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PAISAGEM COMO LUGAR VERSUS PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL Hoyuela Jayo, José Antonio Investigador del Instituto de Urbanística de la Universidad de Valladolid. Profesor del curso de “Especialista en Gestión y Técnica Urbanística”, CEU, San Pablo; www.ceucyl.com. Profesor UIMP, Campus de Cuenca, IDE y Admon local; www.uimp.es. Miembro experto de la Comisión Especial de Geomática del Consejo Superior Geográfico, IGN; www.idee.es. Investigador del CEU. Miembro del grupo de investigación de Ordenación del territorio, urbanismo, patrimonio y arquitectura del Centro de Estudios Brasileños de la USAL (Universidad de Salamanca) desde su fundación en 2008. Director de TERYSOS do Brasil; www.terysos.com Rua Sergipe, 472, Belo Horizonte, Brasil [email protected] RESUMO Pretendemos defender a hipótese de que o conceito de Paisagem Cultural é claramente insuficiente para gerir a complexidade dos territórios e das cidades de interesse histórico, patrimonial, artístico ou antropológico (arqueológico, etnográfico, etc...) hoje considerados como paisagens culturais. Para isso vamos voltar aos conceitos da UNESCO, da Chancela da Paisagem Cultural Brasileira e da Convenção Europeia da Paisagem. Uma visão mais ampla que integre o conceito de lugar, de ‘genius loci’, de valores materiais e imateriais, de processos culturais e naturais, de percepção e de participação é necessária para planejar nossas cidades e nossos territórios. Mesmo nos espaços onde o valor primordial seja o fundamento de sua dimensão como paisagem cultural, devemos integrar as suas outras múltiplas dimensões: a econômica, a social e a dimensão ambiental. Processos mais integrados de participação e percepção devem acompanhar essas propostas, vinculando o planejamento com movimentos sociais e com a consciência e a identidade do “lugar”. Palavras-Chave: paisagem, chancela, ordenamento do território, planejamento sustentável, cidade, regeneração, lugar, espaço, urbanismo, patrimônio cultural, cultura, arte, natureza.

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Paisagem como Lugar, Planejamento Urbano e Territorial, Desenvolvimento Sustentável, Chancela da Paisagem Cultural, Convenio Europeo del Paisaje, Paisagem como visão holística

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PAISAGEM COMO LUGAR VERSUS PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL

Hoyuela Jayo, José Antonio

Investigador del Instituto de Urbanística de la Universidad de Valladolid. Profesor del curso de “Especialista en Gestión y Técnica Urbanística”, CEU, San Pablo; www.ceucyl.com. Profesor UIMP, Campus de Cuenca, IDE y Admon local; www.uimp.es. Miembro experto de la Comisión Especial de Geomática del Consejo Superior Geográfico, IGN; www.idee.es. Investigador del CEU. Miembro del

grupo de investigación de Ordenación del territorio, urbanismo, patrimonio y arquitectura del Centro de Estudios Brasileños de la USAL (Universidad de Salamanca) desde su fundación en 2008. Director de

TERYSOS do Brasil; www.terysos.com

Rua Sergipe, 472, Belo Horizonte, Brasil [email protected]

RESUMO

Pretendemos defender a hipótese de que o conceito de Paisagem Cultural é claramente insuficiente para gerir a complexidade dos territórios e das cidades de interesse histórico, patrimonial, artístico ou antropológico (arqueológico, etnográfico, etc...) hoje considerados como paisagens culturais. Para isso vamos voltar aos conceitos da UNESCO, da Chancela da Paisagem Cultural Brasileira e da Convenção Europeia da Paisagem.

Uma visão mais ampla que integre o conceito de lugar, de ‘genius loci’, de valores materiais e imateriais, de processos culturais e naturais, de percepção e de participação é necessária para planejar nossas cidades e nossos territórios. Mesmo nos espaços onde o valor primordial seja o fundamento de sua dimensão como paisagem cultural, devemos integrar as suas outras múltiplas dimensões: a econômica, a social e a dimensão ambiental. Processos mais integrados de participação e percepção devem acompanhar essas propostas, vinculando o planejamento com movimentos sociais e com a consciência e a identidade do “lugar”.

Palavras-Chave: paisagem, chancela, ordenamento do território, planejamento sustentável, cidade, regeneração, lugar, espaço, urbanismo, patrimônio cultural, cultura, arte, natureza.

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Paisagem como lugar: Planejamento Sustentavel

3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

PAISAGEM COMO LUGAR VERSUS PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL.

"Qualquer obra de arquitetura é construída sobre três aspectos do espaço físico: o espaço como lugar, espaço e objeto absoluto e tridimensional e o conceito relativo de espaço - tempo" (Van de Vem, Cornelis, 1981, p.316

1).

O ‘Topos’ do grego, a envolvente, vai ser enriquecida através do conceito mais amplo de ‘Rarum', alemão, baseado na compreensão não só da envolvente mas também do meio ambiente, do lugar. O espaço deve ser entendido a partir da consideração duns limites mais amplos (Bollnow, 1969, pag. 392). Limites que considerem o habitar (Heidegger, 19543) como condição do sistema. Fronteiras (ecológicas, econômicas, sociais,...) assim como os objetos e seus entornos que integrem as funções que dão sentido e valor a uma proposta de planejamento de "lugares", não mais de elementos ou espaços.

A idéia de “Lugar”

"... trabalhar com materiais dispersos, resíduos ou fragmentos desconexos do cotidiano banal, faz parte integrante da arte moderna" (Tafuri, Manfredo, 1984)

4

A ideia de Heidegger desenvolvida por Bollnow define o lugar como uma síntese histórica entre os valores de identidade (culturais e intangíveis) e o espaço. Uma síntese expressa e gravada nas formas da arquitetura e concretizada dentro de um determinado limite (geografia). A paisagem como lugar é uma unidade “totalizante”. Mesmo onde a predominância de fatores e expressões culturais é maior, a paisagem transcende esses elementos, arquiteturas ou formas, e vai além do físico atingindo um nível imaterial.

Para compreender o lugar é necessário tempo e esforço (LYNCH, Kevin5, pag. 101). O espírito do espaço se manifesta lentamente, é complexo e multidisciplinar. Se a nossa busca pela essência do lugar é estruturada com base nos pilares de nossas metas e objetivos de desenvolvimento sustentável, então precisaremos analisar o espaço do ponto de vista social, econômico, ambiental e perceptual. Neste "lugar" dialogam o cheio com o vazio, expressões culturais com a natureza da geografia, o tempo com as formas e com os estilos, e os símbolos com as percepções. É assim

1 Van de Vem, Cornelis. El espacio en la Arquitectura. Ed. Cátedra, Madrid, 1981 (1ª edición de 1977), p. 316.

2 BOLLNOW, Otto Friedrich; D'ORS, Víctor. Hombre y espacio. Barcelona: Labor, 1969

3 HEIDEGGER, M. Construir, Habitar, Pensar. Primeira apresentaçao em 1951, traduçao portuguesa disponível na

internet no site: http://www.prourb.fau.ufrj.br/jkos/p2/heidegger_construir,%20habitar,%20pensar.pdf.

4 TAFURI, Manfredo. La esfera y el laberinto: vanguardias y arquitectura de Piranesi a los años setenta. Editorial

Gustavo Gili, 1984.

5 LYNCH, Kevin. La planificación del sitio. Gustavo Gili. Barcelona, 1930.

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que construímos o conceito de lugar como a própria essência do espaço, através dos seus valores e da compreensão de seus elementos que o identificam.

Esse é o ponto em que Kenneth Frampton6 procura as bases do "regionalismo crítico" e da verdadeira essência do lugar que vai nos permitir superar a tendência do consumismo, da simplificação e da globalização do espaço e das formas. Quando a arquitetura e o urbanismo concentraram seus esforços na produção e na definição de um conceito de estilo, este autor defendeu uma posição de compromisso com o lugar entendido como um "enclave limitado", e, portanto, específico e bem delimitado. Um conceito similar ao que Gregotti7 defende no seu "modelo de cultura como um ambiente total", que propõe que deve ser colocado na base do projeto e, por extensão, do Plano.

Imagem 1 .- Entorno do monumento da Igreja do Padre Faria, Ouro Preto. Foto do autor.

Esta visão deve fazer-nos repensar a ideia de paisagens culturais como uma unidade isolada ou separada. O conceito do lugar surge assim como uma forma de transcender a disciplina da arquitetura e do planejamento na procura de uma identidade e da essência do espaço. A ideia de lugar como paisagem também está ligada à história como um conjunto de processos e acontecimentos, condições e circunstâncias que moldaram, e identificaram, o “lugar” (De las Rivas, Juan Luis, pags 19 - 408). A paisagem entendida como um lugar não pode ser isolada, nem setorizada, nem contraída (paisagem cultural, urbana, rural, natural,...), mas sim deve procurar

6 Frampton Kenneth, El Regionalismo Crítico: Arquitectura moderna e identidade cultural, A&V, nº 3, Madrid, 1985.

7 VENTURI, Robert. Complejidad y contradicción en la arquitectura. Editorial Gustavo Gili, 1995.

8 De las Rivas Sanz, Juan Luis. El espacio como lugar. Sobre la naturaleza de la forma urbana. Universidad de

Valladolid, Valladolid, 1992.

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compreender a complexidade do conteúdo, a periodicidade, os ritmos e as percepções. A leitura tem que se transferir a partir dos elementos, para os processos (e, consequentemente, os agentes), sem esquecer as percepções e símbolos culturais e antropológicos que produzem e são produzidos pelo espaço de interação: a sociedade.

A paisagem.

A paisagem é o resultado de uma transformação coletiva da natureza, é a projeção cultural de uma sociedade em um determinado espaço (Joan Nogué

9)

David Harvey e Milton Santos anunciaram, no final do século XX: “… cada homem valerá pelo lugar que habita”10. A importância da paisagem, do meio ambiente ou do local, na educação, no bem-estar e na qualidade de vida do sujeito e, por extensão, na sociedade, é fundamental. Um ambiente físico saudável, diversificado, atraente, natural e cultural harmonioso, contribui para o bem-estar e a qualidade de vida dos cidadãos e do meio ambiente (Fariña Tojo, 200811).

Nos últimos anos do século XX, a sensibilidade ambiental e cultural favoreceu a proteção de muitos espaços e lugares, mediante seu tombamento12. Uma política que visa mais a proteção e menos a ação ou gestão. Uma politica que exige uma nova ênfase. O aumento da consciência social e os movimentos sociais, a globalização e o fortalecimento da identidade local, através de processos de planejamento participativo, contribuíram para construção de novos modelos.

Algumas das características básicas do conceito paisagem podem ser expressadas como essências ou princípios de seu próprio conceito, incluindo:

• Utopia: a paisagem (e design) é configurada como um conceito intrínseco da ideia de utopia que nasce da eterna busca do paraíso, ou utopias virtuais atópicas cheias de ideais pragmáticos.

• Subjetividade: a paisagem é um conceito subjetivo, o epítome do termo; subjetiva do ponto de vista da interação entre suas formas e manifestações com as pessoas que o ocupam; e do ponto de vista de quem a descreve ou a interpreta. A paisagem é

9 NOGUÉ, Joan (ed.). La construcción social del paisaje. Biblioteca Nueva, 2007.

10 Cada homem vale pelo lugar onde está. O seu valor como produtor, consumidor, cidadão depende de sua

localização no território [...]. A possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do território onde se está. (SANTOS, 1987, p.81).

11 http://elblogdefarina.blogspot.com.es/2008/08/el-convenio-europeo-del-paisaje.html, consultado en Julio de

2013

12 As APA, Áreas de Preservação Ambiental, como tombamento ambiental, e os tombamentos culturais e naturais

de bens moveis o imóveis a diversas escalas do IPHAN,…

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sempre um conceito cultural, no sentido antropológico do termo, uma criação humana e uma forma de descrição do espaço.

• Espírito, valores, sentimentos, experiências, mitos e preconceitos de uma sociedade também são expressos na paisagem, "a paisagem é um estado de espírito", Henry-Frédéric Amiel13.

• Tempo: analisa a paisagem, descreve e compreende o espaço a partir das interações e das complementariedades entre seus componentes criando, mudando, ou antecipando processos e mudanças.

• Holístico: apesar de sua complexidade, a expressão da paisagem é refletida no conjunto dessas dimensões. Com apenas uma leitura multidimensional, histórica, social, ecológica, ambiental, econômica,... e ,acima de tudo, dos processos que a justificam, pode trazer-nos uma imagem mais real da paisagem.

• Síntese: Habermas 14 , buscando fontes de fragmentação excessiva do conhecimento na modernidade: "... se a modernidade falhou, foi por deixar que toda a vida se fragmentasse em múltiplas especialidades deixadas para a concorrência estreita de variados especialistas"; ele procura uma solução nas artes que as convida a "lançar uma ponte sobre o abismo entre o discurso do conhecimento, da ética e da política, e, assim, abrir o caminho para a unidade da experiência" como um elemento básico de síntese que antecede ao conhecimento.

• Contradição: A paisagem é moldada como o contraste entre o homem e a natureza, entre o artifício, cultura e espaço, entre a proteção e o desenvolvimento. Enric Battle no seu livro "O Jardim da metrópole" propõe a intervenção na paisagem como um modo de "encontrar o equilíbrio entre crescimento e preservação, e novas trilhas, ecologicamente corretas, permitindo o uso da terra sem venerar, mas para garantir a sustentabilidade no futuro".

• Ecologia: não só ambiental, mas também social e econômica, pode ser aproximada como um conjunto de ciências que analisam as interações e os processos que explicam a essência da realidade, os fundamentos do meio em que a paisagem se desenvolve e as suas relações mútuas.

• Multiescalar: as fronteiras do espaço em que vivemos foram diluídas por meio da ampliação da ação humana, a colonização progressiva da natureza verde e rural e da metrópole. As escalas da paisagem vão além do espaço físico e entram no espaço

13 AMIEL, Henri-Frédéric. Fragments d'un journal intime. 1887.

14 HABERMAS, Jürgen. El discurso filosófico de la modernidad. 1989.

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virtual do conhecimento hipervinculado da Internet15. Paisagem e diluído para quebrar esses limites ou também amplia-los e que são expressos em diferentes escalas: paisagens locais (locais), paisagens comarcais, paisagens regionais, ou paisagens globais.

• Colaboração: a paisagem sofre e expressa à sobreposição de competências de agentes, de manifestos e de sistemas. A coordenação e a colaboração não são só responsabilidade dos funcionários públicos, mas, principalmente, da sociedade privada e civil no seu conjunto; essas atitudes tornam-se urgentes no planejamento da paisagem e especialmente na sua gestão.

Brasil versus Europa, dois conceitos, duas visões da Paisagem.

Procuramos nos conceitos da UNESCO, da Chancela da Paisagem Cultural brasileira, e da Convenção Europeia da Paisagem, as semelhanças e as diferenças que permitam entender a evolução e a diferente percepção dessas definições no contexto desse encontro: Paisagem Cultural, Patrimônio e Projeto.

Paisagem Cultural da UNESCO

47 As paisagens culturais são bens culturais que representam as «obras conjugadas do homem e da natureza", mencionadas no artigo 1 da Convenção. Ilustram a evolução da sociedade humana e de seus assentamentos ao longo do tempo, de acordo com as limitações e / ou oportunidades físicas apresentadas pelo seu ambiente natural e pelas forças sociais, econômicas e culturais sucessivas, tanto externas como internas.

Ao contrário de conceitos tradicionais de patrimônio cultural e natural separados, independentes e autônomos, a paisagem cultural apresenta interações entre a obra do homem e as bases da natureza.

O conceito de paisagem cultural vai mais além, e, ao mesmo tempo, exclui os monumentos e grupos independentes recuperando a ideia de "lugar" (patrimônio cultural) e também exclui as áreas naturais de interesse físico ou biológico, geológico ou fisiográfico, identificando-as com as obras dos homens construídas sobre a sua base (patrimônio natural). As fronteiras destes espaços apenas são separadas excepcionalmente. É mais comum discutir qual o maior ou o menor domínio de todos esses aspectos, que o compõem dentro de um modelo, mais abrangente e integrado, o “modelo da Paisagem”.

Assim, o patrimônio cultural e natural misto e a paisagem surgem como uma alternativa razoável para uma classificação sempre cheia de sutilezas e refinamentos.

15 Donde o ruído triunfa (Humberto Eco, artículo “El excesso de informação e ruim”, consultado em

http://ssociologos.com/2013/11/03/umberto-eco-el-exceso-de-informacion-es-malo/ )

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Ao mesmo tempo, isso vai nos permitir enriquecer e preencher os conceitos descritos acima. Quando o fenômeno urbano ou o fenômeno arquitetônico são analisados, dificilmente podemos esquecer que respondem a obras do homem, ações culturais em um determinado contexto geográfico e territorial. Espaço, natureza, tempo e tecnologia se unem em todo momento na definição de arquitetura ou urbanismo, na construção de pontes, nas soluções urbanísticas, e na relação inevitável entre o local, o espaço, e a sociedade que nele habita, e em último caso, na criação de paisagens.

Sob a mesma linha, o Comitê Intergovernamental para as paisagens culturais do Patrimônio Cultural e Natural classifica-os da seguinte forma:

1. Paisagem projetada: realizada intencionalmente pelo homem.

2. Paisagem em evolução: reflete os processos de mudanças na forma e componentes originais.

2.1. Relíquia da paisagem (ou fóssil): que tenha terminado o seu processo de evolução no passado, mas ainda mantém suas características distintivas.

2.2. Paisagem Evolutiva: mantém um papel ativo relacionado com o modo de vida tradicional dos que vivem e está em constante evolução mantendo o que a torna diferenciada.

3 Paisagem Cultural associada: aquela que tem a capacidade de vincular elementos religiosos, artísticos ou culturais, para citar só alguns exemplos, a um substrato natural.

Essas definições introduzem dois novos conceitos na classificação das paisagens: a vontade e a evolução. A condição da paisagem cultural associada, na verdade está implícita em todas as paisagens, por definição, exceto aquelas que preservam a forte autonomia natural e na qual o homem não interveio (hoje só o fundo do mar tem sido isenta de efeitos da ação humana). Como no cenário geral, podemos classificar as paisagens que fazem parte do Patrimônio da Humanidade pela origem, pelo estado evolutivo e pelas suas dominâncias e prioridades.

Paisagens Culturais no Brasil, a chancela de 2009.

Art. 1º. Paisagem Cultural Brasileira é uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. (PORTARIA Nº 127, DE 30 DE ABRIL DE 2009, IPHAN)

16

No Brasil, a Chancela Paisagem Cultural foi adotada em 2009, com importantes avanços nesta linha, mas com duas diferenças fundamentais em relação ao conceito europeu, a seleção das paisagens eminentemente “culturais”, de excelência, e o uso de ferramentas operativas limitadas. Nem todas as paisagens, mas apenas as de

16 Diário Oficial da União, nº 83, 5 de maio de 2009.

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maior interesse cultural, são consideradas. Apesar de ser uma proposta interessante e propor o concerto público – privado, e orientado à gestão operativa, realmente não oferece capacidade real de integrar essas iniciativas com os instrumentos de planejamento urbano nem com as políticas públicas, leis e regulamentos que atuam acima do território.

Itinerários e territórios culturais propostos pela Chancela tentam estender o conceito de paisagem cultural para o entorno, mas não têm as ferramentas técnicas necessárias para a sua integração nas políticas públicas, setoriais, urbanas, ambientais ou territoriais. A Chancela, no entanto, abre a possibilidade de integrar cultura, natureza, história e espaço, para avançar na criação de territórios mais sustentáveis. Propõe assim o desenvolvimento de políticas de integração entre as oportunidades e os valores do território, através de ferramentas de planejamento baseadas no uso da paisagem.

Paisagem na Convenção Europeia da Paisagem.

Em 20 de outubro de 2000, em Florença, os países da União assinaram a Convenção Europeia da Paisagem – CEP, da iniciativa do Conselho que definiu “paisagem” como:

“… qualquer área, como percebido pelas pessoas, cujo caráter é o resultado da ação e interação dos recursos naturais e / ou humanos”.

A Convenção reconhece a paisagem numa dimensão holística, abrangendo todo o território17 e, também, seu impacto sobre o desenvolvimento sustentável, do ponto de vista econômico, social e ambiental18. O CEP reconhece, explicitamente, o papel da paisagem na melhoria do bem-estar e qualidade de vida19.

Na Espanha, a legislação regional, como a Lei da Paisagem de Catalunha, 2005; Valencia, 2004; Galiza, 2009, ou o País Basco (projeto de lei 2012), introduzem o novo conceito nas políticas de ordenamento do território e urbanismo, disponibilizando seus instrumentos disciplinares. Essas leis transformam a paisagem em um bem público, direito de todas as pessoas e não apenas enquanto medida de proteção (como foi), mas também, e acima de tudo, de gestão e execução para a transformação do território.

17 “el paisaje es un elemento importante de la calidad de vida de las poblaciones, tanto en los medios urbanos

como en los rurales, tanto en los territorios degradados como en los de gran calidad, tanto en los espacios singulares como en los cotidianos” (Convenio Europeo del Paisaje, 2000)

18 “el paisaje participa de manera importante en el interés general, en los aspectos cultural, ecológico,

medioambiental y social” (Convenio Europeo del Paisaje, 2000)

19 “el paisaje constituye un elemento esencial del bienestar individual y social ” (Convenio Europeo del Paisaje,

2000)

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Na Espanha o modelo mais avançado, certamente, é o catalão. O Observatório da Paisagem 20 juntou Planejamento e considerações paisagistas, estendendo seus instrumentos operativos em várias escalas, através de um processo de consenso e participação intensiva. Valencia e Galícia21, entre outras regiões, estão trabalhando forte acima desse novo paradigma.

Desenvolvimento sustentável.

"O bem do homem é o bem da natureza" (Hipócrates, Tratado sobre o ar, água e Lugares22

)

A sustentabilidade pode realmente dizer que é uma preocupação tradicional e histórica. Hipócrates em seu tratado sobre “Ar, Água e Lugares”, sem dúvida, associa o bem-estar humano com a "lógica da natureza". Os princípios Vitruvianos estabelecidos no Tratado dos "Dez Livros sobre Arquitetura" sobre a escolha do local considera a escolha do lugar como um dos principais problemas em abordar na fundação de novas cidades. O ‘agrimensor’ e o ‘augur’ são os atores que contribuem para proporcionar uma geometria do modelo ideal e uma lógica local, entre a leitura astronômica e a leitura ecológica. Artificio e lugar constituem desde então dois conceitos opostos, mas complementares, na construção da paisagem. A qualidade da água, da terra e do ar deve ser uma das principais preocupações na escolha do local de fundação (sustentabilidade). A lógica territorial e a cultura a tecnologia e a geometria (como contribuição do espírito humano) se complementam entre si nesse ato fundamental, a fundação.

Em 1991, a União Mundial para a Conservação (Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas e ‘World Wildlife Fund’) consideravam que:

"O desenvolvimento sustentável significa melhorar a qualidade de vida dentro dos limites dos ecossistemas"

Três anos depois, em 1994, o Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais pronunciou-se ligando o conceito de proteção dos limites dos ecossistemas com o conceito de desenvolvimento entendido no sentido de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. O objetivo era comparar os conceitos de desenvolvimento e sustentabilidade entendendo-os desde o necessário equilíbrio entre benefícios e a "viabilidade" dos sistemas envolvidos.

20 Página web do “Observatori del Paisatge”: http://www.catpaisatge.net/

21 O Instituto Galego de Estudos do Território esta fazendo um trabalho intensivo nesta área:

http://www.cmati.xunta.es/organizacion/c/Instituto_Estudos_Territorio

22 HIPÓCRATES. Tratados hipocráticos. II, Sobre los aires, aguas y lugares, Sobre los humores, Sobre los flatos,

Predicciones I, Prediciones II, Prenociones III. Gredos, 1997.

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"O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que presta serviços ambientais, sociais e econômicos básicos para todos os membros de uma comunidade sem ameaçar a viabilidade dos sistemas naturais, os construídos e os sociais dos que depende o fornecimento desses serviços."

Hans Patton em 2003 afirmou que:

"A sustentabilidade é alcançada quando se reúnem a ética, a ciência e a prosperidade econômica".

Como já vimos, a sustentabilidade é um conceito "holístico". Holismo (do grego holos, que significa todo, inteiro, total) é a ideia de que todas as propriedades de um sistema (biológico, químico, social, econômico, mental, linguístico, etc...) não podem ser determinadas ou explicadas como a soma das suas componentes específicas. No pensamento holístico, todo o sistema se comporta de forma diferente do que a soma de suas partes através do princípio de suas relações e interações ecológicas.

O espaço é um recurso valioso para todas as nossas atividades, recurso cujo equilíbrio ecológico está em risco com base no seu uso insustentável. A nova sensibilidade social para o meio ambiente e a preocupação internacional sobre a mudança climática e os novos modelos de produção nos permitem fazer uma reflexão oportuna e propor soluções sobre um modelo de desenvolvimento que prioriza os processos de coesão territorial, econômica e social. A sustentabilidade também requer um forte compromisso com a participação do público nos processos de tomada de decisões. Desenvolvimento sustentável e da paisagem possuem muitas semelhanças, são o meio e o fim, e devem prevalecer no planejamento de políticas públicas, mesmo das politicas culturais e de tombamento e de proteção dos bens.

Um modelo de desenvolvimento sustentável deve responder a um modelo ideológico particular de crescimento em um período de longo alcance (como sua escala espacial). Neste, a participação pública é fundamental, assim como a cooperação administrativa e o seu conhecimento científico e tecnológico. Hoje não se entende nenhum sistema de planejamento que não esteja orientado para o paradigma do desenvolvimento sustentável. Nele deverá incluir-se a melhoria e o desenvolvimento econômico e social assim como a proteção e conservação dos valores culturais e naturais.

A coesão territorial exige valorizar espaços valiosos, processos e ecossistemas desde a perspectiva natural como a cultural, artística, histórica ou do patrimônio cultural para facilitar assim a sua proteção efetiva desde o planejamento. A coesão territorial é necessária para controlar o uso da terra em relação à energia, aos custos ambientais, aos congestionamentos, a poluição, e os usos e atividades adaptadas à presença de riscos naturais provocados pelo homem.

Em suma, requer uma análise do território e de seu ambiente no mais amplo contexto do “lugar”, e não apenas a partir da lógica artificial do processo urbano. E deve ser exigido o máximo respeito para as condições territoriais além de processos participativos que definam a paisagem.

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Imagem 2 .- Parque Duisburg Nord, projeto de recuperação de antigos altos-fornos, tanques de

armazenamento de carvão e instalações de esgoto, agora convertido em miradouros, espaços públicos ou

áreas de lazer dentro de um parque metropolitano. A paisagem é explicada através das formas e dos processos

que expressam a cultura de espaço, lugar. As paisagens culturais de origem industrial em contínua

transformação e mudanças que precisam ser reformulados no contexto do desenvolvimento sustentável.

Fotografia do autor.

Paisagem e Planejamento (urbano ou territorial).

"Pode haver povoações sem território, mas não sem paisagens" (Lopez Joan Casanovas, Diari de Balears, 15 de abril de 2005

23).

O conceito de paisagem hoje é predominantemente visual e mediático, um objeto que se analisa e se descreve, mas não se integra nos processos de planejamento. Temos a intenção de defender a sua transformação em sujeito, em instrumento básico para o planejamento sustentável24. Vivemos em um momento importantíssimo, tendendo a

23 Citado por Joan Nogué, no articulo do jornal ‘Paisaje e identidad Territorial’, Menorca, Centro de la Naturaleza,

Junio de 2005.

24 “O espaço criado na cidade moderna [...] reflete a ideologia prevalecente dos grupos e instituições dominantes

na sociedade. [...] O urbanismo possui uma estrutura separada – ele pode ser concebido como entidade à parte – com dinâmica própria. (HARVEY, 1980, p. 267-268)”

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transformar a realidade, o meio ambiente, através da revisão dos instrumentos de planejamento territorial e urbano e a integração da paisagem especialmente aquelas de interesse cultural.

A tecnologia assim como os conceitos de espaço e sociedade (Milton Santos, 2006), aplicadas nas formas urbanas e nas formas de viver e de se relacionar, estão mudando. Mas teremos as ferramentas necessárias para gerenciar essa mudança? Há ferramentas capazes de enfrentar este desafio? Pode ser o planejamento da paisagem um caminho rumo ao desenvolvimento sustentável?

A análise da paisagem, o "julgamento territorial", que nos ajuda a compreender seu caráter, a entendê-lo como lugar, além de uma análise científica e racional, reflete a ideia de estilo, beleza e excelência. Uma ideia que em todas as épocas, é alterada, não apenas pela passagem do tempo ou pelas mudanças no espaço, ou "país" em que ocorre, mas, acima de tudo, pelas mudanças do ponto de vista da sociedade que o habita e a valoriza.

É por isso que, ao longo desta análise entre os conceitos de paisagem (da UNESCO, do Brasil e da Europa), integraremos os conceitos de desenvolvimento sustentável e de planeamento, cruzando tempo e espaço, mas também tecnologia, sociedade e lugar. Na representação e na difícil conceituação e formulação destes conceitos, paramos nos processos que definem a paisagem para ver como eles podem ser incorporados de forma sistemática no planeamento urbano ou territorial.

A análise e projeto da paisagem é um exercício de síntese, não de análise. O planejamento da paisagem deve ser um exercício de simplificação da complexidade, um exercício de coerência, equilíbrio, participação social, inovação e consulta permanente. A paisagem é, necessariamente, um conceito complexo, holístico e dinâmico que tentamos integrar suas múltiplas dimensões.

PAISAGENS COMO LUGAR, PAISAGENS PARA O PROGRESSO.

A questão da paisagem está sempre em foco, se é reduzida ao ambiente (Alain Roger, 200725

)

Podemos dizer que a ideia de paisagem cultural não é bem focada se reduzirmos o conceito de Patrimônio construído. O conceito de cultura também não é suficiente. A paisagem é definida pelas interações (processos) entre um espaço natural e uma sociedade (cultura), mas também de como ele é percebido pela população. Entendendo a paisagem como um lugar, como a soma de processos sociais, econômicos e ambientais, dos objetos, valores e percepções (participação), podemos focar melhor as "paisagens culturais" como um todo.

25 ROGER, Alain; VEUTHEY, Maysi; MADERUELO, Javier. Breve tratado del paisaje. Biblioteca nueva, 2007.

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Paisagens da "dominância cultural", como Ouro Preto, Recife, ou Bahia requerem uma integração nos processos de desenvolvimento sustentável para garantir a preservação integral de seus valores patrimoniais e culturais. Temos que repensar a noção de limite, o que significa que além dos objetos e suas imediações, o lugar, a paisagem, requerem uma consideração mais ampla que permita entender a complexidade do espaço, do lugar.

Imagem 3 .- Analise fisiográfica e paisagistica para o projeto de desenvolvimento sustentável do destino

turístico de San Glorio, na montanha cantábrica, Espanha. O entorno de alto valor cultural e natural, com

importantes espaços de interesse arqueológico, e ambiental (habitat do urso pardo, parque regional, reserva da

flora,...) exige um posicionamento apoiado na paisagem para garantir a qualidade da proposta. Fonte:

TERYSOS, Proyecto Regional para el Desarrollo Sostenible del Destino Turístico de San Glorio, 2014.

O objetivo do desenvolvimento sustentável é manter a prosperidade e melhorar a qualidade de vida e requer uma preocupação específica para a preservação dos valores culturais e naturais herdados a través de uma aptidão ecológica ética e participativa. A paisagem, pelas suas qualidades e componentes, pode, e deve tornar-se o instrumento de ordenamento do território sob este "velho paradigma" de sustentabilidade. Paisagem e Desenvolvimento Sustentável são vetores desse novo

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Planeamento contemporâneo que estamos propondo. O progresso deve encontrar o melhor equilíbrio entre a coesão social, económica e ambiental (territorial).

A condição de movimento metafórico, incerteza e complexidade deve encontrar um lugar no território de uma proposta de síntese a partir da paisagem. A repartição dos limites tradicionais da cidade torna as estruturas e infraestruturas geográficas e ecológicas em elementos essenciais e característicos do território sobre o qual construir um lugar mais sustentável. Através da lógica territorial e da lógica histórica do local e dos grandes sistemas territoriais de transportes, energia, comunicações e equipamentos pré-existentes criaremos a base sobre a qual repensar a paisagem sem sacrificar a capacidade de expressão contemporânea das especificidades do nosso tempo.

A globalização mais do que nunca requer um compromisso com a resposta local à homogeneização e à concorrência global. O ordenamento do território deve escolher para trabalhar e jogar em todas as escalas, desde o satélite até a lupa, como proposto por Enric Battle (2007). Nossas Paisagens estão descaracterizadas pela predominância da mobilidade universal, das comunicações intemporais e onipresentes, e pelos desafios energéticos e ambientais. Por isso nestas diferentes escalas deveremos trabalhar para moldar as paisagens culturais decorrentes da sociedade da informação (sociedade do conhecimento) e para integrar suas múltiplas dimensões.

Mas nunca devemos esquecer a sociedade que habita e dos sistemas econômicos que a suportam:

"O interesse não é só aquele de preservar a natureza num Parque Nacional, se você não pode descobrir nele aquele quem sempre viveu na privacidade desse espaço; se não há quem saiba dar o nome à aquela montanha e, ao fazê-lo, dar-le vida"

(Frederic Ulhman, referindo-se a criação de Cévennes de reserva, escreve em Le Nouvel Observateur citado em Miguel Delibes

26)

A paisagem deve recuperar sua base na lógica geográfica, ecológica, histórica e estética do lugar, mas também em um contexto contemporâneo que atue como uma resposta ao esquecimento do lugar que atua fora do padrão topográfico, influenciada pela globalização e pela perda da identidade local, e derivada de uma sociedade da informação que propõe uma ruptura entre os conceitos de tempo e espaço.

A paisagem é um produto do tempo e muda com o ritmo, com os processos naturais, sociais e econômicos. Não é possível parar ou fixar a imagem da paisagem. O

26 Delibes, Miguel. El sentido del progeso desde mi obra. Discurso de ingresso na Real Academia Espanhola da

Lengua, 1975. Accedido em http://www.rae.es/publicaciones/el-sentido-del-progreso-desde-mi-obra

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Planejamento da paisagem orientada desde a perspectiva cultural deve ser um processo de constante revisão e estar em constante debate e contar com a participação pública prevista sob o paradigma do desenvolvimento sustentável.

A única verdadeira viagem de descoberta

não consiste em procurar novas paisagens,

mas em ter novos olhos.

Marcel Proust.

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Blog Paisajes Urbanos: http://tbanet.wordpress.com/tag/paisaje-urbano/

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Observatorio de la Sostenibilidad en España (OSE): http://www.sostenibilidad-es.org/

Red de Ciudades Española por la Biodiversidad http://www.redbiodiversidad.es/

Red Española de Ciudades por el Clima www.redciudadesclima.es/

Red Española de Desarrollo Rural http://www.redr.es/

Red Europea de Planificación y Observación Espacial (European Spatial Planning Observation Network (ESPON) www.espon.eu/

Sistema de Información Territorial de Castilla y León: http://www.sitcyl.jcyl.es/

URBAN-NET www.urban-net.org