para estar entre os melhores - 2013

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1 Para estar entre os melhores Escrevendo roteiros para filmes de curta, média e longa metragem Richardson Luz

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Para estar entre os melhores

Escrevendo roteiros para filmes

de curta, média e longa metragem

Richardson Luz

Page 2: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

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Richardson Luz é sociólogo, mestre em

Sociologia. É professor universitário,

especialista em prevenção ao uso de drogas e em

elaboração e gestão de projetos. Fez a primeira

oficina de cinema já em 1982. Após isso participou

de diversos concursos literários. Atualmente se

dedica a escrever roteiros para curtas metragens,

tendo para isso realizado extensas pesquisas sobre

o assunto e adquirido uma biblioteca sobre cinema.

Richardson Luz escreve crônicas e algumas delas já

adaptou para cinema. Richardson Luz atua como

“Professional & Life Coach” e “script doctor”.

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Para estar

entre os

melhores

Manual prático sobre a arte de

escrever roteiros para cinema

Richardson Luz

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Sumário

INTRODUÇÃO......................................05

CAPÍTULO 1 – O QUE É UM ROTEIRO.................09

CAPÍTULO 2 – DA HISTÓRIA AO ROTEIRO.............19

CAPÍTULO 3 – A FORMATAÇÃO DO ROTEIRO............29

CAPÍTULO 4 - A TRADIÇÃO NARRATIVA...............42

CAPÍTULO 5 - ESCREVENDO SEU ROTEIRO NO CELTX....47

CAPÍTULO 6 - A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA........56

CAPÍTULO 7 – A SEQUÊNCIA........................65

CAPÍTULO 8 – MOVIMENTOS DE CÂMERA...............66

CAPÍTULO 9 - ÂNGULOS DE CÂMERA..................68

CAPÍTULO 10 – DICAS FINAIS......................70

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Para estar entre os melhores: escrevendo roteiros para filmes de curta, média e longa metragem.

Introdução

Com a popularização das mídias eletrônicas, das

câmeras digitais e dos celulares com câmeras, a produção de

trabalhos e brincadeiras em formato de vídeo aumentou

drasticamente. Produzir um vídeo hoje não é tão difícil

quanto há apenas 20 ou 30 anos atrás.

Quando eu era apenas um adolescente praticante de

artes marciais, passei a assistir os filmes de Bruce Lee,

como fazíamos a mesma coisa; treinar e lutar, eu e meus

amigos artistas marciais sentimos o desejo de produzir

nossos próprios filmes. Éramos uma turma de loucos, mas

muito bem intencionados, pena não termos, naquela época, a

mesma tecnologia disponível hoje.

Um dos meus amigos comprou uma câmera de filme

Single-8 para rodar filmes em películas na bitola 8mm, sem

som. Não preciso dizer que passamos a imaginar cenas de

lutas, histórias dramáticas e passamos a treinar para

filmarmos. As dificuldades eram enormes, filmávamos um rolo

inteiro (3 minutos) e mandávamos para São Paulo para

revelar, custava muito caro, tínhamos muitas vezes que

fazer vaquinhas para conseguir pagar, sem contar o fato de

que levava 15 dias para poder ver o resultado da

brincadeira.

Em seguida eu chamei para mim a responsabilidade de

escrever as histórias criadas pelos meus amigos e fazer os

roteiros. Qual a primeira atitude que tive? Pesquisar é

claro. Comprei um livrinho conhecido como “Cinema de Bolso”

de Ivo Mansan, Edições Paulinas.

Page 6: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

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O primeiro Livro de minha biblioteca

Neste livro aprendi a escrever roteiros tal como se

fazia na Hollywood da década de 50, com duas colunas na

folha de papel; de um lado descrevia o que se via na tela,

de outro o que se ouvia do filme. Naquele tempo eu contava

com uma máquina de escrever daquelas que ia dentro de uma

maletinha.

Desse tipo:

Page 7: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

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Sim, era o nosso notebook da época, nunca faltava

bateria, não precisava ligar na luz, imprimia enquanto

escrevíamos e, se houvesse algum erro de datilografia,

tínhamos duas opções, ou apagávamos com borracha mesmo (não

havia Error-ex, pelo menos que eu soubesse), ou rasgávamos

a folha, pondo-a no lixo, e iniciávamos tudo novamente.

Em 1984, época em que fiz minha primeira oficina de

cinema, era o que tínhamos de mais moderno. Hoje escrevo

para vocês de meu notebook, corrijo tudo na hora, estou

conectado à internet (de onde tirei a foto acima) e

atualmente escrevo meus roteiros num programa chamado

Celtx, que é específico para escrever roteiros para

audiovisuais e para teatro também (Ver capítulo 8).

Esqueci-me de mencionar a facilidade de filmar em si.

Naquele tempo nem celular existia, quanto mais com câmera.

Uma câmera Super-8 (com banda sonora na película) era algo

inalcançável em termos de preço. Hoje, com pouco mais de

R$200,00 se compra um celular com câmera e se faz um vídeo

que fica armazenado em um cartão de memória e que se pode

descarregar em qualquer computador, podendo assisti-lo na

hora, poucos minutos depois de filmar. Uma câmera que filma

em HD, com imagem melhor, pode custar menos de R$400,00, se

comprada em vendedores ambulantes. A facilidade de se obter

condições de produzir qualquer coisa em termos de

audiovisual (sem levar em consideração a qualidade da

produção) é inigualável.

Depois de toda essa história quero dizer que você

pode baixar (fazer o download) desse Celtx para seu

NOTEBOOK ou PC e escrever. Eu recomendo fortemente você a

se acostumar com esse popular programa de roteiros, como

forma de iniciar seu progresso no aprendizado de

roteirista. A prática leva a perfeição, então baixe o Celtx

e mãos a obra.

Na parte seguinte passaremos à abordagem da linguagem

cinematográfica, para então prosseguir na definição do que

Page 8: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

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é roteiro e aprender um pouco de que ele é feito, como é o

processo de criação de um roteiro e as fases que uma

história passa até se transformar nisso que os europeus

chamam de Guião.

O processo de escrever roteiros exige mais

conhecimento do que imaginamos, para ter uma ideia do que

estou tentando dizer, pense em como escrever sem conhecer

as palavras ou sem conhecer como se forma uma frase. Por

isso uma das primeiras lições deste livro se refere à

linguagem cinematográfica, base para toda e qualquer

operação em termos de cinema. A linguagem cinematográfica é

o código que o roteirista entende, mas que não utiliza de

forma direta em seus roteiros. Seu conhecimento serve para

não ficar boiando quando o Diretor vier lhe dizer que vai

precisar filmar tal cena em Plano Americano e não em Plano

Médio, como sugerido no roteiro. Mais adiante você vai

entender como isso poderia acontecer.

Em suma, a linguagem cinematográfica é a forma de

comunicação entre o roteiro e o ato de filmar. Segundo

Rodrigues (2010), linguagem cinematográfica é o uso de

termos técnicos próprios do mundo cinematográfico, essa

linguagem é utilizada normalmente por quem trabalha em

cinema, televisão etc, e seu objetivo principal é obter

uniformidade de comunicação. É fácil constatar que essa

uniformidade não foi alcançada ainda, mas a linguagem

cinematográfica alimenta, em cada país os profissionais com

um “jargão” que permite esses profissionais entenderem-se

muito bem.

Page 9: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

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Capítulo 1 O que é um roteiro?

Segundo Field (2001, p. 2) um roteiro é “uma história

contada com imagens, diálogos e descrições, localizada num

contexto da estrutura dramática”. Um roteiro é um documento

que visa dar uma direção à história. Através dele se

conhece a cena que vai ser filmada, se conhecem os

diálogos, os fatos como serão contados. Escrever um roteiro

não é algo fácil, pois ele obedece a certo código de

padronização que é aceito pela indústria cinematográfica

mundial.

Segundo Comparato um roteiro (ou Guião, como é

conhecido na Europa) é a forma escrita de qualquer projeto

audiovisual.

Segundo Nogueira (2010, p. 10), um guião “consiste na

utilização da linguagem escrita para exprimir, sugerir,

evocar ou mostrar ideias cuja concretização definitiva se

efetuará através de imagens e sons”. O autor reforça

dizendo que o guião serve como uma espécie de veículo ou

ponte; da ideia, para o guião e logo em seguida para as

imagens.

Quem faz o guião é o guionista ou roteirista e este

personagem é o primeiro a entrar no processo de criação

cinematográfica, mas também o primeiro a abandoná-lo, se

não for ele a comandar o processo de produção do filme.

Contando histórias com imagens: o ponto de partida

Para ter uma noção de como iniciar uma história você

irá realizar um exercício bastante instigante. Clique no

link abaixo e vá até esta página da web, que poderá render

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uma boa ideia para um curta metragem, ou mesmo para um

longa:

http://www.telabr.com.br/oficinas-virtuais/roteiro/exercicio/

Neste site você vai encontrar um exercício que será

realizado por você em tempo real. Você precisa primeiro se

cadastrar. Quais os princípios desse exercício? Desenvolver

uma história a partir de algo que você não imagina que

estará na sua frente (uma carta).

No exercício, eles pedem para que você primeiramente

crie um personagem e dê um objetivo a ele. As cartas

possuem imagens que sugerem ideias para você; depois você

criará um obstáculo para esse personagem, que pode ser uma

pessoa ou uma situação, que se coloque entre o protagonista

e seu objetivo. Depois você deverá criar uma forma de como

o personagem encontrará uma solução para atingir o seu

objetivo, normalmente ele elimina ou vence o obstáculo. No

final do exercício há a opção de salvar o que você produziu

participando da oficina.

Eu já o fiz duas vezes e, das duas saíram histórias

bastante filmáveis e com um bom enredo. Essa ideia

produzida pelo exercício poderá ser utilizada por você na

continuidade desse curso e, quem sabe? No desenvolvimento

de um novo roteiro.

Outros dois sites que são muito bons de visitar e

aprender com eles;

http://joaonunes.com/ e http://www.roteirodecinema.com.br/

São portais muito úteis para qualquer roteirista

iniciante. Recomendo uma visita e demorada navegação destes

sites. O primeiro possui até um curso on-line de guião, com

várias aulas. Depois, há diversas postagens do autor que

auxiliam na arte da escrita. O segundo site oferece

diversos roteiros em português para serem baixados, entre

outros itens interessantes, como cursos e oficinas.

Page 11: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

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Fases de um Roteiro

Qual a função de um roteiro? Segundo Luis Nogueira

(2010, p. 8), um guião (os europeus chamam roteiro de

guião) é um guia para um processo de execução de algo. Para

nós roteiro pode ser um planejamento de uma viagem ou

simplesmente um roteiro de visitas que um vendedor irá

realizar num dia de trabalho. Um roteiro de entrevista

guiará o entrevistador a esquematizar a sua conversa com o

cliente.

Sinteticamente roteiro é um caminho a ser seguido,

que pode conter uma previsão das necessidades da tarefa a

que nos propomos. Nogueira (p.9) diz que o roteiro

cinematográfico permite prever, portanto, diminuir

eventuais custos; proporcionar maior clareza na exposição

das ideias; antecipar a duração de nosso filme ou

audiovisual; possibilidade de maturação, e, portanto, de

alteração de ideias e dar uma forma mais real para as

ideias que antes estavam apenas no plano do imaginário.

Como já dissemos acima, nossa ideia passa por

diversas fases antes de virar um roteiro cinematográfico.

Em primeiro lugar devemos aprender a estabelecer o conflito

com o qual vamos operar.

Segundo Doc Comparato (p. 68), o homem é um ser

dialético, vive em conflito, e esses conflitos podem ser

classificados como conflitos de ordem humana, conflito de

ordem sobre-humana e conflito de ordem interna.

Basicamente todos os filmes terão no seu bojo

conflitos destes três tipos. Esses conflitos servirão de

base para toda e qualquer fase em que se encontrem os

roteiros.

São essas as fases encontradas na maior parte dos

livros sobre roteiros; A Ideia (a Story Line), a Sinopse, o

Argumento e finalmente o Roteiro.

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Normalmente, o roteirista passa a realmente escrever

alguma coisa com maior profundidade na fase do argumento.

Você pode pensar que a sinopse não é importante, são apenas

algumas frases contando de forma resumida a história que

quer filmar, mas não se engane, a sinopse é importante e

acho válido escrevê-la no cabeçalho do seu roteiro, que é

para não perder o foco dramático. Na versão final de seu

roteiro, é claro que a sinopse não aparece, mas eu

desenvolvi esse costume para manter o foco na história que

quero contar.

Eu costumo guardar as sinopses das ideias que ainda

não desenvolvi para roteiro. Tenho também várias sinopses

em forma de crônicas, que escrevi em forma literária, mas

que conforme sentir o desejo vou desenvolver da sinopse

para o argumento e deste para o roteiro, que deverá passar

por diversos tratamentos.

Etapas do desenvolvimento de um roteiro

A profissão de roteirista carrega consigo certo

charme. Quando se fala em roteirista logo imaginamos alguém

que mora em Hollywood, tem muito dinheiro e que escreve

coisas maravilhosas que se transformam em filmes. Para

alguns quatro ou cinco seres humanos isso pode ser verdade,

mas a grande maioria trabalha incansavelmente sem a

garantia de que algum roteiro seu algum dia se transforme

num filme que gere milhões de dólares em bilheterias.

Alguns trabalham com roteiros por encomenda, o que exige

uma grande responsabilidade por parte do roteirista, outros

escrevem por puro prazer de criar histórias. No meu caso eu

escrevo por prazer, mas pretendo transformar algumas em

filmes.

Das fases acima mencionadas, vamos realizar uma

discussão mais aprofundada para que o roteirista iniciante

Page 13: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

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possa ter uma ideia de como um roteiro chega a seu formato

ou versão final (final draft).

A Ideia

Adquirindo a ideia ou o story line

Bem se, como disse o mestre chinês, uma caminhada de

1000 kilômetros começa com o primeiro passo costumo dizer

que um bom filme de longa ou curta metragem, se inicia com

uma boa ideia.

A primeira fase de um roteiro é quando temos uma

ideia para um filme. A ideia (ou Story-line) é isso mesmo,

uma ideia. Veja um exemplo de story-line; O filme conta a

história de “um rapaz, amigo de um cientista maluco, que

constrói uma máquina do tempo em um carro” Você reconhece

este filme? “De Volta Para o Futuro” provavelmente iniciou

com uma ideia semelhante a esta. Agora tente, nas linhas

abaixo escrever a provável ideia do filme “ET – O

extraterrestre”. Comece com a frase “O filme conta a

história...”

___________________________________________________________

___________________________________________________________

Só duas linhas são suficientes para qualquer ideia ou

story-line de filme, seja de curta, média ou longa-

metragem. E o seu filme, seu curta ou longa metragem, qual

é a ideia ou story-line de seu filme?

Uma ideia é a fase inicial de uma história que será

contada com imagens e sons, em um filme, e poderá surgir a

Parafraseando o mestre chinês:

“Um grande roteiro começa com

uma boa ideia”.

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partir de uma situação vivenciada, de uma história contada

por um amigo ou familiar, uma notícia de jornal, um artigo

de revista etc. Até a partir de um sonho, se pode ter uma

ideia para um filme ou seriado para a TV.

As ideias não caem do céu. Partindo desse pressuposto

há que se trabalhar, num certo sentido para se conseguir

ideias. Segundo Doc Comparato (1992, p.58) há seis tipos de

ideias ou fontes de onde podemos tirar ideias para filmes;

Ideia selecionada, verbalizada, lida, transformada,

solicitada e procurada. Vou resumir o que disse Doc:

A ideia selecionada, segundo o roteirista, provém de

experiências próprias ou da memória, no passado recente ou

longínquo.

A ideia verbalizada surge a partir de uma história

contada por alguém, ou um fragmento de história que ouvimos

uma pessoa contar no ônibus, por exemplo. Até de uma

simples leitura no banheiro, pode lhe incitar a escrever

sobre algo. Uma situação muito atípica, e que daria um

ótimo filme. A ideia está na fila para desenvolvimento.

Doc Comparato diz que a ideia lida, denominada por

Lewis Herman de Ideia Grátis, é aquele tipo de ideia obtida

a partir de uma leitura ou notícia de jornal ou de uma

revista. Isso ocorreu comigo:

No momento em que escrevia neste livro, ouvi uma

notícia sobre a reabertura de um teatro aqui em Porto

Alegre, que foi fechado por muitos anos. Tive uma ideia

para ser filmada naquele local, essa ideia envolve um

“Dia desses estava eu lendo uma revista

feminina de moda, e deparei-me com um depoimento

de uma leitora; sobre um triangulo amoroso que

ela vivenciou.” (o autor)

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fantasma, falta desenvolvê-la, mas a story-line em primeira

versão já está processada; “Grupo de jovens é trancado no

interior de um teatro e é assombrada por um fantasma”.

Agora a sinopse; “Grupo de jovens é não consegue sair do

teatro após uma apresentação de reabertura de um teatro.

Após descobrir que o local está mal assombrado pelo

fantasma de uma mulher, eles têm que descobrir o que a

fantasma quer e como sair dali ilesos”. Essa story-line e a

sinopse foram escritos enquanto eu ouvia, no rádio, a

notícia e comentários sobre a reabertura do teatro. É

exatamente isso que acho espetacular na arte de escrever

roteiros; do nada, ou a partir de uma simples notícia, se

pode criar uma história que pode virar filme.

A ideia transformada é a do tipo que nasce a partir

de outros filmes ou seriados, uma peça teatral. Não

confundir com adaptação, que é diferente.

Por exemplo, a Saga Crepúsculo foi adaptada para o

cinema a partir dos livros de Stephenie Meyer. Uma ideia

transformada seria partir dessa ideia de vampiros

adolescentes e escrever algo totalmente diferente, ou mesmo

utilizando outra figura, como lobisomens ou

extraterrestres, por exemplo.

A ideia proposta surge a partir de uma encomenda de

algum produtor (sonho de todo o roteirista brasileiro

iniciante). De qualquer forma, é um desafio escrever para

alguém que nos encomenda uma obra literária. Normalmente o

produtor surge com uma ideia inicial, sobre um personagem

ou um fato real ou fictício, então o roteirista recebe a

incumbência de desenvolver esta história e põe mãos à obra.

Finalmente a ideia procurada, que é aquela que

buscamos através de algum tipo de pesquisa ou enquete, que

deseja saber que tipo está “na moda” ou que é assunto e

está em voga no momento, por exemplo, violência contra

crianças, ou mulheres, bulliyng etc.

Page 16: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

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Conforme Nogueira (2010, p.40) uma ideia pode ser

expressa de diversas formas; pode ser uma frase ou uma

simples palavra.

Alguns atributos são desejáveis às ideias; uma ideia

será muito valiosa se conseguir agregar o máximo das

seguintes características:

Clara

Simples

Intrigante

Consistente

Original

Irreverente

Complexa

Madura

Uma ideia pode ser adquirida de um poema ou mesmo

numa crônica como muito acontece com alguns roteiristas. A

partir de um texto literário sai uma ideia para um filme

que pode resultar num grande sucesso, como é o caso de

tantos livros que se tornaram grandes sucessos no cinema

americano.

Claro que todas as ideias deverão passar por uma

criteriosa avaliação que se faz necessária desde o primeiro

momento. Devemos sujeitá-las de forma relativamente

rigorosa, para que se possa avançar com ela. Nenhuma ideia

é perfeita e nem uma nasce pronta, basta escrever a ideia

assim que ela surge na mente, deixá-la de lado por uns dias

e depois retornar à ela. As mudanças provavelmente serão

tantas que ela poderá se tornar em algo totalmente

diferente do pensado inicialmente.

Ter uma ideia e desenvolvê-la não é tarefa fácil, mas

pelo menos duas características elas deve preservar,

segundo Nogueira (p.41); organização e perspectiva.

Organizar uma ideia implica dar-lhe uma forma e isso

não é fácil partindo de algo que nem forma possui. Ter

perspectiva de sua ideia é essencial por que isso atribui

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certo distanciamento do objeto, permitindo identificar

coisas boas e ruins na história.

Uma boa perspectiva de sua história pode ser

alcançada realizando uma avaliação criteriosa antes,

durante e depois da obra, nesse sentido, abrem-se

determinadas questões que deverão ser abordadas (Nogueira,

2010); qual o propósito da obra? Qual a motivação criativa?

Qual o assunto que aborda? Que expectativas cria? Como gere

[administra] o interesse ou a atenção do destinatário? Qual

a sua ambição formal: uma ruptura inovadora ou uma

diligência classista? Quais as suas implicações sociais,

culturais ou políticas?

Uma vez que você esteja com a sua ideia desenvolvida,

avaliada, aprovada e devidamente estabelecida estará pronto

para criar uma story-line, que é uma frase curta, mas que

já dá uma direção à nossa ideia.

Criando uma Story-Line

Vamos para a prática? A ideia do filme, também

conhecida como story line é o que há de mais básico no

trabalho de um roteirista. Todas as minhas histórias,

ideias etc, têm pelo menos a story line desenvolvida, pois

me auxilia muito na hora em que for desenvolvê-la. Seria

uma boa ideia todo o roteirista ter uma pasta em seu PC em

que ele “depositasse” ali todas as suas ideias de filmes.

Por exemplo, na volta do trabalho pego o elevador e ele

fica parado por uns dois minutos por algum problema, mas

depois volta ao normal. Esse fato pode me inspirar a

escrever a seguinte ideia: “homem e mulher ficam trancados

em elevador e quando conseguem sair descobrem que o mundo

acabou”.

Pronto, não é uma boa ideia a ser desenvolvida? A

partir dessa simples story line 200 roteiristas

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desenvolveriam 200 roteiros completamente diferentes. Não é

fantástico isso? Eis a importância da story line.

Chegou a sua vez de criar algo. Desenvolva abaixo uma

story line simples que possa ser um projeto futuro de

filme. Você pode utilizar o resultado do seu exercício no

site Tela Brasil.

O importante é que você se arrisque a escrever, sem

medo, sem vergonha, sem limites.

Escreva quantas story-lines desejar. Faça um registro

de todas elas, pratique, pratique. Crie uma ou mais story-

lines baseadas nas suas visitas no site telabr e crie

várias story-lines.

Lembre-se de que as story-lines que você escrever vão

servir de ponto de partida, portanto não se detenha em

fazer anotações, rabiscar o quanto achar necessário. A

story-line não vai ser entregue em nenhum concurso para ser

avaliada, ela é um instrumento pessoal de registro das suas

ideias, por mais malucas que possam parecer.

Você será o juiz de suas próprias ideias. Você pode

até submetê-las para avaliação por outras pessoas, mas quem

decide se vale a pena levá-la adiante é você, portanto

escreva, escreva mais, e escreva sempre mais.

Registre suas ideias aqui:

Story-line 1.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

Story-line 2.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

Story-line 3.

___________________________________________________________

___________________________________________________________

Page 19: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

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Capítulo 2 Da História ao Roteiro

O caminho a se percorrer entre a ideia do que

desejamos produzir, ou seja, nossa história, e o roteiro

definitivo, é relativamente longo. Na aula anterior demos

dicas de como conseguir algumas ideias para futuros

roteiros.

O problema reside em ajustar essa ideia para a

linguagem cinematográfica por isso revise os capítulos 1,2

e 3 deste e-book, pois a linguagem de cinema é importante

para a escrita de roteiros, é como se fosse o alfabeto que

é composto por 23 letras que formam palavras, que por sua

vez formam frases, que irão dar forma a textos. Iniciamos

nosso curso com uma breve revisão sobre o tema da linguagem

cinematográfica por considerar básico a qualquer candidato

a roteirista.

Uma vez que já temos certo domínio dessa linguagem,

estaremos prontos para dar os primeiros passos rumo ao

nosso roteiro cinematográfico.

A Sinopse

Uma vez de posse da sua story line o roteirista vai

desenvolver uma sinopse, que conforme o caso poderá ser

mostrada numa reunião a produtores, e estes por sua vez vão

sugerir caminhos, passagens, cenas que irão ser anotadas

pelo roteirista.

A sinopse pode ficar alguns dias guardada numa gaveta

ou na agenda. Verifique-a periodicamente sua sinopse e faça

alterações, se achar necessário.

A sinopse geralmente não apresenta mais que 10

linhas. É bastante sucinta, mas já se percebe certo

desenvolvimento em direção à história que será contada.

Page 20: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

20

Um bom exercício para aprender a fazer sinopses é ler

as sinopses dos filmes que estão sendo lançados. Existem

diversos sites sobre cinema e você pode usá-los como fonte

de aprendizado. Comece pelo site adorocinema.com que possui

os filmes mais atuais e suas sinopses. Muitas vezes há que

se dar uma limpada nas sinopses, tirando nomes de atores e

alguma coisa da introdução, mas já serve.

Outra possibilidade é ver nas próprias capas dos DVDs

ou Blue Ray dos filmes em locadoras, onde se encontram as

sinopses.

Para facilitar na exemplificação vamos partir da

ideia dada acima; a do homem e mulher que ao saírem do

elevador descobrem que o mundo acabou. Vamos tentar

exemplificar como seria uma sinopse de um filme desses.

A sinopse que vamos desenvolver será baseada no

“paradigma Sydfieldiano” (Syd Field), de três atos.

Poderíamos utilizar ao invés do paradigma de Syd, os 12

passos do herói de Christofer Vogler, que se baseiam em

etapas que o herói enfrenta numa saga, mas vamos, por hora,

ficar e aprender com Syd Field.

Teremos então, que partir dessa ideia; “Um executivo

e uma babá com uma criança ficam trancados num elevador e

quando conseguem sair descobrem que o mundo acabou e está

infestado de zumbis”.

A sinopse nos permite infinitas possibilidades de

desenvolvimento; por exemplo: se eu quiser contar uma

história de zumbis, ou de invasão alienígena, ou até de

cunho filosófico mesmo, tenho de partir de uma ideia

inicial. O importante é focar nessa ideia inicial, dos

personagens trancados no elevador.

Ficará mais fácil você seguir o exemplo da sinopse do

filme “PLANO DE FUGA” com Mel Gibson, que reproduzimos

abaixo. Preste atenção em como o texto é escrito:

Um criminoso americano ultrapassa a fronteira entre Estados

Unidos e México durante a fuga de um roubo a banco. Ele

Page 21: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

21

acaba preso pelas autoridades mexicanas e enviado para um

presídio lotado de bandidos de alta periculosidade. Não

bastasse essa experiência bizarra, ele acaba se envolvendo

com uma família local e se metendo numa grande enrascada em

terras estrangeiras porque a bandidagem agora quer a pele

dele. Para sobreviver na prisão, ele terá que aceitar a

ajuda de um garoto de apenas 9 anos, com quem irá planejar

sua fuga.

A sinopse é importante, pois dá a direção que o filme

irá tomar. Note que não se fala em nomes de personagens,

apenas de um homem, de bandidos e de um garoto de nove

anos.

Desenvolva agora a sinopse de seu filme e a escreva

no espaço abaixo, desenvolva a história do casal no

elevador. Sempre que puder dê uma olhada crítica e altere o

que achar necessário. Você pode aproveitar as story-line

que escreveu acima, escolher uma delas e desenvolver sua

sinopse, ou aproveitar o nosso exemplo:

Story-line: “Um executivo e uma babá com uma criança ficam

trancados num elevador e quando conseguem sair descobrem

que o mundo acabou e está infestado de zumbis”.

Desenvolva nas linhas abaixo, a sua sinopse.

Sinopse:___________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

___________________________________________________________

No exemplo dos nossos protagonistas no elevador,

vamos ver a “minha versão” (rápida e sem revisões) de como

seria, se eu quisesse mesmo contar uma história de zumbis:

“Um esnobe executivo de uma grande multinacional e uma

linda Babá descobrem, ao sair de um elevador de um luxuoso

prédio da cidade, que o mundo acabou, ficam sabendo que

Page 22: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

22

nações inimigas lançaram bombas de hidrogênio que mataram

as pessoas e deixaram os prédios inteiros. Sem saber as

razões de sua sobrevivência à catástrofe, ambos saem em

busca de respostas e de um novo começo, mas para isso eles

têm que se unir e deixar as diferenças culturais de lado

para vencerem os zumbis criados pela mistura do hidrogênio

com um gás desconhecido”.

Uma sinopse não é mais que um breve texto que

começa a delinear a nossa história, tal como se pode ver

acima. Essa versão rápida e sem revisões que escrevi

acima o fiz sem pensar muito, apenas com a intenção de

desenvolver a trama inicial. Se eu for fazer um filme a

partir dessa sinopse eu posso começar por melhorá-la,

modificar alguns detalhes, inserir outros, subtrair algo

de que não gostei, enfim, eu sou o senhor de minhas

criações, e é assim que você futuro roteirista, deve se

sentir.

No próximo item vamos abordar o desenvolvimento do

argumento, que é um texto mais desenvolvido, mais

literário. É no argumento que o roteirista lança mão de

sua criatividade, é onde realmente manipula a vida de

seus personagens, tal qual um deus, que decide se a

criatura vai viver, morrer, ser bom, mal, homem, mulher

ou criança, enfim, decide tudo, cria tudo, dirige tudo.

O Argumento

Uma vez que você já tem a sua ideia, e conseguiu

desenvolver a story line e a sinopse. Precisa ir adiante,

precisa detalhar mais a trama de sua história, encaixar

peças e fatos para que sua história tenha algum sentido.

Depois disso é desenvolvida, então uma primeira versão do

argumento que já conterá uma história desenvolvida com

determinados acontecimentos, pontos de virada (plot) etc.

O argumento poderá ter diversas páginas, podendo

chegar a 10, 15 ou mesmo 20, pois ele conta a história de

Page 23: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

23

forma literária, já contendo nomes de personagens, locais

onde fatos ocorrerão etc.

O argumento serve como preparação para as escaletas,

que irão formar a estrutura narrativa do seu filme. Esse

argumento já pode estar dividido conforme o paradigma de

Syd Field, em três fases que se conhece como Apresentação,

confrontação e resolução da estrutura dramática.

A apresentação, também conhecida como ambientação é a

parte em que o personagem é apresentado e ambientado em seu

lugar na trama inicial. De que forma seu personagem será

apresentado? Que lado de sua personalidade você vai mostrar

primeiro? (Bonzinho, maldoso, apaixonado etc) Que tempo da

vida do personagem será mostrado? (sua infância, velhice,

mocidade etc) Em que local ele está? (na escola, na

empresa, em casa, no quarto etc). Quem é o seu personagem?

Que aparência ele tem? Que idade tem? Qual a profissão? Do

que ele gosta? Que situação ele está vivenciando no momento

e que sofrerá alguma alteração? Digamos que no nosso

exemplo estamos falando de um solitário executivo de uma

mega multinacional, 40 anos de idade, solteirão, muito

focado no trabalho, não gosta de crianças e adora seu jeito

livre de viver e de sua qualidade de vida.

A ambientação de nossa história poderia ser assim:

Roberto Gomes, presidente da XXX, perdeu a mulher há

apenas dois anos, quando de seu nascimento de seu filho

Bernardo. Ele contratou a babá Fernanda para cuidar de

Bernardo. Sua rotina de trabalho inclui ver o garoto antes

dele iniciar suas reuniões. “Me dá sorte” afirma Roberto,

para quem pergunta por que todos os dias ele faz questão de

ver seu filho, antes de iniciar seu dia de trabalho.

O braço direito de Roberto é Jorge, um executivo de

sucesso, mas muito descrente quanto ao amor e à família, o

que às vezes contraria as crenças do seu patrão.

Fernanda, a babá leva Bernardo todos os dias até a

empresa, para que Roberto veja seu filho e lhe dê um beijo

de bom dia. Depois disso, ela toma o elevador no 12º andar

e sai do prédio direto para o carrão de Roberto em direção

à mansão, onde ficará com Bernardo até às 20h. Essa é a

rotina de Fernanda, que cuida de Bernardo, filho de

Page 24: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

24

Roberto, viúvo e patrão de Jorge, um bem sucedido, mas

descrente executivo...

Note que ao escrever o argumento pode-se usar

floreios de linguagem, pois eles serão eliminados ao

escrever o roteiro, mas que servem de desafio ao roteirista

em como deixar certos meandros da história ao espectador.

Por exemplo, como deixar claro ao expectador que

Jorge é um executivo bem sucedido e descrente à família e

ao amor? O roteirista terá que criar cenas que mostrem

essas características de Jorge para o espectador, ou mesmo

através de uma narração em Off.

Eu colocaria Jorge descendo de um luxuoso carro, com

sua postura seca, não cumprimenta ninguém e somente

consulta seu relógio e um tablet, dentro do elevador. Numa

conversa no banheiro da empresa ele manifesta sua

contrariedade ao fato de o patrão dele somente começar as

reuniões após ver o filho, no diálogo, eu faria ele chamar

o garoto de pirralho mimado e dizer que esse negócio de

família só atrapalha (pois sei que ele vai ter que mudar

essa postura mais adiante na história, que o mundo como ele

conhece vai acabar). Pronto, estabeleci para o espectador a

faceta de um personagem que, mais tarde, vai ser

fundamental no desenvolvimento da trama.

Nesse sentido o desenvolvimento do argumento é

importantíssimo, pois ele vai direcionando a história para

onde queremos e ao mesmo tempo nos permite escrever tudo

aquilo que desejamos a respeito dos personagens e da trama.

Coisas que no roteiro não vão aparecer de forma explícita e

sim em forma de cenas e diálogos, como exemplifiquei acima.

O conflito é a segunda parte da história, em que algo

acontece e altera o estado inicial do personagem; Ao sair

do elevador em que está, acompanhado de uma bonita babá e

uma criança descobre para seu espanto que toda a cidade

está morta, tendo sobrevivido somente ele, a babá e a

criança. Depois ambos descobrem que a cidade está repleta

Page 25: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

25

de zumbis que foram criados a partir da cominação de um gás

da indústria na qual trabalha e o hidrogênio está

transformando sobreviventes em zumbis.

Nesse ponto geralmente aparece um antagonista que

pode ser um grupo de zumbis ou um em especial, mais forte,

mais inteligente etc. esse obstáculo servirá de barreira

para o protagonista atingir seu objetivo que é descobrir

como pode desativar os efeitos da mistura e assim parar de

produzir zumbis.

Na nossa história poderia iniciar assim;

Naquele dia como normalmente fazia Fernanda levou

Bernardo para ver o pai. Tomou o elevador e nele estava

Jorge, que havia deixado um documento importante no carro e

que precisava pegá-lo. De repente o elevador para entre os

andares 10 e 11. Por muito tempo os dois não se falam.

Depois de um tempo de leve pânico os dois começam a

conversar, tendo Bernardo como assunto principal. Jorge

pergunta como ele é em casa, do que gosta de brincar e

deixa claro que não é muito afeto a crianças...

E assim se continuaria escrevendo, de forma mais

livre para criar e revisar quantas vezes for necessário.

Quanto ao assunto que envolve a resolução, que é a parte

que vai direcionar a nossa história para o final e que é

quando o protagonista, após lutar muito e vencer o

antagonista, aprender diversas lições de humanidade com a

babá etc, consegue cumprir seu objetivo. No caso do exemplo

acima simplesmente achar o ponto de vazamento do gás e

Pará-lo não teria muita graça. Tem que haver mais

dificuldades. Daí vem a criatividade do roteirista em

“colocar um pouco de lenha nessa fogueira”.

Para ilustrar melhor o que acabamos de expor, observe

o diagrama abaixo, que é uma representação gráfica do

conhecido e respeitado “Paradigma de Syd Field”, ou o

“paradigma dos três atos”.

Page 26: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

26

Ato I Ato II Ato III

Primeira

metade

(contexto

dramático)

Segunda

metade

(contexto

dramático)

Crise

dramática I (aprox. pág. 20-

30)

Crise

dramática II (aprox. pág.

80-90)

Ambientação Conflito Resolução

No primeiro ato o personagem é apresentado e

ambientado para o espectador. Mais ou menos aos 20min surge

um fato que possui alta carga dramática (O plot do primeiro

ato) Seria quando o elevador tranca entre dois andares e

após algumas tentativas mal sucedidas, o executivo, a babá

e a criança conseguem sair do elevador, ao saírem nas ruas

descobrem a catástrofe mundial.

No segundo ato se desenrolam toda a história do

filme, a busca do executivo por respostas, por que ele e a

babá não sofreram os efeitos do gás, durante essa busca

surgem diversos conflitos culturais entre ele e a babá, que

possui menos cultura que ele, mas que lhe dá diversas

lições de vida. O antagonista é um grupo de zumbis que

desejam alimentar-se da carne da criança etc. Novamente no

final do segundo ato algo de importante acontece, é o plot

do segundo ato, o clímax, a parte em que o mocinho vence.

O terceiro ato é um fechamento da história, mostra

agora o executivo e a babá plenamente de acordo em como vão

reiniciar o mundo, aceitam a missão e passam a reconstruí-

lo.

Meio

(aprox.

pág. 60)

Page 27: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

27

Já temos, nesse caso, quase um argumento pronto

necessitando apenas do desenvolvimento dos três atos, dos

nomes das personagens, dos fatos como eles irão acontecer

etc, de alguns traços de suas personalidades, dos conflitos

internos e externos que irão enfrentar etc.

Após a conclusão do argumento há ainda uma série de

revisões que serão realizadas. Podemos pedir a opinião de

algumas pessoas sobre determinadas passagens, deixar o

argumento no forno (sua gaveta) e pegá-lo novamente, reler

e alterar o que sentimos não estar bem na história.

Há ainda outro passo anterior à escrita do roteiro em

si. Veremos a seguir as escaletas (ou estrutura dramática)

da nossa história.

As escaletas

As escaletas são um instrumento efetivo de

organização da história em pequenas partes. Seria como que

contar a história com frases sintéticas e organizadas. Para

exemplificar aproveitando a história do apocalipse zumbi,

faremos como exemplo a estruturação (escaletas) do início

do filme, até o momento em que eles descobrem que o mundo

acabou.

1. Jorge em sua rotina de trabalho – reuniões, traições e

intrigas no trabalho, ele vive estressado.

2. Fabiana cuida do Bebê, filho do patrão de Jorge e foi

levá-lo até o pai, que estava com saudades.

3. Jorge e Fernanda no elevador (Mostra duas ou três vezes,

sem ocorrer problemas, ambos nem se conhecem).

4. Jorge e Fernanda no elevador que tranca, no oitavo

andar.

5. Jorge e Fernanda conseguem sair do elevador

6. Jorge e Fernanda descobrem que todas as pessoas estão

mortas.

7. Jorge e Fernanda saem do edifício tentando encontrar

respostas sobre o que ocorreu.

8...(continua)

Page 28: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

28

As escaletas (ou estrutura) desse primeiro ato podem

representar uma ou mais cenas, mas dão uma indicação clara

do que será feito em termos de trajetória dos personagens,

no primeiro ato, sempre baseadas no argumento.

Alguns roteiristas colocam as escaletas em formato de

fichas, essas frases curtas, e as organizam e alteram sua

ordem e adicionam detalhes, também às vezes colocam cores

indicativas da função dessa parte da narrativa etc. Por

exemplo, Fichas brancas para cenas introdutórias e

vermelhas para alta dramaticidade.

As escaletas possibilitam visualizar a história como

se fosse um quebra-cabeças e permitem outras possibilidades

dramáticas. Permitem também iniciar a escrita ou melhora do

argumento, conforme o uso.

Não há uma ordem específica, se as escaletas vêm

antes ou depois do argumento, normalmente vêm depois. Cada

roteirista vai desenvolver sua técnica, mas geralmente o

argumento é desmembrado nas escaletas, que podem vir a

alterar o curso de algumas cenas no argumento, provocando

alterações às vezes substanciais no argumento inicial.

Page 29: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

29

Capítulo 3 A formatação do roteiro

Um roteiro possui um método específico de escrita,

uma função objetiva e uma formatação clara, precisa e

padronizada. Como então passar para a parte prática da

escrita do seu roteiro? É que será tratado no próximo

módulo do curso.

Antes de iniciar a abordagem da formatação de um

roteiro é preciso saber de que são feitos os filmes. Um

filme é feito de diversas sequências, que são compostas de

muitas cenas, que por sua vez são divididas em diversos

takes (tomadas).

As partes de um filme: Tomadas(Takes), cenas e sequências.

A tomada (Take) é a menor porção de um filme. É o que

fica gravado dentro do período de tempo em que o Diretor

diz as palavras “Ação!” e “Corta!”. Diversas tomadas irão

compor uma cena. Por exemplo, a cena de Jack e Rose DeWitt

na proa do Titanic (Cena que alguns chamam de antológica).

Ela simplesmente não “acontece” sem uma motivação. Rose

está pensando em se jogar no mar, depois de uma conversa

ele a ensina a sentir a beleza de estar viva. A cena deles

na proa do navio é apenas parte de uma sequência, em que

Jack salva a vida de Rose.

Diversas cenas irão compor uma sequência e algumas

sequências irão compor um filme.

Titanic é composto por diversas sequências; a do

jantar com a família de Rose, a da festa que Jack dança com

Rose na parte pobre do navio, a sequência em que eles fazem

amor dentro de um carro no porão do Titanic. Por exemplo;

na sequência do naufrágio do Titanic são vistas diversas

cenas. Jack está algemado num quarto e Rose vai ajudá-lo. O

noivo de Rose oferece dinheiro a um tripulante do navio

Page 30: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

30

para poder embarcar no bote. O navio se parte em dois e

pessoas caem no mar, e assim por diante.

Com o roteiro de Titanic nas mãos qualquer pessoa

poderia dividi-lo em sequências simplesmente juntando as

cenas que estão descritas no documento.

As cenas descritas num roteiro são compostas de

Cabeçalho, ação, personagem, rubrica (esporadicamente),

diálogos e transições. Apenas cinco ou seis partes que são

utilizadas cada uma com uma função específica, da seguinte

maneira:

O cabeçalho

O cabeçalho é onde se indica o período em que a

história ocorre. Por convenção se usa duas possibilidades;

Interno (INT) e Externo (EXT), seguido da localização exata

onde a cena está ocorrendo e o período do dia em que

ocorre.

Importante: (sempre em caixa alta ou, todas as letras

maiúsculas:

INT/EXT – LOCAL DA CENA – PERÍODO DO DIA

Ação que ocorre. Descrever apenas o que pode ser

visto na tela. Por exemplo, “Jack fica atrás de Rose e a

faz abrir os braços. Fala para ela fechar os olhos e

imaginar que está voando. Rose fecha os olhos e revela um

grande sorriso no rosto”.

Nunca usar ou descrever emoções, esse é um erro

comum: “Rose sentia o calor dos braços de Jack em sua

cintura e a sensação de segurança era a maior que já

sentira em toda a sua vida”. Roteiros com descrições desse

tipo são rapidamente descartados por produtoras e concursos

de roteiros.

Os diálogos aparecem da seguinte forma em um roteiro:

PERSONAGEM

(rubrica)

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31

Diálogo

O nome do personagem no centro da linha em letras

MAIÚSCULAS e abaixo do nome a rubrica (se houver) e abaixo

desta a fala do personagem. Mais adiante você terá

oportunidade de visualizar extratos (partes) de roteiros

que foram utilizados para exemplificar outros itens do

roteiro.

O uso de rubricas e outros recursos de linguagem

Ao escrever um roteiro o roteirista lança mão de

diversos recursos que lhe possibilitam tornar inteligível a

sua obra, a qualquer pessoa que atue na área. As rubricas,

as letras maiúsculas, as transições e outros tipos de

recursos auxiliam no ato de escrever.

Rubricas Às vezes o roteirista deseja ressaltar ou indicar

coisas breves; um sorriso, uma feição ou um gesto feito

pelo personagem. Indicações mais longas devem ser colocadas

no texto. Há um recurso que pode ser utilizado que se chama

rubrica, este recurso, que aparece embaixo do nome do

personagem quando ele vai dizer ou fazer algo, deve ser

utilizado sem excessos. Por exemplo:

Rodrigo

(Enfurecido)

Sai daqui, seu patife, ordinário!

Para reforçar estes detalhes que foram ressaltados

irei colocar, a seguir, extratos de roteiros de filmes

nacionais, apenas para vermos como esses recursos são

utilizadas.

Do roteiro de:

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32

“Se eu Fosse Você”, com Tony Ramos e Glória Pires.

6. EXT - QUIOSQUE NA LAGOA – DIA

Helena e Paula tomam uma água de coco.

PAULA

Mas vocês não ficaram de conversar?

HELENA

A gente já conversou mil vezes.

PAULA

E o que é que ele diz?

HELENA

Não diz nada. Fica com aquela cara

de cachorro Sem dono e eu fico falando sozinha.

PAULA

(minimizando)

Homem é assim mesmo, Helena.

Helena olha para ela com uma ponta de irritação. Paula se

defende.

PAULA

Bom, eu não tenho experiência nessa área,

mas é o que as mulheres vivem dizendo.

HELENA

Pode até ser, mas se for pra continuar

desse jeito eu não quero. Não vale a pena.

Observe acima o modo como a cena é escrita. Se puder

ver essa cena no filme, seria muito bom. Observe que não há

floreios literários, tudo é muito simples e direto. Veja na

terceira fala de Paula, o uso de rubrica.

O talento do roteirista consiste, nesse sentido e

conforme Nogueira (p.13) em fazer uma escrita fascinante

sem sacrificar a objetividade, surpreendente sem eliminar a

inteligibilidade, clara sem destruir o mistério.

No roteiro de Cidade de Deus surge outro recurso que

indica para o diretor qual o destaque que o roteirista

gostaria de dar à cena, ou seja, o que deverá estar em

evidência. Reproduzo aqui o trecho do roteiro para depois

explicar:

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33

1 EXT. CASA DE ALMEIDINHA – DIA

Abrimos com a imagem de um FACÃO sendo afiado.

CARACTERES em superposição: 1981

Ouve-se o murmúrio de VOZES alegres, vozes CANTANDO um

samba acompanhado de um BATUQUE.

Não vemos as pessoas. Mas os sons deixam claro que se trata

de um ambiente festivo.

A letra do samba tem como tema: comida.

MÃOS NEGRAS amarram com um barbante a PERNA de um GALO. O

galo é imponente e vistoso.

Alternamos o galo --incomodado por ter a perna amarrada --

a imagens que sugerem a preparação de um almoço:

ÁGUA FERVENDO numa enorme panela. O galo parece reagir à

imagem anterior.

Batatas sendo descascadas por MÃOS de uma mulher negra.

No trecho do roteiro acima notamos que há diversas

palavras (Facão, caracteres, vozes, cantando, batuque, mãos

negras, perna, galo, água fervendo, mãos) todas elas em

letras maiúsculas no texto do roteiro. Isso ocorre quando o

roteirista quer indicar um destaque especial para aquele

som, objeto, animal ou pessoa.

Os espaços entre as sentenças que indicam ações

indicam uma mudança de enquadramento ou um corte entre uma

ação e outra: (COMO VEMOS ABAIXO)

Ouve-se o murmúrio de VOZES alegres, vozes CANTANDO um

samba acompanhado de um BATUQUE.

Não vemos as pessoas. Mas os sons deixam claro que se trata

de um ambiente festivo.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: No texto utilizamos o

negrito apenas para destaque. No roteiro

não se usa negrito.

Page 34: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

34

Os roteiristas devem considerar que o Diretor nem

sempre vai dar atenção à essas indicações de corte. Ele

pode, se quiser fazer duas ou mais tomadas sugeridas sem um

corte sequer.

No exemplo a seguir, extraído do roteiro de Cidade de

Deus vemos a indicação de planos diferentes:

ÁGUA FERVENDO numa enorme panela. O galo parece reagir à

imagem anterior.

Batatas sendo descascadas por MÃOS de uma mulher negra

Do modo como estão dispostas as fases, está sendo

sugerido pelo roteirista que haja um corte entre a primeira

e a segunda ação, mas o Diretor do filme pode optar por

fazer tudo num único take, simplesmente virando a câmera

para um dos lados, onde outra pessoa está descascando as

batatas.

Apresentação de personagens

Um outro recurso importante é quando um personagem

aparece pela primeira vez na narrativa; seu nome deve ser

escrito em maiúsculas, por exemplo.

Agora mostrarei como foi escrita a primeira cena do filme

“Se eu Fosse Você”, com Tony Ramos e Glória

Pires”, onde aparecem os nomes dos personagens pela

primeira vez. Observe que está todo em letras maiúsculas.

1. INT QUARTO DIA

O despertador toca, na mesinha de cabeceira. A mão de uma

mulher aciona a trava. Esta ação é repetida três ou quatro

vezes numa montagem rápida, vista em ângulos ligeiramente

diferentes. O despertador silencia. HELENA senta-se na

cama. Fica alguns segundos com os braços cruzados, o corpo

dobrado sobre os joelhos. Em seguida, balança a cabeça,

espantando o sono e olha para o lado. CLÁUDIO continua

dormindo. Ela tira as cobertas de Cláudio e dá um cutucão

em seu ombro. Cláudio abre o olho com esforço. Helena não

Page 35: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

35

diz nada, apenas vira o despertador para ele e sai do

quarto. Reação de Cláudio.

Um detalhe importante. Observe que quando os nomes

aparecem de novo na mesma cena, as letras já não aparecem

mais em maiúsculas, isso só ocorre na primeira vez que se

escreve o nome dos personagens no roteiro.

Outro detalhe é que a letra padrão para roteiros é

“Courier” ou “Courier new”. O software Celtx e outros

programas de escrita de roteiros já vêm formatados com essa

fonte como padrão, que é a que estamos usando neste livro.

Recursos indicativos de som e diálogo

Ainda tratando da escrita de roteiros quero enfatizar

alguns tópicos que considero importantes. Vamos conhecer

algumas minúcias dos roteiros, alguns recursos que são

utilizados por roteiristas no mundo todo, como POV, VO e

VOF e ainda a planificação implícita, conforme nos fala

Altier (p.27-31).

POV ou PDV significam a mesma coisa, mas estão

escritas em idiomas diferentes, POV = Poin Of View e PDV =

Ponto De Vista. É quando a câmera funciona como se fosse os

olhos do personagem, tal como um jogo em FPS (First Person

Shootter) ou, Atirador em Primeira Pessoa. Há diversos

filmes que utilizam esse tipo de tomada. Por exemplo,

quando se vê uma vítima fugindo de um assassino, a vítima

está na frente da câmera, correndo e vez por outra olha

para trás. Os espectadores “se vestem” com a pele do

assassino, perseguindo a sua vítima.

OFF (de Off screen) significa que o objeto em questão

está fora do campo de visão da câmera. Por exemplo, uma

mulher chega em casa e ouve o barulho do chuveiro.

Page 36: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

36

Deduzindo ser seu marido o chama pelo nome, o homem jaz

morto no Box. Como ficaria isso num roteiro:

INT. – BANHEIRO DA CASA DE FERNANDA – DIA

O corpo de Josué está deitado no pequeno Box do banheiro da

casa de Fernanda. Ele está morto e o chuveiro continua

ligado, derramando sua água por sobre seu corpo sem vida.

Ao fundo ouve-se a voz de Fernanda, que recém chegou do

trabalho.

FERNANDA

(off)

Josué, cheguei. A essa hora

Ainda tomando banho?

Com a indicação da rubrica o diretor entende que quem

fala não aparece na cena, isso é, está fora da tela (off

screen).

VO (Voice Over), significa que a fonte do som não

está na cena, pode ser uma narrativa ou uma trilha sonora.

Abaixo irei reproduzir um trecho do roteiro Cidade de Deus,

onde há vários exemplos de aplicação desse recurso.

--------------------- / / ---------------------------

(...) Busca-Pé ainda na pose de goleiro desajeitado. A

imagem congela.

BUSCA-PÉ

(V.O.)

Na Cidade de Deus, não dá pra saber o que é

pior: encarar os bandidos ou a polícia. É

um bangue-bangue sem mocinho. E sempre foi

assim... Desde que eu...

EXT. CAMPINHO - DIA 3

Um grupo de garotinhos jogando futebol. Entre eles estão os

meninos Busca-Pé e Barbantinho. A idade dos garotos varia

de 8 a 10 anos.

CARACTERES em superposição: ANOS 60

O MENINO BUSCA-PÉ está jogando como goleiro. Seus gestos

são idênticos aos do jovem Busca-Pé tentando agarrar o galo

na cena anterior.

Page 37: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

37

A bola vem na direção dele.

E passa por entre as pernas do menino, que se revela um

frangueiro.

BUSCA-PÉ

(V.O.)

(...) me conheço por gente.

Gritos da molecada. O jogo continua.

BUSCA-PÉ

(V.O. cont.)

Muito malandro já chegou na Cidade de Deus

com experiência ou com disposição pra bandidagem...

Neste exemplo deixamos em negrito apenas os diálogos,

que é o que queremos destacar para você aprender o que é um

V.O ou um Voz em Off, como se diz no jargão. Esse recurso

permite que o roteirista possa usar sua criatividade para

dar dinâmica à história.

Planificação implícita

Planificação implícita, segundo Altier (p.31)

significa um recurso que pode ser usado, mas sem exagero

pelo roteirista que faz questão que determinada cena seja

filmada da maneira como ele a imaginou. Como num roteiro

dentro dos padrões não se expressa os planos a serem

filmados e sim somente a ação e os sons (isso fica a cargo

da equipe de decupagem do Diretor de fotografia) a

planificação implícita permite sugerir alguns

enquadramentos específicos que se não forem realizados

poderão colocar em risco a beleza da produção. Ademais, a

decupagem pode desviar a atenção do roteirista do seu foco,

que é a narrativa, conforme Altier nos alerta:

“Ocupado com considerações técnicas

sobre as quais não tem qualquer

poder, perde a meada da história, o

Page 38: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

38

tema descamba, as personagens

tornam-se inconsequentes, os

diálogos ficam vazios e o

protagonista de frente ou de

perfil, não apresenta qualquer

interesse”.

“É possível orientar de forma inteligente e discreta

o realizador, nas suas opções...” nos diz Altier logo em

seguida. A planificação implícita é mais uma técnica ou

recurso à disposição do roteirista que gosta de exercer seu

lado mais fotográfico. Vamos a um exemplo.

EXT – PRAÇA XV DE NOVEMBRO - DIA

Uma multidão caminha para todas as direções, utilizando a

praça como atalho. De repente vemos que a multidão forma um

círculo em torno de um corpo que está caído na calçada. O

homem possui um ferimento à bala na testa.

Como podemos ler acima hora a câmera está realizando

um take em GPG (Grande Plano Geral), mas há a necessidade

de mostrar o tiro na testa do morto, em GPG será muito

difícil o espectador notar que o pobre homem levou um tiro

na testa.

Nesse sentido será inevitável para a equipe de

decupagem, colocar um plano de detalhe (DET) no roteiro,

bem como imaginou o roteirista. A última frase do exemplo

utiliza a planificação implícita para satisfazer o desejo

do roteirista.

Para Nogueira (2010, p. 11), apesar das limitações

que um roteirista sofre numa produção:

“ele pode e deve socorrer-se

das (vastas) potencialidades

expressivas da linguagem

escrita para sugerir aquela

que entende como a melhor

maneira de filmar a ação”.

Como “insinuar” modos de visualização da sua cena

preferida. Quando escrevemos um roteiro, sempre há uma cena

pela qual temos maior carinho. Podemos pensar que aquela

Page 39: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

39

cena só ficará boa ou bonita se for filmada “daquele” jeito

que foi imaginada. Entra aí o ardil de um bom dominador das

palavras.

Por exemplo (do referido autor):

Roteiro Imagens

Uma gota de suor brilha na sua face Plano de Pormenor [DETALHE]

A Vasta planície acorda suavemente Plano Geral

Acompanhamos “X” ao logo da rua Travelling horizontal

O roteirista apenas deve propor, sem a utilização de

planos, como PG, FI ou qualquer outro plano, uma maneira

como a cena pode ser filmada, por que esse trabalho de

“planificar” uma cena é função da equipe de decupagem.

Idas e vindas no tempo

Há ainda as indicações de tempo, como FLASHBACK e

REGRESSO AO PRESENTE ou TEMPO PRESENTE. Em filmes no qual

que esse recurso seja necessário, essas indicações sempre

aparecerão em maiúsculas e antes do cabeçalho da próxima

cena. Por exemplo:

INT – BAR DO JOÃO – NOITE

Rudinei está sentado ao balcão do bar. Ele olha fixamente

para o copo de bebida.

FLASHBACK

EXT – BECO DO CAVEIRA – NOITE

Rudinei segura uma metralhadora enquanto seus colegas

policiais fazem uma revista em um suspeito que está

encostado num muro com as pernas e braços abertos. De

repente ouve-se tiros e Rudinei vê seus COLEGAS CAINDO AO

CHÃO, enquanto o suspeito sai correndo. Ele olha para todos

os lados enquanto se protege atrás de um poste no beco. O

POSTE começa a ser atingido por diversos tiros.

TEMPO PRESENTE

INT – BAR DO JOÃO – NOITE

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40

Rudinei chorando é tocado por uma MÃO FEMININA, enquanto

ouve uma suave voz que lhe pergunta se ele paga a ela um

drink.

MULHER

Me paga um drink, moço?

Transições de cenas

As transições são anotações que se escrevem no canto

inferior direito do roteiro. Se não houver indicação

nenhuma, o corte é seco, às vezes vemos em alguns roteiros

a indicação de “corta para”, mas se não houver indicação já

é perfeitamente compreensível que se deseja ali, um corte

seco, de uma cena para outra.

Às vezes queremos fazer uma transição mais suave, de

uma cena para outra, então podemos sinalizar com “fade in”,

ou “fade out”. As transições servem para dar dinamismo ao

filme e para comunicar melhor o que o roteirista deseja.

Pesquise roteiros, baixe roteiros em inglês de filmes

que você já tenha visto. Há diversos sites que os

disponibilizam. Aqui o roteiro do filme Titanic de James

Cameron, para você dar uma olhada. Ele se encontra fora da

formatação padrão, mas outros sites como

http://www.simplyscripts.com/movie.html podem oferecer para

download roteiros em PDF. Em português vá ao site roteiro

de cinema (link já fornecido)

No capítulo seguinte iremos tratar de algo muito

importante, a narrativa. Sem conhecer os fundamentos da

narrativa não há como ser um bom roteirista. Não há

criatividade que fique organizada de forma atrativa, se não

se tiver noção do que se está contando. Todo roteirista

possui uma grande auto-estima, caso contrário, nem pegaria

numa caneta. Todos nós nos consideramos bons, até o momento

em que comparamos nossas histórias ou roteiros com os de

outras pessoas e nos sintamos um péssimo roteirista. Não se

Page 41: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

41

assuste, se isso já aconteceu com você. Esse choque é

normal quando passamos da questão meramente prática à

questão da teoria.

Essa ligação entre teoria e prática, em minha opinião

é essencial para se fazer melhor. Antes de ler muitos

livros sobre roteiros eu já escrevia histórias. Quando eu

fui buscar conhecimento minha técnica melhorou 1000%, pois

agora conheço alguns fundamentos que me ajudam a escrever

de forma ordenada, técnica e consciente. Antes eu apenas

escrevia, contava a minha história pensando “Nossa que

história legal essa, vai fazer sucesso”. Depois de algum

tempo, quando eu a lia novamente achava-a ridícula, estava

desordenada, os personagens sem rumo, diálogos

desnecessários etc.

Nesse sentido, as técnicas de narrativa são

essenciais para TODO o roteirista, quer seja formado em

cinema, quer seja um auto-didata, como eu.

Page 42: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

42

Capítulo 4 A tradição Narrativa

Até essa parte do livro você pôde ver como se escreve

um roteiro, se não com todas as suas nuances, pelo menos

com a maioria dos recursos encontrados em manuais.

O meu desejo de repassar tudo o que tenho à minha

disposição me faz correr o risco de querer ser pretensioso

demais, escrevendo sobre um assunto no qual me insiro como

curioso, autodidata ou pesquisador.

Minha pesquisa para elaborar este material está me

dando mais trabalho que imaginei que daria. Tenho uma

pequena biblioteca de livros sobre produção e roteiros

cinematográficos (ver a bibliografia no final deste e-

book). Quando me interesso por algum assunto, inicio a

pesquisa comprando livros usados, fazendo buscas na

Internet e depois compro alguns livros novos que possam

“falar” com as minhas necessidades de aprendizado.

Mas escrever roteiros não se limita apenas no ato de

digitar palavras num teclado de computador contando uma

história. A história em si tem um fundamento teórico que

não quero entrar em detalhes, pois me faria duplicar o

trabalho e o número de páginas. Vou apenas despejar aqui,

alguns conteúdos que se referem à dinâmica da narrativa.

Um primeiro toque já foi dado quando tratamos do

paradigma de Syd Field, dos três atos (pág. 33), por esse

motivo vou apenas indicar a aquisição do livro desse autor;

Manual do Roteiro, editora Objetiva. Depois que li esse

livro tudo mudou pra mim, ou seja, passei a assistir os

filmes de Hollywood de outra forma, buscando os pontos de

virada, os “plots”, de cada ato. Poucos filmes da grande

indústria saem desse esquema.

Qual o evento que marca a passagem do primeiro para o

segundo ato em “De volta para o Futuro”? Na minha opinião é

Page 43: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

43

quando Marty McFly vê o Doutor Brown ser assassinado pelos

terroristas que vieram pegar seu plutônio de volta. Marty,

pega o carro em fuga desses terroristas, acaba viajando no

tempo, conhecendo seu pai, ainda solteiro e tendo como

missão uni-lo à sua mãe. Os obstáculos são grandes, sua mãe

está apaixonada por ele e o Grande Biff passa a persegui-

lo.

É realmente excitante poder ver um filme dessa

maneira, claro, depois de curti-lo como um espectador

comum, voltar a vê-lo de outra forma. Acho que todo o

roteirista é um cinéfilo inveterado.

Mas e a narrativa, o que se tem sobre ela? Muitos

livros e muito estudo. Mas eu não poderia deixar de colocar

aqui dois detalhes que surgem no livro de Dominique Parent-

Altier. O primeiro se refere sobre o mito como fundador da

tradição, fazendo menção à obra de Joseph Campbel (O herói

das mil faces) e à de Christopher Vogler (The Writer’s

Journey: mythic struture for writers) algo que se poderia

traduzir por: “A viagem do escritor: estrutura mítica para

roteiristas”.

Vogler faz uma leitura da obra de Campbel e nos

presenteia com os 12 passos do herói, que passo a citar

abaixo, sendo que esses passos apresentados por Vogler

estão ainda divididos numa estrutura ternária, que na minha

opinião seria; início meio e fim, ou ainda; apresentação,

conflito e resolução (Syd Field).

Nesse sentido quase todas as histórias bem contadas,

tanto oralmente quanto na forma de imagens e sons, devem

seguir esses princípios. A apresentação iria do número 1 ao

4, o conflito do 5 ao 8 e a resolução do 9 ao 12:

Veja abaixo os 12 passos do herói de Vogler.

Page 44: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

44

Jornada do herói mitológico, ou estrutura

mitológica para construção de histórias.

1. O mundo vulgar

2. Apelo à aventura fora do lar

3. Rejeição desse apelo

4. Encontro com o amigo, mentor ou guia

5. Transposição da primeira etapa

6. Encontro com os aliados ou com os inimigos

7. Aproximação ao coração da terra estranha

8. Prova suprema

9. Recompensa

10. Caminho de regresso

11. Ressurreição ou compreensão

12. Regresso ao lar

Clicando nesse link você vai acessar a home Page onde são

aplicados esses 12 passos no filme Guerra nas Estrelas. E

clicando nesse você lerá um texto com uma explicação mais

teórica da jornada do herói mitológico.

Outras dicas de sucesso para escrever histórias são as

dicas da Pixar, empresa que fez “Toy Story”, grande sucesso.

Emma Coats, tweetou 22 dicas de como criar histórias como

eles criam, seja para o cinema ou para a publicidade.

1. Um personagem deve se tornar admirável pela sua

tentativa, mais do que pelo seu sucesso.

2. É preciso manter em mente o que te cativa como se você

fosse parte do público, e não pensar no que é divertido de

fazer como escritor. As duas coisas podem ser bem

diferentes.

3. A definição de um tema é importante, mas você só vai

descobrir sobre o que realmente é a sua história, quando

chegar ao fim dela. Então reescreva.

4. Era uma vez um/uma________. Todo dia,__________. Um dia,

então__________. Por causa disso, __________. Por causa

disso__________. Até que finalmente_______.

5. Simplifique. Tenha foco. Combine personagens. Não desvie

do principal. Você sentirá como se estivesse perdendo

material valioso, mas ficará mais livre.

Page 45: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

45

6. No que os seus personagens são bons e o que os deixa

confortáveis? Coloque-os no lado oposto a isso. Desafie-os.

Como eles lidarão com essas situações?

7. Crie o final antes de saber como será o meio. Sério.

Finais são difíceis, então adiante o seu trabalho.

8. Termine a sua história e deixe-a, mesmo que não seja

perfeita. Siga em frente. Faça melhor da próxima vez.

9. Quando você tiver um “branco”, faça uma lista do que não

irá acontecer no andamento da história. Muitas vezes, é

assim que surge a ideia de como continuar ela.

10. Separe as histórias que você gosta. O que você vê de

bom nelas é parte de você. É preciso identificar essas

características, antes de usá-las.

11. Colocar no papel permite que você comece a consertar as

falhas. Se deixar na sua cabeça até aparecer a ideia

perfeita, você nunca compartilhará com ninguém.

12. Ignore a primeira coisa que vier a sua cabeça. E a

segunda, terceira, quarta, quinta – Tire o óbvio do

caminho. Surpreenda a si mesmo.

13. Dê opiniões aos seus personagens. Passivo/maleável pode

parecer bom enquanto você escreve, mas é um veneno para o

público.

14. Por que você precisa contar essa história? Qual é o

combustível que queima dentro dela, e do qual ela se

alimenta? Esse é o coração da história.

15. Se você fosse o seu personagem, e estivesse na mesma

situação, como você se sentiria? Honestidade dá

credibilidade para situações inacreditáveis.

16. O que está em jogo? Nos dê uma razão para nos

importarmos com o personagem. O que irá acontecer se ele

fracassar? Coloque as probabilidades contra o sucesso.

17. Nenhum material é inútil. Se não está funcionando,

largue de mão e siga em frente. Ele pode ser útil mais

tarde.

18. Você deve saber a diferença entre dar o seu melhor e

ser espalhafatoso. Histórias são para testar, não para

refinar.

19. Coincidências que coloquem os personagens em problemas

são ótimas; as que os colocam fora deles, são trapaça.

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46

20. Exercício: Divida em pedaços um filme que você não

gosta, e o reconstrua de forma que ele se torne um bom

filme em sua opinião.

21. Você deve se identificar com as situações e reações dos

seus personagens, e não escrevê-las de qualquer forma. Você

agiria da mesma maneira que eles?

22. O que é essencial na sua história? Qual a forma mais

curta de contá-la? Se você souber a resposta, pode começar

a construí-la a partir daí.

Para saber mais sobre narrativa leia os capítulos

sobre o assunto nos livros indicados na bibliografia, no

final deste e-book.

Page 47: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

47

Capítulo 5 Escrevendo seu roteiro no Celtx

O ofício de roteirista exige que se utilizem todos os

recursos a nosso alcance, para atingirmos nossos objetivos.

Afinal, é para isso que existe a tecnologia. O CeltX é um

software feito sob medida para roteiristas de todos os

gabaritos. É de fácil utilização, mas para quem não o

conhece é sim, um bicho de sete cabeças. Por isso decidi

colocar esse capítulo sobre o uso desse programa que é

extremamente útil. O melhor de tudo é o este programa

“fala” nossa língua, ou seja, ele é em português do Brasil,

logo, não teremos dificuldades em dominá-lo.

Vou começar com a página da web, de onde você poderá

instalar, de forma gratuita o Celtx. Nesse site você terá

que se cadastrar para ter acesso ao programa cloud1, ou

faça o download, no Softonic. Ao iniciar o Celtx você verá

a tela abaixo.

À esquerda vemos no menu as opções de projeto e à

direita, os projetos que vamos desenvolvendo, vão sendo

mostrados. Os títulos ao lado são de alguns projetos que

estão em desenvolvimento por esse que vos escreve.

Provavelmente você desejará escrever o roteiro de um filme,

então clique na barra que será formada ao aproximar o

cursor do mouse da claquete e da palavra “Filme”.

Nossa dica é que antes de abrir o Celtx, você tenha

um rascunho escrito numa folha de caderno ou bloco com

linhas. Inicie pela story-line, desenvolva a sinopse,

escreva o argumento, faça as escaletas, estude a ordem

delas e só então abra o Celtx para iniciar seu roteiro.

1 Significa “nas nuvens”, ou seja, você pode escrever seus roteiros sem baixar o programa e sem ocupar

espaço no seu HD, mas para quem não conhece o software, não representa uma vantagem.

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Você deve escrevê-lo sem receios, inicie pelos I

Inicie seu roteiro pelo primeiro cabeçalho, depois

escreva a primeira cena de forma objetiva, sem floreios,

como foi indicado acima neste livro. Vamos mostrar como

fazer isso.

Page 49: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

49

Ao clicar na claquete irá abrir a seguinte tela.

Preste atenção às setas que foram colocadas e que se

pode ver na tela. Elas indicam a função ou qual parte do

roteiro se está escrevendo. No exemplo acima, a seta 1

indica o botão de funções e a seta 2, o cursor ou linha já

esperando por suas indicações.

*A figura acima representa uma ampliação da janela de funções.

1

2

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50

Vê-se as palavras Cabeçalho, Ação, Personagem,

Diálogo, Rubrica, Transição, Plano e Texto. Cada palavra

destas possui uma função específica no ato de escrever o

roteiro e coloca o cursor, no local certo dentro da

formatação do roteiro, colocando o texto dentro das normas

vigentes de escrita de roteiros.

Escreva um cabeçalho na parte escurecida do campo do

texto. Deverá ficar assim: depois de escrito seu cabeçalho,

dê um “Enter”

O cursor irá parar logo a baixo. Escreva a primeira

cena. Não esqueça, somente o que pode ser filmável, ação

dos personagens e alguma descrição do cenário, se for

estritamente necessária. Como no exemplo abaixo.

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51

Acima se podem ver a descrição da primeira cena do

nosso suposto filme (aquele do executivo e da babá

trancados no elevador, lembra?).

Perceba na figura acima que o botão de opções está em

“Ação”. Ao lado esquerdo vê-se a janela de biblioteca do

projeto (acima) e abaixo o cabeçalho da primeira cena que

está sendo escrita. À direita vemos a descrição da cena que

deverá ser filmada.

Agora vamos inserir um diálogo. Clique na aba ação e

escolha “Personagem”, assim como vemos abaixo.

Depois de colocar o nome do personagem que vai falar

aperte “enter” novamente e o cursor vai parar abaixo para

iniciar a escrita do diálogo, assim como se vê na figura

acima. Abaixo, o diálogo do personagem. Esses seriam seus

primeiros passos, caso nunca tenha operado no Celtx.

Digamos agora que você está satisfeito com a sua cena

e pretende iniciar a próxima cena. Basta clicar lá em cima,

no botão das opções e escolher novamente “Cabeçalho”.

Vamos mostrar agora alguns recursos adicionais que

acho que vale a pena para todo operador do Celtx, se bem

Page 52: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

52

que bastam alguns dias operando o sistema para se tirar

muito proveito dele, ademais existem tutoriais oficiais no

youtube.com

Recursos adicionais do Celtx.

Bem abaixo na tela do Celtx, há uma série de abas que

possuem importantes funções. Escrevendo seu roteiro estará

em destaque a aba “Roteiro”. Ao lado desta vê-se

“Formatação/PDF”, isso mesmo, o Celtx formata seu roteiro

em .PDF para você imprimir ou mandar aos membros de sua

equipe ou pessoas que vão analisá-lo. *Para essa função o

computador deverá obrigatoriamente estar conectado à

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53

internet, caso contrário ele não irá passar para PDF, o seu

roteiro.

Quando você clica na aba “Página Título” abre a capa

do roteiro, a folha de rosto, com o título do filme, seu

nome etc, para você preencher os dados de seu roteiro. É

muito interessante, vou mostrar na próxima figura:

Quando você formatar seu roteiro em PDF, a página de

rosto do roteiro sairá com essas informações. Na aba

borrador você coloca anotações. Na aba Fichas, você pode

preencher com o que seriam as escaletas do seu projeto.

Um último recurso, interessante para o roteirista

iniciante em Celtx e em roteiros é a aba “Relatórios”. Essa

aba possibilita o roteirista tirar um “extrato” de todos os

diálogos de cada personagem (ótimo para imprimir e entregar

para cada ator do seu projeto). No caso de nosso exemplo,

fizemos apenas um diálogo para você aprender como se faz

para inserir no programa. Ao clicar na aba “Relatórios”

você terá uma visão dos diálogos assim como mostrado

abaixo. Se você tivesse cinco personagens bastaria

selecionar qual personagem você quer imprimir o diálogo e

dar o comando no ícone da impressora.

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54

Abaixo o “Extrato” do diálogo de Jorge Casagrande, o nosso

personagem do exemplo.

O Celtx possui muitas outras ferramentas como; fazer

a storyboard de seu projeto, colocar fotos, fazer um

rascunho do posicionamento das câmeras. Esses recursos não

fazem parte da proposta inicial desse e-book. Propus-me

apenas a iniciá-lo nesse maravilhoso e útil programa. Até

por que não sou nenhum craque em Celtx, uso apena parte de

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55

suas ferramentas. A versão em Cloud ainda não me sinto

seguro de usar, mas sei que logo chegarei lá.

Essa versão cloud você acessa em:

Celtx.com, mas tem que se cadastrar. Há vários tutoriais em

português que valem a pena ser lidos ou vistos quando forem

em vídeo.

ADVERTÊNCIA

A parte que apresentaremos a seguir, se trata

apenas de conhecimento técnico sobre

planificação. Num roteiro, não se utiliza essa

linguagem, não se coloca, de forma explícita

um plano em que a câmera deverá enquadrar

as personagens, nem como deverá se

movimentar. Isso é trabalho para o Diretor de

Fotografia, que vai definir a decupagem do

roteiro, que é a colocação e definição dos

planos.

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56

Capítulo 6 LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA

ssim como as artes possuem uma forma

particular de se comunicar com os seus

consumidores, o cinema possui, também uma

forma bastante própria de comunicar-se com os que assistem

filmes ou qualquer outro tipo de obra audiovisual. A

pintura utiliza imagens estáticas e seus instrumentos são

os pincéis e telas. A música se comunica com as pessoas

através de sons que, devidamente colocados em forma de

duração, altura, pausas e sequências, agradam ao ouvido

humano. Por sua vez, o cinema utiliza imagens em movimento,

sons e diálogos para comunicar-se com o seu público, no

entanto, não está livre de suas características próprias e

códigos específicos de linguagem.

Essa linguagem indica determinados recortes na

história que está sendo contada; temos então a diegese, a

elipse, os planos, as cenas e as sequências, temos também

os movimentos e ângulos de câmera, que vão ajudar a

transmitir determinadas sensações aos espectadores de

nossos filmes.

Diegese

Diegese significa uma ação temporal do filme e ocorre

sempre que há uma mudança de tempo na narração. Pode ser

curta, média ou longa. Um exemplo de diegese pode ser um

corte simples; uma família recebe a notícia que um de seus

filhos está numa delegacia, pois acabara de ser assaltado.

Os pais depois de atenderem a ligação passam a procurar

seus documentos para saírem de casa em direção à delegacia.

A

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57

Ao fecharem a porta da casa há um corte seco para o

interior da delegacia com os pais chegando apreensivos.

Esses tipos de cortes na própria ação temporal do filme

chamam-se diegese e podem variar entre curta (o exemplo

acima) e longa; que pode ser exemplificada pela conhecida

frase que muitas vezes aparece em alguns filmes; “19 anos

depois” ou “uma semana depois”. Nesse sentido, o roteirista

precisa dominar as diegeses para manter a continuidade e

inteligibilidade da narrativa.

ELIPSE

Segundo Chris Rodrigues (2010, p. 25), a elipse

consiste na “supressão de um ato dramático, o qual será

resolvido posteriormente”. Um exemplo de elipse seria

quando em um filme de guerra, por exemplo, o personagem (ou

a personagem – os dois estão corretos) de arma em punho com

um grupo de soldados inicia um combate. Após um Fade In, o

personagem aparece em casa numa cadeira de rodas, dando a

entender que ele foi atingido e que ficou paraplégico. O

ato dramático do momento em que a personagem foi atingida e

socorrida pelos companheiros, depois carregada até a

enfermaria etc.

O domínio da linguagem da elipse permite ao

roteirista escrever de forma criativa a sua narrativa,

evitando narrar coisas óbvias, mas também deixando o

espectador pensar por si mesmo.

Foco Dramático O foco dramático consiste no ponto ou pontos e

personagem ou personagens onde o roteirista quer que a

atenção do espectador seja atraída. Segundo Chris Rodrigues

(2010, p.26) a atenção do espectador estará voltada para os

seguintes pontos na tela e na trama; 1. O personagem que

Page 58: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

58

estiver falando, 2. O personagem que se movimentar, 3. O

personagem mais bem iluminado ou com roupa mais clara, 4. O

personagem em foco, o personagem em primeiro plano e 5.

Ponto brilhante na cena mais escura ou ponto mais escuro em

uma cena.

O uso deste recurso se limita mais ao diretor, mas o

roteirista pode, em sua narrativa, indicar o que estará em

foco na cena que está sendo escrita.

Os Planos Plano é a menor porção de imagem em um filme e “a

menor unidade narrativa de um roteiro técnico” (Chris

Rodrigues, 2010, p.26), é o que ocorre entre o momento em

que o diretor fala “ação” e depois “corta”. O tempo de

duração de cada plano varia de acordo com o roteiro, que

dita as necessidades dramáticas de cada cena. Do maior ao

menor plano, vamos estudar de forma rápida como normalmente

se enquadram os objetos na cena.

Grande Plano Geral - GPG

É o plano mais aberto possível. É essencialmente

descritivo e abrange uma grande área; uma cidade, um campo,

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59

montanhas etc. Um personagem nestes meios, em GPG, seria

quase imperceptível.

Plano Geral - PG

Plano utilizado para aproximar o espectador da

personagem, que no momento está num contexto maior. Possui

caráter mais descritivo. Geralmente aparece nos inícios ou

nos fins dos filmes, mas podem aparecer no meio da

narrativa, conforme necessário.

Figura Inteira - FI

A Figura Inteira é um plano narrativo, pois destaca a

personagem que está enquadrada dos pés à cabeça, sendo esta

individualizada.

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60

Plano Americano - PA

O Plano Americano capta o personagem dos joelhos para

cima, possuindo uma função mais dramática, pois mostra o

personagem com mais detalhes.

Plano Médio - PM

O personagem é enquadrado da cintura para cima.

Normalmente é utilizado para mostrar o movimento das mãos

do personagem.

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Primeiro Plano - PP

No Primeiro Plano somente a cabeça do personagem é

enquadrada, podendo incluir os ombros. É um plano

essencialmente dramático, pois explora as emoções do

personagem.

Close-Up (ou Primeiríssimo Plano – PPP)

O Close-up ou Primeiríssimo Plano mostra na tela

apenas a cabeça do personagem. Possui alta carga dramática,

pois mostra as emoções de forma intensa. Uma pessoa

chorando em PPP mostraria de forma mais fácil a lágrima

caindo do olho, o que traria maior emotividade à narrativa.

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Super Close-Up

Semelhante ao PPP, o Super Close-Up aproxima mais

ainda o rosto da personagem da tela, captando mais detalhes

e proporcionando maior dramaticidade à cena. Esse plano

pode ser mais fechado ainda, podendo cortar uma parte da

cabeça da personagem, em baixo ou em cima.

Plano Detalhe - DET

O Plano Detalhe ressalta uma parte do corpo da

personagem e não possui função dramática e sim descritiva.

No caso da figura acima mostra a mão de um personagem

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63

escrevendo. Ele poderia estar estudando para o vestibular

ou escrevendo uma carta para o pai que está preso, ou

ainda, escrevendo uma carta aos parentes, antes de

suicidar-se.

A Cena Segundo Chris Rodrigues (2010, p. 54), a cena é um

conjunto de planos. No roteiro a cena normalmente aparece

com um cabeçalho que deve ser bem enxuto e incluir; Onde a

cena se passa (Interior ou Exterior). O Título da Cena

(quarto de João, cozinha da casa de Suzana, bar do Zé etc).

É também necessário que o roteirista padronize os nomes ou

títulos das cenas para que a produção saiba de antemão onde

a cena vai ser filmada. Finalmente, o cabeçalho deverá

conter o momento em que a cena se passa (dia, noite,

entardecer ou amanhecer).

Outro ponto importante é que as cenas não devem ser

numeradas, como se vê em alguns roteiros. Na hora de filmar

dificilmente elas serão produzidas na ordem em que estão

organizadas. Por exemplo, se as cenas 3 e 8 forem na mesma

locação (cozinha de Suzana) elas poderão ser filmadas no

mesmo dia, desrespeitando a ordem numérica colocada no

roteiro, por isso desaconselhamos a colocação de números

nos cabeçalhos.

Cada vez que uma cena termina, deverá ser escrito

outro cabeçalho, e isso ocorre sempre que houver uma

mudança de espaço e tempo. Nesse caso sendo desnecessária a

colocação do termo “corta para:”

Se houver um plano sequência (mudança de espaços

próximos sem corte na cena), isso será indicado pelo

roteiro com a continuidade da narrativa; Por exemplo:

“Jorge está no quarto quando ouve um barulho na cozinha.

Levanta-se devagar, pega sua arma e avança passo a passo,

atravessa a sala, olha para o quarto de seu filho que está

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64

com a porta aberta e vazio, até chegar na cozinha onde

encontra um rapaz desconhecido com o seu botijão de gás nos

ombros”.

O cabeçalho deverá então, ter a seguinte aparência:

(Exemplo de cabeçalho ): INT – QUARTO DE JORGE – NOITE

A redação da ação deverá ser sempre no tempo

presente. Repetiremos o exemplo acima para que fique bem

afixado este exemplo:

INT – QUARTO DE JORGE – NOITE

Jorge está no quarto, sentado em sua cama examinando

algumas fotografias. Ele ouve um barulho na cozinha e olha

naquela direção. Levanta-se devagar, pega sua arma que

estava no coldre pendurado na porta do roupeiro e avança

passo a passo. Atravessa a sala, olha para o quarto de seu

filho no corredor à esquerda, que está com a porta aberta e

vazio. Ao chegar na cozinha depara-se com um rapaz

desconhecido com o seu botijão de gás nos ombros.

Outras dicas de Chris Rodrigues (2010, p. 55) sobre a

escrita da cena; “No texto de uma cena, cada vez que uma

ação termina, a próxima deve estar em outro parágrafo,

mantendo sempre espaço duplo entre parágrafos”.

Veremos no próximo capítulo o que é sequência, e

quais os principais movimentos de câmera na linguagem

cinematográfica.

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65

Capítulo 7 - A Sequência

Segundo Parent-Altier (2009, p. 22) a sequência em

uma obra cinematográfica é uma “sucessão de cenas que tem

também uma unidade temática, temporal ou espacial”. Na

verdade, identificar as sequências nos filmes que

assistimos é muito fácil; a “sequência do assalto”, a

“sequência do beijo”, ou seja, é o conjunto de cenas que

culminam em algo de interesse para o filme. Se pensarmos

num filme nacional, por exemplo, podemos citar a sequência

em que Tony Ramos descobre que na verdade o seu corpo é o

de Glória Pires e vice-versa.

Estas sequências, iniciais no filme, determinam o que

será a história. Inicia, se bem me lembro com Glória Pires

(a mente de Tony Ramos) acordando. Ele (Ela) acorda,

levanta-se calmamente e vai até o espelho do quarto,

levando (ele) um grande susto quando se dá conta de que

está com o corpo da esposa.

Pode-se, segundo a preferência do roteirista, após

escrever o argumento, tomando-se o devido cuidado para não

confundir com uma cena longa. Cena constitui-se, como vimos

acima, de uma sequência de planos que “deixam intacta a

continuidade temporal e espacial” (Parent-Altier (2009, p.

22).

Uma sequência por sua vez, como disse Chris Rodrigues

(2007, p. 26):

“Mal comparando com um livro, podemos dizer que : a)

um plano é uma palavra; b) um conjunto de planos (cena) é

uma frase; c) um conjunto de cenas (sequência) é um

capítulo”.

Page 66: Para Estar Entre Os Melhores - 2013

66

Capítulo 8

MOVIMENTOS DE CÂMERA

Os movimentos de câmera dão mais vida aos filmes,

tornando-os menos monótonos e enfadonhos. Normalmente

possuem caráter descritivo, mas podem ser dramáticos se sem

utilizados para esse fim.

Panorâmica

O movimento conhecido como Panorâmica consiste no

movimento que a câmera faz em seu próprio eixo. É como se

nós olhássemos o ambiente da esquerda para a direita ou

vice-versa, é um movimento descritivo, normalmente

utilizado para mostrar um local uma paisagem, uma multidão

etc.

Normalmente este movimento é realizado com o auxílio

de um tripé; equipamento que sustenta a câmera e lhe dá

estabilidade total.

Tilt (down & up)

O Tilt down é o movimento em que câmera realiza de

cima para baixo; como se estivéssemos olhando algo no alto

e lentamente baixamos a cabeça até a altura dos olhos. É

também um movimento descritivo, mas pode ser utilizado

sabiamente de forma dramática.

O Tilt up, por sua vez seria o inverso; a partir de

um objeto ou personagem na altura dos olhos, a câmera

realiza um movimento para cima. Normalmente este tipo de

movimento é utilizado nos finais dos filmes, em direção ao

céu.

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67

Dolly

No Dolly a câmera recebe o auxílio de um carrinho ou

tripé sobre trilhos, o movimento é realizado para frente ou

para trás, em relação ao objeto ou personagem. Esse

movimento pode ser em várias velocidades dependendo do

objetivo do diretor. Em certas situações, o Dolly pode

representar a visão de um personagem da trama.

Travelling

O Travelling é também realizado com o auxílio do

mesmo equipamento que o Dolly. No entanto, o movimento é

feito lateralmente, em relação ao objeto ou personagem.

Pode ser um movimento extenso ou curto, lento ou rápido,

conforme a situação exigir. O Travelling pode ser também

realizado com o auxílio de um veículo automotor, em que a

câmera é acoplada.

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68

Capítulo 9

ÂNGULOS DE CÂMERA

Os ângulos de câmera possuem uma função mais

dramática nas obras cinematográficas. Diversos diretores

gostam muito de utilizar variações inumeráveis de ângulos

de câmera. Vamos, a seguir, falar dos três principais e de

como eles são normalmente utilizados.

Plongé

No Plongé a câmera foca o objeto ou personagem de

cima para baixo. Em determinados contextos esse tipo de

angulação de câmera serve para mostrar como um personagem é

ou se vê como superior ao outro, por exemplo, uma vez que

está o encarando de cima. Em filmes de luta, em filmes de

aventura se utilizam o Plongé com estes fins. Em Rocky 2

Silvester Stallone encara Dolf Lundgreen, que por ser mais

alto quase tira a esperança do espectador de que Rocky irá

vencê-lo. A câmera (CAM) faz um Plongé por cima do ombro de

Lundgreen, mostrando uma suposta inferioridade de Rocky.

Contra Plongé

No contra plongé a CAM foca o personagem no sentido

inverso do plongé, ou seja, de baixo para cima. Num certo

sentido esse tipo de angulação serve também para dar uma

impressão de inferioridade ou desvantagem de um personagem

em relação a outro.

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Oblícua

A câmera oblícua possui profundo efeito psicológico e

normalmente é utilizada para exprimir desequilíbrio (mental

ou físico).

Na parte seguinte veremos como o que vemos na tela da

TV ou do cinema está sendo “pontuado”. Um filme normalmente

é dividido em partes; as partes menores, a menor porção é

plano.

Concluímos aqui a parte da linguagem cinematográfica.

Procure observar nos filmes o que foi abordado aqui. Uma

boa dica é assistir o filme uma vez com volume normal e

depois assisti-lo novamente, mas desta vez com o volume

desligado. Isso ajuda a prestarmos mais atenção ao que está

sendo VISTO na tela e a captar melhor o que o filme está

querendo nos “dizer” com as imagens.

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Capítulo 10 Dicas finais

Escrever roteiros exige técnica, e treino, muito

treino. Tenho um cartaz colado em minha parede, em frente

ao local onde trabalho. Nele há 10 frases que dizem o

seguinte, tudo em inglês, mas vou traduzir;

10 passos para ser um escritor melhor

Por Brian Clark

1. Escreva

2. Escreva mais

3. Escreva ainda mais

4. Escreva ainda mais que isso

5. Escreva quando você não quiser escrever

6. Escreva quando quiser

7. Escreva quando você tiver algo a dizer

8. Escreva quando não tiver nada a dizer

9. Escreva todos os dias

10. Mantenha-se Escrevendo Conforme se constata acima, escrever é pura questão

de prática. Não devemos nem podemos nos dar ao luxo de ter

algum receio de sermos mal julgados ou mesmo

ridicularizados. Para baixar o cartaz clique no link

abaixo.

https://dl.dropbox.com/u/82586317/better-writer.pdf

Para estar entre o melhores, não basta querer. Tem

que se dedicar, amar o que faz e treinar, praticar muito.

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Espero que tenham gostado deste e-book, que não foi nada

fácil de fazer, pois como já disse acima tive que pesquisar

muito e selecionar os conteúdos pensando que eu estava

escrevendo para pessoas que nunca escreveram roteiros, mas

que realmente desejam começar a escrever. Eis os primeiros

passos. Há muito o que pesquisar, livros para comprar,

filmes para assistir e claro, filmes a produzir com nossos

roteiros prontos.

Não sei se valerá alguma coisa para o leitor, mas

depois de algum tempo de estudo me destaquei em concursos

de roteiro, nenhum oficial, mas ter um roteiro elogiado por

profissionais, que foi o que aconteceu comigo, é muito bom

para o ego, pois dá mais incentivo para continuarmos

estudando e praticando.

Não obstante o que nos disse Doc Comparato sobre as

ideias, procure sempre anotá-las. Se acabou de ter uma

ideia dê uma jeito de anotá-la em uma folha de papel ou

mesmo no seu celular, se não tiver uma caneta para

escrever. Escreva ou grave a story-line. Por exemplo,

“Lixeiro acha mala de dinheiro e ao tentar devolvê-la é

confundido com ladrão” ou pode ser ainda uma frase que você

pensou; “O homem é capaz de fazer qualquer coisa quando

está apaixonado”.

Ora, ideias como essas pode ser desenvolvida de

milhões de maneiras diferentes, depende de quem teve a

ideia, depende de quem a ler.

Exercite sua mente, organize uma pasta no seu

notebook, ou no seu tablet ou mesmo no seu roupeiro ou

gaveta (aquelas de papelão com elásticos, que se compra em

livrarias). Guarde suas ideias como um tesouro, pois é isso

mesmo que elas são; algo valiosíssimo, que ninguém poderá

ter por você.

Quando tiver pessoas, equipamentos, tempo e alguma

disposição escolha alguma dessas ideias e a produza. Comece

pela sinopse (a partir da story-line), desenvolva o

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argumento, faça as escaletas, organize-as numa ordem

inteligível, comece a escrever pela primeira cena do filme

e continue nessa ordem. Se você quiser pode escrever o

final do seu filme, muitos roteiristas tem a ideia de um

final e precisam encaixá-lo numa história. Depois disso,

passe a organizar fichas de produção que podem ser

encontradas no livro do Chris Rodrigues (ver bibliografia).

Depois que tiver tudo pronto e documentado, você

terminou a parte de pré-produção, os atores estão esperando

apenas você gritar “Ação”.

É muito importante você começar seus filmes autorais

com tudo documentado, isso lhe garantirá mais firmeza nas

ideias. Muitos lhe darão pitacos, mas se o roteiro já foi

discutido com a equipe e está de comum acordo com todos,

não tente ser democrático demais, por que se não, o seu

filme não vai sair do papel.

Espero sinceramente que este manual lhe ajude a

produzir muitos filmes, sejam eles curtas, médias ou longas

metragem. Estudando e praticando você terá tudo para um

dia...

Estar entre os melhores.

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Bibliografia

ALTIER, Dominique Parent. O Argumento Cinematográfico.

Edições Texto & Grafia, 2004.

ARTIS, Anthony Q. Silêncio: Filmando! Um guia para

documentários com qualquer orçamento, qualquer câmera e a

qualquer hora. Elsevier Editora Ltda (site), 2011.

COMPARATO, Doc. Da Criação ao Guião. Editora Pergaminho,

1992 (há uma edição mais moderna nas livrarias).

Europa Editora. Coleção Filmaker. Revista voltada para quem

quer fazer cinema com câmeras HDSLR.

FIELD, Syd. Manual do Roteiro. Editora Objetiva, 2001.

GROVE, Elliot. 130 projetos para você aprender a filmar.

Editora Europa, 2010.

JR, Walter Lima. A Ostra e o Vento. Editora Rocco, 1997.

(Roteiro do filme, na íntegra).

NOGUEIRA, Luís. Laboratório de Guionismo. Livros LabCom,

2010. Gratuito na Internet AQUI. (Entre outros manuais

livres para download).

PUCCINI, Sérgio. Roteiro de Documentário da pré-produção à

pós-produção. Papirus Editora, 2ª Edição, 2010.

RODRIGUES, Chris. O Cinema e a Produção. Lamparina Editora,

2010.

SEGER, Linda. Como Criar Personagens Inesquecíveis. Bossa

Nova Editora, 2006.