“papai puxou o facão pra botar na barriga do doutor ... · fazendeiros em disputas judiciais em...
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“Papai puxou o facão pra botar na barriga do doutor!”: Campesinato
Negro, posseiros e grileiros em disputa pela terra no pós-abolição
Egnaldo Rocha da Silva1
1 Introdução
1.1Campesinato Negro
Em todo o Brasil, comunidades rurais negras se formaram, durante e principalmente
após a fim formal da escravidão, constituindo um campesinato negro. As pesquisas e
interpretações atuais sobre a constituição de um campesinato negro no Brasil, mesmo quando
ainda vigia o sistema escravista, indicam que muitas comunidades negras formadas a partir da
fuga e busca por espaços de autonomia resistiram a perseguição dos senhores e constituíram
territórios negros rurais que chegaram até o século XXI.
Na formação do campesinato negro o acesso a terra se deu de varias formas, antes e
após a escravidão, inclusive por meio da compra de pequenas extensões de terras por negros
que de alguma forma conquistaram a liberdade. Outro meio pelo qual o campesinato negro se
fez presente foi a Brecha Camponesa, que permitia a existência de uma margem econômica e,
também, de momentos de autonomia própria para os escravizados, onde os senhores
disponibilizavam pequenos pedaços de terra e permitia que seus escravizados cultivassem
alimentos de subsistência, nos poucos dias que eram liberados de suas obrigações.
Contudo, provavelmente, a forma de acesso à terra de maior protagonismo entre a
população negra foi a ocupação de terras devolutas por famílias negras durante e após a
abolição. Atualmente, muitas dessas comunidades negras rurais vêm se autodefinindo como
remanescentes quilombolas.2
A categoria Campesinato Negro nos ajuda a compreender o protagonismo da
população negra na luta pelo acesso a terra, contudo, é preciso esclarecer que em virtude da
pluralidade de formas e meio de acesso a terra, que variam conforme o tempo e o espaço, e
que resultou em diferentes formas de compreender e se relacionar com os territórios
1 Doutorando em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); pesquisador
associado do Núcleo de Estudos Culturais: Histórias, Memórias e Perspectivas do Presente (NEC) - PUC-SP.
E-mail: [email protected] 2 No município de Ituberá já são cinco as comunidades reconhecidas como remanescentes quilombolas: Lagoa
Santa, Brejo Grande, São João, Cágados e São João de Santa Barbara; no Baixo sul da Bahia são 44 as
comunidade já reconhecidas.
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constituídos, faz-se necessário dar visibilidade e operacionalizar categorias endógenas, ou
seja, àquelas que os próprios sujeitos históricos utilizam para designar e representar suas
ações cotidianas.
1.2 Pós-abolição
A propriedade não tem somente direitos, tem também deveres (…) Se for eleito, não
separarei mais as duas questões – a da emancipação dos escravos e a da
democratização do solo. Uma é o complemento da outra. Acabar com a escravidão
não nos basta; é preciso destruir a obra da escravidão. (Joaquim Nabuco, 1884).
O processo de abolição da escravidão e de inserção dos recém libertos no pós-abolição
no Brasil foi mais estudado do ponto de vista econômico e político do que de uma perspectiva
social ou cultural, “enquanto problema econômico, quase naturalmente tendeu-se a privilegiar
a questão da substituição do trabalho nas áreas mais prósperas da cafeicultura paulista e a
substituição quase absoluta do escravo negro pelo imigrante europeu” (MATOS; RIOS, 2004
p. 174). Essa questão já estava posta desde a promulgação da Lei de Terras de 1850, quando
previa que os recursos angariados com a venda de terras seriam destinados ao financiamento
da imigração, tanto que sem seu Artigo nº. 18 preconiza que o Estado, para isso, deveria
custear anualmente, “certo número de colonos livres para serem empregados, pelo tempo que
for marcado, em estabelecimentos agrícolas [...], ou na formação de colônias nos lugares em
que estas mais convierem” (BRASIL, 1850).
Para avançarmos na compreender da conjuntura do pós-abolição é preciso estabelecer
um dialogo com outros campos científicos, tais como a Antropologia, a Sociologia e o
Direito.3 Dessa forma, buscamos uma abordagem interdisciplinar, cujo objetivo foi congregar
esforços na busca de compreender os significados das experiências vividas pelos diversos
atores sociais que compõem essa pesquisa no pós-abolição, almejando lançar luzes sobre o
que esta “além da escravidão” (COOPER; HOLT; SCOTT, 2005). Assim, entendemos que o
pós-abolição não deve ser visto como um momento representativo de uma ruptura com as
3 Em virtude da especificidade de parte das fontes levantadas para essa pesquisa, tais como processos judiciais, o
dialogo como o campo conceitual do Direito configura-se como indispensável para analise das mesmas. É valido
pontuar que as relações entre a História e o Direito não são novas, conforme apontam Silva Hunold Lara e Joseli
M. Nunes Mendonça; essas autoras indicam que essa relação nas últimas décadas vem passado por profundas
transformações, “onde a história do direito deixou de ser meramente uma disciplina formadora dos juristas,
destinada a justificar ou explicar os princípios e as normas jurídicas contemporâneas, para tornar-se um campo
de estudos da história intelectual e institucional” (LARA; MENDONÇA, 2006, p. 09). Buscaremos nas fontes
resultantes de processos judiciais, onde pequenos posseiros mediam forças contra ricos empresários e poderosos
fazendeiros em disputas judiciais em torno do direito de permanecer na terra, dessa forma, buscamos perceber as
estratégias e as experiências resultantes desse processo.
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estruturas, praticas e, principalmente, na mentalidade do sistema escravista, uma vez que há
muito de continuidade desse período, agora na relação que se estabelece entre homem livre e
seus descendentes e ex-senhor e seus descendentes que figuram como herança da sociedade
escravocrata e que se prolonga por todo o século XX e persiste nos dias de hoje, tencionando
as relações raciais no Brasil, com momentos de retrocessos e avanços.
Por tudo isso é que o pós-abolição vem configurando-se como um campo de
investigação, “com caráter sistemático” (GOMES; DOMINGUES, 2011, p. 07), cuja
conformação deu-se a partir de um processo de emancipação marcado por profunda
“racialização das relações sociais” (ALBUQUERQUE, 2009, p. 37), em que a distribuição
desigual de poder forjou estruturas de “preterição, subordinação, humilhação e dominação
nada aleatórias e que resultaram em formas de sofrimento social” (CUNHA; GOMES, 2007).
Ressalte-se o fato do discurso retórico da igualdade, da meritocracia, da isonomia e da
liberdade propiciaram a prática de mecanismos perversos de exclusão e marginalização da
população negra, por isso a necessidade do pós-abolição ser visto e analisado como um
problema histórico (MATOS; RIOS, 2004).
2 Grilagem e desestruturação das formas tradicionais de acesso e permanência na terra
no pós-abolição no Baixo Sul da Bahia
“Tem vários posseiros que eles tomaram na raça mesmo, invadiram e
tomaram as terras”. José Maria, 61 anos, agricultor.4
“A fazenda Finca tinha fama por todo o mundo ai que a Finca invadia
o que era dos outros, a Finca nunca invadiu um parmo de terra de
senhor ninguém...”. Natário dos Santos, 86 anos.
“Nessas matas só tinha mais era negro mesmo”. Natário dos Santos.
Os conflitos por terra na região do atual território do Baixo sul da Bahia eram
frequentes, principalmente após a abolição, quando a população negra recém liberta e seus
descendentes passaram a ocupar nesgas de terras ociosas no interior das matas, longe da
fronteira agrícola estabelecida até o final do século XIX. Nessas áreas constituíram
44 Os nomes das pessoas foram substituídos, para preservar seu anonimato.
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territorialidades a partir do campesinato negro cuja forma de aceso a terra variava, sendo a
mais usual nas décadas finais do século XIX e início do século XX a simples ocupação de
determinada porção de terra que era transmitida as gerações futuras. Portanto, não era
utilizada nenhuma categoria formal de acesso a terra.
As formas tradicionais de acessar e de se relacionar com a terra fora alterada
drasticamente a partir do avanço da fronteira agrícola, sobretudo com a expansão do cultivo
de cacau como uma atividade agrícola altamente rentável nas décadas iniciais do século XX e
com a chegada à região do empresário Oracio Nonato na década de 1940. O roceiro Damião
Braz, 78 anos, conta que antes,
Todo mundo respeitava, agora depois dessa Finca foi que não houve mais respeito
de nada pra divisa de ninguém, mas o povo de primeiro aqui respeitava a terra de
uns do outro, um cliente assim com o outro, assim agente respeitava a divisa, não ia
não.5
Damião Braz viveu esses tempos de mudança. Sua família ocupava uma sorte de terra
no interior das matas na divisa entre os municípios de Ituberá e Camamu, próximo ao atual
município de Gandu, a época distrito de Ituberá. Damião ainda mora na região, em um
quinhão de terra que lhe restou depois da expropriação que sua família sofreu e que fica
vizinha a fazenda de Oracio.
As formas tradicionais de convivência entre os posseiros onde todos se respeitavam
mutuamente e ninguém ultrapassava os limites de suas terras para as do vizinho, foi alterada
com a chegada de Oracioda, sinaliza Damião Braz. A Finca, foi o nome dado por Oracio
Nonato a uma de suas fazendas constituída a partir das terras que havia grilado, onde passou a
desenvolver o plantio de seringueira. Dessa forma, a fazenda Finca buscava captar e aplicar
recursos derivados dos incentivos fiscais do governo federal e estadual, em sua maioria
canalizada pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Depois de
grilada as terras, Oracio loteou parte delas e as vendeu a empresários de Salvador. Oracio
Nonato tinha outras fazendas que além do plantio de seringueiras também cultivava cacau,
cravo e dendê.
O modo de vida dos posseiros antes da chegada de Oracio era simples, cultivava quase
tudo de que necessitavam para sua subsistência, criavam-se pequenos animais, conforme
conta o senhor Damião: “Criava porco, as vezes que ia com cinco animais com por porco, de
5 Damião Brás de Jesus Santos. Entrevista realizada em 25 de março de 2015.
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madrugada, saia daqui com noite, chegava lá em Ituberá, ai chuva tá batendo, as vezes, tinha
ocasião que eu ia montado no meio das cargas e meu pai tangendo o animal”. Eventualmente
o excedente daquilo que produziam era comercializado.
Outro que viveu aquela época de respeito entre os posseiros e fartura de alimentos foi
Manoel Domingos de Jesus, 62 anos. Manoel é neto de Candido Braz, que em 1961 entrou
com uma Ação de Reintegração de Posse contra Oracio, acusando este de ter invadido sua
posse. O próprio Manoel, em 1985 esteve envolvido juntamente com outros posseiros em um
conflito contra José Modesto, que foi Delegado de Terra em Ituberá.6 Atualmente Manoel
mora em pequena propriedade entre as comunidades de Lagoa Santa e Brejo Grande, ambas
comunidades remanescentes quilombolas.
A trajetória de vida de Manoel Domingos e seu envolvimento na luta pelo acesso e
permanência na terra é singular, foi uma das lideranças no conflito em que um grupo de
posseiros disputaram a posse de um quinhão de terra que alegavam serem devolutas contra
José Modesto, momento em que é refundado o sindicato rural dos trabalhadores rurais de
Ituberá, sendo Manoel Domingos seu presidente. Sobre o tempo de tranquilidade e paz entre
os posseiros e a forma tradicional com que regiam o acesso e o controle sobre suas posses,
Manoel pontuou que
Misericórdia era tudo beleza, quer dizer, não tinha divisa assim, porque não era
medido e titulado, a divisa era assim: por aquele pau, dali pra lá é Candido quem
domina, dali pra cá é o velho Eugenio, pra lá é Paulino do Ouro, pra lá já é o pessoal
de Maria que era a esposa do paulino porém era duas terras, cada um dominava uma;
Candido Braz, que é do pessoal dos Braz que onde tá esse André Braz, Damião
Braz, ta entendendo, e o velho chamava-se Candido, que era meu tio. Então era
assim. Então quer dizer, daqui para o Brejo Grande, era mostrado as pontas dos pés
de pau, os Piquí, que era as divisa, cada um dominava dali pra lá e o outro dali pra
cá, ta entendendo. Criava porco, duas três porca, a bicha paria no deserto, dentro da
mata ai, não abusava ninguém e todo mundo era parente ali, era primo, irmão,
sobrinho, não tinha problema nenhum, antigamente era assim, todo mundo
respeitava uns ao outro.7
As relações de parentesco era um fator importante na configuração estrutural dos
códigos tradicionais de acesso e permanência na terra, bem como no respeito aos limites que
cada núcleo familiar dominava. As posses necessitavam ser relativamente grandes para poder
permitir a reprodução física e a rotatividade dos roçados.
6 Os conflitos envolvendo os posseiros Eugenio Ventura contra Oracio e Manoel Domingos contra José Modesto
será discutidos mais adiante, ainda nesse trabalho. 7 Manoel Domingos de Jesus dos Santos. Entrevista realizada no dia 01 de abril de 2015.
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Sobre as expropriações de terras, dois argumentos eram corriqueiramente utilizados
para legitimar a ação dos grileiros, o primeiro reza que as terras eram devolutas, portanto
pertenciam ao estado e poderiam ser requerida por qualquer pessoa, desde que tivesse
disposição e condição para regulariza-las, não tendo os posseiros argumentos jurídicos que
lhes assegurassem o direito de propriedade sobre as terra que ocupavam; o segundo
argumento alega que os posseiros não plantavam bens de raiz (cacau, piaçava, cravo-da-índia,
por exemplo), restringindo-se apenas a cultivarem mandioca e outros produtos necessários a
subsistência, alem da caçar e pescar. Contudo, muitos posseiros já vinham desenvolvendo o
plantio de roças de cacau, café e cravo-da-índia, principalmente aqueles situados em lotes de
terra mais férteis. Conforme indica a narrativa de seu Manoel:
A Finca, quando nos vivia lá na Finca, eu era menino, mas me lembro muito bem,
nos tinha roça de cravo, que produzia o cravo, vendia para comprar alimentação, nos
tinha o cacau, agente colhia [...], o velho meu pai colhia cacau que fazia uma ruma
que um homem sentado de um lado e o outro do lado um homem não via a cabeça
uns do outro [...]. Tinha o rio que dava muito peixe, a velha minha mãe pescava,
pegava bastante peixe; plantava duas, três hectare de mandioca que o velho meu pai
trabalhava muito, tinha uma casa de farinha a roda d’água, uma represa muito boa de
peixe, era dessa represa que puxava água para movimentar a casa de farinha, tinha
casa de morada de taipa e palha. Quando eu nasci, em 1953, no terreiro da casa tinha
um pé de cravo que subia quatro homens para colher. Naquela época nos tinha tudo
em abundancia, nos tinha nossa roupa, tinha dois, três burro no pasto, tinha tudo isso
[...]. O velho meu pai matava porco de três quatro arroba, fazia os moquém para
assar aquela carne todinha pra gente comer, era assim, agente não passava misera
não, passava beleza (grifo nosso).
O cultivo de café, que teve forte presença na região no século XIX e as primeiras
décadas do século XX, do cravo-da-índia a partir das primeiras décadas do século XX e de
cacau por pequenos posseiros, sobretudo aqueles sitiados nas terras mais férteis e propicia
para essa cultura, sendo que, diferentemente de como eram cultivado pelas grandes
propriedades, os pequenos posseiros diversificavam a produção, consorciando o cacau com
outras culturas e não deixava de cultivar os produtos de subsistência, principalmente a
mandioca.
Para esses pequenos roceiros a vida seguia seu curso normal, de muito trabalho e
simplicidade na lida da roça, no trato com os animais, nas relações com os vizinhos. Até que
se aproxima da região o empresário Oracio Nonato e visualiza ali potencialidades que
poderiam ser “economicamente viáveis”, possibilitando-lhe lucros fáceis, principalmente no
que dizia respeito a terra. O senhor João Coimbra, para quem Oracio representou o progresso
para a região, saliente que “quando doutor Oracio veio pra aqui ainda tinha terra devoluta”,
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embora essas terras não estivessem desocupadas, nelas viviam centenas de famílias que ali
estavam a gerações, porém, sem que a situação fundiária fosse legalizada, isso a despeito,
segundo o senhor João, das inúmeras tentativas de seu pai, Lourival Coimbra, provavelmente
o primeiro Delegado de Terras a atuar em Ituberá, de fazer com que os posseiros procurassem
regularizar a situação fundiária das suas posses: “porque ele insistia com você que era
agricultor e você não queria medir, então ele dizia ao posseiro: meça, meça que hoje nos
estamos tendo a felicidade de ter terras devolutas, amanha ninguém sabe, o que ele pôde fazer
ele fez”.8
A pesar da insistência do pai, e por vezes, deste facilitar as coisas para os posseiros,
chegando a não cobrar pelos seus honorários de Delegado de Terras, conforme alegou seu
filho, João, a grande maioria dos posseiros só o procurava quando se via em apuros, na
iminência de perder a posse para algum fazendeiro ou coronel da região. Quando Oracio
começou a mediar as terras e a expulsar os posseiros muitos foram procurar o então Delegado
Lourival, conforme narra João Coimbra,
Quando doutor Oracio veio para Ituberá, a grande quantidade de terra ainda era
devoluta, ai doutor Oracio abarcou tudo, as terras que ainda eram devolutas, foi para
Salvador, porque ele era de lá, requereu ao Estado e mediu toda terra que interessou
a ele. Ai ficou aquele corre, corre, só via chegar posseiro aqui, “ah doutor Lourival,
Oracio tá entrando em minha terra”, ele dizia: eu não posso fazer nada, porque a
terra é do governo, eu chamava, vocês não vinha, os que vieram ficaram livres, mas
os que não vieram perderam. Oracio pagava as possesszinhas, mas infelizmente uma
grande parte ficou sem terra, porque quiseram ficar, né.
A ausência da regularização fundiária da terra ocupada colocava os posseiros em uma
situação de constante insegurança. Essa realidade corroborou para a proliferação da pratica do
Caxixe, termo pelo qual a grilagem ficou conhecida na região cacaueira, bem como toda sorte
de “arbitrariedades e desonestidades no apossamento de terras, ou ainda a ação de
aventureiros que buscavam lucros fáceis com o comercio de terra” (GARCEZ, MATTOSO,
1976, p. 588). Oracio não era necessariamente um aventureiro, uma vez que sabia exatamente
o que queria, onde poderia chegar e como. Mas sem dúvida entre os seus objetivos estava o de
lucrar muito com o comércio de terras e com os subsídios governamentais para o
desenvolvimento da cultura da seringueira na região,
Após delimitar a área de terra que lhe desejava, iniciou o processo de expulsar os
posseiros que viviam na área. Contudo, o reconhecimento e a delimitação da área não foram
8 João Coimbra. Entrevista realizada em 08 de maio de 2015.
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feito de uma única vez, por se tratar de uma área de terra muito extensa, em regiões
acidentadas, foi necessário algumas etapas. Na primeira Oracio buscou meios de “maquiar” o
acesso a uma porção de terra, com ares de legalidade, para em seguida ir expandindo seus
domínios. Nesse processo ele contou com a ajuda de pessoas que conheciam muito bem a
região, a exemplo de Natário dos Santos. Sobre o processo de limpeza da área e a expulsão
dos posseiros, seu Manoel Domingos indica que:
Naquela época tinha um grupo lá, era Josias e Natário, era reunir quatro, cinco
homens e sair com as espingardas nas constas pelas estradas proibindo as pessoas de
trabalhar, pra não botar roças, que era para sair das terras que as terras era de Oracio,
que era de doutor Oracio as terras, e chamando o povo de invasor que tava
invadindo as terras e botando o povo para fora, o trabalho deles era esse. Cortar
rumo para medir, para circular, prendendo as pessoas, quer dizer, prendendo as
terras né, cortando o rumo e invadindo as terras do povo, era esse que era o trabalho
deles.
Certamente uma figura emblemática e atualmente quase mítica no processo de
grilagem de terras levado a efeito por Oracio Nonato é Natário dos Santos
3 Legislação agrária e a atuação dos Delegados de Terras: poder e conflito agrário na
Bahia
O cargo de Delegados de Terras emerge no bojo da primeira lei a ser considerada
sobre a regulamentação das terras do Estado da Bahia, a Lei nº 198 de 21 de agosto de 1897,
que dispunha sobre “terás devolutas, discriminação, venda, legitimação em posses e
revalidação de sesmarias ou concessões, registro geral e especial de terras”. Com a queda do
regime imperial e o advento de república, as terras chamadas “devolutas” passaram para o
domínio dos estados federados, cabendo a estes a incumbência de definir leis sobre o aceso e
legalização das terras públicas existentes em seus territórios, conforme previa a Constituição
de 1891.
O estudo da legislação agrária do estado da Bahia e a atuação dos antigos Delegados
de Terras podem fornecer pistas das praticas de expropriação de terras de pequenos posseiros,
aquisição, desvio e tráfico de influência para obter crédito agrícola, bem como investigar o
papel que a legislação estadual que regulamentava o acesso à terra na Bahia desempenhava
nesse processo, principalmente durante o século XX, quando a influência e a atuação dos
Delegados de Terras foram mais intensas.
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Os Delegados de Terras foram figuras centrais no processo de acumulação de terras na
Bahia principalmente na região cacaueira durante o predomínio político e econômico dos
coronéis. Nas primeiras décadas do século XX, o cacau já se mostrava uma cultura
extremamente promissora e lucrativa, por conseguinte a procura por terras para o
desenvolvimento e ampliação das fazendas intensifica-se. A partir dos anos de 1950 temos o
advento da exploração de novas áreas para o plantio da cultura da seringueira no estado com
incentivos dos governos estadual e federal, a exemplo do “Programa de Incentivo à Produção
de Borracha Natural” (PROBOR), que disponibilizava recursos subsidiados pelo governo
federal para disseminar e ampliar o cultivo da seringueira para extração de Latex (Borracha
natural).
Na Bahia, desde a década de 1920 havia ações do governo no sentido de incentivar o
desenvolvimento da cultura da seringueira. Um decreto lei de 1926, por exemplo, “oferecia
50% de desconto na compra de terras estaduais por pessoas que se propusessem a plantar
seringueiras” (DEAN, 1989, p. 111). As primeiras experiências no plantio da seringueira no
estado se concentraram na região cacaueira, inicialmente no município de Una, no sul do
estado, consorciada com o cacau, as arvores de seringueira eram aproveitadas para sombrear
as roças de cacau.
Tanto a expansão das antigas e novas fazendas de cacau partir das primeiras décadas
do século XX, quanto as terras que serviram para a implantação da cultura da seringueira
corroboraram para a intensificação da contínua expropriação das terras ocupadas por famílias
negras descendentes da última geração de escravizados e seus descendentes. Tais conflitos
evidenciaram o atrito e disputas entre as regras tradicionais de ocupação da terra regidas pelo
direito costumeiro e as regras constituídas a partir do código escrito.
A figura do Delegado de Terra surge com a primeira lei estadual que regulamentava a
legalização e o acesso a terras públicas do estado da Bahia e durante praticamente todo o
século XX foram editadas leis e decretos que versavam sobre sua atuação e o alcance de suas
funções. Isso porque com a primeira constituição republicana promulgação em 24 de fevereiro
de 1891, a propriedade das terras devolutas foi transmitida para os Estados, ficando a União
com autonomia restrita às terras públicas federais, conforme previa o Artigo nº. 64 da aludida
constituição: “Pertencem aos Estados as minas e terras devolutas situadas nos seus respectivos
territórios, cabendo à União somente a porção do território que for indispensável para a defesa
das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro federais” (BRASIL,
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1891). Essa mudança de titularidade exigiu o desenvolvimento de medidas disciplinares
próprias, onde cada Estado legislou à sua maneira os princípios disciplinares quanto a
regulamentação das terras devolutas, “observando, porém, as normas e os princípios
assentados na lei de 1850 e respectivo regulamento de 1854” (SILVA, 2008, p. 268).
Com essa proposta ampliam-se as condições de exercício de poder das elites estaduais,
escancarando-se as portas para a legitimação, ampliação e constituição dos grandes
latifúndios a partir das terras públicas. Conforme pontuou Maria Yedda Linhares e Francisco
Carlos T. da Silva:
Assim, abria-se ao poder local, oligárquico e coronelista, a possibilidade de
legitimar suas ações de açambarcamento fundiário. Originava-se, desta forma, mais
uma corrida em direção à formação de amplos domínios fundiários no país,
reafirmando-se a ordem latifundiária (LINHARES; SILVA, 1999, p. 76).
Desde 1897 até os dias de hoje, inúmeras leis e decretos foram promulgados e/ou
revogados sobre a regularização das terras do estado, contudo, nos ateremos aqui sobre os
dispositivos que dispõe sobre os Delegados de Terras.
Tais Delegados foram figuras centrais no processo de expropriação de terras e,
consequentemente, para acumulação destas por parte dos fazendeiros. Os Artigos nº. 208 e
209, respectivamente, da referida Lei Estadual nº 198, previam que, para cada distrito de
“medição”, seria nomeado “pelo Secretário da Agricultura um Delegado da Inspetoria Geral”,
sendo que este usaria, em suas relações “oficiais, da denominação de Delegado de Terras”
(GARCEZ; MACHADO, 2001, p. 129). Além desses dois artigos mencionados, o Artigo nº.
216 estabelecia quais eram suas incumbências, dentre elas, caberia a estes:
§ 1º. – Interessar-se com vigilante zelo pelo domínio do Estado sobre as suas terras
públicas ou devolutas;
§ 2º. – Proceder às necessárias pesquisas para o exato conhecimento da existência,
situação, quantidade e presumível importâncias (sic) das terras devolutas, das
posses, sesmarias e concessões sujeita (sic) à legitimação e à revalidação;
§ 3º. – Efetuar ou fazer efetuar a medição e demarcação das posses pendentes de
legitimação e das sesmarias ou concessões sujeitas à revalidação, discriminando-as
entre si e das terras devolutas, remetendo à Inspetoria Geral os processos e
memoriais descritivos;
§ 4. – Indicar ao governo do Estado as terras devolutas que convierem ser reservadas
nos termos deste Regulamento;
§ 5. – Promover o processo dos invasores de terras devolutas (GARCEZ;
MACHADO, 2001, p. 131-132).
Ao todo, o artigo 216 estabelecia 16 atribuições pertinentes ao cargo exercido pelos
Delegados de Terras. O Artigo nº. 233 preconizava: “Os Delegados de Terras, verificando a
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existência de invasores [...] intimarão por ofício e sem demora os delinquentes a abandonarem
as terras ou obtê-las por compra ao Estado dentro de três meses do dia da intimação”
(GARCEZ; MACHADO, 2001, p. 133), ao fim desse prazo, caso o “invasor ou intruso” não
tivesse obedecido à intimação e tomado as providências necessárias para regularizar a
situação, ou seja, caso prosseguisse na prática “condenada”, o Delegado de Terras deveria
tomar as providências que, dentre outras penalidades, previa que o “infrator” deveria
abandonar as terras em 48 horas.
Obviamente que os potenciais “invasores” de terras públicas e, portanto passiveis de
serem enquadrado dentro de tal dispositivo legal eram os pequenos posseiros negros recém-
saídos do regime de escravidão e brancos pobres que não dispunham de recursos para
regularizar a terra que ocupava, fator que os manteve em condição de vulnerabilidade,
sobretudo durante todo o século XX.
Em 12 de outubro de 1902, o Governo do Estado da Bahia promulgou a Lei nº. 447,
que potencializou o poder de ação dos Delegados de Terras. O artigo nº. 7 estabelecia que
estes passariam a ter “[...] as atribuições dos comissários de polícia nas diligências para
verificação dos delitos referentes a terras do Estado e preparo e investigação e colecionamento
de provas de responsabilidade dos delinquentes” (GARCEZ; MACHADO, 2001, p. 168). Os
Delegados de Terras fizeram largo uso em suas ações expropriatórias das prerrogativas que
essa lei lhe possibilitava, recorrendo ao apoio de policiais e jagunços.
De 1897 a 1974, foram várias as leis e decretos que citam, ou foram direcionadas aos
Delegados de Terras. Em 15 de maio 1974, foi promulgada a Lei Estadual nº. 3.257, que
oficializava as Agências Regionais de Terras do Estado da Bahia e regulava a situação
funcional dos antigos Delegados de Terras e seus auxiliares. A partir de então, estes passaram
a ser remunerados diretamente pelo Estado, e não mais por aqueles a quem prestavam seus
serviços de medição de terras e interlocutor junto ao Estado para o fim de expedir títulos de
domínio.
Até então os Delegados e seus auxiliares eram pagos por aqueles a quem prestavam
serviços. Situação que criava uma relação perigosa entre estes delegados e os interessados em
regularizar posses e/ou adquirir terras devolutas, majoritariamente, grandes proprietários de
terras ou aspirantes a tal. Por tais serviços eram cobrados preços excessivamente altos,
estipulados pelo Estado e regulamentados por decretos, a exemplo do Decreto de nº. 18.831
12
de 26 de abril de 1963, promulgado pelo então Governador do Estado da Bahia Antonio
Lomanto Junior, que em seu preâmbulo dizia o seguinte:
O Governo do Estado da Bahia, considerando que os Delegados de Terras, não
sendo remunerados pelos Cofres Públicos, percebem apenas remuneração
correspondente aos trabalhos que executam inclusive toda a aquisição de material
necessário ao desempenho do serviço;
Considerando que, o preço da metragem linear vigente, fixada no ano de 1958, não
atente à conjuntura do nível de vida atual, estando consequentemente desatualizado
e muito inferior ao preço pago por iguais serviços a profissionais particulares;
Considerando, ainda que, o Cargo de Delegado de Terras é privativo de profissionais
portadores de diploma universitário de Engenheiro Civil, Agrônomo ou Agrimensor;
DECRETA:
Art. 1º. Os preços a serem cobrados pelos Delegados de Terras por metro linear de
medição, passam a ser:
a) Cr$ 14,00 (quatro cruzeiros) por metro linear para os serviços apresentados com a
planilha do cálculo analítico;
b) Cr$ 10,00 (dez cruzeiros) por metro linear para os serviços apresentados sem
planilha de cálculo analítico;
Art. 2º. Os preços cobrados por serviços de avivamento de rumos antigos serão
indicados no Art. 1º. Acrescidos de 1% (um por cento), por ano que separa a data da
avivação da data da medição;
Art. 3º. Aplicam-se ao presente Decreto as medições já efetuadas e em debito que
foram pagas no prazo de 180 (cento e oitenta) dias a partir de sua vigência
(GARCEZ; MACHADO, 2001, p. 290).
Mesmo aqueles posseiros que desejavam regularizar sua situação afim de obter o título
de propriedade da terra, tinha dificuldade em fazê-lo por conta do alto custo dos serviços
cobrados pelos delegados, embora mesmo com tais dificuldades alguns posseiros tenham
conseguido titular suas terras, contudo esses casos representam a exceção.
Em Ituberá, são dois os Delegados de Terras que se tem notícia que atuaram durante o
século XX, o primeiro deles é Lourival Coimbra, não sabemos ao certo quando ele iniciou sua
atividade na região, provavelmente entre os anos de 1910/20, e exerceu a função até 1964
quando se aposentou. Em seu lugar assumiu José Modesto, que permaneceu na função até a
extinção do cargo. Sobre a atuação e formas de se relacionar com os posseiros da região
desses delegados existem versões diferentes. Quanto ao primeiro fala-se que era um homem
bom e sempre que possível ajudava os posseiros, por vezes os defendia da ganância e
investida que os coronéis locais constantemente faziam sobre suas terras. Já o segundo é
descrito como um homem violento e que fez fortuna se utilizando das prerrogativas do cargo
que exercia, se apropriando de muitas terras de posseiros.
Lourival Coimbra, provavelmente o primeiro Delegado de Terras de Ituberá era
natural de Salvador e veio para Ituberá nas primeiras décadas do século XX, de onde
comandava a Delegacia de Terra do sétimo distrito, cujo raio de atuação cobria o território
13
entre os municípios de Ituberá a Belmonte. Sobre a atuação desse Delegado entrevistei João
Coimbra, 84 anos de idade e funcionário público aposentado, único dos seus filhos ainda
vivo.
Ao reconstruir a trajetória de seu pai e a atuação dele como Delegado de Terras, João
buscou enfatizar o caráter altruísta deste para com os pequenos roceiros. Segundo ele, sempre
que podia fazia questão de ajudar os posseiros, defendendo-os das investidas dos ricos e
poderosos fazendeiros locais sobre suas posses. Como os pequenos roceiros não procuravam
regularizar sua situação fundiária, o então delegado Lourival os procurava e buscava
incentiva-los a medirem e titularem suas terras, seu filho disse que “ele chamava os posseiros,
muitos não podiam fazer, mas ele insistia para fazer pro cabra pagar depois, ele lutou muito
com vários posseiros para medir a terra, tanto que ele tinha muita gente que ficou com terra
legalizada”.9
O procedimento para legalizar as posses não era simples nem barato. O primeiro passo
era o roceiro procurar a delegacia de terra, que no caso de Ituberá ficava na própria casa do
Delegado, “a delegacia era na nossa casa, no tempo que ele foi delegado a nossa casa tinha
uma sala para isso”; em seguida era necessário pagar um tributo na coletoria federal,
recolhido o imposto o delegado determinava a seus auxiliares que fosse mediar a terra do
requerente, os custos desses profissionais até 1974, ficavam a cargo do solicitante, com as
informações contidas nas cadernetas de campo dos auxiliares era feito a planta ou mapa da
área, indicando geralmente apenas os confrontantes, para então ser instituído o processo de
solicitação do título definitivo que seguia para a Secretaria de Agricultura do Estado para ser
analisado e definido o valor a ser pago pela área que o individuo estava a solicitar e então era
emitido uma guia para o solicitante recolher o imposto cobrado, só então o processo seguia
para ser despachado pelo próprio governador, que assinava o título definitivo de propriedade
em nome daquele que o solicitara.
Nos poucos mais de quarenta anos que Lourival Coimbra atuou como Delegado de
Terras em Ituberá, ajudou e defendeu muitos posseiros contra a ganância dos coronéis locais,
argumenta seu filho: “Teve casos de coronéis querer tomar terra de gente aqui”. Certamente
foram muitos posseiros que tiveram suas terras expropriadas. João Coimbra narrou um desses
casos onde estiveram envolvidos um coronel local e uma posseira:
9 João Coimbra. Entrevista realizada em 08 de maio de 2015.
14
[...] um dia chegou uma viúva aqui com os filhos em um panacúm em cima do
animal dizendo que o coronel queria tomar a terra dela, não vou lançar o nome
porque não adianta, gente de família nobre, e ele foi lá, chamou o administrador da
fazenda e disse: onde é a terra do coronel aqui, ele disse: é aqui, aqui, aqui. É ai? É!
Ele pá! Media e dava de graça a pessoa, a medição ele não cobrava, só se a pessoa
requeresse ao estado e fizesse o título, mas a parte dele ele fazia de graça, fez para
varias pessoas assim.
A “simpatia” para com os pobres, a retidão de caráter e o sendo de justiça do Delegado
de Terras Lourival são características que seu filho faz questão de resaltar, ao ponto de,
segundo ele, não ter titulado terra em seu nome, nem comprar terra já titulada por outros.
Certa feita, conta João Coimbra, um cidadão que havia medido e titulado uma terra há vários
anos procurou seu pai e propôs que ele a comprasse: “ele veio até papai e disse: doutor
Lourival eu medi e titulei essa terra, mas eu não quero terra na região, o senhor sabe quanto
eu gastei, o senhor me da o dinheiro e fica com a terra”. Seu pai recusou a proposta
argumentando que “eu não quero terra, como Delegado de Terra eu não quero terra na
região”. Também não permitia que nenhum dos seus filhos tivesse terra:
Tanto que nos que somos filhos dele podíamos ser os maiores latifundiários da
região, porque ele foi delegado de terras de Ituberá a Belmonte, era o sétimo distrito
a delegacia. E nos não tivemos o direito de medir um palmo de terra. Porque ele
dizia: comigo delegado vocês não tem terra porque eu não quero.
Em alguns casos, os delegados de terras são apresentados por familiares como
desbravadores, responsáveis pela colonização e desenvolvimento de cidades que surgiram
com o advento do apogeu do cacau. A sobrinha neta de um delegado de terra do município de
Camacan argumenta que seu antepassado foi o responsável pelas “primeiras medições,
locações, abrindo as primeiras estradas de pedestres que serviam para delimitar as áreas de
ocupação” do que viria a ser a cidade de Camacan, no sul da Bahia (PINTO, 2004, p. 81).
Segundo Mercedes Mendonça, o delegado de terras de Camacan Boaventura Moura:
“filosoficamente não admitia grandes áreas, não permitia latifúndio [...]. Ele como Delegado
de Terra dava 30 a 40 hectares” (PINTO, Idem). Com essa medida, escreve Mercedes
Mendonça, o delegado queria prevenir a “ação dos caxixeiros e gananciosos de terras, bem
como futuros conflitos de lutas pela terra tão literariamente narrada em outros municípios da
Região” (PINTO, Idem). Boaventura Moura aproveitando-se da influência do cargo que
exercia consagrou-se como o primeiro prefeito de Camacan passando a influenciar
decisivamente as eleições que se sucederam. Renato Z. Costa dos Santos ao analisar a
formação da elite agrária de Camacan e a memória social construída sobre essa elite aponta
15
que “Seus feitos foram eternizados com a avidez da sociedade sul-baiana em produzir um
passado emérito e glorioso. Suas ações foram consagradas por gerações, até serem absorvidas
como prelúdio de sua própria identidade” (SANTOS, 2010, p. 02).
Fora dos círculos familiares e daqueles representativos da história oficial,
provavelmente a memória que se tenha sobre os Delegados de Terras sejam outras, menos
românticas. Talvez, no Brasil real, vasculhando as lembranças daqueles que ficaram no limbo,
surjam memórias dissidentes, antagônicas a essas memórias glorificantes que se querem
hegemônicas e representativas do Brasil oficial.
Para a região cacaueira, havia uma determinação que limitava a quantidade de terra
que poderia ser requerida, embora, em tese, estivesse aberta a qualquer pessoa a possibilidade
de querer terra nessa região, caso as terras requerida fosse próprias para o cultivo do cacau,
“só poderiam ser requeridas até cem hectares por uma só pessoa; e terras impróprias para
cacau, de pior qualidade, mas próprias para a pecuária poderiam ser requeridas até quinhentos
hectares” (HEINE, 2004, p. 31). A imposição de um limite sobre as terras requeridas em áreas
propícias para o cultivo de cacau abria precedentes para fraudes, onde se requeria porções
maiores de terra “em áreas reconhecidamente aptas para a lavoura do cacau a preços mais
baixos”, alegava-se para isso tratar-se “de terra para pasto, imprópria para a lavoura (de
cacau), desde que o requerente contasse com a boa vontade da autoridade encarregada da
medição, demarcação e avaliação das terras” (HEINE, Idem, p. 32).
Entre as décadas de 1920/30 Delegados de Terras e seus auxiliares, bem como
fazendeiros, deputados estaduais e membros do governo estadual, estiveram diretamente
envolvidos no conflito ocorrido no Posto Indígena Paraguaçu, criado em 1924, na cidade de
Itabuna, no território indígena Tupinambá. A motivação do conflito foi a cobiça dos
fazendeiros locais pelas terras que ficavam no aludido território indígena, descritas como
extremamente férteis e propícias para o cultivo de cacau. Em 09 de março de 1926, o então
governador Francisco Marques de Góes Calmon, por meio de decreto, mandava que fossem
reservadas “as terras onde se encontram em maior número índios em estado selvicola a serem
destinadas a postos e povoações indígenas”, o mesmo decreto determinava a suspensão das
medições de terras devolutas situadas nas zonas de abrangência do aludido Posto Indígena, e
indicava três zonas:
1º - A situada entre os rios Prado e Cachoeira do Itabuna limitada a oeste pelo
vazadouro ultimamente aberto pelo referido representante, e dai a Angelim, povoado
do rio Prado; 2º - A situada nas cabeceiras do Ribeirão do Ouro, afluente da margem
16
direita do rio Gongugy; 3º - A situada nas cabeceiras e contra vertentes do rio Peixe,
afluente do rio de Contas (GARCEZ; MACHADO, 2001, p. 197-198).
A delimitação da área foi definida por meio da Lei Estadual nº. 1.916 de 09 de agosto de
1926, que estabelecia:
Art. 1º. – Fica o Governo autorizado a reservar 50 léguas quadradas de terras,
compreendidas nos limites fixados pelo Decreto do Poder Executivo, de 09 de
março do corrente ano, destinadas à conservação das essenciais florestas naturais e
ao gozo dos índios tupinambás e patachós ou outros ali habitantes (GARCEZ;
MACHADO, idem, p. 200).
.
Ficando o Governo do Estado incumbido de providenciar a demarcação da área
determinada pelo aludido decreto lei, o que foi feito pelo “Capitão Vicente de Paulo Teixeira
da Fonseca Vasconcelos entre 1926 e 1930” (LINS, 2007, p. 192). Com o anúncio da
proposta de demarcação das terras em favor dos índios os fazendeiros começaram a se
articular para impedir que a mesma acontecesse, pois almejavam se apropriar daquela área
para expandirem suas fazendas de cacau e para isso fizeram uso dos mais diversos
argumentos na busca de convencer o governo estadual da inviabilidade da demarcação das
terras em favor dos índios. Tanto que no mesmo ano em que o decreto de foi editado um
grupo de fazendeiros “de Itabuna, liderados pelo deputado Cordeiro de Miranda, enviou um
memorial ao governo pedindo a redução das terras do Posto, usando o argumento que ‘sendo
o número de índios mínimo (...) prejudicava a expansão agrícola de Itabuna’”, e com o
objetivo de reforçar a tese de que os índios não careciam de “tanta terra” esse mesmo
deputado argumentava que “os fazendeiros locais tem comprado aos índios algumas posses,
mas isso (...) dentro da lei. Eu mesmo comprei algumas dessas posses” (LINS, idem, p. 192-
193).
Em 1929 o funcionário do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), Vicente de Paulo
Teixeira Vasconcellos, dá conta de que houve invasões na área da reserva indígena, situação
que se agravou a partir de 1931 com a nomeação do interventor Federal do Estado, Juracy
Magalhães, que inclinava-se a apoiar a posição dos fazendeiros, tanto que em 1933
encaminhou “ao Ministério do Trabalho” - aquém, nessa época era subordinado o SPI - um
“Memorial em que negociantes e lavradores queixavam-se de ineficiência do Posto Paraguaçu
e pediam a sua extinção” (LINS, idem, 194). Em 1936 fazendeiros locais, juntamente como
um funcionário da Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia, Abdon Motta, auxiliar da
Delegacia de Terras de Ilhéus e com o apoio de deputados estaduais se articularam com o
Delegado de Terras do município de Vitoria da Conquista, conhecido por Dr. Bandeira
17
“mandaram alguns engenheiros acompanhados de homens armados medirem terras na área do
Posto Indígena Paraguaçu” (LINS, idem, p. 195). Foi a partir desse conflito que surge a figura
do Caboclo Marcelino, que se insurgiu contra as sucessivas invasões que vinham acontecendo
no território do Posto Paraguaçu, e em resposta a sua resistência passou a ser acusado de
“comunista” e perseguido; a imprensa local e estadual o apresentava como criminoso
referindo-se a ele com termos como “famigerado criminoso” e “Lampião Mirim” (PARAÍSO,
2009, p. 05).
Por conta de sua atuação na defesa do território indígena contra as investidas dos
fazendeiros e coronéis do cacau que constantemente tentavam invadir suas terras, Marcelino
foi acusado de vários crimes “em 1921 de ter assassinado Jacintho Gomes e, em 1929, de ter
matado sua companheira, acusando-a de adultério e ferido os quatro filhos dela. Também era
acusado de ter deflorado várias moças”, acusações que nunca foram “apuradas ou
comprovadas” (PARAÍSO, Idem). Mesmo sem provas concretas de sua participação nos
crimes de que era acusado, Marcelino e os companheiros que lhe acompanhavam foram
presos varias vezes e torturados, até que desapareceu em 1937, sem que jamais se soubesse do
seu paradeiro.
Uma das principais lideranças Tupinambá atualmente, o Cacique Babau (Rosivaldo
Ferreira da Silva), em depoimento prestado para o documentário “Tupinambá: o retorno da
terra” (2015), fez uma trajetória dos conflitos de terra que seu povo vem passando desde o
início de século XX e o papel desempenhado pelos delegados de terras e seus auxiliares:
Com a chegada do cacau na região foi que motivou a invasão das terras da gente,
que antes eles (os fazendeiros e coronéis do cacau) não tinham muito interesse
porque era serra, montanha, então nós estávamos mais preservados. Quando o cacau
disseminou na região, e eles viram a importância da terra, ai começou os conflitos
por causa da terra e relacionado ao cacau. O próprio doutor Almeida começou a
distribuir as nossas terras, que era delegado de terra de Uma, para quem quisesse
fazer os plantios. As grandes áreas de terras era ele quem media, ele tinha dois
agrimensores sobre a jurisdição dele, o Paulo Badaró e o Vitorio Badaró, que eram
os responsáveis por medir e expulsar que tivesse, criar os títulos de terra, tudo eram
eles os responsáveis.10
Ele também relata sobre a atuação de Marcelino na defesa do território:
10 Depoimento oral de Rosivaldo Ferreira da Silva (Cacique Babau) para o documentário Tupinambá: O Retono
da Terra. In: Tupinambá: O Retono da Terra. 2015. (24:57 mim.). Disponível em:
<https://vimeo.com/126566470>. Acesso em 28 de mai. de 2015.
18
E ai apareceu a figura de Marcelino como um dos principais lideres dos
Tupinambás, ele desponta como alguém que vai contra esse avanço dento do
território, e consegue organizar uma quantidade considerável de índios que concorda
com ele e faz o enfrentamento, ai depois vem essa acusação que a mídia toda
divulgava que era um grupo de comunista.
Nos anos 2000 teve início a retonada do território indígena Tupinambá no sul da
Bahia, desde então os índios passaram a ocupar as terras que foram expropriadas, a resposta a
essa retomada das terras tem sido violenta, de 2001 a 2014, setenta (70) índios tupinambá
foram assassinados, sem que nenhum desses assassinatos fosse até o momento investigado.
Os Tupinambás aguardam desde 2009, quando o Relatório Antropológico indicando a área a
ser demarcada entre os municípios de Ilhéus, Uma e Buerarema foi entregue ao governo do
então presidente Lula, desde então aguarda a assinatura do Ministro da Justiça para que se
proceda as etapas finais do processo de demarcação do território.
3.1 “Papai puxou o facão pra botar na barriga do doutor!”
“[...] tinha uma terra que era do Estado e que o doutor José Modesto
dizia que era dono”. Manoel Domingos, 62 anos (Posseiro)
“Doutor José Modesto ele se ariscou muito de morrer porque ele
tomou muita terra dos outros, tomou muita terra mesmo”. Jaime dos Santos, 81 anos (Trabalhador rural)
O título desse tópico foi inspirado na fala de Damião Braz, ele a proferiu quando
narrava uma disputa por terra entre seu pai, Manoel Braz, e o delegado de terras de José
Modesto. Os posseiros que ocupavam pequenas extensões de terra, onde desenvolviam,
sobretudo, uma agricultura de subsistência, mas não raro, no caso daqueles que se
estabeleceram nas terras mais férteis nas cabeceiras do rio Juliana, a oeste das matas do
município de Ituberá, Camamu e Gandu, já desenvolviam o cultivo de pequenas rocas de
cacau, cravo e café. Esses posseiros, por carência de recursos e esclarecimentos não tinham
suas terras legalizadas. Ao contrario dos grandes fazendeiros estabelecidos, aqueles
remanescentes do século XIX, e os emergentes, aqueles que estavam a constituir seus
latifúndios nas primeiras décadas do século XX nas terras livres, remanescentes e ocupadas
por pequenos posseiros.
19
Os fazendeiros estabelecidos e os emergentes “mediante o expediente de requerer ao
Estado a posse legal de grandes áreas, vai engolir o pequeno posseiro cujas roças estejam
situadas na área por ele requerida” (GARCEZ, MATTOSO, 1976, 588). Nesse processo, as
Delegacias de Terras e seus respectivos auxiliares, foram aliados indispensáveis para o
acumulo de terras pelos fazendeiros. Tanto que nas primeiras décadas da república a disputa
política na região cacaueira era acirrada, isso porque, entre outros fatores, o intendente
municipal tinha o direito de nomear os Delegados de Terra e oficiais de cartório e outros
agentes públicos indispensáveis no processo de expropriação e acúmulo de terras, a exemplo
dos delegados de polícia.
Na delegacia de terra de Ituberá passou a atuar o Delegado José Modesto, depois que
Lourival Coimbra se aposentou, certamente José Modesto já vinha atuando como auxiliar de
Lourival há alguns anos, sendo que ao contrario deste, Modesto não via nenhum impedimento
moral, constrangimento ou conflito ético entre o fato de ser Delegado de Terras e ao mesmo
tempo requisita-las em seu nome, tanto que se tornou um grande latifundiário. Sobre essa
questão e sobre a acusação de que ele se apropriava indevidamente das terras de pequenos
posseiros se aproveitando do fato destes não terem suas terras tituladas, o senhor João
Coimbra considerou que
Olha, doutor José Modesto , a sociedade da nossa terra dizia que doutor José
Modesto roubava o agricultor, tomava a terra do posseiro, é mentira, eu acompanhei
a trajetória de José Modesto com papai. José Modesto , ele conseguiu terras, mas de
que maneira? Você era posseiro junto dele, ele dizia: você quer me vender isso aqui?
Não. Acabou. Quero. Ele vinha e dizia Lourival, fulano tem uma terra pegada a
minha e quer me vender, você me deixa comprar e eu medir e incluir na minha terra?
Papai dizia: se for como você ta me dizendo, faça. Papai abria a mão, José Modesto
mesmo media que ele era topografo, não pagava a ninguém, e requeria ao estado e
pagava ao estado, foi assim que doutor José Modesto adquiriu terras aqui, não foi
roubado de ninguém, é que as pessoas quando ver alguém subir com trabalho diz
que é roubo, subiu com o suor do rosto dele.
João Coimbra fez questão de enfatizar que José Modesto tinha uma atuação que seguia
na mesma linha da de seu pai. Entretanto, os posseiros tem outra visão sobre isso.
Provavelmente, conforme indica nosso entrevistado, em um primeiro momento quando o
interessado em se apropriar das terras ocupadas por algum posseiro lhe propunha que este o
vendesse e lhe oferecia algum dinheiro, nos casos em que o posseiro se recusava a aceitar a
quantia ofertada pela sua posse recorria-se a outros expedientes, o método mais utilizado
nesses casos era a violência; para isso, os coronéis, Delegados de Terras e outros aventureiros
20
em busca de ganhar dinheiro fácil com a comercialização de terras contavam com o auxílio de
jagunços.
As memórias que os posseiros, ex-posseiros e quilombolas guardam do Delegado de
Terras José Modesto apresenta-se em flagrante conflito com a apresentada por João Coimbra.
Damião Braz que nos anos finais da década de 1950 teve a terra que sua família ocupava há
décadas invadida por Oracio Nonato, conta que José Modesto também tentou se apropriar das
terras, contudo, seu pai, como já havia perdido parte delas para Oracio, foi obrigado a usar de
todos os meios para defender o pedaço de chão que lhe restara:
Papai um dia puxou o facão, nesse dia o veio não respeitou nem o doutor não meu
amigo, puxou o facão pra botar na barriga do doutor José Modesto, que queria
teimar, avançar pra junto de papai mode passar um pedaço de terra por dentro do
lugar da gente. Ai o veio bateu mão no facão, o doutor estacou lá, e não foi não.11
As formas de expulsar os posseiros variavam conforme a resistência apresentada,
contudo, raros foram os casos em que os usurpadores recuaram com as primeiras
manifestações de resistência. E, quando isso acontecia, os grileiros não mediam esforços para
alcançar seus objetivos, mesmo que isso significasse o risco de se deparar com um roceiro
furioso de facão na mão, quem sabe, até disposto a matar o “doutor”. Jaime dos Santos, 81
anos, um pequeno roceiro e trabalhador rural, que durante alguns anos prestou serviço para
José Modesto, clonando seringueiras em suas fazendas, narrou que “doutor José Modesto, ele
se ariscou muito de morrer porque ele tomou muita terra dos outros, tomou muita terra
mesmo”.12 Nessas investidas ele contava com o apoio de jagunços, um dos mais famosos
chamava-se Serafim. Os atores locais que desempenhavam essa função – de Jagunços e
pistoleiros – a serviço dos coronéis, Delegados de Terras e grileiros, eram temidos na região,
contudo, quando seus serviços se tornavam desnecessários eram esquecidos por aqueles que
serviam, Jaime conta que Serafim “tomou muita terra” de posseiros a mando de José
Modesto, porém,
[...] no fim, morreu pobre, nem um pedaço de terra ele não teve para fazer uma
fazenda, não teve, trabalhou não sei quantos anos Serafim para doutor Oracio e José
Modesto [...], quando acabou Serafim morreu aqui numa situação... ficou cego,
andava se cagando por aqui pela rua.
Na década de 1980, José Modesto esteve envolvido em uma disputa de terra que
resultou em uma ação judicial. Ele alegava que alguns posseiros estavam invadindo suas
11 Damião Brás de Jesus Santos. Entrevista realizada em 25 de março de 2015. 12 Jaime dos Santos. Entrevista realizada em 18 de junho de 2015.
21
terras, os posseiros por sua vez alegava que suas roças estavam encravadas nas matadas
devolutas do estado. A essa altura provavelmente José Modesto já estava aposentado, mas
continuava aprontando suas peripécias. Mas essa é outra história.
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