os segredos do corpo

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Ensino Mdio

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Educao Fsica

4 OS SEGREDOS DO CORPOn Mauro Jos Guasti1

Freqentemente, pensamos o corpo somente em seu aspecto individualizado, como se a sade fosse algo separado do corpo, no ? Pensar o corpo como instrumento de armao pessoal, que exibido, transformado e consumido e que no tem pudor ou inibio, pode ter impacto na vida individual como na vida social das pessoas? Nesse sentido, nos resta desvelar alguns dos segredos desse corpo, que envolve o sujeito e a sociedade. Voc seria capaz de identicar quais seriam tais segredos? Venha conosco nesta viagem, em que muitas questes sero reveladas, desde aspectos relacionados sade, bem como prticas corporais relacionadas ginstica e expresso corporal.

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Colgio Estadual Angelo Gusso. Curitiba - Pr Colgio Estadual Santa Cndida. Curitiba - Pr

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Ensino MdioAminocidos essenciais so aqueles que o organismo humano no consegue sintetizar. Assim, somente podemos adquir-los pela ingesto de alimentos, vegetais ou animais.

z Analisando o primeiro segredo: a sadeSe voc pensar o corpo de forma individualizada, torna-se necessrio lembrarmos algumas questes relacionadas alimentao, vitais para o funcionamento do nosso organismo. O equilbrio na ingesto de nutrientes garante a sade do nosso corpo. Protenas, hidratos de carbono, lipdios, vitaminas e sais minerais so os nutrientes contidos nos alimentos que consumimos diariamente. As protenas mantm a estrutura e o funcionamento dos organismos vivos, regulam a contrao muscular, a produo de anticorpos, a expanso e a contrao dos vasos sangneos para manter a presso arterial normal. Mas onde elas se originam? Ao ingerirmos alimentos ricos em protenas, estamos fornecendo aminocidos essenciais para o processo de sntese protica. Portanto, o corpo precisa que determinados alimentos sejam ingeridos para que possam ser absorvidos. Mas se ingerimos protena, por que o nosso corpo realiza sntese protica? Se voc estudou a sntese protica, j sabe que isso acontece porque as clulas humanas possuem protenas especcas diferentes daquelas fornecidas pelos seres vivos que so base da nossa alimentao, como exemplo, temos: a carne de frango, de gado, a alface, o milho. Uma vez ingerida, a protena desses seres vivos passa pelo processo de digesto. As macromolculas proticas so transformadas em molculas menores pela ao das enzimas digestivas (proteases). Alm das protenas, outros nutrientes so importantes para a manuteno da nossa sade, por exemplo: os hidratos de carbono e os lipdeos. Os hidratos de carbono, representados pelos acares, tm funo energtica. No sistema nervoso central, formado pelo encfalo e pela medula espinhal, a glicose o principal substrato energtico. A glicose estimulante de neurotransmissores e armazenada nos msculos. No momento em que o corpo precisa realizar determinado movimento, ela transformada em adenosina trifosfato (ATP) num processo conhecido como respirao celular.

As proteases so exemplos de enzimas especcas produzidas por clulas especializadas do sistema digestrio.

Neurotransmissores: participam da transmisso dos impulsos nervosos para os msculos na realizao do movimento. Para ilustrar: Nos exerccios da ginstica artstica, no qual o atleta precisa de uma exploso rpida do movimento, recomendada a ingesto da glicose.

Sistema Nervoso Central e perifrico

Nervos cranianos

Hemisfrio cerebral cerebelo

Nervos cervicais

Plexo braquial Medula espinhal

Nervos torxicos

Nervos lombares Nervos sacrais Nervo pudendo

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Educao Fsica Voc poderia pensar: mas respirao no o processo que envolve trocas gasosas? Observe que estamos falando do processo de respirao celular nos msculos que envolvem a combusto da glicose produzindo ATP. Como se trata de combusto, o oxignio inspirado est envolvido. Os lipdios, mais conhecidos como gorduras, so encontrados na maioria dos alimentos. Voc j deve ter ouvido falar que gordura faz mal sade. Mas o excesso ou a falta de qualquer nutriente prejudicial. Os lipdios so to importantes quanto as protenas e os hidratos de carbono, pois eles so constituintes essenciais da membrana celular, esto envolvidos nos processos de produo hormonal, de assimilao de protenas e vitaminas, alm de serem parte do preenchimento estrutural do corpo. As vitaminas, tambm conhecidas como nutrientes reguladores, so substncias qumicas presentes em pequenas quantidades nos alimentos e so indispensveis para o desenvolvimento do nosso corpo, participando do controle metablico da atividade biofsica cotidiana. Assim como as vitaminas, os sais minerais funcionam como co-fatores do metabolismo no organismo, sem eles as reaes metablicas cariam to lentas que no seriam efetivas. Os sais minerais desempenham funes reguladoras vitais em nosso corpo, como: manter o equilbrio de lquidos, controlar as contraes musculares, oxigenar a musculatura e regular o metabolismo energtico. O Sdio (Na+) e o Potssio (K+), por exemplo, tambm participam na conduo de impulso nervoso. Alm de tudo o que j foi citado, no podemos deixar de falar da gua, ela fundamental para o equilbrio do corpo, pois indispensvel ao metabolismo. Suas funes so: transportar as substncias e ser solvente de lquidos orgnicos. A falta de gua no corpo altera o equilbrio hidrossalnico, causando a desidratao. Alm das questes de hbitos alimentares, h ainda outras implicaes relevantes para a promoo da sade, dentre elas: (...) elaborar polticas sociais de sade, (...) comprometer-se com a reduo das desigualdades sociais, fortalecer a participao comunitria e, tambm, oferecer servios sanitrios com uma orientao que supere a Medicina curativa (ASHTON, apud DEVS; VELERT, 2005, p.348). Criar essas polticas depende s da vontade individual? Diante de todas essas questes, temos que reetir: a produo de alimentos suciente para todos? Por que algumas pessoas tm uma boa alimentao e outras tm uma alimentao to precria que causa doenas e at a morte? Alm de todas essas questes, o que voc acha de praticar as atividades na sua aula de Educao Fsica? Vamos experimentar praticar alguns exerccios ginsticos que envolvam exerccios de velocidade, resistncia, fora, equilbrio, exibilidade, agilidade, coordenao e ritmo.

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Ensino Mdio Com a prtica de exerccios, voc poder: estimular a produo de alguns aminocidos que melhoram a ao protetora do sistema imunolgico; estimular o desenvolvimento das bras musculares que compem os diversos msculos do corpo; melhorar o condicionamento fsico e a capacidade cardiorespiratria. Mas no se esquea de que o exagero e a sobrecarga na prtica desses exerccios, ao invs de benefcios, poder causar srios problemas nas articulaes, nos tendes e, principalmente, na musculatura.

Msculos Vista frontalFlexor do antebrao

Vista dorsalTemporal Extensor da mo Flexor da mo Trceps Infra espinhal Deltide Bceps Glteo Adutor longo Grande adutor Bceps femoral Semitendinoso Gastrocnmio Sleo Grcil Grande dorsal

Orbicular dos olhos Temporal Trapzio Frontal Esternoclidomastideo Trapzio Peitoral maior Serrtil anterior

Reto do abdome Oblquo externo Tensor da fscia lata

Deltide Bceps

Vasto lateral Vasto medial

Grcil Sartrio Gastrocnmio Tibial anterior

As articulaes, como os joelhos e tornozelos, so as que mais sofrem leses, provocadas por exerccios que as sobrecarregam ou pela falta de preparo dessas articulaes para absorver adequadamente os grandes impactos, tais como os grandes saltos e as mudanas bruscas de direo. Voc j viu ou ouviu reportagens que tratam de atletas de alto rendimento, aqueles prossionais do esporte que sofrem com as conseqncias da intensidade dos treinamentos fsicos? Para responder essa questo, importante realizar a atividade sugerida a seguir.

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Educao Fsica

PESQUISAFaa uma pesquisa, em jornais, em revistas, na Internet, sobre os atletas da ginstica artstica. Consulte o site http://esportes.terra.com.br/interna. Procure reportagens de atletas da ginstica que necessitaram parar as suas atividades para tratamento fsico e sioterpico. Responda s questes: Quais foram as causas, as leses ocorridas, que levaram esses atletas pararem seus treinamentos? Quantos desses atletas j tiveram leses graves que necessitaram de interveno cirrgica e de um longo perodo para reabilitao? Ser que, na busca para quebrar recordes ou superar limites, esses atletas no esto exagerando nos treinamentos, indo alm do que o corpo pode suportar? Ser que o fato de ser um atleta de alto rendimento signica ter uma boa sade?

z Analisando o segundo segredo: o ser socialO que voc acha de continuarmos nossa busca por compreender os segredos do corpo? At agora voc teve condies de perceber o quanto importante sua alimentao, certo? Mas ser que possvel falar em hbitos alimentares num pas que possui uma quantidade enorme de pessoas com uma alimentao restrita a ponto de passar fome? Importa destacar que o corpo no se restringe a fragmentos, o que signica no entend-lo somente em seus aspectos biolgicos, mas tambm considerando sua relao com o meio social, com as possibilidades de lazer, com a necessidade de trabalhar, enm, com a sociedade na qual vivemos. freqente pensarmos o corpo somente em seu aspecto individualizado, ou seja, em seus aspectos biolgicos, isso resulta no entendimento de que a sade algo intrnseco a esse corpo. Pensar no corpo de forma mais ampla pode ter impacto tanto na vida individual como na vida social das pessoas. Nas ltimas dcadas, mudanas econmicas tm afetado profundamente a compreenso de corpo e diretamente a possibilidade de conscientizao, por parte da populao, do lugar que seus corpos ocupam na sociedade. Descobrir os segredos do corpo perpassa essas questes, e aponta para o entendimento de que ele em si (...) isento de dicotomias, ou seja, ele nico e no menos importante que a mente ou o intelecto. preciso entender que um corpo inteiro, e no separado em partes (SANCHES NETO; LORENZETTO, 2005, p. 141). Sabendo que o corpo nico e indivisvel, a partir da atividade a seguir, veremos que ele poder obter diferentes formas dependendo do tratamento e dos cuidados que voc oferece a ele. Os segredos do corpo 147

Ensino Mdio

ATIVIDADECASA DE ESPELHOS O objetivo desta atividade demonstrar que as percepes sobre seu corpo so nicas, e que sua individualidade deve ser respeitada em todos os aspectos, independente da forma assumida. Organizem-se em dois grupos, dispostos um em frente ao outro. Um grupo ser os espelhos da casa de espelhos; e o outro, ser os visitantes desses. Quando voc estiver no grupo composto por espelhos, dever fazer diferentes formas que o corpo do colega pode assumir, como, por exemplo: magro, gordo, alto, baixo. Os colegas do grupo dos visitantes passaro por todos os espelhos. Logo aps, os papis sero invertidos. Organizem um debate e comentem o que foi vivido na atividade. Alm disso, discutam: o que signica respeitar a individualidade? Como transpor os limites do preconceito? Obs: Essa atividade poder ser encaminhada com msica.

Ao procurarmos compreender por que o corpo visto fora de sua totalidade, ou seja, o corpo sem alma, sem inuncias sociais ou culturais, ca evidente que tal abordagem uma constante histrica.Desde os gregos se outorga ao corpo o carter de instrumento em mos da razo. O corpo , antes de tudo, matria, distinta e oposta no-matria entendida como razo, amor, inteligncia, esprito, alma, etc. Desde Parmnides se concede no-matria um status superior, o status do ser. A matria, em troca, resulta um obstculo para a transcendncia do ser, obstculo que, sem proibio, em grande parte da viso grega, capaz de ser domesticado a tal ponto de colaborar com a razo. Este o papel que em parte se ensina na Ginstica ou arte do Gimnasts. (CARBALLO; CRESPO, 2003)

Esta viso dualista, entre esprito e matria, permaneceu nos sculos XVII e XVIII, quando o corpo passou a ser visto e entendido a partir da extenso da razo. Entretanto, continuava-se a entender o corpo como simples organismo, composto de matria. Atualmente, o debate sobre o corpo ganhou amplitude, fornecendo importantes ferramentas para compreendermos os seus segredos, de forma que ele no seja fragmentado, como ocorreu ao longo da histria.

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Estamos vivendo numa sociedade cada vez mais excludente, e isto acaba reetindo no estilo de vida que levamos. Com este modo de vida to atribulado, sobra pouco tempo para o lazer e outras atividades. Desse modo, no de se estranhar quando voc escuta os seguintes comentrios: vivemos uma vida muito corrida, no temos tempo para fazer nada. A vida repleta de obrigaes e compromissos, deixando-nos pouco tempo para valorizar coisas simples do nosso cotidiano. Com este novo estilo de vida, cresce tambm os problemas relacionados ao corpo e sade. Nesse sentido, as doenas relacionadas contemporaneidade da sociedade capitalista, como stress, depresso e tantas outras, so decorrentes do excesso de horas de trabalho, o qual se constitui como a nica alternativa de sobrevivncia das pessoas. Fazendo com que essas no tenham tempo e espao para fazer outras coisas, como o lazer. Dessa forma, como ca a sade das pessoas?

z Analisando o terceiro segredo: o corpo na histria da arteO corpo, como j anunciamos, foi objeto de preocupao ao longo da histria, diferenciando-se, em determinados momentos, de acordo com os objetivos e parmetros estabelecidos histrica e socialmente. Ser que um corpo belo signica necessariamente um corpo saudvel? A busca pelo corpo belo sinnimo de sade? Como inserir as discusses sobre a sade nesta busca? Os gregos acreditavam que os exerccios fsicos eram uma forma de expresso da imortalidade, tornando o homem um heri, um semideus (...) em pleno equilbrio e harmonia, dentro da mais perfeita compreenso do ser humano. O adestramento do corpo constitua um meio para a formao do esprito e da moral (RAMOS, 1982, p.101). A partir da citao anterior, voc pode deduzir que os exerccios fsicos constituam-se em prtica signicativa na cultura grega. Esses eram praticados pelos gregos ao longo da vida, desde a mais tenra idade at a velhice, por ambos os sexos. Por isso os gregos foram considerados modelos de beleza humana. Aristteles, escritor de mrito, assim descreve o grego: Espduas largas, coxas grossas, peito aberto e porte harmonioso, sem predominncia do abdmen, capaz de romper o equilbrio do corpo e prejudicar o desenvolvimento do esprito. (RAMOS, 1982, p.102)Para melhor compreender algumas das discusses sobre a sade, ver Folhas: Sade o que interessa? O resto no tem pressa!

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Ensino Mdio Assim, (...) na Grcia Antiga, na Antiguidade Clssica, mais ou menos no sculo V, a arte que l se fazia pretendia expressar um ideal de beleza e vida atravs de composies nas quais predominassem a simetria, o equilbrio e a proporcionalidade. (COSTA, 1999, p.25) A harmonia e o equilbrio corporal eram materializados nas esculturas, as quais procuravam retratar o corpo belo e atltico. Essas obras reetem o conceito de beleza corporal predominante naquele momento. possvel constatar essas questes nas esculturas desse perodo, por exemplo, o Discbolo, sculo V a.C., do escultor Miron, procurava retratar as formas humanas com equilbrio e perfeio nas formas corporais. As guras esculpidas pareciam reais, tamanha a busca pelo perfeito equilbrio entre expresso, proporo e movimento. Este era obtido por meio do princpio em que o apoio do peso do corpo se d numa das penas e o restante do corpo segue este mesmo alinhamento, dando a iluso de uma gura surpreendida no movimento (STRICKLAND, 2003). Os padres de beleza foram representados pelos artistas dessa poca, como Policleto (escultor grego), que criou uma representao geomtrica (cnone: teoria das propores) de equilbrio nas esttuas que deveriam ter sete vezes e meia o tamanho da cabea. Na Grcia antiga, a pessoa que tivesse conhecimento sobre a higiene e a medicina, chamado de ginasta, era o mdico desportivo que cuidava da sade e orientava a educao corporal daquele que praticava os exerccios. Ele tinha um auxiliar denominado de pedtriba, que seguia risca todas as suas orientaes e ensinava os exerccios s pessoas. Os exerccios gmnicos compreendiam as prticas feitas em estado de nudez, geralmente de carter desportivo, a m de dar ao indivduo sade, harmonia de formas, fora, resistncia e beleza. (RAMOS, 1982, p.109) Que semelhanas existem entre a forma de cultuar o corpo no perodo grego com os dias atuais? Como voc pode interpretar a busca pelo corpo belo? Espelho, vaidade, beleza, malhao, dieta, e tantas outras palavras denem a necessidade e/ou vontade de estar bem, de procurar uma pseudo-sade.

n Discbolo de Mron, c. 450 a.C., cpia romana em marmore da original de bronze do escultor de Myron, altura 155cm, Museo Nazionale Romano, Roma, Itlia.

Uma das principais esculturas gregas o Discbulo (homem arremessando disco 405 a. C.) que reete o dinamismo dos atletas nas esttuas.

No perodo clssico (segunda metade do sculo II a.C.) da histria grega, surge a esttua da mulher nua (nem sempre se teve como mulher padro aquela de corpo esguio). Antes desse perodo, as mulheres eram esculpidas vestidas.

n Vnus de Milo, c. 200 a. C. mrmore, altura 202 cm; Museu do Louvre, Paris, Frana.

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ATIVIDADEOrganize com seus colegas, uma listagem de atividades de ginsticas que podem ser realizadas de forma gratuita. Escolha, dentre essas atividades, as que mais lhes proporcionaro prazer e bem estar. Elas devem estar relacionadas com a sade coletiva. Com essas informaes, vamos trabalhar as atividades escolhidas e analisar os resultados nais, sempre levando em considerao a importncia do seu corpo. Esse trabalho dever ser realizado durante o ano todo, lembrando-se que o exerccio acontece sempre de forma agradvel e no como castigo ou obrigao.

Os cuidados com a esttica corporal so, quase sempre, veiculados pela lgica capitalista de mercado, principalmente as academias especializadas em esttica e beleza. Como voc pode fugir dessa lgica? Como cuidar do corpo sem que para isso seja necessrio pagar? A sade pode estar desligada da lgica capitalista?

Para melhor compreender a lgica capitalista de mercado, ver Folhas: O futebol para alm das quatro linhas.

CONHECEMOS NOSSO CORPO? Como podemos entend-lo sem fragment-lo? Como podemos nos colocar frente s manifestaes da cultura corporal?

Quando discutimos sobre os aspectos que envolvem nosso corpo, logo temos em mente as partes visveis que o compem: braos, pernas, cabea, entre outras. Mas seria somente isso? Somos somente um conjunto de msculos, ossos e rgos? Como cam as diferenas do corpo de uma pessoa para outra? Sabemos que somos seres nicos e indivisveis. Ento, como fazer para convivermos com essas diferenas? A sociedade nos apresenta conceitos e formas de nos comportarmos, que se adequam aos seus interesses (comrcio e beleza a servio do lucro). Quando voc dene se as pessoas esto sicamente bonitas ou no, a est implcita a idia de corpo ligado s noes de esttica e lgica de mercado que comentamos anteriormente.

Por que insistimos em fragmentar nosso corpo?

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Ensino Mdio E se voc tivesse que olhar de outra forma para o seu corpo, distante da esttica imposta, como seria? Essa nova viso de corpo estaria voltada para a auto-estima acima de tudo? Ainda considerando este novo (re)pensar corporal, importante reconhecer os prprios limites e as prprias possibilidades de praticar uma atividade fsica sem qualquer padro pr-estabelecido.

z Analisando mais um segredo: a totalidadeEm uma sociedade que se mostra altamente racional e, ainda, alicerada em certo dualismo (corpo/ mente), com predomnio das atividades mentais, intrigante a presena de um interesse por tudo que diz respeito ao corpo e por tudo que diz respeito aparncia a ser apresentada em pblico. (SILVA, 1999, p. 09).

Para melhor compreenso sobre o que signica diviso tcnica do trabalho, consulte o Folhas de histria: O mundo do trabalho contemporneo.

A que dualismo a autora se refere? Por que ainda persiste a fragmentao entre o corpo e a mente? Na sociedade capitalista, a diviso do trabalho separa as aes de planejamento ou projeto, feitos por alguns, das aes de execuo, feita por outros. Na atividade industrial, a produo passou a ser planejada por uma determinada classe social (fora mental) e executadas por outra (fora fsica), reforando assim a separao entre corpo e mente. Neste quadro de desigualdades sociais e intelectuais est a contradio da valorizao extrema do corpo e, conseqentemente, a necessidade das pessoas serem aceitas em determinados meios sociais graa sua aparncia fsica. H uma grande oferta de produtos para que o objetivo dessa aceitao seja alcanado. Voc pode observar essas questes a partir da venda de esterides e anabolizantes, de um nmero elevado de livros sobre dietas, de cirurgias plsticas estticas e eletivas (por escolha), etc. (ANZAI, 2000). Impregnado pelas relaes sociais de ordem capitalista, o corpo sofre com as modicaes relacionadas ordem de mercado. Ser que vale a pena essa busca, muitas vezes, sem medir conseqncias de ordem fsica e econmica, para se ter um corpo perfeito? Para Vaz (2003, p.67), a Indstria cultural possui importante inuncia na perspectivao de um corpo perfeito, estabelecido atravs de um padro tipicado, de acordo com a esttica corporal moldada para esta sociedade. Essa tipicao massica o corpo e o torna mercadoria a ser modicada de acordo com os interesses de mercado. A partir da perspectiva de corpo, apresentada no tempo histrico em que vivemos, importante que voc tenha conscincia de que seu corpo reexo de um conjunto de fatores biolgicos e sociais, e

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Educao Fsica que romper com a viso esttica, apresentada acima, pode passar, primeiramente, pelo reconhecimento de sua individualidade, tornando-se singular. Atravs desse reconhecimento, voc comear a ter uma imagem de seu corpo que no tenha no mercado um reexo. Para conhecer melhor o seu corpo, faremos a atividade a seguir.

ATIVIDADEEssa atividade proposta tem como objetivo principal a diferenciao entre a fantasia e a realidade em relao ao seu corpo, ou seja, como voc se v e como realmente voc . Material a ser utilizado: folhas de papel de 2m de comprimento por 1m de largura, giz-de-cera colorido. Solicita-se que cada um estude a folha a sua frente e imagine a sua imagem ali projetada. Depois de ver a sua imagem ali, o mais nitidamente possvel, solicita-se que seja desenhada a imagem da gura. Depois de desenhada a prpria imagem, utilizar um par com giz-de-cera de cor diferente e solicita-se a ele que, tendo o autor do desenho deitado sobre sua obra, passe giz-de-cera seguindo o contorno real. Ao nal, comentam-se os resultados, analisando como voc imagina seu corpo e como ele realmente. Observao: No de todo obrigatria a participao nesta atividade, at para que no haja constrangimento para alguns colegas.

Vimos que a beleza instigada pela indstria cultural uma realidade, mas no primordial para nortear a vida das pessoas. Os cuidados, em sua totalidade, devero ser sempre considerados. Saber entender e lidar com tudo isso pode contribuir para que os segredos do corpo deixem de ser mistrios inatingveis e se tornem realidade concreta.

z Referncias BibliogrcasANZAI, K. O corpo enquanto objeto de consumo. Revista Brasileira de Cincias do Espore, v.21, n. 2-3, Jan./ Maio de 2000. CARBALLO, C.; CRESPO, B. Aproximaciones al concepto de cuerpo. Florianpolis: Perspectiva, v. 21, n. 01, p.229-247, jan/jun. 2003. CARVALHO, Y. M. de; RBIO, K. (org.). Educao fsica e cincias humanas. So Paulo: Hucitec, 2001. p. 74.

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Ensino MdioCOSTA, C. Questes de arte: a natureza do belo, da percepo e do prazer esttico. So Paulo: Moderna, 1999. DEVS, J. D.; VELERT, C. P. In: GONZLEZ, Fernando J.; SENSTERSEIFER, Paulo E. Dicionrio crtico de educao fsica. Iju: Uniju, 2005. RAMOS, J. J. Os exerccios fsicos na histria e na arte: do homem primitivo aos nossos dias. So Paulo: Ibrasa, 1982. SANCHES NETO, L.; LORENZETO, L.A. Conhecimento sobre o corpo. In: SILVA, Ana M. (org.) Elementos para compreender a modernidade do corpo numa sociedade racional. Cadernos CEDES, Ano XIX, no 48, agosto/1999. STRICKLAND, C. Arte comentada: da pr-histria ao ps-moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. VAZ, A. F. Corpo, educao e indstria cultural na sociedade contempornea: notas para reexo. Pro-posies, v.14, no 2, p 62-67, maio/ago. de 2003.

z Obras ConsultadasDARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A.(orgs). Educao Fsica na escola. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, p. 141, 2005. Grande Dicionrio Larousse Cultural da Lngua Portuguesa. So Paulo: Nova Cultural,1999. REVERBEL, O. Ocina de teatro. Porto Alegre: Kuarup, 1993.

z Documentos Consultados On-linehttp//ibge.gov.br/ibgeteen/datas/sade.html. Acesso em: jan. 2006. http//ufrgs.br/psiq/breve.PDF. Acesso em: fev. 2006. http//saudeemmovimento.com.br. Acesso em fev. 2006. http://esportes.terra.com.br/interna http//greciaantiga.org/art. Acesso em: dez. 2005.

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