os quatro sistemas paradigmáticos
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OS QUATRO SISTEMAS PARADIGMÁTICOS
O PARADIGMA TECNOLÓGICO
Com o advento da era industrial, por volta de uns 300 anos atrás, surgiu
ainda incipiente o paradigma tecnológico. No século XIX, no entanto, já se
avolumavam as grandes invenções e os negócios comerciais. No início do
século XX, as organizações industriais começaram a dar mostras de
pujança em termos financeiros e de instalações físicas para atender à
produção.
Aconteceu então o grande boom tecnológico. A tecnologia teve um
crescimento exponencial nos primeiros 60 anos do século XX, em relação
aos 200 anos anteriores. Em torno de 1960, McNamara, secretário de
Defesa dos EUA, declarou que, se esse crescimento tecnológico não fosse
gerenciado, tornar-se-ia desastroso nos 50 anos seguintes. Seria necessário
um gerenciamento da tecnologia para que esta fosse desenvolvida em
proveito da humanidade e não como um fim em si mesmo. Acho que ele
estava se referindo às novas teorias gerenciais que, já então, estavam sendo
elaboradas por professores americanos.
O PARADIGMA GERENCIAL
O alerta de McNamara foi profícuo, pois iniciou uma fase febril de
processos gerenciais que poderiam otimizar o uso da tecnologia em direção
ao seu uso mais nobre – o bem da sociedade. Até então os processos
gerenciais eram quase totalmente baseados em métodos racionais e, salvo
raríssimas exceções, não abordavam a influência do aspecto humano no
processo. Entre os métodos racionais o mais conhecido foi o desenvolvido
por Kepner e Tregoe, dois professores americanos, exposto no livro O
administrador racional (The rational manager) em 1965.
Não se pode negar que os processos gerenciais nos levaram a um novo
paradigma e contribuíram para o uso adequado da tecnologia. Entre os mais
conhecidos estão: a administração por objetivos, o planejamento estratégico
e a qualidade total.
Destes, o único que considerou o fator humano, ainda que incipientemente,
foi o processo da qualidade total. Minha experiência no uso do fator
humano no planejamento estratégico de grandes empresas, a partir de 1980,
não pode ser citada como um fato novo por não ter valor estatístico. Essa
experiência se deu através da aplicação do produto que eu criei e implantei
com sucesso, a partir de 1975, a “Integração Estratégica”, que usa
fundamentos da teoria do planejamento estratégico priorizando o fator
humano. A prevalência do fator humano sobre o método, na aplicação de
um processo gerencial há cerca de 35 anos, me parece uma inovação na
área da gestão.
O PARADIGMA COMPORTAMENTAL
Apesar desses avanços as empresas ainda continuavam com problemas.
Tinham tecnologia e tinham processos gerenciais; mas faltava algo. Devido
aos constantes conflitos e aos comportamentos autoritários, as empresas
foram buscar nas universidades as pesquisas e as teorias acerca do
comportamento humano. Esses estudos datavam da segunda metade da
década de 1940 e da década de 1950, principalmente os de Elton Mayo e
Mary Follet, entre outros, que na época não tiveram eco, pois ainda não
havia ambiente para sua aplicação na prática empresarial.
Este novo paradigma resultou de estudos da área humana que não visavam
somente o lado do patrão -- o aumento da produção pelo uso da
“administração científica” -- mas algo bem mais profundo. Eles deram
início aos estudos que provaram ser a autorealização no trabalho o principal
fator para a deflagração de uma energia endógena pouco estudada na época
– a motivação.
Mesmo com a aplicação de vários processos gerenciais metodologicamente
corretos e com a disseminação das teorias comportamentais nas empresas, a
PC = PARADIGMA COMPORTAMENTAL
tecnologia tem trazido problemas gravíssimos. É certo que hoje o ser
humano tem vida mais longa, mais lazer, mais comodidade em casa e no
trabalho. Por outro lado, isso pouco representa do ponto de vista de uma
ética humanista: somente uma ínfima parte dos seres humanos em nosso
planeta goza dos benefícios da tecnologia. Egoísmo, orgulho, poder, falta
de solidariedade e outros fatores negativos da personalidade humana vêm
predominando no uso da tecnologia de forma insustentável. Como podem
dirigentes racionais, intelectualmente desenvolvidos, gastar bilhões de
dólares em armas para eliminar seus irmãos e não ter recursos financeiros
para acabar com a fome e a miséria? Que método está faltando para
gerenciar adequadamente o uso dos recursos de modo que todos os povos
da Terra possam usufruir de seus benefícios? Será possível aceitar a falta
de gerenciamento adequado na poluição dos mares e rios? Será que os
administradores intelectuais das tecnologias que poluem o ar atmosférico
não têm racionalidade suficiente para fazerem autocrítica e evitarem que
uma formidável invenção como o automóvel jogue uma substância
mortífera, o CO, para ser inalada diariamente pelo povo nas ruas?
Raciocínio idêntico poderia ser feito para os administradores da tecnologia
de ar condicionado. Por fim, mas não menos importante, eu perguntaria aos
administradores públicos e privados, com seus modernos métodos racionais
de gerenciamento, por que permitem a devastação irracional das florestas e
o uso irracional e ilimitado dos recursos naturais?
Alguns poucos lutam para que o uso da tecnologia seja reformulado para
um novo paradigma, pois do contrário o que se extinguirá não é a Terra e
sim, com toda a certeza, a Vida na Terra. Dentro dos atuais paradigmas
tecnológicos, gerenciais e dos valores comportamentais hoje praticados,
não há outro destino para nós. E um novo paradigma é imperativo.
PARADIGMA ESPIRITUAL
Precisamos de um novo paradigma focado nos valores morais e éticos.
Nosso sonho é de que todas as crianças sejam ensinadas a amar a si mesmo
e a amar o próximo, a amar a natureza (que elas são parte), a desenvolver o
caráter e aprender a fazer o bem. Somente através do desenvolvimento dos
valores fundamentais terá o ser humano condições de, transformando-se,
eliminar o seu desequilíbrio interior e as maléficas consequências que este
acarreta para o futuro da humanidade.
A boa notícia é que já fui chamado para fazer
palestra sobre “Os benefícios da espiritualidade na empresa”. Alem disso,
já existe um bom número de livros sobre espiritualidade nos negócios
(vamos torcer para que cheguem aos sofás dos dirigentes).
A evolução é inexorável!
José Affonso
PC = PARADIGMA COMPORTAMENTAL