os sistemas de informação geográfica e detecção remota na

146
Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na Determinação das Regiões de Risco por Malária na Guiné-Bissau Morna Nandaia Dissertação de Mestrado em Gestão do Território Área de especialização em Detecção Remota e Sistemas de Informação Geográfica Abril de 2015

Upload: others

Post on 18-Jul-2022

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

Determinação das Regiões de Risco por Malária na Guiné-Bissau

Morna Nandaia

Dissertação de Mestrado em Gestão do Território

Área de especialização em Detecção Remota

e Sistemas de Informação Geográfica

Abril de 2015

Page 2: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

i

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do

grau de Mestre em Gestão do Território – Área de Especialização em Detecção Remota

e Sistemas de Informação Geográfica, realizada sob a orientação científica do Prof. Dr.

Rui Pedro Julião e co-orientação do Prof. Dr. Fernando Ribeiro Martins.

Page 3: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

ii

“…Por detrás das estatísticas e dos gráficos esconde-se

uma enorme e desnecessária tragédia: o paludismo –

uma doença completamente evitável e tratável – ainda

ceifa a vida de uma criança africana por minuto.”

Dr.ª Margareth Chan (2012: xxviii)

In World Health Organization, World Malaria Report

Page 4: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

iii

Ao meu querido irmão, Machel Nandaia

Page 5: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

iv

AGRADECIMENTOS

Ao meu Orientador, Prof. Dr. Rui Pedro Julião, pelo interesse e confiança depositada

nesta dissertação e sobretudo pela orientação científica e recomendações ao longo deste

estudo.

Ao meu Co-Orientador, Prof. Dr. Fernando Ribeiro Martins, pelo interesse e confiança

e pelas valiosas sugestões e recomendações durante esta longa caminhada.

Ao Prof. Dr. José António Tenedório, pela disponibilidade e todo o auxílio prestado ao

longo da fase de Processamento Digital de Imagem e pelas sugestões partilhadas

sobretudo, no que se refere extracção de classes do uso do solo.

À Profª. Dra. Dulce Pimentel, por todo o apoio, incentivo, interesse, sugestões e

valiosas recomendações desde o primeiro momento deste estudo.

Ao professor Dr. José Manuel Rodrigues Lúcio, pela leitura e valiosas recomendações.

Ao Instituto Nacional de Saúde Pública (INASA/ Guiné-Bissau), nas pessoas de Dr.

Duarte Falcão, pela disponibilidade e apoio prestado, sobretudo no que respeita aos

termos técnicos. Ao Dr. Agostinho Betunde, pelo interesse demonstrado ao longo da

realização deste estudo e pelas valiosas recomendações relativamente aos dados

solicitados.

Ao Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, nas

pessoas de, Dr. Jorge B. A. Seixas e Rita Gomes Frances, pelo apoio prestado em

termos bibliográficos.

À Dra. Marta Ferreira (Hospital Fernando Fonseca), pelo esclarecimento dos termos

técnicos relacionados com as etapas do plasmodium e pela sugestão e disponibilização

de bibliografias relacionadas com a temática em estudo.

Ao Eng.º João Lona Tchedná, por todo o apoio e a disponibilização dos dados

climáticos.

A minha família, em especial ao meu pai Jaime Nandaia e a minha mãe Isabel Cunha,

aos meus irmãos João e António Nandaia, pelo apoio demonstrado. À Dulce Santos

Costa Pires, por todo o apoio.

Page 6: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

v

Aos meus tios Miguel Camará e Sana Na N´hada, pela disponibilização dos dados

epidemiológicos e pelas valiosas recomendações. Aos meus primos, Luís Nhaque e

Sana Na Num-na, pelo apoio e incentivo.

As minhas tias Rosalina Santos Costa, Nené Rosa Cá e Maria Helena Tavares, pelo

incentivo e o apoio demonstrado ao longo deste percurso.

Ao meu colega e amigo Ricardo Silva, pela presença, crítica, incentivo e sugestões

demonstradas ao longo deste percurso durante os bons e maus momentos desta difícil

tarefa.

Aos meus colegas e amigos, Nuno Rodrigues, Ana Magalhães, Sérgio Correia, Solange

Mata, Rita Villas-Boas, Sara Cardoso, Ana Correia, Ana Filipa, Wilman Sidnei, por

todo o apoio e incentivo.

À Ilezanda Lopes, pelo carinho, amizade e todo o apoio demonstrado ao longo desta

caminhada, fazendo com que tal, não seja de todo uma caminhada solitária. A Elenise

Costa e Aruna Darame, pela amizade, carinho e incentivo.

Por fim, aos meus amigos de L.A (Joaquim Fernandes, Ademar Fonseca, Joeldino

Kypiani, Naimo Candé, António Miguel Monteiro Veiga, Cristiano Sá), pelo

companheirismo e amizade incondicional.

A todos, os meus sinceros agradecimentos.

Page 7: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

vi

OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA E DETECÇÃO REMOTA

NA DETERMINAÇÃO DAS REGIÕES DE RISCO POR MALÁRIA NA GUINÉ-

BISSAU

Morna Nandaia

RESUMO

Palavras-chave: Risco, Malária, SIG, Detecção Remota, Segmentação de Imagem,

Classificação Supervisionada e Não-Supervisionada.

A malária é uma doença infecciosa complexa, que resulta do “vírus” plasmodium, e

manifesta-se sob cinco tipos distintos de espécies protozoários (plasmodium vivax,

plasmodium ovale, plasmodium falciparum, plasmodium malariae e plasmodium

Knowlesi), atacando sobretudo os glóbulos vermelhos.

Considerada a quinta maior causa de morte por doenças infecciosas em todo o mundo

após doenças respiratórias, VIH/SIDA, doenças diarreicas e tuberculose, no continente

africano, a malária é considerada a segunda causa do aumento da mortalidade, após

VIH/SIDA. No caso particular da Guiné-Bissau, esta constitui a principal causa do

incremento da morbilidade e da mortalidade naquele país, onde, em 2012 foram

notificados 129.684 casos de paludismo, dos quais 370 resultaram em óbitos.

Partindo da realidade acima constatada, em particular, da complexidade e o impacto

global da doença associada a uma forte mortalidade e morbilidade, concluiu-se ser

necessário abordar esta temática, utilizando os SIG e a DR no sentido de determinar as

regiões de elevado risco. Entendeu-se serem necessárias novas abordagens e novas

ferramentas de análise dos dados epidemiológicos e consequentemente novas

metodologias que possibilitem a determinação de áreas de risco por malária.

O presente estudo, pretende demonstrar o papel dos SIG e DR na determinação das

regiões de risco por malária. A metodologia utilizada centrou-se numa abordagem

quantitativa baseada na hierarquização das variáveis. Pretende-se, assim abordar os

impactos da malária e simultaneamente demonstrar as potencialidades dos SIG e das

ferramentas de Análise Espacial no estudo da disseminação da mesma na Guiné-Bissau.

Page 8: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

vii

THE GEOGRAPHIC INFORMATION SYSTEMS AND REMOTE SENSING IN

THE DETERMINATION BY RISK REGIONS IN MALARIA IN GUINEA-

BISSAU

Morna Nandaia

ABSTRACT

Keywords: Risk, Malaria, GIS, Remote Sensing, Image Segmentation, Supervised and

Unsupervised Classification.

Malaria is an infectious disease complex, which results in the “virus”, plasmodium, and

manifest itself in five different types of protozoa species (plasmodium vivax,

plasmodium ovale, plasmodium falciparum, plasmodium knowlesi and plasmodium

malariae), especially attacking the red bloods cells.

Considered the fifth leading cause of death from infectious diseases worldwide after

respiratory diseases, HIV/AIDS, diarrheal diseases and tuberculosis in Africa, malaria is

considered the second cause of increased mortality after HIV/AIDS. In the particular

case of Guinea-Bissau, this is the main cause of increased morbidity and mortality in the

country, where, in 2012, were reported a total of 129,684 cases of malaria, which 370

resulted in deaths.

Based on the above observed reality, in particular, the complexity and the overall

impact of disease associated with a strong mortality and morbidity, it was found it

necessary to address this issue, using Geographic Information Systems (GIS) and

Remote Sensing (RS) in order to determine the high risk areas. It was considered

requiring new approaches and new epidemiological data analysis tools and

consequently new methodologies for the determination of risk areas for malaria.

This study aims to demonstrate the role of GIS and RS in determining risk areas for

malaria. The methodology focused on a quantitative approach based on a model of the

variables. The aim is thus to address the impacts of malaria and simultaneously

demonstrate the potential of GIS and Spatial Analysis tools in the spread of the same

study in Guinea-Bissau.

Page 9: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

viii

ÍNDICE

LISTA DE ABREVIATURAS ....................................................................................... x

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

Objectivos .................................................................................................................... 3

Estrutura da Dissertação ............................................................................................ 4

Metodologia ................................................................................................................. 6

I. MALÁRIA: PERFIL GLOBAL ................................................................................ 7

I. 1. A Doença no Contexto Global ............................................................................ 7

I. 2. Características Regionais ................................................................................... 8

I. 3. Fundos Destinados ao Controlo da Malária ................................................... 11

I. 4. Entraves ao Controlo da Doença ..................................................................... 12

I. 5. Os Factores de Disseminação da Doença ........................................................ 15

I. 6. Ciclo de vida do Vector ..................................................................................... 18

I. 7. As Etapas do Plasmodium ................................................................................. 20

I. 7. 1. Controlo do Mosquito .................................................................................. 22

I. 7. 2. Controlo do plasmodium .............................................................................. 26

I. 7. 3. Estratégia Global para o controlo e a erradicação da Malária ..................... 27

I. 8. As Medidas e Iniciativas Recomendadas pela OMS ...................................... 29

I. 9. Breve descrição e localização geográfica da Guiné-Bissau. ........................... 31

I. 9.1. A particularidade da Guiné-Bissau face à Malária ....................................... 33

I. 9.2. A Vulnerabilidade do país e a influência climatérica, como factor

determinante no incremento da doença ................................................................... 38

II. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA, ANÁLISE ESPACIAL E

DETECÇÃO REMOTA APLICADOS A ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS ...... 41

II. 1. Introdução ........................................................................................................ 41

II. 2. Sistemas de Informação Geográfica ............................................................... 42

II. 3. A Análise Espacial como ferramenta de apoio à Decisão ............................ 46

Page 10: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

ix

II. 5. Detecção Remota .............................................................................................. 48

II.5.1. Abordagens Orientada ao Objecto e abordagem píxel a píxel ..................... 50

II. 6. A Importância dos Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota

no domínio da Saúde Pública ................................................................................... 53

III. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E DADOS UTILIZADOS ........... 57

III. 1. Introdução ....................................................................................................... 57

III.1.1. Área de Estudo e Dados Utilizados ............................................................. 57

III.2. Estatística das Bandas utilizadas e o cálculo NDVI ..................................... 62

III. 3. Metodologia e Nomenclatura ........................................................................ 64

III.3.1. Software Utilizados ..................................................................................... 65

III. 3.2. Classificação da Imagem ............................................................................ 66

III.3.3. A Segmentação da imagem e extracção das classes de interesse ................ 71

III. 4. Classificação Supervisionada ........................................................................ 75

III.5. Aplicabilidade do Algoritmo Bhattacharyya ................................................. 77

III. 5.1. Análise de Concordância (Coeficiente Kappa) .......................................... 80

III.6. Determinação do Risco por Malária na Guiné-Bissau ................................ 81

III.6.1.Dados utilizados ........................................................................................... 81

IV. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 103

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 107

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. 113

LISTA DE QUADROS ............................................................................................... 114

ANEXOS ..................................................................................................................... 115

Page 11: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

x

LISTA DE ABREVIATURAS

AHP – Analytic Hierarchy Process

AE – Análise Espacial

DR – Detecção Remota

GE – Gota Espessa

GMAP – Global Malaria Action Plan

INASA – Instituto Nacional de Saúde Pública

INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

MILDA – Mosquiteiro Impregnado com insecticida de Longa Duração de Acção

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONG – Organizações Não-Governamentais

PNLP – Programa Nacional de Luta Contra o Paludismo

SAB – Sector Autónomo de Bissau

VIH/SIDA – Vírus de Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida

SIG – Sistemas de Informação Geográfica

TDR – Teste de Diagnóstico Rápido

TPI – Tratamento Preventivo Intermitente

USGS – United State Geological Survey

WMR – World Malaria Report

Page 12: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

1

INTRODUÇÃO

A Malária é uma das mais mortíferas doenças infecciosas em todo o globo, com

forte impacto na região tropical e subtropical, onde é particularmente comum,

possuindo uma forte expressão sobretudo na região de África subsariana, onde é

registado cada vez mais novos casos deste flagelo.

É uma doença que deriva da transmissão do plasmodium por parte do vector que

se alimenta de sangue infectado, transmitindo posteriormente o “vírus” a um

hospedeiro, podendo em alguns casos ser o Homem.

Segundo WHO (2008:9), “em 2008, 109 países foram classificados como

endémicos, sendo que 45 destes encontravam-se nas regiões africanas, fazendo com que

esta doença seja considerada responsável pelo aumento da morbilidade e da mortalidade

nessas regiões”, afirmando-se como uma das mais inquietantes flagelos da actualidade a

ter em consideração, dado que, causa quase um milhão de mortes, na sua maioria

crianças menores de 5 anos.

A transmissão do plasmodium corresponde a um processo inicial, que culmina

com um ataque essencialmente dos glóbulos vermelhos por intermédio dos plasmodium,

manifestando-se sob cinco tipos distintos (Plasmodium Malariae Laveran, 1881

plasmodium vivax Grassi e Feletti, 1890; plasmodium Ovale Stephens, 1922;

Plasmodium Knowlesi Sinton e Mulligan, 1932 e Plasmodium Falciparum Welch,

1987).

Face ao que antecede, importa referir que, estes protozoários correspondem, aos

“únicos agentes etiológicos da malária humana”, (Cardoso; 2007:3). Sendo a malária

uma das doenças com mais impacto na saúde humana, este facto contribui para que esta

seja considerada uma doença complexa e mortal, colocando em risco cerca de “3,3 mil

milhões de pessoas em 109 países ao redor do Mundo” (GMAP; 2008:13).

Dados de 2010, revelaram uma estimativa de 219 milhões de casos notificados e

cerca de 660 mil óbitos, sendo que na sua grande maioria, correspondem a crianças com

menos de cinco anos. No caso particular da Guiné-Bissau, a malária é de longe a doença

mais mortal e a mais inquietante junto das autoridades responsáveis pelo sector da

Saúde Pública. Em 2012, foram registados cerca de 129, 684 casos de paludismo, que

resultaram em 370 óbitos, sendo que cerca de 50.801 (39 %) casos e 164 (45%) óbitos

Page 13: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

2

foram registados nas crianças com idades inferiores a cinco anos, fazendo desta, uma

doença com forte impacto no bem-estar das populações.

Assim, no sentido em que cada vez mais se vêm debatendo acerca da

malária/paludismo e do seu impacto nas sociedades, torna-se necessário que os diversos

objectivos e directivas sejam coordenadas e que os processos de controlo, manejo e

seguimento de casos da doença sejam sustentados por ideias e princípios bem definidos,

de forma a articular as metodologias que vão sendo adoptadas para o combate e

erradicação deste flagelo.

Deste modo, torna-se necessária uma metodologia conjunta e eficiente, tal como

a proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a metodologia GRADE, que de

acordo com Directives pour le traitement du paludisme (2011:7), consiste em quatro

etapas fundamentais, nomeadamente: “1) Identificação, 2) Análise sistemática, 3)

Construção da tabela de dados e 4) Interpretação”.

A implementação desta metodologia poderá ser uma ferramenta de grande

importância para a redução dos casos de malária, dado que, implica uma análise

sistemática da doença, o que permite não só prever, como também, minimizar o impacto

da mesma.

O principal objectivo deste estudo é a determinação de regiões de risco para a

incidência da malária na Guiné-Bissau nos períodos de 2012-2013, perceber a influência

dos factores ambientais não só na disseminação do vírus, como também no

desenvolvimento do vector Anopheles, sendo também necessário perceber os esforços

do governo guineense no sentido de combater esta doença e quais os elementos/factores

responsáveis pela incidência e disseminação de novos casos da doença, recorrendo para

tal, aos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e Detecção Remota (DR).

Page 14: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

3

Objectivos

O presente estudo tem como principal objectivo, promover um elo de ligação

entre os SIG e o Sistema Nacional de Saúde, podendo surgir neste sentido como

ferramenta de auxílio aos decisores na organização da resposta aos casos da doença.

Assim, pretende-se compreender a espacialização das manifestações da doença nas

diferentes regiões com a finalidade de delimitar as áreas de risco.

Sendo este estudo, um exercício meramente experimental, pretende-se

demonstrar as capacidades dos SIG, sobretudo, sistemas Open Source, promovendo

assim, uma ponte de ligação entre os SIG e os estudos epidemiológicos.

Em termos genéricos, os objectivos do presente estudo, surgiram da necessidade

de determinar as áreas de risco por malária na Guiné-Bissau, perceber as iniciativas do

governo guineense (nomeadamente as campanhas de distribuição dos mosquiteiros e

formação dos técnicos) e as dinâmicas internacionais no sentido de combater a doença.

Assim sendo, para efeitos de determinação das áreas vulneráveis, utilizou-se os

SIG e DR, no sentido de concretizar esse objectivo. Entendeu-se, que com esta

abordagem, devem ser analisados as diversas questões, nomeadamente:

Que factores têm contribuído para a incidência de novos casos da

malária?

Qual o ambiente (classe de ocupação do solo) preferencial para a

proliferação do vector?

Quais as variáveis com maior peso na explicação dos casos registados?

Quais as regiões mais afectadas, com base no modelo de análise

proposto?

Quais as potencialidades dos software Open Source?

De uma forma genérica, o presente estudo, pretende relacionar a ocupação do

solo e as características físicas do meio com o incremento e disseminação da doença.

Por fim, é de sublinhar que a escala mínima de análise corresponde à região, o que

revelou ser uma escala muito agregada, pelo que o ideal seria dispor dos dados a uma

escala mais baixa (nível sectorial).

Page 15: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

4

Estrutura da Dissertação

Na presente dissertação, propõe-se estudar a Disseminação da malária na Guiné-

Bissau, com recurso aos SIG e DR de forma a determinar as regiões de elevado risco.

Neste sentido, o presente estudo encontra-se estruturado em quatro capítulos principais,

nomeadamente:

I- Malária Perfil Global;

II- SIG e DR na determinação de áreas de risco;

III- Procedimentos metodológicos e dados utilizados;

IV- Conclusão.

De um modo geral, no capítulo I, será abordada em pormenor as questões

relacionados com a Malária no contexto Global, regional e na Guiné-Bissau em

particular. Ainda neste capítulo será atribuída especial atenção às várias iniciativas da

OMS, no sentido de controlar e se possível erradicar este flagelo. Será ainda levada em

linha de consideração, os factores que têm contribuído para o incremento da malária na

Guiné-Bissau, a principal fonte e vector de transmissão desta doença, centrando

particularmente a atenção no Mosquito Anopheles fêmea, do complexo Anopheles

Gambiae.

No capítulo II, procurou-se abordar as questões relacionadas com os SIG,

Análise Espacial (AE) e DR, na determinação de áreas de risco, procurando, não só

apontar as potencialidades dos SIG na Saúde, como ferramenta metodológica de apoio a

decisão, mas também abordando a importância destes, como suporte para a resolução de

questões complexas no âmbito da saúde pública. Já no capítulo III, apresentam-se os

procedimentos metodológicos de AE e a aplicabilidade de DR.

Por último, no capítulo IV, procedeu-se a elaboração das considerações finais,

de forma a avaliar até que ponto os objectivos propostos foram atingidos. Ainda neste

capítulo elabora-se uma reflexão acerca da importância dos SIG na saúde e a

aplicabilidade da metodologia proposta numa situação real.

Page 16: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

5

Figura 1. Estrutura de Dissertação.

Introdução

Capítulo I

Malária: Perfil Global

Capítulo II

SIG, AE e DR aplicados

a Estudos

Epidemiológicos

Capítulo III

Procedimentos

metodológicos e dados

utilizados

Capítulo IV

Conclusão

Definição da doença

Objectivos da Dissertação

Estrutura da Dissertação

Metodologia

A definição do Paludismo/Malária

A doença e os factores da disseminação

Perfil epidemiológico e vulnerabilidade da

Guiné-Bissau

Estratégia Global para a Erradicação da

Malária

A definição dos sistemas de informação

geográfica

Análise Espacial e DR como ferramenta

de apoio a decisão

A importância dos SIG e DR na saúde

pública

Discussão da metodologia aplicada e

destaque a aplicação da análise espacial e

SIG no domínio da saúde pública

Área de estudo, dados utilizados para a

determinação das regiões de risco

Page 17: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

6

Metodologia

A complexidade e a persistência da malária impõem necessariamente a adopção

de novas metodologias, de forma a responder adequadamente às questões que têm

preocupado as entidades ligadas ao sector da saúde. Assim sendo, no presente estudo, a

abordagem metodológica foi centrada sobretudo na análise das classes de ocupação do

solo, nas diferentes variáveis relacionadas com a doença e as medidas de prevenção, por

fim, considerou-se também as “oscilações” ambientais.

Neste estudo, é utilizada a metodologia mista (qualitativa e quantitativa), sendo

numa primeira abordagem, atribuída maior importância à pesquisa e consulta

documental, tendo também como base orientadora, as várias recomendações da OMS

para a luta contra a malária.

Posteriormente, utilizou-se uma metodologia quantitativa, baseada

fundamentalmente na análise dos dados estatísticos. Relativamente ao processo de

extracção de informação a partir da imagem de satélite, aplicou-se uma abordagem

orientada ao objecto, que consistiu na segmentação da imagem, tendo-se utilizado o

algoritmo de classificação de Bhattacharya, e aplicado um limiar de aceitação de

99,9%. Já para a análise de concordância, utilizou-se o índice Kappa para medir o grau

de concordância entre a imagem classificada e a imagem de referência.

Para efeitos de determinação das regiões com elevado risco, efectuou-se a

normalização dos dados, aplicando uma escala de variação entre 2 à 10 (menos

importante à extremamente importante). Após a normalização dos dados, utilizou-se o

método de hierarquização das variáveis, atribuindo pesos às variáveis, segundo a

importância que cada uma apresenta no incremento da doença.

Com base nos métodos acima mencionados, conseguiu-se determinar as regiões

com risco elevado (Bissau); risco elevado, embora moderado surgem às regiões de

Quinara, Tombali, Gabú e Bafatá. Já as regiões de risco não muito elevado aparecem às

regiões de Biombo, Cacheu e Oio. Relativamente à região de baixo risco, surge Bolama-

Bijagós, isto, de acordo com o modelo de risco resultante das variáveis cruzadas.

De um modo geral pretende-se, com este estudo, demonstrar a importância e as

potencialidades dos SIG e DR, sobretudo, os sistemas Open Source no domínio da

saúde pública, mais concretamente no estudo da disseminação de Paludismo na Guiné-

Bissau.

Page 18: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

7

I. MALÁRIA: PERFIL GLOBAL

I. 1. A Doença no Contexto Global

Ao longo de vários anos, a malária/paludismo tem contribuído fortemente para

um incremento da morbilidade1 e da mortalidade, sobretudo em crianças e mulheres na

fase da gravidez; no entanto, “até recentemente, pouco se sabia acerca desta doença, que

outrora recebeu diversas denominações, nomeadamente, febre palustre, miasmática,

phyto-hemica, telúrica, intermitente etc” (Moreira, 1890:16).

A malária é uma doença infecciosa aguda ou crónica com um forte impacto

sobretudo nas regiões tropicais e subtropicais, transmitida por um mosquito vector

(Anopheles). Nos humanos, actua por intermédio de cinco2 espécies protozoário do

género plasmodium (plasmodium vivax, plasmodium ovale, plasmodium falciparum,

plasmodium malariae e plasmodium Knowlesi).

É uma doença, cujo “ padrão de distribuição e transmissão varia muito entre as

regiões geográficas chegando mesmo a ser distinto dentro de cada país, resultando esse

facto de vários factores, nomeadamente: as variações das condições ecológicas, das

diferenças entre os vectores e os parasitas e factores socioeconómicos, como a pobreza e

acesso aos cuidados de saúde eficazes e serviços de prevenção” (WHO; 2005: xvii).

Embora as questões relacionadas com as recomendações da OMS para a redução

e a erradicação da malária, tenham sido objecto de debate e de reflexão por todo o

globo, sobretudo nos países endémicos, a verdade é que, ainda assim, continuam a

registar-se casos de malária, tornando-se assim num sério problema à saúde humana.

Segundo ZHANG et. al. (2008:1), “por todo o globo, a malária mata entre 1,1 à

2,7milhões de pessoas por ano”.

Em 2000, “foi responsável por 350 a 500 milhões de episódios clínicos,

resultando em mais de um milhão de mortes, especialmente entre crianças menores de

cinco anos na África subsariana. É a quinta causa de morte por doenças infecciosas em

todo o mundo (após Doenças Respiratórias, HIV/SIDA, Doenças Diarreicas e

Tuberculose) e a segunda em África depois de HIV/SIDA” (GMAP; 2008:27).

1 Termo que designa a relação existente entre o número de casos de enfermidade e o número de habitantes

em dado lugar e momento ou relação entre doentes. 2 Mais frequentes do género plasmodium

Page 19: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

8

Apenas em 2010, foram registados 219 milhões de casos de Paludismo que

causaram 660 mil óbitos, evidenciando uma diminuição de mortalidade em cerca de

25% a nível mundial, em relação ao ano 2000 e de 33% na região africana da OMS.

Essa diminuição resultou fundamentalmente das políticas e estratégias de controlo a

doença recomendadas pela OMS, que, desde 2008 têm sido utilizadas no sentido de

controlar essa epidemiologia.

Das políticas adoptadas, importa destacar a de disponibilização dos mosquiteiros

com insecticida impregnado de longa duração de acção (2011) a todos os pacientes que

apresentam suspeitas e casos confirmados da doença, não se limitando apenas a crianças

e mulheres grávidas.

I. 2. Características Regionais

A malária é particularmente uma doença com forte impacto na saúde das pessoas

por todo o Globo, no entanto, manifesta-se de forma distinta local e regionalmente. Essa

manifestação e transmissão da doença estão fortemente associadas a factores humanos e

ambientais. Aos factores humanos estão subjacentes, os comportamentos dos indivíduos

em áreas consideradas de alto risco de transmissão e a própria situação em que estes se

encontram em termos de bem-estar.

Por sua vez, o ambiente é um factor importantíssimo na variação do número de

vectores numa dada região. Na verdade, a distribuição espacial das doenças e da malária

em particular é fortemente afectada pela variação da temperatura e das condições

ecológicas, factores importantes na determinação da capacidade de adaptação dos

vectores a diferentes áreas, regiões e continentes. Assim sendo, torna-se fundamental

compreender a variação da doença nos diferentes continentes do globo.

No continente africano, a malária tem desempenhado um forte impacto

sobretudo na região da África subsariana, levando a adopção de novas medidas,

nomeadamente a pulverização intradomiciliária, Tratamento Preventivo Intermitente

(TPI), etc. Importa ressaltar que na sua grande maioria, os países africanos apresentam

eventos meteorológicos que variam entre as épocas secas e chuvosas, pelo que a

adaptação dos vectores a essas condições é bastante auxiliada, devido, sobretudo as altas

temperaturas (temperatura mínima acima dos 18º), adequados a proliferação dos

mosquitos.

Page 20: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

9

Almeida (2012:35) defende que, “as doenças associadas as condições climáticas

extremas assumem cada vez maior relevância nos sistemas de saúde de todo o mundo”.

A consciência deste facto pode incentivar o aumento de estudos que visem ajudar a

definir os locais e o momento da ocorrência de eventos extremos bem como identificar

as populações de risco. Deste modo, dada a sua localização geográfica, torna-se

necessário enquadrar a situação da Guiné-Bissau no contexto dos restantes países da

sub-região do oeste africano, de forma a encontrar um padrão que explique melhor não

só as influências climáticas como também os progressos do país.

Dados da OMS indicam que “324 milhões de pessoas nos 17 países da sub-

região estão em risco de contrair a doença, sendo que 313 milhões encontram-se numa

situação de alto risco” (WHO, 2013:72). De uma forma geral, na sub-região de Oeste

africano, a transmissão da malária é uma realidade ainda bastante preocupante, facto

que depende de inúmeros factores.

Contudo, apesar desta realidade, alguns países, têm vindo a demonstrar grandes

progressos, relativamente ao controlo e eliminação da doença, nomeadamente Cabo

Verde e Argélia, que se encontram nas fases de pré-eliminação e eliminação. De certo

modo, poderemos considerar os progressos que estes dois países têm vindo a registar,

sobretudo na diminuição do número de casos e óbitos por malária, resultado de um

aumento considerável da proporção das populações com acesso aos meios

antimaláricos.

Tal diminuição deveu-se também em grande parte às acções levadas ao cabo por

diversas iniciativas, como por exemplo, a Cimeira de Abuja (25 de Abril 2000). Neste

encontro, os líderes dos países participantes, “empenharam-se por um esforço intensivo

para, até ao ano 2010, reduzir a metade a mortalidade entre a população africana pela

implementação de estratégias e acções para fazer recuar o paludismo” (Abuja; 2000:1).

Durante este encontro, os responsáveis dos países envolvidos, “concordaram em,

estimular acções a nível regional para assegurar a implementação, controlo e gestão da

iniciativa fazer recuar a malária; iniciar acções a nível nacional para fornecimento de

recursos destinados a facilitar a realização dos objectivos da iniciativa fazer recuar a

malária; trabalhar com parceiros para atingir os objectivos estabelecidos, assegurando a

atribuição dos recursos necessários provenientes dos sectores privados e públicos e de

organizações não-governamentais e criar nos seus países um meio propício a uma

participação crescente em lutas contra a malária” (Abuja; 2000:1).

Page 21: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

10

No continente asiático, devido à grande resistência dos vectores aos químicos, a

adaptação às condições ambientais, deslocações populacionais e declínio económico em

certos países, levou a que a política adoptada se concentrasse fundamentalmente no

incentivo a uma participação pública, nos processos de controlo e erradicação do

parasita, na adopção do método baseado na pulverização intradomiciliária, incluindo

novas abordagens no que respeita ao manejo de novos casos da doença.

No que concerne à resistência dos vectores, importa referir que o sudoeste

asiático corresponde à área com maior taxa de resistência aos antimaláricos, tendo este

facto contribuído em grande parte para a reincidência de novos casos da malária,

sobretudo, dos protozoários plasmodium vivax e plasmodium falciparum. Assim sendo,

“desde 1998, que os países desta região têm realizado o controlo e monitorização das

resistências aos antimaláricos” (WMR, 2005:xiv). Importa referir que, em áreas mais

afectadas pela doença, a pulverização intradomiciliária e o TPI são das metodologias

mais utilizadas para o controlo do vector.

Aos países endémicos da América do Sul, é de salientar que de acordo com

WMR (2005: xv), “os registos da malária em certas áreas consideradas endémicas,

resultaram sobretudo da circulação da população, que em grande parte estão associados

aos trabalhos nas minas de ouro e nas florestas, resultando assim numa área

epidemiológica isolada”.

Nas áreas afectadas é frequente o uso de pulverização intradomiciliária e TPI

como estratégias para o controlo do vector. Para o combate a parasita, incluiu-se a

terapia combinada à base de Artemisinina, como forma de responder à resistência dos

parasitas a tratamentos à base de Cloroquina.

Por fim, nos países mais desenvolvidos, verificou-se maior controlo e

erradicação do parasita. Como refere Lieshout et. al (2004: 88), “este controlo, só foi

possível devido sobretudo ao rápido desenvolvimento não só económico desses países,

como também dos cuidados de saúde e à modernização da produção pecuária e

agricultura”. De facto, essa modernização e o crescimento económico proporcionaram

uma diminuição da malária, nas áreas que outrora eram consideradas endémicas.

Page 22: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

11

I. 3. Fundos Destinados ao Controlo da Malária

O combate à malária é uma iniciativa que tem demonstrado desde início uma

grande necessidade relativamente a obtenção de fundos, com vista a possibilitar a

eficácia no combate e acesso universal aos meios de prevenção à doença, de forma a

diminuir a resistência do vector aos mecanismos de combate.

Segundo WHO (2012:x), “o fundo disponível para o controlo da malária cresceu

vertiginosamente de menos de 100 milhões de dólares em 2000 para 1 710 milhões de

dólares em 2010 e foram estimadas em 1 660 milhões de dólares em 2011 e 1 840

milhões de dólares em 2012”. Importa também realçar que o financiamento com fundos

internos dos países endémicos também aumentou, “tendo sido estimado em 2011, uma

despesa nacional para o controlo da malária nessas regiões que ronda os 625 mil

dólares” (WHO, 2012:x).

O aumento dos fundos contra a malária vem dar continuidade à iniciativa3

desenvolvida pela OMS e vários parceiros internacionais, no sentido de possibilitar um

acesso universal a todos os indivíduos que se encontrem em áreas consideradas

endémicas, aos meios de prevenção contra a doença, sobretudo nas regiões sul-

americana, asiática e africana4 em particular, que continua a ser a mais afectada, no que

respeita a incidência dos casos de paludismo.

Os esforços no sentido de possibilitar um maior controlo do vector e acesso aos

meios antimaláricos por parte da OMS, juntamente com o Fundo Global contra a

doença, a iniciativa Roll Back Malaria e diversas fundações e doadores, têm sido

direccionados no sentido de angariar fundos e mecanismos de combate ao vector e

adaptar esse combate à resistência às insecticidas e antimaláricos.

Embora ainda “aquém dos 5,1 mil milhões de dólares necessários todos os anos

(2011-2020), para atingir a cobertura universal de intervenções contra a malária, o

financiamento concedido para o controlo da doença permitiu aos países endémicos

aumentarem significativamente o acesso a intervenções preventivas contra a malária,

bem como serviços de diagnósticos e tratamento” (WHO, 2012:IX).

3 Acerca da importância das iniciativas e programas, na expansão das intervenções de controlo da malária,

ver Giroux e Castro (2013: 2) 4 É de referir, que a centralização dos fundos para a luta contra a Malária, de certa forma, condiciona o

crescimento económico destas regiões, sobretudo os mais pobres, dado que, essas verbas poderiam ser

canalizadas para o combate à fome e pobreza.

Page 23: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

12

Na verdade, o financiamento da luta contra a malária, não só permitiu uma maior

eficácia contra vector Anopheles e o plasmodium nas diferentes regiões do globo, como

também possibilitou um salto enorme relativamente ao desempenho de certos países,

em matéria de controlo e eliminação da doença.

O financiamento para o controlo e eliminação da malária, possui um papel

relevante, sobretudo no que concerne à ajuda disponibilizada aos países mais afectados,

sendo que, na sua maioria são países pobres e fortemente dependentes da ajuda externa

como é o caso da Guiné-Bissau, que tem beneficiado não só dos fundos para o controlo

da malária, como também de vários programas de cooperação entre diferentes estados

membros com a OMS, com forte impacto na elaboração de documentos estratégicos e

orientadores dos programas de luta contra a doença.

I. 4. Entraves ao Controlo da Doença

Uma das principais particularidades da malária, prende-se com a sua elevada

expressão nas regiões intertropicais, isto é particularmente interessante, dado que os

países com maiores riscos de incidência da doença situam-se nestas regiões, como é o

caso da Guiné que, possui ainda um longo trajecto a percorrer, facto que se explica não

só com a ineficiência no combate ao paludismo, resultante sobretudo da baixa

qualificação dos técnicos ligados à luta contra a malária, a situação socioeconómica e

político militar que têm condicionado muitas das acções direccionados para o controlo

do vector, como também, à falta de equipamentos básicos para o armazenamento e

tratamento de dados, o “frágil” sistema de saúde pública e a inconsistência dos dados

estatísticos.

Na verdade, o tratamento dos dados é um assunto de grande importância para

perceber melhor a situação do país e a tendência do mesmo face a doença. Sabe-se que

por todos os países africanos considerados endémicos, é extremamente difícil, efectuar

uma apreciação fidedigna das tendências do paludismo/malária, resultando esse facto da

inconsistência dos dados recolhidos em certos países (áreas de estudo).

Contudo, estudos mais recentes vieram demonstrar alguns progressos no

combate a este flagelo, o que deveu-se sobretudo a uma maior cobertura de intervenções

nas áreas mais vulneráveis a incidência, sendo que a melhoria dos sistemas de saúde

pública, foi um dos factores incitador para este progresso.

Page 24: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

13

De facto, na última década testemunhou-se uma rápida expansão das

intervenções, resultantes das várias iniciativas, cujo principal objectivo foi intensificar a

luta contra a malária, de forma a fazer recuar esse flagelo, sobretudo nas regiões mais

afectadas, como é o caso da região de Gabú que apresenta uma prevalência do

Paludismo na ordem dos “12%. Também, salientam-se pela negativa, outras regiões que

apresentam uma prevalência relativamente alta, nomeadamente: Oio 9%, Quinara 9%,

Sector Autónomo de Bissau (SAB) 9%” (Programa Nacional de Luta Contra o

Paludismo (PNLP), 2013:15).

De acordo com o relatório da OMS, “em 2008 havia 109 países endémicos, 45

na região africana da OMS” (WHO, 2008:1). Ao longo de vários anos, a malária tem

contribuído para um aumento da morbilidade e da mortalidade. Com base nesta

realidade, têm-se intensificado os métodos de combate à doença, sobretudo nos países

de elevada vulnerabilidade, face a incidência deste flagelo.

Actualmente verifica-se, uma forte aposta em novas abordagens e metodologias

de análise distintas da abordagem convencional, com o objectivo de mitigar a incidência

deste flagelo, cumprindo assim as metas estabelecidas pela OMS. Assim, as Estratégias

de Cooperação da OMS com os países, tal como foi anteriormente referido, consistem,

não só em apoiar os países no sentido de melhorarem o seu desempenho no que respeita

a melhoria da saúde, como também no auxílio em matéria de elaboração e transcrição

de documentos orientadores para a luta contra a malária.

Foram vários os programas e iniciativas adoptadas para o combate ao

Paludismo na Guiné-Bissau, como é o caso do plano estratégico de luta contra o

paludismo, desenvolvido depois da Cimeira de Abuja (Abril de 2000); o segundo plano

estratégico 2006-2010; o plano complementar 2010-20135; a Estratégia de Cooperação

entre Países (2013), Plano estratégico de seguimento e avaliação (2013-2017), que têm

como objectivo específico, o reforço do sistema de seguimento e avaliação da luta

contra o paludismo de forma a acompanhar o desempenho do programa face aos

objectivos pré-estabelecidos, entre outros.

Todavia, é imprescindível uma melhoria do espaço físico onde estes programas

serão desenvolvidos, uma vez que, “o espaço disponível não é adequado a uma boa

5 Este plano tinha como principal objectivo permitir um acesso universal aos meios antipalúdicos e atingir

uma cobertura universal no que respeita a distribuição dos MILDA.

Page 25: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

14

organização funcional e documental exigida para a coordenação do programa”

(Relatório Anual do PNLP; 2009: 10).

Segundo a Estratégia de Cooperação da OMS com a República da Guiné-Bissau

(2004-2007: 1), o programa de cooperação assenta sobre três eixos fundamentais:

1) - Reforço de parcerias a favor da saúde;

2) - Melhoria do desempenho do sistema de saúde;

3) - Luta contra as doenças prioritárias.

Segundo a World Malaria Report (WHO, 2008:viii), a Assembleia da

Organização Mundial da Saúde para 2005, cujo principal objectivo foi “atingir uma

meta igual ou superior a 80% em matéria de controlo do Paludismo, baseou-se em

quatro intervenções fundamentais: Mosquiteiros tratados com insecticida de longa

duração destinados às pessoas em situação de risco; antimaláricos apropriados para os

pacientes com malária provável ou confirmada; pulverização de insecticida destinada às

famílias em situação de risco e TPI durante a gravidez”

Apesar de grandes avanços efectuados na cooperação e trocas de informações no

domínio da saúde pública e da redução da pobreza na região africana e na Guiné-Bissau

em particular, ainda não é suficiente, facto que se justifica com a insuficiência dos

técnicos ligados a área da prevenção e tratamento das doenças prioritárias e também a

falta de coordenação entre os responsáveis pela luta contra a malária.

Contudo, nota-se um esforço enorme de várias organizações e parceiros em

inverter essa tendência. Neste sentido, a OMS tem contribuído não só financeiramente,

mas também através de apoios técnicos e institucionais, no sentido não apenas de os

orientar no terreno, mas, essencialmente em permitir uma maior capacidade destes em

responder aos casos de doenças consideradas prioritárias. Este aspecto é particularmente

importante, dado que, na Guiné-Bissau a falta de técnicos e a baixa formação dos

mesmos, tem determinado e consequentemente condicionado as iniciativas de

seguimento e acompanhamento dos casos do paludismo e o manejo dos mesmos.

Neste contexto, sublinha-se também as reflexões patentes no Plano Estratégico

nacional de seguimento e avaliação (2013-2017), onde se destaca a “insuficiência dos

técnicos em quantidade e qualidade a nível do programa para o seguimento e avaliação

das actividades, como também de equipamentos e tecnologias de informação e

Page 26: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

15

comunicação (computadores, impressoras, data show, Internet, telefones, etc.) para a

realização das actividades” (PNLP, 2013-2017: 28).

Face ao que antecede, importa também mencionar que, no decorrer da realização

da estratégia de cooperação da OMS com os diversos países, a Guiné-Bissau tem

demonstrado interesses em áreas do sector da saúde pública consideradas prioritárias (a

malária por exemplo), como já anteriormente referido, sendo que, os principais

mecanismos de luta centram-se essencialmente no manejo precoce e correcto dos casos;

na luta antivectorial por fim, na prevenção e tratamento do paludismo na fase da

gravidez. Estando estes mecanismos em conformidade com as prioridades globais.

No entanto, apesar do grande percurso que o país tem pela frente, é de destacar

que no contexto africano, alguns países já estão a dar sinal positivo, sobretudo no que

respeita a eliminação da doença e o controlo da mesma no caso de São Tomé e Príncipe,

Eritreia, Ruanda e Tanzânia. A abordagem adoptada por estes países assentou

sobretudo, na implementação de uma política agressiva de programas de prevenção e

tratamento do paludismo, que tem demonstrado grandes resultados no que se refere aos

casos da malária registados6 nestes países.

I. 5. Os Factores de Disseminação da Doença

A multicausalidade dos factores de incremento da malária é indubitavelmente

uma das características fundamentais para a disseminação da mesma, denota-se desde

logo, que as políticas de controlo e combate devem ter em conta um conjunto complexo

de factores. Não obstante, é necessário ter em consideração que, outra das principais

características epidemiológicas deste flagelo relaciona-se com a sua distribuição

espacial, como refere Caetano; et. al (2003: 10) “é fortemente influenciada por Clima”.

Embora o factor climático apresente incontestavelmente, um enorme peso na

disseminação da doença, se tivermos em consideração o período das chuvas e todas as

consequências (águas estagnadas, vegetações herbácea, plantações de arroz etc)

posteriormente resultantes, é ainda importante, ter presente que o risco de transmissão

6 Sobre esta temática, consultar World Malaria Report 2008, P.x.

Page 27: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

16

da doença é um elemento fortemente dependente da capacidade infectante do vector

(capacidade vectorial)7 em transmitir a doença.

A transmissão da malária na Guiné é o resultado de vários factores,

nomeadamente, a política de luta contra o paludismo, que nem sempre é aplicada

correctamente; o factor relacionado com o indivíduo, subentendendo-se, não só as

condições socioeconómicas do mesmo, como também a idade e o comportamento

social, que funcionam como condicionantes essenciais na determinação do “grau” de

imunidade.

As características dos vectores transmissores do vírus também são importantes a

ter em consideração, isto é, se são ou não resistentes a insecticidas e aos Mosquiteiros

Impregnados com Insecticida de Longa Duração de Acção (MILDA).

No que concerne ao parasita, é importante realçar que a resistência aos

antimaláricos depende do acesso ou não aos tratamentos adequados, o que pressupõe a

existência de um sistema de saúde com meios adequados, face aos casos de malária.

Na Guiné-Bissau os principais protozoários são, plasmodium falciparum, que

corresponde à espécie predominante de todos os que atacam o Homem “ (presente em

85 a 90% das infecções registadas), plasmodium malariae, (5 a 7%) e plasmodium

Ovale (1%), sendo as restantes infecções consideradas mistas” (Política Nacional de

Luta Contra o Paludismo; 2013-2017:9). Contudo, ainda assim, uma das formas de

combater essa doença foi também baseada no tratamento a base de Cloroquina e outros

fármacos.

Segundo o Relatório do PNLP (2009:10), “apesar da sua proibição através do

despacho do Ministério da Saúde Nº 24/2008, algumas estruturas sanitárias continuam a

utilizar a Cloroquina, isto porque, ainda tinham no stock uma importante quantidade

deste fármaco”, utilizado como a primeira linha de intervenção contra a malária em

certas áreas do país, o que por um lado é bastante condicionado por factores externos,

nomeadamente o clima, a política de saúde e factores sociais.

Neste sentido, embora a malária se manifeste através de um conjunto de factores

externos, ela é mais característica de certos factores que conjugados com outros factores

tornam-se aspectos fundamentais para o incremento e disseminação da mesma.

7 A capacidade vectorial corresponde a um elemento que sintetiza, o essencial da importância

epidemiológica de cada um dos membros do complexo como vector do paludismo.

Page 28: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

17

Assim, para se compreender melhor a propagação da malária, na figura 2,

encontram-se descritos de forma simplificada os factores caso não sejam levados em

consideração, poderão influenciar o incremento da doença, eventualmente através do

aumento de um surto da doença em áreas susceptíveis de a contrair, funcionando deste

modo, como potenciais mecanismos de incremento deste flagelo em áreas endémicas.

Figura 2. Factores que influenciam o incremento da malária

Tendo em consideração os diferentes factores descritos na figura 2, importa

sublinhar que o conhecimento dos mesmos é particularmente importante, sobretudo, no

que respeita ao combate e interrupção da eficácia vectorial.

Dos factores mencionados, os ambientais nomeadamente a temperatura e a

precipitação, têm uma influência no incremento, propagação da malária,

desenvolvimento do mosquito e o parasita. Na verdade, um dos elementos cruciais para

explicar a propagação da malária, o ciclo de vida do vector e o desenvolvimento do

parasita é indubitavelmente, a variação da temperatura e a sazonalidade climática.

Segundo Alves et. al (2001:3), “o parâmetro físico mais importante para a transmissão

Factores ambientais

Climáticos (Tº 16º a 31ºc)

Variação da precipitação

Factores relacionados ao parasita

e ao vector (Plasmodium

Falciparum 85-90% de casos,

Anopheles Sensu Lato, Funestus e

Rufipes: principais Vectores)

Sistema de saúde frágil

- Diagnóstico

- Prevenção

- Manejo de casos

-acesso aos antimaláricos

Capacidade vectorial

- Resistência metabólica

- Mecanismos target site

Presença de vegetação

- Fornece protecção dos

predadores e sombra contra

as altas temperaturas

Factores sociais

-níveis de instrução

- Pobreza

- Habitações precárias

Incremento da

Malária

Alternância do vector

- Anopheles Sensu Lato

-Anopheles Funestus

-Anopheles Rufipes

Page 29: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

18

da malária é a temperatura, podendo esta afectar o ciclo de propagação da malária de

várias formas”.

As influências da temperatura na transmissão da malária é muito mais evidente

no desenvolvimento não só do vector como também do parasita, sendo deste modo, um

processo que se intensifica ainda mais nas regiões com temperaturas elevadas e grande

volume de precipitação ao longo do ano, condições que possibilitam um incremento da

eficácia vectorial nessas regiões. Assim, as primeiras conclusões a serem apontadas

relativamente à influência da temperatura na disseminação da malária, está fortemente

associada à duração das fases de desenvolvimento do vírus (plasmodium) (Anexo A

tabela. A.4) e da sobrevivência do vector ao longo das 4 fases (ovos, larvas, pupa e

adulta).

A sobrevivência do vector é particularmente importante, dado que, é um factor

fortemente dependente do limite da temperatura. Como refere MARA, 1998 apud Alves

et. al (2001:3), “o limite superior de temperatura é determinado pela sobrevivência do

vector, pois verifica-se que, para temperaturas superiores a 32º C existe um aumento

significativo da taxa de mortalidade bem como o enfraquecimento da população,

ocorrendo mortalidade térmica à temperatura de 40º C”.

I. 6. Ciclo de vida do Vector

Habitualmente, o ciclo de vida do vector, corresponde aos processos que se

traduzem em duas fases distintas (aquática e terrestre) e 4 etapas fundamentais: ovos,

larva, pupa e adulta (Figura 3). No que se refere ao ovo depositado pelo vector, este é

consignado a um espaço, designado por habitat larvar.

Este espaço é por excelência o local onde o vector opta por depositar os ovos,

dado que, apresenta as condições necessárias (exposição solar adequada, zonas

húmidas, salinidade adequada e temperatura dentro dos graus adequados), para o

desenvolvimento não só dos ovos, como também da própria espécie em fase adulta.

Page 30: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

19

Figura 3. Ciclo de vida do vector

Fonte: Cardoso 2007:7

“Os ovos demoram cerca de 1 a 2 dias a eclodir, originando larvas que

percorrem quatro estádios sucessivos. Posteriormente ao quarto estádio, a larva sofre

uma transformação para pupa, que embora ainda não apresenta o hábito hematofágico,

mantém-se activa durante 1 a 2 dias após os quais o adulto emerge apresentando uma

cabeça, tórax e abdómen distintos. A duração do ciclo de vida do mosquito depende da

espécie e das condições ambientais, em particular da temperatura”, (Cardoso; 2007:6).

Contudo, é de referir que o ciclo de vida8 dos vectores pode ser fortemente

afectado por factores externos, nomeadamente, a vegetação entre outros, podendo estes

factores, contribuir para o aumento ou a diminuição do número de vectores,

manifestando-se directamente na intensidade dos casos da doença registados.

As influências dos factores externos têm desencadeado uma tomada de

consciência sobre diferentes aspectos relacionados não só com a intensidade dos casos

da malária, mas também, pelo conhecimento dos hábitos hematofágico dos vectores.

Segundo Silva (2009:2), “do ponto de vista parasitológico, a hematofagia

proporciona um cenário para a transmissão de doenças aos animais e ao homem, visto

que inúmeros microorganismos patogénicos utilizam o hábito hematofágico dos

8 Na fêmea é regulado por três factores comportamentais essenciais: 1) procura do hospedeiro e refeição,

as fêmeas alimentam-se de sangue, um elemento essencial para o desenvolvimento dos ovos; 2) A

digestão do sangue e desenvolvimento gonotrófico resultam na maturação dos ovos; 3) procura do local

adequado para a postura. Adaptado de Cardoso (2007:6).

Page 31: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

20

insectos para a continuidade do seu ciclo de vida e podem passar de um hospedeiro a

outro através do fluxo salivar”.

Assim, importa igualmente referir que para muitos vectores, o hábito alimentar

baseado na ingestão de sangue, corresponde a um meio eficaz para permitir não só o

desenvolvimento dos ovos, como também uma evolução completa ao longo das várias

etapas, desencadeando desde logo o processo da transmissão da doença. No caso das

espécies Anopheles, é sobretudo no desencadear desse processo, que se estabelece o

contacto mais próximo entre o hospedeiro e os protozoários do género plasmodium.

I. 7. As Etapas do Plasmodium

No que concerne ao ciclo de vida do plasmodium, importa destacar que este

apresenta de uma forma geral um ciclo de vida constituído por 3 fases principais:

“Esporogónica (ocorre no mosquito e compreende a reprodução sexuada e meiose),

Exoeritrocítica (ocorre no fígado no caso do Homem) e Eritrocítica (ocorre nos

eritrócitos do hospedeiro vertebrado) ” (Oliveira; 2007:4).

O conhecimento do ciclo de vida e das características não só dos vectores, como

também dos parasitas, é fundamental para a eficácia das iniciativas contra a malária,

dada às complexidades subjacentes não só aos vectores, como também aos protozoários

do género plasmodium, que na verdade, conta com cerca de “120 espécies que infectam

hospedeiros vertebrados mamíferos, aves e répteis” (Cardoso, 2007:3).

As etapas da “transferência” do plasmodium para o hospedeiro, é bastante mais

complexa, podendo ser dividida em “4 fases: 1)- Fertilização, fase sexuada que ocorre

no estômago do mosquito vector após uma refeição com sangue infectado; 2)-

Esporogonia, primeira fase assexuada que ocorre na parede do estômago do mosquito;

3)- Esquizogonia hepática, segunda fase assexuada que tem lugar no fígado do

hospedeiro vertebrado após inoculação do parasita pela refeição sanguínea do mosquito;

4)- Esquizogonia eritrocitária, terceira fase assexuada que ocorre nos eritrócitos do

hospedeiro vertebrado, responsável pelos sintomas da malária” (Cardoso; 2007:5).

De acordo com o descrito na figura 5, o ciclo de vida do parasita com

capacidade de infectar o Homem, é uma “etapa” que envolve dois protagonistas

Page 32: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

21

fundamentais (o vector e o Homem), é um processo que se desencadeia do seguinte

modo:

O mosquito fêmea deposita os esporozoítos no hospedeiro humano após uma

refeição sanguínea, de seguida estes infectam as células do fígado, no seguimento da

infecção das células do fígado, dá-se a transformação dos esporozoítos em esquizontes,

o processo prossegue com a libertação dos merozóitos (estes merozóitos em certos

casos permanecem dormentes (hipnozoitos), como acontece nos casos de plasmodium

Vivax e plasmodium Ovale, permanecendo no fígado até semanas, sendo em alguns

casos anos, invadindo a corrente sanguínea causando recaídas).

Após a replicação inicial no fígado (esquizogonia Exoeritrocítica9), os parasitas

sofrem multiplicação assexuada nos eritrócitos10 (esquizogonia Eritrocítica11 B). Os

merozóitos12 libertados pelos esquizontes13 infectam os glóbulos vermelhos do sangue.

Por sua vez, os Trofozoitos14 ao “amadurecerem” transformam-se em esquizontes,

libertando merozóitos. Alguns parasitas diferenciam-se em estágios eritrocitários

sexuais (gametócitos), que são as principais responsáveis pela doença.

A ingestão dos gametócitos do sexo masculino (microgametócitos15) e do sexo

feminino (macrogametócitos16) por parte do vector de transmissão da doença durante

uma refeição sanguínea, desencadeia a multiplicação de parasitas no seu interior,

passando esta etapa a designar-se por ciclo esporogónico C. A fertilização dos

macrogametócitos por parte dos microgametócitos, desencadeia o aparecimento dos

zigotos17, microorganismos, que se tornam móveis e alongados (ookinetes18), que

invadem a parede do intestino do mosquito onde se transformam em oocistos.

9 Corresponde a fase extra-eritrocitária do ciclo de vida do parasita. Nesta fase o parasita replica-se nas

células do fígado (formando-se então os esquizontes). 10 Termo que designa os glóbulos vermelhos 11 Fase intra eritrocitária – os esquizontes a certa altura rompem e invadem a corrente sanguínea. Nesta

fase são libertados merozóitos que infectam os glóbulos vermelhos. No glóbulo vermelho passam a

trofozoitos. Daqui evoluem em 2 sentidos: 1 voltam a formar esquizontes e repete-se tudo e 2 evoluem

para gametócitos assexuados. São estes gametócitos que o mosquito vai aspirar quando pica o homem. 12 São responsáveis pela infecção dos glóbulos vermelhos 13 Responsáveis pelo transporte dos merozóitos, que posteriormente serão responsáveis pela infecção dos

glóbulos vermelhos. 14 Correspondem a “mutação” dos merozóitos presentes nos glóbulos vermelhos. 15 Termo que designa a ex-flagelação dos gametócitos 16 Os macrogametócitos correspondem a maturação dos gametócitos. 17 Os zigotos representam a fase evolutiva dos gametócitos fertilizados. 18 Correspondem a fase evolutiva dos zigotos, na verdade, são microorganismos móveis e alongados que

penetram na parede do estômago do mosquito, transformando depois em oocistos, uma estrutura esférica

que se aloja entre o epitélio e a membrana onde se formam esporozoítos. Com a ruptura dessa estrutura

esférica (oocistos), milhares de esporozoítos são libertados, migrando posteriormente para as glândulas

salivares dos mosquitos.

Page 33: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

22

Posteriormente a uma etapa de sucessivas mitoses e multiplicação, os oocistos rompem-

se, libertando esporozoítos19, que seguem novamente para as glândulas salivares do

mosquito, que introduz os esporozoítos em hospedeiro (humano ou outro vertebrado),

dependendo do tipo de espécie Anopheles em causa, perpetuando assim o ciclo de

transmissão do plasmodium, (Figura 4).

Figura 4. Ciclo de transmissão do parasita

Adaptada de: CDC (Center for Disease Control) www.cdc.org

I. 7. 1. Controlo do Mosquito

Quando se aborda a temática da luta contra a malária, ressalta de imediato a

necessidade de um controlo literal do vector responsável pela transmissão do

plasmodium, as suas capacidades etc. O controlo do vector, é um processo importante

no seio das iniciativas levadas ao cabo pela OMS, dado que, a luta contra a malária é

uma tarefa que depende em grande medida da adopção de algumas recomendações da

OMS de forma a controlar o vector responsável pela doença.

O controlo e a eliminação da malária passam essencialmente pelo cumprimento

de requisitos básicos, de forma a intensificar a luta contra este flagelo. Assim sendo, “a

19 Corresponde ao mecanismo responsável pela doença e resulta da ruptura dos oocistos.

Page 34: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

23

OMS reconheceu que para alcançar e manter o controlo da malária devem ser levadas

em conta alguns requisitos importantes, nomeadamente, um esforço contínuo e

ininterrupto; a pesquisa sobre ferramentas novas e melhoradas e a integração de

controlo da malária num sistema de saúde razoavelmente bem estabelecida” (Global

Malaria Control and Elimination; 2008:2) 20.

Apesar das questões relacionadas com estratégias de combate a malária se

centrarem principalmente na determinação de um sistema de saúde razoavelmente bem

estabelecida, importa referir que, nos últimos anos, o controlo da malária, tem sido uma

iniciativa adaptada às reais necessidades dos países, de forma a limitar o contacto entre

o vector e o ser humano.

Assim, Sinka et. al (2010:2) defendem que, “para o combate e controlo da

malária, a grande maioria das iniciativas direccionadas para esse fim, centram-se

maioritariamente na intervenção que visa limitar o contacto do vector com o Homem”.

A estas questões, junta-se também a temática relacionada com a genética não só

do vector, como também do plasmodium. Segundo Alves (2010:4), “o conhecimento da

estrutura genética das populações vectoriais permite uma melhor compreensão da

epidemiologia da malária e uma definição de estratégias de controlo mais adequadas”.

O controlo do vector é um aspecto fundamental a ter em consideração, sobretudo

no que concerne as iniciativas para o controlo da doença ou mesmo a erradicação da

mesma. Tem-se verificado grandes avanços e resultados positivos sobretudo nos países

que outrora possuíam elevadas taxas de prevalência da doença.

Assim sendo, importa referir que tais avanços resultam sobretudo da

implementação de várias iniciativas nomeadamente, a distribuição de mosquiteiros

impregnados com insecticida de longa duração (2011); MIM (Multilateral Initiative on

Malaria), lançada em 1997.

20 Por outro lado, importa referir que nos países africanos, a adopção das iniciativas da OMS e das

recomendações resultantes da cimeira de Abuja (2000), permitiu reforçar os sistemas de saúde de forma a

“assegurar que, pelo menos 60% das pessoas que sofrem de paludismo têm acesso rápido a tratamento

correcto, economicamente acessível e apropriado; pelo menos 60% das pessoas em risco de contrair o

paludismo, especialmente crianças menores de cinco anos e mulheres grávidas, beneficiam da

combinação mais indicada de medidas de protecção pessoais e comunitárias tais como mosquiteiros

tratados com insecticida e outras medidas acessíveis e pelo menos 60% de todas as mulheres grávidas

correndo o risco de contrair o paludismo, especialmente as que estão na sua primeira gravidez, têm acesso

a profilaxia química ou tratamento presuntivo intermitente” (Abuja; 2000:1)

Page 35: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

24

Como refere Alves (2010:10), essa iniciativa “permitiu a angariação de fundos

que possibilitaram a sequenciação dos genomas do Plasmodium e do Anopheles,

ferramentas importantes, entre outras, para a identificação de novos alvos terapêuticos e

marcadores de resistência a fármacos e a insecticidas, respectivamente, vacinas de DNA

e tecnologia de insectos transgénicos (Collins et al., 2000; Doolan e Hoffman, 2001

apud Alves, 2010) ”.

Actualmente, a forma mais frequente para o controlo do vector, reside

fundamentalmente na aplicação de mosquiteiros com insecticida impregnado de longa

duração de acção e na pulverização intradomiciliária. Na Guiné-Bissau, esta é a forma

mais utilizada para o controlo do vector, assemelhando-se em quase todos os países

endémicos do continente africano.

“Calcula-se, que a utilização dos mosquiteiros impregnados com insecticida de

longa duração de acção tenha aumentado, 3% em 2000 para 53% em 2011 a

percentagem de habitações com pelo menos uma rede mosquiteira impregnada com

insecticida (do inglês insecticide-treated mosquito net) na África Subsariana, mantendo-

se a mesma percentagem em 2012” (WHO, 2012: xxix). Ora, esta tendência é bastante

positiva, dado que é um passo importantíssimo no sentido de atingir uma cobertura

universal, no que respeita sobretudo ao acesso aos métodos e meios eficazes de combate

a doença.

Não obstante, existe outro método também bastante utilizado no controlo do

vector, que consiste fundamentalmente na pulverização com insecticidas em redor da

habitação e a pulverização intradomiciliária (do inglês indoor residual spraying) trata-

se, portanto, de um método que constitui um poderoso meio para diminuir e interromper

a transmissão da doença, sobretudo nas áreas com um fraco desenvolvimento de infra-

estruturas de saneamento básico.

A pulverização intradomiciliária é um método recomendado pela OMS,

principalmente no que se refere ao controlo da malária e das epidemias (em 51 países).

De acordo com os dados da OMS, 73 países adoptaram esse método, sendo que 36

destes encontram-se em África.

Segundo World Malaria Report (2011:30), “a combinação do método de

pulverização intradomiciliária e mosquiteiro impregnado de longa duração de acção é já

adoptada em 62 países, incluindo 31 em África”. Contudo, apesar dos progressos

Page 36: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

25

resultantes da adopção desses métodos, importa referir que tem-se verificado uma

tendência para o aumento da capacidade de resistência do vector face aos insecticidas.

“Recentemente, tal resistência foi observada em 64 países por todo o mundo”

(WHO 2012:xxviii). O aumento da capacidade do vector e do plasmodium em resistir

aos insecticidas e antimaláricos, tem sido uma temática fortemente discutida junto das

várias organizações e entidades responsáveis pela luta contra a malária.

Assim, no seguimento das várias iniciativas e directrizes para inverter essa

tendência, determinaram-se os principais grupos de resistência aos insecticidas, que

segundo Cardoso (2007:13) e World Malaria Report (2011:30), “podem ser divididos

em dois grupos principais:

Resistência metabólica – alterações dos níveis ou da actividade das

proteínas enzimáticas de destoxificação;

Mecanismos “target site” que impedem a ligação do insecticida ao seu

alvo”.

Constata-se assim que, a resistência dos vectores e dos plasmodium é um dos

factores, que pode facilmente comprometer os objectivos determinados pelos países

ligados à luta contra a malária. Baseado no sentido de reduzir a resistência do vector, na

Guiné-Bissau recomenda-se a execução de estudos da resistência dos vectores aos

insecticidas, a cada dois anos.

Em 2009, estudo sobre a resistência do principal vector aos insecticidas “revelou

que na Guiné-Bissau, a resistência de Anopheles Senso Lato à perimetrina, foi de

(0,75%) Deltamethrina (0,05%), Lambdacyalothrina (0,05%) e ao DDT (4%) ”.

Ainda sobre a resistência aos insecticidas, é importante sublinhar que, em “Maio

de 2012 a OMS apresentou um plano de gestão das resistências dos vectores,

estabelecendo uma directiva mundial para a gestão das mesmas” (WHO 2012:xxx).

Cabe aqui referir que, a luta antivectorial representa uma oportunidade de

complementaridade de esforços entre as diferentes entidades nacionais e internacionais,

com o objectivo de solucionar os problemas relacionados com o vector, o plasmodium e

os fundos necessários ao combate à doença.

Segundo a World Malaria Report (2013:ix), “em 2012, foram estimados um total

de 2.5 mil milhões de dólares para o controlo do vector da malária, no entanto,

Page 37: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

26

projecções indicam que o financiamento para o controlo da malária possa atingir 2,85

mil milhões entre 2014 e 2016, quantia substancialmente inferior ao montante

necessário para um controlo do vector e acesso aos meios antimaláricos ao nível

global”.

I. 7. 2. Controlo do plasmodium

Outra forma de combater a malária consiste fundamentalmente no controlo do

protozoário (plasmodium). Assim, no que concerne ao controlo e a erradicação do

plasmodium recomenda-se, o tratamento a base de Artemisinina (do inglês ACT,

Artemisinin-based Combination Therapies) e o tratamento intermitente preventivo

principalmente, nas regiões mais afectadas, contudo, em muitas áreas endémicas têm-se

verificado o uso de outros medicamentos, tais como, Cloroquina, pirimetamina21,

sulfadoxina22 etc. O uso de certos medicamentos, tem vindo a ter efeitos inesperados no

combate a doença, tendo contribuído este facto para um aumento da resistência tanto do

vector como dos plasmodium.

Na verdade, a resistência dos parasitas aos antimaláricos, é uma tendência

também ela fortemente sustentada pela alteração dos medicamentos destinados ao

combate a malária e pela acção antrópica23, funcionando em muitos casos como

principais responsáveis pela persistência da malária, tanto dos casos simples, como dos

mais graves.

Vejamos, em primeiro lugar, as especificidades do tratamento dos casos de

paludismo simples. Na Guiné-Bissau, para o tratamento do paludismo simples,

recomenda-se: Arteméther-Luméfantrine24. O tratamento completo inclui 2 doses por

dia durante 3 dias; Quinino em comprimidos (300 mg), 8 mg de quinino base por kg,

três (3) vezes por dia, durante 7 dias para as crianças com peso corporal inferior a 5 kg.

21 É um fármaco que actua na fase extra-eritrocitária (no fígado) e mata os gametócitos, o que previne a

transmissão ao mosquito. 22 Sulfadoxina é um fármaco que não é frequente utilizá-lo isoladamente, mas sim em combinação

pirimetamina + sulfadoxina. Esta associação também se usa nos casos de plasmodium falciparum

resistente, tendo a mesma acção que a pirimetamina. 23 Subentenda-se o comportamento dos indivíduos face a doença. 24 (20mg de Arteméther+120 mg de Luméfantrine), para adultos e crianças com peso igual ou superior a 5

kg.

Page 38: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

27

Por sua vez, ao tratamento do paludismo grave, é recomendado o uso de Quinino

endovenoso25 Arteméther a adultos e crianças maiores de 6 meses, devendo-se

administrar uma dose de ataque de 3,2 mg/kg e depois 1,6 mg/kg/dia até que o paciente

seja capaz de suportar o tratamento por via oral ou durante 7 dias no máximo.

“Já em fase de gravidez, recomenda-se Arteméther-Luméfantrine26, indicado

para o segundo (2º) e terceiro (3º) trimestres da gravidez, Quinino em comprimido

(300mg)27 para as grávidas no primeiro trimestre de gravidez” PNLP (2013-2017:20).

No que respeita às mulheres em fase de gravidez e crianças dentro de uma certa

estrutura etária, recomenda-se também o TPI através da Quimioprofilaxia28, sobretudo

em grupos populacionais de áreas com uma elevada incidência e transmissão da

malária.

“Estima-se que na África Subsariana 32 milhões de mulheres grávidas e grande

parte dos 28 milhões de crianças que se calcula nascerem cada ano, beneficiam

anualmente do TPI além de 25 milhões de crianças que na sub-região do Sahel

poderiam ser protegidos contra a malária através da quimioprevenção sazonal” WHO

(2012: xxxi). Deste modo, o tratamento do parasita deve ser um processo enquadrado

aos diferentes casos (simples e graves), e diferentes meios, onde a doença é registada.

I. 7. 3. Estratégia Global para o controlo e a erradicação da Malária

Apesar das dificuldades que vão surgindo tanto ao nível dos antimaláricos como

também do financiamento da luta contra a doença, importa ressaltar que, por todo o

globo, tem-se intensificado a luta contra a malária, no sentido de aumentar um controlo

eficaz, principalmente nos países considerados endémicos sobretudo, do continente

africano, onde se encontram na sua grande maioria. Para tal, definiram-se algumas

estratégias fundamentais para proporcionar um maior controlo da doença, a sua

25 30 mg/kg/dia de quinino base, divididos em 3 doses diárias até que o paciente seja capaz de suportar o

tratamento por via oral durante 7 dias 26 20mg de Arteméther + 120mg de Luméfantrine 27 8 mg de quinino base por Kg, três vezes por dia, durante 7 dias. 28 A Quimioprofilaxia deve ser utilizada apenas em situações específicas e sob a orientação de um

especialista. Na verdade, esta é uma terapia que consiste em utilizar medicamentos específicos para o

tratamento e cura da malária, partindo da ideia de que ao fazer isso não seria picado por um agente

(vector) infectado com o “vírus” da Malária

Page 39: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

28

eliminação29 e o desenvolvimento de novas metodologias para reforçar essas estratégias.

(Figura 5).

Figura 5. Os eixos da intervenção mundial contra a malária.

Fonte: GMAP (Global Malaria Action Plan)

Neste sentido, a ideia de estratégias de erradicação, que vem sendo

impulsionada, deverão levar em linha de consideração, os três eixos fundamentais para a

erradicação da doença, nomeadamente: o controlo intensivo e duradouro do combate a

doença; a eliminação dos casos registados e novos métodos de pesquisa e abordagem

face a esta doença.

O controlo da doença tem necessariamente que abranger a redução dos casos e

um seguimento da doença, através essencialmente de uma cobertura universal aos

métodos de controlo para toda a população, durante o tempo que for necessário e de

acordo com as necessidades de cada país; a eliminação deste flagelo deve ser um

processo orientado e adaptado a diferentes contextos geográficos.

Por fim “o desenvolvimento de novas abordagens e métodos de manejo dos

casos, deve ser uma temática direccionada sobretudo para o auxílio das iniciativas e

planos que estão a ser desenvolvidos para o controlo e a eliminação deste flagelo”

(GMAP, 2008:12).

29 Por eliminação, subentenda-se controlo total da incidência do da malária e a sua redução num dado

espaço a superfície terrestre, como resultado de esforços, com medidas para impedir a reincidência da

doença (GMAP, 2008:14)

1 - Controlo

Ampliar para o impacto Controlo sustentável 2 - Eliminação

3 - Novas abordagens e métodos de pesquisa sobre esta doença

Page 40: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

29

I. 8. As Medidas e Iniciativas Recomendadas pela OMS

Sendo uma doença complexa e de fácil, transmissão, a malária é uma

epidemiologia que obrigou a adopção de várias medidas e iniciativas em todo o globo.

Muitas30 têm sido postas em prática pela comunidade internacional, com o objectivo de

fazer recuar esta doença. Sobre este assunto importa, deste modo, destacar as iniciativas

que têm sido aplicadas na Guiné-Bissau. Assim, a título de exemplo, destaca-se o Plano

Estratégico de Seguimento e Avaliação31 (2013-2017) do PNLP; o programa de

prevenção da malária, englobando a luta antivectorial32.

Não obstante, é necessário um claro compromisso relativamente aos dois

principais objectivos33 a cumprir (redução da mortalidade no país e redução até 75% em

relação ao ano 2000), de forma a cumprir os principais desafios que a iniciativa vai

enfrentando ao longo do período estabelecido de Luta Contra o Paludismo.

Segundo o Plano Estratégico (PNLP, 2013-2017:17), “em relação ao primeiro

objectivo, pretende-se, atingir uma cobertura universal no que respeita ao

manuseamento de casos no sector público; atingir a mesma proporção no que respeita

aos casos no sector privado e atingir uma cobertura total no que concerne ao

manuseamento de casos comunitários do paludismo. No que concerne ao segundo

objectivo, este tem como principais prioridades, atingir o acesso universal, sobretudo no

que respeita as medidas de prevenção até fim de 2015; manter o acesso universal dessas

medidas e acelerar o desenvolvimento dos sistemas de vigilância”.

No que respeita aos métodos aplicados pela OMS face à malária, verifica-se,

assim, que representam uma linha de continuidade, em relação às iniciativas de combate

30 Neste contexto, importa referir que embora exista muitas iniciativas para o controlo da malária, uma

das maiores iniciativas levadas ao cabo pela OMS, intitula-se, Roll Back Malaria (fazer recuar a Malária).

Na verdade, desde o seu lançamento em 1998, tem-se intensificado o controlo dos casos da Malária em

todos os países endémicos, com o objectivo de uma redução e controlo total deste flagelo. 31 Este plano, corresponde a uma ferramenta de referência a todos os Stakeholders envolvidos na luta

contra a malária e tem por finalidade, diminuir os casos do Paludismo na Guiné-Bissau, de tal forma, que

a doença deixe de ser considerada uma das prioridades do Governo. 32 A luta antivectorial inclui diferentes intervenções, a saber: a) distribuição gratuita de mosquiteiros

impregnados com insecticida de longa duração de acção; b) o saneamento do meio/gestão do ambiente e

c) a vigilância da resistência dos insecticidas. 33 Os objectivos determinados no Plano Estratégico, baseiam em dois princípios específicos. 1)- Reduzir a

mortalidade por paludismo na Guiné-Bissau para obter um valor próximo do zero até ao fim de 2015 2) -

Reduzir de 75% (em relação ao relatório de 2000) o número de casos de Paludismo na Guiné-Bissau até

fim de 2015, (PNLP; Plano Estratégico 2013-2017:17).

Page 41: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

30

a malária que vêem sendo implementadas pela mesma instituição e alguns parceiros

internacionais ao longo dos anos.

A aprovação dos métodos de pulverização intradomiciliária, o aumento do

acesso aos mosquiteiros com insecticida de longa duração para o combate ao vector, o

TPI durante a gravidez, o manejo correcto dos casos registados, e o aumento do

financiamento global, têm sido métodos privilegiados, sobretudo, no que concerne a

interrupção da transmissão do vírus através do controlo do vector.

Diversas iniciativas integraram o plano de acção da OMS, uma destas diz

respeito ao Plano Global contra a resistência aos antimaláricos, no fundo esta pretende

através de novas abordagens e métodos de tratamento da doença, mitigar a capacidade

de resistência dos vectores e a eficácia dos insecticidas aos mesmos.

Com base nestas preocupações, em 2013 a OMS publicou uma revisão das

directrizes de teste de resistência às insecticidas e inúmeras sessões de formação a nível

nacional em parceria com os parceiros internacionais, incluindo vários na região

africana, “também disponibilizou novos manuais de vigilância, a nível mundial, para o

controlo e eliminação do paludismo e publicou o plano mundial para a gestão da

resistência aos insecticidas por parte dos vectores do paludismo” (WHO; 2012: xxviii).

É de salientar, que tais manuais, correspondem a uma ferramenta

importantíssima para o combate a malária podendo, deste modo, auxiliar as regiões

endémicas, incentivando-as a implementar uma política agressiva e consistente, com o

intuito de obter melhores resultados relativamente aos casos da malária e com o menor

custo possível, facto extremamente importante, sobretudo para os países com reduzidos

recursos financeiros.

Uma outra iniciativa de grande importância implementada pela OMS foi a de

Monitorização da eficácia terapêutica, sobre esta iniciativa a OMS recomenda uma

monitorização contínua de dois em dois anos, em todos os países considerados

endémicos. Esta é uma acção fundamental e necessária para o tratamento dos casos da

malária, podendo contribuir para uma “identificação atempada” dos problemas.

De uma forma geral, a OMS possui uma série de objectivos que embora difícil

de cumprir, ainda assim, têm encorajado a luta no sentido de reduzir o número de casos

da malária registados nos países endémicos, contribuindo deste modo, para uma

Page 42: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

31

diminuição significativa, devido, sobretudo à adopção dos métodos e políticas

recomendadas.

I. 9. Breve descrição e localização geográfica da Guiné-Bissau.

Situada na costa Ocidental de África, Latitude Norte 12º 43` 00`` (Cabo Roxo),

Sul 09º 50` 00`` (Ponta Gardete) e Longitude Este13º 38` 00``, Oeste 16º 45` 00``, entre

a República do Senegal que lhe serve de fronteira a Norte e a República da Guiné-

Conacri que delimita a Leste e Sul e a Oeste pelo Oceano Atlântico.

“A Guiné-Bissau é constituída por uma parte continental com algumas ilhas

próximas ao continente (Geta, Pecixe, Komo e Melo) e por um conjunto insular, mais

afastado, os arquipélagos dos Bijagós, composto por 88 ilhas e ilhéus, das quais apenas

20 são habitadas. Possui uma superfície total de 36,125 km2 não contando com a área

ocupada pelos rios, a superfície total é de 31,800 km2” (Plano Estratégico PNLP, 2013-

2017:9) (Figura 6).

Cabe aqui sublinhar que, uma extensa parte do litoral da Guiné-Bissau é

ocupado por mangais, com uma grande relevância na alimentação e renovação das

espécies marinhas. Detém 9 regiões administrativas (Cacheu, Bolama-Bijagós, Biombo,

Bissau, Oio, Quinara, Tombali, Bafatá e Gabú)34 (Figura 7) e apresenta um perfil plano,

com elevações que geralmente não ultrapassam os 50 metros, a excepção das cadeias

montanhosas de Futa Djalon.

Relativamente a morfologia, importa sublinhar que a Guiné caracteriza-se por

cinco zonas morfológicas principais: “planícies do litoral, planalto de Bafatá, Colinas de

Boé, pene-planície de Gabú, zona de transição de Oio e de Forea” (Biai; 2009:20).

No que concerne ao clima, a Guiné-Bissau apresenta uma temperatura média de

20º C, com duas estações climáticas. Uma chuvosa que vai de Maio a Outubro, podendo

atingir os 2500 mm e outra seca que vai de Novembro a Abril. Segundo Biai (2009:16),

“o clima é do tipo “sudanês”, com muito calor e pouca humidade, enquanto no Sul o

clima é do tipo “sub-guineense”, caracterizada por uma forte precipitação e

temperaturas menos elevadas”, podendo tais características influenciar não só o

34 Que estão por sua vez divididas em 36 sectores, dirigidos por Comités de Estado.

Page 43: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

32

desenvolvimento dos vectores, devido as condições ideais favoráveis ao seu progresso,

como também a proliferação do plasmodium.

“O clima da Guiné-Bissau está sob a influência de dois factores fundamentais

que são: a situação entre o Equador e o Trópico de Câncer. Isto determina que o sol

passa no seu movimento aparente anual duas vezes pelo Zénite de Guiné arrastando

consigo a zona inter tropical de convergência.

A sua proximidade ao oceano sob acção dos ventos alísios marítimos e

continentais que formam ali uma zona inter tropical de convergência. Como resultado

nota-se a diferença de aquecimento entre as massas oceânicas e continentais com o

estabelecimento do regime de monções” (Biai; 2009:15).

No que se refere à ocupação territorial, uma grande parte da população

guineense vive junto a zona costeira, sendo que a larga percentagem dedica-se a

exploração dos recursos, nomeadamente a agricultura, pecuária pesca etc. segundo Biai

(2009:24), “cerca de 70% dessa população vive da exploração dos recursos naturais”,

com destaques para a agricultura, pesca, pecuária e florestais. Cabe desde já sublinhar a

importância que a exploração agrícola poderá exercer na incidência e incremento da

malária, uma vez que é considerada a variável com maior importância no que se refere

ao desenvolvimento do vector.

Figura 6. Enquadramento geográfico da Guiné-Bissau

Page 44: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

33

Figura 7. As regiões administrativas da Guiné-Bissau

I. 9.1. A particularidade da Guiné-Bissau face à Malária

Do ponto de vista histórico, a Guiné-Bissau possui um longo historial no que

respeita a luta contra a malária, no entanto, serão mencionados parte destas iniciativas,

consideradas fundamentais. Assim sendo, de forma a enquadrar melhor a

particularidade do país face à malária, é imprescindível uma análise cronológica das

iniciativas e programas implementadas sobre a mesma.

Tendo participado na conferência da OMS sobre o paludismo em Amesterdão

(Outubro 1992), procedeu a criação do Programa Nacional de Luta contra o Paludismo

ainda no mesmo ano. Em 1997, aderiu a declaração de Harare sobre o Paludismo, 33ª

sessão da OUA35, 02-04 de Junho de 1997. Aderiu a iniciativa Roll Back Malaria em

1999, tendo iniciado no ano 2000, o engajamento de meios necessários para a iniciativa.

No ano 2004, o país teve acesso à 4ª ronda do fundo mundial de luta contra as doenças

prioritárias, nomeadamente a Tuberculose, Sida, Paludismo entre outras.

Com a declaração de Abuja, em 2006 a Guiné-Bissau “alistou-se” a esta

iniciativa com o intuito de alcançar o acesso universal às intervenções que visam o

tratamento das doenças prioritárias, tendo acolhido no mesmo ano a 6ª reunião anual de

revisão e planificação das actividades de luta contra o paludismo, reunião essa que

contou com a participação de 16 países endémicos do Oeste africano.

35 Organização da Unidade Africana

Page 45: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

34

Em 2011, iniciou o programa nacional de distribuição de mosquiteiros

impregnados com insecticida de longa duração de acção, que teve um grande impacto

na redução de casos e óbitos por malária.

Com todas as iniciativas e programas atrás mencionados, são inegáveis os

esforços demonstrados pelos decisores na gestão, participação em diversas iniciativas

ligadas à saúde pública, mais especificamente ao combate à malária.

Não obstante, apesar dos esforços e incentivos às boas práticas relacionadas com

o manejo correcto dos casos da malária, é de salientar que as Estratégias de Cooperação

entre Países e o Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário enfrentam enormes

dificuldades ligadas sobretudo às carências organizacionais das estruturas estatais e a

fraca capacidade financeira do Estado no sector da saúde.

As questões atrás mencionadas permitem-nos concluir que, tais dificuldades têm

influenciado seriamente o desempenho e o perfil epidemiológico do país, estando esta

particularidade, desde logo, associada a um problema estruturalmente recente e

demonstrada na quantidade de indivíduos infectados pela malária nos dois anos de

análise (total de casos em 2012 e 2013) (Gráfico 1).

Gráfico 1: total de casos registados em 2012 e 2013

Fonte: adaptado de INASA (Instituto Nacional de Saúde Pública)

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

45000

50000

Total de Casos 2012 Total de Casos 2013

Page 46: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

35

Partindo da análise efectuada aos dados disponibilizados pelo INASA, pode-se

concluir de antemão que, apesar das oscilações verificadas no que se refere aos casos

notificados, é de sublinhar que, ainda assim, continuam a ser bastante elevados,

chegando mesmo em algumas regiões a ultrapassar os 20 000 casos por ano (como é

exemplo disso, as regiões de Bafatá, Gabú e SAB).

No que concerne aos óbitos notificados, apesar da ligeira melhoria verificada na

região de Bafatá e no SAB, assistiu-se a um aumento de óbitos por malária no ano 2013

em relação ao ano anterior (Gráfico 2). Contudo, é importante destacar que, apesar dos

óbitos registados nos dois períodos terem sidos elevados, é importante ter presente que,

se verificou uma melhoria substancial dos casos e óbitos por malária. Devendo tal

melhoria, eventualmente ao manejo correcto dos casos de malária e a campanha de

distribuição universal de MILDA (2011).

Gráfico 2: Total de óbitos nos períodos de 2012 e 2013

Fonte: INASA

Relativamente à percentagem de letalidade por malária (Gráfico 3), apesar desta

“andar” abaixo dos 4%, salvo algumas excepções, é de salientar que os dados de 2013

ilustram para algumas regiões, percentagens muito acima das registadas em relação ao

ano anterior, nomeadamente, nas regiões de Oio e Quinara.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Total óbito 2012 Total óbito 2013

Page 47: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

36

A situação do país face a malária é bastante preocupante, na verdade, na Guiné-

Bissau “a malária é a primeira causa de morbilidade e mortalidade infantil de crianças

com menos de 5 anos de idade, representa mais de 50% dos motivos de consulta, 15%

das causas de mortalidade e mais de 64% das causas de óbitos” (DENARP; 2005:21).

Gráfico 3: Percentagem de letalidade em 2012 e 2013

Fonte: INASA

Em 2012, os dados do INASA, apontavam para 129.684 casos notificados e 370

óbitos registados no país. Esta realidade acarreta inúmeras consequências, colocando

nitidamente em causa a saúde pública, tendo em conta que, a Guiné-Bissau, possuía

uma população estimada em 1 652 000 habitantes, uma taxa de crescimento de 2,05%

anual (INEC, 2009), e “caracterizada por uma população muito jovem,

aproximadamente 48% da população tem menos de 15 anos de idade e 63,3% com

menos de 25 anos” (Plano Estratégico PNLP, 2013-2017: 9).

De acordo com os dados apresentados (número de casos, total de óbitos e

letalidade por malária), pode-se concluir que, de ponto de vista do controlo e

erradicação da malária, torna-se necessária uma estratégia firme e com objectivos

claros, dado que, a malária continua a ser, “a primeira causa de anemia grave tanto nas

crianças como nas grávidas de abortos espontâneos e de outras complicações

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

%Letalidade_2012 %Letalidade_2013

Page 48: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

37

obstétricas, do baixo peso à nascença, assim como da prematuridade dos partos” (Plano

Estratégico PNLP; 2013-2017:14).

No que respeita a propagação da malária, a realidade acima mencionada e as

consultas de vários documentos acerca desta temática, permitiu-nos concluir que, uma

das questões fundamentais, relacionadas com a malária, reside na sua persistência e

prevalência, devendo-se assim, atribuir grande importância às iniciativas de

acompanhamento e avaliação dos casos registados. No caso particular da Guiné-Bissau,

o impacto deste flagelo tem sido distinto de região para região.

Partindo desse pressuposto, é de destacar que, no seguimento da campanha de

distribuição de MILDA, determinou-se, de acordo com os indivíduos submetidos a Gota

Espessa (GE)36, a prevalência nacional do paludismo. (Gráfico 4). Esta acção foi de

grande importância, no sentido em que, permitiu não só ter uma imagem do país face a

doença, como também, possibilitou a identificação das regiões que apresentam uma

maior taxa de prevalência da doença face às restantes.

Gráfico 4: Prevalência Nacional do Paludismo na Guiné-Bissau 2012

Fonte: INASA, adaptado do Programa Nacional de Luta contra o Paludismo (Plano Estratégico Nacional

de Seguimento e Avaliação 2013-2017).

36 Este é um diagnóstico que é efectuado no Laboratório Nacional de Saúde Publica, para apurar se um

indivíduo esta ou não infectado pelo vírus do paludismo.

Page 49: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

38

De acordo com o Relatório Anual do PNLP (2009:1), apesar de se ter verificado

uma diminuição do número de casos da malária, ainda assim continua a ter um forte

impacto na saúde pública. “Só em 2012, foram registados junto das estruturas sanitárias,

cerca de 50 375 casos de paludismo, sendo que, cerca de 42% dos casos registados e

62% dos óbitos notificados foram em crianças com idades inferiores a cinco anos”

(Relatório Anual do PNLP 2009:1), o que indubitavelmente condiciona a aplicabilidade

do Plano Estratégico 2013-201737, de combate a malária e a redução da doença de modo

a que deixe de ser um problema de saúde pública.

I. 9.2. A Vulnerabilidade do país e a influência climatérica, como factor

determinante no incremento da doença

Embora, tenham sido levadas ao cabo várias iniciativas no sentido de combater a

malária, é certo que a Guiné-Bissau é um país que ainda se encontra numa fase de

controlo, isto é, numa fase bastante condicionada por outros factores nomeadamente,

situação política do país, a escassez de técnicos especializados38, pobreza etc,

implicando desde logo, especial atenção a inúmeros aspectos relacionados com o

tratamento e prevenção da malária. A situação do país agrava-se ainda mais, devido

sobretudo, às estações chuvosas (Maio-Outubro), que correspondem ao período mais

intenso, com as variações da precipitação entre 1250 a 2750mm.

De facto, a intensificação do período das chuvas, é dos factores com peso

considerável na determinação da presença ou não de um certo tipo de vector, pelo que é

extremamente útil, o conhecimento das características dos vectores (através da

formação de técnicos especializados em entomologia), possibilitando assim, uma

melhor actuação das autoridades responsáveis pelo controlo do vector. A agravar o

período chuvoso, está também a diversificação de vectores. No continente africano,

existe uma grande variedade de vectores, sendo o Anopheles Sensu Strictu o mais

comum. 37 A finalidade deste plano, passa principalmente pela redução do paludismo de tal forma que deixe de ser

uma das maiores preocupações no domínio da saúde pública, de maneira a alcançar os objectivos do

plano global de luta contra o paludismo (GMAP) e os objectivos do Milénio para o Desenvolvimento

(OMD).

De acordo com este plano, é necessário uma única estrutura de coordenação da luta contra o Paludismo;

um único plano estratégico de luta contra o paludismo no país e um mecanismo nacional único de

seguimento e avaliação PNLP (2013-2017:48) 38 A escassez de técnicos especializados engloba também, a inexistência de técnicos especializados em

estudos entomológicos (especialistas em insectos).

Page 50: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

39

Na Guiné em particular, verifica-se uma maior predominância dos vectores

Anopheles Sensu Lato (93.05%) Anopheles Funestus39 e Anopheles Rufipes (Política

Nacional de Luta contra o Paludismo 2013-2017; 2013:9), tendo este último maior

expressividade em Sonaco (sector pertencente a região de Gabú).

A presença do Anopheles Sensu Lato é, sobretudo, mais notável na época das

chuvas, sendo que na época seca, verifica-se mais a predominância do vector Anopheles

Arabiensis. Este facto impõe, necessariamente, que a existência de vectores com

capacidades de infectar o Homem durante todo o ano seja considerada um factor

determinante na susceptibilidade da população face a malária.

A variabilidade de vectores é um assunto que tem vindo a ganhar relevância

cada vez mais, dado que, a avaliação e a compreensão desse processo e das

características dos vectores, poderá permitir uma maior eficácia no controlo e

eliminação da malária. Neste sentido, Alves (2010:3), defende que, “a avaliação da

variabilidade entre espécies e mesmo dentro duma mesma espécie é indispensável para

a compreensão dos ciclos de transmissão e, consequentemente, para a compreensão da

epidemiologia e controlo eficaz da malária”.

Neste sentido, tendo em conta as condições do vector à endemicidade do país

face a malária, pode-se concluir que toda a população é exposta ao paludismo isto

porque, o risco de contrair a doença é uma realidade ao longo de todo o ano.

Na verdade, a conjugação de diferentes factores, nomeadamente, o saneamento

básico, a capacidade vectorial a alternância do vector ao longo do ano e sobretudo as

condições climatéricas, têm sido factores indispensáveis para o aumento da

vulnerabilidade do país, funcionando deste logo como “motor” de incremento da

transmissão não só da malária, como também de outras doenças transmitidas por vector.

As condições climatéricas em particular detêm um papel de grande importância

na disseminação da malária, isto porque, uma pequena alteração da temperatura e

precipitação pode “determinar” o número de vectores numa determinada região,

podendo deste modo, desempenhar um papel fundamental no aumento da probabilidade

de transmissão da malária.

39 Este é considerado como um vector importante na transmissão da malária, é altamente adaptável,

característica que lhe permite ocupar e manter a sua ampla distribuição. Em certas regiões, esse vector é

fortemente associado ao cultivo de arroz

Page 51: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

40

Alves et. al (2001:2) determinaram zonas de risco de “contaminação” por

malária, tendo concluído que, “as alterações climáticas globais poderão ter um papel

muito importante na proliferação de doenças, nomeadamente a malária”. Isto é

particularmente importante, visto que os países mais afectados pela malária encontram-

se sobretudo na faixa entre os trópicos, com temperaturas “ideais” para o

desenvolvimento do vector, podendo uma pequena alteração da temperatura condicionar

a taxa de incidência da malária.

De facto, “a temperatura é um factor que pode contribuir tanto para o aumento,

como a diminuição das populações de mosquito, sobretudo em áreas susceptíveis de alto

risco de transmissão” (Lieshout et. al, 2004:98). De facto, se for favorável (não muito

elevado) ao desenvolvimento do vector poderá contribuir para o aumento dos mesmos,

caso contrário (muito elevada), contribuíra para a redução dos mesmos.

Neste contexto merecem destaque questões relacionadas não só com as

influências climatérico, como também outros factores, quando se aborda a questão da

vulnerabilidade dos países face às doenças fortemente dependentes dos mecanismos

climáticos, sobretudo da temperatura e precipitação como factores chave para a

proliferação do vector e o aumento da capacidade vectorial dos mesmos. Isto porque, a

análise dos impactos da doença, deve ser enquadrada numa perspectiva conjunta, para

uma resposta eficaz.

Page 52: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

41

II. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA, ANÁLISE

ESPACIAL E DETECÇÃO REMOTA APLICADOS A ESTUDOS

EPIDEMIOLÓGICOS

II. 1. Introdução

“Desde as primeiras civilizações até aos tempos modernos, a informação

espacial tem sido reunida por homens de diferentes saberes (navegadores, geógrafos,

planeadores, etc) para ser seguida traduzida de uma forma ilustrada (cartas) por

cartógrafos ou outros especialistas em mapeamento” Neto (1998:2).

A preocupação em compreender e ordenar o território tem sido demonstrada ao

longo dos tempos, facto que pressupõe desde logo a existência da informação

georreferenciada, isto é, fenómenos/objectos, que contêm coordenadas e atributos. A

obtenção da informação dos objectos é um processo profundamente dependente da

disponibilização da mesma, não só por parte das entidades competentes (técnicos e

decisores), como também do público em geral. Neste sentido, Encarnação (2004:5),

defende que, “a disponibilização da informação é hoje em dia um dos factores chave

para a tomada de decisões, especialmente quando as acções a serem tomadas se querem

em intervalos de tempo relativamente curtos”.

No entanto, importa referir desde logo que é frequente a incorrecta interpretação

do termo informação geográfica. Na verdade, este é um termo que designa todos os

objectos/fenómenos presentes na superfície terrestre, associados a uma posição exacta,

isto é, georreferenciados, segundo um sistema de coordenadas. Esta informação pode

ainda ser vista, num sentido lato, como um domínio com várias aplicações.

Assim sendo, conforme salienta Matos (2008:1), podem identificar-se “cinco

grandes domínios típicos de utilização de informação geográfica:

Informação cadastral e infra-estruturas: integrando repositórios

exaustivos de características geográficas e suportando operações de monitorização e

gestão intensivas, na medida em que o sistema será o objecto de procedimentos de

gestão continuados, com reduzida necessidade de análise especial (por exemplo:

cadastro predial; cadastro de uma rede de abastecimento de água);

Planeamento e gestão de recursos naturais: modelando características

geográficas num sistema que suporta operações de monitorização e gestão esporádicas

Page 53: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

42

mas que já requer operações de análise espacial e de suporte à decisão (por exemplo:

elaboração e gestão de um plano director municipal; estudo para a localização de

escolas; gestão de floresta);

Modelação espacial e temporal: em que a predominância é quase

exclusiva às operações de análise espacial e cálculo (por exemplo: delimitação de zonas

de habitat de uma espécie; propagação de um poluente em cursos de água);

Visualização de informação geográfica: onde a representação das

características geográficas é feita de forma a privilegiar as características de

comunicação, abrangendo não só os suportes analógicos, como também os diversos

processos de visualização de informação em suporte digital (por exemplo: produção de

cartografia impressa; apresentação de mapas e roteiros através da Web);

Navegação: onde os requisitos operacionais de utilização influenciam

decisivamente a forma de modelação; a navegação é entendida em sentido lato como

qualquer processo de utilização de informação geográfica para o apoio à movimentação

e pesquisa directamente no mundo real (por exemplo: sistemas de informação para a

navegação em navios ou em automóveis) ”.

A utilização da informação geográfica intensificou-se ainda mais, com o advento

de SIG e Detecção Remota. Assim, de acordo com Machado (2000:225), “torna-se

necessário que os processos utilizados sejam alimentados por ideias bem definidas,

articulando-se em sequências e estruturas de raciocínios correntes e claros”.

De facto, a capacidade em responder atempadamente as questões complexas de

uma sociedade cada vez mais heterogénea40 leva-nos a colocar questões pertinentes, tais

como: o que são SIG? Qual a finalidade destes sistemas?

II. 2. Sistemas de Informação Geográfica

Entende-se por SIG um conjunto de Hardware e Software utilizados no

tratamento da informação georreferenciada. São sistemas capazes de tratar informações

complexas ligadas a várias áreas do saber, permitindo assim responder rapidamente e

com elevada precisão aos problemas do dia-a-dia das sociedades. Os SIG abarcam

40 Neste contexto, a heterogeneidade pode ser entendida como a complexidade e as dinâmicas resultantes

do rápido crescimento demográfico, social e económico.

Page 54: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

43

algumas componentes que possibilitam a sua compreensão, nomeadamente: a

informação geográfica georreferenciada e o espaço geográfico.

Não obstante, é de salientar que a tecnologia é uma forte componente a ter em

consideração, dado que, “o suporte tecnológico relacionado com a informação

geográfica tem registado significativas alterações desde finais dos anos 50. Nestes

últimos anos tem-se registado a afirmação das tecnologias de Informação Geográfica”

(Julião; 2001:82). Na verdade, essa afirmação tecnológica tem possibilitado uma grande

expansão dos SIG às diversas áreas do conhecimento.

De acordo com Raper, J, 1991 apud Machado (2000:240), “os SIG são,

conjuntos integrados de Hardware e Software capazes de desempenhar funções

diversas, nomeadamente, a captura, organização, manipulação, análise, modelação e

apresentação de dados espacialmente referenciados e destinando-se a resolver

problemas complexos de planeamento e de gestão”.

Neste sentido, podem ser definidos como “sistemas computacionais, usados para

o entendimento dos factos e fenómenos que ocorrem no espaço geográfico. A sua

capacidade em reunir uma grande quantidade de dados convencionais de expressão

espacial, estruturando-os e integrando-os adequadamente, torna-os ferramentas

essenciais para a manipulação das informações geográficas” (Carvalho et. al 2000:14).

Por sua vez, Sena, M. 1986:2 apud Machado 2000:240, descreve-os como, “um

conjunto organizado de procedimentos para gerir dados geográficos e para analisar, de

modo a obter informações que sirvam de apoio a uma tomada de decisões, ou seja, a um

processo orientado para a acção”.

A afirmação destes sistemas é cada vez mais visível, tornando-os importantes

ferramentas para quase todas as circunstâncias do dia-a-dia, funcionando como

ferramentas imprescindíveis para o Ordenamento territorial e gestão dos recursos

naturais e económicos escassos, dado que, permitem analisar e avaliar grandes

quantidades de dados em qualquer circunstâncias e de diferentes origens e áreas do

saber.

Assim sendo, um SIG pode ser visto como, “um sistema que integra a aquisição,

o armazenamento, a análise (estatística e de modelos espaciais) e a apresentação em

gráficos e mapas de dados geográficos relativos a referências espaciais associadas aos

fenómenos que estão a ser avaliados” (Santana 2005:40). “Sendo que, a principal

Page 55: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

44

finalidade é a eficiente captação, armazenamento, análise e recuperação de dados

referentes às suas localizações geográficas” (Neto, 1998:7).

Segundo Cosme (2012:18), Pode-se definir um SIG como um “suporte e um

conjunto de procedimentos para a recolha, o armazenamento, a pesquisa, a análise, a

representação, a visualização e a disponibilização e publicação de dados geográficos.

Estes dados podem ser representados por pontos, linhas, polígonos ou volumes”.

Ao longo dos anos, estes sistemas têm-se posicionado cada vez mais como

instrumentos de grande importância nos processos não só de Ordenamento do

Território, como também da saúde pública em particular. Neste contexto, “a informação

geográfica surge, assim, como um elemento necessário e sem o qual era difícil ao

homem compreender, modificar ou ordenar o espaço” (Neto; 1998:2).

Não obstante, para conhecer melhor e ordenar a informação41 epidemiológica, é

imprescindível um tratamento adequado dos dados. Assim, a manipulação da

informação através dos SIG, recorrendo as ferramentas de AE, tem permitido uma

maior diversificação e dinâmica sobretudo, no que respeita ao tratamento dos dados de

saúde.

Como refere Chissingui (2012:64), “nota-se uma diversificação de trabalhos no

campo da saúde, pois outras áreas de aplicação continuam a surgir, como análise da

distribuição espacial dos serviços de saúde (equipamentos); planeamento e optimização

de recursos de saúde, estudo de acessibilidade (física, económica, social, étnica,

psicológica) e a utilização dos serviços de saúde”.

A diversificação das áreas de aplicação dos SIG no campo da saúde é uma

tendência que tem vindo a ser potencializada com a aplicação das ferramentas de AE

nos processos de tratamento e análise dos dados. Na verdade, esta aplicação resultou

indubitavelmente da incorporação de novas ferramentas que vieram permitir alargar o

campo de análise dos fenómenos, possibilitando a formulação de questões pertinentes,

tais como: quais são as potencialidades dos SIG como ferramentas para gestão de

dados? Qual é o alcance dos instrumentos de AE no domínio da saúde?

41 Sobre a importância da informação geográfica e o papel que os SIG têm vindo a desempenhar, ver

Julião (2001:84).

Neste sentido, Machado (2000:225), defende que, o “desenvolvimento e implementação dos sistemas de

informação geográfica exigem uma grande atenção e abertura às tendências de evolução do pensamento

contemporâneo e das tecnologias, exigem a participação de pessoas dispondo de formação

multidisciplinar, implicam experiência teórica e prática, exigem a necessidade de recorrer num contexto

de humildade recíproca, à contribuição de diversos especialistas”.

Page 56: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

45

Como foi anteriormente dito, os SIG, são instrumentos dotados de ferramentas,

capazes de solucionar questões complexas, em diferentes áreas do saber, sendo a saúde

uma das áreas que ultimamente tem desempenhado um papel importantíssimo na

utilização desses sistemas, com o objectivo de solucionar problemas e auxiliar a tomada

de decisão.

Neste sentido, os SIG podem ser vistos como um conjunto de instrumentos

capazes de um tratamento eficiente da informação geográfica, sendo que os seus

princípios fundamentais centram-se particularmente na aquisição, integração, análise e

visualização de dados georreferenciados42. Ora, isto é particularmente verdadeiro, dado

que, o estudo da dispersão dos objectos/fenómenos no espaço pressupõe desde cedo, a

existência da localização dos mesmos e as respectivas coordenadas43, de forma a

estabelecer as relações espaciais e topológicas44 entre os diferentes objectos.

Tais instrumentos têm sido utilizados cada vez mais no sector da saúde pública,

facto que se justifica não só com a necessidade de obter informação geográfica, mas

também, com a capacidade destes em tratar de forma rápida e precisa a informação do

domínio da saúde pública. São ferramentas fundamentais, dado que, permitem pôr em

evidência os problemas e factos epidemiológicos, de forma a puder desenvolver

projectos concretos e aumentar a equidade, sobretudo, no domínio da distribuição de

recursos financeiros destinados ao sector da saúde.

Assim sendo, estes instrumentos, podem ser vistos como ferramentas essenciais

à optimização das estratégias estabelecidas, surgindo como dinamizadores do sector da

saúde e um aliado imprescindível no desenvolvimento de novas abordagens de pesquisa

e investigação no domínio epidemiológico, permitindo simplificar muitos processos

relacionados sobretudo com a gestão dos dados e com a localização dos casos

epidemiológicos, respondendo assim às necessidades dos cidadãos em tempo

apropriado.

42 Por dados georreferenciados, entenda-se todos os objectos/fenómenos presentes no território, com

coordenada x e y. 43 De acordo com Neto (1998:105), um SIG obriga a utilização de um sistema de coordenadas comum

para o tratamento do mesmo conjunto de dados geográficos e, portanto, o sistema de coordenadas deve

ser escolhido tendo em conta esta característica. 44 Refere-se aos tipos de relacionamento que um objecto tem em relação aos outros, podendo ser de três

formas distintas (conectividade, adjacência e contingência).

Page 57: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

46

II. 3. A Análise Espacial como ferramenta de apoio à Decisão

Inicialmente desenvolvida na década de sessenta pela geografia quantitativa e

pela ciência regional utiliza, na actualidade, duas ferramentas que se complementam,

emprestando coesão e compreensão ao processo de AE: análise estatística espacial e

análise geográfica. Contudo, não basta dispor de informação georreferenciada, sendo

que também é importante possuir tecnologias e ferramentas capazes de a manipular e

retirar conclusões pertinentes.

Uma das principais capacidades dos SIG é permitir a elaboração de análises

espaciais. “Com efeito, a maioria dos SIG possui uma série de ferramentas que

possibilitam a realização de um vasto número de operações de AE”, (Cosme, 2012:208).

Este facto possibilitou uma melhor compreensão dos fenómenos, tantos sociais como

ambientais.

De facto, mais que as conclusões pertinentes que possam surgir a partir da

manipulação da informação georreferenciada, é fundamental o conhecimento do

conceito de AE, que pode ser entendida como, a aplicação de metodologias e

ferramentas que permitam uma melhor compreensão e simplificação da realidade

geográfica. Essa particularidade é reforçada por Carvalho et. al (2000:48), defendendo a

utilização dos SIG como “potencializadores da utilização dos mapas, não somente como

meios de comunicação mas também como importantes instrumentos de análise

espacial”.

Giavoni et.al (2003:303) defendem a AE como sendo uma “técnica que permite

integrar as dimensões que constituem o objecto de estudo, formando uma estrutura

unitária; avaliar o objecto de estudo a partir de novas variáveis – as variáveis espaciais e

avaliar uma estrutura hierárquica”.

Por sua vez Câmara et.al (2002) apud Cruz et.al (2005:3), defende que, “o

processo de análise espacial compreende um conjunto de procedimentos encadeados

cuja finalidade é a escolha de um modelo inferencial que considere explicitamente o

relacionamento espacial presente no fenómeno”.

No entanto, deve notar-se que, a obtenção de um modelo inferencial é

indubitavelmente o resultado da aplicação de um conjunto de diferentes técnicas, que

após a manipulação dos dados, permitem a obtenção de resultados plausíveis para o

Page 58: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

47

objectivo pretendido. No quadro abaixo, encontram-se estruturadas algumas das

técnicas de AE com aplicações em saúde (Quadro 1).

Quadro 1. Técnica de Análise Espacial em Sistemas de Informação Geográfica com aplicações em Saúde

e Ambiente

Fonte: Carvalho et. al (2000:20), adaptado de Briggs & Elliot (1995).

Técnica Descrição Exemplo de aplicação

Pontos num polígono

Identifica a intersecção entre

pontos e a área (polígono) em

que elas estão

Para identificar todos os casos

dentro de uma zona de

exposição especificada

Linhas num polígono

Identifica a intersecção entre

linhas e a área (polígono) que

elas cruzam

Para identificar fontes lineares

(ex. estradas) que cruzam uma

área especificada

Área de influência (Buffer)

Construção de zonas de largura

especificada ao redor de

pontos, linhas ou áreas

Para definir áreas de exposição

em torno de fontes de risco (ex.

usinas nucleares)

Interpolação

Estimação de condições em

locais não amostrados

Mapeamento de superfícies de

poluição

Estimação de proximidade

Análise de condições em

determinado ponto, baseada em

condições de vizinhança

especificada

Estimativa de níveis de

poluição baseada no uso do

solo da região em torno

Alisamento (Smoothing)

Construção de uma superfície

alisada (generalizada)

Mapeamento de superfícies

generalizadas de exposição

Sobreposição (Overlay)

Combinação de um mapa com

outro por sobreposição

Combinação entre mapas de

densidade de poluição e

população para identificar

populações expostas

Page 59: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

48

Partindo da descrição e exemplos de aplicação ilustrados na tabela, a AE pode

ser definida, como um conjunto de técnicas que interrelacionam diferentes

metodologias, podendo a partir da conjugação destas, extrair conhecimentos úteis não

só para a compreensão dos fenómenos dispersos no espaço, como também para uma

correcta decisão.

Segundo Matos (2008:113), “as funções de análise espacial podem dividir-se em

cinco grupos:

1- Funções de sobreposição: união, intersecção, identidade, actualização, corte;

2- Funções de proximidade: buffer (ou envolvente), diagrama de Voronoi, ponto

mais próximo;

3- Funções sobre redes: rede acessível, polígono acessível, caminho mais curto,

circuitos;

4- Funções de extracção e fusão: extracção por atributos, extracção por temas de

polígonos, fusão por atributos;

5- Funções estatísticas: sumários estatísticos”.

Partindo da proposta apresentada por Matos (2008), é de referir que a AE

corresponde a complementaridade de três aspectos fundamentais: espaço, componente

que leva em consideração o padrão de localização dos fenómenos em estudo, processos

temporais e interacção espaço temporal, e a previsão espacial, que se preocupa

fundamentalmente com a previsão de futuros arranjos espaciais.

II. 5. Detecção Remota

A utilização de imagens de satélite nos processos de classificação e ocupação

dos solos tem possibilitado novas formas de observar a realidade e perceber a

complexidade subjacente aos fenómenos presentes na superfície terrestre. Este é um

facto que tem-se acentuado cada vez mais, sobretudo, com as rápidas alterações nas

sociedades modernas, surgindo, neste sentido, a necessidade de gerir da melhor forma

os recursos e as infra-estruturas, presentes no espaço terrestre.

Consideradas como ferramentas de referência para a tomada de decisão nos

processos de Ordenamento do Território, e numa sociedade cada vez mais complexa e

Page 60: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

49

heterogénea, a DR surge como a ferramenta capaz de responder de forma rápida, com

baixo custo e grande precisão, as perguntas do dia-a-dia, contribuindo deste modo, para

a decisão.

De um modo geral, a DR pode ser definida como um conjunto de técnicas e

conhecimentos utilizados para estudar e extrair as características físicas dos fenómenos

presentes na superfície terrestre, a partir de uma imagem de satélite, sem no entanto,

estar em contacto directo com os mesmos (Figura 7).

Figura 8. Princípios fundamentais de Detecção Remota

Fonte: Rashed e Jurgens (2010:48)

Seguindo essa linha de raciocínio, Lillesand e Kiefer (2008:1), defendem o

princípio de que, “a Detecção Remota é a ciência e a arte de obter informação sobre um

objecto, área, ou fenómeno através de um dispositivo que não está em contacto com o

objecto, área ou fenómeno em estudo”.

Page 61: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

50

Segundo Carvalho (2000:77), “a Detecção Remota é a técnica capaz de

transformar os dados de radiância de uma cena de informações sobre os objectos ou

elementos que a constituem”.

Assim sendo, defende-se o princípio de que, “a energia que é recebida na

superfície terrestre e posteriormente reflectida pelos fenómenos, pode ser medida

usando um sensor montado num avião ou numa plataforma espacial (satélite). Esta

medição é posteriormente usada para a construção de uma imagem”, (Richards e Jia,

2006:2).

Face as definições anteriores, pode-se afirmar que, o objectivo central desta

ciência baseia-se fundamentalmente, na transformação dos valores de reflectância dos

objectos a superfície terrestre, sendo a radiação electromagnética, um factor com uma

função fundamental, dado que consiste no suporte de toda a informação, descrevendo as

características físicas dos objectos presentes na superfície terrestre.

As afirmações atrás descritas, colocam de forma clara os aspectos que estão na

base da DR, consistindo na medição em diferentes comprimentos de onda, da energia

emitida pelo Sol e recebida pela superfície terrestre, sendo a mesma posteriormente

reflectida e registada num sensor junto a uma plataforma, podendo ser um avião ou um

sensor acoplado num dado satélite.

A grande importância de DR reside fundamentalmente na capacidade de

aplicação de diferentes abordagens, que, correctamente conjugadas permitem a

extracção da informação que se pretende retirar da imagem. Assim, entendemos que,

para se compreender melhor os diferentes tipos de classificação45 subjacentes ao

processamento digital das imagens, torna-se fundamental o conhecimento dos diferentes

tipos de abordagem frequentemente utilizados no domínio da DR.

II.5.1. Abordagens Orientada ao Objecto e abordagem píxel a píxel

A abordagem orientada ao objecto é uma técnica bastante utilizada em

processamento digital de imagem. Na verdade, é uma metodologia em que a imagem é

fragmentada em objectos, com base em critérios de homogeneidade, servindo estes

objectos como a unidade mínima de análise.

45 A classificação de uma imagem baseia-se na diferente reflectividade das superfícies consoante a sua

composição, temperatura e humidade, entre outros factores (Matos; 2008:226).

Page 62: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

51

Esta abordagem tem como principal característica “a extracção da imagem a

dimensão do objecto e da semântica. Nesta lógica, o elemento construtor da imagem é o

objecto, entendido como unidade mínima de análise, sendo o píxel apenas utilizado para

a construção desse mesmo objecto” (Encarnação; 2004:21).

Geralmente, os processos de classificação orientada a objecto, envolvem duas

etapas fundamentais:

1) Segmentação da imagem a classificar,

2) Classificação dos segmentos de treino.

A segmentação de imagem, como foi anteriormente referido, é uma técnica que

consiste em fragmentar a imagem, em segmentos de treino, de acordo com a

homogeneidade entre os objectos, e a classificação da mesma, com base na similaridade

espectral.

Por sua vez, a abordagem píxel a píxel corresponde, a uma abordagem entendida

como, a que agrupa diferentes objectos presentes no espaço, com base nas suas

características espectrais fornecidos por um conjunto de pixéis, ou seja, nesta

abordagem, a unidade mínima de análise corresponde ao píxel. Assim, procura-se

incorporar cada píxel da imagem numa classe, com base nos valores de reflectância e

princípios probabilísticos.

A abordagem píxel a píxel “utiliza somente a informação espectral de cada píxel

para encontrar regiões homogéneas, a partir de medidas de distâncias ou de

probabilidades de um píxel pertencer a uma classe específica” (Meneses, 2012:191).

Segundo Crisógono (2011:29), “a técnica de classificação píxel a píxel, representa o

conjunto daquelas que utilizam como base para a classificação o reconhecimento

espectral de padrões”.

Para a extracção de classes espectrais a partir das duas abordagens, é frequente

utilizar duas classificações distintas (supervisionada e não supervisionada), para a

classificação do uso e ocupação do solo.

Na verdade, a classificação supervisionada, é uma “metodologia”

frequentemente adoptada pela abordagem orientada ao objecto e píxel a píxel. Com esta

metodologia, o operador detém uma grande importância, sobretudo, na introdução dos

parâmetros adequados á extracção de elementos presentes na imagem. Crisógono

(2011:30) resumiu o processo de classificação supervisionada em três passos principais:

Page 63: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

52

“1) Selecção de parcelas de treino; 2) Classificação de imagem e 3) Avaliação de

resultados”.

Não obstante, é de referir que no que concerne a classificação de imagem, uma

das fases mais complexas, reside na selecção de parcelas de treino, que por sua vez, tem

uma influência directa nos resultados da classificação. À classificação supervisionada,

juntam-se igualmente, alguns algoritmos de classificação, de grande importância,

nomeadamente, a máxima Verosimilhança, Paralelepípedo, Mínima Distância,

Distância de Mahalanobis, Isoseg e Bhattacharyya, que voltaremos a abordar em

momento oportuno.

No que se refere aos classificadores não-supervisionados, de salientar que, estes

detêm a particularidade de serem classificadores que requerem pouca ou nenhuma

intervenção do operador na classificação da imagem.

Na verdade, a importância da utilização destes classificadores, resulta

fundamentalmente da necessidade em conhecer de forma rápida, as classes de ocupação

do solo presentes no espaço, com o objectivo de definir previamente, quais as classes a

extrair durante a fase do processamento das imagens.

Meneses (2012:195) apresenta duas situações em que o analista recorre aos

classificadores não-supervisionados, “1) Quando não se tem suficientes conhecimentos

acerca da natureza das classes de alvos que possam estar presentes numa área; 2)

Quando desejamos fazer uma classificação exploratória da imagem, para rapidamente e

sem grande esforço, saber as possíveis classes de alvos que podem ter na imagem”.

Apesar do estudo se centrar numa abordagem orientada ao objecto, importa

referir que, com o desenvolvimento tecnológico, é agora possível integrar os dois

métodos. Encarnação (2004:16), refere que, “o desenvolvimento das técnicas de

segmentação da imagem, permitiu a passagem do píxel para o objecto (embora não

ainda na imagem completa) como unidade mínima de análise, dando início a novas

abordagens de análise de imagem. Estas novas abordagens só foram possíveis com os

avanços em algoritmia, investigação em cognição espacial e tecnologia computacional,

às quais não são alheias a semiótica e o construtivismo”.

Page 64: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

53

II. 6. A Importância dos Sistemas de Informação Geográfica e

Detecção Remota no domínio da Saúde Pública

A saúde é sem dúvida uma das dimensões mais importante na avaliação do bem-

estar da população em qualquer sociedade. Daqui, decorre desde logo, a importância de

conhecer e responder da melhor forma às questões complexas que vão surgindo não só

no domínio da saúde pública como também em todas as etapas do planeamento

territorial46.

É, sobretudo, nesta lógica que Carvalho (2000:18) defende a ideia de que,

“conhecer as condições de vida e saúde dos diversos grupos populacionais é uma etapa

indispensável do processo de planeamento da oferta de serviços e da avaliação do

impacto das acções de saúde”.

Ora, isto é particularmente importante, dado que os SIG permitem uma

compreensão não só dos aspectos gerais ligados ao planeamento e aos fenómenos

dispersos pelo espaço, como também dos fenómenos relacionados com a saúde,

podendo sem dúvida, dar um enorme contributo a esta área.

Muitos foram os estudos no ramo da saúde pública que demonstraram a

importância da informação geográfica, a AE os SIG e DR. Um dos estudos clássicos,

onde se procurou a partir da representação cartográfica e AE responder aos casos de

doenças, remete-nos para o trabalho realizado por John Snow em 1854 (um físico com

grande interesse em Medicina e Epidemiologia), que efectuou um estudo sobre os casos

de cólera em Londres.

No fundo, a investigação levada ao cabo por Snow, consistia essencialmente em

cartografar os casos de cólera, vítimas registados e os respectivos poços de

abastecimento de água. A pertinência deste estudo centrava-se sobretudo, no uso da

cartografia e arranjos espaciais, com especial atenção para o padrão de localização dos

casos de doenças, permitindo desta forma prever futuros acontecimentos que

eventualmente possam surgir e solucionar questões que de outra forma, seriam de difícil

resolução.

46 A importância dos SIG na Saúde pública encontra-se bem expressa nas palavras de Paula Santana, que

defende que, “os SIG revelam-se como instrumentos privilegiados não só nos estudos da epidemiologia

ambiental mas, também, como suporte a decisão no planeamento dos serviços de saúde ou no

planeamento das respostas dos profissionais de saúde perante uma situação de emergência ou de desastre”

Santana (2005:42)

Page 65: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

54

O estudo revelou-se bastante importante não só para a Geografia, como também

para a Saúde pública em geral dado que, possibilitou uma melhor compreensão do

fenómeno (Cólera), através do relacionamento dos casos registados com o ambiente

circundante (proximidade dos poços de água), determinando deste modo, os locais da

causa da morte, a partir da variável espacial, (Figura 8).

Figura 9. Casos de cólera identificados por pontos e poços de água por cruzes num bairro de Londres

1854

Fonte: Gomes 2010:36

Integrado na área de Saúde pública, são muitas as aplicações dos SIG e das

metodologias de AE, como ferramenta fundamental para responder as diversas

necessidades no domínio da saúde pública, como também em diversas outras áreas do

saber, isto porque, “os campos de aplicação dos SIG são variados e abrangem um

grande conjunto de questões, interligando problemas sociais e físicos, tendo sempre em

conta o espaço e o tempo” (Santana 2005:41).

Alguns autores e técnicos dos SIG ligados a saúde, têm desenvolvido estudos

neste âmbito. Na verdade, “os SIG revelam-se como instrumentos privilegiados não só

nos estudos da epidemiologia ambiental mas, também, como suporte a decisão no

planeamento dos serviços de saúde ou no planeamento das respostas dos profissionais

de saúde perante uma situação de emergência ou de desastre” (Santana;2005:42).

Page 66: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

55

Apesar das inúmeras potencialidades dos SIG, é de ressaltar que, a saúde é uma

área que muito recentemente tem incorporado os SIG como ferramenta de relevo na

resolução dos problemas nesse domínio, e tem revelado grandes resultados, sobretudo

no que concerne a resolução de problemas complexos.

Zhang et al (2008), utilizaram os SIG e as ferramentas de AE baseando

sobretudo no alisamento da superfície (Smoothing) e análise cluster, obtiveram-se

resultados que indicaram uma distribuição de áreas de risco de incidência da malária na

província de Anhui tendo sido confirmado a incidência dos casos de paludismo em

certos municípios em estudo. A opção por técnicas de alisamento e análise cluster,

serviu essencialmente para a caracterização do padrão espacial dos casos das doenças

infecciosas47.

De facto, a observação/visualização de um padrão de distribuição espacial das

doenças infecciosas, permite uma resolução eficaz dos problemas complexos que

incorporam a localização geográfica dos casos epidemiológicos. Contudo, é necessário

levar em linha de consideração, que as potencialidades dos SIG, não se resumem apenas

a precisão e a localização dos casos de doenças numa determinada região.

Neste sentido, Nossa (2005:163), defende que, “as mais-valias das aplicações

SIG na área da saúde, concretamente na investigação epidemiológico-geográfico, não

derivam unicamente da precisão de localização que estes sistemas potenciam

relativamente aos eventos de morbilidade e mortalidade mas, fundamentalmente, porque

permitem integrar e converter a mera descrição das características económicas e

sociodemográficas das populações em risco em ferramentas explicativas onde o espaço

e as dinâmicas subjacentes social e politicamente produzidas, emergem como

determinantes inteligíveis ao nível da modelação dos processos de saúde das

populações”.

A utilização dos SIG e DR em estudos epidemiológicos, é indubitavelmente uma

mais-valia, podendo contribuir de forma decisiva na implementação de novas

estratégias, contribuindo para a determinação das áreas de risco da malária, permitindo,

desde logo determinar os focos da doença e delimitar as regiões mais afectadas. De uma

forma geral, mais que um contributo na determinação de novas estratégias, os SIG,

47 Ver neste sentido Zhang et. al, (2008:3), onde a importância dos sistemas de informação geográfica é

fortemente demonstrada, como factor imprescindível no estudo das doenças infecciosas.

Page 67: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

56

permitem definir estratégias de intervenção mais adequadas e precisas num curto espaço

de tempo.

A conjugar todos os benefícios atrás mencionados, é também de sublinhar que o

uso das imagens de satélite para a determinação das áreas de risco de contaminação das

doenças potencialmente transmitidas por vectores, nomeadamente, a malária, o dengue

etc, é uma mais-valia, devido sobretudo a rapidez com que a informação possa ser

processada, analisada em diferentes software e convertidas em diversos formatos,

acessíveis a diferentes Software sendo em muitos casos de fácil acesso aos utilizadores e

ao público em geral, possibilitando assim a interoperabilidade dos dados.

Page 68: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

57

III. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E DADOS

UTILIZADOS

III. 1. Introdução

Apesar do grande desenvolvimento tecnológico e da grande aplicabilidade dos

SIG no domínio da Saúde pública, a temática relacionada com a informação espacial da

distribuição dos casos de malária ou dos factores da disseminação da mesma, é ainda

pouco abordada na Guiné-Bissau. Não obstante, a introdução dos aspectos espaciais,

afigura-se como uma temática imprescindível não só para a compreensão da

disseminação da doença, como também para o auxílio na tomada de decisão e alocação

dos fundos destinados ao combate epidemiológico.

Partindo dessa ideia e de todas as vantagens apresentadas anteriormente, torna-se

indubitavelmente necessária a introdução dos SIG em estudos epidemiológicas, dado

que, constituem ferramentas com capacidades para efectuar grandes análises e prever

acontecimentos, utilizando em muitos casos, grandes extensões de informações.

Posto isto, o presente trabalho propõe uma abordagem, que consiste em analisar

o comportamento espacial da malária na Guiné-Bissau, sendo que os SIG afiguram-se

como ferramentas de grande importância para responder às necessidades do país. Não

obstante, é de sublinhar que, foram utilizados dados e variáveis de diferentes fontes,

tendo sido submetidos a tratamento em diferentes fases do estudo.

III.1.1. Área de Estudo e Dados Utilizados

A escolha da área de estudo foi uma tarefa que resultou do interesse em

compreender a disseminação da malária, testando o alcance dos SIG no que concerne ao

cruzamento de informação, produção da cartografia do uso e ocupação do solo e o

relacionamento da mesma com os dados do paludismo.

De facto, o alcance dos SIG e da DR vai muito além da Geografia convencional.

“O uso da Teledetecção como técnica de observação e dos SIG´s como técnica de

análise e visualização são, claramente, parte integrante da Geografia actual e dos seus

métodos” (Casimiro; 2002:58).

Page 69: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

58

No presente estudo, foram analisados diferentes dados, provenientes de

diferentes fontes, nomeadamente dados epidemiológicos, climatológicos, entre outros.

Assim, utilizou-se uma imagem Landsat 8, lançado em 11 de Fevereiro de 2013, este

satélite orbita a 705 km de altitude, completa cada orbita em 99 minutos e “revisita” o

mesmo ponto da superfície terrestre em cada 16 dias.

Não obstante, embora a crescente disponibilização das imagens de satélite,

viesse permitir a redução da necessidade de deslocação ao terreno (área de estudo), por

sua vez, este facto fomentou a necessidade de um aumento do rigor e exactidão

temática, relativamente à extracção das classes de ocupação do solo, facto que em certas

situações, esta fortemente dependente da resolução do sensor.

Geralmente, quando se trabalha com imagens de satélite, a resolução do sensor,

desempenha um papel fundamental ao objectivo do estudo, na verdade, “é basicamente,

a sua capacidade de discriminação, dentro do espectro (tanto a nível das bandas como

da capacidade de discriminação), em termos espaciais e temporais” (Casimiro;

2002:69).

Relativamente a resolução do satélite Landsat, importa referir que este utiliza

dois sensores (OLI e TIRS)48, disponibiliza imagens em 11 bandas espectrais (Quadro

2), apresentando uma resolução espacial de 30 metros (multiespectral) e 15 metros

(pancromático). Também de destacar que, disponibiliza informação com uma resolução

espacial de 100 metros (bandas 10 e 11 do sensor TIRS respectivamente), sendo que esta

é geralmente aplicada aos estudos da temperatura das correntes de água, incêndios

florestais entre outros.

Assim sendo, no presente estudo, com base nos objectivos pré-estabelecidos,

utilizou-se o sensor OLI (Operational Land Imager), tendo sido seleccionadas apenas as

bandas do visível, infravermelho e infravermelho de ondas curtas (coastal/aerosol, blue,

green, red, near IR e SWIR 1), isto porque, estas permitem identificar/discriminar

melhor as classes a extrair.

48 OLI do inglês Operational Land Imager, faz a aquisição dos dados em 9 bandas, 8 bandas com 30 m de

resolução e 1 banda pancromática com resolução de 15 m. Por sua vez, TIRS ou Thermal Infrared

Sensor, faz aquisição dos dados em 2 bandas com uma resolução de 100 m.

Page 70: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

59

Quadro 2. Bandas espectrais do sensor Landsat 8

Spectral bands Wavelenght

(micrometers)

Resolution

(meters)

Use

Band 1

coastal/aerossol

0.43-0.45 30 Increased coastal zone observations

Band 2 blue 0.45-0.51 30 Bathymetric Mapping; distinguishes soil from

vegetation; deciduous from coniferous vegetation

Band 3 green 0.53-0.59 30 Emphasizes peak vegetation, which is useful for

assessing plant vigor

Band 4 red 0.64-0.67 30 Emphasizes vegetation slopes

Band 5 near IR 0.85-0.88 30 Emphasizes vegetation boundary between land and

water, and landforms

Band 6 SWIR 1 1.57-1.65 30 Used in detecting plant drought stress and

delineating burnt areas and fire-affected

vegetation, and is also sensitive to the thermal

radiation emitted by intense fires; can be used to

detect active fires, especially during nighttime when

the background interference from SWIR in reflected

sunlight is absent

Band 7 SWIR –

1

2.11-2.29 30 Used in detecting drought stress, burnt and fire-

affected areas, and can be used to detect active

fires especially nighttime

Band 8

panchromatic

0.50-0.68 15 Useful in “Sharpening” multiespectral images

Band 9 cirrus 1.36-1.38 30 Useful in detecting cirrus clouds.

Band 10 TIRS 1 10.60-11.19 100 Useful for Mapping thermal differences in water

currents, monitoring fires and other night studies,

and estimating soil moisture

Band 11 TIRS 2 11.50-12.51 100 Same as band 10

Fonte: Earthexplorer, United State Geological Survey (USGS)

Page 71: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

60

Relativamente a obtenção das imagens, estas foram adquiridas através do portal

Earthexplorer da USGS, onde se seleccionaram as imagens correspondentes aos Path e

Row, referentes ao mês de Janeiro de 2014 (Quadro 3).

Quadro 3. Coordenadas das imagens seleccionadas

Path Row Data de Aquisição

203 051 23-Janeiro-2014

203 052 23-Janeiro-2014

204 051 14-Janeiro-2014

204 052 14-Janeiro-2014

205 051 21-Janeiro-2014

205 052 21-Janeiro-2014

Fonte: Earthexplorer. USGS

A opção pela imagem de Janeiro de 2014, período pós-precipitação, resultou de

diversos factores, nomeadamente, a dificuldade em obter imagens espectralmente

coincidentes; a problemática relacionada com a hora e as condições de iluminação, o

que obrigou a utilização de imagens de outras datas (período pós-precipitação). Tais

aspectos foram levados em consideração no momento da selecção das imagens, onde se

procurou obter imagens com a mais ínfima diferença das condições atmosféricas, de

forma a contornar as distorções que possam decorrer desses fenómenos (nomeadamente,

os defeitos causados na resposta espectral dos mesmos) (Figura 10).

Page 72: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

61

Figura 10. Influência das condições de iluminação (composição falsa cor)

Extracto a) sem efeito da iluminação

Extracto b) com efeito da iluminação

Relativamente às variáveis demográficas optou-se, por utilizar os dados da

malária nomeadamente os de 2004 à 201349, onde se procurou incluir as variáveis

relacionadas com o número de casos inferior e superior a 5 anos, número de óbitos

registados e as respectivas médias, total de MILDAs distribuídos, GE efectuado, Testes

de Diagnóstico Rápido, Consultas Pré-natal, TPI, Exames realizados. No entanto, para

efeitos de determinação das regiões de risco, apenas foram considerados os dados dos

dois anos propostos para esse estudo (2012-2013).

Relativamente aos dados ambientais, utilizou-se os dados da precipitação

(médias anuais) em cada região. Contudo, é de sublinhar que foram utilizados dados da

precipitação referente aos períodos de 2004 à 2012. No que respeita a temperatura,

apesar de dispor dos registos para três estações meteorológicas (Bolama, Bissau e

Bafatá), dos períodos de 1994-2004 e 2000-2011, a inexistência de estações

meteorológicas para a recolha de dados da temperatura nas restantes regiões e a

reduzida variabilidade dos registos, conduziu a não utilização dessa variável, visto não

contribuírem para a explicação da malária, voltaremos a esse assunto no momento

oportuno.

49 Devido a inconsistência e a ausência de dados em certas regiões no ano 2005, optou-se por não

considerar as informações referentes a esse período, de forma a evitar problemas relacionados com a

limitação da informação.

Page 73: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

62

III.2. Estatística das Bandas utilizadas e o cálculo NDVI

A análise e a compreensão das respostas espectrais dos fenómenos, não obstante

das características de cada banda espectral, é indubitavelmente uma das tarefas de

grande importância em DR.

De acordo com Casimiro (2002:203) apud Chuvieco (1996:243), “ qualquer

operação aplicada a uma imagem pressupõe a compreensão do seu carácter digital

intrínseco, como qualquer variável estatística, a operação mais elementar é descrever a

sua tendência central e de dispersão”.

Seguindo essa linha de raciocínio, no presente estudo, aplicou-se uma mascara

(clip) a imagem original, de forma a possibilitar uma análise estatística das bandas,

apenas e exclusivamente sobre a área de estudo (Quadro 4), com o intuito de obter um

“espelho” das propriedades espectrais das bandas utilizadas para o efeito de

classificação da imagem.

Quadro 4. Estatística das bandas utilizadas

Bandas Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão

1 0 35500 5178 5290

2 0 36449 4730 4853

3 0 36879 4347 4472

4 0 38521 4132 4286

5 0 53648 6656 7001

6 0 38906 5924 6223

Numa análise pormenorizada, verificou-se que as bandas com valores mais

elevados correspondem naturalmente às bandas mais saturadas, o que, no caso

específico da imagem em análise, são as bandas 5 (infravermelho 0.85-0.88 μm) e a

banda 6 (infravermelho de ondas curta 1.57-1.65 μm), sendo também, as bandas com

maior capacidade de descriminação dos níveis digitais, isto é, as bandas com maior

contraste, o que permite uma maior descriminação dos objectos presentes na superfície

terrestre.

Page 74: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

63

Posteriormente à análise das bandas, procedeu-se ao cálculo do índice de

Vegetação por diferença normalizada50, cujos valores variaram entre -0.091174 e

0.408321. Este indicador traduz a subtracção e a soma, ou seja, é na verdade, um rácio

entre as bandas do infravermelho (0.85-0.88 μm) e o vermelho (0.64-0.67 μm), variando

entre -1 e 1.

Este índice foi calculado, de forma a obter um “padrão” de dispersão da

vegetação na imagem em estudo. Contudo, é de destacar que a vegetação apresenta uma

distribuição quase homogénea ao longo de toda a imagem (Figura 10), facto que se

explica com a inexistência de diferenças de altitudes, salvo algumas excepções. Na

verdade, “a Guiné-Bissau é caracterizada pela ausência de elevações que excedam os 50

metros, excepto na região de Gabú onde as colinas chegam a atingir os 300 metros, e

constituindo os primeiros contrafortes das cadeias montanhosas de Futa Djalon”.

Figura 11. Resultado do cálculo do NDVI

O índice de vegetação, de acordo com Rouse et. al (1974) apud Gomes

(2011:37), obtém-se de acordo com a seguinte fórmula:

“NDVI= (PIVP – PV) / (PIVP + PV) (eq. 1)

Em que: PIVP- Reflectância no infravermelho; PV- Reflectância no vermelho”.

50 Do Inglês NDVI (Normalized difference vegetation Index)

Page 75: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

64

III. 3. Metodologia e Nomenclatura

Recorde-se que a temática abordada e conforme referido no capítulo introdutório

do presente estudo, centrou-se na aplicação dos SIG aos estudos epidemiológicos.

Assim, a metodologia utilizada, baseou-se na aplicação destes sistemas, com recurso às

técnicas de geoestatística para a identificação de áreas susceptíveis de registar malária

na Guiné-Bissau.

Partindo da afirmação atrás mencionada, adoptou-se uma metodologia que

consistiu na extracção de 3 classes de interesse a partir da imagem Landsat8,

constituindo o 1º nível da informação. Assim, extraiu-se: água; vegetação; outras

classes.

Posteriormente a determinação das classes do 1º nível, estes foram

“fragmentados” em níveis mais específico (2º nível). Deste modo, a classe Água, foi

dividida em 4 classes do 2º nível (água profunda; água de bordo; água com coberto

vegetal e outro tipo de água). Por sua vez, a vegetação, tal como a classe água, passou a

contar com 4 subclasses (floresta; formações arbustivas; áreas agrícolas e mangal),

sendo que a última classe do 1º nível (outras classes) mantém-se inalterada,

representando, todas as outras classes que não se pretende classificar.

De um modo geral, as duas primeiras classes do 1º nível (Água e Vegetação),

passam assim, de um significado geral para um significado específico, a que se pode

designar por significado semântico (Figura 12).

Page 76: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

65

Figura 12. Divisões das Classes e Nomenclatura adoptada

III.3.1. Software Utilizados

Tal como anteriormente referido, pretendeu-se com o presente estudo, aplicar os

SIG para a identificação de áreas vulneráveis ao registo de casos de malária na Guiné.

No entanto, é importante ter presente que, face aos desafios actuais e a situação

socioeconómica que o país atravessa, é fundamental a adaptação dos software às

possibilidades económicas do país.

Partindo deste pressuposto, recorreu-se ao uso dos Open Source, nomeadamente,

Quantum GIS 2.0.1. Este software resulta de um projecto que nasceu em Maio de 2002

por iniciativa de Gary Sherman. Actualmente e ao contrário do modelo inicial existem

aplicações relativamente fáceis de utilizar, com a vantagem de funcionarem em

ÁGUA

VEGETAÇÃO

OUTRAS CLASSES

Água Profunda

Água de Bordo

Água com Coberto Vegetal

Outro tipo de água

Floresta

Formações Arbustivas

Áreas Agrícolas

Mangal

1º Nível 2º Nível

Page 77: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

66

diferentes sistemas operativos51, suportando dados vectoriais e raster, como também,

uma grande parte dos formatos sustentados pela biblioteca OGR e GDAL52.

Outro software utilizado foi o Spring 5.2.2, este é um software livre (freeware)

de fabrico brasileiro53. A opção pelo mesmo resultou principalmente do processamento

digital de imagem, onde foi necessário recorrer às funcionalidades do mesmo. Contudo,

é de referir que é um software de “código fechado”, permitindo apenas a cópia e a

redistribuição livre, não admitindo a alteração do sistema e a venda do mesmo.

Apesar de existirem várias versões do programa, neste estudo, optou-se pela

versão 5.2.2, que embora em termos práticos não apresente grandes alterações

relativamente a versão anterior, cumpre na totalidade os objectivos pretendidos,

relativamente ao processamento digital de imagem.

Assim, tendo em conta as vantagens relacionadas com as liberdades destes

software, concluiu-se, que existem pelo menos três razões no presente estudo que

determinaram a nossa opção pelos sistemas Open Source, nomeadamente:

i. A fraca capacidade financeira do país em adquirir Software comercias;

ii. A partilha de conhecimentos entre os utilizadores e a comunidade e a

iii. Rápida actualização das extensões, sem depender dos fabricantes.

Com base nas vantagens atrás referidas, chegou-se a conclusão de que os

Software livres, afiguram-se como uma opção capaz de cumprir todos os objectivos pré-

estabelecidos para o presente estudo, sem esquecer de mencionar, o fácil acesso aos

mesmos.

III. 3.2. Classificação da Imagem

Actualmente, assiste-se a uma crescente utilização das imagens de satélite para a

extracção de informação úteis à tomada de decisão. Assim sendo, neste ponto,

procurou-se sintetizar de forma breve, a classificação das imagens enquadrando-a no

âmbito da tomada de decisão.

Tal como o realce e a transformação da imagem, a classificação é uma das

categorias mais importantes no que concerne a extracção da informação. Contudo, este é

51 Unix, Linux, Windows e OSX 52 Geospatial Data Abstraction Library (http://www.gdal.org/formats_list.html) 53 Desenvolvido pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)

Page 78: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

67

um processo que passa por diferentes fases ou operações aritméticas e análise de

imagem (segmentação, extracção de atributos e classificação dos fenómenos presentes

na imagem) (Figura 13).

Figura 13. Fluxograma dos procedimentos

Na verdade, é um processo de agrupamento dos fenómenos de acordo com as

suas semelhanças e os seus comportamentos espectrais. Essa realidade impõe,

necessariamente que seja um processo baseado nas diferenças da “reflectividade das

superfícies consoante a sua composição, temperatura e humidade, entre outros factores”

(Matos; 2008:226).

Lillesand et.al (2000:245), salientam que “o objectivo final de um procedimento

de classificação de imagem é categorizar automaticamente todos os pixéis de uma

imagem à classe temática da ocupação do solo”, de acordo com as propriedades que

cada uma delas apresenta.

Integração dos dados da malária

com a carta de ocupação do solo

Análise de resultados

Aplicação do algoritmo de Bhattacharya

e Análise de Concordância

Classificação Orientada ao objecto

(Imagem Landsat 8) - Mosaico

Função da sobreposição. Corte dos

limites administrativos da área em

estudo (clip raster by mask layer)

Segmentação da imagem por

regiões

Não Sim

Classificação do segmento Aplicação do algoritmo K-Means

Classificação não-supervisionada

Cálculo do NDVI

Page 79: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

68

Existem diferentes tipos de classificadores e algoritmos de classificação

baseados na resposta espectral dos elementos para compreender as características dos

fenómenos. Importa salientar que, tais classificadores podem receber diferentes

conotações, tanto de não-supervisionados (em que a decisão do operador é mínima,

sendo as classes definidas e agrupadas por semelhanças espectrais), como também de

classificadores supervisionados, que implicam uma maior intervenção do operador.

No presente estudo, efectuou-se as duas classificações de forma a obter a

espacialização dos fenómenos em toda a área de estudo. No entanto, é de destacar que o

uso dos dois métodos, não teve como objectivo, medir o desempenho dos

classificadores em relação ao outro, mas sim, obter o máximo de informação da área de

estudo.

Após a aquisição e tratamento das imagens, procedeu-se a criação de um

mosaico sobre a qual é aplicada um corte54. Pretendeu-se com esta função, dispor da

representação do país, obtendo apenas os limites administrativos da área de estudo, para

fins da classificação da imagem.

Posto isto, é de referir que a imagem sob a qual se efectuou o processamento

digital corresponde, a um mosaico com uma baixa resolução espacial (30 m). Tal

particularidade revela ter um papel condicionador, sobretudo, no processo de recolha de

classes de interesse, devido a elevada heterogeneidade espectral (característica das

imagens de baixa resolução).

Não obstante, para o objectivo deste estudo, a resolução espacial acabou por ter

pouca relevância, dado que as classes a extrair (classes de interesse), não dependiam de

uma resolução maior, embora em muitos estudos no âmbito de DR, o aumento da

resolução é sempre um factor de grande interesse aos investigadores, contudo, não deve

ser visto como um determinante.

É sobretudo neste sentido que, Casimiro (2002:87) defende a ideia de que

“qualquer investigador que usa a teledetecção como instrumento “sonha” com

resoluções sucessivamente maiores. Não obstante, é mais uma questão de puro fascínio

e abertura de perspectivas de análise do que potencial aplicabilidade às escalas mais

comuns a que os geógrafos trabalham. O instrumento deve sim constituir um meio

54 Através da função clip raster by mask layer processo efectuado no software Quantum GIS.

Page 80: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

69

adequado aos objectivos, sendo que aquilo que é considerado como uma limitação de

um sensor, a sua resolução espacial acaba por ser uma virtude”.

Partindo desta ideia, pode-se concluir que quem trabalha com DR e

processamento digital de imagem, deve necessariamente enquadrar a resolução espacial

dos dados aos objectivos pretendidos, sendo que em muitos casos, grandes resoluções

por si só, não significam melhores resultados, constituindo apenas um recurso a ser

adaptado aos objectivos do estudo.

Relativamente às imagens, apesar das suas características, conseguiu-se executar

o mosaico e aplicado o corte do mesmo. Na verdade, esta tarefa consistiu

fundamentalmente em agrupar todas as imagens que constituem a área de estudo, em

uma única imagem, obtendo apenas o limite administrativo para efeitos de análise e

classificação da imagem (Figura 13).

Figura 14. Área de estudo

Existem inúmeros algoritmos de classificação automática, no entanto, para a

extracção das classes de ocupação do solo de forma automática, recorreu-se ao

algoritmo K-Means. Tal opção apresentou resultados satisfatório de ponto de vista de

extracção da informação de forma célere e sem intervenção do operador.

Lillesand et.al (2000:255) referem que, “estes classificadores envolvem

algoritmos que examinam os pixéis de uma imagem agregando-lhes em várias classes

com base nos agrupamentos naturais ou agregados presentes nos valores da imagem”.

Page 81: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

70

Por sua vez, Meneses et. al (2012:192), defendem que, “aos valores de pixels

que identificam uma classe específica de alvo ou objeto real da natureza, denomina-se

de padrões. Portanto, a classificação automática de imagens é nada mais do que um

conhecimento de padrões”.

Na verdade, este algoritmo baseia-se no agrupamento dos pixéis que constituem

uma classe temática, com base nas suas características espectrais, este princípio,

permite-nos concluir de antemão que, as classes resultantes de uma classificação

baseada neste algoritmo correspondem a aquilo a que Lillesand et. al (2008:568)

descrevem como “classes espectrais”, representando classes com a mesma reflectância

espectral.

Com este tipo de classificador, inicia-se o processo, atribuindo “ cada píxel da

imagem à amostra espectralmente mais próxima, criando assim um novo conjunto de

amostras” (Crisógono, 2011:30). De facto, o objectivo dos classificadores não-

supervisionados é, “agrupar amostras espectrais semelhantes em grupos estatisticamente

separáveis” Crisógono (2011:29).

Apesar das vantagens deste tipo de classificador, sobretudo a relacionada com a

não obrigatoriedade de um conhecimento prévio da área de estudo, é certo que também

apresenta algumas desvantagens, nomeadamente, o reduzido controlo das classes a

determinar e a deliberação das mesmas sem que o operador tenha influências ao longo

do processo, facto que acabou por se comprovar ao longo do processo.

Tendo sido processado no software Spring, com 8 classes de entrada para efeitos

de classificação, este algoritmo foi efectuado com a variação de iteração entre 10, 50 e

100. Não obstante, é de destacar que tais variações, não se revelaram relevantes, dado

que, as três apresentaram resultados idênticos.

O processo baseado neste algoritmo, só terminou após a conclusão do número de

iterações55 definido pelo operador, contudo, importa destacar que geralmente são

processos extremamente rápidos. No caso do Spring, este processo não demorou mais

de 20 segundos a agregar todos os pixéis espectralmente idênticas, embora, em alguns

casos (50 e 100 iterações) esse tempo foi ligeiramente superior, mas nunca

ultrapassando os 30 segundos, permitindo concluir que o aumento do número de

iterações poderá ter algum peso nos processos de classificação não-supervisionada.

55 Termo que designa repetições do processo de classificação.

Page 82: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

71

No fundo, com a classificação automática, “realiza-se a geração de aglomerados

de assinaturas espectrais, no espaço multiespectral, através do estabelecimento de

alguma semelhança entre eles, estabelecida por medidas de similaridade entre as

assinaturas espectrais, distâncias entre os centros dos aglomerados e critérios de

aglutinação, de modo a identificar-se quais as classes espectrais em que a imagem pode

ser segmentada” (Fonseca et. al; 2004:111).

Neste sentido, é importante destacar que “o processo de reconhecimento ou

classificação de padrões, por métodos estatísticos, consiste em atribuir cada elemento de

imagem a uma das classes padrão pré-definidas em função de um critério estatístico”

(Fonseca; 2004:116).

É certo que este método permite agrupar os pixéis das imagens em classes

espectralmente idênticas, no entanto, é de destacar que este tipo de classificação

também possibilita a realização de uma má classificação, facto verificado neste estudo

dado que, o algoritmo agrupou todas as classes de água, numa única classe, facto que

através da interpretação visual da imagem não corresponde de todo a realidade

constatada.

III.3.3. A Segmentação da imagem e extracção das classes de interesse

Tal como anteriormente mencionada, a segmentação é uma etapa da

classificação supervisionada orientada ao objecto, que consiste em “fragmentar” a

imagem em segmentos. Este é um método relativamente recente, não obstante tem

apresentado resultados extremamente importantes nos diversos estudos.

Segundo Meneses et. al (2012:209), “ a classificação por segmentação, surgiu

com o advento dos modernos sensores de alta resolução espacial, que produzem

imagens onde os objectos podem ser identificados individualmente”. Esta é uma técnica

de classificação que tem vindo a ganhar importância cada vez mais devido, sobretudo, a

rapidez e a eficácia com que o processo é realizado.

Na verdade, o alcance desta técnica, reside essencialmente na criação de

segmentos com respostas espectrais idênticas, isto é, segmentos que representam a

mesma classe de ocupação do solo. Contudo, é um processo que requer grande atenção

por parte do operador, devido a inexistência de um segmento ou valor padrão, facto que

Page 83: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

72

obriga a realização de diversos testes, com o objectivo de adquirir segmentos

representativos das classes a extrair (isto é, evitando ao máximo a mistura espectral das

classes).

Assim sendo, importa sublinhar que no presente estudo, a criação dos segmentos

de treino, foi efectuado no software Spring 5.2.2 e exigiu grande esforço e ponderação,

sobretudo, no que respeita a determinação do nível de tolerância a aplicar (similaridade

e área), pelo que foi necessário testar diferentes parâmetros (Quadro 5).

Numa primeira fase, optou-se por aplicar uma similaridade 1500 com uma área

2000, uma vez que não cumpria os objectivos pretendidos, reduziu-se a tolerância para

750 e a área 1000. Tal opção, também não se enquadrava no objectivo pretendido,

devido a reduzida fragmentação da imagem, assim, optou-se por diminuir a similaridade

para 500 com a área 750.

Porém, apesar de se verificar significativas melhorias relativamente aos testes

anteriores, ainda assim não se enquadravam nos objectivos pretendidos, pelo que se

optou por restringir ainda mais a similaridade e a área, passando a trabalhar com a

similaridade 200 e área 400. É certo que com esta opção, verificou-se uma clara

melhoria sobretudo no que respeita a descriminação das classes presentes na imagem,

no entanto, não foi possível descriminar todas as classes de interesse, sem que houvesse

uma mistura espectral, por mais pequena que seja.

É sobretudo neste sentido que se optou por testar a similaridade 150 área 200.

Esta opção cumpria na totalidade os parâmetros pretendidos, uma vez que descriminou

melhor as classes, construindo assim, segmentos/objectos semanticamente idênticos.

Page 84: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

73

Quadro 5. Parâmetros de segmentação utilizados sob a imagem de Landsat 8

Testes Bandas Similaridade Área Início Fim Resultado

1

3- Verde 0.53-

0.59

4- Vermelho

0.64-0.67

5-

Infravermelho

0.85-0.88

1500 2000 14:35 15:09

Verificou-se uma diminuição

da densidade dos pixéis

(Figura 14 extracto a)

2

3- Verde 0.53-

0.59

4-Vermelho

0.64-0.67

5-

Infravermelho

0.85-0.88

750 1000 15:27 16:20

Persistência da confusão

espectral entre as classes,

tendo-se verificado ligeira

melhoria relativamente a

segmentação 1500_2000

(Figura 14 extracto b)

3

3- Verde 0.53-

0.59

4- Vermelho

0.64-0.67

5-

Infravermelho

0.85-0.88

500 750 1:36 3:11

Com a similaridade 500 e

área 750, registou-se uma

clara melhoria relativamente

aos outros segmentos, no

entanto, ainda assim não

correspondia ao objectivo

pretendido. (Figura 14

extracto c)

4

3- Verde 0.53-

0.59

4- Vermelho

0.64-0.67

5-

Infravermelho

0.85-0.88

200 400 8:36 12:39

Conseguiu-se reduzir a

heterogeneidade espectral,

contudo, optou-se por

segmentar ainda mais, de

forma a diferenciar os

diferentes tipos de água e

vegetação presentes na

imagem. (Figura 14, extracto

d)

5

3- Verde 0.53-

0.59

4- Vermelho

0.64-0.67

5-

Infravermelho

0.85-0.88

150 200 12:45 0:12

Com este parâmetro,

conseguiu-se obter

segmentos bastante

satisfatórios relativamente

aos anteriores parâmetros e

por conseguinte, reduziu-se

também a heterogeneidade

espectral. (Figura 14,

extracto e)

Page 85: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

74

Na figura que se segue, estão representados os extractos de segmentação

utilizados com base nos parâmetros descritos no quadro 5. Contudo, importa salientar

que os segmentos foram construídos com diferentes parâmetros, variando a similaridade

e a área de treino, até atingir uma similaridade e área satisfatória, que de ponto de vista

da separabilidade da confusão espectral (reduzida heterogeneidade espectral), seja

considerada satisfatória.

Figura 15. Extractos da Segmentação com diferentes similaridades e área de treino

a) Similaridade 1500 área 2000

b) similaridade 750 área 1000

c) similaridade 500 área 750

d) similaridade 200 área 400

e) similaridade 150 área 200

Assim, a ponderação do nível de tolerância fundamenta-se pelo seguinte, se por

um lado, num processo de segmentação, quanto mais baixo forem os valores de

tolerância, mais tempo requer o software para completar o processo, e o resultado é

naturalmente o excesso de segmentos embora, aumente a exactidão temática dos

fenómenos.

Por outro, a segmentação da imagem com valores de tolerância elevados, apesar

da rapidez com que é efectuado o processamento, ainda assim, corre-se o risco de

efectuar uma má aquisição dos segmentos, isto porque, pixéis que representam

fenómenos distintos estarão mal agrupados para efeitos de classificação, restringindo

assim a exactidão temática dos fenómenos e por conseguinte, aumentando a mistura

espectral das classes.

Page 86: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

75

No presente estudo, o processo de segmentação exigiu maior cuidado, devido

sobretudo, a dificuldade em determinar de uma só vez a parcela que melhor se adequava

ao objectivo do estudo, razão pela qual se levou uma boa parte do tempo a experimentar

diferentes tolerâncias/similaridades56, com o intuito de obter aquela que melhor

descrimina as classes que se pretende extrair.

No Spring, este processo levou imenso tempo a concluir, chegando em alguns

casos a gastar entre 2 a 3 horas, nos casos de similaridade e área mais baixas, o que

implicava um aumento da densidade dos segmentos extraídos, razão pela qual o

Software levava bastante tempo a processar, exigindo assim, um esforço enorme.

Posteriormente a obtenção dos segmentos de treino, procedeu-se a classificação

das parcelas de treino, tendo sido utilizado o segmento resultante dos seguintes

parâmetros, similaridade 150 e área 200. Com estes parâmetros foram extraídos classes

do segundo nível, que no fundo correspondem a classes representativas das três

principais que caracterizam o primeiro nível (água, vegetação e outras classes. Tal como

descrito na figura 11).

Assim, extraiu-se as seguintes classes de ocupação do solo para a categoria

Água: Água profunda; Água de bordo; Água com coberto vegetal Outro tipo de água.

No que respeita a classe Vegetação, conseguiu-se extrair de forma satisfatória as

seguinte classes: Floresta; Formações arbustivas; Áreas agrícolas e Mangal. Por outro

todas as classes consideradas irrelevantes para a temática em estudo, foram agrupadas

na classe designada por Outras classes.

III. 4. Classificação Supervisionada

O processo de classificação de imagem com base nos métodos supervisionados,

agrupando as classes de acordo com as suas similaridades espectrais, constitui uma

tarefa que requer grande atenção e desempenho do operador, sobretudo, no que

concerne a atribuição dos atributos a diferentes fenómenos. Tal esforço exige não só,

uma elevada capacidade de interpretação da imagem, como também um conhecimento

prévio das classes a extrair da mesma.

56 A aplicação de diferentes tolerâncias, deve-se ao facto de se pretender obter uma maior similaridade

espectral dos pixéis representativos do mesmo objecto, ou classe temática.

Page 87: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

76

Tal como a classificação não-supervisionada, também se empregam algoritmos

que agregam os pixéis quantitativamente de acordo com as suas características

espectrais. Segundo Richards (2012:247), “a classificação supervisionada é uma técnica

frequentemente usada para a análise quantitativa dos dados da imagem de detecção

remota”.

Meneses et. al (2012:198), referem que a classificação supervisionado “é

controlado de perto pelo analista. Nesse processo o analista escolhe pequenas áreas de

amostras na imagem, contendo poucas centenas de pixels que sejam bem representativo,

espectralmente, de padrões ou feições dos alvos por ele reconhecidos, ou que podem ser

identificados com a ajuda de outras fontes tais como dados colectados no campo ou de

mapas”.

Deste modo, procurou-se iniciar a reflexão abordando um aspecto fundamental,

relacionado sobretudo com o conhecimento prévio da área em estudo, isto porque, a

classificação supervisionada, ao contrário da não-supervisionada, exige uma maior

intervenção do operador, não se limitando apenas a uma aplicação dos algoritmos

automáticos.

No presente estudo, optou-se por utilizar a classificação supervisionada, para

classificar as parcelas de treino obtidos posteriormente a realização da segmentação (ver

figura 15). Nesta etapa, optou-se por efectuar uma classificação por região de interesse

resultante dos segmentos de treino. Não obstante, é de referir que durante esta fase,

redobrou-se a atenção em todo o processo.

Page 88: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

77

Figura 16. Resultado da classificação supervisionada

Tendo em conta as classes a extrair e o grau de separabilidade espectral dos

pixéis, utilizou-se um limiar de similaridade 150 e uma área de valor 200, sendo depois

aplicado o algoritmo de classificação de Bhattacharyya57, para efeitos de generalização

das classes extraídas durante a classificação. Este algoritmo vem incorporado no

software Spring, para a classificação das imagens segmentadas. Assim sendo, no

subcapítulo abaixo, será abordado o desempenho deste algoritmo

III.5. Aplicabilidade do Algoritmo Bhattacharyya

Inversamente ao que se sucede com os algoritmos de classificação não-

supervisionada, o algoritmo Bhattacharyya, corresponde a uma medida de

separabilidade espectral dos pixéis. Detém a particularidade de não se basear nas

distâncias euclidianas durante a fase da classificação das imagens, característica comum

sobretudo nos algoritmos de classificação não-supervisionada.

Retomando a ideia atrás referida, é de salientar que este classificador “ trabalha

com a distância de Bhattacharyya, que é utilizada para medir a separabilidade estatística

entre um par de classes espectrais, ou seja, mede a distância média entre as distribuições

de probabilidades dessas classes” (Góes et. al, 2006:82) apud (INPE, 2004; Mather,

57 Que corresponde a um algoritmo de classificação supervisionada, aplicada sobretudo na imagem

classificada por regiões.

Page 89: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

78

2004). De um modo geral, a particularidade deste algoritmo, está bem patente na

estruturação da informação, medindo posteriormente a distinção espectral entre as

classes através da média da distribuição dessas classes. Segundo Meneses (2012:216), a

distância de Bhattacharyya calcula-se do seguinte modo:

(eq.2)

Sendo: B – distância de Bhattacharyya; Pi e Pj – pixels nas classes i e j; mi e mj

– médias das classes i e j; T – Matriz transposta; ln – logaritmo neperiano; i e j – classes

dentro do contexto

Apesar de não ter sido referido, para a classificação de imagens com base na

distância de Bhattacharyya, optou-se por aplicar um limiar de aceitação de 99.9%. Na

verdade, este limiar representa 99,9% dos pixéis englobados na classificação, sendo os

restantes simplesmente ignorados, introduzindo assim, a eventualidade da existência de

algum erro na obtenção das classes, devido a inclusão de pixéis não representativos de

uma classe e que, no entanto, foram introduzidos noutras de forma não intencional.

Embora se tenha verificado alguma confusão na classificação da imagem, o que

se deveu em parte a limiar de aceitação, as diferenças nas datas das imagens entre outros

aspectos, ainda assim, obteve-se um desempenho bastante satisfatório, indo de encontro

ao objectivo pretendido, tendo-se obtido uma matriz de confusão média de 0.00% (ver

quadro 6) e um índice Kappa de valor 1, segundo Crisógono (2011:43), tal valor

corresponde a uma concordância “perfeita”.

Page 90: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

79

Quadro 6. Matriz de erros de classificação

Água

profunda

Água

de

bordo

Água

com

coberto

vegetal

Outra

água Floresta

Formações

arbustiva

Áreas

agrícolas Mangal

Outras

classes Abstenção

Soma

linha

Água

profunda

2538

6.85%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00% 2538

Água de

bordo

0

0.00%

2589

6.99%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00% 2589

Água com

coberto

vegetal

0

0.00%

0

0.00%

1208

3.26%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00% 1208

Outra

água

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

1583

4.27%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00% 1583

Floresta 0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

7286

19.66%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00% 7286

Formações

arbustiva

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

1443

3.89%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00% 1443

Áreas

agrícolas

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

3519

9.49%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00% 3519

Mangal 0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

3908

10.54%

0

0.00%

0

0.00% 3908

Outras

classes

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

0

0.00%

12991

35.05%

0

0.00% 12991

Soma

coluna 2538 1589 1208 1583 7286 1443 3519 3908 12991 0 37065

Também foi analisado, ainda que de forma superficial o índice TAU. Este

apresentou um valor igual a 1 (Anexo B Tabelas B1, à B4). Inicialmente introduzido

por Ma e Redmond (1995), o coeficiente TAU, apresenta resultados representativos dos

valores de Kappa e o Desempenho Geral.

Machado, (2002) apud Bernardes et. al (s.d), salientam que, “este índice

apresenta resultados intermediários entre os outros dois mais utilizados: índice Global e

índice Kappa, mostrando tornar possível a correta consideração das concordâncias real e

casual para a situação na qual é assumida a equiprobabilidade e ocorrência das

categorias de informação”.

A análise aprofundada deste índice sairia do âmbito deste estudo, pelo que se

optou por não aprofundar muito, no entanto, não deixa de ser interessante o

conhecimento do mesmo quando se analisam resultados da classificação.

Page 91: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

80

III. 5.1. Análise de Concordância (Coeficiente Kappa)

Após a classificação, procedeu-se a análise de concordância da mesma. Para tal

analisou-se o coeficiente ou índice Kappa, que permitiu obter a exactidão da

classificação efectuada segundo o algoritmo de Bhattacharyya. Na verdade, este índice

permitiu saber a concordância entre a imagem de base e a imagem classificada, variando

entre 0 (ausência de concordância) e 1 (concordância perfeita) (Quadro 7).

Crisógono (2011:49), salienta que o índice kappa “mede a diferença entre os

pixéis bem classificados e as omissões ou comissões dos pixéis na classificação de uma

mesma classe. Neste sentido, importa sublinhar que esta é uma medida de avaliação da

exactidão global mais rigorosa, pois tem em conta toda a informação existente numa

matriz e não só a diagonal principal como a matriz confusão”.

Apesar da literatura e os diferentes estudos estabelecerem 85%, como sendo

valor representativo de uma consistência aceitável em termos de concordância através

do coeficiente Kappa, neste estudo, o valor obtido para este índice, foi superior (100%)

ao determinado como valor aceitável, devendo tal resultado, à eficácia do classificador

(Bhattacharyya) e qualidade da análise visual, durante a fase de extracção das classes,

sem esquecer o ajuste efectuado na matriz de erro, que permitiu alcançar um maior

desempenho do classificador.

Quadro 7. Medidas de Concordância de índice Kappa

Adaptado de Crisógono (2011:43) apud Landis e Koch “The mesaurement of observer

agreement for categorical data, Biometrics 1997”

Valores de Kappa Níveis de concordância

<0 Ausente

] 0.0, 0. 20 [ Baixo

[0. 20, 0.40 [ Razoável

[0.40, 0.60 [ Moderado

[0.60, 0.80 [ Substancial

[0,80, 1.00 [ Quase perfeito

= 1 Perfeito

Page 92: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

81

Segundo Crisógono (2011:43), o índice kappa calcula-se segundo expressão:

(eq.3)

III.6. Determinação do Risco por Malária na Guiné-Bissau

III.6.1.Dados utilizados

A delimitação das áreas de maior vulnerabilidade é, uma das formas mais

importantes para a compreensão da disseminação da doença, o auxílio à tomada de

decisão, a aplicação de meios de controlo aos vectores e distribuição equitativa de

fundos destinados a esse fim.

Neste sentido, concluído o cálculo do coeficiente Kappa, procedeu-se a

determinação das regiões de risco elevado por malária, através da ponderação das

variáveis utilizadas. Importa destacar que, inicialmente procedeu-se a normalização dos

dados de forma a estruturá-los numa mesma “unidade” e a atribuição dos “pesos” a cada

uma das variáveis analisadas. Utilizou-se diferentes informações relacionadas com a

doença e o ambiente, que serão descritos nos parágrafos abaixo.

Como foi atrás referido, utilizou-se diferentes variáveis, nomeadamente, a

estimativa da população em 2012, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística

da Guiné-Bissau (INE), e os dados provenientes do INASA número de casos registados

em 2012 e 2013. Contudo, apesar da disponibilidade dos dados para um período de 10

anos, é de salientar que, para efeitos de análise, apenas serão levados em consideração

os dois últimos anos (2012 e 2013).

Page 93: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

82

Uma análise da variação dos casos da doença implica, inevitavelmente, a

inclusão das percentagens dos casos de malária nas crianças com idades inferiores a

cinco anos. Neste sentido, e em função do interesse em compreender o impacto da

malária no grupo etário mais vulnerável (crianças), optou-se por utilizar a percentagem

dos casos com idades inferiores a cinco anos.

Recorreu-se também ao uso das percentagens de GE e Teste de Diagnóstico

Rápido (TDR), de modo a permitir uma melhor leitura da população submetida aos

testes de confirmação biológica do plasmodium.

No que respeita aos mecanismos de protecção utilizou-se, a percentagem dos

MILDA o TPI (anexo D6 à D9), de mencionar que, foi utilizada a percentagem do

segundo TPI do ano 2013 e a percentagem dos exames realizados, de forma a perceber

quais as regiões que têm beneficiado de um maior acompanhamento dos pacientes.

No que concerne aos dados das consultas pré-natais, utilizou-se a percentagem

das consultas de 2013, esta é uma variável de extrema importância, dado que, permite

ter uma noção pouco mais elucidativa das mulheres grávidas que se submeteram a esse

tratamento em cada região em estudo.

Já às variáveis climatológicas, importa referir que, os dados da precipitação

foram obtidos através do Instituto Nacional de Meteorologia da Guiné-Bissau, e dizem

respeito a uma série temporal de 2004 à 2012. Após a obtenção dos mesmos, procedeu-

se ao cálculo das respectivas médias a incluir no índice de risco.

Aos dados da temperatura, importa referir que, devido a inconsistência e a

inexistência dos registos oficiais da temperatura em certas regiões da Guiné, os mesmos

foram obtidos através do projecto WorldClim58, da Universidade de Berkeley

Califórnia, adquiridos através do site DIVA-GIS. Não obstante, é de destacar que estes

dados traduzem a média mensal (mês de Junho), que resultaram de uma longa série

temporal (1950-2000).

Contudo, devido a reduzida variabilidade da temperatura para as diferentes

regiões, rondando principalmente 26º, optou-se por não utilizar tais dados, devido, a

pouca variabilidade, o que para este estudo, é pouco relevante para fundamentar as

regiões com elevado risco por malária.

58 Sendo que a primeira versão foi desenvolvido por Robert J. Hijmans, Susan Cameron e Juan Parra, na

Universidade de Berkeley Califórnia.

Page 94: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

83

Porém, é importante salientar que, devido ao impacto da temperatura na

proliferação de doenças provocadas por vectores, seria bastante interessante a utilização

dos registos da temperatura como variável de interesse para a determinação de áreas de

risco, caso estes apresentassem maior variabilidade em termos regionais e maior

consistência no que toca a qualidade dos registos.

Por fim, no que respeita a ocupação do solo, utilizou-se a percentagem das áreas

agrícolas das diferentes regiões, devido a importância das mesmas não só na

disseminação da doença, como também no desenvolvimento do próprio vector

Anopheles. Deste modo, na elaboração do modelo de análise, foi atribuído um maior

peso a área agrícola, isto porque, de todas as classes, esta representa aquela que maior

impacto tem na disseminação da malária.

III.6.1.1. Normalização e ponderação das Variáveis

A normalização dos dados é um processo que consiste em “atribuir” a mesma

unidade às variáveis/fenómenos em estudo, de modo a que todos tenham a mesma

relevância, no que respeita a análise e explicação do fenómeno em estudo. Na verdade,

o objectivo deste processo é nada mais, nada menos o de incluir todas as variáveis na

explicação de um fenómeno, sendo que, no caso do presente estudo, foi utilizado de

forma a incluir todos os dados no índice de risco.

De uma forma geral, começou-se por utilizar uma tabela com os dados

brutos/originais, que compreendia todas as variáveis consideradas no presente estudo

(Quadro 8), que serviu para o índice normalizada e calculada segundo uma expressão,

que tem em conta a ponderação e atribuição dos pesos às variáveis (ver Equação 4).

Page 95: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

84

Quadro 8. Variáveis utilizadas

Região Bafatá Biombo Bissau Bolama-

Bijagós Cacheu Gabú Oio Quinara Tombali

Número de

casos 2013 21425 7311 37564 3728 9660 28229 5841 6492 4974

Percentagem

de Casos

2013

10 7 9 11 5 1 0 10 5

Percentagem

da área

agrícola

9 17 45 14 19 23 12 21 30

Precipitação 6098 3880 3880 2453 2589 6592 7116 1863 6919

Densidade

Populacional 36,31 132,04 4872,24 21,66 40,59 24,31 41,61 21,74 27,72

Número de

Hospitais 2 2 3 3 2 2 3 5 3

Número de

camas 124 17 337 82 148 127 68 70 117

Percentagem

de letalidade 3 0 4 1 1 4 1 9 1

Taxa de

incidência 0,10 0,07 0,09 0,11 0,05 0,13 0,03 0,10 0,05

Variação de

casos 2013 -96 -82 -98 -86 -96 -97 -98 -99 -95

Percentagem

de casos

menor 5 anos

2013

35 44 34 35 40 41 36 34 32

Percentagem

de casos

maior de 5

anos 2013

65 56 66 65 60 59 64 66 68

Percentagem

de Óbitos 0,3 0,0 0,4 0,1 0,1 0,4 0,1 0,9 0,1

Percentagem

de Gota

Espessa 2013

2 10 9 7 4 3 2 4 2

Percentagem

de Testes de

Diagnóstico

Rápido

9 8 10 10 6 10 4 7 8

Percentagem

de MILDAS 7 5 6 9 8 9 10 7 5

Percentagem

de consultas

pré-natais

2013

4 7 2 3 3 6 3 3 3

Percentagem

de Exames

Realizados

2013

5 7 5 10 4 8 2 5 4

Percentagem

de

Tratamento

Preventivo

Intermitente

2013

1 3 1 1 1 1 1 1 2

Page 96: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

85

Como anteriormente mencionado, após a escolha das variáveis, procedeu-se a

normalização das mesmas, de forma a oscilarem dentro das escalas previamente estabelecidas (2

a 10), tendo assim resultado nos dados apresentados no quadro anterior.

Quadro 9. Variáveis normalizadas

Região Bafatá Biombo Bissau Bolama-

Bijagós Cacheu Gabú Oio Quinara Tombali

Número de casos

2013 8 6 10 2 6 8 4 6 4

Percentagem de

Casos 2013 8 6 8 10 6 4 2 8 6

Percentagem da

área agrícola 2 6 10 4 6 8 4 8 8

Precipitação 10 6 6 6 6 10 10 6 10

Densidade

Populacional 6 8 10 2 8 4 8 4 6

Número de

hospitais 10 10 8 8 10 10 8 2 8

Número de camas 4 10 2 6 4 4 8 6 4

Percentagem de

Letalidade 6 2 8 4 6 8 6 10 4

Taxa de incidência 8 6 8 8 4 10 2 8 6

Variação de casos

2013 6 10 4 8 6 6 4 2 8

Percentagem de

casos menor de 5

anos 2013 6 10 4 6 8 8 6 4 2

Percentagem de

casos maior de 5

anos 2013

6 2 8 6 4 4 6 8 10

Percentagem de

Óbitos 6 2 8 4 6 8 6 10 4

Percentagem de

Gota Espessa 2013 10 2 2 4 6 6 8 4 8

Percentagem de

Testes de

Diagnóstico

Rápido

2 4 2 2 6 2 10 6 4

Percentagem de

MILDAS 6 10 8 4 6 4 2 6 8

Percentagem de

consultas pré-

natais 2013

4 2 10 8 6 4 6 6 6

Percentagem de

Exames Realizados

2013 6 4 6 2 8 4 10 6 8

Percentagem de

Tratamento

Preventivo

Intermitente 2013

8 2 8 6 6 10 4 6 4

Risco por Malária 6,75 6,3 7,8 5,35 6,45 7,5 6,15 6,65 6,8

Page 97: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

86

Mediante o processo de normalização das variáveis, utilizou-se o método de

quebras naturais (Natural Break Jenks)59 incorporado no software Quantum Gis, que

permitiu um melhor arranjo dos valores, possibilitando a melhor leitura das variáveis e

de forma simples, verificar quais as regiões com valores mais elevados relativamente às

variáveis utilizadas.

Utilizou-se 5 níveis ou escalas de comparação, sendo o valor mais baixo, menos

importante e o valor mais elevado, extremamente importante. Na hierarquização aqui

efectuada, o significado de cada um dos valores registados nas diferentes variáveis

utilizadas e para as diferentes regiões, é expressa por uma escala que é marginada por

dois extremos opostos (2 e 10), o que implica que os valores oscilem dentro destes

extremos, sendo que, quanto mais próximo do 10, maior é o nível do risco por malária e

quanto mais próximo do 2, menor é naturalmente o risco. (Quadro 10).

Quadro 10. Fragmentação dos níveis de comparação

2 4 6 8 10

Menos importante Pouco importante Importante Muito importante Extremamente importante

Posto isto, procedeu-se igualmente a ponderação e atribuição dos pesos de cada

variável. No fundo a ponderação das variáveis através da atribuição dos “pesos”

efectuado neste estudo, teve como principal objectivo, atribuir importância às variáveis

utilizadas, com base no impacto que as mesmas detêm na explicação do fenómeno e na

consistência do modelo de análise. De uma forma geral, a normalização das variáveis,

permitiu uma melhor percepção das mesmas, isto porque, possibilitou a estruturação das

variáveis em unidades idênticas e a redução da inconsistência das mesmas.

Outras metodologias em parte idênticas a aplicada neste estudo são, a

metodologia AHP (Analytical Hierarchical Process) proposto por Thomas Saaty

(1980), consistindo na divisão do problema em “níveis hierárquicos de tomada de

decisão” Cabral (2012:53), sendo que, tais níveis podem ser descritos em diferentes

escalas de comparação de critérios.

59 Este é um método que permite um melhor arranjo dos valores em diferentes escalas, é na verdade um

método que procura diminuir a variância dentro das classes.

Page 98: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

87

Outra metodologia idêntica é a baseada em escalas de pontos. Inicialmente

desenvolvida por Osgood (1957) apud Cabral (2012:8), a metodologia baseada em

escalas de pontos, determina que, “uma diferenciação em sete níveis é suficiente para

expressar preferências”. Neste método, para cada critério, é escolhido um valor

pertencente a uma escala de um a sete, sendo o significado de cada um dos valores

interpretado com o recurso ao princípio da semântica diferencial (a escala é marginada

por duas expressões opostas)

Partindo da lógica de hierarquização de critérios, tal como referido

anteriormente, no presente estudo, o valor de maior importância, corresponderá ao valor

mais elevado encontrado nos registos de cada variável e em cada região

individualmente, determinando-se assim que, os restantes valores tenham uma variação

decrescente, até ao valor menos importante, que corresponde naturalmente ao valor de

menor impacto das variáveis individualmente.

Após a hierarquização dos critérios e a ponderação das variáveis60, procedeu-se

a construção do indicador de risco por malária, com o intuito de determinar qual ou

quais as regiões que representam maiores riscos, de acordo com os critérios e

indicadores utilizados.

III.6.1.2. Critérios utilizados para a determinação de regiões com risco elevado

O estudo da disseminação da malária, por regra, deverá incluir, uma reflexão

acerca de diferentes factores que conjugados entre si, possam contribuir para explicar o

incremento da doença. É, sobretudo, nessa linha de raciocínio, que no presente estudo se

optou por incluir diferentes variáveis que de ponto de vista da propagação da doença, se

apresentam como aquelas que maior impacto detém.

Assim sendo, para a construção do indicador de risco, foram utilizadas dezoito

variáveis, que de ponto de vista da sua importância para a propagação do vector e

disseminação do plasmodium, afiguram-se como factores imprescindíveis, embora, de

referir que muitas outras variáveis poderiam ser incluídas neste indicador, não obstante,

devido a ausência de dados e a inconsistência dos mesmos, optou-se apenas por incluir

as variáveis patentes no Quadro 11.

60 Atribuídos de acordo com a importância e o contributo de cada variável no incremento da malária.

Page 99: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

88

Quadro 11. Variáveis utilizadas e o respectivo peso atribuído

Código Variáveis utilizadas Peso atribuído

V1 Percentagem da Área agrícola 1,5

V2 Precipitação 1,25

V3 Densidade populacional 0,5

V4 Número de hospitais 0,5

V5 Número de camas 0,5

V6 Percentagem da letalidade 0,5

V7 Taxa de incidência 0,5

V8 Variação dos casos 2013 0,5

V9 Percentagem dos casos menores que 5 anos 2013 0,5

V10 Percentagem dos casos maiores que 5 anos 2013 0,5

V11 Percentagem de Óbitos 0,5

V12 Percentagem de Gota Espessa 2013 0,25

V13 Percentagem de Testes Diagnóstico Rápido 2013 0,25

V14 Percentagem de MILDA 2013 0,25

V15 Percentagem de consultas pré-natais 2013 0,25

V16 Percentagem de exames realizados 2013 0,25

V17 Percentagem de Tratamento Preventivo Intermitente 2013 0,25

V18 Número de casos 1,25

Os pesos atribuídos tiveram em consideração, a importância que cada variável

desempenha no incremento da doença. Esse critério é evidenciado no quadro 11, onde

se procurou atribuir maior peso à área agrícola (1,5), dado que esta é considerada aquela

que maior importância possui no que se refere ao desenvolvimento do vector, devido as

suas características intrínsecas (habitat larvar, protecção não só contra elevada

temperatura, como também, contra os possíveis predadores).

Foi atribuído aos Mosquiteiros impregnados com insecticida de longa duração

de acção um peso de 0,25. Na verdade, a atribuição desse valor, deveu-se sobretudo, a

importância que esta variável detém no que toca sobretudo, as medidas de prevenção da

luta antivectorial, funcionando como uma primeira linha de acção no combate ao vector.

Relativamente as outras variáveis, estas tiveram um peso ora de 0,5 ora 0,25.

Porém, importa também sublinhar que, as variáveis que favorecem a redução da doença,

(subentenda-se, número de hospitais, número de camas, TPI, ER, consultas pré-natais, e

Page 100: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

89

TDR), uma vez que tais variáveis representam aspectos positivos, optou-se por efectuar

uma análise inversa, de forma a perceber qual seria o resultado, caso às regiões em

estudo não se encontrassem na posse desses meios. Na verdade, pretende-se com tal

procedimento, perceber qual é o impacto da doença caso as regiões não detivessem os

meios atrás mencionados.

Neste sentido, às regiões que apresentavam valores elevados das variáveis

anteriormente mencionadas, foi-lhes reclassificada, passando estes a representarem os

valores mais baixos. Por outras palavras, aos valores outrora positivos, foram

convertidas em valores negativos, sem no entanto esquecer que esta abordagem apenas

foi efectuada às variáveis atrás mencionadas.

III.6.1.3. Resultados da Carta de Risco por malária

Após os procedimentos anteriormente efectuados e tendo em consideração os

parâmetros e variáveis introduzidos neste estudo, procedeu-se a criação da carta de risco

por malária, tendo-se gerado um modelo de análise que traduza as regiões com

eventuais risco elevado.

Na verdade, tal modelo representa o cruzamento/sobreposição de diferentes

variáveis. Isto é particularmente interessante, dado que, o estudo da malária deverá

incluir, uma reflexão acerca das diferentes variáveis, isto porque, cada uma delas pode

contribuir para o aumento da mesma. Neste sentido, o modelo desenvolvido (figura 17),

assentou essencialmente na integração de diferentes variáveis, que conjuntamente

analisadas, permitiram determinar as regiões com elevado risco de malária.

Não obstante, uma vez que os modelos são simplificação da realidade, entende-

se que tal modelo, embora vai de encontro aos objectivos do estudo, ainda assim,

poderia ser melhorado através da inclusão de variáveis que não foram levadas em

consideração, devido a inconsistência e em alguns casos, a ausência das mesmas

(nomeadamente a temperatura, dados socioeconómicos entre outras).

Apesar das dificuldades verificadas na escolha das variáveis de input, importa

salientar que se optou pelas seguintes: os dados da malária; a carta de ocupação do solo;

dados da população; Ambiente e Mecanismos de prevenção. Tais variáveis foram

posteriormente cruzadas e interrelacionadas, resultando através deste processo, a carta

de risco por malária.

Page 101: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

90

Figura 17. Modelo de Cruzamento das Variáveis

Como se pode constatar, foi possível construir um indicador de risco por malária

na Guiné-Bissau através do cruzamento das variáveis acima mencionadas, cuja

expressão está patente na equação abaixo. No fundo, tal equação representa o somatório

da multiplicação das variáveis pelo peso atribuído a cada uma individualdamente, sobre

o somatório dos pesos atribuídos.

Precipitação

Ambiente Ocupação

do Solo

Malária Prevenção População

Área

agrícola

Nº de casos % de MILDA

/ População Densidade

populacional

% de óbitos

Taxa de incidência

% em menores de 5 anos

% em maiores de 5 anos

% GE

% de exames

Realizados

% de tratamento

preventivo

% de consultas pré-natal

% Testes de

diagnóstico

rápido

Nº de hospitais

Número de camas

CARTA DE RISCO

DEMALÁRIA

Cruzamento de

dados

Variação do nº de casos

(2012-2013)

% de letalidade

Page 102: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

91

M - risco por malária

V- variável considerada no índice de risco por malária

P – pesos da variável considerada no índice de risco por malária

(eq. 4)

Na verdade, para determinação das regiões de risco elevado (Figura 18),

recorreu-se novamente ao software Quantum Gis, tendo sido aplicado a função Natural

Break Jenks. De referir que as regiões foram classificadas com base nos valores que

cada uma apresenta individualmente, e que resultou da equação 4, permitindo deste

modo, a obtenção da carta de risco por malária.

Figura 18. Regiões com elevado risco por malária

Numa primeira análise, é de referir que o mapa evidencia uma enorme

discrepância regional com maior risco para Bissau e as regiões do interior e Sul do país

(Bafatá, Gabú, Quinara e Tombali). Porém, importa desde já salientar que, a

análise/reflexão foi efectuada com base nos critérios utilizados para a construção do

Page 103: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

92

modelo, com a clara percepção de que o mesmo poderá ser melhorado com a inclusão

de outras variáveis, que não foi possível incluir no presente estudo.

Em Bissau, o risco por malária é bastante elevado em comparação com outras

regiões, devendo este facto ao elevado número de habitantes. De acordo com os últimos

dados da população, em 2012 registavam-se 404 396 habitantes em Bissau (Instituto

Nacional de Estatística Guiné-Bissau, 2012), embora esse aspecto por si só, não seja

determinante para o incremento da doença, ainda assim, desempenha um papel de

grande importância devido a crescente movimentação das pessoas das áreas endémicas

para as não-endémicas, possibilitando assim a deslocação do plasmodium.

Apesar da realidade atrás mencionada, importa ressaltar que a quantidade de

MILDA distribuídos em Bissau, passaram de 18 803 em 2012 para cerca de 26 203 em

2013, totalizando assim, 6% dos mosquiteiros distribuídos por todo o país. Tendência

efectivamente positiva e encorajador, dado que, é uma das formas mais importante para

o controlo do vector e plasmodium.

Segundo o coordenador do PNLP (Paulo Djatá, 2014), “a campanha de

distribuição de MILDA iniciada em 2011, teve um grande impacto na redução de casos

e óbitos por malária no país”. Não obstante, apesar destes constituírem a primeira linha

de resposta para o controlo da malária, tem-se verificado uma má utilização dos mesmos

por parte de alguns beneficiários, chegando em alguns casos a constatar a recusa dos

mesmos em utilizar esses meios.

Outro grande entrave ao combate e erradicação da malária, resulta da venda

ilícita dos mosquiteiros disponibilizados, encontrados sobretudo no mercado, apesar de

nem todos terem uma proveniência do Ministério da Saúde, é importante referir que a

venda dos mesmos e a ausência dos métodos de pulverização poderão ter um peso

considerável para os efeitos de combate a doença.

Torna-se assim, imprescindível a rápida e eficaz actuação por parte das

autoridades em “exercer pressão” sobre a venda ilícita dos mosquiteiros, dado que, se

nada for feito nesse sentido, mesmo os indivíduos com as maiores necessidades desses

meios encontrarão nos mesmos uma oportunidade para a ilegalidade, à custa dos

esforços desenvolvidos pelos responsáveis e toda a equipa do PNLP.

No que concerne a percentagem de casos de malária nas crianças com idades

inferiores a 5 anos, em Bissau foram registados 34% das crianças com idades inferiores

Page 104: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

93

a 5 anos com malária confirmada, tendo-se registado uma diminuição de 2% em

comparação ao ano anterior 6%.

O TPI também foi considerado no presente estudo. Entendeu-se necessário

incluir essa variável, dado ser efectivamente, um bom indicador para a compreensão dos

impactos das políticas de combate a malária, uma vez que permitem um

acompanhamento mais próximo dos pacientes, na verdade, é uma forma eficaz de

combater a malária por possibilitar o aumento da imunidade do paciente através de um

acompanhamento contínuo, reduzindo deste modo, a resistência do plasmodium, através

da atribuição de doses regulares de antipalúdicos aos pacientes sobretudo, aos mais

vulneráveis (crianças com idades inferiores a 5 anos).

A evolução do TPI em Bissau tem vindo a registar uma tendência decrescente se

compararmos o primeiro e o segundo tratamento de 2013 (5514 para 3782), podendo

este facto, ter um papel considerável na explicação do elevado risco. Não obstante, é

importante referir que no ano anterior, registou-se um ligeiro aumento do TPI, tanto

para o primeiro como o segundo tratamento, tendo a região de Bissau, registado no

primeiro TPI cerca de 3943 tratamentos, para 2384 tratamento.

Outro factor que também poderá estar na explicação do posicionamento da

região de Bissau como a que maior risco por malária apresenta, é indubitavelmente a

consulta pré-natal efectuada (Anexo D1 e Anexo D2), embora é importante ressaltar que

apesar do número de consultas ter sofrido um ligeiro aumento de 2012 para 2013

(passando de 6402 para 6830), ainda assim, essa pequena oscilação do número de

consultas deve ser levada em consideração, dado que, pode ser traduzida numa boa

medida para o combate e controlo da doença, não apenas em crianças com idades

inferiores a 5 anos, como também as mulheres durante a fase da gravidez.

No que respeita às regiões com risco elevado, encontram-se as regiões de

Quinara, Tombali, Bafatá e Gabú. Estas correspondem as mais afectadas de ponto de

vista da endemicidade, situando-se por baixo da região de Bissau. Para compreender

melhor os factores que contribuíram para tal situação, segue-se uma breve descrição de

cada uma das regiões em causa.

Assim, no que concerne a região de Quinara, importa referir que o grande risco

por malária verificada deve-se em parte, não só ao aumento do número de casos,

embora de forma ligeira 6159 em 2012 para 6492 em 2013, como também ao não

Page 105: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

94

cumprimento das medidas implementadas pelas autoridades responsáveis pela luta

contra a malária.

Se levarmos em consideração as medidas de prevenção, importa salientar que,

apesar de se ter verificado um ligeiro aumento da quantidade de mosquiteiros 4463 em

2012 para 4763 em 2013, nem sempre se verificou um bom uso dos mesmos, segundo o

relatório anual (2011:13) “em algumas regiões (Tombali e Quinara) foi constatado que

os MILDA são utilizados para outros fins (vedação de viveiros das hortaliças etc) ”.

Relativamente aos testes de GE, importa destacar o facto de se ter verificado um

ligeiro aumento deste mecanismo de combate a malária, passando de 1961 em 2012,

para 2614 em 2013, o que de facto contribui de forma positiva para o controlo da

doença. Também se registou um pequeno aumento dos Testes de Diagnóstico Rápido

(4588 para 4718). Apesar de ser um aumento pouco expressivo em relação às restantes

regiões, não deixa de ser um pequeno incentivo no sentido de controlar a doença.

Outro factor importante a destacar, no que respeita à explicação do risco por

malária nesta região, é indubitavelmente o TPI, que tem diminuído, tanto o primeiro

como o segundo nos dois anos em análise (tendo sido registado 1672 consultas no

primeiro tratamento em 2012 para 929 no segundo. Por sua vez em 2013, registou-se

1447 consultas no primeiro tratamento para 793 no segundo), facto que condiciona de

forma negativa o posicionamento da região face a doença.

O total de exames realizados é também um factor que merece destaque. Na

verdade, o controlo e a adequada gestão dos meios de combate à doença, incluindo o

seguimento dos doentes através de exames regulares e testes de identificação do

plasmodium, constituem um meio de grande importância. No entanto, na região de

Quinara, verifica-se uma clara descida dos exames realizados, tendo sido realizado 6159

exames em 2012, passando para 3467 em 2013, de um modo geral, houve uma descida

para 5% (metade em relação ao ano anterior). Consequentemente, verifica-se um ligeiro

aumento do número de casos por malária, passando de 6159 em 2012, para 6492 em

2013.

A juntar aos factores atrás mencionados, está também a área agrícola da região,

que corresponde a uma das mais extensas do conjunto das regiões em estudo (60 622

ha), podendo ser um factor de grande importância para a explicação do risco.

Page 106: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

95

Relativamente a região de Tombali, esta corresponde a terceira região com

menor número de população 94 752, com uma densidade populacional de 28 habitantes

por km2. Apresenta elevado risco por malária, embora, de destacar que, ao contrário da

região de Quinara, os números de casos por malária têm assinalado uma redução

significativa, tendo sido registado um valor de 7390 casos em 2012 e 4974 em 2013.

Apesar dos ganhos registados, sobretudo, no que respeita a redução dos números

de casos, importa sublinhar que, no que concerne aos mosquiteiros, esta corresponde à

uma das regiões que menos MILDA tem recebido nos dois anos, o que condiciona

bastante a eficácia da luta contra a malária. Não obstante, para elucidar o insucesso das

medidas de luta contra a malária, está o mau uso dos mesmos, tendo-se verificado

situações em que os MILDA são utilizados para a protecção das culturas, servindo para

efeitos de vedação das culturas.

No que respeita aos mecanismos de seguimento, importa referir que, embora se

tenha verificado um pequeno aumento do número de GE efectuado (1575 em 2012 e

2247 em 2013), verificou-se também uma descida dos Testes de Diagnóstico Rápido

(9010 em 2012 para 7850 em 2013) (ver tabelas de dados anexo E1 à E6). A descida

dos testes de diagnóstico rápido e dos exames realizados (7390 para 3619),

correspondem a um bom indicador do risco, dado que permitem, uma melhor

compreensão da vulnerabilidade das regiões, o que pode ser naturalmente explicado

com a redução dos exames e testes para a detecção do plasmodium.

Sendo a área agrícola factor de grande relevância para o desenvolvimento do

vector, importa desde já referir que, a região de Tombali corresponde a aquela que a

mais extensa área agrícola possui (101 122 ha). Uma vez atribuída grande importância a

área agrícola e sendo a região de Tombali aquela que maior área agrícola detém, o risco

verificado nesta região, pode resultar fundamentalmente da enorme extensão da área

agrícola.

Por sua vez, a região de Gabú, apesar de ser a maior de todas as outras, os dados

do INE 2012 apontavam para uma população que rondava os 219 811 habitantes,

constituindo assim a terceira região com maior número de habitantes atrás de Bissau

(404 396) e Oio (226 846).

No que respeita aos casos registados, verificou-se um aumento de 23 464 para

28 229 casos. A situação torna-se ainda mais grave quando se analisa a tendência das

Page 107: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

96

crianças com idades inferiores aos cinco anos, que passou de 9675 para 11 690. Importa

igualmente referir que, 41 % das crianças com idades inferiores a 5 anos em Gabú

possuíam a malária.

Apesar dos registos serem iguais ou em alguns casos, inferiores às outras

regiões, ainda assim, é bastante preocupante, dado que, as crianças enquadram-se no

grupo mais vulnerável. Contudo, é importante ressaltar o aumento das consultas pré-

natais efectuadas nesta região (8936 em 2012, para 12 811 em 2013), permitindo desde

logo um acompanhamento das mulheres nas fases de gravidez.

Relativamente ao número de óbitos, registou-se um grande aumento do mesmo,

de 99 para 104. Embora se tenha verificado um aumento dos mecanismos de prevenção

(G.E 6237 para 7453, TDR 10 166 para 21 236, MILDA 13 988 para 19 035), factor

que pode ser importante para a diminuição do risco. O risco por malária registado nesta

região em particular poderá estar em grande parte relacionada com a má gestão dos

meios de combate à doença, a área agrícola que a região apresenta (20 873 ha), a

densidade populacional (24 habitantes por km2) e ao próprio modelo que serviu de base

para esta análise.

Dado que os modelos são uma mera simplificação da realidade, passíveis de

serem mais ou menos representativos da realidade, de acordo com a consistência das

variáveis utilizadas e o peso atribuído a cada uma delas em particular, pode-se a partida

concluir que o risco apresentado pela região de Gabú deve-se, em parte, às variáveis e

aos pesos das mesmas, sem esquecer também a má gestão dos meios de combate à

doença.

No que concerne à região de Bafatá, de um modo geral, verifica-se que esta

apresenta um elevado número de casos por malária (tendo registado 18 229 em 2012,

para 21 425 em 2013) com uma variação de 17,53%. Contudo, é importante destacar a

correcta adopção das medidas de prevenção, nomeadamente, o acesso universal aos

meios e cuidados de saúde.

No entanto, para agravar ainda mais a situação relativamente aos casos

registados, é de referir que, verificou-se um aumento do número de casos em crianças

com menos de 5 anos de idade, passando assim de 6529 em 2012, à 7515 em 2013.

No que respeita ao óbito notificado, apesar da pequena descida verificada, de 56

em 2012 à 55 em 2013, ainda assim, não é suficiente para alterar o perfil da região face

Page 108: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

97

à doença. No que toca às medidas e meios de prevenção, de destacar que, dos 2377 GE

efectuada em 2012, 567 apresentaram um resultado positivo e dos 4067 efectuados em

2013, 1653 foram positivos.

Duas conclusões se podem retirar desta tendência, se por um lado aumentou o

número de indivíduos submetidos a GE, por outro também se registou um aumento dos

testes com resultados positivos. Sendo necessário também mencionar que, aumentaram

os testes de diagnóstico rápido, tendo sido registado em 2012 um total de 16 772, dos

quais resultaram 7285 testes positivos. Já no ano 2013, efectuaram-se 19 977 testes,

resultando em 9964 positivos.

Tal como os exames de GE, apesar do aumento do número de testes efectuados,

também se assistiu de igual modo, um aumento dos testes que acusaram um resultado

positivo. Ora, isto é particularmente importante, dado que, demonstra uma preocupação

dos habitantes em combater a doença, através da realização de exames que possibilitem

a antecipação e a propagação da mesma, permitindo de igual modo, um seguimento

contínuo da doença.

No que respeita às consultas pré-natais (Anexo D1 e Anexo D2), importa referir

que a região de Bafatá encontra-se bem posicionada, apesar da pequena descida deste

método de prevenção (8727 em 2012, para 7985 em 2013). No que concerne aos

exames realizados, importa referir que estes diminuíram bastante, tendo-se registado em

2012, 18 229 para 11 617 em 2013, passando de 9% à 5%, correspondendo a um

aspecto negativo, dado que, a malária é uma doença que necessita de um

acompanhamento contínuo.

No que respeita aos mosquiteiros impregnados, verificou-se um aumento

significativo da distribuição dos mesmos, tendo-se registado em 2012 cerca de 7139

MILDA, para 15 661 em 2013, duplicando assim, o valor registado no ano anterior.

Porém, apesar dos aspectos positivos evidenciados pelos valores das medidas de

prevenção, importa referir que, ainda assim, a região apresenta um elevado risco, que

poderá ser explicado com a considerável área agrícola (51 729 ha), que funciona como

um factor de incremento do risco nesta região, sem esquecer também, a densidade

populacional (36 habitantes por km2 e uma população de cerca de 211 662 habitantes

(INE Guiné-Bissau, 2012).

Page 109: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

98

No que concerne às regiões com risco, embora, não tão elevado em relação às

regiões acima mencionadas, surgem as regiões de Cacheu e Biombo. Na região de

Cacheu, o risco por malária, explica-se em grande parte com a imensa área agrícola que

esta apresenta (89 990 ha), cobrindo assim, cerca de 19% da região, o que favorece

bastante o desenvolvimento do vector e a persistência do plasmodium. No entanto,

apesar do risco verificado, é de sublinhar que Cacheu tem seguido uma boa política de

combate à malária.

A título de exemplo, está a redução considerável do número de casos de malária,

tendo-se registado em 2012, 10 778 casos de malária, para 9660 em 2013, registando

assim, uma variação de -10,37%. No que respeita aos casos registados em crianças, com

idades inferiores a 5 anos, importa referir que se verificou uma ligeira descida do

mesmo, de 4525 em 2012, para 3892 em 2013. Factor que permite desde logo destacar a

tomada de consciência da população em ir de encontro aos meios adequados de combate

à doença. Apesar de todos os aspectos atrás mencionados, é de referir que o número de

óbitos notificados aumentou de 7 em 2012, para 13 em 2013.

Relativamente às medidas de prevenção e combate à doença, embora, se tenha

verificado um aumento do número de MILDA distribuídos (ver figura 19), 10 673 em

2012 para 15 203 em 2013 e um aumento de consulta pré-natal de 5624 para 6057

(figuras 20 e 21 anexo D), factores de grande relevância, ainda assim, não foram

suficientes para reduzir o risco da malária nesta região. Para agravar ainda mais esta

situação, constatou-se que todas as medidas de prevenção têm registado um decréscimo.

Tal decréscimo, também foi verificado na quantidade de GE efectuado, que

segundo os dados utilizados, verifica-se uma diminuição de testes, embora, de uma

forma não muito significativa, passando de 7549 em 2012 para 7082 no ano seguinte,

tendo registado uma variação de -6,19%. Evidenciou-se também uma diminuição do

número de TDR efectuados 13 833 para 11 323 testes realizados. Ora, tal diminuição,

condiciona bastante a actuação das entidades responsáveis pela luta contra a malária.

Neste ponto, importa ainda reflectir sobre um aspecto de grande importância

que, prende-se sobretudo com o número de exames realizados, que passaram de 10 778

para os 7158 em 2013, registando assim uma variação de -33,6%. Este é de facto, uma

das principais causas do risco, sem esquecer também a diminuição dos tratamentos

preventivos intermitentes, que, tanto o primeiro como o segundo, têm registado

Page 110: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

99

decréscimo nos dois anos em análise passando assim dos 1445 para os 703 em 2012 e

os 3837 para os 2417 em 2013.

De modo geral, é de referir que a tendência para os tratamentos preventivos

intermitente, é decrescente em todas as regiões do país, contribuindo particularmente

para o incremento do elevado risco que se verifica nas regiões em estudo.

Apesar das iniciativas e da ambição dos objectivos pretendidos por parte não só

dos parceiros, como também do Programa Nacional de Luta contra o Paludismo, é de

salientar que, ainda existe um longo percurso a fazer, sobretudo nas regiões mais

afectadas como é o caso das regiões anteriormente mencionadas, comprovando ainda

mais a posição destas, relativamente à vulnerabilidade face à doença.

No que concerne á região de Biombo, se considerarmos a quantidade de

MILDA, é de destacar que foram distribuídos nesta região em 2013, 4530 mosquiteiros

cobrindo 5% da sua população, registando um acréscimo da variação percentual de 2%,

em relação ao ano anterior (2012). Não obstante, embora a quantidade de MILDA

distribuídos não cubra toda a população da região, ainda assim, deve ser visto como um

incentivo ao combate a doença.

Se observarmos também os números de casos registados em 2013, esta região,

corresponderá a quarta região com elevado número de casos (7311), seguida de Quinara

(6492), Oio (5841) e Bolama-Bijagós (3728). Outro factor responsável pelo risco

moderado de malária nesta região, tendo sido possibilitado pelo aumento de consultas

pré-natais, que têm contribuído para a redução do número de casos em crianças com

idades inferior a 5 anos, passando assim de 51% dos casos em 2012, para 44% em 2013.

Outro factor que poderá ter um peso considerável no incremento da doença e

desenvolvimento dos vectores é, a área agrícola que esta região possui, que embora

corresponda a uma das mais pequenas (13 066 ha) do conjunto das regiões, ainda assim

tem um papel de grande impacto na intensidade da malária. Por fim, importa referir que,

apesar de ser uma região com elevado número de população (99 947), é de destacar que

o risco por malária verificado nesta região deve-se sobretudo, à boa política de

prevenção adoptada, que tem contribuído para a redução do risco.

No que respeita à região de Oio, importa referir que esta corresponde a uma das

regiões que menor risco por malária apresenta. Apesar do reduzido número de casos

(6445, correspondendo a terceira região com o mais baixo número de casos registados),

Page 111: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

100

ocupa também, a terceira posição no que se refere sobretudo aos casos de malária em

crianças com idades inferior a cinco anos (2790 em 2012 para 2087 em 2013), contudo,

é imprescindível uma política direccionada para a prevenção da doença.

Aos mecanismos de prevenção, importa referir que a GE embora baixa, a região

de Oio apresenta um número relativamente modesto (4517) dos quais 893 confirmaram-

se positiva. No que concerne ao TDR, registou-se um valor de 9854, sendo que 4592

confirmaram-se positivos em 2013.

Relativamente ao TPI, sobretudo o segundo tratamento, que passou de 1998 em

2012, para 2935 no ano 2013. É interessante notar que, ao contrário do grande progresso

registado com o TPI, o mesmo já não se aplica aos exames realizados, tendo sido

verificado uma diminuição, passando assim de 6445 em 2012, para 5485 em 2013,

contribuindo de forma negativa para a persistência da doença.

A quantidade de MILDA distribuídos passaram de 10 897 em 2012, para 23 007

em 2013. Este é indubitavelmente um aumento considerável, registando deste modo, um

acréscimo de 5% em relação ao ano anterior (2012). Face ao que antecede, pode-se de

antemão referir que a região de Oio apresenta, um bom desempenho no que concerne às

medidas de prevenção.

Contudo, este facto acaba por ser condicionado sobretudo, pelas políticas de

prevenção da doença e pela grande área agrícola que a região apresenta. Na verdade,

esta é uma região com uma extensa área agrícola, sendo mesmo a terceira com maior

área agrícola (67 106 ha), atrás de Tombali (101 122 ha) e Cacheu (89 990 ha), daí, o

risco verificado, apesar do bom desempenho no respeita às medidas de prevenção.

Por fim, no que concerne à região de Bolama-Bijagós, apesar de ser a região que

menor número de casos registou nos dois anos em análise, diminuindo deste modo a

taxa de incidência da doença, (passando dos 0,17 para 0,11), é de destacar que no que

respeita às medidas de prevenção, se por um lado se verificou um ligeiro aumento da

GE (2074 para 2176), por outro, registou-se também um aumento considerável de testes

de G.E que tiveram uma confirmação positiva, passando assim de 810 testes positivos

em 2012, para 1467 em 2013.

Relativamente aos testes de diagnóstico rápido (TDR), é de sublinhar que apesar

de uma pequena melhoria/aumento desta medida de prevenção, ainda assim, os

arquipélagos de Bolama-Bijagós, continuam a registar os valores mais baixos no que

Page 112: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

101

respeita às medidas de prevenção. Ora, esta tendência é bastante preocupante, dado que,

tanto os testes de diagnóstico rápido como os de GE, correspondem as medidas que

permitem de antemão, verificar uma possível infecção pela malária, pelo que uma

diminuição destes testes poderá contribuir para um desconhecimento da situação da

região face a esta doença.

A diminuição das consultas pré-natais poderá estar intimamente ligada a

diminuição dos testes de G.E e TDR, o que poderá contribuir para o incremento dos

casos da malária, sobretudo nas estruturas mais vulneráveis à doença (crianças com

idades inferiores a cinco anos e mulheres grávidas). De facto, no que se refere às

consultas pré-natais, a região de Bolama-Bijagós, corresponde aquela que mais baixo

número de consultas pré-natais, registou em 2012, 1121 consultas efectuadas, para 949

no ano seguinte, correspondendo assim a uma variação de -15% (ver Figuras 22 e 23

anexo D).

Não obstante, apesar das reduções dos testes de detecção da malária e

acompanhamento dos indivíduos como medidas de prevenção contra o plasmodium,

importa sublinhar, que para colmatar essa redução, verificou-se de igual modo, um

aumento do total de MILDA distribuídos (980 em 2012, para 2983 em 2013),

contribuindo desta forma para a diminuição do número de casos registados nos dois

anos em análise (5600 em 2012, para 3728 em 2013).

A juntar a quantidade de mosquiteiros distribuídos está também a área agrícola

da região (Figura 24 anexo D), correspondendo a uma das mais baixas do conjunto em

estudo (22 003 ha), factor que pode contribuir para a diminuição do desenvolvimento do

vector e consequentemente para o posicionamento da região face a doença.

Page 113: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

102

Figura 19. Total de MILDAs distribuídos em 2013

Face aos aspectos evidenciados nas diferentes regiões, é legítimo concluirmos

que, ainda existe um longo caminho a efectuar para a erradicação da doença na Guiné.

A este facto, relacionam-se pelo menos cinco aspectos de grande importância,

nomeadamente, “i) - o reduzido número de técnicos especializados para efectuar tais

exames; ii) - a não utilização das fichas de marcação diária; iii) - preenchimento

incompleto dos livros de consulta e de laboratório pelos técnicos de saúde (sobretudo os

médicos); iv) – a maioria dos médicos afectos aos hospitais e centros de saúde, não

obedece aos critérios da confirmação biológica do paludismo (TDR/GE) antes de

decidir o tratamento conforme as directrizes do PNLP; e v) – fraco domínio na

utilização da ficha de informação mensal do paludismo pelos técnicos de saúde” (PNLP,

2011:11).

Neste sentido, uma das questões que se deverá colocar no futuro e para a qual

será necessário encontrar respostas e soluções eficazes, corresponderá certamente, à

concertação e harmonização das estratégias desenvolvidas por diferentes instituições,

quer sejam de base nacional ou local, quer de cariz internacional.

Page 114: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

103

IV. CONCLUSÃO

O estudo dos impactos epidemiológicos nas regiões menos desenvolvidas,

recorrendo ao uso de tecnologias de informação geográfica, pode ser um meio eficaz

para o controlo não só dos vectores, como também do plasmodium. Na verdade, o uso

dos sistemas de informação geográfica constitui um tipo de linguagem que melhora

bastante a compreensão dos fenómenos em estudo, num espaço geográfico específico.

Na Guiné-Bissau, a ausência de informações e dados geográficos consistentes

acerca dos fenómenos responsáveis pelo incremento da malária e não só, tem

condicionado bastante os planos de acção para o controlo da mesma.

Pretendeu-se com este estudo, compreender a espacialização da doença nas

diferentes regiões, recorrendo a técnicas de DR e SIG. Foi sobretudo neste sentido que,

numa primeira parte recorreu-se ao uso de DR, e aos métodos de segmentação de

imagem por regiões, com a finalidade de extrair as classes de ocupação do solo e

posteriormente, calcular as áreas que cada uma ocupa nas diferentes regiões em estudo.

Com a aplicação do algoritmo de classificação Bhattacharya, com um limiar de

aceitação de 99,9%, obteve-se um desempenho geral de 100%. Após a extracção das

classes de ocupação do solo, recorreu-se aos SIG, para determinar as regiões de elevado

risco por malária, pretendeu-se nesta fase, um maior envolvimento destas ferramentas,

devido sobretudo, às grandes potencialidades e rigor em responder às questões

complexas.

Com os resultados obtidos por via de extracção das classes de ocupação do solo,

criou-se um índice, do qual resultou o modelo de risco que combina todas as variáveis

utilizadas (ver figura 17), sendo que, para a obtenção do tal modelo, recorreu-se à

técnica de normalização das variáveis e a ponderação dos pesos atribuída a cada uma

delas, mediante a importância que detêm no incremento da doença, tendo sido atribuído

o maior peso às áreas agrícolas.

O resultado da combinação das variáveis permitiu, determinar as regiões com o

elevado risco por malária, sendo elas, Bissau, seguida de Quinara, Tombali, Gabú e

Bafatá seguidas de outras com o risco menos elevados em relação a estas (Cacheu,

Biombo Oio e por fim, Bolama-Bijagós com o mais baixo risco por malária).

Page 115: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

104

Porém, importa sublinhar desde já que, o risco verificado nas regiões de elevado

risco atrás mencionadas, ora resultam das áreas agrícolas ora das más políticas e

medidas de prevenção.

Contudo, importa mencionar que, o modelo concebido e os pesos atribuídos às

diversas variáveis, tiveram um papel de grande importância nos resultados finais, pelo

que é importante ter em consideração que o mesmo, seria completamente alterada com a

inclusão ou exclusão das variáveis tais como, às de cariz económicas ou mesmo dos

aspectos geomorfológicos e ambientais (nomeadamente a temperatura, precipitação

entre outros) que seria interessante analisar.

Apesar dos defeitos do modelo adoptado, conseguiu-se perceber não só, quais as

variáveis que têm contribuído para a incidência dos novos casos (nomeadamente, a

extensa área agrícola, a redução dos mecanismos de prevenção e em alguns casos as

más políticas de gestão dos meios de combate à doença), como também, quais as

regiões de maior risco, servindo este modelo para a compreensão da disseminação da

malária pelas regiões em estudo.

Uma das conclusões que se pode retirar com este estudo, prende-se com as

medidas de prevenção e combate à malária, que deverão passar pelo aumento do

seguimento e avaliação da doença na Guiné e um reforço das medidas de combate,

cabendo às autoridades responsáveis, reforçar não só a disponibilidade dos meios, como

também incitar a formação dos profissionais tanto no preenchimento das fichas de

informação mensal, maior controle dos médicos no que respeita ao comprimento dos

critérios de reconhecimento biológico do plasmodium.

Não obstante, importa ainda referir que é imperativo não esquecer a urgente

necessidade dos estudos entomológicos, cuja ausência, representa uma das lacunas mais

urgentes de resolver, no sentido em que, permitiria não só conhecer o vector

responsável, como também, uma maior eficácia na luta antivectorial. Embora, ainda

sejam ferramentas pouco utilizadas para os estudos epidemiológicos na Guiné, os SIG e

DR constituem um meio poderosíssimo para esse fim.

Neste sentido, o presente estudo, teve como principal objectivo, não só, a

compreensão da espacialização da doença nas diferentes regiões, como também

demonstrar as potencialidades dos software Open Source, aplicados aos estudos

epidemiológicos.

Page 116: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

105

De facto, apesar das questões relacionadas com a visão e a ética da sua

utilização, os Open Source têm vindo a ganhar visibilidade em relação aos Software

comerciais, por vários motivos, nomeadamente, os relacionados com a questão

económica (comercial), permissão do acesso ao código fonte, partilha de conhecimentos

acerca do Software, liberdade para criar e modificar os plugins (extensões) e liberdade

para difundir cópias de versões alteradas do mesmo.

Face ao conjunto de liberdades apresentadas por Free software e Open Source

software, importa sublinhar que as vantagens intrínsecas a estes, sobretudo as

relacionadas com as questões de livre acesso, aspectos económicos e comerciais

(inexistência de taxas de licença), aperfeiçoamento contínuo das aplicações e extensões,

estiveram na base da escolha destes, aplicando-os ao estudo da malária, de forma a

permitir que os processos de “replicação” do estudo, sejam uma realidade,

independentemente do local onde este é efectuado.

Deste modo, com as metodologias adoptadas e software utilizados, pretendeu-se

colmatar as dificuldades encontradas sobretudo, na demora do tratamento dos dados e o

encaminhamento dos mesmos aos serviços de coordenação da luta contra à doença, sem

esquecer também o aspecto económico dos software, no que respeita sobretudo ao custo

zero, constituindo assim, uma vantagem enorme ao governo guineense, dado que ao

nível global, a Guiné-Bissau enquadra-se na lista dos países mais pobres.

Contudo, é importante referir a relevância da qualidade e rigor dos dados a

tratar, de preferência, desagregado a uma escala sectorial e não apenas à escala regional,

como é o caso dos dados tratados no presente estudo.

De uma forma geral, o combate à malária, aliada a novas estratégias

(subentenda-se novas tecnologias de informação) e iniciativas dos parceiros da Guiné-

Bissau, como a OMS e Organizações Não-Governamentais (ONG), entre outros, poderá

permitir uma melhoria considerável, no que concerne sobretudo, aos meios de combate

a doença mais adequados.

Neste sentido, a modelação espacial e a utilização de modelos epidemiológicos

poderão permitir uma melhor resposta das autoridades responsáveis pela luta contra a

malária, no sentido de uma correcta tomada de decisão, isto porque, decidir com base

nos resultados das técnicas de AE aplicando os SIG e DR, constituem factores

fundamentais para a mais correcta tomada de decisão.

Page 117: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

106

Assim sendo, espera-se que o modelo desenvolvido e o presente trabalho,

possam servir de base para análises posteriores complementados com os dados reais e

consistentes. Na verdade, o modelo desenvolvido poderá servir essencialmente, no

quadro de implementação de novas estratégias da luta contra a malária.

Pretende-se que o presente estudo, possa servir de contributo à luta contra a

malária. Sendo que os SIG e DR podem servir, como ferramentas indispensáveis para o

desenvolvimento de modelos de análise que possibilitem a criação de modelos de

previsão de novos surtos da doença e das regiões com mais ou menos vectores e ainda

quais os vectores com mais importância para o incremento da malária.

Neste sentido, são ferramentas que possam contribuir em muito para o

acompanhamento, monitorização da doença com maior rigor e celeridade, permitindo

uma resposta em mais curto espaço de tempo.

Por fim, a técnica de segmentação da imagem e classificação orientada ao

objecto, complementada com a normalização das variáveis e a ponderação dos pesos

das mesmas, correspondem a processos/metodologias inovadoras, que podem ser

facilmente replicadas e adaptadas às outras doenças eventualmente, permitindo ainda a

criação de modelos de análise que possam servir de base para uma correcta decisão, no

sentido de mitigar este flagelo.

Page 118: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

107

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, Mário José Ramires Monteiro. Fundamentação teórica para a criação de

um sistema de alerta e resposta online durante episódios térmicos de calor extremo

para uma unidade de Saúde da GAMP. Dissertação apresentada para a obtenção do grau

de mestre em Riscos, Cidades e Ordenamento do Território-Área de Investigação. 2012.

p.p. 35;

ALVES, João et.al. Utilização de Detecção Remota para a Determinação de Zonas de

Risco de Contaminação por Malária e a influência das alterações climáticas Globais

na sua Expansão – Região do Algarve como o Caso de Estudo. Faculdade de Ciências e

Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa, Laboratório de Investigação de Sistemas

de Informação Geográfica. 2001. p.p. 2, 3;

ALVES, Joana Batista. Epidemiologia da Malária em Santiago, Cabo Verde. Factores

Genéticos Humanos e Estrutura Populacional do Mosquito Vector. Dissertação

apresentada a Universidade Nova de Lisboa, para a obtenção do grau de Doutor no

Ramo das Ciências Biomédicas, Especialidade Parasitologia. 2010. p.p. 3, 4, 10

BERNARDES, Tiago; ALVES, Helena M. R., VIEIRA, Tatiana G.C Classificação

Automática de Imagens de Satélites no Mapeamento da Região Cafeeira de Patrocínio,

MG.http://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/906103/1/Classificacaoautomatic

adeimagens.pdf [Acedido em 28 de Novembro de 2014];

BIAI, Itel Abissa Roa Fernandes. Efeitos das Alterações Climáticas na Zona Costeira

Noroeste da Guiné-Bissau. Dissertação apresentada à Universidade Técnica de Lisboa

para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia do Ambiente, 2009. p.p. 15, 16, 20,

24;

CAETANO, Mário; SANTOS, Teresa; GONÇALVES, Luísa; “Cartografia de

Ocupação do Solo com Imagens de Satélite: estado da arte”, 2002. p.1

http://www.igeo.pt/gdr/pdf/Caetano2002a.pdf ;

CAETANO, Cecília Margarida dos Santos; VAZ, Daniel Carlos Silva; CORREIA,

Carlos Emanuel Baptista Dias. Malária a febre dos Trópicos. Faculdade de Medicina de

Coimbra Clínica universitária de Doenças Infecciosas, Lições de Infecciologia,

2002/2003. p.p. 3,10

Page 119: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

108

CARDOSO, Yolanda Marina Venancio Rebelo. Resistência “knockdown” a

insecticidas em populações de Anopheles Gambiae Giles, 1902 de Angola, África

Austral. Tese apresentada a Universidade de Lisboa para a obtenção de grau de mestre

em Biologia Humana e Ambiente. 2007. p.p. 3, 5, 6, 7, 13.

CARVALHO, Marilia Sá; De PINA, Maria de Fátima; SANTOS, Simone M.

Conceitos básicos de Sistemas de Informação Geográfica e Cartografia Aplicados a

Saúde. 20ª Edição, Brasília: OPAS, 2000. p.p. 14, 18, 20, 48, 77.

CASIMIRO, Pedro Cortesão. Uso do solo, Teledetecção e Estrutura da Paisagem

Ensaio Metodológico-Concelho de Mértola. Dissertação de Doutoramento no ramo de

geografia e planeamento regional, especialidade de Novas tecnologias em Geografia,

apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de

Lisboa. 2002. p.p. 69, 87, 203

CHISSINGUI, Márcia Vetchiele de Ascensão Duarte. Implementação dos Sistemas de

Informação Geográfica na Área da Saúde no Município do Lubango/Angola. Trabalho

de Projecto de Mestrado em Gestão do Território Área de Especialização em Detecção

Remota e Sistemas de Informação Geográfica, apresentado à Universidade Nova de

Lisboa para a obtenção do grau de Mestre em Geografia e Planeamento Regional, 2012.

p. 64

COSME, António. Projecto em Sistemas de Informação Geográfica. LIDEL: Lisboa-

Porto, 2012. p.p. 18, 208. ISBN: 978-972-757-849-8

CRISÓGONO, Paulo Jorge Borges Martins. Detecção Remota em Meio Urbano: Teste

com Classificadores Supervisionados a nível do Píxel sobre Imagens de Alta Resolução

Espacial aplicados numa Lógica Hierárquica de Classes. Dissertação para obtenção do

grau de Mestre em Gestão do Território pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa. 2011. p.p. 29, 30

CRUZ, Isolina; CAMPOS, Vânia Barcellos Gouvêa. Sistemas de Informações

Geográficas Aplicadas a Análise Espacial em Transportes, Meio Ambiente e Ocupação

do Solo. 2005. [Acedido em 9 de Outubro de 2013] p.p. 3

http://aquarius.ime.eb.br/~webde2/prof/vania/pubs/%2815%29SIG-AE2.pdf

DI PACE Frederico T; SILVA Bernardo B; SILVA Vicente de P.R; SILVA Saulo T.

A. Mapeamento do saldo de radiação com imagens Landsat 5 e modelo de elevação

digital. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. 2008. P. 386

Page 120: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

109

ENCARNAÇÃO, Sara. Análise de Imagem Orientada a Objecto: Abordagem

Conceptual e experimentação a partir de imagens QuickBird. Dissertação para a

obtenção do grau de Mestre em Gestão do Território pela Faculdade de Ciências Sociais

e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa. 2004. p.p. 5, 16, 21.

FONSECA, Ana Duarte; FERNANDES, João Cordeiro. Detecção Remota. LIDL:

Edições Técnicas, Lisboa-Porto, 2004. p.p. 111;

GIAVONI, Adriana; TAMAYO, Álvaro. Análise Espacial: Conceito Método e

Aplicabilidade. Psicologia: Reflexão e Crítica. 2003, 16 (2), pp. 303-307. p. 303

GIROUX-MAHEU, Mathieu; CASTRO, Marcia C. Do malaria vector control

measures impact Disease-related behavior and knowledge? Evidence from a large-

scale larviciding intervention in Tanzania. Malaria Journal, 12:422,

http://www.malariajournal.com/content/12/1/422 [Acedido em 26 de Novembro de

2013] p. 2

GÓES, Camila Aguiarre: FILHO, Wilson Lins de Mello; CARVALHO, Melissa. “

Avaliação do desempenho de diferentes classificadores (ISOSEG, Bhattacharyya,

Maxver e Maxver-ICM), utilizando imagens CCD/CBERS-1 e ETM+ /Landsat-7

fusionadas”. Revista Ambiente & Água – An interdisciplinar Journal of Appllied

Science: v.1, n.2, 2006. p. 82

GOMES, Eduardo. Risco Potencial de Transmissão de Malária em Portugal

Continental. Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Gestão do

Território pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de

Lisboa, Lisboa. 2010. p.36

GOMES, Nuno Miguel Pereira. Integração de Dados LiDAR com imagens de muito

Alta Resolução Espacial Para Determinação De Áreas Urbanas Com Potencial Solar.

Tese apresentada à Universidade Nova de Lisboa para obtenção de grau de Mestre em

Gestão do Território, área de especialização em Detecção Remota e SIG, 2011. p. 37

JULIÃO, Rui Pedro. Tecnologias de Informação Geográfica e Ciência Regional.

Contributos metodológicos para a Definição de Modelos de Apoio à Decisão em

Desenvolvimento Regional. Tese apresentada à Universidade Nova de Lisboa para a

obtenção de grau de Doutor em Geografia e Planeamento Regional, 2001: p.p. 82, 84

Page 121: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

110

LIESHOUT, Van. M; KOVATS, R.S; LIVERMORE, M.T.J; MARTENS, P.

Climate change and malaria: analysis of the SRES climate and socio-economic

Scenarios. Global Environmental Change, 14 (1): 87-89. 2004. p.p.88, 98

LILLESAND, Thomas M.; KIEFER, Ralph W. – Remote Sensing and Image

Interpretation. 4ª Edition, EUA: John Wiley & Sons, Inc., 2000, p.p. 245, 255

LILLESAND, Thomas M.; KIEFER, Ralph W, CHIPMAN, Jonathan W. – Remote

Sensing and Image Interpretation. 6ª Edition, 2008, p.p. 1, 568

MACHADO, João de Azevedo Reis. A Emergência dos Sistemas de Informação

Geográfica na Análise e Organização do Espaço. Edição: Fundação Calouste

Gulbenkian, Fundação para a Ciência e Tecnologia, ISBN: 972-31-0818-6. 2000. p.p.

225, 240,

MATOS, João. Fundamentos de Informação Geográfica. Lisboa: LIDEL, 2008. p.p. 1,

113, 226. ISBN: 978-972-757-514-5

MENESES, Paulo Roberto; ALMEIDA, Tati. Introdução ao processamento de

Imagens de Sensoriamento Remoto. Brasília. 2012. p.p. 191, 192, 195,198,209,216

MOREIRA, José Aloysio. Breve estudo sobre a Etiologia da Malária. Dissertação

Inaugural apresentada á Escola Médico-cirúrgica do Porto. Porto Typographia Gandra

80-Rua de Entre Paredes-80, 1890: 16;

NETO, Leão Pedro, Sistemas de Informação Geográfica. Lisboa: Col. “LIDEL”, 1ª

edição, 1998. p.p. 2, 7, 105

NOSSA, Paulo Nuno Sousa. Abordagem geográfica da oferta e consumo de cuidados

de Saúde, cap. 6. Aplicabilidade dos SIG nas investigações em saúde; Tese apresentada

para a obtenção de grau de Doutor em Geografia, apresentada à Universidade do Minho,

2005: 163;

OLIVEIRA, Érika da Cunha. Caracterização genética do mosquito vector da malária

Anopheles Gambiae em Bissau, Guiné-Bissau,2007. p. 4

RASHED, Tarek; JURENS, Carsten. Remote Sensing and Digital Image Processing.

p.p. 48

RICHARDS, John A.; JIA, Xiuping. Remote Sensing Digital Image Analysis. 4th

edition. 2006. p. p. 2, 247

Page 122: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

111

ROLL BACK MALARIA. The Global Malaria Action Plan, for a malaria-free World.

[http://www.rollbackmalaria.org/gmap/gmap.pdf]. 2008 [acedido em 15 de Março de

2014]. p.p. 12, 13, 14, 27,

ROLL BACK MALARIA. Declaração de Abuja e Plano de Acção. 2003. p. 1,

SANTANA, Paula, Geografia da Saúde e do Desenvolvimento Evolução e Tendências

em Portugal. Edições Almedina, SA. Rua da Estrela, nº 6 3000-161 Coimbra, 2005. p.p.

40, 41, 42,

SILVA, S. Francinaldo. A importância Hematofágica e Parasitológica da Saliva dos

Insetos Hematófagos. Revista trópica-ciências agrárias e Biológicas v.3, N. 3. p.2.

SINKA, Marianne E. et. al. The dominant Anopheles vectors of human malaria in

Africa, Europe and the Middle East: Occurrence data, distribution maps and bionomic

précis. Parasites & Vectors 2010. p. 2 [acedido em 8 de Março de 2014].

[http://www.parasitesandvectors.com/content/3/1/117].

WHO. Global Malaria Control and elimination: report of a technical review. World

Health Organization. [Acedido em 30 de Setembro de 2013] 2008. p. 2

[http://whqlibdoc.who.int/publications/2008/9789241596756_eng.pdf?ua=1]

WHO. (2008) World Malaria Report. World Health Organization p.p. 1, 9 [Acedido em

30 de Setembro de 2013] ISBN: 978 92 4 156369 7

http://www.who.int/malaria/publications/atoz/9789241563697/en/index.html

WHO. (2012). Global Malaria Programe, World Malaria Report. 2012: p.p. x, ix,

xxviii, xxix, xxx, xxxi

WMR. (2005) World Malaria Report 2005. World Health Organization, Roll Back

Malaria, Unicef. [Acedido em 30 de Dezembro de 2013]. p. xv, xiv, xvii

http://whqlibdoc.who.int/publications/2005/9241593199_eng.pdf

WMR. (2011): Global Malaria Programme. World Health Organization. .p. 30

WMR. (2013). Global Malaria Programe, World Health Organization. 2013: ix

ZHANG, Wenyi; et al., Spatial analysis of malaria in Anhui province China, Malaria

Journal. http://www.malariajournal.com/content/7/1/206 2008: p.p. 1,3. [Acedido em

22 de Dezembro de 2013]

Page 123: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

112

Relatórios Estratégicos:

Documento Estratégico Nacional de Redução da Pobreza (DENARP). Versão

corrigida em Outubro de 2005 na Base do DENARP adoptado em 2004: [Acedido em

15 de Janeiro de 2014]. p. 21 http://www.stat-guinebissau.com/denarp/denarp.htm

Escritório Regional Africano da OMS. Estratégia de Cooperação da OMS com os

Países 2009-2013. Relatório de cooperação da OMS com a Guiné. ISBN: 978 929 034

0157. 2008. p. 1

Programa Nacional de Luta contra o Paludismo. Direcção Geral de Promoção e

Prevenção da Saúde. Ministério de Saúde, Guiné-Bissau. Relatório Anual 2012. 2013.

p.p. 3, 28, 10.

Programa Nacional de Luta contra o Paludismo, Direcção Geral de Prevenção e

Promoção da Saúde. Ministério da Saúde Pública e da Solidariedade Social. Plano

Estratégico Nacional de Seguimento e Avaliação, Guiné-Bissau 2013-2017, 2013. p.p.

9, 14, 15,17, 20,28,48.

Programa Nacional de Luta contra o Paludismo. Ministério de Saúde, Direcção

Geral de Saúde. Guiné-Bissau. Relatório Anual. 2009. p.p. 1, 10

Programa Nacional de Luta contra o Paludismo. Direcção Geral de Promoção e

Prevenção da Saúde Guiné-Bissau. Ministério da Saúde. Relatório Anual, 2011. p. 12

Sites consultados:

http://www.rbm.who.int/ actualizado diariamente. Acedido em Dezembro de 2013

http://www.misodor.com/MALARIA.php

http://www.stat-guinebissau.com/index.htm

http://www.earthexplorer.usgs.gov Acedido em Dezembro de 2013

http://softwarelivre.org/open-source-codigo-aberto Acedido em Novembro de 2014

http://www.worldclim.org/about Acedido em Janeiro de 2015

http://angnoticias.blogspot.pt/2014/11/saude-publica.html Acedido em Novembro de

2014

Page 124: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

113

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Estrutura da Dissertação ………………………………………………………5

Figura 2. Factores que influenciam o incremento da malária…………………………..17

Figura 3. Ciclo de Vida do Vector……………………………………………………...19

Figura 4. Ciclo de Transmissão do Parasita……………………………………………22

Figura 5. Os eixos da intervenção mundial contra a malária…………………………...28

Figura 6. Enquadramento Geográfico da Guiné-Bissau………………………………..32

Figura 7. As Regiões Administrativas da Guiné-Bissau……………………………….33

Figura 8. Princípios fundamentais de Detecção Remota……………………………….49

Figura 9. Casos de cólera identificados por pontos e poços de água por cruzes num

bairro de Londres 1854…………………………………………………………………54

Figura 10. Influência das condições de iluminação (composição falsa cor)…………...61

Figura 11. Resultado do Cálculo do NDVI…………………………………………….63

Figura 12. Divisões das classes e nomenclatura adoptada……………………………..65

Figura 13. Fluxograma dos procedimentos ……………………………………………67

Figura 14. Área de estudo………………………………………………………………69

Figura 15. Extractos da segmentação com diferentes similaridades e área de treino…..74

Figura 16.resultado da classificação supervisionada…………………………………...77

Figura 17.Modelo do cruzamento das variáveis………………………………………..90

Figura 18. Regiões com elevado risco por Malária…………………………………….91

Figura 19. Total de MILDA distribuídos em 2013……………………………………102

Page 125: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

114

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Técnicas de Análise Espacial em SIG com aplicações em Saúde e

Ambiente……………………………………………………………………………….47

Quadro 2. Bandas espectrais do Sensor Landsat 8…………………………………......59

Quadro 3. Coordenadas das imagens seleccionadas……………………………………60

Quadro 4. Estatística das Bandas utilizadas……………………………………………62

Quadro 5. Parâmetros de segmentação utilizados sob imagem Landsat

8………………………………………………………………………………………...73

Quadro 6. Matriz de erros da classificação…………………………………………......79

Quadro 7. Medidas de concordância de índice Kappa…………………………………80

Quadro 8. Variáveis utilizadas………………………………………………………….84

Quadro 9. Variáveis normalizadas……………………………………………………...85

Quadro 10. Fragmentação dos níveis de comparação………………………………….86

Quadro 11. Variáveis utilizadas e o respectivo peso atribuído…………………………88

Page 126: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

115

ANEXOS

ANEXO A: ESTRUTURA PARA O CONTROLO DO PLANO DE ACÇÃO

(ABUJA 2000) E AS CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DOS PLASMODIUM

A.1. Elementos do plano

Áreas

prioritárias

Abordagens e Actividades

Organização e

gestão do

sistema de saúde

Melhorar a capacidade de gestão dos ministérios de saúde. Assegurar a existência de políticas de

saúde e programas integrados para tratamento e prevenção de doenças prioritárias. Desenvolver indicadores

de base para controlo e avaliação do desempenho do sistema de saúde.

Promover a descentralização do sistema de saúde a fim de melhorar o acesso a serviços.

Criar e reforçar capacidades para prestação de cuidados de saúde a nível distrital e comunitário.

A descentralização do sistema de saúde deve acompanhar a descentralização em outros sectores

Reforçar parcerias com ONG e o sector privado para fornecimento de coberturas e acesso

universais com cuidados complementares, compatíveis e contínuos.

Criar e reforçar parcerias com outros sectores cujas actividades fomentam a transmissão do

paludismo. Assegurando a realização da avaliação do impacto ambiental (EIA), avaliação do risco sanitário

(HRA) e gestão do risco sanitário (HRM) de todos os projectos de desenvolvimento.

Alargar as opções de financiamento de saúde a nível comunitário a fim de melhorar a

acessibilidade e possibilidade financeira de tratamento antipalúdico e medidas de prevenção.

Reforçar o sistema existente de gestão financeira para garantir transparência, equidade e

probidade na utilização dos fundos a todos os níveis.

Tratamento de

doenças

Elaborar conjuntos de intervenções para enfrentar doenças prioritárias (intervenções de

tratamento e prevenção) tais como DITIDI.

Assegurar a atribuição de recursos necessários e facilitar a colaboração de todos os membros da

equipa de saúde no fornecimento de conjuntos de intervenção prioritária.

Encorajar e apoiar programas comunitários para diagnóstico imediato e tratamento antipalúdico

rápido e adequado.

Tomar medidas apropriadas para assegurar que a secção mais pobre da comunidade tem

disponibilidade de tratamento adequado e de custo acessível para paludismo grave

Melhorar a qualidade do diagnóstico e tratamento graças a formação contínua e supervisão.

Fornecer serviços de laboratório, equipamento apropriado e medicamentos essenciais nos principais centros

de saúde.

Fornecer instrução sanitária e informação em escolas, locais de trabalho, junto de pais,

especialmente de mães e pessoas cuidando de crianças pequenas, sobre maneira de reconhecer o paludismo.

Melhorar a capacidade de tratamento em casa e de reconhecimento da necessidade de procura de assistência

em casos graves.

Estabelecer directivas para tratamento do paludismo e outras doenças prioritárias por pessoal de

saúde a todos os níveis

Page 127: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

116

Fornecimento de

medicamentos

antipalúdicos e

materiais de luta

contra o

paludismo

Desenvolver os mecanismos para assegurar fornecimento adequado, contínuo e rápido de artigos,

especialmente de medicamentos, insecticidas e outros materiais de luta contra o paludismo.

Produzir e actualizar as políticas nacionais de medicamentos para todas as doenças prioritárias e

assegurar a sua implementação e análise através dos sectores governamentais e privados.

Promover a sensatez na receita de medicamentos antipalúdicos tanto no sector público como no

privado. Estabelecer ou reforçar uma autoridade reguladora eficiente para analisar todos os pedidos de

registo de medicamentos e tendo uma forte capacidade de inspecção e imposição.

Apoiar e contribuir para o estabelecimento e/ou conservação de laboratórios independentes,

nacionais e regionais, de controlo de qualidade de medicamentos.

Prevenção de

doenças

Sensibilizar a população e fomentar medidas de prevenção, tais como protecção das casas,

mosquiteiros tratados com insecticida e outras medidas tais como controlo do meio ambiente.

Apoiar e encorajar medidas ambientais tomadas por famílias e comunidades para reduzir os

locais de reprodução de mosquitos.

Apoiar e fomentar a elaboração e utilização de remédios tradicionais para lutar contra o

paludismo.

Apoiar e fomentar medidas de prevenção do paludismo tais como quimioprofilaxia e/ou

tratamento presuntivo para mulheres grávidas, especialmente as que estão na primeira gravidez.

Iniciar estratégias para evitar a reintrodução do paludismo em zonas livres da doença.

Vigilância de

doenças,

prevenção

de epidemias e

resposta

Reforçar o sistema de informações sobre saúde para assegurar notificação fidedigna de casos de

paludismo e mortes como parte do sistema integrado de controlo de doenças.

Fornecer tais informações a trabalhadores de saúde e decisores políticos para tomadas de decisões

apropriadas.

Estabelecer um meio de alerta efectivo para prevenção e resposta a epidemias capaz de, o mais

rapidamente possível, detectar e conter qualquer surto.

Estabelecer um sistema efectivo para alertar autoridades de luta contra o paludismo e decisores

políticos em outros sectores pertinentes de novos projectos de desenvolvimento, movimentos de população,

assim como alterações ambientais e climáticas que possam ter impacto sobre a situação do paludismo.

Controlo

sustentável

Promover acção multissectorial essencial para assegurar que projectos e actividades não criam

locais de reprodução do vector, nem expõem trabalhadores, famílias e comunidades ao risco de paludismo.

Promulgar e aplicar leis e regulamentos apropriados para apoiar estratégias de controlo.

Sensibilizar a comunidade económica para o impacto económico negativo dum problema de

paludismo contínuo, e influenciá-la para prestação de apoio material e financeiro à luta antipalúdico a todos

os níveis. Apresentar o reconhecimento oficial a todas as pessoas contribuindo de maneira importante e

constante.

Fornecer incentivos especiais, tais como empréstimos de reembolso fácil, isenção de impostos,

taxas de importação que reduzam o custo de materiais e fornecimentos destinados a lutar contra o

paludismo.

Estabelecer e aplicar leis e regulamentos que promovam a saúde e evitem a doença.

Criar e reforçar parcerias com escolas e empresas para aumentar o acesso a tratamento

antipalúdico e medidas de prevenção

Page 128: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

117

Desenvolvimento

de recursos

humanos

Fornecer oportunidades de instrução contínua para pessoal de serviços de saúde e comunidades

para que se possam manter em dia com a política e as directivas nacionais no campo da luta contra o

paludismo.

Estabelecer programas de desenvolvimento de recursos humanos a curto, médio e longo prazo,

depois de avaliadas as necessidades de criação de capacidades, para todos os níveis de prestação de serviços

de saúde.

Assegurar que padrões e directivas para tratamento de casos, prevenção de doenças, vigilância de

epidemias, transmissão e controlo são incorporados em pré-serviços e outras actividades de formação, e

que fornecem uma base para avaliação de competências adquiridas durante a formação e de desempenho de

trabalho.

Analisar regularmente o programa das escolas de medicina, enfermagem, saúde pública, ciências

relacionadas e outras instituições de formação para assegurar a sua actualização em relação a políticas

nacionais e padrões de tratamento de doenças.

Investigação

incluindo

investigação

prática

interdisciplinar

Em colaboração com instituições apropriadas, desenvolver ou reforçar a capacidade e aptidão a

todos os níveis para realizar investigação incluindo investigação prática interdisciplinar sobre questões

directamente pertinentes aos objectivos de luta, e assegurar que os resultados fornecem orientações para

alterações de programa quando necessário.

Trocar resultados de investigação com países da região, especialmente com os que têm problemas

e interesses semelhantes. Estabelecer mecanismos para desenvolvimento de programas de investigação

prioritária e coordenação a nível nacional. Assegurar que os resultados são incorporados nas estratégias de

luta.

Apoiar estudos em vários centros para desenvolvimento de vacinas, novos medicamentos e meios

de luta contra o paludismo.

Promover a investigação e o desenvolvimento da medicina tradicional.

Page 129: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

118

A.2. Indicador para o controlo 2000-2005

Áreas

prioritárias

Abordagens e Actividades

Organização e

gestão do

sistema de saúde

Número de países com uma política de saúde.

Número de países com planos de saúde distritais reflectindo tal política.

Política de cobertura universal para todos com um pacote de intervenções de base,

incluindo intervenções contra o paludismo.

Percentagem de serviços de saúde que aplicaram os pacotes de intervenções.

Percentagem das despesas totais do governo relativas à saúde.

Proporção de despesas com a saúde entre serviços primários, secundários e terciários.

Percentagem de distritos recolhendo e utilizando sistematicamente informações de

saúde para fins de planeamento.

Número de países com uma política de medicamentos antipalúdicos

Número de países com um sistema de Vigilância Integrada das Doenças.

Tratamento de

doenças

Percentagem de distritos a nível nacional que estão a implementar DITIDI a nível de

serviço, comunidade e agregado familiar para tratar doenças infantis.

Percentagem de pessoas de grande risco com um acesso de paludismo, obtendo

tratamento apropriado no espaço de oito horas.

Número de países com sistemas de encaminhamento a nível de posto de saúde.

Percentagem de agregados familiares com acesso a medicamentos antipalúdicos no

espaço de 24 horas

Fornecimento de

medicamentos

antipalúdicos e

materiais ligados

à luta contra o

paludismo

Percentagem de postos com disponibilidade de antipalúdicos de primeira e segunda

linha

Percentagem de postos com serviços adequados de detecção de parasitas.

Prevenção de

doenças

Percentagem de menores de cinco anos dormindo com mosquiteiros tratados com

insecticida

Percentagem de mulheres grávidas dormindo com mosquiteiros tratados com

insecticida

Percentagem de casas aspergidas com insecticida

Desenvolvimento de leis e regulamentos sobre estratégias de luta contra o paludismo

Percentagem de projectos de saúde com avaliação do impacto no ambiente e na saúde

Vigilância de

doenças,

preparação para

Percentagem de epidemias de paludismo detectadas nas duas semanas iniciais.

Percentagem de epidemias de paludismo devidamente controladas nas duas semanas

iniciais.

Page 130: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

119

epidemias e

respostas

Controlo

durável

Número de países tendo instituído medidas de redução ou de abolição de taxas sobre

medicamentos antipalúdicos, mosquiteiros tratados com insecticida e outros produtos

antipalúdicos.

Percentagem de países tendo entrado em linha de conta com factores de risco

ambientais para o paludismo no planeamento de projectos de desenvolvimento.

Número de países onde o programa da escola primária inclui a procura de prevenção e

tratamento do paludismo

Desenvolvimento

de recursos

humanos

Presença de pessoal com capacidade técnica (incluindo DITIDI) ao nível exigido de

prestação de serviço

Aumento da percentagem em conhecimentos, atitudes e práticas a nível comunitário.

Investigação

incluindo

investigação

prática

interdisciplinar

Número de novos medicamentos e meios antipalúdicos desenvolvidos para utilização a

nível de comunidade e de instituição.

Percentagem de países com colaboração efectiva em investigação prática entre

instituições nacionais e ministérios da saúde.

Número de países tendo estabelecido mecanismos para desenvolvimento e

coordenação de programas de investigação prioritários a nível nacional incluindo o

desenvolvimento de vacinas.

Resultados de investigação incorporados em estratégias de controlo.

Novas descobertas em medicina tradicional.

Page 131: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

120

A.3. Estrutura de Notificação

Instituições

Mecanismos

1. Informação aos chefes de

estado e governos

■ Reunião dos Chefes de Estado

e de Governo da OUA

Os Directores Regionais de OMS/AFRO/EMRO, de acordo com o

Secretário-Geral da OUA, apresentarão um relatório de situação sobre a

implementação do Programa de Acção da Declaração de Abuja à reunião anual

dos Chefes de Estado e de Governo da OUA.

Avaliação: – Reuniões extraordinárias de Chefes de Estado e Governo

serão realizadas para analisar e avaliar o progresso conseguido nos anos 2005

(meio termo) e 2010 (fim do termo).

2. Informação aos ministros da

saúde

■Ministros da saúde da OUA

■Reuniões do Comité Regional

da AFRO/EMR

Os Directores Regionais de OMS/AFRO/EMRO, de acordo com o

Secretário-Geral da OUA, apresentarão um relatório de situação sobre a

implementação do Programa de Acção da Declaração de Abuja à reunião anual

dos Ministros da Saúde da OUA.

Os Directores Regionais de OMS/AFRO/EMRO, grupos sub-regionais

tais como ECOWAS, Comunidade da África Oriental (EAC), Comunidade de

Desenvolvimento da África Austral (SADC), Secretariado Regional de Saúde do

Commonwealth para a África Oriental e Austral (CRHSESA) e outros parceiros,

de acordo com o Secretário-Geral da OUA, apresentarão um relatório de

situação sobre a implementação do Programa de Acção da Declaração de Abuja

às reuniões dos Comités

Regionais da OMS da AFRO e EMRO.

3. Informação a parceiros

■Reunião Mundial de Parceiros

em FRP (Genebra)

■Reunião Regional de

Parceiros/Grupo Especial em

FRP

■Parceiros a nível nacional

Os Directores Regionais de OMS/AFRO/EMRO, de acordo com o

Gestor do Projecto FRP/Sede, apresentarão um relatório de situação sobre a

implementação do Programa de Acção da Declaração de Abuja à reunião dos

parceiros de FRP Mundial.

O Director Regional de OMS/AFRO apresentará um relatório de

situação sobre a implementação do Programa de Acção da Declaração de Abuja

à reunião regional de parceiros/Grupo Especial em FRP.

Os Ministérios da Saúde informarão os parceiros a nível nacional sobre

o progresso realizado na implementação do Programa de Acção da Declaração

de Abuja

4. Notificação pelos países

■Relatórios anuais

Em colaboração com países e parceiros, OMS/AFRO/EMRO

elaborarão um modelo que permita aos países utilizar informações existentes

para notificar anualmente o progresso conseguido na implementação do

Programa de Acção da Declaração de Abuja.

Adaptada da cimeira de Abuja (25-04-2000)

Page 132: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

121

A.4. Características Biológicas dos Plasmodium

Page 133: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

122

ANEXO B: ANÁLISE DAS AMOSTRAS

B.1. Exactidão

Classes Exactidão do Produtor Exactidão do Usuário

Água profunda 100.00% 100.00%

Água de bordo 100.00% 100.00%

Água com coberto Vegetal 100.00% 100.00%

Outra água 100.00% 100.00%

Floresta 100.00% 100.00%

Formações arbustivas 100.00% 100.00%

Áreas agrícolas 100.00% 100.00%

Mangal 100.00% 100.00%

Outras classes 100.00% 100.00%

Page 134: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

123

B.2. Número de pixéis de cada amostra

Água

profunda

Amostra

01

1566

Amostra

02

271

Amostra

03

307

Amostra

04

394

Total das

amostras

2538

Água de

bordo

Amostra

05

824

Amostra

06

744

Amostra

07

418

Amostra

08

262

Amostra

09

341

Total das

amostras

2589

Água com

coberto

vegetal

Amostra

10

215

Amostra

11

261

Amostra

12

282

Amostra

13

215

Amostra

14

235

Total das

amostras

1208

Outra

água

Amos 15

474

Amos 16

224

Amos 17

418

Amos 18

467

Total das

Amos

1583

Floresta

Amos 19

1298

Amos 20

754

Amos 21

972

Amos 22

1350

Amos 23

860

Amos 24

966

Amos 25

1086

Total das

Amos

7286

Formações

arbustivas

Amos 26

283

Amos 27

253

Amos 28

536

Amos 29

371

Total das

Amos

1443

Áreas

agrícolas

Amos 30

825

Amos 31

866

Amos 32

811

Amos 33

754

Amos 34

263

Total das

Amos

3519

Mangal

Amos 35

1589

Amos 36

395

Amos 37

302

Amos 38

511

Amos 39

474

Amos 40

637

Total das

Amos

3908

Outras

Classes

Amos 41

780

Amos 42

627

Amos 43

728

Amos 44

890

Amos 45

571

Amos 46

683

Amos 47

439

Amos 48

8273

Total das

Amos

12991

Page 135: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

124

B.3. Tabela do Desempenho

Desempenho geral 100.00%

Confusão média 0.00%

Abstenção média 0.00%

Estatística KHAT 100%

Variância KHAT 0.000e+000

Estatística TAU 100.00%

Page 136: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

125

ANEXO C: HISTOGRAMA DAS BANDAS

C. 1) Banda 1

C. 2) Banda 2

C. 3) Banda 3

C. 4) Banda 4

Page 137: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

126

C. 5) Banda 5

C. 6) Banda 6

C.7) Histograma NDVI

Page 138: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

127

ANEXO D: MAPAS

D1) Consultas pré-natais 2012

D2) Consultas pré-natais 2013

Page 139: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

128

D3) Áreas agrícolas

D4) Gota Espessa em 2012

Page 140: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

129

D5) Gota Espessa em 2013

D6) Tratamento Preventivo Intermitente 1 (2012)

Page 141: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

130

D7) Tratamento Preventivo Intermitente 2 (2012)

D8) Tratamento Preventivo Intermitente 1 (2013)

Page 142: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

131

D9) Tratamento Preventivo Intermitente 2 (2013)

Page 143: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

132

ANEXO C: TABELAS

E1) Dados Utilizados

Região Bafatá Biombo Bissau Bolama-

Bijagós Cacheu Gabú Oio Quinara

Tombal

i

População 2012 211662 99947 404396 33385 192010 219811 226846 64278 94752

Densidade populacional 36,31 132,04 4872,24 21,66 40,59 24,31 41,61 21,74 27,72

Área das regiões 582913 75695 8300 154153 473083 904329 545134 295632 341852

Número de casos 2012 18229 7269 44352 5600 10778 23464 6445 6159 7390

Número de casos 2013 21425 7311 37564 3728 9660 28229 5841 6492 4974

Taxa de variações de

Número de casos 17,53 0,58 -15,30 -33,43 -10,37 20,31 -9,37 5,41 -32,69

Taxa de incidência 2012 0,09 0,07 0,11 0,17 0,06 0,11 0,03 0,10 0,08

Taxa de incidência 2013 0,10 0,07 0,09 0,11 0,05 0,13 0,03 0,10 0,05

Taxa de variação de

incidência 17,53 0,58 -15,30 -33,43 -10,37 20,31 -9,37 5,41 -32,69

Número de casos 2012

menor de 5 anos 6529 3729 15928 2270 4525 9675 2790 2321 3034

Número de casos 2013

menor de 5 anos 7515 3248 12649 1309 3892 11690 2087 2220 1599

Taxa de variação 15,1 -12,9 -20,6 -42,3 -14,0 20,8 -25,2 -4,4 -47,3

% Número de casos

2012 menor de 5 anos 36 51 36 41 42 41 43 38 41

% Número de casos

2013 menor de 5 anos 35 44 34 35 40 41 36 34 32

Número de casos 2012

maior de 5 anos 11700 3533 28424 3330 6253 13789 3655 3838 4356

Page 144: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

133

E2) Dados Utilizados

Região Bafatá Biombo Bissau Bolama-

Bijagós Cacheu Gabú Oio Quinara Tombali

Número de casos 2013

maior de 5 anos 13910 4063 24915 2419 5768

1653

9

375

4 4272 3375

Taxa de variação 18,89 15,00 -12,35 -27,36 -7,76 19,94 2,71 11,31 -22,52

% Número de casos

2012 maior de 5 anos 64 49 64 59 58 59 57 62 59

% Número de casos

2013 maior de 5 anos 65 56 66 65 60 59 64 66 68

Óbitos notificados em

2012 56 3 188 3 7 99 6 6 4

Óbitos notificados em

2013 55 3 145 3 13 104 7 61 5

Taxa de variação dos

óbitos -1,79 0,00 -22,87 0,00 85,71 5,05

16,6

7 916,67 25

% Óbitos em 2012 0,3 0,0 0,4 0,1 0,1 0,4 0,1 0,1 0,1

% Óbitos em 2013 0,3 0,0 0,4 0,1 0,1 0,4 0,1 0,9 0,1

% de letalidade 2012 3 0 4 1 1 4 1 1 1

% de letalidade 2013 3 0 4 1 1 4 1 9 1

Número de hospitais 2 2 3 3 2 2 3 5 3

Número de camas 124 17 337 82 148 127 68 70 117

Gota espessa em 2012 2377 5420 30983 2074 7549 6237 287

4 1961 1575

% Gota espessa em 2012 1 5 8 6 4 3 1 3 2

Gota espessa Positiva em

2012 567 1929 12312 810 2308 3360 961 698 602

E3) Dados Utilizados

Região Bafatá Biombo Bissau Bolama-Bijagós Cacheu Gabú Oio Quinara Tombali

% Gota espessa positiva em 2012 24 36 40 39 31 54 33 36 38

Gota espessa em 2013 4067 9728 38131 2176 7082 7453 4517 2614 2247

% Gota espessa em 2013 2 10 9 7 4 3 2 4 2

Gota espessa positiva em 2013 1653 3846 11620 1467 3043 2090 893 1871 664

% Gota espessa positiva em 2013 41 40 30 67 43 28 20 72 30

Taxa de variação de Gota espessa 71,10 79,48 23,07 4,92 -6,19 19,50 57,17 33,30 42,67

Teste de Diagnóstico Rápido em 2012 16772 3278 28191 1130 13833 10166 10059 4588 9010

% Teste de Diagnóstico Rápido em 2012 8 3 7 3 7 5 4 7 10

Teste de Diagnóstico Rápido Positivo em 2012 7285 1075 4230 378 2299 4558 4242 770 1991

% Teste de Diagnóstico Rápido positivo 2012 43 33 15 33 17 45 42 17 22

Teste de Diagnóstico Rápido em 2013 19977 8270 40707 3324 11323 21236 9854 4718 7850

% Teste de Diagnóstico Rápido em 2013 9 8 10 10 6 10 4 7 8

Teste de Diagnóstico Rápido Positivo em 2013 9964 3301 9634 1876 4115 15222 4592 1596 2955

% Teste de Diagnóstico Rápido positivo 2013 50 40 24 56 36 72 47 34 38

Taxa de variação Teste de Diagnóstico Rápido 2013 19,11 152,29 44,40 194,16 -18,15 108,89 -2,04 2,83 -12,87

T. variação % Teste de Diagnóstico Rápido positivo 14,83 21,71 57,73 68,72 118,67 59,87 10,50 101,56 70,35

Page 145: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

134

E4) Dados Utilizados

Região Bafatá Biombo Bissau Bolama-

Bijagós Cacheu Gabú Oio Quinara Tombali

Total de doentes

tratados com

antipalúdico 2012

11902 7170 19428 4062 9546 17948 6431 4560 6401

% Total de doentes

tratados com

antipaludi12

65 99 44 73 89 76 100 74 87

Total de doentes

tratados com

antipalúdico 2013

15641 8393 21051 3048 8035 24435 4872 5213 4682

% Total de doentes

tratados com

antipalúdico 2013

73 115 56 82 83 87 83 80 94

Total de Doentes

Tratados com Quinino

2012

3106 371 821 550 1198 1097 1471 1428 645

% Total de Doentes

Tratados com Quinino

2012

17 5 2 10 11 5 23 23 9

Total de Doentes

Tratados com Quinino

2013

3068 433 1139 1421 1070 1928 466 951 399

% Total de Doentes

Tratados com Quinino

2013

14 6 3 38 11 7 8 15 8

Tratamento Preventivo

Intermitente (1) 2012 525 3110 3943 788 1445 2152 4564 1672 2439

% Tratamento

Preventivo Intermitente

(1) 2012

0 3 1 2 1 1 2 3 3

Tratamento Preventivo

Intermitente (2) 2012 53 1848 2384 461 703 919 1998 929 1518

% Tratamento

Preventivo Intermitente

(2) 2012

0 2 1 1 0 0 1 1 2

Tratamento Preventivo

Intermitente (1) 2013 5368 5162 5514 667 3837 4135 6113 1447 2337

% Tratamento

preventivo intermitente

(1) 2013

3 5 1 2 2 2 3 2 2

Tratamento Preventivo

Intermitente (2) 2013 2014 2938 3782 417 2417 1788 2935 793 1625

% Tratamento

preventivo intermitente

(2) 2013

1 3 1 1 1 1 1 1 2

Page 146: Os Sistemas de Informação Geográfica e Detecção Remota na

135

E5) Dados Utilizados

Região Bafatá Biombo Bissau Bolama-

Bijagós Cacheu Gabú Oio Quinara Tombali

Total Exames

Realizados em 2012 18229 7262 44352 5605 10778 23464 6445 6159 7390

% Exames Realizados

em 2012 9 7 11 17 6 11 3 10 8

Total de Exames

Realizados em 2013 11617 7147 21254 3343 7158 17312 5485 3467 3619

% de Exames

Realizados em 2013 5 7 5 10 4 8 2 5 4

Taxa de variação de

Exames Realizados -36,272 -1,584 -52,079 -40,357 -33,587 -26,219

-

14,8

95

-43,708 -51,028

Consultas Pré-natal

em 2012 8727 4386 6402 1121 5624 8936 9262 2115 3852

% de consultas Pré

natal em 2012 4 4 2 3 3 4 4 3 4

Consultas Pré-natal

em 2013 7985 7462 6830 949 6057 12811 7850 2195 3082

% de consultas pré-

natal em 2013 4 7 2 3 3 6 3 3 3

Total de tratamento

com antipalúdico e

quinino em 2012

26910 14711 39677 8674 20290 36993 1433

3 10548 13447

Gota espessa e Teste

de Diagnóstico Rápido

em 2013

24044 17998 78838 6868 18405 28689 1437

1 7332 10097

Total de MILDAS em

2012 7139 3390 18803 980 10673 13988

1089

7 4463 3486

Total de MILDAS em

2013 15661 4530 26203 2983 15203 19035

2300

7 4763 4883

Taxa de variação 119,37 33,63 39,36 204,39 42,44 36,08 111,

13 6,72 40,07

% de MILDAS em

2012 3 3 5 3 6 6 5 7 4

% de MILDAS em

2013 7 5 6 9 8 9 10 7 5

E6) Dados Utilizados

Região TtACTQUI13 P_TPalu13

Bafatá 25605 220

Biombo 11694 164

Bissau 30685 144

Bolama-Bijagós 4924 147

Cacheu 12150 170

Gabú 39657 229

Oio 9464 173

Quinara 6809 196

Tombali 7637 211