padrões espaciais e de atividade da cuíca chironectes...

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM ECOLOGIA Padrões espaciais e de atividade da cuíca d’água Chironectes minimus em rios de Mata Atlântica no sudeste do Brasil Melina de Souza Leite Orientador: Fernando Antonio dos Santos Fernandez Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito para obtenção do título de Mestre em Ecologia. 2009

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1  

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOLOGIA 

PROGRAMA DE PÓS‐GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA   

  

  

 Padrões espaciais e de atividade da cuíca 

d’água Chironectes minimus em rios de Mata Atlântica no sudeste do Brasil 

   

  

 Melina de Souza Leite 

  

Orientador: Fernando Antonio dos Santos Fernandez    

Dissertação  apresentada  ao Programa  de  Pós‐Graduação em  Ecologia  da  Universidade Federal  do  Rio  de  Janeiro como requisito para obtenção do  título  de  Mestre  em Ecologia. 

  

2009

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i  

BANCA EXAMINADORA 

   

 

 

________________________________ 

Prof. Dr. Gonzalo Medina‐Vogel  

(Universidad Andrés Bello) 

 

 

________________________________ 

Prof. Dr. Marcus Vinícius Vieira 

(Universidade Federal do Rio de Janeiro) 

 

 

_______________________________ 

Prof. Dr. Fernando A. S. Fernandez  

(Universidade Federal do Rio de Janeiro) 

 

 

Suplentes 

 

 

_________________________________ 

Profa. Dra. Rosana Gentile 

(Fundação Oswaldo Cruz) 

 

 

_________________________________ 

Prof. Dr. Carlos Eduardo de Viveiros Grelle 

(Universidade Federal do Rio de Janeiro) 

  

ii  

  

    

FICHA CATALOGRÁFICA    

Leite, M. S. 

Padrões espaciais e de atividade da cuíca d’água Chironectes minimus em rios de Mata Atlântica 

no sudeste do Brasil. 

Rio de Janeiro, 2009 

xi + 80 p. 

Dissertação (Mestrado em Ecologia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro,Departamento de 

Ecologia, 2009. 

 

1. Marsupiais 

2. Organização espacial 

3. Sistema de acasalamento 

4. Extensão de uso 

5. Ritmos circadianos  

 

I. Fernandez, F. A. S. (orient.) 

II. Universidade Federal do Rio de Janeiro ‐ Departamento de Ecologia 

III. Título 

  

iii  

AGRADECIMENTOS 

 

  À minha  família  por  todo  apoio,  incentivo,  carinho  e  principalmente  amor  durante 

todos os momentos da minha vida. A minha avó Julia por todo o amor e por suas histórias da 

roça.  A minha mãe,  Elza,  por  acreditar  em mim mesmo  sem  saber  no  que  eu  realmente 

trabalho  e o que  eu  tanto  faço no  “mato”. A minha  irmã,  Juliana, por  todas  as  referências 

como bióloga e  irmã, de onde pude me espelhar e ser capaz de trilhar meus próprios passos. 

Ao meu pai, Ary de Souza Leite, pelo amor que carrego comigo desde sua partida. Aos meus 

irmãos  mais  velhos,  Ariany,  Allan,  Ary,  Augusto  e  Rodrigo  que  mesmo  de  longe  sempre 

amaram e cuidaram da irmã caçula.  

  Ao meu orientador, um rodentia efetivo, Fernando por acreditar em meu potencial e 

entregar‐me o desafio de estudar o mais maravilhoso mamífero do mundo. Por me apoiar em 

cada  passo  importante,  me  ajudando  a  seguir  com  minhas  próprias  pernas  os  tortuosos 

caminhos do conhecimento. 

  Aos meus amigos mais queridos que já foram ou ainda são do Laboratório de Ecologia 

e Conservação de  Populações, Alexandra, Bruno, Camila, Clarissa, Daniela,  Leandro, Maron, 

Paula, Renato, Thiago, Verônica, por tudo que a gente fez, falou, trabalhou e curtiu dentro e 

fora do laboratório.  

Às  novas  paulistanas:  Camila,  pelas  revisões  de  texto,  caronas,  saídas,  fofocas  e 

mostrar que  garra é um dos  requisitos básicos para  se  ser ecólogo no Brasil; e Paula pelas 

dicas, projetos, revisões e por me ensinar o penoso ofício de fazer radiotelemetria no campo. 

  Ao Maron  por  começar  toda  essa  aventura  junto  comigo  e  não  desistir  nunca,  não 

desanimar e ir pra campo com toda empolgação e força sempre (He‐man!). Ao Thiago por ser 

paciente, controlado, organizado e sistemático, sempre disposto a uma noite de rádio de puro 

sufoco aos  trancos e barrancos, e mesmo  sendo  ranzinza,  taciturno e  sorumbático eu gosto 

muito  da  sua  compania. À  gauchinha Daniela,  que  chegou  de  pára‐quedas  e  bombacha  na 

capital  fluminense,  compartilhando  comigo  cada  momento  na  difícil  jornada  de  uma 

mestranda em pleno caos carioca, me mostrando o  lado bom das coisas  (ou menos pior)   e 

acreditando  que, mesmo  não  sendo  nerd,  a  gente  é  boa  nisso  e  consegue  o  que  quer.  À 

Cristina pela linda amizade, compartilhando também dos sofrimentos e alegrias da pesquisa no 

Brasil, por me permitir usar a estufa do seu  laboratório e alugar um carro em seu nome para 

eu ir a campo no desespero de uma Kombi quebrada. 

  À  Lelê, por  ser um exemplo de pesquisadora e um amor de pessoa, por ajudar nos 

projetinhos de curso de campo com idéias criativas. Toda vez que a Lelê fala eu tenho vontade 

de ter um gravador à mão! Por ser o meu lema: “quando eu crescer, quero ser igual a você!”. 

  

iv  

  Aos amigos que desfrutaram de pelo menos uma noite de  radiotelemetria buscando 

bichos quase  imaginários, caminhando (ou nadando) cambaleante, porém sem desistir, sobre 

pedras,  matacões,  cachoeiras  e  poços  fundos,  seguindo  uma  louca  correndo  de  vestes 

estranhas e aparelho esquisito no pescoço e antena na mão: Maron, Thiago, Dane, Leandrão, 

Bernardo Papi, Léo, Ana Fiorini, Verônica,  Jerê, Gordon, Vinícius, Lara, Gabriel,  Jorge,  Jayme, 

Renato, João, Igor, Bruno, Luiz Felipe e Pelotas. Aos muitos outros amigos que foram para uma 

excursão de campo ajudar na armadilhagem e  triagem dos animais. Por compartilharem das 

aventuras e desaventuras, das conversas e jogos em noites claras ou de chuva forte no campo. 

  Às meninas do apertamento, Cintia,  Janaína, Gabriela e por último, mas não menos 

importante, Natália, por compartilharem o mesmo teto por quase seis anos, limpando (ou não) 

a  casa,  se  reunindo  pra  conversas  sérias,  conversas  fora,  festinhas  e  joguinhos.  Por  me 

aturarem tanto em todos os momentos de perturbação, quando não estava no campo ou em 

Tarituba.  Aos  amigos  da  vida  que  fazemos  entre  encontros  e  desencontros,  por  todo 

aprendizado e carinho recebido. 

  Ao  Franklin  por me  ensinar  o mais  simples  e  puro  amor  que  se  pode  sentir.  Por 

acreditar em mim em todos os momentos da carreira e da vida, aturando as crises de estresse 

e TPM, os nervosismos de momentos decisivos e dando toda força e motivação pra seguir em 

frente. Também por me ajudar a ser menos nerd, fazer esportes e curtir a vida! 

  Ao  pessoal  da  Fazenda  Reserva  Botânica Águas  Claras,  França,  Silvino, Dona Maria, 

Florentino,  Gunga,  Guila  e  muitos  outros,  por  todo  apoio,  conversas,  dicas  de  campo, 

desatolamentos de Kombi e ajuda nos mais de 4 anos de convivência mensal. À proprietária da 

Fazenda, Cecília Amorim, e sua  família por confiarem em nós e nos acolherem em sua casa, 

nos dando todo suporte necessário e acreditar em nossos estudos.  

À  querida  Gabriela  Labouriau  que  trouxe  com  todo  carinho meus  colares  de  Nova 

Iorque pro Rio de Janeiro. Meus sinceros agradecimentos à família Labouriau, tio Ivan, tia Lucy 

e Luciana, que me acolheram no Rio da melhor maneira para que eu pudesse estudar. 

  Aos  órgãos  financiadores:  CNPq  pela  bolsa  de  iniciação  científica  (PIBIC)  e  de 

mestrado; CEPEF‐IC por dar suporte  financeiro nos  início do projeto;  Idea Wild por  financiar 

colares radiotransmissores; e em especial à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza por 

acreditar  em  nossos  trabalhos  e  apoiar  por  quatro  anos  consecutivos  os  projetos 

desenvolvidos  para  a  elaboração  desta  dissertação  e  de muitos  outros  estudos  do  LECP. À 

Associação Mico‐Leão Dourado pelo apoio  logístico no  início do projeto e pela disposição em 

sempre  poder  colaborar.  Ao  Peter  Laver  pela  ajuda  como  o  programa  ABODE,  criado  pelo 

próprio, e pela ajuda nas análises dos dados de padrões espaciais. 

  

v  

  Ao  Programa  de  Pós‐Graduação  em  Ecologia,  seus  coordenadores,  professores  e 

secretárias pela dedicação em fazer um dos melhores programas de pós‐graduação do Brasil, 

do qual me orgulho de fazer parte.  

  Por  fim, mas  não menos  importante,  ao mais maravilhoso  e  único marsupial  semi‐

aquático  do  mundo,  ser  possuidor  de  adaptações  únicas  e  fantásticas,  capaz  de  motivar 

pesquisadores  loucos por desafios e em busca das descobertas mais  interessantes na ciência. 

Quem será?? 

  

vi  

RESUMO 

Os  padrões  espaciais  e  de  atividade  da  cuíca  d’água  Chironectes minimus  foram  estudados 

usando radiotelemetria e captura‐marcação‐recaptura, em rios de Mata Atlântica do sudeste 

do Brasil. Este estudo teve o objetivo de entender: (1) a organização espacial; (2) o sistema de 

acasalamento;  (3)  os  padrões  de  atividade  diária  da  espécie  e  (4)  compará‐los  com  outros 

marsupiais e com outros mamíferos semi‐aquáticos. Entre outubro de 2004 e outubro de 2008 

foram realizadas 45 sessões de captura e 15  indivíduos foram monitorados com radiocolares 

na  bacia  do  rio  Águas  Claras,  Silva  Jardim,  RJ.  A  razão  sexual  da  população  capturada  foi 

fortemente desviada para machos. Machos foram cerca de 30% mais pesados e apresentaram 

extensões de uso de rio cerca de três vezes maior (amplitude 2580 – 7700 m) do que fêmeas 

(amplitude 870 – 2460 m).   Houve alta sobreposição de extensões de uso entre os  indivíduos 

(mediana, mínimo  ‐ máximo:  53,  8  –  100%),  com  exceção  das  fêmeas  que  apresentaram 

extensões  de  uso  aparentemente  exclusivas  em  relação  a  outras  fêmeas.  Ambos  os  sexos 

percorriam cerca de 30% da extensão de uso por noite. Este padrão está de acordo com as 

distâncias médias calculadas entre tocas subseqüentes.   Em geral, a cuíca d’água apresentou 

um padrão unimodal de atividade noturna, com um pico de atividade nas primeiras horas após 

o pôr do  sol,  entretanto houve  grande  variação  individual. Machos  e  fêmeas não diferiram 

quanto  à  duração  da  atividade  por  noite  (machos  299  ±  137 minutos;  fêmeas  232  ±  75,6 

minutos). A duração da noite influenciou positivamente a duração da atividade dos animais. O 

horário de  início de atividade das fêmeas foi positivamente correlacionado com o horário de 

pôr  do  sol,  o  mesmo  não  ocorreu  para  machos.  O  horário  de  fim  de  atividade  não  foi 

correlacionado com o horário de nascer do sol para nenhum dos sexos. Os padrões espaciais 

observados, o dimorfismo sexual e o desvio na razão sexual da população sugerem um sistema 

de  acasalamento  poligínico  ou  promíscuo  para  a  cuíca  d’água.  As  diferenças  ecológicas  e 

comportamentais  encontradas  entre  os  sexos,  tanto  no  que  diz  respeito  ao  uso  do  espaço 

quanto do tempo, podem ser atribuídas às estratégias reprodutivas distintas para cada sexo. A 

maioria dos marsupiais neotropicais previamente estudados apresenta padrões espaciais e de 

atividade semelhantes aos resultados encontrados para a cuíca d’água. Sendo assim, conclui‐

se  que  as  semelhanças  nos  padrões  espaciais  e  de  atividade  exibidos  pelos  marsupiais 

neotropicais provavelmente ocorrem devido às  restrições  filogenéticas moldadas por  ritmos 

endógenos. 

PALAVRAS‐CHAVE: marsupiais, organização espacial, sistema de acasalamento, extensão de uso, 

horário de atividade. 

  

vii  

ABSTRACT 

Spatial  and  activity  patterns  of  the  water  opossum  Chironectes minimus  were  studied  by 

radiotracking and capture‐mark‐recapture, in Atlantic Forest streams, southeastern Brazil. This 

study aimed  to understand:  (1)  the species’ spatial organization;  (2) mating system;  (3) daily 

activity  pattern  and  (4)  comparing  it  with  others  marsupials  and  semi‐aquatic  mammals. 

Between  October  2004  and  October  2008,  45  capture  sessions  were  conducted  and  15 

individuals  were  radiotracked  in  Águas  Claras  basin,  Silva  Jardim,  Rio  de  Janeiro  state. 

Captured population sex ratio was strongly male biased. Males were 30% heavier and showed 

home length about three times longer (2580‐7700 m) than females (870 – 2460 m). There was 

high home length overlap between individuals (median, minimum – maximum: 53, 8 – 100%), 

with exception of females that apparently showed exclusive home lengths in relation to other 

females. Both  sexes  traveled about 30% of  its home  length per nigth, and  it was  consistent 

with  the mean  distance  between  adjacent  dens.  In  general,  the water  opossum  showed  a 

nocturnal  unimodal  activity  pattern,  with  an  activity  peak  in  the  first  hours  of  the  night, 

however  there  were  high  individual  variation.  There  was  no  sexual  differences  as  to  the 

activity length per night (males 299 ± 137 minutes; females 232 ± 75.6 minutes). Night length 

positively  influenced  animals  activity  length.  Activity  beginning  for  females  was  positively 

correlated  with  sunset,  unlike  males.  Activity  ending  was  not  correlated  with  sunrise  for 

neither sexes. Spatial patterns, sexual dimorphism and biased sex ratio suggest a poliginic or 

promiscuous mating system. Thus, ecological and behavioral differences found between sexes 

in the use of space and time can be attributed to distinct reproductive strategies by each sex. 

The most of neotropical marsupial every studied show spatial and activity pattern similar  to 

thw  water  opossum.  Thereby,  the  similarities  between  marsupials  ecology  probably  are 

atributed to philogenetic constraints shaped by endogen rhytms. 

 KEYWORDS: marsupials, spatial organization, mating system, home length, activity rhytms. 

  

viii  

ÍNDICE GERAL 

AGRADECIMENTOS  iii

RESUMO  vi

ABSTRACT  vii

ÍNDICE DE TABELAS  ix

ÍNDICE DE FIGURAS  x

INTRODUÇÃO GERAL  1

ÁREA DE ESTUDO  5

MÉTODOS GERAIS  7

 

CAPÍTULO I – Organização espacial e sistema de acasalamento da cuíca d’água Chironectes 

minimus em rios de Mata Atlântica no sudeste do Brasil 

  1.1 – INTRODUÇÃO  11

  1.2 – MÉTODOS  14

  1.3 – RESULTADOS  20

  1.4 – DISCUSSÃO  29

 

CAPÍTULO II – Padrões de atividade da cuíca d’água Chironectes minimus em rios de Mata 

Atlântica no sudeste do Brasil. 

1.1 – INTRODUÇÃO  40

  1.2 – MÉTODOS  42

  1.3 – RESULTADOS  44

  1.4 – DISCUSSÃO  50

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS  56

CONCLUSÕES  60

REFERÊNCIAS  61

ANEXOS  76

  

ix  

 

ÍNDICE DE TABELAS   

CAPÍTULO I 

 

TABELA I.1  21 

Resultados do monitoramento de nove cuícas d’água Chironectes minimus na bacia do rio Águas Claras, 

Silva  Jardim,  RJ.  As  informações  fornecidas  são:  sexo,  massa  corporal,  período  de  monitoramento, 

número de localizações consideradas para as análises, estimativas de extensão de uso por comprimento 

total entre  localizações extremas  (CT) e  kernel unidimensional  (K‐UNI), CT por noite, proporção do CT 

usada a cada noite, extensão núcleo e proporção do K‐UNI que a extensão‐núcleo representa. 

 

TABELA I.2  26 

A  ‐  Sobreposição  de  extensão  de  uso  (CT  e  K‐UNI)  e  extensão‐núcleo  (E‐NÚCLEO)  entre  pares  de 

indivíduos da cuíca d’água Chironectes minimus monitorados num mesmo período na bacia do rio Águas 

Claras,  Silva  Jardim,  RJ.  B  ‐ Mediana  (mínimo  – máximo)  da  porcentagem  de  sobreposição  entre  um 

indivíduo do sexo na linha com outro indivíduo do sexo na coluna. Letras diferentes apontam diferenças 

significativas (P < 0,05) entre as extensões de uso/núcleo (Kruskal‐Wallis: CT: H2 = 9,88, n = 20, P = 0,007; 

K‐UNI: H2 = 10,78, n = 18, P = 0,005; E‐NÚCLEO: H2 = 2,1, n = 20, P = 0,34). Os estimadores de extensão de 

uso não diferiram entre si  (Wilcoxon: Z = 0,20, n = 18, P = 0,84), mas K‐UNI diferiu da extensão‐núcleo 

(Wilcoxon; macho‐macho: Z = 2,4, n = 10, P = 0,017; fêmea‐macho: Z = 2,2, n = 6, P = 0,028) exceto para o 

par macho‐fêmea (Z = 0,94, n = 5, P = 0,34). 

 

 

 

  

x  

ÍNDICE DE FIGURAS  

ÁREA DE ESTUDO 

 

FIGURA 1  3 

A cuíca d’água Chironectes minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ.  

FIGURA 2  6 

Localização da área de estudo no município de Silva Jardim, estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil. 

Em destaque, porção média da bacia do rio Águas Claras mostrando os rios e alguns pequenos tributários 

(linhas de menor espessura) utilizados pela cuíca d’água Chironectes minimus. Em negrito está a área de 

cobertura da grade de armadilhagem. A área hachurada  indica um pequeno pântano. As  setas negras 

indicam quedas d’água naturais de pelo menos 5 m de altura e a seta cinza indica uma represa desativada 

de 3 m de altura. Coordenadas na projeção Universal Transverse Mercator (UTM). 

 

 

CAPÍTULO I  

 

FIGURA I.1  16 

Método  de  delineamento  de  áreas  núcleo  segundo  Powell  (2000).  Áreas  núcleo  (linha  côncava)  são 

delimitadas  quando  a  densidade  de  probabilidade  é  maior  do  que  esperado  para  uma  distribuição 

aleatória (linha reta) ou uniforme (linha convexa). Modificado de Laver (2005b). 

 

FIGURA I.2  22 

Análise das assíntotas utilizando os estimadores CT  (A) e K‐UNI  (B) e o número de  localizações para as 

nove cuícas d’água Chironectes minimus monitoradas na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. CT – 

comprimento total entre localizações extremas. K‐UNI – kernel unidimensional (ver métodos). Cada curva 

refere=se a um  indivíduo monitorado, cujos nomes estão citados na  legenda da  figura A. Os  indivíduos 

Robin  e  Panqueca  estão  representados  por  duas  curvas,  cada  qual  referente  a  um  ano  de 

monitoramento. 

 

FIGURA I.3  24 

Fidelidade à extensão de uso para dois indivíduos da cuíca d’água Chironectes minimus monitorados por 

dois anos na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. As  linhas negras representam as sobreposições 

entre os anos através das estimativas de CT. A – Robin; os círculos contínuos representam as estimativas 

do  kernel  para  o  ano  de  2005  e  os  pontilhados  o  ano  de  2007.  B  –  Panqueca;  os  círculos  contínuos 

representam as estimativas de kernel para o ano de 2006 e os pontilhados o ano de 2007.  

 

 

 

 

 

 

 

   

  

xi  

CAPÍTULO II 

FIGURA II.1  45 

Correlação entre o horário de  início de atividade e o horário de pôr do sol da cuíca d’água Chironectes 

minimus na bacia do  rio Águas Claras, Silva  Jardim, RJ. Círculos em negrito  indicam  fêmeas  (n = 13) e 

círculos em cinza indicam machos (n = 32). Linha contínua em negrito: reta de melhor ajuste para fêmeas 

em ambas as estações (rs = 0,705 n =13 , P = 0,007). Linha pontilhada em negrito: reta de melhor ajuste 

para machos apenas na estação chuvosa (rs = 0,664, n = 11, P = 0,025). A linha pontilhada cinza marca o 

horário do pôr do  sol; pontos acima dela  indicam  início de atividade após do pôr do  sol. Acima estão 

marcados os intervalos de horários de pôr do sol nas estações seca e chuvosa. 

 

Figura II.2  46 

Correlação entre o horário de  fim de atividade e o horário de pôr do  sol da  cuíca d’água Chironectes 

minimus na bacia do  rio Águas Claras, Silva  Jardim, RJ. Círculos em negrito  indicam  fêmeas  (n = 14) e 

círculos em cinza  indicam machos  (n = 17). A  linha pontilhada cinza marca o horário do nascer do sol, 

pontos acima dela indicam fim de atividade após do nascer do sol.  

 

Figura II.3  47 

Proporção de localizações ativas em cada período da noite de seis indivíduos da cuíca d’água Chironectes 

minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. a ‐ c machos; d ‐ e fêmeas. 

 

Figura II.4  48 

Medianas das proporções de localizações ativas em cada período da noite entre machos (n=7) e fêmeas 

(n=3)  da  cuíca  d’água  Chironectes minimus  na  bacia  do  rio  Águas  Claras,  Silva  Jardim,  RJ.  As  barras 

representam o 3º quartil. As proporções de localizações ativas diferiram entre os sexos (G = 20,9, g.l. = 2, 

P = 0,0001), mas somente na segunda parte da noite (U = 1,5, P = 0,04). 

 

Figura II.5  49 

Regressão  linear parcial entre a duração da noite e a duração da atividade da cuíca d’água Chironectes 

minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. R²adj = 0,59, F2,8 = 7,495, P = 0,01. 

 

 

ANEXOS 

 

Anexo 1  75 

Extensões  de  uso  por  CT  (linhas  em  negrito)  e  K‐UNI  (contorno  externo),  extensões‐núcleo  (contorno 

interno), e  locais de tocas (pontos brancos) de nove cuícas d’água Chironectes minimus monitoradas na 

bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. 

 

Anexo 2  80 

Curvas de delineamento da área‐núcleo para nove  cuícas d’água Chironectes minimus monitoradas na 

bacia do rio Águas Claras, Silva  Jardim, RJ. Métodos segundo Powell  (2000), na qual as  linhas côncavas 

representam a relação entre a máxima probabilidade de uso da área de vida e a porcentagem da área de 

vida. As áreas‐núcleo  são delineadas quando a curva apresentar um coeficiente angular  igual a  ‐1  (ver 

métodos do Capítulo I). 

 

 

1  

INTRODUÇÃO GERAL 

   

A  organização  dos  animais  no  espaço  e  no  tempo  tem  sido  uma  das  principais 

preocupações  das  ciências  Ecologia,  Biologia  Evolutiva  e  mais  atualmente  da  Biologia  da 

Conservação. Um dos aspectos de interesse é a área de vida, definida como a área usada por 

um organismo durante suas atividades normais, como  forrageamento, reprodução e cuidado 

com a prole (Burt 1943). O conhecimento do tamanho, forma e padrão de utilização da área de 

vida  de  um  animal  é  particularmente  importante  para  estudos  relacionados  com  dinâmica 

populacional,  sistema  de  acasalamento,  forrageamento,  seleção  de  habitat,  distribuição  de 

recursos e interações ecológicas (Harris et al. 1990, Kernohan et al. 2001). Tal conhecimento é 

também uma  importante  ferramenta para o manejo e  conservação das espécies. Apesar da 

natureza fundamental da área de vida para a biologia das espécies, determinar os aspectos de 

seu tamanho e estrutura ainda é uma tarefa difícil para certos grupos animais, como é o caso 

dos mamíferos  semi‐aquáticos.  Para  estes  animais  de  difícil  captura  e  hábitos  discretos,  a 

radiotelemetria  se  tornou  uma  ferramenta muito  útil  para  coletar  dados  sistematicamente 

sobre seu comportamento e características de seu uso do espaço e tempo. 

O formato da área de vida de um animal é fortemente influenciado pelo tipo e forma 

do habitat, como  também pelo comportamento da espécie no habitat. De acordo com estas 

características,  um  animal  pode  possuir  uma  área  de  vida  relativamente  unidimensional, 

quando  o  comprimento  do  habitat  é  bem maior  do  que  a  largura,  bidimensional,  ou  até 

mesmo  tridimensional,  quando  se  considera  a  estratificação  vertical  em  animais  voadores, 

arborícolas, escansoriais ou aquáticos. A unidimensionalidade do habitat e, conseqüentemente 

da área de vida, é particularmente  importante para as espécies de mamíferos semi‐aquáticos 

que  vivem em  rios,  costa de estuários e  lagos. Entretanto, esta  conformação  relativamente 

linear  da  área  de  vida  limita  o  número  de  técnicas  que  podem  ser  empregadas  para  as 

estimativas  unidimensionais  de  área  de  vida  (extensão  de  uso),  já  que  quase  todos  os 

estimadores até hoje propostos são bi‐dimensionais. 

O  conhecimento  da  distribuição  espacial  dos  indivíduos  na  população,  o  grau  de 

interação entre eles e a existência de territorialidade são  informações  imprescindíveis para o 

entendimento  do  sistema  de  organização  social  e  acasalamento  de  uma  população  (Hixon 

1987, Ostfeld 1990, Maher &  Lott 1995).   Para mamíferos, as  relações entre os padrões de 

organização espacial e social resultaram em modelos que predizem o sistema de acasalamento 

Introdução geral 

2  

de acordo com as diferenças de uso do espaço entre machos e  fêmeas na população  (Hixon 

1987, Ims 1987, Ostfeld 1985, 1990). Segundo Emlen & Oring (1977), dependendo do grau de 

monopolização de parceiros sexuais, o sistema de acasalamento em uma população pode ser: 

monogâmico, quando nenhum dos  sexos  tem oportunidade de monopolização de membros 

adicionais  do  sexo  oposto;  poligínico,  quando machos  freqüentemente  controlam  ou  têm 

acesso  a múltiplas  fêmeas;  poliândrico,  quando  fêmeas  freqüentemente  controlam  ou  têm 

acesso  a múltiplos machos;  e  promíscuo,  quando  ambos  os  sexos  têm  acesso  a múltiplos 

parceiros sexuais. 

Assim  como é  importante  saber onde o animal está e  como ele  se  relaciona  com o 

espaço,  não  se  pode  deixar  de  entender  uma  importante  dimensão  do  nicho  ecológico,  a 

alocação do  tempo para  as  atividades  e descanso. Determinar os padrões de  atividade das 

espécies  em  vida  livre  é  tão  importante  para  a  história  natural  das  espécies  como  para  o 

manejo e desenvolvimento de projetos de pesquisas. Tais padrões geralmente  seguem uma 

periodicidade circadiana nos mamíferos (Bartnes & Albers 2000) e claramente possuem valor 

adaptativo  porque  eles  permitem  aos  organismos  antecipar mudanças  periódicas  (Aschoff 

1966, Enright 1970). Os ritmos de atividade resultam de complexos trade‐offs entre o tempo 

de  forrageamento ótimo, a ecologia  social, as  interações  competitivas e de predador‐presa, 

restrições  ambientais  e  fisiológicas  e  requerimento  de  energia.  O  uso  da  radiotelemetria 

também permitiu avanços nos estudos de padrões de atividade, principalmente para espécies 

pequenas,  crípticas  e  noturnas.  Esse  é  o  caso  da  cuíca  d’água  Chironectes minimus,  onde 

apenas recentemente aspectos de sua ecologia puderam ser estudados (Galliez et al. 2009). 

A cuíca d’água é o único marsupial semi‐aquático do mundo (Marshall 1978) (Fig. 1) e 

habita  principalmente  rios  de montanha  desde  o  norte  da  Argentina  até  o  sul  do México 

(Nowak  1991).  É  uma  espécie  noturna,  de  hábitos  discretos  e  com  diversas  adaptações  ao 

modo de  vida  anfíbio,  tais  como:  corpo  fusiforme, patas  traseiras  com  grandes membranas 

interdigitais,  pêlo  denso  e  impermeável  e  grande  quantidade  de  vibrissas  (Marshall  1978, 

Nowak 1991, Fernandez et al. 2007). A cuíca d’água parece utilizar principalmente rios paras 

suas  atividades  de  locomoção  e  alimentação  (Galliez  et  al.  2009).  Os  primeiros  dados 

ecológicos consistentes sobre a espécie apontam para um sistema de acasalamento poligínico 

ou promíscuo, pois há diferenças sexuais marcantes na forma de uso do espaço (Galliez et al. 

2009). Fêmeas aparentam ser territorialistas com áreas de vida pequenas, enquanto machos 

possuem áreas de vida muito maiores e não exclusivas (Galliez et al. 2009). Quanto aos seus 

padrões de atividade diária, a cuíca d’água parece concentrar suas atividades no início da noite 

Introdução geral 

3  

(Zetek 1930, Mondolfi & Padilha 1958), sendo que machos estendem suas atividades para a 

segunda metade da noite  enquanto  fêmeas  restringem‐se  à primeira metade  (Galliez  et  al. 

2009). 

 

 

Figura 1. A cuíca d’água Chironectes minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. 

 

Este estudo teve por objetivo compreender de maneira mais aprofundada os padrões 

espaciais e temporais da cuíca d’água em rios de Mata Atlântica no sudeste do Brasil através 

das  técnicas  de  radiotelemetria  e  de  captura‐marcação‐recaptura.  O  conhecimento  gerado 

neste  estudo,  além  de  contribuir  para  a  história  natural,  é  particularmente  destinado  a 

utilização para o manejo e conservação da espécie. A cuíca d’água é considerada rara ao longo 

de  sua  distribuição  (Emmons  &  Feer  1997)  e  encontra‐se  em  diversas  listas  de  espécies 

ameaçadas  no  Brasil  (SEMA  1998,  Bergallo  et  al.  2000,  Marques  et  al.  2002,  Fundação 

Biodiversitas 2003, Mikich & Bérnis 2004), principalmente por  falta de dados ou ameaças ao 

habitat. Segundo Galliez et al.  (2009), as principais ameaças à espécie são a degradação dos 

rios  e matas  ciliares,  que  pode  impedir  a  dispersão  dos  indivíduos  e  o  fluxo  gênico  entre 

populações,  acelerando  as  taxas  de  extinção,  assim  como  ocorre  com  a  fragmentação  de 

ecossistemas terrestres. Outros riscos para a cuíca d’água são a poluição e a eutrofização dos 

rios e a introdução de espécies exóticas, processos já comuns no Brasil (Agostinho et al. 2005). 

Introdução geral 

4  

Por  se  tratar  de  uma  espécie  semi‐aquática  restrita  a  rios,  os  padrões  espaciais  da 

cuíca  d’água  foram  calculados  por  estimativas  unidimensionais  (extensão  de  uso)  a  fim  de 

produzir estimativas mais acuradas e comparáveis entre estudos. Os ritmos de atividade foram 

descritos  e  comparados  aos  padrões  unimodal,  uniforme  ou  arrítmico.  Devido  à  possível 

existência de um  sistema de  acasalamento poligínico ou promíscuo  (Galliez  et al. 2009), os 

sexos  foram  comparados em quase  todos os parâmetros analisados, a  fim de  compreender 

melhor as diferenças sexuais na organização espacial e temporal da espécie. Adicionalmente, 

foram  descritos  aspectos  comportamentais  observados  oportunisticamente  durante  o 

monitoramento dos animais. Por  fim,  foram  feitas comparações dos  resultados encontrados 

com  outras  espécies  de  mamíferos  semi‐aquáticos  e  marsupiais  neotropicais.  Estas 

comparações buscaram compreender a influência das convergências adaptativas ao ambiente 

e das restrições filogenéticas moldando a ecologia da espécie. A cuíca d’água pode apresentar 

padrões  espaciais  e  de  atividade  mais  semelhantes  aos  mamíferos  semi‐aquáticos, 

independente  de  sua  ancestralidade  filogenética,  decorrentes  das  adaptações  ao modo  de 

vida.  Alternativamente,  a  cuíca  d’água  pode  apresentar  padrões  semelhantes  a  outros 

marsupiais  neotropicais,  indicando  um  predomínio  das  restrições  filogenéticas  sobre  sua 

ecologia. 

A presente dissertação encontra‐se dividida em dois  capítulos,  cada qual abordando 

subtemas  da  ecologia  da  espécie.  O  primeiro  capítulo  trata  da  organização  espacial  e  do 

sistema de acasalamento da  cuíca d’água. O  segundo  capítulo discorre  sobre os padrões de 

atividade da espécie. Por  fim, encontram‐se as conclusões  sobre os aspectos da ecologia da 

espécie abordados nos dois capítulos. 

 

5  

ÁREA DE ESTUDO 

   

O  presente  estudo  foi  conduzido  na  bacia  do  rio Águas  Claras  (22°  30’S;  42°  30’O), 

situada no município de Silva Jardim, estado do Rio de Janeiro, Brasil (Fig. 2).   A bacia do rio 

Águas Claras deságua no médio curso do  rio São  João, o qual se caracteriza por ser um dos 

principais  cursos d’água da  região  sudeste do estado  (Bidegain & Völcker 2003). A  região é 

fortemente influenciada pelas cadeias de montanhas circundantes, as quais atingem elevação 

máxima de cerca de 1000 m acima do nível do mar  (Mantovani 1997). O clima é classificado 

como tropical úmido e quente. Entre 1968 e 2008, a média mensal da precipitação (± desvio 

padrão) variou entre 104,2 ± 50,5 mm na estação seca (abril a setembro), e 272,6 ± 74,1 mm 

na  estação  chuvosa  (outubro  a março;  Fonte: Agência Nacional  das Águas). A  temperatura 

média mensal varia entre 19°C no  inverno e 25°C no verão (Mantovani 1997). A vegetação é 

classificada  como  floresta  ombrófila  densa  submontana,  e  atualmente  inclui  porções  de 

vegetação secundária e remanescentes da floresta original (Mantovani 1997). 

  O  rio  Águas  Claras  nasce  no  Parque  Estadual  dos  Três  Picos  a  800 m  de  altitude, 

percorrendo uma extensão de 10,3 km até desembocar no  rio São  João  (Bidegain & Völcker 

2003). Este rio possui oito tributários principais (Bidegain & Völcker 2003), dentre os quais os 

rios Floresta, Dona Rosa, Maria Antônia,  Jordão e Canoa Podre. Seu curso  superior e médio 

ainda  possui  condições  bem  conservadas,  com  substrato  pedregoso  e  a  presença  de 

corredeiras, remansos e ocasionalmente poços profundos (Bidegain & Völcker 2003). Próximo 

à  foz  do  rio Dona Rosa  existe  uma  represa  desativada  de  cerca  de  3 m  de  altura. O  curso 

inferior do rio Águas Claras, depois da confluência com o rio Floresta, flui através de campos 

de  agricultura  e  pasto  e  sofreu  retificações  entre  as  décadas  de  1950  e  1980  (Bidegain & 

Völcker 2003). Nesta parte do  rio o  substrato é arenoso, as águas  são  calmas e  rasas, e há 

trechos  sem  mata  ciliar.  Atualmente  ainda  existe  extração  ilegal  de  areia  e  pedras  para 

construção civil. O trecho estudado do rio Águas Claras – final do curso superior, curso médio e 

início do curso inferior – possui largura média de 10 m e profundidade média de 0,4 m. 

Os rios Floresta e Dona Rosa são tributários do trecho médio do rio Águas Claras e são 

bem preservados,  com poucas  áreas  sem mata  ciliar;  consistem de  corredeiras  e  remansos 

com substrato pedregoso. Ao longo do rio Floresta existe uma seqüência de três cachoeiras de 

até 12 m de altura. O trecho estudado do rio Floresta – curso médio e inferior – possui largura 

média de 7 m e profundidade média e 0,4 m. O curso médio e inferior do rio Dona Rosa possui

Área de estudo 

6  

largura média de 4 m e profundidade média de 0,3 m. Os  rios Maria Antônia e  Jordão  são 

tributários do trecho superior do rio Águas Claras e possuem características bem conservadas 

tanto no leito de substrato pedregoso quanto nas margens de mata ciliar. A largura média do 

trecho  inferior  do  rio  Maria  Antônia  é  de  5,5  m  e  do  rio  Jordão  de  4,5  m,  sendo  as 

profundidades médias 0,4 e 0,3 m, respectivamente. O rio Canoa Podre desemboca no trecho 

inferior  do  rio  Águas  Claras,  entre  campos  de  pastagem  e  agricultura.  Possui  substrato 

pedregoso  com  áreas  de  remanso  e  corredeira  ao  longo  de  todo  seu  curso,  entretanto 

apresenta trechos da margem sem mata ciliar, sua profundidade média é de 0,3 m e  largura 

média de 4 m. Todos os rios da bacia são abastecidos por pequenos tributários permanentes e 

sazonais de até 1,5 m de largura, e 0,2 m de profundidade, de substrato arenoso e pedregoso.  

 

Figura 2. Localização da área de estudo no município de Silva Jardim, estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil. 

Em destaque, porção média da bacia do rio Águas Claras mostrando os rios e alguns pequenos tributários (linhas de 

menor espessura) utilizados pela cuíca d’água Chironectes minimus. Em negrito está a área de cobertura da grade 

de armadilhagem. A área hachurada indica um pequeno pântano. As setas negras indicam quedas d’água naturais 

de  pelo menos  5 m  de  altura  e  a  seta  cinza  indica  uma  represa  desativada  de  3 m  de  altura.  Coordenadas  na 

projeção Universal Transverse Mercator (UTM). 

 

7  

MÉTODOS GERAIS 

 

Métodos de captura – Sessões de captura de cinco noites de duração foram realizadas 

mensalmente  entre  outubro  de  2004  e  outubro  de  2008,  exceto  em  novembro  de  2004, 

março, novembro e dezembro de 2006. As áreas amostradas incluíram um trecho do rio Águas 

Claras e três pequenos tributários, um trecho do rio Floresta e dois pequenos tributários e um 

trecho do  rio Dona Rosa  (Fig. 1). As estações de armadilhagem eram posicionadas em  locais 

favoráveis  para maximizar  o  sucesso  de  captura.  As  distâncias  entre  estações  consecutivas 

variaram entre 20 e 200 m. Cada estação possuía de uma a  três armadilhas dependendo da 

largura do rio. De acordo com o desenho amostral, foram posicionadas de 10 a 120 armadilhas 

em diferentes trechos do rio em cada sessão de captura, totalizando 4.931 armadilhas x noite. 

  Seguindo o método desenvolvido por Bressiani & Graipel (2008), armadilhas de arame 

de  captura  viva  de  dupla  entrada  (Gabrisa  Ltda.,  Cafelândia,  Brasil,  90,0  x  21,0  x  21,0  cm; 

Tomahawk Live Trap Co., Tomahawk, Wisconsin, EUA, 96,6 x 15,2 x 15,2 cm e 81,3 x 22,9 x 

22,9 cm) foram posicionadas sobre barreiras formadas por pedras e galhos dentro dos rios de 

maneira que o pedal ficasse fora da água. A barreira era formada de modo a direcionar o fluxo 

d’água através da armadilha, induzindo o animal a entrar na armadilha enquanto nadava. Após 

cada  sessão  de  captura,  as  armadilhas  eram  removidas  e  as  barreiras  desmanchadas.  Até 

março de 2006, não foram usadas iscas nas armadilhas. Em abril e maio de 2006, as armadilhas 

foram  iscadas com bacon e  frutas, e de  junho de 2006 até o  fim do estudo  foram utilizados 

camarões (Litopenaeus vannamei) ou peixes (Engraulidae) como isca. 

  Animais  capturados  foram  marcados  individualmente  usando  brincos  numerados 

(modelo 1005‐1, National Band  and  Tag Co., Newport, Kentucky,  EUA). Para  cada  indivíduo 

capturado,  foram  registradas  a  estação  de  captura,  sexo,  condição  reprodutiva  (filhotes  no 

marsúpio  ou  tetas  inchadas  para  fêmeas,  posição  dos  testículos  para  machos),  medidas 

corporais (massa e comprimento da cauda), e idade (seqüência de erupção dentária). Como o 

padrão de erupção dentária para a cuíca d’água não é bem conhecido, a identificação da idade 

dos animais baseou‐se na classificação proposta por Rocha (2000) para Didelphis e Philander, 

dois gêneros filogeneticamente próximos a Chironectes (Jansa & Voss 2000). Após a triagem os 

animais foram imediatamente soltos no mesmo local de captura.  

Radiotelemetria –  Indivíduos adultos capturados foram equipados com um radiocolar 

com sensor de atividade (SOM‐2380A, Wildlife Materials,  Inc., Murphysboro,  Illinois, EUA; ou

Métodos gerais 

8  

TXE‐207C,  Telenax,  Playa  del  Carmen,  México).  Os  radiotransmissores  pesavam 

aproximadamente 15 g, correspondendo a até 5% da massa do animal, como  recomendado 

por Jacob & Rudran  (2003). Não foram observados efeitos adversos óbvios do radiocolar nos 

animais monitorados.  

Os animais foram monitorados durante a noite, utilizando a técnica “homing‐in on the 

animal” com um receptor TR‐4 e uma antena RA‐14k (Telonics, Inc., Mesa, Arizona, EUA). Esta 

técnica consiste em seguir o sinal do transmissor até a obtenção de contato visual do animal 

monitorado  (White & Garrot 1990), ou quando é possível ouvir o  sinal do  radiocolar  com a 

antena  desconectada  do  receptor  (Lira  et  al.  2007).  Para  diminuir  os  problemas  de 

autocorrelação dos dados, localizações sucessivas do mesmo indivíduo foram tiradas com pelo 

menos 1 h de intervalo (Linders et al. 2004, Endries & Adler 2005), o qual é considerado tempo 

suficiente para um  indivíduo atravessar  toda a extensão de sua área de vida. As  localizações 

foram registradas com um aparelho de sistema de posicionamento global portátil (GPS Garmin 

12;  Olathe,  Kansas,  EUA),  com  base  em  referências  geográficas  (coordenadas  na  projeção 

Universal Transverse Mercator – UTM). Os erros das  localizações foram calculados através da 

distância média à qual os  indivíduos  localizados eram avistados. Em 67 avistamentos durante 

as sessões de monitoramento, o animal encontrava‐se a até 15 m de distância do observador. 

Cada  sessão  de  monitoramento  iniciava‐se  quando  o  animal  deixava  a  toca, 

normalmente depois do pôr do sol, e terminava apenas ao nascer do sol no dia seguinte, com 

o animal  já de volta a uma  toca.  Localizações diurnas  foram obtidas para verificar possíveis 

atividades diurnas e para localização de tocas. A atividade dos indivíduos foi detectada através 

da  flutuação da  intensidade do  sinal do  radiocolar. Todo o protocolo de  captura,  triagem e 

monitoramento  do  animal  foi  aprovado  pelo  Instituto  Brasileiro  de Meio  Ambiente  e  dos 

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA‐SISBIO, processo número: 12425‐1). 

Análise dos dados – Todos os teste estatísticos seguiram Zar (1999) e foram calculados 

utilizando os programas BioEstat 5.0  (Ayres et al. 2008) e Statistica 7.0  (StatSoft,  Inc., Tulsa, 

Oklahoma, EUA). A normalidade dos dados foi testada com o teste de Shapiro‐Wilk e através 

de  análises  gráficas  dos  resíduos  segundo  Gotelli  &  Ellison  (2004).  A  homogeneidade  das 

variâncias  foi  testada  com  o  teste  de  Levene.  Os  resultados  dos  testes  paramétricos  são 

apresentados como média ± desvio padrão. Para os dados que violaram as premissas acima 

descritas,  foram  utilizados  testes  não paramétricos  e  os  resultados  são  apresentados  como 

mediana,  valor mínimo  –  valor máximo. Nos  testes  em  que  cada  indivíduo monitorado  foi 

considerado  uma  amostra,  a mediana  dos  valores  foi  calculada  para  cada  indivíduo.  Esta 

Métodos gerais 

9  

medida foi tomada devido ao baixo tamanho amostral de alguns indivíduos e ao fato de que os 

resultados  em minutos  não  estão  estritamente  em  escala  contínua,  para  testes  analisando 

duração da  atividade. O  nível de  significância  considerado  foi de  α  =  0,05. Os  valores de  P 

apresentados são bicaudais, exceto aqueles onde há uma predição direcional para comparação 

dos grupos, por exemplo, em alguns testes comparando machos e fêmeas. 

 

1  

 

CAPÍTULO I 

 

 

 

ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E SISTEMA DE ACASALAMENTO 

DA CUÍCA D’ÁGUA CHIRONECTES MINIMUS EM RIOS DE 

MATA ATLÂNTICA NO SUDESTE DO BRASIL 

 

11  

INTRODUÇÃO 

 

A  organização  dos  animais  no  espaço  descreve  a maneira  pela  qual  os  indivíduos 

dentro  de  uma  população  se  distribuem  na  paisagem,  incluindo  a manutenção  de  áreas‐

núcleo,  áreas  de  vida  e  territórios  (Mares &  Lacher  1987).  Tal  organização  é  resultado  de 

táticas adotadas pelos  indivíduos para sobreviver e maximizar o sucesso reprodutivo (Sandell 

1989 apud Belcher & Darrant 2004). O uso de tocas é também um importante aspecto do uso 

do espaço pelos animais e pode prover  informações  sobre o grau de  sociabilidade  (Brock & 

Kelt  2004),  sistema  de  acasalamento  (Endries  &  Adler  2005)  e  preferências  de  habitat  da 

espécie  (Shibata  et  al.  2004).  Tal  padrão  de  distribuição  espacial  fornece  informações 

imprescindíveis para o entendimento do sistema de organização social e acasalamento de uma 

população  (Hixon 1987, Ostfeld 1990, Maher & Lott 1995). Dentre os mamíferos, as  fêmeas 

são  tipicamente  encarregadas  de  grande  parte  do  cuidado  parental,  o  que  resulta  no  uso 

diferencial do espaço entre os sexos (Trivers 1972, Emlen & Oring 1977, Clutton‐Brock 2007, 

2009).  

 Os modelos para pequenos mamíferos que relacionam a organização espacial com a 

social (Ostfeld 1985, Hixon 1987,  Ims 1987, Ostfeld 1990) predizem que o uso do espaço por 

fêmeas reflete a abundância, distribuição, taxa de reposição dos recursos e proteção da prole 

(Wolff 1993), o que pode  levar à  territorialidade  intrasexual  (Ostfeld 1990, Wolff 1993).  Já o 

uso do espaço por machos reflete uma estratégia de maximizar o acesso às  fêmeas, que vai 

depender  da  distribuição  e  uso  do  espaço  pelas  fêmeas  (Ostfeld  1990).  Machos  podem 

apresentar  territorialidade  se  a  distribuição  de  fêmeas  é  agrupada,  ou  ausência  de 

territorialidade  se distribuição de  fêmeas é uniforme  (territorial)  (Ostfeld 1990). Portanto, a 

existência  ou  não  de  territorialidade  intrassexual  pode  permitir  entender  os  sistemas  de 

organização social e, por conseguinte, o sistema de acasalamento da espécie.  

Diversos  são  os  fatores  que  determinam  o  tamanho  da  área  de  vida  dos  animais 

(Harestad & Bunnell 1979, Damuth 1981, Bergallo 1990, Kelt & van Vuren 2001),  tais como: 

tamanho  corporal,  taxas metabólicas, disponibilidade, densidade  e distribuição de  recursos, 

dieta, estrutura social e densidade populacional. A massa corporal tem sido considerada uma 

das  principais  causas  de  variações  interespecíficas  no  tamanho  da  área  de  vida  entre 

mamíferos  (McNab  1963,  Harestad &  Bunnell  1979,  Swihart  et  al.  1988,  Kelt &  van  vuren 

2001). Por  conseguinte, diferenças marcantes de  tamanho  corporal entre machos e  fêmeas 

Capítulo I ‐ Introdução 

12  

(dimorfismo sexual) podem atuar como fatores que diferenciam os padrões espaciais entre os 

sexos de uma mesma espécie (Fisher & Owens 2000, Marcelli et al. 2003). O dimorfismo sexual 

é  supostamente  causado  pela  especialização  em  diferentes  presas  para  evitar  competição 

intersexual ou por diferenças na estratégia  reprodutiva entre os  sexos  (Erlinge 1979, Moors 

1980). Em mamíferos, o dimorfismo  sexual desviado para machos é geralmente associado à 

seleção  sexual  atuando  na  competição  por  fêmeas  em  sistemas  poligínicos  ou  promíscuos 

(Wilson  &  Pianka  1963,  Erlinge  1979, Moors  1980).  Dessa  forma,  em  espécies  onde  haja 

dimorfismo sexual marcante, os sexos devem possuir diferenças na  forma de uso do espaço 

não  só  devido  ao  sistema  de  acasalamento, mas  também  devido  a  diferenças  ecológicas  e 

comportamentais (Erlinge 1979, Moors 1980, Marcelli et al. 2003 Isaac 2005).  

Poucos estudos já foram feitos com marsupiais neotropicais e seus padrões de uso do 

espaço. O padrão geralmente encontrado prediz que machos se movimentam mais e possuem 

áreas  de  vida  não  exclusivas  e maiores  do  que  fêmeas,  enquanto  fêmeas  são  geralmente 

territoriais com pequena área de vida  (Lay 1942, Fleming 1972, Gillette 1980, Sunquist et al. 

1987,  Ryser  1992,  Grelle  1996,  Pires  &  Fernandez  1999,  Cáceres  &  Monteiro‐Filho  2001,  

Cáceres 2003, Moraes  Jr & Chiarello 2005, Galliez et al. 2009). Este modelo de organização 

espacial indica um sistema de acasalamento poligínico, no qual um macho tem acesso a várias 

fêmeas,  ou  promíscuo,  no  qual  ambos  os  sexos  têm  acesso  a mais  de  um  parceiro  sexual. 

Entretanto, há relatos na  literatura de ausência de territorialidade em marsupiais tanto  inter 

quanto  intrasexualmente  (Holmes  &  Sanderson  1965,  Hunsaker  1977  apud  Cáceres  & 

Monteiro‐Filho  2001, Charles‐Domininque  1983,  Julien‐Laferrière  1995, Gentile  et  al.  1997), 

levando alguns autores a acreditarem que a ausência de territorialidade possa ser uma regra 

em marsupiais neotropicais (Charles‐Dominique 1983, Julien‐Laferrière 1995). 

O objetivo deste capítulo foi entender o padrão de organização espacial e o sistema de 

acasalamento da cuíca d’água em rios de Mata Atlântica no sudeste do Brasil, com a utilização 

das  técnicas  de  radiotelemetria  e  de  captura‐marcação‐recaptura.  Baseado  no  escasso 

conhecimento ecológico existente para  a espécie  (Mondolfi & Padilha 1958, Marshall 1978, 

Nowak  1991,  Galliez  et  al.  2009),    e  nos modelos  de  organização  espacial  descritos  para 

pequenos mamíferos (Ostfeld 1985, Hixon 1987, Ims 1987, Ostfeld 1990), testou‐se a hipótese 

de um sistema de acasalamento poligínico ou promíscuo para a cuíca d’água formulando‐se as 

seguintes predições.  (1) Machos devem possuir maior massa que fêmeas. (2) Machos devem 

possuir maiores extensões de uso do que fêmeas. (3) Fêmeas devem ser territoriais quanto à 

presença  de  outras  fêmeas.  (4)  Deve  haver  uma  grande  sobreposição  espacial  entre  as 

Capítulo I ‐ Introdução 

13  

extensões de uso de machos.  (5) Machos devem possuir padrões de movimentação diários 

maiores do que fêmeas. (6) Fêmeas devem percorrer maiores proporções de sua extensão de 

uso por noite para defesa de território. (7) Os sexos devem diferir quanto às suas preferências 

de uso de habitats e de tocas.  

Para testar as hipóteses formuladas foram selecionadas dois métodos diferentes para 

as  estimativas  de  extensão  de  uso. Os  estimadores  de  extensão  de  uso  foram  comparados 

entre si e discutidos quanto às suas  implicações ecológicas e aplicabilidade para uma espécie 

semi‐aquática.  Os  resultados  encontrados  foram  comparados  com  outras  espécies  de 

marsupiais neotropicais e mamíferos  semi‐aquáticos, na busca de melhor  compreensão dos 

mecanismos evolutivos e adaptativos que atuam na manutenção do  sistema de organização 

social e de acasalamento da espécie.  

 

14  

MÉTODOS 

 

Parâmetros  populacionais  –  A  razão  sexual  da  população  foi  analisada  a  partir  das 

taxas  de  captura  e  recaptura  dos  indivíduos  adultos.  Esta  medida,  apesar  de  não  ser 

exatamente  a  razão  sexual  operacional  (razão  entre  machos  e  fêmeas  prontos  para 

reprodução, Kvarnemo & Ahnesjö 1996), pode ainda assim fornecer informações importantes 

sobre o sistema de acasalamento da espécie. O dimorfismo sexual foi analisado apenas através 

da massa corporal de machos e fêmeas adultos capturados. 

 

Padrões espaciais – Para  calcular a extensão de uso da  cuíca d’água, as  localizações 

obtidas para cada  indivíduo foram plotadas em um mapa georreferenciado contendo o curso 

dos  rios,  utilizando  o  programa  ArcGIS  9.3  (Environmental  Systems  Research  Institute, 

Redlands,  California).  Para  as  estimativas  de  uso  do  espaço,  foram  utilizadas  tanto  as 

localizações obtidas por radiotelemetria quanto por captura.  

O primeiro estimador de extensão de uso escolhido para análises  foi o comprimento 

total  de  rio  utilizado  entre  as  localizações  mais  extremas  (CT).  Esta  forma  de  estimar  a 

extensão de uso é amplamente utilizada para mamíferos semi‐aquáticos por ser simples e de 

fácil  aplicação  para  um  conjunto  de  dados  com  número  amostral  baixo  (Sauer  et  al.  1999, 

Blundell et al. 2001). Além disso, parece não ser afetado por dados autocorrelacionados (Garin 

et al. 2002). 

Como o CT pode ser considerado pouco acurado e conservativo (Sauer et al. 1999), a 

extensão  de  uso  foi  também  calculada  através  do  comprimento  dos  rios  inseridos  no 

delineamento de área produzido pelo método kernel (K‐UNI), como recomendado por Blundell 

et al.  (2001). Este método  já se mostrou bastante acurado para estimativas unidimensionais 

(Sauer et al. 1999, Blundell et al. 2000, 2001, Medina‐Vogel et al. 2007). Foi utilizado o kernel 

fixo com parâmetro de suavização de referência (href) para estimativas lineares dentro de 95% 

do volume de contorno da área de vida (Blundel et al. 2001). O href é considerado adequado 

quando  as  localizações  são  precisas  (Jacob &  Rudran  2004)  e  é menos  sensível  a  pequeno 

tamanho  amostral  (Seaman  et  al.  1999,  Blundell  et  al.  2001).  Excluir  os  5%  do  volume  de 

contorno  do  kernel  ou  localizações  é  um  método  padrão  para  correções  do  efeito  de 

Capítulo I ‐ Métodos 

15  

localizações extremas em estimativas de área de vida (Jacob & Rudran 2004); tais localizações 

podem representar excursões ocasionais para fora da área de vida do animal (“outliers”).  

Área‐núcleo é considerada a área mais  freqüentemente usada por um animal dentro 

de  sua  área de  vida  (Samuel  et al. 1985). Nem  todos os  animais possuem necessariamente 

uma  área‐núcleo  (Powell  2000),  e  isso  pode  ocorrer  devido  a  padrões  de  uso  do  espaço 

aleatórios ou uniformes. Para testar a possível existência de áreas‐núcleo  (extensões‐núcleo) 

dentro da extensão de uso da cuíca d’água, foi utilizada a análise proposta por Powell (2000) 

(Fig.  I.1), ao  invés da utilização de uma porcentagem  já estabelecida como área‐núcleo  (e.g. 

50% do volume de contorno do kernel). Neste método, é observado para cada animal a curva 

resultante da relação entre a porcentagem da área de vida e a máxima probabilidade de uso 

da  área  de  vida.  Em  teoria,  o  uso  de  espaço  de maneira  aleatória  produzirá  uma  reta  de 

coeficiente angular igual a ‐1. O uso uniforme resulta em uma curva convexa, enquanto o uso 

agrupado  em  uma  curva  côncava.  A  área‐núcleo  é  então  delineada  dentro  de  uma 

porcentagem do volume de contorno da área de vida. Esse delineamento ocorre no ponto em 

que a curva côncava possui um coeficiente angular igual a ‐1, na qual o volume de contorno da 

área‐núcleo  é  a maior  distância  entre  a  curva  e  a  reta  de  distribuição  aleatória  (Fig.  I.1). 

Entretanto, este modelo pode produzir áreas‐núcleo mesmo para distribuições aleatórias ou 

uniformes, apenas porque a probabilidade de uso aumenta significativamente para dentro da 

distribuição  (Laver  2005a). A decisão, portanto, baseia‐se na  forma das  curvas  apresentada 

pelo gráfico para cada indivíduo (Laver 2005a), quanto mais côncava maior a probabilidade do 

animal possuir uma área‐núcleo. Adicionalmente, um critério de seleção utilizado para decidir 

se  um  indivíduo  possui  área‐núcleo  ou  não  foi  comparar  a  proporção  de  localizações  que 

estavam  inseridas nas áreas‐núcleo. Acima de 90% das  localizações  inseridas na área‐núcleo 

podem indicar um uso não agrupado da área de vida, ou seja não há área‐núcleo, mesmo que 

a curva resultante tenha sido côncava. 

Capítulo I ‐ Métodos 

16  

 

uniforme

aleatório

Máxima probabilidade de uso (%)

% daárea

de vida

agrupado

 

Figura  I.1. Método  de  delineamento  de  áreas  núcleo  segundo  Powell  (2000).  Áreas  núcleo  (linha  côncava)  são 

delimitadas quando a densidade de probabilidade é maior do que esperado para uma distribuição aleatória (linha 

reta) ou uniforme (linha convexa). Modificado de Laver (2005b). 

 

Para as análises de área‐núcleo foi utilizado o kernel fixo com parâmetro de suavização 

por  validação  cruzada  dos  quadrados mínimos  (LSCV,  Blundell  et  al.  2001).  O  volume  de 

contorno  resultante  da  área‐núcleo  foi  utilizado  para  delimitar  a  extensão‐núcleo 

(comprimento  de  rio  dentro  do  contorno  da  área‐núcleo).  As  extensões‐núcleo  calculadas 

foram transformadas em porcentagens da extensão de uso e comparadas com a porcentagem 

da  área‐núcleo  através  do  teste  de  Wilcoxon.  Este  teste  foi  feito  porque  a  relação 

bidimensional  de  uma  área‐núcleo  dentro  de  uma  área  de  vida  pode  diferir  da  relação 

unidimensional da extensão‐núcleo dentro de uma extensão de uso. Todas as estimativas de 

extensão  de  uso  e  análises  de  área  núcleo  foram  calculadas  utilizando  a  extensão  ABODE 

(Laver 2005a) no programa ArcGIS 9.3  (Environmental Systems Research  Institute, Redlands, 

California). 

A  autocorrelação  entre  localizações  sucessivas  não  possui  efeito  aparente  nas 

estimativas  de  extensão  de  uso  com  qualquer método  kernel  (Blundell  et  al.  2001)  ou  CT 

(Garin et al. 2002). Desta forma, foi presumido que a autocorrelação não afetou as estimativas 

de  tamanho de extensão de uso  (de acordo com Swihart & Slade 1985, Otis & White 1999, 

Powell 2000). Entretanto, foi respeitado o intervalo de uma hora entre localizações sucessivas, 

Capítulo I ‐ Métodos 

17  

como explicado anteriormente. Este intervalo se mostrou suficiente para que um animal possa 

se mover entre os extremos de sua área de vida/extensão de uso, como sugerido por Otis & 

White (1999).  

A estimativa do tamanho da área de vida de um animal é fortemente dependente do 

número  de  localizações  obtidas  e  tende  a  aumentar  à medida  que  aumenta  o  número  de 

localizações, até atingir uma assíntota (Harris et al. 1990). A sensibilidade das estimativas de 

tamanho de extensão de uso foi analisada para ambos estimadores de extensão de uso (CT e 

K‐UNI)  através  da  construção  de  curvas  entre  o  número  de  localizações  e  o  tamanho 

cumulativo da extensão de uso para cada indivíduo. As curvas foram construídas adicionando 

as localizações de maneira aleatória, como recomendado por Harris et al. (1990) para dados de 

localizações  com  intervalos  irregulares.  Para  as  estimativas  de  K‐UNI  foram  utilizadas  as 

assíntotas de área construídas a partir da área obtidas pelo kernel, já que estas estimativas são 

altamente  correlacionadas  e  provém  uma  boa  indicação  das  assíntotas  unidimensionais 

(Blundell  et  al.  2001).  Para  o  estimador  K‐UNI  foram  feitas  20  reamostragens  para  cada 

indivíduo,  sendo a  curva  construída a partir da média das  reamostragens  (Laver 2005b). Os 

resultados  plotados  no  gráfico  foram  inspecionados  visualmente  para  verificar  se  houve 

suficiência  amostral  para  cada  indivíduo  combinando  os  resultados  para  CT  e  K‐UNI. 

Adicionalmente, foram feitas correlações de Spearman (rs) entre o número de localizações e o 

tamanho da extensão de uso para analisar se o esforço amostral foi suficiente.  

Como a territorialidade possui diversas definições dependendo do táxon e do objetivo 

do  estudo  (Maher &  Lott  1995),  a  territorialidade  neste  estudo  será  definida  como  a  área 

defendida  contra  indivíduos  da  mesma  espécie  e,  portanto,  exclusiva  para  um  indivíduo. 

Entretanto, a defesa de território pode ser difícil de observar em espécies crípticas, como é o 

caso da cuíca d’água;  logo o grau de sobreposição entre extensões de uso será usado como 

uma evidência da territorialidade (Maher & Lott 1995). Para isso foi desenvolvida uma análise 

de  interação  estática  entre  indivíduos  que  foram  monitorados  num  mesmo  período.  A 

interação  estática  mede  a  quantidade  de  sobreposição  espacial  entre  dois  animais  sem 

referência  ao  tempo  (White & Garrot 1990, Kernohan  et al. 2001). As  sobreposições  foram 

estimadas  pela  proporção  de  extensão  de  uso  do  indivíduo  A  que  se  sobrepõe  com  a  do 

indivíduo B, e pela proporção de extensão de uso do  individuo B que se sobrepõe com a do 

indivíduo A (White & Garrot 1990, van der Ree & Bennett 2003).  

O grau de sobreposição entre as áreas‐núcleo/extensões‐núcleo pode ser um descritor 

mais acurado da tolerância social do que sobreposições entre áreas de vida/extensões de uso. 

Capítulo I ‐ Métodos 

18  

Desta forma, calculou‐se também as sobreposições entre as extensões‐núcleo dos  indivíduos 

da mesma  maneira  descrita  acima.  É  importante  ressaltar  que  o  grau  de  sobreposição  é 

específico de cada indivíduo (% sobreposição de A com B é diferente da % sobreposição de B 

com A). Foram calculadas interações estáticas para pares definidos pelos sexos: macho‐macho 

que  é  porcentagem  de  sobreposição  da  extensão  de  uso  de  um macho  com  outro macho; 

fêmea‐macho,  a porcentagem de  sobreposição da extensão de uso de uma  fêmea  com um 

macho; e macho‐fêmea, a porcentagem de  sobreposição da extensão de uso de um macho 

com uma  fêmea. A ausência de  fêmeas monitoradas num mesmo período  impossibilitou os 

cálculos de  interação para a dupla fêmea‐fêmea. A fidelidade à extensão de uso foi calculada 

apenas  para  indivíduos  com mais  de  um  ano  de monitoramento,  através  da  proporção  de 

sobreposição entre as estimativas dos anos  (Kernohan et al. 2001). Para estes  indivíduos, foi 

utilizada a média entre os anos das extensões de uso para as análises dos padrões espaciais. 

Para entender melhor o uso de diferentes tipos de corpos d`água pela cuíca d’água, foi 

feita  uma  comparação  entre  sexos  das  proporções  de  uso  de  pequenos  tributários  e  rios 

principais, através do teste de Mann‐Whitney. Em cada ocasião na qual foi possível visualizar o 

animal, foi anotada sua posição em relação ao rio: dentro do rio, na margem ou na mata ciliar 

(≥1 m da calha do rio). 

 

Padrões de movimentação – A velocidade de deslocamento dos  indivíduos dentro do 

rio foi calculada através das distâncias e do tempo entre localizações sucessivas do animal em 

atividade.  Devido  à  possível  influência  da  correnteza  da  água,  foram  comparadas  as 

velocidades de deslocamento dos  indivíduos a favor e contra o fluxo d’água através do teste 

de Wilcoxon. Para entender o padrão de movimentação noturno dos animais, as estimativas 

de  extensão  de  uso  (CT)  foram  calculadas  para  cada  noite  de  monitoramento.  Estas 

estimativas  foram  transformadas em proporções das estimativas  totais do CT, e comparadas 

entre os sexos através do teste t. O K‐UNI não foi utilizado para este cálculo devido ao baixo 

número de localizações por noite. 

 

Uso de tocas – Os indivíduos monitorados tiveram suas tocas localizadas durante o dia, 

quando o animal  se encontrava  inativo dentro da  toca. A  localização precisa da entrada da 

toca  foi  feita  diretamente  através  do  avistamento  do  animal  saindo  da  toca  no  início  da 

atividade noturna, ou  indiretamente  através da busca de  aberturas na margem dos  rios de 

Capítulo I ‐ Métodos 

19  

acordo com a  intensidade do sinal do radiotransmissor. O número de tocas por  indivíduo  foi 

calculado e  comparado entre os  sexos através do  teste de Mann‐Whitney. Para entender o 

padrão  de  distribuição  das  tocas  dentro  da  extensão  de  uso  dos  animais,  foi  calculada  a 

distância  entre  as  tocas  contíguas para  cada  indivíduo. A partir daí,  foi  calculada para  cada 

distância a porcentagem do CT que esta distância representa. Para cada indivíduo foi calculada 

a mediana  destas  porcentagens  de  distância  e  estas medidas  comparadas  entre machos  e 

fêmeas através do testes de t. 

 

20  

RESULTADOS 

   

Foram  obtidas  108  capturas  de  37  indivíduos,  o  que  corresponde  a  um  sucesso  de 

captura de aproximadamente 2,2%. Durante o estudo, a razão sexual foi fortemente desviada 

para machos, havendo cerca de seis machos para cada fêmea na população. Das capturas, 93 

foram de 32 machos e 15 de cinco fêmeas (indivíduos: χ² com correção de Yates = 18,27 , g.l. = 

1,  P  <  0,001).  Entretanto,  não  houve  diferenças  entre  os  sexos  quanto  ao  número  de 

recapturas  por  indivíduo  (0–27  e  0–4  recapturas  por  indivíduo  macho  e  fêmea, 

respectivamente; U = 52,5, n1 = 32, n2 = 5, P = 0,22). Machos adultos foram cerca de 30% mais 

pesados que fêmeas adultas (machos: 494 ± 90 g; fêmeas: 381 ± 34 g; t10 = 2,373, n1 = 8, n2 =4, 

P = 0,039). 

Foram  equipados  com  radiocolares  18  indivíduos  adultos;  entretanto  apenas  12 

machos  e  quatro  fêmeas  puderam  ser monitorados,  devido  à  falha  do  radiocolar  de  dois 

indivíduos. Foram obtidas 440  localizações entre  julho de 2005 e outubro de 2008, com uma 

grande variação no número de localizações (2‐65) e no tempo de monitoramento (0‐8 noites) 

por  indivíduo. Apenas nove  indivíduos foram considerados para as análises de estimativas de 

extensão  de  uso,  por  terem  atingido  uma  assíntota  entre  o  número  de  localizações  e  as 

estimativas de CT e K‐UNI (Tab. I.1, Fig. I.2). Para estes  indivíduos, não houve relação entre o 

número de localizações e o tamanho da extensão de uso (CT: rs = 0,02, n = 9, P = 0,95; K‐UNI: rs 

= 0,21, n = 9, P = 0,59). O tempo médio de monitoramento por indivíduo foi de cinco meses. O 

fim do monitoramento ocorreu principalmente devido à falha nos radiocolares, com exceção 

de  três  indivíduos  que  foram  encontrados  mortos  sem  causas  aparentes  relacionadas  ao 

radiocolar. 

 

21  

Tabela  I.1. Resultados do monitoramento de nove cuícas d’água Chironectes minimus na bacia do  rio Águas Claras, Silva  Jardim, RJ. As  informações  fornecidas são: sexo, massa corporal, 

período  de monitoramento,  número  de  localizações  consideradas  para  as  análises,  estimativas  de  extensão  de  uso  por  comprimento  total  entre  localizações  extremas  (CT)  e  kernel 

unidimensional (K‐UNI), CT por noite, proporção do CT usada a cada noite, extensão‐núcleo, proporção do K‐UNI que a extensão‐núcleo representa e proporção de localizações inseridas na 

extensão‐núcleo. 

Indivíduo  Sexo Massa (g) 

Período de monitoramento

Número de localizações

CT (m) 

CT por noite (m) 

Proporção do CT (CT por noite/CT) 

K‐UNI (m) 

Extensão‐núcleo (m) 

Proporção do K‐UNI (extensão núcleo/K‐UNI) 

Proporção de localizações na extensão‐núcleo 

Godofredo macho 380 jul-nov 05 60 3370  1180  0,35  3730  1520  0,41  0,88

Margarida fêmea 310  ago-set 05 16 870  140  0,16  900  380  0,42  0,75

Robin* macho 321 ago 05‐fev 06 e ago 07‐nov 07 

34 4140  580  0,22  4270  1980  0,46  0,85

Paçoca fêmea 235 mai 06-out 06 28 1250  310  0,25  1330  472  0,35  0,71

Panqueca* macho 390 abr 06-out 06 e

jan 07-jul 07 54 2390  310  0,13  2660  1230  0,46  0,83

Tonico macho 340  jan‐mar 07  17 3440  1930  0,56  2700  1980  0,73  0,94

Malandro macho 330  abr-jul 07 19 3620  1635  0,45  5220  3630  0,70  1,00

Florzinha fêmea 350 abr 07-abr 08 65 2330  580  0,26  2460  1240  0,50  0,83

Rivaldo macho 335 abr-jul 08 28 5860  2835  0,48  7700  2400  0,31  0,82

* indivíduos monitorados por mais de um ano; resultados apresentados como média entre os anos.21

Capítulo I ‐ Resultados  

22  

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

5 15 25 35 45 55 65

CT (m

)

Número de localizações

Rivaldo Robin2005 Robin2007

Malandro Tonico Panqueca2006

Godofredo Panqueca2007 Florzinha

Paçoca Margarida

 

B

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

5 15 25 35 45 55 65

Área de vida (Km²)

Número de localizações 

Figura  I.2. Análise das assíntotas utilizando os estimadores CT (A) e K‐UNI (B) e o número de  localizações para as 

nove  cuícas  d’água  Chironectes  minimus  monitoradas  na  bacia  do  rio  Águas  Claras,  Silva  Jardim,  RJ.  CT  – 

comprimento total entre localizações extremas. K‐UNI – kernel unidimensional (ver métodos). Cada curva refere=se 

a um  indivíduo monitorado,  cujos nomes estão  citados na  legenda da  figura A. Os  indivíduos Robin e Panqueca 

estão representados por duas curvas, cada qual referente a um ano de monitoramento. 

Capítulo I ‐ Resultados  

23  

Padrões  espaciais  – As  estimativas de  CT  variaram  entre  870  e  5860 m de  extensão de  rio 

utilizada para a cuíca d’água (Anexo 1). Machos apresentaram estimativas de CT cerca de três 

vezes maiores do que fêmeas (machos: 3530, 2580 – 5860; fêmeas: 1250, 870 – 2330 m; U’ = 

18, n1 =   n2 = 3, P = 0,02). Os resultados das estimativas de K‐UNI foram, em todos os casos 

exceto por um, cerca de 15% maiores do que os resultados de CT (t8 = ‐1,86, n = 9, P = 0,049).  

As estimativas de K‐UNI variaram entre 900 e 7700 m de extensão de rio (Anexo 1). Da mesma 

forma, machos apresentaram estimativas de K‐UNI cerca de três vezes maiores do que fêmeas 

(machos: 4475, 2700 – 7700 m; fêmeas: 1330, 900 – 2460 m; U’ = 18 n1 = 6, n2 = 3, P = 0,02). 

Não houve correlação entre a massa corporal e o  tamanho da extensão de uso dos animais 

monitorados (CT: rs = 0,15, n = 9, P = 0,70; K‐UNI: rs = 0,23, n = 9, P = 0,54). 

De  acordo  com  o modelo  proposto  por  Powell  (2000),  a  análise  das  curvas  entre  a 

porcentagem da área de vida e a porcentagem da máxima probabilidade de uso  indicam que 

quase  todos  os  indivíduos  apresentaram  localizações  agrupadas  formando  áreas‐núcleo 

(Anexo 2). Apenas os  indivíduos Tonico e Malandro pareceram não possuir uma área núcleo. 

Isso foi constatado pela observação da curva gerada, pelas maiores proporções de delimitação 

da extensão‐núcleo e pela alta proporção das  localizações  inserida na área núcleo, chegando 

até  a  100%  das  localizações  para  o  indivíduo Malandro  (Tab.  I.1). A  delimitação  das  áreas‐

núcleo variou entre 51 e 66 % (n = 7) do volume da área de vida. Entretanto essa delimitação 

representou  uma  variação  entre  31  e  50%  da  porcentagem  da  extensão  de  uso  (K‐UNI).  A 

porcentagem  de  delimitação  para  as  áreas‐núcleo  foi  cerca  de  30%  maior  do  que  a 

porcentagem de delimitação para as extensões‐núcleo  (Wilcoxon: Z = 2,37, n = 7, P = 0,02), 

sendo ambas as porcentagens não correlacionadas (rs = 0,30, n = 7, P = 0,50). Machos e fêmeas 

não diferiram quanto à proporção da extensão de uso que formavam a extensão‐núcleo (U = 8, 

n1 = 4, n2 = 3, P = 0,16).  

As  extensões‐núcleo  variaram  entre 380  e 2400 m de  comprimento de  rio. Machos 

tiveram  suas  extensões‐núcleo  quase  quatro  vezes maiores  do  que  fêmeas  (machos:  1750, 

1230 – 2400 m; fêmeas: 472, 380 – 1240 m; U = 1, n1 = 4, n2 = 3, P = 0,04). Cada  indivíduo 

possuía em média 3 ± 0,7 fragmentos de extensão‐núcleo ao longo da extensão de uso. Cerca 

de metade destas extensões‐núcleo estava associada aos locais de toca. 

Para  dois  indivíduos monitorados  por mais  de  um  ano  foi  calculada  a  fidelidade  à 

extensão de uso através das estimativas de CT e de K‐UNI (Fig. I.3). Para as estimativas de CT, 

ambos  os  indivíduos  apresentaram  alta  fidelidade  à  extensão  de  uso,  apresentando  uma 

mediana de 80% (61 – 100 %) de sobreposição das extensões de uso entre os anos. Já para as 

Capítulo I ‐ Resultados  

24  

estimativas de K‐UNI apenas o  indivíduo Panqueca apresentou alta  fidelidade à extensão de 

uso (cerca de 80% de sobreposição entre anos). Este  indivíduo apenas diminuiu sua extensão 

de  uso  no  ano  seguinte.  Para  o  indivíduo  Robin,  apenas  45%  de  sua  extensão  de  uso  foi 

mantida  entre  os  anos,  apresentando  uma  mudança  na  extensão  de  uso  em  sua  porção 

inferior, sendo que para o ano de 2007, este estimador fragmentou a área de vida do indivíduo 

em três (Fig. I.3). 

A B

 

Figura I.3. Fidelidade à extensão de uso para dois indivíduos da cuíca d’água Chironectes minimus monitorados por 

dois anos em rios da bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. As linhas negras representam as sobreposições entre 

os anos através das estimativas de CT. A – Robin; os círculos contínuos representam as estimativas do kernel para o 

ano de 2005 e os pontilhados o ano de 2007. B – Panqueca; os círculos contínuos representam as estimativas de 

kernel para o ano de 2006 e os pontilhados o ano de 2007.  

 

As porcentagens de  sobreposição de extensão de uso entre os pares macho‐macho, 

macho‐fêmea e  fêmea‐macho não diferiram entre os estimadores CT e K‐UNI  (Wilcoxon: Z = 

0,20,  n  =  18,  P  =  0,84,  Tab.  I.2).  Tais  pares  de  sobreposição  apresentaram  diferenças 

significativas entre si (CT, H2 = 9,88, n = 20, P = 0,007; K‐UNI, H2 = 10,78, n = 18, P = 0,005; Tab. 

I.2). O  par macho‐fêmea  foi  o  que  apresentou  as menores  porcentagens  de  sobreposição, 

diferindo significativamente dos pares macho‐macho (CT, P = 0,02; K‐UNI, P = 0,04) e fêmea‐

Capítulo I ‐ Resultados  

25  

macho (CT, P = 0,01; K‐UNI, P = 0,005). Macho‐macho e fêmea‐macho apresentaram uma alta 

porcentagem de sobreposição e não diferiram entre si (CT, P = 1,00; K‐UNI, P = 0,87).  

As porcentagens de sobreposição de extensões‐núcleo (Tab. I.2) entre os pares foram 

menores do que os observados para as extensões de uso (K‐UNI) (Wilcoxon; macho‐macho: Z = 

2,4, n = 10, P = 0,017;  fêmea‐macho: Z = 2,2, n = 6, P = 0,028), exceto para a dupla macho‐

fêmea (Z = 0,94, n = 5, P = 0,34). Por apresentarem baixa sobreposição entre os indivíduos, as 

sobreposições entre extensões‐núcleo não diferiram entre quaisquer pares (H2 = 2,1, n = 20, P 

= 0,34).  

Em 16 ocasiões foi observado outro  indivíduo da cuíca d’água em  locais próximos ao 

indivíduo monitorado. Destas, quatro eram animais pequenos, o que pode indicar que fossem 

jovens.  Durante  o  monitoramento  do  macho  Tonico,  um  macho  jovem  foi  capturado 

manualmente a menos de 50 m do animal monitorado. A sobreposição espacial entre machos 

foi  também  evidente  através  da  captura  de  diferentes  machos  na  mesma  estação  de 

armadilhagem  ou  em  estações  adjacente  numa  mesma  sessão  de  armadilhagem  (n  =  12 

ocasiões). Houve uma ocasião em que três machos foram capturados durante a mesma noite 

em uma estação de armadilhagem com três armadilhas, dois adultos e um jovem. A captura de 

machos e fêmeas em estações de armadilhagem próximas na mesma sessão de armadilhagem 

também  foi  comum  (n  =  9  ocasiões).  A  captura  de mais  de  uma  fêmea  em  estações  de 

armadilhagem  próximas  nunca  ocorreu. Dos  67  avistamentos  dos  animais  em  atividade,  59 

(88%) encontraram o animal dentro do rio, sete (10,5%) na margem do rio e apenas um (1,5%) 

na mata ciliar a cerca de 7 m de distância de um pequeno tributário (Florzinha).  

A  cuíca  d’água  utilizou  principalmente  dois  dos  três  tipos  de  habitat  aquático 

existentes na área de estudo: os rios e seus pequenos tributários. Apenas uma área pantanosa 

foi utilizada por dois indivíduos (Godofredo e Margarida). Esta área se conecta a um pequeno 

tributário, onde havia tocas de ambos, e fica a poucos metros de distância do rio Águas Claras.  

Machos e fêmeas diferiram quanto à proporção de utilização de rios e pequenos tributários (U’ 

= 18, n1 = 6, n2 = 3, P = 0,02). As fêmeas utilizaram pequenos tributários com uma freqüência 

muito maior do que machos (fêmeas: 34, 30 – 43 % do CT; machos: 10, 2 – 13 % do CT). 

 

 

26  

Tabela I.2. A ‐ Sobreposição de extensão de uso (CT e K‐UNI) e extensão‐núcleo (E‐NÚCLEO) entre pares de indivíduos da cuíca d’água Chironectes minimus monitorados num mesmo período 

na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. B ‐ Mediana (mínimo – máximo) da porcentagem de sobreposição entre um indivíduo do sexo na linha com outro indivíduo do sexo na coluna. 

Letras diferentes apontam diferenças significativas (P < 0,05) entre as extensões de uso/núcleo (Kruskal‐Wallis: CT: H2 = 9,88, n = 20, P = 0,007; K‐UNI: H2 = 10,78, n = 18, P = 0,005; E‐NÚCLEO: 

H2 = 2,1, n = 20, P = 0,34). Os estimadores de extensão de uso não diferiram entre si (Wilcoxon: Z = 0,20, n = 18, P = 0,84), mas K‐UNI diferiu da extensão‐núcleo (Wilcoxon; macho‐macho: Z = 

2,4, n = 10, P = 0,017; fêmea‐macho: Z = 2,2, n = 6, P = 0,028) exceto para o par macho‐fêmea (Z = 0,94, n = 5, P = 0,34). 

 

Indivíduo Sexo

A ‐ B A ‐ Bsobreposição 

(m)

sobreposição 

A (%)

Sobreposição 

B (%)

sobreposição 

(m)

sobreposição 

A (%)

Sobreposição 

B (%)

sobreposição 

(m)

sobreposição 

A (%)

Sobreposição 

B (%)

Godofredo ‐ Margarida M ‐ F 680 20 78 900 24 100 310 20 82

Godofredo ‐ Robin M ‐ M 2860 85 52 1770 47 28 30 2 2

Robin ‐ Margarida M ‐ F 660 12 76 560 9 62 0 0 0

Panqueca ‐ Paçoca M ‐ F 680 26 54 900 30 68 110 9 23

Robin ‐ Panqueca M ‐ M 2580 47 100 2190 53 100 760 38 62

Robin ‐ Paçoca M ‐ F 670 12 54 900 14 68 290 15 61

Robin ‐ Malandro M ‐ M 2770 61 77 3270 52 63 860 43 24

Tonico ‐ Malandro M ‐ M 950 26 26 ‐ ‐ ‐ 0 0 0

Panqueca ‐ Malandro M ‐ M 1850 72 51 2420 80 46 760 62 21

Florzinha ‐ Rivaldo M ‐ F 1320 57 23 1500 61 19 590 48 25

CT K‐UNI E‐NÚCLEO

 

         B 

Macho Fêmea

CT 56 (26‐100)a

20 (12 ‐ 26)b

K‐UNI 52 (28 ‐ 100)a

19 (9 ‐ 30)b

E‐NÚCLEO 22 (0 ‐ 62)c

14 (0 ‐ 25)b, c

CT 76 (54 ‐ 78)a

K‐UNI 67 (60 ‐ 100)a ‐

E‐NÚCLEO 48 (0 ‐ 82)c ‐

Macho

Fêmea

 

26

Capítulo I ‐ Resultados  

27  

Padrões  de movimentação  – Não  houve  diferenças  entre  os  sexos  quanto  à  velocidade  de 

deslocamento na água (machos: 0,36, 0,16 – 0,83 km/h; fêmea: 0,23, 0,15 – 0,6 km/h fêmeas; 

U = 10, n1 = 8, n2 = 4, P = 0,31). Entretanto, as velocidades médias quando o animal descia o 

rio  foram maiores do que as velocidades de subida do  rio  (subindo: 0,15, 0,06 – 0,58 km/h; 

descendo:  0,29,  0,16  –  0,98  km/h;  teste  de Wilcoxon:  Z  =  2,023,  P  =  0,043).  Não  houve 

correlação  entre  a  velocidade  de  deslocamento  e  a  extensão  de  uso  (CT)  dos  animais 

monitorados (rs = 0,40, n = 10, P = 0,24), nem entre a velocidade de deslocamento e a massa 

dos animais (rs = 0,25, n = 10, P = 0,52). Quanto aos padrões de movimentação noturna, ambos 

os  sexos utilizaram em média 32 ± 15 % de  suas extensões de uso por noite  (t7 = 1,38, P = 

0,20).  

Todos os indivíduos que possuíam quedas d’água dentro de suas áreas de vida (n = 4) 

conseguiam atravessá‐las diariamente. A represa desativada no rio Águas Claras também não 

pareceu  um  empecilho  aos movimentos  dos  animais.  Em  duas  ocasiões  foi  observada  uma 

fêmea  subindo  uma  queda  d’água  de  cerca  de  2 metros  de  altura  e  80⁰  de  inclinação. Na 

primeira  a  fêmea  saltou  sobre  uma  pedra  e  subiu  ao  lado  da  queda  d’água.  Na  segunda 

ocasião, ela subiu sobre um tronco caído até atingir o início da queda d’água. Movimentações 

por  terra  foram  observadas  apenas  duas  vezes.  Após  ser  capturado  em  uma  armadilha,  o 

macho Tonico subiu um pequeno tributário do rio Floresta e atravessou por terra cerca de 100 

m até atingir o leito do rio Floresta. Durante uma noite de monitoramento, a fêmea Florzinha 

foi localizada em terra a cerca de 7 m de distância de um tributário do rio Dona Rosa. 

 

Uso de tocas – O número de tocas por indivíduo não foi correlacionado com o número 

de localizações (rs = 0,43, n = 9, P = 0,24), nem com o número de noites de monitoramento (rs = 

0,35, n = 9, P = 0,35), o que indica suficiência amostral. Machos e fêmeas não diferiram quanto 

ao número de tocas (3, 2 – 10 tocas por indivíduo; U = 9, n1 = 6, n2 = 3, P = 1,00). Não houve 

correlação entre o número de tocas e o tamanho da extensão de uso (CT: rs = 1,18, n = 9, P = 

0,63; K‐UNI: rs = 0,19, n = 9, P = 0,62). A média das distâncias entre as tocas contíguas foi de 27 

± 18 % do CT dos indivíduos e não diferiu entre machos e fêmeas (t7 = 0,54, P = 0,60)(Anexo 1). 

Durante a noite, os indivíduos raramente retornavam à mesma toca de onde saíram no início 

da noite. Das 24 ocasiões registradas, apenas em quatro o indivíduo voltou à toca deixada no 

início da noite. A média das proporções do CT para os movimentos diários dos animais não 

diferiu da média das proporções do CT para distância entre  tocas  contíguas  (t8 =  ‐0,60, P = 

Capítulo I ‐ Resultados  

28  

0,56),  o  que  indica  que  o  padrão  encontrado  para  a  distância  entre  tocas  contíguas  foi 

semelhante ao padrão encontrado para os movimentos diários dos animais. 

Durante  o monitoramento,  o macho  Panqueca  e  a  fêmea  Paçoca  foram  localizados 

ativos num mesmo local e utilizaram tocas muito próximas num mesmo período. Os indivíduos 

Godofredo  e  Margarida,  além  de  possuírem  tocas  muito  próximas,  foram  localizados  na 

mesma toca quando esta fêmea estava lactante. Quatro tocas foram utilizadas por mais de um 

indivíduo  em  períodos  distintos.  Durante  o monitoramento  do  indivíduo  Robin,  enquanto 

esperava‐se que este saísse de uma toca no  início da noite, dois  indivíduos não  identificados, 

sendo  um  de  tamanho  pequeno,  entraram  na mesma  toca  num  intervalo menor  do  que  1 

minuto  enquanto  este  ainda  permanecia  na mesma. A  fêmea  Florzinha,  em  duas  ocasiões, 

apresentou o comportamento de entrar em uma  toca no meio da noite, sair e  terminar sua 

atividade em outra toca.  

 

29  

DISCUSSÃO 

 

Estimadores de extensão de uso – Obter estimativas de uso do espaço por espécies 

que  utilizam  habitats  relativamente  lineares  ainda  é  uma  tarefa  difícil  e  muitas  vezes 

controversa  (MS  Leite, dados não publicados). Neste estudo, a utilização de estimadores de 

extensão de uso e não de área de vida foi uma medida adotada para evitar a inclusão de áreas 

terrestres  nunca  utilizadas  pela  cuíca  d’água. A  comparação  entre  os  estimadores  somente 

pode  ser  feita  qualitativamente,  já  que  os  tamanhos  reais  da  extensão  de  uso  não  são 

conhecidos para dados empíricos  (Semana & Powell 1996, Blundell et al. 2001). O estimador 

mais  simples,  comprimento  total  entre  localizações  extremas,  se  mostrou  adequado  aos 

estudos com extensão de uso, mas seu uso é restrito a apenas algumas análises. A utilização 

do comprimento de rio delimitado por estimativas de kernel (K‐UNI) é a mais recomendada na 

literatura atualmente (Sauer et al. 1999, Blundell et al. 2001, MS Leite dados não publicados) 

principalmente  por  obter  estimativas menos  conservativas  da  distribuição  de  utilização  do 

habitat pelo indivíduo, permitindo a delimitação de áreas‐núcleo, por exemplo. Este estimador 

apresentou estimativas maiores de extensão de uso do que o CT, entretanto não parece  ter 

superestimado as extensões de uso dos indivíduos.  

As assíntotas geradas entre o número de localizações e o tamanho da área de vida são 

utilizadas para determinar  se houve uma adequada amostragem dos movimentos animais e 

para  acessar  o  número  mínimo  de  localizações  necessárias  para  se  ter  uma  estimativa 

confiável de área de vida ou extensão de uso. Em muitos estudos, a assíntota das estimativas 

de área foi atingida com menos de 20 ou 30 localizações utilizando o método kernel (Harris et 

al. 1990, Powell et al. 1997 apud Blundell et al. 2001, Seaman et al. 1999, Laver 2005b),  e para 

o K‐UNI a assíntota já foi atingida com até 20 localizações (Blundell et al. 2001). Neste estudo, 

o número mínimo de  localizações para  atingir  a  assíntota  foi  variável  entre os  indivíduos  e 

entre os estimadores, entretanto esta variação está de acordo com a encontrada na literatura. 

As assíntotas produzidas através do kernel pareceram mais  robustas e  se estabilizaram com 

um menor número de  localizações,  sendo que muitos  indivíduos  atingiram  a  assíntota  com 

menos de 15 localizações. O método kernel é considerado o mais indicado para construção das 

assíntotas (Laver & Kelly 2008), mas a análise conjunta das assíntotas construídas por ambos 

os estimadores de extensão de uso  foi a melhor maneira para  selecionar os  indivíduos que 

atingiram suficiência amostral. 

Capítulo I‐ Discussão  

30  

As estimativas de fidelidade à área de vida para os indivíduos monitorados por mais de 

um ano se mostraram contraditórias entre os estimadores. Ambos os indivíduos apresentaram 

alto grau de sobreposição entre os anos para o estimador CT, o que não foi encontrado pelo K‐

UNI  para  o  indivíduo  Robin.  É  provável  que  a  fragmentação  da  extensão  de  uso, 

principalmente no ano de 2007, para o indivíduo Robin tenha produzido medidas desviadas do 

uso  do  espaço  pelo  indivíduo. A  fragmentação  da  extensão  de  uso  parece  não  representar 

acuradamente o uso do espaço por espécies semi‐aquáticas (Sauer et al. 1999, Blundell et al. 

2001), pois estas espécies normalmente apresentam o comportamento de forragear enquanto 

se  locomovem pelo habitat  (Kruuk 1995, Otley et al. 2000, este estudo). A  fragmentação da 

extensão de uso, portanto, acaba por excluir áreas  também utilizadas pelo animal. Em vista 

disso, as estimativas de fidelidade à extensão de uso produzidas pelo método CT foram mais 

confiáveis.  

A  fidelidade  à  área  pode  ser  considerada  como  a  tendência  de  um  animal  tanto 

retornar a uma área previamente ocupada como permanecer dentro da mesma área por um 

longo período de tempo (White & Garrot 1990). Os resultados de fidelidade à extensão de uso 

para  a  cuíca  d’água  apontam  para  uma  alta  fidelidade  à  extensão  de  uso  na  população. 

Observações  feitas  sobre  a  ecologia  de marsupiais  neotropicais  (Charles‐Dominique  1983) 

também apontam para uma alta fidelidade à área de vida por  longos períodos. A diminuição 

da  extensão  de  uso  apresentada  pelo macho  Panqueca  de  um  ano  a  outro  pode  indicar  a 

influência  da  idade  no  tamanho  da  extensão  de  uso,  já  que  o  histórico  de  captura  indicou 

senescência para este indivíduo, a partir do acompanhamento dos desgastes da dentição.  

Áreas‐núcleo  deveriam  refletir  áreas  biologicamente  importantes  para  os  animais 

(Laver 2005a). A utilização de porcentagens já estabelecidas à priori do volume de contorno da 

área de vida  (e.g. 50%) não parece o melhor método para se  identificar áreas‐núcleo,  já que 

nem todos os animais vão possuir uma distribuição de utilização agrupada de sua área de vida 

(Powell  2000).  A  delimitação  de  extensões‐núcleo  a  partir  do método  proposto  para  área‐

núcleo  por  Powell  (2000)  é  uma  boa  opção  ao  delineamento  por  porcentagens  já 

estabelecidas,  principalmente  por  indicar  para  cada  animal  a  existência  ou  não  de  áreas‐

núcleo.  Entretanto,  a  ausência  de  correlação  entre  as  porcentagens  de  área‐núcleo  e  de 

extensão‐núcleo  geradas  para  cada  indivíduo  deve  ser  analisada  com  cautela  e  melhor 

compreendida, se possível, com estudos de simulação. Para a cuíca d’água a porcentagem de 

delimitação da extensão‐núcleo foi sempre abaixo de 50% da extensão de uso. Dois indivíduos 

não apresentaram extensões‐núcleo, ou seja, o comportamento de movimentação dentro da 

Capítulo I‐ Discussão  

31  

extensão  de  uso  não  foi  agrupado.  Isso  pode  indicar  um  comportamento  exploratório  ou 

transitório  destes  indivíduos  dentro  das  extensões  de  uso  que  pode  não  ter  sido  ainda 

estabelecidas.  

 

Organização espacial e sistema de acasalamento da cuíca d’água – De acordo com os 

modelos  previstos  sobre  organização  espacial  e  sistema  de  acasalamento  para  pequenos 

mamíferos  (Hixon  1987,  Ostfeld  1985,  1990,  Ims  1987),  em  um  sistema  poligínico  ou 

promíscuo, machos devem possuir áreas de vida maiores e sobrepostas com outros machos e 

fêmeas,  enquanto  fêmeas  devem  possuir  áreas  de  vida menores  e  exclusivas.  Para  a  cuíca 

d’água, machos possuíram extensões de uso cerca de três vezes maiores do que fêmeas e se 

sobrepuseram com diversos outros indivíduos. Fêmeas apresentaram extensões de uso que se 

sobrepuseram  bastante  com  outros  machos,  mas  como  não  houve  fêmeas  monitoradas 

simultaneamente,  não  foi  possível  averiguar  a  existência  de  comportamento  territorial 

intraespecífico. Todavia, os dados de captura indicam um uso exclusivo da extensão de uso em 

fêmeas. De acordo com os dados de sobreposição de extensões de uso, a extensão de uso de 

um macho poderia abarcar a extensão de uso de até cinco fêmeas simultaneamente.  

A  grande  sobreposição  de  extensões  de  uso  observada  entre  indivíduos  não  foi 

observada para as extensões‐núcleos. As análises de extensão‐núcleo apontam para um uso 

não aleatório do habitat pela maioria dos animais, com a  formação de pequenas áreas mais 

intensamente utilizadas, freqüentemente associadas a tocas e outros locais nos rios. Em geral, 

a  porcentagem  de  sobreposição  entre  extensões‐núcleo  foi  bem  menor  do  que  para  as 

extensões  de  uso,  e  isso  indica  que  pelo menos  uma  porção  da  extensão  de  uso  da  cuíca 

d’água  não  é  compartilhada  com  outro  indivíduo  (Crooks &  Van  Vuren  1996;  Farías  et  al. 

2006). Estes  resultados apontam para um  sistema de acasalamento poligínico ou promíscuo 

para a população da  cuíca d’água estudada. Outras evidências que  reafirmam esta hipótese 

são a presença de dimorfismo sexual e os desvios na razão sexual encontrados na população, 

como  discutidos  a  seguir.  Infelizmente,  os  resultados  encontrados  neste  estudo  não  são 

suficientes  para  decidir  entre  a  promiscuidade  e  a  poliginia,  pois  os  padrões  espaciais 

resultantes de  ambos os  sistemas de  acasalamento  são os mesmos  (Ostfeld 1990).  Embora 

fêmeas de mamíferos normalmente copulem com mais de um macho (Gormendio et al. 1998 

apud  Klemme  et  al.  2007),  são  necessários  ainda  estudos,  principalmente  de  caráter 

experimental ou genético  (Coltman et al. 1999), que  investiguem as relações entre parceiros 

sexuais na espécie.  

Capítulo I‐ Discussão  

32  

A cuíca d’água apresentou dimorfismo sexual moderado, sendo machos cerca de 30% 

mais pesados que  fêmeas. Galliez et al.  (2009) não encontrou dimorfismo  sexual na mesma 

população estudada, entretanto o baixo tamanho amostral de fêmeas (n=2) e o fato de estas 

estarem  com  filhotes  no marsúpio  pode  ter  influenciado  os  resultados  do  teste.  Segundo 

Wilson  &  Pianka  (1963),  em  sistemas  de  acasalamento  poligâmicos  ou  promíscuos  o 

dimorfismo  sexual  é  freqüentemente  encontrado.  Isto  se  dá  principalmente  devido  às 

diferenças no  sucesso  reprodutivo entre os  sexos, o que  leva a um grande potencial para a 

seleção  sexual  (Trivers 1972). A competição por  fêmeas em machos  levaria a  seleção  sexual 

atuar no aumento do tamanho corporal, já que machos maiores preferencialmente venceriam 

as  disputas  por  fêmeas  (Erlinge  1979, Moors  1981,  Thom  et  al.  2004,  Clutton‐Brock  2007, 

2009)  .  A  presença  desta  competição  entre  machos  é  evidente  em  diversas  espécies  de 

mamíferos  (Trivers  1972,  Bond  &  Wolff  1999)  e  já  foi  observada  no  marsupial  Didelphis 

virginiana  (Ryser  1992),  onde  os  machos  maiores  eram  superior  competitivamente  e  se 

acasalavam com maior freqüência. A ausência de relação entre a massa corporal e o tamanho 

da  extensão  de  uso  encontrada  para  a  cuíca  d’água  parece  indicar  que  o  sistema  de 

acasalamento é a causa maior das diferenças encontradas no tamanho das extensões de uso 

entre os sexos. Descarta‐se, assim, a hipótese de que os tamanhos de extensão de uso seriam 

diferentes devido a necessidades energéticas distintas entre os sexos. Resultados semelhantes 

foram  encontrados  para  os  marsupiais  Macropodidae  (Fisher  &  Owens  2000),  onde  as 

diferenças de tamanho de área de vida entre os sexos não foram explicados pelo dimorfismo 

sexual.  

A  razão  sexual  na  população  foi  fortemente  desviada  para  machos.  Tal  desvio 

observado  parece  ser  um  artefato  de  amostragem  baseado  nas  capturabilidade  diferencial 

entre os sexos, já que os desvios na razão sexual em mamíferos são raros (Seger & Stubblefield 

2002).  Este  é  um  fato  comum  em  pequenos  mamíferos  (Trivers  1972)  e  é  basicamente 

resultado da organização espacial da população. Se machos tem maiores extensões de uso, se 

movimentam mais e não são  territoriais,  tem maiores chances de serem capturado por uma 

armadilha.  Se  fêmeas  são  territoriais  e  possuem  extensões  de  uso  menores,  elas  terão 

menores chances de  serem capturadas na grade de armadilhagem, a menos que esta grade 

esteja dentro de sua extensão de uso.  

Os  padrões  de  movimentação  diária  da  cuíca  d’água  estiveram  de  acordo  com  o 

tamanho das extensões de uso em ambos os sexos e os comportamentos foram relativamente 

previsíveis. Machos  e  fêmeas  apresentaram  a mesma  porcentagem  de  utilização  diária  da 

Capítulo I‐ Discussão  

33  

extensão de uso  (cerca de 30%), o que pode  indicar um padrão de exploração de diferentes 

rios  a  cada  dia.  Para  a  cuíca  Caluromys  philander,  Julien‐Laferrière  (1995)  encontrou  um 

padrão de movimentação diário de 44% da área de vida  total e atribui a  isso um padrão de 

movimentação  dependente  de  áreas  de  forrageamento  a  cada  noite,  como  árvores 

frutificando. Resultados  semelhantes  foram encontrados para o  gambá Didelphis  virginiana, 

onde machos  e  fêmeas movimentavam‐se diariamente  cerca de 40  e 49% da  área de  vida, 

respectivamente  (Gillete  1980).  Para machos  da  cuíca  d’água,  este  padrão  parece  plausível 

com seu comportamento de busca por fêmeas. Entretanto, para fêmeas, esperava‐se que uma 

movimentação  diária  por  grande  parte  de  sua  extensão  de  uso  para  patrulhamento  de 

território. Esta hipótese é baseada na definição de  território  como uma área  fixa e estática 

exclusiva de um animal ao  longo do  tempo  (Kaufmann 1983 apud Moorhouse & Macdonald 

2005, Maher & Lott 1995). Todavia, a área defendida de um território não necessita ser fixa, 

mas  pode  mudar  no  tempo  e  espaço,  sugerindo  então  que  a  estabilidade  espacial  não 

necessita  ser  um  pré‐requisito  para  definir  territorialidade  (Doncaster  & Macdonald  1991, 

Moorhouse  &  Macdonald  2005).  O  comportamento  territorial  também  não  implica 

necessariamente  um  patrulhamento  ostensivo  de  toda  a  área  de  vida  (Moorhouse  & 

Macdonald  2005),  e  isso  varia muito  com  a  densidade  populacional  (Benstead  et  al.  2001, 

Moorhouse & Macdonald  2005).  É  possível  que  para  fêmeas  da  cuíca  d’água  os  territórios 

sejam  cambiantes  e  suas  fronteiras  flexíveis,  como  encontrado  para  o water  vole  Arvicola 

terrestris  (Moorhouse  &  Macdonald  2005),  principalmente  devido  à  baixa  densidade 

populacional na área de estudo (Galliez et al. 2009) que permitiria um relaxamento da defesa 

de  território.  Os  raros  dados  obtidos  para  fêmeas  neste  estudo  não  permitiram  testar  tal 

hipótese,  portanto,  tornam‐se  necessários  novos  estudos  sobre  territorialidade  e 

comportamento territorial em fêmeas da cuíca d’água.  

Ao contrário do esperado, machos não possuíram maior velocidade de deslocamento 

do que fêmeas. As velocidades de deslocamento parecem estar mais relacionadas à velocidade 

da correnteza do rio, do que a diferenças sexuais na movimentação animal. Isso é corroborado 

pela evidência de velocidades de deslocamento maiores quando o animal estava a  favor do 

fluxo d’água. Entretanto, estas estimativas podem  ter  sido pouco acuradas porque o  tempo 

entre as  localizações sucessivas pode ter  incluído momentos de descanso e forrageamento. É 

sabido  que  muitos  mamíferos  semi‐aquáticos  possuem  o  comportamento  de  forragear 

enquanto se locomovem por rios ou costas de estuários (Arden‐Clarke 1986, Kruuk 1995, Otley 

et al. 2000) e por  isso apresentam baixas velocidades médias de deslocamento  (Otley et al. 

2000). Esse comportamento pode também ser atribuído à cuíca d’água. 

Capítulo I‐ Discussão  

34  

A  cuíca d’água utilizou‐se principalmente dos  corpos d’água  lóticos da  região,  como 

rios e pequenos  tributários, e manteve‐se  restrita a estes habitats, sem  fazer grande uso de 

porções  terrestres.  Todos  os  rios  utilizados  apresentaram  condições  bem  preservadas,  com 

mata ciliar, substrato pedregoso e águas  limpas e rápidas, exceto pela porção  inferior do rio 

Águas  Claras  e  Canoa  Podre,  onde  apenas  2  machos  fizeram  uso  (Godofredo  e  Rivaldo). 

Fêmeas utilizaram os pequenos tributários com mais freqüência do que machos. Esses corpos 

d’água  podem  ser  considerados  locais  mais  seguros  e  abrigados  por  serem  rasos,  sem 

correnteza e  com grande disponibilidade de  invertebrados aquáticos  (Lobão et al. 1978).   A 

utilização de  tributários de primeira ordem pode  também prevenir encontros agonísticos ou 

até  predação  por  lontras,  também  presentes  na  área  de  estudo,  já  que  estas  geralmente 

habitam os rios maiores e mais profundos  (Melquist & Hornocker 1983, Somers & Nel 2004, 

Sepúlveda et al. 2007). Por estes motivos, as fêmeas devem preferir tais locais principalmente 

durante o cuidado parental. Enquanto que para machos a utilização de rios principais é mais 

vantajosa  por  dar  acesso  aos  tributários menores  (Garin  et  al.  2002),  onde  as  fêmeas  se 

encontram.  Outros  autores  também  encontraram  a  cuíca  d’água  em  rios  de  mesma 

características,  assim  como pequenos  tributários  (Zetek  1930, Handley  Jr  1976, Mondolfi & 

Padilha 1958, Voss et al. 2001), entretanto nenhum estudo havia reportado diferenças sexuais 

nas preferências de habitat pela espécie.  

Um  contraponto  ao  sistema  de  acasalamento  poligínico  na  cuíca  d’água  seria  a 

presença de um macho e uma fêmea na mesma toca enquanto a fêmea carregava filhotes no 

marsúpio (Godofredo e Margarida). Isto pode indicar cuidado parental e se torna contraditório 

com um sistema de acasalamento poligínico ou promíscuo. Entretanto, como a estrutura das 

tocas  da  cuíca  d’água  ainda  não  foram  elucidadas,  é  possível  que  a  co‐ocupação  de  uma 

mesma  toca não cause necessariamente  interação entre os  indivíduos. Machos e  fêmeas na 

mesma toca também foram encontrados por Lay (1942), Fitch & Shirer (1970) e Ryser (1992) 

para o gambá Didelphis virginiana. Fitch & Shirer (1970) encontrou dois padrões associados ao 

uso comunal de tocas: no primeiro os animais pareciam juntos, em contato físico e no segundo 

os animais monitorados pareciam estar a metros de distância entre si.  

Ryser  (1992)  descreveu  o  comportamento  de  acasalamento  para  D.  virginiana  e 

encontrou  que machos  acompanhavam  as  fêmeas  quando  estas  estavam  receptivas,  e  que 

geralmente ambos descansavam na mesma  toca durante o dia. Para a  cuíca d’água, evento 

semelhante  aconteceu  para  um macho  e  uma  fêmea  que  foram  localizados  ativos  juntos 

(Panqueca e Paçoca). Estes indivíduos possuíam alta sobreposição de extensões de uso e tocas 

Capítulo I‐ Discussão  

35  

muito próximas. Em espécies promíscuas, uma das estratégias do macho é guardar a  fêmea 

após a fertilização para prevenir possíveis cópulas com outros machos (Alcock 1994, Ginsberg 

& Huck  1989,  Klemme  et  al.  2007).  É  possível  então  que machos  da  cuíca  d’água  também 

utilizem‐se  da  guarda  de  fêmeas  contra  cópulas  posteriores  por  outros  machos.  São 

necessários  ainda  estudos  que  descrevam  as  tocas  utilizadas  para  a  cuíca  d’água,  a  fim  de 

elucidar estes padrões encontrados. 

Apesar de possuírem muitas tocas, a cuíca d’água se mostrou fiel a certas tocas mais 

freqüentemente utilizadas, que geralmente encontravam‐se a uma distância equivalente aos 

padrões  de  movimentação  diária  executados  pelo  animal.  Os  indivíduos  normalmente 

iniciavam suas atividades em uma toca e retornavam a outra toca no fim da atividade. Padrões 

semelhantes  de  movimentação  entre  tocas  foram  encontrados  para  o  gambá  Didelphis 

virginiana (Fitch & Shirer 1970). A alta freqüência de ocorrência de utilização de uma mesma 

toca por mais de um  indivíduo em épocas  alternadas  também  já  foi  reportado para outros 

marsupiais  neotropicais  (Caluromys  philander,  Charles‐Dominique  1983; Didelphis  virginiana 

Fitch &  Shirer 1970, Gillette 1980, Hossler  et al. 1994), e pode  indicar  certa preferência de 

tocas  pelas  espécies.  Entretanto,  estas  espécies  são  também marcadas  pelo  uso  de muitas 

tocas apenas uma vez, por períodos curtos de normalmente um ou dois dias  (Fitch & Shirer 

1970, Julien‐Laferrière 1995).  

Muitos  mamíferos  semi‐aquáticos  também  exibem  uma  estratégia  flexível  de 

ocupação de tocas dependendo do ambiente (Gerell 1970, Melquist & Hornocker 1983, Kruuk 

1995, Beja 1996, Otley et al. 2000, Sepúlveda et al. 2007). A  importância de certos  locais de 

tocas para  lontras  é muitas  vezes  associada  a um  recurso  limitante no  ambiente que pode 

influenciar a distribuição dos indivíduos e o uso do habitat (Beja 1996, Kruuk 1995, Sepúlveda 

et al. 2007,). Os resultados do presente estudo apontam para a mesma direção, mas ainda não 

é possível saber se tocas constituem um recurso  limitante também para a cuíca d’água ou se 

ocorre  apenas  a  preferência  de  certos  tipos  de  tocas,  sendo  estas mais  utilizadas.  Alguns 

estudos com  lontras encontraram um número médio de três fragmentos de extensão‐núcleo 

por  animal  (Melquist &  Hornocker  1983,  Arden‐Clarke  1986,  Sepúlveda  et  al.  2007),  todos 

relacionados  aos  locais de  tocas da  espécie. Apesar da  cuíca d’água  apresentar um mesmo 

número  médio  de  extensões‐núcleo,  apenas  metade  das  extensões‐núcleo  estiveram 

associadas a tocas, o que pode  indicar que outros  fatores, como disponibilidade de recursos 

em manchas, estejam atuando na formação de áreas de maior utilização pelos animais.  

Capítulo I‐ Discussão  

36  

Os tamanhos das extensões de uso encontrados para a cuíca d’água são comparáveis 

ou maiores  do  que  outras  espécies  de  pequenos mamíferos  semi‐aquáticos. O  rato  d’água 

neotropical Nectomys squamipes (200‐400 g) na mesma área de estudo apresentou extensões 

de  uso  variando  entre  300  e  1000 m  (Lima  2009),  resultados  similares  ao  do mussaranho 

d’água  africano  Potamogale  velox  (300‐400  g)  com  extensões  de  uso  variando  entre  500  e 

1000 m  (Nowak 1991). O water vole Arvicola  terrestris  (200‐300 g) possui extensões de uso 

bem menores, variando entre 50 e 450 m (Stoddart 1970, Moorhouse & Macdonald 2005). Os 

machos do tenrec aquático Limnogale mergulus (80‐100 g) possuem extensões de uso diárias 

de  até  1000 m  (Benstead  et  al.  2001).  As menores  extensões  de  uso  encontradas  para  os 

roedores herbívoros podem ser atribuídas às relações tróficas, já que carnívoros necessitam de 

áreas  de  vida  bem maiores  do  que  herbívoros  de massa  similar  (Sanderson  1966).  Para  os 

pequenos mamíferos semi‐aquáticos carnívoros, o mussaranho e o tenrec, as relações foram 

mais comparáveis. Apesar das diferenças de tamanho, estas espécies tiveram extensões de uso 

que se aproximaram mais dos resultados para a cuíca d’água. Entretanto, ainda assim a cuíca 

d’água apresentou extensões de uso muito maiores do que qualquer outro pequeno mamífero 

semi‐aquático já estudado. 

A comparação da extensão de uso da cuíca d’água com mamíferos semi‐aquáticos de 

maior porte (Erlinge 1967, Gerell 1970, Arden‐Clarke 1986, Doncaster & Micol 1989, Kruuk & 

Moorhouse 1991, Ray 1997, Palazón & Ruiz‐Olmo 1998, Herr & Rosel 1999, Sauer et al. 1999, 

Blundell et al. 2000, Blundell et al. 2001, Fustec et al. 2001, Garin et al. 2002, Somers & Nel 

2004,  Sepúlveda  et  al.  2007)  também mostra  que  a  cuíca  d’água  possui  extensões  de  uso 

muito compridas se comparadas com sua massa corporal. Por exemplo, a ariranha Pteronura 

brasiliensis  que  vive  em  grupos,  apresentou  extensões  de  uso  médias  de  11  km  de 

comprimento de rio (Ribas 2004, Utreras et al. 2005, Leuchtenberger & Mourão 2008), cerca 

de 3 vezes maior do que a da cuíca d’água, mas possui massa corporal mais de 30 vezes maior. 

Enquanto  que  a  menor  das  lontras,  a  lontra  marinha  neotropical  Lontra  felina  (3‐6  kg), 

apresentou  extensões  de  uso  comparáveis  à  da  cuíca  d’água  de  cerca  de  3  km  de  costa 

(Medina‐Vogel et al. 2007). A diferença na disponibilidade de recursos em habitats aquáticos é 

a principal hipótese que pode explicar tal variação. Entretanto, as relações bi‐dimensionais de 

uma espécie com seu habitat podem também influenciar no tamanho da extensão de uso (M.S 

Leite dados não publicados). Animais que vivem em  lagos,  rios  largos e estuários podem  ter 

extensões de uso menores do que os que vivem em habitats mais estreitos (Dunstone & Birks 

1985, Reid et al. 1994; Serena 1994, Kruuk 1995, Blundell et al. 2000, Otley et al. 2000). A cuíca 

d’água vive em rios de montanha de pequena ordem que são considerados muito mais pobres 

Capítulo I‐ Discussão  

37  

em recursos do que rios maiores, lagos ou estuários (Alllan & Castilho 2004). Provavelmente, a 

cuíca d’água possui grandes extensões de uso tanto pela pequena largura dos rios quanto pela 

baixa disponibilidade de recursos dos mesmos. 

Segundo Emlen & Oring (1977), os fatores que determinam o sistema de acasalamento 

em uma população são de origem ambiental e filogenética. Os  fatores ambientais moldam o 

potencial da população para poligamia de acordo com a distribuição de recursos. Já os fatores 

filogenéticos estão relacionados com a habilidade de cada espécie se adaptar ao ambiente e 

seu potencial para a poligamia. Ambos os fatores resultam em certo grau de monopolização de 

parceiros  sexuais,  o  que  vai  determinar  o  sistema  de  acasalamento  (Emlen & Oring  1977). 

Jarman  &  Kruuk  (1996  apud  Fisher  &  Owens  2000)  encontraram  que  os  padrões  de 

organização espacial em marsupiais australianos são menos variáveis do que na maioria dos 

grupos  placentários.  Quase  todos  os  marsupiais  australianos  apresentam  um  sistema  de 

acasalamento  promíscuo  com  áreas  de  vida  que  se  sobrepõem  extensivamente  (Jarman & 

Kruuk 1996 apud Fisher & Owens 2000), e grande dimorfismo sexual (Fisher & Owens 2000). 

Isto  parece  ser  verdadeiro  também  para  os marsupiais  neotropicais,  já  que  os  padrões  de 

organização  espacial  e  sistemas  de  acasalamento  encontrados  para  a  cuíca  d’água  se 

mostraram parecidos com padrões já descritos para outros marsupiais neotropicais (Lay 1942, 

Fleming 1972, Gillette 1980, Sunquist et al. 1987, Ryser 1992, Grelle 1996, Pires & Fernandez 

1999, Cáceres & Monteiro‐Filho 2001, Cáceres 2003, Moraes Jr & Chiarello 2005, Galliez et al. 

2009). O dimorfismo  sexual para os marsupiais neotropicais  também é marcante em muitas 

espécies (e.g. Cáceres & Monteiro‐Filho 1999, Loretto & Vieira 2008, Pire & Fernandez 1999). 

Os  marsupiais  neotropicais  compartilham  de  grande  semelhança  morfológica, 

fisiológica  e  comportamental,  mesmo  havendo  especializações  ecológicas  tão  distintas 

(Charles‐Dominique 1983). Galliez et al.  (2009) não encontraram suporte para a hipótese de 

que o habitat aquático desempenhasse um papel  importante na determinação dos padrões 

espaciais exibidos pela cuíca d’água. Isto pode indicar um maior peso dos fatores filogenéticos 

na determinação da organização  social dos marsupiais,  independentemente das adaptações 

para vida em diferentes habitats, sejam estes arborícolas, terrestres ou aquáticos. Entretanto, 

a ausência de territorialidade encontrada em estudos com marsupiais neotropicais (Holmes & 

Sanderson  1965, Hunsaker  1977  apud  Cáceres & Monteiro‐Filho  2001,  Charles‐Domininque 

1983, Julien‐Laferrière 1995, Gentile et al. 1997) pode  indicar uma plasticidade no padrão de 

sobreposição  entre  os  indivíduos  de  uma  população,  que  pode  variar  de  acordo  com  a 

distribuição de recursos no ambiente (Emlen & Oring 1977, Ostfeld 1990). É nesta plasticidade 

Capítulo I‐ Discussão  

38  

que  pode  residir  a  sutil  diferença  entre  uma  espécie  possuir  um  sistema  poligínico  ou  um 

sistema promíscuo. Como reforço a esta hipótese está a idéia de que a poliginia é o sistema de 

acasalamento  considerado mais  ancestral  dentre  os mamíferos  (Wolff & Macdonald  2004). 

Portanto, é plausível que os marsupiais compartilhem deste sistema de acasalamento, assim 

como a promiscuidade. 

 

39  

 

CAPÍTULO II 

 

 

 

 

PADRÕES DE ATIVIDADE DA CUÍCA D’ÁGUA 

CHIRONECTES MINIMUS EM RIOS DE MATA ATLÂNTICA 

NO SUDESTE DO BRASIL 

 

40  

INTRODUÇÃO 

 

Uma  importante  característica  das  adaptações  ao  ambiente  em  vertebrados  são  os 

ritmos  diários  de  atividade,  que  constituem  aspectos  relevantes  do  comportamento  animal 

(Daan & Aschoff 1982 apud Marcelli et al. 2003). Os padrões de atividade diários seguem uma 

periodicidade  circadiana  na maioria  dos mamíferos  (Bartnes  &  Albers  2000)  e  claramente 

possuem  valor  adaptativo,  pois  permitem  aos  organismos  antecipar  mudanças  periódicas 

(Aschoff 1966, Enright 1970). Estes ritmos resultam de um complexo trade‐off entre o tempo 

de  forrageamento  ótimo,  ecologia  social,  interações  competitivas  e  de  predador‐presa, 

restrições  ambientais  e  fisiológicas  e  requerimento  de  energia.  Características  individuais 

como sexo e condição reprodutiva também podem influenciar os padrões de atividade diários 

(Paragi  et  al.  1994  apud  Kolowski  et  al.  2007,  Larivıère  and Messier  1997,  Zalewski  2001, 

Marcelli et al. 2003), assim como a existência de polimorfismo de ritmos circadianos em uma 

população (Luna et al. 2000, Cutrera et al. 2006). Entre os sexos de uma mesma espécie, estas 

diferenças entre padrões de atividade ocorrem especialmente se o dimorfismo sexual força os 

sexos  a  comportamentos  e  ecologia  divergentes  (Marcelli  et  al.  2003).  Estes  ritmos  de 

atividade  e  inatividade  são  geralmente  sincronizados  às  fases  de  luz  e  escuridão  do  dia, 

entretanto  são  muito  mais  complexos  do  que  a  simples  classificação  dos  animais  em 

diurnos/noturnos ou crepusculares, como é feito normalmente.  

Determinar os padrões de atividade para as espécies em vida  livre é  tão  importante 

para  a história natural das  espécies  como para o manejo  e  a determinação de  esforços de 

pesquisa. Apesar de todos os marsupiais neotropicais atuais serem noturnos, poucos estudos 

foram  além  dessa  classificação  superficial  descrevendo  características  dos  padrões  de 

atividades diárias dos animais (McManus 1971, Streilein 1982, Sunquist et al. 1987,  Fernandez 

1989,  Vieira  &  Baumgarten  1995,  Julien‐Laferrière  1997,  Cáceres  &  Monteiro‐Filho  2001, 

Moraes‐Jr  2004,  Oliveira‐Santos  et  al.  2008)  e  suas  relações  com  os  ritmos  circadianos 

resultantes da  fisiologia, ecologia e comportamento dos animais. Apesar destes estudos não 

terem  abordado  diversos  aspectos  da  atividade  dos  animais,  o  padrão  de  atividade  diário 

observado  para  quase  todos  os marsupiais  neotropicais  já  estudados  pode  ser  considerado 

unimodal, resultante de um pico de atividade no início da noite e decaimento desta atividade 

ao  longo da noite. Este parece ser o caso da cuíca d’água Chironectes minimus, onde alguns 

aspectos sobre seus padrões de atividade foram apenas recentemente estudados (Galliez et al. 

2009).

Capítulo II ‐ Introdução   

41  

 

Este  capítulo  teve o objetivo de descrever detalhadamente os padrões de  atividade 

diários da  cuíca d’água em  rios de Mata Atlântica no  sudeste do Brasil,  com a utilização da 

técnica de  radiotelemetria.  Inicialmente,  foi descrita a  forma da distribuição da atividade ao 

longo da noite, testando quanto aos padrões unimodal, bimodal, homogêneo ou arrítmico. Os 

padrões de atividade da cuíca d’água foram comparados com estudos anteriores e com outros 

marsupiais neotropicais para avaliar a hipótese de que o modo de vida  semi‐aquático pode 

resultar  em mudanças  nos  padrões  de  atividade  comuns  aos marsupiais  neotropicais.  Com 

base no dimorfismo sexual e no sistema de acasalamento da espécie, testou‐se a hipótese de 

que machos possuam padrões de atividade distintos e que estejam mais tempo ativos do que 

fêmeas. Os horários de início e de fim da atividade foram relacionados com o nascer e o pôr do 

sol para testar se a atividade dos animais é dependente da variação sazonal nos horários de 

crepúsculo  e  se  existem  diferenças  neste  comportamento  entre  machos  e  fêmeas  e  nas 

estações chuvosa e seca. Testou‐se também a hipótese de que a massa corporal e a duração 

da noite  influenciam o  tempo de duração da atividade diária dos animais. Animais maiores, 

mais pesados, apresentariam maior duração de atividade para suprir sua demanda energética, 

assim como a duração da noite restringiria a duração da atividade do animal. Adicionalmente, 

foi  testado  se a duração da atividade dos animais em noites  chuvosas é menor do que em 

noites  sem  chuva  devido  ao  aumento  da  vazão  dos  rios  durante  a  chuva,  o  que  poderia 

dificultar  a  locomoção  dos  animais.  Por  fim  foram  discutidas  as  vantagens  do  uso  da 

radiotelemetria  como  método  para  estudos  de  padrões  de  atividade  em  detrimento  de 

estudos com armadilhas de captura viva ou fotográficas. 

 

42  

MÉTODOS 

 

Coleta  de  dados  – Os  horários  de  início  de  atividade  foram  registrados  a  partir  do 

momento em que o animal saía da toca ou entrava em atividade dentro da toca. Os horários 

de fim de atividade foram registrados quando o animal era localizado inativo pela primeira vez 

dentro da toca após uma noite completa de monitoramento. A hora exata do fim da atividade 

normalmente  não  era  possível  de  ser  registrada,  já  que  o  intervalo  entre  localizações 

sucessivas era de uma hora. Assim sendo, os horários de fim de atividade foram determinados 

com uma acurácia menor do que os horários de início da atividade. 

Durante os períodos de monitoramento, a duração da noite variou entre 629 e 794 

minutos, uma variação máxima de 165 min (2h45min) (Observatório Nacional, Rio de Janeiro, 

Brasil; LunarPhase versão 2.7.0 disponível em http://www.nightskyobserver.com/LunarPhase). 

Devido a essas diferenças, cada noite de monitoramento  foi dividida em quatro períodos de 

igual duração, contados a partir do pôr do sol. Foram calculadas as proporções de localizações 

ativas em cada período da noite apenas para indivíduos com pelo menos duas localizações em 

cada período. 

A duração da atividade dos indivíduos em cada noite foi calculada somando‐se à última 

localização ativa, metade do tempo até a próxima localização inativa. Quando não era possível 

registrar  o  horário  de  início  de  atividade,  somava‐se  também  metade  do  tempo  até  a 

localização anterior  inativa. Esta medida foi adotada para evitar o problema de subestimação 

da duração da atividade,  já que houve casos de  indivíduos com apenas uma  localização ativa 

intercalada por localizações inativas, impedindo a estimação do intervalo de tempo. 

 

Análise dos dados – Correlações de  Spearman  (rs)  foram utilizadas para examinar  a 

relação entre o horário de início de atividade e o pôr do sol e o horário de fim de atividade e o 

nascer do  sol para cada  sexo e para as estações  seca e chuvosa. A estação  seca na área de 

estudo  compreende  principalmente  o  inverno,  com  noites  mais  longas,  enquanto  que  a 

estação chuvosa ocorre no verão quando as noites são mais curtas. Machos e fêmeas também 

foram comparados quanto ao horário de  início e fim de atividade através do teste de Mann‐

Whitney.  Foram  utilizados  todos  os  horários  de  início  e  fim  de  atividade  registrados, 

independentemente do indivíduo monitorado. 

Para  testar  a hipótese nula de que não há  variação nos padrões de  atividade entre 

indivíduos  foi  utilizado  o  teste  de  qui‐quadrado  de  heterogeneidade  (Zar  1999).

Capítulo II ‐ Métodos  

43  

Posteriormente, para testar contra o padrão de atividade homogêneo ao  longo da noite para 

cada  animal  foi  utilizado  o  teste  de  qui‐quadrado  de  independência  (Zar  1999). 

Adicionalmente, foi utilizado o teste de Friedman para comparar as proporções de localizações 

ativas entre os quatro períodos da noite, sendo as amostras as proporções de atividade dos 

indivíduos em cada período da noite. O  teste de Friedman é um  teste não paramétrico para 

dados medidos em escala ordinal abrangendo  três ou mais variáveis  (Ayres et al. 2008), e é 

semelhante a uma análise de variância de medidas repetidas. Para  testar a hipótese nula de 

que  ambos os  sexos possuem o mesmo padrão de  atividade,  foi utilizado o  teste G  com  a 

mediana das proporções de  atividade  dos  indivíduos para  cada  sexo.  Para  cada período da 

noite,  foi  realizado  o  teste  de Mann‐Whitney  para  testar  se  há  diferenças  nos  padrões  de 

atividade  entre  os  sexos  em  cada  período.  A  proporção  de  localizações  ativas  total  dos 

indivíduos  foi comparada entre machos e  fêmeas através do  teste de Mann‐Whitney. Outra 

forma de testar se machos ficam mais ativos do que fêmeas é comparar a duração da atividade 

entre os sexos, para isso foi utilizado o teste t.  

A  fim  de  determinar  o  que mais  influencia  a  duração  da  atividade  dos  animais,  foi 

realizada  uma  regressão múltipla  relacionando  a mediana  da  duração  da  atividade  com  a 

mediana da duração da noite e a massa corporal (1ª captura) de cada animal. Foi utilizado o 

teste t para testar se a duração da atividade dos animais é menor em noites chuvosas do que 

em  noites  sem  chuva.  Para  isso,  foram  utilizados  os  dados  de  todas  as  noites  de 

monitoramento, independentemente dos indivíduos. 

 

44  

RESULTADOS 

 

Foram obtidas 459 localizações de 16 cuícas d’água (13 machos e três fêmeas), sendo 

218  (47,5%)  localizações dos animais em atividade e 241  (52,5%)  localizações de  inatividade. 

Devido  ao baixo  tamanho  amostral de  alguns  indivíduos,  apenas 10  animais  (7 machos  e  3 

fêmeas) tiveram seus padrões de atividade calculados. A média de localizações por período da 

noite foi de 11 para cada animal.  

Como  esperado,  a  cuíca  d’água  Chironectes  minimus  apresentou  um  padrão  de 

atividade  preferencialmente  noturno  e  pouca  atividade  crepuscular.  Foram  obtidas  50 

localizações diurnas dos  indivíduos monitorados, das quais 46  localizaram o animal  inativo na 

toca. Três  localizações  foram obtidas com o animal em atividade um pouco antes do pôr do 

sol. O macho Godofredo  e  a  fêmea Margarida, que  estavam na mesma  toca,  entraram  em 

atividade cerca de 3 minutos antes do pôr do sol, e a fêmea Florzinha foi  localizada ativa 13 

minutos antes do pôr do sol. Esta mesma fêmea, em outra ocasião, foi também localizada em 

atividade 34 minutos  após o nascer do  sol. Além disso,  foram encontrados dois  indícios de 

mudança de toca durante o dia para a Florzinha, quando ela foi localizada após o nascer do sol 

em  uma  toca  e  antes  do  pôr  do  sol  do mesmo  dia  em  outra  toca.  Todas  as  três  fêmeas 

monitoradas estavam com filhotes no marsúpio na época do monitoramento. 

O horário de  início de atividade após o pôr do sol não diferiu entre machos e fêmeas 

(macho: 53,5, ‐3 – 298 e fêmea: 46, ‐3 – 337 minutos após o pôr do sol; U = 180,5, n1 = 13, n2 

= 32, P = 0,491). O horário de início da atividade das fêmeas foi positivamente correlacionado 

com o horário do pôr do sol (rs = 0,705 n =13 , P = 0,007, Fig. II.1). O mesmo não ocorreu para 

os machos  (rs  =  0,06  n  =  32,  P  =  0,706,  Fig.  II.1).  Para  fêmeas  não  foi  possível  calcular  as 

correlações  entre  o  início  de  atividade  e  o  horário  do  pôr  do  sol  separadamente  para  as 

estações  chuvosas  e  secas,  devido  ao  baixo  tamanho  amostral.  Os  horários  de  início  de 

atividade para machos foram positivamente correlacionados com os horários do pôr do sol na 

estação chuvosa (rs = 0,664, n = 11, P = 0,025), mas não na estação seca (rs = ‐0,25, n = 21, P = 

0,27).  Agrupando  os  sexos,  apenas  na  estação  chuvosa  houve  correlação  entre  o  início  da 

atividade do animal e o início da noite (rs = 0,687, n = 17, P = 0,002). Em 18 dos 46 horários de 

início de atividade registrados, houve avistamento do animal saindo da toca. Todos os animais 

dirigiam‐se ao rio e se afastavam da toca nadando. 

Capítulo II ‐ Resultados  

45  

17:00

18:30

20:00

21:30

23:00

0:30

17:00 17:15 17:30 17:45 18:00 18:15 18:30 18:45

Inicio de atividade

Pôr do sol

Estação seca Estação chuvosa

 

Figura II.1. Correlação entre o horário de início de atividade e o horário de pôr do sol da cuíca d’água Chironectes 

minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. Círculos em negrito  indicam fêmeas (n = 13) e círculos em 

cinza indicam machos (n = 32). Linha contínua em negrito: reta de melhor ajuste para fêmeas em ambas as estações 

(rs = 0,705 n =13 , P = 0,007). Linha pontilhada em negrito: reta de melhor ajuste para machos apenas na estação 

chuvosa (rs = 0,664, n = 11, P = 0,025). A  linha pontilhada cinza marca o horário do pôr do sol; pontos acima dela 

indicam  início de atividade após do pôr do sol. Acima estão marcados os  intervalos de horários de pôr do sol nas 

estações seca e chuvosa. 

 

O  horário  de  fim  de  atividade  antes  do  nascer  do  sol  não  diferiu  entre machos  e 

fêmeas  (230  ±  151  e  239  ±  192  minutos  antes  do  nascer  do  sol,  macho  e  fêmea 

respectivamente; t27 = ‐0,136, P = 0,892). O horário de fim da atividade não foi correlacionado 

com o horário de nascer do sol para nenhum dos sexos (macho: rs = ‐0,04, n = 17, P = 0,0853 ; 

fêmea: rs = ‐0,29, n = 12, P = 0,351, Fig.II.2). Para ambos os sexos, não foi possível calcular as 

correlações  entre  o  fim  de  atividade  e  o  horário  do  nascer  do  sol  separadamente  para  as 

estações do ano devido ao baixo tamanho amostral. 

 

Capítulo II ‐ Resultados  

46  

21:30

22:30

23:30

00:30

01:30

02:30

03:30

04:30

05:30

06:30

07:30

4:45 5:00 5:15 5:30 5:45 6:00 6:15 6:30 6:45

Fim de atividade

Nascer do sol

Estação seca Estação chuvosa

 

Figura  II.2. Correlação entre o horário de  fim de atividade e o horário de pôr do sol da cuíca d’água Chironectes 

minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. Círculos em negrito  indicam fêmeas (n = 14) e círculos em 

cinza indicam machos (n = 17). A linha pontilhada cinza marca o horário do nascer do sol, pontos acima dela indicam 

fim de atividade após do nascer do sol.  

 

Os dez indivíduos monitorados apresentaram padrões de atividade diferentes entre si 

(qui‐quadrado para heterogeneidade: ² = 267,485, g.l. = 3, P < 0,001,  fig.  II.3). Entretanto, 

todos os indivíduos apresentaram padrão unimodal de atividade ao longo da noite, exceto pela 

fêmea Florzinha que apresentou padrão homogêneo (² = 0,979, g.l. = 3, P = 0,806, Fig. II.3f). 

Este  padrão  se  diferenciou  entre  os  indivíduos  pelo  horário  do  pico  de  atividade:  quatro 

indivíduos apresentaram maior atividade no primeiro período da noite (Fig. II.3c, d, e), três no 

segundo período (Fig. II.3a) e dois no segundo e terceiro período da noite (Fig. II.3b). A maioria 

dos  indivíduos (n = 6) não apresentou atividade no último período da noite. Em geral, apesar 

das  diferenças  individuais,  os  animais  estavam  mais  ativos  no  segundo  período  da  noite 

(mediana  das  proporções  de  atividade  dos  indivíduos:  ²  =  77,2,  g.l.  =  3,  P  <  0,0001). 

Entretanto,  apenas  o  primeiro  e  o  quarto  e  o  segundo  e  quarto  períodos  da  noite  foram 

significativamente diferentes entre si (teste de Friedman: Fr3 = 15,15, P = 0,001). 

 

Capítulo II ‐ Resultados  

47  

0

50

100

1º 2º 3º 4º

0

50

100

a d

b e

c f

0

50

100

Localizações ativas (%)

Período da noite

1º 2º 3º 4º

 

Figura II.3. Proporção de localizações ativas em cada período da noite de seis indivíduos da cuíca d’água Chironectes 

minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. a – c machos; d – f fêmeas.  

 

A  única  fêmea  a  apresentar  um  padrão  homogêneo  durante  suas  noites  de 

monitoramento (Florzinha, n=7, Fig II.3f) entrava em atividade em horários distintos. Em cada 

noite, foram observados picos de atividade em horários distintos: em três noites ela manteve o 

pico de atividade na primeira metade da noite, em duas noites o pico de atividade ocorreu na 

segunda metade da noite e em duas noites houve um padrão homogêneo de atividade, com 

pequenos  intervalos de  inatividade. Desta forma, a atividade desta fêmea apresentou padrão 

de  atividade  arrítmico  ao  invés  de  homogêneo,  já  que  as  noites  de monitoramento  foram 

diferentes entre si (² = 904,1, g.l. = 18, P < 0,0001).  

Machos  e  fêmeas  apresentaram  padrões  de  atividade  distintos  (mediana  das 

proporções de atividade: G = 20.9, g.l. = 3, P < 0,0001, Fig. II.4). As fêmeas são mais ativas no 

início  da  noite  e  diminuem  sua  atividade  com  o  passar  do  tempo  (²  =  99,9,  g.l.  =  3,  P  < 

Capítulo II ‐ Resultados  

48  

0,0001). Já os machos foram mais ativos no segundo período da noite (² = 84.675, g.l. = 3, P < 

0,0001,  Fig  II.4).  Entretanto,  a  única  diferença  encontrada  no  período  de  atividade  entre 

machos e  fêmeas  foi no  segundo período da noite, onde machos estiveram mais ativos que 

fêmeas  (Mann‐Whitney, U = 1,5, n1 = 7, n2 = 3, P = 0,04). Machos não apresentaram maior 

proporção  total  de  localizações  ativas  do  que  fêmeas  (mediana macho:  58,5,  40  –  60  %; 

mediana fêmea: 44,4, 42,9 – 49,4 %; U = 5, n1 = 7, n2 = 3, P = 0,21). 

0

20

40

60

80

100

1º 2º 3º 4º

Localizações ativas (%)

Períodos da noite 

Figura II.4. Medianas das proporções de localizações ativas em cada período da noite entre machos (n=7, em cinza) 

e  fêmeas  (n=3, em preto) da cuíca d’água Chironectes minimus na bacia do  rio Águas Claras, Silva  Jardim, RJ. As 

barras representam o 3º quartil. As proporções de localizações ativas diferiram entre os sexos (G = 20,9, g.l. = 2, P = 

0,0001), mas somente na segunda parte da noite (U = 1,5, P = 0,04).  

 

Machos não apresentaram maior tempo de duração da atividade do que fêmeas para 

as  noites  completas  de  monitoramento  (machos  299  ±  137  minutos;  fêmeas  232  ±  75,6 

minutos; t8= 0,778, P = 0,459), o que confirma o resultado encontrado para proporção total de 

localizações ativas acima descrito. A duração da noite influenciou positivamente a duração da 

atividade  dos  animais  (R²adj =  0,59,  F2,8  =  7,495,  P  =  0,01,  Fig  II.5),  enquanto  que  a massa 

corporal não teve influência na regressão (P = 0,217). A duração da atividade não foi maior em 

noites chuvosas (285,6 ± 138,9 min) do que em noites sem chuva (303,6 ± 145,2 min) para a 

cuíca d’água (t24 = 0,251 , P = 0,80).  

Capítulo II ‐ Resultados  

49  

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

600 650 700 750 800

Duração da atividade (min)

Duração da noite (min)

Estação seca Estação chuvosa

 

Figura II.5. Regressão linear parcial entre a duração da noite e a duração da atividade da cuíca d’água Chironectes 

minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. R²adj = 0,59, F2,8 = 7,495, P = 0,01. 

 

50  

DISCUSSÃO 

 

O desenvolvimento de  técnicas de  telemetria para monitorar a atividade de animais 

em vida  livre  tornou possível a obtenção de dados de  longo prazo sobre muitas espécies de 

vertebrados  vivendo  sob  condições  naturais  (Tester  1987).  Tais  estudos  são  vantajosos  em 

relação  aos  de  captura  por  armadilhas  principalmente  porque  conseguem  acompanhar  a 

atividade  dos  animais  individualmente  ao  longo  do  dia,  permitindo  encontrar  variações 

individuais  impossíveis de  serem  alcançadas  com dados de  captura  (ver  Tester 1987). Estes 

estudos também são capazes de calcular a duração e os horários de  início e fim de atividade 

dos animais por período de atividade. Estes parâmetros são de extrema  importância para os 

estudos  sobre  padrões  de  atividade, mas  até  agora  nunca  tinham  sido  contemplados  em 

estudos  com  marsupiais  neotropicais.  Apenas  com  o  uso  da  radiotelemetria  é  possível 

perceber arritmia em um padrão de atividade aparentemente uniforme, como  foi o caso da 

fêmea  Florzinha.  Seu  padrão  de  atividade  somente  foi  identificado  porque  esta  fêmea  foi 

monitorada  por  diversas  noites  com  padrões  divergentes  em  cada  noite.  Entretanto,  esta 

técnica é relativamente mais dispendiosa do que as técnicas usuais de armadilhas de captura 

viva e armadilhas fotográficas. Outra desvantagem da técnica é a necessidade de um esforço 

amostral muito maior do que o empregado nos estudos com armadilhas, visto que é preciso 

um  tamanho amostral  suficiente para  cada  indivíduo e muitos animais monitorados. Apesar 

das desvantagens, a técnica de radiotelemetria ainda é a melhor a ser empregada em estudos 

direcionados a padrões de atividades de animais em vida livre. 

O padrão de atividade diária da cuíca d’água é preferencialmente noturno, unimodal, 

com um pico de atividade no início da noite logo após o pôr do sol, com a atividade decaindo 

ao  longo  da  noite.  Estes  resultados  estão  de  acordo  com  os  encontrados  por Galliez  et  al. 

(2009) na mesma área de estudo. Zetek (1930) e Mondolfi & Padilha (1958) comentam sobre o 

padrão noturno com animais em cativeiro e apenas Marshall (1978) registrou atividade diurna 

ocasional de um animal em cativeiro. Indícios de atividade diurna também foram encontrados 

neste  estudo,  entretanto  as  três  localizações  diurnas  confirmadas  ocorreram  apenas  no 

período crepuscular, reforçando a preferência noturna de atividade pela espécie. 

As  pressões  de  seleção  que moldam  os  padrões  de  atividade  devem  favorecer  os 

animais  que  não  apenas  podem  antecipar mudanças  periódicas, mas  também  ajustar‐se  a 

mudanças  imprevisíveis e  imediatas ao  seu  redor.  Justamente por  isso, Tester  (1987) afirma 

que a uniformidade ou  consistência de  ritmos de atividade de animais em vida  livre é  raro, 

Capítulo II ‐ Discussão  

51  

resultando então na  flexibilidade dos  ritmos de atividade observados em vertebrados  (Daan 

1981  apud  Kramer  &  Birney  2001,  Tester  1987,  Kramer  &  Birney  2001).  Variações  intra‐

específicas de padrões de atividade já foram encontrados em roedores (Pearson 1960, Marten 

1973, Pei 1995,  Luna et al. 2000, Cutrera et al. 2006),  carnívoros  (Garshelis & Pelton 1980, 

2003,  Theuerkauf  et  al.  2003,  Kolowski  et  al.  2007),  grandes  herbívoros  (Rodrigues  & 

Monteiro‐Filho 2000) e no marsupial Didelphis albiventris (Streilein 1982). A heterogeneidade 

de  padrões  de  atividade  diária  encontrados  para  a  cuíca  d’água  parece  estar  ligada  a  esta 

flexibilidade  na  atividade  noturna,  o  que  permitiria  o  animal  sincronizar  sua  atividade  de 

acordo com estímulos externos, por exemplo, condição do tempo, temperatura, luminosidade 

e interações sociais. Para a cuíca d’água, as variações na atividade diária se tornaram bastante 

evidentes para a única fêmea a apresentar um padrão arrítmico, com horários de  início e fim 

de atividade distintos entre os dias de monitoramento. Em uma noite, foi observado que esta 

fêmea somente saiu da toca depois que a lua cheia se pôs, às 2:30, e permaneceu ativa até 34 

minutos após o nascer do sol. Isso pode indicar a influência da luminosidade da lua alterando a 

atividade  do  animal  devido  ao  aumento  do  risco  de  predação,  um  fenômeno  já  bem 

documentado em muitas espécies de mamíferos  (ver  referências em  Julien‐Laferrière 1997). 

Entretanto, neste estudo não foi possível testar tal influência para a atividade da cuíca d’água. 

A  maioria  dos  marsupiais  neotropicais  já  estudados  apresentaram  um  padrão  de 

atividade noturno, unimodal com pico de atividade nas primeiras horas da noite, decrescendo 

gradualmente  ao  longo  da  noite: Didelphis  albiventris  (Streilein  1982,  Cáceres & Monteiro‐

Filho 2001, Oliveira‐Santos et al. 2008), Didelphis marsupialis (McManus 1971, Sunquist et al. 

1987), Metachirus nudicaudatus  (Moraes‐Jr 2004), Micoureus paraguayanus  (Oliveira‐Santos 

et  al.  2008),  Monodelphis  domestica  (Streilein  1982)  e  Thylamys  velutinus  (Vieira  & 

Baumgarten 1995). Algumas espécies são também consideradas crepusculares, como Didelphis 

albiventris,  Lutreolina  crassicaudata  e Monodelphis  dimidiata  (Rossi  et  al.  2006).  Kronfeld‐

Schor & Dayan  (2003) afirmam que os padrões de atividade advindos de  fatores endógenos 

são muito difíceis de serem mudados evolutivamente, o que impediria os animais de seguirem 

padrões muito distintos daqueles de espécies  filogeneticamente próximas  (Roll et al. 2006). 

Todavia,  a  competição  interespecífica  e  predação  são  ambas  percebidas  como  poderosas 

forças  seletivas  para  os  padrões  de  atividade  (Roll  et  al.  2006).  Logo,  espera‐se  que  estes 

fatores moldem a atividade dos animais, embora exista ainda pouca evidência disto ocorrendo 

na  natureza  (Kronfeld‐Schor  &  Dayan  2003).  A  cuíca  d’água  não  possui  competidores  em 

potencial  na  área  de  estudo,  já  que  ambientes  aquáticos  possuem  grande  abundância  de 

recursos (Churchfield 1998, Schooley & Branch 2006) e não há outra espécie de mamífero de 

Capítulo II ‐ Discussão  

52  

mesmo porte ocupando o mesmo hábitat ou com dieta semelhante. Portanto, a hipótese de 

partição  de  nicho  temporal  (Schoener  1974,  Richards  2002,  Roll  et  al.  2006) moldando  os 

padrões  de  atividade  da  cuíca  d’água  pode  ser  descartada. Os  predadores  da  cuíca  d’água 

também podem ser considerados escassos, visto que seus hábitos aquáticos excluem grande 

parte dos predadores comuns a marsupiais. Durante os quatro anos de estudo nenhum evento 

de predação  foi  registrado, o que pode  indicar uma baixa  taxa de predação para a espécie. 

Portanto  a  hipótese  da  presença  de  predadores  influenciando  na  atividade  da  presa  (e.g. 

Theuerkauf  et  al.  2003,  Díaz  et  al.  2005)  também  podem  ser  descartada  como  agente 

modificador  da  atividade  da  cuíca  d’água.  Sendo  assim,  as  semelhanças  nos  padrões  de 

atividade  exibidos  pelos marsupiais  neotropicais  e  a  cuíca  d’água  provavelmente  ocorrem 

devido às restrições filogenéticas moldadas evolutivamente por ritmos endógenos e à ausência 

de pressões seletivas ecológicas modificando esta atividade.  

Considerando que os  recursos  alimentares  em  ambientes  aquáticos  são  abundantes 

(Churchfield 1998, Schooley & Branch 2006), não haveria necessidades de uma alta alocação 

de  tempo para  atividades de  forrageamento da  cuíca d’água, o que diminuiria o  tempo de 

atividade total dos animais. Esta pode ser a explicação para a baixa duração da atividade diária 

da cuíca d’água, chegando a ficar apenas 60 minutos em atividade em uma noite. Noites com 

maior duração de atividade podem então ser atribuídas a atividades outras como patrulha de 

território  e  cuidado  parental  (fêmeas),  busca  por  parceiros  sexuais  (machos)  e  outras 

interações  sociais,  assim  como  construção  e  procura  por  tocas  e  ninhos.  Estudos  sobre 

alocação  de  tempo  para  as  atividades  são  de  grande  interesse,  porém  devido  aos  hábitos 

discretos e noturnos da espécie isso parece ser mais difícil de obter com animais em vida livre. 

Muitos mamíferos sincronizam seus  ritmos circadianos com a duração do dia. Este é 

um  elemento  chave  no  mecanismo  fotoperiódico  que  usa  o  ciclo  anual  de  mudança  do 

comprimento  do  dia  como  um  gatilho  para  regular  mudanças  sazonais  em  uma  grande 

variedade de ajustes  fisiológicos e comportamentais  (Goldman 1999), muitas vezes voltados 

para a  reprodução. Pei  (1995) encontrou para o  rato da malásia que a duração da atividade 

dos animais está positivamente relacionada com a duração da noite. Este mesmo resultado foi 

encontrado para a cuíca d’água, onde a duração da noite explica cerca de 60% da duração da 

atividade  do  animal.  Sendo  as  noites  da  estação  seca mais  longas  do  que  as  da  estação 

chuvosa, a duração da atividade dos animais deve ser maior na estação seca. A cuíca d’água 

não  parece  apresentar  sazonalidade  em  seus  eventos  reprodutivos  (Galliez  et  al.  2009), 

entretanto a maior duração da atividade no  inverno poderia permitir mais  tempo disponível 

Capítulo II ‐ Discussão  

53  

para acasalamento. Provavelmente, outros estímulos que não o fotoperíodo são responsáveis 

pelo desencadeamento dos eventos reprodutivos para a cuíca d’água. 

Fatores  abióticos  como  temperatura  e  precipitação  certamente  alteram  a  atividade 

dos  animais  (O’Farrel  1974,  Vickery  &  Bider  1981,  Huey  1991,  Kramer  &  Birney  2001, 

Rehrmeier 2005). Apesar deste estudo não  ter  testado a  influência da  temperatura  sobre a 

atividade da cuíca d’água devido à escassez de dados, a temperatura da água, principalmente, 

pode  ter alguma  influência  sobre o padrão de atividade dos animais. Todavia, pela área de 

estudo ter um clima considerado ameno, com uma variação média anual de 7⁰ na temperatura 

do ar (Mantovani 1997) e de 6⁰ C na temperatura da água (este estudo) entre o  inverno e o 

verão, pode se esperar que o papel da temperatura ambiental seja de menor importância para 

as atividades do animal. Da mesma forma, a influência da precipitação na atividade do animal 

parece ser pequena, já que não foi observada diferença na duração da atividade entre noites 

chuvosas e sem chuva. A chuva pode influenciar pouco na atividade da cuíca d’água, já que o 

animal já se encontra dentro d’água. Vickery & Bider (1981) atribuem o aumento da atividade 

dos  roedores em dias de chuva à diminuição da probabilidade de predação. A cuíca d’água, 

sem muitos predadores em potencial, talvez não responda à precipitação da mesma maneira. 

Chuvas torrenciais podem ainda afetar a atividade dos animais por modificar tremendamente 

as condições bióticas e abióticas dos rios, aumentando a vazão, turbidez e velocidade da água, 

e diminuindo a quantidade de presas pelo carreamento rio abaixo. Seria interessante analisar a 

influência  da  precipitação  de  acordo  com  diferentes  níveis  de  intensidade  de  chuva  e  suas 

conseqüências para o ecossistema aquático. 

Como  já  mencionado,  características  como  sexo  e  condição  reprodutiva  podem 

também  influenciar nos padrões de atividade diária  (Paragi et al. 1994 apud Kolowski et al. 

2007, Larivıère & Messier 1997, Zalewski 2001, Marcelli et al. 2003), principalmente se houver 

dimorfismo sexual na espécie  (Marcelli et al. 2005). Machos da cuíca d’água pesam cerca de 

30% mais  que  fêmeas  (Capítulo  I)  e,  devido  ao  sistema  de  acasalamento,  se movimentam 

muito mais  do  que  fêmeas  em  busca  de  parceiros  sexuais  (Galliez  et  al.  2009,  capítulo  I). 

Segundo  o  modelo  de  regressão  múltipla,  a  massa  dos  animais  parece  não  influenciar  a 

duração  de  suas  atividades,  ao  contrário  do  que  acontece  com  outros  mamíferos  (e.g. 

Valenzuela & Ceballos 2000, Marcelli et al. 2003). Desta maneira, as diferenças encontradas no 

padrão de  atividade  entre os  sexos não devem  também  estar  relacionadas  a diferenças de 

massa, mas  sim  às diferenças de  comportamento entre os  sexos. É possível  também que  a 

baixa  amplitude  de  variação  de  massa  dos  indivíduos  monitorados  (235  –  390  g)  tenha 

influenciado na ausência de relação entre as variáveis. Em geral, fêmeas ficam mais ativas no 

Capítulo II ‐ Discussão  

54  

início da noite  e  decrescem  linearmente de  atividade  ao  longo  da noite,  enquanto machos 

atingem um pico de atividade mais tarde e decrescem de atividade logo em seguida. Devido a 

estas diferenças  sexuais no  comportamento,  esperava‐se que machos  ficassem mais  tempo 

ativos que  fêmeas.  Entretanto,  ambos os  sexos  ficam  a mesma quantidade de  tempo  ativo 

durante a noite, calculado tanto pela proporção de localizações ativas quanto pela duração da 

atividade,  e  não  diferem  quanto  ao  horário  de  início  de  atividade.  Resultados  semelhantes 

foram encontrados para chimpanzés com o mesmo sistema de acasalamento da cuíca d’água 

(Kolowski et al. 2007).  

Ambos os sexos possuírem mesma duração na atividade não necessariamente implica 

na mesma alocação de  tempo para as atividades entre os  sexos. Provavelmente os motivos 

que  levam  os  sexos  a  ficar  ativos  são  distintos.  Fêmeas  da  cuíca  d’água,  sendo  territoriais 

(Galliez et al. 2009, capítulo I), gastariam grande parte de sua atividade diária na patrulha de 

território  e  defesa  contra  invasores,  principalmente  nos  horários  de  maior  atividade  dos 

animais  (início  da  noite),  enquanto  machos  gastariam  grande  parte  de  sua  atividade  na 

procura por  fêmeas. É possível que as  fêmeas monitoradas apresentaram maior duração de 

atividade simplesmente por estar com filhotes, o que demanda mais tempo para cuidado da 

prole  e  busca  de  alimento  (porém  ver Weir &  Corbould  2007).  Estudos  que  comparem  os 

padrões de atividade de fêmeas com e sem filhotes ajudariam a elucidar esta questão.  

Resultados que reforçaram as diferenças sexuais nas atividades da cuíca d’água foram 

os  das  relações  entre  os  horários  de  início  de  atividade  e  de  início  da  noite.  O  início  da 

escuridão mostrou‐se um importante sincronizador do pico de atividade da cuíca d’água. Estas 

relações foram também encontradas na lontra européia Lutra lutra (Beja 1996) e em roedores 

noturnos (Bruseo & Barry Jr 1995, Rehrmeier 2005, White & Geluso 2007). Os autores acima 

sugerem que os comportamentos de início de atividade para roedores noturnos são plásticos e 

provavelmente ligados a trade‐offs sazonais entre custo de predação, competição e benefícios 

para  reprodução  e  abundância  de  alimentos.  Se  estas  características  além  de  diferirem 

sazonalmente  também  forem diferentes entre os  sexos, é possível que a  sincronia entre os 

horários de atividade e de pôr do sol seja também distinta entre machos e fêmeas. As fêmeas 

da cuíca d’água apresentaram sincronia de início de atividade de acordo com o horário do pôr 

do  sol,  o  que  ocorreu  para machos  apenas  na  estação  chuvosa.  Quando  os  sexos  foram 

agrupados, as correlações entre início de atividade e pôr do sol ocorreram apenas na estação 

chuvosa.  Esta  forte  correlação  entre  o  início da  atividade  com o  início  da  noite pode  estar 

relacionada com a patrulha de território por fêmeas no horário de início de atividade a fim de 

evitar  possíveis  invasões  por  outras  fêmeas.  Já machos  por  não  serem  territorialistas,  não 

Capítulo II ‐ Discussão  

55  

necessitam  iniciar suas atividades tão cedo, tendo assim uma grande variação de horários de 

início  de  atividade  principalmente  na  estação  seca.  Nesta  estação,  noites  suficientemente 

longas podem permitir um atraso no horário de início de atividade para os animais (Rehrmeier 

2005).  Todavia,  na  estação  chuvosa,  quando  as  noites  são mais  curtas,  é  provável  que  até 

machos necessitem ajustar suas atividades ao início da noite para que seja possível aproveitar 

toda a noite para as atividades, principalmente de busca por fêmeas. Quanto ao horário de fim 

de atividade, a  inexistência de diferenças entre machos e fêmeas e a ausência de correlação 

com  o  horário  de  nascer  do  sol  parecem mostrar  que  este  é muito mais  dependente  das 

condições  ambientais  e  alocação  de  tempo  para  as  atividades  durante  a  noite. Ou  seja,  o 

horário de fim de atividade dos animais é extremamente flexível e não dependente do horário 

de  nascer  do  sol  ou  do  sexo.  É  importante  ressaltar  que  este  resultado  pode  ter  sido 

mascarado  pela  falta  de  acurácia  no  registro  dos  horários  de  fim  de  atividade.  Entretanto, 

resultados  semelhantes  também  foram  encontrados  para  roedores  (Gilbert  et  al.  1986, 

Rehermeier  2005),  onde  não  houve  relação  entre  os  horários  de  fim  de  atividade  e  o 

fotoperíodo. 

 

56  

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

 

A presente dissertação  representa o mais completo estudo em ecologia dos padrões 

espaciais e de atividade da cuíca d’água Chironectes minimus, um animal bem pouco estudado, 

apesar  de  sua  vasta  distribuição  geográfica.  Além  disso,  contribui  também  para  o 

desenvolvimento  das  técnicas  de  estudo  em  ecologia  de  mamíferos  semi‐aquáticos.  As 

técnicas de telemetria provaram ser uma boa ferramenta para o monitoramento dos animais 

em vida livre (Tester 1987, Jacob & Rudran 2004), e permitiram maior facilidade e acurácia na 

obtenção  de  dados, muitos  destes  jamais  possíveis  através  de  outras  técnicas.  Este  estudo 

baseou‐se na  radiotelemetria para obter dados que seriam escassos se coletados através de 

técnicas como a captura‐marcação‐recaptura, tornando possível o teste de diversas hipóteses 

ecológicas sobre a cuíca d’água. Por ser uma espécie semi‐aquática restrita a rios, os padrões 

espaciais da cuíca d’água são melhor representados por estimativas lineares de uso do espaço, 

denominada neste estudo de extensão de uso.  

Em comparação com estimadores bi‐dimensionais, os estimadores de extensão de uso 

são ainda pouco empregados e, portanto, foram pouco desenvolvidos ao longo dos estudos de 

padrões  espaciais. Um  dos métodos  promissores  para  estimativas  de  extensão  de  uso  é  a 

utilização do método kernel para calcular o comprimento de habitat dentro do contorno de 

volume de utilização estabelecido pelo kernel (K‐UNI; Sauer et al. 1999, Blundell et al. 2001). 

Todavia,  a  utilização  do  método  mais  conservativo  de  comprimento  de  habitat  entre 

localizações extremas no rio (CT) se mostrou suficiente para responder diversas perguntas. O 

uso  do  K‐UNI  somente  é  mais  vantajoso  se  as  estimativas  resultantes  não  forem  tão 

fragmentadas a ponto de excluir extensões de habitat  também utilizados pelo animal, e  isso 

vai  depender  tanto  dos  parâmetros  escolhidos  quanto  da  distribuição  de  localizações  do 

animal na extensão de uso. O uso do K‐UNI permite análises de extensão‐núcleo com maior 

facilidade e elegância do que outras análises baseadas apenas em número de localizações em 

seções de habitat de tamanho pré‐estabelecidos (MS Leite, dados não publicados). Entretanto, 

muito campo ainda permanece em aberto para desenvolvimento de análises mais robustas de 

extensão‐núcleo,  já que os  resultados do método utilizado para  áreas‐núcleo  (Powell 2000) 

não  apresentaram  relação direta  com  as porcentagens de  extensões‐núcleo. Mesmo  assim, 

este  procedimento  é  valido,  em  vista  de  se  optar  por  porcentagens  fixas  de  volume  de 

contorno de utilização (Powell 2000, Laver 2005a, b).  

Considerações finais  

57  

O conhecimento da organização social dos indivíduos é um elemento importante para 

a biologia de uma população ou espécie,  já que  influencia o  fluxo genético e os padrões de 

distribuição  espacial  e pode  ser usado  também  em  ações  conservacionistas. A  cuíca d’água 

apresentou padrões de organização  espacial  condizentes  com  um  sistema de  acasalamento 

poligínico  ou  promíscuo  (Ostfeld  1985,  Hixon  1987,  Ims  1987,  Ostfeld  1990).  Machos 

apresentaram  extensões  de  uso  cerca  de  três  vezes  maiores  do  que  fêmeas,  e  se 

sobrepuseram bastante com outros machos e fêmeas, enquanto fêmeas aparentaram possuir 

extensões de uso exclusivas em relação a outras fêmeas.  

Apesar  da  grande  heterogeneidade  encontrada  nos  padrões  de  atividade  dos 

indivíduos, um padrão geral pôde ser observado. A cuíca d’água é comprovadamente noturna, 

com  picos  de  atividade  no  início  da  noite  e  decaindo  ao  passar  do  tempo.  Machos 

apresentaram atividade mais  flexível em relação ao horário de saída da toca, principalmente 

na  estação  do  ano  onde  a  noite  é mais  longa  (estação  seca).  Fêmeas  apresentaram  alto 

sincronismo com os horários de saída da toca e pôr do sol, atingindo um pico de atividade no 

primeiro período da noite,  ao  contrário de machos que  atingiram o pico de  atividade mais 

tarde. Muitas outras diferenças comportamentais foram encontradas entre machos e fêmeas 

tanto no que diz respeito ao uso do espaço quanto do tempo, e estas diferenças podem ser 

atribuídas às estratégias  reprodutivas divergentes entre os sexos  (Erlinge 1979, Moors 1980. 

Marcelli et al. 2003). 

Este estudo  reafirma os  resultados encontrados por Galliez et al.  (2009), no qual as 

restrições  impostas pelo habitat aquático à  cuíca d’água não  foram  suficientes para moldar 

comportamentos  que  fossem  tão  divergentes  dos  marsupiais  terrestres.  Quase  todos  os 

marsupiais  neotropicais  já  estudados  apresentaram  padrões  espaciais  e  de  atividade 

semelhantes aos resultados encontrados para a cuíca d’água. Estes resultados vão ao encontro 

da afirmação de Charles‐Dominique  (1983), de que os marsupiais neotropicais compartilham 

de  grande  semelhança  morfológica,  fisiológica  e  comportamental,  mesmo  havendo 

especializações ecológicas tão distintas. Tais semelhanças conduzem a uma interpretação dos 

mecanismos  evolutivos  que  moldam  a  ecologia  e  o  comportamento  dos  marsupiais 

neotropicais. Assim como já foi visto para os marsupiais australianos (Fisher & Owen 2000), os 

padrões  ecológicos  e  comportamentais  observados  em  marsupiais  neotropicais  são  mais 

restritos  filogeneticamente que os dos mamíferos placentários  (Jarman &  Kruuk  1996  apud 

Fisher & Owens 2000).  

Considerações finais  

58  

Em relação aos padrões de atividade, esta hipótese é fortalecida pela  idéia de que os 

padrões de  atividade  advindos de  fatores  endógenos  são muito difíceis de  serem mudados 

evolutivamente, o que impediria os animais de seguirem padrões muito distintos daqueles de 

espécies  filogeneticamente  próximas  (Kronfeld‐Schor  &  Dayan  2003,  Roll  et  al.  2006).  O 

mesmo  pode  ser  pensado  para  os  padrões  espaciais,  onde  os  fatores  que  determinam  a 

organização  social  e  o  sistema  de  acasalamento  em  uma  população  são  tanto  de  origem 

ambiental  quanto  filogenética  (Emlen  &  Oring  1977).  Parece  então  que  as  restrições 

filogenéticas  foram  predominantes  sobre  a  influência  do  ambiente  nas  características 

ecológicas abordadas neste estudo para a cuíca d’água. 

Entretanto,  uma  questão  que  ainda  permanece  em  aberto  é  a  territorialidade. 

Enquanto alguns estudos encontraram pelo menos indícios de territorialidade intrassexual (Lay 

1942,  Fleming  1972,  Gillette  1980,  Sunquist  et  al.  1987,  Ryser  1992,  Grelle  1996,  Pires  & 

Fernandez 1999, Cáceres & Monteiro‐Filho 2001,   Cáceres 2003, Moraes Jr & Chiarello 2005, 

Galliez et al. 2009), outros chegam a discutir que a ausência de territorialidade em marsupiais 

é de  fato uma  regra  (Holmes & Sanderson 1965, Hunsaker 1977 apud Cáceres & Monteiro‐

Filho  2001,  Charles‐Domininque  1983,  Julien‐Laferrière  1995,  Gentile  et  al.  1997).  É  neste 

ponto que futuros estudos devem ser conduzidos, já que a presença ou não de territorialidade 

pode modificar  totalmente os  sistema de  acasalamento e  as  interações entre  indivíduos de 

uma população (Maher & Lott 2005, Ostfeld 1990).  

A  presença  da  cuíca  d’água  apenas  em  habitats  bem  preservados  (Zetek  1930, 

Mondolfi & Padilha 1958, Handley  Jr 1976, Voss et al. 2001), com  rios de correnteza  rápida, 

substrato  pedregoso  e  mata  ciliar  preservada,  constitui  um  importante  achado  para  a 

conservação  da  espécie.  As  principais  ameaças  à  espécie  estão  associadas  à  degradação  e 

fragmentação dos habitats aquáticos, assim como sua poluição (Galliez et al. 2009). No Brasil, 

os  ecossistemas  aquáticos  sofrem,  desde  tempos  imemoriais,  uma  gama  de  processos  de 

degradação (Agostinho et al. 2005).  Isto se torna crítico para a cuíca d’água se combinado com 

as diferenças sexuais encontradas para preferências de habitat e os grandes requerimentos de 

área pelos indivíduos da população, já que estas são questões de particular importância para a 

persistência  das  populações  (Gilpin  &  Soulé  1986).  Fêmeas  apresentaram  preferência  por 

pequenos  tributários  e  não  foram  encontradas  nas  porções menos  conservadas  da  bacia. 

Desta forma, se a degradação dos rios levar à fragmentação do habitat para a cuíca d’água, o 

impedimento da dispersão de indivíduos entre rios aumenta os riscos de populações isoladas, 

principalmente  se  a  dispersão  de  fêmeas  for  mais  dificultada.  Isso  ocorre  principalmente 

Considerações finais  

59  

devido  aos  possíveis  efeitos  demográficos  aleatórios  atuando  em  populações  pequenas  e 

isoladas (Gilpin & Soulé 1986). Somando a  isso os exigentes requisitos espaciais exibidos pela 

espécie e a baixa densidade populacional na área de estudo (Galliez et al. 2009), a cuíca d’água 

se mostra uma espécie vulnerável na fragmentada Mata Atlântica. Por todos estes motivos, a 

cuíca d’água  tem potencial para  tornar‐se uma espécie  indicadora do status de conservação 

dos ambientes aquáticos que habita. 

 

60  

CONCLUSÕES 

 

  O  presente  estudo  aponta  as  seguintes  conclusões  sobre  os  padrões  espaciais  e  de 

atividade da cuíca d’água Chironectes minimus em rios de Mata Atlântica no sudeste do Brasil:  

Por ser uma espécies semi‐aquática restrita a rios, os padrões espaciais da cuíca d’água 

são melhor  representados  por  estimativas  lineares  de  uso  do  espaço,  ao  invés  de 

estimativas bi‐dimensionais. 

A  cuíca  d’água  apresentou  padrões  de  distribuição  espacial  condizentes  com  um 

sistema de acasalamento poligínico ou promíscuo, no qual machos possuem extensões 

de  uso  maiores  que  fêmeas  e  se  sobrepõem  com  outros  indivíduos,  já  fêmeas 

apresentam territorialidade em relação a outras fêmeas.  

A cuíca d’água é comprovadamente noturna com picos de atividade no início da noite. 

As semelhanças encontradas nos padrões espaciais e de atividade entre a cuíca d’água 

e  os  demais marsupiais  neotropicais  indicam  que  as  restrições  filogenéticas  foram 

predominantes  sobre  a  influência  do  ambiente  nas  características  ecológicas 

abordadas. 

De  acordo  com  seus  padrões  de  uso  do  espaço  e  com  o  grau  de  conservação  dos 

ecossistemas  aquáticos  da Mata  Atlântica,  a  cuíca  d’água  se  mostra  uma  espécie 

vulnerável à fragmentação destes ecossistemas. 

 

61  

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75  

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76  

ANEXOS 

 Anexo 1. Extensões de uso por CT (linhas em negrito) e K‐UNI (contorno externo), extensões‐núcleo  (contorno  interno),  e  locais  de  tocas  (pontos  brancos)  de  nove  cuícas  d’água Chironectes minimus monitoradas na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. 

A – Godofredo

¯0 1 20,5

Quilômetros 

 

Anexos  

77  

B – Margarida 

¯0 1 20,5

Quilômetros 

C – Robin

¯0 1 20,5

Quilômetros   

Anexos  

78  

D – Paçoca

¯0 1 20,5

Quilômetros 

E‐ Panqueca 

¯0 1 20,5

Quilômetros 

Anexos  

79  

F – Tonico

¯0 1 20,5

Quilômetros 

G – Malandro

¯0 1 20,5

Quilômetros  

Anexos  

80  

H – Florzinha 

¯0 1 20,5

Quilômetros 

I – Rivaldo 

¯0 1 20,5

Quilômetros  

Anexos  

81  

Anexo 2. Curvas de delineamento da área‐núcleo para nove cuícas d’água Chironectes minimus monitoradas na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. Método segundo Powell (2000), na qual as linhas côncavas representam a relação entre a máxima probabilidade de uso da área de vida  e  a  porcentagem  da  área  de  vida.  As  áreas‐núcleo  são  delineadas  quando  a  curva apresentar um coeficiente angular igual a ‐1 (ver métodos do Capítulo I).  

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

% da área de vida

% da máxima probabilidade de uso

Rivaldo

Robin

Malandro

Tonico

Panqueca

Godofredo

Florzinha

Paçoca

Margarida

 

 

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