pacta 1ª edição

22
PACTA Mais que uma Revista, uma janela para o Mundo 1ª Edição, Outubro. Revista do Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais Entrevista Eurodeputada Marisa Matias: “ (...) nós nunca nos podemos esquecer que não são as pessoas que estão ao serviço dos governos, mas sim os governos ao serviço das pessoas.” + Opinião Professor Catedrático Doutor António de Sousa Lara e outros... +Actualidade comentada Professora Doutora Licinia Simão e outros... +Erasmus: Istambul

Upload: pacta

Post on 31-Mar-2016

242 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

1ªEdição da Revista PACTA

TRANSCRIPT

Page 1: Pacta 1ª Edição

PACTAMais que uma Revista, uma janela para o Mundo

1ª E

diçã

o, O

utub

ro. R

evist

a do

Núcl

eo d

e Est

udan

tes d

e Rel

açõe

s Int

erna

cion

ais

Entrevista Eurodeputada Marisa Matias:

“ (...) nós nunca nos podemos esquecer que não são as pessoas que estão ao serviço dos governos, mas sim os governos ao serviço das pessoas.”

+ Opinião Professor Catedrático Doutor António de Sousa Lara e outros...+Actualidade comentada Professora DoutoraLicinia Simãoe outros...+Erasmus: Istambul

Page 2: Pacta 1ª Edição

Conteúdos

* Cronologia Mensal 4

* Opinião 5 - Vale a pena estudar Relações Internacio-nais? - Ilha ou Rochedo, eis a questão - A ideia de independência energética na actual campanha eleitoral para a presidencia dos EUA - Pós-militarismo na Turquia: a civilianiza-ção do espaço público

* Entrevista:

Eurodeputada Marisa Matias 8

* Actualidade 17 - Programa nuclear iraniano e as suas dinâmicas de instabilidade regional no Cáucaso - ”Julguem-me contra a alternativa.” - O ressurgimento da violência do PKK: um acaso no contexto internacional?

* Experiência Erasmus 20 - Istanbul, Istanbul

* Agenda Cultural 21

A Equipa

A Coordenação

Miguel Brito, nº 210962Miguel Coutinho, nº 210941

Nuno Ferreira, nº 210963

Em Colaboração

Joana Ribeiro, nº 210910Sara Camarinha, nº 210949

Segue-nos em:

https://www.facebook.com/PACTARI

https://twitter.com/pactaiscsp

http://ae.iscsp.utl.pt/

2

Page 3: Pacta 1ª Edição

Boas-Vindas

Para começar, as boas-vindas, a todos, à revista PACTA! Foi com grande prazer que esta nova Coordenação se dedicou à refundação do PACTA e à sua expansão a um novo conceito. Este novo conceito dedica-se à disseminação da informação

mais relevante, acerca da realidade internacional, e, ao mesmo tempo, a levar essa informação à re-flexão e debate de todos. Por outro lado, procuraremos trazer o melhor das Relações Internacionais, a nível nacional (com algumas contribuições internacionais, para manter a “compostura internacional”), para esta revista. Juntando o melhor e mais variado conhecimento “internacionalista português” no mesmo local, procurando levar a todos os leitores algo de novo. Esperamos assim conseguir transferir um valor acrescentado a todos os leitores e seguidores do PACTA. Porque embora esta revista tenha nos alunos de Relações Internacionais o seu público-alvo, esperamos que venha a ser apreciada e a ter um contributo para todos (sejam ou não alunos, dediquem-se ou não às Relações Internacionais). Que todos vocês possam receber algo desta revista e ajudar a passar este testemunho aos demais. Tendo isto em conta, esperamos iniciar um novo rumo para o PACTA. Que este seja um rumo que nos dê prazer e conhecimento, tanto a nós como a todos os que nos acompanhem!

A Coordenação do PACTAMiguel Brito

Miguel CoutinhoNuno Ferreira

Editorial

Caríssimos colegas de Relações Internacionais, O Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais (NERI) dá-vos as boas vindas neste início da vossa vida académica, desejando-vos boa sorte e que tudo corra pelo melhor. Dado o nosso compromisso assumido de reformular o jornal do núcleo, aquando da nossa eleição para os órgãos de gestão do NERI, aqui fica a primeira edição do mesmo, o PACTA. Tenho muito orgulho deste novo PACTA (que promete) e de todos aqueles que contribuíram para esta mudança. Assim sendo, agradeço toda a dedicação dos membros do NERI, mas também de todos os alunos de Relações Internacionais, que fizeram com que o nosso jornal fosse agora mais completo e activo que antes. Neste contexto, solicito a vossa cooperação, atenção e crítica ao longo deste ano lectivo. No caso de terem ideias enviem-nas para este e-mail que vos facultaremos mais abaixo. Ou, em alternativa, encontrem-nos nos corredores do ISCSP e exponham o vosso caso. A vossa ajuda é fundamental para que o NERI possa continuar a melhorar e a inovar. Nunca se esqueçam de que o NERI está aqui por todos os alunos de R.I. e para todos os alunos de R.I.

Um grande bem-haja!A Presidente da Direcção do NERI

Joana Alves Agostinho

3

Page 4: Pacta 1ª Edição

Cronologia Mensal

- O filme, “A inocência dos muçulmanos”, in-cendiou o Médio Oriente contra os EUA, provo-cando a morte do embaixador norte-americano na Líbia.- China e Japão mantêm disputa sobre o arqui-pélago Senkaku (nome japonês) / Diaoyu (nome chinês), que se agrava após o Japão a comprar três das ilhas a investidores privados.- Israel fortalece o discurso contra o Irão, alardeando o perigo que este país representa para o mundo.- O Presidente egípcio, Morsi, tenta encontrar uma base de negociação com a,mf Turquia, para resolver a questão síria.- Forças quenianas, mandatadas pela União Africana, expulsam a milícia islamita al-Shabab da cidade de Kismayo, na Somália. Seguem-se vários atentados em território queniano, como represálias.- Depois de vários combates junto à fronteira turca, por parte de forças sírias, (levando á morte de cidadãos turcos) o parlamento turco aprova ataques militares fora das fronteiras. Nos dias se-guintes, seguem-se variados ataques turcos.- Na Geórgia, o partido do Presidente, Saa-kachvili, perde as eleições para o multimilionário Ivanichvili, com um resultado inesperado.

- O governo filipino tenta passar a Lei de Pre-venção do Cibercrime, mas esta é duramente con-testada nas ruas, devido ao medo da sua utilização como arma de censura e repressão. A lei acaba por ser chumbada pelo Supremo Tribunal Federal;- A corrida pela Casa Branca anima-se, nos EUA, com o primeiro debate, vencido por Mitt Romney.- A Venezuela vive um período pré-eleitoral tenso, com dois fortes candidatos, Hugo Chávez e Henrique Capriles. Hugo Chavez acaba por venc-er, mantendo-se na presidência.- Multiplicam-se as manifestações anti-auste-ridade na Europa, principalmente em Espanha, Portugal e Grécia, trazendo cada vez mais pessoas para as ruas.- Israel, Jordânia e Kuwait, invocam, todos, eleições antecipadas.- Depois de um pedido, do governo sul-coreano aos EUA, de actualização do seu sistema de mís-seis (ganhando capacidade para atingir todo o ter-ritório norte-coreano), a Coreia do Norte ameaça atacar se provocada.- O governo filipino prepara a assinatura de um tratado de paz com a milícia islamita Frente Moro de Libertação Islâmica, com quem está con-flito há mais de 40 anos.- A Escócia e a Catalunha pedem referendos para a independência, aos seus governos centrais. Mas enquanto a primeira é autorizada, a segunda não consegue.

4

Page 5: Pacta 1ª Edição

Opinião

A Turquia está a começar uma guerra com a Síria, a China num cre-scendo de hostilidade com o Japão por disputas num pequeno arquipélago que tem gás natural, o Irão desafia a comuni-dade internacional por causa do seu du-vidoso programa nuclear, Israel sente-se, e bem, como a sua ameaça principal;

a União Europeia atravessa a maior crise desde a funda-ção da CEE e da CECA que pode levar à sua implosão; as Coreias do Norte e do Sul mantêm a animosidade arcaica de sempre, a Rússia reorganiza o seu espaço vital; as pan-demias mortíferas convivem com a expansão da influên-cia chinesa na África Austral e os BRIC disputem a indis-cutível supremacia norte-americana à escala mundial. As Igrejas monoteístas crescem no mundo inteiro mas na Eu-ropa não. E para onde vão as primaveras revolucionárias do Islão sunita? E o neo-fascismo? E o terrorismo transna-cional? Quem manda nos Estados? E nas Organizações

Internacionais? Porquê? Como?

Eis algumas das questões a que as ciências das Rela-ções Internacionais respondem.

Pode haver grandes empresas a ignorar esta temáti-ca? Não creio. E países, regiões e autarquias? Cada vez me-nos. É claro que o mercado procura qualidade. Um pseu-do-técnico medíocre está condenado ao desemprego ou à subserviência. Sobretudo em Relações Internacionais.

Com um mercado empregador crescentemente exi-gente, a busca da excelência deve ser a meta de quem quer ter futuro. A começar por um forte investimento em lín-guas dominantes.

O ISCSP é o sítio certo para estas apostas individ-uais.

Por Professor Catedrático Doutor António de Sousa Lara

Vale a pena estudar Relações Internacionais ?

O verão geopolítico asiático tem sido particularmente quente. E tudo por causa de um conjunto de arquipé-lagos desabitados no mar da China, disputados pelo Brunei, China, Coreia do Sul, Filipinas, Japão, Malásia, Tai-

wan ou o Vietnam. O mês de setembro viu mesmo o con-flito escalar entre a China e o Japão a propósito das ilhas Senkaku (versão japonesa) ou Diaoyus (versão chinesa) – numa genial capa da revista The Economist à pergunta “Could China and Japan really go to war over these (is-lands)?” responde uma tartaruga submergida: “Sadly, yes”. Um das explicações avançadas para o conflito latente seria uma disputa por recursos. Resta saber se estas ilhas configuram “rochedos que, por si próprios, não se pres-tam à habitação humana ou à vida económica” e que, por essa razão, são insusceptíveis de possuir zona económica exclusiva ou plataforma continental, mas apenas mar ter-ritorial (art. 121.º, n.º 3, da Convenção das Nações Uni-das sobre Direito do Mar). Tal é o caso seguramente da “ilha” de Okinotorishima – um atol perdido no meio do Pacífico reinvidicado pelo Japão que, na maré cheia, não

é maior do que a área de duas camas de casal! Ainda as-sim, mesmo que configurem ilhas, a possibilidade de ex-ploração económica dos recursos das Senkaku/Diaoyus é impensável num contexto de crescente militarização da zona. Na base da disputa parece estar o recrudescer dos nacionalismos, num quadro em que a China reemerge como potência mundial rodeada de vizinhos – alguns aliados dos Estados Unidos – crescentemente ansiosos. Neste contexto, “colocar a bandeira” num qualquer ro-chedo configura uma manifestação de orgulho patriótico e uma vingança por humilhações passadas às mãos dos vizinhos. Esta não se trata sequer de uma originalidade asiática. Basta lembrar episódio semelhante ocorrido na ilha/rochedo de Peregil (2002), disputada por espanhóis e marroquinos, ou os voos rasantes da força aérea espanho-la (2007) sobre as portuguesas ilhas selvagens (rochedos para os espanhóis)...

Por Professor Auxiliar Doutor Francisco Pereira Coutinho

Ilha ou rochedo, eis a questão

5

Page 6: Pacta 1ª Edição

A ideia de independência energé-tica assumiu-se como um elemento de elevada relevância no debate político dos EUA e na sociedade americana desde o choque petrolífe-ro de 1973 até aos nossos dias. Face à crescente dependência das impor-tações de crude, a maioria das ad-

ministrações que passaram pela Casa Branca desde 1973 anunciaram os objetivos de diminuir as importações de crude da volátil região do Médio Oriente e de promover a independência energética do país, aspiração que nunca logrou ser concretizada. Nesta matéria o petróleo assume um papel central, até porque entre 1975 e 2010 as impor-tações deste recurso pesaram sempre mais de 80% no total da energia importada pelos EUA. Depois de em 2005 a dependência externa das im-portações de petróleo dos EUA ter atingido o máximo histórico (60,3% da totalidade do consumo), ela tem vin-do a diminuir até aos nossos dias (45% em 2011). Esta diminuição está relacionada com a redução do consumo entre 2005 e 2011, assim como com o crescimento da produção doméstica desde 2007 que foi impulsionada por importantes desenvolvimentos tecnológicos (horizontal drilling e hydraulic fracturing) que têm permitido ex-plorar recursos fósseis não convencionais anteriormente inacessíveis (shale gas, shale oil e recursos localizados no offshore), bem como aumentar a quantidade de recursos retirados da generalidade das explorações. Perante esta nova realidade, e levando em consid-eração que os EUA têm vastos reservatórios de hidrocar-bonetos não convencionais, ressurgiu com renovado vigor o debate sobre a independência energética. Na atual cam-panha presidencial o candidato republicano Mitt Rom-ney anunciou o objetivo de aumentar significativamente a produção doméstica de energia, em particular de petróleo e gás, com vista a garantir, em parceria com o México e Canadá, a independência energética da América do Norte em 2020. No caso de Barack Obama, apesar identificar aspetos secundarizados ou mesmo ignorados por Rom-ney como a necessidade de melhorar a eficiência e con-servação energéticas e a importância de desenvolver as fontes renováveis de energia, anuncia também a ambição de promover a independência energética e de reduzir a dependência das importações de petróleo, objetivos para os quais contribuirão de forma decisiva o crescimento de “forma segura e responsável” da produção doméstica de petróleo e de gás natural. A verificar-se, do desenvolvimento do petróleo e

do gás convencional e não convencional a um ritmo acel-erado ao longo das próximas décadas e da diminuição da dependência externa resultarão importantes dividendos económicos para os EUA. No entanto, num tal cenário, mesmo assumindo que as importações de petróleo e gás ainda necessárias viriam exclusivamente do México e do Canadá, é um mito pensar que o país ficará imune face a uma possível desestabilização do Médio Oriente que colo-que em causa os seus fluxos de hidrocarbonetos. A ver-dade é que os recentes apelos à promoção da independên-cia energética dos EUA baseiam-se sobretudo no reforço da produção doméstica de petróleo e gás, mantendo-se o sistema energético altamente dependente dos combustíveis fósseis. Assim, mesmo que os EUA não importem uma única gota de petróleo árabe (em 2011 apenas 16% do to-tal das importações de crude dos EUA vieram dos países do Golfo Pérsico), qualquer crise ou conflito que ameace ou afete os fluxos petrolíferos daquela região provocarão uma subida dos preços do crude e do gás, prejudicando severamente todo o mundo e, por consequência, também os EUA. Na verdade, para que os EUA diminuam a sua vulnerabilidade face ao Médio Oriente não basta deixar de consumir petróleo árabe, mas é sobretudo necessário que a independência energética do país seja assegurada através de uma mudança radical do sistema energético que retire proeminência aos hidrocarbonetos. Para concretizar tal aspiração seriam necessários fortes ganhos na eficiência e conservação energéticas, importantes desenvolvimentos tecnológicos, bem como um extraordinário desenvolvim-ento dos recursos renováveis de energia. Pelo contrário, o que temos vindo a assistir é a um reforço da exploração dos hidrocarbonetos convencionais e não convencionais.

Por Professor Auxiliar Doutor Pedro Fonseca

Nota: Este artigo foi escrito, pelo autor, segundo as normas vigentes no acordo ortográfico de 1990

A Ideia de Independência Energética na AtualCampanha Eleitoral para a Presidência dos EUA

6

Page 7: Pacta 1ª Edição

Quando a Turquia foi fundada, em 1923, na sequência da I Guer-ra Mundial e da subse-quente Guerra da Inde-

pendência, entre 1919 e 1923, o “Pai dos Turcos”, Mustafa Kemal Atatürk, havia impedido a participação dos militares na política nessa condição, subordinando o envolvimento na arena ao abandono das fardas, ape-sar de ele próprio e do seu sucessor na presidência do país, Ismet Inönü, serem comandantes militares. A condição foi cumprida até 1960, ano em que um golpe de Es-tado militar colocou fim ao período multipartidário iniciado uma década antes, sob o consulado do Primeiro Ministro Adnan Menderes. O mo-tivo era claro: durante esse decénio, a condição social e económica das Forças Armadas foi sendo progres-sivamente deteriorada por acção do Executivo, além das políticas que visavam reverter o carácter secular da República, tal como instituído verticalmente por Atatürk. Ao exe-cutar o golpe, os militares invocavam o famoso artigo 34º da Lei de Serviço Interno das Forças Armadas nº 2771, de 1935: “O dever das Forças Arma-das Turcas é proteger e preservar a pátria turca e a República Turca, tal como definido na Constituição”. Essa identificação entre nação e mil-itar, fomentada pelo sistema esco-lar, foi claramente sublinhada pelas chamadas “Teses de História Turca”, introduzidas nos primeiros anos da República, assumindo que o elemen-to militar é a característica natural por definição da nação turca ao longo dos séculos. A Constituição de 1961 institucionalizava esse dever através

da criação do Conselho de Seguran-ça Nacional (Milli Güvenlik Kurulu, MGK), composto por cinco civis e cinco militares, incluindo os minis-tros competentes, o Chefe de Estado Maior, e o Presidente da República (ou o Primeiro Ministro, na ausên-cia daquele), e reunindo pelo menos uma vez por mês. A sua função con-sistia em assistir o Governo na toma-da de decisões em assuntos relativos à segurança nacional, um termo cuja definição era suficientemente lata para os paşas (generais) deterem o poder de interferir em quase todas as questões, uma competência que foi alargada por uma lei datada de 1962, que conferia ao órgão a prer-rogativa de se imiscuir nas delibera-ções, através de consultas regulares e da participação nas discussões pre-liminares. Sobretudo, garantia aos militares a defesa do Kemalismo, nomeadamente o carácter secular da República e o nacionalismo turco. Três golpes de Estado subse-quentes, em 1971, 1980 e 1997 (este chamado de “golpe de Estado pós-moderno, por não ter envolvido a for-ça, mas sim a coacção sobre o Primeiro Ministro revisionista, Necmettin Er-bakan), voltavam a demonstrar onde residia a autoridade última no país. Contudo, a ascensão ao poder do Partido da Justiça e do Desen-volvimento (AKP), em 2002, e as sucessivas maiorias obtidas desde então (2007, 2011) viria a reverter totalmente a influência dos milita-res. Se o processo de civilianização da política na Turquia iniciado pelo partido em muito foi auxiliado pelas exigências da União Europeia nesse sentido, enquanto condição sine qua non para a adesão do país à UE, não menos importante foi o início de dois processos em tribunal associa-dos ao chamado “Estado profundo”, que implicam os militares em planos de golpe de Estado contra o governo

do AKP e na constituição de uma organização criminosa para tal, de-nominados, respectivamente Balyoz e Ergenekon. No passado dia 21, 331 militares foram condenados a penas de prisão no âmbito do caso Balyoz, incluindo a condenação a prisão perpétua de três generais (o ex-Che-fe de Estado Maior da Força Aérea, o General İbrahim Fırtına, o ex-co-mandante do 1º Exército, o Generaç Çetin Doğan, e o ex-Chefe de Esta-do Maior da Marinha, o Almirante Özden Örnek), depois reduzida a 20 anos. As inconsistências nos pro-cessos, que incluem, por exemplo, a implicação de um acusado numa or-dem de assassínio a si próprio ou a incompatibilidade entre acusações e factos, levou a oposição a equiparar todo o processo à “caça às bruxas” nos EUA aquando do McCarthismo. Trata-se de uma inversão fun-damental na vida política turca e que, em boa medida, ajudou a inspirar as chamadas “Primaveras Árabes”.

Por Professora Assistente Doutora Isabel David

Pós-militarismo na Turquia: a civil-ianização do espaço público

7

Page 8: Pacta 1ª Edição

Eurodeputada

Marisa atiasPACTA (P) - Quanto à procura por diminuir drasticamente os défic-es, por toda a Europa, é conciliável com as metas estabelecidas no campo ambiental?Marisa Matias (MM) - Eu acho que as coisas têm a ver uma com a outra e ao mesmo tempo não têm. A questão das metas am-bientais prende-se sobre-tudo com o modelo de de-senvolvimento europeu é evidente que isto também tem a ver com a política económica que está por de-trás. Mas, por outro lado, o que seria de esperar com esta política económica que,

no meu entender, é completamente obcecada pelo défice e pela dívida e que foge áquilo que seria o modelo de de-senvolvimento económico, orientado para a verdadeira resolução dos problemas da sociedade europeia sobre-tudo o desemprego e a falta de crescimento. E quando falo de crescimento, falo de crescimento sustentável. O que tem sido dito é que com esta política, e por causa da crise, levaria a um abrandamento na produção, no sistema produtivo, nas emissões, por causa da estagna-ção da economia ou mesmo da produção, e a verdade é que não tem levado. É uma política que tem sido preda-dora, no meu entender, quer nos direitos sociais, quer nos serviços públicos, quer também naquilo que são os recursos naturais. Tem-se flexibilizado muito no acesso aos mesmos e nas regras relativas às emissões. Portanto, por um lado, estão ligadas mas, por outro lado, deviam ser relativamente separadas. Mas para responder directamente à pergunta, eu diria que, pela verificação dos factos, não. Nem com a sustentabilidade social e económica, nem com a sustent-abilidade ambiental.

P - Então, utilizando o exemplo português, baixar o défice e tentar aumentar a percentagem de uti-lização das energias renováveis, não funciona?MM - Não tem funcionado. Eu acho que, em relação à energia, a questão-chave, aquela que permitiria, ao mes-mo tempo, manter um padrão elevado em termos de política ambiental e um padrão elevado de exigência em termos de criação de emprego e desenvolvimento, era a dimensão da eficiência energética, mais do que as en-ergias renováveis. Nós conseguimos já há muito tempo atingir as metas, em termos de uso e recurso das ener-gias renováveis. Conseguimos, também, em termos da redução das emissões, que foi entretanto deturpada por este ambiente de crise e não conseguimos em matéria de eficiência energética. Portanto uma coisa não tem ne-cessariamente a ver com a outra. Porque algumas destas áreas são áreas de valor acrescentado e obviamente as en-ergias renováveis também o são. Depois, é uma questão de perguntar como é que tem sido implementada esta política, em Portugal. Eu acho que tem sido muito frag-mentada, muito desarticulada. Nós temos uma capaci-dade muito maior de produção de energias renováveis, com muito menos recursos e desperdício de recursos económicos e de tempo. Nós temos muitos centros de produção de energias renováveis. A energia eólica é um destes casos, em que depois não existem sistemas de dis-tribuição associados que permitam responder às neces-

sidades das populações mais próximas, de forma mais elegante. Há uma serie de problemas. Eu diria que no campo energético é de apostar na eficiência energética. Esta tem a capacidade de diminuir a factura do consu-mo energético. Bastante. Tem a capacidade também de, ao reduzir essa factura, de permitir reduzir a nossa de-pendência de combustíveis fósseis que é um dos prob-lemas da economia europeia. Tem, ao mesmo tempo, a capacidade de ficar sempre vinculada a um projecto de renovação e reconstrução urbanística, que é necessário e que está naturalmente e consequentemente associado a criação de empresas.

P - No contexto europeu, qual seria a situação por-tuguesa, no cumprimento de metas ambientais?MM - No contexto europeu, é como já referi. Estamos a falar de metas que, entretanto, já foram reduzidas. Mas fa-lando das metas da estratégia 20/20, dos 20% de redução do consumo energético, por via da eficiência energética, que é a única que não é vinculativa. Por isso é que a taxa de execução é muito baixa, não chega sequer a 10% no conjunto da UE. Mais o aumento em 20% em termos das energias renováveis e a redução de 20% nas emissões.Nes-sas três metas de 20%, nós conseguimos responder às rel-ativas à emissão de gases de efeito de estufa e às relativas às energias renováveis, mas estamos muito longe daquela que seria fundamental, que é a eficiência energética.

Desde 2009 que Marisa Matias é eurodeputada do Bloco de Esquerda, pertencendo ao grupo parlamentarConfederal da Esquer-da Unitária Europeia/Esquerda Nórdica.

Integra as Comissões de Indústria, investi-gação e energia e Eco-nomia a assuntos fi-nanceiros. É também Vice-Presidente da Delegação para as re-lações com os países do

Maxereque.

8

Page 9: Pacta 1ª Edição

P - E quais seriam os principais obstáculos, para os vários países europeus, em relação a essas metas?MM - Há vários obstáculos. Um deles tem a ver com o facto de não sendo uma meta vinculativa, como são as out-ras, faz com que fique muito no âmbito daquilo que é o espaço de decisão nacional. E os governos não têm con-seguido chegar a acordo, entre eles, sobre a necessidade de tornar essa meta vinculativa ou não. Eu entendo que enquanto não for vinculativa, nunca há-de ser cumprida. Infelizmente é assim, há sempre desculpas que são cred-itadas. Principalmente agora, com a crise, junta-se a crise à falta de investimento público. A falta de liquidez do Es-tado, a falta de capacidade de investimento foi sempre usada como desculpa. E esses são sobretudo os principais obstáculos. E é verdade que houve um recuo muito grande nos últimos anos. Porque havia uma ideia, que continua válida, que a única forma de estimular a economia e o de-senvolvimento passa pelo investimento. Volto a dizer, um desenvolvimento inclusivo, sustentável, não um modelo de desenvolvimento produtivista. E com a quebra total do in-vestimento público, os governos estão a começar a ficar re-féns de investimento privado e das PPP’s. E essas não têm

passado muito pelo lado dos projectos relacionados com a eficiência energética. Passam por grandes projectos infra-estruturais, mas não pela eficiência energética. E isso tem feito com que seja uma das políticas mais afectadas.

P - Pormenorizando um pouco mais, quanto aos no-vos dados que têm aparecido acerca do degelo dos pólos que acções deveria, ou está a pensar, tomar a UE?MM - Houve tempos em que havia uma agenda ambiental, e sobretudo de resposta ao impacto das alterações climáti-cas, muito forte, no contexto das instituições europeias. Aliás falava-se nessa capacidade de liderança que a UE de-via ter no mundo, em matéria de política ambiental e de combate às alterações climáticas. Eu diria que isso ficou muito presente até 2009. Este foi talvez o último ano des-sa narrativa, com a Conferência das Partes, a COP 15, em Copenhaga, que depois se traduziu num enorme fracasso. Mas até aí havia um conjunto de articulações entre as várias instituições e os governos ainda estavam disponíveis para discutir os termos de combate às alterações climáticas.

Mas foi numa altura em que estava ainda em discussão o que se deveria fazer com o protocolo de Quioto, se iria continuar ou não, qual seria o projecto que viria a sub-stituí-lo. Havia muito interesse. As propostas que eram levadas às Conferências das Partes, até à COP 15, foram no meu entender propostas bastantes interessantes, ob-jectivas e ambiciosas. Mas falhavam, por exemplo, no domínio de perceber as alterações climáticas com uma perspectiva global em que obviamente o nível de interven-ção dos países mais desenvolvidos e industrializados não pode ser o mesmo do que os países menos desenvolvidos porque há uma factura ambiental que é muito mais pesada para os países desenvolvidos. Mas tentou-se um equilíbrio. Com o agravar da crise económica mundial, financeira e, posteriormente, social, o que nós vimos foi os governos demitirem-se por completo desses objetivos ambientais, desse combate às alterações climáticas, mas também o recuo de uma serie de domínios e políticas por parte do Parlamento e da Comissão Europeia, que normalmente tinham gosto de dizer que lideravam o processo a nível mundial. O que se passou em Cancun, na COP 16, e na África do Sul, na COP 17, e que se espera que se passe este ano na COP 18, em Doha, não me parece que seja outra coisa senão continuar a fazer estes recuos. Por isso o que é que as instituições europeias, o que é que nós estamos a fazer? É engraçado, porque havia um consenso muito grande e muito forte em torno destas questões ambientais e da necessidade de intervenção, houve uma multiplicação de instrumentos e vários programas re-lacionados com a biodiversidade e com os ecossistemas. E todos foram sendo convertidos em instrumentos de mer-cado, de regulação de mercado, com agendas de mercado. E essas não correspondem a uma distribuição justa dos re-cursos e, muito menos, a um patamar de justiça ambiental que é preciso ter na distribuição. Por isso, nesta fase, já

existe muito mais contenção e muito mais barganha entre os diferentes grupos parlamentares. Eu continuo a defend-er metas ambiciosas e exigências vinculativas, porque não nos serve de muito continuarmos a tentar definir políticas para o futuro da economia mundial, se não melhorarmos no campo daquilo que é o mais essencial. Esquecermo-nos que o mundo tem limites em termos de recursos e é finito em termos da capacidade de exploração, torna-se um bo-cadinho inconsequente. Mas nesta fase há muito mais luta política e, infelizmente, nas alterações climáticas, apesar de tão recentes evidências como foi o degelo, há recuos muitos significativos e isso é assustador.

P - E diria que é demasiado tarde para reverter a situação?MM - Eu acho que em relação a muita coisa já demasia-do tarde. Por exemplo, em relação a desertificação exces-siva. Tudo isto tem impactos. O degelo por si só não seria catastrófico, não fosse o facto de pôr em causa ecossistemas inteiros e modelos de sustentabilidade e de equilíbrio am-biental, o facto de alterar por completo a temperatura das águas do mar e começar a haver uma incapacidade de sus-tentar ecossistemas essenciais a vida. Em matéria da água, acho que já vamos muito tarde. A água é cada vez mais es-cassa, em muitas regiões do mundo, começa a ser mesmo preocupante. Já para não falar de longos períodos de seca um bocadinho espalhados por todo o mundo. Há regiões onde o acesso a água potável é quase inexistente. E ao falar-mos de perda de biodiversidade, de aumento da desertifi-cação, das questões associadas á água e a outros recursos naturais e do excesso de poluição, que depois provoca es-tes fenómenos, temos um cenário muito pouco risonho a frente. Há outras onde é perfeitamente possível recuperar, nós também não queremos, penso eu, uma sociedade e um mundo intocável. Mas tem é que ser sustentável. E a

9

Page 10: Pacta 1ª Edição

palavra “sustentável” foi ganhando muitos significados dife-rentes, ao longo dos últimos anos, já sendo compatível com tudo, na boca de muita gente. Mas a verdade é que continua a não ser. Há algumas coisas que são praticamente irrever-síveis, a não ser que se tome posições muito firmes e mui-to sérias, o mais depressa possível. A mim assusta-me, por exemplo, onde nós vimos uma ameaça, no caso do degelo, haver um conjunto de companhias, instituições e indústrias que vêem uma oportunidade para explorar os recursos que ainda estão escondidos debaixo do solo, nestas regiões do mundo. Há aqui uma logica predadora que me parece não ter aprendido nada com as questões do passado.

P - O que se pode fazer em relação à dificuldade de ar-mazenamento da produção das energias renováveis? A solução passaria por criar uma rede energética eu-ropeia, para a energia produzida ser utilizada onde existisse maior procura?MM - Eu acho que é importante, em termos energéticos, ha-ver uma política europeia concreta, porque a dependência energética de uns países em relação aos outros é enorme. Há países que têm maior capacidade de produção de energias renováveis do que outros, há outros que tem uma capacid-ade que está muito longe de ser esgotada. Quando digo que Portugal já esgotou as suas metas, não digo que já tenha esgotado a sua capacidade em termos de recursos naturais que não estão a ser utilizados, portanto essa capacidade ain-da está por estudar. Mas também há esse problema do abas-tecimento e da capacidade de armazenamento, como é que se guarda essa energia. Muito disto passa por não existir essa tal rede europeia consolidada. Nós temos, por exemplo, ga-sodutos, falando de outros tipos de energias, que atravessam vários países da Europa. Mas tem que haver investimento em tecnologias que possam ser partilhadas por vários países e, mesmo, dentro dos países. E isso é uma das questões. Mas a outra tem muito a ver com a falta de armazenamento. Não é só uma questão de tecnologias de armazenamento das energias, mas é também onde é que nós colocamos os nossos centros de produção de energias renováveis? Nós colocámos grande parte deles em sítios onde não vive ninguém e não está escrito em lado nenhum que uma central eólica tenha que estar em cima de uma montanha. Porque então não havia nenhuma na Hol-anda ou na Dinamarca, onde há imensas em terrenos com-pletamente planos, onde o monte mais alto tem uns 100m de altura. Em Portugal, também não consta que quando o vento venha, só bata no topo dos montes. É inacreditável como se desperdiçou tanto o território e o ordenamento e se investiu tanto em centros de produção de energia, nomeadamente eólica mas não só, longe dos consumidores, de quem pre-cisa. Se existirem centros de energia de proximidade, mais junto de meios urbanos, conseguíamos fazer o abastecimen-to quase automaticamente, quase não era necessário o arma-zenamento. Foi tudo muito mal feito. Investimos muito para desperdiçar. Seria interessante saber se cumprimos a meta de utilização. Acho que não bate muito com a de produção.

P - Vamos, então, passar para um campo umbocadinhodiferente, a indústria. O que pode fazer a UE para tornar as suas indústrias mais competitivas a nível internacional?MM - Desde logo, há uma questão que precede essa questão que me faz. Tem a ver com o facto de, que já agora não era nada mau haver uma política industrial na europa. Até uma política industrial na maior parte dos países europeus que é, de facto, uma ausência. Nós não conseguimos planificar ne-nhum modelo de desenvolvimento, ou crescimento e trans-formação das sociedades, seja de reformas ou do que for, sem uma política industrial que seja digna desse nome. Nos não temos política industrial. Nem nacional, nem europeia. É desde logo uma falha enorme. Depois, as economias mun-diais estão muito interligadas, cada vez mais interligadas, e nós estamos um bocadinho a pagar o preço daquilo que foi um veneno que nós cultivamos. Não foi por mim, mas pela lideranças europeias anteriores e actuais, que teve a ver com aquela máxima de que o que era importante era liberalizar o mercado ao máximo, sem nenhuns limites, não era pre-ciso regulação nenhuma, que o mercado iria auto-regular-se. E continua muita gente a acreditar nisso! A verdade é que foram os mesmos que promoveram isso que agora se queixam de se apresentarem produtos de economias em que o custo da mão-de-obra e o custo da produção é muito menor. Da mesma maneira foram os países da UE, os pri-meiros, juntamente com os EUA, a usar esses países para produzir a baixos custos, os seus produtos, e a deslocalizar para esses países grande parte da produção. E continuamos a assistir a esse fenómeno, aliás. A deslocalização perman-ente das unidades de produção para países onde o nível dos preços é muito mais baixo. Há aqui uma contradição, uma espécie de tiro no pé, porque são os mesmos que fazem o discurso de que é pre-ciso tornar a indústria europeia competitiva que tudo fiz-eram para a tirarem da europa e a colocarem noutros sítios do mundo. Sinceramente, não tenho muita pena dessa con-tradição, tenho pena é das pessoas que acabam por pagar o preço destes desajustes de política. Uma coisa é certa, está mais do que provado pelas leis económicas e da vida, que não é pelo abaixamento dos salários que se chega a qualquer modelo de competitividade. Porque nesse momento não só se deixa de produzir, como também se deixa de conseguir aceder aos bens. Porque as pessoas não têm recursos para consumir, dentro das economias europeias, e a indústria eu-ropeia depende tanto do mercado internacional, como do mercado interno. No mercado interno, a estagnação e a crise, com uma baixa enorme do poder de compra e da procura, até mesmo para os bens essenciais, não estou a falar sequer de bens supérfluos, não há indústria que resista. Não consegue ser competitiva nem dentro do próprio Estado, quanto mais para fora. Acho que devíamos pensar nesses modelos, nos modelos que pensassem mais na salvaguarda dos padrões ambientais na produção e na salvaguarda dos salários e do valor do trabalho. Está visto que não é por via da contenção salarial, tomando como exemplo a filosofia dos planos de intervenção em países como Portugal e a filosofia da política económica europeia. Não posso estar mais em desacordo.

10

Page 11: Pacta 1ª Edição

Acompanha-nos também através do Facebook

Clica aqui

Page 12: Pacta 1ª Edição

P - Então diria que, sem dúvida, a abertura constante a novos mercados é um erro?MM - Eu acho que nós não precisamos de ter uma lógica absolutamente protecionista porque não vivemos isolados do mundo e o mundo não vive isolado de nós. Acho que temos que criar relações justas e equilibradas com os vários países do mundo. Dito isto, acho que a alguns sectores um bocadinho de proteccionismo não faria mal a ninguém. Ve-jamos, por exemplo, o caso da produção de leite em Por-tugal. O leite é provavelmente o único produto, ou um dos poucos, em que Portugal é auto-sustentável. No entanto, isto é coisa para durar mais um ou dois anos. Porque com o não controlo das cadeias de distribuição, da própria venda e das condições em que é vendido nas grandes superfícies, a con-centração da distribuição e da venda do leite, o abaixamento cada vez maior do pagamento aos produtores, faz com que, nos próximos anos, se espera uma destruição de metade da produção de leite que existe actualmente. Este é o exemplo de um sector que tem tudo para correr bem e que fazemos tudo para destruir! Dito isto, acho que em alguns sectores é preciso ter alguma lógica de protecção, sem se ser protecioni-sta no contexto económico mundial. Porque como disse nós não vivemos sozinhos. Essa inundação no mercado europeu com produtos de outros mercados foi só o colher daquilo que se plantou. Porque foi isso mesmo que se plantou. Aliás, muitas destas indústrias que ganharam vida própria e ca-pacidade para competir e conseguiram entrar na economia mundial, foram resultado do investimento de capitais euro-peus e norte-americanos nestas regiões do mundo. Eu acho que fechar as portas não é o caminho mas tem que haver protecção. Temos que se saber como proteger alguns sec-

tores. Temos que saber como pode existir cooperação com sectores que nós não temos capacidade de sustentar. Mas tudo dentro de uma lógica justa.

P – Vamos então dar outro salto temático. Quais são para si as principais diferenças entre as actuaismanifestações populares, que percorrem a Europa e um pouco pelo mundo inteiro, e as revoluções das décadas de 70, 80 e 90 que também ocorreram um pouco por todo o mundo?MM - Eu acho que todas as manifestações e todas as reacções populares têm que ser enquadradas no contexto e momen-to histórico em que ocorrem e são contextos e momentos muito diferentes. O que se passa na América Latina, hoje, e o que se passa na Europa, hoje, são contextos muito diferen-tes. O que se passa hoje, em Portugal, e o que se passou no período da revolução são situações muito diferentes, ainda que haja alguma proximidade no contexto. Sofreu profundas transformações com a Revolução de 74 e com a implemen-tação da democracia, mas são tempos muito diferentes. Elas têm significados diferentes. As sociedades e os povos que se levantam hoje, em Espanha, ainda na Grécia, em Portugal, fazem-no por uma luta que têm em comum, a luta pela dig-nidade numa economia extremamente predadora e destru-idora de direitos sociais, de trabalho, e que tem posto em causa aquilo que são condições mínimas de existência, em muitos domínios. As pessoas não vêem nenhuma solução nas medidas que têm sido implementadas, ao mesmo tempo que se assiste a uma perda de soberania, de democracia, e isso é claro nestes contextos que referi.

Não é o mesmo que a situação no Médio Oriente e no Norte de África, feitas com outras armas, que teve a ver com por um fim a um conjunto de regimes ditatoriais. Não é o mes-mo que se passou em Portugal em 74, que teve a ver com a reivindicação democrática, o direito de ter direitos, o di-reito à democracia, à liberdade de expressão. Hoje em dia as pessoas têm liberdade de expressão, mas estão toldadas noutras liberdades, nomeadamente no domínio económico e social. Mas todas elas manifestam aquilo que é uma luta contra as injustiças; e nós nunca nos podemos esquecer que não são as pessoas que estão ao serviço dos governos, mas sim os governos ao serviço das pessoas. E portanto qual-quer expressão popular massiva como aquelas que temos estado a assistir, estranho é que não tenham consequências. Em qualquer sociedade democrática têm que existir conse-quências quando se começa a expressar a vontade de uma maioria. Tem que se expressar uma outra solução política. Vamos ver. Entretanto com a intervenção da troika em

Portugal, com a perda da soberania, parece-me que ainda vamos ter a imagem de que não há alternativa, que temos que responder aquilo que são os ditames e lógicas de chefes de decisão que nos estão fora de alcance. Eu diria que todas cenas de decisão estão dentro do nosso alcance.

P - Diria que eram lutas diferentes, com exigências diferentes, então?MM - Sim. Há uma que atravessa todas elas, que é a luta pela dignidade.

12

Page 13: Pacta 1ª Edição

P- Quais são as que considera serem as princi-pais alterações que as redes sociais vieram traz-er aos novos métodos de manifestação popular?MM - As redes sociais vieram trazer alterações pri-meiro porque reflectem aquilo que é uma mudança própria da realização social e da forma das pessoas se relacionarem umas com as outras. Esse relacionamento passa, hoje em dia, muito mais pelas redes sociais do que passava há uns anos atrás, devido ao desenvolvi-mento das tecnologias de informação e comunicação, pela própria reformulação das relações em si mesmas e pela maneira como as pessoas interagem em sociedade. E, por isso, aquilo que era, por exemplo, um método que funcionava no período da transição democrática, a mobilização por via da distribuição de panfletos, hoje em dia já não é tão forte com este modelo social. Por isso, eu acho que as redes sociais acabam por ser um instrumento diferente para servir o mesmo fim, que era sensibilizar as relações sociais. Neste caso, media-das por tecnologias, porque nem sempre são interac-tivas ou presenciais. Mas também, como instrumentos de mobilização são muito fortes. Com o acesso às tec-nologias de informação e comunicação chega-se mais longe do que provavelmente chegavam os panfletos, em muitas outras situações. São muito fortes nesse pa-pel. Por outro lado, as redes sociais permitem formas de organização que vão para além das formas de or-ganização convencionais. Já dispensam as formas de organização colectiva, já dispensam, em certas circun-stâncias, os sindicatos, se estivermos a falar de trabalho precário, de desemprego, cenários infelizmente não co-bertos pelos sindicatos. Porque, também, os sindicatos precisavam de se adaptar às novas realidades. Quando vemos uma esmagadora maioria com vínculos precári-os, que nem sindicalizada está, é óbvio que se exigem outras formas de organização colectiva. Estas formas de organização colectiva passam pela constituição de associações, passam por muitas coisas, mas também pela via do recurso às redes sociais. Estas representam o alargar da sociedade por outros meios, mas também reflectem outras mudanças que não tiveram tradução noutras formas de organização colectiva. Os trabalha-dores precários têm que se auto-organizar, embora os sindicatos denunciem sempre condições de trabalho precário, no domínio da concertação social represen-tam o interesse dos trabalhadores sindicalizados. Tem que existir outras formas e acho que as redes sociais ajudaram a potenciar outras formas de organização.

P - Quanto a um momento mais actual, a Síria. Que posição deveria, ou pode, ter a U.E quanto a este caso?MM - A Síria é aquilo que em bom português se chamaria um molho de brócolos. É talvez a situação mais com-plicada que vivemos actualmente e com consequências enormes para toda a região e para o mundo. Os equilí-brios da região estão muito periclitantes, em função

do que for o desfecho do que se está a passar fora da Síria, que já está há muito tempo em situação de guerra civil. O que se passa na Síria não é muito fácil de gerir. Temos um país que já vivia numa tensão “pacífica”, equilibrada numa tensão entre sunitas e xiitas, e ao con-trário de outros países era uma minoria que governava em relação a uma maioria. Normalmente nestes re-gimes, o regime tendia a ser o reflexo da maioria repre-sentada na sociedade. Obviamente, temos casos excep-cionais como o Líbano, em que existe uma distribuição mais equilibrada, não só entre correntes muçulmanas, como têm uma percentagem muito considerável de população católica e aí os equilíbrios ainda são mais difíceis de suster. Mas na Síria, de facto, viveu-se num contexto de aparente paz durante muito tempo, mas de permanente braço-de-ferro com Israel. O braço-de-ferro entre a Turquia e o Irão passa muito pela Síria, o braço-de-ferro que se estabelece entre a Liga Árabe e outras formas de organização passa muito pela Síria. É insustentável e indefensável, em qualquer parte do mun-do, o comportamento do regime de Bashar al-Assad. Mas eu continuo a achar, e isto não é propriamente para perdoar nada do que foi feito no regime, porque o regime já devia ter sido destituído há muito tempo, mas deixou-se levar demais no sentido da militariza-ção do conflito. As forças de oposição também não são propriamente unificadas e a única peça que tem faltado é aquela que devia estar em cima da mesa, que é o povo sírio, que é a principal vítima de todo este processo, num contexto de guerra aberta entre a oposição militarizada e o regime sírio militarizado. O regime sírio beneficia bas-tante daquilo que são os acordos e relações com a China e com a Rússia, mas depois a oposição também beneficia muito das relações com Israel e com a Turquia. Ou seja, há todo um conjunto de interesses que se disputam num território tão pequeno e que, dependendo da forma como ocorre, pode ter desfechos muito diferenciados.Há muita gente na União Europeia que defende a in-tervenção militar, mas eu nunca a defenderei, apesar de começar a ver muito poucas saídas para a Síria. Acho muito difícil defender intervenções militares. O que devia acontecer desde logo, há muito tempo de-via ter acontecido na União Europeia não se pode é permitir que haja negócios de armamento, que haja corredores de transferência de armamento para estes países, porque dá para os dois lados. Todo este negó-cio é vergonhoso. Tem de haver uma intervenção mais forte no sentido de tentar resolver os conflitos por via diplomática. A ONU já teve várias tentativas, não cor-reu muito bem com o Kofi Annan, não teve grandes re-sultados. Agora há uma nova missão, mas o que é certo, é que tem de haver uma intervenção mais firme, sem ser por via militar. Porque uma guerra sabe-se como é que começa mas nunca se sabe como é que acaba. Temos, como exemplo, o caso do Afeganistão e do Iraque. Casos quase eternamente por resolver, até

13

Page 14: Pacta 1ª Edição

mesmo num futuro próximo não se percebe como será uma solução. A Líbia também não correu propriamente bem, não acho que seja uma intervenção da NATO que vá resolver nada. Mas também não tenho nenhuma resposta definitiva.Fiquei surpreendida com a intervenção de Morsi, o novo presidente egípcio, porque veio de onde menos se esperou uma tentativa de mediação entre Erdogan e Ahmadinejad. E essa tentativa de negociação e diálogo entre a Turquia e o Irão é fundamental, neste momento, porque talvez possa passar por aí aquilo que é uma solução para aquele país e para a região. Sinceramente, não tenho nenhuma resposta sobre o que é que se devia fazer, como é que se devia fazer, o que não se devia fazer. Sei que a União Europeia não pode deixar o povo sírio refém desta situação, como tem aconte-cido até aqui. Tem que fazer muito mais em matéria de re-fugiados, dar apoio a campos de refugiados, tentar arranjar condições para os que se foram alojando em países vizinhos. É preciso apoiar estas pessoas, é preciso dar-lhes meios, é preciso criar-lhes condições de vida dignas enquanto não se resolve a situação, em matéria de refugiados há muita coisa que a União Europeia poderia fazer. Em matéria de ar-mamento, também já disse. Há muitas coisas na realidade. O que eu temo é que nesta fase se continue a dizer que já nenhuma delas passa sem ser por uma solução de guerra. Confesso que gostava de ver a União Europeia muito mais firme, a tentar arranjar uma solução política, não sei… Todo este retrocesso que aconteceu na síria implicou retrocessos, por exemplo, na questão palestiniana. Esta estava a ir num caminho muito razoável, com o Hamas e com a Fatah, estava a caminhar para eleições, a abertura é complexa, limitada, mas já havia alguma circulação de pessoas, permitiu algu-mas entradas e saídas. Tenho muito medo que a intervenção militar extravase para o lado da interferência, naquilo que são, ou deveriam ser, os desígnios que devem ser escolhi-dos pelo povo sírio, que é a única parte que ninguém ouve.

P - Aproveitando as relações, de que falou, entre o Irão, a Turquia e o Egipto, a hostilização da EU, e dos EUA, ao Irão não pode prejudicar esses acordos?MM - Eu acho que às vezes a União Europeia e os EUA interferem demais. Às vezes mais valia estarem quietos. O mundo mudou, já mudou há muito tempo, e há laivos imperialistas que permanecem. As relações entre as várias regiões do mundo já não são as mesmas. Continuar a fazer do mundo um tabuleiro de xadrez, em que a União Euro-peia e os EUA tentam manobrar as peças de forma a conse-guirem manter uma posição de dominação sobre as outras regiões do mundo, que já nem correspondem à verdade, é no mínimo forçado. E eu acho que tudo isto ainda está muito indefinido, em muitas dimensões, porque estamos em processo eleitoral nos EUA. Porque ainda condicionam a forma como as relações diplomáticas e não-diplomáticas se estabelecem, muita coisa vai depender de quem for o candidato vencedor nos EUA. Também muito do que se vai passar no Irão depende disso. A verdade é que os EUA mantêm uma posição muito pouco interessante a respeito de tudo isto. Continuam a querer mandar mesmo quan-do não têm que mandar. E as relações diplomáticas, para serem dignas desse nome, têm que se basear no diálogo e não em imposições. E de facto, o caso do Irão vai tendo altos e baixos. Sendo que a Síria é um tubo de ensaio. As relações com o Irão, na Europa e nos EUA, não são pro-

priamente recomendáveis, mas é triste percebermos que, no fundo, não é tanto o Irão que conta, nem a Síria, nem a Turquia, na realidade, o que conta nisto tudo é. por um lado, o negócio de armamento, e por outro, o negócio dos recursos naturais, da exploração do petróleo. E esses falam sempre mais alto nas relações geoestratégicas e geo-políticas, do que propriamente as relações diplomáticas.

P - Já que referiu a Turquia, a sua futura integração na UE será possível?MM - Isto já passou por tantas fases, a questão da integra-ção da Turquia, e nós sabemos bem as razões pelas quais ainda não foi integrada, não é preciso entrar em grandes detalhes. Mas o que é certo, é que, durante muitos anos, a Europa fez muitas exigências, muitas condições. A substituição do regime militar, os medos que existiam de um regime que não era necessariamente laico, e nós vemos que apesar de tudo, e eu tenho muitos problemas com a Turquia, em relação a curdos, a situação com a Síria, mas um deles não tenho; acho que o antigo regime fez muito mais pela Turquia do que fizeram os regimes militares laicos que o precederam. A dimensão populacional da Turquia poderia interferir no espaço de decisão europeia, já que a Turquia teria um peso muito proporcional à Ale-manha, em termos de representação. A questão religiosa foi muitas vezes invocada, mas é uma desculpa esfarrapa-da, porque a UE não é um regime monorreligioso, o que não faltam são diversidades religiosas dentro da Europa, sendo que temos milhões de muçulmanos, no sudeste da Europa. Já cá estão, nem era a questão de se virem a juntar. A União Europeia é heterodiversidade, não é outra coisa. Mas já tantos anos passaram, antes era a Turquia a bater à porta da EU, a pedir para entrar, e agora duvido que tenha interesse em entrar. Com as alterações do contexto mun-dial, talvez seja a UE a pedir para entrarem. A Turquia é um local tão estratégico entre a Ásia e a Europa, no con-texto do Norte de África e do Médio Oriente, que não sei qual é o ganho para a Turquia, em integrar-se numa união económica, monetária e social, que de social tem muito pouco, e de económica e monetária já teve melhores dias.

P- Supondo que essa integração venha a acontecer, quais os principais constrangimentos e mudanças na União?MM – Sinceramente, não sei. Havia desde logo uma questão difícil de resolver, que seria se haveria o critério populacional para definir as relações de poder. Pois pela primeira vez, um país que não sendo membro-fundador, traria este debate. O peso no Concelho seria o mesmo en-tre a Alemanha e a Turquia? O número de deputados no Parlamento Europeu seria o mesmo? Importa saber es-tes pequenos detalhes. Saber como se resolveria este im-bróglio. A Polónia já foi uma ameaçazita, seria importante perceber como ficaria a situação com a Turquia. Con-tinuaria a estar relacionado a representação com a popu-lação? É algo que eu gostaria, realmente, de assistir…

PP - Considera a manutenção do actual modelo de integração da UE sustentável?MM -Não.

14

Page 15: Pacta 1ª Edição

15

P - E para o compensar seria necessário um maior aprofundamento da integração?MM - Em alguns domínios sim, noutros não. Há domínios com Europa a mais e outros com Europa a menos. Temos Europa a mais em matéria de mercado interno, de co-determinação das políticas económicas. Nós precisamos de coordenação económica verdadeira e de governança económica, mas não como temos agora. Temos Europa a mais em sanções, punições, em obstruções de défices, de dívidas, que são obstruções que estão a desconstru-ir completamente o Projecto Europeu. Temos Europa a menos em questões sociais, políticas de emprego, com-promissos efectivos para desenvolvimento sustentável, na diversidade. Felizmente ainda temos muita, mas com a crise agravam-se as condições para que haja igualdade e diversidade. Há que não esquecer o aprofundamento económico, da união bancária, é uma condição necessária para que não sejam os contribuintes a pagar, de cada vez que um banco entra em apuros. Precisamos de europa a menos na coordenação económica, em matéria de semes-tre europeu e no visto prévio aos orçamentos nacionais, que retirou capacidade aos parlamentos eleitos demo-craticamente, em cada país, uma questão tão básica, que é a política económica e orçamental do próprio pais. Faz dos cidadãos e parlamentos de cada país figura de estilo, porque a partir do momento que têm capacidade total de decidirem essas matérias, as decisões dos parlamentos estão restringidas, porque o orçamento passa a vir com um visto prévio de aprovação das instituições europeias. É bonito porque os alemães podem interferir no nosso, mas nós também podemos interferir no deles. Mas é ób-vio que os alemães interferem no nosso, mas nós nãos interferimos no deles. Em termos económicos há dese-quilíbrios em áreas em que é preciso o aprofundamento do Projecto Europeu e do modelo de integração, há out-ras que já foi longe de mais e retirou espaço de democ-racia, que foi a primeira vítima da crise. O que é impres-sionante! Porque é aquela porque devemos lutar mais. Há outras áreas em que temos de aprofundar. Não se aguenta mais uma política económica e de integração económica europeia completamente orientada para coisas perfeita-mente secundárias, no contexto em que vivemos, por exemplo o controlo da estabilidade dos preços, quan-do a orientação devia ser o combate ao desemprego e o crescimento sustentável. Sinceramente, não tenho muita paciência para os comentários que dizem que vamos por este caminho porque é preciso, quando há coisas que não funcionaram a primeira e que não estão a funcionar à quinta, talvez desse para notar que não é por aí o caminho.

P - E em concreto a federalização?MM - No contexto em que vivemos, não. O modelo feder-alista, como hoje é definido, sem controlo democrático e com mais poderes de interferência que qualquer governo eleito democraticamente, significaria um federalismo de mercados, mas sem pessoas, sem cidadãos. Eu acho que o caminho passa por uma refundação democrática das instituições europeias, do Projecto Europeu, que assenta em modelos de soberania diferenciada e partilhada. Um modelo assente em escalas de diferenciação de partilha de poderes, de manutenção de poderes. Acho importante-que se mantenha soberania nacional em alguma matéria de política económica, enquanto se perde noutras dimen-sões da política económica. Acho que não é necessário existir soberania nacional em questões como energia e ambiente. Existirem várias de escalas de perda ou de ma-nutenção de soberania e, neste momento, é importante redefinir quais são essas escalas, refundar e reformar o Projecto Europeu. Há sítios onde são precisas reformas, noutros são necessárias mudanças profundas. Termos respostas europeias, que são típicas de um modelo fed-eralista, emissão de dívida comum, fim dos paraísos fis-cais, taxa para transacções financeiras à escala europeia, uma criação de uma política industrial comum, política de emprego e crescimento comum. Políticas tendencial-mente mais federalistas que são necessárias, sendo que noutros espaços é necessário manter o elo de proximidade.Dito isto, nós vivemos num modelo intergovernamental que tem mostrado, paradoxalmente, o pior do que seria o modelo de federalismo, regido só por mercados e sem de-mocracia. Um modelo em que um país manda mais que os outros, não por culpa desse país, ou desse directório composto por esses dois países, mas com muita respon-sabilidade do silêncio dos outros 25. Embora a igualdade no Conselho não seja a mesma, 25 juntos, se estiverem verdadeiramente juntos, teriam mais poder do que 2. Por isso há culpas partilhadas nesta desintegração europeia. Mas que a resposta tem de ser europeia, sem dúvida ne-nhuma, e nada disto passa por respostas exclusivamente nacionais. Não lhe chamaria federalismo agora, porque exclui as pessoas e primeiro é preciso pôr as pessoas.

Page 16: Pacta 1ª Edição

OUAtravés

do

Twitter

#Clica aqui

Page 17: Pacta 1ª Edição

Actualidade

Na Assembleia Geral das Nações Unidas, que teve lugar em Nova Iorque durante a última semana de Setembro, a questão do programa nuclear iraniano voltou a estar no centro das atenções. O primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apresentou durante o seu discurso à As-

sembleia um gráfico ilustrativo do que Telavive pensa ser o grau de desenvolvimento das capacidades nucleares de Teerão. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadine-jad, no seu estilo retórico bem conhecido, respondeu à letra, dizendo, em entrevista à CNN, que estas declara-ções não terão qualquer impacto na política iraniana. Este episódio ilustra o foco de tensão em torno do programa nuclear iraniano e as preocupações com o impacto que isso teria no Médio Oriente. Efetivamente, como Marlène Laruelle argumenta, a posição iraniana nesta região tem estado sobre constante desafio, tendo em conta os acon-tecimentos da Primavera Árabe, o conflito na Síria e a re-tirada das forças norte-americanas e da NATO do cenário afegão. Contudo, esta instabilidade e uma possível inter-venção de Israel sobre as instalações nucleares iranianas podem vir a ter importantes consequências para outras regiões vizinhas. Neste grupo incluem-se, entre outras, o Cáucaso do Sul, mas também a própria União Europeia e os seus interesses e investimentos na Eurásia, em termos de capital político e económico, principalmente na área energética e de transportes. Tendo em conta este cenário, é de grande relevância uma análise sobre os potenciais impactos que uma intervenção (ou conflito mais general-izado) poderá trazer para a região do Cáspio e da Eurásia. O fim da União Soviética marca ainda de forma indelével as relações regionais dos países da ex-URSS: no contexto do Cáucaso do Sul, as relações da Arménia, do Azerbaijão e da Geórgia com a Turquia, o Irão e com a União Europeia e a NATO, vieram contrabalançar a dependência em rela-ção ao Moscovo, criando novas dinâmicas mais instáveis. A Geórgia é, de longe, o país que mais tem procurado um caminho alternativo para a sua política externa, apostan-do na integração euro-atlântica e na diversificando as suas opções. As relações entre Tbilisi e Teerão são pouco de-senvolvidas, mas apresentam um caráter eminentemente pragmático. Nesse sentido, as relações privilegiadas entre a Rússia e o Irão (com Moscovo a atuar como força de boqueio no Conselho de Segurança das Nações Unidas contra a aplicação de sanções ao regime iraniano) e as relações entre a Geórgia e os Estados Unidos são assim

mutuamente contrabalançadas, pelo que Therme chama “um casamento de conveniência” entre a Geórgia e o Irão. No caso arménio, as relações com o regime iraniano são bem mais acentuadas. Devido à permanência das fron-teiras fechadas entre a Arménia e a Turquia e a Arménia e o Azerbaijão (em retaliação pela guerra do Nagorno-Karabakh) e à instabilidade do território georgiano, as autoridades em Yerevan dependem das relações comer-ciais com o Irão, principalmente ao nível energético. Para além disso, existe uma comunidade Arménia significa-tiva no norte do Irão, que tem facilitado os laços entre os dois países ao nível cultural, académico e comercial. As boas relações entre os dois regimes têm sido aceites pelos parceiros internacionais da Arménia, nomeada-mente em Washington e Moscovo, exatamente devido à difícil situação regional. Contudo, e como o exemplo da Síria demonstra, a instabilidade no Irão poderia impli-car uma vaga de refugiados arménios, criando pressões sobre a frágil economia arménia e sobre o próprio pro-cesso de paz de Nagorno-Karabakh com o Azerbaijão. A julgar pelo exemplo sírio, o destino dos refugiados arménios tem sido o território de Nagorno-Karabakh, consolidando de facto uma política de ocupação. O caso do Azerbaijão é particularmente sensível, já que vivem no Irão cerca de 16 milhões de azeris (são apenas 8 milhões no Azerbaijão), que se identificam como sen-do turcos e com um historial de ativismo politico forte. Para além de todas as implicações destas dinâmicas, as relações de grande proximidade entre Bacu e Israel têm crido um contexto de grande crispação entre o Azerbai-jão e o Irão. Com efeito, o Irão parece ver os países desta região como elementos estratégicos na “guerra por pro-curação” (proxy war) que está em curso com Israel e di-versas tentativas de assassinato de diplomatas israelitas têm sido desmanteladas pelas forças de segurança geor-gianas e do Azerbaijão, durante 2012. O potencial de in-stabilidade para o desenvolvimento económico e político regional é, pois, grande, à medida que o escalar de ten-sões em torno do programa nuclear iraniano se acentua.

por Licínia Simão, Professora Auxiliar em RelaçõesInternacionais, Universidade de Coimbra e Investigadora

do Centro de Estudos Sociais (CES)

Nota: Este artigo foi escrito, pelo autor, segundo as normas vigentes no acor-do ortográfico de 1990

O programa nuclear iraniano e as suas dinâmicas deinstabilidade regional no Cáucaso

17

Page 18: Pacta 1ª Edição

“Julguem-me contra a alternativa”

4 de Outubro de 2012, 04:30 da manhã em Portugal. Assisto na CNN ao rescaldo do primeiro debate entre os 2 candidatos à presidência dos EUA. Para os comen-tadores, Romney foi a surpresa da noite, enfrentando o Presidente Obama de igual

para igual, centrando o debate nas suas propostas para re-solver os problemas do país, e confrontando Obama com a falta de resultados da sua governação, nomeadamente nas políticas económicas e na criação de emprego. Obama, por seu lado, centrou a estratégia na defesa das suas ini-ciativas mais emblemáticas, fazendo paralelismos com o passado, comparando a sua governação à de Clinton, e as propostas de Romney à governação de Bush. Obama as-sume a defesa de um Governo Federal mais interventivo e regulador nas políticas dos Estados, como na questão dos seguros de saúde e na regulação bancária, enquanto Rom-ney quer mais liberdade para os Estados definirem as suas políticas internas, e a revogação das duras normas regu-latórias que Obama implementou para o sector bancário.Esta madrugada, estiveram em debate duas visões muito diferentes sobre o que devem ser os EUA, centradas nas principais preocupações dos americanos, como o emprego, crescimento económico, saúde e impostos. Estes 4 tópicos dominaram todo o debate, mas para Romney conseguir vencer, recorreu a algo que por vezes acreditamos só ex-istir em democracias menos maduras. Falo de demagogia.Este foi o primeiro debate, e por este motivo acredito que Romney, desesperado por algum resultado que desse es-perança aos seus apoiantes, terá caído inadvertidamente na armadilha do Presidente. Romney deixou cair o plano de redução fiscal do seu candidato a Vice-Presidente, e defendeu um outro, semelhante ao primeiro, mas sem as contrapartidas de corte na despesa. Não vai cortar na edu-cação, não vai cortar na saúde, vai reforçar o orçamento da Defesa mas, tirando a extinção do canal de televisão público PBS, não diz onde vai cortar, isso, só depois das eleições. Romney defendeu a revogação do pacote regu-

latório do sector financeiro implementado por Obama, na mesma frase em que afirmou defender mais regulação para esse sector. Mais uma vez não disse como. Romney afirma que não quer igualar a Espanha, que gasta 42% do PIB com o Estado, e não vai manter políticas do governo que impliquem mais dívida pública, mas não disse quais. No fim, Obama saiu do debate sem ter conseguido expli-car aos americanos como vai recuperar a economia, cri-ar empregos a curto prazo, e pagar as reformas que está a levar a cabo, mas Romney produziu material mais do que suficiente para a campanha de Obama se entreter nas poucas semanas que faltam para as eleições. Acredito que Romney “abriu o flanco” da sua campanha a um ataque fortíssimo à sua credibilidade como candidato, permitin-do a Obama inverter os papéis, descredibilizando o opo-nente como sempre pretendeu, quando afirmou, numa entrevista à CBS em Dezembro de 2011: “ don´t judge me against the Almighty, judge me against the alternative”. Em 2008, os EUA e também a Europa estavam rendi-dos à Obamamania, o primeiro mundo vibrava com a eleição de um homem extraordinário, com um per-curso de vida extraordinário, que trazia uma mensa-gem de esperança e mudança que ultrapassava lar-gamente o espectro eleitoral americano. Não foi esse homem que eu vi neste debate, nem nesta campanha.Os EUA, à semelhança de muitos estados europeus, es-tão confrontados com as suas próprias limitações, num exercício doloroso de reconhecimento da decadência que lentamente se vai apoderando do primeiro mundo. As eleições nos EUA, embora importantes para a definição da abordagem interna à crise, e promoção do crescimento económico, não irão representar, em si próprias, nenhum passo relevante na inversão da trajectória de decadên-cia que é hoje, mais do que nunca, evidente para todos.

por João Miguel Annes, licenciado em relações internacionais

18

Page 19: Pacta 1ª Edição

O ressurgimento da violência do PKK:

um acaso no contexto internacional?

O PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) é atualmente considerado uma organização terrorista pela Turquia, pela UE e pelos Estados Unidos da América, em virtude da sua ação violenta na prossecução

de objetivos separatistas do grupo étnico que alegam rep-resentar – os curdos (povo sem estado que se estende por vários países do Médio Oriente). Nos últimos meses, tem-se assistido a um agrava-mento das atos terroristas do PKK no Sudeste turco, tor-nando-se necessário enquadrar esta problemática prin-cipalmente no contexto internacional que a suporta. A violência atingiu patamares anteriores ao da captura do fundador, Abdullah Öcalan, em 1999 e os ataques a al-vos militares e civis levou o governo a enviar para a área um forte dispositivo militar. Em setembro, o Primeiro-Ministro Erdoğan defendia que o diálogo era possível desde que o PKK baixasse as armas e resolvesse a questão através dos canais legítimos para o efeito. No entanto, esta posição não foi suficiente para evitar a violência e as políticas de Erdoğan, relativamente bem sucedidas até agora, parecem estar a falhar: recorrer à “irmandade is-lâmica” como cimento social na Turquia que convencia os curdos a integrarem-se no todo da sociedade está a perder a força. Paradoxalmente, a candidatura à União Europeia e as reformas democráticas levadas a cabo nesse contexto criaram uma nova consciência sobre os Direitos Humanos e as limitações que estavam a ser impostas a esta minoria que, progressivamente, tem vindo a reunir mais direitos e liberdades – ainda que a situação não tenha atingido os padrões ocidentais de respeito pelas minorias. Apesar de o BDP (Partido Paz e Democracia, pró-curdo e com assento parlamentar) continuar a condenar a violência e promover a sua posição de forma democrática, o PKK não considera suficientes estas concessões e reforça a sua luta.

Ainda internacionalmente, a Primavera Árabe deve ser tida em apreciação nesta análise, uma vez que é pos-sível que o PKK esteja a tentar espoletar uma revolta à semelhança das ocorridas nos vizinhos do Mediterrâneo para atingir os seus objetivos separatistas, aproveitan-do-se igualmente da crise que está a viver-se na Síria. O Primeiro-Ministro turco acusa o país vizinho de armar a organização terrorista e de lhe fornecer abrigo, e a ten-são entre os dois agrava-se com os vários ataques de que a Turquia tem sido alvo na sua fronteira, colocando em perigo a já de si frágil estabilidade da região. Ainda nesse emaranhado de interações, o Irão advertiu Ankara para as possíveis consequências de uma intervenção militar na Síria: a ameaça de oferecer apoio e refúgio aos militantes curdos não é recente, mas voltou a ser lançada para a dis-cussão.Assim, a questão curda – mais especificamente a viol ência do PKK, reforçada nos últimos meses – consegue compreender-se se se considerar o contexto mais global que tem vindo a desenvolver-se no Médio Oriente. Os militantes poderão estar a tentar obter vantagem destes eventos para reforçar a sua posição no país, fragilizar a Turquia e promover a sua causa. Todavia, as posições ofi-ciais têm-se revelado progressivamente mais duras tanto em relação ao PKK (e daí a mobilização militar para o sudeste do país) como em relação à Síria e a uma eventual retaliação às ameaças à integridade territorial turca. Em ambos os casos, a estabilidade da região está, mais uma vez, periclitante.

por André Pereira Matos, Doutorando em Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa

Nota: Este artigo foi escrito, pelo autor, segundo as normas vigentes no acor-do ortográfico de 1990

19

Page 20: Pacta 1ª Edição

Istanbul, Istanbul

Viagem de avião comprada, hostel (mais barato) reservado, visto de estudante tratado...

O que pode correr mal?Às 4h da manhã de dia 5 a mala não fecha e pesa, definitivamente, mais de 23kg. Às 6h da manhã o aeroporto de Lisboa trans-forma-se num oceano de

lágrimas, com banda sonora realizada de suspiros e soluços tristes daqueles que ficam, e gargalhadas das que vão.Dois aviões mais tarde pisamos o chão de Istanbul. Após filas intermináveis de estrangeiros, muitas malas que não eram as nossas, e uns quantos encontrões, encon-trámos um táxi capaz de transportar 5 malas de viagem. Instaladas no Hostel, que apesar de barato, agradecemos a qualquer um dos deuses por não termos morrido na primeira viagem pelo trânsito caótico de Istanbul, e

conectámo-nos para informar Portugal de que estamos bem. Entre facebooks, skypes e conversas sem fim, insta-la-se o silêncio na sala do hostel. Assustadas e entusiasma-das perguntamos em voz alta “com que então 5 meses?”,

ao qual não se ouve res-posta, mas sente-se um sorriso de pânico, jun-tamente com uma gar-galhada de felicidade.Os dias têm passado, sempre extenuantes e divertidos. O melhor? A belíssima ci-dade cultural onde nos en-contramos proporciona sentimentos maravilhosos, como nunca antes senti. Já conhecemos imensas pes-soas com bom coração, sem-pre prontas a ajudar. Apesar de inesperado, temo-nos dado sempre bem entre to-das (somos seis meninas a

viver juntas). O sítio onde vivemos, os Kumpir, os longos passeios, a vista de casa, os passeios de barco, a companhia, os pôr-do-sois, as pessoas, os milhares de gatos, os trans-portes baratos, a vida, a cama que sabe a lar, a surpresa diária, os gelados, as pessoas do hostel, a inspiração artística, o perder-nos nos caminhos ínfimos, as gargalhadas con-stantes. Os amigos de todo o Mundo que não abandonam a nossa casa porque é impossível parar de rir. Os estrangeiros que gritam “hey portuguese party girls”. O saber tão bem.O pior? English no, Turkish (está tudo dito). O caos do trânsito e a distância da faculdade a casa (1h30 de transportes). As saudades de quem ama-mos. O preço do álcool e da comida no supermer-cado. O problema da equivalência das disciplinas.

por Joana Costa, estudante do 3º Ano de Relações Internacionais

Experiência rasmus

Istambul: - Capital da Turquia;- Tem cerca de 13 milhões de habitantes;- Oficialmente conhecida como Istambul desde 1930;- Faz ponte entre a Europa e a Ásia e simultaneamente com o médio oriente;- É dividida pelo estreito de Bósforo que liga o Mar negro ao Mar de Marmara;- É dividida assim entre a Eu-ropa e a Ásia, sendo que o centro histórico da cidade se localiza na Europa e um terço dos seus habitantes reside na parte Asiática da cidade;- Foi a capital de quatro im-périos: O Império Romano do Ori-enteO Império Bizantino O Império Latino de Constan-tinopla O Império Otomano (este até ao século XX);- Grande ponto multicultural ;

20

Page 21: Pacta 1ª Edição

Conferências

“A América do Sul no Século XXI: Construção e Dispersão” – Professor Amado Luiz Cervo

Segunda15 de Outubro, Sala

7.Piso2, às 19h, ISCSP.

O futuro da alimentação - ambiente, saúde e economia- José Luís Domingo e Roig Car-los Cardoso

Terça, 16 de Outubro, Auditório 2, às 15h e 30min, Fundação Calouste Gulbenkian.

Agenda Cultural

“O mês da China na Lusíada.”- Manuel Maria Martins Lopes

De 3 a 31 de Outubro, Universidade Lusíada de Lisboa

21

Page 22: Pacta 1ª Edição

Visitas guiadas pela MourariaMouraria - Da Sua Origem Bairrista à Atuali-dade Multicultural (900 Anos de História)Ponto de encontro: Largo Martim Moniz, junto à Igreja da Sra. da Saúde.6, 7, 13, 21, 27, 28 out/12: 10h, 20 out/12: 15hMouraria ChinesaPonto de encontro: Largo Martim Moniz, junto ao Dragão Chinês. 20, 27 out/12: 10h Informações Úteis: Preço: 10€ (público em

geral) e 7€ (grupos)

Associação Renovar a MourariaEndereço: Beco do Rosendo, 8Telefone: 218 885 203/922 191 892Internet: www.renovaramouraria.ptE-Mail: [email protected]

Visitas ao AquedutoVisitas de segunda a sábado, das 10h às 18h.

Em ocasiões especiais e no percurso “A Rainha Refresca-se

- Na Pista do Barroco”, destinado a grupos de 40 a 50 pessoas, os visitantes podem assistir a reconstituições históricas.

Informações Úteis: Marcação prévia para escolas e grupos organizados.

Contactos: 218 100 215; museudaagua.epal.pt/museudaagua/

Visitas comentadasVisitas a:• HospitaldosCapuchos• InstitutoPortuguêsdoMaredaAtmosfera• Casa-MuseuMedeiroseAlmeida• SociedadedeGeografiadeLisboa• InstitutoHidrográfico• InstitutoSuperiorTécnico-MuseuAlfredoBensaúde• InstitutoSuperiorTécnico–Laboratórios• FaculdadedeBelasArtes• CasaVevadeLima

•InstitutoJosédeFigueiredo•TorredoTombo•FundaçãoJoséSaramago•FundaçãoChampalimaud•Instituto Superior de Agrono-

mia

• Exposição“HélioOiticica”noMuseuColeçãoBerardoArte Moderna e Contemporânea• FalandodeCiênciasnoMediaLabDNInformações Úteis: Marcações para outubro/12 efetuadas durante o mês, de terça a quinta a partir das 15h.Contactos: 218 170 593; [email protected]

Experiências Lisboa

Por Pelouro Cultural do NERI

22

Itinerários de LisboaUma iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa - Divisão de Promoção e Comunicação Cultural - que nos dá a conhecer Lisboa sob diversas perspectivas e temas, mediante marcação prévia.

• AArteFunerárianoCe-mitério dos Prazeres• Lisboa Barroca: passeiocom início no Largo do Me-nino de Deus e fim em Santa Engrácia• PelaFreguesiadosAnjos• Do Campo Pequeno ao

Bairro do Arco do Cego• NoRastodeumAtentado:passeio ligadoaosanosse-guintes ao terramoto de 1755

• DoCasteloaoChafariz

• OAquedutodasÁguasLivreseosChafarizesdeLisboa:passeio começa na Mãe de Água das Amoreiras e termina no Chafariz da Esperança

• LisboadaSétimaColina:passeiodesdeoMiradourodeSão Pedro de Alcântara ao Cais do Sodré.

Informações úteis:• Contacto:218170742• MarcaçõesparaNovembro:segundaasexta,das10hàs17h. Entrada livre.