pantanal: opinião pública local sobre meio ambiente e desenvolvimento

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PANTANAL OPINIˆO PÚBLICA LOCAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Silvio Marchini Wildlife Conservation Society Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá MCT-CNPq 2003

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O livro faz um levantamento das opiniões sobre meio ambiente e desenvolvimento entre pecuaristas, pescadores profissionais, profissionais do turismo e ambientalistas no Pantanal. Conflitos de opinião são identificados. A maioria dos conflitos de opinião entre as categorias de entrevistados resulta da falta de informação. Em alguns casos, se desconhece a resposta para questões cruciais. Em outros casos, as respostas, embora conhecidas, não são suficientemente difundidas. Qualquer que seja o caso, a solução lógica para os conflitos entre segmentos sociais é a geração de conhecimento relevante através da pesquisa científica e sua divulgação ampla e transparente na comunidade regional.

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PANTANALOPINIÃO PÚBLICA LOCAL SOBRE

MEIO AMBIENTE EDESENVOLVIMENTO

Silvio Marchini

Wildlife Conservation SocietyInstituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

MCT-CNPq

2003

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Copyright © 2003, by Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá Texto © Silvio Marchini

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou utilizada por qualquer meio, sem prévia autorização por escrito da editora.

Coordenação e Produção Marigo Comunicação Visual Ltda.

Projeto Gráfico e Diagramação Cecília Banhara Marigo

Revisão de Texto Damião Nascimento

Fotografias Luiz Claudio Marigo

FICHA CATALOGRÁFICA

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5 Introdução

6 O Pantanal 6 • Meio ambiente 6 • Socioeconomia 7 • Problemas ambientais

e socioeconômicos

8 O estudo de opinião 8 • Método

11 Os resultados11 • Biodiversidade13 • Meio ambiente14 • Socioeconomia16 • Instituições

17 As conclusões

21 Tabelas

34 Figuras

40 Referências

SUMÁRIO

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Este estudo foi idealizado pelo Dr. José Márcio Ayrese financiado pela Wildlife Conservation Society (WCS),pelo Instituto de Desenvolvimento SustentávelMamirauá (IDSM) e pelo Ministério da Ciência eTecnologia do Governo do Brasil (MCT).

Agradecimentos também ao Centro de Conservaçãodo Pantanal, à Fundação Brasileira de DesenvolvimentoSustentável, à Fazenda Sete, ao Instituto Parque doPantanal, aos meus guias e amigosSeu Pico (Miranda) e Dona Enedina (Coxim),à Miriam Marmontel, à Ana Rita Alvese a todos os entrevistados.

AGRADECIMENTOS

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O Pantanal é conhecido no Brasil e no mundo por suabeleza e por representar um exemplo raro de uso sustentá-vel de recursos naturais. O povo pantaneiro e seus reba-nhos de gado vacum têm explorado o potencial econômicoda região por séculos e, não obstante, acredita-se que a re-gião ainda abrigue a mais alta concentração de vida silves-tre do Novo Mundo.

Nas últimas décadas, porém, uma série de fatores temcontribuído para a degradação ambiental e para o declíniona qualidade de vida daqueles que vivem e trabalham noPantanal. Aliado a isso, a crescente preocupação da socie-dade com as questões ambientais e com a proteção da bio-diversidade fez com que o interesse pelo Pantanal deixassede ser exclusividade dos pantaneiros. Desse modo, o Pan-tanal passou a ser um importante foco de atenção dos de-mais brasileiros, assim como de estrangeiros.

Nesta vasta comunidade de pessoas e organizações pre-ocupadas com o Pantanal, prevalece a noção de que o ca-minho a seguir é o da conciliação entre proteção ambiental edesenvolvimento socioeconômico. Porém, pela particulari-dade de ser composto quase exclusivamente por proprieda-des privadas (fazendas de gado, mais especificamente),empreendimentos no Pantanal, mais que em qualquer outrolugar, devem levar em conta os interesses da comunidadelocal. Assim, a opinião dos pecuaristas sobre meio ambientee desenvolvimento, e seus conflitos e convergências com aopinião dos demais segmentos sociais locais, quais sejam,

pescadores, profissionais do turismo e ambientalistas, deveser o ponto de partida para a elaboração de qualquer pro-grama de desenvolvimento sustentável para a região.

Programas bem-sucedidos de desenvolvimento susten-tável no Pantanal trarão benefícios que transcenderão asfronteiras da planície pantaneira. Tais programas poderãoservir de modelo para outras regiões do continente cujaspaisagens são semelhantes às do Pantanal. Aproximada-mente 50% da superfície da América Latina é composta porsavanas e campos que se assemelham ao Pantanal nos as-pectos ambiental e socioeconômico. O cerrado brasileiro,os lhanos venezuelanos, o chaco boliviano, as estepes ar-gentinas e a puna andina são exemplos de tais formações.Comparados às florestas úmidas, savanas e campos têmrecebido pouca atenção da comunidade conservacionista.Não obstante, savanas e campos abrigam uma biodiversi-dade única e uma grande abundância de vida silvestre.

Este estudo aborda, através de entrevistas pessoais, aopinião sobre meio ambiente e desenvolvimento socioeco-nômico dos quatro principais segmentos sociais que atuamno Pantanal: 1) Pecuaristas, gerentes de fazenda e peões;2) Pescadores profissionais; 3) Profissionais do turismo; e4) Ambientalistas. As entrevistas foram elaboradas para ava-liar os sentimentos dos entrevistados em relação à biodiver-sidade, sua percepção dos problemas ambientais e socioe-conômicos no Pantanal, e suas opiniões sobre as causas detais problemas e as soluções para eles.

INTRODUÇÃO

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Meio ambiente

O Pantanal é uma imensa planície aluvial que se tornaextensivamente alagada durante a estação chuvosa. Ele seestende por três países – Brasil, Bolívia e Paraguai – e asestimativas de seu tamanho variam entre 140.000 km2 e210.000 km2. (Swarts, 2000). Ele abriga uma alta diversida-de de animais. São 656 espécies de aves, 263 de peixes, 95de mamíferos e 162 de répteis (Ministério do Meio Ambien-te, 1997). Quanto à flora, Pott e Pott (1997) coletaram maisde 1.700 espécies de angiospermas durante dez anos depesquisa, sem contar plantas aquáticas e gramíneas.

Mais que diversidade, porém, o Pantanal é conhecido pelaconcentração de vida silvestre que abriga. A densidade devida silvestre no Pantanal é considerada a mais alta dosneotrópicos. Jacarés e capivaras são particularmente abun-dantes. Também relativamente abundantes são as onças-pintadas, as ariranhas, os tamanduás-bandeiras, os tatus-canastras, os lobos-guarás e os cervos-do-pantanal. Entreas aves, é particularmente alta a abundância de papagaiose periquitos, biguás, garças, colhereiros, assim como da-quela que é considerada a ave-símbolo da região, o jaburu.

Socioeconomia

O Pantanal é o lar de 1,8 milhão de pessoas nos estadosdo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a maioria delas en-volvida, direta ou indiretamente, com uma das três princi-

pais atividades econômicas da região: pecuária, pesca e tu-rismo. A seguir, uma breve descrição destas atividades.

a) Pecuária. Com cerca de 3,8 milhões de cabeças, apecuária é a atividade econômica mais importante do Pan-tanal (Embrapa, 1997). Animais trazidos da Espanha e Por-tugal pelos conquistadores há mais 200 anos adaptaram-seao ambiente pantaneiro e deram origem às raças tucura epantaneiro. No século XX, porém, os rebanhos de tucura epantaneiro foram sendo gradativamente substituídos porgado zebu, nelore em particular. A pecuária pantaneira étipicamente extensiva, de cria e recria, sem separação depastos e com pouco manejo. Mudanças recentes na econo-mia global e a reforma agrária familiar que ocorre na regiãotêm forçado as fazendas de gado a modernizarem-se. A vi-abilidade econômica da pecuária pantaneira depende cadavez mais do uso eficiente dos recursos naturais e da capaci-dade de oferecer produtos de qualidade (Embrapa, 1997).

b) Pesca. Gerando cerca de 40 milhões de reais por ano(Resende, 1998), a pesca é a segunda maior economia doPantanal. O regime de cheias anuais é o principal fator res-ponsável pela alta produtividade de pescado da região. Apesca no Pantanal é dividida em três classes: 1) Pesca ama-dora, que representa a mais importante atração turística daregião, especialmente no Mato Grosso do Sul; 2) Pesca pro-fissional, que é a atividade tradicional realizada por pelomenos 3.500 pescadores em todo o Pantanal; e 3) Pesca de

O PANTANAL

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subsistência, que consiste em uma importante fonte de pro-teína para as comunidades ribeirinhas.

c) Turismo. Acompanhando uma tendência mundial, aimportância do ecoturismo tem crescido muito no Pantanalnos últimos anos. Por não interferir com a pecuária, muitospecuaristas têm adotado o ecoturismo como uma alternati-va de negócio. É crescente o número de fazendas na regiãoque contam com meios de hospedagem ou que operam pas-seios em suas terras.

As organizações não-governamentais (ONGs) ambien-talistas compõem outro segmento social cuja influência so-bre o meio ambiente e sobre a situação socioeconômica doPantanal tem ganhado importância nos últimos anos. A edu-cação ambiental e a promoção do ecoturismo, do manejo dofogo e da pecuária de carne orgânica são algumas das abor-dagens adotadas pelas ONGs. Sobretudo, as ONGs sãoconhecidas na região por sua contribuição no estabeleci-mento de áreas protegidas. As reservas Acurizal, Penha eDoroche, criadas pela Ecotrópica, totalizam 53.000 hecta-res de áreas alagadas protegidas no Pantanal Norte. O SESCPantanal criou uma reserva de 106.000 hectares no Panta-nal Mato-grossense. No Pantanal Sul, o Conservation Inter-national (CI) administra 7.700 hectares de terras protegidasda Fazenda Rio Negro, e apóia a criação de novas reservasadjacentes à Fazenda Rio Negro a fim de implementar oCorredor Ecológico Cerrado-Pantanal. O WWF, por sua vez,

apóia a criação de áreas naturais protegidas em todo o Pan-tanal ao encorajar os pecuaristas a converterem parte desuas terras em Reservas Privadas de Patrimônio Natural(RPPNs).

Problemas ambientais e socioeconômicos

A poluição e o assoreamento dos rios que adentram aplanície pantaneira são problemas importantes. Os rios es-tão carregando quantidades crescentes de sedimentos, agro-tóxicos, esgoto e resíduos sólidos (Alho e Vieira, 1997). Oassoreamento é responsável pela enchente permanente devastas extensões de terra ao longo do rio Taquari, que re-sultou em enorme prejuízo financeiro.

As populações de peixes de valor comercial estão emdeclínio, o que resulta em esforços crescentes dos pesca-dores para manterem o nível de captura. Por esta e outrasrazões, a prática da pesca predatória persiste entre os pes-cadores profissionais. A pesca esportiva também contribuipara o problema, removendo da cadeia trófica grandes quan-tidades de peixe. Pescadores amadores respondem por 75%do pescado comercializado no Mato Grosso do Sul (Resende,1998). Outras conseqüências indesejáveis da pesca espor-tiva é o lixo, a perturbação das colônias de pássaros e aerosão dos barrancos dos rios mais estreitos produzida pe-las ondas causadas pelos barcos mais rápidos.

Uma grande parte dos problemas ambientais e socio-econômicos do Pantanal está relacionada à pecuária. Duas

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enchentes severas, em 1974 e 1995, combinadas com umatendência geral de secas cada vez mais rigorosas, tiveramum forte impacto sobre a situação econômica dos pecuaris-tas da região. Além disso, a reforma agrária familiar tem di-minuído o tamanho médio das fazendas do Pantanal e mui-tas são atualmente pequenas demais para continuarem eco-nomicamente viáveis. Por fim, o custo para se criar gadovacum no Pantanal aumentou bastante devido, entre outrosfatores, às crescentes cargas tributárias e à competição cadavez mais acirrada com a pecuária realizada em outras par-tes do Brasil. Como resultado, muitos pecuaristas tradicio-nais do Pantanal já abandonaram suas terras. Uma preocu-pação crescente é a de que os novos proprietários de ter-ras, tipicamente oriundos de outras partes do país, usemtécnicas de manejo que não sejam sustentáveis no Pan-tanal.

Apesar da crise na pecuária, mais de 95% da área doPantanal ainda é composta por fazendas de gado. Como ospadrões de uso de recursos naturais são determinados pri-mordialmente pelas atividades econômicas, a situação dabiodiversidade no Pantanal está intimamente ligada à situa-ção da pecuária. Os pecuaristas, gerentes de fazenda e pe-ões são atores-chave na proteção da biodiversidade panta-neira e, portanto, a efetividade de qualquer esforço de con-servação depende da sua boa-vontade e cooperação.

MétodoAs entrevistas pessoais foram conduzidas entre o final

de outubro de 2001 e o final de fevereiro de 2002 em setesub-regiões do Pantanal: Nabileque, Aquidauana, Nhecolân-dia e Paiaguás, no Mato Grosso do Sul, e Barão do Melga-ço, Poconé e Cáceres, no Mato Grosso.

As entrevistas eram estruturadas, com questões fecha-das e abertas, divididas nas seguintes partes: 1) informaçãopessoal; 2) informação geral sobre a fazenda (para pecua-ristas e gerentes apenas); 3) meio ambiente; 4) desenvolvi-mento socioeconômico; e 5) conclusões.

Os entrevistados foram divididos antes da pesquisa emquatro categorias (Tabela 1):

1) Pecuaristas, gerentes e peões , composta por propri-etários de fazendas de gado, gerentes de fazendas e peões.

2) Pescadores profissionais.3) Profissionais do turismo , composta por agentes de

viagens, guias de turismo e proprietários de fazendas nasquais a principal atividade econômica é o turismo.

4) Ambientalistas , composta por representantes das prin-cipais organizações não-governamentais (ONGs) que atu-am na região.

Para melhor fazer comparações entre as categorias deentrevistados e aumentar a precisão das quantidades-alvo,o procedimento de amostragem seguiu um desenho estrati-ficado, no qual amostras independentes foram tomadas den-

O ESTUDO DE OPINIÃO

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tro de cada estrato (categoria de entrevistado). Assim, onúmero de pescadores profissionais, profissionais de turis-mo e ambientalistas amostrados foi maior do que o espera-do de uma amostra aleatória simples.

Pecuaristas e gerentes foram contatados com a ajuda deSindicatos Rurais e outras associações de classe em Co-rumbá, Miranda, Campo Grande, Rio Verde do Mato Gros-so, Coxim, Poconé e Cáceres. Tais associações fornece-ram a base amostral para a pesquisa, ou seja, a lista detodos os pecuaristas na sub-região de onde as amostrasforam tiradas aleatoriamente (segundo os presidentes da-quelas associações, praticamente todos os pecuaristas dasub-região estavam cadastrados em suas associações). Ospecuaristas que estavam cadastrados na associação, masmoravam em outras cidades ou estados, não foram incluí-dos. Os pecuaristas foram entrevistados na cidade ou emsuas respectivas fazendas. Quando o proprietário não esta-va presente, o gerente foi entrevistado. Fazendas ao longodas principais estradas foram visitadas para as entrevistas(Figura 1- contracapa). Um ou dois peões foram entrevista-dos em cada fazenda visitada. Nem todos os pecuaristasamostrados puderam ser entrevistados já que, devido às en-chentes, algumas fazendas estavam inacessíveis para oveículo usado neste estudo (Toyota Hilux 3.0). Ao todo, 56pecuaristas e gerentes e 54 peões foram entrevistados.

Pescadores profissionais foram entrevistados nas “colô-nias de pescadores” em Miranda, Coxim e Cáceres. Todos

os pescadores presentes na colônia no dia da visita foramentrevistados. Um total de 30 pescadores profissionais foientrevistado.

Várias pousadas, hotéis-fazenda e outros empreendimen-tos turísticos foram visitados em Miranda, Aquidauana eCorumbá, no Mato Grosso do Sul, e Poconé e Barão doMelgaço, no Mato Grosso. Pecuaristas cuja renda principalvinha do turismo foram incluídos na categoria “profissionaisdo turismo”. Proprietários, gerentes e guias foram entrevis-tados nas pousadas e hotéis-fazenda. Além disso, agentesde viagem foram entrevistados em Cuiabá e Campo Gran-de. A base de amostragem para agentes de viagem nas ci-dades foi a lista telefônica. Foram entrevistados, ao todo, 42profissionais de turismo.

Um ou dois representantes das principais ONGs do Pan-tanal foram entrevistados em Campo Grande, Cuiabá e Po-coné. As ONGs incluídas neste estudo são a World WideFund for Nature (WWF) e a Conservation International (CI)no Mato Grosso do Sul e a Ecotrópica, o Instituto Centro deVida (ICV), e o SESC Pantanal no Mato Grosso (este últimonão é primariamente uma ONG ambientalista, mas adota noPantanal uma abordagem semelhante à de ONGs ambien-talistas).

Assume-se, neste estudo, que os membros da amostraque participaram da pesquisa estavam disponíveis para asentrevistas por acaso. Portanto, partes excluídas da popula-ção (por exemplo, pescadores que estavam em excursão

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durante a visita de entrevista ou agentes de viagem que nãoatenderam ao telefone) não diferem significativamente da-quelas incluídas. Em outras palavras, a amostra de estudorepresenta significativamente todos os segmentos da popu-lação-alvo.

Não obstante, partes excluídas e recusas de participa-ção (ainda que apenas um pecuarista e dois gerentes te-nham se recusado a participar da pesquisa) são fontes deerro de não-amostragem (nonsamping error). Por não refle-tirem tais fontes de incerteza, margens de erro não são rela-tadas neste estudo.

BiodiversidadePara avaliar a percepção pública local sobre a situação

da biodiversidade, pediu-se aos entrevistados que listassemas espécies e grupos de animais cujas populações eles acre-ditavam estar aumentando ou diminuindo de tamanho. Aquestão era aberta e sem limite para o número de menções.

Oitenta e dois dos 190 entrevistados no Pantanal Norteacreditava nisso. A maioria dos entrevistados mencionoupeixes como um grupo, embora uns poucos tenham citadoespécies de peixes separadamente. As espécies mais fre-qüentemente citadas foram aquelas de alto valor econômi-co, tais como o pintado (Pseudoplatystoma sp.), o dourado(Salminus sp.), o jaú (Paulicea sp.) e o pacu (Piaractus sp.).Quase 28% dos entrevistados acreditavam que nenhumaespécie animal da região estava em declínio. A maior partedaqueles entrevistados era do Pantanal Sul. Quinze e 13dos 190 entrevistados acreditavam que o tamanho das po-pulações de cervos-do-pantanal e tamanduás-bandeiras,respectivamente, estava diminuindo. Doze entrevistados,entre profissionais do turismo e ambientalistas, acreditavamque a população de onça-pintada estava diminuindo. Ne-nhum dos pecuaristas ou gerentes concordava com isso.Nove entrevistados no Pantanal Sul citaram o lobo-guará.Nenhuma outra espécie contou com o voto de mais de 4%dos entrevistados. Trinta espécies ou grupos foram citados.

As causas do suposto declínio nas populações de pei-xes, segundo a opinião pública local, eram a pesca ilegal e a

OS RESULTADOS

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sobrepesca por pescadores amadores e profissionais, tantono Pantanal Norte como no Sul (Tabelas 3 e 4). No PantanalSul, as principais causas do declínio das populações demamíferos foram as doenças. No Pantanal Norte, ataquespor cães domésticos e perturbação pela presença humanaforam as principais causas citadas para o declínio nas popu-lações de mamíferos, embora doenças também tenham sidomencionadas. Problemas reprodutivos foram consideradosa causa da suposta diminuição no tamanho das populaçõesde certas espécies de aves.

Quanto às espécies ou grupos de animais cujas popula-ções estavam aumentando em tamanho, o jacaré liderava alista, tendo sido citado por mais de 43% dos entrevistados,seguido da capivara e da onça-pintada, com 28,9% e 21,6%,respectivamente (Tabela 5). Entre os pecuaristas e geren-tes de fazendas, quase um em cada três acreditava que otamanho da população de onças-pintadas estava aumen-tando, enquanto nenhum ambientalista concordava com isso.Também foram citados com freqüência o queixada, a arira-nha e a arara-azul. O porco-monteiro e o caitetu foram maiscitados no Pantanal Sul: ao todo, 39 espécies ou grupos deanimais. Cerca de 10% dos entrevistados acreditavam quenenhuma espécie ou grupo animal estava se tornando maisabundante.

Tanto no Pantanal Sul como no Norte, e segundo todasas categorias de entrevistados, a principal causa do aumen-to percebido no tamanho das populações de espécies e gru-

pos animais era, de longe, a proibição da caça (Tabelas 6e 7). Também foram citadas a falta de enchentes e o eleva-do sucesso reprodutivo.

Para inferir sobre a abundância relativa de onça-pintadanas sub-regiões do Pantanal, pecuaristas, gerentes de fa-zendas, peões e pescadores profissionais relataram o tem-po decorrido desde a última vez que tinham avistado umaonça-pintada (Figura 2). Um terço dos pecuaristas, gerentese peões nunca tinha visto uma onça-pintada. Nas sub-regi-ões de Paiaguás, Poconé e Barão do Melgaço, pecuaristas,gerentes e peões que nunca tinham visto uma onça-pintadatotalizaram 50% dos entrevistados. Por outro lado, na sub-região de Cáceres, todos os entrevistados tinham visto aonça-pintada pelo menos uma vez na vida e 90% deles ti-nham visto uma onça-pintada nos últimos 11 meses. Entreos pescadores, todos aqueles entrevistados em Coxim ti-nham visto onça-pintada pelo menos uma vez nos últimosdois anos. Em Miranda, o tempo médio passado desde oúltimo avistamento de onça-pintada era de cinco meses. EmCáceres, porém, oito dos vinte pescadores entrevistadosrelataram ter visto onças diariamente durante as excursõesde pesca. Outros oito pescadores em Cáceres tinham vistoa onça-pintada nos últimos quatro meses. Note que a pes-quisa foi realizada no final da piracema, que é o período de3-4 meses no qual a pesca é proibida. Portanto, a maioriados pescadores não tinha participado de nenhuma excur-são de pesca nos últimos meses.

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Para avaliar sentimentos pessoais em relação à fauna,pediu-se aos entrevistados que indicassem espécies ou gru-pos de animais que melhor simbolizassem o Pantanal, as-sim como as espécies e grupos que fossem prejudiciais aohomem ou ao meio ambiente do Pantanal. A pergunta sobreas espécies-símbolo foi usada para inferir sentimentos posi-tivos e a pergunta sobre as espécies prejudiciais para inferirsentimentos negativos. Não obstante, espécies-símbolo eespécies prejudiciais não são mutuamente exclusivas. Apergunta era aberta e sem limite no número de escolhas.

O jaburu, que já é reconhecido como a espécie-símbolodo Pantanal, ficou em primeiro lugar (Tabela 8), escolhidopor 42,1% dos entrevistados. A onça-pintada e o cervo-do-pantanal foram escolhidos por 23,7% e 23,2% dos entrevis-tados, respectivamente, seguidos pela arara-azul e pelo ja-caré, ambos com 10% dos entrevistados. A única categoriade entrevistados que escolheu a onça-pintada ao em vez dojaburu como espécie-símbolo do Pantanal foi a dos Pesca-dores Profissionais (Tabela 9). Entre pecuaristas, gerentesde fazendas e peões, 15,8% escolheram a onça-pintada.

Quanto às espécies ou grupos animais nocivos, a onça-pintada foi escolhida por 40% dos entrevistados, liderando alista dos animais indesejáveis (Tabela 10). Onças-pintadassão consideradas nocivas por matarem bezerros, impondoum prejuízo econômico aos pecuaristas. Em seguida vêm ojacaré, a capivara e as cobras, com 15,8%, 5,8% e 5,3%,respectivamente. Onze outras espécies foram citadas, mas

nenhuma delas contou com o voto de mais de 2% dos entre-vistados. Nenhuma espécie animal é nociva, na opinião de29,5% dos entrevistados.

Houve pouca convergência entre as categorias de entre-vistados. Enquanto 72,7% dos pecuaristas, gerentes e pe-ões consideravam a onça nociva, apenas 10,6% dos pesca-dores profissionais pensavam assim (Tabela 11). Por outrolado, 76,5% dos pescadores profissionais, contra 17,6% dospecuaristas, gerentes e peões, consideravam os jacarésnocivos. Jacarés são considerados nocivos por competiremcom pescadores por peixe. Para os ambientalistas, nenhu-ma espécie animal era nociva.

Pediu-se também que os entrevistados escolhessem umaespécie de planta como símbolo do Pantanal. A perguntaera aberta e sem limite de menções. Cento e noventa entre-vistados responderam à pergunta. A piúva (Tabebuia hepta-phylla) foi a árvore favorita, com a preferência de 46,2% dosentrevistados, seguida pelo paratudo (Tabebuia caraiba), com10% das preferências, o aguapé (Eichhornia crassipes), ocambará (Vochysia divergens), o carandá (Copernicia alba)e a figueira (Ficus sp.). Piúva e paratudo são ipês que pro-duzem grande quantidade de flores roxas e amarelas, res-pectivamente, logo após perderem as folhas.

Finalmente, as razões para se importar com a biodiversi-dade foram abordadas na seguinte questão: “Afinal, os ani-mais silvestres e plantas do Pantanal são realmente impor-tantes? Por quê?” As respostas foram divididas em cinco

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categorias, segundo os conceitos mencionados. As catego-rias são:

1) Importante por razões sentimentais: quando bele-za, felicidade e outros conceitos sentimentais foram menci-onados. Exemplo de resposta de um pescador profissional:“Eles (os pássaros) são a beleza do Pantanal. É triste quan-do não tem pássaros por perto”.

2) Importante por razões monetárias: quando turismo,remédios em potencial e outras indústrias ou serviços forammencionados. Exemplo de resposta de um agente de via-gem: “Os turistas vêm para ver os bichos, então o nossotrabalho depende deles”.

3) Importante por razões científicas: quando concei-tos científicos tais como equilíbrio, ecossistema, teia e ca-deia alimentares, e assuntos de escala global foram menci-onados. Exemplo de reposta de um proprietário de hotel: “Oecossistema está em equilíbrio. Cada espécie no ecossiste-ma tem sua função, então temos de preservá-las”.

4) Importante por outras razões. Exemplo de respostade um pecuarista: “Se eles (animais e plantas) existem, en-tão eles devem ser importantes para alguma coisa”.

5) Importante com restrições ou não importante.Exemplos de respostas de pecuaristas: “Todo ser vivo me-rece um lugar para viver. Mas a onça que mata bezerro temque ser eliminada” e “É importante preservar a biodiversida-

de, desde que isso seja feito em harmonia com o desenvol-vimento (econômico)”.

Pecuaristas, gerentes, peões e pescadores profissionaisatribuíram principalmente valor intrínseco à biodiversidade(Figura 3). Argumentos científicos foram os mais usados porprofissionais do turismo e ambientalistas para justificar aconservação, enquanto nenhum peão ou pescador profissi-onal mencionou razões científicas para isso. Noventa porcento das respostas dadas por ambientalistas envolveramconceitos científicos ou utilitaristas. Os ambientalistas foramos únicos que não fizeram nenhuma restrição à importânciada biodiversidade.

Meio ambiente

Para avaliar a percepção pública local sobre a situaçãodo meio ambiente regional, pediu-se para que os entrevista-dos listassem os principais problemas relacionados ao meioambiente do Pantanal. A pergunta era aberta, sem limite derespostas. Assoreamento dos rios e poluição da água comresíduos sólidos, agrotóxicos e esgoto foram os mais sériosproblemas ambientais apontados por pecuaristas e geren-tes, profissionais do turismo e ambientalistas, tanto no Pan-tanal Norte como no Sul (Tabelas 12 e 13). Incêndios foramcitados por vários pecuaristas e gerentes nos Pantanais Nortee Sul e por profissionais do turismo no Pantanal Norte. Ne-nhum pescador citou os incêndios. Para os pescadores pro-fissionais, os principais problemas ambientais são o assore-

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amento dos rios, o desmatamento dentro do Pantanal e apoluição da água no Pantanal Sul e o fechamento de corixospor pecuaristas e excesso de tráfego de barcos no PantanalNorte.

Perguntou-se, então, sobre soluções para os problemasambientais citados. Essa pergunta não foi feita para peões epescadores profissionais. A pergunta era aberta. As respos-tas foram divididas em categorias segundo as ações menci-onadas (Figura 4). Um terço dos entrevistados, incluindometade dos ambientalistas, considerava a implementaçãode políticas públicas e a fiscalização como soluções para osproblemas ambientais do Pantanal. Outras ações conside-radas como soluções promissoras foram o investimento emeducação e conscientização ambiental, assim como a trocade informação e a pesquisa. Dezessete por cento dos pecu-aristas e gerentes acreditavam que a recuperação e a ma-nutenção da pecuária pantaneira tradicional fossem soluçõespara os problemas ambientais do Pantanal (Tabela 14). Acarne orgânica e as atividades econômicas alternativas, taiscomo o ecoturismo e a apicultura, foram consideradas solu-ções para problemas ambientais por quatro e três dos oitoambientalistas entrevistados, respectivamente. Embora acriação de reservas fosse a ação mais conhecida para aproteção ambiental empreendida pelas ONGs, apenas umdos ambientalistas entrevistados e 4% dos pecuaristas egerentes consideraram as reservas naturais como uma so-lução para os problemas ambientais atuais do Pantanal.

Socioeconomia

Para avaliar a percepção pública sobre os problemassocioeconômicos do Pantanal, pediu-se aos entrevistadosque apontassem soluções para tais problemas. Esta per-gunta não foi feita para peões e pescadores profissionais. Apergunta era aberta, sem limite de respostas. As respostasforam divididas em categorias, segundo os conceitos e açõesmencionados (Figura 5). Incentivos fiscais e crédito subsidi-ado para a pecuária, assim como melhoria das estradas etransporte, foram as soluções mais freqüentemente aponta-das por pecuaristas e gerentes (Tabela 15).

Os ambientalistas, porém, não mencionaram incentivosdo governo para a pecuária ou investimentos em infra-estru-tura. Tanto os ambientalistas quanto os profissionais do tu-rismo consideravam a implementação de economias alter-nativas, tais como o ecoturismo e a criação de animais sil-vestres, como uma solução para os problemas socioeconô-micos da região. Os ambientalistas também acreditavam queo investimento em pesquisa e tecnologia, a implementaçãoda carne orgânica e a proteção ambiental fossem importan-tes soluções para os problemas socioeconômicos, enquan-to uma pequena proporção dos pecuaristas, gerentes e pro-fissionais do turismo concordavam com isso.

O bem-estar socioeconômico dos peões e suas famíliasfoi indiretamente avaliado através da pergunta: “O que estáfaltando no Pantanal para a vida ser melhor?”. A pergunta

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era aberta e sem limite de respostas. As respostas foramdivididas em categorias (Tabela 16). Trinta e seis por centodos 54 entrevistados pareciam contentes com suas vidas,pois afirmaram que não sentiam falta de nada no Pantanal.Quatorze por cento deles gostariam de ver mais escolas naregião. Transporte, aumento nos salários, mais empregos eenergia foram os outros itens que estavam faltando no Pan-tanal, segundo a opinião dos peões.

Quantidade e qualidade de alimento não pareciam serum problema entre os peões e suas famílias. Pelo contrário,vários peões expressaram satisfação com a quantidade decarne e outros itens alimentares que recebem de seus pa-trões. Como resultado, a caça é relativamente rara entre ospeões. Um em cada três entrevistados nunca tinha caçadoe apenas 1/4 deles tinha caçado nos últimos 12 meses. Oporco-monteiro foi o último animal caçado por 3/4 daquelesque já tinham caçado, seguido do tatu (11%), queixada ecaitetu (5% cada) e paca (5%). Vinte e sete por cento dospeões entrevistados afirmaram não apreciar carne de caça.Entre os que gostavam de carne de caça, 77% preferiam acarne de porco-monteiro. Outras carnes preferidas foram asde queixada, caitetu, paca, tatu e capivara. Cinqüenta e novepor cento dos peões entrevistados tinham arma de fogo e72% deles tinham um ou mais cães. Porém, os cães eramraramente usados na caça. Dezesseis por cento dos peõestinham alguma espécie silvestre como animal de estimação.Segundo os peões, os animais silvestres de estimação não

serviam como fonte de alimento. Antas, veados, bugios, ara-ras, arancuãs, papagaios e tucanos foram os animais sil-vestres mantidos como animais de estimação.

A percepção de falta de escolas, transportes, empregose energia estava associada ao crescente isolamento relata-do por pecuaristas, gerentes e peões. Sessenta e seis e 78%dos pecuaristas e gerentes no Pantanal Sul e Norte, respec-tivamente, acreditavam que o número de pessoas vivendo etrabalhando no Pantanal estava diminuindo. A densidadedemográfica média nas fazendas incluídas neste estudo foide 1.070 e 1.530 hectares para cada pessoa no PantanalSul e Norte, respectivamente. Apenas como comparação,nas fazendas do Pantanal Sul havia uma vaca a cada 3,2hectares, o que significa 377 vacas por pessoa. Nas fazen-das do Pantanal Norte, havia uma vaca a cada 5,1 hectares,ou 288 vacas para cada pessoa.

Segundo a opinião pública local, a suposta diminuição notamanho da população devia-se, entre outras coisas, à crisena pecuária. Outra conseqüência da crise, segundo a cren-ça local, era a observada conversão de fazendas de gadoem empreendimentos turísticos. Quatorze por cento das fa-zendas visitadas no Pantanal Sul tinham recentemente co-meçado a operar tours em suas terras ou implantado meiosde hospedagem. Na sub-região de Poconé, metade das fa-zendas visitadas conduzia algum tipo de atividade turística.Não existia uma relação significativa entre tamanho da fa-zenda e a adoção do turismo como atividade econômica al-

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ternativa. A maior fazenda visitada neste estudo tinha 50.000hectares, 100 empregados e 280 moradores, e tinha umainfra-estrutura bem desenvolvida para o turismo. Na mesmasub-região, Aquidauana, uma outra fazenda de apenas 1.350hectares e com 20 empregados, também operava o turismo.A menor fazenda visitada tinha 500 hectares, dois emprega-dos e 1000 cabeças de gado.

Instituições

Duas perguntas foram elaboradas para avaliar a opiniãopública local sobre instituições selecionadas relacionadascom o meio ambiente e o desenvolvimento socioeconômicodo Pantanal. Aquelas instituições eram a Embrapa (Empre-sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, federal), o Ibama(Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos NaturaisRenováveis, federal), a Polícia Florestal (estadual), a Sema(Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul, esta-dual), a Fema (Fundação do Meio Ambiente do Mato Gros-so, estadual), a UFMS (Universidade Federal do Mato Gros-so do Sul, federal), a UFMT (Universidade Federal do MatoGrosso, federal), a Uniderp (Universidade para o Desenvol-vimento da Região do Pantanal, privada), a Sodepan (Soci-edade para a Defesa do Pantanal, ONG regional), o WWF(World Wide Fund for Nature, ONG internacional), o CI(Conservation International, ONG internacional), a Ecotrópi-ca (ONG regional), o SESC Pantanal (Serviço Social doComércio, opera ecoturismo e administra uma reserva de

106.000 hectares no Pantanal) e a WCS (Wildlife Conserva-tion Society, ONG internacional). Perguntou-se aos entre-vistados se eles conheciam o trabalho realizado por cadauma destas instituições. Em caso positivo, pediu-se entãoque classificassem a instituição como “boa”, “neutra” ou“ruim”, baseado em seu efeito sobre a sociedade e o meioambiente regionais (positivo, neutro ou negativo, respecti-vamente). Esta última pergunta não foi feita aos peões.

As instituições ambientais repressoras – Ibama e PolíciaFlorestal – foram aquelas sobre as quais a maior porcenta-gem de entrevistados tinha alguma opinião (Figura 6). Asprincipais instituições de pesquisa – Embrapa, UFMS, eUFMT – assim como as agências ambientais estaduais –Sema e Fema – também eram conhecidas pela maioria dosentrevistados. Organizações não-governamentais ambien-talistas que atuavam principalmente ou exclusivamente noMato Grosso – Ecotrópica e SESC Pantanal – ou no MatoGrosso do Sul – CI e WCS – foram as menos conhecidasentre as instituições.

A Embrapa foi considerada uma boa instituição pela mai-oria dos pecuaristas no Pantanal Sul e pescadores profissi-onais, e por uma porcentagem significativa das demais ca-tegorias de entrevistados (Figura 7), liderando a lista de ins-tituições que têm efeitos positivos sobre a sociedade e meioambiente pantaneiros. Em seguida vieram a Polícia Flores-tal, o Ibama, a Sema/Fema e a UFMS/UFMT. Pecuaristas eambientalistas tiveram opiniões conflitantes sobre algumas

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instituições. Enquanto uma porcentagem significativa dospecuaristas aprovava o Ibama e a Sodepan, nenhum dosambientalistas entrevistados o fazia. Por outro lado, uma partesignificativa dos ambientalistas apoiava o CI e o SESC Pan-tanal, enquanto nenhum dos pecuaristas (e nenhum dos pro-fissionais do turismo) considerava aquelas instituições be-néficas para a sociedade e meio ambiente do Pantanal.

O Ibama foi considerado uma instituição ruim por umagrande porcentagem dos entrevistados, exceto pelos pes-cadores profissionais (Figura 8). Também altamente rejeita-dos pela opinião pública foram a Sema/Fema e a PolíciaFlorestal. Uma porcentagem significativa dos pecuaristas eprofissionais do turismo do Pantanal Norte rejeitava a Eco-trópica e o SESC Pantanal, enquanto uma porcentagem sig-nificativa dos pecuaristas e profissionais do turismo do Pan-tanal Sul rejeitava o CI. Por outro lado, dois dos oito ambien-talistas entrevistados consideravam a Sodepan uma institui-ção ruim.

Segundo a opinião pública local, as populações de ani-mais silvestres terrestres estão em geral aumentando ao in-vés de diminuindo no Pantanal. A população de onça-pinta-da está aumentando na opinião de muitos entrevistados ediminuindo na opinião de outros tantos. Independentementeda direção da mudança no tamanho da população de onça-pintada, o fato é que uma grande porcentagem dos panta-neiros tinha alguma opinião sobre a situação da espécie.Este resultado sugere uma preocupação particular do pan-taneiro com a onça-pintada.

Não obstante, a onça é raramente vista, considerandoque 1/3 dos pecuaristas, gerentes e peões entrevistadosnunca tinha visto o animal. A única sub-região onde todosos entrevistados tinham visto a onça pelo menos uma vezfoi a de Cáceres. Os relatos dos pescadores sugerem umaabundância relativamente alta de onça naquela sub-região.Os resultados das entrevistas com pecuaristas, gerentes epeões também sugerem uma alta abundância de onças emCáceres, seguida pela sub-região de Aquidauana. Estes re-sultados corroboram com o padrão de distribuição relatadopor Quigley e Crawshaw (1992).

A onça ficou em segundo lugar na lista das espécies-símbolo e em primeiro, de longe, na lista das espécies noci-vas. De fato, a onça é a espécie sobre a qual a maior por-centagem dos pantaneiros tem alguma opinião, independen-temente se a opinião é positiva ou negativa.

A maioria dos pecuaristas, gerentes e peões tem uma

AS CONCLUSÕES

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opinião negativa sobre as onças e a maioria dos pescadoresprofissionais tem uma opinião negativa sobre os jacarés.Enquanto a escolha das espécies-símbolo tem uma basesentimental, a onça e o jacaré são considerados espéciesnocivas por razões econômicas. Em outras palavras, a opi-nião negativa sobre aquelas espécies resulta unicamentedo suposto prejuízo material por elas imposto.

Os argumentos para se preservar a biodiversidade divi-dem pecuaristas, gerentes, peões e pescadores profissio-nais de um lado e profissionais de turismo e ambientalistasdo outro. O segundo grupo aponta principalmente razõesfinanceiras e científicas para se preservar a fauna e a floraregionais, enquanto o primeiro grupo baseia seus argumen-tos em razões sentimentais. Esta divergência pode resultarem problemas de comunicação e deve ser levada em contanas interações entre os dois grupos.

Segundo a opinião pública local, os principais problemasambientais no Pantanal são o assoreamento e a poluiçãodos rios. Acredita-se, porém, que estes problemas tenhamsuas origens fora da planície pantaneira. Tais origens seri-am o desmatamento e o uso de agrotóxicos nos planaltosadjacentes e o despejo de resíduos sólidos e esgoto emCuiabá, Coxim, Miranda e outros centros urbanos ao redorda bacia. Incêndios também são considerados um problemaambiental importante.

Não existia a percepção de uma relação causal entre oassoreamento e a poluição dos rios e a diminuição no tama-

nho das populações de peixes. Do mesmo modo, não seacredita que os incêndios tenham algum impacto sobre osanimais terrestres. As principais causas da diminuição naabundância de peixes, segundo a opinião pública, são a pes-ca predatória e a sobrepesca, enquanto as causas da dimi-nuição no tamanho das populações de animais terrestre sãoas doenças e os problemas reprodutivos. Portanto, o pro-blema com o assoreamento e a poluição dos rios, assim comocom os incêndios, é o prejuízo material que eles impõemsobre a pecuária, a pesca e o turismo ao invés de seu im-pacto sobre a biodiversidade. Em outras palavras, tais pro-blemas relacionados ao meio ambiente são de ordem pri-mordialmente econômica, e não ambiental.

Todas as categorias de entrevistados concordam que aimplementação de políticas públicas e de fiscalização sãoimportantes soluções para os problemas ambientais do Pan-tanal. Ainda que a sociedade civil possa influenciar as políti-cas públicas, as organizações governamentais estariam namelhor posição para resolver os problemas ambientais, vis-to que elas são as responsáveis pela fiscalização (Ibama,Sema/Fema e Polícia Florestal) e pela elaboração das polí-ticas públicas. Outras soluções importantes são a implemen-tação da educação e da consciência ambiental, o que é, emgrande parte, uma obrigação dos órgãos governamentais.

Incentivos fiscais, crédito subsidiado e melhoria das es-tradas de acesso, dos transportes e de outros setores deinfra-estrutura – que são as mais importantes soluções para

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os problemas socioeconômicos no Pantanal, segundo pe-cuaristas, gerentes e profissionais do turismo – também sãoresponsabilidade do governo. Em suma, pecuaristas e ge-rentes em geral sentem falta de apoio do governo para recu-perar e manter a pecuária tradicional.

Ao contrário dos pecuaristas e gerentes e profissionaisdo turismo, os ambientalistas não vêem os incentivos dogoverno e os investimentos para manter a pecuária tradicio-nal como soluções importantes para os problemas socioe-conômicos regionais. Segundo os ambientalistas entrevista-dos, a implementação de economias alternativas, tais comoo ecoturismo e a criação de animais silvestres, seria umasolução mais promissora. Além disso, os ambientalistas apos-tam na pecuária de carne orgânica como uma importantesolução para a crise econômica e como um caminho parase minimizar os conflitos entre atividade econômica e pre-servação ambiental. Apenas uma minoria dos pecuaristasentrevistados concorda com essa noção.

Pecuaristas, gerentes e profissionais do turismo em ge-ral não acreditam que as ONGs ambientalistas tragam be-nefícios. De fato, uma proporção significativa dos entrevis-tados naquelas categorias acredita que as ONGs ambienta-listas sejam prejudiciais para o meio ambiente e a economiado Pantanal. A opinião de que as ONGs não trazem nenhumbenefício resulta, em parte, da percepção de que a biodiver-sidade do Pantanal não está ameaçada e de que os proble-mas ambientais da região têm sua origem fora da planície

pantaneira. Portanto, a criação de áreas protegidas dentrodo Pantanal, que é tida como a principal ou única ação dasONGs, não traria nenhum benefício para a biodiversidadelocal. Os entrevistados que acreditam que a criação de áre-as protegidas pode ser prejudicial para a biodiversidade ter-restre argumentam que a vida silvestre se beneficia da infra-estrutura construída para a pecuária (por exemplo, bebendoágua dos poços artificiais e comendo sal mineral dos co-chos) e que a remoção do gado pode levar ao crescimentoda macega. Como a macega é inflamável, seu crescimentoresulta em maior risco de incêndio e, portanto, em uma ame-aça à vida silvestre e à economia das fazendas no entorno.Além disso, a macega densa que se forma com a remoçãodo gado dificultaria o movimento de mamíferos de grandeporte tais como o cervo-do-pantanal, a capivara, o caitetu, oqueixada e, conseqüentemente, da onça-pintada. Finalmente,é bem difundida entre os pecuaristas e gerentes a noção deque a pecuária tradicional é perfeitamente compatível com aconservação da vida silvestre. O argumento clássico em fa-vor de tal noção é o de que a pecuária é explorada na regiãohá mais de 200 anos e, mesmo assim, a vida silvestre aindaé abundante em todo o Pantanal.

A presença relativamente forte do Ibama, da Polícia Flo-restal, da Sema e da Fema resulta na forte opinião públicasobre aquelas instituições. Poucos entrevistados tinham opi-nião neutra sobre elas. Enquanto a opinião sobre o Ibama, aPolícia Floresta, a Sema e a Fema são divididas entre posi-

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tivas e negativas, a Embrapa é amplamente aprovada pelaopinião pública. O alto índice de aprovação pública daEmbrapa, assim como os baixos índices de rejeição daUFMS, UFMT e Uniderp, sugere que o apoio da ciência etecnologia é valorizado e respeitado pela comunidade local.

Ainda que não tenha sido abordado diretamente nas en-trevistas, as opiniões coletadas durante este estudo suge-rem a existência de um sentimento de “orgulho pantaneiro”.Pecuaristas, gerentes de fazenda, peões e pescadores pro-fissionais expressam orgulho de viver e trabalhar no Panta-nal, assim como de colaborar, como acreditam, para a ma-nutenção da biodiversidade da região. Tal sentimento temum papel importante na relação homem-meio ambiente edeve ser levado em conta nas decisões relativas ao meioambiente e ao desenvolvimento da região.

A maioria dos conflitos de opinião entre as categorias deentrevistados resulta da falta de informação. Em alguns ca-sos, se desconhece a resposta para questões cruciais. Emoutros casos, as respostas, embora conhecidas, não sãosuficientemente difundidas. Qualquer que seja o caso, a so-lução lógica para os conflitos entre segmentos sociais é ageração de conhecimento relevante através da pesquisa ci-entífica e sua divulgação ampla e transparente na comuni-dade regional. Os argumentos científicos e monetários atu-almente usados pelas ONGs e profissionais do turismo parasustentar algumas de suas opiniões sobre meio ambiente edesenvolvimento ainda não são devidamente compreendi-

das ou aceitas pelos demais segmentos sociais, não servin-do como bases sólidas para a tomada de decisões. Maispesquisa será necessária para se determinar com razoávelacurácia a situação das populações de animais silvestres,as conseqüências a longo prazo das alterações nos regi-mes de cheias, a viabilidade de atividades econômicas esistemas de manejo de gado alternativos, o impacto da re-moção do gado sobre a vida silvestre e, acima de tudo, osconflitos e oportunidades de conciliação entre os interessesde diferentes segmentos sociais. Sem bases científicas sufi-cientemente sólidas, as decisões relativas ao meio ambien-te e ao desenvolvimento no Pantanal, por ora, deverão serbaseados no processo subjetivo da negociação. Esta nego-ciação deverá levar em conta um sistema consensual deprioridades e valores, resultante de um debate democráticono qual todas as partes envolvidas têm oportunidades iguaisde expressar seus interesses e opiniões particulares.

Esperamos que os resultados aqui apresentados contri-buam para tal debate.

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Tabela 1. Número de entrevistados por categoria e sub-região do Pantanal.

Categoria dos entrevistados Pantanal Sul Pantanal Norte TOTAL

Pecuaristas, gerentes e peões 80 30 110

Pecuaristas e gerentes 36 20 56Aquidauana 14 - 14Nabileque 8 - 8Nhecolândia 8 - 8Paiaguás 6 - 6Poconé - 7 7Cáceres - 7 7Barão do Melgaço - 6 6

Peões 44 10 54Aquidauana 20 - 20Nabileque 8 - 8Nhecolândia 8 - 8Paiaguás 8 - 8Poconé - 4 4Cáceres - 3 3Barão do Melgaço - 3 3

Pescadores profissionais 10 20 30

Cáceres - 20 20Coxim 5 - 5Miranda 5 - 5

Profissionais de turismo 30 12 42

Ambientalistas 5 3 8

TOTAL 125 65 190

TABELAS

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Espécie ou grupo Pantanal Sul Pantanal Norte TOTAL Porcentagem

Peixes (Pseudoplatystoma, Salminus, Paulicea, Piaractus) 45 37 82 43,2Nenhum 50 3 53 27,9Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) 9 6 15 7,9Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) 6 7 13 6,8Onça-pintada (Panthera onca) 6 6 12 6,3Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) 9 1 10 5,3Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) 7 0 7 3,7Jaburu (Jabiru mycteria) 6 1 7 3,7Todos 1 4 5 2,6Anta (Tapirus terrestris) 3 1 4 2,1Veado-mateiro (Mazama americana) 3 1 4 2,1Ema (Rhea americana) 0 3 3 1,6Passarinhos 0 3 3 1,6Caitetu (Tayassu pecari) 3 0 3 1,6Sucuri (Eunectes noctaeus) 0 3 3 1,6Não sabe 3 0 3 1,6Queixada (Tayassu pecari) 1 1 2 1,1Jacaré (Caiman crocodilus yacare) 1 1 2 1,1Lobinho (Cerdocyon thous) 1 1 2 1,1Porco-monteiro (Sus scrofa) 1 1 2 1,1Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) 1 1 2 1,1Anhuma (Chauna torquata) 1 0 1 0,5Capivara (Hidrochaeris hidrochaeris) 1 0 1 0,5Colhereiro (Platalea ajaja) 0 1 1 0,5Frango-d’água (Porphyrula sp.) 1 0 1 0,5Garça-branca (Egretta alba) 1 0 1 0,5Jaguatirica (Leopardus pardalis) 0 1 1 0,5Lontra (Lutra longicaulis) 0 1 1 0,5Marreca (Dendrocygna viduata) 0 1 1 0,5Mutum (Crax fasciolata) 1 0 1 0,5Pato (Cairina moschata) 0 1 1 0,5Tatu-canastra (Priodontes giganteus) 1 0 1 0,5Tucano (Ramphastos toco) 0 1 1 0,5

TOTAL 162 87 249

Tabela 2. Espécies ou gruposanimais cujas populações es-tão diminuindo no Pantanal,segundo a opinião pública lo-cal. Número de menções es-pontâneas e porcentagempor espécie ou grupo animal.Número total de entrevista-dos: 190.

Na categoria “pecuaristas egerentes”, nenhum dos entre-vistados acredita que o tama-nho da população de onças-pintadas esteja diminuindo.

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Tabela 3. Causas da diminuição no tamanho populacional de peixes (Pseudoplatystoma,Salminus, Paulicea e Piaractus), segundo a opinião pública local nos Pantanais Sul eNorte. Menção espontânea por 115 entrevistados.

Causa da diminuição Pantanal Sul Pantanal Norte

Sobrepesca por pescadores amadores e profissionais 17 11Pesca predatória profissional 20 4Enchentes ou falta de enchentes 4 4Predação por ariranha 0 6Predação por jacaré 0 2Não sabe 4 3

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Tabela 4. Causas da diminuição no tamanho populacional do cervo-do-pantanal, tamanduá-bandeira, outros mamíferos,jaburu e outras aves nos Pantanais Sul e Norte segundo a opinião pública local. Menção espontânea por 115 entrevistados.Não houve opinião sobre as causas da diminuição no tamanho populacional da onça-pintada.

Pantanal Sul

Causa da diminuição Cervo-do-pantanal Tamanduá-bandeira Outros mamíferos* Jaburu TOTAL

Doenças 3 4 14 3 24Enchentes 4 0 12 0 16Baixa adaptabilidade 0 0 8 0 8Pastos sujos devido à ausência de gado 5 0 0 0 5Não sabe 0 4 3 0 7

* Outros mamíferos: tamanduá-mirim, anta, lobo-guará, tatu-galinha, caitetu, queixada, e veado-mateiro.

Pantanal Norte

Causa da diminuição Cervo-do-pantanal Tamanduá- bandeira Outros mamíferos* Aves** TOTAL

Falha na eclosão dos ovos 0 0 0 8 8Ataque por cães 3 0 3 0 6Perturbação pela presença humana 0 3 3 0 6Enchentes 0 3 0 2 5Doenças 3 0 0 0 3Predação por carcará 0 0 0 2 2Não sabe 0 0 5 0 5

* Outros mamíferos: tamanduá-mirim, anta, caitetu, queixada e lontra.** Aves: pato, marreca, mutum e ema.

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Espécie ou grupo Pantanal Sul Pantanal Norte TOTAL Porcentagem

Jacaré (Caiman crocodilus yacare) 52 30 82 43,2Capivara (Hidrochaeris hidrochaeris) 39 16 55 28,9Onça-pintada (Panthera onca) 29 12 41 21,6Queixada (Tayassu pecari) 24 4 28 14,7Porco-monteiro (Sus scrofa) 22 1 23 12,1Ariranha (Pteronura brasiliensis) 10 10 20 10,5Nenhum 14 6 20 10,5Caitetu (Tayassu tajacu) 17 1 18 9,5Arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) 10 4 14 7,4Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) 6 4 10 5,3Lontra (Lutra longicaudis) 9 1 10 5,3Veado-mateiro (Mazama americana) 6 3 9 4,7Anta (Tapirus terrestris) 3 4 7 3,7Periquito (Myiopsitta monachus) 7 0 7 3,7Ema (Rhea americana) 6 0 6 3,2Onça-parda (Puma concolor) 3 3 6 3,2Passarinhos 4 1 5 2,6Jaguatirica (Leopardus pardalis) 1 3 4 2,1Lobinho (Cerdocyon thous) 4 0 4 2,1Mutum (Crax fasciolata) 4 0 4 2,1Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) 4 0 4 2,1Papagaio (Amazona aestiva) 3 0 3 1,6Piranha (Pygocentrus nattereri) 0 3 3 1,6Tatu-liso (Euphractus sexcinctus) 3 0 3 1,6Tucano (Ramphastos toco) 3 0 3 1,6Todos 1 1 2 1,1Não sabe 3 0 3 1,6Anhuma (Chauna torquata) 1 0 1 0,5Arancuã (Ortalis canicollis) 1 0 1 0,5Bugio (Alouatta caraya) 0 1 1 0,5Carcará (Polyborus plancus) 0 1 1 0,5Colhereiro (Platalea ajaja) 1 0 1 0,5Jacutinga (Pipile cumanensis) 1 0 1 0,5Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) 1 0 1 0,5Pato (Cairina moschata) 1 0 1 0,5Peixes (Pseudoplatystoma, Salminus, Paulicea, Piaractus) 1 0 1 0,5Quati (Nasua nasua) 0 1 1 0,5Tamanduá-banderia (Myrmecophaga tridactyla) 1 0 1 0,5Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) 0 1 1 0,5Jaburu (Jabiru mycteria) 1 0 1 0,5Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) 1 0 1 0,5

TOTAL 297 111 408

Tabela 5. Espécies ou grupos animaiscujas populações estão aumentandode tamanho no Pantanal, segundo aopinião pública local. Número de men-ções espontâneas e porcentagem porespécie ou grupo. Número total deentrevistados: 190.

Na categoria “pecuaristas e gerentes”,cerca de 30% dos entrevistados acredi-tam que o tamanho da população daonça-pintada está aumentando.

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Tabela 6. Causas do aumento no tamanho das populações de jacaré, capivara, onça-pintada, outros mamíferos (porco-monteiro, onça-parda,caitetu, queixada, anta, veado, cervo-do-pantanal, tamanduá-bandeira, tatu-liso, lontra, ariranha e quati) e aves (periquito, arara-azul, pato,colhereiro, ema, arancuã e mutum) no Pantanal Sul, segundo a opinião pública local. Número de menções espontâneas por 125 entrevistados.

Tabela 7. Causas do aumento no tamanho das populações de jacaré, capivara, onça-pintada, outros mamíferos (porco-monteiro, onça-parda,caitetu, queixada, anta, veado, cervo-do-pantanal, tamanduá-bandeira, lontra, ariranha, quati e jaguatirica), aves (periquito, arara-azul, carcará)e piranha no Pantanal Norte, segundo a opinião pública local. Número de menções espontâneas por 65 entrevistados.

Causa do aumento Jacaré Capivara Onça- pintada Outros mamíferos Aves TOTAL

Proibição da caça 14 10 8 22 2 56Falta de enchentes 2 1 0 5 0 8Alto sucesso reprodutivo 2 1 0 3 1 7Conscientização sobre meio ambiente 1 1 1 3 0 6Abundância de alimento (pastos) 0 2 0 2 0 4Desmatamento nos arredores do Pantanal 0 0 0 3 0 3Diminuição de presença humana 0 0 1 1 0 2Variação natural 1 1 0 0 0 2Abundância de alimento (frutas) 0 0 0 0 2 2Sua carne não é apreciada 0 1 0 0 0 1Esperto e eficiente em defender-se 0 0 1 0 0 1Não sabe 1 1 0 0 0 2

Causa do aumento Jacaré Capivara Onça-pintada Outros mamíferos Aves Piranha TOTAL

Proibição da caça 17 9 5 20 5 1 57Reproduz bem 2 1 0 2 1 1 7Migração 0 0 1 2 0 0 3Desmatamento nos arredores do Pantanal 0 0 1 2 0 0 3Enchentes 1 1 0 0 0 0 2Abandono das fazendas 0 0 1 1 0 0 2Projeto Arara-azul 0 0 0 0 2 0 2Alta adaptabilidade 0 0 0 0 2 0 2Turismo 0 0 1 0 0 0 1Enchente de 1997 0 0 1 0 0 0 1Conscientização sobre meio ambiente 0 0 0 0 1 0 1

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Tabela 8. Animal-símbolo do Pantanal, segundo a opinião pública local. Número eporcentagem de menções espontâneas por 190 entrevistados.

Espécie Pantanal Sul Pantanal Norte TOTAL Porcentagem

Jaburu 60 20 80 42,1Onça-pintada 36 9 45 23,7Cervo-do-pantanal 37 7 44 23,2Arara-azul 12 7 19 10,0Jacaré 10 9 19 10,0Tamanduá-bandeira 9 1 10 5,3Ariranha 6 0 6 3,2Cutia 4 0 4 2,1Tucano 3 0 3 1,6Garça-branca 3 0 3 1,6Anta 1 1 2 1,1Anhuma 1 0 1 0,5Ema 1 0 1 0,5Lobo-guará 1 0 1 0,5Gado 1 0 1 0,5Veado-mateiro 1 0 1 0,5Japu 0 1 1 0,5Sucuri 0 1 1 0,5Colhereiro 1 0 1 0,5Jaguatirica 1 0 1 0,5Curicaca 1 0 1 0,5Todos 1 0 1 0,5Papagaio 1 0 1 0,5Capivara 1 0 1 0,5

TOTAL 197 58 255

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Tabela 9. Porcentagem dos entrevistados em cada categoria que escolheram o jaburu(Jabiru mycteria) e a onça-pintada (Panthera onca) como espécie-símbolo do Pantanal.Número total de entrevistados: 190.

Categoria de entrevistado Jaburu Onça-pintada

Pecuaristas, gerentes e peões 32,5 15,8Pescadores profissionais 18,2 33,3Profissionais do turismo 42,0 7,7Ambientalistas 50,0 0

Tabela 10. Espécies ou grupos animais prejudiciais do Pantanal, segundo a opiniãopública local. Número e porcentagem de menções espontâneas por 190 entrevistados.

Espécie ou grupo Pantanal Sul Pantanal Norte TOTAL Porcentagem

Onça-pintada 56 20 76 40,0Nenhum 37 19 56 29,5Jacaré 17 13 30 15,8Capivara 10 1 11 5,8Cobras 1 9 10 5,3Ariranha 0 3 3 1,6Cutia 3 0 3 1,6Tatus 0 1 1 0,5Sucuri 0 1 1 0,5Piranha 0 1 1 0,5Queixada 0 1 1 0,5Caitetu 1 0 1 0,5Carcará 1 0 1 0,5Porco-monteiro 1 0 1 0,5Cão doméstico 1 0 1 0,5Lobinho 1 0 1 0,5Não sabe 3 0 3 1,6

TOTAL 132 69 201

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Tabela 11. Porcentagem dos entrevistados em cada categoria que escolheram a onça-pintada (Panthera onca) e o jacaré (Caimancrocodilus yacare) como espécie prejudicial para a economia e o meio ambiente do Pantanal. Número total de entrevistados: 190.

Categoria de entrevistado Onça-pintada Jacaré

Pecuaristas, gerentes e peões 72,7 10,6Pescadores profissionais 17,6 76,5Profissionais do turismo 8,7 4,3Ambientalistas 0 0

Tabela 12. Problemas relacionados ao meio ambiente no Pantanal Sul, segundo a opinião pública local. Número de menções espon-tâneas por 125 entrevistados.

Problema relacionado ao meio ambiente Pecuaristas, Pescadores Profisionais Ambientalistas TOTALgerentes e peões profissionais do turismo

Assoreamento dos rios 19 10 4 0 33Incêndios 14 0 0 2 16Desmatamento dentro do Pantanal 1 9 3 0 13Desmatamento nos arredores do Pantanal 10 1 0 0 11Poluição da água (resíduos sólidos, agrotóxicos e esgoto) 1 9 1 0 11Pesca predatória 9 0 0 0 9Nenhum 7 0 0 0 7Turismo sem planejamento 3 1 1 0 5Caça ilegal 3 0 1 0 4Estradas e rodovias 3 0 0 0 3Falta de conhecimento dos “estrangeiros” 3 0 0 0 3Ineficiência institucional (políticas inadequadas, burocracia etc.) 3 0 0 0 3Pecuária moderna 1 0 1 1 3Crescimento populacional 1 0 0 1 2Reforma agrária familiar 1 0 0 2 3Biopirataria por ONGs estrangeiras 1 0 0 0 1Exploração ilegal de madeira 1 0 0 0 1Hidrovia Paraná-Paraguai 0 0 0 1 1Pesca esportiva 0 1 0 0 1Secas 1 0 0 0 1

TOTAL 82 31 11 7 131

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Tabela 13. Problemas relacionados ao meio ambiente no Pantanal Norte, segundo a opinião pública local. Número de menções espon-tâneas por 65 entrevistados.

Problema relacionado ao meio ambiente Pecuaristas, Pescadores Profissionais Ambientalistas TOTALgerentes e peões profissionais do turismo

Poluição da água (resíduos sólidos, agrotóxicos e esgotos) 5 1 10 4 20Incêndios 8 0 9 1 18Assoreamento dos rios 5 0 4 4 13Desmatamento nos arredores do Pantanal 0 0 4 3 7Fechamento de corixos 0 7 0 0 7Pesca predatória 3 1 3 0 7Tráfego de barcos 0 7 0 0 7Hidrovia Paraná-Paraguai 0 0 3 3 6Pesca esportiva 0 6 0 0 6Desmatamento dentro do Pantanal 0 1 1 3 5Estradas e rodovias 3 0 1 0 4Acúmulo de lixo ao longo das estradas 0 0 4 0 4Turismo mal planejado 0 0 4 0 4Reforma agrária familiar 0 0 0 3 3Caça ilegal 0 0 1 0 1Falta de conhecimento dos “estrangeiros”. 0 0 0 1 1Ocupação irregular (Barão do Melgaço) 0 0 1 0 1Nenhum 1 0 0 0 1

TOTAL 25 23 45 22 115

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Tabela 14. Soluções para os problemas relacionados ao meio ambiente do Pantanal, segundo a opinião pública local. Respostas agrupa-das em categorias segundo as ações mencionadas por 106 entrevistados. Peões e pescadores profissionais não foram incluídos.

Solução Porcentagem dos entrevistados

Pecuaristas e gerentes Profissionais do turismo Ambientalistas

Implementação de políticas públicas e fiscalização 26 41 50Investimento em educação e conscientização sobre meio ambiente 22 26 37Investimento em pesquisa e intercâmbio de informação 4 4 37Resgate e manutenção da cultura pantaneira tradicional 17 4 0Implementação da pecuária de carne orgânica 0 0 50Implementação do manejo de recursos naturais, do gado e do fogo 4 0 37Implementação de economias alternativas: ecoturismo, apicultura etc. 0 0 37Criação de áreas protegidas 4 0 12

Tabela 15. Soluções para os problemas sócio-econômicos do Pantanal, segundo a opinião pública local. Respostas agrupadas em catego-rias, segundo as ações mencionadas por 106 entrevistados. Peões e pescadores profissionais não foram incluídos.

Solução Porcentagem dos entrevistados

Pecuaristas Profissionais Ambientalistase gerentes do turismo

Implementação de incentivos fiscais e créditos subsidiados 40 19 0Melhoria nos transportes e vias de acesso 40 13 0Melhoria em outros itens de infra-estrutura: postos de saúde, energia, saneamento etc. 20 13 0Apoio às economias alternativas: ecoturismo, criação de animais silvestres etc. 0 50 50Melhoria das escolas e da educação 20 6 0Implementação de políticas públicas e fiscalização 13 19 0Investimento em pesquisa e tecnologia 8 0 50Implementação da pecuária de carne orgânica 5 6 37Resgate da cultura pantaneira tradicional 8 6 0Conservação do meio ambiente 3 0 37Outros 8 13 12

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Tabela 16. O que poderia ser feito para melhorar a qualidade de vida dos peões esuas famílias, segundo os próprios peões. Porcentagem dos entrevistados por classede resposta. Menções espontâneas por 54 entrevistados.

O que poderia ser feito para melhorar a qualidade de vida Porcentagem dos entrevistados

Nada 36Mais escolas e melhor educação 14Melhoria nos transportes 11Aumento do salário 8Criação de mais empregos 8Mais acesso à energia elétrica 6Outros 17