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ELISANGELA ANDRADE ANGELO OTIMIZAÇÃO DE MEIO DE CUTIVO PARA A PRODUÇÃO DE TOXINAS POR Bacillus thuringiensis SUBSP. israelensis EMPREGANDO RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS

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OTIMIZAÇÃO DE MEIO DE CUTIVO PARA A PRODUÇÃO DE TOXINAS POR Bacillus thuringiensis SUBSP. israelensis EMPREGANDO RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS

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ELISANGELA ANDRADE ANGELO

OTIMIZAÇÃO DE MEIO DE CUTIVO PARA A PRODUÇÃO

DE TOXINAS POR Bacillus thuringiensis SUBSP. israelensis

EMPREGANDO RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS

LONDRINA

2008

ELISANGELA ANDRADE ANGELO

OTIMIZAÇÃO DE MEIO DE CULTIVO PARA A PRODUÇÃO DE TOXINAS POR

Bacillus thuringiensis SUBSP. israelensis EMPREGANDO RESÍDUOS

AGROINDUSTRIAIS

Dissertação apresentado ao programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Ciência de Alimentos.

Orientador: Profº Dr. Raúl Jorge Hernan Castro-Gómez

Co-Orientadora: Drª. Gislayne Fernandes Lemes Trindade Vilas-Bôas

Londrina

2008

1

ELISANGELA ANDRADE ANGELO

OTIMIZAÇÃO DE MEIO DE CULTIVO PARA A PRODUÇÃO DE TOXINAS POR

Bacillus thuringiensis SUBSP. israelensis EMPREGANDO RESÍDUOS

AGROINDUSTRIAIS

Dissertação de mestrado

COMISSÃO EXAMINADORA

___________________________________________________Profº Dr. Raúl Jorge Hernan Castro-Gómez (Orientador)

____________________________________________________(Membro)

_____________________________________________________(Membro)

Londrina, de Fevereiro de 2009

2

Dedicatória

3

AGRADECIMENTOS

4

ANGELO, Elisangela Andrade. Otimização de meio de cultivo para a produção de toxinas por Bacillus thuringiensis subsp. israelensis empregando resíduos agroindustriais. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Ciência de Alimentos) - Universidade Estadual de Londrina. 2009.

RESUMO

O controle de insetos é realizado, em sua maioria, por produtos químicos, os quais ocasionam grandes prejuízos ambientais e à saúde humana, destacando-se ainda a rápida seleção de insetos resistentes. O controle biológico por entomopatógenos é uma alternativa eficiente, principalmente devido a sua alta especificidade, menor freqüência de resistência nos insetos alvos e baixo efeito residual no ambiente. Bacillus thuringiensis é uma bactéria Gram-positiva esporulante, produtora de cristais protéicos com atividade inseticida. Apesar do amplo uso B. thuringiensis no controle biológico, há poucos trabalhos publicados quanto a sua produção, visto que muitas informações são segredos industriais. Portando, o presente trabalho teve por objetivo otimizar um meio de cultura, empregando resíduos agroindústrias, para produção de toxinas por B. thuringiensis israelensis, utilizando a metodologia de superfície de resposta. Foi estudada também a cinética de crescimento e produção de toxina pela bactéria, bem como a toxicidade da cultura pós-fermentação, por um período de 28 dias. Como fontes de nitrogênio orgânico foram estudadas: farinha de soja, farinha de crisálida, peptona bacteriológica e uréia agroindustrial. Como fontes de carbono foram utilizadas sacarose, glicose e fécula de mandioca. Como fonte de nitrogênio inorgânico foi estudada sulfato de amônia. O parâmetro analisado para a otimização foi toxicidade, por meio de bioensaio contra Aedes aegypti. Foram estudadas também o percentual de esporulação e o crescimento (por meio da contagem de Unidades Formadoras de Colônia). A farinha de crisálida e a glicose foram as fontes mais adequada de nitrogênio orgânico e carbono, respectivamente, para a produção de toxinas. A superfície de resposta mostrou-se um método eficaz para a otimização, resultando em um meio com as seguintes faixas de concentrações das fontes de carbono e nitrogênio: glicose 0,3 a 0,55g/L; farinha de crisálida 55 a 58g/L e sulfato de amônia 0,6 a 1,1g/L. O meio otimizado resultou em uma toxicidade de 0,703 ppm (v/v), a qual é superior a de meios comumente utilizados para B. thuringiensis israelensis. A toxicidade da cultura aumentou com o tempo de cultivo, sendo máxima com 96 horas. A cultura manteve-se tóxica durante os 28 dias de análise, sendo que o armazenamento sem refrigeração mostrou-se mais eficaz (?)(Notexto não fica claro isto)). Esses resultados contribuem para o desenvolvimento de uma tecnologia local e para o aproveitamento de resíduos agroindustriais.

Palavras-chave: Bacillus thuringiensis, controle biológico, Aedes aegypti, superfície de

resposta, toxinas, produção, resíduos agroindustriais.

5

ANGELO, Elisangela Andrade. Medium optimization for toxins productions by Bacillus thuringiensis subsp. israelensis using agricultural byproducts. Dissertation (Marter’s degree dissertation – Food Science) – State University of Londrina. 2009.

ABSTRACT

Synthetic insecticides have been used in control of insects, but the use of these chemical insecticides has become problematic due to a lot of factors including physiological resistance in the vectors and environmental pollution. Hence, there has been an increased interest in recent years in the use of biological agents. This biological control is more specific, have lower frequency of resistance in insect targets and low residual effect on the environment. Bacillus thuringiensis is a Gram-positive spore-forming bacterium that produces a parasporal crystal protein which is toxic for many insects. This bacteria is the most widely used worldwide as a biological agent in controlling insects, but there is not very much information about its production. This fact is because many information are industrial secrecy. Therefore, the objective of this study was to optimize the production medium using agrindustrial byproducts, for toxins production by B. thuringiensi subsp. israelensis. This optimization was done with Response Surface Analyses (RSA) methodology. Also it was studied the kinetics of growth and production of the toxin by the bacteria, and it post-fermentation toxicity after 28 days store period. The organic nitrogen sources studied were soybean meal, Bombix mori pupae meal (BMP), bacterial peptone and agricultural urea. The carbon sources studied were glucose, sucrose and cassava starch. The inorganic nitrogen source studied was ammonium sulfate. The culture medium toxicity was evaluated by bioassays against Aedes aegypti and this parameter was the criteria used for the medium optimization. It was also studied the percentage of the bacteria sporulation and growth (Colony Forming Units, CFU,). The BMP and glucose were the most appropriate sources of nitrogen and carbon, respectively, for toxins production. The RSA, proved to be an effective method for medium optimization, resulting in a medium composition for maximal response with the following ranges of carbon and nitrogen concentrations: glucose 0,3 to 0,55gL-1; BMP 55 to 58gL-1 and ammonium sulfate 0,6 to 1,1gL-1. The optimized medium resulted in a toxicity of 0,703 ppm (v / v), which is above the mediums toxicity commonly obtained used B. thuringiensis israelensis. The culture medium toxicity increased with cultivation time until 96 hours. The culture medium toxicity remains stable under refrigeration temperatures during 28 days and when it was kept without refrigeration, the response was more effective. These results contribute to the development of a local technology and to promote the use of agroindustrial byproducts produced in the region.

Key-words: Bacillus thuringiensis, biological control, Aedes aegypti, response surface

methodology, toxins, production, agricultural byproduct.

6

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1 Cultura lisada de B. thuringiensis subsp. israelensis, evidenciando os esporos elipsóides e os cristais protéicos arredondados.......................................................................15

Figura 1.2. Modos de ação das toxinas Cry.............................................................................18

Figura 1.3. Estrutura tridimensional das proteínas Cry, produzidas por B. thuringiensis... . .20

Figura 5.1. Cultura de B. thuringiensis israelensis em diferentes momentos de cultivo..........64

7

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1.1 Principais ingredientes utilizados em meios de cultivo de bactérias entomopatogênicas e suas concentrações................................................................................26

Tabela 4.1 Níveis das fontes de nutrientes estudadas na etapa de seleção das fontes.............36

Tabela 4.2 Planejamento experimental utilizado na etapa de seleção das fontes de nutrientes...................................................................................................................................................36

Tabela 4.3 Planejamento fatorial fracionado 23-1.....................................................................37

Tabela 4.4 Níveis das variáveis no primeiro planejamento fatorial incompleto da etapa de otimização das fontes de nutrientes..........................................................................................38

Tabela 4.5 Níveis das variáveis no segundo planejamento fatorial incompleto da etapa de otimização das fontes de nutrientes..........................................................................................38

Tabela 4.6 Níveis das variáveis no planejamento fatorial completo (23) com repetição no ponto central e pontos estrelas.................................................................................................39

Tabela 4.7 Planejamento fatorial completo 23 com repetição no ponto central e pontos estrelas 39

Tabela 5.1 Efeito das fontes testadas sobre o bioensaio (etapa de seleção das fontes)...........45

Tabela 5.2 Efeito das fontes testadas sobre o bioensaio (primeiro planejamento fatorial incompleto – otimização das fontes).........................................................................................47

Tabela 5.3 Efeito das fontes testadas sobre o bioensaio (segundo planejamento fatorial incompleto – otimização das fontes).........................................................................................51

Tabela 5.4 Ensaios para confirmação do ponto central (g/L): 0,5 de glicose, 1,0 de sulfato de amônia e 50 de farinha de crisálida. Valor das variáveis e bioensaio.....................................53

Tabela 5.5 Respostas do Delineamento Composto Central Rotacional (planejamento fatorial completo, com repetição no ponto central e pontos estrelas)..................................................55

Tabela 5.6 Análise de variância (p<0,05) para a resposta bioensaio do delineamento composto central rotacional.....................................................................................................55

Tabela 5.7 Efeito das fontes de nutrientes sobre o bioensaio (delineamento composto central rotacional).................................................................................................................................58

Tabela 5.8 Valores previstos para o bionsaio em diferentes concentrações das fontes de nutrientes...................................................................................................................................59

Tabela 5.9 Custos dos meios de cultivo: Arcas adaptado e Farinha de crisálida otimizado.....61

8

9

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 5.1 Superfície de resposta para variáveis glicose e farinha de crisálida, tendo como resposta o bioensaio (primeiro planejamento fatorial incompleto).........................................48

Gráfico 5.2 Superfície de resposta para variáveis sulfato de amônia e farinha de crisálida, tendo como resposta o bioensaio (primeiro planejamento fatorial incompleto)......................48

Gráfico 5.3 Superfície de resposta (3 dimensões) para variáveis sulfato de amônia e glicose, tendo como resposta o bioensaio (primeiro planejamento fatorial incompleto)......................49

Gráfico 5.4 Superfície de resposta (plana) para variáveis sulfato de amônia e glicose, tendo como resposta o bioensaio (primeiro planejamento fatorial incompleto)................................50

Gráfico 5.5 Superfície de resposta para variáveis sulfato de amônia e glicose, tendo como resposta o bioensaio (segundo planejamento fatorial incompleto)..........................................52

Gráfico 5.6 Superfície de resposta para variáveis sulfato de amônia e farinha de crisálida, tendo como resposta o bioensaio (segundo planejamento fatorial incompleto)......................52

Gráfico 5.7 Superfície de resposta para variáveis farinha de crisálida e glicose, tendo como resposta o bioensaio (segundo planejamento fatorial incompleto)..........................................53

Gráfico 5.8 Superfície de resposta para variáveis sulfato de amônia e glicose, tendo como resposta o bioensaio (delineamento composto central rotacional)..........................................56

Gráfico 5.9 Superfície de resposta para variáveis farinha de crisálida e glicose, tendo como resposta o bioensaio (delineamento composto central rotacional)..........................................57

Gráfico 5.10 Superfície de resposta para variáveis farinha de crisálida e sulfato de amônia, tendo como resposta o bioensaio (delineamento composto central rotacional)......................57

Gráfico 5.11 Valores observados e previstos para o bioensaio (% de morte).........................59

Gráfico 5.12 Correlação entre a biomassa (mg/mL) mensuradas pelas metodologias de gravimetria e turbidimetria.......................................................................................................62

Gráfico 5.13 Crescimento microbiano (biomassa) e toxicidade (bioensaio) ao longo do cultivo (96 horas)......................................................................................................................63

Gráfico 5.14 Potencial hidrogeniônico (pH) ao longo do (96 horas)......................................65

Gráfico 5.15 Toxicidade da cultura durante o armazenamento................................................67

10

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................12

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................................142.1 Características gerais de Bacillus thuringiensis..............................................................142.2 Bacillus thuringiensis subsp. israelensis.........................................................................162.3 Proteínas Cry...................................................................................................................172.4 Outras toxinas produzidas por B. thuringiensis..............................................................212.5 Produção de B. thuringiensis..........................................................................................222.6 Meios de cultura..............................................................................................................242.7 Bioensaio.........................................................................................................................282.8 Planejamento de experimentos e uso do método de superfície de resposta....................29

3. OBJETIVOS.........................................................................................................................323.1 Objetivo Geral.................................................................................................................323.2 Objetivos Específicos......................................................................................................32

4. MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................................334.1 Microrganismo................................................................................................................334.2 Recuperação e manutenção da cultura............................................................................334.3 Preparo do pré-inóculo....................................................................................................334.4 Condições de cultivo.......................................................................................................344.5 Seleção das fontes de nutrientes.....................................................................................344.6 Otimização das concentrações das fontes de nutrientes selecionadas............................374.7 Estudo da cinética de crescimento e produção de toxinas..............................................404.8 Toxicidade da cultura de Bacillus thuringiensis subsp. israelensis duratne armazenamento.....................................................................................................................404.9 Métodos analíticos..........................................................................................................41

4.9.1 Bioensaio..................................................................................................................414.9.2 Unidades formadoras de colônia (UFC)..................................................................414.9.3 Quantificação de esporos.........................................................................................424.9.4 Biomassa seca (gravimetria)....................................................................................434.9.5 Turbidimetria...........................................................................................................434.9.6 Lâminas para análise microscópica.........................................................................44

4.10 Análise estatística..........................................................................................................44

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................455.1 Seleção das fontes de nutrientes.....................................................................................455.1 Otimização das concentrações das fontes de nutrientes selecionadas............................47

5.1.1 Planejamentos fatoriais incompletos........................................................................475.1.2 Planejamento fatorial completo...............................................................................54

5.3 Cinética de crescimento e produção de toxinas..............................................................625.4 Toxicidade da cultura de Bacillus thuringiensis subsp. israelensis durante armazenamento.....................................................................................................................67

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................69

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................70

11

ANEXO 1:Processo de produção de farinha de crisálida pela indústria de fiação de seda Bratac s.a...................................................................................................................................75

ANEXO 2: Análise da constituição química de farinha de crisálida........................................76

12

1. INTRODUÇÃO

Estima-se que existam cerca de 2,5 milhões de espécies de insetos, das quais 10% são

consideradas pragas, isto é, causam danos ao ser humano ou perdas econômicas na pecuária

ou na agricultura. Muitas doenças de interesse da saúde pública, como malária, dengue, febre

amarela, filariose e doença de chagas são transmitidas por insetos vetores. Em geral, os países

mais atingidos por estas doenças são os tropicais e subtropicais, devido principalmente às suas

características climáticas favoráveis à proliferação de insetos. O crescente aquecimento global

demanda preocupação especial, estendendo as áreas propícias a esta proliferação também a

regiões atualmente com clima temperado.

O controle atual da população de insetos é realizado, principalmente, por inseticidas

químicos, cujo uso indiscriminado e massivo causa danos ambientais e à saúde humana.

Produtos químicos com alta toxicidade, porém com baixa especificidade e alto efeito residual,

prejudicam o meio ambiente, além de contribuírem para a existência de considerável número

de espécies de insetos com populações resistentes, inviabilizando a aplicação de tais produtos.

Uma alternativa aos inseticidas químicos é o controle biológico, o qual pode ser feito

com o uso racional de entomopatógenos, que constituem os componentes ativos dos

bioinseticidas ou inseticidas biológico.

Entre as vantagens dos bioinseticidas destacam-se: alta especificidade, menor risco

ambiental e à saúde humana, menor freqüência de resistência nos insetos alvo e a

possibilidade do entomopatógeno se multiplicar no ambiente e, com isso aumentar sua

permanência.

Como desvantagens dos bioinseticidas, destacam-se espectro de ação restrito e maior

suscetibilidade às condições ambientais. Estas desvantagens podem ser atenuadas com o uso

de boas formulações e estudos para aplicação do produto, a fim de torná-lo mais resistentes às

condições ambientais e com maior tempo de prateleira.

A comercialização de bioinseticidas corresponde a cerca de 5% do mercado de

pesticidas. Porém, o uso destes produtos vem crescendo dez vezes mais do que o uso de

inseticidas químicos. As bactérias destacam-se como promissoras no controle biológico. Entre

estes microrganismos, Bacillus thuringiensis (Bt) é o mais utilizado como bioinseticida.

Estima-se que os produtos a base dessa bactéria correspondam a cerca de 97% do mercado

mundial de bioinseticidas.

13

Entre as razões para o sucesso dos produtos à base de B. thuringiensis estão sua alta

toxicidade aos insetos alvos, capacidade de esporulação e o caráter monogênico de sua

principal toxina, o que facilita a manipulação genética da mesma.

A subespécie israelensis de B. thuringiensis mostrou-se eficaz no combate a dípteros,

ordem onde se encontram muitos gêneros com espécies vetores de doenças, como Aedes,

Culex e Anoplheles. Muitos produtos feitos a partir dessa subespécie vêm sendo utilizados há

mais de trinta anos em países africanos sob a recomendação da Organização Mundial da

Saúde (OMS).

Os maiores produtores de inseticidas a base de B. thuringiensis são Estados Unidos e

Canadá. O desenvolvimento de produção local, com linhagens mais adaptadas às condições

brasileiras e com meios de cultivo alternativos, poderia tornar o produto à base de B.

thuringiensis mais competitivo no Brasil.

Embora a produção de B. thuringiensis seja bem estudada, muitas informações

necessárias ao desenvolvimento de uma produção local não estão disponíveis na literatura.

Isto ocorre porque muitas informações são propriedades de indústrias que comercializam

produtos a base de B. thuringiensis.

Considerando a necessidade do Brasil em controlar os insetos vetores de doenças ou

pragas agrícolas, tendo em vista as vantagens do controle biológico e a dificuldade em se

obter informações sobre a produção de B. thuringiensis torna-se necessário o estudo e

desenvolvimento de tecnologia local para produção de bioinseticidas.

14

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Características gerais de Bacillus thuringiensis

Bacillus. thuringiensis foi descrito em 1915 na Alemanha, isolado a partir de traça de

farinha (Anagasta kuehniella). Anteriormente, em 1902, no Japão, o pesquisador Ishiwata já

havia isolado uma bactéria a partir de Bombyx mori, que posteriormente se soube ser também

uma subspécie de B. thuringiensis. No entanto, a comercialização de produtos a base desta

bactéria só se iniciou em 1938 na França, com o bioinseticida comercializado sob o nome de

“Sporeine”. (BRAR et al., 2006; CAPALBO et al., 2004; VIDAURRE, 1996).

Pertencente à família Bacillaceae, a qual engloba a maioria das espécies formadoras

de esporos, B. thuringiensis é um bastonete gram positivo, com célula vegetativa de 1,0 a

1,2 µm de largura por 3,0 a 5,0 µm de comprimento, geralmente móveis. O esporo dessa

bactéria possui formato elipsoidal e localiza-se na região central ou paracentral quando no

interior da célula mãe. A espécie é aeróbia não estrita com faixa de temperatura de

crescimento entre 10 e 45°C. B. thuringiensis apresenta um amplo complexo enzimático, o

que lhe permite utilizar uma variedade de substratos. A principal característica que distingue a

espécie das outras do mesmo gênero é a presença intracelular de um cristal protéico (GLARE

& O’CALLAGHAN, 2000; HABIB & ANDRADE, 1998; MORAES et al., 2001; VILAS-

BÔAS et al., 2007).

Devido à suas características fisiológicas de esporulante e aeróbia não estrita, B.

thuringiensis apresenta resistência a condições adversas, o que contribui para seu alto

potencial no controle biológico (MORAES et al., 1998).

O cristal protéico típico de B. thuringiensis é, em geral, produzido durante a

esporulação e constitui o principal ingrediente ativo dos bioinseticidas a base dessa bactéria.

Este cristal é tóxico para várias espécies de insetos, destacando-se no controle de:

Lepidóptera, Díptera e Coleóptera. Porém, há subespécies de B. thuringiensis que apresentam

cristais tóxicos contra insetos dos gêneros Himenóptera, Hemíptera, Orthoptera, Phthraphera e

também para alguns nematóides, protozoários e ácaros (BRAR et al., 2006; GLARE &

O’CALLAGHAN, 2000; SCHNEPF et al., 1998).

15

Os cristais de B. thuringiensis são formados principalmente por proteínas

denominadas Cristal (Cry) e Citolíticas (Cyt), as quais são também conhecidas como δ-

endotoxinas (BRAVO et al., 2007). Ao final da esporulação, o cristal protéico corresponde a

cerca de 20% a 30% do peso seco da célula, sendo liberado no momento da lise celular

(ARANTES et al., 2002; GLARE & O’CALLAGHAN, 2000). A figura 1.1 apresenta esporos

e cristais de B. thuringiensis liberados com a lise celular, vistos em microscópio óptico com

aumento de 1000 vezes.

Figura 1.1 Cultura lisada de B. thuringiensis subsp. israelensis, evidenciando os esporos elipsóides (seta vermelha) e os cristais protéicos arredondados (seta azul). Aumento de 1000 vezes. Coloração: Amido-Black e Fucsina.Fonte: Cedido por Drª. Gislayne Fernandes Lemes Trindade Vilas-Bôas; Laboratório de Bioinseticida / Departamento de Biologia Geral/ Universidade Estadual de Londrina.

Bacillus thuringiensis já foi isolado de diversos ambientes, destacando-se solos,

insetos vivos ou mortos, grãos estocados, amostras de água entre outros. Embora muitos

sorotipos tenham sido isolados de amostras de solo, sabe-se que o esporo pode persistir por

muito tempo neste ambiente, porém essa bactéria não é capaz de se multiplicar naturalmente

no solo ou na água. Pesquisas recentes apontam o inseto como o nicho de B. thuringiensis,

pois é principalmente neste ambiente que ocorre sua multiplicação e interações genéticas

(RAYMOND et al., 2008; VILAS-BÔAS et al., 2000).

16

9 µm

2.2 Bacillus thuringiensis subsp. israelensis

A ordem de insetos Díptera possui muitos vetores de patógenos, destacando-se os

gêneros Aedes (Meigen, 1818), Culex (Linnaeus, 1758) e Anopheles (Meigen, 1818). Entre os

patógenos transmitidos por estes insetos destacam-se os causadores da dengue, malária,

filariose, encefalites e febre amarela. Muitos destes vetores já apresentam resistência a

inseticidas químicos. Durante muito tempo procurou-se uma subespécie de B. thuringiensis

capaz de controlar com eficiência as populações de Díptera. Em 1976/77, Goldberg e Margalit

isolaram e descreveram a variedade israelensis (Bti) a partir da água de uma lagoa de alta

salinidade. Esta subespécie apresentou-se com alto potencial no controle de larvas de algumas

espécies de Díptera. Desde então, Bti vem sendo bastante estudada e aplicada no controle

biológico (BECKER & MARGALIT, 1993; CAPALBO et al., 2004, GOLDEBERG &

MARGALIT, 1977; VIDAURRE, 1996).

Devido ao seu modo de ação complexo, é difícil encontrar mosquitos resistentes às

toxinas de B. thuringiensis israelensis. Esta subespécie tem sido utilizada em vários países da

África, na China, na Alemanha e na Austrália (BECKER & MARGALIT, 1993; ÖSKAN et

al., 2003; RUSSEL & KAY, 2008).

A segurança ambiental de B. thuringiensis israelensis tendo sido estudada e

numerosos testes com animais não-alvo tem sido realizados. Em alguns estudos com

mamíferos, por exemplo, fez-se a administração de doses altas de Bti (108 bactérias/animal)

via subcutânea, oral, intraperitonial, ocular e por inalação; estes testes revelaram que esta

subespécie é inócua para mamíferos. Além desses estudos, o fato de não haver registro de

malefícios a outros animais em locais onde Bti é utilizada, comprovam sua segurança

ambiental. Seu uso é permitido nos Estados Unidos desde 1981 (BECKER & MARGALIT,

1993).

O cristal protéico de Bti possui, em geral, a forma arredondada, como apresentado na

figura 1, sendo formado principalmente por 4 proteínas Cry: Cry4A (125KDa), Cry4B

(134KDa), Cry11A (67KDa) e Cry1Aa(27KDa).

17

2.3 Proteínas Cry

As proteínas Cry e Cyt são as principais constituintes dos cristais que caracterizam B.

thuringiensis. Estas proteínas são codificadas por genes que geralmente se localizam em

plasmídeos, e com menor freqüência localizam-se no cromossomo bacteriano. O cristal

protéico foi descoberto em 1953 por Hannay (BRAVO et al., 2007; HABIB & ANDRADE,

1986; LERECLUS, et al., 1993).

Atualmente estão descritas 436 proteínas Cry, sendo que a cada ano novas proteínas

são descobertas, só no ano de 2008 foram descritas 42 novas proteínas. De acordo com a

definição mais aceita, uma proteína é considera Cry quando forma uma inclusão paraesporal

(cristal) em B. thuringiensis, exibe algum grau de toxicidade a insetos alvos, ou alguma

proteína que tenha seqüência de aminoácidos similar a uma proteína Cry já descrita (BRAVO

et al., 2007; CRICKMORE et al., 2008, SCHNEPF, et al, 1998).

Uma mesma subespécie de B. thuringiensis pode conter várias cópias de um mesmo

gene cry ou de genes cry diferentes, sendo que as proteínas produzidas por estes genes

formarão um mesmo cristal. Dependendo das proteínas que constituem o cristal, este possui

um formato diferente, portanto há uma correlação entre a estrutura e composição protéica do

cristal. Como determinadas proteínas Cry são tóxicas para insetos específicos, o formato do

cristal pode fornecer indícios de qual inseto a subespécie em questão possui ação efetiva.

(LERECLUS et al., 1993; GLARE & O’CALLAGHAN, 2000).

As proteínas Cry são sintetizadas na forma de protoxinas, portanto, para poder agir é

necessária sua ativação, a qual ocorre no interior do inseto. Atualmente, há dois modelos

baseados em dados experimentais que explicam o modo de ação das toxinas Cry. As primeiras

etapas desses dois modelos são iguais: após a ingestão dos cristais, esses são solubilizados no

intestino do inseto, local com pH alcalino, liberando as protoxinas. Essas são clivadas por

proteases do próprio inseto, resultando em toxinas ativas, com cerca de 60kDa. A toxina ativa

é capaz de ligar-se a receptores específicos presentes nas células das microvilosidades

intestinais do inseto (BRAVO et al., 2007; SCHNEPF, et al., 1998).

O modelo de ação denominado “formação de poros” é o mais antigo e parece ser o

mais comum entre os diferentes gêneros de insetos (dípteros, lepidópteros e coleópteros).

Segundo esse modelo, a ligação da toxina com receptores específicos levaria a formação de

oligômeros de toxinas, os quais se ligariam a receptores secundários, que se encontram

firmemente ancorados na membrana da célula intestinal. Como resultado dessa ligação,

18

ocorreria a inserção da toxina oligomérica na membrana da célula intestinal,

resultando em poros nesse epitélio (BRAVO et al., 2007; BRAVO & SOBERÓN, 2008;

HABIB & ANDRADE, 1986).

O modelo mais atual que explica a ação de toxinas Cry é denominado “sinal de

transdução” e foi estudado em apenas poucos insetos-alvos. De acordo com esse modelo, a

ligação da proteína Cry com receptores específicos, induziria uma série de reações

intracelulares, que envolvem a proteína G e a adenilato ciclase, resultando no aumento da

AMP cíclico intracelular e ativação da proteína quinase A. Todas essas conseqüências levam

a um desequilíbrio da pressão interna celular, danificando-a (BRAVO & SOBERÓN, 2008).

A figura 1.2 apresenta um esquema que resume os modelos de ação por “formação de

poros” e por “sinal de transdução”.

Figura 1.2. Modos de ação das toxinas Cry. Os passos 1 a 3 são iguais nos dois modelos. O modelo “formação de poros” está representado na porção superior pelas números 4 a 6. A etapa 4 refere-se à oligomerização das toxinas, a 5 a ligação ao segundo receptor e a etapa 6 a inserção da toxina na membrana. O modelo “sinal de transdução” está representado na porção inferior pelo números 4a e 5a. A etapa 4a refere-se à ligação da toxina ao receptor e estimulação da proteína G, que estimularia a adenilato cilcase (etapa 5a) e após uma série de reações em cascata, comprometeriam o equilíbrio interno celular.Fonte: BRAVO & SOBERÓN, 2008.

19

A ação das toxinas, seja por qualquer um dos modelos, resulta na paralisia do aparelho

digestório, ocasionando morte por inanição. Em muitos insetos a causa da morte é septicemia

e paralisia geral dos movimentos, nesses casos a causa principal é a germinação de esporos

presentes no produto e não, necessariamente, devido á ação da toxina (BRAVO et al., 2007;

BRAVO & SOBERÓN, 2008; HABIB & ANDRADE, 1986; VALLETE-GELY et al, 2008).

Como grande parte dos genes cry localiza-se em plasmídeos conjugativos, os sorotipos

podem apresentar uma grande combinação de genes, o que resulta na ampla variedade de

perfis de toxicidade (CAPALBO et al., 2004; LERECLUS et al., 1993).

A transcrição da maioria dos genes cry é dependente do fator sigma, produzido

durante o processo de esporulação, por isso a maior parte das proteínas que compõem o cristal

é produzida durante essa etapa. Apenas, uma pequena parcela dos genes cry é regulada

independentemente da esporulação, sendo, portanto, expressos também durante o crescimento

vegetativo. Em ambos os casos, a proteína Cry é fruto do metabolismo secundário

(ARANTES et al., 2002; LERECLUS et al., 1993).

A massa molecular das proteínas Cry varia entre 40 e 140 KDa. A molécula destas

proteínas é globular, formada por três domínios estruturais ligados entre si por pequenas

pontes. Até o momento, seis proteínas Cry tiveram suas estruturas bem determinadas por

cristalografia por raios-X (figura1.3). Estas proteínas apresentaram um alto grau de

similaridade entre seus domínios, o que indica que apresentam um modo de ação semelhante.

O domínio 1 (N-terminal) é formado por cadeias polipeptídicas com formato de α-hélices,

sendo uma central (hidrofóbica), cercada por 6 cadeias marginais. O domínio 2 é composto

por três cadeias polipeptídicas antiparalelas com formato de β-folha pregueada. Já o domínio

3 apresenta o formato de β-sandwich (BRAVO et al., 2007).

Embora estudos atuais indiquem que várias porções dos diferentes domínios da

proteína se insiram na membrana no momento de formação dos poros, acredita-se que o

domínio 1 seja o principal responsável pela inserção (NAIR & DEAN, 2008). Os domínios 2

e 3 apresentam similaridades estruturais com cadeias polipeptídica que se ligam a

carboidratos e estariam envolvidos principalmente no reconhecimento de receptores presentes

na membrana das células dos insetos-alvo (BRAVO et al., 2007).

Durante muito tempo, a nomenclatura das proteínas Cry foi feita de acordo com o

inseto-alvo, desta forma, eram classificadas como Cry I as proteínas tóxicas a lepidópteras,

Cry II tóxicas a lepidópteras e dípteras, Cry III contra coleópteras, Cry IV contra dípteras.

Devido às constantes descobertas de novas proteínas Cry, tal sistema mostrou-se inconsistente

e, atualmente a classificação é feita baseando-se na seqüência de aminoácidos das proteínas.

20

Periodicamente o banco de dados on-line sobre proteínas de B. thuringiensis atualiza a

classificação e nomenclatura de tais proteínas (CRICKMORE et al., 1998; 2008).

Figura 1.3. Estrutura tridimensional das proteínas Cry, produzidas por B. thuringiensis. Nota-se que a estrutura geral das proteínas Cry é conservada.Fonte: BRAVO et al., 2007.

As proteínas Cyt são definidas como uma inclusão paraesporal de B. thuringiensis que

apresenta atividade hemolítica, ou alguma proteína que apresente seqüência de aminoácidos

similar a proteínas Cyt já descritas. Estas proteínas são formadas por apenas um domínio

composto por duas cadeias exteriores em forma de α-hélice, e uma cadeia interna em forma de

β-folha pregueada. Atualmente são conhecidas 27 proteínas Cyt (BRAVO et al., 2007;

CRICKMORE et al., 1998; 2008).

Assim como as proteínas Cry, as Cyt também são sintetizadas na forma de protoxinas.

No interior do inseto, as proteínas Cyt sofrem quebras, liberando a toxina ativa. Ao contrário

das proteínas Cry, Cyt não se liga a receptores específicos da membrana celular, e sim,

diretamente aos lipídios da membrana. Após sua ligação, as proteínas Cyt induzem a

formação de poros ou agem desestruturando a bicamada lipídica das membranas (BRAVO et

al., 2007).

Vários estudos têm demonstrado ocorrer um efeito sinergístico entre as proteínas Cry e

entre estas e as proteínas Cyt, ou seja, a maior toxicidade é devida à interação das proteínas,

onde uma potencializa o efeito da outra. (BRAVO et al., 2007; ÖSKAN, 2003).

21

2.4 Outras toxinas produzidas por B. thuringiensis

Além das proteínas Cry e Cyt, B. thuringiensis sintetiza outras toxinas que podem ou

não participar da ação entomopatogênica.

Em 1967 Heimpel sugeriu o nome de β-exotoxina para uma substância termoestável e

tóxica para alguns insetos. Devido a sua estrutura química o nome β-exotoxina vem sendo

substituído por thuringiensina. Estas proteínas possuem baixo peso molecular, a sua

toxicidade relaciona-se a inibição da RNA polimerase, pois é análoga a nucleotídeos. Embora

não possua especificidade, a ação de thuringiensina contribui para a toxidade global das

linhagens que a expressam (GLARE & O’CALLAGHAN, 2000; HABIB & ANDRADE,

1998; LERECLUS et al., 1993). Alguns trabalhos citam a importância dessa toxina no

controle de besouros e algumas espécies de ácaros (WU et al., 2002).

Muitos sorotipos de B. thuringiensis produzem proteínas denominadas Vip (vegetative

insecticidal proteins), as quais são sintetizadas na etapa vegetativa do crescimento. Apesar de

não integrarem o cristal protéico, estas proteínas contribuem para a toxicidade global das

linhagens e possuem forma de intoxicação similar às das proteínas Cry (CRICKMORE et al.,

2008; GLARE & O’CALLAGHAN, 2000).

Em 2000, Mizuki et al. descreveram uma nova toxina de B. thuringiensis a qual

passou a ser denominada Parasporina. Estas toxinas são definidas como proteínas paraesporal

de B. thuringiensis sem atividade hemolítica e que apresentam a capacidade de atacar células

cancerígenas (OHBA et al., 2008).

Bacillus thuringiensis sintetiza fosfolipases C, estas são produzidas ao final da fase

exponencial de crescimento e são excretadas para o meio de cultura (AGAISSE et al., 1995).

Essa bactéria sintetiza também quitinases e proteases que contribuem para romper a

membrana peritríquia presente no intestino dos insetos, contribuindo, dessa maneira, para a

toxicidade global das linhagens (GLARE & O’CALLAGHAN, 2000).

Além das toxinas, o esporo de B. thuringiensis também contribui parar sua toxicidade,

pois estes podem germinar no interior do inseto-alvo, ocasionando septicemia; ou

potencializarem o efeito da toxina em uma ação sinergística (GLARE & O’CALLAGHAN,

2000; RAYMOND et al., 2008).

22

2.5 Produção de B. thuringiensis

As primeiras indústrias a demonstrarem interesse no estudo e comercialização de B.

thuringiensis foram empresas de fermentação. Logo as indústrias de produtos químicos

perceberam a importância deste mercado de controle biológico e se lançaram em sua pesquisa

e produção (CABALBO & MORAES, 1988).

Nas décadas de 1970 e 1980, com o isolamento de novas linhagens e a possibilidade

da manipulação gênica, o interesse por B. thuringiensis aumentou bastante, principalmente no

setor privado (ARANTES et al., 2002; CAPALBO et al., 2004).

No Brasil, estudos realizados por diversos grupos em diferentes regiões têm tentado

implantar centros biotecnológicos onde ocorra a produção de produtos a base de B.

thuringiensis. Atualmente, tais centros estão em fase de estabelecimento dos métodos de

produção e execução dos testes preliminares. Como exemplos destes centros podem-se citar a

Probiom Tecnologia, situada na cidade de Campinas (São Paulo) e Bioticom, situada em

Recife (Pernambuco). A empresa Bthek Biotecnologia Ltda., com sede em Brasília, foi uma

das primeiras a formular e comercializar um produto nacional à base de B. thuringiensis.

Em geral, os produtos à base de B. thuringiensis são compostos por uma mistura de

cristais, esporos, células vegetativas e ingredientes secundários da formulação (CAPALBO et

al., 2004). Muitos destes produtos não são acessíveis aos consumidores, quer pelo preço, pela

falta de informação ou devido às condições legais estabelecidas pelo país. O desenvolvimento

de produções locais pode ser uma solução para tal situação. Neste caso, a produção pode ser

feita em um volume menor, escala piloto, usando-se materiais alternativos e abundantes na

região a ser atendida (SALAMA & MARGALIT, 1993; MORRIS et al., 1997).

Em geral, a produção de B. thuringiensis, assim como de outros produtos microbianos,

envolve as seguintes etapas: seleção da linhagem, estocagem, processo fermentativo,

recuperação do princípio ativo (esporos e cristais), formulação do produto e análise da

qualidade. Referencia!

Segundo Couch (2000) os principais critérios para seleção de uma subespécie

bacteriana para produção de bioinseticidas são: espectro de ação, potência por unidade de

volume da cultura, requerimentos nutricionais, facilidade de produção, estabilidade genética e

facilidade de estocagem.

A estocagem apropriada é de grande importância, pois a linhagem deve conservar seu

potencial tóxico e velocidade de crescimento. No caso de B. thuringiensis, as trocas de

23

plasmídeos ocorrem com certa freqüência e há relatos de perca de toxicidade após sucessivas

fermentações, sendo essencial a constante busca por novas linhagens e o monitoramento

durante o processo de fermentação (COUCH, 2000; BIZARRI et al, 2008).

A forma mais comum de produção de B. thuringiensis é por fermentação submersa

(líquida) descontínua, também conhecida como processo em batelada. Nesta fermentação um

recipiente é inoculado com o microrganismo e o meio de cultura líquido, não havendo

acréscimo ou retirada significativa do meio fermentado. Portanto, ocorre todo o

desenvolvimento da cultura, sendo retirado o produto apenas no final do processo. Em geral,

as proteínas Cry de B. thuringiensis são formadas no fim da fermentação, quando as

condições do meio se tornam desfavoráveis, sendo o processo em batelada satisfatório para tal

produção (MORAES et al., 2001).

Alguns pesquisadores têm estudando as fermentações sólida, contínua e em batelada

alimentada, porém até o momento, o mais viável para produção de proteínas Cry, ainda é o

processo em batelada (ADAMS et al., 2002; CHEN et al., 2003, MORAES et al., 2001,

VALLEJO et al., 1999).

Na fermentação industrial os passos a serem seguidos são: pré inóculo, geralmente

feito em frascos pequenos, pré fermentador, ?comumente com 1/5 do volume da fermentação

e o fermentador final. Durante todas as etapas deve-se analisar a cultura quanto à

contaminação, características morfológicas e potencial entomopatogênico. Em geral, os

reatores utilizados permitem o controle das principais condições de cultivo, as quais são:

temperatura, pH, aeração e agitação. O pré-inoculo, pré-fermentador e o fermentador em

volumes crescentes são feitos a fim de diminuir o tempo da fase lag, ou seja, o período de

adaptação do microrganismo às condições de cultivo. Em geral, pré fermentadores e

fermentador possuem os mesmos ingredientes no meio de cultivo. É importante limitar o

número de passos no processo de produção a fim de evitar contaminações e mudanças

indesejáveis no comportamento da bactéria (COUCH, 2000; MORAES et al., 2001).

Ao final da fermentação, a cultura de B. thuringiensis apresenta em média 6 a 8% de

sólidos, dos quais 1 a 3% são cristais e esporos. Há vários métodos que podem ser utilizados

para a recuperação destes cristais e esporos, sendo o mais comum a centrifugação e a micro-

filtração. É importante ressaltar que com tais processos, ocorre a recuperação principalmente

das proteínas Cry e muitas outras toxinas que podem contribuir para a toxicidade final do

produto são perdidas. Atualmente novas técnicas de recuperação e/ou concentração do

produto estão sendo desenvolvidas para complementar as mais utilizadas, destacando-se: a

liofilização e a flotação (BRAR et al., 2006; COUCH, 2000).

24

Após a recuperação, os produtos são formulados. No caso dos bioinseticidas, a

formulação tem três objetivos principais: conferir estabilidade ao produto durante a estocagem

e aplicação, facilitar a aplicação do produto e proteger o microrganismo das condições

adversas do ambiente. Há dois tipos básicos de formulação: sólida e liquida. Em geral, as

formulações sólidas são mais estáveis e preferíveis. As formulações são importantes, pois

podem permitir aos produtos a base de B. thuringiensis competir melhor no mercado de

produtos inseticidas (BRAR et al., 2006; COUCH, 2000).

Embora sejam segredos industriais, as formulações geralmente contam com uma

combinação de aditivos reconhecidos pela FDA (Food and drug Administration) ou pelo

órgão competente do país. É comum o uso de dispersantes, protetores e surfactantes (GLARE

& O’CALLAGHAN, 2000; BRAR et al., 2006).

Antes de ser comercializado, o produto formulado deve passar por testes de análise de

qualidade que atestem principalmente sua potência tóxica. Para B. thuringiensis, a toxicidade

é geralmente analisada por meio de bioensaio com o inseto-alvo (COUCH, 2000).

2.6 Meios de cultura

A escolha do meio de cultivo adequado é extremamente importante para o sucesso de

um produto. Esta escolha deve atender a dois requisitos principais; proporcionar uma boa

produção e não ser muito oneroso (COUCH, 2000).

Os meios de cultivo para B. thuringiensis geralmente possuem uma fonte de

nitrogênio, outra de carbono e sais minerais. Algumas vezes se adicionam ao meio alguns

tampões e anti-espumantes a fim de facilitar o processo (COUCH, 2000).

A fonte de carbono, além de fornecer matéria prima para muitos compostos celulares,

serve como fonte de energia. O nitrogênio é requerido principalmente para síntese de

proteínas e ácidos nucléicos. Os sais minerais atuam como co-fatores, sendo também

importantes no controle da osmolaridade celular.

Couch (2000) cita os principais componentes e suas concentrações utilizadas no

cultivo de B. thuringiensis na América do Norte (Tabela 1). Apesar das indústrias não

revelarem a composição de seus meios, sabe-se que estes geralmente são combinação dos

25

produtos listados. Muitos dos produtos utilizados são componentes indefinidos, porém não

devem apresentar muita variação de um lote para outro.

Meios alternativos vêm sendo estudados a fim de baratear o produto final,

principalmente nas produções regionais em escala piloto. Poopathi et al. (2002) obtiveram

resultados expressivos em cultivos em meio à base de batata. Vora e Shethna (1999)

estudaram um meio contendo extrato de soja suplementado com cistina, tendo bons resultados

para produção de d-endotoxina. Prabakaran et al. (2008) desenvolveram um meio de cultivo a

base de água de coco, obtendo resultados satisfatórios para produção de toxinas.

Vários estudos têm sido feitos utilizando-se como meio de cultivo para B.

thuringiensis águas residuais de indústrias e de estações de tratamento de água. Tais trabalhos

têm apresentado bons resultados, e muitas produções em escala piloto já utilizam estes

resíduos (LACHHAB et al., 2002; MONTIEL et al., 2001; VIDYARTHI et al., 2002;

YEZZA et al., 2005, 2006; CHANG et al, 2008).

A fonte de carbono para cultivo de B. thuringiensis varia muito conforme o objetivo

da fermentação, bem como qual linhagem está sendo cultivada. A maioria dos trabalhos

revela que a melhor fonte para crescimento vegetativo não corresponde a melhor fonte para

esporulação e formação dos cristais protéicos. Referencia!

Os estudos de Içgen et al. (2002b) indicam um efeito inibidor da glicose durante a

síntese da d-endotoxina. De acordo com este trabalho, as melhores fontes de carbono para

produção dos cristais tóxicos e esporulação são lactose, sacarose e inulina.

Segundo de Öskan et al. (2003), a glicose, amido e melaço inibem a produção de

toxina, em particular a proteína Cry4B (134KDa). Este estudo foi feito com B. thuringiensis

subsp. israelensis e ressalta o efeito repressor da glicose, a qual agiria em etapas de

fosforilação da proteína quinase Calfostina C, responsável pela produção das protoxinas Cry.

Segundo os autores, as melhores fontes de carbono para biossíntese da d-endotoxina seriam

dextrina, aveia, maltose, lactose, inulina, glicerol e sacarose, sendo a dextrina a mais

promissora de todas quanto à esporulação e produção de toxina.

26

Tabela 1.1 Principais ingredientes utilizados em meios de cultivo de bactérias

entomopatogênicas e suas concentrações.

Ingrediente Concentração (g/L)

Farinha de soja 20-40

Farinha da semente do algodão 14-30

Proteína de batata 15-40

Licor de milho ou sólidos derivados de

milho

15-30

Glicose 10-30

Peptona 2-5

Xarope de milho 20-45

Melaço 1.0-18.6

Glicerol 2.0-10

Amido de milho 10-15

Extrato de levedura 2.0

KH2PO4 1.0

K2HPO4 1.0

FeSO4 0.02

FeSO4.7H2O 0.0005-0.02

MgSO4. 7H2O 0.3

MnSO4. H2O 0.02

ZnSO4.7H2O 0.02

(NH4)2SO4 2

CuSO4.5H2O 0.005

CaCO3 1.0-1.5

PPG2000 2.0-5.0

Anti-espumante Hodag FD62 3.0

Anti-espumante SAG 5693 0.5-1.25

Anti-espumante Dow Corning 0.1

Fonte: Couch, 2000

27

Resultados diferentes dos pesquisadores Öskan et al. (2003) estão presentes nos

trabalhos de Vora e Shethna (1999) e Prabagaran et al. (2004), os quais indicam o melaço-de-

cana como uma boa fonte de carbono para produção de toxina. Estes estudos comprovam que

é necessário otimizar um meio para cada sorotipo, pois os resultados do estudo com um

determinado sorotipo muitas vezes não podem ser extrapolados para outros.

As fontes de nitrogênio podem ser tanto orgânicas quanto inorgânicas, sendo comum o

uso das duas fontes juntas. Os estudos de Arcas et al. (1984), Içgen et al. (2002b), Öskan et

al. (2003) e Zouari e Jaoua (1999) indicam que o uso de apenas nitrogênio inorgânico não é

aconselhável para o cultivo de B. thuringiensis, pois há diminuição de crescimento,

esporulação e biossíntese. Dentre as mais promissoras fontes de nitrogênio inorgânico

apontadas por estes autores, destacam-se os fosfatos [NH4H2PO4 e (NH4)2HPO4] e sulfatos por

otimizarem esporulação e muitas vezes a produção de toxinas. Entre as fontes orgânicas, o

extrato de levedura é bastante usado no cultivo de B. thuringiensis, porém peptona e soja

apresentam resultados promissores.

Como fontes alternativas de nitrogênio orgânico vêm se destacando: farinhas

derivadas de proteína animal (farinha de peixe e de crisálida), soja e alguns cereais (cevada e

trigo) (ALVES et al., 1997; DEVI, 2005; GHRIBI et al., 2005; MORRIS et al., 1997,

PRABAKARAN & BALAMARAN, 2006; ZOUARI & JAOUA, 1999).

A concentração de sais no meio de cultivo influencia diretamente a osmolaridade do

mesmo. Não há consenso sob qual porcentagem de sais é melhor, bem como quais os sais que

devem ser adicionados. Referencia!

Arcas et al. (1987) obtiveram uma boa produção de toxina com um meio contendo

osmolaridade de 808 miliosmol, sendo este um experimento clássico que resultou em um

meio bastante adotado para crescimento e produção de B. thuringiensis. É importante ressaltar

que embora os sais ajam como um todo na osmolaridade, cada íon fornecido pelos sais pode

ter um efeito diferente. Muitas vezes, produção e crescimento não se relacionam, sendo que

alguns íons melhoram um parâmetro e prejudicam ou são neutros para outro. Os principais

íons fornecidos pelos sais são: magnésio, cálcio, manganês, cobre e zinco.

Os estudos de Öskan et al. (2003) e Içgen et al. (2002a) revelaram que o manganês é

crítico para a diferenciação celular, sendo requerido para esporulação e formação do cristal de

toxina. Provavelmente este íon atue em processos de co-regulação da síntese da toxina. Os

melhores resultados aparecem quando a concentração de manganês varia entre 10-6 e 10-4M,

valores maiores que estes se tornam tóxicos para todos os processos celulares.

28

Assim como manganês, o magnésio influencia o metabolismo secundário, portanto,

com efeito na produção das proteínas Cry. Sua concentração ideal é em torno de 10 -3 M. O

cálcio é bastante importante no processo de esporulação, promovendo a estabilidade do cristal

protéico. A concentração de 10-3 M de cálcio estimula a esporulação, porém é inibidora para o

crescimento vegetativo e síntese protéica. Ao que parece, o cálcio não é essencial para a

síntese de toxina. Recomenda-se o uso de concentrações menores que 10 -3 M de cálcio, a fim

de não prejudicar a formação das proteínas Cry (IÇGEN et al., 2002a; ÖSKAN et al., 2003).

Metais como zinco, cobre e ferro apresentam resultados negativos para o crescimento,

esporulação e produção de toxina mesmo em concentrações pequenas como 10-7 M (IÇGEN et

al., 2002a; ÖSKAN et al., 2003).

2.7 Bioensaio

Um dos parâmetros mais importantes no estudo com B. thuringiensis é o seu potencial

tóxico ante o inseto-alvo. Embora muitos estudos utilizem a quantificação de proteínas Cry

para aferir a toxicidade de uma produção, sabe-se que o bioensaio é um método mais sensível,

pois fornece indícios não só quantitativos, mas também da eficácia da toxicidade da produção.

Liu e Tzeng (1998) indicam em seu trabalho a utilização do bioensaio na otimização de

produções, pois apenas contagem de esporos ou quantificação de proteínas não foram

suficientes.

O bioensaio pode ser entendido como um teste onde seres vivos são expostos a uma

determinada substância, sob condições controladas. No caso de B. thuringiensis, o bioensaio é

feito com larvas de insetos alvos segundo protocolos da Organização Mundial da Saúde

(OMS). (MORAES, et al., 2001; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005).

Para B. thuringiensis israelensis, o bioensaio é feito com larvas de terceiro ou quarto

instar de dípteras dos gêneros Aedes, Culex, Anopheles, entre outros. Nesse ensaio, larvas

entre terceiro ou quarto instar são colocadas em diferentes recipientes, nos quais são aplicadas

diferentes concentrações do produto. As larvas são mantidas a 25-28°C por um período de 24

horas, quando então são mensuradas as quantidades de larvas mortas em cada uma das

concentrações. Faz-se então um cálculo da concentração letal para 50% (CL50) e 90% (CL90)

das larvas por meio de uma regressão linear log-probit, a qual pode ser feita com o uso de

29

programas de computador adequados. O bioensaio é feito em triplicata e há um controle

negativo, no qual não é aplicado o produto. Em alguns casos, como por exemplo, no estudo de

novas linhagens, padroniza-se uma concentração para as diferentes e linhagens e aplica-se a

cultura, só posteriormente realiza-se o bioensaio completo. Esse bioensaio tem como objetivo

fazer uma triagem inicial de novas linhagens (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005).

O bioensaio pode ser expresso também em termos Unidades Internacionais (ITU),

nesse caso, a CL50 do produto em teste é comparada com o bioensaio de uma cepa de padrão

internacional a qual foi atribuída um valor arbitrário de potência. Para B. thuringiensis

israelensis, a cepa padrão é a IPS82, a qual tem um valor de potência contra A. aegypti de

15000 ITU/mg (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005).

Muitos fatores podem influenciar em um bioensaio, destacando-se a espécie de inseto,

o instar, a densidade de larvas, qualidade da água e a temperatura, sendo crucial a

padronização do teste. Estudos revelam que A. aegypti é uma das espécies mais sensíveis à B.

thuringiensis israelensis, isto ocorre devido a fatores intrínsecos dessa espécie, tais como sua

alta velocidade de filtração (JARIC´-PERKUSIC et al, 2008; OTIENO-AYAYO et al., 2008).

2.8 Planejamento de experimentos e uso do método de superfície de resposta

Os processos fermentativos são influenciados por muitas variáveis, que podem

interagir entre si. O estudo da influência das variáveis bem como da suas interações sob um

determinado resultado é muito difícil de ser realizado sem um planejamento experimental

adequado. Desta maneira, o planejamento experimental tem por objetivo principal “projetar

um experimento de forma que ele seja capaz de fornecer exatamente o tipo de informação que

procuramos” (BARROS NETO et al., 1995).

O planejamento adequado permite executar o experimento de maneira mais organizada

e com um número de ensaios reduzidos ao mínimo necessário para se alcançar os objetivos de

interesse. Além disso, com o planejamento experimental é possível calcular o erro

experimental e até mesmo otimizar mais de uma resposta ao mesmo tampo (RODRIGUES &

IEMMA, 2005).

Até o início da década de 1970, os estudos sobre meios de cultivo para

microrganismos eram feitos variando-se uma variável a cada ensaio. Embora tenha sido

30

bastante comum, este método não permite o estudo das interações entre as variáveis, além de

muitas vezes exigir uma grande quantidade de ensaios, tornando-se dispendioso. No início

dos anos de 1970, os trabalhos dos pesquisadores Fisher e Box sobre desenho experimental se

popularizaram. De acordo com a proposta destes trabalhos, mais de uma variável muda

durante um ensaio, possibilitando estudar as interações entre uma variável e outra, além de

facilitar a modelagem matemática do processo (KENNEDY & KROUSE, 1999;

RODRIGUES & IEMMA, 2005).

Entre os métodos mais comuns de planejamento experimental destacam-se o

planejamento fatorial. Nessa metodologia, há combinação entre os valores de duas ou mais

variáveis. Esses valores são definidos a priori segundo os interesses do pesquisador, com base

em dados da literatura ou análises empíricas.

O planejamento fatorial pode ser completo ou incompleto, ele é dito completo quando

todas as combinações entre as variáveis nos seus diferentes valores são executadas em

ensaios. Já no planejamento fatorial incompleto, também chamado de fracionado, apenas um

número limitado das possíveis combinações das variáveis é realizado em ensaios (KENNEDY

& KROUSE, 1999; RODRIGUES & IEMMA, 2005).

Geralmente, o planejamento fracionado é utilizado quando a quantidade de variáveis e

valores é muito grande e a execução de todas as combinações se torna inviável, neste caso o

planejamento fracionado serve para fazer uma triagem de quais variáveis são importantes para

o processo e devem continuar no estudo. O planejamento fatorial completo geralmente é feito

em uma segunda etapa, quando as variáveis importantes já foram selecionadas e,

posteriormente se deseja estudar seus valores e interações com mais detalhes (KENNEDY &

KROUSE, 1999).

Denomina-se nível os valores que cada variável será estudada, no caso de se estudar 5

variáveis em 2 níveis cada, resultarão em 32 ensaios em um planejamento experimental

completo. Neste exemplo, o planejamento é dito 25, sendo o expoente a quantidade de

variáveis e o número elevado à quantidade de níveis de cada variável. Caso em uma etapa do

experimento realize-se apenas 16 ensaios dos 32 possíveis, o desenho passa a ser um fatorial

incompleto 25-1.

Tendo-se feito um planejamento experimental adequado, podem-se aplicar técnicas

que permitam o estudo da otimização do processo. Entre as técnicas estatísticas de otimização

mais utilizadas destaca-se a superfície de resposta. “A metodologia do planejamento fatorial,

associada à análise de superfície de respostas, é uma ferramenta fundamental na teoria

estatística, que fornece informações seguras sobre o processo, minimizando o empirismo que

31

envolve técnicas de tentativa e erro” (BOX et al, 1978 apud RODRIGUES & IEMMA, 2005).

Esta técnica foi desenvolvida por Box e Wilson no início da década de 1950 e consiste em

duas etapas principais que devem ser repetidas quantas vezes forem necessárias a fim de se

alcançar um ótimo. A primeira etapa é a de modelagem e geralmente é feita ajustando-se os

modelos matemáticos aos dados experimentais obtidos por meio de um planejamento fatorial

adequado. A segunda etapa consiste em um deslocamento geralmente no sentido de máxima

inclinação do modelo matemático (BARROS NETO et al., 1995). Em geral, nesta técnica a

resposta é representada em gráficos de superfícies que permitem visualizar melhor os

resultados contribuindo para sua interpretação (KENNEDY & KROUSE, 1999).

Alguns trabalhos já foram realizados com B. thuringiensis utilizando-se a metodologia

de superfície de resposta. Entre estes trabalhos destaca-se Prabagaran et al. (2004) os quais

estudaram o melhoramento de um meio a base de ingredientes alternativos para a produção de

toxina por uma subespécie de B. thuringiensis. Tokcaer et al. (2006) utilizaram a metodologia

de superfície de resposta para otimizar as condições de cultivo para produção de proteínas Cry

por B. thuringiensis. Ambos os trabalhos conseguiram melhorar a produção de toxinas pelas

subespécies estudadas.

32

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Otimizar um meio de cultivo para a produção de toxinas de Bacillus thuringiensis

subsp. israelensis HD537 por fermentação submersa descontínua, utilizando resíduos

agroindustriais, com o intuito de controlar populações de Aedes aegypti.

3.2 Objetivos Específicos

Determinar a melhor fonte de nitrogênio entre: farinha de soja, farinha de crisálida,

peptona bacteriológica, uréia agroindustrial e sulfato de amônia para a produção de toxinas

por Bacillus thuringiensis subsp. israelensis HD537. Como? ASR?

Determinar a melhor fonte de carbono entre: sacarose, glicose e fécula de mandioca

para a produção de toxinas por Bacillus thuringiensis subsp. israelensis HD537. Como?

ASR?

Determinar as melhores concentrações de fontes de nutrientes selecionadas para

produção de toxinas por Bacillus thuringiensis subsp. israelensis HD537 utilizando a

metodologia de Analise de Superfície de Resposta.

Estudar a cinética de crescimento e produção de toxinas por Bacillus thuringiensis

subsp. israelensis HD537.

Verificar a estabilidade da toxicidade da cultura de Bacillus thuringiensis subsp.

israelensis HD537 por um período de 28 dias após sua fermentação.

33

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Microrganismo.

O microrganismo utilizado neste estudo foi B. thuringiensis subsp. israelensis,

HD537, o qual foi gentilmente cedido pelo Laboratório de Bioinseticida do Departamento de

Biologia Geral da Universidade Estadual de Londrina.

Essa linhagem de B. thuringiensis foi isolada no Estado do Espírito Santo (Brasil) por

?????? (AUTOR, ANO) e caracterizado pelo Collaboration Centre for Entomopathogenic

Bacillus (Paris, França).

4.2 Recuperação e manutenção da cultura

A linhagem de B. thuringiensis israelensis HD537 foi inicialmente recuperada a partir

de cultura estoque em água e fitas de papel filtro. Após a recuperação, as culturas foram

mantidas sob refrigeração, em placas contendo agar nutriente, o qual continha (g/L): 5,0 de

peptona, 3,0 de extrato de carne e 15 de agar (BRASIL, 2004). Esta cultura foi replicada a

cada 15 dias.

4.3 Preparo do pré-inóculo

Antes do preparo do pré-inóculo, B. thuringiensis israelensis HD537 foi cultivado em

meio Arcas adaptado (ANDRADE, 2005), a fim de melhorar o crescimento do microrganismo

em meio líquido. Nessa etapa, a cultura foi mantida a 30ºC e 120 rpm (agitador rotativo)

durante 16 horas em frascos tipo Erlenmeyer de 500 mL de capacidade, contendo 50 ml de

34

meio, o qual continha (g/L): MgSO4 (1,0); KH2PO4, (1,0); K2HPO4 (1,0); MnSO4.H2O (0,3);

CaCl2 (0,4); (NH4)2SO4 (1,0), extrato de levedura (8,0) e glicose (4,5).

Após esse cultivo, o pré-inóculo foi feito transferindo-se 1,25 mL da cultura em meio

Arcas adaptado para um Erlenmeyer de 500 mL de capacidade, contendo 50 mL do meio a ser

testado. O pré-inóculo foi mantido a 30ºC, 120 rpm (agitador rotativo) por um período de 16

horas.

4.4 Condições de cultivo

O inoculo foi feito transferindo 1,25 mL do pré-inóculo para frascos Erlenmeyer de

500 ml de capacidade contendo 50 mL do meio estéril a ser estudado.

As culturas foram mantidas por um período de 72 ou 96 horas, a 30ºC e 120 rpm em

agitador rotativo. O tempo de cultivo foi baseado em testes preliminares e também em dados

da literatura (ANDRADE, 2005; COUCH, 2000).

4.5 Seleção das fontes de nutrientes

As fontes de nutriente estudadas bem como seus níveis iniciais foram escolhidos de

acordo com testes preliminares e dados da literatura. Como fontes de nitrogênio orgânico

foram estudadas:

Farinha de soja: escolhida por ser utilizada na produção do Laboratório de

Bioinseticida do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de

Londrina;

Farinha de crisálida: esse ingrediente foi gentilmente cedido pela indústria de

fiação de seda Bratac s.a.. O processo de obtenção dessa farinha pela indústria

citada encontra-se no anexo 1. Esse ingrediente foi escolhido para o estudo com

base em testes preliminares e dados da literatura (ALVES et al., 1997);

35

Peptona bacteriológica: escolhido por ser ingrediente comum no cultivo industrial

de bactérias entomopatogênicas (COUCH, 2000);

Uréia agroindustrial: escolhido por ser comumente utilizada na agricultura como

fonte de nitrogênio e por apresentar um baixo custo.

Como fonte de nitrogênio inorgânico foi utilizado o sulfato de amônia ((NH4)2SO4), o

qual compõe o meio Arcas, comumente utilizado na fermentação de B. thuringiensis

(ARCAS, 1987).

As fontes de carbono estudadas foram:

Glicose: escolhida por ser comumente empregada no cultivo de B. thuringiensis

(ARCAS, 1987).

Sacarose: escolhida com base em estudos de Içgen et al. (2002b) e Öskan et al.

(2003).

Fécula de mandioca: escolhida por apresentar um baixo custo e como uma

alternativa ao uso de amido de milho, o qual é empregado em várias produções de

bactérias entomopatogênicas (COUCH, 2000).

A seleção das fontes foi feita por meio de um planejamento fatorial fracionado 28-4, no

qual cada variável foi estudada em dois níveis (-1 e +1) com variações extremas. Esses

experimentos foram feitos em dois blocos aleatórios O objetivo desta etapa foi criar um

contraste entre os níveis e, com isto realizar uma seleção qualitativa. Os níveis das diferentes

fontes de nutrientes bem como o planejamento fatorial encontra-se na tabela 4.1 e 4.2

respectivamente.

Além das fontes de nutrientes em estudo, o meio de cultivo continha uma mistura de

sais baseada no meio Arcas adaptado (ANDRADE, 2005), a qual não sofreu alteração e não

foi foco de estudo durante a pesquisa. Os sais presentes nessa mistura foram (g/L): MgSO4

(1,0); KH2PO4, (1,0); K2HPO4 (1,0); MnSO4.H2O (0,3) e CaCl2 (0,4).

As condições dos experimentos dessa etapa foram as mesmas descritas no item 4.3 por

um período de 72 horas.

A resposta analisada para a seleção das fontes foi bioensaio, conforme descrito no item

4.9.1. Além dessa resposta, foi analisado o efeito das fontes de nutrientes em estudo sobre o

crescimento e esporulação; para isso, foram feitas contagem de Unidades Formadoras de

Colônia e Contagem de esporos, como descritos no itens 4.9.2 e 4.9.3 respectivamente.

36

Tabela 4.1 Níveis das fontes de nutrientes estudadas na etapa de seleção das fontes

Fontes de nutrientes (Variáveis) Nível -1 Nível +1

Farinha de soja (g/L) 5,0 50

Farinha de crisálida (g/L) 2,0 20

Peptona de carne (g/L) 0,5 5

Uréia (g/L) 0,2 2,0

Sulfato de amônia (g/L) 0,2 2,0

Glicose (g/L) 1,0 10

Sacarose (g/L) 1,0 10

Fécula de mandioca (g/L) 1,5 15

Tabela 4.2 Planejamento experimental utilizado na etapa de seleção das fontes de nutrientes

Experimento Sacarose Glicose

Fécula de mandioca

Farinha de soja

Farinha de

crisálida

Peptona de

carne Uréia

Sulfato de

amônia1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -12 1 -1 -1 -1 -1 1 1 13 -1 1 -1 -1 1 -1 1 14 1 1 -1 -1 1 1 -1 -15 -1 -1 1 -1 1 1 1 -16 1 -1 1 -1 1 -1 -1 17 -1 1 1 -1 -1 1 -1 18 1 1 1 -1 -1 -1 1 -19 -1 -1 -1 1 1 1 -1 110 1 -1 -1 1 1 -1 1 -111 -1 1 -1 1 -1 1 1 -112 1 1 -1 1 -1 -1 -1 113 -1 -1 1 1 -1 -1 1 114 1 -1 1 1 -1 1 -1 -115 -1 1 1 1 1 -1 -1 -116 1 1 1 1 1 1 1 1

37

4.6 Otimização das concentrações das fontes de nutrientes selecionadas

Essa etapa teve por objetivo otimizar a concentração das fontes de nutrientes

selecionadas como descrito no item 4.5. Inicialmente foram feitos dois planejamentos fatoriais

incompletos 23-1, onde os níveis das variáveis foram selecionados segundo dados da literatura.

Esses planejamentos fatoriais foram feitos em apenas um bloco com 9 experimentos, como

descrito na tabela 4.3..

Tabela 4.3 Planejamento fatorial fracionado 23-1

Experimentos Glicose

Sulfato de

amônia

Farinha de

crisálida1 -1 -1 -12 -1 0 13 -1 1 04 0 -1 15 0 0 06 0 1 -17 1 -1 08 1 0 -19 1 1 1

Os níveis das variáveis no primeiro e no segundo planejamento fatorial incompleto

encontram-se descritos nas tabelas 4.4 e 4.5, respectivamente. Esses níveis foram codificados

de acordo com a equação abaixo:

X codificado = Xi – X0

ΔX / 2

Onde:

X codificado: nível codificado da variável

Xi = valor real

X0 = valor no ponto central

ΔX = valor real máximo – valor real mínimo

38

Tabela 4.4 Níveis das variáveis no primeiro planejamento fatorial incompleto da etapa de

otimização das fontes de nutrientes

Variáveis Nível (-1) Nível (0) Nível (+1)Glicose (g/L) 2,00 6 10,00

Sulfato de amônia (g/L) 2,00 4 6,00Farinha de

Crisálida (g/L) 10,00 30 50,00

Tabela 4.5 Níveis das variáveis no segundo planejamento fatorial incompleto da etapa de

otimização das fontes de nutrientes

Variáveis Nível (-1) Nível (0) Nível (+1)Glicose (g/L) 0,5 1,25 2,0

Sulfato de amônia (g/L) 1,0 3,0 5,0Farinha de

Crisálida (g/L) 50,0 90,0 130,0

Após o segundo planejamento fatorial incompleto, foram feitos 4 experimentos com

valores para as variáveis próximos ao do experimento com melhor bioensaio obtido até então.

Com isto, determinou-se o ponto central para o próximo planejamento. Com base nesses

resultados, foi feito um fatorial completo central rotacional (23), com uma repetição no ponto

central mais os pontos axiais (“pontos estrelas”). Os níveis das variáveis utilizados nesse

planejamento fatorial completo encontram-se na tabela 4.6. Os 16 experimentos desse

planejamento fatorial completo central rotacional foram feitos em dois blocos, como descrito

na tabela 4.7.

As condições de cultivo dessa etapa de otimização foram as mesmas descritas no item

4.3 em todos os experimentos o cultivo durou 72 horas.

A resposta analisada para a otimização da concentração das fontes de carbono,

nitrogênio orgânico e inorgânico foi o bioensaio, como descrito no item 4.9.1. Além dessa

39

resposta, estudou-se também o crescimento (UFC) e esporulação, como descrito nos itens

4.9.2 e 4.9.3 respectivamente.

Tabela 4.6 Níveis das variáveis no planejamento fatorial completo (23) com repetição no

ponto central e pontos estrelas

Variáveis

Nível (-1,79)

Nível (-1) Nível (0) Nível (+1)

Nível (+1,79)

Glicose (g/L) 0,005 0,25 0,5 0,75 0,95Sulfato de

amônia (g/L) 0,10 0,5 1,0 1,5 1,90Farinha de

Crisálida (g/L) 32,11 40 50 60 67,89

Tabela 4.7 Planejamento fatorial completo 23 com repetição no ponto central (experimentos 9

e 10) e pontos estrelas (experimentos 11 a 16)

 Experimentos

Blocos Glicose Sulfato de Amônia

Farinha de.

crisálida1 1 -1,00000 -1,00000 -1,000002 1 -1,00000 -1,00000 1,000003 1 -1,00000 1,00000 -1,000004 1 -1,00000 1,00000 1,000005 1 1,00000 -1,00000 -1,000006 1 1,00000 -1,00000 1,000007 1 1,00000 1,00000 -1,000008 1 1,00000 1,00000 1,00000

9 (C) 1 0,00000 0,00000 0,0000010 (C) 1 0,00000 0,00000 0,00000

11 2 -1,78885 0,00000 0,0000012 2 1,78885 0,00000 0,0000013 2 0,00000 -1,78885 0,0000014 2 0,00000 1,78885 0,0000015 2 0,00000 0,00000 -1,7888516 2 0,00000 0,00000 1,78885

40

4.7 Estudo da cinética de crescimento e produção de toxinas

Após a otimização das fontes nutrientes, foi feito um estudo a fim de se verificar a

curva de crescimento de B. thuringiensis israelensis HD537 no meio desenvolvido, bem como

em qual das etapas de crescimento ocorre a maior produção de toxinas: Para isso, foram

inoculadas culturas com o meio de cultivo com as fontes otimizadas e mantidas como descrito

no item 4.3. Essas culturas foram mantidas por um período de 96 horas.

Em intervalos predeterminados, foram retiradas alíquotas das culturas a fim de se

analisar seu crescimento, produção de toxinas e pH. Nessa etapa, o crescimento foi avaliado

por meio de gravimetria e turbidimetria, como descrito nos itens 4.9.4 e 4.9.5

respectivamente. A produção de toxinas foi avaliada por meio de bioensaio, como descrito no

item 4.9.1. O pH foi medido por meio de um aparelho potenciômetro modelo Foram feitas

ainda, lâminas para análise microscópica, como descrito no item 4.9.6.

Esse experimento foi repetido por 3 vezes, sendo que todos os métodos de análise de

crescimento e medição de pH foram feitos em duplicata e o bioensaio foi feito em triplicata.

4.8 Toxicidade da cultura de Bacillus thuringiensis subsp. israelensis durante

armazenamento

A toxicidade da cultura de Bacillus thuringiensis subsp. israelensis HD537 foi

estudada por um período de 28 dias. Para isso, foram feitas quatro culturas com o meio

otimizado, as quais foram fermentadas sob as condições do item 4.3 por um período de 72

horas.

Após o cultivo, duas culturas foram mantidas sob refrigeração em câmara fria a 5°C

(+/-2°C) e duas foram mantidas sob as condições ambientes, porém ao abrigo da luz. A cada 7

dias foram feitos bioensaio com cálculo da CL50 para essas culturas.

41

4.9 Métodos analíticos

4.9.1 Bioensaio

Os bioensaios foram realizados no Laboratório de Entomologia Médica, do professor

Dr. José Lopes, do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina.

Estes testes foram feitos com base na metodologia da WHO 2005, com larvas entre terceiro e

quarto instar de A. aegypti (Linnaeus, 1762), as quais foram colocadas em recipientes

contendo 100 mL de água destilada. Após aplicação do produto, as larvas foram mantidas a

25°C por um período de 24 horas, quando então, procedeu-se a leitura do bioensaio quanto à

mortalidade das mesmas. Em cada recipiente utilizado no bioensaio foram colocadas 20

larvas.

Na etapa de seleção das fontes de nutrientes, as culturas dos diferentes experimentos

foram diluídas em água destilada. Procedeu-se, então, o bioensaio aplicando-se as culturas

diluídas, de maneira que a concentração final nos recipiente do bioensaio fosse de 10 ppm

(v/v). Essa concentração foi escolhida, após testes preliminares com diferentes concentrações.

Nas etapas de otimização das fontes e estudo da cinética, o bioensaio foi feito como

descrito para a etapa de seleção de fontes, porém a concentração final no recipiente do

bioensaio foi de 1 ppm (v/v).

Esses bioensaios foram expressos como porcentagem de morte das larvas e foram

feitos em triplicata.

Os bioensaios com o meio otimizado, bem como de pontos do estudo da cinética e da

etapa de verificação da toxicidade das culturas durante armazenamento foram expressos em

termos de CL50. Para isso, as culturas foram diluídas; e 5 ou 6 concentrações diferentes foram

aplicadas em recipientes dos bioensaios. Ao final do teste, foi feita a quantificação de larvas

mortas em cada uma das concentrações. A CL50 foi calculada por meio de análise de regressão

linear do log-Probit, utilizando-se o programa de computador microprobit (FINNEY, 1971).

Esse bioensaio foi feito em triplicata.

4.9.2 Unidades formadoras de colônia (UFC)

42

A quantificação das unidades formadoras de colônia foi feita diluindo-se 1 mL da

cultura em frascos contendo 9 mL de solução salina estéril de cloreto de sódio (NaCl) a

0.85%. Após diluições em série em frascos contendo salina, 0,5 mL das amostras diluídas

foram inoculadas por espalhamento superficial em placas contendo agar nutriente.

As placas foram mantidas a 30°C por um período de 24 horas, quando então se fez a

contagem das unidades formadoras de colônia. Foram desconsideradas as placas com mais de

300 UFC ou menos de 30 UFC. Considerando-se as diluições procedidas, fez-se o cálculo das

unidades formadoras de colônia na cultura inicial. Essa análise foi feita em triplicata e

expressa como logaritmo de UFC por mililitro de cultura.

4.9.3 Quantificação de esporos

Para a quantificação de esporos, os frascos de salina com cultura diluída, após

utilização na quantificação de UFC, foram mantidos a 80 °C por 20 minutos. Após esse

período, fez-se o espalhamento de 0,5 mL da cultura diluída como descrito para a

determinação de UFC. Essa análise foi feita em triplicata e expressa como porcentagem de

esporulação, a qual foi calculada com base nos valores de UFC.

4.9.4 Biomassa seca (gravimetria)

Na etapa de estudo da cinética, a biomassa seca foi utilizada para verificar o

crescimento do microrganismo. Para isso, 4 mL da cultura foram centrifugados a 4500g, 5°C

por 15 minutos. O sobrenadante foi utilizado para etapas posteriores e o precipitado foi

ressuspendido em 4mL solução salina de cloreto de sódio (0,85%) e centrifugado novamente

em iguais condições.

O sobrenadante da segunda centrifugação foi desprezado e o precipitado

ressuspendido novamente em 4mL da solução salina. Alíquotas de 1mL foram transferidas

para cadinhos previamente tarados, os quais foram submetidos a 105 °C até peso constante.

43

Essa análise foi feita em duplicata e expressa como miligramas de biomassa por

mililitro da cultura. A fim de não se aferir como biomassa algum componente do meio de

cultura, esse foi submetido a centrifugações, como descrito acima, e o valor de massa seca do

meio de cultura foi descontado do valor da biomassa seca dos experimentos.

4.9.5 Turbidimetria

Na etapa do estudo da cinética, o crescimento do microrganismo foi verificado

também por meio de teste de turbidimetria. Para isso, fez-se uma curva de calibração de uma

cultura em meio Arcas adaptado relacionando absorbância a 540 nm e biomassa seca

(mg/mL).

O segundo precipitado ressuspendido em salina do item 4.6.4, foi diluído em salina e

sua absorbância lida em espectrofotômetro a 540 nm. Por meio da curva de calibração,

calculou-se, então, a concentração da biomassa da cultura, expressa como miligramas de

biomassa por mililitros da cultura.

Essa análise foi feita em duplicata. Como o meio de cultura poderia conter alguns

pigmentos que interferissem na análise da absorbância, foi feita uma leitura do sobrenadante

do meio de cultura (sem crescimento microbiano) centrifugado, e essa absorbância foi

descontada do valor da absorbância dos experimentos.

4.9.6 Lâminas para análise microscópica

A fim de acompanhar a morfologia das células durante o estudo da cinética, bem como

para averiguar se havia contaminação nos demais experimentos, foram feitas lâminas para

análise em microscópio óptico.

Para confecção das lâminas, alíquotas das culturas foram retiradas com auxílio de uma

alça de platina. Após esfregaço e fixação por calor as lâminas foram coradas com amido black

(por 70 segundos), lavadas e coradas com fucsina (10 segundos). Essa coloração evidência os

esporos e cristais de B. thuringiensis.

44

4.10 Análise estatística

Os planejamentos experimentais, montagem dos gráficos de superfície de resposta,

bem como os testes de análise de variância (ANOVA) foram feitos utilizando-se o programa

Statistic versão 6.0. Os demais gráficos foram feitos com auxílio do programa Excel (versão

2003). A comparação entre as CL50 foi feita utilizando-se o teste de τ-Student.

45

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Seleção das fontes de nutrientes

Embora tenha sido estudado o crescimento e esporulação, a otimização desse estudo

visou à produção de toxinas, por isso, o bioensaio foi a resposta utilizada na escolha das

fontes e na etapa posterior. A tabela 5.1 apresenta os efeitos das diferentes fontes de nutrientes

testadas sobre o bioensaio.

Tabela 5.1 Efeito das fontes testadas sobre o bioensaio (etapa de seleção das fontes). Em

vermelho, as variáveis com efeito significativo (ANOVA, p<0,05).

  Efeito Probabilidade Coeficiente.       Variáveis/Interações 0,517500 0,000233 0,517500(1) Sacarose -0,070000 0,047421 -0,035000(2) Glicose -0,035000 0,157299 -0,017500(3) Fécula de mandioca -0,440000 0,001289 -0,220000(4) Farinha de soja -0,535000 0,000872 -0,267500(5) Farinha de crisálida 0,060000 0,062957 0,030000(6)Peptona bacteriológica

0,045000 0,104467 0,022500

(7) Uréia agroindustrial -0,455000 0,001205 -0,227500(8) Sulfato de amônia 0,430000 0,001349 0,215000Interação 1 e 5 -0,045000 0,104467 -0,022500Interação 1 e 8 0,035000 0,157299 0,017500Interação 2 e 5 -0,010000 0,591752 -0,005000Interação 2 e 8 0,020000 0,333333 0,010000Interação 5 e 8 -0,045000 0,104467 -0,022500

Esse resultado apresentou um coeficiente de determinação (R) de 0,999 e um R

ajustado de 0,996. Isto indica que 99% dos resultados são explicados pelo efeito das variáveis,

sendo, portanto bastante confiável.

46

Com exceção da glicose (a tabela indica um efeito negativo), as demais fontes de

carbono apresentaram um efeito negativo sobre o bioensaio. Embora a glicose não tenha

apresentado efeito positivo, seu resultado não foi significativo, sendo esta a escolhida como

fonte de carbono para as etapas posteriores.

Diferente dos trabalhos de Içgen et al. (2002b) e Öskan et al. (2003), esses resultados

não apontam a sacarose como uma boa fonte para produção de toxinas, tendo em vista seu

efeito negativo para o bioensaio. O que ressalta a importância de um estudo direcionado para

cada linhagem específica, bem como para o resultado que se pretende otimizar.

Quanto ao crescimento, a análise das Unidades Formadoras de Colônia (log UFC/mL)

demonstrou que a sacarose e a glicose não tiveram efeito significativo sobre o crescimento, já

a fécula de mandioca apresentou um efeito negativo. Isso provavelmente ocorreu, devido a

maior complexidade estrutural da fécula de mandioca frente às outras fontes, o que dificultou

a utilização da mesma durante o crescimento microbiano. No trabalho de Öskan et al. (2003),

o amido, o qual possui estrutura semelhante à fécula, apresentou um efeito negativo sobre o

crescimento de B. thuringiensis israelensis HD500, justificado por sua estrutura química

complexa. Muitos meios que utilizam materiais complexos, como águas residuais do

processamento de amido, fazem um pré-tratamento antes de utilizá-la no meio de cultivo

(YEZZA et al., 2006; CHANG et al., 2008). (Verficar a presença de enzimas amiloliticas em

Bacillus thuringiensis)

Dentre as fontes de nitrogênio orgânico, apenas a uréia agroindustrial apresentou

efeito significativo, porém negativo sobre o bioensaio. Já a farinha de crisálida e peptona não

apresentaram efeito sobre o bioensaio, sendo portanto necessário escolher entre essas duas

fontes para as etapas de otimização. Com o intuito de aproveitar resíduos agroindustriais e

abaixar o custo da produção, foi escolhida para os testes posteriores a farinha de crisálida.

O sulfato de amônia apresentou um efeito significativo e positivo sobre o bioensaio, o

que, portanto, indica sua importância como fonte de nitrogênio na produção da toxina,

resultado semelhante aos estudos de Içgen et al. (2002a).

Em relação ao crescimento, dentre as fontes de nitrogênio, apenas a peptona

apresentou um efeito significativo e positivo. Porém, como o objetivo principal era a

otimização das toxinas, essa fonte não foi escolhida para as etapas posteriores.

Quanto à esporulação, nenhuma das fontes de carbono ou nitrogênio apresentou efeito

significativo sobre tal parâmetro. A taxa de esporulação foi alta em todos os experimentos

dessa etapa, em média de 74,45%.

47

5.1 Otimização das concentrações das fontes de nutrientes selecionadas

5.1.1 Planejamentos fatoriais incompletos

Após a seleção da glicose, farinha de crisálida e sulfato de amônio como fontes de

nutrientes, a concentração dessas fontes no meio de cultivo foi otimizada visando a melhora

no bioensaio.

Inicialmente foi feito um planejamento fatorial incompleto, cujos resultados dos

efeitos encontram-se na tabela 5.2 e nos gráfico 5.1 a 5.3.

Tabela 5.2 Efeito das fontes testadas sobre o bioensaio (primeiro planejamento fatorial

incompleto – otimização das fontes). Em vermelho, as variáveis com efeito significativo

(ANOVA, p<0,05). L representa o termo linear e Q o termo quadrático.

  Efeito Probabilidade Coeficiente.Variáveis. 9,55556 0,006958 9,55556Glicose (L) 1,33333 0,566987 0,66667Glicose (Q) -3,33333 0,188893 -1,66667(2)Sulfato de amônia(L)

-0,66667 0,766450 -0,33333

Sulfato de amônia(Q)

3,66667 0,163685 1,83333

(3)Farinha de crisálida(L)

15,33333 0,015991 7,66667

Farinha de crisálida(Q)

-4,33333 0,125525 -2,16667

48

Gráfico 5.1 Superfície de resposta para variáveis glicose e farinha de crisálida, tendo como

resposta o bioensaio (primeiro planejamento fatorial incompleto). O sulfato de amônio está

fixado no valor codificado central.

Gráfico 5.2 Superfície de resposta para variáveis sulfato de amônia e farinha de crisálida,

tendo como resposta o bioensaio (primeiro planejamento fatorial incompleto). A glicose está

fixado no valor codificado central.

49

Os resultados desse primeiro planejamento fatorial apresentaram um coeficiente de

determinação de 0,97, já o coeficiente ajustado foi de 0,90; sendo satisfatório para estudos

biológicos.

Entre as variáveis testadas, a farinha de crisálida apresentou o termo linear altamente

significativo e positivo, o que indica que esta fonte influenciou muito o bioensaio (na

realidade influencio a toxicidade do meio de cultura utilizado no bioensaio), porém ainda não

se encontra no seu ponto ótimo (termo quadrático não significativo). Observando os gráficos

5.1 e 5.2, vê-se que a região de ótimo, representado em vermelho, está no sentido de aumento

da concentração da farinha de crisálida. Por isso, para o segundo planejamento incompleto, os

valores para a concentração de farinha de crisálida foram calculados a partir do ponto máximo

(+1) do primeiro planejamento, ou seja, houve um aumento na concentração dessa fonte.

Gráfico 5.3 Superfície de resposta (3 dimensões) para variáveis sulfato de amônia e glicose,

tendo como resposta o bioensaio (primeiro planejamento fatorial incompleto). A farinha de

crisálida está fixada no valor codificado +1.

50

Em relação à glicose e ao sulfato de amônio, nenhum dos dois apresentou o termo

quadrático ou linear significativo sobre o bioensaio. No entanto, os valores dessas variáveis

não foram fixados por esse experimento, por ele ser um fatorial incompleto, ou seja, poderia

haver interações e efeitos significativos futuros.

Observando-se os gráfico 5.3 e 5.4, vê-se que há dois pontos em direção ao ótimo para

essas duas variáveis, resultando em um gráfico com formato de “cela”. Como a produção visa

a melhora da resposta, conjuntamente com a diminuição dos custos, a otimização dessas duas

variáveis prosseguiu no sentido de menor valor, ou seja, a glicose em torno dos valor

codificados -1,37 a -1,0; já o sulfato de amônia em torno dos valores codificados -1,5 e a 0,5.

Gráfico 5.4 Superfície de resposta (plana) para variáveis sulfato de amônia e glicose, tendo

como resposta o bioensaio (primeiro planejamento fatorial incompleto). A farinha de crisálida

está fixada no valor codificado +1.

Portanto, para o segundo experimento os valores da concentração da farinha de

crisálida foram aumentados, já os concentrações de glicose e sulfato de amônia diminuíram,

como apresentado na tabela 4.5.

Os resultados com os efeitos das variáveis no segundo planejamento fatorial

incompleto encontram-se na tabela 5.3.

51

Tabela 5.3 Efeito das fontes testadas sobre o bioensaio (segundo planejamento fatorial

incompleto – otimização das fontes). Em vermelho, as variáveis com efeito significativo

(ANOVA, p<0,05). L representa o termo linear e Q o termo quadrático.

  Efeitos Probabilidade Coeficiente.Variáveis. 19,7778 0,000012 19,7778Glicose (L) -19,3333 0,012189 -9,6667Glicose (Q) -13,6667 0,032552 -6,8333Sulfato de amônia(L) -14,6667 0,044148 -7,3333Sulfato de amônia(Q) -6,6667 0,258147 -3,3333Farinha de crisálida(L)

-32,0000 0,000431 -16,0000

Farinha de crisálida(Q)

3,3333 0,563070 1,6667

Os resultados desse segundo planejamento fatorial apresentaram um coeficiente de

determinação de 0,81, sendo satisfatório para estudos biológicos.

Observando-se os efeitos das variáveis percebe-se que o sulfato de amônia e a farinha

de crisálida apresentaram efeito quadrático não significativo, o que indica que essas fontes

ainda não se encontram em seu ponto ótimo. Essas variáveis apresentaram o termo linear

significativo e negativo, o que indica que para alcançar seu nível ótimo, a concentração dessas

variáveis deve diminuir.

Em relação à glicose, tanto o termo linear como o quadrático foram significativos, o

que pode indicar uma interação com outra variável ou dois destinos de otimização, o aumento

ou diminuição de sua concentração, o que levaria a formação do chamado “ponto de cela”.

Os gráficos 5.5 a 5.7 ilustram o efeito das variáveis sobre o bioensaio, no segundo

planejamento fatorial incompleto.

Embora nessa etapa as variáveis ainda não se encontrem no seu nível ótimo, já houve

uma melhoria na resposta; pois o maior valor do bioensaio melhorou de 24% no primeiro

planejamento incompleto para 60% de morte das larvas no segundo planejamento fatorial

incompleto. Esses valores referem-se à previsão da resposta segundo o modelo, os valores

reais para tal resposta foram de 22 e 68% de mortes no primeiro e segundo planejamento,

respectivamente.

52

Gráfico 5.5 Superfície de resposta para variáveis sulfato de amônia e glicose, tendo como

resposta o bioensaio (segundo planejamento fatorial incompleto). A farinha de crisálida está

fixada no valor codificado -1.

Gráfico 5.6 Superfície de resposta para variáveis sulfato de amônia e farinha de crisálida,

tendo como resposta o bioensaio (segundo planejamento fatorial incompleto). A glicose está

fixada no valor codificado -1.

53

Gráfico 5.7 Superfície de resposta para variáveis farinha de crisálida e glicose, tendo como

resposta o bioensaio (segundo planejamento fatorial incompleto). O sulfato de amônia está

fixado no valor codificado -1.

Tendo em vista os efeitos das variáveis sobre o bioensaio, a otimização prosseguiu

mapeando a região próxima ao ponto mínimo (-1) do segundo planejamento fatorial

incompleto. Nesse ponto, as variáveis apresentavam os seguintes valores (g/L): 0,5 de glicose,

1,0 de sulfato de amônia e 50 de farinha de crisálida.

Com o objetivo de verificar se o ponto mínimo (-1) do segundo experimento deveria

ser mesmo o ponto central em um planejamento fatorial completo, foram feitos três ensaios

(A, B e C) com valores próximos a esse ponto mínimo. Os valores das variáveis nesses três

ensaios bem como o resultado do bioensaio encontram-se na tabela 5.4.

Tabela 5.4 Ensaios para confirmação do ponto central (g/L): 0,5 de

glicose, 1,0 de sulfato de amônia e 50 de farinha de crisálida.

Valor das variáveis e bioensaio.

Ensaios Glicose

(g/L)

Sulfato de

amônia (g/L)

Farinha de

crisálida (g/L)

Bioensaio (% de

morte das larvas)

A 0,9 1,8 66 50

54

B 0,7 1,4 58 46

C 0,3 0,6 42 38

Tendo em vista que nenhum dos ensaios resultou em um bioensaio melhor do que do

ponto mínimo (-1) do segundo planejamento fatorial incompleto, esse ponto foi utilizado

como central no planejamento completo.

5.1.2 Planejamento fatorial completo

O planejamento fatorial completo apresenta melhor resolução, permitindo o estudo das

interações entre as variáveis, já que todos os experimentos possíveis são realizados. Nessa

etapa, esse planejamento “mapeou” a região próxima ao ponto central (g/L): 0,5 de glicose,

1,0 de sulfato de amônia e 50 de farinha de crisálida. Os níveis das variáveis no planejamento

fatorial completo encontram-se na tabela 4.7.

Inicialmente foram feitos os experimentos do bloco 1, porém analisando-se os

resultados verificou-se que o modelo linear não explicava adequadamente essa fermentação,

por isso, fez-se um segundo bloco incluindo os pontos estrelas. Esses pontos correspondem ao

planejamento inicial, porém com uma rotação de 45 ° em relação ao ponto de partida. Dessa

maneira, é possível estabelecer um modelo quadrático (equação de segundo grau) para o

processo em estudo.

Além dos pontos estrelas, o planejamento fatorial completo apresentou uma repetição

no ponto central, a qual permite a estimativa do erro puro, ou seja, o que é inerente ao

processo. Esse planejamento é também conhecido como Delineamento Composto Central

Rotacional (RODRIGUES & IEMMA, 2005).

Os resultados (bioensaio, UFC e porcentagem de esporulação) desse planejamento

fatorial completo, incluindo os pontos estrelas, encontram-se na tabela 5.4. Os resultados da

análise de variância e dos efeitos para a resposta bioensaio encontram-se nas tabelas 5.5 e 5.6

respectivamente.

55

Tabela 5.5 Respostas do Delineamento Composto Central Rotacional (planejamento fatorial

completo, com repetição no ponto central e pontos estrelas).

 Ensaio

Bloco Glicose Sulfato de Amônia

Farinha de.

crisálida

Bioensaio (% morte)

log UFC % esporulação

1 1 -1,00000 -1,00000 -1,00000 33,33 12,602 92,392 1 -1,00000 -1,00000 1,00000 53,33 13,978 93,653 1 -1,00000 1,00000 -1,00000 6,67 14,544 78,124 1 -1,00000 1,00000 1,00000 20,00 14,431 81,955 1 1,00000 -1,00000 -1,00000 0,00 16,17 80,526 1 1,00000 -1,00000 1,00000 53,33 16,057 69,087 1 1,00000 1,00000 -1,00000 26,67 17,732 67,198 1 1,00000 1,00000 1,00000 33,33 15,903 74,78

9 (C) 1 0,00000 0,00000 0,00000 66,67 15,819 79,9810 (C) 1 0,00000 0,00000 0,00000 60,00 15,924 83,33

11 2 -1,78885 0,00000 0,00000 22,50 14,851 84,212 2 1,78885 0,00000 0,00000 5,00 14,505 85,3513 2 0,00000 -1,78885 0,00000 12,50 14,851 86,1814 2 0,00000 1,78885 0,00000 10,00 16,158 81,3415 2 0,00000 0,00000 -1,78885 7,50 15,556 83,50416 2 0,00000 0,00000 1,78885 10,00 15,982 79,34

Tabela 5.6 Análise de variância (p<0,05) para a resposta bioensaio do delineamento

composto central rotacional. Em vermelho, as variáveis com efeito significativo (ANOVA,

p<0,05). L representa o termo linear e Q o termo quadrático.

 Soma dos quadrados

Graus de liberdade

Quadrado médio

F calculado

Probabilidade

Blocos 699,213 1 699,213 4,058296 0,100067Glicose (L) 68,056 1 68,056 0,395000 0,557271Glicose (Q) 1161,907 1 1161,907 6,743809 0,048432Sulfato de amônia(L) 231,940 1 231,940 1,346198 0,298329Sulfato de amônia(Q) 1334,659 1 1334,659 7,746478 0,038753Farinha de crisálida(L) 664,118 1 664,118 3,854601 0,106834Farinha de crisálida(Q) 1519,379 1 1519,379 8,818610 0,031171Interação glicose X sulfato (L)

555,444 1 555,444 3,223849 0,132522

Interação glicose X far. De crisálida (L)

88,844 1 88,844 0,515661 0,504843

Interação sulfato X farinha de crisálida (L)

355,644 1 355,644 2,064192 0,210292

Erro puro 861,462 5 172,292    Total 7540,666 15      

56

O erro puro não foi significativo, bem como a variação referente aos blocos, portanto

os fatores que mais influenciaram a resposta foram a concentração das fontes de nutrientes.

Nessa etapa, todas as fontes apresentaram apenas o termo quadrático significativo, o que

indica que as mesmas já alcançaram seu ótimo de concentração para a resposta bioensaio.

Os gráficos 5.8 a 5.10 representam a superfície de resposta para o delineamento

composto central rotacional. Observa-se que a zona em vermelho escura, correspondente a

maior taxa de morte no bioensaio, encontra-se no centro do gráfico, ou seja, todo o seu

entorno foi mapeado. Isso significa que para alcançar os melhores resultados de bioensaio

pode-se trabalhar em intervalos de concentração das fontes que correspondem a tal área e, não

necessariamente com um único valor fixo de concentração; o que facilita o controle da

fermentação. Para o sulfato de amônia, a faixa de variação da região de ótimo está entre (g/L)

0,6 a 1,1; já para a glicose é de 0,3 a 0,55g/L, enquanto que para a farinha de crisálida tal

faixa encontra-se entre 55 a 58g/L.

Gráfico 5.8 Superfície de resposta para variáveis sulfato de amônia e glicose, tendo como

resposta o bioensaio (delineamento composto central rotacional). A farinha de crisálida está

fixada no valor ponto central.

57

Gráfico 5.9 Superfície de resposta para variáveis farinha de crisálida e glicose, tendo como

resposta o bioensaio (delineamento composto central rotacional). O sulfato de amônia

encontra-se fixado no valor ponto central.

Gráfico 5.10 Superfície de resposta para variáveis farinha de crisálida e sulfato de amônia,

tendo como resposta o bioensaio (delineamento composto central rotacional). A glicose

encontra-se fixada no valor ponto central.

58

Tabela 5.7 Efeito das fontes de nutrientes sobre o bioensaio (delineamento composto central

rotacional). Em vermelho, as variáveis com efeito significativo (ANOVA, p<0,05). L

representa o termo linear e Q o termo quadrático.

  Efeito Probabilidade CoeficientePrincipal/interações 55,9605 0,002818 55,9605Blocos -14,7490 0,100067 -7,3745Glicose (L) -4,3479 0,557271 -2,1740Glicose (Q) -21,7725 0,048432 -10,8863Sulfato de amônia(L) -8,0267 0,298329 -4,0133Sulfato de amônia(Q) -23,3350 0,038753 -11,6675Farinha de crisálida(L) 13,5822 0,106834 6,7911Farinha de crisálida(Q) -24,8975 0,031171 -12,4488Interação glicose e sulf. de amônia (L)

16,6650 0,132522 8,3325

Interação glicose e far. de crisálida (L)L

6,6650 0,504843 3,3325

Interação sulf. de amônia e far. de crisálida (L)

-13,3350 0,210292 -6,6675

A tabela 5.6 apresenta o efeito das fontes de nutrientes sobre o bioensaio.

Considerando-se apenas os efeitos significativos e o coeficiente, pode-se construir a equação

quadrática a seguir que explique o efeito das fontes sobre o bioensaio:

Y= 55,96 – 10,89 A2 -11,67 B2 – 12,45 C2

Onde:

Y= valor do bioensaio em porcentagem de morte

A= concentração da glicose (valor codificado)

B= concentração do sulfato de amônia (valor codificado)

C= concentração da farinha de crisálida (valor codificado)

Com base na equação que representa o processo, foi possível prever os valores de

bioensaio para diferentes valores das fontes de nutrientes. O gráfico 5.10 relaciona os valores

previstos com os valores observados nos bioensaios; observa-se que houve uma correlação

considerável entre esses valores. O coeficiente de determinação desse delineamento (R) foi de

0,88; o que indica que 88% da variação é explicada pelo modelo.

59

Gráfico 5.11 Valores observados e previstos para o bioensaio (% de morte).

A tabela 5.8 apresenta algumas combinações de valores das variáveis bem como o

bioensaio previsto. Observa-se que há uma ampla faixa onde a variação do bioensaio é

mínima. O valor máximo previsto pelo modelo foi de 56,82%, no entanto, o valor máximo de

morte das larvas observado nos ensaios desta etapa foi de 66,67%. Mesmo nos gráficos que

representam a superfície de resposta, a zona de maior morte no bioensaio corresponde a cerca

de 40%. Essas diferenças entre os valores máximos esperados e previstos justificam-se pelo

ajuste que o modelo matemático deve apresentar para que a maior parte dos dados seja

explicada por ele.

Tabela 5.8 Valores previstos para o bionsaio em diferentes concentrações das fontes de

nutrientes.

Previsão (bioensaio)

Glicose (codificado)

Glicose (real)

Sulfato (codificado)

Sulfato (real)

Farinha (codificado)

Farinha (real)

55,9605 0 0,5 g/L 0 1 g/L 0 50 g/L55,08828 -0,4 0,4 0 1 g/L 0 50 g/L50,73246 -0,8 0,3 0 1 g/L 0 50 g/L

56,2965 0 0,5 g/L -0,2 0,9 0 50 g/L54,16821 0 0,5 g/L -0,6 0,7 0 50 g/L

56,8208 0 0,5 g/L 0 1 g/L 0,2 5256,6851 0 0,5 g/L 0 1 g/L 0,4 54

55,55362 0 0,5 g/L 0 1 g/L 0,6 56

60

Em relação ao crescimento e esporulação, as concentrações testadas não apresentaram

efeitos significativos para tais parâmetros. No entanto, na região de ótimo para bioensaio o

log médio de UFC foi de 15,87 já a esporulação média foi de 81,65%, o que indica um bom

crescimento e esporulação.

Embora em um estudo de superfície de resposta o ótimo encontre-se em uma faixa e

não em um valor fixo das variáveis, para os experimentos seguintes foi adotado o valor das

variáveis no ponto máximo previsto de bioensaio. Esse ponto corresponde aos seguintes

valores das variáveis (g/L): 0,5 de glicose; 1,0 de sulfato de amônia e 52 de farinha de

crisálida. Além das fontes de carbono e de nitrogênio orgânico e inorgânico, o meio de cultura

otimizado continha a mistura de sais, citadas no item 4.5, a qual não foi objeto de estudo.

Muitos autores relatam o efeito repressor da glicose sobre a produção de toxinas por B.

thuringiensis; porém, esse fato não se observou nesse estudo, provavelmente porque a

concentração de glicose utilizada foi baixa (0,5g/L), quando comparada com a dos estudos

que observaram a repressão (em média 1,0g/L) (ÖSKAN et al.; 2003). Nas etapas iniciais da

otimização, quando a concentração de glicose era alta (entre 1,25 a 10g/L), os resultados do

bioensaio foram bem baixos, em torno de 12% de morte das larvas. Possivelmente, nessa

etapa a glicose estaria reprimindo a produção de toxina.

Assim como nos trabalhos de Içgen et al. (2002b), o sulfato de amônia mostrou-se

uma boa fonte de nitrogênio orgânico para a produção de toxinas por B. thuringiensis. A

concentração ótima dessa fonte (1,0g/L) foi metade do que geralmente se costuma utilizar na

indústria, o que leva a um barateamento da produção (COUCH, 2000).

Logo no início da descoberta de B. thuringiensis, em 1902, ele foi isolado a partir de

larvas infectadas de Bombix mori. Desde então, já se sabia que essa bactéria era capaz de se

desenvolver em tal meio (BRAR et al., 2006; CAPALBO et al., 2004; VIDAURRE, 1996).

Os bons resultados obtidos com o meio a base de farinha de crisálida confirmam esse fato.

Além disso, o fato desse meio ter alcançado resultados promissores reforça que o nicho de B.

thuringiensis é o próprio inseto, onde ocorrem suas interações genéticas e seu metabolismo

estaria mais adaptado (RAYMOND et al., 2008; VILAS-BÔAS et al., 2000).

A farinha de crisálida apresenta uma composição bastante rica, destacando

principalmente como fonte de proteínas e aminoácidos, portanto de nitrogênio orgânico. O

anexo 2 apresenta uma tabela com a constituição dessa farinha, essas análises foram feitas

pelo laboratório Labtec (Campinas) e, gentilmente cedida pelo professor Amarildo Passini

(Departamento de Agronomia, UEL). Embora apresente os minerais potássio, magnésio,

zinco, ferro e cobalto; a concentração desses é baixa. Portanto, ainda há necessidade de

61

suplementação mineral. Alves et al. (1997) estudou vários ingredientes alternativos para o

crescimento de B. thuringiensis kurstaki, a farinha de crisálida foi o mais promissor. Nesse

estudo, a concentração utilizada foi de 10g/L dessa farinha além de suplementação com sais e

fonte de carbono.

A CL50 média do meio otimizado foi de 0,703 ppm (v/v). Esse resultado foi

comparado com o bioensaio de cultura feita em meio Arcas adaptado (ANDRADE, 2005),

cuja CL50 média foi de 3,01 ppm (v/v). Esses valores diferiram estatisticamente, sendo que o

meio à base de crisálida apresenta uma toxicidade cerca de 4,3 vezes maior do que o meio

Arcas adaptado. (Não entendi)

A tabela 5.9 apresenta os custos referentes à matéria-prima para produção de 1 L de

meio a base de farinha de crisálida otimizado e do meio Arcas adaptado.

Tabela 5.9 Custos dos meios de cultivo: Arcas adaptado e Farinha de crisálidas otimizado.

Custos/Meios Meio Arcas

adaptado

Meio farinha de

crisálida otimizado

Mistura de sais

Extrato de levedura

Glicose

Farinha de crisálida

Sulfato de amônia

Custo total (1L)

Fonte: ??????????????? Cotação feita em ?????????????

Além do meio otimizado apresentar um menor custo, sua toxicidade é maior, o que

permite que ele seja diluído cerca de 4x mais do que o meio Arcas adaptado. Dessa maneira,

com 1L do meio crisálida otimizado é possível obter 4L de meio com igual toxicidade do

meio Arcas adaptado; o que resulta em um custo real do meio otimizado cerca de ???%

menor.

62

5.3 Cinética de crescimento e produção de toxinas

O estudo da cinética de crescimento de B. thuringiensis israelensis foi feito com o

objetivo de verificar em qual etapa a toxicidade da cultura era máxima e, com isso determinar

o tempo de fermentação. Segundo Couch (2000), as fermentações industriais de bactérias

entomopatogênicas duram de 62 a 92 horas. Nesse estudo, a cultura foi monitorada por um

período de 96 horas

O crescimento microbiano foi mensurado por meio de gravimetria e turbidimetria.

Esses dois métodos apresentaram uma correlação de 0,93; como apresentado no gráfico 5.12.

No entanto, a metodologia de gravimetria apresentou um desvio padrão menor (2,04) em

relação à turbidimetria (6,5) e, por isso, foi utilizada no estudo da cinética.

Gráfico 5.12 Correlação entre a biomassa (mg/mL) mensuradas pelas metodologias de

gravimetria e turbidimetria.

O gráfico 5.13 apresenta o crescimento microbiano e a toxicidade, mesurada por meio

de bioensaio, durante as 96 horas de cultivo.

63

R2 = 0,9333

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

0 5 10 15 20

Biomassa (gravimetria)

Bio

mas

sa (

turb

idim

etri

a)

Gráfico 5.13 Crescimento microbiano (biomassa) e toxicidade (bioensaio) ao longo do

cultivo (96 horas).

A fase de adaptação às condições de cultivo (lag) durou cerca de 6 horas; ou seja

apenas 6,25% do tempo de cultivo. A fase exponencial, a qual apresenta a maior taxa de

crescimento, correspondeu a cerca de 72,92% do tempo de cultivo; ao final da qual a

biomassa correspondia a 15,13mg/mL. Não é possível identificar a fase de declínio de uma

cultura microbiana por meio da metodologia de gravimetria, visto que essa mensura a

biomassa total, incluindo células vivas e mortas (REFERÊNCIA, ANO). Por isso, o tempo

restante da cultura foi considerado como fases estacionária e de declínio, a qual durou cerca

de 20,83% do tempo de cultivo.

A esporulação é uma forma de a bactéria sobreviver a situações adversas, visto que os

esporos são mais resistentes. Em geral, a esporulação ocorre na fase estacionária, quando a

bactéria já consumiu grande parte das fontes de nutrientes e esse fator passa a ser uma

limitante para o seu crescimento. Além disso, durante a fermentação, o microrganismo pode

produzir metabólitos que, com o acúmulo, acaba por inibir seu próprio crescimento

(REFERÊNCIA, ANO).

A maior parte das toxinas de B. thuringiensis é sintetizada durante a esporulação,

portanto, diferente de muitos cultivos, a fase estacionária é bastante importante na

fermentação dessa bactéria. (LERECLUS et al., 1993; GLARE & O’CALLAGHAN, 2000).

Observando-se o gráfico 5.13, percebe-se que a toxicidade da cultura foi aumentando

64

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 3 6 9 28 34 52 55 58 79 82 96

Tempo (horas)

Bio

mas

sa

0

20

40

60

80

100

120

Bio

ensa

io

Média biomassa gravimetria (mg/mL) Bioensaio (% de morte)

gradativamente, alcançando o melhor resultado por volta de 96 horas de cultivo, ou seja, já no

período estacionário.

A fim de se verificar com maior precisão qual o momento de maior toxicidade, foram

feitos bioensaios com cálculo de CL50 para a cultura com 72 horas e com 96 horas. O tempo

de 72 horas foi escolhido por ter sido o adotado nas etapas anteriores. A cultura com 96 horas

de cultivo apresentou uma CL50 média de 0,50; a qual foi significativamente menor do que a

cultura com 72 horas, a qual apresentou CL50 média de 0,70.

A figura 5.1 apresenta fotomicroscopia da cultura de B. thuringiensis israelensis em

diferentes momentos de cultivo.

Figura 5.1. Cultura de B. thuringiensis israelensis em diferentes momentos de cultivo. Aumento de 1000 vezes. Coloração: Amido-Black e Fucsina. Seta verde: células vegetativas. Seta azul clara: células em final de esporulação. Seta azul escura: cristais. Seta vermelha: esporos.

Analisando-se as fotomicroscopia, percebe-se que inicialmente predominavam células

vegetativas (6 horas). Já com 32 horas de cultivo, a maior parte das lâminas apresentava

células já em esporulação inicial, com esporos e cristais no seu interior. Às 56 horas foi

possível observar uma grande quantidade de esporos e cristais de toxina já no exterior da

65

célula, porém ainda era evidente uma grande quantidade de células em esporulação. A cultura

com 72 horas de cultivo apresentava praticamente apenas esporos e cristais fora das células,

com poucas células em final de esporulação. Às 96 horas de cultivo, foi possível observar

uma grande quantidade de cristais e esporos fora da célula, porém havia células vegetativas.

Provavelmente, às 96 horas de cultivo alguns esporos produzidos durante o cultivo

germinaram, resultando novamente em algumas células vegetativas.

Pela análise da toxicidade observa-se que o período de 96 horas seria o indicado para o

cultivo, porém, analisando-se as lâminas percebe-se que nesse momento alguns esporos já

estariam germinando. A maior toxicidade do período de 96 horas provavelmente ocorreu

porque a grande maioria das células da fase de crescimento já havia liberado seus cristais, ao

passo que com 72 horas algumas células, ainda que poucas, apresentavam-se no final de

esporulação. Uma alternativa para essa questão seria manter fermentar a cultura por 72 horas

e, posteriormente mantê-la em repouso por 24 horas, para que as células em final de

esporulação liberem suas toxinas. Dessa maneira, o tempo de cultivo não se estenderia muito,

não resultando em custo extra para a produção. MORAES et al.(2001) relatam essa estratégia

para alguns cultivos de B. thuringiensis.

Gráfico 5.14 Potencial hidrogeniônico (pH) ao longo do (96 horas).

66

6

6,5

7

7,5

8

8,5

0 20 40 60 80 100

Tempo (horas)

pH

O gráfico 5.14 apresenta os valores do potencial hidrogeniônico (pH) ao longo do cultivo

de 96 horas. Em geral, a cultura de B. thuringiensis, quando não há controle de pH, esse inicia

em torno de 7.0, diminui para cerca de 6,0, no início da esporulação. Ao final da esporulação

e com a lise celular o pH sobe para valores neutros e até básicos como 8.9 (ABDEL-

HAMEED, 2001; LUNA et al., 2004).

Nesse estudo, não se observou a queda inicial que, geralmente ocorre durante o início do

cultivo de B. thuringiensis. Provavelmente, isso ocorreu porque a concentração de glicose no

meio era baixa (0,5g/L), o que resultou em menor produção de ácidos orgânicos responsáveis

pela queda inicial do pH (CHANG, et al., 2008). Além disso, os sais dihidrogenofosfato de

potássio (KH2PO4) e fosfato de potássio dibásico anidro (K2HPO4) presentes no meio

provavelmente tamponaram essa leve diminuição inicial. Posteriormente, o pH aumentou para

cerca de 8,0 e manteve-se.

Os estudos de Öskan et al. (2003) sugerem o pH 7.0 com variação de ±0.3 como melhor

para o crescimento e a produção de toxinas por B. thuringiensis. Isso porque, algumas

proteínas Cry, principalmente Cry4Ba, mostram-se mais sensíveis a variações de pH, com

comprometimento pronunciado nos casos de alcalinização. Já os estudos de Içgen et al.

(2002a) indicam uma melhor produção com pH entre 5,5 e 6,5. Outros estudos indicam que

não há uma alteração significativa na produção de toxinas quando o pH do meio varia entre

6,5 a 8,0 (HOLMBERG, R, et al. apud. IÇGEN et al. 2002a).

No presente estudo, a produção de toxinas foi satisfatória, embora tenha ocorrido

variação de pH entre 6,4 e 8,2. Para uma precisão maior quanto a influência do pH na

produção de toxinas, esse deveria ter sido foco de estudo.

67

5.4 Toxicidade da cultura de Bacillus thuringiensis subsp. israelensis durante armazenamento

O gráfico 5.15 apresenta a toxicidade da cultura de B. thuringiensis israelensis,

avaliada por meio de bioensaio com cálculo CL50, por um período de 28 dias de

armazenamento.

Gráfico 5.15 Toxicidade da cultura durante o armazenamento.

Inicialmente o comportamento das duas culturas armazenadas foi igual, com

diminuição da toxicidade para cerca de 1,0 ppm (v/v). No entanto, com 21 e 28 dias de

armazenamento, a cultura não refrigerada apresentou quedas na CL50, chegando a 0,43 ppm

(v/v). Já a cultura refrigerada continuou a apresentar um aumento da CL50 até 21 dias de

armazenamento e, posteriormente, manteve-se em cerca de 1,20 ppm (v/v).

Geralmente, os estudos sobre armazenamento de B. thuringiensis apresentam dados

apenas de produtos formulados (ARAÚJO et al., 2008), no entanto, dados sobre o

armazenamento da cultura são importantes, pois servem para se comparar com o do produto

formulado e, assim, estabelecer a eficácia da formulação.

68

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 5 10 15 20 25 30

Tempo (dias)

CL

50

(pp

m,

v/v)

Cultura com refrigeração Cultura sem refrigeração

Glare & O’Callaghan, 2000 relatam que os principais fatores que influenciam a

toxicidade de B. thuringiensis no meio ambiente são a radiação solar e temperatura. Couch

(2000) afirma que logo após a fermentação, é interessante manter a cultura a 4ºC por algumas

horas, para que ocorra a completa lise celular.

Nesse estudo, a melhor condição de armazenamento foi sem refrigeração.

Provavelmente, a baixa temperatura (5ºC +/-2) por um período prolongado de tempo foi

prejudicial para as toxinas, resultando em uma menor toxicidade. Já à temperatura ambiente,

pode ter possibilitado a lise de praticamente todas as células, e posterior germinação de

esporos tardios, resultando em uma melhor toxicidade. Esse resultado reforça a eficácia de se

deixar a cultura em repouso após sua fermentação, antes de formulá-la (MORAES et al.,

2001).

69

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS (Conclusões?)

Entre as fontes de nitrogênio estudas (farinha de crisálida, peptona bacteriológica,

uréia agroindustrial e sulfato de amônia), a farinha de crisálida e o sulfato de amônia foram os

mais adequados para produção de toxinas por B. thuringiensis israelensis HD537.

Entre as fontes de carbono estudadas (sacarose, glicose e fécula de mandioca), a

glicose apresentou-se a mais adequada para produção de toxinas.

A metodologia de superfície de resposta mostrou-se eficaz na otimização do meio de

cultivo, resultando em um meio com as seguintes faixas de concentrações das fontes de

carbono e nitrogênio: glicose 0,3 a 0,55g/L; farinha de crisálida 55 a 58g/L e sulfato de

amônia 0,6 a 1,1g/L..

A otimização do meio alternativo à base de farinha de crisálida resultou em um meio

com CL50 de 0,703 ppm (v/v). Esse meio apresentou um custo ??? vezes menor do que o meio

de cultivo Arcas adaptado.

As maiores toxicidades da cultura de B. thuringiensis israelensis HD537 ocorreram

nas etapas finais de cultivo, sendo máxima em 96 horas.

O armazenamento da cultura de B. thuringiensis israelensis HD537 em condições não

refrigerada foi a mais adequada para manutenção de sua toxicidade por um período de 28

dias.

Indicam-se estudos posteriores com utilização da superfície de resposta para otimizar

as condições físicas de cultivo (pH, temperatura e aeração), visto que essas não foram objeto

de estudo.

Para uma melhoria maior da produção de B. thuringiensis israelensis HD537 indica-se

o estudo do aumento de escala e a de sua formulação.

70

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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75

ANEXO 1:Processo de produção de farinha de crisálida pela indústria de fiação de seda

Bratac s.a.

A matéria prima (casulos contendo as crisálidas do bicho da seda), após passarem pelo

processo industrial de fiação automático e fiação semi-automático, são transportados através

de canaletas para o setor de Sub-produtos, onde segue por meio de esteiras para a máquina

estopadeira. Essa máquina faz a separação das crisálidas dos resíduos de seda.

A máquina estopadeira é dividida em esteira de entrada, tanque de banho com soda

cáustica e vapor e dois tanques de enxágüe com água limpa.

Na esteira de entrada, um funcionário é responsável pela separação dos casulos que

ainda podem ser reutilizados no setor de fiação automático e semi-automático, o restante do

processo é todo automatizado.

As crisálidas seguem para os tanques de banho com solução de soda cáustica e vapor,

por meio de esteiras. Esse processo tem por objetivo retirar os resíduos de seda.

Após a passagem pela solução de soda cáustica, as crisálidas seguem em esteira direto

para o depósito da centrífuga, e em seguida, para a centrífuga. Após centrifugar, seguem em

esteira para o secador de crisálidas.

No secador, as crisálidas permanecem por 1 hora, sendo a temperatura de 130ºC no

primeiro compartimento e 118ºC no segundo compartimento. Após a secagem, as crisálidas

são encaminhadas para o resfriador, onde serão resfriadas pelo processo de exaustão.

Após a secagem e resfriamento, as crisálidas seguem para a mesa de classificação.

Nesse estágio de produção, é feito o exame da umidade das crisálidas. São realizadas duas

amostras de locais diferentes na peneira rotativa e duas amostras dos sacos embalados,

totalizando quatro amostras por turno, para monitoração da umidade para evitar possíveis

falhas,

As crisálidas secas seguem para o silo de armazenamento ou moinho.

No silo de armazenamento, as crisálidas secas permanecem até o momento da

embalagem como Crisálidas Integrais, ou seguem para o moinho, onde são trituradas e

embaladas como Farinha de crisálida, de acordo com o pedido do cliente.

Fonte: Manual de Boas Práticas de Fabricação da empresa Fiação de seda BRATAC s.a.

76

ANEXO 2: Análise da constituição química de farinha de crisálida.

RELATÓRIO DE ANÁLISESLABORATÓRIO CENTRAL – LABTEC

FONE: (19) 227-9994 ou 729-4441Rua das Magnólias, 2405

Jd Bandeirantes -CEP: 13050-070Campinas -SP Fax: (19)729-4443

e-mail: [email protected] da análise: 15/04/2003

Análise ResultadoProteína Bruta (%) 52.6600Extrato Etereo (%) 27.1700Cálcio (%) 0.1100Fósforo total (%) 0.6900Alanina (%) 2.8214Arginina (%) 2.7279Ácido Aspartico (%) 5.8778Glicina (%) 2.3481Isoleucina (%) 2.1805Leucina (%) 3.7528Ácido Glutâmico (%) 6.7585Lisina (%) 3.4737Cistina (%) 0.6224Metionina (%) 1.6891Fenilalanina (%) 2.6662Tirosina (%) 2.9083Treonina (%) 2.6158Triptofano (%) 0.6702Prolina (%) 2.6552Valina (%) 2.8380Histidina (%) 1.5121Serina (%) 2.6524Potássio (Mg/Kg) 7643.0900Magnésio (Mg/Kg) 3266.7500Manganês (Mg/Kg) não detectadoZinco (Mg/Kg) 162.290Ferro (Mg/Kg) 89.1100Cobre (Mg/Kg) 14.6500Cobalto (Mg/Kg) 8.5000

77

78