painel edição 79

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Nº 79 Fevereiro/2014 E aí, poder público? Em Americana, Iracemápolis, Sumaré e Rio das Pedras dinheiro público está em obras inacabadas

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Publicação laboratorial do Curso de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP

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Page 1: Painel edição 79

Nº 79 Fevereiro/2014

E aí, poderpúblico?

Em Americana, Iracemápolis, Sumaré e Rio das Pedras dinheiro público está em obras inacabadas

Page 2: Painel edição 79

Informações:(19) 3124.1676

[email protected]

Jornalismo

Sintonia com as novas linguagens e tecnologias de comunicação. Compromisso com a ética e a

qualidade da informação.

Acesse nossos sites:

unimep.br/jornalismo

soureporter.com.br

jornalunimep.blogspot.com.br

Curso avaliado com4 estrelas pelo Guia do Estudante e Conceito 4

no Enade/MEC.

Unimep

Page 3: Painel edição 79

CARTA DO EDITOR

Correspondência Faculdade de Comunicação

Campus Taquaral, Rodovia do Açúcar, km 156 - Caixa Postal 69

CEP 13.400-911 Telefone: (19) 3124-1677

Acesse nosso site:www. soureporter.com.br

EXPEDIENTE

Órgão Laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep

ReitorProf. Dr. Gustavo Jacques Dias Alvim

Diretor da Faculdade de ComunicaçãoBelarmino César Guimarães da Costa

Coordenador do Curso de JornalismoPaulo Roberto Botão

EditoraRosemary Bars Mendez (16.694)

Editores ExecutivosRenato de Freitas Evangelista

Thais Nascimento

Editor de Fotografia Luis Henrique da Silva Capucci

RedatoresAiran Prada, André Rossi, Gustavo Rovina Belofardi,

Jéssica Rodrigues, Júnior Campos, Luana Ruiz, Luis Henrique da Silva Capucci,Marina Neves Coltro, Paula Amaral,

Pedro Franco, Romeu Neto

Diagramação e Arte FinalSérgio Silveira Campos

(Laboratório Planej. Gráfico)

Foto de CapaMarina Coltro

A revista Painel, edição de fevereiro de 2014, apresenta duas re-portagens sobre investimentos realizados pelo poder público em

obras que não levam a lugar algum, como o viaduto Prefeito João Batista de Oliveira Romano, em Americana. Há 10 anos, os morado-res que transitam pelas avenidas Bandeirantes e Prefeito Abdo Najar observam que as barras de ferro estão enferrujadas e o local serve de ponto de encontro de pessoas desocupadas, refletindo no problema de insegurança para a comunidade local.

Os alunos que se preocuparam com essas pautas percorreram os municípios da região que apresentam algum tipo de problema com o uso dos recursos públicos, como construções de monumentos que não têm significados para os moradores, a exemplo dos dez globos decorados com desenhos de engrenagens instalados em Limeira. Pelas denúncias de corrupção que a cidade enfrentou nos últimos meses, esses globos foram identificados como ‘homenagem à corrupção’, uma maneira que a oposição encontrou de criticar a aplicação do orçamento municipal.

Pode-se dizer que essas pautas são especiais, pelo empenho dos universitários nas apurações realizadas para conclusão da reportagem. Um assunto polêmico – a corrupção na política brasileira – que levou os editores a conversarem com o promotor de Justiça José Antônio Remédio, professor da Unimep, sobre o papel do Ministério Público na defesa dos direitos dos cidadãos. Um assunto pertinente para a época que a sociedade brasileira vivencia: o mensalão do PT – que levou dois ícones petistas para a prisão (José Genoíno e José Dirceu) - e o mensalão do PSDB – também chamado de mensalão tucano e tucanoduto e que deverá render notícias em 2014, quando começará a ser julgado, provavelmente pelo ministro Joaquim Barbosa, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Essas duas pautas têm como objetivos (re) lembrar para a região que os problemas com o uso de verbas públicas não envolvem apenas corrupções na federação. As cidades da região têm problemas que devem ser apurados pela Justiça a fim de se entender o que aconteceu com os recursos públicos que poderiam estar na educação e na saúde, mas que foram param em projetos sem utilização para o cidadão que sustenta os cofres públicos com os impostos que pagam.

A todos, boa leitura.

Um alerta

PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Fevereiro/2014 3

Page 4: Painel edição 79

Renato de FReitas evangelista

[email protected] nascimento

[email protected]

Todos os anos, no Brasil, surgem novos casos de cor-rupção envolvendo gestores

públicos. Muitos deles, políticos renomados. A impressão é de que todas as esferas do poder -- federal, estadual e municipal--, foram in-fectados pelo vírus da má intensão com a coisa pública. A população, cansada de ver o ‘circo’ feito com o dinheiro que sai do seu bolso, foi às ruas protestar. O Ministério Público tenta frear com processos e conde-nações a malversação do dinheiro, defende a ordem jurídica do regime democrático e os interesses sociais individuais. José Antônio Remédio esclarece o papel do Ministério Público nessa luta, com uma gama de atividades imprescindíveis para própria preservação do estado de direito brasileiro. Na Unimep, há cerca de seis anos, é professor dos cursos de graduação e mestrado em Direito. Remédio é promotor da Justiça aposentado; ministra palestras em Piracicaba e região, e escreve artigos para revistas es-pecializadas da área. Tem vários livros publicados, como Direito Administrativo (2012), e Mandato de Segurança (2011). É graduado em Direito pela Unimep; especia-lista em Direito Constitucional pela

o combate contra a

PUC-Campinas; mestre pela Unimep e Doutor pela PUC-São Paulo.

Revista Painel: De que forma o

Ministério Público coopera com a sociedade?

José Antônio Remédio: É ele o titular da ação penal pública que ingressa com ação penal pública in-condicional. A maior parte dos crimes que são levados à justiça no Brasil é por iniciativa do Ministério Público por previsão constitucional. Outro papel é a defesa dos direitos difusos e coletivos, onde a função do Ministério Público, institucionalmente, tem por atividade, se valer do inquérito civil e da ação civil pública, que são dois instrumentos utilizados no Brasil. Procedimentais que visam proteger os direitos difusos e coletivos como, por exemplo: o meio ambiente, o patrimô-nio público, a defesa do índio, a defesa do velho, a defesa do menor.

Painel: Onde a população pode se informar sobre as ações do Ministério Publico?

Remédio: Normalmente a ação do Ministério Público a imprensa acaba divulgando. De forma geral isso aparece nas emissoras de tevês, nos rádios e jornais. Existem os sites institucionais onde as informações po-dem ser buscadas. No âmbito estadual temos o site www.mp.sp.gov.br, uma síntese da instituição onde o cidadão pode obter o conhecimento de como ela é organizada. No próprio municí-pio, onde existe o órgão, a população

MINISTÉRIO PÚBLICO

O ideal seria que o eleitor

votasse melhor

corrupção no Brasil

4 PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Fevereiro/2014

Page 5: Painel edição 79

Remédio: No caso da ação penal pública o legitimado é apenas o Minis-tério Público. Já no caso da ação civil pública, que é aquele instrumento juris-dicional utilizado na defesa dos direitos difusos e coletivos, a nossa legislação, de uma forma geral, contempla uns dez ou doze entes legitimados, a Defenso-ria Pública, as autarquias e também o governo. Especificamente no caso de ação civil por improbidade administra-tiva, que é ação quando existe a prática de corrupção administrativa, só estão legitimados o Ministério Público e a pessoa jurídica prejudicada.

Painel: Como funciona o processo de denúncia? Como ela chega ao Mi-nistério Público?

Remédio: No caso de corrupção administrativa, de improbidade admi-nistrativa, ou malversação do dinheiro público, ou desvio do patrimônio público, qualquer interessado pode levar a notícia por meio de uma repre-sentação, de um requerimento, ou por meio de jornais ao Ministério Público. O órgão, na posse desses documentos deve instaurar um procedimento cha-mado inquérito civil e verificar se há de fato elementos para ingressar com uma medida judicial.

Painel: A morosidade da justiça brasileira é muito criticada. Nos casos de denúncias ao Ministério Público, essa questão também é um problema?

Remédio: São dois aspectos. O primeiro deles é que, quando há uma representação, um requerimento por parte do povo ou do Ministério Público, isso vai levar a uma mera investigação por meio do inquérito civil. O promo-tor, concluída a investigação, vai se inclinar para um dos dois lados: ou há elementos para entrar com uma ação visando sanar o mal que foi provocado, ou vai entender que não tem elementos para entrar com a ação devido o fato não ter ocorrido e vai o arquivar esse expediente. Então a investigação, que é essa parte do inquérito civil, é rápida, de três a seis meses. A não ser quando é muito complexa, onde exige perícia. Aí acaba demandando mais tempo para apuração de improbidade administra-

tiva ou corrupção administrativa. Agora, a ação judicial é bastante demorada e algumas das sansões para improbidade administrativa, particularmente a perda do cargo do servidor público ou a suspensão dos direitos políticos daquele que foi condenado por improbidade ad-ministrativa. Em relação a essas duas penalidades, elas só podem ser cum-pridas depois que terminarem todos os recursos possíveis. Então, nesse caso, demora muito, vários anos.

Painel: Nos últimos anos, acon-teceram vários casos de denúncias de corrupção e má gestão de dinhei-ro público envolvendo prefeitos da região. Como isso reflete para sociedade dessas localidades?

Remédio: É importante primei-ro analisar o porquê de o prefeito ter sido cassado, se foi em função da prática de improbidade admi-nistrativa, se foi uma ação da Câ-mara de Vereadores ou se foi uma condenação penal. A improbidade administrativa ou corrupção admi-nistrativa, às vezes, pode implicar também na prática de um crime, e quando isso ocorre, o agente faltoso responde pelas duas modalidades, tanto pelo crime que pode levá-lo a cadeia como pela prática de im-probidade administrativa que tem seríssimas sansões, mas não leva à cadeia. A cassação de um prefeito por malversação do dinheiro público é sempre um exemplo positivo de um lado, porque vai prevenir que outras pessoas, com natureza não necessariamente pública, venham a

pode consultar e buscar informações sobre as atividades que está exercendo naquele lugar.

Painel: Quais são os problemas enfrentados pelo Ministério Público?

Remédio: Normalmente o qua-dro de promotores é pequeno em face da demanda de trabalho. Os recursos orçamentários são menores do que a necessidade para uma adequada prestação de serviço.

Painel: Além do Ministério Público existe outro órgão que

auxilia nas investigações?

Atividades do MP são

imprescindíveis para preservar o estado de direito

PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Fevereiro/2014 5

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Como isso reflete no Ministério Pú-blico, como controlar isso de dentro?

Remédio: O próprio órgão tem organismos específicos internos para coibir essa prática. O juiz Rocha Ma-tos, juiz de Direito, foi condenado por corrupção e foi parar na cadeia. O fato de ser juiz ou promotor não quer dizer que essa pessoa esta imune

agir da mesma forma. Por outro lado assusta porque a população deposita a sua confiança num determinado candidato que é eleito e exerce um trabalho danoso à sociedade.

Painel: Como promotor apo-sentado e atualmente na função de advogado, tendo atuado na região e também na cidade de São Paulo, em que localidade existe uma maior demanda de denúncias?

Remédio: O Estado de São Paulo tem mais ação civil pública por im-probidade. No ano de 2010 foi feito um levantamento pelo Conselho Nacional de Justiça, e havia cerca de dez mil ações em andamento. Des-sas, aproximadamente 1.300 ações eram do Estado de São Paulo. Boa parte da incidência da improbidade administrativa se dá no desvio de recursos, quando da celebração de contratos para prestação de serviços públicos, obras, serviços. Está ai um dos calcanhares de Aquiles da nossa segurança administrativa.

Painel: Com essa demanda, o Ministério Público consegue resol-ver de maneira satisfatória todos os casos?

Remédio: Dessas dez mil ações de 2010, três mil viraram condena-ções. O resultado é bastante expres-sivo, razoável. Nós temos cerca de cinco a seis mil municípios no Brasil, então na média seria uma condena-ção para cada dois municípios só nesse período, fora a série de ações que a ainda estão em andamento.

Painel: Nos últimos anos apa-recem cada vez mais denúncias sobre as más gestões dos governos, seja municipal, estadual ou federal. Isso parece ser comum na nossa sociedade. Como combater com a lei tais casos?

Remédio: Temos uma das leis mais modernas do mundo. Trata-se da lei 8.429, de 1992. É a lei de improbidade administrativa. Prevê seríssimas sanções. O problema é envolver políticos, às vezes, pessoas dos mais altos escalões nacionais, o que dificulta a investigação, apura-

ção e prova. Essas ações chegam há durar 15 anos. É muito tempo. Logo aparecem outros casos de corrupção e o anterior cai no esquecimento. Mas vale lembrar exemplos nacionais que ficaram famosos e pessoas foram con-denadas como o juiz Lalau (Nicolau dos Santos Neto), onde milhões de recursos públicos foram desviados, o caso das Sanguessugas, onde políticos federais desviavam verbas orçamentá-rias para comprar ambulâncias super-faturadas, o caso Carlos Cachoeira da Delta, o caso da Jorgina Maria de Freitas Fernandes, com o INSS, e o mensalão. Essa é a nossa realidade, lamentavelmente.

Painel: A corrupção é uma decor-rência da cultura brasileira?

Remédio: Não é que no Brasil a corrupção seja cultural. A corrupção é um mal que impregnou todo o mundo. Ela é um mal que tem acompanhado o homem desde que ele vive em socieda-de. O problema é que os instrumentos para a prática da corrupção são mais desenvolvidos do que os instrumen-tos para o combate. De 40 e 69 nove bilhões de reais são movimentados no Brasil, por ano, pela corrupção. Isso corresponde a mais ou menos dois salários mínimos para cada família brasileira todo ano.

Painel: As leis que se aplicam a esses crimes de corrupção são brandas demais? Uma mudança no Código Penal brasileiro ajudaria a combater com mais vigor esse tipo de crime?

Remédio: As normas penais exis-tentes no Brasil para o combate a corrupção tem penas tão ínfimas que é muito difícil alguém ser condenado e cumprir pena por isso. Resta essa lei, de improbidade administrativa, mas ela não tem cunho penal, tem cunho civil e administrativo e nesse âmbito tem surtido efeitos positivos. Quanto ao Código Penal existe um projeto de lei que já foi aprovado no Senado Federal, inclusive transformando a corrupção em crime hediondo. Mas eu não acre-dito que vá frear a corrupção.

Painel: Claro que nenhum órgão está isento de ter corrupção interna.

As normas penais contra a corrupção são ínfimas

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à investigação ou ao controle pela lei. Painel: O Brasil está no caminho

correto para o combate à corrupção?Remédio: Está num caminho bem

melhor do que estava a 10, 15 ou 30 anos passados.

Painel: O que existe hoje que naquela época não havia?

Remédio: Até 1988, pra-ticamente inexistia no Brasil instrumento efetivo para o

combate à improbidade administrativa. Em 1988, a Constituição Federal, no artigo 37 parágrafo 4, previu severas sanções para a prática do ato de improbidade admi-nistrativa. Esse dispo-sitivo constitucional foi regulamentado em 1992 com a lei 8.429 e, a partir daí, come-çou a obter resultados efetivos no combate a improbidade. É por isso que melhorou.

Painel: Quais países são exemplos de com-bate à corrupção?

Remédio: Alguns países têm maior con-trole da corrupção. O Brasi,l num universo de 150 países, fica em 80º lugar. A Dinamarca, a

Finlândia e a Suíça são os países que têm menos corrupção no mundo.

Painel: Qual a diferença em ter-mos de medidas tomadas por esses países em comparação ao Brasil?

Remédio: Educação de qualidade a todos, renda per capita razoável para que a população viva dignamente. As dificuldades no Brasil chegam às raias de ser difícil até de se viver com dignidade. Quando isso ocorre tudo acaba se transformando num mar de problemas, inclusive levando à pro-liferação da criminalidade. Essas são algumas das diferenças para os países desenvolvidos. Então não é só por causa das penas aplicadas. A china, por exemplo, condena pessoas a morte e

nem por isso conseguem acabar com a corrupção no país.

Painel: Que análise pode-se fazer sobre a ética diante do dinheiro pú-blico no Brasil?

Remédio: A própria ofensa à mo-ralidade administrativa no Brasil já constitui uma espécie de improbidade administrativa. Você agir imoralmente com a coisa pública já é improbidade. Você é só um gestor da coisa pública. Você não pode usar aquilo como se fosse seu. Você está gerindo, adminis-trando.

Painel: Muitas manifestações ocorreram em todo o país nos últimos meses. Pode-se comparar, juridica-mente, essas manifestações com as ocorridas em 1992, que levaram ao impeachment do então presidente Fernando Collor? O que o essas ma-nifestações podem trazer de consequ-ências para o país?

Remédio: As manifestações são no mínimo reivindicações da população por algo que ela entende, que não atende aos seus anseios. Não dá para se comparar o movimento que culminou com o impeachment do Collor com o que ocorre hoje. Na época do Collor havia um fato muito específico, que era a malversação do dinheiro público com o envolvimento do PC Farias. Houve uma representação, instaurou-se o pro-cesso, ele foi condenado e teve os di-reitos políticos suspensos pela lei 1079 de 1950. Hoje, há uma reivindicação generalizada, difusa, nas mais variadas áreas, contra a corrupção, ausência da saúde, ausência da educação, preço

de passagens de ônibus. Falta foco. Dentro desse contexto, você atri-buir um crime de responsabilidade ao presidente da República é uma distância descomunal.

Painel: Dentro do âmbito políti-co o que mudou depois das manifes-tações até hoje, e o que pode mudar até as próximas eleições?

Remédio: Havia uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que tentava impedir o Ministério Público de investigar crime. Com o movimento popular, o Congres-so Nacional derrubou essa PEC. Quanto às eleições o ideal seria que o eleitor votasse melhor, trocando esses políticos que lamentavelmente não conduziram seus trabalhos em prol da comunidade. Nesse sentido a Ficha Limpa é muito importante, porque diminui o risco da pessoa ser um mal político.

Painel: Qual o caminho para se tornar um promotor público e como é a relação do profissional com a vida cotidiana?

Remédio: O profissional não procura um serviço quando ingressa na carreira, procura a realização, um caminho que acrescente em sua vida algo que acredita. É preciso ter vocação para exercer a profissão. Para ingressar no cargo de promo-tor, na magistratura, é preciso ser formado em direito, ter experiência de no mínimo três anos, e passar pelo concurso de prova e títulos, onde tem quatro fases: preliminar, escrita, psicotécnica e moral. São de 10 a 30 mil candidatos e passam 60 pessoas. Depois que você ingressa doa a vida ao Ministério Público. O trabalho é descomunal, toma todo o seu tempo. Não tem liberdade para nada, tem poucos amigos, viaja muito, vive de forma reclusa. Trabalhei 26 anos como promotor. É cansativo, mas a realização é ini-gualável. Quando você consegue interferir para melhor na vida de uma pessoa, de um grupo, de uma região, não tem preço e não tem forma de descrever a satisfação.

A corrupção movimenta de 40 a 69

bilhões de reais por ano

PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Fevereiro/2014 7

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sum

ário

10 DINHEIRO PÚBLICO EM VÃO Limeira, Rio Claro, Piracicaba e Americana

construíram, nos últimos cinco anos, monumentos e esculturas sem finalidades para a população.

15 E AÍ, PODER PÚBLICO? Americana, Iracemápolis, Sumaré e Rio

das Pedras têm um acúmulo de obras paralisadas.

19 A SAÚDE EM DISPUTA NO BRASIL Polêmica gerada pelo Programa Mais

Médicos do Governo Federal divide secretários de Saúde da região.

22 CRESCE NÚMERO DE ACIDENTE DE TRABALHO NA REGIÃO

Desde 2001 o número de casos mais que duplicou se comparado a 2011, de 340.251 para 711.164.

24 TERRA BRASILIS Nova Odessa recebeu esse ano seis

haitianos, que moram e trabalham na cidade, e planejam trazer a família.

27 OS PERSEGUIDOS NA REDE As atividades registradas nas redes sociais

chamam atenção das autoridades, enquanto Congresso Nacional discute o Marco Civil da Internet.

30 MENOS AÇÚCAR E MENOS DINHEIRO NO BOLSO

13.4 milhões de brasileiros portadores de diabetes pagam até 26% a mais por um refrigerante diet.

32 ALOPECIA X APARÊNCIA Portadores dessa doença perdem todos os

pelos do corpo; doença estaria ligada ao estresse, fatores psicossociais, hormonais e hereditários.

37 VOO FEMININO Anac registrou um aumento de 410%

no número de emissão de licenças para mulheres pilotarem aviões e helicóptero.

40 PIRACICABA NA COPA 2014 O Barão da Serra Negra será alternativa de

treinamento para as seleções que jogarão no Estado de São Paulo.

42 ESTRANGEIROS BUSCAM ESPAÇO NO BRASIL

O Brasil recebeu em cinco anos 480 atletas, a maioria de países da América do Sul, como Argentina e Uruguai.

45 A (RE)VOLTA DO FUTEBOL AMADOR A Liga Piracicabana de Futebol está se

reestruturando com o apoio das equipes que disputam os campeonatos em Piracicaba.

15

22

37

8 PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Fevereiro/2014

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OPINIÃO

Renato de FReitas evangelista

[email protected]

Um estudo realizado pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo)

revelou os prejuízos econômicos e sociais que a cor-rupção causa ao país. O valor chega a R$ 69 bilhões por ano. Não é preciso fazer cálculos mirabolantes para saber que esse dinheiro poderia estar em melhorias de setores públicos essenciais.

É ‘chover no molhado’ constatar que no Brasil, depar-tamentos como saúde, habitação, saneamento, educação, primordiais numa nação que almeja ser chamada de de-senvolvida, sofrem pela falta de estrutura e de aplicação do dinheiro público. Antes de nos indignarmos com o valor astronômico desperdiçado pela corrupção, devemos reavaliar a própria conduta social da população.

A cultura do ‘jeitinho brasileiro’ ou do ‘levar van-

tagem’, disseminado em território nacional, é a raiz do mal da corrupção. Acostumamo-nos a achar normais comportamentos execráveis. Os exemplos são inúmeros e vivenciados no dia-a-dia. Furar fila, não devolver o troco que veio a mais, pagar propina para o policial rodoviário, estacionar na vaga reservada para idosos e deficientes, jogar papel no chão, sonegar impostos, avançar no sinal vermelho, comprar ingresso do cambista, entre tantas condutas absurdas, parecem ter sido incorporadas pelo brasileiro. Já não causam espanto.

As pessoas vão para uma carreira pública no Brasil com essa mentalidade, de achar que tudo é normal. É urgente a necessidade de curarmos a pandemia da cor-rupção que alastra a nação. Essa missão só será cumprida se atacarmos a sua raiz. O antídoto é simples: educação.

As crianças devem sofrer um choque de educação cidadã. Elas devem aprender o valor da coisa pública. Devem ter a percepção de que um país menos corrupto é sinônimo de melhoria social como um todo, para todos.

A pandêmica corrupção pública no Brasil

thais nascimento

[email protected]

Os problemas enfrentados no Brasil em sua po-lítica interna são reflexos de um povo muitas vezes apático e cômodo. O desenvolvimento

mascarado com programas sociais, a desigualdade maquiada pelo poder de consumo da nova classe média e a cultura da corrupção, que está tão enraizada ao dia a dia do brasileiro, dá a sensação de um país que avança. Mas não evolui. É certo que a maneira com que os políticos levam a administração de seus governos é vergonhosa.

Incontáveis são os noticiários sobre casos de corrup-ção e falta de ética daqueles que deveriam assegurar um estado democrático e de direito a todos. A Constituição Federal de 1988 institui: “um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça...”.

A verdade é que, muitas vezes, esse direito fica no papel e, na maioria do tempo, aqueles que elegemos não estão realmente preocupados com a população, fazem do Congresso Nacional, do Senado Federal, “a casa da

mãe Joana”. Roubam dos aposentados e pensionistas, como em 1992, quando a procuradora previdenciária Jorgina de Freitas deu um rombo de R$ 500 milhões, mais de 50% da arrecadação do INSS na época.

Mais de 15 anos depois, surge o mensalão, com a compra de votos no Congresso Nacional. Esse ano ocorreu à denúncia das propinas pagas para o PSDB em licitações do metrô, chamado de trensalão. Nos últimos 20 anos, seja um governo tucano (PSDB) ou petista (PT), a administração do país parece continuar com a mesma mentalidade: roubar.

É cansativo ver que evoluímos tão pouco em edu-cação, saúde e segurança, que estes serviços essenciais estão sempre à frente de toda a plataforma política em ano de eleição, mas ficam relegados a terceiro plano. O povo parece está acordando. Uma prova disso foram as manifestações. Não se pode negar a importância. Ir às ruas pelos 20 centavos, exigir pres-tações de contas dos gastos públicos com a Copa do Mundo de 2014 e o desperdício do dinheiro público, pode ter sido o começo de algo novo.

O Brasil é feito de pessoas capazes, não é só composto de corruptos. Mas já passou do tempo de deixar que essa parcela determine a cara do brasileiro.

O Brasil que não é a sua cara

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JúnioR campos

[email protected]

Sob a justificativa de fomentar o turismo e homenagear a pecu-liaridade da cultura e da história

de cada município, o Poder Executivo de cidades como Limeira, Rio Claro, Piracicaba e Americana construíram nos últimos cinco anos, monumentos e esculturas sem finalidades para a população, que oneraram em mais de um milhão dos cofres públicos, não obtiveram o êxito almejado em suas proposituras iniciais e ainda provoca-ram a insatisfação dos munícipes.

Em 27 de outubro de 2012, o ex--prefeito Orlando Zovico (PDT), de Limeira, inaugurou o terceiro moinho de vento do Brasil, o Ora Et Labora, que em holandês significa Rezar e Trabalhar. Com o objetivo de resgatar a história dos imigrantes europeus que viveram no município e de promover o turismo local, a obra foi projetada pelo arquiteto holandês Johannes Arnaldus Heijdra em modelo stan-derdkorenmolen, sendo este o primeiro padrão de moinho feito fora da Europa. O monumento de 26 metros de altura custou aproximadamente R$ 1,5 milhão e foi levantado em uma área particular, de propriedade da empresa Velvet Par-ticipações, às margens da rodovia João Mendes da Silva Júnior, conhecida como rodovia Limeira-Iracemápolis.

Inicialmente, o Ora Et Labora per-tencia ao projeto da Vila das Nações, de autoria do ex-prefeito cassado Sílvio Fé-lix (PDT). A propositura incluía também uma casa de chá e um jardim japonês, além da construção de uma torre miran-te de 150 metros de altura no pico do Morro Azul, que custaria em torno de R$ 18 milhões. Entretanto, o Ministério Público de Limeira, sob o comando do promotor responsável pelo Patrimônio Público e Social, Luiz Alberto Segalla Bevilacqua, instaurou um inquérito civil para investigar a obra milionária e a pre-feitura desistiu de construir a torre bem como a casa de chá e o jardim japonês.

MOINHO DE VENTO, PEIXE DOURADO, TORRE EIFFEL E ESTÁTUAS DE DOIS GORDINHOS, MONUMENTOS SEM FINALIDADE PÚBLICA

O promotor Luiz Alberto Segalla Bevilacqua justificou a investigação do MP contra o projeto de Félix. “Naquela época existiam outras questões emergen-ciais a serem resolvidas e considerávamos onerante o gasto da prefeitura com uma obra contrária ao interesse público. Portanto, abrimos o inquérito de inves-tigação e o Poder Executivo cancelou o contrato de licitação, fazendo com que a torre do mirante não saísse do papel. A respeito da construção do moinho de vento, eu não posso me manifestar, pois estive somente no comando da investiga-ção da torre”, conta Bevilacqua.

Atualmente, o moinho é alvo da in-vestigação de um inquérito civil aberto pelo Ministério Público com a acusação de omissão do Poder Executivo em sua manutenção. Após um ano de sua inau-guração, o ponto turístico se encontra em estado de abandono. A apuração feita

emDinheiro público

10 PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Fevereiro/2014

Page 11: Painel edição 79

?no local mostrou um estado de conser-vação precário com janelas quebradas, pedaços de madeira do cercado do moinho atirados na grama, luminárias queimadas e o acúmulo de lixo como garrafas e copos plásticos na região ex-terna e interna do monumento.

Além disso, foi apurado que o Ora Et Labora não possui um caminho acessível para visitação, com uma cerca fechando o terreno às margens da rodovia e uma placa proibindo a entrada de estranhos. Para se chegar até o moinho, é preciso percorrer um caminho íngreme de ter-ra vermelha de aproximadamente dois quilômetros, rodeado por cana de açú-car. A reportagem constatou também a ausência de infraestrutura turística pela falta de sanitários, bebedouros e câmeras de segurança.

Segundo a presidente do Condephali (Conselho de Defesa do Patrimônio

vãoPortal de Americana revoltou a população

local por causa dos ‘gordinhos’

Júni

or C

ampo

s

Público de Limeira), Juliana Binotti, o moinho não pode ser considerado um patrimônio cultural, pois Limeira nunca teve imigração holandesa e que é função da prefeitura cuidar da con-servação da obra. “O moinho não é um patrimônio cultural municipal, uma vez que Limeira nunca teve imigrantes holandeses. Na história do município tivemos imigrantes portugueses, ale-mães, suíços, italianos e até japoneses. Por conseguinte, não é atribuição do conselho preservá-lo e sim do poder público”, explica Juliana Binotti.

Outra polêmica envolvendo o Ora Et Labora são as irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE), órgão que fiscaliza a utilização dos recursos públicos, a respeito da construção e da finalidade do monumento. Destacam-se a baixa competitividade das concorrências nas

licitações, que consagrou a empresa de construção civil Maluf Engenharia e Construções como vencedora, indícios de obra inacabada e a ausência de bene-fício à população pela falta de energia elétrica, rede de água e esgoto.

Ao explicar a atitude do Poder Exe-cutivo, mediante a baixa competição das licitações, o secretário de Assuntos Jurídicos da Câmara Municipal de Li-meira, Marcelo Roland Zovico, disse que pelo fato do moinho de vento ser um monumento de padrão holan-dês, o poder público licitou somente empresas especializadas em obras de porte estrangeiro, o que ocasionou a pequena quantidade de licitações. “Mediante a construção de um moinho de vento não estar relacionada com a tradição tupiniquim e sim com a ori-gem dos povos nórdicos da Europa, Limeira teve que licitar a construção de um objeto singular e pouco usual, contando com poucas empresas de engenharia civil concorrentes com capacidade técnica e pré-requisitos estabelecidos em uma obra holandesa”, justifica. O TCE concluiu que parte da obra não foi realizada de acordo com o orçamento e às finanças utilizadas em 2011. “O moinho deveria prever outras estruturas para poder se tornar uma atração turística. O monumento nunca chegou a funcionar, sem falar que foi erguido em um terreno parti-cular, o qual sediaria espaço para um loteamento fechado, supondo-se que serviria de atração privada feita com dinheiro público”, enfatiza Zovico.

O diretor de Turismo de Limeira Florisvaldo Moura, alega que a pre-feitura não pode investir ou decidir o futuro do moinho, pois não tem posse do local em que a obra foi construída. Segundo ele, existe um termo entre a prefeitura e a Velvet que condiciona a obra do moinho com aprovação de um loteamento residencial no local, loteamento que não será autorizado pelo atual Plano Diretor do município. “A prefeitura não tem a posse da área, o que proíbe qualquer investimento

Dinheiro público

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ou manutenção para conservar um equipamento construído com o di-nheiro público dentro de uma área particular”, salienta. Outro ponto é que, se o moinho tem indícios de irre-gularidades, “eu como agente público não posso colocar dinheiro público em algo que é irregular, pois estaria agindo de formar irregular também e isso é crime”, ressalta Moura.

Os globos do Félix - De autoria do ex-prefeito cassado Sílvio Félix (PDT), dez globos decorados com desenhos de engrenagens, peças e pingentes que representam a indústria e o comércio de joias de Limeira, com uma ilumi-nação de cor verde durante à noite, foram construídos nos principais ba-lões de acesso da cidade em 2011. O intuito era homenagear o município por seu desenvolvimento no setor dos folheados e das joias. Em meio à crise política na cidade, no fim da gestão de Félix, acusado pelo Ministério Público de fraude licitatória, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e peculato, os globos foram chamados na época pelos manifestan-tes em oposição ao político de “monu-mentos em homenagem à corrupção”.

De acordo com o vereador e presidente da Câmara Municipal de Limeira Ronei Costa Martins (PT), relator da CP (Comissão Parlamentar) responsável por cassar o mandato do ex-prefeito em fevereiro de 2012, cada globo custou em torno de R$ 14.400, sem ter qualquer relação com a identidade cultural da cidade. “A intenção do Sílvio Félix era embelezar a cidade. Os monumentos deveriam guardar relação com a identidade de Limeira, o que em minha opinião não aconteceu, pois a escala urbana desprestigia o monumento, de modo que os globos se perdem na paisagem pela desproporcionalidade em relação à paisagem que o absorve”, compara.

Além disso, assinala o vereador, os detalhes minuciosos, como objetos do setor de joias, que deveriam ser desta-cados como referências da identidade de Limeira e são desvalorizados. “É quase impossível identificarmos estes códigos nas obras. Os globos ficam distantes de quem deseja apreciá-los”.

Janaina Vila Real

Em Limeira, moinho de 1,5 milhão está em estado de abandono

Júnior CamposGlobos foram chamados de "monumentos à corrupção" em Limeira; ao lado, Torre Eiffel não possui identidade cultural com Rio Claro

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Torre Eiffel - Em meados de 2009,

ano em que o país sediou uma ampla programação de eventos culturais em comemoração ao Ano da França no

Brasil, com projeto cultural marcado pela parceria en-tre os governos brasileiro e francês, Rio Claro abriu a 35ª Festa das Nações com inovações em homenagem à festividade nacional. Partindo do planejamento da Secreta-ria de Turismo, implantou uma réplica de 15 metros da Torre Eiffel na área da festa. Construída pelo serralheiro José Laurindo dos Santos,

o monumento custou em torno de R$ 7 mil ao cofre público.

Com o fim da Festa das Nações, a secretaria estudou a possibilidade de mover a torre para a avenida Presi-dente Kennedy, de frente ao aeroclube da cidade. Entretanto, não conseguiu a permissão do Comando Aéreo de Campinas e, por conta disso, a torre foi implantada na rotatória da avenida Visconde do Rio Claro com a avenida 32, sendo iluminada à noite.

Logo após a instalação da Torre Eiffel, a população local fez uma série de questionamentos sobre a obra. Na época, reclamaram que a torre não tinha identidade cultural pela inexis-tência de dados históricos de qualquer imigração francesa na cidade. Con-forme o secretário de Turismo René Neubauer, após o Natal de 2010, foi feita uma enquete para decidir o futu-ro da torre. “Na época da instalação da réplica da Torre Eiffel, muitos jor-nalistas e moradores de Rio Claro se opuseram contra o monumento, por não apresentar imigrantes franceses. Porém, grupos do Facebook e jornais locais criaram uma enquete para a população decidir o futuro da obra e a resposta foi unânime, a maioria votou a favor da permanência do monumento”, ressalta Neubauer.

Peixe dourado em Piracicaba - Em 2012, com o intuito de homenagear Piracicaba com seu símbolo represen-tativo – a do peixe dourado, o Poder Executivo inaugurou na rodovia Luiz de Queiroz (SP-304), a escultura de um peixe dourado que custou R$ 91.171,32. A escultura foi projetada pelo ex-presidente do Ipplap (Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piraci-caba) e atual vice-prefeito, o arquiteto João Chaddad (PSDB). De acordo com ele, o monumento foi construído pelo engenheiro Reynaldo Nicolau Iatarola e a empresa que venceu a licitação da obra foi a Construtora Unaí Ltda.

O arquiteto disse também que o peixe está provisoriamente pintado de amarelo porque foi pichado três vezes. “A pintura original da obra reunia um degradê de cores derivadas do amarelo, mas agora a escultura ficará provisoria-mente pintada de amarelo até que os pi-chadores deixem de usá-la como muro de recados”, ressalta o vice-prefeito.

As pichações citadas por Chaddad aconteceram em fevereiro e outubro de 2012 e no início de 2013, com manifestações expostas contra o novo vencimento mensal dos parlamentares no Estado de São Paulo e o índice de aumento dos salários de vereadores de Piracicaba. Recentemente, a obra foi pintada e permanece intacta, sem qualquer dano.

Júnior Campos

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Valor orçado para construir o Peixe Dourado indigna Victor Kraide

Marina Coltro

Após quase 2 anos de sua inauguração, obra de Peixe Dourado em Piracicaba, permanece inacabada

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advogado Luiz Gustavo Vardanega Vidal Pinto, pedindo a condenação do prefeito Diego de Nadai (PSDB) por improbabilidade administrativa pela demolição dos gordinhos. O juiz da 3ª Vara Federal de Piracicaba, Miguel Flo-restano Neto, decidiu que a ação fosse encaminhada para a Justiça Estadual.

Há elefante branco? - Após fazer um estudo dos monumentos apresenta-dos, o cientista político Israel Aparecido Gonçalves, opinou sobre os casos e co-mentou a relação deles com o elefante branco, jargão político utilizado para se referenciar sobre obras públicas que os governantes constroem sem utilidade ou finalidade à população. Para ele, o moi-nho de vento Ora Et Labora não possui relação direta com a história limeirense e não houve um debate no município sobre o significado dessa obra para os cidadãos. “A Torre Eiffel, em Rio Claro, e os chamados monumentos dos gordinhos no portal de entrada de Americana, também expressam a falta de conexão entre os grupos étni-cos do município e o poder público. O peixe dourado de Piracicaba é mais utilizado como um instrumento de gru-pos políticos que questionam as ações do Executivo e do Legislativo do que uma referência ao patrimônio cultural piracicabano”, salienta Gonçalves. Para o cientista político, os monumentos em homenagem à corrupção, ou seja, os globos de Limeira, são interpretados por uma visão da sociedade com relação ao agente público, que esteve em descrédi-to durante a crise política de Limeira.

Gonçalves esclarece ser perceptível o equívoco dos gestores na ausência de diálogo com os grupos que debatem o mosaico cultural e a falta de transparên-cia que ocorre desde a licitação da obra até a sua conclusão. “A população, ga-rante, tem o direito de saber o custo de todas as obras, sejam elas monumentos ou equipamentos públicos”, salienta. De acordo com Gonçalves, os monumentos podem ser considerados como elefantes brancos quando estão fora do contexto histórico, artístico e cultural da cidade, e por não representar utilidade para a população. “Um monumento deve ter relação com a identidade e a memória de cada lugar”, ressalta.

Para Israel Aparecido Gonçalves, a falta de transparência é equivoco do Poder Público

Janaina Vila RealEntretanto, não foram apenas as

pichações que geraram polêmica em torno do monumento. O valor da obra revoltou cidadãos piracicabanos, entre eles o parlamentar José Antonio Fernandes Paiva (PT) e o publicitário e diretor de Documentação e Tecnologia da Sociedade Brasileira de Marketing Político, Victor Kraide Corte Real. Na época da construção da escultura, Paiva reconheceu a importância de valorizar o peixe como símbolo de Pi-racicaba, mas o custo elevado da obra gerou questionamentos e críticas por parte do vereador.

O publicitário Victor Kraide enfa-tiza que o peixe dourado foi uma obra sem finalidade para os piracicabanos e uma enquete seria a melhor solução para a população ter o direito de opi-nar sobre os projetos arquitetônicos da Prefeitura. “Quando vi aquele peixe ser construído, estranhei. É um monumento feio, sem preocupação artística consistente e que teve um custo exorbitante”, frisa. Ele revela ter conversado com amigos sobre a escultura, que a criticaram. “O pro-pósito era transformar em atos de manifestações contra a omissão de informações sobre a construção do peixe”. As reclamações chegaram até o poder público, mas as minhas críticas não tinham foco em atacar político, gestão de governo ou partido, mas exigir informações a respeito de como a cultura de Piracicaba estava sendo conduzida pela prefeitura”, salienta. Em sua opinião, o peixe dourado não é um cartão de boas-vindas que o pi-racicabano se orgulha em ter.

Gordinhos em Americana - Um dos monumentos mais polêmicos na região foi o portal Princesa Tecelã, inaugurado em 2009 pela Prefeitura de Americana e pelo Ministério do Turis-mo, na avenida Antonio Pinto Duarte. O portal contou com a construção de duas estátuas – um homem e uma mulher nus com características de obe-sidade, que custaram em torno de R$ 800 mil. Produzidos em homenagem ao setor têxtil, provocaram a indigna-ção dos moradores, que se sentiram constrangidos pela nudez e pelos traços físicos das figuras artísticas.

Diante do incômodo da população, a prefeitura criou uma enquete para saber a opinião dos cidadãos sobre o futuro dos monumentos: a maior parte foi favorável à demolição dos gordinhos. Em janeiro de 2010, um ano após a inau-guração do portal, as estátuas foram de-molidas, gerando três processos judiciais que tramitam até hoje na Justiça Federal.

O primeiro processo judicial foi ajuizado pelo Poder Executivo contra o artista plástico de Curitiba, Luiz Gaglias-tri, responsável pela projeção da obra, e tramita na 4ª Vara Cível de Americana. No processo, o poder público alega que as esculturas não ficaram conforme previstas no projeto e solicitaram a devolução de R$ 169 mil. O valor esti-pulado refere-se à soma do preço pago pela obra, do gasto com a demolição e a multa de 20% do contrato.

Luiz Gagliastri também processou a prefeitura, com ação por danos morais no Fórum de Curitiba (PR). Ele pede uma indenização de R$ 675 mil pela demolição dos monumentos ter ocor-rido sem a sua autoria. Outro processo de Gagliastri contra a prefeitura foi encaminhado ao Fórum de Americana em junho desse ano. A ação civil públi-ca foi ajuizada na Justiça Federal pela Associação Profissional dos Artistas Plásticos do Paraná, representada pelo

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Dinheiro

maRina neves coltRo

[email protected]

Dias, meses ou anos? Um dos principais proble-mas que rondam mui-

tas administrações públicas é a paralisação de obras iniciadas em gestões anteriores, conse-quentemente seu abandono, sem que a população receba uma explicação plausível para essa interrupção. O eleito nem sempre se debruça a entender os projetos iniciados por seus antecessores, principalmente se for de partido de oposição. Na região, há vários municí-pios nessa situação: America-na, Iracemápolis, Sumaré e Rio das Pedras têm um acúmulo de obras paralisadas.

Obras da ETA (Estação de Tratamento de Esgoto) de Iracemapólis: Abandono causa ferrugem nas estruturas de ferro

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CIDADES DA REGIÃO INVESTEM RECURSOS PÚBLICOS EM PROJETOS QUE NÃO SÃO CONCLUÍDOS

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Antes da Prefeitura iniciar as obras, a área verde não estava abandonada. Os moradores do Morada do Sol se revezavam para cuidar da local. “Antes vários pontos da gruta eram cuidados por voluntários. Mas, com as obras, eles foram proibidos de trabalharem no local. Agora, ela está em total

Os gastos com esses empreendi-mentos nem sempre são divulgados, mas as justificativas das prefeituras envolvem informações de que o va-lor previsto foi insuficiente para sua continuidade; ou que não há recursos previstos no orçamento municipal em vigor concluir o projeto. O dinheiro investido fica, então, parado numa obra incompleta, sem data para con-clusão, à mercê da degradação, sem que a população possa usufruir desse patrimônio.

Em Americana há duas obras em estado de abandono, a revitalização da Gruta Dainesse, uma área verde que envolve os bairros Morada do Sol e Parque das Nações, e outra de ampliação das avenidas Adbo Najar com a Bandeirantes, o que melhoria o fluxo de veículo para a avenida Nossa Senhora de Fátima.

A revitalização da gruta está em andamento desde 2010. Considerada a maior área verde da cidade, com 490.925 mil metros quadrados, a gruta sofre com o descaso da prefeitura. A moradora Joyce Galdino afirma que “o abandono traz vários fatores, sendo os principais; a insegurança e o desrespei-to aos moradores”. A área possui mui-tas placas para sinalizar que é proibido jogar entulhos, mas em todos os cantos há sofás velhos, sapatos, roupas e lixos diversos, transformando o local num verdadeiro depósito de lixo.

O orçamento inicial para a revita-lização foi de R$ 8 milhões, recursos do governo do Estado de São Paulo, com um acordo de ser repassado para a Prefeitura dois milhões de reais por semestre para custear a obra. Os recursos teriam sido mediados pelo deputado Chico Sardelli (PV) em 2010. Mas, apenas dois milhões de reais chegaram até os cofres do município, afirma o vereador Adelino Leal (PT). O secretário de Obras Flávio Biondo ex-plica que “os valores repassados foram importantes, mas não suficientes para a realização de toda a sua revitalização e proteção” da área.

No orçamento de R$ 8 milhões está, segundo o laudo técnico do en-genheiro José Nilton de Oliveira Filho, serviço de terraplanagem, pista para caminhada, cercamento, ciclo faixa,

implantação de áreas de descanso, hidratação, sinalização e jardinagem. Porém, até outubro deste ano, os valo-res repassados foram usados somente para o calçamento e fechamento no entorno da gruta.

O vereador Adelino Leal (PT) acompanha essa obra desde seu início, em 2010, e encaminhou pelo menos um requerimento por ano cobrando informações sobre a Gruta Dainesse. “Há informações sobre a falta de pagamento da Prefeitura para com a empresa que efetuou as obras”, frisa. A construtora que venceu a licita-ção é a MB Engenharia Ambiental Ltda, de Hortolândia, no valor de R$3.169.063,83. Os funcionários da empresa deixaram a obra da gruta há mais de um ano.

O secretário Biondo afirma que a gruta não é prioridade administrativa, pois o orçamento está voltado à área da saúde, que também está em obras para ampliação do hospital municipal e dos postos de saúde. “Estamos fazendo esforços junto ao governo estadual, através do deputado Sardelli, para receber recursos e podermos continuar com o projeto da gruta”, afirma.

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abandono”, afirma o vereador Leal que mora no bairro. A comunidade espera que a gruta possa ser frequentada por ser a principal área de lazer da região onde moram. O vereador ressalta que a gruta precisa ser preservada “por representar o pulmão ambiental para Americana”.

A segunda obra na cidade que está parada é o viaduto Prefeito João Ba-tista de Oliveira Romano, localizado entre as avenidas Prefeito Abdo Najar e avenida dos Bandeirantes. O último investimento no local aconteceu há mais de 10 anos.

O secretário Biondo afirma que as obras no viaduto está paralisada por cau-sa do licenciamento ambiental. “Algumas faixas de rolamento estão na área de preservação do rio Quilombo”, explica. A previsão é retomar essa obra em 2014, com a abertura da faixa de rolamento e a execução da rampa de acesso.

No local encontram-se material com ferrugem, o que representa perigo de acidentes, resultado da degradação causada pelo tempo; há também riscos para os carros e pedestres que passam embaixo ao viaduto, porque os ferros ficaram soltos em cima do viaduto. A Secretária de Obras instalou placas de concreto e uma cerca para impedir que as pessoas entrem, por ser considerado de risco. Mas isso não impede que usuários de drogas utilizem o viaduto à noite, o que gera reclamações da vizinhança e comerciantes próximos.

O proprietário de um estabeleci-mento, localizado ao lado do viaduto, Adriano Aparecido, é um grande trans-torno a situação de abandono. “Este trecho inacabado preocupa, principal-mente por não conter nenhuma ilu-minação. Há muitos “trombadinhas” que frequentam o local, um risco aos pedestres e a nós comerciantes após as 18 horas, pois não temos visualidade nenhuma”, afirma.

O objetivo desta obra era diminuir o fluxo das avenidas Abdo Najar e Bandeirantes, desviando o trânsito para a avenida Nossa Senhora de Fatima, evi-tando assim congestionamentos por ser uma das principais avenidas da cidade.

Já, em Rio das Pedras a construção do portal da cidade, iniciado na adminis-tração anterior com o prefeito Marcos Buzetto (PSB), teve suas obras paradas em 2008. O portal fica localizado na ro-dovia Valério Pedro da Silveira Martins.

A obra teve um investimento de R$ 500 mil para sua construção, mas hoje ela se encontra totalmente abandonada. Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura, “a ideia da administração anterior era fazer do portal um ponto de segurança e informação para a população”. Mas a ideia não saiu do papel: o portal está parado desde então, com mato e servindo para procriação de insetos.

Ferrugem nas barras do viaduto que recebeu o último investimento há mais de 10 anos (acima, à esq.); placa na entrada da Gruta Dainesse e entulho em volta mostra o descaso (acima); placas de cimento colocada no viaduto devido o risco por ser uma obra inacabada (abaixo à esq.)

Fotos: Marina Coltro

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A administração atual planeja revi-talizar o local para ser utilizado como ponto de segurança ao município. Mas não há data para isso acontecer.

Na cidade de Iracemápolis o aban-dono é do ETA (Estação de Tratamento de Água), uma obra para a melhoria no tratamento de água e esgoto da cidade, mas que até hoje não foi concluída. Para isso, o atual prefeito Valmir Almeida (PT) afirmou para o Trata Brasil, um portal de saneamento de água, que serão necessários cerca de mais R$ 700 mil. Esta obra deve usar um total de R$ 2,1 milhões, sendo R$ 290 mil do Estado de São Paulo, já repassados e

não utilizados, segundo o prefeito, e R$ 410 mil dos cofres públicos municipais.

Maus tratos - Um dos principais pontos turísticos de Sumaré, o Parque Zoológico “Henrique Pedroni”, está fechado desde 2005, por irregularidades encontradas pelo Ibama (Instituto Brasi-leiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Por este abandono, animais que viviam no local já morreram devido às más condições. Logo após a visita do Ibama, as obras foram iniciadas no parque e custariam cerca de R$ 2,2 milhões. Nesse valor R$ 708,8 mil é de responsabilidade da prefeitura.

Este projeto foi dividido em duas etapas, como a ampliação dos recintos, quiosques, calçadas, e, as obras para ampliação que integra a área dos ani-mais junto ao espaço de lazer. Mas a situação é outra: todas as instalações estão com os vidros quebrados; os mu-ros estão pichados e, principalmente, há falta de manutenção no parque e higienização das jaulas.

A Secretária de Obras e Meio Ambiente foi procurada, mas não respondeu às indagações. A assessoria de imprensa disse que a prefeitura não responde à imprensa, pelo fato de a pre-feita Cristina Carrara (PSDB) enfrentar processo de cassação por uso indevido de um veículo de comunicação durante a campanha eleitoral.

As pessoas fazem caminhada em volta da gruta no meio do mato alto

Portal de Rio das Pedras, que serviria como ponto

de segurança, não tem previsão de término e

segue em total abandono

Fotos: Marina Coltro

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luis henRique da silva capucci

[email protected]

De um lado, o Ministério da Saú-de defende a vinda de médicos estrangeiros para cidades do in-

terior do Brasil. De outro, os conselhos de medicina se posicionam contrários a essa ideia. Essa é a polêmica gerada pelo Programa Mais Médicos do Go-verno Federal desde sua criação, no dia 8 de julho deste ano. O programa visa dar uma solução a curto prazo para o problema da falta de médicos no Brasil, atraindo profissionais brasileiros para o interior do país e facilitando a entrada de estrangeiros na rede de saúde pública.

A principal questão que causou o conflito entre o Ministério da Saúde e os conselhos de medicina foi a dis-pensa do exame Revalida (Programa de Revalidação de Diplomas de Médi-cos obtidos no exterior), aplicado nos médicos vindos de outros países que queiram atuar no Brasil para verificar a qualidade dos profissionais.

PROGRAMA MAIS MÉDICO RESULTA EM CONFLITOS ENTRE O MINISTÉRIO DA SAÚDE E CONSELHOS DE MEDICINA E PREJUDICAM A POPULAÇÃO

SAÚDEA

em disputano país

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A situação deve mudar com a transfe-rência da emissão de registro dos conselhos regionais de medicina para o Ministério da Saúde. A lei, que foi sancionada no dia 22 de outubro pela presidente Dilma Rousseff, decretou que os médicos estrangeiros ou formados no exterior que estão no Brasil vão ganhar uma célula de identidade, produzida pela Casa da Moeda, com validade de três anos e que autoriza o exercício da me-dicina exclusivamente na atenção bási-ca, restrito às atividades do programa e aos municípios onde os profissionais estão alocados. Além disso, também vai constar no documento o nome da cidade onde os médicos estão exer-cendo a profissão. Para a emissão do registro, serão os documentos exigidos na lei, como diploma de graduação e habilitação para exercer medicina em um país com mais médicos que o Brasil.

João Ladislau Rosa, presidente do Cremesp, declarou em uma entrevista para o portal de notícias G1 que a lei será cumprida. Porém fez uma ressalva: “Entendemos que o registro de médi-cos é uma atribuição dos conselhos, e que emitir a carteira profissional do médico, que é um documento pú-blico, sem ver quem está recebendo esse documento, pode ser prejudicial. Com a medida há um aumento no risco de diplomas falsos e carimbos de médicos falsificados”. Apesar da lei, os Conselhos de Medicina ainda são responsáveis pela fiscalização dos médicos do programa.

Para que comecem a atuar no país, precisam ter a inscrição emitida pelo CRM (Conselho Regional de Medi-cina), autorização que regulariza a prática da medicina no Brasil. No caso dos médicos estrangeiros e formados no exterior que se inscreveram no programa federal, essa autorização é temporária. Contudo, os conselhos regionais estavam dificultando a emis-são desse registro. Situação modificada por uma decisão do Senado Federal e, posteriormente, da presidente Dilma Rousseff, que aprovaram o programa Mais Médicos, tendo como uma de suas medidas a decisão de transferir para o Ministério da Saúde a função de emitir o CRM.

Dos 647 pedidos de inscrições enviados para os conselhos regionais de medicina, 143 foram emitidos até setembro, segundo informações do Ministério da Saúde. No Estado São Paulo, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) recebeu 55 pedidos de emissão de re-gistro, mas nenhum deles foi aceito. De acordo com o Cremesp, todos os pedi-dos continham um tipo de irregulari-dade. “O principal problema com em relação aos documentos enviados pelo Ministério da Saúde foi a questão da tradução dos diplomas. Por exemplo, alguns diplomas traziam a declaração que o médico falava português, mas a declaração estava em inglês, espanhol e outras línguas”, declarou a assessoria de imprensa do conselho.

O Ministério da Saúde rebateu, ao frisar que a tradução não é item obrigatório na Medida Provisória que regulamenta o Mais Médicos. Segundo

a assessoria do ministério, para a emis-são de registro profissional aos partici-pantes do Mais Médicos, os conselhos regionais de medicina (CRMs) em todo o Brasil só podem exigir os documen-tos estabelecidos pela Medida Provi-sória (MP) 621/2013, que instituiu o programa: declaração de participação do profissional no programa; cópia de documentos que comprovem nome, nacionalidade, data e lugar do nascimento e filiação; habilitação pro-fissional para o exercício de Medicina; diploma expedido por instituição de educação superior estrangeira. E critica a posição dos conselhos de medicina: “os conselhos de diferentes estados do país estão exigindo informações extras, tais como: revalidação de diploma, tradução dos documentos, os nomes do tutor e do supervisor e o endereço das Unidades Básicas de Saúde (UBS) onde os profissionais iriam atuar. Não existe previsão, na MP, de regras para tradução do diploma”, ressalta.

Esse impasse entre os órgãos da saúde impediu médicos estrangeiros ou formados no exterior de trabalhar. Na cidade de Americana, três médicos che-garam na cidade por meio do programa. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, o município pagará um au-xílio moradia no valor de R$ 1.500,00 para cada um (dos médicos) assim que eles iniciarem o atendimento na rede pública. A refeição também será for-necida, sendo a mesma utilizada pelos demais servidores públicos.

Em Campinas, esse valor é de R$ 1.500, 00 para moradia e R$ 590 para alimentação para cada um de seus cinco médicos, sendo que dois deles são brasi-leiros formados no exterior (estudaram na Argentina). Em Itatiba, o auxílio moradia também é de R$ 1.500, mas a assessoria de imprensa da prefeitura da cidade não especificou quanto é gasto com alimentação dos profissionais.

O governo federal já começou a pagar salário para os médicos, mesmo que alguns estejam parados. No Brasil todo foram gastos aproximadamente R$1.960 mil com o salário dos médicos que ainda não estão atuando por falta do registro no CRM. Só no Estado de São Paulo, o governo federal gastou aproximadamente R$ 550 mil.

Cidades que receberão os profissionais

Nº de médicos

Americana 3

Campinas 2

Nova Odessa 2

Engenheiro Coelho 1

Indaiatuba 4

Itatiba 2

Pedreira 1

Santo Antônio da Posse 1

Dreison Iatarola avalia o programa Mais Médicos como uma medida emergencial, mas necessária

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Pesquisa realizada em setembro pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) em parceria com a MD pesquisas, 73,9% da população brasi-leira apoia o programa Mais Médicos do governo federal. Por outro lado, a comunidade médica, em sua maioria se coloca contra o programa.

Esse é o caso da secretária de Saúde de Nova Odessa, Rosa Maria Sacilotto. “O programa é uma medida emergen-cial que não vai funcionar. Não adianta o médico ir para cidades menores se lá, muitas vezes, ele não vai ter o equipa-mento adequado para trabalhar. Dessa forma, o médico fica de mãos atadas”, justifica. Ela também questiona quem são os profissionais que se inscrevem nesse programa. “Normalmente são jo-vens que acabaram de sair da faculdade e têm pouca experiência”, descreve. Nova Odessa não recebeu nenhum médico na primeira fase do programa, mas recebeu dois profissionais cubanos na segunda fase de sua implantação.

O secretário de Saúde da cidade de Americana, Fabrizio Bordon, vê com bons olhos o programa do governo

Visões sobre o programafederal. “A falta de médicos é um pro-blema recorrente e constante da saúde no Brasil, então podemos dizer que o programa vem em boa hora e em termos gerais, é bom sim”, aposta. Apesar disso, Bordon diz que o programa deveria ser mais abrangente. “Saúde pública não se resume a médico. O governo deveria também trazer mais psicólogos, enfer-meiros”, elenca o secretário.

Para o coordenador médico de Santa Bárbara D’Oeste Dreison Luis Iatarola, o programa é uma medida emergencial. “O Mais Médicos é um programa emergencial, que tenta atenuar em alguns meses uma situação que há décadas afeta a saúde pública no país”, avalia. Em sua opinião, apre-senta falhas mas admite não vislumbrar qualquer outra medida a curtíssimo prazo. “Para o futuro deve ser minu-ciosamente analisada a quantidade e qualidade das vagas de medicina ofere-cidas no país, assim como a adequação dos salários e planos de carreira para os médicos, além de bonificação exemplar aos profissionais que se dispuserem a trabalhar nas regiões menos favoreci-

das do país’’, declarou Iatarola. Apesar de ter se inscrito no programa, Santa Bárbara D’Oeste não recebeu nenhum médico. O profissional que viria para a cidade desistiu.

Na opinião do vereador de Piraci-caba Chico Almeida (PT), responsável por uma moção de apoio ao Mais Médicos, a não aceitação dos médicos brasileiros ao programa do governo federal é algo terrível. “Isso é uma aberração. Coisa de médico que ga-nha R$ 20 mil por mês e que só quer atender em capital”, disse o vereador.

Para o cientista político e coorde-nador do curso de pós-graduação em Sociologia e Sociedade da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) Fernando Ferreira da Silva, o programa atende uma necessidade real e vigente da população. “O Mais Médicos é uma resposta imediata aos problemas crônicos enfrentados pela população, principalmente a de baixa renda, na questão da saúde”, frisa.

Racismo e xenofobia - Quando os médicos cubanos chegaram ao Brasil, um grupo de profissionais brasileiros realizou protestos nos aeroportos. Entre as ações dos médicos brasileiros, incluem-se vaias e entrega de bananas para os estrangeiros. Rapidamente as imagens desses protestos se espalharam pela mídia e foram extremamente mal vistas pela população, que considerou racistas os atos dos brasileiros.

Para Rosa Maria Sacilotto, a ação desses médicos é inaceitável. “Os cubanos são companheiros de profis-são que, quer concordemos ou não, deixaram o seu país para vir exercer a medicina no nosso. Então, atacar esse profissional não fere apenas a classe médica no geral como também qualquer ser humano”, opina a médica.

O professor Fernando Ferreira da Silva salienta que as ações dos médi-cos brasileiros além de racistas, são xenofóbicas. “É xenofobia, precon-ceito e até uma visão corporativa. E não podemos esquecer que os médicos brasileiros, na sua maioria, se recusam a trabalhar onde os médicos cubanos estão dispostos a ir, na periferia, nos bairros pobres e nas áreas mais remotas do país”, declara.

O PAI (Programa de Atendimento Imediato), de Americana, receberá profissionais do Mais Médicos

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laís m. schiavolin

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Em todo país houve um cresci-mento no número de casos de acidente de trabalho. Segundo

a Previdência Social, desde 2001 o número de casos mais que duplicou se comparado a 2011, passando de 340.251 para 711.164, um amento de 109% em dez anos.

Este alto índice está presente nas cidades interioranas, como Americana, Limeira, Piracicaba, Rio Claro e Santa Barbara d’Oeste, que apresentaram aumento nos casos de acidente por motivo típico, aqueles que ocorrem no local de trabalho, associados a tais atividades. Americana teve 1.426 casos em 2009 passando para 1.834 em 2010, crescimento de quase 30%. Além dos casos de Ler – Lesão por Esforço Repetitivo, ter aumentado de três para quatro, respectivamente, assim como os acidentes que levaram sete pessoas a óbito em 2009, e 10 no ano seguinte.

Limeira também constatou este aumento em acidente por motivo típico, de 1.213 em 2009 para 1.506 em 2010. Ademais registrou em 2009, 227 casos passando para 262 o número de registros de acidente durante o per-curso da residência até o trabalho, co-nhecido por motivo trajeto, em 2010.

Não distante desta realidade, Rio Claro teve um pequeno aumento em 2010 nos casos de acidente por motivo trajeto, de 560 casos em 2009 para 577 em 2010. Na categoria por motivo típico, o município também registrou aumento de 1.417 em 2009 para 1.460 em 2010. O mais alarmante é a alta no número de casos de acidente com ma-

EM 10 ANOS PREVIDÊNCIA SOCIAL REGISTROU AUMENTO DE 109% NÚMERO DE ACIDENTES GRAVES, DE ACIDENTE BIOLÓGICO A ÓBITO

terial biológico, de 60 casos em 2012 para 165 em 2013, mais de 100% de aumento em um ano.

Seguindo esses índices de aumento, Piracicaba registrou 2.742 casos em 2009, tendo um aumento de mais 91 casos em 2010 referentes a acidentes que ocorrem no local de trabalho.

Porém, o aumento esteve presente de maneira mais marcante no mu-nicípio de Santa Barbara d’Oeste. A cidade registrou aumento em todas as classificações graves, de acidente biológico a óbito.

O município teve 16 casos de aci-dentes de trabalho em 2012, porém até agosto de 2013 esse número já passou para 26 e corre o risco de alterar até o fim do ano. Segundo o diretor da escola Senai Alvares Romi, de Santa Barbara D’Oeste, João Ulisses Laudissi, para que os índices não aumentem “é necessário mais prevenção, acessibili-dade às informações e atendimento às

normas e legislação vigente”. Segundo ele, “os acidentes podem ser previstos e assim, evitados.

As empresas e os próprios funcio-nários devem se atentar as normas. O ambiente de trabalho deve ser previa-mente analisado e liberado para a ativi-dade, assim como as tarefas que devem ser anteriormente planejadas. Já, os funcionários devem usar seus equipa-mentos de proteção individual (EPI) e recebem a orientação em relação aos possíveis riscos. “A preocupação com o

Região tem aumento de acidente de trabalho

GRAVE BIOLÓGICO ÓBITO LER

GRAVE: Acidente que demandou hospitalização ou fratura.

BIOLÓGICO: Acidente de trabalho com materiais biológicos que ocorrrem com profissionais da área da sáude. Como exemplo, a contaminação com agulhas infectadas com vírus.

ÓBITO: Acidente que leva o trabalhador a morte.

LER: Lesão por Esforço Repetitivo. Acidente em decorrência de grande e contínua repetição de movimentos.

PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DE ACIDENTEDE TRABALHO / Sta. BÁRBARA d’OESTE

2012

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assunto tem sido relevante por parte das empresas”, afirma João Ulisses. No entanto, os acidentes ocor-rem de maneira inesperada e podem deixar sequelas graves, como no caso do piracicabano Ramon Gon-çalves Ambrósio.

12 de agosto de 2011 foi seu segundo dia de trabalho numa empresa da cidade, como ajudante de carga e descarga de materiais. O motorista

da empresa, seu ajudante e Ramon começaram a descarregar o veículo que estava estacionado em uma via inclinada. Enquanto Ramon estava na calçada retirando os materiais da caçamba, o outro funcionário desamar-rou as cordas que prendiam a carga ao caminhão. Duas portas de alumínio, cerca de 80 quilos cada uma, caíram sobre ele. Uma o atingiu no pescoço e a outra na cabeça, arremessando-o imediatamente de costas ao chão.

A queda esmagou a medula e quebrou a quarta e quinta vértebras da coluna cervical. Cerca de 20 mi-nutos depois ele estava recebendo os primeiros socorros e foi encaminhado ao Pronto Socorro da Vila Cristina. Ra-mon foi transferido com urgência para a Santa Casa de Misericórdia, onde foi atendido e operado no mesmo dia.

O diagnóstico foi dado aos familia-res logo que acabou a cirurgia; ‘Ramon talvez nunca mais volte a andar’. Ele permaneceu internado na UTI (Unida-de de Terapia Intensiva) por um mês por contrair pneumonia e passou a depender totalmente do aparelho para respirar. Ao ter melhora em seu quadro foi transferido para um quarto onde ficou mais um mês. Com alta, Ramon foi para casa e desde então recebe os cuidados de sua namorada Bruna da Costa Garcia e de sua mãe Risiomar Pereira Gonçalves Ambrósio, que dei-xou o trabalho para cuidar do filho e o auxiliar durante o tratamento.

A pedido da família, e como forma de auxílio, a empresa doou a cama hospitalar, a cadeira de rodas, a cadeira de banho, a poltrona reclinável e os curativos para as úlceras de decúbi-to (escaras) que apareceram devido

Região tem aumento de acidente de trabalhoao longo tempo que Ramon fica na mesma posição, além de ajudar men-salmente com a alimentação. Período que segundo Ramon, durou apenas cinco meses. “Eles começaram a querer negar as coisas, mandavam no dia que eles queriam”, conta.

O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), após tomar ciência do acidente, abriu o cadastro de comunicação de acidente de trabalho (CAT) para Ramon, pois era necessário informar ao INSS e ter o direito de receber o benefício.

Como ele não foi registrado, a em-presa se ausentou da responsabilidade pelo acontecido, auxiliando apenas com os itens básicos. Já a prefeitura, para aju-dar na recuperação, ministrou consultas e tratamentos com fisioterapeutas que iam até a residência da família.

Foi então que a família entrou com um processo pedindo reconhecimento do cargo de Ramon na empresa e pedi-do de indenização. A causa foi ganha, a empresa foi obrigada a registrá-lo e a pagar a indenização. Para tanto, a empresa fez um acordo parcelando a indenização em 35 vezes. A família por não ter condições de arcar com todas as despesas que teriam, aceitou a proposta e a recebem desde 25 de março de 2012.

Porém, a empresa não depositou os benefícios, o que impede Ramon de conseguir receber seu INSS. Na justiça, a família quer conseguir apo-sentadoria por invalidez. Hoje, Ramon vive completamente dependente de todos, para tudo. “Hoje eu penso nas coisas mínimas que fazia, poder ir ao banheiro, poder comer e sair”, conta.

Para diminuir a incidência de aci-dentes e evitar que mais casos como o de Ramon aconteçam, foi sancionada pela Presidência da República, uma data dedicada à temática Segurança do Trabalho. Essa iniciativa tem como ob-jetivo passar as informações aos jovens, referentes à prevenção antes mesmo de ingressarem no mercado de trabalho.

Após acidente, Ramon recebe cuidados de sua mãe e irmã e passa a maior parte do tempo deitado na cama hospitalar

Laís M. Schiavolin

2012

2013

ACIDENTE DE TRABALHO COM MENORES DE 18 ANOS(Número de casos na região)

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AMERICANA LIMEIRA PIRACICABA RIO CLARO STA. BÁRBARA

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luana Ruiz

[email protected]

A Ilha Hispaniola, hoje conhecida como Haiti, foi descoberta por Cristóvão Colombo em 1942.

Dividida em duas partes, o lado oci-dental, onde hoje fica o Haiti, foi ce-dido à França pela Espanha em 1697. O líder haitiano Jacques Dessalines, em 1803, organizou o exército e derrotou a França, declarando a independência no ano seguinte. Já a parte oriental, atual Re-publica Dominicana, ainda sob o domínio da França, foi reocupada pela Espanha em 1822, porém uma revolta derrubou o presidente Jean--Pierre Boyer, e em 1844 a República Dominicana conquistou a independência.

Desde seu descobrimen-to até a Independência, o Haiti sobreviveu a revoltas que marcaram a história do país e principalmente da popu-lação. Dois séculos se passaram e quase nada mudou. A pobreza que assola a população faz com que as condições de vida sejam desumanas. Fome, desemprego e morte por do-enças que poderiam ser prevenidas por vacinas, remetem à Idade Média.

É nesse cenário que muitos optam por deixar a terra natal em busca de condições dignas de vida. Sozinhos ou acompanhados pela família, os haitia-nos imigram para a parte oriental da ilha, Republica Dominicana, ou para os países similares a sua etnia e cultura. A América do Sul é o destino escolhido por muitos para um novo recomeço. O Brasil é um dos países que acolhem esses haitianos.

Protegidos pela resolução norma-tiva números 102 e 97 do Conselho Nacional de Imigração, o visto pode ser permanente. O artigo 16 da Lei nº 6.815, de 1980 dá essa garantia

BRASIL É O PRINCIPAL PAÍS

ESCOLHIDO PELOS IMIGRANTES

HAITIANOS PARA RECONSTRUÍREM

SUAS VIDAS

Terra

Wilson Murilus está no país há nove meses e reside em Nova Odessa

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Brasilislevando em conta razões humanitárias, condiciona-do ao prazo de cinco anos.

Nesse período, o imigrante recebe a Cédula de Identidade

do Estrangeiro, mas percorre um longo caminho até pisar em

terras brasileiras. Antes de chegar ao destino, os

haitianos enfrentam vários países do continente. Quando chegam à divisa

com o estado do Acre, entre Peru, Bolívia e Colômbia, são alojados em acampamentos. Passam por avaliação médica, recebem vacinas, alimentação e acomodação até que a Polícia Federal emita a documentação necessária para legalizar a situação no país.

A partir dai, cada haitiano vai para onde quiser, sendo o eixo Rio-São Pau-lo o destino mais procurado. A cidade

de Nova Odessa, que fica a 125 Km de São Paulo, foi o município

escolhido por seis haitianos, onde moram e trabalham. Wilson Murilus está há nove meses no país e oito em Nova Odessa. Trabalha no supermercado Pague Menos como conferente e ganha um salário de R$ 1.600,00.

Sua história não é di-ferente das demais. A mãe morreu por complicações no parto de seu sétimo

irmão, todos foram criados pelo pai. Wilson nunca fre-

quentou a escola, trabalhou no sítio da família plantando

arroz, batata e mandioca até

completar 16 anos, quando se mudou para a República Dominicana, onde morou por cinco anos. De lá passou pela Espanha, onde morou durante um ano. Em seguida, Bolívia, Peru, Chile, Equador e, para chegar ao Bra-sil, fez o percurso todo de ônibus, um trajeto que durou oito dias, até chegar no Acre. Lá tirou a documentação necessária para se estabilizar. Quem o incentivou a vir foi seu irmão Dejala Murilus, que o ajudou a pagar pela via-gem, que custou R$ 8 mil, o primeiro a entrar no Brasil há dois anos. Casado, sua esposa ainda está no Haiti. Os dois irmãos enviam dinheiro mensalmente para a família (pai e cinco irmãos) e sonham em trazê-los para o Brasil. Wilson pretende estudar e melhorar o português.

O primo Jordane Murilus trabalha com Wilson no supermercado. Ele também fez o mesmo trajeto, há 10 meses. No Haiti, completou o ensino fundamental. Foi Jordane, que traba-lhava no supermercado, quem conse-guiu o emprego para o primo Wilson.

Edison Marcos, líder logístico, en-carregado de Wilson e Jordani, diz que eles são “gente boa”. Segundo ele, é normal a rede de supermercados Pague Menos empregar imigrantes haitianos. “Faz três anos que contratamos os pri-meiros haitianos”. Apesar do sotaque francês, a comunicação com os haitia-nos não é um problema para os demais funcionários. “Eles são quase fluentes”, brincou um deles que acompanhava os haitianos na entrevista.

Os três homens da família Murilus, dividem uma casa de dois quartos, sala, cozinha e banheiro com mais três haitianos. Dejala dorme em um quarto que fica nos fundos da casa. Todos lavam, passam e cozinham e estão familiarizados com os trabalhos domésticos. Tudo é coletivo: se um fica responsável por lavar a roupa, lava a de todos, e assim por diante.

Nimo Bertilie já planeja trazer sua família para o Brasil

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ções Unidas para restaurar a ordem no Haiti, após as revoltas e a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide. O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, brasileiro, liderou o comando da missão, com um contingente militar de 6.700 homens, da Argentina, Benin, Bolívia, Brasil, Canadá, Chade, Chile, Croácia, França, Jordânia, Nepal, Para-guai, Peru, Portugal, Turquia e Uruguai.

A missão, além de pacificar o país, teve como proposta desarmar grupos guerrilheiros e rebeldes, promover elei-ções livres, formar o desenvolvimento institucional e econômico do Haiti. A missão, no país desde 2004, já foi chefiada pelo diplomata tunisiano Hédi Annabi, que faleceu durante o terremo-to de janeiro de 2010. Hoje, o brasilei-ro Edson Leal Pujol comanda até hoje o Minustah. Porém, integrantes da missão de paz são acusados de colaborar com a repressão, corrupção e disseminação do vírus da cólera. Essa situação está em discussão no Conselho da ONU.

Terremoto - O terremoto de 7,3 graus na escala Richter e duas replicas de 5,9 e 5,5, de menores magnitudes que atingiram o país em 12 de janei-ro de 2010, deixou mais de 200 mil mortos, 250 mil feridos e 1,5 milhão de desabrigados. Poucos dias depois, um ciclone extratropical provocou enchentes. A reconstrução do Haiti foi prejudicada por outros desastres naturais, como secas, enchentes e fu-racões, e pela dificuldade do governo para administrar recursos públicos.

O Haiti tem hoje cerca de 360 mil pessoas abrigadas em alojamentos improvisados, em busca de visto para migrarem para o Brasil e República Dominicana. Em 2012, o número de refugiados no Brasil mais que triplicou, ficando em 2.008 pessoas, em compa-ração com 2010, quando foram feitas 566 solicitações à Polícia Federal (um aumento de 254%), segundo o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), ligado ao Ministério da Justiça. Nesse ano, entraram no pai seis mil haitianos e 2.318 já conseguiram documentos como refugiados.

controle do norte do Haiti, ameaçando marchar até Porto Príncipe. O então presidente, Jean-Bertrand Aristide, deixou o Haiti em 29 de fevereiro, rumo à África do Sul, onde se asilou.

De acordo com as regras de su-cessão constitucional, o presidente da Suprema Corte, Bonifácio Alexandre, assumiu a Presidência interinamente. Logo de imediato, requisitou assistên-cia das Nações Unidas para apoiar uma transição política pacífica e manter a segurança interna. O Conselho de Se-gurança (CS) aprovou o envio da Força Multinacional Interina (MIF, sigla em inglês), liderada pelos Estados Unidos.

Questionados sobre a Guerra Civil no país, Wilson Murilus fica em silên-cio por um tempo, pensativo. “Não gosto de falar disso não, já estou quase esquecendo”. Conta que de todos os amigos que participaram da guerra, nenhum sobreviveu. Nessa época, ele estava na República Dominicana. A intervenção de soldados estrangeiros como, França, EUA e Brasil no país, não agrada a população. Apesar de levarem ajuda, também levam o medo. “Não gostamos não”, frisa.

Minustah - A Missão das Nações Unidas Para a Estabilização no Hai-ti (Minustah - sigla derivada do fran-cês Mission des Nations Unies pour lastabilisation en Haïti) foi criada pelo Conselho de Segurança das Na-

Nimo Bertilie, que mora na casa, veio sozinho para o Brasil há quatro meses, não tem planos para voltar e pretende trazer a família. Parte do salário que ganha trabalhando na Tinturaria Tintex é enviado para seus sete irmãos no Haiti.

Os seis haitianos falam francês, devido à colonização francesa no Haiti, espanhol (aprenderam a língua durante as passagens pelos países da América do Sul), crioulo e, agora, o português, que acham parecido com o espanhol. “Tem umas palavras que não mudam”, diz Wilson. Os três praticam a pronún-cia da língua com os colegas de traba-lho. “O Rafa me ajuda”, referindo-se ao colega de trabalho.

O dia de Wilson se limita ao trabalho e igreja. Durante a entrevista (domingo 15/09), checava as horas a todo instante, pois entraria no trabalho às 16h. Todos da casa frequentam a igreja. Wilson vai à Igreja Pentecostal; seu primo na católica e seu irmão, na evangélica. Segundo ele, o haitiano é um povo religioso, que acre-dita na existência de Deus, apesar dos cultos serem diferentes dos de seu país. Lá, a religião predominante é o Vodu, crença sincrética que combina elementos do catolicismo e de religiões tribais afri-canas, semelhante ao candomblé.

Quando tem um tempo livre, ele gosta de jogar futebol e faz parte do time do supermercado em que trabalha. Pouco sai e só conhece a cidade de Cam-pinas. Eles gostam de Nova Odessa. “É tranquilo aqui, diferente do Haiti”.

Guerra Civil – Em 2003, a eleição parlamentar e presidencial no Haiti foi marcada pela suspeita de manipulação do candidato eleito Jean-Bertrand Aris-tide e seu partido e a oposição pedia sua renúncia. Prevendo uma guerra, a comunidade do Caribe, União Europeia, França. Organização dos Estados Americanos, EUA e Canadá se apresentaram como mediadores, mas a oposição descartou a proposta, aprofundando a crise.

Em fevereiro de 2004, conflitos armados eclodiram em Gonaives, espalhando por outras cidades. Gra-dualmente os insurgentes assumiram o

Jordane Murilus trabalha junto com o primo Wilson num supermercado da cidade

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ADVOGADO QUE FOI IMPEDIDO DEACESSAR REDES SOCIAIS COMEMORAMAIS DE 20 MIL SEGUIDORESNO FACEBOOK

na redeRomeu neto

[email protected]

As redes sociais tiveram papel importante durante as manifes-tações populares que acontece-

ram no Brasil desde junho deste ano. Por meio delas, vários protestos foram difundidos e até organizados como no facebook, por meio do dispositivo de criação de eventos. O poder de mobiliazação também foi percebido no microblog twitter que apontava no trending topics – assuntos mais comentados na rede - destaques como #ForaDilma”, “Praça da Sé”, “#ogi-ganteacordou”, “#vemprarua” nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Como resultado, no dia D dos movimentos, 20 de junho, cerca de um milhão de pessoas foram às ruas em 338 cidades, incluindo 22 capitais, como apontou um levantamento dos batalhões da Polícia Militar. Os mani-festantes pediam melhores serviços pú-blicos e protestavam contra o aumento

Os

das passagens do transporte público e os gastos com a Copa do Mundo.

A repercussão na rede chamou a atenção dos gestores públicos. A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) montou uma operação para monito-rar o facebook, twitter, instagram e o watshapp, com o objetivo de identifi-car onde em quando outros protestos iriam acontecer.

A Prefeitura de Tatuí, por exemplo, cidade de 108 mil habitantes e situada a 140 km de São Paulo, contratou

uma empresa especializada em moni-torar os meios de comunicação sobre assuntos de interesse do município, incluindo nessa conta o facebook, já que a maioria dos veículos da impren-sa possuem perfis em redes sociais. O custo da contração foi de RS 7.920,00 e os demonstrativos estão disponíveis no Portal da Transparência do site da prefeitura. A empresa foi contratada sem licitação já que a Lei de Licitações determina que valores até R$ 8 mil não necessitam do processo.

perseguidos

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1º. LIBERDADE DE EXPRESSÃO - Tem como base assegurar o cumprimento da Constituição Brasileira. É a que mais interessa quando se considera os exemplos citados anteriormente de cerceamento da opinião. Ela prevê que todos tenham plena liberdade para expressa-rem sua opinião. Isso, não impede porém, que as opiniões ofensivas e confrontantes com a honra do próximo não sejam respeitadas. O que vai mudar é que as empresas provedoras não poderão excluir posts ou perfis sem a autorização judicial, ou seja, a exclusão de perfis do facebook – prática geralmente utilizada para evitar disputas com a justiça- não será permitida.

2º. PROTEÇÃO À PRIVACIDADE - Prevê que os provedores de internet não comercializem informações confidenciais ou até comporta-mentais dos usuários com empresas de marketing. Quando algum usuá-rio excluir sua conta, seus dados deverão ser completamente apagados.

3º. NEUTRALIDADE NA REDE - Prevê que o conteúdo não seja discriminado de acordo com os interesses dos provedores de internet, ou seja, os pacotes de internet comprados pelo usuários deverão ser de mesma potencialidade de conectividade e velocidade com qualquer tipo página acessada.

O advogado Omar Kaminski especializado em Tecnologia da Informação com mais de 15 anos de experiência, participou da consulta pública que deu origem ao projeto de Lei. Segundo ele, a maioria dos artigos não passam de reinterpretação da Constituição Federal. “Calúnia, injúria e difamação são crimes independentes se foram cometidos na rede ou não, a diferença é a proporção que um ato impensado pode ter na internet”. Entretanto, para Kaminski, o “princípio de neutralidade” traz uma nova visão e precisará ser fiscalizada. “Que haja multas pela inobservância, senão vai ficar apenas no papel”, completa.

Pilares de sustentação do Marco Civil da Internet

Parece que saber o que o povo pensa ou planeja fazer, tornou-se prioridade estratégica. Essa vigilância na rede, feita por empresas especiali-zadas ou mesmo pelas assessorias das prefeituras ou de instituições públicas resultou em alguns processos curiosos. Em Angatuba, cidade de 22 mil habi-tantes e situada a 230 km de São Paulo, o prefeito Carlos Augusto de Moraes Turelli (PSDB) processou 33 cidadãos por calúnia, injúria e difamação.

No processo, consta que os cida-dãos comentaram ofensivamente no facebook, em janeiro de 2013, uma publicação do Diário Oficial do Estado de São Paulo (DOE) que tinha como assunto “improbidade administrativa”. Um dos intimados à Air Antunes, jor-nalista e proprietário de um blog que na época fez uma nota para acompa-nhar a repercussão do tema nas redes sociais. “Eu apenas fiz um texto para relatar que nas redes sociais o maior comentário na cidade era sobre a pu-blicação do DOE,” completa. Antunes responde a mais de dez processos, todos vindos da atual aministração mu-nicipal e relacionados às matérias do seu blog. “Ele (atual prefeito) pode até não concordar com o que eu escrevo, mas o que ele não quer de jeito nenhum é que seja noticiado” conclui.

Com mais de 20 mil seguidores, Haddad continua a usar fan page para expressar sua opinião

Divulgação

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tempo indignado. Fui cerceado de um direito universal, um direito natural do homem, minha liberdade foi ameaçada por algo bom que eu fiz. Exerci minha cidadania, investiguei a corrupção na minha cidade, descobri que tinha um promotor envolvido, ingressei com di-versas medidas judiciais para proteger os cofres publicos”, conclui.

O fato tranformou Haddad em um popstar do Facebook. Hoje sua fan page conta com 20 mil curtidas, ou seja, 20 mil perfis (pessoas) se-guem suas publicações, que são três por semana, em média. Entre os as-suntos abordados por Haddad estão críticas aos políticos brasileiros e, é claro, a atuação do MP de Limeira. “Não podemos dar trégua aos nossos governantes. O recado é estamos de olho, façam a coisa certa, andem na linha, ou nós vamos te pegar!”.

Regulado - O Marco Civil da In-ternet ainda não foi votado. O fato é que o Brasil, assim como tantos outros países no mundo, não possui uma legislação específica sobre o comportamento na internet. É por isso que o Código Civil da Internet pode ser aprovado nos próximos meses. O projeto de lei é do Mi-nistério da Justiça e começou a ser

elaborado em 2009. Foram dois anos de elaboração até chegar a Câmara dos Deputados em 2011, no qual o deputado Alessandro Molon (PT do Rio de Janeiro) foi escolhido como relador. Molon comemorou o tom agressivo da presidente Dilma Rous-seff na abertura Assembleia Geral da ONU em setembro. “O discurso da presidenta Dilma na ONU foi importante interna e externamente, porque fortaleceu os pilares do pro-jeto brasileiro”.

O projeto está pronto para ser votado desde julho de 2012, desde então entrou na pauta de votação e foi retirado quatro vezes. Dia 11 de setembro a presidente Dilma Roussef fez um pedido de urgência constitu-cional para que o projeto seja enfim votado. Com isso, contando a partir do dia 13 de setembro, a Câmara dos Deputados teria 45 dias para fazer a votação, para que outros projetos não tivessem suas votações prejudicadas. O ultimato para a Câmara dos Depu-tados votar era até dia 27 de outubro, sob pena de trancar a pauta na Casa. Porém, até fechamento desta edição, o projeto não havia sido apreciados pelos parlamentares. O projeto deve acima de tudo colocar o Brasil na vanguarda da internet mundial.

Outro caso, dessa vez na cidade de Limeira, chama a atenção pelo poder de vários comentários no facebook. O advogado Cássius Haddad ficou duas semanas proibido de acessar as redes sociais sob pena de prisão preventiva. A decisão da Justiça de Limeira incluía twitter, orkut, mySpace, Flixster, linke-din e tagged. As empresas facebook e twitter, aliás, deveriam avisar a Justiça se Haddad acessasse suas páginas. A punição foi decorrente de um processo movido pelo Ministério Público de Limeira que acusou o advogado de ofender o promotor Luiz Bevilacqua na internet. Nos autos do processo consta que Haddad questionava nas redes sociais a atuação do promotor diante de uma suposta validação de obra sem o processo licitatório.

Haddad relata o fato com revolta e espanto “Fiquei perplexo e ao mesmo

Molon discursa no Congresso Nacional e pede rapidez na discussão sobre o Marco Civil da Internet.

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Divulgação

Air Antunes já foi absolvido de sete dos 10 processos que responde por calúnia, injúria e difamação

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andRé Rossi

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Em novembro de 2012, a Inter-national Diabetes Federation publicou a 5ª edição atualizada

do Atlas IDF Diabetes Atlas 5th- Edition 2012 Update, que mostra números rela-tivos à diabetes ao redor do planeta. De acordo com o documento, há no mundo 371 milhões de pessoas portadoras de diabetes com idade entre 20 e 79 anos.

O Brasil ocupa a 4ª colocação entre os países com mais caso. Ao todo, 13.4 milhões de brasileiros são portadores da doença, o que corresponde a apro-ximadamente 6.5% da população entre 20 e 79 anos de idade.

Segundo projeção da Organização Mundial de Saúde (World Health Organization), a diabetes será a 7ª principal causa de morte no mundo em 2030. No ano passado, a doença foi responsável pela morte de 4.8 milhões de pessoas ao redor do planeta; desses, 129 mil eram brasileiros.

Além de serem obrigados a mudar di-versos hábitos alimentares, os diabéticos ainda precisam driblar outra situação: o preço dos produtos diet e light. Segun-do pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o preço desses produtos chega a ser 26% maior do que produtos convencionais. Por exemplo: um refrigerante diet chega a ser 26% mais caro do que um convencional; pães podem ser até 16% mais caros.

ALIMENTOS DIET OU LIGHT CHEGAM A CUSTAR ATÉ 26% MAIS CARO DO QUE OS CONVENCIONAIS

Gabriela da Silva Neves, moradora de Rio das Pedras (SP), foi diagnosti-cada com diabetes tipo I aos 6 anos de idade. “Eu adorava chocolates, doces, e do nada tive que parar de comer tudo. Hoje em dia, raramente como chocolate diet porque é muito amargo e eu não gosto”, diz ela.

A alimentação de Gabriela não mu-dou apenas na questão dos doces. Produ-tos como pães, azeites, arroz, margarina, entre outros precisaram ser substituídos por alimentos diets ou com baixo teor de açúcar. Essa mudança pesou no bolso de seu pai, Anésio Neves. “Geralmente precisamos ir a cada dois dias no super-mercado para repor os alimentos que ela consome, desde coisas básicas como leite até doces”, diz Neves. “Em cada compra, gastamos entre R$ 50 e R$ 100 só de produtos específicos para ela”, conta. Em setembro de 2013, Neves gastou R$ 600 em alimentos para filha. Esse gasto representa 88% do salário mínimo

brasileiro, que atualmente é de R$ 678. O aposentado Carlos Roberto Mus-

sin, também de Rio das Pedras, teve diabetes tipo I aos 35 anos e, além de mudar seus hábitos alimentares, tam-bém aumentou a conta do supermerca-do. “Gasto uns R$ 70 a cada compra só com produtos diferenciados”, explica ele. “Sempre gostei muito de doces e agora consumo os diets, que são bem mais caros do que os normais. Não existem muitas opções de marcas tam-bém; se eu quero uma paçoca diet, só tem uma opção. Ou eu pago o preço, ou fico sem”. Em setembro de 2013, Mussin gastou cerca de R$ 560 em alimentos diets, o que representa 82% do salário mínimo brasileiro.

O valor desses alimentos também incomoda a Associação Nacional de Assistência ao Diabético (Anad), que estampa seu selo de qualidade em diversos alimentos para o consumo dos diabéticos. Entre esses alimentos,

MENOS AÇÚCAR

Carlos analisa produto no supermercado; cuidado na hora de selecionar alimentos diet e light

Fotos: André Rossi

e menos dinheiro no bolso

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COMPARATIVO DE PREÇO

Produto Convencional Diet/light

Paçoca com 8 unidades “Paçoquita” R$ 5,49 R$ 7,49

Cappuccino 200g “Melitta” R$ 5,89 R$ 6,99

Requeijão 250g “Crioulo - Latco” R$ 5,99 R$ 6,79

Achocolatado em pó 400g “Nescau” R$ 4,85 R$ 7,99

Mistura para bolo “Sol” R$ 3,79 R$ 6,79

Gelatina em pó “Dr. Oetker” R$ 0,75 R$ 1,79

Barra de cereais c/ 3 “Nutry” R$ 3,99 R$ 6,35

Bolo de caixa 280g “Wickbold – Casa Suíça”

R$ 5,69 R$ 11,90

TIPOS DE DIABETES

a) Diabetes tipo I: O pâncreas produz pouca ou nenhu-ma insulina. A instalação da doença ocorre mais na infância e adolescência e é insulinodependente, isto é, exige a aplicação de injeções diárias de insulina;

b) Diabetes tipo II: As células são resistentes à ação da insulina. A incidência da doença que pode não ser insulinodependente, em geral, acomete as pessoas depois dos 40 anos de idade;

c) Diabetes gestacional: Ocorre durante a gravidez e, na maior parte dos casos, é provocado pelo aumento excessivo de peso da mãe;

d) Diabetes associados a outras patologias: Como as pan-creatites alcoólicas, uso de certos medicamentos, etc.Fonte: www.drauziovarella.com.br/diabetes

A diferença de valores entre um ali-mento normal e um diet/light ainda é grande no Brasil porque não existe um mercado forte do segmento que gere competitividade. Pelo menos, é o que aponta a doutora em Bioquímica da Nutrição e professora de Nutrição da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), Miriam Coelho de Souza.

“A diferença de preços é grande porque o mercado brasileiro de pro-dutos diet e light é fraco, praticamente não existe”.

Em sua avaliação, há tendência de que a concorrência fique mais acirrada porque as pessoas têm buscado alimen-tação saudável, principalmente devido a casos de doenças como hipertensão e diabetes em crianças “Isso fatalmente acarretará na diminuição do valor

Baixa procura reflete no preço dos dietdos produtos. É o que aconteceu com os pães integrais; eles ainda são mais caros, porém tiveram uma queda de preço significativa”, compara.

Miriam também é a coordenadora do projeto interdisciplinar de Nutrição e Ciências e Tecnologia de Alimentos, da Unimep. Nessa atividade, os alunos são orientados para criar um produto alimentício diferenciado. Hoje, três grupos trabalham na criação de doces sem açúcar. O objetivo é oferecer mais opções ao público diabético. Segundo a professora, no Brasil, o estilo de mercado que se estabeleceu foi aquele onde o doce é muito doce e o salgado é muito salgado. “Um dos desafios da nutrição é quebrar esse paradigma, oferecer produtos mais nutritivos, com menos açúcar e menos sal”.

aparecem produtos de marcas nacio-nais, como Nestlé, Garoto, Ducoco. O presidente da entidade, Fadlo Fraige Filho, informou que se estuda um pro-jeto de lei para a diminuição ou retira-da de impostos desse tipo de produto. A intenção é que haja uma diminuição do custo para o consumidor.

Alternativas - Entretanto, existem outros caminhos para o diabético que precisa controlar a alimentação, como aponta a nutricionista responsável pelo Nutricentro da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), Adriane Foganholo. “Hoje a alimentação do portador de diabetes não é mais tão rigorosa como há tempos atrás. Pode comer de tudo, inclusive produtos açu-carados, desde que se tenha um bom controle da glicemia através de exames regulares e disciplina no consumo de tais alimentos”, explica Adriane.

Ela explica que a diferença de pre-ço dos alimentos diet em comparação aos convencionais está associada ao mercado econômico. “A procura por tais alimentos vem crescendo a cada ano e atualmente alguns produtos light e diet têm preço semelhante aos convencionais. A justificativa, segun-do alguns especialistas, é de que no lançamento o preço do produto sem-pre vai ser maior, já que o mercado precisa entender o comportamento e a procura pelo produto para depois, gradativamente, chegar ao preço compatível com o dos alimentos convencionais”, diz Adriane.

* Pesquisa realizada em um supermercado da cidade de Piracicaba/SP, em outubro de 2013, entre produtos da mesma marca.

Anésio faz a lista de compras com a filha Gabriela, que é diabética e precisa de alimentos diferenciados

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AS DIVERSAS CAUSAS DE UMA DOENÇA QUE AFETA A AUTOESTIMA DE SEUS PORTADORES

ALOPECIA X APARÊNCIA

O custo de uma prótese capilar no Brasil sai em torno de R$ 3.000,00

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ALOPECIA X APARÊNCIAJéssica RodRigues

[email protected]

Numa sociedade em que a aparência é o cartão de visitas de uma pessoa, apresentar diferenças físicas pode gerar preconceitos. Essa é a sensibilidade de quem tem alope-

cia, que atinge homens e mulheres de todas as idades e tem como característica a perda de pelos. Considerada pela dermatologista Aparecida Machado de Moraes como “um sinal clínico”, há diversos fatores para sua manifestação, que leva a ausência parcial ou total de pelos do corpo e/ou cabelo. “Pode ter várias causas e determinar uma doença”, explica.

A alopecia areata (AA) ataca os folículos pilosos e se ma-nifesta entre 1% a 2% da população e, em 60% dos casos, seus portadores têm menos de 20 anos. Andrea Lopes teve os primeiros indícios dessa doença na infância. Aos 6 anos, quando

se arrumava para ir à escola, notou pequenas falhas em seu couro cabeludo. Desde então, teve de conviver com um ciclo de queda e crescimento dos fios.

Para esconder as falhas, Andrea se acostumou a passar todos os dias um batom da cor preta em sua cabeça. Até que seu

uso se tornou insuficiente. Aos 26 anos, seus cabelos começaram a cair em uma maior quantidade.

Ela foi diagnosticada com a alopecia areata universal, desencadeada por fatores emo-cionais e que provocam a perca de todos os pelos do corpo.

Pela primeira vez, ela ficou sem ne-nhum fio de cabelo e sem sobrancelhas. A pior parte foi quando perdeu seus cílios. “Andar de cabeça baixa, evitar espelho, sair, ver tudo o que era relacionado a cabelo, era tortura. Você perde a feminili-dade, se acha a pior de todas as mulheres. A tristeza é muito grande. Dói até a alma”, revela Andrea.

Após o diagnóstico, os tratamentos são descritos de acordo com cada tipo de alopecia. Em sua maioria, são aplicadas pomadas, uso de minoxidil, injeções de corticóide no couro cabeludo, tratamentos alternativos, e em alguns casos, fazer uma biopsia. No caso de Andrea, o uso destes medicamentos a prejudicavam. “Parei com os tratamentos porque o corticóide sobre-carregava os outros órgãos”, conta.

Danilo Galvão é portador da alopecia

areata universal desde sua infância

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Andréa Lopes passou por diversos tratamentos até se aceitar com a doença

Já a carioca Bianca Jimenez também possui alopecia universal e passou por uma fase em que seus cabelos cresciam sem fazer tratamento. “Em 2011, meu cabelo começou a crescer. A cada semana eu ficava mais animada, sem medicamento. Eu estava feliz. Até que tive problemas com a saúde da minha mãe e voltei à estaca zero”.

Segundo a docente do curso de fi-sioterapia da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) Maria Silvia Pires de Campos, não há uma causa definida para a alopecia universal. “Há teorias relacionadas a estresse, fatores psicos-sociais, hormonais e outras hereditários. Quem tem essa predisposição, em con-dições de estresse agudo, pode perder tudo. Com o tratamento os pelos voltam, e no estresse, eles voltam a cair”, avalia.

Danilo Galvão descobriu a alopecia na adolescência. Passou por diversos tratamentos e hoje se aceita do jeito que é. “Falaram que a causa da minha doença é psicológica, tipo depressão, tristeza, um nervosismo que passei”, diz. Ele começou o primeiro tratamento em Campinas com aplicação de insulina, nas áreas sem cabelo ou pelo, depois usou gelo seco. “Quando vim para Piracicaba, comecei a tratar com remédios de corticóide ou cortisona. Tomei até uma quantia razoá-vel, e tratando com psicóloga. Meu cabelo cresceu uma boa parte, mas caiu tudo de novo. A médica falou em aumentar a dosagem. Mas escolhi ficar assim e nunca

mais fui ao médico. Estou assim até hoje”.A dermatologista se Piracicaba

Maria Cristina dos Santos explica que a queda de cabelo é um dos problemas que mais prejudicam a autoestima do paciente. “Na dermatologia estética, as duas patologias que causam impacto emocional são queda de cabelo e estria. As pessoas deixam de ir à piscina, elas ficam desesperadas”, revela a médica.

Preconceito- Sair de casa para pas-sear, nunca foi fácil para Andrea Lopes. Quando se viu com a cabeça lisa, sua autoestima foi abaixo. Para disfarçar, usava lenços e faixas, despertando olhares por onde passava. “Nas ruas as pessoas olham e não conseguem disfarçar. Uma vez, uma menina me perguntou porquê de eu raspar uma parte do cabelo, a costeleta. Eu res-pondi que não raspava. Quando falei o que era ela perguntou se não pegava, com ar de repulsa”, conta.

Casada e mãe de um filho, em sua casa, todos sabem de sua doença, mas nunca foi um assunto fácil de lidar. Seu filho sofria bullying dos colegas. “Meu filho não queria ir mais de van na escola, e nem ir à escola. As crianças diziam que a mãe era careca e feia. Ele chorava e perguntava se outras mães também eram como eu. Respondi que elas também ficaram careca um dia, mas que os cabelos voltaram e que o meu também voltaria”, revela Andrea.

Quem também teve problemas, foi Adriana Baron que tinha receio de freqüentar a escola e de conviver com os colegas. Ela precisou mudar sua rotina. “Sem cabelo, fisionomia transformada, desisti da escola. Che-gava e não tinha coragem de entrar, porém pensava que careca e burra seria pior”, analisa. Ela resolveu apagar de sua vida a escola, onde a conheciam com cabelos. “Quando apareci careca, achavam que eu tinha AIDS ou câncer. Mudei de rumo e prestei vestibulinho. No primeiro dia, levei todos os exames e como sou extrovertida e comunicativa, ganhei com isso. Levantei, tirei a boina que

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Para se sentirem mais seguros ao saírem às ruas e mais confiantes con-sigo mesmos, parte dos portadores de alopecia, recorrem a perucas e a próteses capilares, dois meios distintos, porém eficazes. Apesar de ser acessível a qualquer pessoa, não costumam ser baratas. Para adquirir estes produtos, muitos recorrem aos importados da China, que custam em média R$ 900. Além das full lace wig, como são chamadas estas próteses, também é necessária a compra de sobrancelhas e adesivos, responsáveis por ‘colá-las’ ao couro cabeludo.

Andrea Lopes, gasta anualmen-

Custos e benefícios de perucas e próte ses capilareste cerca de R$ 2 mil pois precisa comprar produtos específicos para sua prótese, além de retocar sua maquiagem definitiva. A paranaense Cladinice Alves dos Santos usa uma prótese capilar que a faz se sentir me-lhor, menos quando precisa comprar uma nova. “Às vezes, até esqueço que não tenho cabelos, só lembro quando preciso comprar novas próteses. Aí sim vem o tormento, porque são caras demais e isso é mais um problema para todas nós que temos alopecia areata”, conta Cladinice.

Em Campinas, a loja Elvio Perucas é uma das empresas que vendem estes

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usava e mostrei meus exames, rela-tando que era normal e estava lá para estudar como todos”.

Os portadores - A medicina sabe que a alopecia não tem idade para se mani-festar. Magda da Silva Lopes conta que descobriu a doença em seu filho João Victor Lopes Almeida, quando ele tinha 4 anos, época em que teve uma perda parcial do cabelo. Foi ao dermatologis-ta e iniciou o tratamento e os cabelos voltaram ao normal. Dois anos depois, aos seis, ele perdeu todos os pelos do corpo. “Para mim é muito difícil. As pessoas olham para ele como se tivesse uma doença contagiosa ou ficam com

aquelas caras de ‘olha só o coitadinho está com câncer”, afirma Magda.

Ela diz que na escola em que Victor estuda, ele não sofre preconceitos, mas que não se sente segura sobre o assun-to. “Tenho muito medo que ele sofra preconceito, ainda mais nessa idade. As crianças podem ser muito cruéis com os diferentes”, revela.

O diálogo com as crianças nesta fase é essencial para que se aceitem e não se sintam intimidadas no futuro. Victor consegue lidar com sua doença sem demonstrar qualquer tipo de pro-blema, como conta a mãe. “Tenho um filho muito forte. Ele lida muito melhor do que eu. Não quer passar remédio de forma alguma. Mostro que tem muitas pessoas diferentes no mundo, pessoas sem braços, outras sem as pernas, outras que não podem ver as coisas lindas do mundo porque não enxergam”, conta.

Sobre os gastos que a doença, re-vela que em seu caso, a maioria foi em consultas. “Cada frasco de minoxidil 100 ml custa R$36,00. Mas em cada médico, foram quase R$500,00 em cada um que fui”.

O filho de Natalia de Castro Sant’Anna, Allan Rivera de Castro, tem alopecia areata universal desde os três anos de idade. Ao mexer nos cabelos dele, notou que havia pequenas falhas

produtos. As próteses, que também são importadas da China, chegam ao clien-te em torno de R$ 3 mil. Já as perucas saem pelo preço inicial de R$ 1.200 para as masculinas e por R$ 1.700 a feminina. A venda de sobrancelha é de R$ 400 a R$ 500.

A preocupação com a aparência e a autoestima não é apenas das mulheres. Segundo a gerente da loja Rosana Maria de Oliveira, os clientes que mais procuram pelas próteses são os homens. ‘A maioria deles usa para calvície, porque a prótese é colada e a pessoa pode ficar com ela até 20 dias. As mulheres preferem mais a peruca’.

na parte da nuca e que, após algumas semanas, foram aparecendo outras. Em menos de três meses, estava totalmente careca. Logo após, as sobrancelhas e cílios começaram a cair. “No começo me assustei muito, fiquei muito preocupada, pois nenhum médico soube me explicar o motivo da doença. Alguns me diziam que era sintoma de algum trauma ou stress, outros que era baixa imunidade. Achava que era culpa minha, por ter me separado do pai dele”, relata Natalia.

Para ela também não foi fácil ver seu filho ser portador da alopecia e ter de li-dar com seus próprios sentimentos. “No dia que o levei para raspar o restinho do cabelo que sobrava, tive que sair do salão para que ele não me visse chorar. Depois voltei sorrindo e disse que estava muito lindo careca e que se parecia ao personagem ‘Caillou’”, revela.

Natália ensina seu filho a lidar com a doença desde que seu caso foi descoberto, mas, como qualquer mãe, também possui receios. “Meu medo é quando ele entrar na adolescência, porque acho que são mais cruéis. Tento fazer que ele se sinta bem e se aceite do jeito que é. Também ensino a rir de si mesmo. Ele mesmo se olha no espelho e fala ‘Que careca mais lindo!’. Todos os dias o lembro que ele é lindo com ou sem cabelo”.

Para a dermatologista Aparecida Machado de

Moraes, queda de cabelo afeta o emocional

Androgenético Ligada a fatores genéticos, é a mais comum entre os homens. Conhe-cida como calvície, começa a se desenvolver na adolescência, entre os 17 e 18 anos.

Areata Chamada de AA (Alopecia Areata) é relacionada a fatores autoi-munes. Como característica tem-se a perda rápida parcial ou total dos pelos, podendo progredir para a alopecia totalis (perda de todo o couro cabeludo) ou para a alopecia universal (perda de pelos em todo o corpo). A alopecia areata quando motivada pelo emocional do indivíduo, se agrava, fazendo que caiam mais os cabelos.

Congênita Alopecia de fatores hereditários possui a ausência total ou parcial dos pelos.

Traumática Quando sua origem é de contusões ou lesões no couro cabeludo.

Neurótica Também conhecida como tricotilomania, é quando uma pessoa arran-ca os próprios cabelos, estando ela consciente ou não.

Secundária ou Medicamentosa

Por distúrbio interno dos órgãos, por decorrência de infecções, doen-ças e por medicamentos como a quimioterapia.

Seborreica Raramente há uma redução significativa dos cabelos, pode ser obser-vada a escamação e coceira.

Eflúvio Mais comum entre as mulheres, é relacionado ao ciclo de vida capilar e possui diversas causas.

Alérgica Pessoas com alergia a glúten e a lactose também podem adquirir esta doença.

TIPOS DE ALOPECIA

Custos e benefícios de perucas e próte ses capilares

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A prótese capilar possui aspecto natural e é a que melhor imita o cou-ro cabeludo. Elas não precisam ser retiradas para o banho, para dormir ou para ir a piscina. No entanto, sua manutenção deve ser feita a cada 20 dias. A peruca é implantada na parte de cima da cabeça e é toda costurada na parte de trás, sendo mais pesada que as próteses. Quem opta por ela, precisa retirá-las todos os dias.

Colocar uma prótese capilar tem um custo maior se comprada no Brasil. Ariadna Pereira, de Ipatinga (MG), decidiu comprar no início de agosto sua prótese em um site conhecido da China. No entanto, nem tudo saiu como planejado. Quando a mercadoria

Diferenças entre perucas e próteses capilares

Segunda ela, eles optaram por não tratar a doença e deixar que o organismo dele reaja sozinho. “Vendo muitos casos de pessoas que se tratam há anos, e que tem épocas que a doença vai e volta, preferimos deixar que seu organismo decidisse se vai voltar a ter cabelo ou não e assim evitar ter que sofrer tudo outra vez o processo de aceitação”, afirma.

Superação - Ao perder sua mãe, Andrea Lopes se viu no dilema de que a vida era muito mais do que seus cabelos. Ela resolveu deixar a tristeza para trás e seguir em frente. “A dor de perder minha mãe foi grande, insu-portável. Foi ai que percebi que a falta de cabelo tornou-se pequena, desisti de tudo e fui procurar saber sobre as próteses capilares. Ela foi minha salvação. Fiz maquiagem definitiva na sobrancelha e nos olhos. Olhar no espelho foi como me sentir mulher novamente, igual. Minhas amigas até hoje falam que até o brilho nos meus olhos mudaram, não tem aquele ar de tristeza, vergonha”.

Ao ser diagnosticado com alopecia, Danilo Galvão conta que ficou com receio do que as pessoas poderiam pensar dele. “No começo da doença sofri muito com isso, era difícil eu me relacionar, principalmente com

chegou ao Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solici-tou que ela preenchesse um formulário junto a uma declaração médica, expli-cando o motivo de precisar da prótese. “Atendi todas as solicitações, inclusive o atestado médico. Porém, nada disso adiantou. A Anvisa não liberou minha

Prótese capilar é usada como forma de esconder a falta de cabelo

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prótese e mandou retornar ao país de origem”, conta Ariadna.

Correndo contra o tempo, ela preci-sou entrar em contato com a vendedora para explicar o que aconteceu e foi informada que, quando a prótese che-gasse na China, seria reembolsada. Mas não foi o que ocorreu. “A DHL, a trans-portadora responsável pela encomenda no trajeto de volta a China, sumiu com a minha prótese e não quer se respon-sabilizar por nada, se isentou da culpa”. Segundo ela, a vendedora também não retorna mais seus e-mails “O prejuízo financeiro para mim é enorme, porque é dinheiro tão suado para comprar meu cabelo. O dano moral e emocional não tem nem como calcular”.

mulheres. Eu ainda era muito novo, andava só de boné e de calça; fiquei um tempo assim. Até que em um belo dia pensei, se Deus me quer assim, é assim que vou ficar, e claro, sou assim e me aceitei. Confesso que foi um ali-vio, parece que tirei um enorme peso das minhas costas. Já posso dizer que é uma superação”, avalia.

Alessandra Pereira também teve problemas de autoestima relacionados ao sexo oposto. Hoje encara a vida mais confiante. “Quando vi que caiu

tudo, eu fiquei muito assustada, mas tive o apoio da família e dos amigos. Acho que quando caíram os cílios eu sofri mais. A minha única insegurança era em relação a homens. Mas, pelo contrário, acho que fui mais assedia-da. Como foi tudo tão rápido, tive que por um lenço e desde então, só uso lencinhos. Já me passou a idéia de usar próteses, mas me acostumei com os lenços, como diz minha avó, é o costume do cachimbo que entorta a boca”, conta Alessandra.

Peruca Prótese Capilar

Aspecto mais pesado

Aspecto natural

Precisa ser retiradaUsadas na piscina, no banho e para dormir

Sem manutençãoManutenção a cada 20 dias

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paula amaRal

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Elas não são fortes, são de-licadas e discretas. Estão sempre com as unhas ca-

prichosamente pintadas e jamais esquecem o batom e o filtro solar. Sem deixar a feminilidade, as mulheres estão presentes na maioria das profissões, como acontece na aviação civil no país. Nos últimos quatro anos, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) registrou um aumento de

410% no número de emissão de licenças para mulheres.

Em 2012, a agência expediu 18.131 licenças para mulheres, sendo 153 nas categorias de pi-loto privado, piloto comercial e piloto de linha aérea de helicóp-tero, 638 nas categorias de avião e 7.910 na de comissário. Nesse mesmo ano, foram emitidas 51.697 licenças para os homens, com habilitação e certificado de capacidade física renovados.

AVIAÇÃO CIVIL NÃO É MAIS UMA PROFISSÃO MASCULINA: 18 MIL MULHERES JÁ TÊM

HABILITAÇÃO PARA VOAR

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Valkíria Regina da Silva é aluna do curso de comissário de voo

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mulheres. “A aviação civil, principal-mente para quem tem nível superior, está bastante favorável. As grandes companhias aéreas estão à procura desses profissionais”, revela.

Com mais de 60 anos de expe-riência, o comandante acredita que essa procura feminina pelo mercado faz parte de um dom natural que elas possuem. De acordo com ele, existe uma competência chamada atenção difusa, um dom inerente às mulheres. “As mulheres são capazes de observar tudo à sua volta e ainda conversar so-bre vários assuntos ao mesmo tempo. Isso é importante para o comandante que precisa observar todos os instru-mentos durante o voo”, afirma Adair.

Um dos fatores que tem atraído à atenção das mulheres para essa pro-fissão é o salário inicial, em torno de R$ 15 mil. Para se profissionalizar na área da aviação civil é necessário um investimento que gira em torno de R$

Quando o assunto é comissário de voo, a procura pelas mulheres é consideravelmente maior do que por homens. A carga horária do curso é de 159 horas, uma duração de aproxi-madamente sete meses. As disciplinas envolvem meteorologia, segurança de voo e primeiros socorros. O profissio-nal pode atuar em companhias aéreas e táxis aéreos.

Valkíria Regina da Silva, formada em administração de empresas, cursa para ser comissária de voo. “Na avia-ção dos dias de hoje há espaço para ambos o sexos, só depende da dedica-ção e esforço de cada um para saber aonde chegar”.

Alberto Chiamulera, piloto há 16 anos e chefe de instrução em uma escola de formação de pilotos de helicóptero acrescenta que a dedicação é essencial a todos os pilotos, além de estudo e persistência. “Não existe diferença no aprendizado entre homens e mulheres. As aulas e instruções são as mesmas, depende de cada um e não do sexo”.

Para o comandante e coordenador do curso superior de Aviação Civil na faculdade Unicesp em Brasília Adair Geraldo Ribeiro, o mercado de tra-balho nessa área é animador para as

Simulador de voo usado nas aulas práticas de piloto de linhas aéreas

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100 mil em oito meses, além de cursos complementares, como o de instrutor de voo e IFR (voo por instrumento).

Para se formar no curso de piloto de helicóptero são quase oito meses de aulas teóricas e práticas. O primeiro é o de piloto privado, que habilita a pilotar aeronaves particulares e, depois, para quem pretende seguir carreira e trabalhar com a aviação faz o de piloto comercial.

Juliana Silva Robless habilitada no curso de PPH (piloto privado de he-

Alunas do curso de piloto de helicóptero faz treino na aeronave Schweizer

licóptero) e agora terminando a parte prática de PCH (piloto comercial de helicóptero), em uma escola homo-logada pela Anac, conta que quando criança obteve certo “empurrãozinho” de sua mãe para seguir a carreira da aviação. Sempre que possível, a mãe a levava em um lugar bem próximo ao aeroclube de sua cidade para obser-varem os voos. Foi assim que surgiu a paixão pela profissão. “Apesar de ter arriscado seguir áreas totalmente diferentes, como odontologia, direito e segurança do trabalho, eu não me

via exercendo nenhuma dessas atividades, trabalhando numa

sala fechada, na rotina de um consultório, ou de um

escritório”, diz Juliana.Para ela, ainda

existe na aviação um preconceito em relação às mulhe-res. “Ainda causa tumultos, muitos julgam pelo sexo e não pelo pouso, o quanto bom ele foi”, afirma. Acres-

centa que, com o tempo, a mulher

aviadora vai conquis-tando seu espaço, pro-

vando a todos que pode ser eficiente profissional-

mente, além de feminina e delicada. “Por isso, não se espan-

tem se ouvirem a voz de uma mulher passando informações sobre o voo. Nós estamos no comando”.

Marcela Borgo cursa ciências aero-náuticas na universidade Fumec (Fun-dação Mineira de Educação e Cultura), em Minas Gerais. Afirma que nunca sofreu preconceito. Quando entrou na faculdade, em 2009, eram 60 alunos, sendo 56 homens e apenas quatro mu-lheres. “Hoje em dia a quantidade de mulher nessa área é muito maior. No último vestibular, tinha pelo menos 10 vezes mais mulheres”, lembra.

Para ela, no meio profissional, esse preconceito é quase inexistente, e se encontra mais na população brasileira. “Muitas pessoas não têm coragem de entrar em um avião com uma mulher pilotando”, aponta.

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pedRo FRanco

[email protected]

O Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 incluiu Piracicaba no catálogo

oficial do evento esportivo. O anúncio, feito no dia 02 de fevereiro deste ano, garantiu ao Barão da Serra Negra o repasse de R$1,8 milhão para obras de infraestrutura, sendo 10% desse total de contrapartida do município. O incentivo deve-se ao fato da cidade estar na lista dos candidatos para rece-ber seleções que irão disputar a Copa.

As seleções que participarão do torneio, que será disputado entre 12 de junho e 13 de julho de 2014, já foram definidas. Todas precisarão de um centro de treinamento adequado para se instalar e fazer a preparação para os jogos da Copa. A reforma no Barão representa uma boa oportunida-de para a cidade receber uma seleção participante, e ainda, oferecer confor-to, segurança e a qualidade do local de

treinamento, sendo uma boa anfitriã. As cidades disputaram, ao longo

desses três últimos anos, para se ade-quar ao Caderno de Encargos da Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado), que contém os requisitos gerais para uma cidade entrar no Ca-tálogo Oficial de Centros de Treina-mento de Seleções. Quando a cidade é aprovada no catálogo oficial, ela tem direito a receber verbas do governo federal para investimentos nas áreas de preparação para a Copa.

O Barão da Serra Negra, onde joga o XV de Piracicaba, será alternativa de cen-tro de treinamento para as seleções que jogarão no Estado de São Paulo. Quase um mês depois da inclusão de Piracicaba na lista, em 16 de março, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, visitou o estádio.

Reforma - A Prefeitura de Piracica-ba já iniciou as obras de melhorias no estádio. Primeiramente, a parte elétrica foi reformada. O custo total do projeto chegou a R$ 115 mil. As obras tiveram início em agosto e se encerraram no

final de outubro. Foram reali-zadas adequações, como a dos painéis e redes de distribuição de energia elétrica de baixa tensão. O sistema de ilumina-ção do gramado também foi renovado, assim como o da sala de bilheteria e da sala de controle do placar.

Segundo a assessoria de imprensa da Secretario Mu-nicipal de Obras, a revisão elétrica era necessária para oferecer mais segurança e conforto e outras etapas estão em pauta. O estádio do Barão passou por outras reformas nos últimos anos, quando concluiu a implantação de 6.570 cadeiras, reformou a fachada, construiu um centro de fisioterapia e uma academia de ginástica.

O narrador esportivo e também assessor de comunicação da Selam (Secretária Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras), Leandro Bollis, explicou que as cadeiras foram adquiridas pela prefeitura. A verba do

Piracicaba na CopaGOVERNO FEDERAL INVESTE 1,8 MILHÃO NO ESTÁDIO BARÃO DA SERRA NEGRA

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Ministério do Esporte (R$ 1,8 milhão, sendo 10% desse total de contrapartida do município) já foi liberada.

O projeto com detalhamento das obras que serão executadas está na Caixa Econômica Federal aguardando aprovação. “Só após a liberação, que deve ocorrer ainda esse ano, as obras terão inicio”, reiterou Leandro. O administrador do estádio Luis Pisani Neto revelou apenas que os banheiros e os vestiários serão reformados.

> ARARAQUARA - A cidade conta com a estrutura do estádio Arena da Fonte Luminosa. Em julho deste ano, a Prefeitura conseguiu junto ao Ministério do Esporte uma verba de R$ 2 milhões. O incentivo federal será usado para reformar as cabines de imprensa, construção de novos camarotes, além de uma am-pliação na área de recuperação e fi-sioterapia dos atletas nos vestiários.

> ITU - O Estádio Municipal “Dr. Novelli Jr”, que abriga jogos do Ituano, já passa por reformas e ampliação. O investimento de R$ 3 milhões são para constru-ção de cinco prédios que darão suporte a novos campos.

> SOROCABA - As instalações do Clube Atlético Sorocaba foram disponibilizadas pela cidade para receber seleções. Com o centro esportivo do clube e o estádio Walter Ribeiro, a diretoria aposta em tecnologia para melhorar a segurança. O investimento foi feito com dinheiro do próprio bolso. A cidade conseguiu um emprésti-

mo por meio da linha de crédito “Investimento Esportivo 2014”, que visa o incentivo às subsedes da Copa do Mundo. O valor é de R$ 10 milhões e tem um prazo de pagamento de 72 meses.

> PRESIDENTE PRUDENTE - A cidade do noroeste paulista ofe-rece os centros de treinamento Flávio Araújo e o Estádio Paulo Constantino, conhecido como Prudentão. O investimento no CT seria de R$ 850 mil para ilumi-nação, aparelhos de musculação e outros materiais para suporte físico. Já no Prudentão, os gastos chegam a R$600 mil com refor-mas nas estruturas do estádio.

> SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - O estádio Martins Pereira iniciou suas obras de modernização em agosto. R$ 12,3 milhões serão gastos no estádio. Os recursos vêm de duas fontes: R$ 6 mi-lhões são do governo federal e o restante de um empréstimo feito pela Urban (Urbanizadora Muni-cipal AS) que administra o local.

< CIDADES QUE PODEM RECEBER SELEÇÕES >2014Fotos: Pedro Franco

Foto panorâmica do Estádio Barão da Serra Negra; abaixo, cadeiras novas na parte descoberta do estádio

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ESTRANGEIROS

David Jackson, americano, aposta na vinda de mais estrangeiros para o Brasil

Brasilbuscam espaço

noPAÍS RECEBE 90 ATLETAS POR ANO QUE FIXAM RESIDÊNCIA E CONSEGUEM DEMONSTRAR SEU TRABALHO

gustavo Rovina BeloFaRdi

[email protected]

O Brasil recebe em média 90 des-portistas estrangeiros por ano. Todos entram de maneira legal

no país, entretanto, os clubes que con-tratam ficam responsáveis pelos atletas, como assistência médica (independente de ser algo relacionado ao esporte ou não). Eles recebem visto é provisório, porém obrigatório, ara conseguirem a carteira de estrangeiro na Policia Federal, no Ministério do Trabalho e no Ministé-rio das Relações Internacionais. Quando termina o contrato com o clube, a agre-miação fica encarregada de enviar o atleta novamente para o seu país de origem.

Em cinco anos, já entraram no país 480 atletas, segundo dados do COB (Comitê Olímpico Brasileiro). Desses, 350 continuam a residir no Brasil. A maioria deles vem de países da América do Sul, como Argentina e Uruguai, e parte deles pratica o futebol, seguido do basquete e do vôlei.

Esses esportistas fazem o caminho inverso dos brasileiros que sonham em fazer carreira, principalmente, na Europa. Para a Copa do Mundo, que acontecerá em 2014, aproximadamente mil estrangeiros estarão presentes, entre atletas e comissão técnica com a missão de conquistar o campeonato mundial.

A cubana Ariadna Capiro Felipe está há sete anos praticando basquete no país. Passou por Marília, Ourinhos, Santo André e atualmente defende as cores de Americana. Além de esportista, ela cursa a faculdade de Engenharia de Computação na Unip (Universidade Pau-lista). A cubana diz que chegou ao Brasil por convite de uma outra ex-jogadora de Cuba. “Minha chegada a São Paulo foi intermediada pela Lisdeive (ex-atleta cubana) em 2006. No começo eu vim apenas para assistir o Campeonato Mun-dial de Basquete. Acabei ficando para jogar no time do Vendramini (técnico de basquete em Marília)”, diz.

A jogadora explica os benefícios e os problemas para exercer a profissão no

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Fotos: Gustavo BelofardiBrasil. “As vantagens são a adaptação. Nos clubes em que já atuei, consegui me adaptar rapidamente, todos me receberam com muito carinho e res-peito e isso foi fundamental. As des-vantagens são a falta de organização e planejamento. Em alguns torneios (ex-Liga de Basquete Feminino 2012-2013), faltou profissionalismo para se cumprir datas e horários de jogos e isso atrapalha”, conta.

Ela termina dizendo que sua vinda ao país trouxe benefícios, como a amizade com os brasileiros, além de poder demonstrar o seu talento. “Eu encontrei no Brasil a oportunidade de desenvolver meu basquete. Acredito que aqui tem o espaço necessário para mostrar o meu potencial. Em Cuba, as atletas jogam apenas um mês e o restante do ano, ficam treinando com a seleção. Dessa forma, caem no esquecimento e sumindo do cenário mundial”, completa.

Situação semelhante vive o norte americano David Jackson. Ele rodou o mundo trabalhando em países como Argentina, Uruguai e Porto Rico. Che-gou ao Brasil em 2011 para defender as cores do Flamengo (RJ) e, em 2013, acertou sua chegada para São Paulo, para atuar no time de Limeira. Ele recebeu várias propostas da Europa, mas preferiu a América do Sul. “Re-cebi várias ofertas de países europeus e de outros continentes, mas Limeira me ofereceu vários benefícios, como viagens, hospedagem, alimentação, qualidade de vida. Lá fora não temos esses benefícios”, revela.

Entretanto, confessa que nunca passou pela sua cabeça em trabalhar no Brasil. “Eu nunca imaginei que estaria atuando aqui. Mas, o basquete abriu algumas portas para mim e para minha família. Só posso agradecer a Deus por abençoar o talento que tenho e as oportunidades que recebi”, completa.

Piracicaba foi a cidade que o aru-bano John Jairo Maduro encontrou para se desenvolver no taekwondo. Em Aruba (Caribe), o esporte é tratado apenas como uma atividade física. A chegada de Maduro a São Paulo foi possível graças ao seu treinador, Fran-

A cubana Ariadna espera a profissionalização do basquete

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Natural de Aruba, John (capacete azul) sonha em conquistar uma medalhas nas Olimpíadas de 2016

Para o francês Virgil López ainda existe muito espaço para estrangeiros no país

cisco Mitooka, que é brasileiro. “Con-segui ficar com a quinta colocação no Campeonato Panamericano Adulto e por pouco não conquistei uma me-dalha. Frederico Mitooka trabalhou

Um dos dirigentes que começou a realizar o intercâmbio de jogadores para o país, Julio Barbin foi diretor de esportes em Ourinhos-SP durante de 14 anos.

Na visão do agora ex-dirigente, a chegada dos estrangeiros para o Brasil é positiva. “Quem sai lucrando são os brasileiros. Quando os estrangeiros são de bom nível técnico, contribuem em muito para que nossas jogadoras se es-pelhem na qualidade destas jogadoras. Quem sai ganhando também são os treinadores. Afinal, se beneficiam ao ficar sabendo o tipo de treinamento que

Dirigente vê com bons olhos a vinda de estrangeiros

faziam em seu país de origem”, explica.Entretanto, o dirigente faz uma

ressalva, em relação ao assunto. “As estrangeiras, em sua maioria, fazem muitas exigências para jogar aqui. Pedem carros e hotéis luxuosos. Além disso, algumas não se adaptam ao nosso sistema de jogo. E finalmente, é muita responsabilidade que o clube assume, ao cuidar do atleta estrangeiro, junto à Polícia Federal e o Ministério do Trabalho. Tanto um, quanto o outro ficam de marcação com o clube, pois ele tem medo que o atleta não retorne para o seu país de origem”, completa.

conosco em Aruba no ano passado e decidiu voltar ao Brasil para cuidar dos seus negócios. Devido a minha boa colocação na competição, me fez uma proposta para trabalhar com ele e acabei aceitando”, diz.

John Maduro explica que, os be-nefícios para treinar em Piracicaba, envolvem bons colegas para testar suas qualidades, além de ter auxílio alimentação, auxílio de suplementos,

convênio que a academia possuiu com a Unimep e que beneficia alguns atle-tas. O arubano citou as desvantagens do país, como os altos impostos. “As desvantagens é que há muitos impostos no Brasil e as coisas são muito caras. Os produtos são mais caros do que em Aruba que praticamente importa tudo”, completa.

De todos os estrangeiros que vieram trabalhar na RMC (Região Metropoli-tana de Campinas), a situação do fran-cês Virgil López é a mais inusitada. O francês, chegou em Americana há cinco anos. Sua chegada ao país, a principio, não foi a trabalho, mas por causa de sua esposa. “Morava na França e conheci a Adriana Santos (ex-atleta), quando ela foi jogar lá. Nós nos casamos e a Adriana tinha o desejo de voltar para o Brasil e acabei acompanhando-na nessa viagem”, explica.

Ao chegar ao Brasil, trabalhou no time masculino de basquete de Americana, até receber o convite para ingressar na comissão técnica femi-nina da cidade. Com a saída de Luiz Augusto Zanon, em maio desse ano, o francês foi efetivado como treinador do time principal. “Tenho oportuni-dades de demonstrar o meu trabalho, foi efetivado como técnico da equipe de Americana e o povo brasileiro me acolheu muito bem”, completa.

Fotos: Gustavo Belofardi

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aiRan pRada

[email protected]

O futebol amador de Piracicaba, que já re-velou jogadores como Francisco Avanzi, o Chicão, volante com passagens por

São Paulo e Seleção Brasileira, e José Altafini, o Mazola, que começou no Clube Atlético Pi-racicabano e jogou pelas Seleções Brasileira e Italiana, há quase 15 anos passa por dificuldades de organização, envolvendo recursos financeiros, apoio administrativo e estrutura para realização dos calendários de competições.

Dentre os inúmeros fatos que colaboraram para esse contexto, destacam-se a excessiva valori-zação do futebol profissional e a falta de apoio por parte do poder público e de entidades privadas. Soma-se a isso, o fortalecimento de campeonatos de futebol em clubes sociais, que atraem cada vez mais associados e jogadores, pela estrutura e poder de organização desse tipo de entidade. O clube Cristovão Colombo em Piracicaba, por exemplo, possui seis divisões de futebol, que reúnem mais de 100 equipes. Enquanto que o Campeonato Amador de Piracicaba, promovido pela Liga Piracicabana de Futebol (LPF), possui 26 times separados em duas divisões.

COMISSÃO FORMADA POR SETE EQUIPES REORGANIZA A LIGA PIRACICABANA DE FUTEBOL

do futebolA (re)volta

amador

O time Glebas Califórnia foi o campeão da 2ª divisão 2012

Airan Prada

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Unidos, nos Jogos Pan Americanos de Indianápolis, em 1987, ilustra essa tese. Porém, essa modalidade sofreu com a má administração do ex-presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Gerasime Boszikis, o Grego, que geriu a entidade entre 1997 e 2009, e deixou de ter relevância internacional. Em 2008, os clubes se uniram e fun-daram a Liga Nacional de Basquete, que originou o Novo Basquete Brasil (NBB), reconhecido pela Federação Internacional de Basquete (FIBA) como a competição oficial da modalidade no país. O novo torneio substituiu o antigo Campeonato Brasileiro de Basquete, promovido pela CBB.

Atualmente, 18 equipes adminis-tram e competem na NBB. O formato de gestão levou o elenco masculino da Seleção Brasileira de volta à Olimpíada em 2012, após três edições ausentes do evento poliesportivo.

Inspirada nesse modelo, que resga-tou o prestígio do basquete brasileiro, a LPF tenta fazer o mesmo, ou seja, recuperar, diante do público, a credi-bilidade de outros tempos. “É muito difícil tocar o futebol amador local. São 26 times e não é fácil. Eu agradeço as equipes pela iniciativa. Estamos tri-lhando um bom caminho para melho-rar ainda mais o campeonato. É lógico que ainda estamos engatinhando, e tem muita coisa para modificar. Essa comissão mostra uma transparência no futebol amador”, acredita Carnelutti.

União de associações - Além do futebol amador, existe o futebol de várzea. O que caracteriza o futebol ama-dor é a filiação do órgão responsável, no caso a LPF, à Federação Paulista de Futebol. Já o de várzea pode conter, por exemplo, jogadores profissionais em seu elenco, pois o registro dos atletas não passa pelo aval da FPF. A intenção da comissão da LPF é reunir os presi-dentes Dinival Tibério, da Associação Varzeana de Futebol, e João de Labio, da Associação Independente de Futebol Varzeano, para realizarem juntos, o ca-lendário piracicabano de campeonatos de futebol de 2014. “O objetivo é reu-nir os campeonatos promovidos pelas entidades aos da LPF, para a unificação do calendário”, frisa Gordo.

Na tentativa de reverter essa si-tuação, as equipes que disputam os campeonatos de futebol amador de Piracicaba se reuniram e formaram uma comissão para orientar e auxiliar o atual presidente da LPF, Edivaldo Luis Carnelutti, em suas decisões. O objetivo é intensificar a promoção, or-ganização, divulgação e representação de todas as ações envolvendo a enti-dade junto a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Atividades Motoras (Selam). A comissão é formada por sete equipes, selecionadas após reunião da LPF, realizada no dia 13 de setembro. Segundo Carnelutti, participaram do encontro 19 das 26 agremiações com situação regularizada junto à LPF e a Federação Paulista de Futebol (FPF) que, após votação, definiram quais delas formariam a comissão.

As equipes envolvidas são 7 de Setembro, Glebas Califórnia, Novo Horizonte, Panorama, União Paulista, União Vila Fátima e Unidos do Parque São Jorge. Vinicius Lopes, dirigente do União Paulista, afirma ser esta uma oportunidade para resgatar o futebol amador. “A relação entre os clubes fora de campo é a melhor possível. Um campeonato desorganizado é ruim para todo mundo. A ideia da comissão é tentar reorganizar a LPF, para que o futebol amador seja resgatado”, frisa.

Lopes explica ainda que, esse forma-to de administração, foi bem aceito na Prefeitura de Piracicaba. “O secretario da Selam, João Francisco de Godoy, nos

acolheu bem na primeira reunião entre comissão e poder público, ocorrida no fim de setembro. Ficou acertado que será realizado no mínimo um encontro mensal, para que o campeonato de 2014 já tenha melhorias aplicadas com o aval da comissão e da Selam”, adianta.

O dirigente do Esporte Clube 7 de Setembro, Flávio Ricardo Jorge, mais conhecido como Gordo, esclarece que, além do campeonato amador, que é disputado no segundo semestre de cada ano, a comissão pretende voltar a pro-mover a Taça Cidade de Piracicaba e os campeonato de veteranos e de juniores. Outra proposta de melhoria, é a rees-truturação do prédio da LPF, localizado na rua Silva Jardim, anexo ao Estádio Municipal Barão da Serra Negra.

Carnelutti esclarece que a intenção é melhorar as adequações básicas, como pintura e reforma das instala-ções. Outro projeto é implantar uma assessoria de imprensa, para que os eventos promovidos sejam divulgados e possam ser atrativos para o público em geral. “Queremos realizar um tra-balho de incentivo, junto a Selam, para que os clubes que são filiados a LPF, mas que não disputam campeonatos, pois não estão regularizados juridi-camente, possam retornar às nossas competições”, completa.

Inspiração no basquete - O basquete brasileiro sempre obteve bons resultados em suas competições. A vitória sobre a sempre favorita seleção dos Estados

O campeão da 1ª divisão 2012 foi o time do E. C. Horizonte

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Nº 79 Fevereiro/2014

E aí, poderpúblico?

Em Americana, Iracemápolis, Sumaré e Rio das Pedras dinheiro público está em obras inacabadas