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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA - DHC CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA DOS SERTÕES OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE MODERNIDADE: JOSÉ DE AZEVÊDO DANTAS (1910/1920) ARIANE DE MEDEIROS PEREIRA CAICÓ 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA - DHC

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA DOS SERTÕES

OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE

MODERNIDADE: JOSÉ DE AZEVÊDO DANTAS (1910/1920)

ARIANE DE MEDEIROS PEREIRA

CAICÓ

2018

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ARIANE DE MEDEIROS PEREIRA

OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE

MODERNIDADE: JOSÉ DE AZEVÊDO DANTAS (1910/1920).

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Especialização em História dos Sertões, do

Centro de Ensino Superior do Seridó, da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como requisito final

para a obtenção do título de Especialista em História

dos Sertões, sob a orientação da Profª. Drª. Paula

Rejane Fernandes.

CAICÓ

2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa Bezerra - ­ CERES­-Caicó

Pereira, Ariane de Medeiros.

Os Sertões do Rio Grande do Norte e o Processo de

Modernidade: José de Azevêdo Dantas (1910/1920) / Ariane de

Medeiros Pereira. - Caicó: UFRN, 2018. 88f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ensino Superior do

Seridó - Campus Caicó. Departamento de História. Pós-Graduação

Especialização História dos Sertões. Orientadora: Dra. Paula Rejane Fernandes.

1. Sertão. 2. José de Azevêdo Dantas. 3. Modernidade. 4.

História do Rio Grande do Norte. I. Fernandes, Paula Rejane. II.

Título.

RN/UF/BS-CAICÓ CDU 94(813.2)

Elaborado por FERNANDO CARDOSO DA SILVA - CRB-15/759

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ARIANE DE MEDEIROS PEREIRA

OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE

MODERNIDADE: JOSÉ DE AZEVÊDO DANTAS (1910/1920).

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista

em História dos Sertões, do Centro de Ensino Superior do Seridó, da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, pela comissão formada pelos professores:

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

Professora Doutora Paula Rejane Fernandes

Departamento de Ciências Sociais e Humanas UFRN

(Professora Orientadora)

_________________________________________________________

Professora Doutora Juciene Batista Félix Andrade

Departamento de História UFRN

(Avaliador)

_____________________________________________________________

Professor Doutor Helder Alexandre Medeiros de Macedo

Departamento de História UFRN

(Avaliador)

Caicó, 26 de junho de 2018

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Aos meus pais, Nadir e Antônio e meu irmão, Antônio Filho

com amor e gratidão!

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho não teria sido possível se não tivesse contado com o apoio de

pessoas que encontrei ao longo da grande escola da vida. O meu muito obrigada!

Agradeço a Deus fonte de misericórdia sem fim, que em todos os momentos de

minha vida é símbolo de inspiração e fortaleza segura. Sua presença constante me faz

caminhar retamente.

Agradeço aos meus pais, Nadir e Antônio, ao meu irmão, Antônio Filho, por

tudo que representam para mim, sem vocês não seria nada. A vocês o meu eterno amor.

Agradeço a Paula Rejane Fernandes, minha orientadora, pela disponibilidade em

me orientar, pelos válidos apontamentos na realização da pesquisa, por suas correções e

indicações.

Agradeço a Muirakytan K. de Macêdo por minha formação acadêmica inserida

ao meio da pesquisa e por sua intensa contribuição ao longo da minha jornada, a você,

minha sempre gratidão, admiração e carinho.

Agradeço em especial a Helder Macedo por ter me colocado em contato com os

Jornais O Raio e O Momento, fontes de inspiração para o desenvolvimento desta

pesquisa.

Ao corpo docente do curso de História do CERES/Caicó, por minha formação.

Em especial agradeço ao professor Almir Bueno por ter me ensinado os primeiros

passos no mundo da pesquisa histórica e por seu sempre incentivo, amizade e carinho.

Agradeço a todas as amizades construídas e fortificadas ao longo dessa trajetória

acadêmica, certamente sem cada um de vocês a vivência no curso de Especialização em

História dos Sertões/CERES/Caicó não teria o mesmo sabor e aprendizado.

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O homem moderno não combate as calamidades com a humildade; descobriu que elas

devem ser combatidas com os conhecimentos científicos.

Bertrand Russell

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RESUMO

Nosso trabalho investiga o sertão do Rio Grande do Norte a partir da primeira metade

do século XX, mais especificamente os anos de 1910 a 1920. Nesse caso, inserimos a

pesquisa no discurso modernizante e civilizatório que toma conta do Brasil. Nesse

sentido, o nosso objetivo é pesquisar como a modernização atinge o interior do Rio

Grande do Norte, especificamente os sertões. Para alcançar ao objetivo proposto

recorreremos ao uso dos Jornais "O Raio" e "O Momento" escrito pelo erudito José de

Azevêdo Dantas. Além do uso das mensagens enviadas pelos governadores do Estado

do Rio Grande do Norte. E o Jornal “O Povo” redigido pelos republicanos da cidade

Caicó/RN. A metodologia utilizada, de modo geral, parte da análise das fontes, a

catalogação e leitura/transcrição paleográfica, classificação das temáticas encontradas

na documentação e problematização das questões empíricas em conjunto com a

historiografia sobre a temática. Utilizo de alguns conceitos, dentre os quais, o de sertão

de Albuquerque Júnior (2014) que entende o mesmo enquanto múltiplo e diverso

podendo ser moldado conforme os interesses da sociedade. O espaço é outra vertente,

no qual, entendemos sob a ótica de Milton Santos (1996; 1999) com meio composto de

objeto de ações humanas que varia ao longo do tempo. A Belle Époque, segundo o

pensamento de Guimarães (2012), nos ajuda a pensar os aspectos modernizantes que

tomavam conta das discussões realizadas pelos republicanos no Brasil e nos faz

entender que esse conceito é bem mais antigo e discutido na Europa e nos chega com

intensidade nas primeiras décadas do século XX. Assim, podemos averiguar que

existem evidências de uma modernidade no sertão do Rio Grande do Norte dentro desse

pensamento progressista e desenvolvimentista e, segundo a visão de José de Azevêdo

Dantas, os sertões estavam inseridos dentro da lógica Republicana e da Belle Époque.

Palavras-chave: Sertão. José de Azevêdo Dantas. Modernidade

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ABSTRACT

Our work investigates the sertao of Rio Grande do Norte from the first half of the

twentieth century, more specifically the years 1910 to 1920. In this case, we insert the

research in the modernizing and civilizing discourse that takes care of Brazil. In this

sense, our objective is to investigate how modernization reaches the interior of Rio

Grande do Norte, specifically the sertões. To reach the proposed objective we will use

the newspapers "O Raio" and "O Momento" written by the scholar José de Azevêdo

Dantas. In addition to the use of messages sent by the governors of the State of Rio

Grande do Norte. And the newspaper "The People" written by the republicans of the

city Caicó / RN. The methodology used, in general, part of the analysis of the sources,

the cataloging and paleographic reading / transcription, classification of the themes

found in the documentation and problematization of the empirical questions together

with the historiography on the subject. I use some concepts, among them, the

backwoods of Albuquerque Júnior (2014) that understands the same as multiple and

diverse and can be shaped according to the interests of society. The space is another

strand, in which, we understand from the point of view of Milton Santos (1996, 1999)

with a half composed of object of human actions that varies over time. Belle Époque,

according to the thinking of Guimarães (2012), helps us to think about the modernizing

aspects that took account of the discussions carried out by the republicans in Brazil and

makes us understand that this concept is much older and discussed in Europe and

reaches us with intensity in the first decades of the twentieth century. Thus, we can

verify that there is evidence of a modernity in the backlands of Rio Grande do Norte

within this progressive and developmental thinking and, according to the vision of Jose

de Azevêdo Dantas, the sertões were inserted within the Republican logic and Belle

Époque.

Keywords: Sertão. José de Azevêdo Dantas. Modernity.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa das regiões (Agreste, Sertão, Litoral) do Rio Grande do Norte ........ 13

Figura 2: Jornal O Raio ................................................................................................ 22

Figura 3: Jornal O Momento ........................................................................................ 22

Figura 4: Mapa das principais linhas férreas do sertão do Rio Grande do

Norte.............................................................................................................................. 66

Figura 5: Mapa das estradas de rodagem e carroçáveis construídas e recuperadas nos

sertões do Rio Grande do Norte de 1919 à 1925 ........................................................ 74

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................12

1- A Primeira República e a educação no discurso modernizante de José de

Azevêdo Dantas ........................................................................................................... 26

1.1 – O papel da escola na vida social............................................................................ 33

1.2- As primeiras escolas e suas atribuições nos sertões do Rio Grande do

Norte............................................................................................................................... 44

1.3 – As práticas educacionais nos sertões do Rio Grande do

Norte............................................................................................................................... 50

2- Nova configuração espacial: estradas de ferro nos sertões do Rio Grande do

Norte.............................................................................................................................. 56

2.1- O estudo politécnico das estradas de ferro nos sertões: José de Azevêdo

Dantas............................................................................................................................. 60

2.2 - A construção das estradas de ferro nos sertões e a visão de José de Azevêdo

Dantas............................................................................................................................. 63

2.3 - As estradas de rodagem nos sertões: José de Azevêdo Dantas ............................. 69

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................78

REFERÊNCIAS............................................................................................................ 82

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INTRODUÇÃO

O termo sertão imbrica em uma diversidade de dizeres que vai desde o ser

imagético a uma categoria espacial. Entretanto, podemos pensar o sertão enquanto um

conceito que passa pela resistência ao inexplorável ou de difícil acesso, como bem

salienta Janaína Amado (1995), utilizando da designação do IBGE (Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística) que sertão é: “uma das subáreas nordestinas, áridas e pobres,

situada a oeste das duas outras, a saber: "agreste" e "zona da mata" (AMADO, 1995. p.

145). Partindo dessa premissa, poderíamos supor que seria uma área na qual não se

desejaria habitá-la.

Ao passearmos, no entanto, pelo processo histórico de colonização da América

portuguesa, podemos averiguar que essa suposição não se aplica aos sertões do Brasil.

A medida que o litoral foi sendo conquistado e colonizado, povoado e as atividades

econômicas foram se firmando e sendo redefinidas, houve interesses por parte do

colonizador de adentrar os diferentes sertões do nosso país, mesmo com todos os

obstáculos que iam se impondo1. O colonizador sentia a ânsia e o desejo de explorar o

Brasil em sua integridade (SOUZA, 2015. p. 21).

Passado mais de cinco séculos, o sertão permanece vivo e pulsante no Brasil,

feito e refeito por diversos discursos que buscam enveredar por seus mistérios

(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2014. p. 42-43). Cada ator social entende o sertão que é

gestado ao seu gosto, interesse e objetivo. Um sertão múltiplo e diversificado.

No nosso estudo, propomos estudar o sertão que parte do litoral e que está

compreendido após a região agreste2 do Estado do Rio Grande do Norte. Partindo dessa

delimitação espacial, retornamos ao processo de colonização realizado pelos

portugueses na Capitania do Rio Grande, ainda no século XVI. A colonização

portuguesa, em seus primeiros momentos3, buscou dinamizar o litoral com a fixação dos

portugueses na atividade do fabrico do açúcar que consistia nas plantações de cana de

açúcar até a produção do dito produto e seu envio para Portugal. Nesse sentido, o litoral

era a região na qual a produção açucareira ditava as regras, sendo necessário adentar os

1 Para uma discussão sobre o processo de adentramento do interior do Brasil, ver: HOLANDA, Sergio

Buarque de. Caminhos e Fronteiras. São Paulo: Cia das Letras, 2001. 2 Nessa divisão consideramos o mapa “uma das primeiras divisões – paisagem geográfica” utilizado pelo

professor: Francisco Ednardo Gonçalves. Disponível em:

https://docente.ifrn.edu.br/ednardogoncalves/regionalizacoes-do-espaco-potiguar. Acesso em: 21. Jun.

2017. 3 Após a extração nativa dos recursos naturais da costa litorânea do Brasil.

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sertões para o desenvolvimento de outras atividades econômicas. Nesse caso, cabia ao

agreste e ao sertão o desenvolvimento da pecuária e da agricultura de subsistência. Para

pensarmos esse Rio Grande do Norte espacialmente e economicamente temos um

Estado dividido em três regiões, como podemos verificar no mapa a seguir:

Figura 1- Mapa das regiões (Agreste, Sertão, Litoral) do Rio Grande do Norte

Fonte: FELIPE, J. I. A. 1988.

Ao observamos o mapa verificamos que boa parte das terras do Rio Grande do

Norte ou do Rio Grande, como era denominada no período colonial, encontrava-se entre

o agreste e o sertão da dita Capitania. Ao passo que a colonização daquelas terras se

efetivou, surgiu a necessidade de adentrar, o que seria o interior do Rio Grande, com a

atividade econômica do gado, sendo que este, pela determinação da Carta Régia,

deveria ser colocado a 10 léguas do litoral, em razão dos bovinos puderem desorganizar

o plantio de cana de açúcar (MACÊDO, 2015. p.31).

A partir daí, o sertão do Rio Grande do Norte começaria a ser habitado pelos

colonizadores e descoberta uma nova atividade econômica que levaria o povoamento

desse espaço ainda desconhecido pelos portugueses, mas a muito vivenciado e

experimentado pelos nativos, os então chamados índios tapuais4.

4 Para uma discussão profunda sobre o processo de colonização e genocídios dos indígenas do sertão do

Rio Grande do Norte: MACEDO, Helder Alexandre Medeiros de. População indígenas no sertão do

Rio Grande do Norte: história e mestiçagem. Natal: EDUFRN, 2011.

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Após os portugueses terem desorganizado a “sociedade indígena” existentes no

sertão do Rio Grande, o dito espaço passa a ser efetivamente explorado com a criação

de gado5 e a fixação das famílias que habitariam o citado espaço, mas estes

“desbravadores” teriam que conviver com a seca que tornava um empecilho para a

criação de gado6.

Mesmo com o fator da seca castigando a economia da pecuária, o sertão do Rio

Grande do Norte foi gestado e povoado. Na segunda metade do século XIX, os sertões

protagonizavam a economia do Rio do Grande do Norte sendo “responsável por mais da

metade do lucro obtido pela Província” (PEREIRA, 2014. p. 37).

Com o advento da República no Brasil, os políticos do Rio Grande do Norte

buscaram se fortalecer em sua estrutura política e econômica. Mesmo existindo uma

divisão ideológica entre os políticos do litoral e do sertão. Em um primeiro momento os

políticos do litoral, os Albuquerque Maranhão, dominaram o cenário político do Estado.

Ao passo que nos anos de 1920 o grupo dos políticos do Seridó, região do sertão,

ascenderia politicamente e passaria a administrar a política do Rio Grande do Norte

(MARIZ; SUASSUNA, 2005. p. 194). Fato é que tanto os políticos do litoral quanto do

sertão resolveram formar uma aliança7 para fazer o Estado do Rio Grande do Norte

progredir tanto no cenário econômico, social e moderno.

O Rio Grande do Norte no decorrer dos primeiros anos da República ficou com

sua economia fragilizada frente à economia cafeeira da região sul do Brasil, haja vista

que sua economia se baseava na exploração agrícola e pecuarista (MARIZ;

SUASSUNA, 2005. p. 205). Situação que viria a mudar com o desenvolvimento

algodoeiro do Estado, assim, o Rio Grande do Norte ganharia uma visibilidade maior

em sua economia frente ao desenvolvimento da cultura algodoeira (PEREIRA, 2005.

p.40 – 45). Essa dinamicidade econômica advinha dos sertões do Seridó, haja vista que

a produção da melhor fibra do algodão era realizada na dita região e em maior escala8.

5 A região Norte, hoje denominada de Nordeste, “foi a primeira área a ser aberta para a pecuária. Com o

prosseguimento contínuo do povoamento durante o período colonial, por fim toda a região, menos a da

faixa litoral, se viu interessada na criação de gado” (MARIZ; SUASSUNA, 2005. p. 107). 6 Para uma discussão sobre as técnicas utilizadas para conviver com a seca no sertão do Rio Grande do

Norte, ver: (MATTOS, 1985. p. 61- 63) 7 Para uma discussão mais profunda sobre as ideias republicanas no Rio Grande do Norte e os dois grupos

políticos republicanos do litoral e Seridó: BUENO, Almir de Carvalho. Visões de república: idéias e

práticas políticas no Rio Grande do Norte (1880-1895). Natal: EDUFRN, 2002. 8 Para uma discussão maior sobre o assunto, ler: MARIZ, Marlene da Silva; SUASSUNA, Luiz Eduardo

Brandão. História do Rio Grande do Norte. 2ª ed. Natal: Sebo Vermelho Edições, 2005. p. 204 – 207.

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O Rio Grande do Norte mesmo adentrando o período republicano com uma

economia que começava a despontar, não ficou de fora do discurso modernizante e

civilizatório que tomava conta do Brasil, buscando assemelhar-se ao ideal de civilidade

das capitais europeias. Nesse contexto, as áreas de maior movimento, como era o caso

das capitais, passavam por um processo de remodelamento em sua estrutura urbanística,

demonstrando acompanhar as tendências da Belle Époque (DAOU, 2000. p. 24-25).

Entretanto, vale ressaltar que devemos guardar as devidas proporções, uma vez que, a

Belle Époque apresentava maior ou menor desenvolvimento dependendo das regiões e

das cidades do Brasil.

A ideia de República vinha acompanhada de uma maneira diferente de pensar o

Brasil, um país no qual o espaço público tomava conta da vida das pessoas, como um

meio de socialização e transformação do pensamento, sempre a luz da ciência e do

progresso (MELLO, 2007. p. 11-14). Entretanto, os focos de modernidade não

atingiriam as cidades do Brasil com a mesma intensidade.

Os focos de modernidade no Rio Grande do Norte nos primeiros anos do período

republicano passavam pela chegada, mesmo que incipiente, da instalação de indústria

com o intuito de transformar os produtos provenientes do setor agropecuário, com o

desenvolvimento da indústria de alimentos e vestuário, ambas apoiadas pelas políticas

de diretrizes de incentivos fiscais para o processo de industrialização do Rio Grande do

Norte. Entretanto, essas indústrias estavam situadas na capital do Estado (CARONE,

1970. p. 75).

A cidade de Natal, acompanhando a modernização do período da Belle Époque,

passou por um processo de transformação urbanística, no início do século XX. Esse

desenvolvimento pode ser percebido no "bota abaixo" iniciado em 1901 no terceiro

bairro oficial de Natal, Cidade Nova, a qual passou por uma reforma com um plano

urbanístico que deveria ser cumprido, eliminando os antigos casebres e empurrando os

"retirantes" da seca para longe da modernidade, desenvolvimento e progresso do citado

bairro. A Cidade Nova deveria acompanhar o progresso e o desenvolvimento do período

republicano e o padrão europeu da época9.

É dentro desse contexto de modernidade da Belle Époque e do processo de

remodelação das cidades e do intuito a demonstrar que mesmo as cidades mais distantes

9 Para um estudo profundo sobre a remodelação do bairro da Cidade Nova em Natal, ler: SIQUEIRA,

Gabriela Fernandes de. Por uma "Cidade Nova": apropriação e uso do solo urbano no terceiro bairro de

Natal (1901-1929). Natal/RN, 2014 (Dissertação de Mestrado/UFRN).

Page 16: OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE ... · OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE MODERNIDADE: JOSÉ DE AZEVÊDO DANTAS (1910/1920). Trabalho de Conclusão

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e que não possuíam uma economia dinâmica, como era a economia da região sudeste do

Brasil, existia modernidade e progresso. Nesse contexto, o nosso objetivo foi pesquisar

como a modernização atingiu o interior do Rio Grande do Norte, especificamente o

sertão, uma área marcada pela atividade pecuarista e que ainda enfrentava o problema

com a seca. Será que nos sertões do Rio Grande do Norte havia modernidade no período

compreendido entre 1910-1920?

O nosso itinerário parte da ideia de que os sertões são um espaço no qual mesmo

mostrando resistência a sua exploração, com solo pouco fértil e ainda com o fator seca,

não impossibilitou a ocupação e permanência dos atores sociais desse interior do Brasil

e de seus Estados. Partimos da premissa que a ocupação do sertão era e é um extrapolar

de fronteiras internas, que foi desbravado com audácia e permanência por aqueles que

fizeram e fazem o sertão.

Ao seguir esse pensamento encontramos uma relação dual entre o sertão e o

litoral (SOUZA, 2015. p. 21). O litoral seria o espaço que primeiramente foi

desenvolvido e se tornou dinâmico, enquanto que o sertão seria o espaço de resistência

de uma sociedade conservadora e de menor desenvolvimento, esse teria ocorrido em

razão do litoral não suportar mais o aglomerado de pessoas em seu entorno e da

necessidade de expandir suas atividades econômicas. Claro que esse é um sertão que

nos é apresentado por uma intelectualidade, por assim dizer, conservadora. Para além do

dualismo, entendemos o sertão como espaço que permitia o recomeço de vidas e como

complementando o litoral, em uma relação de fortalecimento em sua estrutura

econômica, social, política e cultural.

Os sertões foram lidos e relidos em cada período histórico, desde os relatos dos

viajantes que visitaram o Brasil, no século XVI, aos estudiosos que se reuniram no

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) com a determinação de criar uma

nacionalidade para o Brasil e para os sertões. Estes ganharam vida ainda com a

literatura, grande parte denominada de literatura regionalista (AMADO, 1995. p. 146-

147). Em cada nova leitura, os sertões ganhavam uma nova roupagem em sua imagem.

É nesse contexto de leituras e releituras a respeito dos sertões que nosso

trabalho se justifica no instante que busca compreender como o processo modernizante

adentra os sertões do Rio Grande do Norte no período em que o litoral do Estado

passava por uma remodelação urbanística e econômica seguindo os padrões

estabelecidos na Belle Époque no Brasil.

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17

Haja vista que a historiografia dos sertões do Rio Grande do Norte, não

apresenta como ocorreu esse processo de modernização dos sertões do Estado. O que

possuímos à luz da historiografia são trabalhos que versam sobre como os sertões do

Rio Grande do Norte passaram a conviver com a questão da seca e como o citado

espaço foi reconfigurado através de obras de convivência com a seca, como é o caso da

açudagem10

.

Ademais, algumas obras, entre as quais Andrade (2007), discutem o processo de

modernização das cidades dos sertões do Rio Grande do Norte, no entanto, tornam-se

pontuais a algumas cidades e não possuem a tentativa de abordar como ocorreu o

pensamento modernizante no sertão, mas tencionam pedagogizar a cidade como um

desafio de técnicas modernizantes, como a eletricidade e o cinema11

.

Nessa mesma linha de estudo sobre as práticas existentes nas cidades, temos

trabalhos que se dedicam a estudar os espaços marginais de dadas cidades do sertão do

Seridó, como por exemplo: Caicó/RN, mas abordando as práticas, de certa forma,

"delinquentes" que transgrediam as normas de conduta de uma cidade, como por

exemplo: os amores proibidos, a loucura, os abortos. São trabalhos que versam sobre o

que seria a marginalidade dessas cidades em um possível momento de modernização12

.

Existem trabalhos sobre os sertões do Rio Grande do Norte, mas de cunho

memorialístico, são autores13

que buscam informar em seus livros o cotidiano da vida

sertaneja, dentre os aspectos da: cultura popular, o modo de vida, a culinária, a caça do

sertão, em sua maioria esses estudiosos objetivam registrar ou ofertar informações sobre

o sertão vivido pelos agentes sociais e não fazer uma análise efetiva sobre um dado

espaço.

10

Para um detalhamento sobre os trabalhos que tratam das técnicas de convivência com a seca, ler:

MACIEL, Francisco Ramon de Matos. "A produção de Flagelos": a re-produção do espaço social da

seca na cidade de Mossoró (1877-1903-1915). Natal. 2013. (Dissertação de Mestrado/UFRN).

BEZERRA, Islândia Marisa Santos. Entre rios e ruas: água, açude e tragédia em uma cidade do agreste

potiguar (Santa Cruz, 1º de abril de 1981). Natal, 2015. (Dissertação de Mestrado/UFRN). SILVA,

Adriano Wagner da. Engenharia nos sertões nordestinos: o Gargalheiras, a Barragem Marechal Dutra e

a comunidade de Acari, 1909-1958. Natal, 2012. (Dissertação de Mestrado/UFRN). 11

Para uma discussão profunda sobre o pensamento modernizante na cidade de Caicó, sertão do Seridó,

ver: ANDRADE, Juciene Batista Félix. Caicó: uma cidade entre a recusa e a sedução. Natal, 2007.

(Dissertação de Mestrado/UFRN). 12

Para um estudo consistente sobre as práticas “transgressoras” na cidade do Príncipe, ler: SANTOS,

Rosenilson da Silva. O desejo, o relato e a prática da cidade: de como são produzidos territórios

marginais na Cidade do Príncipe (1880- 1900). Natal, 2011. (Dissertação de Mestrado/UFRN). 13

BEZERRA, Paulo. Cartas dos Sertões do Seridó. Natal: Lidador, 2000. FARIA, Oswaldo Lamartine

de. Os açudes dos sertões do Seridó. Natal: Fundação José Augusto, 1978. LAMARTINE, Oswaldo.

Sertões do Seridó. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1980.

Page 18: OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE ... · OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE MODERNIDADE: JOSÉ DE AZEVÊDO DANTAS (1910/1920). Trabalho de Conclusão

18

Nesse sentido, o nosso trabalho torna-se sólido ao passo que nos propormos a

estudar o período temporal de 1910 a 1920 no qual os discursos modernizantes tomam

conta do Brasil com vista as remodelações das cidades, mas passa a existir um

silenciamento dessa modernização nos sertões. Nesse sentido, ficamos a pensar quais

seriam os elementos de modernidades do sertão. E refletimos sobre essa modernidade a

partir, do pensamento do erudito José de Azevêdo Dantas em duas vertentes: a educação

e as estradas.

No tocante a chegada da educação aos sertões, como essa foi pensada, qual a

receptividade das pessoas? A educação correspondeu às expectativas dos sujeitos

sociais? Mas, havia outros meios de modernidade, como por exemplo, as estradas de

ferro e as estradas de rodagem que parecem emudecidas na historiografia dos sertões.

Parece-nos que o trabalho de fôlego se encontra alicerçado na dissertação de Fagner

Silva (2015). E ainda, vale ressaltar, as técnicas utilizadas pelos engenheiros

politécnicos nos sertões como forma de modernidade e nova dinâmica a vida dos

sertanejos. São esses elementos que compõem o nosso trabalho com um olhar voltado

para os sertões modernos e viventes.

Nesse caso, nosso principal objetivo é analisar o discurso modernizante dos

sertões do Rio Grande do Norte a partir da obra memoralística-historiográfica, composta

de exemplares dos Jornais "O Momento" e "O Raio" redigido pelo erudito José de

Azevêdo Dantas14

que discutia, nos tais jornais, o universo cultural e espacial dos

sertões do nosso Estado, em especial o sertão do Seridó.

Os discursos que foram gestados sobre os sertões remontam a tempos pretéritos,

os quais recaem ainda no período da colonização da América portuguesa. Os sertões

ganhariam outras roupagens ao passo que seria objeto de estudo nas mais variadas

instituições acadêmicas do nosso país. Mas, a cada novo estudo, esse sertão deixa de ser

14

“José de Azevêdo Dantas foi um erudito – não teve uma formação educacional formal - que viveu entre

o Sítio Xiquexique, a Povoação

de Carnaúba (hoje, município de Carnaúba dos Dantas) e a cidade de Acari entre 1890

e 1929. Produziu trabalhos em diversas áreas, sendo possível dividir sua obra escrita

em arqueológica, genealógica memorialística-historiográfica e artística, cujos

trabalhos não foram publicados enquanto o autor ainda estava vivo. Dada a variedade

de áreas do conhecimento pelas quais o autor passou em sua vida, e considerando não

ser conhecida a existência de um erudito na região do Seridó nos anos 20 do século

XX com tantos trabalhos escritos, sua obra foi registrada como Patrimônio Imaterial

de Carnaúba dos Dantas através de projeto ligado ao Pronac-MinC (PRONAC

043906), financiado pela Petrobrás Cultural. Todavia, do conjunto do que foi

produzido, apenas foi publicada parte de sua pesquisa arqueológica, intitulada

"Indícios de uma Civilização Antiquíssima", em 1994 (manuscrito conservado no

Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, em João Pessoa-PB)” (MACEDO, 2014. p.1).

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19

único e homogêneo, para torna-se plural e diverso em suas mais variadas esferas, seja

ela: cultural, espacial, artística, literária ou intelectual (ALBUQUERQUE JÚNIOR,

2014. p. 42-43). O sertão a cada momento é gestado pela maneira dos que vivem em seu

espaço.

O pensamento que se tinha, e alguns ainda hoje possuem, é que os sertões são

um espaço intocado pelos focos de modernização ou por sua completa modernização.

Um sertão que é intato em sua condição natural e que às vezes impossibilita a ocupação

humana, avesso ao desenvolvimento e as técnicas de modernização e essa é uma visão,

de certo modo tradicional, mas que alguns atores sociais atualmente ainda possuem

sobre os sertões (BEZERRA, 2002).

Assemelhando ao pensamento de Albuquerque Júnior (2014) negamos esse

sertão inóspito à vida e ao desenvolvimento, considerando que é inegável a presença de

atores sociais habitando, fazendo e refazendo esses sertões. Um sertão que teima em

gritar e quebrar a lógica de um pensamento conservador.

O conceito de sertão que entendemos é aquele que possui vida pulsante, com

seus indivíduos sociais que se afirmam e enunciam o sertão modificado por sua ação.

Que reivindicam os mesmos direitos que os habitantes do litoral, tido inúmeras vezes,

como o espaço de modernização e desenvolvimento em detrimento dos sertões.

O sertão do nosso trabalho é aquele que não é apenas um espaço de atraso em

relação ao restante do Brasil, mas um sertão que se desdobra em sertões, querendo uma

modernidade, um desenvolvimento em suas características: físicas, econômicas, sociais

e políticas. É um sertão que acompanha o ideal de uma República que acabava de se

instalar no Brasil, trazendo consigo novas ideais, como a modernidade, acompanhando

o pensamento europeu da Belle Époque. Entendemos o sertão como um espaço de

reconfiguração conforme os novos ideais impregnados pela República. O ideal de

modernidade que não via os sertões apenas como um espaço de atraso, mas com a

possibilidade de progresso, desenvolvimento e de melhores condições de vida para a

população mediante as novas técnicas utilizadas pela engenheira politécnica e pela

educação.

Para tanto, chegamos a outro conceito importantíssimo para o desenvolvimento

do nosso trabalho, o espaço, esse entendido como nos salienta Milton Santos: “o espaço

está inscrito em um conjunto de relações sociais urdidas no passado e no presente, se

manifestando através de processos históricos de formas e ações” (SANTOS, 1996. p.

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20

122). Nesse sentido, o espaço do sertão foi reconfigurado conforme cada momento

histórico e com base nas necessidades da sociedade em dado período.

Para modificar o espaço, o homem recorre à técnica que passa a ser um conjunto

de elementos instrumentais e sociais, criados pelo ser humano para atingir seu objetivo

(SANTOS, 1999. p. 51). Essas técnicas mudam conforme cada momento histórico e o

intuito que o homem necessita para atingir o desenvolvimento esperado. Dentro desse

contexto, a Belle Époque surge com a ideia de progresso e desenvolvimento, assim, os

sertões do Rio Grande do Norte passariam a utilizar de novas técnicas que levassem os

sertões a atingirem o progresso e a modernidade que chegavam ao Brasil inspirados no

padrão europeu.

Em nosso trabalho é crucial que delimitemos o conceito de Belle Époque com

relação a esse ideal no Brasil. Seguimos o pensamento de Guimarães (2012)

entendemos que a Belle Époque coincide com a chegada do regime republicano ao

Brasil e ganhou notoriedade pelas duas primeiras décadas do século XX. A

historiografia15

elegeu como marco inicial da Belle Époque no Brasil a reforma urbana

realizada por Pereira Passos, então prefeito do Rio de Janeiro.

Era um período marcado pela chegada da eletricidade, do automóvel, do cinema,

das festas em salões, as corridas nos clubes, os banquetes promovidos pelos letrados

(GUIMARÃES, 2012. p. 164). Mas, esse cenário ficaria relegado às cidades, como o

Rio de Janeiro, então centro administrativo do Brasil? Não haveria possibilidade de que

aquela modernização chegasse aos sertões do Brasil? Ou aos sertões do Rio Grande do

Norte? Ao nosso entender, as cidades do Brasil passaram por esse processo de

civilização e progresso contido na Belle Époque, mesmo com uma intensidade menor.

Dessa maneira, outro conceito que nos ajuda a pensar o desenvolvimento dos

sertões é o de modernidade. Primeiramente compreendemos o conceito de modernidade

aplicada as ideias da Belle Époque. Nesse sentido, entendemos a modernidade como um

modo de superar as práticas consideradas ultrapassadas como era o pensamento imperial

a luz do pensamento republicando, no qual este último traria essa modernidade não

somente as cidades, mas também aos sertões mais distantes16

.

15

Para entender a transição do período republicano e as transformações na cidade do Rio de Janeiro, ler:

CARVALHO, José Murilo de. “Os bestializados: o Rio de Janeiro e a república que não foi”.

Companhia das Letras, 2003. 16

Aqui compartilhamos do pensamento da Canclini (1999) com a perspectiva de que a modernidade não

atingiria todos os espaços da mesma forma ou intensidade, como acreditamos ser a realidade dos sertões

do Rio Grande do Norte. Para entender melhor esse pensamento sobre a intensidade da modernidade em

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21

Ao delimitar a temática do nosso trabalho na qual consiste em compreender o

processo de modernização ocorrido nos sertões do Rio Grande do Norte no período da

Belle Époque por meio do olhar de José de Azevêdo Dantas, utilizamos como fonte

principal os Jornais "O Raio" e "O Momento" escritos por José de Azevêdo Dantas, no

período compreendido entre 1910 a 1920.

Os Jornais O Raio - Jornal Ambulante17

e O Momento - jornal dedicado aos

interesses da vida sertaneja foram dois jornais manuscritos quinzenalmente, por José de

Azevêdo Dantas. Eram Jornais manuscritos, mesmo em uma época em que a imprensa

já estava em voga, mas que talvez pela condição de financeira de José de Azevêdo

Dantas, esse somente pudesse informar as notícias dos sertões do Rio Grande do Norte,

por meio de seu punho e seu esforço civilizador. Nos citados jornais, podemos ler as

mais variadas notícias, desde o cotidiano dos sertões do Rio Grande do Norte até

notícias nacionais e internacionais.

Os fragmentos dos Jornais O Raio e O Momento que chegaram a nossas mãos

formam um total de 119 imagens – estando estas digitalizadas, trabalho realizado por:

Marcos Galindo, professor da UFPE, o qual cedeu uma cópia ao professor Helder

Macêdo que promoveu o projeto de extensão denominado: Publicação da Obra de José

de Azevêdo Dantas (1890-1929) [Jornais], que objetivava a transcrição dos ditos

jornais, no ano de 2014. Nesse caso, fomos uma das bolsistas que realizaram a

transcrição dos Jornais. Do Jornal “O Raio” temos 13 imagens destinadas aos mais

diversos assuntos, tais como: a seca, construção de açudes, educação, história a respeito

do homem do sertão. O dito jornal circulava de forma gratuita entre os amigos de José

de Azevedo Dantas, sendo cópias únicas na qual o redator os emprestava. Sua

periodização girava entorno dos anos de 1910 a1920.

O Jornal “O Momento” era do mesmo período do Jornal “O Raio”, uma das

nossas fontes principais dado ao seu número de imagens que é de 116. O mesmo

dedicava-se a apresentar momentos da vida sertaneja, como festa de padroeiros, relatos

baseados na oralidade e em fontes manuscritas, modos pensar e agir das primeiras

décadas do século XX, lendas e contos. Além, de abordar as construções de açudes,

estradas, a educação e aspectos de modernidade nos sertões do Rio Grande do Norte. A

um dado espaço, ver: CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da

globalização. 4 ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1999. 17

Jornal ambulante porque circulava entre os amigos de José de Azevêdo Dantas.

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22

seguir colocaremos a foto da capa dos Jornais “O Raio” e “O Momento” para que

possamos observar a materialidade da fonte, vejamos:

Figura 2: Jornal O Raio Figura 3: Jornal O Momento

Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.

Como podemos observar pelas imagens os Jornais O Raio e O Momento estes se

encontram bem conservado, se consideramos que foram produzidos em idos das

décadas de 1910 e 1920. Apesar de alguns exemplares encontrarem-se impossibilitados

da leitura, em razão de: rasuras, ação das traças ou tempo ter se dedicado a apagar as

letras. Contudo, mesmo em meio a essas adversidades, o conjunto de matérias

encontradas nos ditos Jornais nos possibilita entender o cotidiano das vivencias dos

sujeitos sociais que habitavam os sertões do Rio Grande do Norte e o próprio sertão ou

sertões como em momentos se apresentam.

Recorreremos ao uso das mensagens18

apresentadas pelos governadores do

Estado Rio Grande do Norte, no período compreendido entre 1910 a 1920, para

compreender como estava sendo percebida a ideia do projeto modernizador para o

Estado e para os sertões, como também, o que estava sendo pedido ao governo do

Estado Rio Grande do Norte para que fosse concretizada a modernização almejada.

18

As mensagens de presidente de Província - Império – e dos governadores do Estado do Rio Grande do

Norte, no período de 1830 à 1930, pode ser encontradas em: http://www-

apps.crl.edu/brazil/provincial/rio_grande_do_norte. Acesso em: 29. Jun. 2017.

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23

Nesse caso, os Jornais O Raio e O Momento são nossas fontes principais, mas não as

únicas, as mensagens dos governadores do Rio Grande do Norte são essenciais para que

possamos entender o citado período.

Para entender o pensamento republicano que se instalou nos sertões do Rio

Grande do Norte no final do Império e início da República recorremos a algumas

matérias contidas no Jornal O Povo19

. Jornal criado por intelectuais da cidade de Caicó

que haviam estudado na Faculdade de Direito de Recife e que aderiram ao pensamento

republicano ao voltar aos sertões do Rio Grande do Norte.

A fonte pode ser tratada de diferentes maneiras pelo pesquisador. Este vai fazer

uso da metodologia que melhor lhe convier para responder seu problema e seus

pressupostos de pesquisa. Assim, partindo do problema inicial de nossa pesquisa que é

compreender a maneira pela qual os sertões do Rio Grande do Norte conseguiram

acompanhar o processo de modernização no período da Belle Époque, mais

especificamente nos anos de 1910 a 1920, sob o olhar do erudito20

José de Azevêdo

Dantas, recorreremos ao uso das fontes da obra do citado erudito, composta pelos:

Jornais “O Raio e o Momento”, em conjunto com as mensagens de governadores do Rio

Grande do Norte (1910 a 1920) sobre as temáticas que versavam sobre esse processo

modernizante no dito Estado e o pensamento republicano contido no Jornal O Povo.

Nesse sentido, utilizamos como abordagem a História Regional por entendermos

que nossas fontes não colocam nossa lente em um recorte transversal, como por

exemplo, cultural ou político, mas nos permitem perceber determinadas articulações

entre o processo modernizante que aconteceu nas primeiras décadas do século XX no

Brasil21

.

A metodologia utilizada em nossa pesquisa prosseguiu por quatro caminhos.

Primeiramente fizemos a transcrição paleográfica realizada no projeto de extensão

“Publicação da Obra de José de Azevêdo Dantas (1890-1920) [Jornais]”, coordenado

por Helder Macedo, quando foi bolsista do dito projeto, em 2014. Em seguida passamos

19

O Jornal O Povo encontra-se disponível na Hemeroteca Digital Brasileira. No seguinte endereço

eletrônico: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=767611&pasta=ano%20188&pesq=.

Acesso em: 15. Maio. 2018. 20

No caso utilizo do termo erudito por José de Azevêdo Dantas não ter recebido uma educação formal,

mas que aprendeu a ler e escrever com sua mãe e passou a interessar-se por registrar acontecimentos

sobre os sertões do Rio Grande do Norte, como no caso dos Jornais O Raio e O Momento. 21

Para uma discussão sobre as aproximações entre História Regional, História Local e Micro-história,

ver: BARROS, José D’Assunção. O lugar da história local na expansão dos campos históricos. In:

OLIVEIRA, Ana Maria Carvalho dos Santos; REIS, Isabel Cristina Ferreira dos (orgs.). História

Regional e Local: discussões e práticas. Salvador: Quarteto, 2010. p. 236 – 241.

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24

a analisar as temáticas encontradas nos Jornais “O Raio” e “O Momento”, assim,

optamos por duas temáticas encontradas: educação e as estradas nos sertões. Passamos a

cruzar os dados obtidos à luz da historiografia escrita sobre os temas. Por fim,

decorremos a fazer nossa redação sobre esses vieses de modernidade nos sertões do Rio

Grande do Norte, como nos sugere Barros (2009) 22

. Ademais, recorreremos ao método

qualitativo23

para entender o pensamento modernizante que se instalou nos sertões do

Rio Grande do Norte.

Neste contexto metodológico, portanto, partiremos primeiramente fazendo

qualificação das temáticas encontradas na documentação, com uma análise mais efetiva

de modo qualitativo para que obtenhamos as falas dos sujeitos contidos no material e,

por vezes, as vozes que respingam sobre a modernização dos sertões do dito Estado. E

por fim, revistaremos a historiografia Wagner Rodrigues (2006), Maria Neider Silva

(2007), Keila Moreira (2011), Fagner Silva (2016) e Gervácio Aranha (2001) que trata

dos aspectos modernizantes nos sertões em diálogo com a nossa documentação.

O nosso trabalho encontra-se estruturado em dois capítulos. O primeiro capítulo

discute o papel modernizante da educação nos sertões do Rio Grande do Norte, sob a

ótica de José de Azevedo Dantas. O segundo capítulo aborda a construção das estradas

nos sertões, como um meio pelo qual foi gestado para integrar o interior ao litoral e seus

consequentes benefícios. De modo, a produzir um novo sertão através do uso da técnica

e dos estudos politécnicos.

De modo que a escolha dos nossos capítulos não foi involuntária, consideramos

o lugar de produção de José de Azevêdo Dantas e seu olhar sobre o que seriam focos de

modernidade para os sertões do Rio Grande do Norte no período de 1910 a 1920.

Primeiramente cabe entender quem foi José de Azevêdo Dantas uma pessoa que não

passou por uma escola formal, mas que aprendeu a arte da leitura e da escrita com seus

irmãos mais velhos, nas areias do Rio Carnaúba, localizado no município de Carnaúbas

dos Dantas/RN. Sendo de uma família não abastarda financeiramente, logo cedo, passou

a trabalhar nos mais diversos serviços tais como: servente de alvenaria, carregador de

lenha e de água, apanhador de algodão, músico, confeccionador de carimbos e

22

BARROS, José D’Assunção. O campo da História: especialidades e abordagens. 6.ed. Petrópolis, RJ:

Vozes, 2009. 23

Entendemos como método qualitativo a análise intensiva da fonte, deixando que apareça as vozes dos

sujeitos estudados, seus pensamentos e ideias, de modo que possa contribuir na composição de nosso

texto e estudo. Para uma discussão mais profunda sobre o método qualitativo e sua aplicação, ver:

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela

inquisição. São Paulo: 1996.

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25

comerciante de tecidos. Trabalhou na construção do Açude Gargalheiras, em Acari/RN;

e realizou medições nas estradas de Macaíba e dos sertões do Rio Grande do Norte na

Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS) (MACEDO, 2005, p. s/n). José de Azevêdo

Dantas, no entanto, mesmo em meio às adversidades imposta pela vida não perdeu seu

interesse pelas letras e passou a pesquisar e registrar o que podia sobre o cotidiano dos

sertões do Rio Grande do Norte.

Dedicou-se a registrar as pinturas rupestres dos sítios arqueológicos da região do

Seridó, nos sertões do Rio Grande do Norte, em seguida percorreu o conhecimento de

várias disciplinas do saber, dentre elas: geografia, história local, genealogia e

meteorologia (MACEDO, 2005). Ademais, produziu jornais manuscritos que se faziam

circular entre parentes e amigos sobre a vida nos sertões do Rio Grande do Norte. Nesse

sentido, foi que nos debruçamos sobre as obras do O Raio e O Momento para entender

os aspectos modernizantes de tais sertões vistos por José de Azevêdo Dantas.

Logo, os nossos dois capítulos são composição dessa vontade de

desenvolvimento e progresso de José de Azevêdo Dantas, para que os sertanejos

pudessem receber o estudo formal e contribuir com o adiantamento dos sertões, como

também, o papel das estradas no processo de civilidade das pessoas que moravam

distante do litoral. Além da vivencia de José de Azevêdo Dantas na medição e trabalho

laborioso na chegada das estradas de ferro e de rodagem nos sertões do Rio Grande do

Norte. Nesse sentido, passamos a utilizar os Jornais O Raio e O Momento como meios

para análise dessa modernidade nos sertões, mas com vista a promover a voz – por meio

do método qualitativo – de José de Azevêdo Dantas sobre esses focos de modernidade e

de remodelação dos sertões.

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26

Capítulo 1: A Primeira República e a educação no discurso modernizante de José de

Azevêdo Dantas

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27

1- A Primeira República e a educação no discurso modernizante de José de Azevêdo

Dantas

O ideal republicano que se instalou no Brasil era de progresso e

desenvolvimento, sendo necessário "destruir" as antigas estruturas existentes24

e

perpetuar novas formas de vivências, tais como: a conversa em clubes e confeitarias;

passando pelas matérias dos jornais e a leitura dos acontecimentos que envolviam o

Brasil e o ideal progressista.

As ideias republicanas contaram com o apoio indiscutível da imprensa para a

disseminação de sua proposta tanto nas diversas áreas do Brasil, como em outras partes

do mundo, como foi o Caso de Portugal (ANDRADE, 2014. p.131-133). Mesmo com

divergências entre os partidos republicanos em suas formas de pensarem. Aqueles

construíram seu projeto no final do século XIX e início do XX utilizando da imprensa

para propagar suas proposituras. As reuniões nos clubes e o diálogo constante, como

também, a leitura dos novos princípios possibilitaram uma maior popularização do viés

republicano, considerando que os meios de comunicação possuíam um caráter

disseminador das concepções republicanas entre a população, como por exemplo, a

ideia de progresso, do homem civilizado, entre outros, da cidade urbanizada.

As conversas e informações que eram dialogadas nos clubes chegavam ao

espaço público por meio da socialização em praças, assim, passava de um caráter

puramente privado e atingia a esfera coletiva e de massificação popular (BORGES,

2009. p 263). Mesmo os jornais ou revista não chegando à massa populacional, esses

tinham contato com o que estava acontecendo no mundo e no Brasil.

Poderíamos chegar a pensar que os jornais ou revistas e por que não dizer, as

notícias publicadas pela imprensa, ficariam restritas aos grandes centros ou as cidades,

não atingindo outros espaços, como é o caso dos sertões do Brasil, em razão, talvez da

falta de: transportes, estudo ou mesmo da imprensa. Entretanto, por meio da

disseminação do pensamento republicano e da modernidade que atingia a todo o Brasil

24

Aqui entendemos antigas estruturas como base no estudo de Maria Tereza Chaves de Mello (2007), no

qual havia a necessidade de uma república concreta e representativa promovendo maior progresso e

possibilidades aos sujeitos sociais independente de classes sociais (MELLO, 2007. p. 14). No caso, as

estruturas antigas eram os grupos privilegiados do sistema monárquico, no qual não havia a perspectiva

de ascensão social de sujeitos sociais desfavorecidos economicamente.

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28

nos anos iniciais da República25

, os sertões - na figura dos atores sociais –

acompanhavam as notícias do nosso país.

Fato é que nos sertões do Rio Grande do Norte um grupo de intelectuais – dentre

os quais – Janúncio da Nóbrega, Diógenes da Nóbrega, Olegário Vale e Manoel Dantas

ambos formados na Faculdade de Direito de Recife - fundaram o Jornal O Povo, em

Caicó no ano de 1889, com o intuito de difundir as ideias republicanas nos sertões

(MACÊDO, 1998. p. 121). As páginas do jornal traziam crônicas referentes à saúde,

política, recursos públicos e a temática da instrução pública para os sertões. No primeiro

número do Jornal O Povo, de 9 de março de 188926

, Janúncio da Nóbrega exprime o seu

pensamento republicano e a importância do papel da imprensa para a população,

A par dos poucos corajosos que combatem por um estado

melhor de couzas, ao lado dos que teem as vistas alevantadas

para o futuro dos que acreditão na grande lei que domina e rege

todos os phenomenos da natureza quer no mundo moral como

no mundo physico << a lei do desenvolvimento>> pugnamos

[?] nós.

E, como observamos que a vida se manifesta pela luta e pelo

trabalho, vimos occupar lugar humilde e obscuro no convivio da

imprensa, mas da imprensa livrem que debate-se viril e

denodadamente com a galharia e altruismo das conciencias

sadias, em prol da grande cauza que agita o mundo <<a

democracia>> que é a cauza da justiça, da verdade, que é a

cauza do povo, titulo que nos personifica. E modestamente que

ensaiamos nossos primeiros passos no vasto estadio da

imprensa, a sublime sacerdotisa da verdade, a confraternisadora

dos soffrimentos populares, o baluarte inexpugnavel das

liberdade publicas... (NÓBREGA. O Povo. Jornal O Povo.1889.

p.1).

Pela passagem do Jornal O Povo escrito por Janúncio da Nóbrega fica evidente

que o dito Jornal se colocava contra a monarquia do Brasil, considerando como algo

atrasado e que não estava a serviço da população. Diferentemente do pensamento

republicano que tinha em vista o: futuro e progresso mesmo em locais mais distantes,

como era o caso dos sertões do Rio Grande do Norte. Como elementos para o

desenvolvimento, Janúncio da Nóbrega deixa claro que era preciso trabalho e uma luta

intensa para não deixar a monarquia voltar ao poder. O que deveria prevalecer era a

democracia, na qual as pessoas pudessem expressar sua autonomia e seus direitos de

25

Claro que não somos ingênuos de afirmar que a modernidade que atingia os grandes centros era a

mesma ou que chegasse na mesma proporção aos sertões do Brasil. 26

O primeiro exemplar do Jornal O Povo circulou em 09 de março de 1889 e seu último número em 1902

(MACÊDO, 1998. p. 121).

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29

cidadãos. Evoca para tanto o papel da imprensa como meio da população tomar

consciência de seu papel social, como também, veículo de denúncia dos males que

passavam as pessoas dos sertões. Estava aberto, por meio do Jornal O Povo, o

pensamento republicano e suas bases nos sertões do Rio Grande do Norte.

Os anos passaram e na década de 1920 encontramos José de Azevedo Dantas,

morando nos sertões do Rio Grande do Norte, e seguindo o pensamento de Janúncio da

Nóbrega evocado trinta anos atrás sobre a importância do contato da humanidade com a

imprensa, fosse por meio do livro, jornal ou revista. Como podemos verificar no

fragmento a seguir27

:

A Imprensa Nos tempos actuaes o homem pode se votar ao izolamento mais

absoluto, mais claustral, pode levar a vida mais arredia, mais

abastada de bulicio, do tumulto da vida civilizada, pode

renunciar a civilização, a vida febril dos centros adeantados,

mas não pode absolutamente renunciar a leitura do Jornal, da

revista, do livro, não pode renunciar a viver espiritualmente em

o resto da humanidade, a pensar com ella, a sentir o contacto de

suas conquistas intellectuaes. A imprensa não é somente a poderosa educadora dos povos, a

grande reformadora dos costumes, a orientadora das massas, é

tambem a defensora, a egida, a grande impulsionadora das

letras, das artes, das sciencias, a alavanca das industrias e do

progresso do povos. A Imprensa vae levar aos mais obscuro homem dos lomjiquos

recantos os conhecimentos necessarios a luz da razão

(DANTAS. A imprensa. Jornal O Momento. 1924. p. 32).

Por meio da notícia anterior fica perceptível a importância do homem manter

contato com os noticiários redigidos pela imprensa, como também, possuir uma visão

crítica para discernir sobre as matérias vinculadas. Considerando que, a imprensa tem

um papel de formadora de opinião e disseminadora de conhecimento mesmo nos

lugares mais distantes, como é o caso dos sertões do Rio Grande do Norte, não ficando

restritas apenas as grandes cidades ou a capital do Brasil.

Ao considerar a notícia do Jornal é perceptível a visão que José de Azevêdo

possuía em relação ao homem dos anos de 1920 que aquele mesmo podendo fazer a

opção por não querer conviver com o modelo da vida civilizada, a qual seria uma

vivência nos centros urbanos desfrutando da energia elétrica, dos clubes entre outros de

27

Esse fragmento faz parte do Jornal o Momento escrito quinzenalmente pelo próprio José de Azevêdo

Dantas que versava sobre os assuntos do sertão do Rio Grande do Norte, especialmente dos sertões do

Seridó. Optaremos por manter a escrita da época nos fragmentos dos Jornais O Raio e O Momento.

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30

se locomover nos bondes, jamais o indivíduo social poderia se furtar do mundo da

leitura e das notícias vinculadas aos jornais. Ademais, era preciso saber das conquistas

intelectuais e científicas dessa era moderna. Nesse caso, a imprensa era a responsável

por difundir esse conhecimento, sendo a impulsionadora do discurso modernizante, por

meio da disseminação das mais variadas notícias, dentre as quais: artes, ciências,

indústria e o progresso das pessoas.

Os fundamentos republicanos utilizaram da imprensa para se difundir e alcançar

sociabilidades longínquas, além de contar com a propagação de seus ideais por meio

dos jornais e dos encontros nos clubes28

(ANDRADE, 2014. p. 132). Não é de se

estranhar que com maior alcance das ideologias republicanas as pessoas aderissem ao

novo ideal, como também, as suas propostas de modernidade e desenvolvimento.

A República no Brasil era marcada pela ideia de civilização, na qual a sociedade

atingiria um certo grau de desenvolvimento baseado na razão e, nada melhor, que esse

novo estágio fosse atingido pelos meios da imprensa com a utilização dos jornais ou dos

livros.

A linguagem impressa representava uma nova forma de construir um Brasil

moderno e civilizado, seguindo o pensamento republicano, no qual "o personagem

agora é a intelectualidade, e sua arena de ação é a imprensa e a literatura, ou seja, os

artigos na imprensa e os livros publicados" (BORGES, 2009. p. 265) que chegavam a

toda a população, até mesmo aos analfabetos, que tinham contato com as notícias por

meio da prática da leitura em voz alta pelos letrados e partícipes do republicanismo.

Os republicanos utilizavam fortemente de seus pensamentos através da

propaganda recorrendo aos jornais e aos clubes. Mais uma vez, podemos comprovar

essa situação pelo Jornal O Momento escrito por José de Azevêdo Dantas quando ele

escreve:

A propaganda republicana começou a ser feita intensamente

fundando se jornaes, criando-se clubs republicanos em todos as

provinciaes e sucedendo-se conflictos e acontecimentos

políticos por todos os recantos do Paiz (DANTAS. 15 de

novembro. Jornal O Momento. 1924, p.37).

Pela notícia acima percebemos que o jornal e os clubes de discussões sobre as

novas mentalidades que chegavam ao nosso país antecederam ao Brasil republicano e

28

Aqui concordamos com o pensamento de Fernando Catroga (2010) quando coloca que os clubes

possuem uma função social e de vigilância a novos ideais ou um meio de disseminar fundamentos

políticos novos de forma controlada e comedida (CATROGA, 2010. p. 19.).

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31

foram veículos essenciais para a aproximação com os ideais republicanos. Podemos ir

além, e seguindo o Jornal O Momento, percebemos que o uso aos preceitos

republicanos de enaltecimento com relação a Proclamação da República foram a frente

da instalação da convicção republicana, no momento em que a data da Proclamação

deveria ser comemorada pelos sertanejos mais distantes da capital do Brasil, como

segue:

O “Quinze de Novembro” para nós, passou sem os esplendores

e as solenidades civicas que esse grande dia e Data Nacional

exprime ao povo brasileiro. Recolhidos ao nosso isolamento

sertanejo, sob as darás apprehensões dos graves dias que

passam de infortunio nacional a nossa alma de brasileiros sente-

se reconfortada e ufana, ainda, em reconhecer que a

independencia de nossa querida Patria ao completar hoje trinta

cinco annos de vida Republicana. Continua a machar no seu

longo tirocinio de “Ordem e Progresso” com a mesma altivez e

soberania de seus nobres e valores filhos – daquelles que nos

momentos mais criticos da Nação souberam honrar o sagrado

culto da bandeira Conservando-se fieis a auctoridade

constituida. A gloriosa data que passa marca um grande acontecimento nas

paginas da historia patria. Hoje, devemos commemorar esse

feito glorioso e oloquente [sic] de brasileiros illustres e dignos

de seus nomes, por toda parte deve ser relembrado esse episodio

– o da proclamação da Republica – com as vivas cores da

realidade na escola, o mentor fala ao allunno incutindo no seu

espírito o sentimento de patriotismo no lar, compete ao chefe de

família, e aqui, não devemos passar desapercebidos, dando uma

resenha historica disso (DANTAS. 15 de novembro. Jornal O

Momento. 1924, p.37).

Segundo José de Azevêdo Dantas, é notório a importância da Proclamação da

República considerada como o momento em que o Brasil realmente atingiu sua

independência. Em razão disso, era preciso comemorar sempre o grande feito, mesmo

que já estivesse decorrido longos 35 anos. Tendo em vista que, a República significava

o desenvolvimento pleno do Brasil por meio da ordem e do progresso. A escola,

enquanto, uma instituição formadora de opinião e cidadãos deveria adotar esse

patriotismo e ensinar o grande evento Histórico do Brasil que foi a Proclamação da

República. Assim,

Fala bem alto a Nação a sua patriotica proclamação que acaba

de fazer ao Paiz inteiro, convidando a todos os brasileiros a se

manterem dentro da ordem e da justiça, e esse grandioso

documento atesta bem a superioridade de sua elevada cultura,

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de seu ardoroso patriotismo pelos nobres ideaes da democracia

e da integridade nacional (DANTAS. 15 de novembro. Jornal O

Momento. 1924. p.38).

A República estava embasada na opinião pública com vista à representação do

povo brasileiro, fonte legítima da soberania, vitória e propaganda política republicana

que se estabelecia como sinônimo da democracia e república. Logo, havia uma

associação da ideia de república com a democracia na qual possuía como elemento

mobilizador a opinião pública. Como bem salienta Mello (2007): “O termo

“democracia” foi ressignificado para indicar igualdade, o que, no contexto, deve ser

entendido mais concretamente por uma sociedade sem privilégios” (MELLO, 2007.

p.213) como não havia sido a sociedade do regime monárquico.

A Primeira República marcou uma nova fase na história do Brasil como o

processo de construção da afirmação de uma identidade nacional, que possuía novas

ideias e aspiração que versava sempre em alcançar novos objetivos com os ideais de

modernidade e desenvolvimento (ANDRADE, 2014. p. 1983). Mesmo com o ideal de

progresso republicano havia alguns fatores que precisavam ser discutidos e pensados

para atingir o objetivo republicano. Como salienta José de Azevêdo Dantas:

Alcoolismo, amadorismo, analfabetismo. Haverá entre elles

qualquer relação? Nenhuma por certo. Um é o vicio; outro o

passa tempo; outro, a ignorancia. Do alcoolismo, eclipse da consciencia e do analfabetismo,

eclipse ou emperramento da faculdade mentaes - mestra do

espirito - funda-se o "o modernismo" grosseiro - o vicio da

baixa eloquencia, a loquacidade, a inconfidencia verbal, os

destampatorios prolixos. Não se deve, pois confundir os

amadores em geral – permosticos [?] profissionaes [ilegível]

inoffensivos de atistas - com o amador tribunico flagello da

paciencia humana. Do alcoolista, vem a audacia, a febre, a imaginação, do

ignorante a incapacidade de exercitar-se idobeamente,

concientemente; de ambos resulta algumas vezes o "amador" -

artista em ser, o eterno vão frusto e ficticio para a belleza e para

a expressão definitiva dos grandes sonhos. O "amador" anda em

todos as espheras e em todas as searas, sem conseguir

assenhorar-se de nenhuma dellas; é uma especie de cegano

modelar; e a personagem typica das tascas, das farras ... o "amador tribunico é um dos flagellos fundamentaes da

nossa raça. Não lhe falla o assomo, a loquacidade, a petulancia:

só lhe falta o senso, a reflexão e a justa medida da paciencia

alheia.

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33

Mas é regra que todo sujeito com alguma parcella de

intelligencia e basta ignorancia, em cahindo no alccol, acaba

poeta ou orador. O alcoolismo e o analfabetismo produzem o "amadorismo"

grosseiro e loquaz, e é a elle que cabe perfeitamente a classe

dos individuos desclassificados, que, diminuidos pelos effeitos

destruidores das melhores aptidões se investem aparentemente

de elevados receptores de ideas humanas. São, os "amadores"

typos identicos ao "almofadinha" da actualidade, pela sua

absoluta inutilidade que exerce nas camadas sociaes [sic]

(DANTAS. Alcoolismo, amadorismo, etc. Jornal O Momento.

1924. p. 32).

O alcoolismo, o analfabetismo, o amadorismo eram três categorias que iam de

encontro ao pensamento republicano, à idealização de modernidade e progresso que

deveriam ser deixados de lado no novo Brasil Republicano. Para José de Azevêdo

Dantas, o analfabetismo era um mal social e atraso ao avanço de qualquer ser humano,

sendo necessário que a escola e a escolarização chegassem ao sertão do Rio Grande do

Norte. Aquele que não se dedicava ao estudo estava fadado ao amadorismo descabido

que era um vício daqueles que não detinham o conhecimento das letras e vivia a falar do

desconhecido, e que talvez, somente tivesse coragem de expressar sua verdadeira

opinião quando estavam inebriados pela bebida alcoólica que os levavam para fora de si

e falavam o que pensavam, mas sem razão, sem argumento, pois desconheciam as letras

que fariam a diferença em sua vida. Por meio da letra o homem saia de sua condição de

não ser ouvido e ganharia brilho e respaldo perante a sociedade.

1.1- O papel da escola na vida social

A expressão Belle Époque surgiu primeiramente na França com o intuito de

marcar um novo tempo de reconstrução para um país que havia sofrido com os horrores

das batalhas da Revolução Francesa. Agora a França necessitava renascer de forma

altiva e com anos que se seguissem rumo à prosperidade (MÉRIAN, 2012. p. 138). No

Brasil, a Belle Époque estaria atrelada ao espírito republicano de desenvolvimento.

A Primeira República no Brasil marca a derrocada da sociedade imperial e o

atraso que ela simbolizava do ponto de vista político e social. O novo Brasil republicano

deveria ser guiado pela ideologia da civilização e progresso, com reformulações nas

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34

instituições nacionais seguindo as preposições dos republicanos norte-americanos e

franceses29

.

Mesmo com as discussões como marca para a chegada da época gloriosa do

Brasil com as remodelações urbanísticas do Rio de Janeiro, capital do Brasil nesse

período, observamos que os ideais da Belle Époque chegavam aos atores sociais nas

mais distantes regiões do Brasil e em seu interior, como é o caso dos sertões.

Era 15 de junho de 1889 na Cidade do Príncipe, atual Caicó/RN, quando Manoel

Dantas30

recorrendo ao discurso e aos fundamentos republicanos se posicionava a favor

da instrução pública com um meio a promover no indivíduo social a plena capacidade

de pensar e agir. Considerava um erro um governo que não pensasse na educação de seu

povo, pois um dia seria cobrado pela população no momento em que aquela tomasse

conhecimento de seus direitos. Segundo Manoel Dantas:

É um erro de que se arrependerão, talvez um pouco tarde, os

seus auctores, quando vier a reacção e o povo reconhecer que só

a oppressão e a tyrania fazem cabedal da ignorancia.

Com effeito, nos governos livres, que agem pela vontade

popular, a instrucção é a base de todo e qualquer melhoramento,

por que não ha receio de que o povo instruido conspire contra a

ordem estabelecida.

[...]

Entretanto podiamos ser tambem instruidos e entrar com nossa

quota de saber para o progresso geral da humanidade...

(DANTAS. Instrucção Pública. Jornal O Povo. 1889. p.1).

Para Manoel Dantas é evidente que a educação em vez de promover à revolta ou

contestação de um regime político, seria a garantia do reconhecimento e aceitação pela

população de um determinado governo. No entanto, no Brasil e nos sertões do Rio

Grande do Norte, os grupos políticos deixavam o povo à margem do direito a ter uma

educação formal de qualidade com medo de que aqueles viessem a contestar a soberania

política. A questão é que Manoel Dantas chama atenção, considerado que no momento

em que esses indivíduos sociais tomarem consciência de tal situação, farão a revolução

29

“Identificada com as práticas culturais aristocráticas do eixo Paris-Londres, a nossa Belle Époque

coincide com a derrocada da monarquia e a gênese do regime republicano, alcançando o seu apogeu nas

duas primeiras décadas do século XX. A historiografia, aliás, costuma eleger como um dos símbolos

desse período as intervenções urbanas promovidas pelo prefeito Pereira Passos na área central do Rio de

Janeiro, que deu feições brancas e européias à capital federal, transformando-a em vitrine do novo

regime” (GUIMARÃES, 2012. p. 164). 30

Manoel Dantas apresenta quatro artigos, no Jornal ao O Povo, no ano de 1889, destinados ao que traria

desenvolvimento e progresso a vida dos sertanejos, destes quatros, dois são dedicados a instrução pública

das pessoas do sertão.

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35

política e social. E que dessa maneira, estamos perdendo em deixar de ser um povo

ignorante e assumir um caráter progressista e com futuro.

A proposta republicana era trazer o saber e a educação ao seio dos sujeitos

sociais. Era preciso apagar o passado da escuridão e das trevas com as luzes do saber,

sanar os males do analfabetismo e dotar o homem de uma áurea de civilidade

(MORAIS, 2004. p. 70). Isso somente aconteceria por meio das letras, da moral e do

civismo. Não podemos afirmar se José de Azevêdo Dantas teve contato com os

pensamentos de Manoel Dantas, mas no ano de 1924, nos sertões do Rio Grande do

Norte seu discurso ia ao encontro da reflexão empreendida pelos primeiros republicanos

dos sertões, pois apontava para o que deveria ser uma pessoa civilizada,

A civilização é olhada no seio da sociedade chic por este

prysma, embora civilidade signifique ao contrario disso

progresso material e moral. Civilizado deve ser aquelle que,

alem de cortez, polido e consciente de sua razão, concorre com

a parcella de suas aptidões para a grandeza e aperfeiçoamento

do progresso humano. Civilizado é todo o que trabalha pelo aperfeiçoamento da

especie, como barbaro é o que trabalha pela destruição [?] da

mesma [...]

Devemos considerar que o homem puramente civilizado abdica

de todos estes preconceitos para se entregar somente ao util e ao

proveitoso, educando o seu espirito e aperfeiçoando a sua razão,

para nos momentos azados da vida dar o seu real testemunho

em materia de civilização. [...]

É preciso não confundirmos a civilisação progressista e

aperfeiçoadora de genero humana com essa "civilização de

almofadinhas" que corrompe e aniquila os melhores parcellas

de nossa mentalidade. E vem ao caso a definição feita por um

notavel philosopho de que ha: civilizados e "civilizados"

(DANTAS. Civilizados e Civilizados. Jornal O Momento. 1924.

p. 23).

Com base na notícia anterior podemos averiguar que mesmo os sertanejos do

Brasil estavam por dentro dos ideais republicanos e dos fundamentos da Belle Époque.

Para José de Azevêdo Dantas, não deveria existir apenas a civilidade, no caso, entendida

enquanto um ser humano acomodado e polido, mas sem a expressividade para o

progresso. Ao contrário, o ser humano deveria ser civilizado e apto ao aperfeiçoamento

que levasse ao desenvolvimento pleno e ativo, que utilizasse da razão para elevar-se a

uma civilização progressista. Com base nesse discurso, torna-se evidente as

características de uma sociedade puramente republicana que almejava “apagar” o

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36

passado de marasmo31

e caminhar junto às ideias europeias que se desenvolviam nesse

período com vista ao progresso científico e técnico, como era o caso, da França.

Interessante perceber que José de Azevêdo Dantas coloca que a sociedade

civilizada é aquela fundamentada na ideia do progresso material e moral, na qual é

preciso que nos sertões exista o desenvolvimento material empregada por meio das

técnicas no espaço (SANTOS, 1999; 1996) para a concretização de um sertão próspero

e vivente, mas não se pode esquecer que os sujeitos sociais que praticam esses espaços

devem manter sua moral, utilizando de sua razão para trazer e fazer o desenvolvimento

humano, social e espacial. E não, se deixando levar pelo modismo do homem civilizado

que está desvinculado de seu papel social. Aquele que cruza os braços e espera que os

outros implementem novos focos de modernidade ou caíam em aspectos da vida

burguesa, dados ao alcoolismo ou as festas noturnas.

As representações do pensamento republicano atrelado as repercussões da Belle

Époque não poderiam deixar de atingir os sertões do Rio Grande do Norte, nesse caso,

temos como uma das brisas desses aspectos a educação como modelo de progresso e

civilização que resultaria na modernidade.

Segundo o pensamento de Berman (1986), a modernidade significa a cisão de

dados processos sociais e a alimentação de novas fontes, como por exemplo, os

processos de urbanização. No nosso caso, entendemos como o rompimento do período

imperial e a nascitura da República como símbolo a uma nova fase de desenvolvimento

e modernidade para o Brasil.

Para Touraine (1994),

a modernidade está atrelada a ideia de difusão de

atividade racional, científica e tecnológica, como também, administrativa. Nesse

sentido, a ideologia da Belle Époque caminha em consonância com o pensamento de

Touraine por meio da razão, cientificidade e do progresso.

Ao seguir o pensamento de Berman (1986) e Touraine (1994) percebemos o

quanto é importante as modificações que são implementadas ao longo do tempo, por

meio de novas necessidades da sociedade de caráter moderno e científico. Nesse

itinerário, José de Azevêdo Dantas elenca a educação como elemento fundamental ao

desenvolvimento do ser humano, quando afirma:

31

Nesse caso, nos referimos as práticas sociais e políticas da época do Império, para uma discussão mais

efetiva, ver: MELLO, Maria Tereza Chaves de. A república consentida: cultura democrática e científica

no final do Império. Rio de Janeiro: Editora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2007.

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37

Numa Republica enorme e pouco habitada, relativamente, em

que os 20% que sabem ler são doutores, todo o esforço e pouco

no sentido de elevar o nivel não só intellectual como moral para

que o Brasil por fim pudesse tentar com uma população

consciente e capaz de trabalhar pelo seu verdadeiro

engrandecimento. Em quanto outros espiritos phantasistas tecem hymnos

candentes de vaidade e orgulho àquillo que elles proclamam "as

nossas grandezas e os nossos progressos", confesso, para por

um relevo o triste espectaculo que a verdade nos offerece, que o

Paiz, sem o desenvolvimento em todos os sentidos da grande

cruzada sanitaria, nunca passara de uma patria doente

analphabeta (DANTAS. Pela Cruzada Sanitaria. Jornal O

Momento. 1924. p. 24).

A partir da notícia publicada por José de Azevêdo Dantas torna evidente que

esse não considera apenas a instalação da República no Brasil enquanto fato louvável,

mas os outros acontecimentos que ligados a ela poderiam se desenvolver, como é o caso

da educação, pois o mesmo considera que um país sem educação é um meio sem moral.

Sendo necessário, as pessoas aprenderem a ler, uma vez que a leitura as libertariam da

ignorância, consequentemente promoveria sua grandeza e o alcance da ordem e do

progresso. Nesse sentido, para José de Azevêdo Dantas a educação era a mola mestra

para atingir o pleno desenvolvimento do cidadão e por meio dela, as pessoas podiam

progredirem em sua vida, deixando de ser apenas um subalterno e ganhando um lugar

de destaque na vida e na sociedade.

Existe outro elemento no discurso de José de Azevêdo Dantas que nos chama a

atenção a ideia de "cruzada sanitaria" na qual o redator do Jornal O Momento se coloca

como se o Brasil estivesse doente com relação ao seu progresso e que para o poder

público havia aspectos importantes a serem tratados, tais como: ampliação das ruas,

introdução da energia elétrica, saneamento das ruas, a chegada do cinema, no entanto,

apesar de todos esses aspectos serem importantes para a civilização do país, havia o

elemento da educação que devia ser o primeiro fator a ser considerado, pois a partir do

momento em que a população estivesse alfabetizada essa passaria a entender os demais

aspectos, saindo de uma condição doentia e atrasada, para um desenvolvimento

consciente, sã e moral, no qual haveria um Brasil voltado para o engrandecimento.

Nesse sentido, para o pleno desenvolvimento do Brasil deveria existir um movimento

sanitário em todos os aspectos, principalmente com o olhar voltado para a educação, a

qual seria o fator primordial e de interligação aos demais fatores que lavaria o Brasil a

condição de progressista e desenvolvimentista em sua total capacidade.

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38

Era novembro de 1889 quando Manoel Dantas elegeu um artigo no Jornal O

Povo dedicado a vida sertaneja e por que não dizer aos sertões, entendido pelo próprio

Dantas, como sertões e não sertão, por apresentar sua multiplicidade e vitalidade. Para o

estudioso era preciso estudar os sertões e conhecer o seu potencial. A partir daí,

empregar técnicas para seu desenvolvimento e melhoramento. É um discurso que se

insere nos moldes republicano do progresso e do futuro, que precisava extinguir os

fatores de atraso, e para isso Manoel Dantas nos diz:

É preciso accentuar que somos e o que podemos ser, quando

esclarecidos e resolvidos os problemas que se antepõem a nossa

marcha progressista, possamos enveredar com segurança por

uma estrada larga, sem obices que atrapalhem o nosso passo.

[...]

O sertanejo é activo e emprehendedor, e a indolencia ou inercia

que às vezes se observa em seu caracter não destroe o princípio

estabelecido; é uma consequencia da má orientação que elle tem

de sua vitalidade. Dêm-lhe os conhecimentos precisos; ponham-

no a par do progresso em suas diversas manifestações, e o

sertanejo será o modelo typico do povo do trabalho, como esse

deve sel-o. Todo nosso mal tem sido não se educar o povo por

meio de um ensino proveitoso (DANTAS, A vida sertaneja -

presente e futuro. Jornal O Povo. 1889. p.1).

É inegável a capacidade que Manoel Dantas destaca para os sertanejos, desde

que estes tenham conhecimento das técnicas que devem ser empregadas no lugar em

que mora para a potencialização dos recursos do tal espaço. Nesse sentido, a instrução e

educação se apresentam como fundamentais para contribuir com o crescimento e

fortalecimento dos sertões (MORAIS; STAMATTO. 2017. p. 9). Esses aspectos não

estão desvinculados ao projeto republicano de modernização social e de esclarecimento

dos pressupostos republicanos.

A educação e a alfabetização dos sertanejos estariam ligadas a um conjunto

maior no qual a modernidade estava inserida modificando as estruturas, até então,

consideradas arcaicas. Era uma espécie de dialética na qual o novo estava rompendo

com o passado em nome do progresso que sinalizava para uma fase evolutiva (SILVA,

2007. p. 48 - 49). A educação no período republicano deveria ser laica pautada no

homem e na valorização das suas faculdades humanas.

Por meio da educação e da alfabetização era que o homem, com vista ao

progresso, poderia caminhar junto ao pensamento republicano. Pois, era necessário

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39

instrução formal para entender as medidas, as leis e os decretos sancionados pela

República com o objetivo de proporcionar “melhoria” a vida das pessoas. Mais uma

vez, José de Azevêdo Dantas clamava pela alfabetização das pessoas do sertão, já nos

idos de 1920, como meio de difusão do conhecimento e do progresso da Belle Époque.

O erudito afirmava:

Um povo, que tema asi a ardua tarcha de se educar, de se

sancar, pode, livremente proclamar a sua superioridade e

exalçar o seu orgulho. Difficilimo será, ainda, dadas as condições de rotina que impera

em todas as camadas a diffusão de taes conhecimentos, sob os

diferentes aspectos de seu programma, sem que, não encontro

os assomos de repulsa nascidos da ignorancia. É como já disse

algum, que, quando se toma a hombros serviços publicos e se

tem de introduzir novos methodos e fazer cumprir

determinações de lei, fazem se alguns amigos e muitos

maldicentes, mas que, empregando esforço pela causa do bem

não conhecia inimigos e, conhecia apenas, os que não

entendem, e que procuraria com toda bondade e dedicação o seu

maior empenho para serem "entendidos" (DANTAS. Pela

Cruzada Sanitaria. Jornal O Momento. 1924. p. 24).

Se pensarmos entre o discurso apresentado por Manoel Dantas em 1889 e a

notícia vinculada por José de Azevêdo Dantas, nos de 1920, percebemos que pouco

havia sido mudado do cenário de negligencia em relação a educação nos sertões e que

aquela continuava a ser uma preocupação daqueles que desejavam o desenvolvimento

dos cidadãos e dos sertões. Considerando que ambos os redatores dos Jornais O Povo e

O Momento viam na educação o meio para fazer os sertanejos e os sertões prosperaram.

Era preciso o conhecimento científico por meio das letras para fazer verdadeiramente os

sertões produzirem em toda a sua capacidade.

Fica evidente o discurso de que somente por meio da educação é que o ser

humano se torna pleno, do contrário está fadado à ignorância e a completa distância dos

fundamentos republicanos. A alfabetização torna-se um elemento de civilização, no

século XX, como um bem compartilhado pela humanidade que promoveu novas formas

de viver (SILVA, 2007. p. 82). Quando a população não toma consciência ou não passa

por uma educação para entender determinadas medidas vai de encontro a dados projetos

republicanos, como foi o caso da Revolta da Vacina no Rio de Janeiro, em 1904, na

qual as pessoas por falta de conhecimento do beneficiamento que a vacina os trariam,

optaram por se revoltar tombando bondes, saqueando o comércio e destruindo os

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prédios públicos, para que a vacina deixasse de ser obrigatória e passasse a ser

facultativa (CARVALHO, 2010).

Dentro do contexto da Belle Époque, a educação, no Brasil, passou por um

diálogo com as instituições europeias, transportando seus métodos e tendências para a

modernização das instituições escolares do Brasil (TEIXEIRA, 1969. p. 134). Fato é

que era necessário a instrução da população sertaneja para acompanhar as tendências

modernizantes,

As ideias vai surgindo em prol da instrucção, concretizando-se

[?] algumas em realidade, quando estas são levadas a effeito

com a criação de novos estabelecimentos de ensino. Os Estados

mais adeantados da Federação têm progredido e avançado no

caminho do progresso [ilegível] a acção bem fazeja e altruística

[?] da instrucção, e [ilegível] feliz e oppertura expectativa já

mais devemos [ilegível] indifferentes e retrahidos a gestos tão

nobres e edificantes. Temos, [ilegível] proprio interesses

[ilegível] sagrado de possuirmos [?] uma patria digna de nosso

respeito e só conseguiremos collaborando na medida do

possivel ao tudo dos quo [sic] trabalham pelo progresso

racional, instituindo e auxiliando escolas, ampliando e

propagando a instrucção afim de vermos núm futuro mais

proximo uma transformação completa e radical nesse

lamentavel estado de coisas, que infelismente ainda nos avilta e

degrada (DANTAS. A instrução. Jornal O Momento. 1924. p.

17).

Torna-se salutar discutir que novos hábitos iam surgindo no discurso de

modernidade para os sertões do Rio Grande do Norte, José de Azevêdo Dantas elege a

educação como meio para essa nova forma de conduta e sociabilidade. Era preciso

difundir a educação para atingir a cultura escrita a toda sociedade de modo a torná-la

civilizada e progressista (AZEVEDO, 2009. p. 63). Sendo necessária a criação de novas

escolas para a transformação da mentalidade das pessoas por meio do saber e novos

valores voltados à dinamicidade e capacidade de pensar sobre suas práticas cotidianas.

Nesse sentido, a instrução proporcionada pela escola seria um elemento transformador

de um sertão que, até então, encontrava-se em atraso, em razão, da falta de

conhecimento para potencializar seu desenvolvimento.

Assim, com o advento da República as elites políticas e dirigentes intensificaram

suas preocupações em dinamizar a educação tanto nos Estados mais modernos do Brasil

quanto no interior do país. Para que pudéssemos atingir uma pátria digna, moderna e

progressista. Desde o Brasil Império havia discussões sobre a educação e os meios para

a sua realização. Mas, coube a República a missão da instrução popular e alfabetização

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do povo brasileiro (SILVA, 1971. p. 447). Segundo o pensamento de José de Azevêdo

Dantas a educação levaria ao enobrecimento da pátria, quando:

Para o so erguimento e soberania da nação só nos resta um

recurso e este está bem visivel ao conhecimento de todos -

semos um povo bem educado. E, se ahi é que reside a

verdadeira grandeza de nossa nacionalidade, devemos procurar

sem interupção nem desfallecimento os meios praticos e

adaptaveis para a nobre conquista da civilização e do progresso. Sendo a instrucção como disse alguem a bussola que nos aponta

o futuro, o reflexo de Deus que vem illuminar e espirito na

pratica da virtude e do [ilegível] raio da luz que se

desprendendo de centros intellectuaes vem em lampejos de

conciencia affastar e homem das trevas da ignorancia devemos

desprezar o egoismo, põe de parte as tendencias passionaes,

[ilegível] do futil e do superfluo e congregar todos as forças

pelo aproveitamento util e proveitoso das faculdades

succeptiveis de aperfeiçoamento. "Instruir os povos" é palavra dos proprios evangelhos. A

instrucção o poderosa alavança [sic] que remova os maiores

obstaculos para se chegar ao apico da civilização. Ella é tão

necessaria ao homem como a propria subsistencia physica.

Assim como o homem neccesita do pão para conforto do corpo

carece da instrucção para contexto do espririto tornando-o

elevado e conhecedor da luz e da verdade (DANTAS. A

instrução. Jornal O Momento. 1924. p. 17).

José de Azevêdo Dantas assume um discurso enfático ao afirmar que somente

por meio da educação o homem do sertão conseguiria atingir a civilização e o

progresso, deixando de viver em meio ao escuro e as trevas. Entendemos que o redator

do jornal utiliza dos termos trevas para se referir a falta de educação e a ignorância que

ainda existia nos sertões por parte da população que não conhecia as letras. E José de

Azevêdo Dantas vai além, e afirma contundentemente que a instrução é a bússola do

futuro, por meio dos intelectuais comparando-os ao poder de Deus que veio para

iluminar as pessoas que viviam em sofrimento. Somente pelas letras o sertanejo tomaria

consciência das forças produtivas que existiam no sertão. Ademais, a ideia de trevas

está associada ao atraso, a escuridão, ao não pensar cientificamente em contraposição as

luzes, ao homem racional que explica todos os fenômenos por meio da ciência e da

evolução e saber.

No discurso jornalístico, no início do século XX, era comum o debate sobre a

regeneração da sociedade brasileira no tocante a educação com o intuito de aderir aos

ideais republicanos por meio do aspecto modernizante com a instrução pública sendo

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difusora do pensamento esclarecido e republicano. Nesse sentido, havia uma

preocupação com a educação no cenário nacional, mas também não poderia deixar que

os sertanejos permanecessem convivendo com o analfabetismo e a instrução deficiente

(SILVA, 2007. p. 79 – 81). A falta de alfabetização de escolas poderia levar o sertanejo

não somente ao atraso intelectual, como a marginalidade social,

Ha no Brasil um problema de grande relevancia, de cuja

solução depende o progresso do paiz. É o problema da educação

das masmas [sic]. Sem um povo culto consciente, educado sob

o ponto de vista physico, moral e intellectual, não ha povo forte,

progressista, evoluido. Porque nos temos descurado da cultura,

da alfabetização dos brasileiros, temol-os deixado ao abandono

ha seculos, especialmente nas regiões do interior, por isso o

Brasil é hoje, um paiz quase vencido, fraco, pobre, endividado,

arrastando uma vida precarissima e de graves dissecoes no meio

das classes sociaes (DANTAS. Pelo ensino. Jornal O Momento.

1924. p. 30)..

Pelo repertório elencado por José de Azevêdo Dantas o problema maior do

Brasil era a falta de educação em todo o seu território e, principalmente, nas regiões do

interior do país, na qual a educação não chegava ou havia uma negligência em relação à

mesma. Sendo assim, daí advinha o retrocesso dessas regiões que não possuía seu

potencial econômico explorado com técnicas eficazes ao desenvolvimento. Tornando o

Brasil um país: vencido, fraco, pobre e endividado, no qual as pessoas viviam em estado

de pobreza e na condição de seres obsoletos socialmente e economicamente.

Torna-se claro que a falta de educação simbolizava o atraso e o retrocesso para o

Brasil que queria silenciar as marcas de um passado que viveu baseada em uma

sociedade estamental e sem perspectiva de progresso. A escola surgia como uma fonte

regeneradora das pessoas, saber ler não era apenas uma singeleza ou algo simplista.

Pelo contrário, era algo complexo que exigia a interpretação e a consciência do homem

moderno e republicano (SILVA, 2007. p. 83). Nesse caso, havia uma preocupação

constante para a criação de escolas que instruíssem a população. José de Azevêdo

Dantas chama a atenção para a criação de escolas no sertão do Rio Grande do Norte,

Seria medida de elevado conceito a fundação de escolas

profissionaes em diversos pontos da zona sertaneja, com cursos

de instrucção agricola afim de obter com resultado satisfactorio

o aproveitamento, das aptidões deste povo forte porem sem a

luz do entendimento.

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No Brasil o ensino technico está ainda em estado embryonario,

é praticado em reduzidissima proporção. No entanto, temos

necessidade urgente de formamos o nos o operariado, os nossos

homem do sertão que serio capazes de levar a effeito o

progresso do paiz, pelo trabalho, pelo aproveitamento de sua

forças nativas, que são estupendas, variadissimas. Na Allemanha, Japão, America do Norte e outros os resultados

foram efficazes, amplamente divulgados. No Brasil, tambem, só

será passivel o despertar, o renascer da patria, quando uma

educação solida, perfeita efficiente se espalhar por toda a

extensão, do territotorio [sic] nacional, soluccionando o

problema multi-secular do analphabetismo (DANTAS. Pelo

ensino. Jornal O Momento. 1924. p. 30).

Apesar de José de Azevêdo Dantas reconhecer que as escolas profissionais

estavam reduzidas a áreas mais desenvolvidas no Brasil, como era o caso dos centros

urbanos, ou estavam em fase de desenvolvimento, enfatiza que é de extrema

necessidade que a zona sertaneja tenha essas escolas para o alavancamento econômico

da região, por meio de cursos que capacitem os sertanejos ao uso e entendimento da

terra e suas potencialidades. Considera que o homem do sertão é um forte, um ser

capacitado para o trabalho, mas, no entanto, os faltam o conhecimento científico para o

dito desenvolvimento do espaço. E compara o Brasil a outros países que investiram na

educação e passaram a ter bons índices econômicos, pois sua população ampliou o

conhecimento e tornou os ditos países tais como: Alemanha, Japão e América do Norte

dinâmicos economicamente. E que a única expectativa de renascimento do Brasil em

toda a sua amplitude será por meio da educação que potencializará os outros aspectos

sejam eles: sociais e econômicos.

José de Azevêdo Dantas possuía a noção clara que era preciso alfabetizar a

população sertaneja para que estes estivessem aptos ao mundo do trabalho, mesmo que

fossem atividades agrícolas, mas que por meio da instrução profissional aqueles podiam

aproveitar melhor o cultivo e suas potencialidades. Apontava que essa já era uma

realidade de outros países e que por isso, aqueles encontravam-se com maior

desenvolvimento do que o Brasil. Esse debate não veio de modo impreciso, mas do

número de analfabetos que ainda existia no Brasil mesmo após a instalação da

República32

. Nesse caso, era preciso criar condições para a alfabetização por meio da

educação.

32

Para uma discussão mais profunda sobre a quantidade de analfabetos existentes no Brasil na Primeira

República, ver: FREIRE, Ana Maria Araújo. Analfabetismo no Brasil: da ideologia da interdição do

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1.2- As primeiras escolas e suas atribuições nos sertões do Rio Grande do Norte

Após a instalação da República, houve uma tentativa de criar novos símbolos

para representarem as novas aspirações de modernidade e progresso. Os debates

caminharam em torno de uma educação democrática e que chegasse a população com a

finalidade de instruir sujeitos sociais33

.

A ação educativa em conjunto com a instrução pública pensada e agenciada pelo

pensamento republicano visava modificar as estruturas, até então, consideradas

atrasadas como havia sido no período imperial. Para tal, procurou criar a escola

enquanto um agente social e desenvolvimentista (MOREIRA, 2011. p. 15). Esse

pensamento também chegava aos sertões do Rio Grande do Norte por meio de

aspirações daqueles que conheciam minimamente as letras, José de Azevêdo Dantas

aponta:

O combate ao analphabetismo é a pedra angular do edificio

social. Abrir escolas fundar instituições de ensino ensinar as

primeiras lettras e os rudimentos das sciencias, convidar e povo

a adquirir as nações indepensaveis ao seu desenvolvimento,

despertar o festo pelo aperfeiçoamento, cultiva, ainda que na

sua expressões mais simples e primitiva, habitos desciplina

mental e relativa independencia pessoal, estimular as

instituições progressistas, tudo isso é o vohicular indispensavel

para o auto conhecimento, para a [ilegível] individual, e para a

affirmação da personalidade em uma obra syntheticas, grande

ou pequeno que seja o seu real valor positivo. Alguns paizes [ilegível], no intuito de ampliar a [ilegível] em

seu minuciosas detalhes, projectam organização systematicos de

ensino, nos quaes as disposições referentes na escola [ilegível]

são os mais desenvolvida e elaboradas. A missão de escola

primaria [ilegível] fundamental (DANTAS. Analfabetismo e

educação. Jornal O Momento. 1924. p. 45).

Fica evidente que havia a preocupação de abrir escolas que tivessem como

propósito o ensino científico com vistas a promover o desenvolvimento e o

aperfeiçoamento dos homens. Demonstra com absoluta certeza a necessidade da

corpo à ideologia nacionalista, ou de como deixar sem ler e escrever desde as CATARINAS (Paraguaçu),

FILIPAS, MADALENAS, ANAS, GENEBRAS, APOLÔNIAS e GRÁCIAS até os SEVEEINOS. 2. ed.

São Paulo: Cortes, 1993. 33

Para um melhor entendimento ver: VEIGA, Cíntia Greive. Projetos urbanos e projetos escolares:

aproximação produção de representações de educação em fins do século XIX. Educação em Revista, Belo

Horizonte, n.26, dez.1997.

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instrução na vida das pessoas, sendo a escola primária o carro chefe para essa missão

educadora e civilizatória do povo do sertão. As escolas passam a ser vistas como um

elemento progressista e dinamizador que atendiam aos anseios da República. Por meio

da educação e da instrução primária rompia-se com as heranças negativas deixadas pelo

Império do Brasil. O novo Estado propunha orientar os indivíduos a um saber técnico-

científico capaz de vencer o atraso anterior e inserir-se ao mundo capitalista34

de fato.

Os que pensavam a República desejavam não somente desenvolver os aspectos

econômicos, mas alavancar as instituições de modo a fazer uma circulação de

pensamento com fundamentos liberais e culturais que viessem a ser referenciais ao

republicanismo. Nesse caso, o processo civilizador não é apenas um projeto político,

todavia em grande medida é um desejo da sociedade que apresenta as suas demandas

(MOREIRA, 2011. p. 29). A educação, nesse contexto, reúne boa parte das

responsabilidades de dinamizar e ser mentora dos fundamentos de modernidade e

progresso para o Brasil.

As construções dos grupos escolares ocorreriam na primeira década do século

XX em diversas regiões do Brasil. Com a perspectiva de romper com as antigas

estruturas do Império e ascender a luz das aspirações republicanas. O ensino deixaria

seu papel de regime confessional e adotaria o modelo de educação cívica (SILVA,

2007. p. 95). Nesse itinerário as escolas ou grupos escolares deveriam adotar o papel de

símbolo do regime republicano e de formador de um novo homem capaz de conquistar

seu lugar ao mundo pelo viés da ciência e da razão.

Nos primeiros anos do século XX, o debate sobre a modernização pública em

termos de concepção escolar ganha fôlegos e essa situação reflete na construção de

grupos escolares ou escolas no Rio Grande do Norte. Nesse caso, os elementos

educadores são gestados com a finalidade de civilizar e instruir e ainda mais,

demonstrar que a República é um tempo de renovação. Os sertões do Rio Grande do

Norte também presenciaram a criação de escolas e grupos escolares, segundo José de

Azevêdo Dantas:

Em 1908 foi fundado por acto do governo do Estado um Grupo

Escolar não sede do municipio e nomeando para exercer o cargo

da instrução professores diplomados, funccionando desde então

a [ilegível].

34

Para uma discussão sobre os pressupostos capitalista, ver: WEBER, Max. A Ética Protestante e o

Espírito do Capitalismo. São Paulo: Editora Martin Claret, 2002.

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46

A instrucção no municipio, como em quase todos do interior

caminha ainda a passos muito tantos. Na Escola Izolada do

Gruppo Escolar tem havido, desde a sua fundação uma

matricula media de os alunnos enixtos, animaes. Nas escolas

municipaes situadas na povoação de Carnauba e em differentes

sitios, a matricula tem sido inferior a este numero, o que

representa um baixo coeficiente para a densidade de população

em condições escolar; (DANTAS. Instrucção pública. Jornal O

Momento. 1924. p. s/n).

Pelo que se depreende da notícia exposta estava existindo um baixo número de

alunos matriculados e não pelo motivo de não está em faixa etária para ser matriculado

nas escolas, mas havia outra razão que desconhecemos. Não podemos afirmar, qual

seria o motivo que levaria a esses alunos não estarem frequentando os grupos escolares,

mas podemos conjecturar que talvez os pais estivessem autorizando que os filhos

saíssem da escola para poderem ajudá-los em seus trabalhos. Pensamos também, que

esse alunado pudessem se ausentar por mais de sessentas dias consecutivos dos grupos

escolares, o que levaria ao seu desligamento escolar (AZEVEDO, 2009. p. 232). Mas,

uma pista nos chama atenção quando José de Azevêdo Dantas coloca que havia sido

aberto um novo grupo escolar com fundos do Estado, dessa forma, atentamos para o

fato de que essa evasão escolar estivesse ocorrendo porque os grupos escolares eram

distantes da residência dos alunos e que por isso aqueles desistiam da prática

educacional. Entretanto, não podemos afirmar, uma vez que não temos dados

consistentes para tal.

Os primeiros grupos escolares do Rio Grande do Norte foram criados em 1908

com o objetivo de serem modelo de propagação do ensino considerado moderno

(AZEVEDO; SANTOS, 2016. p.173). Os grupos escolares eram instituições que

apresentavam normas, procedimentos e regulamentos que versavam sobre o bom

funcionamento do aprendizado e com disciplinas que atendiam as necessidades da

sociedade. Nos sertões do Rio Grande do Norte essa era uma prática que parecia está

dando certo. Quanto a construção dos grupos escolares e sua função social de colocar o

sertanejo próximo as letras, Segundo José de Azevêdo Dantas:

Actualmente o movimento escolar no municipio é a seguinte:

__ As duas escolas izoladas do Grupo Escolar "Thomaz de

Araujo" com 40 matriculados, uma escola rudimentar mixta "De

Manoel Dantas" no logar Cacimba do Meio, subvencionado

pelo Estado e creada em 1º de Agosto de 1921, com uma

matricula de 40 alunnos; uma escola rudimentar mixta a

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povoação de Cruzeta subvencionada pelo Estado, creada em

1923, com uma matricula de 45 alunnos; uma escola rudimentar

mixta "(municipal de 1917)" na povoação de Carnauba creada

em 1922 e subvencionada pelo Estado, com 46 matriculados;

uma escola particular mixta "Dr. José Augusto" no logar

Cardeiro ao norte da cidade, creada em 14 de janeiro do anno

fluente, com uma matricula de 40 alunnos; uma escola

particular mixta no logar Pao d´Arco creada em 1924 com uma

matricula de 20 alunnos; uma escola particular mixta "Cel.

Silvino Bezerra" na cidade, creada em 1924 com uma matricula

de 25 alunnos uma escola particular mixta no logar [ilegível]

com uma matricula de 15 alunnos, um institulo "Externato

Spenar" na cidade, funccionando sob a direcção do talentoso

promotor publico Dr, Francisco Menezes, com 18 alunnos

matriculados de ambos os sexos, uma escola particular na

povoação de Carnauba com alunnos, creada em 1920 por

inciativa particular (DANTAS. Instrucção pública. Jornal O

Momento. 1924. p. s/n).

Percebemos pelo fragmento do Jornal O Momento a construção de escolas nos

sertões do Rio Grande do Norte com o objetivo de alfabetizar a população distante da

capital. Os grupos escolares detinham uma clientela mista, daí averiguamos que não

existia divisão por sexos, mas que ambos estudavam em um mesmo ambiente e que a

cada dia havia mais interesse pela abertura de novos grupos escolares. Identificamos

que em uma região que sofre com os efeitos da seca, como a saída das pessoas de uma

região para outra (MATTOS, 1985) em momentos de falta de água, os grupos escolares

manterem um número de alunos entre 40 a 45 matriculados significava um número

expressivo de busca pelo conhecimento. Sendo assim, a educação nos sertões era bem

vista pela sociedade desses espaços.

Quando as escolas eram caracterizadas como ineficientes por falta de alunos ou

de condições, o governo republicano agia por meio da implantação de grupos escolares

no qual atendia ao projeto civilizador e político republicano. Essa ação era feita com o

intuito de corrigir as deficiências das escolas isoladas ou com atendimento precário pelo

poder político local dos municípios ou povoados35

. Mas, essa não nos parece ser a

realidade das escolas dos sertões do Rio Grande do Norte tendo em vista que até

particulares tomavam a dianteira e fundaram escolas para alfabetizar os sertanejos.

Como podemos verificar no fragmento a seguir:

35

Para o uma discussão mais efetiva, ver: OLIVEIRA, Dilma Maria Andrade de. Legislação e educação:

o ideário reformista do ensino em Sergipe, na Primeira República - 1889-1930. Tese de Doutorado.

Universidade Federal de São Carlos. São Paulo, 2004.

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48

Por todos os recantos do nosso caro rincão surge escolas e mais

escolas, em cujos casas de instrução o homem prepara-se com

todo o civismo no perfeito conhecimento da patria, tornando-se

da melhor forma possivel um cidadão brasileiro, plenamente

concio de seus deveres com larga vizão dos conhecimentos

patrios, franca liberalidade de seus actos e inteira comprehensão

das causas. Impellidos por esse nobre dever, foi que nesta pequena mas

florescente povoação de Carnauba, alguns moços, ditectos [sic]

filhos desta terra, tiveram, com um verdadeiro assomo de

civisima a dignificante idea de fundarem uma escola nocturna

onde os pobres pudessem receber os primeiros conhecimentos

do alphabeto (DANTAS. A instrução. Jornal O Momento.

1924.p. 20).

Por meio da notícia jornalística anterior, redigida por José de Azevêdo Dantas,

podemos verificar que nossa lógica de que as escolas dos sertões do Rio Grande do

Norte obtinham êxito é aplicável, o que devemos analisar é que as escolas que atuavam

pela manhã não tinham um maior número de alunos matriculados, pois estes tinham de

trabalhar para prover seu sustento. No entanto, os filhos da terra que tinha uma visão de

progresso e desenvolvimento optaram pela iniciativa da escola particular para

alfabetizar essa parcela da população. Podemos pensar que aquela parcela da população

fosse trabalhadores dos fundadores das tais escolas e eles entediam que os trabalhadores

estando alfabetizados seriam mais produtivos.

É notório que os nativos da Povoação de Carnaúba tinham consciência que era

preciso alfabetizar a todos, desde aqueles que tinham mais condições aos que estavam

na condição de pobres. Essa realidade não é algo impensável para os sertões, tendo em

vista que para se ter uma educação formal e de qualidade os filhos dos proprietários de

terras se deslocavam do sertão para as faculdades de Olinda (MACÊDO, 1998) e que

para pessoas pobres isso tornava-se inviável. Ademais, pelo que José de Azevêdo

Dantas nos relata é que existe uma relação clara entre o conhecimento, ou seja, a

educação e o que essa proporciona, tais como: pessoas mais empenhadas no

desenvolvimento do Brasil - amor a pátria -, um cidadão consciente de seu papel

enquanto sujeito social. O que estava na lógica no projeto republicano/modernizador

que era a exacerbação do civismo.

Na República norte-rio-grandense, as práticas educacionais representavam o

mundo moderno e os anseios do mundo capitalista (MOREIRA, 2011, p. 49). A

instrução primária ocorria no movimento da Belle Époque com vistas a uma sociedade

moderna e progressista. A educação é concedida com um locus da racionalidade fosse

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49

tanto pela instituição pública quanto privada de forma a moldar a população segundo os

moldes republicanos.

A construção de escolas e grupos escolares também promoveu práticas

peculiares ao magistério que acarretou a profissionalização dos docentes. As políticas

no cerne do magistério e com base nas Reformas de Instrução tinham como objetivo o

progresso do ensino atendendo ao ideal republicano (MORAIS; SILVA, 2009. p. 267-

268). A formação dos professores tornava-se fundamental para se atingir as finalidades

do ensino e as inovações educativas.

Os Grupos Escolares e as Escolas Isoladas36

que visavam um bom aprendizado

por parte dos alunos tinham regimentos internos que ditavam as concepções didático-

pedagógicas aos professores norteando como deveriam ser as aulas, o comportamento

dos alunos e dos professores no interior da instituição escolar (MORAIS; SILVA, 2009.

p. 267-274). Esses regulamentos tinham como propósito atender as demandas do

pensamento republicano e suas finalidades.

Na Primeira República, os Grupos Escolares e as Escolas no Rio Grande do

Norte simbolizavam o ensino considerado moderno por meio de procedimentos e

normas necessárias para o aprendizado dos alunos. O método intuitivo era utilizado nas

instituições de ensino como meio para os discentes colocarem em prática a teoria

aprendida (AZEVEDO; SANTOS, 2016. p. 173- 174). A aprendizagem ganhava

contornos concretos e saia da abstração, tendo em vista que os alunos experimentavam o

seu aprendizado. Outro método moderno de aprendizagem era os passeios escolares que

estavam dentro da lógica da linha intuitiva, na qual os alunos aprendiam através de

atividades lúdicas.

A construção das escolas e grupos escolares com suas práticas e fundamentos

foram frutos de uma sociedade republicana que aspirava uma modernidade, com

cidadãos civilizados, educados e progressistas. As instituições educativas em seus

momentos de aprendizagem procuravam gerar momentos de exaltação cívica, por meio

de hinos e signos que fizessem referencia ao período republicano.

36

De modo geral, os grupos escolares apresentavam um número inferior a 50 alunos e as Escolas Isoladas

possuíam mais de 50 anos, ambas seguiam modelos eficientes (GIL; CALDEIRA, 2011).

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1.3- As práticas educativas nos sertões do Rio Grande do Norte

Com o advento da República as discussões sobre a educação e as práticas

educacionais ganharam respaldo por todo o Brasil. O debate maior girava em torno da

alfabetização das pessoas. Era preciso ampliar a educação para preparar os indivíduos

para a nova ordem social e capitalista. A instituição escolar era vista dentro do projeto

republicano como um meio para atingir o progresso e o desenvolvimento.

Os primeiros anos republicanos foram demarcados pelos discursos que eram

necessários a edificação da educação para o progresso e a modernização de novos

hábitos e, consequentemente, a proliferação da dinâmica republicana. Esse pensamento

havia sido introduzido em diversas áreas do Brasil, inclusive nos sertões do Rio Grande

do Norte, uma vez que nos ditos espaços havia uma necessitava de educação, pois:

O Brasil, paiz immenso com uma extensa faixa littoranea e

vasto interior de terras incultas, [ilegível] que se diz civilizada,

que communga ao lado das grandes potencias, uma nação ainda

pouco instruida, onde os homens ainda não souberam encarar

com verdadeiro patriotismo o magno problema da educação.

Paiz que mal começava despontar para o inagnifico porvir que

lhe está reservado para os maravilhosos [ilegível] de

prosperidade em que terá de caminhar impulsionado pela

produção agricola e pelo commercio que é o principal agente de

sua riqueza natural, enquanto vae ficando adormecida a grande

mola do seu organismo intellectual - a mentalidade latente de

seus filhos (DANTAS. A instrução. Jornal O Momento. 1924.p.

18).

Com base no excerto redigido por José de Azevêdo Dantas verificamos o apelo

para que a educação chegasse a todos os recantos do Brasil, pois somente assim, haveria

a prosperidade almejada não somente pelo caráter econômico, mas também, pelo viés

intelectual. Torna-se evidente que o redator do Jornal O Momento compartilha das

aspirações republicanas. A ideia era construir uma nação republicana na qual estivesse

pautada pela identidade coletiva e para tal a educação seria esse elemento catalisador.

Nesse cenário os republicanos empreenderam a missão de civilizar e instruir a

população, com vista a evitar manifestações contra a República e formar um novo ideal

de trabalhador (DANTAS, 2012, p. 17).

A construção de escolas e a formação do ser humano contribuíam para a

formação de uma sociedade afinada com as ideias republicanas de desenvolvimento e

modernidade na qual haveria uma coesão social maior com os ideais republicanos. Nos

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sertões do Rio Grande do Norte também havia a preocupação com a educação que

promovesse o progresso. Pois,

O Brasil vós deveis saber, é um pequeno mundo, com energias

robustas e immensas fontes de riquezas como nenhuma outra

nação pode orgullar-se de possuir, a sua população é grande,

forte e resistente principalmente o nortista [?] supeirormente

conhecido. Mas, especidicadamente elle não se conhece a si

mesmo não sabe que é grande e depositario de immensas

riquezas. Mas não sabe como fazer valer essa grandeza; utilizar-

se dessas riquezas, por lhe faltar o uso pratico, os

conhecimentos scientificos, e, finalmente a educação completa

de seus habitantes deixando que outros espiritos extranhos

porem dotados de melhor capacidade technica venham

desfructar a conquista deste tornão abençoado (DANTAS. A

instrução. Jornal O Momento. 1924.p. 18).

José de Azevêdo Dantas faz um apelo para que as riquezas do Brasil sejam

exploradas de forma correta, sendo assim, era necessário o desenvolvimento do

conhecimento científico no manuseio do uso das terras do Brasil, uma vez que, os atores

sociais não entendiam a força produtiva que possuía as terras brasileiras, em razão da

falta de educação em que viviam. Não nos é caro pensarmos que esse avanço

econômico adviria a partir dos ensinamentos provenientes pela educação (DANTAS,

2012. p17). A solicitação e o discurso incisivo jornalístico chegavam também aos

sertões do Rio Grande do Norte, com vista ao meio rural era preciso a educação rural,

uma vez que:

Deante de vós a espectativa não é de vacillamento! Sois

brasileiros nativos; homens fortes e encorajados para a lucta da

vida. Estimular, propagar, collaborar em favor da instrucção é o

vosso dever. Esta missão não se resume ahi, vae muito alem,

com o lançar de ideas de alcance utilitario para o [ilegível] da

educação popular. Podemo [sic] sem difficuldade financeira ou de ordem material

promover a ercação de instituições de ínfimo [?] que possam se

adaptaveis aos nucleos de população rural o que por si já

representa papel de elevada significação na desalphabetisação

dos povos (DANTAS. A instrução. Jornal O Momento. 1924.p.

18).

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A partir do discurso jornalístico fica explícito que o homem rural é um forte que

desempenha suas lutas mesmo em ambientes hostis como a convivência com as secas37

,

mas que necessitava da instrução para o progresso das atividades sertanejas. Para que a

educação se fizesse morada nos lares rurais do sertão era preciso que os discursos

educacionais penetrassem os recantos familiares38

.

A escola era norteadora dos ideais republicanos, mas acima de tudo, era o

caminho para os povos que desejavam o progresso e a civilização (SILVA, 2007.

p.143). Tratava-se de institucionalizar o homem novo que respondesse a nova forma de

saber-fazer, por meio da cientificidade e que respondesse aos anseios da sociedade na

qual estava inserido.

A instrução das pessoas representava uma prática social ordenadora da formação

de novo homem moderno e republicano, na qual a instituição escolar era vista como

algo que orientaria e modernizaria determinada sociedade, inserindo novas práticas de

desenvolvimento.

As práticas inovadoras da educação se faziam sentir nos sertões do Rio Grande

do Norte, no qual pelo método intuitivo servia para que as pessoas tivessem

conhecimento sobre sua comunidade e os "objetos" que cercavam o mundo rural, tais

como solo, vegetação e água. Os passeios escolares, por meio do método intuitivo,

tornavam-se salutares, haja vista que os alunos assumiriam as atividades agrícolas

utilizando de maiores fundamentos e práticas outrora praticados.

A educação voltada para o estudo do espaço rural tinha um propósito

importante. No dia 24 de agosto de 1920, o Grupo Escolar Thomaz de Araújo, em

Acari/RN, promoveu um passeio escolar para a fazenda denominada "Fortaleza do

Felippe", no município de Acari, com o objeto de discutir os ensinamentos geográficos,

a formação dos solos e a composição calcária dos terrenos, como podemos observar:

[...] Grupo Escolar “Tomaz de Araujo” (Acary) – A 30 do mez

passado, a escola isolada masculina fez um passeio escolar na

fazenda “Fortaleza do Felippe”, propriedade do coronel Santa

Rosa, comparecendo 15 alumnos. Nesse local foram estudados

diversos terrenos de aluvião e terrenos de composição calcarea,

37

Para uma discussão sobre a seca nos sertões do Rio Grande do Norte, ver: MACIEL, Francisco Ramon

de Matos. "A produção de Flagelos": a re-produção do espaço social da seca na cidade de Mossoró

(1877-1903-1915). Natal. 2013. (Dissertação de Mestrado/UFRN). 38

Para um aprofundamento sobre discursos e ações pedagógicas que foram dirigidos às famílias

brasileira, ver: MAGALDI, Ana Maria de Mello Bandeira. Cera a modelar ou riqueza a preservar: a

infância nos debates educacionais Brasileiros (anos1920-30). In: História, infância e escolarização. José

Gondra (org.). Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002, p.59-79.

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argilosa, humosa, dando o professor, breves palavras, a

importância de cada um, quanto a produção dos cereais, do

algodão, &. Depois da lição, ouvida com muito proveito,

seguiu-se uma parte recreativa, constante de callistenica e jogos

infantis. [...] (A REPÚBLICA, 1920, p. 1).

Os passeios escolares, com base nos fundamentos de método intuitivo, tinham

como finalidade que os alunos colocassem em prática o que havia aprendido

teoricamente em sala de aula em ação através de práticas realizadas nas vivências dos

sujeitos. Interagindo com os aspectos: econômicos, políticos, físicos e sociais.

Promovendo o desenvolvimento de determinados espaços. Nesse sentido, o ensino, por

meio do método intuitivo, era voltado para o cotidiano das pessoas, tornando-o

significativo para ser aplicado nas atividades laborais dos sertanejos.

As instituições escolares foram de suma importância para a organização social

no início do período republicano e como meio para atender os ditos anseios. A

educação, no contexto da República, apresentou sua modernidade e “[...] passou a ser

vista como um todo harmonioso que depende do desenvolvimento igual das suas

estruturas [mental, psíquica e física] para atingir a sua plenitude” (PAULA, 1994, p.

146). Entretanto, as escolas, em alguns casos, ainda não tinham atingido toda a sua

demanda. Era o caso do espaço rural dos sertões do Rio Grande do Norte, considerando

que:

Se possuimos algns estabelecimentos de instrução, embora

insufficiente á densidade da população rural, esses não

satisfazem ao fim almejado que é desanalfabetizar o grande

numero de analfabetos, não porque falte ao cumprimento de

seus deveres profissionaes os respectivos professores, mas pela

ausencias injustificavel de frequentadores que alli se devotem

ao conhecimento das lettras (DANTAS. O que somos e o que

valemos. Jornal O Momento. 1924. p. 21).

Nesse caso, podemos pensar que a falta de matrículas advinha das atividades

laborais do campo em que as pessoas do espaço rural não tinham como deixar seus

afazeres agrícolas para se dedicar as letras. Nossa suposição se confirma quando José de

Azevêdo Dantas nos relata em seu Jornal O Momento: “Muitos digam a dar uma

desculpa de que deixam de frequentar a escola por motivo dos seus affazeres

quotidianos, não sendo possivel privar a suas horas de lazer por uma causa que ella

julgam seccundaria. É nisto que vae a grande falta de estimato, é nisto que vae o nosso

grande atrazo em materia de instrucção” (DANTAS. O que somos e o que valemos. Jornal O

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Momento. 1924. p. 21). Assim, a solução encontrada seria a construção de bibliotecas

rurais que levassem o conhecimento a essas pessoas. O redator do Jornal O Momento

nos relata:

Venho indicar no breve espaço de que disponho uma medida de

salutares effeitos para uma população que precisa acima de tudo

elevar o seu conceito moral, que pode equiparar-se pelos seus

fins utilitarios aos melhores eduncandarios - é a fundação das

pequenas bibliothecas ruraes. As bibliotecas populares. embora para o nosso meio seja quase

de todo desconhecidas, ellas vêm sendo do divulgadas entre os

povos civilizados como uma neccessidade imperiosa e

indespensavel ao desenvolvimento educativo das massas. "do e qualquer nucleo de população que primª pela educação

dos seus não deixa de possuir como devido zelo a sua bem

montada biblioteca e se de outro modo, os seus recursos

financeiros não dão margem para tanto, elles as têm, mesmo em

circunstancias mais modestas. As bibliothecas do povo estão sendo adoptadas hoje por todos

as gentes cultas e bem organizadas. Ellas vem seccundando

proveitosamente a grande obra da alphabetização dos povos

(DANTAS. As bibliothecas ruraes. Jornal O Momento. 1924. p.

s/n).

Tomando com base a ideia que as pessoas que moravam no espaço rural não

dispunham de tempo para se matricular nas escolas dado às atividades econômicas, com

as bibliotecas rurais a população do campo teria acesso em suas casas as letras, nos

momentos de descansos ou em seus momentos de lazeres. As bibliotecas rurais, além do

mais, não eram uma realidade desconhecida, ao contrário era uma realidade nas

sociedades que tinham como princípio o mundo civilizado e progressista. Existe uma

noção imbricada que mesmo a população do campo que precisa trabalhar nas horas em

que as escolas normais estavam funcionam, precisavam das letras, nesse caso, a solução

encontrada era a construção de escolas noturnas ou as bibliotecas rurais para que a

educação chegasse a toda população.

A instrução pública, logo após a implantação da República, passou a ser

essencial para o novo homem moderno e civilizado (SILVA, 2007. p. 144). A escola

passou a ser vista como uma instituição civilizatória com destaque para os saberes

científicos que seriam refletidos no crescimento econômico e social de determinadas

sociedades.

O projeto modernizador instituído pela República não dizia respeito apenas a

educação das pessoas, mas a discussão dizia acatamento às modificações das técnicas e

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usos das terras e necessidades sociais e humanas, como bem salienta José de Azevedo

Dantas: “Devemos procurar os factores essenciaes a nossa felicidade: Trabalho,

educação e saúde” (DANTAS. O que somos e o que valemos. Jornal O Momento. 1924. p.

21). Assim, nosso propósito no próximo capítulo é discutir o olhar modernizante nos

sertões do Rio Grande do Norte por meio da construção das estradas para o interior.

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Capítulo 2: Nova configuração espacial: estradas de ferro no sertão do Rio Grande do

Norte

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2- Nova configuração espacial: estradas de ferro nos sertões do Rio Grande do Norte

A dinâmica que se instalou a partir da primeira década do século XX, por meio

do discurso modernizador e da configuração de novo espaço-tempo39,

era marcada por

um novo ritmo de vida. Nesse contexto que nasceram às estradas de ferro no norte40

do

Brasil como símbolos e signos do moderno.

O anseio pelos trilhos não advinha somente da época republicana, mas no

período imperial já havia o pedido pela bancada nortista para a instalação das linhas

férreas nas principais províncias do Norte, tais como: Paraíba, Rio Grande do Norte,

Alagoas e Bahia41

. Mas, é a partir da República com o pensamento civilizador e

progressista que as ferrovias passam a povoar o imaginário da população nortista.

Na eminência das preposições republicanas as estradas de ferros possuíam o

imaginário de servir como meio de civilizar e educar as populações dos lugares

considerados selvagens que ainda não desfrutavam dos símbolos de progresso

(ARANHA, 2001, p. 51). Assim, ao passo que havia a possibilidade da construção das

ditas estradas a população dos recantos longínquos se entusiasmava.

Em certas localidades sertanejas a falta de transporte que promovesse o contato

das pessoas com as "capitais" ou núcleos de população mais avançadas levavam as

pessoas a possuírem hábitos de vida considerados selvagens, tais como: o uso de roupas

estranhas, as formas de falar e de agir (PEIXOTO, 1909. p.3). No caso, as ferrovias

passavam a ser vistas como um meio de disseminação de novas formas de civilidade. O

contraste entre a população decorria da falta de comunicação entre as áreas do Estado.

A ideia de civilização despontava nos sertões do Rio Grande do Norte, José de

Azevêdo Dantas possuía um discurso contundente que era necessário que o progresso

chegasse ao sertão, ele nos afirma que:

O povo de nossa terra, não obstante a auzencia de uma

educação systematica é um povo intelligente. Os conhecimentos

praticos de que dispõe são effeitos dos revezes do tempo. A luta

39

Para uma discussão sobre as modificações do espaço em seu tempo, ver: SANTOS, Milton. A

Natureza do Espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. 3 ed. São Paulo: HUCITEC, 1999. 40

O termo Nordeste ainda não existia nessa primeira década do século, seguindo o pensamento de Durval

Muniz, a expressão Nordeste seria forjada a partir de 1906 pelos literários e se firmaria a partir de 1920

com Gilberto Freyre, para uma discussão mais profunda ver: ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz

de. A invenção do Nordeste e outras artes. Recife: Editora Massangana, 2009. 41

Para uma discussão maior, ver: MELO, Evaldo Cabral de. O Norte agrário e o império. Brasília:

Nova Fronteira, 1984.

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pela vida tem lhe desenvolvido dotes moraes e physica que se

não podem encontrar nos valles humildes e ficos da zona

littoranea. O que lhe falta, portanto, não mencionando suas

necessidades primordiaes - agua e transporte - o que lhe falta

para plena comprehensão de seu destino, é a instrucção de que

tanto carece para attenuar taes effeitos (DANTAS. O sertanejo.

Jornal O Momento. 1924.p. 46).

Pelo textículo acima do redator do Jornal O Momento, podemos perceber que

havia um atraso em relação aos hábitos, experiência e dinamicidade praticados pelos

sertanejos e os praticados pelos habitantes do litoral e da capital do Rio Grande do

Norte. Para tal situação, José de Azevêdo elenca a falta de instrução e os meios de

transportes que dificultavam a interação cultural e de pensamento entre aqueles sujeitos

sociais.

Torna-se evidente que José de Azevedo mesmo sendo um sertanejo tinha

conhecimento das vivências e do pensamento modernizante do litoral, talvez isso

ocorresse, em razão, de seu cargo exercido na Inspetoria Federal de Obras Contra as

Secas (IFOCS) 42

e, dessa maneira, possuía contato com o pensamento dos governantes

do Estado que era o de modernizar não somente as capitais dos Estados, mas os lugares

mais distantes, como era o caso, dos sertões do Rio Grande do Norte.

A ideia de modernidade empregada para o espaço regional recai não naquela de

caráter frenético das ruas urbanizadas e movimentadas, mas no pensar as "novidades"

que chegavam aos sertões, como é o caso, da educação, das estradas e dos açudes.

Novidades que permitiam aos sertanejos desfrutarem do conforto oferecido pelo viver

moderno.

Nesse contexto, os sertões, na figura de suas elites, do Rio Grande do Norte

almejavam pela chegada das estradas de ferro, considerando que era uma forma de

modificação do espaço, no qual permitiria uma nova configuração espacial com

inserção de novos meios de transporte e a disseminação de saberes, para tanto

necessitava-se de boas estradas, como podemos observar:

Precisamos de boas estradas

42

A Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS) foi criada em 1909 - à época denominada de

Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS). Somente em 1919 passou a ser denominada de IFOCS e a

partir da década de 1950 passou a se chamar Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).

Ver: FILGUEIRA, Maria Conceição Maciel. ELOY DE SOUZA: uma interpretação sobre o

Nordeste e os dilemas das secas. Natal: EDUFRN, 2011.

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Quando o homem primitivo palmilhou as terras pedregosas do

vasto intertana sertanejo e descobrio os seus reconditos

sombrios atravez dos vastos cerrados sentio a necessidade

urgente de um caminho que se conduzisse mais facilmente ao

ponto de sua precedencia. Os sertões se foram desbravando e os

caminho foram avançando; estes foram se cruzando e

enlarguecendo a ponto de se tornarem em largas estradas que se

extendem ao littoral aos ultimos recantos sertanejos. O

progresso humano, pela sua imperiosa necessidada [sic] de

desenvolver não pedia treguas neste sentido. Os melhoramentos

de communicação vieram se susecdendo aos caminhamentos de

tracção animal. Em primeiro logar segui a via- ferrea que

partindo das capitães litoraneas demandou os catingas

expirando porem ao sapé das cordilheiras. Vieram, finalmente

em parte as estradas de rodagem que, rasgando os chapadões da

Borburema, transpuzeram a soberba muralha granitica para

devassar abenimo Valle do Seridó, graças a acção energica de

um governo nortista (DANTAS. Precisamos de boas estradas.

Jornal O Momento. 1924. p. 38).

Percebemos pelo fragmento acima do Jornal O Momento que os caminhos de

outrora43

já não correspondiam ao anseio da população, pois necessitava de novas

estradas que fizessem uma comunicação com o litoral de forma mais dinâmica e

interativa na qual a agilidade fosse a perspectiva. Claro que esse desejo não era algo

desse momento, no final do século XIX as pessoas já aspiravam por melhores estradas,

mas a partir do início do século XX, somando a ideia de Belle Époque, esse pensamento

tornou-se mais evidente e os pedidos mais recorrente aos governantes.

O sistema de estradas é um meio de responder, também, aos desejos da

circulação das mercadorias de forma movimentada e em menor tempo. E os meios de

transporte de tempos pretéritos tornavam-se ineficientes, uma vez que: “Tendo a

opportunidade de tomar uma dessas estradas por onde mais commercciam os comboios,

[ilegível] se uma longa fila de burros em linha unica seguida, que a passos lentos

procuram à firmesa de se apoiarrem no terreno duvidoso” (DANTAS. Precisamos de boas

estradas. Jornal O Momento. 1924. p. 38). Nesse caso, os comboios de burros demoravam

ao chegar a seu destino final e poderia ser um meio de perca dos produtos, caso algum

desses animais, ficassem em meio ao caminho por doença ou sem condições de

caminha. Nesse caso, a carga seria perdida e provocaria um prejuízo ao proprietário da

mercadoria.

43

Para entender sobre os primeiros caminhos coloniais e como estes foram gestados nos vários sertões,

ver: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras,

2005.

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Dentro do pensamento modernizante, as estradas de ferro passaram a ser vistas

como um instrumento do capitalismo que atendia a uma nova configuração espacial44

de

forma a atender as necessidades comerciais e populacionais de forma mais rápida

promovendo uma melhora na comunicação, velocidade e capacidade de carga

(RODRIGUES, 2006. p. 23).

2.1- O estudo politécnico das estradas de ferro nos sertões: José de Azevêdo Dantas

O espírito republicano imbuído da proposta de progresso e desenvolvimento

procurava aliar a ideia de avanço ao otimismo do futuro percebendo que a ciência e a

técnica deveriam chegar aos recantos mais distantes das capitais. Nesse sentimento de

desenvolvimento os sertões do Rio Grande do Norte, na primeira década do século XX,

presenciariam a criação de escolas e grupos escolas com vista à promoção da educação

e o aprimoramento do pensar, investimento na agricultura com um olhar mais dinâmico

a cultura do algodão45

e investimentos nos transportes para o tráfego de mercadorias e a

comunicação com Natal. Estes eram símbolos da modernidade chegando aos sertões e

que estavam dentro do projeto político dos que compunha a República.

As estradas de ferro aparecem no Rio Grande do Norte como um meio de

interligar a economia local aos centros maiores, mas também, de colocar a população

em contato com o pensamento modernizante dos centros mais avançados. Assim, o

pensamento republicano com vista a implementação do progresso influenciou e foi o elo

fundamental para a política de mobilidade que se instalou nos sertões norte-rio-

grandense e como esses avanços permitiram a dinamização dos sertões.

44

Para uma discussão sobre a remodelação do espaço a partir das estradas de ferro, ver: ZORZO, Fracisco

Antônio. Ferrovia e Rede Urbana na Bahia: Doze Cidades

Conectadas pela Ferrovia no Sul do Recôncavo e Sudoeste Bahiano (1870-1930).

Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, 2001. 45

Para uma discussão mais fundamentada sobre a importância do algodão nos sertões do Rio Grande do

Norte, ver: TAKEYA, Denise Monteiro. Um outro Nordeste: o algodão na economia do Rio Grande do

Norte (1880-1915). Fortaleza, BNB: ETENE, 1985. TAKEYA, Denise.; LIMA, Hermano Machado

Ferreira. História político-administartiva da agricultura do Rio Grande do Norte (1892/1930). Natal:

Editora Universitária PROED, 1987. MACÊDO, Muirakytan Kennedy de. A penúltima versão do

Seridó: espaço e história no regionalismo seridoense. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)

– UFRN, Natal, 1998.

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61

Quando pensamos nos meios de transporte e na mobilidade que estes oferecem

temos a tendência a refletir que os interesses dos governantes recaem sobre a ótica

puramente econômica. No entanto, podemos perceber que nesses idos da Primeira

República a mobilidade dos transportes está para além de um simples abastecimento

comercial ou envio de mercadorias. A mobilidade implica em pensar as dimensões

subjetivas, como o meio social e técnico, ao considerar que as estradas passam a ser

vista como um elemento agenciador na organização do território e como um meio

dinamizador das relações e percepções dos sujeitos que compõem os sertões do Rio

Grande do Norte.

Para a realização das estradas de ferro nos sertões do Rio Grande do Norte era

indispensável à ação dos engenheiros politécnicos para o cumprimento das obras e a

configuração espacial, tendo em vista a imposição que a natureza se fazia diante das

construções. Para termos um referencial dessa situação José de Azevêdo Dantas nos

relata um desses episódios no qual a natureza resistia à modernidade por sua geologia,

assim:

Pelo lado da montante penetramos no primeiro tunel aberto em

rocha viva com trinta metros de extensão aproximadamente,

sendo este um trabalho de volumoso custo dadas as suas

innumeras difficuldades de desobstrução. Fomos interrompidos

na sua passagem por grandes blocos que se desagregaram dos

cortes abertos em seguida, e para nos desvencilhamos desse

obstaculo tivemos que vencer algumas preripeciaes pelas

encostas fronteiras: era subindo, ora descendo

difficultosamente. Tinhamos o maior interesse de percorremos o

leito da estrada, e nesse mister era forçoso vencer as maiores

difficuldades. Vinte nove kilometros acima de Lajes se acha o

alludido corte, conforme affirmaram os companheiros, e d´ahi

por diante, seguindo pelas encostas da "Arara" o caminho é

interceptado a cada instante por novas obstaculos de arte. De

pequenos em pequenas distancias surge uma nova obra d´arte

construida com a mais perfeita solidez. Pelos cortes abertos e

rocha pura, de grande profundidade, cejado [?] cuccosivamente

[?] por enormes aterros, a passagem doi feita sem embargos de

natureza artificial, notando que todos esses trabalhos

execcutados ha já uns seis annos se conservam actualmente em

perfeito estado, offerecendo grande resistencia para o futuro

(DANTAS. Impressões da Central do Rio Grande do Norte -

Trecho entre Lages e a serra de Sant´Anna - O aspecto da

construcção - O complete Abandono dos serviços - As

populações privadas desse melhoramento. Jornal O Momento.

1924. p. 26).

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62

Pela notícia anterior percebemos que a construção das estradas era uma obra

dispendiosa no custo financeiro e que dependia de técnicas para vencer as preposições

da natureza. Mas, que os engenheiros politécnicos estavam conseguindo vencer os

obstáculos naturais e remodelar o espaço físico para a construção das estradas, na qual

lograva sucesso. Mas, que as obras eram demoradas, pois fazia seis anos que a estrada

havia sido iniciada, entretanto, a segurança das técnicas utilizadas não fizeram com que

as obras desmoronassem ou tivessem que ser refeitas.

As estradas de ferro marcavam os fundamentos da modernidade e das

intervenções territoriais em que as técnicas humanas iam superando as imposições da

natureza. Nesse caso, as técnicas são utilizadas para corrigir e melhorar o território

segundo as concepções de dada sociedade46

. Quanto mais a sociedade avança e a

civilização material se afirma, mais modificações sofrem o território.

Cabia aos engenheiros politécnicos fazerem um estudo minucioso das áreas onde

as estradas de ferro atravessariam para que os mesmos elaborassem projetos

intervencionistas que remodelassem o terreno para as propositivas de integração das

estradas aos tais terrenos. Assim, havia um maior controle na organização do território

para favorecer a formação de uma rede ferroviária ligando os sertões a capital. José de

Azevêdo Dantas nos aponta como agia o trabalho dos engenheiros politécnicos e a sua

relação com a natureza dos sertões:

A cada passo uma nova surpreza surgia a nossa frente: eram os

grandes accidentes do terreno, as sensiveis encostas formadas

de blocos, os profundos valles, etc. Depamos [sic] logo com

uma grande ponte de alvenaria, de construcção muito solida,

cujos pilares com elevação superior a vinte cinco metros

offerece a resistencia precisa para o fim a que se destina. Os

vãos de trinta metros dão uma bella perspectiva ao valle que, se

apertando entre elevados encostas offerece um local proprio

para a amazenagem pluviométrica (DANTAS. Impressões da

Central do Rio Grande do Norte - Trecho entre Lages e a serra

de Sant´Anna - O aspecto da construcção - O complete

Abandono dos serviços - As populações privadas desse

melhoramento. Jornal O Momento. 1924. p. 26).

Torna evidente que o redator se surpreendia com os “obstáculos” que a natureza

imprimia aos engenheiros e como aqueles conseguiam se sobressair a natureza

46

Para uma discussão sobre as técnicas da configuração espacial, ver: SANTOS, Milton. A Natureza do

Espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. 3 ed. São Paulo: HUCITEC, 1999. SANTOS, Milton. Por

uma Geografia Nova: Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. 4ª Ed. São Paulo: HUCITEC,

1996.

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utilizando da técnica correta. Fato é que além de ser uma obra moderna e que

dinamizaria os sertões, o transporte proporcionaria belas paisagens aos viajantes que

desfrutariam de visualizar as obras de arte naturais em consonância com as

remodelações feitas nos terrenos pelos homens civilizados e progressistas.

Outro fator que nos chama atenção é a preocupação que José de Azevêdo Dantas

se refere ao apontar que as encostas dos vales serviriam para o armazenamento de água

e sendo uma região de poucas chuvas, como é o caso dos sertões, o armazenamento

seria muito importante. Podemos supor que essas encostas eram pensadas pelas

comissões técnicas como forma de garantir água aos operários das construções e depois

serviriam para o abastecimento das famílias dos sertões. Ao considerar que diversas

comissões técnicas responsáveis pelas estradas de ferro faziam parte da Inspetoria de

Obras Contra as Secas (IOCS) (MEDEIROS; SILVA, SIMONINI, 2008. p.1) e tinham

com o objetivo a realização de obras de convivência com a seca e que melhorasse a vida

das pessoas.

2.2- A construção das estradas de ferros nos sertões e a visão de José de Azevêdo

Dantas

As primeiras ferrovias destinadas ao Rio Grande do Norte tinham como

finalidade a inserção das zonas canavieiras ao porto de Natal de forma que se revelaram

inconstantes dado ao alto valor e a pouca relevância perante o tráfego das cidades

litorâneas até o dito porto, dado vista que, havia as estradas carroçáveis que levavam os

produtos até o porto47

. Com o advento da República as estradas de ferro ganharam outra

lógica. Nesse novo momento as ferrovias serão pensadas para integrar as áreas mais

dinâmicas do interior. Nesse caso, o ponto de partida será os portos das capitais com

destino aos sertões (RODRIGUES, 2006. p. 96), objetivando diminuir o abismo

existente entre as capitais litorâneas e os sertões.

Segundo o deputado norte-rio-grandense Bezerra Cavalcanti as ferrovias

poderiam ser lucrativas, caso fossem destinadas as áreas do interior mais prósperas,

47

Para uma discussão mais profunda sobre as ferrovias e seu papel junto às cidades litorâneas próximas a

Natal, ver: RODRIGUES, Wagner do Nascimento. Dos caminhos de água aos caminhos de ferro: a

construção da hegemonia de Natal através das vias de transporte (1820 - 1920). (Dissertação de

Mestrado). Natal: UFRN, 2006. p. 83-96.

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64

como era o caso de Ceará-Mirim. Esse ramal seria o meio para conter os déficits

contraídos com a estrada de ferro Natal/Nova-Cruz48

.

O engenheiro fiscal Coelho Cintra reafirmou a necessidade que as estradas de

ferro fossem construídas onde o local oferecesse algum rendimento aos cofres do Rio

Grande do Norte. Do contrário o Estado teria de onerar com os gastos provenientes das

ferrovias. Longe de querer discutir a ferrovia ligando Natal a Nova Cruz com seus

benefícios ou malefícios o dito engenheiro acreditava que os governantes deveriam

pensar na produtividade do espaço e se fosse o caso estender ramais até o vale do

“Jundiahy”, com duas bifurcações: uma para o sertão e outra para Ceará-Mirim49

.

Fato é que a estrada de ferro Natal/Nova Cruz estava pronta e não caberia mais

discutir o seu traçado, mas o que poderia vir a ser os seus ramais ligando-se a um

interior que demonstrasse produtividade. Bezerra Cavalcanti voltava a inferir seu

discurso para a construção do ramal para Ceará-Mirim por considerar um dos

municípios do Rio Grande do Norte mais apto a tal estrada dado a sua economia. Mas,

agora apontava para que existisse um outro ramal que ligasse ao alto sertão,

considerando que nessa área existisse terras férteis suscetíveis ao desenvolvimento e

que a região sendo afetada pelas constantes secas seria uma forma de melhorar os

efeitos nocivos da falta de água50

.

O que depreendemos dos discursos de Bezerra Cavalcanti e Coelho Cintra é que

ambos recorriam a questão da dinâmica econômica para conseguir mais ramais de ferro

para regiões do Rio Grande do Norte. Essa era uma lógica usual entre os nortistas51

letrados e políticos para reivindicarem mais trilhos, assim, alegavam que dada estrada

eram deficitárias em razão dos erros cometidos em sua projeção original (ARANHA,

2001. p. 78). E para salvar a economia do Estado era preciso retomar ao traçado férreo

primeiro e prolongar os ramais às áreas rentáveis, como era o caso de Ceará - Mirim e o

alto sertão. Nesse sentido, os erros caem como uma luva para os parlamentares que

desejam recorrer a concessão de mais trilhos para seu Estado.

48

Discurso de Bezerra Cavalcanti, deputado norte-riograndense, proferido em 24 de agosto de 1882. In:

Anais da Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1882, Tomo 4. p. 163. 49

Relatório apresentado ao Exm. Sr. Conselheiro Manoel Alves de Araujo, Ministro e Secretário de

Estado dos Negócios da Agricultura, Commércio e Obras Públicas", por J. C. Coelho Cintra, engenheiro

fiscal da Ferrovia Natal a Nova Cruz, em 10 de março de 1882, p. 8. 50 Discurso de Bezerra Cavalcanti, deputado norte-riograndense, proferido em 24 de agosto de 1882. In:

Anais da Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1882, Tomo 4. p. 454 - 455. 51

Aqui utilizamos o termo nortista, pois nesse recorte temporal ainda não havia o termo nordeste. Sendo

assim, o que depois veio a ser o nordeste, nesse período, era denominado de norte.

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65

Anos mais tarde, depois de uma série de descaminhos, a estrada de ferro de

Ceará-Mirim seria concretizada52

. Isso representava o poder das elites locais de Ceará-

Mirim em suas reivindicações e dos parlamentares que almejaram a construção da dita

estrada. Mas, ainda faltava a estrada que ligaria o litoral ao sertão, área afetada pelo

fenômeno da seca. A estrada para os sertões do Rio Grande do Norte seria planejada

pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande, entretanto, ainda não estava definida por

onde a mesma passaria ou partiria. Ainda seria realizado estudos comparativos para

determinar de qual porto partiria a estrada e consequentemente os investimentos

(RODRIGUES, 2001. p. 101). Para a realização da estrada para os sertões do Rio

Grande do Norte foram organizadas uma comissão de jovens recém-formados que faria

diversas e longas incursões pelos sertões, que duraria mais de 20 dias e enfrentando as

auguras da seca53

.

Os governos republicanos possuíam um fascínio pelas estradas de ferro, uma vez

que considerava a porta para o mundo civilizado. A ideia que se tinha era que os trilhos

transformariam o Brasil em país desenvolvido semelhante aos países europeus que

apresentavam sofisticação e progresso (ZORZO, 2001. p. 74). Assim, as ferrovias

chegando aos sertões significavam progresso e desenvolvimento a essas áreas, como

também, o melhoramento agrícola e o surgimento da indústria. Criaria nos habitantes

um espírito empreendedor54

.

A realização das estradas de ferro que cortariam os sertões passou por diversas

polêmicas e disputas entre os governantes natalenses e mossoroenses. Sairia vencedora

Natal com seu projeto de prolongar a estrada de ferro de Ceará-Mirim para os sertões do

Rio Grande do Norte até chegar a Caicó, considerando que a Estrada Central do Rio

Grande do Norte, teve como premissa o capital destinado às obras contra a seca. Assim,

os estudos e determinações do seu traçado se deram a partir da vinda da "Comissão de

52

“O primeiro trecho da EFCRGN, de Natal a Ceará-Mirim, é inaugurado em 13 de junho de 1906. A

linha partia do antigo Aterro do Salgado, onde foi construída uma pequena estação (conhecida por Pedra

Preta ou Estação do Padre) de onde se atravessava por meio de barcos para o cais do escritório da

EFCRGN, situado atrás do pátio Great Western. Essas instalações, bastante provisórias, não seriam

suficientes para suportar o tráfego da linha por muito tempo” (RODRIGUES, 2006, 142-143). A partir de

1909 as obras continuariam na mesma estrada. 53

Para maiores informações, ver: RODRIGUES, Wagner do Nascimento. Dos caminhos de água aos

caminhos de ferro: a construção da hegemonia de Natal através das vias de transporte (1820 - 1920).

(Dissertação de Mestrado). Natal: UFRN, 2006. p. 105 – 112. 54

Segundo Lídia Possas “essa idéia compartilhava também com a possibilidade de os trilhos energizarem

o papel das cidades grandes, alimentando, provendo as menores e assim realizando as trocas comerciais e

econômicas, intensificando a propagação de idéias e alargando progressivamente o horizonte nas

localidades mais isoladas” (POSSAS, 2001, p. 87-88) .

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Estudos e obras Contra as Secas" que primou pelo beneficiamento de Natal e pela

penetração da linha férrea até a região do Seridó norte-rio-grandense (MEDEIROS;

SILVA; SIMONINI. 2008. p. 7). Essa cartografia férrea dos sertões do Rio grande do

Norte, na primeira década do século XX, pode ser vista no mapa a seguir:

Figura 4 - Mapa das principais linhas férreas do sertão do Rio Grande do Norte.

Fonte: Mapa produzido por Wagner do Nascimento Rodrigues, fruto de sua dissertação de mestrado: Dos

caminhos de água aos caminhos de ferro: a construção da hegemonia de Natal através das vias de

transporte (1820 - 1920). p. 160.

A partir do mapa acima podemos fazer algumas considerações sobre os

caminhos férreos para os sertões do Rio Grande do Norte. A primeira dela diz respeito

ao ponto inicial de onde partiria a estrada de ferro para o interior. Aquela saiu do porto

de Natal e cortou os sertões por meio de diversos ramais que levaram o progresso ao

Estado do Rio Grande do Norte. Assim, temos o discurso do governador do Estado

Augusto Tavares de Lyra que nos informa:

A necessidade de pôr a Capital em fácil communicação com o

interior; o facto de ser o porto de Natal – cujo melhoramento

está em via de execução – acessível, em qualquer maré, aos

navios e vapores brasileiros que viajam na costa; o

inconveniente que resultaria de ser outro qualquer o ponto

inicial da estrada, por ficar esta isolada da rede ferroviária

actualmente existente; o menor custo da linha que, percorrendo

a zona flagellada, permitte chegar ao seu centro sem haver

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necessidade de atravessar a serrada Borborema, que, em vez de

ser transposta, é contornada no seu cabeço extremo (RIO

GRANDE DO NORTE, 1906, p. 08-09).

O segundo motivo diz respeito a colocar a capital do Estado em contato com o

interior e não o contato do interior com o interior, dessa forma, já justificava a razão da

linha férrea não sair de Mossoró. Argumentando que o porto de Natal era o que estava

acessível a qualquer maré e com navios que viajavam toda a costa do Brasil. Ademais,

se a ferrovia saísse de Mossoró ficaria isolada da linha de Ceará-Mirim. Assim, tornava-

se mais viável e menos dispendiosa a linha ferroviária sair de Natal para os sertões

centrais do Rio Grande do Norte.

O caminho férreo estabelecido primava pelas interligações das zonas de

produção agrícola do Rio Grande do Norte, como também, de interligar o Rio Grande

do Norte a outros Estados, tais como: Ceará e Paraíba por meio da construção de outros

ramais. Fato é que percebemos pelo mapa a construção da linha ferroviária até os

sertões de Lajes, como podemos averiguar na descrição de José de Azevêdo Dantas

sobre a dita construção:

Outra obra de grande realce é o viaducto cujos pilares medem

cerca de 40 metros de elevação, sendo que alguns não foram

concluidos. Teriamos percorrido ao todo uns quarenta

kilometros. Depois de confrontarmos com essa collosal obra

d´arte constituida de quatro grandes pilares e dos encontros de

iguaes dimensões, deixamos o latude da linha, proseguindo

então pela estrada do pedestre iamos cruzando aqui e acola com

o leito da estradas, quase todo em conclusão: os cortes, aterros,

pontes, pontilhoes e boeiros, destacando-se [ilegível] ellas

algumas pontes de maior vulto como a de "Caibros" e outras

mais, pontilhões de 20 a 30 metros, etc.

[...]

A topographia do terreno até galgar os ultimos divisores de

agua é bastante accidentado tendo a impresa constructora

empregado os maiores sacrificios para montar a linha, quase

toda concluida, quanto ao movimento de terraplanagem e obras

d´arte (DANTAS. Impressões da Central do Rio Grande do

Norte - Trecho entre Lages e a serra de Sant´Anna - O aspecto

da construcção - O complete Abandono dos serviços - As

populações privadas desse melhoramento. Jornal O Momento.

1924. p. 26).

Page 68: OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE ... · OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE MODERNIDADE: JOSÉ DE AZEVÊDO DANTAS (1910/1920). Trabalho de Conclusão

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Pelo trecho acima verificamos que as obras estavam quase concluídas,

simbolizava mais uma realização do governo republicano por meio de seu ideal

progressista e civilizador. Essa estrada de ferro possuía uma imagem desenvolvimentista

que era vista como a promessa de concentrar as mercadorias e distribuir os produtos

provenientes do sertão. Assim, a Ferrovia Central do Rio Grande foi gestada com um

papel econômico de interligar as zonas produtivas do sertão ao litoral.

Ainda seguindo as elucubrações feitas no mapa das linhas férreas podemos

verificar que os trechos das obras da Ferrovia Central do Rio Grande esbarraram no

município de Lajes, dado as dificuldades financeiras enfrentadas pelo governador do

Estado. Levando a empresa a uma situação financeira delicada dada as mudanças de

trajetos. O Ministro da Viação e Obras Públicas J. Pires relata os motivos da rescisão do

contrato:

As difficuldades surgidas quanto á execução do contracto

firmado pela Companhia de Viação e Construcções para

arrendamento e construcção da Estrada de Ferro Central do Rio

Grande do Norte, provenientes, umas dos litigios levantados a

proposito dos proprios trabalhos da construcção, outras de

natureza do traçado e custo do prolongamente da linha, além de

Lages, fizeram com que, por vezes, companhia e Governo, ante

a marcha lenta daquelles trabalhos, a paralyzação dos estudos e

a necessidade da modificação das condições technicas

estabelecidas, tentassem, sem resultado, a revisão do contracto

de 18 de dezembro de 1911, actualmente em vigor. Não havendo a companhia concordado com os termos do

projecto de revisão contractual, debatido no decurso do anno

passado entre as duas partes e firmado pelo Governo, foi mister

elaborar-se um novo accordo tendo por fim a rescisão.

(Relatorio do Ministro da Viação e Obras Públicas, J. Pires do

Rio, 1920, p. 144-145).

O argumento mais contundente para a rescisão do contrato era custo

quilométrico da linha após o município de Lajes para a concretização da obra. Nesse

sentido, a estrada de ferro para os sertões do Seridó não se materializou devido aos

problemas de ordem técnica e financeira explicitadas pelos engenheiros responsáveis

pela obra, assim, a primeira década do século XX viria o fim das estradas de ferro para

o sertão. Discurso que seria retomado a partir da década de 1920 com o interesse das

elites seridoenses em levar a frente a sonhada estrada de ferro em direção aos sertões do

Seridó. Então a saída encontrada nesses primeiros anos do século XX era as estradas de

rodagens que integraria o sertão ao litoral.

Page 69: OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE ... · OS SERTÕES DO RIO GRANDE DO NORTE E O PROCESSO DE MODERNIDADE: JOSÉ DE AZEVÊDO DANTAS (1910/1920). Trabalho de Conclusão

69

2.3- As estradas de rodagem nos sertões: José de Azevêdo Dantas

No Rio Grande do Norte as primeiras décadas do século XX foram marcadas

pela consolidação do regime republicano e pelo desejo de desenvolvê-lo. Este anseio foi

contido por uma série de problema como transporte, seca, educação, higiene os quais

necessitavam ser solucionadas por meio de medidas públicas republicanas. Para tal

realização o político da região do Seridó, dos sertões, do Estado Rio Grande do Norte

Juvenal Lamartine buscava em seus discursos trazer focos de modernidade, como:

saúde, educação e estradas para o dito espaço por meio das ideais republicanas, como

também, de sua ânsia para que os sertões atingissem o desenvolvimento no dito Estado

(FARIA, 2014).

As estradas de rodagem para os sertões do Rio Grande do Norte é uma das

iniciativas do projeto modernizador de Juvenal Lamartine e passaram a ser pensadas no

momento em que as lideranças políticas locais começam a pressionar o governo do

Estado em busca de melhoramento e desenvolvimento para os sertões55

. Era preciso

estradas que ligassem o interior a capital de forma prática e dinâmica.

As primeiras décadas do período republicano foram marcadas pela preocupação

com a abertura de estradas e sobre a importância dos meios de transportes que ligassem

o sertão ao litoral56

. Era um momento no qual as estradas de automóvel eram vistas

como símbolos de progresso e civilização (SILVA, 2016. p. 43). Não apenas serviria

para o fluxo de mercadorias, mas também, para a comunicação das pessoas e as viagens

em um curto tempo se comparadas às realizadas em lombo de animais.

Pelos discursos empreendidos pelos governantes republicanos do Rio Grande do

Norte percebemos que as estradas de rodagens tinham um papel fundamental nas

localidades nas quais as estradas de ferro não haviam chegado, como era o caso dos

sertões do Seridó. Tavares de Lyra nos informa: "[...] a de aproximar as zonas de

55

As pressões dos políticos regionais não se faziam em vão, pois recorriam aos currais eleitorais do

interior para pressionar o governo do Rio Grande do Norte pelo que os tais políticos do interior

desejavam, para uma discussão mais efetiva, ver: MACÊDO, Muirakytan Kennedy de. A penúltima

versão do Seridó: espaço e história no regionalismo seridoense. 1998. Dissertação (Mestrado em

Ciências Sociais) – UFRN, Natal, 1998. 56

Manoel Dantas chama a atenção para a falta de cuidado com as estradas, por parte dos municípios,

assim era necessários que os municípios estivessem atentos aos anseios do Estado em relação às estradas

e as vias de comunicação com Natal, adotando medidas que promovessem o desenvolvimento dos meios

de transportes no Rio Grande do Norte, ver: DANTAS, Manoel. Estradas Vicinaes e comodidades de

viagem. A República, Natal, 23 Jul. 1917. p.1.

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produção agrícola e industrial dos pontos mais convenientes atravessados pelas estradas

de ferro de que devem ser tributárias; e, onde não houver estas, estabelecer

comunicações fáceis, rápidas e baratas entre os centros produtores [...]" (REPÚBLICA,

1916. p.1).

É inegável a importância das estradas de rodagens para os sertões. Elas eram um

empreendimento barato quando comparadas as estradas de ferro que cortavam o Estado

do Rio Grande do Norte. Ademais, promoviam uma efetiva comunicação e trocas

comerciais com os portos da capital. Não era de se estranhar que passassem a existir

discursos que viessem a solicitar a construção das estradas de rodagens nos sertões. José

de Azevêdo Dantas nos faz entender e pensar um pouco sobre a criação e a importância

das estradas de rodagens para os sertões do Rio Grande do Norte quando coloca:

Outra necessidade que é forçosa por em pratica, sem se fazer

esperar, é a construção das estradas de rodagem, já bem

lembradas por alguns espiritos mais cultos que sabem

comprehender esta verdade. Concorrendo muito para auxiliar o

problema da açudagem, fornecendo-lhes transporte de material

facil e barato. Segundo consta da imprensa, o Governo do Estado pretende

mandar construir estradas de penetração para o interior,

figurando em primeira logar a estrada de automoveis do Seridó,

já em parte construida, de Macahyba a Santa Cruz, continuando

o seu prolongamento desta ultima cidade até o Seridó ligando

assim a Capital do Estado ás mais importantes localidades do

centro; ou uma outra que partindo da estação de Lages siga o

mesmo destino. Para que esta ideia tenha o seu fim utilitario é preciso que o

Governo a realize por completo, sem perda de tempo, pondo em

execução todos os meios disponiveis, pois do contrario ficarão

os flagellados abandonados a mercê da sorte e o resto da

população sem meios de transporte de que tanto carece. A construção da estrada de automoveis para o Seridó, quer de

uma forma, quer de outra, prestará um grande auxilio aos

flagellados, distribuindo serviço as populações famitas de

quatro municipios que muito teem concorrido para as finanças

do Estado (DANTAS. O problema das seccas. Jornal O Raio.

1919. p. 5).

Segundo a passagem do Jornal O Raio, era salutar que José de Azevêdo Dantas

discutisse sobre a realização das estradas de rodagem para os sertões, além do mais, o

redator do dito jornal tem a consciência que os governantes do Rio Grande do Norte já

discutiam sobre a dita construção. Para José de Azevêdo, os governantes republicanos

eram vistos enquanto pessoas cultas e desenvolvimentistas. Chama a atenção para a

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importância da ligação da região central do Estado com a capital por simbolizar uma

relação de estreitamento. Mas, para tal realização era necessário que o governo se

posicionasse favorável e adotasse a ideia da construção das estradas de rodagem com

todo o seu custo, do contrário, os sertanejos continuariam em suas condições de

miseráveis e sem comunicação com a capital. A estrada ainda é vista como uma forma

de empregar a população do sertão que não possuía renda, sendo assim, seria uma

maneira dos sertanejos garantirem sua sobrevivência.

A justificativa para a construção das estradas de rodagens não viria de seu

caráter puramente social. Havia os interesses das elites locais, como era o caso de

Juvenal Lamartine, que alegava a situação econômica do Seridó com uma área bastante

dinâmica pela cultura do algodão mocó57

e que necessitava de medidas modernizadoras

que racionalizasse a produção do algodão na região, com vista a chegar ao porto de

Natal de forma mais rápida e eficiente e para isso dependia da realização de boas

estradas.

Os representantes políticos do Seridó tinham uma preocupação com os

investimentos técnicos e materiais com vista ao progresso e desenvolvimento da

cotonicultura na região. Nas primeiras décadas do século XX, região se beneficiava da

contração de investimento e da decadência da economia açucareira no litoral (SILVA,

2016. p. 48). Dessa maneira e dado o valor do algodão, nesse momento, solicitavam

maior investimento para os sertões. Nesse sentido, é possível perceber que o governo

federal tinha interesse nesse desenvolvimento dos sertões quando:

Consta que o Governo da União pretende brevemente mandar

atacar os serviços das obras contras as seccas na zona do

Nordeste, para cujo fim já auctorisou uma verba de tres mil

contos destribuindo diversos trabalhos neste Estado, um dos

mais necessitados de auxilios dessa natureza, sendo ao que nos

parece secundando pela acção do nosso Governador, o qual se

encarregará de construir estradas de rodagem de penetração

para o interior (DANTAS. O problema das seccas. Jornal O

Raio. 1919. p. 5).

A partir do excerto acima retirado do Jornal O Raio é notório que as alegações e

pedidos dos políticos e intelectuais dos sertões do Seridó haviam sido atendidos pelo

57

Para uma discussão mais sólida sobre a importância do algodão mocó no Seridó e a ação de Juvenal

Lamartine, ver: MACÊDO, Muirakytan Kennedy de. A penúltima versão do Seridó: espaço e história

no regionalismo seridoense. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – UFRN, Natal, 1998.

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governo Federal e não somente pelo governo do Estado para a realização da construção

das estradas de rodagem que ligariam o sertão ao litoral. Além de promover renda, por

meio do trabalho, aos sertanejos que seriam empregados como mão de obra nessas

construções.

As estradas de rodagem nos sertões viriam acontecer mediante as reivindicações

dos políticos regionais aliados a iniciativa privada por parte dos comerciantes ligados ao

comércio do algodão como forma de diminuir o isolamento que existia entre os sertões

e a capital. Em 1914 foi iniciada a construção da Estrada de Automóveis do Seridó na

qual o governador do Estado Joaquim Ferreira Chaves havia concedido a missão da

construção ao engenheiro José Francisco Brandão Cavalcante, na qual o governo do

Estado emprestava dinheiro no valor até 2:000$ aos investidores a título de 8% de juros

(SILVA, 2016.p. 53-54). Assim, a estrada seria realizada tanto por créditos públicos

quanto particular por meio de sociedade de acionistas.

A Estrada de Automóveis do Seridó representava uma das mais importantes

obras de mobilidade realizada nos sertões do Rio Grande do Norte, marcava a nova

política de transportes na qual promovia o progresso e livrava os sertões de seu atraso

econômico e na infraestrutura. Esse espírito prático era atributo dos novos tempos

republicanos atentos as demandas do capitalismo dinâmico e produtivo.

As estradas de rodagens eram vistas como uma obra moderna que garantia um

tráfego seguro, rápido, prático e confortável tanto de pessoas quanto de mercadorias

(SILVA, 2017. p. 198). A Estrada de Automóveis do Seridó era um meio de beneficiar

os municípios que não possuíam estradas de ferro. “E’ a via natural de comunicação por

onde se escoarão todos os produtos dos vales do Potengy e do alto Trahiry até as

fronteiras do Seridó [...]”58

. Sua função primordial, mas não exclusiva, era de ligar às

áreas mais dinâmicas economicamente do Estado a capital Natal.

O projeto republicano para os sertões predispunha a melhorar e reparar as vias

de transporte terrestres, responsáveis por interligar uma via de acesso encarregada pelo

deslocamento de pessoas e produtos de forma rápida e eficaz. José de Azevêdo nos

relata que:

Alem de Recanto, onde deixei os companheiros de viagem, fiz o

trajecto pela rodagem ultimamente construida pela Inspectoria de Obras

as Seccas, a qualificou em grande parte damnificada pelas grandes

enxuradas do ultimo inverno (DANTAS. Impressões da Central do Rio

58

ESTRADA de Automoveis do Seridó. A Republica, Natal, 11 jun. 1914.

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Grande do Norte - Trecho entre Lages e a serra de Sant´Anna - O

aspecto da construcção - O complete Abandono dos serviços - As

populações privadas desse melhoramento. Jornal O Momento. 1924. p.

26).

Pelo testículo da notícia acima é evidente a preocupação em recuperar a estrada

carroçável que havia sido danificada pela ação das chuvas. Isso não era incomum,

considerando que as estradas de terra tinham seu papel ativo na sociedade dos sertões,

sendo um meio de atender a população do interior do sertão, até que chegassem as

estradas de automóveis. Vale ressaltar que algumas vezes os trechos de terra se fizeram

necessários, nos primeiros tempos, nas estradas de automóveis ao passo que essas foram

produzindo lucros provenientes do tráfego, aquelas seriam ampliadas e modernizadas59

.

As estradas de rodagens nos parecem lucrativas, pois segundo Alberto Maranhão60

em

1916 nos apresenta:

Atualmente, um passageiro, se quiser ir de Macaíba a Santa

Cruz, levará dias de viagem, pagando 10$ de aluguel pela

montada. Se quiser ir acompanhado de um portador, para

acompanhara pequena bagagem e o farnel, pagará 20$000. Pela estrada de automóveis, ele fará essa viagem, em menos de

cinco horas, pagando 8$400 pelos 105 quilômetros se viaja em

carro de 1ª classe e 4$120, em 2ª classe. Para o transporte de mercadorias já vimos que uma carga de

algodão pagava de frete, de Santa Cruz Macaíba 7$ e 8$000.

Pela estrada de automóvel, o fardo de 75 quilos pagará 2$940,

um volume de 60 quilos pagará 2$520, um saco de cereais ou

farinha de mandioca, pagará 1$260 (A REPUBLICA, 1916).

Notamos, pela notícia acima, que as estradas de rodagens tinham como prover

sua manutenção, dadas as taxas cobradas aos viajantes a cada locomoção. As ditas

estradas eram um meio das pessoas e mercadorias viajarem gastando um menor espaço-

tempo e com uma maior comodidade. As viagens em comboios de animais levavam

dias enquanto que em automóveis duravam horas.

Em 1920, o sertão do Rio Grande do Norte presenciaria uma nova configuração

espacial por meio das estradas de rodagem nas quais havia sido plasmada em uma visão

pragmática de progresso e desenvolvimento para os sertões. Assim, o território norte-

rio-grandense passou a ser cortado por estradas de automóveis ligando o sertão à capital

59

Para uma discussão sobre a realização e melhoria das estradas no sertão do Rio Grande do Norte, ver:

PESSOAS e Coisas. A Republica, Natal, 19 jun. 1914. 60

Alberto Maranhão foi governador do Rio Grande do Norte por duas vezes (1900-1904) E (1908-1914)

e era um dos acionistas da Estrada de Automóveis do Seridó.

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Natal. No mapa a seguir é possível visualizar as duas principais estradas (em vermelho)

que cortam o Rio Grande do Norte nessa época:

Figura 5 - Mapa das estradas de rodagem e carroçáveis construídas e recuperadas

nos sertões do Rio Grande do Norte de 1919 à 1925.

Fonte: IFOCS. Estradas de rodagem e carroçáveis construídas no Nordeste brasileiros pela Inspetoria

Federal de Obras Contra as Secas durante os anos de 1919 a 1925. Rio de Janeiro, 1927.

Pelo mapa anterior percebemos que as estradas de rodagens haviam sido

completadas no ano de 1925 e que atendiam as demandas populacionais e de

mercadorias do sertão para o litoral. A primeira via parte de Natal, passa por Macaíba,

Santa Cruz, cruza a Serra do Doutor e chega a Acari e Parelhas, fazendo fronteira com a

Paraíba. A segunda rede viária parte de Assú e liga Lajes a Angico e Angicos a Assú,

com um ramal para Santana dos Matos. Essa estrada, também, interliga-se ao Seridó,

com um ramal: Lajes a Recanto e Recanto a Flores. Existe um ramal da estrada do

Seridó para Caicó e Serra Negra, fazendo divisa com a Paraíba. Ademais, José de

Azevêdo Dantas nos esclarece sobre a estrada de rodagem do Seridó, agora no

município de Acari:

Estradas de rodagem O municipio é servido pela estrada de rodagem de penetração

que liga a capital á zona do Seridó, construida pelas Obras

Contra as Seccas, no percurso de 1921 a 1923. Essa via

atravessa o municipio na direcção de nordeste a sudoeste,

entrando pelo municipio de Curraes Novos e sahindo pelo de

Jardim do Seridó, numa extensão de 30 kilometros. Tem um

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ramal ligando a cidade a povoação de Cruzeta, medindo 20

kilometros de percurso, construido tambem pela Inspectoria

Federal dos Serviços contra as Seccas. Desviando a importante

bacia do "Gargalheira", pelo lado do norte, a mesma, repartição

das Obras fez construir uma linha de contorno atravessando as

grandes encostas da cordilheira numa extensão de 18

kilometros. Em estradas de iniciativa tem um ramal de

construcção provisoria ligando a florescente povo ação de

Carnauba, exigindo se dos poderes competentes uma ampliação

remedotar para bem dos interesses da zona (DANTAS. Serviços

publicos. Jornal O Momento. 1924. p. s/n).

A partir da notícia do Jornal O Momento fica perceptível as ramificações feitas

pela Inspetoria Federal de Obras Contra Seca (IFOCS), criada no Rio Grande do Norte

com o intuito de melhorar a vida dos que viviam nessas áreas do sertão e enfrentavam o

problema da seca. Assim, o IFOCS investiu na construção das estradas de rodagem

como forma de gerar renda aos sertanejos que trabalhavam nas estradas e como forma

de modernizar o interior. Ademais, os projetos eram realizados considerando os açudes

que eram construídos pelo órgão de combate a seca.

Ainda seguindo o excerto anterior do Jornal O Momento percebemos que as

estradas de rodagem se tornavam imensamente promissoras, uma vez que verificamos o

pedido para que fosse estendido outro ramal permanente para o município de Carnaúba

tendo em vista a necessidade da população daquela região. As estradas, nesse contexto,

eram a evolução direta em termos técnicos das estradas carroçáveis ou caminhos de

gado de outrora (SILVA, 2016, p. 19) e que agora possibilitava o tráfego de caminhões

e carros.

As qualidades técnicas da Estrada de Automóveis do Seridó aliadas aos novos

meios de transporte permitiam viagens em menos tempos e com maior comodidade.

Assim, José de Azevêdo Dantas nos apresenta como passou a ser experimentado o carro

pelos sertanejos:

A Esthetica do automomovel

O automovel até bem pouco tempo tão desconhecido do sertanejo,

entrou ultimamente na vida carente como uma necessidade imperiosa

prestando as populações serviços extraordinarios e que compensam

largamento seus inconvenientes perigos. O commerciante da localidade, o agricultor da zona, o politico, o

medico, o padre, a familia etc. todos se acham ligados pelo

comprimento de seus deveres ao moderno vehiculo que em tão

commoda opportunidade nos proporciona o effeito desejado. O auto

favorece a divugação e o sonho atravez da paizagem. Ajuda a

comprehender a belleza da regiões. Fornece-nos o seu contorno geral. A

intelligencia accode ao cerebro com mais clareza. As cercanias de uma

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cidade, eu o contorno de um campo, mesmo o mais singular, tem seu

aspecto imponente atravez da corrida rapida de um carro. Um passeio

de automovel da nos a prova disso. Tudo isso vae de um lado para o prazer e para a utilidade; de outro para

o lucro, para o interasse. Sem duvida, os homens buscam na rapidez

como no alcool um esquecimento das preoccupações e uma derivante a

idea pessimista - a idea da dor. Alguem, mesmo, já ousou affirmar que para a calinar um acesso

[ilegível] resolveu fretar uma corrida em auto. De qualquer forma, o automovel torna-se util as necessidades humanas,

em suas multiplas maneiras de acção (DANTAS. A Esthetica do

automomovel. Jornal O Momento. 1924. p.54).

Pelo fragmento acima fica perceptível que o uso do veículo foi possível a partir

da construção das estradas de rodagens com seu aperfeiçoamento técnico. Tendo em

vista que antes da efetivação das estradas de rodagem os carros eram desconhecidos dos

sertanejos. Todas as pessoas desejavam experimentar, desde o agricultor simples ao

médico, os prazeres que os carros ofereciam. Indo de lugar a outro em um curto espaço

de tempo, observando a beleza da natureza ou se conduzindo as cidades para desfrutar

da modernidade. Nessa lógica, o carro foi inserido na sociedade do sertão como um

meio de sanar as necessidades humanas.

Para tal empreitada as estradas de rodagem tinham seu papel fundamental sendo

pensada e projetada com técnicas eficazes ao deslocamento dos veículos, evidenciando

em tais caminhos o diferencial da diminuição do tempo gasto, encurtava as distâncias e

ligava os espaços econômicos das áreas norte-riograndense (SILVA, 2016. p. 63). As

estradas eram projetadas para que caminhões automóveis pudessem trafegar sem

prejuízo.

O desenvolvimento técnico das estradas de rodagem em todo o Rio Grande do

Norte possibilitou o aparecimento do comércio automobilístico e de oficinas. Tal

comércio era realizado por negociantes, muitos deles agentes da Ford em Natal (SILVA,

2016. p. 64). Mas, os carros da Ford não ficaram restritos a Natal. Eles chegaram aos

sertões do Rio Grande do Norte, como bem salienta José de Azevêdo Dantas:

Os carros Ford no Sertão Hoje, qualquer viajante que atravessar o Sertão, em seus differentes

pontos depara a cada instante com os ambos que, na furia indomavel de

desbravas os invios sertões, vencem rampas alterosas, penharcos

inaccessiveis, trampõem catingas e oreiaes, galgam cadeiras

accidentados, com verdadeiro pasma e desasombros dos matutos que,

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extacticos, contemplam a sua vertiginosa carreira em cuja passagem vae

deixando um grosso rastilho de poeira. Ao longo, na estrada que desaparecce, annuncia-se o fonfonar e a

[ilegível] relance de vista já surge o vehiculo em disparado,

assemelhando-se a verdadeiros lobos dos caminhos. É o Ford! É o Ford!

É o vehiculo dos Sertões. – Pneu (DANTAS. Os carros Ford no sertão.

Jornal O Momento. 1924. p. 34).

É possível verificar a popularidade que os carros ganharam nos sertões do Rio

Grande do Norte em razão das boas obras realizadas com as estradas de rodagem. O

sertanejo ficava admirado com tamanha modernidade e sentia-se animado com os novos

contornos que o sertão estava ganhando. Torna-se perceptível que os carros a partir de

1920 ganharam os sertões e foram se expandido e se popularizando à medida que as

estradas de rodagem iam sendo ampliadas. Nesse sentido, as estradas remodelaram a

paisagem dos sertões do Rio Grande do Norte.

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Considerações Finais

O nosso estudo discutiu a política republicana adotada para a modernização dos

sertões do Rio Grande do Norte, a partir do olhar de José de Azevêdo Dantas, no

período compreendido entre 1910 à 1920, claro que em alguns momentos, tivemos que

retornar ou ir a frente no dito recorte temporal, dado ao contexto dos eventos. Fato é que

com a instalação da República no Brasil, o país passou por uma nova forma de pensar

atrelada a ideia de modernização dos espaços públicos e não somente dos ditos espaços,

mas da vida privada da população com novas formas de ver o mundo baseada na luz da

ciência e no pensamento progressista.

Percebemos que a modernidade que se instalou nos sertões foi diferente daquelas

praticadas nas grandes capitais do Brasil, nas quais o governo republicano tinha a

preocupação de uma remodelação urbanística com vista ao modelo francês da Belle

Époque, no entanto, havia um olhar modernizante para os sertões no sentido de

proporcionar instrução escolar aos homens do sertão e reconfigurar o espaço físico do

dito sertão para que a população se mantivesse em suas terras.

O sertão que nos foi apresentado e debatido é aquele suscetível aos focos de

modernização e que ansiava pelo dito progresso, nos elementos tais como: o automóvel,

a luz, a educação, as estradas. Um sertão que enfrentava os problemas de atraso na

construção de suas estradas, que clamava por alfabetização ou como nos depreende da

documentação analisada que desejava torna-se letrado e que buscava fixar no dito

espaço. O nosso sertão concretizou-se em um espaço de práticas modernizantes no qual

teve como agentes primordiais seus atores sociais, o homem do sertão que agiu em

conjunto com as técnicas modernizantes para encontrar seu desenvolvimento. O nosso

sertão se transformou em sertões dada a sua diversidade e suas formas de entender a

modernidade.

O homem do sertão em conjunto com a política de modernização instalada com

o advento da República nos trouxe novos sertões com ideias progressistas e

desenvolvimentistas inspirados no pensamento da Belle Époque que é preciso

transformar os espaços e adentrar o novo ideal de modernidade. Nesse caso, a

modernidade é empregada nos sertões é entendida como uma forma de superar as

práticas consideradas ultrapassadas que não respondiam mais aos anseios dos grupos

dirigentes politicamente do sertão, como também, uma forma de dinamizar a economia

e os aspectos sociais e culturais da dita sociedade.

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Para adentrar esse pensamento republicano nos sertões do Rio Grande do Norte

pela lente do erudito José de Azevêdo Dantas, lançamos mão da discussão por meio de

duas vertentes que foram: a educação, as estradas de ferro e rodagem, ambos esses

elementos foram os símbolos da Belle Époque nos sertões do dito Estado. Com forma

de romper com as representações do antigo regime e, no qual o sertão era tido como

atrasado e sem progresso.

Para que existisse o desenvolvimento nos sertões era preciso que os cidadãos

fossem conhecedor das letras e tivessem um pensamento crítico e progressista, para tal a

educação, nas primeiras décadas do século XX, era tida como o elemento de civilizador

das pessoas e como de expansão do pensamento moderno e republicano. Assim, cabia o

papel das escolas serem formadoras de sujeitos atuantes e ativos em sua sociedade e

localidade.

Nesse caso, e pela documentação estudada em nossa pesquisa, compreendemos

que os sertanejos possuíam um amplo interesse pela educação. E que nessas primeiras

décadas, diversas escolas ou grupos escolares foram criados no sertão do Rio Grande do

Norte, tanto pela iniciativa pública quanto particular. Essas instituições educadoras

apresentavam bons coeficientes de alunos matriculados, mas que ainda não conseguia

atender a todos os sertanejos, não por carência de vagas, mas porque aqueles não

podiam estudar pela manhã ou tarde, dados aos trabalhos que desempenhavam. A

solução encontrada para manter o homem do sertão em contato com as letras foram as

bibliotecas rurais nas quais havia empréstimos de livros.

O livro é tido como um elemento dinamizador ao passo que colocava o homem

em qualquer espaço, seja ele rural ou urbano, com o pensamento da época ou com os

últimos debates que ocorriam no mundo e no Brasil. Era a forma para que o sertanejo

dos sertões mais distante não ficasse alheio as discussões que ocorriam no mundo.

Nesse caso, o livro torna-se um elo eficiente dentro do pensamento moderno e

republicano.

A escola e o livro, assim, foram os meios para que o homem dos sertões pudesse

ampliar sua forma de ler e enxergar o mundo de forma a buscar novos conhecimentos

para aplicar ao espaço no qual morava e nesse sentido, perceber que era preciso

remodelar o espaço dos sertões com políticas que viessem a colaborar com o progresso

e desenvolvimento dessas áreas. Para tal, passaram a pedir aos governantes estradas

para ligar os sertões ao litoral e dinamizar tanto a economia quanto a vida social dos

sertanejos.

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Os governantes passaram a entender que as ferrovias seriam um meio de

desenvolver os sertões de forma dinâmica e progressista, além de interligar o interior ao

porto da capital. Além de ir ao encontro do pensamento republicano que o trabalho e a

técnica aliados contribuíram para mudanças sociais e econômicas no espaço dos sertões.

Pelas ferrovias os viajantes passariam a conhecer melhor os espaços do Rio Grande do

Norte, como também, seus produtos chegariam de modo mais rápido a Natal.

Depois de um intenso debate sobre a construção das ferrovias para o interior,

aquelas passaram a ser gestadas, no entanto, as ferrovias não conseguiram adentrar

todos os sertões do Rio Grande do Norte, ficando como nos mostra a nossa

documentação, no município de Lajes, dado a falta de verba e a inviabilidade que se

efetivou. Entretanto, os sertões não ficariam desassistidos em seus meios de transporte e

o governo implementou as estradas de rodagens como meio de sanar essa carência de

condução.

O automóvel surge nos sertões do Rio Grande do Norte como o meio de

transporte que foi o responsável pela civilidade e a vida moderna de modo a ser o

elemento que vencia as barreiras e transpunha os obstáculos encontrados entre o sertão e

o litoral. Além, de proporcionar ao sertanejo uma nova concepção de vida social e de

tempo, de forma, a fazer do homem do sertão um desbravador rápido das terras

desconhecidas e de ligar um ponto ao outro de forma dinâmica e sem perca de tempo.

As estradas figuram no espaço dos sertões como um meio de mobilidade

dinâmica que respondia aos ideais republicanos de progresso e desenvolvimento, no

qual sertão e litoral deveriam manter contato de forma rápida. As estradas, nesse caso,

contribuíram para uma nova fisionomia dos sertões norte-rio-grandense, produzindo

novas concepções sobre o mesmo. Assim, os governantes entendiam que o progresso do

sertão estava associado à ação prática de obras que promovessem o desenvolvimento do

mesmo.

Os sertões, a partir, da chegada dos engenheiros politécnicos e dos novos

conhecimentos técnico-científicos e instrumentos passaram a ter seu território

remodelado. Com também, a vida dos sertões tornou dinâmica ao passo que havia

emprego para os sertanejos nas obras de construção das estradas para o interior e

aqueles tiveram contato com novas técnicas de construção e edificação, o que

demonstra novas formas de viver e experimentar os sertões.

Ademais, pelo conjunto de fontes documentais que pesquisamos, em especial os

Jornais O Raio e O Momento redigido por José de Azevêdo Dantas elencamos como

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elementos modernizantes que configuram novos sertões do Rio Grande do Norte: a

educação e as estradas que foram responsáveis pelo progresso e desenvolvimento dos

atores sociais dos sertões nessas primeiras décadas do século XX. Contudo, deixamos

claro, que esses citados jornais são riquíssimos em informações e que cabem novas

pesquisas para esse recorte temporal, dentre as temáticas que podemos citar, enfocamos

o discurso higienista desse período, como também, o trabalho dos operários nas

construções da açudagem e das estradas nos sertões.

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