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PSOL Bom resultado eleitoral de Luciana Genro, ampliação da representação parlamentar em nível federal e nos estados e uma política acertada de independência no segundo turno trouxeram um saldo positivo para o PSOL e para a luta pela construção de uma alternativa de esquerda para o Brasil. PSOL mais forte nas urnas e nas ruas Numa disputa acirra- da, com poucos re- cursos financeiros e enfrentando as cam- panhas mais caras de todos os tempos, Lu- ciana Genro recebeu 1.612.186 votos. Em entrevista ao Página 50, ela faz um balan- ço da participação do PSOL nas eleições e aponta os desafios das lideranças partidárias e dos parlamentares. Entrevista com Edmilson Rodrigues, do Pará, e Benevenuto Daciolo, do Rio de Janeiro, reforçarão a atuação combativa já feita por Ivan Va- lente, Chico Alencar e Jean Wyllys. Desafios da nova bancada serão maiores com o crescimento de parlamentares ligados ao conservadorismo. Bancada do PSOL maior para enfrentar Congresso mais conservador ilustração: Gilberto Maringoni foto: Luiz Eduardo Sarmento foto: Mídia Ninja_CC Edição 2ª - 2014 ELEIÇÕES Especial Eleições Páginas 4 e 5. Páginas 6 e 7 Luciana Genro Página 3

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2ª Edição em 2014 do jornal Página 50, publicação do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL. Nesta edição, especial sobre as eleições 2014, você pode conferir entrevista com Luciana Genro, ex-candidata à Presidência, a análise do PSOL sobre a conjuntura e a posição do partido sobre a Reforma Política. Boa leitura!

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Page 1: Página 50 | 2ª Edição 2014 - Especial Eleições

PSOL

Bom resultado eleitoral de Luciana Genro, ampliação da representação parlamentar em nível federal e nos estados e uma política acertada de independência no segundo turno trouxeram um saldo positivo para o PSOL e para a luta pela construção de uma alternativa de esquerda para o Brasil.

PSOL mais forte nas urnas e nas ruas

Numa disputa acirra-da, com poucos re-cursos financeiros e enfrentando as cam-panhas mais caras de todos os tempos, Lu-ciana Genro recebeu 1.612.186 votos. Em entrevista ao Página 50, ela faz um balan-ço da participação do PSOL nas eleições e aponta os de safios das lideranças partidárias e dos parlamentares.

Entrevista com

Edmilson Rodrigues, do Pará, e Benevenuto Daciolo, do Rio de Janeiro, reforçarão a atuação combativa já feita por Ivan Va-lente, Chico Alencar e Jean Wyllys. Desafios da nova bancada serão maiores com o crescimento de parlamentares ligados ao conservadorismo.

Bancada do PSOL maior para enfrentar Congresso mais conservador

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Edição2ª - 2014

ELEIÇÕES

Especial Eleições

Páginas 4 e 5.

Páginas 6 e 7

Luciana Genro

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“O sujo e o mau lavado”A Operação Lava Jato, da Polícia Federal, desmantelou um esquema de desvio de verbas da Petrobras, por meio de grandes empreiteiras, da ordem de R$ 10 bilhões. O fato es-cancarou a relação direta entre casos de corrupção e finan-ciamento empresarial de campanhas, nessa situação, “me-diada” por contratos de grandes obras públicas. Da lista das campanhas eleitorais financiadas diretas ou indiretamente por essas empresas, entre os partidos com representação na Câmara dos Deputados, só se livra o PSOL, que proíbe o recebimento de dinheiro de empreiteiras. Mesmo assim, entre os envolvidos com elas (seja da oposição de direita ou do governo), fica um acusando o outro, como “o sujo falan-do do mal lavado”.

Participação popularA bancada do PSOL na Câmara apresentou, no final de ou-tubro, o PL 8.048/2014, que institui a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Partici-pação Social (SNPS). A proposta surgiu menos de 24 horas depois de a Câmara anular o decreto presidencial que tra-tava do assunto. O PL 8.048 tem como base o decreto pre-sidencial 8.242/2014, mas foram retirados os trechos que determinavam a coordenação pela Secretaria Geral da Pre-sidência da República e acrescentados outros, como o que garante a paridade na organização de novos conselhos e o que determina que as conferências nacionais sejam realiza-das a cada dois anos.

Leandro Konder, presente!A esquerda brasileira perdeu, no dia 12/11, um dos mais im-portantes pensadores marxistas do país. Leandro Konder, nascido em 1936, exilou-se em 1972, após ser preso e tor-turado pelo regime militar, tendo regressado ao Brasil em 1978. Era professor do Departamento de Educação da PUC--RJ e do Departamento de História da UFF. Ex-militante do PCB e do PT, Konder foi o fundador número 101 do PSOL. Seu legado político e teórico seguirá conosco e com todos que acreditam no socialismo.

Em busca da verdade no MéxicoA Executiva Nacional do PSOL aprovou moção em solidarie-dade às famílias dos 43 estudantes de Guerrero, no México, brutalmente assassinados a mando do Estado. No docu-mento, o partido exige que os envolvidos sejam severamen-te punidos e também manifesta seu profundo repúdio à violência institucionalizada e comandada conscientemente pelos agentes públicos no México. “Este caso absurdo de-monstra, primeiramente, o quanto a violência contra o povo pobre e trabalhador é uma constante em diversas partes do mundo, especialmente nas periferias”, avalia a moção.

O ano de 2014 será lembrado como aquele que registrou a consoli-dação de uma alternativa de esquerda no Brasil. Na sua terceira elei-ção presidencial, o PSOL apresentou um programa de mudanças, tendo por base o desejo de ampliação dos direitos sociais e mos-trou que os grandes partidos representam a continuidade de uma política econômica conservadora, voltada a atender os interesses dos rentistas da dívida pública, postura que impede a garantia da oferta de serviços públicos de qualidade ou pagamento da enorme dívida social acumulada em nosso país. A votação recebida pela candidatura de Luciana Genro e Jorge Paz e o grande crescimento de nossa bancada federal e esta-dual são demonstrações do espaço conquistado pelo nosso partido. O PSOL levantou as bandeiras esquecidas pela polarização PT versus PSDB, enfrentou o avanço do conservadorismo e colocou em debate propostas imprescindíveis para reverter a exclusão so-cial, com destaque para a taxação das grandes fortunas, auditoria da dívida e tarifa zero nos transportes públicos. A legislação eleitoral que privilegia os grandes partidos e o financiamento empresarial das campanhas agem como poderosos impeditivos ao crescimento de alternativas de esquerda, mas nos-so partido cumpriu sua tarefa de furar o bloqueio da grande mídia, seja pela atuação decisiva de sua militância, seja pelo uso das redes sociais. A votação conseguida mostrou que o PSOL é o principal pólo aglutinador do sentimento de mudanças no país, que a tercei-ra via de Marina era uma falsificação e que é possível combinar atu-ação parlamentar de esquerda, presença militante nos movimentos sociais e apresentação de um programa de mudanças que conquis-te parcelas crescentes dos brasileiros. A postura partidária no segundo turno das eleições presiden-ciais mostrou a maturidade e responsabilidade do PSOL. O veto ao re-torno do neoliberalismo puro foi decisivo para o resultado do pleito. Seguiremos sendo oposição programática e de esquerda ao governo do PT/PMDB e cobraremos mudanças estruturais na condução do nosso país. Continuaremos apoiando e participando das mobilizações pela ampliação de direitos e combatendo as mo-vimentações reacionárias, golpistas e fundamentalistas.

PSOL na luta por mais direitos

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EXPEDIENTE: Esta é uma publicação do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL. Presidente: Luiz Araújo; 1º Secretário Geral: Fernando Silva “Tostão”; 2º Secretário Geral: Leandro Recife; 1º Secretário de Finanças: Francisvaldo Mendes; 2º Secretária de Finanças: Luciete Silva; 1º Secretário de Comunicação: Juliano Medeiros; 2ª Secretária de Comunicação: Maria José Maninha; 1ª Secretária de Formação: Marinor Brito; 2ª Secretária de Formação: Celisa Melo; 1º Secretário de Movimentos Sociais: Rogério Silva; 2ª Secretária de Movimentos Sociais: Camila Valadão; 1º Secretário de Organização: Edilson Silva; 2ª Secretária de Organização: Albanise Pires; 1ª Secretária de Relações Institucionais: Sílvia Santos; 2ª Secretária de Relações Institucionais: Brice Bragato; 1º Secretário de Relações Internacionais: Pedro Fuentes; 2ª Secretária de Relações Internacionais: Mariana Riscali; Membro Vogal: Djalma do Espírito Santo; Presidente da Fundação Lauro Campos: Luciana Genro.

Coordenação editorial: Juliano Medeiros; Jornalista responsável: Leonor Costa (MTB: 3709/DF)Diagramação e concepção gráfica: Luiz Eduardo Sarmento; Colaboração: Kauê Scarim

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EDITORIAL

CURTAS

Luiz Araújo - Presidente Nacional do PSOL

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Página 50: O PSOL teve nessa eleição de 2014 quase o dobro de votos que obteve nas eleições de 2010. Como você avalia esse crescimento no desempenho do partido? Luciana Genro: O PSOL cresceu porque conseguiu canalizar uma parcela importante da insatisfa-ção popular que tomou as ruas em junho de 2013. Apresenta-mos um programa ao mesmo tempo radical e compreensível, que dialogou com os problemas concretos do povo e apresentou propostas de enfrentamento com os interesses dos bancos e dos milionários. Dissemos claramen-te que para garantir os direitos reivindicados em junho é preciso enfrentar os interesses de uma minoria que sempre se benefi-ciou das políticas implementadas pelos governos. Abraçamos pau-tas dos direitos civis que são mui-to importantes, como os direitos LGBTs. Assim como também ao pautar o fim da guerra às drogas e a descriminalização do aborto, abrimos um canal de diálogo com a juventude e com as mulheres. O PSOL está se consolidando como uma alternativa de esquerda coe-rente e a votação que tivemos é uma demonstração clara disto. Página 50: Como foi cumprir essa tarefa nas eleições seguintes às manifestações que ocorreram em junho de 2013? Luciana Genro: Para mim foi um grande desafio suceder o saudo-so Plínio de Arruda Sampaio. Ju-

O PSOL está se consolidando como uma alternativa de

esquerda coerente

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nho foi um levante juvenil, mas surpreendeu pela força e pelo entusiasmo que despertou num setor de massas, que pela primei-ra vez depois de muitos anos per-cebeu que podia atuar e mudar o curso das coisas. Não é novidade que os partidos diretamente bur-gueses, como o PSDB e o PMDB, e reformistas operário-burgueses, como já é o próprio PT, tenham recebido o voto da maioria. O novo, porém, é que tivemos o levante de junho, cujas marcas existiram também no processo eleitoral. Para mim foi uma gran-de honra ter representado o PSOL neste momento histórico e acho que consegui corresponder às ex-pectativas.Página 50: O que foi mais mar-cante no contato com as pessoas?

Luciana Genro

Luciana Genro: O que mais me marcou foram as manifestações espontâneas de apoio e carinho. Na Unicamp, por exemplo, tive-mos um evento com 3 mil jovens entusiasmadíssimos. E também em várias outras universidades, muita gente. Muitos LGBTs que di-ziam: “obrigada pelo que tu estás fazendo por nós”. Eu sempre dizia: “eu é que agradeço!”. Também me marcou muito o apoio de artistas como Gregório Duvivier, Marina Lima, Marcos Breda e Valesca Po-pozuda, apoios que mostram que conseguimos fazer o PSOL che-gar num setor mais amplo. Ou-

tro episódio marcante foi o fato de eu ter sido a única candidata mencionada no documento polí-tico eleitoral do MTST. Este é hoje um dos movimentos sociais mais importantes do cenário político, pela sua força e independência, e conseguimos estabelecer uma re-lação importante com eles. Tam-bém fiquei muito emocionada com o apoio de muitos intelectu-ais do Brasil e do exterior. Página 50: Como será a atuação do PSOL frente ao quarto manda-to do PT no Palácio do Planalto? Luciana Genro: Será a oposição de esquerda, a oposição coeren-te. As primeiras movimentações da formação do novo governo e o aumento da taxa de juros mos-

tram que Dilma vai fazer coisas que ela dizia que só Aécio faria. A diferença entre o PT e o PSDB é o grau de ajuste. Por isso, não tenho dúvida que virão ataques e que os salários serão arrochados. Va-mos para o enfrentamento tanto com a direita, como com o gover-no, que vai tentar aplicar os pla-nos do capital. Além disso, temos o tema da reforma política, que soa como algo positivo, mas pode carregar uma grande ameaça ao PSOL. A tentativa de impor uma cláusula de barreira que tire da TV os partidos pequenos foi der-rotada uma vez, mas não saiu da

pauta. Temos que combater com força qualquer tentativa de estrei-tar os espaços democráticos, que já são bastante reduzidos.

Página 50: Qual recado você quer dar à militância do PSOL em relação à campanha que se encer-rou e aos desafios futuros para a esquerda socialista? Luciana Genro: Jean Paul Sartre (escritor e filósofo francês) escre-veu que a reinvenção do homem não pode ser realizada no escuro, mas sim pela construção guiada por princípios. E que a emanci-pação humana somente pode ser realizada arrebentando todos os grilhões. Acredito que, guiados por esta ideia, podemos fortale-cer e unir a esquerda socialista. Todos os dias somos bombardea-dos pela ideia de que é impossível construir outro tipo de sociabili-dade humana que não esta, que transforma tudo em mercadoria, inclusive as pessoas. Socialismo é o nome de uma ideia de emanci-pação da humanidade. Entretan-to, nenhuma ideia é redutível ao seu nome. Nas jornadas de junho, a partir da negação do atual esta-do de coisas, (re)viveu e se forta-leceu a ideia da emancipação, a ideia de que a humanidade é ca-paz de derreter seus grilhões e de que uma nova “verdade histórica” é possível. Não é fácil, mas vamos seguir esta luta. Mesmo que al-guns queiram congelar a realida-de nas suas “verdades” eternas, o porvir não cessa, o mundo está sempre em movimento

Escolhida por unanimidade na Convenção Nacional, em junho deste ano, para representar o partido na disputa presidencial, a advogada, ex-deputada federal e fundadora do PSOL, Luciana Genro, mostrou que o partido tem ganhado, cada vez mais, o apoio da juventude, de trabalhadores e dos movi-mentos sociais. Numa disputa bastante acirrada, com poucos recursos financeiros e enfrentando as campanhas mais caras de todos os tempos, Luciana recebeu 1.612.186 votos, o que representa praticamente o dobro do desempenho do partido nas eleições de 2010. Com essa expressiva votação, o PSOL sai fortalecido das urnas, conquistando o quarto lugar. O Página 50 traz uma entrevista com Luciana Genro, onde ela faz um balanço positivo da participação do PSOL nas eleições, aponta os desa-fios das lideranças partidárias e afirma que, cada vez mais, o PSOL vem se consolidando como uma alternativa de esquerda coerente.

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ELEIÇÕESPSOL mais forte

para lutar por um outro país

Reunidos no dia 10 de novembro, em Brasília, os integrantes da Executiva Nacional do PSOL fizeram um amplo debate sobre a participação do partido nas eleições de outubro, com base nos resultados das urnas e também nos três me-ses de campanha. No encontro, conduzido pelo presidente nacional do partido, Luiz Araújo, que também contou com as presenças da ex-candidata à Presidência da República e presidenta da Fundação Lauro Campos, Luciana Genro; do ex-candidato a vice presidente, Jorge Paz; e do deputado fe-deral reeleito em 5 de outubro, Chico Alencar, foi aprovada, sem nenhum voto contrário, a resolução com o posiciona-mento do partido a respeito do processo. Os membros da Executiva consideraram que o partido, por meio do trabalho de convencimento de seus candidatos e da militância, conseguiu apresentar propostas concretas que de fato garantem melhores condições de vida e mais di-reitos para a população, se diferenciando substancialmente das demais candidaturas. Além de reafirmar que o PSOL sai mais forte desse pleito de 2014, considerando o aumento de sua bancada de deputados federais e estaduais e a apro-ximação com importantes setores dos movimentos sociais, a Executiva também indicou como será a atuação do parti-do diante do próximo mandato da presidenta Dilma e do Congresso Nacional. “Continuaremos como oposição de esquerda programática ao governo. As medidas que forem de arrocho e de retirada de direitos sofrerão as duras críticas do partido. Assim como no Parlamento, pautaremos as propostas que garantirão mais direitos para a população e continuaremos o enfrentamento firme contra o conservadorismo”, avaliou Luiz Araújo. Na disputa para a Presidência da República, Luciana Gen-

ro teve ótimo desem-penho, ficando em

Bom resultado eleitoral de Luciana Genro, ampliação da representação parlamentar em nível federal e nos estados e uma política acertada de independência no segundo turno trouxeram um saldo positivo para o

PSOL e para a luta pela construção de uma alternativa de poder popular

quarto lugar, com uma votação superior à de Plínio de Arruda Sampaio, na eleição de 2010. Luciana obteve 1.612.186 vo-tos, enquanto Plínio recebera 886 mil votos, 0,87% do total. A presidenciável do PSOL ficou bem à frente de Pastor Eymael, Eduardo Jorge e Levy Fidélix, com quem teve fortes embates nos últimos dois debates televisivos devido às defesas ultra-conservadoras do candidato do PRTB, rebatidas com firmeza pela presidenciável.

Na reunião, Luciana também fez um balanço positivo do processo, reafirmando que o PSOL conseguiu se consoli-dar como a verdadeira alternativa de esquerda. “Falamos da dívida pública, defendemos a auditoria e a suspensão do pagamento, mostramos a injustiça do sistema tributário e o quanto a ‘bolsa banqueiro’ prejudica os investimentos pú-blicos. Dissemos claramente que para garantir os direitos reivindicados em junho é preciso enfrentar os interesses de uma minoria que sempre se beneficiou das políticas imple-mentadas pelos governos”. Luciana avalia que o bom desempenho nas urnas coloca o partido em condições mais favoráveis para enfrentar os

desafios do próximo período. “Eu penso que os mais de 1,6 milhão de votos que o PSOL teve no primeiro tur-

no expressaram o desejo de mudança consciente por uma parcela considerável da população. É preciso

entender que o crescimento do PSDB se deu pelo abandono das bandeiras por um

setor da esquerda. Por isso, não abrimos mão de ser oposição e construir uma esquerda coe-rente”. A fundadora do PSOL re-

força a necessidade da militância e das lide-ranças do partido atu-arem, cada vez mais, em conjunto com os

Balanço

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direitos e que visem barrar quaisquer ajustes contra o povo e a classe trabalhadora. De acordo com o documento, o par-tido se coloca a denunciar as medidas regressivas, “como forma inclusive de dialogar com a desilusão que deve to-mar os setores que apoiaram Dilma no segundo turno como veto a Aécio”. Entre os desafios colocados, a resolução destaca, por exem-plo, a denúncia, de forma didática, do compromisso do go-verno com o pagamento dos juros da dívida; a participação de sua militância nos espaços de enfrentamento pela refor-ma política e pela democratização dos meios de comuni-cação. “O PSOL participará de forma ativa das lutas que se aproximam, desde a sua organização e formulação, convo-cando sua militância, pela reforma política e pela democra-tização dos meios de comunicação, também pelos direitos LGBTT e pela desmilitarização da PM, pela demarcação das terras indígenas e contra o avanço das terceirizações; lu-tando pelo aumento do salário mínimo, a revisão da Lei de Anistia e a regulamentação do imposto sobre grandes for-tunas, colaborando nas articulações de movimentos e parti-dos por reformas estruturais, exigindo do governo avanços no cumprimento dessa pauta e combatendo o conservado-rismo em parceria com os movimentos sociais”. Na resolução, o PSOL conclui que com o bom resultado elei-toral de Luciana Genro, com a ampliação da representação parlamentar em nível federal e nos estados, com uma polí-tica acertada de independência no segundo turno, “as elei-ções de 2014 trazem um saldo positivo para o PSOL e para a luta pela construção de uma alternativa de poder popular, em aliança com outros atores sociais e políticos, para a cons-trução do socialismo no Brasil”.

movimentos sociais, com a juventude e com os trabalhado-res. “Não é somente do resultado das urnas que sairá a nova correlação de forças no Brasil. Ela será decidida nas lutas que virão, e é para elas que o PSOL deve estar preparado. Nossa tarefa é organizar a indignação que explodiu nas ruas em junho de 2013 e que mesmo estando agora em estado de latência não vai deixar de se expressar nos próximos anos. Para isso, nosso partido deve estar junto com os movimen-tos sociais que defendam as bandeiras do povo. Nossas lu-tas não são decididas nas urnas, mas sim nas ruas. É lá que estaremos sempre!”. Conforme avalia Jorge Paz, que participou como candidato a vice-presidente na chapa do PSOL, o processo eleitoral foi um momento bastante importante para o partido, conside-rando que essas eleições foram marcadas por várias dificul-dades e particularidades. Segundo ele, o PSOL conseguiu se diferenciar das outras candidaturas, ao pautar questões que nenhum outro partido teve coragem de enfrentar. “Nós conseguimos capitalizar e expressar, na nossa campanha, parte dos movimentos que aconteceram em junho de 2013. Acredito que o resultado eleitoral foi bastante importante, porque tivemos uma votação numérica significativa, que praticamente dobrou em relação à eleição passada. E o mais importante é que o nosso programa polarizou, dentro da sociedade brasileira, com temas fundamentais, como a questão da auditoria da dívida, a taxação das grandes for-tunas e com a pauta dos direitos sociais, que os outros can-didatos não tiveram coragem de apresentar para a socieda-de”, afirmou Paz.

A resolução aprovada pela Executiva Nacional aponta uma série de desafios e tarefas que o PSOL deve enfrentar no próximo período, entre elas estar em todas as lutas por mais

Perspectivas para o futuro

Professor e dirigente da APEOESP Jorge Paz avalia que o PSOL conseguiu se diferenciar das outras candidatu-ras, pautando questões que nenhum outro candidato

teve coragem de enfrentar

“Nossas lutas não são decididas nas urnas, mas sim nas ruas. É lá que estaremos sempre!”, considera Luciana

Genro ex-deputada federal e fundadora do Partido Socialismo e Liberdade

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Leia a resolução completa sobre o balanço das eleições na página: www.psol50.org.br.

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Com dez anos de fundação, com-pletados este ano, sem dúvida o PSOL protagonizou neste ano de 2014 o seu melhor desempenho nas urnas. Foram vários os moti-vos que fizeram com o que par-tido e toda a sua militância saís-sem mais fortes nas eleições de 5 de outubro. Tanto no âmbito nacional, quanto nos Estados, o partido cresceu, apesar das pou-cas condições financeiras e das pequenas estruturas de campa-nha das candidaturas. Ao longo dos três meses de campanha, se destacou como a verdadeira alternativa de esquerda, apre-sentando propostas necessárias, que diferenciaram o seu proje-to com o dos demais partidos e coligações, que ao fim e ao cabo poucas diferenças apresenta-vam. Como dizia Luciana Genro em suas entrevistas, a diferença entre as três primeiras candida-turas à Presidência da República era apenas o grau dos ajustes que cada um faria contra o povo, o que também se refletiu nas disputas estaduais. Em todos os espaços, o PSOL trouxe à tona te-mas que ninguém ousou enfren-tar, sendo coerente com a sua história e com as suas diretrizes programáticas para o país. Além da expressiva re-ceptividade de Luciana Genro, nas urnas e nas ruas durante a campanha, o PSOL também saiu vitorioso na eleição de deputa-dos federais e de deputados es-taduais. O partido aumentou a sua bancada na Câmara Federal de três para cinco deputados. A partir de fevereiro de 2015, Ivan Valente, Chico Alencar e Jean Wyllys – todos reeleitos com

Ivan Valente, Chico Alencar e Jean Wyllys terão atuação reforçada com a eleição de Edmilson Rodrigues, do Pará, e Cabo Daciolo, do Rio de Janeiro. Crescimento de parlamentares historicamente ligados ao conservadorismo aumenta desafio da nova bancada do PSOL

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votação expressiva em seus es-tados – contarão com o reforço de Edmilson Rodrigues, do Pará, e de Cabo Daciolo, do Rio de Ja-neiro. Essa bancada, que foi con-siderada a melhor da Câmara por dois anos consecutivos pelo Con-gresso Em Foco, continuará não medindo esforços para combater o avanço do conservadorismo e enfrentar os representantes do agronegócio, das grandes em-presas e dos barões da mídia. Vale ressaltar, no entan-to, que o PSOL saiu fortalecido, mas é certo que os setores his-toricamente ligados ao poder econômico também tiverem um crescimento bastante expressi-vo e ameaçador, o que aumen-ta ainda mais o desafio da nova bancada do PSOL. Os ruralistas, por exemplo, aumentarão em

33% na próxima legislatura. Atu-almente são 205 deputados e senadores e a partir do ano que vem esse número deverá chegar a 273. E entre as prioridades do setor é aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 215/2000, que transfere para o Legislativo a decisão sobre a de-marcação de terras indígenas. Os dados levantados apontam que os desafios dos cinco deputados do PSOL eleitos serão ainda maiores a partir do ano que vem. Ivan Valente (SP), Chico Alencar (RJ), Jean Wyllys (RJ), Edmilson Rodrigues (PA) e Cabo Daciolo (RJ) defenderão, com firmeza, as bandeiras histó-ricas do PSOL por mais direitos e enfrentarão os representantes dos setores ligados ao atraso, incluindo as bancadas ruralista,

da bala, fundamentalista, empre-sarial, da bola e dos donos dos meios de comunicação, para que não haja retrocessos contra os in-teresses da população oprimida.

Outro desempenho bastante expressivo e que reflete o cresci-mento do PSOL nessa eleição foi nas bancadas estaduais. Agora o partido contará com 12 bravos representantes em assembleias legislativas. Foram reeleitos Mar-celo Freixo, sendo o mais votado no Rio de Janeiro, com 350.408 votos; Carlos Giannazi, em São Paulo, com 164.929; e Paulo Ra-mos, também do Rio de Janeiro, com 18.732 votos. Os novos de-putados estaduais são: Eliomar Coelho (14.144 votos), Flávio Serafini (16.117 votos) e Dr. Ju-lianelli (11.805 votos), do Rio de Janeiro; Edilson Silva (30.435 votos), de Pernambuco; Renato Roseno (59.887 votos), do Ceará; Raul Marcelo (47.923 votos), de São Paulo; Pedro Ruas (36.230 votos), do Rio Grande do Sul; Fa-brício Furlan (4.294 votos) e Prof. Paulo Lemos (4.105 votos), am-bos do Amapá. Em todas as campanhas, o PSOL buscou encarnar o dese-jo de mudança dos milhões de brasileiros que saíram às ruas em junho de 2013. Certamente, os milhares de eleitores que depo-sitaram a sua confiança votando em seus candidatos ao Congres-so Nacional e às assembleias le-gislativas poderão seguir contan-do com o PSOL nas batalhas que virão.

Com bancada maior,PSOL fica mais forte

para atuar por mais direitos eem defesa de um país mais justo

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Todos os deputados do PSOL foram indicados, mais uma vez, entre os melhores da Câmara pelo Prêmio Congresso em Foco.

Uma bancada que agora cresce e que faz a diferença.

grafismo: reprodução de painel de azulejos de Athos Bulcão do Salão Verde da Câmara dos Deputados

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Bancada que cresce

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O terceiro deputado federal eleito pelo Rio de Janeiro é Benevenuto Daciolo, de 38 anos, conhecido como Cabo Daciolo, por ser integrante do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio. Eleito com 49.831 votos, o novo deputado do PSOL foi uma das principais lideranças da greve dos bombeiros, que enfrentou o governador Sérgio Cabral em 2011. O enfrentamento que protagonizou no movimento paredista rendeu a ele 17 dias na prisão, em fevereiro de 2012. Após ser eleito, Daciolo disse que sua prioridade na Câmara será a defesa da valori-zação dos trabalhadores da segurança pública e dos servidores públicos. Também garante que vai lutar contra a criminalização dos movimentos sociais.

Eleição de Edmilson Rodrigues

reforçará atuação de esquerda do PSOLA bancada de deputados combativos do PSOL na Câmara Federal ganhará um importante reforço a partir de fevereiro de 2015, com a eleição de Edmilson Rodrigues como deputado federal pelo Pará. Com mais de 170 mil votos, o atual deputado estadual ficou entre os mais votados do Pará no pleito do dia 5 de outubro. O novo integrante da bancada do PSOL foi prefeito de Belém nos períodos de 1997 a 2000 e de 2001 a 2004, quando ainda era militante do PT. Exerceu dois mandatos de deputado estadual, de 1987 a 1990 e de 1991 a 1994. Em 2005, filiou-se ao PSOL e em 2010 foi eleito o deputado mais votado da história do Pará. “É uma grande contradição, nós, que lutamos contra a ditadura, vermos, hoje, o crescimento da representação dos setores mais atrasados e perversos da sociedade, do latifúndio, do agronegócio, das grandes corporações estrangeiras e daqueles que evocam a violência e o preconceito contra negros, in-dígenas e LGBTs”, avalia Edmilson, sobre o crescimento da bancada conservadora.

Leia no site do PSOL entrevista completa com o deputado Edmilson Rodrigues.

O arquiteto e urbanista Edmilson Ro-drigues, eleito deputado federal pelo

estado do Pará

Benevenuto Daciolo

contra governo CabralLiderança da greve dos bombeiros

Benevenuto Daciolo, bombeiro, eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro

PSOL nos estadosBANCADA QUE CRESCE

PSOL no Congresso

Fabrício FurlanDeputado Estadual

Amapá

Prof. Paulo LemosDeputado Estadual

Amapá

Carlos GiannaziDeputado Estadual

São Paulo

Raul MarceloDeputado Estadual

São Paulo

Pedro RuasDeputado Estadual

Rio Grande do Sul

Renato RosenoDeputado Estadual

Ceará

Edilson SilvaDeputado Estadual

Pernambuco

Marcelo FreixoDeputado Estadual

mais votado do Rio de Janeiro

Flávio SerafiniDeputado Estadual

Rio de Janeiro

Paulo RamosDeputado Estadual

Rio de Janeiro

Eliomar CoelhoDeputado Estadual

Rio de Janeiro

Dr. JulianelliDeputado Estadual

Rio de Janeiro

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Page 8: Página 50 | 2ª Edição 2014 - Especial Eleições

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Um dos temas mais presentes nos debates políticos desde ju-nho de 2013, quando ocorreram protestos em todo o país com a participação de milhões de pes-soas, é a reforma do sistema polí-tico. Com as eleições de outubro deste ano, esse assunto se tornou ainda mais central nas reivindi-cações dos diversos setores que compõem o espectro político brasileiro. Movimentos sociais, partidos políticos, parlamentares e os próprios candidatos expres-saram a defesa para que hajam mudanças na forma de conduzir o conjunto de regras que envol-vem a criação e a manutenção dos partidos, critérios para repre-sentação no Congresso Nacional, propaganda e distribuição do tempo de TV, repasse do fundo partidário e o processo eleitoral em si. No entanto, o conteúdo do que é defendido nem sempre atende às demandas das orga-nizações e dos partidos que bri-gam por um sistema que permita mais democracia e participação popular. As divergências ficaram ainda mais fortes nos três me-ses que antecederam às eleições de outubro, quando os diversos discursos apresentados nas cam-panhas eleitorais disputavam a condução dos rumos do país. Atenta ao tema cada vez

mais presente nos espaços de dis-cussão e com o compromisso de intervir neste processo, a Executi-va Nacional do PSOL aprovou uma resolução que defende mais de-mocracia e participação popular em todo o processo do que virá a ser a reforma política. E o conteú-do do documento deixa claro que o partido vai se engajar para que a reforma represente mudanças concretas no sistema político bra-sileiro e também ressalta as fortes divergências com os setores que defendem a manutenção dos in-

privado de campanhas, entre ou-tras formas de aprofundar o atual sistema”, afirma a resolução. Construir um processo mais democrático significa, para o partido, defender um sistema político com “menos acordos nos palácios e mais debates abertos nas praças”. Entre os eixos defen-didos na plataforma do PSOL, se destacam: financiamento exclusi-vamente público de campanhas, fim das coligações proporcionais, aumento de instrumentos de participação, como plebiscitos e

ciais. “O PSOL já tem a sua plata-forma com os eixos que defen-demos para a reforma política. Vamos nos engajar nas lutas que visem mudanças para um siste-ma que fortaleça a democracia direta e que diminua a incidência do poder econômico”. Segundo Luiz, outra atuação importan-te que o PSOL terá no próximo período é para que o Supremo Tribunal Federal (STF) “desenga-vete” a Ação Direta de Inconstitu-cionalidade 4650, da OAB, sobre o financiamento empresarial de campanhas eleitorais, que já tem maioria de votos no plenário. Por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, a Adin está com a sua tramitação paralisada des-de abril deste ano. “Reconhecendo o papel da reforma política para a cons-trução de um Brasil soberano e com justiça social, bem como a força das lutas recentes em tor-no do tema, a Executiva Nacional do PSOL convoca a militância do partido a construir plataformas de luta pela reforma política com demais setores progressistas e de esquerda da sociedade, bus-cando o fortalecimento e lutan-do por vitórias concretas”, finaliza a resolução, que pode ser lida na íntegra na página do PSOL:

www.psol50.org.br.

Partido também vai atuar para que STF con-clua, de imediato, a votação da Ação Direta

de Inconstitucionalidade 4650, da OAB, sobre o financiamento de campanhas eleitorais

REFORMA POLÍTICAPor mais democracia e partipação popular

teresses econômicos. “Enquanto a profunda insatisfação com o atual modo de se fazer política no Brasil é expressa nas ruas, os que hoje se beneficiam do sistema fa-zem suas mudanças na superfície e apenas eleitorais. Além disso, parte substancial dos partidos presentes no Congresso, seja da base do governo ou da oposição conservadora, disputa a pauta da reforma política: propõem cláu-sula de barreira, voto distrital e a manutenção do financiamento

referendos, e combate a qualquer medida regressiva, como a cláu-sula de exclusão aos partidos me-nores. O presidente nacional do PSOL, Luiz Araújo, enfatiza que o partido vai se somar, nos próximos meses, às iniciativas que têm como objetivo central construir propostas de mudan-ças efetivas no sistema político e que levem em consideração as demandas apresentadas pelo conjunto dos movimentos so-

PSOL na luta em defesa de uma reforma política democrática

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