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Os Sete Ramos de Oliveira OS SETE RAMOS DE OLIVEIRA 1

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Os Sete Ramos de Oliveira

OS SETE RAMOS DE OLIVEIRA

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Os Sete Ramos de Oliveira

Esta obra foi registrada no Escritório de Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional sob o n.

392.715, livro 730, folha 375, em novembro de 2006, e está protegida nos termos da Lei 5.988, de 14 de

dezembro de 1973, com as alterações que lhe deu a Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, assim como pelas

convenções internacionais sobre direitos autorais das quais o Brasil é signatário. A cópia não autorizada, no

todo ou em parte, constitui crime previsto nesses documentos legais.

Apresentação

Este livro contém três obras distintas.A primeira é o conto que lhe dá o nome - uma

aventura vivida por seis primos que buscam desvendar os enigmas que lhes darão acesso à misteriosa herança deixada pelo avô.

A segunda é uma edição revisada das poesias que já foram publicadas junto com meu conto anterior - O Outro Nome da Rosa.

A terceira é mais um buquê de versos - mais de cinquenta poemas, todos inéditos.

Quem já leu O Outro Nome da Rosa lembrar-se-á, ao ler o capítulo Manhã de terça, do episódio A Dança das Luzes. De fato, aquele conto nasceu quando fiquei "empacado", por muito tempo, no arco-íris que apareceu inopinadamente na biblioteca do barão...

Niterói, primavera de 2011Rodolfo Barcellos

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Os Sete Ramos de Oliveira

SumárioOs Sete Ramos de Oliveira .........................................7

Dedicatória e Agradecimentos ....................................7À guisa de prefácio às edições virtuais anteriores .. .9Prefácio à primeira edição impressa ........................11Prólogo ..........................................................................13Tarde de domingo – O testamento ..........................15Manhã de segunda – Na biblioteca .........................21Tarde de segunda – Quando o Sol nascer ...............27Manhã de terça – Um arco-íris diferente ................35Interlúdio ......................................................................45Tarde de terça – Como mover um planeta .............47Manhã de quarta – Elisa dá xeque-mate .................51Tarde de quarta – Os sete segredos ...........................63Epílogo ..........................................................................73Apêndice 1 – Palavras de pouco uso .......................75Apêndice 2 – Como fazer uma grade de código ...79Apêndice 3 – Obras e autores citados .....................83Apêndice 4 – Quando e onde? ..................................87

Ego InVerso ......................................................................89Dedicatória .....................................................................91Prefácio ..........................................................................93Preito a una Diosa .......................................................95Quo Vadis? ....................................................................99Deusas ..........................................................................103Rimas para Mãe .........................................................105Ricas Estrelas ..............................................................109Bodas de Pérola ..........................................................111Elegia para Hod .........................................................113Sassevasá ......................................................................115Milene, Milene, Milene ............................................117

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Os Sete Ramos de Oliveira

Luzes da Ribalta .........................................................119Comédia ......................................................................121Eternidade ...................................................................123Pra você... ....................................................................127Inocência .....................................................................129Plágio ...........................................................................131Colcha de Retalhos ...................................................135Ciúme ..........................................................................143Estudo em Si Sustenido Maior ...............................147Estudo em Mi Sustenido Maior .............................149Cores e Flores .............................................................153A Música das Esferas ................................................157De Aquário para Libra .............................................161

Egos DiVersos ................................................................163Dedicatória....................................................................163Prefácio...........................................................................165Sou Romântico? .........................................................167Acalanto para Estrelas ..............................................171Presença Eterna ..........................................................173Tsunami .......................................................................175Solidão .........................................................................177Lágrima ........................................................................179Ode à Noite ................................................................181Lerê ...............................................................................185Celebração e Epitáfio ...............................................187Tennyson - uma tradução .........................................191De Mim para Si .........................................................193Sem Verbos ...................................................................195Céu e Silêncio ............................................................197Glória ...........................................................................199Para uma mulher triste .............................................201Bruna ...........................................................................203Namorados .................................................................205

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Propósitos ...................................................................211Quadrângulo ..............................................................213Inverno ........................................................................215Mellíss ..........................................................................219Estado de Graça .........................................................223Acácia ...........................................................................225Poetismos ....................................................................227O Sebinho e a Bailarina ...........................................233Em Verso e Prosa .......................................................235Saudade ........................................................................237Ma 31 de Julho ..........................................................239Alma & Graça .............................................................241É BIG! É RÊ! - por Rodolfo e Milene ...................243Para Rê .........................................................................247Minha Pátria ..............................................................249Se... ................................................................................251Mosaicos ......................................................................255

Similia Similibus ..................................................255Quem? .....................................................................256Para Jana .................................................................257Inocência (sobras do poema) .............................257Liberdades Poéticas ..............................................258Encíclica em crítica enclítica .............................259Ser ou estar? ...........................................................259O Coração e a Flecha ..........................................260Intercâmbio Cultural ...........................................261

Primavera ....................................................................263Magia e Bruxaria .......................................................265

Magia ......................................................................265Bruxaria ..................................................................268

A Minha Poesia .........................................................271Diálogo InVerso .........................................................273Comentário em Soneto ............................................277

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Poder Encontrar ........................................................279Duelo de Indrisos ......................................................281Milene Poeta ...............................................................287

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Os Sete Ramos de Oliveira

Os Sete Ramos de Oliveira

Dedicatória e Agradecimentos

ParaAna Helena e Daniel,Luiz Cláudio, Ricardo e Beatriz,e, é claro, paraMaria Helena.Deles, roubei horas preciosas para escrever esta

história.

Agradecimentos especiais aRafaello e Gerusa.Deles, recebi o incentivo para roubar horas

preciosas...

Niterói, dezembro de 2006

Agradeço, também, aos amigos Jair e Leonel, leitores primeiros desta obra - quando ainda em edição virtual - que não pouparam comentários elogiosos - moeda tão mais valiosa por ser cunhada no metal precioso da amizade sincera. (O prefácio a esta edição impressa me foi gentilmente presenteado pelo Jair, em retribuição ao prefácio que fiz à sua excelente obra A Fonte e as Galinhas).

Finalmente, agradeço a Georges e Vânia, da editora CBJE, pelo apoio irrestrito.

Niterói, setembro de 2011Rodolfo R. Barcellos

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Os Sete Ramos de Oliveira

À guisa de prefácio às edições virtuais anteriores

(Mensagens de E-Mail dos meus amigos e primeiros leitores)

From: Jair e Bran LopesTo: RodolfoSent: Saturday, December 26, 2009 3:38 PMSubj: RE: Um conto

Barcelão,Sensacional! Gostei imensamente de sua

brincadeira com o número sete numa sequência imaginosa de suspense que prende a atenção do leitor de forma inteligente e dinâmica. O aproveitamento de xadrez, astronomia, aritmética, mitologia e outras matérias estão bem de acordo com teus conhecimentos universais, parabéns. Por acaso sou adepto de charadismo e enigmismo desde pequeno, atualmente (desde 1996) faço parte do "Círculo Enigmístico Paulistano" CEP, confraria que reúne os melhores enigmistas do Brasil e de Portugal, daí a empolgação que me invadiu a ler teu conto. No momento em que li o primeiro enigma o resolvi e senti que estava diante de um grande texto, aliás, digno de tua pessoa. Entendo que esse, se já não o foi, deve ser impresso em livro para gáudio dessa juventude que está aí, porque me parece uma estória bem ao gosto de jovens que leem. Se você tiver outros textos que queira compartilhar serei teu leitor atento da primeira fila. (...) Abraços, JAIR

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Os Sete Ramos de Oliveira

De: Leonel Rodrigues

Enviada: Segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Para: R. R. Barcellos

...enviei o conto ao Jair, que, por sua vez, já havia me enviado “Os Sete Ramos de Oliveira”, uma instrutiva história juvenil que deveria ser leitura recomendada para a geração shopping / TV / lanhouse! Inclusive resgatando Malba Tahan!

Abraço sincero do seu amigo e fã,Leonel Rodrigues

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Os Sete Ramos de Oliveira

Prefácio à primeira edição impressa

Não é sem assombro e orgulho que assumo a honrosa missão de prefaciar este que é o melhor livro de ficção para jovens e adultos, em língua portuguesa, da década.

“Sete Ramos de Oliveira” é uma estória que demonstra o potencial em estilo, conteúdo e domínio da técnica narrativa do escritor inédito R. R. Barcellos, leitor contumaz e admirador de carteirinha de Isaac Asimov e Arthur C. Clarke, o que, talvez, justifique sua acurácia em desenvolver um conto tão fascinante.

A trama da estória é conduzida de maneira leve e cativante num crescendo de mistérios e enigmas que se sobrepõem e interligam de uma maneira que o leitor fica ansioso pelo próximo passo. Lembra o melhor da literatura infanto juvenil de Orígenes Lessa, sem demérito para qualquer dos dois.

O leitor será compulsado a entrar no clima descontraído e saudável de uma antiga casa de fazenda onde os jovens estão passando férias, e terá oportunidade de partilhar passo-a-passo uma narrativa fértil em informações científicas escritas em idioma escorreito, prova de que o autor tem intimidade com as ciências e domina o vernáculo, sem perda de qualidade em precisão técnica e gramatical.

Como disse no início, fiquei assombrado porque o autor, além de ser meu amigo, sempre foi meu alter ego, o que resulta eu ter por ele o maior respeito intelectual e a responsabilidade de não “fazer feio” à sua frente. Fiquei orgulhoso porque sua obra é de uma qualidade tal que merecia um autor consagrado ou um talentoso ficcionista para carregar esse piano e não um beletrista diletante

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como este que vos escreve.Fiquem felizes, a estória “Sete Ramos de Oliveira”

vale cada centavo que custa e, se nada custou, vale seu peso em informações preciosas e horas de entretenimento deleitosas. Mergulhem de cabeça num mundo ficcional que, além de boa literatura, traz dois enigmas não explicitados, que desafiarão até mentes mais argutas: Qual a data da ocorrência dos fatos e onde se localiza a casa?

Boa leitura a todos!

JAIR C. LOPESFloripa, julho de 2010.

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Prólogo

uando Deodoro proclamou a República, o Dr. Ignacio Fonseca de Oliveira, Barão das Sete

Quedas, monarquista extremado, correu ao cartório de um notário seu amigo e cortou indignado o "Fonseca" de seu próprio nome. Não podia admitir a infâmia de ter que assinar-se com o mesmo "Fonseca" daquele marechal autoritário, golpista e traidor, que depusera do trono seu benfeitor e amigo pessoal, o Imperador D. Pedro II. Sua revolta cresceu ainda mais, quando a família imperial foi banida de sua querida pátria para um exílio indesejado. Finalmente, aos primeiros rumores de que os títulos de nobreza seriam anulados, voltou inconformado ao cartório e quis incorporar o título do baronato ao nome de família. Cedendo com relutância aos argumentos do amigo tabelião, descartou o "Quedas", mas fez questão de manter o "Sete", fosse por superstição ou por teimosia, passando a assinar-se "Ignacio Sete de Oliveira".

Q

Seu único filho manteve a tradição da família. Casou-se com uma prima distante, também de antepassados da nobreza, de sobrenome Ramos, e assim surgiu a família Sete Ramos de Oliveira, cujos patriarcas até hoje continuam a ser tratados, nos círculos mais chegados, pelo título de "barão". A família adaptou o brasão antigo ao novo nome, trocando a representação das sete cascatas por ramos de oliveira sobre o mesmo campo branco. E a mística do número sete continuou a ser cultivada pelos descendentes.

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Tarde de domingo – O testamento

ra o segundo dia das férias de inverno dos primos. Como acontecia todos os anos, seus pais os

haviam levado à velha mansão colonial do avô. As crianças consideravam-na sua colônia de férias particular, pois o velho Dr. Gustavo, que todos chamavam de "barão", dava-lhes inteira liberdade dentro de seus domínios. E as férias já estavam atrasadas, pois a escola resolvera prolongar o período de aulas por uma semana, para repor dias letivos perdidos por diversos motivos.

E

Mas nesse ano, eles não estavam com ânimo para brincadeiras e aventuras. O avô falecera na quinta-feira anterior e fora enterrado na antevéspera – uma sexta-feira 13, dia agourento, em que foram dispensados do último dia de aula em suas escolas para que pudessem comparecer ao sepultamento.

Nesse frio fim de tarde, reuniram-se todos na sala de estar da mansão, a pedido do Dr. Jurandir, amigo, advogado e testamenteiro da família, para a leitura do testamento do barão.

Habituados às esquisitices e excentricidades do falecido, imaginavam que última surpresa ele lhes reservara. Não estavam muito preocupados com quanto caberia a cada um; sabiam que a herança não era nenhuma fortuna, pois durante sua vida o velho patriarca repassara aos filhos quase tudo o que possuía. Formaturas, noivados e casamentos dos filhos, nascimentos dos netos e aniversários sempre eram ocasiões para grandes presentes e dotes principescos, distribuídos com tal senso de justiça e tal dose de diplomacia que nenhum deles se sentira prejudicado. Reservara para si apenas aquela velha mansão ancestral,

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de onde raramente saía; para manter essa mansão, com apenas três empregados, fechara-lhe o sótão, a biblioteca, duas salas e alguns quartos. Vivia da fruticultura de dois pequenos sítios, o que lhe permitia uma vida simples e modesta. Adorava os netos, e fazia da mansão uma espécie de núcleo patriarcal, no qual as crianças reinavam absolutas nos feriados prolongados e nas férias escolares, ocupando os quartos normalmente fechados. Perdera a esposa no terceiro parto e dedicara aos descendentes o resto de sua vida.

O Dr. Jurandir, sem muitas formalidades, olhou ao redor. Todos estavam presentes. Rosa, a filha mais velha, sentava-se numa cadeira ao lado do marido Alexandre. Seu filho tinha o mesmo nome do pai. Alex, com onze anos de idade, inteligente e ponderado, estava com os primos, que o consideravam como um líder entre eles.

O segundo filho do barão, Eduardo, era astrônomo. Amparava no sofá a esposa Anabella, grávida de oito meses. Suas filhas gêmeas, Duda e Bella, tinham nove anos. Ladeavam o primo Alex, que pouca atenção lhes dava no momento.

Seria difícil encontrar duas gêmeas tão diferentes entre si. Bella era determinada, impulsiva e mordaz, enquanto Duda era tímida, sonhadora e meiga. Ambas tinham herdado do pai o gosto pelo estudo dos astros, mas Bella preferia a astronáutica e acompanhava com interesse as notícias sobre as sondas que exploravam os limites do Sistema Solar, enquanto Duda gostava mais da astrologia clássica, com seus sete planetas e sua magia peculiar, e pouca atenção dava a qualquer astro que orbitasse além de Saturno. Bella não ligava para a história da família e achava que as tradições envolvendo o número sete não passavam de superstição barata, mas

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Duda defendia com ardor essas mesmas tradições, invocando a Cabala e a Numerologia em sua defesa.

Charles, com dez anos, Flávio com sete e Elisa com cinco, eram filhos de Elisângela e de Carlos. Charles e Flávio eram mais parecidos entre si do que as primas gêmeas. Ambos gostavam de jogos de damas, dominó, gamão e outros do mesmo tipo. A irmã Elisa era a queridinha de todos. Vivaz e esperta, tinha uma memória visual excelente. A mãe era a filha caçula do barão e ainda tinha os olhos vermelhos de tanto chorar. Para ela, o pai sempre fora também a mãe que não conhecera.

Também estavam presentes os empregados. Antônio, jardineiro e motorista, e sua mulher, Graça, a cozinheira, lavadeira e passadeira, sentavam-se em cadeiras. Dona Iolanda, governanta, arrumadeira e faxineira, preferira ficar de pé ao lado da mesa.

O testamento, cuja leitura foi feita em voz pausada pelo Dr. Jurandir, dividia entre os filhos, equitativamente, todos os bens restantes do barão, à exceção de generosos legados aos três empregados. Isso não foi surpresa. A surpresa veio com a leitura da última cláusula:

"O cumprimento de todas as cláusulas anteriores fica condicionado à entrega, aos meus netos, da minha mensagem de despedida, contida no envelope em anexo. Quando eles tiverem lido e entendido a mensagem, meu espólio poderá ser distribuído. Até lá, nomeio o Dr. Jurandir, meu amigo e testamenteiro, como inventariante e curador do espólio".

A voz do advogado estava um pouco insegura, e ele mostrou aos circunstantes um grande envelope pardo. Em seguida, apresentou o testamento aos filhos do barão.

– Por favor, vejam que está tudo escrito de próprio punho pelo meu amigo. Estou disposto a renunciar aos

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cargos de curador e inventariante, se quiserem.– Não diga bobagens, Jurandir – falou Eduardo. –

Você é amigo de todos nós e ninguém aqui vai dispensá-lo desses cargos. Mas o que tem nesse envelope, afinal?

O advogado, ainda vermelho, disse:– Não sei. Ele me entregou o envelope selado, duas

semanas atrás, e não quis me dizer o que continha.– Bem, está na hora de sabermos. Podemos abri-lo?– As crianças são menores de idade. Vocês têm todo

o direito de abri-lo e ler a tal mensagem, antes de o entregarem às crianças. E podem mesmo, se quiserem, proibir seus filhos de ter acesso ao documento antes da maioridade. Só não podem destruí-lo.

As crianças tinham acompanhado com crescente interesse a conversa dos adultos. Bella não se conteve, e exclamou:

– O vovô deixou isso para nós! Queremos saber o que é!

– Calma, Bella – cortou a mãe. – Já vamos resolver isso.

Bella cruzou os braços, emburrada, mas ficou em silêncio. Os pais cochicharam entre si, e Rosa finalmente anunciou:

– Temos muita confiança no nosso pai. Por favor, Jurandir, entregue o envelope às crianças.

A meninada se alvoroçou. Bella adiantou-se e pegou o envelope. Abriu-o com impaciência, mas também com cuidado. Do envelope, extraiu uma folha de papel e uma chave. Mostrou-os aos primos. Durante um minuto, discutiram em surdina. Por fim, Bella levou o documento aos pais:

– Não sabemos o que isso quer dizer. Vocês sabem?No manuscrito do avô, lia-se:

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Essa é a herança que lego a meus queridos netos.

O primeiro segredo é uma palavra. A palavra está na biblioteca.

A palavra guarda o segundo segredo. Se vocês souberem as letras, saberão a palavra que indica o segredo. As frases escondem as letras e as letras formam a palavra.

A sétima é a última da adivinhaçãoA segunda é a segunda da segundaA sexta é a sexta da terceiraA quarta é a segunda da lógicaA terceira é a primeira da listaA primeira é a terceira da terceiraA quinta é a primeira do grêmio

Os pais ficaram perplexos. Ninguém tinha ideia do que poderiam significar aquelas frases obscuras. Pediram ajuda ao Dr. Jurandir. Depois de um exame cuidadoso do documento, este sacudiu a cabeça:

– Não tenho a menor ideia do que isso quer dizer. Mas aposto que a chave é da biblioteca.

Foram à porta da biblioteca, e a chave serviu. Entraram e acionaram o interruptor ao lado da porta, sem muitas esperanças. Mas a luz jorrou do antigo lustre que pendia no centro do teto, e puderam ver que a biblioteca estava bem conservada; os móveis quase sem poeira, a mesa central com alguns livros espalhados, as imensas estantes cheias de volumes, o grande relógio de pêndulo, agora silencioso, a velha lareira com alguns ornamentos sobre ela, uns poucos quadros nos raros

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Os Sete Ramos de Oliveira

espaços entre as prateleiras. Alex disse:– Não parece que está abandonada há tanto

tempo...– Não – replicou Rosa. – Mas está na hora de irmos

jantar, e depois direto para a cama. Já passa das nove, e vocês acordaram muito cedo hoje. Além do mais, a tia Elisângela e o tio Alexandre têm que trabalhar amanhã, e vão sair cedinho. Carlos e Eduardo também vão sair. Deixem tudo como está, e amanhã vocês podem continuar a pesquisa, detetives!

Foi um custo, mas depois de várias reclamações, as crianças foram se preparar para a janta. A chave da biblioteca ficou com Dona Iolanda, junto com as demais chaves da mansão, e o Dr Jurandir prometeu voltar na manhã seguinte, para auxiliar as crianças no próximo passo, se fosse preciso. Também queria aproveitar para colocar em ordem os documentos do amigo recém-falecido.

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Manhã de segunda – Na biblioteca

cordaram cedo, no dia seguinte. O Dr. Jurandir chegou após o café da manhã, e as crianças logo

o cercaram, insistindo em começar imediatamente uma busca pela biblioteca. O velho advogado pediu a chave a Dona Iolanda e entregou-a às crianças, junto com o envelope que continha o manuscrito do avô. Recomendou-lhes que tivessem cuidado "para não destruir pistas", conforme disse, na sua tarefa de detetives, e avisou que estaria no escritório da mansão, se precisassem de ajuda.

A

As crianças foram correndo para a biblioteca, enquanto os pais e o advogado conversavam na sala. Carlos, Eduardo, Elisângela e Alexandre prepararam-se para sair. Rosa e Anabella, que ficariam na mansão, chamaram Dona lolanda e Graça e combinaram com elas os detalhes do almoço, do lanche e da janta, conforme os horários em que retornariam os que estavam de saída.

Enquanto isso, na biblioteca, os primos estavam debruçados sobre o "testamento" do avô, discutindo.

Bella resmungava:– Segunda da segunda da segunda! Isso não quer

dizer absolutamente nada!Charles a apoiou:– E sexta da sexta da terceira? Nem Aristóteles

poderia achar lógica nisso!Duda, que conhecia um pouco da história grega,

disse:– Falando nisso: A quarta é a segunda da lógica.

Quantos volumes sobre lógica Aristóteles escreveu?Bella retrucou:– Sei lá! Mas mesmo que você fosse o próprio

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Os Sete Ramos de Oliveira

Aristóteles, não há como descobrir o que é a tal de primeira da terceira da terceira.

Duda perguntou:– A quinta é a primeira do grêmio? Que grêmio?

Será que vovô era sócio de alguma agremiação?Charles respondeu:– Não que eu saiba. Mas se a primeira da lista é a

terceira, é melhor a gente começar a procurar uma lista. Acho que tem algumas aqui na biblioteca do vovô.

Bella, insatisfeita, concluiu:– Bem, de qualquer modo acho que teremos que

deixar a tal de sétima para o final, já que ela é a última da adivinhação.

Enquanto os primos discutiam, Flávio e Elisa perambulavam pela biblioteca. Flávio trouxera uma grande lupa e examinava cada detalhe dos móveis com um ar perscrutador, enquanto Elisa folheava os livros sobre a mesa.

Alex permanecia silencioso, numa meditação profunda. De vez em quando, fazia algumas anotações numa folha de sua agenda. Mas as palavras de Bella, ditas em voz inconformada, o despertaram de repente:

– A sétima é a última! É isso!Os outros o olharam ansiosos. Duda adiantou-se:– Descobriu a solução? Não acredito.Alex, excitado, respondeu:– Não, ainda não. Mas achei o fio da meada.

Vejam: são sete frases. A sétima é a última. Vocês não percebem?

Os outros olharam para ele, sem entender.– A sétima é a última! repetiu Alex. – É a última!Bella não se conteve:– Ou você explica direitinho o que descobriu ou

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vou te dar sete bolachas, da primeira à sétima. E se não resolver, a sétima não vai ser a última!

Alex respirou fundo:– Bem, as frases estão misturadas, mas indicam sua

própria ordem. Acho que devemos por as frases em sua ordem natural: primeira, segunda etc, até à sétima, que é a última!

Escreveu rapidamente numa página nova de sua agenda e mostrou aos primos o resultado:

A primeira é a terceira da terceiraA segunda é a segunda da segundaA terceira é a primeira da listaA quarta é a segunda da lógicaA quinta é a primeira do grêmioA sexta é a sexta da terceiraA sétima é a última da adivinhação

Entusiasmada, Bella sapecou um beijo no primo, mas perguntou:

– Será que não poderia ser colocado em ordem pela segunda palavra? Deixa ver: terceira, segunda, primeira, segunda, primeira... não. Não dá. Acho que você está no caminho certo.

Flávio murmurou:– Pra mim continua sendo grego.Elisa disse, otimista:– Vamos ver se a gente esqueceu alguma coisa...Charles deu seu palpite:– Só aquela frase inicial, sobre palavras e letras.Alex pediu silêncio. Estudou atentamente as frases

em sua nova ordenação. Os outros estavam mudos, mas ansiosos e expectantes. Lentamente, um sorriso se formou

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nos lábios de Alex, que, de repente, soltou um grito de triunfo:

– Já sei! Achei! Eureca!Bella bateu palmas:– Beleza! Mas diz logo o que já sabe, o que achou e

o que eurecou. Fala!– Bem, temos aqui um jogo de frases, palavras e

letras, certo?– Certo, mas e daí?Alex explicou, mostrando o documento deixado

pelo avô:– "As frases escondem as letras e as letras formam

as palavras". Bem, as frases se ordenam naturalmente, por si mesmas. Cada uma traz a indicação correta de sua posição relativa, da primeira até à sétima. Certo?

Bella retrucou, a impaciência crescendo:– Vai em frente! Isso a gente já sabe!Alex continuou:– Se as frases já estão ordenadas, temos que

descobrir que letra cada uma esconde. É também uma questão de ordenação, não vêem?

Bella perdeu o restinho de paciência:– Você quer levar uma bolacha? Trate de dizer o

que você descobriu, já, já!De novo, Alex respirou fundo:– Está bem. A primeira frase é: "A primeira é a

terceira da terceira". Como estamos falando de letras e palavras, isso quer dizer que a primeira letra do enigma é a terceira letra da palavra "terceira". Bem, qual é a terceira letra da palavra "terceira"?

– T-E-R... É a letra R! – exclamou Duda.– Certo. Depois vem "a segunda é a segunda da

segunda". Portanto, a segunda letra do enigma é a

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segunda letra da palavra "segunda", ou seja...– A letra E! – falaram Bella e Charles ao mesmo

tempo.– Já temos R-E; depois vem a primeira letra de

"lista", o que dá R-E-L, e a próxima é a segunda de "lógica"...

Alex não teve chance de continuar. Quase ao mesmo tempo, todos exclamaram:

– Relógio! O relógio! É claro!Bella quase sufocou Alex num abraço, enquanto os

outros faziam a maior algazarra.Na biblioteca, havia três relógios: um de parede,

moderno, a quartzo, que funcionava com uma pilha pequena; outro era um velho despertador suíço, que outrora estridulava no quarto do avô pela manhã, mas agora jazia inerte sobre a lareira como um simples adorno, marcando sempre a mesma hora.

Porém ninguém se importou com estes. Sabiam, instintivamente, que "o relógio" era o grande e antigo carrilhão de pêndulo, encostado na parede oposta à lareira, também parado desde tempos imemoriais. Lembravam-se que o avô jamais permitira que fosse consertado. Sua porta envidraçada, que dava acesso ao mostrador e ao mecanismo, permanecia trancada a chave, e ninguém tinha a menor ideia de onde poderia estar essa chave.

Depois de uma busca frenética, desistiram de encontrar a chave do velho carrilhão. Bella queria arrombá-lo, mas Alex dissuadiu-a a custo, argumentando que isso poderia destruir alguma pista importante. Os outros o apoiaram, mas também estavam impacientes.

Anabella apareceu na porta da biblioteca:– Vamos, gente, está na hora do almoço. Vão se

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lavar. A Graça preparou aquela macarronada especial. Temos goiaba em calda para a sobremesa.

Graça, a cozinheira, era uma espécie de deusa dos sabores para as crianças. Sua macarronada era irresistível e a goiaba em calda não tinha rival. Todos foram se preparar apressadamente para o almoço.

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Tarde de segunda – Quando o Sol nascer

evorada a macarronada, saboreada a sobremesa e escovados os dentes, retornaram à biblioteca.

Alex voltou a estudar suas anotações.D

– O primeiro segredo é uma palavra. Bem, o primeiro segredo é a palavra "relógio". O segundo segredo está no relógio. Isso quer dizer que o próprio relógio indica o próximo segredo.

– Então, temos que abri-lo! – Bella insistiu.– Não é preciso. O que é que um relógio indica?– Bem... o tempo... a... a hora?– E que horas ele está marcando?Charles conferiu:– Sete e cinco, ou um pouco mais... deixa ver: sete e

sete, exatamente.Bella, que gostava de dormir até mais tarde,

perguntou, irônica:– Mas isso quer dizer alguma coisa? Será que vamos

ter que acordar de madrugada para ver se algum sapo mágico salta desse relógio velho às sete e sete? Ou quem sabe o carrilhão toca uma música pop, ou a porta se abre sozinha, dando passagem à sétima dimensão?

– Calma, Bella. O importante é a direção que os ponteiros estão indicando.

O ponteiro das horas, um pouco além do número sete, apontava para uma escrivaninha baixa, à esquerda. O ponteiro dos minutos, parado entre o um e o dois, mostrava a direção de um quadro pendurado do outro lado. O quadro, óleo sobre tela, sem assinatura, representava a avó, em sua juventude, sorrindo, sentada a um piano, com um vaso de flores à direita e um pequeno busto à esquerda da pauta musical. Numa pequena

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mesinha lateral, um tabuleiro de xadrez, com algumas peças do jogo. Ao fundo, uma janela aberta, mostrando uma paisagem marinha. A moldura era de um dourado já envelhecido, mas ainda bela em seus floreados, rematada em baixo por um brasão antigo.

– Vamos vasculhar a escrivaninha. – Bella adiantou-se.

– Não devíamos examinar o quadro primeiro? – retrucou Duda.

Alex interveio, distribuindo as tarefas:– Bella e Duda, procurem na escrivaninha, mas

tomem cuidado para não destruir qualquer pista nova. Eu e Charles vamos examinar o quadro. Flávio e Elisa, vejam se podem encontrar por aí um vaso ou um busto parecidos com os do quadro.

Cuidadosamente, ele começou a tirar o quadro da parede. Era mais pesado do que parecia, e uma névoa de poeira saltou para os lados quando o quadro, escorregando, bateu levemente de encontro à parede.

Finalmente, o quadro foi colocado a salvo sobre a grande mesa central da biblioteca. Enquanto Flávio e Elisa vistoriavam as grandes estantes, Alex e Charles iniciavam um exame cuidadoso do quadro. As gêmeas, sacudindo a poeira que caíra em seus cabelos, abriam uma a uma as gavetas da escrivaninha, de onde tiravam velhos documentos, retratos antigos, objetos diversos e até um pequeno ramalhete de flores secas, amarrado com uma fita que já fora vermelha. Nada parecia trazer novas esperanças em sua busca pelo tesouro, mas mesmo assim elas curtiam cada descoberta:

– Olhe aqui. É a mamãe dando banho em você! – exclamava uma, levantando um retrato.

– Esse é da primeira comunhão do Alex – voltava a

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outra, mostrando outro retrato. – Tem no verso um poeminha que o vovô fez...

Após uma busca infrutífera pelos recantos da biblioteca, Elisa foi ajudar as gêmeas e Flávio juntou-se a Alex e Charles. Na mesa estava o misterioso quadro. Os três, sérios e solenes, assumiram ares de cirurgiões prestes a iniciar uma operação delicada. O paciente jazia imóvel sob as luzes do grande candelabro central da biblioteca.

Num primeiro exame, Flávio, com a lupa, só conseguiu achar um detalhe: o primeiro trecho da pauta musical era visível, com suas cinco linhas, a clave de sol, a indicação do compasso e as sete primeiras notas da partitura. Flávio pediu a Alex, que já tirava no violão do pai umas musiquinhas "de ouvido", que as examinasse. Alex pegou a lupa, olhou e disse:

– Sei que é música, e são sete notas... mas não tenho a menor ideia da melodia. Só sei ler e tocar cifras modernas. Vou copiar na minha agenda, e depois pergunto à mamãe. Ela sabe ler essa música.

Com cuidado, ele copiou na agenda os detalhes visíveis da partitura. Ao terminar, deu uma última conferida com a lupa e descobriu mais uma coisa:

– Gente, também dá pra ler o título da música!Houve um alvoroço geral. Bella, impaciente,

exclamou:– Diga logo!– É... deixa ver... é "Quando o Sol Nascer" – leu

Alex.Todos se entreolharam, mas ninguém falou nada.

Bella sacudiu a cabeça, frustrada, e continuou a pesquisa das gavetas com as primas.

Charles perguntou:– E agora? Por onde devemos continuar?

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Alex respondeu:– Vamos separar o quadro da moldura. Depois,

podemos tirar o forro traseiro sem danificar a pintura.No fim das contas, as duas equipes terminaram

empatadas. O time feminino encontrou, no fundo de uma das gavetas, sete envelopes lacrados. A equipe masculina, após a limpeza do campo operatório, só precisou tirar a moldura para descobrir o que ela ocultava: no canto inferior direito da tela, havia, em vez de assinatura, uma espécie de título: "Quando o Sol Nascer". E os sete envelopes encontrados pelas meninas estavam endereçados:

Para Alex, quando o Sol nascer.Para Duda, quando o Sol nascer.Para Flávio, quando o Sol nascer.Para Elisa, quando o Sol nascer.Para Charles, quando o Sol nascer.Para Bella, quando o Sol nascer.Para Guga, quando ele nascer.

Bella disse:– Bem, parece que encontramos a herança que vovô

deixou pra nós. Vamos abrir os envelopes!Mas Alex interveio:– Não, ainda não! Não podemos! Temos que

esperar o Sol nascer!– Mas, por quê? – Bella estava inconformada. –

Você acha que o que está dentro vai mudar de hoje para amanhã?

– Não sei. Acho que não. Mas temos que respeitar a vontade do vovô. Eu só vou abrir o meu envelope amanhã, quando o Sol nascer!

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Bella lutava consigo mesma. Por fim, disse:– Está certo. Mas, Alex, por favor, guarde o meu

envelope. Se não, eu não vou aguentar e vou acabar abrindo antes da hora.

Os outros, que também estavam doidos para abrir seus envelopes, ficaram sensibilizados com a atitude de Bella, e resolveram que Alex deveria ficar com todos os envelopes até a manhã seguinte. Alex recolheu os envelopes, examinou-os e perguntou:

– Mas e esse tal de Guga? Alguém conhece? E no envelope diz que é para quando ele nascer, não para quando o Sol nascer.

Bella disse:– Sei lá! Amanhã a gente resolve isso. Alguém aí

sabe a que horas o Sol nasce amanhã?Nesse momento, Elisângela chegou à porta da

biblioteca e chamou-os:– Muito bem, detetives! Todos já chegaram e é

quase hora da janta. Arrumem tudo, fechem a biblioteca e vão tomar um banho. Amanhã vocês continuam.

Meia hora mais tarde, sentados à grande mesa da sala de jantar, os primos, seus pais e o Dr. Jurandir apreciavam, com gosto, a sopa servida por D. lolanda. Graça, a cozinheira, já havia saído, mas mereceu elogios de todos. Na conversa, as crianças foram o centro das atenções, ao contrário do que geralmente acontecia. Os envelopes foram, naturalmente, o assunto principal. Os pais aprovaram a resolução dos filhos de aguardarem até o dia seguinte para abrir os envelopes. Anabella e Eduardo, conhecendo bem a impaciência da filha, elogiaram Bella. Alex perguntou:

– Você conhece esse tal de Guga, pai?Alexandre respondeu, divertido:

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– Conheço, filho. Mas sua tia Anabella conhece melhor que ninguém.

As crianças olharam para Anabella. Ela pousou a mão sobre a barriga e disse, sorrindo:

– Bem, o nome dele vai ser Gustavo. Mas acho que Guga é um apelido muito bonito.

Alex, boquiaberto, pegou o envelope que estava em seu bolso e releu em voz alta:

– "Para Guga, quando ele nascer". O vovô sabia disso?

– Sabia, sim. Eu fiz uma ultrassonografia, há um mês e pouco, e ficamos sabendo que Duda e Bella iam ter um irmãozinho. Dissemos ao vovô que o netinho teria o mesmo nome dele.

As crianças ruminaram em silêncio a notícia. Duda disse, enfim:

– Um irmãozinho! Que legal!Alex entregou o envelope à tia, dizendo:– Bem, então acho que você deve ficar com o

envelope...Bella estava cada vez mais impaciente. Já esgotara

sua cota. Perguntou:– Bem, afinal de contas, quando é que ele nasce?– Daqui a um mês, mais ou menos – respondeu a

mãe.– Eu estou falando do Sol! A que horas nasce o Sol

amanhã?Todos riram. Bella ficou meio sem jeito. O pai

interveio, complacente:– Bem, o solstício de inverno foi há três semanas.

Deixa ver...Tirou do bolso uma espécie de pequeno manual e

consultou algumas páginas.

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– Agora, corrigindo pela latitude local... com o fuso horário e... vamos ver... temos o tempo universal, a hora legal, ou civil e... sim, a diferença do meridiano...

Fez alguns cálculos numa folha de papel que sacara de outro bolso, junto com uma lapiseira. Ninguém o interrompia, mas Bella não se conteve:

– Pai! Só quero saber a que horas eu tenho que acordar amanhã, para abrir meu envelope!

– Bem, Bella. Ajuste o seu despertador para as sete horas e trate de se arrumar rápido quando acordar. Amanhã, o Sol nasce às sete horas e sete minutos.

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Manhã de terça – Um arco-íris diferente

o dia seguinte, todos madrugaram, inclusive os adultos, cuja curiosidade havia sido despertada.

Tomaram um desjejum rápido, bem mais cedo que o habitual, e às sete horas reuniram-se na biblioteca, cujas janelas abriam-se para o leste, proporcionando uma bela visão do horizonte marítimo. Eduardo explicou que o Sol levaria uns três a quatro minutos para sair totalmente do horizonte, e às sete e sete estaria exatamente na metade desse intervalo. Distribuiu lâminas de celulóide escurecido, para que pudessem olhar para o Sol sem se ofuscarem. Em seguida, sacou do bolso seu cronômetro e anunciou:

N

– Faltam cinco minutos.Rosa afastou as cortinas e abriu a grande janela

central. O céu clareava. Uma brisa fria de inverno provocou um arrepio em todos, mas ninguém reclamou.

De repente, um intenso ponto de luz surgiu no horizonte. Fascinadas, as crianças viram, através das lâminas, o Sol se erguer lentamente, numa trajetória inclinada para a esquerda. Daí a pouco tempo, Eduardo começou a contagem regressiva:

– Faltam doze segundos... agora dez... nove... oito...Bella abandonou a contemplação do Sol e já

segurava um canto do envelope, pronta para rasgá-lo.– ... quatro... três... dois... um... agora!O horizonte marítimo cortava o disco solar

exatamente ao meio. O envelope de Bella já estava aberto, mas os outros preferiram apreciar o resto do nascer do Sol.

Pouco depois o Sol estava inteiro no céu. As crianças começaram a abrir os envelopes, mas nesse

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momento Bella disse, desapontada:– Ué... é só isso?Segurava na mão sete notas de um real e um

quadradinho de cartolina amarela. Os outros conferiram seus envelopes. Cada um recebera do avô uma "herança" de sete reais e um quadradinho idêntico ao de Bella.

Bem, não tão idêntico. O de Alex era vermelho, o de Flávio, roxo. Elisa segurava um retângulo alaranjado e Charles mostrava aos pais o seu, que era azul. Duda olhava de testa franzida para um retângulo verde, enquanto Anabella mostrava ao marido o conteúdo do envelope de Guga – um pedaço de cartolina de cor violeta. Começaram todos a falar ao mesmo tempo, mas foram interrompidos por Carlos, que exclamou:

– Olhem! Vejam isso!A luz do Sol batia diretamente sobre a parede oeste

da biblioteca. Um pequeno espelho oval, colocado meio de lado sobre uma prateleira alta, refletia um intenso raio de luz na direção da parede norte, imersa na sombra. O raio incidia precisamente sobre um peso de papéis, uma pequena pirâmide de cristal, colocada sobre algumas folhas soltas. Dela partiam raios de luz coloridos que, refletidos por um segundo espelho, ao lado da pirâmide, iluminavam com as cores do arco-íris uma prateleira de livros na parede sul.

Ficaram olhando, fascinados. Mas à medida em que os segundos passavam e o Sol subia, o raio refletido pelo espelho mudava lentamente de direção e o pequeno arco-íris começou a enfraquecer. Num impulso instintivo, os seis primos correram para a estante, na direção da luz cuja cor correspondia à dos seus cartões. Nesse momento, o arco-íris apagou-se. O quadrado iluminado pelo Sol, na parede oeste, havia descido, e o espelho não mais recebia

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a luz solar.Vasculharam ansiosos a prateleira, temendo ter

perdido uma oportunidade única. Mas logo acharam, entre as centenas de livros que lá estavam, alguns objetos que se destacavam pela cor.

Na "seção amarela", Bella descobriu um livro – o único de capa amarela naquela parte da prateleira. Era "O Homem que Calculava", de Malba Tahan.

Na "seção laranja", de Elisa, havia um estojo laranja, que continha um quebra-cabeça de 100 peças – um jogo que ela adorava.

Na "seção vermelha", Alex extraiu da prateleira um volume grosso, protegido com celofane vermelho: "Mathias Sandorf", de Júlio Verne.

Na "seção verde", Duda logo achou um segundo estojo, verde-musgo. Abriu-o e tirou dele, maravilhada, um belíssimo medalhão de jade, com aplicações delicadas em prata e em marfim: representava os sete planetas da astrologia clássica – Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno. Os símbolos astrológicos dos planetas estavam distribuídos em torno de uma estrela de oito pontas – uma rosa-dos-ventos. O Norte era indicado por um "N", mas curiosamente ficava na posição inferior do medalhão. Uma silhueta mais clara, em forma de ogiva, partia da base e apontava diretamente para o símbolo do Sol, que estava circundado por uma espécie de halo.

Na "seção azul", de Charles, havia mais um livro: "Partidas e Problemas de Xadrez", de J. Valadão Monteiro.

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Não havia por perto outros de capa azul-marinho.Na "seção roxa", Flávio encontrou uma caixa

decorada com quadrados roxos e brancos. Era um tabuleiro de xadrez, dobrado, que guardava as peças do jogo em seu interior.

Faltava a "seção violeta", de Guga; mas embora Anabella não tivesse se apressado para ocupar o lugar onde a luz violeta incidira, ela se lembrava exatamente dos limites desse local. Procurou na prateleira e logo achou, entre os livros, um pequeno porta-jóias, decorado com gravuras de minúsculas violetas...

Cedendo aos pedidos insistentes de todos, Anabella abriu o porta-jóias. No interior, havia apenas uma pequena chave.

Sem saber o que pensar, resolveram examinar seus objetos. Folheando os livros e perscrutando o fundo dos estojos, acharam um envelope em cada objeto. Até o pequeno porta-jóias revelou um fundo falso, no qual estava o envelope. Cada envelope continha sete notas de um real e sete quadradinhos de papelão. Todos os quadrados tinham uma letra minúscula, de "a" até "g", e um algarismo, de 1 a 7. Do outro lado, a maioria tinha uma letra maiúscula, mas alguns tinham números e outros estavam em branco.

A pequena Elisa estava contando o dinheiro. Disse:– Tomara que isso continue assim. Vamos ficar

ricos.Bella discordou:– Dinheiro sempre é bom, mas eu não quero passar

o resto da vida morrendo de curiosidade. Vamos ver que chave é essa do Guga.

Com a licença de Anabella, examinaram a pequena chave. Parecia uma chave de gaveta, ou de um pequeno

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cofre, e nela não havia nenhuma indicação. Experimentaram-na em todas as gavetas, mas não serviu em nenhuma. Finalmente, lembraram-se de experimentá-la no relógio. A porta se abriu facilmente; um canudo de papelão escorregou de um canto e rolou pelo chão. Enquanto as crianças olhavam assombradas para ele, um lento tique-taque começou a soar: o pêndulo do velho relógio, libertado finalmente do obstáculo que impedia seu curso, voltara a funcionar, e o grande ponteiro dos minutos avançou lentamente. Bella disse:

– Bem, sete e sete esse relógio não vai mais marcar tão cedo. Pelo menos nos livramos por essa vez do número sete.

Duda tinha apanhado o canudo. Charles sugeriu:– Vamos dar corda nele, pai.O pai concordou. Pediu a Alex que lhe emprestasse

a chave. Fechou a porta dianteira e abriu um pequeno painel do lado esquerdo do grande relógio. Examinou o mecanismo, acertou a hora – o relógio estava atrasado uns sete minutos – e sorriu:

– Bem, Bella, com certeza vocês não se livraram dos setes. Esse relógio tem corda para uma semana, e está com a corda toda.

Bella retrucou:– Sete dias... Ora, pelo menos não vamos precisar

dar corda nele todos os dias. Semana que vem a gente faz isso.

– Mais uma coisa – continuou o tio. – A maioria dos carrilhões desse tipo toca quatro, ou no máximo cinco notas. Mas esse é uma raridade: é um carrilhão alemão de sete notas!

– Sete... – Bella começou a falar, mas foi bruscamente interrompida. De repente, a poderosa voz do

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antigo relógio ressoou, ecoando nos recôncavos da biblioteca: "Din-don-din-dan-dun-don-dém..."

O susto paralisou as crianças por uma fração de segundo. Olharam para o velho relógio e viram que o ponteiro do minutos havia chegado ao três; o relógio anunciava o quarto de hora. Rosa murmurou:

– Lá menor...Súbito, Alex lembrou-se do trecho musical que

anotara na agenda. Mostrou-o à mãe.– Sim, foi isso que o relógio tocou – disse ela. – lá,

dó, fá, si, ré, sol, mi.– E isso quer dizer alguma coisa? – quis saber o

primo Charles.– Não que eu saiba. Acho que vamos ter que

esperar a hora cheia para ouvir a música toda. Eu volto antes das oito, combinado? – Rosa já estava saindo com os demais adultos.

– Tá bem. Enquanto isso vamos ver o que tem nesse canudo – disse Bella, pegando o objeto das mãos da irmã.

Alex concordou:– Bella, você nunca foi paciente. Mas acho que

você tem razão. Vamos primeiro recolocar o quadro na moldura e pendurá-lo no mesmo lugar, para termos espaço sobre a mesa. Então poderemos examinar o canudo com calma.

Dito e feito, com a concordância geral. Mas mal o quadro, já na moldura, foi retirado da mesa por Alex para ser pendurado no local original, já a impaciente BelIa manuseava o canudo sobre a mesa e procurava um meio de abri-lo. Elisa descobriu uma ponta de fita adesiva numa extremidade e puxou-a em volta do canudo. Grudada na fita, a tampa saiu, e com ela veio a ponta

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interna de um rolo de papel. Flávio interveio e, com cuidado, extraiu do canudo uma grande folha de papel enrolado, grosso e amarelado. Pediu a ajuda de todos: enquanto três pares de mãos seguravam a borda externa, outros três pares desenrolavam lentamente o rolo de papel. Conforme avançava a operação, doze olhos iam se arregalando cada vez mais.

Finalmente, colocaram alguns livros sobre as bordas, para evitar que o papel se enrolasse novamente e olharam atônitos uns para os outros.

– É um mapa! – exclamou Charles, baixinho.– E tem um "X"! – disse Bella, excitada, apontando

para a marca perto do centro.– Olha! Aqui tem uma bússola! – Elisa mostrou o

desenho.– Não é uma bússola. É uma rosa-dos-ventos. –

retificou Alex.– Aqui tem um desenho do Sol! – apontou Flávio.– Vocês já leram o título? – perguntou Duda.No alto da folha, em grandes letras ornamentadas,

estava escrito: "O Jardim do Sol".– Mas onde fica esse tal de "Jardim do Sol"? –

perguntou Flávio.– Aposto que o Dr. Jurandir sabe – opinou

Charles.Foram todos correndo ao escritório, levando o

mapa. O velho advogado interrompeu seu trabalho; ouviu as perguntas, estudou o mapa e esclareceu:

– O Jardim do Sol era como sua avó chamava a parte do jardim que dá para o mar, bem em frente da biblioteca. É ali onde vocês gostam de brincar, pois recebe o Sol da manhã e da maior parte da tarde. Tem até um velho relógio de Sol...

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Mostrou o mapa:– Estão vendo? É a planta do jardim. Aqui estão a

fonte, a pedra partida, os canteiros, o caramanchão da parreira e a capelinha.

– E o "X"? – quis saber Duda.– Este "X" no mapa? Acho que é o relógio de Sol.

Vamos conferir?Desceram ao jardim, dirigindo-se ao velho relógio

de Sol. Examinaram a mesa do mostrador, o pedestal, os ornamentos e até a pequena plataforma de granito onde se apoiava todo o conjunto. Tentaram mover cada peça, mas pareciam todas bem firmes.

Estavam quase desistindo, quando Charles descobriu que a fixação do ponteiro tinha uma folga. Forçou o ponteiro para baixo e todos ouviram nitidamente um "clique" que parecia ter soado no interior do pedestal.

Levaram mais um bom tempo para descobrir que a placa superior de mármore, onde ficava o mostrador que recebia a sombra do ponteiro, estava agora apenas apoiada no pedestal. Removeram-na com dificuldade, pois era pesada, e perscrutaram o interior oco do pedestal. Um pequeno estojo de metal brilhou no fundo e foi resgatado por Alex.

O estojo não tinha trinco – era mantido fechado por molas nas dobradiças. Alex sacou de dentro um único envelope e abriu-o. No interior, havia apenas uma folha de papel, com uma curta mensagem na letra do avô. Alex leu, em voz alta:

O relógio deve ser ouvido

– Esquecemos do relógio! – exclamou Elisa.

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– Não faz mal – disse Charles. Vamos poder ouvir a música completa ao meio-dia.

Mas Rosa, que passeava pelo jardim, havia se aproximado e ouvira o breve diálogo:

– Não precisa – disse. Eu fui lá às nove horas e ouvi a música toda.

– Anotou as notas? – perguntou o filho.– Também não foi preciso. Aos primeiros

compassos, a lembrança me voltou... Minha mãe cantando baixinho uma canção de ninar para o Eduardo... – Rosa tinha os olhos úmidos.

– Então – continuou – fui procurar na coleção de partituras dela, que está guardada no escritório. Achei a partitura e, dentro dela, uma mensagem para vocês!

Entregou a Alex uma folha de papel. Ele leu em voz alta:

O relógio deve ser ouvidoOs livros devem ser lidosO quebra-cabeça deve ser montadoO xadrez deve ser jogadoOs planetas devem ser movidosOs segredos devem ser abertosOs dias devem ser contados

– Bem – comentou Bella. – Parece que vamos ter que passar a tarde sem fazer nada de útil!

– Não diga isso, Bella. – discordou Alex. Com certeza as próximas pistas estão nos textos dos livros, no quebra-cabeça da Elisa, e por aí vai... Acho que um pouco de exercício intelectual fará bem a todos nós.

– Certo! – apoiou Charles. – Na hora da janta a gente conversa sobre o que cada um descobriu. Já está

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quase na hora do almoço.O plano de Charles foi aprovado por

unanimidade. Agradeceram a ajuda do Dr. Jurandir e voltaram para a mansão. Assim que entraram, ouviram o som distante do carrilhão: eram onze e quinze.

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Interlúdio nquanto a garotada investigava o jardim, Anabella e Rosa haviam aproveitado para inquirir

discretamente dona Iolanda. Ela admitiu prontamente que os três empregados sabiam de alguns detalhes da trama:

E

– O barão queria que pudéssemos ajudar seus netos, se fosse preciso – explicou ela. Mas não sei se nos contou todos os detalhes.

– Agora sei por que a biblioteca estava tão bem arrumadinha e limpa – disse Anabella.

– É, e o peso de cristal perfeitamente alinhado para produzir aquele espetáculo – completou Rosa.

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Tarde de terça – Como mover um planeta

epois do almoço, Charles e Flávio, com o livro e o jogo de xadrez, foram para o quarto que

compartilhavam com Alex. Este preferiu ler seu livro na varanda.

DBella pegou seu volume amarelo e foi com Duda

para o quarto das meninas. Elisa resolveu montar seu quebra-cabeças sobre a mesa da sala de jantar.

A tarde foi passando, lenta e preguiçosa, numa quietude pouco habitual quando os primos estavam lá. O silêncio só era quebrado a cada quinze minutos, pela música abafada do carrilhão, fechado na biblioteca.

Nessa tarde, Alexandre chegou mais cedo do trabalho. Eduardo e Elisângela chegaram juntos, logo depois. Carlos demorou-se mais um pouco, pois tivera que por em dia o trabalho que estava atrasado desde a sexta-feira anterior.

Chegou a hora da janta. Durante a mesma, os primos fizeram um balanço do que tinham conseguido. Os pais ouviam em silêncio, mas interessados. Elisa mostrou orgulhosa o quebra-cabeça montado, preso em uma moldura que viera no estojo. A figura representava sete crianças reunidas em torno de um jogo. As figuras de duas das crianças, em primeiro plano, de costas, cobriam quase inteiramente o tabuleiro do jogo, mas as peças espalhadas pelo chão mostravam que era um jogo de xadrez. Na parte de baixo, havia uma legenda.

– "Mate em dois, sem capturar" – leu Duda. – O que isso quer dizer?

Charles e Flávio foram requisitados, e Charles explicou:

– É um problema de xadrez. Eu li no livro que

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ganhei. A gente parte de uma posição no tabuleiro e tem que dar xeque-mate em duas jogadas, sem comer nenhuma peça.

Bella cobrou:– Charles, você tem o livro e Flávio tem o jogo de

xadrez. Como é que vocês vão resolver isso?Charles explicou que no livro havia inúmeros

problemas, de diversos tipos. A maioria era de "mate em dois". Por sua vez, Flávio mostrou o jogo de xadrez que tinha ganho – era muito bem feito, mas sem qualquer coisa especial.

– A gente precisa de uma posição inicial para descobrir a solução – concluiu Charles.

Insatisfeitos, olharam para Duda. Mostrando o presente que recebera, explicou aos primos o significado da rosa-dos-ventos e dos sete planetas, admitindo que não tinha a menor ideia de como aquilo poderia ajudar.

– O Sol e a Lua não são planetas – observou Charles.

– E estão faltando aí Urano, Netuno e Plutão, sem falar na Terra – reforçou Flávio.

– É... sem contar Ceres e Eris... rematou Bella.Duda explicou:– Na astrologia antiga, qualquer astro que se

movesse regularmente pelo zodíaco era chamado de planeta. E Urano, Netuno e Plutão só foram descobertos depois que Galileu inventou o telescópio. Ceres e Eris também não são visíveis a olho nu e não fazem parte da astrologia antiga – só da moderna. E a Terra era considerada como o centro do universo, e não um simples planeta.

– E como é que nós vamos mover os planetas? – perguntou Alex.

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Ninguém respondeu. O pai comentou:– "Dêem-me um ponto de apoio e eu moverei o

mundo".– Como é? – perguntou Alex.– É uma citação de Arquimedes, a respeito do uso

de alavancas – esclareceu Alexandre.Elisa, sentada ao lado de Duda, sussurrou, curiosa:– Quem é Arquimedes?

Duda respodeu, baixinho:– Arquimedes foi um famoso sábio grego, que

viveu na Sicília, e estudou as alavancas e a flutuação de objetos na água. Ele também se interessava pela astrologia e pela geometria.

Bella ouvira o diálogo. Deu de ombros e voltou ao assunto que a interessava:

– E você, Alex? – perguntou – Descobriu alguma coisa naquele livro de título esquisito?

– Ainda não. A história é muito grande e o livro é escrito com letras pequenas. Só li uns seis capítulos, mais ou menos. Vou precisar de uns cinco dias ou mais para ler tudo...

– Grande leitor você é... – ironizou Bella.– Bem, você recebeu um livro bem menor que o

meu. Descobriu alguma coisa?Bella caiu em si. Encabulada e completamente sem

jeito, pediu desculpas pela ironia e admitiu que tinha chegado ao meio de seu livro sem descobrir nada que ajudasse, prometendo ler mais um pouco antes de dormir.

Terminada a janta, Graça e Dona Iolanda foram recolher as travessas, pratos e talheres. Anabella aproveitou para lembrar os seis primos que o dia seguinte era quarta-feira, dia de folga para Antônio e Graça, e o almoço seria uma hora mais cedo. Em seguida, foram

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preparar-se para a noite.

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Manhã de quarta – Elisa dá xeque-mate cordaram cedo. Terminado o desjejum, combinaram reunir-se dentro de dez minutos na

biblioteca. Lá, oito minutos depois, com o "quorum" completo, a discussão foi reiniciada. Resolveram atacar primeiro o problema de xadrez, pois pelo menos tinham o livro de Charles, o jogo de Flávio e o quebra-cabeça de Elisa para começar. Deixaram o mapa para depois.

A

Examinaram de novo o quebra-cabeça de Elisa. Alex pensou um pouco e sugeriu:

– Temos que usar o jogo de xadrez do Flávio e as dicas do livro de Charles para decifrar este enigma. Mas vamos precisar de uma posição inicial...

– O quadro! – lembrou Flávio. – Tem um jogo de xadrez no quadro!

– É isso aí! A posição das peças do quadro deve ser a posição inicial do nosso enigma! Vamos pegar o quadro de novo!

Rapidamente, o quadro voltou para a mesa. A lupa de Flávio entrou em ação. Charles começou a distribuir as peças no tabuleiro, conforme as indicações de Flávio.

– Tem um livro bloqueando a última fileira e uma espécie de envelope impedindo o uso da última coluna – alertou ele.

– Isso quer dizer que não podemos usar a fileira 8 nem a coluna "h" – disse Charles, em tom professoral.

– O que são fileiras e colunas? – quis saber Duda.Flávio explicou que cada casa no tabuleiro de

xadrez era identificada por uma letra de "a" a "h" e por um número de 1 a 8. Deu alguns exemplos e Duda logo entendeu:

– Então, cada quadradinho de papelão tem seu

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lugar no tabuleiro?Todos olharam para ela, admirados. Ninguém

tinha pensado nisso.– Menina, você é um gênio! – elogiou Charles.Depois de trocar ideias, resolveram primeiro

distribuir os quadradinhos no tabuleiro, pois com certeza formariam uma mensagem que poderia ajudar na solução do problema.

Trouxeram seus envelopes. Flávio já tinha desocupado o tabuleiro e disposto seus sete quadradinhos nas casas indicadas no verso de cada um. Foi recolhendo os outros; conferia o verso de cada um e ia distribuindo-os sobre o tabuleiro.

Bella saíra apressadamente para pedir à mãe os quadradinhos do Guga. Voltou em menos de um minuto.

– Um dos quadradinhos do Guga não tem letra, nem número, nem espaço – anunciou ela. – Tem uma estrela de oito pontas!

– É uma rosa-dos-ventos – corrigiu Duda.– Qual é a posição marcada nele? – quis saber

Flávio.Bella leu, no verso:– É no "d-4".– Bem no meio do tabuleiro! – exclamou Charles.A expectativa era grande, mas conforme o mosaico

crescia, o resultado parecia cada vez mais confuso. Bella queria desistir, mas Alex fez questão de completar o quebra-cabeça. No final, como esperavam, ficaram vazias a coluna h e a fileira 8, mas a tal "mensagem" não fazia sentido:

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A Ú M E E R A O T M E B R A I R 1 G Á 4 ] S I E A G O 2 D O 8 S 5 R E D N 7 O S S

Bella desabafou:– Quanta bobagem! Esses quadrados não têm nada

a ver com um tabuleiro de xadrez. É algum outro código.Alex discordou:– Não, Bella. A mensagem é essa mesma. Só

precisamos de uma grade decodificadora!Todos interpelaram Alex ao mesmo tempo. Ele

pediu silêncio e explicou:– No meu livro, logo no começo da história, tem

uma carta cifrada, com as letras embaralhadas e distribuídas em quadrados. A decifração é feita com uma espécie de grade, ou máscara, que vai sendo girada sobre o texto e em cada giro mostra apenas as letras que formam cada trecho da mensagem.

– E onde vamos achar a tal grade decifradora? – perguntou Bella.

– Estou desconfiado que é no problema de xadrez... – retorquiu Alex.

– Então, – disse Bella – vamos ao problema!Alex anotou a mensagem criptografada em sua

agenda, recolheu os cartões e pediu a Flávio para recompor as peças no tabuleiro. Dentro em pouco, todos

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discutiam em torno da mesa. As peças tinham sido dispostas conforme o quadro mostrava. A última fileira estava bloqueada com uma régua e a última coluna com uma folha de calendário.

A pequena Elisa ouvia, em silêncio, sem entender nada, mas guardando tudo na memória. Depois de uns cinco minutos, bocejou e saiu da sala. Ninguém lhe deu atenção.

Logo depois, ela batia à porta da casinha onde moravam Seu Antônio e Dona Graça.

– Elisa, minha querida! Que surpresa! O que você quer, meu anjo?

– Queria conversar com o tio Antônio. Posso, Graça?

– Claro, meu bem. Ele vai gostar muito de falar com você. Você andou sumida...

– É por causa da... da herança do vovô – Elisa enxugou uma lágrima. – Você sabe que ele deixou pra nós um montão de dinheiro? Mas também deixou um montão de "neguimas".

Graça colocou sobre a mesa um jarro com suco de manga e serviu dois copos, enquanto respondia:

– Enigmas, sei. O Antônio também sabe, e a Dona Iolanda. Dona Rosa e Dona Elisângela comentaram isso conosco.

Elisa já tinha bebido meio copo, e fez uma pausa para falar:

– Sabe, o último "eneguina" é muito complicado.

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– Enigma – voltou a corrigir Graça. – Mas como é que tio Antônio pode ajudar?

– É porque é um... ah, um enigma de xadrez – Elisa falou, orgulhosa por ter aprendido uma palavra difícil, enquanto Graça enchia de novo o copo da menina.

– E eu lembrei que vovô...Nesse momento, Antônio apareceu.– Elisa, meu docinho! Até que enfim! Que saudade!Muitos beijos e abraços foram trocados, até que

Elisa pôde explicar ao tio Antônio a situação. E concluiu:– Sabe, eu lembrei que você e o vovô gostavam de

jogar xadrez. Aí, pensei que você podia ajudar a gente.– Mas, queridinha, eu preciso ver o tal enigma –

você sabe, o tabuleiro, a distribuição das peças...– Eu sei de tudo. Você não tem um tabuleiro aí?– Esqueci que você tem uma memória fotográfica...

vou buscar o tabuleiro.Dois minutos depois, Graça teve que retirar da

mesa o jarro com suco de manga, já pela metade, e os copos. O tabuleiro foi colocado sobre a mesa, e Seu Antônio pediu que Elisa lhe mostrasse a posição de cada peça.

– Aqui tem um burro preto – apontou ela – e aqui um burro branco. O narigão branco fica ali e o grandão de coroa é desse lado. Bota uma caixa d'água preta aqui e outra ali. Tem um anãozinho preto...

Seu Antônio, disfarçando o riso, ia dispondo as peças no tabuleiro conforme as indicações da menina. Colocada a última – a "igreja branca com a cruz", – o velho jardineiro coçou a cabeça. Pensou um pouco e fez um movimento:

– Bem, se eu mover o bispo para aqui...– Não pode! – interrompeu Elisa. – Esqueci de

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dizer que o tabuleiro do "neguima" só tem sete quadrados de cada lado.

Pegou o "narigão branco" e recolocou-o na casa original. Seu Antônio, com a paciência de um enxadrista veterano, examinou de novo o tabuleiro.

– Bem, isso quer dizer que não podemos usar a coluna "h" e nem a fileira "8".

– Isso aí! Não tem nem "h" nem "8" nos quadrados de papelão!

Seu Antônio preferiu não pedir maiores explicações. Imaginava, com razão, que isso tomaria muito tempo. Pensou mais um pouco e disse:

– Se eu der um xeque a descoberto...Pegou o cavalo branco e colocou-o no lugar da

torre preta, retirando-a com a outra mão. Elisa comentou:– Sei. O burro comeu a caixa d'água. E agora?– Burros não comem caixas d'água, amor. O certo é

dizer "tomar", ou "capturar".– Mas não pode! O "eniguima" diz que não pode

capitular!Seu Antônio respirou fundo. Perguntou:– Vamos ver... O que diz o enigma exatamente?– Diz... deixa eu lembrar... diz "chá pra dois, sem

capitular".Seu Antônio teve que pensar um pouco mais, desta

vez. Sabia que a pequena tinha uma memória visual excelente, mas às vezes confundia as palavras e seus significados. Finalmente, perguntou:

– Será que não é "mate em dois, sem capturar"?– É. Foi isso que eu disse. Chá e mate não são a

mesma coisa?O velho riu, um riso alegre, e estalou um beijo na

menina.

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– Não, querida. Em xadrez, não.Voltou a atenção para o tabuleiro. Sabia agora que

não devia obedecer às regras clássicas dos problemas enxadrísticos. Aquilo não era propriamente um problema de xadrez, mas uma pista. Era necessário um lance das brancas que obrigasse as pretas a executar um outro lance, precisamente determinado, e que no lance seguinte as brancas consumassem o xeque-mate com uma única opção. Em suma, a posição final das peças no tabuleiro seria a pista que faltava aos meninos. Depois de alguns minutos, disse:

– Isso é bem mais complicado do que parece, Elisa. Tem uma solução que eu vejo, mas pode haver outras. Vou precisar de mais algum tempo. Volte aqui depois, meu anjinho.

Elisa ficou meio desapontada, mas exigiu que o bondoso velho lhe mostrasse a solução que havia encontrado. Depois, vendo que o jarro estava cheio de novo, tomou mais um copo de suco, despediu-se dos dois e voltou para a mansão.

Os outros cinco continuavam discutindo em torno do tabuleiro. A ausência de Elisa não fora notada. Ela chegou perto do tabuleiro, examinou-o com olhos críticos e declarou:

– Eu já sei como é que é.Todos riram.– Você sabe jogar xadrez? – perguntou Charles, com

sarcasmo.– Vai ver, ela acha que é jogo de damas – comentou

Duda.– Isso é muito complicado para você, Elisa – Alex

contemporizou.– Não nos faça perder tempo, menina! – exclamou

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Bella, impaciente.– Calma, gente! Vamos ver o que ela quer! –

interveio Flávio.Com um rápido olhar de agradecimento ao irmão,

Elisa adiantou-se, pegou a torre branca e avançou-a duas casas, anunciando com ar solene:

– Xeque!Todos se inclinaram

sobre o tabuleiro. Alex admitiu:

– É... é xeque, mesmo...– Não dá pra comer a

torre? – perguntou Duda?– Não... não dá – respondeu Charles.– E se a gente cobrir o xeque com outra peça? –

sugeriu Bella.– Não... também não dá – constatou Alex. – É

preciso fugir com o rei.– Mas... fugir para onde? – perguntou Duda.Flávio e Charles

estudaram a nova posição. Pensaram em comer o cavalo com o rei, mas constataram que o cavalo estava protegido pelo bispo branco. Movimentaram o rei preto para as casas vazias próximas, algumas vezes, mas sempre voltavam atrás. Depois de trocarem algumas ideias, Flávio finalmente disse:

– Só tem uma casa livre... esta aqui! – Flávio moveu o rei preto diagonalmente para trás.

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Elisa nem se preocupou em examinar o tabuleiro. Decidida, movimentou o bispo branco uma única casa e anunciou, triunfante:

– Xeque-mate!Sem poder acreditar, os primos conferiram várias

vezes os movimentos e a posição final. Era mesmo xeque-mate!

Somente Flávio não parecia admirado. Finalmente, Alex perguntou:

– Mas, Flávio, como é que você sabia que ela tinha a solução?

– Por causa do bigode.– Que bigode? – estranhou Charles. – Onde é que

você está vendo bigodes por aqui?– Na cara da Elisa.Todos olharam para a menina. Ela depressa cobriu

a boca com as duas mãos, mas não foi suficientemente rápida.

– Bigode de manga! – exclamou Duda.– Agora entendi... – comentou Alex.– Ela foi falar com o Antônio – disse Bella,

admirada.– É... foi mais esperta que todos nós... – constatou

Flávio.– E ainda bebeu aquele delicioso suco de manga da

Graça! – completou Charles, lambendo os beiços.Elisa comentou, animada:– Ainda sobrou muito suco. Vamos voltar lá? A

gente pode tomar um monte de suco e conferir com o tio Antônio se o "neguima" tá certo mesmo.

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Todos aplaudiram a sugestão da pequena. Saíram correndo no maior alvoroço. O resto da manhã foi dia de festa no chalé de Antônio e Graça.

Alex aproveitou para confirmar com o jardineiro a solução do problema. Antônio alertou-o da possível existência de outras soluções, mas encorajou-o a experimentar aquela que havia encontrado.

Alex, com o auxílio de Graça, recortou um quadrado de cartolina, com as mesmas dimensões do tabuleiro de Flávio. Com capricho, escureceu a lápis as casas pretas; lembrou-se então de cortar fora a última coluna e a última fileira, e finalmente, com uma tesoura de unhas, abriu janelas nos lugares correspondentes à posição de cada peça no xeque-mate. Bem no centro, desenhou uma seta, apontando para cima, e mostrou a todos sua obra-prima:

– Aqui está nossa grade decifradora!Eufóricos, despediram-se às pressas e voltaram

correndo à biblioteca. Lá, prenderam com fita adesiva os 49 quadrados sobre o tabuleiro, nas posições correspondentes às colunas e fileiras indicadas em cada um. O resultado eles já conheciam – uma sequência caótica de letras, números e espaços:

"AÚ ME ERAOTMEBR AI R1GÁ4+ SI EAG O2DO8S5R EDN7O SS".

Alex pegou a grade de papelão que tinha feito e colocou-a sobre o tabuleiro, com a seta central apontada para cima. As janelas vazadas deixavam aparecer apenas algumas letras e três espaços, que Duda anotou na sequência em que apareciam: "A MAGIA DO N"...

– É isso aí! Continua! – Bella estava excitadíssima.Alex girou a grade 90 graus para a direita. Outras

letras apareceram, e Duda continuou anotando:

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"ÚMERO 142857"...Bella olhava fixamente para o tabuleiro. Parecia

hipnotizada.Alex fez mais um giro, e Duda anotou a nova

leitura. Após o último giro, Duda leu o texto completo:- "A MAGIA DO NÚMERO 142857 ABRIRÁ OS

SETE SEGREDOS".

Entusiasmados, voltaram a atenção para o mapa. Quase no centro do mesmo, perto do ¨X¨ que indicava a posição do relógio de sol, encontraram a representação de uma rosa-dos-ventos idêntica à que ocupara o quadrado central – a casa d4 – no tabuleiro de xadrez. A legenda dizia: "Panteão dos segredos do céu". Alex examinou o mapa e concluiu:

– É a capelinha! Bem que o Dr. Jurandir mostrou!Charles disse:– É... mas nós estávamos com a atenção voltada

para o "X" do relógio...Nesse momento, dona Iolanda assomou à porta da

biblioteca e passou-lhes um pito:– Todo mundo já almoçou! Onde vocês se

meteram?– Perdemos a hora – disse Alex. – Desculpe.

Esquecemos que o almoço hoje é mais cedo. Onde estão mamãe e tia Anabella?

As duas haviam saído. Dona Iolanda lhes disse que elas tinham ido à paróquia, para cuidar dos detalhes da missa de sétimo dia pelo falecimento do avô, que seria no

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dia seguinte. Perguntaram pelo Dr. Jurandir. Ela respondeu que ele estava terminando de almoçar, e que o almoço deles estava esfriando na sala. Foi quando perceberam o quanto estavam famintos.

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Os Sete Ramos de Oliveira

Tarde de quarta – Os sete segredos

lmoçaram às pressas e às pressas escovaram os dentes. Imediatamente saíram para explorar o

jardim. Uma chuva fina havia caído, mas logo cessara e o Sol já brilhava no céu, arrancando cintilações das gotas que cobriam as folhagens. Um magnífico arco-íris duplo surgiu sobre o horizonte sul, trazendo a todos a lembrança do jogo de luzes na biblioteca. Logo chegaram à pequena esplanada onde se erguia a construção.

A

Eles conheciam a capelinha, claro. Alta e não muito espaçosa, era o lugar favorito para suas brincadeiras de pique-esconde. Ela era octogonal, com um piso de cerâmica que figurava uma rosa-dos-ventos. O grande portal, encimado por um vitral redondo com a figura de uma rosácea, ocupava quase toda a face norte e o interior era delimitado por sete paredes altas, cada uma com um número em algarismos romanos: I, II, III, IV, V, VI e VII, gravados em relevo a uns dois metros de altura. Sob cada número, uma espécie de altarzinho baixo, e acima de cada altar, um painel em relevo na parede, representando deuses da mitologia grega: Zeus, Selene, Hermes, Apolo, Afrodite, Ares, Cronos.

Era quase meio-dia quando chegaram lá. Pararam em frente à entrada, indecisos, mas Duda logo exclamou:

– Saiam daí! Fiquem do lado de dentro, na sombra, ou venham para fora! Não façam sombra na entrada... quero ver uma coisa.

O tom de comando na voz da menina deixou-os intrigados. Duda não era do tipo mandão. Mas obedeceram. Duda ficou do lado de fora e postou-se do lado esquerdo da entrada, de modo a poder espiar o interior sem fazer muita sombra no piso iluminado pelo

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Sol. Tirou do pescoço seu medalhão, examinou-o e sentiu-se excitadíssima.

O Sol de inverno, não muito alto no céu, estava no meridiano. Projetava no chão da capelinha uma silhueta luminosa, com a forma ogival da porta. Uma segunda silhueta luminosa, correspondente ao vitral, formava um círculo de luz diretamente sobre o painel de Apolo. O medalhão era uma reprodução perfeita da capelinha!

Duda exclamou:– Como é que eu nunca percebi isso antes?

Achamos os sete planetas!Chamou os amigos e mostrou-lhes o que tinha

observado. Explicou que cada planeta tinha o nome de um deus romano, e cada deus romano tinha seu correspondente grego: o Sol, conhecido pelos romanos como Febo, era Apolo, ou Hélios; a Lua – a deusa romana Luna – era Selene; Vênus era Afrodite, Mercúrio era Hermes, Marte era Ares, Júpiter era Zeus e Saturno era Cronos. Indicou os altares correspondentes. E completou:

– Reparem: Os deuses são gregos, mas os números nas paredes são romanos!

– Que coisa! – exclamou Bella. – E agora?– Agora – disse Alex, decidido – vamos mover os

planetas!Todos entenderam. Sentindo-se os próprios Titãs,

cada um escolheu um painel. Elisa teve que subir no altarzinho para alcançar a figura de Afrodite.

Os painéis, que pareciam esculpidos nas próprias paredes, abriram-se com surpreendente facilidade, como se fossem portas. Atrás de cada painel, havia um nicho. Os nichos tinham portas de bronze, de cujos fechos pendiam cadeados de segredo.

– São cadeados de tambor – disse Charles,

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segurando aberto o painel de Hermes.– É... já vi cadeados assim, com três e até quatro

anéis de segredo – comentou Alex, frente ao nicho de Ares. – Mas esses têm mais.

Bella, a mais impaciente, havia aberto o painel de Zeus e imediatamente, sem sequer prestar atenção aos detalhes do nicho, correra para o último painel ainda fechado – o de Cronos. Enquanto o alcançava, comentou, irônica:

– Aposto que são sete anéis! – ela falou, em tom de deboche. Estava tendo alguma dificuldade para abrir o sétimo painel.

– Não... são só seis em cada cadeado – disse Flávio, conferindo o nicho no altar de Selene.

– Seis! – exclamou Bella. – Tem certeza?– Claro. Você está com os olhos arregalados, sabia?Bella conseguiu abrir o painel de Cronos e

conferiu: o cadeado tinha seis anéis de segredo.– É o número... o tal número mágico! – ela

exclamou.– Ah! Aquele do xadrez! 142857! Sabe, acho que

você tem razão. Vamos tentar...Mas Bella já voltara ao nicho de Zeus e estava

manipulando o cadeado. Os outros voltaram-se para os seus cofres e começaram a girar os tambores de segredo.

Quinze segundos depois, Bella abria o cofrezinho. Olhou expectante para os demais, mas ninguém além dela tinha conseguido abrir o seu. Flávio parecia ser o mais frustrado de todos. Olhou aborrecido para ela, que sorriu com ar superior:

– É preciso usar a magia do número, lembram?– E a poderosa feiticeira Bella, grande mestra da

magia e rainha dos bruxos, vai nos mostrar como abriu o

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seu cofre? – perguntou Flávio, irônico.– Vou, mísero mortal! Você tem aí uma

calculadora?Charles tinha. Bella disse:– Faça a conta: Quanto dá 142857 vezes 2?– Dá... dá 285714 – respondeu Charles.– Essa calculadora está com defeito – resmungou

Flávio. – Em vez de multiplicar, ela misturou os algarismos.

– Experimente assim mesmo – recomendou Alex, intrigado.

Flávio tentou, e para sua surpresa abriu facilmente o cadeado de segredo!

– Agora – comandou Bella – multiplique 142857 por 3.

– Dá 428571. Os mesmos algarismos!Charles deixou a calculadora sobre o altarzinho e

abriu o cofre de Hermes sem dificuldade.– Continue – disse Bella, voltando para o cofre de

Cronos.– Por 4 dá 571428! Por 5 dá 714285! Por 6 dá

857142! Sempre os mesmos algarismos!– E por 7? – Bella já estava manipulando o cadeado

do último cofre.– Por 7 dá... dá... não acredito!– Dá 999999 – disse Bella, displicentemente,

mostrando o cofre já aberto. Enquanto isso, Duda, Elisa e Alex estavam abrindo os cofres de Apolo, Afrodite e Ares, respectivamente.

Flávio não se conteve:– Você nunca foi boa de contas, Bella. De onde

veio essa "sabedoria" repentina?Alex falou:

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– Aposto que tem a ver com o livro que ela ganhou... como era o nome mesmo?

– "O Homem que Calculava", disse Duda.– Bom, agora temos "A Guria que Calculou" –

Flávio ironizou.– Calma, Flávio – disse Alex.– Ela já sabia, desde que deciframos o enigma do

xadrez! E não disse nada! – Flávio estava furioso.– Temos mais o que fazer em vez de ficar

discutindo uns com os outros – contemporizou Alex. – Vamos ver o que tem em cada cofre.

Acalmados os ânimos, foram verificar o conteúdo dos cofres. Em cada um havia um estojo de metal. Recolheram os estojos, mas não conseguiram abri-los. Não tinham trinco ou fechadura e a tampa parecia soldada ao corpo. Um pequeno painel, parecido com o de um relógio de pulso digital, sobressaía na tampa, mas não indicava nada. Charles notou um pontinho no painel que piscava de sete em sete segundos, mais ou menos. Abaixo do painel, estava gravada a mesma palavra nos sete estojos: "Dias". Conferiu com os outros: todos piscavam no mesmo ritmo. Todos eram iguais, exceto por um número em algarismos romanos gravado em cada um, correspondente aos números de cada uma das sete paredes da capelinha.

– Vai ver é uma bomba-relógio! – brincou Flávio.– Vamos consultar o Dr. Jurandir – propôs Alex.Voltaram à mansão e dirigiram-se ao escritório.

Cada um levava o estojo que tinha achado. Bella carregava dois: o de Zeus e o de Cronos.

O advogado fez uma pausa em seu trabalho e atendeu, com bonomia, ao pedido da meninada. Recebeu de Bella o estojo de Cronos, examinou-o rapidamente e

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exclamou:– É um cofre com fechadura de tempo! Faz anos

que eu não via um! Seu avô gostava de inventar coisas desse tipo – era seu passatempo predileto.

– Uma fechadura de tempo! – exclamou Bella. – E quanto tempo vai demorar para abrir?

O Dr. Jurandir examinou o pequeno visor de cristal líquido. Ele continuava apagado, exceto pelo ponto que piscava regularmente. Ele notou a palavra "Dias" gravada logo abaixo.

– Vários dias, pelo jeito... – disse o advogado. A bateria é de longa duração e o visor está apagado para economizar energia. A gente só sabe que está funcionando por causa desse pontinho piscante.

– Mas como é que a gente vai saber o tempo certo? – perguntou Bella.

– Não tem um botão para ligar o visor? – reforçou Charles.

– Não. Pelo que me lembro, o visor se liga automaticamente, de tempos em tempos, durante poucos segundos. Tudo é feito para evitar qualquer gasto desnecessário da bateria.

– E quando é que ele vai ligar?– Talvez a cada hora cheia. Vamos esperar... faltam

uns quatro minutos para as duas. Cada um se prepare para anotar o número que aparecer – se é que vai aparecer agora.

Cada um arranjou uma caneta ou um lápis e uma folha de papel – objetos que não faltavam no escritório. Esperaram, ansiosos. Quando o relógio deu as duas horas, nada aconteceu. Bella começou a resmungar, mas Flávio de repente exclamou:

– Apareceu! É o número 725! E já sumiu!

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O Dr. Jurandir esperou um pouco. Por fim, disse:– Bem, parece que vamos ter que esperar até às sete

horas para saber os outros números. Pelo jeito, cada painel só se liga uma vez por dia – na hora correspondente ao seu número.

– Quer dizer que o meu já apareceu! – reclamou Bella. – Uma hora atrás! – E ninguém percebeu...

Flávio não deixou escapar a oportunidade de alfinetar a prima:

– Não se preocupe, Bella. Você só precisa ter paciência até amanhã à tarde...

Bella fez uma careta para o primo, mas não respondeu. Estava frustradíssima.

Mais uma vez, Alex contornou a situação:– Você abriu dois painéis, Bella. O número de

Cronos vai aparecer hoje, às sete horas. Além do mais, os cofres não tem o nome de ninguém escrito, o que quer dizer que pertencem a todos nós. Aposto que todos – incluindo Flávio – vão estar impacientes até amanhã. Mas hoje, ainda temos cinco números para anotar, e temos que esperar uma hora de cada vez – todos nós.

Conformados, resolveram esperar. Alex escalou cada um dos primos para estar presente cinco minutos antes de cada hora cheia, para que todos pudessem participar dos acontecimentos. Ele mesmo estaria presente a cada hora. Deixaram os cofres sobre a grande mesa central do escritório, aos cuidados do Dr. Jurandir e sairam, relutantes.

Naquela tarde, o Dr. Jurandir avançou pouco no seu trabalho. A cada cinco ou dez minutos, uma das crianças vinha ao escritório para ver se alguma coisa acontecera. Pouco antes das três horas, estavam todos lá. Charles pegou o cofre número três e ficou aguardando,

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expectante. Comprimidos em volta dele, os outros aventureiros esperavam, em silêncio.

O relógio deu três horas, e as exclamações do grupo mais uma vez interromperam o trabalho do advogado. Charles anunciou:

– São quatro algarismos: um, zero, oito, nove! Pelo que Flávio disse, pensei que fossem só três.

Flávio admitiu que não dera atenção ao zero inicial, quando o painel de seu cofre havia se ligado. Bella recomeçou a discutir com ele, e Alex novamente teve que acalmá-los.

O resto da tarde passou-se da mesma maneira. Nunca o escritório fora tão frequentado, mas às sete e cinco todos os números estavam anotados na agenda de Alex, menos o de Zeus.

Alex leu em voz alta, tendo o cuidado de indicar o zero à esquerda do primeiro:

– Selene, II, 0725; Hermes, III, 1089; Apolo, IV, 1453; Afrodite, V, 1817; Ares, VI, 2188, e Cronos, VII, 2552.

– Que monte de dias! – disse Bella, desapontada. Quando é que esses cofres preguiçosos vão se abrir?

– Boa pergunta... “Os dias devem ser contados” – citou Alex.

O Dr. Jurandir, prestativo, sacou do bolso sua calculadora, que também funcionava como calendário:

– Hoje é quarta-feira, dia 18 de julho. Os cadeados vão se abrir... vamos ver...

Consultando as anotações de Alex, calculou durante dois ou três minutos, e continuou:

– Todas as datas caem no mês de julho. Os dias variam entre 8 e 14. A fechadura do cofre II está programada para daqui a dois anos e as outras vão abrir

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uma a cada ano, durante os próximos sete anos.– Vamos anotar as datas exatamente – pediu Alex.– Certo. O segundo cofre será aberto daqui a dois

anos, no dia 12. O terceiro, no dia 11, daqui a três anos. O quarto, no dia 10 de julho, em quatro anos; o quinto no dia 8, em cinco anos, o sexto em 14 de julho, daqui a seis anos e o último no dia 13 – daqui a sete anos.

– O que há de especial nesses dias? Para que serve essa variação? – perguntou Charles, intrigado.

Duda teve uma inspiração:– Vamos ver em que dia da semana caem essas

datas!O Dr. Jurandir fez mais alguns cálculos e felicitou

a menina:– Parabéns, Duda! Você está certa. Todas as datas

caem num domingo!Alex reviu as datas e concluiu:– Segundo domingo de julho! Sempre no início de

nossas férias de inverno! O vovô nos garantiu mais sete anos de aventuras, aposto!

Bella aproximou-se do Dr. Jurandir e sussurrou-lhe algumas palavras ao ouvido. Ele sorriu, manipulou sua calculadora por alguns segundos e mostrou à menina o resultado. Bella assumiu a postura de uma deusa onisciente e anunciou:

– Não precisamos esperar até amanhã para saber o número de dias que o cofre de Zeus está marcando: é 361, e amanhã vai ser 360. Alguém quer apostar? – Bella olhou para Flávio, desafiadora.

Mas todos haviam adivinhado a manobra da espertalhona. Ela pedira ao Dr. Jurandir para calcular quantos dias faltavam para o segundo domingo de julho do próximo ano. O próprio Flávio, ignorando a

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provocação da prima, felicitou-a pela ideia, e assim fizeram as pazes.

– Aposto que no ano que vem haverá aventuras até para um bebê de um ano! – exclamou Duda, excitada.

– Com certeza ele se lembrou do Guga. Espero que ele tenha se lembrado que daqui a sete anos eu estarei com dezoito... que será que ele arranjou pra mim? – matutou Alex.

– Agora é você quem está curioso, não é? – Bella alfinetou.

– E você, não está? – rebateu ele.– Eu sei exatamente o que tem em cada cofre: sete

envelopes e um monte de aventuras. Eu estou é impaciente. Curiosa, nem tanto.

– Eu não disse que isso era uma bomba-relógio? – brincou Flávio.

– É... mas do bem! – retrucou Elisa.– Bem, onde é que vamos guardar essas "bombas"

nos próximos anos? – perguntou Flávio.O Dr. Jurandir sugeriu a biblioteca.

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Epílogo m mês se passara. As férias haviam terminado, mas nessa tarde de sábado, 11 de agosto, todos

estavam de novo reunidos para a missa de trigésimo dia, inclusive o Dr. Jurandir e os empregados. Após a missa, voltaram para a mansão e sentaram-se na varanda, conversando e apreciando o belo fim de tarde. O pequeno Guga, com seis dias de idade, dormia placidamente no colo da Graça.

U

– Gente, essa é a herança mais bacana do mundo! – exclamou Flávio.

– Com certeza – concordou Duda. – É como se o vovô continuasse conosco por mais sete anos!

– Vai ser muito legal! – disse Elisa.E Guga, acordando da soneca, contribuiu com seu

comentário:– Gu!

– FIM –

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Apêndice 1 – Palavras de pouco uso

As palavras menos usadas e alguns termos técnicos e científicos estão listados neste glossário, em ordem alfabética.

Adaptar Modificar, para servir melhor.Agourento Que traz más notícias (maus agouros). De agúrios – predições dos águres (adivinhos) antigos.Ancestral (adjetivo) Da família, há muitas gerações.Assomar Surgir, aparecer de repente.Assumir a postura Fazer a pose.Banido Expulso, enxotado.Bonomia Boa vontade.Boquiaberto Surpreso, de boca aberta.Cabala Antiga tradição judaica que dá valor sobrenatural a letras e números em certos textos.Caramanchão Grade horizontal para suportar plantas trepadeiras, formando um teto de folhas vivas ao ar livre.Carrilhão Conjunto de sinos afinados. Relógio musical.Circunstantes Pessoas presentes. Usado normalmente no plural.Clave Símbolo que indica a tonalidade básica das notas na pauta musical.Constatar Conferir, assegurar-se, convencer-se.Contemporizar Acalmar, ganhar tempo.Criptografado Codificado, cifrado, escrito em código.

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Dissuadir Convencer alguém a desistir. O contrário é persuadir.Enxadrístico Relativo ao jogo de xadrez.Epílogo Última parte, capítulo final que fecha a obra.Espólio Bens deixados por uma pessoa quando morre.Euforia Alegria entusiasmada.Eureca Exclamação grega que significa "achei!", famosa por ter sido proferida por Arquimedes quando encontrou a solução de um difícil problema de hidrostática.Expectativa Espera ansiosa.Extremado Pessoa que defende suas ideias com teimosia. Não confundir com extremista (fanático, que usa de violência) nem com extremoso (que cuida com amor).Fuso horário Área entre dois meridianos onde vale a mesma hora legal, ou civil. Serve para evitar que os relógios tenham que ser acertados em viagens pequenas.Hora legal A hora dentro do fuso horário. O mesmo que hora civil. Pode ser alterada no verão.Imemoriais De que ninguém se lembra. Usado quase sempre no plural.Infâmia Vergonha.Interlúdio Intervalo, pausa entre partes de uma obra.Interpelar Interromper com perguntas.Latitude Distância do equador ao lugar, medida em graus.Meridiano Linha imaginária que o Sol atravessa ao meio-dia, no lugar.Mística (substant.) Qualidade sobrenatural, magia.

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Mitologia Conjunto de lendas e tradições antigas da cultura de um povo.Mordaz Irônico, desdenhoso.Notário Tabelião. Funcionário de cartório. Palavra fora de moda hoje, mas muito usada na época da Proclamação da República.Onisciente Que sabe tudo.Panteão Templo dedicado a vários deuses ao mesmo tempo.Partitura Representação gráfica de uma música com símbolos convencionais.Patriarca Homem idoso que é considerado o chefe de uma família.Peculiar Próprio, especial, diferente.Perscrutar Pesquisar, procurar, investigar, perquirir.Prólogo Parte inicial de uma obra, que prepara o leitor ou espectador para melhor entender ou apreciar a trama.Quorum Palavra latina. Número de pessoas em uma assembleia.Resgatar Tirar da prisão ou do cativeiro. Libertar.Ruminar Pensar, refletir. Remoer o alimento como fazem os bois.Solstício Passagem do Sol pelo ponto mais distante do equador. Acontece duas vezes por ano, marcando o início do inverno e do verão.Titãs Semideuses da mitologia grega que tentaram derrubar o céu.Ultrassonografia Exame que produz uma imagem do interior do corpo por meio de ultrassons (sons tão agudos que não podemos ouvir). Muito usado

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na Medicina.Unanimidade Votação em que todos concordam.Xeque-mate Jogada vencedora no xadrez, que impede o adversário de salvar seu rei da captura. É o final da partida.Zodíaco Conjunto das 12 constelações por onde o Sol, a Lua e os planetas passam no seu movimento aparente, a cada ano.

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Apêndice 2 – Como fazer uma grade de código

Para fazer uma grade de código de sete por sete casas em cartolina:

1 - Desenhe um quadrado com 7 centímetros de lado.2 - Divida o desenho em quadrados menores, de 1 cm de lado cada um.3 - Marque no centro uma seta.4 - Veja que a grade é formada por 4 quadrados:

- o quadrado externo, com sete casas de

cada lado;- dentro dele, outro quadrado, com cinco casas de

cada lado;- mais para dentro, um terceiro quadrado, com três

casas de cada lado;- bem no centro, o quadrado onde você desenhou a

seta.5 - Recorte a grade, deixando uma borda de meio

centímetro em volta.Para escolher as casas que deverão ser vazadas,

conte as posições a partir da casa de esquina (casa 1), até à próxima esquina, que será também a casa 1. Em cada quadrado, abra somente uma casa para cada posição, virando a grade para onde você quiser. Isso quer dizer que o quadrado externo terá seis casas vazadas, o segundo quatro e o terceiro duas. A casa central não é usada nesta

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grade.No exemplo ao lado,

está mostrada a grade da história. As casas vazadas estão sombreadas.

Note que nenhuma se repete em cada quadrado. Você pode mudar o código vazando as casas em posições diferentes, mas seguindo as regras acima, ou seja, sem repetir

posições.Dica: faça furos redondos, para não interferir com

casas vazadas próximas. Se você tiver um vazador redondo de 1 cm, use-o. Outra opção é uma tesourinha de unhas, curva.

Com sua grade pronta, está na hora de escrever sua mensagem secreta. Desenhe o contorno da grade em uma folha de papel, coloque a grade na posição inicial (com a seta para cima) e escreva sua mensagem nas casas abertas, deixando vazias as casas onde existem espaços entre as palavras. Gire a grade quando acabarem as casas. Para mensagens grandes, combine duas ou mais mensagens menores. Só quem tiver uma grade igual poderá ler a sua mensagem.

Este método permite construir grades de qualquer tamanho. Lembre-se que grades muito grandes são difíceis de fazer e de usar e que grades pares (de seis ou oito casas de lado, por exemplo) não têm o quadrado central.

Dicas para complicar mais a sua mensagem:1 - Escreva a mensagem de trás para a frente, antes

de codificá-la na grade;

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2 - Use o avesso (o verso) da grade para a codificação;

3 - Gire a grade para a esquerda, em vez de para a direita.

A regra de ouro do criptógrafo é: "Se podemos complicar, para que vamos simplificar?"

Mas lembre-se: quem vai receber a mensagem tem que ter uma cópia da grade e tem que saber como foi escrita!

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Apêndice 3 – Obras e autores citados

O Homem que Calculava é a história de Beremiz Samir, um matemático persa, que viaja de sua aldeia natal até Bagdá. No decorrer da história, usa seus conhecimentos para resolver diversos problemas do dia-a-dia, e acaba conquistando um cargo de confiança de um vizir e o amor da filha de um poeta da corte do Califa Al-Motacém.

O autor é Ali Iezid Izz-Edin Ibn Salim Hank Malba Tahan, ou simplesmente Malba Tahan, natural de Muzalit, na atual Arábia Saudita.

Na verdade, esse autor árabe nunca existiu, exceto como pseudônimo do professor Júlio César de Mello e Souza, genial matemático brasileiro, que detestava os métodos de ensino vigentes na época. Ele deu vida a Malba Tahan para poder publicar incógnito diversos contos onde os problemas matemáticos, lógicos, filosóficos e até religiosos eram apresentados sob um aspecto lúdico, atrativo e compreensível. O jornal A NOITE foi seu primeiro veículo, com a série CONTOS DE MALBA TAHAN. Deu verossimilhança ao pseudo-autor árabe através de seu profundo conhecimento da cultura árabe – berço da matemática moderna – e da criação de um segundo personagem fictício: Breno de Alencar Bianco, o suposto tradutor das obras de Malba Tahan.

"Malba Tahan" publicou ao todo 56 livros. O mais famoso é justamente O Homem que Calculava, traduzido para diversos idiomas. Sob seu verdadeiro nome, Mello e Souza publicou cerca de 50 outros livros.

Nasceu no Rio de Janeiro, em 6 de maio de 1895.

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Lecionou Matemática no Colégio Pedro II, onde alcançou fama por seus métodos pouco ortodoxos. Costumava dizer que os professores de matemática eram sádicos, que se compraziam em inventar dificuldades para os alunos. Seus discípulos o adoravam e seus colegas o olhavam com reservas. Morreu em Recife, no dia 18 de junho de 1974, sem nunca ter posto os pés na Arábia. O dia de seu nascimento é celebrado no Rio e em grande parte do Brasil como o Dia do Matemático.

Num dos episódios de O Homem que Calculava são apresentadas as curiosas propriedades do número 142857, que na verdade é formado pelos algarismos da dízima periódica da fração 1/7...

Mathias Sandorf é de Júlio Verne (Jules Gabriel Verne) – escritor francês internacionalmente reconhecido, que dispensa apresentação mais detalhada. O autor de Viagem ao Centro da Terra (1864), Vinte Mil Léguas Submarinas (1870) e A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (1873), entre tantos outros romances infanto-juvenis, é considerado um pioneiro da ficção-científica e tem inspirado, através dos anos, inúmeros escritores do gênero. Nasceu em 8 de fevereiro de 1828 e faleceu em 24 de março de 1905.

Seu livro Mathias Sandorf conta a saga de um conde húngaro que lidera uma conspiração para libertar sua pátria da tutela austríaca, na época dos Habsburgo. Um traidor infiltrado em sua própria casa descobre a grade de código usada nas mensagens do grupo e entrega os patriotas à polícia. O conde consegue fugir do presídio, mas perde seus companheiros e simula estar morto para escapar. Adota uma nova identidade e, muitos anos depois, tem a oportunidade de fazer justiça aos

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amigos e inimigos.

Partidas e Problemas de Xadrez (1955) é uma obra pouco conhecida de José Valadão Monteiro, mestre de xadrez também pouco conhecido do público brasileiro em geral, mas muito respeitado na comunidade enxadrística nacional.

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Apêndice 4 – Quando e onde?

Em que ano esta história se passa? Em que lugar os primos desfrutam suas férias de inverno?

Convido o leitor a vestir seu boné quadriculado e a empunhar sua lupa de detetive para investigar essas minúcias.

Há muitas pistas no texto que permitem descobrir o ano:

1 - Capítulo 1: o Barão foi enterrado numa sexta-feira 13.

2 - Capítulo 3: Ceres e Eris já são considerados planetas; Makemake e outros mais recentes não são citados.

3 - Capítulo 4: o solstício de inverno ocorreu há poucas semanas...

4 - Capítulo 7: confirma que as férias de inverno dos primos começam quase sempre no segundo domingo de julho.

5 - Ainda no Capítulo 7, a contagem dos dias entre os anos consecutivos nos indica os anos bissextos.

Em que ano o dia 13 de julho caiu numa sexta?Dica: investigue calendários. Lembre-se que o 13 de

julho cai numa sexta a cada 6 ou 7 anos.Outra pista importante para o ano é revelada pelas

datas em que os cofres de tempo estã programados para se abrirem (sempre no segundo domingo de julho).

Para descobrir o local onde fica a mansão dos Sete Ramos de Oliveira:

1 - Fica no litoral brasileiro, numa região em que o horizonte marítimo se abre na direção do nascer do Sol.

2 - Na data em que o arco-íris aparece na biblioteca (17 de julho), o Sol nasce às sete horas e sete minutos.

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Nota: existem diversos "sites" na Internet que fornecem a hora exata do nascer do Sol. Basta informar a data e o local. Se você já descobriu o ano, poderá encontrar o local por tentativas.

Mas existe um complicador: Eduardo, no seu cálculo, usou uma tabela de efemérides estelares, que fornecia a posição geométrica do centro do astro; mas, na maioria das vezes, o momento do nascer do Sol é dado pelos "sites" considerando o instante em que a borda superior do disco solar aponta acima da linha do horizonte. A diferença está em torno de dois minutos, pois o Sol leva esse tempo para aparecer pela metade, naquele dia e lugar.

Afinal, se podemos complicar, para que vamos facilitar?

Mas tenho que confessar: eu também não sei o local exato. Suponho que seja em Santa Catarina, um pouco ao sul da capital...

Se você mora ali por perto e dispõe de tempo, paciência e um bom cronômetro, agradeço informações sobre o assunto, de preferência colhidas no litoral, ao alvorecer do dia 17 de julho, no ano de 2011 ou 2015. Mas por favor, não olhe diretamente para o Sol, sem proteção para os olhos! Como é que você vai consultar o cronômetro, se estiver cego?

Pronto! Sem querer já dei mais uma dica sobre o ano em que se passa a história...

Boa sorte!

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Ego InVerso

Pequena coletânea de minhaspequenas poesias, cada uma com sua

pequena história

Seleção de poesias publicadas emO Outro Nome da Rosa

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Dedicatória

Minha Helena,A ti dedico estas humildes flores,Ramalhete pobre, muito mais quiseraIn verso ego dar-te, tanto, tanto...A ti, Helena!

Helena amada,Em ti repouso de duras batalhas,Lidas perenes de perene luta,E teu amor tem sido meu troféu;Nos braços teus reside minha força,Amada Helena!

(in memoriam)

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Prefácio Rodolfo é um alquimista da palavra, tem a

capacidade de transformar a letra em belíssimas traduções de nossos sentimentos. Seus versos são esculpidos, limados, adornados. Ego InVerso é uma viagem ao interior desse mago, onde se prova em cada poema a intensidade com que se entrega a cada composição. As nuances de várias almas, várias formas e sentir, povoam toda obra.

Sua forma perfeita, as palavras eruditas enriquecem a literatura. A preocupação com a métrica, sem cair no superficial, é o diferencial da sua arte. Seu estilo nos remete ao barroco; uma inclinação à dificuldade, pregando a idéia de que nada é estável e tudo deve ser decifrado, faz dessa coletânea uma prazerosa viagem literária.

Si Fernandes

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sábado, 9 de janeiro de 2010

Preito a una Diosa "Somos culpados de muitos erros e faltas, mas

nosso pior crime tem sido abandonar as crianças, negligenciando a fonte da vida. A maioria das nossas necessidades pode esperar. As crianças, não. Neste exato momento, seus ossos estão sendo formados, seu sangue está sendo feito, seus sentidos estão se desenvolvendo. A elas não podemos responder 'amanhã'; seu nome é Hoje.” (Gabriela Mistral, Su Nombre es Hoy.)

Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga nasceu no Chile em 7 de abril de 1889. Adotou como poetisa o pseudônimo de Gabriela Mistral. Foi a primeira personalidade latino-americana a receber o Nobel de Literatura, em 1945. Exerceu cargos diplomáticos em diversos países, inclusive o Brasil. Aqui, residiu em Petrópolis e em Niterói. Foi amiga chegada de Cecília Meireles. Faleceu em 10 de janeiro de 1957.

Muitos acreditam que a conhecida Oração da Paz, atribuída a S. Francisco de Assis, foi obra dela. Mas não há provas a favor nem contra essa hipótese.

Em 2005 foi organizado um evento para comemorar os sessenta anos da conquista do Nobel. Niterói participou, através da UFF, onde minha filha estudava na época. Interessei-me pelo projeto e acabei cedendo à tentação de escrevinhar alguma coisa a respeito. Imaginei Gabriela e Cecília, em seus primeiros contatos, conversando e entendendo-se num portunhol rústico, mas cheio de poesia. E resolvi celebrar o evento com um acróstico em portunhol (não tão poético, mas certamente mais rústico). Mas os anos se passaram, e a homenagem se perdeu nos arcanos de meus cometimentos esquecidos.

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Mas aproxima-se o onzentésimo primeiro aniversário do nascimento da deusa, e as náiades dos gelados riachos chilenos resolveram tomar minha mente como palco e dançar em meus sonhos, para relembrar-me as obrigações de um prosélito distraído. Portanto, lanço aos ventos da Internet minha humilde homenagem a Gabriela, na esperança de um bom acolhimento por parte de seus admiradores.

PREITO A UNA DIOSA - Acróstico

Gabriela es tu nombre de guerra,Aún sea um nome de paz.Brasil fué tua segunda terra,Recuerdos de Chile nos traz.Ingeniera de rimas e danças,En el alma emociones perfeitas;Las palavras fluem de bonanzasAsí como de plata são feitas.Maestra de grandes e niños,Inclina-se el mundo a tu génio.Salud! Teus hermanos y amigosTe aplaudem en este proscénio,Renovando os votos antigos,Adentrando un novo milénio,Lembrando-te con mil carinhos.

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Encerro esta homenagem transcrevendo o ensinamento que ela destinou aos que ensinam:

DECALOGO DEL MAESTRO1. AMA. Si no puedes amar mucho, no enseñes

niños.2. SIMPLIFICA. Saber es simplificar sin restar

esencia.3. INSISTE. Repite como la Naturaleza repite las

especies hasta alcanzar la perfección.4. ENSEÑA con intención de hermosura, porque

la hermosura es madre.5. SE FERVOROSO, maestro. Para encender

lámparas has de llevar fuego en tu corazón.6. VIVIFICA tu clase. Cada lección ha de ser viva

como un ser.7. CULTIVATE. Para dar hay que tener mucho.8. ACUERDATE de que tu oficio no es mercancía

sino que es servicio divino.9. MIRA a tu corazón antes de dictar tu lección

cotidiana y vé si está puro.10. PIENSA en que Dios te ha puesto a crear el

mundo de mañana.

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quo Vadis? Houve época em que minha fome de leitura era

insaciável. Desde os gibis infantis até a Bíblia, passando por obras de divulgação científica e de ficção, tudo era devorado. Os versos brancos que se seguem nasceram de uma combinação eclética de leituras de minha adolescência: "Nascimento e morte do Sol" (George Gamow), "Quo Vadis?" (Henryk Sienkiewicz) e o Livro do Gênesis, tudo temperado por um crescente interesse pela teoria do "Big Bang".

Quo Vadis?

Há tanto tempo...Tanto, tanto tempo passou sobre tudo...

Tudo esvaiu-se na fumaça,No pó,

No passado;Tudo tornou-se neblina na lembrança dos homens,

Tornou-se tudo neblina na memória da eras,Do espaço,De Deus.

Nada existia então.Não existia a Vida,

Nem o Tempo,Nem o Espaço:

In principio erat Verbo.E eis que surgiu um ponto,

Um ponto geométrico,Sem dimensões;

Um nada.

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Mas, nesse nada,Rugia tudo:

Rugia o Tempo, na ânsia de marcar a sucessão das Eras;Bramia o Espaço, querendo medir a distância entre os

seres;Gritava a Vida, aspirando a determinar a soberania do

Amor.

E o ponto explodiu em fulgurações cintilantesQue levavam consigo o Tempo,

O EspaçoE a Vida.

E surgiram majestosas as galáxias,E os sóis,

E os planetas.

Surgiu a Terra.A Terra era informe e nua, e o espírito de Deus pairava

sobre as águas.E nas águas, a Vida fundou seu reino;

E vieram os peixes,E os anfíbios,E os répteis ,

E os mamíferos.

Surgiu o Homem.Surgiu, então, na Terra, uma centelha da divina sabedoria

na inteligência do Homem.E vieram os povos,E vieram as nações,

E as civilizações;E veio também a paz,

A amizade,

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A farturaE o amor;

Mas veio também a fome,A guerra,A miséria

E o sofrimento.

E eis que chegamos hoje à encruzilhada fatal:Quo vadis, Homo?

Aonde vais, Homem?Aonde vais?

Hoje, tantos anos depois, tenho minhas dúvidas quanto à validade da teoria do Big Bang. Mas isto fica para outra ocasião.

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sexta-feira, 5 de março de 2010

Deusas Li, não me lembro onde, que o homem viveria

perfeitamente sem as mulheres "se elas não fossem tão macias e quentinhas..."

O cara que escreveu isso sofre com certeza de um caso de alienação da realidade, que resulta numa dependência completa em relação às mulheres.

Tudo bem, nós, os homens normais, sabemos que somos totalmente dependentes dessas lindas, macias e quentinhas criaturas; mas sabemos também que elas têm outras qualidades que ultrapassam em muito as puramente físicas. Nós, os machos, sabemos que nossa dependência das fêmeas é profunda, vital, transcendental. E assim como existem as "Memórias Póstumas", um Machado moderno deveria escrever suas "Memórias do Útero" para celebrar essa dependência absoluta.

Mas somos tão egocêntricos que as mais das vezes nos esquecemos de orar às nossas Deusas, nos dias de culto. Felizmente temos um despertador mais ou menos confiável que nos alerta nos aniversários de nascimento e casamento - às vezes de namoro e noivado - e no Dia das Mães. Mas ele costuma falhar no Dia da Avó e no Dia Internacional da Mulher - que é agora, ô meu! Acorda!

Bem, eu não tenho competência para homenagear as mulheres como elas merecem. Sorte minha que elas são generosas e aceitam uma humilde bijuteria com o mesmo sorriso encantador com que acolhem um colar de esmeraldas.

Portanto, envio a elas a minha bijuteria, e sei que elas a aceitarão com prazer.

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Mulher,

Quisera ser um poetaPara em versos cantar

Numa rima curta e retaAs curvas do teu andar;

Quisera ser um atletaPara em ouro te ofertarA medalha que uma seta

Certeira iria ganhar;

Quisera ser um estetaPara poder burilar

Numa ametista concretaO brilho do teu olhar;

Quisera ser um profetaPara o futuro enxergarE em poesia discretaTeu destino exaltar.

Parabéns a todas, minhas queridas.

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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Rimas para Mãe Na maioria dos países lusófonos, o "em" tônico

final é pronunciado como "ãe": também = tambãe, porém = porãe, etc. Isto proporciona excelentes rimas fonéticas para a palavra "Mãe". Nossos primos chegados têm menos problemas com suas mères e madres; mas nós brasileiros, com nosso sotaque peculiar, pronunciamos tambéim, poréim - o que levou muito tupiniquim desavisado a declarar que "Mãe não tem rima".

Besteira. A palavra "Mãe" tem mais rimas que qualquer outra - e não somente aqui no Brasil.

Dizem que Mãe não tem rima:É claro que rima tem!Rima com campos de flores,Com carinhos, com amoresE com ternura também.

Rima bem com emoção,Com pulsar de coração,Com sorrisos, com sorvete,Com bolo de aniversário,Com cheiro de sabonete.

Rima com anjo da guarda,Com doces, com goiabada,Com cheiro de roupa limpa,Com perfume de lavanda,Que não rimam entre si.

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Rima bem com acalantos,Com beijos, com emoção,Com lágrimas e alegrias,Com festas e com folias E com sossego, pois não.

Com belos contos de fadasE estórias do bicho-papão;Com desenhos num caderno,Com cobertores no inverno,Com refrescos no verão.

Também rima com poema,Com perfume de alfazema,Estórias para dormir,Cantigas para embalar,Carícias para acordar.

Rima, é claro, com beleza,E com ceia de Natal;Com refúgio, fortaleza,Com bondade, com firmeza,Com canteiros no quintal.

Mãe rima com esperança,Acalantos, goiabada,Com saudades, com lembrança,Rima com anjo da guarda,Com brinquedos, com criança.

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Com chocolate, com beijo,Com perfume de baunilhaCom sorrisos de alegria,E com cheiro de comida,Com lágrimas, com poesia.

Quem disse que Mãe não tem rima?Evidente que rima tem!!!Rima com a grande ternuraDa candura, da bravuraDe suas bênçãos. Amém.

Quem diz que Mãe não tem rimaPoeta é não senhor.Mãe rima com tantos entes,Belos, nobres, transcendentes...Rima perfeita: "Amor".

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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ricas Estrelas Nos meus anos de infância e adolescência,

morando em cidades do interior (Cantagalo-RJ, Barbacena-MG, Rio Verde-GO), acostumei-me a contemplar o céu noturno longe das luzes das metrópoles. As estrelas cativavam-me especialmente. E, já na juventude, começando a versejar, resolvi homenageá-las com rimas ricas - formadas com palavras de diferentes classes gramaticais. Bem ou mal, alguma coisa saiu:

Como serão as estrelas?Imagino aqui a vê-las,Deitado, a filosofar.Serão como as andorinhas,Ou como as aves marinhasQue adejam sobre o mar?

Como serão as estrelas?Dizem os sábios que elasSão astros celestiais.São esferas de gás quente,Brilhante, incandescente,Que não fenecem jamais.

Como serão as estrelas?São tão distantes, tão belasNas profundezas dos céus...Devem ser teus devaneios,Teus sonhos e teus anseios,Brincando à sombra de Deus!

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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Bodas de Pérola No início de agosto, publiquei uma matéria sobre

as superstições e crendices associadas à sexta-feira 13, que se aproximava. Entre os comentários recebidos, o de uma assídua leitora e amiga deixou escapar que estaria comemorando suas bodas em 13 de setembro. E em homenagem ao evento, resolvi enfeitar com alguns versos a bela imagem (duplicada e editada) de uma nau, por ela bordada (ela deixa escapar muita coisa bonita em seu blog). E com a sua permissão, quero homenegear com ela todos os casais que estão completando ou já completaram trinta anos de descobertas.

Trinta anos navegandoLado a lado, efrentandoTempestades, furacões,Invernos gélidos, rudes,E causticantes verões,

Vencendo contrários ventos,Varando estreitos passos,Arrecifes bordejando,Arribando a calmos portos,Ignotos cabos dobrando...

Se rajada traiçoeiraInsiste em os separar,Os timoneiros, serenos,Já rizam pano redondoPara não se desviar.

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Na noite tranquila e bela,Somente uma estrela os guia;Límpida, rútil, brilhante,Nascida de alma radianteE de um peito que confia.

Leme, timão, malaguetas,Astrolábio e barquilha,Bitácula, mapa e compasso,Rumo certo, passo a passo,Vogando de ilha a ilha.

Parabéns aos navegantesQue as Pérolas já acharam.Que após venham Corais,Esmeraldas, Rubis, OurosE tantos, tantos tesouros...

Virão, sim, os Diamantes,Platinas e muito mais;Pois Deus abençoa os barcosTripulados por amantes,Navegados por casais.

Parabéns, Alma... parabéns a todos os casais que já alcançaram ou estão alcançando a Ilha das Pérolas!

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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Elegia para Hod A Graça anda tendo problemas com seus Botões de

Madrepérola, e visitou-me recentemente para avisar-me que um outro blog - o Carpe Diem, do Hod - perdeu seu comandante.

Nesse breve intervalo em que nossos blogs se cruzaram, pouco contato tive com o Hod - apenas na leitura de seus comentários nos Botões, que me convenceram da beleza de sua poesia.

Quis compor em sua homenagem uma Elegia, mas tive que aceitar a co-autoria com um grande Mestre, que decerto o recebeu com todas as honras.

Elegia para Hod

Menos dores para ele,Mais saudades para o mundo;Menos risos sobre as faces,Mais lembranças lá no fundo...

Menos versos na janela,Mais um poeta com Deus;Menos uma flor na Terra,Mais uma estrela nos Céus...

Virão talvez do céu estrofes loucas,Rimas soltas, metro livre, frases nuas...Lamentos, risos, lágrimas e cantos,Dançando ao vento das memórias tuas.

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Os Sete Ramos de Oliveira

Se lá no assento etéreo onde subisteMemória desta vida se consente, *Relembra, amigo, tua amiga genteQue por amar-te anda hoje tão triste.

* Os versos em itálico são de Camões.

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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sassevasá Prometi à amiga Milene uns versinhos capengas,

para seu aniversário. E sabendo que ela tinha um sapo de pelúcia ao qual chamava "Príncipe Embutido", dei asas à imaginação...

Eu ando preocupadoCom seu príncipe embutido,Esse batráquio assanhado,Seu namorado enrustido.

Não pense que é ciúme,Não seja tão convencida;É o cuidado de costumePor uma amiga querida.

Eu sou bruxo e não me esqueçoDe uma importante minúcia:O feitiço é pelo avessoCom bichinhos de pelúcia.

Seja, pois, inteligente;Não beije o sapo sapeca,Que em vez dele virar gente,Você vira perereca.

PS: se por acidente você virar perereca, beije de novo o sapão, mentalizando a fórmula mágica "sassevasá" (às avessas, lido às avessas). Pelo que eu me lembro, isso deve funcionar.

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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Milene, Milene, Milene Também para o aniversário da Milene fiz um

tríplice acróstico:

Para os políticos...

Milene é o nome dela,Inspetora outra vez;Lá do alto da janelaEnxerga zoom dezesseis;Na briga contra a panela,Está de olho em vocês...

Para os indiferentes...

Militante de carteira,Indignada muletante,Lutando contra a cegueiraE a indiferença gritanteNo banco, ônibus, feiraE no shopping deslizante...

Para os amigos...

Mimi, mimada, mimosa,Inquieta, porém feliz.Linda pétala de rosa,Está marcando outro xisNesta data gloriosa,Em anos primaveris.

Feliz aniversário, moça...

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Luzes da Ribalta Não gosto de teatro e não gosto de ópera. Acho

que nasci com um defeito de fabricação sem "recall" e sem conserto, que me provoca uma espécie de indiferença pelos espetáculos da ribalta.

Mas há um tipo de espetáculo "de palco" que aprecio muito: é a apresentação de corais. As vozes em harmonia de homens e mulheres de diversas idades e classes sociais são para mim uma melodia celestial, um verdadeiro retrato da confraternização que todos gostaríamos de ver pelo mundo. E o canto coral me reconciliou com algumas árias operísticas, mesmo cantadas em solo.

Tem uma ária em "Sansão e Dalila", de Camille Saint-Saënz, cuja segunda parte é, no mínimo, enternecedora. O nome da ária é "Meu coração se abre à tua voz"; e imaginando como ficaria essa encantadora parte final num canto coral, meti-me a fazer uma letra em português para ela:

Sim, eu te amarei...Eu te amarei por toda a vida!Sim, eu te amareiNa derradeira despedida!Todo o meu coraçãoSe abre ao teu amor,Como pela manhã,Ao beijo do sol se abre terna a flor...Sim, eu te amarei,Eu te amarei,Amor...

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Não sou musicista e não posso julgar o valor da adaptação para corais ou sua viabilidade; mas, na qualidade auto-assumida de poeta menor, acho que a letra não é de se jogar fora.

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domingo, 7 de novembro de 2010

Comédia O teatro grego legou-nos os símbolos da Tragédia e

da Comédia, sob a forma de máscaras - uma sorridente e a outra tristonha. Mas o sentido exato da palavra comédia modificou-se sutilmente nos últimos séculos.

No século XIV, a palavra ainda conservava seu significado original - uma narrativa com final feliz, ao contrário da tragédia. E a Divina Comédia (c. 1310) retrata fielmente esta conotação. Ela conta como Dante - o próprio autor - após "perder-se", foi guiado por Virgílio pelos caminhos infernais e depois entregue às mãos de sua amada Beatriz - uma guia capaz de conduzi-lo ao próprio Céu.

Se você não tem paciência para ler o extenso poema original, eu espero que goste do humilde soneto no qual procurei resumir a narrativa épica do grande vate.

Comédia Antiga

Perdi-me de mim mesmo, certo dia,E fui achar-me numa selva escura.Tu te doeste desta alma sombriaE me guiaste nesta senda dura.

Por tua mão, pela Geena fria,Os nove ciclos esta alma impuraPassou temente, sem ver luz do dia;E agora falo à guia mais segura:

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Ao próprio purgatório me levasteE guiaste meus passos uma vez mais,Por que não fosse eu jogado às feras;

Enfim, tu me elevaste às esferasOnde anjos cantam coros celestiais,Celebrando o amor que me entregaste.

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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Eternidade Eu sempre me achei muito seguro. Para mim, a Rê

e seus colegas psicólogos estariam desempregados se todos fossem como eu.

Ledo engano. Nesses últimos dias, mergulhado na tristeza da perda de Maria Helena, ela, sem que eu percebesse, me analisou, fez seu diagnóstico e me prescreveu a melhor terapia: escrever. E soube induzir-me ao tratamento: mandou-me em comentário, há alguns dias, um soneto do Mário Quintana que já se havia sumido de minha lembrança:

Ah! os Relógios!

Amigos, não consultem os relógiosQuando um dia eu me for de vossas vidas,Em seus fúteis problemas tão perdidasQue até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:Não o conhece a vida - a verdadeira -Em que basta um momento de poesiaPara nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eternaSomente por si mesma é dividida:Não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantadosQuando alguém - ao voltar a si da vida -Acaso lhes indaga que horas são...

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Pois não é que o bendito sonetinho ficou me azucrinando as idéias? Foi de propósito, né, dona Rê?

Bem, tenho uma superabundância de tempo - que, conforme alerta Mark Twain, não é dinheiro - e resolvi exorcizar o soneto tomando-o como mote e compondo uma glosa, em tercetos:

Glosa

Não quero constar de Martirológios;E se a hora chegar das despedidas,Amigos, não consultem os relógios.

Pois horas eu vivi tão bem vividasQue as cantarei em salmos eloquentesQuando um dia eu me for de vossas vidas.

Em frações de minutos repartidasEssas horas não foram, por contentes,Em seus fúteis problemas tão perdidas.

E se querem fazer-me apológiosNão mos façam como os da negra sorte,Que até parecem mais uns necrológios...

Sejam mais como beijos de consorteE não como areia de ampulheta,Porque o tempo é uma invenção da morte.

A natureza, à sua maneiraDo tempo desconhece esta faceta;Não o conhece a vida - a verdadeira.

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Para tornar tristeza em alegriaEventos há - a alma é parceira -Em que basta um momento de poesia.

Não queiras tu tapar Sol com peneira,Pois basta de um segundo uma fatiaPara nos dar a eternidade inteira.

Inteira como o é uma cavernaOnde há túneis infindos sem saída;Inteira, sim, porque essa vida eterna

Em divisões nunca será partida;Toda fração é una e sempiterna,Somente por si mesma é dividida.

Assim inteira é da glória a ação:Na derrota ou vitória aos soldadosNão cabe, a cada qual, uma porção.

Heróis e mártires serão amadosEternamente, sem qualquer senão;E os Anjos entreolham-se espantados,

Buscando tontos resposta pedida,E ficam sempre em grande confusãoQuando alguém - ao voltar a si da vida,

Do Paraíso a alma no portão,Do fútil que é o tempo esquecidaAcaso lhes indaga que horas são...

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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pra você... A Lois estava um pouco desanimada... então eu fiz

umPequeno Poema de Natal para uma Querida Amiga

Num momento esquecido no Tempo,Num lugar já perdido no Espaço,Uma Estrela perdeu-se a si mesma,E sua Luz se perdeu.

Anos-luz de Espaços mais tardeE milênios de Tempos mais longe,Num aprisco no Tempo perdido,Numa noite no Espaço esquecida,Uma Luz que perdera seu astroE uma Estrela carente de LuzPor acaso se encontraram;

O Tempo achou seu lugar,O instante achou seu Espaço,A Estrela rebrilhouE o milagre aconteceu:Momento e lugar se encontraram,Espaço e Tempo se uniram,E o mundo de luz se encheu!

Rodolfo Barcellos

FELIZ NATAL, LOIS!

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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Inocência Às vezes, as lembranças das loucuras da juventude

impõem-se à inspiração...

Lembro ainda aquele dia ensolaradoEm que tu me ofereceste a rendição;Quando em vez de te fisgar eu fui fisgadoNo teu jogo tão sutil de sedução.

Derrotei tuas negaças, teus receios,Desnudei teus pensamentos indiscretos,Conquistei os altos cumes dos teus seios,Visitei os teus lugares mais secretos.

As mãos minhas escalaram róseos montesE meus dedos deslizaram por ravinas;Os meus beijos encontraram tuas fontes,Meu desejo cavalgou pelas campinas.

Minha alma se perdeu em teus cabelos,Minha voz em teus gemidos se esvaiu;Meu abraço calou todos teus apelosE o meu ser em teu ser se consumiu.

Explorei teus sentimentos mais profundos;Meus sentidos no teu corpo se afogaram.Descobri os quatro cantos de teus mundos,Minhas pernas com as tuas se trançaram.

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Invadi então teu templo mais sagradoE prostrei-me ante o altar de teu prazer;Oferendas lá depus de apaixonado,Em penhor de todo este meu querer.

E assim me despedi da adolescênciaE ingressei num novo mundo sedutor;Com o sexo me roubaste a inocênciaE depois ma devolveste com o amor.

Ó tu, que me conduziste às alturas!Ó tu, que me levaste às profundezas!Ó tu, que me trouxeste tais loucuras!Ó tu, que me exorcisaste as tristezas!

Bendita sê! Bendita a dita minha,Pois que em meu coração inda és rainha!

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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Plágio O plágio, muitas vezes considerado o vilão

máximo da criação musical e literária, é usado sob a forma de paródia por praticamente todos os poetas - desde os grandes vates universais aos simples bardos menores. E como instrumento de aprendizado e aperfeiçoamento, seu valor é precioso. Se você, que me lê, tem veleidades de cometer suas poesias, não tenha receio de imitar aquele poeta que admira - mas sempre indicando a fonte que inspirou seu "plágio".

É claro que não me refiro ao plágio mal-intencionado, à apropriação indébita que deu a essse termo a conotação pejorativa que tem hoje. E aqui está uma pequena amostra das inúmeras clonagens que eu - e outros - perpretamos...

Camões - Os Lusíadas:As armas e os barões assinaladosQue da Ocidental praia Lusitana,Por mares nunca dantes navegadosPassaram ainda além da Taprobana...

"Plágio" meu (paródia):As estirpes e gentes afamadasQue do planalto altivo paulistano,Por selvas nunca dantes desbravadasPassaram muito além do Meridiano...

Petrarca (1304-1374):Questa anima gentil che si diparte,Anzi tempo chiamata a l'altra vita,

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Se lassuso è quanto esser de gradita,Terrà del ciel la più beata parte.

Camões (1524-1580), "plagiando" Petrarca:Alma minha gentil, que te partisteTão cedo desta vida descontenteRepousa lá no Céu eternamenteE viva eu cá na Terra sempre triste.

E eu plagiei o plágio para dar as boas-vindas à minha primeira seguidora lusitana - a minha querida Amélia, a Alma Inquieta do blog "Estados de Alma" - no meu "post" de 19 de abril - "Lilienthal":

Alma minha, inquieta, que sorristeA mim num beijo com sabor do Tejo,Tornando alegre minha alma triste,Bem-vinda sejas! Tudo te desejo.

E aproveitei o embalo para dar as acolhidas ao seu inseparável alter ego literário - o Sergio, do "El Puente" (Argentina):

E tu, que constróis pontes de amizade,Vencendo léguas, anos e olvido,Para aliviar meu peito tão sofrido,Bem-vindo sejas! E fica à vontade!

Pois não é que hoje, dia 12, ao fazer minha visita habitual à amiga Pat, de "Sincronicidadess", deparei-me com um belo "Quintana"?! De imediato me inspirou um clone-comentário...

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Mário Quintana:Não te irrites, por mais que te fizerem...Estuda, a frio, o coração alheio.Farás, assim, do mal que eles te querem,Teu mais amável e sutil recreio...

Minha paródia:Não exultes, por mais que te elogiem...Serenamente julga a lisonja alheia.Distinguirás, assim, aqueles que sorriem,Dos que te cumprimentam com a boca cheia...

Pois então... vamos "plagiar" e imitar os bons!

NOTA: O plágio mal-intencionado é considerado crime. Uso aqui o termo em sua acepção mais geral - a paródia e outros exemplos de intertextualidade.

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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Colcha de Retalhos Fiz uma poesia chamada "Ciúme". E, por bardo

menor que seja, percebi mal e mal que ela se prestava a inúmeras metamorfoses.

Sei que uns poucos dos meus amigos quererão inventar suas próprias composições poéticas. Alguém já disse que "fazer poesia é fácil; as palavras já estão todas no dicionário".

Talvez seja muita pretensão de minha parte; mas gostaria de presentear a esses amigos - poetas leigos, versejadores diletantes, amantes das rimas - de alma mais lírica, as redondilhas misturadas que se seguem, para que os mais descolados possam combiná-las e modificá-las de modo a exprimir suas idéias em quadrinhas, tercetos ou mesmo um "hai-kai" - cortando e colando, costurando e espichando em busca do ritmo e da melodia desejados.

Isso não é um desafio para reconstituir o poema original. Essa tarefa seria dificílima - eu acho - até mesmo para os excelentes poetas de nossa pequena comunidade blogosférica; é apenas uma oportunidade que se me apresentou de proporcionar aos amigos - aqueles que o quiserem - uma atividade quiçá diferente e recompensadora.

E se você compuser sua poesia, pequena e simples que seja, usando esse "banco de versos", pode assinar em baixo. Isso não é plágio: é talento. Pergunte a quem sabe...

Ao ver o sol te beijar,Desperto. E quando te vejo,Toda manhã, bem cedinho,E eu volto a sentir agulhas

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Que o ciúme vem maiorMas logo tu sais das águasPois o oceano te abraçaEm movimentos tão belosQue o ciúme recrudesceE o ciúme me dominaCom redobrado furorAfagando teus cabelosJunto à janela, desejoQue a brisa te rouba odoresDe uma imensa paixãoQue o sol vem de fininhoE docemente entregaBrilhando no teu olharE aromas de tantas floresCom beijos de apaixonadaDiz que as ondas reverentesPara a abóbada estreladaCom seu viver tão intensoMas logo estás a meu ladoCom estrelas infinitasÀ noite olhas cismadaMas logo o sol te iluminaE as estrelas são a tuaDádiva a mim por te amarE o sal nos teus lábios quentesMas então vens sorridenteBeijar-te sem mais tardar;Que eu acendo à minha amada.E eu vejo então que a luaDepois é a brisa que chegaE por isso às vezes pensoDar-me um beijo tão quente

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Que começo a desconfiarE me vens curar as mágoasPara teu calor roubarCarinhos ao teu redorCom toda a malícia e graçaMe leva a acreditarQue o ciúme é o incensoE teu corpo perfumadoMais tarde no mar mergulhasE em meu coração cresceNa alma e no coraçãoTe roubaram quase nadaHoje sei que o mundo imensoMirando-a com tanto amorMas logo após tu me fitasSem ti não seria nada

Vários amigos se dispuseram a participar da brincadeira. Eis alguns resultados:

Tatto:

Toda manhã, bem cedinho,Com redobrado furor.De uma imensa paixão.Depois é a brisa que chegaE me vens curar as mágoasMais tarde no mar mergulhasDiz que as ondas reverentesEm movimentos tão belosAo ver o sol te beijarBrilhando no teu olhar.

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Si Fernandes:

Tenho ciúme do sol que desperta toda manhã, te beijando a face

E as águas do mar, a qual você se entrega por completa, me desconstrói o orgulho

Quando voltas molhada, vem o vento a me provocar, lambendo teus cabelos

E eu me remoendo desse pavor sentimento, morro de ciúmes em segredo

Tens o aroma de todas as flores e o olhar de todas as paixões

Tens toda natureza curvada aos teus pés, és adorada pela vida

Tua boca tem a forma de beijos, suas mãos alcançam vários corações

Carrega em teu caminhar a minha alma, ela te segue sem vaidade

Destilas em mim, o meu mal maior, o ciúme de não seres só minha

A incapacidade que eu tenho de não ser sol, de não virar vento, de não ser ar

De não ser estrada para os teus passos, de não ser peito para os teus abraços

De não ser flores para tua pele, de não ser beijo em tua boca e de não ser mar.

Milene Lima:

Toda manhã, bem cedinho,Desperto com beijos de apaixonadaAfagando teus cabelosEm movimentos tão belos

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Junto à janela, desejoDe mais uma imensa paixãoCom toda a malícia e graça,Carinhos ao teu redorDar-me um beijo tão quenteCom teu vigor intensoE me vens curar as mágoasMe leva a acreditarQue o sol vem de fininhoBrilhando no teu olharHoje sei que o mundo imensoSem ti seria nada.Dádiva minha por te amar...

Dôra Barcellos:

Toda manhã, bem cedinho,Ao ver o sol te beijar,Afagando teus cabelosBrilhando no teu olhar;Me leva a acreditarQue o sol vem de fininhoPara teu calor roubar.E teu corpo perfumadoCom toda malícia e graçaMais tarde no mar mergulhas.Mas logo tu sais da águaPois o oceano te abraçaE o ciúme me domina

Mas então vens sorridenteEm movimentos tão belosDar-me um beijo tão quente

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Com redobrado furor.E por isso as vezes pensoQue o ciúme é o incensoQue eu acendo a minha amada.Hoje sei que o mundo imensoSem ti, não seria nada...

Leonel:

Desperto. E quando te vejo, Em movimentos tão belos Junto à janela, desejoBeijar-te sem mais tardar;

Mais tarde no mar mergulhasDepois é a brisa que chega Para teu calor roubar.

E eu volto a sentir agulhas E o ciúme me dominaCom redobrado furor.

Pois o oceano te abraça Afagando teus cabelos Brilhando no teu olhar;

Mas então vens sorridente Com beijos de apaixonada; E o sal nos teus lábios quentes Dádiva a mim por te amar.

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Lu Cavichioli:

Ode a uma Deusa

IEntre mares e oceanosrenasço tritãoenlouquecido em minha volúpiapor ciúme de tisofro...Por seres assim tão bela

IIDe tantos beijos roubadospergunto apaixonado:Tu és mulher ou feitiçoque a brisa trouxe sem aviso?

IIIÉs pintura em relevomagma adocicado em minha bocateu corpo funde-se ao meuperfumando mágoas alheias

IVSem ti não seria nadaporque me cura todas as mágoasconfuso confessomeu ciúme vem da luamusa mãe, que te fez nuaestátua viva - que embriaga o mar

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VAdomerço em teus cabelose deles faço meu leitoa noite olha cismadaporque de ti não roubaram quase nada

VIDe todas as mulheresés deusaabóbada iluminadana inveja do sol

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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Ciúme Depois que os amigos se divertiram com os versos

embaralhados, publiquei a poesia original:

Desperto. E quando te vejoJunto à janela, desejoBeijar-te sem mais tardar;Mas logo o sol te iluminaE o ciúme me dominaAo ver o sol te beijar.

Mas então vens sorridenteBeijar-me um beijo tão quenteQue começo a desconfiarQue o sol vem de fininhoToda manhã, bem cedinho,Para teu calor roubar.

Depois é a brisa que chegaE docemente entregaCarinhos ao teu redor,Afagando teus cabelosEm movimentos tão belosQue o ciúme vem maior.

Mas logo estás a meu ladoE teu corpo perfumadoMe leva a acreditarQue a brisa te rouba odoresE aromas de tantas floresPara o mundo perfumar.

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Mais tarde no mar mergulhasE eu volto a sentir agulhasNa alma e no coração;Pois o oceano te abraçaCom toda a malícia e graçaDe uma imensa paixão.

Mas logo tu sais das águasE me vens curar as mágoasCom beijos de apaixonada;E o sal nos teus lábios quentesDiz que as ondas reverentesTe roubaram quase nada.

À noite olhas cismadaPara a abóbada estrelada, Mirando-a com tanto amorQue o ciúme recrudesceE em meu coração cresceCom redobrado furor.

Mas logo após tu me fitasCom estrelas infinitasBrilhando no teu olhar;E eu vejo então que a luaE as estrelas são a tuaDádiva a mim por te amar.

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Hoje sei que o mundo imenso,Com seu viver tão intenso,Sem ti não seria nada;E por isso às vezes pensoQue o ciúme é o incensoQue eu acendo à minha amada.

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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Estudo em Si Sustenido Maior Na data em que se comemora o aniversário da

Cidade Maravilhosa, permitam que um carioca da gema, nascido em São Cristóvão, preste homenagem a uma das mais autênticas cariocas que já conheceu.

Dizem que o tom de Si sustenido não existe - ou que se confunde com o Dó. Mas essa confusão só acontece porque o Si sustenido se apresenta geralmente disfarçado. Quande se lhe tira o disfarce, ele aparece em toda a sua gloriosa grandeza, como fica demonstrado no seguinte poema:

Forma enrustida:

"É por isso, minha gente, só por isso é que escrevo, que divulgo, que tento ajuntar mentes, artes, manifestações artísticas, porque a arte sempre me salvou, sempre me foi como uma mãe de seios fartos a saciar minha fome de tudo. Porque esse nada que vos escreve, só consegue ser melhor por causa dessa generosa mãe. Minha intenção é essa, receber, multiplicar, somar e dividir o tantinho que sei... se é que eu sei... Mas, sinto."

Na forma enrustida, já são evidentes o sentimento e a alma que revestem a mensagem da autora, que aqui rejeita o dicurso empolado e pernóstico, cheio de soberba e de arrogância, vazio de conteúdo, tão comum aos literatos acadêmicos; e com termos chãos e plenos de significados expõe com simplicidade e beleza seu amor pelas artes em geral.

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Forma explícita:

É por isso, só por isso,Que escrevo, minhas gentes,Que divulgo, que divulgo,E que tento ajuntar mentes,Manifestações de artes,Que a arte sempre me salvou,Foi-me a mãe de seios fartos,Minha fome saciou.E esse nada que escreveSó consegue ser melhorSob as bênçãos dessa mãe;Minha intenção é essa,Receber, multiplicar,Dividir, doar, somarEsse tantinho que sei...Que sinto, se é que não sei...

Para desnudar a poesia escondida sob o véu diáfano da bela prosa, ousei retocar-lhe levemente o figurino - sei que a autora me perdoará o atrevimento. Note que as alterações são mínimas, sempre na forma, nunca no conteúdo. E o que veio à tona - além do que já vimos?

Métrica e rima impecáveis! Ritmo e música soberbos!

E a autora ainda tem o desplante de dizer que escreve de besta, de besta...

Ah, o nome dela é Simone Fernandes.

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sábado, 22 de janeiro de 2011

Estudo em Mi Sustenido Maior Quando examinamos um teclado musical vemos

que ele se compõe de teclas brancas e pretas intercaladas. E para cada série de sete teclas brancas há apenas cinco pretas, ou seja, existem dois lugares onde "falta" a tecla preta.

As sete teclas brancas produzem os sons correspondentes às notas dó, ré, mi, fá, sol, lá, si; a próxima branca é de novo dó (onde começa uma nova oitava, mais aguda).

As teclas pretas são os semitons - as notas intermediárias entre as "brancas". São os chamados "sustenidos" da branca imediatamente anterior, e na notação musical são indicadas pelo símbolo #. Uma escala completa, portanto, compreende doze notas:

Dó- dó#- ré- ré#- mi- fá- fá#- sol- sol#- lá- lá#- si.Entre o si final de uma oitava e o dó inicial da

seguinte também não existe a tecla preta. Diz-se, portanto, que as notas mi# e si# não existem.

Mas isso só é verdade nas escalas musicais chamadas temperadas, adotadas no século XVIII para padronizar dezenas de escalas de diferentes tipos. E em várias destas escalas havia, sim, sons correspondentes ao mi# - um pouco diferentes do fá, o mesmo acontecendo com o si#.

Assim, podemos afirmar que o tom de Mi sustenido existe - mas disfarçado na escala moderna sob as vestes do Fá. E eu quero cantar aqui um poema em Mi Sustenido Maior, tão bem disfarçado na letra quanto no tom musical:

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Forma enrustida, ou disfarçada:

"Seus pensamentos iam-se não se sabia pra onde, deixando por lá a sua memória frágil, que outrora sucumbira à tal doença traiçoeira, ladra de lembranças, usurpadora de vida alheia.

Restaram-lhe os fragmentos como a compor uma pequena canção que vivia a entoar repetidamente. Cantava a irmã gêmea, os irmãos meninos, queridos e companheiros. Cantava o prazer de haver sido professora por trinta anos e ter cumprido dignamente essa missão. E cantava o marido, o gaúcho barrigudo, descendente de italianos, bigodes fartos se contrapondo à careca lustrosa."

É fácil perceber que há uma poesia subjacente à prosa, uma "perda que não é perda", uma música suave que nos embala, um ritmo que nos leva a "cantar" em coro com a personagem. E não é difícil trazer essa poesia à tona:

Forma ostensiva, ou explícita:

Seus pensamentos se iamnão se sabia pra onde,deixando lá a memóriaque outrora sucumbiraà doença traiçoeira,que usurpava as lembranças,ladra da vida alheia.

Restaram-lhe os fragmentoscompondo a canção pequena

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que vivia a entoare sempre a recomeçar;

Cantava a irmã gêmea,e os irmãos pequeninos,os seus saudosos meninosqueridos e companheiros.

Cantava o prazer dos anosem que fora professorae cumprira essa missãocom toda a dignidade.

E cantava o marido,o gaúcho barrigudo,descendente de italianos,a barriga proeminentecom a dela contrastando,bigodes fartos e bastosà calva se contrapondo.

Aqui, a musicalidade se sobrepõe à mera rima mecânica. Os leves ajustes no texto respeitaram-lhe a forma e principalmente a alma, e a poesia emergiu da prosa como uma borboleta que se liberta do casulo. E não ponham a culpa em mim: a borboleta já estava lá; eu só cutuquei o casulo. E o poema completo da Milene você pode conferir no "blog" Inquietude, em Canção do Alegre Viver (esse título, por si só, já é um poema).

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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Cores e Flores O "blog" Dedidi Viver, da amiga Déya, andava

meio descolorido, refletindo a melancolia da dona, como um cãozinho que se enrodilha triste, pousando o focinho sobre as patas dianteiras e ficando de orelhas murchas ao perceber a tristeza do dono. E eu resolvi dar uma força quando uma ou outra cor apareceu, aqui e ali.

Comentário colorido

Fui visitar o cantinhoDa nossa Déya; e noteiQue muito devagarzinhoO cinza deixou de ser rei;E arrisquei um tantinho: Um comentário postei.

E para ser muito franco,Provoquei-a com ardor:No teu mundo em preto-e-brancoFalta um pouquinho de cor;No coração lindo e francoSobra um tantão de amor.

É... estão voltando as cores...Eu acho que é bom sinal;Com elas voltarão flores,Novos e antigos amores,E aquele alto astral...

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E fiz tembém um soneto:Soneto do Retorno das Cores

A SAUDADE te traz sonhosQue ficaram no passado,Deixando-te olhos tristonhosE um coração pesado;

Mas teus sonhos do futuroVêm nas mãos da ESPERANÇA,Luz que brilha no escuroTrazendo a ti confiança;

E no teu mundo sombrioUm sonho vem, docemente,Tomar o lugar da dor;

E logo verás o trioQue viverás novamente:SAUDADE, ESPERANÇA, AMOR!

PS: Aposto que são verdes...

Em comentário, após a Déya me informar que eu tinha errado o chute, tentei adivinhar a cor dos olhos dela:

Não são verdes como as ondas;Serão azuis como o céu?Talvez negros como a noite?Ou castanhos, cor de mel?

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Serão, talvez, furta-cores,Talvez dourados serão...Violetas, cor de amoresPerfeitos e sem senão...

Queremos olhar-te em cores,Teu rosto em policromia,Tua boca em erregebê;

Queremos sentir amores,Queremos ter a alegriaDe colorirmos você!

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Música das Esferas Olhem só o que fizeram para mim no Relicário:

Raro serO viajante dos céusDiamante puroO alquimista da palavraLá vai o poetaForasteiro do tempoOnde orbita todas as poesiasBeijar as floresAcalentar em mi e si sustenidoRimar o amorConceber o magníficoEmprestar sonhosLapidar verbos insanosLamber o versoOstentar estrelas no olharSaudando a vidaPor Simone Fernandes e Milene Lima

Quis retribuir poesia com poesia, mas subestimei a magia dessas duas feiticeiras; seus versos agarraram-me, abraçaram-me, envolveram-me e quando eu julgava que os meus versos estavam completos, eis que os feitiços da Mi e da Si enchiam-me de novo a fonte da inspiração, a transbordar... e verso a verso, estrofe por estrofe, o que era pra ser um sonetinho transformou-se em algo bem mais extenso.

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A Música das Esferas

Quando as estrelas cantam Em tão doce harmoniaTransformando em poesia Um simples nome mortal;

Quando os astros murmuramA música das esferasTrazendo às novas erasRomances de antigo astral;

Quando Alfa do CentauroNuma escala celestialVira nota musicalE em som vivo reluz;

Quando todas irmãs suasEntoam a voz dos anjosEm tão sublimes arranjosDas cinco estrelas da Cruz;

Quando as estrelas se tornamPoetisas transcendentesE esculpem versos quentesAquecendo um coração;

E seus versos luminososIncidem na minha almaInundando-a de calmaE de suave inspiração;

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Quando anjos tão queridosFazem dueto sublimeQue a tristeza redimeE me enchem de emoção;

Quando notas sustenidasQue não existem na pautaDe repente ganham vidaE assaltam meu coração;

Quando a carícia envolventeDesliza suavementeTrazendo novas magias,Feitiços e encantos tais...

Um velho bruxo engelhadoSe sente reconfortadoE numa rede tecidaPor mãos de fadas astrais

Repousa o corpo alquebrado,Deita o coração cansado,Esquece os males da vida,E cobre-se de imensa paz.

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

De Aquário para Libra Os nomes das estrelas, com poucas exceções,

provêm dos árabes. Assim, as principais estrelas de Libra se chamam Zuben-el-Genudi e Zuben-es-Schamali, e as de Aquário são Sadalmelik e Sadalsuud. Queria pô-las nos versos, mas - poeta menor que sou - faltaram-me a métrica e a rima para elas...

De Aquário para Libra

As estrelas de Aquário,Que é meu signo planetário,Quando faço aniversárioEstão ao Sol se banhando;Ficam portanto invisíveis;Mas com seus raios sensíveisTrazem-me sonhos incríveisDe estrelas que estão se amando.

Já as estrelas de LibraEstão à noite brilhando,Altas no Céu, inspirandoPoesias e acalantos.Também elas me dão fibraPois nelas vejo teus sonhosLuzindo em olhos risonhos,Entre sorrisos e cantos.

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E quando chegar Setembro,Já no teu aniversário,Tudo será ao contrárioNos espaços siderais.Aquário à noite brilhando,Libra ao sol se entregando,Os signos se completandoEm danças zodiacais.

E assim as estrelas tuasTrazem-me versos do CéuEnquanto as minhas dormemSonhando um sonho só teu.Depois é a vez das minhasA ti sonhos ofertarem;E elas se abraçam na TerraSem nunca no Céu se acharem...

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Egos DiVersos

Poemas inéditos

Dedicatória

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Prefácio(página reservada à professora Maria das Graças

Lacerda)

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sou Romântico? Vocês sabem que eu gosto de versejar, e devem ter

notado que busco em meus versinhos respeitar o ritmo e a música, ou seja, a métrica e a rima. E me embalava ingenuamente numa doce ilusão, acreditando que isso era ser romântico... até que a Si, destruidora de sonhos, demoliu implacavelmente minha fantasia, numa matéria seca, competente e irretorquível, que ela publicou no seu Balaio, sem a mínima consideração pelos sentimentos de tantos poetas menores, como eu...

Passo a palavra à destruidora:"Quanto ao aspecto formal, a literatura romântica

se apresenta totalmente desvinculada dos padrões e normas estéticas do Classicismo. O verso livre, sem métrica e sem estrofação, e o verso branco, sem rima, caracterizam a poesia do romantismo".

Em outro trecho, ela cita Gonçalves de Magalhães - o romantismo na visão de um autor romântico:

"Quanto à forma, isto é , a construção, por assim dizer, material das estrofes, nenhuma ordem seguimos; exprimindo as idéias como elas se apresentam, para não destruir o acento da inspiração; além de que , a igualdade de versos, a regularidade das rimas, e a simetria das estrofes produz uma tal monotonia que jamais podem agradar.”

Peço perdão aos meus leitores pela monotonia das minhas rimas e pela cadência repetitiva de meus versos "clássicos". Mas, pensando bem, a Si, coitada, não tem culpa... a culpa é dos luminares da Literatura, que insistem em delimitar fronteiras, dar nomes às tendências, classificar estilos e separar espécimes paradigmáticos,

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espetando-os em alfinetes como cadáveres secos de insetos numa exposição de entomologia.

Bem, eu ainda estou vivo, não pretendo metamorfosear-me em borboleta e recuso-me a ser espetado para análise ou classificação. Mas tenho inveja da Simone; ela ora é uma poetisa louca e apaixonada, e de repente - não mais que de repente, como quem troca de chapéu - transforma-se na mestra literária competente e equilibrada, subordinando-se docilmente à necessária sistematização didática. Benza Deus...

E como poetisa, a Si se define como romântica:“Meu verso é liso e escorrega entre meus dedos até

chegar à pauta, na volátil e impudente forma de se expor: versos brancos sem cerimônias clássicas. Deslizo o meu eu, conflitando com o resto de tudo, sem coerência, proibido, sem o certo e o errado, sem consciência social, sem bandeira e sem religião.

"Minha escrita é meu ópio! É meu bem, meu mal e a minha cura, é a saudade da infância, é o amor do homem, minha pátria e meu herói.

"Escrevo em fuga, em idas e vindas."Escrevo a vida como quem morre.”Si Fernandes.

Vivendo e aprendendo... ainda bem que eu tenho algumas poesias em versos brancos.

Sim, acho que sou - só um pouquinho - romântico...

Mas quero homenagear aqui os poetas românticos modernos mais chegados à nossa "Turma do Blog" - o Moisés Poeta, o Everson, a Lu, o Sergio e tantos outros - inclusive a própria Si:

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Aos Românticos

Que voe, livre e solto, o teu verso,Sem as peias do metro e da rima,Liberto de prisões, de falsa estima,Rebelde, insubmisso e disperso;

E fique o meu verso acorrentadoQual Prometeu em sua luta ingente,Que, por trazer o fogo à humana gentePor Zeus foi ao suplício condenado.

Mas soem juntas nossas vozes fortesQue a mensagem é uma só, inteira:Cantemos a poesia - a verdadeira;

Pois nossos versos não são como insetosQue numa tábua sejam espetados,Ou sejam sob a lente examinados.

E seja a verdadeira poesia(A que rasga rótulos e imagens,Que ri-se da sintaxe e zomba do vernáculoE desespera os classificadores)

Seja tão livre que, querendo, possaTrancar-se na gaiola escolhidaE jogar fora a chave da prisão;

Ou, preferindo, voe pelos ares,Cantando sem padrões elementares,Sem rima e metro - porém com paixão!

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quarta-feira, 2 de março de 2011

Acalanto para Estrelas A Milene encomendou-me uns versinhos "para

ninar minhas estrelinhas". Bem, aqui estão eles. Que as pupilas da Mi, depois da soneca, acordem revigoradas para uma nova noitada...

Essas damas doidivanas,Essas mulheres insanas,Que vão pelas madrugadasEm festas e boemias,Em serenatas vadias...Essas moças tresnoitadas,Essas jovens tresloucadas,Às vezes tão solitárias,Às vezes em multidão;Que atendem por apelidosQue soam aos meus ouvidosExóticos, pitorescos.Por vezes mesmo grotescos,Tais como Estrela do Cão,Pois Sírius rebrilha forteNo olho do Cão MaiorEnquanto Alfa e Beta,Do Centauro, em linha reta,Traçam o rumo da Cruz;E a Via Láctea reluzNum bolero em Mi menor,Betelgeuse e RigelDisputam brilho maior;E no cinturão de ÓrionTrês Marias vão dançando

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Com três Reis Magos em filaNo punhal do Caçador;No Zodíaco brilhante,No Cruzeiro cintilante,Na grande Ursa do Norte,Depois de tanto bailarÉ hora de descansar.Antares e Formalhaut,Aldebarã, Archernar,Quando o dia amanheceTodas elas se recolhem;O seu brilho esmaecePois findando a madrugadaChega a hora da magia.Já as luzes da alvoradaComeçam a se abrir;E logo que rompe o diaCada estrela, já cansada,Sua força esgotada,Se apaga para dormir.É o destino dessa tonta,Sim, este é o destino dela,Seja grande ou singela:Dormir quando o dia apontaPois, sem ninguém perceber,É quando ela se alimentaDa luz do Sol, que a sustenta,Pra de noite reviver.

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sábado, 12 de março de 2011

Presença Eterna Daqui a um mês, se meu pai estivesse vivo aqui

fora, estaria soprando 96 velinhas, em meio às palmas de oito filhos, inúmeros netos (desculpem, perdi a conta) e não sei quantos bisnetos.

Mas ele está vivo lá dentro, e lá dentro todos os dias são dias de todos e de tudo. Acho que é por isso que a Regina não liga para "dias de". Eu também não vejo a menor necessidade de respeitar datas quando a saudade bate forte.

Acresce que o Dia dos Pais é comemorado em Portugal a 19 de março, e tenho amigos lá a quem gostaria de acompanhar nas suas alegrias ou saudades. Então, meus amigos, deixem-me extravasar a saudade que de repente - não mais que de repente - me bateu na alma.

Presença Eterna

Quem és tu, que me persegues nos meus sonhosE me inquietas o dormir com pesadelos?Doces pesadelos... Quem és tu?

Quem és tu, que te intrometes em meu verso,Quebrando-lhe o metro, transtornando-lhe a rima?Doces rimas... Quem és tu?

Esse vulto invisível mas palpável,Essa luz que me envolve e me fascina,Doce luz... Quem és tu?

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Os Sete Ramos de Oliveira

Essa voz que me sussurra inaudível,Esse toque em minha mão, quase insensível,Suave toque... Quem és tu?

Tu, sim, lembrança de meu pai...Tu, sim, saudade de meu pai...Tu... presença eterna de meu pai!

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sábado, 26 de março de 2011

Tsunami Há paixões que irrompem com a imprevisibilidade

e a violência de alguns fenômenos naturais... e, após fazerem o estrago, desaparecem com a mesma rapidez - como um tsunami. E em ambos os casos a solução é seguir em frente.

Assim, foi bem assim que aconteceuA história desse imenso e breve amor,Que sem convite ou aviso nasceu,No fundo do peito meu,No epicentro da dor.

A onda veio rápida, cresceuE veloz viajou na imensidão;Poderosa, sobre mim se abateu,Submergindo o meu euCom a fúria da paixão.

Formou-se um tsunami dos sentidos,Criou-se um maremoto de emoções;Um tremor de nove pontos bem medidosNa escala dos malferidosEnigmas dos corações.

Já passou, mas foi deixando pelos portosO seu rastro de cruel destruição;Nos escombros se enterraram sonhos mortos,Mortalhas de versos tortos,Sepulcros da emoção.

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Os Sete Ramos de Oliveira

E a chama do que um dia já foi forteJá é hoje nada mais que vã fumaça,Espalhando-se ao vento lá do norte,Entre a vida e a morte,Entre a dor e a desgraça.

Pois agora é mister tocar o bonde,Sepultar, sendo possível, a saudade,Encontrar forças perdidas não sei onde,O novo amor que se esconde,A nova felicidade.

Agora é consertar os vazamentos,Antes que tudo o mais vá pelos ares;Agora é reerguer os monumentos,Reconstruir sentimentos,Em reações nucleares.

E ao novo amor que surge, já pujante,Erguerei diques contra seu furor?Não! Nunca! Vem! Empolga, inebriante,O coração hesitante,Mas faminto inda de amor!

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domingo, 17 de abril de 2011

Solidão Às vezes, a solidão pode ser inspiradora...

Quando olho ao meu redor e não te vejo,Quando busco em minha alma e não te acho,Isso é solidão.Se a memória de teu riso em mim fenece,Se o sabor de tua boca me esquece,Isso é solidão.Se não pressinto ao longe teu perfume,Se não há alvos para o meu ciúme,Isso é solidão.Se meu corpo sente falta do teu corpoOu tateia no vazio a minha mãoIsso é solidão.

Solidão é quando o verso flui dolenteÉ quando, mesmo em meio a tanta gente,Não encontra um carinho o coração.É quando o tempo passa, indiferente,É quando um outro eu, louco, demente,Mergulha em profunda escuridão.É quando os pesadelos da infânciaRetornam distorcidos na distânciaE à noite nos assaltam sem perdão.É quando as orações são gritos roucosQue vão silenciando bem aos poucosCansadas de não terem solução.É quando a razão faz ouvidos moucosE a pena do poeta, em versos loucos,Destila em sangue a dor da paixão.

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Faço planos pra um passado que não houve,Com saudades de um futuro que não vem;Emudeço ante o amor que não me fala,Fico surdo ao amor que não me ouve,E encontro indiferença onde não tem.Oscilando entre a falsa realidadeE a mentira verdadeira que não há,Vaga perdida minha mente cega,Nesta louca racionalidade,Nesta equilibrada demência,Nas virtudes do demônio,Nos pecados da inocência.

Volta! Resgata-me do presente!Vem do passado e quebra a correnteQue o Tempo impõe-me, em sua servidão!Liberta-me da mesma liberdadeQue usei com tal infelicidadePara algemar-me nesta vã paixão!

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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Lágrima A lágrima é o contraponto do sorriso, e quando

aparecem juntos o resultado é poesia e emoção.

Desliza lentamente em tua faceA lágrima que a dor te libertou;E como a gota de orvalho, que nasceEntre o dia que vem e o que passou,Cai pelo espaço, bela e silente,E vem depositar-se docementeNa pétala macia de uma flor,Também a tua lágrima dolente,Nascida entre uma e outra dor,Será colhida pela curva quenteDos lábios em sorriso encantador;E neles brilhará intensamente,Conferindo-lhes exótico sabor,Cálido, terno, agridoce, ardente,Que saborearei sofregamenteQuando roubar-te um beijo de amor.

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sábado, 14 de maio de 2011

Ode à Noite A noite não é só algoz dos insones, comparsa dos

salteadores e cúmplice dos boêmios. É também abrigo de musas e inspiração para os poetas.

A noite possui belezasQue a luz do dia esconde;E guarda minhas tristezasNuma estrela, não sei onde.

A noite contém silênciosQue só se ouvem no escuro;Os sons não escutes: pense-os,Pois eles vêm do futuro.

A noite mostra pecadosQue se ocultam de diaE traz-me os teus recadosNa luz de uma lua fria.

A noite canta cantigas;Algumas são acalantosOutras são trovas antigas,São risos, olhares e prantos.

A noite escreve palavrasCom escrita tão serenaComo aquelas que tu lavrasNo papel, com tua pena.

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A noite escuta jurasEm segredo proferidasPelas vielas escurasPor tantas almas perdidas.

A noite esconde mistériosQue só encontram guaridaNos seus espaços etéreosEntre as neblinas da vida.

A noite compõe cançõesOnde as estrelas são rimas,Versos são constelações,Galáxias são obras-primas.

A noite liberta os sonhosQue de dia estão cativos;E eles voam, risonhos,Como pensamentos vivos.

A noite alimenta a almaSacia a sede de amor;A ansiedade acalma,Cala qualquer dissabor.

A noite conduz o amanteAos braços da bem-amada;E é companheira constanteDa alma enamorada.

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O sol nunca viu a noite;Pois quando ele o céu invadeVem o dia, e o dia é açoiteDo olvido e da saudade.

Vem, noite! Traz-me o momentoDo sonho-realidade,Da verdade-fingimento,Da escravidão-liberdade!

Traz-me algum abraço amigo,Um carinho verdadeiro;Traz-me aquele amor antigoOu um novo amor fagueiro;

Dá-me abrigo e tugúrioContra as ciladas do dia;Diz-me num doce murmúrio,Como ela me diria,

Que tu és a confidenteDos segredos mais sagrados;És cúmplice e coniventeDos amantes namorados.

E em tua hora derradeira,Ao romper da alvorada,Eu te amarei por inteiraNos braços de minha amada.

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terça-feira, 17 de maio de 2011

Lerê A Rê publicou no seu Tofora-todentro uma

postagem sobre as alegrias e as dores da faxina doméstica. E enquanto eu a lia, com o prazer de sempre, meu olhar caiu sobre a espessa camada de poeira na tampa da minha impressora HP. Rabisquei sobre ela, com o dedo, uma breve mensagem, tirei uma foto e compus alguns versos. Ei-los:

Logo depois da faxinaSem ter como nem porquêEu me lembrei da ReginaFalando sobre o lerê.

Falava sobre a poeira,Sobre o amor e a diversão,Em mensagem verdadeira Nascida do coração.

No tampo da agapêLavrei com meu fura-bolosUma infantil bobagem;

E hoje mando para a RêCom meus pensamentos tolosEsta singela mensagem:

Abraços, beijos, carinhos;Seja leve o teu lerê.Escreva pelos cantinhosO quanto eu amo você;

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E eu me despacho agoraPois senão me desconcentro.Se for mentira - tofora,Se for verdade - todentro.

Mas antes de ir-me embora,Como sou bem-educado,Agradeço em boa horaA quem tem me comentado;

A todos os camaradas,Com sua fala bonita,E às novas namoradas,Sandra, Denise, Catita,

Zélia, Bibiana, Sueli,Carla, Dayse, Marilu,Otília, Amapola, Evanir,Tantas outras... também tu!

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sábado, 21 de maio de 2011

Celebração e Epitáfio "Pode ser que para outro mundo eu possa levar o

que sonhei" - (Álvaro de Campos, Noite Terrível)Citado por Regina Rozembaum em comentário a

"Ode à Noite".

- Canto I -

Aqui não jazem meus sonhos,Só meus ossos aqui estão;E se teus olhos tristonhosFecharem-se em oração,Que seja pela memóriaDe tantos sonhos que tive;Que seja pela vitóriaDaquele que em ti revive.

Não jazem aqui meus sonhos,Só meus ossos, feitos pó.Sejam teus votos tamanhosPelos meus sonhos, tão só.Sejam por velhos amoresQue me deram tanta vida,Pelo perfume das flores,Pela alegria esquecida.

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- Canto II -

Meus sonhos aqui não dormem,Meus ossos dormem aqui;Uns e outros já não sofremAs agruras que vivi.Meus sonhos sobreviveram,Alguns se cristalizaram;Uns poucos se enfraqueceram,Mas tantos outros vingaram.

Aqui sonhos não se deitam;Alguns ossos jazem, sim.Os sonhos nunca rejeitamA luz da vida, enfim.Vários já se transformaramEm realidade patente.Outros se multiplicaram,Unindo já tanta gente...

- Canto III -

Meus sonhos estão nos filhos,Meus ossos estão na terra;Meus sonhos são andarilhos Que cripta alguma encerra.Muitos foram para os ninhos,Junto aos sonhos e afetosDe meus primos, meus sobrinhos,Amigos, irmãos e netos...

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Aqui meus ossos descansam,Mas sonhos não há aqui;Meus sonhos agora dançamEm mil versos por aí,A tantas musas amadas,E àquela que me amou;A tantas bocas beijadas,E à alma que me falou.

- Canto IV -

Aos ossos, um epitáfio,Aos sonhos, celebração.O sofrimento, abafe-o;Versos, cante-os com paixão.Sim! Meus sonhos estão vivos,Nas vidas de quem me amou,Dos que me foram cativosE de quem me cativou.

Sob esta lápide há ossos,Não busques sonhos aqui.Meus sonhos, que já são nossos,Acham-se dentro de ti;Espalha-os pelo mundo,Semeia-os nos caminhos,Dá-lhes teu amor profundo,Cuida deles com carinhos.

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- Canto V -

Os sonhos só são vividos,Há muito eu percebi,Quando eles são compartidos,E a todos comparti.Não levo nenhum comigo;Não cabem neste jazigo.E portanto, meu amigo,Não percas teu tempo aqui.

Busca partilhar teus sonhos,Generoso tenta seres,Perdulário, se quiseres;Lega a homens e mulheresOs teus anseios risonhos,Antes que a vez toque a ti;Pois aqui não dormem sonhos.Só ossos jazem aqui.

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Tennyson - uma tradução Sempre admirei o lirismo de certas composições

antigas, onde as nuances e o sabor de palavras já fora do uso cotidiano parecem falar diretamente à alma. Este poema de Tennyson é um exemplo:

Now sleeps the crimson petal

Now sleeps the crimson petal, now the white;Nor waves the cypress in the palace walk;Nor winks the gold fin in the porphyry font:The firefly wakens: waken thou with me.

Now droops the milkwhite peacock like a ghost,And like a ghost she glimmers on to me.

Now lies the Earth all Danae to the stars,And all thy heart lies open unto me.

Now slides the silent meteor on, and leavesA shining furrow, as thy thoughts in me.

Now folds the lily all her sweetness up,And slips into the bosom of the lake:So fold thyself, my dearest, thou, and slipInto my bosom and be lost in me.

(Alfred Tennyson, 1809-1892)

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Tradução

Ora dorme a pétala rubra, ora a branca;Não mais ondula o cipreste no caminho do

palácio;Nem brinca o peixe dourado na fonte de pórfiro:O vagalume acorda. Comigo acordas Tu.

Ora inclina-se o pavão branco, como um fantasma,E como um fantasma para mim reluz.

Ora jaz a Terra, toda Danaë para as estrelas,E todo o teu coração jaz aberto para mim.

Ora desliza silente o meteoro, e deixaUm rastro brilhante, como os teus pensamentos

em mim.

Ora embrulha o nenúfar toda sua ternura,E mergulha no seio do lago profundo:Assim guarda-te Tu, amada minha, e submergeEm minha profundeza, e perde-te em mim.

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

De Mim para Si Ao traduzir o poema de Tennyson, num momento

de rara inspiração, teci em torno do sexto verso uma homenagem, em três idiomas, à minha amiga Si - brincando com seu nome numa espécie de trocadilho multilíngue...

SEESee, I love you.And in my darkness, Your love glimmers on to meLike a ghost.I love you... See.

SÍSí, te quiero.Y en el oscuro de mi vidaTu amor reluce para miComo un espectro.Quiérote... Sí.

SISi, te amo.E na escuridão em que vivoTeu amor reluz para mimComo um fantasma.Te amo... Si.

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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sem Verbos

De onde, essa idéia?De um desafio antigo,De um soneto empacado,De um bate-papo amigo,De um coração namorado.

Soneto sem Verbos

Um soneto sem verbos - desafioDe um amigo mais da onça do que meu;Uma quadra, talvez, só por desfastio...Talvez não... e um tchau do amigo teu;

Mas rendição nunca! que vergonha!Nunca a derrota! A fuga, não!Covarde! Temeroso! Vil pamonha!A um poeta, tais epítetos ao chão!

Calíope! Euterpe! Clio! Erato!Ágil Terpsícore! Musas belas!Doadoras de luz, de aquarelas!

Socorro! Sus ao poeta, ao insensato,Ao campeão vosso, ao vosso amor,De um soneto sem verbos fazedor!

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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Céu e Silêncio À vista da imagem de uma belíssima peça em

carâmica, feita pela Ma, fluiram estes versos...

O céu de Ma

Roubei a imagem de teu lindo céu;E agora no tempo e no espaço voarei,Vagando entre os astros, liberto, ao léu,E em versos singelos a ti cantarei.

Músicas, cerâmica, poemas, pintura...Luzes que destilam das mãos da artista,Arte! Arte soberba, tão bela e tão pura!Que hoje nos traz a linda ceramista!

Dançarei com nebulosas e cometas,A música das esferas ouvirei;Teu universo aprisionou-me a alma.

Mas eu, zeloso com os demais poetas,Uma estrela, ciumento, escolhereiE entre milhares alcançarei a palma.

Fiquei tão fascinado por esta peça que postei lá no "blog" dela - o "Arte em Cerâmica" -, em comentário, alguns versos que me saíram naturalmente.

Agora, com o sonetinho pronto, rendo as devidas homenagens a essa grande artista. Ma, você é inspirada e inspiradora. Sinto-me valsando no teu céu!

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Da mesma forma, inspirou-me o pequeno - mas profundo - texto que a Denise publicou sobre o silêncio, o qual me arrancou as rimas abaixo:

O Silêncio de Denise.

Há silêncios que condenam.Há silêncios que constroem.Há aqueles que acrescentam.Há também os que nos doem.

Há alguns que são covardes;Há-os heróicos também.Há os que geram verdades,Há os que lembram alguém.

Teus silêncios me fascinamCom segredos murmurados,Que rugem dentro de mim;

Teus silêncios me dominamOs sentidos condenadosA amar-te sem ter fim.

Bem, quando fui buscar no "Tecendo Idéias" o link da postagem, a Denise já tinha "silenciosamente" colocado em lugar de destaque as duas primeiras quadras desse sonetinho - únicas até então -, o que me deixou deveras honrado. E quero repetir aqui: Sejam produtivos teus silêncios, moça...

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sábado, 4 de junho de 2011

Glória Ontem, tive o prazer imenso de conhecer de

abraço abraçado, de beijo beijado, de olho no olho, de papo falado, a Glorinha - que já me conquistara nos amplexos, ósculos, vislumbres e colóquios internéticos. E ela vendeu a mim, por trinta dinheiros, um pedacinho de sua alma: seu livro.

Nunca fiz melhor negócio... e nem precisei barganhar! E, tendo folheado o "Na esquina da vida" e lido sofregamente os primeiros capítulos, aconteceu o inevitável: os versos vieram dançar nos meus sonhos... e só há um jeito de acalmá-los: escrevê-los.

No auto-retrato de uma alma nuaNa esquina da vida, sorrindo pra mim,Vinte e oito mulheres desfilam na rua.Haverá outras mais? Por certo que sim.

Poetisa da vida, pastora de sonhos,Já nunca o espelho irá te mentir;Jamais os enganos te serão tamanhosVenham do passado ou mostrem o porvir.

Glória! Glória à mulher que se completaE vaza em letras o estro feminil,Resplandecendo viva em tua vitória;

Recebe agora o preito do poeta:Quisera já que esses versos fossem mil,Em cantos meus a ti, Glória! Glória! Glória!

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Para conhecer melhor a Glorinha (e seu livro) acesse o "blog" Café com Bolo e Glorinha.

PS: Rê e Si, vocês são agora proprietárias de pedacinhos da alma da Glorinha, que estão sob minha custódia, devidamente autografados. Serão entregues o mais breve possível. Abraços.

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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Para uma mulher triste Para uma mulher triste. E danem-se a métrica, a

rima e as regras. Esse é pra você.

Pois escolheste, amada minha, estes caminhos?De ásperas pedras, de duros espinhos...Não viste as sendas de pétalas cobertas?Ou vendo-as, delas te desviaste por vontade?

Sim! buscaste uma aventura rara,Por curiosa sobre a mente humana;E sabes hoje que essa mente insanaCustou-te a sanidade... jóia cara!

Vês os fantasmas? os monstros temíveis?As almas perdidas na escuridão?Vês os ódios escondidos, os tormentos?Vês o fruto amargo da devassidão?

Perséfone amada! Tu o provaste!E agora, que no inferno mergulhaste,Estende a mão e toca o meu amor,Que temeroso vem para te resgatar;

Pois noutro páramo, eu te asseguro, existemSeres iluminados que te amamE que por ti querem deixar-se amar.

E se tu choras, choro eu também contigo;E terás sempre em mim um peito amigo,Um coração para te abrigar.

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Vem, amor! Desvia o olhar da lama,Do sofrimento, da dor, da podridão!Confia teu destino a quem te ama,Entrega teu futuro a teu irmão!

A poesia não tem dono. É de quem necessita dela. (Pablo Neruda)

A poesia não tem hora. É pra quando calhar bem. (Paráfrase minha)

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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Bruna Ma - aquela Ma, a deusa que do barro cria arte -

pediu-me que fizesse um poema para uma mulher-moça-menina-anjo. Bem, deixei-me hipnotizar pela única imagem que eu tinha da minideusa, em busca de inspiração; e o que me veio à mente foi Iracema, de José de Alencar, que assim nos descreve a bela índia: "Iracema, a virgem dos lábios de mel, de cabelos negros como a asa da graúna". E assim nasceu este sonetinho.

Bruna

Tão livres como o vôo de uma ave,Tão negros como a asa da graúna,Ao sopro desta brisa tão suaveOndulam teus cabelos, bela Bruna.

E os olhos? Estes olhos misteriososQue deixam escapar centelhas quentesPor entre cílios longos, cetinosos,Faíscas que vêm só de almas ardentes!

Teu rosto franco, claro, sem enganos,Teu riso leve, doce e rosado,Nos lembram os dos anjos lá do céu.

Mas já em teus tão poucos, verdes anos,Farás um coração enamoradoAos beijos destes teus lábios de mel!

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Beijos às duas deusas e abraços à família toda.

PS: Talvez os cabelos não sejam tão negros... mas são belíssimos. E você, Bruna, tem mesmo traços de índia... lindos traços! Parabéns.

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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Namorados Peço licença aos amigos para republicar hoje a

matéria de um ano atrás - devidamente revista, atualizada e enriquecida.

Na maioria dos países do Ocidente - Portugal inclusive - o Dia dos Namorados é celebrado em 14 de Fevereiro, em homenagem a S. Valentim. No Brasil, comemora-se em 12 de junho; é véspera de Santo Antônio, o santo casamenteiro, esperança de muita gente encalhada.

Esse santo milagreiro não consegue ter um minuto de paz nesta época do ano. Sua imagem de barro virada de costas, fitando a parede, ou em precário equilíbrio, de ponta-cabeça, é a tradução dos anseios das moças casadoiras... e nada melhor que algumas rimas, modestas que sejam, para alegrar os corações esperançosos.

Quando eu me meto a versejar, prefiro as redondilhas. Esse tipo de verso suporta bem um ou outro tropeço nas rimas e disfarça melhor um pé quebrado no ritmo. Por isso é o predileto dos poetas menores, como eu.

Mas de vez em quando, a musa me desafia a vôos mais altos, e eu arrisco um estilo mais ousado. E aí me atrevo a imitar Camões - é claro que em vôos bem mais curtos (o grande vate escreveu Os Lusíadas em mais de oito mil e oitocentos versos - todos decassílabos heróicos perfeitos).

Por falar nisso, eu já ia passando batido, sem prestar continência: neste dia 10 de junho, foi o dia dele... o vate maior de todos os poetas de falares e cantares portugueses. Honra a ele! Obrigado, Glorinha e Amélia,

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por lembrar-me.A maioria das minhas tentativas vai parar no lixo,

mas de vez em quando sai alguma coisa que se aproveita...

Dia dos Namorados - Acróstico em heróicos

Duas só almas, gêmeas, se encontram,Intímidas, amigas, companheiras,A trocar entre si vidas inteiras.Duas vozes irmãs em coro cantamO hino do amor, em tons suaves,Soltando os versos, como belas aves.Na espera de mil beijos prometidosAo sopro de mil juras mal contidas,Mil horas num minuto são vividas.O Sol se esconde entre fulvos ares,Romântica neblina resplendente,Ardendo nos vermelhos do poente.De súbito, centelham os olhares;Os lábios unem-se em fulgente prece;Só deles é o milagre que acontece.

Dá pra sentir a ausência da rima nos beijos prometidos e o pé quebrado em alguns outros versos. Mesmo assim, a força dos heróicos é evidente e sustenta a estrutura toda. E com certeza é mais fácil imitar Camões - o mestre dos heróicos - do que partir para um vôo solo.

E atenção, patrulheiros do idioma e guardiões da última flor do Lácio: não procurem em dicionários o termo "intímido". Isso é invenção minha, buscando transmitir ao leitor a idéia de "íntimo e sem timidez" - um neologismo sob a égide da jurisprudência que rege a

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licença poética.Já na simplicidade das sete sílabas das redondilhas,

até um soneto razoável me socorre:

Dia dos Namorados - Soneto em redondilhas

Se você está sozinho,Carente, abandonado,Sem amor e sem carinho,Não fique desesperado:

Reze muito a Santo AntônioNo seu dia consagrado;Protetor do matrimônio,Do namoro e do noivado.

Presto aqui meu testemunhoDe excelentes resultadosEm versos de próprio punho.

Sejam todos bem-amados!E viva doze de junho,O Dia dos Namorados!

E antes que eu me esqueça: nessa data também se comemora no Brasil o Dia do CAN.

O Correio Aéreo Nacional entrou em operação em 12 de junho de 1931, ainda como Correio Aéreo Militar, quando os tenentes do Exército Casimiro Montenegro Filho e Nelson Freire Lavenère-Wanderley, pilotando um monomotor biplano Curtiss Fledgling matrícula K263 (apelidado carinhosamente de "Frankeinstein"), transportaram duas cartas do Rio de Janeiro para São

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Paulo, retornando no dia 15, com mais correspondência.Vai ver, é por essa coincidência de datas que, no

Pindorama, uma bela namorada é chamada de avião...

Mas, voltando à celebração do Amor, vai aí mais um sonetinho, inspirado por uma matéria recente da amiga Otília:

Amar é...

Amar é ter paixão e ousadia,É ter ciúme de coisas, de gente,Sabendo usar tal condimento ardenteNa dose certa - mais quente que fria...

É partilhar a tristeza e a alegria,É ser igual, e sempre diferente,E, mesmo sem motivo aparente,Reconquistar o amor a cada dia.

Amar é traçar rumos lado a lado,Ligando o futuro ao passadoPor um presente construído a dois;

Fazer de um só olhar uma poesia,Trazer um toque que acaricia,Sempre antes... e durante... e depois!

E finalmente, para fechar essa já extensa matéria, deixo aqui para todos os amigos e amigas (e principalmente para minha amada, amante e namorada secreta) os meus melhores desejos:

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E para vocês, amigos e amigas,Que são eternamente apaixonados,Que curtem rusgas e pequenas brigasSó por perdoarem e serem perdoados,Que não escutam vozes de intrigas,Feliz seja o Dia dos Namorados.

Mas como sou desligado! Já ia fechando a porta sem dar as boas-vindas à Márcia - a amiga de número cem! (O número foi conferido antes que o "Blogger" sequestrasse misteriosamente todos os meus seguidores.)

Querida amiga MarcinhaQue pousaste nos meus RamosComo uma alegre rolinha,Seguindo-nos já estamos;Sê bem-vinda, amiga minha,Contigo aos cem nós chegamos!

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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Propósitos Todos temos nossos defeitos. Dos meus, procuro

sacudir os que me incomodam, como um vira-lata sacode suas pulgas. Mas há os que eu cultivo discretamente, e um desses é a mania de xeretar os "blogs" dos amigos. E de vez em quando deparo-me com alguma coisa interessante. Por exemplo...

Por exemplo, fiz agorinha mesmo uma viagem no tempo - os amigos mais antigos sabem que curto essas aventuras - e testemunhei o nascimento, em 20 de junho de 2009, às 17:46, de um tal de "Cotidiano Agridoce". E não é que o pirralho já nasceu cheio de bossa?

Vai um trecho do primeiro choro do nascituro:

SÁBADO, 20 DE JUNHO DE 2009Propósitos

Hoje descobri o que realmente significa a palavra propósito, estava assistindo o programa 'Soletrando', e os finalistas eram o Bruno do Rio de Janeiro, o Pedro Henrique do Ceará, e a Larissa Oliveira daqui de Pernambuco, de início estava torcendo pela Larissa, mulher e pernambucana, era óbvia a torcida, depois, com a saída do Bruno comecei a torcer pelo Pedro, a mãe dele o criou sozinha, era empregada doméstica, mas teve que sair do emprego por ter que cuidar dos avós do Pedro que têm alzheimer, uma história realmente comovente. Então, passei a torcer por ele, deixando de lado o ufanismo por Pernambuco e a honra obtida pela vitória de uma mulher.

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Feliz aniversário! Parabéns, Cotidiano Agridoce! Parabéns, Débora!

Passou-se já um ano... e outro ano...Onde é que no caminho te perdi?No meigo e sempre doce cotidianoNunca, nunca, o "agri" teu senti;

Ou passou por nós, tão célere, o tempo,Ou certo nós por ele é que passamos;Mas sem jamais ver qualquer contratempo,Em belos versos nós nos encontramos.

Eras riso? eras pranto? ou malícia?Eras distância? estavas bem aqui?Eras sabor amargo? ou delícia?

Sempre foste como sempre te senti;Uma lágrima... um sorriso... uma carícia...Um sabiá... uma gaivota... um colibri.

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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Quadrângulo (Sonetinho feito por puro desfastio... temperando

lirismo com humor...)

Títulos alternativos:DRDa imponderável fluidez do amor

Terei eu ciúme dela?Inveja do namorado?Às vezes sonho com ela,Às vezes fico acordado.

Só sei que a minha belaQue me chama de amadoDiz que tem inveja delaE ciúme do namorado!

E a verdade se revelaNum encontro combinadoNum jantar à luz de vela.

Fica tudo acertado:Ficam juntas ela e elaE me sobra o namorado...

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terça-feira, 21 de junho de 2011

Inverno Para a imensa maioria dos habitantes do

hemisfério sul - o lado debaixo do equador - a noite de 21 de junho é a mais longa e a mais fria do ano. Explica-se: é a noite do solstício, quando o sol atinge o limite máximo em sua jornada para o norte e para por um instante, inaugurando verões em Lisboa e Paris, antes de, hesitantemente, inverter seu curso e começar sua longa jornada de volta ao sul.

Mas para mim, por muito tempo, essa foi a noite mais curta e mais quente do ano, mesmo aqui no Brasil. Era a noite em que vinhos e queijos disputavam com carinhos e beijos a primazia nas comemorações do aniversário da Maria Helena.

Este ano, sentirei frio, e a noite do solstício demorará a passar. Mas não me queixarei. Abrirei o Porto que nossos compadres me ofertaram em fevereiro, e brindarei às boas lembranças dos solstícios passados; e também a tantos amigos da blogosfera que têm aquecido meu coração neste inverno, que para mim começou em novembro e não tem data para terminar.

E meu primeiro brinde será em homenagem à Flor de Maria Helena. Transcrevo aqui a matéria publicada há um ano, em plena Copa do Mundo:

A Flor de Maio é uma cactácea originária da mata atlântica, especificamente da região norte do estado do Rio de Janeiro, e atualmente difundida pelo mundo inteiro, devido ao seu belíssimo aspecto durante a floração e à facilidade de cultivo doméstico. Floresce nos meses tardios do outono, e por isso é conhecida na Europa como Flor do Natal, ou Cacto de Natal.

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Aqui em casa, uma variedade particularmente exuberante resolveu exibir-se neste dia 20 – véspera do solstício. Nada a ver, eu acho, com a bela atuação da seleção brasileira frente à forte esquadra elefantina; aposto que é mais uma homenagem que a natureza presta à minha querida Maria Helena, na véspera de seu aniversário.

Aliás, em anos anteriores e com outras variedades da mesma planta, tem acontecido coisa semelhante. Já faz uma década que venho apelidando a espécie de Flor de Junho... mas acho que já está na hora de chamá-la – pelo menos dentro das fronteiras dos nossos humildes domínios – de Flor de Maria Helena.

Perda.Foi-se a primavera. O verão se foi. Vai-se agora o outono,

Castanhas folhas mortas, caídas,Varridas pelo vento gélido do sudoeste invernal,

Assim como apagou-se aquele amor ardenteAo sopro frio do fado mortal.

Agonia.Meu coração está triste. E como ele

O sol se arrasta pelo céu, baixo e cansado,Retrato ou reflexo,

Navegando cume a cume em cabotagem,Qual uma nau carregada de pesados nadas,

Sem forças para se afastar do horizonte recortado por serras cinzentas e nuas.

Cinzenta está minha alma. Nua. Nuvens frias,Úmidas névoas debruçadas nos morros,

Rastejando nos vales...Seus dedos em garra em volta de mim.

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Ausência.Ah, as lembranças dos invernos de outrora,

Quentes carícias, abraços, beijos... onde?Não mais. Não mais agora.

Angústia.Definha pouco a pouco a esperançaEsvai-se lentamente a luz da almaAgarra-se a mente na lembrança

Dos momentos de êxtase e de calma.

Saudade.Onde o murmúrio doce, carinhoso?

Onde as estrelas que moravam em teu olhar?Onde o teu perfume nos lençóis? Onde?

Nesta luta da saudade contra a vida,Que faz deste meu peito a liça, sem quartel,

A saudade gera hidras, se abatida...Saudades da saudade que morreu.

Vazio.Não mais lágrimas - estão secas.

Não mais dores - cicatrizes.Onde estão as minhas flores?

Onde, as minhas raízes?

Amargor.Ah! os vinhos que aqueciam nossas noites!

Hoje, o tinto sabe a sangue,Sabe a pranto hoje o branco.

Sangue de Boi? Lachrima Christi?

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Esperança.Talvez que a Primavera(Depois de tanta espera)Possa trazer-me alento

Na forma de novo amor...Na forma de esquecimento...

Dúvida.Mas ainda

Choram as flores da noite,E as estrelas do CruzeiroChoram lágrimas de luz.

Oração.Vem, primavera! Eu te imploro!Enquanto não vens, eu choroMais que as estrelas da Cruz!

(e esta noite que não passa... e esse frio...)Inverno. Inverno. Inverno.

Não se preocupem, meus amigos... eu precisava me libertar de alguns fantasmas, e a melhor maneira de exorcizá-los, para mim, é essa. Não deixem que a alegria e o calor fujam de seus corações. Eu estou bem, e se quiserem brindar comigo ao solstício e ao inverno... saúde!

Ah! e verifiquem se neste dia de solstício não estarão sorrindo as Flores de Maria Helena por esse Brasilzão todo! As minhas estão...

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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mellíss A Márcia convocou os amigos para formarem uma

corrente de apoio à Mélliss - que eu ainda não conhecia, e estava lutando contra problemas de visão. Fui ao "blog" dela, e surpreendi-me com a sensibilidade e a riqueza de sua poesia. Aderi de imediato. Por três dias seguidos, postei poemas escolhidos e colhidos lá.

No primeiro dia, eu escrevi:A Escultura perderia algumas obras-primas se

Antonio Francisco Lisboa não fosse aleijado.A Música seria mais pobre se Beethoven não fosse

meio surdo.A Poesia... que seria dela se Homero não fosse

cego?E transcrevi este belíssimo poema da Mellíss:

Meus VersosEmpresto o coração apaixonado,o coração sofrido,o coração alado,os sonhos que alguém sonhou,as lágrimas que alguém chorou,o sentimento esquecido,o sorriso perdido,a alegria plena,para compor meu verso...Empresto um pouco de tie crio meu universo.

Santos, 26/04/2011Fátima Guerra (Mellíss)

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E eu complementei:À poetisa que extrai beleza da adversidade, ofereço

estes espaços:1 - por três dias na página de rosto do Sete Ramos

de Oliveira;2 - por tempo indeterminado no "Entre aspas", no

cabeçalho deste "blog";3 - permanentemente na minha admiração e na

minha alma.Deus te dê luz, Fátima Guerreira!

No segundo dia, versejei:

Sentes, Poetisa, o carinhoDe tantos, tantos amigos?São outros tantos abrigos,São teu refúgio, teu ninho!

A todos, tocaste a alma,A todos, o coração;A todos trouxeste a palmaNo toque de tua mão.

E teu verso tão sublime,Onde a mensagem sagradaNa voz dos anjos se exprime,

É a ânfora douradaCujo néctar nos redimeDas dores desta jornada!

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E transcrevi, dela, estes versos tocantes:

LUZ INTERIOR

Quando a luz fugiu do meu olhar,E as estrelas não pude mais achar,Quando a noite escura se estendeu ao meu redor,Vivi da minha luz interiorE das estrelas que eu já sei de cor.

Santos, 03/06/2011Fátima Guerra (Mellíss)

No terceiro dia, inseri um Certificado de Excelência do meu blog, nominal para o blog da Mellíss, na categoria Poesia, com a dedicatória:

Ofereço este singelo testemunho de minha admiração à poetisa Fátima Guerra, confiando em sua generosidade para aceitá-lo.

"Não é o prêmio que valoriza a obra. A obra é que dá valor ao prêmio que a homenageia."

Rodolfo Barcellos

E transcrevi o seu texto de apresentação:"Acredito que o coração humano é o solo mais

fértil que existe, no qual podemos plantar e colher estrelas... Acredito que as palavras são sementes preciosas. Acredito que a eternidade nos pertence desde sempre, pois dela viemos e para ela voltaremos. É muito bom saber que somos companheiros de viagem."

Fátima Guerra

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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Estado de Graça Homenagem feita à amiga Graça, de Minas Gerais,

por ocasião do aniversário de seus blogs "Botões de Madrepérola" e "Anjo de Prata".

Estado de Graça

E nesse Estado de Graça,Chamado Minas Gerais,Um Anjo distrai-se e passa;Deixa cair, por pirraça(Isso dois anos atrás),

Falando com seus Botões,Mais que falas - orações;São Botões de Madrepora,Sentimentos, corações,De madrepérola agora;

Irisados, furta-cores,Grandes, pequenos também,Da cor da luz, dos amores,De alegrias, de dores,Trazem dádivas do Bem;

E nesse Estado de GraçaOnde qualquer coisa é trem,Exceto a Maria-fumaça,A gente ao Anjo abraçaE todos dizem Amém.

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Os Sete Ramos de Oliveira

Internético Bordado,Já disse a Lu, com razão;Teu talento derramado,Teu sorriso encantadoTransborda do coração.

E nesse Estado de GraçaChamado também de Minas,Por onde teu Anjo passaA gente levanta a taça;A todos nós tu fascinas.

Parabéns a teus Botões,E a teu Anjo, que abraçaEstes nossos corações,Murmurando oraçõesNesse Estado de Graça!

Parabéns, Graça!

Vida longa aos Botões de Madrepérola!Vida longa ao Anjo de Prata!

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terça-feira, 5 de julho de 2011

Acácia Amiga recente, mas já muito querida, a Débora

veio há algum tempo pedir-me - também em nome da Ana Letícia - um escrito para homenagear a Acácia, do Blog "Acácia Azevedo Studio Pottery", em comemoração ao primeiro aniversário do blog e à iminente conquista da marca dos 200 seguidores.

Tempos difíceis! Quisera eu ter um botão interno "ON-OFF" para a minha inspiração. Assoberbado por múltiplos compromissos, escapuliu-se-me o prazo por entre os dedos; e quando afinal minha pena desentupiu, o aniversário já era e os seguidores da Acácia, num crescendo admirável, já haviam também derrubado, por muito, a marca histórica.

Procurei na folhinha qualquer data que servisse de pretexto para a homenagem. Mas o Dia do Artesão já se fora, o do Ceramista também, e o aniversário da própria Acácia estava longe ainda.

Troquei com a Débora alguns e-mails sobre o assunto e concordamos que qualquer homenagem à Acácia não carecia de "dias de". E assim programamos postagens simultâneas, na data de hoje. Se o amigo leitor for, agora, ao "Cotidiano Agridoce" (se é que de lá não veio), poderá apreciar a versão da Débora, ou seu trabalho de marketing, que eu adivinho estar 100% doce - sem nada de "agri". Isso se os chiliques do "Blogger" não deram com os nossos burros n'água. Ah, e com certeza a Ana também estará presente em "Como Eu Sou".

Portanto, Acácia, receba nossas homenagens nesse dia de nada, porque não estamos celebrando a data: estamos celebrando a mulher e mãe maravilhosa que você

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é - no nosso Cotidiano e no nosso Jardim das Oliveiras. Como é você. Como somos nós. Como eu sou.

Relata o Êxodo, em seus capítulos 25, 26 e 27, a construção e a destinação da Arca da Aliança, do Altar e de outros objetos de culto, e nos diz que a madeira de Cetim foi escolhida, por ser incorruptível. Essa madeira extraordinária é fornecida pela árvore que conhecemos hoje como Acácia.

Acácia

Tu és a árvore sagrada, forte e bela,Que das tábuas do Senhor foi guardiã;Dentre todas as árvores, és aquelaCuja folha se abre ao beijo da manhã.

Tua flor, seja ela branca ou amarelaÉ o perfume da palavra do Senhor;De Cetim foste nomeada, por singela,De Acácia hoje és chamada, por amor.

E à mulher que de teu nome se recobreTu conferes teus poderes divinaisNo abraçar firme de uma causa nobre;

És tu, Acácia, a guarda amorosaDestas filhas que são para ti iguaisE que cantam o teu nome em verso e prosa!

Débora, Ana Letícia, Ma FerreiraRodolfo R. Barcellos - Niterói, julho de 2011

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domingo, 10 de julho de 2011

Poetismos Em Arte, e principalmente tratando-se de Poesia,

não sou amigo - e pouco entendo - de "ismos". Classicismo, Romantismo, Impressionismo, Expressionismo, Surrealismo, Simbolismo... prefiro falar em "Poesia Clássica" e "Poesia Moderna". Quem quiser se aprofundar no assunto, faça sua pesquisa ou visite o "Balaio da Si".

Houve tempo em que, ao ler um poema dito "de vanguarda", eu ficava cheio de dedos para falar sobre ele... porque ele não me dizia coisa com coisa. Que mania que têm esses poetas vanguardistas de usar hipérboles, jogos intrincados de palavras, alegorias nebulosas, metáforas inescrutáveis, figuras de pensamento exóticas... e eu, quando perguntado, para não passar por ignorante dava uma opinião neutra - ou seja, vazia de conteúdo.

Bem, com o tempo aprendi que esse tipo de poesia é como um quadro de Picasso: busca transmitir diretamente emoções - não mensagens sobre elas, que devem passar pelo crivo mental da análise e da interpretação. E cada leitor vai reagir de modo diferente, conforme se sentir tocado (ou não) pelo verso do poeta.

Não se sinta, amigo, frustrado - e muito menos ignorante - quando não entender o sentido de um poema moderno. Eu entendo às vezes e às vezes não entendo. E não esquento a cabeça, pois sei que o que eu entendo ou não entendo hoje é diferente do que entenderei ou deixarei de entender amanhã.

Uma criança olha o famoso Guernica, de Picasso, e pensa: "Eu desenho melhor que esse cara".

Volta anos depois, já adolescente, e sente uma

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angústia profunda e inexplicável ao contemplar a mesma obra.

Tempos passados, forma-se em História. E ao aprofundar-se sobre a Guerra Civil Espanhola, pensa ter decifrado o enigma do grande painel.

Já adulto, lendo ao acaso a biografia de Picasso, inteira-se da famosa resposta do pintor ao oficial nazista que o interrogava. E vê a obra com uma profundidade nova e pungente.

E cada uma dessas reações é válida... pois é baseada em emoções.

É assim a poesia moderna. Só que, em vez de traços e cores, usa palavras e expressões - e mesmo sua disposição no papel - para obter um efeito similar.

Mas... como prometi à amiga Lu, deixo aqui em versos a impressão que me trouxeram os capítulos do seu "Re(cantos) de Mim". Tentei obedecer à ritualística da poesia de vanguarda, mas não garanto nada - amanhã provavelmente os lerei com outros olhos. E afinal meu melhor estilo de versejar ainda é do tipo "Batatinha quando nasce"...

Poema em Oito Recantos

Recanto I - Pérolas de MaresiaEmoções e sentimentos vividos pela poetisa são

aqui retratados como praias e oceanos, caramujos e conchas marinhas.

Meus passos traçam linhas paralelasNa areia molhada, com os teus;E lá nossos rastros ficarão pela eternidadeQue existe entre duas marés cheias.

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Recanto II - Lágrimas de PrataOs sentimentos e emoções transcendem agora os

limites do oceano e assumem um caráter mais sensual, abarcando o tempo e o espaço, espalhando-se por todo o universo.

Encho a taça do desejo, a transbordar,Com a espuma dourada da lua crescente. E brindo.E tu brincas com Órion, cabra-cega e amarelinha...Brindo à tua beleza.E rezo a Urânia para que atraseO cometa em que iremos retornar.E brindo.

Recanto III - VitraisÉ o recanto central da alma da poetisa. Cada

poema é um brinquedo, um objeto de decoração, disposto em torno de Cynthia.

Cacos coloridos,Cristais colados,Caleidoscópio cintilante,Cantos cortados,Coplas quebradas,Cercam o centro doCapítulo:Cynthia.

Recanto IV - Solstício de VerãoPedaços de sonhos, pontes fugidias entre o real e o

imaginário, desejos e esperanças...

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Lembranças do que nunca foi.Saudades do que nunca virá.Vivências do que nunca é.Assim és tu.Fadas e duendes.

Recanto V - AbismosEncontros e desencontros, encantos e desencantos

entre mulher e homem, paixão, ternura, dor...

Do conúbio raro entre o juízo e a loucura,Do incesto místico entre o sonho e a fantasia,Da aliança espúria entre o amor e o sexo,Nasce, nua e crua,A realidade.

Recanto VI - AlquimiasO pecado da gula é aqui descrito tão

realisticamente que este recanto foge ao "modernismo" que tempera toda a obra. Mas afinal, o paladar é um dos cinco sentidos... e pode também desencadear diferentes emoções...

Ela estava em dietasOu grávida do poema maior.Desejos divinos,Fome fecunda,Prenhe de versos!

Recanto VII - Menina dos OlhosProssegue e cresce a saga do Recanto III, agora com

ênfase na transformação dos sonhos em realidades e na cristalização das expectativas.

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Os Sete Ramos de Oliveira

Suspensa nos sonhos,Ausente do Espaço,Perdida no Tempo,Nasce e reluzTua verdadeira Luz.

Recanto VIII - SinfoniasA poetisa tece aqui uma colcha de retalhos, como

um "pot-pourri" de breves trechos das emoções anteriores. Como se as reminiscências dos acontecimentos do dia desfilassem confusamente ante nossa consciência, quando o sono vai chegando.

Repetem-se as tocatasEm doce diminuendoEm notas soltas, livresGran finale!

Se o leitor amigo tiver a oportunidade de ler o "Re(cantos) de Mim", certamente terá reações emotivas diferentes das minhas. É assim mesmo; mas aposto que serão tão ricas como foram as minhas. Quanto ao valor literário da obra, é assunto para os "istas". Eu sou apenas um poeta. Um poeta menor.

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quinta-feira, 21 de julho se 2011

O Sebinho e a Bailarina O fato aconteceu na minha varanda...

O atrevido passarinhoResolveu fazer seu ninhoDebaixo do meu nariz...Dando-me asssim o ensejoDe mostrar como versejoQuando me sinto feliz.

Samambaia, a Bailarina,Que ao beijo da brisa inclinaO saiote, a rodopiar,Hoje acolhe em seu vestidoUm hóspede que embevecidoVai construindo seu lar.

Um Caga-sebo atrevido,Um Bem-te-vi encolhido,Um Sabiá no cantar.E quando este inverno frioDer lugar a novo estioOs filhotes vão voar.

Dança, doce dançarina!Dançar é a tua sina,Não te canses de valsar.Samambaia Bailarina,Sou louco por ti, menina,Contigo aprendi a amar,

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Tal qual amas o Sebinho,Esse ingênuo passarinho,Que não se cansa de amá-la;E que hoje tem seu ninho,Feito com tanto carinho,No teu vestido de gala.

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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Em Verso e Prosa Para comemorar o aniversário da Andréya, eu e a

Mi resolvemos homenageá-la com uma postagem conjunta. Eu fiz um sonetinho e a Mi - exímia cronista - de encarregou da prosa.

Déya em Verso

Tu deste ao teu número umO mesmo destino que ao três;O treze ao contrário se fez,E hoje se lê trinta e um;

O dois, pela segunda vezDá quatro - veja isso agora:Quatro são os noves-foraDos números um e três!

Se o três e o um deram bolo,No bolo estão espetadosEntre aplausos e améns;

E lhes sirva de consoloO poderem ser queimadosAo cantar dos parabéns.

Rodolfo Barcellos

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Déya em Prosa

Hoje tem festança pra celebrar o aniversário da moça de sorriso faceiro, lá em Goiás. Aquela que me enche de alegria quando reage a qualquer besteirol de minha parte dizendo: “e eu pensei que não iria conseguir sorrir hoje”, aí me lança um montão de “kkkk”. Aquela de quem me sinto tão próxima, embora a geografia nos distancie. A moleca brincalhona que se perdeu por um tempo da felicidade, mas aos pouquinhos vai tirando os gravetos do caminho e se redescobrindo junto com ele. A mulher corajosa. Grudou em si uma cria alheia, feito as mamães-preguiça fazem com seus filhotes e nunca mais largou, se fazendo a melhor mãe jamais imaginada ao pequeno ser. Moça dos sentimentos vermelhos feito carmim, do amor imensurável, da dor que dói até se gastar por completo, corroendo tudo por dentro, matando a vontade de viver... E de repente se faz outra vez fortaleza. E de novo luta. E de novo ama. E o olhar doce renova o brilho... E a vida fica mais alegre por recebê-la de volta...

Hoje ela está acampando. Riu-me muitos “kkk” porque eu falei que acampar deve ser bacaninha, principalmente se tiver banheiro e uma cama. E como não posso abraçá-la com meus braços fofos, abraço-a em palavras, em bons sentimentos e pensamentos e faço de lindas nuvens minhas mensageiras pra lhe dizerem do prazer imenso que sinto em compartilhar com ela dessa criação maravilhosa chamada amizade.

Há exatos 31 anos, fez-se a Déya... Que dia feliz!

Milene Lima

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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Saudade Quatro pequenos ensaios sobre a saudade:

I

Se um dia tua saudade me deixarMeu peito explodirá em dores mil;Pois certo minha alma irá chorarSaudades da saudade que partiu.

II

Um poeta, na verdade,No fundo do peito seu,Sofre até com a saudadeDa saudade que morreu.

III

Sem saudade, sem tristeza,Sem dor ou sem agonia,

Poetas não haveria,Nem poetisas, com certeza.Sem sonho, sem fantasia,Sem saudade, sem beleza,

Não haveria poesia,Só haveria tristeza.

Nem poetisa haveria,Nem poeta, com certeza.

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IV

Todos dizem que a saudadeÉ alimento do poeta;

Mas se isso for verdadeEu quero é fazer dieta!

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domingo, 31 de julho de 2011

Ma 31 de Julho Julho tem esse nome em homenagem a Júlio César,

reformador do calendário, que desafiou a lei romana, quando general, atravessando com suas legiões o rio Rubicão - ocasião em que pronunciou a célebre frase "Alea jacta est" (a sorte está lançada). E Régulus é a principal estrela da constelação do Leão. E no último dia do mês, a Ma comemora seu aniversário...

A DATA:Ao fechar-se o mês de nome do romanoQue impávido cruzou o RubicãoE à sorte o grande Império italianoConquistou e governou com retidão;

O SIGNO:Quando Régulus hesita em seu brilharPor Apolo estar na cova do Leão,Reunindo Terra, Água, Fogo e ArEm obras-primas feitas por tua mão,

A FESTA:Que hajam festas e sorrisos de alegriaNesta data luminosa, alvissareira,Pois que hoje festejamos o teu dia.

A PESSOA:Ó tu, mãe, mulher, artista por inteira, Bela deusa, que do barro a arte cria,Recebe hoje nosso preito, Ma Ferreira!

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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Alma & Graça No dia 18 de abril de 2010 - há mais de um ano! -

recebia o "Sete Ramos", pela primeira vez, a honrosa visita de uma Alma Inquieta - a Amélia, do "Estados de Alma". Hoje, em homenagem à sua data natalícia, peço licença a minha amiga portuguesa para misturar os dois idiomas peninsulares que lhe são tão queridos, e cantar com alegria, num portunhol rústico, a amizade que lhe dedico. Ressaltando que o verso que abre esse canto foi roubado, à época, do grande Camões, para recebê-la, com a pompa e circunstância devidas, no meu humilde cantinho.

Alma 4 de agosto

Alma minha, inquieta, que sorriste,De Porto Cale en sonrisa ardente,Trazendo brisas de estio calientePara aquecer el nuestro inverno triste,

Se de Castilla as armas não herdastePois sob el signo de Leão nasceste,A las dos Casas tu destino desteNas doces falas con que nos hablaste;

Y hoy, que el cumpleaños tu celebras,Permite que este amigo do OcidenteTe diga nesta fala misturada

Quão fortes son los hilos y las hebrasDesta amistad que mantém tanta genteUnida aunque esté tan separada!

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Feliz aniversário, Amélia!

Pois não é que, na pressa de alcançar o fuso horário de Amélia este poeta confuso já ia passando direto pela festa da Graça? Mas ainda deu tempo de embrulhar mal e mal um presente para nossa amiga de Minas... ela é generosa e me perdoará o atropelo.

Graça 4 de agosto

Desce hoje, em Pouso Alegre, um anjo à TerraCelebrando mais um ano de alegriaDesta amiga que em sua alma encerraBotões de madre, pérolas de harmonia;

Um anjo de prata, um coração de ouro,Que em desafio às agruras desta vida,Faz da amizade seu maior tesouroE entre nós a derrama, sem medida;

E na data em que nós todos te abraçamosCom o carinho que cresce na razãoBem direta do quadrado da distância,

Ouve, querida, o canto que entoamosEm tua honra, nesta celebraçãoAo som de tanta pompa e circunstância!

Feliz aniversário, Graça!

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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

É BIG! É RÊ! - por Rodolfo e Milene Mais um aniversário a celebrar - desta vez, da

Regina. E eu sem internet! Por sorte, tinha enviado meus versinhos à Milene, antes de ficar cego, surdo e mudo; e pedi-lhe, por telefone, para pegar uma carona no Inquietude. E lá, graças à generosidade dela, minha homenagem (de mãos dadas com a da Mi), foi entregue à Regina em tempo.

Diz Regina RozembaumCom sotaque das Gerais:"Ser mineira é muito baum,Ser mineira é baum dimais!"Essa leoa indomadaQue se diz domesticadaCom sua juba douradaNum divã enrodilhadaÉ em verdade comprovadaUma gatinha mimadaUma mulher encantadaRainha, sereia e fadaOra menina assanhadaOra adulta equilibrada.Essa querida menina,Essa moça leonina,Cujo nome é Regina...Essa nossa amiga amada,Preciosa e apreciada,Nesta data festejadaSerá homenageada.

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Minha amiga querida,Quero ofertar-te uma rosaQue é de praxe no evento;E meu único lamentoÉ que não é tão formosaQue te seja merecida.Na Lei Maior está posto,Isso já foi decretado:Em dezenove de agosto,No Divã é feriado.E quando esses versos leresOuve a cantiga das almas,O pulsar dos corações,No ritmo de mil cançõesNa cadência destas palmasCelebrando teus viveres

E tu pensas, minha amada,Que os anos de tua vidaA ti foram presenteados?Não te enganes, querida:Pois de ti nasceu a vidaQue a teus anos foram dados.Não celebres, minha amada,A vida que os anos te deram;Celebra antes, querida,Os anos a que deste vida;

Não te aflijas com a metaQue não te foi alcançada;Celebra a coragem tuaEm buscá-la, esforçada;Pois da busca a aventura

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Traz riqueza ao caminhante;É mais sublime a procuraQue a alegria da conquista;Melhor do que "ter" o prêmioÉ "ser" bom competidor;Pois dessa procura nascem,Por mais que os anos passem,Esperança, paz, amor!

Para pensar:"Os anos dão vida à gente";"A vida dá anos à gente";"A gente dá vida aos anos";"Os anos dão a gente à vida";"A vida dá a gente aos anos";"A gente dá anos à vida".

"Não podemos acrescentar dias à nossa vida, mas podemos acrescentar vida aos nossos dias". (Cora Coralina, por Valquiria, em comentário no Inquietude - Retalhos de Cetim, julho de 2011).

Feliz aniversário, leoa quase virgem!(Rodolfo Barcellos, compartilhando essa postagem

especial cá no meu canto, por ter sido impossibilitado de publicar no blog dele em virtude de estar sem net.)

* * * * *Ela é feito uma música suave e ao mesmo tempo

contagiante, daquelas inesquecíveis, parecendo tirar a gente pra dançar, braços abertos chamando a vida, rodopiando feito piões brincalhões e sorriso estampado nos lábios. E a gente se deleita, nunca mais quer sair desse bailado alegre e canto doce, carregado na mineirice que

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por si só envolve num aconchego de bem querência a quem dela se aproxima.

Mulher-leoa, menina faceira, moça vaidosa... Rainha. Regina!

Com ela as palavras jamais padecem do tédio. Enquanto segue sua dança da vida, feito uma leoazinha brincando na savana, faz-de-conta que a palavra vestiu roupa nova, ganhou adereços e todo o tempo se reinventa.

E se por vezes se faz triste a sua música, se brotam lágrimas em vez de sorrisos, quando supõe ter perdido a alegria festeira, eis que ressurge a bravura, a coragem adormecida num ímpeto desperta e vão-se em disparada todos os ETs.

Quando enfim, numa etapa longínqua da estrada, alguém descobre ter trilhado um caminho que já não lhe apraz, quando a velha canção da vida inteira se torna enfadonha e vã, quantos são audaciosos o suficiente pra comporem uma nova melodia?

Ela o é! Mulher admirável, valente, sonhadora, humana... Rainha. Regina!

Que sejam tantos os pedacinhos de felicidade, ao ponto de não lhe sobrar tempo pra mais nada, a não ser viver, imensuravelmente viver a eterna condição de ser feliz.

E pela parte que me cabe nessa tua generosa amizade, afirmo querer dançar contigo canções de alegre viver, por toda a infinitude,

Obriagada!(Atenção, caro editor: "Obriagada" - assim mesmo -

é invenção da Rê, adotada aqui pela Milene. Significa embriagada de gratidão. Favor não corrigir.)

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domingo, 28 de agosto de 2011

Para Rê Perdi a festa. Mas não perdi a viagem. Quando

minha Internet caiu, apressei-me em telefonar à Milene, a quem eu costumo mandar minhas poesias, antes de publicá-las, e pedi-lhe que postasse o meu presentinho para a Rê. Sabia que ela acolheria meu pedido no coração e meus rabiscos nas páginas inquietas do seu cantinho, levando-os à nossa amiga querida. Mas naqueles dez séculos de Purgatório, sem Internet, brotaram-me das saudades alguns versinhos mais...

Poema dos Nomes Teus

Chamas-me teu bruxo amadoE à Mi, minina-ternura;"Rêzina da Grória" - juraUm Peludim avoado -"Sabe dar nome acertadoPorque tem a alma pura";Cada amigo conquistadoTem seu nome confirmadoTem sua alcunha segura.O Pê-ludim, o macaco,A Si do balacobaco,A Graça, há semanas passadas,A Ma, a Amélia, a Denise,Já foram por ti batizadas;E a mais quem quer que precise,A todos a quem tu amas,Em cada apelido derramasGotas de amor perfumadas.

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Soneto do Amigo Ausente

Querida Leoa Indomada,Mais um ano celebrando,Eu sem Internet, sem nada,Só mesmo imaginando

Para abraçar-te, amada,E desejar-te, querida,Muitas vidas mais de fada,Muitos mais anos de vida;

Nesta singela homenagem,Recebe todo o afetoQue vem do meu coração;

E assino esta mensagem:Rodolfo, o Bruxo dileto,Teu amigo, teu irmão.

Niterói, agosto de 2011

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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Minha Pátria Poema feito em homenagem ao Sete de Setembro.

Minha Pátria não é o maior rio do mundo.Não é o pulmão do planeta.Não é um país-continente.Minha Pátria é gente.

Minha Pátria não é guerra - são guerreiros.É Amor, é Dor, é Vida,É o dedo na ferida,O protesto, a indignação.

Minha Pátria são amigos,São irmãos, filhos e netos.São os sonhos realizados,São aqueles não sonhados,Até mesmo os incompletos(Não só meus - os teus também).

Minha Pátria está nas ruas,Nas casas, nas oficinas,Nos balcões de atendimento,Nos hospitais, nos quartéis,Nos estádios, nos teatros,Nas catedrais, nos bordéis,Nas praças e nas esquinas,Nos mercados, nas vitrinas,Nos esportes populares,Nos eventos culturais;

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Está também nos jazigos,Nas escolas, nos abrigos,Na fila de idosos no banco,No trem de subúrbio enguiçado;

Minha Pátria é alvo de balas perdidas,Passageira de bondes sem freios,Refém de corruptos e ladrões.

E neste Dia da PátriaEla está principalmenteNaquele grupo da frenteDe velhos e anciõesQue abre o desfile imponentePara tanques e aviões,Para fuzis e canhões(E a cada ano que passaDiminui constantemente).

Minha Pátria sou eu.És tu. Somos nós.

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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Se... Poema dedicado a Mellíss, no dia de seu

aniversário.

Se eu fosse uma árvoreCaminharia, ao por do sol,Até à beira da praia,Às margens do Oceano,Aos limites da Terra Conhecida.E lá me inclinaria para beber,No sal da água,Toda a sabedoria do mundoE a Ciência de mil Universos;E faria pose para um fotógrafo vagabundoSabendo que tu me escolheriasE me colheriasPara consolar-me em acalantos,Para embalar-me em teus versos,Para me dormires em teus cantos,Para me perderes em teus risos,Para me encontrares em teus prantos.

Se eu fosse uma árvoreEu te entregaria a minha última semente,E tu me plantarias em teu jardim(Ou em um pomar)E cuidarias de mimE me darias tua água,Saciando minha sede,Mitigando minha mágoa.Podarias também meus defeitos,

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Os meus galhos ressequidos,Os meus ramos imperfeitos,Os meus frutos apodrecidos,Guardando-os, com cuidado,Para te aqueceres nos teus dias frios.

Se eu fosse uma árvoreEu lançaria sobre ti,Apaixonadamente,A minha sombra mais refrescante,E te daria meus frutos mais docesE as pequeninas flores amarelas e perfumadasQue por vezes me brotam no outono.E acolheria nos meus sete ramos os ninhosDe teus mais queridos passarinhos,O Sabiá-Laranjeira,O Beija-Flor,O Canário-da-Terra,A Rolinha Fogo-PagouE o Bem-Te-Vi.E numa Samambaia-bailarina,Pendurada por ti no meu galho mais baixo,Viveria alegreUm casal de Sebinhos.

E tu adormecerias à minha sombra,Descuidada e feliz,Entre os perfumes de mil flores,Esquecida das dores,Ao som do murmúrio do vento em minhas folhasSentindo a carícia da brisa em tua face,Ouvindo o gorjeio das aves ao teu redor,Sonhando teus sonhos de paz e de amor.

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E quando chegasse o tempo de nosso inverno finalEu me desfaria silenciosamente em pequenos

gravetos(Sem que tu percebesses),Para alimentar o fogo na lareira de tua velhice.E em teu olhar cansado brilhariam reflexos de

mim,E tu sorririas, feliz...

E Deus sorriria para nós,E a vida seria gloriosa,Se eu fosse uma árvore...

Dedico esse poema a Mellíss - a guerreira que aniversaria hoje. Feliz aniversário, Fátima.

Ah, e não posso me esquecer de agradecer à Marcinha, que permitiu gentilmente que eu roubasse, do seu "Mar de Pensamentos" - na calada da noite -, a imagem que ilustrou esses versos:

http://seteramos.blogspot.com/2011/09/para-melliss.html

Obrigado, Márcia.E à Milene, de cuja paciência eu abuso como

minha consultora lírica (e como meu "back-up" nas emergências), só posso dizer que minha admiração cresce a cada dia.

Rodolfo Barcellos,Niterói, setembro de 2011.

NOTA: o "Fotógrafo vagabundo" citado no poema é Carmem / Sheila / Luiz Borges. Como não há

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indicação de direitos de cópia, usei no "blog" o critério mais comum - liberdade de uso não comercial, respeitados os créditos. Curiosamente, a foto é das margens da represa de Furnas - milhares de quilômetros distante do mar...

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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mosaicos Nesse ano e tanto de Blog, sobraram-me alguns

retalhos de textos e alguns versos que não se encaixaram bem em certos poemas. Alguns deles foram aproveitados em comentários e e-mails - e os meus amigos que os leram não terão dificuldade em reconhecê-los nesta colcha mal alinhavada.

Aliás, o primeiro título que me veio à mente foi "Retalhos"; mas minha amiga Regina - a quem pedi auxílio para ilustrar a postagem - enviou-me uma imagem tão eloquente que resolvi rebatizá-la como "Mosaicos".

E minha consultora lírica, a Milene, carimbou a escolha. Portanto, amigos, lambuzem o fura-bolos nesta raspa do tacho... e apreciem.

Similia Similibus

Quando eu te conheciTeu tristonho coraçãoEstava na U. T. I.Recebendo transfusão.

Após longo tratamento,Sem nunca deixar-te em falta,Vemos chegado o momentoDe conceder tua alta;

Vemos isso pelas coresQue a teu rosto retornaram,Varrendo o cinza das doresQue antes te atormentaram.

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Os Sete Ramos de Oliveira

Mas longe da enfermariaO tratamento prossegue,À base de poesiaA que teu peito se apegue.

É de uso continuadoA medicação prescrita;O seu uso é indicadoA qualquer alma aflita.

E enquanto tu me quiseresComo médico e doutor,Exercerei meus misteresCom versos, rimas, amor.

Quem?

Quem és? De onde vens? Para onde vais?Chegaste-me como quem chega da noite,Como suave brisa perfumada,Que busca a si mesma, sem se achar;E em voltas de procura incessanteTornaste-te tornado torturante,Destroçaste o abrigo que te dei;Derrubaste as fronteiras de minha alma,Atiçaste o fogo com que te amei.Quem és? És brisa errante.De onde vens? De algum lugar no horizonte.Para onde vais? Não sei...

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Os Sete Ramos de Oliveira

Para Jana

Lembro ainda teu olhar arregaladoTeu sorriso generoso e juvenilTeu abraço carinhoso e apertado,Teu semblante meigo, doce e gentil.

Tuas asas te levaram para o OesteE eu voei nas minhas para o Norte;Seguiste os caminhos que quisesteEnquanto eu perseguia os da sorte.

Nós nos perdemos um do outro, Jana...Por selvas e montanhas separadosJamais, porém, por nosso sentimento;

Y cuando te allé en mi ventana Mirándome con ojos encantados.Graças eu dei, por tão feliz momento!

Inocência (sobras do poema)

Perdido eu neste negror caos complexoTu me ensinaste com luz e calor.Roubaste-me a inocência pelo sexoE hoje ma devolves pelo amor.

Ó tu, sacerdotisa de meus deusesÓ tu, que me fizeste enfim um HomemÓ tu, que me roubaste a inocência

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Os Sete Ramos de Oliveira

Onde a Morte e a Vida se confudemOnde o prazer e a dor se reencontramOnde o Espaço e o Tempo se anulamOnde se abraçam o santo e o pecador

Onde os espectros da Morte se desfazemOnde as loucuras da Vida resplandecemOnde inocência e pecado se abraçamOnde as leis perdem todo o seu valor

Aqui eu encontrei a minha essênciaAqui a minha vida se perdeuAqui meu ser enfim se completouAqui é meu tugúrio, minha casaAqui o meu destino se encontrou

Ontem eras desejo, inquietudeHoje és prazer, loucura, sonho, vidaDepois serás descanso, realidadeE recomeçaremos outra vez...

Liberdades Poéticas

E as nuvens preguiçosas vão passandoAo beijo de uma brisa perfumada...

Em teus olhos lampejaram vagalumesE uma lágrima na tua face deslizou;E deteve-se na fímbria de teus lábios,E na sombra de um sorriso agonizou.

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Os Sete Ramos de Oliveira

E desfez-se em cintilações brilhantes,E sumiu-se em tantos brilhos cintilantes,E apagou-se em preciosos diamantes,E morreu entre lampejos coruscantes...

E juntos cavalgamosEm louca disparada,E exaustos repousamosNo fim desta estrada.

Encíclica em crítica enclítica

Por que fizeste, poeta, este verso?+- Fi-lo porque qui-lo.Por que julgas que és parte daquilo?- Sou-o só por sê-lo.Criaste algo nele como apelo?- Crio para crê-lo.Ou viste nele o teu próprio anelo?- Vi-o só por vê-lo

Ser ou estar?

(comentário a uma crônica particularmente inquieta da Milene)

Renegas o verbo SerE conjugas o Estar;Dormes hoje sem saberO que irás acordar;

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Os Sete Ramos de Oliveira

Estejas hoje cronista,Amanhã - quem saberá?Talvez a pena da artistaNoutro estilo escreverá.

Estejas velha ou menina,Sejas violeta ou bonina,Girassol ou mal-me-quer,

Estejas espinho ou rosa,Ora verso, ora prosa,Tu sempre SERÁS mulher!

Quem estás hoje, querida?Estejas bem!Beijos carinhosos.

O Coração e a Flecha

A flecha tem alvo certo:É o coração partidoDe uma corça que, decerto,Derramou pranto sentido.

Que leve esta seta alvaBálsamos confortadoresUnguentos de cravo e malva,Aliviando as dores.

Permita-me o exímio arqueiroQue um guizo feiticeiroEu prenda à haste da seta

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Os Sete Ramos de Oliveira

Pra nossa corça feridaDespertar pra nova vidaTendo novo amor por meta.

Intercâmbio Cultural

Não entendo teu "past tense",Tu não entendes meu "ser";E por muito que eu penseNão consigo aprender.

Minha língua em tua bocaTem um sabor diferente,Agridoce, coisa louca,Neste teu sotaque quente.

Teus verbos conjugarei,To kiss, to live, to love,No tempo mais-que-perfeito,

Com objeto e sujeito,No modo que mais te proveO quanto eu te amarei.

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Os Sete Ramos de Oliveira

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Os Sete Ramos de Oliveira

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Primavera Às seis horas e quatro minutos, logo após o

alvorecer do dia 23 de setembro, horário brasileiro, o Sol cruzará a linha do equador, trazendo em seus raios a primavera ao hemisfério sul.

Em Portugal, no mesmo instante, os relógios estarão marcando nove horas e quatro minutos e nossos amigos de lá estarão recebendo o outono.

É o dia do equinócio - o dia em que fadas e duendes festejam com os elfos e as flores. O dia em que a linha divisória entre o dia e a noite passa exatamente pelos dois polos do planeta e as horas de luz e escuridão são iguais para todos os povos da Terra, sem distinção de cor, credo ou riquezas. O dia em que luzes coloridas dançam em um certo lugar escondido na Floresta da Tijuca...

Felizes dias de primavera para quem vive deste lado de cá do Atlântico Sul. E doces tempos de outono para os amigos d'além-mar, do hemisfério Norte... pois tudo é motivo para poesia.

Equinócios

Chega-me hoje, sorridente,O Sol, que em teu verão quenteTantos dias te alegrou;

O outono ele lá deixaAo poeta que, sem queixa,Novos versos já achou.

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Os Sete Ramos de Oliveira

Chega aqui a primaveraTrazendo uma nova eraDe flores, luz e calor;

E aqui também os poetasRimam estrofes inquietasDe esperança, paz, amor!

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Os Sete Ramos de Oliveira

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Magia e Bruxaria Dois poemas para celebrar o aniversário da minha

amiga Milene:

Magia

Já te fiz uns versos mancos,Outros pouco mais sutis;Já te mandei versos brancos,Já te dei rimas febris.Sou hoje antúrio-poeta,Tu és pétalas rajadas;Presto homenagem discretaÀ tua alma inquieta,Nestas coplas mal rimadas.

A Primavera completaSete casas já de Libra,Quando a alma de um estetaEm tua homenagem vibra;Foi-se um ano, vagabundo,E tu do tempo zombaste.Teu poder hoje, no mundo,É mais amplo e mais profundoSobre todos os que amaste.

Recordas quando tu me perguntasteDo simbolismo oculto em teus dias,Em tantos noves que do fado herdaste?Pois sem cuidar de vãs filosofias

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Os Sete Ramos de Oliveira

Eu coloquei teus noves na Balança(Porque és de Libra, querida criança)E consultei as artes das magias.

E se não crês em bruxedosPedirei que tu comproves,Perante toda essa gente,Aritmeticamente,Sem truques e sem segredos,Tudo contado nos dedos,Tirando a Prova dos Noves:

Tu nasceste às dezenoveHoras, dia vinte e noveDeste nono mês, do anoDe um, nove, meia, nove(Consta em tua certidão).Pus tudo no caldeirão,Cozinhei por uma hora,Até levantar fervura;E depois dos noves-foraCheguei a uma conclusãoSingela, porém segura:O resultado foi UM!E no Livro do Feitiço,Onde não falta nenhum,Sem sobressalto algumEncontrei apenas isso:

"A solução aqui está:Tu és única, querida!Outra igual a ti não há;És a flor estremecida,

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Os Sete Ramos de Oliveira

És una, maravilhosa,És a pétala da Rosa,És o símbolo da vida!"

E se isso não bastasse,Existe a Prova Real:Houve alguém que não te amasseNeste mundo virtual?É claro que não, amada!Todos estão a teus pés;Por todos és adorada,Benquista, idolatrada,Só por seres tu quem és!

E as estrelas de AquárioOu de qualquer outra origem,Capricórnio, Sagitário,De Câncer, Áries, Leão,De Peixes, Gêmeos e Virgem,De Touro, de Escorpião,Cantam em coro, contentes,Nestes versos eloquentesEm honra a Libra, a canção:

"Salve a estrela mais belaQue no céu profundo brilha!A Rosa dos Ventos é ela,Norte, Sul, Leste ou Oeste,É sertaneja do Agreste,Das Alagoas é filha!Linda estrela radiosa,Seu nome próprio é Milene,Seu oculto nome é Rosa;

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Os Sete Ramos de Oliveira

É a Urna mais luminosa,É a Rainha mais perene,É a Pedra mais preciosa,É a Mulher mais formosa,É a Luz da própria Selene!"

Esta rima é dedicadaÀquela que as paixões move,À Deusa mais preferida,À Musa mais desejada:És, em inglês, MY BELOVED!Em espanhol, MI QUERIDA!Em português, MI AMADA!

Parabéns, Mi.

Bruxaria

Já faz um ano - eu me lembro:Vinte e nove de setembroDo ano dois mil e dez;Uma sertaneja amada,Galeguinha arretada,Meteu as mãos pelos pés.

Beijou um sapo de pano,Querendo naquele anoUm príncipe pra festejar;Mas quase levou a breca;Virou uma pererecaE se pôs a espernear.

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Os Sete Ramos de Oliveira

Pra sua sorte um bruxoSegurou todo o repuxoGritando: "Sassevasá"!Fez-se o feitiço às avessasE aquelas formas travessasComo mulher estão já.

E relembro com saudadeO início da amizadeQue ela diz ser "tão bacana",Quando dediquei-lhe um versoQue cruzou o universo:"À MIMOSA MARCIANA

Se você fosse nascidaNum planeta mais distante,Certo teria um vidaDiferente, interessante.

Em Marte você nascesse,Vinte quilos pesaria;Leão, sim, seria esseSeu signo e companhia;

Pois no calendário delesEm seu dia, e mais nenhum,Era dezesseis do JarroDe mil e cinquenta e um

A Terra solta em Câncer,Sol e Vênus em Leão,Saturno sozinho em Touro,Netuno no Escorpião.

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Festa na casa da Virgem,Mercúrio, Ceres, Plutão;Júpiter e Urano em Libra,Faça as continhas, então:

Como lá hoje é o ArqueiroDe mil e setenta e três.Você só tem vinte e dois!Mas ora vejam vocês!

Dois patinhos na lagoa...Você fica bem na foto,Seja em disco voador,Seja em garupa de moto."

Mas hoje - na bola eu vejo - Contra todo o meu desejoLá também caiu um pano;E, portanto, neste ensejoHoje é o mês de Caranguejo,Mil e setenta e quatro é o ano.

Tu tens vinte e três aninhos,Pesas vinte e três quilinhosNa gravidade de lá;Mas como estamos na Terra,O meu cálculo se encerra;Parabéns! Um, dois, três... JÁ!

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Minha Poesia A Milene sabe ou não sabe fazer poesia?Bem, ela diz que não é poeta; mas olhem o que eu

achei no Inquietude - logo na primeira vez que fui lá:

Quisera eu fazer a poesia mais linda,Cheia de versos em cores,Pulsante, viva e sem disfarce.Ela, a poesia,Seria como um retrato pintado em palavras,A cada escritaUm fragmento d’alma desnudo.Quisera eu fazer a poesia mais lírica,Num quê de emoção sem reticência...Num grito incontido de sentimento liberto,Outrora aprisionado nos porões mais sórdidos.Quisera eu fazer a poesia mais minha,A poesia imperfeita,Cortante,Desinventando verbos incapazes de amar.Eu a chamaria de“Retrato fragmentado de mim”.Causaria enlevação a minha poesia,Mas que pena!Num átimo lembrei-me:Não sou poeta!Terei que reabrir meu baú?Lançar ao fundo minhas palavras dispersas?Fazer dormir a minha poesia?

Milene Lima

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Os Sete Ramos de Oliveira

Não pude deixar de comentar:

R. R. Barcellos disse...Mas que pena...Num átimo ou átomo esqueceste,Sejas tu Milene ou Milena,Que o dom da musa é mesmo este!

Parabéns pelo belo poema, Pétala... e não se atreva a escondê-lo no fundo do baú.

Aliás, lá devem jazer outras jóias empoeiradas, e você está intimada a expô-las.

E agora permita-me dar-lhe as boas vindas aos Sete Ramos. Um abraço.

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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Diálogo InVerso No "blog" MOMENTOS FRAGMENTADOS, da

Marilene, há um aviso:"A exposição de meus sentimentos, idéias e poemas

pode ser compartilhada, com os devidos créditos, mas está em um mundo legalmente protegido. Não se aproprie!"

Eu acrescentaria: "É vedado o uso com finalidades comerciais sem minha autorização expressa."

Pois a Marilene publicou, horas atrás, um poema tão belo que me inspirou outro, em comentário. E resolvi fazer com os dois poemas uma montagem em forma de diálogo, sem saber que ela também já estava incorporando meu poema-comentário à postagem dela. Que fique claro que o poema inicial, que serviu de estopim (como bem definiu a Graça), foi o da Marilene.

Bem, dados os créditos e recusada a pecúnia, vamos aproveitar! E compartilhar...

Insatisfação HumanaSentimento Divino

Sou a bêbada borboleta, disse ela,Que voa sem ter destinoPousando a esmo nas floresPara aplacar suas doresTenho cores e belezaCorro em toda a naturezaMas me falta seu perfumeRazão do meu grande queixumeNesse louco borboletear

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Os Sete Ramos de Oliveira

Pousa na minha lapela, borboleta, e escuta:Não andes descalça sobre espinhos de cactos;

Mas na pétala macia e morna da florCaminha com pés nusE a flor te perfumará.

Sou a curva das estradas,Onde ninguém quer pararMesmo que existam mil floresA me circundarMostro horizontes belosQue os olhos não querem verCom receio do perigoQue lhes possa oferecer.

E tu, linda estrada sinuosa,Não queiras ser auto-estrada, longa e reta,

Para a qual os poetas não fazem versosE os menestréis não os cantam.

(Lembras "As curvas da estrada de Santos"?)Pois eu sou o viajor cansado

Que repousa em cada curva tua,À sombra de teus bosques perfumados.

Sou o canto desiludidoDa partitura fugidioQue as notas não observaPorque ninguém quer ouvirA harmonia da músicaSe recusam a sentirPor medo dos sentimentosQue lhes possam traduzir

Vem, cantiga dolente e sussurrada...Diz-me em suave murmúrio,

Ao pé do ouvido,Que tu me amas;

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Os Sete Ramos de Oliveira

E eu rabiscarei na pauta de tua partitura uma pausa semibreve

Para que ouças no teu silêncio o pulsar de meu coração.

(E ouvirás também o teu.)Sou aquele ser perdidoQue a vê mas não quer guaridaPor sentir nela a prisãoE prefere viver a esmo, sem destinoE sem noção,A entregar seu coração...

Achei-te, ser perdido!E ao encontrar-te me perdi também.

E perdidos nesse doce labirinto,Caminharemos juntos, sem destino,

Sem nunca encontrar nossas pegadas,Sem o medo de encontrarmos a saída...

E vive insatisfeitaEm tudo encontra um senãoPorque acima das flores, dos amores,Deixou a sua razãoE se mantém arredia, temerosa,Com medo da desilusão.

Ah, amada, não te queixes!Faz de meu amor um bravo,

Teu herói, teu campeão!E nunca, nunca mais deixes

Teu coração ser escravoDos ditames da razão!

MarileneRodolfo

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(sem data)

Comentário em Soneto Quando a Graça postou uma bela homenagem à

Lu, a respeito dos poemas no seu livro (Re)cantos de Mim, eu achei que a homenageadora merecia uma homenagem...

Por três vezes iniciei um comentário.Por três vezes apaguei-o, descontente;Porém não me quedarei indiferenteÀs belezas deste novo relicário,

Cujo acervo, bela Graça, recolhesteNos Recantos da nossa amiga Lu;Nas palavras tão sublimes que nos deste,Escolhidas pela mestra que és tu.

Garimpaste tantas pedras preciosasQue em quilates de lirismo são medidasNa bateia de teu saber literário;

De tais gemas fazes jóias valiosas,Tão brilhantes, tão formosas, tão queridas,Que merecem um soneto em comentário.

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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Poder Encontrar Os poemas da Carla, suaves e delicados, sempre me

despertam a inspiração...

QuandoParto para longe de mimProcuro-me pelos lugaresOnde poderei estarPara me resgatarDe querer ficar

E precisoConquistar-me para voltarA me caber e poderRenascer

(Carla Fernanda)

De ti mesma te perdeste,Como eu me perdi de mim;E nas rimas que fizesteEncontramo-nos, enfim!Quando quiseres achar-meVem ao reino da Poesia,E lança este teu charmeQue chama a minha alegria,E que sempre busca dar-meAmor, paz e harmonia.

(Rodolfo Barcellos)

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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Duelo de Indrisos A Lu publicou, no Escritos na Memória:Um dia qualquer eu construí um INDRISO (o

primeiro)... E único (ainda).Mas tá valendo.Pra quem não sabe o que é um Indriso eu explico:Indriso é um modo poético de fazer versos com

inspiração no Soneto. Ele é formado por 2 tercetos e duas linhas póeticas que chamam de monósticos, somando em sua totalidade 8 versos.

O tema é livre e o esquema dos versos é de:3/3/1/1As duas últimas linhas poéticas costumam ter um

sentido para o fechamento do poema, embora não haja proibição para tanto.

Vejam o meu:

ARTE, PÃO E LIBERDADE

Venho de uma terra distanteNa voz - guardo trovas e tramasNa arte - parto o pão da vida

Lá sou amigo do rei (ora trovador) Como arte e corto parteDas insípidas amostras de liberdade

Que voa no frenesi das libélulas

Germinando o trigo na boca do poeta

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Os Sete Ramos de Oliveira

Alguém se habilita fazer um Indriso em resposta ao meu? Vale uma postagem aqui no Escritos!!

A primeira abelhinha a ser fisgada foi a Milla:Oi, Lu. Adoro indrisos e já escrevi mais de três

centenas deles. É uma forma poética que torna a poesia ainda mais bela! Tenho duas paixões: sonetos e indrisos. Deixo um aqui pra vc, se quiser publicá-lo, será um prazer para mim, beijinhos.

NADA MAIS...

Envolvo-me, intensa, na noite escuraEm manto de negrume e solidãoTenho por companheira a saudade...

A mágoa que me nega a alma pura,Sentencia ao ostracismo o coraçãoRetira de meu olhar a claridade!

Se em meus olhos fenece a alegria

O que será do resto de meus dias?

(Milla Pereira)

Logo depois apareceu este marimbondo sem veneno (e sem título):

Ouso compor este indrisoCom rima e metro conciso,Contra o que foi ensinado,

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Os Sete Ramos de Oliveira

Só pra ver o teu sorrisoAté o dente do sisoAberto, livre, ritmado;

E faço o que for preciso

Por este sorriso amado.

(Rodolfo Barcellos)

Brincadeiras à parte, vou tentar fazer um mais sério, Lu... e obrigado pela aula.

A Lu não deixou por menos:RR seu mago danado! Fez-me sorrir sim e olha o

que aconteceu depois da minha leitura sobre este teu Indriso: OUTRO INDRISO - na tréplica!

DE UM SORRISO PARA OUTRO(para RR)

Tu conseguiste meu sorrisoMesmo que seja maquiadoPor isso te aviso

Para ir além do indrisoBasta apenas um cadeado“aberto, livre, ritmado”

Atenção de amigo é preciso

Quem não quer ser amado?

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Os Sete Ramos de Oliveira

O marimbondo retrucou, humilde:Ô, Lu... foi brincadeirinha, pra treinar... mas valeu

pelo seu sorriso. Agora vai o sério... em resposta ao original:

LIBERTAS, PANIS ET CIRCUS

Tu vens de longínquas terrasTrazendo "panis et circus"E "libertas quae sera";

Mas ao fogo desta RomaMeus reis tangem suas lirasCondenando mais alferes.

E libélulas se cevam

No pão que o diabo amassou...

(Rodolfo Barcellos)

(Não consegui "libertar" a métrica, mas pelo menos alforriei as rimas).

E eis que aparece uma borboleta:

Não sei fazer indrisosNem sabia o que era issoMas gostei de aprender.

Vim conferir o do bruxoTinha certeza que era um luxoEle não dá ponto sem nó

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Os Sete Ramos de Oliveira

Eu fico no gargarejo.

Um dia aprendo a fazer... Indriso?

(Milene Lima)

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Os Sete Ramos de Oliveira

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Milene Poeta A Milene diz que não é poeta; mas olhem o que eu

achei no Inquietude - logo na primeira vez que fui lá, há mais de um ano:

A Minha PoesiaQuisera eu fazer a poesia mais linda,

Cheia de versos em cores,Pulsante, viva e sem disfarce.

Ela, a poesia,Seria como um retrato pintado em palavras,

A cada escritaUm fragmento d’alma desnudo.

Quisera eu fazer a poesia mais lírica,Num quê de emoção sem reticência...

Num grito incontido de sentimento liberto,Outrora aprisionado nos porões mais sórdidos.

Quisera eu fazer a poesia mais minha,A poesia imperfeita,

Cortante,Desinventando verbos incapazes de amar.

Eu a chamaria de“Retrato fragmentado de mim”.

Causaria enlevação a minha poesia,Mas que pena!

Num átimo lembrei-me:Não sou poeta!

Terei que reabrir meu baú?Lançar ao fundo minhas palavras dispersas?

Fazer dormir a minha poesia?

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Os Sete Ramos de Oliveira

Não pude deixar de comentar, na época:

R. R. Barcellos disse...Mas que pena...Num átimo ou átomo esqueceste,Sejas tu Milene ou Milena,Que o dom da musa é mesmo este!

Parabéns pelo belo poema, Pétala... e não se atreva a escondê-lo no fundo do baú.

Aliás, lá devem jazer outras jóias empoeiradas, e você está intimada a expô-las.

E agora permita-me dar-lhe as boas vindas aos Sete Ramos. Um abraço.

PS: Posso incluir essa sua poesia no meu próximo livro?

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