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Para citar esse documento: PAES, André Duarte. No limiar da liberdade: uma apreciação comparativa da obra de René Magritte com o comportamento sociopolítico na contemporaneidade e suas influências no processo criativo em dança. Anais do V Encontro Científico Nacional de Pesquisadores em Dança. Natal: ANDA, 2017. p. 913-918. www.portalanda.org.br

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Para citar esse documento:

PAES, André Duarte. No limiar da liberdade: uma apreciação comparativa da obra de René Magritte com o comportamento sociopolítico na contemporaneidade e suas influências no processo criativo em dança. Anais do V Encontro Científico Nacional de Pesquisadores em Dança. Natal: ANDA, 2017. p. 913-918.

www.portalanda.org.br

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NO LIMIAR DA LIBERDADE: UMA APRECIAÇÃO COMPARATIVA DA OBRA DE RENÉ MAGRITTE COM O COMPORTAMENTO SÓCIOPOLÍTICO NA CONTEMPORANEIDADE E SUAS

INFLUÊNCIAS NO PROCESSO CRIATIVO EM DANÇA

André Duarte Paes (UEA)1

RESUMO: O texto considera o comportamento sociopolítico na atualidade a partir da obra No Limiar da Liberdade (1937) do pintor René Magritte e pondera arriscadas e variadas interpretações, refletindo os fenômenos da vida cotidiana. Como pesquisa qualitativa e sob metodologia construtivista, este relato de experiência se dá com base na semiótica, iconologia e intertextualidade e descreve o estudo desenvolvido com a intenção de coletar subsídios para a transfiguração das reflexões em composição coreográfica, conduzindo à interpretação de um mundo na atualidade no qual a informação se tornou imprescindível para dar significado à vida humana.

PALAVRAS-CHAVE: Dança; Influência; Composição; Análise.

ABSTRACT: The paper considers current sociopolitical behavior from the work on the threshold of freedom (1937) of the painter René Magritte and ponders risky and varied interpretations reflecting the phenomena of daily life. As a qualitative research and under constructivist methodology, this experience report is based on semiotics, iconology and intertextuality and describes the study developed with the intention of collecting subsidies for the transfiguration of the reflections in choreographic composition, leading to the interpretation of a world in the present time in which information became essential to give meaning to human life.

KEYWORDS: Dance; Influence; Composition; Analysis.

1Professor da Universidade do Estado do Amazonas – UEA, curso de Dança; Diretor da Entrecorpus Cia de Dança; Professor e ensaiador do Corpo de Dança do Amazonas – CDA; E-mail: [email protected] / [email protected]

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No limiar da liberdade – uma análise comparativa

O interesse em fazer esta analogia surgiu no sentido de mapear subsídios

para a dissertação de mestrado intitulada: Liberdade Vigiada: um estudo sobre o

processo criativo em dança contemporânea para o PPGL&A da UEA. A obra de

René Magritte2 – No Limiar da Liberdade (Figura 01) foi selecionada para fazer parte

de uma das atividades desenvolvidas pela disciplina de Estudos de Iconologia e

agregou material para transfigurar em elementos para a composição coreográfica

em dança contemporânea.

Figura 1. No limiar da liberdade, 1937 – óleo sobre tela, 2,39m x 1,85m, Museu Bojiman van

Beuningen.

O ponto de partida para a análise foi embasado através do método da

semiótica (JOLY, 2007), da iconografia/iconologia (PANOFSKY, 1991) e da

intertextualidade (CALABRESE, 1993) como recurso de apoio para o conteúdo da

2Artista belga nascido em 1898 que influenciou a cultura pop, minimalista e a arte conceitual; rejeitou os padrões surrealista, faleceu em 1967 (SOBY, 1965, p. 20 e 216).

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pintura. Considera-se que, por meio deste processo talvez seja possível serem

interpretadas as obras de arte, ou seja, “o importante é perceber a forma por ela

mesma; vê-la como todos estruturados, resultado de reações. Deixar de lado

qualquer preocupação cultural e ir à procura de uma ordem, dentro do todo”.

(KEPES, 1969, p. 18)

Na pintura foram observados os elementos organizados, a sua representação

como um jogo arbitrário, onde o nosso estudo adentrou nas pequenas lacunas do

real, da ficção, dos olhares cotidianos e, “para compreendê-lo precisa de certa

sensibilidade, [...] isto é, de minha familiaridade cotidiana com objetos e fatos”

(PANOFSKY, 1991, p. 48).

Já Calabrese (1993, p. 36) nos aponta que, na esfera dos escritos pictóricos

figurativos, notaremos de imediato que a adaptação automática das teorias textuais

contemporâneas, da atividade verbal para a atividade pictórica, poderá tornar-se

simbólica e ambígua.

Além do alcance direto sobre o que ecoa na obra de Magritte, talvez uma

ressonância nem comunique um conhecimento preciso da obra do artista belga. Mas

esta não é a proposta, o que observarmos é o suficiente para fazer sentido entre as

coisas. Assim, “se essas representações são compreendidas por outras pessoas

além das que as fabricam, é porque existe entre elas um mínimo de convenção

sociocultural” (JOLY, 2010, p. 40).

Segundo Soby (1965, p. 14), na pintura podemos notar alguns detalhes

inseridos como: o torso com curvas alusivas no alto esquerdo em tonalidade natural

da pele humana, cujo perfil se enquadra com um tronco humano, especificamente

feminino. A forma como este está emoldurada passa a ideia do domínio sobre o

corpo influenciando no contexto da obra coreográfica.

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A obra de Magritte, despertou algumas ideias a respeito do figurino (Figura

02). Para tanto, pensou-se em uma segunda pele que deixassem os intérpretes com

a identidade assexuada, sem definição do ser, ou seja, seres indefinidos;

descartando o uso demasiado de roupas do cotidiano que geralmente apontam

como estética definida em dança contemporânea.

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Figura 02 - Espetáculo - Liberdade Vigiada - Acervo pessoal

Outro processo se deu na seleção do elemento cênico que pudesse traduzir a

artilharia identificada na obra de Magritte, ou seja, foi adotado um vaso sanitário

para representar esta subjetividade para a cena (Figura 03 e 04).

Figura 03 e 04 - Espetáculo – Liberdade Vigiada – Acervo pessoal.

Considerações finais

A obra coreográfica Liberdade Vigiada é fruto da dissertação de mestrado que

analisou o comportamento sociopolítico do mundo pós-moderno e também foi

influenciada por esta obra de René Magritte, propondo trazer a cena um espetáculo

construído através do ponto de vista do coreógrafo sobre este tema.

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Referências

CALABRESE, Omar. Como se lê uma obra de arte. Lisboa: Edições 70, 1993. JOLY, Martine. Introdução à Análise da Imagem. Lisboa: Editora 70, 2007. KEPES, Gyorgy.El lenguage de la vision. Buenos Aires: Ediciones Infinito, 1969. PANOFSKY, Erwin. Significado nas Artes Visuais. São Paulo: Perspectiva, 1991. SOBY, James Thrall. René Magritte. Distributed By Doubleday & Company - New York: The Museum of Modern Art, 1965.