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Palavras e Sortilégios Texto e Direção: Val Dias

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Palavras e Sortilégios

Texto e Direção:

Val Dias

Palavras e Sortilégios Val Dias

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PERSONA DRAMATIS

ContadorDáliaTuluáDama da Escuridão IDama da Escuridão IIDama da Escuridão IIISnokRainha dos ElfosDipLikSombra ISombra IIKarnakMedusa IMedusa IITaroZankyNovikDemônioCeleneHomens

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PALAVRAS E SORTILÉGIOS

ATO I

CENA I

(Entra em cena um velho. Aproxima-se de um livro que encontra-se num canto de cena, folhea-o e começa a contar a história).

CONTADOR – Este livro é de mágoas. DesgraçadosQue no mundo passais, chorai ao lê-lo!Somente a vossa dor de TorturadosPode, talvez, senti-lo... e compreendê-lo.

Este livro é para vós. AbençoadosOs que o sentirem, sem ser bom nem belo!Bíblia de tristes... Ó Desventurados,Que a vossa imensa dor se acalme ao vê-lo!

Livro de Mágoas... Dores... Ansiedades!Livro de Sombra... Névoas e Saudades!Vai pelo mundo... (trouxe-o no meu seio...)

Irmãos na dor, os olhos rasos de água,Chorai comigo a minha imensa mágoa,Lendo o meu livro só de mágoa cheio!...

A história tem sempre algo surpreendente para nos contar. Estas histórias podem ser alegres ou tristes; excitantes ou tediosas; reais ou fantasiosas; boas ou más. A história que vamos contar fala do maior poder existente: O Poder do Amor. Havia uma jovem que vivia sempre muito feliz, pois buscava a felicidade em tudo e em todos...

(Entra Dália e começa a dançar. Logo após surgem outras mulheres que acompanham a dança. E por fim entram os homens para acompanhar as mulheres. Depois saem todos ficando apenas Dália e Tuluá)

DÁLIA - Amemos! Quero de amorViver no teu coração!

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Sofrer e amar esta dorQue desmaia de paixão!Na tu’alma, em teus encantosE na tua palidezE nos teus ardentes prantosSuspirar de languidez!

TULUÁ - Quero em teus lábios beberOs teus amores do céu,Quero em teu seio morrerNo enlevo do seio teu!Quero viver d’esperança,Quero tremer e sentir!Na tua cheirosa trançaQuero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,Minh’alma, meu coração!Que noite, que noite bela!Como é doce a viração!E entre os suspiros do ventoDa noite ao mole frescor,Quero viver um momento,Morrer contigo de amor!

(Beijam-se e amam-se. Quando dormindo, surgem as Damas da Escuridão e fazem um feitiço para Dália continuar dormindo e outro para encantar Tuluá)

DAMAS - Tenho um seio que deliraComo as tuas harmonias!Que treme quando suspira,Que geme como gemias!

Tenho músicas ardentes,Ais do meu insano,Que palpitam mais dormentesDo que os sons do teu piano!

Tenho cordas argentinasQue a noite faz acordar,

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Como as nuvens peregrinasDas gaivotas do alto-mar!

Vibra à noite no mistérioSe o banha o frouxo luar,Se passa teu rosto aéreoNo vaporoso sonhar!

(para Dália) Dormes o sono dos justos, para não teres o sono da dor! (para Tuluá) Aquilo que vires quando despertares, seja tomado por ti como verdadeiro amante. A partir deste momento, tua alma, tua vontade, teu destino estão presos ao nosso sopro vital. Serás livre somente quando teu amor provar seu amor.

(Saem levando consigo Tuluá.)

CENA II

(Pela manhã, Dália ainda dorme. É acordada por um Coringa ao seu lado).

CORINGA - De repente, do riso fez-se o pranto.Silencioso e branco como a brumaE das bocas unidas fez-se a espumaE das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente, da calma fez-se o vento,Que dos olhos desfez a última chama,E da paixão fez-se o pressentimentoE do momento imóvel, fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente;Fez-se triste o que se fez de amante,E de sozinho o que se fez de contente.

Fez-se do amigo próximo o distante,Fez-se da vida, uma aventura errante,De repente, não mais que de repente.

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Fez-se triste o que se fez de contente.

DÁLIA - Quem é você? Tuluá...! Onde está Tuluá?

CORINGA - Levado embora, enfeitiçado por aquelas não têm coração. Durante teu sono, elas vieram e roubaram o livre arbítrio daquele que amas. E por serem elas incapazes de amar, levaram embora teu amor. Sua alma está agora aprisionada por um encantamento ligando a vida de suas carcereiras e à sua vida. Somente quando este ciclo for quebrado, seu amado será libertado.

DÁLIA - E como poderei ajudá-lo a libertar-se de tal encantamento?

CORINGA - Primeiro terá que encontrá-lo, mas para isto terá que passar por onde passaram as feiticeiras e, fazer o que elas não fizeram; e desfazer o que elas fizeram. Somente assim encontrarás teu amado. Ide agora em busca de teu amor; mas não se esqueça: a ordem e o caos têm que estar sempre juntos!

(As luzes caem e o Contador entra novamente com o livro. Volta a narrar a história).

CONTADOR - Eis que a jovem Dália sai em busca de uma pista de seu amado Tuluá. Ela, contudo, desconhece os perigos que terá que passar. E nem sabe como superar os obstáculos que advirão.

CENA III

(Dália caminhando pela floresta pára para descansar. É observada por um Duende).

SNOK Um soneto começo em vosso gabo;Contemos esta regra por primeira,Já lá vão duas, e esta é a terceira,Já este quartetinho está no cabo.

Na quinta torce agora a porca o rabo:

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A sexta vá também desta maneira,Na sétima entro já com grã canseira,E saio dos quartetos muito brabo.

Agora nos tercetos que direi?Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.

Nesta vida um soneto já direi,Se desta agora escapo, nunca mais;Louvado seja Deus, que o acabei.

- Quem és e o que fazes nestas pradarias cheias de surpresas e enganos?

DÁLIA - Chamam-me Dália e busco pistas de meu amado que não há muito foi levado por três damas da escuridão. Sabes quem elas são e por onde seguiram?

SNOK - Não. Mas sei quem sabe. Vem comigo até a nossa colônia e lá encontraremos quem poderá ajudar-te.

CENA IV

(Dália segue o Duende e encontra uma aldeia de Elfos que fazem um ritual de adoração a sua rainha)

RAINHA DOS ELFOS – Quem és e o que fazeis entre nós? Por que a trouxeste para o nosso seio, travesso Snok?

SNOK - Seu nome é Dália, e ela procura pelas Damas da Escuridão, minha Mestra!

(Elfos correm assustados e se escondem)

RAINHA DOS ELFOS – E o que desejas com tão vis criaturas? Acaso tens parte com tais seres malditos?

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DÁLIA - Não! Apenas procuro o meu amado que por elas foi levado, enfeitiçado. É dever meu libertá-lo de seus encantamentos. E para isso, devo passar pelos lugares que elas passaram e desfazer suas obras mal fazejas e fazer o que o bem que deixaram de fazer. Contudo, preciso de ajuda para a elas chegar. Será podeis me ajudar?

(Snok cochicha algo com a Rainha)

RAINHA DOS ELFOS – Sim! Mas a ajuda que podemos oferecer está ao longo do teu caminho. Os irmãos que foram presos pelas Damas sabem por onde elas seguiram. Snok te levará a eles. Mas aviso-vos eles são difíceis de lidar; precisarás de sorte.

SNOK - E paciência... muita paciência!

(saem de cenas. Entra o Contador)

CONTADOR - Nossa história continua com a procura do verdadeiro amor. Vocês já encontraram o verdadeiro amor? Não importa. O que importa é que um grande amor só é considerado verdadeiro depois de provado. E hoje o amor de Dália será testado.

CENA V

(Em cena, dois duendes estão presos um ao outro e não sabem como libertar-se)

DIP – Talvez se formos para lá, consigamos encontrar alguém para nos ajudar a nos livrar destes grilhões.

LIK - Não, para lá não há ninguém, precisamos ir para o outro lado.

DIP - Para lá é a região dos homens de pedra, precisamos ir para lá, seu tonto! (indica o outro lado)

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LIK - Não! A região dos homens de pedra é para lá. Precisamos ir para o outro lado.

DIP - Silêncio que vem chegando alguém. Talvez possa nos ajudar, pateta!

LIK - Ah! É só o Snok, aquele bobo... Ei, mas ele trás consigo alguém... é uma mulher! E muito bonita!

DIP - Seja mais Cortez! Trate-a com zelo e sutileza!

LIK - Mas eu gostei, dela! Veja como seu busto é grande e bonito! (Dip cutuca Lik)

(Entram em cena Snok conduzindo Dália).

SNOK - Ei-los aí senhora, Eles devem saber o que a senhora quer saber. Mas são muito discordantes. Nunca chegam a um acordo. Nasceram juntos, mas vivem separados. Por isto as Damas da Escuridão os aprisionou aí, juntos para conviverem sempre em desarmonia.

DÁLIA - Olá, O que vem a ser vocês? E por que brigam tanto?

DIP - Comigo me desavimSou posto em todo perigo;Não posso viver comigoNem posso fugir de mim.

LIK - Com dor, da gente fugia,Antes que esta assim crescesse;Agora já fugiriaDe mim, se de mim pudesse.

JUNTOS - Que meio espero ou que fimDo vão trabalho que sigo,Pois que trago a mim comigo,Tamanho inimigo de mim.

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DIP - Eu sou Dip e ele Lik. Somos iguais, mas diferentes, por isto brigamos.

LIK - Somos dois, mas um, por isto brigamos.

JUNTOS - Só não sabemos como nos livrar dos grilhões. Será que podes nos ajudar?

DÁLIA - Claro que sim!, não é mesmo Snok?

SNOK - Ei, fale por você mesma. Esses dois são uns chatos, e vão me chatear assim que forem livres. É melhor deixá-los presos aí.

DIP - Mas se nos deixarem aqui iremos ser destruídos pelas Damas da Escuridão quando elas votarem.

DÁLIA - Damas da Escuridão?! Vocês sabem por onde elas seguiram?

LIK - Sim, sabemos

DÁLIA - Então, digam-me por onde foram.

LIK - Mas só diremos depois que nos libertarem!

DÁLIA - Vejamos... dessas correntes... são impossíveis de se quebrar... mas deixe-me pensar como podemos fazer...

LIK - Anda logo, gostosona, que eu quero te dar uns amassos...

DIP - Quieto, Lik, não seja incoveniente. Não vê que a moça está pensando?

LIK - Ora essa! Você não deixa a gente nem se expressar como quer!

DIP - Você também fica falando e fazendo bobagens o tempo todo!

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LIK - Se você metesse menos...

SNOK - Você está vendo Dália? Esses dois são água e fogo, completamente diferentes e que não sabem ficar longe um do outro.

LIK - É que eu amo muito esse cara!!! (Dá um beijo no Dip)

DÁLIA - É isso!!!

LIK - É isso o quê?

DIP - Você achou um jeito de nos libertar, foi?

DÁLIA - Não! Achei um jeito de vocês se libertarem.

SNOK - Como assim?

DÁLIA - Era isso que o Coringa queria dizer. “A ordem e o caos têm que estar sempre juntos”. Essas correntes estão semi-abertas, para abri-la, vocês só precisam trabalhar juntos para fazer os elos se encontrar nesta abertura, (Faz os dois pararem de puxar a corrente e fazer a abertura dos elos de encontrar) e pronto estão livres! (Os Duendes se libertam)

SNOK - Agora é o fim, esse dois vão tirar o meu sossego!

DIP - Noite perdidaNão te lamento:Embarco a vida

LIK - no pensamento,Busco a alvoradaDo sonho isento,

JUNTOS - puro e sem nada,- rosa encarnada,intacta, ao vento.Noite perdida,

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Noite encontrada,Morta, vivida [...]

DÁLIA - Será que podem agora me ajudar a encontrar o meu amando, dizendo-me por onde foram as Damas da Escuridão?

(Os dois a um canto a parte e cochicham entre si. Voltam a Dália)

DIP - Muito mais que dizer por onde foram as sórdidas mulheres; iremos contigo ao seu encontro.

LIK - (abraçando Snok) Só assim poderemos passar mais tempo juntos, não é Snok?

SNOK - Jamais! Se já encontrastes companhia para toa jornada senhora, então não precisas mais de mim. Devo voltar para minha colônia e servir a rainha no que possível for.

DÁLIA - Agradeço muitíssimo tua ajuda, valente Snok. Obrigada! (Aos Duendes) Devemos ir em busca daquelas que aprisionaram meu bem querer. Para onde ir agora?

DIP - Vamos por esse lado (aponta), e lá encontraremos quem procuramos...

(Sai Snok por um lado, e os outros três por outro. Surge em cena uma sombra que estava espreitando todo o tempo. Sai logo em seguida)

ATO IICENA I

(Em cena as Damas da Escuridão com Tuluá enfeitiçado.)

DAMAS- Ah! Beija-me com beijos de tua boca!Porque os teus amores são mais deliciosos que o

vinho,E suave é a fragrância de teus perfumes;O teu nome é como um perfume derramado;Por isto amam-te as jovens.

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Arrasta-me após ti; corramos!Introduziram-me nos teus aposentos.Exultaremos de alegria e de júbilo em ti.Tuas carícias nos inebriarão mais que o vinho.Quanta razão há de te amar!

(Entra a sombra, e cochicha no ouvido de uma das Damas que começas a rir)

SOMBRA I - Negras Mestras, como ordenastes, acompanhamos os passos daquela a quem este homem roubastes.

SOMBRA II - E ela com a ajuda de um elfo libertou os dois pequenos tolos que o vosso paradeiro conhece.

SOMBRA I - No vosso encalço estão. Querem libertar a este que chamam de Tuluá.

DAMAS- Então aqueles elfos idiotas conduzem a mocinha sonhadora a nossa presença. (para Tuluá) Eles vêm salvar você, meu amado. Ah! Ah! Ah! Você deseja ser salvo de nossa paixão?

TULUÁ - Ao contrário, minha amada; desejo me perder cada vez mais em teu olhos, teu cabelo, teu corpo, tuas palavras.

DAMAS - (Gargalhadas. À Sombra) Ide observá-los vem nos informar. E agora, o que faremos para resolver esse probleminha? Quem sabe se eu... não!ou talvez se eu.... não! Mas daria certo se eu.... não, não isto é ridículo. Já sei! É isto mesmo! É o plano perfeito. Desta forma afastaremos a mocinha mostrando a ela que seu amor não passa de uma frivolidade! (a Tuluá) Você verá, meu amado escravo que o amor da sua donzela não passa de poeira posta ao vento. (Iniciam um feitiço criando um homem) “Pelo fogo que aquece o sangue, e pelo frio que o gela, quero, enquanto os fogos fátuos não se apaguem, que o coração deste ser que agora surge, faça deleitar fagulhas de entusiasmo do coração de Dália.” (surge um belo jovem, criado pela magia das

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feiticeiras) Ide, minha sedução; mostra a ela que seu amor é volúvel, é efêmero, é transitório. És belo, és forte e capaz de encantar o coração mais duro. Ah! Se não fostes tu, fruto de um sortilégio, acho que eu mesma te amaria. Agora vai. Deixa-nos a sós para nos amarmos.

(Sai.)

CENA II

(Em cena Dália e os duendes dormem. Entra o Coringa que acorda Dália)

CORINGA - Alô,minha rosácea,Minha flor de lótus,Minha rainha dos jardins suspensos de Alexandria,Meu raio de sol da madrugada,Meu nenúfar em lago de ternura,Alô, meu bem, minha coisinha louca!

É assim que de manhã ou tarde-noiteEu costumo chamá-la. E a cada nome novo ela sorri e diz que está guardandona agenda ou no caderninho da memóriaesses doces epítetos de amor.

Sou poeta (serei?) e tenho obrigaçãoDe inventar sempre novas formas de carinho,Mas, por mais que invente, nunca inventareiA forma ideal de dizer que a amoTanto, tanto, tanto, tanto, tantoQue não cabe nas palavras nem nos lábios.

Não te assustes, minha admirável jovem. Seu teu amigo charadista que vem te congratular pelo louvável êxito no primeiro obstáculo das palavras.

DÁLIA - Amas palavras cruzadas

E também os logogrifos,Pois a poesia, bem sabes,É emoção filtrada em signosDe grifos e de hipogrifos,

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E te divertes buscandoA chave obscura do verbo,A chave esconsa do amor,A chave enigma – do ser.

CORINGA - Mas que fazer aí a dormir? O perigo é iminente...

DÁLIA - Nossa jornada é longa. Paramos por um instante para descansar e nos livrar da fadiga.

CORINGA - Sim, mas agora ouvi o que vos tenho a dizer: Deves ter cuidado com aquele vem adiante. Deves reconhecer o mal pelo coração, não pelos olhos; pois os olhos te ajudarão, e o coração te destruirá.

(Deste instante Lik acorda e vai para cima do coringa)

LIK - Afaste-se da minha mulher! Quem é você? O que quer?

(Com os gritos Dip também acorda)

DÁLIA - Acalme-se Lik, ele é amigo. Foi ele que disse que vocês me ajudariam a encontrar as Damas da Escuridão!

LIK - Não sei não! Você tem certeza, minha amada?

DIP - É claro que ela tem certeza! Se ela tá dizendo que ele é amigo, então deixe-o em paz, Lik!

CORINGA - Vejo que estás bem protegida, jovem amante. Contudo precisarás de alguém maior e mais forte para enfrentar os perigos que estão por vir. Encontrarás esse alguém na região dos homens de pedra, mas ide depressa antes que endureça o coração daquele que te ajudará. (Sai)

DIP - Que faremos, Dália?

LIK - Se ele disse para irmos a Região dos homens de

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Pedra, então vamos para o outro lado.

DÁLIA - Não! Se ele disse para irmos para lá, (aponta) para lá iremos.

LIK - Então, se é assim, vamos ver quem chega primeiro!

DIP - Espere aí, seu tonto.

DÁLIA - Ei, esperem por mim! Não corram1

(saem correndo e Dália os segue)

CENA III

(As luzes acendem e vê-se em cena vários homens petrificados, imobilizados. Caminhando por entre eles um guerreiro).

KARNAK - Como são enfadonhas, azedas ou rançosas,Todas as práticas do mundo!O tédio , ó nojo! Isto é um jardim abandonadoCheio de ervas daninhas,Invadido só pelo veneno e o espinho – Um quintal de aberrações da natureza.Que tenhamos chegado a isto...

(Entra logo a seguir duas criaturas cheias de serpentes na cabeça, lembrando a medusa, da mitologia grega. Elas são muito sensuais e dançam por entre os homens petrificados)

MEDUSAS - Pintalgadas serpentes de língua bífida,Híspidos ouriços ver não vos deixeis;Camaleões e lacraus dano não causeis,Da rainha das fadas não vos acerqueis.

Filomela, com melodia,Canta para nós doce acalanto,Nina, nana, nina, para dormir,Nenhum dano,Nenhum encanto nem feitiço.Da amável senhora nossa se aproxime;

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Assim, pois, boa noite, dormi bem.

Aranhas tecedeiras, cá não venhais.Fiandeiras pernudas, fora daqui!Negros besouros, não vos aproximeis,Vermes ou caracóis, danos não causeis.

(Ao encontrar o guerreiro, as medusas danças para e ele começa a se petrificar; quando chega Dália procurando os duendes que havia deles se perdido, interrompendo a transformação do guerreiro)

DÁLIA - Dip, Lik, onde estão vocês? Apareçam, por favor!

(As medusas vão atacá-la quando entram os Dip e Lik, fazendo as Medusas recuarem assustadas)

LIK - Viu só? Elas morrem de medo de mim, da minha força, da minha coragem, dos meus músculos, dos meus...

DIP - Ora cale-se! Não se preocupe com elas Dália, essas criaturas não perturbarão mais enquanto estivermos aqui. Elas temem a nós porque seu poder de transformar em pedra não nos afeta.

DÁLIA - Mas elas conseguiram transformar este homem aqui! Quando eu cheguei, elas faziam o feitiço.

DIP - Talvez não. Se você conseguiu interromper o feitiço ainda no meio. Ele deverá despertar a qualquer momento.

(Mal Dip acaba de falar o Guerreiro começa a se mexer novamente)

LIK - Viu? Ele já está se movendo, olha!

KARNAK - Que aconteceu? Quem são vocês?

DIP - Eu sou Dip

LIK - E eu sou Lik

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DIP - Esta é Dália; ela que impediu que aquela criatura medonha transformasse você em uma estátua de pedra, como estas aqui.

KARNAK - Fico demasiadamente grato a senhora. Devo-lhe a minha vida. Assim, eu Karnak, coloco a minha espada a seu serviço, minha senhora; serei seu protetor até que a senhora decida não mais precisar.

DÁLIA - Levante-se, Karnak. Agradeço sua proteção e a desejo, pois para onde iremos encontraremos perigos e você poderá nos ajudar com sua espada... Ouçam! vocês estão ouvindo?

(Nesse instante, ouve-se um pedido de socorro à distância. Logo depois entra Taro cambaleante e cai aos pés de Dália)

TARO - Como é o corpo?Como é o corpo da mulher?Onde começa: aqui no chãoOu na cabeleira, e vem descendo?Como é a perna subindo e vai subindo até onde?Vê-la num corisco é uma dorNo peito, a terra treme.Diz-que na mulher tem partes lindasE nunca se revelam. MaciezasRedondas. Como fazemNuas, na bacia, se lavando,Para não se verem nuas, nuas, nuas?Por que dentro do vestido muitos outrosVestidos e brancuras e engomados,Até onde? Quando é que já sem roupaÉ ela mesma, só mulher?E como que fazQuando que fazSe é que fazO que fazemos todos?

KARNAK - Quem és? De onde vens?

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TARO - Chamo-me Taro. Estou perdido neste lugar cheio de homens de pedra. Estou sendo perseguido por duas criaturas que tentaram me transformar num deles.

LIK - Devem ser aqueles monstros; mas se vierem pra cá, vão receber o que merecem, vão sim!!!

DÁLIA - É verdade, aqueles serem deverão ainda nos perseguir se não sairmos logo daqui.

KARNAK - Então busquemos abrigo em outro lugar! Saiamos deste local de magias e sortilégios.

(Saem Todos. Surgem as Sombras)

SOMBRA I - Os planos das Mestras está saindo conforme fora imaginado.

SOMBRA II - Vejamos como se dará tal investida.

(Todos continuam sua jornada; Mas Dália e taram caminham um pouco mais atrás)

TARO - Este longo caminho percorridoLado a lado, nos bons e maus momentos,Faz de nós dois um ser unificadoPelos mais profundos, ternos sentimentos.

DÁLIA - Que desejas de mim, Taro? Afaste-te. Tuas palavras me envolvem, me desnorteam, me fascinam. Mas não posso deixá-las me seduzir pois meu coração a outro pertence e ele precisa de mim Estou presa ao meu amado, como um rosa ao seu vaso.

TARO - A rosa no vasoJá não te seduz.Rosa na roseiraÉ a que te alumbra.Pendente do galho,É muito mais rosa.

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O vaso é violênciacontra a rosa pura,contra a forma pura,dom da naturezaque não merecemos.

(Taro abraça-a e a beija. Mas Dália foge de seu beijo e sai correndo ao encontro dos demais.)

CENA IV

(Entra em cena novamente o Contador, em seguida o Coringa)

CONTADOR – Notaram que Dália está um pouco confusa com tudo que está acontecendo? Mas a culpa não é dela. O misterioso Taro trás consigo o poder das Damas da Escuridão; e suas palavras seduzem o coração da jovem amante. Mas atenção, muitas surpresas ainda estão por vir.

(Entram em cena dois gigantes que estão perdidos e confusos.)

ZANKY - Um dia parei para ver de perto o meu futuro.Mas como é difícil conhecer o futuro!Ele não pára para ser conhecido;Ele não pára para ser passado/presente;Ele sempre caminha à nossa frente, rapidamente,Sem alguém perceber.

NOVIK Cansei de buscar o meu futuroTão perto de minha visão.Analisei o meu futuro;Só me deparei com o meu passado.Cada presente é um passadoNa volta para o futuro.Voltei para o meu passado;Só no passado encontrei o meu presente.Uni os dois:- Passado e presenteAí conheci o meu futuro.Perto de mim,

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No meu passado,No meu presente.

ZANKY - É um futuro é como qualquer um outro futuro:- escuro;- obscuro;- escondidoclaramente,nas palmas das minhas mãos.

(Vão entrando em seguida Dália e seus seguidores e encontram-se com os gigantes)

NOVIK - Quem vem lá? Respondeis, pois que com os olhos não podemos enxergar.

ZANKY - Mas podemos o futuro ver. Ver as coisas que estão para se suceder.

DÁLIA - Quem são vocês? E como pode isto ser? Vocês enxergam o futuro mas são cegos ao presente!

ZANKY - Sim! Em nossa jornada por estas terras, encontramos belas mulheres que nos enganaram.

NOVIK - E com um feitiço, nossa visão tiraram.

ZANKY - Mas ainda podemos ver o futuro que está para acontecer.

KARNAK - Se realmente podem prever o futuro iminente,dizem o que de mim será em breve. Minha espada, depois da senhora Dália a quem servirá?

ZANKY - Não sei será para ti motivo de tristeza ou de alegria...

NOVIK - ...mas tua espada não servirá a nenhum outro. Nem rei, nem rainha, nem deus ou moral. Depois da grande luta...

JUNTOS - ...Tua espada não será mais desembanhada.

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LIK - O que isto quer dizer?

DIP - Acho que em breve ele vai viver em paz, sem precisar lutar, sei lá!

DÁLIA - Vem conosco, estamos indo ao encontro daquelas que roubaram a vossa visão. Vamos recuperar o que nos foi tirado, e ao que parece a vossa visão é para vós de suma importância e necessidade!

(Mal termina falar, surge o Coringa)

CORINGA - A cada passo que dás, mais próximo de seu amado ficas. Se assim continuar, breve encontrarás aquelas que tanto mal vos fez e descobrirás o que não queres descobrir.

DÁLIA - Que queres dizer com isto?

CORINGA - Que quem procuras está mais próximo de ti através de um do teu séqüito.

TARO - Mas isto não poder ser, todos aqui são de confiança. Cada um de nós perdeu algo que deve ser recuperado, ou tem uma missão a cumprir.

DÁLIA - É verdade, Coringa! Todos aqui buscam encontrar as Damas da Escuridão para ter de volta sua vida normal. Tu estás enganado.

CORINGA - Pois bem, que seja! Ouvi então a minha palavra. Mais adiante encontrarás o ser que tem consigo a forma de libertar teu amado, de onde está preso. Encontra tal ser e estarás mais perto de libertar teu bem querer.

(tendo dito isto, desaparece)

DIP - Sigamos adiante, então!

(Todos saem, deixando para trás Taro e Dália)

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TARO - A gente sempre se amandoNem vê o tempo passar.O amor vai-nos ensinandoQue é sempre tempo de amar.

DÁLIA - Tentas me seduzir com tuas palavras, mas não posso deixar-me envolver por tuas palavras, pois meu coração tem pertence a outro que neste instante precisa de mim.

(Sai correndo, seguido de Taro.Mais uma vez surge o Contador)

CONTADOR – Nossa história já se encaminha para seu desfecho. E Dália continua confusa sobre seus sentimentos. Ela sabe que está apaixonada por Tuluá, mas se sente atraída por Taro. Pobre menina! Logo, logo suas dúvidas se dissiparão. Mas o Coringa disse que as Damas estão próximo através de um de seus seguidores. Vocês já sabem de quem ele estava falando, mas será que Dália descobrirá a tempo? Vamos ver como isto se dará.

(Em cena vê-se uma criatura grotesca, acorrentada pelos pulsos em uma espécie de gruta. Em seguida entram Dália e seus seguidores)

DEMÔNIO - Libertem-me! Libertem-me!

DÁLIA - Veja! A criatura está aprisionada. Vamos libertá-la!

KARNAK - Calma, Senhora! Se está aí, deve haver algum motivo. Devemos primeiro questionar sua prisão.

DÁLIA - Tem razão. (ao Demônio) Por que estás aprisionado, que mal fizestes para estares acorrentado?

DEMÔNIO - Não sei que mal fiz eu para estar aqui; contudo, minha missão é uma chave guardar, para que quem foi pelas Damas encantado, jamais venham a escapar.

DÁLIA - Ouviram? Ele guarda uma chave! O Coringa disse que encontraríamos a criatura que trás consigo a forma

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de libertar Tuluá. Devemos libertá-lo!

DEMÔNIO - Sim!, Sim! Libertem-me, libertem-me!

(Dália estende a mão em direção do Demônio para libertá-lo, mas é impedido por Karnak)

KARNAK - Não! Ainda não, senhora.

DEMÔNIO - (agrasseivo) Liberte-me, vamos. Liberte-me agora, liberte-me!

DÁLIA - Se libertá-lo, você promete nos dá a chave das Damas da Escuridão?

DEMÔNIO - Sim! sim! Se libertarem-me lhes darei o que me pedem! Agora, depressa, livrem-me dos grilhões que me prendem!

(Karnak desembanha sua espada e a inverte contra as correntes do Demônio, que se liberta. Este, por sua vez vai em direção a Dália e entrega-lhe a chave)

DEMÔNIO - E de repenteO resumo de tudo é uma chave.A chave de uma porta que não abrePara o interior desabitadoNo solo que inexiste,mas a chave existe.

Aperto-a duramentePara ela sentir que estou sentindoSua força de chave.O ferro emerge de fazenda submersa.

A porta principal, esta é que abreSem fechadura e gesto.Abre para o imenso.Vai-me empurrando e revelandoO que não sei de mim e está nos outros.

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E aperto, aperto-a, e de apertá-la,Ela se entranha em mim. Corre nas veias.É dentro em nós que as coisas são,Ferro em brasa – o ferro de uma chave.

(O demônio inverte contra Dália para atacá-la, mas e jovem é protegida por Karnak que inicia uma luta com o Demônio. No fim da batalha, o Demônio desfere tremendo golpe em Karnak que cai gravemente ferido. Novamente o Demônio vai em direção de Dália)

DEMÔNIO - A chave, dê-me a chave.

DÁLIA - Não! Você disse que se o libertasse você me daria a chave.

DEMÔNIO - E dei. Mas a quero de volta. Dê-me a chave, agora.

(E quando o mostro vai atacá-la surge a guerreira Celene no último momento)

CELENE - Auto lá, coisa feia! Seu triunfo não será hoje; não enquanto Celene puder lutar.

DEMÔNIO - Mulher tola! Perecerás sob o meu jugo. Sucumbirás como tantos outros sucumbiram; inclusive aquele ali. (Aponta para Karnak)

(Lutam por bastante tempo. Celene desfere um golpe que fere seriamente o Demônio, que foge)

DEMÔNIO - Ainda nos veremos, mulher; ainda nos veremos! (sai)

(Dália e os outros acodem Karnak)

DÁLIA - Ah, meu amigo fiel, tudo vai ficar bem!

KARNAK - Não há mais nada a se fazer por mim, senhora. Lamento não ter podido completar a minha missão (para Celene) Por favor, proteja-a em sua jornada, até que as feiticeiras sejam destruídas. Prometa que fará isto.

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CELENE - Honrarei a sua memória, fique tranqüilo.

KARNAK - Então devo ir, senhora minha espada deverá finalmente descançar.Eu deixo a vida como quem deixa o tédioDo deserto, o poento caminheiro,- Como as horas de um longo pesadeloQue se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o deserto de minh’alma errante,Onde fogo insensato a consumia:Só levo uma saudade – é desses temposQue amorosa ilusão embelecia.

Descansem o meu leito solitárioNa floresta dos homens esquecida,À sombra de uma cruz, e escrevam nela;Fui poeta – sonhou – e amou na vida.

Sombras do vale, noite da montanhaQue minha alma cantou e amava tanto,Protegei o meu corpo abandonado,E no silêncio derramarei-lhe canto! (Morre)

(A luz aos poucos cai deixando a cena em black out)

CENA IV

(Acendem-se as luzes. Em cena o Contador que vem comentar os últimos acontecimentos)

CONTADOR – O sentimento de perda recai sobre Dália e seus amigos. Mas eles são reconfortados com a esperança de vencer as Damas da Escuridão. Agora, todos se preparam para o grande combate. Cada qual de sua forma irá enfrentar as Damas da Escuridão e seus poderes.

(Entra no palco, Dália e seus amigos)

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CELENE - Agora que temos a chave do Demônio, o que faremos com ela?

NOVIK - Deixem-nos tocar a chave!

(Ao tocar a chave Novik sente suas vibrações e aponta:)

ZANKY - É para lá que devemos seguir, pois adiante está quem procuras.

(Ao ouvir a indicação de Zanky, as Sombras, que estavam todo o tempo na espreita, saem correndo para avisar às Damas da Escuridão. Logo depois, todos saem de cena, menos Celene, que nostalgicamente profere)

CELENE - Deu agora meio-dia; o sol é quenteBeijando a urze dos outeiros.Nas ravinas do monte andam ceifeiros Nas fainas, alegres, desde o sol nascente.

Cantam as raparigas, brandamente,Brilham os olhos negros, feiticeiros;E há perfis delicados e trigueirosEntre as altas espigas de oito ardente.

A terra prende aos dedos sensuaisA cabeleira loira dos trigaisSob a bênção dulcíssima dos Céus.

Há gritos arrastados de cantigas...E eu sou uma daquelas raparigas...E tu passas e dizes: “Salve-os Deus!”

(Sai. Surge o Curinga)

CORINGA - Vejo que a jornada já está próxima do fim. A jovem Dália está se aproximando do seu objetivo: O bravo Tuluá. Infelizmente, ela não chegará ao final dessa história; ou melhor, ela será o fim dessa história. Pobre Dália! Tantas coisas envolvem seu coração. Ela não

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sabe que qualquer coisa que faça jamais terá seu amado Tuluá de volta. Mas os amantes são assim, gostam de se iludir com as frivolidades da paixão. Devo agora ir me juntar àqueles que se preparam para a grande batalha... (Sai)

(Em cena as Damas da Escuridão.)

DAMAS - Os ventos, as luzes, as correntes dos rios, o som da terra se dirige para o fim. Breve teremos todos sob o nosso pés. (entram as sombras) Quais novidades nos trazem agora?

SOMBRA I - Que a jovem Dália para este lugar se encaminha.

SOMBRA II - E vem rodeada de seguidores que buscam a vossa destruição.

DAMAS - Ah! Ah! Ah!, ah! Não temos nenhuma espécie de temor em relação a isto. Pois tudo acontece como foi por nós planejado. Tenho uma missão para vós: ide procurar aqueles que nos devem obediência e trazei-os para o grande combate final. Vai agora! (Sai as Sombras) Vamo-nos ao encontro de nosso mentor, nos revelar aos nossos adversários. (Saem)

ATO III

CENA I

(Mais uma vez entra o Contador para expor a situação de Dália e seus amigos)

CONTADOR – Dália finalmente encontra o lugar que está preso seu amor. Mas logo descobrirá que não bastará encontrá-lo para tê-lo em seus braços.

(Entram Dália e Celene. O local parece um gruta, mas repleta de flores de vários tipos e cores )

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CELENE - Porque os outros não entraram?

DÁLIA - Zanky e Novik disseram que não este lugar é cheio magias que podem lhes fazer mal.

CELENE - E agora? Onde está o Tuluá?

DÁLIA - Ali. Eu posso sentir.

(Com a chave na mão, Dália se dirige à porta em que se encontra Tuluá. Abre-a e de dentro saem vários homens encapuzados, aparentemente todos iguais.)

HOMENS - Agora, ruge o leão faminto,E o lobo ladra para lua;Enquanto ronca o cansado lavrador,Oprimido pela sua rude tarefa.Esta é a hora da noiteEm que os túmulos abrem completamente as hiantes bocasPara vomitar cada um o seu espectro,

Para que ele erre pelos caminhos do campo-santo.E nós, os duendes, que corremos Atrás do carro da tríplice hécate.Fugindo da presença do sol,E seguindo as trevas como um sonho,Eis-nos agora tão alegres.

( Logo em seguida surgem as Damas da Escuridão)

DAMAS - ah! ah! ah! ah! Não esperava que encontrasse este lugar tão cedo. Mas já que nos encontrastes chorai e tremei pois é chegada a hora de teu infortúnio.

DÁLIA - Por que fazeis isto comigo? Que fiz eu por acaso convosco para ter-me tanto ódio e desprezo?

DAMAS - Mas é engano teu. Não temos tão sentimentos por ti. Apenas seguimos ordens.

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CELENE - Ordens? Ordens de quem?

DAMAS - De quem é maior que nós. De quem contigo queria apenas brincar.

DÁLIA - Mas quem teria tamanha desumanidade e tão duro coração?

(surge o Coringa que se aproxima das Damas da Escuridão)

CORINGA - Quem, senão aquele que não tem coração? Aquele que busca o fim de tua paixão?

DÁLIA - Você? Todo esse tempo, era você que me fazia passar por tantos perigos, apenas por puro divertimento?

CORINGA - Não seja mal agradecida, menina! Se não fosse minhas pistas, jamais terias chegados a este lugar. Pois bem dentre este que aqui estão, um deles é teu amado Tuluá. Deves descobrir qual destes é tem bem querer.

DAMAS - Mas cuidado! Não podes errar! Pois se o rosto errado descobrires teu verdadeiro amado morrerá. ah! ah! ah! ah!

(Dália procura dentre todos os homens o verdadeiro Tuluá. Depois de hesitar em descobrir o rosto de alguns, ela finalmente descobre o Tuluá. Contudo, ele continua sob o encanto das Damas da Escuridão e não espoca nenhuma emoção ao ver Dália)

CORINGA - ah! ah! ah! ah! Não fiques tristes Dália. Encontrastes teu amor, mas ele continua perdido.

DAMAS - Perdido de amor por mim. Ah! Ah! Ah! Ah! Foram vão teus esforços para encontrar teu amor.

DÁLIA - Os teus olhos são frios como espadasE claro como os trágicos punhais;Têm brilhos cortantes de metais

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E fulgores de lâminas geladas.

Vejo neles imagens retratadasDe abandonos cruéis e desleais,Fantásticos desejos irreais,E todo o ouro e o sol das madrugadas!

Mas não te invejo, amor, essa indiferença,Que viver neste mundo sem amarÉ pior que ser cego de nascença!

Tu invejas a dor que vive em mim!E quanta vez dirá a soluçar:“Ah! Quem me dera, irmã, amar assim”...

Que fizestes de Tuluá? Seus olhos não têm brilho, sua boca não tem calor, seu olhar está perdido...

CORINGA - A minha benevolência é deveras grande. Vede como te amo! Direi como deves libertar teu amado. Pois somente e tão somente desta forma ele será livre dos encantos de minhas amadas consortes.

DAMAS - Coringa, dirá a ela como nos destruir?!

CORINGA - Sim! Pois mesmo ela descobrindo como nos destruir, jamais terá coragem de executar tamanha façanha. (para Dália) Prestai atenção em minhas palavras: Neste lugar encontrarás aquilo que é o outro lado de vós mesmo. Quando tal coisa achares, direi o que deves fazer.

DÁLIA - Mas o que pode ser? (à Celene) chamai aqui Novik e Zanky, talvez eles possam ajudar. (Celene sai)

CORINGA - Podes chamar quem quiser. Ninguém poderá salvar teu amado de sua sina. Este ele aprisionado à vida das Damas da Escuridão para todo o sempre. Podes chamar aqueles gigantes.

DAMAS - Os cegos? Nada podem ver com os olhos!

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(entra Celene com todos os outros)

NOVIK - Dissestes bem! Não podemos ver com os olhos...

ZANKY - Mas temos nosso coração para ver por nós.

DAMAS - Creio que está na hora de chamarmos outros para juntarem a nós. (ao baterem palmas, entram O Demônio e as Medusas) Agora o pedaço de nós de vós, deve voltar para nós.

DÁLIA - Que quer dizer com isto?

TARO - Devo agora eu voltar para minhas mestras. Elas queriam mostrar que seu amor por Tuluá era frágil, mas parece que é mais forte que o imaginado.

DIP - Traidor de uma figa!

LIK - Eu bem que nunca fui com a cara desse cara!

DÁLIA - (aos Gigantes) E agora, o que faço para libertar Tuluá?

NOVIK e ZANKY – Procure a flor negra. Procure a flor negra. Procure a flor negra.

CORINGA - Meus amados, acabem com eles!

(Enquanto Dália procura dentre as flores a flor negra, os monstros atacam os amigos de Dália que travam grande combate. Ao poucos os amigos de Dália vão vencendo as medusas e o Demônio. Quando o combate termina...)

DÁLIA - Encontrei algumas flores negras. Qual delas é a certa? Ele disse que era o outro lado de mim mesma.

ZANKY - Dália você é só bondade e magnitude.

DÁLIA - É isso! A Dália! A Dália Negra!

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CORINGA - Muito bem! Muito bem! Agora, para libertar teu amor deves te tornar uma só com aquilo que achastes.

CELENE - Como se tornar uma só com uma flor?

NOVIK - Ele deve comer a flor.

DIP - Não, Dália! Se você comer a dália negra, você morrerá; ela é uma flor muito venenosa.

DAMAS - Sim! Sim! E somente assim poderá nos destruir e libertar o teu querido.

LIK - Não, Dália! Esse coringa está mentindo. Ele que vencer a qualquer preço.

DÁLIA - Não! O coringa nunca mentiu pra mim. Todas as suas charadas me levaram ao lugar certo. Mas essa é demasiada dolorosa para mim.

CORINGA - (para as Damas da Escuridão) Não falei que ela não teria coragem de comer a flor! Outros chegaram até aqui, mas nenhum passou dessa fase; E não seria agora que isso iria acontecer!

DÁLIA É tão triste morrer na minha idade!E vou ver os meus olhos, penitentesVestidinhos de roxo, como crentesDo soturno convento da Saudade!

E logo vou olhar (com ansiedade!...)As minhas mãos esguias, languescentes,De brancos dedos, uns bebês doentesQue hão de morrer em plena mocidade!

E ser-se novo é ter-se o Paraíso,É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,Aonde tudo é luz e graça e riso!

E os meus vinte e três anos... (sou tão nova!...)

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Dizem baixinho a rir. “que linda a vida!...”Responde a minha Dor: “Que linda a cova!...”

(Dália come a flor)

CORINGA - Ei, o que está fazendo? Não! Pare! Pare! Nãããããão!

DAMAS - Esse amor não pode ser tão grande! Não pode valer uma vida, nããããããããoooo!

(Ao comer a flor Dália desfalece e morre. O Coringa e as Damas da Escuridão de agonizam e morrem também)

NOVIK - Meus olhos, se abrem!

ZANKY - A luz outra vez podemos enxergar!

CELENE - Com a destruição das feiticeiras, tudo voltou ao normal

DIP - Mas a que preço!

(Todos se voltam ao corpo de Dália morta. Nesse momento Tuluá desperta de seu encantamento. Ainda atordoado, ele vê o corpo de Dália e vai em sua direção)

TULUÁ - Morrer...dormir...não mais! Termina a vidaE com ela terminam nossas dores:Um punhado de terra, algumas flores,E às vezes uma lágrima fingida!

Sim! Minha morte não será sentida;Não deixo amigos, e nem    tive amores!Ou, se os tive, mostraram-se traidores,Algozes vis de uma alma consumida.

Tudo é podre no mundo. Que me importaQue ele amanhã se esb'roe e que desabe,Se a natureza para mim é morta!

É tempo já que o meu exílio acabe...

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Vem, pois, ó Morte, ao Nada me transporta!Morrer...dormir...talvez sonhar...quem sabe?

LIK - Adeus minha Dália!

DIP - Sentiremos sua falta!

TULUÁ - Céus e terras, ouvi, quais testemunhas,E coroai com bem o que professo,Se o que digo é verdade! Se for falso,Que vire mal o bem a mim fadado.Eu, para além dos limites do mundo,A amo, prezo e amo.

(Coloca o corpo de Dália nos braço e a beija. Cai a luz. Entra o Contador)

CONTADOR – A língua de ferro da meia-noite já contou doze!Amantes, para o leito; está quase na hora das fadas.Temo que durmamos até manhã alta,Visto que esta noite prolongamos muito nossa virgília.Essa grotesca farsa bem nos enganou da lenta marcha da noite.Queridos amigos, para a cama.Celebremos durante uma quinzena esta solenidadeNo meio de festas noturnas e de prazeres sempre

novos.

FIM