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Trilhas do Aprendente, Vol. 2 - Sociologia Educacional II60

Palavras do professor-pesquisador

Caro aprendente, como está? Eis-me aqui, mais uma vez,para lhe falar, de um modo eminentemente introdutório, sobre a trilhado aprendente, elaborada com o objetivo de proporcionar a você umguia em sua inserção nesse universo fascinante que é a Sociologia,instigando-o a apreender, de forma autônoma, por meio da modalidadeEducação a Distância (EAD).

O processo de ensino e aprendizagem que conduz, desde oseu início à configuração deste Curso Superior é baseado em princípiosefetivamente dialógicos. Mas, em que consiste essa pré-condição?A princípio, consiste em pensar a produção do conhecimento e onosso papel nela como uma espécie de “via de mão dupla”.

De modo geral, ela diz respeito ao fato de que todo o percursoa ser trilhado por nós leva em consideração instrumentos que searticulam e se complementam, ou seja, a construção de competênciasse dá sob um constante esforço de articular uma diversidade demetodologias que temos à disposição (textos, vídeos, filmes, músicas,fotos etc.). Além disso, essa diversidade instrumental também serefere à preocupação em lhe apresentar as possibilidades efetivasde aproximação existente entre os vários componentes curriculares,tarefa sempre em processo de consecução, mediante o diálogoconstante entre os colegas professores.

Ou seja, todo o material produzido para o Curso foi elaborado considerando-se não apenasas especificidades do contexto no qual você se encontra inserido, mas, também, não se ausentandode perceber as mudanças constantes pelas quais passa a vida humana em sociedade. Assim,este material o convida a percebê-lo como se encontrando em um contínuo processo de mudança,especialmente, a partir da participação do professor, ao inserir novos conteúdos, bem como suaparticipação, evidenciada nas sugestões, dúvidas e críticas relativas ao trabalho em execução.

Uma sugestão importante sobre esta nova modalidade de se relacionar com o outro comfins educacionais é, constantemente, verificar datas-chave, períodos de discussão e desafios,porque a disciplina investida no Curso é condição indispensável a um excelente desempenho.

O componente curricular Sociologia Educacional II tem um total de 60 horas. Isso significadizer que você terá que dedicar, no mínimo, 120 horas para o estudo dos conteúdos e aaplicabilidade prática do saber, equivalendo a oito horas de estudos semanais. Organize o seutempo! Torne-se um aprendente auto-disciplinado! Em um curso presencial, a existência de salasde aula é uma condição pré-estabelecida para a produção do saber, condicionando o aluno aestudar em horários determinados. No curso a distância, grande parte dessa organização caberáa você, ainda que haja atividades presenciais obrigatórias a serem vivenciadas nos Pólos Municipaisde Apoio Presencial (PMAP), com a participação dos aprendentes e dos mediadores pedagógicos.

O componente curricular de Sociologia Educacional é desenvolvido em dois marcos:Sociologia Educacional I e II. No primeiro, como foi visto, o percurso foi dedicado a situar você nocontexto histórico de emergência da Sociologia, identificando os principais problemas queimpulsionaram o seu desenvolvimento e procurando, todo o tempo, tornar-lhe mais familiar umcampo de conhecimento pouco conhecido. De fato, essa não familiaridade foi percebida, no

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entanto, gradativamente, foi sendo deixada de lado. No Marco anterior, o objetivo era desenvolvercerta reflexão acerca das principais correntes sociológicas clássicas, especialmente os pensadoresKarl Marx (1818-1883), Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920), procurando extrairdessa reflexão não apenas o conhecimento produzido por eles sobre emergência da sociedadecontemporânea, mas, também, as suas contribuições referentes à educação. Esse brevemapeamento objetivou nos ajudar a desenvolver um senso crítico a respeito da educação, à luzdo nosso conhecimento sobre o pensamento produzido em nossa história recente relativo aimportantes questões que, ainda hoje, inquietam-nos.

Neste segundo Marco, o objetivo é relativamente mais ambicioso, haja vista a ampliaçãotemática para além da sociologia clássica. Agora, o percurso será desenvolvido a partir de umeixo teórico-metodológico comum, contemporâneo à própria sociologia, e dele serão derivadas asconseqüências sobre alguns relevantes problemas da atualidade. O eixo comum diz respeito aodebate existente relativo às categorias sociológicas “modernidade” e “pós-modernidade”. OComponente Curricular se propõe a compreender a origem, o desenvolvimento e a crítica associadosa elas (Unidades I e II), bem como, em um segundo momento, analisar os seus desdobramentossobre um conjunto de fenômenos sócio-históricos que, cotidianamente, adquirem maior visibilidade(Unidades III e IV).

Este novo roteiro vai lhe apresentar, a princípio, uma espécie de “mapa” relativo àemergência da modernidade, enquanto categoria de análise sociológica, cuja origem nos auxiliana compreensão do ocidente, ou seja, no entendimento sobre por que nós nos tornamos o quehoje somos. Como sabemos, a Sociologia não é uma disciplina de origem longínqua; ao contrário,é das disciplinas mais tardias. No entanto, ainda que breve, a sua história é a responsável porresponder intelectualmente, ao longo das últimas décadas, a uma série de problemas sociais quevieram à tona nos últimos dois séculos. Ainda que a vida em sociedade possa ser pensada a partirda referência a um passado longínquo, as questões que impulsionaram a constituição desta novaforma de conhecimento são recentes, e as respostas a esses problemas são diversas, sempreconsiderando a especificidade do contexto no qual o problema emerge. Nesse percurso, assim, ointeresse recai sobre novos problemas, e o modo por meio do qual a Sociologia da Educação, naatualidade, responde a eles.

Finalmente, mais uma vez, reforço a necessidade de uma constante vigilância sobre sipróprio, bem como sobre todos os participantes desse processo, especialmente no que tange àsinquietações que, inevitavelmente, aparecerão, em especial, no sentido da busca por uma “respostadefinitiva” elaborada sobre determinados problemas. Preserve, ao máximo, a sua disponibilidadepara conhecer o que ainda não lhe é familiar e externalize, de acordo com as condições que adinâmica do Curso lhe proporciona, dúvidas e discordâncias, não simplesmente rejeitando porquenão lhe é familiar; ao contrário, esforce-se para entrar neste novo universo e apreender umanova linguagem para que você possa refletir e compreender melhor o seu dia-a-dia.

Programe-se para a auto-disciplina. Estude diariamente, construa o seu próprio horário.Amplie ainda mais as suas pesquisas na internet. Realize todos os desafios propostos em nossaTrilha do Aprendente. Ao final, tudo sempre dá certo.

Sucesso!Prof. Dr. Jean Carlo de Carvalho Costa.

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Croqui do Percurso

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UNIDADE I

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS DAMODERNIDADE E AS CONSEQÜÊNCIAS SOBRE A EDUCAÇÃO

Filosofia da EducaçãoAULA 1: UMA BREVE CARTOGRAFIA DA MODERNIDADE: ORIGEM,PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E FORMAS DE ABORDAGEM

Como agora nos é familiar, após o árduo percurso efetuado no componente curricular anterior,é possível afirmar que as ciências sociais, de modo geral, e, especificamente, a própria sociologia,desenvolveram-se como uma espécie de “resposta intelectual” a um período histórico determinado,ou, como consensualmente se observa, a sociologia clássica surgiu enquanto produto do diálogoque os pensadores sociais da época estabeleceram com sua sociedade.

De fato, a institucionalização da sociologia teve origem em meados da segunda metade doSéculo XIX e ocorreu como uma tentativa de se interpretar e compreender a transição pela qualpassava, naquele momento, o Ocidente, cuja característica fundamental associada a ele era aidéia de que houvera uma transição de uma forma de viver designada de “sociedade tradicional”para uma ordem social dita “moderna”, “urbana”, “industrial” e “democrática” (SZTOMPKA, 1998),cuja análise mais sistemática e completa parece ter sido realizada por meio modelo tipológico deMax Weber (1864-1920), que opõe as idéias de “sociedade agrária tradicional” e “sociedadecapitalista”.

Entretanto, o que nos interessa, no momento, é organizar aargumentação em torno da aproximação existente entre o que seentende hoje por “sociedade moderna” ou <modernidade> e aprópria sociologia, “dada a sua orientação cultural e epistemológica”(GIDDENS, 1991, p. 13), bem como o fato de ser ela a “disciplinamais integralmente envolvida com o estudo da vida social” (GIDDENS,1991, p. 13) e ter se tornado um dos “óculos” responsáveis peloentendimento da ação humana em condições de modernidade,produzindo uma categorização explicativa que, hoje, estrutura a idéiade modernidade e permeia a literatura de modo geral, além das própriasrepresentações individuais.

Nesse sentido, trata-se de perceber que, a partir desse período,torna-se uma constante a preocupação da pesquisa e da teoria emconcentrar-se em processos que constituem algo que é denominadode “sociedade”, especialmente de “sociedade moderna”, e da produçãode categorias de análise como, por exemplo, capitalismo, globalização,individualização, nação, raça etc., que nos auxiliam no desmembramento das transformações queidentificam o período. De certo modo, essas preocupações invadem o pensamento social europeue têm ressonância na própria América Latina e nas inquietações da elite intelectual do Século XIX

em adequar a teoria então produzida e a sua inserção no “mundo novo”.

Para a noção deModernidade, consultar oCapítulo 3, do livro Pós-modernidade, do sociólogocanadense David Lyon,disponível na Biblioteca doPólo Municipal de ApoioPresencial. Para saber mais,acesse: <http://p t . w i k i p e d i a . o r g / w i k i /Modernidade>

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Ora, a expressão “sociedade”, sem dúvida, não foi cunhada recentemente. Entretanto, émais do que provável que o uso mais freqüente da palavra ocorra nos dias de hoje e, além disso,de modo bastante diversificado, atendendo às especificidades de inúmeros interessados, ou seja,pode referir-se à totalidade dos seres humanos na Terra, em conjunto com as características quegeralmente os definem, como valores, crenças, sua cultura e as suas instituições, podendotambém ser utilizada para significar agrupamentos mais restritos, isto é, uma “sociedade animal”,“civil”, “nacional”, uma “Sociedade Protetora dos Animais” e assim por diante (NISBET, 1996).Pode, inclusive, ser utilizada por muitos para definir “recortes” da realidade, tornando cada umdeles objeto de estudo de uma determinada forma de conhecimento: não é esse o objetivo daclássica querela entre as noções de “indivíduo” (genético) e “sociedade” (social/cultura)?

O que se deve, no entanto, extrair dessa multiplicidade conceitual é o fato de que todosesses conceitos derivam de discussões que emergiram durante um período históricoconsensualmente denominado de “período moderno” ou apenas “modernidade”, período que, emboratenha as suas raízes estendidas até épocas anteriores ao Iluminismo, é marcado, de modoefetivo, por seu dinamismo sem precedentes, por sua rejeição à tradição, por sua marginalização

e por suas conseqüências globais (LYON, 1998).

Um dos primeiros usos da expressão latina “modernus” foi no Século V, com o intuito dedistinguir o cristão oficial presente do romano pagão passado (SMART, 1990; KUMAR, 1996,1997), ou seja, instituía-se a “nova era cristã”. Contudo, do modo como é utilizado nos dias dehoje, o termo se aplica à ordem social que emergiu depois do Iluminismo, isto é, “Modernidade” éuma noção alimentada para constituir um espelho onde é possível ver o Ocidente, ainda que aextensionalidade das transformações subseqüentes tenha ascendido a sua utilização a esferasmais globais:

A tradição do Ocidente, construída como herança greco-romana, toma impulsona Renascença, período em que a Europa nórdica e ocidental projeta-se parao mundo, conquistando outros povos e redefinindo-se a si mesma. Do pontode vista social, a formação da Europa coincidiu com o estabelecimento de umaaristocracia; do ponto de vista ideológico, com a crença na idéia de civilização.Erigia-se, assim, uma barreira simbólica e cultural entre a elite dominante e opovo, por um lado, e entre a Europa e os povos de outros continentes, recém-integrados econômica e politicamente à área de poder europeu (GUIMARÃES,2002, p.1, grifo meu).

Além disso, do ponto de vista da natureza da construção do conhecimento que, a partir deentão, é elaborado e disseminado, Gianni Vattimo, um dos principais intérpretes da noção de“modernidade”, acrescenta:

[...] a modernidade pode caracterizar-se, de fato, por ser dominada pela idéiada história do pensamento como uma ‘iluminação’ progressiva, que sedesenvolve com base na apropriação e na reapropriação cada vez mais plenados ‘fundamentos’, que freqüentemente são pensados também como as‘origens’, de modo que as revoluções teóricas e práticas da história ocidentalse apresentam e se legitimam na maioria das vezes como ‘recuperações’,renascimentos, retornos (VATTIMO, 1996, p. VI).

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Ainda que a própria idéia de “conceito” implique a possibilidadede variadas significações serem atreladas a ele, e o próprio conceitode <modernidade> não se ausentar de ser incluído nessa variação,haja vista a enorme quantidade de estudos relacionados a ele, váriosautores procuraram formas apropriadas de abordar a modernidade.Piotr Sztompka (1998) sugere que ele pode ser compreendido a partirde dois pontos de vista: o histórico e o analítico. “O conceito históricode modernidade refere-se a um tempo e lugar determinados; é datadoe situado. Define-se pela indicação de exemplos e não pelaenumeração de características” (SZTOMPKA, 1998, p. 133-134). Jáo analítico objetiva a organização conceitual desse período.

Na literatura, há um certo consenso entre historiadores,sociólogos e cientistas sociais, de modo geral, em se referirem aesse período como situado no início do Século XVII até fins do XVIII,na Europa, uma época caracterizada pela constituição de um novomodo de organização social associado a mudanças no estilo de vida das pessoas, que se exacerbamespecialmente no período que compreende o fim do Século XIX e o início do XX. De fato, AnthonyGiddens, em seu clássico estudo sobre a modernidade, anuncia no princípio do livro:

Como uma primeira aproximação, digamos simplesmente o seguinte:‘modernidade’ refere-se a estilo, costume de vida ou organização social queemergiram na Europa a partir do Século XVII e que ulteriormente se tornarammais ou menos mundiais em sua influência (GIDDENS, 1991, p. 11).

<Zygmunt Bauman>, um dos principais intérpretes dasociedade contemporânea, reafirma o posicionamento de Giddens:

[...] chamo de ‘modernidade’um período históricoque começou na Europa Ocidental no século XVII,com uma série de transformações sócio-estruturais e intelectuais profundas, e atingiusua maturidade primeiramente como projetocultural, com o avanço do Iluminismo e depoiscomo uma forma de vida socialmente consumida,com o desenvolvimento da sociedade industrialcapitalista e, mais tarde, também a comunista(BAUMAN, 1999, p. 299-300).

Krishan Kumar, outro estudioso da modernidade consultado,ainda que não seja possível perceber similaridade em relação àexatidão das datas, confirma a observação de Giddens em relaçãoao fato de que a modernidade “ocorreu entre os séculos XVI e XVIIIe começou nos países do noroeste da Europa – especialmente naInglaterra, Holanda, norte da França e da Alemanha” (KUMAR, 1988,p. 5).

Um dos maisimportantes sociólogoscontemporâneos, commais de uma dezena delivros publicados noBrasil, abordando temasque transitam desde oHolocausto até o amor ea solidão do homemmoderno.

Além das sugestões deleitura, indicadas nestaUnidade, assistatambém ao vídeoeducativo “Café Pós-Moderno: umabreve conversasobre o mundocontemporâneo.”disponível no DVD-Romdo aprendente, volume 2,nº 1.

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Em outra abordagem, talvez denominada por muitos de micro-social, o americano MarshallBerman, em seu excelente livro <Tudo que é sólido desmancha no ar - A aventura damodernidade>, nos apresenta uma caracterização histórica em que a modernidade é divididaem três momentos, de tal modo que a sua organização transita do Século XVI até o Século XX(BERMAN, 1986). Em princípio, na primeira fase, entre os Séculos XVI e XVIII, ele nos diz que

[...] as pessoas estão apenas começando a experimentar a vida moderna;mal fazem idéia do que as atingiu. Elas tateiam, desesperadamente, mas emestado de semicegueira, no encalço de um vocabulário adequado; têm poucoou nenhum senso de um público ou comunidade moderna (BERMAN, 1986, p.16).

Esse vocabulário, ao qual se refere-se Berman, serviria paraum maior compartilhamento do que sentem, haja vista que eles aindanão detêm o senso de comunidade ou público modernos, ou talvez otenham em pequena escala, no interior do qual pudessem proceder aesse intercâmbio. Já a segunda fase, segundo Berman e confirmadopor Seidel (2001), tem início com a grande onda revolucionária de1790:

[...] é com a Revolução Francesa que ganhacorpo, dramática e abruptamente, um vastopúblico moderno que compartilha a sensação deviver em uma época de convulsões e revoluçõesque desencadeiam transformações nos níveispessoal, social e político (SEIDEL, 2001, p. 33).

De fato, do ponto de vista histórico, há certa concordância emse afirmar que esse novo modo de organização social que emerge naEuropa naquela época foi impulsionado pelas grandes revoluçõesque assolaram o <período>. Por um lado, as revoluções americanae francesa forneceram o quadro político-institucional da modernidade,ou seja, a “democracia constitucional”, o “governo da lei” e o “princípioda soberania dos Estados-nação”; por outro, a revolução industrialinglesa forneceu o alicerce econômico: produção industrial por meioda força de trabalho livre em cenários urbanos, engendrando oindustrialismo e o <urbanismo> como novos modos de vida, e ocapitalismo como a nova forma de apropriação e distribuição(SZTOMPKA, 1998).

<Período>: É importante salientar que o fato de os processos sociais oratratados terem sido impulsionados pelas chamadas “grandes revoluções” nãoimplica afirmar a inexistência deles em um período anterior aproximado. Defato, Jurgen Habermas, em seu clássico “O discurso filosófico da modernidade”,baseado no pensamento hegeliano, sugere que três acontecimentos ocorridos

por volta de 1500, a descoberta do “Novo Mundo”, o Renascimento e a Reforma, constituema transição epocal entre a Idade Média e a Idade Moderna, ressaltando que apenas no

O livro Tudo que ésólido desmancha noar - A aventura damodernidade, docritíco l iterárioMarshall Berman,publicado em 1982,ainda hoje é uma dasm e l h o r e sinterpretações damodernidade, além deser de agradávelleitura.

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A modernidade, nesse sentido, questiona todos os modos convencionais de se fazerem ascoisas, substituindo autoridades por seu próprio arbítrio, baseada na ciência, no crescimentoeconômico, na democracia ou na lei (LYON, 1998). Contudo, além disso, Berman nos diz que a“onda” nos proporciona muito mais, haja vista que,

Com a Revolução Francesa e suas reverberações, ganha vida, de maneiraabrupta e dramática, um grande e moderno público. Esse público partilha osentimento de viver em uma era revolucionária, uma era que desencadeiaexplosivas convulsões em todos os níveis de vida pessoal, social e política. Aomesmo tempo, o público moderno do Século XIX ainda se lembra do que éviver, material e espiritualmente, em um mundo que não chega a ser modernopor inteiro (BERMAN, 1986, p. 16).

É dessa intensa contradição vivida pelos indivíduos modernos no Século XIX, de se sentiremcotidianamente vivendo em um mundo que ainda não se constituiu inteiramente moderno –caracterizado como “sensação de viver em dois mundos simultaneamente” - que emergem asidéias de modernidade e de modernização, as quais caracterizarão, no Século XX, a terceira eúltima fase da modernidade (BERMAN, 1986). Trata-se da expansão do processo de modernização,no Século XX, guiado por meio de uma escala que engloba todo o mundo, especialmente, a partirdas transformações no âmbito da cultura, fundamentalmente associadas ao modernismo na artee no pensamento do homem ocidental.

Uma conseqüência da localização ocidental dessas transformações foi o fato de que oOcidente, fortemente contrastante com sociedades anteriores ou mesmo com outras sociedades,tornou-se o modelo de modernidade, ou seja, “modernizar era ocidentalizar-se” (BERMAN, 1986;KUMAR, 1996, 1997), e isso, de certo modo, é visto também entre os pensadores sociais brasileirosno Século XIX, quando a preocupação central é nos colocar em compasso com o ritmo dassociedades européias. A conseqüência disso é a rejeição não apenas a seu próprio passado, mastambém a todas as outras culturas que não se mostram à altura de sua autocompreensão.

<Urbanismo>: De fato, noções espaciais tradicionais, como a cidade, ocampo e a rua sofrem transformações que refletem essa mutação qualitativano estilo de vida das pessoas. A cidade separa-se do campo, do qual, contudo,passa a estar mais próximo em sentido não-espacial, agora visto como áreade lazer, por conta do trem, do automóvel ou da bicicleta. “A cidade grande”,afirma Waizbort, em sua neo-clássica interpretação de Simmel, “constitui olugar histórico do moderno estilo de vida” (WAIZBORT, 2000). Apesar de acidade continuar a crescer sobre si mesma, à medida que se liberta daproximidade com o rural, ela passa a ser regulada por uma outra dinâmica(SEIDEL, 2001, p. 22). Semelhante ao que Berman (1986) denomina de“celebração da vitalidade urbana”.

O fato de que o Ocidente se transforma em uma espécie de modelo de“modernidade” tem conseqüências fundamentais em relação às noções denacionalidade e de identidade nacional, devido, em parte, à suposta legitimidadeexistente em um dos aspectos que caracterizam o conceito, ou seja, suadoutrina da universalidade cultural, tanto em termos da tipificação de seuconteúdo quanto das suas conseqüências para o que se compreendecontemporaneamente por “pós-modernidade”.

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Trata-se, pois, de

[...] uma generalizada euforia do poder devida tanto à emancipaçãoprovidenciada pelas potencialidades de vida sugeridas pela ciência e pela técnica- filhas gêmeas do iluminismo -, quanto à emancipação de fato, advinda de umsentimento de otimismo, segurança e orgulho que a Europa vivia. O bem-estar das potências européias repousa, nesse período, na consolidação doneo-imperialismo colonial e na crença na ciência definitiva cada vez mais próximadas leis inabaláveis do universo (SEIDEL, 2001, p. 25).

De fato, é justamente em relação a esse aspecto que se percebe a grande contradição doconceito e o porquê de haver a necessidade de se efetuar uma releitura do impacto que osefeitos da idéia de modernidade tiveram sobre o pensamento social do Século XIX em que seacreditou estar configurando e encerrando uma espécie de avaliação definitiva sobre o melhormodo de se viver em sociedade, haja vista que, do ponto de vista dessa concepção, ser modernoé

[...] encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria,crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor –mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos,tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas asfronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião eideologia: neste sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espéciehumana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: elanos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança,de luta e contradição, de ambigüidade e angústia (BERMAN, 1986, p. 15).

Ora, ainda que essa caracterização histórica se apresente de modo bastante útil, do pontode vista analítico, não parece suficiente. Como nos diz o próprio Sztompka (1998, p. 134),“definir um cavalo apontando para um animal que pasta na campina não desobriga os zoólogosde esforços analíticos mais profundos”. De fato, vários autores se preocuparam em desenvolvermodelos que fossem capazes de explicar as transformações sociais do período, unindo aos aspectosgerais já mencionados análises mais sofisticadas sobre as mudanças percebidas tanto no âmbitodas relações institucionais entre empregado-empregador, por exemplo, quanto no âmbito maisprivado das relações humanas.

Um dos primeiros a indicar aspectos que pudessem tipificar o período moderno foi AugustoComte (1798-1857). De acordo com Ribeiro (2003), Comte indicou algumas características acercada “nova ordem social”, a saber: a concentração da força de trabalho nos centros urbanos; aorganização do trabalho guiada pela eficácia e pelo lucro; a aplicação da ciência e da tecnologiaà produção; o surgimento de um antagonismo latente ou manifesto entre patrões e empregados;os contrastes e as desigualdades sociais crescentes e, por fim, a existência de um sistemaeconômico com base na livre empresa e na competição aberta.

Outros autores, baseando-se especialmente em concepções evolucionistas vigentes daépoca e também em um forma de perceber esse processo histórico a partir do contraste entreimagens da modernidade e da sociedade tradicional pré-moderna, produziram uma série de leiturasou interpretações sugerindo modelos polares ou dicotômicos. Podem ser mencionados os modelospropostos por Herbert Spencer (1820-1903), opondo o que ele denominou de “sociedade militar”e “sociedade industrial”, a do sociólogo alemão Ferdinand Tönnies (1855-1936), entre “comunidade”e “sociedade”, a do próprio fundador da sociologia, Émile Durkheim (1858-1918), entre “solidariedade

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mecânica” e “solidariedade orgânica” e, por fim, talvez a mais completa e sistemática tipologia

da modernidade, a elaborada por Max Weber (1864-1920), que opõe a “sociedade agráriatradicional” à “sociedade capitalista”.

Enfim, inúmeros são os modelos e diversos são os conteúdosque os constituem. Contudo, não há dúvida em relação à extensão eà amplitude dos efeitos que transformaram a vida cotidiana dosindivíduos. Ver-se-á, na próxima aula, uma espécie de esquemaproduzido com objetivo de apresentar uma visão heurística deentendimento desse período histórico que ainda ecoa nas inquietaçõesdiárias do homem contemporâneo.

1) De acordo com o que foi visto, mediante a análise das idéias de David Lyon (1998), PiortSztompka (1998), Marshall Berman, entre outros, relativas ao conceito de “modernidade”,produza um texto explicando a que se refere esse conceito, tanto do ponto de vista históricoquanto do analítico. Em relação a este último, indique quais as principais características damodernidade, desenvolvendo, de modo coerente, o significado de cada uma delas. O texto deveser escrito em, no mínimo, uma página e, no máximo, duas.

Todos essespensadores, hojeclássicos, seguemuma lógicai n t e r p r e t a t i v adicotômica e bináriada vida humana. Masse verá que talvez oeixo principal dodiscurso pós-modernoseja a crítica a essaforma de pensar.

Atenção!

- Para a avaliação desses desafios, serão observados osseguintes elementos: objetividade, profundidade, clarezae originalidade.

- Lembre-se de que, no período de realização dos desafios,você poderá comunicar-se com os mediadores pedagógicosa distância, sempre que tiver dúvidas. É importante observaro prazo de realização e postagem do desafio no AmbienteVirtual de Aprendizagem - Moodle.

DESAFIO

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AULA 2: A ELABORAÇÃO DA “ORDEM” NA MODERNIDADE: EM DIREÇÃO AO“PARAÍSO”...

Além dos modelos clássicos mencionados na discussão anterior, inúmeros outros poderiamser citados, todos relevantes para se poder estabelecer um esquema relativamente organizado e,além disso, mais profundo e heuristicamente mais profícuo para se poder pensar a modernidade.Ademais, creio ser necessário delimitar uma perspectiva teórica que possibilite fornecer os elementosque, na atualidade, tenham se tornado, consensualmente, essenciais para se poder “olhar”reflexivamente os efeitos que a modernidade impinge sobre o entendimento do mundocontemporâneo.

Kumar (1988), seguindo a estratégia de construir modelos polares anteriores, como o dopróprio Weber, acrescenta, seguindo essa mesma esteira, observações empíricas que acabam porsintetizar as tipologias anteriores e nos auxiliam a entender o que caracteriza o período moderno,haja vista que os elementos identificados por ele parecem aproximar-se do que se pode chamarde um certo consenso na sociologia atual (SZTOMPKA, 1998). Associando-se a tipologia deKumar à argumentação, sobre questão semelhante de outros autores contemporâneos que sedebruçaram sobre a natureza da modernidade e, especialmente, sobre as suas conseqüências,talvez seja possível constituir, em meu entendimento, a heurística necessária para compreender,do ponto de vista teórico, certas “fundações orgânicas” da modernidade.

Krishan Kumar, em seu modelo, destaca um conjunto de cinco princípios ou fundamentosque, segundo ele, seriam os princípios organizadores do período moderno, aqueles que definem asua estrutura. Esses princípios, segundo ele, são: o individualismo, a diferenciação, a racionalidade,o economismo e a idéia de expansão (KUMAR, 1988). De modo sucinto, caracterizarei cada umdeles e, concomitantemente, sugerirei o seu reflexo em alguns subdomínios da vida social cotidiana.

O primeiro dos princípios, a noção de <individualismo>,abrange, segundo Steven Lukes (1996), uma enorme quantidade deidéias, doutrinas e atitudes, inclusive adquirindo variabilidade deacordo com a sua apreensão em determinados países europeus, tendocomo fator aglutinador a atribuição de centralidade ao indivíduo. Aprincípio, sua origem pode ser atribuída ao Século XIX, no períodopós-revolucionário francês, significando a idéia de dissolução doslaços sociais, o abandono pelos indivíduos de suas obrigações ecertos tipos de compromissos sociais (BERMAN, 1986).

Na Alemanha, por outro lado, a expressão esteve associada aoromantismo e tendia a significar o culto do caráter singular e daoriginalidade do indivíduo como também a emergência daindividualidade, traduzida na interpretação de <George Simmel>,contida em sua intensificação da vida nervosa (WAIZBORT, 2000).Por fim, em terras inglesas, o significado do termo contrastava coma idéia de coletivismo. Tipicamente, também foi associado às virtudesda autoconfiança, na esfera da moral e, nas esferas econômica epolítica, aos princípios do liberalismo.

Sobre a noção deindividualismo nacultura moderna,acesse :www.cchla.ufpb.br/caos/georgeardilles.pdf,bem como o brevecomentário em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Individualismo.

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Daí talvez seja possível extrair uma síntese dos diversos usossalientando o fator mais importante: a idéia de que, na modernidade,o indivíduo depara-se com a possibilidade de se deslocar fisicamente,desvinculado de regras de autoridade que regem as coletividadessociais, associando-se, assim, a grupos e tomando decisões de acordocom a sua própria vontade e circunstâncias (GIDDENS, 1991),invertendo por completo a própria noção de indivíduo:

A identidade e o destino pessoal e coletivo searticulavam, assim, à situação de trabalhador deum local e de um senhor de terras que exerciaefetivo poder de vida e de morte sobre seussubordinados, com a contrapartida de apareceramiúde como seu ‘compadre’. Isso na verdadenão diferia muito, ao menos nesse aspecto, deoutras formas de trabalho, como aquelas queos camponeses do feudalismo e de outros tiposde servidão, de caráter coletivo, conheceram aolongo da história. Essa estabilidade se encontratambém em profissões de caráter artesanal, quede modo geral são herança e obrigação quepassavam ao longo de gerações (DOMINGUES,1999, p. 23).

Isso significa dizer que, aos poucos, a modernidade foi rompendo com esse tipo de relação,abrindo espaço para os inúmeros deslocamentos possíveis, cuja menção já foi efetuada, e para oconseqüente desencaixe do indivíduo em relação a essa estabilidade que identifica o cotidiano noperíodo pré-moderno.

A noção de diferenciação, segundo os princípios sugeridos por Kumar, ainda que tenha,dentro da literatura sociológica, uma história recente (LASH, 1997), diz respeito, de modo geral,a um processo social identificado em sociedades ou espécies de sociedades particulares que têmsido objeto de comentários por parte de filósofos, mestres religiosos e pensadores políticos aolongo dos séculos. Trata-se de um conceito que se refere ao reconhecimento e à constituiçãocomo fatos sociais de diferenças entre grupos ou categorias particulares.

De modo geral, várias espécies de diferenciação podem ser identificadas, dentre elas, adiferenciação entre os sexos, entre grupos etários, étnicos e lingüísticos, entre categoriasprofissionais e entre classes e grupos de status. Contudo, na literatura sociológica, o conceito dediferenciação esteve historicamente associado às interpretações relativas à modernidade,conquistando sistematicidade nas obras de Herbert Spencer (1820-1903), Karl Marx (1818-1883)e, especialmente, na sociologia clássica de Émile Durkheim (1858-1917), a partir do momento emque se encontrou associada ao desenvolvimento econômico e à idéia de divisão do trabalho,inclusive sendo definido por Durkheim como a fonte do individualismo que caracteriza as sociedadesmodernas, haja vista que houve um desmembramento de efeitos nos estilos de vida dos indivíduos,não apenas restringindo a sua influência ao âmbito do trabalho:

[...] a divisão do trabalho não é específica do mundo econômico: podemosobservar sua influência crescente nas regiões mais diferentes da sociedade.As funções políticas, administrativas, judiciárias especializam-se cada vez mais.

<George Simmel>,juntamente com MaxWeber, Dukheim e KarlMarx, pode serconsiderado um dosprincipais sociólogosclássicos.

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O mesmo ocorre com as funções artísticas e científicas. Estamos longe dotempo em que a filosofia era a ciência única; ela fragmentou-se numa multidãode disciplinas especiais, cada uma das quais tem seu objeto, seu método, seuespírito (DURKHEIM, 1995 [1893], p.2).

Daí a confirmação de que o conceito é um processo que pode ser identificado, especialmente,na esfera do trabalho e, contemporaneamente, na esfera do consumo, o qual concerne, primeiro,à constante necessidade de especialização que é imposta ao sujeito no âmbito profissional e,segundo, à grande possibilidade de escolha que se encontra atrelada ao consumo. Ambos osfatores levaram a conseqüências impensadas em épocas anteriores relativas à educação, àcarreira profissional e aos estilos de vida possíveis.

No século XX, devido às conseqüências das revoluções industriais, à exacerbação do processode globalização e também ao que Octavio Ianni denominou de a nova “divisão transnacional dotrabalho” (IANNI, 1996, p.1), outras formas de diferenciação social têm conquistado proeminênciano pensamento social. A de gênero e identidade e, especialmente, a de raça, origem étnica ounacionalidade são, sem dúvidas, as mais relevantes.

O terceiro dos princípios mencionados, a noção contemporâneade <racionalidade>, trata-se de um conceito, muitas vezes, ambíguo,compartilhando tal dificuldade de precisão conceitual com outrostermos similares, como por exemplo, as noções de racionalização eracionalismo. Contudo, creio que essas expressões tornaram-segradualmente mais citadas na história da ciência a partir do momentoem que se atribui importância ao indivíduo e ao poder da mentehumana, veiculada pela redefinição da idéia de razão na modernidade,de discernir as teias que estruturam o mundo.

De fato, geralmente, os primórdios do uso da noção de racionalidade podem ser associadosà declaração Iluminista clássica de que a mente e a sociedade humana são tão racionais quantoas outras operações da natureza e tão sujeitas quanto estas à razão científica. Trata-se de umamudança em termos de procedimentos teóricos e metodológicos utilizados para se conhecerem omundo e o universo, que caracteriza o que hoje se entende pela idéia de “ruptura” instituída nahistória do pensamento ocidental pela modernidade. Essa ruptura se efetiva por meio do pensamentogaliléico, rompendo com o dualismo, típico do pensamento antigo, que tratava os conteúdos e aspossibilidades de entendimento do mundo celeste e do mundo terrestre como dissociados.

Do ponto de vista analítico, a modernidade unifica o universo pela afirmação de que asmesmas leis que regulam os corpos celestes igualmente regulam os eventos que ocorrem naTerra. A conseqüência imediata desse processo é o desenvolvimento das ciências físico-naturaise a própria reificação do homem e de suas produções sócio-culturais de tal modo que as categoriasde racionalidade e de racionalização, de acordo com alguns dos principais cientistas sociaismodernos, tornam-se fundamentais para se entenderem as transformações que ocorrem nesseperíodo, especialmente na teoria da modernidade desenvolvida por Max Weber (1864- 1920).Aludindo a Weber, Julien Freund (2000, p. 19) propõe que “a racionalização, como ele a compreende,que ele por vezes associava à noção de intelectualização, é o resultado da especializaçãocientífica e da diferenciação técnica peculiar à civilização ocidental”. Do ponto de vista weberiano,a abrangência no cotidiano desses conteúdos é imensa:

Para saber mais,acesse http://pt.wikipedia.org/wiki/Racionalismo

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O método de laboratório do cientista, o livro razão de lucros e perdas docapitalista, as regras e distinções do burocrata dentro da organização, tudoatesta o significado da racionalização. Esse cálculo cuidadoso criava o controle,era um meio para o domínio. Podia-se ‘domar’ a natureza, tornar dóceis ostrabalhadores, equiparar os lucros e perdas nos livros e conter a complexidade,tudo pela aplicação da ferramenta da racionalidade (LYON, 1998, p. 42).

De fato, a idéia de racionalidade também pode ser vinculada ao papel privilegiado que aciência conquistou no período moderno e também ao seu caráter universalizante, tendo afetadoespecialmente o âmbito do trabalho, como ressaltam Durkheim (1995 [1895]) e o próprio Weber,ao enfatizar a idéia de “diferenciação técnica”, em que as idéias de despersonalização e organizaçãoracional do trabalho, em seu âmbito institucional, são fundamentais.

O quarto dos princípios, a noção de economismo, diz respeito ao papel fundamental que aatividade econômica, os objetivos econômicos e os critérios econômicos de realização tendem atomar, na esteira do desenvolvimento do modo de produção capitalista no Século XIX, superandopreocupações com família, parentesco, política ou guerras, todas tornadas menos importantes. Éimportante ressaltar que não se trata de identificar um único fator como sendo determinante -haja vista que a própria noção de guerra e o seu caráter “industrial” transformam-se em um dosaspectos institucionais fundamentais para se entender a modernidade (GIDDENS, 1991) - masenfatizar que a vida, na modernidade, passa a ser gerenciada, quase sempre, pelos aspectos

constituintes do princípio do economismo.

O quinto e último dos princípios sugeridos que nos possibilitamum entendimento da caracterização geral da modernidade sem,necessariamente, adotar uma teoria explicativa sobre os processosque a tipificam, relaciona-se com a noção de expansão. Trata-se deuma das características centrais da modernidade e que tem nosprocessos de colonização e de <globalização> os seus protótipos eo seu clímax no período que convencionalmente se denomina de era

do imperialismo:A expansão, como objetivo permanente e supremoda política, é a idéia central do imperialismo. Nãoimplica a pilhagem temporária nem a assimilaçãoduradoura, características da conquista. Parecia umconceito inteiramente novo na longa história dopensamento e ação políticos, embora na realidadenão fosse um conceito político, mas econômico, jáque a expansão visa ao permanente crescimento daprodução industrial e das transações comerciais,alvos supremos do século XIX (ARENDT, 1989 [1951],p. 155-156).

A idéia, inevitavelmente, encontra-se associada à noção decolonialismo, a qual designa a ocupação, pela força e em longo prazo,por parte de um país metropolitano, de qualquer território fora daEuropa ou dos Estados Unidos. Expandir-se, conquistar territórios,certamente, não se trata de um privilégio contemporâneo. Contudo, aEuropa moderna caracteriza-se por ter sido o maior investidor nessa

Para saber mais sobreo que é o processo deglobalização, acessehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Globaliza%C3%A7%C3%A3o

Nesta Unidade, sugiroassistir a “Encontros eDesencontros”, filmeescolhidoespecialmente para darmaior subsídio a você,aprendente, decompreender osprocessos queenvolvem amodernidade e queaqui são discutidos.Globalização,diferenciação,distância, espaço-tempo etc.Para conhecer umpouco mais sobre ofilme, acesse:www.cineclick.com.br/

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prática nos últimos cinco séculos, chegando ao ápice em fins do Século XIX, especialmente nadécada de 1880.

Entretanto, a idéia de expansão teve muito mais implicações do que se supõe apenasderivando as suas conseqüências da ênfase depositada na esfera econômica, porquanto elainvade e expande os seus conteúdos não apenas geograficamente, mas penetra, na esteira deprincípios modernos de “racionalidade” e “universalismo”, a cultura das coletividades sociais, emuma tendência homogeneizadora gradualmente crescente. De certo modo, o Século XX expeliuessas inquietações na forma da constituição de um imenso cenário de problemas sociais,econômicos, raciais e identitários que, de certa forma, têm origem na idéia de expansão típica doperíodo moderno.

Outrossim, considerando que já se tem uma visão razoavelmente definida de alguns dosfundamentos que identificam a modernidade, é necessário, agora, compreender em que medidaas mudanças em relação a esses conteúdos trouxeram implicações relativas à ressurgência dequestões vinculadas à formação de um ethos profundamente localizado nos mais diversos espaçosda cultura contemporânea, especialmente no que diz respeito às novas formas de educação.

1) Krishan Kumar, em seu modelo, destaca um conjunto de cinco “princípios” ou de cinco“fundamentos” que, segundo ele, seriam os princípios organizadores do período moderno, aquelesque definem a sua estrutura. De acordo com o que você depreendeu das aulas e das discussõesnos fóruns realizados no AVA - Moodle, explique a que se refere cada um desses princípios. Aresposta a este desafio deve ser um texto, com extensão entre uma e duas páginas.

2) Nessa aula, sugeri assistir ao filme “Encontros e desencontros”. Tendo visto a película econversado sobre as suas impressões no respectivo fórum de discussão, elabore um texto de,minimamente, uma página argumentando sobre que elementos podem ser relacionados entre oprocesso de globalização e algumas de suas conseqüências, e as experiências vividas pelosprotagonistas.

Atenção!

Os fóruns têm um período determinado para a discussão.Além da realização do desafio, cada aprendente deveorganizar horários de estudo de modo a participar ativamentedas interações/comunicações promovidas no AVA - Moodle.O Ambiente Virtual de Aprendizagem é nossa sala de aulaneste curso a distância.

Se você, aprendente, ainda tem dificuldades no uso do AVA -Moodle, é fundamental dirigir-se, com freqüência, ao PóloMunicipal de Apoio Presencial e solicitar orientações aosmediadores pedagógicos presenciais.

DESAFIOS

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AULA 3: DESCONSTRUINDO A MODERNIDADE: AMBIVALÊNCIA, CRÍTICAS EINSATISFAÇÕES

Embora existam divergências em relação ao que se entendepor modernidade, não há qualquer ausência de consenso, tanto naliteratura científica quanto nas representações que o homem comumtem sobre o seu cotidiano, em relação ao fato de que o seu dia-a-dia tem sido modificado em um ritmo bastante diferente do observadoem civilizações pré-modernas, ou seja, do ponto de vista sociológico,parece haver uma espécie de mudança estrutural que temtransformado as sociedades modernas no final do Século XX (HALL,1998). Uma das conseqüências dessas transformações é o fato deque alguns autores, auto-intitulados ou, muitas vezes, intitulados àsua revelia, de <“pós-modernos”>, associam essa mudança àexistência de um “outro mundo” de tal modo que os princípiosessenciais que regem o período moderno são questionáveis, tendoinício logo na própria concepção de história e de tempo que subjaz à

modernidade (KUMAR, 1997).

Inversamente, em Gadamer, a noção de ‘diálogo’, queefetivamente solda o significado da relação passado-presente-futuro,tem valor essencial, no sentido de que se torna impossível pensarsobre o presente que se compartilhe da existência de um ‘diálogo’inevitável com o passado, visto que um conceito não exprime umaessência, mas apenas a história. Contudo, isso não deve implicar aassociação desse “diálogo” à idéia de que a história chegará a umfim, que esse diálogo com o passado permitirá que se percorra umcaminho cujo objetivo seria corrigir as frustrações do passado. Masnão posso deixar de concordar com um certo caráter ético que conduzesse movimento. Nesse sentido, percebo com bastante proficuidadea concepção de Bauman de que a modernidade é <sisífica>, e éessa inquietude que envolve passado, presente e futuro que toma oaspecto de progresso histórico.

“A modernidade é sisífica” (Zygmunt Bauman). O presente está semprequerendo o que o torna feio, abominável e insuportável. O presente é obsoleto.É obsoleto antes de existir. No momento em que aterrissa no presente, oansiado futuro é envenenado pelos eflúvios tóxicos do passado perdido. Seudesfrute não dura mais que um momento fugaz, depois do qual (e o depoiscomeça no ponto de partida) a alegria adquire um toque necrofílico, a realizaçãovira pecado e a imobilidade, morte (BAUMAN, 1999, p. 19).

Na verdade, a concepção ressaltada acima já se encontra presente em fins do Século XIXe também na primeira metade do Século XX, em autores que se inquietaram com o esforço dointelecto moderno de exterminar a ambivalência, a incerteza, o diálogo, como o importante

Para entender melhora história de Sísifo e arelação dela com amodernidade, acesse:<http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADsifo>

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Para iniciar acompreensão danoção de Pós-moderno, leia oCapítulo 2 do livroPós-modernidade, dosociólogo David Lyon,disponível naBiblioteca do PóloMunicipal de ApoioPresencial. Para sabermais, acessetambém: <http://pt.wikipedia.org/wiki/P % C 3 % B 3 s -modernidade>

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pensador alemão Walter Benjamim (1892-1940) que, em seu hoje clássico “Sobre o conceito dehistória”, salienta:

Articular historicamente o passado não significaconhecê-lo ‘como ele de fato foi’. Significaapropriar-se de uma reminiscência, tal como elarelampeja no momento de um perigo. [...] O domde despertar no passado as centelhas da esperançaé privilégio exclusivo do historiador convencido deque também os mortos não estarão em segurançase o inimigo vencer. E esse inimigo não temcessado de vencer (BENJAMIM, 1994, p.224-225,grifo meu).

De fato, diferente do que pensavam filósofos e políticos modernosquando partilhavam de um ideal em que as idéias e os princípiosmencionados acima levariam a vida humana a um “estágio” mais“avançado” e melhor de desenvolvimento, as transformaçõespercebidas em nossa época evidenciam que os “pilares de sustentaçãodo mundo moderno”, vistos anteriormente, parecem ruir: é o fim da<belle époque>, restando apenas sobras de uma época de criseque identificaria a angústia do projeto:

O final brusco e violento da belle époque,coroamento de um processo de quatro séculosde história, trouxe consigo a agonia dessa visãodo mundo chamada modernidade, agonia quevivemos agudamente no presente, e cujo outronome é, precisamente, a crise do Século XX,primeiro capítulo de uma era de incerteza queestá, apenas, começando (KUJAWSKI, 1991, p.14).

Essa percepção diferenciada do que se denomina modernidade,inclusive, não passou completamente ausente na obra de clássicosanalistas da idéia como, por exemplo, Marx, Durkheim, Benjamin, <Baudelaire>, Dostoievski,Weber e Simmel, alguns deles fundamentais para a própria tradição sociológica. Este último,inclusive, considerado consensualmente “o sociológo por excelência da modernidade, no sentidoem que Baudelaire a entendia” (VANDENBERGUE, 2005, p. 44).

Ruth Rocha, abaixo,escritora brasileiracontemporânea, em livrodenominado “Admirávelmundo louco”, ressaltaesse caráterambivalente do mundomoderno em linguagemextremamente acessívelà criança. Esse livro estádisponível na Bibliotecado Pólo Municipal deApoio Presencial. Parasaber mais sobre ela,acesse http://w w w 2 . u o l . c o m . b r /

ru th rocha /home.h tm

Você deseja saber maissobre a belle époque?Então acesse http://pt.wikipedia.org/wiki/Belle_%C3%A9poque

David Lyon, em sua análise da modernidade ora utilizada, ressalta que asprimeiras análises sociais emitiram notas de advertência e preocupação. Nomundo da produção, Marx encontrou capitalistas exploradores e trabalhadoresalienados. Durkheim detectou uma profunda sensação de ansiedade, deincerteza com relação ao andamento das coisas, entre os afetados pelasnovas divisões do trabalho. Weber temia que a racionalização talvez abatesseo espírito humano, trancafiando-o na jaula burocrática. Simmel sentiu que asociedade de estranhos produziria novo isolamento e fragmentação social. Eassim por diante. Nas décadas finais do Século XX, quando a realidadecomprovou essas premonições sociais científicas, a modernidade foi vistacomo uma confusão (LYON, 1998, p. 48).

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Além desses autores, cuja proeminência na sociologia clássicaé indiscutível, não é possível deixar de mencionar dois dos maisimportantes pensadores ocidentais que, sem dúvida, constituem oseleto grupo de críticos da modernidade e progenitores do conceitode pós-modernidade: Friedrich Nietzsche (1844-1900) e MartinHeidegger (1889-1976).

Nietzsche, por meio da introdução da noção de “niilismo”, traduz,naquele contexto, o que nos dias de hoje se entende por uma críticaaos conceitos de verdade e de racionalidade do modo como a tradiçãoIluminista nos legou, opondo a eles a idéia de que a realidade não éunívoca e que à razão Iluminista opõem-se os “sistemas depersuasão”, cujo objetivo definitivo seria a “solidificação de metáforas”por um determinado grupo social. Heidegger, por seu turno, além dascontribuições para a <teoria hermenêutica> já mencionadas emseu livro “Ser e Tempo”, publicado há 80 anos, dedica-se a entendertambém as transformações modernas por meio da filosofia da diferençapresente em Nietzsche, mas, ao invés de uma crítica à verdade,aprofunda e desloca o alvo de seu questionamento em direção àconstatação de que a diferença é constituinte do “Ser”. Ou seja, oerro da filosofia até então, segundo Heidegger, é a focalização naverdade ao abordar a relação entre os seres, porque o foco deveriaser a sua existência prévia (HEIDEGGER 1998 [1927], LYON, 1998).

No âmbito da sociologia contemporânea, talvez as maisimportantes teorias sobre a modernidade e as suas conseqüênciassejam as de Anthony Giddens e Jürgen Habermas. Além disso, érelevante também considerar que não há consenso na teoria socialem estreitar a relação entre a mudança percebida nacontemporaneidade e a pertinência do uso da expressão “pós-moderna” para caracterizá-la. Nesse sentido, antes de iniciar aapresentação do que realmente significa esse “pós” e quais as relaçõespossíveis com a educação, apresentarei a Teoria da ModernizaçãoReflexiva de Anthony Giddens e algumas de suas implicações para ofazer educativo.

Para conhecer CharlesBaudelaire, um dosmaiores poetasocidentais e um dosprincipais intérpretesda modernidade,acesse http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_BaudelairePara ler um pouco maissobre a relação entre opoeta e a cidademoderna, leia oexcelente artigo deFranklin Alves,acessando http://www.revistazunai.com.br/ensaios/franklin_alves_baudalaire_borges.htm

Em sua descrição, hojeclássica, “amodernidade é otransitório, o fugitivo, ocontingente, a metadeda arte, cuja outrametade é o eterno e oi m u t á v e l ”(BAUDALAIRE, 1976, p.623).

Para conhecer o que éa “Hermenêutica”,http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermen%C3%AAuticaAlém disso, acessetambém http://www.cchla.ufpb.br/caos/06-carvalhocosta.html

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É curioso e ao mesmo tempo importante comentar que a inserção dessesautores como precursores da idéia de pós-moderno dá-se a sua revelia eapenas ocorre para fins de consecução da heurística dessa seção. Issoporque, por exemplo, o próprio Anthony Giddens, sociólogo que se contrapõeclaramente ao pós-modernismo, posicionando-se em torno de uma posturaracionalista (DOMINGUES, 2002), argumenta que é em Nietzsche que sepode encontrar a origem de seu projeto de radicalização da modernidade,pois foi o filósofo alemão um dos que “chamou a modernidade à razão”,“mostrando que o próprio Iluminismo era um mito, formulando perguntasinquietantes sobre o conhecimento e o poder”. Para ele, nos dias de hoje, “amodernidade tem sido obrigada a ‘tomar juízo’” (GIDDENS, 1997, p. 74).As exposições completas das respectivas teorias sobre a modernidadeencontram-se nas obras já mencionadas: “As conseqüências da modernidade”(1991), A teoria da ação comunicativa (1999 [1981]) e O discurso filosóficoda modernidade (1990 [1985]).

1) Em vários momentos, nesta primeira Unidade de nosso percurso, há referência às conquistas erealizações humanas que nos acompanharam nos últimos séculos (Modernidade). Contudo, associadaa elas, há uma opinião corrente na literatura sociológica, ressaltando a existência de uma“ambivalência” intrínseca a esse período histórico. Explique:a) O que se quer dizer quando se fala em “ambivalência” da modernidade.b) Quais aspectos ou eventos históricos e sociológicos podem ser utilizados para reforçar a suatese, algo a que Piotr Sztompka, sociólogo polonês, refere-se como sendo o “desencanto com amodernidade”. Para responder às questões propostas, produza um texto entre uma e duaspáginas.

2) Nesta aula, foram discutidos vários elementos que caracterizam o que em Sociologia sedenomina de “ambivalência”. No corpo do texto, há a referência ao livro “Admirável mundo louco”,da professora Ruth Rocha. Quais relações você acredita serem possíveis de fazer entre a primeirahistória por ela apresentada e essa ambigüidade instituinte da natureza humana?

Atenção!

As respostas a essas questões devem ser postadas no AVA- Moodle no prazo estipulado pelo professor-pesquisador.

Aprendente, sempre que você visitar o AVA- Moodle deveobservar os links mensagens, últimas notícias epróximos eventos. Mantenha-se informado(a).

DESAFIOSDESAFIOS

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AULA 4: A TEORIA DA MODERNIZAÇÃO REFLEXIVA DE ANTHONY GIDDENS E AEDUCAÇÃO

Como é perceptível, há uma diversidade de concepções relativasà modernidade, que sugerem aspectos tanto positivos quantonegativos a ela associados. Essa é a razão da sua ambivalênciatanto no que diz respeito ao diagnóstico quanto ao prognósticopossível. Por exemplo, poderíamos aqui mencionar as críticasapresentadas por Zygmunt Bauman (1999 [1998]) com base na idéiade autodestruição da humanidade, bem como noções outras quepostulam a necessidade de retorno a formas tradicionais da vidasocial ou, ao contrário, sugerem a impossibilidade de retroação dasociedade e a necessidade de construção de um novo tipo desociedade pós-moderna (SZTOMPKA, 1998; LYON, 1998).

<Anthony Giddens> (1991 [1990]; 1997 [1995]), sociólogoinglês de extrema importância na contemporaneidade, tanto do pontode vista teórico quanto no que diz respeito ao seu papel na políticaeuropéia recente, aborda a modernidade como um período deconstantes transformações que ele interpreta a partir dasdescontinuidades sociais que assinalam nas instituições modernasum aspecto singular, diferenciado das instituições de ordem tradicional.O caminho teórico traçado por Giddens apresenta dois aspectoscentrais: a sua Teoria da Estruturação Social e a Teoria daModernização Reflexiva, esta última mais atrelada à interpretaçãoparticular relativa à modernidade.

Elaborada com a intenção de superar limitações do Funcionalismo e do Estruturalismo, aTeoria da Estruturação Social de Anthony Giddens apoiou-se em idéias oriundas de diversasfontes, especialmente as da sociologia interpretativa. Enquanto o pensamento funcionalista,ancorado na biologia, tomava essa ciência como a mais compatível com as ciências sociais paraconceituar a estrutura e o funcionamento dos sistemas sociais, e o pensamento estruturalista sefixava em estabelecer relações de cunho cognitivo entre as ciências sociais e naturais, Giddens(1989 [1984]), apoiado na sociologia interpretativa, buscava prioritariamente compreender asações dos indivíduos.

Contrapondo-se à exacerbada ênfase na ação ou na estrutura, a Teoria da Estruturaçãoparte do princípio de que o domínio básico das ciências sociais está voltado para as práticassociais ordenadas no tempo e no espaço. Nesse sentido, Giddens (1989 [1984], p. 02) defendeque as “atividades sociais não são criadas pelos atores sociais, mas recriadas continuamente poreles e através dos meios pelos quais eles se expressam como atores”. Esse processo ocorremediante a recriação das ações, reproduzindo as condições necessárias que tornam possíveistais atividades. A continuidade das práticas sociais presume reflexividade, porém, esta somenteé possível a partir da continuidade de práticas que permanecem no tempo-espaço. A açãoreflexiva é um processo que permite aos indivíduos monitorarem o fluxo contínuo de sua vidasocial. Essa monitoração está vinculada às intenções do ator, considerando, portanto, o ser

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Para conhecer melhor aTeoria da ModernizaçãoReflexiva, leia aintrodução do livro AsConseqüências daModernidade, dosociólogo inglês AnthonyGiddes, disponível naBiblioteca do PóloMunicipal do ApoioPresencial. Para sabermais, leia entrevista comesse importantei n t e l e c t u a lcontemporâneo em:/http://ww.cpdoc.fgv.br/revista/arq/179.pdf

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humano como um agente intencional. Vale salientar que a ação intencional não corresponde aoacúmulo de motivos, mas, principalmente, ao controle das situações por meio da monitoraçãocontínua de suas ações e das ações de outros. Desse modo, as normas são tomadas comoaspectos mutáveis, frente às quais os indivíduos podem tomar várias atitudes ‘manipulatórias’(GIDDENS, 1989 [1984]).

Considerando a capacidade de transformação dos indivíduos,Giddens (1989 [1984]), em sua Teoria da Estruturação, situa aconstituição da ação a partir de três processos básicos: monitoraçãoreflexiva, racionalização da ação e motivação da ação. A monitoraçãoreflexiva refere-se à capacidade dos indivíduos para controlar umasituação; a racionalização encontra-se vinculada às intenções doagente em obter um determinado resultado, e a motivação, diferentedos dois processos anteriores, não está necessariamente ligada àcontinuidade da ação, pois se refere, mais especificamente, aopotencial da ação. Isso quer dizer que, embora toda ação sejaconsiderada intencional, os resultados nem sempre são os pretendidos,de modo que as conseqüências não premeditadas podem constituirum processo de retroalimentação para novos atos. Nessa perspectiva,ação envolve poder e poder, nesse caso, refere-se à capacidade de

transformação dos indivíduos (poder do indivíduo).

Os elementos constituintes da Teoria da Estruturação remetemà idéia de que a estrutura não detém caráter imutável, e as mudançaspossíveis decorrem da ação dos indivíduos sobre a estrutura (e vice-versa), enquanto sujeitos dotados de poder de transformação. Maisdo que qualquer outro elemento da Teoria da Estruturação, acapacidade de transformação, enquanto um monitoramento reflexivoe contínuo da vida social, representa um dos mais importantesaspectos para a sociedade moderna. A relevância da reflexividadena vida social moderna consiste na capacidade de analisarconstantemente as práticas sociais e transformá-las a partir deinformações acerca delas. Essas transformações não têm um caráterdefinitivo para tais práticas, já que estas poderão ser reformuladasem momentos posteriores com base em novas informações. Comoexemplo da necessária transformação das práticas sociais, asmudanças sociais observadas no cenário nacional, desde a aberturapolítica, são suficientes para fundamentar hipóteses referentes às mudanças nas práticas sociais,por exemplo, do movimento estudantil e de outros grupos sociais que, no Brasil, se constituíramno período pós-militar, formulando reivindicações e formas de participação social condizentescom um contexto sócio-político baseado na democracia.

Nesse sentido, a reflexividade constitui o aspecto dinâmico da vida social, tornando-secada vez mais imprescindível diante da necessidade de “adequação” e reformulação da práticasocial frente a alguns aspectos característicos da modernidade, como as mudanças e transformaçõessociais em curto espaço de tempo. É sobre esse aspecto que Giddens se debruça em seus últimos

Giddens (1989 [1984])cita a monitoraçãoreflexiva como um dosaspectos relevantespara a manutenção docontrole da ação emseu contexto. Porém, osentido que lhe éconcedido na obra “AConstituição daSociedade” não é omesmo que Giddensdedica à noção dereflexividade em obrasposteriores (1990,1992, 1994, 1995), aqual defino, a partirdas palavras do autor,como o meio de filtraras informações, quesão constantementerenovadas, que servemde base para atransformação da vidacotidiana a partir demudanças nas práticassociais, por meio deações criativas,transformando taispráticas a partir do seuaspecto original frenteàs mudanças nasociedade.

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trabalhos, enfatizando a necessidade da reflexividade social no mundo moderno, enquanto ummundo globalizado, caracterizado pelo movimento, pela incerteza e pelo risco social, conceitos

fundamentais para a compreensão de suas idéias relativas à modernidade.

Giddens (1991 [1990]) considera a modernidade como um período caracterizado por umdesenvolvimento social descontínuo, sendo, portanto, fundamental a compreensão da naturezadas descontinuidades sociais para que se possa, de fato, analisar e entender a modernidade esuas conseqüências. A descontinuidade à qual Giddens se refere não está associada àsdescontinuidades típicas dos períodos de transição (como na passagem das sociedades tribaispara as sociedades agrárias) nem ao que o materialismo histórico marxista considerou comoruptura de classe, mas ao conjunto de descontinuidades específicas associadas ao períodomoderno, que gerou e gera alterações tanto no amplo plano social quanto no plano pessoal. Paraele, a dinamicidade que caracteriza e distingue a sociedade moderna das tradicionais é conseqüênciada separação do tempo e do espaço e da sua recombinação, que permite o estabelecimento deuma nova relação tempo-espacial na sociedade; do desencaixe dos sistemas sociais e da ordenaçãoe reordenação reflexiva das relações sociais à luz da aquisição contínua de conhecimento,afetando as ações de indivíduos e grupos.

A transformação na relação tempo-espaço, enquanto uma característica da modernidade,ocasionou a independência destes dois núcleos - tempo e espaço - de tal modo que gerou odesenvolvimento de certo espaço vazio. Assim, a relação face a face nem sempre é necessáriapara a troca de informações, implicando também a interferência de relações distantes na dinâmicasocial de locais diversos sem, necessariamente, ter havido algum contato direto e presencial dosindivíduos de uma determinada sociedade com aquela geradora das informações que conduziramàs transformações.

Giddens considera a separação tempo-espaço fundamental no processo dinâmico dassociedades modernas por ser essa a condição principal do desencaixe, que ele define como “odeslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação atravésde extensões indefinidas de tempo-espaço” (1991, p. 29). Esse deslocamento permite umaconexão entre aspectos locais e globais, resultando em uma maior abertura para as mudanças dehábitos locais. Ele distingue dois tipos de mecanismos de desencaixe: fichas simbólicas e sistemasperitos. As fichas simbólicas significam os meios de intercâmbio que circulam sem necessariamenterevelar as características específicas dos indivíduos ou grupos que lidam com eles em umasituação particular (ex: o dinheiro). Os sistemas peritos se referem aos sistemas de competênciaprofissional que organizam o ambiente material e social no qual nos inserimos (ciência). Embora ouso de determinadas tecnologias represente, simultaneamente, necessidade e risco, as pessoas‘aceitam’ o risco por acreditar na perícia de seu sistema (ex: uso de carros e elevadores, consultamédica).

Nessa perspectiva, o mecanismo de desencaixe está vinculado à confiança, uma vez que,nesse processo, a separação tempo-espaço torna as relações sociais distanciadas, suscitando anecessidade de se confiar no desconhecido, mesmo considerando os riscos possíveis decorrentesda falta de conhecimento e/ou de controle acerca da situação/interação. A confiança, nessecontexto, funciona como um minimizador da sensação de perigo ao qual os indivíduos estãoexpostos (GIDDENS, 1991 [1990]; 1997 [1995]).

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Nos trabalhos mais recentes, Giddens (1991 [1990], 1993 [1992],1996 [1994], 1997 [1995]) enfatiza as transformações sociaisocasionadas pela mudança referente ao tempo-espaço,conseqüentemente, as relações sociais em nível global e anecessidade de os indivíduos se adequarem ao ritmo de transformaçãoda sociedade moderna, fazendo uso de mecanismos, como odesencaixe e a reflexividade, enquanto características definidorasda ação humana. A reflexividade, embora esteja embasada no conceitode monitoração reflexiva, é definida de modo diferenciado, consideradana vida social moderna como um meio de filtrar as informações etransformar as práticas sociais a partir destas, seguindo um processocontínuo guiado pela renovação de informações. Trata-se datransformação da vida cotidiana a partir de novas descobertas e dapossibilidade de agir criativamente frente às mudanças,transformando-as com base no seu aspecto original. Embora o conhecimento reflexivo sejaconstituinte da modernidade, ele não remete à idéia de certeza, mas de revisão contínua e detransformação advinda dessa revisão. O acesso à informação, assegurado pelos diversos meiosde comunicação e por meio dos resultados de estudos, fornece aos indivíduos a possibilidade deavaliar a vida social e de tomar essa avaliação como base para novos comportamentos e práticassociais (GIDDENS, 1991 [1990]).

Embora Giddens enfatize a confiança como elemento central do desencaixe, fundamentalpara a manutenção do equilíbrio entre as relações sociais a distância, não podemos desconsiderarque eventos sociais como o ataque aos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, as guerrase invasões de territórios e as constantes alterações na economia afetam, em maior ou menorgrau, a confiança dos atores sociais, necessária ao desencaixe, gerando instabilidades, conflitose oposição a projetos políticos e planos econômicos que representam ameaças à sociedade. É oque ele denomina de riscos globais.

Um dos desdobramentos possíveis, em relação à educação, é concebê-la não mais comoum processo cumulativo, haja vista que, em um mundo guiado por elementos de incerteza que otempo todo nos fazem rever nossos procedimentos de análise, é necessária uma consciênciacrítica e reflexiva constante. Ou seja, a importância da revisão e transformação do conhecimentoe das práticas nas sociedades modernas também deve remeter à organização e reorganizaçãodos sistemas de regras e reorganização das relações sociais que, por sua vez, ampliam aspossibilidades de reconstrução das velhas formas de conhecimento.

A concordância relativa à idéia de que hoje vivemos em uma sociedade de risco exposta porBeck (1997) nos leva a compreender o aprendizado social moderno como uma reação dos indivíduosàs incertezas. Nesse sentido, ele concebe as sociedades geradoras de risco como as que maispossibilitam aos sujeitos oportunidades de mudança. A sociedade de risco surge no decorrer dosprocessos de modernização produzindo ameaças que nem sempre podem ser previstas pela ciência,ocasionando transformações nas relações da sociedade moderna com os recursos naturais eculturais; no relacionamento da sociedade, com ameaças geradas por ela, e no significado dacoletividade e dos grupos. Assim, a necessidade de decisão, emergente dos riscos sociais, exigea constante revisão e reformulação das práticas sociais a partir de novas informações. Já Giddens

Nas obras de 1993 (ATransformação daIntimidade) e de 1996(Para Além da Esquerdae da Direita), Giddensremete, respectivamente,essa discussão àstransformações nasesferas afetiva e políticana modernidade.

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(1991[1990]), apoiado nesses aspectos, destaca a importância da reflexividade lembrando que,embora em diversas culturas a revisão e a transformação das práticas sociais, baseadas emnovas informações, correspondam a uma rotina, apenas na modernidade, de modo radical, essarevisão pode ser aplicada a todos os aspectos da vida, inclusive aos tecnológicos. Sob essaperspectiva, a modernidade é constituída e constituinte do conhecimento reflexivo aplicado,apesar de esse conhecimento não se encontrar relacionado à idéia de certeza.

De modo sintético, pode-se considerar a modernidade, do pontode vista de Anthony Giddens, como um conjunto de elementos inter-relacionados do processo de globalização que, em seu desenrolar,estende as relações sociais, culturais, políticas e econômicas aonível global, propiciando amplas influências no cotidiano das pessoase, concomitantemente, exigindo maior autonomia local; do risco, quesurge de modo inevitável como conseqüência da ação humana e daimprevisibilidade dos resultados da operação dos “sistemas abstratos”,gerando, portanto, a incerteza, enquanto perda ou diminuição degarantias decorrentes de possíveis falhas nos sistemas abstratos,na sua operação ou em seu projeto inicial; e da confiança, enquantoum meio de amenizar a sensação de perigo e a possibilidade deestabelecer relações cotidianas a partir dos sistemas abstratos,pautados na ausência de interação face a face (GIDDENS, 1991;1997).

Finalmente, diante de um cenário social constituído porconstantes transformações, novas informações, riscos e incertezas,Giddens afirma que os indivíduos podem apresentar diversas reaçõesde adequação ou ajuste às incertezas e aos riscos sociais, como: a)Aceitação pragmática frente às tarefas cotidianas e repressãoconsciente da ansiedade; b) Otimismo, crença na mudança eimpedimento dos perigos por parte das divindades, da ciência etecnologia ou da racionalidade humana; c) Pessimismo cínico ehedonismo voltado para o aqui e o agora ou d) Oposição às fontesde perigo, em geral, conduzida pelos movimentos sociais (SZTOMPKA,1998).

“[...] um estágio damodernidade em quecomeçam a tomarcorpo as ameaçasproduzidas até entãono caminho dasociedade industrial.Isso levanta aquestão daautolimitação daqueled e s e n v o l v i m e n t o ,assim como da tarefade redeterminar ospadrões (der e s p o n s a b i l i d a d e ,segurança, controle,limitação do dano edistribuição dasconseqüências dodano) atingidos atéaquele momento,levando em conta asameaças potenciais.Entretanto, oproblema que aqui secoloca é o fato deestes últimos nãosomente escaparem àpercepção sensorial eexcederem à nossaimaginação, mastambém não poderemser determinados pelaciência” (BECK, 1997,p. 17).

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1) Explique, do ponto de vista da Teoria da Modernização Reflexiva, do sociólogo inglês AnthonyGiddens, o que ou quais elementos caracterizam a Modernidade. Sua resposta para essequestionamento deverá ser postada no AVA - Moodle no período determinado pelo professor-pesquisador.

Atenção!

Ao acessar o AVA - Moodle, você encontra o link <Fóruns>,no menu de opções situado à esquerda da tela principal.Em caso de dúvidas para participar do fórum, soliciteorientações aos mediadores pedagógicos presenciais ou adistância.

DESAFIO

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UNIDADE II

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS DA PÓS-MODERNIDADE E A EDUCAÇÃO

Filosofia da EducaçãoAULA 5: A NATUREZA E A CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA DA IDÉIA DE PÓS-MODERNIDADE

De modo geral, define-se Pós-podernidade como a condição sócio-cultural e estética docapitalismo contemporâneo, também chamado de pós-industrial ou financeiro (JAMESON, 2007).É um termo que se tornou de uso corrente, mas bastante disputado, e a respeito do qual teóricose acadêmicos têm diferentes concepções. Percebe-se certa confusão, incompreensão ou

perplexidade diante das mudanças na sociedade contemporânea.

Perplexidade, angústia confusão, mistura...

Para o crítico marxista norte-americano Fredric Jameson (2007), a Pós-modernidade é a“lógica cultural do capitalismo tardio”, uma lógica conservadora, incapaz de promover atransformação social. Com visão semelhante, mas escrevendo como filósofo, Jürgen Habermas(1989) também considera que a Pós-modernidade estaria relacionada a tendências políticas eculturais neoconservadoras, determinadas a combater os ideais iluministas e os de esquerda. Umdos pioneiros no uso do termo, o francês François Lyotard, falava da condição pós-modernacomo aquela em que as meta-narrativas modernas foram desacreditadas, em que a ciência nãomais poderia ser considerada como a fonte definitiva da verdade - uma era em que o saberestaria novamente aberto e em permanente construção. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman éum dos principais popularizadores do termo nos meios acadêmicos e considera a pós-modernidadecomo a conseqüência sociológica inevitável da modernidade - uma realidade ambígua, multiforme,a que ele prefere chamar de “líquida”, à luz da clássica expressão marxista “Tudo o que é sólidodesmancha no ar”. Há aqueles autores que preferem evitar o termo. Gilles Lipovetsky (2005), porexemplo, um dos expoentes da filosofia francesa atual, prefere o termo hiper-modernidade, aoconsiderar que não houve uma ruptura com os tempos modernos, como o prefixo “pós” dá aentender. Ele considera que os tempos atuais são modernos, uma intensificação de característicasdas sociedades européias modernas, tais como o individualismo, o consumismo, a ética hedonista,a fragmentação do tempo e do espaço.

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A segunda metade do Século XX assistiu a um processo sem precedentes de mudanças nahistória do pensamento e da técnica. Ao lado da aceleração avassaladora nas tecnologias decomunicação, de artes, de materiais e de genética e da expansão humana, ocorreram mudançasparadigmáticas no modo de se pensar a sociedade e suas instituições.

De modo geral, as críticas apontam para as raízes da maioria dos atuais conceitos sobre ohomem e seus aspectos, constituídas no momento histórico iniciado no Século XV e consolidadono Século XVIII. A Modernidade que surgira nesse período é agora criticada em seus pilaresfundamentais, como a crença na Verdade, alcançável pela Razão, e na linearidade histórica rumoao progresso. Para substituir esses dogmas, são propostos novos valores, menos fechados ecategorizantes. Uma vez adotados, eles serviriam de base para o período que se tenta anunciarno pensamento, na ciência e na tecnologia, de superação da Modernidade. Seria, então, oprimeiro período histórico a já nascer batizado: a Pós-modernidade.

Se os fatores determinantes forem infraestruturais, pode-se dizer que a Pós-modernidadecomeça com a passagem das relações de produção industriais para as pós-industriais, baseadasfundamentalmente em serviços e trocas de bens simbólicos ou abstratos, como a informação e acirculação de dinheiro nos caminhos virtuais da especulação financeira. Nesse caso, ela seria dedistribuição desigual, realidade já presente em algumas regiões e ainda muito distante paraoutras, pois a organização das relações de produção não se dá de forma homogênea — ainda —em todas as partes do mundo.

Contudo, se for a superestrutura que define as alterações, a Pós-modernidade nasce noprocesso de contestação das certezas metafísicas do pensamento moderno na segunda metadedo Século XX. Do fim da Primeira Guerra Mundial em diante, uma onda de revisionismo e romantismovarreu o pensamento ocidental e cosmopolita. Gradualmente, cresceu a concepção de que nem ocapitalismo seria demoníaco nem o socialismo seria libertador, ou vice-versa. Se fosse esse ocaso, haveria uma Pós-a Pós-Modernidade, ou seja, deixaria de ser um conceito hipotético epassaria a ser uma configuração real da cultura. Não deve ser por acaso que as contestaçõesrelativistas tenham aparecido justamente nos mesmos países em que a economia caminhou parao estágio de produção pós-industrial. Na Europa Ocidental e na América do Norte, verificou-se oconjunto de fenômenos sócio-culturais que permitiram identificar os tais novos valores.

Mulheres Gays Diversidade

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Desde a década de 1980, desenvolve-se um processo de construção de uma cultura emnível global. Não apenas a cultura de massa, já desenvolvida e consolidada desde meados doSéculo XX, mas um verdadeiro sistema-mundo cultural que acompanhe o sistema-mundo político-econômico resultante da globalização.

A Pós-modernidade, que é o aspecto cultural da sociedade pós-industrial, inscreve-senesse contexto como um conjunto de valores que norteiam a produção cultural subseqüente.Entre esses, a multiplicidade, a fragmentação, a desreferencialização e a entropia que, com aaceitação de todos os estilos e estéticas, pretende a inclusão de todas as culturas comomercados consumidores. No modelo pós-industrial de produção, que privilegia serviços e informaçãosobre a produção material, a comunicação e a indústria cultural ganham papéis fundamentais nadifusão de valores e idéias do novo sistema.

O Pós-moderno como crise da Representação

O que se denomina “Crise da Representação”, que assombra a arte e as linguagens nocontexto pós-moderno, é um fenômeno diretamente ligado à destruição dos referenciais quevinham norteando o pensamento até bem recentemente. O registro do real (figurativismo) era oprincipal eixo da pintura até 1870, assim como do resto da arte, até o pós-guerra. Dali em diante,valoriza-se a entropia; “tudo vale”, e todos os discursos são válidos. O resultado disso é que nãohá mais padrões limitados para representar a realidade, o que provoca uma crise ética e estética.

Quem sou eu, afinal? Eu, na verdade, sou vários Eu’s!

A justificativa para essa mudança pode ser mais objetiva: com a História apontando para aformação de uma sociedade global (nível macro), todas as visões de mundo pré-existentes (nívelmicro) não poderiam ser descartadas, sob pena de excluir interessantes mercados consumidoresdo sistema-mundo capitalista. O pós-moderno, assim, pelo seu caráter policultural, suamultiplicidade, sua hiperinformação, serve bem à constituição de uma rede inclusiva deconsumidores. E dentro disso está inserida a dejeção dos referenciais de representação. E éjustamente devido a esse aspecto que Fredric Jameson, anteriormente mencionado, associa aidéia de pós-moderno com a lógica do capitalismo tardio.

Outra maneira de compreender o pós-moderno se encontra associada aos meios audiovisuais,os quais, de certo modo, também podem ser tratados na mesma lógica do capitalismo tardioempregada por Jameson. Utilizando-se da sua capacidade de atingir mais sentidos humanos(visão e audição, responsáveis por mais de ¾ das informações que chegam ao cérebro), eles têmum potencial mais rico e imediato para transmitir sua mensagem e sua visão de realidade. Aliteratura, a música e a poesia dependem de um grau mais alto de abstração e interação lógicacom o intelecto, não obstante outras artes “mais antigas” já tivessem seus momentos de mesclaentre ficção e realidade, como as pinturas rupestres das cavernas (que eram os próprios animaispintados, e não representações deles) ou a escultura das primeiras civilizações (que buscavam a

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própria forma do real). Hoje, entretanto, estão na esfera da arte ou ficção. Pode ser que, numfuturo incerto, o homem ria do vídeo, perguntando-se como pôde um dia acreditar numa imagemformada por circuitos eletrônicos. Mas, até lá, continuará em dúvida sobre sua validação ou nãocomo parte da realidade.

Do ponto de vista estético, é possível identificar diferenças fundamentais em relação atudo o que veio antes, incluindo todas as estéticas modernistas. Os próprios critérios-chave daestética moderna, do novo, da ruptura e da vanguarda são desconsiderados pelo Pós-moderno.Já não é preciso inovar nem ser original, e a repetição de formas passadas não é apenas toleradamas também encorajada (KUMAR, 1997).

Entretanto, ainda que diversas obras estéticas, de diferentes categorias, apresentemcaracterísticas semelhantes e recorrentes, não parece correto nem possível falar de um “estilopós-moderno”, muito menos de um “movimento pós-moderno”. Tais conceitos prescindiriam decerto nível de organização, articulação ou mesmo intercâmbio que simplesmente não existe entreos produtores de estética. Se foi possível falar em movimento modernista, isso é devido ao fatode haver grupos relativamente próximos e em certa freqüência de contato na Europa do início doSéculo XX. Na Pós-modernidade, os artistas até têm maiores possibilidades de se comunicar,mas as incalculáveis tendências e linguagens postas em prática tornam impossível uma unicidade

formal.

Ópera em Sidney, Austrália

MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói

As similaridades estéticas entre os produtos provavelmente são conseqüência das condiçõesde produção e de circulação, pois um dos efeitos sabidos da globalização é a homogeneizaçãodas relações de produção e dos hábitos de consumo. Daí advém o neo-historismo (na verdade,um não-historismo, na medida em que desconsidera a História), que é a mistura de todos osestilos históricos em produtos sem período definido, é o fim da proibição, é a admissão de todo equalquer produto, pois, se o processo de regulamento couber ao mercado, toda produção será

considerada mercadoria.

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1) Esse período, denominado de pós-modernidade, é, muitas vezes, associado a “confusão”,“caos”, “mistura” etc. Muitas dessas expressões são derivadas do que é possível denominar de“crise de representação”. Explique o que é exatamente essa “crise”. Produza um texto curto (1 a2 páginas) e poste-o no AVA - Moodle.

2) Nessa aula, conversamos sobre algo que a Sociologia denomina de “crise de representação”.Para completar a conversa, um breve vídeo educativo foi produzido para tratar do tema. Do seuponto de vista, o que é possível observar nessa conversa, conduzida a partir de uma diversidadede imagens, que possa ser associado a essa idéia de “crise representacional”? Ou seja, por que avida, hoje, não tem mais apenas um sentido?

DESAFIOS

Atenção!

Aconselho realizar os desafios de cada aula sempre após aleitura e o estudo do tema. Se isso não for possível, vocêdeve fazer anotações no momento de estudo, que deverãoser relidas e consultadas antes de tentar responder ao desafio.As dúvidas também devem ser anotadas e enviadasimediatamente aos mediadores pedagógicos a distância.

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AULA 6: PÓS-MODERNIDADE: PRINCIPAIS AUTORES E TENDÊNCIASTEÓRICAS

Charles Lemert (2000) identifica três conjuntos de teorias sociaisatuais que refletem posições impositivas relevantes no tocante a umauto-entendimento relativo à questão do pós-modernismo: o pós-modernismo radical, o modernismo radical e o pós-modernismoestratégico.

A primeira vertente sugerida, o pós-modernismo radical, temna teoria de <Jean Baudrillard> o seu principal referencial, emborapossam ser associados a essa perspectiva outros dois autores, GuyDebord e o seu “A sociedade do espetáculo” (1997[1967]) e <JeanFrançois Lyotard> e o seu clássico ensaio “A condição pós-moderna”(1998 [1979]). Na perspectiva do pós-modernismo radical, amodernidade é uma espécie de “discurso”; trata-se de uma culturaque acredita em certas metanarrativas ou histórias amplamentepartilhadas sobre o valor e a “verdade” da ciência e da própriaverdade. O pós-modernismo radical postula que crenças como essasjá não são consideradas completamente legítimas e, nesse sentido,não são universalmente tidas como críveis. Ou seja, as crençastotalizantes que alicerçam o mundo moderno, que têm sido as principaisresponsáveis pela sua estrutura e contextura, durante os últimosquatro séculos - razão, ciência, nação, técnica, progresso, revolução- hoje são consideradas falíveis, desestabilizando o mundo em que o

homem habita (KUJAWSKI, 1991).

A teoria de Baudrillard, de certo modo, parece ir além dessa constatação e é, sem dúvida,por isso que a vertente é considerada radical, que a modernidade é uma coisa do passado,porquanto ele acredita que o mundo da cultura hoje se encontra completamente separado detoda base necessária na realidade. A vida social seria, em sua teoria, bem mais um espetáculoque simula a realidade do que a própria realidade. O homem viveria, do ponto de vista deBaudrillard, em uma hiper-realidade, em que a simulação da realidade seria mais real que a própriacoisa (LEMERT, 2000). Um exemplo dessa idéia é afirmar que as réplicas na Disneyworld daAmérica mítica são a coisa americana real – mais real que qualquer aldeia americana nos dias dehoje.

Jean Baudrillard

Jean François-Lyotard

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Na segunda vertente, a do modernismo radical, situam-se algunssociólogos contemporâneos: os integrantes da <Escola deFrankfurt>, especialmente Theodor Adorno, Herbert Marcuse e<Jürgen Habermas>, além de Anthony Giddens e Pierre Bourdieu,já estudados no percurso anterior, podem ser considerados referênciasessenciais. De acordo com essa perspectiva, “pós-moderno” deveriareferir-se a uma evidente ruptura com o moderno, o que, para ela,não estaria ocorrendo, confirmando-se apenas uma espécie de “crise”,termo cujo uso é bastante ressaltado em oposição a “decadência”,visto que este parece ser carregado de uma mística equivocada devolta à tradição ou de fim do mundo (KUJAWSKI, 1991, p. 84). Opróprio Giddens (1991) utiliza a expressão radicalização damodernidade para referir-se a mudanças que têm sido evidenciadas

no interior desse período ainda em evidência.

Duas críticas importantes, intrínsecas ao discurso modernistaradical que, de certo modo, apresentam semelhanças com a vertenteanterior, são: primeiro, a crítica à idéia de totalidade e às crençastotalizantes ressaltadas acima e, segundo, a crítica ao essencialismo,ou seja, ao fato de a crítica do ideal de cultura que ele sustentaserem as diferenças sociais, no máximo, variações incidentais deuma única natureza humana, universal, verdadeira e essencial. ParaLemert (2000), os modernistas radicais acreditariam que essa crítica,embora sensível a importantes questões morais e políticas, é, em si,perigosa. Em vez disso, vêem os tristes efeitos da totalização comoum fracasso social sob certas condições históricas, mas não comofalha inerente à própria modernidade.

Para saber mais sobreo que foi a Escola deFrankfurt, acesse:http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_FrankfurtOu, então, leia:

Jurgen Habermasfoi, sem dúvida, umdos principaispensadores daatualidade. Paraconhecê-lo melhor,acesse http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BCrgen_Habermas

O essencialismo é um modo de pensar profundamenteenraizado na tradição ocidental. Suas origens estãono pensamento e na filosofia gregos e, possivelmente,remontam ao pensamento indo-europeu. Na filosofiaocidental, a noção de essência surge junto à deexistência. Poderíamos dizer, para dar uma definiçãosimplista, que o essencialismo postula a primazia daessência (o que uma coisa é) sobre a existência (ofato de a coisa ser). Nessa perspectiva, o fato deque uma coisa ou ser é torna-se um mero predicadode sua essência, isto é, do que essa coisa ou ser é.Gênero, e também raça e nação, por exemplo, sãodesenvolvimentos modernos desse tipo depensamento. Nesse sentido, o fato de que alguém énegro ou branco, brasileiro ou alemão, homem oumulher é muito mais significativo nesse tipo depensamento do que sua existência concreta comoum ser em mutação possuidor de múltiplaspossibilidades. De certo modo, é essa forma de pensarque caracteriza o que se denomina “mundo moderno”ou “modernidade”.

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A crítica de Anthony Giddens situa-se mais estreitamente relacionada ao âmbito institucional.De acordo com ele, a idéia de pós-modernidade expressa o desenvolvimento de um novo ediferente tipo de ordem social (GIDDENS, 1991), cuja existência nos retiraria das instituiçõesmodernas, algo difícil de ser percebido. Em relação a esse aspecto, ele atribui às transformaçõescontemporâneas importante papel na constituição de uma tendência que conduza o homem a umauto-entendimento da modernidade, ou seja, é “a modernidade vindo a entender-se a si mesma”(GIDDENS, 1991, p. 54). E essa nova ordem por muitos reivindicada, a era pós-moderna, ele situano futuro, em um instante ainda por ser construído, caracterizada notadamente pela correção,controle e minimização dos riscos a ela inerentes, algo que deve ser concretizado por meio de umsistema ‘pós-escassez’, da desmilitarização, da humanização da tecnologia, bem como por umamaior participação democrática (SEIDEL, 2001). Nesse sentido, as críticas a algumas das categoriasessencializadas que definem o percurso do pensamento moderno levam, nesse caso conceitualespecífico, à afirmação de que um tipo de unidade supõe que a sociedade civilizada deve serinerentemente pluralista. Isso quer dizer que viver em conjunto em tal sociedade significa negociaçãoe conciliação de interesses naturalmente diferentes e que é normalmente melhor conciliar interessesdiferentes que coagir e oprimir indefinidamente.

A terceira e última vertente, o pós-modernismo estratégico, reúne um conjunto de autoresque são categorizados como pós-modernistas radicais De modo geral, os mais correntementeinseridos nessa perspectiva são Michel Foucault, Jacques Derrida e Jacques Lacan. O fato dehaver uma relativa distinção entre esses autores e os pós-modernistas radicais tem comoconseqüência aproximá-los de uma abordagem moderna, como a veiculada nas obras de Giddense de Bourdieu. Mas, afinal, o que distingue e aproxima esses autores?

Foucault Derrida Lacan

É possível dizer que há um compartilhar teórico nas obras deFoucault, de Derrida e de Lacan em relação a certos aspectos. Aprincípio, percebe-se um compromisso com a reinterpretação depensadores sociais clássicos modernos, como, por exemplo, Nietzschee Freud; segundo, a convicção de que a linguagem, ou discurso, éfundamental para toda ciência do humano, uma preocupação teóricana esteira da <reviravolta lingüístico-pragmática> da qual falaManfredo Araújo de Oliveira (1996) e, por fim, a rejeição de todaversão do ideal de uma essência, totalidade ou centros universaiscomo base para o pensamento sobre o social (LEMERT, 2000, p. 66).Os dois primeiros aspectos são similares aos encontrados nas duasprimeiras vertentes, porém, o último deles é aquele consideradodistintivamente pós-moderno. Contudo, a diferença entre essesautores e os radicais encontra-se não na discordância existente

Na verdade, aexpressão deriva deimportante antologiapublicada em 1967,denominada de Thelinguistic turn, sob aresponsabil idade dofilósofo norte-americano RichardRorty, recentementefalecido, que tem a suaobra como um dosprincipais horizontes

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entre eles, mas sim, no modo como abordam os temas da totalidadee do essencialismo, ou seja, os pós-modernistas estratégicos“assumem uma postura com relação à cultura e à realidade do mundomais modesta que os pós-modernistas radicais. Tal como osmodernistas radicais, os pós-modernistas estratégicos preocupam-se menos com imaginar o novo mundo do que com repensar ereescrever a própria modernidade” (LEMERT, 2000, p. 66).

Em relação a essa assertiva, é possível dizer que esses autores,do mesmo modo com que um Giddens ou um Bourdieu, alimentam-sede uma mesma preocupação, cujo eixo é pensar a modernidade e osprocessos que a constituem a partir dela mesma e de suasconseqüências sobre a contemporaneidade, divergindo apenas napostura tomada em relação ao problema.

Teórico-metodológicosda atualidade, por umlado, centro dosdebates em torno danatureza daepistemologia científicaatravés do diálogohistórico instauradopelo pragmatismo e,por outro, importanteinterlocutora nasdiscussões referentes àdemocracia e aol i b e r a l i s m oc o n t e m p o r â n e o s(SOUSA, 2005).

1) Na aula 6, foram apresentadas três tendências interpretativas da realidade contemporânea.Escolha aquela que mais corresponde a sua própria perspectiva de análise da vida moderna eexplique, apresentada a referida tendência teórica, o porquê de sua escolha. Elabore um textocontendo entre 1 e 2 páginas e poste-o no AVA - Moodle.

DESAFIO

Atenção!

Em caso de dúvidas sobre o conteúdo da aula ou do desafio,comunique-se com os mediadores pedagógicos a distância,por meio do AVA - Moodle (http://www.ead.ufpb.br).

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AULA 7: MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE E EDUCAÇÃO: CONFRONTOS EDILEMAS PARA O SÉCULO XXI

De acordo com o que foi observado até o momento, percebe-se a existência de certo consenso sobre o argumento de que, naatualidade, o mundo tem passado por uma série de modificações,tendo como uma de suas conseqüências mais destacadas o fato deque se percebe uma espécie de “alteração da percepção do tempohistórico”, especialmente devido à rapidez identificada no ritmo dasmudanças, na rapidez e na velocidade que caracteriza o nosso mundo.

Esportes TrensTipos de família

Essa desorientação ou, então, quem sabe, esse excesso deorientação, haja vista a multiplicidade de intervenções teóricas noâmbito das ciências sociais, leva-nos a nos deparar com uma sériede expressões que têm como objetivo identificá-lo e personificá-locomo, por exemplo, a idéia de que se vive hoje em sociedades pós-industriais, pós-revolucionárias, na sociedade da informação, pós-fordistas, pós-estruturalistas, pós-modernas etc., sugere que umadas características úteis para identificar essa desorientação oudescontinuidade que distinguem as instituições sociais modernas dastradicionais é, de fato, o acelerado ritmo associado a essas mudanças,uma percepção que é conseqüência da própria variabilidadeinterpretativa associada à contemporaneidade e à transformaçãoconcomitante dessas mesmas análises em curto espaço de tempo.

Contudo, ainda que divergências sejam identificadas em relaçãoa qual o conceito, princípio ou elemento fundante seria o maisadequado para singularizar a contemporaneidade, creio que doisaspectos são tratados de modo similar. Em primeiro lugar, parecehaver um certo consenso, tanto na literatura mais especializadaquanto nas representações do homem comum acerca do mundo noqual ele se encontra, em relação ao fato de que a vida cotidiana temsido modificada em um ritmo bastante diferente do observado há

Um exemplointeressante desseritmo de mudança seencontra associado àprópria concepçãogiddensiana deinterpretação docontemporâneo, demodo geral, gestadasob a égide doconceito de“ m o d e r n i z a ç ã oreflexiva”, cujo ápicese deu na década de1990, envolta em umconjunto de tesesque evidenciavamuma profundarenovação no interiordas ciências sociais e,hoje, é percebida poralguns sociólogoscomo apresentandoclaros sinais dee s g o t a m e n t o(COSTA, 2004).

GATTI, BernardeteAngelina. Pós-m o d e r n i d a d e ,educação epesquisa: confrontose dilemas no início deum novo século,Psicologia daEducação, 20, p. 139-151, 2005.Para realizar estaleitura, consulte oCD-ROM doaprendente - vol. 2.

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poucos séculos. Essas transformações às vezes parecem tomar tamanha dimensão que levamalguns autores, auto-intitulados ou, muitas vezes, intitulados, à sua revelia, de pós-modernos, aassociar essa percepção à própria existência, de fato, de um outro mundo, ou seja, “as ordensracionais da vida moderna estão meio que rearranjadas de modos estranhos e incongruentes, que,não obstante, parecem normais apesar de sua anormalidade (LEMERT, 2000, p. 42).

Associado à idéia de que algo mudou, encontra-se, em segundo lugar, uma espécie deconcordância, por vezes involuntária, em se tratar a modernidade ou o período moderno comoeixo central para se compreenderem as transformações pelas quais transita o homemcontemporâneo. A importância atribuída à modernidade é evidente em autores reconhecidamentemodernos, como o próprio Anthony Giddens, segundo o qual, nós deveríamos “olhar novamentepara a natureza da própria modernidade a qual, por certas razões bem específicas, tem sidoinsuficientemente abrangida, até agora, pelas ciências sociais” (GIDDENS, 1991, p. 12).

Outrossim, é também uma percepção partilhada e com a qual se identificam autores pós-modernos, como o próprio Charles Lemert, para quem “é impossível falar de pós-modernidade e desuas teorias sociais sem falar também de modernidades” (LEMERT, Idem, Ibid). Depreende-se daía complexidade teórica associada a toda uma diversidade de intervenções teórico-metodológicasque recaem sobre os conceitos em questão, que transitam desde concepções radicalmentemodernas, como as de Anthony Giddens (1991) e Jurgen Habermas (1990 [1985]), até perspectivasinterpretativas fundamentalmente iconoclastas, como as de Jean Baudrillard.

Trata-se, no entanto, para fins de articulação final, de esclarecer alguns elementos dessacontenda. É conveniente observar, agora, a distinção ressaltada acima entre épocas, implícitanessas reflexões, a existência entre uma “primeira” e uma “segunda” modernidade. Seguindo aproposta analítica de Ulrick Beck (1999), podemos definir como Primeira Modernidade o períodoque se estende do início da modernidade industrial, entre os Séculos XVII e XVIII, até o início doSéculo XX, período em que domina a realidade do Estado-nacional e cuja lógica vencedora é a doprogresso, associada à idéia de controle (em primeiro lugar, sobre a natureza).

A Primeira Modernidade

Controle sobre a natureza Controle sobre as emoções

Identidades e papéis sociais aparecem estreitamente interligados em seu interior,salvaguardados de quaisquer elementos de contingência. A Segunda Modernidade, pelo contrário,a modernidade contemporânea, filha do sucesso do processo de modernização, parece cada vezmais governada por processos como a intensificação da globalização e dos mercados globais, opluralismo dos valores e das autoridades, o individualismo institucionalizado. No plano cultural,parecem favorecidas as formas de identidade compósita, nas quais elementos globais e locais semisturam, impondo a convivência conflituosa entre diferentes imagens de si, as “identidadescosmopolitas” (BECK, 2004).

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A Segunda Modernidade

Origens distintas Londres, berço das diferenças

De acordo com simples observações efetuadas no cotidiano e não apenas derivadas dereflexões teóricas mais sofisticadas, essa modernidade caracteriza-se por uma dimensão deriscos, tanto globais quanto locais, mais específicos de biografias privadas. Em relação aosglobais, é possível discernir crise ambiental e terrorismo internacional, ameaças econômicas (mastambém, por exemplo, sanitárias) de tipo planetário e novas modalidades de desigualdade social,a partir do empobrecimento crescente de áreas cada vez mais vastas do planeta e, associadas aesta última, novas formas de sub-ocupação, com reflexos devastadores no plano existencial.

Favela de Caracas Favela do Rio de Janeiro

Sobre os mais específicos, podemos observar as conseqüências derivadas da impossibilidadede emprego, diminuição em relação ao grau de instrução, ausência de acesso às diversastecnologias, ausência de homogeneidade no tocante às definições de si mesmo - “somos isto ouaquilo de muitas formas e jeitos” - bem como determinadas patologias sócio-psíquicas atreladasao consumo excessivo.

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Nesse cenário, há cada vez menos espaço para dimensões como segurança, controle,certeza, todos os aspectos que contribuíram para definir o perfil social da primeira modernidade.Enquanto esta última pode ser, assim, considerada a expressão do projeto iluminista de superaçãoda idéia de limite - de qualquer limite, a partir daqueles ligados ao conhecimento - a modernidadecontemporânea obriga-nos a confrontar a impossibilidade da idéia de controle (LECCARDI, 1999).Se o futuro que a primeira modernidade observava era o futuro aberto, o futuro da modernidadecontemporânea é o futuro indeterminado e indeterminável, governado pelo risco, pela incerteza

e pela contingência.

No âmbito das discussões sobre educação e a escolacontemporânea, essa ausência de controle e homogeneidade definitóriae de falta de planejamento relativo ao futuro tem se tornado umaconstante, levando alguns autores a dimensionarem a experiência dosujeito contemporâneo como uma espécie de sentimento de vazio,em que a condição sócio-psíquica considerada predominante é aquelainterpretada a partir da desvalorização do mundo público e ainstabilidade da vida humana na contemporaneidade, através de umaapologia da intimidade (SENNET, 1988) ou como uma perda de sentidode si estável, uma espécie de deslocamento ou descentração dosujeito (HALL, 1998). Por outro lado, esse suposto vazio, na verdade,tem conotação positiva, trata-se da ausência do excesso, do fim deideologias universalistas, podendo, também, ser interpretado comouma conseqüência da degenerescência de metanarrativas (LYOTARD,1998), conduzindo o cotidiano do sujeito, abrindo, assim, possibilidadespara uma monitoração de nossas ações de modo mais autônomo,uma espécie de contra-dicção em relação ao caráter essencialista damodernidade, abrindo espaço para se pensar uma nova escola, maisdiversa e mais democrática. Como nos diz o professor Juremir Machadoda Silva, conduzido pelas idéias de <Gilles Lipovetsky> (2005),sobre o individualismo e a vida na contemporaneidade,

[...] estamos menos carregados e mais livres, mais lúcidos e menosdependentes, mais exigentes e menos submissos, mais flexíveis e menosengessados por engrenagens de poder em nome de verdades que seapresentam como transcendentais ou universais, embora não passassem deformas locais de controle (SILVA, 2005).

Detenhamo-nos brevemente sobre essa dimensão, que se revela de uma importânciaestratégica para compreender o alcance das mudanças ocorridas na interpretação e noestranhamento do futuro. O risco aparece, nesse cenário, mais como resultado da perda derelação entre intenção e resultado e entre racionalidade instrumental e controle, do que, naacepção científica comum, como relação entre um evento e a probabilidade de que este ocorra.Enquanto, na primeira modernidade, o termo risco era substantivamente conceituado como umamodalidade de cálculo de conseqüências não previsíveis - tratava-se, em suma, de “tornarprevisível o imprevisível” mediante o cálculo probabilístico -, na modernidade contemporânea, areflexão sobre os riscos impõe instrumentos conceituais de outra ordem. Esses riscos não parecem

Gilles Lipovetsky,filósofo francês, um dosprincipais intérpretesda contemporaneidade,a n a l i s a n d oe s p e c i a l m e n t eproblemas ligados ao“hiperconsumo” e o“neo-individualismo”,aspectos fundamentaispara se compreender asociedade atual.

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governáveis pelos métodos da racionalidade instrumental, são riscos de alcance global, e suaprevenção torna-se particularmente difícil. Uma espécie de realidade virtual, uma realidade infieri, com caráter ameaçador, que envolve o futuro em um manto de pesada incerteza (LECCARDI,

2005).

A peculiar incerteza que esses riscos geram está ligada, sobretudo, ao seu caráterhumanamente produzido, resultado do crescimento do conhecimento que caracteriza nossaépoca. De fato, em uma época de riscos globais como a nossa, interrompe-se o imponenteprocesso de colonização do futuro posto em marcha pela primeira modernidade. O futuro foge denosso controle, com repercussões profundas nos planos político e social. A nova realidade produzidapela difusão de riscos globais transforma o futuro da terra prometida num cenário pintado comtintas foscas, se não abertamente ameaçadoras, para a existência coletiva.

É importante ressaltar o vínculo estreito entre essa categoria particular de riscos e ofuturo. Por sua própria constituição, com efeito, esses riscos são, por assim dizer, “construídos”e alimentados em sentido próprio pela relação com o futuro - embora nada nos digam sobre oque, de positivo, devamos perseguir no futuro. Não nos falam de um “bem”, mas concentram aatenção exclusivamente sobre os “males” que o futuro pode difundir. A idéia de futuro a queconduzem é, portanto, não determinada e, ao mesmo tempo, marcada por um sentimento difusode alarme, associado a uma sensação de impotência.

No entanto, ao contrário das conseqüências perniciosas derivadas dessa impossibilidade decolonização do futuro, determinadas perspectivas de análise das práticas culturais sugerem apossibilidade de condução do sujeito a uma maior autonomia e gerenciamento de seu cotidiano,devido à necessidade de se partir do princípio de que os conflitos sociais são, na verdade, buscasinterativas pela consideração intersubjetiva de sujeitos e coletividades.

De fato, essa estratégia argumentativa permite analisar como essas noções se tornaramconstituintes da forma de se pensarem as identidades e as práticas culturais. A inovação,atrelada a essa perspectiva, reside em seu deslocamento de um tipo de <naturalismo>teórico-metodológico para a constituição de uma configuração de análise do social, cujaênfase recai sobre o produto do diálogo entre as épocas e o caráter reflexivo que asconstitui, de tal forma que pensar as relações internas à escola na “era pós-moderna” é

Naturalismo, na perspectiva do filósofo canadense Charles Taylor, dizrespeito à tendência moderna, operante tanto no senso comum da vidacotidiana quanto na forma de praticar filosofia ou ciência dominantes,de desvincular a ação e a experiência humana da moldura contextualque lhe confere realidade e compreensibilidade (TAYLOR, 2000).

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pensar, não em uma ou outra categoria que mais corresponda a sua “essência”, mas, sim, napossibilidade de que os contextos de ação conversem, de tal modo que se possa constituir opróprio presente e, conseqüentemente, o futuro.

Em suma, do ponto de vista do discurso pós-moderno, a modernidade e as suas conseqüênciasdifusas e múltiplas desmembraram-se em dois importantes elementos necessários à compreensãodos conflitos sociais e de determinadas situações de contingência em que se situam certosatores sociais. De um lado, o declínio da sociedade hierarquicamente pré-determinada levou auma alteração da honra estamental em direção à dignidade geral, o que possibilitou o surgimentoda política do universalismo. De outro, o aludido desenvolvimento de uma acepção de self,calcada nas noções de autenticidade e de interioridade, suscita a política da diferença. Nostermos do professor Charles Taylor,

Enquanto a política da dignidade universal lutava por formas de nãodiscriminação que eram bastante cegas aos jeitos em que os cidadãos sediferem, a política da diferença, freqüentemente, redefine a não-discriminaçãorequerendo que façamos dessas distinções a base do tratamento diferencial(TAYLOR, 1994, p. 39).

O que parece se evidenciar nesse processo é a suposta autenticidade do local (leia-se aquia diversidade característica das práticas culturais e das identidades) contra a artificialidade douniversalismo cosmopolita historicamente associado à cultura européia e à constituição denacionalidades no continente europeu. Trata-se, de certo modo, do fenômeno da reafirmação departicularidades (WEBER, 1992), o qual expõe a tensão que marca o que a literatura analisadadenomina de mundo moderno e que é o alicerce de todas as suas instituições, inclusive da própriaciência: a tensão existente entre razão e cultura.

1) Nesta aula, apresentamos a distinção entre a primeira modernidade e a segunda. Expliquequais os principais desdobramentos e as principais conseqüências observados, relativos à transiçãoentre esses dois períodos históricos. Produza um texto entre 1 e 2 páginas e poste-o no AVA -

Moodle.

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AULA 8: MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE: A ESCOLA DO NOVO SÉCULO

A ESCOLA MODERNA

A modernidade, por ser a perspectiva dominante e estruturantede nosso “eu-ego” cartesiano, molda grande parte do sistemaeducacional atual, estruturado, que visa levar o aluno ao progresso eà autonomia do espírito hegeliano. Um sistema em que a grandenarrativa do conhecimento cumulativo é a narrativa central. Um sistema“amarrado”, coerente com sua lógica.

A escola atual, grosso modo, possui uma arquitetura montadanos pilares da modernidade. A fragmentação do conhecimento, suaestruturação em pré-requisitos, seu processo de avaliação conteudistae sem significado para os alunos, tudo isso ancora a escola no SéculoXVIII, tornando-a cada vez mais menos significativa e menos valorizada,distanciando-se de sua função de problematização. Na escola de hoje,o viajante do tempo, vindo do passado, acharia o elo com sua época,

sentindo-se em casa.

O mais grave, ainda, é que toda essa arquitetura é construídade tal forma a ser tomada como natural e, por isso, irreversível. Qualquertentativa de questioná-la é tensiva, imediatamente repudiada, poiscoloca em risco toda uma estrutura de relações arraigadas de poder.

Arriscaríamos dizer que os <ideais políticos> da modernidade,produtos da Revolução Francesa (igualdade, liberdade e fraternidade),fomentam leituras de conseqüências desastrosas para a escola, adespeito de outros grandes ganhos em outras áreas. A igualdadenivelou e homogeneizou os alunos e os sistemas educacionais. Reduziu-se o complexo processo educacional a números, com truquesestatísticos adotados por programas com nomes risíveis, comocorreção de fluxo (PR),classe de aceleração (SP) e tempo de acelerar(AM), truques que, num passe de mágica, corrigem os atrasos dosalunos em relação à idade e à série que deveriam estar cursando. Aliberdade serviu de fim, de meta (inatingível) a ser buscada por essesalunos através da razão. Uma busca ilusória, mas jamais descartadapela escola, pois é sua própria viga de sustentação. A fraternidadetrouxe para a escola o humanismo e a política da afetividade que, namaioria das vezes, servem apenas para mascarar as relações de poder,fazendo da polícia a polícia secreta.

O professor moderno é preparado para o previsto, o controlável. Toda e qualquerproblematização contigencial que fuja ao escopo de seu planejamento é vista como ameaçadora,portanto, objeto de eliminação pelo poder soberano. É preciso controlar, dividir para reinar, num

empréstimo dos dizeres de Maquiavel para a análise da governamentalidade do professor moderno.

Apesar da ênfase naquestão do sujeito,não negligenciamos aquestão políticacomo constitutiva detodo esse processo.Essa questão, tocadaaqui en passant,merece um artigopróprio que foge àsdelimitações destetrabalho.

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Para saber mais, leia:SOUSA, SérgioAugusto Freire de.Modernidade, pós-modernidade eeducação: comocomeçar segunda-feira de manhã?.Disponível em:www.elton.com.br/2006G-F S D B - E s p - Te x t o 1 -Souza.doc

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A escola moderna, por fim, diz-se atual em conseqüência de uma transposição de tecnologia,uma mudança de tom que toca, no entanto, a mesma música. Corre o risco de cair no utilitarismoa pretexto de modernizar-se, de tornar-se antenada com a modernidade radical, com as demandasda globalização. Esse jogo de significações, que não altera o sujeito, apresenta-se, no planopolítico, sob a forma de um discurso muito preciso: o discurso neoliberal. Muda somente aargumentação e, como diz Eni Orlandi (1988, p. 80), “a argumentação não muda em nada aposição do sujeito” que fala.

São várias tecnologias, mas harmonizadas por um mesmo sujeito. Sempre.

UMA ESCOLA PÓS-MODERNA

A pós-modernidade, por outro lado, agrupa sob o seu rótulo perspectivas nem sempre tãoamistosas entre si. Aqui podemos incluir desde o niilismo de Nietzsche até a desconstrucão deDerrida, passando pela fenomenologia, pelo “segundo” Ludwig Wittgenstein, com seus jogos delinguagem, por Michel Foucault, por alguns teóricos da Escola de Frankfurt, pela filosofia americanade Richard Rorty e, acreditamos, por grande parte do pensamento de Paulo Freire, ainda queparte de sua obra tenha sido montada sob um marxismo clássico como base. Essas perspectivassão coincidentes, similares, mas não idênticas. Esse entendimento é fundamental para a linha deraciocínio que estamos desenvolvendo.

Aqui retomamos, como prometido, a questão da incredulidadeem relação às metanarrativas, tal qual posta por Lyotard.Incredulidade não é, a nosso ver, rejeição, mas a incapacidade deacreditar. Não nos parece, portanto, estarmos aqui diante da <escolhade Sofia>, de um isso ou um aquilo.

O pós-moderno ganha visibilidade no moderno e nele estáimbricado. Essa perspectiva de incredulidade nos metarrelatos “[é],sem dúvida, um efeito do progresso na ciência, mas esse progresso,por sua vez, a supõe” (LYOTARD op.cit.). O pós-moderno é a suspeiçãoquanto a tudo o que é recebido. Não está em oposição à modernidade,mas em “ambivalência” com ela (BAUMAN, 1999). A perspectiva pós-moderna é uma forma de ver e desnaturalizar as coisas da modernidademediante a problematização de seu sujeito.

O uso desse conceito como instrumento de interpretação histórica, sintomaticamente, temprovocado fortes reações, o que é compreensível. Se o saber científico é inoculado pelo vírus darelativização, o delírio individualista que estrutura a sociedade moderna encontra-se ameaçado.

Assim, quando mudamos o eixo da crítica pós-modernista da “refutação para o da incerteza,do deslocamento, da dúvida, da instabilidade”, mudamos a própria <concepção de crítica>. Após-modernidade que entende crítica por refutação é uma “pós-modernidade lúdica” (USHER &EDWARDS op.cit, p. 223), que se quer fora da modernidade, colocando-se contra ela numadicotomização de momentos excludentes, vendo-se assim ela própria como um momento. Nonosso entender, trata-se de uma pós-modernidade temporal, niilista e neoconservadora, atributosdos quais Usher & Edwards tentam se desvencilhar – sem sucesso, em nossa avaliação – nas

A escolha de Sofiarefere-se ao filme domesmo nome, em queuma mãe judia écolocada diante de umdilema: só pode ficarcom um dos dois filhosno campo deconcentração, sendoque o outro serámorto. Ou um ououtro. Sem meio-termo.

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partes finais de seu livro, em grande parte instigante. É uma pós-modernidade excludente, umapós-modernidade que morde o próprio rabo, pois se torna, ela própria, uma metanarrativa. É após-modernidade da contemplação, “do desgosto informado” (FRIDMAN, 2000, p. 13), que seiguala à angustiante imagem proposta por Zygmunt Bauman (1998, p. 194) do “inválido crônicoque acompanha a vida da janela de um hospital”. Mas é uma pós-modernidade, mostrando maisuma vez a complexidade da noção.

Nós, seres pressionados por um mundo desenhado por e pensado na concepção epistemológicada modernidade, temos que nos defrontar com uma crise de fé nas noções de progresso emelhoria social. Contrapondo-se ao progresso, temos o “pangresso” (SANTOS 2000, p. 43). Emvez de ir em frente, vamos em todas as direções. Trocamos velhos problemas por novos, criadospelas <soluções modernas>. Vivemos em um mundo viciado no phármakon da Farmácia dePlatão (DERRIDA, 1997): tudo é remédio e veneno ao mesmo tempo, sem nunca, por isso, atingiro fim idealizado da assepsia social, livre e pura, em seu estado final. Não obstante, vivemos emuma onipresente agonística do constante recriar de utopias provisórias pelo sujeito heterotópico– o desejo da solução efêmera feito por um eu em movimento, que não pára quieto.

Para nós, ao situarmos nossa compreensão de crítica, fica clara a atemporalidade dodiscurso pós-moderno. Não é o tempo que o qualifica, mas o olhar, a postura. Ver pós-modernidadecomo “sucessão temporal” é erradicar todo o seu potencial dialético. A pós-modernidade não é asimples superação da modernidade, como o inconsciente não é a superação da consciência. Oinconsciente é contemporâneo da consciência, assim como a pós-modernidade é contemporâneada modernidade.

A dúvida pós-moderna (que não é a cartesiana, que duvida para buscar a verdade) é adúvida trágica (BURBULES, op.cit., p. 130-131):

A tragédia emerge de uma consciência doída de que o contrário daquilo queabraçamos é não raro igualmente precioso; que quando criticamos as nossaspróprias pressuposições a incerteza resultante é difícil e perturbadora; quedesejamos ambas, mas não podemos decidir por nenhuma.

Concepção crítica: É nesse sentido, da crítica não-excludente, que entendemosas disciplinas teóricas pós-modernas como críticas. A desconstrução, por exemplo,não é destruição, mas “desmontagem” dos construtos da ideologia ou do poder,no sentido foucaultiano, ou das convenções que lhe tenham imposto anaturalização do sentido. A Análise de Discurso, da mesma forma, não “destrói”discursos, mas evidencia funcionamentos, busca desnaturalizar a relação palavra-mundo.

Soluções modernas: Nicholas Burbules (2000, p. 125) cita o exemplo dosantibióticos, que, a despeito de ampliarem a qualidade de vida do homem, criamcomo efeito da solução bactérias cada vez mais resistentes a eles. Ele diz: “issotorna o uso dos antibióticos uma coisa má e tola? Não – eles têm salvadoincontáveis vidas e limitado muito sofrimento desnecessário. Mas inventar cadavez mais antibióticos fará nosso mundo cada vez melhor no futuro? Há muitasrazões para se estar incerto disso”.

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A questão da tragédia não é uma questão simples de pessimismo versus otimismo[...] O “sentido trágico” se refere a uma ampla consciência do impedimento doêxito [total], a probabilidade do fracasso [parcial] e os limites de nosso esforço[...] Ver a educação da perspectiva da tragédia é abandonar o fundacionalismo eacreditar que a dúvida e a incerteza tornam-nos educadores “melhores” – emparte porque elas reenfatizam a dependência que temos uns dos outros, incluindonossos alunos. [...] Isso significa adotar uma maior modéstia em nossas exigênciasde transformação social através dos processos educacionais [...] O sentido trágicode educação requer que continuemos nossos esforços sem nos enganarmos sobreas complicações e contradições inerentes ao nosso esforço.

O estilo distintivo do trágico na veia pós-moderna é o das procuras e intençõesconflitantes, das antinomias que se colocam irreconciliadas. Da perda e mesmo danostalgia de uma visão de mundo menos intimidante. O grande risco da tragédia,contudo, é cair no pessimismo, é abandonar o que Richard Rorty chama de uma“esperança injustificável”, mesmo diante da desilusão.

Essa postura pós-moderna de educação problematiza questões e as articula com os problemasda vida cotidiana. Essa articulação se dá por meio de “narrativas tomadas sem hierarquizaçãoepistemológica” (GHIRALDELLI JR., 2000) e leva à formulação de novas, pequenas e provisóriasnarrativas que, então, fundamentam nossas ações culturais, sociais e políticas.

É um modus faciendi que vê a educação como diferença, palco em que não se apagam asrelações de poder, na perspectiva foucaultiana, mas onde essas relações de poder são questionadas,desnaturalizadas, desconstruídas. Quando as diferenças sustentadas por essas relações de podersão apenas reconhecidas e não problematizadas, temos somente “novas dicotomias, como a dodominante tolerante e a do dominado tolerado ou a da identidade hegemônica benevolente e daidentidade subalterna mais ‘respeitada’. [...] Antes de tolerar, respeitar e admitir a diferença, épreciso explicar como ela é ativamente produzida” (SILVA, op.cit., p. 98-100). É como nos dizPaulo Freire: a questão “não é a consciência da opressão [...], mas o saber crítico a respeito daopressão. A consciência da opressão o educando tem. É possível que ele não detenha a razão deser da opressão, e isso exige conscientização”. A conscientização a que Freire se refere certamentenão é a da consciência logocêntrica, mas a da curiosidade epistemológica, da capacidade deproblematizar o dado, o já-sempre posto, a que nos referimos acima. Assim, como afirmamos,nessa perspectiva, a temporalidade não é relevante. Essa visão pode ser encontrada, em diversascores e sabores, em trabalhos tão diferentes no tempo e no espaço como, para citar alguns, em<Heráclito> e seu banho sempre diferente no rio, nos dos contemporâneos neopragmáticos,como Richard Rorty, na discussão da legitimidade do poder político em John Dewey, nas críticas àimutabilidade do signo de Vygostky e Bakhtin, na visão de educação de Paulo Freire, exemplificadaem um momento da Pedagogia da Esperança, quando ele diz que “o que se faz necessário é que,entre muitas coisas, se supere a certeza demasiada nas certezas com que muitos [...] seafirmavam modernos e [...] nos tornemos pós-modernamente menos certos das certezas” (FREIRE,1999, p. 97). A atualidade da tematização da pós-modernidade decorre das contingências histórico-sociais que possibilitaram sua constituição enquanto conceito, como vimos.

Para Heráclito, tudo é movimento. Segundo ele, “panta rei”, isto é, tudo flui, porisso não nos banhamos duas vezes no mesmo rio. Sempre seremos já outros,sempre será já outro rio.

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Enfim, vários autores levantaram questões que, de alguma forma, são perpassadas poressa suspeita perturbada e perturbante quanto à Verdade, com “v” maiúsculo. Essa postura ostorna pós-modernos. A perspectiva pós-moderna é, nesse sentido, a morte da Verdade, a despeitoda insistência dos sacerdotes da razão. O valor heurístico central da pós-modernidade é suainsistência na necessidade de pensar “sempre de outro modo”, como sugeriu Wittgenstein.

Dentro desse modo de ver a questão, torna-se irrelevante e contraditório falar de escolaspedagógicas ou abordagens de ensino em língua materna ou estrangeira como sendo pós-modernasou não. Cada uma delas pode sê-lo e, ao mesmo tempo, pode não sê-lo, em diferentes graus emomentos, dependendo de como vêem no bojo de seus construtos o papel da dúvida, daincredulidade em relação à Verdade final e o papel do sujeito como dono de seus gestos de<aprendizado>. Do mesmo modo, é preciso não esquecer que o sujeito que faz a ciência dalinguagem possui uma identidade que, como afirma Coracini (2003, p. 114), “não pode serconsiderada um rol de características estáveis” porque muda e deve mudar constantemente.

A não-relevância de rotular x como sendo isso ou aquilo, mas de problematizar x, desconstruirsua estrutura e seu sentido que nos é dado é um dos sabores da perspectiva pós-modernista. Aprópria designação pós-modernidade, como dissemos no início, é problemática e anuviada, o quenão anula sua natureza.

Fonte: Disponível em:<www.elton.com.br/2006G-FSDB-Esp-Texto1-Souza.doc>.

Há uma preocupação nossa com a identificação de elementos do pensamentopós-moderno na obra de Freire, que buscaremos expor em outro momento, a fimde não nos desviarmos do assunto principal deste trabalho. No entanto, a notase faz necessária para criticar a exclusão sumária que se faz de Freire comoestando “superado”, uma crítica vinda, inclusive, de dentro do próprio espectropós-moderno, na sua versão refutadora. É preciso pontuar as críticas ao trabalhode Freire (algumas com as quais concordamos), mas é possível ler Freire a partirde uma concepção subjetiva diferenciada, o que certamente aponta para algunscaminhos produtivos.

Em um trabalho que publicamos juntamente com Elisabeth Costa-Souza (2002),expusemos as bases epistemológicas do material didático elaborado para o ensinode língua inglesa no ensino médio da rede pública do Estado do Amazonas, emuso desde 2000. Essas bases contêm a noção de aprendizado – ou não – deuma língua estrangeira como conseqüência de processos de identificaçãodiscursiva, a partir de uma extensão dos trabalhos de Cláudia de Lemos em relaçãoà aquisição de língua materna.

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1) Ao longo das últimas aulas, discutimos as possíveis características que nos auxiliam a compreendera diferença entre as categorias “moderno” e “pós-moderno”. Agora, procure explicar qual arelação entre esse debate e a escola na atualidade. Ou seja, na sua opinião, como deve ser a

escola em uma “era pós-moderna”? Produza um texto entre 1 e 2 páginas e poste-o no AVA -

Moodle.

2) Até o momento, conversamos muito sobre a idéia de “pós-modernidade” e o quanto algumasdas teses a ela associadas tendem a nos levar a um mundo mais democrático, onde as possibilidadesde escolha são maiores. Logo, conduzindo-nos também a maiores dificuldades e responsabilidades.Na Unidade I, há a sugestão de leitura do livro da professora Ruth Rocha, Admirável MundoNovo. A última história contada por ela nos traz a tese da “escola de vidro”. Utilize, no mínimo,uma e, no máximo, duas páginas para elaborar um argumento que relacione a idéia de “pós-moderno” e a escola contemporânea.

DESAFIOS

Atenção!

Em caso de dúvidas sobre o conteúdo da aula ou do desafio,comunique-se com os mediadores pedagógicos a distância,por meio do AVA - Moodle (http://www.ead.ufpb.br).

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UNIDADE III

A EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI: MULTICULTURALISMO, IDENTIDADE, RECONHECIMENTO E CURRÍCULO

AULA 9: A NATUREZA DO MULTICULTURALISMO E OS DILEMAS PARA UMA

EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA

Para compreender a natureza do significado da palavra “multiculturalismo, bem como assuas diversas implicações, mas, especialmente, no âmbito educacional, é necessário, inicialmente,distinguir os termos “multicultural” e “multiculturalismo”, bem como entender as condições deemergência do fenômeno em extensão na sociedade contemporânea e no discurso político maisamplo para, finalmente, depreender algumas de suas principais conseqüências e alguns dosefeitos transruptivos associados a ele (HALL, 2002).

O termo “multiculturalismo” refere-se às estratégias políticas adotadas para agenciar osproblemas da multiplicidade gerados pelas sociedades multiculturais, ou seja, diz respeito a doutrinasque sustentam as estratégias multiculturais de vida em sociedades complexas, muitas vezes,objetivando a diminuição das desigualdades sociais.

Já o termo “multicultural” traz em si dificuldades quando pensadoem sua apresentação como fazendo referência a uma única doutrinaespecífica. Na realidade, o multiculturalismo reflete uma série deprocessos e estratégias políticas inacabadas, ou seja, há distintosmulticulturalismos, assim como há distintas sociedades multiculturais. Anós cabe compreender onde se encontra situado o Brasil e como issodeve se refletir em nossas ações cotidianas no âmbito educacional.

Nessa perspectiva, Stuart Hall (2002), um dos principais escritores pós-coloniais da atualidade,distingue alguns tipos de multiculturalismo, a saber: 1º) o multiculturalismo conservador, queprega a assimilação da diferença a partir das tradições e dos costumes da maioria, uma espéciede colonialismo em prol da pureza e da integridade da nação; 2º) o multiculturalismo liberal, quesugere que os diferentes grupos se integrem às sociedades majoritárias a partir de uma lógicauniversal de cidadania individual, em que as práticas singulares são avaliadas em termos culturais;3º) o multiculturalismo comercial, cuja lógica expõe a diferença publicamente a fim de resolveros problemas de diferença cultural privados, sem destacar a distribuição dos recursos e do poder;4º) o multiculturalismo corporativo, que busca administrar a idéia de que o interesse da maioriavisa aos interesses de hegemonia; por fim, 5º) o multicuralismo crítico ou revolucionário, muitoassociado à obra de Peter MacLaren, educador contemporâneo, cujo objetivo é enfocar osmovimentos de resistência e de opressão em favor da não diferença de direitos.

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As discussões mais recentes sobre a natureza do multiculturalismo derivam a sua emergênciada configuração estratégica das forças e das relações sociais conteporâneas, que se tornarammais complexas a partir de um conjunto de profundas modificações.

A princípio, o fim do sistema imperial europeu, as lutas pela descolonização e a independêncianacional, na África e na Ásia, as quais resultaram em Estados-nações profundamente multiculturais(LEMERT, 1999). Um exemplo típico, visto com certa freqüência nos noticiários, é o caso daFrança (imagens abaixo), onde houve inúmeros conflitos derivados do processo de imigração deindivíduos de antigas colônias, como, por exemplo, Argélia e Marrocos.

As Em segundo lugar, o fim da guerra fria, impulsionada pela ruptura interna na UniãoSoviética, e o declínio do comunismo de Estado, como modelo de desenvolvimento industrial,trouxeram como conseqüência a tentativa liderada pelos EUA de construir uma nova ordemmundial. Em decorrência disso, diferentes nações foram adaptadas à idéia de mercado, e culturaslocais foram “silenciadas” em prol do envolvimento que esses “mercados” requerem. Ao final,observa-se a revivificação de traços antigos em forma de “tensões multiculturais”. Finalmente, épossível apontar o processo de globalização, que tem como principal característica a compressãodo tempo, do espaço, da história e dos mercados em um mesmo cenário global e homogêneo afavor de um desarraigamento irregular das relações sociais e de processos de destradicionalização.Trata-se de um sistema de co-formação da diferença, porém não pode controlar tudo a suavolta, impulsionando, assim, efeitos inesperados, como, por exemplo, a chamada “formaçãosubalterna da diferença” (HALL, 2002).

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1) As discussões sobre pós-modernidade nos levam ao debate contemporâneo sobre o‘multiculturalismo’ e as suas conseqüências. De acordo com as conversas sobre o tema, ressaltequal é a conseqüência sobre a educação. Reflita sobre com quais tipos de “diferenças” vocêtrata no dia-a-dia e, conseqüentemente, como lidar com elas. Produza um texto entre 1 e 2páginas e poste-o no AVA - Moodle.

DESAFIO

Atenção!

Em caso de dúvidas sobre o conteúdo da aula ou do desafio,comunique-se com os mediadores pedagógicos a distância,por meio do AVA - Moodle (http://www.ead.ufpb.br).

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AULA 10: AS CONSEQÜÊNCIAS DO MULTICULTURALISMO SOBRE AIDENTIDADE: REFLETINDO SOBRE O “NORMAL”, O “DIFERENTE” E O “EX-CÊNTRICO”

Raiff Magno(Mestrando em Ciência da Literatura, Semiologia, UFRJ)

Nesta aula, convém fazer algumas considerações sobre o conceito de ‘identidade’, devido àcentralidade que assume para este estudo. De modo geral, utiliza-se o termo identidade pararemeter a algo uno, integral, original, coerente, estável, quase que imutável, ou seja, o sujeitoseria definido de uma vez por todas e marcado de forma quase que indelével. Essa compreensãode identidade está firmemente embasada nos princípios e na concepção de sujeito iluminista.Sobre isso, Stuart Hall assim se expressa:

O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável,está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de váriasidentidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas (HALL, 2000, p.12).

Isso implica uma ruptura definitiva com a possibilidade de uma identidade essencial, coesa,fixa, imaculada, permanente.

Vamos então nos debruçar na etimologia da palavra indivíduo. O termo indivíduo designa “oque não se divide”, “o indiviso”, significado que nos leva à idéia de unidade, de permanência dosujeito que se considera contínuo em relação a uma história existencial de si mesmo.

Apesar disso, o indivíduo, quando tirado de seu lugar fixo –como foi configurado por Descartes - torna-se fragmento, dividido eplural, pois, à medida que sua identidade é atravessada por diferentesdivisões e novos antagonismos sociais, ocorre um descentramentodo “eu”.

A questão do indivíduo tem sido estudada em vários campos doconhecimento, como conseqüência das mudanças ocorridas no cernedas formações culturais da modernidade. Com a emergência dassociedades pós-modernas, desintegram-se, por um lado, os sistemasfilosóficos tradicionais e essencialistas e perde-se, por outro, o sentidode continuidade entre passado, presente e futuro. O sujeito começaa experimentar a angústia existencial e viver uma profunda crise deidentidade.

Desespero Tristeza Solidão

Nesta seção, asnossas reflexões sãoconduzidas por estebreve artigo que, demodo geral, dácontinuidade ao que jáestamos discutindo,apenas inserindo maisum elemento, aqueleassociado à idéia deidentidade, categoriadas mais relevantes nasúltimas décadas.

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A crise do indivíduo pós-moderno reflete as mudanças que deslocaram as estruturas e osprocessos centrais das sociedades pós-modernas, “abalando os quadros de referência que davamaos indivíduos uma ancoragem estável ao mundo social” (HALL, 1999, p. 9).

As teorias chamadas pós-estruturalistas e pós-modernas vêm questionando a existênciade um sujeito unitário, conhecedor e sistematizador do conhecimento. Se o sujeito iluminista,universal, mestre do discurso do conhecimento, está tendo suas estruturas questionadas eabaladas, como ficam os seres humanos enquanto sujeitos na pós-modernidade? Abrindo umparêntese, gostaríamos de, a partir de agora, fugir do termo “marginal” e adotar o termo ex-cêntrico, utilizado pela teórica canadense Linda Hutcheon, para significar tudo aquilo e todas/osaquelas/es que se localizam fora do “centro”, das normas, ou do chamado “senso comum”.

Geralmente, nós nos sentimos pouco à vontade quando somos confrontados com as idéiasde provisoriedade, precariedade, incerteza — tão recorrentes nos discursos contemporâneos.Preferimos contar com referências seguras, direções claras, metas sólidas e inequívocas. Apesardisso, hoje são poucos os que se atrevem a negar que a instabilidade e a transitoriedade setransformaram em “marcas” do nosso tempo. Já não é mais possível desprezar tais afirmaçõescomo se elas se constituíssem numa ladainha rezada por intelectuais pós-modernistas, umaespécie de mantra, que tem o poder de desmobilizar o que se acha seguro. De formas muitoconcretas, temos sido lançados a situações absolutamente imprevisíveis, algumas trágicas, outrasfascinantes, quase todas inexplicáveis. Mais do que nunca nos percebemos vulneráveis, semqualquer preparo para enfrentar os choques e os desafios que aparecem de toda parte.

A angústia da decisão

Que fazer? A muitos talvez pareça mais prudente buscar no passado algumas certezas,algum ponto de estabilidade capaz de dar um sentido mais permanente e universal à ação. Oritmo e o caráter das transformações podem, contudo, converter esse recuo em imobilidade. Paraoutros — e aqui pretendo me incluir — a opção é assumir os riscos e a precariedade, admitir osparadoxos, as dúvidas, as contradições e, sem pretender lhes dar umasolução definitiva, ensaiar, em vez disso, respostas provisórias, múltiplas,localizadas. Reconhecer, como querem os/as pós-modernistas, que épossível questionar todas as certezas sem que isso signifique a paralisiado pensamento, mas, ao contrário, constitua-se em fonte de energiaintelectual e política.

Esse ambiente de transformações aceleradas e plurais em quehoje vivemos parece ter se intensificado desde a década de 1960,possibilitado por um conjunto de condições e levado a efeito por umasérie de grupos sociais tradicionalmente submetidos e <silenciados>.As vozes desses sujeitos faziam-se ouvir a partir de posiçõesdesvalorizadas e ignoradas; elas ecoavam a partir das margens da cultura

Creio que este conceitopode ser melhorcompreendido a partir doentendimento do termo“Contracultura”. Asugestão é pesquisaracerca da história e dosignificado do termo.

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e, com destemor, perturbavam o centro. Outra política passava a acontecer, uma política que sefazia no plural, já que era — e é — protagonizada por vários grupos que se reconhecem e seorganizam, coletivamente, em torno de identidades culturais de gênero, de raça, de sexualidade,de etnia. O centro, materializado pela cultura e pela existência do homem branco ocidental,heterossexual e de classe média, passa a ser desafiado e contestado. Portanto, muito mais doque um sujeito, o que passa a ser questionado é toda uma noção de cultura, ciência, arte, ética,estética, educação que, associada a essa identidade, vem usufruindo, ao longo dos tempos, deum modo praticamente inabalável, da posição privilegiada em torno da qual tudo mais gravita.

“Novas” identidades culturais obrigam a reconhecer que a cultura, longe de ser homogêneae monolítica, é, de fato, complexa, múltipla, desarmonizada, descontínua. Muitos afirmam, comevidente desconforto, que essas novas identidades “ex-cêntricas” passaram não só a ganharimportância nesses tempos pós-modernos, como, mais do que isso, passaram a se constituir nonovo centro das atenções. Não há como negar que outro movimento político e teórico se pôs emação, e nele as noções de centro, de margem e de fronteira passaram a ser questionadas.

MST Movimento Gay Cristão Green Peace

É preciso, no entanto, evitar o reducionismo teórico e político que apenas transforma asmargens em um novo centro. O movimento não pode se limitar a inverter as posições. Em vezdisso, supõe aproveitar o deslocamento para demonstrar o caráter construído do centro — etambém das margens! É necessário admitir, ainda, que o questionamento de sistemas e instituições,práticas e sujeitos solidamente estabelecidos na posição central, que hoje é levado a efeito, nãoimplica a negação de que o centro permanece como uma atraente ficção de ordem e de unidade.O importante é reconhecer que isso se constitui uma ficção. A universalidade e a estabilidadedesse lugar central resultam de uma história que tem sido constantemente reiterada — e por issoparece tão verdadeira — do mesmo modo que a posição do “ex-cêntrico” não passa de umaelaboração que integra essa mesma história.

Há uma estreita articulação entre os movimentos sociais dos anos 60 e o pós-modernismo.

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III UNIDADE IV

Aula 10Aula 9

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Como afirmou Linda Hutcheon,

[...] subitamente, as diferenças de gênero e raciais estavam sobre a mesa de

discussão e, uma vez que isso aconteceu, a ‘diferença’ tornou-se foco do

pensamento — desde novas questões de escolhas sexuais e história pós-colonial

até questões mais familiares tais como religião e classe (HUTCHEON, 1988, p.

90).

Imagens e sujeitos que explodiram a idéia de uma “ordem moderna”, a idéia de um “centro”.

Bob Dylan 1º LP “Mistura”

Lenon & Ono: nus pela paz Cinema: liberdade

Maio de 1968: o mundo em mudança...

É nesta perspectiva que pretendo desenvolver minha análise sobre a constituição dediferenças e identidades de gênero e sexuais e, mais especificamente, sobre as formas comoesse processo vem se expressando nos dias atuais.

Conforme registra o dicionário, excêntrico é aquele ou aquilo que está fora do centro; é oextravagante, o esquisito; é, também, o que tem um centro diferente, um outro centro. Jogarcom acepções dicionarizadas das palavras pode se mostrar um exercício interessante: pode nosajudar a pensar sobre as formas como se estabelecem as posições de sujeito no interior de umacultura.

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III UNIDADE IV

Aula 10Aula 9

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Woodstock: a música mudando o centro

“Uma nova mulher...” “Uma nova música...” “Um novo estilo...”

A posição central é considerada a posição não-problemática; todas as outras posições-de-sujeito estão de algum modo ligadas — e subordinadas — a ela. Tudo ganha sentido no interiordesta lógica que estabelece o centro e o excêntrico; ou, se quisermos dizer de outro modo, ocentro e suas margens. Ao conceito de centro vinculam-se, freqüentemente, noções deuniversalidade, de unidade e de estabilidade. Os sujeitos e as práticas culturais que não ocupameste lugar recebem as marcas da particularidade, da diversidade e da instabilidade. Portanto,toda essa “conversa” pós-moderna de provisoriedade, precariedade, transitoriedade etc. sópode se ajustar às mulheres, aos negros e negras, aos sujeitos homossexuais ou bissexuais. Aidentidade masculina, branca, heterossexual deve ser, supostamente, uma identidade sólida,permanente, uma referência confiável.

Não há mais novidade em tais afirmações. Já há algumas décadas o movimento feminista, omovimento negro e também os movimentos das chamadas minorias sexuais vêm denunciando aausência de suas histórias, suas questões e suas prática. A resposta a essas denúncias, contudo,não passa, na maioria dos casos, do reconhecimento retórico da ausência e, eventualmente, dainstituição, pelas autoridades educacionais, de uma “data comemorativa”: o “dia da mulher” ou“do índio”, a “semana da raça negra” etc.

Momentaneamente, a Cultura (com C maiúsculo) cede um espaço, no qual manifestaçõesespeciais e particulares são apresentadas e celebradas como exemplares de uma outra cultura.Estratégias que podem tranqüilizar a consciência dos planejadores, mas que, na prática, acabampor manter o lugar especial e problemático das identidades “marcadas” e, mais do que isso,acabam por apresentá-las a partir das representações e narrativas construídas pelo sujeitocentral. Aparentemente se promove uma inversão, trazendo o marginalizado para o foco dasatenções, mas o caráter excepcional desse momento pedagógico reforça, mais uma vez, seusignificado de diferente e de estranho. Ao ocupar, excepcionalmente, o lugar central, a identidade“marcada” continua representada como diferente.

Para saber mais sobre oque é “Woodstock” ,acesse: http://p t .w ik iped ia .o rg /w ik i /Woodstock

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Aula 10Aula 9

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Uma estratégia mais desestabilizadora irá colocar em discussão esse tipo de representação.Problematizará, por exemplo, o fato de as mulheres serem denominadas de “o segundo sexo”(uma afirmativa que é, via de regra, consensual e indiscutível) e levará a analisar as narrativas —religiosas, históricas, científicas, psicológicas e até mesmo no campo da literatura — que instituírameste lugar para o feminino. Tornará possível discutir o que implica, numa seqüência qualquer, sero segundo elemento; ou o que significa ser o primeiro, isto é, ser a identidade que serve dereferência; ou, ainda, permitirá analisar as formas por meio das quais tal classificação se fazpresente nas práticas sociais e culturais de qualquer grupo.

Se a instabilidade é perturbadora, mais ainda nos parecerá a existência daqueles sujeitosque ousam assumi-la abertamente, ao escolherem a mobilidade e a posição de trânsito como oseu “lugar”. Para alguns grupos culturais, ser excêntrico significa abandonar qualquer referência àposição central. Não se trata de, simplesmente, se opor ao centro e, menos ainda, de aspirar aser reconhecido por ele. Esses sujeitos não buscam ser “integrados”, “aceitos” ou “enquadrados”;o que desejam é romper com uma lógica que, a favor ou contra, continua se remetendo, sempre,à identidade central. Assumem-se como estranhos, esquisitos, excêntricos e assim querem viver— pelo menos por algum tempo, ou melhor, pelo tempo que bem lhes aprouver.

Precisamos prestar atenção às estratégias públicas e privadas que são postas em ação,cotidianamente, para garantir a estabilidade da identidade “normal” e de todas as formas culturaisa ela associadas; prestar atenção às estratégias que são mobilizadas para marcar as identidades“diferentes” e aquelas que buscam superar o medo e a atração que nos provocam as identidades“excêntricas”. Precisamos, enfim, nos voltar para práticas que desestabilizem e desconstruam anaturalidade, a universalidade e a unidade do centro e que reafirmem o caráter construído,movente e plural de todas as posições. É possível, então, que a história, o movimento e asmudanças nos pareçam menos ameaçadores.

Por fim podemos dizer, sem assombro, que hoje vivemos uma crise do sujeito e umafragmentação ou descentralização das identidades. Estas idéias já fazem parte do senso comume estão ligadas a outras discussões, também na pauta do dia, sobre a globalização, o pós-modernismo, o multiculturalismo e o hibridismo cultural.

O hibridismo cultural pode ser enxergado de pelo menos duas formas contraditórias:como uma poderosa fonte de renovação cultural e criatividade, mais apropriada ao tempo em quevivemos do que a idéia de uma identidade única; ou como indefinição, relativismo generalizado,consciências múltiplas, esquizofrênicas e antiéticas. Seus críticos mais ferrenhos alegam que emnome dos hibridismos culturais muitas banalidades e produtos culturais estéreis de qualquer valorautêntico foram gerados.

Referências

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.

HUTCHEON, Linda. A poética do Pós-modernismo. Rio de janeiro: Imago, 1988.

http://64.233.169.104/search?q=cache:BuDUsToEQCoJ:www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa4/19.doc+identidade+p%C3%B3s-moderna&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=1&gl=br

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1) Explique, de acordo com o seu entendimento, quais conseqüências sobre a idéia de identidade(pessoal e coletiva) podem ser derivadas das transformações contemporâneas no âmbito políticoe econômico. Atenção para a noção de hibridismo cultural e contracultura. Produza um textoentre 1 e 2 páginas e poste-o no AVA - Moodle.

DESAFIO

Atenção!

Em caso de dúvidas sobre o conteúdo da aula ou do desafio,comunique-se com os mediadores pedagógicos a distância,por meio do AVA - Moodle (http://www.ead.ufpb.br).

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III UNIDADE IV

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UNIDADE IV

A EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI: EDUCAÇÃO, JUVENTUDE(S) EPOLÍTICAS PÚBLICAS

AULA 11: JUVENTUDE(S) EM TEMPOS “PÓS-MODERNOS”: SITUAÇÕES DERISCO

As transformações sociais ocorridas nasúltimas décadas colocam em evidência asdesigualdades sociais existentes entre diversosgrupos. Nesse contexto, a condição em que seencontra a juventude vem ocupando lugar dedestaque no cenário nacional, haja vista assituações de <risco> a que esse grupo se encontraexposto, principalmente decorrente da falta deoportunidades, independente do nível social no qualseus membros se inserem.

Juventude: uma estrada a ser construída

Considerada um período de transição entre a adolescência e a fase adulta, a juventude épercebida como um período que não é delimitado pelos “marcos etários” definidores da adolescência.Diferente desta última, o termo juventude é muito mais demarcado pelas questões sociais que opermeiam do que pela idade do sujeito. Autores como Abramo (1994), Melucci (1997) e Novaes(2000) enfatizam a necessidade de se compreender a juventude a partir da pluralidade e dadiversidade de elementos sócio-culturais que constituem as experiências juvenis, considerando-se os elementos históricos, culturais, econômicos e religiosos que permeiam grupos de jovens,evidenciando as particularidades emergentes nas distintas juventudes.

Nesse sentido, a compreensão do termo encontra-se, prioritariamente, vinculada a formasde expressão, comportamentos, opções e estilos de vida (MINAYO, 1999).

Sendo um momento de pré-fase adulta, com características das mais diversas, nesseperíodo da vida, é comum ao jovem a preocupação com o futuro, com a segurança e com agarantia de oportunidades que, de fato, permitam-no ser considerado adulto mediante a assunçãode responsabilidades características, ligadas mais diretamente às definições de suas escolhas,tanto no que se refere ao mundo do trabalho, do emprego fixo e da autonomia financeira quantode sua dimensão privada - definições sobre sexualidade, identificação grupal, possibilidade deconstituir e manter sua família etc.

Para compreendermelhor a relação entre anoção de risco, juventudee modernidade nac o n t e m p o r a n e i d a d e ,acesse:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702005000200003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

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Apesar de essas preocupações serem comuns em jovens de diferentes grupos sociais, abusca para atingir essa meta é mais precoce e acentuada em jovens de baixa renda, devido àssuas constantes experiências em relação à insegurança, a uma certa opacidade e a inevitáveiselementos de risco que, do ponto de vista da teoria social, constituem, ainda que com certasressalvas (COSTA, 2004), a própria modernidade (GIDDENS, 1991; GIDDENS, BECK & LASH, 1997).As influências do fenômeno da globalização também afetam de modo diferenciado os distintoscontextos e grupos, ampliando, de um lado, as possibilidades de acesso a informações e benefíciospara alguns setores da sociedade e, de outro, excluindo grupos dos mesmos benefícios, aumentando,assim, as desigualdades sociais.

Existentes já há um longo período, as desigualdades sociais tornam-se ainda mais evidentesporquanto as transformações na sociedade ocorrem de modo cada vez mais acelerado, dificultandoo acesso das minorias aos benefícios tecnológicos, sociais e educacionais, que são consideradosfundamentais para o acesso a informações relevantes, para a qualificação educacional e para acompetência profissional dos jovens, especialmente quando se tratar do primeiro emprego. Portanto,as preocupações da juventude contemporânea, especialmente dos jovens de baixa renda, são,de acordo com Melucci (1997), reflexos das incertezas características das sociedades modernas,decorrentes do acelerado ritmo de transformação social, as quais remetem a insegurançasrelacionadas ao acesso à educação de qualidade, à profissionalização e capacitação adequadaao mercado de trabalho.

O ritmo das transformações sociais interfere nos comportamentos, nas práticas epreocupações na relação da sociedade com aspectos como educação e trabalho, estabelecendo,nesse caso, uma ligação entre ambos, considerando o primeiro uma condição básica para osegundo.

Partindo de tais premissas, estudos sobre a juventude brasileira, realizados a partir dadécada de 1990, têm abordado aspectos que investigam o protagonismo juvenil na constituiçãode grupos culturais (ABRAMO, 1994), na participação em movimentos políticos e sociais (PAIVA,2000) e em movimentos contra a violência (PAIVA, 2000; NOVAES, 2000), nas relações depreconceito contra a juventude produzidas pela mídia (ALVIM, 2000), na inserção dos jovens nomercado de trabalho (BOCK, 2000; MARTINS, 2000) e nas suas preocupações (CARDOSO, 1994;MELUCCI, 1997), analisando-lhe o fio condutor, a fim de compreender a realidade, as expectativase as preocupações da juventude estudantil contemporânea.

O mais abrangente dos estudos, nesse período, é a pesquisa “Perfil da juventude brasileira”,por meio da qual foi realizado um amplo levantamento quantitativo sobre os jovens brasileiros,com a finalidade de apresentar informações e resultados com representatividade estatísticanacional para o Governo Federal, a fim de viabilizar propostas de políticas públicas para a juventude.O estudo foi constituído por uma amostra de 3.501 jovens, distribuídos em diferentes regiões(capitais, interior e Distrito Federal), respeitando as características e diversidades regionais doProjeto Juventude, desenvolvido pelo Instituto Cidadania, cujo objetivo era o de apresentar aoGoverno propostas de políticas públicas.

O tema Juventude, escolhido para as discussões entre os anos de 2003 e 2004, resultou emtrabalhos divulgados em duas publicações: “Juventude e sociedade: trabalho, educação, culturae participação” e “Retratos da juventude brasileira: análise de uma pesquisa nacional”. Osreferidos trabalhos têm servido como subsídios para implantação de políticas públicas para a

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juventude. Nos últimos três anos, o governo Lula tem desenvolvido discussões interministeriaisque resultaram, no ano de 2005, nas três ações coordenadas pelo governo federal referentes àJuventude: o lançamento do Programa Nacional de Inclusão de Jovens: educação, qualificação eação comunitária – ProJovem; a constituição da Secretaria Nacional de Juventude e, por fim, aimplantação do Conselho Nacional de Juventude.

Em relação a esse aspecto, destacamos a preocupação do Estado em responder às questõesimpulsionadas pela juventude: ou seja, responder aos anseios juvenis como questão social. Comoressaltamos anteriormente, a questão social refere-se aos diversos movimentos que questionama própria existência da sociedade (CASTELLS, 1998). Se, por um lado, a discussão sobre questãosocial ganhou sistematização a partir do Século XIX, com as conseqüências do pauperismo nasociedade industrial européia, ganhou contornos diferenciados a partir do Século XX. Os contornos,grosso modo, ligavam-se à inserção do indivíduo no mundo do trabalho, portanto tinham asclasses sociais como principal referência de luta, debate e enfrentamento (a questão social liga-se, nessa perspectiva, diretamente às características econômicas advindas da sociedadeassalariada do Século XX).

Contemporaneamente, podemos observar um desafio tanto parao entendimento da realidade quanto para a proposição de <PolíticasPúblicas>: a complexidade social nos remonta não mais a um tipode enfrentamento da questão social, mas sim, à consideração dadiversidade tanto de grupos quanto de realidades. Nesse sentido, ojovem, mesmo aquele considerado vulnerável socialmente, não é uma“unidade” cujo vetor principal é a inserção no mundo doseconomicamente produtivos; tampouco constitui um todo homogêneo,do ponto de vista sócio-cultural. A necessidade de se considerar adiversidade, ao se falar de juventude, é imperativa para o sucessode uma ação política conduzida pelo Estado. Há de se perguntar emque medida as atuais ações citadas interagem com as “novasquestões sociais da juventude brasileira”.

Para compreender o que sãoPolíticas Publicas, bem comoas principais perspectivas deanálise a elas associadasc o n t e m p o r a n e a m e n t e ,acesse este artigo daprofessora Celina Souza,onde ela apresenta umainteressante revisão daliteratura recente sobre otema: http://www.scielo.br/s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i_ a r t t e x t & p i d = S 1 5 1 7 -4 5 2 2 2 0 0 6 0 0 0 2 0 0 0 0 3 &lng=pt&nrm=iso&t lng=pt

O termo no plural revela uma tensão ligada diretamente ao papel do Estadocontemporâneo. Por um lado, estamos nos referindo à caracterização dapolítica pública, não mais pela via da homogeneização das práticas, mas apartir da pluralidade de demandas e ações. Nesse sentido, os diversosgrupos e segmentos sociais, com suas diversas demandas e prioridades,interagem na forma de pressão ao Estado. Conforme destaca Azevedo(2001), o nível de organização desses segmentos é decisivo no sucessodas reivindicações pela resolução (sempre parcial) de seus problemas. Poroutro lado, destacamos a tensão econômica que revela o problema: asdiversas questões sociais mostram uma necessidade maior de ação doEstado em relação às diversas demandas. Entretanto, as atuais formas dedirecionamento das estruturas macro-econômicas baseadas na estabilizaçãomonetária, no controle de gastos e na diminuição da ação estatal, emdiversas esferas sociais, declaram uma incapacidade de o aparelho estataldar conta plenamente das demandas. Nesse sentido, a tensão se manifestatanto na disputa pelo fundo público quanto na concepção dos principaisatores que deverão responder às demandas dos segmentos organizados dasociedade.

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DESAFIOS

Atenção!

Em caso de dúvidas sobre o conteúdo da aula ou do desafio,comunique-se com os mediadores pedagógicos a distância,por maio do AVA - Moodle (http://www.ead.ufpb.br).

1) Explique o que são Políticas Públicas e qual é a relação existente entre elas e a Educação.

2) Na literatura sugerida, é possível identificar várias tendências internas à área de PolíticasPúblicas. Nesse sentido, qual delas você acredita ser a mais adequada? Justifique a sua resposta.Produza um texto entre 1 e 2 páginas e poste-o no AVA - Moodle.

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Aula 12Aula 11

AULA 12: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A JUVENTUDE NA ATUALIDADE:PROGRAMA NACIONAL DE INCLUSÃO DE JOVENS: EDUCAÇÃO, QUALIFICAÇÃOE AÇÃO COMUNITÁRIA (PROJOVEM)

Aspectos formais/legais

O ProJovem foi lançado em 02 de fevereiro de 2005, no Paláciodo Planalto, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio demedida provisória. O <governo> expressava, como parte das políticaspúblicas para a juventude, o empenho em enfrentar os seus principaisproblemas, voltando-se para jovens de 18 a 24 anos que estivessemfora do mercado formal de trabalho e que não tivessem concluído o<ensino fundamental>. O ProJovem foi concebido em articulaçãocom outros Programas, tais como o ProUni , o Escola de Fábrica e oPrimeiro Emprego. Contava, desde o início, com R$ 300 milhões,garantidos no Orçamento da União em 2005, uma destinação aprovadapelo Congresso Nacional em dezembro de 2004. A previsão era a deincluir 200 mil jovens em 2005, por meio da realização de um cursode 12 meses, que lhes permitiria a obtenção da certificação do ensinofundamental, uma iniciação à formação profissional e odesenvolvimento de ação comunitária. Integrava o Programa a ofertade uma bolsa de R$ 100,00 mensais, a título de ajuda de custo,desde que os jovens inscritos preenchessem os requisitos defreqüência de 75% das aulas e entregassem os seus trabalhos emdia. O ProJovem foi instituído pela Lei nº. 11.129, de 30 de junho de2005, que criava, também, o Conselho Nacional da Juventude (CNJ)e a Secretaria Nacional da Juventude.

A Lei 11.129 prevê, ainda, que o Programa terá validade durantedois anos, devendo ser avaliado ao término do segundo ano, com oobjetivo de “assegurar sua qualidade”, podendo ser prorrogado porigual período, de acordo com as disponibilidades orçamentárias efinanceiras da União.

Pelo Artigo 3º da referida lei, a execução e gestão do ProJovem,

As análises sobre ogoverno Lula devemlevar em consideraçãodiversas variáveis.Oliveira (2007) destacaque a reeleição de Lulademonstrou, por umlado, a vitória simbólicadas camadas populares,ocupando o postomáximo da República.Entretanto, o autordestaca que a “ascensãosimbólica” acaba sendoconsentida pelas elitesbrasileiras que não têmseus interessese c o n ô m i c o squestionados pelo atualgoverno, em ummovimento que designade “hegemonia àsavessas”. Longe deapresentar um debateconsensual sobre oassunto, destacamos taisreflexões comoelementos quecomprovam anecessidade de avaliaresse governo a partir dacomplexidade depráticas que ele sugere.

Para compreender opanorama das polít icaspúblicas para a juventude, noBrasil contemporâneo,acesse o artigo dosprofessores Marília PontesSposito e Paulo CésarRodrigues Carrano:www.scielo.br /pdf / rbedu/n24/n24a03.pdf

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em âmbito federal, implica uma conjugação de esforços entre a Secretaria Geral da Presidênciada República, que o coordena, e os Ministérios da Educação, do Trabalho e Emprego e doDesenvolvimento Social e Combate à Fome, observada a intersetorialidade e sem prejuízo daparticipação de outros órgãos e entidades do Poder Executivo Federal. Percebe-se, aí, apreocupação com o exercício de ações articuladas, como parte de uma política pública para ajuventude, assim como uma correspondente articulação entre entes municipais, uma vez que aLei prevê, no parágrafo único desse artigo, que, no âmbito local, a execução e a gestão doProJovem requerem a conjugação de esforços entre os órgãos públicos das áreas de educação,trabalho, assistência social e juventude.

O ProJovem

Inserindo-se no âmbito da política nacional da juventude, o<ProJovem> se colocou diante de um duplo desafio: a) “criar ascondições necessárias para romper o ciclo de reprodução dasdesigualdades” e b) “restaurar a esperança da sociedade em relaçãoao futuro do Brasil”. Tais desafios expressam, no nosso entender, avontade explícita e histórico-política de enfrentamento de problemasreconhecidamente estruturais da sociedade brasileira, dentro doslimites concretos colocados por essa mesma sociedade em suainserção no capitalismo internacionalizado, ensejando o alargamentodesses limites.

O caráter emergencial/assistencial do Programa é perfeitamente justificável por causa dademanda existente e das condições socioeconômicas desses jovens, predominantemente muitoprecárias, o que os torna “candidatos naturais” à marginalidade social e alvos fáceis para osubmundo das drogas e do crime organizado. O que transcende esse caráter são os objetivos deformação geral integrada, qualificação profissional e engajamento cívico, que ensejam odesenvolvimento de ações educativas formadoras de uma consciência crítica, voltada para aemancipação social. Entende-se, na análise sobre as suas intenções, que a concepção deemancipação social não se vincula diretamente às relações de produção pela via da qualificaçãotécnica, tão comum quando falamos de programas governamentais para jovens de classes maisbaixas. Nesse sentido, a relação entre escolaridade, ação comunitária e qualificação para o

Para conhecer oProJovem, acesse:http://www.projovem.gov.br/

Convém ressaltar que o ProJovem, como parte da política nacional para ajuventude, foi fruto do trabalho de um Grupo Interministerial da Juventude,criado em 2004, que envolveu 19 Ministérios, Secretarias e Órgãos técnicosespecializados, para elaborar um diagnóstico sobre a juventude brasileira edefinir ações governamentais voltadas especificamente para os jovens ouque contemplassem segmentos juvenis, visando sugerir referenciais parauma política nacional de juventude.

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Aula 12Aula 11

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trabalho parece ser um indicativo bem mais abrangente de construção de caminhos de emancipaçãopara essa parcela da juventude.

Os autores do Programa consideram, ainda, que a implantaçãoconcomitante do ProJovem, da Secretaria Nacional da Juventude edo Conselho Nacional da Juventude “representa um novo patamar depolíticas públicas voltadas para a Juventude brasileira, consideradaem sua singularidade, diversidade e suas vulnerabilidades epotencialidades” (BRASIL, 2005, p. 6).

Com efeito, o Projeto dedica todo um item à análise dajuventude brasileira, em suas <vulnerabilidades epotencialidades>. Segundo o texto,

A Juventude é a fase da vida mais marcada porambivalências, pela convivência contraditória doselementos de emancipação e subordinação, sempreem choque e negociação. Mas essa também é afase de maior energia, generosidade e potencialpara o engajamento. Portanto, um programadirigido aos jovens deve tomar como seus tantoos desafios que estão sendo colocados paraessa geração quanto sua forma inovadora deencontrar respostas aos problemas sociais,chamando-os permanentemente para o diálogoe a participação cidadã (BRASIL, 2005, p. 11).

Trata-se, pois, de um Programa que considera as condições objetivas e subjetivas dasociedade brasileira e da sua juventude, ainda que em potencial, para nortear-se por um ideáriocom potencial transformador. A finalidade do ProJovem é “proporcionar formação integral aojovem, por meio de uma efetiva associação entre: a) elevação da escolaridade, tendo em vista aconclusão do ensino fundamental; b) qualificação com certificação de formação inicial e c)desenvolvimento de ações comunitárias de interesse público”.

Como objetivos específicos, são mencionados: “a) a re-inserção do jovem na escola; b) aidentificação de oportunidades de trabalho e capacitação dos jovens para o mundo do trabalho;c) a identificação, elaboração de planos e o desenvolvimento de experiências de ações comunitáriase d) a inclusão digital como instrumento de inserção produtiva e de comunicação” (BRASIL, 2005,p. 13).

As vulnerabilidadessão evidenciadas, entreoutros dados, pelo fatode que, em 2000,encontrava-se na faixaetária de 15 a 24 anoscerca de 20% dapopulação, ou seja, 34milhões de brasileirosalvos de novosmecanismos de exclusãosocial. No que se refereàs potencialidades, oPrograma destaca aquestão doprotagonismo eparticipação social dajuventude.

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Page 74: Palavras do professor-pesquisador - Biblioteca Virtualbiblioteca.virtual.ufpb.br/files/pub_1291073282.pdf · Karl Marx (1818-1883), Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920),

Trilhas do Aprendente, Vol. 2 - Sociologia Educacional II132

DESAFIO

Atenção!

Em caso de dúvidas sobre o conteúdo da aula ou do desafio,comunique-se com os mediadores pedagógicos a distância,por meio do AVA - Moodle (http://www.ead.ufpb.br).

1) O ProJovem é uma Política Pública recente. Explique, de acordo com os artigos sugeridos paraleitura, quais as principais diferenças entre essa Política Pública e aquelas implementadas emGovernos anteriores. Ou, mais especificamente, quais são as inovações percebidas nessa Políticacomparando-a às anteriores? Produza um texto entre 1 e 2 páginas e poste-o no AVA - Moodle.

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