palmito terraviva abril 2009

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O Brasil já é o maior exportador mundial de palmito, e pode ir além, desde que supere certos obstáculos do setor, como questões legais e os riscos em torno da clandestinidade

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Page 1: Palmito Terraviva Abril 2009

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De acordo com o IBGE, das 67 mil toneladas de palmito processadas em 2007, 61,4 mil foram

cultivadas e 6 mil vieram do extrativismo vegetal. Bahia e Goiás se destacaram como fornecedoras de

palmito cultivado, com mais de 20 mil toneladas cada

O melhorcaminho é

ocorretoO Brasil já é o maior exportador mundial de palmito, e pode ir além, desde que supere certos obstáculos do setor, como questões legais e os riscos em torno da clandestinidade

Silvia Palhares

s números atestam o potencial de mercado do palmito. Em 2007, foram industrializadas mais de 67

mil toneladas do produto, segundo da-dos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Secretaria de Co-mércio Exterior do Ministério do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Exte-rior (Secex/MDIC). Desse total, cerca de 4,5% foi exportado, com arrecadação de US$ 13,6 milhões. Ao todo, 67 empresas registradas na Agência Nacional de Vi-gilância Sanitária (Anvisa) comercializam 120 marcas de conservas das variedades pupunha e açaí, com preços entre R$ 4 e R$ 64 (180 g a 1,8 kg). Outras tantas

espécies também são encontradas nos supermercados, como palmeira-real, ju-çara híbrido e açaí híbrido. Trata-se de um setor que movimenta, em média, US$ 350 milhões por ano e gera 8 mil empre-gos diretos e 25 mil indiretos, segundo o Instituto Agronômico (IAC).

A atividade também se destaca por questões relacionadas a legislações e exi-gências ambientais. É o caso da explora-ção da palmeira-juçara (Euterpe edulis) e do açaizeiro (Euterpe oleracea), proibida pela Lei nº 9.605/98 (Crimes Ambientais), em função da extinção das espécies, mas liberada para projeto de manejo susten-tável, conforme a Lei nº 11.428/06.

E é exatamente nesses meandros de regras que moram os problemas da cadeia produtiva. Segundo Khalil Yepes Hojeije, gestor de qualidade da Floresta Indústria e Comércio e especialista em qualidade do grupo Palmito Seguro, 80% do produto co-mercializado no Brasil é clandestino. “Uma das principais dificuldades enfrentadas é a variação de marcas no mercado, conseqü-ência das inúmeras interdições de fábricas ilegais”, explica. Para Hojeije, o setor tam-bém sofre com a generalização. “O palmito não é como outros produtos, que o consu-midor troca de marca se tiver problemas. Se ocorrer um caso de botulismo, por exem-plo, as vendas da atividade caem como um

todo.” O empresário afirma que o consumo per capita, no Brasil, é de 960 g por ano.

Focos de ilegalidade – Informações do programa “Consuma Palmito Susten-tável”, da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, indicam que em 2007 a polícia ambiental apreendeu 36,31 mil unidades de palmito-juçara in natura. Além disso, até agosto de 2008, foram re-tiradas do mercado outras 20,17 mil hastes da palmácea e 7,87 mil vidros de conser-va. Esses números referem-se somente ao mercado paulista, com destaque para o Vale do Ribeira, um dos principais pólos remanescentes de Mata Atlântica, onde há

ocorrências naturais da juçara. Neste ano, inúmeras outras apreensões foram divul-gadas na mídia, cinco delas só no Paraná.

As questões do extrativismo ilegal vão bem além dos danos ambientais. A ameaça envolve, ainda, discussões ligadas à saúde pública. Hojeije comenta que os palmiteiros clandestinos montam pequenas fábricas no meio da mata para o processamento de con-servas. Locais sem o mínimo de condições sanitárias. “A industrialização do palmito exi-ge rigor, conhecimento e detalhes técnicos que não há como garantir no meio do mato. Essas fabriquetas não possuem uma simples estabilidade de energia, indispensável à uti-lização do ph-metro para a medição do pH

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industrializado no Brasil em 2007, cerca

de 4,5% foi exportado, com arrecadação de

US$ 13,6 milhões

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do palmito. E este é o dado mais importante para evitar a proliferação do microorganis-mo que dá origem ao botulismo.”

Essas informações são ratificadas pelo secretário de Agricultura de Juquiá (SP), na região do Vale do Ribeira, Jaime Batista de Souza, que complementa evidenciando outra prática: “Os vidros são distribuídos fora da região, com rótulos e notas fis-cais falsas, e apenas análises laboratoriais podem confirmar se o produto é de má qualidade. Qual con-sumidor enviará para análise cada unidade que compra?”

Ponto importante levantado por Souza é que a polícia só tem acesso aos acampamentos por meio de denúncias. “Além do mais, a remuneração que os palmiteiros recebem é baixíssima para compensar os perigos que correm na mata e no choque com a polícia ambiental. Seria mais interessante que mantivessem a

palmeira em pé, ganhando dez vezes mais com o processamento do fruto para sucos e outros subprodutos.”

Diferencial da pupunha – Se o sa-bor peculiar do palmito-juçara impul-

sionou a demanda pelo alimento, as características da pupunheira (Bactris gasipaes) abriram as portas da legali-dade para a cadeia produtiva. Além de ser altamente viável econômica, social e ambientalmente, o palmito-pupunha apresenta outras

vantagens para atender às necessidades de oferta do mercado. A começar pelo rendimento médio, que chega a 700 g de creme, enquanto o das palmeiras ju-çara e real é de até 300 g.

As exigências de clima e solo asseme-

lham-se às condições da região amazônica, permitindo irrigação em locais onde a pre-cipitação de chuva não é regular. “Lumino-sidade é essencial para a espécie”, ressalta Carlos Reitz de Castro, engenheiro agrope-cuário da Secretaria de Agricultura de Ju-quiá. “Por isso a necessidade do plantio em

dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Também é preciso considerar que a extração da palmeira-juçara abala todo o ecossiste-ma a sua volta, uma vez que a árvore não volta a crescer e dar frutos, e que o tempo de rebrota do açaizeiro, para uso comercial, é de cinco anos, no mínimo. O cultivo de pupunha é favorecido pela precocidade da espécie (o primeiro corte é realizado após um ano e oito meses), pela lucratividade do perfilhamento (corte a cada seis meses a partir da terceira poda) e pela abertura de novas possibilidades de comercialização – conserva e minimamente processado (possui menor nível de oxidação e escu-recimento do creme). Vale anotar: a dife-rença de sabores é pouco perceptível.

Além desses diferenciais, ainda se tem a utilização das folhas, bases e caules para a fabricação de ração animal e compostagem, das fibras para produção de papel reciclável e dos frutos para consumo e obtenção de vinho, vinagre, manteiga, azeite e farinha.

Mesmo com o alto custo de produ-ção, as exigências do manejo e as ques-tões de qualidade das sementes, Reitz co-menta que a espécie está ganhando cada vez mais espaço no mercado. “E ainda há um grande campo para exportação, prin-cipalmente para França e China.”

A riqueza da mata – Conhecido como ouro branco da Amazônia, pela qualidade do palmito, o açaizeiro está mais valorizado

por seu fruto. Algumas empresas aprovei-tam os dois recursos da espécie, como a Indústria de Conservas Pamar, localizada na Ilha do Marajó (PA), que mantém proje-tos de manejo florestal do açaizeiro, auto-rizados e auditados pelo Ibama. Segundo o sócio-administrador Armando Pessoa, a variedade tem característica multicaule e ocorre de forma nativa em alguns Es-tados, como Pará, com abundante perfi-lhamento (até 25 estirpes por touceira) sem tratos culturais onerosos, adubação e tratamento químico. “O retorno com a comercialização chega a R$ 18 pelos palmitos em toletes, rodelas ou picado e R$ 10 o litro de vinho ou polpa de açaí.”

As opções são diversas, mas a falta de sintonia entre cadeia produtiva e governo parece abalar o segmento, que tem muito para crescer. Falta de incentivo e segurança são as grandes queixas de quem atua nas áreas produtiva e industrial, como revela o administrador da Pamar. “A burocracia de alguns órgãos fundiários também é pro-blema. Além disso, seria necessário reduzir impostos e aumentar a divulgação da qua-lidade do produto brasileiro.”

Hojeije, da empresa Floresta, destaca outras dificuldades: “A concorrência com marcas ilícitas. Não sentimos que o gover-no faça algo para mudar as questões de clandestinidade, a começar pela semente de pupunha, que não tem origem garanti-da e legalizada. Também há as pesquisas de melhoramento genético, que praticamente não são disponibilizadas aos produtores”.

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áreas ensolaradas.” Juçara e açaí precisam de sombra para se desenvolver.

Outras características colocam em xe-que a real vantagem do sabor em detrimen-to do meio ambiente e do retorno financeiro. Enquanto a exploração da juçara e do açaí é proibida, o cultivo da pupunha é autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

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Divulgação / Khalil Hojeije - Palmito Seguro

Atividade em altaCadeia do palmito

movimenta, em média, US$ 350 milhões por ano e gera 8 mil empregos

diretos e 25 mil indiretos, segundo o IAC

“Praticamente todo palmito vem da extração, com exceção da pupunha”, comenta Luiz Carlos Aceti Júnior, dire-tor da Aceti Advogados e Consultoria Empresarial Ambiental e da Consultoria Ambiental ACDP, ao responder sobre as questões legais que envolvem o setor.

Segundo o advogado, a fiscalização do corte ilegal é grande e há penas previstas

na Legislação Ambiental. “Não existe exce-ção para espécie ameaçada de extinção, como a palmeira-juçara”, explica. “As puni-ções vão desde advertência, apreensão do produto e multa – que varia de R$ 50 a R$ 50 milhões – à recuperação da área im-pactada e reclusão de seis meses a um ano, conforme o Artigo 46 da Lei nº 9.605/98.” As acusações se estendem para quem

compra material de ilícito ambiental, a exemplo do palmito extraído sem licença.

Entretanto, se a exploração das pal-meiras juçara e açaí só podem ser feitas mediante a licença ambiental prévia, Aceti frisa que o plantio e a extração do híbrido das duas espécies são permiti-dos sem restrições dos órgãos ambien-tais, bastando simples autorizações.

InfrAções e PenAs

Cadeia produtiva cobra maior controle sobre o corte ilegal do palmito

AnO 0 AnO 1 AnO 2 AnO 3 AnO 4 A 15

* Os custos com irrigação somente serão contabilizados em áreas com precipitação irregular de chuva em que o recurso é utilizado.Fonte: Instituto FNP, Secretaria de Agricultura de Juquiá e Ceplac

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2.179287979710

4.6687.317

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Preparo da terra (R$/ha)Plantio (R$/ha)Tratos culturais (R$/ha)Insumos (R$/ha)Irrigação (R$/ha)*Colheita (R$/ha)Administração (R$/ha)

Custo total (R$/ha/ano)Receita (R$/ha/ano)

Res. acumulado (R$/ha)

Manter as mudas irrigadas, mas não encharcadas, livres de ervas da-ninhas, pragas e doenças - a mais comum é a antracnose -, enquanto estiverem no viveiro;

Realizar o plantio em época de chuva, com mudas de 30 a 40 cm de altura e cinco a seis folhas;

Ter cuidado na escavação das co-vas, que normalmente são feitas nas dimensões de 40 x 40 x 40 cm, ou 30 x 30 x 30 cm – se muito funda, causa podridão na muda;

Atenção, também, com o excesso de plantas por hectare, que resulta na queda de produtividade da palmeira, com palmitos mais finos.

OrIentAçãOPArA O

CultIvO dAPuPunhA

Para hojeije, da floresta, as tarifas cobradas pelos produtos brasileiros

prejudicam a exportação de palmito

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“A Pamar mantém três projetos de manejo do açaizeiro, autorizados pelo Ibama, com 19,8 milhões de árvores”, comenta Pessoa

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