outubro de 2014 - jornal o açoriano · mama, eis-me aqui órfão do teu amor e da alegria do teu...

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ANO 9 Nº76 OUTUBRO DE 2014 Director: Mário Carvalho Sair da ilha é a pior maneira de ficar nela

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Director: Mário Carvalho

Sair da ilha é a pior maneira de ficar nela

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O Açoriano2

EditorialEDIÇÕES MAR

4231-B, Boul. St-LaurentMontréal, Québec

H2W 1Z4

Tel.: (514) 284-1813Fax: (514) 284-6150

[email protected]

PRESIDENTE: Sandy Martins

VICE-PRESIDENTE: Nancy Martins

DIRECTOR: Mario Carvalho

DIRECTOR ADJUNTO: Antero Branco

REDACÇÃO: Sandy Martins

COLABORADORES: Debby MartinsMaria Calisto

Natércia Rodrigues

CORRESPONDENTES:Açores

Alamo OliveiraEdite MiguelJorge Rocha

Roberto Medeiros

FOTOGRAFIA: Anthony NunesRicardo Santos

AçoresHumberto Tibúrcio

INFOGRAFIA: Sylvio Martins

CORRECTORORTOGRáFICO

Natércia Rodrigues

Envie o seu pedido para ser

AssinanteO Açoriano

4231-B, Bl. St-LaurentMontréal, Québec

H2W 1Z4

O Açoriano Feliz aniversário AçorianoMais um aniversário, mais um ano de vida,

já lá vão nove anos que a nossa e vossa re-vista “O Açoriano” deu à luz a sua primeira edição, no dia 29 de outubro de 2005!Tudo começou de um simples desejo, de pu-

blicar uma revista que fosse a voz e a montra do povo açoriano, suas gentes e tradições. O povo açoriano, numa mão guarda a terra, na outra o mar e no coração a saudade da sua ilha!

Esta revista nasceu para o povo, cresceu com o povo e só irá morrer quando o povo deixar de a ler e a acolher no seu lar. Ao longo destes nove anos, “O Açoriano”,

como havia sido expresso na altura da apre-sentação ao público presente na casa dos Aço-res do Quebeque, aonde foi lançada a primeira edição, a sua missão seria de fazer parte da vida dos emigrantes açorianos, (aqui residen-tes) para muitos é uma peça de coleção, em cada publicação há sempre alguém que nos

aborda para dar os parabéns, felicitar por este ou aquele artigo, evento que tenha sido publicado, ou por uma fotografia que tenha saído na revista.Como tudo na vida, nem sempre tem sido fácil dar

continuidade, mas os leitores merecem todo o esforço e dedicação de toda a equipa um obrigado especial, aos comércios que apoiam financeiramente através da publicidade, ao Jornal a Voz de Portugal, editor Sr. Eduíno Martins, Infografista Sr. Sylvio Martins

e diretor Sr. Mário Carvalho que têm estado presentes desde a pri-meira edição.É preciso não esquecer que é

difícil agradar a todos, e estamos conscientes de que melhor poderia ser feito, humildemente, vamos continuando, dentro das nossas possibilidades financeiras e huma-nas. Aqui recordo e publico, um ex-

trato da crónica “Haja Saúde” da primeira edição:“Açoriano, não irás ocupar o

lugar de ninguém, muito menos derrubar ou ofuscar aqueles que já existem! Tu és diferente por te chamares Açoriano. Navega à pro-cura dos cinco continentes, cruza os oceanos, voa entre vales e mon-tes, cidades e aldeias, para infor-mar aquele que está carente de no-tícias da sua terra, evita as colinas, precipícios e mares com baixios encobertos pela maré cheia. Navega na certeza do rumo certo. Fala dos teus antepassados, do

presente e do futuro, fala da terra aonde nasceu e daqueles que anda-ram descalços e que nunca foram à escola, mas, souberam honrar o nome dos seus pais, fala do filho da terra que um dia deixou a ilha e o mar que o embalou com destino à ilha da saudade.

A partir de hoje, irás ser uma janela virada para o mar azul das nove ilhas dos Açores, vais ser uma vi-trina no meio desta comunidade para poder expor a tua história, gastronomia e cultura. Podes contar com a colaboração e desempenho

dos teus conterrâneos, amigos colaboradores e co-merciantes que têm orgulho em te ajudar a crescer e preencher o vazio que perdura muito na alma dos Açorianos. Vi-te conceber, gerar e nascer, mas não te quero ver morrer!”Parabéns Açoriano e muitos anos de vida!

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3O Açoriano

Gente da TerraHaja Saúde Minha Mãe

Levei as minhas filhas este verão, à minha terra, quantas saudades, quan-tas alegrias e tristezas, mergulhadas na chegada e na partida daquela que já foi a minha terra, dizendo adeus, sem ter a certeza de voltar a beijar, e, abraçar quem um dia me deu a vida!Haja Saúde, acabou-se o verão, foi tem-

po de ir e voltar, deixar a terra que nos viu nascer e voltar à terra que nos acolheu, e, nos deu a oportunidade de vencer! Os anos de ausência, passados fora da minha terra, fizeram com que eu deixasse de ser daquela

terra, e, ela deixou de ser a minha terra!Cada vez é mais difícil emocionalmente,

voltar aos dois palmos e meio de terra que é a minha aldeia, porque num só palmo de terra sagrada, está sepultado toda a razão da minha existência.“Meu querido e nunca esquecido filho,

faço votos que estas minhas mal notadas li-nhas te vaia encontrar de ótima saúde. Nós por cá vamos bem graças a Deus! Marinho, tenho tantas saudades tuas!...”. Era assim que durante muitos anos minha mãe come-çava as cartas que me enviava. Nunca mais receberei cartas assim, já não tenho quem me escreva, já não tenho a minha mãe para me escrever, ler os meus artigos, e, falar ao telefone todas as manhãs!Voltei, e, já não tinha no aeroporto, aque-

les doces braços, abertos à minha espera, aquela boca para me beijar, aquela voz para me dizer, meu querido filho, meu amor, como é tão bom a gente se ver outra vez! Nunca mais terei chegadas assim! Voltei, para ver, pela última vez o seu corpo já sem

vida, para lhe dizer o último adeus, beijar aquele rosto gelado e carregar nos meus braços o seu corpo para a sepultura. Quando cheguei a sua casa, procurei e não

encontrei a minha mãe, olhando os álbuns de fotografias, recordando, o tempo que já passou, mas, sobretudo, matando saudades dos filhos e netos, outros familiares e ami-gos, ausentes, e, do seu querido António já falecido, ou então lendo a revista O Aço-riano, fazia questão que lhe enviasse cada publicação.Entrei na cozinha, já não havia no ar aque-

le cheiro da comida que só a minha mãe sabia cozinhar, polvo guisado, com que me

brindava em cada chegada, se não, chichar-ros fritos com molho de vilão. Nunca mais irei comer comida tão saborosa!Chegou a noite, e, como era hábito nos úl-

timos anos, após a morte do meu pai a vizi-nha, a tia Beatriz, vinha passar o serão com ela, bateu à porta e entrou. Ela contemplou ao seu redor e não a encontrou para conver-sar. Vi que não era só eu que procurava e não encontrava, sentou-se à mesa connos-co, os cinco, dos sete filhos da Veneranda. Durante toda a noite estive esperando, para ouvir aquelas histórias que só a minha mãe sabia contar, que dava para escrever um li-vro, histórias de rir. Nunca mais irei passar um serão escutando aquelas histórias, as aventuras do meu avô João Tibúrcio, pai da minha mãe!Não é fácil falar da minha mãe, quando o

coração dói de dor e luto, quando a saudade do seu alegre sorriso, afaga a minha alma. Morreu uma grande esposa, uma gran-de MÃE, mas morreu acima de tudo uma grande Mulher, de personalidade impar,

simples, sorridente e honesta. Ela amava a sua terra, foi uma grande embaixatriz, nun-ca se cansava de dizer que a Ribeira Quente era a terra mais linda do mundo.Gostaria publicamente, dizer obrigado,

aos médicos e a todo o pessoal do hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delga-da, aos familiares e amigos, pelo carinho, amizade, bondade e disponibilidade, que acompanharam a minha mãe na sua doen-ça!Agradecer toda a generosidade, e sim-

patia, que tenho recebido neste momento único e muito doloroso, de luto e pranto. Não tenho palavras para dizer, um obrigado especial, Sandra, Sónia, Eduarda, tia Bea-triz e a Diana que acompanharam a minha mãe, nesta travessia do deserto, à procura daquela gota de saúde, que nunca chegou a encontrar.Mama, eis-me aqui órfão do teu amor e da

alegria do teu sorriso, dos teus lindos olhos, dos teus conselhos. Neste momento o meu corpo é como uma canoa à deriva, sem leme, nem velas, sem rumo, perdi o norte e o sul, perdi o porto de abrigo, que me aco-lhia, nas horas boas e difíceis da vida. Hoje, na minha vida trocam-se os ventos,

cruzam-se os mares, misturam-se as emo-ções, na tristeza da tua morte e na alegria de recordar a (minha) mãe que tu foste para os teus filhos e de saber que havia tanta gente que gostava de ti, que orgulho!Fecharam-se para sempre, os teus lindos

olhos verdes que nunca se cansaram de olhar o horizonte, à espera de ver um filho teu voltar, nem que fosse por alguns dias!Tua casa era uma porta aberta a todas as

horas do dia, sempre pronta a receber as pessoas, quem lá passava sempre encon-trava uma palavra amiga, sempre tiravas tempo para ouvir e aconselhar quem te pro-curava, dando conforto, e uma palavra de esperança. Que bonito sorriso, que lindos olhos, como eras tão linda, e vaidosa!Teu coração era um cofre que guardava o

amor e amizade, quem nele entrava nunca mais saia. No meu peito o vento parou, o mar sossegou em silêncio, digo baixinho, Adeus, mãe, Veneranda que a tua alma

descanse em paz. E, agora para terminar recebe um beijo e um abraço deste teu filho que tanto te amou, e, te amará para sempre.Haja Saúde, e, até um dia que Deus

queira.

MáriO CArvAlHO

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Nossas TradiçõesA emigração de açorianos para as BermudasA descoberta da Bermuda é atribuída

ao navegador espanhol Juan de Bermú-dez que lá naufragou, em 1503. Contudo, os primeiros habitantes não se fixaram lá devido a tal naufrágio, mas só em 1609, quando o barco da marinha, Sir Geoge Somers naufragou e, então, os colonos ingleses estabeleceram-se e passaram a ser designados por Somers islands.Em 1684, estas ilhas tornaram-se colónia

da Coroa Inglesa. Pouco tempo depois, che-garam trabalhadores portugueses, oriundos das ilhas da Madeira e dos Açores, após im-portação de escravos negros. A composição étnica do arquipélago das

Bermudas é 54,8% de negros, 34,1% bran-cos e 6,4% de mestiços. As ilhas têm uma pequena mas crescente comunidade asiáti-ca. Um segmento significativo da popula-ção também é de ascendência portuguesa (10%), o resultado da imigração de ilhas pertencentes a Portugal (nomeadamente dos Açores) durante os últimos 160 anos.No arquipélago nao há nascentes de agua

á muita chuva, mas sem rios nem lagos de água doce.Todas as casas construídas em Bermuda

tem uma compilação de cisterna (depósito) sob a casa e os telhados de todas as casas são construídos para recuperar a água da chuva para a cisterna. Todas as casas têm telhados brancos que são hierarquizados para retardar o fluxo de água de chuva e,

em seguida, canalizá-la para uma calha que está ligada ao depósito de água. Ninguém pode construir uma casa em Bermuda sem uma cisterna.; por isto, a água potável tem que ser importada e armazenada. A emigração de açorianos para as Ber-

mudas data da segunda metade no século XIX. Constituídas por 150 pequenas ilhas, das quais apenas 20 são habitadas, desde há muito que são local de acolhimento para os emigrantes açorianos.A emigração para esta colónia de gover-

no autónomo do Reino Unido reveste-se de características específicas, nomeadamente no que concerne à permanência definitiva dos seus emigrantes, assim como à sua re-sidência, apenas autorizada mediante con-trato de trabalho previamente assinado.Apesar destas especificidades a emigração

para a Bermudas registou desde sempre a preferência de muitos açorianos, maiori-tariamente micaelenses. Estes fixaram-se essencialmente, em Hamilton, capital da Bermudas, trabalhando em áreas ligadas ao turismo, restauração e jardinagem.A emigração para este destino nunca re-

gistou números acima dos mil indivíduos ao ano, como no caso de outros países, mas se tivermos em conta as especificidades atrás mencionadas, verificamos que regis-tou número elevados, sendo ainda, actual-mente um destino de referência. À semelhança do sucedido com outros

destinos de emigração, foi na década de 60 e 70 que se registaram os maiores fluxos de emigração, verificando-se um declínio após estas décadas, com algumas oscilações. Devido às especificidades desta emigra-

ção em que o regresso ao país de origem é obrigatório, a comunidade dispõe de uma escola oficial portuguesa, para que aos fi-lhos de residentes e aos que ali nascem seja facultada a instrução da língua e cultura do seu pais de origem. Tal como outras comu-nidades promove o movimento associativo, a comunicação social, bem como a preser-vação da sua identidade cultural. O carác-ter provisório desta emigração não impede a comunidade açoriana na Bermuda viva a sua cultura. O pitoresco cenário e um clima quente fazem das ilhas da Bermuda um óptimo “refúgio” para umas férias. O turismo é um importante contributo para a economia das ilhas. São quatro os símbolos nacionais: a ave “cahow”, a flor bermudia-na da família da “íris”, a árvore cedro da Bermuda e o vegetal “cebola”.O dólar da Bermuda corresponde, exac-

tamente, ao dólar dos Estados Unidos da América, que é dividido em 100 cêntimos.Nas ilhas da Bermuda produz-se pouca

coisa, devido à escassez de solos bons para cultivo.O ponto culminante do arquipélago,

com 79 metros, é Town Hill, próximo a Hamilton.

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5O Açoriano

Nossas Tradições

FrAnCiSCO COtA FAGunDeSPrOFeSSOr CAteDrátiCO DAuniversity of Massachusetts Amherst

A memória é a faculdade que nos per-mite aproximar o passado onde estive-mos do presente onde estamos; que nos autoriza a selecionar o que vamos reter

do que nos foi possível ou permitido vi-venciar; que nos compele a unir esforços individuais a coletivos, pois quantas me-mórias são formadas e partilhadas em grupo, aproximando-nos, ao reativá-las, de parentes, amigos, de todo um povo que conosco partilha uma língua, uma cultura, uma experiência histórica. A memória é o que nos faz e mantém hu-manos, nos permite a amizade e o amor. Daí o nosso medo de a perder – o equi-valente de uma rasura do ser consciente. A perda da memória é a morte em vida. Para o emigrante, porém, a memória pode ser tanto bálsamo como fel. É o bálsamo que nos suaviza a dor quan-

do, recém-chegados ao país recetor, nos atinge a estranheza duma nova língua, de novos hábitos quotidianos, a falta dos ami-gos e conhecidos, das pedras dos caminhos que estávamos habituados a pisar. Tudo isto se traslada para a(s) memória(s) e a(s) metamorfoseia. Quanto mais o sofrimento das ausências se acentua, mais as Ilhas dis-tantes se aproximam como a Shangri-lá que nunca foram mas passam a ser em momen-tos de acutilante dor. O emigrante possui

Ilhas e memóriaentão, por momentos, a pátria que nunca teve e nunca terá.Ao despertar – se desperta – para as po-

tencialidades da nova terra, as Ilhas dis-tanciam-se e ele e elas sofrem novas meta-morfoses. Desta vez descobre o emigrante e desentranha do ser não a Shangri-lá mas a Geena. Apercebe-se, ao adentrar-se mais na

realidade em que está imerso, da irrealidade em que viveu, do que lhe fora negado, do que lhe haviam roubado os interesses cria-dos. E sente-se retrospetivamente violado. E os ressentimentos apropriam-se dele – e as resoluções perseguem-no de nunca mais sequer voltar. Passa a ser, emocional e psi-quicamente, o apátrida, o sem-Ilhas.

Mas sempre surge mais um dia em que a brutal realidade do país recetor o ameaça: o racismo (e o eugenismo que lhe impunha uma raça a que nem sabia que pertencia), os interesses criados deste lado por parte dos conterrâneos, o capitalismo brutal que precisa de carne e sensibilidades humanas para se alimentar, a marginalização, por vezes ostensiva e provinda do Outro. Ou-tras vezes a marginalização é auto-imposta, como mecanismo de defesa. Algum tipo de fuga torna-se novamente imperativo. Para onde fugir, porém, se já nem pátria tem? Persistentemente para a(s) memória(s) das Ilhas, que uma vez mais se convertem em terra da promissão ao revés na distância cada vez mais intransponível do tempo. De realidades e ilusões se alimenta o emi-

grante ao longo da vida: as realidades de cá (a que não pode fugir), e as ilusões de lá (a que não se pode render, sob pena de auto-ludíbrio e dolorosas desilusões). O emigrante é o que vive entre dois mundos: um pé plantado num, outro pé plantado no outro, sem jamais poder fincar os dois pés num só mundo. E já aí vêm das Ilhas mais levas de emigrantes, pela mesma ou seme-lhantes razões de sempre: a procura de um

êxodo libertador que raras vezes encontra a liberdade que não há. Alguns terão mais sorte, outros terão menos. São todos dignos de pena. Daniel de Sá tinha razão: “Sair da ilha é a pior maneira de ficar nela”. Embora o destino humano seja emigrar, a emigra-ção é um tipo de morte, destino último do homem.

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Nossas TradiçõesQuando são os outros a reconhecer o que somos JOSé GABriel ávilA

recentemente enviaram-me este link (http://www.hola.com/viajes/2014071872577/azores-naturaleza-portugal/ ) da edição espanhola da mundialmente conhecida revista Hola - Hello (versão inglesa) com este título apelativo:Azores, un bucólico archipiélago para amantes de la naturaleza virgen.

No leed do artigo profusamente ilustrado com magníficas paisa-gens de quase todas as ilhas, pode ler-se:”Esculpidas por la Natura-leza sobre el azul del Atlántico, las nueve islitas que lo forman son perfectas para los que buscan destinos sin trillar. Espectaculares paisajes volcánicos, playas de lava, aguas termales, avistamiento de ballenas…, resumimos en esta galería de imágenes algunos de sus encantos.”Amiúde, protesta-se por se despender avultadas verbas numa de-

terminada promoção do arquipélago, questiona-se os efeitos das campanhas face aos resultados apurados, nestes tempos de difi-culdade. É legítimo interrogar os poderes públicos sobre o bom aproveitamento dos impostos de todos nós. Todavia, nem sempre as campanhas são bem sucedidas. A explicação reside, muitas ve-zes, em lobbies organizados por grandes interesses económicos que orientam os consumidores para áreas turísticas sobejamente conhecidas, onde desenvolvem os seus vultuosos investimentos.

Para além dos destinos tradicionais que movimentam milhões de visitantes, outros há que começam a cativar e a surpreender cada vez mais nichos da população. Os Açores, pelo que revela a importante reportagem da revista Hola, parece continuar na moda dos destinos exóticos, bafejados por uma natureza virgem, onde ainda não entraram os triturantes mecanismos do mercado mais preocupados com o lucro fácil, muito menos com a preservação da

natureza, do ambiente e da cultura.Este problema estão os Açores a viver, ao defender-se, sem mais,

passagens aéreas baratas, e se ignora os graves inconvenientes que um desmesurado fluxo de visitantes pode provocar no frágil ecos-sistema das ilhas e na capacidade hoteleira instalada.Um dia destes, duas moças suíças, confessavam que a unidade

hoteleira onde estavam instaladas, nada tinha a ver com a arqui-tetura rural da ilha do Pico, onde preferiam ter ficado instaladas. No entanto, a agência em Berna tinha programado assim e nada podiam fazer...Este mês de agosto, tem-se notado um movimento constante de

jovens visitantes estrangeiros pelas estradas e trilhos desta ilha. A comprovar a opção pelo turismo de natureza, cuja qualidade al-guns media estrangeiros de grande tiragem têm divulgado mais que os portugueses.Todavia, internamente, um grande trabalho há a fazer no âmbito

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Nossas TradiçõesQuando são os outros a reconhecer o que somos

da informação pública e no melhoramento dos locais e sítios onde se pode apreciar a paisagem e natureza desta ilha. Infelizmente, parece que cada serviço trabalha para seu lado: nu-

mas zonas as bermas estão cuidadas, as sebes tratadas, os mira-

douros construídos permitem o descanso do corpo e do espírito; abundam placas sinalizadoras, explicativas dos sítios e das classi-ficações atribuídas. Noutras zonas, é o desmazelo nas bermas da estrada, a falta de sinalização horizontal, os buracos e covas...um mundo à parte, relegado para segundo plano pelos poderes regio-

nais e municipais. Nem uma placa sinalizando a paisagem pro-tegida, um sítio classificado, um importante fato ou monumento de importância histórica, uma baía por onde se exportava o vinho verdelho, um escritor, um eclesiástico que se distinguiu no Orien-te, enfim... tanto que há a revelar da nossa identidade.De nada serve os serviços públicos trabalharem, isoladamente e

apresentarem serviço apenas nos locais onde estão instalados. Se essa atitude pode proporcionar a manutenção do poder, desenvolve sobretudo a revolta, contestação e insatisfação popular.Que bom seria que os responsáveis políticos se sentassem à mesa

e, sem perderem a sua identidade, concertassem programas para o bem comum, promovendo a ilha toda!...Ganhariam os visitantes e os residentes sentir-se-iam fortalecidos no seu amor à terra.Os Açores valem a pena, mas valem mais, sobretudo, quando

são os estrangeiros a reconhecer as virtualidades que a nature-za nos proporciona.

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Nossas Tradições10ª Semana Cultural e 36º AniversárioA Casa dos Açores do Quebeque acabou de celebrar o seu

trigésimo sexto aniversário. Para honrar tão prestigiado acon-tecimento, foi planeado uma semana cultural. Esta semana cultural teve inicio quarta-feira, dia 29 de novembro

as 19 horas com as boasvindas, do presidente da Casa dos Açores, o Sr. Benjamim Moniz. Os presentes foram privilegiados com um belo concerto,executado pela Filarmónica do Divino Espírito San-to. O grupo Reviver,fez-nos reviver,com a apresentação duma das mais belas tradições do povo Açoriano “as Vindimas. A atuação do Grupo Folclórico CAQ, encantou-nos, como já é de costume.Quinta-Feira 30 de outubro às 19h00: Manifesto - 800 Anos da

Língua Portuguesa e suaevolução, com os conferencistas: Luiz Saraiva, poeta e escritor e

o Dr. António Pedro Costa,Deputado da Assembleia Legislativa da Região dos Açores, Ma-

ria do Carmo Couto, Professora de Ensino da Língua Portuguesa

na Comunidade Portuguesa de Montreal. Esta noite terminou com o Lançamento do Livro “Divino Espírito Santo em Rabo de Peixe” escrito pela Sra. Maria Lurdes Silveira Ferreira, de São Miguel, Açores.Sábado 1 de novembro às 19h00: Esposição, e Apresentação -

Açores ÎlesRèves, ÎlesVécues, de Véronique Santos, Estudante da Universidadedo Quebeque em Montreal. Lancamento do CD Grupo Cantares

do Mar do Norte - Dr. Antonio Pedro Costa. E, para finalizar a

atuação, do Grupo Raízes da Casa dos Açores da Nova Inglaterra, que nos encantou.Domingo 2 de novembro as 15h00: 36º Aniversário da Casa dos

Açores do Quebeque, e Encerramento da 10ª Semana Cultural.

Foi servido um almoço,tipo “buffet” preparado pelos membros da Direção com delícias tradicionais dos Açores. A animação duran-te o almoço teve a gargo da nossa artista da comunidade Viviana Lourenco e tambem do Grupo Raízes da Casa dos Açores da Nova Inglaterra que vieram acompanhar a simpática Presidente Nélia Alves Guimarães que falou muito bem sobre os nossos povos e suas gentes.Durante esta tarde a Casa dos Açores teve vários convidados de

Honra: o Dr. Paulo Teves, Director Regional das Comunidades; Carlos Botelho, Director da SATA em Toronto; o Dr. José Guedes Bleck de Sousa, Consul-Geral de Portugal em Montreal; a Sra. Clementina Santos, Directora das Comunidades em Montreal; Emanuel Linhares, Diretor da Caixa Portuguesa Desjardins. Gui-marães que falou muito bem sobre os nossos povos e suas gentes. Parabéns.

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9O Açoriano

Nossas TradiçõesGrandiosa festa em honra de São PauloSão Paulo, apóstolo da fé, padroeiro da ribeira Quente, foi

festejado, em grande, pelos sócios e amigos da Associação Sau-dades da terra Quebequente, no passado sábado dia 4 de ou-tubro.Muitos conhecem a Associação Saudades da Terra Quebequente

que foi fundada a 15 de Janeiro de 1997, e que organizam anual-mente, a festa do chicharro, na Primavera, e o convivio em honra do seu Padroeiro no Outono. Todos os anos esta sala fica sempre num encanto quando nós entrámos na sala de Saint-Enfant- de-Je-

sus, deu para perceber que os organizadores desta festa, são gente trabalhadora e unida. A sala estava muito bonita, iluminada e de-corada de branco e vermelho. Os benévolos devem ter trabalhado horas sem fim. Todos os anos, esta associação surpreende todos com esta festa. Este ano decidi de fazer descobrir esta festa a al-guns amigos da minha idade, nunca foram a uma festa portuguesa, e, desta vez, quis apresentar uma das melhores festas em Montreal.E, no final desta noite, todos me disseram que é realmente a me-

lhor festa. Todos ficaram admirados, pelo excelente trabalho que foi feito pela organização do evento.A noite iniciou-se com as boas-vindas, proferidas por Mário Car-

valho, que ao mesmo tempo apresentou a equipa que serviria du-rante a noite. Esta noite memorável brilhou com o seu espetacular efeito visual, graças à decoração do salão. Luz, alegria, boa gente, etc., tudo a módico preço para esta magnífica festa. O elenco ar-tístico foi, sem dúvida uma das melhores com o conjunto MEXE--MEXE e o talentoso DJ XMEN, que fez delirar a mocidade.Já ouvi falar do conjunto Mexe-Mexe (vindo de Toronto), mas

nunca o tinha visto, mas, posso dizer que foi uma verdadeira jóia para todos. O mestre de cerimónia, Mário Carvalho, salientou que a festa foi um grande sucesso e que todos gostaram da festa. Tam-bém podemos notar que a parte do jantar terminou cedo, o que é sensacional, cada prato foi uma maravilha e com abundância, desde o início com a entrada de carnes frias e queijo, sopa e o prato principal com os seus famosos rosbife com batatas (e não esquecendo o molho de cogumelos, uma coisa que eu adoro), e, finalmente uma grande travessa de frutas frescas e pastéis de natas.

Com tudo isso na barriga, é tempo de ir queimá-las, dançando toda a noite, com um conjunto que não quis nos deixar descansar até ao final da noite, acompanhado do DJ XMen que fez a alegria de todos com boa música. A mercearia Sá e Filhos deram uma garrafa de azeite Bom Dia, para cada mesa, e foi sorteado de uma maneira muita engraçada. Obrigado por este gesto generoso.Parabéns ao presidente Roberto Carvalho e toda a sua equipa pela

excelente organização, mas também pela capacidade de motiva-rem inúmeros jovens a participar na festa. Domingo serviucertamente de dia de descanso para os organizadores, que tra-

balharam muito, e talvez até para algumas pessoas que dançaram muito. Pelo que se viu durante a festa, temos a certeza que todos gostaram desta linda noite.A Associação Saudades da Terra Quebequente agradece a todas

as pessoas que se implicaram durante a preparação deste grandioso evento. Por meu lado, agradeço aos organizadores pelo seu empenho

e dedicação durante todos estes anos, e viva a ribeira Quente!

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Nossas TradiçõesFesta de Nossa Senhora dos Milagresna sua vigésima segunda edição, a co-

missão organizadora da festa e nossa Senhora dos Milagres, contou com a presidência honorária de Cristina Silva, empresária, na área da educação.Na sala de Nossa Senhora, completamen-

te remodelada, a jovem Elizabeth Branco ofereceu o terço, durante nove dias, ao que chamamos de novena.Nos dias em que participei, assisti a duas

ocasiões, à chegada, de grupos de peregri-nos, que em sinal de sacrifício ou em paga-mento de promessas, fizeram a caminhada

a partir de Santa Cruz até Hochelaga, um percurso de doze quilómetros.Durante o jantar oferecido à senhora pre-

sidente, confeccionado pela Carina Toledo, tivemos a agradável surpresa de ouvir Ja-son Coroa a cantar Fado.Ele nos habituou, ao longo da sua carreira,

a cantar música clássica. Fiquei admirado com o seu talento de fadista. A comunida-de fica mais rica com outro artista que põe em destaque a nossa canção nacional. Lisa Rocha, agradeceu à comissão organizado-ra por a ter escolhido para rainha da festa. Sentiu-se honrada, não só por representar a juventude, mas porque a festa de Nossa Se-nhora dos Milagres lhe diz muito. As suas duas avós, Leontina e Juvenália, foram am-

bas fundadoras da festa. Disse ainda que partilhava o mandato, com a princesinha Eva Branco-Vieira. Cristina Silva, na sua intervenção, felicitou o trabalho desempe-nhado pelo jovem conselho de administra-ção, liderado por Décio Cardoso, que tem dado um outro dinamismo nesta agremia-ção.Por outro lado ela os encorajou a se liga-

rem a outros, menos jovens, mas com ex-periência associativa, para manter um bom equilíbrio entre as gerações. Não conseguiu conter a emoção, quando falou da sua irmã

Leontina Cândido, uma das fundadoras da festa. No final, agradeceu a presença de to-dos, em particular ao Sr. Padre José Maria Cardoso. Acrescentou ainda ter ficado gra-ta pelo convite da comissão organizadora, coordenado pela Filomena Coelho, para presidir a festa deste ano. A abertura do tra-dicional do baile esteve a cargo do popular Manuel Augusto, que se deslocou de To-ronto para esta ocasião. No sábado, fomos, mais uma vez surpreendidos, no desfile do bodo de Santo António. O Santo já não vai no andor, mas sim ao cólo. A parada foi abrilhantada pela orquestra da Filarmónica Portuguesa de Montreal, que no final, com a cumplicidade de Jimmy Faria animaram a assistência. O novo conjunto Evolution,

tendo como vocalista o talentoso Brian Fer-reira, fez dançar, os devotos da Senhora da Serreta, até altas horas da madrugada.No domingo, a missa solene foi presidida

pelo Reverendo Padre José-Maria Cardo-so, com a participação do diácono Ramos e dos acólitos Brian e o Hugo.

A animação esteve a cargo do Grupo Co-ral de Santa Cruz. Logo após a celebração, a procissão de Nossa Senhora dos Milagres, acompanhada pela Filarmónica Portuguesa de Montreal, percorreu algumas das ruas da freguesia de Hochelaga, até à Associação.Sentimos a falta da Banda de Nossa Se-

nhora dos Milagres que habitualmente abrilhantava estes festejos. O arraial, sem-pre muito divertido teve, mais uma vez, a participação de Manuel Augusto que ini-ciou a sua atuação cantando à ilha Terceira e de seguida interpretou algumas das suas melodias que encantaram os amorosos e

alimentou esperanças nos que amam em si-lêncio. A Filarmónica Portuguesa de Mon-treal, agora liderada pela simpática “maes-trinha” Maria- -José Raposo, homenageou o povo terceirense, grande aficionado da festa brava, iniciaram o seu concerto tocan-do um magnífico “passo doble”. Muitos parabéns à comissão organi-

zadora, à equipa do Décio Cardoso e a todos que trabalharam para esta bonita festa em louvor à Senhora dos Milagres.

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Nossas TradiçõesOrgulhoso da sua Féem Nossa Senhora do MonteTiveram lugar no mês de agosto as fes-

tas em honra da nossa Senhora do Mon-te, padroeira da Madeira. Celebrado na Madeira, a 15 de agosto de todos os anos, em Montreal, na Missão Santa Cruz, a tradição ficou a ser no Segundo domingo do mês de agosto.

A história da Nossa Senhora do Monte é especial. Não existem documentos que fixem a data exacta da lendária e miracu-losa aparição da Virgem a uma humilde pastorinha no local, também lendário, do Terreiro da Luta. Diz-se que essa lendária aparição poderia ter sucedido entre Outu-bro de 1477 e Outubro de 1445. Existem várias versões sobre a lenda de Nossa Se-nhora do Monte. O certo é que, no tempo da Aparição, já existia, no Monte, a Ermida de Nossa Senhora da Encarnação, mandada construir por Adão Gonçalves Ferreira em

1470. Diz-se que essa lendária aparição po-deria ter sucedido no reinado de D. João II (1477-1495). O relato é da autoria de Gas-par Frutuoso ou de Henrique Henriques de Noronha e vem narrado no verso das gravu-ras que representam a pequenina e veneran-da imagem. Reza assim: «Há mais de 300

anos, no Terreiro da Luta, cerca de 1 quiló-metro acima da igreja de Nossa Senhora do Monte, uma Menina, de tarde, brincou com certa pastorinha, e deu-lhe merenda. Esta, cheia de júbilo, refere o facto à sua família, que lhe não deu crédito, por lhe ser impos-sível que naquela mata erma e tão arredada da povoação aparecesse uma Menina. Na tarde seguinte reiterou-se o facto e a

pastorinha o recontou. No dia imediato, à hora indicada pela pastorinha, o pai desta, ocultamente foi observar a cena, e viu so-bre uma pedra

uma pequena imagem de Maria Santíssi-ma, e à frente desta «a inocente pastorinha que, a seu pai, inopinadamente aparecido, afirmava ser aquela imagem a Menina de quem lhe falava». O pastor, admirado, não usou tocar a Imagem e participou o facto à autoridade que mandoucolocá-la na capela da Incarnação, próxi-

ma da actual igreja de N.ª S.ª do Monte» - nome que desde então foi dado àquela veneranda imagem». Voltando aos tempos modernos de 2014, a festa da Nossa Senho-ra do Monte recebeu o sr.Padre Antonio Paulo Sousa, vindo diretamente da Madei-ra para celebrar a missa solene da festa. Na sua mala vinha uma mensagem do bispo do Funchal, que sublinhava no seu texto, os 500 anos do Diocese do Funchal. Na continuaçao da parte religiosa, a pro-

cissão teve certas difficuldades para come-çar a procissão a hora certa, devido a um atrasso das forças de segurança. Mas o amor a Nossa Senhora do Monte foi mais forte e o povo ficou até ao fim para rezar e louvar a sua santidade. Na parte profana, como certas pessoas qualificaram, a festa ficou ao encargo de artistas de origem madeirense. O artista vedeta foi o Alex Câmara, que soube animar a multidão no sábado à noite e domingo á tarde. Na segunda parte da sua atuação, ele foi acomphado por bailarinos, que nos davam a impressão de estarmos em Portugal. Vindo de Toronto, o cantor Décio Gonçalves e vindo da Venezuela, o Carlos Kanto ofereceram á multidão música, que proporcionou ás pessoas animar o espaço á frente do palco. E sem esquecer o rancho folclorico madeirense de Toronto que sou-be apresentar as danças tradicionais da ilha da Madeira, com um professionalismo, que faz orgulho. Para concluir as festas em hon-ra da Nossa Senhora do Monte, a multidão de quebequenses, assim como de portugue-ses, estavam todos com um sorriso ao ver as espetadas de carne e o famoso bolo do caco, que fêz salivar todos e continuar a dar fama a uma festa, que é hoje uma institui-ção na nossa comunidade.Parabéns á equipa e comissão das fes-

tas da nossa Senhora do Monte, pelas suas paixões nas suas tradições, afim de continuar a divulgar aos outros, sobretu-do aos quebequenses.

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Congresso25º aniversário das celebraçõesdo Sagrado Coração de Jesuseste ano tivemos a honra de celebrar o

25º aniversário das festividades em hon-ra do Sagrado Coração de Jesus, que se iniciou em 1989. esta festa durante mui-tos anos foi celebrado em grande ,com milhares de pessoas a participar , hoje, é muito diferente. Com uma comunidade a envelhecer e com muitas pessoas ainda em Portugal, esta festa perdeu muito do seu brilho.

Apesar de tudo, e graças á comissão da festa os presentes tiveram a oportunidadede viver e presenciar um bom espetáculo.

Com um orçamento mais em linha com o prestigio desta festa e com a preciosa co-laboração de Eddy Silva, foi possível con-tratar uma grande artista, vinda de Toronto. Seu nome Michelle Madeira, que nos ofe-receu uma bela atuação. Sem dúvida a “es-

trela” destas festividades.Sábado, houve as habituais atividades no

adro da Igreja Santa Cruz, com a atuação da Filarmónica Portuguesa de Montreal, Jimmy Faria, Jomani, Fátima Miguel e Mi-chelle Madeira. No Domingo, após a cele-bração eucarística das 16h00, a procissão saiu, assaz e enobrecida com as imagens de Santa Cecília, de N. Senhora de Fátima, N. Senhora da Estrela e N. Senhora dos Mi-

lagres e a veneranda imagem do Sagrado Coração de Jesus, nas ruas do bairro por-tuguês, (Rachel, St-Urbin, Duluth e regres-sando pela Clark e Rachel, acompanhada pela filarmónica Portuguesa de Montreal, Filarmónica do Divino Espírito Santo de Laval e a Banda de Nossa Senhora dos Mi-lagres.A temperatura não estava muito prometo-

ra nessa tarde, fizemos muitas apostas, mas no final, perdi. Eu pensava que ia chover,… e não choveu, isto para o grande beneficio dos organizadores e festejantes. Muitas nu-vens, é certo, um pouco fresquito pelo fim datarde, mas tudo correu bem,. Uma nova

artista que está a brilhar em Toronto veio para estas festividade, Michelle Madeira nasceu no dia 8 de julho de 1986, em To-ronto. É filha de António e Rosa Madeira naturais, respectivamente de Vila Franca do Campo e Portugal continental. Com quatro anos de idade já cantava canções do “WALT DISNEY” para uma caixa grava-dora da companhia “FISHER PRICE” que ela ciúmentamente guardava. Hoje, Miche-lle tem uma linda voz que faz sonhar e acal-mar as saudades da nossa terra. É claro que ela já fez 1500 espetáculos,

ganhou imensos prémios e já fez grandes atuações através das comunidades canadia-nas e americanas, e já atuou no Canadian Idol. Em 2008, ganhou o prémio de Mis-sissauga Future Star. Em 2012 foi a grande vencedora do concursoLombardi Portuguese-Canadian Singing

Festival. E, Finalmente, fez um novo ál-bum, Fonteiras, com 12 canções que amos-tra um pouquinho do seu grande talento. Uma boa mistura entre canções portugue-sas e inglesas. Uma verdadeira estrelinha que veio dar um toque a esta festa. Obriga-do pelo espetáculo e o seu sorriso que me encantou. Durante toda atarde e através da noite, houve espetácu-

los, iniciados com Jomani, o Rancho Fol-clóricoda Santa Cruz e Tamar de Nazaré, Fáti-

ma Miguel e Jimmy Faria. A Filarmónica do Divino Espírito Santo de Laval também nos ofereceu um bom concerto. A festa continuou ainda um pouco mais no subso-lo da igreja até tarde, porque segunda-feira sendo dia feriado, permitindo assim a todos de recuperar forças durante o dia, antes de voltar para as suas atividades na terça-feira.Parabéns à Comissão das festas e a todos

que colaboraram nesta festa, que soube reunir a simplicidade e a brilhante cultura portuguesa neste fim- -de-semana. Confie-mos para que tudo continue no mesmo ca-minho e até à próxima edição.

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Congresso

uma coisa não dá pra negar: a todo tempo estamos sendo avaliados pelas pessoas que nos rodeiam.Nesse sentido, especialistas asseguram

que temos apenas 30 segundos para causar uma boa impressão. E se a gente refletir sobre, como a gente se comporta num pri-meiro encontro, vai ver como isso é verda-de. Acontece quando entramos numa casa, hospital, escritório, num avião, etc. Obser-vamos, e, a primeira impressão é, que nos leva a nos sentirmos bem ou mal, gostar ou não, e, de ter vontade de voltar ou não.Certamente que todos nós fomos testemu-

nhos destes géneros de acontecimentos que nunca pensamos um dia, viver um momen-to assim nas nossas vidas, sejam eles bons ou maus, momentos de alegria ou de triste-za, de medo ou até de terror.Sem querer dramatizar o que vivi, e, cer-

tamente que cada um viveu e interpretou à sua maneira, o que sentiu, cada um dos passageiros do voo da Sata Internacional, fazendo a ligação Montreal, Ponta Delgada do dia 15 de agosto passado!Não sei por que razão o ar condicionado

não funcionava no interior da aeronave Airbus A310, com o avançar da viagem, cada vez era mais insuportável e até sufo-cante, ao ponte de algumas pessoas terem desmaiado e ter sido pedido ajuda médi-ca através do sistema de comunicação do avião! Felizmente havia um médico (Ca-nadiano) a bordo que prontamente prestou auxilio e socorro às duas mulheres que se sentiram aflitas, certamente que tranquili-zou muitos outros passageiros, que pode-riam a vir a ser também eles vítimas de uma crise de pânico, pela falta de ar e calor que se fazia sentir. Cada vez mais as pessoas estavam a reclamar pelo desconforto que causava esta situação anormal, nenhuma ação foi tomada para remediar tal situação. Vendo isto chamei a atenção de um agente de bordo para lhe alertar que eles deviam servir água aos passageiros, para confortar

Entre o céu e o maras pessoas, respondeu-me em tom de brin-cadeira “a água estava cara e no fundo do avião o bar estava aberto!”.Como é sabido há pessoas que tem medo

de andar de avião ou então de incomodar o passageiro do lado.Informei-lhe que iria relatar publicamente

o que estávamos a viver, aquilo que quali-ficava uma viagem entre o mar e o inferno, não por razões meteorológicas, minutos depois, a chefe de cabina, prontamente se aproximou para dizer que não era justo da minha parte, falar assim para com a equipa a bordo, dizendo que nem tiveram tempo

para comer! Imaginam, depois da refeição servida (2 horas de voo) nem mais uma gota de água foi servida durante (3 horas) com um ambiente de ar sufocante!Mais tarde tive conhecimento, que uma

mãe e o bebé haviam sofrido queimaduras devido a um acidente causado por um dos agentes de bordo. Tendo em mente o que acontece quando há um desastre aéreo, e, que o avião aonde estou fechado durante várias horas, a milhares de metros de altitu-de, não está a funcionar bem (ar condicio-nado), faz pensar ao pior, deixa-nos todos apreensivos, e, vem à mente as mais diabó-licas ideias de medo, e, sobretudo quando ainda estão presentes na nossa memória, os

mais recentes acidentes de aviões neste ano de 2014.Talvez por esta razão me senti mais

apreensivo no interior do avião da Sata, mas, como diz um ditado antigo, um mal nunca vem só, e, muitas vezes a sua ampli-ficação é o resultado da falta de liderança e o saber tomar o controlo dos acontecimen-tos menos favoráveis ou imprevistos, como dizem os brasileiros “é preciso saber dar a volta por cima”, mas, isto já é um defeito da nossa gente portuguesa, o não querer assumir as suas responsabilidades, quando falham, e, o cliente demonstra o seu desa-

grado, pelo serviço recebido. Infelizmente, em tempo de crise, continuam com a mes-ma arrogância, esquecendo de que quem paga tem o direito de reclamar, e, exigir aquilo que tem direito.Se por ter peso a mais na bagagem tenho

que pagar! O que devo fazer logo que não recebi o serviço pelo preço que paguei? Para terminar, podem ter a certeza que os

Açores e a Sata, hoje precisam mais dos Emigrantes do que nunca, e, quando este monopólio da Sata, nas viagens aéreas dei-xar de existir muitos dos seus funcionários irão para o desemprego.eu nasci assim, cresci assim e irei mor-

rer assim!

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Olhar AçoresAçores, verão e fériasSerAFiM DA CunHAPrOFeSSOr e COnSelHeirO PeDAGóGiCO APOSentADOnatural da Graciosa, residente em Woburn, Mass., euA

Com a chegada do tempo ameno, apetecido já há muitos me-ses, os açorianos residentes na América do norte anseiam pelo dia em que a SAtA os levará às ilhas açorianas, calmas, de mar azul forte, de água temperada e transparente de uma beleza invulgar. Contudo, cada vez se torna mais difícil levar a família a passar umas férias na terra que a viu nascer, onde se sen-tem bem, amam, e nunca esquecem. Embora as dificuldades financeiras sejam conhecidas de todos, o afeto à ilha supera os obstáculos.

Todo o processo começa nos primeiros meses do ano para garan-tir um lugar, já que os voos estão sempre cheios. Se se pretende que as crianças e, mesmo os jovens fiquem juntos, com os fami-liares, têm de pagar uma quantia extra. Nunca se viajou tão caro na SATA. Com o preço abusivo da passagem, mais o excesso de bagagem, que aumentou mais de 300%, mil dólares não dá para pagar o custo de uma só passagem. O governo regional sabe quanto a gente açoriana gosta da sua

terra, porém nada faz para reduzir o custo das passagens. “Os voos estão sempre cheios”. Torna-se necessário pensar em alternativas à SATA e à TAP. Se cinquenta por cento (50%) da gente na diáspora não escolher os Açores para férias no verão, isso aluiria o orça-mento das companhias que nos têm explorado. Contudo, a SATA necessita de nós, porque a sua condição financeira é muito ques-tionável. Depois de um voo empacado de gente, como “sardinha em lata”

a aterragem acaba em palmas, e desperta-se para a alegria da che-gada, com sorrisos e abraços amigos. A agitação começa com a tomada dos táxis, ou transportes de amigos e familiares, que com prazer, disseminam os passageiros pela ilha, bem como a SATA Açores, que transporta os restantes às outras ilhas. Há os que op-tam por viajar interilhas nos ferryboats. Cada vez mais a gente dos Açores na diáspora tem menos fami-

liares na ilha, contudo continua a visitá-los permanecendo nos ho-téis e residenciais. Participam em todas as festividades, dispersas pela ilha. Há os que preferem relaxar, e apreciar a paisagem, diver-sificada e única, a gastronomia, que na sua maioria é orgânica, es-pecialmente o peixe, pescado na madrugada do dia em que vai ser

consumido. Também há quem aproveite a calma e a serenidade do mar para na praia ler obras dos jovens escritores portugueses, ou até dos mais amadurecidos, que na sua maioria ignora o novo acor-do ortográfico. Para o leitor comum é paradoxal pensar que os que deviam dar o exemplo no uso do novo acordo são os primeiros a menosprezá-lo, indicando que este não é mais do que um conjunto de acentos sem importância. Esta negação só confunde o cidadão comum. Contudo o acordo ortográfico já é exigido e ensinado no sistema escolar português. No próximo ano escolar (2014-2015), e de acordo com o Ministério da Educação, os alunos e as alunas vão ser testados no mesmo, inclusivamente os do décimo segundo ano, no exame nacional de língua portuguesa. O tempo amadurecerá os preconceitos estereotipados para com o acordo.As condições de lazer nos Açores são tão relaxantes que o tempo

parece voar, encurtando os dias, onde o tempo da pesca de mer-gulho ou calhau, da praia, da leitura, ou até mesmo da pintura, se dissipa demasiadamente rápido. Assim o açoriano regressa ao país de acolhimento, com mais energia positiva, e otimismo, para en-frentar as dificuldades do dia-a-dia da vida agitada e competitiva. O otimismo leva-o a acreditar que nos próximos anos os Aço-

res terão um desenvolvimento maior, sólido e enriquecedor para todos os residentes. As negociações entre os EUA e a UE, que presentemente estão em curso, levarão a um acordo, comercial e industrial entre os dois continentes, dando vida à posição estraté-gica dos Açores.

Os portos na plataforma atlântica, Açores, podem originar cen-tros de abastecimento de combustível, de géneros alimentares, ou de transbordo de mercadorias entre navios de carga de todos os tipos, mas com rotas diferentes. Para que tal aconteça, hoje o governo regional já deve ter um plano devidamente estruturado e desenvolvido, por técnicos internacionais e nacionais especializa-dos e experientes na área. O governo regional não se pode deixar manipular pelo governo nacional, para que não aconteça o mesmo que aconteceu com as pescas e a agricultura, há algumas décadas. Os representantes açorianos no parlamento europeu têm de

ser conhecedores profundos desta matéria, para que aparti-dariamente possam defender os interesses dos Açores. estes não se podem intimidar, com a retórica dos colegas dos ouros países, que lutam persistentemente para levar aos seus países as melhores vantagens, de que o país e o seu povo possam vir a beneficiar.

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Gastronomia

inGreDienteS:

PrePArAçãO:

Açorda mista de Peixe e Marisco

Comece por passar, por breves minutos, o marisco e o peixe por água a ferver. Retire e escorra bem, guardando a água da cozedura.Num tacho de barro, leve os alhos ao lume no azeite até ficaram

bem alourados. Depois, junte ao azeite a água da cozedura do peixe e marisco.

Quando levantar fervura, junte o pão já partido aos pedaços não muito grandes e a metade dos coentros. Deixe cozinhar por 5 minutos para depois juntar o peixe e o ma-

risco. Tempere a gosto com sal e piripiri. No final, junte as delícias do mar aos pedacinhos, envolve tudo

muito bem e desligue o lume.À parte, bata muito bem dois ovos ou gemas, como preferir, e

junte à açorda, mexendo muito bem. Decore com uns camarões à volta da travessa de barro e salpique com coentros picados. Sirva de imediato.

- 1 pão caseiro tipo alentejano- 1 ramo de coentros- Azeite- 2 alhos grandes picados- 1/2 embalagem de marisco misto

- Camarão médio q.b.- Delícias do mar q.b.- 2/3 lombos ou filetes de pescada- Sal e piripiri q.b.

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Quem são eles?