os tucanos se reproduzem na terra da garoa: um … · 2015-07-04 · 1 bacharela em ciência...
TRANSCRIPT
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
OS TUCANOS SE REPRODUZEM NA TERRA DA GAROA: UM
ESTUDO ELEITORAL SOBRE A REELEIÇÃO DO PSDB EM SÃO
PAULO
Jayane Maia1
RESUMO
Todo partido político visa chegar ao poder e permanecer nele, almejando vantagens como
prestígio e renda. Desde 1994 candidatos do PSDB ocupam o governo de São Paulo. O
trabalho tem como objeto de pesquisa o eleitorado paulista. Sendo o município a unidade
de análise, buscou-se verificar a existência ou não de um padrão sócio geográfico ligado
à reeleição do PSDB em SP. A porcentagem de votos válidos no município para o
governador eleito foi associada com o Índice Paulista de Responsabilidade Social, com
as transferências estaduais para o município e com o partido do prefeito. Os resultados
preliminares mostram que a cada eleição o PSDB tem maior apoio do eleitorado. Não há
diferença sócio geográfica significativa entre os votantes nem baixa votação nos
municípios nos quais a prefeitura pertence ao PT. A imagem dos candidatos tucanos e a
dificuldade de inserção no estado dos partidos da oposição são hipóteses alternativas para
a reeleição do governo em SP.
PALAVRAS-CHAVE: Reeleição, São Paulo, PSDB, Eleitorado.
INTRODUÇÃO
A eleição de candidatos para cargos públicos é uma das marcas de países
democráticos como o Brasil. O período eleitoral se coloca, então, como a essência da
1 Bacharela em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB) e mestranda em Sociologia pela
mesma universidade. E-mail: [email protected].
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
história política nesses contextos, tempo em que se afirmam as forças políticas que
chegam ao poder ou se consolidam aquelas que nele permanecem mediante a reeleição.
As vantagens alcançadas pelo grupo político que consegue se eleger são várias – como
status e renda – e incentivam o desejo de manutenção do poder por quem governa,
conforme aponta Anthony Downs (1992)2.
Nesse sentido, Max Weber tinha razão quando apontou que a empresa política
se coloca como empresa de interesses em praticamente todos os lugares3. Segundo ele,
estar no poder é um interesse e um desejo de um grupo restrito de pessoas (“politicamente
ativas”4), as quais para fazerem parte da vida política do país reúnem as condições
financeiras necessárias para se apresentarem como candidatos e correrem atrás de votos
dos que são “politicamente passivos”5. A existência desses dois grupos (ativos e passivos)
é indispensável para a criação de um partido político, de acordo com Weber6.
Com efeito, os partidos políticos nas democracias constituem os grupos em
torno dos quais os indivíduos interessados por política se reúnem para concorrerem a um
cargo eletivo ou se engajarem em prol de uma candidatura. Essa pode ser considerada
uma definição operacional do que vem a ser um partido político. No entanto, os efeitos
causados por um partido transcendem a sua função eleitoral, de modo que sua existência
implica na criação de grupos e, portanto, na divisão da sociedade. Essa divisão pode ter
um fundo didático, ou seja, direcionado para uma melhor organização e entendimento do
mundo e da realidade e, particularmente, das preferências daqueles que têm direito ao
voto. Todavia, o combate e a oposição que são intrínsecos a esses agrupamentos
culminam em uma sociedade organizada por meio da luta, colocando-a como “a forma
essencial da convivência entre homens7”.
2 DOWNS, Anthony. Uma teoria econômica da democracia. São Paulo: Edusp, 1992. 3 WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. “A política como vocação”. Dunker & Humblot,
Berlim, 1968. 4 Idem. 5 Idem. 6 Idem. 7 ORTEGA Y GASSET, José. Os intelectuais e a política. “Não ser homem de partido”. Ed. Presença, Lisboa, 1964.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
A luta entre os partidos políticos e seus respectivos candidatos se mostra,
portanto, como um elemento essencial do período eleitoral. E é por intermédio dessa luta
partidária que a cada eleição novas forças políticas se criam e as que já existem se
rearranjam ou morrem. No caso de uma reeleição, o partido e seu candidato se tornam
duplamente vitoriosos: permanecem no poder e se mantém ativos na concorrência
instaurada pela luta partidária.
A vitória contínua de um partido e/ou de um candidato pode ter dois
direcionamentos. Um deles é a possibilidade de continuidade das políticas que já vinham
sendo realizadas. Por outro lado, não há como negar que a continuidade pode disfarçar o
desejo de usufruir dos benefícios de quem detém o poder e culminar na formação de uma
dinastia política legítima.
O que entra em questão, portanto, são as vantagens e as desvantagens da
reeleição. A pergunta que se faz é: até que ponto a permanência de um grupo político a
frente de um governo é benéfica para a população?
Alguns preferem a rotatividade de poder, pois acreditam que ela minimiza a
criação de vícios políticos que ocorrem em detrimento da sociedade, como a corrupção e
o uso da máquina pública para fins privados. Todavia, a continuidade pode significar algo
benéfico quando aplicada às políticas públicas e ao seu aprimoramento ao longo dos
mandatos, tendo em vista que a rivalidade entre os grupos políticos muitas vezes resulta
na quebra das políticas e no “começar de novo”, quando um ou outro alternam o poder.
Em termos de continuidade de mandatos, o estado de São Paulo é um caso
brasileiro curioso. Desde 1994, com a vitória de Mário Covas, candidatos do Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB) ocupam o Palácio dos Bandeirantes. Em 2018, o
PSDB completará 24 anos à frente do governo do estado, considerando a vitória em
primeiro turno do tucano Geraldo Alckmin nas eleições de 2014. A grande permanência
do PSDB no poder executivo paulista levou o estado a ser chamado de “Tucanistão”
(termo criado pelo filósofo Vladimir Safatle para se referir a SP nas suas colunas na Folha
de S. Paulo).
Os tucanos dominam SP desde 1994 independente das circunstâncias, sejam
sociais, políticas ou econômicas. Exemplo disso foi a vitória de Geraldo Alckmin em
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
2014, que venceu apesar da chamada “crise da água”, e de Mário Covas em 1998, que
conseguiu a reeleição de forma apertada após ter feito um choque de gestão tendo em
vista a situação calamitosa deixada pelos seus antecessores do Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB). Em suma, a história política recente de São Paulo
mostra que os governos do PSDB, embora tenham atitudes políticas impopulares ou
sejam alvo de denúncias de corrupção, são reeleitos.
Nesse sentido, o trabalho aqui realizado tratará de compreender as eleições
para governador no estado de São Paulo. O problema que se propõe analisar pode ser
definido na seguinte questão: a reeleição do PSDB em São Paulo ao longo de 20 anos se
associa a diferenciações políticas e socioeconômicas municipais que influenciam na
votação?
Objetiva-se com a pesquisa realizar um apanhado histórico – que abarque o
período em que o PSDB está no poder executivo de SP (1994-2014) – do perfil do
eleitorado paulista, por meio da associação entre características políticas e
socioeconômicas municipais e proporção de votos recebida pelos candidatos tucanos
vitoriosos.
Com efeito, não se pode compreender uma eleição sem levar em consideração
o eleitorado que é por elas responsável. Por isso, entender o eleitor paulista constituiu o
primeiro pilar da pesquisa. O segundo pilar foi o contexto socioeconômico e político do
período em análise, considerando que as circunstâncias do momento em muito
influenciam – ou deveriam influenciar – a mentalidade do eleitor bem como a política
que se tem nos bastidores.
CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E ABORDAGEM TEÓRICA
As eleições para governador em São Paulo nos anos de 1994, 1998, 2002,
2006, 2010 e 2014, nas quais o PSDB foi eleito, foram envoltas de circunstâncias
socioeconômicas e políticas que formaram o contexto no qual as eleições ocorreram. A
identificação e o entendimento dessas circunstâncias em muito contribui para a
compreensão dos dados eleitorais.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
O período eleitoral não pode ser entendido somente por meio dos dados
contidos nas estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se faz necessário entendê-
lo também a partir dos fatos que permeiam o contexto político do período, de modo que
o resultado das urnas e, por sua vez, o divulgado pelo TSE, é consequência daquilo que
ocorre durante o processo eleitoral.
A pesquisa qualitativa é, portanto, necessária para se melhorar a qualidade de
leitura dos dados estatísticos, de forma que os números revelam algumas coisas e
mascaram outras, não informando com exatidão a complexidade da situação. Conforme
aponta Carlos Estevam Martins, “a partir da distribuição dos votos não se infere o que foi
o processo eleitoral. Para conhecê-lo, temos que voltar atrás e analisá-lo em si mesmo, tal
qual se desenvolveu8”.
As notícias veiculadas pelos meios de comunicação permitem que qualquer
um tenha uma visão do contexto e das circunstâncias que rodeiam o período eleitoral. Os
jornalistas são importantes nesse sentido na medida em que têm acesso a informações que
não são divulgadas pelos canais oficiais de informação, por exemplo. Além disso, as
pessoas que participam ativamente da política de determinada região, seja em cargos
públicos ou em campanhas eleitorais, também são fontes valiosas de informação, tendo
em vista que, assim como os jornalistas, veem de perto o que ocorre no âmbito político e
possuem mais elementos que tornam sua interpretação da realidade mais robusta.
Caso o resultado das urnas contradiga o contexto sócio político, faz-se
necessário se apoiar em outras bases, como na história política da região e nas questões
circunstanciais, a fim de encontrar outras explicações para o comportamento político dos
eleitores, que, nesse caso, não teriam sido afetados pelos fatos ocorridos ou os
minimizaram, não dando a eles a importância que os pesquisadores achariam que teria.
Em meados de 1994, Mário Covas, candidato psdebista ao governo de São
Paulo, estava com 55% das intenções de votos, segundo pesquisa do Datafolha. A
campanha eleitoral do PSDB nesse ano foi concentrada em cinco cidades do Vale do
8 MARTINS, Carlos E. “O Balanço da Campanha”. In: CARDOSO, Fernando Henrique, comp. Partidos políticos e eleições no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2ª ed. 1978, 262 p.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Paraíba – São José dos Campos, Taubaté, Lorena, Cruzeiro e São Sebastião – que foram
escolhidas segundo critérios geográficos e importância política, segundo o então
coordenador da campanha de Covas9. Realmente o PSDB tinha fortes razões para definir
a região como prioritária. São José dos Campos possuía o maior colégio eleitoral do Vale
e as cidades de Taubaté, Cruzeiro e Lorena tinham prefeitos psdebistas. Além disso, a
região do Vale do Paraíba era a principal base eleitoral do vice de Mário Covas, Geraldo
Alckmin10.
Graças à aliança entre PSDB e PFL, Covas foi beneficiado com o segundo
maior tempo no horário eleitoral tanto na televisão quanto no rádio. Se não fosse isso, ele
teria ficado apenas com o quinto tempo11, o que certamente teria dificultado sua
campanha política, sabendo que “o HGPE [Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral] é
assim a única maneira pela qual os partidos políticos têm acesso à mídia não-escrita”12.
O partido que tentava a reeleição à época – o PMDB – com Barros Munhoz, tinha o maior
tempo no horário eleitoral e possuía 50% das intenções de voto. O assessor de imprensa
de Munhoz, Carlos Brickmann, reconhecia que “o horário eleitoral [seria] a chave que
pode definir o vencedor”13.
Em 11 de julho de 1994, a Folha de S. Paulo divulgou dados de pesquisa do
Datafolha que mostravam uma queda de 11 pontos nas intenções de voto para Mário
Covas de junho para julho. Esse índice direcionava para o que tinha ocorrido com o
mesmo candidato em 1990, ano eleitoral em que Covas, disputando o governo de SP,
iniciou sua campanha com ótimos percentuais, mas acabou sendo derrotado. No entanto,
a opinião disseminada nas eleições de 1994 era de que Covas não tinha adversários a sua
altura14.
9 Folha de S. Paulo, Folha Vale, 6 de Junho de 1994. 10 Idem. 11 Folha de S. Paulo de 6 de junho de 1994, Primeiro Caderno. 12 SCHMITT, Rogério; CARNEIRO, Leandro Piquet; KUSCHNIR, Karina. Estratégias de campanha no horário gratuito de propaganda eleitoral em eleições proporcionais. In: Dados, Rio de Janeiro, v. 42, n. 2, 1999. Disponível em <http: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-52581999000200003&script=sci_arttext&tlng=es#back>. Acessado em 10/04/2015. 13 Idem. 14 Folha de S. Paulo de 11 de julho de 1994, Primeiro Caderno.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
A reeleição do PMDB em São Paulo estava bastante prejudicada pelas
circunstâncias que tinham nascido no último governo. A imagem do partido estava frágil
perante o eleitorado, principalmente pelas denúncias de corrupção envolvendo o ex-
governador Orestes Quércia15, o que, por sua vez, dificultava o sucesso da candidatura de
Barros Munhoz.
Na época o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou a denúncia contra
Quércia por estelionato, fato que ele próprio considerou como “atestado de idoneidade”.
No entanto, o fato ainda gerou muita badalação e acusações por parte dos adversários
políticos. Mário Covas, acreditando que a decisão judicial não reverteria a imagem do
peemedebista, chegou a afirmar que “decisão da justiça não se discute, mas aquilo em
que o povo acredita também não se discute”16.
A difícil situação do PT em São Paulo também beneficiava o PSDB. A
situação era tal que, José Dirceu, candidato do PT, mostrava-se otimista ao ter pouco mais
de 10% das intenções de voto nas pesquisas realizadas, o que era um feito inédito para o
partido nas eleições para o governo de SP. A campanha petista no estado em 1994 não
gozou de muitos recursos financeiros e nem de espaço na mídia, segundo Dirceu17.
Com uma campanha eleitoral que se valia de objetos para identificar as
prioridades do PSDB no governo de São Paulo – ferramenta (emprego), ovo (agricultura),
lápis (educação), compasso (administração) e estetoscópio (saúde)18 – Covas venceu em
1994.
Em julho de 1998, Mário Covas anunciou que deixaria o governo de SP para
concorrer à reeleição, tendo em vista que, segundo ele, não conseguiria conciliar as
atividades do cargo com a campanha eleitoral19. “Ao anunciar a licença, o governador
acabou sinalizando que acredita na realização de segundo turno na eleição paulista. O
15 Folha de S. Paulo de 8 de agosto de 1994, Primeiro Caderno. 16 Idem. 17 Folha de S. Paulo de 4 de outubro de 1994, Caderno Especial. 18 Idem. 19 Folha de S. Paulo de 29 de junho de 1998, Primeiro Caderno.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
primeiro turno é no dia 4 de outubro, mas Covas pedirá afastamento até o dia 30 de
outubro20”.
Segundo pesquisa do Datafolha feita nos dias 27 e 28 de agosto de 1998,
Mário Covas (PSDB) estaria em terceiro lugar com 14% das intenções de voto. A sua
frente estariam Paulo Maluf (PPB), que agora estava coligado com o PFL, e Francisco
Rossi (PDT), ambos com 27%. No entanto, de um mês para o outro, os números
mudaram.
No final de setembro, Maluf mantinha a liderança, com 30%, enquanto Rossi
e Covas empatavam com 19%. Para Covas o pulo do gato estava na conquista dos votos
do interior do estado: “comparando-se o desempenho dos dois candidatos que disputam
a segundo vaga no 2º turno paulista na pesquisa atual e na anterior, percebe-se que Rossi
tem seu melhor desempenho na Grande São Paulo, enquanto Covas vai melhor no
interior21”.
A campanha de 1998 foi difícil para Covas, tendo em vista medidas
impopulares que ele tinha tomado durante seu primeiro mandato. O choque de gestão por
ele instaurado a fim de colocar as finanças públicas em ordem, quase o custa a reeleição.
A despeito disso, o PSDB e seu candidato vencem mais uma vez, em segundo turno, com
uma média percentual de 51,17%.
Com a morte de Mário Covas, Alckmin assume o governo de São Paulo em
março de 2001 e concorre à eleição em 2002. Em pesquisa realizada pelo Datafolha em
meados de agosto desse ano, Alckmin aparece com 24% das intenções de voto, 16 pontos
percentuais atrás do adversário Paulo Maluf (PPB)22.
Nesse mesmo período, o então governador atingiu o pior índice de aprovação,
32%, sendo que a maioria dos eleitores considerava o seu governo regular. Segundo a
pesquisa, sua melhor avaliação estava no eleitorado do interior paulista23. Percebe-se,
20 Idem. 21 Folha de S. Paulo de 26 de setembro de 1998, Caderno Eleições. 22 Folha de S. Paulo de 19 de agosto de 2002, Folha Eleições 2002. 23 Idem.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
portanto, que tanto nas eleições de 1998 quanto nas de 2002, os municípios interioranos
tiveram uma importância significativa nas eleições do PSDB.
Novamente a dinâmica dos números surpreende. Alckmin consegue uma
vantagem significativa sobre os demais candidatos, o que coincide com a melhora da
aprovação do seu governo: em outubro, sua administração foi considerada boa/ótima por
56% dos entrevistados na pesquisa Datafolha24. Ele é, então, reeleito, ocupando pela
terceira vez um cargo executivo no Palácio dos Bandeirantes.
Nas eleições de 2006, o PSDB tenta novamente a reeleição para o governo de
São Paulo, lançando José Serra como candidato, enquanto seu antecessor concorre à
Presidência da República. Segundo pesquisa do Datafolha, se as eleições fossem em 20
de julho de 2006, Serra seria vitorioso no primeiro turno, com 61% dos votos válidos25.
Seus principais adversários, Aloizio Mercadante (PT) e Orestes Quércia (PMDB) – que
possuía o maior índice de rejeição dos três candidatos – com, respectivamente, 15% e
11% das intenções de voto não tinham fôlego para alcançar o tucano. Vale observar que
nas eleições de 2006, houve a saída de Paulo Maluf da disputa ao cargo de governador
em São Paulo, sendo outros os adversários políticos, esses já citados.
O PSDB aparecia como vencedor nas pesquisas eleitorais em SP, a despeito
do sucessor de Geraldo Alckmin, Cláudio Lembo (PFL), com menos de quatro meses à
frente do governo, ser alvo de vaias em eventos públicos e enfrentar o crescimento da
porcentagem dos eleitores que consideravam sua administração ruim ou péssima26. No
período, Lembo governou em meio a uma crise de segurança no estado, devido aos
ataques violentos do PCC (Primeiro Comando da Capital). Na época, alguns nomes do
PSDB tentaram vincular o PT ao PCC, a fim de prejudicar as campanhas nacional e
estadual dos candidatos petistas em benefício dos tucanos.
Em 2006, o PT também foi acusado – e teve pessoas ligadas ao partido presas
por isso – de ter comprado um dossiê que envolvia o candidato tucano José Serra, quando
24 Folha de S. Paulo de 21 de outubro de 2002, Folha Eleições 2002. 25 Folha de S. Paulo de 20 de julho de 2006, Primeiro Caderno. 26 Idem.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
ministro da Saúde em 2001, na venda de ambulâncias a municípios, episódio mais
conhecido como o esquema dos sanguessugas. Serra apareceu em fotos que registravam
o momento da entrega das ambulâncias ao lado de deputados que foram acusados de
integrar a máfia27.
Embora o presidente do PT à época, Ricardo Berzoini, que depois deixou a
presidência do partido por conta do escândalo, tenha negado envolvimento com as
denúncias contra Serra, aproveitou o contexto para pedir investigações sobre ele28. Já
Mercadante (PT), que supostamente seria beneficiado com as acusações contra seu
adversário, deu declarações de que a compra de dossiês não condizia com a vida
democrática, mas pediu que Serra esclarecesse de forma consistente as acusações29.
O contexto político conturbado no qual Serra foi envolvido não impediu sua
eleição. Recém saído do cargo de prefeito da cidade de São Paulo, ele foi eleito
governador do estado em primeiro turno, algo que até o momento não havia ocorrido no
estado com nenhum candidato. Após eleito, disse que o povo tinha dito “não às tramoias”.
O ex-prefeito José Serra (PSDB) foi eleito governador de São Paulo em
uma vitória sem precedentes: é a primeira vez que um candidato vence
no primeiro turno. Ele obteve uma votação recorde – eram 12.372.929
votos (57,94% do total) à 1h de hoje, com 99,92%das urnas apuradas.
É a quarta vitória consecutiva do PSDB no principal estado do país.
Filho único de um imigrante italiano, José Serra Chirico, 64, já passou
pela maioria dos cargos públicos – foi deputado, senador, ministro e
prefeito30.
Em 2010, o PSDB traça a estratégia de priorizar as eleições para governador
em quatro estados – incluindo São Paulo com a candidatura já bastante conhecida de
Geraldo Alckmin – a fim de fazer a oposição sobreviver caso houvesse uma derrota do
27 Folha de S. Paulo de 17 de Setembro de 2006, Primeiro Caderno. 28 Idem. 29 Idem. 30 Folha de S. Paulo de 2 de Outubro de 2006, Eleições 2006 estados.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
partido na eleição nacional para Presidente31. A possibilidade da derrota já era cogitada,
então, pelos tucanos e, conforme bem apontou um eleitor paulista, o PSDB havia
descoberto, tarde demais, que o discurso pragmático só fazia sentido em SP32.
Para viabilizar sua candidatura, Alckmin teve que disputar internamente com
Aloysio Nunes, que era o preferido do ex-governador José Serra. Fortalecendo-se
politicamente, Alckmin conseguiu unificar o PSDB, o que não tinha conseguido em 2006,
e obteve o apoio de todos os diretórios no estado. No dia da eleição, em 3 de outubro de
2010, o Datafolha apontava que ele venceria no primeiro turno com 55% dos votos
válidos33.
O possível segundo colocado, Aloizio Mercadante (PT), que, mesmo
derrotado em 2006, aceitou o pedido de Lula para ser candidato no estado, ficaria em
segundo lugar com 28%. O pedido de Lula, agora cabo eleitoral da candidata do PT,
Dilma Rousseff, para a Presidência da República em 2010, evidencia a fragilidade do
partido no estado de São Paulo, que, por não conseguir emplacar nenhum nome de peso
no estado, tem que optar pelo perdedor da eleição anterior. Obviamente, deve-se
considerar que era outra eleição e o candidato adversário não era o mesmo, portanto, o
contexto era outro.
Atrás do tucano, Mercadante tinha nas mãos uma provável reeleição
para o Senado. Partiu para o “sacrifício”, em nome de pedido de Lula,
que queria consolidar um palanque para Dilma no maior colégio
eleitoral. Mercadante aceitou a missão, pensando não apenas no projeto
político de Lula, mas vislumbrando uma chance para ele próprio34.
A pesquisa do Datafolha também apontou que o candidato tucano teria
votação mais expressiva entre os mais ricos, os mais velhos e os mais escolarizados.
31 Folha de S. Paulo de 24 de Agosto de 2010, Primeiro Caderno. 32 Folha de S. Paulo de 24 de Agosto de 2010, Primeiro Caderno, Painel do Leitor, p. 3. 33 Folha de S. Paulo de 3 de Outubro de 2010, Ed. Especial Extra 34 Idem.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Geraldo Alckmin venceu, como assinalavam as pesquisas, e a característica da população
paulista foi apontada como um dos fatores que beneficiariam o PSDB no estado.
O elemento demográfico traz outras pistas para a hegemonia tucana.
Mais adultos e menos crianças equivalem a mais renda e menos
despesas, o que contribui para um “fell good factor” que vem
beneficiando o PSDB. (...) o próprio envelhecimento da população
resulta num voto mais conservador. Em geral, são os jovens e os que
sentem não estar avançando que arriscam votos heterodoxos35.
Nas eleições de 2014, novamente Geraldo Alckmin é candidato à reeleição
pelo PSDB, tendo o apoio de partidos importantes no estado e nacionalmente, sendo eles
o Democratas (DEM) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
Alguns fatos que rondavam a realidade paulista à época da eleição eram vistos e tratados
com cuidado pela cúpula interessada em se manter no poder.
Em primeiro lugar, as manifestações ocorridas em junho de 2013, as quais
tiveram em São Paulo um reduto importante e significativo, demonstravam a insatisfação
da população (pelo menos de uma parte) com as atitudes políticas dos governantes, não
só a nível municipal ou federal, mas também estadual. Segundo dados da Pesquisa CNI
– IBOPE: retratos da sociedade brasileira: qualidade dos serviços públicos e
tributação36 publicada em julho de 2013, 81% da população de São Paulo considerava
que o governador e seus secretários utilizavam os recursos públicos mal ou muito mal.
Em segundo lugar, a chamada “crise da água” em São Paulo, iniciada antes
das eleições, também resultou em protestos no estado diante da falta de água e do
racionamento severo imposto à população. Tudo indicava a falta de planejamento do
35 Schwartsman, Hélio. Articulista da Folha. Em Folha de S. Paulo, 4/10/2010, Especial eleições 2, pg. 2. 36 Pesquisa CNI – IBOPE: retratos da sociedade brasileira: qualidade dos serviços públicos e tributação. Brasília: CNI, julho de 2013, 29p.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
governo estadual como o motivo principal da crise37. Somado a isso, houveram denúncias
de que a Sabesp, operadora do sistema produtor de água em SP, teria optado por fazer
repasses milionários para seus acionistas em detrimento dos investimentos necessários ao
fornecimento de água38. Em resumo, a crise de abastecimento em São Paulo foi posta em
debate no contexto eleitoral e surgia como um fator que poderia prejudicar a reeleição do
PSDB.
Em terceiro lugar, escândalos de corrupção também assombravam o governo
paulista, como a denúncia de cartel do metrô. Políticos ligados à Geraldo Alckmin foram
acusados de terem recebido suborno da multinacional francesa Casol Alston, que com
isso pretendia ganhar o contrato de expansão do metrô de SP. Ademais, houve o “caso
Simiens”, no qual a empresa assumiu ter formado cartel com outras para fraudar as
licitações do metrô bem como afirmou, mediante comprovação documental, que o
governo estadual de São Paulo tinha conhecimento do esquema39.
O contexto político delineado em São Paulo nas eleições de 2014 não
desfavoreceu a hegemonia do PSDB no governo do estado. Geraldo Alckmin teve uma
ampla vitória, no primeiro turno, recebendo 57,31% dos votos válidos. Venceu em 644
dos 645 municípios paulistas.
Com efeito, os diferentes contextos que foram brevemente expostos das
eleições para o governo de SP de 1994 a 2014 trazem à tona três pontos que podem ajudar
na compreensão da hegemonia do PSDB no estado.
Ressalta-se que não se deseja nesse trabalho encontrar explicações gerais para
a manutenção do poder pelo PSDB em São Paulo ao longo de 20 anos. O objetivo aqui é
encontrar elementos nos diferentes períodos eleitorais que somados possam convergir
37 Carta Capital, “Perguntas e respostas sobre a crise da falta de água em São Paulo”, por Redação, 2014. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/politica/perguntas-e-respostas-sobre-a-crise-de-falta-de-agua-em-sao-paulo-2358.html. Acessado em: 15/12/2014. 38 Carta Capital, “Do Cantareira para a Bolsa de Nova York”, por Fabio Serapião, 2014. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-serapiao/do-cantareira-para-a-bolsa-de-nova-york-976.html. Acessado em: 15/12/2014. 39 Carta Maior, “14 escândalos de corrupção envolvendo Aécio, o PSDB e aliados, por Najla Passos, 2014. Disponível em: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/14-escandalos-de-corrupcao-envolvendo-Aecio-o-PSDB-e-aliados/4/32017. Acessado em: 15/12/2014.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
para uma melhor compreensão da permanência de um mesmo partido no poder executivo
estadual. Em suma, não se procura aqui descobrir o motivo das reeleições, mas sim
identificar e compreender, ainda que minimamente, os fatores e aspectos que convergiram
para a hegemonia atual do PSDB em SP.
O primeiro aspecto identificado foram as alianças realizadas entre os atores
políticos que permeavam o contexto eleitoral. Observa-se que o PFL, que hoje é
denominado DEM, um partido de força nacional, é um constante aliado do PSDB nas
eleições estaduais, com exceção do pleito de 1998, ano no qual apoiou o principal
adversário de Mário Covas na época, Paulo Maluf (PPB).
Já nas eleições de 2014, embora o PMDB tivesse um candidato próprio
concorrendo à reeleição, ocorreu o que se pode chamar de “levante pró-Alckmin” dos
prefeitos paulistas pmdebistas, os quais, após reunião com o candidato tucano, decidiram
apoiá-lo em detrimento do candidato do PMDB ao governo, Paulo Skaf, que, por sua vez,
acusou Alckmin de intimidar prefeitos de cidades pequenas40.
A competição eleitoral, principalmente em um sistema multipartidário, requer
a existência de apoio político entre os atores para que eles se auxiliem mutuamente e
aumentem suas chances de chegar ao poder. Conforme aponta estudo de Carreirão e
Nascimento (2010) que analisa a dinâmica das coligações entre as eleições de 1986 a
2006, “a taxa de sucesso eleitoral de candidaturas lançadas por coligações [é no conjunto
do período] quase cinco vezes maior do que a taxa de sucesso eleitoral de candidaturas
isoladas” (CARREIRÃO & NASCIMENTO, 2010, 97)41. Muitas vezes, troca-se apoio
(entende-se votos) por espaço nas alianças pós-eleitorais e participação no governo. Vê-
se, portanto, a importância da “construção de uniões efêmeras [entre partidos] decorrentes
apenas de um momento eleitoral específico” (MACHADO & MIGUEL, 2011, 37)42.
40 Ver em < http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/ribeiraopreto/2014/10/1525612-pmdb-analisa-
levante-pro-alckmin-liderado-pelo-prefeito-de-araraquara.shtml> 41 CARREIRÃO, Yan de S. & NASCIMENTO, Fernanda Paula do. “As coligações nas eleições para os
cargos de governador, senador, deputado federal e deputado estadual no Brasil (1986/2006)”. Revista
Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 4, p. 75-104, julho-dezembro, 2010.
42 MACHADO, Carlos M. & MIGUEL, Luis Felipe. “Padrões de coesão e dispersão: Uma proposta de
tipologia para coligações”. Teoria & Pesquisa, vol. 20, nº 2. São Carlos, pp. 37-58, 2011.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Um segundo aspecto que chama a atenção na construção feita anteriormente,
ainda que superficial, do contexto político das eleições paulistas é a fragilidade que os
partidos oposicionistas manifestam na arena eleitoral paulista. Dessa forma, um aspecto
que beneficiaria o PSDB no estado seria o fato de que os demais partidos não conseguem
consolidar uma oposição no estado.
Ainda são incertos os motivos pelos quais o PT e também os demais partidos
nas últimas duas décadas não conseguiram se consolidar como uma alternativa possível
ao governo do estado. No caso do PT, que é apontado como o principal adversário político
dos tucanos em SP, em três das seis eleições ocorridas para o governo estadual desde
1994 (pleitos de 1994, 1998 e 2014), o PT foi apenas o terceiro colocado no 1º turno e
em outras duas (pleitos de 2006 e 2010) mesmo ficando em segundo lugar não conseguiu
ir para o segundo turno, conforme evidenciam os dados a seguir.
Em terceiro lugar, observa-se a possibilidade da força do PSDB em São Paulo
se concentrar em uma região específica do estado, mais especificamente, no seu interior.
Conforme mencionado anteriormente, nas eleições de 1994 os tucanos decidiram
concentrar a campanha na região interiorana do Vale do Paraíba. Em 1998 e 2002, as
pesquisas de intenção de voto divulgadas pela mídia informavam que os votos
conquistados no interior do estado seriam a chave para a vitória do PSDB.
Nesse sentido, impõe-se verificar se as reeleições do PSDB em São Paulo
possuem algum padrão sócio geográfico. Se faz importante, portanto, verificar a priori
quem são e onde estão os eleitores que decidem por reeleger que está no poder, atentando
para a possibilidade de que o perfil dos eleitores que votaram na última eleição no PSDB
no estado de São Paulo não seja o mesmo daqueles que votaram nas eleições de 1994, por
exemplo.
Visando iniciar uma parte do trabalho que é entender as reeleições para
governador em SP, a presente pesquisa tem como objeto de estudo o eleitorado do estado
de São Paulo, almejando compreender seu perfil socioeconômico e geográfico no
decorrer dos períodos eleitorais, buscando constatar semelhanças e/ou diferenças entre as
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
eleições. As características sócio políticas municipais serão associadas à porcentagem de
votos por município dos vitoriosos para o cargo de governador. A unidade de análise será,
portanto, o município, de modo que, para os fins aqui propostos, os eleitores não serão
avaliados em suas características individuais, mas sim agrupados no nível municipal.
Acredita-se que a compreensão primeira do eleitorado paulista em termos
socioeconômicos e geográficos certamente ajudará na análise acerca do comportamento
dos eleitores bem como na compreensão dos demais aspectos que podem estar associados
ao resultado das urnas, alguns já citados nos parágrafos anteriores.
Deve-se ter em mente que as classes sociais ou os estratos socioeconômicos
não constituem em abstrações43. Com efeito, eles constituem como corretamente observa
Lamounier em “agrupamentos espaciais que se distribuem diferencialmente entre os
bairros de uma cidade em função das possibilidades de acesso a habitações de certo
padrão, a serviços de infraestrutura, etc.44”.
Em que pese o voto ser um ato individual, para o entendimento da
concentração da votação em determinado lugar é necessário abordar a teoria do
contextualismo geográfico, segundo a qual o comportamento dos eleitores é influenciado
pelo ambiente sócio geográfico, seja pelas redes de interação social existentes ou pela
semelhança de experiências às quais os habitantes de uma região estão submetidos45.
Segundo essa linha de pensamento, a política não pode ser compreendida
desconsiderando-se o contexto no qual ocorre e as condições em que se encontram os
indivíduos46. Com efeito, o contexto político e as opções de candidaturas disponíveis
também são fatores potenciais que podem interferir na decisão do eleitor.
43 LAMOUNIER, Bolívar. “Comportamento Eleitoral em São Paulo: passado e presente”. In: CARDOSO, Fernando Henrique, comp. Partidos políticos e eleições no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2ª ed. 1978, 262 p. 44 Idem. 45 SOARES, Gláucio A. D. & TERRON, Sonia. “Dois Lulas: a geografia eleitoral da reeleição (explorando conceitos, métodos e técnicas de análise geoespacial)”. Opinião Pública, Campinas, v. 14, n. 2, Nov. 2008. 46 Ver LAZARSFELD, Paul; BERELSON, Bernard & GAUDET, Hazel. “The nature of personal influence”. New York: Columbia University Press, 1970, p. 150-158.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Entende-se que os indivíduos são mais afetados por questões próximas à sua
realidade, seja geográfica, social ou contextual, do que por questões gerais como a
ideologia47, de modo que pessoas com realidades semelhantes estão predispostas, no
cenário eleitoral, a votar também de modo semelhante e a partilharem interesses.
A ideia de base eleitoral delimita uma unidade geográfica ou administrativa
na qual o candidato obteve alguma votação e para a qual se espera que o político retorne
e dirija sua atividade de representante48. Logo, a quantidade de votos obtida em cada
município é um critério que os pode distinguir e hierarquizá-los quanto à atenção que é
dada pelo político49. A literatura aponta que as regiões do estado onde o governante
recebeu maior votação são visitadas com mais frequência e recebem maior quantidade de
recursos50, o que pode contribuir com a manutenção e ampliação desses redutos eleitorais
em benefício do governante.
METODOLOGIA
Considerando o objetivo da pesquisa, o trabalho a ser realizado ambiciona
mesclar pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa. Almeja-se que a proporção de votos
do candidato vitorioso em São Paulo (de 1994 até 2014) seja associada com variáveis
socioeconômicas e políticas dos 645 municípios. Conforme explicitado anteriormente, o
objetivo é verificar a existência ou não de um padrão sócio geográfico associado à
reeleição do PSDB. Como já mencionado, será realizado um estudo histórico acerca das
reeleições do PSDB em SP, o que, a posteriori, permitirá comparações e possíveis
identificações de diferenças e padrões relevantes.
47 CONVERSE, Philip E. “The Nature of Belief Systems in Mass Publics”. In: APTER, D. E. Ideology and Discontent. New York: Free Press of Glencoe, p. 206-261, 1964. 48 BEZERRA, Marcos O. Em nome das “bases”: política, favor e dependência pessoal. Rio de Janeiro: Relume-Dumará – NUAP, 1999. 49 Idem. 50 Idem.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
A variável ‘votação’ será associada, com o auxílio do software estatístico R,
com as seguintes variáveis: transferências de recursos do estado para o município51;
partido do prefeito52, agrupando os partidos da base governista e da oposição, tendo em
vista a coligação formada no ano da eleição estadual; e, Índice Paulista de
Responsabilidade Social (IPRS)53, que mede o desenvolvimento humano nos municípios
paulistas, isto é, suas condições de vida, separando-os por grupos que possuem escala de
1 a 5. Nos grupos 1 e 2 do IPRS estão os municípios com nível elevado de riqueza, que
possuem bons níveis nos indicadores sociais e aqueles não exibem bons indicadores,
respectivamente. Já nos grupos 3 e 4 se encontram os municípios com nível de riqueza
baixo, mas que possuem bons indicadores nas demais dimensões e nível intermediário de
longevidade e/ou escolaridade, respectivamente. Por fim, o grupo 5 é composto pelos
municípios mais desfavorecidos, tanto em riqueza como nos indicadores sociais.
As bases de dados foram montadas no Excel com o auxílio do Access no
agrupamento de diferentes bases. Após a organização dos dados foram realizadas análises
descritivas, o que acarretou nos gráficos a seguir.
A identificação de bases socioeconômicas vinculadas à eleição do poder
executivo estadual direciona para a existência de um perfil de eleitor que decide votar em
tal candidato. A partir delas será construído um mapa eleitoral do estado, que certamente
poderá auxiliar na compreensão objetiva das eleições.
Além disso, pretende-se confrontar, por município, a diferença entre a
votação do candidato eleito e a votação do candidato que ficou em segundo lugar.
Pretende-se identificar onde estão as regiões de maior e menor diferença bem como qual
o perfil socioeconômico desses regiões/municípios.
51 Fonte SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados): Portal de Estatísticas do Estado de São Paulo < http://www.seade.gov.br> 52 Fonte Tribunal Superior Eleitoral (TSE) < http://www.tse.jus.br> 53 Fonte SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados): Portal de Estatísticas do Estado de São Paulo < http://www.seade.gov.br>
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
O prefeito do município também será uma variável nesse estudo, pois deseja-
se verificar se o seu partido direciona para algum padrão de vitória ou não dos tucanos
em determinados municípios.
Deve-se ressaltar que as diferenciações socioeconômicas ou geográficas
relacionadas à decisão do voto, se verificadas no estado de São Paulo, não invalidam a
história eleitoral do estado54. Isto é, como já apontado anteriormente, as reportagens
acerca do contexto político vinculadas pela imprensa, mesmo que não sejam estudos
quantitativos em sua essência, apresentam questões contextuais que ajudam a compor a
história das eleições, podendo ser identificados como dados qualitativos.
RESULTADOS PRELIMINARES E CONCLUSÃO
A fim de apresentar alguns dados relativos à primeira hipótese referente ao
padrão sócio geográfico das eleições do PSDB no estado de São Paulo de 1994 a 2014,
seguem abaixo alguns gráficos descritivos dos dados até então levantados. Conforme
citado na seção de metodologia, a proporção da votação do candidato tucano eleito no
respectivo período eleitoral, foi associada ao volume de transferências de recursos
estaduais para o município, ao partido do prefeito, considerando quando esse compunha
a base governista ou a oposição, e ao IPRS (Índice Paulista de Responsabilidade Social).
A fim de descrever a proporção de votos do candidato eleito para o governo
de São Paulo em função das variáveis ‘partido do prefeito’ e ‘IPRS’, foram feitos boxplots
no software de análise R. Em resumo, o diagrama de caixa (ou boxplot) foi a ferramenta
utilizada para localizar e analisar a variação da variável ‘proporção de votos’ em função
das variáveis citadas acima.
54 LAMOUNIER, Bolívar. “Comportamento Eleitoral em São Paulo: passado e presente”. In: CARDOSO, Fernando Henrique, comp. Partidos políticos e eleições no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2ª ed. 1978, 262 p.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Já a descrição da ‘proporção de votos’ por meio da variável ‘transferência do
estado para o município’ foi realizada por meio de diagrama cartesiano (simple
scatterplot) no qual foram plotadas os valores das duas variáveis.
Os dados que serão vistos correspondem às eleições de 1998, 2002, 2006 e
2010, faltando, ainda, os dados de 1994 e 2014. Os resultados eleitorais por município
não estão disponibilizados no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sendo assim, far-
se-á a solicitação dos dados de 1994, existentes em arquivo impresso, em momento
posterior. Os dados eleitorais de 2014 estão disponibilizados online. No entanto, os dados
socioeconômicos ainda não foram atualizados para o ano em questão, por isso a análise
será feita também a posteriori. Além disso, ainda não há para o ano de 1998 a descrição
da proporção de votos por indicador socioeconômico municipal, tendo em vista que o
IPRS é inexistente nesse ano específico.
As análises iniciais feitas a partir dos gráficos que se seguem direcionam para
a inexistência de um padrão relativo à votação nos períodos eleitorais, tendo em vista as
variáveis ‘transferência estadual para o município’ e ‘partido do prefeito’. Ou seja, essas
variáveis não interferem em menor ou maior proporção de votos para o candidato eleito.
O mesmo ocorre com a variável IPRS.
A inferência parcial que se tem é que o voto no PSDB em São Paulo
independe do volume de transferências estaduais para o município, do partido do prefeito
e do IPRS municipal.
Descrição estatística da proporção de votos do candidato a governador eleito (SP)
pelo volume das transferências estaduais para o município - eleições de 1998, 2002,
2006 e 2010
Tabela 1. Associação entre proporção de votos do governador eleito e transferências estaduais para
o município – 1998.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Tabela 2. Associação entre proporção de votos do governador eleito e transferências estaduais para
o município – 2002.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Tabela 3. Associação entre proporção de votos do governador eleito e transferências estaduais para
o município – 2006.
Tabela 4. Associação entre proporção de votos do governador eleito e transferências estaduais para
o município – 1998.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Descrição estatística da proporção de votos do candidato a governador eleito (SP)
pelo partido do prefeito (partidos da base = 0 e partidos da oposição = 1) - eleições
de 1998, 2002, 2006 e 2010.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Tabela 5. Associação entre proporção de votos para o governador eleito e partido do prefeito –
1998.
Tabela 6. Associação entre proporção de votos para o governador eleito e partido do prefeito –
2002.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Tabela 7. Associação entre proporção de votos para o governador eleito e partido do prefeito –
2006.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Tabela 8. Associação entre proporção de votos para o governador eleito e partido do prefeito –
2010.
Descrição estatística da proporção de votos do candidato a governador eleito (SP)
pelo Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS)- eleições de 2002, 2006 e
2010.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Tabela 9. Associação entre proporção de votos para o governador eleito e IPRS – 2002.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Tabela 10. Associação entre proporção de votos para o governador eleito e IPRS – 2006.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Tabela 11. Associação entre proporção de votos para o governador eleito e IPRS – 2010.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
Tabela 12. Associação entre proporção de votos para o governador eleito e rendimento mensal total
domiciliar per capita nominal em reais – 2010.
Bibliografia
BEZERRA, Marcos O. 1999. Em nome das “bases”: política, favor e dependência
pessoal. Rio de Janeiro: Relume-Dumará – NUAP.
BURKE, Peter. 1980. Sociologia e História. Ed. Afrontamento, 2ª ed.
CONVERSE, Philip E. 1964. “The Nature of Belief Systems in Mass Publics”. In:
APTER, D. E. Ideology and Discontent. New York: Free Press of Glencoe, p. 206-261.
LAMOUNIER, Bolívar. 1978. “Comportamento Eleitoral em São Paulo: passado e
presente”. In: CARDOSO, Fernando Henrique, comp. Partidos políticos e eleições no
Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2ª ed., 262 p.
LAZARSFELD, Paul; BERELSON, Bernard & GAUDET, Hazel. 1970. “The nature of
personal influence”. New York: Columbia University Press, p. 150-158.
III Semana de Ciência Política
Universidade Federal de São Carlos
27 a 29 de abril de 2015
MARTINS, Carlos E. 1978. “O Balanço da Campanha”. In: CARDOSO, Fernando
Henrique, comp. Partidos políticos e eleições no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2ª
ed., 262 p.
ORTEGA Y GASSET, José. 1964. Os intelectuais e a política. “Não ser homem de
partido”. Ed. Presença, Lisboa.
SCHMITT, Rogério; CARNEIRO, Leandro Piquet; KUSCHNIR, Karina. 1999.
Estratégias de campanha no horário gratuito de propaganda eleitoral em eleições
proporcionais. In: Dados, Rio de Janeiro, v. 42, n. 2. Disponível em <http:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-
52581999000200003&script=sci_arttext&tlng=es#back>. Acessado em 10/04/2015.
WEBER, Max. 1968. Ciência e Política: duas vocações. “A política como vocação”.
Dunker & Humblot, Berlim.
Pesquisa CNI – IBOPE: retratos da sociedade brasileira: qualidade dos serviços
públicos e tributação. 2013. Brasília: CNI, julho, 29p.
Revista Piauí, 2014, Piauí 99_dezembro 14.
Sites acessados
Acervo Folha de S. Paulo < http://acervo.folha.com.br/> Último acesso em 21/03/2015.
Site Carta Capital < http://www.cartacapital.com.br/> Último acesso em 15/12/2014.
Site Carta Maior < http://www.cartamaior.com.br/> Último acesso em 15/12/2014.
Site SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados): Portal de Estatísticas
do Estado de São Paulo < http://www.seade.gov.br> Último acesso em 16/03/2015.
Site Tribunal Superior Eleitoral (TSE) < http://www.tse.jus.br>.