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Oceanografia e Políticas Públicas Santos, SP, Brasil - 2011

PADRÕES DE DEPOSIÇÃO E ORIGENS DO LIXO MARINHO EM PRAIAS DA ILHA DE ITAPARICA - BAHIA

Santana Neto, S. P. de1,2,3,4, Silva, I. R.1,4, Livramento, F. C.²

1. Núcleo de Estudos Hidrogeológicos e de Meio Ambiente. Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia. E-mail: [email protected]; [email protected] 2. Curso de Pós-Graduação em Geologia da Universidade Federal da Bahia. 3. Centro de Ecologia e Conservação Animal. Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Católica do Salvador. 4. Local Beach, Global Garbage e.V.

RESUMO A poluição por lixo marinho atinge áreas povoadas e remotas, contudo diferenças relativas à

composição e peso tem sido frequentemente relatadas. Ao se aplicar um estudo de caracterização

quali-quantitativa do lixo em praias, determinando quais atividades estão relacionados, e identificando

o local onde o resíduo foi encontrado (face praial ou pós-praia), torna-se possível identificar as

prováveis fontes poluidoras para, no caso, três praias da Ilha de Itaparica - Bahia.

INTRODUÇÃO A poluição por lixo marinho vem sendo

estudada por diversos pesquisadores no mundo,

devido principalmente aos impactos exercidos

sobre a biota, turismo, economia, saúde pública

e pesca (UNEP/IOC, 2009). Presentes tanto em

zonas marinhas densamente povoadas quanto

em áreas remotas, a composição desses

resíduos é dominada por itens plásticos. Estudos

realizados em praias do Nordeste brasileiro

corroboram com esse padrão estabelecido

(Santana Neto, 2009; Santos, 2009; Araújo,

2003).

Suas origens estão vinculadas a

atividades como: turismo, recreação, redes de

drenagem, atividade pesqueira, descarte por

embarcações e plataformas (Tourinho, 2007; Ivar

do Sul, 2005; Pianowski, 1997). Já o tempo de

permanência do lixo na praia, conforme Oliveira

(2008), pode ser evidenciado através do local

onde foi encontrado: na face praial (deposição

recente) e no pós-praia (maior tempo de

permanência no local).

A partir desses pressupostos foi proposta

a determinação da composição, quantidade e

peso do lixo marinho presente em três praias

com uso distinto da Ilha de Itaparica – BA, como

forma de determinar os padrões de deposição

espacial e as possíveis origens dos resíduos

encontrados.

MATERIAIS E MÉTODOS Em junho de 2010 (período chuvoso e de

turismo escasso), foi realizada uma amostragem

do lixo marinho presente em três praias da Ilha

de Itaparica – BA: Cacha-pregos, Arauá e Mar

Grande. A escolha dessas três áreas considerou

a presença de características físicas e de uso de

praia distintas, como segue na tabela 1 e figura

1.

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Tabela 1. Características físicas e de uso das praias amostradas, adaptada de Filho et al. (2010).

Figura 1. Relativa às praias amostradas: A. Cacha-pregos; B. Arauá; C. Mar Grande.

Em cada praia foram demarcados 10

transectos lineares (50 m de largura cada) a

partir de um ponto de referência demarcado com

auxílio do GPS, tanto na face praial quanto no

pós-praia (quando presente ou preservado).

Destes, três foram sorteados aleatoriamente

para a amostragem, a qual incluiu a coleta de

todo o lixo encontrado dentro dos transectos, e

posterior quantificação, pesagem (com auxílio da

pesola linha média de 2.500g) e classificação

quanto ao material de origem (borracha, isopor,

madeira antrópica, matéria orgânica, material de

construção, metal, nylon, papel, plástico, ponta

de cigarro, tecido e vidro) e atividades

relacionadas (aquáticas, hábito de fumar, higiene

pessoal/hospitalares, poluidoras,

recreativas/comerciais e não identificados),

adaptado de Oliveira (2008).

RESULTADOS E DISCUSSÃO A coleta do lixo foi realizada na face

praial de todas as praias determinadas para

amostragem, contudo apenas em Cacha-pregos

foi possível amostrar no pós-praia (Figura 2. e

3.). Como padrão a nível global, o plástico

predominou tanto em quantidade de itens

coletados quanto em peso para todas as áreas

(Santos et al, 2004). Contudo, o maior peso

referente aos plásticos presentes no pós-praia de

Cacha-pregos revela o maior porte dos resíduos

ali presentes, em contraste com o menor porte

dos itens coletados em áreas com alta

concentração de usuários (Pianowski, 1997).

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Figura 2. Quantidade total de itens coletados por material de origem para as praias amostradas.

Figura 3. Peso total dos itens coletados por material de origem para as praias amostradas.

Quanto à classificação por atividades

relacionadas, os itens relativos às atividades

recreativas e comerciais predominaram em todas

as praias, destaque quantitativo também

observado por Oliveira (2008). Contudo, vale

mais uma vez ressaltar o maior porte dos itens

encontrados em Cacha-pregos (garrafas PET)

em relação àqueles amostrados em Arauá e Mar

Grande (tampas plásticas e canudos), o que

permite afirmar que apesar de vinculados às

atividades recreativas e comerciais, muitas vezes

realizadas a beira-mar, o lixo presente em

Cacha-pregos provavelmente provém de outras

regiões sendo trazidos pelas correntes marinhas

atuantes localmente. Já os resíduos da Arauá e

Mar Grande aparentemente são gerados

localmente, com os usuários de praia como

principal fonte poluidora, fato anteriormente

registrado para praias com atividades comerciais

e turísticas presentes (Santana Neto, 2009;

Santos et al., 2004).

Figura 4. Peso total dos itens coletados por material de origem para as praias amostradas.

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CONCLUSÃO Determinadas diferenças na composição

e peso dos resíduos coletados demonstra que: o

pós-praia de uma praia isolada possui resíduos

de maior porte, o que gera maiores valores no

peso total. Já a face praial de áreas mais

frequentadas por usuários possuem altos valores

quantitativos, porém com peso total menor,

refletindo no tamanho inferior dos seus resíduos.

Confirmou-se também uma tendência

mundial: a presença de plástico foi superior às

demais categorias, independente de qualquer

fator. Já o vínculo dos resíduos encontrados com

atividades recreativas e comerciais ressaltam a

importância do público local como gerador de lixo

marinho para as praias de arauá e Mar Grande.

Em Cacha-pregos, a origem parece ser não

local, sendo o lixo deslocado para esse local

através das correntes marinhas atuantes.

AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia

(FAPESB) pelo financiamento da pesquisa, e ao

financiamento cedido pelo Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), na forma de bolsa de Mestrado para S.

P. de Santana Neto e na forma de bolsa de

Produtividade em Pesquisa para I. R. Silva.

REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. C. B. (2003). Resíduos sólidos em

praias do litoral sul de Pernambuco: origens e consequências. (Dissertação de mestrado). 136 p. Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, Brasil.

FILHO, M. D., SILVA-CAVALCANTI, J. S., ARAUJO, M. C. B., SILVA, A. C. M.

(2010). Avaliação da percepção pública na contaminação por lixo marinho de acordo com o perfil do usuário: Estudo de caso em uma praia urbana no Nordeste do Brasil. Revista da Gestão Costeira Integrada. Artigo no prelo.

IVAR DO SUL, J. A. (2005). Lixo marinho na área de desova de tartarugas marinhas do Litoral Norte da Bahia: consequências para o meio ambiente e moradores locais. 62p., Monografia de graduação, Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil.

OLIVEIRA, A. L. (2008). Resíduos sólidos e processos sedimentares na praia de Massaguaçú, Caraguatatuba – São Paulo. (Monografia de Graduação). 50 p. Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

PIANOWSKI, F. (1997). Resíduos sólidos e esférulas plásticas nas praias do Rio Grande do Sul – Brasil. (Monografia de graduação) 76 p. Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil.

SANTANA NETO, S. P. de. (2009). Resíduos sólidos em ambiente praial (Porto da Barra – Salvador, Bahia) – subsídio para práticas de sensibilização na escola. (Monografia de graduação). 125 p. Universidade Católica do Salvador, Salvador/Bahia.

SANTOS, I. R. FRIEDRICH, A. C., FILLMANN, G., WALLNER-KERSANACH, M., SCHILLER, R. V., COSTA, R. (2004). Geração de resíduos sólidos pelos usuários da Praia do Cassino, RS, Brasil. Revista de Gestão Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Managment, v. 3, p. 12-14.

SANTOS, I. R., FRIEDRICH, A. C., IVAR DO SUL, J. A. (2009). Marine debris contamination along undeveloped tropical beaches from northeast Brazil. Environ Monit Assess, N° 148, 455-462.

TOURINHO, P. S. (2007). Ingestão de resíduos sólidos por juvenis de tartaruga-verde (Chelonia mydas) na costa do Rio Grande do Sul, Brasil. (Monografia de Graduação). 44 p. Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil.

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UNEP/IOC. (2009). Guidelines on survey and monitoring of marine litter. Regional Seas Reports and Studies n° 186. IOC Technical Series n° 83. ISBN 978-92-807-3027-2.