padrÕes de uso de habitat e coocorrÊncia de aves …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES DO GÊNERO HERPSILOCHMUS (THAMNOPHILIDAE) EM FRAGMENTO FLORESTAL NO EXTREMO NORTE DE DISTRIBUIÇÃO DA MATA ATLÂNTICA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de mestre em ecologia. Discente: Paulo Fernandes da Costa Neto Orientador: Mauro Pichorim Natal - RN Fevereiro 2018

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Page 1: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES DO

GÊNERO HERPSILOCHMUS (THAMNOPHILIDAE) EM FRAGMENTO

FLORESTAL NO EXTREMO NORTE DE DISTRIBUIÇÃO DA MATA

ATLÂNTICA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ecologia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito para obtenção do título de mestre

em ecologia.

Discente: Paulo Fernandes da Costa Neto

Orientador: Mauro Pichorim

Natal - RN

Fevereiro – 2018

Page 2: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - ­Centro de Biociências - CB

Costa-Neto, Paulo Fernandes da.

Padrões de uso de habitat e coocorrência de aves do gênero Herpsilochmus (Thamnophilidae) em fragmento florestal no extremo

Norte de distribuição da Mata Atlântica / Paulo Fernandes da Costa Neto. - Natal, 2018.

50 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Mauro Pichorim.

1. Heterogeneidade ambiental - Dissertação. 2. Sobreposição de

nicho - Dissertação. 3. Espécies sintópicas - Dissertação. 4.

Fatores ambientais - Dissertação. 5. Segregação de habitat -

Dissertação. I. Pichorim, Mauro. II. Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 502/504

Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351

Page 3: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Antônia e Paulo, por todos os ensinamentos e a minha tia Francisca (in

memorian), pelo grande exemplo de humildade.

Page 4: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

AGRADECIMENTOS

Foram dois anos intensos, de muito trabalho, muitas abdicações e muito (e bota

muito nisso) aprendizado. Eu não poderia ser mais grato pela oportunidade de ter vivido

o que eu vivi nos últimos dois anos, convivendo e conhecendo pessoas extraordinárias e

me surpreendendo cada vez mais com as lições da natureza. Assim, termino essa etapa

da minha vida com um sentimento único, o de gratidão!

Obrigado a minha família, meus pais Antônia e Paulo, e minha irmã Manoela,

por sempre me apoiarem em todas as decisões, mesmo quando não concordavam.

Fizeram esse sonho se tornar possível, sempre me incentivando e dando todo o suporte

necessário para que eu alcançasse este objetivo. Amo incondicionalmente.

Agradeço a minha namorada, Khadija Jobim, pelo companheirismo e amor a

mim dedicado. Agradeço também pela participação direta neste trabalho, seja

contribuindo com discussões científicas ou me auxiliando na parte escrita. Te amo!

Agradeço ao meu orientador, Mauro Pichorim, que muito mais que um

orientador é um grande amigo. Obrigado pela paciência, pelos ensinamentos e por

sempre se fazer presente ao longo de todo o desenvolvimento deste trabalho.

Agradeço aos pesquisadores Eduardo Martins Venticinque, Marília Bruzzi Lion,

Márcio Zikán Cardoso e Rodrigo Lima Massara por aceitarem participar da avaliação

deste trabalho e contribuírem valorosamente para o aprimoramento do mesmo.

Aos meus amigos e colegas do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da

UFRN, em especial: Marilia Teixeira, Nadia Zamboni, Maurício Dália, Adriana Lima,

Lara Machado, Poliana Alves, Giesta George, Cleto Freire, Andressa Scabin, Felipe

Marinho, Paulo Marinho, Daniel Magalhães, Maiara Menezes, Ewaldo Leitão, Augusto

Cesar. Os momentos de descontração e/ou de contar sobre os problemas da vida, seja

em uma mesa de bar ou nas festas regadas a bebidas internacionais, Serra Malte (no

inicio do mês) ou Itaipava e Sub-zero (final do mês) e feijoadas foram importantíssimos

para minha sobrevivência durante esses dois anos.

Obrigado aos membros do Laboratório de Ornitologia da UFRN: Tonny

Marques, Guilherme Toledo, Phoeve Macário, João Paulo, Pedro Vitor, Jorge Dantas,

Jonathas Gabriel, João Lucas, Hipócrates Mateus (Pocati), Ricardo Duarte, Juliana

Unai, Priscila Sabino, Victoria Paixão, Zé Victor, Marcelo Camara, Marcelo Silva,

Clarisse Silva, Thanyria Câmara, Luis Felipe, Julio Cezar, Priscila Stedile, Damião

Page 5: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

Valdenor e alguém que por ventura eu tenha esquecido de citar, pela convivência nos

últimos anos, pelas confraternizações sempre animadas e cercadas de muita alegria, que

foram com certeza essenciais em meio aos constantes momentos de estresse que esse

mestrado proporcionou hehe. Agradeço em especial ao Guilherme Toledo e João Paulo

pelas constantes discussões que foram importantíssimas ao meu desenvolvimento como

ecólogo, ao João Lucas pela parceria durante todo o período de campo pesado que

tivemos e ao Jonathas Gabriel por ter auxiliado nossos trabalhos de campo em

momentos críticos.

Agradeço as pessoas da cidade de Baía Formosa, uma das cidades mais lindas

que já conheci, pela receptividade. Um Obrigado especial à querida Nina pela simpatia,

pelas comidas deliciosas e peixes fresquinhos que em muitos momentos foram

imprescindíveis para que tivéssemos forças para continuar hahaha e pela casa mobiliada

que nos arranjou.

Obrigado aos meus amigos do Colégio Impacto: Alfredo Novaes, Amanda

Moreira, Jábine Talitta, Lucas Ruan, Leônidas Câmara e Mizziara Paiva. A amizade de

vocês é tudo para mim e não há distância que possa nos separar.

Obrigado aos meus amigos da Biologia em especial Arthur Soares, Gustavo

Carvalho, Eduardo Chacon, Gilvan Targino, Erika Priscila, Erica Nascimento, Flávia

Santos e Allyne Eufrasio pela amizade e companhia nesta dura caminhada.

Obrigado ao Grupo Farias, por autorizar a realização deste projeto de pesquisa

na RPPN Mata Estrela.

Agradeço a CAPES e ao PPG-Ecologia pelo suporte financeiro que foi essencial

para a execução deste trabalho.

Por fim, agradeço a todos os que tornaram esse trabalho possível, a todos que

torceram por mim e a todos que conheci durante esta jornada.

Page 6: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

“Daria tudo que sei, pela metade do que ignoro”.

René Descartes

Page 7: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES DO

GÊNERO HERPSILOCHMUS (THAMNOPHILIDAE) EM FRAGMENTO

FLORESTAL NO EXTREMO NORTE DE DISTRIBUIÇÃO DA MATA

ATLÂNTICA

RESUMO

A distribuição de aves no ambiente é modulada pela complexidade de habitat e

mudanças sazonais na disponibilidade de recursos, características cujo entendimento é

essencial para inferências acuradas sobre como as espécies usam o habitat. Além disso,

interações interespecíficas também afetam a distribuição e o modo como as espécies

utilizam o habitat, podendo ser fator determinante para se entender a coexistência,

especialmente entre espécies cogenéricas. Neste estudo, utilizamos modelos de

ocupação para uma e duas espécies, levando-se em consideração a detecção imperfeita,

para investigar como características da estrutura de vegetação e interações

interespecíficas afetam padrões de uso de habitat e coocorrência em três espécies

simpátricas do gênero Herpsilochmus (H. atricapillus, H. pectoralis e H.

rufimarginatus) em fragmento florestal no extremo norte de distribuição da Mata

Atlântica, nordeste do Brasil. Para isso, realizamos levantamentos por ponto-de-escuta

em 80 unidades amostrais, nos períodos seco e chuvoso e coletamos variáveis

relacionadas à estrutura de vegetação. A partir disso, criamos conjuntos de modelos de

ocupação e coocorrência e selecionamos o modelo mais parcimonioso para cada espécie

e combinação de espécies. Como principais resultados dos modelos de ocupação

verificamos que as espécies H. atricapillus e H. pectoralis tiveram maiores taxas de

ocupação (Ѱ = 0,37 ± 0,07 a Ѱ = 0,67 ± 0,07) em comparação a H. rufimarginatus (Ѱ =

0,34 ± 0,05 a Ѱ = 0,46 ± 0,05). A densidade de árvores afetou positivamente a ocupação

de H. pectoralis, enquanto H. atricapillus e H. rufimarginatus foram positivamente

afetadas pelo diâmetro de árvore. As probabilidades de detecção foram moderadas entre

as espécies (p = 0,57 ± 0,04 a p = 0,76 ± 0,05). Os modelos de coocorrência

evidenciaram que H. pectoralis está relacionado a uma diminuição na ocupação de H.

rufimarginatus. Os resultados indicam que o padrão de ocupação de H. pectoralis e H.

rufimarginatus parece estar sendo influenciado por evitação entre as espécies que

associadas a diferentes preferências de micro-habitat podem estar facilitando a

coexistência. Em contraste, H. rufimarginatus e H. atricapillus parecem utilizar

basicamente os mesmos tipos de habitat, de modo que níveis de especialização maiores

Page 8: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

como preferências alimentares diferentes podem ser fatores importantes para a

coexistência entre as espécies.

Palavras-Chave: heterogeneidade ambiental, sobreposição de nicho, espécies

sintópicas, fatores ambientais, segregação de habitat.

Page 9: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

PATTERNS OF HABITAT USE AND CO-OCCURRENCE OF

HERPSILOCHMUS ANTWRENS IN A REMNANT IN THE NORTHERN OF

ATLANTIC FOREST DISTRIBUTION

ABSTRACT

The bird distribution in the environment is modulated by habitat complexity and

seasonal changes in resource availability, characteristics whose understanding is

essential for accurate inferences about how species use the habitat. In addition,

interspecific interactions also affect the distribution and the way in which the species

use the habitat and may be an important factor to understand the coexistence, especially

between congeneric species. Here, we used occupancy models for one and two species

to investigate how vegetation structure and interspecific interactions affect patterns of

habitat use and co-occurrence in three sympatric species of the genus Herpsilochmus

(H. atricapillus, H. pectoralis and H. rufimarginatus). The study was carried out in a

forest remnant at the northern portion of the Atlantic Forest distribution, northeastern

Brazil. For this, we performed point-count surveys in 80 sample units, in the dry and

rainy season, and collected variables related to the vegetation structure. From this we

created sets of occupancy and co-occurrence models and selected the most

parcimonious model for each species and species pairs. As main results of the

occupancy models we found that H. atricapillus and H. pectoralis had higher

occupancy rates (Ѱ = 0,37 ± 0,07 to Ѱ = 0,67 ± 0,07) when compared to H.

rufimarginatus (Ѱ = 0,34 ± 0,05 to Ѱ = 0,46 ± 0,05). The density of trees positively

affected the occupancy of H. pectoralis, while H. atricapillus and H. rufimarginatus

were positively affected by tree diameter. Detection probabilities were moderated

among species (p = 0,57 ± 0,04 to p = 0,76 ± 0,05). Co-occurrence models showed that

the presence of H. pectoralis is related to a decrease in H. rufimarginatus occupancy.

The results indicate that the occupancy pattern of H. pectoralis and H. rufimarginatus

seems to be influenced by avoidance among species which associated to micro-habitat

preferences are facilitating coexistence. In contrast, H. rufimarginatus and H.

atricapillus seem to use basically the same habitat types, then higher levels of

specialization as different prey preferences may be important factors for coexistence

between species.

Page 10: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

Keywords: environment heterogeneity, niche overlap, syntopic species,

imperfect detection, habitat segregation.

Page 11: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Espécies do gênero Herpsilochmus, alvo do presente estudo (A) H.

pectoralis macho (B) H. pectoralis fêmea (C) H. atricapillus macho (D) H. atricapillus

fêmea (E) H. rufimarginatus macho (F) H. rufimarginatus fêmea. Créditos: fotos A e B

– Paulo Fernandes, C e D – Jorge Dantas, E – Caio Brito e F – Júlio Silveira...............26

Figura 2 – Mapa de distribuição das espécies de Herpsilochmus. (A) H. atricapillus (B)

H. pectoralis (C) H. rufimarginatus (D) área na qual os polígonos de distribuição das

três espécies se sobrepõem e poderiam coocorrer. Mapa adaptado com base na

distribuição atual das espécies (BIRDLIFE INTERNATIONAL AND HANDBOOK

OF THE BIRDS OF THE WORLD, 2017).....................................................................27

Figura 3 – Localização da área de estudo (RPPN Mata Estrela) sobre padrões de uso de

habitat e coocorrência de aves do gênero Herpsilochmus no nordeste do Brasil. Tipos de

fitofisionomias presentes na área e os 80 pontos amostrais utilizados para realização dos

pontos-de-escuta estão representados..............................................................................28

Figura 4 – Alguns dos impactos ambientais identificados na RPPN Mata Estrela. (A)

Criação de caprinos e bovinos as margens da RPPN (B) Área com resquícios de

queimada dentro da RPPN (C) Corte de madeira (D) Plantações de cana-de-açúcar as

margens da RPPN (E) Lixo as margens da RPPN (F) Lixo dentro da RPPN (G) Áreas

dentro da RPPN com grandes “buracos” causados pela retirada de vegetação...............29

Figura 5 – (A) Parte da RPPN Mata Estrela, com destaque para os pontos centrais (PC),

onde foram realizados levantamentos de aves por ponto de escuta. (B) A partir de cada

PC (círculo central preto) definimos outros quatro pontos periféricos (PP1 – PP4,

círculos pretos com preenchimento branco), distantes 50 metros do PC e em ângulos de

90° entre eles. (C) Em cada PC e PP definimos outros quatro pontos para amostragem

de covariáveis (quadrados pretos), distantes 5 metros do PP (ou PC). Nesses pontos

realizamos as medidas de abertura de dossel e altura de serapilheira (totalizando 25

amostras para o sítio). As medidas de densidade de plantas e Média do DAS, foram

realizadas em um raio de 5 metros a partir de PC e PP. .................................................30

Figura 6 –. Resultados obtidos a partir de análises de ocupação para duas espécies

evidenciando a variação das probabilidades de ocupação em função de covariáveis de

Page 12: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

habitat para (A) H. atricapillus em função da Média do DAS nas estações seca (linhas

continuas em escala de preto) e chuvosa (linhas continuas em escala cinza) (B) H.

rufimarginatus em função da Média do DAS quando H. pectoralis está presente (linha

continua em escala de preto) e ausente (linha continua na escala de cinza) (C) H.

pectoralis em função da densidade de

árvores.............................................................................................................................40

Page 13: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Resultado da seleção de 256 modelos para as espécies H. atricapillus, H.

pectoralis e H. rufimarginatus, com destaque para a estrutura mais parcimoniosa

(melhor modelo), selecionada a patir do peso cumulativo em contraste ao modelo mais

parametrizado (modelo global) e o menos parametrizado (modelo nulo). O teste de

ajuste do modelo global de cada espécie indicou sobredispersão dos dados em H.

rugimarginatus, para o qual o fator de inflação de variância (c-hat) foi ajustado em 3,7

(neste caso os modelos foram ordenados pelo

QAICc)............................................................................................................................34

Tabela 2 – Valores dos fatores de beta (β) para os parâmetros de detecção e ocupação

das espécies H. atricapillus, H. pectoralis e H. rufimarginatus. Valores representam o β

das covariáveis dos modelos melhor ranqueados de acordo com critério de

Q/AICc.............................................................................................................................35

Tabela 3 – Resultado final da seleção de modelos de coocorrência para duas espécies,

destacando o modelo melhor ranqueado a partir do peso cumulativo das variáveis (w+)

em contraste com o modelo mais parametrizado (modelo global) e o menos

parametrizado (modelo nulo). As espécies H. atricapillus e H. pectoralis foram

selecionadas como dominantes (A), enquanto H. rufimarginatus foi selecionada como

espécie subordinada (B) a partir das análises de ocupação

simples.............................................................................................................................36

Tabela 4 – Valores dos fatores de beta (β) gerados a partir de modelos de ocupação

para duas espécies para os parâmetros de detecção e ocupação entre a combinação de

dominantes (A - H. atricapillus e H. pectoralis) com a espécie subordinada (B - H.

rufimarginatus). Valores representam o β de covariáveis dos modelos melhor

ranqueados de acordo com critério de AICc...................................................................37

Tabela 5 – Probabilidades de detecção (p e r) e de ocupação (ѱ) independentes e

condicionais médias estimadas a partir do modelo mais parcimonioso para a

combinação de espécies H. atricapillus x H. rufimarginatus e H. pectoralis x H.

rufimarginatus.................................................................................................................39

Page 14: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................15

2. MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................19

2.1. ESPÉCIES ESTUDADAS........................................................................19

2.1.1. Herpsilochmus atricapillus.............................................................19

2.1.2. Herpsilochmus pectoralis...............................................................19

2.1.3. Herpsilochmus rufimarginatus......................................................20

2.2. ÁREA DE ESTUDO.................................................................................20

2.3. COLETA DE DADOS E DELINEAMENTO AMOSTRAL............... 20

2.4. COVARIÁVEIS........................................................................................21

2.4.1. Sazonalidade...................................................................................21

2.4.2. Tipo de Habitat..............................................................................21

2.4.3. Medidas de estrutura de vegetação..............................................22

2.4.3.1.Diâmetro na altura do solo (DAS) e densidade de árvores..22

2.4.3.2. Abertura de dossel e altura de serapilheira.........................23

2.5. ANÁLISES DOS DADOS........................................................................23

2.5.1. Análises de ocupação simples.......................................................23

2.5.2. Análises de coocorrência...............................................................25

3. RESULTADOS................................................................................................31

3.1. OCUPAÇÃO INDIVIDUAL E COVARIÁVEIS DE

HABITAT...................................................................................................31

3.2.PROBABILIDADES DE OCUPAÇÃO E DETECÇÃO INDIVIDUAL

.................................................................................................................... 31

3.3.PROBABILIDADES DE OCUPAÇÃO E DETECÇÃO

CONDICIONAIS.......................................................................................32

4. DISCUSSÃO....................................................................................................41

5. CONCLUSÃO..................................................................................................44

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................45

Page 15: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

15

1. INTRODUÇÃO

Entender como espécies filogeneticamente relacionadas e com requerimentos de

habitat semelhantes coexistem no ambiente é uma das questões centrais da ecologia

(SCHOENER, 1974; SIEPIELSKI; MCPEEK, 2010; STEEN et al., 2014). O Princípio

da Exclusão Competitiva ou Lei de Gause prediz que espécies que exploram o mesmo

recurso não podem coexistir em um ambiente homogêneo, de modo que a espécie

dominante tende a prevalecer sobre a subordinada (LOTKA, 1920; VOLTERRA, 1926;

GAUSE, 1935). Todavia, no mundo real encontramos vários exemplos de espécies

similares ecológica, morfológica e filogeneticamente ocorrendo de forma sintópica, o

que tem despertado o interesse de ecólogos em entender os fatores que atuam

modulando a coexistência destas espécies (KOPLIN; HOFFMANN, 1968;

HESPENHEIDE, 1971; LAUGHLIN; KARSAI; ALSOP III, 2013; ESTEVO; NAGY-

REIS; NICHOLS, 2017). Em geral, a partição de recursos, seja espacialmente ou

temporalmente, pode reduzir a sobreposição de nicho entre as espécies e favorecer a

coexistência (HUTCHINSON, 1959; CHESSON, 2000; STEEN et al., 2014).Um estudo

clássico sobre padrões de coexistência em aves verificou que cinco espécies cogenéricas

(gênero Dendroica) apresentavam diferenças no uso de habitat, que aliviavam efeitos

competitivos, promovendo a coexistência (MACARTHUR, 1958).

A heterogeneidade ambiental associada a diferenças sutis na preferência de

habitat e, portanto, no uso dos recursos (partição de nicho), podem atuar modulando a

coexistência entre espécies (HOLT, 2001). A distribuição de aves pode ser influenciada

pela complexidade do habitat e mudanças sazonais na disponibilidade de recursos.

Portanto, entender como as aves se relacionam com as variáveis ambientais é essencial

para inferências acuradas sobre sua distribuição local (CODY, 1981; COSTA et al.,

2016; ESTEVO; NAGY-REIS; NICHOLS, 2017). Em ambientes florestais, a estrutura

da vegetação exerce influência direta ou indireta na distribuição de recursos importantes

para sobrevivência e reprodução de aves, servindo de indicativo quanto à qualidade do

habitat para a ave e, consequentemente, influenciando sua distribuição (CODY, 1981;

BEHNKE; PEJCHAR; CRAMPTON, 2016; COSTA et al., 2016). Alguns estudos têm

demonstrado que características da estrutura de vegetação como altura de serapilheira,

Page 16: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

16

densidade de plantas e abertura de dossel afetam diferentemente o uso de habitat em

comunidades de aves insetívoras (CINTRA; CANCELLI, 2008; STRATFORD;

STOUFFER, 2013; SÁNCHEZ et al., 2014). Ademais, sabe-se que algumas florestas

tropicais apresentam variação sazonal na disponibilidade de recursos, de forma que a

abundância de insetos é geralmente maior na estação chuvosa (WOLDA, 1980; JAHN

et al., 2010). Tal variação pode impor pressões ambientais que obrigam as espécies a

adotar diferentes estratégias de sobrevivência e reprodução no ambiente (WIKELSKI;

HAU; WINGFIELD, 2000; JAHN et al., 2010; ARAUJO et al., 2017). Desse modo, a

variação espacial e temporal dos recursos aumenta a heterogeneidade ambiental e

favorece a coexistência (MACARTHUR; MACARTHUR, 1961).

Para que duas espécies competidoras possam coexistir ao longo do tempo é

necessário que exista um balanço entre a sobreposição de nicho e o fitness (em especial

o sucesso reprodutivo) das espécies (CHESSON, 2000). Um cenário no qual, por

exemplo, duas espécies são muito similares quanto aos recursos utilizados e apresentam

grandes diferenças em seu fitness tem como consequência a exclusão competitiva

(CHESSON, 2000; HILLERISLAMBERS et al., 2012). Assim, diferenças de nicho são

capazes de facilitar a coexistência entre espécies filogeneticamente relacionadas e

similares ecologicamente, contexto no qual interações competitivas podem ser ainda

mais intensas (MACARTHUR, 1958; SCHOENER, 1974; ESTEVO; NAGY-REIS;

NICHOLS, 2017).

Dados de ocorrência de espécies (presença/ausência) são frequentemente

utilizados para fazer inferências sobre padrões de distribuição/ocupação e coocorrência

(MACARTHUR; MACARTHUR, 1961; DIAMOND, 1973). Entretanto, comumente

tais inferências são passíveis de críticas, devido a não consideração da detecção

imperfeita, isto é, a possibilidade de uma espécie estar presente e não ter sido detectada

no ambiente (MACKENZIE et al., 2002). Além disso, na interpretação de padrões de

coocorrência pode-se ainda, de forma errônea, afirmar, por exemplo, que duas espécies

não se sobrepõem espacialmente devido a exclusão competitiva quando na verdade o

padrão observado se deve a preferências de habitat distintas que resultam em padrões de

distribuição não randômicos (MACKENZIE; BAILEY; NICHOLS, 2004). Atualmente,

algumas abordagens analíticas permitem lidar com esses problemas (MACKENZIE et

al., 2002; MACKENZIE; BAILEY; NICHOLS, 2004; RICHMOND; HINES;

BEISSINGER, 2010). Falhas na detecção são comuns e levam a conclusões errôneas

Page 17: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

17

quando não consideradas, uma vez que podem subestimar abundância e ocorrência,

levando a identificação de padrões inexistentes (KÉRY, 2010; KELLNER; SWIHART,

2014). Em adição, modelos de ocupação também permitem a incorporação de

covariáveis hipotetizadas como relevantes para a ocupação da espécie (MACKENZIE et

al., 2002, 2006).

Neste estudo, utilizamos modelos de ocupação para uma e duas espécies, com o

intuito de investigar como características da estrutura de vegetação, a sazonalidade e

interações interespecíficas afetam padrões de uso de habitat e coocorrência em três

espécies sintópicas do gênero Herpsilochmus (Thamnophilidae) em um remanescente

de Mata Atlântica (Figura 1). Até onde se conhece a região de estudo é a única onde H.

atricapillus, H. pectoralis e H. rufimarginatus ocorrem juntas (Figura 2). Embora um

estudo publicado recentemente com duas espécies do gênero Herpsilochmus

(H.pectoralis e H. sellowi) tenham dado luz ao entendimento de como essas espécies

coexistem, sabe-se que diferenças quanto às preferências de habitat e como elas

particionam os recursos no ambiente são pouco evidentes em espécies pertencentes a

este gênero (WHITNEY et al., 2000; COSTA et al., 2016). Além disso, apesar de

nenhum estudo ter avaliado explicitamente a existência de competição entre as espécies,

algumas observações indicam que ela deve existir em algum grau e junto a restrições

ambientais, podem contribuir para os padrões de coocorrência observados (WHITNEY;

ALONSO, 1998).

As informações aqui obtidas atendem a recomendações da International Union

for Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN) quanto à necessidade de

entender os requerimentos de habitat, especialmente para H. pectoralis (BIRDLIFE

INTERNATIONAL, 2017a). Esta espécie é endêmica do Brasil, internacionalmente

ameaçada e habita, dentre outros, um dos hotspots de biodiversidade mais ameaçados

do mundo, a Mata Atlântica (MYERS et al., 2000; BIRDLIFE INTERNATIONAL,

2017a;).

O objetivo geral deste trabalho foi investigar como características da estrutura de

vegetação, sazonalidade e interações interespecíficas afetam padrões de uso do habitat e

em três espécies sintópicas e filogeneticamente relacionadas: H. atricapillus, H.

pectoralis e H. rufimarginatus. Para isso, testamos quatro hipóteses complementares e

contrastantes:

Page 18: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

18

1) A probabilidade de ocupação das espécies seria influenciada de forma

distinta pela estrutura de vegetação (isto é, tipo de habitat, altura de

serapilheira, abertura de dossel e diâmetro e densidade de árvores), já

que cada uma possui preferências distintas de habitat.

2) A probabilidade de ocupação das espécies seria influenciada pela

sazonalidade. Esperaríamos uma maior probabildiade de ocupação em

períodos com menor disponibilidade de recursos (período seco),

devido à necessidade de maior deslocamento para busca de recursos,

do que em períodos com maior disponibilidade de recursos (período

chuvoso).

3) Espécies com maior ocupação são dominantes em relação aquelas

com menor ocupação, implicando em um padrão de coocorrência das

espécies influenciado por interações interespecíficas de competição/

evitação.

4) As probabilidades de ocupação das espécies seriam influenciadas

tanto por características da estrutura de vegetação como por

interações interespecíficas e/ou relacionadas com a sazonalidade e,

portanto, ambos os fatores seriam importantes moduladores da

distribuição das espécies alvo.

Page 19: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

19

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. ESPÉCIES ESTUDADAS

2.1.1. Herpsilochmus atricapillus

O chorozinho-do-chapéu-preto (Figura 1 – C e D) encontra-se com status pouco

preocupante, pois possui ampla distribuição no Brasil (Figura 2 – A), sendo registrado

também em outros países, como Argentina, Bolívia e Paraguai (WHITNEY et al., 2000;

ZIMMER; ISLER, 2002; BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2016). A espécie apresenta

dimorfismo sexual, tamanho médio de 11-12 cm e forrageia entre 7-20 m de altura,

raramente a menos de um metro (ZIMMER; ISLER, 2002). Além disso, possui pouca

restrição de habitat, sendo comumente encontrada em áreas de formações arbóreas

como florestas decíduas e semidecíduas, caatinga arbórea e restinga arbórea (ZIMMER;

ISLER, 2002; SILVA, 2007)

2.1.2. Herpsilochmus pectoralis

O chorozinho-de-papo-preto (Figura 1 – A e B) é endêmico do Brasil e encontra-

se na lista de espécies ameaçadas da IUCN com status de vulnerável (BIRDLIFE

INTERNATIONAL, 2017a). A espécie apresenta dimorfismo sexual, possui tamanho

médio de 10-12 cm e geralmente forrageia a 2-12 m de altura, raramente indo ao solo.

Sua distribuição é relativamente restrita comparada às outras duas espécies do gênero

aqui estudadas e compreende localidades disjuntas nos estados do Maranhão, Rio

Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Bahia (Figura 2 – B), onde habitam florestas de

galeria, florestas decíduas e semidecíduas, caatinga arbórea e restinga, sendo

dependente de floresta preservada (WHITNEY et al., 2000; ZIMMER; ISLER, 2002).

Dentre as principais ameaças sobre esta espécie encontram-se a conversão de habitat em

áreas de pastagem e a extração de madeira utilizada como lenha e para a produção de

carvão (ZIMMER; ISLER, 2002). Estudos sobre distribuição, demografia

(especialmente na restinga do RN) e requerimentos de hábitat estão entre as principais

recomendações para melhor compreensão de sua ecologia e ameaças, bem como para se

determinar os melhores locais para criação de áreas de conservação (ZIMMER; ISLER,

2002; BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2017a).

Page 20: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

20

2.1.3. Herpsilochmus rufimarginatus

O chorozinho-de-asa-vermelha (Figura 1 – E e F) possui ampla distribuição no

Brasil, bem como em outros países como Panamá, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e

Guiana Francesa (Figura 2 – C), sendo considerado comum ao longo de sua distribuição

e por isso encontra-se com status de conservação pouco preocupante (ZIMMER;

ISLER, 2002; BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2017b). A espécie apresenta dimorfismo

sexual, tamanho médio de 10-12,5 cm e forrageia entre 8-30 m de altura do solo

(ZIMMER; ISLER, 2002). Compreende quatro subespécies, sendo H. rufimarginatus

scapularis a subespécie encontrada na região nordeste, incluindo o RN (ZIMMER;

ISLER, 2002). A distribuição de H. rufimarginatus scapularis se estende do sul do RN

até Alagoas (Figura 2 – C). Habita florestas úmidas, florestas estacionais semidecíduas

e restinga arbórea (ZIMMER; ISLER, 2002; SILVA, 2007).

2.2. ÁREA DE ESTUDO

A RPPN Mata Estrela (Figura 3) está situada no município de Baía Formosa, sul

do estado do Rio Grande do Norte (6,39° S, 35,01° O), sendo o maior remanescente de

Mata Atlântica do estado, com aproximadamente 2.040 ha. Do total, 1.888 ha

compreendem floresta semidecídua, 81 ha dunas e 69 ha restinga (IDEMA, 2002).

Apesar de notavelmente importante para a conservação, a área possui pouca

fiscalização, ocorrendo episódios como a retirada ilegal de madeira, queimadas dentro e

na matriz (plantações de cana-de-açúcar) da RPPN, desmatamento, loteamentos nas

proximidades, presença de animais domésticos (caprinos, bovinos, cães e gatos), caça e

acúmulo de lixo (Figura 4) (BENCKE et al., 2006). Uma vez que as espécies aqui

estudadas utilizam principalmente o estrato mais alto da vegetação, a retirada ilegal de

madeira, as queimadas e o desmatamento estão entre as principais ameaças para as

espécies na área (POWELL; CORDEIRO; STRATFORD, 2015).

A precipitação anual média para a área de estudo é de 1.417 mm, com períodos

de menor precipitação entre setembro e dezembro e maior entre abril e julho

(OLIVEIRA, 2011).

2.3.COLETA DE DADOS E DELINEAMENTO AMOSTRAL

Page 21: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

21

Inicialmente, distribuímos sítios com espaçamento de 200 m entre si ao longo de

toda a área de estudo, o que totalizou 496 sítios. Em seguida, classificamos cada sítio

quanto ao tipo de vegetação predominante, considerando os dois tipos de

fitofisionomias principais da área, podendo ser 1) área de mata, caracterizada pela

predominância de vegetação em estágio médio/avançado de regeneração e; 2) vegetação

de restinga, incluindo áreas de dunas e entorno de lagoas (SOS MATA ATLÂNTICA &

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS, 2014).

A partir disso, realizamos uma seleção aleatória estratificada de 40 sítios em

cada tipo de fitofisionomia, totalizando 80 sítios de amostragem (Figura 3). As

amostragens foram realizadas em setembro, outubro e novembro de 2016 para o período

seco e março, abril e maio de 2017 para o período chuvoso. Em cada mês realizamos 10

dias de amostragem, totalizando trinta dias de levantamento por estação.

A amostragem para detecção das aves em cada sítio teve duração de 30 minutos.

Durante os primeiros cinco minutos registramos todas as espécies ouvidas e/ou vistas

sem utilização de iscas vocais. Em seguida reproduzíamos iscas vocais, através de

caixas de som portáteis das três espécies do gênero Herpsilochmus, sempre em ordem

alternada, de forma a evitar que um possível padrão de dominância pudesse influenciar

a resposta. Registramos todas as espécies ouvidas e/ou vistas durante os 30 minutos de

amostragem. Os arquivos de áudio utilizados neste trabalho estão disponíveis no site

Xeno-Canto (www.xeno-canto.org).

2.4.COVARIÁVEIS

2.4.1. Sazonalidade

Uma das premissas do modelo de ocupação é que o status de ocupação em cada

sítio seja estático ao longo da estação (ou amostragem), ou seja, não pode existir

probabilidade de extinção ou colonização de espécies nos sítios ao longo da amostragem

(MACKENZIE et al., 2006). Assim, definimos a estação como o período de

amostragem onde essas mudanças no status de ocupação não ocorrreriam ou poderiam

ser minimizadas. Nosso período de amostragem foi dividido em duas estações, seca

(setembro, outubro e novembro) e chuvosa (março, abril e maio), foram categorizadas

como covariável nas análises de ocupação (OLIVEIRA, 2011).

Page 22: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

22

2.4.2. Tipo de habitat

A RPPN Mata Estrela apresenta dois tipos principais de fitofisionomias: 1)

remanescentes de mata (floresta semidecídua), caracterizado pela presença de

formações florestais naturais equivalentes às matas primárias ou secundárias em

estágios inicial, médio e avançado de regeneração e 2) vegetação de restinga, que inclui

a vegetação florestal e cordões de restinga com vegetação herbácea. A classificação

adota critério conservador e inclui no mapa apenas áreas com pouca ou nenhuma

interferência antrópica (SOS MATA ATLÂNTICA & INSTITUTO NACIONAL DE

PESQUISAS ESPACIAIS, 2014).

2.4.3. Medidas de Estrutura de Vegetação

Para aferimento das variáveis abertura de dossel (dos), altura de serapilheira

(ser), Diâmetro na altura do solo (mdas, vdas e das3) e densidade de árvores (den)

utilizamos como base o protocolo de James e Shugart (1970) e Martin et al. (1997) com

adaptações ao nosso estudo. Assim, as variáveis foram medidas no ponto central (PC)

de cada sítio de amostragem (ponto de escuta) e em outros quatro pontos periféricos

(PP) perpendiculares distantes 50 m do ponto central (Figura 5).

2.4.3.1. Diâmetro na altura do solo (DAS) e densidade de árvores

Mensuramos o diâmetro na altura do solo (DAS) das plantas lenhosas situadas

em um raio de 5 m em torno de PC e PP (Figura 5 – B e C). Medimos somente as

plantas com DAS igual ou maior a 3,0 cm. A partir desses dados obtivemos a Média do

DAS (mdas), Variância do DAS (vdas) e Média do DAS das três maiores plantas de

cada ponto (das3).

A densidade de árvores incluiu plantas lenhosas com DAS > 3,0 cm, e consistiu

na contagem do número de plantas em um raio de 5 m. Posteriormente, obtivemos a

média dos cinco pontos medidos e os utilizamos como referência para a densidade

média de árvores do sítio.

Page 23: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

23

2.4.3.2. Abertura de dossel e altura de serapilheira

Medimos a abertura de dossel, a partir de fotografias obtidas com auxílio de

câmera Nikon D3200 e lente 55 mm. Para tal, posicionávamos a câmera em ângulo reto

na altura do solo com a utilização de tripé. Retirávamos cinco fotos por ponto,

resultando em um total de 25 imagens para o sítio (Figura 5 – B e C), seguindo

metodologia adaptada de Korhonen et al., 2006. As imagens foram analisadas no

software Image J, com o plugin Hemispherical 2.0 (BECKSCHÄFER, 2015; RUEDEN

et al., 2017). O plugin permite converter imagens coloridas em imagens binárias,

resultando em uma imagem em preto e branco, a partir da qual podemos calcular a

porcentagem de abertura de dossel. Por fim, calculamos a porcentagem média de

abertura de dossel (dos) para cada sítio.

A altura de serapilheira, uma medida indireta de produtividade, foi mensurada

nos mesmos pontos em que retiramos as fotos para a abertura de dossel (Figura 5 – B e

C). Para isso, utilizamos régua em posição perpendicular ao solo. Como resultado,

obtivemos 25 medidas de serapilheira para cada sítio. Utilizamos a média dos 25 pontos

para calcular a altura média de serapilheira (ser) para o sítio.

2.5. ANÁLISE DOS DADOS

2.5.1. Análises de ocupação simples

Para definir as covariáveis de habitat relevantes para a ocupação de cada espécie,

bem como definir quais seriam as espécies dominantes e subordinadas nas análises

seguintes utilizamos modelos de ocupação para uma espécie e uma estação (single-

species, single-season occupancy models) seguindo metodologia de Mackenzie et al.

(2006). A probabilidade de ocupação (Ѱ) é definida como a probabilidade da espécie

usar um sítio e a probabilidade de detecção (p) é a probabilidade da espécie alvo ser

detectada em um determinado sítio, dado que este sítio está ocupado pela espécie

(MACKENZIE et al., 2002). Essa modelagem possui algumas premissas importantes

incluindo: 1) o status de ocupação em cada sítio não muda ao longo da estação, ou seja,

sítios são “fechados” a mudanças em ocupação; 2) as probabilidades de ocupação são

constantes entre sítios ou variam em resposta a alguma covariável; 3) as probabilidades

de detecção são constantes entre sítios e ocasiões de amostragem ou em função de uma

Page 24: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

24

covariável e 4) os históricos de detecção das espécies alvo são independentes

(MACKENZIE et al., 2006). Essa estrutura de modelos de ocupação permite a análise

de mais de uma estação quando os históricos de registros feitos em cada uma são

tratados como covariável (MACKENZIE et al., 2006). Dessa forma, os dados de cada

estação foram analisados como grupos e não de forma conjunta como em modelos de

ocupação para múltiplas estações (multi-seasons models), os quais preveem

probabilidades de colonização e extinção entre estações.

Realizamos testes de correlação de Pearson entre as covariáveis contínuas para

avaliar se nossas variáveis eram correlacionadas. Valores de correlação maiores que 80

% (R > 0,8), levaram a exclusão das covariáveis vdas e das3. Após isso, produzimos o

modelo global para cada espécie com a influência aditiva das covariáveis Habitat e

Estação em p e Habitat, Estação, mdas, den, dos e ser em ѱ. Em seguida, utilizamos o

programa PRESENCE (HINES, 2006) para testar a sobredispersão dos dados,

estimando o fator de inflação de variância (c-hat) do modelo global de cada espécie

(MACKENZIE; BAILEY, 2004).

Para testar as hipóteses de que as espécies são afetadas pela estrutura de

vegetação e de que a ocupação das espécies varia de forma sazonal geramos modelos de

ocupação aditivos com todas as combinações possíveis de covariáveis para cada espécie

(DOHERTY; WHITE; BURNHAM, 2012). Devido ao fato de estarmos interessados,

principalmente, em quais variáveis afetam a ocupação e detecção das espécies

individualmente, utilizamos todas as combinações possíveis. Com essa estratégia

obtivemos um conjunto de modelos balanceado, o que permitiu calcular o peso

cumulativo (w+) de cada covariável (BURNHAM; ANDERSON, 2002). Variáveis com

w+ ≥ 0,5 foram consideradas mais parcimoniosas em relação às outras, sendo estas

utilizadas nos modelos de ocupação para duas espécies (MASSARA et al., 2018). As

análises de ocupação simples permitiram diminuir o número de parâmetros para as

análises subsequentes. Para verificar a possível falta de independência entre os sítios

utilizamos o programa PRESENCE para realizar o teste de ajuste do modelo global com

abordagem específica para modelos de ocupação e corrigimos os valores de c-hat

quando necessário (MACKENZIE & BAILEY, 2004). Ranqueamos 256 modelos

candidatos por meio do Critério de Informação de Akaike para pequenas amostras

(AICc) ou sua versão modificada (QAICc) quando necessário. Estimamos as

probabilidades de ocupação para cada espécie baseado no modelo com a estrutura mais

parcimoniosa, ou seja, o modelo contendo todas as variáveis importantes na detecção e

Page 25: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

25

ocupação da espécie, selecionados previamente a partir do peso cumulativo das

variáveis. Todas as análises, exceto o teste de ajuste, foram realizadas no programa

MARK (versão 8.x) (GARY; BURNHAM, 1999).

2.5.2. Análises de coocorrência

Para testar a hipótese de que os padrões de uso de habitat atuais das espécies são

modulados por interações entre as espécies, utilizamos modelos condicionais de

ocupação para duas espécies (RICHMOND; HINES; BEISSINGER, 2010). Essa

abordagem exige que se defina a priori qual espécie é dominante e subordinada. Já que

as espécies são semelhantes morfologicamente e não apresentam diferenças marcantes

de tamanho e/ou peso, assumimos que as espécies com maiores probabilidades de

ocupação (obtidas pela análise de ocupação simples) seriam dominantes sobre as

espécies com menor probabilidade de ocupação. Partindo desse pressuposto, testamos

todas as combinações possíveis, utilizando as covariáveis selecionadas a partir das

análises de ocupação simples. Desta forma, foi possível comparar os fatores (interação

interespecífica ou características da estrutura de vegetação) que mais influenciaram na

distribuição das espécies alvo na nossa área de estudo através do peso cumulativo (w+)

(MASSARA et al., 2018). Por fim, calculamos o Fator de Interação entre Espécies (SIF)

que pode indicar três possibilidades: 1) as espécies coocorrem de forma menos

frequente que o esperado ao acaso (SIF < 1), ou seja, as espécies se evitam; 2) a

ocupação das espécies ocorre de forma independente uma da outra (SIF = 1); e 3) as

espécies coocorrem mais frequentemente do que o esperado ao acaso (SIF > 1), ou seja,

elas se agregam (MACKENZIE et al., 2006). Realizamos inferências sobre os padrões

de coocorrência com base no modelo mais parcimonioso, a partir do qual também

obtivemos os valores médios. Além disso, utilizamos os valores de ocupação e detecção

obtidos a partir das análises de coocorrência para inferências. Todos os procedimentos

foram realizados no programa MARK (versão 8.x) (GARY; BURNHAM, 1999).

Page 26: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

26

Figura 1 – Espécies do gênero Herpsilochmus, alvo do presente estudo (A) H.

pectoralis macho (B) H. pectoralis fêmea (C) H. atricapillus macho (D) H. atricapillus

fêmea (E) H. rufimarginatus macho (F) H. rufimarginatus fêmea. Créditos: fotos A e B

– Paulo Fernandes, C e D – Jorge Dantas, E – Caio Brito e F – Júlio Silveira.

Page 27: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

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Figura 2 – Mapa de distribuição das espécies de Herpsilochmus. (A) H. atricapillus (B)

H. pectoralis (C) H. rufimarginatus (D) área na qual os polígonos de distribuição das

três espécies se sobrepõem e poderiam coocorrer. Mapa adaptado com base na

distribuição atual das espécies (BIRDLIFE INTERNATIONAL AND HANDBOOK

OF THE BIRDS OF THE WORLD, 2017).

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28

Figura 3 – Localização da área de estudo (RPPN Mata Estrela) sobre padrões de uso de

habitat e coocorrência de aves do gênero Herpsilochmus no nordeste do Brasil. Tipos de

fitofisionomias presentes na área e os 80 pontos amostrais utilizados para realização dos

pontos-de-escuta estão representados.

Page 29: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

29

Figura 4 – Alguns dos impactos ambientais identificados na RPPN Mata Estrela. (A)

Criação de caprinos e bovinos as margens da RPPN (B) Área com resquícios de

queimada dentro da RPPN (C) Corte de madeira (D) Plantações de cana-de-açúcar as

margens da RPPN (E) Lixo as margens da RPPN (F) Lixo dentro da RPPN (G) Áreas

dentro da RPPN com grandes “buracos” causados pela retirada de vegetação.

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Figura 5 – (A) Parte da RPPN Mata Estrela, com destaque para os pontos centrais (PC),

onde foram realizados levantamentos de aves por ponto de escuta. (B) A partir de cada

PC (círculo central preto) definimos outros quatro pontos periféricos (PP1 – PP4,

círculos pretos com preenchimento branco), distantes 50 metros do PC e em ângulos de

90° entre eles. (C) Em cada PC e PP definimos outros quatro pontos para amostragem

de covariáveis (quadrados pretos), distantes 5 metros do PP (ou PC). Nesses pontos

realizamos as medidas de abertura de dossel e altura de serapilheira (totalizando 25

amostras para o sítio). As medidas de densidade de plantas e Média do DAS, foram

realizadas em um raio de 5 metros a partir de PC e PP.

Page 31: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

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3. RESULTADOS

O teste de ajuste revelou evidências de superdispersão dos dados apenas para a

espécie H. rufimarginatus (X² = 19,6; P = 0,001; c-hat = 3,71). Para cada espécie

foram gerados 256 modelos (Tabela 1). Os valores de ocupação simples, utilizados

para definir as espécies dominantes nas análises de coocorrência, foram altos para

H. atricapillus (Ѱseca = 0,89 ± 0,00 e Ѱchuva = 0,98 ± 0,00) e H. pectoralis (Ѱ = 0,78

± 0,06) quando comparados a H. rufimarginatus (Ѱ = 0,49 ± 0,11). Devido a isso,

nas análises de coocorrência consideramos as duas primeiras espécies como

dominantes em relação a H. rufimarginatus.

3.1 OCUPAÇÃO INDIVIDUAL E COVARIÁVEIS DE HABITAT

A densidade de árvores teve forte efeito positivo (w+ = 0,91) sobre a ocupação

da espécie H. atricapillus, sendo também influenciada, porém de forma mais fraca,

pela média do diâmetro de árvores na altura do solo (w+ = 0,52) e abertura de dossel

(w+ = 0,64; Tabela 2). Além disso, a estação também foi uma covariável importante

na ocupação da espécie (w+ = 0,86). A estação também teve forte influência sobre

as probabilidades de detecção da espéie (w+ = 0,99). A partir do modelo mais

parcimonioso, contendo todas as variáveis importantes em Ѱ e p, calculamos a

ocupação simples, utilizada neste caso apenas como critério para definição da

espécie dominante e subordinada. Por possuir as maiores estimativas de ocupação

simples (Ѱseca = 0,89 ± 0,00 e Ѱchuva = 0,98 ± 0,00) H. atricapillus foi considerada

como espécie dominante sobre as outras duas.

Assim como H. atricapillus, a espécie H. pectoralis teve ocupação fortemente

afetada pela densidade de árvores (w+ = 0,97; Tabela 2). Já a detecção da espécie

foi fortemente afetada pelo tipo de habitat (w+ = 0,99) e de forma menos

pronunciada pela estação (w+ = 0,64; Tabela 2). A partir do modelo mais

parcimonioso obtivemos as estimativas de ocupação simples e probabilidades de

detecção. Devido ao fato de a espécie possuir altas probabilidades de ocupação (Ѱ =

0,78 ± 0,06), com valores próximos aos obtidos para H. atricapillus, também a

consideramos como espécie dominante nas análises subsequentes.

A espécie H. rufimarginatus foi positivamente influenciada pela média do

diâmetro de árvores na altura do solo (w+ = 0,92; Tabela 2). A detecção da espécie

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foi unicamente afetada pelo tipo de habitat (w+ = 0,50; Tabela 1 e 2). A partir do

modelo mais parcimonioso obtivemos as estimativas de Ѱ e p. As estimativas de

ocupação (Ѱ = 0,49 ± 0,11) obtidas foram menores em relação as demais espécies e

por isso a consideramos como espécie subordinada diante de H. atricapillus e H.

pectoralis.

3.2 PROBABILIDADES DE OCUPAÇÃO E DETECÇÃO

CONDICIONAIS

Não encontramos evidências de segregação de habitat entre H. atricapillus e H.

rufimarginatus, de forma que tanto as probabilidades de ocupação como as

probabilidades de detecção foram independentes uma da outra de acordo com o modelo

mais parcimonioso, selecionado a patir de 2048 modelos possíveis (Tabela 3 e 4).

Ambas as espécies tiveram influência positiva da média do diâmetro de árvores na

altura do solo (w+ = 1,00 para ambas; Tabela 4; Figura 6). Em adição, a estação se

manteve como variável importante na ocupação de H. atricapillus, sendo a mesma

maior no período chuvoso quando comparado ao período seco (ѰAchuva = 0,67 ± 0,07;

ѰAseca = 0,37 ± 0,07). H. rufimarginatus ocupou menos da metade dos sítios

amostrados (ѰB = 0,39 ± 0,03; Tabela 5). As probabilidades de detecção das duas

espécies foram independentes uma da outra e não influenciadas pelo tipo de habitat ou

estação (w+ < 0,5; Tabela 4). A probabilidade de detecção de H. atricapillus (p = 0,57

±0,04) foi menor que a de H. rufimarginatus (p = 0,72 ± 0,03).

Encontramos evidências de segregação de habitat entre H. pectoralis e H.

rufimarginatus, de modo que as probabilidades de ocupação de H. rufimarginatus foram

menores na presença de H. pectoralis de acordo com o modelo mais parcimonioso,

selecionado a partir de 512 modelos possíveis (Tabela 3 e 4). Assim como nas análises

de ocupação simples, a densidade de árvores se manteve fortemente correlacionada com

ocupação de H. pectoralis (w+ = 0,99; Figura 6). Da mesma forma, a média do diâmetro

de árvores na altura do solo (mdas) se manteve como variável correlacionada

positivamente com a ocupação de H. rufimarginatus (w+ = 1,00; Tabela 4). A ocupação

de H. rufimarginatus foi ligeiramente menor na presença de H. pectoralis (ѰBA = 0,34

± 0,05; ѰBa = 0,46 ± 0,05; Tabela 5; Figura 7). H. pectoralis ocupou pouco mais de

metade dos sítios amostrados (Ѱ = 0,54 ± 0,07; Tabela 5). A diminuição da ocupação de

H. rufimarginatus na presença de H. pectoralis reflete os valores de SIF, que indicam

Page 33: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

33

que as espécies coocorrêm menos do que o esperado pelo acaso (SIF = 0,82 ± 0,13). As

probabilidades de detecção de H. pectoralis foram afetadas negativamente pela presença

de H. rufimarginatus e influenciadas pela estação (pAseca = 0,62 ± 0,05; pAchuva = 0,73

± 0,05; rAseca = 0,31 ± 0,12; rAchuva = 0,42 ± 0,14; Tabela 3, 4 e 5). De forma geral H.

pectoralis teve detecção maior no período seco do que no período chuvoso (pAseca =

0,62 ± 0,05; pAchuva = 0,73 ± 0,05; Tabela 5). A presença de H. pectoralis quando

detectada não afetou a detecção de H. rufimarginatus (pB=rBA = 0,76 ± 0,04, Tabela 4

e 5), porém a mesma quando estava presente e não foi detectada afetou negativamente a

detecção de H. rufimarginatus (pB = 0,76 ± 0,04; rBa = 0,52 ± 0,12; Tabela 4 e 5).

Page 34: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

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Tabela 1 - Resultado da seleção de 256 modelos para as espécies H. atricapillus, H.

pectoralis e H. rufimarginatus, com destaque para a estrutura mais parcimoniosa

(melhor modelo), selecionada a patir do peso cumulativo em contraste ao modelo

mais parametrizado (modelo global) e o menos parametrizado (modelo nulo). O teste

de ajuste do modelo global de cada espécie indicou sobredispersão dos dados em H.

rugimarginatus, para o qual o fator de inflação de variância (c-hat) foi ajustado em

3,7 (neste caso os modelos foram ordenados pelo QAICc)

Espécie Modelo K Q/AICc ΔQ/AICc wi

H. atricapillus

Ѱ(season+dos+mdas+den) p(season) 7 546,2 0 0,88

Ѱ(season+habitat+dos+ser+mdas+den) p(season+habitat) 10 550,3 4,0 0,12

Ѱ(.) p(.) 2 573,8 27,6 0

H. pectoralis

Ѱ(den) p(habitat+season) 5 534,1 0 0,97

Ѱ(season+habitat+dos+ser+mdas+den) p(season+habitat) 10 541,5 7,3 0,03

Ѱ(.) p(.) 2 596,0 61,88 0

H. rufimarginatus

Ѱ(mdas) p(habitat) 4 97,7 0 0,99

Ѱ(season+habitat+dos+ser+mdas+den) p(season+habitat) 10 107,8 10,2 0,01

Ѱ(.) p(.) 2

126,2 28,5 0

Legenda: K = número de parâmetros, Q/AICc = Quase-likelihood Critério de Informação de Akaike

(QAICc) ou Critério de Informação de Akaike (AICc), ΔAIC = Diferença entre cada modelo e o melhor

modelo selecionado, wi = Peso dos modelos, Desvio = Ajuste do modelo. Covariáveis: season (estação

[seca e chuva]), Habitat (tipo de fitofisionomia, mata e restinga), dos (Abertura de dossel), ser (Altura de

serrapilheira), mdas (Média do DAS) e den (densidade de Árvores).

Page 35: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

35

Tabela 2 - Valores dos fatores de beta (β) para os parâmetros de detecção e ocupação das

espécies H. atricapillus, H. pectoralis e H. rufimarginatus. Valores representam o β das

covariáveis dos modelos melhor ranqueados de acordo com critério de Q/AICc.

Espécie Covariável Σwi β (SE) LCI (β) UCI (β)

H. atricapillus

Detecção (p)

Habitat 0,19 -0,33 -0,74 0,08

Season 0,99 0,95 0,53 1,38

Occupação (ѱ)

Habitat 0,39 -477,37 -2417,20 1462,45

Season 0,86 17532,71 17532,71 17532,71

Abertura de dossel (dos) 0,64 -50159,94 -50959,95 -49359,92

Altura de serrapilheira (ser) 0,39 34,86 34,86 34,86

Média do DAS (Mdas) 0,52 486,91 481,93 491,89

Densidade de árvores (den3) 0,91 466,50 432,69 500,32

H. pectoralis

Detecção (p)

Habitat 0,99 1,40 0,87 1,93

Season 0,64 0,40 -0,08 0,88

Occupação (ѱ)

Habitat 0,43 1,24 -0,38 2,86

Season 0,33 -0,72 -2,20 0,76

Abertura de dossel (dos) 0,28 1,79 -6,02 9,60

Altura de serrapilheira (ser) 0,27 -0,01 -0,28 0,27

Média do DAS (Mdas) 0,27 -0,04 -0,14 0,07

Densidade de árvores (den3) 0,97 0,12 0,05 0,19

H. rufimarginatus

Detecção (p)

Habitat 0,50 -2,51 -4,54 -0,47

Season 0,37 0,38 -0,78 1,53

Occupação (ѱ)

Habitat 0,49 -2,33 -4,80 0,15

Season 0,37 -1,06 -3,92 1,80

Abertura de dossel (dos) 0,25 -0,68 -30,44 29,09

Altura de serrapilheira (ser) 0,25 0,15 -0,50 0,79

Média do DAS (Mdas) 0,92 2,23 0,32 4,15

Densidade de árvores (den3) 0,21 -0,03 -0,14 0,08

Legenda: Covariável = nome da covariável selecionada para os parâmetros de detecção e ocupação. β =

coeficiente de beta, LCI e UCI representam o limite inferior e superior do intervalo de confiança de 95%

para o respectivo parâmetro, Σwi = peso cumulativo da respectiva covariável no conjunto de modelos

selecionados. Valores em negrito representam covariáveis com Σw ≥ 0,5, selecionadas para o modelo

mais parcimonioso (Tabela 1).

Page 36: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

36

Tabela 3 – Resultado final da seleção de modelos de coocorrência para duas espécies,

destacando o modelo melhor ranqueado a partir do peso cumulativo das variáveis (w+)

em contraste com o modelo mais parametrizado (modelo global) e o menos

parametrizado (modelo nulo). As espécies H. atricapillus e H. pectoralis foram

selecionadas como dominantes (A), enquanto H. rufimarginatus foi selecionada como

espécie subordinada (B) a partir das análises de ocupação simples.

Espécies Modelo K AICc ΔAICc wi

H.atricapillus (A)

x

H. rufimarginatus (B)

ѰA(season+mdas), ѰBA=ѰBa(mdas), pA=rA(.), pB=rBA=rBa(.) 7

818,4 0 1

ѰA(season+dos+mdas+den), ѰBA≠ѰBa(mdas), pA≠rA(season), pB≠rBA≠rBa(habitat) 15

848,3 30,0 0

ѰA(.), ѰBA=ѰBa(.), pA=rA(.), pB=rBA=rBa(.) 4

938,1 119,9 0

H. pectoralis (A)

x

H. rufimarginatus (B)

ѰA(den), ѰBA≠ѰBa(mdas), pA≠rA(season), pB=rBA≠rBa(.) 10

790,6 0 0,99

ѰA(den), ѰBA≠ѰBa(mdas), pA≠rA(season+habitat), pB≠rBA≠rBa(.) 13

800,6 10,0 0,01

ѰA(.), ѰBA=ѰBa(.), pA=rA(.), pB=rBA=rBa(.) 4

933,3 142,7 0

Legenda: K = número de parâmetros, AICc = Critério de Informação de Akaike, ΔAIC = Diferença

entre cada modelo e o melhor modelo selecionado, wi = Peso do modelo, Desvio = Desvio Padrão.

Covariáveis: season (estação [seca e chuva]), habitat (tipo de fitofisionomia, mata e restinga), dos

(Abertura de Dossel), ser (Altura de Serrapilheira), mdas (Média do DAS) e den (Densidade de

Árvores). Parâmetros: ѰA = probabilidade de ocupação da espécie A; ѰBA = probabilidade de

ocupação da espécie B quando a espécie A está presente; ѰBa = probabilidade de ocupação da espécie

B quando a espécie A está ausente; pA = probabilidade de detecção da espécie A independente da

presença daespécie B; pB = probabilidade de detecção da espécie B independente dapresença da espécie

A; rA = probabilidade de detecção da espécie A quando a espécie B está presente; rBA = probabilidade

de detecção da espécie B quando a espécie A está presente e foi detectada; rBa = probabilidade de

detecção da espécie B quando a espécie A está presente e não foi detectada.

Page 37: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

37

Tabela 4 - Valores dos fatores de beta (β) gerados a partir de modelos de ocupação para

duas espécies para os parâmetros de detecção e ocupação entre a combinação de

dominantes (A - H. atricapillus e H. pectoralis) com a espécie subordinada (B - H.

rufimarginatus). Valores representam o β de covariáveis dos modelos melhor

ranqueados de acordo com critério de AICc.

Espécie Covariável Σwi β LCI (β) UCI (β)

H. atricapillus (A)

x

H. rufimarginatus (B)

Ocupação de A (ѰA)

Season 0,99 -1,46 -2,33 -0,60

Abertura de dossel (dos) 0,32 2,04 -3,41 7,50

Média do DAS (mdas) 1,00 0,98 0,41 1,56

Densidade de árvores (den) 0,38 0,02 -0,01 0,05

Ocupação de B (ѰB)

Efeito de A (ѰBA) 0,27 0,63 -0,86 2,12

Média do DAS (mdas) 1,00 2,45 1,65 3,24

Detecção de A (pA)

Efeito de B (rA) 0,29 0,32 -0,38 1,01

Season 0,28 -0,21 -0,80 0,39

Detecção de B (pB)

Efeito de A (rBA) 0,30 0,32 -0,38 1,01

Efeito de A (rBa) 0,31

Habitat 0,21 0,38 -0,29 1,04

H. pectoralis (A)

x

H. rufimarginatus (B)

Ocupação de A (ѰA)

Densidade de árvores (den) 0,99 0,06 0,02 0,09

Ocupação de B (ѰB)

Efeito de A (ѰBA) 0,52 1,23 -0,23 2,68

Média do DAS (mdas) 1,00 2,34 1,54 3,14

Detecção de A (pA)

Efeito de B (rA) 0,86 -1,32 -2,50 -0,14

Season 0,54 -0,50 -1,12 0,13

Habitat 0,26

Detecção de B (pB)

Efeito de A (rBA) 0,45 -1,03 -2,29 0,24

Efeito de A (rBa) 0,61 1,07 -2,23 0,08

Habitat 0,25 1,42 0,06 2,77

Legenda: Covariável = nome da covariável selecionada para os parâmetros de detecção e ocupação. β =

coeficiente de beta, LCI e UCI representam o limite inferior e superior do intervalo de confiança de 95%

para o respectivo parâmetro, Σwi = peso cumulativo da respectiva covariável no conjunto de modelos

selecionados. Valores em negrito representam covariáveis com Σw ≥ 0,5, selecionadas para o modelo

mais parcimonioso (Tabela 1). Parâmetros: ѰA = probabilidade de ocupação da espécie A; ѰBA =

probabilidade de ocupação da espécie B quando a espécie A está presente; ѰBa = probabilidade de

ocupação da espécie B quando a espécie A está ausente; pA = probabilidade de detecção da espécie A

Page 38: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

38

independente da presença daespécie B; pB = probabilidade de detecção da espécie B independente

dapresença da espécie A; rA = probabilidade de detecção da espécie A quando a espécie B está presente;

rBA = probabilidade de detecção da espécie B quando a espécie A está presente e foi detectada; rBa =

probabilidade de detecção da espécie B quando a espécie A está presente e não foi detectada.

Page 39: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

39

Tabela 5 - Probabilidades de detecção (p e r) e de ocupação (ѱ) independentes e

condicionais médias estimadas a partir do modelo mais parcimonioso para a

combinação de espécies H. atricapillus x H. rufimarginatus e H. pectoralis x H.

rufimarginatus.

Espécies G ѰA SE ѰBA SE ѰBa SE pA SE pB SE rA SE rBA SE rBa SE

H. atricapillus (A)

x

H. rufimarginatus

(B)

MS 0,37 0,07 0,39 0,03 0,39 0,03 0,57 0,04 0,72 0,03 0,57 0,04 0,72 0,03 0,72 0,03

RS 0,37 0,07 0,39 0,03 0,39 0,03 0,57 0,04 0,72 0,03 0,57 0,04 0,72 0,03 0,72 0,03

MC 0,67 0,07 0,39 0,03 0,39 0,03 0,57 0,04 0,72 0,03 0,57 0,04 0,72 0,03 0,72 0,03

RC 0,67 0,07 0,39 0,03 0,39 0,03 0,57 0,04 0,72 0,03 0,57 0,04 0,72 0,03 0,72 0,03

H. pectoralis (A)

x

H.rufimarginatus

(B)

MS 0,54 0,07 0,34 0,05 0,46 0,05 0,63 0,05 0,76 0,05 0,31 0,13 0,76 0,05 0,52 0,12

RS 0,54 0,07 0,34 0,05 0,46 0,05 0,63 0,05 0,76 0,05 0,31 0,13 0,76 0,05 0,52 0,12

MC 0,54 0,07 0,34 0,05 0,46 0,05 0,73 0,05 0,76 0,05 0,42 0,14 0,76 0,05 0,52 0,12

RC 0,54 0,07 0,34 0,05 0,46 0,05 0,73 0,05 0,76 0,05 0,42 0,14 0,76 0,05 0,52 0,12

Legenda: ѰAB(näive) = razão entre o número de sítios nos quais as espécies A e B foram detectadas e o

número total de sítios, G = Grupos classificados em quatro tipos, sendo eles Mata Seca (MS), Restinga

Seca (RS), Mata Chuva (MC) e Mata Seca (MS), ѰBA = probabilidade de ocupação da espécie B quando

a espécie A está presente, SE = erro padrão, pA = probabilidade de detecção da espécie, pB =

probabilidade de detecção da espécie B, rA = probabilidade de detecção da espécie A quando B está

presente, rBA = probabilidade de detecção da espécie B quando A está presente e é detectada, rBa =

probabilidade de detecção da espécie B quando a espécie A está presente e não é detectada.

Page 40: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

40

Figura 6 – Resultados obtidos a partir de análises de ocupação para duas espécies

evidenciando a variação das probabilidades de ocupação em função de covariáveis de

habitat para (A) H. atricapillus em função da Média do DAS nas estações seca (linhas

continuas em escala de preto) e chuvosa (linhas continuas em escala cinza) (B) H.

rufimarginatus em função da Média do DAS quando H. pectoralis está presente (linha

continua em escala de preto) e ausente (linha continua na escala de cinza) (C) H.

pectoralis em função da densidade de árvores.

Page 41: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

41

4. DISCUSSÃO

Neste trabalho, testamos hipóteses sobre como diferenças no uso de habitat e

ocupação do espaço poderiam facilitar a coexistência entre espécies similares

ecologicamente e filogenéticamente, padrão já estudado e corroborado na natureza para

aves e outros táxons como répteis e mamíferos (STEWART et al., 2002; LAIOLO,

2013; STEEN et al., 2014). Os resultados indicam que em nosso sistema, fatores

distintos podem explicar os padrões de coexistência entre as espécies. Enquanto H.

pectoralis apresenta maior preferência por habitats com maior densidade de vegetação,

H. rufimarginatus tem ocupação associada, principalmente a habitats com árvores de

maior diâmetro. Ainda que em menor grau, H. rufimarginatus tende a evitar habitats

onde H. pectoralis está presente (SIF = 0,82 ± 0,13). Já H. atricapillus, de forma

semelhante a H. rufimarginatus, possui preferência por habitats onde há árvores com

maior diâmetro, de modo que apesar de bastante similares as espécies coocorrem de

forma independente uma da outra. Além disso, H. atricapillus apresentou

aproximadamente duas vezes mais chances de ocupar um sítio na estação chuvosa em

comparação com a estação seca, indicando um efeito da sazonalidade na ocupação da

espécie.

As diferenças nas taxas de ocupação de H. pectoralis e H. rufimarginatus em

função da estrutura de vegetação refletem estratégias distintas de uso de habitat, que

associadas a segregação espacial, podem estar modulando a coexistência entre as

espécies (Tabela 5). O padrão encontrado corrobora evidências de segregação e partição

de nicho levantadas entre espécies do gênero Herpsilochmus (WHITNEY; ALONSO,

1998; COSTA et al., 2016). Além disso, a estratégia de uso de habitat de H. pectoralis é

consistente com os resultados de outro estudo em região próxima (COSTA et al., 2016).

Os resultados corroboram a ideia de que a heterogeneidade ambiental permite modos

contrastantes de uso do habitat que podem proporcionar a coexistência entre espécies

(SCHOENER, 1974; VINCENT et al., 1996; KOTLER; BROWN, 1999). Em adição,

tivemos indícios de que a presença de H. pectoralis afeta negativamente a ocupação de

H. rufimarginatus (Tabela 5). Historicamente, é possível que as estratégias de uso de

habitat das espécies sejam resultado da evolução simpátrica que resultou em divergência

evolutiva ou que as espécies tenham evoluído de forma independente e entraram em

contato mais recentemente (CONNELL, 1980). No entanto, não podemos inferir o

Page 42: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

42

mecanismo responsável pela partição de nicho a partir de padrões observados, de modo

que estudos experimentais poderiam trazer evidências mais consistentes (SIH et al.,

1985; RICHMOND; HINES; BEISSINGER, 2010). Apesar disso, sabe-se que

atualmente ambas são encontradas em ambientes semelhantes, porém H. rufimarginatus

é mais comumente associado a florestas úmidas, enquanto H. pectoralis é encontrado

em ambientes secos e, até onde se conhece, a RPPN Mata Estrela é o único local no

qual as espécies ocorrem em sintopia (ZIMMER; ISLER, 2002; SILVA, 2007; LOBO-

ARAÚJO et al., 2013; SILVA; CARDOSO; PICHORIM, 2017). Embora, H.

rufimarginatus tenha distribuição mais ampla do que H. pectoralis, regionalmente H.

pectoralis parece ser uma espécie mais comum como indicado também por suas

probabilidades de ocupação (ѰA = 0,54 ± 0,07; ѰB = 0,34-0,46 ± 0,05) Em suma,

nossos resultados indicam que tanto a partição de nicho quanto a segregação espacial

onde as espécies coocorrem são forças fundamentais para a coexistência entre as

espécies regionalmente.

A partição de recursos através da diferenciação de nicho pode reduzir interações

competitivas e permitir a coexistência entre espécies (HUTCHINSON, 1959;

CHESSON, 2000). Ainda que tal padrão seja esperado para espécies similares

ecologicamente, nossos resultados indicaram que H. atricapillus e H. rufimarginatus na

verdade exploram o ambiente de forma similar, com maiores taxas de ocupação em

habitats com árvores de maior diâmetro. Também não foram encontradas evidências de

que H. atricapillus afeta a ocupação de H. rufimarginatus, ou seja, as espécies ocorrem

de forma independente (Tabela 5). Infelizmente não pudemos avaliar outros aspectos

relevantes do nicho ecológico das espécies tais como a riqueza, variedade de recursos

nos sítios amostrados e estratos arbóreos utilizados pelas espécies, os quais em geral

podem explicar diferenças no uso de habitat em espécies de aves (MACARTHUR,

1958; POWELL, 1989). Em adição, a exploração de presas de diferentes tamanhos

poderia ocorrer devido a diferenças em caracteres morfológicos (descolamento de

caracteres) como tamanho e largura do bico (BROWN; WILSON, 1956). Isso

proporcionaria maiores níveis de especialização que possibilitariam a exploração de

recursos distintos dos utilizados uma pela outra mesmo que explorando basicamente os

mesmos tipos de habitat (SCHOENER, 1965; MOULTON, 1985). Com isso, a

dissimilaridade nos aspectos morfológicos citados poderia diminuir a sobreposição de

nicho, culminando no padrão de coocorrência aqui elencado (MOULTON, 1985;

Page 43: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

43

LEYEQUIÉN; DE BOER; CLEEF, 2007). Assim, recomenda-se que em estudos

futuros sejam considerados, além da variação espacial horizontal, também a

heterogeneidade de habitat verticalmente e a composição e riqueza de presas nos sítios

amostrados. Estudos sobre conteúdo estomacal poderão revelar diferenças na dieta entre

as espécies. A comparação de aspectos morfológicos como tamanho e forma do bico de

indivíduos vivendo em simpatria e alopatria poderão dar luz sobre diferentes níveis de

especialização das espécies como já demonstrado para outras espécies de aves

(KIRSCHEL et al., 2009)

Nosso trabalho também tem importantes implicações para a conservação da

espécie endêmica H. pectoralis. Esta espécie encontra-se com status de ameaça

vulnerável e possui distribuição disjunta no nordeste do Brasil, sendo encontrada em

áreas de Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica (ZIMMER; ISLER, 2002). A Mata

Atlântica nordestina compreende apenas 11,5 % dos remanescentes encontrados no

Brasil, sendo também a região mais fragmentada, com remanescentes não ultrapassando

10,000 ha ao norte do Rio São Francisco e com tamanhos menores que 50 ha em sua

maioria (RIBEIRO et al., 2009). Nosso estudo revelou que as populações de H.

pectoralis ocupam áreas com maior densidade de árvores, fato corroborado por outros

estudos (COSTA et al., 2016). Associado a isso, a espécie apresenta níveis

intermediários de sensibilidade a distúrbios humanos, o que ressalta a importância de se

criar unidades de conservação mais protetivas a espécie, visto que muitos dos

remanescentes de Mata Atlântica na região (incluindo a RPPN Mata Estrela) sofrem

com impactos antrópicos. Dentre outros, a retirada de madeira ilegal (Figura 4), a qual

pode intensificar a perda de habitat levando a declínios populacionais da espécie estão

entre as principais ameaças (STOTZ et al., 1993; BENCKE et al., 2006; SILVA, 2007).

Além disso, dos locais de ocorrência da espécie regionalmente, apenas uma corresponde

à área de proteção integral, reforçando a necessidade da criação de unidades mais

propícias para a espécie e que correspondam a sua distribuição.

Page 44: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

44

5. CONCLUSÃO

O presente estudo vem a corroborar outros achados, ao passo que também

fornece novas informações sobre como espécies similares usam o habitat (COSTA et

al., 2016). Nossos resultados indicam que a densidade e o diâmetro de árvores são as

principais variáveis associadas ao modo como as espécies utilizam o habitat na área de

estudo. Enquanto H. pectoralis esta relacionado a áreas com maior densidade de

árvores, H. rufimarginatus e H. atricapillus ocupam, principalmente, áreas com árvores

de maior diâmetro, indicando que as espécies utilizam o habitat de forma diferente.

Além disso, H. atricapillus teve maior proporção de habitat ocupado na estação

chuvosa. As análises de coocorrência fornecem evidências de que H. pectoralis e H.

rufimarginatus tendem a se evitar nas áreas onde ocorrem. Por fim, nosso estudo sugere

que a densidade de vegetação é uma variável importante para a ocupação de H.

pectoralis. Assim, estratégias de conservação direcionadas a espécie que considerem a

recuperação de áreas degradadas e a coibição de retirada ilegal de madeira podem

auxiliar na conservação da espécie. Em contexto mais amplo, preservar a diversidade de

habitats é importante para a manutenção da biodiversidade e ao mesmo tempo

desafiador devido ao alto nível de fragmentação na Mata Atlântica.

Page 45: PADRÕES DE USO DE HABITAT E COOCORRÊNCIA DE AVES …

45

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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