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Os tempos hipermodernos de Gilles Lipovetsky – Resenha SETEMBRO 5, 2013 POR VINICIUS 6 i Rate This Este artigo pretende ser uma resenha do ensaio Tempo Contra Tempo, Ou Os Tempos Hipermodernos, de Gilles Lipovetsky. Para Gilles Lipovetsky, a pós-modernidade deu espaço para o estado cultural que ele chama de hipermodernidade. Neste novo estado, neste novo espírito de época, se posso me utilizar deste termo, a ordem social e econômica, juntamente com a cultura, são pautados em uma senso de consumo em massa que substitui o referencial na produção em massa e em uma hegemonia daquilo que o autor nomeia como “sociedade-moda”, que toma o lugar da sociedade rigorística disciplinar. Moda como instituição social

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Novos tempos na sociedade.

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Os tempos hipermodernos de GillesLipovetsky – Resenha

SETEMBRO 5, 2013 POR VINICIUS6

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Este artigo pretende ser uma resenha do ensaio Tempo Contra Tempo, Ou Os TemposHipermodernos, de Gilles Lipovetsky.

Para Gilles Lipovetsky, a pós-modernidade deu espaço para o estado cultural que ele chamade hipermodernidade. Neste novo estado, neste novo espírito de época, se posso me utilizardeste termo, a ordem social e econômica, juntamente com a cultura, são pautados em umasenso de consumo em massa que substitui o referencial na produção em massa e em umahegemonia daquilo que o autor nomeia como “sociedade-moda”, que toma o lugar dasociedade rigorística disciplinar.

Moda como instituição social

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Lipovetsky não trata a moda somente como um produto da sociedade de consumo em massa,mas como uma instituição social. A moda é parte da definição da sociedade, é parte de seufuncionamento. A sociedade embasada na moda é a sociedade neofílica, tarada pelo novo, emconstante inovação e que tem como pressuposto essa incessante inovação. A moda é aquiloque seduz para o consumo e que faz do consumo uma parte fundamental da constituição daidentidade do sujeito hipermoderno.

Se as sociedades tradicionais eram pautadas numa repetição de um modelo do passado, de ummodelo mais ou menos pedestalizado, a sociedade regida pelo sistema-moda é regida pelatransformação rápida e desesperada – a regra passa a ser, ao invés da repetição de um modelomais ou menos projetado, a repetição da transformação. A regra é a inovação. O modelo que serepete é não ter um modelo para se repetir.

Veja também: Modernidade líquida, o que é?(https://colunastortas.wordpress.com/2013/07/22/modernidade-liquida-o-que-e/)Vejatambém:  Amor líquido – Zygmunt Bauman, uma resenha(https://colunastortas.wordpress.com/2013/08/07/amor-liquido-zygmunt-bauman-uma-resenha/)

As lutas por uma liberdade como um fim em si, sem um projeto construído, como nas lutascontra a autoridade do fim da década de 60, trouxe à sociedade dos anos 70 a noção temporalde um eterno presente de liberdade irrestrita. De um consumo exorbitante e inconsequente,sempre resguardado pelas políticas de bem-estar social, entretanto, já nos anos 90, aemergência do modelo neoliberal e as crises do modelo de bem-estar social foram tambémparte de uma mudança mais drástica: o autor nega que o niilismo em torno da pós-modernidade, classificada como uma época do presente contínuo, fruto de um hedonismoconsumista, seja estendido à hipermodernidade. Para Lipovetsky, a sociedade atual ainda temsua visão do futuro, que é expressa na insegurança.

O Futuro

A insegurança em relação ao futuro e a proliferação de estudos, pesquisas e desenvolvimentosde medicamentos e terapias são uma prova da preocupação que a sociedade hipermodernatem com o futuro.

Não se trata de uma sociedade que vive um eterno presente, mas sim de uma sociedade quetem medo do que pode ocorrer no futuro, e por isso formula práticas para a sobrevivência daspróximas gerações. Entretanto, essas práticas são formuladas para serem exercidasindividualmente, já que as instituições coletivas e as imposições estatais perderam seu lugar.Os indivíduos vivem cada vez mais embebidos de tensões e preocupações com o futuro: umacaracterística da hipermodernidade é sua crono-reflexividade. Se observa o presente e se pensano futuro, ou seja, o que está por vir é uma preocupação cotidiana e constitutiva.

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Ao mesmo tempo, pensar no futuro não garante que haja tempo para práticas em nome de suasalvação. O hiperindivíduo não tem tempo, é sem-tempo por constituição. É uma alguém quenão tem tempo nenhum devido suas atividades de trabalho sempre recheadas de pressão e, ao

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mesmo tempo, tem todo tempo do mundo caso seja um desempregado crônico. Só não temcondição de viver este tempo. Não tendo condição de viver este tempo, automaticamente ficafora do espaço de possibilidade para fazer do tempo, algo útil.

Diferentemente dos projetos da modernidade, que tinham no futuro a promessa de suarealização e exigiam dos indivíduos uma participação ativa ou uma subordinação quieta, após-modernidade e agora, a hipermodernidade, completam um movimento de compressãoespaço-temporal. O que se opera é a diminuição dos espaços e a vigência do aqui-agora, masnão um aqui-agora que elimina a preocupação com o futuro imediato. Um aqui-agorareflexivo.

A legitimação das práticas na sociedade hipermoderna é a eficiência, que não precisa dejustificativa político-ideológica. Talvez aqui seja possível estabelecer uma relação entre aeficiência enquanto legitimidade hipermoderna e a noção de sociedade pós-política,puramente administrativa, sem grandes projetos sociais, sem a tomada de posição políticaclara e radical.

Em relação à noção de tempo mais básica, o que a hipermodernidade trás de novo é aultraflexibilidade: que lança novas temporalidades no mundo social. Não é mais possíveldefinir somente uma temporalidade – o que se cria são temporalidade tão diversas quanto aspessoas incluídas no estado hipermoderno de nossa cultura. O que causa o conflito de tempo ea necessidade de adequação da vida como um todo à temporalidade praticada.

O Prazer Hedonístico

Apesar da pós-modernidade ter sido classificada como uma “tirania do prazer”, ou umafelicidade consumista ilusória, Lipovetsky enxerga também o contrário: as relações humanassão cada vez mais valorizadas. O tempo para o amor, para a amizade, ainda são desejados eapreciados, o que leva o autor a entender que não há uma imposição da ordem sobre osindivíduos. Existe uma certa autonomia perante às estruturas.

É nessa autonomia que se funda a hiperindividualidade. Enquanto as posições sociais eramdeterminadas pelo local de nascimento, pela cultura ou pela família nos tempos modernos eanteriores, a hipermodernidade trouxe a possibilidade de se escolher a filiação individual, oude re-escolher um cultura para adentrar e assim infinitamente. Um exemplo desta flexibilidadeé a noção de religião individual. O que explica essa mobilidade do indivíduo para qualquerfiliação cultural ou ideológica é a diminuição do poder centralizado e das ações coletivas,juntamente com o aumento do poder de decisão individual.

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Mas o culto hedonístico do consumo e da inovação é uma das causas da degradação damemória coletiva, da história e da noção de passado. Ao mesmo tempo, o que ahipermodernidade conseguiu realizar ao “permitir” a existência de qualquer crença e de todasas crenças juntas, assim como de qualquer forma de vida e de todas as formas de vida, foi arevisitação do passado.

O passado é levado para o presente, mas enquanto visita de passagem. O passado é visto emmuseus e feriados, é visto nas reedições de livros históricos e de autores clássicos, nosprodutos vintage e com selo de autenticidade, nas ruas das cidades e nas praças que levamseus nomes. O passado é muito mais um momento do consumo e da preservação da imagem(mesmo que falsa) de uma sociedade plural do que uma realidade refletida nahipermodernidade.

Hiperreconhecimento

A possibilidade de deslocamento em relação ao destino social em que os indivíduos estavamfadados por conta de sua origem social, cor, pátria ou classe, só é possível com a abertura deum reconhecimento devido da alteridade.

O hiperreconhecimento é o imperativo em reconhecer o outro enquanto um ser diferente. É anecessidade de se viver em uma mundo onde todos são iguais pela diferença e oreconhecimento desta diferença enquanto algo constitutivo e de direito. É junto com apossibilidade de ser diferente que a busca pelo passado como um baú onde estão atributos quepodem servir para moldar a identidade passa a ser frequente.

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Não há como negar que o reconhecimento da alteridade da maneira como praticamos e comotemos enquanto ideal é fruto da sociedade de bem-estar social individualista, vai dizer o autor,e não há como deixar esta característica de lado ao construir uma nova sociedade. As novasidentidades são construídas com base de inúmeras variáveis e com inúmeros referenciais, massempre são embasadas pela noção da diferença. E as diferenças precisam sempre serreconhecidas.

Conclusões

Acredito que o próprio autor possa concluir por mim,

Ninguém negará que o mundo, do jeito que anda, provoca mais inquietação do que  otimismodesenfreado: alarga-se o abismo entre Primeiro e Terceiro Mundo; aumentam as  desigualdadessociais; as consciências ficam obcecadas pela insegurança de várias naturezas; o mercado globalizadodiminui o poder que as democracias têm de regerem a si mesmas. Mas será que isso nos autoriza adiagnosticar um processo de rebarbarização do mundo, no qual a democracia não é mais que uma“pseudodemocracia” e um “espetáculo cerimonial”? Chegar a tal conclusão seria subestimar o poderde autocrítica e de autocorreção que continua a existir  no universo democrático liberal. A erapresentista está tudo menos fechada, encerrada em si mesma, dedicada a um niilismo exponencial.Dado que a depreciação dos alores supremos  não é sem limites, o futuro continua em aberto. Ahipermodernidade democrática e mercantil  ainda não deu seu canto do cisne – ela está apenas nocomeço de sua aventura histórica.

Os Tempos Hipermodernos – Tempo Contra Tempo para download em PDF

O ensaio Tempo Contra Tempo, Os Tempos Hipermodernos pode ser baixado aqui(http://pt.scribd.com/doc/17062062/Os-Tempos-Hipermodernos-Gilles-Lipovetsky).

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6 pensamentos sobre “Os tempos hipermodernos deGilles Lipovetsky – Resenha”

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1. anovamente disse: setembro 9, 2013 às 2:18 pm 

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Dá a entender que por mais que seja “mais inquietação do que otimismo desenfreado”… háuma Esperança de nós (sociedade), sermos “indivíduos únicos” (com uma identidadeprópria), e mesmo nesse presente de incessante inovação, “o futuro continua em aberto”.

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RespostaVinicius disse: setembro 14, 2013 às 6:37 pm 

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Sim, Lipovetsky é mais ou menos otimista e não se posiciona combativamente.

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