacompetitividadedasdiferentes
fontesdeenergiacombasenovaloresperadodoscustosdaoperaçãoedacompradeenergiano
MCP. Caso as projeções de preço não sejam realistas o ICB pode ter um viés que favoreça
tecnologiasquenãosãoasmaiseconômicasparaoconsumidor;
• Referência de preço para repasse para as tarifas dos consumidores cativos referente à compra
frustradanosdasDistribuidorasnosleilõesdeenergianovanoACR;
• Referênciadepreçoparacustosdoscontratosdedisponibilidadeparaosconsumidoresregulados;
• ReferênciadepreçopararepassedasobrecontrataçãodasDistribuidoras;
• Cálculodagarantiafísicadosequipamentosdegeração;
• Critériodesegurançadesuprimento,calculadapelaEmpresadePesquisaEnergética(EPE)combase
naigualdadeentreoCustoMarginaldeExpansão(CME)eovaloresperadodosCustosMarginaisde
Operação:CME=E(CMO);
• CritérioparaacionamentodasBandeirasTarifárias;
• ReaçãodaDemanda:aosinalizarovalordaenergiaacadaestágio,permitequeademandatambém
secomportedamaneiramaiseficientepossível,poispodesermaiseconômicoreduziroconsumo
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do que pagar um preço mais elevado. Quanto maior a discretização temporal da precificação,
melhoraeficiênciadareaçãodademanda.
Figura2–ExemplodeAbrangênciadautilizaçãodoPreçodeCurtoPrazonoModeloSetorial
AFigura2exemplificaaabrangênciadopreçodecuroprazonosdiversosparâmetrosereferênciasparao
modelosetorial.
Oprocessodeformaçãodopreçodecurtoprazodevesernamedidadopossível,coerentecomasdecisões
operativas e com os critérios utilizados no planejamento da expansão no sentido de oferecer a correta
sinalizaçãoparaousoeficientedosrecursosemtodaacadeiadeenergiaelétrica.
Nesse sentido, os preços de curto prazo devem refletir os CustosMarginais da Operação, salvo algumas
diferenças(restriçõesdetransmissãointernas)definidasentreodespachoeconômicoestabelecidopeloONS
eodespachocomercialapuradopelomercadoatacadistaparafinsdecálculodopreçodecurtoprazoque
devemsercobertasviaencargosdeserviçosdosistema(ESS).
Osagentesdosetorjásofremcomavolatilidadetantodesuasreceitas,comodeseuscustosdevidoàalta
volatilidadedospreçosdecurtoprazo,inerentesaossistemashidrotérmicos.Logo,paraobomdesempenho
nosetor,faz-seprimordialarealizaçãodeumaboagestãoderiscosderiscos.
Comoamadurecimentodosmercados,osagentesprocuramcertezaemseuscustoseemsuasreceitaspor
meio da prática de hedging (cobertura contra riscos) na comercialização. No gerenciamento de riscos os
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agentes têmque levaremconsideraçãonãosomenteomontantea sercomercializado (riscodevolume),
mastambémosriscosassociadosaopreçodaenergianoMCPeasformasdemensuraressesriscos.
A inserção de novos fatores de riscos não gerenciáveis pelos agentes, como a possibilidade de
republicaçãodoPLDemfunçãodeerrosdetectadosapósaoperaçãoeacomercializaçãodaenergiaterem
sido efetivadas, amplia as distorções entre o mundo físico e comercial, incorrendo em riscos e custos
adicionaisqueserãoincorporadosnacomercializaçãodeenergia,realizadastantonoACLquantonoACR.
Conforme apresentado, os preços de curto prazo de energia afetam direta ou indiretamente todos os
agentes do setor elétrico, tanto em suas decisões de contratação para os próximos meses como em
decisõesdeinvestimentoemnovacapacidade,comcontratosdemaislongoprazo.Emummercadocom
múltiplosagentes,coordenarossinaiseconômicosepropiciarumambienteregulatórioedemercadoque
sejamestáveiseprevisíveiséfundamentalparaatrair investimentosemnívelecustoadequadosparaa
expansãodosetor.
Nesse sentidodestaca-se a importância da estabilidade e previsibilidadedas regras, da transparência e
reprodutibilidadedosdados, edaqualidadee isonomiana formaçãodospreçosde curtoprazo, sema
introdução de externalidades não gerenciáveis, como forma de promover a adequada gestão de riscos
pelosagenteseinstituiçõessetoriaiseincentivarobomfuncionamentodomercadocomoumtodo.
1.3. GovernançadosModelosComputacionais
AComissãoPermanenteparaAnálisedeMetodologiaseProgramasComputacionaisdoSetor (CPAMP) foi
criadapelaResoluçãoCNPEnº1/2007comafinalidadegarantiracoerênciaeaintegraçãodasmetodologias
eprogramascomputacionaisutilizadospeloMinistériodeMinaseEnergia(MME),EPE,ONSeCCEE.
Cabe à ANEEL regular e fiscalizar a gestão dos dados de entrada, dos parâmetros e da alteração de
algoritmosdosmodeloscomputacionais,conformeDecretonº5.081,de14demaiode2004.
Em julho de 2016 a CPAMP criou oGrupo de Trabalho - GT “Governança dosModelos Computacionais”,
coordenado pelo MME, com participação da ANEEL, EPE, ONS e CCEE com o objetivo de aprimorar o
processo de alteração de dados de entrada, de parâmetros e de metodologias referentes à cadeia de
modeloscomputacionaisutilizadospelosetorelétrico.
Oprincípionorteadordoaprimoramentodesteprocessoéquequalqueralteraçãodedadosdeentradae
de parâmetros obedeça a ritos bem definidos, assim como qualquer alteração metodológica seja
Página14
precedidadeamplodiálogocomosagentesecomprevisibilidadeemrelaçãoàsuautilizaçãonodespacho
dageraçãoenaformaçãodepreço.
Dentre vários pontos analisados, o Grupo de Trabalho entendeu como relevante levantar o tema em
Consulta Pública (CP MME nº 22/2016) para que houvesse discussão ampla sobre a adoção de um
tratamento diferenciado para alterações excepcionais dos dados de entrada, que são aquelas não
decorrentesdeerrosoudeatualizaçãoperiódicacomcalendáriopredefinido,conformeregulaçãodaANEEL.
Depois de analisadas as contribuições, oGT decidiu pormanter a carência de ummês, para conferir a
previsibilidade mínima necessária aos agentes. Portanto, as alterações devem ser comunicadas aos
agentescomantecedêncianãoinferioraummêsdoProgramaMensaldeOperação(PMO)emqueserão
implementadasparaquetenhamefeitosnaformaçãodepreçoenadefiniçãodapolíticaoperativa.
1.4. RepublicaçãodoPreçodeLiquidaçãodasDiferenças
AdinâmicadeobtençãodoCMOpeloONSparadeterminaçãododespachooperativo,edoPLDpelaCCEE
paracontabilizaçãoeliquidaçãodoMCP,éprocessopassíveldefalha,sejaporerronainserçãodedadosde
entrada,naadoçãodepremissasparaexecuçãodosmodeloscomputacionaisounaelaboraçãodocódigo-
fontedosmodelos.
CaberessaltarquetodooprocessodeformaçãodoPLDécercadodecuidadosparaevitaraocorrênciade
erros, pois existem procedimentos de rede do ONS e demercado da CCEE, aprovados pela ANEEL, e os
modelos sãohomologados tambémpelaANEEL. Seaindaocorremerrosnoprocessoé certoqueexistem
ainda lacunasou falhasnaaprovaçãoehomologaçãodaANEEL,oumesmonaconduçãodosprocessos,o
queindicaqueareduçãodeerrosaolimitemínimodependemuitodoaprimoramentodoprocesso.Omaior
esforçodaANEELdeveseconcentrarnoavançodaspráticasdeaprovaçãoouhomologação,bemcomoda
fiscalizaçãodasentidadesautorizadasONSeCCEE.
Emsituaçõesemqueoerroédetectado,casooPLDjátenhasidoutilizadopelosagentesparasuaspróprias
decisõescomerciaiseparaa liquidaçãodoMCP,a republicaçãodoPLDpodeser traumáticaporalterara
alocaçãoderecursosfinanceirosentreosagentes.
1.4.1. AsRepublicaçõeseoPosicionamentodoMercado
A ANEEL vem determinando de forma recorrente a republicação do PLD devido a erros nos dados e
parâmetrosdosmodeloscomputacionais.Noperíodoentre2008e2017houve31casosde republicação,
sendoqueentre2010e2011aANEELdeterminouarepublicaçãodoPLDde58das100semanasoperativas.
Página15
Em junho de 2011, o Despacho ANEEL nº 2.654 determinou a republicação do PLD e respectiva
recontabilizaçãopelaCCEEnoperíododejaneiroamarçode2011devidoaerrosencontradosnasprevisões
devazõesutilizadaspelosmodeloscomputacionaisparaaoperaçãoeformaçãodepreços.
Após a publicação do Despacho, a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (ABRACEEL), a
AssociaçãoBrasileiradosProdutoresIndependentesdeEnergiaElétrica(APINE)eaprópriaCCEEsolicitaram
suainvalidação.
Em agosto de 2011 a ANEEL concede efeito suspensivo do Despacho ANEEL nº 2.654/11 e instaura a
AudiênciaPúblicanº73/2011parajulgarméritodarepublicação.
AProcuradoria-Geral (Parecernº035/2012)opinoupelanão republicaçãodoPLDalegandoqueomesmo
deverefletirosdadosutilizadosnaoperaçãodoSIN.
Em março de 2013, a Diretoria da ANEEL validou o Despacho ANEEL nº 2.654/11 e determinou a
recontabilizaçãodosvaloresdoPLDnosmesesdejaneiroamarçode2011emfunçãodeerrosobservados
nosparâmetrosdeentradadosmodeloscomputacionais,sendoquetantoaoperaçãodosistemarealizada
peloONSquantoàcomercializaçãodaenergiapelosagentesjáhaviamsidoefetivadas.
Na mesma época foi determinado à Superintendência de Regulação dos Serviços de Geração (SRG) e à
SuperintendênciadeEstudosdemercado(SEM)que instaurasseAudiênciaPública (APANEELnº35/2013)
paraestabelecerregulamentoexplicitandoassituaçõesemquearepublicaçãodoPLDearecontabilização
doMCPseriamobrigatórias,eemquecasoseprazosessaspoderiamserrequeridas.
ANotaTécnicanº028/2013-SRG-SEM/ANEEL,de11/04/2013,quepropõeanovaregulamentação,contém
fatos importantesobservadosnocálculodePLDdesde2008.Ocorreram15casos identificadoscomoerro,
sendoque10referem-seaerrosnainserçãodedados,2estãorelacionadoscommodificaçõesimpostaspor
atosnormativos,2porproblemasnocódigo-fontedosmodelose1porrepresentaçãoinadequadadealgum
componentedosistema,nestecasodasusinashidrelétricasnaAmazônia.AANEELadotoucomomotivação
para o novo regulamento estes casos dos citados problemas, e ressaltou que todos foram julgados
individualmente sem uma base regulatória mais formal e, portanto, se fazia necessário a nova
regulamentação.NareferidaNotaTécnica,destacou-seacomplexidadedadinâmicadeobtençãodoCMOe,
consequentemente, do PLD, tendo em vista a extensa gama de dados e informações necessários,
provenientesdasmaisvariadasfontes.
ANotaTécnicanº044/2013-SRG-SEM/ANEEL,de11/07/2013,realizouaanálisedascontribuiçõeseoponto
que chama a atenção é que a grandemaioria (11 dentre os 15 - ABEEólica, ABIAPE, ABRACE, ABRACEEL,
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ABRAGE,ABRAGEF,ANACE,APINE,CEMIG,EDPeNEOENERGIA)opinoucontraapráticaderepublicaçãoe
algunsoutrospropuseramapenascorreçõesnotexto.
AquelescontráriosaqualquerrepublicaçãomanifestaramqueumaalteraçãodoPLDjápublicado(i)fereo
princípiodasegurançajurídica;(ii)provocaefeitosnegativosparaomercadomesmoserealizadaantesda
sua respectiva contabilização; (iii) altera a posição de todos os agentes de mercado; (iv) altera os
faturamentosjárealizados;(v)geraumpotencialaumentodonívelglobaldeinadimplemento;(vi)ferea
Leinº10.848/2004,umavezqueoPLDdeverefletirodespachofísicodasusinas;e(vii)aumentaovalor
doEncargodeServiçosdoSistema(ESS)porrestriçãoelétrica.
Apesar da recomendação da Procuradoria Geral e da extensa negação do mercado ao objeto da AP
035/2013, a ANEEL manteve sua posição e defendeu os mesmos princípios originais da proposta de
regulamentação,comalgumasprecauções (limitenarepublicação)eemitiuaResoluçãoNormativaANEEL
nº568/2013comanormapararepublicaçãodoPLD.
OspontosmaisimportantesestabelecidospelaRENANEELnº568/2013são:
• ArepublicaçãodovalordoPLDpelaCCEEdeveráserefetuadanahipótesedeocorreraidentificação
dosseguinteserros:i)nainserçãodedados;ii)nocódigofonteemqualquerprogramadacadeiade
modelos;ouiii)narepresentaçãodequalquercomponentedosistema.Aidentificaçãodequalquer
desteserrosdeverá ser informadadiretamenteàANEEL, sendoqueaCCEEeoONSdeverão,em
conjunto, apresentar àANEEL relatório contendoo apontamento das falhas relacionadas ao erro,
juntamente com as propostas de ação demelhorias, no prazo de até 30 (trinta) dias a contar da
identificaçãodoerro.
• ARepublicação do PLD se dará apenas para diferenças entre o novo preço e o preço original for
maiordoque10%doPLDmínimovigenteeteráefeitoapenasnassemanasoperativasdomêsatéa
divulgaçãodocálculoaportedegarantiasfinanceirasqueocorrenodécimosegundodiaútildomês
seguinteaoqueserácontabilizado.Paraoanode2017oPLDmínimofoifixadoemR$33,68/MWh,
de modo que apenas as variações de PLD superiores a R$3,37/MWh podem resultar em
republicação.
• Secomprovadodolodeumdosagentesenvolvidos,arepublicaçãopoderáocorrerematé12meses
dadatadesuaautorização.
Em14dedezembrode2016aANEEL,pormeiodoDespachoSRG/ANEELnº3.280/2016,determinouo
recálculo e a republicação do PLD do mês de novembro e das três primeiras semanas operativas de
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dezembro, em razão de um erro de cálculo causado por duplicidade de informações incorporadas à
composiçãodavariávelcarga,apesardaCCEEedoONSteremmanifestadoposiçãocontráriaàrepublicação.
AANEELentendeuqueosdesviosapontadospoderiamserconsideradoscomoerrona inserçãodedados,
queensejariaarepublicaçãodoPLDdassemanasoperativasdenovembroedezembrode2016,entretanto
houve questionamentos por parte dos agentes de que tais correções se tratavam de aprimoramento
metodológicoparaconsolidaçãodosdadosentreasinstituiçõesenãodeerronainserção,peloONS,dos
dados disponíveis e dessa forma não deveriam suscitar a republicação do PLD. A CCEE e oONS
enviaramem13 de dezembro de 2016 CartaONS 1704/100/2016, detalhandoosmotivos dos desvios e
acentuaramanecessidadedeampladiscussãoacercadosrequisitosregulatórioscaracterizadoresdeerro
dequetrataoart.2º,I,daRENnº586/2013.
Emdezembrode2016aABRACEEL,eaAssociaçãodaIndústriadeCogeraçãodeEnergia(COGEN),aUnião
da IndústriadeCanadeAçúcar (ÚNICA) solicitaramaaberturadenovaAudiênciaPúblicapara revisãodo
processoderepublicaçãodoPLDdefinidonaRENANEELnº568/2013.
Emfevereirode2017,oFórumdasAssociaçõesdoSetorElétrico(FASE)encaminhoucartaconjuntade12
associaçõesdeagentesdoSetor(ABAQUE,ABIAPE,ABRAGE,ABRACEEL,ANACE,ABRAGET,COGEN,APINE,
ABEEÓLICA,ÚNICA,ABRAPCH,ABDAN)solicitandotambémaaberturadenovaAudiênciaPúblicaparatratar
dotemaempauta.
Conformepodeservisto,houveinúmerasmanifestaçõesdosagenteseentidadessetoriaissolicitandoque
o PLD não seja republicado em virtude de correções nos parâmetros e dados de entrada, visto que as
decisõesoperativasecomerciais jáforamtomadas,equetalmedidaimpactaosresultadosdosagentes
no MCP, amplia sobremaneira os riscos dos agentes de forma não previsível e não gerenciável,
impactandoasposiçõesdosagenteseasegurançafinanceirae jurídicanoâmbitodaCCEE,elevandoos
riscosdejudicializaçãoeospreçosdaenergiaaoconsumidorfinal.
Emmaio de 2017 a ANEEL instaurouAudiência Pública (AP ANEEL nº 25/2017) como objetivo de colher
subsídioseinformaçõesparaoaprimoramentodapropostareferenteàrevisãodaResoluçãoNormativanº
568/13até3de julhode2007.Napropostade revisãodanorma,aANEEL sugerequeo referido critério
seria revisto de forma que as republicações passassem a ocorrer para os casos em que a diferença, em
módulo,entreoPLDrecalculadoeoseuvalororiginalfossesuperiora30%dovalordoPLDmínimoeque
paraminimizaraocorrênciadeerrosnoprocessodeelaboraçãoPMO,quesejaadotadoumprocedimento
de divulgação do arquivo de dados preliminares, disponibilizado até o terceiro dia útil que antecede a
reuniãodoPMO,paraminimizaraocorrênciadeerrosnoprocessodeelaboraçãododeckdedados.Além
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disso, está prevista a implantação de plataforma virtual relacionada ao PMO e suas revisões, com
participaçãodoONS,CCEE,ANEEL,MME, EPEparadirimirdúvidasquantoaosdadosdeentradaa serem
consideradosnosmodelosdecurtoemédioprazo.
ApesardasmanifestaçõesaANEELsinalizanaAP25/2017quecontinuaráconsiderandoapossibilidadede
republicação do PLD, alterando basicamente os limites para republicação dos preços, ou seja, apenas as
variaçõesdePLDsuperioresa10,11R$/MWhpoderiamresultaremrepublicação.
Em29dejunhode2017aANEELrealizoureuniãopresencialnoâmbitodaAP25/2017,sendounânimeo
entendimentodetodososexpositoresqueaprevisibilidadeetransparênciadosdados,dosprocessose
dasmetodologiasutilizadasno cálculodoPLD sãoessenciaisparaobom funcionamentodomercadoe
paraatraçãodeinvestimentos,equeaalteraçãoretroativadoPLDtrazinúmerosimpactosindesejadosàs
diversas classes de agentes do mercado e a comercialização de energia como um todo especialmente
quantoaoaumentoda instabilidade,dapercepçãoeprecificaçãode riscoedoscustosde transaçãodo
setor,impactandoastarifasdeenergiaecontribuindoparaoaumentodainflaçãodopaís.
AseçãoseguinteanalisaosimpactosfinanceirosdecorrentesdarepublicaçãodoPLDapartirde2013.
1.4.2. HistóricodasRepublicações
ApósaRENANEELnº568/2013,foramrealizados16casosderepublicação,conformeapresentaaFigura3.
Em2012a republicação foi suspensadevidoaos recursos interpostospelaABRACEELeAPINE. Conforme
pode ser visto, não houvemudança significativa no número de casos de republicação de PLD a partir da
publicaçãodaRENANEELnº568/2013.
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Figura3-RepublicaçõesdoPLDanteseapósaRENANEELnº568/13–(2008-2017)
AsFiguras4a7apresentamasvariaçõesdospreçosrepublicadoscomrelaçãoaospreçosoriginais,apartir
de2013,apósapublicaçãodaRENANEELnº568/13.Paraosmesesdenovembroedezembrode2016a
profundidade dos impactos da republicação do PLD chegou a 62,12 R$/MWh ocasionando impactos na
ordemde2,5bilhõesdereaisapenasnoMCP.
Figura4–VariaçãodarepublicaçãodoPLDnosubmercadoSudeste/Centro-OesteemR$/MWh
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Figura5–VariaçãodarepublicaçãodoPLDnosubmercadoSulemR$/MWh
Figura6–VariaçãodarepublicaçãodoPLDnosubmercadoNordesteemR$/MWh
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Figura7–VariaçãodarepublicaçãodoPLDnosubmercadoNorteemR$/MWh
1.4.3. Impactoaosagentes:ProblemadaRepublicação
As recentes republicações do PLD foram motivadas por revisões metodológicas na previsão de carga
(interpretada como erro pela ANEEL), imprecisões em arquivos de entrada (erros de dados, erros na
representação de novas funcionalidades nos modelos), os quais trouxeram fortes impactos a diversos
agentesdosetor.
O fato é que a origem da formação do PLD, a cerca de 20 anos atrás, decorreu da utilização do custo
marginal deoperação (CMO)provenientedo resultadodaotimizaçãodaoperaçãodo sistemaa cargodo
ONS. O conceito é simples, pois se atualmente o sistema brasileiro opera com o despacho centralizado
baseado em modelos matemáticos, no ponto ótimo o CMO indica o custo de utilização do próximo
acréscimo marginal de energia. Portanto, uma vez definido ponto de operação, o CMO e o PLD é uma
simplesdecorrênciadocálculo.
Entretanto,aoperaçãojárealizadanãopode,obviamente,serrevista,masarepublicaçãodoPLDseinsere
numcenáriodivergentedeste.Asdecisõesjáforamtomadassobumcenário,porémasconsequênciasestão
sendo sentidas em outro, como por exemplo, o combustível das térmicas já foi gasto e pago. Ou seja, o
passadoéincerto,oqueinduzaumamaiorpercepçãoderiscoporpartedosagentesdemercado.
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ArepublicaçãodoPLDestá inseridanacontabilização& liquidaçãodomercadodecurtoprazonaCCEE,e
reveroseuvalorimplicaque,deformasimétrica,unsganhameoutrosperdem,namesmaproporção.Ou
seja,nodebatedosagentesemcadarepublicaçãonãoseconsegueobterconsensodevidoàdiversidadede
impactos nos agente. A despeito destes efeitos conjunturais, do ponto de vista estrutural o mercado
reconhecequeestaéumaincertezadesnecessáriaaomodelobrasileiro.
Emresumo,asrepublicaçõesdoPLDtrazem,edeverãotrazerdiversostranstornosaosagentes,taiscomo:
• “Troca de mãos” de resultados no mercado de curto prazo, com decisões ocorrendo em um
cenárioeimpactoscomerciaisemoutro;
• Prejuízos para diversos agentes, como geradores termelétricos que tomaram decisões de
despachoemumcenário,compraramcombustíveis,disponibilizaramsuageração,eagoraarcam
comumprejuízonomercadodecurtoprazoque,seoPLD“real” fosseconhecido,nãoateriam
tomado;
• Sinais confusosparaos consumidores cativos jáquea regulaçãoadotao sistemade “Bandeiras
Tarifárias”baseadonoPLD;
• Potencialdenovasjudicializaçõesnosetorelétriconacional.
1.5. AvaliaçãodosImpactosFinanceirosDecorrentesdaRepublicaçãodoPLD
Para avaliar os impactos financeiros causados pelas republicações do PLD foram utilizados dados
disponibilizadospelaCCEErelacionadosaohistóricodasoperaçõesnoMCP.
Osdadosforamorganizadosconsiderandoassemanasemqueocorreramasrepublicações,confrontandoos
valores novos e anteriores de PLD. Os resultados consolidados mensais e anuais são apresentados nas
Tabela1respectivamente.
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Tabela1-CálculodoimpactomensalnoMCPresultantedarepublicaçãodoPLD
Tabela2-CálculodoimpactoresultantedarepublicaçãodoPLDconsolidadoporano
Comonotadonosresultadosobtidoseanteriormentedispostos,até2015asrepublicaçõesdePLDgeravam
diferenças financeiras cujosmontantes, apesar de não desprezíveis, não causavam grandes impactos nas
posiçõesdosagentes,quandocomparadosaosprovocadosaofinalde2016.Ouseja,apesardeserumrisco
existente no mercado brasileiro mesmo após a publicação da Resolução Normativa n° 568/2013, seu
impactonão chegava a ser um riscoque causavaprecificaçãodos contratos para contornar os potenciais
efeitoscausados.
Essarealidademudoudepatamarcomaidentificaçãodoerrodemodelagemdacargaem2016,quegerou
as revisões – e consequentes republicações dos valores de PLD – para omês de novembro e dezembro.
Como visto anteriormente, somente essa medida causou um impacto nas operações de curto prazo de
aproximadamenteR$1,8bilhãoeR$700milhõesnos referidosmeses, respectivamente.Consolidandoo
valorfechadodoano,oimpactoalcançoucifrasdaordemdeR$2,5bilhões.
Data Rep.PLD? DiferençaentrePLDsrep. Data Rep.PLD? DiferençaentrePLDsrep.jan/13 NÃO -R$ jan/15 NÃO -R$fev/13 NÃO -R$ fev/15 NÃO -R$mar/13 NÃO -R$ mar/15 NÃO -R$abr/13 NÃO -R$ abr/15 NÃO -R$mai/13 NÃO -R$ mai/15 NÃO -R$jun/13 NÃO -R$ jun/15 SIM 94.393.585,25R$jul/13 NÃO -R$ jul/15 SIM 20.603.389,30R$ago/13 SIM 1.613.380,45R$ ago/15 NÃO -R$set/13 SIM 10.680.739,48R$ set/15 NÃO -R$out/13 SIM 21.055.149,45-R$ out/15 NÃO -R$nov/13 SIM 8.306.480,44-R$ nov/15 NÃO -R$dez/13 SIM 9.748.785,57-R$ dez/15 NÃO -R$jan/14 NÃO -R$ jan/16 NÃO -R$fev/14 NÃO -R$ fev/16 NÃO -R$mar/14 NÃO -R$ mar/16 SIM 21.489.789,27-R$abr/14 NÃO -R$ abr/16 SIM 3.973.096,69-R$mai/14 SIM 432.192,47-R$ mai/16 NÃO -R$jun/14 SIM 3.163.954,02-R$ jun/16 NÃO -R$jul/14 SIM 3.627.931,94-R$ jul/16 NÃO -R$ago/14 NÃO -R$ ago/16 NÃO -R$set/14 NÃO -R$ set/16 SIM 61.524.326,99R$out/14 NÃO -R$ out/16 NÃO -R$nov/14 NÃO -R$ nov/16 SIM 1.788.862.668,49-R$dez/14 NÃO -R$ dez/16 SIM 722.681.729,25-R$
Ano ImpactoRepublicação(R$Milhões)2013 26,8-R$2014 7,2-R$2015 115,0R$2016 2.475,5-R$
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Paraefeitodecomparação,ocustodedespachoporsegurançaenergéticaem2016foideaproximadamente
R$2,3bilhões, segundodadosdaCCEE. Demonstrandoemoutraspalavras,queas republicaçõesdoPLD
criaramumaexposiçãoderisconadimensãodepagarduasvezesporumencargosetorial.
Valetambémressaltarqueemnovembroeemdezembrode2016haviaregistradonaCCEEcercade11.500
contratos do ACL, que como ilustrado na Figura 8, o número de contratos está aumentando. Se
considerarmosquecercade20%sãocontratosdecurtoprazoedependemfortementedoPLD,estima-se
quemaisde2.000contrataçõesforamdiretamenteafetadas,semcontarosdemaiscontratosquetambém
foramnegociadosconsiderandoasexpectativasdePLD.Alémdos impactosfinanceirosdiretos,existemos
impactosfinanceirosindiretosenvolvidosnorefaturamentodoscontratosbilaterais.
Figura8–CrescimentodasTransaçõesnoACL–2016
1.6. PrecificaçãodoRiscodeRepublicação
Apresentados osmontantes financeiros noMCP resultantes da republicação, o estudo avança no sentido
estimarapercepçãoqueosagentesdemercado incorporariamaospreçosdeenergiapraticadosdevidoa
essaelevaçãonorisco.
Écertoqueapercepçãoderiscofazcomqueosagentesnumaaçãoracionalincorporemumacompensação
nosseuspreçosdoscontratos.ComoospreçosdoMCPsãorecalculadossemanalmente,comaregulação
vigenteasrepublicaçõescriamumajanelamóvelentreotempopresenteealiquidação/aportedegarantias
futuro.Portanto,arepublicaçãodoPLDéumajanelacontínuaderiscosparaosagentes.
Destaforma,qualqueragentedomercadodeveincorporaresteriscoemseuspreçosdecompraedevenda,
independenteseasrepublicaçõespodemterefeitopositivoounegativoemseusresultados.
Aprecificaçãodesteriscoésimilaraocálculodopremiodeum“seguro”atravésdasestatísticasverificadas
dos eventos que se deve proteger com o “seguro”. Lembrando que, não é uma estatística simples de
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ocorrências,massimumacondicionadaàocorrênciadoseventos(“sinistros”)quenãosãotãofrequentes,
porémpodemterumimpactograndenomercado(“estatísticadeextremos”).
Oestudooraapresentadoprocura identificarqualseriaadistribuiçãodeprobabilidadeeamagnitudedos
eventos,relacionandoocustodemajorarospreços/contratospraticadospelosagentesdeformaaatenuar
aexposiçãodesterisco.
Para fins de tratamento dos dados foram analisados os pontos relacionados aos desvios quanto ao PLD
Original e PLD Recalculado com objetivo de identificar a melhor forma de distribuição de probabilidade
atravésdosdadosverificadosdejaneirode2013atédezembro2016.
Aanáliseestatísticaresultouem29casosderecálculosemanal,quemontamos15casosmensaisdecálculo
mensaldoPLDinformadopelaANEELparaoperíodo.Aseguirépossívelidentificaronúmerodeocorrências
doscasos(frequência)eavariaçãodosdesviosemqueorecálculoocorreu.
Através do diagrama de Pareto1 é possível identificar o grau de ocorrência da maior para a menor ao
permitir priorizar os recálculos do PLD pelos desvios apresentados em relação ao PLD Original e o
Recalculadoparaoperíodoanalisado.AFigura9aseguir,demonstraodiagramacomobjetivodedestacar
que,avariaçãodosimpactosdosmaisrelevantesaodemenorimpactofinanceiroaumentaapercepçãodo
riscodiantedasrecorrentesesucessivasrepublicaçõesdevaloresrelacionadosaoPLD.
Figura9–DiagramadePareto:consideraasrepublicaçõessemanaisentrejan/2013atédez/2016
1A“LeidaEficiênciadePareto”éumaproposiçãodevidaaoengenheiroeeconomista franco-italianoVilfredoFredericoDamasoPareto,publicadaem1897,emseulivro“Coursd`ÉconomiePolitique,equepassouaserconhecidocomoo“ÓTIMODEPARETO”.MasaformulaçãomatemáticadoequilíbrioParetianofoipublicadoemartigodaGiornaledegliEconomisti,em1906eexpandidonoAnexodolivroManualediEconomiaPolítica.
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ConformesepodeobservarnaFigura9,dos29pontosanalisados,19pontos(colunaverde)encontram-se
situadosentreosdesviosde -9,7a16,30R$/MWhentreoPLDOriginaleoPLDRepublicadoao longodo
períodoanalisado.
Conformediagramaabaixo(
Figura10)épossívelidentificarque7ocorrências(colunavermelha)foramasmaisrelevanteseimpactaram
diretamente nos desvios apresentados, sendo sua variação entre – 61,70 e -35,70 R$/MWh entre o PLD
OriginaleoPLDRepublicado.
Figura10–DiagramadePareto:consideraasrepublicaçõessemanaisentreNov/16atédez/2016
Demonstra-se, portanto, que a concentração de um impacto relevante afeta diretamente o aumento do
número de probabilidade e introduz risco evidente quanto ao tratamento estocástico. Dessa forma, um
grupoisoladoquantoaorecálculodoPLDafetoudeformasignificativaoperíodotemporalfuturoquantoàs
tomadasdedecisõesdehoje,calcadassobrepreçosfuturosdeenergia,lastreadosasvariaçõesdospreços
deliquidaçãodasdiferençasprevistosparaoperíododocontrato.
TaisdecisõesafetamadefiniçãodosvaloresemreaisemadiçãoaoPLD,umavezqueamargem(“spread”)
sobre o contrato é definido no momento atual diante aos valores publicados oficialmente e inferem ao
agente sua avaliação aos critérios e impactos nos preços de energia que o levaram a estabelecer seu
contratodeenergiaparaohorizontecontratualaserdefinido.
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Aqui é importante destacar que atualmente 20% dos contratos no ambiente de contratação livre são
negociados em até 1 a 2 anos de duração, sendo o giro dos contratos cerca de 2.5 vezes no mercado
Brasileiro,istoé,“oquantoocontratotrocademãonomercado”.
Obtidaafrequênciaearelevânciadosdadosemanálisefoipossívelaplicaradistribuiçãodeprobabilidade
para identificarasflutuaçõeseavariabilidadequeestãopresentesnasobservaçõesdospontosquantoao
recálculodoPLDcomobjetivodemensuraroerrointrínsecoquantoàrepublicaçãodoPLD.
Aanáliseidentifica,portanto,ocomportamentoaleatóriodas9republicações(
Figura10)aonãoconsiderarseuefeitocomasrepublicaçõespassadasesuarelevânciaaoconsiderartodoo
períododerepublicações.Adistribuiçãodeprobabilidademodelatais influenciasepermiteoencontrode
doistiposdedistribuiçõesdeprobabilidadeadaptadasaoimpactodasrepublicaçõesrelacionadasaosseus
diversosmotivos.
Assim, para todas as semanas em que houve a republicação do PLD, foram tratados seus desvios
estatisticamenteafimdeidentificarquaismelhoresdistribuiçõesprobabilísticas,seadequariamaopadrão
históricodasocorrências.
Para a série histórica que compreende o período de 01/2013 a 09/2016, sem considerar os impactos
relevantes da republicação do PLD, as principais distribuições encontradas para os diversos submercados
foram Ext.Value. Min, Laplace e Uniform, sendo considerada a distribuição Logistic, como sendo a que
melhorcapturadosdesviosentreossubmercados.
Já para o caso com todos os pontos de recálculo amelhor distribuição considerada foi uma distribuição
triangular, onde os dados estatísticos das duas distribuições consideradas são destacados na Tabela 3 a
seguir.
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Tabela3–DesviosRecálculoPLD–MelhoresDistribuiçõesdeProbabilidadeEncontrada
A melhor distribuição de probabilidade encontrada para as republicações entre 01/2013 até 09/2016 é
demonstradanaFigura11.
Figura11-Distribuiçãocomdesviosconsiderandoasrepublicaçõesentre2013e09/2016
DesviosRepublicaçãodoPLD 01/2013até09/2016 01/2013até12/2016Média 0,70- 15,71- DistribuiçãodeProbabilidade Logistic Triangular
Mínimo 7,15- 71,00- Máximo 8,75 7,02 BestFit 0,62- 15,44- Moda 0,12 5,70 Mediana 0,39- 16,32- DesvPad 5,23 18,25 Assimetria 0,47- 0,56- Curtose 4,95 2,40 Xesquerdo -9,70 -53,72Pesquerdo 5,00% 5,00%Xdireito 6,97 4,53Pdireito 95,00% 95,00%Dif.X 16,67 58,23Dif.P 90,00% 90,00%Percentil1% 14,89- 63,26- Percentil5% 9,70- 53,71- Percentil10% 7,32- 46,54- Percentil15% 5,83- 41,05- Percentil20% 4,71- 36,42- Percentil25% 3,78- 32,33- Percentil30% 2,98- 28,64- Percentil35% 2,26- 25,25- Percentil40% 1,60- 22,09- Percentil45% 0,98- 19,13- Percentil50% 0,39- 16,32- Percentil55% 0,19 13,65- Percentil60% 0,77 11,10- Percentil65% 1,37 8,65- Percentil70% 2,00 6,30- Percentil75% 2,68 4,03- Percentil80% 3,43 1,83- Percentil85% 4,29 0,30 Percentil90% 5,37 2,40 Percentil95% 6,97 4,52 Percentil99% 10,11 6,35
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Aqui é importanteobservar queo ponto central da probabilidadededistribuiçãode 0,62R$/MWhneste
primeirocenárioéoriundodeumadistribuiçãosimétrica,muitoparecidoaodeumadistribuiçãonormalde
probabilidade,ondeaprobabilidadedeocorrênciaencontra-sedivididaemproporçõesiguaisparaambosos
ladosdosdesvios.
ConformeaFigura12aseguirqueapresentaadistribuiçãoacumulada,pode-seobservarqueaoconsiderar
opercentilde1%eopercentilde99%dadistribuiçãodeprobabilidadecalculada,queavariaçãoentreos
extremos é de aproximadamente 24,99 (-14,89; 10,11) R$/MWh. Abaixo, segue distribuição de
probabilidadedosdesviosdarepublicaçãodoPLDparatodasas republicaçõesaté12/2016noperíodode
01/2013até09/2016:
Figura12–ProbabilidadeAcumulado:DesvioMáximodasOcorrências:01/2013a09/2016
A melhor distribuição de probabilidade encontrada para as republicações entre 01/2013 até 12/2016 é
demonstradanaFigura13aseguir:
Figura13-Distribuiçãocomdesviosconsiderandotodasasrepublicaçõesentre2013e2016
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Observa-se, portanto, a alteraçãodo formatodedistribuiçãodeprobabilidadediante ao caso inicial, sem
considerar os recálculos relevantes de novembro e dezembro de 2016 (9 republicações) e que o ponto
centraldadistribuiçãodeprobabilidadeéde15,44R$/MWh,mudandoapercepçãodoriscocomrelaçãoao
nívelanterior,umavezqueseusvaloresapresentamcaudasdadistribuiçãocomvaloresdemasiadamente
distantesdascaudasencontradasnaprimeiradistribuiçãodeprobabilidade.
ConformeapresentadonaFigura14,pode-seobservarqueaoconsideraropercentilde1%eopercentilde
99%dadistribuiçãodeprobabilidadecalculada,queavariaçãoentreosextremosédeaproximadamente
24,99 (-14,89; 10,11) R$/MWh. A seguir pode ser vista a distribuição de probabilidade dos desvios da
republicaçãodoPLDparatodasasrepublicaçõesaté12/2016eoperíodode01/2013até09/2016:
Figura14–ProbabilidadeAcumulado:DesvioMáximodasOcorrências:01/2013até12/2016
O estudo procura identificar qual seria diferença entre os pontos “centrais” das distribuições de
probabilidadeencontradascomobjetivodeidentificarocustodemajorarospreçoscontratuaispraticados
pelos agentes de forma a atenuar a exposição deste risco. Na Figura 15 é apresentada a distribuição de
probabilidade dos desvios da republicação do PLD para o período de 01/2013 até 09/2016 e todas as
republicaçõesaté12/2016.Considerandooperíodoentre2013a setembrode2016oDesvioMédioéde
14,82R$/MWh.
Observa-se, portanto, que osmeses de novembro e dezembro de 2016, trouxerammaiores incertezas
quanto aos erros históricos de publicação e devido a sua relevância na tomada de decisão passaram a
partirdestemomentoaseremprecificadospelomercado,devidosuarelevânciaedesviosdepreços,que
em sua grande maioria ficaram ao redor de -61,7 a -34,7 R$/MWh a diferença do PLD por sua
republicação. Em outras palavras, o novo “sinistro” representado pela republicação do final de 2016
RecálculodoPLD:Novembroatédezembro2016–9pontosrelevantes
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tornounãosórealidadeanecessidadedeconsiderar“seguro”contraarepublicação,mastambémmudou
consideravelmenteomontantedo“premio”.
Figura15–DistribuiçãodeProbabilidade:janeirode2013adezembrode2016
Apesardebem-vindapelaexpectativadereduçãonoriscodonúmeroderepublicações,amodificaçãodos
limiaresde10%para30%doPLDmínimocomogatilhotrataapenasdoscasosdebaixoimpacto,masdeixa
inalteradooriscoquemaiscausadanosaosagentes,quesãoasocorrênciascomoaquelasentrenovembro
edezembrode2016.Pararealizaressaanáliseconsiderou-seaalocaçãoderiscosnocontextodaResolução
Normativan°568/2013.Emoutraspalavras,aREN568/13estabelecequearepublicaçãosóocorraquando
adiferençaentreonovoeoantigovalordePLDsuperavalorsuperiora10%doPLDmínimo.
Ao seavaliarodesviode2016de69,35R$/MWh, frenteaosgatilhospropostos, a soluçãopropostapela
ANEELéinócuapararesolveroproblema.Talefeitosóseriasanadoapenascomumpercentualsuperiora
100%doPLDmínimo(oquenãofazsentido)ouanãorepublicaçãodoPLDquerepresentaamelhoropção
vistoquenãoadicionaumfatorderiscoeprecificaçãoadicional.
Página32
1.7. ImpactonaInflaçãoeaoConsumidorFinaldeEnergia
AproteçãocontraarepublicaçãodoPLDmajoraospreçosfuturosdecontratosbilaterais,eaoseconsiderar
a tarifa média para “Indústria, Comércio e Serviços Públicos” em 2016 junto com o impacto da nova
proteçãonoscontratosdecurtoprazode14,82R$/MWh,talaumentocorrespondeacercade3,51%sobre
atarifamédiodoconsumidorfinaldeenergia,conformedemonstradonaTabela4aseguir.
Tabela4–ImpactodaProteçãocontraRepublicaçãonaInflação
Página33
1.8. Conclusãoerecomendações
OpresenterelatóriodemonstrouosimpactosepotenciaisganhosadvindosdarepublicaçãodoPLDdiantea
abertura daChamadapúblicaANEELnº 25/2017.O estudoevidenciou, através de embasamento técnico,
quearepublicaçãodoPLDimpactadiretamenteatomadadedecisãoquantoàdecisãocontratualdopreçoa
serconsiderado.
Assim, o ato regulatório da republicação do PLD traz uma percepção de risco ao mercado. Os agentes
vendedores,emumaaçãoracional,incorporamumaproteçãonospreçosdoscontratos–nomomentoatual
estimado em 15 R$/MWh. Este efeito atinge todos os consumidores com custos dependentes do PLD –
cativoselivres–ocasionandoumcustoadicionalnacompradeenergia,elevandoastarifasecausandoum
impactodesnecessárionainflaçãoemummomentodifícildoBrasil.
AscontribuiçõesdaThymosEnergianoâmbitodaAP25/17énosseguintespontosdescritosaseguir:
[1] EliminarapossibilidadederepublicaçãodoPLDdaregulaçãobrasileira;
[2] InclusãodeumperíododeverificaçãodosdadosantesdapublicaçãodoPLD–depuraçãopreventiva
pelomercadocomcorreçõesfuturas;
[3] AprimoramentodosprocedimentosderedeedemercadoqueafetamoPLD–corrigindoprocessos
maisfrágeisepoucodetalhadoscombasenosproblemasjáverificadoseoutrosfuturos–atravésde
um amplo esforço de uma nova base de testes e de homologação. Tais medidas poderiam ser
tratadas demodo análogo às tratativas propostas peloMME para as alterações excepcionais dos
dadosdeentrada(quesãoaquelasnãodecorrentesdeerros),vistoqueopróprioGTinstituídono
âmbito da CPAMP reconhece a importância de se utilizar a carência de ummês, para conferir a
previsibilidademínimanecessáriaaosagentes,paraquetenhamefeitosnaformaçãodepreçoena
definiçãodapolíticaoperativa.
1.9. REFERÊNCIAS
ANEEL:AGÊNCIANACIONALDEENERGIAELÉTRICA:DECRETOSERESOLUÇÕESASSOCIADOSÀGERAÇÃO,DISTRIBUIÇÃOEREAJUSTESTARIFÁRIOSDASDISTRIBUIDORASDEENERGIA
http://www.aneel.gov.br/
CCEE: CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA: RELATÓRIOS ANUAIS, DADOS DEINFOMERCADO,INFOLEILÃOERESULTADOSCONSOLIDADOSDOSLEILÕES
http://www.ccee.org.br/
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1.10. ExperiênciaProfissional
Aseguirestãolistadososcurrículosdosprofissionaisqueatuarameavaliaramdiretamentenosestudosena
elaboraçãodopresenterelatório.
JoãoCarlosdeOliveiraMello
Dr.MellotemtítulodeB.Sc.,M.Sc.,eD.Sc.emEngenhariaElétricapelaPontifíciaUniversidadeCatólicado
RiodeJaneiro(PUC/RJ)em1983,1988e1994,respectivamente.De1982a1989trabalhouparaMonasa
ConsultingeEngenhariaeThemag, grandesempresasde consultorianoBrasil.De1989a2000 trabalhou
para o Cepel, Centro Brasileiro de Pesquisa em Energia Elétrica. Dr. Mello foi envolvido com o
desenvolvimento de modelos computacionais para a eletricidade neste centro de pesquisa. Dr. Mello
também participou de vários Projetos de Reestruturação relacionados às atividades do Setor Elétrico
Brasileiro(RE-SEB)emmeadosde90.Em2000,tornou-sesóciodaAndrade&Canellas(A&C)etrabalhou
aténovembrode2001paraaASMAE(MercadoAtacadistadeEnergia),ondefoiAssistentedoPresidente.
FoiresponsávelpelospreçosdemercadodetodososprojetosepelaimplementaçãocoordenadadoMAE.
DepoisfoidiretordeA&Cresponsávelpelaconsultoriaegestãodeenergianomercadodeenergia.Em2006,
ele foi intitulado como CEO da A&C pelos outros parceiros. O Dr. Mello estabeleceu a Thymos Energia
Consulting em 2013 com novos parceiros do Setor Elétrico Brasileiro. A Thymos está agora em um alto
desempenhoereconhecidacomoumadasprincipaisestruturasdeconsultorianoBrasil.AThymostrabalha
com o âmbito do apoio técnico, regulatório e econômico-financeiro a todos os segmentos do mercado
energético. As principais atividades da Thymos são: gestão de clientes na ACL; Viabilidade técnica e
financeiradosprojetoscomavaliaçãoeregulatórioeeconômico-financeiradomercado;Apoioregulatório;
Avaliação de projetos deM&A, projetos de P&D; Avaliação de projetos de petróleo e gás natural; entre
outros.Dr.Melloesteveenvolvidocomarevisãodomodeloenergéticobrasileiroem2004.Eletambémé
autoreco-autordemaisde100artigosescritosparaempresasnacionaiseinternacionaiscomoCIGREeIEEE
Power Engineering. Participa também em arbitragens internacionais em Paris e Londres, assim como em
fórunsnacionais.
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RicardoSavoia
Ricardo Savoia é graduado em Administração de Empresas comMBA em Economia e Setor Financeiro e
Mestradoemenergiaelétrica.Trabalhoudurante10anos(1998–2008)naAESEletropaulopassandopelas
áreas de captação de recursos emmoeda nacional e estrangeira, relações com Investidores (RI), unidade
operacional ediretoriade comprae vendadeenergia. EstevenaA&Cde2008a2012 trabalhando como
responsável pela elaboração das projeções, cenários financeiros, análise crítica dos relatórios / processo
regulatório, e avaliação do planejamento nacional. Savoia utiliza ferramentas de gestão de análise
financeira;preparaplanosdecurto,médioe longoprazonoplanejamentoenergéticonacionale/regional;
prepara cenários de projeções de oferta e demanda de energia no médio e longo prazo, prepara de
projeçõesdetarifasepreçosdaenergia;seenvolveregularmenteemestudosderegulamentaçãoparaas
políticasdosetor,edesenvolveanálisederiscoemacarteiradecompraevendadeenergia.Savoiaésócio
daThymosEnergia.
EvelinaNeves
EvelinaNeves formou-se emEngenharia Elétrica, ênfase emEletrônica e Telecomunicações, e recebeuos
graus deMestre em Engenharia Elétrica e Doutorado em Física Computacional pela Universidade de São
Pauloem1995e2000,respectivamente,eMBAemRegulaçãodeMercadospelaFIPEem2016.De2000a
2015trabalhounomercadodeenergiaelétricabrasileironosseguintessetores:preçosdomercadodecurto
prazo, desenvolvimentoenovosprojetos, regras eprocedimentosde comercialização,monitoramentode
mercado, inteligência de mercado, desenvolvimento de mercado, e também apoiou o Conselho de
Administração na coordenação da assessoria técnica e econômica na CCEE. Evelina Neves se integrou à
equipedaThymosem2016comoconsultorasênior.
DiegoBarrazaAspeé
Engenheiro Eletricista, com ênfase em Eletrônica de Potência, pela UFMG. Entre 2012 e 2014 atuou na
EscherConsultoria&Engenhariana áreade revisão tarifária, emespecial naetapade tipologiade redes,
além de desenvolver softwares para consultoria em tarifas. Consultor desde Julho de 2015 na Thymos
Energia,atuandonaáreadeprojeçãodeofertaedemandadeenergia,análiseregulatória,procedimentos
arbitrais,auditoriadeRegrasdeComercializaçãodaCCEEeprojetosdePesquisa&Desenvolvimento.
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2. PARTEII–AVALIAÇÃOQUALITATIVADOSIMPACTOSDAREPUBLICAÇÃODOPLD
INFORMAÇÕESIMPORTANTES
AAssociação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) atua no segmento de energia, tendo
como objetivo principal defender a livre competição como instrumento de promoção da eficiência e
segurançadosabastecimentosnasáreasdeenergia,bemcomoincentivaramanutençãodeumambiente
de mercado adequado para a sua comercialização. A Thymos Energia (“Thymos”) é uma empresa de
consultoriaegestãodeenergiadegrandereconhecimentonomercado.FoicontratadapelaAbraceelparaa
elaboração de parecer independente, contemplando a avaliação dos impactos quantitativos na
comercialização de energia e da ampliação dos riscos decorrentes do histórico de republicação do PLD a
partir de 2013, quando da publicação da Resolução Normativa ANEEL nº 568/2013. Por sua vez, a
TendênciasConsultoria Integrada(“Tendências”) foi igualmentecontratadaparaaelaboraçãodaavaliação
econômicadesses impactos, realizandoumaanálisequalitativados impactoseconômicose financeirosde
republicaçõesdepreçosdeumbememqualquermercado.Ambosostrabalhossãointegradosemumúnico
documento,denominado“AVALIAÇÃODOSIMPACTOSQUANTITATIVOSEQUALITATIVOSDECORRENTESDA
REPUBLICAÇÃO DOS PREÇOS DE LIQUIDAÇÃO DAS DIFERENÇAS NA COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA”, de
responsabilidadedeambasasconsultorias.
TendênciasConsultoriaIntegrada
RuaEstadosUnidos,498JardimPaulista01427-000–SãoPaulo–SP
Telefone:551130523311Fax:551138849022
www.tendencias.com.br
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2.1 Introdução
EsteparecertemporobjetivoanalisarosimpactosnacomercializaçãodeenergiaedaampliaçãodosriscosdecorrentesdohistóricoderepublicaçãodoPreçodeLiquidaçãodasDiferenças(PLD)apartirde2010.
Otrabalhoécompostodeduaspartes:
1) avaliaçãoquantitativados impactos financeirosnacomercializaçãodeenergiaedaampliaçãodosriscos decorrentes do histórico de republicação do PLD a partir de 2010, elaborado pela ThymosEnergia;e
2) Avaliação qualitativa, abordando de forma conceitual os impactos econômicos e financeiros derepublicaçõesdepreçosdeumbememqualquermercadoelaboradopelaTendênciasConsultoria.
OobjetivofinaldotrabalhoésubsidiarasdiscussõesparaaprimoramentodanormapararepublicaçãodoPreçodeLiquidaçãodasDiferenças(PLD)queseencontraatualmenteemprocessodeAudiênciaPúblicanaAgência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Essa audiência (AP ANEEL nº 25/2017) tem o objetivo decolher subsídios e informações para o aprimoramento da proposta referente à revisão da ResoluçãoNormativanº568/13até3dejulhode2017.
ConformeotermodereferênciapreparadopelaThymos,noMercadodeCurtoPrazodeEnergiaElétrica,aCâmaradeComercializaçãodeEnergiaElétrica (CCEE) tempor finalidadeviabilizar suacomercializaçãonoSistema InterligadoNacional (SIN), tendo dentre outras, a atribuição de apurar o Preço de Liquidação deDiferenças(PLD)doMercadodeCurtoPrazo(MCP),emR$/MWh,calculadocombasenacadeiademodeloscomputacionais NEWAVE e DECOMP. Tais modelos também são utilizados pelo Operador Nacional doSistemaElétrico(ONS)naoperaçãodoSINepelaEmpresadePesquisaEnergética(EPE)noplanejamentodaexpansãodosistema.
Um dos problemas básicos que ocorre atualmente com essas normas é que a dinâmica de obtenção doCustoMarginal deOperação (CMO), peloONSpara determinaçãododespachooperativo, e do PLD, pelaCCEEparacontabilizaçãoeliquidaçãodoMCP,éumprocessopassíveldefalha.Issopodeocorrerporerronainserçãodedadosdeentrada,naadoçãodepremissasparaexecuçãodosmodeloscomputacionaisounaelaboraçãodocódigo-fontedosmodelos.
A republicação e a possibilidade de republicação do PLD geram enorme insegurança aos agentes demercado,prejudicandoasnegociaçõesereduzindosua liquidez,dadoqueoPLD jápodetersidoutilizadopelosagentesparasuasprópriasdecisõescomerciaiseparaaliquidaçãodoMCP.
Noentanto,aANEELvemdeterminandode formarecorrentea republicaçãodoPLDdevidoaerrosnosdadoseparâmetrosdosmodeloscomputacionais.
Em face dessa situação, diversas associações, representando as empresas que operam no setor, têmbuscadoaprimorarasegurançadomodeloregulatório,propondoquearepublicaçãodoPLDseja limitadaapenasaoscasosemquesejacomprovadodoloporpartedosagentesenvolvidosnoerro.
Esta parte do trabalho, referente à análise econômica e qualitativa, foi organizada em oito seções,começandoporesta Introdução.ASeção2.2descreveoconceitodePLD.AsSeções2.3e2.4elencamasconsequênciaseconômicasdaincerteza.ASeção2.5apresentaalgunsconceitoseconômicosfundamentais
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sobre a relevância dos contratos e dosmecanismos institucionais na economia. A Seção 2.6 descreve osmecanismos do preço de referência no mercado de energia em diversos países relevantes. A Seção 2.7descreve,paraefeitosdecomparação,osmecanismosdepreçodereferênciadecommoditiesvigentesnoBrasil.Porfim,asSeções2.8e2.9sintetizamnossasconclusões.
Página40
2.2 ConceitodePLD
OPreçodeLiquidaçãodasDiferenças(PLD)éopreçodaenergianomercadodecurtoprazo.Omercadodecurtoprazodeenergiasurgeporqueoscontratosdecompraevenda,geraçãoeconsumodeenergianãopossuemligaçãodiretaentresi.Acontecedeumausinagerarmaisoumenosenergiadoqueoprevistoemcontrato, o mesmo acontece com o consumidor que pode consumir uma quantidade diferente daincialmentecontratada.
Tais diferenças entre as quantidades contratadas e realizadas são liquidadas nomercado de curto prazo(MCP)eseusvaloresgeramcréditosoudébitosaosparticipantes.ACCEEéoórgãoresponsávelporcalcularadiferençaentreasquantidadesdeconsumoegeraçãodeenergiaregistradanosmedidoresdeenergiaenoscontratos,conformefiguraabaixo:
Figura 1. Mercadodeenergia
Fonte:Abraceel.Elaboração:Abraceel.
OMCPéliquidadoaopreçodeliquidaçãodasdiferenças(PLD)oupreçodeenergiadomercadospot.AssimoMCPmultiplicadopeloPLDgeraovaloremReaisqueumagenteiráreceberoupagar.
OPLDécomputadosemanalmentepelaCCEEpormeiodemodelosdeotimizaçãosofisticadosNEWAVEeDECOMP, cujo objetivo é estimar o custo marginal de operação (CMO). Todavia, o cálculo do PLD nemsempreéprecisoporcontadeerrosnaimputaçãodosdados,errosdocódigo-fonteouaindanaspremissasusadasnaexecuçãodosmodelos.Logo,asrepublicaçõesdoPLDsãofrequentes,oque juntamentecomaprópriaexpectativaderepublicaçõesgeraumelevadoníveldeinsegurançanomercado.
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2.3 Consequênciaseconômicasdaincerteza:panoramageral
Embora seja sempre difícil prever com exatidão variáveis econômicas, em alguns países ou setores deatividade este desafio pode ser maior ou menor. Uma característica de países desenvolvidos que osdistinguemdospaísesemdesenvolvimentoé, justamente,umamaiorfacilidadedeprevisãodaeconomia.Comumaprevisibilidademelhor,osindivíduosconseguemfazerplanejamentosdelongoprazoerespondercomprecisãoperguntascomoquantodinheiroénecessáriopouparparaconseguirseaposentarmantendoomesmopadrãodevidaouaindaqualaporcentagemgastadarendamensalcomalimentação.
Assim como as pessoas, as firmas também conseguem planejar commaior acurácia seu negócio, o quefacilitaatomadadedecisõesdecontrataçãodemão-de-obra,comprasde insumos, investimentosetc.Ouseja,amaiorprevisibilidadeeconômicaaumentaohorizontedeplanejamentodosagenteseconômicose,consequentemente,oslevaadecisõesmaisacertadasnopresente.
O exemplo brasileiro clássico de falta de previsibilidade prejudicando a economia foi o período dehiperinflação.Semsaberqualseriaopreçodosbensnomêsseguinte,asfamíliasfaziamtodosostiposdecompras logoapósopagamentodosalário,andavamcomamenorquantiapossíveldedinheironobolso,investiam em ativos reais etc. As firmas não conseguiam avaliar projetos de longo prazo, portanto, nãoinvestiam, não contratavam etc. Atitudes que, certamente, não ocorreriam em um ambiente comprevisibilidadedepreços.
Oqueateriaeconômicanosdizéqueoaumentodaincerteza,entendidacomoumamaiordificuldadedeprevisãodofuturofazcomqueosagenteseconômicos,tantofirmasquantoconsumidores,tomemsuasdecisões de forma mais cautelosa. Bernanke (1983)2 afirma que num ambiente de incerteza, as firmasadiamdecisõesdeinvestimentoedecontrataçãodemão-de-obra,porcontadanaturezairreversívele/oucustosas destas decisões. Demaneira análoga, Bloom (2009)3 alega que sob elevado grau de incerteza, adisposição das firmas de investirem e de contratarem mão-de-obra diminui, assim como se reduz apropensãodeconsumirdosagenteseconômicos.
Haddow et Al. (2013)4 exibempossíveis canais de transmissão da incerteza sobre a atividade econômica.Mostramque,nocurtoprazo,asfirmaspodemadiarinvestimentosecontrataçõesemtemposdeincerteza,oquepodelevaraumaquedadoestoquedecapitalnolongoprazo,retraindoaofertaagregada.Peloladoda demanda, diante de um aumento da incerteza, os consumidores aumentam poupança e reduzemconsumo,principalmentedebensduráveisquedependemdemaneiramaisdiretadaconfiançaedocrédito.Alémdisso, umaumentoda incertezapode retrair o créditoe reduzir opreçodos ativos via elevaçãodoprêmioderisco.
2BERNAKE,BENS.,Irreversibility,Uncertainty,andCyclicalInvestment,QuarterlyJournalofEconomics98(1):85–106,1983.
3BLOOM,NICHOLAS,TheImpactofUncertaintyShocks,Econometrica77(3):623-685,2009.
4HADDOW,A.,HARE,C.,HOOLEY,J.,SHAKIR,T.,‘Macroeconomicuncertainty:whatisit,howcanwemeasureitandwhydoesit
matter?’,BankofEnglandQuarterlyBulletin53(2):100–109,2013.
Página42
Costa-Filho (2014)5mostraquechoquesde incerteza são relevantesparaexplicaradinâmicadaatividadeeconômicatambémnoBrasil.Esteautorencontraquequantomaiorforoníveldeincertezamaioréaquedadaproduçãoindustrial,doíndiceIBC-BrcalculadopeloBancoCentraledaconfiançadoconsumidor.
DixitePindyck(1994)6mostramquenumcontextonoqualosinvestimentosdasfirmaspodemseradiadosmasqueumavezefetuadossãoirreversíveis,aopçãodeinvestimentotorna-secomoumaopçãodecompraexistente nomercado financeiro (call) e, consequentemente, a análise do Valor Presente Líquido de umprojetonãobastaparamapearadecisãodeinvestimentodafirma.Ovalordaopçãodeinvestimentoserátãomaiorquantomaiorforograudeincertezaquantoaospreçosfuturos(custodoprojeto)ouaograudeirreversibilidadedoinvestimento.Emoutraspalavras,quantomaisirreversívelforoinvestimentoequantomaiorograudeincertezaemrelaçãoaopreçofuturo,maioréaprobabilidadedeafirmaadiarasuadecisãode investimento. Segundo Dixit e Pindyck, independentemente se o grau de incerteza está no nível daindústriaounoníveldeumafirmaespecífica,osresultadossãosimilares.
Estadinâmicadaprevisibilidadeouafaltadelaesuasconsequênciassobreaeconomiaébastantedifundidaeaceita.Destaca-seafala7dopróprioMinistrodaFazenda,HenriqueMeirelles,naaberturadaLAAD,maiorfeiradeDefesadaAméricaLatina,em4deabrildesteano,quandoafirmaque:“OBrasilhojeofereceaomundocadavezmaisumaprevisibilidadeeconômicaepolítica.Comissoabrimosaportaparaaumentodoinvestimento.”
Emsuma,umaumentodaincertezaouelevaçãodaimprevisibilidadetrazefeitosdanososàeconomia,emúltima instânciaoProdutoInternoBruto(PIB)cai,odesempregoaumenta,oconsumocaietc.Portanto,aprevisibilidade é um atributo bastante desejável para um eficiente funcionamento dos mercados, de talmodo,quesedevebuscarmeiosquemitiguemaincertezaefavoreçamaprevisibilidadeemtodosasfacetasdaeconomia.
2.4 Consequênciaseconômicasdeincertezasnopreço
Oladodaoferta
Nestaseção,mostraremosemtermosteóricosocasoemqueafirmasedeparacomaincertezacomrelaçãoaopreçodobemqueela irávender,situaçãoanálogaaoqueocorrenomercadodeenergiabrasileiroemfunçãodarevisãodoPLD.
5COSTA-FILHO,E.A.IncertezaeAtividadeEconômicanoBrasil,EconomiaAplicada,18(3):421-453,2014.
6DIXIT,A.K.,PINDYCK,R.S.,InvestmentUnderUncertainty,NewJersey:PrincetonUniversityPress,1994.
7Informaçãodisponívelem:<
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2017/04/04/internas_economia,586010/meirelles-com-
previsibilidade-economica-pais-abre-porta-para-investi.shtml>,acesso27/06/2017.
Página43
OreconhecidotrabalhodeSandmon(1971)8analisaateoriadecompetiçãodafirmasobincertezadopreçodobemqueelairáofertar.Paratal,oautoradotaalgumashipótesesaomodeloteóricocomo:(1)adecisãodeproduçãodafirmaéanterioràdatadevendadoproduto,momentonoqualopreçoéconhecido;(2)ascrençasdafirmaemrelaçãoaopreçodoprodutosãodadasporumadistribuiçãodeprobabilidadesubjetiva;(3) a firma não possui poder de mercado, portanto, não tem poder para influenciar a distribuição deprobabilidadedopreço,oqueatorna,emúltimaanálise,tomadoradepreço;(4)afirmaéavessaaoriscoesegueumafunçãodeutilidadeVonNeumann-Morgenstern;(5)afunçãodeutilidadedafirmaécôncava.
Sobestashipóteses,tomandoomodelosimplesdemaximizaçãodolucroesperadodafirma,compara-seaquantidadeproduzidaemdoiscenáriosidênticosexcetopelaincertezacomrelaçãoaopreçodoproduto.Noprimeirocenário,opreçoédesconhecidoesegueumadistribuiçãodeprobabilidadecomesperançaiguala “P”. No segundo cenário, a firma conhece o preço e este é igual ao mesmo valor acima “P”. Nestecontexto,oautordemostraquequandoopreçoédesconhecido,afirmaproduzumaquantidadedebemmenor do que quando a firma conhece o preço. Este resultado coloca em evidência o efeito penoso daincertezasobreaeconomia.
Nocasodetodasasnfirmasdestaindústriaenfrentaremamesmaincertezacomrelaçãoaopreço,aofertaagregadadobememquestão irá cair.Consequentemente, tudoomais constante, isto implicaráemumaelevaçãodopreçodestebem.Portanto,aincertezacomrelaçãoaopreçoacarretanumaquedadeprodutoeumaelevaçãodepreço,oquesecaracterizaporumaperdadebem-estarparaasociedade.
Aplicando-seestateoriaparaomercadodeenergianoBrasil,asrevisõesdoPLDsãoafontegeradoradeincertezanopreçodeenergia, diantedisso, aquantidadedeenergiaofertadanestemercadoémenor,bemcomoopreçofinaldaenergiatambémémaiordoqueocorreriacasoestaregrafosseextinta.Assim,podemosconcluirqueasrevisõesdoPLDgeramumaquedadebem-estarparaasociedade.
Oladodademanda
A teoria econômica sobre escolha do consumidor sob incerteza afirma que os agentes são tipicamenteavessosaorisco,ecomotalpreferemumganhocertoaumganhoincertocomomesmovaloresperado.
Suponhaqueumagente tenha50%dechancedeganharAe50%dechancedeganharB, sendoB>AeamédiadeAeBéigualaC.Comoaincertezaéincômodaaoagente,eleprefereumganhocertoumpoucomenoraumganhoincertomaior.NocasodaFiguraabaixo,oagentepreferequalquerganhocertoentreDeC do que um ganho esperado incerto igual a C, sendo que um ganho certo igual a D deixa o agenteindiferenteaumganhoesperadoincertoigualaC,mesmocomD<C.
8SANDMO,AGNAR,OntheTheoryoftheCompetitiveFirmUnderPriceUncertainty,TheAmericanEconomicReview61(1):65–73,
1971.
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Figura 2. Osagentessãoavessosaorisco
Fonte:Varian,Hal9.Elaboração:Tendências.
Estateoriaéofundamentodomercadodeseguros.Suponhaqueumconsumidoravessoaoriscoconheçaapenas a distribuição de probabilidade do preço do bemque ele demanda (a qual possui valor esperadoigual a “P”) e, que ele não queira incorrer na incerteza do preço deste produto. Neste caso, ele podecontratar um seguro que lhe garanta que independentemente do valor do preço realizado do bem, elepagaráopreço“P”peloproduto.Nestecaso,emboraopreçopagopeloagenteporesteprodutotenhasido“P”,oseugastototalparaadquirirobemfoi“P”maisopreçodoseguro.
Assim,ocustodoseguroéocustogeradopelaincertezaemrelaçãoaopreço.Ouseja,estaéoutramaneiradeverqueopreçofinaldeummercadoondehá incertezacomrelaçãoaopreçodobemtransacionadoémaiordoqueoencontradonomesmomercadosemestaincerteza.
Noequilíbrio
Portanto,havendoumaincertezanopreçodobemtransacionado,tantoaofertaquantoademandadestebemserãomenores.
Trabalhosutilizandodadosbrasileiroscorroboramosresultadosencontradosnaliteraturainternacionalquedizem,grossomodo,queaelasticidade-preçodademandaporenergiaéinelástica.Nestesentido,podemoscitarModiano(1984)10,AndradeeLobão(1997)11eSchmidteLima(2004)12.
9HalR.Varian,MicroeconomiaPrincípiosBásicos:umaabordagemmoderna.7ºedição.Editora:Campus.
10MODIANO,E.M.Elasticidade-rendaepreçodademandadeenergiaelétricanoBrasil.Textoparadiscussãonº68,Departamentodeeconomia-PUC/RJ,1984.11ANDRADE,T.&LOBÃO,W.Elasticidade-rendaepreçodademandaresidencialdeenergiaelétricanoBrasil.Textoparadiscussão
nº489,RJ,IPEA,1997.
Página45
Istosignificaqueaelasticidade-preçodademandaporenergianoBrasilémenordoqueumemmódulo13,ouseja,ademandanãosereduznamesmaproporçãodoaumentodepreço.
Sobestahipótese,tudoomaisconstante,aquedadaofertageradapelaincertezaemrelaçãoaopreçodaenergia,implicaráemumaumentodopreçodaenergiaparaosconsumidores.
Portanto, a incerteza com relação ao preço do produto faz as quantidades ofertadas e demandasdiminuírem, assim o equilíbrio sob incerteza ficará aquém do nível ótimo, ou seja, a quantidadetransacionada de energia será menor do que a quantidade transacionada quando o preço do bem éconhecido.Alémdisso,assumindoqueademandaporenergiaéinelástica,provavelmente,aincertezadopreçodaenergialevaráaumequilíbriocompreçodeenergiamaior.Logoaincertezadepreçoéumfatordepressordaeconomia, levandoaumaquedadaatividadeeumaprovávelelevaçãodepreçosque,porsuavez,geramumaquedadobem-estardasociedade.
2.5 Aimportânciadoscontratosedosmecanismosinstitucionaisnaeconomia
Arelevânciadoscontratos
Namaioriadosmercadosnãohánecessidadedecontratos formaisentreosagentesparacoordenarumatransação.Quandooscompradoresevendedorespossuem informaçãocompleta,ouseja,elesconhecem,dentre outros fatores, o bem e seu preço, para que haja transação é necessário apenas que a utilidadegeradapelatransaçãosejapositivaparatodososagentes.
Todavia,segundoPolinskyeShavell(2007)14,quandoháumdescasamentotemporaldasaçõesdosagentes,é necessário que haja um contrato para assegurar as ações da contraparte. Os casos mais comuns quedemandamumcontratoparaqueomercadofuncionedemaneiracorretasão:
• Emsituaçõesemquehámúltiplosequilíbrios,asaçõesdosagentesprecisamsercoordenadas;
• Emtrocasquedependemdeeventosfuturos;
• Emcasosondeénecessárioqueosbenssejamproduzidosantecipadamenteàtroca.
Omercadodeenergiaébastantedependentedoscontratos,pois,porexemplo,aproduçãodaenergiapelageradoravaidependerdademandaex-anteacertadanoscontratos,assim,comodaquantidadedechuvasdoperíodoemfunçãodadependênciahidroelétricadamatrizenergéticabrasileira.
Osagentespretendemcelebrarumcontratoquesejaeficiente,ouseja,queconduzaaumasituaçãoótimanosentidodePareto(umagentesóconseguemelhorarsuasituação,seooutroagentetiversuasituação
12SCHMIDT,C.A. J.&LIMA,M.A.M.,ADemandaporEnergiaElétricanoBrasil,RevistaBrasileiradeEconomia,Riode Janeiro,
58(1):67-98,2004.
13Maisprecisamente,avariaçãopercentualdaquedadaquantidadedemandaemfunçãodoaumentodepreçodeenergia,émenor
emmódulodoqueavariaçãopercentualdopreço.
14POLINSKY,A.Mitchell;SHAVELL,Steven(Ed.).Handbookoflawandeconomics.Elsevier,2007.
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piorada,casocontrário,haveriaoutrocontratomelhorparaosagentes)equesejaindividualmenteracionalpara todos os agentes (caso contrário alguma parte recusaria a celebrar o contrato). Sendo assim, oscontratossãoinstituiçõescentraisparaobomfuncionamentodosmercados.
Afunçãodoscontratoséeliminar,ouaomenosmitigar,o riscoexistenteemdeterminadas transações.Em casos mais extremos, podemos afirmar que certos mercados nem existiriam se não houvessecontratos.
Todavia alguns contratos podem ser incompletos. Segundo Armando Castelar Pinheiro15, membro daDiretoria de Estudos Macroeconômicos do IPEA, “Dois elementos, implícitos ou explícitos, de qualquertransação são a previsão dos fatores de risco que podem impedir a sua realização conforme desejam aspartes e a definição de como asmesmas se ajustarão a essa ocorrência. Em tese, esses dois elementosdeveriamconstarexplicitamentedoscontratos,formaisouinformais,quesustentamcadatransação.Masoscontratossão,emgeral, incompletos,sejaporqueaspartespodem, inadvertidamente,esquecerde incluiralgumacontingência,sejaporque,propositalmente,sedecidenãoespecificartodasaspossibilidadesfuturasnocontrato.
Háváriasrazõesparaseredigircontratosincompletos:porexemplo,adificuldadedeprevertodasasfuturascontingências, a complexidade de especificar por escrito todas as regras que prevalecerão para cadacontingência que se possa prever, e a dificuldade de se observar e verificar a ocorrência de muitascontingências,paraquesepossadeterminarseasaçõescontratualmenteprevistasdevemsercolocadasemprática.Éracional,pois,nãotercontratoscompletos,aindaquehajariscosemdeixarumcontratomuitoemaberto.
Onívelótimodelacunascontratuaisdependerádosriscosedocustodetornarocontratomaiscompleto.Afunçãodanormaé,exatamente,reduziresserisco,semimplicarcustoselevados.Quandoanormaéclara,certa,previsívelecalculável,elacompletaoscontratos,namedidaemquedeterminacomoprocederemdiversas situações. Isso dispensa as partes demencionarem, explicitamente, essas situações no contrato.Assim,asegurançajurídicapermitequeaspartesreduzamoscustosdetransaçãoenvolvidosnanegociaçãoeelaboraçãodecontratos.”
Neste contexto, podemos interpretar a incerteza com relação ao valor do PLD um risco dentro docontrato, risco que é potencializado pela possibilidade de republicação do PLD. Este risco torna oscontratos no setor de energia no Brasil incompletos, o que muito provavelmente gera resultadoseconômicosineficientesdentrodestesetor.
TeoremadeCoase
Naliteraturadedireitoeeconomia,oconhecidoTeoremadeCoasenosdizqueconsiderandoumcontratobilateral no qual: (1) as partes são racionais com respeito a seus interesses pessoais; (2) as partes nãoincorrememcustosdetransaçãoparaqualquercontrato;(3)asutilidadesdaspartesemrelaçãoàalocaçãodebensreaisetransferênciasmonetáriaspodemsersomadaseseparáveis;entãoaalocaçãodosbensreaisdepoisdocontratoirámaximizarobem-estartotalindependentementedaalocaçãoinicialdosbensreais.
15Informaçãodisponívelem:<http://hdl.handle.net/11058/2700>,acessoem27/06/2017.
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Emoutraspalavras,sobcertascondições,independentementedaalocaçãoinicialdosbensreaisdaspartesenvolvidas,ocontratoseráomaiseficienteemtermoseconômicos,nalinguagemeconômica,seráPareto-eficiente.Esteteorematrazumaconsequênciaimportantíssimaparaateoriadoscontratos:
Assim,conformeoTeoremadeCoase,interferênciasourestriçõesnoscontratosfazemcomqueaspartesenvolvidasnãoconsigamaumentarobem-estartotal.Portanto,sobestashipóteses,casooobjetivosejaobem-estartotaldosenvolvidos,deve-sedarliberdadetotalàspartesparaadefiniçãodoscontratos.
Neste caso, fazendo a correspondência à republicação do PLD, podemos afirmar que esta regra é umainterferência dentro de contratos bilaterais, e caso as hipóteses do Teorema de Coase sejam atendidas,entãoestaregraderepublicaçãodoPLDpenalizaosagentesenvolvidosnatransação.Nestecenário,paraque um equilíbrio economicamente superior fosse alcançado, os agentes deveriam ter a liberdade deescolhaentreadotarounãoarepublicaçãodoPLD.
2.6 Preçodereferêncianomercadodeenergiaemdiversospaíses
Alemanha
Descriçãodomercadolivredeenergia
SeguindoDiretivadaUniãoEuropeia16,aAlemanhapromoveuamplareformaedesregulamentaçãodeseumercado tanto de energia elétrica quanto de gás, com o objetivo de aumentar a competição e, porconseguinte,reduziropreçodastarifasdeenergia.
Com a reforma, o preço da tarifa deixou de ser controlado (salvo em algumas exceções) e passou a serformadoamercado,pelainteraçãoentreofertaedemandadeenergia.
Olocusdeencontrodeofertantesedemandanteséumaespéciedebolsadevaloresnaqualsãonegociadoscontratosdecompraevendadeenergiaparaqueseatinjaoequilíbrioentreofertaedemanda,formando-seassimopreçodaenergiaquesinalizaescassezouabundânciadorecurso.
Preçosdereferênciadomercadospot
Conformeabordado,omercadodeenergianaAlemanhaécaracterizadopela livrenegociaçãodospreçosembolsa,comsubdivisõesporfontegeradoradeenergia.
Assim,opreçodomercadospotéformadoaolongodopregãoerefleteaofertaeademandadeenergiaaolongododia.Ao finaldasnegociações,opreçode referênciaparaodia seguinteé calculado levandoemconsideraçãotodososnegóciosrealizadoseaplicando-seumprocessodesuavizaçãoparaevitarqueoutliersinfluenciemdemaisospreços
16 16 Informação disponível em <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:31996L0092:EN:HTML>, acesso em
03/07/2017.
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Emsuma,opreçonomercadospotnestepaíséformadopelomercado,ouseja,éopontodeequilíbriodoprocessodeinteraçãolivreentreofertaedemandaporenergia.Assim,opreçodemercadoéresponsávelporindicarescassezouabundânciadeenergiadeacordocomafontegeradora.
Cálculodospreçosdereferência
Emnegociaçõescaracterizadascomomaispróximapossívelaumlivremercado,opreçodereferênciaparafins de contratos é calculado comparâmetros denegociaçãoobservados ao longododia, a dependerdovolumedenegociaçõeseordensdecompraouvenda,conformetabelaabaixo:
Tabela 1. Procedimento de definição de preço de referência EEX Situação CálculoHouvepelomenosumnegócio(eordensdecompra/venda)
PreçoTeóricodeFechamento=0,75x(PreçoMédiodasNegociações)+0,25x(PreçoMédiodasOfertasdeCompra/Venda)
Houvepelomenosumnegócio(masnãohouveordensdecompra/venda)
PreçoTeóricodeFechamento=PreçoMédiodasNegociações
Nãohouvenegócios,mashouveordens.
PreçoTeóricodeFechamento=PreçoMédiodasOfertasdeCompra/Venda
Nãohouvenegóciosnemordens.
Opreçodefechamentoteóricopodeserestabelecidobaseadonosdadosdeoutrasfontesdenegociaçãoouporprocedimentointerno.
Fonte:EEX17.Elaboração:Tendências.
Assim,oprópriomecanismodemercadoencarrega-sedecorrigiranomaliasdepreçosparaquesechegueaumvalorde referênciaao finaldasnegociações.Valoresmuitoaltosatrairãovendedorese valoresmuitobaixosatrairãocompradores,fazendocomqueopreçoconvirjaparaoseuvalordeequilíbrio,nãohavendoanecessidadederepublicaçõesdepreços.
Reajustesdospreçosdereferência
No mecanismo de formação de preço do mercado spot na Alemanha, não há a previsão explícita derepublicação do preço de referência ao final das negociações, pois o preço é formado nomercado, commecanismos de correçãobaseados emoferta e demanda.Assim, uma vez estabelecido, o preço spot é ovalorválidoparacobrançasqueutilizamessareferência.
Portanto,omercadoalemãoéoquemaisseaproximadoreferencialteóricodemercadoeficiente,aolevaremcontaofertaedemandanaformaçãodepreçoeaotomaropreçoformadoamercadocomoosinalizadormaiseficientedeescassez/abundância.
17Informaçãodisponívelem:https://www.eex.com/blob/61950/901173f518c73dbe63d31b146fcf6e50/settlement-pricing-
procedure-data.pdf>,acessoem02/07/2017.
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NovaZelândia
Descriçãodomercadolivredeenergia
ANovaZelândiafoiopaíspioneironaliberalizaçãodomercadodeenergiaelétrica,tendoadotadoinclusiveas regras mais rígidas em termos de separação dos negócios de geração, transmissão e distribuição deenergiaelétrica(estabelecidapeloEIRAde199818,masrelaxadaposteriormenteporreformaslegislativas).
Assim,foicriadoumamplomercadodeenergiaelétricalivre,noqualosagentespodemescolherlivrementedequemcomprameparaquemvendemenergia,oquetornaomercadoneozelandêsuminteressantecasode reformabem sucedida aodesenhar ummercado livre de energia elétrica com formaçãodepreçopormeiodeofertaedemanda.
Preçosdereferênciadomercadospot
Assim comonaAlemanha, a formaçãodepreçonaNova Zelândia também sedá amercado, porém comalgumasdiferenças importantesque trazemaosagentesnegociadores sinaisdeescassezeabundânciadeenergiaequebalizamasnegociações.
Paraefeitostantodenegociaçãoquantodecobrançadovalordaenergiaconsumida,existem4categoriasdepreçosquesãoformadostantopormodeloseaolongododiadenegociaçãoquantoapósageraçãoeoconsumo:
i. PrevisãodePreço–preçobaseadoemmodeloque levaemconsideraçãooestadodo sistemaelétrico,ofertasdeenergiadasgeradorasedemandadeenergia.Talpreçoépublicadoacada2horas,nãocabendorepublicaçãodetaispreçospelaaltafrequênciadesuapublicaçãoepeloseuusocomobalizadordovalordaenergia;
ii. PreçoProvisório–preçocalculadoapósaenergiagerada,sendoquepodehaveraindafaltadeinputs para seu cálculomais preciso. Porém, é amelhor estimativa de preço nomomento dageração;
iii. Preço Interino – no dia seguinte à geração de energia, o “pricing manager” publica o preçointerino que já leva em consideração possíveis correções com relação ao preço provisório. Opreço interino é publicado e serve como base para a cobrança de energia. Porém, osparticipantesdomercadopodemaindaquestionarseopreçointerinorefleterealmentetodasasmétricasnecessáriasparaseucálculo.
iv. PreçoFinal-somenteapósavalidaçãodopreçointerinopelosagentes,opreçofinalépublicado,confirmando o preço interino. Vale ressaltar que caso não haja manifestação por parte dosagentes,opreçointerinosetornarápreçofinalatéas14hdodiaseguinteàgeraçãodeenergia.
18http://www.legislation.govt.nz/act/public/1998/0088/latest/DLM428203.html
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Cálculodospreçosdereferência
Conformeosvaloresdescritosacima,ocálculodopreçodereferência(opreçofinal)segueumroteirobemdefinido e cabe aos participantes domercado a verificação da validade do preço interino para se tornarpreçofinal.
Reajustesdospreçosdereferência
Nãoháprevisãodereajustedopreço finalex-post.Umavezqueopreço interinose tornapreço finaleéutilizadoparacontratos,paracobranças,nãohaverárepublicaçãoouretroaçãodestepreçodereferência.
Assim,oprocessodeverificaçãoedetecçãodeerrosemparâmetrosouinputsquepossamafetaropreçofinal é feitoex-ante, eliminando assim a necessidade de republicação de preços finais que podem causaraumentodoriscoe,consequentemente,acarretarosproblemasemmercadoscommaiorincerteza.
Comrelaçãoaohistóricoderequerimentosderevisãodepreçosinterinosparasetornaremfinais,de2015amaiode2017houve13solicitaçõesderevisãodospreçosinterinos.Emtermosdefrequência,onúmerodesolicitações de revisão de preços interinos representa 1,5% dos 872 preços publicados como finais noperíodo,conformefiguraabaixo:
Figura 3. Solicitaçõesderevisãodepreçosinterinosepreçosfinaispublicados
Fonte:ElectricityAuthority19.Elaboração:Tendências.
Chamaaatençãoodadodeoutubrode2016,quando7dospreçosinterinosforamobjetodesolicitaçõesderevisão.Porém,somente2dessassolicitaçõesnãoforamresolvidasematé1diaútil,demonstrandoqueé
19 Informação disponível em: <https://www.ea.govt.nz/operations/market-operation-service-providers/nzx-monthly-reporting/>,
acessoem03/07/2017.
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aindamaisraraapublicaçãodepreçoscomgrandedefasagemnotempo,afimdeevitarqueimpactosdequebradaconfiançanosvalorespublicadosocorram.
EUA-Califórnia
Descriçãodomercadolivredeenergia
AssimcomonoscasosdeAlemanhaeNovaZelândia,aCalifórniatambémadotamecanismosdemercadoparaadeterminaçãodepreçosequantidadedeenergiaofertadaedemandadanaáreasujeitaasupervisãopelaCAISO,aoinvésdeummodelopurodecentralizaçãoemórgãoreguladordomercado.
Ofertantesedemandantesdeenergiaseencontramemumainterfacesemelhanteaumabolsadevalores,quecontacompreçosquevariamaolongodasnegociaçõessinalizandoescassezouabundânciadeenergia.
Preçosdereferênciadomercadospot
AssimcomonaAlemanhaenaNovaZelândia,opreçodereferênciadomercadospotédadopelarelaçãodeofertaedemanda,cabendoaosagentescaptaremossinaisqueospreçosindicamdeescassez/abundância.
Entretanto, para evitar grandes oscilações, erros ou poder demercado, ofertas de compra ou venda sãoanalisadasportestesparaenquadrá-lasemlimitespré-estabelecidos.
Assim,opreçoédefinidopelasofertasdecompraevenda,masdentrodelimitesestabelecidospormodelosdecálculosdecapacidadedegeraçãoetransmissão.
Cálculodospreçosdereferência
Parachegaraumpreçoparaodiaseguinte(Day-AheadPrice),énecessárioagregarasofertasdecompraevendadeenergia,alémdeenquadraraofertaeademandanacapacidadedosistema.
Comtalagregação,chega-seaopreçodereferênciaparaodiaseguinte.
Naturalmente,emagregaçõesdegrandevolumededadosdeofertasdecompraevenda,podemocorrererrosnocálculodospreçosquenecessitamderevisão.
Reajustesdospreçosdereferência
Nocasocaliforniano,existeapossibilidadedeopreçodereferênciaserrecalculadoerepublicadodevidoaerrosencontradosapósadivulgaçãodeseuvalor.
Apesar de a formação de preço se dar por mecanismos de mercado (ao invés de preços gerados emmodelos, comono caso brasileiro), ainda há riscos de que na consolidação dos negócios ao longo do diaocorraalgumerroe,casosejadetectadooerro,opreçofinalserrepublicado.
Entretanto, o processo para identificação de erros e recálculos dos valores deve ser célere e deve serrealizadonomáximoaté3diasúteisapósapublicaçãodopreçodereferência.
Talperíodojáfoimaior,de10diascorridosefoireduzidopara5diascorridosapartirde2010.Desde2014oprazo foiaindamaisabreviado,passandopara3diasúteis,minimizandoassimrecálculosdecontratosou
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compensações financeiras em negociações com tais preços de referência. Com correções mais céleres,menos contratosou compensações financeirasdevemser recalculados com republicações realizadasapósdetecçãodeerros.
Casooprazode3diasúteisexpire,ospreçosdivulgados inicialmenteserãoconsideradosospreçosfinais,nãocabendocorreção(anãoserporcontadedolo).
Assim, mesmo ao adotar ummecanismo de correção de erros dos preços de referência, ao estabelecerparâmetrosclarosecéleresparaavaliaçãoecorreçãodepossíveisequívocos,reduz-seoriscoadicionalderepublicaçãodepreçosegarante-sequecontratos realizadosutilizandopreçosde referêncianãoestejamsujeitosacorreçõesfrequentes.
Vale ressaltar que para o preço de referência tomado como exemplo o Day-Ahead Price, não houverepublicação de seu valor nos últimos 2 anos, de acordo com os relatórios mensais da CAISO20 para osmercadosdeDay-AheadIFM(IntegratedForwardMarket)eDay-AheadRUC(ResidualUnitCommitment).
Ouseja,apesardecontarcomummecanismodefinidodecorreçãodepreçosdereferênciajápublicadosede reduzir o escopopara eventual publicação ao encurtar o períodode tempopara queos preços sejamrevistoserepublicados(para3diasúteis),nãohouveanecessidadederepublicaçãonoperíodorecente,oquereduzoriscopercebidopelosagentesetornaomercadomaiseficiente.
Comparaçãoentreocasobrasileiroedospaísescitadosanteriormente
Os casos analisados acima de formação e publicação de preços de referência indicam que as melhorespráticasinternacionais–advindasdosmercadosmaisdesenvolvidosdeenergialivre-seguemnadireçãodanão republicação de preços ou da redução cada vezmaior do prazo para revisão de preços interinos ourepublicaçãodepreçosdereferênciaquandohouvertalpossibilidade,comonosEUA(Califórnia).
Ocasobrasileirodomercadodeenergiaelétricademonstraincongruênciacomaspráticasdepublicaçãodepreços de referência em mercados de energia mais desenvolvidos. A prática de republicar o preço dereferência (PLD) materializa os problemas indicados pela teoria econômica: elevação do risco destemercado; redução do potencial de agentes participantes; diminuição da quantidade transacionada deenergiae,possivelmente,aumentodospreçospraticados.
Desde2015arepublicaçãodoPLDsedeudemaneirarelativamentefrequente,conformefiguraabaixo:
20Informação disponível em <https://www.caiso.com/Pages/documentsbygroup.aspx?GroupID=9DF0A550-503C-4A51-A5C7-
2AFD0AA8CB79>,acessoem03/07/1987.Foramconsideradoscomorepublicações,qualquereventoreportávelouinterrupçãodo
mercadocausadaporrevisãodepreçorelacionadosaomercadoDay-AheadIFMouRUC.
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Figura 4. RepublicaçõesdoPLD
Fonte:CCEE.Elaboração:Tendências.
No total, 12,8% dos preços de referência do Brasil foram republicados desde 2015. Em uma rápidacomparação com osmercados analisados, tal prática introduz um grande risco à precificação de energiapelosagentesqueutilizamoPLDcomoreferência.
Vale notar que o caso da Nova Zelândia indicou que somente 1,5% dos preços interinos foi alvo derequerimentos de revisão (o que não necessariamente implica em republicação de preços de referência),sendoesteum limite superiordepossíveis revisõesdepreços interinospara se tornarempreços finais.Oriscoderepublicaçãodepreçonomercadobrasileirofoi,portanto,nomínimooitovezesmaiorquenaNovaZelândiadesdeoiníciode2015.
2.7 PreçodereferênciadecommoditiesnoBrasil
Mercadofuturodecommodities
Assim como observado em mercados mais maduros de energia elétrica, diversas commodities têm seuspreçosformadosemnegociaçõesembolsadevalores.
Particularmente,contratosfuturoscomliquidaçãofinanceirasãomuitoutilizadosporagentesdemercadoparareduziraexposiçãoaoriscode flutuaçõesdepreçodeseusprodutos (hedge)eumbomdesenhodemercadocompoucosriscosaosmecanismosdeformaçãodepreçogarantemaliquidezdetaismercados.
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NoBrasil,omercadodecontratos futurosdecommoditiesébastantedesenvolvidoe conta comdiversosprodutosnegociadosembolsa(boigordo,soja,milho,etanol,café),comcotaçõesdiáriasquesãoutilizadasparaoestabelecimentodepreçosdereferência.
Preçosdeajustedomercadofuturo
A cada fechamento de pregão, caso um contrato futuro ainda esteja aberto, o cálculo de seu valor seráatualizado (bem como de outros valores referenciados em seu preço, como das margens de garantia),levandoemcontaopreçodeajuste(equivalenteaumpreçodereferência)paraaquelecontrato.
Ovalordopreçodeajustenoencerramentodeumpregãosedarápelafórmuladecálculoestabelecidapelabolsa,deacordocomparâmetrosdenegociaçãoobservadosaolongodopregão.
Assim, como a correção do valor de tais contratos futuros é feita diariamente utilizando um preço dereferênciaapósasnegociaçõesempregão,évitalqueocálculodospreçosdeajustessejaomaiscorretopossível,poiserrospodemimplicaremaportederecursosdesnecessários,minandoaconfiançanaspartes.
Cálculodospreçosdeajuste
BoiGordo
SeguindoosCritériosparaApuraçãodosPreçosdeAjustedaB321,ocálculodopreçodeajuste,porexemplo,paraumcontratofuturodeboigordoédadopelosseguintescritérios:
ContratoscomvencimentosatéOutubrode2017:
Preçosdeajusteapuradospelamédiaaritméticaponderadadosnegóciosrealizadosnosúltimos10minutosdenegociação,excluindoosnegóciosdiretosintencionais.
Soja
Ainda,ocálculodopreçodeajuste,porexemplo,paraumcontratofuturodesoja,serãoconsideradosnoperíododocalldefechamentoospreçose/ouofertas,conformeocritériodefinidoaseguir:
1) Seasomadoscontratosnegociadosemcadavencimentoforigualousuperiora5contratos,opreçoseráapuradocombasenamaximizaçãodaquantidadedecontratosfechados;
2) Paraosvencimentosemqueasomadoscontratosnegociadosfor inferiora5contratosouexistirapenasoferta(decomprae/ouvenda),serãoobservadosospreçosdeofertasemqueovolumedecontratosforigualousuperiora5contratos.
Assim,umavezencerradoopregãodenegociaçãodecontratosfuturosdecommodities,ospreçosdeajusteserãocalculadoutilizandooscritériosacimaexemplificadosparaboigordoesojaeserãopublicadospara
21Informaçãodisponívelem
http://www.bmfbovespa.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8AA8D0975C0EA94D015C6411E4C04D7B,acessoem
03/07/2017.
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efeitosdecálculodovalordoscontratosaoencerramentodecadapregão,dasmargensdegarantiaexigidasemcadacontrato,eparaopreçodeliquidaçãoquandodovencimentodocontrato.
Correçãodospreçosdeajuste
Umavezpublicadoopreçodeajuste,suacorreçãonãoestáexplicitamenteprevistanosmanuaisdaB3.
Comoospreços sãopublicadosomais rápidopossível apóso encerramentodopregãoe tomando comobaseoscontratosnegociados,osesforçossãodirecionadosparaminimizarerrosnapublicaçãodospreçosdeajuste,garantindoaeficiênciadomercadoeaconfiançadosagentesparticipantes.
Se houver algum erro de publicação do preço de ajuste, a correção é publicada imediatamente ou nomáximonodiaseguinteàsnegociações,paraqueseeviteretroaçãoeainserçãoderiscodere-precificaçãoemtodaacadeiadeativosqueutilizamopreçodeajustecomoreferência.
2.8 Quesitos
RepublicaçõesdoPLDimpactamosagenteseconômicos?
SegundoaNotaTécnicanº048/2017–SRG-SEM/ANEEL,asrepublicaçõesnãogerariamimpactosfinanceirosnoMercadodeCurtoPrazoe,portanto,nãoháoquesequantificarenemase identificarcomoagentesimpactados.Esteconceitoficaexplícitonosparágrafos44e68daNota,respectivamente,transcritosabaixo:
“O atual prazo para republicação (MS+12), data da divulgação do aporte de garantias, foiproposto inicialmentepelaCCEEparaquenãohouvesse riscode inadimplemento.Alémdisso,como essa data é anterior à contabilização e liquidação financeira, não ocorrem impactosfinanceiros noMercado de Curto Prazo,mas apenas frustrações de expectativas dos volumesfinanceirosaindanãotransacionados.”
“Porfim,conformecitadoanteriormente,comoarepublicaçãonãogeraimpactosfinanceirosnoMercadodeCurtoPrazo,observa-sequenãoháoquequantificar,nemrelacionarquaisagentesseriamimpactados.Portanto,nãocabemanálisesquantitativasparaaAIR.”
No entendimento da Tendências, conforme amplamente descrito anteriormente, a republicação do PLDimpactaasdecisõesdosagenteseconômicos,levandoaumequilíbrioinferioraoótimo.Istoocorremesmoquandonãoháefetivamenteumarepublicação,poissóofatodeexistirapossibilidadederepublicaçãodoPLDjáésuficienteparaqueosagentesatualizemsuasexpectativaseajamdeformaaminimizaresterisco.
OcasodaCalifórniaésemelhanteaocasobrasileiro?
Na Califórnia, a republicação do preço de referência da energia também é uma possibilidade, conformeparágrafo34daNotaTécnicanº048/2017–SRG-SEM/ANEEL:
“Otratamentodeerrosocorridosna formaçãodepreçonãoéumaexclusividadedomercadobrasileiro.Mesmo emmercadosmaduros, como nos Estados Unidos, por exemplo, na região
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operadaoperadosporISOs- IndependentSystemOperators,tambémháprocedimentos22paracorreçãodeerros.”
Todavia,comodemonstramosanteriormente,ocasodaCalifórniasedistanciadocasobrasileiroporadotarumadinâmicadedeterminaçãodepreçodemercado,enquantoquenoBrasilopreçoédeterminadopormodelos.Destaforma,emboraomecanismodemercadoaindasejapassíveldeerros,afrequênciacomqueocorremésignificativamentemenordoquequandoocálculoéviamodelos.
Alémdisso,opreçodereferênciaéválidoporumdia(Day-AheadPrice),enquantoquenoBrasiloPLDvaleparaumasemana.Umhorizontemenorparaopreçodereferênciatambémminimizaaschancesdeerro.
Todavia,casoumerrosejaencontrado,naCalifórniaoprazoparaacorreçãoédetrêsdiasúteis,enquantoquenoBrasilesteprocessopodesealongarporsemanas.
Todos estes fatores tornam os casos de republicação do preço de referência de energia no Brasil e naCalifórniaeventosbastantedistintos.
2.9 Conclusões
OpreçodereferênciadeenergiaelétricaspotnoBrasil(PLD)écalculadopelaCCEEcombasenacadeiademodeloscomputacionaisNEWAVEeDECOMP.Esteprocessopodeincorreremfalhas,sejamestasoriundasdepremissasadotadasnosmodeloscomputacionais,problemasnocódigo-fonteounaimputaçãodedados.
Atéopresentemomento,quandoumerroédetectado,oPLDé republicadoex-post as transações teremsidoacordadas,gerandoumelevadoníveldeincertezanomercadodeenergia.Diantedoexposto,aANEELabriuaConsultaPúblicanº25/2017,paradebateresteprocesso.
Ateoriaeconômicaafirmaqueafaltadeprevisibilidadeéumfator inibidordosmercados,pois,diantedaincerteza os agentes se tornam mais cautelosos para investir, contratar mão-de-obra, ou mesmo, paraconsumir.TrabalhosrenomadoscomoBernanke(1983),Bloom(2009),DixitePindyck(1994)eHaddowetAl.(2013)provam,teoricamentee/ouempiricamente,estadinâmica.
Maisprecisamentesobreosefeitosdeincertezasdepreçosnastransações,Sandmon(1971)demonstraquequando uma firma produz um bem cujo preço é desconhecido, a firma decide produzir uma quantidademenordobememcomparaçãoaquandoestamesmafirmaconheceopreçodobem.Consequentemente,aofertadobemdiminui.EstecontextoésemelhanteaoenfrentadopelasofertantesdeenergianoBrasil.Emvirtude,derepublicaçõesoumesmodapossibilidadederepublicaçõesdoPLD,asfirmasnãosabemaocertoqualseráopreçofinaldaenergiaqueelastransacionam,oque,aplicando-seoconceitoeconômico,asfariatransacionarumaquantidademenordoqueaquantidadeótima.
Demaneiraanáloga,ateoriadoconsumidorsobreescolhassobincertezaafirmaqueosagenteseconômicossãopredominantementeavessosaorisco,fatorqueoslevaapreferiremumaquantidadeprecisaumpoucomenordoqueumaquantidadeincertezamaior.Porconseguinte,aincertezatambémretraiademanda.
22“UmexemploseriaoCaliforniaISO,cujosdocumentosestãodisponíveisnoseguinteendereço:
https://www.caiso.com/informed/Pages/StakeholderProcesses/CompletedStakeholderProcesses/RevisionsPriceCorrectionRequirements.aspx”
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Logo,a incertezacomrelaçãoaopreçodeenergia, fazemosagentes tomaremdecisõesparaminimizarorisco, gerando equilíbrio inferior ao ótimo. Assim esta regra de republicação do PLD retrai omercado deenergia.
Sobaóticadateoriadoscontratos,oresultadoéomesmo,muitoprovavelmenteoequilíbrionomercadodeenergiaseráinferioraoótimoemfunçãodapossibilidadederepublicaçãodoPLD.Podemosentenderoscontratos de transação de energia com possibilidades de republicação de preços como contratosincompletos. Dizemos que um contrato é incompleto quando, por exemplo, ele não contempla em suacomposiçãotodasaspossibilidadesfuturasdosfatoresdatransação.Nocasodeenergia,oscontratosnãodefinem como devem ser as transações de acordo com cada preço que o PLD pode assumir após umapossívelrevisão.Ateoriaafirmaque,salvoexceções,oscontratosincompletosgeramequilíbriossub-ótimos.
Não é à toa, que países mais desenvolvidos com mercados mais maduros não possuem uma regra derepublicaçãodopreçode referência de energia comoa que existe noBrasil. Amaioria utiliza o preçodemercado dado pela iteração de oferta e demanda para calcular o preço de referência e não ummodelocomputacional.Alémdisso,opreçodereferênciacostumaserdiário,minimizandoapossibilidadedeerrodadoohorizontecurto.E,mesmonosmercadosondehárepublicaçãodepreçodereferênciaex-post,estaaçãoébastantecélere.
Mesmo quando se analisam mercados brasileiros similares, como o de commodities, os eventos derepublicaçõesdepreçosdereferênciasãomuitoraros.Ospreçosdereferênciaparaestesmercadoscomodoboigordo,dasoja,domilho,etcsãoformadosembolsaepossuemcotaçãodiária.Asrepublicaçõessãotãoesporádicasquenemestãoexplicitamenteprevistasnosmanuaisdeapuraçãodospreçosdeajuste.
Assim,noentendimentodaTendências,apossibilidadederepublicaçãodoPLDéumacláusulaprejudicialaofuncionamentoeficientedomercadodeenergiadoBrasil.
Esteéonossoparecer.
SãoPaulo,03dejulhode2017.
MailsondaNóbregaCORECON/SP:13.965
ErnestoMoreiraGuedesFilhoCORECON/SP:
MirelaVirgíniaPerrellaScarabelCORECON/SP:
LeonardoPalhuca
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2.10 EQUIPERESPONSÁVEL
Esterelatóriofoielaboradopor:
MaílsondaNóbrega:SóciodaTendências,economista,foiministrodaFazendade1988a1990,apóslongacarreiranoBancodoBrasilenosetorpúblico.Comoministro,presidiuoConselhoMonetárioeoConfazeintegrouosboardsdoFMI,doBancoMundialedoBID.
ErnestoMoreiraGuedesFilho:BacharelemCiênciasEconômicasFaculdadedeEconomia,AdministraçãoeCiências Contábeis da Universidade São Paulo (FEA/USP), com pós-graduação pela Fundação Instituto dePesquisasEconômicas(FIPE/USP).ÉDiretorExecutivoedeEstudos,ProjetosePareceresdaTendências.
LeonardoSilvérioPalhuca:BacharelemAdministraçãoPúblicacomtrilhaemfinançaspelaEAESP-FGV,SãoPaulo,MestradoemEconomiapelaAlbert-Ludwigs-UniversitatFreiburg,Alemanha.
MirelaVirgíniaPerrellaScarabel:DoutoraemTeoriaEconômicapelaUniversidadedeSãoPaulo(FEA/USP).MestraemTeoriaEconômicapelaUniversidadedeSãoPaulo(FEA/USP).EbacharelemCiênciasEconômicaspelaFaculdadedeEconomia,AdministraçãoeCiênciasContábeisdaUniversidadeSãoPaulo(FEA/USP).Temmais de 6 anos de experiência nomercado financeiro. Na Tendências é economista da área de Estudos,ProjetosePareceres.
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