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Luís Vaz de Camões

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Conhecendo um pouco mais de Os Lusíadas, de Luis Vaz de Camões

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Luís Vaz de Camões

Época - 1524 (?) - 1580

Em síntese:

Características gerais: * Racionalidade * Rigor Científico * Dignidade do Ser Humano * Ideal Humanista * Reutilização das artes greco-romana

a) Racionalismo – a razão é o único caminho para se chegar ao conhecimento. b) Experimentalismo – todo o conhecimento deverá ser demonstrado

racionalmente. c) Antropocentrismo – colocava o homem como a suprema criação de Deus e como

o centro do universo. d) Humanismo – glorificação do homem e da natureza humana, em contraposição

ao divino e ao sobrenatural.e) Classicismo - movimento cultural que valoriza e recupera os elementos artísticos

da cultura clássica (greco-romana). Ocorreu nas artes plásticas, teatro e literatura, nos séculos XIV ao XVI.

As características da epopeia:

• A epopeia é um género narrativo em verso;

• visa celebrar feitos grandiosos de heróis fora do comum reais ou lendários.;

• tem pois sempre um fundo histórico;

• é um género narrativo e que exige a presença de uma acção, desempenhada por

personagens num determinado tempo e espaço.

• O estilo é elevado e grandioso e possui uma estrutura própria, cujos principais aspectos

são:

PROPOSIÇÃO - em que o autor apresenta a matéria do poema;

INVOCAÇÃO – pedido de inspiração às musas ou outras divindades e entidades míticas

protectoras das artes;

DEDICATÓRIA - em que o autor dedica o poema a alguém, sendo esta facultativa;

NARRAÇÃO - a acção é narrada por ordem cronológica dos acontecimentos, mas inicia-se já

no decurso dos acontecimentos (“in medias res”), sendo a parte inicial narrada

posteriormente num processo de retrospectiva, “flash-back” ou “analepse”;

PRESENÇA DE MITOLOGIA GRECO-LATINA - contracenando heróis mitológicos e heróis humanos.

A narrativa organiza-se em quatro planos:

Plano da viagem - A viagem de Vasco da Gama de Lisboa até à Índia. Saída de Belém, paragem em Melinde e chegada a Calecut

Plano Mitológico, em alternância, ocupam uma posição importante.

Plano da História de Portugal – Quando Vasco da Gama ou outronarrador conta, por exemplo ao rei de Melinde, a História de Portugal. Está encaixada na viagem.

Plano do Poeta – ou as considerações pessoais aparecem normalmente nos finais de canto e constituem, de um modo geral, a visão crítica do poeta sobre o seu tempo.

A narrativa organiza-se de forma anacrónica:

Passado – reconto da História de Portugal desde as origens até D. Manuel I. (analepse)

Presente – tempo da acção central do poema, ou seja, da viagem de Vasco da Gama, iniciada “ in media res”.

Futuro – Profecias . (prolepse)

ProposiçãoIAs armas, e os barões assinalados

Que, da Ocidental praia Lusitana,

Por mares nunca dantes navegados,

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram;

Sinédoque –apresentar a

parte pelo todo

Hipérbole –exagero da realidade

Todos os homens ilustres

Que, saíram de Portugal

E foram por mares desconhecidos -navegadores

Passaram além da já conhecida ilha de Ceilão

Enfrentaram perigos enormes,Mesmo superiores ao seu estatuto de ser humano – afasta-os do comum mortal

Construíram um novo império em terras distantes. Um reino que tanto desejaram

O sujeito poético começa por apresentar os destinatários da epopeia, valorizando já os seus feitos e aproximando-os já de um estatuto acima do humano.

Fazem-se referências a factos históricos e locais concretos.

II

E também as memórias gloriosas

Daqueles Reis que foram dilatando

A Fé, o Império, e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando;

E aqueles que por obras valerosas

Se vão da lei da Morte libertando.

E aqueles reis que estiveram envolvidos na reconquista cristã /nas cruzadas contra os mouros/infiéis em África e na Ásia

Conjunção coordenativa copulativa –

enumeração de figuras a ser

exaltadasE aqueles que fazem obras com valor e que, por isso, não cairão no esquecimento – se vão imortalizando

Cantando espalharei por toda a parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cantando espalharei por toda a parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

enumeração

Gerúndio –processo de

continuidade

O sujeito poético compromete-se a exaltar a louvar, a cantar os feitos daqueles que enumerou anteriormente. Usando a primeira pessoa – plano do poeta.

1ª pessoa do singular –

envolvimento do poeta

III

Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

de Alexandro e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Neptuno e Marte obedeceram.

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta.

Para demonstrar a superioridade e a legitimidade da realização desta epopeia, opoeta compara os feitos dos Portugueses aos de Ulisses, herói da Odisseia de Homero eaos de Eneias, o troiano que, na Eneida de Virgílio, chegou ao Lácio e fundou Roma, ouseja compara o seu herói com os heróis das epopeias de referência.

Imperativo

Herói de Odisseia -

Ulisses

Herói de Eneida -Eneias

Num tom imperativo, de ordem manda suspender/cessar a fama dos gregos e romanos

Manda suspender a fama das vitórias de reis e imperadores clássicos

Conjunção subordinativa

causal (= porque). Apresenta a

causa da desvalorização dos clássicos

Porque o poeta louva o povo lusitano ao qual pertence.Povo esse que dominou o mar (Neptuno)e a guerra (Marte).

Patriotismo, valores

nacionais

Neptuno – deus do marMarte – deus da guerra

1ª pessoa do singular –

envolvimento do poeta

Continua em tom imperativo, ordenando que os clássicos suspendam a sua fama, porque agora há um novo povo que apresenta feitos ainda mais valerosos.

Proposição

Canto I, est. 1-3,• Camões proclama ir cantar as grandes vitórias e os homens ilustres –

“as armas e os barões assinalados”;

•as conquistas e navegações no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. João III);

•as vitórias em África e na Ásia desde D. João a D. Manuel, que dilataram “a fé e o império”;

• e, por último, todos aqueles que pelas suas obras valorosas “se vão da lei da morte libertando”, todos aqueles que mereceram e merecem a “imortalidade” na memória dos homens.

A proposição aponta também para os “ingredientes” que constituíram os quatro planos do poema:

Plano da Viagem - celebração de uma viagem:"...da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca dantes navegados/ Passaram além da Tapobrana...";

Plano da História - vai contar-se a história de um povo:"...o peito ilustre lusitano..."."...as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o império e as terras viciosas / De África e de Ásia...";

Plano dos Deuses (ou do Maravilhoso) aos quais os Portugueses se equiparam:"... esforçados / Mais do que prometia a força humana..."."A quem Neptuno e Marte obedeceram...";

Plano do Poeta - em que a voz do poeta se ergue, na primeira pessoa:"...Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e arte..."."...Que eu canto o peito ilustre lusitano...".

IAs armas, e os barões assinaladosQue, da Ocidental praia Lusitana,Por mares nunca dantes navegados,Passaram ainda além da Taprobana,Em perigos e guerras esforçadosMais do que prometia a força humana,E entre gente remota edificaramNovo Reino, que tanto sublimaram;

Funcionamento da língua

Identificação de orações subordinadas relativas

Identificação de orações subordinadas causais / relativas

porque

III

Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

de Alexandro e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Neptuno e Marte obedeceram.

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta.porque

Funcionamento da língua

c

Funcionamento da língua

Identificação de Conjugação perifrástica

II

E também as memórias gloriosas

Daqueles Reis que foram dilatando

A Fé, o Império, e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando;

E aqueles que por obras valerosas

Se vão da lei da Morte libertando.

II

E também as memórias gloriosasDaqueles reis que foram dilatandoA Fé, o Império, e as terras viciosasDe África e de Ásia andaram devastando;E aqueles que por obras valerosasSe vão da lei da Morte libertando.

IAs armas, e os barões assinaladosQue, da Ocidental praia Lusitana,Por mares nunca dantes navegados,Passaram ainda além da Taprobana,Em perigos e guerras esforçadosMais do que prometia a força humana,E entre gente remota edificaramNovo Reino, que tanto sublimaram;

Funcionamento da língua

Identificação de classes e subclasses de palavrasNome comum

Conjunção

Preposição

Pronome relativo

Nome próprio

Determinante artigo definido

Determinante demonstrativo

Pronome demonstrativo

Advérbio

Adjectivo

Funcionamento da língua

Graus dos adjectivos

Elabora frases onde uses os adjectivos nos graus indicados

adjectivo Grau

valorosas Grau normal

remotas Grau comparativo de superioridade

glorioso Grau comparativo de inferioridade

famoso Grau comparativo de igualdade

importante Grau superlativo relativo de superioridade

conhecido Grau superlativo relativo de nferioridade

falador Grau superlativo absoluto analítico

famoso Grau superlativo absoluto sintético

adjectivo Grau

valorosas Grau normal

… mais remotas do que… Grau comparativo de superioridade

… menos glorioso do que… Grau comparativo de inferioridade

…tão famoso como… Grau comparativo de igualdade

… o mais importante… Grau superlativo relativo de superioridade

… o menos conhecido… Grau superlativo relativo de nferioridade

… muito falador…. Grau superlativo absoluto analítico

…famosíssimo… Grau superlativo absoluto sintético

Correcção

Seguir para a Invocação

Invocação

Canto I, est. 4-5, o poeta pede ajuda a entidades mitológicas, chamadas musas. Isso acontece várias vezes ao longo do poema, sempre que o autor precisa de inspiração:

Tágides ou ninfas do Tejo (Canto I, est. 4-5);

Calíope - musa da eloquência e da poesia épica (Canto II, est. 1-2);

Ninfas do Tejo e do Mondego (Canto VII, est. 78-87);

Calíope (Canto X, est. 8-9);

Calíope (Canto X, est. 145).

Invocação estrofes 4-5

E vós, Tágides minhas, pois criadoTendes em mi um novo engenho ardenteSe sempre, em verso humilde, celebradoFoi de mi vosso rio alegremente,Dai-me agora um som alto e sublimadoUm estilo grandíloco e corrente,Por que de vossas águas Febo ordeneQue não tenham enveja às de Hipocrene.

Dai-me hua fúria grande e sonorosa,E não de agreste avena ou frauta ruda,Mas de tuba canora e belicosa,Que o peito acende e a cor ao gesto muda.Dai-me igual canto aos feitos da famosaGente vossa, que a Marte tanto ajuda;Que se espalhe e se cante no UniversoSe tão sublime preço cabe em verso.

Invocar significa apelar, pedir, suplicar. Daí a presença do Imperativo.

Nestas estrofes, Camões dirige-se às Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-lhes que o ajudem a cantar os feitos dos portugueses de uma forma sublime.Até aí apenas usou a inspiração na humilde lírica, mas agora precisa de uma inspiração superior.

Aposto PerífraseMetáfora –

dar coragem

Anáfora - é uma figura de estilo

que consiste em repetir a mesma

palavra no princípio de várias frases.

Apóstrofe

Imperativo

O estilo da epopeia aparece aqui descrito:“alto e sublimado””Um estilo grandíloco e corrente.““fúria grande e sonorosa”“tuba canora e belicosa”“Que se espalhe e se cante no Universo”

-“Que se espalhe e se cante no Universo, Se tão Sublime preço cabe em verso” Ou seja ,Camões quer que a mensagem se espalhe e que cante ao universo os feitos dos portuguesesConjunção

subordinativa condicional

Dedicatória ***(sem leitura obrigatória)

Canto I, est. 6-18, é o oferecimento do poema a D. Sebastião, que encara toda a esperança do poeta, que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de retomar “a dilatação da fé e do império” e de ultrapassar a crise do momento.

Termina com uma exortação ao rei para que também se torne digno de ser cantado, prosseguindo as lutas contra os Mouros.

Exórdio (est. 6-8) - início do discurso;

Exposição (est. 9-11) - corpo do discurso;

Confirmação (est. 12-14) - onde são apresentados os exemplos;

Peroração (est. 15-17) - espécie de recapitulação ou remate;

Epílogo (est. 18) - conclusão.

Dedicatória estrofes 6-8

E vós, ó bem nascida segurançaDa Lusitana antiga liberdade,E não menos certíssima esperançaDe aumento da pequena Cristandade,Vós, ó novo temor da Maura lança,Maravilha fatal da nossa idade,Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,Pera do mundo a Deus dar parte grande.

Vós, tenro e novo ramo florecente,De hua árvore, de Cristo mais amadaQue nenhua nascida no Ocidente,Cesária ou Cristianíssima chamada,Vede-o no vosso escudo, que presenteVos amostra a vitória já passada,Na qual vos deu por armas e deixouAs que Ele pera Si na Cruz tomou;

Vós, poderoso Rei, cujo alto ImpérioO Sol, logo em nascendo, vê primeiro;Vê-o também no meio do Hemisfério,E, quando dece, o deixa derradeiro;Vós, que esperamos jugo e vitupérioDo tope Ismaelita cavaleiro,Do Turco Oriental e do GentioQue inda bebe o licor do santo Rio: (...)

Metáfora e Apóstrofe : Vós, tenro e novo ramo florecente”,

-“E vós” 6estrofe-1linha: A D.Sebastião

-“Maravilha Fatal da Nossa Idade”: Elogio a D.Sebastião

Narração

Começa no Canto I, est. 19• constitui a acção principal que, à maneira clássica, se inicia “in medias res”, isto é, quando a viagem já vai a meio, “Já no largo oceano navegavam”, encontrando-se já os portugueses em pleno Oceano Índico.

• Este começo da acção central, a viagem da descoberta do caminho marítimo para a Índia, quando os portugueses se encontram já a meio do percurso do canal de Moçambique vai permitir:

A narração do percurso até Melinde (narrador heterodiegético);

A narração da História de Portugal até à viagem (por Vasco da Gama);

A inclusão da narração da primeira parte da viagem;

A apresentação do último troço da viagem (narrador heterodiegético).

Consílio dos Deuses - plano mitológico Canto I – 19-41c

Consílio dos Deuses - plano mitológico Canto I – 19-41c

Os Deuses reúnem-se para decidir se ajudam ou não os portugueses a chegar à Índia.Esta reunião foi presidida por Júpiter, tendo estado presentes todos os Deuses convocados.Os Deuses sentem a necessidade de reunir face aos feitos gloriosos conseguido até aomomento.

Júpiter decide ajudá-los, pois considera que os portugueses, pelos seus feitos passados,são dignos de tal ajuda.Baco, pelo contrário, não queria que os portugueses fossem para a Índia, com medode perder a sua fama no Oriente.Vénus apoia Júpiter, pois vê reflectida nos portugueses a força e a coragem do seu filhoEneias e dos seus descendentes, os romanos. Vénus defende os portugueses não só por setratar de uma gente muito semelhante à do seu amado povo latino e com uma línguaderivada do Latim, como também por terem demonstrado grande valentia no norte deÁfrica.Marte - deus defensor desta gente lusitana, porque o amor antigo que o ligava a Vénus oleva a tomar essa posição e porque reconhece a bravura deste povo. Marte consegueconvencer Júpiter a não abdicar da sua decisão e assim, os portugueses serão recebidosnum porto amigo. Pede a Mercúrio - o Deus mensageiro - que colha informações sobre aÍndia, pois começa a desconfiar da posição tomada por Baco.

Este consílio termina com a decisão favorável aos portugueses e cada um dos deuses regressa ao seu domínio celeste.

Já no largo Oceano navegavam,

As inquietas ondas apartando;

Os ventos brandamente respiravam,

Das naus as velas côncavas inchando;

Da branca escuma os mares se mostravam

Cobertos, onde as proas vão cortando

As marítimas águas consagradas,

Que do gado de Próteu são cortadas,

Quando os Deuses no Olimpo luminoso,

Onde o governo está da humana gente,

Se ajuntam em consílio glorioso,

Sobre as cousas futuras do Oriente.

Pisando o cristalino Céu fermoso,

Vêm pela Via Láctea juntamente,

Convocados, da parte de Tonante,

Pelo neto gentil do velho Atlante.

Consílio dos Deuses - plano mitológico Canto I – 19-41

A narração começa “in média”. Já no oceano Pacífico.Faz-se referência ao domínio da técnica da navegação, dominada pelos portugueses.

Perífrase

Conjunção subordinativa

temporal

Apresenta-se então:- o local da reunião - Olimpo;- o objectivo da reunião – decisão sobre as coisas do Oriente.

Indicação da forma como os deuses foram convocados: foi Mercúrio que avisou todos os deuses cumprindo a vontade de Júpiter.

Perífrase

21

Deixam dos sete Céus o regimento,

Que do poder mais alto lhe foi dado,

Alto poder, que só co pensamento

Governa o Céu, a Terra e o Mar irado.

Ali se acharam juntos num momento

Os que habitam o Arcturo congelado

E os que o Austro têm e as partes onde

A Aurora nasce e o claro Sol se esconde.

22

Estava o Padre ali, sublime e dino,

Que vibra os feros raios de Vulcano,

Num assento de estrelas cristalino,

Com gesto alto, severo e soberano;

Do rosto respirava um ar divino,

Que divino tornara um corpo humano;

Com ũa coroa e ceptro rutilante,

De outra pedra mais clara que diamante.

É apresentada a descrição de Júpiter – um deus poderoso, soberano, severo.

Reunião dos deuses vindos de todos os quadrantes: N, S, E, O.

Perífrase -Júpiter

Perífrases: Norte, Sul, Oriente e Ocidente

23

Em luzentes assentos, marchetados

De ouro e de perlas, mais abaixo estavam

Os outros Deuses, todos assentados

Como a Razão e a Ordem concertavam

(Precedem os antigos, mais honrados,

Mais abaixo os menores se assentavam);

Quando Júpiter alto, assi dizendo,

Cum tom de voz começa grave e horrendo:

24

– «Eternos moradores do luzente,

Estelífero Pólo e claro Assento:

Se do grande valor da forte gente

De Luso não perdeis o pensamento,

Deveis de ter sabido claramente

Como é dos Fados grandes certo intento

Que por ela se esqueçam os humanos

De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.

Caracterização do espaço do Olimpo e Organização do espaço.

Os deuses sentam-se segundo a sua hierarquia.

Apóstrofe, indicação dos destinatários do seu discurso –os restantes deusesInício do discurso de Júpiter

Descrição de um local

rico, luxuoso, sublime.

Introdução ao discurso de Júpiter – Discurso directo.

Apóstrofe e perífrase

Júpiter começa por recordar que é do conhecimento geral que os Fados têm a intenção de tornar este povo luso superior aos antigos heróis.

Enumeração

25

Já lhe foi (bem o vistes) concedido,

Cum poder tão singelo e tão pequeno,

Tomar ao Mouro forte e guarnecido

Toda a terra que rega o Tejo ameno.

Pois contra o Castelhano tão temido

Sempre alcançou favor do Céu sereno:

Assi que sempre, enfim, com fama e glória,

Teve os troféus pendentes da vitória.

26

Deixo, Deuses, atrás a fama antiga,

Que co a gente de Rómulo alcançaram,

Quando com Viriato, na inimiga

Guerra Romana, tanto se afamaram;

Também deixo a memória que os obriga

A grande nome, quando alevantaram

Um por seu capitão, que, peregrino,

Fingiu na cerva espírito divino.

Júpiter recorda as vitórias e a protecção concedidas e realizadas pelos lusos.Lutou contra os Mouros e contra os castelhanos e sempre foi protegido pelas divindades.

Júpiter continua a relembra as raízes do povo português:. Guerra com os Romanos,. A importância e valor de Viriato,. Lendas romanas.

sinédoque v

Os inimigos que teve

de enfrentar

são apresentados como “fortes” e “temidos”, reforçando o seu valor

vocativo

27

Agora vedes bem que, cometendo

O duvidoso mar num lenho leve,

Por vias nunca usadas, não temendo

de Áfrico e Noto a força, a mais s'atreve:

Que, havendo tanto já que as partes vendo

Onde o dia é comprido e onde breve,

Inclinam seu propósito e perfia

A ver os berços onde nasce o dia.

28

Prometido lhe está do Fado eterno,

Cuja alta lei não pode ser quebrada,

Que tenham longos tempos o governo

Do mar que vê do Sol a roxa entrada.

Nas águas têm passado o duro Inverno;

A gente vem perdida e trabalhada;

Já parece bem feito que lhe seja

Mostrada a nova terra que deseja.

Júpiter reconhece a força a coragem para descobrir e explorar territórios em locais tão diferentes.

E diz que agora querem explorar o oriente.

Júpiter reafirma que os Fados já determinaram a glória dos portugueses.

Júpiter considera os portugueses merecedores de algum recobro e reconforto, pois as tripulações estão cansadas. Apresenta pois a sua posição pessoal

perífrase

O advérbio “agora” –

antes esteve a falar do

passado, “agora”

falará do presente

E porque, como vistes, têm passados

Na viagem tão ásperos perigos,

Tantos climas e céus exprimentados,

Tanto furor de ventos inimigos,

Que sejam, determino, agasalhados

Nesta costa Africana como amigos;

E, tendo guarnecido a lassa frota,

Tornarão a seguir sua longa rota.»

Estas palavras Júpiter dizia,

Quando os Deuses, por ordem respondendo,

Na sentença um do outro diferia,

Razões diversas dando e recebendo.

O padre Baco ali não consentia

No que Júpiter disse, conhecendo

Que esquecerão seus feitos no Oriente

Se lá passar a Lusitana gente.

Júpiter apresenta a sua determinação em apoiar os portugueses, mostrando-lhes terra e assegurando-lhes que serão bem “agasalhados” para que depois possam seguir viagem.

Final do discurso de Júpiter

Júpiter terminara o seu discurso e os deuses apresentam as suas posições

Baco, deus do vinho, teme perder a sua fama no Oriente.

Posição de Baco

A viagem tem levado a enfrentar perigos, climas, intempéries…

31

Ouvido tinha aos Fados que viria

Ũa gente fortíssima de Espanha

Pelo mar alto, a qual sujeitaria

Da Índia tudo quanto Dóris banha,

E com novas vitórias venceria

A fama antiga, ou sua ou fosse estranha.

Altamente lhe dói perder a glória

De que Nisa celebra inda a memória.

32

Vê que já teve o Indo sojugado

E nunca lhe tirou Fortuna ou caso

Por vencedor da Índia ser cantado

De quantos bebem a água de Parnaso.

Teme agora que seja sepultado

Seu tão célebre nome em negro vaso

D' água do esquecimento, se lá chegam

Os fortes Portugueses que navegam.

Baco já tinha ouvido a fama deste povo e sabe que este povo levará ao esquecimento dos antigos heróis, entre eles, o próprio Baco.

E mais uma vez se reforça a ideia de que perderia a fama que ainda tem no Oriente (Nisa).

Baco nunca fora posto em causa por nenhum herói ou poeta.

Baco teme agora que o seu nome seja votado ao esquecimento e à “morte” – este medo reforça o valor dos lusos, pois são um poder fora de comum.

Perífrase-Pacífico/oriente

Perífrase -poetas

Metáfora -esquecimen

to

Sustentava contra ele Vénus bela,

Afeiçoada à gente Lusitana

Por quantas qualidades via nela

Da antiga, tão amada, sua Romana;

Nos fortes corações, na grande estrela

Que mostraram na terra Tingitana,

E na língua, na qual quando imagina,

Com pouca corrupção crê que é a Latina.

34

Estas causas moviam Citereia,

E mais, porque das Parcas claro entende

Que há-de ser celebrada a clara Deia

Onde a gente belígera se estende.

Assi que, um, pela infâmia que arreceia,

E o outro, pelas honras que pretende,

Debatem, e na perfia permanecem;

A qualquer seus amigos favorecem.

Posição de Vénus

Vénus defendia os portugueses:-Descendentes dos romanos;- coragem e força demonstrada;-Uso da língua com origem latina.

Vénus defendia os portugueses, pois sabe que se eles tiverem sucesso ela também será louvada.

Enquanto Baco se opõe, porque não quer perder a fama, Vénus defendia, pois deseja ser louvada.

Qual Austro fero ou Bóreas na espessura

De silvestre arvoredo abastecida,

Rompendo os ramos vão da mata escura

Com ímpeto e braveza desmedida,

Brama toda montanha, o som murmura,

Rompem-se as folhas, ferve a serra erguida:

Tal andava o tumulto, levantado

Entre os Deuses, no Olimpo consagrado.

A agitação dos ventos era grande, evidenciando a agitação da discussão gerada no Olimpo.A natureza reflecte o humor dos deuses.

Balanço da discussão

37

A viseira do elmo de diamante

Alevantando um pouco, mui seguro,

Por dar seu parecer se pôs diante

De Júpiter, armado, forte e duro;

E dando ũa pancada penetrante

Co conto do bastão no sólio puro,

O Céu tremeu, e Apolo, de torvado,

Um pouco a luz perdeu, como enfiado;

Descrição de Marte –deus forte, decidido, duro. Faz-se ouvir e respeitar.

Mas Marte, que da Deusa sustentava

Entre todos as partes em porfia,

Ou porque o amor antigo o obrigava,

Ou porque a gente forte o merecia,

De antre os Deuses em pé se levantava:

Merencório no gesto parecia;

O forte escudo, ao colo pendurado,

Deitando pera trás, medonho e irado;

Posição de Marte

Marte, porque amava Vénus, ou porque a gente lusa o merecia, tomou a palavra e uma posição.

Descrição de Marte

Anáfora

E disse assi: – «Ó Padre, a cujo império

Tudo aquilo obedece que criaste:

Se esta gente que busca outro Hemisfério,

Cuja valia e obras tanto amaste,

Não queres que padeçam vitupério,

Como há já tanto tempo que ordenaste,

Não ouças mais, pois és juiz direito,

Razões de quem parece que é suspeito.

39

Que, se aqui a razão se não mostrasse

Vencida do temor demasiado,

Bem fora que aqui Baco os sustentasse,

Pois que de Luso vêm, seu tão privado;

Mas esta tenção sua agora passe,

Porque enfim vem de estâmago danado;

Que nunca tirará alheia enveja

O bem que outrem merece e o Céu deseja.

Discurso de Marte

Discurso de Marte –Começa por reforçar o poder de Júpiter.

Começa por reforçar o poder de Júpiter. Considera que Júpiter é soberano e que não deve ouvir as opiniões dos restantes deuses.

Deuses esses que são “suspeitos”.

Apóstrofe

Marte tenta provar que a opinião de Baco é fundada na inveja.

Considera ainda que a inveja nunca poderá roubar as glórias merecidas e oferecidas pelo céu, como é o caso dos portugueses.

E tu, Padre de grande fortaleza,

Da determinação que tens tomada

Não tornes por detrás, pois é fraqueza

Desistir-se da cousa começada.

Mercúrio, pois excede em ligeireza

Ao vento leve e à seta bem talhada,

Lhe vá mostrar a terra onde se informe

Da Índia, e onde a gente se reforme.»

Como isto disse, o Padre poderoso,

A cabeça inclinando, consentiu

No que disse Mavorte valeroso

E néctar sobre todos esparziu.

Pelo caminho Lácteo glorioso

Logo cada um dos Deuses se partiu,

Fazendo seus reais acatamentos,

Pera os determinados apousentos.

Fim do discurso de Marte

Reforça novamente o poder de Júpiter. Considera que Júpiter é soberano que se voltar atrás com a sua posição é uma mostra de fraqueza.

Apóstrofe

Aposto

Finaliza o seu discurso, dizendo que Mercúrio deverá, rapidamente, indicar um porto seguro, onde os portugueses sejam reabastecidos e orientados.

Júpiter concorda e termina este consílio.

Todos os deuses regressaram aos respectivos aposentos, aceitando a decisão tomada.

Episódio de Inês de Castro - plano história de Portugal – episódio lírico Canto III – 119- 135

Episódio inclui-se no plano da História de Portugal, pois:

• é narrado por Vasco da Gama, cujo narratário/destinatário é o Rei de Melinde.• surge na continuidade da apresentação do reinado de D. Afonso IV.

Episódio é considerado um momento lírico, pois:

•Exploram-se os sentimentos pessoais do narrador;• Dá-se expressão à emotividade e à exploração de sentimentos como o Amor, a crueldade, o sofrimento…

• pode-se mesmo considerar que as principais características da tragédia clássica estão patentes:

• Há o desenvolvimento de uma acção, que termina com a morte da protagonista;• Observa-se a lei das três unidades (acção, tempo e espaço);• Há uma motivação para sentimentos de terror e piedade;• A catástrofe é simbolizada pela morte da protagonista.

Episódio de Inês de Castro - plano história de Portugal – episódio lírico Canto III – 119- 135

Estrutura deste episódio

A primeira parte, referente as causas da morte de Inês, vítima do amor.

A segunda, constitui o desenvolvimento em que se descreve o modo de vida feliz edespreocupado que Inês tinha em Coimbra - é apresentada a razão de estado para que Inêsdeixe a vida, pois o perigo que representa a ligação de D. Inês com D. Pedro, receia o domínioespanhol.O poeta põe em questão a grandeza moral do Rei por solucionar o problema de seu reinomandando matar a sua própria filha:“Tirar Inês ao mundo, determina”;“Que furor consentiu que a espada fina,Que pôde sustentar o grande pesoDo furor Mauro, fosse alevantadaContra üa fraca dama delicada?”.Também nesta segunda parte é redigido o discurso suplicante de Inês ao rei de Portugal, seupai. Ela utiliza súplicas e argumento para comover o Rei na sua determinação - apresenta asua situação de mãe e a orfandade de seus filhos, declara-se inocente perante toda a situaçãode futuro conflito, comove o rei dizendo-lhe que sendo um cavaleiro que sabe dar morte,também sabe ”dar vida, com clemência” e como alternativa à morte, dá preferência ao exílio.

A terceira e última parte, constitui a reprovação do narrador, sublinhada pelo prantocomovente das “filhas do Mondego” e pela animização da Natureza, que chora a morte deInês, sua antiga confidente.

Episódio de Inês de Castro - plano história de Portugal – episódio lírico Canto III – 119- 135

Passada esta tão próspera vitória,

Tornando Afonso à Lusitana terra,

A se lograr da paz com tanta glória

Quanta soube ganhar na dura guerra,

O caso triste, e dino da memória,

Que do sepulcro os homens desenterra,

Aconteceu da mísera e mesquinha

Que depois de ser morta foi Rainha.

119

Tu só, tu, puro Amor, com força crua,

Que os corações humanos tanto obriga,

Deste causa à molesta morte sua,

Como se fora pérfida inimiga.

Se dizem, fero Amor, que a sede tua

Nem com lágrimas tristes se mitiga,

É porque queres, áspero e tirano,

Tuas aras banhar em sangue humano.

Intr

od

uçã

o

Início remete para o plano da história de Portugal – o episódio narrado anteriormente foi o da Batalha do Salado

Perífrase - D. Inês de Castro

O narrador introduz o caso de Inês de Castro, como um episódio do reinado de D. AfonsoIV, remetendo já para os contornos do mesmo.

A imparcialidade

do narrador

Apóstrofe e personificação

do Amor

O narrador dirige-se ao Amor, atribuindo-lhe várias características:

comparação

- puro, mas cruel-dominador e tirano;- causador da desgraça que conta;- cruel, que não se satisfaz com lágrimas, pois deseja sangue.

Estavas, linda Inês, posta em sossego,

De teus anos colhendo doce fruto,

Naquele engano da alma, ledo e cego,

Que a fortuna não deixa durar muito,

Nos saudosos campos do Mondego,

De teus fermosos olhos nunca enxuto,

Aos montes ensinando e às ervinhas

O nome que no peito escrito tinhas.

121

Do teu Príncipe ali te respondiam

As lembranças que na alma lhe moravam,

Que sempre ante seus olhos te traziam,

Quando dos teus fermosos se apartavam:

De noite em doces sonhos, que mentiam,

De dia em pensamentos, que voavam.

E quanto enfim cuidava, e quanto via,

Eram tudo memórias de alegria.

Des

en

volv

imen

to

Oração relativa explicativa

Metáfora

Apresentação de Inês, remetendo para o momento anterior à sua morte:- beleza, juventude, em Coimbra- tranquilidade,- paz ilusória,- já a presença do sofrimento amoroso

Perífrase –Pedro

Este amor vive de memórias felizes e ilusórias.Também D. Pedro vive este amor, da mesma forma.

É um amor marcado pela separação e pela saudade.

Antítese

Hipérbato:As lembranças do

teu príncipe que na alma lhe moravam, respondiam-te ali.

122

De outras belas senhoras e Princesas

Os desejados tálamos enjeita,

Que tudo enfim, tu, puro amor, despreza,

Quando um gesto suave te sujeita.

Vendo estas namoradas estranhezas

O velho pai sesudo, que respeita

O murmurar do povo, e a fantasia

Do filho, que casar-se não queria,

Tirar Inês ao mundo determina,

Por lhe tirar o filho que tem preso,

Crendo co'o sangue só da morte indina

Matar do firme amor o fogo aceso.

Que furor consentiu que a espada fina,

Que pôde sustentar o grande peso

Do furor Mauro, fosse alevantada

Contra uma fraca dama delicada?

Des

en

volv

imen

to

O Príncipe D. Pedro rejeita todas as outras damas, pois está apaixonado.

Reacção do pai, D. Afonso IV:-O pai determina a morte de Inês.- tem em conta dois elementos: o povo e o filho.

Eufemismo -matar

Hipérbato:Determina

tirar Inês ao mundo

Oração subordinada

causal

O rei acredita que ao matar Inês de Castro acabará com o seu amor

O narrador mostra a sua indignação e questiona o exercício deste poder e desta força, pois usa-se a mesma força contra o Mouro feroz e contra uma fraca dama delicada.

A imparcialidade

do narrador

124

Traziam-na os horríficos algozes

Ante o Rei, já movido a piedade:

Mas o povo, com falsas e ferozes

Razões, à morte crua o persuade.

Ela com tristes o piedosas vozes,

Saídas só da mágoa, e saudade

Do seu Príncipe, e filhos que deixava,

Que mais que a própria morte a magoava,

125

Para o Céu cristalino alevantando

Com lágrimas os olhos piedosos,

Os olhos, porque as mãos lhe estava atando

Um dos duros ministros rigorosos;

E depois nos meninos atentando,

Que tão queridos tinha, e tão mimosos,

Cuja orfandade como mãe temia,

Para o avô cruel assim dizia:

Des

en

volv

imen

to

v

Início da narração da sua execução:-Os executores trazem-na à presença do rei;- mais uma vez são apresentadas as motivações desta morte, da responsabilidade do povo;- há aqui alguma desresponsabilização do rei…

Oração coordenada adversativa

Descrição da reacção de Inês à prisão e condenação:- O seu sofrimento não é pela sua morte, mas por aqueles que deixa: Pedro e os filhos.

-Inês com os olhos repletos de lágrimas …

-… e tendo em atenção os seus filhos, dirigiu-se ao rei, avô dos seus filhos.

Anteposição do adjectivo –

reforça a crueldade dos

executores.

Introdução ao discurso de Inês.

- "Se já nas brutas feras, cuja mente

Natura fez cruel de nascimento,

E nas aves agrestes, que somente

Nas rapinas aéreas têm o intento,

Com pequenas crianças viu a gente

Terem tão piedoso sentimento,

Como coa mãe de Nino já mostraram,

E colos irmãos que Roma edificaram;

127

Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito,

(Se de humano é matar uma donzela

Fraca e sem força, só por ter sujeito

O coração a quem soube vencê-la)

A estas criancinhas tem respeito,

Pois o não tens à morte escura dela;

Mova-te a piedade sua e minha,

Pois te não move a culpa que não tinha.

Des

en

volv

imen

to

Início do discurso de Inês:

-Começa por referir que a Natureza e as feras não conseguem ser cruéis com as crianças, protegem-nas.

- ilustra com exemplo latino.

Continuação do discurso de Inês:. Dirige-se directamente ao rei:-apelando à sua humanidade e piedade;-Invocando os seus filhos.- afirma-se fraca, frágil e inocente.

Apóstrofe ao rei

Oração relativa

explicativa

E se, vencendo a Maura resistência,

A morte sabes dar com fogo e ferro,

Sabe também dar vida com clemência

A quem para perdê-la não fez erro.

Mas se to assim merece esta inocência,

Põe-me em perpétuo e mísero desterro,

Na Cítia f ria, ou lá na Líbia ardente,

Onde em lágrimas viva eternamente.

129

Põe-me onde se use toda a feridade,

Entre leões e tigres, e verei

Se neles achar posso a piedade

Que entre peitos humanos não achei:

Ali com o amor intrínseco e vontade

Naquele por quem morro, criarei

Estas relíquias suas que aqui viste,

Que refrigério sejam da mãe triste."

Des

en

volv

imen

to

OraçãoSubordinativa

condicional

Continuação do discurso de Inês:

- refere que o rei sabe dar morte aos seus inimigos também deve saber dar vida aos inocentes.

- no entanto, Inês apresenta outra hipótese ao rei, caso a queira condenar, apesar de inocente – o desterro.

Oração coordenada adversativa

- conclui o seu discurso reforçando a ideia do desterro, dizendo que entre os animais mais ferozes poderia achar piedade que os homens não têm.

- termina usando novamente os filhos como argumento, dizendo que longe, no desterro as poderia criar e seriam o seu consolo.

No desterro

130

Queria perdoar-lhe o Rei benino,

Movido das palavras que o magoam;

Mas o pertinaz povo, e seu destino

(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.

Arrancam das espadas de aço fino

Os que por bom tal feito ali apregoam.

Contra uma dama, ó peitos carniceiros,

Feros vos amostrais, e cavaleiros?

131

"Qual contra a linda moça Policena,

Consolação extrema da mãe velha,

Porque a sombra de Aquiles a condena,

Co'o ferro o duro Pirro se aparelha;

Mas ela os olhos com que o ar serena

(Bem como paciente e mansa ovelha)

Na mísera mãe postos, que endoudece,

Ao duro sacrifício se oferece:

Des

en

volv

imen

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on

clu

são

Desculpabilização do rei e as pressões que sofre: O povo.

Momento da execução de D. Inês, que causa sofrimento e indignação ao narrador, visível na interrogação retórica.

Início da terceira parte deste episódio com a reprovação do narrador e a exploração da parte mais lírica.

- Estado contemplativo desta morte e associação a outros episódios clássicos.

132

Tais contra Inês os brutos matadores

No colo de alabastro, que sustinha

As obras com que Amor matou de amores

Aquele que depois a fez Rainha;

As espadas banhando, e as brancas flores,

Que ela dos olhos seus regadas tinha,

Se encarniçavam, férvidos e irosos,

No futuro castigo não cuidosos.

133

Bem puderas, ó Sol, da vista destes

Teus raios apartar aquele dia,

Como da seva mesa de Tiestes,

Quando os filhos por mão de Atreu comia.

Vós, ó côncavos vales, que pudestes

A voz extrema ouvir da boca fria,

O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,

Por muito grande espaço repetisses!

Co

ncl

usã

o

Continuação da reprovação do narrador e a exploração da parte mais lírica.

Animização da Natureza, que chora a morte de Inês, sua antiga confidente.

134

Assim como a bonina, que cortada

Antes do tempo foi, cândida e bela,

Sendo das mãos lascivas maltratada

Da menina que a trouxe na capela,

O cheiro traz perdido e a cor murchada:

Tal está morta a pálida donzela,

Secas do rosto as rosas, e perdida

A branca e viva cor, coa doce vida.

135

As filhas do Mondego a morte escura

Longo tempo chorando memoraram,

E, por memória eterna, em fonte pura

As lágrimas choradas transformaram;

O nome lhe puseram, que inda dura,

Dos amores de Inês que ali passaram.

Vede que fresca fonte rega as flores,

Que lágrimas são a água, e o nome amores.

Co

ncl

usã

o

- Estado contemplativo desta morte, destacando-se as características da inocente e comparando-a às flores.

-É sublinhado o pranto comovente das “filhas do Mondego” e é apresentada a animização da Natureza, que chora a morte de Inês, sua antiga confidente.-Natureza que criou uma fonte deste choro. – Quinta das lágrimas.

136

Não correu muito tempo que a vingança

Não visse Pedro das mortais feridas,

Que, em tomando do Reino a governança,

A tomou dos fugidos homicidas.

Do outro Pedro cruíssimo os alcança,

Que ambos, imigos das humanas vidas,

O concerto fizeram, duro e injusto,

Que com Lépido e António fez Augusto.

137

Este, castigador foi rigoroso

De latrocínios, mortes e adultérios:

Fazer nos maus cruezas, fero e iroso,

Eram os seus mais certos refrigérios.

As cidades guardando justiçoso

De todos os soberbos vitupérios,

Mais ladrões castigando à morte deu,

Que o vagabundo Aleides ou Teseu.

Co

ncl

usã

o

-O narrador apresenta a reacção feroz de D. Pedro a esta execução:- - logo que se tornou rei, perseguiu e puniu os executores de Inês.

- comparação com exemplos de Espanha e dos clássicos.-Pacto entre os reis que obrigava um a entregar os criminosos ao outro se os capturasse

D. Pedro tornou-se um rei rigoroso e justo em relação a todos os crimes.

D. Pedro, o justo.

138

Do justo e duro Pedro nasce o brando,

(Vede da natureza o desconcerto!)

Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,

Que todo o Reino pôs em muito aperto:

Que, vindo o Castelhano devastando

As terras sem defesa, esteve perto

De destruir-se o Reino totalmente;

Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.

139

Ou foi castigo claro do pecado

De tirar Lianor a seu marido,

E casar-se com ela, de enlevado

Num falso parecer mal entendido;

Ou foi que o coração sujeito e dado

Ao vício vil, de quem se viu rendido,

Mole se fez e fraco; e bem parece,

Que um baixo amor os fortes enfraquece.

tran

siçã

o

- O plano da história de Portugal prossegue, apresentando já o seu filho sucessor- D. Fernando, que teve um reinado fraco, chegando a ver o reino de Portugal em risco face ao Castelhano.- Oposição entre os dois reis.

-Termina com uma máxima que justifica os períodos menos bons deste povo vitorioso:

- o narrador termina reflectindo ainda na possibilidade de o fraco governo de D. Fernando ser um castigo, pois D. Fernando roubou Leonor Teles ao marido para casar com ela.-O narrador acusa-o de se entregar à luxúria, daí o castigo e a fraqueza.

Leit

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Questionário:

1 – De que forma podemos dizer que este é um episódio do plano da história de Portugal?1.1 – Comprova com versos do texto.

2 – Por que razão podemos também considerar este episódio lírico?2.1 – Comprova com versos do texto.

3 – De acordo com o texto, apresenta a posição de D. Afonso IV face a esta mulher e a este relacionamento. Justifica.

4 – Apresenta a caracterização do Amor exposta pelo narrador.

5 – Estamos na presença de um narrador parcial ou imparcial? Justifica a afirmação e ilustra com versos.

6 – Ao longo do seu discurso, Inês de Castro tenta defender-se. Apresenta os seus argumentos de defesa.

7 – D. Pedro ficou conhecido pelo exercício da justiça. Justifica a afirmação e ilustra com versos.

8 – Apresenta um exemplo de apóstrofe e explora a sua intencionalidade.

9 – Apresenta um exemplo de interrogação retórica e demonstra a sua intencionalidade.

10 – Quais os elementos da natureza referidos na conclusão? Justifica estas alusões.

Batalha de Aljubarrota - Plano da História de Portugal Canto – IV 28-45

Episódio bélico apresentado em tom hiperbólico- referências ao número e valor dos inimigos- pormenores dos preparativos- valentia demonstrada

Está Vasco da Gama a contar a História de Portugal ao Rei de Melinde;- refere a morte de D. Fernando e respectivas consequências;

Depois da morte de D. Fernando, o Formoso, cuja filha D. Beatriz — com 11 anos apenas — casara com o reide Castela, Portugal insurge-se contra a ideia de ser governado por um estrangeiro.

A arraia-miúda das cidades e vilas e dos campos acompanhada por abastados mercadores e por algunsfidalgos, aclama D. João, mestre de Avis, defensor e regedor ou regente do Reino.

-Refere toda a história da nomeação de D. João I, a Regedor e Defensor do Reino dá origem àbatalha contra Castela que se travou em 14 de Agosto de 1383.

-O Rei de Castela invade Portugal, e poucos eram os que queriam combater pela Pátria. Mas osque estavam dispostos a defender o seu Reino, de entre os quais se destacava Nuno ÁlvaresPereira, iriam defendê-lo com a convicção da vitória,pois o país vizinho tinha enfraquecido bastante no reinado de D. Fernando e D. João I eragarantia de valor e sucesso e nunca Portugal tinha saído derrotado dos combates contra osCastelhanos.Na descrição da batalha, destacam-se as actuações de Nuno Álvares Pereira e de D. João,Mestre de Avis; salienta-se também o facto dos irmãos de Nuno combaterem contra a própriaPátria, acabando por morrer numa batalha em que foram traidores de Portugal.No final, Camões refere o desânimo e a fuga dos Castelhanos, que novamente foramderrotados pelos lusitanos.

A partir do casamento, D. Leonor Teles tornara-se cada vez mais influente junto do rei, manobrando a sua intervenção política nas relações exteriores, e ao mesmo tempo cada vez mais impopular. Aparentemente, D. Fernando mostra-se incapaz de manter uma governação forte e o ambiente político interno ressente-se disso, com intrigas constantes na corte. Em 1382, no fim da guerra com Castela, estipula-se que a única filha legítima de D. Fernando, D. Beatriz de Portugal, case com o rei D. João I de Castela. Esta opção significava uma anexação de Portugal e não foi bem recebida pela classe média e parte da nobreza portuguesa.Quando D. Fernando morre em 1383, a linha da dinastia de Borgonha chega ao fim. D. Leonor Teles é nomeada regente em nome da filha e de D. João de Castela, mas a transição não será pacífica. Respondendo aos apelos de grande parte dos Portugueses para manter o país independente, D. João, mestre de Avis e irmão bastardo de D. Fernando, declara-se rei de Portugal. O resultado foi a crise de 1383-1385, um período de interregno, onde o caos político e social dominou. D. João tornou-se no primeiro rei da Dinastia de Avis em 1385.

Batalha de Aljubarrota - plano da História de Portugal

28

Deu sinal a trombeta Castelhana, Horrendo, fero, ingente e temeroso; Ouviu-o o monte Artabro, e Guadiana Atrás tornou as ondas de medroso; Ouviu-o o Douro e a terra Transtagana; Correu ao mar o Tejo duvidoso; E as mães, que o som terríbil escutaram, Aos peitos os filhinhos apertaram.

29

Quantos rostos ali se vêem sem cor, Que ao coração acode o sangue amigo! Que, nos perigos grandes, o temor É maior muitas vezes que o perigo; E se o não é, parece-o; que o furor De ofender ou vencer o duro amigo Faz não sentir que é perda grande e rara, Dos membros corporais, da vida cara.

Início da batalha, dado pelo toque de trombeta que se ouviu desde a Galiza até ao sul de Portugal

hipérbole

Ao som do início da batalha as mães temeram pela segurança de seus filhos.

gradação

Sensações visuais

Bat

alh

a –

28

-4

1

Durante o combate as pessoas, com o furor de vencer, esquecem-se do perigo e da possibilidade de ficarem feridas ou mesmo de perderem a própria vida.

Há rostos sem cor e o terror é grande, muitas vezes maior do que o próprio perigo.

Personificação

30

Começa-se a travar a incerta guerra; De ambas partes se move a primeira ala; Uns leva a defensão da própria terra, Outros as esperanças de ganhá-la; Logo o grande Pereira, em quem se encerra Todo o valor, primeiro se assinala: Derriba, e encontra, e a terra enfim semeia Dos que a tanto desejam, sendo alheia.

31

Já pelo espesso ar os estridentes Farpões, setas e vários tiros voam; Debaixo dos pés duros dos ardentes Cavalos treme a terra, os vales soam; Espedaçam-se as lanças; e as frequentes Quedas coas duras armas, tudo atroam; Recrescem os amigos sobre a pouca Gente do fero Nuno, que os apouca.

32

Eis ali seus irmãos contra ele vão, (Caso feio e cruel!) mas não se espanta, Que menos é querer matar o irmão, Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta: Destes arrenegados muitos são No primeiro esquadrão, que se adianta Contra irmãos e parentes (caso estranho!) Quais nas guerras civis de Júlio e Magno.

Bat

alh

a –

28

-4

1

A guerra começa. Uns são movidos pela defesa da sua própria terra e outros pelo desejo de vitória

D. Nuno Álvares Pereira destaca-se na luta.

Sensações visuais

auditivas

Descrição da cena de guerra. Características da descrição.Portugueses lutam, mas os castelhanos são mais numerosos

D. Diogo e D. Pedro Pereira, irmãos de Nuno Álvares Pereira, estão a combater contra ele, “(caso feio e cruel)” – no entanto, não tão grave como combater contra o rei e a pátria.

No primeiro esquadrão há portugueses que renegaram a pátria e combatem contra seus irmãos, o que já acontecia no tempo dos clássicos.

Presente do

Indicativo

33

Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano, Catilina, e vós outros dos antigos, Que contra vossas pátrias, com profano Coração, vos fizestes inimigos, Se lá no reino escuro de SumanoReceberdes gravíssimos castigos, Dizei-lhe que também dos Portugueses Alguns tredores houve algumas vezes.

34

Rompem-se aqui dos nossos os primeiros, Tantos dos inimigos a eles vão! Está ali Nuno, qual pelos outeiros De Ceita está o fortíssimo leão, Que cercado se vê dos cavaleiros Que os campos vão correr de Tetuão: Perseguem-no com as lanças, e ele iroso, Torvado um pouco está, mas não medroso.

35

Com torva vista os vê, mas a natura Ferina e a ira não lhe compadecem Que as costas dê, mas antes na espessura Das lanças se arremessa, que recrescem. Tal está o cavaleiro, que a verdura Tinge co'o sangue alheio; ali perecem Alguns dos seus, que o ânimo valente Perde a virtude contra tanta gente.

Bat

alh

a –

28

-4

1

Apóstrofe a figuras que traíram a sua pátria

Se estes traidores receberem castigos, também os portugueses têm casos destes.

Começa a haver perda de vidas.Entre todos está Nuno Álvares Pereira, general com experiência nas guerras de Ceuta. Ele encontra-se a ser atacado, perturbado, mas não com medo.Valorização do perfil de Álvares Pereira.

A sua natureza guerreira faz com que não desista e continue a lutar.

Morrem alguns portugueses, pois apesar de corajosos enfrentavam um poder maior.

36Sentiu Joane a afronta que passava Nuno, que, como sábio capitão, Tudo corria e via, e a todos dava, Com presença e palavras, coração. Qual parida leoa, fera e brava, Que os filhos que no ninho sós estão, Sentiu que, enquanto pasto lhe buscara, O pastor de Massília lhos furtara; 37

Corre raivosa, e freme, e com bramidos Os montes Sete Irmãos atroa e abala: Tal Joane, com outros escolhidos Dos seus, correndo acode à primeira ala: -"Ó fortes companheiros, ó subidos Cavaleiros, a quem nenhum se iguala, Defendei vossas terras, que a esperança Da liberdade está na vossa lança. 38

Vedes-me aqui, Rei vosso, e companheiro, Que entre as lanças, e setas, e os arneses Dos inimigos corro e vou primeiro: Pelejai, verdadeiros Portugueses!"-Isto disse o magnânimo guerreiro, E, sopesando a lança quatro vezes, Com força tira; e, deste único tiro, Muitos lançaram o último suspiro.

Bat

alh

a –

28

-4

1

D. João I, sabendo que D. Nuno Álvares corria perigo, acudiu à linha da frente para apoiar os guerreiros com a sua presença e palavras de encorajamento.

Comparação com uma leoa que protege as suas crias (norte de África)

Com um único tiro, matou muitos adversários.

Discurso de encorajamento de D. João I.-Apelo ao patriotismo, à coragem, à superioridade, responsabilidade, liberdade…

- reforça a ideia de que ele próprio está no campo de batalha e deve ser o exemplo a seguir!

39Porque eis os seus acesos novamente Duma nobre vergonha e honroso fogo, Sobre qual mais com ânimo valente Perigos vencerá do Márcio jogo, Porfiam: tinge o ferro o sangue ardente; Rompem malhas primeiro, e peitos logo: Assim recebem junto e dão feridas, Como a quem já não dói perder as vidas.

40A muitos mandam ver o Estígio lago, Em cujo corpo a morte e o ferro entrava: O Mestre morre ali de Santiago, Que fortíssimamente pelejava; Morre também, fazendo grande estrago, Outro Mestre cruel de Calatrava; Os Pereiras também arrenegados Morrem, arrenegando o Céu e os fados.

41Muitos também do vulgo vil sem nome Vão, e também dos nobres, ao profundo, Onde o trifauce Cão perpétua fome Tem das almas que passam deste mundo. E porque mais aqui se amanse e dome A soberba do amigo furibundo, A sublime bandeira Castelhana Foi derribada aos pés da Lusitana.

Bat

alh

a –

28

-4

1Entre os muitos mortos são apontados: o mestre de Santiago, D. Pedro Moniz, ou Munoz, e os irmãos de D. Nuno, os renegados, um deles mestre de Calatra-va. Alguns comentadores dão, porém, o mestre de Santiago como morto em Valverde.

Muitos são feridos, muitos morrem, mas a bandeira castelhana é derrubada aos pés da lusitana.

Reacção ao discurso de rei

O ânimo volta e continuam a lutar com coragem e progredindo na batalha.

Já nem temem perder a vida.

São mortas várias figuras ilustres, entre elas, os irmãos de Nuno Álvares Pereira.

São mortos outros menos ilustres e outros nobres.

Perífrase -inferno

Resultado da Batalha

42

Aqui a fera batalha se encruece Com mortes, gritos, sangue e cutiladas; A multidão da gente que perece Tem as flores da própria cor mudadas; Já as costas dão e as vidas; já falece O furor e sobejam as lançadas; Já de Castela o Rei desbaratado Se vê, e de seu propósito mudado. 43

O campo vai deixando ao vencedor, Contente de lhe não deixar a vida. Seguem-no os que ficaram, e o temor Lhe dá, não pés, mas asas à fugida. Encobrem no profundo peito a dor Da morte, da fazenda despendida, Da mágoa, da desonra, e triste nojo De ver outrem triunfar de seu despojo. 44

Alguns vão maldizendo e blasfemando Do primeiro que guerra fez no mundo; Outros a sede dura vão culpando Do peito cobiçoso e sitibundo, Que, por tomar o alheio, o miserando Povo aventura às penas do profundo, Deixando tantas mães, tantas esposas Sem filhos, sem maridos, desditosas.

Com a queda da bandeira castelhana, a batalha tornou-se ainda mais cruel.

Sem forças para combaterem, os castelhanos começam a fugir e o rei de Castela vê-se derrotado e impedido de atingir o seu propósito/objectivo.

Enumeração

Metáfora

O rei vai abandonando o campo de batalha e atrás dele fogem todos os castelhanos com grade dor, devido:-à morte;-Aos meios gastos e perdidos;- à mágoa e desonra;- ao luto de ser vencido.

Reacções à derrota:-Uns maldizem a guerra;-Outros maldizem a ambição de desejar o que não é seu.

- A derrota causa dor em muitas mães, esposas, filhos…

Enumeração

45

O vencedor Joane esteve os dias Costumados no campo, em grande glória; Com ofertas depois, e romarias, As graças deu a quem lhe deu vitória. Mas Nuno, que não quer por outras vias Entre as gentes deixar de si memória Senão por armas sempre soberanas, Para as terras se passa Transtaganas.

Fazia parte do ritual destas guerras permanecer o vencedor alguns dias no campo da batalha, dando assim ao vencido oportunidade de desforra.

São Nuno foi canonizado pelo Papa Bento XVI em 26 de Abril de 2009.

Partida das naus , o velho do restelo - plano da História de Portugal e início da viagem Canto – IV 83-89 / 94-104

Na preparação da partida das naus de Vasco da Gama para a Índia, sobressai no meio da confusão um alvoroço e ao mesmo tempo um desejo de alcançar o trajecto pretendido.Após a citação do chamado Velho do Restelo, deu-se a partida; ficaram para trás as terras portuguesas e apenas o mar e o céu infinitos cabiam na visão dos lusitanos.

Portugal (, 3 de Maio de 1455 – Alvor, 25 de Outubro de 1495)

Portugal (, 31 de Maiode 1469 — Lisboa, 13 de Dezembro de 1521)

O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi delineado por D. João II como medida de redução dos custos nas trocas comerciais com a Ásia e tentativa de monopolizar o comércio das especiarias. A juntar à cada vez mais sólida presença marítima portuguesa, D. João almejava o domínio das rotas comerciais e expansão do reino de Portugal que já se transformava em Império. Porém, o empreendimento não seria realizado durante o seu reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria designar Vasco da Gama para esta expedição, embora mantendo o plano original.

Foram de Emanuel remunerados,Porque com mais amor se apercebessem,E com palavras altas animadosPara quantos trabalhos sucedessem.Assim foram os Mínias ajuntados,Para que o Véu dourado combatessem,Na fatídica Nau, que ousou primeiraTentar o mar Euxínio, aventureira.84E já no porto da ínclita UlisseiaC'um alvoroço nobre, e é um desejo, (Onde o licor mistura e branca areiaCo'o salgado Neptuno o doce Tejo)As naus prestes estão; e não refreiaTemor nenhum o juvenil despejo,Porque a gente marítima e a de MarteEstão para seguir-me a toda parte.85Pelas praias vestidos os soldadosDe várias cores vêm e várias artes,E não menos de esforço aparelhadosPara buscar do mundo novas partes.Nas fortes naus os ventos sossegadosOndeam os aéreos estandartes;Elas prometem, vendo os mares largos,De ser no Olimpo estrelas como a de Argos.

Partida das naus , o velho do restelo -plano da História de Portugal e início da viagem Canto – IV 83-89 / 94-104

D. Manuel é o responsável pela organização deste grupo. Tê-lo-á incentivado e motivado.

Tal como já acontecera no mar Negro

Já no Porto de Lisboa, em Belém, onde o rio Tejo encontra o mar.

As naus já estão prontas e o ânimo dos marinheiros e soldados é elevado.

Perífrase -Lisboa

Narrador participante:

Vasco da Gama a contar a própria viagem

Descrição dos soldados, prontos para descobrir novos mundos.

As naus são personificadas e prometem levar aqueles homens à imortalidade.

Preparação do rei

Apresentação dos marinheiros e soldados

86

Depois de aparelhados desta sorteDe quanto tal viagem pede e manda,Aparelhamos a alma para a morte,Que sempre aos nautas ante os olhos anda.Para o sumo Poder que a etérea corteSustenta só coa vista veneranda,Imploramos favor que nos guiasse,E que nossos começos aspirasse.

87

Partimo-nos assim do santo temploQue nas praias do mar está assentado,Que o nome tem da terra, para exemplo,Donde Deus foi em carne ao mundo dado.Certifico-te, ó Rei, que se contemploComo fui destas praias apartado,Cheio dentro de dúvida e receio,Que apenas nos meus olhos ponho o freio.

Perífrase: Deus

As condições físicas estão asseguradas, há que preparar o espírito para o perigo da morte, que sempre existe.

Vasco da Gama recorda a oração e pedido de protecção e ajuda a Deus para esta viagem.

Partiram da ermida de Nossa S. de Belém.

Deus Cristão

Perífrase:Belém

Apóstrofe ao rei de Melinde, recordando a dúvida e o receio que sentira, mas que tentara disfarçar.

Apóstrofe: Rei de

Melinde

Apresentação do estado de espírito de Vasco da Gama

88

A gente da cidade aquele dia,(Uns por amigos, outros por parentes,Outros por ver somente) concorria,Saudosos na vista e descontentes.E nós coa virtuosa companhiaDe mil Religiosos diligentes,Em procissão solene a Deus orando,Para os batéis viemos caminhando.

89

Em tão longo caminho e duvidosoPor perdidos as gentes nos julgavam;As mulheres c'um choro piedoso,Os homens com suspiros que arrancavam;Mães, esposas, irmãs, que o temerosoAmor mais desconfia, acrescentavamA desesperarão, e frio medoDe já nos não tornar a ver tão cedo.

Apresentação do estado de espírito das gentes No dia da partida, havia muitos

presentes descontentes/ infelizes.

A comitiva fez-se acompanhar de religiosos em procissão.

Enumeração de pessoas

que não acreditavam voltar a ver

os que embarcavam

O povo não acreditava no sucesso desta expedição.

90Qual vai dizendo: -" Ó filho, a quem eu tinhaSó para refrigério, e doce amparoDesta cansada já velhice minha,Que em choro acabará, penoso e amaro,Por que me deixas, mísera e mesquinha?Por que de mim te vás, ó filho caro,A fazer o funéreo enterramento,Onde sejas de peixes mantimento!" –91"Qual em cabelo: -"Ó doce e amado esposo,Sem quem não quis Amor que viver possa,Por que is aventurar ao mar irosoEssa vida que é minha, e não é vossa?Como por um caminho duvidosoVos esquece a afeição tão doce nossa?Nosso amor, nosso vão contentamentoQuereis que com as velas leve o vento?" -

92Nestas e outras palavras que diziamDe amor e de piedosa humanidade,Os velhos e os meninos os seguiam,Em quem menos esforço põe a idade.Os montes de mais perto respondiam,Quase movidos de alta piedade;A branca areia as lágrimas banhavam,Que em multidão com elas se igualavam.

Apresentam-se dois casos de lamúrias/queixas:. Os filhos que deveriam acompanhar os pais e ajudá-los são afastados.

. Os homens que abandonavam os lares para se aventurarem no mar.

* Crítica aos descobrimentos ao facto de se abandonar o país e o seu desenvolvimento.

O narrador diz que todos tinham esta perspectiva.

E até a natureza responde a esta dor.

Personificação

93Nós outros sem a vista alevantarmosNem a mãe, nem a esposa, neste estado,Por nos não magoarmos, ou mudarmosDo propósito firme começado,Determinei de assim nos embarcarmosSem o despedimento costumado,Que, posto que é de amor usança boa,A quem se aparta, ou fica, mais magoa.

94Mas um velho d'aspeito venerando,Que ficava nas praias, entre a gente,Postos em nós os olhos, meneandoTrês vezes a cabeça, descontente,A voz pesada um pouco alevantando,Que nós no mar ouvimos claramente,C'um saber só de experiências feito,Tais palavras tirou do experto peito:

95- Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas!

Leit

ura

O narrador diz que a tripulação não parou os seus olhos naqueles que deixava para não sofrerem, nem se deixarem mover dos seus propósitos.

Vasco da Gama não quis demorar as despedidas que sempre magoam.

Adamastor - plano da História de Portugal /viagem – episódio lendário Canto – V 39-60

• Inspirado em Homero e Ovídio, o episódio do Gigante Adamastor é o mais rico e complexo do poema. de natureza simbólica, mitológica e lírica.

• Compõe-se de vinte e quatro estrofes (canto V, 37 - 60), assim distribuídas:

Estrofes 37-38: introdução (2)

Estrofes 39-48: Adamastor (10)

Estrofe 49: transição (1)

Estrofes 50-59: Adamastor (10)

Estrofe 60: epílogo (1)

Como se vê, há uma distribuição muito equilibrada das partes: das vinte e quatro estrofes, quatro se destinam à introdução, transição e epílogo; as vinte restantes, divididas ao meio, apresentam o herói da sequência. Tanto Vasco da Gama como o Adamastor aparecem como narradores e como personagens.

Adamastor - estrutura

No plano histórico, simboliza:- a superação pelos portugueses do medo do “Mar Tenebroso”, das superstições medievais que povoavam o Atlântico e o Índico de monstros e abismos. - Adamastor é uma visão, um espectro, uma alucinação que existe só nas crendices dos portugueses. É contra seus próprios medos que os navegadores triunfam.

No plano lírico é um dos pontos altos do poema, retomando dois temas constantes da lírica camoniana: - o do amor impossível e o do amante rejeitado.

Adamastor, um dos gigantes filhos da Terra, apaixonou-se pela nereida Tétis. Não correspondido, tenta tomá-la à força, provocando a cólera de Júpiter, que o transforma no Cabo das Tormentas, personificado numa figura monstruosa, lançada nos confins do Atlântico.

Este episódio é importante, pois nele se concentram as grandes linhas da epopeia:

1. O real maravilhoso (dificuldade na passagem do cabo).

2. A existência de profecias (história de Portugal).

3. Lirismo (história de amor);

4. É também um episódio trágico, de amor e morte;

5. É um episódio épico, em que se consolida a vitória do homem sobre os elementos (água, fogo, terra, ar);

Resumo do Enredo

Introdução (est. 37, 38, Canto V): · Preparação do ambiente para o aparecimento do gigante: depois de cinco dias claros, com ventos calmos, com os marinheiros “descuidados”, surge uma nuvem negra “tão temerosa e carregada” que põe “nos corações um grande medo” e leva Vasco da Gama a interpelar o próprio Deus todo-poderoso.

Aparecimento do monstro e sua descrição (est. 39, 40, Canto V). · Caracterização directa e indirecta do monstro, sobretudo através de uma adjectivação sugestiva e abundante, para realçar a imponência da figura e o terror e a estupefacção do Gama e dos seus companheiros (“Arrepiam-se as carnes e o cabelo/A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo.” (est. 40. Vv- 7-8, Canto V).

Discurso do gigante (1ª parte) (est. 41-48, Canto V). Glorificação épica. · Discurso de carácter profético e ameaçador, através do qual Adamastor, num tom de voz “horrendo e grosso” anuncia os castigos e danos por si reservados para aquela “gente ousada” que invadira o seu reino (dos mares): . A “suma vingança” (a morte) de quem o descobriu (Bartolomeu Dias); . A morte de D. Francisco de Almeida, primeiro Vice-rei da Índia; . O naufrágio e a morte da família Sepúlveda; . E, para além destes casos particulares, as naus portuguesas terão sempre “inimiga esta paragem” através de “naufrágios, perdições de toda sorte/Que o menor mal de todos seja a morte”.

Interpelação do Gama (est. 49, Canto V). · Gama já incomodado com todas aquelas profecias de desgraça, interroga o monstro sobre a sua identidade. É essa pergunta tão simples que promove a profunda viragem do seu discurso, fazendo-o recordar a frustração amorosa passada e meditar na sua actual condição de degredado solitário e petrificado.

Discurso do gigante (2ª parte) (est. 50-59, Canto V). Lirismo amoroso e elegíaco. · A resposta à pergunta de Gama tem carácter autobiográfico e tom elegíaco (lamentação, triste) (“com voz pesada e amara”) e disfórico, pois assistimos à evocação do seu passado amoroso infeliz.

Epílogo (est. 60, Canto V). · Súbito desaparecimento do Gigante, agora choroso pela recordação do seu passado triste e levando consigo a nuvem negra e o “sonoro bramido” do mar com que aparecera. Pedido de Gama a Deus para que remova “os duros casos, que Adamastor contou futuros”.

37 -

Porém já cinco sóis eram passadosQue dali nos partíramos, cortandoOs mares nunca doutrem navegados,Prosperamente os ventos assoprando,Quando uma noite, estando descuidadosNa cortadora proa vigiando,Uma nuvem, que os ares escurece,Sobre nossas cabeças aparece.

38 -Tão temerosa vinha e carregada,Que pôs nos corações um grande medo;Bramindo, o negro mar de longe brada,Como se desse em vão nalgum rochedo."Ó Potestade (disse) sublimada:Que ameaço divino ou que segredoEste clima e este mar nos apresenta,Que mor cousa parece que tormenta?"

A viagem da esquadra é rápida e próspera até uma nuvem que escurece os ares surge sobre as cabeças dos navegantes.

A nuvem escura que surgiu vinha tão carregada que encheu de medo os navegantes. O mar, ao longe, fazia grande ruído ao bater contra os rochedos.

Vasco da Gama, atemorizado, lança voz à tempestade perguntando o que era ela, que parecia mais que uma simples tormenta marinha. O cenário aterrador fará a imagem do Gigante ainda mais terrível e assustadora.

hipérbato

comparação

Discurso de 1º pessoa

Intro

du

ção –

pre

paração

do

cen

ário

Não acabava, quando uma figuraSe nos mostra no ar, robusta e válida,De disforme e grandíssima estatura;O rosto carregado, a barba esquálida,Os olhos encovados, e a posturaMedonha e má e a cor terrena e pálida;Cheios de terra e crespos os cabelos,A boca negra, os dentes amarelos.

Tão grande era de membros, que bem possoCertificar-te que este era o segundoDe Rodes estranhíssimo Colosso,Que um dos sete milagres foi do mundo.Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,Que pareceu sair do mar profundo.Arrepiam-se as carnes e o cabelo,A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!

40 - A figura era tão enorme que poder-se-ia jurar ser ela o segundo Colosso de Rodes. Surge no quarto verso a introdução da fala do Gigante, cuja voz fazia arrepiar os cabelos e a carne dos navegantes.

39 - Vasco da Gama não havia terminado de falar quando surgiu uma figura enorme. Segue-se a descrição do mostrengo/Adamastor:- de rosto fechado, de olhos encovados, de postura má, de cabelos crespos e cheios de terra, de boca negra e de dentes amarelos. Esta passagem é meramente descritiva.

Discurso de 1º pessoa

Exemplos clássicos

De

sen

volvim

en

to: A

pare

cime

nto

do

mo

nstro

e su

a de

scriçãoO Colosso de Rodes foi uma estátua de Hélios, deus grego do sol, construída entre 292 a.C. e 280 a.C. pelo escultor Carés de Lindos. A estátua tinha trinta metros de altura, 70 toneladas e era feita de bronze. Tornou-se uma das sete maravilhas do mundo antigo.

41-E disse: "Ó gente ousada, mais que quantasNo mundo cometeram grandes cousas,Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,E por trabalhos vãos nunca repousas,Pois os vedados términos quebrantasE navegar nos longos mares ousas,Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,Nunca arados d’estranho ou próprio lenho:

42 -

Pois vens ver os segredos escondidosDa natureza e do úmido elemento,A nenhum grande humano concedidosDe nobre ou de imortal merecimento,Ouve os danos de mi que apercebidosEstão a teu sobejo atrevimento,Por todo largo mar e pola terraQue inda hás de sojugar com dura guerra.

41 - O gigante reconhece o mérito dosportugueses.Chama os portugueses de ousados eafirma que nunca repousam e que tempor meta a glória particular, poischegaram aos confins do mundo.

Realça-se o facto de aquelas águas nuncaterem sido navegadas por outros: ogigante diz que aquele mar, que há tantoele guarda, nunca foi conhecido poroutros.

42 - Já que os portugueses descobriram os segredos do mar, o gigante ordena- lhes que ouçam os sofrimentos futuros, consequências do atrevimento de cruzar os mares. (premonições)

De

sen

volvim

ento

: Discu

rso d

o gigan

te (1

ª parte

) Apóstrofe

43 -

Sabe que quantas naus esta viagemQue tu fazes, fizerem, de atrevidas,Inimiga terão esta paragem,Com ventos e tormentas desmedidas!E da primeira armada, que passagemFizer por estas ondas insufridas,Eu farei d’improviso tal castigo,Que seja mor o dano que o perigo!

44 -

Aqui espero tomar, se não me engano,De quem me descobriu suma vingança.E não se acabará só nisto o danoDe vossa pertinace confiança:Antes, em vossas naus verei, cada ano,Se é verdade o que meu juízo alcança,Naufrágios, perdições de toda sorte,Que o menor mal de todos seja a morte!

O gigante afirma que se vingará ali mesmo de seu descobridor, Bartolomeu Dias, e que outras embarcações portuguesas serão destruídas por ele.

As afirmações são ameaçadoras, como se verá: o menor mal será a morte.

O gigante afirma que os navios que fizerem a viagem que Vasco da Gama está fazendo terão aquele cabo como inimigo.

A primeira armada a que se refere Adamastor é a de Pedro Álvares Cabral, que se seguiu à de Vasco da Gama perdeu ali quatro de suas naus: o dano -o naufrágio – foi maior que o perigo, pois os navegantes foram surpreendidos.

De

sen

volvim

ento

: Discu

rso d

o gigan

te (1

ª parte

)

Futuro - premonições

45 -

E do primeiro ilustre, que a venturaCom fama alta fizer tocar os céus,Serei eterna e nova sepultura,Por juízos incógnitos de Deus.Aqui porá a turca armada duraOs soberbos e prósperos troféus;Comigo de seus danos o ameaçaA destruída Quíloa com Mombaça.

46 -

Outro também virá, de honrada fama,Liberal, cavaleiro, enamorado,E consigo trará a fermosa damaQue Amor por grão mercê lhe terá dado.Triste ventura e negro fado os chamaNeste terreno meu, que, duro e irado,Os deixará dum cru naufrágio vivos,Pera verem trabalhos excessivos.

Nesta estrofe o gigante cita a desgraça da família de Manuel de Sousa Sepúlveda, cujo destino será tenebroso: depois de um naufrágio, sofrerão muito.

É citado D. Francisco de Almeida, primeiro vice-rei da Índia, e sua vitória sobre os turcos.

O gigante continua ameaçador: junto a ele continua a haver perigo.

De

sen

volvim

ento

: Discu

rso d

o gigan

te (1

ª parte

) Fu

turo

-p

rem

on

içõ

es

Dupla adjectivação

Verão morrer com fome os filhos caros,Em tanto amor gerados e nascidos;Verão os Cafres, ásperos e avaros,Tirar à linda dama seus vestidos;Os cristalinos membros e preclarosÀ calma, ao frio, ao ar verão despidos,Despois de ter pisada longamenteCos delicados pés a areia ardente;

48 -

E verão mais os olhos que escaparemDe tanto mal, de tanta desventura,Os dous amantes míseros ficaremNa férvida e implacábil espessura.Ali, despois que as pedras abrandaremCom lágrimas de dor, de mágoa pura,Abraçados, as almas soltarãoDa fermosa e misérrima prisão.

Os sobreviventes do naufrágio verão Manuel de Sousa Sepúlveda e sua esposa, que morrerão juntos, ficarem no mato quente e inóspito.

O gigante diz que os filhos queridos de Manuel de Sousa Sepúlveda morrerão de fome e sua esposa será violentada pelos habitantes da África, depois de caminhar pela areia do deserto.

De

sen

volvim

ento

: Discu

rso d

o gigan

te (1

ª parte

)

Eufemismo - morte

Perífrase - sobreviventes

49 -

Mais ia por diante o monstro horrendoDizendo nossos fados, quando, alçado,Lhe disse eu: - Que és tu? Que esse estupendoCorpo certo me tem maravilhado!A boca e os olhos negros retorcendoE dando um espantoso e grande brado,Me respondeu, com voz pesada e amara,Como quem da pergunta lhe pesara:

50 -

Eu sou aquele oculto e grande CaboA quem chamais vós outros Tormentório,Que nunca a Ptolomeu, Pompônio, Estrabo,Plínio e quantos passaram fui notório.Aqui toda a africana costa acaboNeste meu nunca visto promontório,Que pera o Pólo Antártico se estende,A quem vossa ousadia tanto ofende.

O gigante continuaria fazendo as previsões se Vasco da Gama não o interrompesse, perguntando quem era aquela figura maravilhosa. O monstro responderá com voz pesada porque relembraria seu triste passado.

O gigante apresenta-se e localiza-se no espaço geográfico: ele é o Cabo Tormentoso, nunca conhecido pelos geógrafos da Antiguidade, última porção de terra do continente africano, que se alonga para o Pólo Sul,

extremamente ofendido com a ousadia dos portugueses.

Interpelação do Gama

De

sen

volvim

en

to: In

terp

elação

d

o G

ama

De

sen

volvim

en

to: D

iscurso

do

gigante

(2ª p

arte)

51 -

Fui dos filhos aspérrimos da Terra,Qual Encélado, Egeu e Centimano;Chamei-me Adamastor e fui na guerraContra o que vibra os raios de Vulcano;Não que pusesse serra sobre serra,Mas conquistando as ondas do Oceano,Fui capitão do mar, por onde andavaA armada de Neptuno, que eu buscava.

52 -Amores da alta esposa de PeleuMe fizeram tomar tamanha empresa;Todas as Deusas desprezei do Céu,Só por amar das águas a princesa;Um dia a vi, coas filhas de Nereu,Sair nua na praia e logo presaA vontade senti de tal maneira,Que inda não sinto cousa que mais queira.

Adamastor cometeu a loucura de lutar contra Neptuno por amor a Tétis, por quem desprezou todas as Deusas.

Recorda o dia em que a viu nua na praia e se apaixonou por ela.

Adamastor continua apaixonado por ela.

Adamastor diz que era um dos Titãs, gigantes que lutavam contra Júpiter e que sobrepunham montes para alcançar o Olimpo.

A sua missão era procurar a armada de Neptuno, nos mares.

De

sen

volvim

ento

: Discu

rso d

o gigan

te (2

ª parte

) Perífrase - Jupiter

Perífrase - Tétis

53 -

Como fosse impossíbel alcançá-laPola grandeza feia de meu gesto,Determinei por armas de tomá-laE a Dóris meu caso manifesto.De medo a Deusa então por mi lhe fala.Mas ela, cum fermoso riso honesto,Respondeu: - Qual será o amor bastanteDe ninfa, que sustente o dum Gigante?

54 -

Contudo, por livrarmos o OceanoDe tanta guerra, eu buscarei maneiraCom que, com minha honra, escuse o dano.Tal resposta me torna a mensageira.Eu, que cair não pude neste engano(Que é grande dos amantes a cegueira),Encheram-me, com grandes abondanças,O peito de desejos e esperanças.

Continua a resposta de Tétis: ela, para livrar o Oceano da guerra, tentará solucionar o problema com dignidade.

O gigante afirma que, já que estava cego de amor, não percebeu que as promessas que Dóris e Tétis lhe faziam eram mentirosas.

Como jamais conquistaria Tétis porque era muito feio, Adamastor resolveu conquistá-la por meio da guerra e manifestou sua intenção a Dóris, mãe de Tétis, que comunicou à filha, mas esta considera este amor impossível

De

sen

volvim

ento

: Discu

rso d

o gigan

te (2

ª parte

)

Lírico

55 -

Já néscio, já da guerra desistindo,Uma noite, de Dóris prometida,Me aparece de longe o gesto lindoDa branca Tétis, única, despida.Como doudo corri de longe, abrindoOs braços pera aquela que era a vidaDeste corpo e começo os olhos belosA lhe beijar, as faces e os cabelos.

56 -

Oh! Que não sei de nojo como o conte!Que, crendo ter nos braços quem amava,Abraçado me achei cum duro monteDe áspero mato e de espessura brava.Estando cum penedo fronte a fronte,Que eu polo rosto angélico apertava,Não fiquei homem, não; mas mudo e quedoE junto dum penedo outro penedo!

Uma noite, louco de amor e desistindo da guerra, aparece-lhe o lindo rosto de Tétis, única e nua.

O gigante correu abrindo os braços para a sua amada e começou a beijá-la.

Adamastor expressa a mágoa que sentiu, porque, achando que beijava e abraçava Tétis, encontrou-se abraçado a um duro monte.

Sem palavras e imóvel, sentiu-se como uma rocha diante de outra rocha.

De

sen

volvim

ento

: Discu

rso d

o gigan

te (2

ª parte

)

Interjeição

57 -

Ó Ninfa, a mais fermosa do Oceano,Já que minha presença não te agrada,Que te custava ter-me neste engano,Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada?Daqui me parto, irado e quase insanoDa mágoa e da desonra ali passada,A buscar outro mundo, onde não visseQuem de meu pranto e de meu mal se risse.

58 -

Eram já neste tempo meus IrmãosVencidos e em miséria extrema postos,E, por mais segurar-se Deuses vãos,Alguns a vários montes sotopostos.E, como contra o Céu não valem mãos,Eu, que chorando andava meus desgostos,Comecei a sentir do fado imigo,Por meus atrevimentos, o castigo:

Os Titãs já foram vencidos e soterrados para maior segurança dos deuses, contra quem não é possível lutar.

Adamastor anuncia, então, seu triste destino.

Adamastor invoca Tétis, perguntando porque, se ela não amava, não o manteve com a ilusão de abraçá-la. Ele partiu magoado, procurando outro lugar onde não fosse ridicularizado.

De

sen

volvim

ento

: Discu

rso d

o gigan

te (2

ª parte

)

59 -Converte-se-me a carne em terra dura;Em penedos os ossos se fizeram;Estes membros que vês e esta figuraPor estas longas águas se estenderam;Enfim, minha grandíssima estaturaNeste remoto Cabo converteramOs Deuses; e, por mais dobradas mágoas,Me anda Tétis cercando destas águas.”

60 -

Assi contava; e, cum medonho choro,Súbito d’ante os olhos se apartou.Desfez-se a nuvem negra e cum sonororamido muito longe o mar soou.Eu, levantando as mãos ao santo coroDos Anjos, que tão longe nos guiou,A Deus pedi que removesse os durosCasos que Adamastor contou futuros.

O gigante desapareceu chorando.

Vasco da Gama ergue os braços ao céu e pede aos anjos que as premonições de Adamastor não se realizem.

A carne do gigante se transformou em terra e os ossos em pedra; seus membros e sua figura alongaram-se pelo mar; os Deus fizeram dele um Cabo.

Para que sofra em dobro, Tétiscostuma banhar-se nas águas próximas.Final do seu discurso.

Epílo

go

Tempestade , chegada a Calecut- plano da viagem – Canto –VI / 92-94

• A tempestade é um episódio naturalista em que se entrelaçam os planos da viagem e o dos deuses, a realidade e a fantasia.

• É o último dos grandes perigos que Vasco da Gama teve de ultrapassar antes de cumprir a sua missão, a chegada à Índia.

• Camões deve ter aproveitado a sua própria experiência de viajante e de náufrago para descrever de forma tão realista a natureza em fúria (relâmpagos, raios, trovões, ventos, ondas alterosas) e, sobretudo, a aflição, os gritos, o temor e o “desacordo” dos marinheiros, incapazes de controlar a situação, devido à violência dos ventos.

“O saber de experiência feito”

• Estrutura

•Podemos considerar cinco momentos na organização desta descrição:

1. Estrofes 70 a 73: transição da calma anterior dos marinheiros para a movimentação desencadeada pelas ordens do mestre, após ter avistado sinais de tempestade.

2. Estrofes 74 a 79: desenrolar da tempestade vista do exterior das naus, daí o modo como Camões se lhes refere: “a possante nau” (est. 74, v.7), “a nau grande, em que vai Paulo da Gama” (est. 75, v.1) e a “nau de Coelho” (est. 75, v.6).

3. Estrofes 80 a 83: súplica de Gama a Deus para proteger a armada, pois teme a sua destruição. Para isso, utiliza três argumentos convincentes: - a omnipotência divina já várias vezes posta à prova; - o facto de a viagem ser um serviço prestado ao próprio Deus; - o facto de ser preferível uma morte heróica e conhecida, em África, a combater pela fé cristã, a um naufrágio anónimo, no alto mar, sem honras nem memórias.

4. Estrofe 84: continuação da tempestade, apesar da súplica do Gama.

5. Estrofes 85 a 91: Vénus intercede pelos Portugueses e ordena às ninfas amorosas que acalmem as iras dos ventos.

70 –Mas, neste passo, assim prontos estandoEis o mestre, que olhando os ares anda,O apito toca; acordam despertandoOs marinheiros duma e doutra banda;Eporque o vento vinha refrescando,Os traquetes das gáveas tomar manda:"Alerta, disse, estai, que o vento cresceDaquela nuvem negra que aparece."

71

Não eram os traquetes bem tomados, Quando dá a grande e súbita procela: "Amaina, disse o mestre a grandes brados,Amaina, disse, amaina a grande vela!" Não esperam os ventos indinadosQue amainassem; mas juntos dando nela, Em pedaços a fazem, com um ruído Que o mundo pareceu ser destruído.

Intro

du

ção

73-Correm logo os soldados animosos A dar à bomba; e, tanto que chegaram, Os balanços que os mares temerosos Deram à nau, num bordo os derribaram. Três marinheiros, duros e forçosos, A menear o leme não bastaram; Talhas lhe punham duma e doutra parte, Sem aproveitar dos homens força e arte.

72 –

O céu fere com gritos nisto a gente, Com súbito temor e desacordo, Que, no romper da vela, a nau pendente Toma grã suma d'água pelo bordo: "Alija, disse o mestre rijamente, Alija tudo ao mar; não falte acordo. Vão outros dar à bomba, não cessando; A bomba, que nos imos alagando!"

Intro

du

ção

74 - A força dos ventosOs ventos eram tais, que não puderam Mostrar mais força do ímpeto cruel,Se para derribar então vieram A fortíssima torre de Babel.Nos altíssimos mares, que cresceram, A pequena grandura dum batel Mostra a possante nau, que move espanto,Vendo que se sustém nas ondas tanto. 75

A nau grande, em que vai Paulo da Gama, Quebrado leva o masto pelo meio.Quase toda alagada: a gente chamaAquele que a salvar o mundo veio.Não menos gritos vãos ao ar derrama Toda a nau de Coelho, com receio, Conquanto teve o mestre tanto tento,Que primeiro amainou, que desse o vento.

Temp

estade

–d

escrição

do

exterior

76- A fúria das ondasAgora sobre as nuvens os subiam As ondas de Netuno furibundo;Agora a ver parece que desciam As íntimas entranhas do Profundo. Noto, Austro, Bóreas, Aquilo queriamArruinar a máquina do mundo: A noite negra e feia se alumia Com os raios, em que o Pólo todo ardia.

77As Alcióneas aves triste canto Junto da costa brava levantaram,Lembrando-se do seu passado pranto, Que as furiosas águas lhe causaram. Os delfins namorados entretanto Lá nas covas marítimas entraram, Fugindo à tempestade e ventos duros, Que nem no fundo os deixa estar segui-os.

78 - Coriscos e relâmpagosNunca tão vivos raios fabricouContra a fera soberba dos GigantesO grã ferreiro sórdido, que obrou Do enteado as armas radiantes; Nem tanto o grã Tonante arremessou Relâmpagos ao mundo fulminantes, No grã dilúvio, donde sós viveram Os dois que em gente as pedras converteram.

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79Quantos montes, então, que derribaramAs ondas que batiam denodadas! Quantas árvores velhas arrancaram Do vento bravo as fúrias indinadas!As forçosas raízes não cuidaram Que nunca para o céu fossem viradas, Nem as fundas areias que pudessemTanto os mares que em cima as revolvessem.

80 - Prece do GamaVendo Vasco da Gama que tão perto Do fim de seu desejo se perdia; Vendo ora o mar até o inferno aberto,Ora com nova fúria ao céu subia, Confuso de temor, da vida incerto, Onde nenhum remédio lhe valia, Chama aquele remédio santo é forte, Que o impossível pode, desta sorte: 81"Divina Guarda, angélica, celeste,Que os céus, o mar e terra senhoreias;Tu, que a todo Israel refúgio destePor metade das águas Eritreias; Tu, que livraste Paulo e o defendeste Das Sirtes arenosas e ondas feias, E guardaste com os filhos o segundoPovoador do alagado e vácuo mundo;

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82"Se tenho novos modos perigososDoutra Cila e Caríbdis já passados,Outras Sirtes e baixos arenosos,Outros Acroceráunios infamados,No fim de tantos casos trabalhosos,Por que somos de ti desamparados, Se este nosso trabalho não te ofende, Mas antes teu serviço só pretende?

83"Ó ditosos aqueles que puderamEntre as agudas lanças Africanas Morrer, enquanto fortes sostiveramA santa Fé nas terras Mauritanas!De quem feitos ilustres se souberam,De quem ficam memórias soberanas, De quem se ganha a vida com perdê-la,Doce fazendo a morte as honras dela!“

84Assim dizendo, os ventos que lutavam Como touros indômitos bramando, Mais e mais a tormenta acrescentavamPela miúda enxárcia assoviando.Relâmpados medonhos não cessavam, Feros trovões, que vêm representando Cair o céu dos eixos sobre a terra, Consigo os elementos terem guerra.

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85Vénus abranda o furor dos ventosMas já a amorosa estrela cintilava Diante do Sol claro, no Horizonte,Mensageira do dia, e visitava A terra e o largo mar, com leda fronte. A densa que nos céus a governava, De quem foge o ensífero Orionte, Tanto que o mar e a cara armada vira, Tocada junto foi de medo e de ira.

86"Estas obras de Baco são, por certo, Disse; mas não será que avante leve Tão danada tenção, que descobertoMe será sempre o mil a que se atreve.“Isto dizendo, desce ao mar aberto, No caminho gastando espaço breve,Enquanto manda as Ninfas amorosasGrinaldas nas cabeças pôr de rosas.

87 - Os ventos e as NinfasGrinaldas manda pôr de várias cores Sobre cabelo; louros à porfia. Quem não dirá que nascem roxas flores Sobre ouro natural, que Amor enfia? Abrandar determina, por amores, Dos ventos a nojosa companhia,Mostrando-lhe as amadas Ninfas belas, Que mais formosas vinham que as estrelas.

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88Assim foi; porque, tanto que chegaram A vista delas, logo lhe falecem As forças com que dantes pelejaram, E já como rendidos lhe obedecem. Os pés e mãos parece que lhe ataram Os cabelos que os raios escurecem. A Bóreas, que do peito mais queria,Assim disse a belíssima Oritia:

89"Não creias, fero Bóreas, que te creioQue me tiveste nunca amor constante, Que brandura é de amor mais certo arreio, E não convém furor a firme amante. Se já não pões a tanta insânia freio,Não esperes de mi, daqui em diante, Que possa mais amar-te, mas temer-te; Que amor contigo em medo se converte."

90Assim mesmo a formosa GalateiaDizia ao fero Noto, que bem sabe Que dias há que em vê-la se recreia,E bem crê que com ele tudo acabe.Não sabe o bravo tanto bem se o creia,Que o coração no peito lhe não cabe, De contente de ver que a dama o manda,Pouco cuida que faz, se logo abranda.

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91Desta maneira as outras amansavam Subitamente os outros amadores; E logo à linda Vénus se entregavam, Amansadas as iras e os furores.Ela lhe prometeu, vendo que amavam, Sempiterno favor em seus amores,Nas belas mãos tomando-lhe homenagemDe lhe serem leais esta viagem.

92 - Terra de Calecute

Já a manhã clara dava nos outeiros Por onde o Ganges murmurando soa, Quando da celsa gávea os marinheiros Enxergaram terra alta pela proa. Já fora de tormenta, e dos primeiros Mares, o temor vão do peito voa. Disse alegre o piloto Melindano: "Terra é de Calecu, se não me engano.

93 - Dá o Gama graças a Deus"Esta é por certo a terra que buscaisDa verdadeira Índia, que aparece;E se do mundo mais não desejais, Vosso trabalho longo aqui fenece." Sofrer aqui não pode o Gama mais, De ledo em ver que a terra se conhece: Os geolhos no chão, as mãos ao céu, A mercê grande a Deus agradeceu.

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