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04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião: D. José Cordeiro22 - Semana de.. João Aguiar Campos24 - Dossier 25 de Abril, hoje26 - Entrevista Alfredo Teixeira

52 - Multimédia54 - Estante56 - Concílio Vaticano II58 - Agenda60 - Por estes dias62 - Programação Religiosa63 - Minuto Positivo64 - Liturgia66 - DNPJ68 - Jubileu da Misericórdia70 - Fundação AIS72 - LusoFonias

Foto da capa: fatima.ptFoto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Esperança elágrimas emLesbos [ver+]

Açores esperamvisita do Papa[ver+]

25 de Abril:mudança religiosae social[ver+]

D. José Cordeiro | João AguiarCampos | Paulo Rocha| Manuel

Barbosa | Paulo Aido | Tony Neves |Fernando Cassola Marques

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Os papéis de abril

Paulo Rocha Agência ECCLESIA

A maturidade da democracia corresponde comfrequência ao crescimento das fragilidades dosistema de governação que melhres garantiasoferece à igualdade e à justiça entre os povos.De facto, permanecem ao mesmo tempo namemória pessoal e coletiva vários casos deinjustiça, de subjugação, de corrupção. O último,à escala global, chegou com a divulgação dos“papéis do Panamá” e, como este, muitos outrosemergem no sistema político, económico, judicial,religioso, social...Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se ao caso“Panama Papers” como uma “fragilidade dasdemocracias” e uma “má notícia para quemdefende a liberdade”. Casualmente, aconsideração do presidente da RepúblicaPortuguesa, em 2016, surgiu no âmbito de umavisita ao Comando Conjunto para as OperaçõesMilitares do Estado-Maior General das ForçasArmadas Portuguesas, em Oeiras, o ambienteque esteve na origem de uma revolução, em1974, que gerou a liberdade, hoje ameaçada porpoderes indefinidos, sem referências temporaisou geográficas e, também por isso, impunes,desligados de todas as possibilidades deregulação, ‘offshores’.Há 42 anos, murais, tarjas e bandeirashasteavam a reivindicação por “paz, pão,habitação, saúde, educação”, que SérgioGodinho imortalizou, e não calavam o “pecadoorganizado” de um tempo que gerou “povosdestroçados”. Sentimentos e expressões queSophia de Mello Breyner Andresen condensou na“Cantata da Paz”, sendo a voz dos muitos quecom ela afirmavam, sem receio, “vemos, ouvimose lemos / Não podemos ignorar”.

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O teor destas mensagens é umamarca comum de todas as que seescreveram nos “papéis de abril”,tanto as que se veem hoje nasimagens que documentam anos deresistência, como nasmanifestações pela conquista dosdireitos individuais e sociais que seseguiram. Quatro décadas depois,esses “papéis” e as mensagens queprovocaram a mobilização de umpovo não podem cair na fragilidade,não se podem transformar em “mánotícia” provocada por desvios quea liberdade pode gerar, nosdiferentes setores da sociedade.Os “papeis do Panamá” ou de outroqualquer local ‘offshore’ não podemsubstituir os “papéis de abril”.

E esse tem de ser um compromissode todos, cidadãos e instituições,sobretudo as que procuram garantirvida digna para todas as pessoas.Para a Igreja Católica, a frontalidadedessa atitude, de quem rejeita todasas formas de corrupção paragarantir vida dignidade para todasas pessoas e o bem comum para ascomunidades, é um programa paratodos os dias, potenciado peloexemplo de um Papa que cultiva aliberdade de todas as pessoas edefende os seus direitos. Nestecaso, mais pelos gestos do que pormensagens em “papéis”.Estará nesta estratégia, nos gestose não tanto nos decretos, o combateà fragilidade das democracias?

Fotografia: A. Alves da Costa - Manifestação contra a lei das ocupações,maio de 1975

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No Equador a esperança alimenta a busca por sobreviventesdo terramoto

mais grave das últimas décadas - Jose Jacome @ EPA

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- “Chamar interrupção voluntária da gravidezao aborto, morte digna à eutanásia,maternidade de substituição às barrigas dealuguer, direitos humanos a ações quedesrespeitam a vida humana; e género ao quedantes era sexo feminino e sexo masculino (…)assim, branqueando a realidade, vamosaliviando as nossas consciências”, RaquelAbecasis, Rádio Renascença, 21.04.16 - “ [Até 2020] não há cortes salariais, não háaumento de impostos diretos sobre osrendimentos do trabalho e das empresas, nãohá aumentos do IVA e não há cortes depensões”, Mário Centeno, ministro dasFinanças, 21.04.16 - “Vou lutar em todas as trincheiras contra estegolpe. O que está em questão não é apenas omeu mandato mas a democracia, portanto avida dos cidadãos comuns”, Dilma Roussef,presidente do Brasil, UOL, 20.04.16 - “A tragédia da migração e deslocamentoforçados afeta milhões de pessoas e é,fundamentalmente, uma crise da humanidade,clamando por uma resposta feita desolidariedade, compaixão, generosidade e umcompromisso económico imediato e prático”,Declaração conjunta do Papa Francisco, dopatriarca ecuménico Bartolomeu I e doarcebispo de Atenas, durante visita à Ilha deLesbos, Rádio Vaticano, 15.04.16

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Açores esperam visita do Papa

O presidente do Governo Regionaldos Açores, Vasco Cordeiro,convidou o Papa a visitar oarquipélago em 2017, durante umencontro que decorreu na Praça deSão Pedro, no final da audiênciapública semanal. “Em representaçãoda Região Autónoma do Açores e dopovo açoriano tive a oportunidadede saudar sua

santidade o Papa e de, além de terdeixado um convite formal porescrito, o convidar tambémverbalmente para visitar as ilhas dosAçores”, referiu Vasco Cordeiro, emdeclarações divulgadas pelaPresidência do Governo Regional eenviadas à Agência ECCLESIA,após o encontro no Vaticano.

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O responsável político deu conta aFrancisco de "quãoimportante" seria a sua visita para a“esmagadora maioria” do povoaçoriano. Vasco Cordeiro assinalouainda que este foi um momento“bastante marcante” do ponto devista pessoal.O presidente do Governo Regionaldos Açores ofereceu ao Papa umacoroa do Espírito Santo, “um dossímbolos maiores da religiosidadedo povo açoriano, um dos símbolossob o qual se unem as nove ilhas,se une a diáspora”. Um gesto quequis deixar “bem presente” aproximidade do povo dos Açores aoPapa Francisco.Vasco Cordeiro diz esperar “commuita esperança” que seja possívela concretização da visita do Papaem 2017. “Não tenho dúvidas quetal

seria motivo de grande satisfação,de grande alegria para o povo dosAçores”, concluiu.A visita aos Açores aconteceriaaquando da deslocação do Papaargentino a Portugal, para ascelebrações do centenário dasaparições de Fátima, em maio de2017.O portal da Diocese de Angra,'Igreja Açores', recorda que oconvite do presidente do GovernoRegional dos Açores se junta ao quefoi feito há um ano pelo então bispode Angra, D. António de SousaBraga, que apresentou ao Papa asilhas açorianas como "aultraperiferia da Europa”.O único Papa a visitar os Açores atéhoje foi São João Paulo II, em maiode 1991, com passagens pelas ilhasda Terceira e de São Miguel.

O bispo de Angra, nos Açores, diz que será “uma grande honra” recebero Papa no arquipélago. Em declarações ao portal informativo “IgrejaAçores”, D. João Lavrador realça que, a concretizar-se, a vinda do Papaargentino será uma ocasião de festa para todos os portugueses, emparticular para as comunidades açorianas, e uma ocasião para construir“uma nova esperança”.O prelado destaca o “carisma de Francisco, que gera carinho em todasas pessoas”, crentes ou não crentes, e o seu empenho pelo bem-comum,sobretudo pelas pessoas mais carenciadas, pelas “periferias”.

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Fim do Sínodoem Portalegre-Castelo BrancoO bispo de Portalegre-CasteloBranco faz um balanço positivo doSínodo que decorreu na diocesenos últimos sete anos, pela formacomo envolveu as comunidades emostrou uma Igreja Católicaempenhada nos seus problemas.Em entrevista à Agência ECCLESIA,D. Antonino Dias disse que “ariqueza do Sínodo” consistiusobretudo na oportunidade daspessoas “sentirem-se pedras vivasna construção da Igreja diocesana”e vai permitir “ousar uma pastoralmais persistente e com maisqualidade”.“Há que mudar algumas estruturas emudar aquilo que custa mais amudar, que é a mentalidade, aquiloque é tradicional, que sempre sefez”, apontou o prelado, destacando“o papel” que os leigos já assumemhoje na diocese e que é preciso“reforçar”.Atualmente, em várias paróquias,devido à escassez de sacerdotes,não há missa ao domingo mas sim“celebração da palavra presididapor leigos”. Na diocese existemtambém “leigos mandatados paraorientar funerais” e mesmo “aadministração das paróquias estátoda entregue a leigos, embora emcomunhão com os párocos”.

“Insistimos para que isso aconteçacada vez mais, de uma forma maisresponsável. Os leigos não podemser só destinatários daevangelização (…) é importante quedescubram cada vez mais a suavocação ao apostolado, a suamissão como batizados, comomembros da Igreja”, frisou D.Antonino Dias.A juventude também é umapreocupação para a Igreja Católicalocal, uma vez que, de acordo com obispo, “uma parte” dos jovens“fazem o crisma e abandonam umbocadinho” a prática cristã. Oespaço entre o crisma e apreparação do matrimónio, porexemplo, tem sido um espaço difícilde preencher e “será uma apostacom certeza”, no futuro.

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CNJP condena imoral fuga aosimpostosA Comissão Nacional Justiça e Paz(CNJP), organismo de leigos daIgreja Católica em Portugal,manifestou a sua “estupefação”perante o teor das notícias sobre oschamados ‘Panama Papers’, querevelam uma “imoral” fuga aosimpostos. “Sabíamos que asoffshores iam fazendo o seutrabalho de ajuda ao crescimentodas grandes fortunas graças a umaimoral fuga aos impostosinternacionalmente legalizada. Ainvestigação jornalística dosPanama Papers fez emergir averdadeira dimensão daquilo que jáconhecíamos”, refere uma nota daCNJP, enviada à AgênciaECCLESIA.Em causa está a investigaçãorealizada por uma centena dejornais em todo o mundo sobre 11,5milhões de documentos, a qualrevelou bens em paraísos fiscais deresponsáveis políticos oupersonalidades públicas.A CNJP alerta para a possibilidadede branquear negócios ilícitos, com“pequenos e grandes desvios defundos e fuga aos impostos”.Segundo os membros do organismolaical ligado à ConferênciaEpiscopal Portuguesa, a corrupçãoatinge diferentes instituições,inclusive as que têm por missão ocontrolo da legalidade.“Não queremos, porém, deixar

de acreditar na Justiça. Fazemos,por isso, um apelo veemente aoscristãos, mas também à sociedadecivil, aos governos nacionais e aosorganismos internacionais, para quese eliminem estas e outrasinjustiças”, pode ler-se.A CNJP sustenta que este conjuntode “esquemas” permite que “unspoucos enriqueçam mais”, enquantooutros não têm o “mínimonecessário” para viver comdignidade.“Até onde deixamos ir esteescândalo? Não teremos que exigirque os governos e as instituiçõesque nos servem tomem medidasmais eficazes e menoscontemporizadoras?”, questiona aCNJP.O documento recorda que ascomissões Justiça e Paz europeiasescolheram o tema da“desigualdade crescente e atributação justa” como objeto da suaação concertada deste ano.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Apresentação pública do projeto de reabilitação e instalação do tesouro daCatedral de Portalegre

Meeting Lisboa 2016

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Francisco em Lesbosentre lágrimas e esperança

O Papa confessou que sentiu“vontade de chorar” durante a suavisita ao campo de refugiados nailha grega de Lesbos e explicou adecisão de convidar três famíliassírias para regressarem com ele aoVaticano. “Depois daquilo que vi,daquilo que vistes, naquele campode refugiados, dava vontade dechorar”, disse aos jornalistas, emconferência de imprensa durante ovoo de regresso a Roma.Francisco mostrou três desenhos

que crianças refugiadas lhe tinhamoferecido, explicando que osmeninos e meninas apenas querem“paz”.O Papa visitou este sábado a ilha deLesbos, tendo conversado emprivado com o primeiro-ministrogrego, Alexis Tsipras, antes devisitar um campo de refugiados ehomenagear os migrantes quemorreram no mar, acompanhadopelo patriarca ortodoxo deConstantinopla, Bartolomeu, e peloarcebispo ortodoxo de Atenas,Jerónimo II, com quem assinou

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uma declaração conjunta.Simbolicamente, Francisco decidiulevar para o Vaticano um grupo de12 refugiados, incluindo seismenores, que estavam na ilha. “OPapa quis dar um sinal deacolhimento aos refugiados,levando a Roma no seu próprioavião três famílias de refugiadossírios, 12 pessoas, das quais seismenores”, revelou o porta-voz doVaticano, padre Federico Lombardi,em comunicado.A nota oficial precisa que se trata depessoas que estavam no centro deacolhimento de Lesbos antes doacordo entre a União Europeia e aTurquia. O acordo que entrou em

vigor a 4 de abril prevê que todos osmigrantes irregulares oriundos aTurquia e que entrem nas ilhasgregas sejam devolvidos a territórioturco.As três famílias que partiram com oPapa são compostas pormuçulmanos: duas são de Damascoe a outra de Deir Azzor, zonaocupado pelo autoproclamado‘Estado Islâmico’. Segundo oVaticano, as suas casas “forambombardeadas” durante o conflitona Síria.Francisco disse depois no Vaticanoque viu “muita dor” na sua visita àilha grega de Lesbos e recordou emespecial a história de martírio deuma jovem morta por terroristas,porque “não quis negar Cristo”.

“Reunimo-nos na ilha grega de Lesbos para manifestar a nossa profundapreocupação pela situação trágica de numerosos refugiados, migrantes erequerentes asilo que têm chegado à Europa fugindo de situações deconflito e, em muitos casos, ameaças diárias à sua sobrevivência”Declaração conjunta do Papa Francisco, do patriarca Bartolomeu deConstantinopla e do arcebispo Jerónimo II, de Atenas

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Solidariedade para a Ucrânia O Papa renovou hoje no Vaticanono seu apelo à generosidade doscatólicos na coleta especial emfavor da população da Ucrânia quedecidiu promover a 24 de abril, emtodas as igrejas católicas daEuropa. “A população da Ucrâniasofre há muito tempo com asconsequências de um conflitoarmado, esquecido por muitos”,alertou, durante a audiência públicasemanal que decorreu na Praça deSão Pedro.Francisco tinha anunciado no últimodia 3 a sua intenção de promoveruma recolha de fundos para asvítimas do conflito que se arrastadesde novembro de 2014, emparticular no leste da Ucrânia,colocando em confronto gruposseparatistas pró-russos e as forçasde Kiev pelo controlo de território.“Como sabeis, convidei a Igreja naEuropa a apoiar a iniciativa quelancei para ir ao encontro destatragédia humana. Agradeço desdejá aos que vão contribuirgenerosamente nesta iniciativa, quevai ter lugar no próximo domingo, 24de abril”, disse o Papa.Francisco saudou ainda um grupode sobreviventes da catástrofe daCentral nuclear de Chernobil, vindosda

Ucrânia e da Bielorrússia, os doispaíses mais atingidos pela tragédiade 26 de abril de 1986.Em entrevista à Agência ECCLESIA,o coordenador da CapelaniaNacional dos Imigrantes Ucranianosde Rito Bizantino destaca um gestoque mostra que os católicosportugueses e a Igreja em geral“não esquecem os seus irmãos”. “Oapoio material faz muita falta, mastenho a certeza que este gesto farátambém com que o povo ucranianonão se sinta só no meio destaguerra, e saiba que na Europaainda existem pessoas, cristãosverdadeiros, que não estãofechados ao sofrimento e àsnecessidades dos outros”, realça opadre Ivan Hudz.

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Papa pede perdão pela indiferençaface aos refugiadosO Papa Francisco pediu perdão aosrefugiados pela indiferença e faltade acolhimento que encontramdepois de atravessarem o mar parachegar à Europa. “Perdoai areclusão e a indiferença das nossassociedades que temem a mudançade vida e de mentalidade que avossa presença pede”, declarou,numa videomensagem pelos 35anos de fundação do Centro Astalli,a sede italiana do Serviço dosJesuítas aos Refugiados (JRS).A intervenção foi divulgada emRoma, durante a apresentação doRelatório Anual da instituição.Segundo o Papa, é preciso vercomo “irmão” quem tem de fugir dasua terra “por causa da opressão,da guerra, de uma naturezadesfigurada pela poluição e peladesertificação, ou da injustadistribuição dos recursos doplaneta”.“Cada um de vós, refugiados quebateis à nossa porta, tem o rosto deDeus, é a carne de Cristo. A vossaexperiência de dor e de esperançarecorda-nos que somos todosestrangeiros e peregrinos”,assinalou.Francisco contestou a visão dosmigrantes e refugiados como “umpeso”, pedindo antes que sejamentendidos como um “dom” e como

uma “ponte que une povosdistantes”, promovendo o encontroentre culturas e religiões.A intervenção deixou uma palavrade estímulo a todos os quetrabalham no Centro Astalli,“exemplo concreto e diário deacolhimento”. “Continuem acaminhar com coragem ao lado dosmigrantes: eles conhecem oscaminhos que levam à paz porqueconhecem o odor acre da guerra”,concluiu o Papa.A agência de refugiados das NaçõesUnidas confirmou esta quarta-feiraque pelo menos 500 migrantesforam dados como“presumivelmente mortos” no marMediterrâneo este sábado, nasequência do naufrágio de um barcoque havia partido da Líbia paratentar chegar a Itália.O número de mortos em 2016 sobeassim para os 1561.

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Responsável do Vaticano alerta para «martírio» do Mediterrâneo

Visita do Papa a Lesbos

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A Liturgia é mistagogia

D. José Cordeiro Bispo de Bragança Miranda

A Liturgia é a grande porta para o Mistério. Apastoral mistagógica dos sacramentos, na qualgravita a Liturgia, é hoje nitidamente umapastoral missionária. A Igreja ‘em saída’, comonos interpela o Papa Francisco na EvangeliiGaudium, quer dizer que não podemos estar àespera, mas tomar a iniciativa (primeirar),envolver-se e acompanhar a humanidade e darfrutos abundantes de misericórdia.A arte mistagógica é um desafiante caminho: «Aatenção mistagógica poderia revitalizar aLiturgia, para se abrir à graça e à verdadeiraexperiência de Deus. Para tal, é necessário“transformar em vida os gestos da Liturgia”, paraque não exista separação entre Liturgia,Caridade e Profecia. O essencial da Liturgiacristã está fora da Liturgia» (Boselli). Ver umacoisa e acreditar noutra é a dinâmicasacramental da fé da Igreja.Com alegre e gratíssima surpresa recebemos elemos a terceira carta que a Congregação paraos Institutos de Vida Consagrada e asSociedades de Vida Apostólica preparou nocontexto do Ano da Vida Consagrada, sob otítulo: Contemplai. «Para ti, que o meu coraçãoama» (Ct 1,7). Aos consagrados e àsconsagradas sobre os sinais da Beleza. Estebelo documento, sob o fio condutor do livro doCântico dos Cânticos, convida-nos a uma maiorabertura sobre o mistério de Deus, fundamentode toda a nossa vida, fala-se claramente dapedagogia mistagógica e afirma: «a próprialiturgia é mistagogia – enquanto comunicaçãoatravés de palavras, ações, sinais, símbolos dematriz

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bíblica – que introduz na fruiçãovital do mysterium» (n. 47). E aindaacerca da comunicação mistagógicacomo ação eminentementecristológica, sublinha: «não háliturgia cristã autêntica semmistagogia» (n. 48).A família é o primeiro lugar ondeaprendemos a liturgia, isto é, afamília é o lugar onde fazemos aexperiência dos valores humanosque estão presentes nos sinais enas ações litúrgicas, como porexemplo: a escuta, o silêncio, apartilha, o perdão, o agradecimento.No encontro com os seus Párocosda Diocese de Roma em 2015, oPapa Francisco advertiu: «Celebraré entrar e fazer entrar no mistério,é simples

mas é assim, se eu forexcessivamente rígido, não façoentrar no mistério… e se for um‘showman’, o protagonista dacelebração, não faço entrar nomistério, temos assim os doisextremos». Um Rabino do séc. IVrezava: «Nós Te damos graças porsermos capazes de Te dar graças».Por isso mesmo a oração, acatequese, a caridade, são oslugares da alegria do encontro comJesus Cristo. A liturgia «é acatequese universal do Povo deDeus. (…), toda a liturgia é, emcerto sentido, catequese»(Conferência EpiscopalPortuguesa, Carta pastoral 1984). Odinamismo divino-humano caraterizaa Liturgia, festejando a vidaquotidiana.

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João Aguiar Campos SecretariadoNacional das Comunicações Sociais

A pensar na Primavera e nos cuidados que estemundo nos merece. A pensar no sonho de Deusa passear, no paraíso…

Canção da terraOiço passos de Deus neste jardime pedaços de conversas nas sombras.As aves cantam salmos de luz,as raízes exploram lugares profundose o homem olha em círculocomo criança num parque. «Dominai a terra» -- assim reza o decretoque o nomeia feitor.(Se sonhar ser dono,murcharão de sede os rios,fechará os olhos o sole, nos jardins, calar-se-áo suave vagido dos botões a abrir…)

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Apetece-me passear olhos descalçospor montes e valese sentar sonhos num ramo dançante.Apetece-me falar com elefantes e formigas,rir-me dos uivos vadiosescondidos na noitee dançar com as borboletaspor entre as searas… E também ser rioou cântaro de algodão cinzento e negroa atravessar o céu nas mãos do vento…Depois, ali em cima, num recanto,tecer um fio de água e estendê-lo,atando a outra ponta no mar!...

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Abril em mudançaO 25 de Abril também muda. 42 anos depois da revolução,

o teólogo e antropólogo Alfredo Teixeira ajuda a entender o atualcontexto de mudança religiosa, destradicionalização e

individualização, com os seus impactos na Igreja e na sociedade.O Semanário ECCLESIA traz-lhe ainda o testemunho e reflexão

do jornalista católico Jorge Wemans, que esteve preso durantea ditadura, e de Manuel Braga da Cruz, investigador e antigo reitorda Universidade Católica Portuguesa (UCP). O dossier evoca ainda

outros pensamentos e tomadas de posição que ajudama compreender o posicionamento dos católicos

portugueses face ao que aconteceu em 1974.

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Abril e a experiênciareligiosaA experiência religiosa é um fator central em todo o processo de abril de1974 e o teólogo e antropólogo Alfredo Teixeira ajuda a avaliar o impacto eas consequências que a conquista da liberdade teve para a experiênciacrente em Portugal, na sociedade e na própria Igreja. Transformações queainda estão a decorrer em pleno século XXI e que o coordenador-executivodo Centro de Estudos de Religiões e Culturas, da Universidade CatólicaPortuguesa, ajuda a compreender.

Entrevista realizada pelo jornalista Paulo Rocha Agência Ecclesia (AE) – É possívelfalar em transformação imediata naexperiência religiosa em Portugalapós a revolução de Abril?Alfredo Teixeira (AT) – Penso quedevíamos falar de umatransformação que se situa numarco histórico um pouco mais amplo.De facto, uma experiência como arevolução de Abril, com asconsequências que teve quanto àliberdade política, quanto àsliberdades individuais, não podiadeixar de ter influência no camporeligioso. E aí, penso que devemosdiferenciar dois universos deimpacto.Um impacto diz respeito à identidadecatólica, na sociedade portuguesa:nós sabemos que uma parte dodiscurso do Estado Novo passou

por essa identificação - portuguêslogo católico. Isso quer dizer que, dealguma maneira, essa identidade foium substrato fundamental para aconstrução de uma certa ideia denação construída no Estado Novo.De alguma forma, sob o ponto devista simbólico, o Portugal-catolicismo não podia deixar de serafetado, mas diria que isso passamuito mais pela vida das pessoas,pelo seu quotidiano, do quepropriamente por problemasinstitucionais.De uma forma geral, a IgrejaCatólica teve durante o período darevolução um lugar que não foi o dehostilizar as transformações, mas dealguma forma de se ressituar noquadro dessas transformações.

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AE – Mais do que hostilizar, atéparticipou em muitastransformações…AT – Exatamente, temos de pensarque mesmo antes da revoluçãotambém havia um espaço deresistência católica. Sob esse pontode vista, temos de olhar para essemundo de uma maneira diferenciadamas, em todo o caso, há umarelação com o quotidiano daspessoas que passa sobretudo como seu acesso a determinadasliberdades.Recordo que os católicos estavamproibidos de aceder à faculdade civildo divórcio, no caso de quem eracasado segundo os ritos católicos. Aabolição dessa disposição naConcordata foi uma das primeirasmedidas da revolução e diria queela é simbolicamente, talvez, um dosemblemas mais importantes destatransformação. Diz respeito, nofundo, à afirmação clara de umaprioridade de liberdade individualface a uma qualquer tutela moral doespaço público por parte da Igrejaou das Igrejas.Sob esse ponto de vista, essaquestão, como alias um estudo feitonão muito antes da revolução, em1973, pelo dominicano Luís deFrança, mostra

claramente a grande aspiração daspessoas, católicos ou não católicos,é o da universalização desse direito,dessa disposição legal. AE – Faltou uma afirmaçãoprogressiva da autonomia secular?AT – Mais do que autonomiasecular, falaria de uma autonomiado próprio individuo em relação àsinstituições. Ou seja, estas duasdimensões não se podem separarna minha opinião. Por um lado, essaautonomia da esfera do religioso eda esfera do secular que vai permitiraos indivíduos, independentementeda sua condição religiosa, acederaquilo que a sociedade lhe garante,aquilo que o próprio Estado lhegarante. Mas também a própriaafirmação da liberdade individual emrelação às instituições.Nós sabemos agora, sobretudodepois do que foi a transformaçãonas últimas décadas do século XX,que esse é o sentido de maiormudança na recomposição doreligioso nas nossas sociedades.Diríamos que a grande linha detransformação que podemosobservar nas sociedades europeiasmas também portuguesa, comcronologias diferentes, passou

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por esta crescente afirmação doindividuo face às instituições.Há outra zona de impacto muitoimportante que é a da afirmaçãodo pluralismo religioso. Se há umimpacto assinalável na sociedadeportuguesa do 25 de Abril elepassa essencialmente por aí. Nomodelo político anterior, mesmosendo um modelo de laicidade, emque o Estado não era confessional,por razões estratégicas - naconstrução de uma certaidentidade, de uma certa unicidadena sociedade portuguesa -, asminorias religiosas tiveram muitadificuldade em afirmar-se. Nalgunscaso, sofreram até, como o casodas Testemunhas de Jeová porcausa da sua recursa relativa aoServiço Militar e participação naguerra colonial, foram mesmoperseguidas e houve estratégiasde dissimulação na populaçãoportuguesa para evitarem essaperseguição.Não podemos dizer que o 25 deAbril tenha causado umsobressalto religioso na sociedadeportuguesa, antes de mais porqueestamos num quadro detransformações que vêm de trás,mas a afirmação do pluralismoreligioso a história da sociedadeportuguesa sofreu uma aceleraçãonotável.

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AE – Um artigo seu publicado naúltima edição da Revista Communiorefere-se à mudança religiosa,recordando um estudo de 1973onde a representatividade,nomeadamente protestante, é baixa.No entanto, existe a percentagemde 8,9 por cento de indiferentes. Aque corresponde este indicador nadécada de 70?AT – Isso quer dizer, claramente,que já estávamos numa sociedadeque tinha conhecido trajetórias desecularização, de pluralização dosmodos de identificação religiosamesmo no quadro de uma maioriahegemónica e culturalmenterelevante, obviamente, marcadapela identidade católica. Nessesentido, seria de todo um erro deobservação pensar que quandochegamos à revolução de Abriltemos ainda uma sociedadeportuguesa compactamentecatólica.

AE – O Portugal católico foi-sefragilizando?AT – A chamada crise religiosa dosanos 60, que acontece em diversospaíses, não se deixou de efetivar emPortugal, em diversos indicadoresde mudança que chamaria deprogressiva destradicionalização dareligião.Quando contactamos com uma obramuito marcante, publicada nos anos80, pelo antropólogo francês PierreChassix, que fez um grande retratoda religião em Portugal, emparticular, nos anos 60 e 70,observamos que encontramos aindao rasto de uma forte presença deuma religiosidade tradicional, a qualvê resumida na experiência daromaria. A romaria é para ele lugarsimbólico fundamental de produçãodo religioso em termos sociais nasociedade portuguesa, mas isso queele observa como ainda muitopertinente durante a primeirametade

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do século 20 está em erosão.Um pouco mais tarde, o professorJosé da Silva Lima faz um estudosobre o Alto Minho, um dosterritórios onde se vivia umcatolicismo mais tradicional, aindahoje uma das regiões do país ondeo catolicismo tem uma maiorexpressão social, e observa como apartir dos anos 60, por via quer doscircuitos migratórios, quer pelamodificação do tecido social pelaindustrialização, a urbanização, omodelo de civilização paroquial, emque a aldeia e a Igreja são a mesmacoisa, estava claramente já emtransformação.

AE – Fátima teve um papelfundamental nessa transformação?AT – Fátima é um fator decisivo. Aocontrário do que um olhar superficialdiria, Fátima não está do lado dessatradicionalidade religiosa - mesmose o fenómeno está ancorado numaexperiência fundamental no mundoreligioso, que é a experiência daperegrinação. Fátima desvincula-se,desde cedo, das práticastradicionais de peregrinação que seconsubstanciavam na romaria.A romaria era uma forma deperegrinação muito ligada às formasde vida tradicional em Portugal,sobretudo as formas camponesasde vida social.

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AE – Fátima afirma que romaria eperegrinação são claramentedistintas?AT – Diria que é a possibilidadedaquilo que se fazia na romariasubsistir agora num mundo novo,num mundo diferente. O facto deFátima se demarcar e construirnuma certa oposição a essaspráticas, é também a possibilidadede se afirmar num mundo novo.O mundo das romarias estava de

facto em erosão e, nesse sentido,Fátima não se centra tanto, namemória de um milagre fundadorcomo acontece nos santuáriostradicionais - por exemplo oSantuário de Nossa Senhora daNazaré. No caso de Fátima, vamosencontrar a centralidade de umamensagem. Isso é, claramente, umvetor de modernização do discursoreligioso, centrar a experiênciareligiosa numa mensagem deconversão que se vai

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recompondo no quadro social e atégeopolítico do mundo. Vemos comofoi adquirindo tonalidades e matizesdiferentes no quadro que foi aevolução das ideologias, dosconflitos, ao longo do século XX.Fátima aparece num lugar muitoespecial que é, no fundo, fazer otransporte daquilo que eram asvivências religiosas tradicionais nomundo português para aquilo quesão as trajetórias de modernizaçãoda sociedade portuguesa e está,claramente, no centro dessetransporte. AE – Fátima está na conquista daliberdade da experiência religiosaem Portugal, ajuda a essaconquista?AT – Fátima tem o sucesso queconhecemos, ou seja, afirmou-secom uma centralidade no país quenenhuma outra referência tem.Essencialmente tornou-se, diria, umlaboratório das recomposições doreligioso na sociedade. AE – Qual a importância que dealguma forma de algum poderregulador que Fátima tem?AT – Fátima tem algum poder

regulador, mas não sei se é essacaracterística que lhe deu acapacidade de penetração nasociedade portuguesa que ela teve.Eu acho que a característicafundamental é de Fátima estardisponível para múltiplasapropriações por parte dos crentes.E, temos um universo de relaçãocom Fátima que passa muito pelosdispositivos paroquiais, pelosmovimentos, todas as grandesestruturas que organizam a vidacatólica normalmente têm algumarelação com Fátima. Depois temosuma diversidade enorme derelações construídas desde otradicional pagador de promessasao movimento recente de gruposque fazem a peregrinação a pé noquadro de uma experiênciaespiritual, individual e grupal aomesmo tempo. São fenómenosnovos que dão conta de umaplasticidade que se adapta bastanteaquilo que são os ritmos deidentificação religiosa hoje.

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AE – A revolução de Abril foiimportante para a afirmação deFátima? Até 25 de abril de 1974Fátima estava menos evidente naexperiência religiosa em Portugal?AT – Quando lemos os críticos dacentralidade de Fátima - no taldiscurso do Estado Novo -,esperaríamos que depois de Abril ofenómeno de Fátima sofresse umaerosão considerável. Ou seja, se defacto fosse um produto de umaconstrução política que favoreceu acentralidade da identidade católicana construção da identidade dosportugueses, a passagem para umquadro de pluralismo e mais vincadoda separação entre a esferareligiosa e a esfera secular deveriater conduzido a uma certa erosãodo fenómeno de Fátima.O que observamos foi o contrário,foi uma certa expansão de umaafirmação no país e na cenainternacional, muito vincado pelarelação que obviamente João PauloII e o seu pontificado estabeleceramcom Fátima. Isso quer dizer, naminha opinião, que enquanto lugarde experiência espiritual, dereferência para longo curso da vidadas pessoas, o fenómeno de Fátimaacabou

por encontrar, numa situação deliberdade, sobretudo das liberdadesindividuais, um terreno deafirmação. AE – Mais do que a peregrinação aFátima e a experiência crente quese lá vive, a romaria possibilitavaessa aproximação entre poderes,entre o Estado e a religião nasdiferentes instancias daadministração pública?AT – Sim, porque a romariaenquanto modelo de peregrinaçãoessencialmente comunitária,evocando uma figura tutelar, umsanto ou evocação mariana tutelarde uma população, no fundo davaconta de um Portugal bastante locale regional. E, nesse sentido, acomunidade local e regional atuavana romaria com toda a suaestrutura, incluindo obviamentevários poderes.

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AE – Ainda subsiste essa marca,em muitas expressões, em muitasprocissões essencialmente?AT – Sim, essa marca subsiste masmuito transformada, sobretudo, porlógicas que são muito importantes eque se misturaram um pouco comlógicas de peregrinação - que sãológicas turísticas, dedesenvolvimento regional, umfenómeno aliás global. Hoje muitasdas deslocações das pessoas sãomultifuncionais.As pessoas deslocam-se comdiferentes objetivos que seacumulam, não se anulam. Emgrande medida,

encontramos a seguir ao 25 de abril,até no quadro de uma certareceção do Concílio Vaticano II emPortugal, algumas estratégiaspastorais que foram dedesvalorização dessas práticastradicionais. É curioso que, a dadomomento, nalguns locaisobservamos a sua remodelação,recomposição e em muitos casos denovo com a cooperação dasautoridades locais. O que se explicaagora por outra lógica que é dedesenvolvimento local e regionalque vê no património religioso umpotencial por vezes económico.

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AE –Qual foi a importância dosdinamismo do Concílio Vaticano II,nomeadamente a sua receção?AT – É preciso recordar que o termo“autonomia” é ele próprio umacategoria importante na reflexão doConcílio Vaticano II, em particular odocumento ‘Gadium et Spes’. Umdocumento onde a Igreja pensa deuma forma muito penetrante eabrangente a sua relação com omundo. O termo, a palavra“autonomia” é uma palavra-chave.Portanto, podemos dizer queusando categorias sociológicas,havia uma trajetória desecularização que era

interior ao próprio espaço católico,neste sentido de afirmação dasecularidade como um valor própriodentro do catolicismo. AE – Podemos encontrar espaçopara a afirmação que a conquista daliberdade na Igreja Católicaaconteceu no Concílio Vaticano II?AT – Sim, antes de mais pelareflexão sobre a experiênciahistórica. Por exemplo, nos textosdeste concílio encontramos muitasvezes o termo “história”, algo que éinédito nos documentos conciliares.

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AE – Falava-se em tradição e nãoem história…AT – Exatamente, a história apela auma nova consciência do lugar daIgreja como inserida também naspróprias dinâmicas detransformação. Há uma consciêncianova do lugar da Igreja e issoimplica uma valorização positiva dasdimensões de laicidade ou desecularidade do mundo. A própriavalorização do laicado na IgrejaCatólica passa por esta evidência.Nesse sentido, quando falo de umadestradicionalização do religioso emPortugal, como fenómeno socialmais amplo, podemos dizer que, nocampo das instituições católicas,naquilo que é o tecido institucionalcatólico, paróquias e outrosdinamismo eclesiais, podemos dizerque essa destradicionalização seconcretiza sobretudo num processode receção do Concílio Vaticano II. AE – A destradicionalizaçãocorresponde à individualização daexperiência crente?AT – São duas trajetórias contiguas.Ou seja, a destradicionalizaçãopassa por uma certa fragilizaçãodas dimensões comunitárias,societais, do religioso. Isso dá lugarnão necessariamente

a um desaparecimento da religiãonas sociedades mas a novas formasdo religioso. Novas formas deexpressão do religiosa que passam,agora, por trajetórias deindividualização que nãoimpossibilitam a vivência comunitáriado religioso mas que, de algumaforma, a reconfiguram.Estamos a ter, no fundo,comunidades de indivíduos,comunidades que são de encontrode trajetórias crentes. As novascomunidades precisam de ser agoracomunidade que acolhem trajetóriasde indivíduos crentes, cada umdeles com a sua história crente. Acentralidade do crente enquantoindivíduo passa a ter, neste quadrosocial, um lugar muito diferente.Por exemplo, quando observamoshoje uma paróquia e a comparamoscom aquilo que era uma paróquianos anos 50 ou 60, a quantidade decoisas que aí acontecem, deofertas, dinamismos deidentificação, de experiênciaespiritual diferenciados, só sejustifica porque a paróquia se vêagora na necessidade de oferecercoisas diferentes a pessoasdiferentes. Os próprios dinamismoscomunitários agora integram essacultura da individualização.

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AE – Que papel de moderação foiexercício da Igreja Católicainstitucionalmente ou por algum dosseus atores principais na transiçãodemocrática?AT – De uma maneira geral ,oshistoriadores reconhecem que aIgreja Católica acabou por ter umpapel muito importante naestabilização deste períodorevolucionário. Faço umaobservação macroscópica dessatransformação porque sabemos quepontualmente houve problemas,houve conflitos. Em traços geraispodemos dizer que o facto dahierarquia católica não ter tomadoum partido e se ter preocupado

sobretudo com afirmar agora oque é a identidade própria da IgrejaCatólica, num quadro social novo,onde quer continuar a ter voz, e ocaso da (Radio) Renascença pareceemblemático. O que se passou aí foio revindicar e querer fazer subsistira possibilidade de se fazer ouvir,num quadro completamente novo,em que a voz da Igreja Católica nãoé a única no espaço público, masuma entre outras. Para ser umaentre outras, ela tem o direito a teros seus meios próprios e, portanto,de alguma maneira esse episódio,esse momento histórico, acaba porsimbolicamente representar aquiloque é o novo lugar que

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a própria Igreja Católica perseguenesse momento. Tendo em conta a importância queas instituições católicas tinham nasociedade portuguesa; tendo emconta a importância cultural que asrepresentações católicas, os valorestinham na sociedade portuguesa;tendo em conta mesmo que, emtodo o caso, a Igreja Católica era ainstituição na sociedade com maiorcapacidade agregadora, o facto deter percebido que a sociedadeestava no quadro de umatransformação necessária e terdado prioridade sobretudo àprocura do seu espaço no novoquadro social, penso que acaboupor ser fator decisivo para a nossahistória contemporânea. AE – Progressivamente novo após arevolução de Abril e a conquista daliberdade foi a descentralização dareferência única que estaria naIgreja e depois passa a estar maisdisseminada. A Igreja Católica deixade ter a tutela moral na sociedadeportuguesa?AT – Isso acontece essencialmente,de facto, pela afirmação maisvincada dessa autonomia da esferasecular e da esfera religiosa mastambém, obviamente, pelaafirmação mais claro do pluralismoreligioso. É claro que a sociedadeportuguesa não apresenta, mesmoainda hoje, já em pleno

século XXI, indicadores depluralismo religioso comparáveis aoutros países. Antes de mais,porque outros países europeusfizeram há mais tempo essaexperiência de pluralização daprópria identidade cristã, a partir daReforma - temos países onde asIgrejas em termos demográficos, asIgrejas Protestantes e a IgrejaCatólica, como que se equilibram oupelo menos têm tanto uma comooutra uma forte presença nassociedade. Temos outros paísesonde, em particular a partir dosanos 60 e 70, aconteceu umamigração muçulmana que veioconstruir um Islão europeu.Em Portugal, nós continuamos a tersob o ponto de vista demográficouma representação não muito fortedessas minorias religiosas, mas oquadro político, de afirmação dessepluralismo, é diferente. Mesmotendo nós uma maioria católica, oscatólicos vivem e têm a consciênciade viver numa sociedade que nãovive já sob a tutela da IgrejaCatólica. Esse quadro político novoafeta a consciência que eles têm desi próprios nesta sociedade.Neste sentido, seria enganadorfixarmo-nos apenas namaterialidade desses números,porque apesar de serem baixos, dãoconta de um pluralismo muitogrande na consciência dosportugueses, mesmo dentro damaioria católica.

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AE – Que mais-valia oferece esteambiente à concretização daexperiência crente de acordo com areferência do cristianismo dasorigens?AT – Antes de mais é precisoconsiderar este facto: hoje nenhumasociedade é compactamente umaúnica coisa em todas as suasdimensões. O que quer dizer que,se sob o ponto de vista religioso,nós sociedade portuguesa,tivéssemos ainda uma mentalidadeavessa ao pluralismo,necessariamente essa dimensãoreligiosa da experiência dosindivíduos teria muito poucaspontes

com as outras dimensões daexperiência social.Viver a experiência católica, noquadro deste pluralismo, é umacondição essencial para afirmar aprópria identidade católica, noquadro social em que vivemos, queé de pluralismo generalizado. Aforma de alguma ideia, de algumamensagem, de alguma práticasubsistir é de poder repensar-se noquadro deste pluralismo.Por outro lado, diríamos que há umaexperiência marcante nocristianismo que faz parte do seucódigo genético, que me parecemuito bem adaptada a estacircunstância de afirmação

O anúncio aos bisposMonsenhor Vítor Feytor Pinto foi porta-voz, junto dos bisposportugueses, da revolução de 25 de abril de 1974. Eram cerca de setehoras da manhã quando telefonou desde Lisboa para Fátima, onde osbispos portugueses estavam reunidos em plenário.Em conversa com D. Júlio Tavares Rebimbas, então bispo auxiliar doPatriarcado de Lisboa, o sacerdote explicou o que estava a acontecer nacidade. A reunião da Conferência Episcopal, presidida por D. Manuel deAlmeida Trindade, bispo de Aveiro, começava às 10h00 e ficou marcadapor uma análise aos novos desenvolvimentos que chegavam da capital.A Conferência Episcopal tinha resolvido, no dia anterior, que doismembros do organismo iriam até ao Cartaxo, ao encontro de D. ManuelVieira Pinto, bispo que tinha sido expulso de Moçambique, por causasuas posições muito claras em defesa da liberdade. Apesar do clima deturbulência, a viagem foi levada em diante, com monsenhor Feytor Pintoa acompanhar D. Maurílio Gouveia, na altura auxiliar de Lisboa, e D.João Saraiva, bispo de Coimbra.

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das liberdades individuais nestassociedade em que vivemos. Se nósrepararmos bem, um dos grandescontraste que a experiência, aproposta cristã apresenta, numuniverso do século I e II em que sevai afirmar historicamente, é o deaparecer como uma religião queexige uma tomada de posição doindivíduo crente.Ao contrário de boa parte dasoutras formas de identificaçãoreligiosa, que eram formas quepassam essencialmente ou pelaidentidade do lar, da experiênciadoméstica, ou a religião da cidadeou do império, formas deidentificação religiosa quepassavam pela identificação numacoletividade, onde o individuo nãose distingue da própriacoletividade,

o que encontramos com aexperiência cristã é, claramente,algo que passa por isto: o crentetem de dizer sim, creio.Esta experiência batismal deadesão, que passa pela adesão atéa uma pessoa, Jesus Cristo,transporta para o cristianismo umaparticular compreensão do que é adignidade da existência individual eda afirmação da liberdade individualcomo lugar onde a própriaexperiência religiosa pode servalorizada. Eu diria que as IgrejasCristãs, não apenas a IgrejaCatólica, sob este ponto de vista,têm na sua história experiênciasuficientes para de uma formacriativa poderem responder a estanova situação que vivemos.

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A Liberdade vista por quem lutou porela

Foi em 1974 que o dia 25 de abrilpassou a ganhar um novo sentido,caiu a ditadura, abria-se o caminhoà democracia, à sonhadaliberdade… Jorge Wemans era umjovem de 20 anos, estudanteuniversitário, membro deassociações católicas juvenis…Recordam-se os desejos e sonhosde quem vivia num país cinzento efechado e é inevitável

perguntar “onde estava no dia 25 deabril?”A esta pergunta “tão típica” JorgeWemans embrulha os dedos eresponde de forma irónica: “estavaa dormir”. Depois desenrola todauma panóplia de acontecimentosque versam a relação com o irmãoque, em véspera de “um ponto,como se dizia”, o acordou dizendo“há uma revolução

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na rua”. Ficaram a ouvir a rádio, asnotícias eram “parcas” e eramdados os primeiros comunicados doMovimento das Forças Armadas.Ficaram calmos pois recordavamque tinham vivido o “16 de março, adesignada intentona das Caldas” ehavia a indicação de não seexporem. O resto do dia foi entrecontactos pessoais mas de formatranquila, sem passar “um diaglorioso”.A vitória trouxe o sabor da palavraliberdade, com outro sentido paraquem lutou por ela. Jorge Wemanstinha 20 anos. Estudava no InstitutoSuperior Técnico, já tinha estadopreso na “sequência do conhecidocaso da Capela do Rato”, era umjovem que procurava “ajudar aomovimento de tomada deconsciência com três eixosprincipais: a injustiça da guerracolonial, o fim da ditadura e aconsequente luta pela liberdade epelos direitos fundamentais”, explicade forma pronta à AgênciaECCLESIA.O então jovem lisboeta eraempenhado nos movimentosassociativos dos estudantes deLisboa e, como militante católico, na“juventude escolar católica e numarede de relações que algunscatólicos tinham estabelecido entresi”.

Num caminho de tomada deconsciência Jorge Wemans contaque a partir de 1972 “começou a serum risco a aceitar pensar e refletirestas temáticas” e não se penseque “dentro da Igreja havia um climade liberdade, as conversas einformação que circulavam erarelacionado com a crítica à ditadurae guerra colonial”.“Foi um processo lento mas que adeterminada altura se tornou maisfácil abordar estas questões derepressão à liberdade de formanatural. Já eramos tantos a pensarnestas coisas que o medo inicial foisendo ultrapassado pela ideia quese nos prendem, prendem a todos esomos muitos já… O crescimento foidepois exponencial”.No modo de falar, Jorge Wemansesboça pequenos sorrisos e parecerecordar cada rosto dos que, comele, se uniram contra a ditadura edo sabor que tinha essa luta que ofez passar duas semanas de janeirode 1973 detido, em isolamento, emCaxias.“Não escondo que foi um momentodifícil, não dormia tranquilamente”,desabafava, para logo a seguirexplicar que passava o tempo a“rezar bastante e a preparar-se paraesquecer o pouco que sabia”.

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Jorge Wemans explica que, se aPIDE o torturasse para denunciaralguém, ele não se queria lembrardas pessoas que conheciapertencentes aos grupos juvenis eque lhe davam informações contra aguerra colonial. O exercício deesquecer preenchia os dias paraque, se fosse apertado, “nãosabendo como iria reagir”, nãodenunciasse. Saiu da prisão deCaxias duas semanas depois eentrou numa fase em que se sentia“vigiado” - a casa dos pais tinhasido visitada pela PIDE e houvelivros confiscados. Jorge Wemansrecorda que “não podia estar commuita gente para não os incriminar"e não se sentiu livre.

“Tive imenso cuidado, houve umtempo em que estive sem participarnas reuniões e tentei-me defender…Mas pesava sobre a minha cabeça opeso de voltar a ser preso e não mesentia à vontade com algumaspessoas ao saber que podiam serconotadas a mim”.Esta fase de defesa durou cerca detrês ou quatro meses e JorgeWemans percebeu “que a PIDEtinha mais que fazer do que andaratrás de mim” e voltou ànormalidade.Uma normalidade de defesa daliberdade, encontros clandestinos esonhos de horizontes mais largos.

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A liberdade à luz dos nossos diasJorge Wemans, leigo católico quelutou contra ditadura, aponta que “aliberdade é para ser recordadatodos os dias” como umapossibilidade de um futuro emconjunto.“A liberdade de hoje é igualmenteimportante mas é mais rica do queimediatamente a seguir ao 25 abrilde 1974. É preciso recordar estapossibilidade todos os dias porque aliberdade é algo que não nos édado, é construído por todos e paraque o futuro possa ser a página embranco que escrevemos, há queestar atentos, não vá alguémescrever nessa página coisas quenão queremos”, disse à AgênciaECCLESIA.O jornalista olha para o conceito deliberdade nos dias de hoje e senteque a liberdade é defender econseguir fazer, aquilo que seconsidera mais justo. “Entendo quea liberdade é preciso ser construídae vivida

pessoal e socialmente e hoje aquantidade de expressões,encontros, iniciativas, criatividade ecriação na sociedade portuguesa étransbordante; apesar depassarmos um mau momento, osabor da liberdade e o ato deconstruir em comum o que quiseremé possível”, defendeu.Jorge Wemans compara a liberdadeà democracia, como um “projeto deinclusão de todos, que estarásempre inacabada e a inclusão detodos por fazer”.Em vésperas do dia comemorativoda liberdade em Portugal o antigomembro do movimento associativoestudantil recorda que “valeu apena” os riscos que correu pelaliberdade, a mesma que hoje dá atodos o sentimento de um “direitoseu”. Já quanto à liberdade deexpressão, uma conquista do 25 deabril de 1974,

Resistência católicaSegundo João Miguel Almeida, a revolução dos cravos veio dar corpo a“uma aspiração” de “liberdade” e a uma “esperança” de mudança queera partilhada por muitos católicos, que ao longo dos anos haviam“afrontado e resistido ao Estado Novo”. O investigador lembra aparticipação dos católicos nas várias “tentativas” que foram sendo feitaspara “derrubar o regime”, como por exemplo “na revolta da Sé (1959) eno golpe de Beja (1962)”.

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Jorge Wemans considera que está“pouco acarinhada pelosportugueses”.“Ora porque há erros demais naimprensa e esta não se saberetratar; ora os portugueses têm daliberdade de expressão umentendimento instrumental e não aconsideram como um pilar dademocracia”.O jornalista considera que “umasociedade democrática pode bemcom os erros, os problemas e asdificuldades que uma liberdadeimprensa cria”, mesmo com osabusos que lhe são próprios.“Os efeitos desses abusos sãomuito menores do que aquilo queseria a obscuridade criada porjornalistas não fazerem determinadotipo de situações, não levantaremdeterminado tipo de problemas oufazerem investigações. Sinto queem

Portugal há poucos meios, poucacoragem e pouca qualidade noexercício desta liberdade deexpressão, o público merecia maisdo que aquilo que tem”, conclui.

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Transição para a Democraciaestá por acabar

Manuel Braga da Cruz, investigadore antigo reitor da UniversidadeCatólica Portuguesa (UCP),considera que a transiçãodemocrática portuguesa iniciada no25 de Abril é “uma transiçãoinacabada”.“A nossa Constituição não é umaConstituição feita livremente pelosconstituintes, há muitos aspetos quedecorrem da naturezarevolucionária

da transição. Não creio que sepossa dizer que essesconstrangimentos sejamdemocráticos, pelo contrário”,sublinha, em entrevista à AgênciaECCLESIA.Para o especialista, é precisolembrar que uma parte daConstituição ficou definida peloacordo firmado entre militares e osprincipais partidos políticos.

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O pacto Movimento das ForçasArmadas/Partidos estabelecia quedois dos seis órgãos de soberania acriar pela futura Constituiçãoficariam nas mãos dos militares: oConselho da Revolução e aAssembleia do MFA.“O afastamento dos militares da vidapolítica só aconteceu em 1986, coma eleição do primeiro civil para aPresidência da República, MárioSoares”, realça Manuel Braga daCruz.Para o investigador, existe anecessidade de “expurgar” aConstituição Portuguesa dos“resquícios da limitação daliberdade dos constituintes” que opacto MFA/Partidos implicou.

O antigo reitor da UCP elogia, poroutro lado, o papel “decisivo” daIgreja Católica no pós-revolução,assumindo uma posição de“moderação” e de“redireccionamento democrático” datransição.“A Igreja teve um papel muitoimportante na transição democráticae depois na consolidação dademocracia”, recorda.Braga da Cruz entende que asposições dos bispos no pós-25 deAbril ajudaram a travar excessos eameaças às liberdades que teriamcolocado em risco a construção dademocracia.A convocação dos católicos para“manifestações de massa” levou

Reabilitar a políticaA Revista Internacional Católica Communio dedica o seu número maisrecente ao tema ‘Reabilitar a política’, partindo da “verificação de falta deconfiança atual” nos agentes e instituições políticas. “A falência dosquadros de organização e participação política, nas chamadasdemocracias ocidentais, encontram-se entre os tópicos mais debatidosna esfera pública, sem que, no entanto, se descubram sinais de umaverdadeira reforma dos modelos de representatividade e participaçãopolíticas”, refere a apresentação da publicação.A Revista apresenta uma leitura teológica da experiência políticasugerida por Siegfried Wiedenhofer, teólogo austríaco que escreveu‘Política e fé cristã’ “pouco antes de falecer” a 17 de agosto do anopassado.

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EuropaNo final do século XX, os bispos chamam a atenção para a viragem quese estava a operar, no sentido da democratização e da europeização dePortugal. “O 25 de abril veio pôr fim a uma colonização de séculos, nãofoi uma mudança de pequena monta, transitamos de uma preocupaçãode integração ultramarina para uma integração europeia”, refere ManuelBraga da Cruz.Os membros do episcopado católico português e o pontificado de JoãoPaulo II ajudaram a entender que a Europa não se esgotava então naentão CEE, chamando a atenção para a realidade do Leste. “A Igrejateve também um papel muito importante nessa integração europeia dePortugal”, sustenta o antigo reitor da UCP.

a uma “intensa mobilização paradefender as liberdades públicas”.O especialista recorda que já em1972, no 10.º aniversário da ‘Pacemin Terris’, a Conferência EpiscopalPortuguesa fazia a defesa da“participação e do pluralismopolítico”, numa nota pastoral.A Igreja pretendia assim uma“mudança tranquila” e uma“transição pacífica” para aDemocracia.O antigo reitor da UCP assinalatambém que os chamados três ‘D’ -descolonização, democratização edesenvolvimento - não eram

estranhos ao pensamento católico.“A Igreja tinha vindo a insistir muitonessas três direções e tomouiniciativas para as preservar,algumas delas muito incisivas”,precisa.A pluralização da opinião pública e odesenvolvimento do “individualismo”levaram a uma menor “influênciamoral” da Igreja Católica e a uma“perda da dimensão comunitária navida dos portugueses”.“Basta olhar para comportamentosque têm a ver com a família, asexualidade, o matrimónio”, realçaBraga da Cruz.

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O especialista observa que agrandes mudanças que ocorreramdentro da Igreja Católica não foram“tanto depois do 25 de Abril, masantes”, dado que o ConcílioVaticano II (1962-1965) veio operaruma “mudança muito significativa dacultura política e social da Igreja”.Em Portugal, o 25 de Abril veio“permitir uma maior liberdade àprópria Igreja”, com o fim de algunscondicionamentos à sua atividade eà

sua vida interna, por parte doEstado, provocando ainda uma“reestruturação da formaorganizativa” do laicado católicoA consagração das “liberdadespúblicas”, por sua vez, veiofavorecer um “maioraprofundamento da liberdadereligiosa” em Portugal.A análise a este período históricovai estar em destaque no programaECCLESIA (RTP2, 01h25 de terça-feira).

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A sociedade em rede,oportunidades e desafios pastorais

Esta semana apresento a primeiraparte de um artigo onde reflito sobreoportunidades e desafios pastoraisna sociedade em rede. Uma vez queo anúncio da Boa Nova de JesusCristo implica uma cuidadosaatenção às características própriasdos meios de comunicação social,atualmente a Igreja precisa decompreender a Internet. Isto éextremamente necessário para queela possa comunicar com asociedade actual e de um modomuito especial com os jovens. Doponto de vista religioso sãoinúmeros os benefícios que osmeios de comunicação oferecem,mas

as novas tecnologias requerem umaespecial atenção, dado queoferecem às pessoas um acessodirecto e imediato a importantesconteúdos e recursos religiosos,pastorais e espirituais. A título deexemplo: “Livrarias grandiosas,museus e lugares de culto, osdocumentos do ensinamento doMagistério, os escritos dos Padres edos Doutores da Igreja, assim comoa sabedoria religiosa de todos ostempos”, conforme escreve oPontifício Conselho para asComunicações Sociais nodocumento Igreja e Internet. AInternet possui uma

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capacidade extraordinária deultrapassar a distância e oisolamento. Torna-se então numinstrumento relevante parainúmeras atividades e programaseclesiais como “a evangelização,incluindo a re-evangelização e anova evangelização, e a obramissionária tradicional ad gentes, acatequese e outros tipos deeducação, notícias e informações,apologética, governo eadministração, assim como algumasformas de conselho pastoral e dedirecção espiritual”. Embora arealidade virtual não possasubstituir a comunidade concreta ereal, pode, contudo, completar ecomplementar essa mesmacomunidade, transportando aspessoas para uma experiência

de fé mais integral. Oferece aindamétodos de comunicaçãoextraordinários com gruposespecíficos e que podem ser“tocados por Deus”: osadolescentes, jovens, idosos epessoas com necessidadesespeciais que se sintam obrigadas aficarem nos seus lares e pessoasque vivam em zonas do mundoisoladas, que de outra maneira eramdifíceis de alcançar. Já é enorme onúmero de instituições eclesiais querecorrem à Internet para as maisdiversas finalidades. O Vaticano temsido disso exemplo ao liderar efomentar o uso das novastecnologias, com presença nas maisdiferentes plataformas virtuais.

Fernando Cassola [email protected]

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Doe gratuitamente 0,5% do seu IRS à CáritasEntre os dias 1 e 30 de abril, os portugueses que queiram apoiar a nossamissão podem fazê-lo através da doação gratuita de 0,5% do seu IRS.Para tal basta preencher o quadro 11 do modelo 3 (campo 1101), com o NIFda Cáritas: 500 291 756.Em 2015 apoiámos cerca de 160.000 pessoas em todo o país. No entanto,muitos dos pedidos que nos chegam ainda carecem de resposta.O seu contributo permitir-nos-á renovar diariamente o compromisso queassumimos há 60 anos: ESTAR AO LADO DOS MAIS POBRES.

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Conclusões do Conselho Geral da CáritasReuniu-se esta semana em VilaReal, entre os dias 15 e 17 de abril,o Conselho Geral da CáritasPortuguesa, representado pordezassete das vinte CáritasDiocesanas que o constituem.Durante a sessão de abertura, D.Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga epresidente da Comissão Episcopalda Pastoral Social e MobilidadeHumana (CEPSMH) e D. AmândioTomás, Bispo da Diocese de VilaReal, saudaram os presentes. OPresidente da CEPSMH realçou aimportância deste encontro e daordem de trabalhos que o mesmoassume, reforçando que

o planeamento estratégico e oesforço da Cáritas nesse sentidotem que ser reconhecido e, cadavez mais, contribuir para amentalidade de que só em conjuntoseremos capazes de construir umaverdadeira cultura da atenção,traduzindo essa cultura na alegriado amor.

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II Concílio do Vaticano: Abertura dosumbrais da Igreja a todos

O II Concílio do Vaticano (1962-1965) deixou raízes nahistória da Igreja e da humanidade. Passadoscinquenta anos, os textos e os comentários dosgrandes mestres do concílio permanecem “vivos,atuais e abertos ao futuro”, referiu o padre AntónioRego ao jornalista António Marujo na obra «Quando aIgreja desceu à Terra – Testemunhos de memória efuturo nos 50 anos do II Concílio do Vaticano».O sacerdote jornalista que nasceu nos Açores, em1941, revela que quando percorre a sua biblioteca evê os livros que adquiriu ao longo das últimasdécadas, nota que “há lá vivos e mortos”. “Mortos sãoos «datados», presos a estilos passageiros que nemse situaram no património cultural e espiritual, nemabriram qualquer fresta ao futuro”, lê-se na obraeditada pela «Lucerna», na página 28. No entanto, o IIConcílio do Vaticano é um “compêndio vivo da Igreja”.O antigo diretor do Secretariado Nacional dasComunicações Sociais sublinha que esta assembleiamagna convocada pelo Papa João XXIII e continuadapelo seu sucessor, Papa Paulo VI, “não se submeteuao efémero, não se inspirou nos rumores da época,mas não esteve surdo aos apelos de todos os tempose do seu tempo concreto que a Igreja vivia no lastromisterioso da sua história”. O II Concílio do Vaticanonão se realizou “contra ninguém” e “não condenouninguém”, mas “abriu os umbrais da Igreja a todos”.A Igreja não está no centro de si para acabar em simesma. Ela existe para o mundo, existe para fora.

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O centro é Cristo, a luz das nações.O Papa Francisco diz mesmo: “AIgreja é chamada a sair de si mesmae ir para as periferias”. Não apenasas geográficas, mas também asexistenciais, como acentua o Papaargentino. Neste contexto, a Igrejatem de continuar a alimentar achama do II Concílio do Vaticano,mesmo em tempos em que há“correntes nostálgicas de muitosacessórios que o concílioaconselhou a deixar cair”, referiu opadre António Rego na obra citada.Ao fazer referência às áreas dentro

da própria Igreja que recuaram, osacerdote natural da Ilha de SãoMiguel salientou o “reacendimentodo clericalismo em detrimento dosacerdócio, nostalgias furtivas daliturgia antes da reforma, certosestilos de piedade que descentramo essencial, olhares sobre o mundoe as outras confissões religiosascomo puros inimigos a abater”. O IIConcílio do Vaticano abriu a Igrejaao mundo e a relacionar-se com opróprio mundo, mas, passados 50anos, alguns microgestos depietismo revelam desprezo total pelohomem de hoje.

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Abril 2016 23 de abril. Porto – Gondomar - Dia diocesanoda juventude . Ansião - Peregrinação a pé aFátima promovida pela JuventudeDoroteia (até 24 de abril) . Lisboa, 10h00 - Escola Superiorde Enfermagem de São Vicente dePaulo - Conselho das Comunidadesde Vida Consagrada . Algarve – Loulé, 10h00 - A Diocesedo Algarve, através do seu sectorda catequese da infância eadolescência, promove o Jubileu daCatequese 24 de abril. Porto - Pavilhão Rosa Mota - Diadiocesano da família com o tema«Matrimónio, uma história demisericórdia» e homenagem a cercade 1.300 casais jubilados, de 10,25, 50 e 60 anos de matrimónio, napresença da Imagem Peregrina deNossa Senhora de Fátima, em visitaà diocese do Porto . Portugal - Coleta a favor dasvítimas da guerra na Ucrânia

. Fátima - Encontro da ComunidadeVerbum Dei (até 25 de abril) . Aveiro – Anadia - Celebração dopatrono mundial do escutismo, SãoJorge . Viseu – Lordosa, 09h00 - Encontronacional da Acção Católica Ruralcom o tema «Serás o Rosto deCristo?» . Vaticano - Praça de São Pedro,10h30 - Papa Francisco preside àMissa do Jubileu dos Jovens . Aveiro - Águeda (salão cultural daParóquia de Recardães), 10h30 - Oencerramento da visita pastoral dobispo de Aveiro ao arciprestado deÁgueda vai decorrer em Recardãescom uma Missa para as 21paróquias que compõem aqueleterritório . Braga - Famalicão (Matriz Nova),17h30 - Conferência pascal sobre«Anunciadores da Misericórdia» porD. Nuno Almeida, bispo auxiliar deBraga 25 de abril. Madeira – Santana - Dia diocesanodo acólito com o tema «Acólitosmisericordiosos como o Pai»

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. Fátima - Basílica de NossaSenhora do Rosário, 15h30 - A 8ªedição do encontro de corosinfantis, promovido pelo Santuáriode Fátima na Basílica de NossaSenhora do Rosário . Lisboa - Centro Comunitário Sra.Boa Nova (paróquia do Estoril),21h30 - Conferência do postuladorda causa de Madre Teresa deCalcutá, padre Brian Kolodiejchuk,que falará sobre «A Misericórdia navida de Madre Teresa de Calcutá» 27 de abril. Lisboa – UCP, 18h30 - Conferência sobre a«Protagonistas da misericórdia deDeus» por Teresa Messias eintegrada no curso «A Misericórdiade Deus - Coração pulsante doevangelho» 28 de abril. Vaticano - Conferência sobremedicina regenerativa,particularmente no que respeita adoenças raras que atingem ascrianças, promovida pelo ConselhoPontifício da Cultura (até 30 deabril)

. Évora - Vila Viçosa - Encontrodiocesano dos alunos de EMRC coma presença de D. José Alves,arcebispo de Évora . Lisboa - UCP e Centro CulturalFranciscano - Seminário sobre«Noções de Sentido em torno deJoaquim Cerqueira Gonçalves»(termina a 29 de abril) . Beja - Igreja de Nossa Senhorados Prazeres, 10h00 - OSecretariado Nacional para os BensCulturais da Igreja promove, naigreja de Nossa Senhora dosPrazeres, em Beja, uma ação deformação sobre o patrimónioartístico da igreja, intitulada“Critérios e Práticas deConservação Preventiva”

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Este sábado, 23 de abril, a Diocese do Algarve,

através do seu sector da catequese da infância eadolescência, promove, em Loulé, o Jubileu daCatequese. No âmbito do presente Ano Santo daMisericórdia, proclamado pelo papa Francisco, ainiciativa, vai ter lugar no Parque Municipal de Loulé,com início pelas 10h e destina-se “às crianças eadolescentes das catequeses paroquiais e tambémaos seus pais e encarregados de educação. Este diavai ser presidido pelo bispo do Algarve, D. ManuelQuintas. Neste domingo, dia 24 de abril, todas as igrejas vãoter uma coleta especial que se destina a apoiar oshabitantes da Ucrânia, vítimas da guerra na região. Opedido foi feito pelo Papa Francisco e reforçado pelaConferência Episcopal Portuguesa a todas ascomunidades cristãs e à “sociedade em geral”. Já no dia 25 de abril, pelas 15h30, acontece a 8ªedição do encontro de coros infantis, promovido peloSantuário de Fátima, na Basílica de Nossa Senhora doRosário. Este encontro com a direção artística dePaulo Lameiro, conta com a participação de quatrocoros: “Schola Cantorum Pastorinhos de Fátima;Pequenos Cantores do Conservatório Nacional; CoroInfantil do Menino Jesus da Paróquia de Gulpilhares eCoro Preparatório do Coro Infantil da Universidade deLisboa”. Na terça-feira, dia 26 de abril, pelas 21h30, no CentroComunitário Sra. Boa Nova (paróquia do Estoril),Lisboa, decorre a Conferência do postulador da causade Madre Teresa de Calcutá, padre BrianKolodiejchuk, que falará sobre «A Misericórdia na vidade Madre Teresa de Calcutá».

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

10h30 - Oitavo Dia 11h00 -Transmissão missa

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 13h30Domingo, 24 de abril -Revolução de abril e astransformações religiosas.Entrevista a Alfredo Teixeira RTP2 - Alteração de horário. Ver na grelha daRTP2Segunda-feira, dia 25 -Entrevista a a Manuel Bragada Cruz, sobre o 25 de abril. Terça-feira, dia 26 -Informação e entrevista AndréCosta Jorge sobre osrefugiados e o 3º EncontroNacional de Leigos. Quarta-feira, dia 27 - Informação e entrevista a JoãoPereira, sobre o Conselho Geral da Cáritas Quinta-feira, dia 28 - Informação e entrevista aopadre Eduardo Novo, sobre o Fátima Jovem Sexta-feira, dia 29 - Análise à liturgia de domingopelos padres António Rego e Armindo Vaz. Antena 1Domingo, dia 24 de abril - 06h00 - Memórias do 24de abril, transformações religiosas na transiçãodemocrática e perspetivas sobre a Liberdade Segunda a sexta-feira, 25 a 29 de abril - 22h45 - Aliberdade que trouxe 1974, com JorgeWemans; Leigos empenhados: CVX; Movimento Fé eLuz; Metanóia; Comunhão e Libertação.

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Ano C – 5.º Domingo do TempoPascal Amar comoJesus nosama

«Disse Jesus aos seus discípulos: Dou-vos ummandamento novo: que vos ameis uns aos outros.Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros.Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: sevos amardes uns aos outros».São palavras da segunda parte do evangelho destequinto domingo do tempo pascal, a identificar osseguidores de Cristo no amor, na capacidade de amaraté ao dom total da vida.Jesus não inventou o amor. Os homens e as mulheresnão esperaram que Jesus viesse para saber o sentidoda palavra «amor» e do verbo «amar». Aliás, omandamento de «mar o seu próximo como a simesmo» encontra-se já no Livro do Levítico.Então, como compreender a novidade do testamentofinal de Jesus? Ele próprio nos dá a chave: «Como Euvos amei, amai-vos também uns aos outros». Sóolhando Jesus saberemos como Ele nos ama. A suavida concretiza esta palavra, o que está para lá do quehumanamente podemos fazer.Amar é também perdoar setenta vezes sete, semqualquer limite ao perdão. «Amai os vossos inimigos erezai pelos vossos perseguidores… Pai, perdoai-lhesporque não sabem o que fazem». Jesus amou até aofim, até à plenitude do amor cuja fonte é o seu Pai.A maneira de Jesus nos amar ultrapassa a nossamaneira de amar. O amor que Ele nos convida a viverentre nós é mesmo novo!Jesus não nos diz: «Eu amei-vos. Agora, desenrascai-vos, fazei esforço para Me imitar!» Ele diz-nos: «ComoEu, que vos amo e vos dou o amor infinito do Pai,deixai-vos amar, como uma criança que se deixa tomarnos braços da sua mãe e do seu pai. Vinde a Mim.Àquele que vem a Mim,

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não o abandonarei. Então, podereiderramar sobre vós a força dopróprio Amor que é Deus. Assim,encontrareis a força para ir alémdas capacidades humanas,podereis, dia após dia, aprender aamar-vos como Eu vos amo».Ao longo desta semana, vamosencontrar certamente homens,mulheres, jovens, crianças, acomeçar pelos que estão em nossacasa. Como cristãos, somosconvidados a amá-los «como»Jesus, sem fingimentos,gratuitamente, sinceramente,dando-nos a eles com o melhor denós mesmos.Neste mesmo tom podemos

continuar a ler e meditar a exortaçãoapostólica «A Alegria do Amor», queo Papa Francisco acaba de nosoferecer. Dá-nos indicaçõespreciosas para renovar o amor nafamília como comunidade de vida,de amor e de fé, sempre à maneirade Jesus.A nossa vida de batizados no amorde Deus deve ser sinal no meio dadescrença e da indiferença domundo. Todos verão que somosdiscípulos de Cristo, segundo oamor que tivermos uns para com osoutros. Seguir Cristo é amar comoJesus nos ama.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Fátima Jovem 2016 - ‘Maria, Mãe deMisericórdia’ no JubileuextraordinárioPeregrinar é sair ao encontroconvidando cada um a encontrar-seconsigo mesmo e com os outros, eeste é o grande e entusiasta desafioque o Fátima Jovem 2016 propõecom o tema ‘Maria, Mãe deMisericórdia’, nos dias 07 e 08 demaio.Para o Departamento Nacional daPastoral Juvenil (DNPJ) aPeregrinação Nacional de Jovens aFátima, o ‘Fátima Jovem’, é ummomento de reflexão, formação edebate, encontro, oração e música,celebração...onde os jovens sesintam sinais de esperança edescubram o sentido significado evalor da vida e reafirmem o seucompromisso em todas asdimensões: na família, na paróquia,na escola, no trabalho, no grupo deamigos.No Jubileu da Misericórdia os jovenssão também convidados a passarpela Porta Santa da Basílica daSantíssima Trindade, do Santuáriode Fátima.A partir das 14h00, teremos‘Testemunhos vivos de Misericórdia’,com diversos ateliês onde os jovensvão escutar o testemunho concretoe real da vivência das Obras deMisericórdia corporais e espirituaisno nosso tempo; O grande encontroé na Praça Luís Kondor, às 16h30,dali

caminham juntos, com a cruz daevangelização, para saudar Mariana Capelinha das Aparições, meiahora depois.A partir das 18h00, o ‘EspaçoJovem’ convida a um concerto noParque 12 (até às 19h30). Às 21h30inserido já no programa oficial dosantuário os jovens vão rezar oRosário, na Capelinha dasAparições, indo depois em procissãopara a Basílica da SantíssimaTrindade, onde passam a PortaSanta da Misericórdia seguindo-se avigília de Adoração e o espaço dereconciliação.No domingo, 08 de maio, os jovensvoltam a encontrar-se às 10h00, naCapelinha das Aparições e umahora depois celebra-se a Eucaristiano recinto de oração que encerra aPeregrinação Nacional de Jovens2016 com a Bênção e o envio àssuas dioceses e realidades, bemcomo o Envio nacional à grandeperegrinação mundial JMJ Cracóvia2016.‘Maria, Mãe de Misericórdia’ é olema nacional que congrega osjovens a peregrinar antes da grandeperegrinação mundial que é JornadaMundial de Juventude de julho emCracóvia, Polónia.

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Jubileu dos Adolescentes

O Vaticano espera a participação de60 mil adolescentes, vindos devários países, para a celebração doseu Jubileu, com o Papa, no âmbitodo Ano Santo da Misericórdia, entresábado e segunda-feira. Oprograma, dirigido à faixa etária dos13 aos 16 anos de idade, incluimomentos de reflexão, oração ecelebração.Francisco divulgou em janeiro

uma mensagem para este Jubileu daMisericórdia dos Adolescentes,intitulada ‘Crescer misericordiososcomo o Pai’. “Não acreditem naspalavras de ódio e terror que serepetem com frequência; pelocontrário, construam novasamizades. Ofereçam o vosso tempo,preocupem-se sempre com que lhespede ajuda.

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Sejam corajosos, contra a corrente”,escreve o Papa.“Estejam preparados para setornarem cristãos capazes deescolhas e gestos corajosos,capazes de construir cada dia,mesmo nas pequenas coisas, ummundo de paz”, acrescenta.A mensagem explica os objetivos doano santo extraordinário (dezembrode 2015-novembro de 2016), oterceiro na história da IgrejaCatólica, como um período dereflexão e de descoberta. Aosadolescentes que vivem em áreasde conflitos, de guerras e deextrema pobreza, Francisco pedepara que não percam a esperança.“O Senhor tem um grande sonho arealizar juntamente com vocês. Osamigos da mesma idade, que vivemem condições menos dramáticas doque as suas, lembram-se de vocêse comprometem-se para que a paze a justiça possam pertencer atodos”, assinala.

O Jubileu dos Adolescentes estáestruturado em quatro momentosprincipais: a peregrinação à PortaSanta da Basílica de São Pedro, aFesta dos Adolescentes no EstádioOlímpico de Roma, a Missa com oPapa Francisco e as Tendas daMisericórdia.No sábado, a Praça de São Pedrovai ser transformada numconfessionário ao ar livre, com 150sacerdotes prontos a ouvir osparticipantes, em várias línguas, aolongo de oito horas.Já na manhã de domingo (09h00 emLisboa), os adolescentes têm umencontro marcado com o PapaFrancisco, que presidirá a umacelebração eucarística no Vaticano.Sete praças no Centro Histórico deRoma vão acolher as ‘Tendas daMisericórdia’, com testemunhossobre as obras de misericórdiaespiritual e corporal.

O Papa apresentou no Vaticano uma reflexão sobre a importância damisericórdia e convidou os católicos a “distinguir entre o pecado e opecador”, numa intervenção proferida perante milhares de pessoas, naPraça de São Pedro. “A Palavra de Deus ensina-nos a distinguir entre opecado e o pecador: com o pecado, não devemos fazer cedências; já ospecadores – isto é, todos nós – são como doentes que precisam de sercurados e, para isso, o médico precisa de encontrar-se com eles, visitá-los, tocá-los”, declarou, na audiência pública semanal.

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O testemunho comovente de uma menina cristãrefugiada em Erbil

“Rezo pelos jihadistas”Maryam Waleed tinha oito anos emorava em Qaraqosh, no Iraque,quando, em Agosto de 2014, seescutaram os primeiros tiros queanunciavam a chegada dosjihadistas. Tudo desabou numinstante. Hoje, ela vive num campode refugiados. Não nos pedebrinquedos, nem dinheiro, nemroupa. Apenas que rezemos porela… Ela que, garante, reza pelaconversão dos jihadistasOs tiros, cada vez mais próximos,anteviam o pior. No meio do caos,milhares de pessoas fugiram.Alguns, nem os documentosconseguiram salvar. Quando seescutaram os primeiros gritos dosjihadistas, ainda seria possívelreparar ao longe na nuvem de póda população em fuga deQaraqosh. Muitos eram cristãos.Hoje, Maryam vive numacampamento em Erbil. As casasforam substituídas por contentoresbrancos. As ruas sinuosas deQaraqosh desapareceram. Tudodesapareceu. Estes cristãos, quevivem em campos de refugiados,foram visitados, há dias, por uma

delegação da Fundação AIS.Quando soube desta viagem, oPapa fez questão de lhes entregarum donativo pessoal, destacando otrabalho da AIS junto destasfamílias. Maryam tem hoje dez anos.É uma criança. Ali, em Erbil,procura-se que a vida ganhe umnovo sentido. A escola também foiimprovisada com contentores. É aíque Maryam passa agora a maiorparte do seu tempo. Quando lheperguntamos do que tem maissaudades, responde logo: “da minhacasa”. O testemunho desta meninaé comovente. Na verdade, elaconseguiu que o seu coração nãose deixasse trair pela avalanche desentimentos de revolta, até de ódio,que devem ter surgido naquelesdias de Agosto. O que diz éincrivelmente simples e prático.“Temos tudo o que precisamos. Estátudo bem. Temos água, o que éconveniente. No Inverno é tudo feio,porque as estradas ficam muitolamacentas.”

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A fugaA fuga, em Agosto de 2014, estápresente na memória de todos.Maryam nunca mais se esqueceudaqueles minutos em que, numsobressalto, toda a sua vida mudou.“Um vizinho veio ter connosco edisse-nos que tínhamos que partir.Ouvimos bombas a cair. DeixámosQaraqosh às 11h da manhã.”Maryam viu a guerra com ospróprios olhos. Foi obrigada adeixar para trás tudo o que tinha:brinquedos, livros, as roupasfavoritas. Tudo. Viu os pais aolharem em volta, à procura do quepoderiam salvar, como se fossepossível colocar dentro de umamala uma vida inteira… Hoje, estamenina não tem palavras de ódio.“Rezo por todos, pelos doentes, poraqueles que não pediram a minhaoração, e rezo pelos jihadistas, paraque o amor mude os seus corações

um dia.” Maryam gostaria de voltarpara casa, para a sua casa. Até lá,não nos pede nada do que serianormal numa menina de apenas 10anos. Nem brinquedos, nem roupa,nem dinheiro. Apenas orações.Pede que rezemos por ela. “Porfavor, rezem por mim.” Comopoderemos nós ignorar estaspalavras?

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Eutanásia ou cuidados paliativos?

Tony Neves Espiritano

Todos sabemos. Há pessoas que não queremcontinuar a viver como vivem: com sofrimentoinsuportável, sem sentido, sem carinho, comsolidão. E, nesta situação de desespero extremo,até podem afirmar que querem morrer. Muitaspessoas acham que faz sentido ajuda-las amorrer, praticando a eutanásia. E, por isso, aAssembleia da República Portuguesa vai discutiruma proposta de lei para legalizar esta prática de‘morte assistida’.Nestas questões ‘fracturantes’, estão em causavalores profundos. E, por isso, mesmo, o debateé essencial. Há que fundamentar bem asposições tomadas e a tomar. Ninguém deveassumir posições arrogantes e fechadas, todostêm a obrigação de ser parte da solução e nãodo problema.Os Bispos portugueses tomaram uma posiçãooficial, apoiando-se em peritos nas áreas dodireito, da ética e da medicina. A tradição daIgreja, na sua doutrina social e moral, afirmasempre a vida como direito inalienável e valorintocável. Também a Constituição da República eo Código Deontológico dos Médicos assumemesta defesa da vida sem excepções. A Eutanásiacontraria este princípio de fundo.O Documento dos Bispos tem por título:‘Eutanásia: o que está em jogo? Contributos paraum diálogo sereno e humanizador’. Sim, tem deser assim. Há que dialogar, reflectir, apresentarargumentos e, sobretudo, apontar soluções.‘Matar e aceitar a morte’ nunca devia estar no

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horizonte da vida de ninguém. ‘Avida humana – dizem ainda osBispos – é o pressuposto de todosos direitos e de todos os bensterrenos’. Além do mais,’a decisãode suprimir a vida é a maisabsolutamente irreversível dequalquer das decisões’.As pessoas pedem para morrerquando acham a sua vida não temsentido ou perdeu dignidade. E queresposta devem dar os familiares eo Estado a este pedido:’Sim, a tuavida não tem sentido, a tua vidaperdeu dignidade, és um peso paraos outros’? Não, a resposta deveser outra:’Não, a tua vida nãoperdeu sentido, não perdeudignidade, tem valor até ao fim, tunão és peso para os outros,continuas a ter valorincomensurável para todos nós’!Será que o pedido não é mais queum grito de desespero de quem sesente abandonado e quer chamar aatenção dos outros?Para os cristãos, não se elimina osofrimento com a morte: com a

morte, elimina-se a vida da pessoaque sofre. E a Igreja apontacaminhos: ‘o sofrimento pode sereliminado ou debelado com oscuidados paliativos, não com amorte’.Com perguntas e respostaspreparadas por especialistas,explica-se que ‘a eutanásia nãoacaba com o sofrimento, acaba coma vida’. Diz-se ainda que ‘não sealcança a liberdade da pessoa coma supressão da vida dessa pessoa.A eutanásia e o suicídio nãorepresentam um exercício deliberdade, mas a supressão daprópria raiz da liberdade’.Os cuidados paliativos, tão poucoimplementados, são a melhorsolução para o sofrimentointolerável e o abandono a quecertas pessoas se sentem votadas.Dizem os especialistas que ‘estescuidados devem ser prestados deforma continuada até ao momentoda morte; e, mesmo após a morte,com a prestação de apoio á famíliaenlutada’.Em síntese, Eutanásia – Não!Cuidados paliativos – Sim!

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