“p psicomotricidade nas...

3

Click here to load reader

Upload: doananh

Post on 03-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: “P PSICOMOTRICIDADE NAS APRENDIZAGEMrevistapsicopedagogia.com.br/exportar-pdf/480/v20n61a16.pdf · movimento do corpo e, nessa dança harmônica, Psicopedagogia e Psicomotricidade

“PSICOPEDAGOGIA & PSICOMOTRICIDADE: PONTOS DE INTERSECÇÃO”

Rev. Psicopedagogia 2003; 20(61): 87-9

87

PSICOPEDAGOGIA & PSICOMOTRICIDADE

A Psicomotricidade explica aimagem corporal construídapelo sujeito cognoscente a partirde uma noção de completude.Mas embora já se tenhaconsciência desta representação,não será esta noção a únicaque orientará os caminhos devários profissionais. Há uma fortetendência à fragmentação corpo-mente. Esta fragmentação temcaracterizado a prática de váriossegmentos profissionais quefracionam o indivíduo atuandoem suas mais diversas partes.A Psicopedagogia e a Psico-motricidade não escapam à essa caracterização.Por isso, recomenda-se a obra em questão na quala autora, Auredite Cardoso Costa, busca pontosde intersecção nas práticas desenvolvidas porprofissionais da Psicopedagogia e daPsicomotricidade, a partir da concepção de umsujeito total. Já nas primeiras páginas de seulivro, o sentido desta obra se explicita naspalavras de sua autora:

“Não se concebe um psicopedagogo quetrabalhe com o corpo estático e desconheça osmovimentos desse no aprender. Não se concebeum psicomotricista que trabalhe com o corpo em

“““““PPPPPSICOPEDSICOPEDSICOPEDSICOPEDSICOPEDAAAAAGOGIAGOGIAGOGIAGOGIAGOGIA & & & & & PSICOMOTRICIDPSICOMOTRICIDPSICOMOTRICIDPSICOMOTRICIDPSICOMOTRICIDADEADEADEADEADE:::::PONTOSPONTOSPONTOSPONTOSPONTOS DEDEDEDEDE INTERSECÇÃOINTERSECÇÃOINTERSECÇÃOINTERSECÇÃOINTERSECÇÃO NASNASNASNASNAS

DIFICULDDIFICULDDIFICULDDIFICULDDIFICULDADESADESADESADESADES DEDEDEDEDE APRENDIZAAPRENDIZAAPRENDIZAAPRENDIZAAPRENDIZAGEMGEMGEMGEMGEM”””””Autora: Auredite Cardoso Costa; Editora Loyola, 2002.

Cássia Virgínia Moreira de Alcântara – Pedagoga comEspecialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional,Professora de Planejamento e Avaliação da FaculdadePio Décimo – Aracaju – SE, Mestranda em Educação pelaUniversidade Federal de Sergipe – UFS, Aracaju – SE.

movimento e não conheça ocorpo discursivo do sujeito queaprende. É preciso que haja umainterdisciplinaridade na açãoensinar-aprender para que osujeito que aprende sejacompreendido em sua tota-lidade, mesmo dentro de umaabordagem específica”.

A psicopedagoga e psico-motricista introduz sua obrafazendo uma auto-análise desua prática profissional afir-mando ter sido inicialmenteuma prática extremamentetecnicista, que abordava o

sintoma de forma fragmentada e exercitavapartes do corpo para justificar a melhoria dotodo. Mas ao mesmo tempo que este relatoexpressa um “mea culpa” não significa apenasqueixas e lamurias. Vem associado de um outromovimento mais saudável e carregado de umaenergia libidinal que ressignifica suasinquietações em busca da superação do que lheincomodava. É neste movimento de práxis quea autora gesta em si própria a semente, quegerminada, faz nascer esta reflexão teórica. Estemovimento de superação de suas angústiaspessoais associado ao privilégio do exercíciosimultâneo da Psicopedagogia e da Psicomotri-cidade, duas práticas que se dirigem, respec-tivamente, para ações que têm como alvo àesfera intelectual e corporal, prioritariamente,mas não exclusivamente, levaram a autora aencontrar os pontos de intersecção entre essasduas áreas do conhecimento, elegendo um

RESENHA

Resenha: Cássia Virgínia Moreira de Alcântara

Page 2: “P PSICOMOTRICIDADE NAS APRENDIZAGEMrevistapsicopedagogia.com.br/exportar-pdf/480/v20n61a16.pdf · movimento do corpo e, nessa dança harmônica, Psicopedagogia e Psicomotricidade

COSTA AC

Rev. Psicopedagogia 2003; 20(61): 87-9

88

COSTA AC ET AL

elemento em comum entre elas – o corpo – quetomado como objeto de análise, permitiu estaprodução científica, sintetizada por ela própriana poesia das palavras abaixo:

“o corpo em movimento entrelaça-se com omovimento do corpo e, nessa dança harmônica,Psicopedagogia e Psicomotricidade formam um‘corpo’ que discursa sobre o corpo”.

Este “corpo’ teórico vai sendo produzido pelaautora ao tentar responder ao seguintequestionamento: Há similaridade nos processosterapêuticos da Psicopedagogia e da Psicomo-tricidade ? Que pontos de intersecção podem seridentificados no exercício das duas práticasprofissionais em prol da superação dasdificuldades de aprendizagem?

Tomando o corpo como ponto de partida, oprimeiro capítulo deste livro foi dedicado aoresgate histórico das diferentes leituras queeste corpo já possibilitou desde a visãocartesiana que o toma como “res extensa”,passando pela visão de um corpo que ocupoulugar de destaque nas ciências neurológicas efoi visto como sede das perturbações motorasaté chegar numa visão que deixa de pôr ênfasena separação e na dualidade para reafirmar aunidade, resultando um olhar clínico que temcomo objeto um corpo real, simbólico eimaginário que representa um sujeito visto emsua dimensão social, afetiva, intelectual epsicomotora. A autora conclui este primeirocapítulo afirmando que:

“...o corpo é considerado um instrumento narelação, realidade interna e externa, um eixo desustentação da vida sócio-psico-afetiva dosujeito”.

Em seguida, no segundo capítulo, a autoradebruça-se sobre a árdua tarefa de identificaros pontos de intersecção entre Psicopedagogiae Psicomotricidade ao longo de uma detalhadaanálise histórica destas duas práticasprofissionais. Inicialmente, um primeiro pontode intersecção levantado por Costa, reporta-sea uma prática classificatória, realizada no iníciodo século XX, que tomava como distúrbios tantosos problemas psicomotores quanto os problemasde aprendizagem, instituindo um diagnóstico

padrão para os portadores de distúrbiospsicomotores e de aprendizagem. Um segundomomento, apontado durante o resgate históricodestas duas práticas, revela “...uma visão maisampla dos processos de aprendizagem e suas‘patologias’ ... um caráter multifacetário,exigindo assim um atendimento multidis-ciplinar”. Neste momento, as contribuições deautores como Visca e Sara Paín são consideradaspela autora como fronteiras que delimitam umanova concepção evidenciada pelas diferençasentre distúrbios, problemas e dificuldades deaprendizagem. Um terceiro e último ponto deintersecção é levantado por Costa ao demarcarmais uma destas zonas limítrofes que definemradicais alterações no âmbito destas práticasprofissionais. Este momento se dá quandofinalmente Psicopedagogia e Psicomotricidadeconstroem uma prática que ultrapassa asbarreiras da ação reeducativa buscando, a partirdos fundamentos da psicanálise, atender àsexigências de um sujeito uno.

A influência da psicanálise para estas duasáreas do conhecimento - Psicopedagogia ePsicomotricidade - será tomada como objeto deestudo mais detalhado no terceiro capítulo, quandoa autora faz uma revisão teórica, resgatando aimportância deste “olhar psicanalítico no trabalhodos psicopedagogos e psicomotricistas. O relatorevela que estes profissionais redimensionaramsuas práticas ao perceber “o homem como um serinterdisciplinar, sujeito ‘psicomotor cognoscente’,marcado por uma falta, representada pelalinguagem simbólica” (p. 37). Neste capítulo, ascontribuições da psicanálise, em função dacompreensão dos processos transferenciais, emfunção da transformação do próprio conceito decorpo e em função da visão de um sujeito que édotado da capacidade de se comunicar a partir daconstrução da linguagem, são destacadas pelaautora como importantes contribuições para acompreensão do aprender como um ato desejantee do não-aprender como “um sintoma que podeser uma defesa e tem um efeito positivo sobre osujeito” (p. 42). É neste contexto que a autoraafirma que:

“A Psicopedagogia e a Psicomotricidade são

Page 3: “P PSICOMOTRICIDADE NAS APRENDIZAGEMrevistapsicopedagogia.com.br/exportar-pdf/480/v20n61a16.pdf · movimento do corpo e, nessa dança harmônica, Psicopedagogia e Psicomotricidade

“PSICOPEDAGOGIA & PSICOMOTRICIDADE: PONTOS DE INTERSECÇÃO”

Rev. Psicopedagogia 2003; 20(61): 87-9

89

PSICOPEDAGOGIA & PSICOMOTRICIDADE

áreas do conhecimento que têm um caráterinterdisciplinar e, no seu processo de evolução,recebem contribuição da psicanálise. Em suaabordagem terapêutica dirigem olhar para osujeito desejante, embora cada uma tenha suaespecificidade de trabalho e linha de açãodiferentes.” (p. 42)

No quarto e último capítulo desta obra apossibilidade de pensar um sujeito desejante,que nasce dentro dos limites da psicanálise,é ampliada e complementada a partir davisão de um sujeito cultural, inserido numdado contexto histórico e marcado pelasmediações que exerce sobre esse meio. Estapossibilidade vai sendo descortinada ao tempoem que Costa faz um histórico da Sociop-sicomotricidade Ramain-Thiers e tornapossível a compreensão da riqueza meto-dológica contida nesta proposta de trabalhopsicomotricista.

“O sujeito abordado pela Socio-psicomotricidade Ramain-Thiers é um sujeitopsíquico, que engloba o sujeito social,cognitivo e motor em sua dinâmica grupal eindividual.” (p. 54)

Este último elemento, o sociocultural,completa o quebra-cabeça que permitirácompreender o homem a partir de umaperspectiva de totalidade. Mais do que isso,a mensagem principal da autora nesta obra éuma espécie de lição que revela para cadaum dos leitores a possibi l idade detransformação de uma prática. Como foi ditopela autora na introdução de sua obra, sua

prática era marcada por uma tendênciatecnicista onde a ação principal resumia-seno tratamento do sintoma. Ao concluir seulivro, Costa afirma:

“Não se pode pensar num sujeito epistêmicosem pensar que ele porte uma subjetividade queé da ordem do inconsciente. No sujeitoaprendente, objetividade e subjetividadeentrelaçam-se num contexto do aprender. O corpoem seus movimentos transmite e capta. É o porta-voz de seu saber e conhecer, mas exige uminterlocutor que saiba eficazmente decodificarsua mensagem expressa numa linguagem semsons verbalizados.” (p. 74)

À guisa de conclusão, não há muito o queacrescentar do que já foi dito pela própriaautora. A riqueza e significatividade da obrase expressam duplamente nas sua palavrasfinais. A trajetória percorrida por Costa aobuscar um caminho alternativo de superaçãoda mesmice para reorientar sua práticaprofissional é um grande elemento deaproximação do leitor com a obra e sua autora.Deixa vir à tona a mensagem que está em suasentrelinhas funcionando como um incentivo aessa busca que deve orientar os caminhos dequalquer outro profissional. A contribuiçãoteórica que permite um repensar de outrastantas práticas profissionais está resumida emalgumas palavras já lidas em outrascircunstâncias, mas que se aplicam muito bemneste momento: “Não se aprende de qualquerum, aprende-se daquele a quem se outorga odireito de nos ensinar”. (Monteiro, 1993).

ERRATA

No artigo “O estilo de aprendizagem e a queixa escolar: entre o saber e o conhecer”, deautoria de Edith Rubinstein, publicado na edição nº 60/2002, pág. 81, no destaque escrito:“Porém, o “Conhecer”, enquanto regra de apresentação...”, o correto é “Conhecer”, enquantoregra de representação. Na mesma página, na 12ª linha, o texto está incorreto.O correto é “Porém, o “Conhecer”, enquanto regra de representação, precisa do saberenquanto instância subjetiva...”