para além do por ana cecília soares

Upload: junior-pimenta

Post on 05-Apr-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/31/2019 Para alm do Por Ana Ceclia Soares

    1/4

    Para alm do visvel...

    Por Ana Ceclia Soares

    Bem ali, na minha frente, os dois envolvidos em silncio iniciavam afluidificao de seus corpos e mentes. Um processo germinal tracejado pelaconfabulao entre performance artstica e referncias s prticas ritualsticasancestrais.

    Foto: Fernando Ancil

    Entremeados por olhares e gestos, eles alteravam a lgica do dito tempo real,conduzindo-nos a uma realidade de sentido cosmolgico. Justapondo econfundido eus, excursionando sensibilidades e desconstruindo a nossacapacidade perceptiva de conceber aquele espao presente.

    Enquanto ele a adornava com fitas e arava seus ps com terra molhada, batidae encalcada por um danar prprio de mos e cabea, semelhante a um rito depurificao. De outro lado, ela vivia um estado de metamorfose. Parecia uma

    rvore de razes largas e flutuantes, algo como uma entidade da natureza. Seusorriso se dilua em sons de chocalhos arrastados pelo corpo em transe.

  • 7/31/2019 Para alm do Por Ana Ceclia Soares

    2/4

    Essas foram algumas das sensaes que tive e, agora, compartilho aovivenciar, como espectadora, a performance Ponto Caos: Curandoria Sabyne,realizada no dia 22 de maro, no Centro Cultural Banco do Nordeste emFortaleza. O trabalho, que teve, na ocasio, a presena da artista visualcearense Sabyne Cavalcanti, faz parte do projeto Perpendicular, idealizadopelo performer e pesquisador Wagner Rossi.

    De acordo com ele, a ideia planejada antes de chegar a Fortaleza, foi a deconstruir uma aproximao com outros artistas locais por meio de encontrosritualsticos/performticos, questionando ou propondo um olhar diferenciadopara o que habitualmente chamamos de curador.

    Foto: Fernando Ancil

    Sou um artista que dialoga com conceitos em arte, e me designar curadordesse encontro uma forma de questionar o que realmente a funo desseENTE na arte institucionalizada. Qual sua fora? Por que o artista necessitadele? Como isso mantm um sistema hierrquico e formatado de arte e

    mercado?, indaga-se.

  • 7/31/2019 Para alm do Por Ana Ceclia Soares

    3/4

  • 7/31/2019 Para alm do Por Ana Ceclia Soares

    4/4

    de um ponto de convergncia, encontro e unicidade que nomeou de PontoCaos/Ponto Origem ou Ponto Pulso.

    Em Ponto Caos: Curandoria Sabyne, este local consistiu em um desenhogeomtrico produzido com fita adesiva fixada no cho. Alm disso, o artista

    buscou agregar na formulao do trabalho, objetos prximos do universoindgena e da tradio folclrica nordestina: fitas, batata doce, fumo de rolo e aprpria argila, que um dos principais materiais usado no trabalho da Sabyne.

    A ao foi pensada especialmente para a artista. E no se tratando de umaperformer, sua postura seria a de receptora. Experimentar a transformao deenergia atravs dos movimentos de Rossi. Os dois juntos, cada qual com suafuno dentro daquele universo, provocaram aos que ali permaneciaobservando, uma espcie de deslocamento sensorial e esttico, instaurandouma relao temporal/espacial desligada de seu carter comum.

    A performance Ponto Caos: Curandoria Sabyne, nos prope demarcar novossentidos. Convertendo o atemporal e o instante fugaz, a um momento do tempopresente. Tornando os corpos dos artistas como focos refletores de novasexperincias. Instrumentos que se pretende afirmar como fora viva,possibilidade criativa, ruptura com o que determinado e esperado.

    Dessa maneira, contribuindo para a criao de rituais de contato com o prpriocorpo e com aquilo que o cerca, dilatando a experincia de percepo doespao e do tempo. Um processo mgico de aguar sensibilidades e permitir o

    olhar ao aparentemente invisvel. O corpo como acontecimento, diria WagnerRossi...Tudo isso, bem ali, na minha frente...