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CAMBIASSU EDIÇÃO ELETRÔNICA Revista Científica do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão - UFMA - ISSN 2176 - 5111 São Luís - MA, julho/dezembro de 2014 - Ano XIX - Nº 15 95 PALAVRAS-FORÇA: a contribuição da comunicação oral na mobilização social do MST 12 FERNANDES, Madson 13 REIS, Jovelina 14 RESUMO: Esta pesquisa analisa de que formas e com que eficácia o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) utiliza a comunicação oral interpessoal como estratégia de mobilização social. Para tanto, resgatam-se as formas como as tradições orais subsistiram até o hoje. Apresentam-se os dados coletados durante a pesquisa de campo no assentamento Vila Diamante, município de Igarapé do Meio, MA, colhidos por meio do método etnográfico, e analisam-se os mesmos dados por meio da análise de conteúdo. Palavras-chave: MST. Oralidade. Tradições orais. Mobilização social. ABSTRACT: This study examine in what ways and how effectively the Movement of Landless Rural Workers (MST, the acronym in Portuguese) using oral interpersonal communication as a social mobilization strategy. To do so, one recovers the ways in which oral traditions have survived to the present day. Presents the data collected during the field research undertaken in the settlement Vila Diamante, Igarapé do Meio city, MA, gathered through the ethnographic method, and analyzed the same data through content analysis. Keywords: MST. Orality. Oral traditions. Social mobilization. 12 Síntese da monografia apresentada ao curso de Comunicação Social Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), 2014. 13 Graduado em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão. [email protected] 14 Professora Adjunta do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão. [email protected].

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CAMBIASSU – EDIÇÃO ELETRÔNICA Revista Científica do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão - UFMA - ISSN 2176 - 5111

São Luís - MA, julho/dezembro de 2014 - Ano XIX - Nº 15

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PALAVRAS-FORÇA: a contribuição da comunicação oral na mobilização social do MST12

FERNANDES, Madson13 REIS, Jovelina14

RESUMO: Esta pesquisa analisa de que formas e com que eficácia o Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) utiliza a comunicação oral interpessoal como

estratégia de mobilização social. Para tanto, resgatam-se as formas como as tradições

orais subsistiram até o hoje. Apresentam-se os dados coletados durante a pesquisa de

campo no assentamento Vila Diamante, município de Igarapé do Meio, MA, colhidos

por meio do método etnográfico, e analisam-se os mesmos dados por meio da análise

de conteúdo.

Palavras-chave: MST. Oralidade. Tradições orais. Mobilização social.

ABSTRACT: This study examine in what ways and how effectively the Movement of

Landless Rural Workers (MST, the acronym in Portuguese) using oral interpersonal

communication as a social mobilization strategy. To do so, one recovers the ways in

which oral traditions have survived to the present day. Presents the data collected

during the field research undertaken in the settlement Vila Diamante, Igarapé do Meio

city, MA, gathered through the ethnographic method, and analyzed the same data

through content analysis.

Keywords: MST. Orality. Oral traditions. Social mobilization.

12 Síntese da monografia apresentada ao curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão

(UFMA), 2014. 13

Graduado em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão. [email protected] 14

Professora Adjunta do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão. [email protected].

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1. Panorama das transformações na linguagem ao longo dos séculos

Durante três milênios a fala era a única forma de resgatar a sabedoria

acumulada. As noções de correto e de justo eram construídas no ato de relembrar o

que outros, em períodos anteriores, já haviam lembrado como tal. Isso podia ser feito

por meio das histórias notáveis de heróis e sábios ou de grandes sagas, aprendidas de

tanto serem escutadas. A voz era o elemento responsável por dar coesão à

organização social.

De acordo com Paul Zumthor (1993), o caráter coesivo da palavra acabava por

conferir-lhe uma espécie de poder capaz de criar o que ele chama de “quadro moral”

que dará origem, nas culturas orais, à distinção entre a palavra ordinária, da

conversação banal, e a “palavra-força” que tem seus emissores autorizados que a

emitem de lugares oficiais. Daí advinha a autoridade de figuras como os anciãos,

depositários da experiência que, ao narrá-la, compunham a memória coletiva que, por

sua vez, assegurava a ordem e a coesão social por meio do sentimento de pertença

comunitária. Linguagem e cultura se constituíam, simultaneamente, nas tradições orais

ao semiotizar as experiências. Para Lucilia Delgado (2006), não se tratava apenas de

simples conservação, por assim dizer, “fidedigna” da experiência, mas de uma

reconstrução de lembranças inseridas num processo dialético de múltiplas

temporalidades. Evocar o passado era dar sentido ao presente para delinear o que

deve ser o futuro.

A implementação da palavra escrita, por sua vez, não aconteceu da noite para o

dia. Além dos milênios que exigiram o processo da criação do alfabeto até a escrita

propriamente dita, a legitimidade social da oralidade ainda reinaria por muito tempo.

Os textos ainda não tinham uma lógica diferente do ato de fala, como em nossos dias.

Em culturas de escrita limitada, o caráter duvidoso e suspeito do texto físico

exigia intermediários. Ao lado dos anciãos e sacerdotes medievais surgia a figura dos

jograis, posteriormente chamados de menestréis. Seu papel envolvia uma gama

complexa de atividades como saltimbanco, acrobata, apresentador de feras, músico,

cantor e contador de histórias. As principais formas narrativas utilizadas pelos jograis

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eram os poemas e canções, muitas delas conhecidas e repetidas pelo povo simples, e

ainda bastante utilizadas nos manuscritos. Os temas variavam desde banalidades

cotidianas – como casamentos ruins – até motivos classificados como pagãos e

lamentações sobre a morte de heróis e reis. Nas igrejas, sermões e homilias

igualmente se aproximavam da prática dos contadores profissionais com narrativas

alegóricas semelhantes às formas de contação dos jograis, possivelmente apoiadas no

folclore antigo. A multiplicidade de contadores e de complementos que eles ajuntavam

aos textos fazia parte da cultura holística comum da época, em que não havia

separação absoluta entre a vida e a noção de sagrado ou mágico. Importava mais o

conhecimento e a adesão popular às canções do que uma suposta forma oficial.

Com o estabelecimento definitivo da prensa tipográfica na Europa do século XV,

a cultura impressa mudaria totalmente a cultura oral/manuscrita. Para os clérigos, dar

acesso aos textos religiosos às classes mais baixas era permitir que contestassem os

ensinamentos das autoridades, como de fato veio a acontecer. A partir do momento

em que o texto impresso começou a se estabelecer, ele também passou a sedimentar

definitivamente uma lógica própria. As religiões institucionalizadas assumiram os livros

sagrados (a Torá, o Alcorão, os Vedas e a Bíblia) e o Estado centralizador instituiu

definitivamente o Direito. Esta centralização dos Estados europeus é que,

posteriormente, dará origem às ideias modernas de nacionalismo e de cidadania que,

grosso modo, são os filhos “letrados” do sentimento de pertença das comunidades de

tradição oral. A partir do Direito, a racionalidade cartesiana inaugurada pelos

processos de letramento iniciará uma redefinição da organização e coesão social.

A Reforma Protestante foi o primeiro conflito ideológico no qual a impressão

teve papel preponderante. Os debates que questionavam a autoridade do papa e da

Igreja contribuíram para o desenvolvimento do pensamento crítico e da recente ideia

de opinião pública. Embora tais conceitos não fossem utilizados na época, havia uma

relativa consciência das elites sobre a relevância da opinião do povo. A experiência

protestante brevemente abriria também a possibilidade de questionar a autoridade do

Estado.

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Os primeiros jornais não-oficiais também contribuíram para tornar a política

parte da vida da população em geral. Esses periódicos eram lidos e discutidos nos cafés

das cidades, espaços voltados especialmente para os debates orais, e que deram

origem a inúmeros clubes cuja principal atividade era o diálogo. Manuscritos contendo

críticas políticas ou sátiras, procissões e festivais continuavam a coexistir com os

jornais. Os festivais, contudo, passaram a ter uma mensagem mais política e,

posteriormente, dariam origem ao que o século XIX chamaria de manifestação.

Durante a Revolução Industrial, os trabalhadores, encerrados sob o teto das

fábricas por um tempo cada vez maior, começaram a desenvolver suas próprias formas

de comunicação a partir de sindicatos, que já existiam, mas agora passavam a ser cada

vez mais comuns. Ao mesmo tempo, os intelectuais da época começavam a cunhar os

termos elite, massa, e meios de comunicação de massa. Na Crítica da filosofia do

Estado de Hegel, de 1843, Marx passa a falar de uma ruptura com a noção abstrata de

Estado herdada por Hegel do iluminismo francês, que já não fornecia bem-estar social

a todos.

Para Dallari (2002), a ideia de Estado moderno passa a ser contestada a partir de

práticas políticas que negam a participação social democrática com vistas à justiça

social. A novidade do pensamento de Marx em sua Crítica, segundo Miliband (1983), é

de que a reforma do Estado seria realizada pelas classes trabalhadoras mais baixas. Os

filósofos marxistas posteriores irão reiterar exaustivamente o que chamarão de

consciência de classe, de forma a relembrar e ressignificar em seus discursos a

identidade da classe trabalhadora, constituindo uma cultura muito específica, expressa

em folhetos e manifestos, mas também e, principalmente, em marchas, comícios e

debates.

Todavia, no final do século XIX, a comunicação por carta se popularizaria na

Europa, apesar das taxas de analfabetismo continuarem altas. O desenvolvimento dos

correios era sinal de desenvolvimento da nação e saber ler e escrever já era

considerado sinônimo de erudição. A comunicação oral era vista como rústica e

ultrapassada.

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O telégrafo, criado em fins do século XIX, foi a primeira invenção elétrica a

transmitir mensagens. A partir daí, a evolução tecnológica passou por mais de dois

séculos de intensas transformações. Em 1876, Alexander Graham Bell apresentaria o

telefone, e logo sem seguida seriam criados os primeiros aparelhos de radiodifusão, a

partir de invenções envolvendo telégrafos sem fio. Em todos os países aonde chegou,

o rádio teve papel imprescindível para aumentar o nível de informação da população

como um todo, sendo importante instrumento para o debate político.

Segundo Briggs e Burke (2006), após a crise do petróleo de 1973 e com a

expansão da televisão, os países até então chamados de Terceiro Mundo contestavam

o colonialismo cultural dos países chamados de Primeiro Mundo, em especial os

Estados Unidos. Surgiam teorias de que a comunicação pelo telefone, rádio, televisão e

computador afetava a identidade geográfica e social dos indivíduos, separando-os do

espaço social em que se encontravam (CASTELLS, 1999).

Por fim, na virada do século XXI, a internet se tornou uma das maiores

propagadoras do fenômeno chamado globalização. As mais diversas economias ao

redor do mundo passaram a ser interdependentes; as grandes ideologias e os

movimentos de trabalhadores entraram em declínio com a individualização dos postos

de trabalho; a desigualdade social se acentuou não somente entre norte e sul, mas

dentro de cada país, e a produção e distribuição das culturas em impressos, áudio e

vídeo passaram por um processo de integração global. Diante do desinteresse pelas

ditas “grandes causas” da humanidade, passou-se a falar de mobilização social como

uma das formas de assegurar a participação social democrática. Pensadores

modernos, como Toro e Werneck (2004), passaram a definir o conceito não apenas

com o valor de manifestações públicas em si, mas dos processos de comunicação que,

quotidianamente, buscam convencer e envolver os sujeitos em ações ou campanhas.

Nesse meio tempo, os sistemas políticos passaram por uma crise de legitimidade

televisionada e os movimentos sociais ficaram cada vez mais fragmentados. O Estado

(personificado na Constituição, que é expressão do Direito) deveria ser o ente criado

para resguardar o bem-estar social, ou a justiça social no seio de uma identidade

nacional clara. Contudo, Bauman (2007) dirá que a partir do momento em que os

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indivíduos começaram a perceber a incompetência do Estado em evitar o fracasso e o

infortúnio individuais, cresceu o desinteresse pela ação coletiva e esfriou a

solidariedade social. Assim, declinou a ideia de que a manutenção dos vínculos

interpessoais assegurariam o bem-estar da comunidade (nacional ou local) por meio

da busca dos interesses coletivos.

Segundo Castells (1999), no turbilhão social em que o acesso à informação torna

tudo questionável, desconstruindo a ideia de uma só Palavra-Força como nas tradições

orais, as pessoas tendem a buscar de volta qualquer segurança que possa oferecer

identidades como as religiosas, étnicas, territoriais e nacionais. Segundo o sociólogo,

as três características fundamentais do que chama de “sociedade em rede” (a

globalização que liquefaz as raízes, a flexibilidade das relações que individualiza a

sociedade, e a crise da família patriarcal que subverte a sociabilidade e a sexualidade

tradicionais) são disseminadas pelo fluxo dos meios de comunicação atuais, digitais e

virtuais, de modo que, por consequência, o resgate da identidade passa a se voltar

para outras formas de comunicação, como é o caso das tradições orais. Essas

identidades (religiosas, étnicas, territoriais e nacionais) se configuram, então, como

identidades de resistência que buscam substituir a “identidade legitimadora”

(CASTELLS, 1999, p. 87) que entrou em crise com o declínio do ideal iluminista de

Estado-Nação.

2. O MST e seu programa de mobilização social

Caldart (2001), assim como a própria história oficial do MST, apresenta o

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra como fruto deste questionamento da

capacidade do Estado em fornecer bem-estar a todos. Segundo a autora, a luta pela

terra surgiu na década de 1970 de maneira fracionada e difusa no país. Somente em

1985, o MST definiria seu tríplice objetivo o qual permanece até hoje: “lutar pela terra;

lutar por Reforma Agrária; lutar por uma sociedade mais justa e fraterna”

(www.mst.org.br, acessado em 09.07.2014).

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A principal característica do MST é a ocupação do latifúndio realizada por meio

da “mobilização de massa” (CALDAR, 2001, p. 208). Além das ocupações, também são

características fundantes a multiplicidade de frentes de atuação (as mais diversas

causas que constituem a luta do MST, levando em consideração uma visão holística da

sociedade) e, por consequência da anterior, a diversidade de formas organizativas que

torna difícil determinar a que tipo de instituição pertence o Movimento. Diante do

ineditismo conceitual, o próprio MST se define como uma organização social de

massas, capaz de se congregar em múltiplas formas, desde núcleos familiares até

cooperativas, sindicatos e instâncias deliberativas nacionais.

Ainda segundo Caldart, o MST deve ser encarado como um projeto educativo

que tem por fim último a concretização da justiça social. “Trata-se de olhar para o MST

como lugar da formação do sujeito social Sem Terra, e para a experiência humana de

ser do MST [...] como um processo de educação, que é também um modo de produção

da formação humana [...]” (CALDART, 2001, p. 210, grifo da autora).

É importante enfatizar que todos os processos históricos vividos pelo MST em

suas três décadas de atuação nacional marcaram profunda e inequivocamente o termo

“Sem Terra”. Para Caldart, o conceito-ideia de sem-terra se aproxima, assim, do

conceito-ideia marxista de classe trabalhadora, concluindo que o Sem Terra não é uma

criação do MST, seu processo de constituição de sujeito é anterior ao Movimento, e

que prossegue em desenvolvimento. Assim, a realidade do termo se torna mais forte

na medida em que se materializa em um modo de vida e em uma cultura específica,

uma “coletividade Sem Terra” (CALDART, 2001, p. 212).

4.1 O assentamento Vila Diamante

É objeto de pesquisa deste trabalho o povoado Vila Diamante, assentamento do

MST localizado na BR 222, no município de Igarapé do Meio, região da Baixada

Maranhense, a 234 km da capital, São Luís. A Diamante (como é referida por seus

moradores) caracteriza-se por uma produção agrícola familiar (em especial do arroz,

do feijão e do milho, além da produção de coco babaçu e seus derivados, embora

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também possua criação de frangos), sendo o mês de outubro o de maior colheita. As

lideranças da comunidade contam sua população em famílias, e estimam que cerca de

150 dessas famílias vivem lá, entre assentados e não-assentados.

Vindos do sul e do centro-oeste, representantes do recém-criado Movimento

dos Trabalhadores Rurais Sem Terra chegaram a Vitória do Mearim, município ao qual

pertencia a fazenda, em 1989, atraídos pela existência de terras passíveis de serem

desapropriadas, como a Diamante Negro. Iniciaram, então, o processo que chamam de

mobilização, caracterizado pela busca em sindicatos e associações, de posseiros e

outros lavradores interessados em obterem a própria terra. No dia 30 de junho de

1989, cerca de 600 famílias, segundo os relatos colhidos durante a pesquisa, ocuparam

a fazenda.

4.2 A história oral na Vila Diamante

A pesquisa de campo deste trabalho foi realizada nos dias 13 e 14 de julho de

2013, 12 e 13 de outubro de 2013, e 23 e 24 de junho de 2014. A metodologia que

norteia o presente estudo parte da pesquisa qualitativa/descritiva, do método

etnográfico e da análise de conteúdo, enquanto o procedimento técnico utilizado

foram entrevistas, observação e produção de diário de campo. O uso de mais de um

método segue a prática das ciências sociais, mas se debruça sobre a observação das

estratégias comunicativas que interessam a esta pesquisa. É importante ressaltar que

embora a “lente” através da qual observamos o nosso objeto de estudo guarde

caraterísticas etnográficas, interessa-nos, particularmente, como jornalista, remeter

nosso estudo às estratégias comunicativas, como já o dissemos. Se mostrar, como

ensina Silva (2011), “é um empreendimento antropológico, descritivo, etnográfico e

profundamente narrativo”, “cobrir” o objeto de estudo, como o faz o jornalista,

implica a “imersão presencial”, o “mergulho interpretativo”, pois, “quanto mais se

cobre, recobrindo teórica e metodologicamente o objeto, mais se tende a descobrir”

(SILVA, 2011, p. 47).

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Desta feita, para a análise de conteúdo foi escolhida a categoria Palavras

Recorrentes, para observação da frequência com que certas palavras ocorrem no

discurso a fim de avaliarmos o grau de entranhamento de conceitos relativos à

pertença ao MST e às formas comunicativas utilizadas para promover tal pertença.

Torres (2010) afirma que a pedagogia do Movimento acontece de forma não-

linear, perpassando a educação formal e a não-formal. Neste contexto, é possível

compreender a recorrência das palavras “escola” e “noite no acampamento”. Nas sete

entrevistas colhidas (cujos entrevistados constam aqui com nomes fictícios), essas

palavras foram mencionadas 9 e 5 vezes, respectivamente, conforme demonstrado no

quadro abaixo:

Quadro 1: Recorrência de palavras referente à “escola” e “noite no acampamento”

PALAVRAS

Escola Noite no acampamento

Joaquim

"A gente vem tentando

resgatar isso, a escola tem feito

isso. Todo ano a escola faz um

momento que eles dão o nome

de 'A noite no acampamento'”

"Todo ano a escola faz um momento

que eles dão o nome de “A noite no

acampamento”, aonde a gente

mobiliza a comunidade pra resgatar

esse histórico da luta pela terra

aqui..."

Marcos

"Sempre a escola ensina, né? O

Movimento que ajudou a nós a

construir esse assentamento e

sempre eles vem passando. A

diretora da escola vem

passando pra gente."

"Aí todo ano eles realizam aí a Noite

no Acampamento, que é aí que eles

trazem a história do assentamento,

traz a história do Movimento, como

foi constituído, os trabalhadores que

morreram pela essa terra... isso tudo

vai conscientizando as pessoas e aí vai

mudando o modo de vivência, né?"

Luciana

"...hoje, eles sabem porque

sempre a gente vai

alembrando isso aqui, vai

relembrando tudo isso que a

gente passou aqui. Através até

de... pela escola. A escola

sempre passa pra todos os

"A escola sempre passa pra todos os

alunos e todo ano se faz uma Noite no

Acampamento, né, repassando tudo

aquilo que a gente viveu aqui: como a

gente ocupou, como a gente resistiu,

que a gente sofreu aqui, a gente

passou por muitas dificuldades..."

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alunos e todo ano se faz uma

Noite no Acampamento, né..."

Patrício

"Outro dia, as menina foram fazer a

Noite no Acampamento e eu ia falar

sobre a reocupação."

Moisés

"Um outro momento que a

gente também lembra com

uma importância muito

grande, foi quando uma

mobilização que a gente foi pra

cidade de Vitória reivindicar

escola pras nossas crianças..."

"A mesma forma é a Noite no

Acampamento, né? Também é uma

data que marca porque ela é o

momento onde a gente volta a

lembrar desses momentos que a

gente viveu."

Fonte: Produção do autor (2014)

A Noite no Acampamento, sempre citada quando se trata de contar a história da

Vila Diamante, é um evento organizado anualmente pelas professoras das escolas

municipais do assentamento no qual é rememorada toda a história de reivindicações

da Diamante. Realizada sempre em junho, antes do dia 30 (aniversário do

assentamento), a Noite no Acampamento mescla encenação e contação de história a

partir de elementos artísticos – poesia, canto e teatro – e simbólicos, como a presença

da bandeira do Movimento, dos instrumentos do trabalho no campo, das vestimentas

dos trabalhadores e das comidas típicas. O ato começa ao cair da noite, e com a

chegada das pessoas das demais comunidades vestidas como trabalhadores rurais.

Acontece, então, o que chamam de mística, e o ato prossegue noite adentro.

Mística é como o MST chama uma espécie de ritual simbólico realizado antes de

suas reuniões, encontros, congressos etc., podendo ser também realizada ao final das

atividades ou durante os períodos de ocupação de terras. Durante os momentos de

mística, os participantes resgatam símbolos que recordem a história de seu

assentamento/acampamento, transmitindo valores, reinterpretando a realidade social

e, principalmente, fortalecendo a identidade coletiva e as convicções dos militantes.

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A mística é um resquício da religiosidade que, segundo Torres, esteve presente

desde o início do MST. O que é importante para este trabalho é que, ao resgatar a

memória de forma simbólica e artística, em momentos como a Noite no

Acampamento, o MST aproxima sua cultura de uma espécie de espiritualidade que

lembra a ligação entre as comunidades tradicionais orais e os elementos da natureza,

em especial a terra. A Noite no Acampamento se apresenta como o ápice da expressão

da história oral da Vila Diamante, uma materialização do processo dialético de

múltiplas temporalidades que citamos com Delgado. Como nas antigas comunidades

de tradição oral, a Noite no Acampamento da Vila Diamante evoca o passado para dar

sentido ao presente e delinear quais devem ser as perspectivas de futuro de seus

moradores. Ao mesmo tempo, este processo, importante porque muito citado nas

entrevistas, institui as vozes autorizadas (ZUMTHOR, 1993) responsáveis pela coesão

do “quadro moral” da comunidade, que as transforma em autoridades.

Assim é com a Escola, aqui escrita com “E” maiúsculo porque se apresenta, no

discurso dos moradores da Vila Diamante, como uma entidade específica dotada de

autoridade ou, como diria Foucault, de poder. Embora haja três escolas na

comunidade, os sujeitos marcaram sempre em suas falas: “a Escola organiza”, “a

Escola ensina”, “as professoras da Escola”. E embora o MST preze por um projeto

pedagógico holístico, em que pese momentos como a própria mística como parte do

processo de formação, essa concepção também é fruto da identidade nacional do

MST, que, segundo Torres, estabelece como inseparável as ações de luta pela terra da

conquista da educação.

Representantes da Escola, as professoras são igualmente tratadas como

autoridade, e constituem o Coletivo de Educação do assentamento. Ao lado delas, os

mais velhos que participaram da ocupação da fazenda Diamante Negro Jutaih

igualmente são reconhecidos como autoridade, sendo seus nomes referenciados

quando se trata da história da Diamante ou de deliberações sobre ações que o MST

organizará, reiterando as estruturas de poder.

São estas vozes autorizadas que dão coesão à memória que constrói identidade

coletiva, e o fazem, na Vila Diamante, por meio de processos dialógicos orais. Esta

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identidade reiterada, tem o objetivo de ir “conscientizando as pessoas” (Marcos). A

recorrência das palavras “reunião” e “mobilização”, contidas no quadro abaixo,

demonstra que além da Noite no Acampamento há outras formas de conscientização

das pessoas. Elas são mencionadas 14 e 10 vezes, respectivamente.

Quadro 3: Quadro de Recorrência de palavras referente à “reunião” e “mobilização”

PALAVRAS

Reunião Mobilização

Joaquim

"(a minha mãe) começou a

participar das reuniões de... pra

ocupação da área, e aí... Foi

através dessas reuniões pra

ocupação da área,..."

"E aí essas pessoas eram

convidadas a participar de uma

reunião e convidar as demais pra

participar das reuniões..."

"Depois da ocupação eu vim pra

ocupação e até hoje tô e participo das

atividades do Movimento, né? Das

mobilizações, das articulações..."

"E com a mobilização pra ocupação a

gente viu que era uma saída né?"

"Na época, a mobilização era feita de

casa em casa, né?"

"E aí essas pessoas eram convidadas a

participar de uma reunião e convidar as

demais pra participar das reuniões pra

mobilização, pra fazer a ocupação."

"Todo ano a escola faz um momento

que eles dão o nome de “A noite no

acampamento”, aonde a gente mobiliza

a comunidade pra resgatar esse

histórico da luta pela terra aqui, na área

Diamante Negro Jutaih..."

Marcos

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Luciana

"...procurou as pessoas pra

reunir, pra conversar, saber se as

pessoas precisavam, tavam

precisando de terra pra morar,

pra trabalhar. "

"Primeiro eles iam nas casas,

conversavam com as pessoas,

convocavam reunião, né? Lá tinha

uma creche e então eles

convocaram as pessoas pra fazer

as reuniões na creche, lá. E aí lá a

gente se reunia e ia discutir."

"Aí as pessoas se reuniram,

fizeram várias reunião, aí fizeram

as assembleias..."

Patrício "Eles fazendo reunião,

começaram em abril, em março."

"...pra mobilizar as pessoas e saber das

pessoas se eles tinham interesse de ter

um pedaço de chão..."

Suzana

"Na época eu era muito pequena

ainda, né, mas fizeram reuniões...

‘que eles fazem reuniões nas

periferias das cidades pra

organizar o povo."

"A gente sempre gosta de ouvir os

mais velhos e quando tá assim um

grupo reunido..."

Moisés

"E aí a gente faz uma assembleia, né, pra

poder conjunturar todo mundo qual é o

objetivo da mobilização.

Então a gente também aproveita a

próprias atividades... a celebração pra

dá aviso – ‘Oia, vai ter mobilização dia

tal, tamo convidando todo mundo’, né?

E utilizamo também a rádio pra

convocar, pra convidar as outras

comunidades pra fazer parte da

mobilização."

"...foi quando uma mobilização que a

gente foi pra cidade de Vitória

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reivindicar escola pras nossas crianças e

agente teve um confronto com a polícia,

né?"

FONTE: Produção do autor (2014)

Nas falas dos entrevistados encontramos dois sinônimos para “mobilização”: 1) o

ato de convidar, de convocar pessoas para uma causa específica; 2) o próprio ato

reivindicatório em si, como no trecho: “[...] foi quando uma mobilização que a gente

foi pra cidade de Vitória reivindicar escola pras nossas crianças” (Moisés). Contudo,

confirmando o pensamento de Toro e Werneck (2004), o primeiro sinônimo é

majoritário nas falas, e corresponde à forma do MST reunir e organizar seus possíveis

militantes. Ao promover um ato público de reivindicação ou uma deliberação sobre um

tema importante, as lideranças da Vila Diamante avisam nas reuniões dos coletivos,

sindicatos e cooperativas, bem como durante as celebrações religiosas nas igrejas da

comunidade. Para assegurar que todos ou a maioria participem, as lideranças ainda

convidam de porta em porta, e avisam na rádio na comunitária. Durante a pesquisa,

nenhuma resposta citou o uso de celulares e internet como meios para mobilizar os

moradores.

Cada uma das palavras recorrentes escolhidas para a análise estão alinhavadas

pela clareza pedagógica do MST sobre uma educação não-linear de seus membros.

Mobilizam-se sujeitos de forma oral presencial porque acreditam que esta forma de

comunicação transmite credibilidade; elencam-se as necessidades em comum que os

sujeitos têm e se constrói uma teia de subjetividade em torno delas por meio da

recordação heroica e mística do passado, aprofundando a consciência de classe, a

identidade coletiva; e preserva-se o senso de participação social democrática

(MILIBAND, 1983) em espaços formais e informais – tudo isso para assegurar a

continuidade do que chamam luta.

“Luta” é a palavra mais recorrente nas 7 entrevistas colhidas, mencionada 19

vezes. No cenário político brasileiro, o simples ato de utilizar o termo “luta” como

sinônimo de reivindicações por causas sociais denuncia a formação da qual procede o

enunciador. Em todas as 19 vezes em que foi mencionada, a palavra “luta” era

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sinônimo de reivindicação. Ela designa todo o processo que envolve a busca por

direitos, desde as mobilizações e até os atos públicos, como as marchas e os protestos.

Nas falas, a “luta” é tratada como uma urgência permanente do assentamento. Ela

está no passado mitológico, mas o presente também deve mantê-la e alimentar o

desejo de continuá-la no futuro.

5. Conclusão

No assentamento Vila Diamante, a luta é condição da comunidade. Mas, para

mobilizar os sujeitos para esta mesma luta, não basta realizar convites esporádicos. Na

visão dos entrevistados, é necessário relembrar o passado glorioso para que as

experiências se tornem referências de hábitos a serem preservados (DELGADO, 2006);

é necessário convocar a comunidade para reuniões e assembleias, onde o presente

será discutido por todos em regime democrático, a fim de que todos se sintam

participantes do futuro (DALLARI, 2002); é necessário relembrar nas escolas o que fez

o MST; repetir a importância da luta pela terra nos encontros informais, nos pequenos

grupos sociais e nas famílias. Em suma, mobilizar os sujeitos para a luta é produzir um

processo de educação e formação de identidade eminentemente oral.

E por que eminentemente oral? Porque, diriam Toro e Werneck, esse processo

de educação só consegue ser eficaz, como no caso do MST, por meio da instituição de

uma cultura, como a cultura da Coletividade Sem Terra, da qual fala Caldart. E culturas,

como fruto e expressão dos valores ideológicos e dos discursos, só podem se instituir

dentro de comunidades, aqui entendidas como povo organizado socialmente em um

espaço geográfico específico com uma identidade específica (BAUMAN, 2003). Em

comunidades como a Vila Diamante, a cultura se expressa nos costumes (o conversar

nas calçadas e à beira do campo de futebol); nas expressões folclóricas (a Noite no

Acampamento e as festas de aniversário do Assentamento e de São João); na

organização social (em sindicatos, coletivos, cooperativas, igrejas e famílias) e na

produção de conhecimento (passado de pais para filhos por meio do diálogo) – todos

feitos, na Vila Diamante, principalmente por meio da oralidade que, segundo a

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entrevistada Suzana, transmite mais credibilidade. Bauman dirá que é impossível

chamar de comunidade qualquer organização social sem uma história duradoura de

biografias partilhadas e uma expectativa de interação frequente e intensa.

O enraizamento cultural é cuidado, especialmente, pelas professoras e demais

lideranças do assentamento, que promovem a coesão social ao recordar o correto e o

justo por meio do projeto educacional não-linear do MST que compreende a educação

formal (escolas) e informal (o aprendizado doméstico, as festas e atos públicos). O fato

de parte dos momentos de educação informal, como a Noite no Acampamento,

acontecer em um contexto de reconstituição mitológica, auxilia na fixação mnemônica

dos sujeitos tanto quanto as narrativas fantásticas das antigas tradições orais.

É válido ainda ressaltar que a predominância da oralidade na mobilização social

da Vila Diamante não exclui outras formas de comunicação, embora estas outras

formas estejam vinculadas à oralidade ancestral, como é o caso do uso de aparelhos

telefônicos e da rádio comunitária. Também a utilização de computadores, segundo as

lideranças, não é significativa porque poucos moradores possuem tal equipamento.

Contudo, o acesso rotineiro à internet realizado pelos jovens por meio dos celulares

pode significar um princípio de mudança no equilíbrio das diferentes formas de

comunicação da Vila.

Por fim, fica clara a efetividade da linguagem oral interpessoal para a

mobilização social, não de forma arbitrária, mas como meio eficaz de comunicação em

um processo holístico de educação e de construção da identidade coletiva para esta

mesma mobilização. Dizemos holístico porque leva em conta a educação formal e a

informal como processo permanente, inclusive usando de elementos ligados à

espiritualidade.

Não desejamos, com isso, afirmar que a oralidade tenha qualquer prerrogativa

sobre outras formas de comunicação. O intuito foi apenas o de demonstrar que, como

afirmam Briggs e Burke, as formas antigas e novas de comunicação sempre conviveram

entre si, encontrando o papel social de cada uma em cada momento histórico. Desta

forma, em nosso tempo tomado pelo frisson das comunicações midiática e

midiatizada, igualmente utilizadas como meio para mobilização das consciências, este

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trabalho vem demonstrar que as formas de comunicação mais tradicionais podem e

devem ser levadas em conta nos processos sociais, em especial para a mobilização das

pessoas pela garantia de seus direitos.

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