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Paixão, Medo e Política: Uma Leitura da Revolução Egípcia 2011 e Além * * * 1 Mukhtar Saad Shehata Resumo: A compreensão egípcia da revolução difere da compreensão ocidental? E qual é a posição dos egípcios durante o governo de Mubarak? Esse período produziu medo entre os egípcios? Esse medo pode ser um dos motivos da revolução contra o regime de Mubarak? Este trabalho traz consigo questões sobre a situação do Egito durante a revolução de janeiro de 2011, conhecida no ocidente como a Primavera Árabe, e objetiva discuti-las a luz de outros eventos ocorridos no mundo árabe: Vale a pena descrevê-la como a Primavera Árabe? O trabalho analisa os processos de insegurança e medo existentes na sociedade egípcia atual, bem como os elementos que alimentam estes sentimentos de insegurança. Os egípcios quebraram o medocomo foi promovido durante a revolução? Ou a rua egípcia entrou em um estado de caos? Quem de fato teria um interesse política para Alimentar este entendimento? Desta forma, este artigo tem como objetivo discutir o complexo momento histórico egípcio da contemporaneidade, além de fazer breve análise sobre contexto político atual. Para este trabalho foram utilizados entrevistas, textos de mídias e redes sociais, além de revisão bibliográfica específica. Palavras-chave: História viva; Revolução Egípcia de 2011; Primavera Árabe; História Contemporânea; Ditadura. 1 Mestrando do Programa de Pós Graduação Estudos Africanos, Povos Indígenas e Culturas Negras (PPGEAFIN/UNEB). Email: [email protected]

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Page 1: Paixão, Medo e Política: Uma Leitura da Revolução Egípcia ...€¦ · Egito tem diferentes dimensões na rua egípcia, tambem acho que o medo foi a emoção mais proeminente

Paixão, Medo e Política:

Uma Leitura da Revolução Egípcia 2011 e Além

* * *

1Mukhtar Saad Shehata

Resumo:

A compreensão egípcia da revolução difere da compreensão ocidental? E qual é a

posição dos egípcios durante o governo de Mubarak? Esse período produziu medo entre

os egípcios? Esse medo pode ser um dos motivos da revolução contra o regime de

Mubarak? Este trabalho traz consigo questões sobre a situação do Egito durante a

revolução de janeiro de 2011, conhecida no ocidente como a Primavera Árabe, e

objetiva discuti-las a luz de outros eventos ocorridos no mundo árabe: Vale a pena

descrevê-la como a “Primavera Árabe”? O trabalho analisa os processos de insegurança

e medo existentes na sociedade egípcia atual, bem como os elementos que alimentam

estes sentimentos de insegurança. Os egípcios “quebraram o medo” como foi promovido

durante a revolução? Ou a rua egípcia entrou em um estado de caos? Quem de fato teria

um interesse política para Alimentar este entendimento? Desta forma, este artigo tem

como objetivo discutir o complexo momento histórico egípcio da contemporaneidade,

além de fazer breve análise sobre contexto político atual. Para este trabalho foram

utilizados entrevistas, textos de mídias e redes sociais, além de revisão bibliográfica

específica.

Palavras-chave: História viva; Revolução Egípcia de 2011; Primavera Árabe; História

Contemporânea; Ditadura.

1 Mestrando do Programa de Pós Graduação Estudos Africanos, Povos Indígenas e Culturas Negras

(PPGEAFIN/UNEB). Email: [email protected]

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Prefácio (histórico vivo e necessidade):

Nesse artigo, quero conhecimento a mais sobre o medo na população egípcia,

antes, durante e após a revolução Egípcia, porque acho que o fenômeno do medo no

Egito tem diferentes dimensões na rua egípcia, tambem acho que o medo foi a emoção

mais proeminente na história moderna do Egito, especialmente nos últimos anos antes e

depois da revolução. Na verdade, o medo foi associado com a revolução em 25 de janeiro

de 2011 e com o derramamento de sangue subseqüente na rua egípcia, durante o conflito

sobre Poder e governança, e este conflito continua até agora, as vítimas continuam a cair

e a exploração política do sangue continua, a fim de alcançar o trono do governo no Egito

e garantir o controle total sobre os egípcios.

Uso neste artigo, como metodologia, além da revisão bibliográfica, o que chamo

de análise da “história viva”, que inclui dados digitais a respeito de determinado evento

histórico em particular, contando com uma coleta de dados digitais como vídeos, notícias,

artigos em formato digital e entrevistas, reforçando a importancia de uma “memória

digital” na produção de uma narrativa histórica, mantendo “viva” e dinâmica a memória

de determinado evento.

O conceito de história em algumas de suas definições está mais próxima da noção

de tradição e patrimônio cultural, e quando alguns historiadores consideram que todos os

produtos humanos fazem um retrato da história ou do evento histórico, isso confirma o

constante aumento da consciência humana de toda a vida e de eventos históricos, ajuda

numa compreensão mais profunda da vida humana e pode prever o futuro com precisão

próxima. O que torna tudo o que é produzido pela vida humana em todos os seus aspectos

um rico material para a questão histórica que ocupa a mente do historiador, e deve ser

utilizado por ele para perguntar e analisar. Desta forma, o pesquisador inicia sua análise e

busca de respostas para muitas questões históricas sobre o evento histórico discutido pelo

historiador.

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O que é História viva?

História viva é um novo mecanismo que cuida de uma compreensão do

acontecimento histórico, uma tentativa séria de analisar e compreender o evento histórico

em todos os níveis pessoais, privados e públicos, bem como a análise de documentos

históricos e memórias eletrônicas pessoais ou publicados através do espaço através da

Internet e de livros, através de um conjunto de perguntas que podem ser utilizadas para

compreender melhor eventos, contexto social, político e cultural em que o evento ocorreu

ou sobre quem testemunhou seu tempo e lugar

É isso que faz com que o historiador contemporâneo entenda seu novo papel na

vinculação de vários eventos humanitários, não para apresentar uma verdade fixa sobre

eventos históricos, e sim para fornecer uma narrativa histórica nova de todos os ângulos e

de todas as pessoas: cultural, social, material, técnico, visual, literário, memórias digitais,

notas pessoais em sites de redes sociais (Facebook, Twitter, etc.), biografias e sites de

jornais, para responder novas perguntas sobre o evento histórico, utilizando-se de todos

os meios tecnológicos para abarcar a maior quantidade de visões sobre o evento.

Eu acho que os registros humanos e a documentação escrita já não são suficientes

para completar a narrativa histórica contemporânea do evento, o que se apoia num apelo

global entre pesquisadores de história e antropologia que defendem a demolição da

santificação do texto histórico escrito, porque o registro histórico real da humanidade já

não está à espreita apenas nesses registros ou documentos oficiais preservados em

museus e centros de pesquisa, e para levar em conta, os eventos humanitários de todos os

ângulos, como dissemos anteriormente, devemos garantir uma compreensão mais ampla

do evento histórico.2

1- O conceito da revolução e a visão dos egípcios sobre ela:

2 A ideia de escrever uma vida foi apresentada no Instituto de Estudos Orientais Contemporâneos em Berlim, em novembro de 2015.

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Acho, todo pesquisador da história encontra na história das civilizações antigas,

que o conceito de revolução pode traçar suas raízes de volta para as discussões

apresentadas por Platão (o filósofo grego) sobre o sentido da mudança política, e por

explicações de Aristóteles sobre os regimes dominantes e as relações das pessoas.

Enquanto a revolução, como conceito moderno foi associado com a Revolução Francesa

em 1789 e os eventos subsequentes, que mudou a cara da Europa, do mundo e toda a

humanidade, as várias definições enfatizam a participação da maioria das pessoas na

realização desta mudança política e social, de acordo com um conjunto de metas

declaradas no nível político como Karl Marx explicou em sua definição de revolução o

socialismo como um meio de eliminar as desigualdades sociais resultantes do sistema

capitalista (MARX, 1981) quando explica que:

a história do termo latino (Revolutio) o que significa o declínio ou de

volta para trás, foi usado pela primeira vez no ano de 1660 na Grã-

Bretanha, em uma tentativa de restaurar a monarquia, o que tornou a

definição de um movimento político violento ou tentando fazer uma

mudança repentina na estrutura política e social do Estado, Ligado a

raiva e violência3.

No Egito, o termo “revolução” vem com uma compreensão especial. A história

antiga confirma que o Egito faraônico na era das pirâmides testemunhou uma grande

revolução chamada “A revolução da ralé” ou “A revolução dos famintos” em 2281 aC

durante o reinado do rei Bibi II (AHMAD FAKHRI, 2012), o que é mencionado pelos

papiros faraônicos egípcios, que são considerados textos literários4, e um importante guia

para a construção da história viva das revoluções egípcias. O mais proeminente desses

textos é o que foi escrito pelo sábio faraônico “Aybur”, um texto literário de natureza

3 Karl Marx, Crítica de Capital da Economia Política - Volume III - O Processo de Produção de Capital como um todo, Traduzido por Faleh Abdel-Jabbar, Editora Dar Al-Farabi, Beirute 1981 4 Um exemplo disso é o papiro histórico no Museu de Leiden, na Holanda, publicado várias vezes, assim como o papiro no Museu de Leningrado, em Moscou.

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política atribuído a um homem chamado “Ip Or”, que ele escreveu nos últimos anos do

sexto governo familiar sob Bibi II ou um de seus sucessores.

Na compreensão egípcia, a revolução está ligada ao conceito de raiva extrema. A

palavra em árabe é retirada do ato, no sentido de raiva, mas muitos historiadores

ocidentais caem no problema desse entendimento. Eles consideram a revolução no Egito

como insurreições populares, com isso, eles, portanto, subestimam a revolução e os

egípcios, ao longo de sua história revolucionária que se estende dos faraós até agora.

Mas o que fez essa confusão existir na história moderna do Egito?

Essa pergunta pode ser respondida através do monitoramento das revoluções mais

importantes que ocorreram no Egito moderno.

A primeira revolução na história moderna egípcia foi contra “Khurshid Pasha”, o

governador do Império otomano no Egito em 1805. Depois disso, a “Revolução Orabia”

liderada por militares egípcios representados por oficiais do exército comandados por

Ahmed Urabi em 1881 contra a corrupção do governante do Egito “Khedive Tawfiq” e

sua aliança com os britânicos para ocupar o país. Então foi a revolução que provocou

levantes egípcios durante anos de ocupação britânica, em 1919 foi uma grande revolução

contra a ocupação. Depois disso, em 1936, os egípcios se revoltaram novamente contra o

governo corrupto da metrópole inglesa e contra a ocupação. Então houve o golpe militar

contra o rei e a ocupação com um grupo militar conhecida como “Free Officers” em

1952, liderada por Gamal Abdel Nasser, e que teve sucesso por causa do apoio dos

egípcios pela causa, o que culminou com a declaração da República do Egito. Na

verdade, durante essas revoluções, o exército egípcio estava fortemente presente, e foi

capaz de levá-las a aceitação popular, alterando o status de um golpe militar para uma

revolução popular, e isso também aconteceu em 3 de julho de 2013.

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Assim, na era do Egito moderno, os golpes militares se misturaram com o apoio

popular, o que deu a essas revoluções legitimidade no interior do Egito. A visão externa

diferia quanto à natureza dos eventos no Egito. Os países ocidentais viram o que

aconteceu no Egito como golpes militares ou populares, o que foi confirmado por

declarações de Hillary Clinton sobre os eventos no Egito, analisadas a partir de

documentos do Wikileaks que vazaram (BISHARA, 2016), e as mudanças radicais no

Egito foram ignoradas antes do que aconteceu. Acho, por isso, que há diferença sobre a

natureza dos discursos do que está acontecendo no Egito interna e externamente.

Em 25 de janeiro de 2011, aconteceram protestos nas ruas do Egito, antes do

exército egípcio se juntar, os manifestantes ecoaram o cântico “Exército e o povo em uma

mão” em uma referência muito especial à natureza da relação entre os egípcios e o

exército, que diferiu nos eventos de 30 de junho de 2013 no golpe militar do povo contra

o governo da Irmandade Muçulmana, um ano após a tomada do poder no Egito depois da

revolução de janeiro de 2011. É possível remeter essa diferença à natureza do discurso

que acompanhou as revoluções do Egito e à situação política, como todas as revoluções

do Egito moderno, foram dois discursos, o primeiro em direção aos egípcios, que incluía

o apoio popular e contornava os movimentos do golpe militar, e o outro fora, sobre a

posição do que está acontecendo no Egito de acordo com a situação política global,

enquanto o mundo viu que o que está acontecendo no Egito como protestos e violência, e

que os egípcios viram isso como uma revolução popular apoiando o golpe militar.

Há uma nota importante na história das revoluções egípcias ao longo da história

do Egito, desde o tempo dos faraós até agora, utilizam-se os termos “caos” e

“instabilidade” para falar sobre a revolução. Foram usados esses termos na tentativa de

conter a raiva da revolução ou de controlar as revoltas e raiva popular e o poder no Egito,

desde os faraós até que os acontecimentos da revolução egípcia em janeiro de 2011,

quando Mubarak usou diretamente em um de seus discursos durante a revolução, quando

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disse: “eu ou o caos”5, e que foi ecoado pela Irmandade muçulmana, durante protestos

contra Mohammed Morsi como o presidente eleito do Egito6, e tambem o presidente Sisi

agora usar o mesmo termo em uma tentativa de controlar a situação no Egito7.

Apesar de todas essas ameaças para os egípcios e tentando controlar suas

revoluções, durante a era de Mubarak e na era da Irmandade Muçulmana, a revolução foi

a alternativa escolhida pelos egípcios, e ,de fato, os manifestantes ultrapassaram o medo

durante este período, especialmente na revolução de janeiro de 2011, que levou analistas

a dizer que “os egípcios quebraram a barreira do medo”. Mas na verdade, os egípcios

fizeram isso? Eles quebraram o medo do regime dominante?

2 - Quebrando o medo no Egito:

Michel Foucault aponta em seu livro Disciplina e Punir, que virá o dia em que

cessarão os instrumentos de tortura usados pelas entidades para controlar o caos na

sociedade (Foucault: 1990), mas parece que Foucault não presta atenção à realidade de

práticas que ocorrem no terceiro mundo, longe dos olhos de organizações de direitos

humanos, que se tornaram no Egito e outros países do terceiro mundo um incômodo para

as autoridades, que levou ao encerramento de muitas delas, e leis foram elaboradas para

limitarem o trabalho dessas organizações, que revelam o que está acontecendo no Egito,

especialmente nos últimos anos de prisões. Na verdade, a tortura e desaparecimento

forçado, a autoridade egípcia vem praticando isso contra a oposição desde 1952 até

agora8.

5 Vídeo link, Mubarak adverte sobre o caos durante a revolução: https://www.youtube.com/watch?v=eww-EZBQth4 6 vídeo de Ameaças composto de líderes da Irmandade Muçulmana caos e assassinato: https://www.youtube.com/watch?v=ws11iauk6RA 7 Vídeo link para o presidente Sisi adverte sobre o caos no caso de revolução:

https://www.youtube.com/watch?v=Mr_qNzyZUHs

8 O livro "Confessions by Khurshid" foi publicado no Egito, onde documentaram muita corrupção política e de segurança no Egito durante a era nasserista em 1988.

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Este receio foi acentuado com a presença massiva de informantes leais ao governo

a partir de 2011. Na verdade, esta estratégia já se constituía em importante instrumento de

controle que o regime de Mubarak usava para reprimir as atividades dos movimentos

organizados em todo o país. Mas, com a crescente instabilidade do cenário político, o

investimento no controle e na repressão foi potencializado paulatinamente ao longo dos

últimos anos. Em 2016, o Parlamento egípcio aprovou uma lei que passou a permitir ao

governo reter financiamentos internacionais de ONGs que apoiam a sociedade civil,

ainda que tenham ocorrido muitas críticas em âmbito internacional. Mas, em maio de

2017, o Parlamento conseguiu aprovar a lei e ela foi criada sob o número 70/2017:

... A criação de um comitê governamental para o controle das atividades

das agências internacionais independentes. O comitê será formado por

representantes ligados à Inteligência, ao Ministério do Interior,

Ministério da Defesa, Ministérios das Relações Internacionais e do

Banco Central. (...). Esta lei proíbe qualquer organização governamental

de assinar acordos com organizações não governamentais internacionais

sem a permissão do Comitê. 9

Como resultado desse controle, o que poderia ser considerado um “medo de

poder” surgiu, o que os órgãos do Estado (polícia e segurança) tentaram espalhar direta

ou indiretamente na rua política egípcia. O medo foi usado como uma ferramenta de

controle e governança no Egito, isso foi para garantir o controle de segurança, de modo

que o incidente do jovem - “Khaled Said” foi morto em Alexandria, no verão de 2010,

que se tornou um ícone da revolução egípcia - é um exemplo notável do que foi exercido

pela autoridade e segurança no Egito de aterrorizar os egípcios.

Na verdade, o medo no Egito, não foi uma das razões que provocou a ira dos

egípcios na revolução de 25 de janeiro de 2011. Os slogans usados pelos manisfestantes

estavam todos falando sobre a vida, liberdade e justiça social, e não era de forma alguma

uma tentativa de superar a barreira do medo criada pelo regime egípcio antes e durante o

governo de Mubarak. Mas é notável que o medo nas ruas egípcias parece que estava

9 A lei em sua íntegra (em árabe) publicada no Site do Ministério do Desenvolvimento Social:

https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxlZ3lwdGVmd3xneDo

3ODg1OWUxYTNjMzZjN2Fm

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quebrando anos antes da queda de Mubarak, através do surgimento de fortes movimentos

de oposição, principalmente o movimento “Kifaya10“ e o movimento da juventude

chamado (O movimento de 6 de abril11) , que apoiou os protestos dos trabalhadores no

Delta do Egito na cidade de Mahalla al-Kubra, e os egípcios notaram que podem

atravessar a barreira do medo ou quebrá-la.

Durante os protestos, que começaram ao meio-dia de 25 de janeiro de 2011, e

depois de ver as cenas de repressão ao vivo através das telas e da Internet, a raiva dos

egípcios estourou, o que impulsionou-os a ultrapassar as barreiras após a queda das

muitas vítimas na sexta-feira, 28 de janeiro de 2011, que ficou conhecida como o dia da

ira. De fato, os egípcios começaram uma corrida para superar as barreiras do medo, e

muitos canais, como a Al-Jazeera, a France 24, a CNN, a BBC e outros, assim como

websites, ecoaram a frase “os egípcios quebraram o medo”, então os manifestantes

ecoaram a mesma frase nas ruas, e o mundo cantou “os egípcios quebraram o muro do

medo”.

Na verdade, o medo foi substituído por outros sentimentos, como confusão e

ansiedade, e podemos dizer que o “medo quebrado” se tornou uma nova emoção na rua

egípcia, e isso causou mais tensão e nervosismo, e ajudou a espalhar a frustração e a

desconfiança. A principal razão para isso foi a falta de liderança popular para esta

revolução juvenil, à qual se juntaram os egípcios e depois o exército. Esta situação

confusa foi contada por Samuli Schielke que afirmou - através de seu livro (Egito no

tempo futuro: esperança, frustração e duplicação antes e depois de 2011), e seu artigo

publicado em julho 2018 para “quebrar o medo”- sobre o que foi promovido no Egito

10 Para mais informações sobre a história do movimento de Kifaya, veja o seguinte link da Wikipedia: https://arz.wikipedia.org/wiki/%D8%AD%D8%B1%D9%83%D8%A9_%D9%83%D9%81%D8%A7%D9%8A%D9%87 11 Twitter link para a página oficial do movimento 06 de abril no seguinte link: https://twitter.com/shabab6april?lang=en

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durante a revolução de janeiro de 2011 e além: “neste contexto de medo quebrado, não

havia nada comparável à superação desse medo”12.

O que nos faz pensar: os egípcios realmente quebraram o medo do domínio da

segurança e do poder no Egito? O que substituiu o medo em toda a era de Mubarak e

durante os eventos da revolução e o que se seguiu em janeiro de 2011? Assim, o próprio

medo quebrado é uma nova emoção, “e pode ser descrito como uma combinação

emocional de ansiedade, excitação, terror, coragem, tumulto, esperança e abuso do ponto

de vista de alguém”13.

A barreira do medo foi substituída por várias barreiras, Sim, muitas barreiras,

incluindo ansiedade, tensão e frustração com a desconfiança, tudo isso pode ser visto por

alguns como um indicador saudável na história das revoluções, e até mesmo defendê-lo

como a situação natural de toda revolução o que busca alcançar seus objetivos, mas que

não podemos ignorar uma questão vital aqui:

- Quem é a motivação para tudo isso? E o motor de todas essas barreiras? Quem se

apressou em romper a barreira do medo para substituí-la por todas essas barreiras

e para garantir seus próprios interesses?!

A resposta a esta pergunta é chocante para nós, que são os filhos da revolução

egípcia que se sacrificaram durante a revolução e o que se seguiu, antes que muitos de

nós tivessem que sair do Egito para escapar da detenção política ou do desaparecimento

forçado. Na verdade, vazamentos foram exibidos e uma série de acordos políticos entre a

Irmandade Muçulmana e as correntes dos grupos de islamismo político, e os generais do

exército e os serviços de segurança, que foi revelado por vazamentos através de jornais e

sites de vídeo na Internet, o que explica muito do que aconteceu na rua egípcia durante a

revolução. e os vazamentos publicados ilustram, que os grupos políticos que conspiraram

contra a revolução egípcia, queriam manter a ansiedade e a confusão na rua egípcia para

12 Publicado por uma tradução árabe no site do Instituto Mundial de Estudos através do seguinte link: http://alaalam.org/en/translations-en/item/723-734180718 13 O mesmo artigo para Samuli schielke

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alcançar seus objetivos políticos. Assim, os interesses da Irmandade Muçulmana e dos

generais do exército se uniram contra a juventude da revolução. (ASHKAR, 2013).

3 - O que aconteceu no Egito depois de 25 de janeiro (depois de quebrar o medo):

Historicamente, o que aconteceu no Egito em janeiro de 2011 e além não pode ser

negado como um evento revolucionário. O atual presidente, general Abdel Fattah al-Sisi,

que liderou o golpe militar egípcio contra Irmandade Muçulmana no 30 de junho, falou

sobre a revolução em mais de uma ocasião, após a nova Constituição egípcia reconhecer

que o que aconteceu foi uma pura revolução egípcia, antes de retornar e descrever depois

o que aconteceu como “uma conspiração contra o Egito e toda a região”, o que não foi

aceito pela oposição política do general e pelo o presidente do Egito após a derrubada da

Irmandade Muçulmana.

Em vista da rua egípcia durante a revolução e nos anos seguintes, encontraremos

o medo das características mais importantes desta rua em todas as direções, por

diferentes razões:

A- Há muitos que não participaram dos eventos, e a maioria deles são funcionários

públicos que não se importam nem um pouquinho com a situação política do país. Muitas

pessoas estavam interessadas apenas em seu salário mensal, que foi ameaçado quando

qualquer governo do país caísse. Notavelmente, os salários não pararam, apesar da queda

do regime duas vezes no Egito em quatro anos, o que abriu uma nova interpretação do

que está acontecendo, e alguns consideraram isso como evidência de que o sistema estatal

ainda não caiu.

B- E grupos do Islã político, que se tornaram mais temerosos sobre os ganhos obtidos, o

que fez eles declararem abertamente sobre o seu poder na rua. Este medo foi a razão por

trás do surgimento de grupos armados ou formações que estavam tentando controlar a rua

durante o governo da Irmandade e que, em seguida, virou-se para enfrentar o exército

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após o golpe de 30 de junho de 2013, e centenas de vítimas foram mortas na rua egípcia

como resultado da violência dos grupos armados, bem como pelo exército.

C- Os generais do exército, que temiam a responsabilidade, por muitos dos vazamentos

que falavam de acordos suspeitos entre a Irmandade Muçulmana e eles. Em troca disso,

os generais sairam sem prestar contas sobre os eventos infelizes que ocorreram durante

um ano de governo militar. O medo mostrou os generais como fracos. Isso fez a

Irmandade Muçulmana se livrar deles facilmente e isolar muitos deles depois que

conseguiu governar o país. Na verdade, também havia partidários de Mubarak, que se

juntaram aos generais do exército, e pessoas simples que não se importavam com a coisa

toda.

Ao longo de sua história, o Egito aprendeu a fazer revolução contra seus

governantes quando a população está farta de corrupção, mas sua última tentativa em 25

de janeiro de 2011 foi diferente: liderada por uma geração de jovens conscientes, o que

provocou uma mudança profunda na consciência popular e na compreensão das

implicações da revolução, que é confirmada pelo Prof. Mohamed Emara em seu livro

sobre a revolução, ressaltando que o evento foi resultado de uma série de erros

acumulados do regime de Mubarak (EMARA, 2011), e que a revolução egípcia foi a

levante de uma nova geração contra a geração dos pais, não liderado pelos militares ou os

sheiks de Al-Azhar, ou cientistas e intelectuais, mas liderados pela juventude.

A pior coisa sobre o medo no caso egípcio foi a alta taxa de violência e raiva,

como Samuli Schielke apontou em seu artigo “Haverá Sangue” quando disse:

Precisamos de muita força moral e integridade para nos imunizar contra

a crescente polarização e incitação ao ultraje moral, para preservar a

humanidade e respeitar a santidade do sangue, assim como aqueles que

estavam contra derramamento de sangue no verão de 2013.14

14 O link para o artigo foi mencionado acima.

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4. Para a ditadura:

O Egito conheceu o regime militar durante longos períodos de sua história, na era

moderna e contemporânea, e o governo de generais do exército egípcio desde 1952, após

o golpe militar contra a monarquia no Egito, e talvez pela extensão da experiência dos

egípcios com esses governantes militares através de sua história, levanta a questão:

Por que os egípcios gostam de governo militar?

Talvez a chave para a resposta a esta confusão é que os egípcios estão localizados

no meio do conflito entre o papel do establishment militar e o conceito de poder e do

governo. Parece que o povo egípcio entende que ele deve à estabilidade política aos

militares em alguns períodos da história - que começou após a revolução egípcia contra a

ocupação otomana “Turco” em 1805, quando Muhammad Ali, albanês militar que viveu

e governou o Egito, e isso é repetido mais tarde em outros períodos da história egípcia.

Isto é exatamente o que aconteceu no Egito com o general Abdel Fattah al-Sisi, que

deixou o exército livre completamente para dominar o Egito, em todos os campos

econômicos e políticos, o que transformou o Egito em um grande quartel militar,

dominado por generais em toda parte, e aqui nos referimos ao recente movimento dos

governadores no Egito, que incluiu mais de 17 militares em 22 províncias, e o canal Sky

News relatou isso, de acordo com seu site oficial 30 de agosto de 2018 na versão de

notícias árabe15.

No entanto, o caso recente do regime militar no Egito parece ser o mais difícil de

todos, à luz das hostilidades declaradas aos generais e objeções flagrantes contra a

militarização do estado. Foi cobrado dos generais do exército, e com eles do presidente

do país, colocar os interesses do Estado à frente dos interesses pessoais de um grupo de

generais e líderes militares, o que justifica essa raiva frenética foi a fala do presidente

15 https://www.skynewsarabia.com/middle-east/1177958-%D9%85%D8%B5%D8%B1-%D8%AA%D8%B9%D9%8A%D9%8A%D9%86-%D8%BA%D9%8A%D8%B1-%D9%85%D8%B3%D8%A8%D9%88%D9%82-%D8%AD%D8%B1%D9%83%D8%A9-%D8%A7%D9%84%D9%85%D8%AD%D8%A7%D9%81%D8%B8%D9%8A%D9%86

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egípcio dias antes da eleição presidencial no início do ano de 2018, que quem ousasse a

concorrer ao cargo de Presidente da República seria preso. Regimes de oposição de

alguns governos árabes já começaram, como o governo do Catar, que foram usados para

proteger muitos líderes da Irmandade Muçulmana, além disso, a Al-Jazeera lançou uma

guerra de mídia contra o regime egípcio e continua até hoje16.

Todos os dias o governo prende alguns jovens dissidentes ou ativistas, na

esperança de calar a boca dos egípcios, especialmente no que diz respeito ao fracasso

econômico e social do regime, e ao fracasso do governo em resolver crises econômicas e

enfrentar preços altos. E parece que esse controle foi facilitado pela consciência

equivocada e compreensão corrupta do papel do establishment militar no Egito, que

decidiu estar na vanguarda de todas as instituições estatais em violação de seu lugar

natural. Portanto, o povo egípcio pode ser descrito como vulnerável ao fascismo e tirania

militar, mas isso é uma profunda crise na consciência Egípcia que dura muitos anos.

Parece que o governo do Egito atual segue em direção a uma nova ditadura, o que

chamou a atenção da imprensa internacional. Quando escrevi para o Washington Post, e

denunciei a recepção do presidente egípcio na Casa Branca pelo presidente americano,

afirmando que “a repressão política é a pior da história moderna do Egito”. Centenas

sumiram, prisões foram ocupadas por milhares de detidos e a repressão à liberdade de

imprensa e da sociedade civil foi denunciada, informou isso o jornal independente

“Opinião hoje” (Rai al-Youm) em sua edição de 25 de janeiro de 2018.17

16 Um link para a Al Jazeera transmitiu notícias relacionadas à situação política no Egito e à prisão de oposição política: http://www.aljazeera.net/news/reportsandinterviews/2018/1/20/%D8%A5%D8%B9%D9%84%D8%A7%D9%85-%D9%85%D8%B5%D8%B1-%D9%88%D8%A7%D9%84%D8%B1%D8%A6%D8%A7%D8%B3%D9%8A%D8%A7%D8%AA-%D8%A7%D9%84%D8%B3%D9%8A%D8%B3%D9%8A-%D8%A3%D9%88%D9%84%D8%A7-%D8%A7%D9%84%D8%B3%D9%8A%D8%B3%D9%8A-%D8%A3%D8%AE%D9%8A%D8%B1%D8%A7

17 O jornal independente "Rai al-Youm" na sua edição de 25 de janeiro de 2018, veja o link: https://www.raialyoum.com/index.php/%D9%88%D8%A7%D8%B4%D9%86%D8%B7%D9%86-%D8%A8%D9%88%D8%B3%D8%AA-

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5. Diferenças sobre a Primavera Árabe:

Como Fanon diz em seu livro, as soluções não caem do céu para as nações, mas as

soluções devem vir dos músculos e cérebros dos cidadãos (Fanon, p. 173: 2004), então o

chamado mundo árabe decidiu encontrar suas soluções terrenas e não as celestiais. Na

manhã do dia 17/12/2010 o tunisiano Mohamed Bouazizi ateou fogo em seu corpo, como

forma de protestar contra o governo de seu país. Este evento é apontado como o início de

um movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe, e que teve como cenário

países como Egito, Líbia, Iêmen, Síria, dentre outros, além da Tunísia. Cada um destes

foi marcado por contextos repletos de especificidades, com marcas que perduram até os

dias atuais.

Em dezembro de 2010, e após confrontos entre a polícia tunisiana e as massas

enfurecidas de condições sociais e políticas, as manifestações foram capazes de forçar o

presidente tunisiano a fugir para fora do país. As câmeras de televisão citaram sua famosa

declaração na época: “Eu entendi vocês, eu entendi tudo18”, foi uma declaração sobre a

derrota do regime na Tunísia, a vitória das massas enfurecidas, e os eventos na Tunísia

encorajaram as massas nos países árabes a fazerem o mesmo. Depois disso, houve apelos

por revolução no Egito que seguiram o sucesso da revolução na Tunísia, mas o regime

egípcio tratou os apelos à revolução com escárnio19. Os oficiais do regime egípcio

disseram: “O Egito não é a Tunísia”. Na verdade, o regime egípcio estava tentando dizer

a todos dentro e fora do Egito que ele tem controle total sobre a rua egípcia.

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19 Link do YouTube Gamal Mubarak, filho do presidente egípcio, zombou da oposição antes da revolução de janeiro de 2011, alguns dias atrás: https://www.youtube.com/watch?v=NwtgqRRQilA

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Depois do assassinato de vários manifestantes em 28 de janeiro de 2011, o

número de manifestantes aumentou nas ruas, o Egito se tornou como a Tunísia. E milhões

gritavam nas ruas com slogans dos mais famosos; “Pão, liberdade e justiça social”, e o

chamado foi ouvido: “O povo quer derrubar o regime”20.

Na verdade, a “Primavera Árabe” é uma denominação que foi dada pela mídia

(Canal Al-Jazeera) e a partir de discursos dos Estados Unidos sobre a situação na região

árabe. Refere-se ao conjunto de movimentos e revoltas populares nos países árabes, a

partir de dezembro de 2010 com as manifestações na Tunísia, contra a ditadura no Egito,

Tunísia, Líbia, Iêmen e Síria. E o termo “Primavera Árabe” se espalhou extremamente

rápido, o que faz com que o jornalista e escritor, Abdullah Khaled Shams al-Din,

publicasse em 2014 parte da correspondência com um professor universitário norte-

americano especialista na História da Europa, confirmando que o rótulo “Primavera”,

para revoluções, é um antigo nome europeu, confirmando o texto através de textos que

ele publicou “Primavera dos Povos” ou, às vezes, “Primavera das Nações”, muitas vezes

usado como uma definição das revoluções europeias em 1848.

Mas depois de examinar os resultados dessas revoluções e protestos no mundo

árabe e seus resultados, o mundo da antropologia finlandesa Samuli Schielke - que viveu

no Egito durante a revolução e além - diz em seu artigo publicado em 18 de julho de

201821 e dá a todos esses eventos um nome diferente da primavera o nome é “Amshir al-

Arabi”, como o mês de Za'abeeb, termo árabe que pode ser traduzido como tempestades e

atmosfera não estável.

Alguns chamam os eventos desde 2011 “ Primavera Árabe”. Mas

considero a primavera uma metáfora metafórica do que aconteceu,[...] o

mês copta de Amshir seja mais provável. 8 de fevereiro a 9 de março) em

20 Veja o link do YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=dwvAZ_odHw8 21 Publicado por uma tradução árabe no site do Instituto Mundial de Estudos no seguinte link: http://alaalam.org/ar/translations-ar/item/723-734180718

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tempestades e clima volátil, [...], no mês de Amsir não sabe de manhã

como o tempo pode ser à noite.

Em seu artigo apresentado, Schielke dá razões pelas quais ele se recusa a rotular o

evento como “Primavera Árabe”, contando com as extremidades dos acontecimentos nos

países em que ocorreram, sem entrar em detalhes sobre a história da palavra “primavera”

revolucionária utilizado na Europa e Holanda, como a “Primavera de Praga” e

“Primavera da Europa Oriental”. Ele se recusa a descrever o que aconteceu no mundo

árabe como uma “primavera” no sentido de mudança e paz, enquanto o jornalista do

Bahrein, Said Al-Hamad, em seu artigo sobre a Primavera Árabe, se recusa a nomear a

“primavera”, e torná-lo indústria exclusividade da inteligência ocidental, em seu artigo

publicado no jornal Al Ayam Bahrain:

Se a Europa foi além das revoluções sangrentas, e que inventaram o

termo “Primavera Árabe”, o que aconteceu na Síria, Iêmen, Egito, Líbia

e Bahrein não pode ser considerado como a primavera, mas metáforas do

dicionário ocidental...22

Em seu artigo, El- Hamid promove a teoria da conspiração, em uma tentativa de

apoiar o regime no Bahrein contra protestos sob o pretexto de combater conflitos

sectários no Bahrein e parar a maré dos xiitas iranianos na região, e foi fortemente

reprimido pelo uso das forças sauditas23, de acordo com primeira página do Financial

Times, que a BBC informou em 11 de março de 201124.

22Jornal Al-Ayyam, edição nº 8259, domingo, 20 de novembro de 2011, publicado no seguinte link: http://www.alayam.com/Article/courts-article/78049/%D8%A7%D9%84%D8%B1%D8%A8%D9%8A%D8%B9-%D8%A7%D9%84%D8%B9%D9%80%D9%80%D9%80%D9%80%D8%B1%D8%A8%D9%8A..-%D8%A7%D9%84%D8%A5%D8%B3%D9%80%D9%80%D9%80%D9%85-%D9%88%D8%A7%D9%84%D8%AA%D8%B3%D9%80%D9%80%D9%85%D9%8A%D8%A9.html 23O vídeo no Youtube mostra a entrada das forças sauditas no Bahrein para suprimir a oposição no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=lgQimHyGR5o

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Tem havido muita especulação sobre a exatidão ou erro do rótulo "Primavera Árabe", e

muitos escritores e jornalistas falaram sobre isso, incluindo o filósofo francês Henry

Bernard Levy em seu livro "The Libyan Spring", no qual ele testemunhou sobre o que

aconteceu na revolução líbia contra Muammar Gaddafi e seu regime, bem como o

jornalista Manoucheur no Guardian, que publicou seu livro em 2012, e o livro leva o

mesmo nome "Primavera Árabe: a rebelião, a revolução e a nova ordem mundial". E

outros que analisaram o termo e a região em jornais, publicações e programas de

televisão, mas esse período tem sua própria natureza, que diferiu de um país para outro

conforme as circunstâncias e regulamentos, mas acabou no que “schielke “ adverte no

artigo citado anteriormente, e a possibilidade de que o sangue continue naquela região

por mais tempo.

Acho, eu como o filho de árabe-africana, acho o que chamamos de "Primavera Árabe",

fortalecerá da ditadura e até mesmo encorajará mais opressão pelo controle, dando-lhe a

oportunidade de novas práticas e violações, sem considerar os direitos dos povos de se

manifestar pacificamente ou se opor ao poder ou considerar oposição, ou quem chorou

por pão, liberdade e justiça social.

Finalmente:

Era a rua egípcia, frágil e vulnerável ao impacto do que está acontecendo a partir das mortes

e desaparecimentos, e com os rumores freqüentes de rua não foi capaz de manter a estabilidade, e

rumores se espalharam e houve caos na rua, e espalhado entre os egípcios, o que os egípcios

chamam de "terceiro lado", que foi responsável por todo o caos e matança indiscriminada nas

ruas, sem uma das partes determinadas a partir deste terceiro, que praticou assassinato o seqüestro

e espalhar rumores, e tornou-se tudo Faisal acredita que outros partidos são a terceira lado que

lidera um partido contra-revolução está tentando matar a revolução egípcia.

24 Notícias da entrada das forças sauditas no Bahrein para controlar os protestos, segundo BBC no seguinte link: http://www.bbc.com/arabic/inthepress/2011/03/110314_pressreview

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O governo da junta não conseguiu, após 25 de janeiro de 2011, controlar a rua e o

governo da Irmandade Muçulmana, e depois do golpe militar contra a Irmandade

Muçulmana, e não parou o derramamento de sangue e a matança de pessoas inocentes na

rua egípcia, por causa de grupos terroristas apoiados pela organização global da

Irmandade Muçulmana, e até agora, muitos jovens revolucionários ainda estão na prisão,

ou vivem no exílio e não podem retornar, Ao mesmo tempo, o surgimento de uma nova

ditadura militar mostra agora, que são considerados a revolução de 25 de janeiro de 2011

foi uma conspiração contra o Egito, e o sangue das vítimas parece ter sido desperdiçado.

Agora os egípcios estão dizendo sobre a revolução de janeiro de 2011:

“dizem que houve uma

revolução, em janeiro

retrasado”25.

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FAKHRY, AHMED. Egito Faraônico, Organização Geral do Livro Egípcio, Biblioteca

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FANON, F. Os Condenados da Terra. Traduação de Sami El-Drubi e Jamal El-Atassi.

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25 O início da música do filme: The Secret Capital, que fala sobre a revolução no egípcio 2012.

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FOUCAULT, M. A História da Sexualidade. Parte I. Tradução de Mohammad Hashem.

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SCHIELKE, S. Até o Fim do Petróleo. Tradução Amr Khayri. Cairo. Ed: Safsafa, 2017.

______________. Vai se Atrasar para a Revolução... Diário de Um Antropólogo.

Tradução AmruKhayri. Cario. Editora Dar IbnAl-Nafis, 2012.

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https://www.babonej.com/first-social-revolution-in-ancient-egypt-2442.html

2 - O portal eletrônico do Partido da Liberdade e Organização da Justiça da Irmandade

Muçulmana:

https://www.alaraby.co.uk/politics/2015/12/22/%D8%A7%D9%84%D8%B3%D9

%8A%D8%B3%D9%8A-%D9%8A%D8%B9%D9%8A%D8%AF-

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3- Wikipedia:

https://arz.wikipedia.org/wiki/%D8%AD%D8%B1%D9%83%D8%A9_%D9%83%D9%

81%D8%A7%D9%8A%D9%87

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4 - Jornal Rai hoje:

https://www.raialyoum.com/index.php/%D9%88%D8%A7%D8%B4%D9%86%D8%B7

%D9%86-%D8%A8%D9%88%D8%B3%D8%AA-

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5- Al Jazeera:

http://www.aljazeera.net/news/reportsandinterviews/2018/1/20/%D8%A5%D8%B9%D9

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%D8%A3%D8%AE%D9%8A%D8%B1%D8%A7

6- Instituto Mundial de Estudos:

http://alaalam.org/ar/translations-ar/item/723-734180718

7- Site da Sky News Arab:

https://www.skynewsarabia.com/middle-east/1177958-%D9%85%D8%B5%D8%B1-

%D8%AA%D8%B9%D9%8A%D9%8A%D9%86-%D8%BA%D9%8A%D8%B1-

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6

8- youtube.