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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
PAISAGENS QUE SE TRANSFORMAM: um estudo dos impactos causados na paisagem de Bento Rodrigues após o rompimento da
barragem da Samarco em Mariana-MG
XAVIER, TATIANA PAIVA
Mestrando em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável pela Escola de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais.
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo analisar o impacto causado pelo desastre ocasionado pelo rompimento das barragens do Fundão e Santarém de propriedade da Samarco Mineração, empresa de propriedade da Vale e pela BHP Billiton, no subdistrito de Bento Rodrigues situado na cidade de Mariana/MG, no que diz respeito à paisagem desse território. Os efeitos do rompimento das barragens resultaram no despejo de rejeitos ao longo do Rio Doce causando danos e impactos irreparáveis tanto ambientalmente, como cultural, social, histórico, econômico e afetivo. O subdistrito de Bento Rodrigues surgiu no século XVIII como um dos principais centros de mineração, usado como lugar de descanso por tropeiros que percorriam Minas Gerais em busca de ouro. Anteriormente ao rompimento das barragens, era caracterizado como um povoado tranquilo, bucólico, repleto de paisagens verdes e casas de arquitetura colonial com a população de aproximadamente 600 pessoas. Após o rompimento, Bento Rodrigues hoje possui a paisagem marcada por um horizonte marrom criado pela lama que escoou das duas barragens, devastando tudo aquilo que encontrou pela frente, destruindo casas, ruas, escolas, praças e vidas, não restando quase nada do pacato distrito. Dessa forma, será realizado um estudo comparativo e teórico da paisagem de Bento Rodrigues antes e depois do desastre a fim a discutir o atual conceito de paisagem desse local, visto que esse está em constante construção e é resultado do trabalho humano sobre o território. Para isso, foram tratados os conceitos de paisagem, bem como sua excepcionalidade e singularidade no contexto coletivo a fim de criar diretrizes para a preservação e gestão dessa paisagem atual como memorial de um dos maiores desastres ambientais do país, uma vez que a paisagem atual formada pela tragédia é testemunho da transformação vivida naquele espaço dentro do contexto da tragédia e se constituem como memória e marco histórico na vida dos que foram atingidos pelo rompimento da barragem.
Palavra-chave: Paisagem. Bento Rodrigues. Rompimento barragem Samarco.
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Bento Rodrigues: do surgimento ao desastre
Bento Rodrigues pertence à Microrregião de Mariana, compreendida na Mesorregião
Metropolitana de Belo Horizonte, integrante do Quadrilátero Ferrífero do Estado de Minas
Gerais, maior região exportadora de minério de ferro do mundo. Distando aproximadamente
30 km da sede municipal, constitui-se em um distrito situado em uma área cuja paisagem
vem sendo modificada desde o século XVIII devido às ações antrópicas relacionadas à
exploração dos recursos naturais locais. Em 1977, foi fundada a Samarco, empresa
mineradora de propriedade da Vale e pela BHP Billiton, multinacional anglo-australiana, se
localiza acima de Bento Rodrigues, a montante do Rio Gualaxo do Norte que deságua na
região.
A Samarco, empresa brasileira de mineração, de capital fechado, que tem como principal
produto minério de ferro comercializado para a indústria siderúrgica mundial, segundo
informações da página da própria empresa, para 19 países das Américas, Oriente Médio,
Ásia e Europa1. A Samarco possui duas unidades, a Germano em Mariana, Minas Gerais,
que beneficiam o minério e aumentam o seu teor de ferro, e outra em Anchieta, Espirito
Santo, responsável pela pelotização do minério.
Bento Rodrigues é um subdistrito de Santa Rita Durão, distrito de Mariana- MG. A formação
do povoado de Mariana-MG tem suas raízes no século XVIII com o início da exploração de
ouro pela expedição do Coronel Salvador Fernandes Furtado de Mendonça que fundou um
arraial no dia 16 de junho de 1696 às margens de um ribeirão ao qual deu o nome de
Ribeirão do Carmo, em homenagem ao dia de Nossa Senhora do Carmo, que se tornou a
padroeira da cidade. Segundo Fonseca (1995, p.2), o antigo arraial do Ribeirão de Nossa
Senhora do Carmo nasceu da mesma forma que tantos outros povoados do Ciclo do Ouro,
de um rancho de mineradores, um simples agrupamento de cabanas cobertas de Sapé.
A grande quantidade de ouro encontrado ao longo do ribeirão possibilitou a formação do
núcleo que posteriormente deu origem a cidade de Mariana, propiciando assim a ocupação
ao longo do ribeirão, à medida que ia sendo encontrado ouro, como afirma Fonseca (1995,
p. 57), “como interessava a cada minerador ser o descobridor de uma nova jazida, pois
assim teria direito a mais datas, a rápida ocupação foi se tornando esparramada ao longo
dos rios e os povoados tornando uma forma característica”.
É importante considerar essa disseminação de povoados ao longo dos rios, pois a forma o traçado urbano de muitos núcleos mineradores foi gerada pelos caminhos que os atravessavam, caminhos esses que se tratam, geralmente, da principal, quase sempre tangenciando o logradouro onde se erigia a capela ou igreja matriz (FONSECA, 1995, p. 58).
1 Disponível em: < http://www.samarco.com/institucional/a-empresa/>. Acesso: 20 de ago. de 2016.
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A localidade de Bento Rodrigues foi ocupada em fins do século XVII, sendo usado como
lugar de descanso por tropeiros que percorriam Minas Gerais em busca de ouro. O
subdistrito recebeu esse nome por ter sido fundado por um bandeirante paulista chamado
Bento Rodrigues que ali se firmou ao percorrer o Ribeirão do Carmo em busca de ouro. Em
meados de 1718 foi construída a sua primeira igreja, dedicada a São Bento, e
posteriormente outra igreja maior, dedicada à Nossa Senhora das Mercês. Segundo Oliveira
(2016, p.5), Bento Rodrigues desventuradamente não nasceu nos dorsos poderosos de uma
montanha, mas no rico vale do que seria chamado mais tarde Rio Gualaxo do Norte.
BENTO RODRIGUES - Famoso arraial, centro de mineração, surgido na época do bandeirismo, no termo de Ribeirão do Carmo. ´Com a mesma emulação, fez sua tropa o Pe. João de Faria Fialho e, em breve tempo, descobriu o ribeirão de seu nome, porém, como os que tinham mais armas e 7 mais séquito eram sempre nestes descobrimentos os mais aquinhoados, determinaram-se os mal contentes a formarem novas bandeiras. Uma destas descobriu e socavou o ribeirão que se chamou Bento Rodrigues, nome do cabo, de tanta grandeza, que tiraram nele bateia de 200 e 300 oitavas, sendo a pinta geral de duas e três oitavas e tanta a gente que concorreu, que; no ano de 1697, valeu o alqueire e milho sessenta e quatro oitavas e o mais na proporção` (Notícia Práticas que dá ao Revmo. Pe. Diogo Soares o Mestre de Campo José Rebelo Perdigão, sobre os primeiros descobrimentos das Minas Gerais do Ouro, in ´Vila Rica do Ouro Preto`, Augusto de Lima Júnior, pág. 50). A capela de S. Bento deve ter sido erigida em 1718; é o que se deduz de um documento publicado pelo Cônego Trindade. Num depoimento de 1743, declarou uma testemunha: ´vi, haverá 25 anos, começar as obras da capela, com licença, que estava em mãos do defunto João Ribeiro da Silva`4 . Num recenseamento verificado em 1831, o ´distrito de paz de Bento Rodrigues` apresentava 318 livres, 136 cativos, num total de 454 habitantes e 91 fogos (Avulsos, A.P.M). Em 1838, a lei nº 102, 6 de abril, suprimiu o distrito, cujo território ficou incorporado ao de Mariana - Por um pedido de auxílio dirigido à Assembleia Provincial, em 1853, verifica-se que havia ruído a capela de S. Bento, o povo construíra outra que, na época, estava já com dois altares prontos (Avulsos, A.P.M.). A lei nº 1.477, de 9 de julho de 1868, elevou Bento Rodrigues a distrito de paz. Esta lei, entretanto, foi revogada pela de nº 1.858, de 12 de outubro de 1871; assim, continuava Bento Rodrigues como simples povoado do município de Mariana. Em 1880, a lei de 30 de novembro transferiu a sede da freguesia de Camargos para o arraial de Bento Rodrigues. Hoje [1971], continua na situação de povoado, no município de Mariana. (BARBOSA, 1971, apud OLIVEIRA, 2016, p. 7).
O subdistrito está ligado aos distritos de Santa Rita Durão e de Camargos e faz parte do
trajeto da Estrada Real por ser um exemplar do período da mineração mineira do século
XVIII e possuía características urbanas dos pequenos povoados, uma vez que se
desenvolveu em uma planície do córrego local, sendo ocupado um largo defronte á Igreja de
São Bento.
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Até o final de 2015, Bento Rodrigues era caracterizado como um povoado tranquilo,
bucólico, repleto de paisagens verdes e casas de arquitetura colonial com a população de
aproximadamente 600 pessoas. A localidade possuía uma escola, uma praça e alguns
pontos comerciais com artigos de primeira necessidade, alguns bares, um restaurante e
uma cooperativa de agricultores locais que faziam e revendiam geleia de pimenta biquinho.
Além disso, o subdistrito se caracteriza pela atividade de extração mineral da Samarco
desde o final da década de 70.
Em novembro de 2015, a barragem do “Fundão”, localizada no distrito de Bento Rodrigues e
de propriedade da Samarco Mineração, rompeu resultando no despejo de milhões de
metros cúbicos de rejeitos ao longo do Rio Gualaxo de Baixo e em seguida no Rio Doce que
se encontra a jusante. A enxurrada de rejeitos e lama desceram o Rio Gualaxo do Norte
atingindo distritos, como Bento Rodrigues, Camargos, Paracatu de Baixo, Pedras, Águas
Claras, Ponte do Grama, e cidades como Barra Longa. Em seguida, a lama de rejeitos
atingiu o Rio Doce prosseguindo até o mar, constituindo-se no maior desastre ambiental já
visto no Brasil.
O subdistrito de Bento Rodrigues foi completamente destruído, restando apenas a parte
mais alta do subdistrito, poucas casas e a Igrejas das Mercês por ocupar uma das regiões
mais altas da localidade, como era comum ás igrejas do século XVIII. A Igreja de São Bento,
assim como a escola, a praça e muitas residências, desapareceram, restando apenas
poucas paredes e lama como vestígio do rompimento e da destruição.
Figura 01 – Esquema do rompimento da Barragem do Fundão e de Santarém que inundaram e
destruíram o subdistrito de Bento Rodrigues no dia 05 de novembro de 2016.
Fonte: Jornal Estado de Minas. Imagens de satélite mostram Bento Rodrigues antes e depois de tragédia. Disponível em: <http://www.em.com.br>. Acesso em: 10 de ago. 2016.
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Paisagem que se transformam: o caso de Bento Rodrigues
De acordo com Milton Santos (1999, p. 86) “o espaço é a síntese, sempre provisória, entre o
conteúdo social e as formas espaciais, sendo a sociedade, isto é, o homem, que anima as
formas espaciais atribuindo-lhes um conteúdo”. Dessa forma, segundo o autor, a
organização do espaço se dá a partir dos elementos geográficos naturais existentes e as
diversas formas como as sociedades interagem com eles, em diferentes períodos históricos,
sendo os objetos sociais resultados dos processos de acumulação de atividades de muitas
gerações, combinando objetos naturais e objetos fabricados.
Assim, foram as relações estabelecidas entre os grupos sociais que interagiram no território
de Bento Rodrigues ao longo do tempo, assim como as marcas espaciais deixadas por eles
naquele espaço que formaram a identidade dos que viviam no local e constituíram as
paisagens locais destruídas pelo rompimento da barragem do Samarco. Segundo Dias
(2006, p. 121), a ação do homem imprime nas paisagens o resultado de sucessivas
combinações de sociedades sobre o espaço, referenciando-se na perspectiva espaço
temporal.
Conforme Santos (1979, p. 42-43), é impossível pensar em evolução do espaço se não
tivesse existência no tempo histórico, pois a sociedade evolui no tempo e no espaço, sendo
o espaço resultado dessa associação que se desfaz e se renova continuamente, entre uma
sociedade em movimento permanente e uma paisagem em evolução permanente. Dessa
maneira, pode-se afirmar que somente a partir da unidade do espaço e do tempo, das
formas e do seu conteúdo, é que se pode interpretar as diversas modalidades de
organização espacial. Assim, a definição de paisagem segundo Carsalade:
[...] uma interação constante entre os grupos humanos e o território, em produção dialética e constante de significados, com a particularidade de que esses significados não são novos, pois estão profundamente enraizados no processo histórico. Deve, portanto, ser considerada a partir da especificidade dos valores que lhe são atribuídos, considerando os diversos elementos que a compõem e a constante evolução dos padrões e valores que reflete e que acabam por fazer com que ela seja a expressão da própria imagem da(s) sociedade(s) que a construíram... Esta experiência, além das nuances subjetivas e individuais, é constituída por uma sociedade em constante transformação, evidenciando, portanto, a influência exercida pelas paisagens na qualidade de vida e na construção cultural.(CARSALADE et all., 2012, p. 36)
A paisagem resulta sempre de um processo de acumulação, mas é, ao mesmo tempo,
contínua no espaço e no tempo, é una sem ser totalizante, é compósita, pois resulta sempre
de uma mistura, um mosaico de tempos e objetos datados (SERPA, 2010, p. 133). A
paisagem não é formada somente o visível, segundo Nascimento (2010, p. 32), ela
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incorpora valores humanos e pode ser interpretada a partir de seu conteúdo simbólico ou da
relação íntima e afetiva que os grupos sociais estabelecem com os lugares onde a vida
humana se reproduz, ou seja, o que confere identidade a uma determinada paisagem é
também a questão do pertencimento.
Em meio a múltiplas interpretações, há um consenso de que a paisagem cultural é fruto do agenciamento do homem sobre o seu espaço. No entanto, ela pode ser vista de diferentes maneiras. A paisagem pode ser lida como um documento que expressa a relação do homem com o seu meio natural, mostrando as transformações que ocorrem ao longo do tempo. A paisagem pode ser lida como um testemunho da história dos grupos humanos que ocuparam determinado espaço. Pode ser lida, também, como um produto da sociedade que a produziu ou ainda como a base material para a produção de diferentes simbologias, locus de interação entre a materialidade e as representações simbólicas. (RIBEIRO, 2007, p. 9)
Assim, podemos perceber a tênue relação existente entre a paisagem e a questão da
transformação dessa, sobretudo no que diz respeito aos desastres naturais e ambientais
que modificam a paisagem, pois confirme exposto por Santos, a paisagem sempre se
transforma. Dessa forma, a alteração da paisagem de Bento pós rompimento da barragem
da Samarco modifica completamente a paisagem do subdistrito de forma a alterar
completamente o ambiente e as vidas dos atingidos pela tragédia.
A paisagem nada tem de fixo, de imóvel. Cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança, a economia, as relações sociais e políticas também mudam, em ritmos e intensidades variados. A mesma coisa acontece em relação ao espaço e à paisagem que se transforma para se adaptar às novas necessidades da sociedade. (SANTOS, 1997, p. 37)
O desastre em Bento Rodrigues
Embora sejam tristes, os desastres naturais e ambientais no Brasil são muito mais comuns
do que se pensa. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a maioria dos desastres podem
ser evitados quando percebemos e compreendemos “a paisagem como uma fração do
espaço que recebe forças naturais propulsoras que, por sua vez, acionam processos
decorrentes” (Brasil, 2007, p.5). Assim, quando ocorre um evento adverso, súbito, de alta
magnitude sobre um terreno de alta vulnerabilidade, muito provavelmente estaremos diante
de uma calamidade, ou seja, um desastre ou acidente, seja para o homem, seja para o meio
ambiente de forma inesperada que acarreta grandes prejuízos de ordem humana, material
ou ambiental. O desastre é, então, o resultado de um ou mais eventos adversos sobre um
espaço vulnerável que podem ser de origem natural ou provocado pelo homem.
Uma importante lição da leitura de paisagem é que toda e qualquer situação desastrosa é sempre precedida por uma mudança. O ambiente é dinâmico. Isto significa que uma situação de equilíbrio sempre pode, de forma abrupta ou gradual, ser transformada em uma situação de não equilíbrio. A questão é responder em que medida as alternativas de uso e ocupação da terra
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estão contribuindo ou induzindo essa transformação que pode resultar em um evento desastroso para o Homem. (Brasil, 2007, p.5)
O papel decisivo das ações e atividades do homem induzem efeitos e atuam sobre a
vulnerabilidade do meio nas mais diversas proporções. De acordo com o Ministério do Meio
Ambiente (Brasil, 2007, p.24), o homem desenvolveu grande capacidade de apropriação e
transformação do meio em que vive, utilizando tudo aquilo que o meio possa lhe oferecer,
no entanto, não desenvolveu, concomitantemente, a consciência e o conhecimento
necessários para compreender e respeitar as limitações desse espaço, usando-o, e muitas
vezes, de forma descontrolada e desmedida.
Assim, toda paisagem possui uma dada configuração espacial e temporal em função do
arranjo e das interrelações entre todos os seus componentes, se um ou mais desses
componentes é modificado, consequentemente a configuração espacial dessa paisagem
será alterada, gerando uma nova paisagem alterada pela intervenção humana. Dessa
forma, podemos afirmar que a paisagem dos locais atingidos após o rompimento da
barragem da Samarco, através da lama de rejeitos, teve sua configuração espacial
completamente alterada, sobretudo o subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana- MG, que
foi a localidade mais afetada pela tragédia acarretada pela exploração do minério pela
Samarco.
Bento Rodrigues pós desastre
Bento Rodrigues se encontra a aproximadamente 2,5 km de distância das barragens que se
romperam, à jusante do Rio Gualaxo do Norte. Do subdistrito de Bento Rodrigues, pouco
ficou, restando apenas parte do subdistrito, localizado na parte mais alta. Ao se comparar
imagens de satélite (Google Earth) registradas em 2005 a 2014 é possível analisar parte da
evolução urbana do subdistrito nesse período de quase dez anos (Figura 02 e Figura 03), e
posteriormente o estrago provocado pela avalanche de lama da Samarco em novembro de
2015 (Figura 04) que transformou por completo a paisagem e as relações na localidade.
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Figura 02 e 03 –Bento Rodrigues em 2005 (à esquerda) e em 2014 (à direita). É possível observar o crescimento da localidade através do aumento do número de edificações. Em amarelo, Igreja das
Mercês, e em azul, Igreja de São Bento.
Fonte: Google Earth. À esquerda, imagem aérea 2005 e à direita de 2014. Modificada pela autora.
Atualmente, conforme imagem aérea abaixo de novembro de 2015, é possível ver o estrago
que a lama acarretou em Bento Rodrigues. Somente as edificações da parte mais alta do
subdistrito não foram atingidas e levadas pela lama, restando algumas residências, um
galpão e a Igreja das Mercês. A parte mais baixa da localidade foi completamente arruinada,
a lama atingiu cerca de 15 metros de altura a partir do nível do Rio Gualaxo do Norte.
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Figura 04 – Subdistrito de Bento Rodrigues após o rompimento da barragem da Samarco em 05 de novembro de 2015. Em amarelo, Igreja das Mercês, e em azul, local onde estava situada à Igreja de
São Bento levada pela lama de rejeitos.
Fonte: Google Earth, imagem aérea de 09/11/2015. Modificada pela autora.
Hoje a lama secou e restaram apenas ruínas como resquícios do que foi a tragédia em
Bento Rodrigues (Figura 05). Após o rompimento, foram construídos pela Samarco três
diques acima do povoado na tentativa de conter e filtrar os rejeitos que vazam.
Posteriormente, teve início a construção do quarto dique, chamado de dique S4, que fica
logo abaixo de Bento Rodrigues a poucos metros da Igreja de São Bento, área em que se
deu o início da construção do subdistrito, porém, sua construção foi proibida pelo Ministério
Público Estadual, IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e pelo
Compat (Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Mariana).
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Figura 05 – Subdistrito de Bento Rodrigues Após o rompimento da barragem da Samarco em 05 de novembro de 2015em abril de 2016. À esquerda pode ser observado um dos diques de contenção construídos pela Samarco logo em cima do distrito. Em amarelo, Igreja das Mercês, e em azul, local onde estava situada à Igreja de São Bento levada pela lama de rejeitos.
Fonte: Google Earth, imagem aérea de 25/04/2016. Modificada pela autora.
Com o intuito de preservar a memória dos atingidos e de inibir a construção de diques ou de
obras que prejudiquem o sítio arqueológico pós tragédia, foi proposto pelo Compat o
tombamento das comunidades atingidas de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. Segundo
a presidente do Compat, Ana Cristina de Souza Maia, “o tombamento confere proteção. Na
prática, a partir do momento em que as comunidades sejam tombadas, qualquer obra e
ação que vá ocorrer dentro requer expressa anuência do conselho de patrimônio” (Jornal O
Tempo, publicado em 20/04/2016).
Ainda de acordo com Ana Cristina de Souza Maia, a medida tem como objetivo preservar a
memória das famílias atingidas e proteger parte do que restou das edificações e ocupação
do século XVIII, como igrejas, sítios arqueológicos e muros de pedras do período colonial,
pois a partir do momento em que as comunidades forem tombadas, qualquer obra e ação
que vá ocorrer dentro requer expressa anuência do conselho de patrimônio (Jornal O
Liberal, publicado em 06/05/2016). Além do tombamento, outra proposta é transformar as
comunidades em museu de território2 ou a criação de uma memória, modalidade já existente
2 Segundo Varine (2012, p. 185) o museu-território é a expressão do território, qualquer que seja a entidade que toma a iniciativa e a autoridade que a controla: associação, mecenas, administração local, instituição cientifica, agencia de desenvolvimento, programa de turismo cultural, etc. Seu objetivo é a valorização desse território e,
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em outros municípios mineiros, como Itabira e seus Caminhos Drummondianos, como forma
de resgatar a história do que foi soterrado, a proposta tem por finalidade advertir para que
uma tragédia como está não se repita.
Como você vai deixar um lugar que era um vilarejo do século 18 e que foi destruído por uma avalanche ser esquecido? Ele não pode ser esquecido. As pessoas têm uma história com aquele lugar e a ideia é preservar o vínculo dos moradores com Bento e Paracatu. (Ana Cristina de Souza Maia, publicado no Jornal G1, publicado em 05/05/2016. Disponível em: < http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/noticia/2016/05/tombamento-de-distritos-de-mariana-e-alerta-para-que-tragedia-nao-se-repita.html>. Acesso em: 10 de ago. de 2016)
Figura 06 – Vista parcial de Bento Rodrigues e as ruínas do que restou de algumas edificações.
Fonte: Revista Piauí. Disponível em: <http://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-terra-devastada/>. Acesso em: 08 de ago. de 2016.
No entanto, ainda não há definições sobre as formas de uso e a reocupação dessas áreas,
mas as ruínas devem ter forte simbolismo, conforme dito pelo promotor de Justiça Marcos
Paulo de Souza Miranda, coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio
Cultural e Turístico de Minas Gerais:
[...] é muito possível que a gente deixe alguma parte impactada para que sirva como um retrato do momento [do desastre]. Como uma advertência para que fatos como este não voltem a acontecer no país” e “a retirada da lama deve
sob esse ponto de vista, é realmente um instrumento do desenvolvimento em primeiro grau. O território escolhido pode ser grande ou pequeno, sua delimitação dependerá de critérios naturais (reserva natural, setor de litoral), econômicos (região mineira), históricos (região com forte identidade herdada do passado), sociológicos (um bairro periférico da cidade, uma aldeia de tradições artesanais ou comunitária).
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acontecer, mas alguns pontos de grande impacto devem ser “musealizados do jeito que são”, isto é, devem ser mantidos do jeito que ficaram após o rompimento da Barragem de Fundão (Jornal G1, publicado em 05/05/2016).
Com a realização de audiência pública no dia 28 de abril de 2016 pelo Compat com a
presença dos moradores das comunidades atingidas, lideranças de movimentos sociais, o
prefeito Duarte Júnior, representantes do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), da
Samarco e outras autoridades, o tombamento dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu
se torna provisório até que o processo seja concluído.
O desastre se caracteriza, tristemente, um fato memorável da nação brasileira, por ser considerado o mais grave dano ambiental do país, e por isso, a necessidade de servir de exemplo para o futuro a fim de se evitar que novas vidas humanas sejam ceifadas em decorrência de atividades minerárias desenvolvidas à margem da responsabilidade que espera de quem exerce atividade de risco. (Ana Cristina de Souza Maia, publicado no Jornal G1, publicado em 05/05/2016. Disponível em: < http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/noticia/2016/05/tombamento-de-distritos-de-mariana-e-alerta-para-que-tragedia-nao-se-repita.html>. Acesso em: 10 de ago. de 2016)
A criação de um memorial na área do antigo Bento Rodrigues está contemplada no acordo
assinado com os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo que prevê dentre
várias medidas, a valorização, resgate e difusão do patrimônio cultural das comunidades
atingidas pelo desastre, resgate de todos os bens culturais existentes no território, instituição
de espaços museais e culturais, incluindo a implantação de um memorial dedicado às
vítimas do desastre e recuperação de áreas degradadas, restauração e execução de ações
de resgate dos bens culturais atingidos pelo desastre.
Considerações finais
Após o rompimento da barragem da Samarco em Mariana- MG no dia 05 de novembro de
2016, Bento Rodrigues hoje possui a paisagem marcada por um horizonte marrom criado
pela lama que escoou das duas barragens, lama essa que devastou tudo aquilo que
encontrou pela frente, destruindo casas, ruas, escolas, praças e vidas, não restando quase
nada do pacato distrito. É indiscutível que a paisagem dos locais atingidos pela lama da
barragem, sobretudo de Bento Rodrigues, foi completamente transformada pela tragédia
sendo resultado do trabalho humano sobre o território.
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Com o intuito de preservar a transformação promovida nessa paisagem pela tragédia, o
Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Mariana (Compat), promoveu o tombamento
provisório de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo como forma de criar diretrizes para a
preservação e gestão dessa paisagem atual como memorial de um dos maiores desastres
ambientais do país, uma vez que a paisagem atual formada pela tragédia é testemunho da
transformação vivida naquele espaço dentro do contexto da tragédia e se constituem como
memória e marco histórico na vida dos que foram atingidos pelo rompimento da barragem.
A exemplo dos memoriais das cidades atingidas nas guerras mundiais, como o Memorial do
Holocausto construído em Berlim, Alemanha, dedicado aos seis milhões de judeus mortos
durante o regime nazista ou o Parque Memorial de Paz de Hiroshima na cidade de
Hiroshima no Japão, o memorial a ser criado nas localidades atingidas de forma mais
drástica tem como intenção preservar e relembrar a história da destruição acarretada pelo
desastre. O memorial proposto para os subdistritos de Mariana, embora seja uma tragédia
com proporções muito menores as cidades aniquiladas pelas guerras, tem como intenção
relembrar a destruição acarretada pela mineração de forma imprudente, que causou não só
a destruição dos subdistritos, como a maior tragédia ambiental do país.
Pautado nesses questionamentos, podemos concluir que o tombamento ainda tem sido um
importante instrumento de proteção daquilo que é atribuído como patrimônio por um grupo
de pessoas, seja de forma eficaz ou não, constituindo-se como salvaguarda de maneira que
impeça o avanço da mineradora sobre os subdistritos atingidos pela lama de rejeitos. O
tombamento também se constitui em um importante instrumento para a preservação da
paisagem, que mesmo que seja alterada em partes, ainda deve ser gerida com o intuito de
manter as características que levaram ao seu tombamento.
De fato, é impossível que após a tragédia, os subdistritos sejam reconstruídos em sua
totalidade tal como eram, porém, é importante que se conserve a memória do
acontecimento para que não seja esquecido, pois não foram modificadas apenas as
características físicas da região, mas, principalmente, o sentimento dos moradores dos
imóveis arruinados pela tragédia, uma vez que a paisagem evolui, se desfaz e se renova
continuamente, sendo formada por todos os fenômenos de identidade construída ao longo
do tempo, sendo resultado de experiências e conhecimentos individuais e coletivos e da
maneira como cada indivíduo ou grupo se relaciona com o espaço em que vive.
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Referências
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