panorama do novo testamento
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
Igreja Batista Koinonia Coordenação De Discipulado
Escola Bíblica De Discípulos - EBD
PANORAMA DO
NOVO
TESTAMENTO
COORDENAÇÃO DE DISCIPULADO ESCOLA BÍBLICA DE DISCÍPULOS - EBD BASE CRISTÃ - PRINCÍPIOS TEOLÓGICOS PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
IGREJA BATISTA KOINONIA Quadra 103 - Lote 02 – Praça Juriti
CEP 70040-906 – Água Claras-DF Telefone (61) 3435-390
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
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SUMÁRIO
LIÇÃO 01 .......................................................................................... 7
VISÃO PANORÂMICA DOS EVANGELHOS ..................................................................... 7
LIÇÃO 02 ........................................................................................ 15
VISÃO PANORÂMICA DO LIVRO DOS ATOS DOS APÓSTOLOS ...........................15
LIÇÃO 03 ........................................................................................ 25
CARTAS PAULINAS – PARTE 01 ......................................................................................25
LIÇÃO 04 ........................................................................................ 29
CARTAS PAULINAS – PARTE 02 ......................................................................................29
LIÇÃO 05 ........................................................................................ 33
EPÍSTOLAS PASTORAIS ......................................................................................................33
LIÇÃO 06 ........................................................................................ 49
VISÃO PANORÂMICA DAS EPÍSTOLAS AOS HEBREUS E GERAIS .....................49
LIÇÃO 07 ........................................................................................ 61
APOCALIPSE .............................................................................................................................61
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LIÇÃO 01 VISÃO PANORÂMICA DOS EVANGELHOS
EVANGELHOS OU EVANGELHO?
A palavra “evangelho” vem do grego “euangelion” e significa “boas novas”.
Em nosso contexto, evangelho é a boa notícia de salvação para todo aquele
que confiar em Cristo.
Os quatro evangelhos, por sua vez, são relatos biográficos de Jesus que
o identificam como o Filho de Deus, Messias e Salvador. Nos evangelhos,
encontramos as “memórias” de Jesus, fatos e ensinamentos relacionados
com o seu nascimento, vida, ministério, morte e ressurreição.
Resumidamente, os evangelhos apresentam o evangelho de Deus para
a humanidade.
Embora apresentem a mesma pessoa (Jesus) e a mesma mensagem (o
evangelho), cada um dos evangelistas tem um propósito específico e lança
luz sobre alguma característica especial de Jesus e de sua mensagem.
COM QUE PROPÓSITO OS EVANGELHOS FORAM
ESCRITOS?
A) EVANGELIZAÇÃO:
Embora os evangelhos sejam relatos biográficos da vida de Jesus, seu
objetivo central não é exatamente registrar uma história, mas apresentar
uma mensagem e chamar as pessoas para uma vida de fé em Jesus. No final
do texto escrito por João, lemos que “Jesus realizou na presença dos seus
discípulos muitos outros sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro.
Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus
e, crendo, tenham vida em seu nome” (Jo 20.30-31). As palavras registradas pelos
escritores dos evangelhos não são exaustivas (não contam tudo que Jesus fez
ou disse), mas são suficientes para que se conheça sobre Jesus e para que se
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confie nele como Salvador e Senhor. Apesar de redundante, vale a pena
enfatizar que os evangelhos foram escritos para evangelizar.
B) PRESERVAÇÃO DA MENSAGEM:
Inicialmente, a mensagem do evangelho se espalhou pelo mundo de
forma oral, sob a autoridade dos apóstolos. Eles eram as pessoas mais
confiáveis e eram reconhecidos pela igreja como os homens que “haviam
estado com Jesus” (At 4.13). No entanto, à medida que o tempo passava, os
apóstolos foram envelhecendo e morrendo, deixando claro que a mensagem
deveria ser registrada antes que todos eles partissem.
C) PRECAUÇÃO E COMBATE ÀS HERESIAS:
É possível que alguns relatos distorcidos e infiéis sobre a vida e
ensinamentos de Jesus houvessem surgido e começado a circular.
Evangelhos escritos, com autoridade apostólica, passaram a ser necessários
para preservar a verdade dos fatos.
D) DISCIPULADO:
Na medida em que as pessoas ouviam a mensagem do evangelho e se
convertiam a Cristo, algum tipo de material objetivo era necessário para
instruir os neófitos sobre a vida e os ensinamentos de Jesus. Como os
apóstolos eram poucos e a igreja crescia muito rapidamente, os evangelhos
escritos se tornaram o instrumento básico de discipulado da igreja.
QUAL É A RELAÇÃO ENTRE OS EVANGELHOS? QUE
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS HÁ ENTRE ELES?
Quando lemos os evangelhos, fica evidente que Mateus, Marcos e Lucas
são muito parecidos, ao passo que João é bem diferente. Enquanto os três
primeiros apresentam vasto material em comum, João tem
aproximadamente 90% de material exclusivo, que não aparece em Mateus,
Marcos e Lucas.
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Por conta das semelhanças entre si, os evangelhos de Mateus, Marcos e
Lucas têm sido chamados de “sinóticos”. Com raiz no vocábulo grego
“synopsis”, o adjetivo “sinótico” indica algo “que pode ser visto em conjunto” ou “que traz a mesma perspectiva dos fatos”.
Vários estudos têm sido feitos com o propósito de explicar as
similaridades e diferenças entre os evangelhos sinóticos. Parece evidente
que de alguma maneira os três textos estão relacionados e se valeram uns
dos outros, ou mesmo de uma ou mais fontes anteriores comuns. As duas
hipóteses a seguir têm sido consideradas como as mais plausíveis para
explicar a relação entre os três escritos:
a) Hipótese Agostiniana: foi defendida por Agostinho, no Século IV, e
foi a explicação tradicionalmente aceita pela igreja até o século XIX. Sustenta
que Mateus foi o primeiro evangelho a ser escrito (tendo inclusive escrito
uma primeira versão em aramaico), Marcos fez uso de Mateus e Lucas fez
uso de Mateus e Marcos.
b) Hipótese das Múltiplas Fontes: alguns estudiosos alemães, no
século XIX, defenderam a tese de que Marcos foi o primeiro evangelho a ser
escrito e que Mateus e Lucas se valeram dele para prepararem seus textos.
No entanto, além do material comum a Marcos, Mateus e Lucas possuem
cerca de 250 versículos em comum, e que não estão em Marcos. A solução
seria uma desconhecida fonte Q, composta por declarações de Jesus, e que
teria sido usada por Mateus e Lucas. O material exclusivo de Mateus e Lucas
seria oriundo da tradição oral, das memórias dos evangelistas ou de fontes
próprias (M, para Mateus, e L, para Lucas). Vale lembrar aqui o que disse
Lucas no início do seu evangelho: “Muitos já se dedicaram a elaborar um relato
dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme nos foram transmitidos por
aqueles que desde o início foram testemunhas oculares e servos da palavra. Eu
mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um
relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas que
te foram ensinadas” (Lucas 1.1-4).
Este prefácio de Lucas pressupõe que havia uma tradição oral e
também registros escritos bem estabelecidos sobre a vida e ensinos de Jesus,
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e que o próprio Lucas fez um trabalho de pesquisa para produzir um “relato
ordenado”.
Embora não seja possível determinar com certeza a solução do
“problema sinótico”, a primazia de Marcos tem sido aceita hoje pela maioria
dos estudiosos dos Evangelhos. “Mais de 97% das palavras de Marcos
encontram paralelo em Mateus; mais de 88%, em Lucas. Por isso, faz mais sentido
pensar que Mateus e Lucas apropriaram-se de grande parte do material de Marcos,
expandindo-o com seus próprios dados, do que imaginar que Marcos abreviou
Mateus e/ou Lucas com a omissão de quantidade tão grande de material. Embora
possa ser sustentada a ideia de que Marcos seja uma redução deliberada de Mateus
e Lucas, esse seria um estranho resumo, pois nota-se a expansão de algumas
narrativas tiradas desses outros evangelhos e, ao mesmo tempo, a supressão de
passagens como o Sermão da Montanha, as narrativas do nascimento e os
aparecimentos do Senhor ressurreto. Tal arrazoado nos induz ao seguinte
raciocínio: Pressupondo-se Marcos, é fácil entender porque Mateus foi escrito; por
outro lado, pressupondo-se Mateus, é difícil compreender a razão pela qual Marcos
teria sido necessário” (Introdução ao Novo Testamento, D.A.Carson, Douglas J. Moo,
Leon Morris, com adaptações).
PODEMOS CONFIAR NOS EVANGELHOS?
No estudo dos evangelhos, existem vários argumentos que nos dão
bastante segurança de que estes livros são as melhores e mais confiáveis
fontes para quem deseja conhecer a vida e os ensinamentos de Jesus.
Vejamos três dos argumentos mais utilizados:
A) A DATA DOS EVANGELHOS
Os evangelhos foram escritos, no máximo, entre 40 e 60 anos após a
morte de Jesus. Isso quer dizer que quando eles começaram a circular,
muitas pessoas que tinham sido testemunhas oculares dos fatos narrados
ainda estavam vivas e poderiam confirmar ou negar o conteúdo destes
escritos. “Marcos, por exemplo, diz que o homem que ajudou Jesus a carregar a
cruz até o Calvário ‘era o pai de Alexandre e Rufo’ (Marcos 15.21; Rm 16.13). Não
há motivo para o autor incluir esses nomes, a menos que os leitores os
conhecessem ou a eles tivessem acesso. É como se dissesse: ‘Alexandre e Rufo
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avalizam a veracidade do que conto a vocês, perguntem a eles se quiserem’.
Ninguém escreve isso em um documento destinado à leitura pública, a menos que
realmente haja testemunhas sobreviventes cujos depoimentos coincidam e sejam
capazes de confirmar as palavras do autor” (A Fé na Era do Ceticismo, Tim Keller).
B) O CONTEÚDO CONTRACULTURAL DOS EVANGELHOS
Os evangelhos são de uma franqueza muitas vezes constrangedora.
Eles mostram, por exemplo, um grupo de discípulos egoístas, incrédulos,
covardes e fracos. Se a ideia fosse inventar uma história para convencer o
mundo de que Jesus era de fato o Filho de Deus e que os apóstolos eram os
seus escolhidos, revelar o “lado escuro” dos apóstolos não seria boa
estratégia. Como Tim Keller afirma, “Por que inventar que as mulheres foram as
primeiras testemunhas da ressurreição em uma sociedade na qual às mulheres era
concedido um status tão inferior que os tribunais não admitiam seus depoimentos?
Faria mais sentido (se você fosse inventar a história) contar com o testemunho de
pilares masculinos da comunidade quando Jesus saísse do túmulo” (A Fé na Era do
Ceticismo, Tim Keller, com adaptações).
C) A DATA E A ABUNDÂNCIA DOS MANUSCRITOS
Existem largas evidências que sustenta a confiabilidade histórica dos
manuscritos do Novo Testamento e dos Evangelhos. Comparando-se com
outros escritos importantes da Antiguidade, como ilustra o gráfico a seguir,
o Novo Testamento possui muito mais credibilidade e confiabilidade, por ter
um número muito maior de manuscritos e porque o intervalo entre os
manuscritos e o texto original é muito breve.
Nome da obra e
autor
Data em que
foi escrita
Documento
mais antigo
Diferença, em
anos, entre a data
da confecção e o
documento mais
antigo
Quantidade de
cópias
Obras de Aristóteles 340 a.C. 1.100 d.C. 1.400 5
Obras de Platão 427 - 347 a.C. 900 d.C. 1.200 7
Ilíada, de Homero 900 a.C. 400 a.C. 500 643
Evangelhos 40 - 60 d.C. 130 d.C. 40 5.000
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Embora existam pequenas variações de um manuscrito para outro, o
pesquisador William Craig nos lembra de que “entre 97e 99% do Novo
Testamento podem ser reconstruídos acima de qualquer dúvida razoável, e
nenhuma doutrina cristã se baseia somente, nem mesmo principalmente, em
passagens cujos textos sejam discutíveis” (A Veracidade da Fé Cristã).
COMO OS EVANGELHOS FORAM ESCOLHIDOS E
CHEGARAM ATÉ NÓS?
O cânon final do Novo Testamento (lista dos livros considerados
inspirados por Deus), tal qual temos hoje na Bíblia, foi oficialmente
reconhecido pela igreja em 397 d.C., no concílio de Cartago (decisão que foi
ratificada em 419, no concílio de Hipona). A rigor, tal reconhecimento
aconteceu por meio de um processo contínuo, lento e gradual, conduzido
pelo Espírito Santo.
QUAIS FORAM OS CRITÉRIOS EMPREGADOS PELA
IGREJA PARA RECONHECER OS LIVROS QUE ERAM, DE
FATO, CANÔNICOS?
1. A aceitação e reconhecimento geral das igrejas por um período
longo e contínuo, e seu uso por gerações posteriores. Os 27 livros
do NT não foram aceitos porque foram canonizados, mas foram
canonizados porque já eram aceitos como tal. Existem
documentos do século II que se referem aos 4 evangelhos como
textos amplamente lidos e aceitos pelas igrejas.
2. A apostolicidade (origem apostólica) – a autoridade e a origem
apostólicas foram fundamentais para discernir os livros
canônicos. Se fosse possível provar que um livro era de origem
apostólica, isso seria suficiente para ser reconhecido como
canônico.
3. A consistência doutrinária, em coerência com a revelação do
Antigo Testamento e o ensino dos apóstolos.
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FONTES DE CONSULTA:
Estudo Panorâmico da Bíblia, de Henrietta Mears. Editora Vida
Acadêmica.
Introdução ao Novo Testamento, de Broadus David Hale. Editora
Hagnos.
Panorama do Novo Testamento, de Robert H. Gundry. Editora Mundo
Cristão.
Atlas da Bíblia e da História do Cristianismo, da Editora Vida Nova.
Introdução ao Novo Testamento, de D.A.Carson, Douglas J. Moo e Leon
Morris. Editora Vida Nova.
A Fé na Era do Ceticismo, de Timothy Keller. Editora Campus.
A Veracidade da Fé Cristã, de William Craig. Editora Vida Nova.
Internet: www.igrejalibertas.org.br
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LIÇÃO 02 VISÃO PANORÂMICA DO LIVRO DOS ATOS DOS APÓSTOLOS
INTRODUÇÃO:
O livro conhecido desde o segundo século dC como Atos dos Apóstolos
abrange primariamente as atividades de Pedro e de Paulo e nos fornece uma
história muitíssimo fidedigna e abrangente do espetacular começo e do
rápido desenvolvimento da Igreja cristã, primeiro entre os judeus, e então
entre os samaritanos e as nações gentias.
O tema dominante da Bíblia inteira, o Reino de Deus, predomina no
livro (At 1:3; 8:12; 14:22; 19:8; 20:25; 28:31), e somos constantemente
lembrados de que os apóstolos deram “testemunho cabal” a respeito de Cristo
e do Reino, por meio da plena realização de seus ministérios (2:40; 5:42;
8:25; 10:42; 20:21, 24; 23:11; 26:22; 28:23). O livro fornece também um
notável fundo histórico para o estudo das cartas inspiradas das Escrituras
Gregas Cristãs.
O Escritor. As palavras iniciais de Atos referem-se ao Evangelho de
Lucas como “o primeiro relato”. E visto que ambos os relatos são dirigidos à
mesma pessoa, Teófilo, sabemos que Lucas, embora não assinasse seu nome,
foi o escritor de Atos (Lc 1:3; At 1:1). Ambos os relatos têm estilo e
linguagem similares. Escritos eclesiásticos do segundo século dC, de Irineu
de Lião, de Clemente de Alexandria, e de Tertuliano de Cartago, quando
citam Atos, mencionam Lucas como o escritor.
Quando e Onde Foi Escrito. O livro abrange um período de
aproximadamente 28 anos, desde a ascensão de Jesus em 33 dC até o fim do
segundo ano da prisão de Paulo em Roma, por volta de 61 dC. Durante este
período, quatro imperadores romanos governaram em sequência, a saber:
Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Visto que relata eventos decorridos no
16
segundo ano da prisão de Paulo em Roma, não poderia ter sido concluído
antes disso. Se o relato tivesse sido escrito mais tarde, seria razoável esperar
que Lucas fornecesse mais informações sobre Paulo; se escrito depois do
ano 64 dC, certamente teria mencionado a violenta perseguição movida por
Nero, que começou naquele ano; e, se escrito depois de 70 dC, como alguns
argumentam, esperaríamos encontrar registrada a destruição de Jerusalém.
O escritor Lucas acompanhou Paulo em grande parte do período das
suas viagens, inclusive na perigosa viagem a Roma, o que fica evidente a
partir do uso que faz dos pronomes na primeira pessoa do plural - “nós”,
“nosso”, “nos” -, em Atos 16:10-17; 20:5-15; 21:1-18; 27:1-37; 28:1-16.
Paulo, nas suas cartas escritas de Roma, menciona que Lucas também estava
ali (Cl 4:14; Fl 24). Foi, por conseguinte, em Roma que se concluiu a escrita
do livro de Atos.
Conforme já observado, o próprio Lucas foi testemunha ocular de
grande parte do que escreveu, e, em suas viagens, ele contatou cristãos que
participaram de certos eventos descritos ou os observaram. Por exemplo,
João Marcos podia contar-lhe o miraculoso livramento de Pedro da prisão
(At 12:12), ao passo que os eventos descritos nos capítulos 6 e 8 poderiam
ter sido relatados pelo missionário Filipe. E Paulo, naturalmente, como
testemunha ocular, podia suprir muitos pormenores dos eventos ocorridos
quando Lucas não estava com ele.
Autenticidade. A exatidão do livro de Atos tem sido comprovada, no
decorrer dos anos, por várias descobertas arqueológicas. Por exemplo, Atos
13:7 diz que Sérgio Paulo era o procônsul de Chipre. Ora, sabe-se que, pouco
antes de Paulo visitar Chipre, esta era governada por meio de um propretor
ou legado, mas uma inscrição encontrada em Chipre prova que a ilha passou
a estar sob o governo direto do Senado romano, na pessoa de um
governador provincial chamado procônsul. Similarmente, na Grécia, durante
o governo de Augusto César, a Acaia era uma província sob o governo direto
do Senado romano, mas, quando Tibério era imperador, ela foi governada
diretamente por ele. Mais tarde, sob o imperador Cláudio, tornou-se
novamente uma província senatorial, segundo Tácito. Descobriram-se
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fragmentos de um rescrito de Cláudio aos délficos da Grécia, que se refere ao
proconsulado de Gálio. Por conseguinte, Atos 18:12 está correto ao falar de
Gálio como “procônsul” quando Paulo estava ali em Corinto, capital da Acaia.
Também, uma inscrição num arco em Tessalônica (inscrição de que se
preservaram fragmentos no Museu Britânico) mostra que Atos 17:8 está
correto ao falar dos “governantes da cidade” (“poliarcas”, governadores dos
cidadãos), embora este título não seja encontrado na literatura clássica.
Até o dia de hoje, em Atenas, o Areópago, ou colina de Marte, onde
Paulo pregou, ergue-se como testemunha silenciosa da veracidade de Atos.
(At 17:19) Termos e expressões médicas encontradas em Atos estão de
acordo com os escritores médicos gregos daquele tempo. Os meios de
viagem empregados no Oriente Médio, no primeiro século, eram
essencialmente conforme descritos em Atos, quais sejam: via terrestre,
caminhando, andando a cavalo ou em carros puxados a cavalo (23:24, 31,
32; 8:27-38); via marítima, por navios de carga (21:1-3; 27:1-5). Aquelas
embarcações antigas não possuíam um leme único, mas eram controladas
por dois grandes remos, daí estes serem mencionados com exatidão no
plural (27:40). A descrição da viagem de Paulo, de navio, a Roma (27:1-44),
no tocante ao tempo que durou, à distância percorrida e aos lugares
visitados é reconhecida por marujos modernos, familiarizados com a região,
como inteiramente fidedigna e confiável.
DESTAQUES DO LIVRO:
Eventos ocorridos até o Pentecostes (1:1-26). No início deste
segundo relato de Lucas, o ressuscitado Jesus diz a seus ansiosos discípulos
que eles serão batizados no Espírito Santo e que receberão poder e tornar-
se-ão testemunhas “até à parte mais distante da terra”. Ao Jesus ascender,
desaparecendo da vista deles, dois homens vestidos de branco lhes dizem: “Este Jesus, que dentre vós foi acolhido em cima, no céu, virá assim da mesma
maneira” (1:8, 11).
O memorável dia de Pentecostes (2:1-42). Todos os discípulos estão
reunidos em Jerusalém. Subitamente, um ruído semelhante ao de um vento
18
impetuoso enche a casa. Línguas como que de fogo se assentam sobre os que
estão presentes. Eles ficam cheios do Espírito Santo e começam a falar em
línguas diferentes sobre “as coisas magníficas de Deus” (2:11). Os
espectadores ficam perplexos. Então, Pedro se levanta para falar. Ele explica
que este derramamento do espírito é o cumprimento da profecia de Joel
(2:28-32) e que Jesus Cristo, agora ressuscitado e enaltecido à destra de
Deus, “derramou isto que veem e ouvem”. Estando compungidos, cerca de 3.000
aceitam a palavra e são batizados (2:33).
Expansão do testemunho (2:43-5:42). Deus continua a ajuntar-lhes
diariamente os que estão sendo salvos. Junto ao templo, Pedro e João
encontram um homem aleijado que jamais andou na vida. “Em nome de Jesus
Cristo, o nazareno, anda!”, ordena Pedro. Imediatamente, o homem começa “a
andar, e a pular, e a louvar a Deus”. Pedro admoesta então as pessoas a se
arrepender e dar meia-volta, “para que venham épocas de refrigério da parte da
pessoa de Yehowah”. Contrariados por Pedro e João ensinarem a ressurreição
de Jesus, os líderes religiosos os prendem, mas as fileiras dos crentes
aumentam para cerca de 5.000 homens (3:6, 8 e 19).
No dia seguinte, Pedro e João são levados perante os governantes
judeus para serem interrogados. Pedro testifica intrepidamente que a
salvação só vem por meio de Jesus Cristo, e, quando se lhes ordena que
cessem sua obra de pregação, tanto Pedro como João replicam: “Se é justo, à
vista de Deus, escutar antes a vós do que a Deus, julgai-o vós mesmos. Mas, quanto
a nós, não podemos parar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (4:19 e 20).
Eles são postos em liberdade, e todos os discípulos continuam a falar a
palavra de Deus com denodo. Em virtude das circunstâncias, reúnem os seus
bens materiais e fazem distribuições segundo a necessidade. Todavia, um
homem chamado Ananias e sua esposa Safira vendem uma propriedade e,
por meio de simulações, retêm secretamente parte do preço. Pedro os expõe
e ambos caem mortos por terem agido desonestamente diante de Deus e do
Espírito Santo.
Os líderes religiosos, enfurecidos, tornam a lançar os apóstolos na
prisão, mas, desta vez, o anjo de Deus os liberta. No dia seguinte, são levados
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outra vez perante o Sinédrio, sendo acusados de “encher Jerusalém com o seu
ensino”. Eles replicam: “Temos de obedecer a Deus como governante antes que
aos homens.” Embora chibatados e ameaçados, ainda assim se recusam a
parar, e “cada dia, no templo e de casa em casa, continuam sem cessar a ensinar e
a declarar as boas novas a respeito do Cristo, Jesus” (5:28, 29 e 42).
O martírio de Estêvão (6:1 – 8:1a). Estêvão é um dos sete designados
pelo Espírito Santo para distribuir alimento às mesas. Ele dá também
poderoso testemunho a respeito da verdade, e tão zeloso é o seu apoio à fé
que seus oponentes, enfurecidos, o fazem comparecer perante o Sinédrio
sob a acusação de blasfêmia. Na sua defesa, Estêvão fala primeiro da
longanimidade de Deus para com Israel. Daí, com eloquência destemida,
chega ao ponto: “Homens obstinados, sempre resistis ao Espírito Santo, vós, os
que recebestes a Lei, conforme transmitida por anjos, mas não a guardastes” (7:51-
53). Isto é demais para eles, que lançam-se sobre Estevão, jogam-no fora da
cidade e o apedrejam até morrer. Saulo observa com aprovação.
As perseguições e a conversão de Saulo (8:1b – 9:30). A perseguição
que começa naquele dia contra a congregação em Jerusalém dispersa pelo
país inteiro a todos, exceto aos apóstolos. Filipe vai para Samaria, onde
muitos aceitam a palavra de Deus. Pedro e João são enviados de Jerusalém
para lá a fim de que tais crentes recebessem Espírito Santo “pela imposição
das mãos dos apóstolos” (8:18). Um anjo manda então Filipe para o sul, para a
estrada que ligava Jerusalém a Gaza, onde encontra um eunuco da corte real
da Etiópia, que, no seu carro, está lendo o livro de Isaías. Filipe lhe esclarece
o significado da profecia e o batiza.
No ínterim, Saulo, “respirando ainda ameaça e assassínio contra os
discípulos do Senhor”, parte em viajem com a intenção de prender tantos
quantos puder dentre aqueles que “pertencem ao Caminho”, em Damasco.
Repentinamente, reluz em volta dele uma luz vinda do céu, e ele cai por
terra, cego. Uma voz do céu lhe diz: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues.” Depois
de três dias em Damasco, um discípulo de nome Ananias vem prestar-lhe
ajuda. Saulo recupera a vista, é batizado e fica cheio do Espírito Santo, de
modo que se torna um zeloso e habilitado pregador das boas novas (9:1, 2 e
20
5). Nessa surpreendente reviravolta de acontecimentos, aquele que
perseguia passa a ser o perseguido e tem de fugir para salvar a própria vida.
Primeiro, de Damasco; depois, de Jerusalém.
As boas novas chegam aos gentios incircuncisos (9:31 – 12:25). A
congregação então “entra num período de paz, sendo edificada; e, como anda no
temor de Deus e no consolo do Espírito Santo, continua a multiplicar-se’ (9:31).
Em Jope, Pedro ressuscita a querida Tabita (Dorcas), e é ali que recebe a
chamada para ir a Cesaréia, onde um oficial do exército, chamado Cornélio, o
aguarda. Ele prega a Cornélio e aos de sua casa, e eles crêem, sendo
derramado sobre eles o Espírito Santo. Discernindo que “Deus não é parcial,
mas, em cada nação, o homem que o teme e que faz a justiça lhe é aceitável”, Pedro
batiza estes que são os primeiros gentios incircuncisos a se converter. Pedro
explica mais tarde este novo acontecimento aos irmãos em Jerusalém, em
vista do que eles glorificam a Deus (10:34, 35).
Ao passo que as boas novas continuam a espalhar-se rapidamente,
Barnabé e Saulo ensinam um grande número de pessoas em Antioquia, “e é
primeiro em Antioquia que os discípulos, por providência divina, são chamados
cristãos” (11:26). Torna a irromper grande perseguição. Herodes Agripa I
manda matar Tiago, irmão de João. Lança também Pedro na prisão, mas de
novo o anjo de Deus o liberta. Herodes tem um fim lamentável: Por não dar
glória a Deus, morre comido de vermes. Em contrapartida, “a palavra do
Senhor continua a crescer e a se espalhar” (12:24).
Primeira viagem missionária de Paulo, com Barnabé (13:1-14:28).
Barnabé e “Saulo, que é também Paulo”, são escolhidos e enviados de
Antioquia pelo Espírito Santo (13:9). Na ilha de Chipre, muitos, incluindo o
procônsul Sérgio Paulo, se tornam crentes. Na Ásia Menor continental,
visitam seis ou mais cidades, e em toda a parte acontece a mesma coisa: vê-
se uma distinção entre os que aceitam alegremente as boas novas e os
oponentes obstinados que incitam as turbas a atirar pedras nos mensageiros
de Deus. Depois de fazerem designações de anciãos nas recém-formadas
congregações, Paulo e Barnabé retornam à Antioquia da Síria.
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
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Solução dada à questão da circuncisão (15:1-35). Com a grande
afluência de não judeus, surge a questão quanto a se estes devem ou não ser
circuncidados. Paulo e Barnabé levam a questão aos apóstolos e aos anciãos
em Jerusalém, onde o discípulo Tiago preside à reunião e providencia enviar
a decisão unânime mediante carta formal: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a
nós mesmos não vos acrescentar nenhum fardo adicional, exceto as seguintes
coisas necessárias: de persistirdes em abster-vos de coisas sacrificadas a ídolos, e
de sangue, e de coisas estranguladas, e de fornicação” (15:28, 29). O
encorajamento desta carta faz com que os irmãos em Antioquia se
regozijem.
Expansão do ministério – resultado da segunda viagem de
Paulo (15:36-18:22). “Depois de alguns dias”, Barnabé e Marcos embarcam
rumo a Chipre, ao passo que Paulo e Silas passam pela Síria e Ásia Menor
(15:36). O jovem Timóteo se junta a Paulo em Listra, e ambos prosseguem
para Trôade, na costa do mar Egeu. Ali, Paulo recebe uma visão na qual um
homem que lhe suplica: “Passa à Macedônia e ajuda-nos” (16:9). Lucas se junta
a Paulo e eles tomam um navio para Filipos, a cidade principal da
Macedônia, onde Paulo e Silas são lançados na prisão. Isto resulta em o
carcereiro tornar-se crente e ser batizado. Ao serem soltos, vão a
Tessalônica, onde os judeus, movidos por ciúmes, incitam a turba contra
eles. Os irmãos decidem enviar Paulo e Silas de noite a Beréia. Ali, os judeus
mostram ter mentalidade nobre, recebendo a palavra “com o maior anelo
mental, examinando cuidadosamente as Escrituras, cada dia”, em busca de
confirmação das coisas aprendidas (17:11). Paulo, deixando Silas e Timóteo
nesta nova congregação, assim como havia deixado Lucas em Filipos,
continua rumo ao sul, para Atenas.
Nesta cidade de ídolos, altivos filósofos epicureus e estóicos chamam,
com escárnio, a Paulo de “paroleiro” e “publicador de deidades estrangeiras”, e
o levam ao Areópago, ou colina de Marte. Com hábil oratória, Paulo
argumenta em favor de se buscar o verdadeiro Deus, o “Senhor do céu e da
terra”, que garante um julgamento justo por intermédio daquele a quem
22
ressuscitou dentre os mortos. A menção da ressurreição divide a sua
assistência, mas alguns se tornam crentes (17:18, 24).
A seguir, em Corinto, Paulo fica com Áquila e Priscila, trabalhando com
eles na profissão de fazer tendas. A oposição à sua pregação o obriga a sair
da sinagoga e a realizar as suas reuniões numa casa contígua, no lar de Tício
Justo. Crispo, o presidente da sinagoga, torna-se crente. Depois de uma
estada de 18 meses em Corinto, Paulo parte com Áquila e Priscila para Éfeso,
onde os deixa, e continua a viagem à Antioquia da Síria, completando assim a
sua segunda viagem missionária.
Paulo revisita as congregações em sua terceira viagem (18:23-
21:26). Certo judeu de nome Apolo, procedente de Alexandria, Egito, chega
a Éfeso e fala intrepidamente na sinagoga a respeito de Jesus, mas Áquila e
Priscila notam a necessidade de corrigir o seu ensino antes de ele ir a
Corinto. Paulo está agora na sua terceira viagem, e no devido tempo chega a
Éfeso. Ao saber que os crentes ali foram batizados com o batismo de João,
Paulo lhes explica o batismo em nome de Jesus. Daí, batiza cerca de 12
homens, impõe as mãos sobre eles e estes recebem o Espírito Santo.
Nos três anos em que Paulo fica em Éfeso, “a palavra do Senhor continua
a crescer e a prevalecer de modo poderoso”, e muitos abandonam a adoração da
deusa padroeira da cidade, Diana (19:20). Os fabricantes de santuários de
prata, enfurecidos com a idéia de seu negócio correr perigo, criam tal
alvoroço na cidade que leva horas para dispersar a turba. Logo depois, Paulo
parte para a Macedônia e para a Grécia, visitando a caminho os crentes.
Paulo fica três meses na Grécia antes de retornar pela Macedônia, onde
Lucas se junta outra vez a ele. Fazem a travessia até Trôade, e ali, enquanto
Paulo discursa noite adentro, um rapaz adormece e cai de uma janela do
terceiro pavimento. É apanhado morto, mas Paulo lhe restaura a vida. No dia
seguinte, Paulo e os que o acompanham partem para Mileto, onde, a
caminho de Jerusalém, Paulo faz uma parada para se reunir com os anciãos
de Éfeso. Ele lhes informa que não mais verão a sua face. Quão urgente é,
pois, que assumam a liderança e pastoreiem o rebanho de Deus, “no meio do
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23
qual o Espírito Santo os designou como superintendentes”! Relembra-lhes o
exemplo que ele mesmo lhes deu e admoesta-os a permanecer despertos,
não se poupando em dar de si mesmos a favor dos outros irmãos (20:28).
Embora advertido para não pôr os pés em Jerusalém, Paulo não volta atrás.
Seus companheiros aquiescem, dizendo: “Realize-se a vontade de Yehowah”
(21:14). Há grande regozijo quando Paulo relata a Tiago e aos anciãos a
respeito da bênção de Deus sobre seu ministério entre as nações.
Paulo detido e julgado (21:27-26:32). Quando Paulo aparece no
templo em Jerusalém, é recebido com hostilidade. Judeus da Ásia incitam a
cidade inteira contra ele, e os soldados romanos o socorrem no momento
preciso.
Qual a razão de todo o tumulto? Quem é este Paulo? Qual é o seu crime?
O comandante militar, perplexo, quer respostas. Por causa de sua cidadania
romana, Paulo escapa de ser açoitado e é levado perante o Sinédrio. Diante
da audiência, Paulo levanta a questão da ressurreição, lançando fariseus e
saduceus uns contra os outros. Como a dissensão se torna violenta, os
soldados romanos têm de arrancar Paulo do meio do Sinédrio antes que o
dilacerem. Acompanhado de uma grande escolta de soldados, ele é enviado
secretamente de noite ao Governador Félix, em Cesaréia.
Acusado de sedição, Paulo apresenta a Félix sua defesa com habilidade.
Mas Félix retém Paulo, na esperança de receber dinheiro de suborno para
soltá-lo. Passam-se dois anos. Pórcio Festo sucede a Félix como governador,
e ordena-se novo julgamento. Outra vez, sérias acusações são feitas, e Paulo
torna a declarar a sua inocência. Entretanto, Festo, a fim de ganhar o favor
dos judeus, sugere que seja feito mais um julgamento perante ele, em
Jerusalém. Contudo, Paulo declara: “Apelo para César!” (25:11). Algum tempo
depois, o Rei Herodes Agripa II faz uma visita de cortesia a Festo, e Paulo é
levado mais uma vez à sala de audiência. Tão poderoso e convincente é o seu
testemunho que Agripa é movido a lhe dizer que “em pouco tempo me
persuadirias a tornar-me cristão” (26:28). Agripa reconhece igualmente a
inocência de Paulo e que poderia ser solto se não tivesse apelado para César.
24
Paulo vai a Roma (27:1-28:31). O prisioneiro Paulo e outros são
levados de barco para a primeira etapa da viagem a Roma. Como os ventos
são contrários, o progresso é lento. No porto de Mirra, mudam de navio. Ao
chegarem a Bons Portos, em Creta, Paulo recomenda que passem o inverno
ali, mas a maioria aconselha que viajem. Mal começam a navegar, quando um
vento tempestuoso se apodera deles e implacavelmente os põe à deriva.
Depois de duas semanas, o barco é por fim despedaçado num banco de areia
bem próximo à costa de Malta. Conforme Paulo assegurara, nenhum dos 276
a bordo perde a vida! Os habitantes de Malta mostram extraordinário
humanitarismo, e, durante aquele inverno, Paulo cura muitos dentre eles
pelo poder miraculoso do Espírito de Deus.
Na primavera seguinte, Paulo chega a Roma, e os irmãos vão à estrada
para acolhê-lo. Ao avistá-los, Paulo “agradece a Deus e toma coragem”. Embora
ainda prisioneiro, permite-se que Paulo permaneça na sua própria casa
alugada com um soldado de guarda. Lucas termina a sua narrativa
descrevendo a bondosa acolhida de Paulo a todos os que vão ter com ele, “pregando-lhes o reino de Deus e ensinando com a maior franqueza no falar as
coisas concernentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento” (28:15, 31).
FONTES DE CONSULTA:
Estudo Panorâmico da Bíblia, de Henrietta Mears. Editora Vida Acadêmica.
Introdução ao Novo Testamento, de Broadus David Hale. Editora Hagnos.
Panorama do Novo Testamento, de Robert H. Gundry. Editora Mundo Cristão.
Atlas da Bíblia e da História do Cristianismo, da Editora Vida Nova.
Introdução ao Novo Testamento, de D.A.Carson, Douglas J. Moo e Leon Morris. Editora Vida Nova.
A Fé na Era do Ceticismo, de Timothy Keller. Editora Campus.
A Veracidade da Fé Cristã, de William Craig. Editora Vida Nova.
Internet: www.montesiao.pro.br
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25
LIÇÃO 03 CARTAS PAULINAS – PARTE 01
GÁLATAS – A SALVAÇÃO PELA FÉ.
Paulo fundou as igrejas na Galácia por volta de 45-48 d.c. Visitou-as
novamente durante a segunda viagem misionária (50 d.c.) e outra vez
quando estava iniciando a terceira viagem, cerca de 54 d.c. A data
tradicionalmente aceita da redação da carta é de 57 d.c., no final da terceira
viagem missionária de Paulo, quando estava em Éfeso, na Macedônia, ou em
Corinto, pouco antes de escrever a epístola aos Romanos.
A carta aos gálatas traz a afirmação de que o cristão é salvo somente
pela fé. O tema foi tratado na carta devido ao fato de que na região alguns
falsos mestres começaram a propagar que a salvação dependia da
observância da lei judaica. Para combater as falsas doutrinas introduzidas
nas igrejas da Galácia é que o Apóstolo Paulo escreve esta carta.
A carta aos gálatas pode ser assim dividida:
Saudações e defesa do apostolado de Paulo (Gl. 1.1 – 2.21);
Salvação: lei x fé (Gl. 3.1 – 4.31);
Liberdade cristã (Gl. 5.1-15);
As obras da carne e os frutos do espírito ( Gl. 5.16-26);
Semeadura e colheita (Gl. 6.1-18).
TESSALONISSENSES – A SEGUNDA VINDA DE CRISTO
A primeira epístola de Paulo aos tessalonissenses é tida como a
primeira carta escrita pelo Apóstolo, por volta de 51 d.C.. Paulo fundou a
igreja em Tessalônica em sua segunda viagem missionária. Tudo indica que
ele passou apenas três semanas ali. Sua saída foi repentina, motivada pelo
furor dos membros da sinagoga local que se revoltaram contra ele.
26
De Tessalônica, Paulo fugiu para Beréia, de onde também foi expulso.
Em seguida, o apóstolo seguiu para Atenas e de lá para Corinto, onde
escreveu a carta aos Tessalonissenses.
Ansioso por ter notícias da igreja em Tessalônica, Paulo envia Timóteo
para lá. Timóteo trouxe a Paulo a notícia que a igreja permanecia firme,
apesar das perseguições. Entretanto, alguns cristãos já tinham morrido e os
demais estavam desorientados, pois não tinham certeza do que aconteceria
com os que morrerem antes da volta de Cristo. Para esclarecer a igreja,
Paulo esplana na carta que os que morrerem não sofrerão prejuízo. Também
traz instruções a respeito da vida piedosa e os exorta a não negligenciar o
serviço diário.
Esboço de 1ª Tessalonissenses:
Saudações, elogios e exortações ( 1.1-10);
Ministério de Paulo em Tessalônica (2.1-20);
Alegria com as notícias recebidas (3.1-13);
Orientações morais (4.1-12);
Esclarecimento sobre os que já morreram (4.13-18);
A segunda vinda de Cristo (5.1-10);
Orientações diversas (5.11-24);
Saudações finais (5.25-28).
A segunda carta aos tessalonissenses foi escrita pouco tempo depois da
primeira. O tema permanece o mesmo, a segunda vinda de Cristo, mas o foco
muda. Na primeira carta, Paulo falara da vinda do Senhor como algo
repentino e inesperado. Agora, explica que ela não acontecerá senão depois
da apostasia, quando as pessoas se desviarão da fé cristã.
Esboço de 2ª Tessalonissenses:
Saudações iniciais (1.1-2);
Alegria com a firmeza da igreja e a recompensa final (1.3-12);
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27
A segunda vinda de Cristo (2.1-17);
Valorização do trabalho (3.1-15);
Saudação final (3.16-18).
CORÍNTIOS – DEVEMOS SER DIFERENTES DO MUNDO
Cerca de três anos de partir de Corinto, Paulo estava em Éfeso, do outro
lado do mar Egeu. Tanto Corinto quanto Éfeso ficavam numa movimentada
rota comercial, e os navios faziam travessias constantes entre estas duas
cidades. Uma delegação de líderes da igreja de Corinto foi enviada a Éfeso a
fim de consultar Paulo a respeito de alguns problemas e desordens muito
graves que tinham surgido na igreja. Foi como resposta a essas perguntas
que o Apóstolo escreveu a carta de I Coríntios. Escrevera também, pelo
menos, uma carta anterior, que não mais existe.
Na epístola, Paulo responde a várias questões levantadas pela
delegação. Entre elas estão a das divisões na igreja, da imoralidade, litígios
judiciais de uns contra os outros e práticas impróprias na ceia do Senhor.
Paulo também trata sobre falsos ensinos a respeito da ressurreição do corpo
e encoraja a igreja a fazer donativos para o sustento do crentes judeus
probres de Jerusalém.
Esboço de I Coríntios:
Saudações e ação de graças (1Co 1:1-9);
Divisão e falta de unidade na igreja (1Co 1.10 – 4.21);
Imoralidade e os padrões morais do cristianismo (1Co 5.1 – 7.40);
A liberdade cristã (1Co 8.1 – 11.1);
Questões eclesiásticas e espirituais (1Co 11.2 – 14.40);
A ressureição dos mortos (1Co 15:1-58);
Questões pessoais (1Co 16:1-24).
Partindo de Éfeso, Paulo entrou na Macedônia a caminho de Corinto.
Enquanto ainda estava na Macedônia, no verão e outono de 55 d.C., Paulo
28
visitou as igrejas da região de Filipos e de Tessalônica. Depois de esperar por
muito tempo por notícas vindas de Corinto, Paulo encontrou com Tito, que
relatara que a carta anterior havia surtido bom efeito, mas que alguns
líderes da igreja de Corinto ainda negavam ser Paulo genuíno apóstolo de
Cristo.
O propósito da carta de II Coríntios é, em boa parte, a a vindicação que
Paulo fez de si mesmo como apóstolo de Cristo, bem como lembrar que,
tendo ele mesmo fundado a igreja de Corinto, possuía direito de emitir
parecer sobre o modo como ela era dirigida.
Esboço de II Coríntios:
Cristo, nossa consolação (IICo 1.1 – 2.17);
Epístolas vivas (IICo 3.1 – 4.18);
Embaixadores de Cristo (IICo 5.1 – 6.18);
O coração de Paulo (IICo 7.1- 8.15);
A contribuição dos cristãos (IICo 8.16 – 9.15);
O apostolado de Paulo (IICo 10.1 – 11.33);
A força de Deus (IICo 12.1 – 13.14).
BIBLIOGRAFIA
- Halley, Henry Hampton, 1874-1965. Manual Bíblico de Halley: Nova
Versão Internacional (NVI); tradução Gordon Chown – São Paulo: Editora
Vida, 2002.
- Mears, Henrietta C., 1890-1963. Estudo Panorâmico da Bíblia;
tradução Walter Kaschel – São Paulo: Editora Vida, 2006.
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29
LIÇÃO 04 CARTAS PAULINAS – PARTE 02
EFÉSIOS – A UNIDADE DA IGREJA
Efésios foi uma das quatro cartas que Paulo escreveu durante seu
encarceramento em Roma, entre 59 d.C. e 61/62 d.C.. As demais são
Filipenses, Colossenses e Filemon. Com exceção de Filipenses , elas foram
escritas na mesma ocasião e levadas pelos mesmos mensageiros. Além
dessas, Paulo escreveu mais uma epístola da prisão, mas foi perdida.
Provavelmente, esta foi uma carta circular a todas as igrejas da Ásia
Menor. Assim, Tíquico teria levado várias cópias, cada uma com um espaço
em branco para que cada cidade incluísse o seu próprio nome no título.
Desta forma, ficaria esclarecida a falta de saudações pessoais na carta, em
contraste com a maioria das demais epístolas de Paulo. Isso também
explicaria o tom formal do Apóstolo na carta a uma igreja em que passara
três anos, em que, evidentemente, possuía muitos amigos.
A epístola aos efésios mostra que a verdadeira igreja é o corpo de
Cristo, e os cristãos são membros desse corpo sagrado do qual Cristo é o
cabeça.
Esboço do livro de Efésios:
A posição do cristão (Ef. 1 – 3);
Os passos do crstão na igreja (Ef. 4);
Os passos do cristão na vida moral (Ef. 5.1 – 21);
Os passos do cristão na vida social (Ef. 5.22 – 6.9);
Os passos do cristão na luta espiritual (Ef. 6.10 – 24).
30
FILIPENSES – JESUS, NOSSA ALEGRIA!
Filipos foi a primeira igreja que Paulo fundou na Europa, na segunda
viagem missionária, por volta de 51 d.C. Lucas, o médico, autor de um dos
evangelhos e de Atos dos Apóstolos, foi seu pastor durante os seis primeiros
anos.
No período de 61 a 63 d.C., Paulo estava na prisão em Roma, mais ou
menos 10 anos após ter fundado a igreja de Filipos e uns 3 ou 4 anos depois
de sua última visita ali. Segundo parece, Paulo estava começando a pensar
que a igreja havia se esquecido dele. Foi então que Epafrodito chegou da
distante Filipos com uma oferta em dinheiro. Paulo ficou profundamente
comovido. Epafrodito quase perdera a vida na viagem. Quando ele se
recuperou, Paulo o enviou a Filipos com a carta.
Esboço da epístola aos Filipenses:
Alegria triunfa sobre o sofrimento (Fl. 1.1-30);
Alegria em Cristo (Fl. 2.1-11);
Alegria na salvação (Fl. 2.12-30);
Alegria na justiça de Cristo (Fl. 3.1-9);
Alegria na vontade de Cristo (Fl. 3.10-21);
Alegria na força de Cristo (Fl. 4.1-7);
Alegria na provisão de Cristo (Fl. 4.8-23).
COLOSSENSES – A DIVINDADE E PLENA SUFICIÊNCIA
DE CRISTO.
A igreja de Colossos foi fundada durante a terceira viagem missionária
de Paulo, durante os seus três anos em Éfeso, mas não pelo próprio Paulo, e
sim por Epafras. Arquipo também exerceu ali ministério frutífero. Filemon
era membro ativo dessa igreja, como também Onésimo.
Paulo estava encarcerado em Roma, sendo pelo menos dois anos de
prisão domiciliar. Ele escrevera uma carta anterior a respeito de Marcos. No
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31
mesmo período, Epafras, membro da igreja de Colossos, chegara a Roma
avisando que uma heresia perigosa estava fazendo progresso na igreja.
Parece que, na ocasião, Eprafas também estava preso em Roma. Paulo, então,
escreveu a carta e a enviou por intermédio de Tíquico e de Onésimo, que
também levaram a carta de Paulo aos Efésios e a carta a Filemom.
Essa heresia parece ter sido a mistura de religiões gregas, judaica e
orientais, um tipo de culto do “pensamento superior” que se apresentava
como filosofia. Exigia a adoração aos anjos como intermediários entre Deus
e o homem e insistia na observância rigorosa de certas exigências judaicas.
Esboço da carta aos Colossenses:
Saudação e oração de Paulo (Cl. 1.1-14);
As setes superioridades de Cristo (Cl. 1.15-29);
Aperfeiçoados em Cristo (Cl. 2.1-19);
O velho homem e o novo homem (Cl. 2.20- 3.11);
O viver cristão (Cl. 3.12-25);
Virtudes cristãs (Cl. 4.1-18).
ROMANOS – A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ.
Provavelmente entre 57 ou 58 d.C., Paulo estava em Corinto, no fim de
sua terceira viagem missionária. Estava a ponto de partir para Jerusalém,
levando a oferta para os crentes pobres daquela cidade. Uma senhora
chamada Febe, de Cencréia, subúrbio de Corinto, estava de viagem marcada
para Roma e Paulo aproveitou para enviar a carta por suas mãos, pois não
existia serviço postal no Império Romano, a não ser para correspondências
oficiais. As cartas particulares dependiam de amigos ou viajantes.
Paulo ainda não havia estado em Roma. Ele finalmente chegou à cidade
três anos após ter escrito a carta. O núcleo da igreja de Roma provavelmente
era constituído pelos judeus romanos que haviam estado em Jerusalém no
Dia de Pentecostes. Nos 28 anos seguintes, muitos cristãos de diferentes
32
partes do Oriente haviam, por diversas razões, migrado para a capital,
incluindo-se alguns convertidos e amigos íntimos de Paulo.
O tema principal da carta, entre outros de grande relevância, é que a
justificação da pessoa ocorre pela fé em Cristo, que pagou o preço por
nossos pecados, e não pela observância da lei. Assim, nada que façamos nos
torna merecedores da salvação.
Esboço da epístola de Romanos:
Prólogo (Rm. 1.1-15);
O tema do evangelho (Rm. 1.16-17);
Pecado e retribuição (Rm. 1.18 – 3.20);
O meio de alcançar a justiça (Rm. 3.21 – 5.21);
O meio para a santidade (Rm. 6.1 – 8.39);
A incredulidade humana e a graça divina (Rm. 9.1 – 11.36);
O modo cristão de viver (Rm. 12.1 – 15.13);
Epílogo (Rm. 15.14 – 16.13).
BIBLIOGRAFIA
- Halley, Henry Hampton, 1874-1965. Manual Bíblico de Halley: Nova
Versão Internacional (NVI); tradução Gordon Chown – São Paulo: Editora
Vida, 2002.
- Mears, Henrietta C., 1890-1963. Estudo Panorâmico da Bíblia;
tradução Walter Kaschel – São Paulo: Editora Vida, 2006.
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LIÇÃO 05 EPÍSTOLAS PASTORAIS
(AS DUAS EPÍSTOLAS A TIMÓTEO E A EPÍSTOLA A TITO)
INTRODUÇÃO
As duas epístolas endereçadas a Timóteo e a epístola endereçada a Tito
foram chamadas de “Pastorais” pela primeira vez no século XVIII, por D.N.
Bardot (1703), e popularizadas por este título em 1726, por Paul Anton.
Embora não sejam cartas de teologia pastoral, o título serve
convenientemente para distinguir as três de outras cartas escritas por Paulo.
Estas epístolas não são manuais de organização eclesiástica, disciplina da
igreja, administração eclesiástica ou métodos eclesiásticos. Paulo estava
dando instruções para situações históricas reais de duas igrejas, que
estavam sob os cuidados de dois ministros que ele conhecia intimamente.
Por esta razão, as epístolas são limitadas quanto ao assunto discutido. Ainda
assim, elas contêm princípios que podem ser usados em igrejas de qualquer
época e lugar. As três têm tanta coisa em comum no que se refere a estilo,
doutrina e alusões históricas, que devem ser tratadas como um grupo, da
mesma maneira como são tratadas as epístolas da prisão.
Em contraste com a Epístola aos Hebreus, que não traz no texto
nenhuma indicação clara do seu autor, estas três epístolas declaram
abertamente terem sido escritas pelo apóstolo Paulo. Há evidência externa,
primitiva e bastante forte em apoio a isso, não havendo evidências
contrárias.
CENÁRIO HISTÓRICO
Depois que Paulo e Timóteo estiveram juntos em Éfeso, Paulo partiu
para a Macedônia (I Tm. 1:3), esperando voltar logo (I Tm. 3:14). Timóteo
havia partido para Éfeso, para cuidar da igreja e refutar os falsos mestres
34
que estavam em atividade por lá. Uma vez que sua volta podia ser retardada,
Paulo escreveu uma carta para ajudar Timóteo em seu ministério (I Tm. 3:14
e 15). De maneira semelhante, Paulo estivera em Creta e, ao partir, deixou
Tito para cuidar da organização da igreja (Tt. 1:5). Paulo estava,
provavelmente, na Macedônia ou em Acaia e queria que Tito se encontrasse
com ele em Nicópolis, onde Paulo planejava passar o inverno (Tt. 3:12). De II
Timóteo fica-se sabendo que Paulo era um prisioneiro (II Tm. 1:8, 16 e 17;
2:9). Ele já havia estado perante o tribunal uma vez (II Tm. 4:11, 16 e 21) e
aguardava por outro comparecimento diante das autoridades. Ele tinha
pouca esperança de ser solto (II Tm. 4:6). Lucas ainda estava com ele (II Tm.
4:11), enquanto Tito havia sido enviado à Dalmácia (II Tm. 4:10) e Tíquico a
Éfeso (II Tm. 4:12); Demais havia abandonado Paulo e retornara a
Tessalônica (II Tm. 4:10).
Estas, então, são as informações colhidas das três cartas. A ordem dos
eventos de I Timóteo e Tito é difícil traçar (a de II Timóteo certamente veio
depois das outras duas). Mas em que fase da vida e do ministério de Paulo
estes eventos podem ser colocados? Esta é a pergunta que levou a
questionamentos quanto à autenticidade destas epístolas.
ÉPOCA E LOCAL
Os movimentos de Paulo e de seus amigos, após a saída do
encarceramento romano de Atos 28, são difíceis de precisar. O melhor é usar
a informação disponível e tentar reconstruir o itinerário mais simples. As
palavras de Clemente de Roma, em 95 d.C, devem ser tomadas seriamente
acerca de Paulo ter trabalhado na Espanha. Isto foi escrito cedo demais, após
a morte de Paulo (dentro de trinta anos), para ter sido informação falsa e a
igreja não contestá-la. Seja quanto tempo for que Paulo tenha trabalhado na
Espanha, crê-se que não se tratou de um trabalho permanente. A exiguidade
da informação dada por Clemente é entendida pelo contexto da carta que ele
escreveu, isto é, ele estava escrevendo acerca das mortes de Paulo e Pedro
em Roma, não acerca de seus ministérios como tais.
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35
O que se sabe das Pastorais pode ser declarado da seguinte forma:
Paulo esteve em Creta, Éfeso, Trôade, Macedônia, Mileto, Corinto e Roma. O
período teria sido de 60/61 d.C. até uma data desconhecida, após o incêndio
de Roma, em 19 de julho de 64 d.C. Se Paulo foi à Espanha e não retornou, a
simples viagem seguinte poderia ser traçada geograficamente para se
conformar ao material contido nas Pastorais. De Roma até a Espanha seria a
primeira etapa. De lá, Paulo teria ido a Creta, onde trabalhou por um período
de tempo indeterminado. Deixando Tito (Tt 1:5), Paulo foi para Éfeso. É
possível que durante este tempo ele tenha feito uma visita às igrejas no vale
do Lico (Fm. 22). Deixando Timóteo em Éfeso (I Tm. 1:3), Paulo foi à
Macedônia (provavelmente a Filipos). Enquanto esteve lá, pode ter escrito I
Timóteo e talvez Tito, embora seja mais provável que tenha escrito ambas
durante o tempo em que esteve em Corinto. Ele então teria ido a Trôade,
deixando uma capa e alguns livros na casa de Carpo (II Tm. 4:13), para ir a
Éfeso e Mileto, onde Trófimo adoeceu e ficou para trás (II Tm. 4:20), e depois
para Corinto. Pensa-se que Paulo pode ter escrito a Tito durante esta época,
pois planejava ir a Nicópolis para o inverno (Tt 3:12), mas não é certo que o
tenha feito. Quando ele deixou Corinto, Erasto ficou para trás (II Tm. 4:20).
Em algum lugar Paulo foi preso, depois que a perseguição aos cristãos,
conduzida por Nero, começou. Nero, para transferir a atenção de sua própria
culpa no incêndio de Roma, culpou os cristãos. A perseguição que
imediatamente teve início foi intensa, e Paulo foi arrastado nela. A prisão
pode ter acontecido em Éfeso, explicando, desta forma, a origem da tradição
acerca das ruínas de uma torre lá chamada "Prisão de Paulo". A prisão
também poderia ter ocorrido em Corinto. Ambas estas cidades eram bem
zelosas em sua lealdade para com o culto ao imperador, cada uma tendo um
templo e sacerdotes para promover a veneração ao soberano. Depois de sua
prisão, Paulo teria apelado para Roma, com base no fato de ser um cidadão
romano, e teria asseverado seu direito de ser ouvido naquela cidade.
Chegando a Roma, Paulo tinha já passado por sua primeira audiência
perante o tribunal (II Tm. 4:11,16,21) e esperava ser condenado na segunda
(II Tm. 4:6). Durante este intervalo, Paulo escreveu II Timóteo. O inverno
36
mencionado em Tt 3:12 possivelmente seria o inverno de II Timóteo 4:21. Se
assim for, é improvável que Paulo tenha ido a Nicópolis, como planejara. Se
não é o mesmo inverno, a razão para ter enviado Tito à Dalmácia (II Tm. 4:10)
estaria esclarecida. Uma tradição antiga afirma que Paulo morreu no ano do
incêndio de Roma. Isto poderia significar, e provavelmente significa, que
ocorreu dentro do espaço de um ano. A tradição também afirma que Paulo
foi decapitado fora de Roma, na Via Óstia, em 29 de junho, o que mais
provavelmente teria ocorrido no ano de 65 d.C.
PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO PAULO A
TIMÓTEO
OCASIÃO E PROPÓSITO
Paulo havia deixado Timóteo em Éfeso (1:3), para cuidar do
crescimento organizacional da igreja e refutar os falsos mestres. De Atos
20:17-28 fica-se sabendo que a igreja tinha já "anciãos", também chamados
"supervisores" ou "bispos". Assim, a instituição da organização não seria algo
novo nem para Timóteo nem para a igreja. I Timóteo 3:13 a 15 indica que
Paulo esperava retornar logo, mas, para o caso de demorar, ele escreveu esta
carta não somente para dar instruções escritas acerca de como se proceder
com a administração da igreja e como refutar os falsos ensinos. Ele também
escreveu para encorajar Timóteo e desafiá-lo a tomar o controle firme em
defesa da sã doutrina.
ESTRUTURA E CONTEÚDO
Esta Primeira Epístola a Timóteo pode facilmente ser dividida em três
partes:
1) A necessidade de promover a sã doutrina (1:3-20);
2) A maneira ordenada para a adoração pública, através da organização
(2:1-3:16); e
3) O exemplo do ministro perante toda a igreja (4:1-6:19).
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
37
Após a saudação (1:1 e 2), Timóteo é encorajado por Paulo a lembrar-se
dos distintivos da sã doutrina e a reconhecer e combater ideias errôneas
(1:3-11), mostrando suas próprias experiências com o evangelho (1:12 a 17) e
a responsabilidade que lhe foi confiada (1:18-20). Paulo então escreve acerca
da importância da adoração pública através da oração (2:1-7), do
comportamento correto durante o culto (2:8-15) e da direção de um líder
qualificado moral e espiritualmente (3:1-13). A seção é concluída com a razão
para Paulo escrever esta carta (3:14 a 16). A vida cristã real deve ser
demonstrada pelo ministro, em face da heresia (4:1-5), através de instruções
corretas à igreja (4:6-16). Os deveres do ministro, ao trabalhar com vários
grupos sociais, são esboçados (5:1-6:2). Várias exortações (6:3-19) são
seguidas de um apelo final pela sã doutrina (6:20 a 21) e de uma bênção (6:21).
SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO PAULO A
TIMÓTEO
OCASIÃO E PROPÓSITO
Na primeira Carta a Timóteo, Paulo expressou um temor de que
pudesse ser retardado ao retornar a Éfeso. Agora, ele é um prisioneiro em
Roma. Ele já havia estado perante o tribunal uma vez, e a maioria de seus
amigos o havia deixado (1:15 a 17; 4; 10, 11 e 16). Paulo previa o pior (4:6 e
18). Nesta hora difícil, ele anseia por ver Timóteo (4:9) e tê-lo consigo (4:11).
Paulo escreve para fazê-lo saber qual é a situação e para pedir-lhe que vá a
Roma. Temeroso de que Timóteo não chegue a Tempo, Paulo se concentra
na tarefa que está deixando para Timóteo executar. Ele também aproveita a
ocasião para advertir contra falsos ensinos. Pode ser que Tíquico leve a carta
a Éfeso (4:12). Esta carta mostra a ansiedade de Paulo, mas também mostra
coragem numa circunstância difícil. É um documento muito comovente, pois
Paulo é visto enfrentando a morte, relembrando seu ministério passado, e
com terna preocupação com seu filho na fé para que seja forte na obra para a
qual Deus o chamou.
38
ESTRUTURA E CONTEÚDO
É mais difícil dividir II Timóteo que I Timóteo. Esta é uma carta
verdadeira, e Paulo não dá um tratamento sistemático a seus pensamentos.
A escrita é num estado de espírito natural de amigo para amigo, e Paulo se
movimenta para frente e para trás, entre as ideias. Após a saudação (1:1 e 2)
e a ação de graças (1:3-5), há um desafio à vida corajosa, como um ministro
chamado por Deus (1:6 e 7), que tem Jesus (1:8-10) e o próprio Paulo como
exemplos de fidelidade (1:11-14). Paulo então dá notícia acerca de alguns
companheiros (1:15 a 18). Segue-se a exortação à paciência no sofrimento
(2:1-13) e pela conduta pessoal (2:14 a 26). Paulo exorta Timóteo a preparar-
se para a crise vindoura (3:1-17) e a ser firme na pregação e no cumprimento
de seu ministério (4:1-5). Paulo calmamente escreve acerca de suas
expectativas (4:6-8) e depois dá a Timóteo algumas instruções pessoais (4:9-
18). A carta conclui com saudações e uma bênção (4:19 a 22).
EPÍSTOLA DO APÓSTOLO PAULO A TITO
OCASIÃO E PROPÓSITO
O propósito imediato da carta é pedir a Tito para encontrar-se com
Paulo em Nicópolis (3:12). Um propósito secundário é encorajar Tito a
cumprir a tarefa que Paulo deixou para ele realizar na ilha de Creta (1:5 e 6).
A carta provavelmente foi levada por Zenas e Apolo (3:13), para quem Tito é
instruído a fazer provisão e ajudá-los a se estabelecerem em seu ministério.
Com estes propósitos básicos, Paulo usa a ocasião para escrever acerca de
questões concernentes à igreja: a escolha de líderes, a identificação de falsos
ensinos e como proceder com eles, e a necessidade de doutrinamento da
igreja com sãos ensinamentos.
ESTRUTURA E CONTEÚDO
Esta carta também se divide facilmente em três partes:
1) A primeira tem a ver com a designação dos líderes da igreja (1:5-16);
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
39
2) A segunda trata de como aconselhar e trabalhar com diversos
grupos sociais (2:1-15); e
3) A terceira é composta de exortações gerais (3:1-11). Após a saudação
(1:1-4), Paulo expressa a razão por que deixara Tito em Creta (1:5 e 6)
e como Tito deveria proceder na escolha de pessoas para a liderança
na igreja (1:7-9).
Tito é advertido acerca dos falsos mestres e da necessidade de refutá-
los (1:10 a 16). A norma para a conduta cristã normal é observada para
diferentes grupos de pessoas (2:1-10) e enfocam-se as obrigações e
privilégios de um cristão na sociedade (2:11 a 15). Exortações acerca de
males especiais na comunidade (3:1-3) são acompanhadas por orientações
sobre como um ministro deve agir para realizar o que é bom (3:4-8). Após
algumas admoestações finais acerca dos falsos ensinos (3:9-11), são dadas
instruções pessoais (3:12 a 14). A carta é encerrada com saudações finais e
uma bênção (3:15).
FONTES DE CONSULTA:
Introdução Estudo Panorâmico da Bíblia, de Henrietta Mears.
Editora Vida Acadêmica.
Introdução ao estudo do Novo Testamento. Hale, Broadus David.
Tradução de
Cláudio Vital de Souza. Rio de Janeiro, Junta de Educação
Religiosa e Publicações, JUERP-RJ 1983.
O Novo Comentário da Bíblia. Editado e organizado pelo Prof. F.
Davidson, MA, DD.
Colaboradores Rev. A. M. Stibbs, MA, DD Rev. E. F. Kevan, MTh.
Editado em português pelo Rev. Dr. Russell P. Shedd, MA, BD, PhD.
Edições Vida Nova-SP.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Antigo e Novo Testamento,
Traduzida em português por João Ferreira de Almeida, com
40
referências e algumas variantes. Edição Revista e Corrigida,
Ed.1995, Edições CPAD-RJ 2002.
http://teologiaemalta.blogspot.com.br/2009/05/resumo-
expositivo-das-epistolas.html.
EPÍSTOLA A FILEMOM
INTRODUÇÃO
A Carta a Filemom foi escrita por Paulo em torno do ano 60 d.C.,
durante sua primeira prisão em Roma, quase na mesma época em que as
cartas aos Efésios e aos Colossenses foram escritas. Ela é a mais breve entre
todas as cartas de Paulo. Consiste de apenas 335 palavras no original
(grego) e possui somente 25 versículos.
É provável que Filemom fosse um membro rico da Igreja de Colossos. O
propósito de Paulo em ter escrito esta carta foi convencê-lo a perdoar
Onésimo, um escravo fugitivo. Cabe ressaltar que a pena para um escravo
fugitivo poderia ser a morte. Paulo evangelizou o escravo Onésimo na prisão
e este veio a se converter. Com a conversão, Onésimo, que antes fora
um inútil, tornou-se útil (Paulo fez um "jogo de palavras", uma vez que Onésimo
significa útil). A intenção de Paulo é que Filemom não receba Onésimo mais
como escravo, mas que o aceite como um irmão na fé.
Costuma-se dizer que a carta a Filemom poderia ser chamada também
de Evangelho de Filemom. Por quê? Há nestes poucos versículos uma
ilustração da obra de Cristo, conforme pode ser visto a seguir:
A) Onésimo Se rebela e foge de Filemom = O pecador se rebela e foge
de Deus;
B) Paulo se encontra com Onésimo = Cristo se encontra com o pecador;
C) Paulo se identifica com ele = Cristo se identifica conosco;
D) Paulo intercede (mediador entre Onésimo e Filemom) por ele =
Jesus intercede (mediador) por nós;
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
41
E) Paulo se dispõe a pagar a dívida de Onésimo = Cristo rasgou o
escrito de dívida, ou seja, “pagou nossos débitos”;
F) Paulo não pede nada em troca = Cristo não pede nada em troca;
G) Onésimo não tem nada a oferecer = O pecador não tem nada a
oferecer;
H) Onésimo é reconciliado com Filemom = O pecador é reconciliado
com Deus;
I) Onésimo tem acesso a Filemom = O escolhido de Deus tem, agora,
acesso ao Pai;
J) Onésimo agora é um irmão = Não somos mais escravos do pecado,
mas pertencemos à mesma família;
K) Onésimo era inútil, mas torna-se inútil = Éramos velhas criaturas,
mas agora somos novas criaturas;
Todas estas figuras lançam luz sobre nossa grande salvação em Cristo.
Embora esta não seja uma carta doutrinária como as demais do apóstolo, é
uma perfeita ilustração da doutrina daquilo que Cristo fez para conosco.
Lutero disse que todos nós somos Onésimos. Jesus se identificou de tal
forma conosco que o Pai nos recebe como ao próprio Filho e nos veste com
sua justiça (2 Co 5.21).
Do texto, podemos extrair algumas lições importantes:
1ª LIÇÃO – APRENDEMOS ACERCA DA PROVIDÊNCIA DE DEUS
A carta do Apóstolo a Filemom demonstra os caminhos sábios e
amorosos de Deus para cumprir seus propósitos.
A Providência de Deus diz respeito ao governo, ao controle, à direção
sábia e amorosa do senhor ao dirigir e governar a vida de seus escolhidos,
conduzindo-os sempre ao fim melhor.
O que Deus é capaz de fazer para salvar um perdido? Alguém pode
calcular? O Apóstolo Paulo fala em Rm 11:33: “Ó profundidade das riquezas
tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus, quão insondáveis são os teus
42
juízos e quão inescrutáveis os teus caminhos...” Os caminhos de Deus na vida de
Onésimo e o amor de Deus para com ele eram maiores do que qualquer
rebeldia, orgulho ou presunção.
A bíblia relata que Onésimo tornou-se um escravo fugitivo. Viajou para
Roma (capital) e acabou sendo capturado e preso. Passa de cela em cela, de
prisão em prisão. Até que numa cela está exatamente o apóstolo Paulo. O
que é isto? Coincidência? Se Filemom o encontrasse antes sofreria grave
castigo, ou mesmo seria condenado à morte. A verdade é que não era
Onésimo que estava fugindo; era Deus que o estava conduzindo (por Sua
providência – sem que Onésimo soubesse) aos Seus propósitos.
A providência de Deus estava na vida de Onésimo. Em sua infinita
sabedoria para conduzir todas as coisas, não permite que Filemom, no
momento da sua ira, localize Onésimo em Roma, e também o protege da
morte em Roma. O Espírito Santo então conduz Onésimo a uma prisão de
Roma para que ele conheça um velho homem chamado Paulo. Isto se chama
providência de Deus, que revela a atuação do Espírito Santo no mundo a
favor de seus escolhidos!
A carta a Filemom nos ensina que Deus pode estar presente nas
circunstâncias mais adversas (v. 15). Quando as coisas parecem fora de
controle e as rédeas saem das nossas mãos, descobrimos que elas continuam
sob o controle soberano de Deus. Aquilo que nos parecia perda é ganho.
Deus reverte situações humanamente impossíveis.
2ª LIÇÃO – APRENDEMOS ACERCA DO PODER DE DEUS
A carta a Filemom nos ensina que Deus transforma desertos secos em
mananciais cheios de vida. Esta carta tem um profundo valor prático – Se
não há causa perdida para Deus, também, não há vida irrecuperável.
Onésimo era um escravo rebelde e fugitivo. Nada havia nele que o
pudesse recomendar. É provável que houvesse rebeldia e muito ódio no seu
coração.
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
43
Naqueles dias, a escravidão era algo muito forte no Império Romano.
Os escravos não tinham direitos legais. Pela mínima ofensa eles podiam ser
açoitados, mutilados e até mesmo crucificados. Conta-se a história de uma
escrava que teria se envolvido amorosamente com seu patrão. Ao saber do
caso, a patroa teria mandado vazar os dois olhos da escrava com ferro em
brasa. Não eram somente os negros que eram escravizados, como foi no caso
do Brasil, por exemplo. A pessoa poderia vir a tornar-se escrava por diversas
razões: poderia nascer na condição de filho de escravos e assim passaria a
pertencer ao seu senhor; poderia ser devido à pobreza; poderia ter se
tornado escravo por conta de uma dívida (quando familiares eram vendidos
para arrecadar dinheiro); poderia ser devido à prática do roubo (o que levava
o transgressor à prisão e poderia culminar com sua escravidão).
Não sabemos com certeza o que levou Onésimo a ocupar a condição de
escravo, mas sabemos que ele fugiu revoltado, teve um encontro com Cristo
e experimentou a transformação de sua vida. Ele se tornou uma nova
criatura e as coisas velhas ficaram para trás. Esta mudança é claramente
vista na afirmação de Paulo a Filemom: Ele antes te foi inútil, atualmente,
porém, é útil, a ti e a mim (v.11). Paulo faz um trocadilho proposital, pois o
nome Onésimo significa "útil".
Antes desta transformação, Onésimo demonstrou ser um escravo
rebelde e que provavelmente teria roubado a Filemom por ocasião de sua
fuga. Cremos nisso, pois Paulo menciona um possível prejuízo, o que nos
leva a conjecturar que este homem deve ter lançado mão do que não lhe
pertencia para conseguir custear suas despesas para chegar até Roma (onde
Paulo estava preso).
A bíblia nos assevera que se alguém está em Cristo, nova criatura é: as
coisas antigas passaram e tudo se fez novo. Fomos desarraigados deste
mundo perverso. Somos transportados do império das trevas para o reino
do Filho do seu amor. E não existe vida irrecuperável.
3ª LIÇÃO – APRENDEMOS SOBRE A NECESSIDADE DE
ACERTAR AS NOSSAS PENDÊNCIAS
44
A ocupação de Filemom era ser Senhor de escravos. Um de seus
escravos era um homem chamado Onésimo. A julgar pelas palavras de Paulo,
parece que Filemom não era um mau patrão. Aliás, muito provavelmente, ele
era um bom patrão. Paulo diz o seguinte sobre ele (4,5): “Dou graças ao meu
Deus, lembrando-me, sempre, de ti nas minhas orações, estando ciente do teu amor
e da fé que tens para com o Senhor Jesus e todos os santos”. Depois que Paulo
pediu para Filemom receber Onésimo como irmão e não mais escravo ele
demonstrou confiança (21): “Certo, como estou, da tua obediência, eu te escrevo,
sabendo que farás mais do que estou pedindo.”. E veja que ainda foi além; pediu
pousada para a viagem (22): “E, ao mesmo tempo, prepara-me também pousada,
pois espero que, por vossas orações, vos serei restituído.”.
Paulo nos faz lembrar o relato dos crentes da igreja da Galácia: “Pois vos
dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os próprios olhos para
mos dar”. (Gl 4:15).
Mas Onésimo não se contentava com a vida de servo; ele se rebelou
contra seu Senhor Filemom e fugiu para a cidade que representa o mundo:
Roma. A cidade de Roma tinha tudo para fascinar e atrair qualquer ser
humano da época, assim como o mundo de hoje.
Diz o texto encontrado nos versículos versículo 18 e 19a: “E, se algum
dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta. Eu, Paulo, de
próprio punho, o escrevo: Eu pagarei...” Onésimo provavelmente havia
conversado muito com Paulo sobre essa situação e estava disposto a voltar a
Filemom. Paulo entendeu muito bem a situação ocorrida entre Filemom e
Onésimo. Mais que isso, sabia que havia grandes chances de Filemom ter
ficado com algum prejuízo (tanto material, quanto emocional).
Onésimo era um escravo que havia fugido da casa de seu senhor. Nas
suas andanças pelo mundo, encontrou Paulo e recebeu a palavra com alegria
em seu coração, transformando-se num irmão fiel em Cristo. Quando ele
conheceu o Senhor Jesus, tudo começou a ser colocado em ordem na sua
vida e o próximo passo era a reconciliação.
Mesmo reconhecendo que Onésimo havia sido transformado e
perdoado por Deus, Paulo não deixa de reconhecer que ele ainda tinha
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
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pendências a serem corrigidas. Isso quer dizer que nossa transformação não
remove de nós a responsabilidade de consertar algumas coisas que fizemos
de errado em nosso passado. Não podemos agir certo só da conversão em
diante. Precisamos resolver também pendências que tenham ficado para
trás.
Da mesma forma que Paulo pede restauração em favor de Onésimo,
poderia também pedir o perdão da dívida. Mas ele não faz isto, pois sabia
que este era um princípio que deveria ser praticado e não ignorado.
4ª LIÇÃO – APRENDEMOS SOBRE A EXCELÊNCIA DO
EVANGELHO
Onésimo era inútil antes de se converter, mas, agora, transformado,
seria não um “escravo de grande valor" para Filemom. Não é isso que Paulo
pede. É mais do que isso.
Paulo pede que Filemom receba Onésimo como a um irmão. O verbo
“receber” no versículo 17 é "receber dentro do círculo familiar". Imagine um
escravo entrando para o círculo familiar do seu senhor... Imagine-o
assentando à mesa, nas reuniões sociais.
As culturas romana, grega e judaica eram recheadas de barreiras, nas
quais a sociedade determinava classes às pessoas e esperava que estas
ficassem em seus lugares – homens e mulheres, escravos e livres, ricos e
pobres, judeus e gentios, gregos e bárbaros, religiosos e pagãos. Mas a
mensagem de Cristo veio para desfazer as barreiras, e Paulo pôde então
declarar: "Onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro,
cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos" (Cl 3.11).
A vida tem muitas paredes e cercas que dividem, separam e criam
compartimentos. Não são barreiras feitas de madeira ou pedra, mas são
obstruções pessoais que bloqueiam as pessoas umas em relação às outras, e
em relação a Deus. A pessoa simplesmente diz: “eu não gostei de você, não fui
com a sua cara, é questão de pele, meu santo não bate com o seu, e assim por
diante”.
46
Cristo veio como o "grande destruidor de barreiras", derrubando a
divisória de pecado que nos separava de Deus e desfazendo as barreiras que
nos afastavam uns dos outros. Sua morte e ressurreição serviram de
caminho para a vida eterna, a fim de conduzir todo aquele que crê para a
família de Deus.
Que escravidão é esta? Paulo não discute a teoria da escravidão, mas
acaba com ela em termos práticos. Escravo não é irmão, mas Filemom e
Onésimo são irmãos. A conversão a Cristo uniu na mesma família da fé e na
mesma igreja senhores e servos. Senhor e escravo foram unidos no Espírito
Santo e nessa união foram extintas todas as distinções sociais (Gl 3.28). As
barreiras do passado e as novas barreiras que foram erguidas pela cultura,
pelos preconceitos próprios, deserção e pelo roubo de Onésimo não
deveriam mais dividi-los, pois eles agora fazem parte do corpo de Cristo.
Embora a escravidão fosse difundida no Império Romano, ninguém
está perdido de Deus ou fora do alcance do seu amor. A escravidão era uma
barreira entre as pessoas, mas o amor e a comunhão cristã sempre
superaram tais barreiras, em qualquer tempo. Em Cristo somos uma só
família. Nenhuma diferença étnica, econômica ou política deve nos separar.
Deixemos Cristo agir por nosso intermédio para remover barreiras entre
irmãos e irmãs cristãos.
Que barreiras existem em sua casa, seu bairro ou sua igreja? O que
separa você de seus companheiros crentes? Etnia? Posição social? Riqueza?
Educação? Personalidade? Como fez com Filemom, Deus lhe chama para
buscar a unidade, derrubando estas paredes e abraçando seus irmãos e
irmãs em Cristo.
CONCLUSÃO
A história de Filemom e Onésimo pode ser recebida como uma
metáfora. Ela extrapola o primeiro século e chega aos nossos dias. Funciona
como resumo do Evangelho, que fala desta graça que vem a nós por meio do
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
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amor que ministramos uns aos outros depois de tê-lo recebido de Deus.
Evangelho é graça que vem do amor. Evangelho é perdão pleno, exercício da
graça e busca de reconciliação.
A história de Onésimo é uma metáfora de cada um de nós. Todos somos
Onésimos! Até que aceitemos Jesus como nosso Senhor, vivemos como
Onésimo, fugitivos de nosso verdadeiro Senhor, que morreu em nosso lugar
para que fiquemos longe da culpa pela fuga.
O que Onésimo teve que fazer para evitar o castigo? Apenas uma coisa:
retornar. E, de fato, ele retornou ao seu senhor Filemom. Há lições práticas
que podemos extrair deste episódio:
1) Se você é alguém que está numa condição semelhante à de Onésimo,
busque acerto o quanto antes. Onésimo fez o que devemos fazer: voltar.
Assim como ele voltou para Filemom, devemos voltar para Deus. Ele nos
espera para tornar pessoal Sua graça universal. Podemos viver como
escravos fugitivos de Deus ou como pessoas restauradas, adotadas na
família de Deus. Esta é a graça que recebemos.
2) Se você é alguém que, como Filemom, foi ofendido e lesado, precisa
liberar perdão. Quem se dispõe a ministrar a graça precisa saber que pode
vir a receber incompreensões ou mesmo tentativas de exploração. Marcados
por alguma decepção, talvez alguns cristãos se esqueçam de ministrar a
graça. Quando ministramos a graça, não devemos visar qualquer
benefício. Não ministramos graça nem mesmo para receber mais graça.
Ministramos graça porque a recebemos antes. Paulo não quis impor a
Filemom o encargo de ministrar graça, mas esperava isto dele. Deus não nos
impõe semelhante obrigação, mas espera que ministremos graça, como seus
parceiros.
FONTES DE CONSULTA:
Estudo Panorâmico da Bíblia, de Henrietta Mears. Editora Vida
Acadêmica.
48
Bíblia de Estudo Pentecostal. Antigo e Novo Testamento,
Traduzida em português por João Ferreira de Almeida, com
referências e algumas variantes. Edição Revista e Corrigida,
Ed.1995, Edições CPAD-RJ 2002.
http://blogdopastorvaldemir.blogspot.com.br/2010/11/as-05-
licoes-da-carta-filemom.html
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LIÇÃO 06 VISÃO PANORÂMICA DAS EPÍSTOLAS AOS HEBREUS E GERAIS
HEBREUS
O AUTOR
A epístola aos Hebreus é anônima. Como o texto não traz nenhum
nome, diversos servos de Deus do Novo Testamento têm sido apontados
como prováveis autores. Entre eles Barnabé, profeta e mestre, companheiro
de Paulo (Atos 13:1 e 2), e Apolo, homem eloquente e versado nas
Escrituras (Atos 18:24).
Entretanto a grande maioria dos comentadores atribui os 13 capítulos
do livro ao apóstolo Paulo. O estilo e a mensagem são parecidos com os das
epístolas paulinas. As 165 citações do Velho Testamento contidas na epístola
são características de um homem que conhecia os textos sagrados. Esse era
o caso de Paulo, que fora instruído aos pés de Gamaliel, sábio judeu (Atos
22:3), antes de ser alcançado pela graça de Deus.
Além disso, as últimas saudações da epístola parecem referir-se à
situação do apóstolo quando prisioneiro em Roma (Hebreus 13:23, 24). No
ano 419 d.C., o concílio de Cartago, reunido para a ratificação do Cânon
sagrado, decidiu que eram 14 as epístolas de Paulo, incluída a epístola aos
Hebreus.
OS DESTINATÁRIOS
Depois das cartas dirigidas a diversas Igrejas espalhadas ao redor da
bacia mediterrânea, era normal que uma mensagem inspirada fosse enviada
aos numerosos judeus convertidos que viviam em Jerusalém e na terra
santa.
50
A ÉPOCA
A oposição do judaísmo ao Evangelho, já virulenta quando Jesus Cristo
vivia na terra, foi reavivada com a pregação do Pentecostes. Os apóstolos
foram lançados na prisão, Estevão apedrejado e os discípulos dispersos.
Todos os que se convertiam eram provados em sua fé de tal maneira que
muitos vacilaram, ligando-se à maioria de seus compatriotas e praticando as
ordenanças da lei pretendendo seguir a Cristo.
Dessa postura equivocada surgiram graves problemas, os quais
motivaram a convocação do concilio de Jerusalém (Atos 15). As diversas
visitas do apóstolo Paulo a Jerusalém permitiram-lhe calcular toda a
amplitude da luta espiritual que se travava em torno dos hebreus
convertidos.
A epístola foi redigida para vir em seu auxílio. Foi sem dúvida escrita
bem antes do ano 68, data da invasão romana na Palestina. O sacerdócio
judaico ainda estava presente no templo de Jerusalém (confira Hebreus
10:11) quando o Espírito Santo inspirou o autor da epístola a apresentar
outro Sacerdote, infinitamente superior a Arão.
O TEMA DA EPÍSTOLA
O escritor sagrado exorta seus compatriotas, que algumas vezes
retrocediam na fé (2:1; 3:1; 4:1); adverte os incrédulos e os apóstatas (3:12,
13; 6:4-8; 10:26-31); e encoraja os fiéis (12:4-11; 13:13-19).
A todos mostra a superioridade do sacrifício de Jesus Cristo. O termo
chave desta epístola é a palavra grega "Kreiton", traduzida por "melhor,
superior, mais excelente" (1:4; 6:9; 7:7; 8:6; 9:23; 10:34; 11:16, 35, 40; 12:24).
A MENSAGEM
Jesus Cristo é superior aos anjos (cap. 1), aos homens (cap. 2), a Moisés
(cap. 3), a Arão (cap. 4-5), sendo semelhante a Melquisedeque (cap. 6-7). Ele
pode propor uma nova aliança, superior à antiga (cap. 8), porque se ofereceu
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
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como sacrifício, infinitamente superior às vítimas degoladas no tabernáculo
(cap. 9-10).
Além disso, Ele é o Autor da fé que animava os heróis do Velho
Testamento (cap. 11) e que enche ainda o coração dos vencedores da hora
presente (10:32 -39; 12:1-3). Finalmente, Ele assegura santificação aos
crentes (12:4-7), perfeita redenção (12:18-29) e plenitude de vida espiritual
na marcha cristã (cap. 13).
CRISTO NA EPÍSTOLA AOS HEBREUS
Ocupa o centro das atenções e é apresentado como:
Filho: Herdeiro de todas as coisas (1:2); expressão da imagem divina
(1:3); superior em relação aos anjos (1:4-14); coroado de glória e honra
(2:9); autor da salvação (2:10); semelhante a Seus irmãos (2:17, 18); fiel
sobre Sua casa (3:6); obediente (5:7, 8); perfeito para sempre (7:28).
Sumo Sacerdote: Fiel ao serviço de Deus (2:17); ocupante do trono da
graça (4:14-16); capaz de salvar perfeitamente (7:25); oferta perfeita (10:5-
10).
Como Salvador (Jesus): Autor e consumador da fé (12:2); mediador
de uma nova aliança (12:24); o mesmo, ontem hoje e para sempre (13:8); o
grande Pastor das ovelhas (13-20).
TIAGO
AUTOR
O autor da carta simplesmente se identifica como "Tiago". Sabe-se que
no Novo Testamento há pelo menos três pessoas com esse nome: Tiago, filho
de Zebedeu; Tiago, filho de Alfeu; e Tiago, irmão de nosso Senhor Jesus
Cristo.
Embora as escrituras não sejam precisas sobre esta questão, a maioria
dos eruditos concorda em identificar o autor desta epístola como Tiago,
irmão de Jesus. Vejamos as razões de tal escolha: Tiago, filho de Zebedeu, foi
morto por Herodes (Atos 12:2); e Tiago, filho de Alfeu, só vem mencionado
52
na lista dos apóstolos. Resta Tiago, o irmão do Senhor, homem que ocupava
uma posição de grande autoridade na igreja em Jerusalém, presidindo à
assembleia e pronunciando palavras de autoridade. O tom da epístola condiz
bem com a posição de primazia atribuída a ele (Atos 15: 6 - 29; 21: 18).
Ficamos, então, com Tiago, o irmão do Senhor, como o mais provável autor
deste texto.
Antagonista do Senhor durante seu ministério terreno (João 7:5),
Tiago veio a se converter após a ressurreição de Cristo (I Cor. 15:7) em um
encontro especial depois da ressurreição.
Tornou-se Bispo da igreja em Jerusalém (Atos 15:13) e foi reconhecido
como superior até mesmo pelos apóstolos (Atos 12:17). Tinha grande
preocupação com os Judeus (Tiago 1:1) e dava apoio à evangelização dos
gentios (Atos 15:19).
Até mesmo o Apóstolo Paulo aconselhava-se com Tiago (Atos 21:18).
DATA
Sendo Tiago, o irmão do Senhor, quem escreveu a carta, conforme os
argumentos apresentados, ela deve ser datada em algum tempo antes de 62
d.C., ano em que Tiago foi martirizado.
ANÁLISE
a – Saudação: Notemos sua humildade não fazendo referência a sua
relação com Jesus. Quando se refere a Jesus, o faz com reverência (Família).
b - Fé e provações (Tiago 1: 2 – 21): Tentação, no grego (pairasmos),
significa “provação com um propósito” e efeito benéfico, divinamente
permitida ou enviada (para aperfeiçoar o cristão). Devemos ter em conta
que as tentações (provações) são oportunidades para que nossa fé seja
colocada à prova (versos de 2 a 4). Tentações com efeito maléfico não vêm
de Deus (versos de 13 a 18).
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
53
c - Fé e obras (Tiago 1: 22 – 26): Este tema é ponto principal desta
epístola e contém declarações que têm dado lugar a infindáveis debates na
igreja. Comparem-se os versículos:
Tiago 2: 24 Vede então que o homem é justificado pelas obras, e não
somente pelas...
Romanos 3: 28 Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem
as obras da lei.
Para interpretarmos corretamente estes dois versos, devemos
observar o propósito de cada autor.
d - A fé e as palavras (Tiago 3: 1 – 12): Tiago já demonstrou sua
preocupação com os pecados da língua. Em 1: 19, ele encorajou seus leitores
a serem tardios para falar. Aqui, ele assevera que nossas palavras
evidenciarão quem somos. Vejamos os efeitos nocivos de uma língua sem
controle:
Lucas 6:45 - O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e
o homem mau, do seu mau tesouro tira o mal; pois do que há em
abundância no coração, disso fala a boca.
Filipenses 2:14 - Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas;
Apocalipse 22:15 - Ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os adúlteros, os
homicidas, os idólatras, e todo o que ama e pratica a mentira.
Mateus 12:36 - Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens
disserem, hão de dar conta no dia do juízo.
e - Fé e a sabedoria (Tiago 3: 13 – 18): Há uma distinção entre
conhecimento e sabedoria. O sábio é aquele que tem fé, é submisso a Deus e
ensinado por Ele. É possível alguém conhecer muita coisa e ter pouca
sabedoria. A sabedoria verdadeira vem do alto (verso 15)
f - Fé e oração (Tiago 4: 1 - 17; 5: 7 – 20): Este parágrafo final da
epístola contém uma de suas notas características. Desde o princípio, Tiago
vem insistindo na necessidade de orar e no valor da oração. Tiago cultivava
54
o hábito de orar. Por conseguinte, seu conselho aos que sofrem é que orem,
pois daí auxílio e conforto vêm.
A falta de oração 4:2 - ... Nada tendes porque não pedis...
Orações não respondidas 4:3 - ...Pedis, e não recebeis, porque pedis
mal...
I PEDRO
AUTOR
Aparentemente, a questão da autoria de I Pedro é simples. Logo no
início da carta, lemos o seguinte: Pedro, apóstolo de Jesus Cristo... Conforme o
costume da época, começava-se uma carta dizendo-se o nome e a quem se
estava escrevendo. I Pedro, então, apresenta-se como tendo sido escrita pelo
conhecido apóstolo Pedro.
ALGUNS ARGUMENTOS CONTRA A AUTORIA PETRINA:
1. O texto de I Pedro foi escrita num grego bastante culto, revelando
por parte de quem a escreveu um bom domínio dessa língua. Sendo Pedro
um pescador da Galiléia, como poderia ele conhecer tão bem o grego?
Ademais, em Atos 4:13, ele, junto com João, é chamado de "homem iletrado e
inculto". Poderia esse Pedro ser o mesmo que aqui está escrevendo uma
carta em bom e fluente grego, mostrando aqui e ali detalhes retóricos que
indicam alguém bastante capaz no uso dessa língua?
2. A epístola estaria pressupondo a "teologia paulina". Ou seja, parece
mais que o autor é um discípulo de Paulo do que o apóstolo Pedro, homem
de tradição independente, que não precisaria estar modelando o seu ensino
pelo de Paulo (Gálatas 2, por exemplo, nos fala de certas diferenças de
pontos de vista entre os dois).
DATA
Provavelmente esta carta tenha sido escrita por volta de 62 a 64 dC.
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
55
ANÁLISE
a - Grande salvação (I Pedro 1: 3 – 13): A salvação não se resume
apenas a uma bênção presente, por meio da qual recebemos perdão,
justificação, santificação e outros dons divinos. Atingirá sua plenitude
somente quando formos apresentados sem defeito diante do Trono e feitos
semelhantes a Cristo. Tal salvação, em seu sentido mais amplo, está
preparada agora e aguarda sua manifestação no último tempo.
b - Convite à santidade (I Pedro 1: 4; 2: 10): O convite para a
santidade é necessariamente um convite para a obediência. Pedro emprega
muito nesta epístola a palavra obediência. O primeiro dever do homem
sempre foi obedecer a Deus, guardando-lhe os mandamentos e fazendo-lhe a
vontade. Cristo em seus ensinos deu ênfase a isto constantemente. Esta
exortação vem reforçada por uma citação em Levítico 11:44, livro cuja
palavra chave é santidade. O sentido fundamental da palavra “santo” é
separado, retirado do uso ordinário e posto à parte para uso sagrado.
c - Deveres cristãos: Havendo tratado dos privilégios especiais que
lhes pertenciam como novos cristãos, o apóstolo passa a esboçar alguns
princípios que devem governar a vida deles como membros da comunidade
de que agora fazem parte, quais sejam: submissão às autoridades (I Pedro
2:11-25); boa conduta no lar (I Pedro 3:1-7); amor fraternal (I Pedro 3:8-
22); e ofício pastoral (I Pedro 5:1-9).
II PEDRO
AUTOR
A epístola declara, explicitamente, ser da lavra de Simão Pedro (1:1). O
autor apresenta-se como tendo presenciado a transfiguração de Cristo
(1:16-18) e sido avisado por Cristo de sua morte próxima (1: 14). Significa
que a epístola é um escrito autêntico de Pedro, ou de alguém que se declara
ser Pedro.
DATA
56
Se I Pedro foi escrita durante as perseguições desencadeadas por Nero,
e se Pedro foi martirizado nela, então esta epístola deve ter sido escrita
pouco antes de sua morte, provavelmente por volta de 67 dC.
ANÁLISE
1. O Progresso dos cristãos (1:3-21): Deus é a fonte de todo
crescimento espiritual. Ele tem feito tudo quanto é necessário implantando a
natureza divina, mas o cultivo da nova vida, assim recebida, deve ser
providenciado por quem a recebeu, na dependência do Espírito Santo. Cada
qualidade é considerada uma espécie de camada que nutre a qualidade
seguinte. A existência abundante destas coisas leva o crente a frutificar em
Cristo; sua ausência, porém, leva à cegueira espiritual (II Pedro 1:8-9).
2. Os falsos mestres 2:1-22: Em volta deste capítulo tem-se travado a
controvérsia denominada de Pedro-Judas. A semelhança entre os dois
documentos é muitíssimo impressionante, especialmente se compararmos II
Pe 2:2,4,6,11,17 com Jd 4-18. O capítulo começa recordando que na história
de Israel muitos falsos mestres surgiram. Nosso Senhor também advertiu
contra falsos mestres. Pedro confirma agora tais advertências. Da parte final
do capítulo colhe-se que esse falsos mestres já haviam aparecido e estavam
agindo na Igreja.
3. A esperança dos cristãos: O capítulo final da epístola começa
referindo o propósito que o apóstolo teve em escrever, a saber: despertar as
mentes esclarecidas e recordar-lhes o ensino dos profetas e dos apóstolos,
especialmente os avisos de que nos últimos dias se levantariam homens que
ridicularizariam a ideia da segunda vinda do Senhor.
I JOÃO
AUTOR
Esta epístola foi escrita pelo velho apóstolo João, mais ou menos no ano
90 dC, provavelmente em Éfeso. Não foi endereçada a qualquer igreja em
particular nem a um único indivíduo, mas a todos os cristãos. As epístolas
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
57
que trazem o nome de João são anônimas. A primeira não tem dedicatória
nem assinatura. Há, porém, afinidade tão íntima entre elas e o quarto
evangelho, no tocante ao estilo e à matéria versada, que a maioria dos
eruditos concorda que os quatro escritos tiveram um só autor. Era pescador,
irmão de Tiago e filho de Zebedeu (Mt 4:21). Ficou conhecido como o
apóstolo do amor e como um dos discípulos mais íntimos de Jesus.
DATA
Provavelmente por volta do ano 90 dC.
ANÁLISE
a - As condições para comunhão com deus (I João 1: 1 - 10; 2: 17): A
mensagem desta epístola foi proclamada a fim de que os irmãos possam
gozar de comunhão entre si e com Deus.
DOIS OBSTÁCULOS À COMUNHÃO:
1. Alegação de estarmos em comunhão com Ele, enquanto andamos em
trevas (I Jo 1:6-7).
2. Sustentar que não temos pecado nenhum (I Jo 1:8).
b - O cristão e o anticristo (I João 2: 18 – 29): O termo “anticristo”
significa um rival, um que é contra o nome e as prerrogativas de Cristo.
Conforme o verso 19, observamos que essas pessoas pertenciam à igreja, o
que nos adverte para o fato de que se quisermos ser membros do corpo de
Cristo, é necessário que sejamos membros da igreja invisível.
c - Os Filhos de Deus (I João 3: 1 – 24): Filhos de Deus são aqueles que
demonstram qualidades de caráter iguais às d’Ele.
II E III JOÃO
AUTOR
A segunda e a terceira epístolas de João não trazem o nome do seu
autor, que se apresenta simplesmente debaixo da qualificação de presbítero
58
e dá a entender que seus destinatários sabem quem ele é. No estilo e na
matéria de que os textos tratam, muito se assemelham à primeira epístola.
Por isso os eruditos, em sua maioria, estão convencidos de que todas as três
tiveram um mesmo autor.
ANÁLISE (II JOÃO)
"O Presbítero": O título descrevia não simplesmente a idade, mas a
posição de ofício. É evidente que ele era conhecido desse modo. Ele não
tinha dúvida de que os destinatários o identificariam imediatamente por
esse título, que dá testemunho da sua autoridade reconhecida.
"A Senhora Eleita": Não há meio de saber se a palavra Cyria, traduzida
por senhora, se refere a uma pessoa, ou à igreja. Se era uma pessoa, então se
tratava de alguém muito conhecida, que residia próximo à cidade de Éfeso e
em cuja casa a igreja se reunia.
"A Verdade": A palavra aparece cinco vezes nesta epístola, com três
sentidos diferentes, a saber: como base do ensino cristão; como o próprio
Cristo; e como advérbio (equivalente a “sinceramente”).
ANÁLISE (III JOÃO)
É uma carta pessoal do Presbítero a seu amigo Gaio, a quem saúda
calorosamente e com quem se congratula por sua bem conhecida
hospitalidade. Muitos dos cristãos dedicavam suas vidas na evangelização
itinerante, sem salário ou recompensa, e dependiam da hospitalidade dos
cristãos.
Três são os personagens mencionados nesta epístola:
1. Gaio: Havia um Gaio em Corinto (I Cor. 1: 14), que, depois de
batizado por Paulo, tornou-se hospedeiro do apóstolo e de toda a igreja. Era
homem de bom testemunho (verso 3); bondoso e cheio de caridade (verso
6); hospitaleiro (verso 10); provável filho na fé de João (verso 4).
2. Diótrefes: Diótrefes era, provavelmente, um dos falsos mestres
arrogantes referidos em I João. No caráter e na conduta ele era inteiramente
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
59
diferente de Gaio. Diótrefes é visto como alguém que se ama a si próprio
mais que os outros e que se recusa a acolher os evangelistas em viagem.
Queria ser o principal (verso 9); não era hospitaleiro (verso 9); dava mau
testemunho (verso 10); proferia palavras maliciosas (verso 10).
3. Demétrio: Nada sabemos ao certo sobre este Demétrio, exceto o que
nos é dito neste único versículo. Tem-se feito a conjectura de que João o
recomendou desse modo porque foi ele o mensageiro da epístola. Era
homem de bom testemunho (verso 12).
JUDAS
AUTOR
A rigor, não pode haver dúvida quanto a sua autoria se atentarmos
para a expressão de Judas quando se diz "irmão de Tiago" (verso 1). Havia
um só Tiago eminente e bem conhecido, a saber, o irmão do Senhor. Fora
isso, nada se sabe a seu respeito.
DATA
Deve ter sido escrita, provavelmente, em torno do ano 70 dC, visto que
faz referência à profecia de II Pedro que, por sua vez, não foi escrita antes do
ano 66 dC.
ANÁLISE
1. Guardados por Deus para o Senhor Jesus (versos 1 e 2): Foi
escrito aos que são chamados, amados, conservados em Cristo e
conservados por Cristo.
2. Guardados para o juízo (versos de 5 a 7): Como solene aviso,
exorta-se para a guarda dos mandamentos.
3. Guardados no Amor de Deus (versos de 20 a 23): Esperando a
misericórdia de Deus para a vida eterna
4. Guardados de tropeçar (versos 24 e 25): Ele nos livra de tropeçar,
pois o tropeço precede a queda.
60
FONTES DE CONSULTA:
Manual Bíblico, de H. H. Halley. Editora Vida Nova.
Pequena Enciclopédia Bíblica, de Orlando Boyer. da Editora IBAD.
Novo Comentário da Bíblia, de F. Davidson. Editora Vida Nova.
Estudo Panorâmico da Bíblia, de Henrietta Mears. Editora Vida
Acadêmica.
Introdução ao Novo Testamento, de Broadus David Hale. Editora
Hagnos.
Panorama do Novo Testamento, de Robert H. Gundry. Editora Mundo
Cristão.
Atlas da Bíblia e da História do Cristianismo, da Editora Vida Nova.
Introdução ao Novo Testamento, de D.A.Carson, Douglas J. Moo e Leon
Morris. Editora Vida Nova.
A Fé na Era do Ceticismo, de Timothy Keller. Editora Campus.
A Veracidade da Fé Cristã, de William Craig. Editora Vida Nova.
Internet: http://www.orbita.starmedia.com/~omensageiro1
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
61
LIÇÃO 07 APOCALIPSE
ENREDO DO LIVRO
O conteúdo de Apocalipse parece indicar que a maior parte dos
acontecimentos ainda está por vir. Ele é a revelação de Jesus Cristo, não a de
João. Não é a revelação do crescimento da igreja e da gradual conversão do
mundo, mas a revelação de Jesus Cristo, que por ele foi dada a João (1.1,2). O
livro trata da volta do Senhor à terra. Descreve o preparo ou a falta de
preparo da igreja para esse grande acontecimento (3.20).
Cristo é o tema deste livro maravilhoso que apresenta um retrato
autêntico do Senhor em seu triunfo. Nada menos do que 26 vezes achamos
nele o título sacrificial de Cristo – o Cordeiro (5.6). Além disso, temos uma
visão do futuro da igreja e do mundo, em relação a Cristo.
JESUS É O JUIZ
Cristo é apresentado como o juiz. A visão de João não foi da época em
que vivemos, mas de dias futuros quando os homens terão que comparecer
perante Cristo para serem julgados (Jo 5.27-29). Agora, podemos receber
toda a graça, misericórdia e perdão de Deus se o recebermos e crermos nele.
Agora, Cristo está diante de nós para ser julgado. Podemos rejeitá-lo se
quisermos. Em Apocalipse, João descreve Cristo julgando. O dia da graça terá
passado quando comparecermos perante o juiz.
AS IGREJAS DO APOCALIPSE
Nos capítulos 2 e 3, encontramos as cartas de amor de Cristo às suas
igrejas. São cartas de padrão uniforme. Cristo ditou-as aos ministros (anjos)
das sete igrejas as quais endereçou tais cartas (Éfeso, Esmirna, Pérgamo,
Tiatira, Sardes e Filadélfia). Estas igrejas realmente existiram nos dias de João
e as cartas escritas a cada uma delas nos trazem ensinamentos preciosos.
62
AS COISAS QUE HÃO DE ACONTECER
A grande revelação propriamente dita inicia-se com o som das
trombetas. Uma porta é aberta no céu, e uma voz diz: “Sobe para aqui, e te
mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas” (4.1).
Em primeiro lugar, aparece o trono de Deus (4.1-3). Apocalipse se torna
o “livro do trono”. Este é o fato central que se estende por todo o livro. O trono
fala de julgamento. O trono da graça não aparece mais. A cena é de um
tribunal.
O dia da tribulação começa com a abertura dos sete selos (cap. 6). Eles
descrevem o período da grande tribulação de que fala o profeta Jeremias no
capítulo 30 como o “tempo de angústia de Israel”. Cristo também se refere a
ele como uma tribulação tão grande “como desde o princípio do mundo até
agora não tem havido e nem haverá jamais” (Mt 24.21).
OS QUATRO CAVALEIROS
No capítulo 6, encontramos os famosos “quatro cavaleiros” (6.1-8). As
restrições são removidas quando os selos se rompem. As forças do mal
foram controladas até agora, mas, ao se romperem os selos, a guerra e a
destruição serão soltas. O homem colherá aquilo que semeou. A angústia e o
horror desse período serão o resultado da ambição, do ódio e da crueldade
humanas.
Primeiro, vemos chegar o cavaleiro branco do testemunho religioso
antes da catátrofe final sobre a terra. Em seguida, vem o cavalo vermelho, e
se desencadeia no mundo uma guerra universal, quando a paz é retirada da
terra. Segue-se à guerra mundial, o cavalo preto da fome e da escassez. Por
último, o cavalo amarelo da peste e da morte surge em seu impiedoso
cavalgar.
AS SETE TROMBETAS
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PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO
63
A guerra, a fome e a peste devastaram a terra. Os juízos de Deus vieram
sobre a terra e o inferno está solto. O pecado age sem reservas, é preferível
morrer a viver (9.1-21). Satanás realiza sua última obra no mundo.
Neste momento, Satanás encarna-se no anticristo. Vemos seu retrato
no capítulo 13. Veja também Daniel 12.11; Mateus 24.15 e 2 Tessalonicenses 2.3.
O anticristo será um dominador mundial. Ele exige para si as honras devidas
ao próprio Cristo. Será governador político deste mundo, personificação da
maldade. Será astuto e hábil e um verdadeiro líder de homens.
AS SETE TAÇAS DE OURO
Nas trombetas, Satanás está liberando poder para realizar seus
objetivos. As taças são o poder de Deus liberado contra Satanás. São a
resposta de Deus ao Diabo. Elas aniquilam o domínio de Satanás, que ousou
desafiar o poder de Deus, e agora Deus responde ao desafio. Satanás é
forçado a agir. Seu reino é sacudido até os alicerces e ele será arrasado. Este
acontecimento culmina com a batalha do Armagedom (16.13-16), descrita no
capítulo 19. Na cena final da guerra, Cristo assume o comando dos seus
exércitos e leva à ruína os seus inimigos.
AS CONDENAÇÕES
A sétima taça anuncia as condenações que se seguiriam. Deus
pronuncia sete condenações (cap. 17-20): a dos grandes sistemas–
eclesiástico (17), comercial (18), político (19.11-19); depois, a da besta e do
falso profeta (19.20,21); seguida pela das nações (20.7-9) e do diabo (20.10);
finalmente, é pronunciada a condenação dos perdidos (20.11-15).
AS BODAS DO CORDEIRO
O inferno esteve solto na terra. Satanás e suas legiões realizaram o que
de pior podiam, mas Cristo, afinal, triunfou. Chegou a hora da “Bodas do
Cordeiro” (19.7). A ceia das bodas de Cristo será realizada nos ares. Este
tempo de regozijo continuará até que Cristo volte à terra com sua noiva para
estabelecer seu reino milenar.
64
O MILÊNIO
Esse é o tempo em que Cristo, o Príncipe da Paz, estabelecerá seu reino
na terra por mil anos. O diabo será amarrado durante este período (20.3); os
santos que Cristo traz consigo reinarão com Ele (20.4-6); os mortos sem
Cristo só ressurgirão ao final desse período (20.5).
Quando esse período chegar ao fim, o diabo será solto novamente. Virá
por à prova as nações (20.7-9). Veremos que elas preferirão Satanás a Cristo.
É difícil crer, mas é o que lemos em 20.7,8.
SATANÁS É CONDENADO
Cristo lançará o diabo e seus anjos no lago de fogo eterno (Mt 25.41). O
diabo tem uma condenação eterna (Ap 20.10). O resplandecente trono branco
do juízo final está preparado. Aquele que está assentado nele julgará todos
os homens. Os mortos são trazidos à sua presença (20.11-15). O Salvador
agora é o juiz.
FELIZES PARA SEMPRE
Ao final, os que perseveraram na fé viverão em comunhão eterna com
Deus na glória. O propósito de Deus para o homem está cumprido. Agora os
salvos gozarão a eternidade no céu, mas os que não forem relacionados no
Livro da Vida serão lançados no lago de fogo.