paisagens mineiro-industriais, territÓrio e...

16
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016 PAISAGENS MINEIRO-INDUSTRIAIS, TERRITÓRIO E PATRIMÔNIO: o caso de Miguel Burnier, MG, Brasil. CRESPO, JEANNE CRISTINA MENEZES (1); QUEIROZ, DÉBORA DA COSTA (2). 1. Superintendência do IPHAN no Estado do Rio de Janeiro Av. Rio Branco, 46 Centro CEP: 20090-002. Rio de Janeiro, RJ, Brasil [email protected] 2. Prefeitura Municipal de Ouro Preto Secretaria de Cultura e Patrimônio Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável MACPS /UFMG Rua Teixeira do Amaral, 50 Casarão Rocha Lagoa Centro CEP: 35420-000 Ouro Preto, MG, Brasil [email protected] RESUMO Esta proposta de artigo tem como principal objetivo apresentar um estudo de caso sobre o Distrito de Miguel Burnier, localizado na porção oeste do Município de Ouro Preto no Estado de Minas Gerais, Brasil; a partir de uma discussão sobre os impactos socioculturais advindos da instalação das atividades mineiro-industriais neste território, cuja paisagem vem sendo modificada desde o século XIX. E apesar desta localidade ter passado por um período de expansão econômica que durou até o quartel final do séc. XX, sua situação atual é de extrema tensão social, claramente percebida tanto pelo processo de degradação do seu meio urbano, quanto pelo êxodo da população local, que sai em busca de postos de trabalho e melhores oportunidades em outras localidades. Pelo artigo proposto, pretende-se realizar uma breve contextualização histórica da formação territorial de Miguel Burnier, ressaltar sua importância sob o ponto de vista do seu Patrimônio Cultural Industrial, além de discutir brevemente sobre alguns instrumentos e parcerias utilizados para a promoção e proteção dos bens culturais em questão, apresentando os esforços dos gestores públicos que atuam na localidade com a finalidade da preservação do Patrimônio Cultural local. Objetiva-se também trazer à tona as potencialidades locais através do conceito da apreensão do conceito de patrimônio industrial, que implica na tomada de consciência do valor destes locais, paisagens e equipamentos fora de uso. Palavras-chave: Patrimônio Cultural Industrial; Paisagem Cultural; Instrumentos de Proteção; Miguel Burnier; mineração.

Upload: vuongliem

Post on 30-Nov-2018

232 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

PAISAGENS MINEIRO-INDUSTRIAIS, TERRITÓRIO E PATRIMÔNIO: o caso de Miguel Burnier, MG, Brasil.

CRESPO, JEANNE CRISTINA MENEZES (1); QUEIROZ, DÉBORA DA COSTA (2).

1. Superintendência do IPHAN no Estado do Rio de Janeiro Av. Rio Branco, 46 – Centro – CEP: 20090-002.

Rio de Janeiro, RJ, Brasil [email protected]

2. Prefeitura Municipal de Ouro Preto – Secretaria de Cultura e Patrimônio

Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável – MACPS /UFMG Rua Teixeira do Amaral, 50 – Casarão Rocha Lagoa – Centro – CEP: 35420-000

Ouro Preto, MG, Brasil [email protected]

RESUMO

Esta proposta de artigo tem como principal objetivo apresentar um estudo de caso sobre o Distrito de Miguel Burnier, localizado na porção oeste do Município de Ouro Preto no Estado de Minas Gerais, Brasil; a partir de uma discussão sobre os impactos socioculturais advindos da instalação das atividades mineiro-industriais neste território, cuja paisagem vem sendo modificada desde o século XIX. E apesar desta localidade ter passado por um período de expansão econômica que durou até o quartel final do séc. XX, sua situação atual é de extrema tensão social, claramente percebida tanto pelo processo de degradação do seu meio urbano, quanto pelo êxodo da população local, que sai em busca de postos de trabalho e melhores oportunidades em outras localidades. Pelo artigo proposto, pretende-se realizar uma breve contextualização histórica da formação territorial de Miguel Burnier, ressaltar sua importância sob o ponto de vista do seu Patrimônio Cultural Industrial, além de discutir brevemente sobre alguns instrumentos e parcerias utilizados para a promoção e proteção dos bens culturais em questão, apresentando os esforços dos gestores públicos que atuam na localidade com a finalidade da preservação do Patrimônio Cultural local. Objetiva-se também trazer à tona as potencialidades locais através do conceito da apreensão do conceito de patrimônio industrial, que implica na tomada de consciência do valor destes locais, paisagens e equipamentos fora de uso.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Industrial; Paisagem Cultural; Instrumentos de Proteção; Miguel Burnier; mineração.

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Introdução

O presente artigo está relacionado com a prática profissional e acadêmica de ambas as

autoras, que tem no distrito de Miguel Burnier um desafio tanto em termos de experiência de

gestão de seu Patrimônio Histórico, Urbanístico e Ambiental, quanto um objeto muito

interessante do ponto de vista académico-científico.

O distrito de Miguel Burnier integra a porção oeste do município de Ouro Preto, distando 40

km da sede municipal. Ouro Preto localiza-se na região central do estado de Minas Gerais,

integrante da Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte, Microrregião de Ouro Preto. A

localidade, ainda, insere-se na porção sul da região do Quadrilátero Ferrífero do Estado de

Minas Gerais, posicionado na porção centro-sul do Estado, localiza-se aproximadamente a

20°30’ de latitude sul e 44°33’ de longitude oeste, fazendo limite com Mariana à leste, Santa

Bárbara ao norte, Itabirito a noroeste, Moeda e Belo Vale a oeste, Congonhas e Ouro Branco

ao sul e Catas Altas da Noruega, Piranga e Itaverava, a sudeste.

FIGURA 01- Localização do Distrito de Miguel Burnier.

Fonte: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto.

A região de Miguel Burnier está inserida na Bacia Hidrográfica Federal do Rio São Francisco,

exatamente na divisão entre as sub-bacias estaduais do Rio Paraopeba e do Rio das Velhas,

apesar de, administrativamente, estar inserida na região desta última. Este divisor de águas

coincide, grosso modo, com o acesso da BR-040 ao Distrito em questão.

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Fito geograficamente, esta área localiza-se em zona de transição dos biomas mata atlântica e

cerrado, ambos considerados como hotspots, ou seja, áreas prioritárias para a conservação

devido a sua alta biodiversidade e alto grau de endemismo, cuja integridade se encontra

altamente ameaçada, principalmente por ações antrópicas motivadas pelo interesse na

exploração econômica dos seus recursos naturais. E de acordo com a Deliberação Normativa

do Conselho Estadual de Política Ambiental - COPAM Nº 94/2006 artigo 2º § 2º, a área em

questão é prioritária para a conservação da biodiversidade no Estado de Minas Gerais.

De acordo como Zoneamento Econômico Ecológico (ZEE) de Minas Gerais, a região

apresenta Vulnerabilidade Natural (VN) “alta a muito alta”. A VN é um parâmetro que indica a

incapacidade do meio ambiente de resistir ou se recuperar de impactos antrópicos negativos,

significando que a área em questão apresenta restrição considerável quanto à utilização dos

seus recursos naturais, demandando avaliações cuidadosas para a implantação de

empreendimentos e atividades.

A localidade em questão também se encontra oficialmente cadastrada como um dos

municípios que compõem o Projeto Turístico Estrada Real, inserido no circuito conhecido por

“Caminho Velho”, no roteiro Ouro Preto - Paraty.

O distrito em questão está situado em uma área cuja paisagem vem sendo modificada desde

o século XVIII devido às ações antrópicas relacionadas à exploração dos recursos naturais

locais. Primeiro o ouro, depois a extração de minério de ferro e siderurgia em contextos

históricos distintos - estes últimos remontando ao final do séc. XIX e que perduram até os dias

atuais. Tal histórico, por sua vez, favoreceu que neste distrito fossem se constituindo

relevantes legados históricos dos sucessivos modelos de industrialização da região, assim

como do resto do país. Ao mesmo tempo, esta contínua exploração de seus recursos naturais,

as novas formas de organização das grandes empresas mineradoras contemporâneas,

aliando-se a falta de investimentos públicos em infraestrutura na localidade, vem favorecido

uma ambiência paisagística degradada da sua sede distrital, deficiência na oferta de bens e

serviços à população local, além de uma baixa dinâmica social, proporcionando um quadro

preocupante de êxodo urbano nos dias atuais.

Devemos ressaltar que, não será nosso objetivo realizar uma análise completa da situação

atual de tal enclave, uma vez que o presente espaço mostra-se muito limitado para tanto. Pelo

presente artigo, nosso objetivo é realizar uma breve contextualização histórica da formação

territorial de Miguel Burnier, ressaltar sua importância sob o ponto de vista do seu Patrimônio

Cultural Industrial, além de discutir brevemente sobre alguns instrumentos e parcerias

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

utilizados para a promoção e proteção dos bens culturais resultantes da trajetória

histórico-social do distrito em questão.

Contextualização histórico-territorial do distrito de Miguel Burnier.

A atual área de Miguel Burnier foi sendo historicamente produzida desde o séc. XVIII, época

da exploração aurífera nas regiões denominadas “Rodeio de Itatiaia” e “Chiqueiro”,

compreendidas na área que se estendia da Serra do Ouro Branco até os limites do atual

distrito de Engenheiro Côrrea, no município de Ouro Preto. Tal área era constituída

principalmente por fazendas que tinham na exploração mineral sua principal atividade, que se

desenvolvida nas áreas de depressão do terreno, chamadas de caldeirões.

A região possuía importância estratégica dentro da geografia viária da primeira metade do

século XVIII: tanto o Caminho Novo quanto o Caminho Velho convergiam no lugar do

Macabelo (localidade próxima), passando a estrada, já unificada, pelo “Rodeio” e,

consequentemente, por “Chiqueiro”. É certo que estas estradas e caminhos se alteraram

constantemente durante o século XVIII e XIX, mas o “Rodeio” permaneceu como passagem

obrigatória por muitos anos. Com o passar do tempo, as fazendas da área começaram

gradativamente a diminuir a atividade minerária, dada a exaustão das minas, dando ênfase à

atividade agrícola.

Com a vinda da Família Real para o Brasil em 1808, um dos anseios era a descoberta de

novas riquezas no subsolo de Minas Gerais. Entre os cientistas que atuaram neste tipo de

pesquisa estava o Barão de Eschwege, que, após profundos estudos, inaugurou em fins de

1811, a Fábrica de Ferro Patriótica, em terras de São Julião, distrito de Ouro Preto. As ruínas

desta fábrica foram tombadas pelo IPHAN em 30 de junho de 1938, sob o processo

0031-T-38, devido à relevância de tal sítio como marco na história da siderurgia do país.

A partir do ano de 1880, a região começa a ganhar nova dinâmica motivada pela notícia de

que uma estrada de ferro cortaria a localidade. Assim, no dia 17 de junho de 1884 foi

inaugurada a Estação Ferroviária de Miguel Burnier, em homenagem ao o engenheiro Miguel

Noel Nascentes Burnier, na época, presidente da Estrada de Ferro D. Pedro II. Esta estação

teve grande papel no desenvolvimento do distrito, uma vez que o mesmo se constituiu em um

importante entroncamento ferroviário pelo qual transitavam cargas e passageiros com

destinos variados (VASCONCELOS, 1948).

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

FIGURA 02- Ruínas da antiga Fábrica Patriótica. Fonte: http://patrimonioindustrialbrasil.blogspot.com.br/2012/04/serie-patrimonio-industrial-do-brasil.html

Pouco tempo depois, os recursos minerais da região e a situação privilegiada da localidade,

como importante entroncamento ferroviário, confluíram para despertar o interesse do

comendador Carlos da Costa Wigg, na área. Assim, em 1893, este ali instala a Usina Wigg,

destinada à extração de minério de ferro e manganês, assim como à produção de ferro gusa.

Tal empreendimento fez aumentar o povoado que ali já existia, aglutinando tanto os

trabalhadores desta empresa quanto outras pessoas que para ali afluíram em busca de

melhores oportunidades (CAMPOS, 2012, p. 30).

Com a promulgação da Lei no. 556 de 30 de agosto de 1911, “Rodeio” passa ser reconhecido

como distrito de São Julião do Município de Ouro Preto, tendo como sede o povoado criado

nas imediações da Estação de Burnier. Através da Lei no. 1085 de 08 de outubro de 1929

determinava-se que a sede do distrito de São Julião seria deslocada para o local onde estava

implantado o povoado da Usina Wigg. Somente em 17 de dezembro de 1948, por aplicação

da lei nº 336, o distrito passa a assumir definitivamente o nome da estação e se denominar

oficialmente Miguel Burnier (BARBOSA, 1995).

Em 1969, a Usina Wigg foi vendida para o grupo empresarial que instalou a siderúrgica Barra

Mansa (Grupo Votorantim) no distrito, cujas atividades favoreceram economicamente a

população local até seu fechamento, em 1996. O empreendimento em questão incluía um

complexo de atividades dentre as quais se destacavam a produção de ferro, extração de

minério, brita, e produção de carvão, chegando a empregar 1500 trabalhadores. Neste

mesmo período, várias outros empreendimentos siderúrgicos e mineradores instalaram-se na

região.

Ao declínio das atividades da siderúrgica Barra Mansa, acrescentamos o processo de

arruinamento da malha ferroviária nacional, contribuindo para um esvaziamento da população

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

local, que foi procurar postos de trabalho e melhores oportunidades em outras localidades.

Para ilustrar tal ideia, apresentamos um breve panorama populacional da localidade, que em

1996 possuía, segundo dados do IBGE, 1.279 habitantes, passando para 954 habitantes, no

ano de 2010.

As atividades industriais na sede do distrito em questão foram retomadas em 2004, desde

quando a Gerdau Açominas assumiu as atividades minerárias de exploração de minério de

ferro no local, a partir da operação da Mina de Miguel Burnier, que extrai mais de um milhão de

toneladas de minério por ano. Além desta mineradora, na área rural distrital há

empreendimentos da VALE S.A., da Açominas, da CFM - Companhia de Fomentos Minerais,

da Magnesita, da Nacional Minérios S.A. (Namisa), além de pequenas empresas vinculadas a

produção de carvão vegetal. Tal quadro de empresas em atividade, no entanto, não contribuiu

para reversão do processo de evasão social e decadência, pelo qual, ainda hoje, passa a

sede distrital de tal localidade.

FIGURA 03 - Vista Geral de Miguel Burnier, com a planta industrial da Gerdau, ao fundo. Foto de Débora Queiroz, 2013. Fonte: Acervo pessoal da autora.

Os séculos de exploração dos recursos naturais regionais e a falta de investimentos públicos

em infraestrutura urbana resultaram em uma ambiência paisagística do entorno das empresas

de mineração, assim como da sede distrital de Miguel Burnier – cujo tecido urbano é precário,

caracterizada por focos de erosão no solo exposto, voçorocas, alteração na morfologia do

terreno, desmatamento da cobertura vegetal, formação de taludes, perfis expostos de terreno

(sujeitos a desmoronamento pela ação de águas pluviais), poluição dos cursos de água e

lençol freático (tanto por resíduos das atividades minerárias quanto pelo saneamento precário

da região), além da própria poluição do ar por material em suspensão. No entanto, ao

caminharmos por suas ruas, irregulares e de calçamento em pedra, cheias de falhas e terra

exposta; podemos perceber em seus conjuntos dispersos de edificações simples, mal

conservadas e em estado de arruinamento, o valioso potencial cultural do legado urbano

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

deixado pelas sucessivas fases da mineração no local, como poderemos perceber pelas

imagens abaixo:

FIGURA 04 - Vista Geral do conjunto arquitetônico da Rua João Gonçalves, Miguel Burnier. Fotos de Jeanne Crespo, 2013. Fonte: Acervo pessoal da autora.

FIGURA 05 - Conjunto Ferroviário de Miguel Burnier. FIGURA 06 – Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em detalhes da sua fachada principal e da nave. Fotos de Jeanne Crespo, 2013. Fonte: Acervo pessoal da autora.

FIGURA 07 - Vista Geral do galpão no qual se localiza o alto-forno da Usina Wigg, Miguel Burnier. Foto de Jeanne Crespo, 2013. Fonte: Acervo pessoal da autora.

Reflexões sobre o Patrimônio Cultural Industrial e suas paisagens.

De acordo com a Carta de Nizhny Tagil, datada de 17 de julho de 2003:

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de tratamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infraestruturas, assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação.

Tal perspectiva patrimonial é resultante de um longo debate no campo formal do patrimônio

cultural, aliado a uma perspectiva mais democrática e socializante de tal conceito. A Carta de

Nizhny Tagil (2003) afirma, ainda, que o patrimônio industrial se caracteriza como testemunho

de um passado cujas consequências ainda estão presentes na contemporaneidade,

guardando em si um conjunto de valores que justificam a necessidade da sua preservação:

um valor histórico por representar um período fundamental da história humana; um valor

social enquanto registro da experiência do trabalho industrial, de uma sociedade que ainda

nos é comum e que lhe confere um forte sentimento indentitário; um valor cientifico e

tecnológico, por testemunhar os avanços e as conquistas técnicas próprias dos processos

industriais; um valor estético, por apresentar muitas vezes em seus exemplares arquitetônicos

qualidades arquitetônicas e soluções inovadoras tão importantes para a definição da nova

linguagem moderna.

Os valores acima mencionados podem ser atribuídos aos próprios sítios industriais, às suas

estruturas, aos seus elementos constitutivos, à sua maquinaria, à sua documentação e

também aos registros intangíveis contidos na memória dos homens e das suas tradições,

assim como, às suas paisagens. E para o presente trabalho, buscamos compreender as

paisagens resultantes de enclaves industriais, a partir de suas potencialidades patrimoniais,

concebendo-as enquanto artefato cultural, a partir de uma perspectiva que leve em

consideração:

[...] o resultado de uma interação constante entre os grupos humanos e o território, em produção dialética e constante de significados, com a particularidade de que esses significados não são novos, pois estão profundamente enraizados no processo histórico. Deve, portanto, ser considerada a partir da especificidade dos valores que lhe são atribuídos, considerando os diversos elementos que a compõem e a constante evolução dos padrões e valores que reflete e que acabam por fazer com que ela seja a expressão da própria imagem da(s) sociedade(s) que a construíram. Assim, embora as estruturas da paisagem se expressem em conjunto, em uma imagem, sob a ótica da percepção, elas não se reduzem a um mero estímulo sensorial. Esta experiência, além das nuances subjetivas e individuais, é constituída por uma sociedade em constante transformação, evidenciando, portanto, a influência exercida pelas paisagens na qualidade de vida e na construção cultural. Tal transformação é capaz de influir e resultar em novas referências e identidades. Suas consequências e as novas apropriações e valorações que a sociedade lhe conferir são o que vai lhe outorgar qualidade. Fica, assim, evidente a convergência mineração-território-paisagem na

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

interseção propiciada pelas relações socioculturais. É fundamental considerar os vínculos entre mineração, seu território e as paisagens envolvidas, que são por ela modificados, influenciando, direta ou indiretamente, o contexto econômico e sociocultural onde se situam (CARSALADE et all., 2012:36).

Assim, para localidades com o mesmo histórico de formação de Miguel Burnier, a trajetória

dos usos dos espaços pelas tecnologias e modelos de produção correntes, se manifesta

através de avanços que constantemente canibalizam o passado, implicando em práticas

espaciais que levam em consideração a constante exploração dos recursos territoriais

existentes em tais espaços. Neste ínterim, há uma tendência para os complexos industriais

que vão se tornando obsoletos a serem abandonados, esquecidos ou mesmo destruídos;

passando os mesmos, a serem percebidos como espaços residuais e/ou degradados. Tais

enclaves, muitas vezes situados em áreas com elevado valor ambiental e paisagístico, tem

sido alvo de várias pressões que nem sempre têm como objetivo, a aplicação de ações

orientadas para o seu desenvolvimento, dinamização socioeconômica, a recuperação

patrimonial e paisagística e/ou a melhoria das condições de vida da população, mas sim a

maximização do lucro através de operações urbanísticas muitas vezes desenquadradas e que

colocam em risco tanto a qualidade do conjunto, quanto a manutenção do seu patrimônio

cultural industrial (LOURES, 2010).

A discussão sobre gestão e possíveis reutilizações do patrimônio cultural industrial está

sujeita aos conceitos éticos do presente, uma vez que a história da cultura industrial pode ser

sinónimo de poluição, insustentanbilidade e péssimas condições de trabalho, devendo ser sua

reinvenção contemporânea, sinônimo de ecologia, bem-estar social e desenvolvimento

sustentável. Assim, se pensarmos as múltiplas implicações dos processos mentais,

produtivos, sociais e econômicos das sociedades que vivenciaram e (re)produziram os

territórios industriais, abordando-as a partir da relação entre as paisagens resultantes de tais

processos e o contexto sociocultural contemporâneo no qual estas estão inseridas; vemos

uma possibilidade de inserção de tais espaços residuais no espaço contemporâneo, a partir

do fomento de políticas de gestão que considerem uma nova vocação funcional para os

mesmos, com base em critérios que considerem a representatividade dos seus legados

culturais, sociais e históricos. Assim, de acordo com o item 9 da Carta de Cracóvia (2000), que

formula diretrizes e alguns Princípios para a Conservação e o Restauro do património

construído, inferimos que:

As paisagens reconhecidas como património cultural são o resultado e o reflexo da interação prolongada nas diferentes sociedades entre o homem, a natureza e o meio ambiente físico. São testemunhos da relação evolutiva das comunidades e dos indivíduos com o seu meio ambiente.

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Neste contexto, a sua conservação, preservação e desenvolvimento centram-se nos aspectos humanos e naturais, integrando valores materiais e intangíveis. É importante compreender e respeitar o carácter das paisagens e aplicar leis e normas adequadas que harmonizem os usos mais importantes do território com valores paisagísticos essenciais. Em muitas sociedades, as paisagens possuem uma relação histórica com o território e com as cidades. A integração da conservação da paisagem cultural com o desenvolvimento sustentado de regiões e localidades com atividades ecológicas, assim como com o meio ambiente natural requerem uma consciencialização e uma compreensão das suas relações ao longo do tempo, o que implica o estabelecimento de relações com o meio ambiente construído, de regiões metropolitanas, cidades e núcleos históricos. A conservação integrada de paisagens arqueológicas ou com interesse paleontológico, bem como o desenvolvimento de paisagens que apresentam alterações muito significativas, envolvem a consideração de valores sociais, culturais e estéticos.

Mais propriamente sobre as paisagens resultantes de zonas industriais de mineração, que é o

caso da localidade em estudo no presente trabalho, citaremos os parâmetros fornecidos pela

Carta de El Bierzo (2008), que estabelece normas para os usos e práticas de intervenção em

tais paisagens. Tal instrumento distingue três tipos de elementos patrimoniais característicos

das atividades de mineração: o patrimônio natural, formado pelo reservatório geológico e do

ambiente natural; o patrimônio antropogênico, formado pelas instalações físicas e laborais

das plantas industriais, companhias, cidades, assentamentos, dentre demais infraestruturas

necessárias ao funcionamento das atividades de mineração. E em terceiro lugar, os

chamados bens imateriais ou intangíveis, relativos às expressões culturais, sociais,

trabalhistas, lúdicas e as tradições e costumes associadis ao universo da mineração.

Assim sendo, quaisquer intervenções em paisagens resultantes de processos históricos da

mineração industrial devem levar em consideração a sinergia entre tais elementos e os seus

impactos sobre a porção física dos territórios. Ainda, há de se considerar que o patrimônio

resultante das atividades da mineração é o testemunho da vida quotidiana, parte da nossa

memória acerca das tecnologias, das relações trabalhistas e de nossa herança cultural. Este é

um elemento configurador de identidade territorial, ao mesmo tempo, que recurso econômico,

turístico e cultural. Consequentemente, a sua preservação deve significar mais do que um

pastiche conservado para o consumo turístico e estético; mas, antes de tudo, deve refletir a

variedade de sistemas de operação (re) produzidos em torno da atividade industrial da

mineração, apresentando, assim um ponto de vista crítico do histórico das relações de

apropriação do meio ambiente e da força de trabalho humana advindas de tal indústria. Tal

visão, contudo, deverá vir devidamente contextualizada, mostrando os distintos ciclos

econômicos e de modo de produção, assim como, das historicidades pertinentes às

sociabilidades e mentalidades próprias de cada uma destas conjunturas; as quais, inclusive,

atribuem a tal atividade industrial e aos seus impactos ambientais, juízos estéticos, de valores

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

apreciativos ou depreciativos, que culminam na formação dos diversos discursos narrativos

que se constroem acerca da mineração.

Como exemplo desta questão, citaremos a devida contextualização do processo de

construção do discurso contemporâneo acerca da mineração, que se baseia na dicotomia:

degradação ambiental, social e cultural X crescimento econômico resultante dos commodities

advindos de tal atividade.

Reflexões sobre o Patrimônio Cultural existente em Miguel Burnier e os desafios relativos à sua gestão.

Apesar de o Brasil ter sido pioneiro no tombamento de “vestígios” da industrialização, as

dificuldades no reconhecimento destes bens como patrimônio cultural, tanto para a sociedade

civil, quanto para os órgãos de preservação, é ainda uma questão crucial, que claramente

dificulta a sua salvaguarda. E a resolução de tal questão não reside apenas na identificação

de tipologias de edificações que poderiam ser reconhecidas oficialmente como “Patrimônio

Cultural”, mas sim, na articulação de estudos interdisciplinares que aprofundem a questão da

inserção desses bens nos espaços, suas relações com a estruturação das cidades e dos

territórios, suas articulações com aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos das

realidades locais, regionais e nacional (KUHL, 2010).

No Brasil, a salvaguarda do Patrimônio Cultural Industrial pelo Estado, pode ser feita pelos

instrumentos legais dos inventários; do tombamento, no que diz respeito aos seus elementos

materiais; e do registro, em relação aos seus componentes imateriais. Ambos têm suas

interfaces municipais, estaduais e federal. Ainda, há instrumentos de proteção derivados de

normativas federais, cuja aplicação se dá somente para efeitos da proteção oferecida pelo

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN: a Lei no. 3.924 de 1961, que se

refere à proteção dos sítios arqueológicos; a Lei nº. 11.483 de 2007, o Decreto nº 6018/2007,

a Portaria IPHAN nº 407 de 2010 e a Portaria Interinstitucional nº 1 de 2011, que juntos,

atribuem àquela autarquia o dever da preservação e salvaguarda do patrimônio ferroviário.

Em nível federal, temos a proteção dada às ruínas históricas da Usina Wigg (FIGURA 07),

identificadas como sítio arqueológico pelo IPHAN, e cujos estudos foram desenvolvidos como

medida mitigadora, por ocasião do licenciamento ambiental da Mina Miguel Burnier, sob

responsabilidade da Gerdau Açominas. Ainda, tal instituição acompanhou os trabalhos de

restauração da estação ferroviária de Miguel Burnier, apesar deste prédio, assim como o

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

conjunto do qual este faz parte, não estarem inscritos na Lista do Patrimônio Cultural

Ferroviário.

Em nível municipal, a política municipal de proteção ao patrimônio cultural do município de

Ouro Preto se intensifica a partir dos anos 2000, e vem se consolidando com a elaboração de

estudos, documentos, orientações jurídico-administrativas, além do efetivo uso dos diversos

instrumentos de acautelamento disponíveis e previstos na Constituição Federal e na Lei

Orgânica do Município. Os marcos nesta política foram: a regulamentação do tombamento no

município através da Lei Nº17/2002 de 26 de abril de 2002 (alterada pela Lei Nº. 321 de 15 de

março de 2007); e a criação do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural e

Natural de Ouro Preto (Lei Nº 64/2002, Lei Nº 77/2005 e Lei Nº 207/2006), que vem

concretizar a participação da comunidade local na preservação de seu patrimônio, assim

como preconizado pelo artigo 163 da sua Lei Orgânica.

Para revisar o Plano Diretor municipal, aprovado em dezembro de 2006, era imprescindível

reconhecer o acervo de interesse de preservação, tendo em vista as dimensões do acervo

cultural do Município de Ouro Preto, até então carente de cadastramento e conhecimento

mais aprofundado de seu estado de conservação. Nesse momento, a Prefeitura de Ouro

Preto, através de sua equipe técnica, elege o inventário como eixo norteador das políticas de

patrimônio, por considerar este o instrumento de tutela mais prático, de efeitos mais brandos e

de desenvolvimento mais eficiente; buscando focar no recenseamento dos acervos culturais

dos distritos, visando ter real noção das dimensões e características dos mesmos.

Assim, durante todo o ano de 2006, o distrito de Miguel Burnier foi objeto de inventariação, em

uma conjuntura na qual se processou a valorização do genius loci distrital, carregado de

memória e identidade próprias, que se refletem não apenas no patrimônio cultural edificado,

como também nas memórias da comunidade local, configurando-se, assim, em numa

configuração de território peculiar. Entretanto, na contramão de todo este processo, há a

retomada das atividades minerárias na sede do Distrito, desde 2004, cuja ocupação dos

espaços do mesmo pela empresa vem se processando sem qualquer planejamento e/ou

preocupação com a qualidade do ambiente construído e com as ocupações históricas ali

existentes.

Diante do grande risco de desaparecimento desta história, o município buscou parcerias e

empreendeu esforços no sentido da preservação do vasto acervo cultural do Distrito. Em

2009, um Termo de Ajustamento de Conduta foi assinado entre a Gerdau, a Prefeitura

Municipal e o Ministério Público Estadual – MPE/MG, resultando, entre outras ações, na

contratação de 04 processos de tombamento: Usina Wigg, Igreja Sagrado Coração de Jesus,

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

Igreja Nossa Senhora Auxiliadora dos Calastróis e Igreja Nossa Senhora da Conceição do

Chiqueiro dos Alemães. Também em parceria com o MPE/MG e com o IPHAN, conforme já

mencionado no início da sessão, houve a restauração da estação ferroviária de Miguel

Burnier, em 2012, cuja destinação foi dada à população local, com uso atual como “Estação

de Cultura”. Por último, merece destaque a atuação firme do Conselho de Patrimônio Cultural

e Natural – COMPATRI, pela preservação do legado cultural do Distrito. Ainda, em 2013 foi

deliberado que todas as análises de projetos da empresa mineradora em questão estariam

paralisadas, até que a mesma apresentasse um plano Diretor para a ocupação da Mina

Miguel Burnier. Atualmente, encontra-se em processo inicial de Licenciamento Ambiental uma

expansão da produção de minério de ferro, chegando a uma previsão de 11-13 Mt/ ano. Um

esforço por parte do COMPATRI, em parceria com a Secretaria de Cultura e Patrimônio, tem

sido feito de modo impedir que seja referendada a anuência ambiental para a expansão em

questão, emitida em 2012, que está condicionada ao parecer do Conselho Municipal de Meio

Ambiente - CODEMA.

Ainda, não devemos deixar de mencionar as manifestações culturais intangíveis que se

desenvolvem em Miguel Burnier, algumas inventariadas pela Prefeitura Municipal de Ouro

Preto; e que apesar de não estarem protegidas oficialmente pelo Estado, constituem-se em

importante legado cultural que se perpetua na memória da comunidade local, como por

exemplo: as memórias em torno das associações futebolísticas existentes na localidade, o

modo de fazer frango com cansanção, Coral Sagrado Coração de Jesus, o Congado de Santa

Efigênia e Nossa Senhora do Rosário, a Corporação Musical Sagrados Corações de Jesus e

Maria, dentre outras. Uma observação a se fazer é a de que, se o Estado tem conseguido

avanços pontuais na proteção dos bens edificados resultantes do histórico industrial de Miguel

Burnier, muito menos se tem feito em relação à salvaguarda do patrimônio imaterial de tal

localidade. Tal fato, porém, não se restringe ao caso aqui abordado, sendo ainda insipientes

os inventários de conhecimento acerca das manifestações intangíveis que foram

consolidadas em torno das atividades de mineração em território nacional, principalmente,

àquelas que ainda estão em uso e são pertinentes aos ofícios dos trabalhadores.

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

FIGURA 08 – Manifestações culturais imateriais de Miguel Burnier: O Congado de Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário e a Corporação Musical Sagrados Corações de Jesus e Maria. Fonte: projetoestacao.blogspot.com

Considerações Finais

Como podemos ver ante o exposto no texto, o distrito de Miguel Burnier constitui um exemplo

claro de paisagem industrial com elevado valor patrimonial, histórico e paisagístico, que urge

recuperar, visto que a sua canibalização pela indústria mineradora contemporânea

constitui-se um risco de desaparecimento de tal localidade.

Vimos também que o Estado tem buscado promover a proteção de elementos representantes

do histórico industrial de Miguel Burnier. No entanto, devido às próprias limitações dos

instrumentos de proteção ao patrimônio cultural previstos por nossa legislação, sua atuação

ainda é pontual e não leva em consideração a sinergia de todos os elementos intangíveis e

geológicos que resultaram na configuração de tal sítio. Não há instrumentos de proteção que

levem em consideração o território e suas respectivas paisagens. E, além disto, o constante

embate entre a preservação cultural e a ambiental frente o avanço da indústria da mineração

contemporânea, dificultam ainda mais o processo.

Embora a recuperação do património industrial possa promover, em parte, a exumação do

passado, esta é cada vez mais um reflexo do presente, uma vez que a decisão do que

preservar e valorar é contemporânea, transformando-se, assim, em diretriz configuradora da

patrimonialização das paisagens do futuro. Neste sentido, a recuperação de paisagens (pós)

industriais residuais deve basear-se em medidas de gestão urbanística e de uso do solo que

promovam a requalificação das antigas estruturas industriais, como forma de valorização do

seu patrimônio cultural, e como elemento norteador de processos de reconversão territorial.

Assim, busca-se proporcionar crescimento urbano estruturado, a partir da utilização de tais

espaços com atividades de segunda safra que se baseiem em princípios que promovam a

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

sustentabilidade, reduzam os impactos ambientais negativos, fomentem a inclusão social e o

crescimento econômico local/regional.

Em termos históricos e culturais, a recuperação destas paisagens associada à preservação

do património industrial permite que se preservem elementos da memória das populações,

reforçando a sua identidade e valorizando a história, não só a nível local, mas também a nível

regional e nacional. Do ponto de vista ambiental, a recuperação destes espaços constitui uma

mais-valia a níveis distintos, uma vez que não só se diminuem os riscos advindos da

degradação ambiental, como se melhora a qualidade estética da paisagem. Porém, para que

se possam desenvolver ações efetivas nesta área, é necessário que os poderes público e

privado (incluindo aí as sociedades organizadas, as comunidades locais e as empresas

mineradoras) assumam um papel proativo, com o Estado assumindo deu papel constitucional

de protagonista e solucionador dos conflitos socioambientais e econômicos, resultantes da

instalação das atividades de mineração no território nacional.

Referências

ALBA DORADO, M. I. “Nuevas miradas sobre nuevos paisajes. Un acercamiento al paisaje industrial en su consideración como paisaje cultural”. 2010. Disponível em: <dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/3263157.pdf>. Acesso em: 07 set. 2016.

BAETA, A et.al. Ouro Preto. Miguel Burnier, Marcas históricas. Ouro Preto: Gerdau, 2012.

CAMPOS, F. R. L. Miguel Burnier: o lugar em fragmentação. Conselheiro Lafaiete: UFMG, 2012.

CARSALADE, F. ET AL. “Mineração em Minas Gerais. território e paisagem cultural”. Anais do I Seminário Internacional de Reconversão de Territórios. Belo horizonte, 2012. CD-ROM.

CARTA DE CRACÓVIA. 2000. PRINCÍPIOS PARA A CONSERVAÇÃO E O RESTAURO DO PATRIMÔNIO CONSTRUÍDO. Disponível em: <http://www.patrimoniocultural.pt/media/uploads/cc/cartadecracovia 2000.pdf>. Acesso em: 07 set. 2016.

CARTA DE EL BIERZO DEL PATRIMONIO INDUSTRIAL MINERO. 2008. Disponível em: <http://ondartez. com/carta- el-bierzo.pdf>. Acesso em: 07 set. 2016.

CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMÔNIO INDUSTRIAL. 2003. Disponível em: <http://ticcih.org/wp-content/uploads/2013/04/NTagilPortuguese.pdf>. Acesso em: 07 set. 2016.

HAESBAERT, R. “Concepções de território para entender a desterritorialização”. In: SANTOS, M.; Becker, B. Território, territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro: Lamparina Editora, 2002.

4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

INSTITUTO ESTRADA REAL. Disponível em: <http://www.estradareal.tur.br/caminho-velho>. Acesso em: 30 jul. 2013.

KÜHL, B M. Preservação do patrimônio arquitetônico da industrialização: problemas teóricos de restauro. Cotia: Ateliê/ Fapesp, 2009.

KÜHL, B.M. Patrimônio industrial: algumas questões em aberto. usjt - arq.urb, 3, 2010. Disponível em: <http://www.usjt.br/arq.urb/numero_03/3arqurb3-beatriz.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2013.

LOURES, L. “A paisagem pós-industrial da foz do Arade, uma visão do passado com vista para o futuro...” 2010. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10400.26/2087>. Acesso em: 04 set. 2016.

MAIA, A. C. N.. Encontros e Despedidas – História de ferrovias e ferroviários de Minas. Belo Horizonte: Argvumentvm, 2009.

PREFEITURA MUNICIPAL DE OURO PRETO. Inventário de Proteção ao Acervo Cultural de Minas Gerais (IPAC). Ouro Preto, 2006.

PROJETO Estação Cultura. Disponível em: <http://projetoestacao.blogspot.com/2007/10/projeto-estao-cultura-1310.html>. Acesso em: 25 abr. 2013.

RIBEIRO, M. T. F.; MILANI, Carlos Roberto Sanchez. (org.). Compreendendo a complexidade socioespacial contemporânea: o território como categoria de diálogo interdisciplinar. Salvador: Edufba, 2009.

VASCONCELOS, D. História Média das Minas Gerais. São Paulo: Itatiaia, 1948.

ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Disponível em: <http://www.zee.mg.gov.br/>. Acesso em: 30 jan. 2013.