para alÉm do diÁrio de anne frank -...
TRANSCRIPT
PA R A A L É M D O D I Á R I O
DE ANNE FRANK
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 1AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 1 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
Copyright © 2013 Anne Frank Stichting, Amsterdã. Edição revisada © 2015 (em holandês, inglês, alemão, francês, espanhol, português e italiano)Tradução em português: Copyright © 2013 Anne Frank Stichting, AmsterdãTradução para a Língua Portuguesa © 2016, LeYa Editora Ltda., NLTranslations.comOs direitos desta edição foram negociados com a Anne Frank House via agência literária Patricia Seibel.
Nenhuma parte desta edição pode ser reproduzida, registrada em um arquivo de dados automatizado ou divulgada, sob qualquer forma ou de qualquer maneira, seja por meio eletrônico, mecânico, por fotocópia, fotografi a, ou de qualquer outro modo, sem o consentimento prévio e por escrito da Casa de Anne Frank.Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/2/1998.É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora.Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa.
EDIÇÃO E PRODUÇÃO DA CASADE ANNE FRANK
TextoAukje Vergeest
Direção do projetoCasa de Anne Frank (Chantal d’Aulnis)
Pesquisa histórica e supervisãoCasa de Anne Frank (Teresien da Silva, Erika Prins)
Pesquisa iconográfi caCasa de Anne Frank (Karolien Stocking Korzen)
Orientação da produçãoCasa de Anne Frank (Erica Terpstra)
RedaçãoGerti Vos, Ingrid Mersel
Projeto gráfi coLesley Moore
ComposiçãoStrak (Haiko Oosterbaan)
Ilustração do corte transversal da Casa de Anne FrankVizualism (Chantal van Wessel, Frédérik Ruys)
TraduçãoNLTranslations.com
Com agradecimentos aGertjan Broek, Menno Metselaar e Eugenie Martens (Casa de Anne Frank)
EDIÇÃO E PRODUÇÃO DA LEYA EDITORA LTDA.
RevisãoAlvanísio Damasceno
Inserção de emendas e fechamento de arquivoFiligrana
CapaLeandro Dittz
Foto da Anne Frank na capaAnne Frank Fonds Basel / Getty Images
Foto da contracapaCasa de Anne Frank
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Para além do diário de Anne Frank: O dia a dia do Esconderijo e de todos os seus habitantes / Casa de Anne Frank. –– São Paulo: LeYa, 2016. 192 p. : il. color.
ISBN: 978-85-441-0427-9Título original: Anne Frank in het Achterhuis – Wie was wie?
1. Frank, Anne, 1929-1945 – biografi a 2. Crianças judias no holocausto - Narrativas pessoais 3. Holocausto judeu I. Casa de Anne Frank
16-0501 CDD 940.5318092
Todos os direitos reservados àLEYA EDITORA LTDA.Av. Angélica, 2318 – 13º andar01228-200 – Consolação – São Paulo – SPwww.leya.com.br
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 2AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 2 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
PA R A A L É M D O D I Á R I O DE ANNE FRANK
O DIA A DIA DO ESCONDERIJO E DE TODOS OS SEUS HABITANTES
TRADUÇÃO NLTRANSLATIONS.COM
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 3AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 3 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
OTTO FRANK
A HISTÓRIA DOS CLANDESTINOS
EDITH FRANK
MARGOT FRANK
SUM
ÁR
IO
“Um homem de negócios sério e uma pessoa muito decente e prestativa.”
Johannes Kleiman, 19571
“…uma pessoa muito amável.”
Toosje Buiteman-Kupers,
jovem vizinha na Merwedeplein,
20092
“Com certeza, Margot se tornaria uma pessoa incrível.”
Barbara Rodbell-Ledermann,
amiga de Margot e jovem
vizinha na Merwedeplein, 20083
P. 37
P. 35
P. 49
P. 59
PREFÁCIOA CASA DE ANNE FRANK
A FRENTE DA CASA / OS FUNDOS DA CASAA HISTÓRIA EM RESUMO
O DIA A DIA NO ESCONDERIJO
P. 9P. 11P. 12-13P. 14P. 24
SUMÁRIO
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 4AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 4 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
SUM
ÁR
IO
HERMANN VAN PELS
AUGUSTE VAN PELS
PETER VAN PELS
“…o contador de piadas, era um eterno fumante, mantinha-se um pouco pessimista e, de certa forma, irrequieto.”
Miep Gies, 19965
“…ela era muito chique e elegante.”
Berthel Freund-Hess, sobrinha
de Hermann van Pels, 19976
“Um rapaz tranquilo.”
Eva Meyer, uma grande amiga
de Otto Frank, 20107
P. 81
P. 89
P. 97
“ Anne era uma menina um pouco ríspida, mas amigável. Todos gostavam dela. Ela tinha muita energia.”
Hanneli Goslar,
amiga de Anne, 20094
P. 69 ANNE FRANK
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 5AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 5 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
JOHANNES KLEIMAN
VICTOR KUGLER
BEP VOSKUIJL
SUM
ÁR
IO
“Um homem assim tão íntegro não se encontra com frequência.”
Victor Kugler, 3 de março de 19599
“Victor era amável com todos.”
Rita Visser, sua cunhada, 1996 10
“[…] ela tinha um caráter muito bondoso, era muito preocupada com as pessoas, […] um pouco reservada.”
Cor van Wijk, fi lho de Bep, 200711
P. 117
P. 127
P. 137
FRITZ PFEFFER
“Meu pai era antes de mais nada um esportista, ele gostava de remar, andar a cavalo e escalar montanhas.”
Werner Pfeff er, 19958
P. 105
A HISTÓRIA DOS AJUDANTESP. 115
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 6AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 6 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
SUM
ÁR
IO
LINHA DO TEMPOFLUXOS DE EMIGRAÇÃO JUDAICA, 1933-1939
OS CAMPOS MAIS IMPORTANTES NESTE LIVROGLOSSÁRIO (palavras indicadas ao longo do texto por asterisco)
NOTASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
P. 175P. 178P. 180P. 182P. 187P. 189
JAN GIES
“Simpático, mas muito contido.”
Eva Geiringer-Schloss, fi lha
adotiva de Otto Frank, 2008 13
“E depois viemos para cá […], ela [Bep] mostrou a estante giratória e disse: ‘Vês, foi meu pai quem fez esta estante, foi teu avô’, e eu fi quei emocionado.”
Cor van Wijk, fi lho de Bep, 200714
OUTRAS PESSOAS DENTRO E EM TORNO DA PRINSENGRACHT, Nº 263
P. 157
P. 165
MIEP GIES
“ Miep tem tantas coisas a transportar que parece uma mula de carga.”
Anne Frank, 194312
P. 147
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 7AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 7 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 8AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 8 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
9P
REFÁ
CIO
Todos os anos, mais de um milhão de visitantes chega ao prédio
na Prinsengracht, nº 263, em Amsterdã, na Holanda, para ver com
os próprios olhos o Esconderijo* onde, na Segunda Guerra Mundial,
oito judeus viveram na clandestinidade durante cerca de dois anos,
auxiliados por cinco pessoas que acharam natural assumir essa
perigosa tarefa.
Ao percorrerem o Esconderijo, muitos visitantes se perguntam
como alguém deve se sentir ao ter de viver escondido durante dois
anos. Como era o dia a dia dessas pessoas? O que elas comiam, o
que faziam lá o dia inteiro? Como os ajudantes conseguiram, além
de fazer seu trabalho de escritório, alimentar oito bocas sem que os
vizinhos o notassem? Quem eram essas pessoas?
O diário da jovem Anne Frank deu um rosto aos oito clandestinos
do Esconderijo e seus cinco ajudantes. Antes da clandestinidade,
Anne mal conhecia alguns deles, mas juntos eles iriam vivenciar
dois anos intensos, entre julho de 1942 e agosto de 1944. Seu olhar
juvenil e as duras circunstâncias dos tempos de guerra coloriram
fortemente os retratos que ela fez dessas pessoas.
Este livro conta a história das treze pessoas que, graças ao livro
de Anne, nunca esqueceremos: os clandestinos Otto, Edith, Margot
e Anne Frank; Hermann, Auguste e Peter van Pels; e Fritz Pfeff er;
e os ajudantes Johannes Kleiman; Victor Kugler; Bep Voskuijl; e
Miep e Jan Gies. Ele descreve suas vidas antes, durante e depois da
clandestinidade. Além dos ajudantes, também havia outras pessoas
em atividade dentro e em torno do número 263 da Prinsengracht:
gente que era importante para os clandestinos porque fornecia
alimentos, por exemplo, mas também pessoas que não podiam saber
de nada, como os empregados do armazém, os fornecedores e os
representantes de empresas. O papel deles também é descrito aqui.
A Casa de Anne Frank há muitos anos vem realizando pesquisas
sobre todos os envolvidos. As mais novas perspectivas se encontram
registradas neste livro, que, esperamos, responderá a muitas das
perguntas feitas pelos leitores.
Ronald Leopold
Diretor-geral da Casa de Anne Frank
PREFÁCIO
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 9AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 9 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
O ESCONDERIJO.
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 10AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 10 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
O número 263 da Prinsengracht é um
prédio típico dos canais do século XVII
na Holanda: uma casa alta e extensa
nos fundos, com muitos cômodos e
quartos, escadas íngremes e estreitos
corredores. O prédio consiste em
uma casa com frente e fundos*
(ver o corte transversal do prédio nas
págs. 8-9). Ao longo do tempo, ele
foi reconstruído e adaptado algumas
vezes. A função da casa foi alterada
nos últimos três séculos, de casa
residencial para prédio empresarial, e
de local de Esconderijo para museu.
O Esconderijo, parte do então
prédio empresarial de Otto Frank,
tornou-se mundialmente conhecido
graças ao diário de Anne. Otto Frank
foi o único dos oito clandestinos
desse Esconderijo a sobreviver à
Segunda Guerra Mundial. Após
a detenção dos clandestinos em
4 de agosto de 1944, o prédio foi
esvaziado, por ordem dos invasores
alemães, por uma empresa de
mudanças holandesa. Em junho
de 1945, Otto Frank encontrou os
cômodos praticamente vazios e
abandonados. O vazio signifi cava
para ele o símbolo da perda de seus
entes queridos, que não retornaram
dos campos. Assim sendo, Otto
determinou posteriormente que o
anexo secreto deveria permanecer
nesse estado.
A C
ASA
DE A
NN
E FRA
NK
11A CASA DE ANNE FRANK
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 11AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 11 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
12
7
66
5
1
6
4
1
A F
REN
TE D
A C
ASA
1 — Armazém
2 — Cozinha da empresa
3 — Porta para o escritório
particular de Otto Frank
4 — Escritório de Victor Kugler
5 — Escritório de Johannes Kleiman,
Miep Gies e Bep Voskuijl
6 — Depósito
7 — Sótão
8 — Hall com estante giratória que
dá acesso ao Esconderijo
Vista transversal do prédio da Prinsen gracht, nº 263. À esquerda, encontra-se a porta principal que dá parao canal.
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 12AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 12 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
13
1
2
8
9
10
11
1213
14
15
3
OS FU
ND
OS D
A C
ASA
9 — Lavanderia
10 — Quarto de Otto, Edith e
Margot Frank
11 — Quarto que Anne Frank
partilhava com Fritz Pfeff er
12 — Sala de estar e jantar comum,
à noite quarto de Hermann e
Auguste van Pels
13 — Quarto de Peter van Pels
14 — Sótão
15 — Água-furtada
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 13AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 13 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
14A HISTÓRIA EM RESUMO
A derrota na Primeira Guerra Mundial, em 1918, levou a Alemanha
à beira do abismo. Isso não ocorreu apenas em consequência dos
altos pagamentos de indenizações* impostos à Alemanha pelos
Estados vencedores a título de dívida da guerra, mas também
devido aos adversários políticos da jovem República de Weimar:*
os conservadores, os comunistas e os nacional-socialistas, entre
os quais Adolf Hitler. A hiperinfl ação,* em 1923, constituiu o
ponto extremo da crise na Alemanha. Empréstimos feitos aos
Estados Unidos para auxiliar na liquidação das dívidas de guerra
contribuíram, em parte, para que até 1929 novamente houvesse uma
relativa prosperidade e uma estabilidade política razoável. Contudo,
com a crise econômica mundial ocorrida nesse ano, os problemas
alemães novamente se intensifi caram em ritmo acelerado. Os
empréstimos americanos foram cancelados, muitas empresas foram
à falência e o desemprego cresceu de maneira explosiva. E assim
surgiu um clima político e social no qual prosperaram as ideias
nacionalistas extremistas de Adolf Hitler e de seu Partido Nacional-
-Socialista Trabalhista Alemão (NSDAP). Esse partido atribuía aos
judeus a culpa dos problemas políticos e econômicos.
A nomeação de Hitler para chanceler do Reich em 30 de janeiro de
1933, seguida rapidamente pela vitória dos nacional-socialistas nas
eleições para o Parlamento e para as Câmaras Municipais, signifi cou
o fi m da recente república alemã. Teve início então a perseguição dos
adversários políticos de Hitler. Para os judeus, com o passar dos anos,
a situação se tornava também cada vez mais ameaçadora. Inúmeras
medidas e regulamentos os tornavam cidadãos de segunda classe.
Os judeus, por exemplo, não podiam mais exercer determinadas
profi ssões, seus fi lhos deviam estudar em escolas separadas e foram
proibidos de circular jornais e revistas judeus. Defi cientes físicos e
mentais, ciganos Roma* e Sinti,* homossexuais e testemunhas de
Jeová* também eram perseguidos. A maior parte dessas medidas
passou a vigorar depois nos países ocupados pela Alemanha –
portanto também na Holanda.
A H
ISTÓ
RIA
EM
RES
UM
O
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 14AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 14 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
15A
HISTÓ
RIA
EM R
ESUM
O
Em fuga —Após a chegada de Hitler ao poder, uma grande parte dos judeus
alemães fugiu de sua terra natal. Algumas dezenas de milhares
foram para a Holanda. Entre eles estavam Otto e Edith Frank e suas
fi lhas Margot e Anne, Hermann e Auguste van Pels e seu fi lho Peter.
O oitavo clandestino do Esconderijo, Fritz Pfeff er, tentou primeiro
emigrar da Alemanha para um país da América do Sul, mas também
terminou indo parar na Holanda.
CARTA DO CONSU LADO AMERICANO EM ROTERDÃ A HERMANN VAN PELS, DATADA DE 25 DE ABRIL DE 1939, CONFIRMANDO O REGISTRO DA FAMÍLIA
VAN PELS COMO IMIGRANTES. DEVIDO AO NÚMERO ELEVADO DE PEDIDOS, O TEMPO DE ESPERA É “INDETERMINADO”.
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 15AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 15 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
16A
HIS
TÓR
IA E
M R
ESU
MO
Para alguns refugiados, a Holanda era considerada como uma
parada intermediária a caminho de um destino seguro. As famílias
Frank e Van Pels também fi zeram tentativas para sair da Holanda.
Foi por isso que, em 1937, Otto Frank tentou constituir um negócio
na Inglaterra, mas isso não deu certo. E, em 1938, ele enviou uma
solicitação de emigração aos Estados Unidos, sem sucesso. Os irmãos
solteiros de Edith conseguiram chegar à América, e em 1941 Otto
ainda fez algumas últimas tentativas de emigrar para a América ou
Cuba. Devido ao crescente fl uxo de refugiados, às extremas medidas
burocráticas e às exigências sempre alteradas, essas solicitações não
foram aceitas. A família Van Pels permaneceu desde 1939 em uma
lista de espera para uma solicitação de visto de entrada nos Estados
Unidos, e Fritz Pfeff er queria ir para a Austrália, Aruba ou o Chile.
Quando essas tentativas malograram, não havia mais nenhum lugar
aonde pudessem ir. Finalmente, cerca de dois anos após a invasão
alemã da Holanda, eles entraram na clandestinidade.
“ENTRADA PROIBIDA A JUDEUS”; A PARTIR DE SETEMBRO DE 1941, ESSE TIPO DE PLACA APARECE EM PARQUES, CAFÉS, RESTAURANTES E TEATROS.
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 16AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 16 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
17A
HISTÓ
RIA
EM R
ESUM
OA ocupação e as medidas antissemitas—Em 10 de maio de 1940, a Alemanha nazista invadiu a Holanda.
Após quatro dias de luta e um bombardeio devastador sobre
Roterdã, o país capitulou.
O governo holandês e a rainha Guilhermina fugiram para Londres,
de onde enviavam mensagens de inspiração e coragem ao povo
holandês através do programa radiofônico Radio Oranje, pela BBC.
Ouvir rádio só era possível em segredo, pois os invasores alemães
proibiram as transmissões inglesas e logo em seguida todos os
holandeses foram obrigados a entregar seus aparelhos de rádio.
Cada vez mais, os nazistas implantavam medidas antissemitas.
Assim, por exemplo, os 140 mil judeus residentes na Holanda eram
inscritos como judeus em um registro central, deviam portar na
roupa uma estrela judaica* de forma visível, entregar suas bicicletas,
não podiam mais andar de bonde, não podiam ir ao teatro ou ao
cinema, entre as oito da noite e as seis da manhã não podiam sair
de casa nem permanecer em seu próprio quintal, não podiam se
casar com não judeus e não podiam praticar esportes em público.
As crianças judias deviam frequentar escolas judaicas. Medidas
essas que tornavam impossível levar uma vida normal.
Mas os nazistas iriam ainda mais longe. Em uma reunião secreta
em janeiro de 1942 na Villa Wannsee, em Berlim, a Conferência de
Wannsee,* os altos funcionários nazistas discutiram a implantação
da Endlösung* (“Solução Final”). Em julho daquele ano, foi iniciada
a execução sistemática dos planos nazistas para a deportação e
extermínio de milhões de judeus europeus.
Opekta, Pectacon, Gies & Co—A família Frank, uma jovem família de origem abastada de
Frankfurt, chega em 1933 à Holanda, porque Otto Frank poderia
constituir uma empresa neste país. Seu cunhado, Erich Elias, que
trabalha na Opekta, em Basel, o introduz nesta empresa, que
fabrica e vende pectina, um agente de coagulação utilizado na
fabricação de geleias. A missão de Otto seria a de conquistar
o mercado holandês de clientes particulares. Ele aluga um
espaço comercial no Nieuwezijds Voorburgwal e contrata alguns
funcionários, entre os quais Victor Kugler, Miep Santrouschitz e
alguns empregados de armazém. Em 1937, ele contrata Bep Voskuijl
como secretária; posteriormente, o pai de Bep, Johannes Voskuijl,
vai trabalhar como chefe de armazém na empresa.
A venda de pectina cresce pouco a pouco, mas devido ao fato
de ser um produto sazonal (no inverno há sempre pouca fruta
fresca disponível, principalmente naqueles anos), Otto Frank busca
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 17AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 17 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
18A
HIS
TÓR
IA E
M R
ESU
MO
atividades suplementares. Em 1938, ele constitui com este fi m
a Pectacon, uma empresa para a mistura e comercialização de
especiarias e outros ingredientes para a produção de alimentos.
Ele faz isso juntamente com Johannes Kleiman, a quem ele já
conhece há anos. Otto também contrata um perito em especiarias:
Hermann van Pels, que havia fugido da Alemanha com sua família
pouco antes. Com ambas as empresas instaladas no número 400
do Singel, eles procuram um estabelecimento comercial na qual
as máquinas ceifadeiras possam operar no andar térreo e que seja
de fácil acesso para os fornecedores.
Em 1º de dezembro de 1940, eles encontram um grande prédio
na Prinsengracht, no 263, uma casa com frente e fundos. O
andar térreo, que também se estende para os fundos da casa, é
utilizado como armazém e área de trabalho. Nele fi cam as mesas
de empacotamento, os moinhos de especiarias e as máquinas
ceifadeiras. No primeiro andar, na frente e nos fundos, fi cam
os escritórios e uma cozinha, e o segundo andar da parte da
frente serve como depósito. Na parte dos fundos, os dois andares
superiores, o sótão e a água-furtada estão vazios (veja o desenho
da seção transversal do prédio).
No fi nal de 1941, quando passa a vigorar uma regulamentação que
proíbe que os judeus sejam dirigentes de empresas, Otto imagina,
juntamente com Kleiman, Kugler e Jan Gies, o marido de Miep, uma
construção para iludir os invasores. Kleiman torna-se diretor da
Opekta e as atividades da Pectacon são continuadas por eles em
uma nova empresa, a Gies & Co, com Victor Kugler como diretor e
Jan Gies como supervisor. Desta maneira, ambas as empresas de
Otto Frank são “arianizadas”* para o mundo exterior.
UMA FOLHA COM CUPONS DE RACIONAMENTO* PARA, ENTRE OUTROS PRODUTOS, MANTEIGA, COM VALIDADE DE 9 DE AGOSTO A 5 DE SETEMBRO DE 1942.
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 18AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 18 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
19A
HISTÓ
RIA
EM R
ESUM
O
COMUNICAÇÃO DA MUDANÇA DA PECTACON DA SINGEL, NO 400 PARA A PRINSENGRACHT,NO 263.
MATERIAL PUBLICITÁRIO DA OPEKTA.
CARIMBO DA PECTACON PARA EXTRATO E CALDO DE CARNE.
O LOGOTIPO DA GIES & CO COM A TORRE WESTERTOREN INDICANDO A LOCALIZAÇÃO DA EMPRESA, 1941.
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 19AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 19 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
20A
HIS
TÓR
IA E
M R
ESU
MO
A clandestinidade e a prisão—Como a situação dos judeus na Holanda vai se tornando cada vez mais
deplorável, desde o início de 1942 Otto Frank faz preparativos, com a
ajuda de Kugler, Kleiman e Van Pels, para tornar os fundos da casa
adequados para servirem de Esconderijo para as famílias Frank e Van
Pels – o que era algo peculiar, pois a maioria das famílias se separava,
para diminuir as chances de serem descobertas. Otto pergunta aos
funcionários de seu escritório se estão preparados para ajudar as
famílias quando chegar a hora. Todos respondem afi rmativamente,
sem hesitar, até mesmo a jovem secretária Bep Voskuijl.
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 20AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 20 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
ALGUMAS DAS FOLHAS SOLTAS NAS QUAIS ELA REESCREVEU O DIÁRIO.
OS DIÁRIOS DE ANNE, O LIVRO DE CONTOS E O “LIVRO DE BELAS FRASES”, BEM COMO
Como data para a entrada na clandestinidade eles escolhem o
dia 16 de julho, mas quando Margot é convocada para um “campo
de trabalho” alemão em 5 de julho de 1942, a família Frank não
pode mais esperar e parte já no dia seguinte para o Prinsengracht.
A família Van Pels os segue na semana seguinte. Em novembro
daquele ano, Fritz Pfeff er se torna o oitavo clandestino. Durante
cerca de dois anos, as oito pessoas permanecem trancadas em um
espaço de cerca de 120 metros quadrados. Para os ajudantes é difícil
conseguir comida sufi ciente; alguns alimentos são escassos. Durante
o horário comercial os clandestinos não devem fazer nenhum
barulho. As irritações e tensões mútuas crescem muito com o passar
do tempo e é permanente o medo de serem descobertos.
21
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 21AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 21 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
22A
HIS
TÓR
IA E
M R
ESU
MO
Em 4 de agosto de 1944, esse medo se torna realidade: eles são
traídos. Os oito clandestinos, juntamente com Kleiman e Kugler,
são transportados ao quartel-general do Sicherheitsdienst (Serviço
de Segurança – SD),* onde são interrogados. Após passarem uma
noite no prédio do SD e mais três noites em uma casa de detenção
de Amsterdã, os oito clandestinos são transferidos, em 8 de agosto,
ao campo de distribuição de Westerbork* e, posteriormente, ao
campo de concentração de Auschwitz-Birkenau.*
Kleiman e Kugler, declarados como inimigos pelo regime por terem
prestado auxílio a clandestinos, permanecem algumas semanas
em outra casa de detenção e são em seguida transportados ao
campo de Amersfoort.* Miep Gies e Bep Voskuijl não são detidas.
No Esconderijo revirado durante a prisão elas encontram os escritos
de Anne. Miep os guarda em sua escrivaninha, na esperança de
algum dia poder devolvê-los a Anne.
Os clandestinos, em consequência das privações sofridas, de um
tratamento desumano e de várias doenças, encontram fi nalmente
uma morte atroz em diferentes campos de concentração. Com
exceção de uma única pessoa: Otto Frank. Ele retorna. Os
ajudantes também sobrevivem à guerra, mas os acontecimentos
no Esconderijo, a memória de seus amigos e a publicação do diário
de Anne infl uenciam muito a sua vida posterior.
Investigações policiais—Em 1948, quatro anos após a prisão e três anos após a libertacão,
portanto, é realizada uma primeira investigação policial sobre
a traição. Diversas pessoas, entre as quais os ajudantes e Otto
Frank, são interrogados como testemunhas. Quem teria traído os
clandestinos? Em 1963, quando se torna conhecida a identidade
de Karl Joseph Silberbauer, o ofi cial do SD que liderou a invasão e
a prisão, segue-se uma segunda tentativa de esclarecimento das
circunstâncias da traição. Em ambas as investigações o chefe de
armazém Willem van Maaren é um dos suspeitos, mas, embora
tenha fi cado claro o fato de ele ter cometido alguns furtos na
empresa, sua culpa nunca pôde ser provada. Apesar do surgimento
de outras teorias, de novas investigações e de outros possíveis
suspeitos, nunca se chegou a nenhuma conclusão sobre quem
teria traído os clandestinos no Esconderijo.
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 22AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 22 16/06/16 08:0416/06/16 08:04
23
Uma condecoração para os ajudantes—Em 1971, Johannes Kleiman, Victor Kugler, Bep Voskuijl e Miep e Jan
Gies receberam, por recomendação de Otto Frank, a condecoração
Yad Vashem, oferecida aos “Justos entre as nações”. Essa
condecoração é concedida aos não judeus que durante a Segunda
Guerra Mundial ajudaram os judeus a se esconder ou a fugir do
país. Os ajudantes receberam uma medalha de honra e foram
plantadas árvores na Aleia dos Justos, no Monte das Recordações,
em Jerusalém.em Jerusalém.
A CONDECORAÇÃO YAD VASHEM DE VICTOR KUGLER. NA PARTE INFERIOR PODE SER LIDA A SEGUINTE INSCRIÇÃO EM FRANCÊS: “QUEM SALVA UMA ÚNICA VIDA, SALVA O UNIVERSO INTEIRO.”
BILHETE DE IDENTIDADE DA GESTAPO DO SS-OBERSCHARFÜHRER KARL JOSEPH SILBERBAUER. NO DIA 4 DE AGOSTO DE 1944, ELE É RESPONSÁVEL PELA DETENÇÃO DOS OITO CLANDESTINOS E DOS AJUDANTES KLEIMAN E KUGLER.
A H
ISTÓR
IA EM
RESU
MO
AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 23AFS005-2 WWW WTK Binnenwerk v8_CS Portugees-BR-F23.indd 23 16/06/16 08:0416/06/16 08:04