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PARA ALÉM DO DIÁRIO DE ANNE FRANK

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PA R A A L É M D O D I Á R I O

DE ANNE FRANK

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Copyright © 2013 Anne Frank Stichting, Amsterdã. Edição revisada © 2015 (em holandês, inglês, alemão, francês, espanhol, português e italiano)Tradução em português: Copyright © 2013 Anne Frank Stichting, AmsterdãTradução para a Língua Portuguesa © 2016, LeYa Editora Ltda., NLTranslations.comOs direitos desta edição foram negociados com a Anne Frank House via agência literária Patricia Seibel.

Nenhuma parte desta edição pode ser reproduzida, registrada em um arquivo de dados automatizado ou divulgada, sob qualquer forma ou de qualquer maneira, seja por meio eletrônico, mecânico, por fotocópia, fotografi a, ou de qualquer outro modo, sem o consentimento prévio e por escrito da Casa de Anne Frank.Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/2/1998.É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora.Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa.

EDIÇÃO E PRODUÇÃO DA CASADE ANNE FRANK

TextoAukje Vergeest

Direção do projetoCasa de Anne Frank (Chantal d’Aulnis)

Pesquisa histórica e supervisãoCasa de Anne Frank (Teresien da Silva, Erika Prins)

Pesquisa iconográfi caCasa de Anne Frank (Karolien Stocking Korzen)

Orientação da produçãoCasa de Anne Frank (Erica Terpstra)

RedaçãoGerti Vos, Ingrid Mersel

Projeto gráfi coLesley Moore

ComposiçãoStrak (Haiko Oosterbaan)

Ilustração do corte transversal da Casa de Anne FrankVizualism (Chantal van Wessel, Frédérik Ruys)

TraduçãoNLTranslations.com

Com agradecimentos aGertjan Broek, Menno Metselaar e Eugenie Martens (Casa de Anne Frank)

EDIÇÃO E PRODUÇÃO DA LEYA EDITORA LTDA.

RevisãoAlvanísio Damasceno

Inserção de emendas e fechamento de arquivoFiligrana

CapaLeandro Dittz

Foto da Anne Frank na capaAnne Frank Fonds Basel / Getty Images

Foto da contracapaCasa de Anne Frank

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Para além do diário de Anne Frank: O dia a dia do Esconderijo e de todos os seus habitantes / Casa de Anne Frank. –– São Paulo: LeYa, 2016. 192 p. : il. color.

ISBN: 978-85-441-0427-9Título original: Anne Frank in het Achterhuis – Wie was wie?

1. Frank, Anne, 1929-1945 – biografi a 2. Crianças judias no holocausto - Narrativas pessoais 3. Holocausto judeu I. Casa de Anne Frank

16-0501 CDD 940.5318092

Todos os direitos reservados àLEYA EDITORA LTDA.Av. Angélica, 2318 – 13º andar01228-200 – Consolação – São Paulo – SPwww.leya.com.br

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PA R A A L É M D O D I Á R I O DE ANNE FRANK

O DIA A DIA DO ESCONDERIJO E DE TODOS OS SEUS HABITANTES

TRADUÇÃO NLTRANSLATIONS.COM

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OTTO FRANK

A HISTÓRIA DOS CLANDESTINOS

EDITH FRANK

MARGOT FRANK

SUM

ÁR

IO

“Um homem de negócios sério e uma pessoa muito decente e prestativa.”

Johannes Kleiman, 19571

“…uma pessoa muito amável.”

Toosje Buiteman-Kupers,

jovem vizinha na Merwedeplein,

20092

“Com certeza, Margot se tornaria uma pessoa incrível.”

Barbara Rodbell-Ledermann,

amiga de Margot e jovem

vizinha na Merwedeplein, 20083

P. 37

P. 35

P. 49

P. 59

PREFÁCIOA CASA DE ANNE FRANK

A FRENTE DA CASA / OS FUNDOS DA CASAA HISTÓRIA EM RESUMO

O DIA A DIA NO ESCONDERIJO

P. 9P. 11P. 12-13P. 14P. 24

SUMÁRIO

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SUM

ÁR

IO

HERMANN VAN PELS

AUGUSTE VAN PELS

PETER VAN PELS

“…o contador de piadas, era um eterno fumante, mantinha-se um pouco pessimista e, de certa forma, irrequieto.”

Miep Gies, 19965

“…ela era muito chique e elegante.”

Berthel Freund-Hess, sobrinha

de Hermann van Pels, 19976

“Um rapaz tranquilo.”

Eva Meyer, uma grande amiga

de Otto Frank, 20107

P. 81

P. 89

P. 97

“ Anne era uma menina um pouco ríspida, mas amigável. Todos gostavam dela. Ela tinha muita energia.”

Hanneli Goslar,

amiga de Anne, 20094

P. 69 ANNE FRANK

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JOHANNES KLEIMAN

VICTOR KUGLER

BEP VOSKUIJL

SUM

ÁR

IO

“Um homem assim tão íntegro não se encontra com frequência.”

Victor Kugler, 3 de março de 19599

“Victor era amável com todos.”

Rita Visser, sua cunhada, 1996 10

“[…] ela tinha um caráter muito bondoso, era muito preocupada com as pessoas, […] um pouco reservada.”

Cor van Wijk, fi lho de Bep, 200711

P. 117

P. 127

P. 137

FRITZ PFEFFER

“Meu pai era antes de mais nada um esportista, ele gostava de remar, andar a cavalo e escalar montanhas.”

Werner Pfeff er, 19958

P. 105

A HISTÓRIA DOS AJUDANTESP. 115

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SUM

ÁR

IO

LINHA DO TEMPOFLUXOS DE EMIGRAÇÃO JUDAICA, 1933-1939

OS CAMPOS MAIS IMPORTANTES NESTE LIVROGLOSSÁRIO (palavras indicadas ao longo do texto por asterisco)

NOTASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

P. 175P. 178P. 180P. 182P. 187P. 189

JAN GIES

“Simpático, mas muito contido.”

Eva Geiringer-Schloss, fi lha

adotiva de Otto Frank, 2008 13

“E depois viemos para cá […], ela [Bep] mostrou a estante giratória e disse: ‘Vês, foi meu pai quem fez esta estante, foi teu avô’, e eu fi quei emocionado.”

Cor van Wijk, fi lho de Bep, 200714

OUTRAS PESSOAS DENTRO E EM TORNO DA PRINSENGRACHT, Nº 263

P. 157

P. 165

MIEP GIES

“ Miep tem tantas coisas a transportar que parece uma mula de carga.”

Anne Frank, 194312

P. 147

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9P

REFÁ

CIO

Todos os anos, mais de um milhão de visitantes chega ao prédio

na Prinsengracht, nº 263, em Amsterdã, na Holanda, para ver com

os próprios olhos o Esconderijo* onde, na Segunda Guerra Mundial,

oito judeus viveram na clandestinidade durante cerca de dois anos,

auxiliados por cinco pessoas que acharam natural assumir essa

perigosa tarefa.

Ao percorrerem o Esconderijo, muitos visitantes se perguntam

como alguém deve se sentir ao ter de viver escondido durante dois

anos. Como era o dia a dia dessas pessoas? O que elas comiam, o

que faziam lá o dia inteiro? Como os ajudantes conseguiram, além

de fazer seu trabalho de escritório, alimentar oito bocas sem que os

vizinhos o notassem? Quem eram essas pessoas?

O diário da jovem Anne Frank deu um rosto aos oito clandestinos

do Esconderijo e seus cinco ajudantes. Antes da clandestinidade,

Anne mal conhecia alguns deles, mas juntos eles iriam vivenciar

dois anos intensos, entre julho de 1942 e agosto de 1944. Seu olhar

juvenil e as duras circunstâncias dos tempos de guerra coloriram

fortemente os retratos que ela fez dessas pessoas.

Este livro conta a história das treze pessoas que, graças ao livro

de Anne, nunca esqueceremos: os clandestinos Otto, Edith, Margot

e Anne Frank; Hermann, Auguste e Peter van Pels; e Fritz Pfeff er;

e os ajudantes Johannes Kleiman; Victor Kugler; Bep Voskuijl; e

Miep e Jan Gies. Ele descreve suas vidas antes, durante e depois da

clandestinidade. Além dos ajudantes, também havia outras pessoas

em atividade dentro e em torno do número 263 da Prinsengracht:

gente que era importante para os clandestinos porque fornecia

alimentos, por exemplo, mas também pessoas que não podiam saber

de nada, como os empregados do armazém, os fornecedores e os

representantes de empresas. O papel deles também é descrito aqui.

A Casa de Anne Frank há muitos anos vem realizando pesquisas

sobre todos os envolvidos. As mais novas perspectivas se encontram

registradas neste livro, que, esperamos, responderá a muitas das

perguntas feitas pelos leitores.

Ronald Leopold

Diretor-geral da Casa de Anne Frank

PREFÁCIO

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O ESCONDERIJO.

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O número 263 da Prinsengracht é um

prédio típico dos canais do século XVII

na Holanda: uma casa alta e extensa

nos fundos, com muitos cômodos e

quartos, escadas íngremes e estreitos

corredores. O prédio consiste em

uma casa com frente e fundos*

(ver o corte transversal do prédio nas

págs. 8-9). Ao longo do tempo, ele

foi reconstruído e adaptado algumas

vezes. A função da casa foi alterada

nos últimos três séculos, de casa

residencial para prédio empresarial, e

de local de Esconderijo para museu.

O Esconderijo, parte do então

prédio empresarial de Otto Frank,

tornou-se mundialmente conhecido

graças ao diário de Anne. Otto Frank

foi o único dos oito clandestinos

desse Esconderijo a sobreviver à

Segunda Guerra Mundial. Após

a detenção dos clandestinos em

4 de agosto de 1944, o prédio foi

esvaziado, por ordem dos invasores

alemães, por uma empresa de

mudanças holandesa. Em junho

de 1945, Otto Frank encontrou os

cômodos praticamente vazios e

abandonados. O vazio signifi cava

para ele o símbolo da perda de seus

entes queridos, que não retornaram

dos campos. Assim sendo, Otto

determinou posteriormente que o

anexo secreto deveria permanecer

nesse estado.

A C

ASA

DE A

NN

E FRA

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11A CASA DE ANNE FRANK

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66

5

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6

4

1

A F

REN

TE D

A C

ASA

1 — Armazém

2 — Cozinha da empresa

3 — Porta para o escritório

particular de Otto Frank

4 — Escritório de Victor Kugler

5 — Escritório de Johannes Kleiman,

Miep Gies e Bep Voskuijl

6 — Depósito

7 — Sótão

8 — Hall com estante giratória que

dá acesso ao Esconderijo

Vista transversal do prédio da Prinsen gracht, nº 263. À esquerda, encontra-se a porta principal que dá parao canal.

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3

OS FU

ND

OS D

A C

ASA

9 — Lavanderia

10 — Quarto de Otto, Edith e

Margot Frank

11 — Quarto que Anne Frank

partilhava com Fritz Pfeff er

12 — Sala de estar e jantar comum,

à noite quarto de Hermann e

Auguste van Pels

13 — Quarto de Peter van Pels

14 — Sótão

15 — Água-furtada

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14A HISTÓRIA EM RESUMO

A derrota na Primeira Guerra Mundial, em 1918, levou a Alemanha

à beira do abismo. Isso não ocorreu apenas em consequência dos

altos pagamentos de indenizações* impostos à Alemanha pelos

Estados vencedores a título de dívida da guerra, mas também

devido aos adversários políticos da jovem República de Weimar:*

os conservadores, os comunistas e os nacional-socialistas, entre

os quais Adolf Hitler. A hiperinfl ação,* em 1923, constituiu o

ponto extremo da crise na Alemanha. Empréstimos feitos aos

Estados Unidos para auxiliar na liquidação das dívidas de guerra

contribuíram, em parte, para que até 1929 novamente houvesse uma

relativa prosperidade e uma estabilidade política razoável. Contudo,

com a crise econômica mundial ocorrida nesse ano, os problemas

alemães novamente se intensifi caram em ritmo acelerado. Os

empréstimos americanos foram cancelados, muitas empresas foram

à falência e o desemprego cresceu de maneira explosiva. E assim

surgiu um clima político e social no qual prosperaram as ideias

nacionalistas extremistas de Adolf Hitler e de seu Partido Nacional-

-Socialista Trabalhista Alemão (NSDAP). Esse partido atribuía aos

judeus a culpa dos problemas políticos e econômicos.

A nomeação de Hitler para chanceler do Reich em 30 de janeiro de

1933, seguida rapidamente pela vitória dos nacional-socialistas nas

eleições para o Parlamento e para as Câmaras Municipais, signifi cou

o fi m da recente república alemã. Teve início então a perseguição dos

adversários políticos de Hitler. Para os judeus, com o passar dos anos,

a situação se tornava também cada vez mais ameaçadora. Inúmeras

medidas e regulamentos os tornavam cidadãos de segunda classe.

Os judeus, por exemplo, não podiam mais exercer determinadas

profi ssões, seus fi lhos deviam estudar em escolas separadas e foram

proibidos de circular jornais e revistas judeus. Defi cientes físicos e

mentais, ciganos Roma* e Sinti,* homossexuais e testemunhas de

Jeová* também eram perseguidos. A maior parte dessas medidas

passou a vigorar depois nos países ocupados pela Alemanha –

portanto também na Holanda.

A H

ISTÓ

RIA

EM

RES

UM

O

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15A

HISTÓ

RIA

EM R

ESUM

O

Em fuga —Após a chegada de Hitler ao poder, uma grande parte dos judeus

alemães fugiu de sua terra natal. Algumas dezenas de milhares

foram para a Holanda. Entre eles estavam Otto e Edith Frank e suas

fi lhas Margot e Anne, Hermann e Auguste van Pels e seu fi lho Peter.

O oitavo clandestino do Esconderijo, Fritz Pfeff er, tentou primeiro

emigrar da Alemanha para um país da América do Sul, mas também

terminou indo parar na Holanda.

CARTA DO CONSU LADO AMERICANO EM ROTERDÃ A HERMANN VAN PELS, DATADA DE 25 DE ABRIL DE 1939, CONFIRMANDO O REGISTRO DA FAMÍLIA

VAN PELS COMO IMIGRANTES. DEVIDO AO NÚMERO ELEVADO DE PEDIDOS, O TEMPO DE ESPERA É “INDETERMINADO”.

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Para alguns refugiados, a Holanda era considerada como uma

parada intermediária a caminho de um destino seguro. As famílias

Frank e Van Pels também fi zeram tentativas para sair da Holanda.

Foi por isso que, em 1937, Otto Frank tentou constituir um negócio

na Inglaterra, mas isso não deu certo. E, em 1938, ele enviou uma

solicitação de emigração aos Estados Unidos, sem sucesso. Os irmãos

solteiros de Edith conseguiram chegar à América, e em 1941 Otto

ainda fez algumas últimas tentativas de emigrar para a América ou

Cuba. Devido ao crescente fl uxo de refugiados, às extremas medidas

burocráticas e às exigências sempre alteradas, essas solicitações não

foram aceitas. A família Van Pels permaneceu desde 1939 em uma

lista de espera para uma solicitação de visto de entrada nos Estados

Unidos, e Fritz Pfeff er queria ir para a Austrália, Aruba ou o Chile.

Quando essas tentativas malograram, não havia mais nenhum lugar

aonde pudessem ir. Finalmente, cerca de dois anos após a invasão

alemã da Holanda, eles entraram na clandestinidade.

“ENTRADA PROIBIDA A JUDEUS”; A PARTIR DE SETEMBRO DE 1941, ESSE TIPO DE PLACA APARECE EM PARQUES, CAFÉS, RESTAURANTES E TEATROS.

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17A

HISTÓ

RIA

EM R

ESUM

OA ocupação e as medidas antissemitas—Em 10 de maio de 1940, a Alemanha nazista invadiu a Holanda.

Após quatro dias de luta e um bombardeio devastador sobre

Roterdã, o país capitulou.

O governo holandês e a rainha Guilhermina fugiram para Londres,

de onde enviavam mensagens de inspiração e coragem ao povo

holandês através do programa radiofônico Radio Oranje, pela BBC.

Ouvir rádio só era possível em segredo, pois os invasores alemães

proibiram as transmissões inglesas e logo em seguida todos os

holandeses foram obrigados a entregar seus aparelhos de rádio.

Cada vez mais, os nazistas implantavam medidas antissemitas.

Assim, por exemplo, os 140 mil judeus residentes na Holanda eram

inscritos como judeus em um registro central, deviam portar na

roupa uma estrela judaica* de forma visível, entregar suas bicicletas,

não podiam mais andar de bonde, não podiam ir ao teatro ou ao

cinema, entre as oito da noite e as seis da manhã não podiam sair

de casa nem permanecer em seu próprio quintal, não podiam se

casar com não judeus e não podiam praticar esportes em público.

As crianças judias deviam frequentar escolas judaicas. Medidas

essas que tornavam impossível levar uma vida normal.

Mas os nazistas iriam ainda mais longe. Em uma reunião secreta

em janeiro de 1942 na Villa Wannsee, em Berlim, a Conferência de

Wannsee,* os altos funcionários nazistas discutiram a implantação

da Endlösung* (“Solução Final”). Em julho daquele ano, foi iniciada

a execução sistemática dos planos nazistas para a deportação e

extermínio de milhões de judeus europeus.

Opekta, Pectacon, Gies & Co—A família Frank, uma jovem família de origem abastada de

Frankfurt, chega em 1933 à Holanda, porque Otto Frank poderia

constituir uma empresa neste país. Seu cunhado, Erich Elias, que

trabalha na Opekta, em Basel, o introduz nesta empresa, que

fabrica e vende pectina, um agente de coagulação utilizado na

fabricação de geleias. A missão de Otto seria a de conquistar

o mercado holandês de clientes particulares. Ele aluga um

espaço comercial no Nieuwezijds Voorburgwal e contrata alguns

funcionários, entre os quais Victor Kugler, Miep Santrouschitz e

alguns empregados de armazém. Em 1937, ele contrata Bep Voskuijl

como secretária; posteriormente, o pai de Bep, Johannes Voskuijl,

vai trabalhar como chefe de armazém na empresa.

A venda de pectina cresce pouco a pouco, mas devido ao fato

de ser um produto sazonal (no inverno há sempre pouca fruta

fresca disponível, principalmente naqueles anos), Otto Frank busca

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atividades suplementares. Em 1938, ele constitui com este fi m

a Pectacon, uma empresa para a mistura e comercialização de

especiarias e outros ingredientes para a produção de alimentos.

Ele faz isso juntamente com Johannes Kleiman, a quem ele já

conhece há anos. Otto também contrata um perito em especiarias:

Hermann van Pels, que havia fugido da Alemanha com sua família

pouco antes. Com ambas as empresas instaladas no número 400

do Singel, eles procuram um estabelecimento comercial na qual

as máquinas ceifadeiras possam operar no andar térreo e que seja

de fácil acesso para os fornecedores.

Em 1º de dezembro de 1940, eles encontram um grande prédio

na Prinsengracht, no 263, uma casa com frente e fundos. O

andar térreo, que também se estende para os fundos da casa, é

utilizado como armazém e área de trabalho. Nele fi cam as mesas

de empacotamento, os moinhos de especiarias e as máquinas

ceifadeiras. No primeiro andar, na frente e nos fundos, fi cam

os escritórios e uma cozinha, e o segundo andar da parte da

frente serve como depósito. Na parte dos fundos, os dois andares

superiores, o sótão e a água-furtada estão vazios (veja o desenho

da seção transversal do prédio).

No fi nal de 1941, quando passa a vigorar uma regulamentação que

proíbe que os judeus sejam dirigentes de empresas, Otto imagina,

juntamente com Kleiman, Kugler e Jan Gies, o marido de Miep, uma

construção para iludir os invasores. Kleiman torna-se diretor da

Opekta e as atividades da Pectacon são continuadas por eles em

uma nova empresa, a Gies & Co, com Victor Kugler como diretor e

Jan Gies como supervisor. Desta maneira, ambas as empresas de

Otto Frank são “arianizadas”* para o mundo exterior.

UMA FOLHA COM CUPONS DE RACIONAMENTO* PARA, ENTRE OUTROS PRODUTOS, MANTEIGA, COM VALIDADE DE 9 DE AGOSTO A 5 DE SETEMBRO DE 1942.

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HISTÓ

RIA

EM R

ESUM

O

COMUNICAÇÃO DA MUDANÇA DA PECTACON DA SINGEL, NO 400 PARA A PRINSENGRACHT,NO 263.

MATERIAL PUBLICITÁRIO DA OPEKTA.

CARIMBO DA PECTACON PARA EXTRATO E CALDO DE CARNE.

O LOGOTIPO DA GIES & CO COM A TORRE WESTERTOREN INDICANDO A LOCALIZAÇÃO DA EMPRESA, 1941.

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A clandestinidade e a prisão—Como a situação dos judeus na Holanda vai se tornando cada vez mais

deplorável, desde o início de 1942 Otto Frank faz preparativos, com a

ajuda de Kugler, Kleiman e Van Pels, para tornar os fundos da casa

adequados para servirem de Esconderijo para as famílias Frank e Van

Pels – o que era algo peculiar, pois a maioria das famílias se separava,

para diminuir as chances de serem descobertas. Otto pergunta aos

funcionários de seu escritório se estão preparados para ajudar as

famílias quando chegar a hora. Todos respondem afi rmativamente,

sem hesitar, até mesmo a jovem secretária Bep Voskuijl.

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ALGUMAS DAS FOLHAS SOLTAS NAS QUAIS ELA REESCREVEU O DIÁRIO.

OS DIÁRIOS DE ANNE, O LIVRO DE CONTOS E O “LIVRO DE BELAS FRASES”, BEM COMO

Como data para a entrada na clandestinidade eles escolhem o

dia 16 de julho, mas quando Margot é convocada para um “campo

de trabalho” alemão em 5 de julho de 1942, a família Frank não

pode mais esperar e parte já no dia seguinte para o Prinsengracht.

A família Van Pels os segue na semana seguinte. Em novembro

daquele ano, Fritz Pfeff er se torna o oitavo clandestino. Durante

cerca de dois anos, as oito pessoas permanecem trancadas em um

espaço de cerca de 120 metros quadrados. Para os ajudantes é difícil

conseguir comida sufi ciente; alguns alimentos são escassos. Durante

o horário comercial os clandestinos não devem fazer nenhum

barulho. As irritações e tensões mútuas crescem muito com o passar

do tempo e é permanente o medo de serem descobertos.

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Em 4 de agosto de 1944, esse medo se torna realidade: eles são

traídos. Os oito clandestinos, juntamente com Kleiman e Kugler,

são transportados ao quartel-general do Sicherheitsdienst (Serviço

de Segurança – SD),* onde são interrogados. Após passarem uma

noite no prédio do SD e mais três noites em uma casa de detenção

de Amsterdã, os oito clandestinos são transferidos, em 8 de agosto,

ao campo de distribuição de Westerbork* e, posteriormente, ao

campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.*

Kleiman e Kugler, declarados como inimigos pelo regime por terem

prestado auxílio a clandestinos, permanecem algumas semanas

em outra casa de detenção e são em seguida transportados ao

campo de Amersfoort.* Miep Gies e Bep Voskuijl não são detidas.

No Esconderijo revirado durante a prisão elas encontram os escritos

de Anne. Miep os guarda em sua escrivaninha, na esperança de

algum dia poder devolvê-los a Anne.

Os clandestinos, em consequência das privações sofridas, de um

tratamento desumano e de várias doenças, encontram fi nalmente

uma morte atroz em diferentes campos de concentração. Com

exceção de uma única pessoa: Otto Frank. Ele retorna. Os

ajudantes também sobrevivem à guerra, mas os acontecimentos

no Esconderijo, a memória de seus amigos e a publicação do diário

de Anne infl uenciam muito a sua vida posterior.

Investigações policiais—Em 1948, quatro anos após a prisão e três anos após a libertacão,

portanto, é realizada uma primeira investigação policial sobre

a traição. Diversas pessoas, entre as quais os ajudantes e Otto

Frank, são interrogados como testemunhas. Quem teria traído os

clandestinos? Em 1963, quando se torna conhecida a identidade

de Karl Joseph Silberbauer, o ofi cial do SD que liderou a invasão e

a prisão, segue-se uma segunda tentativa de esclarecimento das

circunstâncias da traição. Em ambas as investigações o chefe de

armazém Willem van Maaren é um dos suspeitos, mas, embora

tenha fi cado claro o fato de ele ter cometido alguns furtos na

empresa, sua culpa nunca pôde ser provada. Apesar do surgimento

de outras teorias, de novas investigações e de outros possíveis

suspeitos, nunca se chegou a nenhuma conclusão sobre quem

teria traído os clandestinos no Esconderijo.

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Uma condecoração para os ajudantes—Em 1971, Johannes Kleiman, Victor Kugler, Bep Voskuijl e Miep e Jan

Gies receberam, por recomendação de Otto Frank, a condecoração

Yad Vashem, oferecida aos “Justos entre as nações”. Essa

condecoração é concedida aos não judeus que durante a Segunda

Guerra Mundial ajudaram os judeus a se esconder ou a fugir do

país. Os ajudantes receberam uma medalha de honra e foram

plantadas árvores na Aleia dos Justos, no Monte das Recordações,

em Jerusalém.em Jerusalém.

A CONDECORAÇÃO YAD VASHEM DE VICTOR KUGLER. NA PARTE INFERIOR PODE SER LIDA A SEGUINTE INSCRIÇÃO EM FRANCÊS: “QUEM SALVA UMA ÚNICA VIDA, SALVA O UNIVERSO INTEIRO.”

BILHETE DE IDENTIDADE DA GESTAPO DO SS-OBERSCHARFÜHRER KARL JOSEPH SILBERBAUER. NO DIA 4 DE AGOSTO DE 1944, ELE É RESPONSÁVEL PELA DETENÇÃO DOS OITO CLANDESTINOS E DOS AJUDANTES KLEIMAN E KUGLER.

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