os sistemas de educação corporativa e universidades

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO ISABELLA GALLO KINGSTON Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades Corporativas diante das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação. Rio de Janeiro 2015

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Page 1: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

ISABELLA GALLO KINGSTON

Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades Corporativas

diante das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação.

Rio de Janeiro

2015

Page 2: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

2

Isabella Gallo Kingston

OS SISTEMAS DE EDUCAÇÃO CORPORATIVA E UNIVERSIDADES

CORPORATIVAS DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS DE

INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Administração, Instituto

COPPEAD de Administração, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Administração.

Orientadora: Profª. D.Sc. Paula Chimenti

Rio de Janeiro

2015

Page 3: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

3

Page 4: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

4

OS SISTEMAS DE EDUCAÇÃO CORPORATIVA E UNIVERSIDADES

CORPORATIVAS DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO

Isabella Gallo Kingston

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração,

Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Administração (M.Sc.)

Aprovado por:

_____________________________________________________________

Orientadora

Professora Paula Chimenti, D.Sc. – COPPEAD /UFRJ

_____________________________________________________________

Prof. Antônio Roberto Ramos Nogueira, D.Sc. - COPPEAD /UFRJ

_____________________________________________________________

Prof. Daniela Abrantes, D.Sc. – FACC / UFRJ

Rio de Janeiro

2015

Page 5: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

5

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Jorge Kingston Filho e Elisabeth Gallo Kingston, agradeço por

sempre me apoiarem em todos os meus sonhos e em tudo que já decidi fazer até hoje.

Agradeço pela força que me deram para seguir em frente com este grande desafio que foi o

mestrado na COPPEAD.

Ao meu marido, Marcos Siqueira de F. Barbosa, agradeço pela paciência durante

meus dias ausentes e meus dias de angústia e ansiedade; pela colaboração ao longo de todo

o estudo; e pela inspiração de vida.

Às minhas chefes, Lucimar Dantas e Regina Faria, agradeço pela experiência de

trabalhar na Incubadora de Empresas da COPPE e pela oportunidade de ter contato com

excelentes profissionais. Agradeço pela compreensão e carinho que permitiram que fosse

possível conciliar trabalho e estudo.

À minha orientadora, Paula Chimenti, agradeço pela atenção e dedicação. Também,

pela oportunidade de participar do Fórum HBR de Educação Corporativa 2014 onde pude

fazer excelentes contatos para a realização de várias das minhas entrevistas, e pela facilitação

com o trabalho de transcrição das entrevistas.

Aos professores que gentilmente aceitaram participar da minha banca, Prof. Daniela

Abrantes e Prof. Roberto Nogueira, enriquecendo meu trabalho com insights e contribuindo

para meu desenvolvimento.

Aos professores da COPPEAD que me proporcionaram 2 anos de intenso

aprendizado.

À minha turma, onde fiz boas amizades e que me trouxe tanta alegria. Em especial

às amigas queridas Renata Rimes, Kateline Daltoé e Mariana Coelho.

A Deus, agradeço por me dar força e determinação para finalizar o que comecei. À

Ele, agradeço por ter coragem de superar meus desafios pessoais e de me realizar.

Page 6: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

6

RESUMO

KINGSTON, Isabella Gallo. Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

Corporativas diante das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação. Dissertação

de Mestrado em Administração – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, 2015.

Diante do exponencial crescimento do número de universidades corporativas no

Brasil - em apenas 15 anos cresceu de 10 para cerca de 500 - podemos observar como é

relevante o estudo do tema educação corporativa. Além disso, é comum vermos em guias e

revistas onde se apresentam as melhores empresas para se trabalhar, a valorização ao

desenvolvimento pessoal e profissional dos empregados.

Este estudo buscou analisar o funcionamento das universidades corporativas e sistemas

de educação corporativa: seus objetivos, posicionamento da empresa com relação às

iniciativas educacionais, resultados gerados para o negócio, alinhamento à estratégia

organizacional, interação com outros atores do setor e desafios enfrentados.

Assim, a partir da compreensão do processo educacional como estratégia de

desenvolvimento organizacional, o trabalho foca num ponto chave que vem

progressivamente transformando os ambientes corporativos: a tecnologia. A pesquisa

procura entender se as novas tecnologias já interferem nos sistemas de educação corporativa

e de que forma isso ocorre: pontos positivos e negativos, impactos no ambiente empresarial

e na cultura organizacional, fatores críticos de sucesso, drivers e gatekeepers das inovações

tecnológicas na educação corporativa. O estudo busca ainda perceber os caminhos possíveis

para a educação corporativa nos próximos dez anos e constrói possíveis cenários, levando

em conta as tendências do mercado e incertezas do ambiente.

A pesquisa teve natureza exploratória. Foi utilizado o método qualitativo, para um

conhecimento mais aprofundado do tema estudado. Através da revisão bibliográfica

procurou-se sistematizar e organizar o conhecimento já existente sobre o assunto. Foram

mapeadas empresas brasileiras e multinacionais sediadas no Brasil que possuem

universidade corporativa, dentre as quais, foram selecionadas dez para realização das

Page 7: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

7

entrevistas. Procurou-se diversificar os tipos de empresa, elegendo-se empresas regime

privado, de capital misto, e público; de pequeno, médio e grande porte; brasileiras e

multinacionais. As entrevistas foram gravadas e transcritas. A etapa de análise dos dados

permitiu a interpretação das informações coletadas e que conclusões fossem observadas.

Os resultados encontrados mostraram que apesar dos diferentes níveis de maturidade,

portes e estilos das universidades corporativas e sistemas de educação corporativa, a adoção

de novas tecnologias na educação corporativa vem acontecendo, progressivamente, de forma

gradual e lenta, o que revela uma mudança bem mais incremental que disruptiva. Foi

identificado, ainda, certo grau de dissonância entre o papel da universidade corporativa, na

teoria, e suas ações e objetivos na prática.

Page 8: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

8

ABSTRACT

KINGSTON, Isabella Gallo. Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

Corporativas diante das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação. Master’s

Dissertation in Business Administration – Instituto COPPEAD de Administração,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014.

Given the exponential growth of corporate universities in Brazil – in just 15 years it

grew from 10 to nearly 500 - we can observe how relevant this subject is: the corporate

education. In addition, it is common to see in guides and magazines which feature the best

companies to work for, the value that has been given to the support of personal and

professional development of employees.

Given this context, the study intend to analyze the operation of corporate universities

and corporate education systems: their goals, positioning toward educational initiatives,

outputs for the business, match with the organizational strategy, interaction with other actors

of the industry and challenges faced.

After the understanding of the educational process as a strategy for organizational

development, the study focuses on a key point which is progressively transforming enterprise

environments: the technology. The research seeks to understand if the new information and

communication technologies interfere in corporate education systems and how this happens:

positives and negatives issues, impacts on the corporate environment and on organizational

culture, critical success factors, drivers and gatekeepers of technological innovations in

corporate education. The study also seeks to understand the future possibilities for corporate

education for the next ten years and build possible scenarios, taking into account market

trends and environmental uncertainties.

The study is based on an exploratory research. It was used the qualitative method, so it

was possible to have a deeper understanding of the subject. Through literature review, it was

possible to systematize and organize existing knowledge on the subject.

Page 9: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

9

It was mapped the main Brazilian and multinational companies headquartered in Brazil

that have corporate university, of which ten were selected for the interviews. We seeked to

diversify the types of business selected, electing all kinds of companies: private regime

companies, mixed capital, and public; small, medium and large size; Brazilian and

multinational. The interviews were recorded and transcribed. The data analysis step allowed

the interpretation of the information gathered and resources for the conclusions.

The results showed that despite the different degrees of maturity, sizes and styles of

corporate universities and corporate education systems, the adoption of new technologies in

corporate education has been taken place gradually and slowly, revealing a change much

incremental than disruptive. In addition, it was identified some dissonance between the role

of the corporate university in theory and its actions and objectives in the real world.

Page 10: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

10

SUMÁRIO

1. Introdução....................................................................................................................12

1.1. Considerações Iniciais..........................................................................................12

1.2. O Problema...........................................................................................................14

1.3. Objetivo do Estudo...............................................................................................16

1.4. Relevância.............................................................................................................17

1.5. Delimitação...........................................................................................................20

1.6. Organização do Trabalho......................................................................................21

2. Contextualização e Revisão de Literatura....................................................................22

2.1. Educação Corporativa e As Universidades Corporativas.....................................22

2.1.1. A importância da Aprendizagem Corporativa............................................22

2.1.2. Universidades corporativas: A questão da nomenclatura...........................23

2.1.3. Dos centros de treinamento às universidades corporativas.........................24

2.1.4. As Universidades Corporativas...................................................................27

2.1.5. Universidades Setoriais...............................................................................32

2.2. Novas tecnologias e Educação..............................................................................33

2.2.1. As Transformações no Ambiente Educacional diante das NTIC...............33

2.2.2. Inovações Disruptivas na Educação...........................................................37

2.2.3. Tendências do Mercado da Educação diante das NTIC.............................41

2.3. Estratégia e Inovação............................................................................................44

2.3.1. A Economia da Informação........................................................................44

2.3.2. Redes mediadas por plataformas................................................................46

2.3.3. Visão Sistêmica...........................................................................................48

2.3.4. Ecossistemas e Cenários.............................................................................49

2.3.5. Modelos de Aceitação de Tecnologia.........................................................51

2.4. Conclusão, Pergunta da pesquisa e modelo proposto...........................................53

3. Método.........................................................................................................................55

3.1. Tipo de Pesquisa...................................................................................................55

3.2. Seleção dos Sujeitos..............................................................................................56

3.3. Coleta de Dados....................................................................................................59

3.4. Análise dos Dados................................................................................................60

3.5. Limitações do Método..........................................................................................61

4. Resultados.....................................................................................................................63

4.1. Motivações organizacionais para a criação de uma universidade corporativa......63

4.2. Formas de estruturação dos SEC nas organizações...............................................71

4.3. Interações entre os SEC e outros atores internos e externos à empresa................74

4.4. As novas direções da educação corporativa..........................................................81

4.5. Drivers da adoção de NTIC na educação corporativa...........................................87

4.6. Fatores de restrição na adoção de NTIC na educação corporativa.......................93

Page 11: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

11

5. Conclusões...................................................................................................................102

5.1 Ecossistema...........................................................................................................104

5.2 Cenários................................................................................................................105

6. Considerações Finais..................................................................................................115

6.1. Contribuições para os profissionais da área........................................................115

6.2. Contribuições para os pesquisadores..................................................................118

7. Bibliografia.................................................................................................................119

8. Anexo.........................................................................................................................126

Page 12: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mudança de Paradigma do Treinamento para a Aprendizagem. Fonte: Meister (1999)................24

Figura 2: Modelo de Aceitação de Tecnologia TAM 1. Fonte: Davis (1989)................................................50

Figura 3: Modelo de Aceitação de Tecnologia TAM 2. Fonte: Venkatesh & Davis (2000)..........................50

Figura 4: Modelo de Aceitação de Tecnologia UTAUT. Fonte: Venkatesh, Davis & Morris, (2003)..........51

Figura 5: Formas de estruturação dos SEC nas organizações. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)............69

Figura 6: Ecossistema da Educação Corporativa. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)..............................101

Figura 7: Cenários Propostos. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)............................................................106

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Principais Empresas do Brasil com UC. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)...........................54

Tabela 2: Conjunto de Organizações Entrevistadas. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015).........................56

Tabela 3: Fatores de Motivação Organizacional para uma UC. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015).........61

Tabela 4: Drivers da adoção de NTIC na educação corporativa. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015).......85

Tabela 5: Fatores de restrição na adoção de NTIC na EC. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015).................90

LISTA DE SIGLAS

UC: Universidade Corporativa

SEC: Sistema de Educação Corporativa

EC: Educação Corporativa

CT: Centro de Treinamento

T&D: Treinamento e Desenvolvimento

EAD: Ensino à Distância

NTIC: Novas Tecnologias da Informação e Comunicação

RH: Departamento de Recursos Humanos

Page 13: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

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1. INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Não é por coincidência que as universidades corporativas (UC) têm despertado tanto

o interesse das grandes empresas. Elas são a representação do espaço onde se desenvolve a

educação corporativa (EC), ponto chave do desenvolvimento organizacional que nos

possibilita refletir criticamente sobre a realidade da organização, construí-la e modificá-la

continuamente em nome da competitividade e de melhores resultados. Ao favorecer a

inteligência organizacional e o alto desempenho da empresa, as UCs têm se revelado

veículos eficazes para o alinhamento dos talentos humanos às estratégias empresariais.

(CARVALHO e CRUZ, 2001).

Sendo o conhecimento um dos principais ativos de uma organização, Horn (2008)

sugere que as organizações passaram a se preocupar com um novo e importante jeito de

administrar seus recursos: pela análise, captura e disseminação de seus conhecimentos, que

se tornam um dos maiores bens da empresa, e geram vantagem competitiva no mercado. Sob

esta perspectiva, é necessário que as empresas desenvolvam seus talentos e competências a

fim de aumentar sua competitividade e obter melhores resultados nos negócios.

Éboli (2012) comunga da ideia de Meister (2004) e aprofunda as formas pelas quais

cada esfera organizacional promove o desenvolvimento de competências. O objetivo é que

a área de gestão de pessoas atue de forma estratégica, pautada pela gestão por competências

pessoais e empresariais. No que se refere ao indivíduo, este deve buscar um nível de

maturidade e autoconhecimento que lhe proporcione a conscientização e internalização do

real sentido da aprendizagem e desenvolvimento contínuo, a fim de se garantirem as

competências humanas fundamentais ao sucesso da empresa.

Carbone e Brandão (2009) argumentam que um dos maiores desafios da empresa é

promover a transmissão e a absorção da cultura organizacional por seus funcionários. As

instituições se empenham para consolidar e disseminar seus valores e princípios básicos de

forma clara e consistente para que se tornem norteadores do comportamento do empregado.

Page 14: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

14

Isto possibilita o direcionamento entre objetivos e valores individuais e os organizacionais e

a construção da identidade cultural de cada empresa.

Vale lembrar que o antepassado da UC é o centro de treinamento e desenvolvimento.

Não é de hoje que as empresas perceberam não ser possível conseguir, prontos no mercado,

perfis ocupacionais exatos de que precisam. Passaram, então, a capacitar seu pessoal para as

habilidades e competências necessárias em departamentos internos de treinamento

(CASTRO, 2013). Por outro lado, conceber o projeto de educação corporativa a partir do

plano estratégico de negócios é o que realmente diferencia o sistema de educação corporativa

(SEC) de um centro de treinamento e desenvolvimento tradicional, que contempla

basicamente o treinamento técnico das operações. Segundo Éboli (2005), para que se alcance

esta transformação, são fundamentais quatro pontos: obter o comprometimento e

envolvimento da alta cúpula, alinhar o modelo de gestão de pessoas às estratégias do

negócio, implantar um modelo de gestão de pessoas por competência e conceber programas

educacionais alinhados às estratégias do negócio.

A transformação na forma de se enxergar as novas necessidades do ensino parece

estar presentes em diversas áreas, como nas escolas de administração e gestão de negócios,

por exemplo. Em seu livro Rethinking the MBA, Datar, Garvin e Cullen (2010) apresentam

alguns pontos chave que os programas de MBA poderiam utilizar para inovar sua forma de

ensinar, como fazer uso de uma perspectiva mais global podendo proporcionar a estes

programas uma mudança positiva, proporcionando um maior contato com as diferenças

institucionais, culturais econômicas dos diferentes países; estimular o desenvolvimento das

habilidades de liderança entre os alunos; aprimorar as habilidades de integração,

possibilitando um olhar para os problemas de maneira holística, a partir de diferentes ângulos

e assim ser capaz de tomar decisões que incluem perspectivas conflitantes; ser capaz de

reconhecer as realidades organizacionais não explicita para que novas implementações

sejam eficazes; agir de forma criativa e ser capaz de inovar; pensar de forma crítica e ser

capaz de se comunicar de forma clara; compreender os papéis, responsabilidades e objetivos

do negócio balanceando as demandas dos diferentes stakeholders; compreender os limites

dos modelos e mercados; buscar entender o que poderia não funcionar, aprendendo sobre as

causas dos erros e as falhas em decisões tomadas, a fim de mitigar riscos e encorajar a

inovação bem embasada e eficiente.

Page 15: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

15

A partir, então, da verificação da relevância que o tema da educação corporativa tem

atualmente nas grandes e médias empresas do Brasil e do mundo, somado à percepção de

que as novas tecnologias vêm transformando diversos setores, em especial a educação,

podemos perceber que o tema deste trabalho representa um pequeno ponto da big picture.

Sendo assim, o presente estudo busca contribuir, se encaixando como uma pequena

peça em um trabalho mais amplo e complexo que vêm sendo desenvolvido há alguns anos

no Centro de Estudos em Estratégia e Inovação do Instituto Coppead de Administração, da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenado pela professora doutora Paula Chimenti

e pelo professor doutor Roberto Nogueira. O Centro de Estudos em Estratégia e Inovação

investiga a inovação estratégica em ecossistemas de negócio, com especial ênfase nas

tecnologias de informação e comunicação. Com a contribuição do doutorando Marco

Aurélio Rodrigues, vem sendo realizado um estudo aprofundado sobre a adoção de

inovações em mercados em rede e os múltiplos atores que compõem o ecossistema da

educação, incluindo: escolas de nível básico, instituições de ensino superior, sistemas de

ensino, universidades corporativas, editoras, autores, professores, pais e alunos, plataformas

e governo. Desta forma, este estudo representa uma pequena contribuição que busca apontar

alguns insights para esta ampla pesquisa.

1.2. O PROBLEMA

Olhar para o passado e entender as origens da universidade corporativa é importante,

mas é preciso compreender o presente e olhar para o futuro. O que vemos é que, em paralelo

à evolução da educação corporativa, ocorre a evolução das tecnologias. Estes dois

fenômenos já se entrelaçam de forma intensa e vêm chamando a atenção dos especialistas e

pesquisadores da área. Segundo Moran (2005), as tecnologias na educação do futuro se

multiplicam e se integram; tornam-se mais audiovisuais, instantâneas e abrangentes.

Caminhamos para formas cada vez mais rápidas e fáceis de comunicação, que nos permitem

ver, falar, escrever, a qualquer momento, de qualquer lugar, a custos progressivamente

menores.

Page 16: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

16

Dentre os principais desafios que a educação corporativa tem de vencer - identificados

por executivos e educadores de vários países na edição 2014 da Conferência Global de

Liderança, promovida pela IESE Business School – está, em primeiro lugar, a questão da

ruptura digital. As mídias sociais e o rápido crescimento da tecnologia digital estão mudando

completamente as regras do jogo para empresas, e é crucial que a educação corporativa

responda rapidamente às necessidades que emergem nas organizações por conta disso

(ANAZ, 2014).

Há profissionais da área e pesquisadores que acreditam que esta será uma mudança

disruptiva e avassaladora na forma das organizações ensinarem e aprenderem. Já outros

entendem que a transformação será mais lenta e gradual. Alguns especialistas creem que a

educação executiva está pronta para a mesma inovação disruptiva pela qual passou a

indústria fonográfica com a tecnologia digital, supondo que em um futuro breve os cursos

online substituirão os presenciais para difundir todo e qualquer conhecimento que não seja

tácito (ANAZ, 2014).

Em contrapartida, há outros especialistas como Christensen (2013) que acreditam em

uma mudança intensa, porém menos radical. Para estes, a educação executiva do futuro

deverá ser híbrida – virtual e presencial – por razões como os problemas de mobilidade

urbana, os custos crescentes com espaços físicos e grande dificuldade de executivos e

gestores abandonarem suas empresas. A educação contemporânea assume a convergência

entre as modalidades presencial e a distância como mecanismo de efetividade no suporte

metodológico ao ensino-aprendizagem. Ocorre assim uma mudança gradual nos horizontes

espacial e temporal da educação (ABREU, GONÇALVES e PAGNOZZI, 2013).

O ranking 2014 do Financial Times também sinaliza novas direções: uma revigorante

transformação dos programas oferecidos com o aumento da oferta de cursos curtos e de

programas online. No entanto, de acordo com o Dossiê de Educação Executiva HSM, no

Brasil, este movimento ainda é tímido. Anaz (2014) destaca que as metodologias no país

precisam mudar e sugere que a educação executiva já está dando sinais de renascimento a

partir da incorporação de novas tecnologias e inovadores modelos de aprendizado.

Page 17: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

17

Uma pesquisa realizada em 2012 pela Fundação Instituto de Administração FIA,

intitulada Pesquisa Nacional sobre Práticas e Resultados da Educação Corporativa, com uma

amostra de 60 empresas aponta para a variedade de maneiras de condução dos cursos nas

UCs brasileiras. Não há uma solução padronizada, usando salas de aula e seminários. Toda

a riqueza oferecida pelas novas tecnologias está sendo usada em algum lugar, em algum

curso, sem que as formas tradicionais tenham sido abandonadas. A mesma pesquisa mostra

que o EAD vem se tornando uma prática crescente, vista como fundamental para manter as

ações de formação diante de orçamentos cada vez mais enxutos. Mas ressalta que, de modo

geral, ao compararmos as práticas das UC no Brasil com as experiências dos EUA e França,

nota-se que a adoção de práticas de EAD é forte nos dois países, enquanto aqui ainda é

incipiente, sobretudo tratando-se de um país de dimensões continentais (CASTRO, 2013.).

Diante dos diversos pontos de vista, pesquisadores e especialistas procuram

compreender a evolução da educação corporativa no Brasil e o uso das novas tecnologias

neste modelo. Como estará acontecendo a interação entre educação corporativa e tecnologia

no Brasil?

1.3. OBJETIVO DO ESTUDO

O objetivo primário deste trabalho é compreender a utilização de novas tecnologias na

educação corporativa. A partir daí, como objetivos secundários, busca-se:

Entender os fatores que levam um gestor a adotar inovações tecnológicas na

educação corporativa;

Compreender de que forma este processo ocorre;

Mapear o ecossistema da educação corporativa; e

Refletir sobre o futuro da educação corporativa.

Para tanto, a pesquisa analisará o funcionamento das universidades corporativas, bem

como o processo de educação que ocorre no ambiente de qualquer empresa: seus objetivos,

posicionamento da empresa com relação às iniciativas educacionais, resultados gerados,

alinhamento à estratégia organizacional, interação com outros atores do setor e desafios

enfrentados.

Page 18: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

18

A partir da compreensão do processo educacional como estratégia de desenvolvimento

organizacional, o trabalho foca num ponto chave que vem progressivamente transformando

os ambientes corporativos: a tecnologia. A pesquisa procura entender se as novas tecnologias

já interferem nos sistemas de educação corporativa e de que forma isso se dá: pontos

positivos e negativos, impactos no ambiente empresarial e na cultura organizacional, fatores

críticos de sucesso, formas de mensuração dos resultados, drivers e gatekeepers das

inovações tecnológicas na educação corporativa. Seria esta uma mudança disruptiva ou

incremental?

Por fim, o estudo busca perceber os caminhos possíveis para a educação corporativa nos

próximos anos e constrói possíveis cenários, levando em conta as tendências do mercado e

incertezas do ambiente.

1.4 RELEVÂNCIA

O tema deste trabalho se faz relevante, em primeiro lugar, devido ao exponencial

crescimento do número de universidades corporativas no Brasil e no mundo. Elas

começaram a surgir no país nos anos 1990. Em 1999, eram apenas dez universidades

corporativas em todo o país. Passada uma década, em 2009, o número de empresas que

investem nesse modelo de formação e aprimoramento de funcionários atingiu 250 unidades.

Já na última pesquisa1, realizada em 2012, já se estimava haver entre 500 e 600 UCs.

Em segundo lugar, entende-se que esta pesquisa é importante devido ao valor que

vem atrelado a tal fenômeno. Em levantamento feito pelo Guia Você S/A EXAME 2008,

95% das 150 melhores empresas para se trabalhar naquele ano disseram adotar um modelo

de educação corporativa como forma de apoiar o desenvolvimento pessoal e profissional dos

empregados2.

1Pesquisa Nacional sobre Práticas e Resultados da Educação Corporativa realizada em 2012 pela Fundação Instituto de Administração - FIA 2 Disponível em http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/universidades-corporativas-crescem-brasil. Consultado em 19/09/2013

Page 19: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

19

A pesquisa intitulada “Atributos da Marca Empregadora” realizada em 2011 com o

objetivo de avaliar o Employment Value Proposition (EVP) 3, conjunto de atributos que tanto

colaboradores como empresas percebem como valor atrativo para trabalhar em uma

organização revelou pontos interessantes. Realizada através de parceria entre a empresa de

recursos humanos Clave e a LAB SSJ4, a pesquisa entrevistou mais de dez mil profissionais

qualificados de diferentes setores e gerações e apresentou que, embora o salário e o pacote

de benefícios sejam levados em conta na hora de escolher uma empresa para trabalhar, a

cultura de aprendizagem da organização é o atributo mais valorizado pelos profissionais, que

avaliam as possibilidades de plano de carreira e suas oportunidades de desenvolvimento5.

Outro ponto que merece atenção é o investimento feito pelas empresas em suas áreas

de educação corporativa. A Pesquisa Nacional sobre Práticas e Resultados da Educação

Corporativa realizada pela FIA em 2012 aponta para o fato de que os orçamentos das UCs

brasileiras vêm expandindo nos últimos anos. Nos 55% em que se apontou aumento de

orçamento (de 2011 para 2012), os motivos mais citados para justificá-lo foram: maior

número de ações educacionais, mais funcionários na organização e ampliação da atuação da

UC. Em 22% das empresas, não houve variação de orçamento. Apenas para 23% houve

redução. Os motivos mais citados para as reduções foram: restrição orçamentária, cenário

econômico negativo e mudanças no modelo de gestão (CASTRO, 2013).

Dados da American Society for Training & Development indicam que um aumento

de 10% no capital investido na empresa como um todo, corresponde a um incremento de

3,4% na produtividade, enquanto que elevar em 10% o nível de educação dos colaboradores

(nas competências tecnológicas e/ou gerenciais) chega a representar uma elevação de 8,6%

na produtividade6.

De acordo com outra pesquisa realizada pela Consultoria de Aprendizagem

Corporativa LAB SSJ em julho de 2012, constata-se que empresas pretendem investir cada

vez mais em educação corporativa. Nesta pesquisa, do universo de 94 entrevistados

3 O EVP pode ser entendido em cinco pilares: recompensas, oportunidades, organização, trabalho e pessoas 4O LAB SSJ é uma consultoria especializada em soluções de aprendizagem 5 Disponível em: http://www.hbrbr.com.br/post-de-blog/reforcando-lideranca-e-cultura-organizacional/ Consultado em 12/10/2014 6 Disponível em: http://www.astd.org/. Consultado em 29/11/2013

Page 20: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

20

pertencentes a 85 empresas entrevistadas, 66% responderam que utilizam algum modelo de

educação corporativa. Dentre estas, 82% dos profissionais responsáveis por esta área da

empresa disseram acreditar que há necessidade de atualizar ou revisar os seus programas de

desenvolvimento de funcionários. Já no universo das empresas que não fazem uso de

nenhum tipo de sistema de educação corporativa (34% das respondentes), 66% disseram

estar em seu planejamento a criação de uma estrutura de educação corporativa (seja

universidade, academia ou escola), sendo que 24% ainda em 2012; 52% no início de 2013;

e 24% no início de 2014.

Percebendo a relevância das universidades corporativas, nota-se que neste universo

a “palavra do dia” é tecnologia, representando uma importante tendência identificada no

setor da educação. No que diz respeito aos formatos dos programas de aprendizagem, foi

constatado na pesquisa da LAB SSJ de 2012 que 55% das respondentes fazem uso de aulas

presenciais customizadas para a empresa, 29% fazem uso do chamado blended learning

(método misto presencial e à distância) e 11% utilizam a modalidade de ensino à distância

customizado.7

Em um contexto de inovação tecnológica, as empresas buscam a construção de

plataformas de conhecimento para a gestão da aprendizagem. A visão clássica de

treinamentos gerenciados pelo departamento de recursos humanos tem sido substituída pelos

sistemas de educação corporativa através de e-learning. Os custos e os benefícios envolvidos

no desenvolvimento e na operação de um sistema baseado em e-learning ainda são bastante

subjetivos para os analistas (PIVA JR e LEANDRO, 2010).

No Brasil, o e-learning cresceu 33% em 2002 - passando de US$ 60 milhões em 2001

para US$ 80 milhões, segundo divulgação do Congresso e-Learning Brasil 2003. No mesmo

congresso divulgou-se que 250 grandes corporações que atuam no Brasil já utilizam a

tecnologia para o treinamento dos funcionários, especialmente nas áreas de Vendas,

Marketing e Tecnologia da Informação (SANCHEZ, 2004).

7 Disponível em: http://issuu.com/labssj/releaseeducaocorporativa. Consultado em29/11/2013

Page 21: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

21

1.5 DELIMITAÇÃO

O estudo avança o conhecimento sobre a integração de novas tecnologias no setor da

educação corporativa. O universo da pesquisa restringe-se a empresas públicas e privadas,

brasileiras ou multinacionais, presentes no Brasil, que possuam algum tipo de sistema

interno de educação corporativa, seja este nomeado universidade corporativa ou não. A

pesquisa busca verificar as razões que levam um gestor a adotar novas tecnologias no

processo de educação corporativa, entender as vantagens e desvantagens, bem como os

desdobramentos de sua utilização. Procura-se inferir sobre as tendências da educação

corporativa no Brasil para os próximos anos e, a partir daí, projetar possíveis cenários.

Não faz parte do escopo desta pesquisa procurar entender aspectos da área da

pedagogia ou da psicologia do ensino, no que diz respeito ao tema da educação corporativa.

Não é objetivo da pesquisa, tampouco, comparar universidades corporativas e

instituições de ensino superior, as conhecidas universidades tradicionais.

Por fim, o estudo restringe-se à educação dentro do ambiente corporativo, não

havendo a pretensão de abranger o setor da educação como um todo.

1.6 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este estudo está organizado em seis partes: i. Introdução; ii. Revisão de Literatura;

iii. Método; iv. Análise dos Resultados e Conclusões; e v. Considerações Finais, conforme

descrito abaixo:

No capítulo introdutório, o objetivo do estudo é apresentado, assim como sua

relevância e a delimitação do escopo.

Page 22: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

22

O segundo capítulo, de revisão da literatura, procura contextualizar o objeto de

estudo tratando de temas como definição do conceito de universidades corporativas,

histórico e situação atual. Além disso, analisa a utilização de novas tecnologias na educação

corporativa. Busca, então, ferramental estratégico acerca de pontos importantes para a

análise como: modelos estratégicos de inovação, modelos de aceitação de novas tecnologias,

visão de ecossistema, e metodologia de construção de cenários, prevendo-se tendências e

incertezas.

Já o terceiro capítulo, referente ao método, descreve como a pesquisa foi desenhada

e realizada, especificando-se seu objetivo, critérios de seleção de entrevistados, modo de

coleta de dados e as limitações do estudo.

O quarto capítulo diz respeito à análise dos resultados e confronta os modelos

apresentados na seção de revisão de literatura com os resultados da análise do material

coletado em campo.

O quinto capítulo apresenta algumas conclusões observadas. É apresentado o

ecossistema que envolve os SECs e são projetados cenários futuros possíveis.

O sexto capítulo, Considerações Finais, descreve as contribuições da pesquisa para

pesquisadores e profissionais do setor de educação corporativa, bem como aponta limitações

da pesquisa e oferece recomendação para pesquisas futuras.

Page 23: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

23

2. CONTEXTUALIZAÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA

2.1. EDUCAÇÃO CORPORATIVA E AS UNIVERSIDADES CORPORATIVAS

2.1.1. A importância da Aprendizagem Corporativa

Informação e conhecimento são elementos essenciais ao sucesso das corporações,

por isso é interessante que o plano estratégico das empresas esteja apoiado em um programa

de educação continuada dos seus profissionais, capital humano da organização. Neste

contexto, a educação corporativa visa propiciar condições e espaços para a criação e

disseminação de conhecimentos, para estruturar programas voltados para melhores

resultados e para consolidar a cultura da empresa em cada funcionário (ALPERSTEDT,

2003). Hoje em dia, os resultados provenientes do conhecimento representam os maiores

ativos de uma organização. Sendo assim, o grande desafio das organizações passa a ser o

entendimento, o aprimoramento e o desenvolvimento do capital humano, potencial detentor

desta fonte de recurso inesgotável (DRUKER, 1999).

Gerar e transferir conhecimento na empresa são processos de aprendizagem

organizacional. Porém, mais importante que gerar novos conhecimentos é fazer conexões

com conhecimentos já existentes, ampliando a rede de relacionamentos internos e externos

da organização. No ambiente empresarial, a aprendizagem corporativa intensifica a

comunicação e a interação, amplia e qualifica a rede de relacionamentos entre os públicos

interno e externo. A educação corporativa busca descobrir meios de estimular e qualificar a

aprendizagem, colocando em prática ações gerenciais que motivem as pessoas a gerar,

assimilar, comunicar e aplicar os conhecimentos adquiridos (EBOLI, 2004).

A aprendizagem organizacional pode também ser entendida como uma forma de

buscar reter e incrementar a competitividade, a produtividade e a inovação em conjunturas

de incerteza de mercado pois, quanto maiores às incertezas, maior a necessidade de aprender

(DODGSON, 1993).

Este processo de aprendizagem é, acima de tudo, um processo de mudança de uma

experiência anterior para uma nova possibilidade de prática, que pode vir, ou não, a ser

Page 24: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

24

perceptível. É através da aprendizagem que as pessoas podem se adaptar ao meio em que

vivem, gerando assim uma maior flexibilidade diante dos possíveis cenários (FLEURY,

1997). Sendo assim, as organizações que aprendem são aquelas que possuem a capacidade

de criar, adquirir e transferir o conhecimento, e até mesmo de modificar seu comportamento

para refletir novos conhecimentos (LACOMBE, 2003). Sob esta perspectiva, a maior fonte

de vantagem competitiva da organização, a longo prazo, é a capacidade de aprender mais

depressa do que os concorrentes (TARAPANOFF, 2006).

Sendo assim, a educação corporativa é a chave para reter o capital intelectual da

organização, de modo a qualificar, especializar, atualizar e formar os colaboradores da

organização, de maneira a garantir vantagem competitiva de mercado. Aumentar e aprimorar

o conhecimento dos profissionais da organização pode levar a melhores decisões e ações.

Profissionais de grande experiência na empresa podem, na universidade corporativa, passar

seu conhecimento, em grande parte adquirido na própria empresa, para os colegas

(MUNDIM e RICARDO, 2004).

2.1.2. Universidades corporativas: A questão da nomenclatura

O termo universidade corporativa (UC) se massificou a partir da tradução literal de

Corporate University, conceito que nasceu nos EUA a partir de parcerias onde instituições

de ensino superior se colocam como provedoras de soluções educacionais para empresas,

por meio de programas customizados, os quais funcionam integrando competências

acadêmicas (técnicas de ensino, método científico, biblioteca e laboratórios) às

competências do negócio da empresa parceira (GOMES, 2006).

Porém, a associação da palavra “universidade” com a imagem de campus, edifícios,

reitores e professores pouco tem a ver com a versão de universidade corporativa na visão

empresarial. Esta trata mais de um processo vivo, com todos os níveis da empresa envolvidos

na aprendizagem, no qual os funcionários aprendem uns com os outros, compartilham

inovações e melhores práticas, visando superar sua performance no trabalho e

consequentemente aumentar a produtividade da empresa (TEIXEIRA, 2001).

Page 25: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

25

Éboli (2010) fala desta questão da regulamentação da UC. Ela aponta que o MEC

não reconhece universidade corporativa como instituição de ensino superior e não virá a

reconhecer. A autora vê este fato com viés positivo já que desta forma é também evitada

toda a burocracia que estaria envolvida na regulamentação governamental. Éboli (2010)

ressalta que o termo universidade corporativa é uma metáfora e que poderia ser

simplesmente chamada, por exemplo, de centro de competências, centro de excelência,

academia, etc.

Em reportagem do Estadão de 2013, aponta-se que, embora muitas empresas no

Brasil não tenham universidades corporativas, já mantêm sistemas educacionais

corporativos (SEC) muito bem organizados8. Neste sentido, Éboli (2012) alerta para que a

educação corporativa não seja apenas um novo rótulo, e sim que atenda a seus principais

propósitos: gerar diferencial competitivo para a empresa e ser um fator facilitador de

mudança cultural e organizacional.

2.1.3. Dos centros de treinamento às universidades corporativas

No Brasil, o surgimento das universidades corporativas deu-se durante a década de 90,

quando o treinamento não oferecia nada além de algumas qualificações voltadas para o

desenvolvimento de habilidades específicas (TEIXEIRA, 2001). Segundo Éboli (2010), a

primeira década a partir da criação de UCs no país marcou mais a consolidação do conceito

e das práticas da educação corporativa que mudanças efetivamente. Ao longo de todo o

processo houve evolução das experiências e, principalmente, um amadurecimento da

vinculação estratégica. Neste sentido, os programas e as ações educacionais começavam a

ser concebidos e desenhados para atender com sucesso à estratégia de negócio, olhando para

o futuro e para fora da organização. Contudo o ponto central é a ideia de competências

críticas ou core competence, que representa as capacidades que a empresa precisa possuir

para garantir seu sucesso no mercado9.

8Notícia do ESTADÃO. Daniela Rocha, 2013 9NOTICIA em Portal RH.com. Éboli, 2010

Page 26: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

26

A partir do conceito de universidade corporativa como sendo a capacidade de

proporcionar aos colaboradores de uma empresa, as competências e entendimento que estes

necessitam para ajudar a organização a atingir os seus objetivos de negócio (a médio e longo

prazo), observamos que a diferença entre este conceito e o de centro de treinamento está na

sua maior abrangência e em sua capacidade de estar mais estrategicamente focado, com uma

ligação direta e orientada para os objetivos da organização (WHEELER & CLEGG, 2005).

Também para Teixeira (2001) o objetivo de uma UC é desenvolver competências

essenciais determinantes do sucesso ou do fracasso na condução do negócio da empresa. Já

o centro de treinamento (CT) objetiva desenvolver apenas habilidades técnicas. Para a

autora, o foco do aprendizado de uma UC deve ser o organizacional, fortalecendo a cultura

corporativa, diferentemente do CT onde o foco seria apenas o conhecimento individual.

Sobretudo, no caso das UCs, o público alvo dos programas não se limita internamente

aos funcionários das empresas, como é o caso dos CTs. Inclui também o público externo –

clientes, fornecedores, comunidade, formadores de opinião, investidores, enfim, os parceiros

estratégicos em toda a cadeia produtiva do negócio. Outro ponto fundamental de

diferenciação entre CT e UC é que, nas UCs, os responsáveis pelos programas oferecidos

são os líderes das unidades negociais, e não apenas o setor de RH ou de treinamento, como

ocorre nos CTs (TEIXEIRA, 2001).

Em reportagem da VEJA de 2009 propõe-se que, apesar das semelhanças, as

universidades corporativas em nada lembram os programas de treinamento convencionais. O

avanço das universidades corporativas não significa o fim dos centros de treinamentos, a

partir dos quais muitas das UCs evoluíram. Ao contrário, o treinamento vai continuar sendo

mais uma ferramenta para aprimorar as competências dos negócios10.

Educação, de acordo com o dicionário Aurélio, significa cultivar o espírito. Ou seja,

transmitir valores que coloquem as pessoas num patamar mais elevado de comportamento e

atitudes. Então, quando falamos de educação corporativa, não se trata mais de trabalhar só o

10Notícia da VEJA. Luiz De França, 2009

Page 27: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

27

treinamento, a melhoria do desempenho de determinada tarefa, mas sim de transmitir valores

alinhados com a cultura da empresa. Sob esta perspectiva, Éboli (2009) reforça que, nos

centros tradicionais de treinamento e de desenvolvimento das grandes companhias, os

programas e as ações são desenhados a partir de necessidades individuais dos empregados

em relação às competências necessárias para desempenho de um determinado cargo, função

ou nível de carreira. Sendo assim, conceber o projeto de educação corporativa a partir do

plano estratégico de negócios é o que realmente diferencia a UC de um centro de T&D

tradicional.11

Meister (2004) ratifica esta ideia de mudança de paradigma do treinamento para a

aprendizagem contínua e ilustra tal transformação na Figura 1.

Figura 1: Mudança de Paradigma do Treinamento para a Aprendizagem. Fonte: Meister (1999)

Vale fazer a ressalva que, apesar desta coerente teoria que diferencia CT e UC, muitas

vezes a prática pode estar em dissonância. Éboli (2009) lembra que é comum em algumas

empresas que o processo de educação corporativa esteja desvinculado do planejamento

estratégico da empresa e não inserido plenamente na cultura da empresa. Esta desarmonia

pode ser percebida no momento da mensuração e avaliação dos resultados gerados pela UC

para a empresa. De acordo com a pesquisa de Éboli de 2009 pode-se dizer que o processo

de mensuração e avaliação dos resultados ainda se encontra em um nível prematuro,

11Noticia Portal do RH. Éboli, 2010

Page 28: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

28

possibilitando um grande potencial para uso de metodologias como o Balanced Score

Card para esse fim.12

Neste sentido, a avaliação é um processo importante, pois fornece dados aos

responsáveis pela área de desenvolvimento de pessoas, desde o ponto de vista da

aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos na melhoria do desempenho de colaboradores,

até sob os aspectos de custo x benefício, referente ao montante aplicado ou disponibilizado

na empresa para esse fim.13

2.1.4. As Universidades Corporativas

O tema educação corporativa começou a ser mais difundido no Brasil a partir de

1999, com o lançamento das primeiras publicações sobre o assunto de autoria de Jeanne

Meister nos EUA e Marisa Éboli no Brasil. Nessa época já havia cerca de dez UCs no país,

mas eram ainda experiências mais pontuais. De acordo com os registros que se tem, a

primeira UC do Brasil data de 1992, a Academia Accor. Na sequência foram divulgadas uma

série de outras UCs: Universidade Martins do Varejo em 1994, Universidade Brahma em

1995, Universidade do Hambúrguer (Mc Donalds) em 1997, Visa Training em 1997

posteriormente batizada de Universidade Visa em 2001, Universidade Algar em 1998,

Boston School (BankBoston) em 1999 e a Universidade Datasul também em 1999.

Atualmente estima-se que mais de 500 organizações brasileiras ou multinacionais com

atuação no Brasil já implantaram suas UCs.

A UC é um sistema de desenvolvimento de pessoas pautado pela gestão por

competências, cuja missão consiste em formar e desenvolver talentos na gestão do negócio,

promovendo a gestão do conhecimento organizacional, por meio de um processo de

aprendizagem ativo e contínuo. Dessa forma, existem três níveis de competências numa

organização: empresariais, organizacionais e humanas. Competências empresariais, que são

aquelas já instaladas, que identificam o negócio como um todo, ou que precisam ser

adquiridas para o futuro projetado ser bem-sucedido. Essas competências posicionam a

organização em seu mercado e perante a concorrência (PRAHALAD & HAMEL,1990).

12"Pesquisa Nacional: Práticas e Resultados da Educação Corporativa 2009". Coord. Marisa Eboli 13NOTICIA do Portal Administradores.com

Page 29: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

29

Competências empresariais, que são difíceis de imitar, dão acesso a novos mercados e são

reconhecidas como diferenciais pelos clientes. Em seguida há as competências

organizacionais, as quais são também empresariais, mas ligadas a determinadas áreas ou

processos, e dão sustentação às competências empresariais. E o terceiro nível são as

competências humanas, as quais estão ligadas às capacidades a serem desenvolvidas nas

pessoas e são necessárias para que a organização obtenha suas competências empresariais e

organizacionais (ÉBOLI, 2012).

Os sistemas de educação corporativa trabalham no nível das pessoas. Logo, as

competências que serão desenvolvidas pelos sistemas educacionais das organizações serão

as competências humanas. Quando os colaboradores atingem as competências humanas, as

organizações têm condições de obter suas competências organizacionais e empresariais,

porque possuem pessoas em seu quadro com capacidade de responder às necessidades do

negócio (ÉBOLI, 2012).

Segundo Pereira (2003) as universidades corporativas são o modelo mais usual da

educação corporativa e devem ser como uma membrana que deve permear toda a

organização e dela fazer parte. Meister (2004) reforça esta visão e vai além, apresentando o

conceito como um guarda-chuva estratégico para desenvolver e educar não só os

funcionários, mas também clientes, fornecedores e comunidade, a fim de cumprir as

estratégias empresariais da organização.

Teixeira (2001) tem um entendimento dos objetivos das UCs bem amplo, apontando

para pontos como: desenvolver meios de alavancar novas oportunidades, entrar em novos

mercados globais, criar relacionamentos mais profundos com os clientes e impulsionar as

organizações para um novo futuro.

A universidade corporativa pode ser entendida ainda sob o viés da estrutura da

empresa, isto é, como uma função ou unidade funcional da organização que está

estrategicamente orientada para a integração do desenvolvimento dos recursos humanos e

do seu desempenho conjunto e, em última instância, da própria organização (WHEELER &

CLEGG, 2005).

Page 30: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

30

Também nesta linha, Allen (2002) propõe a definição do que deve ser uma

universidade corporativa: uma entidade educacional que funciona como um instrumento

estratégico a fim de possibilitar sua organização mantenedora atingir sua missão, na

condução de atividades que criem uma cultura de aprendizagem individual e organizacional.

As UCs costumam ser divididas em escolas, e estas subdivididas em pilares ou

centros, em função do tipo de formação a ser oferecida e das competências que serão

desenvolvidas. Cada escola possui objetivos específicos e programas educacionais que irão

seguir os formatos mais adequados aos seus propósitos e a seus públicos. Os programas

oferecidos são entendidos como produtos do sistema educacional da organização e, em

muitos casos, se tornam fonte de receita, conforme o princípio de efetividade da educação

corporativa. Resumidamente, as escolas ou centros de formação das universidades

corporativas são o conjunto de soluções de aprendizagem oferecidas pela organização com

o objetivo de desenvolver nas pessoas as competências humanas exigidas para sustentar os

eixos de competências críticas empresariais (ÉBOLI, 2012).

Teixeira (2001) acredita que as UCs bem sucedidas cobram por seus serviços, são

autossuficientes em termos de recursos, vendem para fora e são gerenciadas como

verdadeiras unidades de negócio. São uma fonte de lucros, não um centro de custos. Segundo

o autor, a UC deverá ter, além de tudo, consciência financeira. Formar uma UC não quer

dizer que se deverá construir um campus universitário em um espaço corporativo. Pelo

contrário, os investimentos fixos deverão ser criteriosamente analisados em consonância

com o porte da empresa e suas necessidades específicas.

Na Pesquisa Nacional Práticas e Resultados da Educação Corporativa 2009 são

apontados como desafios para a educação corporativa os seguintes aspectos: i. A extensão

da educação corporativa a todas as partes interessadas - promoção do envolvimento dos

stakeholders (cadeia produtiva e comunidade); ii. Uma maior conscientização das lideranças

sobre a importância da educação corporativa - promoção do envolvimento da média / alta

gerência; iii. A inserção da educação corporativa na cultura da empresa e criação de uma

conexão entre educação corporativa e gestão do conhecimento; iv. A mensuração dos

resultados da educação corporativa; v. O alcance das estratégias relacionadas ao

desenvolvimento sustentável por meio das ações de educação corporativa.

Page 31: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

31

A mesma pesquisa aponta que dentre os pré-requisitos para que seja possível montar uma

UC estão: obter o comprometimento e o envolvimento da alta cúpula; alinhar o modelo de

gestão de pessoas às estratégias negócio; implantar um modelo de gestão de pessoas por

competências e conceber programas educacionais alinhados às estratégias do negócio.

Meister (1998) pontua detalhadamente cada uma das atividades necessárias para a

criação de uma universidade corporativa, conforme o seguinte: integrar os objetivos de

desenvolvimento da formação às necessidades estratégicas da organização; envolver os

líderes - tanto como alunos, como professores; eleger um executivo responsável pela

aprendizagem institucional, instituindo o cargo de Chief Learning Officer; considerar a

formação dos funcionários um processo estratégico contínuo e não um esforço pontual ou

de atualização periódica; relacionar o que os empregados ganham com o que eles aprendem;

estender a abrangência da UC além da formação dos funcionários da empresa. Fazer com

que a formação chegue aos clientes e à cadeia de abastecimento; operacionalizar a UC como

um centro de negócios dentro da empresa; desenvolver novas alianças e parcerias inovadoras

com as instituições de ensino superior tradicionais; demonstrar o valor da infraestrutura de

aprendizagem da UC, de forma transparente e clara; desenvolver a UC como um instrumento

de vantagem competitiva empresarial e encarar esta como uma unidade de lucro.

Levando isto em consideração, Braga (2005) também apresenta algumas

competências necessárias para a evolução do projeto de universidades corporativas: aprender

a aprender; comunicação e colaboração; raciocínio criativo e capacidade de resolução de

problemas; conhecimento tecnológico; conhecimento de negócios globais; liderança;

autogerenciamento da carreira.

Sobretudo vale a ponderação de Gomes (1999) quanto ao “jeito americano de

administrar”, o que pode fazer com que o modelo de empresas com UCs possua

características como: pragmatismo, ênfase no planejamento e foco nos resultados. Sendo

assim, a identificação das UCs brasileiras com modelos internacionais de gestão abriu

caminho para a adoção de um modelo de desenvolvimento de pessoas, inspirado nas

experiências americanas de universidades de empresa.

Page 32: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

32

O fator essencial na concepção do projeto de educação corporativa é que ele atenda

ao princípio fundamental desse modelo de aprendizagem: auxiliar as organizações a

desenvolver nas pessoas as competências críticas ao seu negócio. Um diagnóstico das

competências organizacionais, conduzido com cuidado com a alta administração, pode

contribuir de maneira significativa para definir as necessidades das empresas e,

consequentemente, as necessidades das pessoas em termos de preparação e qualificação

(ÉBOLI, 2012).

No entanto, nem sempre uma competência estratégica depende apenas do público

interno. Segundo notícia do Portal Administradores.com, na universidade corporativa, estão

todos juntos aprendendo uma nova forma de expandir os relacionamentos, em especial com

clientes, fornecedores e parceiros, seja direta ou indiretamente. A educação corporativa

aplicada à cadeia de valor busca garantir um diferencial para as empresas

prosperarem. 14 Marcos Baumgartner, presidente da AEC - Associação Brasileira de

educação corporativa - reforça que a situação mais comum é de utilização de universidades

corporativas para capacitação do universo próprio de colaboradores de uma empresa,

contudo, há estruturas que extrapolaram a atuação para toda a cadeia de produção.15

Em termos práticos este é o caso da Brahma. Ela começou sua universidade

corporativa pelos distribuidores, porque percebeu que ali estava uma competência

estratégica: fazer a cerveja chegar na hora que o consumidor quer, no lugar que ele deseja e,

principalmente, nas condições ideais para ele. Outro exemplo são as vendas por relações, da

Natura. Ela sabe que uma competência está nas consultoras, que não são funcionárias. Então,

começou sua educação corporativa oferecendo programas para elas, que hoje representam

uma força de vendas de mais de um milhão de pessoas.16

2.1.5 Universidades Setoriais

14NOTICIA do Portal Administradores.com - Beth Accurso, 2005 15Noticia do Estadão. Daniela Rocha, 2013 16Notícia da REVISTA DA ESPM. março/abril 2014

Page 33: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

33

Marcos Baumgartner, presidente da Associação Brasileira de Educação Corporativa,

aponta ainda outra modalidade, lembrando que existem as universidades corporativas

setoriais, que desenvolvem cursos para os colaboradores de pequenas e médias empresas

com a mesma natureza de operações.17

Já Armando Lourenzo, diretor da Ernst & Young University, mesmo confiante no

crescimento das UCs no Brasil, ressalta que o alto custo para montar e manter uma unidade

é um fator limitador da expansão do modelo no país, principalmente para as pequenas e

médias empresas. Ele também traz como alternativa as universidades setoriais, que prestam

serviço a um segmento da economia e não apenas a uma empresa.18

A universidade corporativa do Transporte (UCT), ligada à Federação das Empresas

de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro foi constituída para atender a duas

demandas do setor: a modernização da gestão das companhias e a qualificação dos

motoristas. Ana Rosa Bonilauri, diretora de Gestão de Pessoas da UCT explica que a maioria

das empresas de ônibus no Rio é de estrutura familiar, nesse sentido, o processo de sucessão

e formação das novas gerações é fundamental. Por conta da Copa do Mundo, a UCT com a

prefeitura colocou em prática o programa “No Ponto Certo” para melhorar a qualidade da

prestação de serviços. As atividades proporcionaram treinamento para 7,5 mil motoristas.19

Há ainda um terceiro caso de extensão das atividades da UC a atores externos à

empresa, mas que não se trata nem de profissionais da cadeia de produção, nem do setor, e

sim empresas completamente independentes. Este é o caso do Isvor - Universidade

Corporativa Fiat Chrysler Automobiles Latam. Com uma história de 18 anos o instituto de

desenvolvimento do Grupo Fiat, com sede em Betim (MG), é uma universidade corporativa

atípica, considerada uma referência. Ela nasceu para dar suporte ao grupo, mas passou por

mudanças para atender também a outras empresas. Atualmente, de 5% a 10% dos recursos

vêm de companhias de fora do grupo. Por exemplo, Samarco, Tim, GE e Petrobras já tiveram

colaboradores capacitados no instituto. Em relação à Petrobras, por meio de licitação, os

17Noticia do Estadão. Rocha, 2013 18Noticia da VEJA. França, 2009 19Noticia Estadão. Rocha, 2013

Page 34: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

34

proprietários de postos de combustíveis receberam treinamento em planejamento estratégico

e segurança.20

2.2. NOVAS TECNOLOGIAS E EDUCAÇÃO

2.2.1. As Transformações no Ambiente Educacional Diante das Novas Tecnologias de

Informação e Comunicação - NTIC

De acordo com Becker (2001), as novas tecnologias são uma valiosa ferramenta para

as escolas e salas de aula, pois podem contribuir para a criação de ambientes de

aprendizagem mais eficazes, proporcionando o acesso a uma grande quantidade de

informações, e tornando processos complexos mais simples, através de simulações que

contribuem para o entendimento do aluno (SMEETS, 2005).

Sob esta perspectiva, docentes utilizam cada vez mais notebooks, desktops, lousas

digitais, televisores e vários outros recursos em sala de aula para chamar a atenção dos alunos

e despertar o interesse sobre determinado conteúdo (OLIVEIRA, SANTANA, REALI,

OLIVEIRA, SILVA, e QUEIROZ, 2012).

Neste contexto de efervescência das tecnologias voltadas para a educação, Moran

(2005) aponta para a criação de novas empresas voltadas para o desenvolvimento de

materiais multimídia, de jogos educacionais em ambientes virtuais, para viabilizar a

construção de simulações colaborativas de interação e aprendizagem. O autor remarca a

transformação das formas de explicações para modalidades ilustradas com imagens

animadas tridimensionais, com vídeos em realidade virtual, trazendo o hiper-realismo, a

visão simultânea de vários pontos, o encantamento. Isto é, o material didático fazendo-se

cada vez mais sofisticado, complexo e caro.

O foco dos cursos passa a ser cada vez mais na aprendizagem conjunta, e não tanto

em olhar um conteúdo predeterminado. Há cursos prontos, com autores consagrados, com

20Noticia do Estadão. Daniela Rocha, 2013

Page 35: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

35

apresentações multimídia, mas começam a tomar cada vez mais espaço, os cursos com

interação, debate, desenvolvimento conjunto de experiências, projetos, solução de

problemas com uso intensivo de tecnologias interativas audiovisuais e apoio on-line

(MORAN, 2005).

É interessante notar que as mudanças na educação, estimuladas pelas NTICs, já eram

previstas há quase 20 anos atrás. Ainda em 1996, Bill Gates afirmou que neste ambiente

novo e dinâmico, os alunos seriam os exploradores e os docentes seriam os guias

especializados, que ajudariam os alunos a navegar por territórios inexplorados.

Moran (2005) reforça esta ideia ao falar da figura do professor como um profissional

multitarefa, que orienta muitos grupos de alunos, oferece consultoria à empresas,

treinamento e capacitações on-line, alternando esses momentos com aulas, orientações de

grupos, desenvolvimento de pesquisas com colegas de outras instituições.

Observa-se, assim, que além dos novos papéis de aluno e professor que se

transformam ao longo do tempo, transforma-se também o ambiente escolar, visto que a

escola deixou de ser o único lugar onde se busca conhecimento. O uso das tecnologias da

informação e comunicação aplicadas à educação possibilita transformar o ambiente escolar

e criar novas formas de ensinar e aprender (AZEVEDO, BIAGIOTTI & RESENDE, 2005).

Diante de tantas transformações na educação escolar frente às NTICs observa-se que

em outros ambientes - como o empresarial - elas também não passam despercebidas. A

integração da tecnologia à aprendizagem está criando oportunidade para que as corporações

pensem de maneira totalmente nova sobre como os funcionários acessam informações e

distribuem conhecimento (MEISTER, 2004).

Com o objetivo de serem mais competitivas junto ao mercado globalizado, as

empresas passaram a investir em seus processos de adaptação e reinvenção de suas práticas

empresariais. A partir desse momento, torna-se importante valorizar e gerir o conhecimento

construído dentro do espaço institucional, ao mesmo tempo em que a inserção e a adaptação

de recursos tecnológicos se fazem imprescindíveis (RICARDO, 2005).

Page 36: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

36

A globalização do mercado fez com que as corporações começassem a repensar suas

ações educacionais, provocando uma quebra de paradigma que romperia com o padrão

treinamento/adestramento (reativo) para o de uma educação corporativa proativa e criativa.

Assim as empresas passaram a construir um espaço de aprendizagem mais capaz de superar

o modelo de reprodução de saberes e de aplicação de conhecimentos adquiridos em outras

situações (AGOSTINHO, 2004).

As corporações, ao perceberem a urgência da difusão do conhecimento entre seus

colaboradores e a riqueza de seu capital intelectual, iniciaram uma mudança em seu formato

de gestão. Como consequência dessas modificações nas organizações, os setores de RH e

treinamento passaram a ter a missão de converter seus colaboradores em pessoas criativas,

autônomas e talentosas, obrigando-os a reverem o modelo de treinamento vigente

(RICARDO, 2005).

A rápida obsolescência das informações, o aumento das possibilidades de acesso, as

novas exigências do mercado de trabalho, dentre outros aspectos, tornam evidente a

necessidade de atualização do conhecimento. O uso das novas tecnologias permite ampliar

consideravelmente o universo de informações que agora pode ser compartilhado com todos

os membros da organização. A educação permanente impõe-se, e a tendência é facilitar o

acesso às fontes de informação de forma rápida e com qualidade, a fim de responder às

necessidades, democratizar o acesso ao mundo do conhecimento e expandir as oportunidades

de educação continuada (AZEVEDO, BIAGIOTTI, RESENDE, 2005).

No entanto, a combinação de tecnologia e educação também pode trazer alguns

desafios. Muitas empresas pensam no e-learning como uma forma de cortar custos de

treinamento. Em parte, isso é verdadeiro, mas o e-learning de qualidade é caro, como

qualquer processo de ensino sério. Profissionais especializados não são encontrados

facilmente no mercado, principalmente no que dia respeito às questões pedagógicas, em

como ajudar os alunos a aprender (MORAN, 2005).

A crescente necessidade de educar uma maior quantidade de alunos, alcançar

populações afastadas, diminuir os custos e facilitar o processo de aprendizagem dos alunos

fizeram dos meios massivos de comunicação uma ferramenta eficaz para alcançar tais

Page 37: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

37

objetivos. No entanto, a maneira com que se fez uso dos meios de comunicação pode não ter

sido a mais adequada, e mesmo cumprindo tais objetivos, algumas vezes não cumpre o

principal que é ser capaz de transmitir um conteúdo com eficácia (LLANES, 2005).

Um ponto importante que representa um grande desafio para o sucesso do e-learning

é que além destas barreiras práticas, há as barreiras de aceitação. Mesmo com tecnologias

de ponta, ainda há grandes dificuldades no gerenciamento emocional, tanto no pessoal como

no organizacional, o que dificulta o aprendizado rápido. Um dos grandes desafios hoje é

desenvolver um ambiente afetivo nos cursos online. As mudanças na educação dependem,

mais do que das novas tecnologias, de haver educadores, gestores e alunos maduros

intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar

e dialogar (LITWIN, 2000).

Petko (2012) afirma que muitas escolas são lentas no que diz respeito à adoção da

tecnologia digital e, por isso, muitos professores são céticos sobre a sua integração na sala

de aula ou continuam bastante conservadores na maneira de utilização da tecnologia.

Eis o grande desafio: muitos cursos são pura instrução programada; são textos com

atividades e avaliação com testes de múltipla escolha. Só os faz quem está muito motivado;

mas são difíceis para a maioria, acostumadas ao olho no olho. Há cursos que são vídeos

sonolentos, palestras ilustradas com PowerPoint. Há outros que são produzidos em outros

países, traduzidos, mas não adaptados. Para muitos profissionais, se os cursos são longos, se

tornam insuportáveis e desistem com frequência (MORAN, 2005).

Quando se trata de e-learning, há o grande desafio da disciplina, capacidade de

concentração e continuidade do aluno. Com os processos convencionais de ensino e com a

atual dispersão da atenção da vida urbana, fica muito difícil a autonomia, a organização

pessoal, indispensável para os processos de aprendizagem a distância. O aluno

desorganizado vai deixando passar o tempo adequado para cada atividade, discussão,

produção e pode sentir dificuldade em acompanhar o ritmo de um curso. Isso atrapalha sua

motivação, sua própria aprendizagem e a do grupo. Além disso, em sala de aula, se

estivermos atentos, podemos mais facilmente obter feedback dos problemas que acontecem

Page 38: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

38

e procurar dialogar ou encontrar novas estratégias pedagógicas. No virtual, o aluno está mais

distante (BELLONI, 1999).

2.2.2. Inovações Disruptivas na Educação

Em face a um dinâmico ambiente de negócios caracterizado pela constante

transformação, devido ao crescente número de inovações, a indústria da educação vive um

momento em que seu negócio parece estar sendo redefinido a cada dia. Com novas

tecnologias surgindo, com as novas possibilidades de ensino/aprendizagem e com um

mercado de organizações educacionais tendendo à consolidação, começa a ser desenhado

um panorama repleto de questões desconhecidas, não só para alunos e professores de escolas,

mas também no âmbito empresarial, para funcionários e sistemas de educação corporativa.

Desta forma, buscou-se na literatura modelos já estabelecidos, capazes de dar suporte

a uma compreensão mais ampla e coerente das novas dinâmicas da educação corporativa,

frente às inovações tecnológicas e metodológicas que parecem estar reconfigurando esta

indústria. Cumpre, então, analisar estes modelos que trabalham as formas de resposta das

organizações diante das mudanças e inovações em seu ambiente, inclusive no que diz

respeito à introdução de novas tecnologias.

Ao transformar as regras que ditam as dinâmicas de um mercado, estas inovações são

consideradas disruptivas (CHRISTENSEN, 1997). Diferentemente das inovações

incrementais, que apenas aperfeiçoam um conceito pré-existente, as inovações disruptivas

são capazes de reconstruir o modelo de negócios de uma indústria, criando um negócio

inédito.

A inovação disruptiva muda o foco de algo que deve ser melhorado, dá um passo

atrás e olha a questão de outra forma, não melhorando ou incrementando, mas sim

modificando. Um ponto importante no que diz respeito à inovação disruptiva é que a nova

proposta atinja um público novo, que até então não era atendido, ao invés de fazer

consumidores migrarem de uma tecnologia para outra (CHRISTENSEN, HORN &

JOHNSON, 2008).

Page 39: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

39

A partir do conceito de universidade corporativa, válido para qualquer indústria, os

autores observam as implicações de tal fenômeno especificamente na indústria da educação.

Christensen, Horn e Johnson (2008) examinam a indústria da educação pública nos Estados

Unidos e as causas das dificuldades enfrentadas nas escolas nos dias de hoje para melhorar

a educação, sob a perspectiva da inovação. Os autores defendem que os estudantes possuem

tipos diferentes de inteligência, de estilo de aprendizado, de ritmo e diferentes pontos de

partida. Visto então que as pessoas aprendem de maneiras diferentes, as escolas não

deveriam padronizar o ensino, e sim customizá-lo de acordo com a maneira que cada

estudante tem mais facilidade.

Os autores apresentam a abordagem da tecnologia monolítica, que emprega um único

estilo de instrução para todos os alunos, como por exemplo, numa sala de aula todos usando

o mesmo livro texto, ou mesmo usando computadores, softwares transmitindo

conhecimentos para os alunos todos de uma mesma forma. Por outro lado, a abordagem do

ensino centrada no aluno customiza a forma como cada aluno aprende. Nesta abordagem

softwares de computador podem adaptar-se para transmitir conhecimento de acordo com o

tipo de inteligência e estilo de aprendizado especifico de cada aluno (CHRISTENSEN,

HORN & JOHNSON, 2008).

Christensen, Horn e Johnson (2008) falam sobre a motivação do aluno. Apresentam

os conceitos de motivação extrínseca – quando a motivação vem de um fator externo, como

por exemplo, um prêmio por determinado esforço – e de motivação intrínseca – quando a

motivação é alimentada pelo próprio desenvolvimento de determinada tarefa. Os autores

argumentam que a motivação extrínseca dos alunos facilita enormemente o trabalho das

escolas, por outro lado, a tarefa de gerar motivação intrínseca para o aprendizado dos alunos

pode ser bastante desafiadora para as escolas. A escola pode e deve ser uma experiência de

motivação intrínseca.

Os autores apresentam os conceitos de interdependência e modularidade, mostrando

que criação de produtos baseada em módulos facilita enormemente a customização do

mesmo, proporcionando maior flexibilidade. Por outro lado, se este mesmo produto possui

Page 40: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

40

interdependência em sua arquitetura, irá requerer um processo de redesign completo a cada

vez que for customizado (CHRISTENSEN, HORN & JOHNSON, 2008).

Os autores propõem que uma forma das escolas se aproximarem deste método de

ensino que tem a tecnologia centrada no estudante, seria através do aprendizado baseado no

uso de computadores. Esta parece ser uma força disruptiva e uma bela oportunidade. O uso

da tecnologia como uma plataforma para o aprendizado oferece a possibilidade de

modularizar o sistema de ensino e assim customizar o aprendizado. Neste contexto os

professores podem assumir o papel de coaches e arquitetos de conteúdo para auxiliar no

progresso de seus estudantes. Seriam mais como guias ou treinadores que caminham junto

com o aluno, e não sábios distantes e quase inatingíveis em cima de um palco.

(CHRISTENSEN, HORN & JOHNSON,2008).

O livro Wharton on managing emerging Technologies de Day, Schoemaker e

Gunther (2000) examina os desafios da gestão das tecnologias emergentes - que envolvem

todas as áreas da organização e as inovações baseadas na tecnologia da informação, que

estão criando e reestruturando indústrias numa velocidade nunca antes vista, tornando

obsoletas as antigas práticas de gestão e exigindo novas competências e estratégias. Os

autores estruturaram um conjunto de sete fatores críticos que norteiam o entendimento desta

questão, já que não há modelo ou paradigma preestabelecidos para realização de tal análise.

Os fatores críticos por eles apontados incluem: i. A avaliação das tecnologias emergentes;

ii. O desenvolvimento e a gestão de alianças estratégicas; iii. A análise das estratégias de

tecnologia; iv. O processo de desenvolvimento de novos produtos para novos mercados; v.

A capacidade de moldar organizações para competir em tecnologias emergentes; vi. A gestão

da propriedade intelectual; vii. A evolução das indústrias baseadas em tecnologias

emergentes. Desta forma, os autores propiciam uma estimulante reflexão sobre os novos

desafios a serem enfrentados pelos gestores, provocando o pensamento criativo para a busca

de soluções aos novos problemas e para a pesquisa de novos caminhos que permitam

aproveitar as oportunidades criadas pelas inovações tecnológicas.

Conforme as NTIC avançam, novos tipos de oportunidades de ensino estão surgindo.

Através do uso de computadores, estudantes tem acesso à experts e arquivos inacessíveis

geograficamente podem se comunicar com seus pares e participar de relações de mentoria

Page 41: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

41

ou de comunidades virtuais. Esta interface proporciona novos modelos de aprendizado que

envolvem a maioria das novas ferramentas, aplicações e mídias da educação básica. Em

contrapartida, já foi constatado que um grande número de jovens desistem dos estudos

justamente por não serem ensinados através de métodos compatíveis com seus tipos de

aprendizagem (DEDE, 2005).

A interface com ambientes virtuais multiusuários emergentes (Emerging multiuser

virtual environment - MUVE) oferece aos estudantes uma experiência com mais

engajamento em um contexto virtual com avatares de outros participantes que podem

interagir com objetos virtuais como fotografias históricas e microscópios virtuais. Além

disso, esta interface proporciona novas formas de comunicação entre os avatares usando

mídias como o chat e gestos virtuais. Este tipo de imersão mediada permite designers

instrucionais construir em simulações de experiências que seriam impossíveis há algumas

décadas atrás. Interfaces de realidade aumentada possibilitam modelos de computação

ubíqua. Estudantes com seus telefones celulares podem sobrepor informação virtual sobre

cenários do mundo real. Este tipo de imersão mediada mistura recursos digitais no mundo

real, aumentando as possibilidades de interação dos estudantes (DEDE, 2008).

Historicamente, educação baseada em tecnologia, educação à distância e educação

on-line em particular, têm sofrido as consequências de uma má compreensão do público em

geral, que em grande parte acredita tratar-se de uma modalidade inferior à tradicional:

presencial (DEDE, in press). Esta crença é contrária às evidencias que se apresentam nas

inúmeras recentes pesquisas, mas acabam por retardar modelos poderosos de ensino

baseados em sofisticados computadores e na telecomunicação. Atualmente, porém, muitas

áreas da educação estão finalmente reconhecendo o valor das NTIC em ajudar no processo

de aprendizado, especialmente quando usadas como um complemento do presencial, o que

representa o sistema híbrido ou blended. (DEDE, 2008).

O modelo combina aprendizado on-line e off-line mesclando o estudo independente,

de maneira virtual, com a modalidade de ensino presencial, valorizando assim a interação

entre os alunos e entre aluno e professor. Há uma primeira etapa, presencial, onde o

professor/tutor sugere atividades que valorizem as interações interpessoais, podendo

envolver uma turma inteira ou pequenos grupos de trabalho. Numa segunda etapa, é feito

Page 42: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

42

um maior uso de recursos digitais. Neste momento o aluno experimenta um novo tipo de

relação com seu próprio aprendizado, controlando onde, como, o que e com quem vai

estudar. Dispositivos móveis, como tablets e celulares, são recursos importantes que abre

inúmeras possibilidades de trabalho na própria sala de aula, biblioteca, laboratório de

informática ou mesmo em casa. O modelo é estruturado com atividades síncronas, ou

assíncronas, da mesma forma que o e-learning, ou seja, em situações onde professoras e

alunos trabalham juntos num horário pré-definido, e situações onde cada um cumpri suas

tarefas em horários flexíveis. Dentre as vantagens do blended learning estão a possibilidade

de interação e troca de experiências entre os participantes; o desenvolvimento de dinâmicas

coletivas; redução de custos; novas possibilidades de avaliação dos alunos; e resultados de

aprendizagem mais eficazes (MACDONALD, 2008).

2.2.3. Tendências do Mercado da Educação diante das NTIC

O flipped classroom - ou sala de aula invertida - é uma metodologia onde os

aprendizes têm contato com o conteúdo antes da aula presencial em suas casas, assistindo a

um vídeo, jogando um game educativo ou acessando qualquer conteúdo através de recursos

virtuais e interativos. Após esta experiência virtual, o espaço da sala de aula presencial

poderá ser melhor aproveitado para a interação com o professor e pares, a fim de sanar as

dúvidas e construir projetos em grupos. 21

O conceito de Blended Learning - ou ensino híbrido – está em sintonia com as ideias

propostas acima. Seu objetivo é mesclar atividades presenciais com atividades a distância

entre os alunos. É uma metodologia que tende a desconstruir os conceitos fixos que

diferenciam aulas virtuais de aulas presenciais.

A convergência tecnológica proporciona o acesso à diversas aplicações, a partir de

qualquer lugar, mediante um canal único de comunicação. Smartphones são o principal

exemplo desta tendência, misturando funções de computador, telefone, câmera digital,

acesso à internet, player de música e vídeos, jogos eletrônicos, convergindo várias mídias

21Fonte: http://www.educacao-a-distancia.com/as-10-principais-tendencias-na-educacao-a-distancia/#.VNJJxmjF-Io).

Page 43: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

43

em uma única máquina. Sob esta perspectiva, o mobile learning pode representar um ponto

importante para o mercado de games educativos.

A análise da aprendizagem – ou learning analytics – é uma aplicação educacional de

web analytics, uma ciência comumente usada pelas empresas para analisar as atividades

comerciais, identificar tendências de gastos e prever o comportamento do consumidor. As

informações fornecidas por learning analytics são cruciais tanto para os alunos – para que

possam ter um papel mais ativo no seu próprio aprendizado - quanto para os educadores e

pesquisadores – para que possam construir melhores pedagogias, compreendendo os gaps

de aprendizado22.

O ensino centrado no aluno é um assunto que vem ganhando relevância entre

profissionais nos últimos anos já que pode representar uma oportunidade para o processo de

educação, inclusive através de games. Esta metodologia dá aos alunos poder de escolha em

relação àquilo que querem aprender.

De acordo com a abordagem de ensino centrado no aluno, o estudante tem a liberdade

de construir o seu próprio "menu de aprendizagem". Isso implica que o ensino seja mais

customizado para que seja melhor adaptado ao perfil, estilo de aprendizagem e momento de

cada aluno. Os cursos passam a ser altamente flexíveis no tempo, no espaço, na metodologia,

na gestão de tecnologias e na avaliação.

Para a melhor customização e adaptação do ensino aos diferentes perfis de alunos,

uma estratégia que parece funcionar bem é a modularização do conteúdo. Isso permite que

o aluno aprenda em seu próprio ritmo, que só avance para a etapa seguinte após ter realmente

compreendido a etapa anterior.

A aprendizagem adaptativa pauta-se na análise da aprendizagem onde são

identificadas as dificuldades dos alunos ou gaps de aprendizagem para que seja possível

indicar ao usuário todos os recursos disponíveis para que ele preencha tais déficits de

aprendizagem e possa avançar nos estudos de maneira eficaz. Conforme vão ocorrendo

22Fonte: http://brasil.wiki.nmc.org/Learning+Analytics

Page 44: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

44

novas dificuldades ou mesmo novos interesses por parte dos alunos, o ambiente virtual vai

se adaptando e oferecendo ao aluno os recursos que ele precisa ou deseja compreender. 23

A aprendizagem colaborativa é outra questão que vem ganhando cada vez mais

relevância. No modelo tradicional de sala de aula, o aluno era predominantemente passivo,

e seu papél era apenas absorver o conhecimento a ele apresentado. No entanto, a introdução

das novas tecnologias fez com que os métodos de participação e comunicação no ensino

mudassem para uma forma mais interativa e colaborativa. O foco dos cursos passa a ser cada

vez mais na aprendizagem conjunta, e não tanto em olhar um conteúdo predeterminado. A

crescente ubiquidade das redes sociais contribui para isto, motivando as pessoas a buscar o

conteúdo desejado e fazer desses ambientes, repositórios de objetos de aprendizagem, salas

de discussões, e assim espaços de troca de conhecimentos.

A educação On-line é uma modalidade de educação a distância realizada via internet,

cuja comunicação ocorre de forma síncrona ou assíncrona. Tanto pode utilizar a internet

para distribuir rapidamente as informações, como pode fazer uso da interatividade

propiciada pela internet para concretizar a interação entre as pessoas, cuja comunicação pode

se dar de acordo com distintas modalidades comunicativas.

A aprendizagem rápida – rapid learning - é uma metodologia e-learning coadjuvante

de cursos mais encorpados que busca oferecer cursos complementares mais sintéticos e

rápidos. Encaixa-se bem nos casos de utilização de dispositivos móveis na educação. O mais

comum é utilizar slides em PowerPoint e uma locução que atenda a estes slides.

Os MOOCs - "massive open online courses" – e plataformas de ensino vêm mudando

o rumo dos cursos online. Estes têm como objetivo principal levar conteúdo gratuito e online

para um grande número de pessoas de forma fácil e eficaz. Um aspecto muito positivo dos

MOOCs é a liberdade de realizar o curso em seu próprio ritmo e com flexibilidade de horário.

24 Há ainda a ideia de recursos educacionais abertos (REAs) que são materiais de ensino

23Fonte: http://www.educacao-a-distancia.com/as-10-principais-tendencias-na-educacao-a-distancia/#.VNJJxmjF-Io 24 http://noticias.universia.com.br/atualidade/noticia/2013/10/22/1057760/entenda-os-moocs-so-tendem-crescer.html

Page 45: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

45

disponíveis para que qualquer pessoa possa utilizar da maneira que quiser, e que estão sob

domínio público na internet.

2.3 ESTRATÉGIA E INOVAÇÃO

Para que seja possível a compreensão do universo da educação corporativa diante das

novas tecnologias é inevitável olharmos para o contexto atual. Numa época quando se

reconhece a importância de se vincular estratégia organizacional e educação corporativa

como meio de gerar inteligência organizacional e vantagem competitiva, fica evidente que a

informação passa a ter um papel de destaque. Informação e conhecimento passam a ser

estratégicos e a proporcionar vantagem competitiva a partir da forma que são usados. Sob

esta perspectiva a economia da informação trata a informação como um bem de produção

necessário às atividades empresariais.

2.3.1. A Economia da Informação

Em primeiro lugar, é preciso levar em consideração que a transmissão de qualquer

conteúdo educacional requer um “pacote” que permita que a informação seja entregue ao

consumidor final. Assim, o bem informação, por não se tratar de um bem físico, requer uma

espécie de suporte. A tecnologia trata desta infraestrutura necessária para guardar, buscar,

reter, copiar, filtrar, manipular, mostrar, transmitir e receber a informação (SHAPIRO &

VARIAN, 1999).

Faz-se uma analogia para explicar tal conceito propondo que a infraestrutura está

para a informação assim como a garrafa está para o vinho. A economia da informação trata

dos dois lados desta mesma moeda: a informação e a tecnologia a ela associada. Há, assim,

uma relação de interdependência entre os atores: produtores de conteúdo e provedores de

infraestrutura. O primeiro não pode operar sem o segundo, e vice-versa (SHAPIRO &

VARIAN, 1999).

No entanto, esta tecnologia que permite a entrega da informação, no caso o conteúdo

educacional, não é estática ou definitiva. Pelo contrário, a tecnologia é algo que está em

Page 46: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

46

constante transformação e evolução, tornando o cenário extremamente dinâmico e instável,

e as relações entre atuais e novos atores altamente desafiadoras.

Shapiro e Varian (1999) apresentam o conceito de lock-in como sendo justamente

estas dificuldades enfrentadas pelos consumidores (ou mesmo por outros atores) em mudar

de tecnologia uma vez que já se realizou algum investimento na primeira. Segundo os

autores, ao se substituir um antigo sistema por um novo, incompatível, é possível que seja

necessário mudar ou duplicar todos os componentes complementares do sistema. O lock-in

pode acontecer em um nível individual, corporativo ou societal.

O lock-in de clientes ocorre na economia da informação, pois a informação é

guardada, manipulada e comunicada usando-se sistemas constituídos por peças de hardware

e software, e também porque é necessário treinamento especializado para a utilização de

sistemas específicos (SHAPIRO & VARIAN, 1999).

Porém não são apenas clientes que estão suscetíveis aos custos de troca e lock-in,

mas também fornecedores de tecnologia e parceiros. Não é incomum que fornecedores e

consumidores fiquem presos entre si, sofrendo lock-in ao mesmo tempo. Chama-se este

fenômeno de lock-in bilateral ou de dois lados. Qualquer um que faça investimentos que

sejam específicos para um determinado fornecedor, cliente ou parceiro pode ser alvo de lock-

in durante aquele investimento. Esta relação ocorre quando um vendedor produz um

software especifico para um cliente individual. Um fornecedor de tecnologia da informação

pode se proteger de tais perigos buscando clientes que se comprometam a comprar o

suficiente, de forma a cobrir, senão os custos totais do investimento, ao menos a maior parte

deles (SHAPIRO & VARIAN, 1999).

Shapiro e Varian (1999) defendem que para entender o lock-in e lidar com ele de

forma eficiente é preciso reconhecer o que constitui o custo de troca (switching cost) bem

como ser capaz de antecipá-lo e medi-lo. O conceito de switching cost expressa os custos de

se mudar de uma tecnologia da informação para outra. O preço desta mudança pode ser

justamente o responsável pelo lock-in no sistema de informação ou marca atual. Nos casos

em que, ao se trocar uma tecnologia por outra, não houver interrupção do serviço e for fácil

realizar a troca, este custo de troca será praticamente nulo.

Page 47: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

47

Compatibilidade e padronização tem sido uma questão importante desde o início dos

tempos quando os seres humanos começaram a utilizar a linguagem falada. A história da

torre de babel pode ilustrar bem como a padronização pode ser uma tarefa difícil. Padrões

reduzem os riscos, as incertezas e o lock-in do consumidor, logo, fazem acelerar o processo

de aceitação de uma nova tecnologia (SHAPIRO & VARIAN, 1999).

Além disso, uma visão sistêmica e amplificada contribui para o entendimento do

fenômeno estudado sob um espectro mais abrangente onde se pode perceber as relações e

interações existentes entre os diversos atores.

2.3.2 Redes mediadas por plataformas

Facilitando a compatibilidade ou a interoperabilidade, os padrões geram maior valor

para os usuários ao se criarem maiores redes. A padronização torna possível o

compartilhamento de informação entre um maior número de pessoas em uma rede, sem a

necessidade de converter dados de um formato para outro. E a habilidade de compartilhar

informações atrai ainda mais consumidores a utilizarem este formato (SHAPIRO &

VARIAN, 1999).

Eisenmann (2006) propõe que uma rede é um sistema de nós interconectados, que

podem ser pessoas, companhias, lugares ou coisas. Nas redes de negócios mediadas por

plataformas, estes nós são chamados usuários da rede. Trata-se de empresas ou pessoas

independentes, mas que buscam estar na rede para poderem interagir com os outros atores,

usufruindo dos efeitos de rede.

A interação em uma rede mediada por plataforma requer um padrão de relação

triangular (SHAPIRO & VARIAN, 1999). Para interagirem um com o outro, dois usuários

acessam uma mesma plataforma comum aos dois – a terceira ponta do triangulo. Usuários

de uma rede irão optar pelo uso de uma plataforma quando isso lhes trouxer maior eficiência

para suas transações, comparado as negociações sem uma intermediação.

Page 48: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

48

Sabemos que para muitos tipos de tecnologia da informação, os consumidores se

beneficiam ao utilizar um sistema ou formato já popularizado. Shapiro e Varian (1999)

definem as externalidades de rede ou efeitos de rede como a relação de dependência entre o

valor que um usuário dá para estar conectado a uma rede e quantos outros usuários também

estão conectados a esta mesma rede.

Segundo Shapiro e Varian (1999), tecnologias sujeitas a fortes externalidades de rede

tendem a exibir um longo tempo de aprovisionamento, seguido por uma explosão de

crescimento. Este padrão resulta do comportamento onde quanto mais a base de usuários

cresce, mais e mais usuários passam a acreditar que a adoção daquela tecnologia valerá à

pena, ou seja, feedback positivo. Eventualmente o produto poderá atingir massa crítica e

dominar o mercado. A noção de feedback positivo é crucial para se entender a economia da

informação: faz com que o forte fique mais forte e o fraco fique mais fraco.

Os tipos de efeitos de rede estão ligados também aos tipos de rede, isto é, ocorrem

efeitos diferentes dependendo do número de grupos (ou lados) que a rede possui. Quando os

dois lados da rede são homogêneos, realizando funções semelhantes, trata-se de redes de um

lado. Já a rede de dois lados possui dois grupos distintos de usuários. Os usuários de cada

lado requerem funcionalidades bem diferentes do outro grupo, geradas por aquela mesma

plataforma. É comum que esta modalidade de rede apresente efeitos de rede cross-side -

quando os membros de um lado valorizam o número de membros do outro lado, ou efeitos

de rede same-side – quando os membros de um lado valorizam o número de membros do

seu mesmo lado. Por fim, nas redes de três lados os membros de cada grupo valorizam o

número de usuários dos outros dois grupos (EISENMANN, 2006).

As empresas que estão em um ambiente de rede mediada por plataformas costumam

ter desafios diferentes. Justamente por conta dos efeitos de rede, algumas vezes o mercado

acaba tendo espaço para muito poucos players, sendo comum que uma única plataforma

prevaleça (Eisenmann, 2006). Entender o que determina um caminho ou outro – mercados

servidos por uma única plataforma ou mercados que suportam plataformas rivais - é crucial

quando se formulam as estratégias de entrada, até porque aquele que perde na batalha

Winner-Take-All está fadado a extinção (EISENMANN, 2006).

Page 49: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

49

Mercados em rede, especialmente aqueles em que a tecnologia está evoluindo

rapidamente são ricos em oportunidades de envelopamento as quais podem deixar confusos

os limites do mercado. Por exemplo, telefones celulares incorporaram a funcionalidade de

música, de vídeo-player, de computadores e até de cartões de crédito. Em muitos casos, o

negócio que estava até então sozinho, quando tem de lidar com uma situação de

envelopamento não tem muita opção senão vender para aquele que o ataca ou então sair de

campo (EISENMANN, 2006).

A ideia de envelopamento aponta para o conceito de convergência de mídias. Wirtz

(2001) estudou a indústria de mídia e mostrou que se trata de uma indústria convergente,

isto é, uma indústria cujas fronteiras estão se expandindo, com ofertas inseridas num

ambiente de entretenimento digital, cujo território contempla vários setores diferentes e

alcança milhões de clientes. De acordo com Jenkins (2009), a convergência na indústria de

mídia modifica a lógica por meio da qual a indústria da comunicação opera e pela qual,

pessoas consomem notícias e entretenimento.

2.3.3. Visão Sistêmica

A indústria das novas tecnologias vem demonstrando ser uma indústria convergente,

isto é, uma indústria cujas fronteiras estão se expandindo para outras indústrias, como

entretenimento, educação, telecomunicações, equipamentos, infraestrutura, software e

conteúdo. Suas ofertas atingem dezenas de indústrias diferentes e alcançam milhões de

clientes diretos e indiretos, com possibilidades de variados e simultâneos modelos de

negócios para cada situação. Neste novo panorama, a composição de estratégias deve contar

com um olhar mais amplo, necessitando de ferramentas capazes de monitorar a troca de

informações e de recursos entre indústrias, percebendo eventuais adversários e possíveis

aliados com antecedência, compreendendo as ameaças e oportunidades além do ambiente de

negócios original. Day e Schoemaker (2006) também apresentam modelos que podem

contribuir para a melhor compreensão da forma como diferentes indústrias podem lidar com

as inovações em seus ambientes. Os autores propõem que muitas vezes é necessário observar

o que está além de um mercado, monitorando indústrias adjacentes, isto é, possuindo uma

visão periférica.

Page 50: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

50

Day e Schoemaker (2006) apontam que diversas indústrias atravessam grandes

mudanças estimuladas por inovações que ocorreram além de suas fronteiras, e por isso faz-

se importante ter um olhar mais amplo, abrangente e integrado.

Um exemplo de falta de visão periférica, que ilustra bem o conceito proposto pelos

autores, é o da indústria fonográfica, que não soube administrar as inovações ao seu redor,

tendo uma empresa pertencente a outra indústria, a Apple, aproveitado a oportunidade e

através de uma mudança disruptiva se tornando líder naquele mercado que até então não era

o seu. Em outras palavras, conforme exposto por Day e Schoemaker (2006) e Day et al.

(2000), a capacidade de reação de uma empresa às inovações depende fundamentalmente do

aperfeiçoamento de sua visão periférica. A composição de estratégias deve, portanto, rastrear

a troca de informações e de recursos entre indústrias, identificando focos de criação e de

destruição de valor com antecedência (IYER, LEE & VENKATRAMAN, 2006).

2.3.4 Ecossistemas e Cenários

Sob esta perspectiva de visão amplificada, a estratégia corporativa deve ser criada

considerando o ecossistema em que se opera e seu objetivo nele, para que a empresa defina

seu posicionamento e suas perspectivas de inovação (IANSITI &LEVIEN, 2004; ADNER,

2006).

A análise de ecossistema procura mapear de forma bastante abrangente as redes

compostas por participantes de diversos setores que se influenciam ou possuem relações

diretas em seus negócios, alcançando uma visão ampla de clusters de competição e

cooperação entre indústria; bem como identificando focos existentes e potenciais de criação

e destruição de valor (IYER, LEE & VENKATRAMAN, 2006). A estratégia de uma

empresa deve levar em conta o ecossistema no qual ela está inserida e o seu papel no mesmo

(IANSITI & LEVIEN, 2004); auxiliando as empresas em seus posicionamentos, estratégias

de lançamento e inovações (ADNER, 2006).

Page 51: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

51

Ao possibilitar o monitoramento de competidores e aliados estabelecidos ou

potenciais de outras indústrias, a análise de ecossistemas também oferece insights criativos

para o aproveitamento de outra ferramenta poderosa para a composição de estratégias: a

utilização de cenários para o planejamento. Proposto por Schoemaker (1995), este método

busca limitar as infinitas possibilidades futuras de um negócio para um número reduzido de

cenários. Para tanto, são identificadas tendências – aquilo cuja realização é tomada como

muito provável no futuro – e incertezas do ambiente.

Ao combinar apenas as tendências e incertezas críticas para o negócio, um número

limitado de cenários possíveis é concebido, facilitando o processo de tomada de decisão do

gestor. Como resultado, o futuro empresário passa a contar com uma percepção crítica sobre

possibilidades futuras que permite a detecção das competências necessárias para garantir o

sucesso em múltiplos cenários (SCHOEMAKER, 1995).

A fim de desenvolver uma sensibilidade sobre qual cenário proposto tende a se tornar

o presente, Garvin & Levesque (2005) posteriormente completaram o método de

Schoemaker (1995) ao sugerir o conceito de early warnings. Segundo este conceito, ao

definir os cenários estratégicos para uma organização, o gestor deve estabelecer prováveis

acontecimentos vinculados a cada futuro possível; os chamados early warnings. Desta

forma, ao longo do cotidiano, a realização destes acontecimentos poderia ser percebida como

alertas denotando que o respectivo cenário vinculado ganhou força como o futuro mais

provável dentre todos os propostos. Assim, conjugando o conceito de planejamento de

cenários com early warnings, a empresa obtém a oportunidade de aperfeiçoar sua visão

periférica e sua velocidade de resposta às incertezas futuras.

Ainda assim, o constante monitoramento de early warnings pode não ser suficiente

para garantir a flexibilidade e agilidade necessárias em ambientes instáveis. O conceito de

Opção Real Estratégica desenvolvido por Day, Schoemaker e Gunther (2000), assim como

os early warnings (GARVIN & LEVESQUE, 2005) tem o objetivo de incrementar a

flexibilidade da organização diante das incertezas que a ela se apresentam. Tal conceito faz

um paralelo com a ideia de opções reais do mercado financeiro a medida que, ao adquirir

uma opção real estratégica, uma empresa estaria comprando o direito de usar uma tecnologia

no futuro, sem tornar isso um dever. Na prática, a ideia seria tornar determinada inovação

Page 52: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

52

familiar à organização a partir da adoção gradual de determinada tecnologia através de

aquisição de licença de uso ou o desenvolvimento de um projeto piloto. No entanto isto

aconteceria em caráter mais experimental, não implicando na obrigação por parte da empresa

de efetivamente adotá-la. Sob esta perspectiva, ao investir em opções reais estratégicas, a

organização é capaz de acionar inovações tecnológicas estratégicas de forma mais rápida e

econômica que outras empresas que não tiveram nenhum contato com tal inovação

tecnológica, reforçando assim sua habilidade de adaptação e flexibilidade a diversos cenários

futuros.

2.3.5 Modelos de Aceitação de Tecnologia

Há diversos estudos que analisam a aceitação da tecnologia, porém aquele que

melhor se adequa a este trabalho é o modelo TAM - Technology Acceptance Model. Nesta

perspectiva, a aceitação de uma tecnologia é representada pelo comportamento do uso, que

é influenciado diretamente pela intenção do uso, que por sua vez, é influenciada pela

utilidade percebida, assim como pela facilidade de uso percebida (DAVIS, 1989). Este

funcionamento pode ser observado na Figura 2.

Figura 2: Modelo de Aceitação de Tecnologia TAM 1. Fonte: Davis (1989)

Page 53: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

53

A partir de então, outros estudos exploraram mais profundamente a utilidade

percebida dando-se origem a uma nova abordagem: o TAM 2. Sob esta perspectiva, sugere-

se que a utilidade percebida seja influenciada por uma série de fatores como: a norma

subjetiva, a imagem, a relevância para o trabalho, a qualidade do resultado do trabalho, e a

demonstrabilidade dos resultados obtidos com a tecnologia, conforme apresentado na Figura

3. Este estudo indica que a norma subjetiva é dada pela experiência do usuário e pelo fato

de ser voluntária a opção do uso da tecnologia. (VENKATESH & DAVIS, 2000).

Figura 3:Modelo de Aceitação de Tecnologia TAM 2. Fonte: Venkatesh & Davis (2000)

Diante do desenvolvimento simultâneo de inúmeros modelos que procuram explicar

a adoção da tecnologia, Venkatesh et AL (2003) propuseram uma unificação teórica,

integrando os elementos de oito modelos25 que trabalham com a aceitação da tecnologia,

resultando assim no estabelecimento do modelo UTAUT (United Theory of Acceptance and

Use of Technology) e contribuindo significativamente para os estudos na área dos Sistemas

de Informação. Essa teoria gerou um novo modelo integrado, que apresenta quatro

construtos determinantes da intenção e do uso da TI – expectativa de performance,

25Os oito modelos que compõem o modelo UTAUT são: Teoria da Ação Racional (TRA), de Fishbein e Ajzen

(1975); Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM), de Davis (1989); Modelo Motivacional (MM), de Vallerand (1997); Teoria do Comportamento Planejado (TPB), de Ajzen (1991); Modelo Combinado TAM-TPB, de Taylor e Tood (1995); Modelo de Utilização do PC (MPCU), de Thompson, Higgins e (1991); Teoria da Difusão da Inovação, de Rogers (1995), aplicada em SI por Moore e Benbasat (1996); Teoria Social Cognitiva, de Bandura (1986), ampliada para o contexto de uso de computadores por Compeau e Higgins (1995).

Page 54: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

54

expectativa de esforço, influência social, condições facilitadas - e quatro moderadores –

gênero, idade, experiência e voluntariedade de uso conforme apresentado na Figura 4.

Figura 4: Modelo de Aceitação de Tecnologia UTAUT. Fonte: Venkatesh, Davis & Morris, (2003)

2.4. Conclusão da Revisão de Literatura e Pergunta da pesquisa e modelo proposto

Após apresentado um panorama geral sobre o universo das universidades

corporativas, sua razão de ser, os vínculos e formas de estruturação dentro das empresas; e

tendo-se um entendimento abrangente do que representam as novas tecnologias da

informação e comunicação para a educação, a partir de uma visão sistêmica das principais

tendências tecnológicas no ensino; o presente trabalho busca verificar de que forma as

empresas com universidades corporativas e com sistemas de educação corporativa

implantados se relacionam com as novas tecnologias.

Está evidente que as inovações tecnológicas recentes já começam a influenciar a

dinâmica do ensino e aprendizagem (RODRIGUES, CHIMENTI e NOGUEIRA, 2015),

inclusive quando se trata de sistemas de educação corporativa e universidades corporativas.

O estudo reconhece os modelos tradicionais existentes de adoção de inovação que explicam

a difusão de inovações, como por exemplo, os modelos TAM e UTAUT, no entanto percebe-

se que diante do contexto atual, muito mais dinâmico e composto por múltiplas inter-relações

entre os atores envolvidos, não é possível mais pensar este tema de forma simplória, como

Page 55: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

55

se a adoção de tecnologias dependesse de apenas do ator que toma a decisão de adoção ou

não. A Revisão de Literatura aponta para uma complexidade maior neste cenário atual, e é a

partir desta constatação que no capítulo posterior, de Análise dos Resultados das Entrevistas,

será apresentado como isto está ocorrendo na prática.

Page 56: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

56

3. MÉTODO

3.1. TIPO DE PESQUISA

Esta pesquisa tem natureza exploratória pois, de acordo com Bento e Ferreira (1982)

este é o método mais adequado quando há escassez de informação sobre o tema e quando o

subsídio oferecido pela Revisão de Literatura não é suficiente. Este pode ser considerado um

primeiro degrau em uma escada de conhecimento que permitirá formulação de hipóteses

para futuras pesquisas.

Malhotra (1999) afirma que o melhor método para se conduzir um estudo é aquele

que melhor se adequa ao objetivo da pesquisa. Sendo assim, julgou-se como o mais

interessante no caso deste estudo a utilização do método qualitativo, para um conhecimento

mais aprofundado do tema estudado.

A pesquisa qualitativa utiliza uma metodologia de pesquisa não estruturada e

exploratória, baseada em pequenas amostras que proporciona percepções e compreensão do

contexto do problema (MALHOTRA, 2012). Vale ressaltar que os resultados da pesquisa

qualitativa não devem ser usados como conclusivos, nem tampouco para fazer

generalizações em relação ao publico alvo. Uma das razões para a utilização de pesquisa

qualitativa neste estudo diz respeito ao fato de nem sempre ser possível ou conveniente

utilizar métodos plenamente estruturados e formais (MALHOTRA, 2012).

Miles e Huberman (1984) propõem que a imersão por meio das entrevistas favorece

um contato intenso com a realidade dos profissionais da área, permitindo que se tenha uma

visão profunda e holística do fenômeno em observação.

As entrevistas em profundidade têm a característica de não serem estruturadas, serem

diretas, pessoais, onde um único respondente é sondado pelo entrevistador a fim de se

descobrirem motivações, crenças, atitudes e sentimentos subjacentes sobre o tópico estudado

(MALHOTRA, 2012).

Page 57: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

57

3.2. SELEÇÃO DOS SUJEITOS

A elaboração da amostragem teve como base a especificação da população alvo, ou seja,

a reunião de elementos que possuíam as informações procuradas pela pesquisadora e sobre

os quais foram feitas as inferências (MALHOTRA, 2012).

Sendo assim, depois de identificada a relevância do tema e feita a revisão bibliográfica

a fim de sistematizar e organizar o conhecimento já existente sobre o assunto, foi realizado

um mapeamento de algumas empresas brasileiras e multinacionais sediadas no Brasil que

possuem universidade corporativa, conforme apresentado na Tabela 1.

A elaboração desta lista - que inclui cerca de 15% do total de universidades corporativas

existentes no País – baseou-se na técnica de amostragem bola de neve, isto é, escolheu-se

um grupo inicial de entrevistados de forma aleatória. Após serem entrevistados, solicitou-se

que estes identificassem outros profissionais que pertencessem a população alvo do estudo.

Os entrevistados subsequentes foram entrevistados com base nessas referencias. Este

processo foi executado em duas ondas sucessivas. Sendo assim a amostra foi não

probabilística e é possível que as referencias tenham características demográficas e

psicográficas semelhantes aos profissionais que realizaram a indicação (MALHOTRA,

2012).

Em paralelo à utilização desta técnica foi levado em consideração também o grau de

reconhecimento da empresa indicada no mercado. Isto é, são UCs consolidadas, com pelo

menos dez anos de existência, que possuem informações disponíveis ao público sobre a

instituição, e que muitas vezes possuem também estudos de caso na literatura. Trata-se de

instituições que serviriam de benchmarks para novas universidades corporativas que venham

a ser criadas.

Page 58: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

58

Principais Empresas do Brasil com Universidade Corporativa

Abdib – Educorp Hospital Israelita Albert Einstein

Accor - Accor Académie Isvor Fiat

Alstom Itaipú– UCI

AES Eletropaulo Itaú

Alcatel Laboratório Fleury

Algar –UniAlgar Light - Academia Light

Ambev Lojas Renner

Amil - Amil Business Administration Martins de Varejo

Banco Central - Unibacen Mc Donalds

Banco do Brasil - UniBB Metrô SP

Banco do Nordeste Motorola

Bank Boston Natura

Boticário Nestlé

Bradesco - TreiNet (e-learning ) Organizações Globo

Brahma PepsiCo

Caixa Econômica Federal Pernambucanas

Carrefour Petrobras

Caterpillar Rede Energia

Cemig - UniverCemig Sabesp

Citi Bank Sadia

Coca Cola Samarco

Correios Santander

Comgas Schincariol

CPFL Sebrae

Data sul Senac

Editora Abril Serpro

Eletrobrás - Unise Siemens

Eletronorte Sulamerica

Embraer TAM

Embratel Tigre

Ernst & Young Terco Ultragaz

Fiat Unialgar

Fundação Coge Unimed

GE Vale

Gerdau Vale

Grupo Algar Volkswagen

Habib’s Votorantim Celulose e Papel

Tabela 1: Empresas do Brasil com UC. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)

É importante lembrar que a natureza da pesquisa tem impacto sobre o tamanho da

amostra. Para projetos de pesquisa exploratória, como os que utilizam pesquisa qualitativa,

o tamanho da amostra costuma ser pequeno (MALHOTRA, 2012). Após o primeiro filtro,

Page 59: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

59

conforme mencionado no parágrafo anterior – seleção de empresas com universidades

corporativas consolidadas e reconhecidas no meio e na literatura - foram selecionadas 18

instituições a serem entrevistadas. Esta seleção baseou-se na acessibilidade de contato com

o gestor da universidade corporativa ou sistema de educação corporativa - em alguns casos

através de pesquisa na internet e troca de e-mails, e em outros casos por meio da ajuda de

conhecidos – e na disponibilidade do profissional para conceder a entrevista. Entre setembro

de 2014 e fevereiro de 2015 o pesquisador contatou estas 18 empresas e, dentre elas, 10

companhias aceitaram o convite e participaram da pesquisa.

As características das empresas – setor de atuação, tipo de sistema de educação

corporativa e número de funcionários - e dos profissionais entrevistados – cargo na empresa

- encontram-se na Tabela 2. Os entrevistados são funcionários com cargos gerenciais e de

diretoria, responsáveis pela educação corporativa em cada empresa.

Optou-se por utilizar como parâmetro de comparação entre as empresas o seu porte

segundo o numero de colaboradores em sua estrutura organizacional, pois dentre as empresas

entrevistadas há aquelas de regime privado, de capital misto, e público. Logo parâmetros

como faturamento anual, orçamento anual e valor total de ativos não se aplicariam à natureza

da totalidade das instituições entrevistadas, fazendo-se mais interessante o parâmetro

numero de funcionários.

Empresa

Setor de atuação

Sistema de Educação

Corporativa / Universidade

Corporativa

Cargo do

entrevistado

Nº Aproximado

de Funcionários

Entrevistado #1

Energia

Universidade Corporativa

Gerente da UC

400.000

Entrevistado #2

Desenvolvimento

econômico e Social

Sistema de Educação

Corporativa

Gerente de RH

2.000

Entrevistado #3

Varejo / Bebidas

Universidade Corporativa

Gerente de RH

70.000

Entrevistado #4

Varejo

/Telecomunicação

Universidade Corporativa

Gerente da UC

130.000

Page 60: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

60

Tabela 2: Conjunto das Organizações Entrevistadas. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)

3.3. COLETA DOS DADOS

Foram realizadas entrevistas em profundidade como principal meio para coletar os

dados primários. Haguette (1997) acredita que a entrevista é um método de interação social

apropriado para se obter informações relevantes do entrevistado.

Dentre as múltiplas possibilidades de aplicação de entrevistas, optou-se pela

utilização de um roteiro semiestruturado para guiar a conversa e um checklist de informações

chave que precisariam ser coletadas (Anexo 1), para que nenhum tópico fosse esquecido.

Esta modalidade de entrevista permite uma maior flexibilidade do entrevistador e

espontaneidade do entrevistado, facilitando que este fale de suas percepções sobre o objeto

de estudo. Outra vantagem da utilização de roteiro semiestruturado é que este dá espaço para

novos assuntos que não estavam planejados para serem abordados, mas que podem ser de

grande relevância e pertinência (MANN, 1975). Esta abertura torna o processo mais rico e

fluido.

O roteiro foi composto por 8 perguntas principais e alguns pontos de verificação

complementares que podiam ser perguntados conforme o andamento da entrevista. O

Entrevistado #5

Serviço

Universidade Corporativa

(Transição SEC => UC)

Gerente

9.000

Entrevistado #6

Serviço

Universidade Corporativa

Analista da UC

500

Entrevistado #7

Aviação

Sistema de Educação

Corporativa

Gerente de RH

12.000

Entrevistado #8

Tecnologia da

Informação

Universidade Corporativa

Diretora de RH

42.000

Entrevistado #9

Automobilística

Universidade Corporativa

Diretora da UC

30.000

Entrevistado #10

Entretenimento

Sistema de Educação

Corporativa

Gerente de RH

18.000

Page 61: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

61

propósito deste checklist foi garantir que não fossem esquecidos pontos que eventualmente

não fossem abordados pelo entrevistado. O método utilizado permitiu tanto uma atitude

investigativa do entrevistador quanto a garantia de que todos os temas importantes fossem

abordados.

Todas as entrevistas foram gravadas com a autorização dos respectivos entrevistados

para a posterior transcrição e análise. A principal vantagem da gravação é permitir que o

entrevistador tenha toda sua atenção voltada para aquele momento e para as ideias que o

entrevistado trás, evitando que se desconcentre em meio a suas anotações. As entrevistas

tiveram duração de cerca de uma hora cada.

3.4 ANÁLISE DOS DADOS

A análise de dados não pode ser um fim em si mesma. Seu objetivo é fornecer informações

que auxiliem na abordagem do problema em estudo. A escolha de uma estratégia de análise de dados

começa levando em consideração as etapas iniciais do processo: definição do problema,

desenvolvimento de uma abordagem, e formulação da concepção de pesquisa. O plano preliminar de

analise de dados, preparado como parte do plano de pesquisa, deve ser utilizado como trampolim.

Pode ser necessário fazer modificações à luz de outras informações geradas em estágios subsequentes

do processo de pesquisa (MALHOTRA, 2012).

A etapa de análise dos dados permitiu a verificação e interpretação das informações

coletadas bem como sua redução para que pudesse ser exposto objetivamente o que fosse

mais relevante e pertinente, e a partir daí permitir conclusões. Sendo assim, a análise de

dados qualitativa poderia ser dividida em quatro etapas: a realização das entrevistas e

respectivas transcrições, a organização e redução dos dados coletados, a apresentação dos

dados coletados através de textos, tabelas e esquemas desenhados pela autora e a verificação

dos dados e conclusões (MILES & HUBERMAN, 1984).

Vale ressaltar que, para a análise dos dados, o pesquisador optou por percorrer cada

uma das etapas apresentadas por Milles e Huberman (1984) de forma manual, isto é, sem o

auxílio de softwares especializados para análises qualitativas. Acredita-se que apesar de tais

programas facilitarem a coleta de dados de um grande número de entrevistados, sua

Page 62: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

62

utilização não é garantia de que os dados serão melhor apurados (VAN DEN HOONAARD,

2008)

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

A utilização de entrevistas em profundidade traz algumas limitações naturais que

poderão se refletir na observação dos resultados. Em primeiro lugar, há sempre o risco de

que durante as entrevistas, entrevistador e entrevistados se influenciem mutuamente, por seu

caráter dinâmico e o tom de conversa, o que pode levar a algum tipo de viés. Além disso,

pode haver viés também no momento de interpretação dos dados por parte do pesquisador,

que o fará baseado em suas experiências de vida e conhecimento teórico. É sob esta

perspectiva que Creswell (2003) aponta que a análise de dados pode trazer viés subjetivo do

pesquisador por depender diretamente de sua capacidade interpretativa.

Em segundo lugar, é preciso atentar para o grau de aprofundamento dos pontos

abordados. Marconi e Lakatos (2001) apontam para a importância dos pesquisadores não se

alongarem demasiadamente em suas análises para que não se corra o risco de perder a

objetividade, deixando o texto confuso, repetitivo, ou pouco conciso.

Em terceiro lugar, há o risco de respostas falsas por parte dos entrevistados, seja

intencional - pela vontade de apresentar a realidade pretendida ou ideal, ao invés da realidade

de fato - ou não intencionalmente- devido à dificuldade de compreensão ou falta de

conhecimento sobre determinado assunto.

Em quarto lugar, de acordo com Fontana & Frey (1994) por se tratar de entrevistas

em profundidade realizadas através de roteiros semiestruturados, a liberdade para a alteração

da ordem das perguntas pode vir a gerar a omissão de temas que sejam de grande relevância

para a pesquisa e consequentemente fazendo com que a estruturação dos conteúdos das

entrevistas fique muito diferente uma das outras, dificultando a comparação e análise.

Page 63: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

63

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise de dados é apresentada a partir das informações obtidas em campo, à luz

dos aspectos teóricos consolidados no capítulo de Revisão de Literatura.

Cabe ressaltar que alguns temas relevantes para os entrevistados, e

consequentemente para a pesquisa, surgiram espontaneamente ao longo das entrevistas,

sendo então incorporados à análise, o que é desejável dada a natureza exploratória desta

pesquisa.

Procurou-se estruturar a análise das entrevistas em seis partes baseadas nos objetivos

da pesquisa:

4.1 Motivações organizacionais para a criação de uma universidade corporativa;

4.2 Formas de estruturação dos sistemas de educação corporativa nas organizações;

4.3 Interações entre os sistemas de educação corporativa e outros atores internos e

externos à empresa;

4.4 As novas direções da educação corporativa;

4.5 Drivers da adoção de novas tecnologias na educação corporativa ;

4.6 Fatores de restrição na adoção de novas tecnologias na educação corporativa.

4.1. Motivações organizacionais para a criação de uma universidade corporativa

A primeira pergunta que precisa ser respondida ao se refletir sobre o universo da

educação corporativa e tudo que o circunda e impacta é: Por que criar uma universidade

corporativa? Qual é o ganho, afinal? O que acontece para que este termo esteja tão em voga

na última década, em comparação com o tradicional centro de treinamento?

Percebemos que esta transição da figura do centro de treinamento, que possui um

olhar mais pontual e o foco nas competências individuais, para a figura da universidade

corporativa, que possui um olhar mais amplo e o foco nas competências organizacionais, é

um movimento suave, gradual e progressivo. No trecho abaixo, podemos observar a

experiência de uma grande empresa neste processo de evolução da educação corporativa.

Page 64: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

64

“A nossa UC foi criada em 2005, mas fazemos educação corporativa desde a década

de 1960 em nossos centros de treinamento. Só que essa não é uma passagem que você

desliga uma chave e liga a outra... é uma evolução natural.” - Entrevistado #1

Quanto às motivações organizacionais para se criar uma UC, alguns pontos se

mostraram relevantes ao longo das entrevistas: a busca por alinhar as ações de educação

corporativa aos objetivos e à estratégia da empresa e, principalmente, gerar resultados para

o negócio. Além disso, outros pontos foram levantados pelos entrevistados, o que levou a

composição da tabela 3. É interessante notar que os pontos levantados como diferenciadores

entre a antiga modalidade de centro de treinamento e a modalidade mais moderna,

denominada universidade corporativa, refletem justamente estas motivações

organizacionais.

Fatores de Motivação Organizacional para a criação de uma UC

identificados pelos entrevistados

Potencialização dos resultados do negócio

Desenvolvimento de competências organizacionais

Alinhamento estratégico

Pensamento inovador

Autonomia gerencial para a área de educação corporativa

Transmissão e absorção de valores e da cultura corporativa

Padronização da formação dos novos funcionários da companhia

Compensação de conhecimentos escolares básicos

Padronização da forma de trabalho dos novos funcionários da companhia

Facilitação da comunicação entre funcionários com formações e funções diferentes

Alinhamento de conhecimentos e facilitação da comunicação entre stakeholders

Tabela 3: Fatores de Motivação Organizacional para uma UC. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)

Page 65: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

65

Potencialização dos resultados do negócio e alinhamento estratégico

O primeiro fator de motivação organizacional identificado para a criação de uma UC

foi o foco na potencialização dos resultados do negócio, sendo necessário alinhar os

conhecimentos obtidos através da educação corporativa às necessidades organizacionais.

Planejamento, coerência e foco nos resultados devem ser as diretrizes definidoras do

conteúdo educacional de uma empresa. Podemos observar esta ideia através da fala do

entrevistado abaixo.

“Acho que um dos maiores desafios é você conseguir fazer entregas conectadas ao

negócio. E mais do que conectado ao negócio, é você conseguir fazer com que as pessoas

que passam por essas ações tenham entendimento da usabilidade disso, ter a conexão disso

para a utilização no dia a dia dele de trabalho, o quanto que isso contribui para a entrega

do negócio... A preocupação não deve ser tanto em relação ao volume de treinamento, e sim

se está tendo retorno. Não é fazer mais treinamentos, mas é fazê-los mais efetivos. Precisa

achar essa mão do que é importante, para quem é importante, para não ficar o treinar por

treinar. Existia um catálogo corporativo, mas a gente tirou esse catálogo de oferta porque

percebemos que o catálogo não tinha correlação com o que a área precisava. Não adianta

ter coisas e sistemas mirabolantes e entregar coisas que o teu negócio não vai consumir,

não precisa daquilo. Acho que é um pouco por essa linha.” Entrevistado #10

No caso das empresas globais, a importância de se garantir o alinhamento estratégico

pode se mostrar ainda mais forte, visto que a dispersão geográfica e as diferenças culturais

de cada localidade podem levar os colaboradores a terem entendimentos diferentes do que

se espera deles e da direção em que se deve seguir. É fundamental que a mensagem

transmitida pela empresa seja compreendida igualmente por todos.

“Com a universidade corporativa você consegue cobrir mais organicamente uma

mensagem global da tua companhia. O meu funcionário da América Latina consegue criar

as mesmas competências da pessoa que está na Austrália. A gente tem uma mensagem, uma

estratégia... O que você faz na América Latina, na estratégia da companhia, você também

faz na Austrália, respeitando obviamente o específico de mercado.”- Entrevistado #8

Page 66: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

66

Algumas entrevistas indicam, conforme a citação abaixo, que apesar da maioria das

universidades corporativas estar caminhando para este vinculo mais estreito com o plano

estratégico empresarial, ainda há um grande caminho a ser percorrido. Coordenadores de

SEC reconhecem este ponto como um desafio que precisará de atenção sistemática para ser

superado.

“Nós tivemos, em 2012, um esforço de construir um modelo de aprendizagem

corporativa que, entre outras coisas, proferia a necessidade de vincular as ações de

educação coorporativa à estratégia da empresa. Talvez ainda não tenhamos avançado

muito nisso, mas com certeza já faz parte da nossa preocupação. Atualmente, quando a

gente recebe um pedido de curso, uma das perguntas que fazemos é: Ele está alinhado à

estratégia?”- Entrevistado #2

Desenvolvimento de competências organizacionais

Observamos que todos os entrevistados corroboraram com a ideia de WHEELER e

CLEGG (2005) que propõe que a diferença entre uma UC e um CT é principalmente a

capacidade de proporcionar aos colaboradores de uma empresa as competências e

entendimento que estes necessitam para ajudar a organização a atingir os objetivos de

negócio, a médio e longo prazo.

“Em minha opinião o principal fator de mudança que dá um salto qualitativo,

quando a gente fala do treinamento e desenvolvimento que migra para modelos de educação

coorporativa ou universidade coorporativa está aí: ligar o desenvolvimento das

competências individuais e organizacionais ao estado do negócio. Antes, o treinamento

vinha muito mais para desenvolver competências individuais de forma pontual sem estar

muito direcionado para os objetivos da empresa e para o alcance desse resultado do

negócio. Hoje, já é um pouco diferente, a gente tem uma preocupação maior em desenvolver

os indicadores críticos de sucesso do nosso negócio.”- Entrevistado #5

Pensamento Inovador

Page 67: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

67

Durante a pesquisa surgiu uma questão nova, e que diante deste estudo apresentou

um alto grau de relevância. Trata-se do desenvolvimento do pensamento inovador. Este fator

de motivação organizacional para a criação de uma UC é novo e único dentre a literatura

revisada, e possivelmente, poderá estar apontando para os futuros caminhos que a educação

corporativa deverá seguir.

“Na teoria a gente lê muito que as universidades corporativas nascem para

desenvolver competências para o cumprimento da estratégia organizacional. É isso que se

lê em Kira, em Marisa... Mas na prática é mais complicado. Então a gente tem que pensar

mais sobre isso, porque essa frase não cola mais pra gente. O meu conceito agora tem que

ser outro. Não se trata mais só de capacitar para execução da estratégia da empresa, mas

sim, capacitar para o pensamento estratégico dos funcionários. Porque estar dentro de uma

organização sem uma oxigenação te faz pensar dentro de uma bolha, é muito reducionista,

por mais que sejam profissionais que estejam atentos aos movimentos do mundo e tal, de

alguma maneira a própria rotina canibaliza esse pensamento estratégico.”- Entrevistado

#9

Autonomia Gerencial para a área de educação corporativa

A autonomia gerencial foi apontada como um fator que diferencia universidades

corporativas e centros de treinamento. Os gestores de educação corporativa que ainda não

possuem a figura da UC em suas empresas se sentem, por vezes, imobilizados tendo suas

possibilidades de atuação muito limitadas. Meister (1999) corrobora com esta ideia quando

aponta que, tradicionalmente, muitos departamentos de treinamento e desenvolvimento

operam como anotadores de pedidos onde os clientes apresentam pedidos de treinamento e

o departamento de treinamento apenas localiza ou cria cursos para atender a esses pedidos.

“A diferença mais notável pra nós na criação da universidade corporativa é a

questão da autonomia. Não é nem na questão dos processos, porque nisso, a gente já está

bem desenvolvido. É muito diferente você ter uma universidade corporativa de você estar

atrelado ao RH de uma empresa, pois você ganha possibilidade de decisão. E como gerente

de educação corporativa você não tem isso, você é subjugado ao RH, que prioriza trabalhar

benefícios, folha de pagamento... A menos, obviamente, que o presidente da empresa seja

Page 68: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

68

um pouco diferente, que ele faça uma estrutura de RH e coloque você com certa autonomia...

mas eu nunca vi isso acontecer (...). E outro ganho é a questão financeira também, você

consegue gerir o valor que você tem de maneira mais autônoma, então você não precisa

ficar pedindo benção pra status superiores pra desenvolver o curso. Com uma UC seria

muito mais livre.”- Entrevistado #7

Outra questão apontada por entrevistados, relacionada ainda a questão da autonomia,

foram as barreiras políticas, desafio enfrentado em qualquer empresa. A estrutura

organizacional mais hierárquica representa um fator que dificulta ainda mais a busca por

maior autonomia das universidades corporativas.

“Quanto aos desafios, o que vejo de empecilho para as universidades corporativas

chegarem onde deveriam chegar são as questões políticas internas das organizações, a

quem aquilo pode interferir. Uns podem entender aquilo como interferência na gestão de

determinadas unidades, determinada liderança e essas questões políticas, elas interferem

muitas vezes no desenvolvimento apropriado de produtos e projetos. Acho que o que falta

mesmo são as lideranças menos hierárquicas, menos top down. A estrutura top down para

a universidade corporativa cerceia as ações.”- Entrevistado #6

Transmissão e absorção de valores e da cultura corporativa

Outro ponto importante no que diz respeito ao por que da criação e investimento de

dinheiro, tempo e energia em uma universidade corporativa é a questão da importância da

transmissão e absorção da cultura corporativa. Carbone e Brandão (2009) corroboram com

esta ideia e argumentam que sob o ponto de vista da empresa, um dos maiores desafios pode

ser promover a cultura organizacional por seus funcionários. As instituições empenham-se

neste movimento de consolidar e disseminar seus valores e princípios básicos de forma clara

e consistente para que se tornem norteadores do comportamento do empregado, permitindo

o direcionamento entre objetivos e valores individuais e organizacionais, e construindo-se

assim a identidade cultural. Também para Teixeira (2001) o foco do aprendizado de uma UC

deve ser o organizacional, fortalecendo a cultura corporativa.

Page 69: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

69

“Nossa UC tem um núcleo que trata do projeto de memória do (nome da empresa).

Trata-se da construção, a preservação e o uso da memória na tomada de decisão. Temos

um memorial, inauguramos agora no final do ano o nosso memorial e é uma iniciativa de

todo o (nome da empresa) de coletar aquilo que foi relevante, que causou realmente impacto

para os pequenos negócios ao longo da sua história nos seus mais de 40 anos.” -

Entrevistado #6

“O objetivo é, muito mais, assimilar a cultura e os valores. No processo de

desenvolver competências, ele vai impregnar cultura e valores da empresa no funcionário.”-

Entrevistado #1

O papel da universidade corporativa diante do desafio de preservar e transmitir a

cultura organizacional fica ainda mais relevante quando se trata de empresas globais. Assim

como citado anteriormente a importância do alinhamento estratégico entre sede e filiais,

também o alinhamento cultural e a sintonização de valores com a cultura e valores da

organização matriz representam um ponto chave para as universidades corporativas.

“Nosso papel é o de importar as estratégias que vem de Atlanta (sede da empresa)

em termos de quais são as nossas prioridades de desenvolvimento, quais são os nossos

valores, quais são os comportamentos de liderança que a gente espera das pessoas. O meu

papel é trazer isso para cá (Brasil), multiplicar aqui dentro e criar uma estratégia para que

a gente tenha esse alinhamento cultural. Ao mesmo tempo o meu papel é trazer essa

identidade da (nome da empresa)-Brasil para dentro do Sistema-(nome da empresa). Tem

esse equilíbrio entre a nossa identidade global e a nossa identidade local.” – Entrevistado

#3

No entanto, apesar de ser do interesse de toda empresa, a utilização da educação

corporativa para a disseminação da cultura organizacional, não foi unânime a capacidade de

execução desta proposta por todos os entrevistados.

“Se nossa educação corporativa tem a função de reforçar a identidade institucional

ou ajudar na cultura organizacional? Sinceramente, nós ainda não chegamos nesse estágio.

Mas acredito que sim, que deverá ter, e nós inclusive vamos começar a trabalhar a questão

Page 70: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

70

da cultura esse ano ainda (2014). Com a imensa mudança que aconteceu na empresa, esses

tais 50% a 60% de novos empregados, tivemos mudanças culturais perceptíveis.”–

Entrevistado #2

Facilitação da comunicação

Algumas vezes a universidade corporativa serve também para facilitar a

comunicação entre funcionários com formações e funções extremamente diferentes. Nestes

casos, funciona como um agente facilitador para a criação de equipes multifuncionais,

conforme apontado pelo entrevistado abaixo.

“A (nome da universidade corporativa) é muito importante pra gente por conta do

nosso modelo de gestão em que, muitas vezes, você precisa ter equipes interfuncionais de

terra gerindo aquele negócio. Então a gente tem que desenvolver toda uma capacitação

para desenvolver competências, para que áreas diferentes sejam capazes de trabalhar

juntas na mesma sala para tomar decisões estratégicas da operação daquele negócio. É o

caso do curso do GEOP - gestão de operação integrada - pois você vai ter junto na mesma

sala (as áreas de) manutenção, materiais, produção... que vão ter que sair de uma estrutura

funcional para um estrutura matricial.” - Entrevistado #1

Há, ainda, casos em que a criação da UC pode estar ligada à necessidade de alinhar

conhecimentos e facilitar a comunicação entre equipes de diferentes empresas que estão

trabalhando em um mesmo projeto, o que é o caso de organizações parceiras. Afinal, nem

sempre uma competência estratégica depende só do público interno. Segundo notícia do

Portal Administradores.com, na universidade corporativa, estão todos juntos aprendendo

uma nova forma de expandir os relacionamentos, em especial com clientes, fornecedores e

parceiros, seja direta ou indiretamente. O trecho da entrevista abaixo confirma a ideia da

autora de que a educação corporativa aplicada à cadeia de valor busca garantir um diferencial

para as empresas prosperarem.

“A (nome da empresa) operava sozinha no Brasil. Depois que abriu o monopólio

(da exploração do petróleo), uma das estratégias que se mostrou eficiente foi fazer parcerias

com outras empresas para dividir os riscos. Então a (nome da empresa) tem vários blocos

Page 71: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

71

exploratórios em que ela não opera sozinha, ela tem parceiros na exploração. Então a gente

precisa treinar a companhia nessa área de conhecimento para que as pessoas que estão

envolvidas nesse negócio tomem as suas decisões maximizando as oportunidades para

companhia.” - Entrevistado #1

4.2. Formas de estruturação dos SEC nas Organizações

Nota-se, a partir das entrevistas, que cada organização possui uma forma diferente

de encaixar a universidade corporativa ou o sistema de educação corporativa na estrutura da

empresa. Na maioria dos casos a UC faz parte da empresa. Porém há também o caso em que

a UC é uma unidade independente da organização, sob a figura de uma fundação ou instituto,

por exemplo. Nos casos em que o SEC faz parte da estrutura interna da empresa, o setor

pode estar atrelado ao RH, ou desvinculado deste e ligado mais diretamente às unidades de

negócio. Estas formas de organização internas podem ser observadas na Figura 5.

Figura 5: Formas de estruturação dos SEC nas organizações. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)

Esta diversidade de possibilidades foi percebida também por Éboli (2014) quando

apresenta em sua mais recente pesquisa que há organizações que ampliaram sua estrutura

central de capacitação, enquanto outras se descentralizaram em unidades regionais, ou então

reduziram sua estrutura física de capacitação.

Podemos observar abaixo uma gama de citações de entrevistados mostrando

condições altamente diversificadas.

Page 72: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

72

“De 1996 a 2005 a gente reestruturou nossa educação corporativa, o que levou à

criação da nossa universidade corporativa. A (nome da universidade corporativa) está

dividida em escolas estruturadas de acordo com diferentes tipos de negócios.”- Entrevistado

#1

“Na verdade a gente não tem um departamento específico para treinamento e

desenvolvimento, fica dentro do RH, como uma das atribuições também dar conta da parte

de treinamento e desenvolvimento. Mas no ano que vem (2015) a gente passa a adotar o

modelo da universidade coorporativa.”- Entrevistado #5

“Aqui na (nome da empresa) a gente não tem uma universidade corporativa, a gente

tem uma gerência de educação corporativa.”- Entrevistado #7

“A gente não tem aqui uma área de universidade corporativa, isso não existe. A

gente estruturou este ano um modelo de universidade, mas ainda está em validação e o nome

da área não vai se transformar em universidade corporativa, a gente vai continuar tratando

de processo de desenvolvimento como um todo. A gente tem uma preocupação muito mais

na estrutura, que as áreas vejam beneficio e usabilidade no que a gente oferece, do que eles

entendam que isso é um centro de treinamento, uma universidade corporativa ou qualquer

outro nome que venha a surgir.” - Entrevistado #10

“Chegou-se a conclusão, aqui na empresa, que poderíamos fazer educação

coorporativa sem a necessidade de uma universidade corporativa. Hoje temos o centro de

estudos que ocupa dois andares num edifício próximo daqui, temos duas gerencias dentro

do departamento de desenvolvimento dedicado a operacionalizar esses cursos. E a

educação corporativa tem funcionado bem, sem a necessidade de um espaço denominado

universidade corporativa (...). Nossa área de RH está distribuída em quatro departamentos,

e um deles é o departamento de desenvolvimento onde, dentre as diversas gerências e

coordenações, há a gerência de educação corporativa.”- Entrevistado #2

“A nossa universidade corporativa é baseada nos EUA, e cada subsidiária entra

numa parte da universidade corporativa.”- Entrevistado #8

Page 73: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

73

“Aqui é uma universidade corporativa, é uma unidade independente, tem inclusive

prédio próprio. Começou como quase todas, dentro das unidades de gestão de pessoas.

Geralmente começa como um subsistema de RH, parte para o desenvolvimento e

treinamento e amadurece como universidade corporativa, dependendo da opção da

organização.” - Entrevistado #6

É interessante notar como a questão do espaço físico pode representar um elemento

de grande importância para alguns gestores de EC. Em diversas falas de entrevistados

percebemos a relevância dada à estrutura física, conforme ilustrado abaixo através de duas

citações.

“Estávamos debatendo essa questão dos equipamentos interativos, aquelas telas que

você passa o dedo e desenha, escreve e tal. Daí o debate era se aquele equipamento era

mais importante que, por exemplo, uma cadeira leve que você facilmente movimenta para

interagir com outras pessoas. Parte do grupo achava que era um, parte achava que era

outro. Eu, particularmente, acho que a questão do espaço físico é mais importante, acho

que o mobiliário vem antes dos recursos tecnológicos. Uma coisa que gostaríamos muito é

ter espaços na parede que pudessem ser utilizados pra escrever à vontade, colar trabalhos.

A questão do espaço físico é importante na minha opinião.” - Entrevistado #2

“Eu fui a São Paulo, na UC da Fleury, caramba, a estrutura deles é linda, é toda

arrumada, tem uma política de auditórios específicos pra cada tipo de evento e de público,

é fantástico (...) Aqui não. Aqui a gente tem o centro de estudo, onde têm algumas salas, a

gente tem uma secretária, mas a gente não consegue pintar as paredes da cor que a gente

quer, a gente não consegue colocar as cadeiras que a gente quer (...). Eu precisaria de uma

sala só pra realizar a avaliação presencial dos cursos de EAD que são realizados pelos

empregados da sede, e eu não tenho uma sala especifica. Eu tenho que ir ao centro de estudo

e tenho que verificar se tem a disponibilidade de emprestarem um computador pra pessoa

fazer o teste. Caso não tenha eu trago a pessoa pra minha sala, no meio dessa bagunça

toda.” - Entrevistado #7

4.3 Interações entre os SEC e outros atores internos e externos à organização

Page 74: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

74

Stakeholders Internos à Organização

Visto as diferentes formas que um SEC pode se encaixar na estrutura de uma

organização, foi verificado como estes sistemas se relacionam com outros atores que

compõem a organização.

As posturas dos profissionais dos sistemas de educação corporativa diferem de caso

para caso. Identificamos através das entrevistas que há profissionais mais suscetíveis a

escutar a demanda de seu público alvo e que se preocupam em oferecer produtos (cursos e

trilhas de conhecimento) o mais adequado e eficaz possível. Enquanto há outros que tem

como principal demanda a autonomia para impor o que acreditam ser a melhor solução para

aquele público. As citações abaixo ilustram o pensamento do primeiro tipo de profissionais,

aqueles que apresentam uma relação com os colaboradores mais aberta à escuta.

“Falta iniciativa e conhecimento de quem trabalha em RH. Eu acho que tem coisas

que nós aprendemos na nossa geração e nós não conseguimos enxergar e sair fora da caixa,

fazer coisas um pouquinho diferentes para esse outro público. RH ainda acha que as suas

ideias é que valem, e muitas vezes falta escuta, estar aberto a coisas novas, ao público

normal. Acho que eu tenho que ter tempo e a humildade de sentar com o colaborador e

escutá-lo. Acho que grande parte é culpa nossa, de quem trabalha há tempos no RH, olha

só para o seu próprio umbigo e não consegue fazer coisas que realmente possam ser

interessantes (...). Então é isso que eu digo para minhas meninas do RH: saiam, levantem a

bunda da cadeira e vão ver o que é que está acontecendo... E às vezes não é nem com o

gerente, é com o próprio colaborador.” - Entrevistado #4

Já o trecho abaixo ilustra o segundo tipo de profissionais de RH citado, aqueles que

acreditam já saber o que é melhor para os colaboradores em relação às suas necessidades de

educação corporativa.

“Em 2008 o treinamento ainda era naquele formato tradicional, absolutamente

reativo. Não existia reflexão crítica por parte da equipe de educação coorporativa. Nós

apenas processávamos as demandas de encomendas de treinamento. Por exemplo, o gestor

Page 75: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

75

achava por alguma razão que um determinado treinamento iria solucionar o problema da

equipe. Ele nos passava aquilo como solução e como demanda, e nós simplesmente

processávamos. No término nós verificávamos uma taxa de frequência baixíssima, a adesão

diminuindo gradativamente ao longo do curso, evasão, baixa aderência do curso as

necessidades da área. Por quê? Porque a demanda partiu da percepção de um individuo, o

gestor da área de negócio ou até do colaborador. Hoje nós (coordenação de educação

corporativa) temos a capacidade e o apoio para questionar se aquelas demandas de fato

refletem as necessidades.”- Entrevistado #2

Outro ponto que deve ser observado, também chave para o sucesso de uma

universidade corporativa trata da importância do apoio e comprometimento da alta cúpula.

Segundo Éboli (2014), o grande divisor de águas entre um SEC bem sucedido e um projeto

que não sai do papel é o envolvimento dos grandes líderes da empresa. Estes devem ser

capazes de se apropriar desse sistema como uma ferramenta poderosa para viabilizar a

estratégia empresarial. Segundo Meister (1999) os CEO não devem apenas apoiar

publicamente um investimento na educação dos funcionários, mas também facilitar,

aprender e criar parcerias educacionais em toda a organização. O trecho de uma das

entrevistas, abaixo, corrobora com esta ideia, lembrando que este é um desafio para muitas

instituições.

“Um dos maiores desafios para a universidade corporativa de qualquer empresa é,

principalmente, o patrocínio do principal executivo da empresa, da alta administração. Isso

é fundamental para a sobrevivência da universidade corporativa.”- Entrevistado #5

“O fato de se ter apoio da alta direção faz toda a diferença. Você como autoridade

corporativa, ligado ao presidente ou diretor, pode criar suas prioridades. Suas prioridades

não são mais folha e benefícios. Você corta um monte de fases que você tinha que atravessar,

um monte de pessoas que estavam na sua frente, você se torna única, e as coisas começam

a ser resolvidas dentro de uma empresa.”- Entrevistado #7

Abaixo é apresentado trecho da fala de um entrevistado que demonstra um caso onde

a alta administração apoia a universidade corporativa. Podemos perceber aí uma série de

vantagens trazidas por esta chancela.

Page 76: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

76

“Tudo o que nós precisamos para treinamento, capacitação, desenvolvimento dos

colaboradores... é totalmente reconhecido pela alta direção da empresa. Nós temos uma

diretora geral de RH que ela é muito próxima da alta direção, ela participa do comitê de

direção, ela está junto com o negócio. Todas as nossas demandas ela consegue aprovar e

ter o apoio da alta direção da empresa porque comprovadamente ela consegue pôr o

crédito.” - Entrevistado #4

Por outro lado, há empresas em que a universidade corporativa está longe de ser

prioridade para a alta administração. Nestes casos, o tema universidade corporativa vem

atrás de outros considerados mais urgentes, como a maior eficiência e menores custos. É

possível que em casos como este a diretoria não perceba valor na área de educação e não

faça a relação entre os investimentos no aprendizado e o retorno que pode ser trazido a médio

e longo prazo. Situações como esta podem ser constatadas conforme falado entrevistado

abaixo.

“Hoje em dia, a realidade do mundo corporativo é: vamos fazer mais e melhor com

menos dinheiro, com menos gente. E com a busca por ser mais eficiente, vem a questão: O

que é, de fato, a prioridade? A educação sofre com isso porque eu tenho que fazer várias

entregas e o tempo para investir na minha educação acaba sendo prejudicado. Acho que

esse é o maior desafio de todos.” - Entrevistado #3

Nota-se que é de grande importância o estabelecimento de parcerias internas à

empresa. Esta ideia pode ser reforçada quando Éboli (2014) propõe ser essencial estabelecer

relações de parceria com líderes e gestores, para que estes se envolvam e se responsabilizem

pela educação e aprendizagem de suas equipes e desempenhem plenamente o papel de

educadores, formadores e orientadores no cotidiano de trabalho, para que sejam percebidos

como lideranças educadoras, cujo modelo de comportamento deve ser seguido e buscado

pelos demais colaboradores da empresa.

“É que a gente sempre trabalhou mais com refrigerante, então a gente ainda está no

processo de aprender como trabalhar com sucos da melhor maneira possível, que é uma

nova fronteira aqui dentro da (nome da empresa). Então montou-se o Juice University que

Page 77: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

77

são módulos de curso. Este conteúdo é desenvolvido diretamente pela área de sucos, e não

por nós da universidade corporativa. Não tenho expertise para desenvolver de fato esse

conteúdo.” - Entrevistado #3

“A gente trabalha muito com conteudistas internos porque a gente entende que a

expertise do negócio está aqui dentro. Um colaborador que é especialista no assunto vai

poder, muito mais, desenvolver os conteúdos de acordo com o que o (nome da empresa)

trabalha do que alguém de fora.”- Entrevistado #5

Stakeholders externos à Organização

Além dos atores internos à organização, foram apontados aqueles externos a ela com

quem os SEC costumam se relacionar de alguma forma, o que inclui desde fornecedores,

parceiros e cliente final da empresa até outras universidades corporativas, plataformas e

fornecedores de tecnologia.

O estabelecimento de parcerias é uma estratégia comumente utilizada pelas

universidades corporativas que não são ou não desejam ser autossuficientes e preferem aliar-

se a outros atores mais especializados em áreas de seu interesse. Esta ideia é corroborada por

Éboli (2014) que sugere que um dos princípios de sucesso de uma UC é o estabelecimento

de parcerias externas, através das quais é possível desenvolver continuamente as

competências criticas dos colaboradores, no intenso ritmo requerido no mundo dos negócios.

Neste sentido, a autora propõe que empresas busquem realizar parcerias com universidades,

instituições de nível superior ou até mesmo clientes e fornecedores que tenham competência

para agregar valor às ações e aos programas educacionais corporativos. A partir dos trechos

das entrevistas abaixo podemos perceber as diversas modalidades de parcerias firmadas entre

UCs e outras instituições.

“Sobre o estabelecimento de parcerias, nossa estratégia varia bastante. As vezes a

gente faz parcerias com universidade, as vezes a gente faz parceria com consultorias

externas e as vezes a gente desenvolve o conteúdo aqui dentro. Temos parceria com o

Harvard Management Center, que é um pool de mais de 30 cursos e recursos desenvolvidos

por Harvard, que existe numa plataforma online, e que todos os funcionários tem acesso a

Page 78: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

78

todo esse conteúdo. Temos parceria com a Books Twenty Four Seven, que é um site que

oferece dezenas de milhares de livros inteiros online para as pessoas lerem.” - Entrevistado

#3

No entanto apesar da variedade de modalidades de parcerias que podem ser

estabelecidas, via de regra as parcerias com universidades são as mais comuns e mais sólidas,

mostrando-se como uma espécie de relação que permite a contribuição de ambas as partes

de forma intensa e positiva.

“Ademais acho que é necessário a universidade formal e a universidade corporativa

alinharem um pouco mais a sua atuação, porque uma complementa a outra. Hoje a

universidade tradicional não tem condições de oferecer às pessoas uma educação

continuada focada, realmente é um grandes desafio para as organizações ao longo do

tempo. E as universidades corporativas também não conseguem financiar toda a educação

continuada naquilo que tange pesquisa e extensão. Por isso, essa aproximação do

tradicional e do corporativo.” - Entrevistado #6

“Temos parceria com a Fundação Dom Cabral, IBMEC, UFRJ... contratamos

muitas instituições diferentes. Atualmente estamos com contrato com o INSPER que é uma

instituição de São Paulo pra realização de um curso de negociação. Já tivemos contratos

diversos com PUC, com FGV, USP... temos uma gama de relações.”- Entrevistado #2

Existe ainda o caso onde uma UC estabelece parcerias com outros sistemas de

educação corporativa de outras empresas. Esta modalidade é menos comum mas também é

possível. Apresentamos abaixo a citação de um dos entrevistados que oferece seus serviços

de educação corporativa para outras empresas bem como recebe alguns serviços destas

também.

“Outras empresas também começaram a nos buscar pensando assim: "como você

cria para a gente uma coisa desse tipo? O que precisa fazer para que as pessoas pensem

diferente?", foi uma demanda muito grande e a gente estava bem atenta aos movimentos da

indústria, migrando de modelos de qualidade para modelos de inovação.” - Entrevistado

#9

Page 79: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

79

Identificação de Redes

Foi possível identificar através das entrevistas um caso onde o conceito de redes é

utilizado. A partir da literatura geral de administração, podemos observar de forma

generalizada, nos mais diversos setores, um movimento em direção a formação de redes. No

entanto, a literatura específica de educação corporativa apresenta este movimento ainda

muito sutil e com pouquíssimas experiências concretas na criação de redes. Todavia, a partir

da fala de um entrevistado foi possível identificar uma rede formada por quatro

universidades corporativas.

“No momento são 4 universidades corporativas que compõem essa rede, chamada

Rede Unifica. Esses parceiros atualmente são: Serpro, Correios, Caixa. Mas a gente tem o

interesse em expandir essa rede, então temos nos aproximado de outras universidades. A

gente fez o processo formal mesmo, protocolo de intenções firmado entre jurídico,

atividades a serem desenvolvidas com trocas de portfólios de capacitação, de informações

e esse protocolo está virando um acordo de cooperação e convênio, é uma formalização

ainda mais comprometida e rigorosa.” - Entrevistado #6

O objetivo desta rede é o fortalecimento mútuo dos diferentes atores envolvidos,

realização de benchmarking, troca de experiências, discussão sobre metodologias de

avaliação e critérios para construção de indicadores de desempenho, indicação de parceiros

para elaboração de conteúdos e plataformas educacionais, entre outros.

“Além disso a universidade corporativa mantem um caderno, digamos assim, de

universidades corporativas com as quais a gente possa se comparar por produto. Então em

cada indicador a gente procura outras universidades ou outras empresas que desenvolvem

o mesmo portfólio, por exemplo, outro indicador que temos aqui é a quantidade de

colaboradores certificados na certificação do conhecimento. Então são poucas as

instituições que aplicam isso para todos os colaboradores. Então a gente mantém um

controle de quais instituições que mantém esses programas, quais são os melhores e os

contatos de como conseguir as informações sobre os indicadores.” - Entrevistado #6

Page 80: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

80

Plataformas

Outro ponto importante citado nas entrevistas realizadas foram as plataformas

utilizadas, especialmente o Moodle, onde as universidades corporativas podem inserir seus

conteúdos educacionais.

“A gente faz assim, para os cursos internos a gente só utiliza a plataforma do

Moodle, principalmente os cursos voltados pra aviação civil, que são de formação. Lá a

gente cria e disponibiliza os cursos. Mas além dela, a gente contrata também cursos de

prateleira, que são disponibilizados em plataformas alheias. A gente também tem convênio

que foi fechado com o ministério público, onde nossos alunos estão fazendo um curso de

contrato na plataforma deles.”- Entrevistado #7

“A gente tem uma plataforma própria. Hoje o (nome da empresa) tem uma unidade

de negócio que desenvolve cursos á distância: o (Nome da empresa)-EAD. Então a gente já

tem a equipe de profissional formada para esse desenvolvimento, tem equipe de

programadores, web designer, design instrucional, enfim todo um corpo técnico e uma

plataforma própria. A gente vai trabalhar em cima do Moodle, e muito com games também,

com jogos corporativos além dos cursos tradicionais á distância. Vai ser todo um

desenvolvimento interno.” - Entrevistado #5

“A (nome da empresa) tem a sua própria plataforma que está na Espanha e tem mais

de 250 cursos disponíveis para todos os colaboradores dos diversos países. Tem um

catálogo que é padrão, que está disponível na (nome da empresa) para o mundo inteiro, que

nós temos acesso e quando existe alguma necessidade especifica no Brasil, o pessoal

demanda para lá. Não somos nós que colocamos conteúdo lá dentro, o máximo que existe

regionalizado são as traduções desses cursos, alguns são em português. Mas já as

plataformas comerciais, elas não vêm dessa mesma plataforma. São aquisições separadas

por conta da agilidade que precisa ter, por conta do tipo do nosso negócio. Os funcionários

precisam entrar diariamente na plataforma e conhecer as mudanças que tiveram por conta

de regulamentação, preços, aparelhos novos, novas regras no procedimento.”-

Entrevistado #4

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81

4.4. As Novas Direções da Educação Corporativa

As entrevistas mostram que as novas tecnologias já começam a ser usadas na maioria

das universidades corporativas de forma um pouco tímida, mas apontam para um progressivo

aumento da intenção de uso, bem como maior grau de utilidade percebida.

“Essas novas tecnologias têm ajudado. E digo mais, a gente está avançando, todo

dia tem uma novidade em parceria com nosso departamento de TI. É que a gente tem um

jeito virtual de fazer as coisas, encontros por vídeo conferencia principalmente, mas eu acho

que pode ser explorado ainda mais, à medida que a tecnologia avance ainda mais.” -

Entrevistado #3

“Os recursos tecnológicos que agente usa no (nome da universidade corporativa)?

Tudo. Cursos na web, fórum, talks, games, quizzes, estamos trabalhando agora algumas

coisas de realidade virtual, holografia, mas muito pouco ainda de realidade virtual.” -

Entrevistado #9

Por outro lado, algumas empresas ponderaram que em suas organizações esta ainda

é uma barreira a ser superada. Neste caso a adoção está estagnada, ao contrario das citações

anteriores onde a adoção segue um movimento crescente e progressivo.

“Recursos tecnológicos compatíveis e adequados a nossas necessidades? Nossa, a

gente não tem isso não. A gente sempre trabalha é na garra, na fé, na força, na coragem. A

gente tem que fazer um pouco de milagre ainda por aqui. A rede deveria ser melhor, a

plataforma deveria ser melhor, para funcionar direito, para ter as atualizações necessárias,

ter o atendimento das necessidades rápidas.” - Entrevistado #7

Atualmente muitas áreas da educação estão reconhecendo o valor das NTIC em

ajudar no processo de aprendizado, especialmente quando usadas como um complemento do

presencial, o que representa o sistema híbrido ou blended. (DEDE, 2008).O desafio da

escolha pela modalidade de ensino corporativo mais adequada para cada empresa parece

passar pela busca pelo equilíbrio entre o EAD e o presencial, procurando-se aproveitar as

vantagens de cada abordagem bem como mitigar as respectivas desvantagens.

Page 82: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

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“O grande desafio da educação coorporativa hoje é descobrir essa medida exata,

esse equilíbrio. Como nós podemos otimizar os processos, baratear os custos, atingir a mais

pessoas em locais diferentes, sem perder o foco em poder trabalhar a interação com os

demais, o trabalho em equipe, a convivência, e a riqueza da troca de informações que tem

muito no presencial.” - Entrevistado #4

“Curso a distância? Quando ele acontece, ele é calibrado presencial e distância.”-

Entrevistado #1

Um dos entrevistados ressaltou a importância de se atentar para não cometer exageros

no uso de adoção de novas tecnologias na educação corporativa, apontando que é preciso

verificar qual a modalidade mais adequada de acordo com cada tipo de conteúdo educacional

a ser transmitido.

“O que eu acho que a gente tem que ter cuidado na questão de tecnologia é que há

um tempo atrás começaram a entrar com treinamento e-learning no Brasil. E achar que

tudo poderia ser entregue em e-learning. Eu não tenho essa crença. Acho que determinados

treinamentos, não dá para fazer e-learning, ou não é recomendado que se faça. Mas

dosando a mão, sabendo qual treinamento é adequado ao conteúdo e ao público que você

está treinando, está desenvolvendo, acho que isso só vem a ajudar.” - Entrevistado #10

“Tudo o que é exagerado prejudica. Isso na vida da gente, na educação, no lado

pessoal, profissional, etc. Acho que se ficar só nisso, você perde algo que é muito importante

que é o contato humano. Então a troca da experiência nos intervalos, o networking, a troca

da parte humana... você perde muito. Acho que você tem que colocar um touch humano na

tua vida profissional, na tua vida educacional, na tua vida pessoal. Então assim, por um

lado é bom, mas fica muito mecânico também. Tudo na vida é balanço. Se você consegue

colocar tele presence é melhor que nada, mas você não pode achar que é só aquilo. Acho

que tem que ter um split saudável da coisa.” - Entrevistado #8

Diferentes entrevistados citaram como metodologia ideal de educação corporativa o

modelo conhecido como 70-20-10. Neste modelo, o ensino formal da universidade

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83

corporativa concentra-se na menor porcentagem, os 10%, deixando espaço para o máximo

de experimentação e um pouco de troca com pares e outros profissionais mais experientes

através de mentorias.

Apesar desta tendência que se apresenta, os entrevistados demonstraram estar em

estágios bem distintos nesta busca. A citação abaixo aponta para um sistema de educação

corporativa que já é capaz de aderir ao modelo.

“A gente acredita aqui dentro que o desenvolvimento das pessoas tem que acontecer

dentro de um modelo 70-20-10. 70% do desenvolvimento das pessoas, a gente acredita que

deve acontecer dentro do trabalho, do seu dia a dia, através dos projetos, através das

interações com as outras pessoas e é assim que as pessoas aprendem na grande parte das

vezes. 20% através dos relacionamentos com as outras pessoas, com seu chefe, com seu

mentor, com seus pares, no relacionamento formal ou não. E 10% de instrução formal,

digamos assim, entre leituras, cursos, vídeos do TED, o que seja. Então a (nome da

universidade corporativa) está primariamente dentro desses 10%, embora a gente sempre

tente fazer conexão principalmente com on the job, os 70%. É uma preocupação que a gente

sempre tem. Dentro desses 10% a gente proporciona várias oportunidades de aprendizados

diferentes.” - Entrevistado #3

Já na citação do entrevistado abaixo, podemos perceber que a universidade

corporativa em questão ainda não é capaz de aderir a tal modelo na forma adequada.

“Hoje, um desafio de todas as universidades coorporativas, é trabalhar com aquele

modelo 70-20-10. 70% que a gente consiga contribuir para que o aprendizado se dê no local

de trabalho; 20% mediado por tutores, mentores, coaching; e 10% em sala de aula. Esse

para mim é o modelo ideal de educação coorporativa. Apesar de que, aqui na empresa a

divisão ainda está longe de ser essa. A gente vai ter que reverter isso porque está assim:

70% em sala de aula, 20% no local de trabalho e 10% ou menos com mentores.”-

Entrevistado #1

Outra tendência apresentada foi a mudança do lugar do professor, que passa a

desempenhar um papel mais de tutor ou coach, que acompanha seus alunos em seus

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84

processos de aprendizados, sem ficar apenas transmitindo conhecimentos. A ideia é que o

estudante seja o responsável por sua própria evolução, detecção de suas dificuldades e

superação de seus desafios. E junto a esta tendência está a ideia de autodesenvolvimento do

aluno.

“A metodologia tradicional, cuspe e giz, já era. Então enterra esse modelo do século

XIV, esse modelo Napoleônico que você tem um professor. Então uma das grandes

tendências que eu vejo é a saída dessa figura do professor para a chegada da figura do

tutor. Vejo como tendência o auto desenvolvimento, você delegar mesmo ao colaborador o

desenvolvimento do seu conhecimento porque ninguém é caixa vazia, papel em branco.” -

Entrevistado #6

Um ponto que se apresenta como tendência atualmente, a partir da fala dos

entrevistados e reforçado por Christensen (2006), é o conceito do ensino centrado no aluno

e não mais no professor, o que vem vinculado com a ideia de desenvolvimento das

competências organizacionais. Esta ideia pode ser ilustrada no trecho abaixo.

“Aí você está dando luz ao individuo transformador dentro da organização. Você

está centrando o processo de aprendizado e alocação de competência no individuo. Os

modelos de treinamento instalados até uns anos atrás, se pensar na primeira universidade

corporativa em 1958 que é Crotonville, é um modelo centrado muito na necessidade do

individuo e não na necessidade da organização.” - Entrevistado #9

Foi apontado como uma tendência a customização do ensino, tornando-o mais

adaptado aos diferentes tipos de aprendizagem e linguagem de cada funcionário, a fim de

que as informações sejam realmente absorvidas. Christensen, Horn e Johnson (2008)

também defendem esta ideia de que os estudantes possuem tipos diferentes de inteligência,

de estilo de aprendizado, de ritmo e diferentes pontos de partida e apontam a customização

como uma excelente saída para contornar estas diferenças.

“Por exemplo, no curso de fiscal, eu tenho um personagem engraçadinho, eu tenho

áudio, tem tudo que tem direito. Já no curso de direção aérea, eles não puseram nem

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85

personagem e nem áudio. Então o tipo de abordagem vai depender da demanda da área e

do público alvo que vai receber o curso.”- Entrevistado #7

Além disso, a customização do ensino foi apontada por entrevistados como uma

forma de tornar a educação corporativa mais eficaz, especialmente como forma de garantir

que esteja realmente atrelada ao objetivo do negócio.

“A gente customiza os cursos para os nossos negócios, eles não são repetição do

conteúdo acadêmico. Então, tem sempre que olhar qual é o resultado que você está

querendo trazer para a companhia com esse aprendizado.” - Entrevistado #1

“Hoje trabalho com projetos de treinamentos customizados. Nós contratamos e

formulamos especificamente para as necessidades do banco.”- Entrevistado #2

No caso das empresas globais esta tendência se apresenta ainda mais forte, visto que

as diferenças culturais dos países podem representar barreiras para a educação corporativa e

a estratégia de customização funcionar bem na superação deste desafio.

“Nos EUA muito provavelmente aquele treinamento faz todo o sentido, mas quando

baixa para o Brasil, nem sempre faz sentido do jeito que eles estão fazendo lá. Então falta

um pouco para a gente... a gente acha tão padronizada a coisa, que as nuances de mercado

local faltam. Por isso a gente tem que customizar muita coisa.” - Entrevistado #8

Ainda diante deste desafio vivido pelas empresas globais, a questão da língua mostra-

se importante. Também neste caso a customização mostra-se como tendência que vem

solucionar este tipo de problemas.

“Idioma é um desafio para a gente. É verdade, o cara da China não fala inglês tão

bem quanto os americanos e o cara de Peru não fala tão bem também... Então a gente

começou nos últimos 2 ou 3 anos a customizar o treinamento, mensagens, competências...

Todo mundo deveria falar inglês, mas você sabe como é, nem todo mundo tem a mesma

proficiência. Então idioma sempre foi um desafio nosso.” - Entrevistado #8

Page 86: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

86

Por outro lado, na contramão da customização está a padronização que também foi

apontada como um fator importante na adoção de NTICs a partir do momento que é

adequada aos casos em que se deseja justamente manter uma unidade de aprendizado.

Independente da região geográfica ou função exercida, é essencial que conteúdo e forma

sejam o mesmo para todos. Esta ideia vai de encontro àquela proposta por Shapiro e Varian

(1999) quando sugerem que, os padrões geram maior valor para os usuários ao se criarem

maiores redes, facilitando a compatibilidade ou a interoperabilidade. A padronização torna

possível o compartilhamento de informação entre um maior número de pessoas em uma rede,

sem a necessidade de converter dados de um formato para outro. Nos trechos abaixo, um

entrevistado aponta o caso em que a padronização da informação faz-se interessante na

educação corporativa da empresa.

“Com a padronização da informação, eu consigo replicar uma informação padrão,

eu consigo fazer gestão do conhecimento utilizando tecnologias, deixar aquele conteúdo

registrado e não mais na cabeça.” - Entrevistado #5

“O curso que a gente monta, daqui (Brasília) vai pra Porto Alegre. O curso é

padronizado, eles utilizam a estrutura de lá, o pessoal de lá...mas é monitorado por aqui. O

curso que dá certo pra Porto Alegre, dá certo pra todo mundo, porque geralmente os

sistemas são iguais, os procedimentos geralmente são diferentes, mas parecidos em algumas

coisas, no essencial. Então a gente tem que fazer uma coisa mais geral.” - Entrevistado #7

A gamificação do ensino foi identificada como uma oportunidade na educação

corporativa. Entrevistados ponderaram que existe um engajamento maior dos colaboradores

quando esta estratégia é utilizada e por isso começa a se mostrar como tendência no setor da

educação de forma geral, mais especificamente também nos sistemas de educação

corporativa.

“A gente tem usado algumas metodologias de gamificação na educação presencial

e na educação à distância. Há uma grande ascensão de gamificação. No ano passado nós

desenvolvemos um game para nossos colaboradores junto com a unidade de comunicação

e marketing, aproveitando o tema da copa do mundo. Fizemos um grande campeonato, uma

grande copa de conhecimentos aqui. Foi uma gamificação que arrebatou paixões aqui,

Page 87: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

87

quem participou se apaixonou pelo programa. A universidade corporativa montava todo o

portfólio de questionamento, de conhecimentos necessários, os colaboradores corriam atrás

para tirar aquelas dúvidas e saber responder aquelas questões. A gente usa algumas

metodologias de gamificação principalmente nas capacitações para multiplicadores e

facilitadores que são esses que entregam nossos produtos para os pequenos negócios.” -

Entrevistado #6

4.5. Drivers da adoção de NTIC na educação corporativa

Observando-se as novas direções da educação corporativa, foi possível identificar

alguns fatores que se destacam como principais motivadores na adoção de novas tecnologias

nas universidades corporativas e sistemas de educação corporativa. Os chamados drivers da

adoção de NTICs contribuem para a análise de como se dá o processo de inovação e é a

partir de sua identificação que podemos perceber quais são os fatores que possuem maior ou

menor impacto. A Tabela 4 abaixo ilustra os principais fatores motivadores de adoção de

novas tecnologias na educação corporativa, identificados a partir das falas dos entrevistados.

Fatores que influenciam a adoção de NTIC na EC – Drivers:

Fator Identificado

A tecnologia facilita o processo de comunicação na empresa

A tecnologia potencializa os resultados do negócio ao permitir treinamentos

específicos.

O uso de tecnologia melhora a imagem do SEC frente à sociedade

A tecnologia facilita a EC de empresa com alta dispersão geográfica

O uso de tecnologia adequa-se bem no varejo onde é preciso atualização rápida e

constante

A tecnologia permite maior flexibilidade para o aprendiz estudar na hora e local

mais convenientes para si

O uso da tecnologia reduz os custos com a EC

Tabela 4: Drivers da adoção de NTIC na educação corporativa. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)

Page 88: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

88

Um ponto que pode ser percebido através da fala de diferentes entrevistados é o

interesse em explorar a aplicação das NTIC de facilitação da comunicação para apoiar a

educação corporativa. Dede (2005) corrobora com este ponto propondo que através do uso

de computadores, estudantes tem acesso a experts e arquivos inacessíveis geograficamente,

podem se comunicar com seus pares e participar de relações de mentoria ou de comunidades

virtuais. Esta interface proporciona novos modelos de aprendizagem que envolvem a maioria

das novas ferramentas, aplicações e mídias da educação básica. (DEDE, 2005).

“A gente usa muito a tecnologia para fazer encontros virtuais. A gente tem

escritórios em Fortaleza, em São Paulo, em Brasília, e nem sempre as pessoas conseguem

vir para cá. Então fazemos seminários em que as pessoas estão nas salas de vídeo em cada

uma dessas unidades e podemos discutir um conteúdo, passar um conhecimento, sem que

todos estejam no mesmo lugar. A gente tem também uma tecnologia dentro do nosso e-mail:

o comunicator, como se fosse um mini Skype interno que a gente chama de (nome da

empresa)-link e que eu consigo conversar com meus pares. Também posso repassar

conhecimentos dessa maneira: o (nome da empresa)-link também coloca a apresentação na

tela das pessoas, e cada um pode colaborar.” - Entrevistado #3

Um outro driver da adoção de NTIC na EC identificado em uma das entrevistas foi

a questão da adequação ao trabalho ao se criarem laboratórios específicos para treinamento,

o que leva a uma maior expectativa de performance. Uma empresa do setor de óleo e gás

falou dos benefícios que as inovações tecnológicas podem trazer para atividades chave de

negócio através de simulação, evitando assim elevados riscos e custos.

“Hoje temos muitas salas de aula virtuais, laboratórios, sala de workstation com

simulador de poço, onde os alunos espalhados pelo Brasil inteiro recebem treinamento.

Nessas salas virtuais você tem aquele momento com o professor num plano semipresencial,

digamos assim, porque ambos têm que estar ali simultaneamente (...). É isso, as novas

tecnologias com certeza têm ajudado a gente. Por exemplo, um mapa de uma reserva lá no

fundo do mar, você precisa de equipamentos de última geração tecnológica para

determinadas leituras, e esse aprendizado às vezes requer laboratórios específicos para o

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89

treinamento. A gente tem o laboratório de rochas, laboratório de turbo máquinas, espaço

para projeção 3D.” - Entrevistado #1

A citação de outro entrevistado aponta para a expectativa de performance como um

driver para a adoção de tecnologias, conforme é apresentada abaixo.

“Atualmente aqui no (nome da empresa) a gente tem um grupo de estudo de mídias

digitais que está também vendo outras maneiras, outras formas, outras tecnologias de

passar esse conteúdo. E a gente está no início, eu acho que vai evoluir ainda e muito, mas

atualmente a gente tem usado isso.”- Entrevistado #5

Um driver citado nas entrevistas foi o investimento em segurança do trabalho, um

ponto que tem relevância nos objetivos organizacionais e que faz referência à utilidade

percebida na adoção de novas tecnologias na universidade corporativa.

“A gente tinha muito problema de acidente e queria uma forma lúdica de fazer com

que as pessoas tivessem uma consciência maior sobre os riscos de acidente. Então a gente

criou a estação SMS, uma mesa interativa onde os grupos tomam decisões sobre segurança

e você tem uma visualização como se estivesse entrando em uma unidade operacional. É um

ambiente virtual, uma espécie de jogo. Tem muita interação, pois não é no computador não,

é uma mesa interativa touchscreen.” - Entrevistado #1

Pode ser percebido como driver também a questão da influência social. Foi observado

nas entrevistas que a imagem que o meio social constrói em relação à adoção de NTIC pode

ser responsável pela decisão de adoção. Muitos sistemas de educação corporativa não

querem se sentir desatualizados ou ultrapassados e por isso buscam acompanhar as

inovações tecnológicas.

“Já percebemos uma mudança no dinamismo das ferramentas de fazer treinamento

e se nós não tivermos disponibilidade de equipamentos e ferramentas que as pessoas possam

acessar de onde elas estiverem, de telefone, de casa, da internet, vamos ficar pra trás.” -

Entrevistado #4

Page 90: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

90

Um ponto que está fortemente relacionado à adoção de novas tecnologias na

educação corporativa é a entrada das novas gerações no mercado de trabalho e que vem

demandando atualizações nos métodos de aprendizado. Diante desta nova necessidade que

se apresenta, observamos através das falas de entrevistados maior uso de jogos e de interação

virtual.

“O que dá muito certo com a “gurizada” que nós temos em loja é quando colocamos

competição, quando colocamos jogos. Se não colocarmos algo que crie mais interação, e

que as pessoas achem as coisas menos chatas na maneira de ensinar, a gente acaba

escutando que tudo que tem por aí é ruim. Porque o cara não gosta de entrar lá, fica ali só

escutando, fica parecendo escola. Então temos que descobrir este norte de como

transformar as coisas interessantes para um público ter a vontade de fazer aquele

treinamento. E vai ser através de interação, através de rede social que eles poderão estar

fazendo um curso online e estar compartilhando com outro, vai ser através de jogos que ele

tem que competir tipo vídeo game, enfim...” - Entrevistado #4

Outro fator de adoção do uso de tecnologias no ensino corporativo, apontado por

diversas empresas entrevistadas foi a questão da dispersão geográfica. Multinacionais e

empresas com muitas filiais enxergam valor no EAD por este poupar o deslocamento, gasto

de tempo e dinheiro. Assim empresas concentradas em um único ponto geográfico não

reconhecem valor em tal modalidade e apontam que um curso presencial faz mais sentido

diante de suas realidades.

“Para o lançamento da universidade corporativa, no ano que vem, a gente está

trabalhando muito forte o foco em cursos a distancia. Hoje nós temos 27 unidades no estado

Santa Catarina e essa capilaridade dificulta um pouco quando o curso é presencial, aí eu

tenho que ter toda uma logística envolvida para capacitar os 2.700 colaboradores.” -

Entrevistado #5

“Temos mais ensino online que presencial porque temos esse desafio de trabalhar

por todo o Brasil, com outras grandes instituições que atuam em todos os estados. A

ferramenta online é o nosso grande aliado para dar velocidade, capilaridade a esses

conteúdos, além de falar as mesmas linguagens.” - Entrevistado #6

Page 91: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

91

Empresas do varejo podem ver no EAD uma saída interessante por permitir a rápida

atualização de conteúdo de formação e a capacidade de transmissão deste novo conteúdo

para grande numero de funcionários dispersos geograficamente. Com produtos novos

lançados a cada dia, a tecnologia permite manter um cenário bastante dinâmico sempre

atualizado.

“Costumamos trabalhar com EAD, porque nós temos muitos produtos e serviços que

são praticados em nossas lojas, varejo, revenda e é impossível conseguir colocar todos os

colaboradores, diretos e indiretos, em salas presenciais para fazer as apresentações. O

nosso negócio tem essa característica de demandar uma atualização constante então a

tecnologia ajuda muito pra gente.”- Entrevistado #4

Dentre vantagens da adoção de tecnologias, em especial a modalidade EAD, está a

flexibilidade e a possibilidade de que cada funcionário crie seus próprios horários de estudo

e desenvolvimento profissional e pessoal.

“A vantagem do EAD é a capacidade das pessoas poderem criar seu próprio tempo,

fazer as coisas, desenvolver, ter a sua qualidade de vida mais desenvolvida por conta disso.

Isso eu vejo como um ganho.”- Entrevistado #7

Outra vantagem da modalidade EAD apontada com recorrência pelos entrevistados

foi a redução de custos, o que leva consequentemente a democratização do conhecimento,

segundo um dos coordenadores de universidade corporativa.

“Quando você faz um curso presencial, custa diária, passagem, hora/aula do

professor. E você ainda tem a limitação do número de pessoas que pode chamar para o

treinamento. Mas se você fizer um EAD custa muito menos. No curso presencial, suponha

que tenha 30 pessoas, no EAD você pode capacitar 500. Então é a democratização do saber

através do EAD, é algo fantástico. Os conhecimentos que as pessoas não tinham acesso

antes, agora estão tendo através do EAD.” - Entrevistado #7

Page 92: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

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“O EAD vem como uma estratégia, e não como um fim em si mesmo. Mas agora,

para baratear custos, vamos ter que ter os cursos todos a distância.” - Entrevistado #1

A vantagem do ganho em escala proporcionado a partir da adoção de novas

tecnologias na educação corporativa também se apresenta como um driver, já que um

número maior de pessoas podem ser atendidas com um mesmo custo fixo. Este mostra-se

como um ponto positivo para empresas de grande porte.

“A gente conseguiu atingir mais grupos e mais níveis de funcionários com esse

approach de educação usando tecnologia. Então acho que culturalmente inclusive a gente

conseguiu obter um diferencial competitivo, a gente consegue disseminar, fazer com que a

mensagem chegue a mais níveis dentro da organização. Então, por exemplo, se você tem

uma estratégia pra a companhia, você tem que desenvolver essa competência para a

companhia, quanto mais gente você atinge, mais você é competitivo.”- Entrevistado #8

“(A tecnologia) é muito mais positiva do que negativa, principalmente por ampliar

a possibilidade de atingir um público alvo, de mais pessoas conseguirem participar.”-

Entrevistado #5

4.6. Fatores de restrição na adoção de NTIC na educação corporativa e verificação de

como este processo está se dando

Fatores que influenciam a restrição de NTIC na EC:

Após análise dos principais fatores motivadores da adoção de novas tecnologias, é

pertinente observar o seu contraponto, identificando também os fatores que restringem a

adoção de novas tecnologias na educação corporativa. É interessante notar que, assim como

os drivers, os fatores de restrição abrangem motivações de todo tipo, inclusive algumas de

ordem bem prática que são reveladas nas falas dos entrevistados, mas que, no entanto, não

costumam estar previstas nas referencias bibliográficas. A Tabela 5 abaixo ilustra os

principais fatores que levam à restrição de novas tecnologias na educação corporativa,

identificados a partir das entrevistas.

Page 93: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

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Fator Identificado

A tecnologia desvia a atenção dos funcionários

Dificuldades com a conexão da internet

Dificuldade de aceitação e manuseio por parte dos profissionais do SEC / gerenciamento

emocional e gerações mais antigas

Dificuldade de aceitação e manuseio por parte dos alunos do SEC / gerenciamento

emocional e gerações mais antigas

A tecnologia leva a menor interação entre as pessoas

A tecnologia exclui “benefícios” apreciados pelos colaboradores (coffee breaks, viagens,

diárias)

O uso de tecnologias como EAD pressupõe um grau de disciplina

O uso de tecnologias como EAD pode levar a problemas trabalhistas

A implantação de novas tecnologias no SEC requer altos investimentos

Tabela5: Fatores de restrição da adoção de NTIC na educação corporativa. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)

Apesar de tantos drivers que induzem a adoção de novas tecnologias na educação

corporativa, a tecnologia pode ser vista também como um elemento negativo, gerador de

dificuldades na educação. Um dos grandes desafio das empresas hoje é ter a capacidade de

reverter o desvio de atenção dos funcionários diante dos atrativos tecnológicos disponíveis.

“Tem uma coisa que nos preocupa. A gente está buscando alternativas para lidar

com o próprio celular, por exemplo. No primeiro estagio, o que a gente vivenciou foi

professores reclamando que os novos empregados estavam tendo dificuldade de estar ali

presentes na aula, ele tinha que concorrer com o Facebook e com várias ferramentas e (os

professores) perdiam. Mas agora já tem um movimento aí fora, maior do que o nosso aqui

dentro, de tentar inovar, de usar a tecnologia dentro da sala de aula. E hoje a gente vem

pensando formas de trazer isso para o nosso lado, de jogar à favor, mas ainda não sabemos

como.” - Entrevistado #1

”O problema da tecnologia é que às vezes ela tira o foco do que realmente importa.

A verdade é que às vezes, a tecnologia atrapalha muito mais que ajuda. Vem com a proposta

de ajudar e atrapalha. A gente está implantando o SAP e é um senhor desafio. Também não

foi muito aderente. Antes a gente usava uma coisa ultra simples que era o banco de dados

do Access, e dava tudo certo.”- Entrevistado #2

Page 94: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

94

Pode haver ainda barreiras de ordem pratica como a dificuldade de conexão com a

internet, por exemplo, conforme a citação abaixo.

“Outro aprendizado que nós temos é com relação à dificuldade no Brasil da

tecnologia mesmo. No interior do Pará, a internet ainda é um artigo de luxo, você não tem

disponível a qualquer tempo, não é na velocidade que você quer, então se você faz

capacitações que você não considera que o colaborador terá dificuldades, e ele terá mesmo

de acessar, você está fadado a deixar um estado inteiro de fora da capacitação. E mesmo

por aqui também a gente ainda houve bastante reclamação nesse sentido: não estou

conseguindo, o curso está muito pesado, a tecnologia está exigindo muito e eu não tenho

condições de fazer o curso pela internet.” - Entrevistado #6

Em casos onde a infraestrutura tecnológica é deficitária, as empresas procuram

alternativas para oferecer seu conteúdo educacional. Por exemplo, na fala abaixo podemos

perceber que bibliotecas virtuais com artigos em PDF e vídeos já ‘baixados’ podem suprir a

possível impossibilidade de utilização de vídeo aulas.

“A gente não trabalha com vídeo aula porque a infraestrutura tecnológica da (nome

da empresa) não é muito boa. A gente coloca vídeo também, mas não são vídeo aulas, são

vídeos de algumas coisas exemplificando o que você quer, às vezes uma notícia ou algum

relato.” - Entrevistado #7

Um ponto importante que representa um grande desafio para o sucesso de novas

tecnologias na educação diz respeito às dificuldades de manuseio e barreiras de aceitação. É

comum que profissionais de SEC apresentem dificuldades no seu gerenciamento emocional,

o que leva a menor adoção de NTIC na EC. Compactuando com esta ideia, Litwin e Edith

(2000) já apresentavam que um dos grandes desafios hoje é desenvolver um ambiente afetivo

nos cursos online. As mudanças na educação dependem, mais do que das novas tecnologias,

de termos educadores, gestores e alunos maduros intelectual e emocionalmente, pessoas

curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar.

“O recurso tecnológico deveria vir após uma análise da realidade, principalmente

dos instrutores da casa, que são as pessoas que usariam. Pois não basta colocar uma

Page 95: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

95

televisão de ultima geração se a pessoa não sabe usar ou não tem tempo pra aprender...

porque aquilo não faz mágica, tem que ser alimentado de alguma forma. Eu não sou a favor

da tela interativa. Até porque a tela interativa exige do instrutor uma expertise na

formulação das apresentações e na utilização daquele equipamento.”- Entrevistado #2

O que se percebe por parte dos profissionais das universidades corporativas quanto à

capacidade de lidar com este cenário de público diversificado, proveniente de diferentes

gerações, é que geralmente estes setores são compostos por pessoas de gerações

intermediarias ou mais antigas, que vivenciam o desafio de ter que inovar e se atualizar para

ser capaz de envolver as novas gerações e estabelecer uma comunicação com estes.

“Hoje, os profissionais que estão trabalhando em RH, que estão desenvolvendo

formas, ferramentas, é uma geração que não nasceu com esse DNA da tecnologia. Acho que

esse é o desafio como profissional de RH e educação: conseguirmos descobrir o que são as

coisas que vão ser interessantes, quais as formas de aprendizado que nós vamos conseguir

trazer para essa nova geração que hoje está ainda numa faixa de 10, 12 anos.” -

Entrevistado #4

“Eu acho que os benefícios da tecnologia são muitos, mas existe resistência ainda.”-

Entrevistado #5

Da mesma forma que a dispersão geográfica das empresas funciona como um driver

para a adoção de novas tecnologias na educação corporativa, a concentração geográfica de

uma empresa é um fator que justifica a restrição à adoção de tecnologias. Podemos observar

este contraponto na citação abaixo.

“Por que não temos curso a distância? Porque não temos dispersão geográfica. Nós

temos regionais que tem equipes muito reduzidas, algumas são quase que escritórios de

representação em Recife, São Paulo, Brasília, Londres, Montevidéu, África do Sul, e talvez

seja aberto um em Belém. A questão é que esse público que está disperso ainda não justifica

a estruturação de cursos a distância, tamanha a necessidade de adequações que seriam

necessárias.” - Entrevistado #2

Page 96: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

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Há ainda ponderações do por que fazer uma modalidade de curso ou baseadas em

questões bem mais práticas e corriqueiras que se pode imaginar. De acordo com

entrevistados, o fator decisório para um funcionário preferir o curso presencial pode ser o

coffee break, a oportunidade de fazer uma viagem ou mesmo o recebimento de um dinheiro

extra referente à diária de viagem.

“As pessoas ainda têm aquela ideia do curso em sala presencial com coffee break, o

povo ama coffee break. Nós temos muitas dificuldades de conseguir fazer com que as

pessoas valorizem tudo o que está disponível na plataforma dos cursos EAD.” -

Entrevistado #4

“A maioria prefere presencial, mas não pela questão de qualidade, pelo menos não

é o que se coloca na avaliação de reação. Eles querem presencial porque, quando você tem

um curso presencial, o pessoal dos aeroportos pequenos conseguem viajar para ter o

treinamento em um lugar diferente. E além disso, boa parte dos funcionários ainda prefere

o presencial pela possibilidade de um ganho extra, pois eles ganham diária e passagem, e

eles não gastam tudo, vão para um hotel bem simples e voltam pra suas casas com um

dinheiro extra no bolso."- Entrevistado #7

Outro ponto que pode favorecer a escolha pela modalidade presencial, segundo uma

das empresas entrevistadas é a oportunidade da superação de preconceitos culturais entre

funcionários e o reforço da cultura organizacional que passa a ser colocada acima das

diferenças particulares de cada individuo.

“A nossa empresa está espalhada, distribuída praticamente no Brasil inteiro. Ela é

muito dispersa geograficamente, são 60 mil unidades em todos os territórios. Quando a

gente faz o curso de formação que reúne todo mundo em um pólo, pode ser no Rio como

pode ser em Salvador, que são 2 unidades que a gente tem UC, essas pessoas saem das suas

cidades, dos seus estados e ali aprendem a lidar com a diversidade cultural, vem nordestino,

vem gaúcho, vem gente de todos os lugares, e naquele período de formação o maior

aprendizado é que eu não sou mais a baiana, a pernambucana... eu sou petroleira, é assim.”

- Entrevistado #1

Page 97: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

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Em oposição às novas gerações que favorecem a adoção de tecnologias na EC,

observamos que trata-se de um grande desafio ter de lidar com as gerações mais antigas, que

podem acabar funcionando como um gatekeeper. Observamos através das entrevistas que

pessoas mais velhas costumam receber isto como desafio de vida e superação pessoal.

“A gente teve um treinamento em Campinas quando teve a construção do aeroporto

lá, e a gente precisou ir presencialmente para realizar treinamento a distancia. Então tinha

um senhor de 60 anos lá, assim com a dificuldade pra fazer, e depois que a gente começou

a dar treinamento, ele dizia: “oh minha amiga, que delicia, eu pensei que eu não era capaz

de aprender essas coisas e eu sou capaz de aprender”. A gente tem um numero muito grande

de pessoas mais velhas e idosas na (nome da empresa) e essa coisa do domínio de uma nova

tecnologia passa muito por uma questão de conquista pessoal, também, no caso dos mais

velhos.”- Entrevistado #7

A modalidade presencial também é apontada como a mais adequada para se trabalhar

questões mais comportamentais como por exemplo o desenvolvimento de habilidades de

liderança e negociação.

“As questões técnicas a gente pode até trabalhar por EAD, são até mais fáceis. Mas

as questões comportamentais, mais de habilidade e atitude, tipo o curso de liderança, aí a

coisa é mais difícil e precisa realmente que o curso seja presencial.” - Entrevistado #1

Outro fator de restrição da adoção da modalidade EAD na educação corporativa – e

pró modalidade presencial - foi a falta de capacidade de organização pessoal e disciplina do

individuo, o que pode ser ainda mais acentuado na cultura brasileira conhecida por sua falta

de planejamento e excessiva flexibilidade. Belloni (1999) reforça esta ideia quando aponta

que, quando se trata de e-learning, há o grande desafio da disciplina e capacidade de

concentração e continuidade do aluno. Com os processos convencionais de ensino e com a

atual dispersão da atenção da vida urbana, fica muito difícil a autonomia, a organização

pessoal, indispensável para os processos de aprendizagem a distância. O aluno

desorganizado vai deixando passar o tempo adequado para cada atividade, discussão,

produção e pode sentir dificuldade em acompanhar o ritmo de um curso. Isso atrapalha sua

motivação, sua própria aprendizagem e a do grupo.

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98

“A maior dificuldade que eu vejo(no EAD) é, de fato, a disciplina das pessoas.

Quando a gente tem o curso presencial, bem ou mal a gente tira as pessoas do seu dia a dia,

coloca dentro de uma sala de aula e naquele momento a prioridade delas é aquilo. Quando

a gente fala "faça um curso online. Inscreva-se e faça", depende dela, principalmente, de

achar esse tempo, de fato se desligar de todas as outras coisas e focar no curso. Essa é a

principal dificuldade. Aqui no Brasil, e estou pensando na oportunidade que eu tive de

morar fora, é ainda pior, nós somos mais indisciplinados.” - Entrevistado #3

Outra questão que funciona como um empecilho na adoção de tecnologias e que está

relacionada à dificuldade de disciplina das pessoas, e especialmente dos brasileiros, trata da

flexibilidade excessiva para o aprendiz que ao não ter de se preocupar com prazos de

inscrição, horário de inicio e fim do curso, acaba por deixa-lo em segundo plano. Podemos

perceber este problema através da citação abaixo.

“A gente colocou uma política de consequências, a pessoa se inscreve no curso, mas

ela tem prazo para terminar porque senão ela fica a vida toda e não foca, não termina. E

isso poderia denotar também falta de foco da universidade corporativa.” - Entrevistado #6

Por outro lado, o mesmo entrevistado ponderou que algum grau de flexibilidade na

adoção de cursos EAD pode ser necessário, especialmente no que diz respeito aos prazos

para inscrição. Culturalmente, o brasileiro não é um povo que tem o hábito de se planejar e

acaba perdendo oportunidades nas situações em que o estabelecimento de prazos é mais

rígido.

“Uma das primeiras coisas que nós testamos, e ela faliu, e a gente precisou rever foi

a metodologia de curso online. A gente abria turma para curso online, a gente divulgava

"dia tal a gente vai abrir o curso de, sei lá, educação oral, e dia tal a turma fecha", isso foi

um tiro no pé, isso foi uma falência. Os cursos tem que estar disponíveis o tempo todo, para

todo mundo. Então não é a abertura de turma. Tem que ser permanente, para eles fazerem

a hora que eles quiserem.” - Entrevistado #6

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Um fator de restrição na adoção de NTICs, de grande relevância, que não chegou a

aparecer na revisão de literatura mas recebeu muita ênfase em diversas entrevistas foi o risco

das empresas que disponibilizam e-learning para seus funcionários serem processadas e ter

de responder judicialmente por ações trabalhistas, a partir do momento que estes

colaboradores estariam realizando uma atividade de trabalho fora de seu horário de

expediente.

“Quando você faz um curso de um outro ambiente, de casa, tem sempre as questões

trabalhistas, de estar colocando o funcionário para estudar fora do horário de trabalho.

Um ensino a distância feito aqui no próprio ambiente de trabalho, isso é melhor, por conta

até do nosso sindicato. Usar a sua hora extra de trabalho para estudo é uma restrição, então

a companhia evita. Se você tem que fazer o curso, faça seu curso na hora do seu trabalho.

Se você tem que viajar para fazer o curso, você tem que viajar na hora do seu trabalho. É

assim.” - Entrevistado #1

“Outro problema do curso online é que, justamente por permitir a flexibilidade de

acesso, horário, ele pode dar margem a alguma argumentação trabalhista, no sentido de

que a pessoa estaria trabalhando fora do horário. Já houve essa discussão aqui.”-

Entrevistado #2

No entanto, apesar do EAD baratear os custos de educação corporativa por conseguir

atingir a mais pessoas que o curso presencial e gerar retorno através dos resultados obtidos

pela empresa; investimentos financeiros significativos são necessários, especialmente no

momento inicial, na fase de implantação.

“Nós trabalhamos pouquíssimo com cursos on-line. Na verdade, hoje não temos

nada a distancia. Isso porque teríamos que aprender design instrucional, teríamos que

formar nossa equipe para encomendar corretamente os conteúdos de EAD. Não basta você

contratar, você tem que entender o que está contratando. Então é todo um esforço que por

enquanto não se justifica em função da baixíssima dispersão.” - Entrevistado #2

“Primeiro se tem uma ampliação do custo para montar toda uma estrutura de

universidade corporativa. Mas a partir do momento que o programa está encaminhado, e

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100

sendo ele mais direcionado, eu acredito que a redução do custo vai impactar principalmente

no resultado que a educação coorporativa traz”. - Entrevistado #5

Outro fator de restrição na adoção de NTICs apresentado nas entrevistas foi que

muitas vezes os gestores das unidades de negócios não dão prioridade à educação

corporativa, colocando outras entregas que consideram mais urgentes em primeiro lugar, e

assim, funcionam como uma barreira para a realização do trabalho de desenvolvimento

educacional realizado pelos SEC. Podemos observar esta questão na citação do entrevistado

abaixo.

“As empresas não consideram tempo de treinamento de funcionários porque além

de você treinar, ele tem que trabalhar, tem que fazer entregas, o que eu escuto muito é ‘ele

não vai ter tempo’. Por exemplo, eu trouxe agora um cara da Europa para dar um

treinamento espetacular de leading in complex environments. Foi um custo fazer com que o

gerente liberasse o funcionário dele um dia e meio. Então assim, muitas vezes a gente se

depara com questões da universidade corporativa, mas com aquestão do tempo das pessoas.

Isso ainda continua um desafio e em minha opinião sempre vai continuar o problema.

Melhorou com a tecnologia, melhorou com a mudança de cabeça, de paradigma dos

gestores e funcionários, mas ainda vai existir. Sempre falta tempo para o treinamento,

principalmente no Brasil, porque a gente é muito imediatista. Nenhum treinamento funciona

bem de maneira imediatista. Ainda é um desafio para a gente.” - Entrevistado #8

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101

5. CONCLUSÕES

Após a análise das entrevistas à luz da literatura, é chegada a hora de retornar às questões

iniciais, postas no objetivo deste estudo, em busca de dados que nos aproximem das

respostas procuradas. Vale lembrar que esta análise não tem a pretensão de exaurir o assunto,

nem tampouco apontar verdades absolutas, mas sim oferecer insumos para a construção de

um degrau de conhecimento sobre o tema da educação corporativa e sua relação com as

novas tecnologias.

Foi possível perceber, ao longo do estudo, um fenômeno importante que pode ser

entendido como uma possível dissonância cognitiva. Observou-se nas entrevistas realizadas

que os responsáveis pelos sistemas de educação corporativa das empresas - estivessem eles

sob a figura de universidade corporativa ou não – dominam um discurso bem embasado,

estruturado e coerente sobre a importância de se vincular estratégia organizacional e

educação corporativa como meio de gerar inteligência organizacional, alto desempenho,

vantagem competitiva, melhores resultados no negócio e facilitação da transmissão e da

absorção da cultura organizacional. No entanto, quando perguntados de forma objetiva sobre

as ações realizadas pela empresa no que diz respeito à educação corporativa, bem como as

motivações organizacionais para a criação de uma universidade corporativa, foram

apontadas práticas que contradiziam as ideia por eles apresentadas, ou que em nada se

relacionavam com elas. Questões como a compensação de conhecimentos escolares básicos

não adquiridos na escola devido a educação deficitária no país, e a padronização da forma

de trabalho dos novos funcionários da companhia, são alguns exemplos que demonstram

esta dissonância entre prática e teoria.

Posta esta situação, foi possível observar algumas questões importantes no que se refere

à compreensão da utilização de novas tecnologias na educação corporativa. Pôde ser

identificada uma tendência ao equilíbrio entre o valor dado à adoção de novas tecnologias e

a decisão por sua não utilização. Esta condição se justifica quando os entrevistados apontam

em detalhes os fatores facilitadores e impeditivos em relação ao uso de dispositivos

tecnológicos nos sistemas de educação corporativa.

Page 102: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

102

Dentre os fatores facilitadores, isto é, os drivers de adoção de tecnologias na educação

corporativa, está a facilitação do processo de comunicação na empresa, especialmente

quando se trata daquelas muito dispersas geograficamente; ou que dependem de rapidez e

agilidade no acompanhamento de atualizações dos produtos, como no caso do varejo de

telecom. Além disso, as novas tecnologias podem reduzir custos drasticamente nos casos das

grandes empresas quando comparado o potencial de abrangência de um curso presencial em

relação a um curso virtual. A potencialização do negócio pode ser obtida também através da

utilização de dispositivos tecnológicos para treinamentos específicos e caros, como por

exemplo, o treinamento de funcionários em simuladores de plataformas de petróleo que

utilizam realidade virtual e aumentada. A maior flexibilidade para o aprendiz estudar na hora

e local mais convenientes para si é também ponto comumente levado em consideração. E há

ainda fatores de ordem menos prática, mas não menos importante para algumas empresas,

como à adesão a novas tecnologias com a finalidade de melhorar a imagem de seu sistema

de educação corporativa frente à sociedade.

Por outro lado, há fatores que levam os profissionais de educação corporativa a optar por

abrir mão da adoção de dispositivos tecnológicos no seu sistema educacional. Há uma

crença, especialmente entre os profissionais mais antigos, de que a tecnologia desvia a

atenção dos funcionários. Estes percebem os dispositivos tecnológicos como uma ameaça

apenas, e não avistam seu potencial de oportunidade. Nestes casos, é comum profissionais

relacionarem o uso da tecnologia à ideia de menor interação entre as pessoas, o que não

acontece necessariamente. Já em outros casos, o valor da tecnologia na educação corporativa

é reconhecido, no entanto a aversão passa pela dificuldade de manuseio, o que leva a uma

resistência na aceitação. Há ainda barreiras que a tecnologia pode impor a ela mesma como,

por exemplo, a dificuldade com a conexão da internet em áreas mais remotas. Já outras

barreiras são impostas pelos funcionários, e dizem respeito a dificuldade de disciplina,

concentração e continuidade do processo educacional mais autônomo apoiado por novas

tecnologias. Ou seja, a grande flexibilidade proporcionada pela tecnologia pode apresentar

efeitos colaterais. Há ainda questões de ordem prática, que não estão previstas na literatura,

mas que surgiram com intensidade nas entrevistas, como o receio por parte dos

colaboradores de que a tecnologia exclua benefícios por eles apreciados como coffee breaks,

realização de viagens, e recebimento de diárias; ou o receio por parte da administração da

Page 103: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

103

empresa de incorrer em ações trabalhistas devido ao tempo de dedicação ao estudo fora do

horário de trabalho do funcionário.

Dados os prós e contras, na busca por aproveitar as vantagens proporcionadas pela

adoção de novas tecnologias na educação corporativa e mitigar as barreiras e anseios que ela

trás, observa-se que, de modo geral, as empresas buscam um equilíbrio de acordo com sua

estrutura e cultura organizacional. Neste contexto observado de adesão tecnológica lenta e

gradual é possível concluir a partir das falas dos entrevistados, que o fenômeno observado

trata de uma mudança incremental, e não disruptiva, e percebe-se, assim, uma tendência em

direção à educação corporativa mais hibrida no que diz respeito a utilização de métodos

presenciais e virtuais.

5.1 ECOSSISTEMA

Podemos observar, ao construir o ecossistema dos sistemas de educação corporativa

e universidades corporativas, que existem diversos níveis de relação entre os atores

participantes. Em um primeiro nível existem relações fundamentais entre áreas internas da

empresa, o que supostamente garante a capacidade de alinhamento estratégico e foco nos

resultados do negócio. A relação com a alta administração proporciona o patrocínio e

chancela das ações, e a inter-relação com as unidades de negócio e colaboradores favorece

o contato com a ponta, o que permite ações mais eficazes e coerentes com as necessidades

organizacionais. Já num segundo nível de relações há o contato com fornecedores, parceiros,

filiais e cliente final do negócio. No nível a seguir, observamos as relações entre UC / SEC

e atores que contribuem diretamente para o desenvolvimento de seu trabalho como

plataformas, desenvolvedores de conteúdo e de tecnologias, parceiros e em especial

universidades tradicionais, consultores e etc. E em um nível mais afastado há ainda outros

atores que se relacionam de forma mais indireta como o governo e a sociedade em geral. As

relações entre os atores envolvidos podem ser observadas na Figura 6.

Page 104: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

104

Figura 6: Ecossistema da Educação Corporativa. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)

5.2 CENÁRIOS

A partir dos insumos trazidos pelas informações observadas nas entrevistas e pelos

dados obtidos na revisão de literatura, foi possível a construção de alguns cenários futuros

para a educação corporativa. Foi realizada uma identificação criteriosa de dois tipos de

fatores: as principais tendências e incertezas. O primeiro fator diz respeito ao que é tomado

como certo no futuro de forma mais geral, e o segundo fator diz respeito ao que não se pode

dar como certo no ambiente de negócios de uma organização. O output desta ferramenta nos

oferece a possibilidade de prever e perceber antecipadamente as competências necessárias

Page 105: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

105

para que empresas, contando com o apoio de suas UCs e SECs, se mantenham competitivas

em diversos cenários possíveis, e estejam mais flexíveis e atentas.

Tendências

A fim de contribuir para a composição de cenários para a educação corporativa, serão

enumeradas, a partir dos dados obtidos nas entrevistas e na revisão de literatura deste estudo,

as principais tendências que irão influenciar o desenvolvimento do ambiente de negócios

dos sistemas de educação corporativa. Podemos perceber, conforme listado abaixo, que as

tendências relativas ao uso de novas tecnologias na educação corporativa podem se

confundir com os fatores que representam drivers de adoção de novas tecnologias nos

sistemas de educação corporativas.

1. Crescente valorização e adoção das novas tecnologias na educação. Esta é uma

tendência clara que pode ser motivada tanto pelos benefícios práticos que traz, como

a facilitação do processo de aprendizagem e de comunicação e a potencialização dos

resultados do negócio; quanto por fatores mais subjetivos, como a percepção de que

o uso de tecnologia melhora a imagem do SEC frente a sociedade e transmite a ideia

de empresa up to date.

2. O blended learning ou ensino híbrido apresenta-se também como forte tendência.

Em tempos de constantes transformações, onde surgem inovações tecnológicas

disruptivas a cada dia, fica evidente o contraste com o ambiente tradicional e

conservador que ainda circunda o setor da educação. Diante de tal dualidade, o

blended learning faz um apelo à ideia de equilíbrio onde se ressaltam os pontos

positivos e se minimizam os pontos negativos de cada uma das duas modalidades:

presencial e virtual.

3. Dentre a adoção de novas tecnologias na educação que podem variar desde realidade

virtual, gamificação, etc, o e-learning apresenta-se como a principal tendência citada

com muita ênfase tanto nas entrevistas quanto na Revisão de Literatura. Trata-se de

uma modalidade de ensino a distância que evoluiu a partir dos cursos por

correspondência enviados através dos Correios para os telecursos apresentados na

Page 106: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

106

TV e que hoje fazem um aproveitamento intenso das novas tecnologias, podendo

fazer uso da internet e acontecer de forma simultânea, como também ser distribuídos

para download e terem sua utilização off-line. Esta tendência se destaca pela

flexibilidade que oferece ao estudante e baixo custo em relação ao ensino tradicional.

4. Maior valorização da interação entre as pessoas no processo educacional.

Percebemos através das falas de praticamente todos os entrevistados a importância

dada à possibilidade de interação, participação ativa e troca entre os estudantes. Foi

destacada também na Revisão de Literatura a tendência atual em se estimular a troca

entre os estudantes, possibilitando assim que sejam desenvolvidas habilidades de

integração, comunicação, criatividade, liderança e capacidade de relativização dos

problemas. É interessante notar que tais comportamentos não estão necessariamente

atrelados à uma modalidade específica – presencial ou e-learning – mas sim, depende

do uso que se faz de cada uma das modalidades.

5. O ensino centrado no aluno é outro ponto em alta, que se apresenta como forte

tendência, e que pode representar uma oportunidade para o processo de educação.

Esta metodologia dá aos alunos poder de escolha em relação àquilo que irão

aprender. De acordo com a abordagem de ensino centrado no aluno, o estudante tem

a liberdade de construir o seu próprio "menu de aprendizagem". Isso implica que o

ensino seja mais customizado para que seja melhor adaptado ao perfil, estilo de

aprendizagem e momento de cada aluno. Os cursos passam a ser altamente flexíveis

no tempo, no espaço, na metodologia, na gestão de tecnologias e na avaliação. Esta

é uma tendência altamente compatível com outras tendências como a customização

do ensino de acordo com os diferentes perfis de aprendizagem.

6. Para a melhor customização e adaptação do ensino aos diferentes perfis de alunos,

uma estratégia que parece funcionar bem e que vem se apresentando como uma

tendência é a modularização do conteúdo. Observamos esta ideia através de diversas

falas de entrevistados que explicaram que a educação corporativa se dá através do

desenvolvimento de trilhas do conhecimento que são justamente baseadas em

módulos de aprendizagem. Isso permite que o aluno aprenda em seu próprio ritmo,

que só avance para a etapa seguinte após ter realmente compreendido a etapa

Page 107: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

107

anterior, e que aprenda apenas e exatamente o que precisa aprender de forma alinhada

com o negócio.

Incertezas

Buscando complementar a composição de cenários para a educação corporativa,

tendo-se apresentado as principais tendências que deverão influenciar tal ambiente de

negócios, faz-se necessário analisarmos também as incertezas críticas que poderão criar

novos desafios e oportunidades para os sistemas de educação corporativa em um futuro

próximo de até dez anos. Podemos perceber que as incertezas no ambiente de negócios da

educação corporativa muitas vezes se confundem com alguns dos fatores de restrição na

adoção de novas tecnologias por sistemas de educação corporativa.

1. Uma primeira incerteza identificada que não foi abordada em nenhum momento na

Revisão de Literatura, mas que surgiu com grande ênfase e relevância durante as

entrevistas foi o risco para as empresas de sofrerem ações trabalhistas, a partir do

momento que disponibilizam cursos voltados para o desenvolvimento profissional

que podem ser realizados a distância, em casa e nos finais de semana, o que

configuraria realização de horas extras de trabalho.

2. Outra incerteza diz respeito à regulamentação das UCs. Esta é uma discussão antiga

e já foram realizadas algumas iniciativas a fim de tentar fazer com que cursos

oferecidos pelas UCs fossem reconhecidos pelo MEC, inclusive foi criado há alguns

anos atrás um Comitê de UCs com este intuito. No entanto o que se constata

atualmente é que a universidade corporativa é apenas uma marca fantasia, pois a

instituição não é reconhecida pelo Ministério da Educação como instituição de ensino

superior.

3. A questão da infraestrutura tecnológica em determinadas partes do País também pode

representar um fator de incerteza crítico que poderá criar desafios para os sistemas

de educação corporativa. Em uma das entrevistas foi falado que apesar daquela

determinada UC desenvolver um trabalho de EAD muito bem estruturado junto a

seus funcionários, no caso das filiais no interior do Estado do Pará, este precisou ser

Page 108: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

108

adaptado para outras modalidades de ensino, devido aos problemas recorrentes que

enfrentavam para a conexão com a internet.

4. A dificuldade de aceitação das gerações mais antigas diante da adoção de novas

tecnologias na educação corporativa pode também representar uma incerteza

importante. Isto é, de nada adiantará a adoção de inovações tecnológicas que facilite

a comunicação e o aprendizado se os colaboradores da empresa não estiverem

dispostos a utilizá-las.

5. Há também uma incerteza que diz respeito à cultura brasileira que costuma preferir

o contato humano e apresentar uma baixa capacidade de disciplina e continuidade.

Temos uma visão de curto prazo muito mais acentuada que a de longo prazo,

dificuldade de planejamento e excessiva flexibilidade. Logo, quando se trata de

adoção de novas tecnologias na educação corporativa como a utilização do e-

learning, poderá haver um grande desafio a ser enfrentado pelo profissional e

instituição.

6. Uma última questão identificada diz respeito à incerteza de tratar-se de um modismo

ou de uma evolução perene dos sistemas de educação corporativa. O que se percebe

é que esta é uma linha divisória tênue. Foi constatado que uma das motivações para

algumas empresas criarem UCs baseia-se no desejo de estarem atualizadas com as

novas tendências da educação corporativa, o que representaria certo modismo. Por

outro lado, através das entrevistas percebeu-se também que há empresas que não

estão preocupadas com esta classificação, mas sim com os resultados gerados pela

UC ou SEC, o que sugere, neste caso, não tratar-se de uma moda, mas sim de uma

decisão estratégica.

Cenários Propostos

Considerando-se então as tendências e incertezas relevantes para o ambiente de

negócios da educação corporativa, é possível identificarmos alguns cenários futuros. Vale

ressaltar que foram verificadas possíveis correlações entre as incerteza, levando-se a uma

Page 109: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

109

redução de incertezas críticas utilizadas para a composição de cenários apresentada a seguir.

Da mesma forma as tendências foram tratadas como aspectos comuns aos quatro cenários

propostos. Considerando um horizonte de tempo de dez anos, a Figura 7 ilustra os quatro

cenários propostos resultantes.

SEC Forte

100%

Presencial

“Não há de ser Forte. Há de ser

Flexível!

Contato humano com

muita interação

Pouco escalável

Evita ações trabalhistas

Padronização

“O cérebro eletrônico faz

tudo, quase tudo, mas ele é

mudo”

Pouco contato humano

Flexibilidade de tempo

Desafio da disciplina

Customização

100%

EAD

“Hey Teacher, Leave the Kids

Alone”

Padronização

Professor em um

pedestal

Contato humano não

representa interação

“Denorex: Parece remédio,

mas não é”.

Potencial tecnológico

subaproveitado

Método pouco

estimulante

Motivação extrínseca

SEC Fraco

Figura 7: Cenários Propostos. Fonte: Elaborado pelo Autor (2015)

Cenário 1: “O cérebro eletrônico faz tudo, mas ele é mudo”

O primeiro cenário recebe como nome um trecho da música de Gil “O cérebro

eletrônico faz tudo, faz quase tudo, mas ele é mudo”, o que retrata um ambiente onde o SEC

é bem estabelecido e há um alto grau de adoção de inovações tecnológicas.

Neste cenário o sistema de educação corporativa é forte, isto é, possui uma estrutura

bem consolidada, espaço físico adequado e espaço virtual como plataforma e infraestrutura

tecnológica bem estabelecida, possui apoio da alta administração da empresa, autonomia

Page 110: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

110

gerencial do gestor do SEC, processos educacionais maduros, bem implantados e coerentes

com o negócio, alinhamento estratégico entre os objetivos organizacionais e os objetivos do

SEC, geração de resultados para a organização e capacidade de avaliação de todo esse

processo educacional e dos resultados disso para o negócio, baseado em indicadores

tangíveis e adequados. Neste cenário há uma alta capacidade de adoção de novas tecnologias.

Há iniciativas educacionais inovadoras como a realização de games, a utilização de realidade

virtual e ambientes virtuais de aprendizagem; metodologias de ensino fazendo uso de flipped

classroom, blended learning adaptative learning, e-learning, MOOCs e etc.

Neste cenário, os benefícios que as novas tecnologias oferecem no que se refere a

capacidade de comunicação entre pessoas distantes, sistematização e dispersão da

informação e possibilidade de interação. Tal cenário permitirá escalabilidade, oferecendo

vantagens a grandes empresas que, com o grande número de funcionários, necessitam de

uma ação educacional em escala, com menor custo e maior eficácia. Haverá maior

flexibilidade de tempo para que os colaboradores possam trabalhar seus conteúdo de

educação corporativa. Neste cenário haverá convergência de tecnologias, o fortalecimento

do mobile learning e a utilização de múltiplas plataformas no ensino.

Entretanto, neste cenário a flexibilidade extrema poderá representar um risco para a

organização devido à ações trabalhistas que as empresas poderão enfrentar, justamente pelo

fato de seus funcionários terem a flexibilidade para trabalhar o conteúdo de educação

corporativa de casa ou em horários alternativos como a noite e nos finais de semana, e

possivelmente reivindicarem como horas extras trabalhadas e não remuneradas. Este cenário

traz consigo a angústia com a qual os colaboradores das empresas terão que lidar visto que

poderão se deparar com suas próprias limitações pessoais no que diz respeito à capacidade

de ter disciplina para lidar com um grande volume de ensino solitário, sem a presença de um

professor; a capacidade de automotivação para a continuação do curso até sua conclusão sem

se ter alguém cobrando por isso.

Cenário 2: “Não há de ser forte, há de ser flexível”

O segundo cenário recebe o nome de um famoso ditado chinês que diz: "Não há de

ser forte, há de ser flexível”. Este titulo remete a ideia de que, se o SEC é bem estruturado e

Page 111: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

111

bem alinhado com o negócio, gerando resultados para a organização, é possível que

sobreviva mesmo sem aderir às novas tecnologias que surgem a cada dia, seduzindo aos

setores mais diversos. Este cenário, apesar de tradicional, não é retrógrado.

Neste cenário há a mesma estrutura consolidada do SEC, conforme descrito no

cenário anterior, no entanto este considera o outro extremo da tendência de virtualização do

ensino, o que representaria um ambiente educacional puramente presencial. Trata-se de um

cenário que pode ser interessante para empresas menores ou com uma única base, sem

dispersão geográfica, já que apresenta a desvantagem de não ter escala no ensino. O que se

vê neste cenário é uma visão mais tradicional do ensino onde acredita-se que para haver

interação, a única possibilidade é o contato humano, o olho no olho, descartando-se

alternativas como o ensino colaborativo através de redes sócias e as possibilidades de

interação por chat e videoconferência. A capacidade de motivação do aluno aqui é maior

pois a figura do professor costuma estimular mais os estudantes que a automotivação. Ao

contrario do cenário anterior onde se tem a possibilidade de uma maior customização do

ensino, que torna-se viável por conta da virtualização, nesse caso pressupõe-se um ambiente

com maior padronização. Este é um cenário que, por ser menos ousado tecnologicamente,

resguarda a empresa, já que não dá margem à ações trabalhistas dos funcionários motivadas

pelo modelo do e-learning.

Cenário 3: “Denorex: Parece remédio, mas não é”

O cenário “Denorex: Parece remédio, mas não é” faz menção a uma publicidade dos

anos 80, e faz jus a este título por passar uma ideia que não se concretiza. Ou seja, apesar de

apresentar a tendência acentuada de inovações tecnológicas, não é capaz de aproveitar os

benefícios aí gerados por possuir um sistema de educação corporativo fraco.

Neste cenário a educação corporativa não está bem estruturada, as metodologias de

ensino não estão bem desenhadas e consolidadas, não há o apoio da alta administração e o

SEC acaba sendo proforma, estando de mãos atadas para realizar ações educacionais

consistentes. Neste cenário, a motivação para a criação de uma universidade corporativa, em

geral, será a moda e o pensamento “se todas as empresas tem, também temos que ter”, sem

haver um alinhamento estratégico entre o SEC e a estratégia da empresa, não trazendo

Page 112: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

112

resultados efetivos para o negócio e nem sendo capaz de avaliar que tipo de impactos estarão

sendo gerados.

Sendo assim neste cenário há a utilização de novas tecnologias, no entanto elas não

são aproveitadas em todo seu potencial. O professor da universidade corporativa será

desinteressante, fará apresentações em PowerPoint de forma monótona, deixando os alunos

cada vez menos estimulados e menos envolvidos na aula. Neste caso a interação entre os

participantes será quase nula, o produto educacional oferecido não será adequado ao público

alvo e acabará sendo cumprido apenas para “marcar ponto” sem gerar resultado algum. O

tipo de motivação entre os alunos será puramente extrínseco. Ela não será despertada pelo

processo, mas sim por algum tipo de prêmio como a possibilidade de uma promoção.

Cenário 4: “Hey Teacher, Leave the Kids Alone”

O cenário “Hey Teacher, Leave the Kids Alone”, título da música do grupo Pink

Floyd, remete à ideia de ensino na modalidade mais tradicional. Neste cenário, o sistema de

educação corporativa (SEC) se mostrará enfraquecido e desestruturado assim como o

apresentado no cenário anterior. Não haverá apoio da alta administração e nem autonomia

gerencial dos profissionais gestores do SEC. A educação corporativa se mostrará

completamente desvinculada da estratégia organizacional e não será capaz de comprovar

nenhum tipo de resultado prático ou transformação positiva para a organização a que serve.

Neste cenário, a motivação de uma empresa para a criação de uma universidade corporativa

estará ligada a questão do reconhecimento social, estando atrelada a fatores como a imagem

que se deseja transmitir para a sociedade e outras normas subjetivas, o que levará o SEC a

assemelhar-se, na prática, com o antigo centro de treinamento das empresas.

Este cenário se caracteriza por uma maior padronização do ensino, o que está longe

de ser centrado no aluno. Nele, há a crença de que as novas tecnologias representam uma

ameaça, como fossem algo que irá desviar a atenção do aluno, e tirar o foco do que seria o

mais importante, o conteúdo. Instrutores de SEC, neste cenário, serão avessos à tecnologia

como o uso de smart phones pelos estudantes, e não perceberão as formas de se aproveitar

recursos como o mobile learning por exemplo. Neste cenário, apesar do ensino ser

puramente presencial, as vantagens desta modalidade não serão bem aproveitadas, pois o

Page 113: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

113

contato humano não significará necessariamente a interação entre as pessoas. Nas salas de

aula das universidades corporativas apenas o professor terá a palavra, enquanto os alunos

escutarão passivamente, não havendo troca de experiências nem tampouco participação na

aula.

Page 114: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

114

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.1 CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROFISSIONAIS DA ÁREA

A partir da revisão de literatura sobre o tema da educação corporativa e das falas dos

entrevistados, este estudo busca oferecer insights sobre como os sistemas de educação

corporativa vêm lidando com as novas tecnologias. Sendo assim, as informações podem

contribuir com o meio profissional por apresentar diferentes perspectivas de um fenômeno

que ainda está em processo de desenvolvimento e transformação, não havendo ainda

respostas fechadas ou verdades absolutas relativas ao ambiente de negócios em questão.

Além disso, as empresas selecionadas representam importantes players no mercado, o que

permite que o estudo seja enriquecido com as percepções de profissionais–chave de algumas

das principais empresas brasileiras e multinacionais com atuação no Brasil, verificados à luz

da revisão de literatura consolidada para a pesquisa.

É possível a elaboração de recomendações aos profissionais de sistemas de educação

corporativa - que podem utilizá-las para o aperfeiçoamento de suas atividades – a partir da

observação dos fatores que representam as motivações organizacionais para a criação de

uma universidade corporativa e dos fatores críticos de sucesso dos sistemas de educação

corporativa; do entendimento de como os SECs se encaixam na estrutura da empresa e como

se relacionam com os stakeholders internos e externos à organização; da identificação dos

fatores de adoção e restrição à adoção de tecnologias e das tendências e incertezas neste

ambiente de negócios; e do mapeamento do ecossistema e desenho de possíveis cenários.

Desta forma, a pesquisa oferece as seguintes recomendações aos profissionais da área:

1. A motivação organizacional para a criação de uma UC precisa ser estratégica, e o

objetivo de tal iniciativa deve ser em primeiro lugar a otimização dos resultados do

negócio. A UC que é criada simplesmente para acompanhar as tendências da moda

empresarial costuma não ser eficaz.

Page 115: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

115

2. É preciso lembrar que a implantação de uma UC envolve um processo gradual e

continuo que precisa ser muito bem planejado e revisado periodicamente para que seu

alinhamento estratégico com o negócio seja garantido.

3. A autonomia gerencial é um ponto importante que contribui de maneira significativa

para que um SEC tenha maiores possibilidades de ação e logo, seja capaz de gerar

melhores resultados para a empresa.

4. O apoio da alta administração também é um ponto de grande importância a ser levado

em consideração na estruturação de um SEC. A falta deste apoio fragiliza a educação

corporativa reduzindo-a a mais umas das atividades internas e dificultando seu papel

estratégico na empresa.

5. A customização do ensino é uma tendência que pode ser aproveitada pelos gestores de

SEC por demonstrar melhores resultados no aprendizado, já que proporciona a

adaptação do ensino a cada perfil de colaborador e a cada tipo de cultura.

6. A interação é um ponto que merece muita atenção na educação corporativa. Foi

apontado como de extrema relevância a possibilidade de troca de experiências entre

colaboradores e o aprendizado construído conjuntamente. Independentemente de se

tratar de educação corporativa presencial ou virtual, a interação é sempre e necessária

para o desenvolvimento pessoal e organizacional.

7. A modalidade de ensino-aprendizagem blended se mostrou uma excelente alternativa

que preza pelo equilíbrio, conciliando as vantagens tanto do ensino presencial quanto

do virtual, fazendo uso das novas tecnologias sem se reduzir somente a elas.

8. É de grande importância a questão de se mostrar ao aprendiz a aplicabilidade do que

foi aprendido nos sistemas de educação corporativa. Só faz sentido haver educação

corporativa se os resultados de tal ação puderem ser sentidos pelo colaborador, pelo

gestor da unidade de negócios, pelo gestor do SEC e pela alta administração da

empresa.

Page 116: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

116

9. A capacidade de avaliação de resultados mostrou-se como um grande desafio para os

gestores de SEC, merecendo assim uma atenção especial no planejamento de

indicadores e na execução dos instrumentos de avaliação.

10. As parcerias estabelecidas com universidades mostraram-se extremamente

enriquecedoras, logo devem ser potencializadas.

11. Empresas globais em geral correm o risco de ter o conteúdo de educação corporativa

pouco adaptado às diferentes localidades. Este é um ponto importante que merece

atenção, para que o processo educativo seja eficaz em empresas desta natureza. Além

disso a educação corporativa mostra-se como uma ferramenta de importância única

para a transmissão da cultura da empresa e valores.

12. Desafios de aceitação das antigas gerações em relação ao uso de novas tecnologias na

educação corporativa são quase inevitáveis. Sendo assim, precisam ser bem

trabalhados para serem minimizados. Este público não deve ser esquecido pelos

gestores dos SEC para que este não se torne um gargalo na adoção de inovações no

processo de aprendizagem empresarial.

13. Há pontos que são aparentemente superficiais e irrelevantes, e que em geral não são

tratados na literatura sobre educação corporativa, mas que aparecem de forma

recorrente quando discutidos com profissionais-chave do área. Questões como “gostar

de coffee break e de realizar viagens ganhando diárias extras” pode ser um fator

gerador de resistência para a adoção de tecnologias de ensino a distancia ou

comunicação a distancia.

14. Por estarmos tratando de Brasil, é importante atentar para as características culturais

deste pais. Sendo assim, faz-se necessário desenvolver a capacidade de disciplina e

continuidade dos funcionários, afinal a flexibilidade proporcionada pelas novas

tecnologias pode trazer este tipo de desafios comportamentais.

15. Por fim, um risco que se mostrou relevante para empresas foi a possibilidade de se

gerarem ações trabalhistas relativas ao tempo que o funcionário dedica ao aprendizado

Page 117: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

117

corporativo fora da empresa. Este é um ponto que merece atenção especial dos gestores

de empresas.

Page 118: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

118

6.2 CONTRIBUIÇÕES PARA OS PESQUISADORES

Este estudo buscou contribuir para a compreensão do universo da educação

corporativa e o entendimento de como este vêm lidando com as novas tecnologias. Acredita-

se que, apesar das limitações inerentes ao método de pesquisa qualitativa com entrevistas

em profundidade e roteiro semiestruturado, o presente estudo irá estimular o

aprofundamento do tema por outros pesquisadores, servindo de alicerce para pesquisas

futuras.

1. Os trechos extraídos das entrevistas realizadas com profissionais chave

podem ser de grande valia para que pesquisadores do tema possam contrastar

a teoria adquirida na literatura existente e a prática vivenciada no dia-a-dia.

2. Além disso, será possível que pesquisadores tenham uma percepção dos

desafios vivenciados por sistemas de educação corporativa de ordem mais

prática, que não constam na literatura disponível.

3. Os pesquisadores de temas mais amplos como as novas tecnologias ou a

educação poderão ter, a partir deste trabalho, uma noção deste modesto, mas

promissor, setor de sistemas de educação corporativa.

4. A elaboração do ecossistema da educação corporativa no Brasil poderá

oferecer aos pesquisadores uma visão geral e sistêmica de como este jovem

ator de apenas 15 anos se relaciona com outros atores deste meio.

5. A elaboração de cenários futuros possíveis para este ecossistema nos

próximos 10 anos pode servir de base sobre a qual novas análises poderão ser

realizadas.

Page 119: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

119

O presente estudo buscou concentrar sua análise na compreensão de como vêm

ocorrendo a adoção de novas tecnologias por sistemas de educação corporativa no Brasil.

No entanto, este é um movimento que acontece no mundo inteiro e, provavelmente, com

intensidade muito maior nos países desenvolvidos como EUA e países da Europa. Sendo

assim, seria muito interessante que fosse realizada pesquisa semelhante com universidades

corporativas e sistemas de educação corporativa nestes países. Um estudo neste sentido seria

enriquecedor, inclusive, por permitir a comparação com os SECs brasileiros e internacionais

com unidades no Brasil.

Outrossim, as conclusões obtidas a partir da pesquisa qualitativa realizada através de

entrevistas em profundidade com roteiro semiestruturado poderiam ser fortalecidas se

validadas estatisticamente através de uma abordagem complementar quantitativa, a qual

contribuiria com a verificação das conclusões obtidas. O universo de universidades

corporativas hoje gira em torno de 500 no Brasil, o que facilitaria a realização de uma

pesquisa quantitativa.

Page 120: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

120

7 BIBLIOGRAFIA

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Page 126: Os Sistemas de Educação Corporativa e Universidades

126

ANEXO 1 - Roteiro de Pesquisa – Educação Corporativa

1. Fale um pouco de sua trajetória profissional no setor de educação.

Perfil

Competências / atribuições / responsabilidades

2. Fale um pouco sobre esta instituição e a criação da universidade corporativa.

História, fundação

Definição de UC (para o entrevistado)

Link com a estratégia

Posicionamento: Redução de custos x Criação de valor

Modelo de negócio da Universidade Corporativa

Tecnologias / EAD

Plataformas

Convênios / Parceiros

Relação com o Setor

Relação com Órgão Regulador

Contrastes: na Teoria x na Prática

3. Em sua opinião, que grandes transformações ocorreram nesta universidade

corporativa nos últimos anos?

De onde vieram as mudanças

Migração para EAD

Link com a estratégia

Foco: curto x longo prazo

4. Qual o impacto dessas transformações para a empresa? E para os funcionários?

Pontos positivos e negativos

Impacto no ambiente empresarial

Impacto na cultura organizacional

Fatores críticos

Mensuração dos resultados (learning analytics)

Drivers e Gatekeepers

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5. Quais os maiores desafios para a educação corporativa?

Hoje (Motivação do aluno? / Tipo de conteúdo –expositivo x

comportamental?)

Futuro (Tendências/ Incertezas)

6. Como seria a universidade corporativa ideal, em sua opinião? O que impede as

universidades corporativas de chegarem neste ideal? E a sua universidade

corporativa?

7. Como você vê a introdução das novas tecnologias no setor da educação

corporativa? Quais as iniciativas da sua universidade corporativa? (Explorar

critérios para escolha de tecnologias)

8. Pergunta do gênio: “Se você encontrasse uma lâmpada mágica e tivesse direito a

três pedidos para sua Universidade Corporativa, quais seriam estes pedidos?”.